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4,1 Para inicio de conversa Muito frequentemente, palavras siio criadas n; a linguagem cientifica para cunhar novas descobertas, como, Por exemplo, ‘pré-sal’, que de- 'S posicionadas abaixo de uma profunda camada de sal. Também na linguagem do dia a dia, novas palavras acabam se popularizando, por exemplo, a partir de miisicas, como é 0 caso da recente ‘sextou’, usada em referéncia ao final de semana que esté comegando, cantada no forré “Pegacdio sextou’, de Israel Novaes e Wesley Safadao: signa uma area de reservas petrolifera: (126) Gracas a Deus acabou 0 expedient!!! Sextou agora viu!! Sextou! Hoje tem farra!! Nos iltimos tempos, a rede mundial de computadores, sobretudo a Partir das redes sociais, constitui fonte de disseminagao de indmeras formagées totalmente inéditas, como os seguintes verbos criados a Partir de termos do inglés: indivic latonis- (127) crushar — nutrir paixdo pequena, em que o laa sare dep tno romantic (do inl cus, “paiao sb) tuitar— publicar em um microblogue; posta em es ra gugar— pesquisar no site de buscas mals fanos a bugar— parar de funcionar; dar defelto (do ingh bd, muitas vezes ndo nos Ci 4 a ineira que “lar palavras novas é tarefa tao rotineira 4 despertam. Do mesmo . os Mos conta da sensago de novidade quem 123 Digitalizado com CamScanner MORFOLOGIA + Cals Fesene Gon 3 ae fa 12 dificamos os significados das j4 existentes, imprimin, thy modo, modi os, muitas vezes bem diferentes do seu sentido origina}, an 7 novos empr e incipalmente para os mals jovens, pessoa OU aconte ae to egal maneiro’, “impressionante”. x: O filme de foio melhor que eu ja vi! Foi sinistro! Iho — 1. objeto, treco, trogo; coisas indefinidas (ex.: passa esse i a gulho al). 2, Maconha (pegaram Fulano com 0 bagulho ng boca, pronto pra acender). : — arrasar, mandar bem ou ter sucesso (ex.:lacrei ontem na po. va de portugués). cimen. ontem lacrar Guimaraes Rosa, escritor brasileiro muito conhecido por sua enorme sen. sibilidade linguistica, assim alude a questo das novas formagdes lexicais; (..) JA outro, contudo, respeitavel, é o caso —enfim—de''hipotréy. co’ motivo e base desta fabrica diversa, e que vem do bom portugues 0 bom portugués, homem de bem e muitissimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades intimas, Se é tao comum encontrarmos novos itens lexicais, quais so as mo- tiva¢des para que os criemos? Por que empregamos palavras total- mente inéditas na linguagem contemporanea e na maioria das vezes nos damos conta disso? 4.2 Motivagées da criagdo lexical Quando o falante cria ou emprega uma palavra morfologicamente complexa, hd, subjacente ao ato, motivagao de diversas ordens. Basi- lio (1987) sustenta que a utilizagao e a criacdio de construgées mor- foldgicas esto relacionadas aos seguintes fatores: (i) necessidade de nomeagao; (ii) adequagao ao contexto sintatico; Gil) intengdes do usuario da lingua, Digitalizado com CamScanner 421 Fungo de rotulacéo “qpropriar das palavras originais D sem dar a elas, é claro, feigéio fonolégica pré a calves, 2016: 12). Esse & 0 caso do: mprieing listados, todos oriundos do inglés; (129) shopping nerd botox impeachment flex drink a 7 n ; nal windsurf piercing peeling marketing Orapido e surpreendente avango na drea da tecnologia da informa- ¢40, sobretudo na informatica, fez que com a difusao desses conhe- cimentos se desse linguisticamente: importamos, com as “coisas”, também as correspondentes denominagées atribufdas na lingua de origem (0 inglés): (130) backup — arquivo que é cépia de seguranga de outro boot — — operaco que inicializa o funcionamento hacker — “pirata” digital site — pagina na Internet (homepages) scanner — dispositivo para cépia de documentos Embora a maioria esmagadora dos empréstimos recentes venha do inglés, nao se pode esquecer a contribuicao do japonés em ramos como esporte (‘quimono,, ‘jiu-jftsu, ‘sum6’), culinaria (‘tofu ‘sushi, ‘temaki’, ‘wasabe’, ‘tempuré’) ¢ animagao digital (‘anime, ‘mangé, ‘hentai’). Mais esporddicas sao, nos dias de hoje, adogoes lexicals muito embora 0 léxico do portugués apre- Jiano (‘pizza’), do ara- r apenas algumas. Vindas de outras Iinguas, i Sente contribuigdes do francés (‘buqué’), do ital be (acaftao') e do hebraico (‘aleluia’), para cita éstimos, Afuncs oo. A enas nos emprés' fungao de rotulacéo nao se manifesta aP cunhamos Novas « oe trario, “M0 pode parecer a primeira vista. Ao con 125) fo OMEKFO De PrLAVARS Digitalizado com CamScanner 126 MOROLOGIA * Calo Alexante Gon. hey jo uso do vernaculo e de recursos espectalments também somos bastante originais e Criativos ‘Aemergéncia de palavras complexas criades 2 coe com Padroes dutivos corresponde aos chamados neologismos