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O Anuário do Café é imparcial em relação ao seu


conteúdo agronômico. Os textos aqui publicados
são de inteira responsabilidade de seus autores.

4
EDITORIAL

A
cafeicultura brasileira é uma das principais atividades agrícolas
do País, com uma história rica e uma grande importância econô-
mica e social. O Brasil é o maior produtor e exportador mundial
de café, respondendo por cerca de um terço da produção global.
O café é cultivado em várias regiões do País, desde o Norte do Para-
ná até o Sul da Bahia, passando pelo Espírito Santo, Minas Gerais, São
Paulo e outros Estados. A produção é dividida entre pequenos produto-
res familiares e grandes fazendas, com diferentes sistemas de produção e
técnicas de manejo.
Atualmente, nossa cafeicultura é uma atividade moderna, com tec-
nologia avançada e técnicas de produção sustentáveis. Os produtores in-
vestem em irrigação, nutrição e manejo do solo para obter uma produ-
ção de alta qualidade, com foco na sustentabilidade e na proteção do
meio ambiente.
De outro lado, a produção de cafés especiais tem crescido nos últi-
mos anos, impulsionada pelo interesse dos consumidores em produtos de
alta qualidade e sustentáveis.
A cafeicultura brasileira é uma importante fonte de renda para mi-
lhões de pessoas no País, desde pequenos produtores até trabalhadores
rurais e empresas de exportação. Essa cadeia é complexa e envolve dife-
rentes atores, desde os produtores até os torrefadores e varejistas.
Apesar dos desafios enfrentados pela cafeicultura brasileira, como a
variação dos preços do café no mercado internacional e a concorrência de
outros países produtores, o setor tem se mantido forte e competitivo. A
qualidade do café brasileiro é reconhecida mundialmente e o País conti-
nua a ser um dos principais players do mercado global.
E o Anuário do Café 2023 foi pensado e realizado na medida das
suas necessidades. Vamos conferir?

Uma excelente leitura!

Miriam Lins Oliveira


Editora

5
ÍNDICE

09 PRODUÇÃO
Safra, estoques e valor da produção brasileira
Como as geadas comprometeram a produção brasileira

35 MERCADO
Análise de mercado
Conjuntura mundial
Pandemia mudou a forma de consumir café
Sustentabilidade - questão de mercado

61 CUSTOS
Café no Brasil
Custo de produção

73 ESPECIAIS
Cafés especiais
Produtores premiados pela BSCA
50 anos de Café do Cerrado
Força feminina na cafeicultura
Valéria Vidigal - a porta-voz do ‘Café em Cores’
Novidades em café
A sutileza dos cafés orgânicos
8
PRODUÇÃO

CUSTOS

MERCADO

ESPECIAIS
PRODUÇÃO

10
PRODUÇÃO

Conab estima safra de café em


54 MILHÕES DE SACAS
COM ÁREA DE PRODUÇÃO DE 1,9 MILHÃO DE HECTARES, A SAFRA DE CAFÉ DO
BRASIL EM 2023 ESTÁ ESTIMADA EM 54,94 MILHÕES DE SACAS DE 60 KG, ALTA
DE 7,9% NA COMPARAÇÃO COM 2022, COM MELHORES PRODUTIVIDADES EM
IMPORTANTES REGIÕES CAFEEIRAS.

11
PRODUÇÃO

A
Conab divulgou a primeira estimativa para tas lavouras não entraram em produção em 2022, e
a safra de café em 2023. A área total desti- agora em 2023 quase 100 mil hectares (a mais) es-
nada à cafeicultura no País em 2023 (ará- tão em produção, principalmente em Minas Ge-
bica e conilon) totaliza 2,26 milhões de hectares. rais. A Conab não considera que houve inversão
Verificou-se aumento de 0,8% sobre a área da de ciclo no País, maior produtor e exportador glo-
safra anterior, com 1,9 milhão de hectares destina- bal de café.
dos às lavouras em produção, com crescimento de O aumento de 3,3% na área de cafezais em pro-
3,3% em relação ao ano anterior e 355,5 mil hec- dução no País em relação a 2022 considera tanto
tares em formação. cafés arábicas quanto canéforas, resultando em
A produção deve ser de 54,94 milhões de sacas 1,9 milhão de hectares em 2023. Apenas de ará-
de 60 kg, alta de 7,9% na comparação com 2022. bica, são 1,5 milhão de hectares, sendo 1,1 milhão
O Brasil terá em 2023 um ano “atípico” da biena- em terras mineiras.
lidade negativa do ciclo do café arábica, uma vez
que muitas áreas vão entrar em produção, princi- Evolução tecnológica
palmente em Minas Gerais, Estado que responde
por 67% da lavoura dessa variedade no País. Vale destacar que, nos ciclos de bienalidade ne-
Normalmente, a safra cai em anos de biena- gativa, os produtores costumam realizar tratos cul-
lidade negativa, mas devido às adversidades cli- turais mais intensos nas lavouras, promovendo al-
máticas nos últimos anos, como seca e geadas se- gum tipo de manejo como poda, esqueletamento
veras em 2021, a entrada em produção de muitas ou recepas em áreas que só entrarão em produção
áreas foi postergada de 2022 (de bianualidade po- nos próximos anos.
sitiva) para 2023, elevando agora a safra em de- Nas últimas safras, a estabilidade na área brasi-
terminadas regiões. O País produziu no ano pas- leira de café tem sido compensada pelos ganhos de
sado muito menos que o potencial. produtividade, representados pela mudança tecno-
Com o clima muito desfavorável em 2021, mui- lógica observada na produção cafeeira.

12
PRODUÇÃO

ANÁLISE DO CAFÉ ARÁBICA

ÁREA PRODUTIVIDADE PRODUÇÃO

1.508,6 mil ha 24,8 sc/ha 37.435,1 mil ton


+3,9% +10,2% -14,4%

Comparativo com safra anterior. Fonte: Conab

ÁREA EM PRODUÇÃO (%)

OUTROS (3%) OUTROS (3%)


BA (4%) BA (4%)
ES (10%) ES (9%)

2022 2023
SP (14%) SP (12%)

MG (69%) MG (73%)

13
PRODUÇÃO

ANÁLISE DO CAFÉ CONILON

ÁREA PRODUTIVIDADE PRODUÇÃO

394,3 mil ha 44,4 sc/ha 17.508,9 mil ton


+1,4% -5,1% -3,8%

Comparativo com safra anterior. Fonte: Conab

ÁREA EM PRODUÇÃO (%)

OUTROS (6%)
261,9
ES 259,2
BA (11%)
65,0
RO
2023 65,0
RO (16%) 2023
42,7
BA 40,3
2022

ES (66%)

para o Sul de Minas e Triângulo Mineiro, com au-


Produtividade
mento de produtividade de 24,2% e 35,4%.
Segundo a Conab, após adversidades climáti- Apesar dessa alta, a produtividade média da
cas limitarem a produção do café arábica nas safras safra do arábica no Brasil, estimada em 24,8 sa-
2021 e 2022, a expectativa também é de recupe- cas por hectare, está distante dos melhores anos,
ração nas produtividades, com o tempo favorável como em 2020 (32,2 sacas/ha), quando o País teve
nas principais regiões produtoras, como Minas uma safra recorde.
Gerais. Para 2023, os canéforas (robusta/conilon) tive-
A safra de café arábica, que responde pela maior ram colheitas estimadas em 17,5 milhões de sacas,
parte da produção do Brasil, foi estimada em 37,4 queda de 3,8% ante recorde de 2022. Segundo a
milhões de sacas, alta de 14,4% ante 2022. Conab, um inverno seco no Espírito Santo, maior
Para o arábica, as estimativas iniciais da Co- produtor de conilon, deve pressionar a produção
nab apontam para uma retomada de produção em no Estado. A safra capixaba dessa variedade deve-
Minas Gerais, o que impacta positivamente sobre rá cair 7,3% ante a temporada passada, para 11,46
a perspectiva nacional. Essa melhora é projetada milhões de sacas.

14
PRODUÇÃO

TABELA 1 – Comparativo de área em produção, produtividade e produção de café total (arábica e conilon) no Brasil.
Fonte: Conab
ÁREA EM PRODUÇÃO (ha) PRODUTIVIDADE (sc/ha)
Região/UF
Safra 2022 Safra 2023 VAR. % Safra 2022
Safra 2022 (a) Safra 2023 (b) VAR. % (b/a) Safra 2023 (f) VAR. % (f/e)
(c) (d) (d/c) (e)

NORTE 65,0 65,0 - 43,1 45,3 5,1 2.800,5 2.943,5 5,1

RO 65,0 65,0 - 43,1 45,3 5,1 2.800,5 2.943,5 5,1

NORDESTE 92,9 98,0 5,5 38,8 37,0 (4,7) 3.603,5 3.624,0 0,6

BA 92,9 98,0 5,5 38,8 37,0 (4,7) 3.603,5 3.624,0 0,6

Cerrado 6,5 6,0 (8,1) 43,0 40,0 (7,0) 279,5 239,0 (14,5)

Planalto 46,1 49,3 6,9 21,5 20,1 (6,4) 991,0 992,0 0,1

Atlântico 40,3 42,7 6,1 57,9 56,0 (3,3) 2.333,0 2.393,0 2,6

CENTRO-OESTE 17,2 17,0 (1,7) 29,3 27,5 (6,3) 505,6 465,8 (7,9)

MT 11,1 11,2 1,2 20,6 20,8 0,8 227,9 232,5 2,0

GO 6,2 5,8 (7,0) 44,8 40,5 (9,7) 277,7 233,3 (16,0)

SUDESTE 1.630,7 1.687,3 3,5 26,6 27,9 4,8 43.362,4 47.027,5 8,5

MG 1.018,0 1.108,0 8,8 21,6 24,8 15,0 21.960,1 27.491,9 25,2

Sul e Centro-Oeste 496,7 549,0 10,5 19,3 24,0 24,2 9.599,6 13.178,7 37,3

Triângulo, Alto
181,7 200,8 10,5 23,1 31,3 35,4 4.198,5 6.281,5 49,6
Paranaiba e Noroeste
Zona da Mata, Rio
312,8 330,1 5,5 23,5 21,8 (7,5) 7.358,1 7.180,5 (2,4)
Doce e Central
Norte, Jequitinhonha
26,8 28,2 5,2 30,0 30,2 0,7 803,9 851,2 5,9
e Mucuri

ES 402,5 392,8 (2,4) 41,5 37,1 (10,8) 16.721,0 14.553,0 (13,0)

RJ 10,5 10,7 1,9 28,1 24,3 (13,4) 294,3 259,6 (11,8)

SP 199,8 175,8 (12,0) 22,0 26,9 22,3 4.387,0 4.723,0 7,7

SUL 27,1 27,1 - 18,4 27,0 47,2 497,9 733,0 47,2

PR 27,1 27,1 - 18,4 27,0 47,2 497,9 733,0 47,2

OUTROS * 8,6 8,6 - 12,3 17,5 42,4 105,5 150,2 42,4

NORTE/NORDESTE 157,9 163,0 3,2 41,0 40,3 (1,8) 6.479,3 6.567,5 1,4

CENTRO-SUL 1.675,1 1.731,4 3,4 26,5 27,9 5,2 44.365,9 48.226,3 8,7

BRASIL 1.841,5 1.902,9 3,3 27,7 28,9 4,4 50.920,1 54.944,0 7,9

Estimativa em janeiro 2023

15
PRODUÇÃO
MINAS GERAIS

Minas Gerais
TRADIÇÃO EM CAFÉ
Produção estimada em 27.491,9 mil sacas

M
inas Gerais apresentou acréscimo de de 2022 com chuvas proeminentes e boas perspec-
25,2% em comparação ao volume to- tivas para a recuperação vegetativa das lavouras;
tal colhido na safra anterior, justificado depois houve períodos de estiagem e frio durante
pelo aumento da área e, principalmente, pelas me- o outono/inverno.
lhores condições das lavouras após as últimas sa- Já a partir do início da primavera houve o re-
fras caracterizadas por climas adversos. A produti- torno das chuvas, assim como a elevação da tempe-
vidade média ficou em 24,8 sc/ha. ratura média para patamares mais adequados ao
A cafeicultura mineira, com produção estima- desenvolvimento ideal da cultura. Inclusive, nesse
da em 27.491,9 mil sacas em uma área de 1.108,0 último cenário se deu as primeiras floradas.
mil ha, é bastante tradicional e extremamente re- Essa condição de razoável disponibilidade hí-
levante para a produção nacional do grão. O culti- drica e temperaturas amenas foi registrada em mui-
vo acontece em diversas áreas pelo Estado, porém, tas das regiões produtoras até meados de dezem-
existem algumas mesorregiões com característi- bro de 2022, permitindo, assim, um menor índice
cas edafoclimáticas importantes que concentram de abortamento floral e um maior “pegamento” dos
grande parte dessa área produtora, tal como o Sul e chumbinhos em relação ao que ocorreu na safra an-
Centro-Oeste mineiros, o Triângulo, o Alto Para- terior, mesmo nas lavouras de sequeiro, exceto na re-
naíba, o Noroeste, a Zona da Mata, o Vale do Rio gião do Rio Doce e parte da Zona da Mata.
Doce e a Zona Central.
Os últimos ciclos têm sido desafiadores para a Panorama
garantia da prolífica e qualificada produção de café
em Minas Gerais. Alguns fatores relacionados ao Excetuando-se as situações pontuais, houve
setor produtivo, especialmente no aspecto climáti- um panorama mais favorável para esta safra em
co, foram preponderantes para a redução de poten- comparação aos dois últimos anos. Isso influenciou
cial produtivo nas duas safras anteriores. o direcionamento da área em produção para o café
Para esta safra, é observado, até o momento, um arábica, que nesse ciclo está estimada superior à sa-
ciclo de condições climáticas oscilantes: um verão fra 2022.

16
PRODUÇÃO
MINAS GERAIS
que precisaram ser recepadas para produção ape-
nas no próximo ciclo.

Perspectiva
No geral, mesmo com as intercorrências regis-
tradas ao longo do ciclo, a perspectiva é de uma sa-
fra mais produtiva que no ano passado. O retorno
da produção de lavouras esqueletadas no período
pós-geadas em 2021 gerou um incremento na área
em produção para este ciclo, além da expectativa
de acréscimo na produtividade média em com-
paração ao exercício anterior.
Nas regiões do Triângulo Mineiro, Alto Pa-
ranaíba e Noroeste, também ocorreram intempé-
ries climáticas ao longo do ciclo. Escassez hídri-
ca em determinado período, baixa luminosidade,
queda na geração de fotoassimilados, registros de
temperaturas elevadas durante a seca e de frentes
frias importantes no inverno são alguns dos regis-
tros apontados.
No entanto, as anomalias parecem trazer danos
bem menos intensos que no ciclo passado. De ma-
neira geral, as lavouras tiveram um período vegeta-
tivo mais ameno que permitiu melhor recupera-
ção e maior expressão do seu potencial produtivo,
haja vista que houve menor índice de abortamento
na florada e maior pegamento dos chumbinhos em
comparação a 2022.
Assim, a previsão é de crescimento tanto na área
em produção quanto na produtividade média da
cultura em comparação ao total colhido em 2022.

Quanto às estimativas para a produtividade Encontro de estações


média, também se projeta uma recuperação consi-
derável em relação aos últimos dois ciclos, princi- Nas regiões da Zona da Mata e Rio Doce, o
palmente nas regiões sul/centro-oeste e Triângulo/ início da primavera de 2022 coincidiu com o co-
Alto Paranaíba/Noroeste, que foram bastante im- meço do período chuvoso, gerando boas condições
pactadas por intempéries climáticas. de umidade ao solo.
Assim, a produção estadual deve apresentar Embora os índices pluviométricos ainda sejam
crescimento importante em relação ao ano ante- inferiores aos do ano passado, foi nítida uma me-
rior. Detalhando as condições nas principais regi- lhora nas lavouras. Ainda assim, não há uma re-
ões produtoras, observa-se que no Sul e Centro- cuperação completa do potencial produtivo, até
-Oeste de Minas, o verão de 2022 deu início ao mesmo inviabilizando um maior índice de “pega-
ciclo com certa incidência de chuvas, porém, a par- mento” floral em razão da depauperação vegetativa
tir de março começou o período seco, gerando dé- prévia das plantas.
ficit hídrico em áreas produtoras da região. Nas regiões Norte de Minas, Jequitinhonha e
Também houve registro de frentes frias durante Mucuri, o microclima local é bastante característico, e
o inverno, mesmo que em menor intensidade que apresenta temperatura média elevada, além de relevo
aquelas registradas em 2021. Já a partir de agos- diferente das demais regiões cafeicultoras do Estado.
to de 2022 incidiram as primeiras chuvas, propor- Houve registro de estresse hídrico no período
cionando as primeiras floradas na região. Entre de outono e inverno, mas há certa amenização des-
setembro e dezembro, as chuvas vieram de for- sa intempérie em virtude do uso considerável de ir-
ma mais regular e auxiliaram na viabilidade dessa rigação suplementar em diversas lavouras da região,
primeira fase reprodutiva, que envolve a floração além da presença importante do café tipo conilon,
e a formação inicial dos frutos. que dispõe de maior rusticidade e tolerância ao défi-
Ressaltam-se os registros pontuais de preci- cit hídrico em comparação ao café arábica.
pitações de granizo em algumas áreas produtoras,
gerando impactos mais importantes em lavouras Fonte: Conab

17
PRODUÇÃO
ESPÍRITO SANTO

Espírito Santo
PASSA POR OSCILAÇÃO CLIMÁTICA
Produção estimada em 14.553 mil sacas

O
Espírito Santo tem expectativa de redução Arábica: a produção deverá ser de 3.093 mil sa-
de 13% na produção, causada pelo longo pe- cas, 29,1% abaixo do volume colhido na última safra.
ríodo de estiagem, aliado às baixas tempera- A região sul do Estado é onde se concentra a
turas e ano de baixa bienalidade, sobretudo no ará- maior porção da área cultivada com o café arábica. O
bica. A produção está estimada em 14.553 mil sacas ciclo começou com certa oscilação climática. Num
em uma área de 392,8 mil hectares, com produtivida- primeiro momento, entre maio e agosto de 2022, os
de média de 37,1 sc/ha. níveis de precipitação ficaram bem abaixo do espera-
Conilon: a produção está estimada em 11.460 do.
mil sacas, redução de 7,3% em relação à safra anterior. A partir de setembro, as chuvas passaram a inci-

18
PRODUÇÃO
ESPÍRITO SANTO
dir em volumes um pouco maiores, porém com dis- mais expressiva na região norte capixaba. Tradicio-
tribuição irregular, melhorando efetivamente o ce- nalmente, a localidade é reconhecida por sua efetivi-
nário pluviométrico de outubro em diante. Assim, dade produtiva, que faz do Estado o principal produ-
a carga floral emitida foi considerada boa, porém, a tor de café conilon do País.
perspectiva de uma bienalidade negativa faz com que Neste ciclo, a região apresentou, num primei-
os níveis produtivos sejam menores que os visualiza- ro momento, índices pluviométricos abaixo da mé-
dos no ano anterior. dia, principalmente entre maio e setembro de 2022,
Atualmente, as lavouras estão em fase de forma- além de registros pontuais de ventos fortes e bai-
ção dos frutos e enchimento de grãos, também sen- xas temperaturas, que impactaram algumas lavouras,
do uma etapa crítica para o resultado final da tempo- especialmente no aspecto de desfolha das plantas e
rada. As chuvas recentes foram bastante volumosas, também no abortamento de flores.
mas não trouxeram danos à cultura ou aos tratos ope- Isso deve diminuir o potencial produtivo de al-
racionais necessários. gumas lavouras e o rendimento médio da cultura no
Pelo calendário agrícola previsto na região, a co- Estado, se comparado à temporada passada. O ciclo
lheita só deve começar a partir de maio de 2023 e se encaminha para uma etapa bastante importante,
estender suas operações ao menos até novembro do com as lavouras entrando em fase de enchimento de
mesmo ano. Ressalta-se que houve ajuste metodoló- grãos. Uma condição climática favorável nesse perío-
gico no levantamento e, consequentemente, nas esti- do é desejável para mitigar eventuais perdas de rendi-
mativas de área para o café arábica no Estado, trazen- mento e também para influenciar a qualidade dos
do uma diminuição em relação aos números obtidos grãos a serem colhidos.
anteriormente. A partir de março de 2023 as operações de co-
lheita começaram no café conilon, devendo se esten-
Conilon der até agosto de 2023.

