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Direito Militar
Direito Militar
1. HISTÓRICO:
O Direito Militar no Brasil tem origem com a vinda da Família
Real Portuguesa em 1808, sendo então criado o Conselho Militar e de
Justiça, primeiro Tribunal da Nação, o qual posteriormente passa a ser
denominado Superior Tribunal Militar – STM, hoje com sede em Brasília, e
jurisdição em todo o território nacional. Em que pese se tratar de um Tribunal
Superior, na pratica funciona como um Tribunal de Segundo Grau, por não
existir Tribunal Regional Militar como ocorre na Justiça do Trabalho, TRT.
As Varas são denominadas Auditorias Militares, estas
funcionam nas chamadas Circunscrições, estas equivalem as Regiões, por
exemplo, no Estado de São Paulo está a 2ª Circunscrição Judiciária Militar. Em
um total de 12 Circunscrições conforme a Lei de Organização da Justiça Militar
Federal - LEI Nº 8.457, DE 4 DE SETEMBRO DE 1992.
Nos Estados existe a previsão das Justiças Militares
Estaduais, sem subordinação ao STM ou suas Circunscrições: Constituição de
1988 dispõe, em seu artigo 125, §3º, nos Estados cujo efetivo Militar Estadual
seja superior a 20 mil homens poderá mediante proposta do TJ e por Lei
Estadual, serem criados tais tribunais.
A estruturação da Justiça Militar Estadual em São Paulo,
encontra-se na LEI Nº 5.048, DE 22 DE DEZEMBRO DE 1958.
A Primeira Instância é formada por Juízes de Direito
(Auditorias) e Conselhos de Justiça (veremos com detalhe mais à frente). Os
Oficiais Militares integrantes dos Conselhos de Justiça, qualquer que seja sua
categoria, são militares da ativa, sorteados entre os nomes constantes de
relações enviadas pela Polícia Militar e pelo Corpo de Bombeiros Militar a cada
uma das Auditorias Judiciárias. Esse sorteio é feito pelo Juiz de Direito, em
audiência pública. Enquanto a Segunda Instância é formada pelo TJM ou no
caso de não existir pelo próprio Tribunal de Justiça Estadual. No caso dos
juízes militares, que compõe a segunda instancia são “Juízes Coronéis” que
após concurso específico são nomeados pelo Governo Estadual e Judiciário e
passam a integrar o Judiciário Estadual sem perderem a condição de Militares.
A Estrutura na União é a Circunscrição com suas respectivas Auditorias, em
Faculdade LEGALE - Manual Básico de Direito Militar – Habilitação para Advocacia Militar –
Professor Euclides Cachioli de Lima
1.1. Conceito
Ramo do direito público, dedicado aos assuntos jurídicos
relacionados às forças armadas. O direito militar é conhecido também pelo
nome de direito castrense, palavra de origem latina, que designa o direito
aplicado nos acampamentos do Exército Romano. De fato, a origem deste
segmento remonta ao direito romano, onde foi criado para manter a disciplina
nas legiões.
O conteúdo deste ramo do direito alcança tanto aos militares
federais, que são os integrantes das Forças Armadas, Exército Brasileiro,
Marinha de Guerra e Força Aérea Brasileira, como aos militares estaduais, que
são os integrantes das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares. 1
1.2.Justificativa
A Existência de uma jurisdição militar se justifica com muita
propriedade, nas palavras de João Uchoa Cavalcanti:
Para os crimes previstos pela lei militar, uma jurisdição
especial deve existir, não como privilégio dos indivíduos que
os praticam, mas atenta à natureza desses crimes, e à
necessidade, a bem da disciplina, de uma repressão pronta
e firme, com fórmulas sumárias. (CAVALCANTI, 1994, p.
32).
1
SANTIAGO, Emerson. https://www.infoescola.com/direito/direito-militar/
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2. MILITAR
Prima facie devemos ter em mente que a sociedade civil
possui como base a liberdade, enquanto a sociedade militar, formada em regra
pelos integrantes das Forças Armadas FFAA (artigo 142 da CF) e Forças
Auxiliares (Militares Estaduais – Policias Militares e Corpos de Bombeiros
Militares, conforme artigo 42 da Constituição Federal), se alicerçam na
Hierarquia e na Disciplina.
Título V
Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas
Capítulo II
Das Forças Armadas
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo
Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais
permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na
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Título III
Da Organização do Estado
Capítulo VII
Da Administração Pública
Seção III
Dos Militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios
Art. 42. Os membros das Polícias Militares e Corpos de
Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na
hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios.
