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Carlos Alexandre Goncalves IniciagGo aos estudos morfolégicos: flexGo e derivagGo em portugués Unidades de expresso e fusdes de significado, Determinantes da expressio flexional Generalidade e 0s tipos de expressio linguistics Da interagdo relevncia-generalidade Fusdes de significado nas unidades morfol6gicas. Significados verbais:relevancia ¢ generalidade. Estruturae significados verbais em portugues... E 0 continuum flexto-derivagio? . (© cOTINULM APLICADO AO PORTUGUES on Hierarquizagdo de atributos, A Relevancia como parimetro gradual é Relevancia © ordem oom CContetido minimo, generalidade e mudanga de lass. Previsibilidade—__. (Outras medidas de avaliago Estudo de caso. : = Género, nimero¢ grau no continuum flexdio-derivagao. 94. 97 100 103 106 110 3 19 123 124 126 128 130 BI 135 137 144 1s 157 Das diferencas entre flexao e derivacao A demarcagao de fronteiras entre os dois principais tipos de operaglio morfolégica—flexao e derivagdo — tem sido apontada como um dos problemas centrais da teoria morfolégica contemporinea (Stump, 1998; Dresser etal, ee eee ae ee ee Segregar essa duas “morfologias” (Spencer, 1993), No entanto, a oper lizagao desses critérios pode levar a agrupamentos ‘9 que acaba tomando imprecisa aclassificagao de um afixo cor ou flexional. “Mais de quinze parimetros tm sido usados para separar rigidamente @ morfologia Hexional da morfologia derivacional. Neste capitulo, apresenta- mos € discutimos esses critérios, observando se so realmente imperatives na tarefa de arbitrar sobre oestatuto morfol6gico de afixos do portugués, Por fim, acenamos para a possibilidade de flexdo e derivagao serem tratadas como uma tunica operagao, do tipo gradiente ou escalar, seguindo a orientacio proposta por Bybee (1985), para quem ndo hé limites-intransponfveis entre essas duas grandes éreas da morfologia. ‘De acordo com Stump (1998: 14), o mapeamento de critérios empiric deve servo apenas omen de soos ox pinois ea sitos para que uma morfologica seja classificada como flexional ‘ou como derivacional, uma vez que a légica clara dessa distingdo pode ser dificil na pric, Nos tens que se seguem, procurainos mostrar que os eit ‘ios empirieos nem sempre dividem as operagdes morfologicas nos mesmos dois conjuntos: um parimetto pode levar a um agrupamento que nio coincide 12. Iniconsoaoeestados maflipios necessariamente com aquele obtido a partir da inspegdo a outro. Dito de outra ‘maneira, um mesmo afixo pode ser consid lerado flexional por um critério e deri- jonal por outro, Por isso mesmo, o levantamento de critérios objetivos deve ser visto como diditico; nao como um veredicto final acerca do estatuto morfolégico de afixos. Relevéncia sintatica Podemos recorrer a Anderson (1982: 589) para apresentar uma primeira peculiaridade da flexdo. Segundo esse autor, categorias flexionais sdo rele- ‘ames sintaicamente, uma vez que refletem tima profunda relagdo entre a estrutura das palavrase a estrutura das sentengas. Essa caracteristica da flextio ¢ capturada pela maxima apresentada em (i) a seguir: Ne. Gascon he ()Atexdo & requerida pela sintaxe da Sertenga, isto €, um context sintitico ‘proprio leva expresso das caegorias flexionais,o que io acontece com a derivagto, isenta do requisito“obrigaoriedadesintitca” ‘Considerando que a estrutura de derivadas é opaca para asintaxe, itamente assume a versio fraca da hipdtese ¢ critério empirico, stio manipuladas pela sintaxe apenas as propriedades que, presentes numa dada palavra, realizam uma categoria gramatical (Anderson, 1982: 589). Em outros termos, a sintaxe impée 0 uso de afixos flexionais, mas é. 4 constitui¢do interna da palavra derivada, sendo, Portanto, insensivel 4 existéncia de afixos derivacionais. oO io em exame aparece refictido em fendmenos sintaticos como: ‘concordncia regéncia. No primeiro caso, elementos esto em relagao de concordineia se, nos dizeres de Jensen (1991: 115), precisam ser mareados com rae lr eins rp me lig em i a ae uma igo pla quo nln de um sintgma requer forma especifica de outra palavra ou classe) regen 1 eam) ened ov andr domes Recah pa a eee es dterencos entre nto edervayta 13 alguma classe especial de formas simples sem produzir mudanga na constru- 0, o que as tora, de certo modo, opcionais. Vejamos como esse parimetro pode ser aplicad, na pritica,& distingdo que nos interessa. Pelo critério (i), relevaneia sintitica, o nimero constitui categoria fle- xional em portugués. Entendida como propriedade inerente (Anderson, 1982), 4 informagao sobre o niimero dos nomes se toma acessivel & sintaxe, pois, através da concordancia, a propriedade inerente do controlador ¢ copiada para (0s alvos (Corbett, 1998), Na sentenga em (01), a