erivacionats, produt lo desse expediente sd0 as recentes formagées em -landig de RENEE respondem, hoje, principalmente pela nomeagiio de lo. cais de aglomeragao: experiéncias fazend! usados para esse fim: lugar em que evangélicos se rede para realizar cultg lugar/reunio de nordestinos, chamados de “paratbagr no Rl ; / viadoldndia lugar de encontro de homossexuais masculinos patolindia lugar em que os “patos” (manifestantes que se valerarn um pato inflével) se retinem com fins politicos (131) eristolandia paraibolandia ‘As formas em (131) fazem referéncia mais a locais de concentragio que a dreas que possam ser delimitadas, seja em termos de extensio territorial (como em um mapa), seja em termos de metro quadrado (edificacao), como os nomes de lugar (‘Ceilandia’, cidade-satélite de Brasilia) e de lojas comerciais (‘sushilandia’). De fato, palavras re- cém-criadas, como ‘macholandia’ (“lugar de grande concentragaio de homens para jogar, beber e se divertir’) e ‘bostoldndia’ (“lugar em que esgotos correm a céu aberto”), nado evocam um local que possa ser efetivamente mapeado, pois esse espaco nao é mensuravel, ou seja, no é necessariamente circunscrito. Evidéncia disso é 0 fato de ndo existir apenas uma ‘cracolandia, como ha apenas uma ‘Islandia’ ou ‘Cinelandia’ (pontualmente localizaveis no espago): o nome reme- tea diversos lugares em que se concentram usuarios de crack e esses locais, em fungdo da ilicitude da pratica, mudam constantemente. 4.2.2 Funcao de mudanca categorial A fungéo de mudanga categorial esta relacionada a necessidade de empregar palavra de determinada classe em ambiente sintatico que requer classe diferente. Por exemplo, a forma ‘bandejar’, cunha- da pelos estudantes Uuniversitdrios, vale-se do acréscimo da termi- tna made ae om nominal ‘bandeja’, levando, dessa forma, 4 2 categorial, ou seja, a partir de um nome formous? Digitalizado com CamScanner 4o, usada para se referir ao ato de ‘gcosamente, sem mas intenggeg” Em outras ya 0 sentido de ‘zoar’ a situagdes em que soarras gubstantivo. Tal processo Permite ao falante one Pelo emprego do sobrecarregar a meméria, além, 6 claro, de ema termos sem perifrastica para expressar o mesmo Contetido do vet de uma forma ‘Assim, a fungdo de mudanga de “ Tbo em. questo, mpl a ; classe Possibilita adequacao sint4 tica e manifestaco de novos Significados a Partir ie : de pro formagao em que base e produto diferem na especifcacao categoria ial. tirar sarro de a 'Z0acdo’ adé- Como processos de formagao nem sem, mudanga de classe, conclui-se que a fur ngo é a principal motivacao para se criarem (novas) construgdes morfologicamente complexas. A Prefixacdo é um caso tipico de me- canismo que nao altera a natureza categorial da base, como no hi- potético exemplo em (132), no qual o formativo in- nao impde mu- danga morfossintatica, respondendo apenas pela expressdo de um contetido negativo (fungdo semantica); ingao de mudanga categorial (132) 0 texto é inadequado, impréprio, impertinente, ineficaz e simplesmen- te insignificante; um desservigo para a érea. Basilio (1987) observa que a fungdo discursiva se subdivide em dois tipos: (a) fungao subjetiva (também chamada atitudinal); (b) fungao textual. 4.2.3 Funcdo atitudinal - te ex: A funeao atitudinal caracteriza-se pela necessidade de o falante Pressar carga emocional variada a partir do uso Ss eed a "6gicos, ou seja, de acrescentar contetidos subjetivos a uma 10 tipico Xical neutra, como em ‘desservigo, acima, em (132)- a opvesa a demorfologia avaliativa é a gradacdo afixal, com a qual atitude do falante (daf o nome atitudinal). 197 tow (FO be pruswans, Digitalizado com CamScanner MOWOLOGH * COHO5 Reng ‘al, 128 Gongalves (2016), afixos de — podem enol, . Como observa Goris, ternura, amor, simpatia/empatia, y;, 50. manifestagao de een éocaso da modificagao de antrope, mente para com Pee ‘Soninha’) & hipocoristicos (‘Lecar bm, nimos ( ue ‘Betinha para Bete’ de Elisabete'), mas tang on eee seres animados (‘Iedozito, para ‘ledo’). De acon. iminutivo “pode ser a expressa a ea aan Con ar cones ——e defeonant ina nho; J Seana Por outro lado, “pode cad id Feanbestasea de desprezo (livreco, velhote)’, ou, ainda, “a designagt mises de poy. co valor ou de pouca importancia (namorico) ou formas de tratamen. to depreciativo (gentalha, povinho)”. Bsses exemplos demonstram as possibilidades de carga emocional variada nos afixos a) grau, que podem ser usados com caracteristicas afetivas, eee também Podem ser pejorativos, como se vé nos exemplos a seguir, extrafdos de Gon. calves et alii (2010: 151): (133) Abelardo é resmungao, reclamao e, ainda por cima, bocio... Come a bega, (0 Rogerinho ¢ pido demais... Mé fildo... Vive me pedindo cigarrol ! Nao gosto desse tipo