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DIREITO MILITAR

1. HISTÓRICO:
O Direito Militar no Brasil tem origem com a vinda da Família
Real Portuguesa em 1808, sendo então criado o Conselho Militar e de
Justiça, primeiro Tribunal da Nação, o qual posteriormente passa a ser
denominado Superior Tribunal Militar – STM, hoje com sede em Brasília, e
jurisdição em todo o território nacional. Em que pese se tratar de um Tribunal
Superior, na pratica funciona como um Tribunal de Segundo Grau, por não
existir Tribunal Regional Militar como ocorre na Justiça do Trabalho, TRT.
As Varas são denominadas Auditorias Militares, estas
funcionam nas chamadas Circunscrições, estas equivalem as Regiões, por
exemplo, no Estado de São Paulo está a 2ª Circunscrição Judiciária Militar. Em
um total de 12 Circunscrições conforme a Lei de Organização da Justiça Militar
Federal - LEI Nº 8.457, DE 4 DE SETEMBRO DE 1992.
Nos Estados existe a previsão das Justiças Militares
Estaduais, sem subordinação ao STM ou suas Circunscrições: Constituição de
1988 dispõe, em seu artigo 125, §3º, nos Estados cujo efetivo Militar Estadual
seja superior a 20 mil homens poderá mediante proposta do TJ e por Lei
Estadual, serem criados tais tribunais.
A estruturação da Justiça Militar Estadual em São Paulo,
encontra-se na LEI Nº 5.048, DE 22 DE DEZEMBRO DE 1958.
A Primeira Instância é formada por Juízes de Direito
(Auditorias) e Conselhos de Justiça (veremos com detalhe mais à frente). Os
Oficiais Militares integrantes dos Conselhos de Justiça, qualquer que seja sua
categoria, são militares da ativa, sorteados entre os nomes constantes de
relações enviadas pela Polícia Militar e pelo Corpo de Bombeiros Militar a cada
uma das Auditorias Judiciárias. Esse sorteio é feito pelo Juiz de Direito, em
audiência pública. Enquanto a Segunda Instância é formada pelo TJM ou no
caso de não existir pelo próprio Tribunal de Justiça Estadual. No caso dos
juízes militares, que compõe a segunda instancia são “Juízes Coronéis” que
após concurso específico são nomeados pelo Governo Estadual e Judiciário e
passam a integrar o Judiciário Estadual sem perderem a condição de Militares.
A Estrutura na União é a Circunscrição com suas respectivas Auditorias, em

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segundo grau o STM em Brasília, com estrutura bem similar, porém devendo
integrar os Oficiais Generais.
Na Justiça Militar da União os Juízes de Direito são
denominados Juízes Federais da Justiça Militar, enquanto na Justiça Militar
Estadual é Juiz de Direito, porém em ambas as jurisdições, as Varas são
denominadas de Auditorias Militares. Em um passado não tão distante, os
juízes eram chamados de Auditores.
A composição do órgão Colegiado, Juiz de Direito e Oficiais
do Conselho, também pode ser denominado Escabinato.
A Justiça Militar da União tem competência para julgar civis,
as justiças militares estaduais não possuem tal competência.

1.1. Conceito
Ramo do direito público, dedicado aos assuntos jurídicos
relacionados às forças armadas. O direito militar é conhecido também pelo
nome de direito castrense, palavra de origem latina, que designa o direito
aplicado nos acampamentos do Exército Romano. De fato, a origem deste
segmento remonta ao direito romano, onde foi criado para manter a disciplina
nas legiões.
O conteúdo deste ramo do direito alcança tanto aos militares
federais, que são os integrantes das Forças Armadas, Exército Brasileiro,
Marinha de Guerra e Força Aérea Brasileira, como aos militares estaduais, que
são os integrantes das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares. 1

1.2.Justificativa
A Existência de uma jurisdição militar se justifica com muita
propriedade, nas palavras de João Uchoa Cavalcanti:
Para os crimes previstos pela lei militar, uma jurisdição
especial deve existir, não como privilégio dos indivíduos que
os praticam, mas atenta à natureza desses crimes, e à
necessidade, a bem da disciplina, de uma repressão pronta
e firme, com fórmulas sumárias. (CAVALCANTI, 1994, p.
32).

1
SANTIAGO, Emerson. https://www.infoescola.com/direito/direito-militar/

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O julgamento dos crimes militares por uma jurisdição
especializada se justifica, pois, a prática desses crimes reflete diretamente na
segurança do país, dos poderes constituídos, e garantia da lei e da ordem.
Militares, de forma diversa de outros servidores públicos,
estão sujeitos à legislação específica, devendo ser mantida rígida e inflexível
hierarquia e disciplina. Sendo defeso a estes, a atividade político-partidária, a
greve, a sindicalização. Também não gozam de outros direitos sociais, como
remuneração por trabalho noturno superior à do trabalho diurno, ou por serviço
extraordinário fora da jornada diária de trabalho. Formam, portanto, uma classe
especial de servidores públicos. O que não dá o direito de serem tratados como
cidadãos de segunda categoria, devendo alguns direitos serem preservados e
garantidos. Surgindo então a figura do garantidor de tais direitos o
DEFENSOR.

2. MILITAR
Prima facie devemos ter em mente que a sociedade civil
possui como base a liberdade, enquanto a sociedade militar, formada em regra
pelos integrantes das Forças Armadas FFAA (artigo 142 da CF) e Forças
Auxiliares (Militares Estaduais – Policias Militares e Corpos de Bombeiros
Militares, conforme artigo 42 da Constituição Federal), se alicerçam na
Hierarquia e na Disciplina.

