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obras do barão do rio branco

questões de limites
exposições de motivos
Ministério das Relações Exteriores

Ministro de Estado Embaixador Antonio de Aguiar Patriota


Secretário-Geral Embaixador Ruy Nunes Pinto Nogueira

Fundação Alexandre de Gusmão

Presidente Embaixador José Vicente de Sá Pimentel

Instituto de Pesquisa de
Relações Internacionais

Diretor


Centro de História e
Documentação Diplomática

Diretor Embaixador Maurício E. Cortes Costa

A Fundação Alexandre de Gusmão, instituída em 1971, é uma fundação pública vinculada ao


Ministério das Relações Exteriores e tem a finalidade de levar à sociedade civil informações
sobre a realidade internacional e sobre aspectos da pauta diplomática brasileira. Sua missão é
promover a sensibilização da opinião pública nacional para os temas de relações internacionais
e para a política externa brasileira.

Ministério das Relações Exteriores


Esplanada dos Ministérios, Bloco H
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70170-900 Brasília, DF
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Obras do Barão do Rio Branco

Questões de Limites
Exposições de Motivos

Ministério das Relações Exteriores


Fundação Alexandre de Gusmão

Brasília, 2012
Direitos de publicação reservados à
Fundação Alexandre de Gusmão
Ministério das Relações Exteriores
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Editor:
Embaixador Manoel Antonio da Fonseca Couto Gomes Pereira

Equipe Técnica:
Eliane Miranda Paiva
Vanusa dos Santos Silva
André Luiz Ventura Ferreira
Pablinne Stival Marques Gallert

Revisão:
Mariana de Moura Coelho

Programação Visual e Diagramação:


Gráfica e Editora Ideal Ltda.

Impresso no Brasil 2012


Obras do Barão do Rio Branco V : questões de limites
exposições de motivos. – Brasília: Fundação Alexandre
de Gusmão, 2012.
275 p.; 15,5 x 22,5 cm.

ISBN 978-85-7631-356-4

1. Diplomata. 2. Relações Internacionais.

CDU 341.71
Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Sonale Paiva
– CRB /1810

Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional conforme Lei


n° 10.994, de 14/12/2004.
Comissão Organizadora da Celebração do Primeiro Centenário da
Morte do Barão do Rio Branco

Presidente: Embaixador Antonio de Aguiar Patriota


Ministro de Estado das Relações Exteriores

Membros:

Embaixador Ruy Nunes Pinto Nogueira


Secretário-Geral das Relações Exteriores

Senhor Julio Cezar Pimentel de Santana


Assessor do Chefe de Gabinete do Ministro da Defesa

Primeira-Secretária Luciana Rocha Mancini


Assessora Internacional do Ministério da Educação

Senhor Maurício Vicente Ferreira Júnior


Diretor do Museu Imperial em Petrópolis, Ministério da Cultura

Ministro Aldemo Serafim Garcia Júnior


Assessor Internacional do Ministério das Comunicações

Professor Doutor Jacob Palis


Presidente da Academia Brasileira de Ciências,
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

Ministro Rodrigo de Lima Baena Soares


Assessor Especial da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da
República

Primeiro-Secretário Rodrigo Estrela de Carvalho


Assessoria Especial da Presidência da República

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Diretora do Centro de Referência e Difusão da
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Doutora Christiane Vieira Laidler
Diretora do Centro de Pesquisa da Fundação Casa de Rui Barbosa

Senhora Maria Elizabeth Brêa Monteiro


Coordenadora de Pesquisa e Difusão do Acervo do Arquivo Nacional

Professor Doutor Carlos Fernando Mathias de Souza


Vice-Reitor Acadêmico da Universidade do Legislativo Brasileiro – Unilegis,
Senado Federal

Doutor José Ricardo Oria Fernandes


Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados

Comitê Executivo:

Coordenador-Geral:
Embaixador Manoel Antonio da Fonseca Couto Gomes Pereira,
Coordenador-Geral de Pesquisas do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais

Coordenador de Seminários e Publicações:


Embaixador José Vicente de Sá Pimentel, Diretor do Instituto de Pesquisa de
Relações Internacionais

Coordenador no Rio de Janeiro:


Embaixador Maurício Eduardo Cortes Costa, Diretor do Centro de História e
Documentação Diplomática

Coordenador de Divulgação:
Embaixador Tovar da Silva Nunes, Chefe da Assessoria de Comunicação Social
do Ministério das Relações Exteriores
Este volume contém, na ordem cronológica, seis Exposições de Motivos
apresentadas ao presidente da República pelo Barão do Rio Branco,
quando ministro das Relações Exteriores, sobre tratados e convenções
de limites assinados pelo Brasil com a Bolívia, Equador, Colômbia,
Peru, Uruguai e Argentina. Vão acompanhados dos respectivos anexos,
inclusive mapas. Foram aproveitadas das diversas publicações oficiais
feitas na época pela Imprensa Nacional as notas que não existiam
nas Exposições de Motivos. Os textos, inclusive os da documentação
complementar, foram conferidos com os respectivos originais,
conservados no Arquivo Histórico do Itamaraty. O texto segue a
ortografia acolhida pelo Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa,
que se tornará obrigatório em 1o de janeiro de 2013.
Sumário

Introdução às exposições de motivos de Rio Branco, 11


Embaixador Synesio Sampaio Goes Filho

I
Brasil-Bolívia:
Exposição de motivos, 41
Texto do Tratado, 65

II
Brasil-Equador:
Exposição de motivos, 77
Texto do Tratado, 83

III
Brasil-Colômbia:
Exposição de motivos, 87
Texto do Tratado, 94
Texto do Acordo, 101
Texto do Protocolo Complementar, 104
IV
Brasil-Peru:
Exposição de motivos, 105
Texto do Tratado, 135
Documentos, 144

V
Brasil-Uruguai:
Exposição de motivos, 157
Texto do Tratado, 188
Documentos, 197

VI
Brasil-Argentina:
Exposição de Motivos, 231
Texto da Convenção, 235
Documentos, 238

Apêndice, 243

Índice onomástico e toponímico, 247


introdução
Introdução às exposições de motivos de Rio
Branco

Embaixador Synesio Sampaio Goes Filho

Este volume V das Obras do Barão do Rio Branco trata das seis
“exposições de motivos” que Rio Branco redigiu sobre questões de
limites. Durante sua longa gestão no Itamaraty – quase dez anos
–, foram quatro os presidentes intervenientes: Rodrigues Alves,
Afonso Pena, Nilo Peçanha e Hermes da Fonseca. Como fazia com
praticamente todos os papéis do seu período, era ele quem escrevia
pessoalmente tudo, e nada era mudado na presidência. Nestas
exposições, o barão fornece explicações históricas dos tratados de
limites acordados e transcreve o texto destes, além de apresentar
outros documentos e mapas. As questões com a Bolívia, o Peru e o
Uruguai são as mais importantes e sobre elas se concentrarão nossos
comentários. As sobre o Equador e a Colômbia serão consideradas em
conjunto, por envolverem a mesma região. A que concerne à Argentina
é um pequeno ajuste de um acordo anterior: simplesmente identifica
melhor alguns marcos, nas proximidades da ilha Brasileira, junto à
barra do rio Quaraí. Não há neste volume texto sobre o Suriname,
mas o barão também negociou um tratado de limites com essa então
colônia holandesa, em 1906.
O Brasil tem hoje dez países lindeiros, mas tem acordos de
fronteira com onze, pois a fronteira que o Equador pretendia, no
passado, acabou não sendo estabelecida com a vitória peruana em

13
SYNESIO SAMPAIO GOES FILHO

disputa resolvida pelo Tratado do Rio de Janeiro, de 1942, e em


posteriores ajustes. Recordemos o quadro geral: com o Paraguai e
a Venezuela, os limites estabelecidos vêm do Império: o Tratado de
1859, com este; e o de 1872, depois da Guerra do Paraguai, com
aquele. As fronteiras com a Argentina (1895), a Guiana Francesa
(1900) e a Guiana (então Guiana Inglesa, 1904) foram fixadas por
arbitramentos. Os dois primeiros, vitórias integrais conseguidas por
Rio Branco, como nosso negociador; com a Guiana, vitória parcial
(“derrota parcial” talvez fosse mais apropriado, pois a maior parte do
território contestado não foi atribuída ao Brasil), sendo nossa posição
defendida por Joaquim Nabuco – e muito bem –, a partir de um estudo
básico feito pelo barão.
Como se vê, não é exagero dizer-se que Rio Branco traçou
o desenho definitivo de boa parte da linha de limites do Brasil, com
sua atuação decisiva nos três arbitramentos, antes de ser ministro, e,
depois, nos cinco acordos de fronteiras (excluímos o pequeno ajuste
com a Argentina e o acordo com Equador e incluímos o acordo com o
Suriname). É claro que ele não inventou tudo: havia estudos, propostas
e tratados anteriores. Foi ele, entretanto, quem resolveu as últimas
questões; e todas de forma pacífica, através de acordos bilaterais bem-
negociados e perfeitamente ratificados. O barão, aliás, é o primeiro
a reconhecer a habilidosa política de fronteiras dos portugueses na
Colônia e, sobretudo, a benéfica ação dos diplomatas do Segundo
Reinado (talvez o maior deles tenha sido seu pai, o visconde do Rio
Branco, pelo qual nutria mais do que um natural amor filial, uma
imensa admiração pela obra política). No entanto, os arbitramentos
e os tratados de limites, que envolvem oito de nossos dez vizinhos,
são sem dúvida o fecho de ouro de uma política de sucesso. Não há
precedente de um chanceler que tenha feito tanto para a formação das
fronteiras de seu país, o que justifica o prestígio único que o barão tem
em nossa história.
Tratemos, agora, das cinco exposições de motivos mencionadas
(deixando de lado, por irrelevante, a da Argentina). Como os
argumentos de Rio Branco são aceitos sem críticas pelos historiadores
brasileiros, vamos, para ter uma visão mais completa do tema e
conhecer melhor o que pensam nossos vizinhos, apresentar também a
opinião de autores dos países envolvidos, bem diferente das nossas...

14
INTRODUÇÃO

O Tratado de 1903 com a Bolívia

Sabemos que o Barão do Rio Branco não veio para o Ministério


– contra sua vontade inicial, aliás – como um ministro qualquer. Era
já considerado uma espécie de herói nacional pelas suas duas vitórias
arbitrais. Além disso, foi convidado pelo presidente eleito, Rodrigues
Alves, por ter “autoridade [...] para propor [aos problemas externos]
as melhores soluções”1. Especificamente – pensava o presidente – para
resolver a grande questão do momento, o Acre. Faltava, entretanto, a
Rio Branco o teste da atuação política. Nesse sentido, acertou em cheio
Rodrigues Alves, fazendo justiça à fama que tinha de escolher bem
seus colaboradores: o historiador e o advogado do Brasil transformou-
se em um estadista já neste seu primeiro desafio, por sinal a mais grave
questão de fronteira que o Brasil teve em sua história.
Ao assumir a pasta das Relações Exteriores, em dezembro de 1902,
a situação estava em seu ponto crítico. No atual estado do Acre, viviam
milhares de brasileiros, em sua maioria nordestinos, que, pela segunda
vez em um lustro, haviam-se levantado em armas contra a Bolívia, a
quem pertencia toda a área. Não se tratava de velhos e imprecisos tratados
coloniais, mas, sim, de um acordo bilateral de limites, relativamente
recente, de 1867. A opinião pública brasileira era bastante favorável
aos revoltosos, agora chefiados por um ex-militar gaúcho, Plácido de
Castro, e muitos não compreendiam por que o governo brasileiro não
estava ao lado de seus nacionais. A razão era simples: o governo achava
– e nisso estava correto – que o Acre era boliviano. Porto Acre (Puerto
Alonzo), onde a Bolívia pretendia estabelecer o centro administrativo
da região, tinha até um consulado brasileiro, prova contundente de
que não tínhamos dúvidas sobre a soberania boliviana. Mas os dois
países sabiam que o Brasil poderia ser levado à guerra se houvesse
enfrentamentos graves entre os revoltosos brasileiros e as tropas de La
Paz. Ideias múltiplas e contraditórias proliferavam, principalmente no
Rio de Janeiro e em Manaus, passagem necessária de tudo que ia para
o Acre e do que de lá vinha.
Vamos recordar a formação das nossas fronteiras bolivianas nessa
região. Os tratados de Madri e de Santo Ildefonso não divergiam aí.
1
VIANA FILHO, Luís. Três Estadistas: Rui, Nabuco, Rio Branco. Rio de Janeiro: Livraria
José Olympio Editora, 1981, p. 1042.

15
SYNESIO SAMPAIO GOES FILHO

A divisa era uma reta do médio Madeira (isto é, a metade da distância


entre a nascente e a foz do rio, situada aproximadamente a 8º4’de latitude
sul) à origem do rio Javari, então desconhecida. Em 1867, em plena
Guerra do Paraguai, assinamos um acordo de limites que Rio Branco
considerava muito favorável à Bolívia (opinião exatamente oposta à dos
historiadores bolivianos). Pelo chamado Tratado de Ayacucho, o ponto
inicial da reta no rio Madeira é deslocado em relação ao que previam
os tratados coloniais, um pouco mais de dois graus para o sul: “Deste
rio para oeste seguirá a fronteira por uma paralela tirada de sua margem
esquerda da latitude 10°20’ até encontrar o rio Javari”. Pensava-se, pois
que a nascente do Javari estivesse mais ou menos nesta latitude e, por
isso, fala-se em paralela. Admitia-se, entretanto, que estivesse mais
próxima do equador, já que este artigo tinha um parágrafo único que
rezava: “Se o Javari tiver as suas nascentes ao norte daquela linha leste-
oeste seguirá a fronteira desde a mesma latitude, por uma reta, a buscar
a origem principal do Javari.”
Só depois da assinatura do Tratado de 1867 é que os seringueiros
brasileiros, sobretudo cearenses que fugiam das secas do Nordeste,
foram pacificamente entrando nessas regiões dos afluentes da margem
sul do Amazonas, o Madeira, o Purus e o Juruá, onde se encontravam as
maiores concentrações da Hevea brasiliensis. Calcula-se que, no final do
século, havia uma população de cerca de 60 mil brasileiros trabalhando
nos vários seringais que tinham sido pouco a pouco criados nas margem
dos rios, então as únicas vias de comunicação. Eles não tinham como
saber onde passava a divisa Madeira – nascente do Javari, uma vez
que sua localização exata só foi estabelecida, em definitivo, décadas
depois, em 1898, pela missão demarcatória Cunha Gomes – o rio se
originava no paralelo de 7°1’. Praticamente não existiam bolivianos na
região, o que se explica não somente por aquele país ter uma população
relativamente pequena e concentrada no altiplano, mas também pela
enorme dificuldade de acesso dos altos andinos, onde estão La Paz,
Sucre e Potosi, à floresta amazônica.
Imediatamente após a posse, o barão tentou comprar o território. Já
tinha, então, descartado a tese, defendida por muitos, do arbitramento,
que – pensava ele com razão – nunca poderia nos dar uma solução
satisfatória: a maior parte dos brasileiros estava em uma região que
teríamos dificuldade em considerar “contestada” (ao sul da divisa).

16
INTRODUÇÃO

Havia, ademais, uma grave complicação internacional: vendo as


dificuldades que tinha de administrar um território longínquo e habitado
por outros nacionais, a Bolívia havia assumido, em 1901, um grande
risco. Assinara um acordo com investidores ingleses e norte-americanos
que dava à empresa criada por estes, o Bolivian Syndicate of New
York City, a completa administração do Acre, inclusive com poderes
de polícia. Era uma espécie de chartered company, um tipo daquelas
sociedades privadas cujas atuações precederam à colonização direta de
várias regiões africanas e algumas asiáticas pelas potências europeias.
O perigo de um neocolonialismo nas Américas era evidente, e esse fato
foi bem usado por Rio Branco para fortalecer a posição brasileira junto
aos governos e à opinião pública dos demais países do continente.
Durante quase um ano, houve iniciativas, negociações, discordâncias.
Vamos dar apenas um breve resumo factual e cronológico do que
ocorreu entre janeiro e novembro de 1903. Com a recusa da Bolívia de
vender o Acre, Rio Branco avança a ideia de uma permuta desigual de
territórios, com compensações. As tropas de Plácido de Castro tomam
Porto Acre. O governo de La Paz prepara uma expedição militar chefiada
pelo próprio presidente, o general Pando. Antecipando-se a este ato, o
governo brasileiro ocupa militarmente a região conflagrada. Rio Branco
dá uma nova interpretação do acordo de 1867, pela qual abandona a
hipótese da oblíqua e aceita a que julga que a linha de limites deve
correr pelo paralelo dos 10º20’; declara, então, litigioso todo o território
ao norte desse paralelo (o Acre setentrional). Consegue, o chanceler, em
negociações em Londres e Washington, que o Syndicate renuncie a seus
direitos no Acre, mediante uma indenização de 100 mil libras esterlinas.
Em março, firma-se em La Paz um modus vivendi, isto é, um acordo
provisório que reconhecia a situação de fato no terreno e interrompia
as escaramuças: as tropas brasileiras ocupavam o norte do território e
policiavam o sul, isto é, o Acre meridional, em poder dos voluntários
de Plácido de Castro.
Afastados estes vários obstáculos e sem a pressão dos embates no
terreno, foi possível a retomada das negociações sobre os fundamentos
da questão. Rio Branco solicita, em julho, que o senador Rui Barbosa e
o embaixador Assis Brasil juntem-se a ele na condução das tratativas.
Embora as conferências tenham sido intensas e difíceis, após quatro
meses chegou-se a um acordo. O Brasil ficaria com todo o território

17
SYNESIO SAMPAIO GOES FILHO

do Acre (cerca de 191 mil km2). A Bolívia, por sua parte, incorporaria
uma pequena área habitada por bolivianos (de 2.300 km2), receberia 2
milhões de libras esterlinas e se beneficiaria de três pequenos ajustes
de fronteiras, na região do rio Paraguai. Além disso, comprometia-se o
Brasil a construir a ferrovia Madeira – Mamoré, que criava uma saída
boliviana para o Atlântico. O Tratado de Petrópolis foi assinado em 17
de novembro de 1903.
A várias personalidades brasileiras, parecia que o país cedera
demais: entre outras, Rui Barbosa, o grande nome da política e da
cultura de então, que se retirara das negociações por não concordar com
as concessões feitas. A uns poucos, como a Teixeira Mendes, influente
líder dos positivistas – grupo que era ainda poderoso – parecia, ao
contrário, que o Brasil havia espoliado um vizinho mais fraco. O fato
a ser retido é que a unanimidade que existia em torno de Rio Branco
se desfez. Entretanto, esse tumulto de opiniões díspares durou poucos
meses, apenas até acalmarem-se as paixões que o assunto provocara.
Muito contribuiu para isso a notável exposição de motivos que arrola os
antecedentes históricos e geográficos da questão e justifica, plenamente,
para os deputados que votaram o assunto e para a posteridade, a
assinatura do acordo.
Nas negociações com a Bolívia há uma curiosidade que foi muito
discutida no passado. É o célebre caso do Mapa da Linha Verde, que teria
sido propositalmente ignorado por Rio Branco durante as negociações,
por ser favorável à Bolívia, já que admitia, desde o Tratado de 1867, a
possibilidade da linha Madeira-Javari ser uma oblíqua. Era um mapa
que previa quatro hipóteses de fronteira: a paralela, desenhada em
linha verde, e mais três linhas oblíquas, conforme a nascente ignorada
do Javari fosse colocada cada vez mais ao norte. Sua existência
inviabilizaria a nova interpretação que o barão deu, de fazer a divisa
correr pelo paralelo de 20°10’ até encontrar o meridiano da nascente
do Javari (seguiria pelos dois lados de um triangulo retângulo, em vez
de pela hipotenusa). E se disse mais ainda. O mapa apareceu só quando
a exposição de motivos sobre o Tratado de Petrópolis estava sendo
discutida no Congresso, quando as vozes oposicionistas predominantes
eram as que achavam que se havia dado demais; ora, nesse momento,
o mapa tornaria ainda mais meritórias as tratativas brasileiras que
desaguaram no acordo, favorecendo sua aprovação.

18
INTRODUÇÃO

A dúvida é, pois, se o barão conhecia o mapa, colocou-o de lado


quando era inconveniente e só o mostrou quando útil. Alguns estudiosos
da obra de Rio Branco dizem que sim. Nas suas memórias, Oliveira Lima
afirma estar certo disso. Leandro Tocantins, autor da mais completa
história do Acre, também pensa dessa forma: o barão, tão erudito nesses
assuntos, que descobrira velhas cartas até em obscuras bibliotecas
europeias, não ignoraria um mapa que estava ali em frente, na Mapoteca
do Itamaraty. Castilhos Goicochéia, que escreveu sobre o Mapa da
Linha Verde, é peremptório: “Rio Branco não o encontrou porque não
quis encontrá-lo2.” Seus dois principais biógrafos não são muito claros
neste ponto: Álvaro Lins parece negar que o barão conhecesse o mapa
(curiosamente acha que o Visconde de Cabo Frio não quis mostrar),
e Luis Viana Filho deixa dúvidas sobre o aparecimento providencial:
“Mera coincidência? Sonegação? Jamais se saberá3.”
O barão, por sua vez, afirma com todas as letras: não conhecia
o famoso mapa, mencionado por vários autores e pelos seus dois
antecessores na pasta. Só depois de encaminhar a exposição ao Congresso
– na qual fala que o mais antigo mapa que inclui a oblíqua é de 1870, em
uma interpretação “equivocada” do espírito do Tratado de 1867 –, um
funcionário da Mapoteca mostrou-o a ele. Certificou-se, então, de que
realmente existia o mapa com a oblíqua, feito sob a orientação de Duarte
da Ponte Ribeiro e usado durante as negociações de 1867. O barão de
imediato escreveu uma carta ao deputado Gastão da Cunha, relator do
tratado no Congresso, ratificando declarações da exposição de motivos e
pormenoriza as circunstâncias da redescoberta do mapa.
Comentemos. Já antes de assumir seu posto de chanceler, Rio
Branco havia escrito pelo menos uma carta pessoal (a Hilário de
Gouvea) em que acha que se poderia perfeitamente desprezar a hipótese
da oblíqua e dar outra interpretação ao Tratado de 1867 (a que realmente
deu); não diria isso se soubesse da existência da carta geográfica. Na
correspondência oficial ao Congresso, além da sua palavra, nomeia o
funcionário da Mapoteca que lhe mostrou o mapa. Pelo que se conhece
da personalidade do barão, seria muito difícil admitir que mentisse;
ainda mais por escrito e com testemunhas...
2 
GOICOCHÉIA, Castilhos. Fronteiras e Fronteiros. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1943, p. 116.
3 
VIANA FILHO, Luís. op. cit. p. 1.084.

19
SYNESIO SAMPAIO GOES FILHO

Na verdade, essa discussão – se ele sabia ou não do mapa – não foi


fundamental nas negociações de Petrópolis, pois este não tinha “nenhum
valor probante... só encerrava hipóteses nas suas linhas imprecisas”4.
Se soubesse, não recorreria à interpretação de que a fronteira segue
pelos dois lados do triângulo retângulo, em vez de pela hipotenusa; mas
a estrutura do tratado teria de ser a mesma: o necessário era resolver
o problema de toda a área ocupada pelos brasileiros. Há ainda outro
ponto: se Rio Branco conhecesse o mapa e omitisse o fato (nós não
acreditamos nisso), quem poderia acusá-lo de qualquer coisa? Que
negociador seria atacado por não apresentar um documento desfavorável
à tese defendida?
Para mostrarmos como é bem diversa a visão boliviana dos
dois tratados de limites, vamos nos limitar a três citações. As duas
primeiras foram extraídas da importante obra Historia diplomatica de
Bolívia, de Jorge Escobari Cusicanqui, e a terceira, de um estudioso
de assuntos de fronteira, Augusto Céspedes. O acordo de 1867 –
“generoso”, segundo Rio Branco, que achava que por controlarmos
a foz podíamos ir até as nascentes, então não ocupadas por nenhuma
nação (“watershed doctrine”, diziam os livros da época) – é visto como
um desmembramento territorial “pelo qual Bolívia entrego al Brasil
150.000 kilómetros quadrados... y 60 léguas del Rio Madera”5. Sobre o
Tratado de Petrópolis, as opiniões não são mais edificantes:

La pacificación no fué del agrado del Gobierno brasileño, el que alentó uma
segunda rebelión encabezada, esta vez, por Plácido de Castro, en agosto de 1902.
Entonces el Brasil actuó desembozadamente enviando 8.000 soldados al Acre,
rompió relaciones diplomáticas com Bolívia, clausuró el tránsito del rio Amazonas
y exigió la rescisión del contrato com ‘The Bolivian Syndicate’... Inútiles resultaron
las propuesta del Gobierno boliviano – el Ejército brasileño se apoderó de las
localidades bolivianas y de Puerto Alonso el 2 de abril de 1903. A fin de evitar
la agravación del conflicto armado, Bolívia se vió obligada a suscribir primero
um ‘Modus Vivendi’ y luego el Tratado de Petrópolis, de 17 de noviembre de
1903, por el qual resultó cediendo al Brasil todo aquel extenso y rico território,

4 
GOICOCHÉIA, Castilhos. op. cit. p. 121.
5  
CUSICANQUI, Jorge Escobari. Historia diplomatica de Bolivia. La Paz: Universidad
Boliviana, 1978, vol. II, p.306.

20
INTRODUÇÃO

a cambio de dos milliones esterlinas y de la construción del ferrocaril desde el


puerto de San Antonio sobre el Madera, hasta Guyaramerín em el Mamoré [...]6.

O especialista conclui suas observações sobre este tratado com


uma frase dura: “es la mas grande extorción cometida en América7.”
Na Bolívia, os autores citados não são considerados radicais, e suas
opiniões não são tão diferentes de outras que por lá circulam...

Os Tratados de 1904 com o Equador e de 1907 com a Colômbia

Os tratados de limites com o Equador e a Colômbia não apresentaram


as dificuldades dos outros, objetos deste volume: o da Bolívia, já visto, e
os do Peru e do Uruguai, que ainda veremos. As exposições de motivos
sobre eles têm cada uma 5 páginas, o que contrasta com as outras três,
mais densas, com 28 (Bolívia), 37 (Peru) e 36 páginas (Uruguai), para
não falar do da Argentina, com apenas 2 páginas. Como se referem à
mesma área geográfica, vamos tratar de ambas conjuntamente.
A fronteira noroeste do Brasil, do rio Solimões ao rio Negro (Cucuí),
por razões práticas pode ser dividida em três trechos: 1o) do Solimões
(Tabatinga) ao Japurá (foz do Apapóris); 2o) deste à nascente do rio
Meniachi; 3o) desta ao Negro (ilha de São José do Cucuí). Essa linha de
limites, muito irregular no segundo e terceiro trechos (conhecidos em
conjunto como “cabeça do cachorro”), era disputada ao sul (1o trecho),
com o Peru, o Equador e a Colômbia; ao centro (2o trecho), apenas com
a Colômbia; e, ao norte (3o trecho), com esse último país e a Venezuela.
Com o Peru, o Brasil definira a geodésica Tabatinga – foz do Apapóris,
em 1851 (1o trecho). Tentara, em seguida, com a Colômbia (2o trecho)
e a Venezuela (3o trecho) igualmente assinar tratados de limite. Com
ambos os países foram negociados acordos, em 1853, os quais, por
razões políticas internas de cada um deles, não entraram, entretanto, em
vigor. Mais tarde, ainda durante o Império, houve novas tentativas de
acordo com a Colômbia, ainda sem resultado. Com a Venezuela, sim,
o Brasil assinou o Tratado de Limites de 1859, definindo a fronteira no
trecho norte (o 3o).

6 
Id. ib., p.310.
7 
In História da Formação da Fronteira do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército,
1973, p.220.

21
SYNESIO SAMPAIO GOES FILHO

Em 7 de maio de 1904, o barão Rio Branco negocia com o


plenipotenciário equatoriano no Rio de Janeiro um acordo que
reconhecia como limite de ambos os países a mesma linha do Tratado
de 1851, com o Peru (Tabatinga – Apapóris), no caso de se concluir
favoravelmente ao Equador o conflito fronteiriço que o país mantinha
com o Peru. O conflito foi resolvido pelo Protocolo do Rio de Janeiro,
de 1942, teve solução considerada inexequível pelo Equador em 1951;
e, finalmente, com participação decisiva da diplomacia brasileira,
assinou-se um acordo em Brasília, em 1998. O que importa aqui é que
o Equador não ficou lindeiro do Brasil, como desejava.
Em 1907, chegando as negociações com a Colômbia a bom termo,
Rio Branco dá instruções a Eneas Martins, chefe da Missão Especial
em Bogotá, para concluir o tratado de limites. Era com o último país
amazônico a aceitar um acordo baseado no uti possidetis, dado seu
tradicional apego ao Tratado de 1777. O representante brasileiro passa
nota informando o Ministério das Relações Exteriores da Colômbia de
que estava habilitado a:

Cerrar imediatamente la parte comprendida entre la Piedra del Cocuhí y la


confluencia del Apaporis y el Yapurá, dejando para ser discutidas y resueltas en
tiempo oportuno la parte comprendida entre el Apaporis y Tabatinga, en caso de
ser reconocida Colombia como proprietaria de estos terreno, una vez resueltos
sus pleitos con el Perú y el Ecuador8.

O acordo foi assinado em 24 de abril, limitando, pois, a 2a e a 3a


das três seções da fronteira. Os limites da 1a seção (a linha Tabatinga
– Apapóris) não puderam ser estabelecidos pelo tratado, porque a
Colômbia preferia que fosse solucionada antes sua pendência com o
Peru. A linha de limites então acordada reproduzia, com as precisões
trazidas pelo melhor conhecimento da região e algumas concessões
mútuas aconselhadas pelo uti possidetis, a mesma que havíamos
negociado em 1853. A 3a seção já havia sido limitada pelo Tratado de
1859, com a Venezuela. Com a decisão arbitral de 1891, a região passou
à soberania da Colômbia, que, pelo presente acordo, aceitava os limites
de 1859.
S., Francisco de Andrade. Demarcación de las fronteras de Colombia. Bogotá: Ediciones
8  

Lerner, 1965, p. 228.

22
INTRODUÇÃO

O embaixador Araújo Jorge, colaborador de Rio Branco e autor


do excelente volume introdutório das Obras dele, assim concluiu suas
observações sobre o Tratado de 1907, com a Colômbia:

Este ato internacional, sem a transcendência dos celebrados com a Bolívia e com
o Peru, tem um significado especial na história das lindes territoriais na América
do Sul: o de haver fixado uma linha de limites através de territórios disputados
por quatro nações diferentes: Venezuela, Colômbia, Equador e Peru9.

Na exposição de motivos sobre o tratado, Rio Branco manifestava


a esperança de que, caso a Colômbia viesse a ter a soberania sobre
as terras contíguas à linha Tabatinga-Apapóris (1o trecho), esse limite
fosse adotado. Ambas as situações ocorreram. Em 1922, o Peru assinou
um tratado em que cedia à Colômbia as terras contíguas linha de limites
com o Brasil – o chamado “trapézio de Letícia”. Por esse acordo, hoje
geralmente considerado no Peru como lesivo aos seus interesses, a
Colômbia passou, portanto, a ser ribeirinha do Amazonas; e, em 1928,
esse país aceitou como fronteira, como esperava Rio Branco, a geodésica
Tabatinga-Apapóris, isto é, o limite brasileiro-peruano de 1851.
Embora extravase o período de Rio Branco, é interessante dar a
opinião de Francisco Andrade S., autor de conhecida obra sobre as
fronteiras da Colômbia, acerca do acordo de 1928, com o Brasil:

Las anteriores afirmaciones [de que a linha Tabatinga-Apapóris dava ao Brasil


territórios por direito colombiano] son inacatables, pero con elIas no se quiso
significar que el tratado de 1928 haya sido un fracaso para Colombia. No lo
fué, naturalmente, teniendo en cuenta las condiciones desfavorables en que nos
hallabamos. A estas circunstancias llegamos por errores y descuidos de muy vieja
data, como se ha podido ver a lo largo del desarrollo de este estudio. España
arrancó de la bula inter caetera de Alejandro VI; retrocedió 270 leguas hacia el
poniente en Tordesillas, línea que sostuvo hasta la terminación de los Autrias.
Durante la unión de las dos monarquías, imprudentemte, se adjudicó a Bento
Maciel Parente la capitanía de Cabo Norte, entre el Oyapoc y el Amazonas...
terminada la guerra de sucesión, Francia devuelve a Portugal la capitanía de
Cabo Norte por el tratado de Utrecht y, por el mismo tratado, España devuelve a

9 
JORGE, A. G. de Araújo. Introdução às Obras do Barão do Rio Branco. Rio de Janeiro:
Imprensa Nacional, 1945, pp. 179-80.

23
SYNESIO SAMPAIO GOES FILHO

Portugal en 1713 la colonia de Sacramento, fijando Portugal con esta maniobra,


puntos de posesión al occidente de Tordesillas, anulando completamente este
meridiano, labor completada por sus constantes avances en el río Negro y en
el Blanco, aconpañados por el desalojamiento de los misioneros jesuítas del
Amazonas, todo como ya lo vimos atrás. Estas maniobras, muy apoyadas por la
labor diplomática portuguesa, llevaron al segundo Borbón de España a trazar
su lindero por la boca del Yavarí [Tratado de Madri, 1750]. El último paso ya
nos tocó a nosostros; los dimos de la línea Yavarí-Amazonas... a la geodésica
Tabatinga-Apaporis. Ellos heredaron de Portugal la habilidad, nosostros de
España la despreocupación10.

A tese da habilidade portuguesa versus a despreocupação espanhola


é comum entre historiadores latino-americanos, como também o é
(veremos depois) a da divisão interna dos países hispânicos, frente
à firmeza e à continuidade das posições do Império e da República.
Ambas têm alguma parcela de verdade, mas a primeira não leva em
consideração que, nos tempos coloniais, os acertos entre Portugal e
Espanha eram mundiais e que, às vezes, se cedia em um continente em
troca de vantagens em outro (a “permuta” do oeste além-Tordesilhas do
Brasil pelas Filipinas, em 1750, por exemplo). O que cabe registrar é o
sentimento – também comum – de frustração pela perda de territórios,
aos portugueses na Colônia, aos brasileiros depois da independência.

O Tratado de 1909 com o Peru

Na República, nosso maior problema de limites na Amazônia, pela


extensão do território envolvido, foi com o Peru e não com a Bolívia,
como se poderia pensar pela gravidade que chegou a assumir a questão
acreana. O Peru reivindicava no começo do século XX um território
imenso de 442.000 km2, que incluía não apenas o Acre, com seus
191.000 km2, mas também uma grande área contígua, todo o sul do
estado do Amazonas.
Conheçamos a origem do conflito. Pelo Tratado de Santo Ildefonso, a
divisa na região focalizada era a já referida linha que une o ponto médio do
Madeira à nascente do Javari; em seguida, o rio Javari até foz no Solimões;

10 
S., Francisco de Andrade. op. cit. p. 234.

24
INTRODUÇÃO

depois, este rio até a boca do Japurá; e, finalmente, o rio Japurá. O Tratado
de Limites de 1851 confirmava a divisa do rio Javari, mas introduzia a
geodésica Tabatinga-foz do Apapóris, transferindo, portanto, à soberania
brasileira o ângulo de terras limitado pelos rios Solimões e Japurá. Para
dar uma ideia da dimensão dessa área, digamos que equivale a 2/3 do
atual estado do Acre. Por que o Peru assinou um acordo aparentemente
desfavorável? Alguns autores lembram que interessava mais a este país
na época, não terras desconhecidas na Amazônia, e sim acesso pelos rios
brasileiros, o que foi conseguido. Euclides da Cunha dá outro argumento:
com o acordo, o Peru dava maior legitimidade a seus títulos, em uma área
disputada pela Colômbia e pelo Equador.
Continuando em nosso propósito de dar sempre uma opinião da
outra parte, vejamos o que diz sobre o acordo Victor Andrés Belaúnde,
conhecido historiador e diplomata peruano:

Claro está que de acuerdo con los limites teóricos de San Ildefonso... la convención
suscrita por Herrera em 51 fué um desastre diplomático; pero hay que tener em
cuenta que lo único que le interesaba al Peru en esa fecha no era la mayor o menor
extensión territorial en el Amazonas, sino la libre navegación que el Tratado de
San Ildefonso concedia exclusivamente al Brasil. De modo que para conseguir el
objeto y lhenar la necessidade essencial del Perú, en este tiempo, era necesario
dejar el tratado... y atender al uti possidetis de facto. A eso debió el reconocimiento
de las posesiones brasileñas em el ángulo Yapurá-Apaporis11.

Nada provia, o Tratado de 1851, sobre a região – até então inexplorada


– do Acre, situada ao sul da linha Madeira-Javari; nem cabia fazê-lo,
pois o Brasil não disputava a soberania sobre essa área, reivindicada
pelo Peru à Bolívia. Em 1867, acordamos com a Bolívia a geodésica
que ia da foz do Beni à nascente do Javari. O Peru protestou contra a
assinatura desse acordo. Em 1903, resolvendo de vez nossos problemas
fronteiriços com a Bolívia, assinamos o Tratado de Petrópolis, pelo qual
o Acre, região ao sul dessa linha, passou a ser território brasileiro. De
novo protestou o Peru.
O que reivindicava essa república, com mais precisão a partir da
obra Geografía del Perú, de Paz Soldán, publicada em 1863, era toda
11 
Belaúnde apud BARRENECHEA, Raúl Porras; REINA, Alberto Wagner. Historia de los
límites del Perú. Lima: Editorial Universitária, 1981, p. 118.

25
SYNESIO SAMPAIO GOES FILHO

a região situada ao sul da reta nascente do Javari – média distância do


Madeira, do Tratado de 1777. Como a reivindicação incluía o Acre,
também por esse motivo foi o Tratado de Petrópolis atacado no Brasil:
incorporando-o, teríamos implicitamente comprado parte do conflito de
limites entre o Peru e a Bolívia.
Em 1904, agravaram-se as escaramuças entre caucheros peruanos
e seringueiros brasileiros nas regiões do Alto Juruá e do Alto Purus,
incluídas no recém-adquirido território. Não era a primeira vez que
ocorriam conflitos entre os entalhadores de seringueiras brasileiros, que
subiam pelos rios formadores do Purus e do Juruá, e os derrubadores
de caucho (para se extrair o látex dessa espécie, a Castilloa elastica,
é necessário derrubar a árvore), que passavam do vale do Ucayali aos
tributários do Purus e do Juruá. No auge da crise, o Barão do Rio Branco
negocia a neutralização de ambas as áreas, os territórios do Breu e do
Cataio (respectivamente no Alto Juruá e no Alto Purus), e concorda,
conforme à doutrina tradicional brasileira, que duas comissões mistas
fossem a essas remotíssimas regiões para verificar quem delas tinha posse.
O chefe de uma das comissões que no ano seguinte visitaram as áreas
conflitadas bem merece breve comentário. Era Euclides da Cunha, já então
famoso pela publicação, em 1902, de Os sertões. O escritor procurou essa
árdua missão impelido por sua sede de mato, como explicou em carta a um
amigo: “Não desejo a Europa, o ‘boulevard’, os brilhos de uma posição,
desejo o sertão, a picada malgradada e a vida afanosa e triste de pioneiro12.”
A Amazônia seria seu assunto predileto até a morte, que não estava distante:
do sertão árido do Nordeste passava ao sertão úmido do Norte. Já havia lido
boa parte da bibliografia sobre a região e queria fertilizar seu conhecimento
teórico com a vivência local para escrever um livro que, pretendia, fosse
o “pendant” de seu livro sobre Canudos. Não queria morrer como o autor
de uma só grande obra; mas não conseguiu realizar seu intento, embora
tivesse escrito talvez as mais antológicas páginas sobre a Amazônia,
primeiro publicadas em artigos de jornais e, depois, reunidas em Contrastes
e confrontos e no seu livro póstumo À margem da história.
Relacionando se com sua missão, publicou, em 1905, um erudito estudo
sobre o conflito de fronteiras aí existente, Peru versus Bolívia, no qual toma
partido, como era seu costume, adotando a posição boliviana. O conflito foi
12 
Cunha apud RABELO, Sílvio. Euclides da Cunha. Rio de Janeiro: Editora Civilização
Brasileira, 1983, p. 245.

26
INTRODUÇÃO

arbitrado pelo presidente da Argentina, em 1909, de maneira diversa, aliás, da


propugnada por Euclides: o árbitro preferiu dividir a região, o que provocou
grande descontentamento na Bolívia. Meses mais tarde, entretanto, o Peru
e a Bolívia chegaram a um acordo que mantinha em grande parte a decisão
do árbitro, apenas retificando a linha divisória, de modo um pouco mais
favorável a La Paz, no trecho da fronteira que tocava o Acre.
Só após arbitrado esse conflito, procurou Rio Branco resolver as
dúvidas entre o Brasil e o Peru. Nesse mesmo ano, com o chanceler peruano
Hernán Velarde, assina no Rio de Janeiro o tratado que completava afinal a
linha de nossos limites amazônicos. Ambas as zonas neutralizadas (39.000
km2) passavam à soberania peruana, já que se verificou serem os nacionais
desse país que ocupavam as nascentes do Juruá e do Purus. Dessa forma,
o Acre diminuía seu território de 191.000 km2 para 152.000 km2, mas,
em compensação, o Peru desistia de sua persistente e sempre incômoda
reivindicação, baseada no Tratado de 1777, sobre os restantes 403.000 km2
da área contestada. Parecia que o Brasil ganhava muito, mas na verdade era
o Peru que reivindicara excessivamente, como bem explica Rio Branco:

O confronto da enorme vastidão em litígio com pequena superfície dos únicos


trechos que passarão a ficar por nós reconhecidos como peruano... pode deixar
a impressão de que, pelo presente tratado, o governo brasileiro se reservou
a parte do leão. Nada seria menos verdadeiro ou mais injusto. Ratificando a
solução que este tratado encerra, o Brasil dará mais uma prova do seu espírito de
conciliação, porquanto ele desiste de algumas terras que poderia defender com
bons fundamentos em direito13.

Como exemplo da argumentação imbatível de Rio Branco,


transcrevamos um parágrafo da posição brasileira nas negociações
(retomado na posterior exposição de motivos), o qual põe a nu um erro
geográfico do Peru, que contribuiu para o excesso de sua reivindicação:

A linha do Tratado de 1777, nos mapas oficiais peruanos, segue erradamente o


paralelo 6º52’15”. A verdadeira é a do paralelo de 7°38’45”, como indica o mapa
de Euclides da Cunha, porque esse limite provisório devia partir, na direção
do oeste, de um ponto no Madeira situado a igual distância do rio Amazonas e

13 
RIO BRANCO, Obras do Barão do Rio Branco. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1947.
vol.V, p. 109.

27
SYNESIO SAMPAIO GOES FILHO

da boca do Mamoré (artigo 21). E o mesmo Tratado explica (artigos 20 e 21),


que o rio Madeira é formado pela junção do Mamoré e do Guaporé: (‘Baixará
a linha pelas águas d’esses rios Guaporé e Mamoré, já unidos com o nome de
Madeira...’); de sorte que naquele tempo o nome de Mamoré não era ainda dada
à seção compreendida entre a boca do Guaporé e do Beni14.

Todas as exposições de motivos de Rio Branco são documentos


valiosos, tanto pelas razões e provas apresentadas, quanto pelo estilo
descomplicado em que são vazadas. A relativa ao Peru é a mais
trabalhada e a mais longa: sua obra-prima, diz Álvaro Lins. É também a
última (lembrando que o ajuste posterior com o Uruguai, sobre a lagoa
Mirim, é uma pequena retificação de acordo anterior). Dir-se-ia que,
por referir-se ao tratado que fechou a linha de limites do Brasil, quis
também amarrar o pacote dos argumentos com que negociou, com tanto
sucesso, todas as questões de fronteira.
Finalmente se enterrava definitivamente o Tratado de Santo
Ildefonso, e o Brasil se tornava o primeiro país sul-americano a ter seus
limites reconhecidos por solenes e incontroversos tratados bilaterais.
Podia liberar suas energias para outras tarefas. A obra de Rio Branco é o
remate feliz de um notável empreendimento, a formação das fronteiras
do Brasil: feito maior da Colônia, como ensina Capistrano, prioridade
máxima da diplomacia brasileira durante todo o Império e as duas
primeiras décadas da República.

O Tratado de 1909 com o Uruguai

Este tratado tem uma dimensão física limitada. Ainda assim, como
é o ultimo da fronteira sul – a que concentrou sempre a maior parte
das preocupações e ações de nossos diplomatas –, mereceu de Rio
Branco um notável estudo de sua formação histórica, que retomaremos
aqui, procurando ser um pouco (é impossível ser muito) diferente.
Comecemos na Europa...
A paz entre Portugal e a Espanha, vigente desde 1777, foi reafirmada
pelo matrimônio do príncipe herdeiro dom João com dona Carlota
Joaquina, filha mais velha de Carlos IV. A Revolução Francesa e a posterior

14 
Id. ib., p. 111

28
INTRODUÇÃO

adesão da Espanha à França modificou essa situação e deixou Portugal


em uma posição constrangedora: não podia nem enfrentar o vizinho,
muito mais poderoso, nem romper seus históricos laços com a Inglaterra,
a grande potência marítima da época e a garantia da sobrevivência de seu
império colonial. Por exigência de Napoleão Bonaparte, então primeiro
cônsul (seu irmão Luciano era embaixador em Madrid), a Espanha
invade Portugal com vistas a romper a aliança anglo-portuguesa. A guerra
foi rápida (maio e junho de 1801), mas não deixou de ter consequências
na América, ao contrário do que previam as cláusulas pacifistas dos
tratados de 1750 e 1777. Os luso-brasileiros – menos tropas regulares,
mais voluntários gaúchos – invadiram os Sete Povos das Missões,
aproveitando-se da situação precária em que se encontravam.
Recapitulemos os fatos, agora aqui nestes campos do Sul. Com
isso, faremos uma breve incursão pela história do Uruguai, por sua
vez muito vinculada à da Argentina e do Brasil (particularmente
do Rio Grande do Sul). Conhecida a notícia da guerra na Europa,
começaram a haver movimentos de tropas nas nossas fronteiras sulinas,
ainda não completamente demarcadas. Na área a oeste de Rio Pardo
(última povoação portuguesa, no centro do Rio Grande do Sul), as
ações tiveram consequências duradouras. José Borges do Canto, ex-
soldado do Regimento de Dragões, com apenas “pólvora e balas para
40 homens” e um grupo de índios amigos, partiu para a conquista das
Missões, concluída em agosto, quando a notícia da Paz de Badajoz ainda
não tinha chegado ao sul do Brasil. Bem diferente do que aconteceu
durante a Guerra Guaranítica, em 1751, agora a ocupação foi fácil: “Os
espanhóis não conseguiram defender o território... faltavam os jesuítas
para organizar os índios e comandá-los com eficácia na guerra....15” Era
praticamente o limite sul, estabelecido em 1750, que voltava a viger
(descia do rio Ibicuí ao Quaraí, no oeste, mas, em compensação, subia
de Castillos Grandes ao Chuí na costa leste).
O Tratado de Paz assinado com a França em Badajoz trouxe a
fronteira norte do Brasil para o Araguari (pelo Tratado de Utrech, de
1713, deveria ser pelo rio Oiapoque, mais ao norte); já o firmado com a
Espanha nada dispôs sobre as fronteiras coloniais, ao contrário do que
era habitual nos tratados entre os dois países. As cidades portuguesas
15 
MAGALHÃES, J. Romero de. “As novas fronteiras do Brasil”. In: E., Betancourt. História
da Expansão Portuguesa. Navarra: Circulo de Leitores de Lisboa, 1998, vol. III, p. 35.

29
SYNESIO SAMPAIO GOES FILHO

do invadido Além-Tejo foram restituídas, à exceção de Olivença e áreas


contíguas (400 km2), conservada pelos espanhóis.
Soube-se da Paz de Badajoz no fim do ano de 1801, quando os
Sete Povos já estavam completamente ocupados. E não se pensou em
restituí-los. Havia, ademais, o caso de Olivença, que fornecia um bom
argumento para conservar a grande área invadida, de cerca de 90.000
km2, quase metade do atual Estado. Esta situação não foi obviamente
bem-aceita pelas autoridades de Buenos Aires e, durante décadas – até
a fixação definitiva da fronteira entre o Brasil e o Uruguai em 1851 –,
não faltaram investidas diplomáticas e incursões no terreno visando à
reincorporação das Missões, conforme — alegavam os hispânicos —
previa o Tratado de Santo Ildefonso.
O príncipe regente (dom João VI, em 1816), no Brasil depois de
1808, gostaria que seu império americano tivesse a fronteira sul ainda
mais dilatada, isto é, no rio da Prata – Oliveira Lima não deixa dúvida
disso. No período em que a Espanha estava dominada por Napoleão
e era a inimiga próxima de Portugal, suas razões tinham mais peso. A
seu lado estava, ademais, dona Carlota Joaquina, filha mais velha de
Carlos IV, mantendo intensas negociações com líderes platinos. Não
era totalmente desprovida de base a reivindicação da princesa: já no
século XVIII diferentes ministros espanhóis tiveram a ideia de dividir
as colônias americanas entre os infantes. Reassumindo o trono os
Bourbons da Espanha, depois da derrocada napoleônica, e recomeçando
na América as guerras de independência, a situação tornou-se menos
clara. Por um lado, a motivação de atacar um inimigo diluiu-se; por
outro, na agitação das águas turvas do rio da Prata, o arrasto da Banda
Oriental ficava mais viável.
Com a Revolução de Maio de 1810, Buenos Aires se declara
independente da Espanha. Adota o nome de Províncias Unidas do Rio
da Prata, mas não consegue unir o antigo “Virreinato”. No Paraguai,
a independência fez-se rapidamente: em 12 de outubro de 1813, a
república – a primeira do continente – já era proclamada, mas não
reconhecida por Buenos Aires. No Uruguai, os espanhóis ainda eram
fortes. Em Montevidéu estava sua base naval e o vice-rei Xavier Elio
fazia da cidade a sede de seu poder desvanecente. No campo, entretanto,
com auxílio de Buenos Aires, a resistência aos espanhóis nunca se
extinguiu, com José de Artigas no centro do movimento insurgente.

30
INTRODUÇÃO

O Brasil via com preocupação a guerra civil no Uruguai, inclusive


porque “a reconquista das Missões era uma ideia fixa de Artigas”16,
como lembra o historiador J. A. Soares de Souza. Foi a convite do
vice-rei espanhol que ocorreu a primeira invasão portuguesa em 1811;
mas as tropas não chegaram até Montevidéu, seu objetivo, por ter
havido um armistício entre a Junta de Buenos Aires e o vice-rei. Este
não durou muito, pois poucos meses depois já estavam “peleando”
espanhóis de um lado e artiguistas, apoiados por Buenos Aires, de
outro. Enquanto houvesse o inimigo comum espanhol, essa aliança
vigeria, mas já se sentia a tensão entre uruguaios, que pensavam na
independência, e argentinos, que queriam incorporar a Banda Oriental
às Províncias Unidas.
Artigas era um líder perigoso tanto para as classes dirigentes
conservadoras de Buenos Aires, quanto para a elite centralizadora e
escravocrata do Rio de Janeiro. Moniz Bandeira é um dos autores que
vê o caudilho uruguaio quase como um revolucionário social:

A luta de Artigas apresentava, na verdade, um caráter mais popular e colimava um


projeto de transformação ainda mais radical que o da Revolução de Maio. Era uma
insurreição rural, conduzida pelos próprios homens do campo, com um programa
político que aspirava à constituição de uma república federal, respeitando-se a
autonomia e a igualdade de todas as Províncias do Rio da Prata. A certa altura,
ele incitou os gaúchos do Rio Grande de São Pedro, inclusive os escravos negros,
à revolta contra Portugal, numa tentativa de atraí-los para o seu lado, como já o
fizera anteriormente com os indígenas, particularmente os guaranis das Missões,
que formavam uma força especial do seu exército17.

O agravamento da situação – já sem os espanhóis no Uruguai –


foi o pretexto para que, em novembro de 1816, o general português
Carlos Frederico Lecor (futuro visconde de Laguna), com um forte
exército de 6.000 homens, invadisse o Uruguai, tomando Montevidéu,
em 20 de janeiro de 1817. Todavia, no campo, as escaramuças entre as
tropas luso-brasileiras e os seguidores de Artigas ainda duraram três

16  
SOUZA, José Soares. “O Brasil e o Prata até 1828”. In: HOLANDA, S. B. de. História da
civilização brasileira. São Paulo: DIFEL, 1976, t. II, vol. I, p. 311.
17 
BANDEIRA, L.A. Moniz. O expansionismo brasileiro e o governo dos estados na bacia do
Prata. Brasília, UnB, 1995, p. 61.

31
SYNESIO SAMPAIO GOES FILHO

anos, tendo ocorrido apenas em 1820 a derrota definitiva desse líder, na


batalha de Taquarembó.
A região foi sendo pouco a pouco incorporada ao Império,
conservando a língua, os costumes, as leis e até as fronteiras tradicionais.
Estas, por acordo de 1821, eram os rios Quaraí e Jaguarão, ligados
pelo divisor de águas que une suas nascentes; e a lagoa Mirim (que se
comunica com o oceano pelo arroio Chuí), na qual deságua o Jaguarão.
Com estes limites, preservava-se a ocupação brasileira dos Sete Povos:
no rio Uruguai, entretanto, o território brasileiro não descia até o rio
Arapeí, ao sul do Quaraí, como fixava uma ata assinada por autoridades
do município de Montevidéu e pelo general Lecor em 1819. Um
Congresso uruguaio reunido em Montevidéu – de representatividade
suspeita na visão dos historiadores uruguaios e também de vários
brasileiros – em 18 de julho de 1821 adota a resolução de incorporar
a Banda Oriental do Uruguai, a partir de então chamada Província
Cisplatina, à monarquia portuguesa. Chegou-se, enfim, à desejada
fronteira natural do Prata; mas não por muito tempo... Como as demais
províncias do Império, a Cisplatina também enviou representantes à
Assembleia Geral de 1822.
Em julho de 1825, provindos da Argentina, desembarcam em uma
praia do rio Uruguai, La Agraciada, perto de Colónia, os famosos “treinta
y três orientales”, patriotas da expedição de Juan Antonio Lavaleja,
antigo colaborador de Artigas. Reforçados localmente e sempre
contando com a ajuda de Buenos Aires, vão pouco a pouco ocupando
porções do território uruguaio. Em agosto, houve o Congresso de Florida
– este influenciado pelos argentinos –, que votou pela incorporação de
Montevidéu às Províncias Unidas, e o subsequente ato de aceitação de
Buenos Aires. Pressionado pelos fatos, dom Pedro I assina em 1o de
dezembro a declaração de guerra.
“Esta [...] não foi favorável ao Brasil. Foi uma guerra impopular
que se arrastou até 1827”18, diz claramente o historiador brasileiro
contemporâneo Boris Fausto. A esquadra imperial não perdeu o controle
do Prata, é verdade, mas as operações de terra em geral tiveram maus
resultados. A resistência crescia na zona rural uruguaia e, em Passo do
Rosário (Ituzaingó), no Rio Grande do Sul, em fevereiro de 1827, um

18
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1994, p. 151.

32
INTRODUÇÃO

exército invasor argentino-uruguaio comandado por Alvear e Lavaleja


derrota as tropas brasileiras comandadas pelo marquês de Barbacena.
Houve outras batalhas bem menos expressivas, algumas derrotas,
algumas vitórias.
Menos pelas batalhas – nenhuma foi decisiva para o resultado final
da guerra – e mais porque ambos os países estavam com dificuldades
políticas internas e economicamente exauridos, começaram as
negociações para uma trégua. Com a intervenção britânica, em 27
de agosto de 1828, por uma Convenção Preliminar de Paz, Brasil e
Argentina dão por terminado o conflito e reconhecem a independência
do Uruguai. Pelo artigo 1o, declarava o imperador do Brasil considerar
a Cisplatina separada do Império, para que ela pudesse “constituir-se
em Estado livre e independente de toda e qualquer nação”. O governo
da República das Províncias Unidas concordava, por sua vez, pelo
artigo 2o, em reconhecer “a independência da Província de Montevidéu,
chamada hoje Cisplatina”. O historiador argentino Ricardo Levene vê
de maneira equânime o surgimento do novo Estado: “La emancipación
uruguaya fué el desenlace del pleito secular entre las coronas de España
y Portugal y contempló en aquel momento históricos los anhelos de los
hijos del territorio y los interesses internacionales19.”
A Província Cisplatina conquistou a independência, mas não a
paz. O que se seguiu no novo país, denominado República Oriental
do Uruguai, foram décadas de grande instabilidade política. Dois
partidos dividiam a opinião pública: os “blancos”, agrupação que
se formou originalmente em torno de Lavaleja, em geral simpáticos
à Argentina, e os “colorados”, mais propensos ao Brasil, cujo chefe
inicial foi o primeiro presidente do Uruguai, Fructuoso Rivera (que
havia anteriormente aderido ao Império, após ter sido um dos principais
líderes do exército de Artigas).
No Rio de Janeiro, a opinião dominante, depois de 1828, favorecia a
política de se conservar neutro nas disputas platinas. Mas isso era difícil,
pelas vinculações existentes entre facções do Uruguai e do Rio Grande
do Sul. Lembre-se, ademais, de que entre 1835 e 1844 esta província
passou pela mais prolongada guerra civil da nossa história, a chamada
Revolução Farroupilha. Liderada pelo estancieiro Bento Gonçalves, os
19 
LEVENE, Ricardo. Historia de America. Buenos Aires, Jackson Inc. Editores, 1951, t. VI,
p. 170.

33
SYNESIO SAMPAIO GOES FILHO

revoltosos chegaram a proclamar, em 1838, uma independente República


do Piratini. Embora não fosse certo que os revolucionários gaúchos
quisessem em definitivo a república e a independência, havia entre os
líderes mais responsáveis da Regência (1831-1840), um grande temor de
que o Brasil se desagregasse, tal como ocorrera com as antigas colônias
espanholas. A integração do Rio de Grande do Sul em uma possível
unidade política platense não era, também, uma ideia descabida. Boris
Fausto assim vê o alcance internacional da revolução gaúcha:

Há controvérsia entre os historiadores se os farrapos desejavam ou não separar-se


do Brasil, formando um novo país com o Uruguai e as províncias do Prata. Seja
como for, um ponto comum entre os rebeldes era o de fazer do Rio Grande do Sul
pelo menos uma província autônoma, com rendas próprias, livre da centralização
do poder imposta pelo Rio de Janeiro20.

Outro fator da instabilidade uruguaia foi a ascensão de Juan


Manuel de Rosas do outro lado do Prata. Oriundo de família de ricos
proprietários de “saladeros” (charqueadas) de Buenos Aires, como
governador de sua província natal, ou mais tarde dirigente máximo da
Confederação, dominou com mão de ferro a política argentina, de 1828
até 1852. Durante seu longo período de poder, Montevidéu cresceu por
causa do grande número de argentinos que fugiam da pressão do partido
de Rosas, o federalista, cujo lema bem demonstra a violência com que
impunha sua lei aos adversários: “Muerte a los salvajes unitários.”
As relações entre os vários grupos políticos da Argentina, do
Uruguai e da província do Rio Grande do Sul eram mais oportunistas
do que – como poderíamos dizer hoje – ideológicas, isto é, dirigidas
por um conjunto de ideias e valores relativos à ordem pública. Com
esforço de abstração, pode- se, entretanto, considerar os unitários
argentinos geralmente ligados aos “blancos” uruguaios, e ambos os
partidos afinados com as ideias da burguesia comercial dos portos; e
os federalistas de Rosas próximos aos colorados de Rivera, as duas
facções vinculadas aos proprietários rurais. Na prática, a situação era
personalizada, complexa e, sobretudo, cambiante.
Rosas e o gabinete do Rio de Janeiro mantinham, por vezes, relações

20 
FAUSTO, Boris. op. cit. p. 170.

34
INTRODUÇÃO

calmas, mas de um modo geral eram tensas. O ditador argentino,


afinal, queria incorporar à Confederação as partes dispersas do antigo
Vice-Reinado, e isso contrariava a linha básica da política brasileira,
favorável à independência do Uruguai e do Paraguai (e também da
Bolívia). Em 1843, chegou-se a firmar um acordo entre Buenos Aires e
o Rio de Janeiro contra Rivera, agora apoiando os gaúchos revoltados.
Como não foi ratificado por Rosas, o governo brasileiro passa a não
mais reconhecer o bloqueio argentino de Montevidéu. Esse ato, mais
o reconhecimento da independência do Paraguai, em 1844, elevavam
o nível de participação brasileira no Prata e foram interpretados por
Rosas, corretamente, como inamistosos.
Ao aproximar-se o meio do século, os laços entre Buenos Aires e o
Rio de Janeiro vão se esgarçando cada vez mais. Em 1849, o primeiro
López toma Corrientes, ação que os argentinos julgaram contar com
a concordância tácita brasileira; pouco depois, em 1851, firma-se um
tratado de aliança defensiva paraguaio-brasileiro. Como se acreditava
que Rosas pretendia invadir Montevidéu, e, depois, quem sabe, atacar o
Rio Grande do Sul, o Brasil intensificou seu apoio ao governo uruguaio,
já empalmado por Rivera, contra as incursões de Oribe, agora um
general de Rosas.
No interior da Confederação crescia, por sua vez, a resistência ao
ditador, até que o levantamento de Justo José Urquiza, chefe inconteste
da província de Entre-Rios e que contava igualmente com o apoio de
Corrientes, dispara a guerra civil. Não só rompe com Rosas, como
também firma um tratado com representantes brasileiros e uruguaios,
com a finalidade de derrubá-lo. A guerra foi rápida e, em 3 de fevereiro
de 1852, na Batalha de Monte Caseros, não longe de Buenos Aires, o
ditador argentino é completamente derrotado. Importantes contingentes
de tropas brasileiras participaram dessa batalha, que levou Urquiza à
presidência da Confederação. Alguns autores veem esse momento como
o da máxima influência do Brasil na região (o da máxima expansão
havia ocorrido no período da Província Cisplatina, 1821-1828).
Já antes de Caseros, em dezembro de 1851, no Rio de Janeiro se
assinara um tratado com o Uruguai, que conservava basicamente entre
os dois países os limites da Província Cisplatina. Precisava-se no seu
texto que a lagoa Mirim seria de uso exclusivo dos brasileiros, isto
é, não compartilhada pelos dois estados ribeirinhos. Este tratado, se

35
SYNESIO SAMPAIO GOES FILHO

bem que retomando termos da convenção de 1821, norteou-se pelo uti


possidetis, princípio que já havia sido utilizado em tempos coloniais,
e que continuaria a ser, até o Barão do Rio Branco, o vetor principal
da política de fronteiras do Brasil. Como de costume, depois de cada
acordo de fronteira, aparecem os críticos... O de 1851 não fugiu à regra,
como se exemplifica com um importante diplomata uruguaio, Virgílio
Sampognaro: “El Tratado de Límites firmado en Río de Janeiro el
12 de octubre de 1851 es un instrumento injusto y defectuoso, que el
Plenipotenciario uruguayo tuvo que aceptar, en un momento sombrío
para la estabilidad nacional, por imposición de las circunstancias21.”
Pensava certamente nos Sete Povos e talvez na lagoa Mirim...
Afinal, chegamos em 1909, o ano do tratado sobre a lagoa Mirim,
visto no Brasil como um ato de generosidade de Rio Branco. Vejamos.
Os tempos eram outros: o Uruguai tinha evoluído de forma notável, era
agora considerado a Suíça da América Latina. Acabaram-se os tempos
de violentas disputas entre os dois tradicionais partidos; tratamvam-se,
às vezes, de verdadeiras guerras civis. Como eram fortes as conexões
com os países vizinhos, não era raro que estas se transformassem
em questões internacionais. Lembre-se de que a Guerra do Paraguai
começou em 1864, quando Francisco Solano López atacou o Brasil,
alegando que havíamos invadido o Uruguai para derrubar o governo
“blanco” de seu aliado Atanásio Aguirre. Agora, nessa nova conjuntura
uruguaia, Rio Branco percebeu claramente que estava na hora de
equilibrar o Tratado de 1851, oferecendo espontaneamente ao nosso
vizinho o condomínio sobre a lagoa Mirim e o rio Jaguarão.
Os autores uruguaios reconhecem o valor da iniciativa, mas
mencionam também uma circunstância regional que favoreceria o ato,
circunstância ignorada nos livros brasileiros. Citemos um deles:

La accion de noble justicia que tuvo el valor de realizar Rio Branco... en 1909, en
momentos en que el Canciller argentino Zeballos proclama su tesis de “la costa
seca”, o en otras palabras, que la Argentina poseía soberanía sobre la totalidad del
Río de la Plata... Por iniciativa del Barón de Río Branco, el gobierno brasileño
cedió al Uruguay no sólo los derechos a navegar esas águas [ da lagoa Mirim e
do rio Jaguarão], sino la plena soberanía de una porción equitativa de las mismas,

Sampognaro apud LAPEYRE, Edson Gonzales. Los límites de la Republica Oriental del
21  

Uruguay. Montevidéu: Editorial Amalis M. Fernandez, 1986, p. 341

36
INTRODUÇÃO

que fueron divididas a través del criterio de la línea media, o el del thalweg o por
una línea quebrada convencional, según los casos22.

Afinal, foi um gesto generoso de Rio Branco? Sem dúvida: quem


propôs a modificação foi o Brasil, não o Uruguai, e um chanceler que
não tivesse seu prestígio e sua influência não executaria um ato que,
bem ou mal, representava uma perda territorial. Haveria também o
interesse brasileiro em não continuar com o regime de exceção vigente
na lagoa Mirim? É bem possível que sim; o regime da costa seca era
anacrônico e poderia dar ideias à Argentina...