muito entrao. | Em todos os exemplos de (133), hé fungao de alteragao categorial, pois se parte de um verbo para formar um substantivo, Associadaa essa fungao, est4 a expresso do ponto de vista do falante, que con- sidera excessiva, pelo praticante, a ago especificada na base. 0 teor negativo é da construcao como um todo, pois a base nem sempre é depreciativa (p. ex., nao hd nada de mal em ‘entrar’ e ‘pedir’; a nega- tividade vem da habitualidade dessas préticas), Dados como ‘babi0, ‘olhao’ e ‘reclamio’ esto relacionados A estereotipia, ou seja, a inensidade, atualizada na construco pelo aspecto iterativo, que imprime as formas XV-do caréter nitidanne iativo (Souza & Goncalves, 2018: 157), ae cece (8 Exemplo recente de construgao Morfol6gica avaliativa é X-iane, e” doe Predominantemente em ambiente virtual. A partir dos da oS relacionados em (134), todos extraidos de Andrade & Rondinin! Digitalizado com CamScanner 2016), constata-se que a Particula - ages adjetivas para formar 4M adjetivo aval dade OU qualidade a entidade Teferida, ji Wspre20 ou qualquer outra avaliacao PF lane se ay igrega Prioritariamente ‘tivo, ao atribuir pro- ‘enotando, s negativa, » Sobretudo, a (134) escrotine——_falsiane 0 a sonsia baleiane ——cretiniane . . ordiz Putiane —-Serlane cadeliane i ito em (135), a seguir j No depoiment guir, igual ‘i gondinini (2016: 142), observa.se oefeto dessa te Andrade € 0 efeito de senti - , ; sentido desencadea- go pelas formas X-iane e “a estreita relacdo que essas construgées es- tabelecem com o discurso, por exercerem, sobretudo, fungéo pragmati f whe 5 Au. ", ati- qa’, contribuindo nao s6 “para o aumento do ‘grau de informatividade, como também deixar claro o julgamento do /falante perante 3” (andrade & Rondinini, 2016: 126). ane (135) “Muito se fala na falsiane, aquela que é falsa que esté a sua volta, Mas poucos falam sobre a biscatiane, aquela garota escrota que da em cima do seu parceiro...” Emresumo, a fungao expressiva de avaliacao revela tudo 0 que passa pelo julgamento do falante-emissor, daf Goncalves (2016) utilizar 0 termo atitudinal para denominar essa faceta das construgées mor- folégicas complexas. 4.2.4 Fungdo textual Como aponta Basilio (1987), nos processos morfolégicos com mu- danga de classe geralmente esto em jogo duas fungées: ade ade- quago sintatica e a textual. A funcdo textual manifesta-se em si- tuagdes como as seguintes, entre outras igualmente relevantes no nivel da elaboracdo/progressao do texto: impessoalizago, paras ® coesao. Os exemplos a seguir ilustram, nesta ordem, 0s Pi tos acima mencionados: ia is (Rodrigues, (136) Técnicos afirmam que poltronas do avido so recuperavels ( 1993: 143). se a pessoa esté com rndica, quando assoprado, ces ‘me bel’, “al (137) 0 pequeno aparelho i a ites OF mau halito. O beijometro ver a assem: a3) vez’, “ariscado" e “nunca” (Goncalves, 3 ‘OREO De pruavaAS Digitalizado com CamScanner MORFOLOGIA * Cates Plexaadte Gopi, 130 Ae 1A alegagdo, no entanto, ns ustificar a aula. A al Nig eral to foi apresentado nenhum atestado médicg 2018: 162). ou 1 ore (Souza & Goncalves, do adjetivo X-vel, 0 redator se Guu de espectfcar Como cae riedades que, com 0 verbo, seriam obrigatérias, ene ren a ea informagao de tempo/modo. A mudanga ee e os ara adjetivo, constitui, portanto, importante es. tégia argumentativa, pois impessoaliza 0 ee No exemplo eae finicional e didatica, uma vez que 0 ob. 4 uma pardfrase de na vez.que 0.0 aoe P roduto da maneira mais precisa jeti é entar 0 novo Pp! jetivo do texto é aprest ° a possivel, de modo a facilitar 0 entendimento do contetido: apresen- ta-se primeiramente a definigao ou a explicagao e, em seguida, 0 Le mo que nomeia o produto: ‘Beijémetro. No ane) exemplo, anomi- nalizacao é utilizada como estratégia de coesao, por ligar elementos constituintes do texto com a finalidade de evitar, por exemplo, re- dundancia argumentativa pela repetic’o desnecessaria de palavras, 4.2.5 FungGo indexical Podemos propor, ainda, uma tiltima fungdo para as palavras comple- xas: a indexical. De acordo com Gongalves (2003: 87), é analisada como indexical “a capacidade de uma forma veicular informagées relevantes acerca de estilos vocais especfficos’, Ressalta, ainda, que “determinadas estratégias podem funcionar como uma espécie de ‘sis- tema de sinalizagdo, revelando o perfil sociolinguistic do usudrio’. Si- nalizam grupos de falantes — e, portanto, permitem que seja tragada uma espécie de perfil sociocultural dos usuarios — processos como os seguintes: (a) _ superlativos X-érrimo e X-ésimo, como ‘chiquérrimo’ e ‘elegan- tésimo, séo de uso abundante na fala feminina e na fala gay estereotipada, sendo, por isso mesmo, de algum modo associa- das ao feminino (Gongalves, 