- Militar das Forças Armadas, sãos os integrantes da


Marinha do Brasil, do Exército Brasileiro e da Força Aérea Brasileira
(Aeronáutica). Possui previsão constitucional, e são responsáveis pela
segurança e integridade do Estado Brasileiro e de sua Soberania, bem como a
defesa das Instituições Democráticas, e ainda, outras missões que lhe forem
designadas.

Título V
Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas
Capítulo II
Das Forças Armadas
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo
Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais
permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na

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disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República,
e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes
constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da
ordem.
§ 1º Lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem
adotadas na organização, no preparo e no emprego das Forças
Armadas.
§ 2º Não caberá habeas corpus em relação a punições
disciplinares militares.
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados
militares, aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em
lei, as seguintes disposições:

- Militar das Forças Auxiliares, são aqueles em pregados nas


chamadas Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, também com
previsão constitucional; cabendo-lhes a preservação da Ordem Pública, o
Policiamento Ostensivo e Preventivo, e ainda, as ações de Defesa Civil e assim
como as Forças Armadas, também cumprirão as determinações que lhe
venham a ser atribuídas. São denominados como Forças Auxiliares pois são a
reserva e auxilio do Exército Brasileiro.

Título III
Da Organização do Estado
Capítulo VII
Da Administração Pública
Seção III
Dos Militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios
Art. 42. Os membros das Polícias Militares e Corpos de
Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na
hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios.
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e
dos Territórios, além do que vier a ser fixado em lei, as disposições
do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo
a lei estadual específica dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º,
inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos
respectivos governadores.

Título V
Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas
Capítulo III
Da Segurança Pública
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio,
através dos seguintes órgãos:

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V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a
preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares,
além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de
atividades de defesa civil.
§ 6º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças
auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com
as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios.

- Força Nacional de Segurança Pública é um programa de


cooperação entre os estados-membros e a União Federal, através de convênio,
atividades e serviços imprescindíveis à preservação da ordem pública, à
segurança das pessoas e do patrimônio, atuando também em situações de
emergência e calamidades públicas. Foi criada através do Decreto nº 5.289, de
29 de novembro de 2004.Não se trata de uma tropa federal, uma vez que a
atuação da Força Nacional nos estados é dirigida por seus gestores. Prestar
apoio aos órgãos de segurança federais, estaduais e do Distrito Federal, sob a
coordenação do Ministério da Justiça e Segurança Pública, ou seja, são os
estados que auxiliam o estado solicitante. Por seu caráter federativo, e não
“federal”, atua somente com pedido da unidade federada, feito diretamente pelo
governador do estado ou, em caráter pontual, em apoio à Polícia Federal ou a
outros órgãos federais e, diferentemente de outras tropas, subordina-se,
quando em operação, diretamente, ao comando2.

- Inspetoria-Geral das Polícias Militares e dos Corpos de


Bombeiros Militares (IGPM), foi criada pelo Decreto-Lei nº 317, de 13 março de
1967, subordinada ao Departamento-Geral do Pessoal, em nível de Diretoria,
quando foi criado o cargo de Inspetor-Geral das Polícias Militares, a ser
exercido por um General de Brigada.
O Decreto-Lei nº 667, de 2 Julho de 1969, reorganizou as
PM e os CBM, fazendo com que a IGPM integrasse o Estado-Maior do Exército
(EME), subordinando-a no mesmo nível das demais Subchefias. O cargo de
Inspetor-Geral é exercido por um General de Brigada.

2
https://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-content-1546630482.88

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Atualmente, a IGPM passou a ser uma Divisão da mesma,
desenvolvendo atividades de acompanhamento e controle da organização, dos
efetivos, da legislação e das atividades de integrantes das PM e dos CBM em
missão de paz da Organização das Nações Unidas; controlando o material
bélico, analisando as solicitações de aquisições de produtos controlados e
(atualizando as dados referentes à mobilização), com vista ao emprego na
defesa da Pátria daquelas Corporações, de acordo com o que é preconizado
pela Constituição Federal de 19883.

2. DIREITO ADMINISTRATIVO
Direito Administrativo é o ramo do direito público que trata de
princípios e regras que disciplinam a função administrativa e que abrange
entes, órgãos, agentes e atividades desempenhadas pela Administração
Pública na consecução do interesse público4.
A atividade do Estado pela qual se dá cumprimento aos
comandos normativos para realização dos fins públicos, por meio de um regime
jurídico administrativo, e por atos passíveis de controle, dá-se o nome de
Função administrativa. Função esta exercida via de regra pelo Poder
Executivo, porém outros poderes também a exercem
Os seus princípios estão dispostos no caput do art. 37 da
Constituição Federal:

• Legalidade;
• Impessoalidade;
• Moralidade;
• Publicidade; e
• Eficiência

É necessário, no entanto, analisar também as Constituições


Estaduais pois, sempre podem ser acrescidos outros princípios, como ocorreu
em 2006 na Constituição do Estado de São Paulo. Além dos princípios já
citados o artigo 111 da Carta Paulista traz a razoabilidade, a finalidade, a
motivação, o interesse público. O seja, os requisitos ou elementos dos Atos
3
http://www.coter.eb.mil.br/index.php/historico-igpm
4
NOHARA, Irene Patrícia. Direito Administrativo. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 6

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Administrativos, segundo a doutrina, que foram alçados a nível de princípios
constitucionais.

