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J. A. GIANNOTTI Licoes de filosofia primeira ns Copias, Impressco, Seaner confess, e Encadainagae Professor Si aE CoMPANHIA Das LETRAS A filosofia é uma forma de saber raciocinador, que se ocupa do cosmo, da linguagem (do logos), do sentido e dos limites do conhecimento cientifico, do significado de outras praticas e da politica. Nasce, desde logo, opondo-se ao pensamento mitoldgico. Para os pensadores positivistas do século xix essa Oposi¢ao ao mito era tao surpreendente, o nascimento da filosofia tao inesperado, que o nomearam “o milagre grego”. Hoje se percebe que as duas formas de pensamento se entremeiam, sem contudo se confundir. Alguns antropélogos estudam a cosmologia e a metafisica dos povos “primitivos” como se estas fossem comparaveis a reflexdo grega. Ninguém pode negar a beleza e 0 refinamento dessas narra- Ges. Mas se nao hé corte abrupto entre elas e o pensamento grego, do ponto de vista da travacio das ideias, nao cabe menosprezar outras diferengas, tanto no plano do discurso como no das prati- cas ligadas a elas. E de notar que, com rarissimas excecoes, o filé- sofo costuma escrever um texto para apresenti-lo a um publico, que o discute, aprova ou reprova. Outro fildsofo da a luz mais um texto, as vezes sintetizando o debate em curso, arredondando os problemas ou apontando suas contradicdes. Por sua vez, outro ainda pode escrever um texto téo novo que altera o rumo das in- vestiga¢Ges, iniciando nova tradi¢&o. Nao é raro um autor lamen- tar o deserto da reflexdo anterior, mas, se arma um sistema, é para que ele seja desfeito pela sanha dos discipulos e dos adversérios. Toda essa disputa ¢ ignorada pelo pensador tupi, por exemplo, que simplesmente aceita sua rica cosmoiogia. Se, quando narra, introduz variacoes, estas tem seu campo determinado por estru- turas mais ou menos definidas. Sua rnitologia, ele ndo a pe a prova de um modo sistematico. O que seria di Slosofia se respei- ..daese esse pO de fronteira? E importante evitar delimitages rigidas. Uma das mais co- 26, mums € separar a histéria da filosofia do préprio filosofar. O estu- dioso de hoje tem diante de si mais de 2 mil anos de tradicio. O tempo, as mudangas de pontos de vista, a intolerancia devastaram as bibliotecas que guardavam os monumentos do pensamento antigo. Gracas aos conventos 2 filosofia medieval foi mais preser- vada. Do século tv a.C. até a invencio da imprensa, por volta de 1440, os textos filoséficos foram copiados e recopiados, cada co- pista introduzindo erros ou novas interpretages. Copiava-se se- guindo as modas da época. Por isso de muitos filésofos as vezes restam apenas fragmentos, alguns talvez transcrevendo 0 que o proprio autor escreveu; na maioria, porém, sdo citacSes recortadas para enaltecer ou combater as teses propostas no original. O estu- dioso moderno desde logo se confronta com a tarefa de recons- truir, de recompor 0s textos antigos. Na verdade corre o perigo de se perder nas firulas da inter- preta¢do, como se sua tarefa se resumisse ¢! restaurar pecas que- bradas. Mas o que fazer com elas? Simplesmente toma-las como saco de argumentos a serem ressuscitados segundo 0 interesse do debate contemporaneo? Ou tentar mostrar que estdo sorrateira- mente alinhavadas por um fio vermelho de uma histéria, que pode estar inscrita na histéria da razdo? Ou ainda decretar, a partir de um ponto de vista ja firmado, que toda filosofia, ao lidar com.con- ceitos abstratos, deve resolver-se numa falsa consciéncia, engen- drada a favor das classes hegeménicas de um determinado periodo histérico? Em contrapartida outros enxergam, na barafunda das discussdes filoséficas, apenas acertos e desacertos de uma philoso- Pphia perennis a boiar num mar de fragmentos, livros e outros tex- tos de variada