2002); (b) truncamentos, tur como ‘churras’ (por ‘churrasco’), ‘niver’ (por ‘aniversario’ ') €“(de) prima’ (por ‘de primeira’), esto vincula- dos a faixas etdrias mais jovens, especialmente adolescentes (Santos, 2002); Digitalizado com CamScanner @ formagoes jocosas X-ivis, o, para evitar formas terminadas ‘nu’ etc.), como se observa ha tn U ('caj i . Porta, es soteropolitano; “Quem gosta olha para o céu pro sta de in pambivis ena here ent? Wubi, tem uma coe I i ‘ora de tomar ‘odo uma casa feita de im xampivis. Ha g nivis, nao di um xampivis. Ha um estado brasileiro intei is, nao dispensa rebivis. Ta curioso? Mauricio inteiro assim, Kul quadro Me Leva Brasil, Mas oh Mostra esse vis” (http://g1.globo. com/fantasti : tasti noticia/2016/09/me-leva-brasis s/o bral/ 9/20 -vai-estado-onde-tem- -de-cajivis e-casa-de-bambivis.html, Acesso em: time (gd) aumentativos X-Go e X-ago sao abundantes na fala de héteros i o sexo masculino (Vi ii, vezes se oo one cea es gio’ (ou ‘jogaco’), ‘cansadao’ (‘ O uso de construres como jo- aie cagles cansadaco’)mortao’ (‘mortaco’); (e) reduplicagées como ‘bebelo’ ‘dedera’ e ‘cocoto’ caracterizam 0 baby-talk (linguagem utilizada na comunicagao com criangas, na tentativa de reproduzir a fala infantil) e, por questdes cul- turais, acabam sendo mais associadas A fala de mulheres e de criancas pequenas (Gonsalves & Vialli, 2015); (f) diminutivos ternurentos, como ‘cabelinho’, ‘beicinho’ e ‘bra- cinho’, so tipicamente femininos e infantis (Candido, 2017). Esse emprego carinhoso do diminutivo é regularmente usado por criangas e para com elas — “seres pequenos, objeto pre- ferencial e sujeito do carinho humano” (Soares da Silva, 2006: 215). Formam-se assim, os chamados diminutiva puerilia, criados para designar “tudo 0 que tem aver com 0 seu mundo, povoado de objetos de dimensdo idéntica 4 sua ou diminutiviza- ‘oares da Silva, 2006: 216). dos e revestidos dos seus afetos’ (S a (nao) escolha da expressao de um sinal sociocultural- ncobrir Tiundas j de um Jogo de linguagem ; UW, “urubu’, ‘bambu’ Bem a seguir, so de uso €0 maior lugar no Porque apressado come cri- Como se vé, no ambito da morfologia, afixal pode ser interpretada como vestigio a mente codificado. Desse modo, aestrutura daspaavrasbotst Telagdes de esteredtipos ou sinalizat grupos de falantes. rio da lingua, jar o vocabulario os pro. mos para ampli ae Processos de que nos vale! Pi ovo item é criado? OU seja, a partir de que dispositivos um ™ BI FORMA ne ant eunne Digitalizado com CamScanner MORFOLOGIA * Cotlos Heron « 132 lexical ividade | Produtivi 40, é muito comu “3 ocessos de formagao, ¢ mult cOmuUM falarase No estudo dos pr" linhas gerais, formativos S40 consideradg. : ividade. Em A produtividade. dias de hoje, respondem por novas formagdes lexi, ae redenterente do volume de palavras que gerem, Pay. al. cais, indepen’ ; um processo é ou é nao Produ guns autores, como Se eae con ae pe vr aoe Ren disponibilidade. Para ela, um Processy trasta rentabii onfvel se pode ser usado para produzir novas Pala. ee a 6 mais ou menos rentdvel quando é ou fo Usado wae ane eam grande numero de novas palavras, H4 estudiosos ee sera produtividade (rentabilidade) infinitamente vas cee ao longo de uma escala (Bauer, 2001) e outros que defendem haver um pequeno nimero de graus na escala, normalmente tras. totalmente produtivo, improdutivo e intermediario (Booij, 2006), Seja qual for a escala adotada, Bauer (2001) observa que é necess4. rio definir a nogao de frequéncia e considerar que esse fendmeno in. terage diretamente com a produtividade. Ha dois tipos fundamentais de frequéncia. 0 primeiro é o de type (frequéncia de tipo) e se refe- Te ao “mimero de palavras diferentes em uma classe, contadas umaa uma” (Bauer, 2001: 47). A frequéncia de token, por outro lado, “rofe- re-se ao ntimero de ocorréncias de uma palavra, de mesmas palavras contadas como itens separados no total” (Bauer, 2001: 47) — 6a chamada frequéncia de ocorréncia. Por exemplo, a frequéncia type das unidades em itdlico abaixo é de 1, ou seja, sao verdadeiros hdpax afixais, uma vez que esses “sufixos” s6 ocorrem nessas palavras; isto 6, as repetigdes (139) pelanca fet boliche carnaval colorau saad mogoila fracasso choramingar Pedregulho jazigo felizardo nevasca Digitalizado com CamScanner modo ques card ‘e ‘felizardo’ © 0-oila de de (139). Um estudo etimoldgicg acurad MOCoila’, entre Outras jistoria da palavra e do designatum, a COM a observacso da fais particulas. Apesar de apresentarem 3 explicar a Presenca de go transparentes € podem ter alta pax, 8S palavrs frequénc; ‘as de (142) racterizando Como arcaismos (form, Wencia de token, ndo se ca ‘ 4 ‘as em de; 4 afixais, ha, em portugués, o que Podemos o ‘SUSO), formativos, como -alho, -ucho e -onho ou hamar de quase-hépax: : , que muito limitado de palavras: aparecem num niimero (140) cabecalho espantalho gorducho Pequerrucho medonho risonho penduricalho Papelucho tristonho Osexemplos em (139) e (140) obviamente se situam naesfera da im- produtividade, uma vez que os elementos 4 direita nao sao recorren- tes. Hd sufixos, no entanto, que hoje j4 nao respondem pela criagao denovas unidades lexicais, muito embora aparecam num grupo mais numeroso de palavras. Tal é 0 caso, por exemplo, de -edo e -iddo. De acordo com Basilio (2004), deixaram de ser produtivos na lingua: (141) rochedo —arvoredo.