O café do tipo conilon tem sua concentração Fonte: Conab

19
PRODUÇÃO
BAHIA

Bahia
MAIOR ALTITUDE E CLIMA AMENO
Produção de 3.624 mil sacas em 98 mil hectares

A
Bahia tem crescimento previsto em 0,6% vo concentrado em grandes propriedades, condu-
na produção total, totalizando 3.624 mil zido por grupos empresariais, e tendo 100% das
sacas em uma área de 98,0 mil hectares. A operações de colheita em caráter mecanizado.
produtividade média ficou em 37,0 sc/ha. As lavouras de café no Cerrado estão dividi-
Arábica: 1.231 mil sacas. das em quatro municípios: Barreiras, Luís Edu-
Conilon: 2.393 mil sacas. ardo Magalhães, São Desidério e Cocos. Quanto
O cultivo de café arábica no Estado se dá nas à condição das lavouras na safra atual, percebe-se
regiões do Planalto, centro-sul e centro-norte da que na região do Planalto, o cenário apresentado
Bahia e no Cerrado, extremo oeste da Bahia. De está favorável, demonstrando bom aspecto de de-
maneira geral, o Planalto se caracteriza pelas áre- senvolvimento.
as de maior altitude e clima ameno, favorecendo o As plantas, em fase de chumbinho e enchimen-
desenvolvimento do café na região, especialmen- to de grãos, estão com carga satisfatória, e as áreas
te aquele grão destinado à produção da bebida de onde não floresceu, ou mesmo onde a floração foi
melhor qualidade. perdida, tiveram crescimento vegetativo adequado.
As lavouras de café no Planalto estão divididas Acredita-se que estas áreas foram mais afeta-
em três microrregiões: Chapada Diamantina, Vi- das pela estiagem do início do ciclo e pelo estresse
tória da Conquista e Brejões. No Cerrado se cul- da colheita, contudo, ainda podem obter produção
tiva exclusivamente o café do tipo arábica, tendo razoável. Soma-se a essas estimativas um incre-
manejo totalmente irrigado e possuindo um culti- mento de área em produção importante de lavou-

20
PRODUÇÃO
BAHIA

ras, antes enquadradas em área em formação. segue operando com o manejo de fertirrigação, não
As lavouras do Cerrado baiano estão em fase sendo capaz de atender a demanda hídrica da cul-
de frutificação e enchimento dos frutos. Houve tura, e em momentos de veranicos ocorre a suple-
uma certa erradicação de lavouras mais velhas e mentação hídrica, para evitar perdas significativas.
menos produtivas, que impactou na área em pro- A colheita ocorre de forma manual e semime-
dução da região. canizada. As lavouras de café no Atlântico estão
Além disso, os efeitos da bienalidade negati- divididas em quatro microrregiões: Extremo-Sul,
va devem reduzir o rendimento médio da cultu- Costa do Descobrimento, Litoral Sul e Baixo Sul.
ra, perfazendo uma estimativa de produção abai- Atualmente, as lavouras da região estão, majo-
xo do alcançado no ciclo passado. ritariamente, em fase de frutificação. Há uma pers-
pectiva de aumento na área em produção mediante
Conilon irrigado a adição de lavouras que foram formadas nos últi-
mos ciclos e que agora começam a produzir.
O café conilon se concentra na região do Atlân- Condições gerais são classificadas como boas,
tico baiano, sul da Bahia, e apresenta cultivo pre- até o momento, e as previsões de rendimento se be-
dominante em médias propriedades, conduzidas neficiam da quase ausência de variação fisiológi-
por famílias de produtores, atingindo as maiores ca sobre o café conilon relacionada à bienalidade.
produtividades do Estado.
A área irrigada do café conilon, no Sul da Bahia, Fonte: Conab

21
PRODUÇÃO
PARANÁ

Paraná
RECUPERA POTENCIAL PRODUTIVO
Produção de 733 mil sacas de café arábica

N
o Paraná, o cultivo é unicamente de café cas importantes para o desenvolvimento dos grãos.
arábica, com previsão de crescimento de Em linhas gerais, o começo do ciclo atual se
47,2% na produtividade, chegando à mé- mostra mais favorável que aquele visto no exercí-
dia de 27,0 sc/ha. A produção está estimada em cio anterior. Mesmo com alguns registros pontuais
733 mil sacas em uma área de 27,1 mil hectares, de intempéries climáticas, a fase de formação dos
justificado pelo retorno de rendimentos a níveis botões florais e a floração propriamente dita foram
de normalidade, haja vista as frustrações advindas em condições climáticas mais amenas, se compa-
das condições climáticas na última safra. rada ao referido período, além de uma etapa ante-
A expectativa inicial para a safra 2023 é de re- rior que permitiu melhor recuperação do vigor ve-
cuperação do potencial produtivo, depois de uma getativo.
última temporada crítica, com adversidades climá-
ticas, como estiagem e geadas, em fases fenológi- Fonte: Conab

22
PRODUÇÃO
SÃO PAULO

São Paulo
APOSTA EM TECNOLOGIAS
Produção esperada de 4.723 mil sacas da espécie arábica

S
ão Paulo tem crescimento de 7,7% em compa-
Condições da lavoura
ração ao resultado obtido em 2022. Tal cresci-
mento, mesmo em ano de baixa bienalidade, é
Quanto às condições gerais das lavouras em
devido à recuperação da produtividade, que nas úl-
campo, há uma avaliação conjunta de fatores fisio-
timas safras foi bastante afetada pelas condições cli-
lógicos da cultura e de fatores climáticos ao lon-
máticas adversas. A produção esperada é de 4.723
go do ciclo.
mil sacas da espécie arábica em 175,8 mil ha, com
Um dos principais fatores fisiológicos é a eta-
produtividade média de 26,9 sc/ha.
pa de diferenciação das gemas vegetativas em ge-
O cultivo de café está presente em diversas re-
mas reprodutivas, as quais, após desenvolvimento,
giões do Estado, destacando-se o agrupamento dos
são denominados de botões florais.
polos ou “praças”, consideradas referências na ca-
Após um período de dormência dessas estru-
feicultura: a Alta Mogiana, a Média Mogiana e as
turas reprodutivas, é necessário um gradiente de
regiões de Garça e Marília, Ourinhos, Avaré e ou-
potencial hídrico, o que é proporcionado, normal-
tros municípios.
mente, pela escassez de umidade predominante
A divisão das regiões é fundamentada nas se-
entre julho e agosto e a retomada das chuvas ou da
melhanças em características geográficas, de clima
irrigação em setembro, para que os botões florais se
e pacotes tecnológicos utilizados. Para esta safra
diferenciem em flores.
2023, a perspectiva é que o parque cafeeiro pau-
O sucesso da safra depende da ocorrência ca-
lista sofra uma redução em comparação ao ciclo
denciada desses eventos, combinadas com outros
passado, principalmente em razão de erradicação
fatores climáticos favoráveis, como temperatura e
de lavouras velhas ou pouco produtivas e substitui-
distribuição adequada de chuvas ao longo dessa eta-
ção de cultivo, especialmente por espécies anuais
pa reprodutiva e das fases vegetativas, para garantir
de maior rentabilidade, como graníferas de verão.
bom aporte foliar, enraizamento adequado e nutri-
O aumento do custo de produção e as recen-
ção satisfatória para gerar os frutos posteriormen-
tes frustrações nas safras passadas, com perdas ex-
te, algo que não ocorreu nos ciclos de 2021 e 2022 e
pressivas de produção do café por adversidades cli-
que aconteceu com limitações na safra atual.
máticas, frearam parte do setor produtivo.
No geral, a presente safra tem oscilações ao lon-
As áreas em produção deverão ser as que mais
go do ciclo, mas deve ser melhor que a temporada
sofrerão com essas baixas, principalmente em vir-
passada, com indicativos de recuperação da cultu-
tude da expectativa inicial de bienalidade negati-
ra depois de uma série de intempéries nos últimos
va para a safra, condicionando muitos produtores a
dois anos.
realizar podas mais drásticas e recuperar as lavou-
ras vegetativamente para o próximo ciclo. Fonte: Conab

23
PRODUÇÃO
RIO DE JANEIRO

Rio de Janeiro
POR ONDE A
CAFEICULTURA COMEÇOU
Produção de 259,6 mil sacas de café arábica

O
Estado apresenta redução de 11,8% em de certas regiões e pode ter reflexo na viabilidade
relação à safra passada, justificada pelo ci- floral e dos frutos.
clo de baixa bienalidade, aliada aos índi- Ainda em setembro, as chuvas iniciaram com
ces pluviométricos abaixo da média histórica de mais regularidade e propiciaram as primeiras flora-
maio a setembro de 2022. A produção deve fi- das, que aconteceram com boa intensidade e bons
car em 259,6 mil sacas de café arábica em 10,7 mil níveis de pegamento. Já as floradas mais tardias ti-
hectares, com produtividade média de 24,3 sc/ha. veram menor carga e apresentaram maior índice de
Rio de Janeiro é um histórico produtor de café, abortamento, muito provavelmente em razão da de-
mesmo que nos tempos atuais o Estado não tenha pauperação já mencionada, especialmente no perí-
a pujança que apresentava outrora. Ainda assim, odo de formação dos botões florais.
persiste uma boa concentração de café na região Atualmente, as lavouras se encontram, de modo
Serrana carioca, com destaque para os municípios geral, razoavelmente desfolhadas e em parte depau-
de Bom Jardim, Duas Barras e São José do Vale do peradas, principalmente as que ficam mais expos-
Rio Preto, que possuem temperaturas mais amenas tas ao sol.
e maior umidade. Isso se deve ao fato de o período seco de 2022
Há, ainda, a região noroeste fluminense, onde é ter sido de precipitação abaixo da média histórica
encontrado o outro grupo de municípios produto- de maio a setembro, de acordo com dados do In-
res: Bom Jesus do Itabapoana, Porciúncula e Var- met e informações colhidas dos informantes.
re-Sai, que apresentam um clima mais seco, com Nos cafezais, as rosetas têm se apresentado com
temperaturas mais altas, tendo o cultivo concen- quantidades desuniformes de chumbinhos. Além
trado nas áreas mais altas do município, as quais disso, as lavouras produziram mais na safra 2022
são propícias para o café arábica. do que na safra 2021 em virtude da questão da bie-
Esses principais municípios produtores de café nalidade, a qual, de forma geral, foi positiva nes-
do Estado registraram índices de precipitação abai- te ano.
xo da média histórica entre maio e setembro de Desta forma, espera-se uma queda na produti-
2022, trazendo uma estiagem mais prolonga- vidade e produção das lavouras na safra 2023.
da para um período que já é reconhecidamente
seco. Isso, em alguma porção, depauperou lavouras Fonte: Conab

24
PRODUÇÃO
RONDÔNIA

Rondônia
ENFRENTA BOA FASE
Produção de 2.943,5 mil sacas de café conilon

R
ondônia apresenta acréscimo de 5,1% em -se necessário, em alguns casos, o acionamento dos
comparação à safra passada, resultado im- sistemas de irrigação.
pactado pela expectativa de aumento na Também houve registro de queda atípica e brus-
produtividade, estimulada pelas condições climáti- ca das temperaturas em conjunto com rajadas de
cas favoráveis, à entrada de novas áreas em produ- ventos acima do habitual, ocasionando, em algumas
ção, com clones com maior potencial produtivo, me- lavouras, principalmente aquelas situadas em ter-
lhor manejo das culturas e pela maioria das lavouras renos mais altos, perdas das folhas e estresse nos
estarem equipadas com dispositivos para irrigação. caules das plantas em formação.
As condições climáticas para a safra 2023, na O registro desses eventos não trouxe perdas
maioria das regiões produtoras, têm se mostrado significativas no potencial produtivo da cultura.
favoráveis para as lavouras e o desenvolvimento Assim, a primeira estimativa de produção na safra
dos frutos. A produção deve ser de 2.943,5 mil sa- representa um aumento, dado principalmente pela
cas de café conilon em 65,0 mil hectares, com pro- perspectiva de produtividade média e estimulado
dutividade média de 45,3 sc/ha. pelas condições climáticas favoráveis, à entrada de
Mesmo em plena estação seca, entre julho e novas áreas em produção com clones com maior
agosto, ocorreram chuvas significativas, que, com- potencial produtivo, melhor manejo da cultura e à
plementadas com a irrigação, desencadearam boas maioria das lavouras estarem equipadas com dis-
floradas e, em setembro, quando na região ocorre a positivos para irrigação.
transição entre a estação seca e a chuvosa, as chu- A substituição das lavouras antigas implanta-
vas iniciaram com maior regularidade e propicia- das com sementes e com baixo padrão tecnológi-
ram novas floradas, com bom “pegamento” e ma- co está em fase avançada de substituição por café
nutenção dos futuros frutos. clonal, e a renovação do material genético conti-
A partir de outubro, as chuvas passaram a cair nua ocorrendo em todas as lavouras de Rondônia.
em bom volume, com regularidade e bem distribu- Estima-se que essa renovação (substituição das
ídas. Todo esse cenário tem sido favorável ao de- lavouras seminais por lavouras clonais) ultrapassa
senvolvimento dos frutos e benéfico à cultura, cujas os 90% da área. É observado em diversas regiões
plantas estão em boas condições vegetativas, bem produtoras que os cafeicultores estão em um pro-
enfolhadas, encorpadas, com bom aspecto nutri- cesso contínuo e gradual de substituição de áreas
cional e os ramos e rosetas bem carregados. clonais mais antigas, com introdução de varieda-
As lavouras se apresentam predominantemen- des mais produtivas, mais resistentes a doenças e às
te no estágio fenológico de expansão dos frutos. adversidades climáticas, com altas temperaturas.
Importante destacar a ocorrência de estiagem du-
rante a primeira quinzena de novembro, fazendo- Fonte: Conab

25
PRODUÇÃO
GOIÁS

Goiás
PRODUÇÃO EM ANDAMENTO
Produção estimada de 233,3 mil sacas de café em 2023

E
m Goiás, há estimativa de redução de 16% possível, elevando os custos de produção. Algumas
na produção, que se deve à redução da área localidades registraram chuvas de granizo, causan-
e, principalmente, à bienalidade negativa e do perdas na florada e desfolha em parte das plantas.
às condições climáticas desfavoráveis no período Atualmente, todas as lavouras estão em fase
de florada. Para 2023, a produção é estimada em de frutificação, variando desde formação do grão
233,3 mil sacas de café em 5,8 mil hectares, com (chumbinho) até enchimento de grãos, tendo vá-
produtividade média de 40,5 sc/ha. rios relatos de lavouras onde nas mesmas plantas
O ciclo está em andamento, e a situação ge- há frutos nessas diferentes fases, devido à desuni-
ral das lavouras está sendo considerada de boa a formidade da florada, o que resultará em matura-
regular, pois as altas temperaturas registradas no ção desuniforme no momento da colheita.
período da florada, juntamente com a insolação, Tais condições climáticas adversas em parte do
causaram abortamento considerável de flores. ciclo, além de outras intercorrências pontuais, re-
Junto a isso, o baixo volume de chuvas também duziram o potencial produtivo da cultura para essa
atrapalhou o desempenho reprodutivo de parte das safra e deve impactar o resultado final em compa-
lavouras, pois em algumas propriedades os poucos ração ao obtido no exercício passado.
volumes de água nos reservatórios de irrigação não Estima-se redução na produção em compara-
supriu a demanda nos momentos críticos das plan- ção a 2022, potencializada pela perspectiva de de-
tas. Porém, esse déficit de irrigação se deu de for- créscimo, tanto da área em produção quanto da
ma mais pontual. produtividade média.
As chuvas irregulares causaram florada irregular,
gerando aumento no volume de irrigação onde era Fonte: Conab

26
PRODUÇÃO PRODUÇÃO
MATO GROSSO AMAZONAS

Mato Grosso Amazonas


AMBIGUIDADE DE TAMBÉM TEM CAFÉ
CICLO
A
s áreas atuais de café em produção no Ama-
zonas estão, na sua maioria, relacionadas
Produção alcança 232,5 mil sacas à espécie Conilon, em especial o mate-
rial BRS Ouro Preto, que se adaptou muito bem
às condições edafoclimáticas da região.
Quanto às condições da cultura ao longo do ci-

E
m Mato Grosso, há previsão de crescimen- clo, observa-se, até o momento, bons níveis gerais,
to de 2% na produção, aumento decorren- com aspectos fitossanitários classificados como sa-
te do início da produção dos cafezais clo- tisfatórios e sem ocorrência de danos significati-
nais inseridos em 2020. A produção estimada é de vos que possam impactar sobremaneira o potencial
232,5 mil sacas de café em uma área de 11,2 mil produtivo dos grãos.
hectares, com produtividade média de 20,8 sc/ha. Fonte: Conab
As condições climáticas nesse ciclo estão am-
bíguas. No fator disponibilidade hídrica, a situação
geral foi de boa incidência pluviométrica, com al-
guns períodos pontuais de estiagem que não com-
prometeram significativamente o desenvolvimen-
to da cultura e acumulado hídrico adequado nos
solos.
Entretanto, houve muita amplitude nas tempe-
raturas, com épocas de frio marcante e outros perí-
odos de altas temperaturas. Isso, de alguma manei-
ra, impacta na fisiologia das plantas e também no
manejo cultural e de pragas e doenças.
Ainda assim, a perspectiva para a temporada é
de rendimentos maiores do que aqueles obtidos no
exercício passado, tendo em vista que a cafeicultu-
ra do Estado continua a experimentar um proces-
so de mudança no seu sistema produtivo, adotando
técnicas mais eficientes e materiais mais prolífi-
cos.
Fonte: Conab

27
PRODUÇÃO
GEADAS E GRANIZO

28
PRODUÇÃO
GEADAS E GRANIZO

Geadas e chuvas de granizo


CAFEICULTURA PAGOU PREÇO ALTO

29
PRODUÇÃO
GEADAS E GRANIZO

A
geada é um fenômeno climático que ocor-
re por efeito de baixa temperatura do ar.
O ar frio, mais denso, desce da área mais
alta e se acumula nos fundos ou partes mais bai-
xas do terreno.
As temperaturas baixas letais para os tecidos
dos cafeeiros giram na faixa de -1 a -3ºC junto ao
terreno, significando cerca de +1 a -1ºC nas tem- Estratégias
peraturas medidas no posto meteorológico.
Nestas condições, formam-se cristais de gelo, preventivas
que rompem as células dos tecidos das plantas de
café, que, em seguida, tomam uma cor chumbo,
As medidas preventivas contra a
depois marrom, com sua morte. Mais comumente,
diz-se que os tecidos e as diferentes partes da plan- geada devem ser adotadas para
ta de café - as folhas, ramos, frutos e até o tronco - evitar ou reduzir os danos pelo frio.
ficam queimados pelo frio. Elas devem ser usadas nas lavouras
Como a formação do frio ocorre em função da
entrada de frentes frias, as regiões cafeeiras mais
da seguinte forma.
próximas ao Sul, nos Estados do Paraná, São Pau-
lo e zonas do Triângulo e Sul de Minas estão mais
sujeitas a geadas.

Geadas e granizo em 2022


As geadas que tiveram efeito danoso na safra
de café de 2022 foram as que ocorreram em ju-
lho de 2021, as quais causaram queimas e morte
da folhagem e da ramagem dos cafeeiros em mui-
tas regiões.
Essa vegetação seria a responsável pela flora-
ção, frutificação e produção na safra seguinte, a de
2022. Nesse ano, efetivamente, houve apenas uma
geada bem leve e restrita, em 20 de maio/22. O frio
intenso, embora não suficiente para queimar a fo-
lhagem, pode ter causado algum tipo de distúrbio
fisiológico nas plantas.
Já a ocorrência de granizo que, normalmente,
acontece de forma muito localizada, foi mais se-
vera em 2022, com efeito mais amplo. Grande nú-
mero de regiões e de municípios tiveram lavouras
afetadas e a ocorrência foi registrada desde início
de setembro até meados de novembro/22.
Foram observados prejuízos com granizo so-
bre cafezais em 54 municípios do Sul de Minas, 12
do Triângulo e Alto Paranaíba, cinco da Zona da
Mata de MG, três da Mogiana Paulista e um no
Espírito Santo.

