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6 fineduca evista de Financiamento da Educagao ARTIGOS Volume 2 - 2012 | n. 3 Os Desafios Atuais Referentes ao Financiamento de uma Educacao de Qualidade ANDREA BARBOSA GOUVEIA Universidade Foderl do Prané | androebg@utpubr Ancexo Ricarvo DE Souza eit ange Resumo Parte-se da compreenséo de que uma educagéo de qualidade supée a sua distribuicao direito a educagao entre todos os sujeitos, respeitando a promessa expressa na legislagao nacional, portanto, 86 pode ser de qualidade uma educagao que garanta o pleno desenvolvimento humano, para todos em estabelecimentos piiblicos, gratuitos e que permitam a cada um percorrer todo seu percurso. Para fazer isto, se coloca em destaque as condicdes de realizagdo desta promessa no contexto do financiamento da educagao publica brasileira que, com 0 FUNDEB, retoma a perspectiva de ampliacdo do investimento no conjunto da educacao basica, porém, ainda em patamares desiguais © insuficientes de recursos. Para dimensionar que condicées de qualidade tal padrao de financiamento tem garantido, propde-se a comparagao de um indicador de condigées de qualidade de oferta do ensino fundamental (ICQ) de redes municipais e estaduais de ensino © um cotejamento com as metas do Plano Nacional de Educacao em tramitagéo em 2013, Palavras-chaves: Financiamento da educagao; Condigdes de qualidade; Ensino fundamental; PNE. eee (Os Desafios Atuais Referentes a0 Financiamento de uma Educagio de Qualidade The currency challenges regarding to the funding of a quality education Abstract We begging from the comprehension that a quality education assumes its distribution of the right to education among all the subjects, respecting the expressed promise in the national legislation, therefore so can only be a quality education that one who guarantees full human development, for all in public establishments, free and allowing to each one traverse all the pathway. To achieve that we must to highlight the conditions for the realization of this promise in the context of the Brazilian public ‘education funding with the FUNDES program, which one resumes the prospect of enlargement of the investment in the ser of the basic education, but also in uneven and insufficient levels of resources. To scale to quality conditions such financing pattern has guaranteed proposes the comparison of an indicator of quality of supply conditions of elementary school (ICQ) of State and municipal education networks, and a sharing with the goals of the national plan for Education in processing in 2013. Key Words: education funding; quality conditions; elementary school; PNE, 1 Educagao e qualidade: para iniciar a conversa Educacao de qualidade ¢ um tema recorrente no émbito de qualquer debate sobre politica ptiblica, entretanto, a presenca da tematica nao tem feito com que o conceito de qualidade seja consensual, a0 contrério, parece mais consensual a dentincia sobre a auséncia de qualidade na escola brasileira. Sair do impasse sobre 0 que é qualidade num contexto em que apenas conseguimos identificar falta de qualidade implica responder, em alguma medida, as seguintes questées: o que é qualidade no Ambito da politica puiblica? Para quem esta qualidade deve ser assegurada? E para que se busca qualidade? Uma observagao de Anisio Teixeira acerca do problema educacional brasileiro durante entrevista ao jornal “A Nagao’ de 1933, parece poder iniciar de maneira elucidativa este debate: 0 grande problema social & o da realizagao integral daquele ideal democratico a que aludia, [..), ode dar a cada individuo um lugar, na sociedade, correspondente ao de suas capacidades naturais, sem qualquer restrigo de ordem social, econémica ou de nascimento, Para isso, como problema inicial, urge a organizagao de um sistema de educagao livre, gratuito, que permita a qualquer individuo percorré-Io do jardim de infancia a universidade, com a sé limitagao de sua capacidade inata, e que dé a todos os individuos a indispensavel formagao econdmica e social que os habilite a cooperar ea participar na civilizagao do pais (TEIXEIRA, 1997, p. 253). A partir da afirmacdo de Teixeira (1997), € possivel responder as questdes sobre o que e para quem se tefere a qualidade na politica publica para educacao, Assim, qualidade se refere ao cumprimento integral Fineduca ~ Revista de Financiamento da Educacio, Porto Alegre, v2, 2.3, 2012 Disponivel em http /seerulrgs brifineduea (03 Desafios Atuais Referentes a0 Financiamento de uma Educagio de Qualidade de um ideal democratico definido socialmente para todos e de forma a que todos percorram o conjunto do percurso escolar. Certamente isto nos leva a uma perspectiva de qualidade da educacao que sé pode ser definida num contexto histérico especifico, pois as necessidades expressas na organizacao do sistema escolar s40 mutaveis. Logo, responder sobre do que se trata a relagdo educacdo e qualidade pode significar responder qual promessa de educacdo a sociedade brasileira tem feito (entendendo esta como 0 ideal democratico) @ a expresséo desta promessa é a base legal que define o que entendemos coletivamente que deva ser assegurado a todos os brasileiros como condigdes e direito & educacéo. A Constituicdo de 1988 é atualmente a baliza desta promessa, onde 0 artigo 205 estabelece "a educacdo, direito de todos e dever do Estado e da familia, sera promovida e incentivada corn a colaboragdio da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercicio da cidadania e sua qualficacao para o trabalho" (BRASIL, 1988). Ainda que em tetmos um pouco diferentes, as ideias de Teixeira (1997) reaparecem como definicao do que é o ideal a ser perseguido pelo sistema educacional, com vistas @ formacao plena para o exercicio da cidadania e para o trabalho; lembrando que se trata de ‘educacao para todos, cuja forma implica responsabilidade do poder puiblico e das familias. Assim, temos uma promessa educacional que é ambiciosa no &mbito constitucional ¢ se revela de