-—vinhedo-—brinquedo-—_passaredo rouxidéo —solidio-—imensido-vermelhido-_amplido Basilio (1990) distingue as condiges de produtividade das condi- ses de produgao. Muito resumidamente, o primeiro termo refere-se as especificagdes e As restricdes sobre bases nas quais os afixos po- dem operar, O segundo, diferentemente, diz respeito a aplicabilidade dos processos, levando-se em conta fatores de ordem (a) paradigmé- tica (existéncia de regras em competigao, por exemplo), (b) discursi- va tipo de texto utilizado) e (c) sociocultural (como, entre poe a criaco de referentes a rotular e as condigdes de enunciagao). esse Modo, a rentabilidade de um afixo é diretamente a a tores de ordem linguistica e extralinguistica. Por cools fe Brau so altamente usuais na fala, mas muito Paes an ts esritos, sobretudo os ave ae eae yerbos, com ade, 0 mesmo pode ser dito sobre a nominal so ers Muito mais produtos na lingua escrita, posto qu Yantes para a organizagao do texto. 1B otter Digitalizado com CamScanner 134 MORFOLOGIA * CotlosAlercnde gt 4.4 Formagoes analdgicas Javra complexa é muitas vezes criada por espelhaments . vm i 60 caso das formagoes analégicas, construcdes mor, ey sana sicas claramente modeladas por uma palavra ja existente, COM foi g a de ‘implodir, cunhada a partir de explodir, ou de estagflacag, que reflete ‘deflacao’ e ‘inflagdo’ Na relagao a seguir, ha varios pean plos de criagao analdgica: i ‘comilanca’) 142) bebelanga (criada a partir de ‘comil / on bebemorar (produto da reinterpretacao formal de ‘comemorar’) zilhdo,ziliondrio (partem de ‘milho'; 0 2- substitul o m- e intensiica povaréu (remete diretamente a ‘fogaréu’) 4.5 Analogia ¢ produtividade Plag (1999:20) afirma: “Formagées analégicas devem ser distingui- das de instanciagées de regras produtivas”. No entanto, uma for- macdo analégica isolada pode dar origem a um novo afixo e, em decorréncia, a um esquema produtivo. Desse modo, como argu- menta Szymanek (2005: 431), “nao parece possivel ou apropria- do dissociar completamente ambos os conceitos, ou seja, analogia e (alta) produtividade’. Evidéncias de que a analogia pode explicar a criagdo de afixos (ou a reativacao de afixos preexistentes de bai- xa produtividade) em varias linguas sdo apresentadas em Joseph (1998), Bauer (2005) e Booij (2005). Em portugués, um caso pat ticularmente interessante é aguaréu, sem dtivida alguma modela- daa partir de fogaréu, ‘fogo muito alto’, como no exemplo extraido de Goncalves (2016: 41); (143) ee © aguaréu no deu mais chances e todos os transeuntes su” ram, a fim de se salvarem, tudo ficou ainda mais facil para 0 cachorro. Como mostra Goncalves (2016: 41), a sequéncia -aréu, de fogaréu’ : ae 3 expandinde Para outras palavras, ganhando saute aguaréu, menoe vente € assim adquirindo feigdo de sufixo’. alem . daréu’ e ‘povaréw ae Pelo uso, -aréu também consta de oe Formacdes analégiens com ° Significado de “excesso de poss” Bicas podem estar na base de novos usos Par Digitalizado com CamScanner ma criaao de splinters, particula Tent me es ®8 oriundas de processos 4.6 Formagées Padronizadas Denominamos padronizadas as formagoes ma geral a partir do qual palavras compl quemas de formagao de palavras expressam generalizacées sob estrutura das palavras ja existentes e indicam como outras a ser formadas. Desse modo, distinguem-se das formagées analégi- cas, criadas uma a uma, sem um molde previamente definido, Na sequéncia, apresentamos os diversos processos de formagao que o portugués apresenta, diferenciando, antes disso, os concatenativos dos nao concatenativos. que envolvem um esque- 'exas sao construfdas, Es- 4.7 Processos concatenativos @ nao concatenativos: diferengas Em linhas bem gerais, processos concatenativos (ou aglutinativos) consistem no encadeamento de formas e esto diretamente associa dos a adi¢do; os no concatenativos, por outro lado, sao caracteriza- dos por modificagao morfofonolégica nas bases e nem sempre pres- supdem acréscimos. Nos aglutinativos, uma forma pré-especificada (palavra ou afixo) remete a algum tipo de significado eé adjungida ou esquerda ou a