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e
dos Territórios, além do que vier a ser fixado em lei, as disposições
do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo
a lei estadual específica dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º,
inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos
respectivos governadores.
Título V
Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas
Capítulo III
Da Segurança Pública
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio,
através dos seguintes órgãos:
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2
https://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-content-1546630482.88
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2. DIREITO ADMINISTRATIVO
Direito Administrativo é o ramo do direito público que trata de
princípios e regras que disciplinam a função administrativa e que abrange
entes, órgãos, agentes e atividades desempenhadas pela Administração
Pública na consecução do interesse público4.
A atividade do Estado pela qual se dá cumprimento aos
comandos normativos para realização dos fins públicos, por meio de um regime
jurídico administrativo, e por atos passíveis de controle, dá-se o nome de
Função administrativa. Função esta exercida via de regra pelo Poder
Executivo, porém outros poderes também a exercem
Os seus princípios estão dispostos no caput do art. 37 da
Constituição Federal:
• Legalidade;
• Impessoalidade;
• Moralidade;
• Publicidade; e
• Eficiência
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5
https://www.infoescola.com/direito/direito-administrativo
6
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros, 2008.
p. 71.
7
Súmula nº 473 – STF A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os
tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
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8
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2010. p. 94.
9
Código Tributário Nacional -Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das
convenções internacionais e dos decretos: I - os atos normativos expedidos pelas autoridades
administrativas.
10
NOHARA, Irene Patrícia. Direito Administrativo. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 137.
11
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 25ª Edição. São Paulo: Malheiros,
1996. P. 115.
12
TEMER, Michel. Elementos de Direito Constitucional. 24ª Edição. Editora Malheiros., São Paulo,
2012.
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3. AUTORIDADE MILITAR
Após relembrarmos as noções básicas de direito
administrativo, é oportuno falarmos sobre o conceito e autoridade militar.
Via de regra, salvo raras exceções, os Regulamentos
Disciplinares, ou Códigos de Ética e Conduta Militar, apontam como
autoridades os oficiais ocupantes dos postos de capitão a coronel, no caso da
FFAA temos ainda a figura dos Oficiais Generais, recaindo sobre esses oficiais
a competência para aplicação da medida administrativa cabível ao caso, seja
esta regulamentadora, de saneamento ou mesmo punitiva.
É ainda facultado as autoridades de maior hierarquia,
delegarem suas competência a oficiais de menor posto, em alguns casos
recaindo a competência nos chamados Oficiais Subalternos (ou subordinados).
- Comandante: Trata-se do oficial dirigente de uma unidade
militar;
- Oficiais Superiores: são os oficiais ocupantes dos postos
de Major, Tenente Coronel e Coronel;
- Oficiais Intermediários: são aqueles oficiais que ocupam o
posto de Capitães;
- Oficiais Subalternos: são os ocupantes dos postos de 2º
Tenente e 1º Tenente. Frise-se neste ato que Aspirantes a
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Regulamento Disciplinar da Polícia Militar do Estado da Paraíba
CAPÍTULO II
PRINCÍPIOS GERAIS DA HIERARQUIA E DA DISCIPLINA
Art. 5º - A hierarquia militar é a ordenação da autoridade, em
níveis diferentes, dentro da estrutura das Forças Armadas e
das Forças Auxiliares por postos e graduações.
Parágrafo Único – A ordenação dos postos e graduações na
Polícia Militar se faz conforme preceitua o Estatuto dos
Policiais-Militares.
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6. REGULAMENTOS DISCIPLINARES
Como a própria nomenclatura já nos mostra, o Regulamento
Disciplinar, nada mais é do que um Código de Conduta, onde são inseridos
preceitos éticos e morais da forças militares; mostra ainda os limites da
competência disciplinar das autoridades militares, bem como quem são estas
autoridades e seus níveis.
É no Regulamento Disciplinar (RD), ou Código de Ética e
Disciplina Militar (CEDM), como almejam novos pensadores, no intuito de que
uma nova nomenclatura afaste o estereótipo militar, mera ingenuidade, que se
determina quais as condutas devem ser analisadas sob a ótica disciplinar e
uma eventual punição.
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7. TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR
Segundo o Regulamento Disciplinar do Exército Brasileiro
(R-4), “A disciplina militar é a rigorosa observância e o acatamento
integral das leis, regulamentos, normas e disposições, traduzindo-se pelo
perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos
componentes do organismo militar”. Tal disposição, é em regra estabelecida
de forma geral nas Organizações Militares (OM), com variações no texto,
porém com a mesma tônica e entendimento.
13
Redação extraída do Artigo 6º da Lei Complementar do Estado de São Paulo nº 893, de 09 de março de
2001.