maneira mais pormenorizada nas definiedes constitucionais sobre o dever do Estado na realizacéo desta promessa e na legislagéo complementar. Nao parece caber aqui urna retomnada do conjunto de explictagdes presentes na legislagao quanto a forma de oferta educacional, entretanto, cabe considerar que esta promessa implica um critério de justica social, ou seja, uma perspectiva de que a distribui¢ao dos bens educacionais na nossa sociedade serd justa na medida em que atinja a todos os cidadéos. Figueiredo (1997, p. 74), discutindo o ‘ue ¢ justiga social, lembra que “a distribuigdo constitu uma caracteristica essencial e distintiva no conceito de justica’ portato, justica tem relagdo com “a maneira segundo a qual beneficios e encargos, ganhos perdas séo cistribuidos entre os membros de uma sociedade’ Dessa forma, entende-se aqui que uma educagdo de qualidade supée a sua distribuigdo entre todos os Sujeitos respeitando a promessa expressa na legislagao nacional, portanto, sé pode ser de qualidade uma educacao que garanta 0 pleno desenvolvimento humano, para todos em estabelecimentos piblicos, gratuitos e que permitam a cada um percorrer todo seu percurso. Para fazer isto, se coloca em destaque as condigées de realizagéo desta promessa. Novamente, parece interessante retomar outta observagao de Teixeira (1997, p. 230) quanto as condicdes de qualidade para a realizacao do ideal demoerético da escola’ ‘S6.existiéuma democracia,no Brasilno dia em que se montarno pais améquina que prepara asdemocracias. Essa maquina é a da escola piblica. Mas nao a escola sem prédios, sem asseio, sem higiene e sem mestres devidamente preparados e, por conseguinte, sem eficiéncia e sem resultados. Ndo a escola piblica mais ou menos abandonada, sem prestigio social, ferida em suas forgas vivas de atuagao moral e intelectual e existindo gracas a penosa e quase tinica abnegagao de seus modestos servidores. E sim a escola publica rica e eficiente, destinada a preparar 0 brasileiro para vencer e servir com eficiéncia dentro do pais, Essa nova escola publica ~ menina dos olhos de todas as verdadeiras democracias —ndo poderd existi, no Brasil, se nao mudarmos a nossa orientacao a respeito dos orgamentos do ensino piblico. Teixeira (1997) esta discutindo a importéncia da regulamentagdo da vinculagdo de recursos para a educacao, certamente, desde 0 cenério dos anos 1930, contexto a que o autor se refere, tivemos 1 Para um estudo da legislagao sobre condigSes de qualidade na educagao ver Pinto (2008). Fined ~ Revita de Financameato da Educasio, Porto Alegre, v2, 3, 2012 Diaponivel em hip aver legs brifineduca 3 | (03 Desafios Atuais Referentes a0 Financiamento de uma Educagio de Qualidade muitos avangos, mas também, muitas contradig6es na construcao do sistema escolar brasileiro. Na histéria mais recente, para nao recorrermos a uma digressao muito grande, perdemos, de maneira muito enfética ao longo dos anos 1990, a perspectiva de que uma escola pliblica de qualidade implicaria mais investimentos, passamos um longo periodo sob o diagnéstico de que nossas questées de qualidade implicavam apenas em problemas de gestéo. Os anos 2000 parecem ter permitido a retomada desta relacdo entre efetividade da escola e investimentos, ainda que com desenhos de politicas que ainda guardam marcas das reformas da década anterior, 2 FUNDEB: condicées de qualidade e financiamento da educagio basica A aprovagao do Fundo de Manutengéo e Desenvolvimento da Educagao Bésica ¢ Valorizagéo dos Profissionais da Educacao (FUNDEB) ¢ sua vigéncia a partir de 2007, parece abrir espaco para a necessidade de considerarmos que qualidade na educacao brasileira tem implicagées de aumento do financiamento, ou, ao contrario, a critica social e académica (OLIVEIRA, 2003; DAVIES; 2006; PINTO e ALVES, 2011) a insuficiéncia da politica de fundos ao longo da vigéncia do FUNDEF? pressionou 0 redesenho do FUNDEB, nao mais como uma solugao simples de redistribuicdo de recursos, mas num contexto de desafio sobre as necessidades educacionais do Pais. Nao parece ser relevante, aqui, saber qual é a causa e qual 6 0 efeito, o que se pretende indicar 6 que o tema da ampliacao de recursos se recoloca, porém, ainda com a vigéncia da ideia de redistribuigao. Parte das criticas a insuficiéncia da politica de fundos pode ser sintetizada na anélise de Oliveira (2003) sobre a auséncia da Unido no tratamento das desigualdades regionais brasileiras. Segundo o autor, ao observar o movimento do FUNDEF entre 1997 © 2003: Na medida em que a Uniéo nao cumpre 0 seu papel complementar no Fundo, ela aprofunda as desigualdades regionais, contrariamente a um dos objetivos declarados no FUNDEF. Apesar de se ter uma possibilidade de diminuigao das desigualdades internamente a cada estado, a omissao do governo federal, neste caso, é amplificadora das desigualdades regionais (OLIVEIRA, 2003, p. 150). Diversos autores e movimentos sociais compartilharam desta avaliagdo e o desenho da ei do FUNDEB ampliou 0 compromise da Unido com o fundo, estabelecendo que o montante da complementagao da Unio passasse a ser, obrigatoriamente, no minimo 10% do total de recursos envolvidos no fundo anualmente. Neste cenario, é possivel argumentar que temos uma inflexao da politica de fundos no sentido do reconhecimento da necessidade de mais recursos para promover explicitamente a universalizagéo da educacao basica ¢ a valorizagéo dos profissionais da educacao, elementos que 40, sabidamente, decisivas condicdes para o desenvolvimento da qualidade educacional Entretanto, insistimos, mantém-se a estratégia de redistribuicao dentro de cada Estado dos recursos provenientes das transferéncias de impostos, segundo 0 percentual constitucionalmente definido como composigéo do FUNDEB, ¢ isto produz um efeito de "ganhos e perdas” ou seja, a redistribuigao dentro de cada Estado implica realocagao dos recursos para as redes que tm menor arrecadagdo ou maior niimero de alunos. Assim, quando olhamos, por exemplo, os dados das redes