2.1. Fontes do Direito Administrativo


Quanto as fontes do Direito Administrativo podemos afirmar
que são: a) os preceitos normativos do ordenamento jurídico, sejam eles
decorrentes de regras ou princípios, contidos na Constituição, nas leis e em
atos normativos editados pelo Poder Executivo para a fiel execução da lei; b)
a jurisprudência, isto é, reunião de diversos julgados num mesmo sentido. Se
houver Súmula Vinculante, a jurisprudência será fonte primária e vinculante da
Administração Pública; c) a doutrina: produção científica da área expressa em
artigos, pareceres e livros, que são utilizados como fontes para elaboração de
enunciados normativos, atos administrativos ou sentenças judiciais; e d) os
costumes ou a praxe administrativa da repartição pública5.
2.2. Poderes da Administração
Conforme os ensinamentos de Celso Antônio Bandeira de
Mello6, tais poderes são poderes-deveres, ou seja, poderes subordinados ou
instrumentais aos deveres estatais de satisfação dos interesses públicos ou da
coletividade. Sendo eles:
• Poder Discricionário: Trata-se da prerrogativa da
Administração em optar, dentre soluções que lhes são
apresentadas, por aquela que, segundo critérios de
conveniência e oportunidade, melhor atenda ao interesse
público e se adeque ao caso concreto.
• Poder Hierárquico: controlar ou fiscalizar as atividades
dos subordinados, rever as decisões, com a possibilidade de
anular atos ilegais ou de revogar os inconvenientes e
inoportunos, baseia-se no teor Súmula nº 473/STF7; pode
ainda autoridade administrativa, punir, avocar, delegar e
editar atos normativos internos;

5
https://www.infoescola.com/direito/direito-administrativo
6
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2008.
p. 71.
7
Súmula nº 473 – STF A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os
tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.

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• PoderDisciplinar: Administração para apurar supostas
infrações funcionais e, se for o caso, aplicar as sanções
administrativas. Ele abrange tanto as relações funcionais
com os servidores públicos, como às demais pessoas
sujeitas à disciplina da Administração Pública8
• PoderNormativo: Com base neste poder aAdministração
Pública edita normatizações, como decretos regulamentares,
instruções normativas, regimentos, resoluções e
deliberações. Poder regulamentar é, portanto, uma espécie
de poder normativo. Uma base legal para tais ats podemos
encontrar no artigo 100, I, do CTN9.
• Poder de Polícia: Segundo Irene Patrícia Noronha “na
atividade de condicionar e restringir o exercício dos direitos
individuais, tais como propriedade e a liberdade, em
benefício do interesse público”10. São atributos do poder de
polícia: discricionariedade, autoexecutoriedade e
coercibilidade.segundo Hely Lopes Meirelles, é a faculdade
de que dispõe a Administração Pública para condicionar e
restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos
individuais, em beneficio da coletividade ou do próprio
Estado11.

2.3. Organização Político-Administrativa Nacional


Encontra-se disposta no artigo 18 da CF, é nele que
extraímos a configuração Federalista do Estado Brasileiro.
Segundo Michel Temer12, “Federação, defoedus, foederis,
significa aliança, pacto, união. Pois é da união, da aliança, do pacto, entre os

8
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2010. p. 94.
9
Código Tributário Nacional -Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das
convenções internacionais e dos decretos: I - os atos normativos expedidos pelas autoridades
administrativas.

10
NOHARA, Irene Patrícia. Direito Administrativo. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 137.
11
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 25ª Edição. São Paulo: Malheiros,
1996. P. 115.
12
TEMER, Michel. Elementos de Direito Constitucional. 24ª Edição. Editora Malheiros., São Paulo,
2012.

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Estados que ela nasce”. Atribuindo-se a partir de então, Competências e
responsabilidades dos chamados entes federados. As esferas de competência
podem ser exclusivas ou concorrentes. No presente estudos podemos afirmar
que Compete a União legislar sobre as FFAA e aos Estados e DF legislar sobre
as Forças Auxiliares. No entanto a CF reserva algumas competências da União
para dizer quanto a organização primária da Polícias e Corpos de Bombeiros
Militares.
Neste sentido, coube à União por meio do Exército Brasileiro
editar o R-200 Regulamento das Policias e Bombeiros Militares (Decreto
no 88.777, de 30 de setembro de 1983, aprova o regulamento para as policias
militares e corpos de bombeiros militares), considerando serem as forças
militares estaduais reservas e auxiliares da Força Terrestre, conforme artigo
144, da CF.

3. AUTORIDADE MILITAR
Após relembrarmos as noções básicas de direito
administrativo, é oportuno falarmos sobre o conceito e autoridade militar.
Via de regra, salvo raras exceções, os Regulamentos
Disciplinares, ou Códigos de Ética e Conduta Militar, apontam como
autoridades os oficiais ocupantes dos postos de capitão a coronel, no caso da
FFAA temos ainda a figura dos Oficiais Generais, recaindo sobre esses oficiais
a competência para aplicação da medida administrativa cabível ao caso, seja
esta regulamentadora, de saneamento ou mesmo punitiva.
É ainda facultado as autoridades de maior hierarquia,
delegarem suas competência a oficiais de menor posto, em alguns casos
recaindo a competência nos chamados Oficiais Subalternos (ou subordinados).
- Comandante: Trata-se do oficial dirigente de uma unidade
militar;
- Oficiais Superiores: são os oficiais ocupantes dos postos
de Major, Tenente Coronel e Coronel;
- Oficiais Intermediários: são aqueles oficiais que ocupam o
posto de Capitães;
- Oficiais Subalternos: são os ocupantes dos postos de 2º
Tenente e 1º Tenente. Frise-se neste ato que Aspirantes a

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Oficial não são oficiais de forças militares, são designados
como Praças Especiais.