seguir, o nicleo do sintagma ‘nominal (0 controlador da concordancia, ‘sites espraia a informagao de plu- ral aos elementos a ele associados (0s alvos ‘0s’, “brasileiros’e ‘melhores"), levando-os a receber a marca desinencial (-s ou -es, conforme a terminago da palavra), Dessa maneira, o substantivo, por ser o nicleo do sintagma nominal (x), controla a concordancia, determinando o nimero (singular ou plural) que deverd se manifestar nesse dominio sintatico, (OL) Encontre og methorgs sites brasileitog na home-page do provedor oficial da Copa (1B, 11/3/2003). ‘O mesmo racioeinio é vido para a mareagio de niimera/pessoa nos ver- bos, também manipulada pela sintaxe por meio da concordiincia (Anderson, 1982). Da mesma forma, 0 controlador (0 sujeito da sentenga) impde 0 uso de ‘determinadas marcas morfologicas no alvo (forma verbal, nicleo do predica- do), o que nos permite interpretara categoria niimero/pessoa como flexional, por ser relevante para a sintaxe. Observe-se 0 exemplo em (02), a seguit, no ‘qual os travessdes representam a falta de uma terminagiio que corporifique as formas verbais: (02). Definitivamente, eu nfo encontr— 0 livro que voe8 tanto me recomend— ‘No exemplo em (02), ¢ obrigatério o uso da terminagio-ei para expressar a informagdo de que, num momento anterior ao da enunciagio, foi o proprio falante quem, sem sucesso, procurava pelo livro. Também é previsivel @ finalizagio da segunda forma verbal. Nesse caso, “recomend—' devera ser completada com a terminago -ou, uma vez que o sujeito da sentenga vem a ser a pessoa a quem se dirige o enunciador. “Ainda Jevando em conta o fenémeno da concordincia, podemos afirmar ‘que a marca morfologica de feminino (-a) também ¢ de natureza flexional em pope Pe ee 14 nian 2 eres motor o xcmplo a sep o nico do ss ~osubstantv bogus — a ete gnc eine to dono sitio do qual & ppeca-chave. Dessa maneira, os espagos em branco (representados pelos tra~ ‘yessdes) s6 podem ser preenchidos pela vogal ~2, uma vez que 0 controlador se pei mpi qocone lanen ganna ja materilizado noe seus alvos, os adjetivos ‘brasileir—’ e ‘renomad—'e o predicativo do sujeito. “pres—’. eee sose Stes tc raion es O critério relevncia sintética também nos leva a caracterizar 0 caso ‘como flexional. Em determinadas linguas, como o grego ¢ o latim clissicos, ‘variagdes nas formas morfolégicas servem para sinalizar as relagdes sintati- cas entre palavras de uma sentenga. Por exemplo, o substantive latino ‘lupus? (“lobo”) podia assumir formas bastante diferentes a depender do caso em que estivesse, isto é, de acordo com a fungao sintética que desempenhasse. A ta- bela apresentada em (04) mostra as possiveis terminagdes desse substantivo, conforme as categorias nimmero € caso: (08) A terminagao de um nome latino, como o exemplificado em (04), era, ‘Portanto, manipulada pela sintaxe: extremamente previsivel, a forma do subs- ‘antivo variaya de acordo com sua fungdo sintitica. No exemplo em (05), a Ssequiro regent ¢‘uidet ve"), um verbo transitivo direto. Os radicais up-—? (“lobo”) ¢ 4 He (Povo, multidio"), ambos de segunda declinagao, os diteronan ante nto derivate 15 lizadas, nesta ordem, por -us (nominativo) ¢ -um: (acusativo). Caso contririo, isto é se “lobo” for o objeto direto as terminagdes se invertem, sendo acres- ‘centadas as formas -um (acusativo) € -us (nominativo) a ‘lup— e “uule— respectivamente, Uma vez que a forma dos substantivos é manipulada pela sintaxe por meio da regéncia, podemos afirmar que o caso constitui categoria flexional em ltim, ainda de acondo com o crtério empirico estabelecido em (i). (05) Lup—uidet uulg—(lobo, v8, pove) Lupus uidet wulgum (0 labo ¥é 0 povo) Lupum uidet uulgus (0 povo vé 0 lobo) Por esse primeiro critéio empitico, a flexto, por refletir a aplicagio de ‘uma regra gramatical, é acessada pela sintaxe. A derivagio, ao contririo, no manipulada pela sintaxe, uma vez que nenhum fendmeno sintatico obriga @ anexagao de afixos dessa natureza. Assim, se género € numero s4o Categorias flexionais pelo parimetro relevancia sintatica, 0 mesmo nko acontece, por exemplo, com 9 grau ‘Em portugués, substantivos podem apresentar-se nas formas aumentativa (‘carrao’), diminutiva (‘carrinho’) e neutra (‘carro’). A terminagao dos adjeti- Vos, no entanto, ndo ¢ determinada pela informagao contida na representagio_ morfolégica dos niicleos aos quais se subordinam. No exemplo em (06), a dimensio do controlador nfo é obrigatoriamente repassada para os alvos, uma vez que ‘xicrinha’ est4 diminutivo, mas seus adjuntos adnominais (‘linda’ ¢ “branca’) nao copiam essa informagao, j4 que nio se apresentam, necessaria- mente, no grau diminutivo. we en a (06) Depois tomamos ché numa linda xierinhalpranca de porcelana, va" elo