estaduais de ensino ‘quanto ao recurso por alune aplicado por ano, o montante informado nos balangos anuais expressa os 2 Fundo de manutengao e desenvolvimento do ensino fundamental e de valorizagao do magistério que vigorou entre 1998 e 2006 Fined ~ Revita de Financiameato da Educasio, Porto Alegre, v2, 3, 2012 Diaponivel em hip aver legs brifineduca a (03 Desafios Atuais Referentes a0 Financiamento de uma Educagio de Qualidade recursos utilizados na manutengéo de sua rede prépria ou conveniada, e também expressa recursos tedistribuidos para as redes municipais de cada Estado na dedugao dos recursos do FUNDEB. Tabela 1 — Efeitos do FUNDEB nos Gastos em educagao dos governos estaduais, Brasil, 2009, valores nominais UF_| Gastoem Esusa;30 2009 | Contibuigdo UNDEB | RetomorecurosFUNDEB | Resultado FUNDER | Gastaseftiosem exucayso AC 604.344.866| 383.127.989, 799,808,268 “#2319571 521.025.295 AL 09.446.028| 6.174.990 388,0700050| 293,108.92 316,381,081 ant | 1.190.951.152 917.961.555, 625787. 757 797.088.208, 990.897.304 a” 572.046.033, 376.700.102, 318 751.408 0.948.694 511.096.340 a | 2900.480.720 2.208,00552 1.578.147.010 520.483 541 2.279987.178 ce | 2995980827 1.458.195.8587 781.880.242, 675.385.368 2319644482 oF | 2681 907.228 1.161.862,307| 1.161.882.207 0 2.581 907.228 6 1.162.808,714| 984.490,314 982.377.574| 202.112.740 760.195908 co | 199e.s7e.929 1.788.033 208 1.051.810425 796.388,381 1.461.985,5¢8 ma | 1.220508722 1938213.354 750.081 678 285.121 615, 935.384.007 ma | 4.746.062.243 4.988.994.357 3.48,129.181 493.871.175, 4552.191.067 MS 959.873.466, 754.505.858, 5#9.649.199| 210.876.558, 749,196.208 MT | 1146.069.610 666.781.549 731478.777 5.504.228 1.211.768 838, PA 1.529.908,718| 1.286.128,086| 967.387.095 318.136.971 1.211.067.748 PB 1.079.8¢7.902 706.508.168 587. 448.268| 99.460-800| 830.387.102 Pe 1.844.167.865, 1.885. 745.080 018.416 213.701 64 1.490.466.220, - 717.802.438, 690.197.358 446,702,083 188.495.295, 5u4.407.113, pa | 5.162.438.989 2:318.823.482 2.180.783.545 64.089.907| 4.998 378.076 rs | ss88.5e7.112 3.286589.401| 1.904.120.175 4382.469,225 4.186 07.886 BN 964593.822, 768.410.956 472.120027 272.288 929, 692,308.893, RO 664.657 577 597.816.186, 413,180452 124.635 733 0.021.808, RR 387.657 488, 52.785522 241.208.048, 187521326 387.657 488 rs | 414e.410.088 2.560581 588 2.418909.054 268.672 539 3.908.787827 se 1.817.882.655, 1514800.778 1.255,887.080 758.740.589, 1.559.141 964 SE 701423371 399.882.275| 358871.189 261.181.126, 480,282,288 se | zas45.341.18 1301601208 10882.090.695| 2.368922.112 20.581.419.013 To 62, 158.425, 523.260.513, 420,836,258 102.624 258 559.594.167 Fonte: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educagao (2009) Fineduca ~ Revista de Financiamento da Educagio, Porto Alegre, v2, n.3, 2012 Disponivel em hitp:/seerufrgsbr/fineduca Issw: 723 eer (03 Desafios Atuais Referentes a0 Financiamento de uma Educagio de Qualidade Observe-se que apenas trés redes estaduais tém resultados positive ou neutro com o FUNDEB, todas as demais redes estaduais deixam no FUNDEB um montante maior de recursos que recebem do fundo. Na verdade, séo apenas duas redes, pois a rede do Distrito Federal s6 pode ser equilibrada, uma vez que nao hé municipios na sua abrangéncia geogratica ¢ administrativa e, por isto, o governo distrital nao tem como “ganhar" ou “perder” recursos para o FUNDEB. Os outros dois casos sao 0 Estado de Mato Grosso e 0 de Roraima. Noste Estado, a rede estadual atende mais de 66% das matriculas pibblicas de educagao bésica, enquanto que naquele a rede estadual responde por 55%. Ou seja, se ha proporcionalmente maior participacdo da rede estadual no atendimento a educacao basica em relagao ao total da composicao do fundo, pode-se explicar este “ganho" dos dois Estados. De qualquer maneira, na maioria absoluta do quadro nacional, os governos estaduais séo, ainda que parciais, financiadores da educagae bésica ptiblica desenvolvida (e sob responsabilidade dos municipios). No caso das redes municipais, nao podemos listar aqui todas as redes, mas a Tabela 2 apresenta uma sintese quanto aos efeitos do FUNDEB/2009 para que possamos dimensionar um pouco as condigdes de redistribuiggo. Observe-se que 33% dos municipios tém efeito negativo do fundo, ou seja, apesar de contabilizar tais recursos em Manutengao e Desenvolvimento do Ensino (MDE), estes recursos séo gastos efetivamente em outras redes de ensinc’, pois se trata de municipios que “perdem” recursos para 0 fundo, pois, no processo de redistribuicdo engendrado pela politica de fundos, sao municipios que ou tém arrecadagao bastante superior a média do estado e/ou sao municipios que, para além do perfil tributario, possuem proporcionalmente poucas matriculas (ou matriculas abaixo da média) dos demais municipios do Estado. Tabela2 — Efeitos do FUNDEB nos Gastos em educagao informado pelos Municipios, Brasil, 2009. esultedo de redistrbuigdo do FUNDEB Frequéncia Percentual Percentual Valido Negative 1786 320 330 Casas validos Positva 3.834 650 670 Toral 5.420 70 100.0 sil 169 30 Total 9989 10090 Fonte: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educagao (2008), Noa: Si om informagios. Bem, este cenério guarda uma suposi¢ao de que hé redes de ensino com sobra de recursos, portanto, ainda que passemos a discutir a necessidade de ampliagao de recursos, ainda temos uma politica que tem como eixo central a ideia de que ha sistemas de ensino que ndo precisam de mais recursos. Davies (2006) evidenciava esta preocupagéo em anélise sobre os possiveis efeitos do FUNDEB sobre a valorizagao dos professores: 3A regra de redistribuigdo estabelece que os recursos de quem “perde” para o fundo estadual sio contabilzados como despesas de (MDE, 0s entes que recebem recursos a mais nao podem contabilzer este "ganho” em MDE, Fineduca ~ Revista de Financiamento da Educagio, Porto Alegre, v2, n.3, 2012 Diaponivel em hip aser legs brifineduca ma (03 Desafios Atuais Referentes a0 Financiamento de uma Educagio de