direita de outra. Nos nao concatenativos, 20 con- tratio, a prépria base sofre modificagées fonolégicas de a S tiada, nao havendo, em consequéncia, estrito encadeamento ¢° © © Mentos morfoldgicos: o resultado da operarao eee ‘ima divisdo da palavra em unidades discretas de | forma aa ee 0. No quadro 14, a seguir, apresentamos 0S Principat forenciando "apdes morfoldgicas usadas na formasa0 7 *S aglutinativas das nao concatenativas: mn de palavra: ‘OWWCFO De PatAVAAS Digitalizado com CamScanner MOMOLOGIA + Caos Reng \ “ate, | 136 7 Enon Pere er paul pene |_Preeso | Dette, be = Processo crescenta a | Reduplicacdo ca a base redoing fixagdo | Umafixose a Sendo o material reins? Safad | peta da base. aneradoposterionmens’” +————_T “ Creunfragdo | Um af se reparte pa Tprefnaygo | Umafieoseacrescenta uma base Se coloque gn ® esquerda da base. suas partes, | 5 Duas bases se entranh deiam | Fuso ranham CT Oe aN paliva, deta modo ue sperpten para formar uma P Varios segmentos, dro 14: Princpais processos formagBo, concatenativos e ndo concatenativos, Quadro 14: Princip 4.8 Derivagdo Derivago é o processo pelo qual uma palavra, chamada derivada, formada a partir de outra, dita primitiva (constitufda de um nico radical, associado ou nao a vogais tematicas). Predominantemente g derivagao faz uso de afixos, que, como vimos no capitulo 1, sao for. mas presas (isto é, nao funcionam sozinhas como comunicagao sufi- ciente) que ocupam posi¢ao predeterminada na estrutura da Palavra, Nas gramaticas, a derivagao é classificada em prefixal, sufixal, paras- sintética, regressiva e imprépria. Vamos analisar cada uma delas a Segulr jé sinalizando que as duas tiltimas nao fazem uso de afixos. 4.8.1 Prefixacéo A prefixacao & o processo de for um prefixo a palavra primitiva, mudam a semantica das palavra magao de palavras que acrescenta Prefixos possuem significados que S de base, mas nunca a classe gra- de palavras. Alguns, como cis, PoUCO produtivos e Digitalizado com CamScanner (' cisgener)- Outros, por sua vez, tam er: genovas palavras. Tal é 0 caso, por exem plo, de anti- e co. 08 aii j . alguns prefixos ainda hoje se associam a Preposiga -, sem- @ sobre-, Ges, c é deentre-, sem bre-. Desse modo, o relacionam ewes asses é antigo, e os dados revelam re lento entre essas dk corrénci; 6 ii . Neia cicli fenomeno em diferentes sincronias da lingua, = do mesmo i i . mani considera formativos como esses prefixoides, baseado ni f bem! 7 (0 fato apre- sentarem contraparte que funciona como forma dependent lente, 4,8.2 Sufixagdo Asufixagao faz uso de um formativo que se coloca depois do radical de uma palavra primitiva, alterando o seu sentido e, muitas vezes, sua classe gramatical. Através do uso de sufixos, sio formados subs. tantivos, adjetivos, verbos e advérbios. As derivacdes sufixais clas- sificam-se, conforme a classe das bases lexicais a que se vinculam, em deverbais (oriundas de verbos), denominais e deadjetivais. Sao de origem variada, mas a maioria provém do latim. Como ja tivemos a oportunidade de afirmar, grande parte dos su- fixos do portugués é responsdvel por mudancas de classe, a exem- plo de -tério (V —» S), como em ‘dormir’ — ‘dormitério, ento (s—> Adj), a exemplo de ‘ciime’ — ‘ciumento, e-ura (Adj ~ S), como em ‘pravo’ — ‘bravura’, Por outro lado, varios sufixos nao promovem alteracéo morfossintatica: apito — apitaco jardim — jardineiro laringe — laringite (144) colher — colherada ensaio — ensaista sorvete — sorveteria 4.8.3 Derivacdo prefixal & sufixal | nao é propriamente um PrO- A chamada derivagao prefixal e sufixal ; oe constitui, em esséncia, uma cesso de formagao de palavras porque ice-versa. Ocorre Prefixaco sobre a qual incide uma sufixagao ou vice-ve 5 3 palavra primi- quando um prefixo e um sufixo S40 acrescentados en velop tiva de forma independente. Em outros termos, nao o FORMAGRO De PALAVRAS Digitalizado com CamScanner 138 MORFOLOGIA * Cotls Floxanie , aha " jodo que a jdariedade entre os formativos, de modo q Presenca _ de solidariet ee teseariamente requer @ PreseNca do out 5 afixos ni ; 0. Poy , prefixo; leal, radical; e -dag, um do fe sug, 4“ ” (des- em ‘deslealdade’ (( ; ae mm ser isolados 0 prefixo ou 0 sufixo sem que, com isso, 4 xo), podet Itado seja uma nao palavra na lingua. O mesmo ocorre em ‘ine a lingua. , fez te’, ‘ilegalidade’ e ‘desvalorizasao. Trata-se, antes, mais de felizmente’, a ; ; ‘esultado que um processo de formagao propriamente dito, r 4.8.4 Derivacdo parassintética A parass{ntese, por sua vez, consiste em adjungir a palavra primiti. va partes de um circunfixo, como vimos ng capitulo 2. Nesse caso, a relacao entre as particulas é tanta que nao ha possibilidade de retj. rar uma delas sem gerar resultado agramatical. Desse