4. DIREITO ADMINISTRATIVO MILITAR


Também denominado Direito Administrativo Disciplinar Militar, é o
sub-ramo do Direito Militar, porém autônomo, que se dedica ao estudo das relações
entre a administração pública militar, estadual ou federal, e os seus integrantes,
denominados Militares, sejam estes efetivos ou temporários.
Faz uso de princípios inerentes à administração pública,
assim sua aplicação se faz de maneira efetiva.
Quando um administrado (militar), por sua ação ou omissão,
dá origem ao fato gerador, ou seja, venha lesar um princípio da administração
militar, ou pública, temos o início do chamado trâmite administrativo; ou seja,
temos a gênese da transgressão disciplinar.
5. FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS
Antes de falarmos sobre as transgressões disciplinares, é
oportuno esclarecermos alguns pontos essenciais para o entendimento pleno
da atividade militar.
- Hierarquia: Trata-se por hierarquia a progressão ordenada
das graduações ou postos militares. Para uma melhor observação vamos
analisemos alguns dispositivos legais.

Regulamento Disciplinar do Exército Brasileiro ( R-4)


Dos Princípios Gerais da Hierarquia e da Disciplina

Art. 7o A hierarquia militar é a ordenação da autoridade, em


níveis diferentes, por postos e graduações.
Parágrafo único. A ordenação dos postos e graduações se
faz conforme preceitua o Estatuto dos Militares.

_________________

Regulamento Disciplinar da Marinha do Brasil


Da Disciplina e da Hierarquia Militar

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Art . 3º - Hierarquia Militar é a ordenação da autoridade
em níveis diferentes, dentro da estrutura militar. A ordenação
se faz por postos ou graduações; dentro de um mesmo
posto ou graduação, se faz pela antiguidade no posto ou na
graduação.
Parágrafo único - O respeito à hierarquia é
consubstanciado no espírito de acatamento à seqüência de
autoridade.

__________________
Regulamento Disciplinar da Polícia Militar do Estado da Paraíba
CAPÍTULO II
PRINCÍPIOS GERAIS DA HIERARQUIA E DA DISCIPLINA
Art. 5º - A hierarquia militar é a ordenação da autoridade, em
níveis diferentes, dentro da estrutura das Forças Armadas e
das Forças Auxiliares por postos e graduações.
Parágrafo Único – A ordenação dos postos e graduações na
Polícia Militar se faz conforme preceitua o Estatuto dos
Policiais-Militares.

___________________

Código de Ética e Disciplina da Polícia Militar do Estado de Goiás


Seção II
Da Hierarquia e da Disciplina Militar

Art. 9º Hierarquia militar é a ordenação da


autoridade em níveis distintos, dentro da estrutura militar,
por postos e graduações.
Parágrafo único. A ordenação dos postos e
graduações militares se faz conforme preceituam os
Estatutos das Corporações e as normas legais pertinentes.

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Portanto, após definirmos a Hierarquia, primeiro pilar de
qualquer instituição militar analisemos a Disciplina.

- Disciplina: assim como a Hierarquia, é um dos pilares das


instituições militares. Geralmente sua definição encontra-se nos regulamentos
disciplinares ou códigos de ética militares, no mesmo capítulo que trata da
hierarquia, motivo pelo qual somente transcreveremos neste estudo apenas um
exemplo, vez que os dispositivos se assemelham.

Estatuto dos Militares - LEI Nº 6.880, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1980


CAPÍTULO III
Da Hierarquia Militar e da Disciplina
Art. 14. A hierarquia e a disciplina são a base
institucional das Forças Armadas. A autoridade e a
responsabilidade crescem com o grau hierárquico.
§ 1º A hierarquia militar é a ordenação da autoridade,
em níveis diferentes, dentro da estrutura das Forças
Armadas. A ordenação se faz por postos ou graduações;
dentro de um mesmo posto ou graduação se faz pela
antigüidade no posto ou na graduação. O respeito à
hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamento à
seqüência de autoridade.
§ 2º Disciplina é a rigorosa observância e o
acatamento integral das leis, regulamentos, normas e
disposições que fundamentam o organismo militar e
coordenam seu funcionamento regular e harmônico,
traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por
parte de todos e de cada um dos componentes desse
organismo.
§ 3º A disciplina e o respeito à hierarquia devem ser
mantidos em todas as circunstâncias da vida entre
militares da ativa, da reserva remunerada e reformados.

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Definimos então, que a Hierarquia policial-militar como
sendo a ordenação progressiva da autoridade, em graus diferentes, da qual
decorre a obediência, dentro da estrutura da Polícia Militar, culminando no
Governador do Estado, Chefe Supremo da Polícia Militar. A disciplina policial-
militar é o exato cumprimento dos deveres, traduzindo-se na rigorosa
observância e acatamento integral das leis, regulamentos, normas e ordens,
por parte de todos e de cada integrante da Polícia Militar.
- Pundonor: muito se houve e se lê a palavra em
documentos, pareceres e atos que dizem respeito a atividade e disciplina
militar. Segundo os dicionários trata-se de um pudor e um decoro acima do que
se espera do cidadão mediano; é aquilo que não se consegue abdicar nem
deixar de possuir, embora possa ser alvo de desonra. É o sentimento de amor
por si próprio, pela instituição; é o brio e a altivez.
- Usos e Costumes: inerentes a cada instituição militar, está
diretamente ligados as características de cada arma; por exemplo, as
atividades dos bombeiros e suas rotinas diárias, são bem diferentes das de um
quartel de cavalaria, que por sua vez diferem de uma tropa de policiamento que
atua no atendimento de ocorrência de grandes metrópoles. Os usos e
costumes estão previstos como fontes do direito para resolução de casos
omissos, conforme se prevê o Código de Processo Penal Militar em seu artigo
3º,”c”.