exemplo em (06), podemos afirmar que hi uma diferenga crucial centre os afixos de género e grau em portugués: 0 ~a de feminino manifesta-se ‘em todo o dominio sintético do qual “xicrinha’ é nicleo, ao passo que © -inho de diminutivo s € veiculado no préprio substantivo, sendo opcional nos termos a ele subordinadbos. Pelo crtério relevaneia sintatiea, portanto, ser considerado deivaci ‘vez.que no constitu inf Asintaxe ou por ela manipulada, I aera asd eit calegornaadiclonnlmontecarcteriandas ‘como flexionais, ocritério ora em exame niio se mostra inteiramente adequado, VS =—_ © 16. tnicogte aoe eetden meteligkos ‘em virtude de nem todos os aspectos da morfologia flexional serem diretamente relevantes para a sinfaxe. Por exemplo, classes de conjugagdo e de declinagao, embora consideradas flexionais pelo proprio Anderson (1985)? independem. da atuagio de fatores sintiticos. De fato, nenhuma regra sintatica é acionada para estabelecer que um verbo como ‘tingie’pertence a terceira conjugagaio; na verdade, no hi contexto sintitico que determine a conjugagao (18, ou 3) de um verbo da lingua portuguesa. ‘ogais tematicas, embora relevantes morfologicamente, so invisiveis para a sintaxe &, por’ lo com Anderson (1982: 598), ‘num contesto sinttico apropriado. Nenhum morfdlogo ousaria afirmar que \ogais tematicas — legitimos representantes de uma morfologia mais “pura” (ou by itself nos termos de Aronoff, 1994), sem interago com a sintaxe ou com a fonologia — nao constituem unidades da flexao. VVoltemos ao latim clissico, Nessa lingua, os nomes pertenciam a uma determinada classe morfolégica, a partir da qual se declinavam os seis casos apresentados no quadro em (04). De um modo geral, as vogais tematicas eram responsiveis pela determinagao do grupo paradigmético a que pertencia onome latino, tendo sido as palavras terminadas por consoantes incluidas, como wma espécie de subgrupo, entre os substantivos que tém vogal fematica-i(Cardoso, 1989: 24). As cinco declinagdes do latim cléssico aparecem no quadro em (07), ‘a seguir. Observe que o reconhecimento da declinago é fundamental para a ‘expresso das categorias niimero e caso, uma vez que a forma dos nomes varia consideravelmente em cada grupo. 7 es deren entre aide w erty 17 Py Ea Scelookns cane one Como se vé, a vogal temitiea vem a ser um elemento morfol cexpande a raiz para a formagéo de um tema (Aronoff, 1994 25). O tema, bor sus vet Comsitu a bse para adjuneto dos afxoseionais (marcas de numero ¢ de caso). Se, por um lado, parece claro reconhecer a relevincia das vogais temiiticas para a morfologia flexional, por outro, é extremamente dificil ‘relaciond-las a sintaxe. Dessa forma, caso consideremos flexionais aspectos da morfologia que estio em conformidade com 0 eritério empiric explicitado em ( bito da flexdio. ‘No paradigma verbal do portugués, a rclevincia das vogais tematicas (vrs) mostra-se mais saliente no pretérito imperfeito do indicativo. Nesse tempo, é avr o elemento responsivel pela selego da marca flexional adequada ~ -va, para os verbos de primeira conjugago (‘andava’, ‘namoravamos’), ¢-ia, para os de segunda e terceira (“bebia’, ‘partiamos"). Formas como *bebeva, *parti- ‘vamos ou *andiam sao agramaticais em decorréncia da combinagio incorreta, centre tema e desinéncia: temas em -a levam ao uso de-va, enquanto temas em -e/-i requerem 0 acréscimo de -ia. Como a vr prepara o verbo para receber as terminagdes de tempo/modo/aspecto, ¢ inegavel seu papel no mecanismo da_ flexdo verbal. No entanto, 0 critério (i), ao levar em conta a relevancia sinté— tica, acaba por deixar as vogais temiticas & margem da morfologia flexional. ‘Oslogan a flexio é relevante para a sintaxe” também se mostra problema- tico na caracterizagao de determinados cliticos.* Em algumas linguas, cliticos. ‘aparece num contexto sintitico apropriado por relagdes de regéncia, podendo, pois, assumir diferentes formas, a depender de sua funcdo sintatica (ou caso). Cliticos pronominais, como, por exemplo, ‘me’, ‘se” e ‘nos’, assemetham-se As terminagdes verbais pelos seguintes motives: (a) formam uma classe fechada de elementos. Em outras palavras, ‘pronomes ¢ terminaedes verbais constituem um inventiio restrito elimitado de formas, sendo extremamente dificil ampliar 0 numero: de elementos que compem esses conjuntos; ), fatalmente teremos de excluir as vogais temiaticas do am- forma que terminagdes verbs, evam a distingDes de nimero (o/0s; Iherthes), de pessoa (me'se; nos'vos) e de caso (ie/mimy tet (©) ocorrem adjacentes aos verbos. Pronomes obliquos aparecem sempre contiguos aos hospedeiros de que dependem, nao havendo possibilidade de intecalagio de outros voedbulos, a exemplo do que ‘ocorre com as demais formas dependentes