Observações finais

As exposições de motivos de Rio Branco são elaboradas em uma


linguagem simples e clara: não há palavras inabituais nem jargão
técnico. Historiam a questão, esgotam o argumento. São documentos
que surpreendem pela qualidade da redação. O mesmo se dá com
as defesas brasileiras nos arbitramentos (apesar de que aqui não são
páginas, são volumes). Os livros brasileiros que tratam de questões de
fronteira reptem, resumem ou glosam o que o barão escreveu. Ele é o
homem que faz a história e que apresenta a versão básica dela. Como o
fizeram – sem querer comparar personagens e circunstâncias políticas
– Júlio César, Napoleão e Churchill. Não há, no Brasil, outra versão
dos fatos relatados por Rio Branco. Para encontrá-la, é necessário ir
aos livros de países vizinhos. Foi o que fizemos. Os fatos indicados
são quase sempre os mesmos, mas as interpretações são diferentes; em
vários casos, opostas.
Alguns diplomatas brasileiros evitam tratar publicamente
dos problemas de fronteira: poderiam abrir antigas feridas... Não
parece que seja bem assim. Em primeiro lugar, as feridas estão
até exageradamente expostas nos livros de história dos países sul-
americanos; depois, nossa omissão poderia ser considerada tentativa
de esconder algo errado, o que não é o caso. Coloquemos as coisas
em seu devido lugar. Na verdade, o Brasil sempre se beneficiou
de algumas circunstâncias favoráveis. Era, em geral, o país

Id., ib. p. 342.


22  

37
SYNESIO SAMPAIO GOES FILHO

relativamente mais forte e de governo mais estável. No Império,


os objetivos da política de limites foram estabelecidos no começo
do Segundo Reinado e mantidos por todos os governos sucessores;
negociávamos com cada vizinho individualmente; havia uma
doutrina perfeitamente defensável, a da prioridade do uti possidetis
e da aceitação apenas supletiva do acordo de 1777; e, finalmente,
nossos negociadores eram escolhidos entre os melhores estadistas.
E na República? Quando todos os títulos nobiliárquicos já estavam
abolidos... eis que surge um barão para continuar isso tudo e inovar
quando necessário.
As coisas não se passaram assim em nossos vizinhos. Todos
acham que perderam territórios em disputas de fronteira. Há no
continente o que já se chamou “síndrome de território minguante”.
Vamos exemplificar com a Bolívia, o caso mais patente de
desmembramento territorial na América do Sul: perdeu seu litoral
para o Chile, na Guerra do Pacífico (1870-1876); o Acre para o
Brasil, pelo Tratado de 1903; e parte do Chaco, em guerra do mesmo
nome, para o Paraguai (1936-1939). Existe, pois, uma justificada
frustração nacional, que se reflete nos livros que abordam o tema
dos limites. No entanto, a verdade é que, com maior ou menor razão,
todos os países sul-americanos (para ficar por aqui) ressentem-se
de perdas de território. Até o Chile, aparentemente um país que
aumentou o seu, fala de prejuízos na Patagônia.
Há um aspecto adicional que merece ser considerado. Os países
que tiveram problemas de fronteira com o Brasil tiveram outros
contratempos, mais importantes, com outros vizinhos. No caso da
Bolívia – o mais dramático para nós –, não há dúvida de que a amputação
do litoral no Pacífico em razão de uma guerra é muito mais grave do
que a cessão, em negociações compensatórias, de uma área amazônica
não ocupada por seus nacionais.
Os livros de nossos vizinhos — sobretudo os mais objetivos —
não deixam de reconhecer a qualidade de nossa política externa, no
que concerne à fixação de limites. A seguir, temos três exemplos,
para variar, de autores argentinos. Um mais antigo, de Vicente G.
Quesada, importante diplomata e historiador do final do século XIX:
El Brasil sostiene su abrogatión [do Tratado de 1777] y funda su derecho territorial
em el uti possidetis actual... Los estados hispano-americanos, tratando aislados

38
INTRODUÇÃO

los unos respecto de los otros, se han encontrado em presencia de una unidad de
plan, de miras, y de tendências, que oponia el Imperio del Brasil, que habilmente
há discutido com ellos sucessiva y separadamente estas questiones, pero com una
pertinácia verdaderamente notable23.

Agora, a opinião de um historiador de nossos dias: “En Brasil


los gabinetes se sucedian, alternando liberales y conservadores,
pero manteniendo siempre la línea política externa... En Argentina
cada gobierno que llegaba al poder se esmeraba en desautorar y
desvirtuar al antecesor24.” E um terceiro exemplo, este especificamente
sobre nosso grande chanceler, que curiosamente é da lavra de quem é
considerado seu maior rival no continente, Estanislao Zeballos: “Si el
Brasil consolida la obra territorial de Rio Branco, le deverá el título
de su primer servidor y del mas grande de los benefactores de su amor
propio nacional y de su mapa25.”
Um último ponto: agora não sobre a eficiência, por todos
reconhecida, mas sobre a correção da nossa política de limites. Aqui,
não temos nada a aprender com os países de procedimento mais reto.
O Brasil emergiu da Colônia como um Império basicamente satisfeito
com seu território. As reivindicações brasileiras, também por isso, não
eram excessivas ou descabidas. O dito atribuído a dom Pedro II “ou o
território é nosso e não devemos alienar uma polegada dele, ou pertence
a nossos vizinhos e, então, é justo não querermos uma polegada do
que não nos pertence”26 não é uma dessas frases patrioteiras e vazias.
Corresponde ao pensamento e à ação central das nossas elites políticas
no período.
Nos primeiros 20 anos da República, a época em que liquidamos
todas as questões remanescentes, não se pode ignorar a personalidade
do Barão do Rio Branco, o agente fundamental dessa política. Não que
ele fosse um “idealista” em política externa – sabia bem que os países
põem os interesses nacionais acima de tudo –, mas seus parâmetros
éticos eram bem delineados. Nós versamos o caso do “Mapa da Linha
23 
QUESADA, Vicente G. Historia diplomatica latinoamericana. Buenos Aires: Talleres
Gráficos, 1920, t. III, p. 274
24 
Miguel Angel Scenna, Argentina-Brasil: Quatro siglos de rivalidad. Buenos Aires: Ediciones
la Batilla, 1975, p. 225.
25 
ZEBALLOS, Estanislao. Revista de Derecho Internacional, tomo XLII. Buenos Aires.
26 
É o barão de Capanema quem reporta esta frase, dita a ele por dom Pedro II.

39
SYNESIO SAMPAIO GOES FILHO

Verde” exatamente porque toca no único ponto que poderia inspirar


alguma dúvida sobre a maneira de proceder do barão. Verificamos que
sua reputação sai ilibada das controvérsias ocorridas. Sobre o Acre,
como um todo, nunca aceitou a ideia, presente na cabeça de muitos, de
que o mais prático seria apoiar discretamente a revolta dos brasileiros,
esperar a vitória e, depois, aceitar a incorporação do território na
federação. Exemplos continentais não faltavam...
Digamos mais. Não era Rio Branco um historiador puro, pois
nunca descurava dos interesses permanentes de seu país. Sempre foi,
ademais, um hábil advogado na defesa destes. Tudo isso é verdade. No
entanto, o que queremos destacar aqui é que ele considerava as boas
relações continentais uma prioridade de nossa política internacional,
desejava sinceramente o progresso das nações da América do Sul e
jamais admitiria que o Brasil esbulhasse um país limítrofe. Usava frases
como “fica bem ao Brasil e é uma ação digna do povo brasileiro”27. Elas,
na sua boca, faziam sentido.

27 
RIO BRANCO. Obras do Barão do Rio Branco. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1948.
Vol. IX, pp.195-198 (Discurso pronunciado em 6 de maio de 1909 no IHGB).

40
exposição de motivos sobre o
tratado de 17 de novembro de 1903
entre o brasil e a bolívia
Rio de Janeiro, Ministério das Relações Exteriores, 27 de dezembro
de 1903.

Senhor presidente da República,

Tenho a honra de pôr nas mãos de vossa excelência uma cópia


autêntica do Tratado de Permuta de Territórios e outras compensações,
firmado em Petrópolis aos 17 de novembro último pelos plenipotenciários
do Brasil e da Bolívia.
As primeiras tentativas de negociação para um acordo direto foram
feitas por mim, pouco depois de assumir a direção do Ministério das
Relações Exteriores, no dia 3 de dezembro do ano passado. Autorizado
por vossa excelência, propus então a compra do território do Acre. Essa
proposta foi logo rejeitada. Depois, procurei negociar sobre a base de
uma permuta desigual de territórios a que outras compensações serviriam
de complemento. A marcha das expedições militares da Bolívia contra
os nossos compatriotas do Acre interrompeu a negociação.
Decidida a ocupação militar, pelo Brasil, do território que só então
foi oficialmente declarado em litígio, ao norte do paralelo de 10º20’S,
teve começo a negociação do acordo preliminar relativo ao modus
vivendi no Acre. Essa negociação terminou em 21 de março. Em virtude

43
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

do acordo então assinado em La Paz – que negociei, pelo telégrafo,


secundado pelo senhor Eduardo Lisboa, nosso digno representante na
Bolívia –, as tropas brasileiras ficaram ocupando o território em litígio e
foi autorizado o governador militar brasileiro a mandar destacamentos ao
sul do citado paralelo, em território reconhecidamente boliviano, dentro
de limites convencionados, para o fim especial de evitar conflitos entre
os acreanos armados e as tropas bolivianas durante o prazo da suspensão
de hostilidades implicitamente ajustada, devendo continuar a exercer
a sua autoridade ao sul do dito paralelo o governador aclamado pelos
acreanos. A nossa intervenção não visava reprimir a insurreição, mas sim
proteger os nossos compatriotas e manter o status quo enquanto se tratava
da discussão do assunto principal, que era um acordo capaz de remover
para sempre as dificuldades com que os dois países lutavam desde 1899.
No dia 1o de julho, o senhor doutor dom Fernando Guachalla,
enviado extraordinário e ministro plenipotenciário da Bolívia em missão
especial, fez entrega da sua credencial a vossa excelência. Como consta
dos seus plenos poderes e dos do senhor dom Claudio Pinilla, então
enviado extraordinário e ministro plenipotenciário aqui acreditado em
missão permanente, foram encarregados esses dois ilustres diplomatas
de negociar conosco sobre a base de uma permuta equitativa de territórios
ou, não sendo isso possível, sobre a do arbitramento para a interpretação
do artigo 2o do Tratado de 1867. A ideia de uma compensação em
dinheiro, sobre a qual continuei a insistir, foi novamente rejeitada, em
março, pelo governo boliviano. Só em agosto, segundo parece, foram
alargadas as instruções dos plenipotenciários bolivianos deste país.
Desejando eu o valioso auxílio das luzes, competência e patriotismo
dos senhores senador Rui Barbosa e Assis Brasil, vossa excelência, por
decretos de 17 de julho, os associou a mim, como plenipotenciários,
para que, conjuntamente, tratássemos com os representantes da Bolívia.
Em 22 de julho, combinamos, os três, na proposta a apresentar aos
nossos concorrentes bolivianos, e no dia seguinte lhes foi ela entregue
por mim, em Petrópolis. Pedíamos à Bolívia os territórios que, pelo
presente tratado, ficam por ela reconhecidos como brasileiros, e lhe
oferecíamos em troca:

1º. O pequeno território triangular entre o Madeira e o Abunã, cuja área,


calculada apressadamente então, supúnhamos ser de 3.500 km2.

44
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

2º. Um encravamento de dois hectares, à margem direita do


Madeira, junto a Santo Antônio, para que aí se estabelecesse
um posto aduaneiro.
3º. Uma indenização de um milhão de libras esterlinas.
4º. A construção, em território brasileiro, desde a primeira
cachoeira do rio Mamoré, que é a de Guajará-Mirim, até a de
Santo Antônio no rio Madeira, de uma ferrovia, concedendo nós
à Bolívia as facilidades declaradas no tratado que se concluiu
no Rio de Janeiro em 15 de maio de 1882 e não entrou em
vigor.

A oferta dos dois hectares em Santo Antônio tinha por fim


facilitar a nossa resistência à cessão das duas margens do Madeira
acima de Santo Antônio. Em outubro, conseguimos retirar, embora
com dificuldade, essa oferta, fazendo valer as outras compensações
posteriormente oferecidas ou concedidas e demonstrando que uma
alfândega assim destacada e isolada nenhuma utilidade prática teria
para a Bolívia.
Antes de 22 de julho, manifestei aos meus colegas plenipotenciários
do Brasil a opinião de que, para poder-se chegar a um acordo direto,
seria necessário fazer à Bolívia alguma ou algumas concessões no
Baixo Paraguai brasileiro, de modo a realizar o pensamento do governo
imperial em 1867, que foi o de lhe dar por esse lado portos que
servissem ao seu comércio com o exterior. Informei-os da matéria de um
protocolo firmado em 1896 com esse mesmo pensamento. Convinha,
entretanto, não ir desde a proposta inicial ao extremo das concessões
que poderíamos razoavelmente fazer, e por isso reservamos para mais
tarde a oferta ou a aceitação do pedido que nesse sentido nos fosse feito.
A proposta, anteriormente resumida, foi logo no dia seguinte, 24 de
julho, declarada inaceitável pelos plenipotenciários bolivianos. Em 13
de agosto, recebi a contraproposta por eles formulada. Nela indicavam
uma modificação de fronteiras, de que resultaria o seguinte:

1º. Ao sul da linha oblíqua Javari-Beni, ficaria pertencendo ao


Brasil apenas uma terça parte do território que pedíamos, isto é,
o que se estende a oeste do rio Iquiri, tendo por limites, ao sul,
o paralelo que passa pela boca do Xapuri, afluente da margem

45
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

esquerda do Acre, depois o curso do mesmo Xapuri, e, a oeste,


a linha de 70ºW.
2º. Passariam a pertencer à Bolívia:

No norte (Amazonas e Mato Grosso):


a) as duas margens do Madeira acima, ou ao sul, da boca do
Jamari, compreendendo duas zonas limitadas, a oeste, por uma
linha reta traçada desde o paralelo da boca desse afluente até
a confluência do Rapirrã e do Iquiri, e, a leste, por outra reta
tirada da boca do mesmo Jamari, à confluência do Mamoré;

No sul (Mato Grosso), os territórios situados:


b) a oeste de uma linha traçada desde o chamado “marco do fundo
da Baía Negra” até o desaguadouro da lagoa de Cáceres;
c) a oeste do rio Paraguai, o qual ficaria servindo de limite, desde
esse desaguadouro até a confluência do Jauru;
d) a oeste do Jauru e ao sul do seu afluente Bagres; ao sul e a
oeste do Alto Guaporé até o lugar em que recebe, pela margem
esquerda, o rio Verde, passando assim para a Bolívia todos
os terrenos banhados pelo Aguapeí, afluente do Jauru, e pelo
Alegre e Verde, tributários do Guaporé.

Pediam mais os ministros bolivianos que, reconhecida a utilidade


recíproca da ferrovia Madeira-Mamoré, e sendo os territórios que
o seu país se dispunha a transferir incontestavelmente mais ricos e
rendosos do que os que pediam ao Brasil, nos obrigássemos a construir
– em território que passaria a ser boliviano –, desde Santo Antônio, no
Madeira, até Guajará-Mirim, no Mamoré, aquele caminho de ferro, e o
entregássemos em plena propriedade à Bolívia.
Essa contraproposta não podia deixar de ser, como foi, declinada
por mim, sem hesitação alguma e antes de qualquer consulta aos
meus colegas.
Começamos, entretanto, o senhor Assis Brasil e eu, a trocar ideias
com os plenipotenciários bolivianos, em repetidas conversações
particulares, que se passavam em Petrópolis, e a estudar o meio de
encontrar terreno sobre o qual nós pudéssemos aproximar e entender,
antes de abrir conferências formais em que tomaria parte o senhor Rui

46
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Barbosa, a quem não podíamos razoavelmente pedir que se distraísse


dos seus trabalhos no Senado para participar de tão largas e enfadonhas
tentativas. Tinha eu, porém, o cuidado de informá-lo de tudo quanto de
substancial se ia passando e de lhe pedir sempre o seu parecer.
Havendo os plenipotenciários bolivianos insistido, primeiro, para que
cedêssemos uma faixa de cinco léguas (cerca de 33 km) ao longo da margem
direita do Madeira, desde o Mamoré até Santo Antônio, depois, uma faixa
da mesma largura, sobre a margem esquerda, pedi, nas duas circunstâncias,
reunião do ministério em conselho, para saber se tais proposições, a
primeira das quais dispensaria qualquer indenização pecuniária, deviam
ou não ser aceitas em caso extremo, isto é, se da sua rejeição resultasse o
rompimento das negociações para um acordo direto. Quando se tratou do
exame do segundo pedido – tendo sido já então elevada por mim a dois
milhões de libras a indenização oferecida, e estando também em questão
uma proposta de modificação na fronteira de Mato Grosso, desde a Baía
Negra até a nascente do arroio Conceição, modificação de que resultaria
a transferência à Bolívia de 2.300 km2, pela maior parte de alagadiços –,
o senhor senador Rui Barbosa solicitou, em carta de 17 de outubro, a sua
exoneração e insistiu por ela, acreditando, sem dúvida porque me expliquei
mal, que os plenipotenciários bolivianos estavam irredutíveis, caso em
que ele preferia o arbitramento. Desde aquela data separou-se de nós o
eminente brasileiro, com grande sentimento de vossa excelência, meu e do
senhor Assis Brasil, que assim nos vimos privados do precioso concurso e
dos leais conselhos que até então nos havia dado.
Prosseguimos negociando, o senhor Assis Brasil e eu, e a nós dois,
tão somente, cabe a responsabilidade do acordo a que se chegou com os
representantes da Bolívia.
Parece-me conveniente dar desde já uma explicação.
No tratado, não foram expressamente declarados quais os territórios
permutados, mas simplesmente descritos com a possível minuciosidade
e clareza as novas linhas de fronteira. Procedendo assim, conformamo-
nos com a prática geralmente seguida na redação de acordos desta
natureza. As mútuas cessões, explicadas adiante nesta exposição, só
podem ser bem verificadas pela atenta leitura do artigo 1o, no que diz
respeito às pequenas modificações na nossa fronteira de Mato Grosso (§§
1o a 4o), em presença de uma cópia do mapa organizado pela Comissão
Mista brasileiro-boliviana de 1875, e, no tocante à região amazônica

47
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

(§§ 5o a 7o), à vista de outro representando a parte compreendida


entre 6º30’ e 12ºS e 62º e 74ºW. Do primeiro desses mapas foi feita
uma redução, e o segundo foi organizado após exame cuidadoso dos
melhores documentos, pelo senhor contra-almirante Guillobel.
No § 7o do mesmo artigo 1o estão figuradas várias hipóteses
quanto ao curso principal do Alto Acre. Nisso concordamos com o
único fim de satisfazer os plenipotenciários bolivianos. Tínhamos nós,
os do Brasil, pedido para fronteira, desde a confluência do igarapé
Baía para oeste, o álveo do rio Acre até a sua origem principal, e,
em seguida, o paralelo dessa nascente até o ponto de encontro com
o território peruano. Recearam os plenipotenciários da Bolívia que,
na demarcação, a Comissão Mista pudesse verificar ser o verdadeiro
Acre Superior algum dos rios tidos agora por afluentes meridionais
(o igarapé Verde ou o rio Pragas), o que levaria muito para o sul a
nova linha divisória que desejávamos situar nas vizinhanças do
paralelo 11ºS. Condescendendo com o desejo dos plenipotenciários
bolivianos, figuremos essas hipóteses, mas estamos convencidos, nós
os do Brasil, de que o limite há de ser o curso superior do Aquiri ou
Acre, que segue ora ao sul ora ao norte do paralelo 11ºS, como se vê
do levantamento feito por W. Chandless em 1865, publicado, com
as suas “notas” explicativas, no Journal of the Royal Geographical
Society, de Londres, tomo XXXVI, de 1867.

O chamado território do Acre, ou mais propriamente, Aquiri,


principal causa e objeto do presente acordo, é, como toda a imensa
região regada pelos afluentes meridionais do Amazonas a leste do Javari,
uma dependência geográfica do Brasil. Só pelas vias fluviais do sistema
amazônico se pode ter fácil acesso a esses territórios, e, assim foram eles,
de longa data, descobertos e exclusivamente povoados e valorizados por
compatriotas nossos. Ao sul da linha geodésica traçada da confluência do
Beni com o Mamoré à nascente do Javari, contam-se hoje por mais de 60
mil os brasileiros que trabalham nas margens e nas florestas vizinhas do
Alto Purus e seus tributários, entre os quais o Acre, o Iaco, o Chandless
e o Manuel Urbano e nas do Alto Juruá, inclusive os seus afluentes mais
meridionais, Moa, Juruá-Mirim, Amônea, Tejo e Breu.
No território do Alto Acre, ao sul de Caquetá, há cerca de 20 mil
habitantes de nacionalidade brasileira, ocupados principalmente na

48
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

indústria extrativa da goma elástica. Tal é o cômputo, conforme com o


de outros conhecedores daquelas paragens, que encontro em relatório
oficial recente de um funcionário boliviano, que ali residiu em comissão
do seu governo.
Quando, em 1867, negociamos com a Bolívia o primeiro Tratado de
Limites, não estavam ainda povoadas as bacias do Alto Purus e do Alto
Juruá, mas tínhamos incontestável direito a elas em toda a sua extensão.
O Tratado Preliminar de 1777 entre as coroas de Portugal e Espanha
ficara roto desde a guerra de 1801, pois não fora restabelecido por
ocasião da paz de Badajoz. Não havia, portanto, direito convencional
e, ocupando nós efetivamente, como ocupávamos desde princípios
do século XVIII, a margem direita do Solimões, de mais a mais,
dominando nas do curso inferior desses seus afluentes, tínhamos um
título que abrangia as origens de todos eles, uma vez que nenhum outro
vizinho nos podia opor o da ocupação efetiva do curso superior. É o
mesmo título que deriva da ocupação de uma costa marítima e que se
aplica às bacias dos rios que nela deságuam, como sustentaram Monroe
e Pinckney em 1805 e como foi depois ensinado por Twiss, Phillimore
e quase todos os modernos mestres do direito internacional.
No Madeira não se dava o mesmo. Possuíamos todo o seu curso
inferior, a margem oriental de uma pequena seção do Mamoré e a
oriental do Guaporé até o seu confluente Paragaú, e policiávamos à
direita deste; mas os bolivianos ocupavam efetivamente o rio de La Paz,
afluente do Beni, que é o Alto Madeira.
Para a determinação dos limites, no Tratado de 1867, adotou-se a
base do uti possidetis, a mesma sobre a qual foram assentados todos
os nossos ajustes similares com as repúblicas vizinhas, e, em vez de
procurar fronteiras naturais ou arcifínias seguindo a linha do divortium
aquarum que nos deixaria íntegros todos os afluentes do Solimões,
entendeu-se, com vantagem para a Bolívia, que o direito resultante da
posse ou das zonas de influência dos dois povos podia razoavelmente
ficar demarcado pelo paralelo da confluência do Beni e Mamoré, isto
é, pelo de 10º20’S desde esse ponto, a leste, até o Javari, a oeste, cuja
nascente se supunha estar em latitude mais meridional. Por isso, o
artigo 2o, no seu penúltimo parágrafo, estabeleceu a fronteira por essa
linha paralela ao Equador, e no seguinte empregou a expressão “linha
leste-oeste”.

49
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Como, porém, o último parágrafo, figurando a hipótese de se achar


a nascente do Javari “ao norte daquela linha leste-oeste”, diz que, nesse
caso, “seguirá a fronteira, desde a mesma latitude, por uma reta, a buscar a
origem principal do dito Javari”. Sem, entretanto, precisar o ponto inicial
da segunda linha na referida latitude de 10º20’S, adotou-se oficialmente
desde dezembro de 1867 a opinião de que a fronteira devia ir por uma
oblíqua ao Equador desde a confluência do Beni até a nascente do Javari,
de sorte que a linha do uti possidetis, que, pelo tratado era leste-oeste,
passou a ser deslocada, com prejuízo nosso, dependendo a sua exata
determinação do descobrimento de um ponto incógnito, como era então
a nascente do Javari. Tenho lido que durante as negociações em La Paz,
nos primeiros meses de 1867, o nosso plenipotenciário, Lopes Neto,
apresentara mapas desenhados sob a direção de Duarte da Ponte Ribeiro,
nos quais já figurava a linha oblíqua, mas disso não achei vestígio algum
na correspondência oficial. Desses mapas, o mais antigo, que me foi
mostrado e em que encontrei a linha oblíqua, tem a data de 1873.1

1 
O mapa de 1873, ao contrário do que supunha Rio Branco, não era o mais antigo em que o
limite entre o Brasil e a Bolívia se representava por uma linha oblíqua, ao Equador, desde a
confluência do Beni até a cabeceira do Javari.

Já estava o Tratado de Petrópolis em estudos na Comissão de Diplomacia da Câmara dos
Deputados quando foi encontrado no arquivo do Ministério das Relações Exteriores um
mapa, datado de 1860 e assinado pelo conselheiro Duarte da Ponte Ribeiro e pelo major
Isaltino José de Mendonça de Carvalho, no qual figurava, em tinta verde, a referida oblíqua.
Rio Branco deu conhecimento deste fato ao doutor Gastão da Cunha, relator da Comissão
de Diplomacia da Câmara dos Deputados, na seguinte carta: “Excelentíssimo senhor doutor
Gastão da Cunha, deputado federal. Ao ler, publicada anteontem, a exposição que submeti ao
presidente da República sobre o Tratado de Petrópolis, o senhor José Antônio de Espinheiro,
diretor de seção e antigo funcionário nesta secretaria, veio dizer-me que o mapa de 1873, a
que me referi nessa exposição, não era, como eu supunha, o mais antigo apresentando como
limite entre o Brasil e a Bolívia uma linha oblíqua ao Equador, desde a confluência do Beni
até o Javari. O senhor Espinheiro entregou-me o mapa manuscrito de 1860, citado pelos meus
dois imediatos predecessores, que, ao chegar, eu pedira ao venerando diretor-geral desta
secretaria. Efetivamente, o mapa que, dias depois, me fora, por engano, mandado a Petrópolis,
era de 1873, aparecendo nela o principal autor com o nome de barão da Ponte Ribeiro, título
este que só nesse ano de 1873 recebera. O documento original que recebi das mãos do senhor
Espinheiro, que estava sob a sua guarda, tem o seguinte título e indicação: Mapa de uma
parte da fronteira do Brasil com a República da Bolívia organizado pelo conselheiro Duarte
da Ponte Ribeiro e Isaltino José Mendonça de Carvalho, Janeiro de 1860. Traz, logo depois,
duas assinaturas autógrafas: ‘Duarte da Ponte Ribeiro’ e ‘Isaltino José Mendonça de Carvalho,
major graduado do Estado Maior de 1a classe’. Há no mapa uma linha vermelha, correndo
pela latitude de 10º10’ desde a confluência do Beni até encontrar o suposto Javari, e três
outras linhas, essas oblíquas, desde a mesma confluência, em busca da então desconhecida

50
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

No Atlas do Império do Brasil, de Cândido Mendes de Almeida,

nascente do Javari. Duas das linhas oblíquas, ambas paralelas, supõem a nascente do Javari,
uma na latitude austral de 8º45’, e outra na de 7º9’ sul. A terceira linha oblíqua é verde, e
supõe a nascente a 5º36’N. O exame deste mapa convence-me inteiramente de que, na mente
do governo do Brasil, desde 1860, a fronteira deveria ser formada por uma linha oblíqua, se a
nascente do Javari fosse achada ao norte do paralelo de 10º20’S. Isso, porém, em nada altera
o que se estipulou no tratado que pende do exame e de aprovação do Congresso, porquanto
os plenipotenciários dos dois países, durante a negociação, não se ocuparam de interpretar a
parte final do artigo 2º do Tratado de 1867, mas sim de estabelecer novas fronteiras mediante
compensações à Bolívia. Negociamos o tratado, dando como admitido que a fronteira fosse a
linha oblíqua do Beni à nascente do Javari. Peço a vossa excelência que comunique aos seus
colegas da Comissão de Diplomacia esta emenda à exposição que acompanha o tratado. O
mapa está aqui no Itamaraty à sua disposição. Com a mais alta estima, tenho a honra de ser
de vossa excelência amigo atento, muito obrigado. Rio Branco.”Sobre esse assunto foi depois
trocada a seguinte correspondência entre Rio Branco e o doutor Olinto de Magalhães, ministro
das Relações Exteriores na presidência Campos Sales: “Rio de Janeiro, 17 de junho de 1911.
Ilustríssimo e excelentíssimo senhor Barão do Rio Branco, ministro de Estado das Relações
Exteriores. Na visita que hoje tive a honra de fazer a vossa excelência, foi assunto principal
da nossa conversação o erro verificado em documentos oficiais sobre a existência do mapa de
1860 de Duarte da Ponte Ribeiro. Disse-me então vossa excelência que, na verdade, se acha
nessa secretaria de Estado, competentemente arquivado, tão importante documento, do qual
teve a bondade de me fornecer três cópias autênticas. Informou-me ainda vossa excelência
que o mencionado mapa só lhe foi apresentado pelo senhor José Antônio de Espinheiro,
diretor de seção nessa secretaria de Estado, depois de haver vossa excelência endereçado ao
Congresso Nacional a Exposição de motivos do Tratado de Petrópolis de 1903; mas que, em
tempo, dirigira à comissão parlamentar encarregada de dar parecer sobre aquele tratado uma
carta, em que restabelecia a verdade histórica. Vossa excelência bem pode compreender o vivo
interesse do país em que se divulgue essa retificação, que parece ignorada até de membros
do Congresso Nacional. Assim que, no v.2, à p.102, de sua obra O Direito do Amazonas ao
Acre Septentrional, que só agora me chegou ao conhecimento, declara o senhor Rui Barbosa o
seguinte: ‘Para colorir com a expressão de autenticidade oficial a inteligência, que substituiu
a linha quebrada, manifesta no artigo 2o do Tratado de 1867, tal qual se acha redigido, pela
oblíqua do Madeira à nascença do Javari, o trabalho de ajeitação, pertinazmente urdido no
decurso de 30 anos por sustentar o erro primitivo da nossa chancelaria, explorou com singular
confiança a história de linha verde, cuja derradeira edição lhe deu seu maior realce, ainda
em 1900, no relatório do ministro das Relações Exteriores. Alega-se que, nas instruções do
ministro de Estrangeiros Cansanção de Sinimbu, em 1860, ao nosso ministro residente em La
Paz, João da Costa Rego Monteiro, acompanhavam o projeto de tratado cartas explicativas, na
terceira das quais se tirara do Madeira ao Javari uma linha verde, a qual, dizia Ponte Ribeiro
‘é a que regulará por último se as nascentes do Javari não alcançarem até a linha encarnada
ou algumas das intermediárias’.
Diz ainda o senador Rui Barbosa: ‘Mas onde se acha esse mapa? Que sinais de autenticidade
nos certifica a existência desse documento? Na secretaria das Relações Exteriores, nas suas
repartições, no seu arquivo, entre os seus papéis não se encontra semelhante mapa. Ela
mesma é quem o no atesta, por órgão do seu chefe atual: ‘Tenho lido’ – diz o Barão do Rio
Branco – ‘que durante as negociações em La Paz, nos primeiros meses de 1867, o nosso
plenipotenciário Lopes Neto apresentava mapas desenhados sob a direção de Duarte Ribeiro,

51
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

publicado em 1868, tendo o autor pleno conhecimento do Tratado de

nos quais já figurava a linha oblíqua; mas disso não achei vestígio algum na correspondência
oficial.’ Foi, como se vê o trecho anteriormente transcrito da Exposição de motivos do Tratado
de Petrópolis, por vossa excelência redigido, que levou o senador Rui Barbosa a proclamar:
‘Anos, lustros, décadas por aí vogou impune, ilesa, incontroversa, com fumos de certeza
histórica, de inexpugnabilidade oficial a lenda que acabamos de ver expirar. Não foi um raio:
foi uma ponta de alfinete, o bico da pena do primeiro ministro das Relações Exteriores que se
deliberou a catar a verdade e confessá-la. O Barão do Rio Branco pôs-se em busca do mapa e o
não encontrou; esgotou os meios disponíveis no encalço da linha verde e não a viu. Aqui está,
a secretaria das Relações Exteriores anuncia que não sabe da linha verde. Três anos antes, não
mais, no relatório anual da mesma secretaria de Estado, a linha verde aparecia ainda, como
o golpe mágico na questão do Acre, para empalmar ao texto do Tratado de 1867 o paralelo
de 10º20’S e o substituir pela oblíqua do Madeira ao Javari. Nesta grande controvérsia todos
aludiam à famigerada linha verde, sem que ninguém lhe houvesse posto os olhos, falavam todos
no mapa, onde ela imaginava-se estar, sem que alguém a exibisse. Não se comenta a gravidade
destas conclusões. Se esta fosse a verdade incontrastável, com ela não perigava somente a
lisura do ministro que se referiu tão desabusadamente, em documento público, a esse mapa
nunca visto. O ministro que assim procedesse merecia a mais severa reprovação, porque com
tal fraude comprometia a honra do país e se revelava sem consciência de sua dignidade, nem
sentimento das suas responsabilidades. Depois que deixei em 1903 a direção do Ministério
das Relações Exteriores, me tenho propositadamente abstido de debates públicos, mantendo o
maior silêncio em face de quantas discussões se têm levantado em torno da política exterior do
Brasil, pela convicção em que estou de que ao homem público cumpre aceitar o seu quinhão
de impopularidade com ânimo sereno, desde que se trata de altos interesses nacionais. Foi por
essa razão que, durante as negociações do Tratado de Petrópolis, ao ser conhecida a Exposição
de motivos de vossa excelência, deixei de contestar a declaração de ser o mapa de 1873 o
mais antigo em que se encontra a linha oblíqua, em vez do que acompanhou, em 1860, as
instruções e o projeto para o Tratado de Limites. Agora, porém, que está encerrado o debate
diplomático e que a história tem o dever de reivindicar a verdade, apelo para vossa excelência,
certo de que não se negará a dizer publicamente que a asseveração contida no relatório do
ministro do Exterior de 1900 era fundada, que o mencionado mapa existe e está ainda sob a
guarda dessa Secretaria de Estado. Ninguém poderá então assoalhar que, ‘a discussão acerca
da soberania de um território maior que o de algumas potências do mundo, se agitou dezenas
de anos em torno de um documento supositício e um supositício demarcativo, nem que era
numa fantasia que baseavam os estadistas do Império a interpretação do Tratado de 1867’.
Foi, ao contrário, com razão que o ‘mapa, onde se assegurava estar a decifração do tratado,
o seu comento autêntico, a expressão cromográfica do pensamento dos seus celebradores,
pairou 36 anos sobre o debate como argumento irresistível’. Peço a vossa excelência que
me releve a extensão destes comentários, a que me levou involuntariamente a importância
do assunto. Permita, porém, que conclua com a afirmação de que o relatório de 1900, por
mim subscrito, nas declarações que fez ‘ao país, à legislatura e ao estrangeiro’ não ‘mentiu
ao passado e ao presente’, não ‘mentiu aos fatos e ao Direito’. Aproveito com prazer este
ensejo para reiterar a vossa excelência os protestos de minha mui distinta estima e elevada
consideração. Olinto de Magalhães.”

“Gabinete do ministro das Relações Exteriores. Rio de Janeiro, 22 de julho de 1911.
Excelentíssimo senhor doutor Olinto de Magalhães. Verbalmente já apresentei desculpas
a vossa excelência pela minha demora em responder à sua carta de 17 de junho. Sabe que

52
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

1867, de que se ocupa na introdução, a fronteira vem traçada pela linha


leste-oeste do paralelo de 10º20’S. Em suma, e é o que importa saber,
o governo brasileiro desde fins de 1867 adotou a opinião que mais
favorecia à Bolívia.
Por esse tempo, não tendo sido completada a demarcação de limites,
começaram os brasileiros a ir penetrando pelo Alto Purus, Alto Juruá e
seus afluentes. Em 1899, quando pela primeira vez o governo boliviano
quis firmar a sua soberania no Acre, a população brasileira, que de boa
fé ali se fixara, era tão numerosa quanto hoje. Começaram então as
revoltas desses brasileiros contra a dominação boliviana, e, aqui no
interior, agitações periódicas, motivadas pelos acontecimentos do Acre.
Ao inaugurar o seu governo, em 15 de novembro do ano passado
vossa excelência encontrou bastante estremecidas as nossas relações de
amizade com a Bolívia e em situação sumamente grave e complicada as
questões relativas ao território do Acre.
Toda a vasta região anteriormente mencionada, ao sul de uma linha
geodésica traçada da nascente principal do Javari à confluência do Beni
com o Mamoré, estava reconhecida como boliviana por numerosos atos
e declarações dos governos que entre nós se sucederam desde 1867, isto

andei adoentado e com a atenção muito presa por assuntos urgentes, como lhe disse há dias.
Confirmo o que sobre o mapa manuscrito de 1860 vossa excelência diz na sua carta. Esse
mapa, com as assinaturas autografadas do conselheiro Duarte da Ponte Ribeiro e do major
Isaltino de Carvalho, existe neste Ministério. Pude verificar isso em janeiro de 1904, depois
de publicada a Exposição de motivos que acompanhou o Tratado de Petrópolis. A inclusa
cópia da carta que em 11 de janeiro de 1904 dirigi ao relator da Comissão de Diplomacia da
Câmara dos Deputados, senhor doutor Gastão da Cunha, mostrará a vossa excelência que
retifiquei imediatamente o que sobre o assunto eu dissera na Exposição de motivos de 27 de
dezembro de 1903. Não me pareceu conveniente, durante a agitação daqueles dias, tornar
imediatamente pública e de modo solene a minha retificação ou retratação, a qual em nada
invalidava o ajuste internacional pendente de decisão do Congresso; mas tratei logo de informar
à comissão competente, pelo intermédio do seu digno relator, e disse-me este que em um dos
seus discursos dera à Câmara notícia do exposto na minha carta. Nunca ocultei esse incidente
às pessoas que sobre ele me falaram. Nas discussões pela imprensa relativas ao pleito entre
a União e o Estado do Amazonas tem havido, e desde alguns anos, referências à retificação
que fiz em janeiro de 1904. Mandei logo reproduzir, em fac-símile, o mapa na Imprensa
Nacional. Só pela carta de vossa excelência fiquei conhecendo os trechos nela transcritos da
obra do senhor senador Rui Barbosa. Não a tinha lido. Não tenho acompanhado o pleito em
andamento e não me julguei na obrigação de intervir nele, salvo se me fossem requeridos
documentos ou informações.

Com a mais perfeita estima e distinta consideração, tenho a honra de ser de vossa excelência
muito atento amigo e criado. Rio Branco.”

53
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

é, durante o regime imperial e após a proclamação da República. Um


Sindicato anglo-americano, com a denominação de Bolivian Syndicate,
armado de direitos quase soberanos, que lhe haviam sido conferidos
pelo governo da Bolívia para administração, defesa e utilização do
Acre, trabalhava – felizmente sem sucesso – por interessar algumas
potências comerciais da Europa e os Estados Unidos da América
nessa empresa, primeira tentativa de introdução no nosso continente
do sistema africano e asiático das Chartered Companies. O ilustre
predecessor de vossa excelência, baldados todos os esforços para
obter a rescisão desse contrato ou, pelo menos a modificação, com que
afinal se contentava, de certas cláusulas em que via inconvenientes
e perigos para o Brasil e para a própria Bolívia, havia entrado no
caminho das represálias, obtendo do Congresso, a cujo exame estava
submetido, a retirada do Tratado de Comércio e Navegação entre os
dois países e suspendendo, nos nossos rios, a liberdade de trânsito
para a exportação e importação da Bolívia. No Acre, a população,
exclusivamente brasileira, se tinha de novo levantado, desde agosto,
proclamando a sua independência da Bolívia, com o intuito de pedir
depois a anexação ao Brasil do território ao norte do rio Orton. Com
exceção de Porto Acre, onde as forças bolivianas puderam resistir até
fins de janeiro deste ano, todos os outros pontos estavam dominados
pelos insurgentes brasileiros. No Amazonas, os representantes do
Bolivian Syndicate se dispunham para subir o Purus e efetivamente
empreendiam pouco depois essa viagem, na esperança de poder chegar
a Porto Acre. Na Bolívia, preparavam-se expedições militares para
levantar o assédio dessa praça, submeter os acreanos e dar posse ao
Sindicato. Entre nós, homens eminentes, no Congresso, na imprensa
e em sociedades científicas, combatia-se, desde 1900, a inteligência
oficialmente dada ao Tratado de 1867, e sustentava-se que a fronteira
estipulada não era a linha oblíqua ao Equador, mas sim a do paralelo
de 10º20’S. A opinião, fortemente abalada, pedia que o território
compreendido entre as duas linhas e a fronteira com o Peru fosse
reivindicado pelos meios diplomáticos ou pelos mais enérgicos de que
pudesse dispor o governo.

Vários e difíceis foram os problemas com que deparei ao tomar


a direção deste ministério, originados da situação que acabo de

54
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

expor sucintamente.
O primeiro desses problemas provinha da supressão do livre-
trânsito comercial entre a Bolívia e o estrangeiro pelas nossas vias
fluviais. Contra isso reclamaram a França, a Alemanha, a Inglaterra, os
Estados Unidos da América e a Suíça.
Outra dificuldade podia resultar do fato de haver o Brasil
efetivamente impedido o desempenho das obrigações do Sindicato
anglo-americano, que eventualmente nos poderia responsabilizar por
perdas e danos.
O sentimento público entre nós era outro elemento que não podia
deixar de ser tomado em consideração. Desde a minha chegada da
Europa, observei que se manifestava unânime a simpatia nacional pelos
nossos compatriotas que se batiam no Acre. A previsão se impunha de
que aquele sentimento havia de avolumar-se tanto e tomar tal forma
que seria impossível a um governo de opinião como o nosso assistir
indiferente ao sacrifício que faziam esses brasileiros para conseguir um
dia viver à sombra da nossa bandeira. Como combinar o desempenho
do nosso dever para com esses compatriotas na aflição com o firme
desejo de não praticar atos de hostilidade contra o governo amigo que
os combatia?

Finalmente, a necessidade se acentuava clara e imperiosa de uma


solução radical que evitasse definitivamente, no interesse do Brasil
e da própria Bolívia, situações dessa natureza. Tal fim só poderia
ser alcançado ficando brasileiro não só o pequeno trecho do Acre
compreendido entre a linha oblíqua e o paralelo de 10º20’S, mas
também o Acre meridional, com o Xapuri, e toda a vasta região do
Oeste, igualmente povoada por brasileiros.
Esses quatro pontos – o da suspensão do comércio fluvial
com a Bolívia, o do Sindicato internacional, o dos brasileiros do
Acre e o da soberania no território por eles ocupado – acham-se
resolvidos. As comunicações puramente comerciais foram logo
restabelecidas. Do Sindicato estrangeiro obtivemos declaração
legal de absoluta desistência de todo e qualquer direito ou possível
reclamação contra quem quer que seja, mediante indenização
pecuniária incomparavelmente menor que a mínima despesa a que
nos obrigaria, e à Bolívia, uma séria complicação internacional.

55
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Declaramos litigiosa parte do território do Acre, do Alto Purus e do


Alto Juruá, adotando a inteligência mais conforme com a letra e o
espírito do Tratado de 1867 e com o critério mais seguido entre nós,
embora não tivesse sido até então o deste ministério. Obtivemos
amigavelmente da Bolívia a aceitação de um modus vivendi que nos
permitiu ocupar militar e administrativamente o território em litígio
e intervir como mediadores no que lhe fica ao sul, para aí evitar
encontros de armas durante as negociações. Por último, eliminados
todos os preliminares embaraçosos, procedemos a tratar amigável
e lealmente com a Bolívia, tendo, depois de maduro exame das
circunstâncias, chegado a este pacto que assegura grandes vantagens
imediatas e futuras para ambos os países.

Pelo presente tratado, o Brasil incorpora ao seu patrimônio um


território mais extenso que o de qualquer dos estados do Ceará, Rio
Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Espírito
Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina, território que produz renda
anual superior a de mais da metade dos 20 estados da nossa União.
Não foram, porém, vantagens materiais de qualquer ordem o móvel
que nos inspirou. Desde muito se conheciam as riquezas do Acre,
que eram os nossos compatriotas os únicos a explorar; entretanto, o
governo persistiu sempre em considerar boliviano aquele território e
dar à Bolívia as possíveis facilidades para utilizá-lo. Foi preciso que
a própria segurança deste continente fosse ameaçada pela tentativa de
introdução do sistema perturbador das Chartered Companies e que nos
convencêssemos da impossibilidade de conservar as boas relações,
que tanto prezamos, com a nação boliviana enquanto existisse sob a
sua soberania um território exclusivamente habitado por brasileiros
que lhe eram hostis, para que se produzisse a nossa ação em busca dos
resultados agora obtidos.
De fato, as maiores vantagens da aquisição territorial que
resultam deste tratado não são as materiais. As de ordem moral e
política são infinitamente superiores. Entre estas basta apontar a que
se traduz na melhora substancial que experimentam as condições
do nosso Império sobre o sistema fluvial amazônico exatamente no
ponto em que o direito dos ribeirinhos podia tornar-se-nos molesto.
Não podendo administrar normalmente a região agora cedida, a

56
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

que já tinha dado oficialmente o nome significativo de Territorio


de Colonias, a Bolívia tinha fatalmente de recorrer a expedientes
incômodos para nós, com o fim de suprir as condições essenciais de
domínio que lhe faltavam. São exemplos recentes o decreto que abriu
o rio Acre à navegação do mundo e os contratos de arrendamento
criando entidades semissoberanas. Suprimida a causa, não há mais
que temer o efeito.
Do território adquirido, uma parte, a que jaz ao sul da latitude austral
de 10º20’ – e que, se bem apresente menor superfície que a outra, é a que
contém o maior curso e as mais ricas florestas do Acre superior – nunca
foi nem podia ser por nós contestada à Bolívia. A sua área, calculada
pelo senhor contra-almirante Guillobel diante dos melhores elementos
cartográficos à nossa disposição, não deve ser inferior a 48.108 km2.
A parte do território que demora ao norte de 10º20’S, cuja área
pelos mesmos dados se avalia em cerca de 142.900 km2, foi, como ficou
dito, por nós recentemente declarada litigiosa e reclamada como nossa.
Desapareceu por isso o seu valor para a Bolívia? Não, certamente.
Assim também, por mais que o Brasil estivesse convencido do seu
bom direito, não podia desconhecer a possibilidade de ser a pendência
resolvida em favor do outro litigante. Conseguir que este desistisse
do litígio e nos cedesse os seus títulos era uma vantagem de grande
consideração que não podia ser pretendida a título gratuito. Desaparece
assim a contradição aparente de proclamarmos o nosso direito a uma
parte do território e de adquiri-lo em seguida, mediante retribuição.
Havia mais no caso presente: a declaração do litígio pela nossa parte
– correspondendo, aliás, à estrita verdade, porque de fato a opinião
nacional estava persuadida do nosso direito ao território – a declaração
do litígio, digo, respondia ao intuito diplomático de regularizar a nossa
ocupação, condição indispensável para a manutenção da paz e para o
estabelecimento das negociações em vista de um acordo direto, a que
afinal chegamos, com proveito para as duas nações.
O que, pelas estipulações deste tratado, o Brasil dá para obter da
Bolívia a cessão de uma parte do seu território e a desistência do seu
alegado direito sobre a outra parte pode sem dúvida ser considerado
como uma compensação sumamente vantajosa, e de fato o é; mas
isso não obsta que as nossas vantagens sejam igualmente grandes. As
combinações em que nenhuma das partes interessadas perde, e, mais

57
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

ainda, aquelas em que todas ganham serão sempre as melhores.


Em troca de 142.900 km2 de terra que lhe disputávamos e de 48.100
km de terra que era reconhecidamente sua – isto é, em troca de 191 mil
2

km2 –, damos à Bolívia entre os rios Madeira e Abunã (ainda segundo


os cálculos referidos) uma área de 2.296 km2, que não é habitada por
brasileiros e que o é por bolivianos. Se o título em nome do qual lhe
pedíamos a cessão das bacias do Acre e dos rios que ficam a oeste deste
era o de serem esses territórios habitados e cultivados por concidadãos
nossos, como poderíamos honestamente negar à Bolívia extensão
muito menor, habitada e utilizada por seus nacionais? Ademais, era
necessário salvar o princípio: não se tratava precisamente de cessão,
mas de permuta de territórios. Cumpre observar que este tratado não
veio inovar coisa alguma: a permuta de territórios já estava prevista e
autorizada no artigo 5o do Tratado de 27 de março de 1867.
A permuta, entretanto, seria injustamente desigual e não
poderia ser aceita pela Bolívia, se consistisse em ficar reconhecida
a nossa soberania sobre 191 mil km2 de terras em plena e valiosa
produção e darmos apenas 2.296 km 2 de terreno, por enquanto,
quase improdutivo. Foram, por isso, naturalmente, pedidas pelos
nossos concorrentes bolivianos outras compensações territoriais
bastante consideráveis, que conseguimos reduzir elevando a
indenização pecuniária primitiva oferecida, a qual não teria sido
necessária, como ficou dito, se houvéssemos anuído à cessão da
margem direita do Madeira desde a confluência do Mamoré até a
do Jamari.
Do tratado resultam as seguintes concessões à Bolívia, além da que
anteriormente ficou indicada:

1º. 723 km2 sobre a margem direita do rio Paraguai, dentro dos
terrenos alagados conhecidos por Baía Negra.
2º. 116 km2 sobre a lagoa de Cáceres, compreendendo uma nesga
de terra firme (49,6 km2) que permite o estabelecimento de um
ancoradouro mais favorável ao comércio que o que fora cedido
à Bolívia em 1867.
3º. 20,3 km2, nas mesmas condições, sobre a lagoa Mandioré.
4º. 8,2 km2 sobre a margem meridional da lagoa Gaíba.
5º. A construção de uma estrada de ferro, em território brasileiro,

58
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

ligando Santo Antônio, no Madeira, à Vila Bela, na confluência


do Beni e do Mamoré.
6º. Liberdade de trânsito por essa estrada e pelos rios até o oceano,
com as correspondentes facilidades aduaneiras, o que já lhe era
facultado por tratados anteriores.
7º. O pagamento de dois milhões de libras esterlinas em duas
prestações.
As concessões destinadas a facilitar o acesso da Bolívia ao rio
Paraguai são apenas um pequeno desenvolvimento do Tratado de 1867.
Por esse pacto, foi recuada para leste a fronteira que mantínhamos
na chamada “serra dos Limites”, e isso se fez para dar à Bolívia
a propriedade de metade da Baía Negra e das lagoas de Cáceres,
Mandioré, Gaíba e Uberaba, a fim de que se tornasse ribeirinha
do Paraguai, como aconselhavam Tavares Bastos, Pimenta Bueno
(marquês de São Vicente), A. Pereira Pinto e outros ilustres brasileiros.
A intenção do governo imperial foi dar assim à Bolívia cinco portos
nessas lagoas em comunicação com o rio Paraguai. A sua parte na
Baía Negra os bolivianos a perderam de fato em 1888, por ter sido
então ocupada pelos paraguaios. Na lagoa de Cáceres, a Bolívia não
achou ponto algum em que pudesse estabelecer um porto. O mesmo
lhe aconteceu nas lagoas Mandioré e Uberaba. Somente na Gaíba ficou
reconhecido, em exploração recente do capitão Bolland, ali mandado
pelo general Pando, que há água suficiente, facilidade de entrada e saída
para pequenas embarcações e possibilidade de construir na margem
ocidental um porto já projetado.
Informado de que o pensamento de 1867, do governo imperial,
não se pudera realizar, o governo da República procurou em 1896
remediar a isso, compreendendo também a vantagem de atrair para
Mato Grosso o trânsito comercial da região sudeste da Bolívia. Assim é
que, a 13 de março desse ano, lavrou-se nesta cidade do Rio de Janeiro
um protocolo firmado pelos senhores Carlos de Carvalho, ministro
das Relações Exteriores, e Frederico Díez de Medina, ministro da
Bolívia, concedendo a essa República, em servidão e a título gratuito,
para que pudesse estabelecer uma alfândega, o lugar de Tamarindeiro
e uma faixa de terra sobre a margem meridional da lagoa de Cáceres,
entre Puerto Suárez e Corumbá. O mesmo Tamarindeiro e a faixa de
terra que aí transferimos agora à Bolívia constituem a mais substancial

59
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

compensação que o presente tratado lhe dá pelo lado do Paraguai.


A construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré é outra grande
vantagem que oferecemos à nação vizinha, com a feliz circunstância de
ser ainda de maior proveito para nós. É execução de promessa feita à
Bolívia no artigo 9o do Tratado de 1867 e renovada solenemente no de
15 de março de 1882, cujo único objeto foi esse, sem que pedíssemos
por isso qualquer compensação territorial. Aconselharam a sua
construção e instaram por ela, no tempo do Império, muitos dos nossos
mais abalizados e previdentes estadistas, como foram Tavares Bastos e
o marquês de São Vicente, já citados, o barão de Cotegipe, o visconde
do Rio Branco e outros. As condições em que nos obrigamos agora a
construí-la não são apertadas.
O prazo para a conclusão das obras foi virtualmente deixado à
boa-fé do Brasil, que, estou certo, se empenhará, por isso mesmo, em
cumprir o prometido, mas que não assume responsabilidade material
alguma para o caso de força maior.
A República Argentina e a do Chile, inspiradas em sábias
preocupações econômicas, estão construindo e vão construir em
território boliviano caminhos de ferro destinados a canalizar para o seu
litoral o comércio dessa nação vizinha. Entretanto, nem o Chile, nem
a Argentina têm contato com a Bolívia por terras tão ricas como as do
Beni e Madre de Dios, cuja comunicação com a Europa e a América do
Norte só se pode realizar facilmente pelo Madeira e pelo Amazonas.
Ficaríamos privados dos grandes lucros que nos proporciona nossa
maior proximidade dos portos europeus e americanos se não entrássemos
em nobre competência, procurando beneficiar também do comércio de
trânsito boliviano.
A estrada Madeira-Mamoré vai trazer incontestável proveito
aos estados de Mato Grosso, Amazonas e Pará. Em troca de alguma
água, de alagadiços e de duas e meia léguas de terra firme, que lhe são
inteiramente inúteis e de que se priva em bem de altos interesses de
toda a nação brasileira, vai Mato Grosso ter uma importante via férrea
construída pela União e entrar em relação de comércio com o Amazonas
e os países do norte.
Por último, e por não haver equivalência nas áreas dos territórios
permutados, o Brasil dá à Bolívia uma compensação pecuniária de
dois milhões esterlinos, destinados à construção de estradas e outros

60
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

melhoramentos que, indiretamente, nos serão vantajosos, pois virão


aumentar o tráfego do nosso caminho de ferro do Madeira. Além de
ser o emprego dessa quantia remunerador em si próprio, há ainda a
observar que, segundo os dados conhecidos relativamente à renda do
território anexado, ela garante de sobra o sacrifício do nosso Tesouro e
promete, mesmo em breve tempo, amortizar totalmente o desembolso.

O território que pelo presente tratado é atribuído ao Brasil e o que


passa à Bolívia, entre o Abunã e o Madeira, é também reclamado pelo Peru.
Sabedor desse fato, o governo brasileiro mais de uma vez manifestou ao
do Peru que os seus possíveis direitos seriam ressalvados fosse qual fosse
o resultado das negociações com a Bolívia. É isso o que está confirmado
no artigo 8o do tratado. As pretensões do Peru vão, entretanto, muito além
do que geralmente se pensa; vão até o ponto de considerar peruana uma
parte do estado do Amazonas muito mais vasta que o território que foi
causa principal do presente tratado. Para o Peru, tanto quanto o sabemos
por documentos cartográficos recentes, de origem oficial, a sua divisa
com o Brasil, desde pouco abaixo da cabeceira principal do Javari, deve
ser o paralelo desse ponto até encontrar a margem esquerda do Madeira.
A área compreendida entre a mesma linha, o Madeira e a oblíqua Javari-
Beni, forma um triângulo muito maior que o chamado triângulo litigioso
do Acre, pois abrange nada menos de 251.330 km2 de território que entre
nós sempre foi julgado fora da questão. Assim é que o litígio de fronteiras
que temos com o Peru não nasce do tratado que acabamos de concluir
com a Bolívia.
Não é aqui ocasião de dizer circunstancialmente porque, com o
devido respeito pela opinião contrária, a confiança no nosso direito é tal
que nenhum receio devemos ter por esse lado.

Tal é, senhor presidente, o meu modo de pensar relativamente ao


tratado, cuja cópia venho submeter a vossa excelência para os devidos
efeitos. Ele representa para mim, além das vantagens já apontadas, a
solução que me pareceu melhor para as dificuldades que vim encontrar
ao tomar posse do cargo que vossa excelência me confiou.
Duas são as outras soluções que têm sido mais ou menos propostas
em público:

61
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

1º. Servirmo-nos dos brasileiros do Acre, esperando que eles con-


quistassem definitivamente a sua independência para depois
pedirem a anexação ao Brasil do Estado que assim fundassem
e que receberíamos na nossa União sem dar compensação al-
guma à Bolívia.
2º. Recorrer desde logo ao arbitramento para a interpretação da
parte final do artigo 2o do Tratado de 1867, defendendo nós
perante o árbitro a linha do paralelo de 10º20’S.

A primeira indicação, visando de fato a uma conquista


disfarçada, nos levaria a ter procedimento em contraste com a
lealdade que o governo brasileiro nunca deixou de guardar no seu
trato com os das outras nações. Entraríamos em aventura perigosa,
sem precedentes na nossa história diplomática e que, por ser de
mui demorado desdobramento, nos traria sem dúvida complicações
e surpresas desagradáveis, sendo por isso mesmo de desenlace
incerto. A conquista disfarçada que, violando a Constituição
da República, iríamos assim tentar se estenderia não só sobre o
território a que nos julgávamos com direito, mas também sobre o
que lhe fica ao sul, incontestavelmente boliviano em virtude do
Tratado de 1867, onde já dominavam os acreanos em armas. Porque
– é preciso não esquecer – o problema do Acre só se podia ou se
pode resolver ficando brasileiros todos os territórios ocupados
pelos nossos nacionais. Acrescentarei que nada nos permite afirmar
que os acreanos seriam forçosamente vencedores. No caso possível
de não levarem a melhor, o seu heroico sacrifício havia de ferir
e mover o sentimento nacional, com risco de nos arrastar a uma
guerra inglória. Esta infeliz contingência seria também possível no
caso de serem os acreanos vitoriosos e de aceitarmos a sua proposta
de anexação.
O recurso ao arbitramento teria o inconveniente de retardar
de quatro ou cinco anos, senão mais, a desejada solução e de,
mesmo no caso de nos ser favorável o laudo do juiz, não trazer
decisão alguma radical e definitiva, porquanto ele não suprimiria
ou resolveria as dificuldades com que os dois países lutavam desde
1899. Iríamos ao arbitramento, abandonando e sacrificando os
milhares de brasileiros que de boa-fé se estabeleceram ao sul do

62
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

paralelo de 10º20’S. O árbitro só nos poderia atribuir o território


que havíamos declarado em litígio ao norte desse paralelo e é ao
sul que está a maior parte do Acre, sendo também aí muito mais
numerosos os estabelecimentos de brasileiros. Durante o processo
arbitral, continuariam esses nossos compatriotas em conspirações
e revoltas contra a autoridade boliviana. Persistiria, portanto, entre
nós a agitação política em torno da questão do Acre, e na Bolívia,
talvez, a tentação de algum novo arrendamento para, com recursos
do estrangeiro, subjugar uma população que lhe era decididamente
infensa. Dadas a volubilidade da opinião em alguns dos nossos
meios políticos e a influência que ocasionalmente poderiam ter na
da maioria real ou aparente da nação, era impossível prever a que
decisões nos poderia levar, em momentos de exaltação patriótica, o
espetáculo da constante revolta desses brasileiros ou o da sua final
submissão pelo quase extermínio.
No entanto, era muito provável que, mais do que as boas razões
que pudéssemos alegar, pesasse no ânimo do árbitro a tradição
constante de 35 anos, durante os quais o governo brasileiro não só
considerou ser incontestavelmente da Bolívia o território entre a linha
oblíqua Javari-Beni e o citado paralelo, mas também chegou até a
praticar atos positivos de reconhecimento da soberania boliviana,
antes de ultimada a demarcação, concordando na fundação de uma
alfândega em Porto Alonso, depois Porto Acre, e estabelecendo ali
um consulado brasileiro. De mim digo que, tratando-se de tão altos
interesses do presente e do futuro desta nação, não ousaria aconselhar
o arbitramento senão no caso de inteira impossibilidade de um acordo
direto satisfatório e fora do terreno do Tratado de 1867, com garantias
muito especiais e de difícil aceitação pela outra parte.
O acordo direto era na verdade o expediente preferível, o mais
rápido e o único eficaz, podendo assegurar vantagens imediatas, tanto
para o Brasil quanto para a Bolívia. A ele recorremos e, depois de
paciente labor, conseguimos realizá-lo de modo satisfatório e honroso
para os dois países, não só resolvendo radicalmente todas as questões
de atualidade, mas também abrangendo numa concepção genérica o
conjunto das nossas relações de caráter perpétuo com a Bolívia.
Por felicidade, nem foi preciso inovar o direito existente entre os
dois países para alcançar tal resultado. O presente acordo é, no que tem

63
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

de essencial, simples desdobramento e aplicação das estipulações do de


1867, como anteriormente indiquei. Não há propriamente cessão, mas
permuta de territórios de ambos os países reciprocamente habitados por
cidadãos do outro país, precisamente como estatui o pacto de 1867, no
seu artigo 5o, já citado. Mas, ainda quando se pudesse chamar “cessão
de território” o fato de darmos cerca de 3.200 km2 para receber 191
mil km2, não se poderia dizer que semelhante ato fosse indecoroso
em si e muito menos que não estivesse autorizado pela tradição dos
povos livres mais pundonorosos do mundo, como os Estados Unidos
da América e a Suíça, e pelos precedentes jurídicos e costumeiros da
nossa pátria. A Constituição do Império admitia, no artigo 102, § 8o, a
cessão territorial, fazendo-a depender da sanção da Assembleia Geral
Legislativa. E o princípio foi, não só admitido, mas praticado por vezes.
No caso do presente tratado, entretanto, nós não perdemos,
nós ganhamos território. Mais ainda: efetuamos a nossa primeira
aquisição territorial desde que somos nação independente.
As decisões dos dois pleitos em que me coube a honra de defender
os interesses do Brasil não acrescentaram, apenas mantiveram o
patrimônio nacional dentro de limites prestigiados por afirmações
seculares do nosso direito. Verdadeira expansão territorial só há agora
e com a feliz circunstância de que, para efetuá-la, não espoliamos uma
nação vizinha e amiga, antes a libertamos de um ônus, oferecendo-lhe
compensações materiais e políticas, que desde já se revelam como
verdadeira equivalência e que o futuro se encarregará de traduzir em
outros tantos laços de solidariedade internacional.
Com sinceridade, afianço a vossa excelência que para mim vale
mais esta obra em que tive a fortuna de colaborar sob o governo de
vossa excelência, e graças ao apoio decidido com que me honrou, do
que as duas outras, julgadas com tanta bondade pelos nossos cidadãos e
que pude levar a termo em condições sem dúvida muito mais favoráveis.
Entretanto, o tratado não está feito e acabado antes da sanção do
Congresso Nacional. Aqui para o trabalho dos plenipotenciários de vossa
excelência e começa a responsabilidade dos representantes da nação.
Tenho a honra de reiterar a vossa excelência os protestos do meu
mais profundo respeito.