modo, a nova formagao nao existe sem uma das marcas, 0 que equivale a afirmar que constituem unidade tanto em termos formais quanto semanti- cos. Esse processo — de natureza claramente nao concatenativa, por fazer uso de um elemento descontinuo — forma, principalmente, verbos, obtidos a partir de substantivos e adjetivos: Poaecc ml joelho (substantive) PRODUTO, ajoelhar avear célera (substantivo) en-v-izar encolerizar pedaco (substantive) despedacar ‘manha (substantivo) amanhecer ‘jo (adjetivo) enrijecer gordo (adjetivo) engordar claro _(adjetivo) esclarecer ‘Quadro 15: Principais crcunfixos do portugués. Resta falar, ainda, dos dois casos de di lerivacao néo afixal: a conversd0 ea derivagao regressiva, 4.8.5 Converséo lamada de derivacao imprépria, nao ha fonol6gica na palavra primitiva, que Pe” original. Ha, por outro lado, altera¢a0 1 Py Digitalizado com CamScanner classe gramatical com consequente mudanga de significado, Assi sem sofrer nenhum acréscimo morfol6gico (de prefixo ou sufixo) ou perda (redugdo de massa fénica), uma palavra experimenta nov significado e nova classe: verbos passam a substantivos, adj 7 advérbios, substantivos a adjetivos e assim por diante: jetivos a (145) Quer jantar agora? (jantar = verbo) CO jantar esta servido, (jantar = substantivo) Vocé é muito alto. (alto = adjetivo) Vocé fala muito alto, (alto = advérbio) Oburroéarisco. (burro = substantivo) Ele é muito burro. (burro = adjetivo) Acconversao consiste, portanto, na passagem de uma unidade lexical da categoria morfossintatica A para a categoria morfossintatica B, com consequente aquisiso de todas as propriedades gramaticais da classe de acolhimento, incluindo padrao flexional e comportamento sintAtico-semantico. Exemplo incontroverso de conversao em portu- gués 6 0 uso de adjetivos com fungao de advérbios, tais como: (jogar) sujo, (falar) rdpido, (respirar) fundo etc. Esse é um caso classico de conversao porque 0 adjetivo perdea capacidade de variar em género e ntimero e acaba se comportando como auténtico advérbio, sendo, portanto, invaridvel. Por exemplo, no comercial “a cerveja que desce redondo’ a flexao de género em ‘redondo’ desfaz a conversao e leva aum sentido diferente do que se pretende veicular, 0 que nos mos- tra que ‘redondo’, nesse caso, realmente equivale a um advérbio de modo. Falta abordar, por fim, a derivacao regressiva, processo mor- folégico que, como a conversao, igualmente nao se vale do acréscimo de particulas para formar nova palavra. 4.8.6 Derivagdo regressiva A derivagaio regressiva 6 um mecanismo que, em portugués, em- prega-se apenas na nominalizagao de verbos (Henriques, 2007: 125), havendo, aparentemente, perda de segmentos para formar 0 substantivo deverbal correspondente. De fato, se considerarmos ° : infiniti ue infinito como base, haveria a retirada da marca de infinitivo, 0 41 @ FORMAcho De PrtavARS Digitalizado com CamScanner Neg como em ‘falar’ — la’ ‘espera, 140 corresponderia a une eto é apenas uma forma de citagy ‘espera, O infiniti nesses casos 4 retirada ies ee por isso Seer posterior gcréscimo das marcas vom rem 7 eee eae nunca coincidentes: aio (baler) — IANS any (146) caga (cacar) castigo (castigar) combate tem cals lee consumo (consumir) grude (erudar) venda jes como as em (146), Basilio (1987: 39) asc. que esses casos so de derivagdo regressiy, ee que se trata de um caso misto, ois elo menos : cee também ocorre o acréscimo de vogais’. Como se ve, nao ha reduig, e 0 proprio termo derivagao regressiva (doravante DR) é estranho, ssupde acréscimo e regressiva, diminyj. uma vez que derivagao pre me ssiva, ¢4o. Terfamos algo contraditério do tipo “aumentar diminuindo’, ‘Ao analisar formas! "Se considerarmos que teremos que considerar Por serem formados de verbos, produtos da DR so nomes de acio (abstratos), 0 que nos possibilita identificar a direcionalidade verbo —+ nome no processo de derivacao (Kehdi, 1992). O contrrio acon- tece, por exemplo, com 0 par ‘ancorar’/‘Ancora’. Nesse caso, 0 nome denota um objeto (concreto) e, por isso mesmo, €0 ponto de partida para a formagao do verbo, caracterizando a dire¢aéo nome — verbo na formagao de palavras. 