do portugués. De fato, & ppossivel separar o artigo “o' do substantivo ‘livro’(‘o grande livro’e “o levee interessante livro’), © que no acontece com os pronomies ‘obliquos, que nunca podem se separar do verbo ("*se perfetamente encontra’, ““encontrou rapidamente se’, “tele me muito magoow’). [No quaairo em (08), a seguir, exemplifica-se 0 comportamento dos pro- nomes de I* pessoa. Observe-se que hi distribuigao de formas a depender do ‘nimero e do caso, Anteriormente,frisamos que a categoria caso ¢ flexional por ser Teflexo de vinculos sintéticos entre constituintes de uma sentenea. Como se vé em (08) 2 do pronome varia conforme o caso, sendo, portanto, im- posta pela sintaxe, Resulta, dai, a agramaticalidade de construgdes como “*mim ‘machueou 0 joelho’, “*Jod0 deu o livro.a me’ e **ele encontrou mim no patio’. (08) ~ ‘i Para son (1997: 9), cliticos nao so itens lexicais, mas tragos aa eee No caso cliticos pronominais em (08), s80 as proprie -Configuracionais (re- ania) que levam a cistbuigo entre eu’, "mee mim’, reletindo o ito de ‘ais formas serem acessadas, nessa ordem, para exercer a fungo de sujeito (nominative), objet diet (acusatvo) e objet indireto (dative). x ae Dot eterancos entre Neroa« dervogoa 19 Apesar das iniimeras semelhangas ene cliticose flexdes, hd ‘enga crucial entre eles cltics equivalem a vocdbulosformais em (Sfattoso Camara J, 1970). Dito de outa manera, cliticos sto formas sols, ‘no funcionando, desse modo, como bem a esirutura morte e peas que compiem a-estrutura morfo- ) 16gica do verbo. ora formem, com seu hospedeiro, uma imica palavra fonoligica, cliticos apresentam mobilidade posicional. Ao contririo das flexes, cliticos | ‘nfo Tém posigto rigidamente fixa em relacio ao verbo , por isso MESMO, podem vir antes (‘Belirano se encontrou com ‘Fulano’), depois (‘Beltrano ‘encontrou-se com Fulano’) ou no interior da forma de que dependem (Beltrano encontrar-se-ia com Fulano’),classificando-se, assim, como pro- cliticos, encliticos e mesocliticos. Essa maleabilidade na o} litico ma partial eturlmenindependente do verbo mas submissaa. elon aque diz respeito ao acento, ~ Pelo crtério relevanciasintitica, tendemos a considerar que cliticos so cetiades flexion dad us manipulacdoplasintaxe ‘Como nio sio formas. irsas pola posi dade de interealsto ou de disungto (Monteiro, 1987: 13), eliicos constituem unidades si tieas minimas (Carstairs-MeCarthy, 1992) «por i880 mesmo, devem ser interpretados como palavras. ~~ Se levarmos o critério (i) as altimas consequéncias, cliticos serio agru- pados junio a afixos como -mos (que expressa nimerd € pessoa), Sendo onsiderados flexdes por sua acessibildade & sintaxe. Essa postura nfo seria problemitica se 0s cliticos no fossem formas soltas, que se diferenciam, pul iar amis oo Tonais do portuguts, que 56 se comportam como formas presas ¢ no apresentam mobilidade posicional, figurando sempre no mesmo da cadeia sintagmatic: reeTne As Toh or opal dame peso CES RTC @)\ liticos sio relevantes sintaticamente, mas, por serem formas solta, iferem de todas as flexdes do portugués e (b) vogais teméticas nao sio relevantes sintaticamente, mas devem ser consideradas flexes, dado seu importante el na manifestagdo de afixos relevantes para a sintaxe! 'Nos dois casos, 0 pardmetro (i) — apesar do incontestivel potencial de preditividade ~ nfo se mostra inteiramente adequado, pois exclui do imbito da flextio exatamente o que é considerado “morfologia pura” (Aronoff, 1994) ¢ esbarra no problema das fronteiras entre palavras e afixos. Além disso, Ka- tamba (1990: 125) ressalta que a relevancia sintatica nem sempre distingue de ado eicazo tipo de operago morfologica simplesmente porque ha situagdes dite ——————rrtttts—<“‘i—sOSOSOOO—~—~— ——— 120 init aor exidos motlipeos a ? s.selecdo de uma forma com | em que a boa formagdo sinttica requer a pré-selecdo de uma Fie devisacional. Tal fato nos leva a questionar, por exemplo, se apresenga | 7" Ge determinados sufixos ditos derivacionais, como 0 -mente formador de | * 40 advérbios a partir de adjetivos, nfo seria, até certo ponto, obrigatoria em |" | determinadss construgBes sintteas. E necessério, portant, recorer a outro" % aspecto diferenciador, 0 que seri feito no proximo item. * 2 eae tl) Meios de materializagao oe Recorrendo a nogdo de univocidade, segundo a qual hi retago de um- ;para-um entre unidades de expressio e unidades de conteid, ¢ possivel chegar 8 seguinte afirmagao, que corresponde ao segundo eritério empitico utilizado para distinguir flexao de derivagao: (ii) Unatixo éflexional seo significado que veicula manifesta-se apenas morfo- Jogicamente, Quando hi concorréncia de estratévias para exterivrizar deter~ minado contedido, 0 afixo deve ser analisado