Rio Branco

64
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

A República dos Estados La República de Bolivia y la


Unidos do Brasil e a República República de los Estados Unidos
da Bolívia, animadas do desejo del Brasil, animadas del deseo de
de consolidar para sempre a consolidar para siempre su antigua
sua antiga amizade, removendo amistad, removiendo motivos
motivos de ulterior desavença de ulteriores desavenencias,
e querendo ao mesmo tempo y queriendo al mismo tiempo
facilitar o desenvolvimento das facilitar el desenvolvimiento
suas relações de comércio e de sus relaciones de comercio
boa vizinhança convieram em y buena vecindad, convinieron
celebrar um tratado de permuta de en celebrar un tratado de
territórios e outras compensações, permuta de territorios y otras
de conformidade com a compensaciones, de conformidad
estipulação contida no artigo 5o con la estipulación contenida
do Tratado de Amizade, Limites, en el Artículo 5o del Tratado de
Navegação e Comércio de 27 de Amistad, Limites, Navegación y
março de 1867. Comercio de 27 de marzo de 1867.
Para esse fim, nomearam Y con ese fin, han nombrado
plenipotenciários, a saber: Plenipotenciarios, a saber:

o presidente da República El Presidente de la República


dos Estados Unidos do Brasil, de los Estados Unidos del Brasil
os senhores José Maria da Silva a los señores José Maria da Silva
Paranhos do Rio Branco, ministro Paranhos do Rio Branco, Ministro
de Estado das Relações Exteriores, de Estado de Relaciones Exteriores,
e Joaquim Francisco de Assis y Joaquim Francisco de Assis
Brasil, enviado extraordinário Brasil, Enviado Extraordinario y
e ministro plenipotenciário nos Ministro Plenipotenciario en los
Estados Unidos da América; e Estados Unidos de América; y
o presidente da República da El Presidente de la República de
Bolívia os senhores Fernando E. Bolivia, a los señores Fernando E.
Guachalla, enviado extraordinário Guachalla, Enviado Extraordinario
e ministro plenipotenciário em y Ministro Plenipotenciario en
missão especial no Brasil e Misión Especial en el Brasil y
senador da República, e Claudio Senador de la República, y Claudio
Pinilla, enviado extraordinário Pinilla, Enviado Extraordinario
e ministro plenipotenciário no y Ministro Plenipotenciario en

65
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Brasil, nomeado ministro das el Brasil, nombrado Ministro de


Relações Exteriores da Bolívia. Relaciones Exteriores de Bolivia;
Os quais, depois de haverem Los cuales, después de haber
trocado os seus plenos poderes, canjeado sus plenos poderes, que
que acharam em boa e devida los hallaran en buena y debida
forma, concordaram nos artigos forma, acordaron los artículos
seguintes: siguientes:

Artigo 1o Artículo 1o

A fronteira entre a República La frontera entre la República


dos Estados Unidos do Brasil de Bolivia y la de los Estados
e a da Bolívia ficará assim Unidos del Brasil quedará así
estabelecida: establecida:
§ 1o Partindo da latitude § 1o Partiendo de la latitud de
austral de 20º08’35”, em frente 20º 08’ 35”S, frente al desaguadero
ao desaguadouro da Baía Negra, de la Bahía Negra, en el río
no rio Paraguai, subirá por este rio Paraguay, subirá por este río hasta
até um ponto da margem direita un punto en la margen derecha
distante nove quilômetros, em linha distante nueve kilómetros en línea
reta, do forte de Coimbra, isto é, recta del fuerte de Coimbra, esto es,
aproximadamente em 19º58’05”S aproximadamente en 19º 58’ 05”S
e 14º39’14” de longitude oeste do y 14º 39’ 14” de longitud oeste del
Observatório do Rio de Janeiro Observatorio de Rio de Janeiro (57º
(57º47’40”W de Greenwich), 47’ 40” W de Greenwich), según el
segundo o Mapa da Fronteira Mapa de la frontera levantado por
levantado pela Comissão Mista la Comisión Mixta de Limites, de
de Limites, de 1875; e continuará 1875; y continuará desde ese punto,
desse ponto, na margem direita do en la margen derecha del Paraguay,
Paraguai, por uma linha geodésica por una línea geodésica que irá
que irá encontrar outro ponto encontrar otro punto a cuatro
a quatro quilômetros, no rumo kilómetros en el rumbo verdadero
verdadeiro de 27º01’22” nordeste, de 27º 01’ 22” Nordeste del llamado
do chamado “Marco do fundo da “Marco del fondo de Bahía Negra”,
Baía Negra”, sendo a distância siendo la distancia de cuatro
de quatro quilômetros medida kilómetros medida rigurosamente
rigorosamente sobre a fronteira sobre la frontera actual, de manera

66
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

atual, de sorte que esse ponto que ese punto deberá estar, mas ó
deverá estar mais ou menos em19º menos, en 19º 45’36”S y 14º 55’46”,
45’ 36”, 6S, e -14º 55’ 46”, 7W, do 7 de longitud oeste de Rio de Janeiro
Rio de Janeiro (58º 04’ 12”,7ºW (58º 04’ 12”, 7 W de Greenwich).
de Greenwich, ). Daí seguirá no De allí seguirá en el mismo rumbo
mesmo rumo determinado pela determinado por la Comisión Mixta
Comissão Mista de 1875 até de 1875 hasta 19º 2’S y, después
19º 02’ S e, depois, para leste, para el este, por ese paralelo hasta
por este paralelo até o arroio el arroyo Concepción, que bajará
Conceição, que descerá até a sua hasta su desembocadura en la
boca na margem meridional do margen meridional del desaguadero
desaguadouro da lagoa de Cáceres, de la laguna de Cáceres, también
também chamado rio Tamengos. llamado río Tamengos. Subirá por el
Subirá pelo desaguadouro até o desaguadero hasta el meridiano que
meridiano que corta a ponta do corta la punta del Tamarindeiro, y
Tamarindeiro e depois para o norte, después para el norte, por el citado
pelo meridiano de Tamarindeiro, meridiano del Tamarinero, hasta 18º
até 18º54’S, continuando por este 54’ S continuando por ese paralelo
paralelo para oeste até encontrar a para el oeste hasta encontrar la
fronteira atual. frontera actual.
§ 2o Do ponto de intersecção § 2o Del punto de intersección
do paralelo de 18º54’S com a del paralelo 18º 54’S con la línea
linha reta que forma a fronteira recta que forma la frontera actual
atual seguirá, no mesmo rumo seguirá, por el mismo rumbo que
que hoje, até 18º14’ S e por al presente, hasta 18º 14’S y por
este paralelo irá encontrar a ese paralelo irá a encontrar al
leste o desaguadouro da lagoa este el desaguadero de la laguna
Mandioré, pelo qual subirá, Mandioré, por el cual subirá
atravessando a lagoa em linha atravesando la laguna en línea
reta até o ponto, na linha antiga recta, hasta el punto de la línea de
de fronteira, equidistante dos la antigua frontera, equidistante de
dois marcos atuais, e depois, por los dos marcos actuales, y después
essa linha antiga, até o marco da por esa línea antigua, hasta el
margem setentrional. marco de la margen septentrional.
§ 3o Do marco setentrional § 3o Del marco septentrional
na lagoa Mandioré continuará de la laguna Mandioré continuará
em linha reta, no mesmo rumo en línea recta, en el mismo rumbo

67
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

que hoje, até a latitude austral que al presente, hasta la latitud


de 17º49’ e por este paralelo de 17º 49’S, y por este paralelo
até o meridiano do extremo hasta el meridiano del extremo
sudeste da lagoa Gaíba. Seguirá sureste de laguna Gahiba. Seguirá
esse meridiano até a lagoa e ese meridiano hasta la laguna y
atravessará esta em linha reta atravesará esta en línea recta hasta
até o ponto equidistante dos dois el punto equidistante de los dos
marcos atuais, na linha antiga de marcos actuales, en la línea de la
fronteira, e depois por esta linha antigua frontera, y después, por
antiga ou atual até a entrada do esta línea antigua ó actual, hasta la
canal Pedro Segundo, também entrada del canal Pedro Segundo,
chamado recentemente rio Pando. llamado recientemente río Pando.
§ 4o Da entrada sul do canal § 4o De la entrada sur del
Pedro Segundo ou rio Pando canal Pedro Segundo ó río Pando
até a confluência do Beni e hasta la confluencia del Beni y
Mamoré os limites serão os del Mamoré, los límites serán
mesmos determinados no artigo los mismos determinados en el
2o do Tratado de 27 de março Artículo 2o del Tratado de 27 de
de 1867. Marzo de 1867.
§ 5o Da confluência do § 5o Desde la confluencia
Beni e do Mamoré descerá a del Beni y del Mamoré bajará la
fronteira pelo rio Madeira até a frontera por el río Madera hasta
boca do Abunã, seu afluente da la boca del Abuná, su afluente de
margem esquerda, e subirá pelo la margen izquierda, y subirá por
Abunã até a latitude austral de el Abuná hasta la latitud de 10º
10º20’. Daí irá pelo paralelo 20’S. De allí irá por el paralelo
de 10º20’S, para oeste até o rio 10º 20’S, para el oeste, hasta el
Rapirrã e subirá por ele até a río Rapirran y subirá por este
sua nascente principal. hasta su naciente principal.
§ 6o Da nascente principal § 6o De la naciente principal
do Rapirrã irá, pelo paralelo del Rapirran, irá, por el paralelo
da nascente, encontrar a oeste de la naciente a encontrar al
o rio Iquiri e subirá por este até oeste el río Iquiry y subirá por
a sua origem, de onde seguirá este hasta su origen, desde
até o igarapé Bahia pelos mais donde seguirá hasta el arroyo de
pronunciados acidentes do terreno Bahía por los más pronunciados
ou por uma linha reta, como accidentes del terreno ó por una

68
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

aos comissários demarcadores línea recta, como pareciere más


dos dois países parecer mais conveniente a los Comisarios
conveniente. demarcadores de ambos países.
§ 7o Da nascente do igarapé § 7o De la naciente del arroyo
Bahia seguirá, descendo por este, de Bahía seguirá, bajando por
até a sua confluência na margem este, hasta su desembocadura en
direita do rio Acre ou Aquiri e la margen derecha del río Acre ó
subirá por este até a nascente, Aquiry y subirá por este hasta la
se não estiver esta em longitude naciente, si no estuviere esta en
mais ocidental do que a de 69ºW longitud mas occidental que la de
de Greenwich. 69º W de Greenwich.
a) No caso figurado, isto é, a) En el caso figurado, esto es,
se a nascente do Acre estiver em si la naciente del Acre estuviere en
longitude menos ocidental do que longitud menos occidental que la
a indicada, seguirá a fronteira indicada, seguirá la frontera por
pelo meridiano da nascente até o el meridiano de la naciente hasta
paralelo de 11º S e depois, para el paralelo 11ºS y después, para
oeste, por esse paralelo até a el oeste, por ese paralelo hasta la
fronteira com o Peru; frontera con el Perú;
b) Se o rio Acre, como parece b) Si el río Acre, como parece
certo, atravessar a longitude de evidente, atravezase la longitud
69º W de Greenwich e correr de 69º, W de Greenwich y corriese
ora ao norte, ora ao sul do citado ya al norte, ya al sur del citado
paralelo de 11ºS, acompanhando paralelo 11ºS, acompañando más
mais ou menos este, o álveo do ó menos este, el álveo del río
rio formará a linha divisória até a formará la línea divisoria hasta
sua nascente, por cujo meridiano su naciente, por cuyo meridiano
continuará até o paralelo de 11ºS continuará hasta el paralelo 11ºS
e daí, na direção de oeste, pelo y de allí, en dirección al oeste,
mesmo paralelo, até a fronteira por el mismo paralelo, hasta la
com o Peru; mas, se a oeste da frontera con el Perú; más, si al
citada longitude 69º o Acre correr oeste de la citada longitud 69º el
sempre ao sul do paralelo de 11ºS Acre corriese siempre al sur del
seguirá a fronteira, desde esse rio, paralelo 11ºS, seguirá la frontera,
pela longitude de 69º até o ponto desde ese río, por la longitud 69º
de intersecção com esse paralelo hasta el punto de intersección con
de 11ºS e depois por ele até a ese paralelo 11ºS y después por

69
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

fronteira com o Peru. el, hasta la frontera con el Perú.

Artigo 2o Artículo 2o

A transferência de territórios La transferencia de territorios


resultante da delimitação descrita resultante de la limitación descrita
no artigo precedente compreende en el artículo anterior, comprende
todos os direitos que lhes são todos los derechos que les son
inerentes e a responsabilidade inherentes y la responsabilidad
derivada da obrigação de derivada de la obligación de
manter e respeitar os direitos mantener y respetar los derechos
reais adquiridos por nacionais reales adquiridos por nacionales
e estrangeiros segundo os y extranjeros según los principios
princípios do direito civil. del derecho civil.
As reclamações provenientes Lasreclamacionesprovenientes
de atos administrativos e de de actos administrativos y de
fatos ocorridos nos territórios hechos ocurridos en los territorios
permutados serão examinadas e permutados, serán examinadas y
julgadas por um Tribunal Arbitral juzgadas por un Tribunal Arbitral
composto de um representante do compuesto de un representante
Brasil, outro da Bolívia e de um de Bolivia, otro del Brasil y de un
ministro estrangeiro acreditado Ministro extranjero acreditado
junto ao governo brasileiro. Esse ante el gobierno brasileño. Este
terceiro árbitro, presidente do tercer árbitro, presidente del
tribunal, será escolhido pelas Tribunal, será escogido por las dos
duas altas partes contratantes logo Altas Partes Contratantes después
depois da troca das ratificações del canje de las ratificaciones
do presente tratado. O tribunal del presente tratado. El Tribunal
funcionará durante um ano no funcionará durante un año en Rio
Rio de Janeiro e começará os de Janeiro y dará principio a sus
seus trabalhos dentro do prazo trabajos en el plazo de seis meses
de seis meses contados do dia da contados desde el día del canje
troca das ratificações. Terá por de las ratificaciones. Tendrá por
missão: 1o) aceitar ou rejeitar misión: 1o aceptar o rechazar las
as reclamações; 2o) fixar a reclamaciones; 2o fijar el monto
importância da indenização; 3o) de la indemnización; 3o designar
designar qual dos dois governos a cual de los dos Gobiernos la debe

70
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

deve satisfazer. satisfacer.


O pagamento poderá ser El pago podrá ser hecho en
feito em apólices especiais, ao bonos especiales a la par, que
par, que vençam o juro de 3% ganen el interés del tres por
e tenham a amortização de 3% ciento y tengan la amortización
ao ano. del tres por ciento anual.

Artigo 3o Artículo 3o

Por não haver equivalência nas Por no haber equivalencia


áreas dos territórios permutados en las áreas de los territorios
entre as duas Nações, os Estados permutados entre las dos
Unidos do Brasil pagarão uma Naciones, los Estados Unidos del
indenização de £ 2.000.000 (dois Brasil pagarán una indemnización
milhões de libras esterlinas), que de £ 2.000.00 (dos millones de
a República da Bolívia aceita libras esterlinas), que la República
com o propósito de aplicá-la de Bolivia acepta con el propósito
principalmente na construção de de aplicarla principalmente a la
caminhos de ferro ou em outras construcción de caminos de hierro
obras tendentes a melhorar as u otras obras tendentes a mejorar
comunicações e desenvolver o las comunicaciones y desenvolver
comércio entre os dois países. el comercio entre los dos países.
O pagamento será feito em El pago será hecho en dos
duas prestações de um milhão partidas de un millón de libras
de libras cada uma: a primeira cada una: la primera dentro del
dentro do prazo de três meses, plazo de tres meses, contado desde
contado da troca das ratificações el canje de las ratificaciones del
do presente tratado, e a segunda presente tratado, y la segunda el
em 31 de março de 1905. 31 de Marzo de 1905.

Artigo 4o Artículo 4o

Uma Comissão Mista, Una Comisión Mixta,


nomeada pelos dois governos, nombrada por los dos Gobiernos
dentro do prazo de um ano, contado dentro del plazo de un año, contado
da troca das ratificações, procederá desde el canje de las ratificaciones,
à demarcação da fronteira descrita procederá a la demarcación de la

71
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

no artigo 1o, começando os seus frontera descrita, en el Artículo I,


trabalhos dentro dos seis meses principiando sus trabajos a los seis
seguintes à nomeação. meses siguientes a su nombramiento.
Qualquer desacordo entre a Cualquier desacuerdo entre la
Comissão brasileira e a boliviana, Comisión Brasileña y la Boliviana
que não puder ser resolvido pelos que no pudiere ser resuelto por los
dois governos, será submetido à dos Gobiernos, será sometido a la
decisão arbitral de um membro decisión arbitral de un miembro
da Royal Geographical Society, de la Royal Geographical
de Londres, escolhido pelo Society, de Londres, escogido
presidente e pelos membros do por el presidente y miembros del
conselho da mesma. Consejo de la misma.
Se os comissários demarcadores Si los Comisarios demarcadores
nomeados por uma das altas nombrados por una de las Altas
partes contratantes deixarem de Partes Contratantes dejasen de
concorrer ao lugar e na data da concurrir al lugar y fecha que fueren
reunião que forem convencionados convenidos para dar principio a
para o começo dos trabalhos, os los trabajos, los Comisarios de la
comissários da outra procederão por otra procederán por sisolos a la
si sós à demarcação, e o resultado demarcación, y el resultado de sus
das suas operações será obrigatório operaciones será obligatorio para
para ambas. ambas.

Artigo 5o Artículo 5o

As duas altas partes contratantes Las dos Altas Partes


concluirão dentro do prazo de oito Contratantes concluirán dentro del
meses um tratado de comércio e plazo de ocho meses un tratado de
navegação baseado no princípio da comercio y navegación, basado en el
mais ampla liberdade de trânsito principio de la mas amplia libertad de
terrestre e navegação fluvial para tránsito terrestre y navegación fluvial
ambas as nações, direito que elas para ambas Naciones, derecho que
se reconhecem perpetuamente, ellas se reconocen a perpetuidad,
respeitados os regulamentos fiscais respetando los reglamentos fiscales
e de polícia estabelecidos ou que se y de policía establecidos o que se
estabelecerem no território de cada establecieren en el territorio de cada
uma. Esses regulamentos deverão una. Esos reglamentos deberán ser

72
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

ser tão favoráveis quanto seja tan favorables cuanto sea posible
possível à navegação e ao comércio a la navegación y al comercio y
e guardar nos dois países a possível guardar en los dos países la posible
uniformidade. Fica, porém, uniformidad. Queda, sin embargo,
entendido e declarado que se não entendido y declarado que no se
compreende nessa navegação a de comprende en esa navegación la de
porto a porto do mesmo país, ou de puerto a puerto del mismo país, o
cabotagem fluvial, que continuará de cabotaje fluvial, que continuará
sujeita em cada um dos dois Estados sujeta en cada uno de los dos Estados
às respectivas leis. a sus respectivas leyes.

Artigo 6o Artículo 6o

De conformidade com a En conformidad a la


estipulação do artigo precedente, estipulación del artículo
e para o despacho em trânsito precedente, y para el despacho
de artigos de importação e en tránsito de artículos de
exportação, a Bolívia poderá importación, y exportación,
manter agentes aduaneiros junto Bolivia podrá mantener agentes
às alfândegas brasileiras de Belém aduaneros junto a las aduanas
do Pará, Manaus e Corumbá e brasileñas de Belem del Pará,
nos demais postos aduaneiros Manaos, Corumbá y demás
que o Brasil estabeleça sobre o puestos aduaneros que el Brasil
Madeira e o Mamoré ou em outras establezca sobre el Madera,
localidades da fronteira comum. Mamoré u otras localidades de la
Reciprocamente, o Brasil poderá frontera común. Recíprocamente,
manter agentes aduaneiros na el Brasil podrá mantener agentes
alfândega boliviana de Villa aduaneros en la aduana boliviana
Bella ou em qualquer outro de Villa Bella ó en cualquier otro
posto aduaneiro que a Bolívia puesto aduanero que Bolivia
estabeleça na fronteira comum. establezca en la frontera común.

Artigo 7o Artículo 7o

Os Estados Unidos do Los Estados Unidos del


Brasil obrigam-se a construir Brasil se obligan a construir
em território brasileiro, por si en territorio brasileño, por si

73
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

ou por empresa particular, uma ó por empresa particular, un


ferrovia desde o porto de Santo ferrocarril desde el puerto de
Antônio, no rio Madeira, até San Antonio, en el río Madera,
Guajará-Mirim no Mamoré, hasta Guayaramerín, en el
com um ramal que, passando Mamoré, con un ramal que,
por Vila Murtinho ou outro pasando por Vila Murtinho ú
ponto próximo (estado de otro punto próximo (estado de
Mato Grosso), chegue a Villa Mato Grosso), llegue a Villa
Bella (Bolívia), na confluência Bella (Bolivia), en la confluencia
do Beni e do Mamoré. Dessa del Beni con el Mamoré. De
ferrovia, que o Brasil se ese ferrocarril, que el Brasil se
esforçará por concluir no prazo esforzará en concluir en el plazo
de quatro anos, usarão ambos os de cuatro años, usaran ambos
países com direito às mesmas países con derecho a las mismas
franquezas e tarifas. franquicias y tarifas.

Artigo 8o Artículo 8o

A República dos Estados La República de los Estados


Unidos do Brasil declara que Unidos del Brasil declara que
ventilará diretamente com a do ventilará directamente con la
Peru a questão de fronteiras relativa del Perú la cuestión de fronteras
ao território compreendido entre a relativa al territorio comprendido
nascente do Javari e o paralelo de entre la naciente del Javary y el
11º S, procurando chegar a uma paralelo 11º S, procurando llegar
solução amigável do litígio sem a una solución amigable del
responsabilidade para a Bolívia litigio sin responsabilidad para
em caso algum. Bolivia en ninguno caso.

Artigo 9o Artículo 9o

Os desacordos que possam Los desacuerdos que puedan


sobrevir entre os dois governos sobrevenir entre los dos Gobiernos
quanto à interpretação e execução en cuanto a la interpretación y
do presente tratado serão ejecución del presente tratado,
submetidos a arbitramento. serán sometidos a Arbitraje.

74
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Artigo 10o Artículo 10o

Este tratado, depois de Este tratado, después de


aprovado pelo Poder Legislativo aprobado por el Poder Legislativo
de cada uma das duas Repúblicas, de cada una de las dos Repúblicas,
será ratificado pelos respectivos será ratificado por los respectivos
governos, e as ratificações serão Gobiernos y las ratificaciones
trocadas na cidade do Rio de serán canjeadas en la ciudad de
Janeiro no mais breve prazo Rio de Janeiro, en el más breve
possível. plazo posible.
Em fé do que nós, os En fe de lo cual nosotros,
plenipotenciários anteriormente plenipotenciarios arriba nombrados,
nomeados, assinamos o presente firmamos el presente tratado, en dos
tratado, em dois exemplares, cada um ejemplares, cada uno de ellos en las
nas línguas portuguesa e castelhana, lenguas castellana y portuguesa y les
apondo neles os nossos selos. ponemos nuestros respectivos sellos.

Feito na cidade de Hecho en la ciudad de


Petrópolis, em 17 de novembro Petrópolis, a los 17 de Noviembre
de 1903. de 1903.

(L. S.) Rio Branco (L. S.) Fernando E. Guachalla


(L. S.) J. F. de Assis Brasil (L. S.) Claudio Pinilla
(L. S.) Fernando E. Guachalla (L. S.) Rio Branco
(L. S.) Claudio Pinilla (L. S.) J. F. de Assis Brasil

75
exposição de motivos sobre o
tratado de 7 de maio de 1904
entre o brasil e o equador
Rio de Janeiro, Ministério das Relações Exteriores, 25 de agosto
de 1904.

Senhor presidente,

No artigo 7o da Convenção entre o Brasil e o Peru, negociada pelo


conselheiro Duarte da Ponte Ribeiro, depois barão da Ponte Ribeiro, e
concluída em Lima em 23 de outubro de 1851, ficou estabelecido o seguinte:

Para prevenir dúvidas a respeito da fronteira aludida nas estipulações da presente


Convenção, concordam as duas altas partes contratantes em que os limites do
Império do Brasil com a República do Peru sejam regulados em conformidade
do princípio uti possidetis; por conseguinte, reconhecem, respectivamente, como
fronteira, a povoação de Tabatinga, e daí para o norte em linha reta a encontrar
o rio Iaporá defronte da foz do Apapóris; e, de Tabatinga para o sul, o rio Javari,
desde a sua confluência com o Amazonas.

Uma Comissão Mista nomeada por ambos os governos reconhecerá, conforme ao


princípio do uti possidetis, a fronteira, e proporá a troca de territórios que julgar
a propósito para fixar os limites que sejam mais naturais e convenientes a uma e
outra nação.

79
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Nessa negociação regulou-se Ponte Ribeiro pelas instruções que


lhe havia dado em 1o de março de 1851 o conselheiro Paulino de Sousa,
visconde do Uruguai. Não ignorava então o governo brasileiro que os
territórios atravessados pela linha estipulada, ao norte do Amazonas,
eram reclamados pelo Equador e pela Nova Granada, posteriormente
Colômbia, e que parte do que se estende a oeste do Baixo Javari
também o era pelo Equador. Tratando, porém, com o Peru, que estava
de posse das duas margens do Amazonas a oeste de Tabatinga e da
confluência do Javari, não teve a intenção de prejudicar o Equador e a
Nova Granada, nem lhe cabia competência para resolver o litígio entre
as três Repúblicas vizinhas. Tratou então com um dos litigantes e quase
ao mesmo tempo procurou chegar a acordo com os dois outros.
Desta tarefa foi incumbido, na qualidade de ministro residente
em missão especial, o conselheiro Miguel Maria Lisboa, depois
barão de Japurá, ao qual o visconde do Uruguai deu instruções
em 20 de março de 1852. Correspondendo à confiança nele
depositada, e fazendo as importantes concessões para que estava
autorizado, aquele distinto diplomata concluiu tratados de
limites, extradição e navegação fluvial com a Venezuela, em 25
de novembro de 1852 e em 25 de janeiro de 1853, com a Nova
Granada em 14 e em 25 de junho, e dirigiu-se sem perda de tempo
para o Equador, a cujo governo ofereceu, em 18 de outubro do
mesmo ano, projetos de dois tratados, um de limites e navegação,
outro de extradição.
O artigo 3o, sobre limites, no primeiro desses projetos, estava
assim redigido:

Desejando ao mesmo tempo as altas partes contratantes remover todos


os motivos de desavença que possam para o futuro dificultar a marcha do
estipulado na presente Convenção, e firmar sobre bases sólidas e duradouras
a paz e cordial inteligência que entre elas deve reinar; e tendo a República do
Equador questões pendentes relativamente ao território de Mainas, contíguo à
província brasileira do Amazonas, do qual atualmente está de posse a República
Peruana; sua excelência o presidente da República do Equador, em nome da
mesma República, declara que, no caso de que, decididas essas questões, lhe
venha a pertencer o dito território ou qualquer parte dele, reconhecerá como
limites com o Brasil, em virtude do uti possidetis, os estipulados no artigo 7o

80
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

da Convenção entre o Brasil e o Peru, de 23 de outubro de 1851, e no artigo 7o


do Tratado entre o Brasil e a Nova Granada de 25 de junho de 1853, a saber:
uma linha reta tirada do forte de Tabatinga para o lado do norte, em direção à
confluência do Apapóris com o Japurá.

No projeto de tratado de extradição, dizia o artigo 9o:

Sendo necessário para a boa execução deste tratado fixar de uma maneira
explícita qual o território brasileiro e qual o equatoriano, as altas partes
contratantes reconhecem como princípio para a solução de quaisquer dúvidas,
que para o futuro se possam suscitar a este respeito, o uti possidetis, princípio
geralmente adotado pelos Estados da América do Sul, como base do respectivo
domínio territorial.

Da correspondência do plenipotenciário brasileiro e do


protocolo da Conferência de 3 de novembro de 1853, em Quito,
consta que o governo do Equador, reconhecendo o princípio do uti
possidetis, nenhuma dúvida tinha em adotar então as mesmas linhas
de fronteira que o Brasil havia estipulado com o Peru na Convenção
de 23 de outubro de 1851, e com a Nova Granada na de 25 de
junho de 1853. Pareceu, entretanto, preferível deixar para tratados
especiais, que seriam negociados no Rio de Janeiro, a questão
de limites, sobre a qual não havia desacordo, e as de comércio
e navegação, que no Equador ofereciam algumas dificuldades de
ordem política naquele momento, pelo receio de intervenção de
uma grande potência marítima em favor do general Flores, como
foi explicado confidencialmente ao plenipotenciário do Brasil.
O governo do Equador não pôde realizar o pensamento que teve
de mandar uma missão especial ao Rio de Janeiro, e dos trabalhos
do nosso plenipotenciário em Quito apenas resultou o Tratado de
Extradição de 3 de novembro de 1853, que esteve em vigor até 1891,
ano em que foi denunciado.
Em nota de 15 de janeiro de 1870, dirigida ao governo brasileiro, o
senhor Salazar, ministro das Relações Exteriores do Equador, reclamou
em nome do seu governo contra quaisquer atos da demarcação a
que procedia a Comissão Mista brasileiro-peruana naquilo em que
entendessem com os territórios orientais do Equador.

81
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Respondeu-lhe em 24 de setembro do mesmo ano o ministro


dos Negócios Estrangeiros do Brasil, conselheiro Paranhos, depois
visconde do Rio Branco, referindo-se à Convenção de 1851 entre o
Brasil e o Peru:

(...) O governo do Brasil tratou com quem estava de posse daqueles


territórios, e o fato de os reclamarem simultaneamente as Repúblicas do
Equador e da Colômbia e de serem controvertidos os títulos de ambas
pela do Peru justifica as cláusulas dos protocolos assinados por parte do
Império com o Equador em 3 de novembro e com os Estados Unidos de
Colômbia em 12 de julho de 1853, nos quais se ressalvou o resultado que
possam ter as negociações entre as três Repúblicas sobre o ajuste final de
suas respectivas fronteiras.

Nas citadas instruções de 20 de março de 1852, dizia o visconde do


Uruguai: “Cumpre apressar essas negociações porque o tempo as vai
cada vez mais dificultando.”
Compreendendo esse eminente estadista a inconveniência e os
perigos de continuarmos sem fronteiras demarcadas com alguns dos
países vizinhos, autorizou-me vossa excelência para prosseguir nas
negociações há tanto tempo interrompidas sobre esse importante
assunto, e conto que brevemente possam todas elas entrar em
andamento regular.
O Tratado de Limites que em 6 de maio último concluímos
com o Equador é a realização dos projetos de 1851 e 1853. Espero
que possa merecer a aprovação dos Congressos Legislativos dos
dois países.
Juntando a esta breve exposição cópia autêntica desse tratado,
peço licença para reiterar a vossa excelência os protestos do meu mais
profundo respeito.

Rio Branco

82
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Tratado de Limites entre o Tratado de Limites entre el


Brasil e o Equador Ecuador y el Brasil

A República dos Estados La Republica del Ecuador


Unidos do Brasil e a República y la Republica de los Estados
do Equador, desejando evitar Unidos del Brasil, deseando
possíveis dificuldades no evitar dificultades posibles en
futuro e cimentar sólida e lo futuro, y cimentar sólida
duradouramente a cordial y duraderamente la cordial
inteligência que entre as duas inteligencia que entre las dos
nações deve sempre subsistir, naciones debe siempre subsistir,
resolveram reatar e concluir a resolvieron reanudar y concluir
negociação iniciada em Quito la negociación iniciada en
no ano de 1853, na qual o Quito el año 1853, en la cual el
plenipotenciário do Brasil e o Plenipotenciario del Ecuador y
do Equador estavam de acordo el del Brasil estaban de acuerdo
sobre a necessidade e o modo acerca de la necesidad y el modo
de definir a fronteira dos dois de definir la frontera de los dos
países, e para esse fim nomearam países; y con tal fin nombraron
plenipotenciários, a saber: Plenipotenciarios, a saber:
o presidente da República El presidente de la
dos Estados Unidos do Brasil República del Ecuador al señor
nomeou o senhor José Maria da doutor don Carlos R. Tobar,
Silva Paranhos do Rio Branco, su Enviado Extraordinario y
ministro de Estado das Relações Ministro Plenipotenciario en el
Exteriores; e Brasil; y
o presidente da República El presidente de la
do Equador nomeou o senhor República de los Estados
doutor dom Carlos R. Tobar, Unidos del Brasil al señor José
seu enviado extraordinário e Maria da Silva Paranhos do Rio
ministro plenipotenciário no Branco, Ministro de Estado de
Brasil. las Relaciones Exteriores.
Os quais, depois de Quienes, después de
mostrarem os seus respectivos mostrarse los respectivos Plenos
plenos poderes, que acharam em Poderes y de hallarlos en buena
boa e devida forma, convieram y debida forma, convinieron en
nos artigos seguintes: los artículos siguientes:

83
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Artigo 1o Artículo 1o

A República dos Estados La República del Ecuador y la


Unidos do Brasil e a República República de los Estados Unidos del
do Equador concordam em que, Brasil acuerdan que, terminando
terminando favoravelmente para favorablemente para el Ecuador,
o Equador, como esta República como esta Republica espera, el
espera, o litígio que sobre limites litigio que sobre limites existe entre
existe entre o Equador e o Peru, el Ecuador y el Perú, la frontera
a fronteira entre o Brasil e o entre el Ecuador y el Brasil, en las
Equador seja, nas partes em que partes en que confinen, sea la misma
confinem, a mesma estipulada no señalada por el Artículo VII de la
artigo 7o da Convenção celebrada Convención que se celebró, entre el
em Lima pelo Brasil e pelo Peru Brasil y el Perú, en Lima el 23 de
aos 23 de outubro de 1851, com a octubre de 1851, con la modificación
modificação constante do acordo, constante en el acuerdo, asimismo
também assinado em Lima, em firmado en Lima el 11 de febrero de
11 de fevereiro de 1874, para a 1874, para la permuta de territorios
permutação de territórios na linha en la línea del Iza o Putumayo, esto
do Içá ou Putumayo, isto é, que a es, que la frontera sea – en todo o
fronteira seja – no todo ou em parte, en parte, según el resultado del
conforme o resultado do sobredito antedicho litigio – la línea geodésica
litígio – a linha geodésica que parte que va de la boca del riachuelo San
da boca do igarapé Santo Antônio, Antonio, en la margen izquierda
na margem esquerda do Amazonas, del Amazonas, entre Tabatinga y
entre Tabatinga e Letícia, e termina Leticia, y termina en la confluencia
na confluência do Apapóris com o del Apapóris con el Yapurá o
Japurá ou Caquetá, menos na seção Caquetá, menos en la sección del
do rio Içá ou Putumayo cortada río Iza o Putumayo, cortada por
pela mesma linha, onde o álveo do la misma línea, donde el álveo del
rio, entre os pontos de intersecção, río, entre los puntos de intersección,
formará a divisa. formará la división.

Artigo 2o Artículo 2o

As duas altas partes Las dos Altas Partes


contratantes declaram que, Contratantes declaran que,

84
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

celebrando o presente tratado, celebrando el presente tratado, no


não têm a intenção de prejudicar tienen la intención de perjudicar
qualquer direito que possam ningún derecho que puedan
provar em tempo as outras nações comprobar ulteriormente las otras
vizinhas, isto é, que não têm a naciones vecinas, esto es, que no
intenção de modificar as questões tienen la intención de modificar las
de limites pendentes entre o Brasil cuestiones de límites pendientes
e a Colômbia, e entre o Equador, entre el Brasil y Colombia y entre
a Colômbia e o Peru, propósito el Ecuador, Colombia y el Perú,
que o Brasil também não teve propósito que el Brasil tampoco
quando negociou com o Peru a tuvo cuando negoció con el Perú
Convenção de 23 de outubro de la Convención de 23 de octubre de
1851. 1851.

Artigo 3o Artículo 3o

Este tratado, depois Este tratado, después


de aprovado pelo Poder de aprobado por el Poder
Legislativo de cada uma das Legislativo de cada una de las
duas Repúblicas, será ratificado dos Repúblicas, será ratificado
pelos respectivos governos, e por los respectivos Gobiernos, y
as ratificações serão trocadas las ratificaciones serán canjeadas
no Rio de Janeiro, em Quito ou en Rio de Janeiro, en Quito o en
em Santiago do Chile. Santiago de Chile.
Em fé do que, nós, os En fe de lo cual, nosotros,
plenipotenciários anteriormente los plenipotenciarios arriba
nomeados, assinamos o presente nombrados, firmamos este
tratado, em dois exemplares, tratado, en dos ejemplares, cada
cada um nas línguas portuguesa uno en las lenguas castellana y
e castelhana, apondo neles os portuguesa, poniendo en ellos
nossos selos. nuestros sellos.

Feito na cidade do Rio de Hecho en la ciudad de Rio de


Janeiro, em 6 de maio de 1904. Janeiro, a los 6 de Mayo de 1904.

(L. S.) Rio Branco (L. S.) C. R. Tobar


(L. S.) C. R. Tobar (L. S.) Rio Branco

85
exposição de motivos sobre os
acordos de 24 de abril de 1907
entre o brasil e a colômbia
Rio de Janeiro, Ministério das Relações Exteriores, 30 de setembro
de 1907.

A sua excelência o senhor doutor Afonso Augusto Moreira Pena,


presidente da República.

Senhor presidente,

Tenho a honra de apresentar a vossa excelência, em cópias autênticas,


para que possam ser submetidos à deliberação do Congresso Nacional,
os seguintes atos, firmados em Bogotá a 24 de abril deste ano, pelos
senhores doutor Enéas Martins, ministro do Brasil em Missão Especial,
e general Alfredo Vásquez Cobo, ministro das Relações Exteriores da
Colômbia:
1º. Tratado de Limites e navegação entre o Brasil e a Colômbia.
2º. Acordo de modus vivendi, relativo à navegação e comércio
pelo Içá ou Putumayo.
3º. Protocolo Complementar do acordo de modus vivendi.

A fronteira que o tratado estabelece começa em frente à Pedra de


Cucuí, na ilha de São José, do rio Negro, onde termina, vindo de leste,

89
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

a nossa demarcação com a República da Venezuela, e segue, primeiro


para oeste, depois para o sul, até a confluência do Apapóris na margem
esquerda do Japurá ou Caquetá, ponto em que finda a linha divisória
que, na direção do norte, parte do igarapé Santo Antônio, no Amazonas,
não longe de Tabatinga.
Somente o Brasil e a Colômbia disputavam o domínio de territórios
ao norte do Japurá, de sorte que a delimitação descrita no recente
tratado não implica direitos ou pretensões de outras Repúblicas nossas
convizinhas.
Entre a ilha de São José de Cucuí e a nascente do Memáchi, o Brasil
e a Venezuela haviam estipulado, nos Tratados de 25 de novembro
de 1852 e 5 de maio de 1859, e demarcado, em 1880, uma linha de
fronteiras, mas ressalvando expressamente (artigo 6o do Pacto de 1859)
os direitos da Colômbia, então República de Nova Granada.
Em processo arbitral, pleiteado perante a rainha regente da Espanha,
a causa da Colômbia contra a Venezuela ficou vencedora por sentença
de 16 de março de 1891. Devíamos, portanto, depois do laudo de Madri
tratar com o governo de Bogotá. Foi o que fizemos agora, ficando aceita
pela Colômbia a mesma fronteira que nessa região tinha sido demarcada
pelos comissários do Brasil e da Venezuela.
Ao sul da confluência do Apapóris e do Japurá pretende a Colômbia
confinar com o Brasil. Essa pretensão é, porém, contrariada pelo Peru
e pelo Equador, que ambos se julgam com direito aos territórios por ela
reclamados, ao ocidente da nossa fronteira do Amazonas ao Japurá.
A linha do Santo Antônio ao Apapóris já está reconhecida como
limite do Brasil pelo Peru, na Convenção de 23 de outubro de 1851,
concluída em Lima, e pelo Equador, no Tratado de 6 de maio de 1904,
assinado no Rio de Janeiro.
Nesse Tratado de 1904, declaramos que nem nessa ocasião, nem
em 1851 fora intenção nossa modificar as pendências territoriais do
Equador, do Peru e da Colômbia entre si, nem as do Brasil com a
Colômbia.
Conhecido que seja o laudo de sua majestade o rei da Espanha
no pleito, que está correndo os seus termos regulares em Madri, entre
o Peru e o Equador, o governo colombiano, em Berlim, perante sua
majestade o imperador alemão e rei da Prússia, disputará ao vencedor
o território que a este for atribuído. Para isso firmou, com o governo do

90
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Equador a 5 de novembro de 1904 e com o do Peru a 12 de setembro de


1905, tratados de arbitramento especial.
No Tratado de 25 de julho de 1853, de que foram negociadores o
ministro do Brasil em Bogotá, conselheiro Miguel Maria Lisboa, depois
barão de Japurá, e o ministro das Relações Exteriores, Lourenço Maria
Lleras, a descrição da fronteira comum começava na confluência do
Apapóris e seguia na direção do norte e do oeste (artigo 1o).
O artigo 7o dispunha o seguinte:

Tendo a República de Nova Granada questões pendentes relativamente ao território


banhado pelas águas do Tomo e do Aquio, assim como relativamente ao situado
entre o rio Japurá e o Amazonas, o cidadão presidente da mesma República, em
nome dela, declara que, no caso de que lhe venham a pertencer definitivamente os
ditos territórios, reconhecerá como limites com o Brasil, em virtude do princípio
do uti possidetis, os estipulados no Tratado entre o Império e a Venezuela, de 25
de novembro de 1852, e na Convenção entre o mesmo Império e o Peru, de 23
de outubro de 1851, a saber: pelo que toca ao primeiro, uma linha que, passando
pelas vertentes que separam as águas do Tomo e do Aquio das do Iquiare e Issana,
siga para o lado do oriente a tocar o rio Negro defronte da ilha de São José, perto
da Pedra de Cucuí, situada pouco mais ou menos no paralelo de 1º38’ de latitude
boreal; e pelo que toca ao segundo, uma linha reta tirada do forte de Tabatinga
para o lado do norte em direção à confluência do Apapóris com o Japurá.

O governo de Bogotá reconhecia, portanto, como fronteira do Brasil,


do Amazonas ao Apapóris, a mesma que em 1851 havíamos negociado
com o Peru. O Senado Neo-granadino, porém, rejeitou o Tratado de
1853 e um dos motivos dados para isso foi precisamente que antecipar
aquele reconhecimento seria enfraquecer os direitos resultantes de
todos os títulos da Nova Granada contra o Peru e o Equador a respeito
desses mesmos territórios.
Idêntica foi a razão apresentada contra a aceitação, que o mesmo
Tratado de 1853 antecipava, da linha que Venezuela nos reconhecia, de
Cucuí ao Memáchi. Tendo visto vitoriosos os direitos que defendia contra
a Venezuela nessa região, o governo colombiano acredita que assim
também sucederá com os que alegam contra os seus contendores do sul.
Conseguimos, entretanto, como ficou dito, manter agora como
linha de fronteira entre o Brasil e a Colômbia a mesma que, para não

91
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

enfraquecer os direitos neogranadinos contra a Venezuela, o Senado da


Nova Granada teve por perigoso aceitar em 1855.
Concordamos, portanto, em adiar o ajuste da questão relativa à
linha do Apapóris ao Amazonas. E quando se dê o caso, que é possível
não chegue a apresentar-se, de ficar Colômbia confinando com o Brasil
ao sul do Japurá, então se tratará de resolver definitivamente a questão
agora posta de lado, sendo de esperar que o governo de Bogotá, de
acordo com a parte final do citado artigo 7o do Tratado de 1853, aceite
a linha determinada nos nossos ajustes com o Peru e o Equador, como
aceitou agora a que em outra região havia sido demarcada pelo Brasil e
pela Venezuela.
No Tratado de 24 de abril último, ao contrário de antigas pretensões
baseadas pelos nossos vizinhos no insubsistente Tratado Preliminar, ou
preparatório, de 1777, o Brasil e a Colômbia adotaram como critério para
a fixação dos seus limites a posse atual e os direitos dela decorrentes.
Esse critério permitiu e facilitou por fim concessões amigáveis na
extensão das antigas reivindicações de uma e de outra parte. As linhas
estipuladas separam e cobrem a ocupação administrativa brasileira e
a colombiana no desenvolvimento real que elas têm, com o caráter de
exercício eficiente, continuado e completo de soberania.
Representa assim o novo tratado uma transação prudente, porque
vem dissipar para sempre antigas preocupações de conflitos, aliás,
já verificados na região da fronteira incerta e onde não fariam senão
aumentar com o desenvolvimento que ali vão tendo a atividade e os
interesses individuais; e, além de prudente, representa uma transação
honrosa, com razoáveis concessões recíprocas, aconselhadas por
sentimentos e conveniências de leal harmonia e concórdia.
Nessa região, que compreende a fronteira noroeste do Brasil, ficou
estabelecida pelo tratado a liberdade de navegação fluvial, reclamada
desde muito pela Colômbia como direito seu, independentemente
de qualquer acordo, tendo o Brasil subordinado sempre a concessão
definitiva do trânsito pelos rios que o atravessam à prévia determinação
da fronteira internacional.
Ao mesmo tempo, quanto ao rio Içá ou Putumayo, que, sendo a
saída natural dos distritos do sudeste colombiano, percorre os territórios
adjacentes à nossa fronteira do Amazonas ao Apapóris – concordamos
num modus vivendi pelo qual o Brasil permite, como concessão feita

92
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

no exercício legítimo e, por esse modo, reconhecido da sua soberania,


a passagem aos navios colombianos e ao comércio de exportação e
importação da Colômbia pela seção brasileira do Baixo Içá.
Penso que os acordos assinados em Bogotá, a 24 de abril último,
merecem a aprovação do nosso Congresso Nacional, como já receberam
a do Poder Legislativo da Colômbia.
O Tratado de Limites põe termo feliz a negociações mandadas iniciar
há 54 anos pelo visconde de Uruguai e nas quais tanto se ilustraram, por
nossa parte, os conselheiros Miguel Maria Lisboa, em 1853, e Joaquim
Maria Nascentes de Azambuja, de 1868 a 1870.
Seria injusto deixar eu nesta ocasião de recomendar ao alto apreço
de vossa excelência o plenipotenciário brasileiro, doutor Enéas Martins,
pelo zelo, tato e competência com que se houve na negociação dos
acordos que agora vão ser submetidos às duas Câmaras do Congresso
Nacional.
Peço licença para reiterar a vossa excelência os protestos do meu
mais profundo respeito.

Rio Branco

93
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Tratado entre o Brasil e a Tratado entre Colombia y el


Colômbia Brasil

A República dos Estados La República de Colombia y la


Unidos do Brasil e a República da de los Estados Unidos del Brasil,
Colômbia, desejosas de consolidar deseosas de consolidar, sobre bases
em bases firmes e duradouras suas firmes y duraderas, sus antiguas
antigas relações de paz e amizade, relaciones de paz y amistad, de
de suprimir quaisquer motivos suprimir cualesquiera motivos
de desavença e de facilitar o de desavenencias y de facilitar
desenvolvimento de seus interesses el desarrollo de sus intereses de
de boa vizinhança e de comércio, buena vecindad y comerciales,
resolveram celebrar o seguinte han resuelto celebrar el siguiente
tratado, tendo em consideração, para tratado, teniendo en cuenta, para
um acordo amistoso o estado das un arreglo amistoso, el estado
suas posses e direitos respectivos, de sus posesiones y derechos
e para esse fim nomearam seus respectivos, y al efecto nombraron
plenipotenciários, a saber: sus Plenipotenciarios, a saber:
sua excelência o presidente Su Excelencia el presidente
da República dos Estados Unidos de la República de Colombia
do Brasil, o senhor doutor Enéas al señor general Don Alfredo
Martins, ministro residente em Vásquez Cobo, Ministro de
Missão Especial junto ao governo Relaciones Exteriores, y Su
da Colômbia; e Excelencia el presidente de la
sua excelência o presidente da República del Brasil al señor
República da Colômbia, o senhor doctor Enéas Martins, Ministro
general Alfredo Vásquez Cobo, Residente en Misión Especial
ministro das Relações Exteriores. cerca del Gobierno de Colombia.
Os quais, depois de haverem Quienes, después de haberse
exibido seus plenos poderes, que comunicado sus Plenos Poderes,
foram encontrados em devida los que hallaron en debida forma,
forma, estipularam o seguinte: han estipulado lo siguiente:

Artigo 1o Artículo 1o

A fronteira do Brasil e da La frontera de Colombia y el


Colômbia, entre a Pedra de Cucuí, Brasil entre la Piedra del Cocuy,

94
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

no rio Negro, e a desembocadura do en el río Negro, y la confluencia


rio Apapóris, na margem esquerda del río Apaporis, sobre la orilla
do rio Japurá ou Caquetá, será a izquierda del río Japurá o
seguinte: Caquetá, será la siguiente:
§ 1o Da ilha de São José, em § 1o De la isla de San José en
frente à Pedra de Cucuí, com frente á la Piedra del Cocuy, con
rumo oeste, demandará a margem rumbo oeste, buscando la orilla
direita do rio Negro, que cortará derecha del río Negro que cortará
aos 1º13’51”, 76 N e 23º39’11”, a los 1º 13’ 51”, 76N y 7º 16’ 25”,
51 de longitude ocidental do 9 de longitud al este del meridiano
Rio de Janeiro ou 7º16’25”, 9 de Bogotá, ó sea a 23º 39’ 11”,
de longitude oriental de Bogotá, 51 al oeste del Rio de Janeiro,
seguindo desse ponto em linha siguiendo desde ese punto en
reta até encontrar a cabeceira línea recta á buscar la cabecera
do pequeno rio Macacuny (ou del pequeño río Macacuny (o
Macapury), afluente da margem Macapury), afluente de la orilla
direita do rio Negro ou Guainía, derecha del río Negro ó Guainía, el
afluente que fica todo em território cual afluente queda íntegramente
colombiano. en territorio colombiano.
§ 2o Da cabeceira do Macacuny § 2o De la cabecera del
(ou Macapury) continuará a Macacuny (o Macapury)
fronteira pelo divortium aquarum continuará la frontera por el
até passar entre a cabeceira do divortium aquarum hasta pasar
Igarapé Japeri, afluente do rio entre la cabecera del Ygarape
Xié, e a cabeceira do rio Tomo, Japery, afluente del río Xié, y la
afluente do rio Guainía, no ponto del río Tomo, afluente del Guainía,
assinalado pelas coordenadas en el sitio señalado por las
2º1’26”, 65 N e 24º26’38”, 58 coordenadas 2º 1’ 26”, 65 al oeste
de longitude ocidental do Rio del Rio de Janeiro, y 6º 28’ 59”, 8
de Janeiro ou 6º28’59”, 8 de de longitud al este del meridiano
longitude oriental do meridiano de Bogotá, ó sea á 24º 26’ 38”, 58
de Bogotá. al oeste del Rio de Janeiro.
§ 3o Continuará a fronteira, § 3o Continuará la frontera
na direção do ocidente, pela parte hacia el oeste por lo más alto del
mais alta do terreno sinuoso que terreno sinuoso que separa las
separa as águas que seguem para aguas que siguen para el norte,
o norte das águas que seguem de las que van para el Sur, hasta

95
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

para o sul, até encontrar o encontrar el Cerro Caparro,


Cerro Caparro, a partir do qual a partir del cual continuará,
continuará, sempre pelo mais siempre por lo alto del terreno y
alto do terreno e separando as dividiendo las aguas que van al
águas que vão para o rio Guainía río Guainía, de las que corren
das águas que correm para o rio para el río Cuiary (o Iquiare)
Cuiary (ou Iquiari), até a nascente hasta el nacimiento principal
principal do rio Memachi, afluente del río Memachi, afluente del
do rio Naquieni, que por sua vez é río Naquieni, el que á su vez es
afluente do Guainía. afluente del Guainía.
§ 4o A partir da nascente § 4o Al partir del nacimiento
principal do Memachi, aos principal del Memachi, á los
2º1’27”, 3N e 25º4’22”, 65 de 2º 1’ 27” 3N y 5º 51’ 15”, 8 de
longitude ocidental do meridiano longitud al este del meridiano
do Rio de Janeiro, ou 5º51’15”, 8 de Bogotá, ó sea 25º 4’ 22”,
de longitude oriental de Bogotá, 65 al oeste del Rio de Janeiro,
seguirá a linha de fronteira, pela seguirá la línea de frontera,
parte mais elevada do terreno, em buscando por lo alto del terreno
busca da cabeceira principal do la cabecera principal del
afluente do Cuiary (ou Iquiari) que afluente del Cuiary (o Iquiare)
fique mais próxima da cabeceira que queda más próximo de
do Memachi, continuando la cabecera del Memachi,
pelo curso do dito afluente até continuando el curso de dicho
a confluência dele e do citado afluente hasta su confluencia en
Cuiary (ou Iquiari). el precitado Cuiary (o Iquiare).
§ 5o Dessa confluência § 5o De esa confluencia bajará
baixará a linha de fronteira pelo la línea de frontera por el talvegue
talvegue do dito Cuiary até o del dicho Cuiary hasta el lugar
ponto em que nele desemboca o donde le entra el río Pegua, su
rio Pegua, seu afluente da margem afluente de la margen izquierda,
esquerda, e da confluência de y de la confluencia del Pegua
Pegua e do Cuiary seguirá a linha en el Cuairy seguirá la línea de
de fronteira para o ocidente, e frontera para Occidente y por
pelo paralelo dessa confluência, el paralelo de dicha confluencia
até encontrar o meridiano que hasta encontrar el meridiano
passa pela confluência do Kerary que pasa por la confluencia del
e do Uaupés. Kerary en el Uaupés.

96
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

§ 6o Ao encontrar o meridiano § 6o Al encontrar el meridiano


que passa pela confluência do que pasa por la confluencia del
rio Kerary (ou Cairary) e do río Kerary (ó Cairary) en el río
rio Uaupés, a linha de fronteira Uaupés, bajará la línea de frontera
baixará por esse meridiano até a por ese meridiano hasta dicha
dita confluência, donde continuará confluencia, desde donde se seguirá
pelo talvegue do rio Uaupés até por el talvegue del río Uaupés hasta
a desembocadura do rio Capuri, la desembocadura del río Capury,
afluente da margem direita afluente de la orilla derecha del
do referido Uaupés, perto da referido río Uaupés cerca de la
cachoeira Jauarité. cascata Jauarité.
§ 7o Da desembocadura do § 7o Desde la desembocadura
referido rio Capuri seguirá a fronteira del dicho río Capury seguirá
para ocidente pelo talvegue do mesmo la frontera para el oeste por el
Capuri até sua nascente, mais ou talvegue del mismo Capury, y hasta
menos aos 69º30’W de Greenwich, su nacimiento, cerca de los 69º
baixando pelo meridiano dessa 30’ W de Greenwich, bajando por
nascente, em demanda do Taraira, el meridiano de ese nacimiento a
seguindo logo pelo talvegue do dito buscar el Taraira, siguiendo después
Taraira, até a sua foz no Apapóris, por el talvegue de dicho Taraira
e pelo talvegue do Apapóris à sua hasta su confluencia con el Apaporis,
desembocadura no rio Japurá ou y por el talvegue del Apaporis hasta
Caquetá, onde termina a parte de su desembocadura en el río Japurá o
fronteira estabelecida pelo presente Caquetá, donde termina la parte de
tratado, ficando assim definida a frontera establecida por el presente
linha de fronteira Pedra de Cucuí-Foz tratado, quedando así definida la
do Apapóris, e o resto da fronteira, línea Piedra del Cocuy-Boca del
entre os dois países disputada, sujeito Apaporis, y el resto de la frontera
a posteriores negociações, no caso de entre los dos países disputada, sujeta
vir a ter ganho de causa Colômbia a posterior arreglo en el caso de que
em seus outros litígios com o Peru e Colombia resulte favorecida en sus
o Equador. otros litigios con el Perú y el Ecuador.

Artigo 2o Artículo 2o

Uma Comissão Mista Una comisión mixta


nomeada pelos dois governos, nombrada por los dos Gobiernos

97
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

dentro do prazo de um ano a dentro de un año después


contar da troca das ratificações, del canje de ratificaciones,
procederá à demarcação da procederá a la demarcación
fronteira estabelecida por este de la frontera en este tratado
tratado. establecida.
§ 1o Por protocolos especiais § 1o Por protocolos especiales
serão combinadas a constituição se acordarán la constitución y las
e as instruções para os trabalhos instrucciones para los trabajos de
dessa Comissão Mista, a qual esa comisión mixta, la cual debe
deve começar seus trabalhos empezar sus tareas dentro de ocho
dentro de oito meses a contar da meses después de nombrada.
data de sua nomeação. § 2 o Queda desde ahora
§ 2o Fica desde logo establecido que para cerrar y
estabelecido que para fechar e completar la línea de frontera
completar a linha de fronteira, en donde sea necesario hacerlo
onde seja necessário fazê-lo, por por ausencia de accidentes
falta de acidentes no terreno, del terreno, se seguirán los
serão adotados os círculos círculos paralelos al Ecuador
paralelos ao Equador e as linhas y las Líneas meridianas, de
meridianas, de preferência a preferencia a cualesquiera
quaisquer linhas oblíquas. líneas oblicuas.

Artigo 3o Artículo 3o

Todas as dúvidas que Todas las dudas que


se apresentarem durante a se presentaren durante la
demarcação, serão amigavelmente demarcación serán amigablemente
resolvidas pelas altas partes resueltas por las Altas Partes
contratantes às quais serão Contratantes, a quienes las
submetidas pelos respectivos someterán los respectivos
comissários, continuando, Comisarios sin perjuicio de
entretanto, a demarcação. proseguir la demarcación.
Se os dois governos não Si los dos Gobiernos no
puderem chegar a um acordo pueden llegar á un acuerdo
direto, declaram desde já o seu directo, declaran desde ahora su
propósito de recorrer à decisão de propósito de recurrir a la decisión
um árbitro. de un árbitro.

98
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Artigo 4o Artículo 4o

As duas altas partes Las dos Altas Partes


contratantes concluirão no prazo Contratantes concluirán dentro
de 12 meses um tratado de del plazo de doce meses un tratado
comércio e navegação, baseado de comercio y de navegación,
no princípio da mais ampla basado en el principio de la
liberdade de trânsito terrestre e más amplia libertad de tránsito
navegação fluvial para ambas terrestre y navegación fluvial para
as nações, direito que elas se ambas naciones, derecho que ellas
reconhecem perpetuamente se reconocen a perpetuidad desde
a partir da aprovação deste el momento de la aprobación de
tratado, em todo o curso dos este tratado, en todo el curso
rios que nascem ou correm de los ríos que nacen o corren
dentro ou nas extremidades dentro de y en las extremidades
da região determinada pela de la región determinada por
linha de fronteira que ele la línea de frontera que él
estabelece, devendo observar- establece, debiendo observarse
se os regulamentos fiscais e de los reglamentos fiscales y de
polícia estabelecidos ou que se policía establecidos o que se
estabelecerem no território de establecieren en el territorio de
cada uma, regulamentos que cada una, reglamentos que en
em nenhum caso estabelecerão ningún caso establecerán mayores
maiores ônus ou formalidades gravámenes ni más formalidades
para as embarcações, efeitos para los barcos, efectos y
e pessoas dos brasileiros na personas de los colombianos en
Colômbia que os que se tenham el Brasil que los que se hayan
estabelecidos ou se estabeleçam establecido ó se establezcan en
na Colômbia para os nacionais el Brasil para los nacionales
colombianos, ou no Brasil para brasileños o en Colombia para
os nacionais brasileiros. los nacionales colombianos.
Os navios colombianos, Los buques colombianos
destinados à navegação desses destinados a la navegación de
rios, comunicarão livremente esos ríos comunicarán libremente
com o oceano pelo Amazonas. Os con el océano por el Amazonas.
regulamentos fiscais e de polícia Esos reglamentos deberán ser
deverão ser tão favoráveis quanto tan favorables cuanto sea posible

99
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

seja possível à navegação e ao a la navegación y al comercio, y


comércio, e guardarão nos dois guardarán en los dos países la
países a possível uniformidade. posible uniformidad. Queda sin
Fica entendido e declarado embargo entendido y declarado
que não se compreende nessa que no se comprende en esa
navegação a de porto a porto no navegación la de puerto a puerto
mesmo país, ou de cabotagem del mismo país o de cabotaje
fluvial, que continuará sujeita em fluvial, que continuará sujeta en
cada um dos dois Estados às suas cada uno de los dos Estados a sus
respectivas leis. respectivas leyes.

Artigo 5o Artículo 5o

O presente tratado, depois Este tratado, después de


de devida e regularmente debida y regularmente aprobado
aprovado na República dos en la República de Colombia y
Estados Unidos do Brasil e na en la República de los Estados
República da Colômbia, será Unidos del Brasil, será ratificado
ratificado pelos dois governos, por los dos Gobiernos, y las
e as ratificações serão trocadas ratificaciones serán canjeadas
na cidade de Bogotá ou na do en la ciudad de Bogotá o en la
Rio de Janeiro no mais breve de Rio de Janeiro en el más breve
prazo possível. plazo posible.
Em fé do que nós, os En fe de lo cual, nosotros
plenipotenciários de uma e de los Plenipotenciarios de la una
outra República, o assinamos y de la otra República, lo hemos
e selamos com os nossos selos firmado y sellado con nuestros
particulares, em Bogotá, aos 24 sellos particulares en Bogotá, a
de abril de 1907. 24 de abril de 1907.

(L. S.) Enéas Martins (L. S.) Alfredo Vásquez Cobo


(L. S.) Alfredo Vásquez Cobo (L. S.) Enéas Martins

100
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Acordo de modus vivendi sobre Convenio de modus vivendi en


o Putumayo, entre o Brasil e a el Putumayo entre Colombia y el
Colômbia Brasil

Os governos do Brasil e da Los Gobiernos de Colombia


Colômbia, com o propósito de y del Brasil, con el propósito
desenvolver a navegação e as de desarrollar la navegación
relações de comércio entre os y las relaciones de comercio
seus respectivos países pelo rio entre sus respectivos países,
Içá ou Putumayo concordaram por el río Iça o Putumayo, han
na celebração de um modus acordado la celebración de un
vivendi com tal fim, e para esse modus vivendi con tal objeto, y al
efeito, reunidos no Ministério das efecto, reunidos en el Ministerio
Relações Exteriores da Colômbia de Relaciones Exteriores de
o ministro residente do Brasil em Colombia el respectivo Ministro,
Missão Especial senhor doutor señor general Alfredo Vásquez
Enéas Martins, e o ministro das Cobo, y el señor doctor Enéas
Relações Exteriores da Colômbia, Martins, Ministro Residente del
senhor general Alfredo Vásquez Brasil en Misión Especial, han
Cobo, discutiram e acordaram discutido y acordado, en nombre
em nome dos seus respectivos de sus respectivos Gobiernos y
governos e por eles devidamente autorizados debidamente por
autorizados, segundo os plenos ellos según los Plenos Poderes
poderes que exibem, no seguinte: que se exhiben, lo siguiente:

Artigo 1o Artículo 1o

Os navios mercantes Los buques mercantes


brasileiros e colombianos poderão colombianos y brasileños podrán
comunicar livremente nos portos comunicar libremente con los
que o Brasil e a Colômbia puertos que Colombia y el Brasil
têm habilitados ou venham a tienen habilitados o habilitaren
habilitar no rio Içá ou Putumayo, en el río Iça, o Putumayo, exentos
isentos de quaisquer impostos de cualesquiera impuestos que
que não sejam os de faróis ou no sean de faros o semejantes,
semelhantes, destinados a auxílios destinados a auxilios que se
que se prestem à navegação e presten a la navegación, y

101
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

sujeitando-se aos regulamentos sujetándose a los reglamentos


fiscais e de polícia estabelecidos fiscales y de policía establecidos
pelas autoridades competentes de por las autoridades competentes
cada um dos dois países para seu de cada uno de los dos países
respectivo território. para su respectivo territorio.
Os navios colombianos Los buques colombianos
destinados à navegação do destinados a la navegación del
Putumayo poderão comunicar Putumayo podrán comunicar
livremente com o oceano pelo libremente con el océano por el
Amazonas. Amazonas.

Artigo 2o Artículo 2o

No regime do presente acordo, Mientras dure el presente


o despacho das mercadorias acuerdo el despacho de las
de procedência estrangeira que mercancías de procedencia
para a Colômbia se dirijam extranjera que para Colombia se
pelo Amazonas e pelo Içá ou dirijan por el Amazonas y por el
Putumayo poderá ser feito nas Iça o Putumayo, podrá ser hecho
alfândegas de Manaus ou Belém en las Aduanas de Manaos o
como entrepostos, segundo a Belén, como puertos de depósito,
legislação brasileira. según la legislación brasileña.
A exportação de gêneros La exportación de géneros
colombianos poderá também ser colombianos podrá también
feita pelas ditas alfândegas, sempre ser hecha por dichas Aduanas,
que a elas cheguem tais gêneros siempre que lleguen tales géneros
devidamente acompanhados por debidamente acompañados por
guias de exportação expedidas no guías de exportación expedidas en
lugar de origem por autoridades el lugar de origen por autoridades
colombianas e autenticadas colombianas y autenticadas por
pelas autoridades do posto fiscal las autoridades del puesto fiscal
brasileiro do Içá. brasileño del Iça.

Artigo 3o Artículo 3o

O Brasil permitirá – El Brasil permitirá,


notificando previamente o seu notificando previamente su

102
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

número – a passagem pelo número, el pasaje por el


Amazonas e pelo Içá aos navios Amazonas y el Iça de los buques
de guerra colombianos que se de guerra colombianos que se
dirijam a águas de jurisdição dirijan a aguas de jurisdicción
colombiana no Putumayo. colombiana en el Putumayo.
Reciprocamente, a Colômbia Recíprocamente, Colombia
permitirá a navegação aos permitirá la navegación a los
navios de guerra brasileiros buques de guerra brasileños en
nas águas de sua jurisdição no las aguas de su jurisdicción en el
Putumayo. Putumayo.
Esses navios ficarão Dichos buques quedarán
submetidos aos regulamentos sometidos a los reglamentos
fiscais e de polícia, no caso de fiscales y de policía, en el caso
receberem mercadorias nos de recibir mercancías en los
respectivos portos. respectivos puertos.

Artigo 4o Artículo 4o

O presente modus vivendi El presente modus vivendi


entrará em vigor imediatamente empezará a regir mediatamente, y
e durará até ser denunciado ou durará hasta que sea denunciado
modificado por mútuo acordo o modificado de mutuo acuerdo
entre os dois governos. por los dos Gobiernos.

Para constar, assinam e selam En fe de lo cual firman, y


com seus selos particulares o sellan con sus sellos particulares
presente acordo, em Bogotá, em el presente Convenio en Bogotá,
24 de abril de 1907. el día 24 de abril de 1907.

(L. S.) Enéas Martins (L. S.) Alfredo Vásquez Cobo


(L. S.) Alfredo Vásquez Cobo (L. S.) Enéas Martins

103
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Protocolo Complementar do Protocolo Complementar del


modus vivendi assinado entre o modus vivendi firmado entre
Brasil e a Colômbia em 24 de abril Colombia y el Brasil en 24 de abril
de 1907 de 1907

Reunidos no Ministério das Reunidos en el Ministerio de


Relações Exteriores da Colômbia, Relaciones Exteriores de Colombia
o ministro residente do Brasil em el respectivo Ministro, señor
Missão Especial, senhor doutor general Alfredo Vásquez Cobo,
Enéas Martins, plenipotenciário Plenipotenciario colombiano, y
brasileiro, e o ministro das el Ministro Residente del Brasil
Relações Exteriores da en Misión Especial, señor doutor
Colômbia, senhor general Alfredo Enéas Martins, Plenipotenciario
Vásquez Cobo, plenipotenciário brasileño, – signatarios del acuerdo
colombiano, signatários do acordo de modus vivendi sobre el Iça o
de modus vivendi sobre o Içá ou Putumayo del veinticuatro de abril
Putumayo de 24 de abril de 1907, de mil novecientos siete, acordaran
concordaram, em nome dos seus en nombre de sus respectivos
respectivos governos e como Gobiernos y como parte integrante
parte integrante desse modus de ese modus vivendi que dicho
vivendi, em que o referido acordo acuerdo de modus vivendi sobre el
de modus vivendi sobre o Içá ou Iça o Putumayo debe quedar nulo
Putumayo ficará nulo e de nenhum y de ningún efecto en el caso en
efeito no caso de não ser aprovado que no sea aprobado o ratificado
ou ratificado oportunamente o oportunamente el Tratado de
Tratado de Fronteira, também Frontera, también firmado fecha de
assinado em data de hoje, entre a hoy, entre la Piedra del Cocuy y la
Pedra de Cucuí e a desembocadura desembocadura del Apaporis en el
do Apapóris no Japurá ou Caquetá. Japurá o Caquetá.

Para constar, assinam o Para constancia forman el


presente em duplicata e o selam presente por duplicado y lo sellan
com seus selos particulares, em con sus sellos particulares en
Bogotá, em 24 de abril de 1907. Bogotá a los 24 de abril de 1907.