14
Idem.
15
Bis idem.
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16
Fonte: Polícia Militar do Estado de São Paulo, 09JUL2020. – Centro de Comunicação Social
(CComSoc) - PM em números 1º Semestre de 2020.
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17
https://policiamilitar.mg.gov.br/conteudoportal/uploadFCK/42bpm/21052013121148269.pdf
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8.1. Peça 01
Petição inicial utilizada em Processo Administrativo Punitivo
(PD – FATD – Inquérito Técnico – Sindicância com caráter sancionatório).
Considerando os múltiplos nomes que podem ser dados aos Processos,
deverá o defensor se ater a regulamentação de cada instituição.
Via de regra esse tipo de procedimento não possui caráter
Exclusório, ou seja, não tem o objetivo de excluir, seja pela demissão ou
expulsão, o militar das fileiras da força à qual pertence. O objetivo é apenas
apurar a conduta, e se for o caso punir para assim corrigir a conduta do militar.
8.2. Peça 02
Trata-se de uma peça pouco comum, pois existirá em caso
de imperiosa necessidade de se aclarar pontos obscuros na apuração,
geralmente dirigida ao Encarregado/Presidente do Procedimento, podendo ser
ainda dirigida ao Comandante da Unidade em casos excepcionais, como por
exemplo a omissão ou negativa do Encarregado e atender justo pedido da
Defesa.
8.3. Peça 3
Trata-se da Defesa Final, ou também chamado Memoriais
Finais de Defesa, ou apenas Memoriais de Defesa.
É a última peça a ser protocolada em situações normais do
processo, pois o Advogado deve sempre ter em mente o fato de que se a
administração vislumbrar qualquer irregularidade nos atos por ela praticados,
antes do julgamento e em especial em algumas situações, antes do
cumprimento da sanção disciplinar, esta poderá nos termos da Súmula 473 do
STF; trata-se de um dos poderes da Administração Pública como vimos no
tópico 2 deste manual.
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[Assinatura do Advogado]
[Número de Inscrição na OAB]
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Dos Fatos:
Na data de ___________, foi protocolada peça para juntada aos
autos nos termos do Regulamento vigente, na qual este defensor, no intuito de garantir a
defesa de meu patrocinado, requereu junto ao encarregado da instrução citar o solicitado
e o que foi negado, e os motivos pelo qual gerou, ou pode gerar significativo prejuízo à
tese defensiva.
Cabe esclarecer que as solicitações procrastinadoras e
intempestivas, devem sem dúvida serem negadas, porém não é o caso, no entanto
mesmo as solicitações tendenciosa e que não guardem relação, devem para serem
desprezadas, prescindirem de motivação por parte da autoridade.
Do Direito:
Segundo a doutrina, para José dos Santos Carvalho Filho, ato
administrativo é “a exteriorização da vontade de agentes da Administração Pública ou
de seus delegatários, nessa condição, que, sob regime de direito público, vise à
produção de efeitos jurídicos, com o fim de atender ao interesse público”. Nessa
esteira, Maria Sylvia Zanella Di Pietro aponta que ato administrativo é a “declaração
do Estado ou de quem o represente, que produz efeitos jurídicos imediatos, com
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Do pedido:
Diante ao exposto reque:
1. Seja os autos saneados por autoridade superior, e atendidos os
pedidos da defesa;
2. Seja, como meio de imparcialidade, afastado o encarregado da
instrução e avocado por autoridade superior, ou ainda delegada
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Nesses Termos,
Pede Deferimento.
[Assinatura do Advogado]
[Número de Inscrição na OAB]
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durante a AIJ):
Dos fatos
Breve resumo da acusação.
Do Direito
Citar dispositivos, Regulamentos, Jurisprudências, Pareceres.
Discorra sobre as teses defensivas, linchando estas as provas
materiais e testemunhais colacionadas aos autos, *dica: cite sempre as folhas e se
possível recorte e cole, ou transcreva trechos da instrução, forçando assim a leitura
atenta do julgador.
Fale aqui sobre o perfil do agente, convença o julgador que trata-se
de profissional compromissado, sendo garantido ao mesmo os bônus do bom
comportamento.
Do Pedido
Diante aso fatos requer:
1. Seja declarada a Inexistência de Transgressão Disciplinar;
2. Caso entenda pelo cometimento, seja Justificada a conduta por
não ter violado os princípios basilares, ter agido em benefício
do serviço, por caso fortuito e de força maior, ou ainda por ter
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Nesses Termos,
Pede Deferimento.
[Assinatura do Advogado]
[Número de Inscrição na OAB]
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