como derivacional Deum modo gera, o eritrio em (i) também alude a obrigatoriedade e, por sso, relaciona-se dretamente com o parimetro definido em (i).No entanto, essa obrigatoriedade nao deve ser analisada do ponto de vista sintético, pois no se faz qualquer referéncia « wm lugar na cadeia sintagmética que motive. Suede areal aaa oan ‘areas morfoligicas (Bybee, 1985: 17). To eritério estabelecido em (ii), o qual denominamos meios de materia lizagio, aiflexto beria uma espécie de “morfologia aprisionadora”, nos termos ‘de Goncalves (2001), uma vez que constitui vefeuTo nico na exteriorizagto de determinaddos contetdos. Aderivagio] a0 Contririo, por operar com significa dos atualizados por outra forma de expr io.amorfol6gica, pode ser { visla.como “morfologia libertiria”, ainda nas palavras de Gonealves (2001). Utilizando os critérios empiricos relevaincia sintitica c meias de mate- rializago, podemos entender melhor célebre dicotomia proposta pelo gram- tico latino Varro, que, antes mesmo da era cris (séc. I a.C.), ja diferenciava a declinatio naturalis da deelinatio voluntaria. A derivagao constitui a declinatio. ‘oluntaria por no funcionar como camisa de forga para o falante, que, livre dé 2. ¥ © conteido que pretende transmitr ao(s) seu(s) interlocutor(es). No caso da or diterencos entre labo «derivexse 21 worfolgicas mente — flexdio, a declinatio naturalis, nao ha livre-arbitrio: as mareas mi independem da vontade do falante, pois sio aciona fatores sintéticos ¢ nfo apresentam concorrentes. potenciais. Se, por um lado, 0s eritérios ora descritos frequentemente se sobrepdem, uma vez que contetidos sintaticamente relevantes tendem a ser veiculados por marcas morfolégicas que ndo rivalizam com outras formas de expressio, por outro, podem levar a agrupamentos contraditérios. Vejamos, em primeiro Jugar, casos em que os dois parimetros convergem para ummesmo diagnéstico acerca do estatuto morfoldgico de afixos do portugués. O critério meios de materializaco nos autoriza afirmar que sufixo ~~ -issimo €de natureza derivacional, pois o conteado que veicula, “intensidade”,| ‘io se manifesta somente por esse afixo, Em portugues, varios formativos| expressam esse significado e, por isso mesmo, ofilante nao precisa recorrer a -issimo para intensificar wm adjetivo como ‘linda’, por exemplo: pode utilizar prefixos (‘super-linda’, ‘hiper-linda’, ‘ultra-linda’) ou outros sufixos superlati-) vos (‘lindésima’, ‘lindinha’,‘lindona’ ‘lindérrima” ow mesmo “linderérrima’),| Como se v8, a opgio pelo sufixo -issimo depende exclusivamente do falante, ‘uma vez que, na lingua, (a) hi outros afixos que remetem a0 conteddo expresso. por -issimo e (b) (ido Tid Confexto sintatico que determine seu us6.] pr..hiu! A existéncia de prefixos e sufixos supetlativos pode sugerir, em principio, que a intensificaglo, ainda que veiculada por varios afixos, tem expresso ‘morfol6gica em portugués e, portanto, a morfologia seria soberana na mani fastagio desse conteiido, No entanto, hi estratégias fonologicas e sintiticas, jue concorrem com as morfoldgicas para intensificar um adjetivo como ‘linda’ (Gongalves, 2002), o que evidencia em (a) a opcionalidade da afixagao e, con- ‘sequentemente, em (b) 0 carter derivacional de prefixos e sufixos superlatives. De fato, pode-se expressar intensidade por meio de estratégias linguisti- ‘cas bem variadas, Por exemplo, alongamentos excessivos na silaba tonica s termo que se quer en var & expressioo da intensidade (09), da mesma forma que sua escanso em silabas (10) Nos dois caso, tem-se 0 us0 deestratégias fonologicas para expressar 0 mesmo conteiido que, em principio, poderia ser materializado como acréscimo de sufixos como -issimo, -ésimo ou -érrimo, Os exemplos em: it, evidenciam que o falante também pode langar milo de estratégias sintéticas para intensificar 0 adjetivo ‘linda’, [No primeiro cas0, a intensificagao é assegurada pela presenga de um advérbio 22 nidagee eos eundes morales ‘muito’, ‘demais’, imensamente’, ‘pacas’); no segundo, faz-se uso de uma simile (comparag20), engatilhada pelo conectivo ‘como’ (09) Beltrano agora é papai de uma menina hiiiindal (10) Achei a blusa que Sierana comprou linda (11) Aiba do Fulano & muito lindalinda demais/imensamentelinda/linds pacas. (12) A Gb da Beltrana 6 linda como un bebé de evista Em suma, se 0 falante pode se valer de estratépias variadas para expres- sar 0 significado de -issimo, esse afixo niio deve ser considerado flexional pelo critério empirico (i), uma vez que a morfologia nto € o iinico meio cde manifestagdo de seu conteiido, O mesmo raciocinio € valido para o sufixo de ‘perera’e para oprefixo de ‘refazer’,cujos significados ~“érvore que produz, x" “x novamente/de novo” — podem ser