(L. S.) Enéas Martins (L. S.) Alfredo Vásquez Cobo


(L. S.) Alfredo Vásquez Cobo (L. S.) Enéas Martins

104
exposição de motivos sobre o
tratado de 8 de setembro de 1909
entre o brasil e o peru
Rio de Janeiro, Ministério das Relações Exteriores, 28 de dezembro
de 1909.

A sua excelência o senhor doutor Nilo Peçanha, presidente da


República.

Senhor presidente,

Tenho a honra de pôr nas mãos de vossa excelência a inclusa cópia autêntica
do tratado que a 8 de setembro último, devidamente autorizado por vossa
excelência, assinei com o plenipotenciário da República do Peru, para completar
as nossas fronteiras com esse país desde a nascente do Javari até o rio Acre.

O artigo 14 do Tratado de Amizade, Comércio e Navegação que o


Brasil assinou com o Peru, em Lima, a 8 de julho de 1841 dizia:

Conhecendo as altas partes contratantes o muito que lhes interessa proceder quanto
antes à demarcação dos limites fixos e precisos que hão de dividir o território do

107
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Império do Brasil do da República Peruana, comprometem-se ambos a levá-la a


efeito o mais pronto que for possível pelos meios mais conciliatórios, pacíficos,
amigáveis, e conforme ao uti possidetis de 1821 em que começou a existir a
República Peruana, procedendo de comum acordo, em caso de convir-lhes, à troca
de alguns terrenos, ou outras indenizações, para fixar a linha divisória da maneira
mais exata, mais natural, e mais conforme aos interesses de ambos os povos.

Este tratado, de que foram negociadores o Encarregado de Negócios


do Brasil, Duarte da Ponte Ribeiro, e o ministro das Relações Exteriores,
Manuel Ferreyros, não obteve a aprovação do governo imperial.
O mesmo diplomata brasileiro, já então enviado extraordinário e
ministro plenipotenciário, assinou em Lima, a 23 de outubro de 1851,
com o ministro interino das Relações Exteriores, Bartolomeu Herrera,
uma Convenção Especial de Comércio, Navegação e Limites, que, foi
ratificada pelos dois governos, trocando-se as ratificações na cidade do
Rio de Janeiro a 18 de outubro do ano seguinte.
O artigo 7o, fixando os limites entre os dois países, ficou assim redigido:

Para prevenir dúvidas a respeito da fronteira aludida nas estipulações da presente


convenção, concordam as altas partes contratantes em que os limites do Império
do Brasil com a República do Peru sejam regulados em conformidade do princípio
uti possidetis; por conseguinte, reconhecem, respectivamente, como fronteira a
povoação de Tabatinga; e daí para o norte em linha reta a encontrar o rio Iaporá
[Japurá], defronte da foz do Apapóris, e, de Tabatinga para o sul, o rio Javari,
desde a sua confluência com o Amazonas.

Uma Comissão Mista nomeada por ambos os governos reconhecerá, conforme


o princípio uti possidetis, a fronteira, e proporá a troca dos territórios que julgar
a propósito para fixar os limites que sejam mais naturais e convenientes a uma e
outra nação.

As cláusulas dessa convenção foram discutidas em sete conferências.


Durante as quatro primeiras (8, 11 e 17 de agosto e 2 de setembro), ficou a
negociação quase de todo ultimada, representando o Peru o seu ministro das
Relações Exteriores, Joaquim de Osma. A necessidade de atender de perto
aos trabalhos parlamentares levou-o a passar interinamente essa pasta e a
negociação ao citado Bartolomeu Herrera, que, assim, tratou com o nosso

108
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

plenipotenciário nas três conferências seguintes (18, 19 e 21 de outubro).


Ambos esses ministros peruanos, na discussão, serviram-se do
conhecido mapa organizado pelo comissário demarcador Francisco
Requena. Ainda que nesse documento espanhol estivesse traçada, como
fronteira, uma linha paralela ao Equador, desde a margem esquerda do
Madeira até a direita do Javari – segundo a errada interpretação que os
demarcadores espanhóis haviam dado ao artigo 10o e ao artigo 11 do
Tratado Preliminar de Santo Ildefonso, de 1o de outubro de 1777, –, os
ministros peruanos não propuseram que se conviesse em estabelecer
essa ou qualquer outra linha divisória entre os dois citados rios Madeira
e Javari, reconhecendo, portanto, que o Peru nada possuía ao oriente
do Javari, e que era com a Bolívia que o Brasil se devia entender no
tocante às regiões do Juruá e do Purus que a citada linha atravessava.
Apenas pediram: o ministro Osma (Conferência, 2 de setembro) que o
território da margem setentrional do Amazonas, desde Tabatinga, que
ocupávamos, até o canal Avati-Paraná passasse ao domínio do Peru,
por ser esse canal o limite indicado no artigo 11 do Tratado de 1777;
e o ministro Herrera (Conferência, 18 de outubro) que a linha reta de
Tabatinga para o norte, até o Apapóris, fosse prolongada de Tabatinga
para o sul, a fim de ficar pertencendo ao Peru todo o rio Javari, com
algum território da sua margem direita.
O plenipotenciário brasileiro recusou ambas as propostas,
dizendo que não podia convir em outras fronteiras que não fossem as
determinadas pelo uti possidetis efetivo ou real; e declarou que, sobre a
base do Tratado Preliminar de 1777, sem vigor desde a guerra de 1801,
e do Tratado de Paz de Badajos, que o não restabelecera, era impossível
para o Brasil aceitar negociação alguma.
O princípio da posse real que tivessem as duas partes foi o que
prevaleceu e ficou estipulado, reconhecendo, portanto, o governo
peruano, em 1851, a invalidade do Tratado de 1777.
O chamado uti possidetis juris, do momento da independência das
nações sul-americanas, foi uma invenção mal-achada dos publicistas e
diplomatas de origem espanhola que, nas discussões sobre fronteiras
com o Brasil, quiseram tomar por fundamento dos limites o inválido
Tratado Preliminar de 1777. “O uti possidetis juris na época da
emancipação das colônias espanholas” – escreveu de Lima, em 11 de
setembro de 1857, o notável jurisconsulto dom Andrés Bello, “era a

109
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

posse natural da Espanha, o que a Espanha possuía real e efetivamente


com qualquer título ou sem título algum, não o que a Espanha tinha
direito de possuir e não possuía.”

II

Só em 1863, depois da publicação da Geografía del Perú por Paz


Soldán, começou essa República a considerar incompleta a sua fronteira
com o Brasil e a reclamar a linha Javari-Madeira, do Tratado de 1777.
Foi o primeiro a formular semelhante pretensão o comissário
peruano Mariátegui, incumbido de fazer, com o do Brasil, a demarcação
convencionada em 1851.
No relatório do nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros em
1864 lê-se o seguinte (p.23):

Por esta ocasião apareceu a pretensão, exibida por aquele comissário, de se fechar
a divisa entre os dois países por uma linha tirada na direção leste-oeste, a partir
da margem esquerda do rio Madeira, à direita do Javari.
Esta pretensão não podia deixar de surpreender o governo imperial, como
inadmissível e contraria às próprias estipulações da convenção.

O nosso litígio sobre fronteiras com o Peru surgiu, assim, em 1863. Não
foi, portanto, uma consequência do tratado que se chamou de Petrópolis,
concluído entre o Brasil e a Bolívia a 17 de novembro de 1903.

III

A base única da pretensão peruana era o Tratado Preliminar de 1777,


entre Portugal e Espanha, já reconhecido sem valor pelo próprio Peru
em 1851 e cuja pretendida validade o Brasil sempre impugnou no ajuste
dos seus limites com as demais Repúblicas confinantes: Venezuela,
Colômbia, Equador, Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai.
Era-nos impossível consentir em transformar num tratado definitivo
e vigente um tratado simplesmente preliminar ou preparatório, nunca
integral e completamente executado, roto pela guerra de 1801, violado

110
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

em seu proveito por Espanha e Portugal em várias seções da extensa


fronteira que se estendia da Guiana às proximidades do rio da Prata.
Não foi com o Vice-Reinado do Peru e para regular as suas fronteiras
com o Brasil que Portugal tratou em Santo Ildefonso, nem estava nas
possibilidades do Brasil e do Peru restaurar em toda a sua integridade
esse antigo ajuste.
O que se deve entender por “tratado preliminar” e por “tratado
definitivo” ensina-o Pradier-Fodéré, que não pode ser autoridade
suspeita em Lima, onde durante tantos anos foi chamado a lecionar:

Os tratados definitivos são os que resolvem uma questão; os tratados preliminares


não contêm senão um começo de arranjo; são também chamados tratados
provisórios, formados ad interim, convenções preparatórias, pacta de contrahendo;
não estabelecem senão um estado provisório (...) (Pradier-Fodéré, Droit
International, § 917).

É bem certo que a guerra não invalida todos os tratados, e há até


alguns que só podem ser executados com o rompimento das hostilidades.
Os direitos adquiridos em virtude de um tratado definitivo de limites
que tenha tido execução integral (Henry Bonfils, Manuel de Droit
International Public, 4a ed., 1905, § 860) subsistem apesar da guerra, se
no tratado de paz não são modificados. Mas o Tratado de 1777 nem era
definitivo nem teve execução integral.
No próprio tratado, além do seu título de “preliminar”, lê-se, logo
no preâmbulo: “(...) O presente tratado preliminar, que servirá de base e
fundamento ao definitivo de limites, que se há de estender a seu tempo
com a individuação, exação e notícias necessárias (...)”
E no artigo 16:

(...) Sendo a intenção dos dois augustos soberanos que, ao fim de conseguir a
verdadeira paz e amizade a cuja perpetuidade e estreiteza aspiram para o sossego
recíproco e bem dos seus vassalos, somente se atenda, naquelas vastíssimas regiões
por onde há de estabelecer-se a linha divisória, à conservação do que cada um fica
possuindo, em virtude deste tratado e do definitivo de limites, e a segurar estes
de modo que em nenhum tempo se possam oferecer dúvidas, nem discórdias (...)

Em 1905, alegou o Peru que, para o conselheiro Lafaiete Pereira, a

111
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

guerra não anula os tratados de limites. Na verdade, ele escreveu isso


discordando de Phillimore e de outros autores, mas, quando manifestou
essa opinião, referia-se unicamente aos tratados definitivos, aos que
Vattel chamou, e, em geral, se chamam impropriamente de transitórios.
O pensamento do eminente jurisconsulto está bem claro nas
seguintes linhas:

Em Direito Internacional denominam-se tratados transitórios os que se completam


e se consumam em um só momento, de um só golpe, por um só ato e que não
inserem cláusulas de execução posterior e sucessiva, como são os de compra e
venda, de cessão e permuta de território e os de fixação de limites. Os direitos que
resultam de tais tratados ficam desde logo absolutamente adquiridos, e os tratados
em que se fundam subsistem, não como tratados vivos, instrumentos de obrigação,
mas simplesmente como títulos, como provas de aquisição.

À luz da doutrina exposta, é fora de dúvida que o Tratado Preliminar de Limites


celebrado entre Portugal e Espanha em Santo Ildefonso no dia 1o de outubro de
1777 não é um tratado transitório. Basta que ele seja um tratado preliminar para
que não seja transitório. Tratados preliminares, aos quais os publicistas dão a
denominação de provisórios, ad interim, de convenções preparatórias, não regulam
o assunto de uma maneira definitiva e permanente, mas apenas consagram ajustes
provisórios que dependem de ulteriores estipulações. Ora, desde que o tratado é
preliminar, é simplesmente preparatório de tratado definitivo posterior, e, portanto,
envolve a necessidade de atos e ajustes para mais tarde, é evidente que a guerra o
anula e o rompe, porque tais atos e ajustes não são possíveis entre beligerantes. É
esta a razão por que a guerra rompe os tratados que não são transitórios.

Ao proclamar-se a Independência do Brasil e a do Peru não havia,


pois, tratado de limites em vigor, e, na falta de direito convencional,
prevaleciam as regras de Direito Internacional aplicáveis ao caso de
fronteiras indeterminadas.
A nossa ocupação efetiva, desde princípios do século XVIII, da
margem direita ou meridional do Amazonas, do Javari para leste, e a do
curso inferior dos seus afluentes meridionais, Juruá e Purus, davam-nos
incontestavelmente um título que ia até as nascentes desses rios e as
dos seus tributários, porque nem a Espanha, anteriormente, nem o Peru,
nem a Bolívia podiam opor a esse título eficaz o da ocupação efetiva,

112
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

ou mesmo passageira, de qualquer ponto na bacia dos citados rios ou


no curso superior deles. É, como ficou dito na exposição que em 27 de
dezembro de 1903 submeti ao presidente Rodrigues Alves, o mesmo
título que deriva da ocupação de uma costa marítima e se aplica às bacias
dos rios que nela desaguam, como sustentaram Monroe e Pinckney, em
1805, e foi depois ensinado por Travers-Twiss, Phillimore e quase todos
os modernos mestres do Direito Internacional.
Pelo Tratado de 27 de março de 1867, com a Bolívia, estabelecendo
a linha Javari-Beni – muito diferente da de 1777 –, o Brasil cedeu a essa
República os territórios do Juruá e do Purus, com os seus afluentes, entre
os quais o Gregório, o Tarauacá, o Acre ou Aquiri, e o Iaco, ao sul da dita
linha Javari-Beni. Pelo Tratado de Petrópolis, em 17 de novembro de 1903,
recuperou-os, resgatando ao mesmo tempo, mediante uma indenização e
outras compensações, o seu título anterior, português-brasileiro; por isso
que, enquanto esses territórios foram bolivianos, o governo da Bolívia não
havia cedido ao Peru parte alguma deles, não tendo nunca admitido a linha
provisória Javari-Inambari, nem a do projetado Acordo Polar-Gómez (o
meridiano de 69º W de Greenwich) ou qualquer outra das que, por parte do
Peru, andaram sendo citadas. Contra o antigo título português-brasileiro,
baseado no Direito Internacional, nada podiam valer os decretos dos reis
da Espanha fixando os limites administrativos das suas possessões no Vice-
Reinado do Peru e na Audiência de Charcas, nem o caduco Tratado de
1777, sobretudo, depois da Convenção de 1851 entre o Brasil e o Peru.

IV

Não é exato, como em documentos oficiais do governo peruano foi


dito, que o Brasil, pelo Tratado de 1903, tivesse comprado os direitos da
Bolívia ou os títulos de origem espanhola que ela podia alegar contra o
Peru no tocante às bacias do Juruá e do Purus.
O Brasil, por esse tratado, não ficou sendo cessionário da Bolívia
em relação ao território chamado do Acre, ao sul da linha oblíqua
Javari-Beni:

Cessionário [escreve o muito competente consultor jurídico do nosso Ministério


das Relações Exteriores, doutor Clóvis Beliváqua] é aquele que adquire de outrem

113
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

um direito e a ação respectiva. Em relação a toda a bacia superior do Purus e a


toda a bacia superior do Juruá, o Brasil tinha direitos que foram cedidos à Bolívia
pelo Tratado de 1867. E a Bolívia, restituindo-nos, pelo de 1903, esses territórios,
não só determinou a restauração íntegra dos direitos que lhe havíamos cedido,
mas também tornou possível, de um modo mais claro, mais certo e mais positivo
a afirmação da nossa soberania nesses mesmos territórios.

E a 9 de dezembro de 1908 escreveu o mesmo douto jurisconsulto,


tratando da sentença arbitral do governo argentino, que se anunciava
próxima, no pleito sobre limites entre o Peru e a Bolívia e em virtude
da qual um jornal receou que pudéssemos perder o território do Acre:

O Brasil, depois de ter fixado os seus limites com o Peru, ao ocidente, pelo Javari
(1851), tratou de fixá-los também ao sul. O soberano que aí encontrou exercendo
de fato a jurisdição, até onde esta se fazia sentir em contato com a sua, foi a
Bolívia. Com ela pactuou. Na ausência de direito convencional – pois o Tratado
de 1777 era meramente preliminar e feito para servir de base e preparo de um
tratado definitivo que se não celebrou –, deviam as partes contratantes recorrer ao
princípio geralmente aceito para a solução das questões de limites entre o Brasil
e as nações vizinhas: o uti possidetis. Este nos autorizava a reclamar muito mais
do que a Bolívia queria reconhecer como nosso. Por considerações diversas, entre
as quais merecem menção o apreço em que tínhamos a amizade da Bolívia e a
necessidade de fechar a porta a questões internacionais em um momento em que
a nossa contenda com o Paraguai tivera a infelicidade de provocar a animadversão
de outros povos sul-americanos, não nos quisemos mostrar intransigentes e
concordamos em que os nossos limites com a Bolívia fossem traçados pelo modo
estabelecido no Tratado de 1867.

Sob este ponto de vista, o Tratado de Petrópolis, celebrado 36 anos depois, é,


em grande parte, a restauração dos nossos verdadeiros limites no sul, a dos
limites a que tínhamos direito pela projeção da nossa jurisdição ao longo dos
rios e segundo a orientação da marcha do povo brasileiro na conquista das matas
desertas. Não se pode, consequentemente, dizer, como os que defendem a tese
peruana, que compramos o Acre à Bolívia, que adquirimos o título espanhol
que a Bolívia tinha sobre essa região. O que fizemos foi resgatar, mediante
indenização, o título português, ou brasileiro, que cedêramos à mesma Bolívia
pelo Tratado de 1867.

114
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

A conclusão forçada que desta consideração se tira é que nós não apresentamos
como cessionários ou sucessores da Bolívia. Temos direito nosso de que
havíamos aberto mão, porém, que depois reouvemos pelo Tratado de Petrópolis.
Este direito voltou a nós com todo rigor e extensão que tinha anteriormente.

O Tratado de Petrópolis tem o efeito de uma sentença anulatória de qualquer ato


jurídico, e assim repôs as coisas no estado primitivo ou anterior.

Não sendo cessionários nem sucessores da Bolívia, a decisão arbitral que for
proferida na pendência entre ela e o Peru não pode nos prejudicar. É res inter
alios (questão entre terceiros).

Se a sentença for contrária à Bolívia, que terá ela decidido? Terá decidido que os
limites entre a Bolívia e o Peru não são os que geralmente se supõe, e sim outros
diferentes. É uma questão que não atinge ao nosso direito. A sentença mostrará apenas
que ao sul do Acre nós nos limitamos com o Peru e não com a Bolívia, mas nos
limitamos por onde o uti possidetis traçava antes do Tratado de 1867, e traça ainda
hoje, os nossos limites, uti possidetis que o Peru expressamente aceitou, no Tratado
de 1851, como princípio de solução das dúvidas sobre os limites entre ele e o Brasil.

Se o Peru não reconhecer esse nosso direito, bem se compreende que isso não
depende exclusivamente do seu arbítrio, e sim do valor dos títulos de cada um
dos dois países confinantes.

A questão de limites entre o Peru e a Bolívia, por títulos administrativos do governo


espanhol, é, para o caso, de valor secundário, por ser questão que se reveste de
um caráter interno, como se tratava entre duas possessões do mesmo soberano. O
Brasil tem os seus títulos assim como os que lhe provêm de Portugal, e deslindará
as suas fronteiras com o soberano vizinho. Pouco importa que esse vizinho seja
a Bolívia ou o Peru.

Apenas conhecido em Lima o Tratado de 1867 entre o Brasil


e a Bolívia, o Peru protestou contra ele, em nota de 20 de dezembro
daquele ano, firmada pelo seu ministro das Relações Exteriores, J. A.

115
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Barrenechea, dirigida ao governo boliviano.


Destaco desse protesto os seguintes trechos:

Os limites entre o Peru e o Brasil ainda não estão definidos... Nenhuma urgência
teve o governo do Peru em levar por diante esse deslinde, porém, o da Bolívia,
desde que julgou conveniente fazer o seu com o do Brasil, a respeito de territórios
que, pelo menos, devia considerar limítrofes do Peru, parece que devia ajustar com
este a devida negociação. Esse olvido causou a cessão que o governo da Bolívia
fez ao Brasil de territórios que podem ser da propriedade do Peru. Salvá-los é o
objeto que se propõe o abaixo assinado na presente nota.

Verdade é que o governo do Peru aceitou também o princípio do uti possidetis


e substituiu aos tratados celebrados pela metrópole a posse atual e, conforme a
ela, o Tratado de 23 de outubro de 1851, que a República se acha no dever de
respeitar; porém, o governo peruano teria desejado que o da Bolívia aproveitasse
da experiência que o do Peru adquiriu à custa de alguns sacrifícios. Já que isso se
não deu, pelo menos o Peru teria desejado que o Tratado de 1851 fosse respeitado
com todas as suas consequências.

Segundo esse pacto, ratificado pela Convenção de 1858, todo o curso do Javari
é limite comum para os Estados contratantes; e, ainda que os tratados não o
digam, os comissários de limites, senhores Carrasco e Azevedo, pactuaram que
se chegasse até a latitude de 9º30’S ou até a nascente do dito rio, no caso de se
encontrar ela em uma latitude inferior. A linha paralela ao Equador, traçada em
uma das referidas situações, assinala a divisão territorial entre o Peru e o Brasil
por esse lado, ficando pertencente ao Peru todo o terreno compreendido entre o
sul e a indicada paralela, que deve terminar no rio Madeira (...)

Esse acordo entre os comissários demarcadores José da Costa


Azevedo (depois barão de Ladário) e Francisco Carrasco – deve
ser dito – foi desaprovado pelo governo imperial. O comissário
brasileiro só tinha poderes para a demarcação da fronteira estipulada
em 1851, a qual não estabelecera linha alguma divisória do Javari
para leste.
Ao protesto peruano respondeu o ministro das Relações
Exteriores da Bolívia, Mariano Donato Muñoz, em nota de 6 de
fevereiro de 1868:

116
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Passando ao fundo da questão, bastar-me-ia declarar a vossa excelência que,


sem considerar fundado o protesto, o governo da Bolívia, que sabe respeitar os
direitos alheios, não intentou menoscabar os do Peru no Tratado de 27 de março,
o qual não compromete nem em um palmo os interesses peruanos, por mais que
vossa excelência se esforce em atribuir ao Brasil a absorção de cerca de 10 mil
léguas quadradas [308.766 km2], que se permite supor cedidas pela Bolívia em
prejuízo do Peru (...)

Devo também assegurar a vossa excelência que na negociação do Tratado de 27


de março, o Gabinete de Sucre não olvidou que estava ainda pendente a definição
dos limites entre a Bolívia e o Peru; achava-se, entretanto, persuadido, como
se acha ainda hoje, que esta questão em nada colide com os ajustes contidos
naquele tratado.

Teve, além disso, em conta as estipulações de 1750 e 1777, ajustadas entre as coroas
da Espanha e de Portugal e, substituindo-as pelo artigo 2o do tratado em questão,
não perdeu de vista que aquelas ficaram sem execução e nunca estabeleceram uma
verdadeira posse para o governo espanhol.

Não restava, pois, outra base para fundar solidamente os direitos territoriais da
Bolívia e do Brasil senão o princípio do uti possidetis, isto é, a posse real e efetiva
de Espanha e Portugal, ainda quando fosse retenção ilegítima, não podendo tomar-
se por posse verdadeira a que qualquer das duas coroas pretendesse ter sem uma
ocupação positiva e atual.

Porém, o Peru e o Brasil concluíram o Tratado de 23 de outubro de 1851. O seu


artigo 7o diz terminantemente:

(...) Concordam as altas partes contratantes em que os limites da República do


Peru com o Império do Brasil sejam regulados em conformidade do princípio,
uti possidetis (...)

Uma Comissão Mista nomeada por ambos os governos reconhecerá, conforme o


princípio do uti possidetis, a fronteira e proporá a troca dos territórios que julgar
a propósito para fixar os limites que sejam mais naturais e convenientes a uma e
outra nação.

117
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Eis aí como o princípio do uti possidetis foi a base primordial e única que regulou
o tratado entre o Peru e o Brasil em 1851. Além do que, essa mesma fronteira
não se achava ainda claramente definida, como não está hoje mesmo; por isso,
se conveio conferir a uma Comissão Mista a faculdade de reconhecê-la e propor
a troca de territórios.

Por que, pois, pretende o Gabinete de Lima que o de Sucre houvesse recusado adotar
o mesmo princípio que a ele, de Lima, serviu para o ajuste de limites com o Brasil?
... Deixando ao Gabinete do Rio de Janeiro a tarefa de responder, em seu caso, no
tocante ao Império, limitar-me-ei somente a chamar a atenção de vossa excelência
para o próprio teor literal do artigo 7o (do Tratado de 1857), segundo o qual os
limites entre o Peru e o Brasil, ao sul de Tabatinga, estão definidos pelo rio Javari,
de maneira que os territórios adjacentes à sua margem esquerda são os únicos que
por essa parte possui o Peru, pertencendo ao Brasil os que se acham situados à
margem direita.2

E como por esse lado cabe também à Bolívia um direito inquestionável que nasce
dos mesmos princípios do uti possidetis que ao Peru serviu de ponto de partida
para os seus acordos territoriais com o Império, nada parece mais natural do que
o estipulado entre a Bolívia e o Brasil, que dispunham de coisa própria, isto é, de
território que possuíam e até onde a soberania e a jurisdição do Peru não podiam
chegar porque o impedia o rio Javari, seu limite reconhecido no Tratado de 23
de outubro de 1851...

VI

Em várias ocasiões – formalmente em 1868, 1870 e 1874 – tentou o


governo peruano chamar o Brasil a uma conferência de plenipotenciários,
em que estivessem representados também o Peru e a Bolívia, para que
juntos procurassem resolver as suas questões de limites na região entre
o Javari e o Madeira.
Por último, em 1903, no decurso das nossas negociações com a Bolívia,
de que resultou o Tratado de Petrópolis, ainda reiterou aquele convite a
que, no tempo do Império, o Brasil deixara sempre de aceder. As razões
2 
Nos mapas de que se serviram os negociadores, o Javari tinha a sua nascente muito mais ao
sul que o Juruá e o Purus.

118
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

por que, no regime passado como no atual, não nos foi possível aceder ao
expediente proposto constam das duas notas anexas (nos 1 e 2), que em 18
de julho de 1903 e 11 de abril de 1904 dirigi à Legação Peruana.
Na primeira dessas notas, confirmei o que havia declarado no meu
telegrama de 20 de janeiro de 1903 à legação do Brasil em Lima:

Queira informar reservadamente a esse governo que qualquer que seja a resolução
que sejamos obrigados a tomar, quando esgotados todos os meios suasórios, na
questão dos estrangeiros do Sindicato que o governo boliviano quer estabelecer
no território em litígio, o governo brasileiro terá na maior atenção as reclamações
do Peru, sobretudo, na parte que vai do Purus para oeste, e, animado do espírito
mais conciliador e amigável, estará pronto para se entender em tempo com esse
governo sobre o território em litígio, como deseja entender-se com o da Bolívia.

Da nota de 11 de abril de 1904 transcreverei aqui o seguinte trecho:

Se houvéssemos admitido a negociação conjunta proposta em 3 de julho do ano


passado, começaríamos por não nos entender sobre as bases das nossas pretensões.
O Brasil e a Bolívia queriam discutir colocando-se no terreno das suas mútuas
conveniências, dos seus recíprocos interesses no presente e no futuro, ou sobre o
Tratado de 1867 que o Peru desconhecia; o Peru e a Bolívia, sobre títulos da época
colonial, emanados da sua antiga metrópole. Na discussão com o Brasil, quereria o
Peru assentar a sua pretensão sobre o Tratado de 1777, cuja validade o Brasil não
pode admitir, ou procuraria persuadir-nos, com a sua interpretação de certos atos
dos reis da Espanha, de que é com o Peru e não com a Bolívia que o Brasil deve
confinar no vale do Amazonas a leste do meridiano da nascente do Javari. Quando
mesmo nos pudéssemos entender e regular convenientemente a discussão, seria
esta muito demorada e dar-se-ia necessariamente um destes três casos:

1o o Peru ligava-se ao Brasil contra a Bolívia, o que só se poderia verificar


sacrificando o Brasil ao Peru pelo menos a região do Alto Juruá, ocupada, e desde
muitíssimos anos, por brasileiros.

2o o Peru ligava-se à Bolívia contra o Brasil.

3o a Bolívia ligava-se ao Brasil contra o Peru.

119
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

No primeiro caso, ganhava o Peru e perdiam o Brasil e a Bolívia; no segundo,


perdia o Brasil e ganhava o Peru; e no terceiro, nada perdia o Peru.

As conferências acabariam pelo rompimento da negociação, ou, como as de 1894


em Lima, por um tratado de tríplice arbitramento que teria a mesma sorte do que
foi assinado naquela ocasião.

Essas considerações, e o ensinamento que resulta da própria experiência do Peru


desde a sua malograda tentativa de 1894, bastam para demonstrar o acerto e a
prudência com que procedeu o governo do Brasil, deixando de aceitar as duas
proposições que lhe foram feitas.

Simplificada agora a questão depois do Tratado de 17 de novembro último entre


o Brasil e a Bolívia, ou melhor, destacadas as duas questões peru-bolivianas e
peruano-brasileiras, poderá o governo de Lima negociar e resolver ambas menos
dificilmente.

(...) A disposição constitucional a que o senhor ministro alude não nos obriga a
aceitar o arbitramento somente porque um governo estrangeiro diz que pertence
ao seu país um território que entendemos ser nosso. Durante a presidência do
doutor Prudente de Morais, e no caso da ocupação da ilha da Trindade, o Brasil
recusou, em 6 de janeiro de 1896, o arbitramento proposto pelo governo britânico.
Três vezes tem o Brasil recorrido ao juízo arbitral para resolver antigos desacordos
sobre limites: o que tínhamos com a República Argentina, relativo ao território
de Palmas, impropriamente chamado de Missões; com a França, sobre o do
Oiapoque ao Araguari e ao rio Branco; e com a Inglaterra, nas bacias do mesmo
rio Branco e do Essequibo. Em nenhum desses casos foi o Brasil a arbitramento
sem discussão prévia e troca de memórias justificativas, sem que as duas partes
ficassem conhecendo os fundamentos da opinião contrária e tentassem transigir
ou conciliar-se.

Agora está ele pronto para proceder do mesmo modo com o Peru e só depende do
governo de vossa excelência resolver se deve ou não seguir o exemplo dado, em questões
semelhantes com o Brasil, pela República Argentina, pela França e pela Inglaterra.

O presidente Rodrigues Alves, na mensagem de 3 de maio de 1904,


por ocasião da abertura do Congresso Nacional, disse:

120
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

(...) Por esse tratado [o de Petrópolis, de 17 de novembro do ano anterior] não só


recuperamos quase todos os territórios do Alto Purus e do Alto Juruá, que pelo o
de 1867 havíamos implicitamente cedido à mesma República [Bolívia], e contem
uma numerosa população brasileira, mas ficamos também com direito aos que a
Bolívia reivindicava na bacia do Ucayali, ao norte de 11o S.

O governo do Peru pretendeu que o seu representante aqui acreditado tomasse


parte na negociação e propôs pouco depois que as questões de limites entre os três
países fossem submetidas à decisão de um árbitro. Não pude anuir a tais propostas,
parecendo-me mais simples e prático tratar primeiro com um dos litigantes para
depois nos entendermos com o outro. Assim tem o Brasil procedido sempre nas
suas negociações sobre limites; assim procedeu também o Peru, tratando em 1851
com o Brasil, para depois se entender com o Equador e a Colômbia, e em 1887 e
1890 com o Equador para depois tratar com a Colômbia. A tentativa que fez em
1894 para resolver simultaneamente essas três questões de limites em conferência
de plenipotenciários e por meio de um tríplice arbitramento não deu, como era de
prever, o resultado que então esperava o governo peruano. Até hoje continuam
pendentes esses três litígios.

Depois do tratado de 17 de novembro último, pôde o Peru negociar separadamente


e resolver com menos dificuldade as suas questões de limites com o Brasil e com a
Bolívia. Os direitos que ele pretende ter ficaram ressalvados, e não nos recusamos
de modo algum a tomar conhecimento das suas alegações. Não entraremos, porém,
nessa negociação antes de retirados os destacamentos militares que o governo do
Peru mandou para o Alto Juruá e para o Alto Purus.

Não podemos tolerar que, durante o litígio levantado, e cujos fundamentos nos
são desconhecidos, venham autoridades peruanas governar populações brasileiras
que viviam tranquilamente nessas paragens.

VII

O presidente Rodrigues Alves, na parte final do trecho que


acaba de ser transcrito, referia-se às invasões que, por ordem de um
prefeito do departamento de Loreto, haviam efetuado comissários
administrativos peruanos e aos destacamentos de tropa regular,

121
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

no Juruá (1902) e no Purus (1903 e 1904). Nas margens desses


dois rios e seus afluentes achavam-se estabelecidos, desde muitos
anos, numerosos brasileiros que se empregavam pacificamente na
extração da goma da seringueira (Hevea brasiliensis). Mesmo os
que se fixaram ao sul da fronteira Javari-Beni, do Tratado de 1867,
continuavam submetidos às leis brasileiras porque as operações da
demarcação não estavam de todo ultimadas e o governo boliviano
não havia enviado agentes seus àquelas paragens para a necessária
tomada de posse. No Juruá estendiam-se os nossos nacionais, já em
1870, até as margens do Amônea e do Tejo, e em 1891 até um pouco
a montante da boca do Breu Superior ou Breu Terceiro. No Purus,
ocupavam desde 1883 a confluência do Araçá, depois chamado
Chandless, e fundavam no mesmo ano, mais acima, sobre as duas
margens do rio principal, os estabelecimentos de Porto Mamoriá
e Triunfo Novo; em 1884, os de Refúgio, Fronteira do Cassianã e
Novo Lugar; em 1898, Cruzeiro, Hosana, ou Furo do Juruá, e Sobral;
e, em 1899, Funil.
O rio Béu, pouco acima do Breu, marcava em 1891 o limite
meridional da ocupação efetiva brasileira no Juruá, que nesse mesmo ano
alguns compatriotas nossos, dirigidos por João Dourado e Balduíno de
Oliveira, exploraram até a boca do rio que chamaram de Dourado, que é o
mesmo a que os peruanos, posteriormente, deram o nome de Huacapistea
ou Vacapista, mudando o primitivo para outro afluente próximo. O
Santa Rosa, ou Curinaá, ficara sendo, desde 1898, o limite da ocupação
brasileira no Purus, já em 1861 explorado pelo nosso intrépido sertanejo
Manuel Urbano da Encarnação até perto do Curanja, e em 1867, com
auxílio do governo brasileiro, por William Chandless, em companhia do
mesmo Manuel Urbano, até pouco além da confluência do Cavaljani, isto
é, até as vizinhanças da sua nascente principal.
Só em 1896, vindo do Ucayali, onde acabavam de destruir
as florestas de caucho (Castilloa elastica), começaram a aparecer
negociantes e industriais peruanos, acompanhados de trabalhadores
índios, em alguns dos afluentes do Juruá, apresentando-se como amigos
e obtendo dos proprietários brasileiros por compra, arrendamento
ou simples tolerância, alguns terrenos em que abundava a árvore do
caucho. Em outubro de 1901, surgiu, no Alto Purus, muito acima ou ao
sul dos estabelecimentos brasileiros, a primeira expedição de caucheiros

122
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

peruanos, procedentes do Juruá.


Em 1897 já se tinham dado conflitos no Juruá-Mirim entre
nacionais nossos e peruanos que ali tentaram estabelecer-se. Em
1902, deu-se outro, a 21 de outubro, em frente à boca do Amônea,
quando, pela primeira vez, um comissário peruano,3 acompanhado
de alguns soldados e caucheiros armados, pretendeu tomar posse
desse território em nome do governo do Peru. Os peruanos retiraram-
se para o varadouro entre o Amônea e o Cayania, acampando em
Saboeiro, e depois em San Lorenzo, à espera de reforços. Por
intervenção de um proprietário e comerciante brasileiro, que gozava
de bastante influência naquelas paragens e que aconselhou os
habitantes a desistirem da resistência – por ser mais conveniente,
segundo lhes disse, deixar aos dois governos a resolução do caso –
voltou o comissário peruano com a sua tropa, e, a 15 de novembro do
mesmo ano, instalou um posto militar e aduaneiro junto ao barracão
denominado Minas Gerais, à margem esquerda da boca do Amônea,
lugar a que deu o nome de Nuevo-Iquitos, transferido de um grupo
de barracas que certo industrial peruano ocupara na foz do Breu, e
que ali tiveram mui curta duração.
No Purus, a ocupação administrativa peruana em território ocupado
por brasileiros foi tentada pela primeira vez em 1903, apresentando-se
na confluência do Chandless, à frente de um destacamento militar e
de muitos caucheiros em armas, no dia 22 de junho, outro comissário,
também nomeado pelo prefeito do departamento de Loreto. Os
moradores brasileiros organizaram-se logo militarmente, sob a direção
do tenente-coronel José Ferreira de Araújo, da Guarda Nacional,
proprietário do seringal Liberdade; e o comissário invasor,4 não tendo
querido atender à intimação de retirada que lhe mandara o general
comandante das nossas tropas de ocupação no Acre, teve, enfim, que
ceder, no dia 6 de setembro, ao ver-se cercado por um grande troço de
voluntários brasileiros.
Foi então que os nossos compatriotas estabeleceram, um

3 
Chamava-se Carlos F. Vásquez Cuadra o comissário peruano. Chegou a San Lorenzo, vindo
de Iquitos, a 16 de outubro de 1902. Desceu parte do Amônea e, no dia 18, passou-se para a
margem direita do Juruá. O brasileiro Carlos Eugênio Chauvin, primeiro suplente da prefeitura,
organizou a resistência na boca do Amônea, margem esquerda do Juruá.
4 
Jorge M. Barreto era o comissário peruano.

123
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

pouco abaixo da boca do Santa Rosa, em Fortaleza, um posto


de observação que retiraram no fim do ano, quando parecia de
todo passado o perigo de alguma nova invasão. Mas ela veio, em
março de 1904, descendo do Curanja, em canoas, uma numerosa
expedição composta de caucheiros e do destacamento militar que
ali se achava.5 Por surpresa e sem resistência alguma, que não
era possível, apoderaram-se de Sobral, Funil e Cruzeiro e aí se
detiveram, arrecadando todas as provisões que encontraram nessas
propriedades brasileiras. Informados, porém, de que os nossos
compatriotas subiam o rio para repelir a invasão, puseram-se em
retirada para Cataí e Curanja. Houve, entretanto, a 30 de março
um combate entre a retaguarda dos invasores e os voluntários
brasileiros nas duas margens do Purus, na confluência do Santa
Rosa e em frente à boca desse rio.6
Os caucheiros peruanos pretenderam que, depois do combate, cinco
dos seus compatriotas, não combatentes, tinham sido fuzilados em Funil
pelos brasileiros. Do nosso lado, o que se sabe com inteira certeza, é
que de 13 brasileiros inermes, então levados presos para o Curanja,
três conseguiram evadir-se e os outros 10 foram todos ali fuzilados
por ordem de um chefe de caucheiros nômades, promotor principal de
quase todas aquelas desordens, e que há poucos meses acabou a vida às
mãos dos seus próprios subordinados já longe do Purus, em um afluente
do Madre de Dios.7

VIII

O governo peruano compreendeu, como o do Brasil, a urgente


necessidade de se pôr termo a semelhante estado de coisas.
Assim, a 8 de maio de 1904, ambos abriram negociações de que

5 
Expedição preparada pelo comissário peruano no Alto Purus, Pedro López Saavedra, e pelo
caucheiro Carlos Scharff. Compunha-se de 200 caucheiros armados, de que era chefe Francisco
Vargas Fernández, e de 30 soldados sob o comando do tenente Luís Ghiorzo.
6 
A expedição de voluntários brasileiros (160 homens) subia de Liberdade até o Santa Rosa,
embarcada, sob o comando do tenente-coronel José Ferreira de Araújo. O citado Ghiorzo
dirigia a força que combateu no Santa Rosa.
7 
Carlos Scharff, morto no rio de las Piedras ou Tacuatimanu pelos seus trabalhadores índios,
em 1902.

124
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

resultou a assinatura de dois ajustes, nesta cidade do Rio de Janeiro,


a 12 de julho do mesmo ano. O primeiro, provisório, tinha por fim
prevenir novos conflitos entre brasileiros e peruanos nas regiões
do Alto Juruá e do Alto Purus, permitindo que os dois governos
entrassem amigavelmente na negociação de um acordo definitivo sobre
a sua questão de limites (anexo no 3); e o segundo criava no Rio de
Janeiro um tribunal arbitral incumbido de julgar as reclamações dos
cidadãos brasileiros e as dos peruanos por prejuízos ou violências que
tivessem ou pretendessem ter sofrido naquelas regiões, desde 1902.
Nos dois primeiros artigos do acordo provisório estipulou-se o seguinte:

1o A discussão diplomática para um acordo direto sobre a fixação dos limites entre
o Brasil e o Peru desde a nascente do Javari até a linha de 11o S começará no dia
1o de agosto e deverá ficar encerrada no dia 31 de dezembro deste ano de 1904.

2o Os dois governos, desejosos de manter e estreitar cada vez mais as suas relações
de boa vizinhança, declaram desde já o seu sincero propósito de recorrer a algum
dos outros meios de resolver amigavelmente litígios internacionais, isto é, aos
bons ofícios ou à mediação de algum governo amigo, ou à decisão de um arbítrio,
se dentro do indicado prazo, ou no das prorrogações em que possam convir, não
conseguirem um acordo direto satisfatório.

No artigo 8o do nosso Tratado de 17 de novembro de 1903 com a


Bolívia fora feita pelo Brasil esta declaração:

A República dos Estados Unidos do Brasil declara que ventilará diretamente


com a do Peru a questão de fronteiras relativa ao território compreendido entre
a nascente do Javari e o paralelo de 11º sul, procurando chegar a uma solução
amigável do litígio sem responsabilidade para a Bolívia em caso algum.

Confrontando-se esse texto com o do artigo 1o do Acordo de 12 de


julho de 1904, vê-se que o Peru aceitou o artigo 8o do nosso Tratado de
1903 com a Bolívia e reconheceu que era com o Brasil que devia tratar
de estabelecer limites desde a nascente do Javari até o paralelo de 11º
S. O próprio governo peruano, no ato de aprovação do citado acordo,
disse: “(...) Sendo necessária a dita redação para que” – o artigo 1o do
Acordo brasileiro-peruano de 12 de julho de 1904 – “ficasse conforme

125
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

com o artigo 8o do Tratado de Petrópolis, entre o Brasil e a Bolívia, de


17 de novembro de 1903” (Resolução do governo do Peru, assinada em
Lima a 1o de setembro de 1904, aprovando o Acordo Provisório de 12
de julho de 1904).
No artigo 2o, manifestaram as duas partes contratantes o propósito
em que estavam de recorrer “aos bons ofícios ou à mediação de algum
governo amigo, ou à decisão de um árbitro”, se não conseguissem
chegar a acordo algum conciliatório. No caso de recurso ao juízo
arbitral, o árbitro havia de ser, necessariamente, escolhido pelo Brasil
e pelo Peru.
A questão peruana de fronteiras, no tocante aos territórios que o
Brasil recuperara da Bolívia, ficava, portanto, pelo próprio governo de
Lima, retirada do processo arbitral peru-boliviano que se ia abrir em
Buenos Aires em virtude do “Tratado de Arbitramento Juris” de 30 de
dezembro de 1902, cujas ratificações haviam sido trocadas em La Paz a
6 de março de 1904, quando já existia o Tratado de Petrópolis. Cumpre
ainda notar que o tratado peru-boliviano de 1902 submeteu à decisão
arbitral do governo argentino a questão de limites entre os dois países
sem que fossem declaradas quais as linhas da pretensão máxima de
cada um, isto é, sem precisar completamente o objeto do litígio.8

O senhor Eliodoro Villazón, atual presidente da Bolívia, quando ministro da mesma


8 

República em Buenos Aires, em 1906, disse o seguinte, nas “Advertências preliminares” da


sua Alegação do governo da Bolívia no juízo arbitral de fronteiras com a República do Peru
(p.XVII):“Entretanto, como depois do Tratado de Arbitragem” – o de 1902 – “sobrevieram
questões entre a Bolívia e o Brasil e, consequentemente, a Bolívia assinou o Tratado de
Petrópolis de 17 de novembro de 1903, cedendo àquela nação parte de seus territórios ao
noroeste e estipulando como novo limite o paralelo 11ºS, a zona cedida ficou, de fato, excluída
da presente controvérsia, com tanta mais razão quanto o Brasil se reservou a faculdade de se
entender diretamente com o Peru para o acordo da fronteira compreendida entre a nascente
do Javari e o paralelo 11ºS, sem responsabilidade para a Bolívia em caso algum. O Brasil,
com base no artigo 8o do dito tratado, entrou em negociação com o Peru e, celebrado o acordo
provisório (de modus vivendi), segundo o qual esta última nação abandonou grande parte de
seus pretendidos direitos e, no território que ainda fica em questão, aceitou uma administração
mista, à espera de um acordo definitivo.
Dados esses antecedentes, não sendo o Brasil parte nesse litígio e tendo outros acordos vigentes
com o Peru, logicamente o laudo arbitral tem de concretizar-se no espaço que medeia entre
o rio Suches e o paralelo 11ºS.
Isso não se opõe a que as questões e raciocínios abarquem toda a questão, tal como proposta
no Tratado de Arbitragem. O procedimento tem que revestir forçosamente esta forma, porque
os títulos abarcam toda a região e porque o uti possidetis juris tem que ser definido com as
leis e títulos vigentes do ano de 1810 (...)”

126
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Pelo Acordo brasileiro-peruano de 12 de julho de 1904, no artigo


3 , foram neutralizados durante a discussão diplomática os seguintes
o

territórios em litígio:
a). o da bacia do Alto Juruá desde as cabeceiras desse rio e dos
seus afluentes superiores até a boca e a margem esquerda do rio
Breu e, daí para oeste, pelo paralelo da confluência do mesmo
Breu, até o limite ocidental da bacia do Juruá;
b). o da bacia do Alto Purus até o lugar denominado Cataí, inclu-
sive.
Assim, ficavam sob a jurisdição do governo brasileiro:

1º. Todo o território da bacia do Juruá ao norte do rio Breu, seu


afluente da margem direita, e ao norte do paralelo da boca do
Breu, para oeste, até a linha do divisor de águas entre o Juruá e
o Ucayali, devendo, conseguintemente, ser retirado pelo Peru o
posto militar e aduaneiro que estabelecera na boca do Amônea,
em novembro de 1902, e a agência fiscal que pouco depois co-
locara em Saboeiro, no varadouro do Amônea para o Tamaya,
tributário do Ucayali.

2º. Todo o território da bacia do Purus ao norte do paralelo de Cataí.

A população desses territórios era em sua quase totalidade brasileira.


Ao sul dos referidos limites, estendiam-se os territórios neutralizados
que, nos termos do artigo 4o do acordo, passavam a serem administrados
por duas Comissões Mistas, brasileiras e peruanas, devendo ser neles
instalados – artigo 5o – dois Postos Fiscais Mistos, um na boca do Breu,
outro em Cataí.
O mesmo acordo criou, em seu artigo 9o, comissões técnicas, duas
de cada país, incumbidas de fazer o reconhecimento do Alto Juruá e
do Alto Purus, até as suas cabeceiras, e de reunir, a respeito de toda
essa região, informações geográficas e estatísticas que facilitassem aos
dois governos interessados a tarefa de dar ao seu antigo litígio alguma
solução transacional igualmente satisfatória e honrosa para ambos.
As instruções para os Postos Fiscais Mistos foram assinadas em
21 de janeiro de 1905, e as destinadas, separadamente, às comissões
administrativas e às comissões técnicas, em 4 de fevereiro.

127
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

As ordens expedidas de Lima, em 1o de setembro de 1904, ao


prefeito do departamento de Loreto para a execução do Acordo de 12
de julho chegaram a Iquitos com grande demora, por não haver ainda
então comunicação telegráfica entre essas duas cidades. Daí resultou,
infelizmente, nos dias 4 e 5 de novembro daquele ano, um conflito de
armas entre o destacamento militar brasileiro que fora ocupar a boca ao
Amônea e a guarnição peruana, a qual, ali entrincheirada, acabou por
capitular depois de honrosa resistência.9

IX

Com a organização dos três departamentos brasileiros do território


nacional do Acre, determinada pelo decreto de 7 de abril de 1904, e
com a instalação das Comissões Mistas de Administração em frente
à confluência do Breu e em Cataí, cessaram de todo as incursões de
caucheiros peruanos em terras povoadas por brasileiros, e as lamentáveis
pendências de que foram causa.
As duas comissões técnicas de exploração do Alto Purus tiveram
por chefes: a brasileira, o engenheiro Euclides da Cunha; a peruana, o
capitão-de-corveta Pedro Buenaño. As do Alto Juruá: a nossa, o general
Belarmino Mendonça; a peruana, o capitão-de-mar-e-guerra Filipe
Espinar, a quem pouco depois sucedeu o primeiro-tenente Numa León.
Partiram elas de Manaus para o Purus e Juruá, respectivamente,
a 4 e 11 de abril de 1905, e conseguiram vencer todas as dificuldades
da viagem, chegando aos varadouros que comunicam as cabeceiras
desses rios com as de vários afluentes do Madre de Dios e do Ucayali.
Os trabalhos executados em comum pelas do Purus foram assinados
naquela mesma cidade a 11 de dezembro de 1905; pelas do Juruá, a 22
de maio de 1906.
O relatório especial do doutor Euclides da Cunha foi apresentado ao
Ministério das Relações Exteriores em 1906, e o do general Belarmino
Mendonça em 1907.
Os comissários dos dois países puderam verificar que, no Juruá,
9 
O capitão Francisco d’Avila e Silva comandava o destacamento brasileiro, composto de 50
homens do 15o batalhão de infantaria, reforçado por 58 voluntários do lugar; o major Manuel
M. Ramírez Hurtado era o comandante da guarnição peruana da boca do Amônea.

128
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

ao norte do rio Breu, e no Purus, ao norte de Santa Rosa, quase


todos os estabelecimentos pertencem aos nossos nacionais e quase
toda a população é brasileira. Ao sul dos indicados limites é que só
se encontram peruanos, em agrupamentos de palhoças a que chamam
caseríos. Todos eles, com trabalhadores índios, ocupam-se na extração
do caucho.
No Alto Juruá, os estabelecimentos peruanos são: Puerto Pardo,
na margem esquerda, defronte da boca do Breu; Puerto Portillo,
na confluência do Huacapistea ou Vacapista; e Resvaladero, na
do Piqueyaco.

Nas duas margens do Breu [escreveram os comissários Belarmino Mendonça e


Numa León] procede-se à extração de goma elástica [Hevea brasiliensis]. Do Breu
para cima é a hevea muito escassa e chega a desaparecer. Há, porém, um resto de
caucho, que é objeto da exclusiva exploração dos peruanos (...)

Os caucheiros peruanos que exploram a região neutralizada no Alto Juruá habitam


em três caseríos situados nas bocas do Breu, do Huacapistea e Piqueyaco a que
dão recentemente as denominações de Puerto Pardo, Puerto Portillo e Resvaladero,
respectivamente.

No Alto Purus, a montante de Santa Rosa – e sem falar em Cataí,


que tinha sido abandonada pelo seu ocupante – a Comissão Mista de
exploração encontrou os seguintes caseríos peruanos:
Santa Rosa (margem direita da sua embocadura), San Juan,
Curanja, Santa Cruz, Cocama, Independência, Maniche, Shambuyaco,
Tingoleales e Alerta.
Lê-se no relatório de Euclides da Cunha:

Sobral, erguido em 1898, a 9º 15’ 07”S demarca hoje a mais avançada atalaia dessa
enorme campanha com o deserto. Quem o alcança, partindo da foz do Purus e
percorrendo uma distância itinerária de 1.417 milhas ou 400 léguas, tem a prova
tangível de que quatro quintos do majestoso rio estão completamente povoados de
brasileiros, sem um hiato, sem a menor falha de uma área em abandono, ligadas
às extremas de todos os seringais, estirando-se unida por toda aquela lonjura, que
lhe define geometricamente a grandeza, uma sociedade rude porventura ainda,
mas vigorosa e triunfante.

129
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

(...)

Resumindo: a marcha ascensional do povoamento está hoje em Sobral.


Entretanto, a carta anexa indica, a montante daquele sítio, outros: Santa Rosa,
Cataí, São João, Curanja e Santa Cruz.
São puestos (pequenas lojas comerciais) ou caseríos (agrupamentos de palhoças)
peruanos”.

As explorações realizadas e o estudo dos documentos trazidos


pelos comissários brasileiros tornaram desde 1907 suficientemente
conhecida para os dois governos a vasta região em litígio. Ao do Brasil,
porém, pareceu conveniente aguardar que o árbitro eleito pelo Peru e
pela Bolívia pronunciasse o seu laudo sobre a questão de fronteiras que
lhe fora submetida.
Era essa, sem dúvida, em qualquer circunstância – mas principalmente
depois do Acordo de 1904 – uma questão entre terceiros, como já ficou
dito. Mesmo quando fosse inteiramente favorável ao Peru, em nada nos
poderia prejudicar a sentença arbitral, tanto porque não éramos parte no
processo quanto porque o juiz devia baseá-la sobre decretos e decisões
dos reis da Espanha, determinando limites de suas antigas possessões.
Tais atos, perfeitamente válidos dentro dos domínios espanhóis, não
tinham valor algum internacional.
Com efeito, nos termos do compromisso peru-boliviano de 1902,
o árbitro devia procurar atribuir à Bolívia “todo o território que em
1810 pertencia à Audiência de Charcas, dentro dos limites do Vice-
Reinado de Buenos Aires, por atos do antigo soberano espanhol”, e
ao Peru “todo o território que nessa mesma data, e por atos de igual
procedência, pertencia ao Vice-Reinado do Peru”.
Segundo a sentença arbitral de 9 de julho último, baseada em
tais atos, o Vice-Reinado do Peru nada possuía a leste de 69º W de
Greenwich, do rio Tahuamano para o norte e, portanto, naquela direção
nada podia pretender.
A sentença não atingiu nem podia invalidar o direito do Brasil,
mas era obrigatória para o Peru e restringia naquela parte as suas

130
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

pretensões contra a Bolívia e contra o Brasil; mesmo porque – não é


inútil dizê-lo – o advogado do Peru perante o árbitro havia sustentado,
apesar do precitado Acordo de 12 de julho de 1904 com o Brasil, que os
territórios por nós recuperados da Bolívia em 1903 entravam também
no arbitramento de Buenos Aires.
Desse modo, mais da metade dos territórios que o Peru nos reclamava
ficou fora de questão, isto é, ficou incontestavelmente brasileira, sem
mais poder ser reclamada pelo Peru, toda a extensão compreendida:
ao norte, pela linha Javari-Madeira do Tratado Preliminar de 1777; a
oeste pelo meridiano de 69 graus; a leste pelo Madeira; e ao sul pelas
fronteiras que o Tratado de 1903 estabelecera entre o Brasil e a Bolívia.

XI

Na negociação do Tratado de 8 de setembro último, os dois


governos, como em 1851, tomaram por base o uti possidetis atual, de
acordo com as verificações feitas no terreno pelos seus comissários
técnicos de 1905.
Todos os territórios de que o Brasil está efetivamente de
posse, povoados quase que exclusivamente por brasileiros, ficam
definitivamente reconhecidos pelo Peru como do nosso domínio; e ao
Peru ficam pertencendo, com um pequeno acréscimo, entre o paralelo
de Cataí e o rio de Santa Rosa, os territórios do Alto Purus e do Alto
Juruá que haviam sido neutralizados em 1904, e onde sabemos que só
há estabelecimentos e habitantes peruanos.
A renda que tem produzido o território brasileiro do Acre não
sofrerá, com o presente tratado, diminuição alguma, por isso que toda
procede das regiões que continuarão dentro das fronteiras do Brasil. A
renda que, por metade, retirávamos dos territórios neutralizados tem
sido insignificante.
Antes do nosso Tratado de 1903 com a Bolívia, o Peru reclamava
do Brasil, ao norte da linha oblíqua Javari-Beni, um território cuja
superfície, como ficou dito, é de 251 mil km2 (8.132 léguas geográficas
quadradas). A superfície que recuperamos da Bolívia em 1903, com
as fronteiras que lhe deu o Tratado de Petrópolis, era de 191 mil km2
(6.188 léguas geográficas quadradas).

131
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Passou assim o nosso antigo litígio com o Peru a estender-se de novo


sobre uma área de 442 mil km2 (14.320 léguas geográficas quadradas)
com uma população calculada em mais de 120 mil habitantes, dos quais
60 mil ao sul da linha oblíqua Javari-Beni e outros tantos ao norte.
O tratado atual o resolve ficando ao Brasil 403 mil km2 (13.057
léguas quadradas), e ao Peru cerca de 39 mil km2 (1.263 léguas
geográficas quadradas).
Tomando-se em consideração somente os três departamentos que
formam o território nacional do Acre (191 mil km2 ou 6.188 léguas
geográficas quadradas) os resultados serão estes: o departamento
do Alto Acre não sofre diminuição alguma, os do Alto Purus e Alto
Juruá perdem as zonas meridionais em que nunca se fez sentir a nossa
autoridade ou influência e onde só há peruanos.
Com a superfície de 152 mil km2 (4.925 léguas geográficas
quadradas), que passará a ter o Acre, mesmo assim, ficará com uma
extensão territorial quase igual à dos estados do Ceará e Paraná, e muito
superior à dos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,
Alagoas, Sergipe, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
Os nossos territórios do Médio Juruá, do Médio Purus e do Alto
Acre terão, portanto, extensão bastante para que, introduzidos neles os
necessários melhoramentos e suficientemente povoados, possam, em
futuro próximo, constituir mais dois ou três estados da União brasileira.
O confronto da enorme vastidão em litígio com a pequena
superfície dos únicos trechos que passarão a ficar por nós reconhecidos
como peruanos – sem levar em conta a parte que poderíamos pretender
na bacia do Ucayali – pode deixar a impressão de que, pelo presente
tratado, o governo brasileiro se reservou a parte do leão.
Nada seria menos verdadeiro ou mais injusto.
Ratificando a solução que este tratado encerra, o Brasil dará mais
uma prova do seu espírito de conciliação, porquanto ele desiste de
algumas terras que poderia defender com bons fundamentos em direito.
A grande desigualdade que se nota nas renúncias que cada uma das
duas partes faz implicitamente, pela demarcação em que acabam
de concordar, é mais aparente do que real, e devida tão somente ao
excessivo exagero da pretensão levantada em 1863, e mantida com
afinco pelo governo peruano até pouco tempo.
De fato, a amigável composição a que chegaram os dois governos

132
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

em 8 de setembro é igualmente vantajosa para ambos os países. O Brasil


e o Peru encerrarão assim definitivamente, de modo pacífico e honroso,
um litígio que já tinha a duração de quase meio século e por vezes fora
causa de incidentes desagradáveis.
Em virtude dos protocolos de 15 e 17 de setembro, assinados
em La Paz, o ponto terminal da fronteira peru-boliviana no norte é a
confluência do Yaverija, na margem direita do Alto Acre.
A fronteira do Brasil com o Peru, que, pela Convenção de 23
de outubro de 1851, começava no rio Japurá ou Caquetá em frente
à confluência do Apapóris e terminava na nascente do Javari, é
completada, agora, pelo Tratado de 8 de setembro, desde essa nascente
até o rio Acre, em frente ao Yaverija. Daí ao Madeira, continuaremos
a confinar com a Bolívia, de acordo com o estipulado no Tratado de
Petrópolis, de 1903.
Os artigos 5o e 6o, sobre navegação fluvial, liberdade de trânsito e
fiscalização aduaneira são idênticos aos que têm esses mesmos números
no Tratado de Petrópolis. As estipulações do artigo 5o encontram-se
também no artigo 4o do Tratado de Limites e navegação entre o Brasil e
a Colômbia, de 24 de abril de 1907.
Além da cópia do tratado, acompanham a presente exposição os
seguintes documentos:

Nos 1 e 2 – Cópia das notas de 18 de julho de 1903 e de 11 de abril


de 1904 à legação do Peru.
No 3 – Cópia do Acordo de 12 de julho de 1904, aprovado nesse
mesmo ano pelo Congresso Nacional.
No 4 – “Esboço da região em litígio.” Mapa, por Euclides da Cunha
(julho de 1909).
No 5 – Carta Geográfica do território do Acre, por Plácido de Castro.

O mapa de Euclides da Cunha mostra os territórios que, fundando-


se no Tratado Preliminar de 1o de outubro de 1777, o Peru reclamava do
Brasil, antes e depois do Tratado de Petrópolis, isto é, ao norte e ao sul
da linha oblíqua Javari-Beni. Mostra também os que, ao sul dos limites
que ajustamos com a Bolívia, ele reclamava dessa República, baseando-
se em cédulas reais e outros atos do antigo soberano espanhol.
A linha do Tratado de 1777, nos mapas oficiais peruanos, segue

133
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

erradamente o paralelo de 7º52’15”S. A verdadeira é a do paralelo


de 7º38’45”S, como indica o mapa de Euclides da Cunha, porque
esse limite provisório devia partir, na direção do oeste, de um ponto
no Madeira situado a igual distância do rio Amazonas e da boca do
Mamoré (artigo 21). E o mesmo tratado explica (artigos 20 e 21) que o
rio Madeira é formado pela junção do Mamoré e do Guaporé; (“Baixará
a linha pelas águas desses rios Guaporé e Mamoré, já unidos com o
nome de Madeira...”); de sorte que naquele tempo o nome de Mamoré
não era ainda dado à seção compreendida entre a boca do Guaporé e a
do Beni.
Sobre esse mapa, fiz traçar as linhas do laudo argentino de 9 de
julho e as do Acordo peru-boliviano de 17 de setembro último, assim
como os limites dos territórios neutralizados pelo nosso Acordo de 12
de julho de 1904 com o Peru e os determinados pelo último tratado
com a mesma República, este último pendente da decisão do Poder
Legislativo nos dois países.
No mapa de Plácido de Castro – em escala maior, compreendendo
apenas o território do Acre, e contendo pormenores que ao outro faltam
– fiz indicar também os limites provisórios de 1904 e os que pelo
presente tratado ficarão definitivos se puderem ser ratificados pelos dois
governos e desde que se efetue a troca dessas ratificações.
A discussão do Tratado de 8 de setembro começou ontem, 27 de
dezembro, em sessões secretas das Câmaras peruanas, reunidas em
Congresso, e, segundo as notícias que tenho recebido, espera-se que
seja aprovado até o dia 30.
Tenho a honra de reiterar a vossa excelência os protestos do meu
mais profundo respeito.

Rio Branco

134
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Tratado entre o Brasil e o Tratado entre el Perú y el Brasil


Peru, completando a determinação para completar la determinación
das fronteiras entre os dois países de las fronteras entre los dos países
e estabelecendo princípios gerais y establecer principios generales
sobre o seu comércio e navegação sobre su comercio y navegación en
na bacia do Amazonas. la cuenca del Amazonas.

A República dos Estados La República del Perú y la


Unidos do Brasil e a República do República de los Estados Unidos del
Peru, com o propósito de consolidar Brasil, con el propósito de consolidar
para sempre a sua antiga amizade, para siempre su antigua amistad,
suprimindo causas de desavença, suprimiendo causas de desavenencia,
resolveram celebrar um tratado han resuelto celebrar un tratado que
que complete a determinação complete la determinación de sus
das suas fronteiras e ao mesmo fronteras, y que, al mismo tiempo,
tempo estabeleça princípios gerais establezca principios generales,
que facilitem o desenvolvimento que faciliten el desarrollo de las
das relações de comércio e boa relaciones de comercio y buena
vizinhança entre os dois países. vecindad entre los dos países.
E para esse fim nomearam Y para ese fin han nombrado
plenipotenciários, a saber: Plenipotenciarios a saber:
o excelentíssimo senhor El Excelentísimo señor Don
doutor Nilo Peçanha, presidente Augusto B. Leguia, presidente de
da República dos Estados Unidos la República del Perú, al señor
do Brasil, o senhor doutor José doctor Don Hernán Velarde,
Maria da Silva Paranhos do Rio su Enviado Extraordinario y
Branco, seu ministro de Estado Ministro Plenipotenciario en el
das Relações Exteriores; e Brasil; y
o excelentíssimo senhor El Excelentísimo señor doctor
Augusto B. Leguia, presidente Don Nilo Peçanha, presidente de
da República do Peru, o la República de los Estados Unidos
senhor doutor Hernán Velarde, del Brasil, al señor doctor Don José
seu enviado extraordinário e Maria da Silva Paranhos do Rio
ministro plenipotenciário no Branco, su Ministro de Estado en el
Brasil; Despacho de Relaciones Exteriores;
Os quais, devidamente Quienes, debidamente
autorizados, convieram nas autorizados, han convenido en

135
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

estipulações constantes dos las estipulaciones constantes de


seguintes artigos: los siguientes artículos:

Artigo 1o Artículo 1o

Estando já demarcadas, em Estando ya demarcadas, en


execução do artigo 7o do Tratado ejecución del artículo séptimo del
de 23 de outubro de 1851, as Tratado de 23 de octubre de 1851,
fronteiras do Brasil e do Peru, las fronteras del Perú y del Brasil,
na direção do norte, desde a en la dirección del norte, desde la
nascente do Javari até o rio Japurá naciente del Yavary hasta el río
ou Caquetá, as duas altas partes Caquetá o Yapurá, las dos Altas
contratantes concordaram em que Partes Contratantes han acordado
da referida nascente do Javari que, de la referida naciente del
para o sul e para leste os confins Yavary hacia el sur y hacia el
dos dois países fiquem assim éste, los confines de los dos países
estabelecidos: quedan así establecidos:
§ 1o Da nascente do Javari 1o De la naciente del Yavary
seguirá a fronteira, na direção do seguirá la frontera, en la dirección
sul, pela linha divisória das águas del sur, por la línea divisoria de las
que vão para o Ucayali das que aguas que van para el Ucayale de
correm para o Juruá até encontrar las que corren para el Yuruá hasta
o paralelo de 9º24’36”S, que é encontrar el paralelo de 9º 24’ 36” S
o da boca do Breu, afluente da que es él de la boca del Breu, afluente
margem direita do Juruá. de la orilla derecha del Yuruá.
§ 2o Continuará pelo indicado 2o Continuará, en la dirección
paralelo na direção de leste até a del éste, por el indicado paralelo,
confluência do Breu e subirá pelo hasta la confluencia del Breu y
álveo deste rio até a sua cabeceira subirá por el álveo de este río
principal. hasta su cabecera principal.
§ 3o Da cabeceira principal 3o De la cabecera principal
do Breu, prosseguirá, no rumo del Breu proseguirá, rumbo del
do sul, pela linha que divida as sur, por la línea que divida las
águas que vão para o Alto Juruá, a aguas que van para el Alto Yuruá,
oeste, das que vão para o mesmo al oeste, de las que van para el
rio ao norte, e, passando entre mismo río al norte, y, pasando
as cabeceiras do Tarauacá e do entre las cabeceras del Tarauacá

136
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Embira, do lado do Brasil, e as do y del Envira, del lado del Brasil,


Piqueyaco e Torolhuc, do lado do y las del Piqueyaco y Torolluc, del
Peru, irá, pelo divortium aquarum lado del Perú, irá, por el divortium
entre o Embira e o afluente da aquarum entre el Envira y el
margem esquerda do Purus afluente de la margen izquierda
chamado Curanja, ou Curumahá, del Purús llamado Curanjá,
cuja bacia pertencerá ao Peru, o Curumahá, cuya cuenca
encontrar a nascente do rio de pertenecerá al Perú, a encontrar
Santa Rosa, ou Curinaá, também la naciente del río de Santa Rosa,
afluente da margem esquerda do o Curinahá, afluente también de la
Purus. orilla izquierda del Purús.
Se as cabeceiras do Tarauacá Si las cabeceras del Tarahuacá
e do Embira estiverem ao sul do y del Envira estuviesen al sur del
paralelo de 10ºS, a linha cortará paralelo de 10º sur, la línea cortará
esses rios acompanhando o citado estos ríos siguiendo el expresado
paralelo de 10ºS, e continuará paralelo de 10º S, y continuará
pelo divortium aquarum entre o por el divortium aquarum entre el
Embira e o Curanja, ou Curumahá, Envira y el Curanja, o Curumahá
até encontrar a nascente do rio de hasta encontrar la naciente del río
Santa Rosa. Santa Rosa.
§ 4o Da nascente do rio de 4o De la naciente del río
Santa Rosa descerá pelo álveo Santa Rosa bajará por el álveo de
desse rio até a sua confluência na ese río hasta su confluencia en la
margem esquerda do Purus. orilla izquierda del Purús.
§ 5o Em frente à boca do 5o Frente a la boca del río
rio de Santa Rosa, a fronteira Santa Rosa, la frontera cortará
cortará o rio Purus até o meio el río Purús hasta el medio
do canal mais fundo, e daí del canal más hondo, y de ahí
continuará, na direção do sul, continuará, en la dirección del
subindo pelo talvegue do Purus sur, subiendo por el talvegue
até chegar à confluência do del Purús hasta llegar a la
Chambuiaco, seu afluente da confluencia del Shambuyaco, su
margem direita, entre Cataí e o afluente de la margen derecha
Santa Rosa. entre Catay y el Santa Rosa.
§ 6o Da boca do Chambuiaco, 6o De la boca del Shambuyaco
subirá pelo álveo desse curso subirá por el álveo de esa corriente
d’água até a sua nascente. de aguas hasta su naciente.