Impacto na cafeicultura brasileira


As geadas de 2021, que se refletiram na safra
de café de 2022, atingiram a maior parte das prin-
cipais regiões produtoras de café arábica do Brasil,
abrangendo Paraná, São Paulo, Triângulo Mineiro,
Alto Paranaíba e Sul de Minas, que juntas per-
fazem uma área cafeeira de cerca de 1 milhão de
hectares e apresentam um potencial produtivo mé-
dio de 32 milhões de sacas de café por ano.

30
PRODUÇÃO
GEADAS E GRANIZO

1 Escolher os locais mais altos nos terrenos, com bom escoamento do ar frio, para plantio do café;

2 Deixar o solo livre de material vegetal, vivo ou morto, durante o inverno, para expor a terra ao sol;

3 Eliminar barreiras vegetais abaixo das lavouras, para evitar represamento do ar frio e, se possível,
formar barreiras acima das lavouras;

4 Irrigar o mínimo possível, ou não irrigar, nos meses mais frios;

5 Manter a lavoura bem adubada com potássio;

6 Em locais muito sujeitos a geadas, se necessário plantar café, adotar uma arborização;

7 Em locais de maior risco, plantar variedades de café de maturação mais precoce, para evitar
perdas em frutos ainda não formados e com prejuízos no mesmo ano da geada;

8 Existem alguns produtos, como nutrientes ricos em potássio, hormônios ou extratos que se
encontram em teste para redução de danos por geadas, mas ainda não podem ser indicados.

31
PRODUÇÃO
GEADAS E GRANIZO

A estimativa de área atingida pela geada ficou Para a ocorrência de granizo, por se tratar de um
em cerca de 210 mil hectares, ou cerca de 20%, com fenômeno muito eventual e que ocorre de forma
perda em diferentes níveis, conforme o tipo de quei- aleatória, só restaria torcer para não acontecer e,
ma das lavouras. No geral, a perda estimada foi de por sua vez, caso haja interesse, se proteger me-
5,0 – 7,0 milhões de sacas pelo efeito das geadas. diante um seguro.
Também é importante destacar que, no ciclo
2021/22, houve um forte estresse hídrico nessas Lições aprendidas
regiões, somando prejuízos e, assim, o que era es-
perado ser, em 2022, uma super safra, bem acima Os efeitos de geadas e de granizo sempre dei-
de 60 milhões de sacas, foi confirmada, pela Co- xam um aprendizado. Primeiro que é preciso esco-
nab, em cerca de 50,5 milhões. lher bem as regiões e áreas para implantar os cafe-
Com relação ao prejuízo por granizo, pela zais, considerando o risco do fenômeno.
ocorrência no final de 2022, as perdas serão ob- Segundo que devem ser mantidas as lavou-
servadas na safra de 2023. Estima-se que mais de ras limpas no inverno, pois o mato, vivo ou mor-
20 mil hectares de cafezais tenham sido atingidos, to, isola o solo e reflete o calor durante o dia. O
com expectativas de perdas de cerca de 400 mil sa- solo limpo, ao contrário, armazena calor duran-
cas em 2023. te o dia e libera o mesmo à noite, esquentando
o ambiente próximo aos cafeeiros e reduzindo o
Procedimentos a médio e longo prazo risco da geada.
Por último, na condição de ocorrência desses
A médio e longo prazos, os produtores atin- fenômenos adversos, é preciso programar a comer-
gidos por geadas ou granizo devem se progra- cialização dos cafés, buscando aproveitar melho-
mar, adotando as medidas necessárias para se res condições de preços que possam advir das per-
prevenir, diante da possibilidade de ocorrências das de safra.
futuras.
No caso de áreas muito sujeitas a geadas, de fun- Estratégias curativas
do de terrenos, deve-se substituir o café por outros
cultivos de verão e, paralelamente, caso necessário, Não existem práticas curativas que possam ser
plantar café em áreas de menor risco. Também é economicamente viáveis. Elas não seriam capazes
importante adotar práticas preventivas para redu- de evitar o frio e seus efeitos de queima das par-
zir o risco de prejuízos com o fenômeno. tes dos cafeeiros. O que existe são medidas prote-

32
PRODUÇÃO
GEADAS E GRANIZO
tivas a serem adotadas no dia da geada, como o uso
de neblina, uma forma de evitar a perda de calor do
ambiente junto aos cafeeiros.
Porém, é difícil aplicar essa neblina protetiva,
uma vez que ela deve abranger toda a bacia onde
estão as lavouras, o que significa, quase sempre, a
abrangência de várias propriedades na mesma bacia.
Outra dificuldade é que a aplicação da neblina
precisa ser muito bem planejada e executada, coin-
cidindo a hora e temperatura adequadas na ma-
drugada, conforme a temperatura crítica venha a
ser atingida.

O que fazer logo após a geada


Após a ocorrência de geada, o produtor deve
somente fazer uma avaliação prévia dos níveis de
danos nas suas diferentes lavouras. Então, deve
aguardar dois a três meses para verificar melhor
como foram atingidas as partes das plantas.
Assim, vai poder aplicar ou não podas corre-
tivas, fazendo apenas onde forem necessárias es-
sas práticas, adotando, ainda, o tipo mais adequado,
no sentido de cortar o mínimo possível as plan-
tas, para ter a recuperação mais rápida da lavou-
ra atingida.

Produtividade +
info@acadian.ca

+55 19 99602-2535

@acadianplanthealth Sustentabilidade
Acadian Plant Health LATAM
Juntas como uma só.
PRODUÇÃO
GEADAS E GRANIZO

das áreas atingidas e em função da severidade do


Como manejar a lavoura após o dano
frio. Dependem, também, da tomada de decisão
dos cafeicultores, após os prejuízos verificados e
O manejo da lavoura de café após os danos por
suas consequências.
geada ou granizo deve ser feito observando, em
Para ilustrar essas perdas, podem ser aqui mos-
cada lavoura, o tipo de queima das plantas.
tradas as situações em duas propriedades, ambas
Em caso de queima leve, superficial, não é pre-
na região da Mogiana Paulista. A primeira no mu-
ciso podar, apenas esperar a recuperação na brota-
nicípio de Pedregulho, com área de 135 hectares
ção. Na situação de queima parcial de boa parte do
de cafezais, dos quais 65 hectares foram afetados
topo das plantas, o que se chama de geada ou gra-
pelas geadas de julho/21, sendo que 55 deles fo-
nizo de capote, pode ser feito um decote, cortando
ram recepados. A produção esperada para a sa-
logo abaixo da área queimada e conduzindo a bro-
fra de 2022, antes da geada, era de 8.000 sacas, mas
tação do ponteiro.
foram colhidas apenas 1.400.
Na condição de geada severa, com queima e
A segunda, no município de Jeriquara, com área
morte de toda a ramagem das plantas, com atin-
total de 510 ha de lavouras de café, das quais 410 ha
gimento do tronco, pode ser necessária uma poda
foram afetadas e, destes, 285 hectares de lavouras
de esqueletamento ou desponte, e até uma rece-
precisaram ser recepadas, sendo que 105 hectares
pa, esta quanto mais alta melhor.
foram substituídos pelo plantio de soja. A safra es-
Nas lavouras novas, deve-se esperar para ver se
perada nessa propriedade, antes da geada era, para
rebrotam e, então conduzir os brotos. Em caso de
2022, de 23.000 sacas, mas se colheu apenas 4.000
morte, deve-se fazer o replantio.
sacas.
No caso de granizo, principalmente em regiões
mais frias e úmidas, de altitude elevada, é indica-
do fazer uma ou duas pulverizações com fungici-
das/bactericidas para proteger as partes das plantas
feridas pelo gelo do desenvolvimento de doenças. Autoria:
José Braz Matiello
jb.matiello@yahoo.com.br
Perdas em propriedades cafeeiras Marcelo Jordão Filho
marcelo@fundacaoprocafe.com.br
As perdas por geadas, nas propriedades de café, Engenheiros agrônomos - Fundação Procafé
evidentemente variam de acordo com a extensão Fotos: Marcelo Jordão

34
PRODUÇÃO

MERCADO

CUSTOS

ESPECIAIS

35
MERCADO

36
MERCADO

Tendências para o
mercado de Café
COM SELIC A 13,75% COM TENDÊNCIA DE ALTA, QUALQUER
ADIAMENTO DAS VENDAS REPERCUTE FORTEMENTE SOBRE OS
GANHOS FINANCEIROS DE UMA COMERCIALIZAÇÃO MAIS PRECOCE.

37
MERCADO

N
os cinturões de arábica, a safra 2021/22 ruptura nessa capacidade, pois o País voltou a ter
(temporada de bienalidade negativa) foi um segundo ciclo de baixa na produção.
afetada pela incidência de consecutivas
geadas seguidas por estiagem prolongada, ocasio- Trajetória
nando perdas de produção, especialmente nas la-
vouras do Cerrado Mineiro e Mogiana Paulista. O Departamento Estadunidense de Agricul-
Embora a colheita não tenha sido perdida, o tura divulgou, em novembro de 2022, suas estima-
potencial produtivo para a safra 2022/23 foi pre- tivas para a safra brasileira de café. Os números
judicado. Lavouras em produção tiveram que ser contabilizados confirmaram a trajetória de queda
submetidas a podas, enquanto outras em formação na produção passada (-16,88%), ainda que a eleva-
demandaram o replantio. ção na oferta de conilon tenha amenizado o tom-
Também, houve lavouras cuja primeira colhei- bo no arábica (Tabela 1).
ta foi perdida devido à demanda por poda no pós-
-geadas de 2021. Assim, enquanto o mercado tra- Impactos
balhava com balanços de oferta/demanda futura,
com o Brasil entregando acima dos 65 milhões de Sem entrar na questão da precisão estatística
sacas ou mais (arábica mais conilon), ocorreu uma e seu emprego pelos agentes de mercado nas es-

38
MERCADO

TABELA 1. Produção de café no Brasil, arábica, conilon e total, safras 2020/21 e 2021/22 (em
milhões de sacas).

Safra 2020/21 Safra 2021/22 Variação (%)


Arábica 49,70 36,40 -26,76
USDA Conilon 20,20 21,70 7,42
Total 69,90 58,10 -16,88

Arábica 48,77 31,44 -35,53


CONAB Conilon 14,31 16,29 13,83
Total 63,08 47,73 -24,33

Fonte: Elaborado a partir de dados do FAZ/USDA (2022) e CONAB (2022).

39
MERCADO

timativas de oferta e demanda futura, mas, obser-


Disparidades
vando apenas a tendência, a Conab apontou em
seus levantamentos queda na produção de café no
Pesa sobre a safra em curso disparidades en-
Brasil (-24,33%), sendo que o maior impacto ocor-
tre previsões de safras. Cotejando apenas as duas
reu na oferta de arábica, com queda de -35.53%,
principais instituições (USDA e Conab), o des-
ou seja, tendencialmente uma queda significativa.
compasso é de 11,68 milhões de sacas (Tabela 2).
A queda na oferta de arábica brasileiro reper-
Nesse ponto, os investidores no mercado de
cutiu no primeiro trimestre de 2022. As cotações
café, atuantes nas bolsas internacionais, pautados
ganharam impulso a partir de fevereiro (auge da
pelo número mais robusto da agência estaduniden-
entressafra de café brasileiro), saltando de US$
221,04/lbp (média do último trimestre de 2021 se, pressionaram as cotações ao longo do segundo
em segunda posição) para US$ 234,65/lbp (mé- semestre de 2022, imputando contínuas baixas nas
dia do primeiro trimestre de 2022), ou seja, varia- cotações futuras diárias.
ção de 6,12% na comparação. As cotações alcan- Confirmando essa hipótese, a média das cotações
çaram o pico de US$ 258,45/lbp em 10/02/2022. futuras em segunda posição em Nova York, para o
Em termos de preços recebidos pelos cafeicul- café arábica, sinalizou queda expressiva entre os ter-
tores paulistas, comparando-se o último trimestre ceiro e quarto trimestres de 2022, baixando de US$
de 2021 com o primeiro de 2022, houve elevação de 218,511/lbp para US$ 176,03/lbp, ou seja, queda de
7,17% nos preços recebidos pelos cafeicultores pau- 19,44% na média dos períodos considerados.
listas, saltando da média de R$ 1.328,13/sc no 4º Essa tendência de queda se manteve na primei-
T/2021 para R$ 1.423,38/sc no 1º T/2022. ra quinzena de janeiro, com média das cotações fu-
Portanto, o quadro de escassez estava suficien- turas contabilizadas em US$ 173,43/lbp. No último
temente configurado para uma elevação nos pre- pregão do ano, em NY, a cotação futura em segun-
ços. Cafeicultores com aprimorada gestão das la- da posição fechou em US$ 167,30/lbp, isto é, que-
vouras auferiram resultados expressivos a esses da adicional de 3,53% frente à média do semestre.
patamares de preços.
Outros não tão eficientes na condução da pro- A origem da alta
priedade podem não ter obtido rentabilidade sufi- dos preços
ciente para suportar a elevação dos custos de pro-
dução, centrados especialmente no encarecimento Para além das disparidades das previsões, ou-
dos preços do diesel e dos fertilizantes. tros fatores compõem o repertório baixista atuante
Feito esse rápido resgate e considerando a sa- na formação dos preços: florada pujante e concen-
fra 2022/23, torna-se possível especular o que se trada (embora com pegamento modesto); tem-
pode esperar para a produção e preços da colhei- peratura média e precipitações favoráveis ao de-
ta que está por vir. senvolvimento das plantas; queda nos preços dos

40
MERCADO

TABELA 2 – Produção de café, Brasil, arábica, conilon e total, safras 2022/23 (em milhões de sc).
USDA CONAB
Milhões de sc Participação (%) Milhões de sc Participação (%)
Arábica 39.80 63,58 32,72 64,26
Conilon 22.80 36,42 18,20 35,74
Total 62,60 100,00 50,92 100,00
Fonte: Elaborado a partir de dados do FAZ/USDA (2022) e CONAB (2022).

fertilizantes e do diesel, e apenas discreta queda novo fator passa a pressionar as cotações. Com a
nos embarques mensais de produto ao exterior. quebra de safra brasileira, cafeicultores com con-
Entre julho e novembro de 2022, por exemplo, tratos de entrega futura e não aderentes ao seguro
o fertilizante 20-05-20 teve preços em queda de rural viram-se obrigados a repactuar com as tra-
23%, enquanto o diesel exibiu queda de 8% no pe- ders seus compromissos.
ríodo considerado. Com a elevação do custo, essas empresas se vi-
Outro elemento crucial na formação dos preços ram obrigadas a pressionar os preços pagos, im-
recebidos pelos cafeicultores brasileiros, em 2022, pulsionando ainda mais a queda nas cotações.
foi a pressão de elevação dos custos logísticos. Os competidores do Brasil nas exportações de
A política sanitária de Covid implementa- café exibem posicionamentos díspares pois, en-
da pela autoridade chinesa, associada à súbita re- quanto a Colômbia, em 2022, reportou diminuição
cuperação econômica a partir do segundo semestre dos embarques devido à quebra em sua produção,
de 2021 (particularmente o forte incremento da o Vietnã incrementou suas quantidades vendidas.
demanda nos EUA), ocasionou congestionamen- O Brasil em contexto de fluxo estável de ven-
to nos portos de embarcações e, consequentemente, das e o Vietnã compensando a baixa colombiana,
escassez de contêineres para operações de comércio formam um contexto relativamente confortável
exterior em escala global. aos importadores.
Sobretudo, no terceiro trimestre de 2022, os
descontos na formação dos preços passaram a se A guerra
expressar.
Para além das questões da oferta brasileira e do
Quebra de safra posicionamento dos principais concorrentes, tem ha-
vido a Guerra Russa x Ucrânia, a escassez de hidro-
Alcançando o segundo semestre de 2022, um carbonetos na União Europeia e de alimentos em

41
MERCADO

âmbito global (ambos os fenômenos decorrentes do


Novas oportunidades
primeiro, incrementado pelas mudanças climáticas).
Esse conjunto de crises (policrises) desenca- O comércio exportador brasileiro tem ofe-
deou processo inflacionário, de caráter inercial, que recido novas oportunidades de negócios. Com-
contou com leniência por parte dos bancos cen- pras australianas cresceram 20% frente a 2021, to-
trais (atraso em combatê-la), mostrando-se agora talizando 432 mil sacas. Mesmo com toda a crise
maior resiliência para ser mitigada por meio de po- econômico/financeira vivenciada pela Argentina,
líticas monetárias (taxa de juros). houve aumento de 7% nas exportações para o País
Combinados, os impactos dessa policrise trarão (805 mil sacas).
encolhimento do potencial de crescimento econô- Também tradicionais compradores incremen-
mico mundial, com reflexos sobre os gastos das fa- taram sua demanda por café brasileiro, como foi
mílias, principal componente no cenário de tendên- o caso da Finlândia, com expansão de 12% (to-
cia para o consumo da bebida. talizando 409 mil sacas).
Em simpósio internacional, a presidenta execu- Tanto a abertura de novos mercados como o au-
tiva da OIC, Vanusia Nogueira estimou crescimen- mento dos embarques para os já consolidados são
to do consumo entre 1,0 a 2,0% para o corrente ano. cruciais para consolidar a nossa expertise comer-

42
MERCADO

EXPORTAÇÕES ÁGIO PARA OS CAFÉS DIFERENCIADOS

AUSTRÁLIA ARGENTINA ÁGIO ÁGIO

Compras cresceram Compras cresceram 16,4% 21,3%


7%, totalizando 20%, totalizando
805 mil sacas 432 mil sacas frente ao arábica frente ao conilon

cial (em confiabilidade e qualidade). Se o consu-


Posicionamento do produtor
mo mundial mantiver a taxa de crescimento pre-
vista, o País tende a capturar a maior parte desse Diante de toda a análise desenvolvida até esse
incremento. ponto, qual seria o posicionamento comercial “pru-
Também, o esforço de agregação de valor ao dente” para o cafeicultor implementar na safra
café verde tem sido muito relevante para a ca- 2022/23? A primeira pergunta que surge é: como
feicultura. Em 2022, os cafés diferenciados (no- evoluirá a cotação do dólar, uma vez em que o
menclatura adotada pelo Cecafe) foram comer- câmbio tem influência direta sobre as cotações in-
cializados com ágio de 16,4% frente ao arábica e ternacionais do café?
de 21,3% frente ao conilon “médio”. Caso o FED (banco central estadunidense) in-
A agressão russa à Ucrânia ocasionou que- tensifique as altas na sua taxa de juros básica, a ten-
da nas exportações de café solúvel e verde a am- dência é de fortalecimento global do dólar. Caso
bos destinos, especialmente para a Rússia. Em contrário, entenda que a escalada inflacionária ar-
razão do conflito, a associação do segmento es- refeça nos próximos meses no País (tendência já
timou, em 2022, queda dos embarques de 400 confirmada, apesar da escalada de preços do setor
mil sacas. de serviços), pode engendrar uma paralisação na
Ainda assim, o ano foi de recorde no valor das evolução da taxa, ocasionando queda na procu-
exportações, que totalizaram US$ 566,7, ou seja, ra pelo dólar e, consequentemente, sua desvalori-
24,5% de incremento frente ao ano anterior. zação frente à cesta das principais moedas globais.
Sem competência para asseverar sobre qual
Internamente será a evolução do poder de compra futuro da
moeda americana, outra variável doméstica pre-
No mercado interno, a alta dos preços do pro- cisa pautar a decisão sobre a estratégia comercial a
duto tem molestado a carteira dos consumidores. ser adotada.
Em 2022, segundo dados do Instituto de Econo- Com Selic a 13,75% com tendência de alta,
mia Agrícola (IEA), coletados no varejo da ci- qualquer adiamento das vendas repercute forte-
dade de São Paulo, houve 16,84% de incremen- mente sobre os ganhos financeiros de uma comer-
to nos preços do café torrado e moído. A escalada cialização mais precoce. A elevada taxa de juros
dos preços se iniciou em jul/21, quando saiu de R$ básica também repercute sobre os derivativos fi-
10,10/500 gramas (Figura 1). nanceiros. Cresce a taxa de desconto da CPR que,
Ainda que o aumento recente de preços possa somada ao overhead do agente financeiro, pode ul-
ter influenciado a frequência das aquisições de café trapassar a casa dos 20% de deságio sobre o valor
por parte das famílias, pesquisa realizada em 2021, de face do título.
junto a apreciadores da bebida, contabilizou que a
intenção de consumo se elevou em 13% entre 93% Opções disponíveis
dos entrevistados (4,0 mil).
Esse indicador confere a importância que o Apesar dos juros internacionais exibirem ten-
consumo da bebida possui nos hábitos de consu- dência de alta, ainda se mantêm atrativas as opera-
mo. Em 2022, ainda que a expansão do consumo ções de barter. As transnacionais da área de insumos
não tenha alcançado o percentual contabilizado possuem ramificações financeiras capazes de mobi-
pela pesquisa, não há motivos para imaginar que a lizar capitais internacionais, transferindo-os para os
diminuição das compras tenha passado a trafegar cafeicultores por meio dos produtos que necessitam
no terreno do encolhimento de mercado. na condução do manejo de suas lavouras.