expressos sintaticamente, como se vvé em (13) ¢ (14), nessa ordem: (13) Deixei a mochila pero daqucla pereica Deixei a mochilaperto daguela jdrvore que dé pera eel Undine * eo ms Di ww (14) © professor pediu para Fulano pefazer 0 trabalho (0 professor pediu para Fulano fazer 0 trabalho {ea denovo loutra vez ‘ Diferente acontece com o contetido “presente do indicativo — 1* \y_ | do singular®. Nesse caso, serd acionada a marca -o todas as veres que houver rngeessidade de expressar e38a pessoa gramatical no tempo em questo. Nio ‘hd, na lingua, outro modo de veicular essa nogdo e, por isso, a morfologia é soberana na tarefa de materializar tal contetido. Semelhante fato acontece ‘com a ideia de plural: ndo ha como escapar do uso de marcas morfolégicas para exteriorizar essa nogao, pois ndo existe concorréncia de estratégias (Piza, 2001). O significado “plural” se manifesta exclusivamente pelo aeréscimo do sufixo-s (ou de suas variantes), nfo havendo, em portugués, outras estratégias — sintiticas, fonol6gicas ou mesmo morfolégicas* —que possam concorrer coma. 2» es dlerenat entre nde ederivageo 23 adjungo do afixo, Dessa maneira, tanto a marca de I* pessoa do presente quanto ade mimero devem ser analisadas como fle» is pelo critério empirico (ii). Em todos 98 casos comentados, os critérios (i) ¢ (ii) conduzem a agru- pamentos idénticos e, portanto,caracterizam da mesma maneira os aixos até entio analisados. De fato, 0 mimero e a pessoa, que constituem informagies relevantes sintaticamente, apresentam manifestagio exelusivamente morfo- Iégica, enquanto a intensidade, que nao ¢ ace | a sintaxe, admite variadas formas de expressio, Em outras palavras, o critério meios de materializagio. tende a ratificar 0 diagnéstico do parime fi Z ddo-orainda mais: categorias flexionais, além de manipuladas nas operagBes_| Sinticas, costumamn apresentar uma tinica forma de manifestago na lingua — a morfolds ‘Apesar de produtivo, o pariimetro nao estd isento de problemas. De acordo com esse eritrio, no ha possibilidade de variagfo formal para expressar as ‘categorias gramaticais, uma vez que a marca morfologica nto pode ser substi- tuida sem que se altere toda a construgdo, Ha casos, no entanto, que evidenciam no serem os critérios relevancia sintatica © meios de materializacao ple- namente coerentes, pois afixos relevantes para a sintaxe podem rivalizar com outras estratégias de manifestag2o e ser substituidos sem grandes alteragies na estruturagao sintdtica, Analisemos um caso. Por ser uma dimensio obrigatéria para a classe dos verbos, o tempo & considerado categoria gramatical em portugués, Como propriedades inerentes da palavra morfossintatica (Anderson, 1982), as marcas morfologicas de tem- po caracterizam-se como flexionais pelo pardmetro relevdncia sintitica. O critério meios de materializagio, no entanto, pode conduzir a uma cate- gorizagtio diferente. Vejamos a situagao do futuro do presente. Para expressar | ssa informagao gramatical, formas simples (‘andarei’e ‘venderei com peri ‘ow andar” ¢“irei vender") ou mesmo com a tempo (‘ando amanha’ e “vendo mais tarde"). Como se vé, i dade de esco- | Thine, por sso, ofalante nfo é necessariamente obrigado a usar as desinéncias de ituro (ra ee) 0 que nos leva. carateriz-ls como dervacioais. ‘Exemplos como esses demonstra que a decli ane indica, a naturalidade da flexfio se mostra mais. ccordncia, como numero e pessoa, No caso das propriedades inerentes, como {que nfo slo impostas pela posigdo estrutur da pela jsnioctiona- <= 24 inking cos entades morflégins ‘palavra, nem pelas propriedades de outras palavras na estrutura (Anderson, 1983: 172), a selegio das marcas morfol6gicas pode depender da vontade do falante e apresentar concorrentes potenciais. Nesses casos, o status flexional pode ser posto em xeque, em decorréncia da no obrigatoriedade. Com efeito, (© critério empirico (ii) nem sempre € consistente com o eritério (i). Se, por ‘um lado, reforga a previsio do primeiro parimetro, por outro, pelo menos relativiza seu poder preditivo ‘Como determinados afixos sio considerados flexionais pelo critério re- levancia sintitica e derivacionais pelo critério meios de materializago, hi necessidade de verificar a atuagao de outros aspectos diferenciadores. Partindo do pressuposto de que o impasse criado pelos dois primeiros pardmetros pode ser resolvido, tentemos solucionar a questo, observando, a seguir, a aplica- bilidade das duas morfologias. Aplicabilidade critério empirico (iii) faz referencia a aplicabilidade das operagdes morfolégicas e pode ser descrito nos seguintes termos: Ge es ee eet acacia eee ee oe nies ecco aera ‘Ao critério (ii), subjaz-a ideia de que os paradigmas da flexio apresentam. comportamento bastante diferente dos paradigmas da derivagao.