137
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

§ 7o Da nascente do 7o De la naciente del


Chambuiaco, continuará, para o Shambuyaco, continuará, hacia
sul, ajustada ao meridiano dessa el sur, ceñida al meridiano de
nascente até encontrar a margem esa naciente hasta encontrar la
esquerda do rio Acre ou Aquiri, margen izquierda del río Acre o
ou, se a nascente deste rio estiver Aquiry, o, si la naciente de este
mais ao oriente, até encontrar o río estuviera más al oriente, hasta
paralelo de 11ºS. encontrar el paralelo de 11º sur.
§ 8o Se o citado meridiano 8o Si el citado meridiano
da nascente do Chambuiaco de la naciente del Shambuyaco
atravessar o rio Acre, continuará atravesara el río Acre, continuará
a fronteira, desde o ponto de la frontera, desde el punto de
encontro, pelo álveo do mesmo encuentro, por el álveo del mismo
rio Acre, descendo-o até o ponto río Acre, bajando por él hasta el
em que comece a fronteira peru- punto en que empiece la frontera
boliviana na margem direita do perú-boliviana en la orilla
Alto Acre. derecha del Alto Acre.
§ 9o Se o meridiano da 9o Si el meridiano de la
nascente do Chambuiaco não naciente del Shambuyaco
atravessar o rio Acre, isto é, no atravesara el río Acre, es
se a nascente do Acre estiver decir, si la naciente del Acre
ao oriente desse meridiano, estuviese al oriente de ese
a fronteira, desde o ponto meridiano, la frontera, desde el
de intersecção daquele punto de intersección de aquel
meridiano com o paralelo meridiano con el paralelo de
de 11ºS, prosseguirá pelos 11º sur, proseguirá por los
mais pronunciados acidentes más pronunciados accidentes
do terreno, ou por uma linha del terreno o por una línea
reta, como aos comissários recta, como pareciese más
demarcadores dos dois países conveniente á los Comisarios
parecer mais conveniente, até demarcadores de los dos países,
encontrar a nascente do rio Acre, hasta encontrar la naciente del
e, depois, descendo pelo álveo río Acre, y, después, bajando
do mesmo rio Acre, até o ponto por el álveo del mismo río Acre,
em que comece a fronteira peru- hasta el punto en que empiece
boliviana, na margem direita do al frontera perú-boliviana, en la
Alto Acre. orilla derecha del Alto Acre.

138
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Artigo 2o Artículo 2o

Uma Comissão Mista, Una Comisión Mixta,


nomeada pelos dois governos nombrada por los dos Gobiernos en
no prazo de um ano contado el plazo de un año, contado a partir
do dia da troca das ratificações del día del canje de las ratificaciones
do presente tratado procederá del presente tratado, procederá a
à demarcação das linhas de la demarcación de las líneas de
fronteira descritas no artigo frontera descritas en el artículo
precedente, dando começo aos precedente, dando principio a sus
seus trabalhos dentro dos seis trabajos dentro de los seis meses
meses seguintes à nomeação. siguientes al nombramiento.
Em protocolo especial En protocolo especial se
se estabelecerão o modo por establecerán el modo como esa
que essa Comissão Mista será Comisión Mixta será constituida
constituída e as instruções a que y las instrucciones a que quede
fique sujeita para a execução dos sujeta para la ejecución de sus
seus trabalhos. trabajos.

Artigo 3o Artículo 3o

Os desacordos entre a Los desacuerdos entre la


Comissão brasileira e a peruana Comisión peruana y la brasilera,
que não fiquem resolvidos que no queden resueltos
amigavelmente pelos dois amigablemente por los dos
governos serão por eles submetidos Gobiernos, serán sometidos a la
à decisão arbitral de três membros decisión arbitral de tres miembros
da Academia de Ciências do de la Academia de Ciencias del
Instituto da França ou da Royal Instituto de Francia ó de la Royal
Geographical Society de Londres, Geographical Society de Londres,
escolhidos pelo presidente de uma escogidos por el presidente de
ou outra dessas corporações. una u otra de esas corporaciones.

Artigo 4o Artículo 4o

Se os comissários Si los Comisarios


demarcadores nomeados por demarcadores nombrados por una

139
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

uma das altas partes contratantes de las Altas Partes Contratantes


deixarem de concorrer, salvo dejasen de concurrir, salvo caso
caso de força maior, na data de fuerza mayor, en la fecha
indicada no protocolo a que señalada en el protocolo a que
se refere o artigo segundo, ao se refiere el artículo segundo,
lugar também designado nesse al logar también designado en
protocolo para o começo dos ese protocolo para el principio
trabalhos, os comissários da de los trabajos, los Comisarios
outra parte procederão por si sós de la otra Parte procederán por
à demarcação, e o resultado das si solos a la demarcación y el
suas operações será obrigatório resultado de sus operaciones será
para ambos os países. obligatorio para ambos países.

Artigo 5o Artículo 5o

As duas altas partes Las dos Altas Partes


contratantes concluirão no prazo Contratantes concluirán en el
de 12 meses um tratado de plazo de doce meses un Tratado de
comércio e navegação, baseado no Comercio y Navegación, basado
princípio da mais ampla liberdade en el principio de la más amplia
de trânsito terrestre e navegação libertad de transito terrestre y
fluvial para ambas as nações, navegación fluvial para ambas
direito que elas se reconhecem naciones, derecho que ellas se
perpetuamente, a partir do dia reconocen a perpetuidad, desde el
da troca das ratificações do día del canje de las ratificaciones
presente tratado, em todo o curso del presente tratado, en todo el
dos rios que nascem ou correm curso de los ríos que nacen o
dentro ou nas extremidades da corren dentro o en las extremidades
região atravessada pelas linhas de la región atravesada por las
de fronteira que ele descreve líneas de frontera que el describe
no seu artigo 1o, devendo ser en su artículo primero, debiendo
observados os regulamentos ser observados los reglamentos
fiscais e de polícia estabelecidos fiscales y de policía establecidos o
ou que se estabeleçam no que se establecieren en el territorio
território de cada uma das duas de cada una de las dos Republicas.
Repúblicas. Os navios peruanos Los buques peruanos
destinados à navegação desses destinados a la navegación de

140
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

rios comunicarão livremente com esos ríos comunicarán libremente


o oceano pelo Amazonas. con el océano por el Amazonas.
Os regulamentos fiscais e de Los reglamentos fiscales y de
polícia a que anteriormente se policía, a que se hace mensión
alude deverão ser tão favoráveis deberán ser tan favorables cuanto
quanto seja possível à navegação e sea posible a la navegación y al
ao comércio e guardarão nos dois comercio, y guardarán en los dos
países a possível uniformidade. países la posible uniformidad.
Fica entendido e declarado Queda entendido y declarado
que se não compreende nessa que no se comprende en esa
navegação a de porto a porto do navegación la de puerto a puerto
mesmo país, ou de cabotagem, del mismo país, o de cabotaje,
que continuará sujeita, em cada que continuará sujeta, en cada
um dos dois Estados, às suas uno de los dos Estados, á sus
respectivas leis. respectivas leyes.

Artigo 6o Artículo 6o

De conformidade com as De conformidad con las


estipulações precedentes, e para o estipulaciones precedentes, y
despacho em trânsito dos artigos para el despacho en tránsito
de importação e exportação, de los artículos de importación
o Peru poderá manter agentes y exportación, el Perú podrá
aduaneiros nas alfândegas mantener agentes aduaneros en
brasileiras de Belém do Pará e de las aduanas brasileras de Belem
Manaus, assim como nos demais do Pará y de Manáos, así como en
postos aduaneiros que o Brasil los demás puestos aduaneros que
estabeleça no rio Purus, no rio el Brasil establezca en el río Purús,
Juruá, no Madeira e na margem en el río Yuruá, en el Madera y en
direita do Javari, ou em outras la margen derecha del Yavary, o en
localidades da fronteira comum. otros lugares de la frontera común.
Reciprocamente, o Reciprocamente, el Brasil
Brasil poderá manter agentes podrá mantener agentes
aduaneiros na alfândega peruana aduaneros en la aduana peruana
de Iquitos e em qualquer outra de Iquitos y en cualquier otra
alfândega ou posto aduaneiro aduana o puesto aduanero
que o Peru estabeleça sobre o que el Perú establezca sobre

141
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

rio Manañon ou Amazonas, e el río Marañon o Amazonas y


seus afluentes, sobre a margem sus afluentes, sobre la margen
meridional ou direita do Alto meridional o derecha del Alto
Acre, sobre o Alto Purus, o Alto Acre, sobre el Alto Purús, el Alto
Juruá, ou em outras localidades Yuruá, o en otros lugares de la
da fronteira comum. frontera común.

Artigo 7o Artículo 7o

As altas partes contratantes Las Altas Partes Contratantes


obrigam-se a manter e a respeitar, se obligan a mantener y respetar,
segundo os princípios do Direito según los principios del Derecho
Civil, os direitos reais adquiridos Civil, los derechos reales
por nacionais e estrangeiros adquiridos por nacionales y
sobre as terras que, por efeito extranjeros sobre las tierras que,
da determinação de fronteiras por efecto de la determinación de
constante do artigo 1o do presente fronteras constante del artículo
tratado, fiquem reconhecidas primero del presente tratado,
como pertencentes ao Brasil ou quedan reconocidas como
ao Peru. pertenecientes al Perú o al Brasil.

Artigo 8o Artículo 8o

Os desacordos que possam Los desacuerdos que puedan


sobrevir entre os dois governos, surgir entre los dos Gobiernos,
quanto à interpretação e execução con motivo de la interpretación
do presente tratado, serão y ejecución del presente tratado,
submetidos a arbitramento. serán sometidos a arbitraje.

Artigo 9o Artículo 9o

Depois de aprovado pelo Este tratado, después de


Poder Legislativo de cada uma das su aprobación por el Poder
duas Repúblicas, será este tratado Legislativo de cada una de las dos
ratificado pelos dois governos, Republicas, será ratificado por los
e as ratificações serão trocadas dos Gobiernos y las ratificaciones
na cidade do Rio de Janeiro ou serán canjeadas en la ciudad de

142
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

na de Lima no mais breve prazo Lima o en la de Rio de Janeiro en


possível. el más breve plazo posible.

Em fé do que nós, os En fe de lo cual, nosotros,


plenipotenciários anteriormente los plenipotenciarios arriba
nomeados, assinamos o presente nombrados, firmamos el presente
tratado, em dois exemplares, tratado, en dos ejemplares, cada
cada um nas línguas portuguesa uno de ellos en los idiomas
e castelhana, apondo neles os castellano y portugués, poniendo
nossos selos. en ellos nuestros sellos.
Feito na cidade do Rio de Hecho en la ciudad de Rio de
Janeiro, em 8 de setembro de Janeiro, a los 8 de Setiembre de
1909. 1909.

(L. S.) Rio Branco (L. S.) Hernán Velarde


(L. S.) Hernán Velarde (L. S.) Rio Branco

143
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

No 1

Nota do governo brasileiro à legação peruana em


18 de julho de 190310

Rio de Janeiro, Ministério das Relações Exteriores, 18 de julho


de 1903 – 2a Seção.

Tenho presentes as duas notas nos 4 e 5, de 3 e 14 do corrente, com


que me honrou o senhor Hernán Velarde, enviado extraordinário e ministro
plenipotenciário do Peru, a primeira das quais me chegou às mãos na noite
de 4, e a segunda na de 15.
Também recebi e muito agradeço a cópia da que, com a data de 3,
o senhor ministro dirigiu à Missão Especial da Bolívia neste país e veio
apensa à primeira das comunicações anteriormente citadas.
Outros deveres urgentes não me permitiram dar antes conhecimento
ao senhor Velarde da resolução definitiva deste governo no tocante à
proposta que me foi agora transmitida formalmente em nome do governo
do Peru; mas, já em 2 de fevereiro último, quando, pela primeira vez, o
senhor Amador del Solar, referindo-se a um telegrama que recebera do
seu governo, me falou na constituição de um tribunal misto composto de
representantes do Brasil, do Peru e da Bolívia para resolver as suas questões
de limites, eu lhe declarei sem hesitar que semelhante expediente a nenhum
dos três países convinha e não podia ser aceito pelo Brasil.
Confirmo o que então disse o senhor Solar e o que repeti nas
conversações que me coube a honra de ter com o senhor ministro desde a
sua chegada, sendo a última, ainda que muito rápida, em encontro acidental
na mesma noite de 4 do corrente.
O governo federal entende que o exame simultâneo das reclamações
territoriais dos três países em conferência ou em tribunal de representantes das
três partes interessadas abriria uma discussão sumamente difícil e complicada
(embora o senhor ministro considere indiscutíveis os direitos do Peru), de
grande duração e de nenhum resultado prático. Acresce que são diferentes as
bases sobre as quais o Brasil e o Peru querem assentar as negociações ou o
ponto de vista em que se colocam. É em virtude do que supõe ser seu direito

10 
Publicado, com outros documentos, no Diário Oficial de terça-feira 7 de junho de 1904.

144
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

próprio que o Peru reclama da Bolívia todo o território entre a nascente do


Javari e a confluência do Beni, como consta do Tratado de Arbitramento de
30 de dezembro último, cuja negociação correu em segredo para nós, ao
passo que o Brasil procura chegar a um acordo amigável com a Bolívia para
haver, mediante compensações razoáveis, parte desse vasto território.
Somente a Bolívia e o Brasil têm feito e continuam a fazer sacrifícios
em consequência das desordens que desde 1899 se produzem no Acre, onde
a população é exclusivamente brasileira. Só o Brasil e a Bolívia, portanto,
tem imediato e verdadeiro interesse em resolver prontamente as dificuldades
existentes e em pôr termo, sem mais demora, à crise atual. Se, como deseja,
e sem de modo algum prejudicar a Bolívia, puder o Brasil obter desse seu
vizinho e amigo uma retificação de fronteiras, estará pronto para desde logo
entrar com o Peru no estudo de um tratado de limites complementar do
de 1851. Entretanto, ratifico com prazer, em nome do governo federal, a
ressalva que fiz no telegrama de 3 de fevereiro à legação brasileira em La
Paz, repetida na nota que com a data de 9 do mesmo mês dirigi ao então
ministro do Peru neste país – documentos esses citados na comunicação
de 3 de julho a que agora respondo – e confirmo também tudo quanto está
declarado no seguinte telegrama que, em 20 de janeiro, dirigi ao encarregado
de negócios do Brasil em Lima:

Queira informar reservadamente a esse governo que qualquer que seja a resolução que
sejamos obrigados a tomar, quando esgotados todos os meios suasórios, na questão dos
estrangeiros do sindicato que o governo boliviano quer estabelecer no território em litígio,
o governo brasileiro terá na maior atenção as reclamações do Peru, sobretudo, na parte
que vai do Purus para oeste, e, animado do espírito mais conciliador e amigável, estará
pronto para se entender em tempo com esse governo sobre o território em litígio, como
deseja entender-se com o da Bolívia.

Espero que estas declarações possam satisfazer plenamente o


governo peruano e prevaleço-me da ocasião para reiterar ao senhor
ministro os protestos da minha alta consideração.

(Assinado) Rio Branco

Ao senhor Hernán Velarde, enviado extraordinário e ministro pleni-


potenciário da República do Peru.

145
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

No 2.

Nota do governo brasileiro à legação peruana em


11 de abril de 190411

Rio de Janeiro, Ministério das Relações Exteriores, 11 de abril de


1904 – 2a Seção – no 1.

Senhor ministro,

No devido tempo tive a honra de receber a nota que vossa excelência


me dirigiu em 11 de agosto do ano passado, respondendo à minha de
18 do mês precedente e propondo que as questões de fronteira entre o
Brasil, o Peru e a Bolívia fossem submetidas a um árbitro.
Em conferência que tivemos, pouco depois do recebimento dessa
nota, declarei que o governo federal não podia concordar no proposto
tríplice arbitramento, ou, como outros dizem, no arbitramento tripartido,
e dei logo verbalmente a vossa excelência as razões em que fundávamos
esta segunda recusa. Agora venho confirmar por escrito as razões de
que vossa excelência em tempo útil já teve pleno conhecimento.
Antes de fazê-lo, porém, devo contestar a nota a que me refiro
na parte em que o senhor ministro procura mostrar que é de origem
brasileira a ideia de uma comissão ou de um tribunal misto para dirimir
os desacordos sobre fronteiras entre os três citados países.
Com esse fim alega que a proposta foi feita em janeiro de 1903 pelo
senhor Assis Brasil, nosso ministro nos Estados Unidos da América,
ao senhor Alvarez Calderón, ministro do Peru na mesma República, e
que a essa proposta aludia o telegrama do governo de Lima recebido
em 2 de fevereiro do mesmo ano pelo senhor Amador del Solar, então
ministro do Peru no Brasil.
Efetivamente, no telegrama que me foi comunicado naquela data
pelo senhor Solar, dizia assim o ministro das Relações Exteriores, senhor
Larraburre: “Por intermédio de nossa legação em Washington recebi
proposta do Brasil de submeter a questão Acre à Comissão Mista composta
de Peru, Bolívia, Brasil. Aceitei encantado essa forma conciliadora.”

11 
Publicada, com outros documentos, no Diário Oficial de terça-feira 7 de junho de 1904.

146
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Esse telegrama resultava de equívoco a que deu lugar a transmissão


de uma conversa particular havida em 28 de janeiro entre os ministros
do Brasil e do Peru em Washington, durante a qual o primeiro redigiu
apressadamente e entregou ao segundo um apontamento em que
consignou ideias que então lhe ocorreram. É a esse apontamento –
escrito a lápis, se a lembrança do senhor Assis Brasil lhe não é infiel
– que vossa excelência dá o nome de Memorando.
No mesmo dia 2 de fevereiro de 1903, declarei ao senhor Solar
que se tivéssemos alguma proposta a fazer ao governo peruano seria
necessariamente feita pelo intermédio da legação do Peru no Rio
de Janeiro ou pela do Brasil em Lima e que jamais acreditamos que
comissões ou tribunais mistos pudessem resolver questões de limites,
menos ainda litígios dessa natureza entre mais de duas nações.
Não houve, portanto, nesse sentido, proposta alguma oficial de
origem brasileira feita ao Peru em janeiro ou fevereiro de 1903, nem
em data anterior ou posterior.
Houve, porém, nesse sentido, e anteriormente, mais de uma sugestão
ou proposta de origem peruana.
Em 28 de dezembro de 1868, a folha oficial em Lima publicou
um despacho de 25 de novembro do senhor Barrenechea, ministro das
Relações Exteriores, ao senhor La Torre Bueno, encarregado de negócios
do Peru em La Paz, instruindo-o para manifestar que, no entender do
governo peruano, o meio de se chegar a um resultado satisfatório seria
a nomeação de comissários por parte do Peru, da Bolívia e do Brasil, a
fim de verificarem a demarcação definitiva dos respectivos territórios.
Na mesma ocasião, o senhor Barrenechea indicou esse expediente
ao cônsul-geral do Brasil, Souza Ferreira, e ao secretário de legação
Ponte Ribeiro, que se achava então em Lima sem caráter oficial
(estavam interrompidas as nossas relações diplomáticas) e pediu a
ambos que comunicassem ao governo imperial a ideia da reunião “de
uma Comissão Mista de representantes dos três Estados”.
Em nota de 22 de julho de 1870, dirigida à legação do Brasil em
Lima, o ministro das Relações Exteriores, senhor Loayza, disse que o
seu antecessor havia proposto aos governos do Equador e da Colômbia
a reunião de uma Comissão Mista composta de representantes do Peru
e de todos os Estados limítrofes, e que o senhor Mezones, ministro
do Peru no Brasil, havia sido incumbido de fazer igual proposta ao

147
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

governo imperial, o que se não havia realizado por estar esse diplomata
ausente do Rio de Janeiro. Julgava, pois, chegada a oportunidade de
pedir oficialmente ao ministro do Brasil, conselheiro Pereira Leal, que
o informasse do pensamento que sobre o assunto abrigava então o
governo brasileiro.
Outro documento oficial, este publicado na Coleção de Tratados de
Peru, pelo senhor Ricardo Aranda, tomo II, p.583, mostra a persistente
confiança do governo do Peru na eficácia de uma ação comum entre os
países interessados para o deslindamento simultâneo de questões dessa
natureza. É a nota que, em 9 de julho de 1874, o ministro das Relações
Exteriores, senhor J. de la Riva Agüero, endereçou ao representante do
Brasil em Lima e na qual se lê o seguinte:

Ao responder à nota de vossa excelência creio, pois, conveniente e oportuno


convidá-lo para que, tomando as ordens do governo imperial, provoquemos um
acordo com a Bolívia, a fim de que, autorizando este a seu representante nesta
capital, possamos iniciar conferência até chegar a um compromisso mediante o
qual fiquem determinados definitivamente os limites dos países na linha oeste-leste
que, partindo do Javari, deve terminar no Madeira [linha essa – acrescentarei eu
– de que não fez menção alguma o governo do Peru quando negociou com o do
Brasil o Tratado de 1851, por entender nesse tempo, com sobrada razão, que ao
sul e a leste do Javari, na direção do Madeira, o Peru não confinava com o Brasil
e só por este e pela Bolívia podiam ser disputados tais territórios].

Como vê o senhor ministro, a ideia de uma comissão ou de


um tribunal misto, composto de representantes do Brasil, do Peru,
e da Bolívia é incontestavelmente de origem peruana e todas as
propostas nesse sentido partiram do governo do Peru, em 1868,
1870, 1874 e 1903.
O governo brasileiro, porém, foi sempre e invariavelmente oposto
a semelhante expediente.
Em despacho de 25 de janeiro de 1869, o ministro dos Negócios
Estrangeiros, conselheiro Paranhos, depois visconde do Rio Branco,
incumbiu o secretário Ponte Ribeiro de responder ao senhor Barrenechea
que o governo imperial só se podia prestar a fácil execução do que fora
estipulado na convenção assinada em Lima aos 23 de outubro de 1851,
tendo sido sempre contrário, em questões de soberania e segurança

148
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

territorial, a reunião de Congressos e Comissões Mistas.


Em 8 de março do mesmo ano, o barão de Cotegipe, que substituía
aquele ministro, enviou à legação imperial em La Paz cópia do citado
despacho de 25 de janeiro, encarregando-a de comunicar ao governo
boliviano que o do Brasil não aceitava a proposta do Peru porque a
julgava desnecessária e inconveniente.
Em nota de 25 de julho de 1870, o ministro do Brasil em Lima repetiu
ao governo peruano o que já lhe havia dito o secretário Ponte Ribeiro
em nome do governo imperial, isto é, que este não podia concordar
na proposta Comissão Mista de representantes dos três governos e só
estava disposto e pronto para a fiel execução do estipulado em 1851
com o Peru.
Em 1874 o visconde de Caravelas, ministro dos Negócios
Estrangeiros, consultou os conselheiros de Estado marquês de São
Vicente, visconde de Jaguari, Nabuco de Araújo e visconde de Niterói
sobre a seguinte questão: “Deve o governo imperial aceitar o convite
para a negociação em comum com o Peru e a Bolívia?”
Sem discrepância alguma, os conselheiros consultados opinaram pela
não aceitação do convite, e assim resolveu o gabinete imperial, embora
não houvesse respondido ou mandado responder por escrito à precitada
nota peruana de 9 de julho de 1874. Demorada então a resposta, entendeu-
se mais tarde ser ocioso dá-la fora de tempo, tanto mais quanto o governo
peruano parecia haver desistido da sua ideia e já era oficialmente sabida
em Lima desde 1869 a opinião do governo brasileiro.
Afigurou-se ao senhor ministro que não tinham base segura as
observações que fiz para motivar a inconveniência e ineficácia da
negociação simultânea de questões territoriais entre três Estados
litigantes. Na sua resposta, porém, não encontrei razões ou precedentes
que pudessem abalar a nossa convicção ou induzir-nos a modificar o
procedimento que sobre o assunto tem tido o governo do Brasil desde
que surgiu em 1868 a ideia apresentada iterativamente pelo do Peru
durante o regime imperial neste país, e renovada agora depois de 30
anos de completo abandono.
Não há negar que mui diversas eram as questões de limites entre
o Brasil e a Bolívia e entre esta e o Peru, assim também que era muito
outro, como afirmei, o terreno em que os governos do Rio de Janeiro e
de Lima queriam colocar as suas negociações com o de La Paz.

149
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

O Peru e a Bolívia, procurando resolver o seu desacordo, baseavam-


se em decisões da corte de Madri, sobre limites internos da América
espanhola, decisões que em nada obrigavam o Brasil, sucessor de
Portugal nesta parte do continente. Da margem direita do Ucayali e
da nascente do Javari para leste, o Peru pretendia ter direito a regiões
imensas. O Brasil, porém, no propósito de proteger milhares de
nacionais seus, procurava haver, mediante compensações razoáveis,
apenas uma parte do que nesses vastíssimos sertões tinha cedido à
Bolívia pelo Tratado de 1867, isto é, empenhava-se em recuperar o seu
direito primitivo sobre as bacias do Alto Purus e do Alto Juruá, direito
oriundo dos acontecimentos de 1801, os quais romperam para sempre e
tornaram insubsistente o Tratado Preliminar de 1777, como reconheceu
o governo peruano em 1841 nas negociações com o Brasil e também
nas de que resultou a Convenção de 23 de outubro de 1851.
É também inegável que só o Brasil e a Bolívia, havendo feito até
1903 grandes sacrifícios e achando-se em situação incômoda pela
prolongação das desordens no Acre, tinham verdadeiro interesse em
resolver sem mais delongas a crise, o Brasil sobretudo, porque dessa
solução dependiam os destinos de uma numerosa população brasileira.
É ainda, para o governo do Brasil, fora de dúvida que a negociação
conjunta, sobre ser bastante complexa, mais difícil e extremamente
complicada – como já tive a honra de dizer – não poderia dar resultado
algum satisfatório e produziria inevitavelmente novas delongas e
dissensões. O senhor ministro achou que isso não passava de uma
afirmativa minha, insinuando assim que ela era insustentável, ou que não
tinham fundamento sério as previsões deste governo; mas não aduziu
um só exemplo de negociação de tal natureza levada a bom termo, e
preferiu dizer por alto que julgava desnecessário estender-se sobre o
caso porque as declarações contidas na minha nota – e que também lhe
pareceu inútil indicar – elucidavam bastante o ponto e davam assento
mais sólido à atitude do seu governo.
Não é necessário alegar aqui a experiência que ao governo do Brasil
deixou uma trabalhosa negociação desta natureza, nem multiplicar
exemplos ou ir buscá-los longe para que encontremos prova evidente
de ser uma ilusão o esperar que três potências litigantes possam,
tratando em comum, resolver de modo profícuo e definitivo questões
de território. A própria história diplomática do Peru no-la ministra.

150
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Em Lima, congregaram-se plenipotenciários de Peru, Equador e


Colômbia para o exame e o ajuste das respectivas questões de limites,
produzindo essa conferência, depois de muitas sessões e larga discussão,
um tratado de arbitramento em virtude do qual os três pleitos deviam de
ser submetidos à decisão de sua majestade o rei da Espanha.
São passados 10 anos e o que se supunha então resolvido está
na mesma situação anterior ao tratado. O processo arbitral não teve
andamento algum e nestes momentos mesmo trabalha em Lima e em
Quito a diplomacia peruana para que se torne efetiva a Convenção de
Arbitramento que o Peru celebrou em 1887 com o Equador, deixando
de lado a Colômbia, como já o fizera naquele ano e em 1890, quando
tratou somente com o Equador, e procedendo como em 1851, quando
negociou unicamente com o Brasil, não obstante saber os territórios
por onde foi traçada a fronteira eram também, como são ainda hoje,
reclamados pelo Equador e pela Colômbia.
O desengano que assim teve o Peru, perdendo 10 anos, sem
progredir um passo, na porfia de que fossem resolvidas conjuntamente
três questões diferentes versando sobre linhas de fronteira enredadas
umas com as outras, parecia dever levá-lo, no seu próprio interesse, a
não mais pensar em combinações dessa natureza.
Se houvéssemos admitido a negociação conjunta proposta em 3
de julho do ano passado, começaríamos por não nos entender sobre
as bases das nossas pretensões. O Brasil e a Bolívia queriam discutir
colocando-se no terreno das suas mútuas conveniências dos seus
recíprocos interesses no presente e no futuro, ou sobre o do Tratado
de 1867, que o Peru desconhecia; o Peru e a Bolívia, sobre títulos da
época colonial, emanados da sua antiga metrópole. Na discussão com o
Brasil, queria o Peru assentar a sua pretensão sobre o Tratado de 1777,
cuja validade o Brasil não pode admitir, ou procuraria persuadir-nos,
com a sua interpretação de certos atos dos reis da Espanha, de que é
com o Peru e não com a Bolívia que o Brasil deve confinar no vale do
Amazonas a leste do meridiano da nascente do Javari. Quando mesmo
pudéssemos entender e regular convenientemente a discussão, seria
esta muito demorada, e dar-se-ia necessariamente um destes três casos:

1º. o Peru ligava-se ao Brasil contra a Bolívia, o que só se poderia


verificar sacrificando o Brasil ao Peru pelo menos a região do

151
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Alto Juruá, ocupada, e desde muitíssimos anos, por brasileiros.


2º. o Peru ligava-se à Bolívia contra o Brasil.
3º. a Bolívia ligava-se ao Brasil contra o Peru.

No primeiro caso, ganhava o Peru e perdiam o Brasil e a Bolívia; no


segundo, perdia o Brasil e ganhava o Peru; e, no terceiro, nada perdia o Peru.
As conferências acabariam pelo rompimento da negociação ou,
como as de 1894 em Lima, por um tratado de tríplice arbitramento, que
teria a mesma sorte do que foi assinado naquela ocasião.
Estas considerações, e o ensinamento que resulta da própria
experiência do Peru desde a sua malograda tentativa de 1894, bastam
para demonstrar o acerto e a prudência com que procedeu o governo do
Brasil, deixando de aceitar as duas proposições que lhe foram feitas.
Simplificada agora a questão depois do Tratado de 17 de novembro
último entre o Brasil e a Bolívia, ou, melhor, destacadas as duas questões
peru-boliviana e peruano-brasileira, poderá o governo de Lima negociar
e resolver ambas menos dificilmente.
A promessa de arbitramento a que vossa excelência se refere,
contida na Convenção de 21 de março de 1903, concluída em La Paz,
era para ter cumprimento se fosse possível um acordo transacional entre
o Brasil e a Bolívia, mas em caso algum para dar participação ao Peru
no processo arbitral.
Julgou o senhor ministro conveniente dizer de passagem que o
Peru nunca nos reconheceu direitos no tocante aos territórios sobre
que o seu governo abriu litígio em 1863. É ponto para ser ventilado
depois, porque não vem a propósito, sendo suficiente fazer sentir agora
que as ressalvas formuladas pelo Brasil quando tratava com a Bolívia
importavam apenas o reconhecimento de que o Peru era também um
pretendente e de nenhum modo importava a admissão de que tivessem
fundamento em direito as suas pretensões.
Não pudemos aceitar o tríplice arbitramento proposto, mas, certos
da indisputabilidade do nosso direito, não duvidaremos submeter em
tempo a um arbítrio o nosso litígio. Só concordaremos nisso, porém,
depois que o Peru evacuar as posições que ocupou militarmente desde
fins de 1902, e depois de sabermos quais os títulos que possui para
pretender disputar-nos os territórios que recuperamos e os que nos
cedeu a Bolívia pelo Tratado de Petrópolis.

152
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

A disposição constitucional a que o senhor ministro alude não nos


obriga a aceitar o arbitramento somente porque um governo estrangeiro
diz que pertence ao seu país um território que entendemos ser nosso.
Durante a presidência do doutor Prudente de Morais, e no caso da
ocupação da ilha da Trindade, o Brasil recusou, em 6 de janeiro de
1896, o arbitramento proposto pelo governo britânico.
Três vezes tem o Brasil recorrido ao juízo arbitral para resolver
antigos desacordos sobre limites: o que tínhamos com a República
Argentina, relativo ao território de Palmas, impropriamente chamado
de Missões; com a França, sobre o do Oiapoque ao Araguari e ao rio
Branco; e com a Inglaterra, nas bacias do mesmo rio Branco e do
Essequibo. Em nenhum desses casos foi o Brasil a arbitramento sem
discussão prévia e troca de memórias justificativas, sem que as duas
partes ficassem conhecendo os fundamentos da opinião contrária, e
tentassem transigir ou conciliar-se.
Agora, está ele pronto para proceder do mesmo modo com o Peru
e só depende do governo de vossa excelência resolver se deve ou não
seguir o exemplo dado, em questões semelhantes com o Brasil, pela
República Argentina, pela França e pela Inglaterra.
Tenho a honra de reiterar a vossa excelência os protestos da minha
alta consideração.

Rio Branco

A sua excelência o senhor doutor dom Hernán Velarde, enviado


extraordinário e ministro plenipotenciário da República do Peru.

No 3

Protocolo de um Acordo Provisório (modus vivendi) entre o


governo dos Estados Unidos do Brasil e o governo do Peru,
concluído no Rio de Janeiro a 12 de julho de 1904.

Reunidos em conferência no Palácio Itamaraty, no Rio de Janeiro,


em 12 de julho de 1904, o ministro de Estado das Relações Exteriores,
senhor José Maria da Silva Paranhos do Rio Branco, e o enviado

153
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

extraordinário e ministro plenipotenciário da República do Peru, senhor


doutor dom Hernán Velarde, devidamente autorizados para concluir um
acordo provisório que previna possíveis conflitos entre brasileiros e
peruanos nas regiões do Alto Juruá e do Alto Purus, e que permita aos
dois governos, do Brasil e do Peru, entrar amigavelmente na negociação
de um acordo definitivo e honroso sobre a questão de limites entre os
dois países, convieram nos artigos seguintes:

1º. A discussão diplomática para um acordo direto sobre a fixação


dos limites entre o Brasil e o Peru desde a nascente do Javari até
a linha de 11o S começará no primeiro dia de agosto e deverá
ficar encerrada no dia 31 de dezembro deste ano de 1904.
2º. Os dois governos, desejosos de manter e estreitar cada vez
mais as duas relações de boa vizinhança, declaram desde já o
seu sincero propósito de recorrer a algum dos outros meios de
resolver amigavelmente litígios internacionais, isto é, aos bons
ofícios ou à mediação de algum governo amigo, ou à decisão de
um árbitro, se dentro do indicado prazo, ou no das prorrogações
em que possam convir, não conseguirem um acordo direto e
satisfatório.
3º. Durante a discussão ficarão neutralizados os seguintes
territórios em litígio:
a). o da bacia do Alto Juruá desde as cabeceiras desse rio e dos
seus afluentes superiores até a boca e a margem esquerda do rio
Breu e daí para oeste pelo paralelo da confluência do mesmo
Breu até o limite ocidental da bacia do Juruá;
b). o da bacia do Alto Purus desde o paralelo de 11º S até o lugar
denominado Catay inclusive.
4º. A polícia de cada um dos dois territórios neutralizados será feita
por uma Comissão Mista, formada de uma comissão brasileira e
outra peruana. Cada comissão se comporá de um comissário, do
posto de major ou capitão, de um comissário substituto, do posto
de capitão ou tenente, e de uma escolta de cinquenta homens e as
embarcações miúdas que forem necessárias.
5º. À margem esquerda da confluência do Breu ou em algum outro
ponto águas acima, sobre o Juruá, assim como em Catay, ou em
algum outro ponto próximo sobre o Purus, se estabelecerão postos

154
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

fiscais mistos, que darão guias para que os direitos de exportação


dos produtos das duas regiões provisoriamente neutralizadas
sejam cobrados na alfândega brasileira de Manaus ou na de
Belém do Pará, e receberão os certificados de pagamento de
direitos de importação que em alguma das duas citadas alfândegas
brasileiras de Manaus e Pará, ou na peruana de Iquitos, tenham
sido efetuados para o despacho de mercadorias com destino aos
ditos territórios provisoriamente neutralizados. Esses direitos de
importação serão os mesmos que o governo federal brasileiro
presentemente faz cobrar nas suas estações fiscais, e deles caberá
a metade a cada um dos dois países.
6º. Os crimes cometidos por brasileiros nos dois territórios
neutralizados serão julgados pelas Justiças do Brasil, e os
cometidos por peruanos pelas Justiças do Peru. Os indivíduos
de outras nacionalidades, que cometerem crimes contra
brasileiros, serão julgados pelas Justiças do Brasil, e contra
peruanos, pelas do Peru. Quanto aos acusados que pertençam
a outras nacionalidades por crimes contra indivíduos que não
sejam brasileiros nem peruanos, a jurisdição competente para
julgá-los será a brasileira ou a peruana, segundo determinação
que tomem de comum acordo os comissários das duas
Repúblicas depois de exame das circunstâncias do caso.
7º. As dúvidas ou divergências que se suscitarem entre os
comissários serão levadas ao conhecimento dos dois governos
para as resolverem.
8º. Ficarão a cargo de cada um dos dois governos as despesas com
o respectivo pessoal e material, inclusive a referente à escolta.
9º. Além das duas Comissões Mistas de administração, cada
governo nomeará um comissário especial para o Alto Purus e
outro para o Alto Juruá, com os auxiliares e escolta que sejam
necessários, formando assim duas outras Comissões Mistas que
serão incumbidas de fazer um reconhecimento rápido desses
dois rios nos territórios neutralizados.
10º. O pessoal das comissões de que tratam os artigos anteriores
será designado no prazo de 30 dias a partir da data do presente
acordo, devendo chegar às regiões indicadas com a maior
brevidade possível.

155
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

11º. Formularão ambos os governos de comum acordo as instruções


pelas quais se deverão guiar as Comissões Mistas.
12º. 12 Os dois governos, do Brasil e do Peru, declaram que as
cláusulas deste acordo provisório não afetam de modo algum
os direitos territoriais que cada um deles defende.

Em fé do que, foi lavrado este acordo em dois exemplares, cada


um deles escrito na língua portuguesa e na castelhana, no lugar e data
anteriormente declarados.

(L. S.) Rio Branco


(L. S.) Hernán Velarde

156
exposição de motivos sobre o
tratado de 30 de outubro de 1909
entre o brasil e o uruguai
Rio de Janeiro, Ministério das Relações Exteriores, 19 de dezembro
de 1909.

A sua excelência o senhor doutor Nilo Peçanha, presidente da


República.

Senhor presidente,

Para o fim de ser submetido, na forma da lei, ao Congresso


Nacional, tenho agora a honra de apresentar a vossa excelência, em
cópia autêntica e acompanhado de alguns documentos, o tratado
que, após exame e aprovação de vossa excelência, assinei com o
plenipotenciário da República Oriental do Uruguai a 30 de outubro
último, e cujo objeto está indicado no respectivo título que é este:
“Tratado entre os Estados Unidos do Brasil e a República Oriental
do Uruguai, modificando as suas fronteiras na lagoa Mirim e no
rio Jaguarão e estabelecendo princípios gerais para o comércio e
navegação nessas paragens.”
Esse tratado já foi aprovado pelo Poder Legislativo da República
Oriental do Uruguai e ratificado pelo seu presidente.

159
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

A situação que procuramos modificar, com o necessário


consentimento do Congresso Nacional, nasceu da guerra de 1801, pela
qual ficou para sempre írrito e nulo o Tratado Preliminar de Limites
de 1777, assinado em Santo Ildefonso, e que não tinha tido até então
inteira execução, achando-se desde muito interrompidos os trabalhos
da demarcação e pendentes de decisão das cortes de Madri e Lisboa
as muitas divergências suscitadas entre os comissários demarcadores.
Era esse um tratado preliminar, como no seu próprio texto está
declarado: “ (...) O presente tratado preliminar, que servirá de base e
fundamento ao definitivo de limites, que se há de estender a seu tempo
com a individuação, exação e notícias necessárias (...)” Era, portanto,
um tratado preparatório ou pacto de contrahendo, e o Tratado de Paz
de Badajoz deixará de restabelecê-lo, cumprindo notar que Portugal
e Espanha sempre consideraram rotos pela guerra superveniente os
próprios tratados definitivos, porquanto sempre haviam as duas coroas
estipulado expressamente a sua restauração em seus tratados de paz.
No de Badajoz, em 1801, não só foi omitida essa cláusula usual, mas
também a da reposição das coisas no statu quo ante bellum.
Como é sabido, em consequência de tais fatos, o Brasil, por direito
de conquista, estabeleceu desde então as suas fronteiras nos rios Uruguai
e Quaraí, avançou também até a linha do Jaguarão e voltou a dominar
na lagoa Mirim, ficando de novo senhor exclusivo da navegação nessa
lagoa e no Jaguarão anos antes da revolução da independência das
colônias espanholas. Começada esta, defendeu vitoriosamente aquelas
conquistas nas campanhas de 1811 e 1812 e nas de 1816 e 1820.
Na convenção de 30 de janeiro de 1819, entre o cabildo de
Montevidéu e o general barão de Laguna (Carlos Frederico Lecor,
posteriormente visconde de Laguna), comandante em chefe das tropas
portuguesas de ocupação, os limites entre a Banda Oriental, ou Província
de Montevidéu, com a Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul
foram descritos do seguinte modo:

A linha divisória pela parte do sul entre as duas capitanias de Montevidéu e


Rio Grande de São Pedro do Sul começará no mar uma légua (cerca de 6,6 km)
sudoeste noroeste do forte de Santa Teresa; seguirá ao noroeste do forte de São

160
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Miguel; continuará até a confluência do arroio São Luiz, incluindo-se os serros


de São Miguel. Dali acompanhará a margem ocidental da lagoa Mirim segundo
a antiga demarcação; continuará como antes pelo rio Jaguarão até as nascentes
do Jaguarão Chico; e, seguindo o rumo de noroeste, caminhará em linha reta para
o passo de Lezcano no rio Negro, além da confluência do Piraí; depois continuará
pela antiga divisória até Itaquatiá; e daí costeará para oeste noroeste na direção das
nascentes do Arapeí, cuja margem esquerda seguirá até a confluência no Uruguai,
dividindo os limites das duas capitanias, como se indica com mais exatidão no
plano topográfico que apresentamos a vossa excelência.

Esses são os termos da proposta feita em 15 de janeiro de 1819


pelo cabildo e aceita no dia 30 pelo barão de Laguna, como consta da
respectiva ata.
O Auto da Demarcação, assinado em Porto Alegre a 3 de novembro
do mesmo ano, ratificado a 26 desse mês pelo conde da Figueira,
capitão-general da capitania do Rio Grande do Sul, e a 17 de outubro de
1820 pelo cabildo de Montevidéu, descreve assim a parte da fronteira
que nos interessa no presente caso:

(...) Pela margem ocidental da dita lagoa Mini ou Mirim até a confluência do
Jaguarão Grande, inclusa a distância de dois tiros de canhão por toda a margem da
dita lagoa Mini; pela margem direita do Jaguarão Chico, desde a sua confluência
no Jaguarão Grande até a margem do galho principal que fica ao sul (...)

Pelo Tratado de 31 de julho de 1821, concluído em Montevidéu entre


o Congresso de Representantes do povo oriental e o barão de Laguna,
representante do rei dom João VI, a Banda Oriental incorporou-se,
com a denominação de Estado Cisplatino, ao Reino Unido de Portugal,
Brasil e Algarves. O artigo 3o desse tratado estabeleceu nos seguintes
termos a fronteira entre o Estado Cisplatino e o Reino do Brasil:

Os limites dele [do Estado Cisplatino] serão os mesmos que tinha e lhe eram
reconhecidos no princípio da revolução, e são: a leste, o oceano; ao sul, o rio da
Prata; a oeste, o Uruguai; ao norte, o rio Quaraí até a coxilha de Santana, que divide
o rio de Santa Maria, e por essa parte o arroio Taquarembó Grande; seguindo às
pontas do Jaguarão, entra na lagoa Mirim e passa pelo pontal de São Miguel a
tomar o Chuí, que entra no oceano; sem prejuízo da declaração que o soberano

161
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Congresso dos nossos deputados dê sobre o direito que possa competir a este
Estado aos campos compreendidos na última demarcação praticada no tempo do
governo espanhol.

Proclamada a Independência do Brasil no ano seguinte, a Banda Oriental


incorporou-se ao novo Império com o nome de Província Cisplatina.
Vieram pouco depois, em 1825, a revolução oriental e a intervenção
argentina em seu favor, sendo esse território, em 25 de outubro do
mesmo ano, declarado, pelo Congresso Constituinte de Buenos Aires,
parte integrante da República das Províncias Unidas do Rio da Prata
com o nome de Província Oriental.
A guerra que, pela posse desse território, se travou, então, entre o
Império do Brasil e a mencionada República, terminou, em virtude da
mediação da Grã-Bretanha, com a assinatura da Convenção Preliminar
de Paz de 27 de agosto de 1828. Os dois contendores renunciaram aos
direitos que entendiam ter sobre a Cisplatina ou Província Oriental
e concordaram em que nesse território se formasse um Estado
independente e soberano, que ficou sendo a República do Uruguai.
Na Convenção de 1828 nada se estipulou sobre os limites do novo
Estado.
Pela de 25 de dezembro de 1828, entre os generais Sebastião Barreto,
brasileiro, e Fructuoso Rivera, uruguaio, assinada em Irebeasubá, ficou
assentado que o rio Quaraí seria uma “linha divisória provisória até a
resolução dos governos interessados sobre as questões pendentes”.

II

No Rio Grande do Sul entendia-se geralmente que a nossa fronteira


devia ficar no Arapeí, segundo a Convenção de 30 de janeiro e o
Auto de Demarcação de 3 de novembro de 1819. No Estado Oriental
pretendiam alguns que a fronteira devia ser estabelecida no Ibicuí,
embora policiássemos desde 1801, guardando com destacamentos
volantes, o território entre o Ibicuí e o Quaraí, e nele tivéssemos
fundado estabelecimentos permanentes desde 1806, como a povoação
de Inhanduí, que, destruída em 1816, foi logo reinstalada em outro sítio
próximo com o nome de Alegrete.

162
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Pode-se, porém, afirmar que o governo Oriental, nas propostas que


em diferentes ocasiões fez para a regulação dos limites entre os dois
países, ateve-se sempre aos do Tratado de Incorporação de 1821.
Em um memorando, de 13 de março de 1844, escrevia o seu
ministro no Brasil, Francisco Magariños:

O único título de Portugal, e depois do Brasil, à Província Oriental foi, portanto, a


Convenção de 1821, que o governo imperial ratificou e reconheceu, e, com esses
limites se incorporou (ao Império) e com os mesmos (limites) se separou para
formar um Estado independente.

Em outro memorando do mesmo ministro Magariños, sem data,


mas apresentado em 1845, lê-se:

O governo da República Oriental do Uruguai não quer mais, nem pode deixar de
manter sua independência, que lhe deu a convenção [de 1828], a que se obrigou sua
majestade imperial. Por donde deva correr a linha divisória que separa a província
das demais do Brasil, por ali se conforma em que se proceda à demarcação material
e se estabeleçam os limites que lhe estão reservados, começando no Chuí, na costa
do mar, costeando a margem ocidental da lagoa Mirim e à direita do Jaguarão,
até terminar na foz do Quaraí, sobre o Uruguai, porque tampouco o governo da
República tem faculdade para traspassar essa extensão que foi assinada como
princípio fundamental da existência da República.

Esse documento fora redigido de acordo com as instruções que


Magariños recebera, assinadas em Montevidéu a 25 de fevereiro de
1845 pelo presidente Joaquin Suarez e pelos seus ministros Santiago
Vásquez, Rufino Bauzá e Santiago Sayago. Depois de sustentar
desenvolvidamente, nessas instruções, a invalidade da Convenção de
1819 e a vigência do Tratado de 1821, concluía o governo Oriental nos
seguintes termos:

Houve, pois, pacto expresso sobre os limites com que a Província Oriental passava
a ser Província Cisplatina, pertencente ao Brasil; com esses limites a conservou
este em sua associação e com eles a deixou erigir-se em Estado independente.
A guerra entre as províncias argentinas e o Império sobre a posse do território
oriental terminou pela Convenção Preliminar de 27 de agosto de 1828, cujos

163
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

dois primeiros artigos declaram a independência da Província de Montevidéu,


hoje chamada Cisplatina; e como essa Província Cisplatina estava encerrada nos
limites demarcados no pacto que lhe deu aquele nome, é claro que todo o território
assim chamado ficou independente e compreendido nesses limites. Nenhum ato,
documento algum existe que induza à mínima dúvida a esse respeito; e é, por
conseguinte, de evidência completa que os atuais limites da República são de fato
os designados no artigo 2o do Ato de Incorporação, que já existiam à época da
independência, com reserva do direito que lhe compita pela última demarcação
de 1777.

Provar essa última proposição foi o objeto dessas notas: fica completamente
provada. À habilidade e ao zelo do plenipotenciário toca agora fazer reconhecer
a verdade para conseguir que se sancione o fato existente e que se dê uma justa
compensação pecuniária pelo direito que o do Estado às antigas demarcações e
que cederá, mediante a compensação, em favor do Império.

Não é, portanto, exato, como se tem escrito e repetido no rio da Prata


e mesmo no nosso país, que o governo imperial tivesse tido necessidade
de fazer pressão alguma sobre o de Montevidéu para obter as fronteiras
atuais, porquanto elas são, com ligeiras diferenças, as mesmas da Ata ou do
Tratado de 31 de julho de 1821, que por vezes nos tinham sido propostas.
Elas foram recusadas em 1844 e 1845 porque o governo imperial, além
de achar que ao de Montevidéu não assistia o direito de, baseando-se
no inválido Tratado Preliminar de 1777, pretender uma indenização
pecuniária pela posse em que estávamos de territórios conquistados à
Espanha na guerra de 1801, era aconselhado pelo general Machado de
Oliveira e outros a pedir que as fronteiras entre os dois países fossem
assim determinadas: do lado do mar, a leste, por Castilhos Grandes; na
lagoa Mirim – que ficaria sendo para o Brasil um lago interior – por uma
faixa de terreno compreendendo a distância de dois tiros de canhão, como
no citado Auto de Demarcação de 1819; e, do lado do rio Uruguai, pelo seu
afluente Arapeí, como na Convenção de 1819, ou, se não fosse possível
obter tanto, pelas elevações de terreno entre o Arapeí e o Quaraí, chamadas
pelos orientais de coxilha de Santa Rosa ou de los Tres Cerros, e pelos
rio-grandenses – em grande número estabelecidos desde 1812 ao norte do
Arapeí – de coxilha de Tacumbu. Quanto à lagoa Mirim e ao rio Jaguarão,
o governo de Montevidéu, vendo a independência da República Oriental

164
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

ameaçada pelo ditador de Buenos Aires, general Rosas, e trabalhando por


conseguir contra ele a aliança do Brasil, apenas nos pedia a liberdade de
navegação nessas águas para a bandeira mercante oriental e oferecia-nos
como fronteira o limite das águas na margem ocidental da lagoa e na
margem direita do mencionado rio. A posse exclusiva em que estávamos
dessa navegação era mantida desde 1801, e manteve-se sempre, com a
exceção de duas únicas interrupções: a primeira ocasionada pela rápida
aparição de uma lancha corsária, na lagoa, em 1827; a segunda, de três
meses e 20 dias, no ano de 1828, em que ali andou fazendo presas, tendo
como lugar de refúgio e base de operações o rio Cebollatí, uma flotilha
inimiga, composta de pequenas embarcações, as quais, afinal, foram
todas tomadas ou destruídas por canhoneiras nossas no combate de 23 de
abril daquele ano, perto da barra do São Luís.12
Se, porém, alguns compatriotas nossos, mais exigentes, pretendiam
naquele tempo não só que continuássemos senhores de toda a lagoa
Mirim, mas também que procurássemos conseguir certa extensão
das suas vertentes ocidentais, baseando-se na nossa ocupação bélica
de 1737,13 reconhecida e sancionada pelo Tratado de 13 de janeiro de
1750, outros, mais razoáveis, compreendiam que, anulado, como fora,
aquele pacto pelo de fevereiro de 1761, e depois do Tratado Preliminar
de 1777, que privara o Brasil dessa lagoa, incluindo-a na zona neutra
destinada a ficar inocupada pelos súditos das duas coroas, só podíamos
regularmente pretender ao que havíamos adquirido por direito de
conquista em 1801, ou ao uti possidetis de 1810, reconhecido no Tratado
de Incorporação da Cisplatina, de 1821.
E não faltaram também homens competentes e de incontestável
dedicação aos interesses do Brasil, que aconselhassem naquele tempo a
desistência do nosso domínio sobre parte da lagoa Mirim e do rio Jaguarão.
O conselheiro Duarte da Ponte Ribeiro, alto funcionário no Ministério
dos Negócios Estrangeiros, e, durante toda a sua vida, consultor especial
do governo nas questões de limites, disse em uma memória de 20 de
novembro de 1844:
12 
A flotilha brasileira era comandada pelo então segundo-tenente Manuel Joaquim de Sousa
Junqueira; a das Províncias Unidas, pelo major (capitão de corveta) Calixto Silva.
13 
Referência à ocupação do Rio Grande de São Pedro, em 19 de fevereiro de 1737, e à dos
serros de São Miguel e arroio Chuí, em 17 de outubro do mesmo ano, pelo general José da
Silva Pais.

165
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

23o – Principiando do Uruguai, deverá a fronteira do Rio Grande com a República


Oriental ser pela coxilha ou altura que divide as vertentes que vão para o norte
ao Quaraí das que correm em sentido oposto para o Arapeí. Desta forma ficarão
da parte de Montevidéu a vila de Belém e outros estabelecimentos, que são as
razões ostensivas que alega o governo Oriental para que os nossos limites não
sigam pelo rio Arapeí.

Por essa elevação poderia continuar a fronteira a buscar a coxilha de Santana até
as nascentes do arroio de São Luiz, e, depois, por este, até a sua confluência com
o Piraí, continuando dali por uma reta aos cerros de Aceguá a buscar a coxilha
Grande, e desta a encontrar as nascentes do Jaguarão Chico, e, em seguida, pelo
Jaguarão até a lagoa Mirim.

Ainda que deva pertencer ao Brasil toda a lagoa Mirim, contudo, à vista das
possessões que hoje têm nas suas margens os Orientais, será já impossível excluí-
los da navegação daquela lagoa, da foz do Jaguarão para o sul. Parece, pois,
que a divisória deverá continuar desde a foz do Jaguarão pelo meio da lagoa até
defronte das nascentes do Chuí, seguindo as águas deste até o oceano.

Se o Brasil pudesse ir buscar todas as vertentes que correm para a lagoa Mirim
a fim de que só nós tivéssemos a sua navegação, conviria insistir em que a raia
começasse na Angustura de Castilhos Grandes; mas, estando o governo de
Montevidéu em possessão dos rios Cebollatí, Parado, Taquari e outros, que têm
origem na coxilha Grande, e com povoações como São Servando, Cerro Largo e
outras, não é de esperar que renuncie (e já declarou que não) a essa navegação,
que tanto valeria reconhecer a Convenção de 1819.

Se fosse possível concordar com os nossos vizinhos, quando se fizesse o tratado


definitivo, ficarem à Província do Rio Grande todas aquelas vertentes, seguindo a
raia desde Castilhos Grandes pela coxilha Grande até Santa Tecla, ainda que à custa
de recuarmos para Bagé e o Quaraí, talvez conviesse fazê-lo. Só assim poderiam
remover-se os inconvenientes da pretensão dos montevideanos a navegar não só
a lagoa Mirim, mas também a sair por suas águas, e pela lagoa dos Patos e Rio
Grande, até o oceano, pretensão que substituirá e que eles apoiam nas mesmas
razões que nós alegamos para os nossos barcos baixarem de Mato Grosso e de
São Borja ao Atlântico pelos rios Paraguai e Uruguai.

166
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

O general Soares de Andréa, posteriormente barão de Caçapava,


escreveu, em parecer de 13 de março de 1847:

Tomada uma qualquer vertente do Jaguarão mais a propósito da direção geral da


fronteira, deve esta seguir a margem esquerda dessa vertente e a do rio Jaguarão
até entrar na lagoa Mirim, e pelo meio dela a igual distância de uma e outra
margem, até entrar na foz do arroio de São Miguel. Deste ponto até o mar há uma
nova fronteira a determinar (...)

III

Três seções do Conselho de Estado, as dos Negócios da Guerra,


Estrangeiros e Império, consultadas pelo governo, responderam em 18
de março de 1847:

(...)

Considerando as seções as seguintes razões:

1a Como o Tratado de 1o de outubro de 1777, que estabeleceu os ditos limites,


nunca teve plena execução.

2a Como durante a guerra que se seguiu, em 1801, entre as coroas de Portugal e


Espanha, foi pelos portugueses conquistado o território entre a coxilha Geral e o
Uruguai, e desde o Quaraí até a entrada no Uruguai do rio Pepiri-Guaçu.

3a Como pelo Tratado de Badajoz, de 6 de junho de 1801, não foi renovado o de


1777, nem se estipulou a restituição do mencionado território conquistado.

4a Como a Convenção de 1819, que dilatou as fronteiras do Império desde Castilhos


Grandes até o Arapeí bem que tivesse plena execução, foi alterada ou renovada
pela segunda condição do Ato de Incorporação que fica transcrito.

5a Como esse Ato de Incorporação foi aceito pelo governo imperial, e pelo mesmo citado
como um título do Império à Província Cisplatina, tanto na correspondência entre o
comissário argentino Valentin Gomez e o ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil,

167
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

na nota de 6 de fevereiro de 1824, quanto no Manifesto de Declaração de Guerra do


governo imperial às Províncias Unidas do Rio da Prata, de 10 de dezembro de 1825.

6a Como o Brasil erigiu em República do Uruguai a Província Cisplatina; e esta


tinha os limites que lhe foram assinados no referido Ato de Incorporação.

7a E, finalmente, como esse Ato de Incorporação é produzido pelo governo oriental


para mostrar que as divisas do Império não principiam em Castilhos Grandes
e vão ter ao Arapeí, mas sim em Chuí, continuando pelo Jaguarão, coxilha de
Santana e Quaraí, embora o governador de Buenos Aires taxe a incorporação de
nula, atribuindo-a à violência e à coação das baionetas do visconde de Laguna.

Parece às seções que o Tratado de 1777 deixou de ter vigor desde 1801 e que as divisas
entre o Império e a República Oriental são as marcadas no Ato de Incorporação. E
se em algum tempo o governo de Montevidéu se retratar destas divisas, que tem
autenticamente reconhecido, aproveitará o Império no uti possidetis de 1810 que
não oferece a questão dos campos medidos, ou melhor ainda, a Convenção de 1819.

Essa consulta é assinada pelos conselheiros de Estado José Joaquim de


Lima e Silva, visconde de Olinda (depois marquês), Bernardo Pereira de
Vasconcelos, visconde de Monte Alegre (depois marquês), Honório Hermeto
Carneiro Leão (depois visconde e marquês de Paraná), Francisco Cordeiro de
Silva Torres e Caetano Maria Lopes Gama (depois visconde de Maranguape).

Ouvido o Conselho de Estado em reunião plena, pela resolução


imperial de 12 de maio de 1847, foi do mesmo voto.

IV

Só quatro anos depois, em 1851, por iniciativa do governo oriental,


voltou-se a tratar da questão de limites.
Desde 1842, resistia ele, dentro das trincheiras de Montevidéu, ao assédio
que os seus adversários políticos, com o apoio de tropas de Buenos Aires,
haviam posto a essa capital. O general Oribe que as comandava, considerava-
se também presidente da República Oriental. Tinha cessado a intervenção
militar anglo-francesa contra os generais Rosas e Oribe. A Inglaterra, em

168
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

1847, e a França, no ano seguinte, haviam levantado o bloqueio de Buenos


Aires. A França, em 1850, reduzira, suprimindo totalmente pouco depois, o
subsídio mensal que pagava para as necessidades da guarnição e defesa da
praça de Montevidéu. O Brasil, solicitado pela legação oriental, começou
então a fornecer, por empréstimo pago em prestações mensais, a quantia que o
governo de Montevidéu julgou necessária para poder continuar a resistência.
As nossas relações diplomáticas com o ditador de Buenos Aires
estavam rotas desde 1850.
Em nota de 16 de março de 1851, o conselheiro Paulino de Sousa,
ministro dos Negócios Estrangeiros (pouco depois visconde de Uruguai),
anunciava ao ministro da República Oriental, Andrés Lamas, que, tendo
a obrigação de manter a independência dessa República, e vendo-a
ameaçada, o governo imperial estava resolvido a coadjuvar a defesa da
praça de Montevidéu e a embaraçar a sua tomada pelos sitiantes.
A 29 de maio seguinte, o Brasil, a República Oriental do Uruguai e o estado
argentino de Entre Rios assinaram em Montevidéu um Convênio de Aliança Ofensiva
e Defensiva, a que aderiu a província argentina de Corrientes, para o fim de manterem
a independência e de pacificarem o território do Uruguai, fazendo sair dele o general
Oribe e as forças argentinas que este comandava e cooperando para que, restituídas as
coisas ao seu estado normal, se procedesse à eleição livre do presidente da República.14
Foi nessas condições que o ministro Andrés Lamas, em nota de
18 de agosto do mesmo ano de 1851, declarou ao nosso ministro dos
Negócios Estrangeiros que o governo de Montevidéu lhe ordenara

Lê-se no Relatório da Repartição dos Negócios Estrangeiros de 1852, p.XXI:


14 

“Segundo a organização da Confederação Argentina, era cada uma das províncias soberana e
independente; e suposto tivessem feito entre si diversos tratados, não se tinha fixado neles de um modo
uniforme a autoridade que devia ser encarregada das relações exteriores, único laço de união que entre
elas existia. Esta autoridade tinha sido delegada na pessoa do general dom João Manoel de Rosas.
Em virtude das faculdades ordinárias e extraordinárias de que tinha sido investido pela Honrada Sala
de Representantes da Província, o governador e capitão-general da província de Entre Rios declarou no
dia 1o de maio de 1851: ‘Que era a vontade do povo entrerriano reassumir o exercício das faculdades
inerentes à sua soberania delegadas na pessoa do excelentíssimo governador e capitão-general da
província de Buenos Aires, para cultivar as relações exteriores e para a direção dos negócios da paz
e guerra da Confederação Argentina, em virtude do Tratado Quadrilateral das Províncias Litorais
de 4 de janeiro de 1831; que manifestada assim a vontade livre de Entre Rios, ficava esta apta para
entender-se diretamente com os demais governos do mundo, até que, congregada a assembleia
nacional das mais províncias irmãs, fosse definitivamente constituída a República.’
A província de Corrientes aderiu depois a essa declaração.
Tendo essas províncias reassumido assim o exercício completo da sua soberania, e admitido
a renúncia que todos os anos fazia e acabava de fazer o general Rosas do seu poder, celebrou
com elas o governo imperial o Convênio de 29 de maio de 1851 (...)”