Qualidade Deve-se ressaltar ainda que, como o mecanismo do FUNDEB é 0 mesmo do FUNDEF, ou seja, 6 uma redistribuigao dos impostos existentes, sem acréscimo de recursos novos para o sistema educacional como um todo, a ndo ser a nada espetacular complementacao federal, os ganhos de uns governos significardo perdas para outros, na mesma proporgao, com exce¢ao daqueles em que houver complementagao, que podera ser significativa em termos percentuais e mesmo absolutos nnas Unidades da Federagao que nao alcangarem o percentual minimo nacional, mas no em termos nacionais, ou seja no conjunta do pats (DAVIES, 2006, p. 64). Essa questao de Davies (2006) parece continuar pertinente, portanto, cabe perguntar, para voltar ao tema central desse debate: quais condigées de qualidade para 0 cumprimento da universalizagao do ensino ou, da promessa educacdo inscrita na legislacdo, este padréo de financiamento tem possibilitado? 0 dimensionamento de tal padrao de investimento pode encontrar uma medida interessante no gasto-aluno anual. Isto é, 0 produto da divisdo entre as despesas totais em educagao pelo numero de alunos atendidos diretamente no sistema. E certo que as questées atinentes a gestao destes recursos seriam muito elucidativas em relagao ao potencial de qualidade do gasto. © detalhamento desse gasto 6, portanto, muito importante, Proporcional a importéncia esté a dificuldade em se ter informagdes que potencializem tal avaliacao. Para tanto, e mesmo com dificuldades, mas utilizando 0 conjunto de dados disponiveis ¢ possiveis, cotejamos na sequéncia as informagoes sobre 0 gasto-aluno anual cor os dados sobre condigdes de qualidade coletadas diretamente nas escolas ptiblicas estaduais de ensino fundamental no Brasil, por meio do questionario de contexto aplicada conjuntamente a Prova Brasil 3 ICQ e uma proposta de medida de condicées de qualidade: as condicées de qualidade nas redes estaduais de ensino Assim, paradimensionar em que medida padrao de financiamento temindicado qualidade, utiizaremos um indice construfdo em pesquisa conduzida pelo Nicleo de Politicas Educacionais da Universidade Federal do Parana (SOUZA; GOUVEIA, 2011). Este indice considera aspectos referentes 8s condigoes de qualidade, aqui entendidas como as condigées materiais e estruturais das escolas (conservacéo do material pedagégico; equipamentos eletrdnicos; existéncia de computadores e Internet; avaliagao da escola; iluminagao e ventilagao; condig6es fisicas da escola), traduzidas pelo indice de Condicoes Materiais e Estruturais (ICME); pelas condicées do professor (escolaridade; experiéncia; situacdo trabalhista; salério), representadas pelo indice de Condigées do Professor (ICP); ¢ pelas condigées da gestao escolar (forma de provimento do diretor; conselho escolar; projeto politic pedagégico; salario do diretor) representadas pelo indice de Condicées da Gestao Escolar (ICG). 0 Indice de Condicdes de Qualidade (ICQ), que coaduna esses trés outros indicadores, € um numero que varia de 0 a 1, sendo que 0 representa a pior condicao, e 1 as melhores condigées de qualidade escolar’, Os dados apresentados na Tabela 3 mostram que dominantemente houve crescimento no investimento educacional entre 2007 © 2009, com excecdo a seis Estados da federagao. E tal 4 Mais informagdes sobre a construgao e testes com este indicador, ver Souza e Gouveia (2011), Fined ~ Revita de Financameato da Educasio, Porto Alege, v2.1.3, 2012 Diaponivel em hip aser legs brifineduca ma Issn: 723 eer (03 Desafios Atuais Referentes a0 Financiamento de uma Educagio de Qualidade crescimento chega a ser muito elevado, com € 0 caso do Distrito Federal e dos Estados do Ceard, Rio Grande do Sul e, especialmente, Sergipe, cujo crescimento ultrapassa 200% Jao Indice de Condig6es de Qualidade variou dominantemente para baixo, no mesmo periodo, tanto nos anos iniciais do ensino fundamental quanto nos finais, atingindo, em alguns casos, mais de 20% de queda. Poucos Estados apresentaram variacao positiva do ICQ, rnesmo com queda no gasto- aluno anual entre 2007 e 2009. O caso mais emblematico & o do Espirito Santo, pois, com queda de 14% no gasto, apresentou crescimento no ICQ (11% e 7%, respectivamente, para os anos iniciais @ finais). Junto ao Espirito Santo, ainda apresentou crescimento no ICQ, mesmo em uma etapa, agregado a queda no gaste-aluno anual, o Estado do Rio de Janeiro. Nos demais Estados, temos variaces das seguintes combinacées: queda no gasto-aluno © queda no ICQ (Alagoas, Amazonas, Parané, Piauf e Rio Grande do Norte); crescimento no gasto-aluno @ queda no ICQ (Acre, Amapé, Cearé, Goiés, Maranhéo, Mato Grosso, Para, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rondénia, Roraima, Sergipe, Séo Paulo e Tocantins); a forma que seria mais esperada com crescimento no gasto-aluno @ aumento, ainda que apenas em uma das etapas, no ICQ (Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraiba e Santa Catarina). Assim, preliminarmente, & possivel se identificar que temos um problema de gestao de recursos, uma vez que, a despeito do crescimento do investimento financeiro, os indicadores de condigées de qualidade cairam. Todavia, veremos mais adiante que isto é mais complexo do que aparenta. De qualquer sorte, 08 dados da Tabela 3 reforcam as informagdes que sao de dominio geral no Pais, que evidenciam que os Estados da regiéo nordeste so os que contam com menos recursos por aluno e apresentam as piores condi¢des de qualidade. Tabela 3 — Gasto-aluno anual e ICQ por Estados, 2007 e 2009, e taxas de crescimento |S [eum | gia | aw” [S| gin [OO | paw | ue | ames | = | = [mm| a | = | aw | 2 | a a wiewe| = | # [Rime | a | @ | as | ae | ae mi[ ree |e | [wim] 9 | | a | = | te w [mame | | [samme | a | m | = | a | 4s [wiser | = | = [wis] = | = | | «| as cE | RS2.080,79 2 a RS4.19914 aT Es 1018 88 “73 of wasss | =| om [msaan |» | m= | me | 2 | o [mau | = | 2 [wow | |» | w | va | 7 | mes[ 2 | = [mmv| = |» | « | © | a 5 possvel que exitam problemas ne fone desses dados (Secratria do Tsouro Nacional Pesquisa recente da Unio Nacional dos Dirigentes Muncipais da Educagao UNDIME) mostra problemas nas besesofcsis de dados sobre fnaniament da educagao. Assi, 6 possvel questo também se registro no ambit dos Estados, Toda, esses soos Gadosofcies,conforme nformado pelos préprios Estado a0 Ministrio da Fenda, Fineduca ~ Revista de Financiamento da Educagio, Porto Alegre, v2, n.3, 2012 Diaponivel em hip aver legs brifineduca wg ee (03 Desafios Atuais Referentes a0 Financiamento de uma Educagio de Qualidade wa | musiz | 2 [seo | 3 a 156 a7 a7 we | asus | | aszouzs | Bi 178 18 58 ws | aszzea [in n_| sana | sa 187 ag 48 wr | riers | | Asis |e B 0 28 a ps | sian | | AER | % 25 35 62 we | reise | & | wz | 8 2 Es 10 48 | sizes | at = | aim | 7 3 73 20 8 a | astra | 5 En ee 2 14 36 18 on | asarrece | ss a | asa | 2 18 ma 21 al | samme | 8 nm | mazes | & 22 35 #2 wy | nszsme | st a | asia | a8 8 38 38 an no | aston | a ee ns #3 233 we | reser | a mo | nism | 6 38 27 a8 ns | asin | si | mbsscoes | at o rot 28 88 sc | asians | | aszs | @ 288 u 48 sl[reexz| @ | abimoms | at at ama 08 68 @ | rsaesie | | abana? | ® aa 24 4 to | aszisres | st 7 | asso | se at 18 a 38 Fonte: STN, 2007 e 2009, Banco de dados dos autores. Valores financeiros defacionados dezembro de 2009, Valores referentes ao crescimento expressos am %, Na busca por entender melhor essa aparente incongruéncia (maior investimento com menores condigdes de qualidade), tomamos os indicadores que compéem o ICQ. A Tabela 4, a seguir, mostra a taxa de (de]erescimento dos elementos que constituem 0 ICO e, come pode ser observado, o Indice de Condigées Materiais ¢ Estruturais é 0 que apresenta pior desempenho, ou melhor, apresenta queda em todos os Estados da federacao entre 2007 e 2009. €, pior, a queda é acentuada, pois em todas as unidades da federacao a queda deste indicador é de dois digitos, superior, portanto, a 10%, chegando mesmo a atingir quase 94% em Alagoas. O Indice de Condigées do Professor também nao tem um resultado muito born, pois, em 16 Estados, além do Distrito Federal, observa-se queda no biénio. Contudo, tal queda nao € tao significativa como a do outro indicador, uma vez que em dois Estados ela supera os dois digitos Somente o indice de Condigées da Gestao Escolar apresenta um desempenho melhor, pois apenas. em dois Estados ha decréscimo no indicador. E, de outro lado, o crescimento é significativo em alguns Estados, que chegam a atingir 62% (Distrito Federal) ¢ mais de 116% (Santa Catarina). Come para 0 célculo do ICO 0 maior peso é o indice de condigdes do professor (ICP) ¢, depois deste, (© ICME, 0 resultado final é uma queda generalizada nos Estados da federacao, com pouquissimas excegdes como vimos. Fineduca ~ Revista de Financiamento da Educagio, Porto Alege, v2, 2.3, 2012 Disponivel em http://seerufrgs-brifineduca zm Rees (03 Desafios Atuais Referentes a0 Financiamento de uma Educagio de Qualidade Tabela4 —Taxas de crescimento dos indicadores que compéem o ICQ para os Estados - 2009/2007 ur Ice rome Ie uF ee rome tes AC 82 208 18 8 24 185 34 AL 26 89 127 PE 33 314 107 AM 2I 260 328 Pi “132 321 96 AP 38 155 10 PR 28 629 183 BA ag na 16.1 A 34 24 56 cE “a7 “285 38 aN 73 27 100 OF 18 “108 82 Ro 18 284 72 &s 760 “2a 1m RR 38 339 303 60 52 “182 196 Rs 48 208 188 MA 20 0 124 sc 14 208 1162 MG 2 “192 134 SE 58 408 285 Ms aI “2A 310 ° 21 198 131 MT 28 “198 83 To 58 23) 48 PA 13 “700 119 Fonte: Banco de dados dos autores. Valores em percentuas (2) Encontramos movimento semelhante no que tange aos municipios. Aqui, os agregamos por Estado, tendo em vista a impossibilidade de listarmos todos os mais de 5.500 municipios brasileiros. De qualquer maneira, encontramos um movimento de crescimento no gasto-aluno municipal. Todavia, isto ocorreu de maneira geral, atingindo a média dos municipios de todos os Estados da federacao. De outro lado, vimos também uma queda no ICQ da ampla maioria deles, sendo que em apenas cinco Estados nao houve queda neste indicador. Portanto, afora aqueles Estados dos quais ndo temos informagées ou as temos insuficientemente, os demais se dividem em apenas dois grupos: a) 0s Estados que apresentam crescimento tanto no gasto-aluno quanto no ICQ (Acre, Roraima, Paraiba, Espirito Santo e Santa Catarina); ¢ b) os Estados que apresentam queda em ambos os indicadores, que 6 0 caso de todos os demais. E, assim como se evidenciou na leitura dos dados das redes estaduais, os dados expostos na Tabela 5, sobre as redes municipais, demonstram que os Estados nordestinos apresentam o menor investimento médio por aluno e as piores condigées de qualidade. Todavia, o que muda, neste caso, 6 que a distancia entre esses Estados ¢ os das demais regiées do Pais nao 6 téo elevada quando se toma a realidade das redes municipais. Na leitura anterior, acerca das redes estaduais, tal distancia (entre 0 gasto-aluno @ 0 ICQ) é significativamente maior entre as regides brasileiras mais ricas mais pobres. Fineduca ~ Revista de Financiamento da Educagio, Porto Alege, v2, a3, 2012 Disponivel em http://seerufrgs-brifineduca 1 10 | 2% (03 Desafios Atuais Referentes a0 Financiamento de uma Educagio de Qualidade Tabela 5 — Gasto-aluno anual e ICQ muni estados, 2007 e 2009, e taxas de crescimento (Anos Ini do ensino fundamental) por UF 10.2007 veo 2009 Gasto-aluno 2007 | Gasto-aluno 2003 | Cresc IC Crese Gasto RO 5 3B 222548 | AS 2768.89 47 mA AC 55 6 AS 1.93267 | RS 2305.50 os 133, AM 50 at AS32489 | RS 1,510.69 114 140 AR 49 &2 AS 2313.81 RS 3.623,60 48 566 PA 50) a2 RS 200,60 RS 970,66 157 22 AP 46 40 RS 1.45065 | AS 1.663,35 115 147 To 52 a RS220304 | RS 3.026,16 25 MA a Ag AS 966,85 RS 1.29816 344 PL 49 4 RS 1.53620 | AS 1.61689 53 ce 5 50 RS 116082 | RS 1.731,95 492 BN 53 a o1 RS 1.98321 sl Pe 80 ot AS 1.41541 RS 1.894,08 14 338 PE Ag a AS 1.26652 | AS 1.880,10 “43 48.4 AL 4 37 RS i10g64 | AS. 1.52184 ng 31 SE Sr a AS72086 | AS 2347.30 58 361 BA a8 a AS11988 | AS 1.460,8¢ 22 31,0 MG 56 54 AS239094 | AS 3.028,31 