* Vistos como pamentos de formas com uma base comum (Bybee, 1985), paradi fed ec la cigs cetera ete lag6es possiveis entre membros de_determinada classe morfossintética. Por exemplo, nomes referentes a seres animados geralmente apresentam quatro formas: masculino singular, feminino singular, masculino plural e feminino plural (15), Verbos regulares podem formar paradigmas que abrigam mais de ‘quarenta formas (16) (13) menino ~ menina ~ meninos ~meninas (16) cantar —canto ~cantou -cantava ~cantéssemos~cantars ~ cantando ~cantes— ‘ante ~ cantar ~canti ~cantamos ~cantasses~cantado ~cantaste~can- ‘ore ~cantayam — cantara eantariamos-—cantardes ~ cantara~canternos(..) es dlerancas entre Nexto dervaxto. 25 Na flexio, hi um paralclismo mais rigido entre as formas do paradigma, existindo, em consequéncia, poucos casos excepcionsis ou anémalos. A de- rivagdo forma paradigmas néo necessariamente coesos porque tende a apre- ~ igdes de aplicabilidade, ou seja, pode ser marcada pela presenga obedecem a uma pauta sistemdtica e obrigatéria para toda wma classe ho- ‘mogénea do léxico. Em outros termos, uma derivacao pode aparecer para um + dado vocdbulo e faltar para um vocdbulo congénere, no constituindo quadro regular, coerente ¢ preciso. Em summa, a existéncia de bases disponiveis nao ‘necessariamente legitima a ocorréncia de formas, jé que a derivagao nio é to previsivel quanto aflexao. 'Nos paradigmas derivacionais, encontram-se numerosas células vazias (lacunas), o que nto acontece nos flexionais, que tendem a ser mais padroniza- ‘dos: so conjuntos completos ou fechados, altamente previsiveis, com pequeno contingente de casos excepcionais. A completude dos paradigmas flexionais se explica por dois fatores, fundamentalmente: (a) o alto grau de generalidade S marcas morfoldgicas e (b)ia coerencia de seus significados. ) ‘Afixos flexionais so altamente produtivos,’ tendo aplicabilidade quase absoluta, Os derivacionais, ao contrrio, tendem a ser semiprodutivos, porno“ ‘obedecer a uma sistematizagio obrigatéria. Como lembra Katamba (1990), nenhum afixo é tio geral que afete, sem exces, todas as bases a que podria se adjungir. No entanto, como estamos lidando com uma questo de grau, & ‘possivel mensurar em que escala elementos morfol6gicos se aplicam. Vejamos como esse critério se operacionaliza na pritica. Todo verbo, por mais recente que seja na lingua, admite a informagiio de pretérito imperfeito do indicativo, nfo havendo, em decorréncia, restrigdes & ‘sua aplicabilidade, isto 6, 0 elemento modo-tempo-aspectual, -va, éadjungido ‘a todas as formas verbais do portugués. Nao soam estranhas formas como “deletava’, “imeiava' e ‘downloudava’, apesar de os verbos terem ingresso tivamente recente e serem emprestados do inglés. Pelo critério aplicabilid: para polenta aso depsnivinpera doin de hatureza flexional em portugués. Raciocinio semelhante pode ser encami- nihado as demais formas que expressam tempo, modo ¢ aspecto, nos verbos, ¢4 marca de nimero, nos nomes. ‘No esquema a seguir, exemplifica-se o comportamento do neologismo “imeiar’ (“corresponder-se via e-mail”) nas dimensdes em que um verbo do _" ©. 26 inidagso oor etudos martlogos portugués pode variar, Observa-se que a simples existéncia da forma infinitiva legitima a ocorréncia (a) das formas nominais de gertindio e partiefpio passado (b) de variages em niimero-pessoa (xP) e modo-tempo-aspecto (MTA). AS reticéncias indicam que a lista nfo é exaustiva, sendo altamente previsivel 1 criagio de outras tantas formas. Como se pode observar em (17), ndo ha an “IMEIAR NP MTA Formas Nominais imeiva imeia imeiavam imeiasse oy (cs) [Nos processos derivaciona sas vazias, predominando a idiossincrasia. Por exemplo, o prefixo des- pode ser anexado a bases verbais, expressando a ideia de “reversibilidade”, como ‘contece em “desfazer’,‘deseasar’e ‘desmontar’, entre tantos outros, O con- tetido do prefixo o impede de adquirir status flexional, dada a impossibilidade ‘de aplicagdo a toda equalquer base verbal, Somente um pequeno conjunto de for- ‘mas écompativel com o significado desseformativo, havendo, em decorréncia, Bo vebos da pmol cohna pemifea a por expressar apdes irreversiveis, nfo admitem. 