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Desigualdades educacionais no espago urbano: 0 caso de Teresina* MAURICIO ERNICA Universidade Estadual de Campinas © CASO DE TERESINA EM FACE DA QUESTAO EDUCACIONAL BRASILEIRA ‘As desigualdades educacionais vem assumindo novas formas desde os anos 1990, Nos grandes centros urbanos, em especial, essas novas formas sio provenientes 7 Thabaho apetentado na 35+ Reunio Anal da Asociapio Nacional de Pir Gradasto « Pesquisa en Educagdo (ANPEAD, 2012 0 Grupo de Trabalho Sociologia da Bdcario (GTA), Este artigo apreenta reatads de pesquisa mais ampla desenvolida pelo (Cento de Estudos € Pequitas en Educasio Cultaa e Agzo Comnitria (CENPEC), sob coordenasio gen de Antonio Augusto Gomes Baits Mara Ale Setubal. in ‘estigaio fol urna inicatvs da Fundao Tide Seba tnd como parsiror a Fundaclo Tess Sociale o Fund das aces Unidas pata Inne (UNICEF) A pat de 2011 ex eaten apa pa tot coo aot da Funda de Apo 3 Psd Evcado de Sao Paulo (FAPESP), Durante operiodo de plangamento ede tealizagao do trabalho de campo, pesqiaestee cobs getnia de Ana Helena Akenfelder que con tru stvamente paras consrug dor cbjeiorespecficore pars o acorpanaoento do taba de campo nas exclu e nas Secrtaras de Educa de Teresina c do Estado dl Pau. oram fundaoentai a contbulges de Antnio Augusto Gomes Batista para ‘onstrugio do objeto de pesquisa para a defini igooradaestrtiradescritivae argo mmentatva na edagao deste eto final. O testament doe dadoe quantitative fo ei por Frederica Paha O tablho de capo em Teresina foi ela por Clere Amara, ae eatuevistas com gestores estas e munigpais foram excstadas por Anna Helena ‘tenfeldee Matsido Emica Lavina Salon Maglio colaborovna prime iteoa- {rag de dadosquatativos,¢ Daniel Waldvogel Thoma Siva no geotfeencaoento Ae dads. Integra, sina, equipe de peseadorer: Lucans Alves Flamin Ttey Sia de Carvalho. Agadcemoe colsborilo que tenor doe yertorese fincondos dh Secretaria Estadual de Educago do Pia, da Secreta Muoicipal de Educaio de ‘Tevesina eda EnpresaTersinenne de Processamento de Dados PRODATER) Revista Brasilia de Educagio v.18 1.54 jul-sot 2013 923 Mauricio nica 528 . Acesso em: jul 2012 Revista Brasilia de Educagio v.18 1.54 jul-sot 2013 Mauricio nica 522 Grifico 2~ Distribuigio dos alunos segundo k-cult EF2 1 2 3 Nivel k-eult wTeresing EBs SEMe Fe INEP (2007) oasis do CENPEC. Entretanto, apesar de o corpo discente das duas redes possuir perf eultu- ris familiares quase idénticos, elas apresentam resultados bastante diferentes, em favor da rede municipal. Essas diferengas podem ser vistas nos Quadros 1 2, que mostram 0s resultados das duas redes nos dois componentes do IDEB, a taxa de aprovagio média nos segmentos do EF avaliados e a nota média na Prova Brasil, padronizada na escala de zero a der. Quadro 1-IDEB, Prova Brasil e'Taxas de Aprovagio no EF1 das redes piiblicas de Teresina entre 2005 e 2009 a os NOTA [NOTA] NOTA] IDEB | IDEE ] 1DEB TAO? | TAO? | papos|papo7|PaDos| os | 07 | 09 Bal [a6] om] 07s] 430] 440] 49s] 2e2] sta] ast ae asa] oss] ova] ass] ass] 555] aie] 439] 5.26 “TAs Tan de Apart: NOTA PAD. Nota Padorzada da Prov Bal Revista Brasloita de Educagio v.18 n.$4 jul-sot 2013 Desigualdades educacionais no expaco urbana Quadro 2-IDEB, Prova Brasile'Taxas de Aprovasio no EF2 das redes piblicas de Teresina entre 2005 ¢ 2009 2 ma]o NOTA NOT NOTA [DEW [DER | TER TAOS | TA07 | TAO? | paDos|PADO7|PADO| 05 oF 09 Eee | vas] avs] aso] sas] ass] 205] ars] 20s ow] ow| ave] ase[ aor] sao aee[ ave] aon TAs Tha de Appi NOTA PAD. Now Padrniada da Prva Br Fate INEP G05 3007, 2009), Os resultados da rede municipal sio, globalmente, mais altos que os da rede estadual. Contudo, muito embora as diferengas dos resultados na Prova Brasil sejam grandes ¢ tenham aumentado de 2005 2 2009, de modo geral sio as diferengas nas taxas de aprovagio que respondem pela maior parte da diferenga no IDEB entre as redes. Foram formuladas quatro hipéteses para explicar as diferengas entre as duas redes. Duas delas se mostraram falsas. A primeira hipotese refutada pelas evidéncias empiricas foi a de que os niveis de vulnerabilidade social do entorno das escolas explicariam as diferengas entre as redes. Porém, as escolas municipais estio mais frequentemente localizadas na regiio mais periférica e de maior vulnerabilidade social de Teresina, éreas que respondem por grande parte das matriculas ‘A segunda hipétese refutada foi a de que a distribuigo dos alunos nas escolas em virtude de seus recursos culturais familiares seria diferente entre as redes, favo- recendo 0 desempenho médio da rede municipal. Em primeiro lugar, nossos dados mostraram que nas duas redes so poucas as escolas que concentram alunos com baixo ou alto capital cultural. Em segundo lugar, como a rede municipal responde pela maioria das