43
MERCADO

FIGURA 1 – Trajetória dos preços no varejo, cidade de São Paulo, café torrado e moído, pct 500 gr, dez/20 a dez/22.

20,00 19,08 19,34 19,22


17,93 18,42 19,69 19,51
18,78 18,93
17,89

15,00 16,45
15,05
12,10 13,28
12,38
9,69 10,10
10,00 9,35 9,47 10,66
9,51 9,87
9,19
DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
2021 2022

1,56% 16,84% 16,84%


Variação no último mês Variação 12 meses Variação no ano

Fonte: Cesta de Mercado, IEA, 2023.


Operações de barter têm ampliado sua rele- tentáveis na condução das explorações. A certifi-
vância dentro das carteiras de crédito, rivalizando cação ESG, por exemplo (ainda em construção),
os desembolsos com instrumentos mais tracionais tornou-se coqueluche entre as principais compa-
como, por exemplo, a CPR. nhias internacionais que atuam na torrefação, mo-
Descartar os derivativos futuros por registrar agem e solubilização.
perda financeira na última entrega de produto não Essa pauta promete trazer grandes transforma-
é decisão admissível. Não se exagera ao anotar que ções aos meios de produção e comercialização do
em anos anteriores a celebração de contratos fu- café em âmbito global, que podem se tornar um
turos foi crucial para a permanência na atividade. cenário de oportunidades para o café brasileiro,
As orientações dos gestores das mesas de comer- tendo em vista pesquisa, tecnologia e boas práticas
cialização das cooperativas são fontes imprescindí- desenvolvidas no País.
veis no desenho da estratégia comercial. Correto- Ao longo de 2023, a dinâmica econômica glo-
res da confiança dos cafeicultores não cooperados bal continuará sendo marcada por incertezas (ali-
prestam igual assessoria comercial. mentares, energéticas e de segurança). Ainda que a
Destinar mais que 40% da safra ao merca- safra brasileira caminhe para confirmar uma ofer-
do spot pode ser arriscado, tendo em vista o ele- ta mais restrita, outros fatores intervenientes nesse
vado grau de volatilidade que tradicionalmente o mercado podem emitir ecos que certamente resso-
mercado exibe. Incertezas dominam o ambiente arão na formação dos preços.
de negócios em âmbito global. Tampouco, cogitar Contando com a inelasticidade típica da bebi-
operar sem o respaldo de seguro rural pode se en- da e alguma retomada econômica na Ásia (parti-
quadrar em atitude insensata. cularmente na China), o chamado pouso suave dos
Há muita controvérsia em relação às mudanças EUA, podemos desenhar cenário em que os preços
climáticas, mas não se pode negar que os distúrbios continuarão pressionados, favorecendo uma even-
se tornaram mais severos (calor e frio, estiagem e ex- tual melhoria da lucratividade dos cafeicultores.
cesso de precipitações, ocorrência de granizo), im-
pondo perdas significativas aos cafeicultores nas úl-
timas três safras, as quais mediante seguro adequado Autoria:
teriam o respaldo necessário para não comprometer Celso Luis Rodrigues Vegro
a saúde financeira da exploração agrícola. Engenheiro agrônomo, mestre e pesquisador científico –
Instituto de Economia Agrícola (IEA)
celvegro@sp.gov.br
Sustentabilidade em pauta Eduardo Heron dos Santos
Cientista da computação e diretor técnico - Conselho
Acentuam-se entre os principais mercados im- dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé)
portadores da bebida a exigência de padrões sus- eduardo@cecafe.com.br

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MERCADO

46
MERCADO

CONJUNTURA MUNDIAL
MERCADO DE CAFÉ
Exportação de café bateu recorde de US$ 9,23 bi em 2022, crescimento de
46,9%. Mesmo registrando declínio de 1,7% no volume, o grão responde por
2,8% das vendas externas do País.

47
MERCADO

A
s exportações dos cafés do Brasil, no ano Em relação à queda no volume, 2022 ainda foi
de 2022, foram realizadas para 122 paí- um ano impactado pelos gargalos logísticos no co-
ses, atingindo receita cambial recorde de mércio marítimo mundial, além de conflitos geo-
US$ 9,23 bilhões, montante que representou um políticos e de um maior interesse da indústria na-
incremento bastante expressivo na arrecadação de cional pelos cafés robusta e conilon.
46,9%, comparado com os US$ 6,28 bilhões con- Os entraves logísticos vêm diminuindo de for-
tabilizados no ano anterior. ma gradativa, mas ainda estamos distantes da nor-
Entretanto, em termos de volume físico, o País malidade, enfrentando disponibilidade reduzida de
exportou o equivalente a 39,35 milhões de sacas contêineres, dificuldades para obter bookings, ro-
de 60 kg, número que denotou uma ligeira que- lagens de cargas e custos elevados.
da de 3,1%, na comparação com o volume expor- Além disso, as fábricas brasileiras têm amplia-
tado em 2021. do o uso de conilon em seus blends, o que diminuiu
No acumulado dos seis primeiros meses da sa- a exportação da variedade em 60% no ano passa-
fra 2022/23, os embarques nacionais alcançaram do. Também não podemos esquecer do impacto do
19,341 milhões de sacas e renderam US$ 4,576 bi- conflito no leste europeu, com o embarque para a
lhões ao País, registrando declínio de 1,7% em vo- Rússia recuando quase 50%.
lume, mas incremento de 31,5% em receita. Esses fatores atrapalham demais o trabalho dos
Esses resultados foram alcançados com os exportadores, que merecem todo nosso respeito por
3,195 milhões de sacas remetidos ao exterior em conseguirem manter o Brasil como o principal pro-
dezembro, que geraram US$ 707 milhões – recuos vedor de café do mundo.
de 17,9% em volume e de 11,8% em receita frente
ao mesmo mês do ano retrasado.
Segundo o presidente do Cecafé, Márcio Fer-
reira, a receita recorde em 2022 reflete as cotações
mais elevadas do produto e a taxa de câmbio fa-
vorável.

Em destaque
Merece destaque o fato de que a espécie arábi-
ca foi, tradicionalmente, de forma absoluta, a mais
exportada dos cafés do Brasil, em 2022, com ven-
das que somaram 34,07 milhões de sacas de 60
kg aos países compradores, volume que equivale a
86,6% do total das exportações do País.
Na segunda colocação, verifica-se que o café
solúvel registrou em exportações o corresponden-
te a 3,72 milhões de sacas, que equivalem a 9,5%
do total vendido no mesmo ano. Na sequência, fi-
gura a espécie de Coffea canephora (robusta + co-
nilon), com a exportação de 1,50 milhão de sacas
(3,8%), e, adicionalmente, os cafés torrado e torra-
do & moído, com vendas que somaram 47,74 mil
sacas de 60 kg, que equivalem a apenas 0,1%, to-
talizando, assim, 100% das exportações realizadas
em 2022.

Influência do dólar
Adicionalmente, também merece destaque o
fato de o dólar comercial ter se mantido acima de
R$ 5,00 ao longo de quase todo o ano de 2022.
Ainda, as cotações do café ficaram em níveis sa-
tisfatórios nesse período, fatores conjugados que
contribuíram diretamente para que o preço mé-
dio da saca de 60 kg atingisse, em média, US$
234,64, que foi o maior registrado nos últimos cin-
co anos, haja vista que tal cotação teve um incre-
mento de 52% em relação ao ano anterior.

48
MERCADO

Com a receita cambial de US$ 9,233 bilhões, o um fornecedor leal”, ressalta o presidente do Ceca-
café responde por 2,8% das exportações totais re- fé, Márcio Ferreira.
alizadas pelo Brasil em 2022, que renderam US$ Os Estados Unidos lideram a lista dos maiores
334,463 bilhões ao País. destinos do produto em 2022, com a importação
Quando se analisa o desempenho dentro do de 7,985 milhões de sacas, volume 2,1% maior do
agronegócio (US$ 159,091 bilhões), setor que cor- que o adquirido em 2021 e que equivale a 20,3%
responde a 47,6% das remessas totais brasileiras, a do total.
representatividade dos embarques da cafeicultura Na sequência, vêm Alemanha, com a aquisição
sobe para 5,8%. de 6,844 milhões de sacas (+4,2% e representativi-
dade de 17,4%); Itália, com 3,355 milhões (+13,7%
Destinos do café brasileiro / 8,5% do total); Bélgica, com 2,921 milhões de sa-
cas (+2,7% / 7,4% do total); e Japão, com a impor-
Entre os 10 principais destinos dos cafés do tação de 2,873 milhões de sacas (-25,5% / 4,8%
Brasil, apenas o Japão não apresentou crescimento. do total).
“Isso demonstra que os grandes consumidores glo- Com o conflito entre Rússia e Ucrânia, as ex-
bais seguem buscando, no maior produtor e expor- portações para a região registraram recuo no ano
tador global, a qualidade e a diversidade de nos- passado.
sos cafés, que atendem aos mais rígidos critérios O Leste Europeu importou 1,113 milhão de
socioambientais e às exigências de sustentabilida- sacas dos cafés do Brasil, volume que implica em
de dos mercados internacionais, fazendo do Brasil queda de 45,3% em relação a 2021.

49
MERCADO

Somente a Rússia teve declínio de 46,6%, com registrou o embarque equivalente a 3,725 milhões
suas aquisições, saindo de 1,217 milhão, no ano re- de sacas, respondendo por 9,5%.
trasado, para 650.174 sacas em 2022. Assim, os Na sequência, aparecem a variedade canéfora
russos deixaram a sexta colocação no ranking e (robusta + conilon), com a exportação de 1,501
desceram para a 15ª posição. milhão de sacas (3,8%), e o produto torrado e tor-
Por outro lado, merece destaque positivo o de- rado & moído, com 47.747 sacas (0,1%).
sempenho apurado nas remessas de café para Co- De acordo com o presidente do Cecafé, Már-
lômbia, Holanda (Países Baixos) e Coreia do Sul. cio Cândido Ferreira, a redução nos embarques
Os colombianos ocuparam a sexta posição no de canéforas é significativa, mas teve seu lado po-
ranking ao adquirirem 1,721 milhão de sacas, vo- sitivo. “A queda forte na exportação dessa varieda-
lume 48,1% superior ante 2021. de se deveu ao crescimento da demanda das indús-
Os holandeses ampliaram em 75,6% suas im- trias nacionais, o que, por outro lado, contribuiu
portações, que chegaram a 916.412 sacas e eleva- para que os embarques de café solúvel permane-
ram essa nação para a nona colocação. cessem em níveis próximos a 4,0 milhões de sacas,
A 10ª posição fica com os coreanos, que com- o que significa que enviamos ao exterior produto
praram 858.228 sacas e aumentaram em 25,2% com mais valor agregado”, analisa.
suas importações.
Os envios dos cafés do Brasil também tiveram Cafés diferenciados
desempenho significativo para a China. O país asi-
ático adquiriu 414.842 sacas do produto no ano Os cafés que possuem qualidade superior ou
passado, apresentando uma evolução de 21,3% na algum tipo de certificado de práticas sustentá-
comparação com as 341.898 sacas importadas um veis responderam por 20,8% das exportações to-
ano antes. tais brasileiras do produto no primeiro bimestre de
Com esse desempenho, os chineses subiram 2023.
para o 20º lugar no ranking dos principais desti- Como resultado, foram enviadas 1,086 milhão
nos do produto. de sacas ao exterior. Esse volume representa declí-
nio de 3% na comparação com o mesmo período
Tipos de cafés do ano antecedente.
Em síntese, o preço médio do produto foi de
O café arábica foi o mais exportado no acumu- US$ 253,88 por saca, proporcionando, assim, uma
lado de 2022, com a remessa de 34,077 milhões de receita de US$ 275,6 milhões nos dois meses, o
sacas ao exterior, ou 86,6% do total. O café solúvel que corresponde, em conclusão, a 24,7% do obtido

50
MERCADO

TABELA 1 - Exportações brasileiras de café - volume em sacas de 60 kg e receita cambial em US$.


ARÁBICA CONILLON SOLÚVEL TORRADO TOTAL
JAN/22 Sacas 2.993.663 99.847 320.429 3.934 3.417.873
Receita 676.392.827,49 15.478.023,13 52.425.681,52 1.424.243,62 745.720.775,76
FEV/2022 Sacas 3.145.752 143.956 297.500 3.357 3.590.565
Receita 749.022.546,83 22.012.417,34 50.148.426,28 1.827.548,91 823.010.939,36
MAR/2022 Sacas 3.314.870 135.661 358.963 5.618 3.815.112
Receita 826.605.868,94 21.062.944,69 59.307.126,46 2.239.486,96 909.215.427,05
ABR/2022 Sacas 2.635.893 142.826 251.994 3.769 3.034.482
Receita 661.487.361,17 22.265.952,23 42.266.798,26 1.745.388,66 727.765.500,32
MAI/2022 Sacas 2.529.574 131.806 298.062 4.218 2.963.660
Receita 626.705.630,97 21.021.983,90 54.046.897,78 2.145.690,25 703.920.202,90
JUN/2022 Sacas 2.688.245 143.741 349.799 5.552 3.187.337
Receita 653.880.606,58 22.002.880,66 66.098.707,63 2.554.187,06 744.536.381,93
JUL/2022 Sacas 2.057.164 146.239 313.865 2.741 2.520.009
Receita 504.894.204,54 21.869.347,81 68.189.058,55 1.754.889,47 596.707.500,37
AGO/2022 Sacas 2.384.413 128.705 320.785 3.878 2.837.781
Receita 576.859.568,87 19.713.754,78 74.304.787,43 1.993.166,74 672.871.277,82
SET/2022 Sacas 3.008.986 149.757 315.349 4.055 3.478.147
Receita 737.214.538,94 23.433.596,78 67.731.563,54 2.181.044,08 830.560.743,35
OUT/2022 Sacas 3.167.035 113.367 293.389 2.574 3.576.365
Receita 790.824.172,84 18.158.252,36 58.881.619,12 1.057.981,61 868.922.025,93
NOV/2022 Sacas 3.351.127 110.021 278.322 4.928 3.744.398
Receita 828.946.588,93 17.934.490,38 52.322.630,79 2.209.992,19 901.413.702,29
DEZ/2022 Sacas 2.834.772 61.991 337.776 3.958 3.238.497
Receita 642.621.656,68 8.777.256,02 63.310.412,28 1.977.408,83 716.686.733,81
TOTAL NO ANO Sacas 34.111.494 1.507.917 3.736.233 48.582 39.404.226
2022 Receita 8.275.455.572,80 233.730.900,08 709.033.709,66 23.111.028,38 9.241.331.210,93
JAN/2023 Sacas 2.433.866 75.719 317.314 3.109 2.830.008
Receita 539.503.782,14 10.679.881,84 59.889.601,64 1.371.916,24 611.445.181,87
FEV/2023 Sacas 2.027.611 83.361 282.870 2.142 2.395.984
Receita 442.740.956,49 11.089.473,83 50.787.925,62 1.250.722,14 505.869.078,08
TOTAL PARCIAL Sacas 4.461.477 159.080 600.184 5.251 5.225.992
2023 Receita 982.244.738,63 21.769.355,67 110.677.527,26 2.622.638,38 1.117.314.259,95
Fonte: Cecafé

com os embarques totais. aparece na terceira posição, com 120.410 sacas


Já no comparativo anual, o valor é 18% menor (11,1%). Depois vem Holanda, com 62.721 sacas
do que o aferido no primeiro bimestre de 2022. (5,8%), seguida, enfim, pela Itália, com 58.530 sa-
No ranking dos principais destinos dos cafés di- cas (5,4%).
ferenciados nos dois primeiros meses deste ano de
2023, os Estados Unidos estão na ponta. No bimes- 2023 x 2022
tre, eles adquiriram 297.184 sacas, o que equivale
a 27,4% do total desse tipo de produto exportado. O preço indicativo composto da OIC (PIC-O)
Na sequência vem Alemanha, com 183.612 baixou 0,1% de dezembro de 2022 para janeiro de
sacas e representatividade de 16,9%. A Bélgica 2023, registrando a média de 156,95 centavos de

51
MERCADO

US$ por libra-peso em janeiro, com um valor mé- de grão verde somaram 9,81 milhões de sacas, em
dio postado de 155,54 centavos/libra-peso. comparação com 10,64 milhões no mesmo mês do
As médias dos preços indicativos de todos os ano anterior, tendo caído 7,7%. O total cumulativo
grupos se mantiveram estáveis em janeiro de 2023, em 2022/23 até dezembro foi de 27,26 milhões de
com ligeiras quedas. Os diferenciais entre todos os sacas, em comparação com 27,67 milhões no mes-
grupos se contraíram, principalmente o dos Sua- mo período há um ano, tendo caído 1,5%.
ves Colombianos-Outros Suaves e o dos Suaves As exportações de Outros Suaves em grão di-
Colombianos-Naturais Brasileiros, que diminuí- minuíram 24,8% em dezembro de 2022, caindo
ram 12,5% e 11,3%, para 12,15 e 48,88 centavos para 1,24 milhão de sacas, de 1,65 milhão em de-
de US$ por libra-peso, respectivamente. zembro de 2021. As exportações de Naturais Bra-
A arbitragem entre as bolsas de futuros de sileiros, por sua vez, diminuíram 10,3% em dezem-
Nova York e Londres diminuiu 10,1%, fechan- bro de 2022, caindo para 3,24 milhões de sacas, na
do janeiro de 2023 a 73,97 centavos/libra-pe- sequência de um aumento de 15,2% em novem-
so, em contraste com 82,26 centavos em dezem- bro de 2022.
bro de 2022. As exportações de Suaves Colombianos em
A volatilidade intradiária do PIC-O dimi- grão verde diminuíram 7,5%, caindo para 1,08 mi-
nuiu 0,5 ponto percentual de dezembro de 2022 lhão de sacas em dezembro de 2022, de 1,18 mi-
para janeiro de 2023, alcançando 8,6%. Os esto- lhão em dezembro de 2021. As exportações de Ro-
ques certificados de Nova York aumentaram 4,3% bustas em grão verde perfizeram 4,25 milhões de
em relação ao mês anterior e fecharam janeiro com sacas em dezembro de 2022, em contraste com
0,91 milhão de sacas de 60 kg, e os estoques cer- 4,21 milhões em dezembro de 2021.
tificados de café Robusta alcançaram 1,04 milhão Em dezembro de 2022 as exportações de to-
de sacas de 60 kg, diminuindo 3,8%. das as formas de café da América do Sul diminuí-
Em dezembro de 2022 as exportações globais ram 17,3%, caindo para 4,64 milhões de sacas. As

52
MERCADO

exportações de todas as formas de café da Ásia & Foram consumidas 21,3 milhões de sacas en-
Oceania aumentaram 4,2%, para 4,59 milhões de tre novembro de 2021 e outubro de 2022, queda de
sacas em dezembro de 2022. 1,01% em relação ao período anterior, consideran-
Na África, as exportações de todas as formas do dados de novembro de 2020 a outubro de 2021.
de café diminuíram 9,0%, caindo para 0,97 milhão Este volume representa 41,8% da safra de
de sacas em dezembro de 2022, de 1,13 milhão em 2022, que foi de 50,9 milhões de sacas, segundo a
dezembro de 2021. Conab. No período anterior, o volume representou
Em dezembro de 2022 as exportações de todas 45,3% da safra, que foi de 47,7 milhões de sacas,
as formas de café do México & América Central também considerando os dados da Conab, desta-
totalizaram 0,69 milhão de sacas, 15,2%, abaixo de cando o Brasil como o maior consumidor dos ca-
0,81 milhão em dezembro de 2021. As exporta- fés nacionais.
ções de café solúvel caíram 15,9% em dezembro Os dados apurados pela ABIC reforçam o pa-
de 2022, para 0,98 milhão de sacas, e as exporta- pel do café como um alimento importante para os
ções de café torrado aumentaram 4,7% em dezem- brasileiros e para a indústria nacional e revelam
bro de 2022, para 75.852 sacas. que, apesar da crise econômica vivida em 2021 pela
pandemia, com recuperação em 2022, o consumo
Produção e consumo de café seguiu seu ritmo: mesmo com a leve queda.