espécie, legados pela tradicao. Seja como for, hoje o estudioso de filosofia se defronta com uma enorme quantidade de textos os mais diversos, cujos sentidos precisam Ser recompostos. Essa tarefa carece de uma técnica ¢ de um aprendizado. Nada mais ingénuo do que imaginar que se co- mega a filosofar simplesmente procurando dar uma resposta cor- reta a perguntas do tipo: “Devo considerar a mentira um mal?” Ao tratar de responder a essa pergunta, nao sé se esta pressupondo o sentido da palavra mentira, mas ainda se vai sorrateiramente lan- gando mao de um conceito de juizo moral que nem sempre sera aceito por todos os seus pares. A mera suposicao de que todo o sentido desse enunciado seja totalmente univoco ja pressupde um ponto de vista filoséfico muito peculiar que, obviamente, nao sera aceito sem mais pela comunidade dos filésotos. Por que, diante da disparidade e desencontro das teses filosé- ficas, nao se ocupar antes de tudo com suas diferengas? Mais do que as diferencas dos sistemas, importam os matizes que ganham Os enunciados ao serem usados desta ou daquela maneira. Focar essas torges nos da uma das primeiras experiéncias da diversida- de do pensar filoséfico. Examinemos, pois, como funcionam tais conceitos. Mas lembremos que esse funcionamento é publico. Por mais que possa se esconder num gabinete bem aquecido ou num quarto de hotel, a atividade de filosofar nao dispensa o olhar nem sempre neutro, mas quase sempre critico, do outro, Esse seu trago remonta as origens. A filosofia nasceu quando se formou a pilis, a cidade-estado grega, desenhando um espaco publico onde uma elite ampliada, que se considerava o préprio povo, deliberava sobre seus problemas e elegia uma solucao de acordo com procedimentos formais previamente estipulados. Isso aconteceu na Grécia, a partir do século vm a.C. Os cidadaos — entre eles no se incluiam as mulheres, os escravos e os estrangei- Fos — participavam do poder reivindicando o dir eito da isegoria, isto é, a possibilidade de pedir a palavr: @na assembleia comunal, e 28 er SIRT EREPTYERA PET ree TNE epee NILE aquele da isonomia, de ser tratado igualmente perante a lei. Em todas as cidades gregas, da Jonia, na Asia Menor, 4 Magna Grécia, isto €, 0 sul da Itdlia ea Sicilia, a despeito das enormes diferengas, instalou-se uma cultura em que o problema dos direitos dos cida- dos passava a fazer sentido. Na passagem do século viii ao vu, entra em crise um modo de producio e de poder que girava em torno de palacios reguladores, contabilistas e monoliticos. Micenas é 0 exemplo tipico. As trocas mercantis se expandem pelo Mediterraneo. Nao é por isso, entre- tanto, que se trata de uma sociedade propriamente mercantil, pois as trocas continuam sendo marcadas pela circulagao de dons, os objetos sendo apreciados antes de tudo para serem oferecidos aos deuses e aos nobres. Para compensar, grande parte dos bens de consumo provém da propriedade familiar, do oikos. A nobreza, armando o tecido das trocas, faz circular objetos preciosos, bens em que os nobres tanto manifestam seu poder como deixam que seu poder se incorpore neles. O antigo rei distribuia sementes para que elas frutificassem, mas também para que se tornassem reais. Anforas, tripés, vasos, copas, joias alimentam esse circuito entre os nobres cidadaos. Conta-se que Tales venceu um concurso para indicar 0 mais sbio de todos os sébios. Como prémio recebeu um tripé, que logo passa adiante, para quem lhe parecia mais sabio ainda. Essa operaco se repete e o tripé circula entre as maos dos sete sdbios — a lista nao é consensual — consagrados no momen- to. Quando retorna a Tales, ele o oferece ao deus Apolo. Mutatis mutandis, o poder também circula. Em vez de re- pousar nas maos de um rei, dito anax ou basileus, passa a ser compartilhado, primeiramente pelos nobres