6. REGULAMENTOS DISCIPLINARES
Como a própria nomenclatura já nos mostra, o Regulamento
Disciplinar, nada mais é do que um Código de Conduta, onde são inseridos
preceitos éticos e morais da forças militares; mostra ainda os limites da
competência disciplinar das autoridades militares, bem como quem são estas
autoridades e seus níveis.
É no Regulamento Disciplinar (RD), ou Código de Ética e
Disciplina Militar (CEDM), como almejam novos pensadores, no intuito de que
uma nova nomenclatura afaste o estereótipo militar, mera ingenuidade, que se
determina quais as condutas devem ser analisadas sob a ótica disciplinar e
uma eventual punição.

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Os RD ainda definem as esferas recursais, as circunstâncias
atenuantes, as circunstâncias agravantes, causas de justificação de conduta,
os tipos processuais e os recursos.
Os regulamentos são um híbrido entre o direito material e
processual, via de regra necessitando de outras normatizações para a
aplicação do Direito Administrativo Disciplinar.
Não basta ao profissional do direito, em especial ao
Defensor, conhecer o regulamento disciplinar, precisa conhecer a estrutura da
instituição na qual o seu cliente estiver lotado, bem como solicitar e se interar
de outras normatizações que regulam a atividade processual administrativa.
Um exemplo que pode ser dado é o caso da Lei
Complementar Paulista nº 893, de 09 de março de 2001, a qual institui o
RDPM, nela é previsto a apuração disciplinar, no entanto se faz necessário ao
Defensor saber que de acordo com o processo administrativo instaurado, um
novo dispositivo deve ser consultado. Nos casos de Procedimentos
Disciplinares temos o rito estabelecido na Portaria do Comandante Geral nº
CorregPM-001/360/2013; para os casos de processos que podem se desdobrar
na exclusão (demissão ou expulsão) do militar temos as chamadas I-16PM –
Instruções para o Processo Administrativo na Polícia Militar.
Por fim, devemos lembrar que embora citado como exemplo
um diploma paulista, as regras tendem a seguir uma mesma estrada; neste
ínterim, entendendo o Defensor os fundamentos e princípios militares, basta se
interar das normatizações de cada força militar.
- Códigos de Ética e Disciplina: como já afirmado nada mais
são do que uma mera variação para se definir regulamentos disciplinares. Tal
nomenclatura encontra muito mais vontade política do que aplicabilidade
prática propriamente dita. Basta analisar os Regulamentos Disciplinares
vigentes e os Códigos de Ética e Disciplina, temos a mesma essência, o
mesmo padrão de formatação, a mesma estrutura e até mesmo palavras.
Frise-se que em alguns casos o legislador apenas editou lei mudando a
nomenclatura e ajustando dispositivos nos termos da Lei nº 13.967, de
26/12/2019, que alterou o Decreto-Lei nº 667/69, que aboliu as sanções
disciplinares de prisão administrativa para militares estaduais.

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Por fim, nos Regulamentos que encontramos a deontologia
policia-militar, constituída pelos valores e deveres éticos, traduzidos em normas
de conduta, ou seja, nos regulamentos disciplinares. Os regulamentos
disciplinares são necessários no exercício das atividades do policial militar para
padronização das ações e melhoria da qualidade dos serviços prestados ao
cidadão.

A deontologia policial-militar é constituída pelos valores e


deveres éticos, traduzidos em normas de conduta, que se
impõem para que o exercício da profissão policial-militar
atinja plenamente os ideais de realização do bem comum,
mediante a preservação da ordem pública13.
Aplicada aos componentes da Polícia Militar,
independentemente de posto ou graduação, a deontologia
policial-militar reúne valores úteis e lógicos a valores
espirituais superiores, destinados a elevar a profissão
policial-militar à condição de missão14.
O militar do Estado prestará compromisso de honra, em
caráter solene, afirmando a consciente aceitação dos
valores e deveres policiais-militares e a firme disposição de
bem cumpri-los15.

7. TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR
Segundo o Regulamento Disciplinar do Exército Brasileiro
(R-4), “A disciplina militar é a rigorosa observância e o acatamento
integral das leis, regulamentos, normas e disposições, traduzindo-se pelo
perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos
componentes do organismo militar”. Tal disposição, é em regra estabelecida
de forma geral nas Organizações Militares (OM), com variações no texto,
porém com a mesma tônica e entendimento.

13
Redação extraída do Artigo 6º da Lei Complementar do Estado de São Paulo nº 893, de 09 de março de
2001.
14
Idem.
15
Bis idem.