Apesar da crise econômica em 2021, com os Liderança em consumo


impactos da pandemia de Covid-19, a indústria
brasileira de café se recuperou em 2022. Mesmo O Brasil mantém a posição de segundo maior
com leve queda de 1,01% em relação ao mesmo consumidor de café do mundo. A diferença para o
período do ano anterior, o setor tem um balan- primeiro lugar, ocupado pelos Estados Unidos, é
ço positivo. de 4,7 milhões de sacas.

53
MERCADO

IMPORTAÇÕES

ESTADOS UNIDOS ALEMANHA ITÁLIA BÉLGICA JAPÃO

7,985 6,844 3,355 2,921 2,873


milhões de sacas milhões de sacas milhões de sacas milhões de sacas milhões de sacas

Quando analisado o consumo per capita, obser-


Variação de preço ao consumidor
va-se que, em 2022, ele foi de 5,96 kg por ano de
café cru e 4,77 kg por ano de café torrado, um pou-
Para que o café chegue à mesa dos brasileiros,
co abaixo do ano anterior (4,84 kg/ano/hab), devi-
o grão passa por variadas etapas e são muitos os fa-
do ao crescimento da população.
tores que impactam no preço final do produto en-
Atualmente, as indústrias associadas da ABIC
contrado na gôndola, tais como: o câmbio, os cus-
respondem por 71,1% da produção do café tor-
tos dos insumos, logística, volume da safra, além de
rado em grão e/ou moído, e representam 86,1%
fatores socioeconômicos.
de participação (share) no varejo supermercadis-
Segundo estudo realizado pela ABIC no pon-
ta. A ABIC registra em seu banco de dados mais
to de venda, em 2022 a média nacional do reajuste
de 3.000 produtos certificados.
de preço do café foi de 35,4%, consequência do re-
passe do aumento da matéria-prima que vem des-
Faturamento da indústria de 2021.
de café Estima-se que a leve queda de consumo pos-
sa ter sido influenciada pelo aumento do preço nas
Estima-se que as vendas da indústria de café
prateleiras e a diminuição do poder aquisitivo.
em 2022 alcançaram R$ 23,5 bilhões, um aumen-
to de 54,6%, se comparado a 2021, justificado pela
valorização de preço da matéria-prima, mais de Fontes:
120%, que impactou fortemente no custo da in- Relatório sobre o mercado de café – janeiro 2023
dústria e ocasionando o repasse ao varejo de par- Associação Brasileira da Indústria de Café - ABIC
te deste aumento. Monitor Mercantil

54
MERCADO

Pandemia mudou a
forma de consumir café
Especialistas dizem que o mercado brasileiro viveu
mudanças significativas durante isolamento social,
principalmente em relação ao café especial.

O
isolamento social durante a pandemia de para os grãos de cafés especiais no médio e lon-
Covid-19 fez consumidores aprenderem go prazo e acrescenta que cafés solúveis de me-
diferentes formas de reproduzir em casa a lhor qualidade vivem uma expansão. “Apesar de a
experiência de consumir café. Isto porque o con- gente ter um mercado super dinâmico e madu-
sumo de cafés especiais é um hábito que veio para ro de café, ele ainda tem espaço de crescimento e
ficar. de inovação”.
A previsão foi feita por James T. McLaughlin
Jr, presidente da companhia Intelligentsia Coffee, Cenário econômico
uma empresa americana focada na inovação em
cafeterias e cafés especiais. Contudo, em um cenário de inflação e perda de
poder de compra do consumidor, ele destaca que o
Forma de consumir café consumo de grãos diferenciados sofreu um forte
impacto em 2020 e 2021, e deve levar anos para se
Para McLaughlin Jr., a pandemia acelerou mu- recuperar. Por outro lado, o tradicional café torra-
danças que eram inevitáveis, como o aumento da do e moído teve seu espaço na cesta básica preser-
venda de café pela internet. Assim, obrigou as mar- vado em muitos lares.
cas a se mexerem para criar formas de se conec-
tar com o público. Isto porque as pessoas pararam Brasil é o maior do mundo
de ir ao balcão da cafeteria, mas mergulharam nas
técnicas de preparo da bebida. O pesquisador ressaltou que o mercado bra-
“Essa é uma grande oportunidade”, disse Ja- sileiro é o maior do mundo, com uma participa-
mes. ção de cerca de 14% no consumo mundial de café.
“835 xícaras [por ano] é a média do consumo de
Mercado brasileiro uma pessoa no Brasil, e faz sentido quando a gen-
te pensa em duas xícaras e um pouquinho por dia.
No mercado brasileiro, o especialista em bebidas Até 2025 isso deve ir para 1.050 xícaras, mostran-
Rodrigo Mattos, do Instituto de pesquisa Euromo- do que tem espaço para crescimento”.
nitor, avalia que a queda no consumo de café aqui Por fim, a diretora-geral da Organização Inter-
foi menor que em outros países, porque o Brasil nacional do Café, Vanusia Nogueira, destacou que
já tinha uma tradição forte no consumo de café a pandemia interrompeu a expansão acelerada que
em casa. o setor vivenciava. Porém, também trouxe novos
Assim, Mattos vê um maior ganho de espaço pontos de vista sobre a atividade.

55
MERCADO

56
MERCADO

SUSTENTABILIDADE
EXIGÊNCIA DO MERCADO
Sem dúvida, as boas práticas agrícolas agregam resiliência para
a lavoura, principalmente em tempos de mudanças climáticas.

O
tema sustentabilidade vem ganhando cada em relação à segurança no trabalho, apresentan-
vez mais espaço e atenção, tanto no meio do normas em relação ao uso de equipamentos de
agrícola quanto urbano. Todavia, foi em proteção individual (EPI), alojamentos, devolução
2005 que passamos a olhar para a sustentabilida- de embalagens de pesticidas, entre outras.
de não somente pelo lado ambiental, mas também Por fim, a sustentabilidade se encontra (III) em
pela responsabilidade social e econômica, com a capacitações e programas de assistência técnica vol-
criação da sigla ESG (Environment, Social and tados à gestão da propriedade agrícola, com en-
Governance). foque em rastreabilidade e viabilidade econômica.
A produção sustentável saiu, de fato, do âmbi-
to filosófico e se apoiou em seus três pilares: am- Atitudes que fazem a diferença
biental, social e econômico. De forma simplificada,
trata-se de uma produção agrícola que seja lucra- Sem dúvida, as boas práticas agrícolas agregam
tiva respeitando os seres vivos e o meio ambiente. resiliência para a lavoura, principalmente em tem-
Ficou claro que as práticas agrícolas devem es- pos de mudanças climáticas. Estresses hídricos in-
tar em harmonia com a natureza, favorecendo a tensos, geadas, chuvas de granizo e altas tempera-
biodiversidade da área. Além disso, todo o setor turas, tudo isso tem impacto direto nas lavouras.
cafeeiro intensificou seu investimento em pesqui- Por isso, a utilização conjunta de estratégias,
sa e tecnologia voltada ao auxílio na produção sus- como boas práticas agrícolas, seleção genética, mui-
tentável. ta pesquisa e tecnologia são fundamentais para mi-
A sustentabilidade está inserida no campo (I) tigar esses efeitos em busca de lavouras mais sau-
por meio de pesquisas desenvolvidas para melho- dáveis e resilientes.
ria das Boas Práticas Agrícolas (BPA) e na ade- O primeiro passo é entender a paisagem onde
quação das propriedades de acordo com o exigi- a propriedade está inserida e, então, avaliar se há
do pelo Código Florestal Brasileiro – por meio da vida no solo, água de qualidade e em abundân-
inscrição do imóvel no CAR (Cadastro Ambien- cia, biodiversidade da fauna e da flora, lavoura sa-
tal Rural), que ainda conta com o auxílio do PRA dia e produtiva.
(Programa de Regularização Ambiental); (II) na Por fim, e igualmente relevante, qual o nível de
capacitação dos produtores rurais para se adequa- investimento nas pessoas que trabalham na pro-
rem à Norma Regulamentadora Nº 31 (NR-31), priedade. Observar e anotar todo o processo são
que protege produtores e os trabalhadores rurais formas de obter informações relevantes (rastreabi-

57
MERCADO

lidade) que irão auxiliar na gestão da propriedade, eira e o trigo mourisco são consideradas estraté-
ou seja, na construção do panorama atual e do pla- gicas na atração e manutenção de inimigos natu-
nejamento estratégico para melhorias. rais da lavoura.
O cafeeiro é uma cultura perene e a muda in-
serida no sistema irá permanecer por pelo menos Solo bem tratado
20 anos naquele talhão. Por isso, as entrelinhas das
lavouras devem ser cobertas com plantas de cober- A conservação de solo também faz parte dos
tura e os talhões rodeados por corredores ecológi- manejos de boas práticas agrícolas, por exemplo,
cos, afinal, a diversidade acima do solo é o espelho o plantio das mudas deve ser feito em nível e o
abaixo dele, atraindo inimigos naturais em ambas encontro das linhas de café com o carreador deve
esferas, fortalecendo as defesas das plantas e, assim, ser direcionado favorecendo a infiltração da água,
reduzindo a entrada de pragas e doenças. o famoso “bigode”.
O cultivo na entrelinha garante a proteção do Ainda, tanto nos carreadores, principalmen-
solo, mantendo-o livre de erosão e com umidade te com maior declividade, como nas estradas vici-
mesmo em períodos de seca, o incremento em ma- nais, devem ser construídas as caixas de contenção
terial orgânico e da atividade microbiana, conse- de água ligadas às lombadas ou peito de pomba.
quentemente, o estoque de carbono, a ciclagem Esses manejos favorecem a infiltração da água
e disponibilidade de nutrientes, além do contro- no sistema, favorecendo as culturas em períodos de
le das plantas invasoras. seca prolongada, e ainda a permanência dos nu-
Ao inserir pelo menos três espécies como co- trientes nos solos. Uma lavoura que ainda tem seu
bertura de solo, há a exploração em diferentes ní- solo descoberto e monocultivo não está de acordo
veis devido à arquitetura das raízes. Ainda, os exsu- com os parâmetros da sustentabilidade, e por isso
dados radiculares (açúcares, ácidos orgânicos, graxos favorece a erosão de solo (nutrientes, água e vida).
e esteróis, enzimas, compostos diversos) das plantas
de cobertura oportunizam o enriquecimento da mi- Sustentabilidade x rentabilidade
crobiota, bem como a formação dos bioporos e o
alcance de diferentes nutrientes. O aumento de produtividade e a redução de
custo estão relacionados com vários fatores, que
Detalhes importantes são consequência do investimento em boas prá-
ticas agrícolas, como biodiversidade de plantas e
A escolha da planta de cobertura deve ser fei- conservação de solo.
ta de acordo com as características da área, como Como dito, a diversificação de plantas traz be-
por exemplo: espécies não hospedeiras de nema- nefícios, desde a cobertura de solo, mitigando os
toides (ex: Crotalária juncea), espécies com sistema estresses que a plantação pode sofrer, a variação
radicular profundo para romper camadas e recupe- brusca de temperatura, secas ou chuvas prolonga-
rar o solo (ex: Crotalária ochroleuca), efeitos alelo- das e ataques de plantas, insetos e doenças inde-
páticos para redução da incidência de plantas da- sejáveis.
ninhas (ex: braquiária). Uma planta sob estresse não expressará seu
Utilizar corredores ecológicos como barreiras máximo potencial produtivo, muito menos irá ex-
de vento propicia a recolonização de áreas degra- pressar qualidade de bebida, visto que toda a ener-
dadas, previne a entrada de pragas e a deriva de gia produzida por ela será gasta para se defender
produtos indesejados de áreas vizinhas, além de desses estresses.
proteger contra geada e altas temperaturas. Estudos mostram que a agregação de biodiver-
Alguns exemplos de plantas para consorciar sidade pela inserção de diferentes espécies de plan-
com o cafeeiro: feijão guandu (gigante), grevílea ro- tas na lavoura atrai inimigos naturais e polinizado-
busta, bracatinga, moringa, capim-mombaça, ja- res, aumentando em 30% a polinização das flores
melão, abacate, espatódea e macadâmia. de café – auxiliando na produção.
A diversificação de plantas que não sejam hos- Ainda, a atração de vespas e formigas que se
pedeiras de pragas e que, preferencialmente, pos- alimentam do bicho-mineiro também em sua fase
suam um nectário extrafloral, é uma ótima estra- adulta reduz os ataques de insetos-pragas e doen-
tégia para auxiliar na atração de inimigos naturais ças, bem como o uso de inseticidas e fungicidas e,
como, por exemplo, o crisopídeo, que ataca as prin- consequentemente, o custo de produção.
cipais pragas do cafeeiro (bicho-mineiro e a broca- Ainda no âmbito do pilar econômico, a aduba-
-do-cafeeiro). ção verde reduz o custo de produção, ao diminuir
Para que esse inseto benéfico seja atraído, é ne- a necessidade da entrada de fertilizante externo e
cessário que tenha alimento e abrigo na lavoura defensivo agrícola, além de todos os benefícios ci-
durante todo o seu ciclo de vida. Por isso, a inser- tados anteriormente.
ção de espécies que possuam nectário fora da flor Por fim, a utilização de plantas de cobertura
é fundamental. Espécies como o ingá, a erva bale- pode ser direcionada como diversificação de renda.

58
MERCADO

59
MERCADO

O produtor pode plantar soja, milho e feijão nas reduzimos a área plantada e estamos produzin-
entrelinhas do cafeeiro, e colher o produto agronô- do cada vez mais, baseado em práticas sustentáveis.
mico, incrementando sua renda. Diferentes atores da cadeia cafeeira vêm de-
Nota-se que tal entendimento é possível devi- senvolvendo programas e projetos que têm por ob-
do ao investimento do País em pesquisa, em busca jetivo a preservação dos nossos mananciais e matas,
de uma produção harmônica com o meio ambien- além da recuperação de áreas degradadas, como é o
te. Para tanto, a utilização dos recursos naturais a exemplo do Programa Café Produtor de Água, Pró-
favor da lavoura contribui por trazer maior estabi- -Mananciais e o Cerrado das Águas.
lidade e rentabilidade ao sistema. Ainda, o projeto Café Carbono Neutro, cujas
análises foram realizadas com base em protocolos
Riqueza natural internacionais (GHG Protocol) comprovam que
a cafeicultura brasileira sustentável conta com um
A agricultura brasileira é tropical, heterogênea Balanço de Gases de Efeito Estufa (GEE) negati-
e muita rica. Pesquisadores, extensionistas e pro- vo, de 10,5 toneladas CO2eq ha-1 ano-1.
dutores estão em constante busca para entender a A cultura do café, além do seu impacto econô-
dinâmica da produção agrícola da nossa realidade mico e social, presta um enorme serviço ambien-
e entregar melhorias. tal ao mundo.
A boa notícia é que a cafeicultura sustentável
já é realidade no Brasil e vem sendo difundida nas
mais diversas regiões produtoras. O investimento Autoria:
Natalia Fernandes Carr
dos mais diversos elos da cadeia cafeeira vem favo- Engenheira agrônoma, mestra e doutoranda - Centro de
recendo a produção cafeeira responsável. Energia Nuclear na Agricultura/USP e co-fundadora do
O alto investimento em pesquisa e tecnologia Conhecimento Agro
nos levou a um aumento da produtividade, ou seja, nataliafernandescarr@gmail.com

60
PRODUÇÃO

MERCADO

CUSTOS

ESPECIAIS

61
CUSTOS

62
CUSTOS

RETROSPECTIVA
CAFEICULTURA
BRASILEIRA EM 2022
O custo de produção do café está intimamente ligado à
produtividade das lavouras da propriedade.

63
CUSTOS

A
cafeicultura brasileira teve um ano mui- Por exemplo, em Varginha, no Sul de Minas, o
to difícil no ciclo agrícola 2021/22, refle- déficit atingiu -170 mm em outubro de 2021 e na
tindo nas condições da safra 2022. Foram Mogiana Paulista chegou a -320 mm, indicando a
três grupos de problemas que ocorreram: a redução falta de água para os cafeeiros, que nessa época
forte nos preços do café, as anormalidades climá- é crítica para a sustentação da folhagem e da flora-
ticas e a elevação no preço dos insumos, com for- da/frutificação, com influência negativa para a sa-
te aumento nos custos de produção. fra 2022.
O primeiro fator, e mais importante, foi a que- Também no aspecto climático, as geadas de ju-
da de preços, que pode ser observada pela compa- lho/21, que atingiram mais de 200 mil hectares de
ração dos valores praticados no mercado interno. lavouras cafeeiras na principal região produtora de
Assim, em janeiro de 2022 a saca de café arábica, arábica, contribuíram e se somaram ao efeito da
de bom tipo e bebida, valia R$ 1.560,00 e a de ro- estiagem prolongada, na redução da safra 2022, a
busta/conillon R$ 800,00. qual era esperada em ciclo de alta.
Em julho/22 já houve uma redução para, res- O terceiro grupo compreende o aumento no
pectivamente, R$ 1.490,00 e R$ 680,00, porém, custo dos insumos e, consequentemente, do cus-
uma queda maior foi observada em dezembro/22, to de produção do café. Veja o exemplo do preço
com preços por saca de R$ 1.100,00 e R$ 675,00, do adubo, insumo essencial para a produtividade e
respectivamente, para os dois padrões de café aqui de grande impacto no custo de produção do café.
considerados. O preço do adubo importado pelo Brasil evo-
O segundo fator que impactou o setor cafeeiro luiu de US$ 0,36/kg em agosto de 2021 para US$
foi a ocorrência de condições climáticas adversas 0,77/kg em junho/22. Uma formulação fertili-
no ano agrícola 2021/22. O déficit hídrico foi pro- zante, muito usada na lavoura de café, a 20-05-20
nunciado e acumulou um saldo negativo de dispo- saltou de R$ 1.700,00 por tonelada, em julho de
nibilidade de água no solo. 2020, para R$ 3.640,00 em julho de 2021 e, mais

64
CUSTOS

Em 2022 foi colhida uma safra menor,


estimada pela CONAB em cerca de 50,5
milhões de sacas, portanto, refletindo nos
problemas citados, o que, combinado com
preços menores e custos maiores, levou a
cafeicultura brasileira a uma condição de
menor rentabilidade em 2022.

FIGURA 1 - Despesas por hectare e custos de produção por saca em lavouras de café com cinco níveis de
produtividade, em Minas Gerais.

Custo total médio por faixa de produtividade


CT/saca (R$/sc) CT/área plantada (R$/ha)
600,00 560,86 20.000,00
17.606,76 18.000,00
469,53 16.409,96
500,00 14.832,49 16.000,00
R$/saca

400,00 14.000,00
13.661,35 415,81
388,05
12.000,00
12.329,89
300,00 331,82 10.000,00
8.000,00
200,00
Menor que 25,62 Entre 25,62 e 32,35 Entre 32,35 e 39,08 Entre 39,08 e 45,82 Maior que 45,82
(41 fazendas) (61 fazendas) (83 fazendas) (37 fazendas) (40 fazendas)
Faixas de produtividade

Fonte: Sebrae Minas/Educampo, Amostra: 262 fazendas, em diferentes regiões do Estado MG. Biênio 17/19

65
CUSTOS

Preço do fertilizante 20-05-20 a nível de produtor, na Zona da Mata de Minas Gerais (R$/ton).