matriculas nas reas de alta vulnerabilidade social, verifica-se que ali hd maior incidéncia de escolas que concentram alunos com baixos recursos culturais ‘Duas outras hipéteses se mostraram relevantes para explicar as diferengas centre as redes: 2) As polticas publicas municipal eestadual ‘As duas redes tem modos de funcionamento ¢ politicas eduucacionais dife rentes, que apresentaremos a seguir, resumidamente: A rede estadual Na rede estadual, destacamos quatro grandes processos que limitam a quali- dade das oportunidades educacionais que ela proporciona: a) o distanciamento entre os érgiios centrais ¢as escolas;b) a captura da gestio das escolas pela micropolitica; Revista Brasilia de Edueagio. v.18 n.54 jul-sot 2013 533 Mauricio nica 524 ) aestrutura rarefeita dos projetos pedagégicos das escolas; d) a alta rotatividade de professores ¢ 0 nao preenchimento de postos de trabalho. O primeiro aspecto relaciona-se ao tamanho ¢ a complexidade da rede estadual, cujas escolas estio distribuidas por 224 municipios. Para gerenciar o seu fancionamento, existe uma estrutura hierérquica que interpée virias instancias entre os responsiveis pela gestio da rede e as eseolas. Fssa estrutura intermediria acaba isolando os gestores da rede em relagio as escolas, produzindo entraves para a co ‘municagao entre essasinstancias ¢ para a implementagao das politicas educacionais, nos estabelecimentos de ensino. O resultado ¢ 0 isolamento das unidades escolares no que se refere & construsao de seus projetos pedagégicos, o que é reforcado pela propensio de elas buscarem autonomia em relagio aos drgios centrais. Porém, hi duas formas intensas de relacionamento entre elas ¢ os érgios eentrais: a regulagio burocritica do cumprimento de normas tarefas; os conflitos de poder relativos a questées trabalhistas e sindicais. O segundo aspecto esta relacionado a designagao dos dirctores, que sio esco- Ihidos por um processo eleitoral em que votam todos os profissionais da escola, os alunos e a comunidade. O mandato é de dois anos, com possibilidade de reeleigio. Se o diretor tem recursos para se distanciar dos éngios centrais, ele, contudo, é de- pendente das relagées no interior do pequeno colégio eleitoral que o elege,relagses que sio fortemente marcadas por micropoderes ¢ trocas de favores. O terceiro aspecto relaciona-se aos anteriores: as escolas estaduais, de modo geral, tém muita dificuldade para estruturar projetos pedagégicos consistentes e mo- bilizadores da equipe. As escolas estaduais que conseguem bons resultados obtém- nos por forga de suas singularidades, Nas escolas pesqquisadas, ndo encontramos diretrizes pedagégicas claras, em especial, a proposta curricular da rede estadual, claborada em 2008, € praticamente desconhecida. Assim, convivem de modo nao articulado ¢ desencontrado quatro conjuntos de documentos planificadores do ensino. Além das diretrizes curriculares do estado do Piaui, pouco conhecidas, ha 6s documentos que foram elaborados no quadro de programas especiais de ins- titutos contratados pelas redes estadual ¢ municipal; hd professores que usam as diretrizes curriculares da rede municipal de Teresina; ¢ hi os livros didaticos, que sio as referéncias para o planejamento pedagégico mais frequentemente utilizadas ¢ caja escolha se dé apds as visitas de divulgagdo que as editoras fazer as escolas a sobreposigio de quatio conjuntos de documentos planificadores do ensino se relaciona ainda com quase auséncia das reunies de professores para planejar seu trabalho e trocar experiéncias. O planejamento de ensino ocorre, em geral, em reunides bimestrais ¢ nio ¢ efetivo, Conforme nos foi relatado, ha um comportamento bastante arraigado que limita 0 planejamento a elaborasao de uma ficha com os contetidos, os objetivos, as atividades, e que depois é entregue a coordenasio, que a arquiva. Além disso, muitos professores nao participam dessas reuniées, prineipalmente os do 6° ao 9 ano. O quarto aspecto é a rotatividade de professores ¢ as constantes lacunas no quadro de profissionais das equipes administrativa, téenica ¢ docente. Os postos Revista Braslota de Educagio v.18 n.