169
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

manifestar ao do imperador que, consumados pelo Convênio de 29 de


maio todos os compromissos que podia contrair o Brasil para salvar a
independência e a liberdade da República Oriental e concorrer para o
estabelecimento e a conservação da paz e de um governo regular, e,
mudada como estava a situação da República, “o primeiro pensamento,
o primeiro desejo” do seu governo era “estreitar e fortificar quanto fosse
possível a sua aliança com o Brasil”; e como para chegar a esse fim
convinha remover qualquer motivo de ulterior desinteligência, renovara
as ordens que a ele ministro havia dado para negociar e concluir com o
governo imperial todos os ajustes que para isso fossem necessários, e já
estavam previstos pelo artigo 21 do Convênio de 29 de maio.
Foram plenipotenciários do Brasil nessa negociação os conselheiros
Carneiro Leão (marquês do Paraná) e Limpo de Abreu (visconde de
Abaeté). Em cinco conferências, de 2 a 10 de outubro, discutiram eles e
assinaram no dia 12, com o ministro Andrés Lamas, no Rio de Janeiro,
quatro tratados: de Limites, de Comércio e Navegação, de Aliança, e
de Extradição. Na mesma data, o ministro dos Negócios Estrangeiros
assinou com o plenipotenciário Lamas uma convenção regulando a
prestação, por empréstimo, de auxílios pecuniários à República Oriental
e estabelecendo as garantias que ela devia dar ao Brasil.15
A questão de limites foi tratada e resolvida nas três primeiras
conferências de 2 a 4 de outubro.
Desde a primeira, o plenipotenciário oriental, recusando aceitar
No mesmo dia 12 de outubro de 1851, o general Oribe capitulava em Pantanoso, perto de
15 

Montevidéu, subscrevendo as honrosas e liberais condições que lhe concedera o general


Urquiza, governador e capitão-general de Entre Rios. Ficou assim pacificada a República
Oriental do Uruguai.
Ao citado Convênio de Aliança, de 29 de maio de 1851, seguiu-se o de 21 de novembro do
mesmo ano, concluído em Montevidéu, entre o Império do Brasil, a República Oriental, e as
províncias argentinas de Entre Rios e Corrientes. O artigo 1o ficou assim redigido:
“Os Estados aliados declaram solenemente que não pretendem fazer a guerra à Confederação
Argentina, nem coarctar de qualquer modo que seja a plena liberdade de seus povos no
exercício dos direitos soberanos que derivem de suas leis e pactos, ou da independência
perfeita da sua nação. Pelo contrário, o objeto único a que os Estados aliados se propõem é
libertar o povo argentino da opressão que suporta sob a dominação tirânica do governador dom
João Manoel de Rosas, e auxiliá-lo para que, organizado na forma regular que mais julgue
convir aos seus interesses, à sua paz e amizade com os Estados vizinhos, possa constituir-se
solidamente estabelecendo com eles as relações políticas e de boa vizinhança de que tanto
necessitam para seu progresso e engrandecimento recíproco.”
A batalha de Monte Caseros, ou de Morón (3 de fevereiro de 1852), vencida pelos Aliados
sob o comando do general Urquiza, pôs termo à longa ditadura de Rosas.

170
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

por base da discussão a Ata de 30 de janeiro de 1819, declarou que


“para regular a questão de limites, admitiria como base a posse atual
do Império, e, outrossim, reconheceria o exclusivo que ele tem na
navegação da lagoa Mirim, renunciando para isso aos direitos que o
Estado Oriental se havia reservado pelo Tratado de Incorporação”, de
1821 (ofício de 2 de outubro de 1851, dos plenipotenciários brasileiros
ao ministro dos Negócios Estrangeiros).
Os nossos plenipotenciários responderam que, se viessem a admitir
o uti possidetis como base para a negociação, não poderiam deixar
de propor alterações, e que estas, como ele reconheceria, não eram
inspiradas pelo desejo de aumentar território, mas pela necessidade de
cobrir melhor a linha de fronteira, e, sobretudo, pelo interesse comum
de evitar a repetição de conflitos que pudessem perturbar as relações de
amizade e boa inteligência entre os dois países. Aproveitavam a ocasião
para indicar, desde logo, algumas modificações que lhes pareciam
indispensáveis na linha do Jaguarão à coxilha Grande, e para declarar
que “no intuito de se manter e proteger o exclusivo da navegação
da lagoa Mirim”, teriam de “sugerir a ideia de se nos conceder o
estabelecimento de dois portos, com meia légua de terreno, um na
embocadura do Cebollatí e outro na do Taquari”.
Nas duas conferências havidas no dia 4, pela manhã e à noite, foram
debatidos o projeto brasileiro e o contraprojeto oriental (anexos nos 1 e
2), sendo este, por fim, quase textualmente adotado, como se poderá
ver confrontando-o com o Tratado de Limites de 12 de outubro de 1851
(anexo no 3).
As linhas descritas nesse tratado sofreram as modificações
constantes do Tratado de 15 de maio de 1852 (nos 6 e 7) e do Acordo de
22 de abril de 1853 (no 8), ambos assinados em Montevidéu: o primeiro,
pelo conselheiro Carneiro Leão, enviado extraordinário do Brasil em
Missão Especial, e pelo ministro das Relações Exteriores da República
Oriental, Florentino Castellanos; o segundo, pelo mesmo ministro das
Relações Exteriores e pelo então ministro residente do Brasil, Silva
Paranhos, depois visconde do Rio Branco.16

16 
O Tratado de Limites e os outros tratados de 12 de outubro de 1851 foram ratificados pelo
presidente provisório da República Oriental Joaquín Suarez, e as ratificações trocadas em
Montevidéu a 11 de novembro de 1851; mas depois da eleição da Assembleia-Geral Legislativa
do Uruguai, em que venceu o partido contrário, sendo eleito presidente da República Juan

171
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Com essas mudanças, e segundo as atas da demarcação a que se


procedeu, ficou sendo esta a linha divisória desde o mar até o Jaguarão:
Da embocadura do arroio Chuí, no oceano, sobe pelo dito arroio
até o seu Passo Geral; deste corre a rumo direito para o Passo Geral
do arroio de São Miguel, e desce por sua margem direita até encontrar
o pontal de São Miguel, na costa meridional da lagoa Mirim (Acordo
de 22 de abril de 1853).
Da boca do arroio de São Miguel, continua circulando a margem
ocidental da lagoa até a foz do Jaguarão, conforme o uti possidetis
(Tratado de 15 de maio de 1852, artigos 1o e 2o, e Acordo de 22 de abril
de 1853).
Da boca do Jaguarão segue pela margem direita do dito rio
acompanhando o galho mais ao sul que tem a sua origem no vale
de Aceguá e serros do mesmo nome (Tratado de Limites de 12 de
outubro de 1851); ou, mais especificadamente: pela margem direita do
Jaguarão, segue pelas águas do arroio conhecido por Jaguarão-Chico,
ou Guabiju, afluente da margem direita do Jaguarão; e por ele vai até
a confluência do arroio da Mina, na margem direita do dito Jaguarão-
Chico (Ata assinada a 6 de abril de 1856, em Santana do Livramento,
pelos comissários do Brasil e da República Oriental, general barão de
Caçapava e coronel José María Reyes).
Isso quanto às fronteiras que ficaram estabelecidas em virtude dos
ajustes de 1851, 1852 e 1853.
Quanto à navegação da lagoa Mirim e do rio Jaguarão, a República
Oriental do Uruguai reconheceu, expressamente, pelo artigo 4o do
Tratado de Limites de 12 de outubro de 1851, que o Brasil estava na
posse exclusiva da navegação naquelas águas, e devia permanecer nela,
segundo a base do uti possidetis admitida com o fim de chegar a um
acordo final e amigável. (“Reconhecendo que o Brasil tem a posse
exclusiva da navegação da lagoa Mirim e do rio Jaguarão, e que deve
permanecer com ela segundo o fundamento adotado do uti possidetis,
admitido com a finalidade de se chegar a um acordo final e amigável...”)
As declarações feitas nas notas de 3 e 31 de dezembro de 1851,
trocadas entre a legação oriental no Rio de Janeiro e o governo

Francisco Giró, o novo governo oriental levantou dúvidas sobre a validade dos mesmos
tratados. Com o de 15 de maio de 1852, modificando o de limites de 1851, ficou reconhecida
a validade de todos esses pactos.

172
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

imperial, ficaram tidas como interpretação autêntica do Tratado


de Limites, nos pontos por elas compreendidos, dando as duas
partes a essas declarações a mesma força e vigor que teriam se nele
estivessem inseridas.
Na de 3 de dezembro, do ministro Andrés Lamas, lê-se (anexo no 4):

3o O mesmo artigo 4o do tratado reconhece o fato da posse exclusiva da lagoa


Mirim em que se acha o Brasil; e, em virtude da base do uti possidetis, que foi
admitida para poder chegar-se a um acordo, deixa-o nessa posse.

Em princípio, a República Oriental do Uruguai reconhece que já não tem direito


à navegação das águas da lagoa Mirim. Porém, esse reconhecimento não exclui
que a possa obter por concessão do Brasil.

Estabelecida assim a inteligência do artigo, nesse ponto, o abaixo assinado declara


haver entendido que o Brasil não teria dificuldade em fazer essa concessão, que
lhe seria compensada pela navegação dos confluentes orientais (...)

Na nota de 31 de dezembro, do ministro dos Negócios Estrangeiros,


Paulino de Sousa (anexo no 5):

Pelo que toca ao direito exclusivo de navegar as águas da lagoa Mirim, de que
o Brasil estava de posse, e que o tratado reconheceu, o abaixo assinado limitar-
se-á a declarar que ele não tolhe que o Brasil, por concessões especiais, admita,
debaixo de certas condições e certos regulamentos policiais e fiscais, embarcações
orientais a fazerem o comércio nos portos daquela lagoa.

Encontra-se idêntica declaração, feita pelo plenipotenciário


brasileiro Carneiro Leão, no protocolo das conferências que precederam
a assinatura do Tratado de 15 de maio de 1852 (Anexo no 6).

173
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Do assunto da navegação na lagoa Mirim e no rio Jaguarão trataram


posteriormente os dois governos em várias ocasiões.
No Tratado de Comércio e Navegação de 4 de setembro de 1857,
assinado no Rio de Janeiro pelo visconde de Uruguai e pelo ministro
oriental, Andrés Lamas, foram incluídos os dois artigos seguintes:

Artigo 13 - Fica reconhecida em princípio a mútua conveniência para o comércio,


a indústria e benévolas relações dos dois países, de abrir, por concessão do Brasil,
a navegação da lagoa Mirim e do rio Jaguarão à bandeira da República Oriental
do Uruguai. Porém, dependendo a aplicação desse princípio de exames e estudos
aos quais mandará o governo imperial proceder desde logo, será essa concessão
matéria de negociação ulterior quando se tratar de tratado definitivo.

Artigo 14 - Entretanto, o governo de sua majestade o imperador do Brasil se oferece


espontaneamente a dar todas as facilidades possíveis ao comércio que se faz pela
lagoa Mirim e pelo Jaguarão, permitindo que os produtos que fazem objeto do
mesmo comércio possam ser embarcados diretamente em embarcações que os devem
conduzir por aquelas águas, sem estarem sujeitos por medidas fiscais a baldeações
forçadas, navegando as ditas embarcações diretamente para seus destinos.

A troca das ratificações efetuou-se no Rio de Janeiro, a 23 de setembro


de 1858, declarando então o governo brasileiro (nota do ministro dos
Negócios Estrangeiros, visconde de Maranguape) que deixaria de se
considerar ligado às novas estipulações se as Câmaras do Uruguai, na
seguinte sessão legislativa, não aprovassem o tratado, também de 4
de setembro de 1857, para a permuta de território que tinha por fim
dar logradouro à vila de Santana do Livramento, cujas dependências
eram cortadas pela linha divisória. O Tratado de Permuta de Territórios
foi, pouco depois, virtualmente rejeitado pelo governo oriental,
porquanto, com o fim de modificá-lo, retirou-o do Senado e até criou,
subsequentemente, uma vila, com o nome de Ceballos, mudado, cinco
anos mais tarde, para o de Rivera, no território que ficaria pertencendo
ao Brasil, se o tratado fosse aprovado. Era, portanto, chegado o caso
de se tornar efetiva a condição com que o Brasil concorrera à troca
das ratificações do Tratado de Comércio e Navegação, e para isso o

174
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

governo imperial expediu o Decreto no 2.653, de 29 de setembro de


1860, suspendendo a execução desse tratado a partir do dia 1o de janeiro
seguinte e declarando subsistente o de Comércio e Navegação de 12
de outubro de 1851. A legação do Brasil em Montevidéu comunicou
isso, por nota de 13 de outubro de 1860, ao governo oriental, e este
respondeu, por nota de 26, que estava “conforme com a anulação do
Tratado de 4 de setembro de 1857, devendo ser considerado desde o dia
1o de janeiro de 1861 como se nunca tivesse existido”.
Uma Convenção posterior, a 18 de janeiro de 1867, negociada pelo
conselheiro Sá e Albuquerque, então ministro dos Negócios Estrangeiros,
e pelo já citado ministro oriental, não chegou a ter execução.
O seu artigo 1o estava assim redigido:

Fica aberta, por concessão do Brasil, a navegação da lagoa Mirim e do rio


Jaguarão ao comércio da bandeira oriental; e por concessão da República Oriental
do Uruguai, fica aberta ao comércio da bandeira brasileira a navegação dos rios
Cebollatí, Taquari, Olimar e outros, que diretamente ou indiretamente deságuam
na referida lagoa.

O general Venâncio Flores, governador provisório da República


Oriental, desaprovou esse acordo, desejando modificações que não
pôde conseguir.
O governo oriental passou a oferecer-nos sucessivamente outros
projetos que, todos, apenas visavam ao assunto da navegação e comércio
na lagoa Mirim e rio Jaguarão: os de 13 de novembro de 1867 e 8 de janeiro
de 1878, entregues ao nosso representante diplomático em Montevidéu
pelos senhores Alberto Flangini e Gualberto Méndez, que naquelas
datas ocupavam o cargo de ministro das Relações Exteriores; e os de 1o
de setembro de 1879, 17 de janeiro de 1891 e 2 de dezembro de 1895,
apresentados, respectivamente, pelos seus ministros acreditados no Brasil,
senhores Vásquez Sagastume, Francisco Bauzá e Carlos de Castro.
Nenhuma dessas propostas teve andamento e solução, o que se deve
atribuir principalmente ao curto período administrativo dos ministros
que as receberam e dos seus sucessores, assim como à resistência que
a todas elas constantemente opôs, apesar do progresso dos tempos, o
espírito pouco inovador de um antigo e venerando funcionário, cujas
opiniões eram sempre atentamente ouvidas pelos homens políticos de

175
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

passagem nesta repartição.


Entretanto, o doutor Carlos de Carvalho, no seu relatório de 1896,
escrito pouco antes de deixar o ministério, revelou nas seguintes linhas
– que encontraram imediata impugnação na nossa imprensa – as ideias
adiantadas que já então tinha sobre a matéria (p.5):

Por outro lado, a livre-navegação da lagoa Mirim e rio Jaguarão e a sua possível
ligação com o Atlântico, desvanecendo preconceitos políticos, habilitaria a
República Oriental do Uruguai a desempenhar a sua função internacional na
América do Sul, adquirindo, por ato da sua plena soberania, absoluta tranquilidade
externa para desenvolver seus elementos de prosperidade, estando como está,
admiravelmente colocada no estuário do Prata para servir de traço de união e
amizade entre o Brasil e a República Argentina.

E, referindo-se à proposta apresentada pelo ministro Carlos de


Castro (Ibidem, p.25): “O governo brasileiro pouco poderá adiantar, por
motivos que foram expostos com franqueza. Mais à opinião nacional
do que ao governo, que deverá ser-lhe reflexo, cabe indicar a diretriz.”
Posso acrescentar que em maio de 1905, quando ao doutor Carlos
de Carvalho, então consultor jurídico do Ministério a meu cargo,
manifestei a opinião de que devíamos não só conceder a liberdade de
navegação, sempre solicitada pela República Oriental, mas também, por
ato nosso, espontâneo e desinteressado, devíamos modificar a linha de
fronteiras na lagoa Mirim e rio Jaguarão, achei-o de pleno acordo com
essas ideias, que também encontraram, em dezembro do mesmo ano,
o mais favorável acolhimento da parte do presidente Rodrigues Alves.

VI

Ainda que sejam geralmente conhecidas as regras de direito


observadas na determinação de fronteiras em rios e lagos internacionais,
peço vênia para transcrever aqui os seguintes parágrafos em que as
expôs com a maior concisão e clareza o conselheiro Lafaiete Pereira,
nos seus Princípios de Direito Internacional:

§ 81 Rios nas extremas; ilhas, aluviões.

176
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Acerca dos rios que servem de extrema dos Estados (rios contíguos) e das ilhas e
aluviões que neles se formam, vigoram os princípios seguintes:

a) se o rio não é navegável, o território de cada Estado confinante estende-se até a linha
longitudinal que se supõe tirada pelo centro a igual distância de uma e outra margem.
Se for navegável, toma-se como limite o perfil longitudinal em que a corrente é mais
profunda (talvegue, filum aquæ).

Pode acontecer que o leito do rio encerre diversos canais mais ou menos profundos. Em
tal caso serve de linha divisória o canal mais apropriado à navegação, não só no percurso
do leito, como ainda através da baía ou estuário por onde as águas se encaminham
para o mar, suposto dessa linha resultem para uma e outra parte porções desiguais.

Enquanto o rio conserva o mesmo leito, a linha divisória acompanha as mudanças do


talvegue ou canal navegável. Se o rio, porém, muda de leito, subsiste a divisa pelo
leito abandonado. O novo leito imprime ao rio, na parte que lhe corresponde, a sua
condição jurídica, isto é, a do território por onde é aberto;

b) a parte que a corrente do rio deixa descoberta em uma das margens, bem como
o aumento por aluvião, pertencem ao território do lado em que se consumam tais
fenômenos.

As ilhas que nascem no leito do rio, se ocupam o centro, dividem-se entre os Estados
confinantes pela linha que serve de limite; se se formam fora dessa linha, acrescem
ao território do Estado em cujas águas surgem;

c) o direito de navegar pelas águas dos rios que servem de extrema pertence
exclusivamente às nações confinantes, salvo concessão por estipulações a terceiros
Estados;

d) o rio que serve de extrema, todavia, pode pertencer em toda a sua largura a um
só dos Estados confinantes por virtude ou de tratado, ou de ocupação prévia, ou de
qualquer título legítimo.

§ 82 Lagos e mares interiores contíguos.

177
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Os lagos cercados de todos os lados por territórios de diversos Estados pertencem a


esses Estados, desde a margem até a linha ou ponto central, na extensão da testada
de cada um.

Nem sempre é fácil estabelecer praticamente a linha divisória. Nesse caso a navegação
compete em comum a todos os Estados ribeirinhos.

Igualmente pertencem aos Estados cujos territórios os cingem os mares interiores


contíguos, na proporção das respectivas fronteiras.

A soberania territorial de cada um dos Estados ribeirinhos estende-se até a linha de


respeito (três milhas). Dessa linha para diante a navegação é comum entre eles.

Quando os lagos e mares interiores contíguos comunicam com o mar por desaguadeiros,
canais ou estreitos, são aplicáveis os mesmos princípios de direito que regulam
hipóteses idênticas com relação a lagos e mares simplesmente interiores apenas com a
seguinte advertência que é determinada pela circunstância de pertencer o mar interior
contíguo a mais de um Estado.

Dada a hipótese de comunicar o mar contíguo com o alto por estreito subordinado
em toda a sua largura à jurisdição territorial, o Estado circunvizinho que é senhor da
embocadura do estreito e o Estado ou Estados que ocupam o território ou territórios
que o mesmo estreito atravessa no seu seguimento não podem recusar o direito de livre
trânsito aos Estados a quem pertence o contíguo. No caso figurado o estreito constitui
uma como servidão comum.

VII

A nossa situação na lagoa Mirim e no rio Jaguarão ficou perfeitamente


regularizada com o Tratado de Limites de 12 de outubro de 1851. Por
ele, a República Oriental renunciou ao direito de condomínio que, como
ribeirinha, lhe cabia nessas águas antes daquela data.
Não foi, como injustamente se tem escrito, uma renúncia imposta
pelo governo brasileiro: foi uma renúncia que desde 1844 o governo de
Montevidéu nos oferecia na esperança de obter, em troco, o nosso apoio
para salvar a independência política da sua pátria.
O caso do Brasil, se era único na América – e o é –, podia, então

178
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

– e pode ainda hoje –, justificar-se plenamente com outras situações


semelhantes.
Todos os mestres do Direito Internacional, como o eminente
jurisconsulto que acabo de citar, ensinam que, em virtude de tratado ou
de outro título legítimo, um rio ou um lago de extrema pode pertencer
em toda a sua largura a um só dos Estados confinantes.
Sem falar em exemplos do passado, de que fazem menção algumas
obras de Direito Internacional,17 vários outros, atuais, podem ser citados.

a). Na Europa

Fronteira entre a Prússia e a Saxônia. Uma seção do Lebauer Wasser


ficou pertencendo em toda a sua largura à Saxônia (Tratado de 18 de
maio de 1815, assinado em Viena por esses dois reinos, artigo 2o).
Fronteiras entre a Suíça e a França. O rio Foron, na extensão de oito
quilômetros, pertence todo à França (Tratado de Turim, de 16 de março
de 1816, entre a Suíça e a Sardenha, artigo 1o; e Ata Geral da Comissão
Territorial reunida em Frankfurt, assinada a 20 de julho de 1819, artigo
41. A demarcação de 1816 foi completada em 1899).
Os pequenos rios Morges, Eau Noire e um trecho do Doubs, cujas
águas pertencem exclusivamente à França; Barberine e Ranconnière¸
que pertencem à Suíça (Convenção entre a França e a Suíça, assinada
em Paris, a 10 de junho de 1891; e Ata de 9 de janeiro de 1897).
No Danúbio, desde a antiga fronteira oriental da Sérvia até um
ponto a leste de Silístria, a margem direita, ou búlgara, serve de limite
entre a Bulgária e a Romênia, pertencendo, portanto, o rio, em toda a
sua largura, nesse extenso trecho, à Romênia (Tratado de Berlim, de
13 de julho de 1878, entre a França, Alemanha, Áustria-Hungria, Grã-
Bretanha, Itália, Rússia e Turquia, artigo 2o, em que foram estabelecidos
os limites do novo principado da Bulgária, hoje reino).

b). Na África

Lago Zipe ou Jipe, entre as possessões da Grã-Bretanha e Alemanha


17 
Entre elas, as de Ernest Nys, Le Droit International, Bruxelas, 1904, tomo I, p.425 a 430;
W. E. Hall, A Treatise on International Law, 5a ed., Oxford, 1904, p.122 e seguintes: Pinto
da Rocha, O Tratado do Condomínio, Porto Alegre, 1910, p.99-102.

179
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

na África Oriental. A linha divisória acompanha a margem setentrional,


britânica, pertencendo todas as águas à Alemanha (artigo 1o, no 1, do
Tratado de Berlim, de 1o de julho de 1890).18
Lago Niassa. São ribeirinhos à Grã-Bretanha, à Alemanha e a
Portugal, mas todas as águas pertencem à primeira dessas potências,
passando a fronteira britânica ao longo das margens desses seus
vizinhos (Tratado de Berlim, de 1o de julho de 1890, Grã-Bretanha e
Alemanha; Tratado de Lisboa, de 11 de junho de 1891, Grã-Bretanha
e Portugal).
Lago Chiuta e lago Shirwa, também chamado Chirua e Chilua.
Pertencem ambos inteiramente à Grã-Bretanha, porque a fronteira
britânica acompanha as margens portuguesas (Tratado de 11 de junho
de 1891).
Rio Dehawa ou Schaove ou Dschawoe, no oeste africano, entre o
protetorado alemão de Togo e a ex-colônia britânica da Costa do Ouro,
então hoje, Gana. A fronteira passa pela margem inglesa, pertencendo
toda a largura do rio à Alemanha (Tratado de 1o de julho de 1890,
artigo 1o).
Rio Volta, que em um trecho separa essas mesmas possessões. A
fronteira segue a margem alemã e, portanto, nessa parte, toda a água
pertence à Grã-Bretanha (mesmo tratado e artigo).
Rio Orange, entre a ex-colônia britânica do Cabo, hoje parte da
República da África do Sul e a da África Sudoeste Alemã (Deutsch
Sudwest Africa), hoje Namíbia. A fronteira acompanha a margem
setentrional, isto é, a margem alemã, desde 20o W de Greenwich até o
mar. O domínio britânico estende-se, assim, sobre toda a largura do rio
(Tratado de 1o de julho de 1890, artigo 3o, no 1).
Essas e a nossa da lagoa Mirim e rio Jaguarão são presentemente,
que eu saiba, as únicas exceções.
Em todos os demais lagos e rios de extrema – tanto no nosso quanto
nos outros continentes –, as fronteiras são determinadas de acordo
com as regras gerais de direito anteriormente apontadas e que agora
procuramos aplicar à lagoa Mirim e ao rio Jaguarão.

18 
Estão agora em andamento negociações para a modificação da fronteira e estabelecimento
do condomínio neste lago.

180
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

1o Lagos internacionais

Na América: as lagoas de Cáceres, Mandioré, Gaíba e Uberaba,


entre o Brasil e a Bolívia, cumprindo notar que eram lagos interiores,
estando o Brasil de posse de todo o território circunvizinho, e pelo
Tratado de La Paz, de 27 de março de 1867, recuou a sua fronteira de fato,
cedendo à Bolívia parte dessas lagoas, e, pelo Tratado de Petrópolis, de
17 de novembro de 1903, modificou ainda a linha divisória, melhorando
a situação da Bolívia nessas águas; o lago Titicaca, entre o Peru e a
Bolívia; e os lagos de Chiputnaticook (First Lake e Second Lake),
Chibnitcook (ou Grand Lake), Petteiquaggamas, Petteiquaggamak
(ou Bean Lake), Leach Pond, Memphremagog, Champlain, Ontario,
Erie, St. Clair, Huron, Superior, Rainy, e of the Woods, entre o domínio
britânico do Canadá e os Estados Unidos da América.

Na Europa: o lago de Genebra, entre a Suíça e a França; de


Constança (Boden See), que pertence em comum à Suíça, à Áustria, à
Baviera, a Wurtemberg e a Baden; o Unter See, entre Suíça e Baden;
os lagos Maggiore e Lugano, entre a Itália e a Suíça; de Garda, entre a
Itália e a Áustria; os lagos entre a Prússia e a Rússia;19 entre a Rússia e
a Suécia;20 entre a Rússia e a Noruega;21 entre a Suécia e a Noruega;22 e
o lago de Scutari, entre a Turquia e o Montenegro.
No mar Cáspio, em que também é ribeirinha a Pérsia, só a Rússia
pode manter navios de guerra.

Na Ásia: o lago Hanka ou Hinkai, atravessado pela linha de fronteira


entre a Rússia e a China (Tratado Adicional ao de Limites de 16/23 de
maio de 1858, assinado em Pequim a 2/14 de novembro de 1860).

Na África: lagos internacionais em que os ribeirinhos observaram


as regras gerais de direito para a determinação de fronteiras:
19 
Powitz ou Powidzer, Golplo, Rajgrôd e Wyschtyten.
20 
Koukima-jaur, Ylinen, Kilpsis-jaur, Taste-jaur, Catina, Cahti-jaur, Naimaka-jaur, Kalotti-jaur
(Ata de demarcação de Tornea, 8/20 de novembro de 1810).
21 
Os lagos que o rio Pasvik ou Pasrek atravessa (Convenção entre o imperador da Rússia e o
rei da Suécia e Noruega, assinada em São Petersburgo a 2/14 de maio de 1826).
22 
Tratados de 26 de outubro de 1661 e 2 de outubro de 1761.

181
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Vitória Niansa (Alemanha e Grã-Bretanha, Tratado de Berlim, de


1 de julho de 1890, artigo 1o).
o

Alberto Eduardo (Estado do Congo e Grã-Bretanha, protetorado de


Uganda; Acordo de 12 de maio de 1894).
Tanganica (Alemanha, Congo e Grã-Bretanha; Acordo de 12 de
maio de 1894).
Moero (Congo e Grã-Bretanha; citado acordo).
Chade (França, Alemanha e Grã-Bretanha).
Sobre a delimitação no lago Kivu e seus arredores, há, entre a
Alemanha, a Bélgica (Congo) e a Grã-Bretanha, divergências que
parecem próximas de uma solução satisfatória para as três partes.

2o Rios de extrema no Brasil, nos quais, todos, existe o condomínio,


seguindo a linha divisória quase sempre a meia distância das margens
ou, em alguns casos, o talvegue:

Oiapoque (Brasil e Guiana Francesa; laudo do Conselho Federal


Suíço, Berna, 1o de dezembro de 1900); Tacutu e Maú (Brasil e
Guiana Britânica; laudo do rei da Itália, Roma, 6 de junho de 1904);
Cuiari ou Iquiare, Uaupés ou Caiari, Capuri, Taraira e Apopóris
(em todos cinco, o talvegue; Brasil e Colômbia, Tratado de Bogotá,
de 24 de abril de 1908); Javari (Brasil e Peru, Convenção de Lima,
de 23 de outubro de 1851); Breu Terceiro, Santa Rosa, Alto Purus
(talvegue) desde a confluência do Santa Rosa até a do Chambuiaco,
o mesmo Chambuiaco e o Alto Acre (Brasil e Peru, Tratado do Rio
de Janeiro, de 8 de setembro de 1909); o mesmo Alto Acre, Igarapé
Baía, Rapirrã e Abunã (Brasil e Bolívia, Tratado de Petrópolis, de
17 de novembro de 1903); Madeira, Mamoré, Guaporé e Verde
(Brasil e Bolívia; Tratado de La Paz, de 27 de março de 1867, e
de Petrópolis, de 17 de novembro de 1903); pequeno trecho do rio
Paraguai (Brasil e Bolívia, Tratado de Petrópolis); trecho do rio
Paraguai, da Baía Negra ao Apa (Brasil e Paraguai, trecho não
mencionado no Tratado de 1872, mas fronteira reconhecida pelas
duas partes); Apa e Alto Paraná (Brasil e Paraguai; Tratado de
Asunción, de 5 de janeiro de 1872); Iguaçu (Brasil e Argentina;
Tratado do Rio de Janeiro, de 6 de outubro de 1898); Santo Antônio
e Pepiri-Guaçu (Brasil e Argentina; laudo do presidente Cleveland,

182
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

dos Estados Unidos da América, Washington, 5 de fevereiro de


1895); Uruguai (talvegue; Brasil e Argentina; precitado Tratado
de 6 de outubro de 1898); Quaraí e arroio de São Luís (Brasil e
República Oriental do Uruguai, Tratado do Rio de Janeiro, de 12
de outubro de 1851).

VIII

O Tratado de Limites de 12 de outubro de 1851 foi o primeiro dessa


natureza celebrado pelo Brasil.
Na negociação de todos os outros – desde o que, dias depois, foi
assinado em Lima com o Peru, a 23 de outubro de 1851 – deixamos de
propor exceção alguma aos princípios gerais reguladores da matéria.
Não se condena agora, de modo algum, o procedimento dos nossos
estadistas e diplomatas que colaboraram na negociação dos pactos
de 1851 a 1853 com o Uruguai. Eles tomaram, mui sabiamente, as
precauções que as circunstâncias do tempo reclamavam. Hoje, porém,
não há motivo algum para que deixemos de tratar a República Oriental
como tratamos todos os outros países vizinhos no ajuste das nossas
fronteiras. O Império constitucional que tivemos não era a imobilidade:
mostrou-se sempre liberal e progressista e realizou grandes e úteis
reformas. Se fossem vivos os estadistas de 1851, estou persuadido de
que seriam os primeiros a promover as modificações que hoje propomos
ao Congresso Nacional no tratado que lhe vai ser submetido.23

Não deixa de ser oportuno e conveniente transcrever aqui os seguintes trechos da Consulta
23 

da Seção dos Negócios Estrangeiros do Conselho de Estado, de 25 de novembro de 1865,


opinando que o governo imperial cedesse à Bolívia a metade das lagoas Mandioré, Gaíba e
Uberaba, nos confins da então província de Mato Grosso, assim como o território ao ocidente
das mesmas lagoas, de que estávamos de posse desde o descobrimento e ocupação daquelas
paragens pelos nossos sertanejos no século XVIII:
“(...)
Outrora, o governo português era dominado pelo desejo da navegação exclusiva das águas
do Paraguai e do Madeira e do Amazonas. Ele aspirava ao monopólio desse comércio.
Hoje, as ideias econômicas são de outra ordem e de maior alcance. Nosso verdadeiro e
grande interesse está em partilhar discretamente com a Bolívia essa navegação e comércio,
procurando o predomínio da nossa benéfica influência e justos interesses em condições mais
vigorosas e duradouras. Prevalece mesmo uma nova série de causas desde que o Brasil não
é mais colônia portuguesa, que não tem mais por que curar das conveniências e produtos da

183
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

O pensamento do governo ficou claramente manifestado no seguin-


te trecho da mensagem presidencial de 3 de maio último:

Desde 1801, como é sabido, ficamos senhores da navegação privativa do rio Jaguarão
e da lagoa Mirim e mantivemos ininterruptamente essa posse. Tratados solenes que
celebramos com a República Oriental do Uruguai, em 1851 e posteriormente, baseados
no uti possidetis, estabeleceram como limites entre os dois países a margem direita
do Jaguarão e a ocidental da lagoa Mirim, da confluência do Jaguarão para o sul.

metrópole e sim dos seus próprios e grandes interesses e dos princípios correspondentes que
ele mesmo invoca.
(...)
Bastam estas poucas considerações para demonstrar que não temos mais os fundamentos de
outrora para dar à posse exclusiva dessas águas a importância que outrora se dava, e menos
a essas pequenas porções de território. O grande interesse do Brasil é de enriquecer a sua
população e com ela a ação do seu governo pela expansão de todas as suas forças industriais.
Em tais termos, a seção não hesita em aconselhar o governo de vossa majestade imperial a
que trate com a Bolívia no sentido que ela propõe, quanto a essas lagoas: que corra a linha
divisória nesses lugares de modo que metade das lagoas Mandioré, Gaíba e Uberaba fique
pertencendo a ela como os terrenos adjacentes. Ficarão do lado oriental, para o Brasil, as
terras altas das Pedras de Amolar e de Insua, e consolidado o nosso direito sobre a margem
direita do Paraguai, desde ali até Coimbra e Baía Negra, o que é de sumo interesse.
A Bolívia ficará habilitada a ter navegação e comércio pelo Paraguai, mas isso, em vez de
ser causa dos antigos ciúmes, será uma nova fonte de prosperidade para o comércio de Mato
Grosso.
Essa concessão em nada prejudicará nem mesmo os nossos meios de defesa.
(...)
Uma política franca e generosa será sem dúvida útil a essa República; será, porém, ainda
mais útil para o Brasil uma igual política, pois que na balança pesarão as grandes vantagens
da sua relativa posição geográfica, da sua civilização mais adulta e do predomínio da sua
indústria e capitais (...)”
O governo imperial adotou esse parecer, e, pelo Tratado de 27 de março de 1867, cedemos à
Bolívia não só a metade das lagoas Uberaba, Gaíba e Mandioré, mas também parte da lagoa
de Cáceres e da chamada Baía Negra.
O Parecer era assinado pelos conselheiros visconde de Uruguai (Paulino de Sousa), Pimenta
Bueno (depois marquês de SãoVicente) e visconde de Jequitinhonha (F. G. Acaiaba de
Montezuma).
O visconde de Uruguai, que como ministro dos Negócios Estrangeiros dirigira as negociações
de 1851 a 1853 com a República Oriental, mostrava em 1865 que, no próprio interesse do
Brasil, convinha ceder à Bolívia parte das nossas lagoas de Mato Grosso. É, portanto, natural
que procurasse promover a modificação de fronteiras agora proposta, na lagoa Mirim e rio
Jaguarão, se encontrasse oportunidade para isso e se houvesse vivido mais alguns anos. Esse
ilustre estadista, dos maiores que temos tido, faleceu em 1866. E cumpre acrescentar que o
deputado doutor Paulino de Sousa, digno herdeiro do seu nome, foi no Congresso Nacional,
em abril de 1910, um dos que defenderam e sufragaram o novo tratado.

184
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

A continuada agitação e as guerras civis que ensanguentaram a República Oriental,


desde a sua independência até 1851, explicavam a precaução, que pareceu conveniente
tomarmos então, de evitar frequentes contatos entre as populações confinantes, naquela
região em que um extenso lençol de água, em nosso poder, tornava fácil evitar isso. Mas
o próprio ilustre estadista brasileiro que dirigiu as negociações de 1851 deu desde logo a
compreender que, mais tarde, o Brasil poderia fazer concessões ao país vizinho e amigo.

A situação atual não é idêntica à de mais de meio século. A República Oriental do


Uruguai é desde muito tempo um país próspero cujo povo se não mostra menos pacífico,
ordeiro e progressista que o das mais adiantadas porções desta nossa América. As ideias
de concórdia, em que nos inspiramos todos, e os sentimentos de justiça e equidade
aconselharam-nos a, espontaneamente – sem solicitação alguma, que não houve – fazer
mais do que se esperava de nós, e isso, desinteressadamente, sem buscar compensações
que outros poderiam pretender, dada a perfeita situação jurídica em que nos achamos.

Entendo que é chegada a ocasião de retificar a linha divisória naquelas partes,


estabelecendo-a pelo talvegue do Jaguarão e por várias retas, mais ou menos medianas,
que da embocadura desse rio sigam até o extremo sul da lagoa Mirim. Procedendo
assim, trataremos aquela República vizinha como temos tratado todas as outras na
determinação das nossas fronteiras fluviais e nos conformaremos com as regras de
demarcação observadas por todos os demais países, na América e na Europa, no tocante
a rios e lagos fronteiriços.

Autorizei, portanto, a abertura de negociações para um tratado em que tais regras sejam
atendidas, convencido de que esse ato merecerá a vossa aprovação e o consenso e geral
aplauso de toda a nação brasileira.

As instruções do falecido presidente Afonso Pena, confirmadas por


vossa excelência, tiveram fiel execução com a assinatura do Tratado de 30
de outubro. Para que esse ato pudesse em tudo corresponder aos reclamos da
opinião nacional, já perfeitamente manifestada sobre o assunto, colaborou
eficazmente, ajudando-me com os seus conselhos e oportunas informações,
o governo do estado do Rio Grande do Sul, que, entre todos os da União
Brasileira, era o mais imediatamente interessado na questão.
No primeiro projeto que formulei, havia uma cláusula para a abertura
da navegação à nossa marinha mercante e de guerra nos rios Taquari e
Cebollatí, afluentes da lagoa Mirim. Essa concessão nos fora oferecida

185
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

pelo governo oriental em 1866, e ficara estipulada na Convenção de 18


de janeiro de 1867.
Vossa excelência concordou em que fosse retirada do nosso
projeto primitivo porque, se a mantivéssemos, ficaria parecendo uma
compensação que se nos dava pela cessão, que desinteressadamente
queremos fazer, de parte dos nossos direitos em favor do país vizinho.
Os dois citados rios apenas são navegáveis em pequena extensão do
seu curso. A República Oriental os abrirá à navegação quando entender
que o deva fazer.

IX

A superfície total da lagoa Mirim é aproximadamente de 3.580 km2.


A nova fronteira só se estende pela parte meridional, que é a mais
estreita, entre a foz do Jaguarão e a do arroio São Miguel. A superfície
que ficará pertencendo à República Oriental é, aproximadamente, de
720 km2. A parte do Brasil na lagoa será, portanto, de uns 2.860 km2.24
Das ilhas chamadas do Taquari, a mais importante, que é a oriental
(Ilha Grande), e dois ilhotes, continuarão a pertencer ao Brasil. A sua
superfície – já compreendida no total de 2.860 quilômetros – é calculada
em pouco mais de 2 km2. As ilhas desse grupo que passarão a ser do
domínio do Uruguai devem ter também uns 2 km2.
No rio Jaguarão, segundo me informou o doutor Carlos Barbosa,
presidente do estado do Rio Grande do Sul, continuarão brasileiras

Superfície das lagoas na fronteira entre o Brasil e a Bolívia: Mandioré 125 km2, pertencendo
24 

ao Brasil 63 km2, à Bolívia 62 km2; Gaíba, 72 km2,, ao Brasil, 30 km2, à Bolívia 42 km2;
Uberaba, 100 km2, ao Brasil 62 km2, à Bolívia 38 km2. Lagoa de Cáceres: não tem limites
bem definidos. Segundo a planta em grande escala levantada em 1871, a superfície mínima
da lagoa é de 48 km2. A Bolívia, por concessão do Brasil, ficou com a posse de toda essa
parte, pertencendo ao Brasil somente os terrenos alagados que comunicam a mesma lagoa
com o rio Paraguai e que sobre ela se estende por ocasião das grandes águas.
Superfície de vários lagos de extrema: Superior (América) 85.630 km2; Niansa Vitória (África)
83.300 km2; Huron (América) 61.900 km2; Tanganica (África) 39.000 km2; Niassa ou Malaui
(África) 26.500 km2; Erie (América) 24.000 km2; Ontario (América) 18.760 km2; Chade
(África) 16.300 km2; Titicaca (América) 8.300 km2; Genebra (Europa) 580 km2; Constança
(Europa) 540 km2; Garda (Europa) 300 km2; Maggiore (Europa) 210 km2; Lugano (Europa)
55 km2.

186
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

oito ilhas25 e ficarão pertencendo à República Oriental três, que


são dependências da margem direita. São elas as conhecidas pelas
denominações de Santana, Jacinto e Dinis.
Prestados estes esclarecimentos, que, com o mapa e os documentos
anexos, me parecem suficientes para o conhecimento exato do tratado,
peço licença para reiterar a vossa excelência os protestos do meu mais
profundo respeito.

Rio Branco

25 
Ilha da Barra, das Ovelhas, da Areia, do Bráulio, de Santa Rita, do Virgolino, do Chico Pedro
e um ilhote.

187
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Tratado entre os Estados Tratado entre la República


Unidos do Brasil e a República Oriental del Uruguay y los Estados
Oriental do Uruguai, modificando Unidos del Brasil, modificando sus
as suas fronteiras na lagoa Mirim fronteras en la laguna Merín y en
e no rio Jaguarão e estabelecendo el río Yaguarón, y estableciendo
princípios gerais para o comércio principios generales para el comercio
e navegação nessas paragens. y navegación en esos parajes.

A República dos Estados La República Oriental del


Unidos do Brasil e a República Uruguay y la República de los
Oriental do Uruguai, no propósito Estados Unidos del Brasil, en el
de estreitar cada vez mais a sua propósito de estrechar cada vez más
antiga amizade e de favorecer o su antigua amistad y de favorecer
desenvolvimento das relações de el desarrollo de las relaciones
comércio e boa vizinhança entre de comercio y buena vecindad
os dois povos, resolveram, por entre los dos pueblos, resolvieron,
iniciativa do governo brasileiro, por iniciativa, del Gobierno
rever e modificar as estipulações Brasileño, rever y modificar las
relativas às ilhas de fronteira na estipulaciones relativas á las líneas
lagoa Mirim e no rio Jaguarão de frontera en la laguna Merín y en
e também, como propunha el río Yaguarón y también, como
o governo oriental desde proponía el Gobierno Oriental
dezembro de 1851 as relativas desde Diciembre de 1851, las
à navegação na mesma lagoa e relativas a la navegación en la
rio, estipulações essas contidas misma laguna y río, estipulaciones
no Tratado de Limites de 12 de esas contenidas en el Tratado de
outubro de 1851, no de 15 de Limites de 12 de octubre de 1851,
maio de 1852 e no Acordo de en el de 15 de mayo de 1852, y en
22 de abril de 1853, assinados, el Arreglo de 22 de abril de 1853,
o primeiro, na cidade do Rio de firmados, el primero, en la ciudad
Janeiro, e, os dois outros, na de de Rio de Janeiro, y, los dos otros,
Montevidéu. en la de Montevideo.
E, para esse fim, nomearam Y para ese fin nombraron
plenipotenciários, a saber: plenipotenciarios, a saber:
o presidente dos Estados El presidente de la República
Unidos do Brasil, o senhor doutor Oriental del Uruguay, al señor
José Maria da Silva Paranhos don Rufino T. Domínguez, su

188
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

do Rio Branco, seu ministro de Enviado Extraordinario y Ministro


Estado das Relações Exteriores; e Plenipotenciario en el Brasil; y
o presidente da República El presidente de los Estados
Oriental do Uruguai, o senhor Unidos del Brasil, al señor doctor
Rufino T. Domínguez, seu don José Maria da Silva Paranhos
enviado extraordinário e do Rio Branco, su Ministro
ministro plenipotenciário no de Estado en el despacho de
Brasil. Relaciones Exteriores;
Os quais, depois de haverem Los cuales, después de haber
trocado os seus plenos poderes, canjeado sus plenos poderes, que
que acharam em boa e devida hallaron en buena y debida forma
forma, convieram nos artigos convinieron en los artículos
seguintes: siguientes:

Artigo 1o Artículo 1o

A República dos Estados La República de los Estados


Unidos do Brasil cede à República Unidos del Brasil cede a la
Oriental do Uruguai: República Oriental del Uruguay:
1o Desde a boca do arroio 1o Desde la boca del arroyo
de São Miguel até a do rio de San Miguel hasta la del río
Jaguarão a parte da lagoa Mirim Yaguarón, la parte de la laguna
compreendida entre a sua margem Merín comprendida entre su margen
ocidental e a nova fronteira que occidental y la nueva frontera que
deve atravessar longitudinalmente debe atravesar longitudinalmente las
as águas da lagoa, nos termos do aguas de la laguna, según los términos
artigo 3o do presente tratado. del artículo 3o del presente tratado;
2o No rio Jaguarão, a parte 2o En el río Yaguarón, al parte de
do território fluvial compreendida territorio fluvial comprendida entre
entre a margem direita, ou la margen derecha, o meridional, y la
meridional, e a linha divisória línea divisoria adelante determinada,
determinada adiante, no artigo 4o. en el artículo 4o.

Artigo 2o Artículo 2o

A cessão dos direitos de La cesión de los derechos de


soberania do Brasil, baseados, soberanía del Brasil, basados, al

189
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

a princípio, na posse que ele principio, en la posesión que él


adquiriu e manteve, desde 1801, adquirió y mantuvo, desde 1801,
das águas e navegação da lagoa de las aguas y navegación de la
Mirim e do rio Jaguarão, e, depois, laguna Merín y río Yaguarón,
estabelecidos e confirmados y, después, establecidos y
solenemente nos pactos de confirmados solemnemente en
1851, 1852 e 1853, é feita com los pactos de 1851, 1852 y 1853,
as seguintes condições, que a es hecha con las siguientes
República Oriental do Uruguai condiciones, que la República
aceita: Oriental del Uruguay acepta:
1a Salvo acordo posterior, 1a Salvo acuerdo posterior,
somente embarcações brasileiras solamente embarcaciones brasileñas
e orientais poderão navegar e y orientales podrán navegar y hacer
fazer o comércio nas águas do rio el comercio en las aguas del río
Jaguarão e da lagoa Mirim, como Yaguarón y de la laguna Merín,
adiante, em outros artigos, está como adelante, en otros artículos,
declarado. está declarado.
2a Serão mantidos e 2a Serán mantenidos y
respeitados pela República respetados por la República
Oriental do Uruguai, segundo Oriental del Uruguay, según los
os princípios do Direito Civil, principios del Derecho Civil, los
os direitos reais adquiridos por derechos reales adquiridos por
brasileiros ou estrangeiros nas brasileños o extranjeros en las
ilhas e ilhotas que por efeito da islas e islotes que por efecto de la
nova determinação de fronteiras nueva determinación de fronteras
deixam de pertencer ao Brasil. dejan de pertenecer al Brasil.
3a Nenhuma das 3a Ninguna de las Altas
altas partes contratantes Partes Contratantes establecerá
estabelecerá fortes ou baterias fortificaciones o baterías en las
nas margens da lagoa, nas do márgenes de la laguna o en las del
rio Jaguarão ou em qualquer río Yaguarón o en cual las del río
das ilhas que lhes pertençam Yaguarón ó en cualquiera de las islas
nessas águas. que les pertenezcan en esas aguas.

Artigo 3o Artículo 3o

Principiando na foz do Empezando en la embocadura

190
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

arroio de São Miguel, onde se del arroyo de San Miguel,


acha o Quarto Marco grande, donde se halla el Cuarto Marco
aí colocado pela Comissão Grande, allí colocado por la
Mista Demarcadora de 1853, Comisión demarcadora de 1853,
a nova fronteira atravessará la nueva frontera atravesará
longitudinalmente a lagoa Mirim longitudinalmente la laguna Merín
até a altura da ponta Rabotieso, hasta la altura de la punta de
na margem uruguaia, por meio Rabotieso, en la margen uruguaya,
de uma linha quebrada, definida por medio de una línea quebrada,
por tantos alinhamentos retos definida por tantas líneas rectas
quantos sejam necessários para cuantas sean necesarias para
conservar a meia distância conservar la distancia media entre
entre os pontos principais das los puntos principales de las dos
duas margens ou, se o fundo for márgenes, o, si el fondo fuera
escasso, por tantos alinhamentos escaso, por tantas líneas rectas
retos quantos sejam necessários cuantas sean necesarias para
para acompanhar o canal acompañar el canal principal de
principal da referida lagoa. la referida laguna.
Da altura da citada ponta Desde la altura de la citada
Rabotieso, a linha divisória se punta Rabotieso, la línea divisoria
inclinará na direção do noroeste o se inclinará en la dirección del
que for preciso para passar entre noroeste lo que sea necesario para
as ilhas chamadas do Taquari pasar entre las islas llamadas del
deixando do lado do Brasil a ilha Tacuarí, dejando del lado del Brasil
mais oriental e os dois ilhotes la isla más oriental y los dos islotes
que lhe ficam juntos; e daí irá que á ella están juntos; y de ahí irá
alcançar, nas proximidades da alcanzar, en las proximidades de
ponta Parobé, também situada na la punta Parobé, también situada
margem uruguaia, o canal mais en la margen uruguaya, el canal
profundo, continuando por ele más hondo, continuando por él
até defrontar a ponta Muniz, na hasta enfrentar la punta Muniz,
margem uruguaia, e a ponta dos en la margen uruguaya, y la punta
Latinos, ou do Fanfa, na margem de los Latinos, o de Fanfa, en la
brasileira. margen brasileña.
Desse ponto intermédio, e Desde ese punto intermedio,
passando entre a ponta Muniz y pasando entre la punta Muniz
e a ilha brasileira do Juncal, irá y la isla brasileña del Juncal,

191
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

buscar a foz do Jaguarão, em que irá á buscar la embocadura del


se acham, à margem esquerda, Yaguarón, en la cual se hallan, en
ou brasileira, o Quinto Marco la margen izquierda, o brasileña,
grande, de 1853, e, à margem el Quinto Marco grande de 1853, y
direita, ou uruguaia, o Sexto en la margen derecha, o uruguaya,
Marco intermédio. el Sexto Marco intermedio.

Artigo 4o Artículo 4o

Da foz do Jaguarão subirá Desde la embocadura del


a fronteira pelo talvegue desse Yaguarón, subirá la frontera por
rio até a altura da confluência el talvegue de ese río hasta la
do arroio Lagoões, na margem altura de la confluencia del arroyo
esquerda. Lagooens, en la margen izquierda.
Desse ponto para cima, Desde ese punto hacia arriba,
a linha divisória seguirá a la línea divisoria seguirá la
meia distância das margens distancia media de las márgenes
do Jaguarão, depois, a meia del Yaguarón, después, la distancia
distância das do Jaguarão media de las del Yaguarón Chico ó
Chico ou Guabiju, em cuja Guabijú, en cuya confluencia está
confluência está o Sexto Marco el Sexto Marco grande, de 1853, y,
grande, de 1853, e finalmente finalmente, subirá por el lecho del
subirá pelo álveo do arroio da arroyo de la Mina, señalado por
Mina, assinalado pelos Marcos el Marcos intermedio Séptimo y
intermédios Sétimo e Oitavo. Octavo.

Artigo 5o Artículo 5o

Uma Comissão Mista, Una Comisión Mixta,


nomeada pelos dois governos nombrada por los dos Gobiernos en
no prazo de um ano contado el plazo de un año contado desde el
do dia da troca das ratificações día del canje de las ratificaciones del
do presente tratado, levantará a presente tratado, levantará la planta
planta da parte da lagoa Mirim de la parte de la laguna Merín que se
que se estende ao sul da ponta extiende al sur de la punta del Juncal,
do Juncal, e também a planta do y también la planta del río Yaguarón
rio Jaguarão desde a sua foz até desde su embocadura hasta el

192
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

a do arroio Lagoões, efetuando arroyo Lagooens, efectuando los


as sondagens necessárias, além sondajes necesarios además de
das operações topográficas e las operaciones topográficas y
geodésicas indispensáveis para a geodésicas indispensables para la
determinação da nova fronteira, e determinación de la nueva frontera y
balizando-a na lagoa segundo os abalizándola en la laguna según los
processos mais convenientes. procedimientos más convenientes.

Artigo 6o Artículo 6o

A navegação da lagoa La navegación de la laguna


Mirim e do rio Jaguarão é livre Merín y río Yaguarón es libre para
para os navios mercantes das los buques mercantes de las dos
duas nações e para os orientais naciones, y para los orientales
é também livre o trânsito entre es libre también el transito entre
o oceano e a lagoa Mirim, el océano y la laguna Merín, por
pelas águas brasileiras do rio las aguas brasileñas del río San
São Gonçalo, lagoa dos Patos Gonzalo, laguna de los Patos
e barra do Rio Grande de São y barra de Rio Grande de San
Pedro, ficando sujeitos, os Pedro, quedando sujetos, los
navios brasileiros e orientais, buques brasileños y orientales, en
nas águas jurisdicionais de cada las aguas jurisdiccionales de cada
uma das duas Repúblicas, aos una de las das Repúblicas, a los
regulamentos fiscais e de polícia reglamentos fiscales y de policía
que elas tenham estabelecido que ellas hayan establecido o
ou venham a estabelecer, e vengan a establecer, y obligados
obrigados os navios orientais los buques orientales en tránsito
em trânsito às mesmas taxas que a los mismos tributos que los
os brasileiros. brasileños.
Os navios de comércio Los buques mercantes
empregados nessa navegação só empleados en esa navegación
poderão no outro país comunicar- solo podrán en el otro país
se com a terra, salvo caso de comunicarse con la tierra, salvo
força maior ou licença especial, caso de fuerza mayor o licencia
nos lugares em que haja postos especial, en los lugares en que
aduaneiros ou estações fiscais e haya puestos aduaneros u oficinas
de polícia. fiscales y de policía.

193
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Artigo 7o Artículo 7o

Fica entendido e declarado Queda entendido y


que na liberdade de navegação declarado que en la libertad de
para o comércio entre os dois navegación para el comercio
países não se compreende o entre los dos países no se
transporte de mercadorias de comprende el transporte de
porto a porto do mesmo país, mercaderías de puerto a puerto
ou comércio de cabotagem, o del mismo país, o comercio de
qual continuará sujeito em cada cabotaje, el cual continuará
um dos dois Estados às suas sujeto en cada uno de los dos
respectivas leis. Estados a sus respectivas leyes.

Artigo 8o Artículo 8o

Dentro do prazo de seis Dentro del plazo de seis meses


meses, contados da troca das contados desde el canje de las
ratificações do presente tratado, ratificaciones del presente tratado,
cada uma das altas partes cada una de las Altas Partes
contratantes declarará à outra Contratantes comunicará a la otra
qual o porto ou quais os portos cual es el puerto o cuales son los
habilitados ou que pretenda puertos habilitados o que pretenda
habilitar para o comércio no rio habilitar para el comercio en el río
Jaguarão e na lagoa Mirim; e Yaguarón y en la laguna Merín; y
quando, posteriormente, resolva cuando posteriormente resuelva
habilitar mais algum ou alguns, habilitar alguno o algunos más
informará disso a outra parte informará de eso a la otra Parte
com a antecedência de seis con antecedencia de seis meses, a
meses, a fim de serem adotadas fin de ser adoptadas las medidas
as medidas convenientes para convenientes para evitar el
evitar o contrabando. contrabando.

Artigo 9o Artículo 9o

Os navios de guerra orientais Los buques de guerra


poderão transitar livremente pelas orientales podrán transitar
águas brasileiras entre o oceano e libremente en aguas brasileñas

194
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

a lagoa Mirim, e navegar, como entre el océano y la laguna Merín,


os brasileiros, o rio Jaguarão e a y navegar, como los brasileños, el
dita lagoa, ou estacionar em suas río Yaguarón y dicha laguna, o
águas. estacionarse en sus aguas.
Salvo circunstâncias extraor- Salvo circunstancias extraor-
dinárias, de que darão aviso dinarias, de que darán aviso
prévio uma à outra, as duas altas previo una a la otra, las dos Altas
partes contratantes obrigam-se Partes Contratantes se obligan a
a não manter na lagoa Mirim no mantener en la laguna Merín y
e seus afluentes mais de três sus afluentes más de tres pequeñas
pequenas embarcações de guerra, embarcaciones de guerra, o
ou armadas em guerra, devendo armadas en guerra, debiendo ser
ser objeto de ajuste especial o objeto de ajuste especial, el porte,
porte, armamento e guarnição das armamento y guarnición de las
mesmas. mismas.

Artigo10o Artículo 10o

Os dois Estados ribeirinhos, Los dos Estados ribereños, en el


no intuito de facilitar a navegação propósito de facilitar la navegación
da lagoa Mirim, comprometem- en la laguna Merín, se comprometen
se a manter ali as balizas e sinais a mantener allí balizas y señales que
que forem precisos na parte que a fueran necesarias en la parte que a
cada um corresponda. cada uno corresponda.

Artigo 11 Artículo 11

As altas partes contratantes Las Altas Partes Contratantes


concluirão no menor prazo concluirán en el menor plazo
possível um tratado de comércio e posible un Tratado de Comercio
navegação baseado nos princípios y Navegación basado en los
mais liberais, tendo em vista principios más liberales, teniendo
proteger do modo mais eficaz o en vista proteger del modo más
comércio lícito pelas fronteiras eficaz el comercio licito por las
fluviais e terrestres. fronteras fluviales y terrestres.
Os regulamentos fiscais e de Los reglamentos fiscales y
polícia de que anteriormente se de policía de que antes se habla

195
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

fala deverão ser tão favoráveis deberán ser tan favorables, cuanto
quanto seja possível à navegação sea posible, á la navegación y al
e ao comércio e guardar nos dois comercio, y guardar en los dos
países a praticável uniformidade. países la practicable uniformidad.

Artigo 12 Artículo 12

O presente tratado, mediante El presente tratado, mediante


a necessária autorização do Poder la necesaria autorización del Poder
Legislativo em cada uma das duas Legislativo en cada una de las
Repúblicas, será ratificado pelos Republicas, será ratificado por los
dois governos e as ratificações dos Gobiernos y las ratificaciones
trocadas na cidade do Rio de serán canjeadas en la ciudad de
Janeiro ou na de Montevidéu no Montevideo o en la de Rio de Janeiro
mais breve prazo possível. en el más breve plazo posible.

Em fé do que nós, os En fe de lo cual, nosotros,


plenipotenciários anteriormente los plenipotenciarios antes
nomeados, firmamos o presente nombrados, firmamos el presente
tratado em dois exemplares, cada tratado en dos ejemplares, cada
um nas línguas portuguesa e uno en los idiomas castellano y
castelhana, apondo em ambos o portugués, poniendo en ambos la
sinal de nossos selos. señal de nuestros sellos.
Feito na cidade do Rio de Hecho en la ciudad del Rio
Janeiro, em 30 de outubro de de Janeiro á los 30 de Octubre de
1909. 1909.

(L. S.) Rio Branco (L. S.) Rufino T. Dominguez


(L. S.) Rufino T. Domínguez (L. S.) Rio Branco

196
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

No 1

Bases apresentadas pelos plenipotenciários brasileiros na II


Conferência com o plenipotenciário oriental realizada na manhã de
4 de outubro de 1851

A linha divisória entre o Brasil e o Estado Oriental começa no


oceano na boca do arroio Chuí e sobe por ele o espaço de meia légua;
desse ponto, tira-se uma reta a procurar as primeiras vertentes do arroio
Palmar, atravessando com esta linha o arroio São Miguel; desce pelo
dito arroio Palmar até a sua junção com o São Luiz e por este até a lagoa
Mirim ou Miní, circulando-a pela sua margem ocidental na altura das
máximas águas até a boca do Jaguarão.
Da boca do Jaguarão segue a linha pela margem direita do dito rio
até o galho que do oeste começa nas vizinhanças dos Serros de Aceguá;
continua subindo por esse galho até as abas do norte dos ditos serros, no
ponto em que se houver demarcado.
Desse ponto se tirará uma reta a cortar o rio Negro em frente
ao arroio São Luís; continuará por esse arroio e suas vertentes até
ganhar a coxilha de Santana. Segue por essa coxilha, pelo mais
alto, por onde as águas do Santa Maria, que pertencem ao Brasil,
se dividem das do arroio Taquarembó grande, que pertencem ao
Estado Oriental.
Seguindo pela coxilha de Santana, ganha a coxilha de Haedo ou
Lunarejo e desta ganha a coxilha de Tacumbu, chamada pelos orientais
de Santa Rosa de Belém, ou Três Cerros; segue pela dita coxilha até
terminar, e daí, por uma reta, até a embocadura do Quaraí, pertencendo
assim todas as águas vertentes do Quaraí ao Brasil, e todas as águas
vertentes do Arapeí ao Estado Oriental.
O Estado Oriental reconhece a posse do Brasil ao exclusivo
da navegação nas águas da lagoa Mirim e nas do Jaguarão, e para
segurança desse exclusivo concede ao Brasil meia légua de terra em
uma das margens da embocadura do Cebollatí que for designada
pelo comissário do governo imperial, e outra meia légua em uma
das margens da embocadura do rio Taquari, designada pelo mesmo
comissário para que o governo imperial possa aí ter portos onde
possam chegar as embarcações brasileiras que navegarem na lagoa

197
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Mirim e as orientais que descerem pelos rios, em cujas embocaduras


estiveram esses portos.
Imediatamente depois da ratificação do presente tratado, o governo
imperial e o do Estado Oriental nomearão cada um seu comissário
para correrem as linhas e marcarem os pontos da divisa entre os dois
países que sejam precisos em conformidade dos artigos antecedentes.
Rio, 4 de outubro de 1851.

No 2

Contraprojeto apresentado pelo plenipotenciário oriental na


II Conferência, realizada na noite de 4 de outubro de 1851

Artigo 1o

Ambas altas partes contratantes convêm em declarar rompidos


e de nenhum valor e efeito, desde hoje e para o futuro, os diversos
tratados e atos em que se fundavam os direitos territoriais que foram
discutidos e pretendidos até agora na demarcação de seus limites; e
querem que essa renúncia geral se entenda muito especialmente feita
daqueles que o Império do Brasil deduzia da Convenção celebrada
em Montevidéu, com a Câmara Municipal governadora, em 30 de
janeiro de 1819, e dos que a República Oriental do Uruguai derivava
da reserva contida no fim do artigo 2o do Tratado de Incorporação de
31 de julho de 1821.

Artigo 2o

Ambas altas partes contratantes convêm em reconhecer mutuamente


como base do acordo sobre seus limites o uti possidetis, já designado
no citado artigo 2o do Tratado de Incorporação de 31 de julho de 1821,
nos seguintes termos:
A leste, o oceano; ao sul, o rio da Prata; a oeste, o Uruguai; ao norte,
o rio Quaraí, até a coxilha de Santana, dividida pelo rio de Santa Maria

198
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

e, por essa parte, o arroio Taquarembó Grande, seguindo às pontas do


Jaguarão, entra na lagoa Mirim e passa pela ponta de São Miguel a
tomar o Chuí, que entra no oceano.

Artigo 3o

Não compreendendo os termos gerais dessa designação os detalhes


necessários em alguns pontos para que se possa determinar bem o
curso da linha divisória; desejando evitar, no futuro, as diferenças
que existem ou que possam existir por essa razão e, ao mesmo tempo,
corrigir algumas irregularidades da linha, que prejudicam sua vigilância
e segurança e que são suscetíveis de ser corrigidas sem alteração que
mereça ser mencionada, com base no uti possidetis, ambas altas partes
contratantes convêm em esclarecer e retificar sua linha fronteiriça da
seguinte maneira:
1o Da embocadura do arroio Chuí, no oceano, a linha subirá meia
légua (aproximadamente 3,3 km) por ele. Desse ponto, se tirará uma
reta que, passando ao norte do forte de São Miguel, vá encontrar o
trecho mais próximo do arroio Palmar, atravessando com essa linha o
arroio São Miguel, descerá pelo dito arroio do Palmar até sua união com
o arroio São Luís e por este até a lagoa Mirim; circulará da margem
ocidental desta lagoa na altura das águas mais elevadas até a foz do
Jaguarão.
2o Da foz do Jaguarão a linha seguirá pela margem direita do dito
rio seguindo a linha prática atual até enfrentar a altura da foz do arroio
São Luís no rio Negro. Deste ponto, se tirará uma linha reta à dita foz
do arroio São Luís e continuará por ele até ganhar a coxilha de Santana.
3o Chegada à coxilha de Santana, a linha prática atual continuará
até a foz do Quaraí no Uruguai.

Artigo 4o

Reconhecendo que o Brasil tem a posse exclusiva da lagoa Mirim e


que deve mantê-la, com base no uti possidetis, adotado para chegar a um
acordo final e amigável; e reconhecendo a conveniência de que tenha portos

199
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

nela para a regularidade e o fomento do comércio que os navios brasileiros


que a naveguem façam e os orientais que desçam pelas embocaduras dos
rios em que estejam esses portos, a República Oriental do Uruguai convém
em ceder ao Brasil, para o fim indicado, meia légua (aproximadamente 3,3
km) de terreno em uma das margens do Cebollatí, que for designada pelo
comissário do governo imperial, e outra meia légua em uma das margens
do Taquari, que for designada pelo mesmo comissário.

Artigo 5o

Imediatamente depois de ratificado o presente tratado, os dois governos


nomearão seus respectivos comissários, para que sem demora etc.
Rio de Janeiro, 4 de outubro de 1851.