JUL/2020 JUL/2021 JUL/2022

R$ 1.700,00 R$ 3.640,00 R$ 5.100,00

recentemente, no ciclo 2021/22, em julho/22 para teriais necessários aos tratos da lavoura e do café
R$ 5.100,00 por tonelada, isto a nível de produtor, produzido.
na Zona da Mata de Minas Gerais. O alcance de boas produtividades nas lavouras
Outro insumo importante, o diesel, para acio- é essencial, pois os custos de produção envolvem,
nar o maquinário usado na lavoura, também subiu em boa parte, despesas ou gastos fixos, os quais po-
muito, puxado pelo preço internacional do petró- dem ser divididos por um maior número de sacas
leo e pelo aumento na cotação do dólar. produzidas, assim reduzindo o custo de cada saca.
Deste modo, fica evidente que o custo de pro-
Mais obstáculos dução do café está intimamente ligado ao nível de
produtividade das lavouras da propriedade. Esse
Além disso, muitos produtores tiveram, ain- aspecto da relação produtividade/custo pode ser
da, dificuldades com o mercado futuro, pois fi- observado na figura 01.
xaram os preços de venda/entrega a níveis baixos É possível verificar que, apesar das despesas to-
e eles, em boa parte, tiveram que entregar cafés a tais aumentarem por hectare, os custos de produ-
preços menores do que os vigentes no mercado fí- ção do café, por saca, diminuem com o aumento da
sico em 2022. produtividade nas lavouras.
Todos esses problemas, com razão, provocaram
desestímulos nos cafeicultores, inclusive afetando O que o produtor pode esperar de 2023
as intenções de novos plantios, os quais visavam
atender aos programas de expansão ou renovação O produtor de café, infelizmente, não tem
das lavouras. muito a esperar, em melhorias, para o ano de 2023,
conforme já se vem vislumbrando no cenário atu-
Ferramentas para o produtor ter al e sua continuidade. Os problemas de déficit hí-
mais rentabilidade drico permaneceram no início do ciclo agrícola
2022/23.
A principal ferramenta que o produtor de café Eles desfolharam, enfraqueceram as lavouras e
possui para se manter na atividade, com rentabili- levaram a um mau pegamento de florada. Assim,
dade, é procurar reduzir seus custos de produção, a safra será, novamente, prejudicada. Também, em
já que a margem de lucro é baseada nas receitas, escala menor, veio a ocorrência mais ampla de gra-
por meio dos preços de venda do café, estes fora nizo, com prejuízos adicionais.
da ação do produtor, uma vez que a formação de Na região de conillon é, também, esperada uma
preços internos do café acompanha as cotações em quebra de safra, em função de desfolha por ven-
bolsas internacionais. tos frios e, mais recentemente, houve excesso de
Para reduzir os custos de produção, o cafeicul- chuvas, inundando lavouras e lavando os nutrien-
tor precisa racionalizar os tratos nas lavouras, in- tes do solo.
vestindo nas práticas mais indicadas e que resul- Somado a esses problemas de clima, verifica-
tem em melhores produtividades. -se que os custos de produção se mantêm altos, por
Deve, ainda, administrar adequadamente os efeito da cotação do dólar e problemas da guer-
recursos para a produção, otimizando a operação ra. As primeiras estimativas da safra para o ano de
do maquinário, o emprego da mão de obra, dos 2023 mostram um volume de produção menor do
adubos, defensivos e outros e, com o mesmo ob- que havia de expectativa, podendo ser apenas li-
jetivo, gerenciar bem as compras e vendas dos ma- geiramente superior ao da safra de 2022.

66
CUSTOS

Com esses problemas nas lavouras, seria es- Com essas condições prevalecendo, de pre-
perada uma recuperação significativa de preços, já ços mais baixos e custos mais altos, e com meno-
que a próxima safra, nesse nível, atende, com escas- res produtividades nas lavouras, a expectativa para
sez, somente a demanda do café brasileiro. 2023 é semelhante à situação observada em 2022,
Porém, com as dificuldades econômicas nos de menor rentabilidade para o produtor.
principais países consumidores do nosso café, com
problemas inflacionários, em parte devido à guer-
ra Rússia x Ucrânia, é provável que haja uma pe- Autoria:
quena redução na evolução do consumo de café e, José Braz Matiello
assim, não seriam esperadas elevações e recupera- Engenheiro agrônomo do Mapa/Procafé
ção dos preços. jb.matiello@gmail.com

67
CUSTOS

CAMPO FUTURO APRESENTA


CUSTOS DE PRODUÇÃO DA CAFEICULTURA

A
Confederação da Agricultura e Pecuá- Castro, apresentou os principais resultados dos le-
ria do Brasil (CNA) promoveu o Circuito vantamentos, com destaque para a variação do
de Resultados do Projeto Campo Futuro Custo Operacional Efetivo (COE) da atividade
para apresentar os custos de produção da cafeicul- nos últimos anos.
tura. Segundo ele, no sistema de produção manual e
Em 2022, foram levantadas informações sobre sequeiro da espécie arábica, foi observada uma ele-
a produção de café arábica e conilon em 15 regi- vação considerável do COE para todas as proprie-
ões de seis Estados (Bahia, Espírito Santo, Minas dades modais, chegando a um aumento de 151%
Gerais, Paraná, Rondônia e São Paulo). De acor- em Caconde (SP), em relação a 2021. “Isso se deu
do com os dados, os principais itens que pesaram em razão da redução de produtividade e da alta dos
no bolso do cafeicultor brasileiro foram fertilizan- preços dos fertilizantes e dos gastos com a mão de
tes e mão de obra. obra”.
Para a assessora técnica da CNA, Raquel Mi- O cenário se repetiu no sistema semimecani-
randa, além de serem estratégicos para a análise de zado e sequeiro em Capelinha (MG) e Londrina
desempenho do setor, os dados do projeto Cam- (PR), onde o COE sofreu altas de 53% e 78%, res-
po Futuro são importantes para auxiliar o produtor pectivamente. Na condução mecanizada em Mon-
rural na tomada de decisão do negócio. te Carmelo (MG) e Franca (SP) também houve
variação do indicador, na ordem de 117% e 78%,
Dados respectivamente.
“De forma geral, todas as regiões avaliadas pelo
O coordenador-geral do Centro de Inteligên- projeto tiveram aumento do Custo Operacional
cia em Gestão e Mercados da Universidade Fe- Efetivo no último ano, principalmente em função
deral de Lavras (CIM/UFLA), Luiz Gonzaga de dos fertilizantes e da mão de obra. A média foi de

68
CUSTOS

Mão de obra Fertilizantes e corretivos Gastos gerais Mecanização


Produtos fitossanitários Juros de operações de custo Irrigação
Manual Semimecanizado Mecanizado
100%

75%
% em relação ao COE

50%

25%

0%
ES

MG

MG

SP

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Ca

Ca
Gu

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Ca
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Po
Ma

Mo

69
CUSTOS

35% para fertilizantes e 28% para a mão de obra”, onerou o produtor na maioria dos painéis foi o fer-
disse. tilizante, chegando a ser responsável por 50% dos
Nos sistemas manual e semimecanizado do desembolsos em Caconde (SP), fato que se justifi-
café conilon em Cachoeiro de Itapemirim, Jagua- ca pela segunda maior produtividade encontrada.
ré e Rio Bananal, no Espírito Santo, Cacoal (RO) Nos modais com manejo de condução manu-
e Itabela (BA), os fertilizantes representaram 33% al, com exceção de Caconde, o principal item de
do Custo Operacional Efetivo, e a mão de obra, custo foi o desembolso com a mão de obra, que
30%. de maneira geral ocupou a segunda maior parcela
do Custo Operacional Efetivo (COE), chegando a
Impactos no café arábica 48% do indicador em Brejetuba (ES).
Em terceiro lugar o item Gastos Gerais repre-
Para o café arábica, o componente que mais sentou 23% dos desembolsos em Caconde. Este

Fertilizantes e corretivos Mão de obra Gastos Gerais Produtos fitossanitários


Mecanização Juros de custeio Irrigação
Manual Semimecanizado
100%
% em relação ao COE

75%

50%

25%

0%
Cachoeiro do Itapemirim/ES Cacoal/RO Itabela/BA Jaguaré/ES Rio Bananal/ES

70
CUSTOS

item é formado pelos insumos utilizados no perí- do, vai crescer apenas 1% em 2023”.
odo da colheita e pós-colheita, as despesas de co- Apesar da previsão mundial ser negativa, a
mercialização, a manutenção de benfeitorias e má- projeção para o Brasil na safra 2023/24 é de au-
quinas e os gastos administrativos. mento na produção e exportação de café. “A pers-
pectiva é de um clima dentro do normal no final da
Café conilon primavera e início do verão”.
Gil Carlos também dá algumas dicas de co-
Com comportamento semelhante ao do café mercialização para os produtores em um mercado
arábica, o café conilon teve como principal gru- disponível. “É importante dosar vendas, fazer ges-
po de custo os gastos com fertilizantes, chegan- tão de oportunidade e levar em conta os juros al-
do a representar 37% do COE em Cacoal (RO), tos no momento da tomada de decisão”. Já no caso
34% em Cachoeiro do Itapemirim (ES) e 33% em de posições futuras, o consultor recomenda, princi-
Itabela (BA). palmente, atrelar as vendas futuras a opções de “put
Em segundo lugar como item mais oneroso, a e call” para proteger as margens.
mão de obra, que chegou a 36% em Jaguaré e teve
a menor participação em Cacoal com 17%. Os de- Lucratividade como termômetro
sembolsos relacionados a gastos gerais variaram de
16 a 24% no Espírito Santo. Quanto menor for a lucratividade, mais pró-
ximo a receita está dos custos operacionais totais,
Oscilações da receita bruta portanto, maior é o risco da atividade.
Lucratividades acima de 30% indicam maior
Para Luiz Gonzaga, os maiores impactos nos segurança.
indicadores vêm das oscilações na receita bruta. Dos modais pesquisados, apenas o de Capeli-
“Alternativas de gestão de risco de preço precisam nha (MG), em decorrência de um bom cenário de
ser trabalhadas, assim como gestão de custos e pla- preços e aumento de produtividade, se aproximou
nejamento”. desse parâmetro.
O consultor da Safras & Mercado, Gil Car- Em Cacoal (RO), Cachoeiro do Itapemirim
los Barabach, detalha o cenário e as tendências do (ES), Franca (SP) e Caconde (SP) a relação cus-
mercado de café. “O Fundo Monetário Internacio- to/preço de venda desfavorável, 108% em média
nal (FMI) revisou para baixo o crescimento mun- (COT/RB), proporcionou às regiões maiores ris-
dial dos principais países consumidores de café, ou cos, comprovados pelas lucratividades negativas.
seja, o cenário para 2023 ainda é de recessão eco- Do ponto de vista gerencial, a lucratividade
nômica, o que pode impactar a demanda por café. pode ser uma ferramenta para tomada de decisão
A economia dos Estados Unidos, por exemplo, que para futuros investimentos na atividade.
é o maior consumidor individual de café do mun- Confira a seguir os detalhes do custo:

71
CUSTOS

CUSTOS DE PRODUÇÃO DO CAFÉ - 2022 PERSPECTIVAS DE MERCADO PARA O PRÓXIMO ANO


DE OLHO NO CLIMA E NA SAFRA BRASILEIRA
Fertilizantes, defensivos, diesel e mão de obra elevam custos do
café arábica por saca em mais de 100% em todas as regiões e
sistemas produtivos. FATORES BAIXISTAS
INCERTEZAS CLIMÁTICAS
O mercado observa como seria a produção nos principais países
FERTILIZANTES produtores. Nos últimos anos, a cafeicultura brasileira vem

35%
Item chegou a ser responsável por 50% dos sendo muito desafiada por questões climáticas. Mesmo com
desembolsos em Caconde (SP), justificando a segunda a regularização do volume de chuvas na primavera de 2022, é
maior produtividade encontrada. Esse item participou do COE cedo para garantir que a produção de 2023 será positiva, o que
com 35% do COE para o conilon. dependerá do “pegamento” das floradas e enchimento dos grãos.
Além disso, deve ser levado em conta a característica de bienalidade
MÃO DE OBRA do arábica, que em 2023 enfrentará ano de bienalidade negativa.
28%
Nos modais com manejo manual, exceção de Caconde,
o principal item de custo foi a mão de obra, chegando PONTOS
a 48% em Brejetuba (ES). Esse item participou com do COE A melhora da oferta brasileira dependerá da manutenção das boas
28% do COE para o conilon. condições climáticas.
GASTOS GERAIS A constante queda dos estoques certificados de café arábica, aliado
às dúvidas em relação à produção brasileira, pode continuar dando
17%
Item formado pelos insumos utilizados no
período da colheita e pós-colheita, despesas de suporte às cotações.
comercialização, manutenção de benfeitorias e do COE
máquinas e os gastos administrativos.
FATORES ALTISTAS
MELHORA NA OFERTA GLOBAL
Os preços do café arábica tiveram valorização Mesmo com as incertezas climáticas, as perspectivas de oferta
média de 42% entre agosto de 2021 e agosto
QUEBRAS DE
mundial seguem melhorando. É esperada uma recuperação da
de 2022 e de 16% para o café conilon. Contudo, SAFRAS DE produção em importantes origens da América do Sul e Central.
os custos por hectare também se elevaram em ARÁBICA NO
média 63% para o arábica e 37% para o conilon. BRASIL ELEVAM PONTOS
Se forem considerados os custos por saca, uma PREÇOS DO Diminuição dos gargalos logísticos para exportações brasileiras.
vez que a produtividade foi reduzida na maioria O produtor ainda “carregará” altos custos de produção para a
dos painéis, os custos subiram mais de 100%.
CAFÉ
próxima safra. Em contrapartida, caso a melhora na oferta global se
concretize, os preços do café tendem a recuar.
Há preocupações com a demanda nos Estados Unidos e na Europa
Das 15 propriedades típicas levantadas, quatro
diante de uma potencial desaceleração econômica geral.
apresentaram lucratividade negativa: Cacoal
(RO), Cachoeiro do Itapemirim (ES), Franca (SP) e
Caconde (SP). Quanto maior a lucratividade, mais
26%
próximo a receita dos custos operacionais totais,
negativas
portanto, maior é o risco da atividade. A redução
de produtividade decorrente das adversidades climáticas e menores
preços recebidos pelo café contribuíram para esses resultados
negativos.

FATORES ALTISTAS FATORES BAIXISTAS


Revisão para baixo da produção Redução do crescimento da
brasileira. economia mundial para 2023.
Estoques mundiais apertados. Acomodação da curva de
consumo.

Fonte: CNA SENAR Campo Futuro

72
PRODUÇÃO

MERCADO

CUSTOS

ESPECIAIS

73
ESPECIAIS

74
ESPECIAIS

CAFÉS ESPECIAIS
OS SABORES DO BRASIL

75
ESPECIAIS

O
café possui uma série de características
O que torna um café especial
sensoriais e físicas que requerem mui-
ta atenção, destreza por parte de todos os
Levantamento feito pela Federação dos Cafei-
trabalhadores envolvidos no processo e até mesmo
cultores do Cerrado aponta que o consumo de ca-
sorte para que suas propriedades sejam preserva-
fés especiais no Brasil tem registrado um aumento
das e estejam presentes nos grãos desde o plantio.
médio anual de 15%. Esse crescimento demonstra
Terroir ideal, irrigação adequada, bom regime
uma mudança de hábito no consumidor brasileiro,
de chuvas, colheita, transporte, torra, etc... São di-
que está trocando o café preto por um café de me-
versas etapas importantes para que a bebida che-
lhor qualidade.
gue à xícara com sabor e aroma inconfundíveis.
“O café especial é o café puro, de qualidade,
Se qualquer uma dessas fases não for realizada
onde todos os processos são cuidadosamente pen-
de maneira apropriada, o produto final não pode
ser denominado de “café especial”. sados para entregar uma bebida com muito sabor.
Já o tradicional é uma junção de muitas matérias
Diferenciais e para uniformizar tudo isso ele é exposto a uma
torra extremamente alta que chega a carbonizar, e
A qualidade e a integridade dos grãos estão en- por esse motivo traz um sabor amargo e uma colo-
tre os principais diferenciais dos cafés especiais. ração preta”, explica Laís Moreira, especialista em
Para que eles cheguem à sua xícara com toda a cafés especiais.
excelência que os caracteriza, tudo é feito com o Café especial é o termo utilizado para nomear
maior capricho e rigor. o café de mais alto nível disponível no mercado. A
Não há espaço para erros. Mas, de que erros nomenclatura foi citada pela primeira vez em 1974
estamos falando? Vamos lá: grãos quebrados são pela norueguesa Erna Knutsen, na edição impres-
apenas um dos vários tipos de “defeitos” que o café sa do Tea & Coffee Trade Journal.
pode apresentar. Isso ocorre devido a uma série de A demanda por um café de melhor qualidade
cuidados não tomados, como na regulagem das cresceu na década de 2000. Os métodos de cultivo
máquinas ou no transporte das sacas. desses cafés apresentam padrões superiores aos ca-
Outra deficiência bastante comum é o da quei- fés tradicionais.
ma dos grãos. Se a torra não for bem-feita, eles po- Para ser caracterizado como especial, os grãos
dem ser incinerados e comprometer não somente devem apresentar três requisitos mínimos, que são:
o gosto, mas também os óleos essenciais do produ- ser colhido por colheita seletiva de grãos maduros,
to final. Por essas e outras, os cafés especiais dife- ter no máximo cinco defeitos por saca de 350 g e,
rem dos demais: todo o processo é feito com o má- na avaliação de especialistas em notas que vão de 0
ximo de atenção e cuidado. a 100, só serão considerados especiais aqueles que
pontuarem no mínimo 80. As sacas especiais po-
Variedades dem custar até R$ 20 mil, enquanto versões tradi-
cionais chegam na média de R$ 2,3 mil.
O café arábica possui diversas variedades, e No Brasil, os apreciadores desse tipo de grãos
uma das mais apreciadas é o Bourbon. Encontra- vêm crescendo. Em pesquisa realizada pela ABIC
do com facilidade em cafeterias e lojas que ofere- (Associação Brasileira da Indústria do Café), foi
cem cafés especiais, ele se divide em duas cultiva- observado que dos 1.435 entrevistados, 25% prefe-
res: o Bourbon Vermelho e o Bourbon Amarelo. O rem o café tradicional, 8% o extraforte, 11% o su-
Amarelo é conhecido por sua doçura intensa, en- perior, 35% o gourmet, enquanto 21% têm prefe-
quanto o Vermelho rende cafés mais encorpados. rência pelo café especial.

76
ESPECIAIS

77
ESPECIAIS

dutores de cafés especiais do Brasil. Outros muni-


Regiões produtoras de cafés especiais
cípios produtores são Poços de Caldas e Muzam-
Muito além da ausência de impurezas, os cafés binho.
especiais possuem atributos sensoriais que os dife- Características do café:
renciam dos demais. Sudoeste – corpo médio, acidez alta, adocicado,
Ou seja, a bebida é limpa e doce, e possui corpo com notas florais e cítricas;
e acidez equilibrados. Nessa classificação são ava- Montanhas – corpo aveludado, acidez alta, ado-
liadas características como fragrância, aroma, uni- cicado, com notas de caramelo, chocolate, amêndo-
formidade, amargor e sabor residual. as, cítricas e frutadas.
A seguir estão as regiões que foram vanguar-
da na produção e são reconhecidas nacional e in-
ternacionalmente pela Brazil Specialty Coffee As-
sociation (BSCA) por sua qualidade na produção
de cafés especiais:

Chapada Diamantina
No Planalto baiano, com altitude média de
850 metros e temperatura amena, as característi-
cas são ideais para o cultivo do arábica. A colhei-
ta é feita durante o inverno chuvoso e exige maior
atenção dos produtores na hora da secagem. Entre
as regiões da Chapada Diamantina estão cidades
premiadas, como Piatã, Mucugê, Ibicoara, Vitória
da Conquista, Barra do Choça e Poções.
Características do café: encorpado e aveludado,
adocicado, com acidez cítrica, notas de nozes, cho-
colate e final prolongado.