§4 jul-sot 2013 Desigualdades educacionais no expago urbana de trabalho nio preenchidos prodazem uma enorme sobrecarga nos profissionais contratados, especialmente nos mais engajados. Como se nio bastasse, os problemas sio potencializados pela regularidade do absenteismo dos profissionais das escolas Nas unidades visitadas, as faltas de professores e as dispensas de alunos eram parte da rotina e, com frequéncia, grupos de alunos ficavam sem atividade no patio ov, quando dispensados, se aglomeravam na porta da escola. A rede municipal A rede municipal de ensino de Teresina é nova. Até 1986, a pequena es- trutura educacional do governo municipal era administrada por um 6rgio especial da Secretaria de Edueasio do Estado do Piaui (SEDUC). A partir de entio, essa cstrutura foi levada a prefeitura ¢, dela, a rede municipal de educagao de Teresina se formou e se expandiu, paralelamente ao erescimento populacional em reas de ‘ocupagio na periferia. Desde entio, até 2010 a prefeitura foi governada por um mesmo grupo poli- tico que preservou uma mesma diretriz de politica publica educacional, que pode ser definida por dois grandes vetores: 2) a aproximagio tanto da Secretaria Municipal de Educasio de Teresina (SEMEC) quanto das escolas com as familias; b) uma politica altamente centralizada, orientada pelo objetivo de fazer com que todas as escolas do municipio tenham o mesmo padrio de oferta educacional vetor de aproximagio da SEMEC com a populagio remonta & expan- sio populacional de Teresina a partir dos anos 1990, A prefeitura procurou levar equipamentos as areas de expansio periférica da cidade e, entre esses, a escola cra sempre um dos primeitos a chegar. A proximidade das escolas ¢ da SEMEC com as familias se dava por diferentes vias. Primeiro, pelo didlogo cotidiano com ‘0s movimentos sociais desde a formacio dos bairzos e a implantagio das escolas Segundo, pela criagio e pelo fortalecimento dos Conselhos de Escola, o que ineluia a oferta de curso de formagio para os conselheitos, Terceiro, por meio de projetos socioassistenciais que visitavam sistematicamente familias de alunos com baixa frequéncia escolar, vitimas de violencia e em risco social ‘A forte relagio com a comunidade e com as familias foi preservada a0 longo dos anos. Para além da proximidade com as escolas, a comunidade teve um canal aberto de didlogo com a prépria SEMEC e com os secretirios O segundo vetor da politica municipal de educasao, nesse perfodo, foi a criagio de uma macroestrutura altamente centralizada que procurou assegurar uma ‘mesma oferta educacional em qualquer ponto da cidade. O intuito de padronizagao € uniformizasio das escolas pode ser visto desde a identidade visual das fachadas até o plano de aula fet id pertence auma rede e n vamente, criou tum forte sentimento de que cada unidade 0 é uma instituigzo auténoma, 12 A breve reconstituigao da historia da rede municipal de ensino de Teresina esta baseada ‘nas entrevistas que fizemos com ts ex-secretirios municipais de edueagao Revista Brasilia de Educagio v.18 n.54 jul-sot 2013 536 Mauricio nica 526 A forte centralizasao e padronizagio da politica se deu pela proximidade articulasao das seguintes instancias: a) diretrizes curriculares;b) formago docente; ©) controle das ages nas escolas;d) avaliagao de resultados; ¢) premiasao e punigio; ) atribuigio de responsabilidades aos diretores. ‘As diretrizes curriculares foram o objeto de muitos investimentos. A grade de babilidades e conteidos formulada nos anos 1990 ver sendo revisada desde entao, cada vez mais se articula com duas outras dimensbes centrais da politica local: a formagio de professores ¢ 0 processo de avaliagao de resultados ‘A formagao docente foi abordada de maneiras diferentes. A formagio inicial foi tratada, em um primeiro momento, por um convénio entre a Prefeitura de "Teresina ¢ a Universidade Federal do Piaus, que disponibilizou vagas em vestibu- lares destinados exclusivamente para o pessoal da rede municipal. Posteriormente, as diretrizes curriculares passaram a orientar montagem de cursos de formagéo continuada para docentes e equipe técnica, visando a operacionalizagao delas por ‘materiais ¢ priticas voltados & sala de aula, Os mecanismos de centrale das ages das escolas foram importantes para aim- plementasio dessa politica. Um dos secretirios visitava as escolas e as salas de auila regularmente, em geral sem agendamento prévio, para verifica in lco se as polticas da rede estavam efetivamente sendo implementadas. Em caso negativo, todas as instancias, desde a sala de aula até a assessoria direta do secretirio, eram chamadas a dar satisfagoes. A partir dessas inspegdes, foram criadas instancias de forte controle da realizagao das politicas, com delegasio de responsabilidades e cobrangas. ‘A essas ages articulou-se uma politica de avaliagdo de resultados bastante incisiva ¢ contundente. Nos anos impares, usa-se 0 IDEB; nos anos pares, usa-se uma avaliagio externa encomendada pela SEMEC; bimestralmente, realiza-se ‘uma avaliagio padronizada, formulada pela SEMEC, nas disciplinas de matema tica e lingua portuguesa, cujo objetivo € verificar se os professores estio seguindo 4 proposta curricular da rede. Os resultados dessa avaliagio sio incorporados & nota do aluno e utilizados para planejamento da rede. Ha também um sistema de avaliasio da alfabetizagio que integra as ages do Prémio Professor Alfabetizador. Sio avaliadas habilidades de leitura ¢ escrita de ahinos do iltimo ano da educagio infantil (5 anos) ¢ de alunos do 1° ¢ do 2° ano do ensino fundamental. Os alunos dos dois anos iniciais do ensino fundamental so avaliados duas vezes, uma no inicio no ano letivo e outra no fim, para que se possa ter uma medida de valor agregado, Os resultados aferidos por esse sistema de avaliasio sio confrontados com ‘metas previamente definidas, desdobrando-se em mecanismos de premsiardo e pu- nigao, Além de prémios oferecidos pela rede (Gestio Nota 10, Professor Educador, Professor Alfabetizador), a progressio na carreira ¢atrelada a uma prova para do- centes. A principal punigio €, em casos extremos, a remogio de diretores. ‘Assim, a politica da SEMEC é marcada também pela atribuigio de respon sabilidades aos diretores, que ocuparam tn lugar central no funcionamento da rede. Eles sio escolhidos por um sistema misto, por concurso ¢ por eleigao , uma vez éempossados, assumem uma série de compromissos, inclusive em relasao a resultados, Revista Braslota de Educagio v.18 n.§4 jul-sot 2013 Desigualdades educacionais no expago urbana ‘Ao assumirem o cargo, 0s diretores sio acompanhados por cursos de formago em gestio. Os diretores nao tém autonomia pedagdgica. O sistema composto pelas diretrizes curriculares gerais, planos de aula, cursos de formasio e pelas avaliagbes € definido na secretaria ¢ se impée as equipes das escolas. Contudo, os diretores ‘tém autonomia para montar sua equipe técnica, que é composta, além deles, por um diretor adjunto e por um pedagogo (coordenagio pedagégica) b) A concorséncia por vagas nas escola de prestigio no quase mercado escolar O sistema de matriculas vilido para as duas redes analisadas dé, em tese, poder para as familias escotherem as escolas. A matricula dos ingressantes, inclusive a dos transferidos, é feita diretamente nas unidades, em virtude da disponibilidade dde-vagas. Nao hd sistema de setorizasao de matriculas em Teresina, que permite as familias escolher qualquer escola do municipio. Nos casos em que a demanda por vagas em uma escola é maior que a oferta, o principal crtério a ser seguido, segundo nos informaram as escolas, deve ser a ordem de chegada. Hla ainda uma orientasao geral,vilida para as duas redes, para que a matricula de alunos do bairro seja preferida a de alunos de outras regides. Contudo, nao ha meios de verificasio controle do cumprimento dessa dretriz.¢ tampouco do critério da ordem de chegada ‘A diferenga da oferta educacional das redes estadual e municipal ¢ conhecida pela populacio de Teresina e alimenta a concorréncia entre as familias por vagas nas escolas de prestigio. As escolas, por sua ver, concorrem por alunos que melhor atendam as expectativas comportamentais e académicas. Esse quadro de disputa € bastante aberto ¢ os diretores tém grande poder para regular o perfil dos alunos ‘matrieulados, 0 que thes permite evitar o ingresso daqueles considerados proble- miticos e, ainda, evitar a permanéncia destes Foram poucos os dados que pudemos coletar sobre o quase mercado de postos de trabalho nas escolas. Contudo, enquanto a rede municipal tem fortes mecanismos de controle sobre os professores, que os levam a assumir as responsabilidades que Ihes so imputadas pelas politicas municipais, nas escolas estaduais 0 quado é outro. Nas unidades visitadas, os diretores entrevistados queixaram-se repetidas vezes das faltas frequentes de professores ¢ de membros da equipe técnica, das licengas sucessivas justificadas por atestados médicos davidosos ¢, sobretudo, do desengajamento dos docentes e membros da equipe técnica no planejamento e nas tarefas cotidianas da escola, Nitidamente, portanto, as escolas municipais estavam em larga vantagem, tanto na atragio ¢ na manutengio de profissionais mais qualificados mais enga- jados quanto na garantia de que os profissionais assumiriam seus compromissos. “Muito embora nossos dados sejam de natureza qualitativa, sustentamos que 2 singularidade de’Teresina é de que, como padrao geral, as escolas municipais ocapam as posigoes de vantagem no quase mercado, sendo que as estaduais encontram-se nas posiges desvantajosas. Assim, entre as redes municipal e estadual, ria-se uma relasio de interdependéncia, tal como analisado em outros casos (Frniea; Batista, 2012). Enquanto as escolas estaduais recebem e decantam os “problemas” do sistema Revista rasa do Edveagio v.18 n.54 jul-sot 2013 Mauricio nica 528 ceducacional, a escolas municipais podem selecionar alunos e também profissionais «que mais bem se adaptam s expectativas comportamentais ¢ académicas,o que lhes permite reproduzie melhor o modelo institucional das escolas, mesmo quando algumas, vnidades operam acima de sua capacidade de atendimento, De modo geral, portanto, a rede municipal se alimenta e depende da rede estadual como ponto de decantagio dos problemas do sistema educacional piblico de Teresina, TERCEIRO MECANISMO DE PRODUGAO DE DESIGUALDADES NO QUASE MERCADO ESCOLAR: A SELETIVIDADE DOS ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Os Grificos 1 ¢ 2 apontam uma redugio expressiva da populagio com re- cursos culturais familiares mais baixos das escolas piiblicas entre as séries iniciais as finais do EF. Nas duas redes, na série final do EFI, temos cerca de metade dos alunos com recursos culturais de niveis 1 e 2.