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Quanto à falta disciplinar, mais comumente chamada de
transgressão disciplinar, define-se como toda ação, ou omissão, praticada
pelo militar contrária aos preceitos estatuídos no ordenamento jurídico pátrio,
ofensiva à ética, aos deveres e às obrigações militares, mesmo na sua
manifestação elementar e simples, ou, ainda, que afete a honra pessoal, o
pundonor militar e o decoro da classe. Podendo alcançar o militar em sua vida
profissional ou particular.
Logo, o militar faltoso deverá ser submetido ao devido
processo legal, no âmbito administrativo e assim, comprovado sua culpa, ser
devidamente punido nos termos do regulamento.
Com finalidade de garantir a correta aplicação da sanção
administrativa surge a figura do Defensor. Infelizmente, muito ainda sem
conhecer as nuances da vida em caserna, insistem em se aventurar na defesa
deste vasto universo, mais de 700.000 homens e mulheres, sem contar os
inativos da reserva e reforma remunerada. Trazendo conceitos e
entendimentos não aplicáveis ao cotidiano militar, tampouco aplicável a
realidade da atividade. Não entendem que os valores defendidos pelo
militar por vezes divergem dos valores do cidadão comum; o que para o
civil pode ser um ato relevante, sem importância, para o militar pode ser
uma afronta a honra, ao pundonor, ou mesmo ao Estado Brasileiro, por
isso deve ser combatido.
Um dado interessante, só o Estado de São Paulo, possui um
efetivo próximo aos 85.00016 homens no serviço ativo, ultrapassando os 100mil
se contarmos os inativos sujeitos ao Regulamento Disciplinar ainda vigente.
Voltando as transgressões. Estas geralmente são
classificadas em leves, médias e graves, o julgamento da transgressão deve
ser precedido de análise que considere a pessoa do transgressor; as
circunstâncias determinantes (ação ou omissão); a natureza dos fatos ou atos
que a envolveram; a intensidade do dolo, ou o grau da culpa e as
consequências do ato. Ao julgar a transgressão, deve a autoridade aferir as
causas que possam vir a justificar a falta ou circunstâncias que a atenuem ou a
agravem. Sendo sempre garantido a ampla defesa e o contraditório.

16
Fonte: Polícia Militar do Estado de São Paulo, 09JUL2020. – Centro de Comunicação Social
(CComSoc) - PM em números 1º Semestre de 2020.

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Dispõe o artigo 2º das Instruções Gerais para a Elaboração
de Sindicância no Âmbito do Exército Brasileiro, que:

“A sindicância é o procedimento formal, apresentado por


escrito, para a apuração, quando julgada necessária pela
autoridade competente, de fatos de interesse da
administração militar ou de situações que envolvam direitos”.
Parágrafo único. A autoridade que tiver ciência de
irregularidade é obrigada a adotar as medidas necessárias
para a sua apuração, mediante sindicância”.

Desta feita, a Autoridade Militar competente, estando frente


a um fato em tese caracterizado como transgressão disciplinar, regra geral,
poderá determinar a instauração de Portaria de Sindicância visando a apuração
da eventual conduta transgressional; relatada a Sindicância e configurada a
pratica pelo infrator, poderá ocorrer à aplicação da Ficha de Apuração de
Transgressão Disciplinar (FATD), devendo, a partir da assinatura do acusado,
ser dado início ao processo de apresentação das chamadas justificativas
razões de defesa. Todavia, não sendo pouco comum, a Autoridade Militar ao
verificar a existência flagrante de transgressão disciplinar, não submeter o
agente a um procedimento sindicante, aplicando de plano a Ficha de Apuração
de Transgressão Disciplinar - FATD.
Em curtas palavras a Administração Pública Militar no
âmbito do Exército Brasileiro, possui dois ritos para apuração de fatos de
interesse da Administração Militar, que no presente estudo nos ateremos a
fatos que envolvam ‘transgressões disciplinares’, assim temos as Instruções
Gerais para Elaboração de Sindicância no Âmbito do Exército Brasileiro – IG 10
-11, baixada pelo Comandante do Exército por meio da Portaria Nº 202, de 26
de Abril de 2000 e o Anexo IV (Decreto nº 4.346/ 2002 – RDE) cujo rito é o
FATD (Formulário de Apuração de Transgressão Disciplinar) dispondo referido
item 1. do citado Anexo IV: “Regular no âmbito do Exército Brasileiro, os
procedimentos para padronizar a concessão do contraditório e da ampla defesa
nas transgressões disciplinares”.

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Em que pese termos analisado nos parágrafos anteriores
uma apuração de conduta nos termos estabelecidos pelo Exército Brasileiro,
ressalte-se que em todas as unidades da federação, as polícias possuem ritos
similares, com poucas variações ou nomenclaturas.

7.1. Processo e Procedimento


Denomina-se Processo o conjunto de atos concatenados
para a fim de obtenção de parecer ou decisão sobre uma controvérsia no
âmbito judicial ou administrativo culminando à aplicação de pena judicial ou
sanção administrativa. Enquanto Procedimento é a maneira como se realiza o
processo, ou seja, o rito a ser observado para a sua elaboração.
É oportuno esclarecer que na Polícia Militar de São Paulo e
na PM e Bombeiros Militares de Mina Gerais, a nomenclatura Procedimento
Disciplinar (PD), é também a denominação das apurações administrativas. Em
são Paulo PD poderá punir administrativamente um Militar faltoso, e em minas
o PD trata de questões meramente investigatórias que antecedem à
instauração de investigações criminais ou de processos administrativos e que
viabilizam a concessão de recompensa17.
Vejamos agora um esquema geral que pode ser utilizado
para o exercício da defesa em qualquer unidade federativa.
O processo disciplinar, regra geral, apresenta, em regra, 5
(cinco) fases. A Primeira fase é a instauração: formaliza-se pela portaria ou
pelo despacho inicial da autoridade competente e encerra-se coma autuação
da portaria. É importante que a peça inicial descreva os fatos de modo a
delimitar o objeto da controvérsia às partes interessadas, bem como dar justa
causa à instauração da apuração. Pode receber ainda as seguintes
nomenclaturas, FATD ou Termo Acusatório (T.A.). A segunda fase temos a
instrução: onde espera chegar a elucidação dos fatos, nesta etapa temos a
produção de provas, devendo sempre ser guiado pelo devido processo legal,
sendo assegurado ao militar a ciência da acusação, a oportunidade para
oferecer e contestar provas, bem como o total acompanhamento do processo
pessoalmente ou por procurador. Trata-se da fase de maior atenção para o

17
https://policiamilitar.mg.gov.br/conteudoportal/uploadFCK/42bpm/21052013121148269.pdf