cavaleiros, depois, generalizando-se, pelos proprietarios mais ricos até abranger todo cidadado adulto, desde que estivesse ligado a um demos, por strito. Daf o nome “democracia” para essa for- assim dizer um di ma de governo, poder dos distritos, numa livre traducao, Desapa- 8g 29 Tece aquela realeza que girava em torno de um rei mago e absolu- he aamar a um Estado onde se separam as fungoes ‘ivas, junto a uma rede de tribunais especiali- zados em julgar transgressdes determinadas. A religido, ademais, se torna de Estado, protegida por uma rede racional ligada a luz do deus Apolo. Mas sob essa casca apolinea vibravam o impulso e © extravasamento, a exuberancia do deus Dioniso — em latim Bachus—, de cujas festas desencadeadas pelas bacantes a popula- do participava intensamente. No lugar de um palacio a centralizar todas as atividades da populacio, surge a cidade murada protegendo cidadaos e estran- geiros, e, na hora do perigo, acolhendo os camponeses que traba- lhavam nos arredores. No centro, ergue-se 0 foco religioso aberto a todos, o templo, cujas colunas e frisos contam para 0 exterior 0 poder do deus que ali habita. Nao é por isso, entretanto, que os mistérios desaparecem; deixam de ser privilégio nobilidrio para ser monopOlio de iniciados. Esse contraste entre apolineo e dioni- siaco, descoberto pelo fildsofo Friedrich Nietzsche, marca todo o ritmo da Antiguidade classica. E bom lembrar que, mil anos de- pois, no Iluminismo, o caminhar das luzes também veioc acompa- nhado pelas sombras das sociedades secretas. Esse saber publico, que é a filosofia, nao nasce do nada. Na sua raiz conserva tracos profundos do pensamento indo-europeu, come, por exemplo, a oposicao entre 0 visivel e o invisivel, privile- giando este ultimo o plano do ser e aquele o do conhecimento. O grego sempre considerou o existente distribuido em dois mundos, aquele dos astros em movimento circular, divinos porque se movem da forma mais perfeita, e aquele das coisa mutdveis, o mundo su- blunar. Somente no helenismo essa separacao foi questionada. Do ponto de vista grego, os planetas surpreendem, pois nao seguem como os outros astros movimentos regularmente circulares. Por isso a-primeira tarefa dos astronomos gregos era “salvar os fendme- 30 nos’, encontrar uma regularidade invisivel que explicasse as irregu- laridades vistveis. Essa preocupagao, nés a herdamos, pois até hoje a ciéncia estuda o que esta escondido, o que necessita de um racioc{- nio ou de cdlculo para explicar seu modo de aparecer. A mera des- cri¢do, uma fenomenologia (0 estudo, o logos, do que aparece), so- mente assume a lideranca do saber em casos muito especiais. E interessante notar que a substituicado do rei mago (0 anax) por uma assembleia de pares, inclusive com poderes religiosos, necessita da intermediagao de um sabedor (sophos), de um sabio dos meandros da polis ideal. Até mesmo Tales, embora sendo con- siderado pela tradicdo 0 primeiro fil6-sofo, foi igualmente consi- derado um sdbio e, politico, influenciou os gregos da Jonia para que se unissem num Estado federativo. Em geral os sdbios, a exem- plo de Solon e Licurgo, sao legisladores, que, afastando-se das disputas das cidades nascentes, retornam para lhes oferecer uma constitui¢do; Sélon para Atenas, Licurgo para Esparta. Importa-nos como 0 filésofo toma distancia do sdbio. Em geral se traduz philos por “amigo” e philia por “amizade”. Em grego essas palavras possuem conota¢do muito ampla, pois significam uma rela¢do por semelhanca que pode valer entre os seres huma- nos ou entre as coisas. O philos da sophia é ent&o aquele que se projeta nela, aceitando chegar a ela por uma ascese. Nao é legisla- dor, embora Platao tenha defendido a tese de que o verdadeiro rei deveria ser um filésofo, alguém que se ocupasse, antes de formular e aplicar