Cerrado Mineiro
O Cerrado Mineiro apresenta clima seco du-
rante o período da colheita, o que faz com que o
café sofra menos com a umidade depois de colhi-
do. A região, que abrange 55 municípios localiza-
dos no Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste de
Minas, conquistou a Denominação de Origem em
2013 e foi a primeira do País a receber este reco-
nhecimento no café.
As principais cidades produtoras são Patrocí-
nio, Monte Carmelo, Araguari, Patos de Minas,
Campos Altos, Unaí, Serra do Salitre, São Gotar-
do, Araxá e Carmo do Paranaíba.
Características do café: aroma intenso, com no-
tas de caramelo e nozes, acidez delicada e cítrica,
encorpado, sabor doce, com notas de chocolate e
finalização de longa duração.

Sul de Minas
O clima e o relevo favoráveis, aliados a uma
produção artesanal da bebida, são os segredos da
premiada região. Os fatores para o sucesso são a
dedicação em todas as etapas da produção, a in-
fraestrutura sólida e os investimentos em pesquisa.
No Sudoeste dessa região há cidades produto-
ras, como Guaxupé – que tem a maior cooperati-
va do Brasil, a Cooxupé, e as cidades de Varginha
e Três Pontas. O Sul de Minas tem temperatura
amena (entre 18 e 20ºC) e altitudes elevadas (até
1.400 metros) e tornou-se um dos principais pro-

78
ESPECIAIS

Matas de Minas do, acidez média, doçura alta, com aroma achoco-
Região que surgiu para o mercado de cafés es- latado e sabor cítrico.
peciais após o início da produção do café cereja
descascado. Hoje, os produtores estão entre os fi- Mantiqueira de Minas
nalistas dos concursos de cafés especiais e expor- Situada na face mineira da Serra da Manti-
tam para países como Japão, Europa e Estados queira, no Sul de Minas Gerais, a região tem tra-
Unidos. As principais cidades produtoras são Dia- dição secular na produção de cafés de qualidade.
mantina, Presidente Kubitschek, Manhuaçu, Er- A Mantiqueira de Minas é, hoje, uma das regiões
vália, Araponga e Viçosa. mais premiadas do Brasil.
Características do café: corpo médio a encorpa- Em 2011, a área foi reconhecida como Indi-

79
ESPECIAIS

cação Geográfica (IG), na modalidade Indicação produção são Conceição das Pedras, Paraisópo-
de Procedência (IP), pela sua tradição e reputa- lis, Jesuânia, Lambari, Cristina, Dom Viçoso e Pe-
ção mundiais em produzir cafés especiais com per- dralva.
fil sensorial altamente diferenciado. Características do café: via úmida – notas cítri-
Entre os municípios, destaca-se Carmo de Mi- cas e florais, corpo cremoso e denso, acidez cítri-
nas, uma pequena cidade que conquistou mui- ca com intensidade média alta, doçura alta, finali-
tos prêmios. zação longa; via seca – cítrico, floral, frutado, corpo
Outras cidades na região que se destacam em cremoso e denso, acidez média-alta, doçura alta.

80
ESPECIAIS

Alta Mogiana topografia acentuada.


Tradicional produtora de cafés, congrega 15 A produção de café abrange cinco dos 16 mu-
municípios paulistas – Altinópolis, Batatais, Buri- nicípios produtores, sendo alguns deles Espírito
tizal, Cajuru, Cristais Paulista, Franca, ltirapuã, Je- Santo do Pinhal, Santo Antônio do Jardim e São
riquara, Nuporanga, Patrocínio Paulista, Pedregu- João da Boa Vista.
lho, Restinga, Ribeirão Corrente, Santo Antônio Características do café: boa acidez, doçura mé-
da Alegria e São José da Bela Vista – e oito muni- dia, corpo médio, notas de chocolate, castanhas
cípios mineiros – Claraval, Capetinga, Cássia, Ibi- e nozes.
raci, Itamogi, Sacramento, São Sebastião do Paraí-
so e São Tomás de Aquino – distribuídos em meio Montanhas do Espírito Santo
aos polos cafeeiros de Franca, Pedregulho (um dos O café produzido nesta região montanhosa,
municípios mais altos do Estado) e Altinópolis. acima de 400 metros, é o arábica. A partir da dé-
Características do café: aroma marcante, fruta- cada de 1980, foi iniciado um trabalho de melho-
do, com notas de chocolate e nozes, corpo cremo- ria da qualidade.
so aveludado, acidez média e muito equilibrada e As técnicas tradicionais foram substituídas por
finalização prolongada, com uma doçura de cara- novas máquinas, o que possibilitou maior contro-
melo e notas de chocolate amargo. le no processamento do grão. As principais cidades
produtoras são Afonso Cláudio, Venda Nova do
Média Mogiana Imigrante, Alfredo Chaves e Castelo.
Nesta região, a maior concentração de café fica Características do café: Montanhas – encorpado
em São João da Boa Vista. É uma área climati- e com acidez de média a alta, doçura e boa comple-
camente apta para o grão, montanhosa e com al- xidade de aromas.
guns municípios acima de 1.000 metros de alti-
tude, produtividade alta e de muito boa qualidade. Fonte:
Tem como limitação a mecanização em áreas de Brazil Specialty Coffee Association (BSCA)
ESPECIAIS

BAHIA VOLTA A PRODUZIR


O MELHOR CAFÉ ESPECIAL
DO BRASIL
Michael Alcântara

O
café especial produzido por Antonio Rig- dos cafés presidenciais do Cup of Excellence 2022.
no de Oliveira Filho, na Fazenda Tiju-
co, em Piatã, na Chapada Diamantina, Indicação de Procedência
Bahia, com a nota 91,41 pontos, em uma escala
de zero a 100, é o campeão do Cup of Excellence No total, o concurso teve 24 vencedores – amos-
2022, principal concurso de qualidade do mundo tras que obtiveram nota igual ou superior a 87 pon-
para o produto, realizado no Brasil pela Associação tos na Fase Internacional –, de oito origens pro-
Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) em parceria dutoras do País: Indicação de Procedência Alta
com a Agência Brasileira de Promoção de Expor- Mogiana (SP), Denominação de Origem Manti-
tações e Investimentos (ApexBrasil) e a Alliance queira de Minas, Indicação de Procedência Matas
for Coffee Excellence (ACE). de Minas, Denominação de Origem Montanhas
Com o título de melhor café especial do Bra- do Espírito Santo, além das já citadas Denomina-
sil na safra 2022, a família Rigno de Oliveira se ção de Origem Região do Cerrado Mineiro, Cha-
consagra tetracampeã da competição. Em 2014 e pada Diamantina, Região Vulcânica e Sul de Mi-
2009, o título foi conquistado pelo produto cul- nas.
tivado pelo genro, Candido Vladimir Ladeia Rosa Também foram eleitos nove “Campeões Na-
e, em 2015, o patriarca Antonio Rigno de Olivei- cionais”, que receberam notas entre 86,00 e 86,99
ra venceu o certame. pontos na Fase Internacional. Esses cafés são ori-
A segunda colocação, nesta edição, ficou com o ginários da Indicação de Procedência Alta Mo-
café produzido por Maridalton Silva Santana, no giana (SP), Indicação de Procedência Campo das
Sítio Bonilha, também em Piatã (BA), que obteve Vertentes (MG), Denominação de Origem Re-
90,59 pontos. Na sequência, vêm os frutos cultiva- gião do Cerrado Mineiro, Chapada Diamantina,
dos por Afonso Maria Vinhal, na Fazenda Recan- Denominação de Origem Mantiqueira de Minas e
to, em Serra do Salitre, na Denominação de Ori- Indicação de Procedência Matas de Minas.
gem Região do Cerrado Mineiro (90,53 pontos); “Mesmo diante de todos os desafios, que vão dos
Homero Teixeira de Macedo Junior, na Fazenda altos custos de produção às adversidades climáti-
Recreio, na Região Vulcânica em Minas Gerais e cas, os cafeicultores brasileiros seguem dando exem-
São Paulo (90,47 pontos); e Pedro Brás, na Casa plo de cultivo sustentável e focado em qualidade.
Brás, em Vargem Bonita (MG), no Sul de Minas O corpo de jurados internacionais pôde reconhe-
(90,41 pontos). cer a excelência dos grãos brasileiros, inclusive com a
Os cinco primeiros colocados, por terem ob- apresentação de novos perfis sensoriais”, destaca o di-
tido nota superior a 90 pontos, foram considera- retor executivo da BSCA, Vinicius Estrela.

82
ESPECIAIS

SACA DE CAFÉ A R$ 20.000


QUAL O CAMINHO?

Fotos: Maridalton Santana

M
aridalton Silva Santana é um produtor ex-
clusivamente de cafés especiais, em cin-
co hectares, no Sítio Bonilha, em Piatã
(BA). A produção é 100% irrigada, e alcança a pro-
dutividade de 40 sacas/ha.
A cafeicultura entrou em sua vida por incenti-
vo dos pais, mas o aperfeiçoamento das técnicas de
produção é uma busca pessoal de Maridalton, que
acontece diariamente.
Atualmente, ele vende de forma direta para ca-
feterias e também exporta, por meio da Coopiatã
(Cooperativa de Cafeicultores de Piatã). A média
de valor da saca de 60 kg fica em R$ 3.000,00, mas
no concurso da BSCA, com a pontuação atingi-
da, essa mesma saca foi vendida por R$ 20.000,00,
caminho que ele encontrou para agregar valor ao
seu café.
Maridalton faz questão de participar pessoal-
mente de todas as etapas produtivas da sua lavou-
ra, e busca levar o melhor à xícara de seus clien-
tes. Como obstáculo, ele, como os demais colegas
de atividade, enfrenta o alto preço dos insumos.

83
ESPECIAIS

AMOR E DEDICAÇÃO
RECEITA PARA PRODUZIR
CAFÉ DE QUALIDADE
lia vive exclusivamente do café e nos dedicamos
todos os dias a isso. Cuidamos de todo o proces-
so do café, que vai da seleção de sementes, plan-
tio de mudas, colheita, secagem, beneficiamento,
até a torrefação. E em cada uma dessas etapas, li-
damos com o café como um alimento, tendo mui-
to cuidado com higiene, seleção e armazenamen-
to”, conta.

Mercado
Atualmente, Michael atende o mercado in-
terno brasileiro de cafés especiais (95%). Des-
de 2007, o produtor tem a marca de cafés espe-
ciais Café Gourmet CGP, comercializada em todo
o País em grãos e café moído.
No momento, ele está prestes a lançar outra
marca com os seus famosos microlotes, a Olentia
Cafés Especiais. Os outros 5% da sua produção
são destinados à comercialização de cafés in natu-
ra para pequenas cafeterias e, às vezes, para mer-
Michael Alcântara
cado externo com exportação.
O valor da saca in natura varia de R$ 2.000,00

M
ichael Freitas de Alcântara produz 100% a R$ 3.000,00, dependendo da pontuação, carac-
de café especial, em uma área irrigada terísticas, etc. Já os cafés torrados, a média da saca
de 10 hectares na Fazenda Divino Espí- é de R$ 4.000,00.
rito Santo, localizada na cidade de Piatã (BA), na Michael diz que o custo de produzir cafés es-
região da Chapada Diamantina. Sua produtivida- peciais é alto, mas o valor de mercado acaba com-
de média está em 65 sc/ha. pensando. “Apesar de termos no Brasil, principal-
A história de Michael na cafeicultura começou mente na Bahia, um público muito restrito, essa
em 1993, quando ele saiu de Salvador, a convite de característica vem sendo modificada, e cada vez
seu cunhado, para plantar café em Piatã, que já ti- mais surgem pessoas em busca de cafés especiais”.
nha tradição nesse cultivo. Desde o início ele bus-
cou informações em congressos, palestras e com a Mão de obra
população local. “Conheci muitos pesquisadores e
doutores que me assessoraram e ajudaram no cul- Os desafios de Michael se concentram na fal-
tivo. Aos poucos, fomos adquirindo maquinários ta de mão de obra, já que sua colheita é manual.
e conhecimento para produzir o melhor café para “As pessoas que estão acostumadas a realizar a co-
nossos clientes”, lembra. lheita estão envelhecendo, e não temos substitu-
O amor e a dedicação que ele emprega todos tos. Outro ponto é a logística - Piatã fica a apro-
os dias em seus cafés é o diferencial da bebida que ximadamente 600 km da capital, e os insumos são
todos que experimentam elogiam. “Minha famí- caros”, destaca.

84
ESPECIAIS

SÍTIO DA CHAPADA APOSTA


EM CAFÉS ESPECIAIS
Fotos: Marcus Carvalho

M
arcus Vinicius Souza de Carvalho ini- “Como a nossa agricultura é de montanha, nossos
ciou na cafeicultura em 1996, após sua custos são bem elevados, deixando assim nosso lucro
esposa ter recebido a herança deixada relativamente baixo se não produzirmos cafés espe-
pelos pais. E, devagar, começaram a plantar talhão ciais. Temos como principais obstáculos as mudanças
por talhão com variedades diferentes. climáticas, e na agricultura de montanha, também te-
Já em 2004 ganhou seu 1° concurso de cafés mos dificuldade com a mão de obra”, aponta.
especiais de Minas Gerais, e a partir daí investiu
na profissionalização para produzir cada vez mais
nesta categoria, conseguindo estar sempre bem co-
locado em concursos regionais e nacional.
O Sitio da Chapada, em Soledade de Minas
(MG), é onde Marcus planta 30 hectares de café
convencional (30%) e especial (70%), todos em sis-
tema sequeiro. A produtividade atual está em 40
sc/ha, tendo como diferencial a quantidade de ca-
fés especiais alcançados.
Hoje, ele atende os mercados: EUA, Uruguai,
Japão, Rússia, Austrália, Arábia, Brasil e, princi-
palmente, Inglaterra, exportação que acontece pela
Carmocoffees e Cocarive, com a marca Mazeh
Cafés Especiais.
O valor da saca de café de 60 kg de Marcus
fica na média de R$ 2.000,00, mas no concurso
da BSCA a mesma saca foi arrematada por R$
5.000,00.

85
ESPECIAIS

QUANDO O CAFÉ
VEM DO BERÇO
Reginaldo Costalonga

R
eginaldo Costalonga produz café em cin- após, são levados para a caixa com água, onde ficam
co hectares no Sítio Guiomar, na zona ru- imersos por 12 horas, para então serem secos. A seca
ral do município de Vargem Alta (ES). Sua do café deve ser monitorada durante todo o dia, e por
produção se divide entre convencional (150 sacas) isso há sempre uma pessoa responsável por mexer o
e cafés especiais (50 sacas), sendo 100% em sequei- café no terreiro de tempos em tempos. Após a meia
ro, com produtividade de 40 sc/ha. seca, amontoamos o café à noite e cobrimos, para que
Ele é filho de agricultor, nascido e criado na se tenha a seca mais uniforme. E assim fazemos, até
propriedade onde hoje, com a ajuda do irmão e atingir a umidade ideal”, explica o produtor.
dos pais, dá continuidade ao trabalho que seu avô,
descendente italiano, deixou para eles. “Sempre ti- Comercialização
vemos a cafeicultura como a base de nossas econo-
mias, mas foi meu irmão, que se tornou degusta- Com a marca Costalonga Cafés Especiais, o
dor de café, que me incentivou e deu suporte para produtor comercializa para algumas torrefações
trabalhar com cafés especiais. Assim, investi mais e cafeterias no Brasil ao valor de R$ 1.800,00.
do meu tempo na colheita seletiva, no processo Segundo Reginaldo, são vários fatores que o
de descascar o café maduro, secagem em terrei- ajudam a ter um valor agregado, partindo da quali-
ro suspenso e cuidados com a seca uniforme dos dade no processo, se a propriedade está bem cuida-
grãos. Me dedico hoje, com muito empenho e cari- da, a valorização e cuidado com o meio ambiente,
nho, a fazer o possível para alcançar uma produção preservando nascentes e cuidados das matas nati-
de café sustentável, afinal, estamos falando de um vas. “O preço máximo que alcançamos foi de R$
alimento, e que precisa ter qualidade”, considera. 3.500,00 em uma saca de café. Já tivemos a opor-
tunidade de participar de um leilão, onde a saca
Grão a grão saiu a R$ 12.000,00. E, agora, pela primeira vez,
participamos do concurso da BSCA e estamos
No período da colheita, Reginaldo colhe ape- muito felizes pelo reconhecimento”, comemora.
nas frutos maduros, e para isso é necessário pas- Sobre custo, ele calcula que, em média, no es-
sar cerca de cinco vezes nas lavouras. Isso porque a pecial fica entre R$ 1.000,00 a R$ 1.300,00 por
região de Vargem Alta é muito fria, fazendo com saca, e o lucro varia de R$ 800,00 a R$ 1.000,00.
que os frutos amadureçam de forma desigual e, por Desafios, como os demais colegas, estão na falta de
isso, a colheita deve ser seletiva. mão de obra, alto custo de produção e oscilações
“Apenas os frutos maduros são descascados, e climáticas.

86
ESPECIAIS

MICROLOTES GANHAM O
MERCADO DE CAFÉS ESPECIAIS Fotos: Felipe Carvalho

F
elipe Carvalho é proprietário da Terraco- um encaixe perfeito para o que o nosso comprador
ta Specialty Coffee, localizada em São To- necessita. E como são nano e microlotes, são pro-
más de Aquino (MG), que compreende a dutos exclusivos, o que ajuda a agregar valor”, des-
região da Alta Mogiana Mineira. No total, ele cul- taca o produtor.
tiva 15 hectares de café, e quase 90% da sua produ- Como obstáculos, Felipe aponta o clima. “A
ção é vendida como especial. produção de café especial é como ter uma fábri-
Atualmente, 1/3 da área é irrigada, mas a meta ca a céu aberto, e não conseguimos controlar o cli-
de Felipe é, ao longo do ano, chegar a 2/3, até com- ma – seja chuva, sol, frio... Outro obstáculo grande
pletar 100% das lavouras. é a falta de mão de obra qualificada”, considera.

O que ele faz de diferente


“Nos diferenciamos dos demais produtores de
algumas maneiras: 1) buscando variedades exóticas,
que podem proporcionar experiências diferentes na
xícara; 2) fazemos colheita manual nos principais
talhões e 3) realizamos um pós-colheita focado na
qualidade final do produto”, relata Felipe Carvalho.
Em 2021, sua primeira colheita foi vendida
100% no mercado interno, de forma direta, para
17 torrefações diferentes de todo o Brasil. Já em
2022, ele expandiu para 21 torrefações, além de ex-
portar para Holanda, Paraguai e Estados Unidos,
a um valor bem acima do mercado convencional.
“Conseguimos agregar valor por meio da pro-
dução de cafés com qualidade superior e com uma
gama de variedades sensoriais distintas entre os
nossos cafés. Temos cafés com perfil sensorial de
frutas, chocolate, cítricos, florais, etc... Cada café é

87
ESPECIAIS

50 ANOS DE CAFÉ
DO CERRADO
O Cerrado Mineiro produz seis milhões de sacas de café por ano e atingiu,
recentemente, a marca de 1 milhão de sacas com selo de Denominação de
Origem.