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Defensor, pois aqui ele poderá solicitar ainda a produção de provas não
observadas pela administração, tais como, perícias, juntada de documentos,
acareações, etc...
Entramos então na terceira fase a defesa: fase exclusiva do
Patrono, pois poderá aqui complementar tudo que foi realizado no curso da
instrução do processo e formalizar se for o caso, suas observações quanto ao
não cumprimento de alguma diligência, objetivando atos futuros se forem
necessários. É nesta fase ainda, quando previsto, que se dará a elaboração
das razões escritas de defesa, ou a Sustentação Oral do acusado ou de seu
Patrono.
Relatório do Encarregado da Instrução. Quarta fase. Em
relação ao relatório do encarregado, este, obrigatoriamente, deve conter, a
descrição sintética dos atos processuais, bem como a norma violada, pelo
acusado, e ainda a conduta antiética perpetrada. O relatório deve ter condão
analítico acerca do processo, a sequência da instrução probatória, mediante a
integração descritiva dos atos e dos termos e ainda a análise das alegações
finais da defesa, bem como a proposta fundamentada dirigida para a
Autoridade Competente para a aprovação do ato; ou seja, o encarregado
deverá propor a justificação/absolvição ou da aplicação de sanção disciplinar.
Quinta fase julgamento e aprovação de ato: trata-se da decisão motivada e
fundamentada, proferida pela autoridade competente, observando os prazos
legais, sempre se atendo ao objeto do processo, com base na acusação, na
defesa e nas provas colacionadas nos autos. Com o julgamento, que é a última
fase, encerra-se o processo disciplinar. Restando ainda o Cumprimento da
Sanção.
7.2. Processos e Procedimentos Administrativos
** Processos (procedimentos) Disciplinares
** Processos Administrativos exclusórios (Processos
Regulares – CD – PAD – CJ)

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8. MODELO DE PEÇAS

8.1. Peça 01
Petição inicial utilizada em Processo Administrativo Punitivo
(PD – FATD – Inquérito Técnico – Sindicância com caráter sancionatório).
Considerando os múltiplos nomes que podem ser dados aos Processos,
deverá o defensor se ater a regulamentação de cada instituição.
Via de regra esse tipo de procedimento não possui caráter
Exclusório, ou seja, não tem o objetivo de excluir, seja pela demissão ou
expulsão, o militar das fileiras da força à qual pertence. O objetivo é apenas
apurar a conduta, e se for o caso punir para assim corrigir a conduta do militar.

8.2. Peça 02
Trata-se de uma peça pouco comum, pois existirá em caso
de imperiosa necessidade de se aclarar pontos obscuros na apuração,
geralmente dirigida ao Encarregado/Presidente do Procedimento, podendo ser
ainda dirigida ao Comandante da Unidade em casos excepcionais, como por
exemplo a omissão ou negativa do Encarregado e atender justo pedido da
Defesa.

8.3. Peça 3
Trata-se da Defesa Final, ou também chamado Memoriais
Finais de Defesa, ou apenas Memoriais de Defesa.
É a última peça a ser protocolada em situações normais do
processo, pois o Advogado deve sempre ter em mente o fato de que se a
administração vislumbrar qualquer irregularidade nos atos por ela praticados,
antes do julgamento e em especial em algumas situações, antes do
cumprimento da sanção disciplinar, esta poderá nos termos da Súmula 473 do
STF; trata-se de um dos poderes da Administração Pública como vimos no
tópico 2 deste manual.

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AO ILUSTRÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE/ENCARREGADO DO
PROCESSO DISCIPLINAR
(Atente-se para o fato da nomenclatura poder ser diversa de acordo com cada Processo ou de acordo com
cada Organização Militar)
Nomenclatura e nº do Processo
Ex.: PD nº 00BPMM-001/06/00 ou
FATD – Processo nº 00/2020

Posto ou Graduação nº RE ou equivalente FULANO DE TAL, já qualificado nos


autos do processo administrativo supracitado, por seu procurador abaixo assinado,
instrumento de mandato anexo, que receberá intimações em seu escritório sito a Rua
xxxxxxxxx, ---, xxxxxxx, xxxxxxx/SP, vem à presença de Vossa Senhoria, com fulcro
(cite neste ato o dispositivo que regula o rito administrativo), apresentar DEFESA
PRÉVIA (no caso da PMESP utilizar: APRESENTAR OS QUESITOS DA DEFESA):
É importante que nesta peça o Defensor se abstenha de demonstrar
as teses defensivas, salvo se plenamente comprovado que em nada se guarda relação
entre o acusado e os fatos.
Deve a defesa solicitar nesse ato a oitiva de testemunhas, no caso
de agentes públicos; ou então informar que pretende no dia da Audiência de Instrução e
Julgamento, ou ato de Oitiva de testemunhas, trazer testemunhas civis e não agentes
públicos de qualquer natureza.
Também neste ato a defesa irá solicitar a juntada de documentos de
difícil acesso ao acusado, bem como deve se for o caso, solicitar outros dispositivos
reguladores da atividade oriundos de atos do Comando da Instituição, tais como
Regulamentos, Manuais, Procedimentos Operacionais, etc...
É possível ainda, solicitar perícias, diligências, degravações,
filmagens, etc... Cópias de escala, relatórios de serviço, ficha de alterações (punições),
nota de elogios, avaliação de desempenho, ficha de registro de medalhas, tais solicitação
irão demonstrar a idoneidade, profissionalismo e comprometimento do acusado.
Nesses Termos,
Pede Deferimento.

[Local], [dia] de [mês] de [ano].