¢ metade com recursos culturais cursos culturais. A de niveis 3 e 4, sendo que cerca de 8% deles tm o nivel 1 distribuigéo muda drasticamente na série final do EF2, em que apenas cerca de 20% dos alunos tém recursos culturais nos niveis 1 ¢ 2, enquanto a poreentagem de alunos com recursos culturais 1 € préxima de zero. O que explica a exclusio do sistema escolar dos alunos com os mais baixos recursos eulturais sio as baixas taxas de aprovagdo no EF2, fato pereebido nas duas redes de ensino ‘A rede estadual esta organizada por um sistema seriado, com reprovago anual desde a série inicial. As taxas de aprovagd0 no EF2, apesar de baixas, aumentaram cde 62% em 2005 para 68% em 2009. ‘A rede municipal vive situagées diferentes no EF1 e no EF2. No EF1, por conta do sistema de ciclos, as taxas de aprovasio em 2007 eram bastante altas por toda a rede, sendo a média de 90%, No EF2, em que ha o regime de seriago com reprovasio apés cada ano, essa realidade muda expressivamente: as taxas de apro- vagio média s6 passaram dos 90% em 2009, Em 2007, a média era de 85%, sendo que os resultados das escolas variavam de 57% a 99%. Essa alteragio expressiva indica um processo de diferenciasao das escolas municipais de EF2, com uma parte dessas escolas reproduzindo a combinasao excludente de desempenhos académicos relativamente bons com baixa aprovacio que vigorou no Brasil até os anos de 1990 (Ribeiro, 1991). Na rede municipal, no EF2 além da exclusio de alunos com baixos recursos culturais e das unidades com taxas de aprovacio baixas, verificamos ainda lum miimero erescente, com relago 20 EF, de unidades coneentradoras de alunos com baixos recursos culturais, eforgando mais uma vez a tendéncia de diferencia 0 das unidades educacionais municipais nesse segmento. Mais adiante, veremos ainda que ha uma redugo no percentual de alunos do EF2 com maiores niveis de proficiéncia na Prova Brasil em relagao aos valores verificados no EF. Portanto, a politica implementada na rede desde o inivio dos anos de 1990 conseguiu elevar os resultados globais, mas encontrou seus limites nas séries finais do Revista Braslota de Educagio v.18 n.§4 jul-sot 2013 Desigualdades educacionais no expago urbana EF2, em que hé um maior nimero de disciplinas e € mais difiilassegurar 0 modelo padronizado que élevado a cabo no EFI, seja nas atividades de formagio de professores, seja no planejamento do trabalho docente nas escolas. QUARTO MECANISMO DE PRODUGAO DE DESIGUALDADES ESCOLARES NO QUASE MERCADO: 0 EFEITO DE TERRITORIO Ao analisarmos a correlagao entre as variagées nos niveis de wulnerabilidade social do entorno das escolas e as variagbes nos resultados académicos médios das escolas, verificamos, inicialmente, dois resultados. Primeiro, as diferengas no IDEB entre as redes sio mais intensas € mais importantes para explicar as desigualdades educacionais em Teresina que as dife- rengas produzidas pelas variages no nivel de vulnerabilidade social dos territorios, ‘As escolas munieipais situadas em territ6rios de alta vulnerabilidade apresentam IDEB médio maior que o da rede estadual em qualquer drea de IVS-T. Segundo, os resultados do IDEB da rede municipal sio mais sensiveis as, variagSes no nivel de vulnerabilidade do entorno das escolas que os resultados da rede estadual. Na rede municipal, a aprovagio e o desempenho na Prova Brasil tendem 2 diminuir conforme aumenta o nivel de vulnerabilidade social do entor no das escolas. Isso se explica porque as politicas pablicas municipais foram mais facilmente implementadas nas areas mais centrais ¢ menos vulneraveis, onde foi mais facil alocar recursos ¢ profssionais. No caso da rede estadual, praticamente nao hi variagio no IDEB quando observamos os diferentes niveis de vulnerabilidade social do entorno das escolas. Essa aparente auséncia de correlasao pode ser explicada de trés maneiras. Primeiro, porque, muito embora existam escolas estaduais em territérios de vvulnerabilidade mais alta ¢ mais baixa, elas se concentram nos territdrios de vulne rabilidade social média, o que diminui o impacto de sua existéneia em territérios nos extremos de vulnerabilidade social na tendéncia geral Segundo, porque nao ha muitas escolas estaduais situadas em territorio de baixa vulnerabilidade social, com resultados altos na Prova Brasil e taxas elevadas de aprovasao, situagio que produziria resultados elevados de