No 3

Tratado de Limites entre o Brasil e a República Oriental do Uruguai,


assinado no Rio de Janeiro a 12 de outubro de 185126

(Texto em português com a (Texto espanhol com a ratificação


ratificação brasileira) uruguaia)

Nós, o imperador Nos, Joaquín Suárez,


constitucional e defensor presidente interino de la República
perpétuo do Brasil, Oriental del Uruguay,
Fazemos saber a todos os que A todos los que el presente
a presente carta de confirmação, vieren hacemos saber:
aprovação e ratificação virem Que habiendo visto y
que, aos 12 dias do mês de examinado detenidamente el
outubro do ano de 1851, se Tratado sobre Limites del Territorio
concluiu e assinou nesta corte do de la República y del Imperio
Rio de Janeiro pelos respectivos ajustado y concluido en doce de
26 
Ratificado pelo imperador dom Pedro II a 13 de outubro e pelo presidente interino da República
Oriental do Uruguai, Joaquín Suárez, a 4 de novembro de 1851. As ratificações foram trocadas
em Montevidéu a 11 de novembro do mesmo ano entre o ministro do Brasil, conselheiro
Rodrigo de Sousa da Silva Pontes, e o das Relações Exteriores, Manuel Herrera y Obes.

200
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

plenipotenciários, munidos dos Octubre del corriente año, entre


necessários plenos poderes, um nuestro Ministro Plenipotenciario
tratado de limites entre o Brasil e en la corte del Rio de Janeiro y los
a República Oriental do Uruguai, de Su Majestad el Emperador del
cujo teor é o seguinte: Brasil, debidamente autorizados
Em nome da Santíssima e al efecto, y cuyo tenor copiado a
Indivisível Trindade, la letra, es como sigue:
Sua majestade o imperador En nombre de la Santísima e
do Brasil e o presidente da Indivisible Trinidad.
República Oriental do Uruguai, El presidente de la República
convencidos de que não é Oriental del Uruguay y Su
possível estabelecer uma aliança Majestad el Emperador del Brasil
sincera e duradoura entre os dois convencidos de que no es posible
países sem remover quanto ser establecer una alianza sincera y
possa todo o motivo de ulterior duradera entre los dos países, sin
desavença; reconhecendo que a remover, en cuanto ser pueda, todo
questão acerca de seus limites motivo de ulterior desavenencia;
é das mais graves e, por isso, reconociendo que la cuestión
que um ajuste definitivo a esse acerca de sus limites es de las más
respeito tem grande importância, graves, y que por consiguiente un
para servir de base a todos ajuste definitivo a ese respecto,
os outros arranjos e acordos tiene grande importancia para
que exigem as suas relações e servir de basa a todos los otros
interesses comuns, convieram arreglos y acuerdos que exigen sus
em celebrar o presente tratado e relaciones e intereses comunes,
nomearam para esse fim por seus convinieron en celebrar el presente
plenipotenciários, a saber: tratado, y nombraron para ese fin
Sua majestade o imperador por sus Plenipotenciarios a saber:
do Brasil aos ilustríssimos El presidente de la República
e excelentíssimos senhores Oriental del Uruguay al señor
Honório Hermeto Carneiro Leão, Abogado don Andrés Lamas,
do seu Conselho e do de Estado, Enviado Extraordinario y Ministro
senador do Império, grã-cruz Plenipotenciario de la misma
da Ordem de Cristo e oficial da República cerca de Su Majestad el
Imperial do Cruzeiro, e Antônio Emperador del Brasil.
Paulino Limpo de Abreu, do seu Y Su Majestad el Emperador
Conselho e do de Estado, senador del Brasil a los Ilustrísimos y

201
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

do Império, dignitário da Ordem Excelentísimos señores Honorio


Imperial do Cruzeiro e cavaleiro Hermeto Carneiro Leão, de su
da de Cristo. Consejo y del de Estado, Senador
E o presidente da República del Imperio, Gran-Cruz de la
Oriental do Uruguai ao senhor Orden de Cristo y Oficial de la
advogado dom Andrés Lamas, Imperial del Cruzero, y Antonio
enviado extraordinário e ministro Paulino Limpo de Abreu, de su
plenipotenciário da mesma Consejo y del de Estado, Senador
República junto de sua majestade del Imperio, Dignitario de la Orden
o imperador do Brasil; os quais, Imperial del Crucero y Caballero de
depois de terem trocado os seus la de Cristo; los cuales, después de
plenos poderes respectivos, que haber canjeado sus Plenos Poderes
foram achados em boa e devida respectivos que fueron hallados en
forma, convieram nos artigos buena y debida forma, convinieron
seguintes: en los artículos siguientes:

Artigo 1o Artículo 1o

As duas altas partes Las dos Altas Partes


contratantes, convencidas do Contratantes convencidas de
quanto importa às suas boas cuanto importa a sus buenas
relações chegarem a um acordo relaciones llegar a un acuerdo
sobre as suas respectivas sobre sus respectivas fronteras,
fronteiras, convêm em convienen en reconocer rotos
reconhecer rotos e de nenhum y de ningún valor los diversos
valor os diversos tratados tratados y actos en que fundaban
e atos em que fundavam os los derechos territoriales
direitos territoriais, que têm que han pretendido hasta el
pretendido até o presente na presente en la demarcación
demarcação de seus limites, e de sus limites; y en que esta
em que esta renúncia geral se renuncia general se entienda
entenda muito especialmente muy especialmente hecha de
feita dos que derivava o Brasil los que derivaba el Brasil de
da Convenção celebrada em la Convención celebrada en
Montevidéu com o cabildo Montevideo con el Cabildo
governador em 30 de janeiro Gobernador en 30 de Enero de

202
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

de 1819, e dos que derivava a 1819 y de los que derivaba la


República Oriental do Uruguai República Oriental del Uruguay
da reserva contida no final de la reserva contenida en
da cláusula 2 a do Tratado de el final de la clausula 2a del
Incorporação de 31 de julho de Tratado de Incorporación de 31
1821. de julio de 1821.

Artigo 2o Artículo 2o

As altas partes contratantes Las Altas Partes Contratantes


reconhecem como base que reconocen como basa que debe
deve regular seus limites o uti reglar sus límites el uti possidetis,
possidetis, já designado na ya designado en la dicha clausula
dita cláusula 2a do Tratado de 2a del Tratado de Incorporación
Incorporação de 31 de julho de de 31 de julio de 1821 en los
1821, nos termos seguintes: términos siguientes:
Pelo leste, o oceano; pelo Por el leste, el océano; por
sul, o rio da Prata; pelo oeste, el Sur, el río de la Plata; por el
o Uruguai; pelo norte o rio oeste, el Uruguay; por el norte el
Quaraí até a coxilha de Santana, río Cuareim hasta la cuchilla de
que divide o rio de Santa Santana, que divide el río de Santa
Maria, e por esta parte o Arroio María, y por esta parte el arroyo
Taquarembó grande, seguindo Tacuarembó-Grande; siguiendo
as pontas do Jaguarão, entra na a las puntas del Yaguarón, entra
lagoa Mirim, e passa pelo Pontal en la laguna Merín y pasa por el
de São Miguel a tomar o Chuí, Puntal de San Miguel a tomar el
que entra no oceano. Chuy que entra en el océano.

Artigo 3o Artículo 3o

Não compreendendo os No comprendiendo los


termos gerais dessa designação términos generales de esta
as especialidades necessárias designación las especialidades
em alguns lugares, para que se necesarias en algunos lugares,
possa bem determinar o curso para que se pueda determinar

203
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

da linha divisória; desejando as bien el curso de la línea divisoria;


altas partes contratantes evitar deseando las Altas Partes
as contestações que existem ou Contratantes evitar las dificultades
possam existir por esse motivo, que existen o pueden existir por
ou corrigir ao mesmo tempo ese motivo, y corregir al mismo
algumas irregularidades da linha tiempo algunas irregularidades de
que prejudicam a sua polícia e la línea que perjudican su policía
segurança, e que são suscetíveis y seguridad, y que son susceptibles
de ser corrigidas sem alteração de ser corregidas sin alteración
importante da base do uti importante de la basa del uti
possidetis, convém em declarar, possidetis, convienen en declarar
declaram e retificam a linha y declaran y rectifican la línea
divisória da maneira seguinte: divisoria de la manera siguiente:
1o Da embocadura do arroio 1o De la embocadura del
Chuí no oceano subirá a linha arroyo Chuy en el océano subirá
divisória pelo dito arroio na la línea divisoria por el dicho
extensão de meia légua, e do arroyo en la extensión de media
ponto em que terminar a meia legua, y del punto en que termine
légua, tirar-se-á uma reta, que, la media legua se tirará una
passando pelo sul do forte de recta que pasando por el sur del
São Miguel, e atravessando Fuerte San Miguel y atravesando
o arroio desse nome, procure el arroyo de ese nombre, busque
as primeiras pontas do arroio las primeras puntas del arroyo
Palmar. Das pontas do arroio Palmar. De las puntas del arroyo
Palmar descerá a linha pelo dito Palmar descenderá la línea por
arroio até encontrar o arroio el dicho arroyo hasta encontrar el
que a carta do visconde de São arroyo que la carta del Vizconde de
Leopoldo chama “São Luís” e San Leopoldo llama “San Luís” y
a carta do coronel engenheiro la carta del Coronel Ingeniero don
José Maria Reyes chama de José María Reyes llama “India
“India Muerta”, e por este Muerta”, y por este descenderá
descerá até a lagoa Mirim;27 e hasta la laguna Merín; y circulará

27 
Esta primeira parte da fronteira foi modificada pelo artigo 1o do Tratado de 15 de maio de
1852, explicado pela nota de 24 de fevereiro de 1853, da legação do Brasil em Montevidéu,
e pelo Acordo de 22 de abril do mesmo ano de 1853. Pelo Tratado de 15 de maio de 1852,
o Brasil fez ao Uruguai implícita retrocessão do território entre os arroios de São Miguel,
Palmar e San Luis. Ver a nota ao artigo 1o do Tratado de 1852.

204
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

circulará a margem ocidental la margen occidental de ella en la


dela na altura das maiores águas altura de las mayores aguas hasta
até a boca do Jaguarão. la boca del Yaguarón;
2o Da boca do Jaguarão 2o De la boca del Yaguarón
seguirá a linha pela margem seguirá la línea por la margen
direita do dito rio, acompanhando derecha de dicho río, siguiendo el
o galho mais ao sul, que tem sua gajo mas al Sur que tiene su origen
origem no vale de Aceguá e serros en la cañada de Aceguá y cerros
do mesmo nome; do ponto dessa del mismo nombre: del punto de
origem tirar-se-á uma reta que ese origen se tirará una recta que
atravesse o rio Negro em frente da atraviese el río Negro en frente de la
embocadura do arroio São Luís, e embocadura del arroyo San Luis y
continuará a linha divisória pelo continuará la línea divisoria por el
dito arroio de São Luís acima dicho arroyo San Luís arriba hasta
até ganhar a coxilha de Santana; ganar la cuchilla de Santana; sigue
segue por esta coxilha e ganha a de por esa cuchilla y gana la de Haedo
Haedo até o ponto em que começa hasta el punto en que comienza
o galho do Quaraí denominado el gajo del Cuareim denominado
arroio da Invernada pela carta do arroyo de la Invernada por la carta
visconde de São Leopoldo, e sem del Vizconde de San Leopoldo y
nome na carta do coronel Reyes, e sin nombre en la carta del coronel
desce pelo dito galho até entrar no Reyes; y desciende por el dicho
Uruguai; pertencendo ao Brasil a gajo hasta entrar en el Uruguay;
ilha ou as ilhas que se acham na perteneciendo al Brasil la Isla ó Islas
embocadura do dito rio Quaraí que se hagan en la embocadura del
no Uruguai. dicho río Cuareim en el Uruguay.

Artigo 4o Artículo 4o

Reconhecendo que o Brasil Reconociendo que el Brasil


está na posse exclusiva da está en la posesión exclusiva de la
navegação da lagoa Mirim e rio navegación de la laguna Merín y río
Jaguarão, e que deve permanecer Yaguarón y que debe permanecer
nela, segundo a base adotada do en ella según la basa adoptada
uti possidetis, admitida com o del uti possidetis, admitida con
fim de chegar a um acordo final e el fin de llegar a un acuerdo

205
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

amigável, e reconhecendo mais a final y amigable; y reconociendo,


conveniência de que tenha portos, además, la conveniencia de que
onde as embarcações brasileiras tenga puertos donde puedan entrar
que navegam na lagoa Mirim las embarcaciones brasileras
possam entrar, e igualmente as que navegan en la laguna Merín
orientais que navegarem nos rios e igualmente las orientales que
em que estiverem esses portos, a naveguen los ríos en que estuvieren
República Oriental do Uruguai esos puertos, la República
convém em ceder ao Brasil em Oriental del Uruguay conviene en
toda a soberania, para o indicado ceder al Brasil en toda soberanía,
fim, meia légua de terreno em para el indicado fin, media legua
uma das margens da embocadura de terreno en una de las márgenes
do Cebollatí, que for designada del Cebollaty que fuere designada
pelo comissário do governo por el Comisario del Gobierno
imperial, e outra meia légua em Imperial y otra media legua en
uma das margens do Taquari una de las márgenes del Tacuarí
designada do mesmo modo, designada del mismo modo,
podendo o governo imperial pudiendo el Gobierno Imperial
mandar fazer nesses terrenos mandar hacer en esos terrenos
todas as obras e fortificações que todas las obras y fortificaciones
julgar convenientes.28 que juzgare convenientes.

Artigo 5o Artículo 5o

Imediatamente depois de Inmediatamente después de


ratificado o presente tratado, as ratificado el presente tratado las
duas altas partes contratantes dos Altas Partes Contratantes
nomearão cada uma um nombrarán cada una un
comissário para, de comum Comisario para que de común
acordo, procederem no termo acuerdo procedan en el termino
mais breve à demarcação da más breve a la demarcación de la
linha nos pontos em que for línea en los puntos en que fuere
necessária, de conformidade com necesaria, de conformidad con
as estipulações anteriores. las estipulaciones anteriores.
28 
Pelo artigo 2o do Tratado de 15 de maio de 1852, o Brasil desistiu dos dois terrenos que por
esta estipulação lhe ficavam pertencendo na confluência do Cebollatí e na do Taquari.

206
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Artigo 6o Artículo 6o

A troca das ratificações do El canje de las ratificaciones


presente tratado será feita em del presente tratado será hecho en
Montevidéu no prazo de 30 dias, Montevideo dentro del término de
ou antes, se for possível, contados treinta días o antes si fuere posible,
da sua data. contados desde el día de su data.
Em testemunha do En testimonio de lo
que nós, abaixo assinados cual, nos los abajo firmados,
plenipotenciários de sua Plenipotenciarios del presidente
majestade o imperador do Brasil de la República Oriental del
e do presidente da República Uruguay y de Su Majestad el
Oriental do Uruguai, em virtude Emperador del Brasil, en virtud
dos nossos plenos poderes, de nuestros plenos poderes,
assinamos o presente tratado com firmamos el presente tratado con
os nossos punhos, e lhe fizemos nuestra mano y le hicimos poner
pôr o selo de nossas Armas. el sello de nuestras Armas.

Feito na cidade do Rio de Hecho en la ciudad de Rio de


Janeiro aos doze dias do mês de Janeiro a los doce días del mes de
outubro do ano do nascimento de octubre del año del Nacimiento
nosso senhor Jesus Cristo de mil de Nuestro Señor Jesús Cristo mil
oitocentos e cinquenta e um. ochocientos cincuenta y uno.

(L. S.) Honório Hermeto (L. S.) Andrés Lamas


Carneiro Leão (L. S.) Honório Hermeto
(L. S.) Antônio Paulino Carneiro Leão
Limpo de Abreu (L. S.) Antônio Paulino Limpo
(L. S.) Andrés Lamas de Abreu

E, sendo-nos presente o Por tanto, y conformándonos


mesmo tratado, cujo teor fica con todas y cada una de sus
anteriormente inserido, e bem- estipulaciones, en virtud de las
visto, considerado e examinado facultades con que estamos
por nós tudo o que nele se investidos por la situación
contém, o aprovamos, ratificamos extraordinaria en que se encuentra
e confirmamos assim no todo, la República, hemos venido en

207
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

como em cada um de seus artigos aceptarlo, confirmarlo e ratificarlo,


e estipulações; e pela presente en todas sus partes, como por
o damos por firme e valioso lo presente acto lo hacemos,
para sempre, prometendo em fé prometiendo y empeñando nuestra
e palavra imperial, observá-lo fe y honor, en prenda de que lo
inviolavelmente e fazê-lo cumprir cumpliremos y observaremos ahora
e observar por qualquer modo que y siempre, y lo haremos observar
possa ser. fiel e inviolablemente.
Em testemunho e firmeza En fe de lo cual, firmamos
do sobredito, fizemos passar a el presente instrumento de
presente carta por nós assinada, ratificación sellado con el sello
passada com o selo das Armas do da las armas del Estado, y
Império, e referendada pelo nosso refrendado por nuestro Ministro
ministro e secretário de Estado Secretario de Estado en el
abaixo assinado. Departamento de Relaciones
Dada no Palácio do Rio de Exteriores, en Montevideo,
Janeiro aos treze dias do mês de capital de la República, a los
outubro do ano do nascimento de cuatro días del mes de noviembre
nosso senhor Jesus Cristo de mil del año de Nuestro Señor mil
oitocentos e cinquenta e um. ochocientos cincuenta y uno.

(L. S.) Pedro, imperador (L. S.) Joaquim Suarez


(com guarda) Manuel Herrera y Obes
Paulino José Soares de Souza

No 4

Nota do ministro oriental, Andrés Lamas, dirigida ao ministro dos


Negócios Estrangeiros do Brasil, conselheiro Paulino de Sousa 29

Sobre os artigos 3o e 4o do Tratado de Limites,


de 12 de outubro de 1851

Legação da República Oriental do Uruguai. Rio de Janeiro, 3 de


29 
A tradução desta nota apareceu no Relatório da Repartição dos Negócios Estrangeiros de
1852, p.20 e 21 do anexo F.

208
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

dezembro de 1851. No 161.


O governo da República Oriental do Uruguai encontrou algumas
dúvidas no Tratado de Limites celebrado com o do Império do Brasil
em 12 de outubro próximo passado que haveriam podido embaraçar sua
ratificação se a lealdade e o desinteresse que presidiram essas transações
não lhe dessem a segurança de que seriam satisfatoriamente explicadas
e resolvidas.
Com essa segurança, o ratificou lisamente e ordenou ao abaixo
assinado, enviado extraordinário e ministro plenipotenciário que, por
meio de notas reversais, solicitasse e consignasse o entendimento genuíno
e autêntico das estipulações sobre as quais recaíam suas dúvidas.
Ao submetê-las, em cumprimento dessa ordem, a sua excelência o
senhor senador Paulino José Soares de Souza, do Conselho de sua majestade,
ministro e secretário de Estado para os Negócios Estrangeiros, o abaixo
assinado tem a satisfação de reconhecer que lhe basta expor simplesmente
a razão e o objeto das cláusulas sobre as quais recaíram essas dúvidas,
para que fique patente o sentido em que se estenderam os negociadores do
tratado e, com isso, seu verdadeiro entendimento e aplicação.
1o Pelo § 2o do artigo 3o do tratado referido se declara que pertencem
ao Brasil a ilha ou as ilhas que se encontram na foz do Quaraí no Uruguai.
Ao se fazer essa declaração ficou subentendido, de acordo com
todos os princípios admitidos nas estipulações relativas à navegação das
águas comuns, que o Brasil não se serviria da ilha ou das ilhas da foz
do Quaraí para embaraçar ou impedir a livre-navegação dos ribeirinhos.
Todas as estipulações referentes à ilha de Martín García lhe são
rigorosamente aplicáveis; e devem ser-lhe aplicadas.
2o Pelo artigo 4o do mesmo tratado, a República Oriental do Uruguai
cede ao Brasil meia légua (aproximadamente 3,3 km) de terreno em
uma das margens da embocadura do Cebollatí na lagoa Mirim e outra
meia légua na foz do Taquari.
O artigo expressa claramente a finalidade dessa cessão:
“Reconhecendo a conveniência de que haja portos onde as embarcações
brasileiras que navegam na lagoa Mirim possam entrar e igualmente as
orientais que navegam nos rios onde estiverem esses portos”, o artigo
declara que a República Oriental do Uruguai convém em fazer a cessão
de que se trata, para o fim indicado.
O artigo autoriza a construção de obras e fortificações que o Brasil

209
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

julgue convenientes, mas que julgue convenientes para o fim indicado:


o contrário seria oposto à razão e ao objeto taxativamente expresso da
concessão.
Ainda que a letra do artigo não deixe a mínima dúvida sobre isso, o
abaixo assinado agregará que, ao se fazer essa concessão, só se teve em
vista dar segurança à navegação da lagoa e de seus afluentes, aos escritórios
dos portos e a depósitos que as empresas possam estabelecer neles.
Os ladrões que têm infestado esses lugares tiravam toda segurança
e haviam obrigado o Brasil a manter alguns pequenos barcos de guerra
nas águas da lagoa.
Temos, portanto, que, segundo a letra do artigo e segundo os
objetivos que se tiveram em vista ao redigi-lo, as obras e fortificações
do Brasil nas embocaduras do Cebollatí e do Taquari só podem ter como
objetivo a segurança desses dois portos.
Elas não podem servir para embaraçar a livre-navegação dos rios
orientais, em cuja embocadura se encontram, nem na guerra para
hostilizar os povos orientais.
Se (as obras e fortificações) servissem em tempo de paz para
embaraçar essa navegação, ou na guerra como um ponto estratégico
ofensivo, a concessão teria outro fim que não o único e muito claramente
expresso que o artigo lhe dá.
Isso é de uma evidência irrecusável, caso se atenda ao fim único da
concessão – dar portos à navegação –, ou aos princípios que regem a
interpretação dos tratados.
Mas como a matéria é grave, sua excelência o senhor Soares de
Souza convirá em que, desde que apareça um indício de dúvida, cabe
removê-la, estabelecendo autêntica e bem explicadamente a inteligência
do artigo correspondente; e, aplicando os princípios administrativos,
declarar desde agora, para evitar dificuldades e conflitos futuros, que as
obras e fortificações dos tais portos do Cebollatí e do Taquari não servirão
para embaraçar a navegação dos rios orientais em cujas embocaduras se
encontram e que, em caso de guerra – que Deus não haverá de permitir
– entre as partes contratantes, se considerarão neutralizados para que
possam assim preencher o fim único para que foram criados.
3o O mesmo artigo 4o do tratado reconhece o fato de que a posse
exclusiva da lagoa Mirim em que se encontra o Brasil e, de acordo
com a base do uti possidetis, admitida para chegar a um acordo, o

210
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

deixa com essa posse.


Em princípio, o Uruguai reconhece que já não tem direito à
navegação nas águas da lagoa Mirim. Mas esse reconhecimento não
exclui que possa obtê-la por concessão do Brasil.
Estabelecido assim o entendimento do artigo, nesse ponto, o abaixo
assinado declara haver entendido que o Brasil não teria dificuldade em
concordar com essa concessão, pela qual seria compensado pela da
navegação dos confluentes orientais, desenvolvendo assim o sistema que
adotaram para a mútua prosperidade dos dois países e para ligá-los, cada
dia mais, pelos vínculos de um contato íntimo, frequente e altamente
proveitoso para seus bem-entendidos interesses políticos e materiais.
O abaixo assinado espera que se, como crê, o governo de sua
majestade o imperador encontre correto o entendimento que dá aos três
pontos indicados e convém em que seja estabelecido e explicado nos
termos da presente nota, sua excelência o senhor Soares de Souza se
servirá declará-lo assim em resposta.
O abaixo assinado espera igualmente que o governo de sua majestade
convirá em que semelhante declaração se tenha por interpretação
autêntica do tratado, nos pontos de que trata, e que a considere com a
mesma força e vigor que inserida nele.
O abaixo assinado tem a honra de reiterar a sua excelência o senhor
Soares de Souza os protestos da sua mais distinta consideração.
Andrés Lamas

No 5.

Resposta do ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil,


conselheiro Paulino de Sousa, ao ministro oriental, Andrés Lamas30

Sobre os artigos 3o e 4o do Tratado de Limites


de 12 de outubro de 1851

Rio de Janeiro. Ministério dos Negócios Estrangeiros, 31 de


dezembro de 1851.

30 
Publicado no Relatório de 1852, p.20 do anexo F.

211
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

O abaixo assinado, do Conselho de sua majestade o imperador,


ministro e secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, recebeu a
nota que, em data de 3 do corrente, sob no 161, lhe dirigiu o senhor
dom Andrés Lamas, enviado extraordinário e ministro plenipotenciário
da República Oriental do Uruguai, relativa ao sentido de algumas
disposições do Tratado de Limites celebrado entre ambos os governos
em 12 de outubro próximo passado.
Expõe o senhor Lamas em primeiro lugar que, pelo § 2o do artigo
3 do dito tratado, se declara que pertencem ao Brasil a ilha ou as ilhas
o

que se encontrarem na embocadura do Quaraí, no Uruguai.


Ao fazer-se essa declaração, acrescenta o senhor Lamas, ficou
subentendido, de acordo com todos os princípios admitidos nas
estipulações relativas à navegação das águas comuns, que o Brasil não
se serviria daquela ilha ou ilhas para embaraçar ou impedir a navegação
dos ribeirinhos.
O abaixo assinado confirma da parte do governo imperial essa
inteligência, que torna aplicáveis aquelas ilhas às disposições relativas
à de Martín García, tanto quanto o exigir e admitir a diferença da sua
importância e posição, e a liberdade da navegação.
Expõe o senhor Lamas, em segundo lugar, que, pelo artigo 4o do
mesmo tratado, a República Oriental do Uruguai cede ao Brasil meia
légua de terreno em uma das margens da embocadura do Cebollatí na
lagoa Mirim, e outra meia légua na embocadura do Taquari. O artigo,
acrescenta o senhor Lamas, expressa claramente o fim dessa cessão.
Reconhecendo a conveniência de que haja portos onde as embarcações
brasileiras que navegam a lagoa Mirim possam entrar, bem como as
orientais que navegam os rios em que estiverem esses portos, o artigo
declara que a República Oriental convém em fazer a cessão de que se
trata, para o indicado fim.
Pelas razões que o senhor Lamas expõe, entende ele que essas
fortificações não podem servir, na paz, para embaraçar a livre-navegação
dos rios orientais, em cuja embocadura se encontram, e, na guerra, como
um ponto estratégico ofensivo.
O abaixo assinado entende também que é essa a inteligência do
citado artigo 4o, salvo sempre os casos em que a ofensiva seja parte da
defensiva.
Pelo que toca ao direito exclusivo de navegar as águas da lagoa

212
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Mirim, de que o Brasil estava de posse, e que o tratado reconheceu, o


abaixo assinado limitar-se-á a declarar que ele não tolhe que o Brasil,
por concessões especiais, admita debaixo de certas condições e certos
regulamentos policiais e fiscais, embarcações orientais a fazerem o
comércio nos portos daquela lagoa.
Concorde assim com o senhor Lamas, o abaixo assinado também
convém em que estas declarações sejam havidas como interpretação
autêntica do tratado, nos pontos por elas compreendidos, considerando-
se com a mesma força e vigor como se nele estivessem inseridas.
O abaixo assinado prevalece-se da oportunidade para reiterar
ao senhor Lamas as expressões da sua perfeita estima e distinta
consideração.
Paulino José Soares de Souza

Ao senhor dom Andrés Lamas, enviado extraordinário e ministro


plenipotenciário da República Oriental do Uruguai.

No 6.

Protocolo da Conferência que precedeu a assinatura do


Tratado de 15 de maio de 185231

Aos 15 dias do mês de maio de 1852, reuniram-se, na sala do despacho


do ministro das Relações Exteriores da República Oriental do Uruguai,
o respectivo plenipotenciário, doutor dom Florentino Castellanos, o
plenipotenciário do Império do Brasil, conselheiro Honório Hermeto
Carneiro Leão, e o plenipotenciário da Confederação Argentina, doutor
dom Luis José de la Peña, para efetuarem o ajuste final que, por acordo
tomado em conferências anteriores, se devia celebrar entre a República
Oriental e o Império, modificando algumas disposições do Tratado de
Limites de 12 de outubro do ano próximo passado, de modo que facilite
ao governo oriental a sua execução, removendo as dificuldades que se
suscitaram sobre o dito Tratado de Limites.
Aberta a conferência, disse o plenipotenciário brasileiro que,

31 
Publicado no Relatório de 1853, anexo A, no 1, p.1-3.

213
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

havendo-se já publicado nos diários Comercio del Plata e Oriental


a nota pela qual o governo oriental declarou considerar como fatos
consumados os Tratados e a Convenção celebrados entre a República e
o Império, em 12 de outubro do ano próximo passado, lhe interessava
manter como continuação da política do governo constitucional, e que
ele, plenipotenciário, considerava-se habilitado para celebrar um novo
tratado pelo qual fosse modificado o de limites pela forma em que se
expressou nas conferências anteriores e especialmente na de 12 do
corrente, e que consiste nas modificações seguintes:

1º. A linha do Chuí designada no § 1o do artigo 3o do menciona-


do Tratado de Limites será assim alterada: da embocadura do
arroio Chuí no oceano subirá a linha divisória pelo dito arroio
e daí passará pelo pontal de São Miguel até encontrar a lagoa
Mirim, e seguirá costeando sua margem ocidental até a boca do
Jaguarão, conforme o uti possidetis.

2º. Sua majestade o imperador do Brasil cederá do direito adquiri-


do à concessão feita ao Império, pelo mesmo Tratado de Limi-
tes, de duas meias léguas de terreno nas margens do Cebollatí
e Taquari.

Disse mais o plenipotenciário brasileiro que, no memorando


que apresentou na conferência do dia 12, observou não poder hoje
o governo imperial satisfazer-se com a simples declaração de que o
governo oriental reconhece por válidos todos os pactos de 12 de
outubro do ano próximo passado, e vai dar-lhes inteira execução. Que
desistiu da exigência que por este motivo fizera de serem os tratados
igualmente reconhecidos como válidos por um ato da Assembleia-Geral
da República, em consequência de se lhe haver assegurado que essa
exigência demoraria o ajuste das modificações do Tratado de Limites e
de ter o plenipotenciário argentino oferecido a garantia do seu governo,
não só quanto à ratificação do novo tratado por parte do governo
oriental, mas também quanto à sua exata execução e a dos tratados e
da convenção de 12 de outubro. Que, por conseguinte, propunha que
no Tratado de Modificações se estipulasse a aceitação dessa garantia tal
qual foi oferecida.

214
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

O plenipotenciário oriental declarou que acedia à estipulação


da garantia, sendo ela, porém, dada reciprocamente às duas partes
contratantes, nos termos expressos pelo plenipotenciário brasileiro.
Depois de alguma discussão, convieram os três plenipotenciários:
primeiro, em que o novo tratado teria por fundamento, no seu preâmbulo,
o desejo de sua majestade o imperador de facilitar ao governo oriental os
meios de cumprir as estipulações dos tratados e da convenção de 12 de
outubro, removendo as dificuldades que se suscitaram sobre o Tratado de
Limites; segundo, em que as novas estipulações conteriam unicamente
as modificações propostas pelo mesmo plenipotenciário brasileiro, e a
aceitação da garantia oferecida pelo plenipotenciário argentino, sendo
esta reciprocamente dada a ambas as partes contratantes; terceiro, em
que o ato da garantia ratificado pelo governo encarregado das Relações
Exteriores da Confederação Argentina seria entregue a cada uma das
partes contratantes, independentemente da troca das ratificações do
novo tratado, atenta à demora que teria a ratificação do governo oriental
por depender do concurso da respectiva Assembleia-Geral.
O plenipotenciário oriental pediu, e nisso convieram os plenipotenciários
brasileiro e argentino, que se consignasse neste protocolo que ele tinha
proposto em uma das conferências anteriores, que no novo tratado se
estipulasse também duas modificações relativas ao Tratado de Comércio
e Navegação de 12 de outubro, a saber: uma pela qual se fizesse comum
à República Oriental o uso da navegação da lagoa Mirim e seus afluentes,
assim como era o da navegação do Uruguai, alegando que nas ditas águas já
haviam navegado os cidadãos da República, e outra pela qual se concedesse
a todos os portos da República a isenção dos direitos de consumo concedida
a favor dos produtos de seus gados que forem exportados pela fronteira
para a Província de São Pedro do Rio Grande do Sul.
Pediu mais, no que também se conveio, que se consignasse a
resposta dada pelo plenipotenciário brasileiro a esta sua proposta.
A resposta do plenipotenciário brasileiro foi como segue:
Pelo que diz respeito à navegação da lagoa Mirim, disse que esta
disposição não pertencia ao Tratado de Comércio e sim ao de Limites,
na qual se reconhecia o exclusivo direito do Império à navegação dessa
lagoa por ser isto conforme a base adotada, do uti possidetis. E, negando,
pois, que embarcações orientais estivessem em posse dessa navegação,
disse que entendia não dever alterar nessa parte a base do dito Tratado

215
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

de Limites, por haver acedido a restabelecê-la nas duas disposições


contidas no § 1o do artigo 3o e em parte do artigo 4o. Que esta sua recusa
não devia, porém, entender-se como uma negativa absoluta por parte
do Brasil à concessão pedida, pois que subsistia a declaração feita pelo
ministro e secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros do Império,
em nota de 31 de dezembro do ano próximo passado, dirigida ao
ministro oriental dom Andrés Lamas, de que o exclusivo da navegação
das águas da referida lagoa, em cuja posse se achava o Brasil, como foi
reconhecido pelo tratado, o não impossibilitava de admitir, por meio
de concessões especiais, e debaixo de certas condições e regulamentos
policiais e fiscais, as embarcações orientais a fazer o comércio nos
portos da mesma lagoa.
Quanto a ampliar o favor concedido aos produtos da República que
forem exportados pela fronteira para a Província de São Pedro do Rio
Grande do Sul, observou que o favor concedido lhe parecia compensar
inteiramente o da isenção do imposto que pagava o gado em pé exportado
para a dita província. Que estender este favor a todos os portos da
República lhe parecia que seria muito prejudicial ao Império e destruiria
a reciprocidade, visto que os seus produtos importados no Estado Oriental
estão sujeitos aos mais altos direitos da respectiva tarifa. E acrescentou
que, sendo natural que em breve se celebrasse um tratado de comércio
com a Confederação Argentina, convinha reservar esse objeto para depois
da celebração desse tratado, porquanto estava persuadido de que, se o
governo imperial concedesse alguma diminuição de imposto, ou qualquer
outro favor dessa natureza para os produtos do gado da Confederação
Argentina, não duvidaria estender esse favor ao Estado Oriental.
O plenipotenciário oriental pediu, e assim se conveio, que se
declarasse, neste protocolo, que entre os artigos do Tratado de Aliança
que ele propôs ao plenipotenciário brasileiro, em outras conferências,
fossem reconsiderados, para serem modificados ou suprimidos,
achava-se o artigo em que a República Oriental se obriga a defender a
independência do Paraguai, mas não insistia na sua supressão, por ter
declarado o plenipotenciário argentino que o seu governo havia nomeado
um encarregado de negócios para essa República, cujo ato público já
era um reconhecimento indireto; e que, ademais, o plenipotenciário
argentino tinha motivos para acreditar que o dito encarregado de
negócios seria autorizado para reconhecer essa independência.

216
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

O plenipotenciário brasileiro disse que, além desses motivos que


o plenipotenciário oriental alega ter tido para desistir da sua pretensão,
havia que considerar, primeiramente, que o Estado Oriental tinha
reconhecido a independência dessa República, e, em segundo lugar,
que a estipulação relativa à defesa da independência do Paraguai era
recíproca, pois que o Paraguai, por um tratado celebrado com o Império,
estava também obrigado a defender a independência deste Estado.
O plenipotenciário brasileiro pediu, e nisso se conveio, que também
se consignasse que em seu memorando tinha ele proposto que no novo
tratado se estipulasse:

1º. que o governo oriental se obrigava a pagar todos os vencimen-


tos extraordinários de campanha percebidos pelas diferentes
praças do exército imperial, durante os meses de abril e maio,
em que permaneceu no Estado Oriental em consequência das
dúvidas suscitadas por parte do mesmo governo oriental sobre
a exequibilidade dos tratados.

2º. que reconhecia, como princípio, a obrigação de indenizar os


residentes e súbditos brasileiros dos danos e prejuízos causados
por dom Manoel Oribe e seus agentes, conforme a liquidação
que oportunamente se fizesse.

3º. que faria executar o contrato do seu ministro sobre armamentos


e munições celebrado com o súdito brasileiro Irinêo Evange-
lista de Souza 32 ou, pelo menos lhe garantiria, para seu paga-
mento, a percepção da quota das rendas da Alfândega, que o
governo precedente lhe havia designado e de lhe fora privado
pelo decreto de 30 de março último.

Pediu mais que se declarasse que desistia absolutamente da primeira das


três estipulações anteriormente mencionadas; que, a respeito da segunda,
acedia a que não entrasse no novo tratado sem, todavia, desistir do direito
que assistia ao governo imperial de reclamar oportunamente as referidas
indenizações; e que, quanto à terceira, entrou nas condições do ajuste final,

32 
Posteriormente visconde de Mauá.

217
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

mas que convinha em que não fosse incluída no novo tratado, sob a garantia
da promessa que lhe fez o plenipotenciário oriental de que o seu governo
atenderia ao direito desse súdito brasileiro conforme a justiça e equidade,
dando-se as providências necessárias para o seu pronto pagamento.
O plenipotenciário oriental ponderou, outrossim, que, além das
modificações feitas no Tratado de Limites, continham os Tratados
de Comércio, de Aliança e a Convenção de Subsídios alguns artigos
com estipulações de que o Império pode prescindir sem prejuízo seu,
e que, entretanto, ou porque já desaparecesse, ou porque pode vir a
desaparecer no futuro a conveniência para o Estado Oriental, sob cuja
influência foram feitas, era de desejar que fossem modificadas.
O plenipotenciário brasileiro respondeu que não se considerava
autorizado para fazer outras modificações além daquelas a que havia
acedido, e que se havia concordado fazer no Tratado de Limites. Entendia,
porém, que, desde que se houvesse restabelecido, como esperava que o
fosse, uma inteira confiança entre o seu governo e o governo oriental, pela
observância dos tratados e pela recíproca cordialidade e benevolência em
suas relações, o seu governo não teria dúvida em entrar em novos ajustes
com o governo oriental e em considerar aqueles artigos dos tratados cujas
disposições, sendo estipuladas especialmente em favor do dito Estado,
a mudança de circunstâncias ou outras justas razões demonstrassem a
vantagem para o mesmo Estado em suprimir ou em substituir por outras.
Finalmente, conveio-se em fazer-se extrair uma cópia legalizada
no tratado ajustado para ser entregue ao plenipotenciário argentino, a
fim de enviá-la ao seu governo para a expedição dos atos de garantia,
e que se tirassem duas cópias legalizadas deste protocolo, uma para o
plenipotenciário brasileiro e outra para o plenipotenciário uruguaio.
Lido o presente protocolo e achado conforme ao que se passou e foi
ajustado, deu-se a conferência por terminada.
E eu, oficial-maior do Ministério das Relações Exteriores, o
escrevi, por ordem de sua excelência o senhor ministro, na mesma data
anteriormente mencionada.
Florentino Castellanos
H. H. Carneiro Leão
Luis José de la Peña

O oficial maior de Relações Exteriores, Alberto Flangini.

218
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Cópia conforme ao protocolo original. O oficial-maior de Relações


Exteriores, Alberto Flangini.

No 7.

Tratado de 15 de maio de 1852, concluído em Montevidéu entre o Brasil


e a República Oriental do Uruguai modificando o § 1o do
artigo 3o e o artigo 4o do Tratado de Limites de 12 de outubro de 185133
(Texto em português com a ratificação brasileira)

Nós o imperador constitucional e defensor perpétuo do Brasil, etc.


fazemos saber a todos os que a presente Carta de Confirmação, aprovação
e ratificação virem que aos quinze dias do mês de maio do corrente ano
se concluiu e assinou na cidade de Montevidéu, entre este Império e
a República Oriental do Uruguai, pelos respectivos plenipotenciários,
munidos dos necessários plenos poderes, um tratado modificando o §
1o do artigo 3o, e artigo 4o do Tratado de Limites de 12 de outubro de
1851, pondo em pleno e inteiro vigor todas as demais estipulações deste
e dos de Aliança, Comércio e Navegação, e Extradição, e da Convenção
sobre subsídios, celebrados nesta corte entre os dois Estados, na mesma
data, sendo o dito tratado do teor seguinte:

Em nome da Santíssima e Indivisível Trindade,

Havendo sua majestade o imperador do Brasil e a República


Oriental do Uruguai celebrado, em doze de outubro do ano próximo
passado, quatro tratados e uma convenção de subsídios que, sendo
ratificados pelas duas altas partes contratantes, foram por ambas
executados em todos os artigos que imediatamente o podiam ser,
não obstante, depois do restabelecimento do governo constitucional
da República, se suscitaram dúvidas sobre a sua exequibilidade, as
quais felizmente desapareceram por um acordo amigável entre ambas

33 
Ratificado pelo imperador dom Pedro II a 10 de junho e pelo presidente da República Oriental
do Uruguai, Juan Francisco Giró, a 5 de julho de 1852. As ratificações foram trocadas na
corte do Rio de Janeiro a 12 de julho do mesmo ano. Publicado no Relatório de 1853, anexo
A, no 2, p.4-6.

219
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

as partes; e, por esse acordo, obtido com o concurso da mediação


espontânea e oficiosa do governo encarregado das Relações Exteriores
da Confederação Argentina, por meio do seu enviado extraordinário e
ministro plenipotenciário em Missão Especial junto à dita República,
doutor dom Luis José de la Peña, foi mantida por parte do governo
oriental a execução dos referidos tratados e convenção.
Em consequência, desejando sua majestade o imperador facilitar ao
governo da República Oriental os meios de cumprir as estipulações dos
ditos tratados e convenção, removendo as dificuldades que se suscitaram
sobre o Tratado de Limites, acordou em fazer modificações no dito
tratado; e para esse fim as duas altas partes contratantes nomearam seus
plenipotenciários, a saber:
Sua majestade o imperador do Brasil, ao excelentíssimo senhor
conselheiro Honório Hermeto Carneiro Leão, seu enviado extraordinário
e ministro plenipotenciário em Missão Especial junto ao governo
Oriental do Uruguai.
E a República Oriental do Uruguai, ao excelentíssimo senhor
doutor dom Florentino Castellanos, ministro e secretário de Estado das
Relações Exteriores da mesma República.
Os quais, depois de haverem trocado os seus plenos poderes
respectivos, que foram achados em boa e devida forma, convieram nos
artigos seguintes:

Artigo 1o

O § 1o do artigo 3o do Tratado de Limites fica alterado do seguinte


modo: da embocadura do arroio Chuí, no oceano, subirá a linha divisória
pelo dito arroio, e daí passará pelo pontal de São Miguel até encontrar a
lagoa Mirim, e seguirá costeando a sua margem ocidental até a boca do
Jaguarão conforme o uti possidetis.34

34 
A modificação contida neste artigo, e explicada no Acordo de 22 de abril de 1853, importou
em ceder o Brasil à República Oriental o território, que esta reconhecera como brasileiro no
tratado anterior, entre os arroios de São Miguel, Palmar e São Luís. As ruínas do antigo forte
português de São Miguel, que pelo Tratado de 1851 estariam em território brasileiro, ficaram
por este Tratado de 1852, e pela demarcação subsequente, pertencendo à República Oriental.

220
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Artigo 2o

O artigo 4o do referido tratado fica modificado somente na parte


em que se cede ao Brasil, em toda a soberania, meia légua de terreno
em uma das margens da embocadura do Cebollatí, que for designada
pelo comissário do governo imperial; e outra meia légua em uma
das margens do Taquari, designada do mesmo modo; convindo sua
majestade o imperador em desistir formalmente, como desiste, do direito
adquirido a essa concessão que deverá verificar-se pela designação do
seu comissário.

Artigo 3o

Todos os mais artigos do referido Tratado de Limites, bem


como todos os mais dos de Aliança, de Comércio e Navegação, e
de Extradição, e da Convenção de Subsídios, ficam em seu pleno e
inteiro vigor. E ambas as partes contratantes convêm em aceitar a
garantia que espontaneamente ofereceu o ministro plenipotenciário
da Confederação Argentina, por parte do governo encarregado das
Relações Exteriores da dita confederação, consistindo essa garantia
em que, por parte de sua majestade o imperador, serão aprovadas
e ratificadas as modificações estipuladas no presente tratado, e
por parte do governo oriental serão também ratificadas as ditas
modificações de conformidade com sua respectiva Constituição,
e os Tratados e Convenção de Subsídios de 12 de outubro do ano
passado, serão exatamente cumpridos e observados pelas duas altas
partes contratantes, com as referidas modificações ou outras que
para o futuro possam ser feitas por mútuo acordo das mesmas altas
partes contratantes.

Artigo 4o

A troca das ratificações do presente tratado será feita na cidade do


Rio de Janeiro no prazo de 60 dias, ou antes, se for possível; e o Ato
de Garantia será dado pelo ministro plenipotenciário da Confederação

221
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Argentina, com a ratificação do excelentíssimo senhor governador e


capitão-general da província de Entre Rios, encarregado das Relações
Exteriores da mesma Confederação, no termo mais breve que for
possível, a cada uma das duas partes contratantes, independentemente
da dita troca de ratificações.
Em testemunho do que nós, os abaixo assinados,
plenipotenciários de sua majestade o imperador do Brasil e da
República Oriental do Uruguai, em virtude de nossos plenos
poderes, assinamos o presente tratado com os nossos punhos, e lhe
fizemos por o selo de nossas Armas.
Feito na cidade de Montevidéu, aos quinze dias do mês de maio
do ano do nascimento de nosso senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e
cinquenta e dois.

(L. S.) Honório Hermeto Carneiro Leão


(L. S.) Florentino Castellanos

E sendo-nos presente o mesmo tratado, cujo teor fica anteriormente


inserido, e bem-visto e examinado por nós tudo o que nele se contém, e
aceitando por nossa parte o Ato de Garantia oferecida espontaneamente
pelo governo encarregado das Relações Exteriores da Confederação
Argentina, e por este ratificado em 19 do mês de maio próximo passado,
nos termos estipulados no artigo 3o do dito tratado, o aprovamos,
ratificamos e confirmamos assim no todo, como em cada um de seus
artigos e estipulações, e pela presente o damos por firme e valioso para
sempre; prometendo em fé e palavra imperial observá-lo e cumpri-lo
inviolavelmente e fazê-lo cumprir e observar por qualquer modo que
possa ser.
Em testemunho e firmeza do que fizemos passar a presente carta
por nós assinada, selada com o selo grande das Armas do Império, e
referendada pelo nosso ministro e secretário de Estado abaixo assinado.
Dada no Palácio do Rio de Janeiro, aos dez dias do mês de junho de
mil oitocentos e cinquenta e dois.

(L. S.) Pedro, imperador (com guarda)


Paulino José Soares de Souza

222
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

No 7 A.

Tratado de 15 de maio de 1852, celebrado entre o Brasil e a


República Oriental do Uruguai, modificando o § 1o do artigo 3o e o
artigo 3o e o artigo 4o do que fora celebrado com a mesma República
em 12 de outubro de 185135
(Texto com a ratificação uruguaia)

Nós, Juan Francisco Giró, presidente da República Oriental do


Uruguai,

Aos que o presente virem fazemos saber:


Que, havendo visto e examinado detidamente o tratado que, para
modificar o de limites assinado em 12 de outubro do ano próximo
passado, se ajustou e se concluiu, em 15 de maio último, entre nosso
plenipotenciário e o de sua majestade o imperador do Brasil nesta
cidade, devidamente autorizados para aquele fim, e cujo teor, copiado
literalmente, é como segue:
Em nome da Santíssima e Indivisível Trindade,
Havendo celebrado a República Oriental do Uruguai e sua
majestade o imperador do Brasil, em 12 de outubro do ano próximo
passado, quatro tratados e uma convenção de subsídios, que, havendo
sido ratificados pelas duas altas partes contratantes, foram executados
por ambas em todos os artigos que puderam sê-lo imediatamente.
Não obstante, depois do restabelecimento do governo constitucional
da República, se suscitaram dúvidas sobre sua exequibilidade, que
desapareceram felizmente por acordo amigável entre ambas as
partes e, por esse acordo, obtido com a interveniência da mediação
espontânea e oficiosa do governo encarregado das Relações Exteriores
da Confederação Argentina, por meio de seu enviado extraordinário e
ministro plenipotenciário em Missão Especial, o doutor dom Luis José
de la Peña, se manteve, por parte do governo oriental, a execução dos
referidos tratados e convenção.
Em consequência, desejando sua majestade o imperador facilitar
ao governo da República Oriental do Uruguai os meios para cumprir
35 
Publicado no Relatório da Repartição dos Negócios Estrangeiros, de 1853, anexo A, p.4-6.
As ratificações foram trocadas no Rio de Janeiro em 13 de julho de 1852.

223
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

as estipulações de ditos tratados e convenção, removendo dificuldades


que se suscitaram sobre o Tratado de Limites, concordou em fazer
modificações ao dito tratado e, para esse fim, as duas altas partes
contratantes nomearam seus plenipotenciários, a saber:
A República Oriental do Uruguai ao excelentíssimo senhor doutor
dom Florentino Castellanos, ministro secretário de Estado das Relações
Exteriores da mesma República.
E sua majestade o imperador do Brasil ao excelentíssimo senhor
conselheiro Honório Hermeto Carneiro Leão, seu enviado extraordinário
e ministro plenipotenciário em missão junto ao governo da República
Oriental do Uruguai.

Artigo 1o

O § 1o do artigo 3o do Tratado de Limites fica alterado do seguinte


modo: da foz do arroio Chuí, no oceano, a linha divisória subirá por dito
arroio, e dali passará pelo Pontal de São Miguel até encontrar a lagoa
Mirim e seguirá costeando sua margem ocidental até a foz do Jaguarão,
conforme o uti possidetis.

Artigo 2o

O artigo 4o do referido tratado fica modificado somente na parte em


que se cede ao Brasil, em toda soberania, meia légua (aproximadamente
3,3 km) de terreno em uma das margens da foz do Cebollatí, que for
designada pelo comissário do governo imperial; e outra meia légua em
uma das margens do Taquari, designada do mesmo modo, concordando
sua majestade o imperador em desistir formalmente, como desiste,
do direito adquirido a essa concessão, que deveria verificar-se pela
designação do comissário.

Artigo 3o

Todos os demais artigos do referido Tratado de Limites, assim como

224
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

todos os artigos dos Tratados de Aliança, de Comércio e Navegação, e


de Extradição e da Convenção de Subsídios, ficam em pleno e inteiro
vigor. Ambas as altas partes contratantes acordam aceitar a garantia que
espontaneamente ofereceu o ministro plenipotenciário da Confederação
Argentina, por parte do governo encarregado das Relações Exteriores
da dita Confederação, garantia essa que consiste em que, por parte de
sua majestade o imperador, as modificações estipuladas no presente
tratado serão aprovadas e ratificadas, e por parte do governo oriental,
ditas modificações serão também ratificadas conforme a sua respectiva
Constituição, e os Tratados e Convenção de Subsídios de 12 de outubro
do ano passado serão exatamente cumpridos e observados pelas duas
altas partes contratantes.

Artigo 4o

A troca das ratificações do presente tratado será feita na cidade do


Rio de Janeiro no prazo de 60 dias, ou antes, se for possível. O Ato
de Garantia será dado pelo ministro plenipotenciário da Confederação
Argentina, com a ratificação do excelentíssimo senhor governador e
capitão-general da província de Entre Rios, encarregado das Relações
Exteriores da mesma confederação, no mais breve prazo possível, a
cada uma das partes contratantes, independentemente da dita troca de
ratificações.
Em fé do que nós, os abaixo assinados, plenipotenciários da
República Oriental do Uruguai e de sua majestade o imperador do Brasil,
em virtude de nossos plenos poderes, firmamos o presente tratado com
nossa própria mão e fizemos apor o selo de nossas Armas.
Dado na cidade de Montevidéu aos quinze dias do mês de maio
do ano do nascimento de nosso senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e
cinquenta e dois.

(L. S.) Florentino Castellanos


(L. S.) Honório Hermeto Carneiro Leão

Portanto, e estando autorizados pelo Senado e pela Câmara de


Representantes para sua ratificação, declaramos, em nosso nome e no

225
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

da República, que aceitamos, aprovamos e ratificamos, em todas e cada


uma de suas partes, o tratado antes inserido, prometendo e empenhando
nossa fé e honra em seu cumprimento e observância e que o faremos
cumprir e observar fielmente, sem permitir que seja transgredido por
nenhuma causa ou pretexto, direta ou indiretamente.
Em fé do que firmamos, o presente instrumento de ratificação,
selado com o grande selo de Armas da República, e referendado por
nosso ministro secretário de Estado nos Departamentos da Guerra e da
Marinha, em Montevidéu, capital da República Oriental do Uruguai,
aos cinco do mês de julho do ano do nascimento de nosso senhor Jesus
Cristo de mil oitocentos e cinquenta e dois.

Juan F. Giró
Venâncio Flores

No 7B.

Ato de Garantia oferecida pela Confederação Argentina e aceita pelo


Brasil e pela República Oriental do Uruguai, nos termos do artigo 3o
do Tratado de 15 de maio de 185236

Ratificação argentina, 19 de maio de 1852.

O brigadeiro general Justo José de Urquiza, governador e capitão-


general da Província de Entre Rios, general em chefe do Grande Exército
Aliado da América do Sul, e encarregado das Relações Exteriores da
Confederação Argentina:
Faz saber a todos e a cada um daqueles que virem o presente Ato
de Ratificação que, havendo sido celebrado, com o concurso de nossa
mediação espontânea e amigável, um tratado modificando o de limites,
de 12 de outubro de 1851 entre os plenipotenciários de sua majestade
o imperador do Brasil, e da República do Uruguai, pelo qual ficou
modificado o Tratado de Limites celebrado entre o Império do Brasil e
a dita República, em 12 de outubro do ano passado, e tendo sido aceita

36 
Publicado no Relatório da Repartição dos Negócios Estrangeiros de 1853, anexo A, no 3, p.7 e 8.

226
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

a garantia de que, em nosso nome e no da Confederação Argentina,


foi oferecida por nosso ministro plenipotenciário, doutor dom Luis
José de la Peña, nos termos expressos no Ato de Garantia, assinado na
cidade de Montevidéu em 15 de maio do ano em curso, cujo teor é o
seguinte: “Ato de Garantia pela Confederação Argentina do Tratado
de Modificações ao de Limites de 12 de outubro de 1851, celebrado
entre sua majestade o imperador do Brasil e a República Oriental do
Uruguai, em 15 de maio de 1852.

Havendo-se felizmente concluído no dia de hoje um tratado


de modificações ao de limites de 12 de outubro de 1851, entre os
plenipotenciários de sua majestade o imperador do Brasil e da República
Oriental do Uruguai, com a interveniência do abaixo assinado, enviado
extraordinário e ministro plenipotenciário em Missão Especial
junto ao governo desta mesma República, mediação que, oferecida
espontânea e amigavelmente, foi aceita pelos dois plenipotenciários
anteriormente mencionados, no entendimento de que a confederação
garantiria, em nome do governo encarregado das Relações Exteriores
da dita confederação, que, por parte de sua majestade o imperador do
Brasil, serão aprovadas e ratificadas as modificações estipuladas no
tratado celebrado no dia de hoje, e, por parte da República Oriental
do Uruguai, as ditas modificações serão ratificadas de acordo com
respectiva Constituição e Tratados e Convenção de Subsídios de 12 de
outubro do ano passado; que serão exatamente cumpridos e observados
pelas duas altas partes contratantes, com as referidas modificações ou
outras que possam ser feitas no futuro, por mútuo acordo entre ambas as
altas partes contratantes. O abaixo assinado, ministro plenipotenciário
da Confederação Argentina declara e assegura que, pelo presente Ato
de Garantia e em virtude dos plenos poderes de que se acha investido,
o excelentíssimo senhor governador e capitão-general encarregado das
Relações Exteriores da Confederação Argentina, brigadeiro general
dom Justo José de Urquiza, presta sua garantia nos mesmos termos
em que foi oferecida pelo abaixo assinado, segundo está estipulado no
artigo 3o do tratado celebrado na data de hoje; e que o mesmo senhor
governador e capitão-general já antes mencionado, fará expedir e
entregar ratificações especiais deste Ato de Garantia a cada uma das
duas altas partes contratantes.

227
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

Em fé do que o abaixo assinado enviado extraordinário e ministro


plenipotenciário firma o presente ato com sua própria mão e faz colocar
o selo de Armas desta Missão Especial.
Dado na cidade de Montevidéu, capital da República Oriental do
Uruguai, em 15 do mês de maio de 1852.

(L. S.) Luis J. de la Peña

Quisemos aceder, e acedemos, ao antes inserido Ato de Garantia a fim


de consolidar, no que de nós dependa, a paz e a amizade que felizmente
existe entre o Império do Brasil e as Repúblicas do Prata, e que é um
dos mais felizes resultados da Aliança celebrada no ano passado pelas
convenções de 29 de maio e 21 de novembro do mesmo ano.
Em fé do que, pelo presente ato, renovamos, confirmamos e
ratificamos a garantia dada em nosso nome e no da Confederação
Argentina, de cujas Relações Exteriores estamos encarregados, por
nosso ministro plenipotenciário, e prometemos mantê-la e sustentá-
la, nos mesmos termos em que foi estipulada no artigo 3o do mesmo
tratado, e dada no Ato de Garantia anteriormente mencionado.
Dado em Palermo de San Benito, aos 19 dias do mês de maio do
ano do Senhor de 1852, firmado por nossa mão, selado com o selo
do governo encarregado das Relações Exteriores da Confederação
Argentina, e referendado pelo ministro e secretário de Estado, ad
ínterim, em dito Departamento.

(L. S.) Justo José de Urquiza


(L. S.) Vicente F. Lopez

No 8.

Protocolo do Acordo de 22 de abril de 1853 assinado em Montevidéu


por parte do Império do Brasil e da República Oriental do Uruguai
para a execução do artigo 1o do Tratado de 15 de maio de 1852, pelo
qual foi modificado o de limites de 12 de outubro de 185137

37 
Publicado integralmente no Relatório de 1853, anexo A, no 9, p.17-20.

228
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Conferência do dia 18 de abril de 1853.

Aos dezoito dias do mês de abril de mil oitocentos e cinquenta e três


se reuniram na Sala de Despacho do Ministério das Relações Exteriores
da República Oriental do Uruguai o ministro residente em Missão
Especial de sua majestade o imperador do Brasil, doutor José Maria
da Silva Paranhos, e o respectivo ministro secretário de Estado, doutor
dom Florentino Castellanos, para celebrar um ajuste definitivo sobre
as dúvidas suscitadas entre os dois comissários de limites, brasileiro e
oriental, no reconhecimento da linha do Chuí estipulada no Tratado de
15 de maio de 1852.
(...)

Conferência do dia 22 de abril.

Aos vinte e dois dias do mês de abril de mil oitocentos e cinquenta e


três se reuniram os mesmos ministros na Sala de Despacho do Ministério
das Relações Exteriores.
Abriu a conferência o ministro das Relações Exteriores, declarando
que o seu governo estava disposto a aceitar a solução proposta pelo
governo imperial.
Depois de breves explicações pedidas por esse ministro brasileiro,
foi formal e definitivamente adotado o seguinte acordo, que ambos os
ministros declaram conforme as ordens e instruções de seus governos:

Que a linha divisória estipulada no Tratado de 15 de maio de 1852 deve ser


entendida e demarcada pelo modo abaixo declarado a saber:
da embocadura do arroio Chuí, no oceano, subirá a linha divisória pelo dito arroio,
até seu Passo Geral, do qual correrá por uma reta ao Passo Geral do arroio São
Miguel, e descerá pela sua margem direita até encontrar o pontal de São Miguel na
costa meridional da lagoa Mirim; e continuará deste ponto circulando a margem
ocidental da mesma lagoa até a boca do Jaguarão.

Concordou-se mais que ambos os governos expedirão imediatamente


ordens a seus respectivos comissários para que prossigam nos trabalhos
de demarcação que já houvessem começado em comum, depois que se

229
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

suspendeu a demarcação daquela parte da fronteira, ficando ao arbítrio


dos mesmos comissários, se por próprio e mútuo acordo o entenderem
mais conveniente, voltar ao Chuí para designar esta linha divisória que
haviam escolhido para ponto de partida.
Lido o presente protocolo, e achado exato em tudo, ambos os ministros
o assinaram em dois autógrafos, e deram por concluído o seu objeto.

José Maria da Silva Paranhos


Florentino Castellanos

230
exposição de motivos sobre a
convenção de 4 de outubro de 1910
complementar do tratado de 6 de
outubro de 1898 entre o
brasil e a argentina
Rio de Janeiro, 20 de outubro de 1911.

A sua excelência o senhor marechal Hermes da Fonseca, presidente


da República.

Senhor presidente,

No dia 4 de outubro de 1910 foi assinado em Buenos Aires pelo


ministro do Brasil, senhor Domício da Gama, e pelo das Relações
Exteriores da República Argentina, senhor Carlos Rodríguez Larreta,
uma convenção complementar do Tratado de Limites de 6 de outubro
de 1898, entre as duas Repúblicas.
Para que esse ato internacional possa ser submetido ao exame e
aprovação do Congresso Nacional, tenho a honra de pôr na presença de
vossa excelência, aqui inclusas:

1º. Cópia autêntica da dita Convenção de 4 de outubro de 1910.


2º. Cópia do memorando
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que em 25 de setembro daquele ano di-
rigi à legação argentina no Brasil (publicado no Diário Oficial
de 15 de outubro de 1910, p. 8.497 e 8.498).
3º. Cópia da “Planta de um trecho do rio Uruguai, mostrando a

233
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

posição da ilha do Quaraí” (também publicada no citado


número do Diário Oficial, p. 8.495).
O memorando mostra a necessidade da dita convenção
complementar, porquanto, em consequência da falta de precisão que
houve no Tratado de Limites de 6 de outubro de 1898 ao designar o
ponto de partida da linha divisória em frente ao Quaraí, a Comissão
Mista deixou de demarcar um trecho de seis quilômetros, no rio
Uruguai, a jusante da ponta oriental da confluência do Quaraí.
Pelo novo acordo, o artigo 1o do Tratado de 1898 ficará substituído
pelo seguinte (artigo 3o da Convenção):

A linha divisória entre o Brasil e a República Argentina, no rio Uruguai, começa


na linha normal entre as duas margens, que passa um pouco a jusante da ponta
sudoeste da ilha Brasileira do Quaraí; segue subindo o rio, a meia distância
da margem direita ou argentina, e das margens ocidental e setentrional na ilha
Brasileira, passando defronte da boca do rio Miriñay, na Argentina, e da boca
do rio Quaraí, que separa o Brasil da República Oriental, subindo o mesmo rio
Uruguai, vai encontrar a linha que une os dois marcos inaugurados a 4 de abril
de 1901, um brasileiro, na barra do Quaraí, outro argentino, na margem direita
do Uruguai. Daí segue pelo talvegue do Uruguai até a confluência do Pepiri-
Guaçu, como ficou estipulado no artigo 1o do Tratado de 6 de outubro de 1898 e
conforme a demarcação feita de 1900 a 1904, como consta da Ata, assinada no
Rio, de Janeiro a 4 de outubro de 1910.

Referindo-me aos documentos anexos, tenho a honra de reiterar a


vossa excelência os protestos do meu mais profundo respeito.

Rio Branco

234
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Os governos dos Estados Los Gobiernos de los


Unidos do Brasil e da República Estados Unidos del Brasil
Argentina, julgando necessário y de la República Argentina
celebrar uma convenção juzgando necesario celebrar una
complementar do Tratado de convención complementaria del
Limites de 6 de outubro de Tratado de Limites de 6 de octubre
1898, nomearam para esse fim de 1898, nombraron para ese fin
plenipotenciários, a saber: Plenipotenciarios, á saber:
sua excelência o presidente Su Excelencia el presidente
dos Estados Unidos do Brasil o seu de la República Argentina a
enviado extraordinário e ministro su Ministro Secretario en el
plenipotenciário em Buenos Aires, Departamento de Relaciones
senhor dom Domício da Gama; e Exteriores y Culto Doctor Don
sua excelência o presidente da Carlos Rodríguez Larreta (hijo).
República Argentina o seu ministro Su Excelencia el presidente
secretário no Departamento de de los Estados Unidos del Brasil
Relações Exteriores e Culto doutor a su Enviado Extraordinario y
dom Carlos Rodriguez Larreta Ministro Plenipotenciario en
(filho). Buenos Aires señor Don Domício
Os quais, devidamente da Gama; y
autorizados, convieram no Los cuales, debidamente
seguinte: autorizados convinieron lo siguiente:

Artigo 1o Artículo 1o

Desde a linha que une o marco Desde la línea que une el hito
brasileiro da barra do Quaraí e brasileño de la desembocadura
o marco argentino que lhe fica del Quarahim y el hito argentino
quase defronte, na margem direita que queda casi enfrente en la
do Uruguai, marcos inaugurados margen derecha del Uruguay, hitos
ambos a 4 de abril de 1901, inaugurados ambos el 4 de abril
a fronteira entre o Brasil e a de 1901, la frontera entre el Brasil
República Argentina desce o dito y la República Argentina, baja el
rio Uruguai, passando entre a sua mencionado río Uruguay, pasando
margem direita e a ilha brasileira, entre su margen derecha y la isla
do Quaraí, também chamada brasileña, del Quarahim, también
ilha Brasileira, e assim vai até llamada isla Brasileña y así va

235
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

encontrar a linha normal entre as hasta encontrar la línea normal


duas margens que fique situada um entre las dos márgenes, que quede
pouco a jusante da extremidade situada un poco a bajamar de la
sudoeste da sobredita ilha. extremidad sudoeste de dicha isla.

Artigo 2o Artículo 2o

Comissários técnicos Comisarios técnicos,


nomeados pelos dois governos nombrados por los dos Gobiernos,
farão o levantamento da seção harán el levantamiento de la
do rio Uruguai entre as duas sección del río Uruguay entre
linhas anteriormente indicadas las dos líneas arriba indicadas
e estabelecerão um novo marco y establecerán un nuevo hito
brasileiro na extremidade brasileño en la extremidad
sudoeste da ilha e outro argentino, sudoeste de la isla y otro argentino
que corresponda a esse, sobre a que corresponda a ese, sobre la
margem direita. margen derecha.