[Assinatura do Advogado]
[Número de Inscrição na OAB]

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AO ILUSTRÍSSIMO SENHOR COMANDANTE DO ____BATALHÃO DE
POLÍCIA MILITAR____________ DO ESTADO DE_________________________

Referência: citar o nº do procedimento

(qualificação do advogado), defensor constituído do Fulano de Tal, o qual


responde ao processo supra referenciado, venho por meio dessa a presença de Vossa
Senhoria requerer

INTERVENÇÃO HIERÁRQUICA NOS AUTOS

pelos motivos que seguem.

Dos Fatos:
Na data de ___________, foi protocolada peça para juntada aos
autos nos termos do Regulamento vigente, na qual este defensor, no intuito de garantir a
defesa de meu patrocinado, requereu junto ao encarregado da instrução citar o solicitado
e o que foi negado, e os motivos pelo qual gerou, ou pode gerar significativo prejuízo à
tese defensiva.
Cabe esclarecer que as solicitações procrastinadoras e
intempestivas, devem sem dúvida serem negadas, porém não é o caso, no entanto
mesmo as solicitações tendenciosa e que não guardem relação, devem para serem
desprezadas, prescindirem de motivação por parte da autoridade.

Do Direito:
Segundo a doutrina, para José dos Santos Carvalho Filho, ato
administrativo é “a exteriorização da vontade de agentes da Administração Pública ou
de seus delegatários, nessa condição, que, sob regime de direito público, vise à
produção de efeitos jurídicos, com o fim de atender ao interesse público”. Nessa
esteira, Maria Sylvia Zanella Di Pietro aponta que ato administrativo é a “declaração
do Estado ou de quem o represente, que produz efeitos jurídicos imediatos, com

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observância da lei, sob regime jurídico de direito público e sujeita a controle pelo
Poder Judiciário”.
Essa é a posição de Celso Antônio Bandeira de Mello:
“A motivação deve ser prévia ou contemporânea à expedição do
ato. Em algumas hipóteses de atos vinculados, isto é, naqueles em
que há aplicação quase automática da lei, por não existir campo
para interferência de juízos subjetivos do administrador, a simples
menção do fato e da regra de Direito aplicanda pode ser suficiente,
por estar implícita a motivação. Naqueloutros, todavia, em que
existe discricionariedade administrativa ou em que a prática do
ato vinculado depende de aturada apreciação e sopesamento dos
fatos e das regras jurídicas em causa, é imprescindível motivação
detalhada. […]
[…] em se tratando de atos vinculados (nos quais, portanto, já está
predefinida na lei, perante situação objetivamente identificável, a
única providência qualificada como hábil e necessária para o
atendimento do interesse público), o que mais importa é haver
ocorrido o motivo perante o qual o comportamento era
obrigatório, passando para segundo plano a questão da
motivação.” (grifo nosso)

Logicamente, trata-se de um exemplo, devendo nesse caso extremo


o Defensor alegar aquilo que o encarregado da instrução em tese aviltou o direito.
Pode ser alegado também, o vício quanto a competência, por isso a
necessidade de saber quem é a autoridade competente para apurar. Geralmente essa
alegação se dá em fase recursal, mas nada impede de ser trazida à lume ainda na fase de
instrução.

Do pedido:
Diante ao exposto reque:
1. Seja os autos saneados por autoridade superior, e atendidos os
pedidos da defesa;
2. Seja, como meio de imparcialidade, afastado o encarregado da
instrução e avocado por autoridade superior, ou ainda delegada

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a instrução a outro oficial, ou superior hierárquico com
competência para tal;
3. Seja designada nova data para realização das oitivas;
4. Seja resdesignada a Audiência de Instrução e Julgamento.

Nesses Termos,
Pede Deferimento.

[Local], [dia] de [mês] de [ano].

[Assinatura do Advogado]
[Número de Inscrição na OAB]

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autos do processo administrativo supracitado, por seu procurador abaixo assinado,
instrumento de mandato anexo, que receberá intimações em seu escritório sito a Rua
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(cite neste ato o dispositivo que regula o rito administrativo), apresentar DEFESA
FINAL (no caso da PMESP utilizar: APRESENTAR OS MEMORIAIS DE DEFENA, quando não exercida a defesa oral

durante a AIJ):

Dos fatos
Breve resumo da acusação.
Do Direito
Citar dispositivos, Regulamentos, Jurisprudências, Pareceres.
Discorra sobre as teses defensivas, linchando estas as provas
materiais e testemunhais colacionadas aos autos, *dica: cite sempre as folhas e se
possível recorte e cole, ou transcreva trechos da instrução, forçando assim a leitura
atenta do julgador.
Fale aqui sobre o perfil do agente, convença o julgador que trata-se
de profissional compromissado, sendo garantido ao mesmo os bônus do bom
comportamento.

Do Pedido
Diante aso fatos requer:
1. Seja declarada a Inexistência de Transgressão Disciplinar;
2. Caso entenda pelo cometimento, seja Justificada a conduta por
não ter violado os princípios basilares, ter agido em benefício
do serviço, por caso fortuito e de força maior, ou ainda por ter

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agido em legitima defesa ou de interesses relevantes da
instituição e do próprio agente;
3. Caso entenda que realmente houve a transgressão, que seja
reconhecidas as circunstâncias atenuantes; a inexistência de
agravantes, ou que as primeiras se sobrepõe as segundas; que
seja ainda considerado o perfil do Militar do Estado e a sanção
aplicada no seu mínimo, conforme dispõe o Regulamento
Disciplinar ou Código de Ética e Disciplina Militar.

Nesses Termos,
Pede Deferimento.

[Local], [dia] de [mês] de [ano].

[Assinatura do Advogado]
[Número de Inscrição na OAB]

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