IDEB, reforgando a tendéncia geral ferceito, porque na rede estadual os resultados na Prova Brasil e as taxas de aprovagio seguem tendéncias invertidas, conforme variam os niveis de vulnerabili- dade social do entorno das escolas; enquanto os resultados na Prova Bravl tendem a diminuir quando aumenta a vulnerabilidade social do entorno da escola, as taxas de aprovagio tendem a aumentar. Essas tendéncias invertidas, mesmo que sutis, sio suficientes para diluir o efeito do territdrio sobre o indicador que sintetiza essas variaveis (IDEB), como se vé nos Graficos 3 ¢ 4 Revista rasa de Edveagio v.18 n.54 jul-sot 2013 529 Mauricio Ex Grifico 3 ~ Linhas de tendéncia da Nota Padronizada da Prova Brasil, da'Taxa de Aprovagio ¢ do IDEB nas escolas estaduais de EF1 em Teresina, em 2007 2 10 Grifico 4—Linhas de tendéncia da Nota Padronizada da Prova Brasil, da'Taxa de Aprovagio e do IDEB nas escolas estaduais de EF2 em Teresina, em 2007 Fete INEP (20070 Na rede estadual, como tendéncia, as escolas nos territérios de mais baixa vvulnerabilidade social tém aprovagao baixa ¢ melhores resultados na Prova Brasil, modo de funcionar mais proximo do verificado na historia da escola brasileira Nos territdrios de mais alta vulnerabilidade social, a aprovasio é mais alta, mas com o custo de o rendimento na Prova Brasil ser mais baixo, produzindo um perfil de escolas que garantem o aumento formal dos anos de escolaridade, porém sem assegurar as aprendizagens esperadas. Na rede municipal, 2 aprovasio ¢ 0 desempenho na Prova Brasil tendem a ser maiores nas (poueas) escolas com mais baixa vulnerabilidade social e mais baixos nas (muitas) escolas de entorno mais vulnerivel. As politicas pablicas municipais 540 Revista Braslota de Educagio v.18 n.§4 jul-sot 2013 Desigualdades educacionais no expago urbana foram mais facilmente implementadas nas reas mais centrais ¢ menos vulneriveis do municipio, como nos informou em entrevista um ex-secretirio municipal de educasio: [Nos temos problemas sérios da administragio na questio de professores. Sem- pre faltou professos, a rotatividade de professores nas escolas muitas veues € grande em determinadas escolas, Havia briga parair para determinadas escolas, Driga para sair de outras. Isso que eu estou falando [escolas oferecendo 0 mes ‘mo padrio educacional] era o objetivo, mas na pratica estava muito distante de acontecer e muito em fungio da questio da administragio do recurso humano, professor dentro da escola, a compatibilizasio do que é o direito do professor do que € 0 direito do aluno. (Ex-seertdrie municipal da educasdo 2, 2010) ‘Ou seja, as politicas da rede municipal produzem melhores resultados nas freas de vulnerabilidade social média e baixa,levando a uma alta diferenciagao entre clas e as escolas estaduais. UMA SINTESE DE MECANISMOS PRODUTORES DE DESIGUALDADES EDUCACIONAIS Classificamos as escolas das duas redes em quatro grupos em virtude de duas variéveis combinadas, a saber, o nivel de wulnerabilidade social de seu entomo ea composigio de seu corpo discente.!* ‘Os dados que evidenciam essas conclusoes foram produzidos pela classifica 40 das escolas em quatro grupos, como se verifica nos Grificos de 5 a 8: + QA reiine as escolas em territério de alta vulnerabilidade social ¢ com alu~ nos de recursos culturais médio ou alto; + QBreiine as escolas em territério de alta vulnerabilidade social ¢ com alu~ nos de recursos culturais baixos; + QBreiine as escolas em territério de vulnerabilidade social média ou baixa e com alunos com recursos culturais baixos; + Qdreiine as escolas em territdrio de vulnerabilidade social média ou baixa com alunos com recursos culturais médios ou altos. A anilise do desempenho das escolas no IDEB e dos alunos na Prova Brasil, cem virtude desses grupos, aponta para dois resultados. 33A composigao do corpo discente das escolas foi quantificada pelo indice de Heterogeneidade — IH. Quando esse indicador¢ igual a zero, temos uma escola cuja dlstribuigio dos alunos em fungio de seus recursos culturais familiares (k-eult) @idén- tica i distibuigio do total de alunos da rede pibliea de Teresina. Quando o TH & posi- tivo, a escola tende a concentrar alunos com maiores recursos culturais. Quando o TH é negativo, escola tende a concentrar alunos com baixos recursos cultura. Revista Brasilia de Educagio v.18 n.54 jul-sot 2013 5a Mauricio nica 542 O primeiro, como era de se esperar, € que os alunos que estudam nas escolas de Q4 tém um desempenho global na Preva Brasil melhor que 0 dos demais grupos Por sua vez, os alunos que estudam nos outros grupos de escolas (QU, Q2 e QB) tém, por padrio, resultados semefhantes, indicando que a presenga das variéveis “escola em territério de alta vulnerabilidade” ou “concentragao de alunos com bai culturais’ produz efeitos de redugao do desempenho escolar do