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A aplicação do desenvolvimento sustentável no âmbito

estatal e corporativo

O desenvolvimento sustentável é um princípio no direito brasileiro. A Constituição de 1988, em seu art.


170, disciplina que a ordem econômica é fundada na valorização do trabalho e na livre-iniciativa e visa
assegurar uma existência digna para todos conforme os ditames da justiça social, com a observância,
entre outros, dos princípios da função social da propriedade e da defesa do meio ambiente (BRASIL,
1988). Por função social entende-se que o exercício do direito de propriedade impõe o respeito pelas
normas ambientais (MELO, 2017). A defesa do meio ambiente nas atividades econômicas ocorre
igualmente por meio do tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e
de seus processos de elaboração e prestação (BRASIL, 1988).  

Na ordem constitucional brasileira, o desenvolvimento sustentável encontra-se na conjugação do art. 170


– ordem econômica – com o art. 225 – proteção ao meio ambiente –, ambos da Constituição Federal
(MELO, 2017). Apesar disso, há uma constante tensão na implementação das atividades econômicas com
as normas jurídicas de proteção ambiental. Daí surge a indagação: em caso de confronto entre uma
atividade econômica e a proteção ao meio ambiente, qual é a interpretação que deverá prevalecer?
Embora sejamos uma economia de livre mercado, nenhuma atividade pode ser exercida em
desconformidade com a proteção ao meio ambiente. Afinal, só é possível uma existência com dignidade
se as pessoas possam viver em um meio ambiente ecologicamente equilibrado, sem poluição, com
salubridade. E se não temos o ambiente saudável, como falar em saúde e qualidade de vida? Apesar
dessas afirmações serem reconhecidas por todos, sabemos que a questão é bem mais complexa. Por isso,
o Supremo Tribunal Federal (STF) chegou a disciplinar a matéria, decidindo que é necessária a
compatibilização entre atividades econômicas e proteção ao meio ambiente. Contudo, consignou que as
atividades econômicas não podem ser exercidas em desarmonia com os princípios destinados a tornar
efetiva a proteção ao meio ambiente (MELO, 2017). Nos termos da Ação Direta de Inconstitucionalidade
3.540,
“[...] a atividade econômica não pode ser exercida em desarmonia com os princípios destinados a tornar
efetiva a proteção ao meio ambiente”.

E conclui que:

“A incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar
dependente de motivações de índole meramente econômica [...]” (BRASIL, 2005, [s. p.]). 

Portanto, é necessário sempre buscar a compatibilização entre atividades econômicas e proteção ao meio
ambiente; na impossibilidade, é preciso atentar para as questões ambientais. E isso porque a preocupação
somente na dimensão econômica tem ocasionado os danos e desastres ambientais que são constantemente
relatados nos meios de comunicação, em que pessoas, populações ou cidades são afetadas. Afinal, ao se
privilegiar somente os argumentos econômicos, continuamos somente como crescimento econômico, e a
sustentabilidade torna-se meramente retórica, sem qualquer efetividade. 

Em meados da década de 1990, o britânico John Elkington propõe o termo Triple Bottom Line (TBL), no
âmbito corporativo norte-americano, o qual fica conhecido no Brasil como o tripé da sustentabilidade,
conjugando as dimensões econômica, social e ambiental. Esse conceito possui como elementos
constitutivos os três Ps da sustentabilidade (people, planet, profit; ou em português, pessoas, planeta e
lucro). Em suma, as empresas devem buscar o lucro corporativo, mas com responsabilidade social em
suas operações, que devem estar alinhadas no compromisso ambiental com o planeta (MELO, 2017).
O  TBL  é utilizado atualmente como um dos indicadores de mensuração da sustentabilidade para
governos, setor empresarial e organizações sem fins lucrativos. 

O tripé da sustentabilidade associa os aspectos econômicos, sociais e ambientais. Por sustentabilidade


econômica, o uso racional e eficiente dos recursos naturais, com o uso de tecnologias que diminuam os
impactos ambientais e as externalidades negativas. A sustentabilidade social envolve uma distribuição de
renda justa, de modo a reduzir as desigualdades e promover os valores de uma sociedade inclusiva. Por
sustentabilidade ambiental, respeitar e proteger os ciclos de regulação dos processos ecológicos
essenciais, de modo a garantir recursos para as presentes e futuras gerações, em uma concepção que as
variáveis ambientais sejam integradas aos ciclos econômicos. 

No âmbito governamental, um exemplo de aplicação do tripé da sustentabilidade é a Agenda Ambiental


na Administração Pública (A3P), que articula a promoção da sustentabilidade nas entidades da
Administração Pública Direta e Indireta em nível federal, estadual e municipal, nos três poderes:
Executivo, Legislativo e Judiciário. Apesar da adesão ser voluntária, a A3P é um relevante programa de
práticas governamentais sustentáveis. 

Uma outra leitura de sustentabilidade procura dividi-la em duas abordagens: sustentabilidade fraca e
sustentabilidade forte (BURSZTYN; BURSZTYN, 2012). A sustentabilidade fraca é aquela que se baseia
na economia clássica, em que o capital natural pode ser substituído pelo capital produzido e que, por
consequência, não há limites para o crescimento econômico. Nesse pensamento, é possível adotar
soluções tecnológicas para solucionar os problemas ambientais. Já a sustentabilidade forte assenta-se na
economia ecológica, isto é, a ausência do capital natural impõe limites para o crescimento econômico.
Essa compreensão tem como fundamento a preservação dos componentes ecológicos, de forma que será
preciso conter os fatores de pressão, ou seja, limites para uma economia de crescimento contínuo. Em
qualquer dessas perspectivas, é importante compreender a importância que a sustentabilidade assume na
contemporaneidade, como elemento essencial para as nossas sociedades.

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