Artigo 3o Artículo 3o

O artigo 1o do Tratado de 6 de El Artículo 1o del Tratado de 6 de


outubro de 1898 fica substituído octubre de 1898, queda substituido
pelo seguinte: a linha divisória por el siguiente: La línea divisoria
entre o Brasil e a República entre el Brasil y la República
Argentina no rio Uruguai começa Argentina en el río Uruguay,
na linha normal entre as duas comienza en la línea normal entre
margens, que passa um pouco las dos márgenes, que pasa un poco
a jusante da ponta sudoeste da a bajamar de la punta sudoeste de la
ilha Brasileira do Quaraí; segue, isla brasileña de Quarahim; sigue
subindo o rio, a meia distância da subiendo el río a distancia media
margem direita ou argentina e das de la margen derecha o argentina
margens ocidental e setentrional y de las márgenes occidental y
da ilha brasileira, passando septentrional de la isla Brasileña
defronte da boca do rio Meriñay pasando por frente a la boca del
na Argentina e da boca do rio río Meriñay en la Argentina y a la
Quaraí que separa o Brasil da boca del río Quarahim que separa
República Oriental; subindo o el Brasil de la República Oriental;

236
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

mesmo rio Uruguai, vai encontrar subiendo el mismo río Uruguay,


a linha que une os dois marcos va a encontrar la línea que une los
inaugurados a 4 de abril de 1901, dos hitos inaugurados el 4 de abril
um brasileiro na barra do Quaraí, de 1901, uno brasileño en la boca
outro argentino na margem del Quarahim, otro argentino en la
direita do Uruguai. Daí segue margen derecha del Uruguay. De ahí
pelo talvegue do Uruguai até a sigue por el talvegue, del Uruguay
confluência do Pepiri-Guaçu, hasta la confluencia del Pepiry
como ficou estipulado no artigo Guazú, como quedó estipulado en
1o do Tratado de 6 de outubro de el Artículo 1o del Tratado de 6 de
1898 e conforme a demarcação octubre de 1898, y conforme a la
feita de 1900 a 1904, como demarcación hecha de 1900 a 1904,
consta da Ata, assinada no Rio de como consta del acta firmada en Rio
Janeiro, a 4 de outubro de 1910. de Janeiro en 4 de octubre de 1910.

Artigo 4o Artículo 4o

A presente convenção, La presente Convención,


mediante a necessária autorização mediante la necesaria autorización
do Poder Legislativo nas duas del Poder Legislativo de ambas
Repúblicas, será ratificada pelos Repúblicas, será ratificada por los
dois governos e as ratificações dos Gobiernos y las ratificaciones
trocadas na cidade do Rio de serán canjeadas en la ciudad de Rio
Janeiro ou na de Buenos Aires no de Janeiro o en la de Buenos Aires,
mais breve prazo possível. en el más breve plazo posible.
Em fé do que nós, os En fe de lo cual, nosotros, los
plenipotenciários nomeados, plenipotenciarios arriba indicados
firmamos a presente convenção em firmamos la presente Convención
dois exemplares, cada um nas línguas en dos ejemplares, cada uno en los
portuguesa e castelhana, apondo em idiomas castellano y portugués y
ambos o sinal dos nossos selos. le aplicamos nuestros sellos.

Feito na cidade de Buenos Hecho en la ciudad de Buenos


Aires em 4 de outubro de 1910. Aires a los 4 de octubre de 1910.

(L. S.) Domício da Gama (L. S.) C. Rodríguez Larreta


(L. S.) C. Rodríguez Larreta (L. S.) Domício da Gama

237
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

O Tratado de Limites entre os Estados Unidos do Brasil e a


República Argentina, concluído no Rio de Janeiro a 6 de outubro de
1898, dispôs o seguinte no seu artigo 1o:

A linha divisória entre o Brasil e a República Argentina começa no rio Uruguai


defronte da foz do Quaraí e segue pelo talvegue daquele rio até a foz do rio Pepiri
Guaçu. A margem direita ou ocidental do Uruguai pertence à República Argentina
e a esquerda ou oriental ao Brasil.

Os plenipotenciários redatores desse artigo não ignoravam, de certo,


que há na confluência do Quaraí ilhas pertencentes ao Brasil, como ficou
reconhecido na seguinte parte final do artigo 3o, § 2o, do Tratado de Limites
de 12 de outubro de 1851 entre o Brasil e a República Oriental do Uruguai:

(...) Segue (a fronteira) por esta coxilha e ganha a de Haedo até o ponto em que
começa o galho do Quaraí denominado arroio da Invernada pela carta do visconde
de São Leopoldo, e sem nome na carta do coronel Reyes, e desce pelo dito galho
até entrar no Uruguai; pertencendo ao Brasil a ilha ou ilhas que se acham na
embocadura do dito rio Quaraí no Uruguai.

Duas notas, de 3 e 31 de dezembro de 1851, contêm declarações


que foram “havidas como interpretação autêntica do tratado, nos pontos
por elas compreendidos”, e “consideradas com a mesma força e vigor
como se nele estivessem inseridas”.
Na nota de 3 de dezembro de 1851, do ministro oriental no Brasil,
Andrés Lamas, lê-se:

1o - Pelo § 2o do artigo 3o do mencionado tratado se declara que pertencem ao


Brasil a ilha ou as ilhas que se encontram na foz do Quaraí no Uruguai.

Ao se fazer essa declaração, ficou subentendido, de acordo com todos os princípios


admitidos nas estipulações relativas à navegação das águas comuns, que o Brasil
não se serviria da ilha ou das ilhas na foz do Quaraí para embaraçar ou impedir a
livre-navegação dos ribeirinhos. Todas as estipulações referentes à ilha de Marin
García são rigorosamente aplicáveis a ela; e devem ser-lhe aplicáveis.

Respondendo, em nota de 31 de dezembro de 1851, disse o conselheiro

238
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

Paulino de Souza, ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil:

Expõe o senhor Lamas em primeiro lugar que, pelo § 2o do artigo 3o do dito


tratado, se declara que pertencem ao Brasil a ilha ou ilhas que se encontrarem na
embocadura do Quaraí, no Uruguai.

Ao fazer-se essa declaração, acrescenta o senhor Lamas, ficou subentendido, de


acordo com todos os princípios admitidos nas estipulações relativas à navegação
das águas comuns, que o Brasil não se serviria daquela ilha ou ilhas para embaraçar
ou impedir a navegação dos ribeirinhos.

O abaixo assinado confirma da parte do governo imperial essa inteligência, que


torna aplicáveis aquelas ilhas às disposições relativas à de Martín García, tanto
quanto o exigir e admitir a diferença de sua importância e posição, e a liberdade
da navegação.

O Tratado de 15 de maio de 1852, concluído em Montevidéu pelo


Brasil e pela República Oriental, sendo mediador o governo argentino,
modificou algumas estipulações contidas no § 3o do artigo 1o e no artigo
4o do Tratado de Limites de 12 de outubro de 1851, mas em nada alterou
as do precitado § 2o do artigo 1o.
O artigo 3o do Tratado de 15 de maio de 1852 diz:

Todos os demais artigos do referido Tratado de Limites¸ bem como todos os demais
dos de Aliança, de Comércio e Navegação, e de Extradição, e da Convenção de
Subsídios, ficam em seu pleno e inteiro vigor. E ambas as partes contratantes
convêm em aceitar a garantia que espontaneamente ofereceu o ministro
plenipotenciário da Confederação Argentina, por parte do governo encarregado das
Relações Exteriores da dita confederação, consistindo essa garantia em que, por
parte de sua majestade o imperador, serão aprovadas e ratificadas as modificações
estipuladas no presente tratado, e por parte do governo oriental serão também
ratificadas as ditas modificações de conformidade com sua respectiva Constituição,
e os Tratados e Convenção de Subsídios de 12 de outubro do ano passado serão
exatamente cumpridos e observados pelas duas altas partes contratantes, com as
referidas modificações ou outras que para o futuro possam ser feitas por mútuo
acordo das mesmas altas partes contratantes.

239
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

O Ato de Garantia, assinado em Montevidéu a 15 de maio de 1852,


pelo ministro argentino mediador, Luis José de la Peña, foi ratificado a
19 do mesmo mês, em Palermo de San Benito, pelo “brigadeiro general
Justo José de Urquiza, governador e capitão-general de província de
Entre Rios, general em chefe do grande Exército Aliado da América do
Sul, e encarregado das Relações Exteriores da República Argentina”.
É fora de dúvida que os negociadores, brasileiro e argentino, do
Tratado de Limites de 6 de outubro de 1898, e os seus respectivos
governos, não ignoravam esses antecedentes. Eles sabiam perfeitamente
que “a ilha ou ilhas que se acham na embocadura do Quaraí no Uruguai”
são brasileiras em virtude do artigo 3o, § 2o do Tratado de Limites de
12 de outubro de 1851 entre o Brasil e a República Oriental, e que por
Ato de 15 de maio de 1852, ratificado no dia 19, o governo argentino
garantira o exato cumprimento e execução, pelas duas altas partes
contratantes, dessa e outras cláusulas do Tratado de Limites de 12 de
outubro de 1851.

Parece, porém, que, dando a barra do Quaraí como ponto inicial


da fronteira brasileiro-argentina no rio Uruguai, os negociadores de
1898 não tiveram presente a “Carta Geral da fronteira do Império do
Brasil com o Estado Oriental do Uruguai”, levantada pela Comissão de
Limites de 1852 a 1860, comissão essa de que foram chefes, por parte
do Brasil, o marechal barão de Caçapava, a princípio, e o general Pedro
de Alcântara Bellegarde, depois; e, por parte da República Oriental, o
coronel José Maria Reyes. Nessa carta, vê-se uma grande ilha brasileira,
que, começando defronte da barra do Quaraí, estende-se, na direção de
oeste e sul, pelo Uruguai abaixo.
Pelas atas e outros documentos da demarcação de 1852 a 1860,
teriam visto que na extremidade sudoeste dessa ilha, chamada do Quaraí
e também ilha Brasileira, há um marco que é o 13o e último “marco
grande” da fronteira entre o Brasil e a República Oriental, começada a
demarcar na foz do arroio Chuí, no Atlântico.
A Comissão Mista brasileiro-argentina de 1900 examinou a ilha
de que se trata. Ela figura na planta da barra do Quaraí (escala de
1:10.000) na folha que tem por título “Situação topográfica dos marcos
principais”; e aparece também na carta do “rio Uruguai”, desde a
confluência do Quaraí até a do Pepiri-Guaçu (escala de 1:100.000),

240
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS

segundo os levantamentos feitos pela mesma Comissão Mista. Esses


documentos cartográficos que os dois governos, brasileiro e argentino,
conservam em seus arquivos, estão autenticados com as firmas dos
primeiros comissários Dionísio Cerqueira e Pedro Escurra.
O antigo marco brasileiro, da demarcação de 1853 a 1860, colocado
perto da extremidade sudoeste da ilha do Quaraí, está em 30º11’41” S
e 57º38’17” W, sendo de 63º30’ noroeste o azimute da linha que une
esse marco ao ponto correspondente na margem argentina do Uruguai,
ponto esse cujas coordenadas geográficas devem ser, aproximadamente,
as seguintes águas abaixo da confluência do Miriñay: 30º11’21”S, e
57º39’02”, 6º W.
Em vez de começar aí a demarcação da fronteira entre o Brasil e a
Argentina no rio Uruguai, a Comissão Mista assentou os dois primeiros
marcos principais nas seguintes posições, inaugurando-os em 4 de abril
de 1901:
Marco brasileiro, no ângulo formado pela margem direita do Quaraí
e pela esquerda do Uruguai: 30º11’02”S; longitude 57º35’48” W.
Marco argentino, na margem direita do Uruguai: 30º10’19”S;
longitude 57º35’30” W.
Os dados e o exame dos citados documentos cartográficos mostram,
como já ficou dito no contramemorando brasileiro de 3 de fevereiro
último:
1º. Que a demarcação deixou de compreender, nessa parte, uma
extensão de seis quilômetros, pouco mais ou menos, da frontei-
ra entre o Brasil e a Argentina.
2º. Que, mesmo desprezando-se – se fosse possível – o território,
incontestavelmente brasileiro, da ilha do Quaraí, e dando o
mais rigoroso sentido literal ao disposto no Tratado de 6 de
outubro de 1898 e nas instruções de 2 de agosto de 1900, o pri-
meiro marco principal argentino foi colocado sobre o Uruguai
a montante da boca do Quaraí, e não defronte da boca desse
rio, porquanto em tal caso deveria ter sido assentado perto da
confluência do Miriñay.
O talvegue do Uruguai passa entre a margem direita, argentina, e
a ilha brasileira do Quaraí, que é dependência geográfica da margem
esquerda do mesmo Quaraí e da do rio Uruguai, território da República
Oriental. Isso não é, de certo, motivo para que a República Argentina

241
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

possa pôr em dúvida o direito do Brasil sobre a ilha, principalmente


depois do Ato da Garantia de 15 de maio de 1852.
Em vista da falta de clareza do Tratado de 6 de outubro de 1898 e do
modo por que o entenderam e executaram os comissários incumbidos
da demarcação, é conveniente para ambos os países que os respectivos
governos reparem a lacuna havida, dando pronta e definitiva solução a
esta pequena e última questão de fronteiras.
Com esse fim, o governo brasileiro submete ao exame do governo
argentino o incluso projeto de convenção complementar do citado tratado.

Rio de Janeiro, 25 de setembro de 1910.

242
apêndice
Relação dos mapas reproduzidos neste volume

Brasil-Bolívia:
Mapa mostrando a nova fronteira norte entre o Brasil e a Bolívia. 0,235 x 0,415
Mapa da fronteira do Brasil com a Bolívia em Mato Grosso. 0,167 x 0,197
Mapa mostrando os territórios transferidos ao Brasil e à Bolívia e a pretensão
peruana. 0,256 x 0,285

Brasil-Colômbia:
Carta mostrando a linha do Tratado de Limites entre o Brasil e a Colômbia.
Assinado em Bogotá em 24 de abril de 1907. 0,460 x 0,550

Brasil-Peru:
Esboço da região litigiosa peru-boliviana, por Euclides da Cunha. Rio, julho
de 1909. 0,387 x 0,482
Carta Geográfica do território do Acre, por Plácido de Castro, 1907.
0,285 x 0,518

Brasil-Uruguai:
Carta da Lagoa Mirim e regiões circunvizinhas, organizada na Secretaria das
Relações Exteriores, de acordo com os levantamentos feitos por E. Mouchez,

245
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

barão de Caçapava etc., e alguns dados recentes, por Euclides da Cunha. Rio, 4
de setembro de 1908. 0,660 x 0,620

Brasil-Argentina:
Planta de um trecho do rio Uruguai, mostrando a posição da ilha Quaraí
(reduzido de uma planta da Comissão Mista brasileiro-argentina). Publicada no
Diário Oficial de 15 de outubro de 1910. 0,076 x 0,160

246
Índice onomástico e toponímico

ABAETÉ (visconde de), vide Limpo de Abreu, Antônio Paulino, 172


ABREU, Capistrano de, 28
ABUNÃ (rio) 44, 58, 61, 68, 182
ACADEMIA DE CIÊNCIAS DO INSTITUTO DE FRANÇA 139
ACEGUÁ (Cerro) 166, 197
– (vale) 172, 205
ACORDO BRASILEIRO-PERUANO DE 12 DE JULHO DE
1904 125, 126, 127, 131, 133, 134, 153, 154
ACORDO DE 22 DE ABRIL DE 1853 171, 172, 188, 220, 228 (nota
37), 229
ACORDO DE 12 DE MAIO DE 1894 182
ACORDO POLAR-GÓMEZ 113
ACRE (bacia) 58
– (rio) 46, 48, 55, 57, 58, 69, 107, 113, 133, 138, 142
– (território) 15, 17, 18, 19, 24, 25, 26, 27, 38, 40, 43, 48, 50, 52
(nota 1), 53, 54, 55, 56, 57, 61, 62, 63, 113, 114, 115, 123,
128, 131, 132, 133, 134, 145, 146, 150
ÁFRICA 179, 180, 181, 186 (nota 24)

247
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

ÁFRICA ORIENTAL 180


ÁFRICA SUDOESTE ALEMÃ (colônia) 180
AGUAPEÍ (rio) 46
AGUIRRE, Atanásio, 36
ALAGOAS (Estado) 56, 132
ALBERTO E EDUARDO (lago) 182
ALCÂNTARA BELEGARDE, Pedro de (general) 240
ALEGRE (rio) 46
ALEGRETE 162
ALEMANHA 55, 179, 180, 182
ALÉM-TEJO 30
ALERTA (caserio) 129
ALTO ACRE 48, 132, 133, 138, 142, 182
ALTO GUAPORÉ 46
ALTO JURUÁ 26, 48, 53, 56, 119, 121, 125, 127, 128, 129, 131,
132, 136, 142, 150, 152, 155
– (bacia) 49, 127, 154
ALTO MADEIRA 49
ALTO PARANÁ 182
ALTO PURUS 26, 48, 53, 56, 121, 122, 124 (nota 5), 125, 127,
128, 129, 131, 132, 142, 154, 155, 182
– (bacia) 49, 127, 150, 154
ALVAREZ CALDERÓN 146
ALVEAR, Carlos de (general) 33
ALVES, Rodrigues, 13, 15, 113, 120, 121, 176
AMADOR DEL SOLAR 144, 146
AMAZONAS (Estado) 24, 25, 46, 51 (nota 1), 53 (nota 1), 54,
60, 61, 80, 92
– (rio) 16, 20, 23, 27, 48, 79, 84, 90, 91, 99, 102, 103, 108, 109,
112, 134, 141, 142, 183 (nota 23)
– (bacia) 135
– (vale) 119, 151
AMÉRICA 21, 29, 30, 33 (nota 19), 36, 178, 181, 185, 186 (nota 24)
AMÉRICA DO NORTE 60
AMÉRICA DO SUL 23, 38, 40, 81, 176, 226, 240
AMÉRICA ESPANHOLA 150

248
ÍNDICE ONOMÁSTICO E TOPONÍMICO

AMÔNEA (rio) 48, 122, 123 e nota 3, 127, 128 e nota 9


APA (rio) 182
APAPÓRIS ou APAPORIS (rio) 21, 22, 23, 24, 25, 79, 81, 84, 90,
91, 92, 95, 97, 104, 108, 109, 133
AQUIO (rio) 91
AQUIRI ou AQUIRY (rio) 48, 69, 113, 138
AQUIRI (território) 48
ARAÇÁ (rio) 122
ARAGUARI (rio) 29, 120, 153
ARANDA, Ricardo, 148
ARAPEÍ (rio) 32, 161, 162, 164, 166, 167, 168, 197
ARAÚJO, José Ferreira de (tenente-coronel) 123, 124 (nota 6)
AREIA (ilha) 187 (nota 25)
ARGENTINA 13, 14, 21, 27, 29, 32, 33, 34, 36, 37, 39 e nota 24,
60, 110, 120, 153, 162, 163, 169 e nota 14, 170 (nota 15),
176, 182, 183, 213, 215, 216, 220, 221, 222, 223, 225, 226,
227, 228, 231, 233, 234, 235, 236, 238, 239, 240, 241
ARTIGAS, José de, 30
ÁSIA 181
ASSIS BRASIL, Joaquim Francisco de, 17, 44, 46, 47, 65, 75,
146, 147
ATA DE 6 DE ABRIL DE 1856 172
ATLÂNTICO 18, 166, 176, 240
AUDIÊNCIA DE CHARCAS 113, 130
ÁUSTRIA 181
ÁUSTRIA-HUNGRIA 179
AVATI-PARANÁ (canal) 109
ÁVILA E SILVA, Francisco d’ (capitão) 128 (nota 9)

BADAJOZ 29, 30, 49, 160, 167


BADEN 181
BAGÉ 166
BAGRES (rio) 46

249
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

BAÍA ou BAHIA (igarapé) 48, 177, 182


BAÍA NEGRA ou BAHÍA NEGRA 46, 47, 58, 59, 66, 182, 184
(nota 23)
BAIXO IÇÁ 93
BAIXO JAVARI 80
BAIXO PARAGUAI 45
BANDEIRA, Luiz Alberto Viana Moniz, 31 e nota 17
BARBERINE (rio) 179
BARBOSA, Carlos, 186
BARBOSA, Rui, 17, 18, 44, 47, 51 (nota 1), 52 (nota 1), 53 (nota 1)
BARRA (ilha) 13, 187 (nota 25)
BARRENECHEA, J. A., 25 (nota 11), 116, 147, 148
BARRETO, Jorge M., 123 (nota 4)
BARRETO, Sebastião (general) 162
BATALHA DE MONTE CASEROS 35, 171 (nota 15)
BAUZÁ, Francisco, 175
BAUZÁ, Rufino, 163
BAVIERA 181
BELAÚNDE, Victor Andrés, 25 e nota 11
BELÉM (vila) 166
BELÉM DO PARÁ 73, 141, 155
BÉLGICA 182
BELLO, Andrés, 109
BENI (rio) 25, 28, 48, 49, 50 e nota 1, 51 (nota 1), 53, 59, 60, 68,
74, 134, 145
BERLIM 90, 179, 180, 182
BERNA 182
BÉU (rio) 122
BEVILAQUA, Clóvis, 113
BOGOTÁ 22, 89, 90, 91, 92, 93, 95, 96, 100, 103, 104, 182
BOLÍVIA 7, 9, 13, 15, 16, 17, 18, 20 e nota 5, 21, 23, 24, 25, 26,
27, 35, 38, 41, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50 (nota 1), 51
(nota 1), 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 65, 66,
70, 71, 73, 74, 109, 110, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 118,
119, 120, 121, 125, 126 e nota 8, 130, 131, 133, 144, 145,
146, 147, 148, 149, 150, 151, 152, 181, 182, 183 (nota 23),

250
ÍNDICE ONOMÁSTICO E TOPONÍMICO

184 (nota 23), 186 (nota 24)


BOLIVIAN SYNDICATE 17, 20, 54
BOLLAND (capitão) 59
BONAPARTE, Napoleão, 29
BONFILS, Henry, 111
BOURBONS 30
BRASIL 13, 14, 15, 16, 17, 18, 20, 21 e nota 7, 22, 23, 24, 25, 26,
27, 28, 29 e nota 15, 30, 31 e nota 16, 32 e nota 18, 33, 34,
35, 36, 37, 38, 39 e nota 24, 40, 41, 43, 45, 46, 48, 50 e nota
1, 51 e nota 1, 52 e nota 1, 54, 55, 56, 57, 60, 61, 62, 63, 64,
65, 66, 70, 71, 73, 74, 77, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 87, 89,
90, 91, 92, 94, 99, 100, 101, 102, 104, 105, 107, 108, 109,
110, 111, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 118, 19, 120, 121,
124, 125, 126 e nota 8, 130, 131, 132, 133, 135, 136, 137,
141, 142, 144, 145, 146, 147, 148, 149, 150, 151, 152, 153,
154, 155, 156, 157, 159, 160, 161, 162, 163, 164, 165, 166,
168, 169, 170 e nota 15, 171, 172, 173, 174, 175, 176, 181,
182, 183 e nota 23, 184 e nota 23, 185, 186 e nota 24, 188,
189, 190, 191, 197, 198, 199, 200 e nota26, 201, 202, 204
e nota 27, 205, 206 e nota 28, 208, 209, 210, 211, 212, 213,
214, 216, 219, 220 e nota 34, 221, 222, 223, 224, 225, 226,
227, 228, 229, 231, 233, 234, 235, 236, 238, 239, 240, 241, 242
BRASIL, Assis, 17, 44, 46, 47, 65, 75, 146, 147
BRÁULIO (ilha) 187 (nota 25)
BREU (rio) 26, 48, 122, 123, 127, 128, 129, 136, 154
BREU SUPERIOR (rio) 122
BREU TERCEIRO (rio) 122, 182
BUENAÑO, Pedro (capitão-de-corveta) 128
BUENOS AIRES 30, 31, 32, 33 (nota 19), 34, 35, 39 (notas 24,
25 e 26), 126 e nota 8, 130, 131, 162, 165, 168, 169 e nota
14, 233, 235, 237
BULGÁRIA 179

251
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

CABO (colônia) 180


CABO FRIO (visconde) 19
CAÇAPAVA (barão de) vide Soares de Andrea (general)
CÁCERES (lagoa) 46, 58, 59, 67, 181, 184 (nota 23), 186 (nota 24)
CAHTI-JAUR (lago) 181 (nota 20)
CAIARI (rio) 182
CAIRARY (rio) 97
CAMPOS SALES 51 (nota 1)
CANADÁ 181
CANSANÇÃO DE SINIMBU 51 (nota1)
CANTO, José Borges do, 29
CAPURI OU CAPURY (rio) 97, 182
CAQUETÁ 48
– (rio) 84, 90, 95, 97, 104, 133, 136
CARAVELAS (visconde de) 149
CARLOS IV, (dom) 28, 30
CARNEIRO LEÃO, Honório Hermeto (visconde e marquês de
Paraná) 168, 170, 171, 173, 201, 202, 207, 213, 218, 220,
222, 224, 225
CARRASCO, Francisco, 116
CARRASCO E AZEVEDO 116
CARVALHO, Carlos de, 59, 176
CÁSPIO (mar) 181
CASTELLANOS, Florentino, 172, 213, 218, 220, 222, 224, 225,
229, 230
CASTILHOS GRANDES 164, 166, 167, 168
CASTRO, Carlos de, 175, 176
CASTRO, Plácido de, 15, 17, 20, 133, 134
CATAÍ 124, 127, 128, 129, 130, 131, 137
CATINA (lago) 181 (nota 21)
CAVALJANI (rio) 122
CAYANIA (rio) 123
CEARÁ (Estado) 56, 132
CEBALLOS (vila) 174

252
ÍNDICE ONOMÁSTICO E TOPONÍMICO

CEBOLLATÍ, Cebollaty ou Sebollati (rio) 165, 166, 171, 175,


185, 197, 200, 206 e nota 28, 209, 210, 212, 214, 221, 224
CERQUEIRA, Dionísio, 241
CERRO CAPARRO 96
CERRO LARGO (povoação) 166
CÉSPEDES, Augusto, 20
CHAMBUIACO ou (rio) 137, 138, 182
CHAMPLAIN (lago) 181
CHANDLESS (rio) 48, 122, 123
CHANDLESS, William, 48, 122
CHARTERED COMPANIES 17, 54, 56
CHAUVIN, Carlos Eugênio, 123 (nota 3)
CHIBNITCOOK (lago) 181
CHICO PEDRO (ilha) 187 (nota 25)
CHILE 38, 60, 85
CHINA 181
CHIPUTNATICOOK (lagos) 181
CHIRUA ou CHILUA (lago) 180
CHIUTA (lago) 180
CHUÍ ou CHUY (arroio) 29, 32, 161, 165 (nota 13), 166, 168,
172, 197, 199, 203, 204, 214, 220, 224, 229, 230, 240
CISPLATINA (província) 32, 33, 35, 162, 163, 164, 165, 167, 168
CLEVELAND (presidente) 182
COCAMA (caserio) 129
COIMBRA 184
– (forte) 66
COLÔMBIA 13, 21, 22 e nota 8, 23, 25, 80, 82, 85, 87, 89, 90,
91, 92, 93, 94, 97, 99, 100, 101, 102, 103, 104, 110, 121,
133, 147, 151, 182
COMISSÃO DE DIPLOMACIA DA CÂMARA DOS
DEPUTADOS 50 (nota 1), 53 (nota 1)
COMISSÃO MISTA BRASILEIRO-ARGENTINA DE 1900 240
COMISSÃO MISTA BRASILEIRO-BOLIVIANA DE 1875 47
COMISSÃO MISTA BRASILEIRO-PERUANA 81
COMISSÃO MISTA DEMARCADORA DE 1853 191
CONCEIÇÃO (arroio) 47, 67

253
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

CONFEDERAÇÃO ARGENTINA 169 (nota 14), 170 (nota 15),


213, 215, 216, 220, 221, 222, 223, 225, 226, 227, 228, 239
CONGO 182
CONGO BELGA 182
CONGRESSO DE FLORIDA 32
CONGRESSO NACIONAL 51 (nota 1), 64, 89, 93, 120, 133,
159, 160, 183, 184 (nota 23), 233
CONSELHO FEDERAL SUÍÇO 182
CONSTANÇA (lago) 181, 186 (nota 24)
CONVENÇÃO DE ARBITRAMENTO DE 1887 151
CONVENÇÃO DE 1858 116
CONVENÇÃO DE 18 DE JANEIRO DE 1867 186
CONVENÇÃO DE 30 DE JANEIRO DE 1819 160
CONVENÇÃO DE 21 DE MARÇO DE 1903 152
CONVENÇÃO DE 4 DE OUTUBRO DE 1910 231, 233
CONVENÇÃO DE 23 DE OUTUBRO DE 1851 81, 85, 90, 133, 150
CONVENÇÃO PRELIMINAR DE PAZ DE 27 DE AGOSTO
DE 1828 162
CONVÊNIO DE 29 DE MAIO DE 1851 170 e notas 14 e 15
CONVÊNIO DE 21 DE NOVEMBRO DE 1851 170 (nota 15)
CORRIENTES 35, 169, 170 (nota 14)
CORUMBÁ 59, 73
COSTA AZEVEDO, José da (barão do Ladário) 116
COSTA DO OURO (colônia) 180
COTEGIPE (barão de) 60, 149
CRUZEIRO (estabelecimento) 122, 124, 201, 202
CUIARI ou CUIARY (rio) 182
CUNHA, Euclides da, 25, 26 e nota 12, 27 128, 129, 133, 134
CUNHA, Gastão da, 19, 50 (nota 1), 53 (nota 1)
CURANJA (caserio) 129, 130
– (rio) 122, 124, 137
CURINAÁ ou CURINAHÁ (rio) 122, 137
CURUMAHÁ (rio) 137
CUSICANQUI, Jorge Escobari, 20 e nota 5

254
ÍNDICE ONOMÁSTICO E TOPONÍMICO

DANÚBIO (rio) 179


DEHAWA (rio) 180
DÍEZ DE MEDINA, Frederico, 59
DINIS (ilha) 187
DOMÍNGUEZ, Rufino T., 188, 189, 196
DONATO MUÑOZ, Mariano, 116
DOUBS (rio), 179
DOURADO, João, 122
– (rio) 122
DSCHAWOE (rio) 180

EAU NOIRE (rio) 179


EMBIRA (rio) 137
ENCARNAÇÃO, Manuel Urbano da, 122
ENTRE RIOS 35, 169 e nota 14, 170 (nota 15), 222, 225, 226, 240
EQUADOR ou ECUADOR 13, 14, 16, 21, 22, 23, 25, 49, 50 e
nota 1, 54, 77, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 90, 91, 92, 97, 98, 109,
110, 116, 121, 147, 151
ERIE (lago) 181, 186 (nota 24)
ESCURRA, Pedro, 241
ESPANHA 24, 28, 29, 30, 49, 90, 110, 111, 112, 113, 117, 119,
130, 151, 160, 164, 167
ESPINAR, Felipe (capitão de mar e guerra) 128
ESPINHEIRO, José Antônio de,50 (nota 1), 51 (nota 1)
ESPÍRITO SANTO (Estado) 56, 132
ESSEQUIBO (bacia)153
– (rio)120
ESTADO CISPLATINO 161
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA 54, 55, 64, 65, 146, 181, 183
EUROPA 26, 28, 29, 54, 55, 60, 179, 181, 185, 186 (nota 24)

255
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

FANFA (ponta) 191


FAUSTO, Boris, 32 e nota 18, 34
FERREYROS, Manuel,108
FIGUEIRA (conde da) 161
FILHO, Luiz Viana, 15(nota 1), 19 e nota 3
FLANGINI, Alberto, 175, 218, 219
FLORES (general) 81, 175, 226
FONSECA, Hermes da (marechal) 13, 233
FORON (rio) 179
FORTALEZA 124
FRANÇA 29, 55, 120, 139, 153, 169, 179, 181, 182, 184 (nota 23)
FRANKFURT 179
FRONTEIRA DO CASSIANÃ (estabelecimento) 122
FUNIL (estabelecimento) 122, 124
FURO DO JURUÁ (estabelecimento) 122

GAIBA ou GAHIBA (lagoa) 58, 59, 68, 181, 183 (nota 23),
186(nota 24)
GAMA, Domício da, 233. 235. 237
GARDA (lago) 181, 186 (nota 24)
GENEBRA (lago) 181 (nota 186)
GERAL (coxilha) 167
GHIORZO, Luís (tenente) 124 (nota 5)
GIRÓ, Juan Francisco, 172 (nota 16), 219 (nota 33)
GOICOCHÉIA, Castilhos, 19 e nota 2, 20 (nota 4)
GOLPLO (lago) 181 (nota 19)
GOMES, Cunha, 16
GONÇALVES, Bento, 33
GOUVEA, Hilário de, 19
GOVERNO ARGENTINO 114, 126, 239, 240, 242
GOVERNO BOLIVIANO 44, 53, 116, 119, 122, 145, 149

256
ÍNDICE ONOMÁSTICO E TOPONÍMICO

GOVERNO BRASILEIRO 17, 27, 35, 53, 61, 62, 70, 80, 81, 119,
122, 127, 132, 144, 145, 146, 148, 149, 174, 176, 178, 188, 242
GOVERNO BRITÂNICO 120, 153
GOVERNO COLOMBIANO 50, 91
GOVERNO DA REPÚBLICA 33, 59, 163, 209, 220, 223, 224
GOVERNO DO EQUADOR 81
GOVERNO FEDERAL 144, 145, 146, 155
GOVERNO ESPANHOL 115, 117, 162
GOVERNO IMPERIAL 45, 59, 108, 110, 116, 147, 148, 149,
163, 164, 167, 168, 169, 170 e nota 14, 173, 174, 175, 183
(nota 23), 184 (nota23), 197, 198, 200, 206, 212, 214, 216,
217, 221, 224, 229, 239
GOVERNO ORIENTAL 163, 166, 168, 172 (nota 16), 174, 175,
186, 188, 213, 214, 215, 217, 218, 220, 221, 223, 225, 239
GOVERNO PERUANO 109, 113, 116, 118, 121, 124, 125, 132,
145, 147, 149, 150
GOVERNO PORTUGUÊS 183 (nota 23)
GRÃ-BRETANHA,ver Inglaterra
GRANDE (coxilha) 166, 171
– (ilha) 186
GREENWICH (meridiano) 66, 67, 69, 97, 113, 130, 180
GREGÓRIO (rio) 113
GUABIJU (arroio) 172, 192
GUACHALLA, Fernando E., 44, 65, 75
GUAINÍA (rio) 95, 96
GUAJARÁ-MIRIM 45, 46, 74
GUAPORÉ (rio) 28, 46, 49, 134, 182
GUIANA 14, 111
GUIANA BRITÂNICA ou Inglesa, 182
GUIANA FRANCESA 14, 182
GUILLOBEL (contra-almirante) 48, 57

257
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

HAEDO (coxilha) 197, 205, 238


HALL, W. E., 179 (nota 17)
HANKA (lago) 181
HERRERA, Bartolomeu, 108, 109
HERRERA Y OBES, Manuel, 200 (nota 26), 208
HINKAI (lago) 181
HOSANA (estabelecimento) 122
HUACAPISTEA (rio) 122, 129
HURON (lago) 181, 186 (nota 24)

IACO (rio) 48, 113


IBICUÍ (rio) 29, 162
IÇÁ (rio) 84, 89, 92, 93, 101, 102, 103, 104
IGUAÇU (rio) 182
IMPRENSA NACIONAL 23 (nota 9), 27 (nota 13), 40 (nota 27),
53 (nota 1)
INAMBARI (rio) 113
INDEPENDÊNCIA (caserio) 129
INDIA MUERTA (arroio) 204
INGLATERRA 29, 55, 120, 153, 169
INHANDUÍ (povoação) 162
INSUA 184 (nota 23)
INVERNADA (arroio) 205, 238
IQUIARE ou IQUIARI (rio) 81, 96, 182
IQUIRI ou IQUIRY (rio) 45, 46, 68
IQUITOS 123 (nota 3), 128, 141, 155
IREBEASUBÁ 162
ISSANA (rio) 81
ITÁLIA 179, 181, 182
ITAMARATY vide Ministério das Relações Exteriores,
ITAQUATIÁ 161

258
ÍNDICE ONOMÁSTICO E TOPONÍMICO

JACINTO (ilha) 187


JAGUARÃO (rio) 32, 36, 159, 160, 161, 163, 164, 165, 166, 167,
169, 171, 172, 173, 174, 175, 176, 178, 180, 184 e nota 23,
185, 186, 188, 189, 190, 192, 193, 194, 195, 197, 199, 203,
205, 214, 220, 229
JAGUARÃO CHICO (rio) 161, 166, 172, 192
JAGUARÃO GRANDE (rio) 161
JAGUARI (visconde de) 149
JAMARI (rio) 46, 58
JAPERY OU JAPERI (igarapé) 95
JAPURÁ (barão de), ver Lisboa Miguel Maria,
JAPURÁ OU IAPORÁ (rio) 95, 108
JAUARITÉ (cachoeira) 97
JAURU (rio) 46
JAVARI (rio) 16, 18, 24, 25, 26, 45, 48, 49, 50 e nota 1, 51 (nota
1), 52 (nota 1), 53, 61, 63, 74, 79, 80, 107, 108, 109, 110,
112, 113, 114, 116, 118, 119, 122, 125, 126 (nota 8), 131,
132, 133, 136, 141, 145, 148, 150, 151, 154, 182
JEQUITINHONHA (visconde de) 184
JOÃO VI (rei dom) 30, 161
JORGE, A.G. de Araujo, 23
JOURNAL OF THE ROYAL GEOGRAPHICAL SOCIETY, de
Londres, 48
JUNCAL (ilha) 191
– (ponta) 192
JUNTA DE BUENOS AIRES 31
JURUÁ (bacia) 113, 114, 127, 154
– (rio) 16, 26, 27, 109, 112, 113, 118 (nota 2), 122, 123 e nota 3,
128, 136, 141, 154
JURUÁ-MIRIM (rio) 48, 123

259
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

KALOTTI-JAUR (lago) 181 (nota 20)


KERARY (rio) 96, 97
KILPSIS-JAUR (lago) 181 (nota 20)
KIVU (lago) 182
KOUKIMA-JAUR (lago) 181 (nota 20)

LADÁRIO (barão do) vide Costa Azevedo, José da,


LAGOÕES (arroio) 192, 193
LAGUNA (barão e visconde da) 31
LAMAS, Andrés, 169, 170, 173, 174, 201, 202, 207, 208, 211,
212, 213, 216, 238, 239
LA PAZ 15, 16, 17, 20 (nota 5), 27, 44, 50, 51 (nota 1), 126, 133,
145, 147, 149, 152, 181, 182
LA PAZ (rio) 49
LA PEÑA, Luis José de, 213, 218, 220, 223, 227, 228, 240
LAPEYRE, Edson Gonzales, 36 (nota 21)
LARRABURRE 146
LA TORRE BUENO 147
LA RIVA AGUERO, J. de, 148
LATINOS (ponta) 191
LAVALEJA, Juan Antonio, 32, 33
LEACH POND (lago) 181
LEBAUER WASSER (rio) 179
LECOR, Carlos Frederico vide Laguna (barão e visconde da)
LEGUIA, Augusto B., 135
LEON, Numa (tenente) 128, 129
LETÍCIA 23, 84
LEVENE, Ricardo, 33 e nota 19
LEZCANO (passo) 161
LIBERDADE (seringal) 123
LIMA 25 (nota 11), 79, 84, 90, 107, 108, 109, 111, 115, 118, 119,

260
ÍNDICE ONOMÁSTICO E TOPONÍMICO

120, 126, 128, 143, 145, 146, 147, 148, 149, 151, 152, 182, 183
LIMA E SILVA, José Joaquim de, 168
LIMPO DE ABREU, Antônio Paulino (visconde de Abaeté) 170,
201, 202, 207
LINS, Álvaro, 19, 28
LISBOA 29 (nota 15), 160
LISBOA, Eduardo, 44
LISBOA, Miguel Maria (barão de Japurá) 80, 91, 93
LLERAS, Lourenço Maria, 91
LOAYZA 147
LONDRES 17, 48, 72, 139
LOPEZ, Vicente F., 228
LOPES GAMA, Caetano Maria (visconde de Maranguape) 168, 174
LOPES NETO 50, 51 (nota 1)
LOPEZ SAAVEDRA, Pedro, 124 (nota 5)
LORETO (Departamento) 121, 123, 128
LUGANO (lago) 181, 186 (nota 24)
LUNAREJO (coxilha) 197

MACACUNY ou MACAPURY (rio) 95


MACHADO DE OLIVEIRA (general) 164
MADEIRA (rio) 16, 24, 26, 27, 28, 44, 45, 46, 47, 49, 51 (nota 1),
52 (nota 1), 58, 59, 60, 61, 68, 73, 74, 109, 110, 116, 118,
131, 133, 134, 141, 148, 182, 183 (nota 23)
MADEIRA-JAVARI 18, 25
MADEIRA-MAMORÉ (ferrovia) 18, 46, 60
MADRE DE DIOS (rio) 60, 124, 128
MADRI 15, 24, 29, 90, 150, 160
MAGALHÃES, Olinto de, 51 (nota 1), 52 (nota 1)
MAGALHÃES, Romero J., 29 (nota 15)
MAGARIÑOS, Francisco, 163
MAGGIORE (lago) 181, 186 (nota 24)
MAINAS (território) 80

261
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

MAMORÉ (rio) 21, 28, 45, 46, 47, 48, 49, 53, 58, 59, 68, 73, 74,
134, 182
MANAUS 15, 73, 102, 128, 141, 155
MANDIORÉ (lagoa) 58, 59, 67, 181, 183 (nota 23), 184 (nota
23), 186 (nota 24)
MANICHE (caserio) 129
MANUEL URBANO (rio) 48, 122
MAPA DE 1873 51 (nota 1)
MAPA MANUSCRITO DE 1860 53 (nota 1)
MARANGUAPE (visconde de) vide Lopes Gama, Caetano Maria,
MARAÑON (rio) 142
MARCO DO FUNDO DA BAHIA NEGRA 46, 66
MARTIN GARCÍA (ilha) 209, 212, 239
MARTINS, Eneas, 22, 89, 93, 94, 100, 101, 103, 104
MATO GROSSO (Estado) 46, 47, 59, 60, 74, 166, 183 (nota 23),
184 (nota 23)
MAU (rio) 182
MAUÁ (visconde de) – vide Souza, Irinêo Evangelista de
MÉDIO JURUÁ 132
MÉDIO PURUS 132
MEMÁCHI (rio) 90, 91, 96
MEMPHREMAGOG (lago) 181
MENDES DE ALMEIDA, Cândido, 51
MENDES, Teixeira, 18
MENDEZ, Gualberto, 175
MENDONÇA, Belarmino (general) 128, 129
MENDONÇA DE CARVALHO, Isaltino José de, 50 (nota 21)
MEZONES 147
MINA (arroio) 172, 192
MINAS GERAIS (barracão) 123
MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES 22, 43, 50 (nota
1), 52 (nota 1), 79, 89, 101, 104, 107, 113, 128, 144, 146,
159, 218, 229
MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DA
COLÔMBIA 22, 101, 104
MINISTÉRIO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS 110, 165, 211

262
ÍNDICE ONOMÁSTICO E TOPONÍMICO

MIRIM ou MERIM (lagoa) 28, 32, 35, 36, 37, 159, 160, 161, 163,
164, 165, 166, 167, 171, 172, 173, 174, 175, 176, 178, 180,
184, 185, 186, 188, 189, 190, 191, 192, 193, 194, 195, 197,
198, 199, 203, 204, 205, 206, 209, 210, 211, 212, 213, 214,
215, 220, 224, 229
MIRIÑAY (rio) 234, 241
MISSÕES (território) 29, 30, 31, 120, 153
MOA (rio) 48
MOERO (lago) 182
MONIZ BANDEIRA, Luis Alberto, 31
MONROE 49, 113
MONTE ALEGRE (visconde e marquês de) 168
MONTE CASEROS (batalha) 35, 171 (nota 15)
MONTENEGRO 181
MONTEVIDÉU 188, 196, 198
MONTEZUMA, F. A. Acaiaba de, 184 (nota 23)
MORGES (rio) 179
MORÓN (batalha) 171 (nota 15)
MUNIZ (ponta) 191
MURIATEGUI 110

NABUCO DE ARAÚJO (conselheiro) 149


NABUCO, Joaquim, 14
NAIMAKA-JAUR (lago) 181 (nota 20)
NAQUIENI (rio) 96
NASCENTES DE AZAMBUJA, Joaquim Maria, 93
NIASSA (lago) 180, 186 (nota 24)
NITEROI (visconde de) 149
NORUEGA 181 e nota 21
NOVA GRANADA 80, 81, 90, 91, 92
NOVO LUGAR (estabelecimento) 122
NUEVO-IQUITOS 123
NYS, Ernest, 179 (nota 17)

263
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

OIAPOQUE ou OYAPOC (rio) 29, 120, 153, 182


OLIMAR (rio) 175
OLINDA (visconde e marquês de) 168
OLIVEIRA, Balduíno de, 122
OLIVEIRA LIMA 19, 30
OLIVENÇA 30
ONTÁRIO (lago) 181, 186 (nota 24)
ORANGE (rio) 180
ORIBE (general) 35, 169, 170 (nota 15), 217
ORTON (rio) 54
OSMA, Joaquim de, 108, 109
OVELHAS (ilha) 187 (nota 25)

PALERMO DE SÃO BENITO 228, 240


PALMAR (arroio) 197, 199, 204 e nota 27
PALMAS (território) 120, 153
PANDO (general) 17, 59
– (rio) 68
PANTANOSO 170 (nota 15)
PARÁ (Estado) 60
PARADO (rio) 166
PARAGAÚ (rio) 49
PARAGUAI 14, 16, 30, 35, 36, 38, 45, 60, 110, 114, 216, 217
– (rio) 18, 46, 58, 59, 66, 166, 182, 183 (nota 23), 184 (nota 23),
186 (nota 24)
PARAÍBA (Estado) 56, 132
PARANÁ (Estado) 132
PARANÁ (visconde e marquês de) videCarneiro Leão, Honório
Hermeto
PARANHOS (conselheiro) vide Rio Branco (visconde do)
PARDO (rio) 29

264
ÍNDICE ONOMÁSTICO E TOPONÍMICO

PARIS 179
PAROBÉ (ponta) 191
PASVIK ou PASREK (rio) 181 (nota 21)
PASSO DO ROSÁRIO 32
PATOS (lagoa) 166, 193
PAZ SOLDAN 25, 110
PEÇANHA, Nilo, 13, 107, 135, 159
PEDRA DE CUCUÍ 89, 91, 94, 95, 97, 104
PEDRAS DE AMOLAR 184 (nota 23)
PEDRO I (dom) 32
PEDRO II (imperador) 39 e nota 26, 200 (nota 26.), 219 (nota 33)
PEDRO SEGUNDO (canal) 68
PEGUA (rio) 96
PEQUIM 181
PENA, Afonso, 13, 185
PEPIRI-GUASSU ou PEPIRI-GUAÇU (rio) 167, 182, 234, 237, 238, 240
PEREIRA, Lafaiete (conselheiro) 111, 176
PEREIRA DE VASCONCELOS, Bernardo, 168
PEREIRA LEAL (conselheiro) 148
PEREIRA PINTO, A., 59
PERNAMBUCO (Estado) 56, 132
PÉRSIA 181
PERU 13, 21, 22, 23, 24, 25 e nota 11, 26, 27, 28, 54, 61, 69, 70,
74, 79, 80, 81, 82, 84, 85, 90, 91, 92, 97, 105, 107, 108, 109,
110, 111, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 118, 119, 120, 121,
123, 125, 126 e nota 8, 127, 130, 131, 132, 133, 134, 135,
136, 137, 138, 141, 142, 144, 145, 146, 147, 148, 149, 150,
151, 152, 153, 154, 155, 156, 181, 182, 183
PETRÓPOLIS 20, 43, 44, 46, 75, 110
PETTEIQUAGGAMAK (lago) 181
PETTEIQUAGGAMAS (lago) 181
PHILLIMORE 49, 112, 113
PIEDRAS (rio) 124 (nota 7)
PIMENTA BUENO (marquês de São Vicente) 59, 184
PINCKNEY 113
PINILLA, Cláudio, 44, 65, 75

265
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

PINTO DA ROCHA 179 (nota 17)


PIQUEVACO ou PIQUEYACO (rio) 129, 137
PIRAÍ (rio) 161, 166
POLAR-GOMEZ (Acordo) 113
PONTE RIBEIRO, Duarte da (barão da Ponte Ribeiro) 19, 50 e
nota 1, 51 (nota 1), 53 (nota 1), 79, 80, 108, 147, 148, 149, 165
PORTO ACRE 15, 17, 54, 63
PORTO ALEGRE 161, 179 (nota 17)
PORTO ALONSO 63
PORTO MAMORIÁ (estabelecimento) 122
PORTUGAL 23, 24, 28, 29, 30, 31, 33, 49, 110, 111, 112, 115,
117, 150, 160, 161, 163, 167, 180
POTOSI 16
POWITZ ou POWIDZER (lago) 181 (nota 19)
PRADIER-FODÉRÉ 111
PRAGAS (rio) 48
PROTOCOLO DE 1853 81
PROTOCOLO DE 1896 45
PROVÍNCIAS UNIDAS DO RIO DA PRATA 168
PRUDENTE DE MORAIS 120, 153
PRÚSSIA 20, 179, 181
PUERTO ALONZO 15
PUERTO PARDO (estabelecimento) 129
PUERTO PORTILLO (estabelecimento) 129
PUERTO SUAREZ 59
PURUS ou PURUS (bacia) 113, 114, 127
– (rio) 16, 26, 27, 54, 109, 112, 113, 118 (nota 2), 119, 122, 123,
124 e nota 5, 128, 129, 137, 141, 142, 145, 154
PUTUMAYO ou PUTUMAIO (rio) 84, 89, 92, 101, 102, 103, 104

QUARAÍ (rio) 13, 29, 160, 161, 162, 163, 164, 166, 167, 168,
183, 197, 198, 199, 203, 205, 209, 212, 234, 235, 236, 237,
238, 239, 240, 241

266
ÍNDICE ONOMÁSTICO E TOPONÍMICO

QUESADA, Vicente G. 38, 39 (nota 23)


QUITO 81, 83, 85, 151

RABELO, Silvio 26 (nota 12)


RABOTIESO (ponta) 191
RAINHA REGENTE DA ESPANHA 90
RAINY (lago) 181
RAJGRÔD (lago) 181 (nota 19)
RAMÍREZ HURTADO, Manuel M. (major) 128 (nota 9)
RANCONNIÉRE (rio) 179
RAPIRRÃ ou RAPIRRAN (rio) 46, 48
REFÚGIO (estabelecimento) 122
RÊGO MONTEIRO, João da Costa, 51
REI DA ITÁLIA 182
REINA, Alberto Wagner, 25 (nota 11)
REINO UNIDO DE PORTUGAL, Brasil e Algarve, 161
REIS DA ESPANHA 113, 119, 130, 151
REPARTIÇÃO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS vide
Ministério dos Negócios Estrangeiros,
REPÚBLICA DO PIRATINI 34
REQUENA, Francisco, 109
RESVALADERO (estabelecimento) 129
REYES, José Maria (coronel) 172, 204, 205, 238, 240
RIBEIRO, Duarte da Ponte, 19, 50 e nota 1, 51 (nota 1), 53 (nota
1), 79, 108, 165
RIO BRANCO (barão do) 13, 14, 15 e nota 1, 16, 17, 18, 19, 20,
22, 23 e nota 9, 27 e nota 13, 28, 36, 37, 39, 40 e nota 27, 50
(nota 1), 51 (nota 1), 52 (nota 1), 53 (nota 1), 65, 75, 82, 83,
85, 134, 135, 143, 145, 153, 156, 187, 189, 196, 234
– (visconde do) 60, 82, 148, 172
RIO BRANCO (bacia) 153
– (rio) 120, 153

267
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

RIO DA PRATA 30, 31, 111, 161, 162, 164, 168, 198, 203
– (estuário) 176
RIO DE JANEIRO 15 e nota 1, 21 (nota 7), 22, 23 (nota 9), 26
(nota 12), 27 e nota 13, 31, 33, 34, 35, 36, 40 e nota 27, 43,
45, 51 (nota 1), 52 (nota 1), 59, 66, 67, 70, 75, 79, 81, 85,
89, 90, 95, 96, 100, 107, 108, 118, 125, 142, 143, 144, 146,
147, 148, 149, 159, 170, 173, 174, 182, 188, 196, 200, 201,
207, 208, 211, 219 (nota 33), 221, 222, 223 e nota 35, 225,
233, 234, 237, 238, 242
– (Estado) 56, 132
RIO GRANDE (lagoa) 166
RIO GRANDE DE SÃO PEDRO (barra) 31, 160, 165 (nota 13), 193
RIO GRANDE DO NORTE (Estado) 56, 132
RIO GRANDE DO SUL (Estado) 29, 32, 33, 34, 35, 160, 161,
162, 185, 186, 215, 216
RIO NEGRO (rio) 21, 24, 89, 91, 95, 161, 197, 199, 205
RIO PARDO 29
RIVERA (vila) 174
RIVERA, Fructuoso (general) 33, 34, 35, 162, 174
RODRIGUES ALVES (presidente) 13, 15, 113, 120, 121, 176
RODRIGUEZ LARRETA, Carlos, 233, 235, 237
ROMA 182
ROMÊNIA 179
ROSAS (general) 34, 35, 165, 169 e nota 14, 170 (nota 14), 171
(nota 15)
ROYAL GEOGRAPHICAL SOCIETY, de Londres, 48, 72
RÚSSIA 179, 181 e nota 21

S., Francisco de Andrade, 22 (nota 8), 24 (nota 10)


SÁ E ALBUQUERQUE (conselheiro) 175
SABOEIRO 123, 127
SAGASTUME, Vásquez, 175
SAMPOGNARO, Virgilio, 36 e nota 21

268
ÍNDICE ONOMÁSTICO E TOPONÍMICO

ST. CLAIR (lago) 181


SALAZAR 81
SAN LORENZO 123 e nota 3
SANTA CATARINA (Estado) 56, 132
SANTA CRUZ (caserio) 129, 130
SANTA MARIA (rio) 161, 197, 198, 203
SANTANA (coxilha) 161, 166, 168, 197, 198, 199, 203, 205
- (ilha) 187
SANTANA DO LIVRAMENTO 172, 174
SANTA RITA (ilha) 187 (nota 25)
SANTA ROSA (caserio) 129, 130
– (coxilha) 164, 197
– (rio) 122, 124 e nota 6, 131, 137, 182
SANTA TECLA 166
SANTA TERESA (forte) 160
SANTIAGO DO CHILE 85
SANTO ANTÔNIO 45, 46, 47, 59, 74, 90, 182
– (igarapé) 84, 90
SÃO BORJA 166
SÃO GONÇALO (rio) 193
SÃO JOÃO (caserio) 130
SÃO JOSÉ DE CUCUÍ (ilha) 90
SÃO LEOPOLDO (visconde de) 204, 205
SÃO LUIZ (arroio) 161, 166, 197
SÃO MIGUEL (arroio) 167, 172, 186, 189, 191, 197, 199, 204
(nota 27), 220 (nota 34), 229,
– (forte) 199, 204
– (pontal) 161, 172, 203, 214, 220, 224, 229
– (serro) 161, 165 (nota 13)
SÃO PEDRO DO RIO GRANDE DO SUL (Capitania) ver Rio
Grande do Sul (Estado)
SÃO PETERSBURGO 181 (nota 21)
SÃO SERVANDO (povoação) 166
SÃO VICENTE (marquês de) ver Pimenta Bueno,
SARDENHA 179
SAXÔNIA 179

269
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

SAYAGO, Santiago, 163


SCENNA, Miguel Angel, 39 (nota 24)
SCHAOVE (rio) 180
SCHARFF, Carlos, 124 (notas 5 e 7)
SCUTARI (lago) 181
SERGIPE (Estado) 56, 132
SERRA DOS LIMITES 59
SÉRVIA 179
SETE POVOS DAS MISSÕES 29
SHAMBUYACO (caserio) 129, 137, 138
SHIRWA (lago) 180
SILISTRIA 179
SILVA, Calixto (capitão-de-corveta) 165 (nota 12)
SILVA PAIS, José da (general) 165 (nota 13)
SILVA PARANHOS, José Maria da, ver Rio Branco (barão do)
SILVA PONTES, Rodrigo de Sousa da, 200 (nota 26)
SILVA TORRES, Francisco Cordeiro da, 168
SINDICATO ANGLO-AMERICANO 54, 55
SINDICATO INTERNACIONAL 55
SOARES DE ANDREA (general) 167
SOARES DE SOUZA, Paulino José (conselheiro visconde do
Uruguai) 208, 209
SOBERANO ESPANHOL 130, 133
SOBRAL (estabelecimento) 122, 124, 129, 130
SOLIMÕES (rio) 21, 24, 25, 49
SOUZA, Irinêo Evangelista de (visconde de Mauá) 217
SOUZA, José Soares, 31 (nota 16), 208, 209, 213, 222
SOUZA, Paulino de (deputado) 80, 169, 173, 184, 208, 211, 239
SOUZA FERREIRA 147
SOUZA JUNQUEIRA, Manuel Joaquim de (tenente) 165 (nota 12)
SUA MAJESTADE O IMPERADOR ALEMÃO E REI DA
PRÚSSIA 90
SUA MAJESTADE O IMPERADOR DO BRASIL 220, 223,
225, 226, 227, 229
SUA MAJESTADE O REI DA ESPANHA 90, 151
SUÁREZ, Joaquim, 163, 172 (nota 16), 200 e nota 26, 208

270
ÍNDICE ONOMÁSTICO E TOPONÍMICO

SUCHES (rio) 126


SUCRE 16, 117, 118
SUÉCIA 181 e nota 21
SUÍÇA 36, 55, 64, 179, 181
SUPERIOR (lago) 181, 186 (nota 24)
SURINAME 13, 14

TABATINGA (forte) 81, 91


– (povoação) 21, 22, 23, 24, 25, 79, 80, 84, 90, 108, 109, 118
TACUAREMBÓ GRANDE (arroio) 203
TACUARY (rio) 191, 206
TACUATIMANU (rio) 124 (nota 7)
TACUMBU (coxilha) 164, 197
TACUTU (rio) 182
TAHUAMANO (rio) 130
TAMARINDEIRO 59, 67
TAMAYA (rio) 127
TAMENGOS (rio) 67
TANGANIIKA (lago) 182, 186 (nota 24)
TAQUARI, (rio) 166, 171, 175, 185, 197, 200, 206 e nota 28,
209, 210, 212, 214, 221, 224
- (ilhas) 186, 191
TARAIRA (rio) 97, 182
TARAUACÁ (rio) 113, 136, 137
TASTE-JAUR (lago) 181 (nota 20)
TAVARES BASTOS 59, 60
TEJO (rio) 48, 122
TERRITÓRIO DE COLÔNIAS 57
TINGOLEALES (caserio) 129
TITICACA (lago) 181, 186 (nota 24)
TOBAR, Carlos R., 83, 85
TOCANTINS, Leandro, 19
TOGO (protetorado) 180

271
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

TOMO (rio) 91, 95


TORNEA 181 (nota 20)
TOROLHUC (rio) 137
TRATADO ADICIONAL DE 1860 (Pequim) 181
TRATADO DE AMIZADE, COM. E NAVEGAÇÃO COM O
PERU DE 1841 107
TRATADO DE ARBITRAMENTO DE 30 DE DEZEMBRO
126, 145, 151
TRATADO DE ASUNCIÓN, DE 5 DE JANEIRO DE 1872 182
TRATADO DE AYACUCHO 16
TRATADO DE BADAJOZ 29, 30, 49, 160, 167
TRATADO DE BERLIM DE 1o DE JULHO DE 1890 180, 182
TRATADO DE BERLIM DE 13 DE JULHO DE 1878 179
TRATADO DE COMÉRCIO E NAVEGAÇÃO DE 4 DE
SETEMBRO DE 1857, 174
TRATADO DE EXTRADIÇÃO DE 3 DE NOVEMBRO DE 1853 81
TRATADO DE LIMITES E NAVEGAÇÃO ENTRE O BRASIL
E A COLÔMBIA DE 24 DE ABRIL DE 1907 89,133
TRATADO DE LISBOA, DE 11 DE JUNHO DE 1891 180
TRATADO DE MADRI 24
TRATADO DE PETRÓPOLIS 18, 20 25, 26, 50 (nota 1), 51 (nota
1), 52 (nota 1), 53 (nota 1), 113, 114, 115, 118, 126 e nota
8, 131, 133, 152, 181, 182
TRATADO DE SANTO ILDEFONSO 24, 28, 30
TRATADO DE TURIM DE 16 DE MARÇO DE 1816 179
TRATADO DE 1750 165
TRATADO DE 1851 22, 25, 36, 115, 116, 117, 118, 136, 148,
182, 220 (nota 34)
TRATADO DE 1853 91, 92
TRATADO DE 1857 118
TRATADO DE 1859 14, 22, 90
TRATADO DE 1882 45
TRATADO DE FEVEREIRO DE 1761 165
TRATADO DE 27 DE MARÇO DE 1867 58, 68, 113, 117, 184
(nota 23)
TRATADO DE 6 DE MAIO DE 1904 82, 85, 90

272
ÍNDICE ONOMÁSTICO E TOPONÍMICO

TRATADO DE 15 DE MAIO DE 1852 45, 171, 172 e nota 16,


173, 188, 204 (nota 27), 206 (nota 28), 213, 219, 223, 226,
227, 228, 229, 239, 240, 242
TRATADO DE 18 DE MAIO DE 1815 179
TRATADO DE 25 DE JULHO DE 1853 91
TRATADO DE 31 DE JULHO DE 1821 161, 164, 198, 203
TRATADO DE 8 DE SETEMBRO DE 1909 105, 107, 131, 133,
134, 143, 182
TRATADO DE 2 DE OUTUBRO DE 1761 181 (nota 22)
TRATADO DE 12 DE OUTUBRO DE 1851 170, 171, 172, 175,
178, 183, 188, 200, 208, 211, 219, 223, 226, 227, 228, 238,
239, 240
TRATADO DE 26 DE OUTUBRO DE 1661 181 (nota 22)
TRATADO DE 30 DE OUTUBRO DE 1909 157, 159, 185, 196
TRATADO DE 25 DE NOVEMBRO DE 1852 80
TRATADO DO RIO DE JANEIRO DE 1942 14
TRATADO DO RIO DE JANEIRO DE 6 DE OUTUBRO DE
1898 182
TRATADO PRELIMINAR DE 1777 49, 92, 109, 110, 111, 112,
131, 133, 150, 160, 164, 165
TRAVERS-TWISS 113
TRÊS CERROS (coxilha) 164, 197
TRINDADE (ilha) 120, 153
TRIUNFO NOVO (estabelecimento) 122
TSCHADE (lago) 182
TURQUIA 179, 181

UAUPÉS (rio) 96, 97, 182


UBERABA (lagoa) 59, 181, 183 (nota 23), 184 (nota 23), 186
(nota 24)
UCAYALI (bacia) 26, 121, 132
– (rio) 122, 127, 128, 136, 150
UGANDA (protetorado) 182

273
OBRAS DO BARÃO DO RIO BRANCO

UNTER SEE (lago) 181


URQUIZA (general) 35, 170 (nota 15), 171 (nota 15), 226, 227,
228, 240
URUGUAI 13, 21, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 110, 157,
159, 160, 162, 163, 166, 167, 168, 169, 170 (nota 15), 172
e nota 16, 173, 174, 175, 176, 183, 184 e nota 23, 185, 186,
188, 189, 190, 198, 199, 200 e nota 26, 201, 203, 204 e nota
27, 205, 206, 207, 208, 209, 211, 212, 213, 219 e nota 33,
220, 222, 223, 224, 225, 226, 227, 228, 229, 238, 239, 240, 241
– (rio) 32, 161, 164, 167, 183, 198, 203, 209, 215, 233, 234, 235,
236, 237, 238, 240, 241
URUGUAI (visconde do) vide Soares de Souza, Paulino José

VACAPISTA (rio) 122, 129


VARGAS FERNÁNDEZ, Francisco, 124 (nota 5)
VÁSQUEZ, Santiago, 163
VÁSQUEZ COBO, Alfredo (general) 89, 94, 100, 101, 103, 104
VÁSQUEZ CUADRA, Carlos F., 123 (nota 3)
VATTEL 112
VELARDE, Hernán, 27, 135, 143, 144, 145, 153, 154, 156
VENEZUELA 14, 21, 22, 23, 80, 90, 91, 92, 110
VERDE (rio) 46, 48, 182
VIANA FILHO, Luiz, 15 (nota 1), 19 e nota 3
VICE-REINADO DE BUENOS AIRES 130
VICE-REINADO DO PERU 111, 113, 130
VITORIA NIANSA (lago) 182
VIENA 179
VILA BELA 59
VILA MURTINHO 74
VILLAZÓN, Eliodoro, 126 (nota 8)
VIRGOLINO (ilha) 187 (nota 25)
VOLTA (rio) 180

274
ÍNDICE ONOMÁSTICO E TOPONÍMICO

WASHINGTON (cidade) 17, 146, 147, 183


WOODS (lago) 181
WURTEMBERG 181
WYSCHTYTEN (lago) 181 (nota 19)

XAPURI (rio) 45, 46, 55


XAVIER, Elio (vice-rei) 30
XIÉ (rio) 95

YAVERIJA (rio) 133


YLINEN (lago) 181 (nota 20)

ZEBALLOS, Estanislau Severo, 36, 39 e nota 25


ZIPE ou JIPE (lago) 179

275
Formato 15,5 x 22,5 cm
Mancha gráfica 12 x 18,3cm
Papel pólen soft 80g (miolo), cartão supremo 250g (capa)
Fontes Times New Roman 17/20,4 (títulos),
12/14 (textos)
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS - mapa 1

Nº 01
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS - mapa 2

Nº 02
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS - mapa 3

Nº 03
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS - mapa 4

Nº 04
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS - mapa 5

Nº 05
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS - mapa 6

Nº 06
EXPOSIÇÕES DE MOTIVOS - mapa 7

Nº 07

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