conjunto dos alunos. O segundo é que de modo geral o sistema educacional de’Teresina apresenta menos desigualdades no rendimento dos alunos do EF2, mas isso se da com um alto custo. Além da exclusio dos alunos com mais baixos recursos culturais, temos ainda uma forte redusio do percentual de alunos com desempenho mais alto na Prova Brasil* Na rede estadual, nos quatro grupos ha uma baixissima concentrasao de alunos nos niveis de aprendizagem “adequado e “avangado”. Ha uma piora no EF2 em relasao ao EF1, mesmo com as altas taxas de reprovagio. O grupo em que a queda de desempenho do sistema é menor, mantendo maior regularidade, é justamente 0 Q4. No caso da rede mun cipal, os dados confirmam seu desempenho melhor que o da rede estadual. Porém, podemos constatar que essa rede tem problemas paca assegurar seus objetivos de qualidade e equidade nas séries finais do ensino fundamental. E no EFI municipal que se verifica a maior concentragao de alunos com de- sempenho “edequado” e “avangado”. No entanto, nesse segmento as diferengas entre os rendimentos dos alunos de Q2 e Q4 sio evidentes, indicando a dificuldade desse sistema em fazer frente 4 concentrasio de alunos com baixos recursos culturais em cscolas situadas em tersitérios de alta vulnerabilidade social, Cutiosamente, portato, ‘ segmento em que a rede municipal tem melhores resultados é também aquele no ual se evidenciam mais claramente os efeitos da concentragio dos alunos com bai- xos recursos culturais em escolas situadas nas teas de maior vulnerabilidade social [No EF2 municipal, as notas dos ahinos dos quatro grupos pouco se diferenciam, Contudo, a menor desigualdade € obtida com dois altos custos. Primeiro, como ja salientado, coma exclusio das alunos com baixos recursos culturais. Segundo, porque neste segmento aumenta a concentragio de alunos no nivel "bisico” e “abaixo do bisico”, com uma expressiva redugao de alunos que atingem os niveis superiores de aprendizagem (“adequado” e “avangado”) em relagio 20 verificado no EF. Os grificos a seguit mostram os resultados dos alunos em lingua portuguesa nos quatro grupos de escola 14 Usamor oF resultados de lingua portuguesa em 2007, elassficados segundo a esco- la de correspondéncia das aprendizagens com as series do Sistema de Avaliasao de Rendimento Escolar do Estado de Sao Paulo (SARESP), Revista Braslota de Educagio v.18 n.§4 jul-sot 2013 Desigualdades educacionais no expago urbana Grificos 5 a 8— Distribuigio da nota em lingua portuguesa dos alunos na Prova Brasil de 2007, divididos em grupos formados pela vulnerabilidade do entorno da escola e pelos recursos culturais familiares Grifico 5 ~ Distribuigio das notas LP EF1 EM Teresina combinagio IVST e IH 0s od 03 sar 302 a2 Fon "@ ° a Abaixo do Basico Adequado — Avangada Basico Pontos na Prova Brasil Fonte INEP 0007. Entra do CENPEC. fico 6 ~ Distribuigéo das notas LP EF2 EM Teresina combinasao IVS-T e IH 07 06 g 05 5 os ao . $93 Qa # 02 1@ on ae ° Bisico Adequado Avanyado Bisico Pontos na Prva rail Fone INEP OW) Revista rasa de Edveagio. v.18 1.54 jul-sot 2013 943 Mauricio nica Grifico 7 - Distribuigio das notas LP EF1 EE Teresina combinagio IVS-T e IH os ae 305 fe Jos =e dos a $02 oa 0 Abaino do Bisico —Adequado —Avangado Basico Pontos na Prova Brasil Fan INE 057) Grifico 8 -Distribuigio das notas LP EF2 BE Teresina ‘combinagio IVS-T e IH sar 08 =e 98 #03 Boa os Fos 3 oa on ° Abaixodo —Bisico —Adequado— Avangado Basico Pontos na Prov Brasil Tae NEP aT sSopepe brat goron ska pe Cc pepe nogian de Seagate ls ees ta ea baa Revista Brasota de Educagio v.18 n.§4 jul-sot 2013 Desigualdades educacionais no expago urbana DISCUSSAO DOS RESULTADOS Nossa anilise dos mecanismos produtores de desigualdades educacionais em Teresina baseou-se em dois elementos: as diferengas cxistentes no ambito da oferta educacional ~ seja entre a redes, seja entre os segmentos do ensino fundamental —e ‘os mecanismos de selesao e distribuigao dos alunos nas escolas, fortemente marcados pelas relagdes do quase mercado educacional. Esses mecanismos atuam verticalmente, do cume, no segmento de escolas, voltadas 4 reprodugio das elites académicas, até a base, nas escolas periféricas que retinem mais dificuldades para assegurar a oferta educacional de qualidade, passando pela faixa média do sistema, em que estio as escolas municipais situadas em areas de menor vulnerabilidade social. A configuracao dessa estrutura vertical, formada pelas redes e sua localizagio no territorio teresinense,é alterada por um mecanismo de selego que atua ao longo da progressio das séries e que tem por forga motriz. as baixas taxas de aprovasio. ‘A anilise das diferengas nas oportunidades educacionais com base nas dife- rengas de qualidade de oferta educacional e dos mecanismos de seleso e distribuigo dos alunos pretende dialogar