28 2,7 ES 2 2 RS277193 | RS 3.32661 02 200 Ry sl 5 o RS 2,908.95 87 sl s a 55 AS3.591,51 RS 4.380,12 233 240 PR cI 49 R$ 250223 | AS 3.13006 23 2A sc EI fe R§2845,72 | RS 4.302,14 118 51 RS Bs ce o1 RS 4351,71 oa sl Ms si 54 AS29807 | RS 3.74993 st Bl MT si 60 AS24918 | AS 3.12698 si 286 60. sl 55 RS259694 | RS 3.11937 Sl 230 Fonte: STN, 2007 e 2008; Banco de dados dos autores. Valores financeirs deflacionados para 2008. Valores referentes a0 crescimento expressos em %. Nota: DI = Dados inconsistentes; SI Sem informagSes suficientes para o cou, Fineduca ~ Revista de Financiamento da Educacio, Porto Alegre, v2, 03,2012 Disponivel em http://seerufrgs.brifineduca Rees (03 Desafios Atuais Referentes a0 Financiamento de uma Educagio de Qualidade E, mais uma vez, foram as condigdes materiais ¢ estruturais as responsaveis pela queda do ICQ no bignio, quando se olham os dados dos municipios agregados por Estados. As redes municipais, em todos os Estados, apresentaram, em 2009, condigées piores do que em 2007, Todavia, no que tange as condig6es do professor, a situagao é um pouco melhor que a percebida entre os governos estaduais. As redes municipais, analisadas por Estados, apresentam piora das condigdes para os docentes entre 2007 e 2009 em 12 Estados, enquanto em 14 houve melhora. No que tange s condic¢ées de gestéo escolar, as redes municipais apresentam, por outro lado, um quadro pior do que os das redes estaduais, pois, em sete Estados, encontramos resultados piores ‘em 2003 quando comparados aos de 2007, ¢ isto nao se verificava nas redes estaduais, nas quais houve melhora quanto a este indicador em todas elas. Tabela 6 —Taxas de crescimento dos indicadores que compéem o ICO muni do ensino fundamental) por Estados - 2009/2007 UF Ic IoMe Ie UF cP leme Ie RO 34 ai 13 SE 55 386 306 AC 04 87 437 BA 33 142 107 AM 12 38.0 Be MG 26 119 as BR 187 “141 “185 §s 43 104 wi PA 24 822 194 Ru 18. 2A 82 ne 29 237 61 sP 1 123, 265 10 88 “145 196 Pa 45 51,0 DA MA 03 36.8 68 sc 5 17, 875 Pl 03 26 12 RS 12 103 139 ce 13 18 73 Ms 39 129 sl BN 2A 2133 “18 MT 2a 99 si PB 49 13 1a a 08 80 si Pe 40 203 189 AL a 90,0 118 Fonte: Banco de dados dos autores. Valores am percentuais(%) Nota: Sl= Sem informagdes suficientes para o céleulo, Valores financeros deflacionados para 2008. Certamente, 0 argumento mais fécil para desenvolver a partir desta relacdo entre ICQ e o gasto- aluno-ano, seria que 0 ICQ revela problemas de gestéo, pois hd mais dinheiro e a correspondente qualidade tem variagdes. Entretanto, nao parece a tinica explicagao, tampouco a melhor do ponto de vista do contexto da politica educacional das tltimas décadas. O investimento em educagao néo se transforma de maneira automética em condices de qualidade, por isto, observar o ICO pode ser Fineduca ~ Revista de Financiamento da Educagio, Porto Alegee, v2, a3, 2012 Disponivel em http://seerufrgs-brifineduca fa (03 Desafios Atuais Referentes a0 Financiamento de uma Educagio de Qualidade um elemento a mais para discusséo sobre em que aspectos os recursos, ainda que em ascendente, t8m sido insuficientes Como jé se indicou, a ideia de que os problemas da educacdo brasileira eram apenas de gestao, tipico dos anos 1990, foi lentamente revisto ao longo dos anos 2000, pela critica ao modelo instalado no Ambito federal e reproduzido nos émbitos regionais e locais. Entretanto, a ultima década, ainda que tenha feito o investimento em educacao ampliarse, o fez lentamente, de maneira que reduziu em pequena proporcdo a divida social do Pais com a educagao ou quase a manteve estavel ‘Abrado (2010) demonstra que o crescimento do investimento em educagéo tem uma relagao direta com o crescimento da economia, pois os recursos para educacao sao constitucionalmente vinculados a arrecadagdo de impostos (e as consequentes transferéncias constitucionais), assim, nao é um indicador menor 0 fato de que em uma década passamos de 4,7% de investimento do PIB em educacéo para 5,8% (ISTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS € PESQUISA EDUCACIONAIS, 2011), Ou seja, mudamos a diregao no sentido de compreender que nossos problemas tém conexéo com recursos @ com a gestao. Contudo, o montante de investimentos ainda tem se mostrado insuficiente, pois nao temos um incremento de recursos que permitam mudar 0 panorama da qualidade da educagao no Pais de maneira significativa Com isso, cabe voltar ao debate do ICQ: os elementos que mais pesam no indicador sao as condicées materiais das escolas e as condicées de trabalho dos professores, duas dimensdes que tém custos importantes. O terceiro elemento, o de condigdes de gestdo das escolas, tem relagéo menos direta com investimento e pode ser que por isto esta seja a dimenséo que apresentou um cenério de maior crescimento no Ultimo periodo. Neste momento, nao temos condices de esgotar os elementos explicativos, porém, dois aspectos ainda poderiam ser destacados: a) a dependéncia das condicdes de qualidade com relagéo ao modelo do federalismo na educagdo brasileira; e b) decorrente e relacionado com o primeiro, a desigualdade de condigées de oferta que nas regides do Pais. Quanto ao primeiro elemento, os debates em tomo do Piso Salarial Profissional Nacional so um born exemplo das dificuldades federativas, na medida em que a aprovacao da Lei Nacional depende do movimento de Estados e municipios na redefinicdo das condicdes de rernuneragao dos professores em cada uma das redes, e também as diferentes redes precisam adequar a jornada e 0 nimero de profissionais para garantir a hora atividade, o que tem implicagdes nas formas de expansao dos empregos Via concursos ou contratos temporatios. Parece que temos, de alguma maneira, um movimento contraditério no que tange as condigdes de qualidade do trabalho docente, pois, na medida em que as politicas apontam para a necessaria melhoria (piso nacional, hora-atividade, carreira, etc,), Estados ¢ municipios, premidos ou pela falta de recursos ou pela falta de prioridade para com a edueacao (e/ou para com 0 educador), podem investir na melhoria das condigoes dos docentes efetivos do sistema estadual/municipal e, na via inversa, langar mao de estratégias para diminuir o impacto financeiro dessa valorizagéo nas contas piiblicas, como a contratagao precéria ou temporéria de mais/novos professores, gerando ou mantendo quase que duas categorias profissionais na docéncia: os efetivos, com direitos, e os precarios, sem condicdes bésicas de qualidade. Estes sao alguns dos elementos em questéo na medida do ICP que podem estar contidos no ICQ, ou seja, 0 resultado do indice, em decréscimo, pode ter relagéo com um cenério de politicas Fineduca~ Revita de Financiamento da Educacio, Porto Alegre, v2, .3, 2012 Disponivel em hip /seeruligs bri fineduca [13 | (03 Desafios Atuais Referentes a0 Financiamento de uma Educagio de Qualidade insuficientes de melhoria das condig6es de trabalho e valorizacao dos professores no seu conjunto, As condigées medidas pelo ICME, por outro lado, néo séo pontos de uma pauta nacional de debates, ainda que politicas de apoio e incentivo a construgao e melhoria de condigses de infraestrutura possam ser mapeadas, a manutengao cotidiana dos prédios escolares tem sido tesponsabilidade de cada ente federado e, com isto, 0 ICQ e seus componentes parecem indicar novamente insuficiéncias no ritmo de manutengéo dos prédios e equipamentos. Parte deste quadro pode ser derivada de outra dupla pressao: de um lado, a necessidade de adequar/ adaptar as necessidades educacionais (novas tecnologias, necessidades educativas especiais, mobilidade, etc.) e manter os prédios escolares existentes em condigées condizentes; , de outro lado, a necessidade de se construir novas instalagdes para a expansao quantitativa (mais vagas) © qualitativa (ampliacéo da jornada escolat, oferta diversificada ¢ adaptada) das redes de ensino Ou seja, 0 administrador publico fica entre melhorar o existente ou ampliar 0 acesso. A histéria do Pals jd mostrou que este é, de resto, um falso dilemna (TEIXEIRA, 1997), pois quando se contrapde quantidade a qualidade, perde-se em ambas as frentes, uma vez que quantidade sem qualidade gera, dentre outros aspectos, evasao/abandono. 4 Desafios para a préxima década: notas finais A qualidade na educagdo e o financiamento necessério para garanti-la é algo a ser perspectivado para a longa duragao, uma vez que qualidade representa um conjunto de elementos que: + gere sujeitos de direitos, de aprendizagem e de conhecimentos, sujeitos de vida plena; - & comprometido com a incluso cultural e social, uma melhor qualidade vida no cotidiano, o respeito a diversidade, o avango da sustentabilidade ambiental e da democracia e a consolidagao do Estado de direito; - exige investimentos financeiros em longo prazo e o reconhecimento das diversidades culturais, sociais e politicas; - reconhece e enfrenta as desigualdades sociais em educagao, devidamente contextualizado no conjunto das politicas sociais e econdmicas do pais; - se referencia nas necessidades, nos contextos e nos desafios do desenvolvimento de uma regiao, de um pats, de uma localidade; - esté indissociado da quantidade da garantia do acesso ao direito 8 educagao; ~ se aprimora por meio da participagao social ¢ politica, garantida por meio de uma institucionalidade e de processos participativos e democraticos que independem da vontade politica do gestor ou da gestora em exercicio (CARREIRA; PINTO, 2007, p. 24). Ou seja, trata-se de aspectos amplos e complexos, todavia, dimensionéveis ern planejamentos bem elaborados @ com o suporte técnico ¢ financeiro adequado, o que os dados explorados neste artigo parecem indicar que ndo tem sido plenamente efetivado. O Plano Nacional de Educacao (PNE) em tramitacao no Congresso Nacional (PL 8035/2010}, aprovado em sua primeira Fineduca ~ Revista de Financiamento da Educacio, Porto Alegre, v2, 2.3, 2012 Disponivel em http /seerulrgs brifineduea (03 Desafios Atuais Referentes a0 Financiamento de uma Educagio de Qualidade instancia®, trata da questéo da qualidade da educacéo brasileira por diversas vezes e formas No corpo da lei’, 0 texto apresenta a expressao “qualidade” quatro vezes, associando-a a uma diretriz para o PNE ou a aspectos da avaliagao da qualidade educacional. No texto que apresenta as metas ¢ estratégias do Plano, a expressao aparece 28 vezes, sendo 11 delas na Meta 7* O texto aprovado nao reduz a ideia de qualidade a esta meta, na medida em que ela aparece transversalmente ao longo de todo o plano, mas sugere, em grande medida, que a mensuracao dos resultados educacionais, por meio do indice de Desenvolvimento da Educacao Basica (IDEB), expressa o nivel de qualidade da educacao basica brasileira. Isto 6 preocupante, pois novamente pela medida aqui proposta as condigées de contexto que dariam/déo suporte ao desenvolvimento do ensino nao estdo plenamente desenvolvidas. As condicées do trabalho docente sao tratadas neste novo plano em pelo menos quatro metas (Meta 15, que versa sobre uma politica nacional de formacéo inicial de professores; Meta 16, que trata sobre a fornagao em nivel de pds-graduacdo para os docentes da educacao basica; Meta 17, que aponta a equiparacao salarial dos professores com os demais profissionais; e Meta 18, que demanda planos de carreira e a garantia do PSPN) em uma perspectiva que, parece-nos, representa avanco para a qualidade da educagao porque aposta no professor como sujeito responsavel por alavancar mudangas significativas nos resultados do trabalho escolar, mas que, para tanto, necessita ser bem formado, valorizado e reconhecido. A Meta 17 do PNE, em especial, implica em um investimento bastante elevado, pois, para a equiparagdo salarial desejada, seré necessario um investimento nao inferior a R$ 35 bilhdes de reais por ano, dada a disparidade de mais de R$ 1.000,00 entre a média do salétio dos professores e dos demais profissionais com mesmo nivel de formacao e para a mesma jomada de trabalho, lembrando que o intento da meta se