5 os diterencas entra Nexto derivaxdo 27 Os dados em (18) evidenciam que a existéncia de células vazias fortuita. Uma primeira justificativa etude da derivagdo esta na cespecificidade de seus significados: 0 tae -veiculado pelos afixos deriva~ cionais ndo é geral o suficiente para se aplicar em Targa escala. ~~ Analisemos outro caso, Para eas -s de agentes a partir de verbos, podemos utilizar, dentre outros, o sufi /eomo acontece em “trabalha- ~ dor’, ‘vendedor’e “ligador’, esta tltima Apesar de extremamente produtivo, esse sufixo nto se aplica macigamente “= ‘29s dados devido ao bloqueio (Aronoff, 1976). A alta relevancia da nogio de ‘agente para o contetido expresso nos verbos cria combinagdes de significado {jd veiculadas por uma palavra. Nos exemplos a seguir, as bases da segunda coluna apresentam condigées ideais para a sufixagdo de ~dor, mas © produto ndio existe — pelo menos com o significado esperado’ — porque ja ha outra forma em seu Tugar (as que figuram entre parénteses). (09) matarimatador A ar/com estudar/*estudador (aluno) Laredo. fe -disigir*ditigidor(motorista) atiranatirador ‘ensinar/*ensinador (professor) ‘Qsdados em (19) revelam que determinados afixos encontram restrigoes de aplicabilidade pelo simples fato de 0 Kéxico dispor de itens que veiculamo = conteiido resultante de sua combinagio com uma base. Em outras palavras, a nnogio que poderia ser expressa morfologicamente jé se encontra lexicalmente —— representada na lingua, Por exemplo, nio hia necessidade de se eriar a forma ‘toubador’ para expressar “aquele que rouba”, ja que 0 léxico do portugués apresenta a palavra ‘ladrio’ com esse mesmo significado. Como se vé, a ndo aplicabilidade absoluta dos afixos derivacionais se justfica por quest®es de natureza variada. Em alguns processos, no entanto, ‘a falta de aplicagao aparentemente nao tem causa. Vejamos um exemplo. (0 sufixo -udo é utilizado para expressar intensidade pejorativa ¢ pode ‘ser anexado a substantivos que fazem referéncia a partes do corpo humano, ‘Yeiculando 0 significado “avantajado de”, como ocorre com as palayras da i coluna de (20), a seguir. No entanto, nem todos os substantivos que m o corpo visivel so uniformemente sufixados por -udo. As lacunas, elias) shatents.e} por isto, podemos dizer que os produtos nieak ‘bem recente na lingua. fas 28 Ines oo eras morales x as evens one nto derivso 29 a reccherosufino -memt. As poucas excegdes, como ‘bom ma’ ae n80 apresentam correspondents em -memte (ck, *boamente e *mamente), podem ser analisadas pelo supletivismo,"* Se aceitarmos essa interpretagao, “bem” & “mal” seriam formas supletivas de “bom’ e ‘mau’, da mesma forma que ‘¢’, 201 peitofpeimdo = uinbi/*unudo, 0) wy barrigabarrigudo es oe | “sou” € “fui’ sio tomadas com raizes supletivas do verbo ‘ser’ an nt 2 ‘Como hi poucas testrigdes & aplicabilidade de -mente (por exemplo, 4“ cabelocabelodo caleanharealeanharudo adjavek par wiibagiaiine Coal eee ial “* z 1 crtéro (ii). O alto grau de generalidade desse formative faz com que se Rag tter tae adie ea una de (20). pel ; ese cea cnc jourcaigoes acl Genoa tal axe wu sande vrsdde de ass (Span, 1999). que torm si pi Sore rroertisretetocis ‘carted ‘oma? Aparton ucla ue fu “tila aM so potetnehnli clue comm mes (Ge poem) calcanhar avantajado ou o ombro grande demais. As palavras a diteita, apesar we oS een ams een ea ppl. x x trovejou x x x arget Trovjucice Pastel Adefectividade ilustrada em (22) se justifica pelo mesmo fator que deter- mina a incompletude dos paradigmas derivaionas: incompatibilidade semiintica. Como tais verbos expressam um fendmeno natural, seu significado nao € compativel com o de marcas morfolégicas que pressupdem um sujeito. Dessa maneira, afixos de mimero/pessoa apresentam restrigées de aplicabi- lidade e, por isso, distanciam-se do que vem a ser estipulado como flexional pelo eritério empirico (i), parimetro examinado neste item, “Aplicabilidade”, faz: previsdes conflitantes em relagio aos dois primeiros,infirmando algumas das projegGes obi atenrnente,E neces, portant, ecome ou ries ‘mos diferenciara flexio da derivagdo a partir da natureza de seus significados, o que é feito a seguir. or dierencas entre endo « derivocee 31 Estabilidade semantica O ceritério empirico expresso em (iv) avalia os significados dos afixos € propa haver diferengas entre flexio ¢ derivagao a partir da (im)possibilidade de extensdes semanticas: (iv) _Affestaésemanticamente mas regular que derivago, Dito de outra manera, 1 coeténcia semsntica nas operagdesflexionals, 0 que pode no acontecer as derivaconais. 0 critério (iv) analisa o conteiido dos elementos morfologicos ¢ faz um: interessante previsio a respeito dos afixos flexionais: eles nao admitem variabi-_\, Tidade semantica, isto €, levam sempre a0 mesmo significado. Os derivacionai ‘40 contririo, nfo se mostram to everentes do ponto de vista semintico, pois seus Fipilficadoe podem varier de uma pelavra pera outra, Deacordo com (iv), os afixos flexionais veiculam significados precisos ¢ uni- formes. Os derivacionais, diferentemente, veiculam contetidos mais dificeis de precisar e quase sempre sio caracterizados por desvios de signifieagaio em

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