E
m 2022, a cafeicultura do Cerrado Minei- Cafeicultores do Cerrado.
ro comemorou 50 anos. Iniciada por cafei- O Cerrado Mineiro atingiu, recentemente, a
cultores nativos e por outros que migraram marca de 1 milhão de sacas com selo de Deno-
de Estados como São Paulo e Paraná, a atividade minação de Origem. Ele também comenta que, ao
cresceu e se fortaleceu ao longo das últimas cin- longo destes 50 anos, é possível perceber a evolu-
co décadas, com a criação de cooperativas, associa- ção da cafeicultura brasileira por meio de três pon-
ções e da Federação dos Cafeicultores do Cerrado. tos: qualidade, sustentabilidade e tecnologia de
A região também foi a primeira no Brasil a con- produção. Estes elementos resultam em um movi-
quistar a Denominação de Origem para café. “O mento que podemos ver acontecendo no Brasil: o
Cerrado, ao longo dos anos, promoveu a marca, a aumento do consumo de café de qualidade.
origem e a qualidade do café, e isso gerou a neces-
sidade de uma proteção. Essa proteção se dá pela Oscar do café
Denominação de Origem, que é um registro su-
per importante, representado por um selo de ori- Os melhores cafés da safra de 2022 foram re-
gem e qualidade do Cerrado Mineiro”, explica Ju- velados durante o 10º Prêmio Região do Cerra-
liano Tarabal, superintendente da Federação dos do Mineiro, em 30 de novembro, em Uberlândia

Categoria Cereja Descascado


1º lugar: José Aparecido
Naimeg

88
ESPECIAIS

(MG), reunindo cerca de 600 convidados, entre re- menta Francisco de Assis.
presentantes da cadeia produtiva do grão mineiro,
políticos, autoridades e convidados. Disputa acirrada
A iniciativa, que visa reconhecer o trabalho dos
cafeicultores da Região do Cerrado Mineiro e pro- A disputa contou com a participação de 56 fi-
mover a Denominação de Origem, a primeira con- nalistas nas categorias Café Natural, Cereja Des-
quistada para café no Brasil, foi promovida pela Fe- cascado e Fermentação Induzida.
deração dos Cafeicultores do Cerrado. No total, foram representados 4.500 produto-
O presidente da federação, Francisco Sérgio de res dos 55 municípios da região, que produz, em
Assis, destacou que 2022 foi um ano de alegria, or- média, 6,0 milhões de sacas por ano, com um re-
gulho e realização. “Acreditamos na força do asso- corde de inscrições de 370 amostras.
ciativismo e do cooperativismo. A Região do Cer- O lote mais valorizado no leilão foi o primei-
rado Mineiro, hoje, é a primeira Denominação de ro colocado da categoria Natural, do produtor Jor-
Origem em café do Brasil, trabalhando exclusiva- ge Fernando Naimeg, que atingiu 90,94 pontos e
mente para o bem-estar do nosso cafeicultor, que foi vendido por R$ 62.017,00 por saca, uma prova
gera riqueza e que transformou essa região”, co- de que a qualidade é recompensada.

Confira os vencedores:
Categoria Cereja Descascado
1º lugar - José Aparecido Naimeg - 90,94 pontos – Expocaccer
2º lugar - Eduardo Henrique Soares Pereira - 89,13 pontos - Carmocer
3º lugar - Maria Aparecida Pires Ruiz - 88,28 pontos - Expocaccer

Categoria Fermentação Induzida


1º lugar - Agilmar Ferreira Pinto - 88,75 pontos - Expocaccer
2º lugar - Lázaro Ribeiro de Oliveira - 87,79 pontos - Expocaccer
3º lugar - Ismael José de Andrade - 87,70 pontos - Carpec

Categoria Natural
1º lugar - Jorge Fernando Naimeg – 90,94 pontos - Expocaccer
2º lugar - Guilherme Sebastião F. Romão – 89,53 pontos – Expocaccer
3º lugar - Enivaldo Marinho Pereira – 88,16 pontos – Carmocer

Fotos: Divulgação

Categoria Fermentação Induzida


1º lugar: Agilmar Ferreira Pinto

Categoria Natural
1º lugar: Jorge Fernando Naimeg

89
ESPECIAIS

DONAS DO CAFÉ
LIDERANÇA FEMININA
É MARCANTE NO CAMPO

Paixão e dedicação à cafeicultura têm mostrado a força das mulheres no


setor e no programa de cafés especiais da Cooxupé.

D
iante do crescimento da participação e li- proporção. Mostrando que elas podem liderar seus
derança das mulheres no mercado de ca- negócios e ganhar espaço no mercado de cafés es-
fés especiais, a SMC Specialty Coffees e peciais, o ‘Donas do Café’ vem para trazer visibili-
a Cooxupé criaram o “Donas do Café”. O proje- dade ao trabalho e aos parceiros da SMC.
to gera novas oportunidades de desenvolvimento A importância deste projeto é ilustrada por
e capacitação, valorizando, assim, o desempenho e meio de sua marca, trazendo a personificação das
esforço das mulheres cafeicultoras neste segmento. mulheres produtoras; determinadas e sempre de
olho no futuro.
Empoderamento e novas oportunidades
A origem
O desempenho das mulheres no café cresceu
exponencialmente nos últimos anos, e a demanda Os lotes são selecionados pelo ‘Especialíssimo’,
pelo café produzido por elas aumentou na mesma um programa também em parceria com a Coope-

90
ESPECIAIS

CONFIRA O DEPOIMENTO DE ALGUMAS DAS PARCEIRAS:

“Meu pai deixou o Sítio Cór-


rego do Adão como herança, para
que eu pudesse continuar seu tra-
balho. Estou tão orgulhosa de ver
os cafezais que ele tanto amava
produzindo grãos da melhor qua-
lidade e recebendo este reconheci-
mento”.
Fátima Aparecida Jacob

“É uma grande alegria saber


que os cafés que cultivamos aqui
na Fazenda Canta Galo com tanto
amor chegam às cafeterias de todo
o mundo. Eu, minha família e nos-
sa equipe trabalhamos muito para
produzir cafés especiais, e a par-
ceria com a SMC é um grande in-
centivo”.
Andreia Oliveira da Silveira

“Produzir café especial foi um


sonho meu e de meu marido des-
de que começamos a produzir café
juntos, aqui no Sítio Baixão da
Serra. Hoje posso dizer que isso
é uma realidade e me sinto mui-
to feliz por isso”.
Ana Vanessa Carvalho

“O Sítio Bananal Mirim é meu


Fotos: Cooxupé refúgio. Isso me faz tão bem que as
pessoas dizem que eu volto de lá mais
rativa Cooxupé. O manuseio correto no campo faz feliz do que antes. Eu estudo muito
toda a diferença. Com suporte técnico, as produto- sobre cafés especiais para conhecer as
ras cultivam cada pé de café com muito amor e de- melhores práticas para cada talhão,
dicação. que por sinal tem nomes de mulhe-
Como funciona res”.
Maria Regina Silveira
Informar: criar e levar conteúdo às mulheres
produtoras através de transmissões ao vivo e reuni-
ões - aqui é plantada a semente do conhecimento.
Acompanhar: acompanhamento do pessoal téc- “O café reúne as pessoas, e é
nico da Cooxupé e SMC no campo e alinhamento para isso que trabalhamos. Encon-
das expectativas de produção. trei meu propósito dentro desta ati-
Comunicar: apresentação de ações e dos ca- vidade. Minha equipe e eu traba-
fés especiais recebidos pela SMC, através do pro- lhamos duro para ter grãos de alta
jeto, aos clientes e amigos. qualidade em um ambiente susten-
Negociar: Abrir novos negócios e desenvolver tável”.
parcerias sólidas e bem-sucedidas que ajudarão as Josiani Moraes
mulheres a crescer e melhorar suas atividades.

91
ESPECIAIS

A PORTA-VOZ DO
‘CAFÉ EM CORES’

H
á duas décadas a artista plástica Valéria uma das mulheres mais importantes da cidade de
Vidigal direcionou a sua arte, pintura em Vitória da Conquista, na Bahia, um livro literá-
telas e painéis para a temática do café. rio de conteúdo biográfico, mas também socioló-
Para os leitores da Campo & Negócios, em espe- gico e histórico.
cial deste Anuário do Café, a arte dessa mineira e
sua história de sucesso já é conhecida. Conquistas atuais
Mas, hoje nós agraciamos essa artista por um
ciclo de 20 anos de muita dedicação, títulos, home- Já nesse ano de 2023, Valéria participa com suas
nagens e premiações, em que ela, uma mulher do ilustrações no livro comemorativo dos 50 anos da
agronegócio e artista brasileira, nos representa in- Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC),
ternacionalmente com muito orgulho. e na obra “História do Café no Ceará”, de autoria
Desde o ano de 2003, suas pinturas ilustram os do historiador cearense Levi Jucá.
anais do Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafe- Sua arte retrata de forma singular as lavouras
eiras do Procafé. No ano de 2008 ilustrou o livro de café, o trabalhador rural, os detalhes dos fru-
History of Coffee in Brazil, de autoria do jornalis- tos, flores, bules e xícaras, e os apreciadores da be-
ta Antonio Carlos Moreira. bida, o nosso “ouro negro”, assim chamado desde
Já em 2010 ilustrou o livro “Café & Saúde”, os tempos do império, quando os ramos de café já
do Doutor Darcy Roberto Lima, e o livro “Café, a eram estampados nos brasões.
Saga de um Herói”, de sua autoria, que conta a his- Apreciar as suas exposições é algo magnífico.
tória do café no Planalto da Conquista. Seus trabalhos estão em vários países e fazem par-
Já no ano de 2021 lançou o livro “Café com te do acervo de grandes instituições, cooperativas,
arte & poesia”, em parceria com o escritor Harol- empresas e acervos particulares. Valéria Vidigal é
do Augusto Moreira. Em 2022 o Sebrae Nacional vice-presidenta do Museu de Kard e conselheira
lançou o livro “Café com Arte, criar o futuro é fa- titular do município de Vitória da Conquista, sen-
zer história” comemorativo aos 50 Anos do Sebrae. do representante da sociedade civil no Conselho
Esse livro é todo ilustrado com as suas pintu- Municipal de Cultura.
ras, sendo mais de 100 obras retratando a cafeicul-
tura brasileira, a diversidade de origens cafeeiras Mulher do agro
e regiões com Indicação Geográfica. Nessa edição
inédita, o Sebrae retrata a evolução da cafeicultu- Como mulher do agro, o café produzido pela
ra, um dos setores do agronegócio decisivos para família Vidigal tem vários prêmios nos concursos
a economia do País, e dirige o olhar para o futuro de café de qualidade. Sendo assim, essa artista sabe
do empreendedorismo no Brasil. muito bem o que pinta em suas telas.
Valéria recebeu o convite do diretor-presidente Podemos repetir aqui um dos convites mais
Carlos Melles para esse trabalho, que ficou belís- feitos no mundo: “Os senhores aceitam um cafe-
simo. Nesse mesmo ano, ela foi homenageada pelo zinho?” Assim, os convidamos a apreciar a arte de
escritor Durval Lemos Menezes no livro “A Con- Valéria Vidigal, por meio de sua galeria virtual no
quista das mulheres, passado e presente”, como instagram @v.vidigalgaleriadearte

92
ESPECIAIS

Rafaela Vidigal

93
ESPECIAIS

CAFÉ EM LATA
TENDÊNCIA COLD BREW
CHEGA AO BRASIL
Divulgação

A Moose é a primeira empresa brasileira a produzir o Cold Brew Nitro em lata.

I
nvenção japonesa muito apreciada na Ásia, o poration, líder mundial em embalagens sustentá-
café em lata vem ganhando espaço na Europa veis de alumínio e pioneira em lançamento de no-
e América do Norte nos últimos anos e chega vas categorias de bebidas em lata.
agora ao Brasil, com o lançamento da Moose Cold “O consumidor da América do Sul segue essa
Brew: uma bebida de café extraída a frio em um tendência internacional de buscar bebidas que tra-
processo de fabricação artesanal. gam energia de forma alternativa, e o café gelado
A categoria já é considerada a próxima tendên- em lata chega para agregar nesse sentido. Também
cia do mercado de bebidas, e o formato gelado e vemos uma procura cada vez maior por produ-
pronto para beber se alinha aos novos hábitos de tos que inspirem sustentabilidade, que é o caso da
consumo dos brasileiros, ao clima tropical do País Moose, envasada na lata de alumínio, a embalagem
e à demanda por produtos mais naturais contendo mais sustentável da cadeia de bebidas”, diz Hugo
cafeína, que deve ter aumento de 2,8% no próximo Magalhães, diretor de Marketing e Novos Negó-
ano, segundo pesquisa da Euromonitor encomen- cios da Ball para América do Sul.
dada pela Ball. A lata sempre foi considerada por Gabriel Ada-
O produto da Moose traz características bem mo, fundador da Moose, como o envase perfeito.
definidas do Cerrado Mineiro e leva de 18 a 24 Além da praticidade e segurança, a lata gela mais
horas para a extração do líquido após a imersão rápido, se alinhando com a produção feita de ma-
do café na água. Esse processo permite um resul- neira 100% fria, mantém o sabor sem interferência
tado mais leve, com sabor adocicado, apesar de os dos efeitos da luminosidade e é a opção mais ami-
únicos ingredientes serem o café e a água presen- ga do meio ambiente, já que, se descartada corre-
tes no envase da lata de alumínio, que é a embala- tamente, volta às prateleiras como uma nova lata
gem mais sustentável entre as opções para bebidas. em 60 dias.
O novo formato de consumo já é uma realida- “A Moose surgiu depois de uma viagem aos
de e ganha cada vez mais espaço em um cenário Estados Unidos, quando percebemos que os ame-
de busca por energéticos mais naturais e de bai- ricanos encaravam o café em lata como um ener-
xa caloria. gético natural. A bebida pareceu favorável para o
Brasil logo de cara, levando em consideração que
Pioneirismo o País é um dos maiores produtores e consumi-
dores de café do mundo, e estas impressões foram
A responsável pela latinha de alumínio que confirmadas com pesquisas depois”, explica Ga-
protege o sabor do café dos raios UV é a Ball Cor- briel Adamo.

94
ESPECIAIS

CAPPUCCINO VEGANO
INOVAÇÃO E SABOR

A
diCapri, conhecida por seu pioneirismo ra diferenciados, ricos em nutrientes, vitaminas e
na produção de cappuccinos aromatiza- com baixo índice glicêmico. Esse produto é ideal
dos no Brasil, está em franca expansão. para quem não faz ingestão de nenhum ingredien-
O plano de crescimento da empresa passa por um te de origem animal e é intolerante à lactose. Tam-
aumento na produção e na consolidação de pro- bém pode ser consumido por pessoas que estão fa-
dutos voltados para o público vegano, com a utili- zendo dietas low carb.
zação de ingredientes mais saudáveis e com mui- “Esse é um dos muitos produtos que fazem
to sabor. parte da inovação da diCapri. Sempre olhei para
Renata Fleury, proprietária da diCapri, conta o mercado, acompanhando suas inovações. Temos
que entre os produtos está o Cappuccino Original hoje um portfólio muito extenso de bebidas saudá-
Vegan, a versão vegana do cappuccino tradicional, veis que atendem todos os tipos de consumidores,
produzido com leite de coco em pó, açúcar de coco com produtos comfort até as novidades veganas”,
e cacau orgânico da Amazônia, com sabor e textu- conclui Renata.

Divulgação

95
ESPECIAIS

CAFÉS ORGÂNICOS
PRODUÇÃO EM EXPANSÃO
A maioria do café orgânico produzido no Brasil tem
destino para os EUA, Europa e Japão.

A
produção de cafés orgânicos no Brasil vem relacionada ao preço obtido no momento da ven-
crescendo ao longo dos anos, principal- da.
mente ligado ao valor agregado que a be-
bida apresenta. No ano de 2022 a produção girou Características de um café orgânico
em torno de 80 a 100 mil sacas de café em uma
área de cinco mil hectares. A produção de café orgânico adota técnicas es-
O sistema orgânico envolve uma complexida- pecíficas, relacionadas ao uso racional dos recursos
de maior do que os sistemas de cultivo convencio- naturais e socioeconômicos disponíveis e o respei-
nais, gerando custos um pouco maiores para sua to à integridade cultural das comunidades rurais.
produção. Porém, a demanda por cafés especiais As metas deste sistema de produção são a sus-
tem crescido, percebendo-se uma modificação das tentabilidade econômica e ecológica, a maximiza-
preferências dos consumidores em direção aos ali- ção dos benefícios sociais, a minimização da de-
mentos orgânicos, entre eles o café, cuja produção pendência de energia não-renovável, empregando,
orgânica tem crescido e se expandido pelo Brasil. sempre que possível, métodos culturais, biológicos
Entretanto, a viabilidade econômica da produ- e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais
ção de café orgânico mostra-se fundamentalmente sintéticos, envolvidos no manejo fitossanitário,

96
ESPECIAIS

alguns casos de resíduos de agroquímicos presen-


tes em frutos de café.
Porém, com o maior rigor da legislação sobre
os orgânicos e das certificadoras, esse tabu foi que-
brado e o café orgânico nacional tem uma grande
aceitação nos mercados internacionais.
A cafeicultura orgânica tem sido atrelada ao
comprometimento de uma produção mais sustentá-
vel que atrai consumidores mais conscientes sobre
esse tipo de sistema produtivo.
O mercado consumidor de café tem se mostra-
do cada vez mais exigente e inovador, fazendo com
que as empresas adotem mecanismos de constan-
te inovação, com o lançamento de novos produtos,
processos e serviços.
Desse modo, merecem atenção os mercados
consumidores de cafés especiais certificados, bem
como os cafés “gourmets”, reconhecidos pela alta
qualidade ou por outras diferenciações, como ras-
treabilidade, produção sustentável, orgânicos, en-
tre outros.

Oferta e demanda
Os principais países produtores de café orgâni-
co certificados são: México, Peru, Guatemala, Cos-
ta Rica, Nicarágua, El Salvador, Brasil e Colômbia.
A produção mexicana foi a primeira a ter a certi-
ficação orgânica e, atualmente, tem a maior pro-
dução mundial.
No Brasil, as principais regiões produtoras de
café orgânico são o Espírito Santo, o Sul de Mi-
nas e o interior de São Paulo, além dos Estados da
Bahia, do Ceará e Paraná.
Em relação à produção mundial, apenas 8% de
todo o café produzido é orgânico, ocupando 770
mil hectares. A maioria do café orgânico produ-
zido no Brasil tem destino para os EUA, Euro-
pa e Japão. O consumo interno ainda é baixo, mas
tende a crescer, devido ao aumento da deman-
da por cafés diferenciados, especiais e com certifi-
cação de origem.

adubação e condução da lavoura, assim também Entraves climáticos


como o processamento, armazenamento, distribui-
ção e comercialização, e a proteção do meio am- O Brasil passou por várias intempéries climá-
biente. ticas nos últimos anos, afetando sua safra e impac-
Esse contexto implica em uma forma de di- tando o mercado internacional, visto ser o maior
ferenciação do produto no mercado, oferecendo produtor de cafés do mundo e um dos maiores
ao consumidor um produto livre de contamina- produtores de cafés orgânicos.
ções por resíduos químicos, provenientes, princi- Os estoques de cafés em 2022 foram os mais
palmente, do uso de agroquímicos e fertilizantes baixos dos últimos 22 anos, resultando em uma
industriais. oferta um pouco menor, fazendo que os preços
pagos pela saca de cafés convencionais se elevas-
Diferenciais sem.
O café orgânico também acompanhou a mes-
O mundo observava o Brasil com um olhar ma tendência. Além disso, o perfil do consumidor
desconfiado sobre a produção agrícola, em decor- é diferenciado, dominado principalmente pelo pú-
rência das informações de desmatamento, além de blico mais jovem.

97
ESPECIAIS

seja, pequenos e microempreendedores cuja gestão


Valor agregado
da propriedade é compartilhada pela família, bem
como a mão de obra, e a atividade produtiva agro-
O café orgânico apresenta maior valor agrega-
pecuária é a principal fonte geradora de renda.
do relacionado a todo o processo de produção, que
A produção de café orgânico é uma forma de
não envolve produtos químicos que possam trazer
agregar valor para um produto diferenciado. O mer-
algum resíduo de contaminação ao produto.
cado de insumos e produtos fitossanitários vem
Para que o café possa ser comercializado como
crescendo a oferta de produtos com selos reconhe-
orgânico, é necessário que o mesmo seja certifica-
cidos por certificadoras, podendo ser utilizados na
do, rastreado e associado quanto a sua procedência.
condução das lavouras, fungicidas, inseticidas e ne-
A adoção de certificações para os cafeicultores bra-
maticidas de origem biológica.
sileiros tem sido uma constante.
Porém, a produção de café orgânico encontra
Foram analisados os custos das certificações
alguns desafios, especialmente no que diz respeito
mais difundidas no País e o selo Orgânico foi o de
a fatores como adubação nitrogenada e controle de
maior margem de lucro, de R$ 114,00 a R$ 137,73
plantas daninhas.
por saca, no ano de 2021. O café orgânico pode ter
valores 30% superiores à saca dos convencionais,
porém, cafés que tenham um processo de produ-
ção de bebidas especiais podem superar até 400%
o preço pago por saca.

Nicho de mercado Autoria:


Alisson André Vicente Campos
Engenheiro agrônomo – Universidade Federal de Viçosa
O País possui cerca de 330 mil propriedades (UFV) e doutorando em Fitotecnia – Universidade
rurais dedicadas ao café em sistema convencio- Federal de Lavras (UFLA)
nal. Destes, 78% são agricultores familiares, ou alissonavcampos@yahoo.com.br

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