com as possibilidades de democratizasio do dircito a educasio que so dadas no ambito das politicas puiblicas. Com a universalizagio do acesso 20 ensino fundamental e a redugao das taxas de reprovacio, cada ver mais as grandes divisas politicas nacionais passam a ser a qualidade e a equidade das oportunidades educacionais ofertadas pelo Estado (Oliveira, 2007). Nao raro, essas bandeiras se expressam em politicas que buscam realizar uma mesma oferta educacional para todos, independentemente de suas diferensas, Esse foi o caso da politica municipal de Teresina, que surgiu de uma pequena estrutura alocada na Secretaria Estadual de Educagio e que conseguiu, em pouco ‘mais de vinte anos, obter bons resultados, se comparados aos da rede estadual. Porém, observamos que essa politica possui limitagdes e que, paradoxalmente, passow 2 integrar mecanismos de produsao de desigualdade educacional Em primeito lugar, o ideal de proporcionar uma mesma oferta educacional io foi obtido integralmente, o que se evidencia pelos melhores resultados da rede ‘municipal nas poucas escolas situadas nos teritérios de menor vulnerabilidade social ¢ pelas dificuldades da SEMEC em implementar sua politica nos territérios mais dlistantes da area central e mais vulneriveis, Mesmo com o grau relativo de padroni- zasio da oferta obtido, a politica nao beneficiou a todos igualmente. Especialmente nas série finais do ensino fundamental, evidenciam-se os scus limites: a) aumento do niimero de escolas que concentram alunos com mais baixos recursos culturais; ») exclusio de alunos com mais baixos recursos culturais por meio das baixas taxas de aprovasao; ¢) niveis de aprendizagem mais baixos nas escolas situadas em territérios, de maior vulnerabilidade social e/ou que concentram alunos com menores recursos culturais; d) redugZo do percentual de alunos com desempenho académico mais alto. Em segundo higar, a combinasao de oferta desiguale forte concorréncia no quase mercado de servigos educacionais acirra a disputa entre familias ¢ entre Revista rasa de Edueagio. v.18 n.54 jul-sot 2013 945 Mauricio nica 546 escolas, engendrando um mecanismo de reprodugio das desigualdades entre as redes. A grande desigualdade nas oportunidades educacionais ofertadas pelas redes, cstadual ¢ municipal se reproduz.articulada ao sistema de matriculas, que indwz 6s pais a disputarem entre si as vagas nas escolas de prestigio e que da as unidades escolares grande margem de agio para selecionar alunos que melhor se adéquem as suas expectativas. Poressa razio, a concorréncia entre as redes engendra mecanismos de inter dependéncia e de reprodugio miitua. Como vimos, a rede estadual, de modo geral, ‘ocupa um lugar mais fragilizado no quase mercado educacional e tende a servir de Joeus de decantagao de problemas que as escolas da rede municipal podem evitar. Na rede municipal, esses mecanismos de exteriorizagio de problemas ampliam suas condigdes de boa gestio ¢ de promosio da eficacia escolar. Na rede estadual, onde se decantam, eles reforgam suas deficiéncias erdnicas ¢ atuam como um freio que dificulta a eficicia das politicas educacionais nessa rede. Podemos concluir ainda que, em Teresina, o efeito das desigualdades socioespaciais sobre as oportunidades educacionais também se faz sentir, mesmo no tendo a mesma centralidade que se verifica nas metr6poles. Isso nos leva a postular que 2 afirmagdo do direito a educasio para todos no Brasil, hoje, néo poderd ser plenamente atingida sem que se leve em conta, nas politicas, novos desafios que passaram a integrar nossa questio educacional urbana, ¢ que podem ser estuda dos pela articulagio de trés cixos: as desigualdades na oferta educacional, o quase mercado de educasio e os efeitos educacionais das desigualdades socioespaciais. Por fim, como a concorréncia entre as duas redes puiblicas analisadas conttibui para a reprodugdo do quadro aqui descrito, para que as escolas publicas situadas em Teresina possam garantir 0 direito a educasi0 com qualidade e equidade, seria preciso politicas colaborativas entre estado e municipio baseadas na corresponsa- bilizagao de ambos pela oferta educacional ao longo da cidade. FONTES. Ex-seceetinio Munteirst ba epvcacéo 1, Entrevistadores: Mauricio Erica ¢ Anna Helena Altenfeldes. Teresina, PI, 25 ago. 2010. Ex-secaeténio musteieat 4 spvcacéo 2, Entrevistadores: Mauricio Erica ¢ Anna Helena Altenfeldes. Teresina, PI, 26 ago, 2010. FunpagAo Seank~ Sistema Estadual de Andlise de Dados. Informyéer dos Municipios Paulistas, 2007. Disponivel em: , Acesso em: 5 mat. 2012. Instrrvro Brastuereo pe Geooraria e Estaristica. Censo Pepulacional 2000. Brasilia: IBGE, 2000. Disponivel em: . Acesso em 25 mar. 2012. Contagem da Pepulaydo 2007. Brasilia: IBGE, 20072. Disponivel em: . 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