a lei, de buscar seu significado e sua verdade. Uma nova disciplina, a filo-sofia, nasce procurando o sentido e a verdade ocultos no fluxo das coisas e das atividades humanas; fluxo consi- derado antes de tudo do ponto de vista do nascimento, da forma- ¢4o a partir de um fundo. Por isso é primeiramente reflexdo sobre a physis, que os romanos traduziram Por natura, participio futuro do verbo nascor, “nascer” isto é,a aco de fazer nascer, de fazer vir ao mundo, 31 Areflexao filoséfica nao deixa de hesitar entre 0 mito da asce- se € 0 pensar aquilo que é, 0 ser. Veremos, porém, que o proprio ser pode dotar-se de um movimento de ascensao. £ notavel que, entre 0s textos dos pensadores pré-socraticos — esta é uma divisdo tra- dicional na medida em que considera Sécrates ponto de inflexdo na filosofia grega —, o mais abstrato, aquele que afirma 0 direito do pensamento pensar por si proprio, o texto de Parménides, seja escrito em versos como um poema de Homero. Além do mais, se inicia por uma cena de encantamento: 0 filsofo é conduzido pelas filhas do Sol até a deusa Diké (da justica), que lhe abre duas portas, a da Luz ea da Noite, demarcando dois caminhos, o da verdade e 0 da opiniao. O caminhar ¢ a condi¢ao para que o pensamento se Prepare para explorar a verdade e suas contratacées. O cerne da dificuldade retoma um tema indo-europeu: como pensar o uno no miltiplo e vice-versa? O conceito “cadeira” diz respeito a varias cadeiras; 0 de mundo, a tudo 0 que acontece. Para Os gregos, 0 que acontece com 9s astros, considerados divinos, as- sim como com os fenémenos da vida corrente pode ser visto a partir de uma unidade posta como sendo. Qual é a natureza desse uno? A solucao mais simples é toma-lo como fonte do miultiplo. Foi o que fizeram os primeiros fildsofos. Para Tales ele é 0 umido, a Agua, como principio de tudo o que existe na natureza. Seu dis- cipulo Anaximandro ja o transforma num indefinido (apeiron), fonte informe das coisas definidas. Sabemos ter sido ele o primeiro filésofo que, com certeza, escreveu um livro, do qual sobrou ape- mas uma tinica sentenga. N’ 0 se pode afirmar que ele proprio a enunciou, pois chegou até nés depois do trabalho de varios copis- tas e intérpretes. Dai mais uma dificuldade para apreender seu pensamento original. Além disso, cada tradutor ou cada fildsofo a 1é a seu modo. Para exemplificar, apresentamos duas tradugSes. A 32 primeira é de Cavalcante de Souza: “Pois donde a geragao € para Os seres, é para onde também a corrup¢4o se gera segundo —_ cessrio; pois concedem eles mesmos justi¢a e deferéncia uns aos outros pela injustica, segundo a ordenagao do tempo”. Outra € de Martin Heidegger, na transcrigao de Ernildo Stein: “De onde as coisas tém seu nascimento, para la também devem afundar-se na perdicdo, segundo a necessidade; pois elas devem expiar e ser jul- gadas pela injustica segundo a ordem do tempo”? Convém lembrar que nessa época 0 direito nao estava intei- ramente constituido, de modo que nao se pode considerar essa injusti¢a cometida pelas coisas que se subtraem do uno indefinido como transgressao a uma lei juridica. Injusto é escapar da unida- de, precisamente constituir a trama de coisas, de entes, seguindo movimentos mais ou menos regulares e formando contrarios, como a agua e a terra, a luz e a sombra. E se torna preciso, entdo, pagar o preco por essa diversificagao. A injustica nao reside numa diversidade organica, mas no balango do peso e do contrapeso que fere a diké reguladora da unidade. O tempo é pensado como circu- lar, voltando sempre ao mesmo ponto de partida, os entes retor- nando a unidade do indefinido para recomesar tudo de novo. Notavel é que essa ideia da circularidade tragica das coisas aparece igualmente em outros pensadores pré-socraticos. Conhe- cemos um fragmento de Herdclito (cerca de 540-470 a.C.) sobre esse assunto: “O fogo em seu progresso julgara e condenara todas as coisas”.