estende a todos os docentes da educagéo basica, 0 que implica em pensé-a inclusive para os docentes que hoje séo pouco/nada reconhecidos como professores, como é 0 caso das docentes que trabalham no auxilio pedagdgico na educacéo infantil (educadoras, babés e demais nomenclaturas distintas), mas também para os docentes a serem contratados para suprir o crescimento da cobertura educacional, estimados em pelo menos mais 500 mil novos professores (SOUZA; GOUVEIA, 2011) As condigdes materiais e estruturais das escolas séo tratadas transversalmente no novo PNE, portanto, sem uma meta especifica, 0 que pode langélas em uma condigéo secundaria para a qualidade educacional. E elas seréo ainda mais intensamente pressionadas na préxima década, pois a constante manutencao dos equipamentos e prédios escolares concorrerd com as demandas por aquisig6es e construgdes novas para atender a ampliagdo do acesso 4 educacao, com a incluséo de mais de 4,5 milhées de criancas na educagao infantil e 1,5 milhao no ensino médio, sem contar a infinidade de jovens e adultos analfabetos funcionais, sendo que para metade deles (14 mithées) 6 0 PL 8035/2010 foi aprovado na Comissio Especial da Cémara dos Dopulados em junho de 2012, todavia, fo! apresentado recurso ‘0 plenario da Camara, o que pode significar um precessa mais demorado e complexo para a sua aprovagso nesta casa. Depois da aprovagdo na Camara, oprojeto ainda precisa sor aprovade na Senado Federale, em caso de néo serem fetasalteragées, aleiseguira para sangio presidencial. 70 projeto de lei do PNE apresenta um conjunto de 14 artigos que apresentam as bases e as diettizes do plano e,na sequéncia, trazum ‘conjunto de 20 metas e respectvas estratégias, as quaistraduzem os horzontes e as ages para a efelivagso da politica educacional nacional para a préxima década, "Mota 7:Fomentar a qualidade da edueagso basica om todas etapas e modalidades, com melhatia do fuxo escolar eda aprendizagem {de mado a atingir as seguintes médias nacionais para o IDEB™ (seque, no texto, uma tabela com os valores a serem perseguidos pelo IDEB) (Camara dos Deputados, Relatéro aprovado em 26 de junho de 2012, do PL 8035/2010}. Fined ~ Revita de Financiameato da Educasio, Porto Alegre, v2, 3, 2012 Diaponivel em hip aser legs brifineduca wa (03 Desafios Atuais Referentes a0 Financiamento de uma Educagio de Qualidade © PNE desenha meta para a escolarizacdo. Acrescente-se, ainda, a ampliacdo da jornada escolar {sete ou mais horas didrias) para 10 milhdes de estudantes prevista na Meta 6 do plano. Ou seja, muitos recursos deveréo ser canalizados para se garantir tais condigées minimas para tarnanho crescimento, que atingird, pelo menos, 51 milhdes de estudantes na educacao basica, sendo pelo menos 17 milhdes em jornada de tempo integral Quanto as condigées para a gestdo escolar, o quadro que vimos jé apresenta melhora, todavia, ainda hé aspectos que podem melhorar significativamente com a implantacao do PNE. O plano desenha uma condigéo de gestao escolar na qual nao tenhamos mais, apés 10 anos, diretores escolares indicados, sendo que todos deverdo ser eleitos e/ou concursados/selecionados por mérito. Isto significa modificar a forma de provimento dos diretores em mais de 40% das escolas brasileiras, nas quais ainda predominam as indicagdes com forte apelo e dominio politico-partidério. Ademais, © plano aponta condigées de maior demoeratizacdéo da gestéo, pois enfatiza a necessidade da constituicéo de legislacao prépria (estadual ¢ municipal) sobre a gestao democratica, ¢ incentiva a criagao de conselhos escolares e de mecanismos mais coletivos na gestao inclusive dos sistemas de ensino. O custo para o desempenho adequado desta meta (de nimero 19) no PNE parece ser singelo, todavia, de significativa contribuigéo para o incremento da qualidade educacional. © maior custo aqui ndo parece ser financeiro. Parece que o maior custo se relaciona as dificuldades para tais mudangas, derivadas do necessério cémbio cultural em favor de uma compreensao mais politico- pedagégica da gestéo escolar e menos patrimonialista, de um lado, ou menos tecnocratica, de outro. Assim, ¢ finalmente, parece que temos, s6 com esses elementos, um quadro de muitos desatios para a qualidade da educagao basica brasileira para als) proxima(s) década(s), O enfrentamento e a superagao desses desafios serdo tao mais faceis com a disponibilidade de mais recursos financeiros para a educacao, O PNE, ainda naquela versao preliminarmente aprovada, destina ao final da década, um investimento piblice nao inferior a 10% do Produto Intemno Bruto do Pais para a educacao (Meta 20). Ha, ainda, longa jornada para se garantir a final aprovago deste percentual, mas uma vez que este pleito da sociedade seja alcangado, ainda nos caberé desenvolver estratégias para melhorar a gestao desses recursos e o controle social sobre eles, de maneira que 0 produto final de um investimento educacional tao mais elevado seja encontrado nos resultados do trabalho educacional e escolar, ou seja, em criangas, jovens e adultos atendidos, escolarizados e muito bem formados. Referéncias ABRAAO, J. de C. 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Verhine Universidade Federal da Bahia, Brasil Romualdo Portela de Oliveira Universidade de So Paulo, Brasil Theresa Adriéo Universidade Estadual de Campinas, Brasil Tristan MeCowan University of Londen, Reino Unido Vera Jacob Universidade Federal do Paré, Brasil Vera Peroni Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil Vitor Henrique Paro Universidade de So Paulo, Brasil Revisdo de portugués e normalizagao: Ana Tiele Antunes Revisdo de inglés: Ana Paula Ferreira Fineduca - Revista de Financiamento da Educagio Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Faculdade de Educagio Av. Paulo Gama, s/n | sala 1004 | CEI 0046-900 | Porto Alegre / RS “Tlefone/¥ax: (55) 51 3808-3103 | e-mail: revista fineduca@gmail com | site http//seerufegsbr/fineduca

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