* Essa contrariedade a marcar tudo 0 que existe, as coisas sendo tensionadas como 0 arco e a lira, também se desdobra num circulo. Embora o mundo se resolva num fogo sempre vivo, suas 1. Colecao Os Pensadores, 1, Sdo Paulo; Abril Cultural, 1973, p. 22. 2. Idem, p. 25. 3.John Burnet, L’ aurore de la philosophie grecque, édition francaise Aug. Reymond, Paris: Payot, 1919, p. 151. . 33 bo ee fluxo ena e: 0 fogo puro se en- : » que, 10 OS OUtros astros, € uma gamela, uma cuia, ou ainda uma espécie de barco, cuja face concava se volta para nosso lado. Ao separar-se, cria o mar, sendo que uma de suas metades constitui a terra, a outra, um furacdo acompanhado de uma tromba inflamada, segundo uma das multiplas interpreta- ges possiveis. Herdclito inova ao considerar que nao ha divisdo entre o ser eo multiplo, de sorte que toda unidade passa a ser considerada diferenciacao. Dai a famosa sentenca, que talvez nem seja dele mas que revela o cerne de sua reflexdo; ela enuncia que nunca nos banhamos no mesmo rio, pois diferem suas aguas sem- pre méveis e se desgastam as margens, apesar de sua solidez. No uno importa sempre a tensdo. Parménides ¢ a imagem invertida de Herdclito, por isso ambos se movem no mesmo universo de pensamento. Ele decididamente nega o fluxo para nao combinar Ser e Nao-Ser. Esquecamos tudo 0 que aprendemos coma filosofia posterior e com as ciéncias. Segun- do os pré-socraticos a contrariedade do uno ¢ do miiltiplo implica um movimento em que algo agora é assim para logo em seguida vir aser outro. A oposicdo entre matéria ¢ ff rma ainda ndo fora pensa- da, de sorte que nao é possivel tomar 0 fluxo como unidade sub- mersa — hoje a pensamos sob a forma de energia — que vai se configurando em diferentes modos de aparecer. Mas para isso so- mos levados a considerar 0 tempo como nao sendo circular. Ora, como negar essa circularidade quando os corpos divinos, os astros, se mostram circulando dia e noite? Além do mais, a grandezae a ousadia de Parménides s6 podem ser avaliadas no contexto da filo- sofia da sua época, de uma filosofia nascente para a qual tudo o que se choca com os nossos sentidos é corpo. Tudo o que aparece ser nao é por isso que é, embora esse aparecer possa ser constitutivo do proprio ser. Comecamos entdo a entender a grande tese de Parmé- nides: tudo o que é... 6 € 0 que nao é nao é. 34 Vale a pena ler um de seus fragmentos: “S6 resta um caminho de que havemos de falar, a saber, que é. Nele uma multidao de signos de que o que é imével e sem fim”* incriado e indestrutivel, poi ompleto, Parménides nao diz “Isto é”, mas “é” no que concerne a isto ou aquilo. Trata-se, pois, como diz Burnet, de um monismo cor- poral, que identifica ser e pensar, convertendo qualquer espécie de movimento numa ilusio. Em suma, afirma energicamente o prin- cipio de identidade, A é A, e o principio da ndo-contradi¢ado: Nao (Aendo-A), valendo tanto no nivel do ser como no da linguagem: 0 que é nao pode nao ser. Paga, porém, o prego de sua corajosa radicalidade. A Justica (Diké) lhe indica a existéncia de dois caminhos, o da verdade e aquele da opinido. Na segunda parte de seu poema, Parménides descreve 0 caminho dessa opiniao, inclusive a sua, que se vé obri- gado a sustentar pelo menos até ser conduzido a presenca da deu- sa guardia das portas da justa sabedoria. O dado esta lancado. O pensamento reivindica plena autonomia e nesse seu ser se identi- fica ao real. Como 0 filésofo pode se mover, entdo, nesse universo se 0 movimento em si mesmo é negado, relegado & aparéncia? Que consisténcia, contudo, possui a aparéncia? 4. Fragmento 8, L’aurore de la philosophie grecque, cit., p. 201. 35

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