4.9 Composigao A composi¢ao € 0 processo de formagiio de palavras que envolve 2 jun j ‘pe E Leaigeeaewd de duas bases, sejam elas palavras (' ‘pe Chico | Cristina> Cris _| Tereza>TetéeTé | Barnabé> Bée Bebé | Maria lilia> Maju Murilo> lo | Mariana> Mari | Fernanda>Fefé eé | Isabel> Bele, Bebel | JoGo Carlos > loca Marilena>Lena_| Rafael> Rafa | Joana>Jé,Joj _| Sueli> Ue Li Carlos Eduardo > Cadu ‘Quadro 17: Padrées de hipocorizagdo em portugués. O sistema A é o mais produtivo e pode ser considerado padrao geral para a formagiio de hipocoristicos em portugués (default). A princi- pal caracteristica das formas reduzidas por meio da hipocorizagao no sistema A, como se pode perceber através dos exemplos, 6 a ma- nutengao do acento lexical das palavras-matrizes. Os sistemas B e C caracterizam-se pelo mapeamento dos segmentos localizados a margem esquerda do antropénimo, sendo que, no padrao C, pode Scorrer, simultaneamente, o fendmeno da reduplicacao, aqui mani- festada pela prefixacao de um molde CV. 0 padrao D também é ca- Tacterizado pela reduplica¢do afetiva, mas explora a margem direita da palavra, mais especificamente a silaba proeminente. 0 sistema E, FORMAKAO De PRLVRAS Digitalizado com CamScanner 147 MORFOLOGIA * Carlos Alexandre Goncaiye,. 148 go de nomes compostos, ou Seja, i riza' a hipocorizas pinam ese encurtam. mi iste n finalmente, consi: s bases que S& co! na jungaio de dua: .11.3 Siglagem 4 a niciais de um Composto oy Asiglagem consiste na meer amen do aproveitamento d, de uma In Ta da expresso Produto Interno Bru- primeira letra Eaagred (2009), siglas podem ser alfabetismos, oy to. Nos termos de ae soletrada, como ocorre em FMI (Eundo eee acrénimos, isto é, siglas cuja sequén- a de uma palavra normal, tal como seja, pro Monetério Internacional), ou act cia de letras permite a proninci em USP (Universidade de Sao Paulo). Acrénimos sao palavras fonoldgicas e, como tais, ajustam-se aos padrées fonolégicos por que passa qualquer palavra comum da lingua. Por exemplo, COB, de Comité Olimpico Brasileiro, é pro- nunciado com a epéntese de [1] apos a oclusiva labial [b], porque essa consoante nao pode ocupar posi¢ao de coda silabica. Com a epéntese, 0 segmento é silabificado na posicao de ataque, produ- zindo-se um dissflabo paroxitono. A vogal ténica se realiza como aberta, [>], porque o acento sistematicamente promove a abertura das médias [‘ko.bi]. Os alfabetismos, por seu turno, sdo considerados apenas palavras morfoldgicas. Toda sigla é, na verdade, palavra morfolégica, uma vez que esse processo cria raizes e, por isso, os produtos podem re- ceber afixos (‘uerjiano’; ‘antiDST’) ou se envolver em composigées CINSS-fobia’) ou outros processos, como o cruzamento vocabular (‘nepetismo’). Evidéncia de que a siglagem cria raizes é 0 fato de muitas vezes se perder a conex4o com o sintagma original. Esse eee » acabaram por se desvencilhar das expressdes de onde partiram. Nas Palavras de Correia & Almeida (2012: 58), os usudrios fl pie Progressivamente ‘ancia da siglagdo, passando a sigia a perdem a consciéncia funcionar c r : le- ie omo le le xical simples, um substantiv uma efetiva unidad Digitalizado com CamScanner 4.11.4 Truncamento 0 truncamento 60 processo em que a relacao entre uma palavra de- rivada e sua base é expressa pela falta de material fonético na pa- lavra derivada. Como néo ha distanciamento de significado entre a parte (a forma reduzida) e 0 todo (0 item derivante), pode-se dizer que o truncamento nao apresenta fungao denominadora, nos ter- mos de Basflio (1987). De fato, formas como ‘perifa' (por periferia), ‘odonto! (por odontologia) e ‘refri’ (por refrigerante) nao tém por finalidade a nomeagao ¢/ou a caracterizagao de seres, eventos ou estados. Tais construgdes tém a fungdo de adequar a ideia contida no item lexical “ds necessidades de utilizagao daquela ideia — ou da- quele item — para a formagao de um tipo especifico de enunciado” (Basilio, 1987: 66). Quando envolvem a adjun¢ao da vogal -a, como em ‘sapa’ (por sapatiio) e 'vagaba’ (por vagabunda), formagées trun- cadas quase sempre sao responsaveis pela expressao do pejorativo (Santos, 2002) e revelam 0 ponto de vista do falante sobre o que diz, chamando a atencao de seu interlocutor para algo negativamente avaliado. 0 fenémeno, no entanto, nao apresenta a mesma fungao em seus miltiplos usos, pois o termo truncamento cobre trés situagdes bastante diferentes, tanto formal quanto semanticamente. 0 truncamento morfémico é caracterizado pela utilizagao de uma base presa ou de um prefixo, elementos que ocupam a margem es- querda da palavra complexa: (154) cardiologista | cardio odontologia | odonto gastrologista | gastro fonoaudidlogo | fono pré-vestibular | pré vice-presidente | vice subchefe | sub bicampedo | bi Nesse padrao, preserva-se sempre o elemento a esquerda, caracteri- zado como determinante da construcao morfologicamente comple- xa. Em outras palavras, nao se aproveita a cabeca lexical da forma composta (‘odontologia’) ou prefixada (‘pré-vestibular’). Dessa ma- neira, ‘pré~’, apesar de no se especificar quanto ao género, ja que constitui prefixo, passa a ser categorizado como masculino apés 0 Processo, adquirindo status de forma livre e, consequentemente, de Palavra, como se observa nos seguintes exemplos prototfpicos: 149 FORMAGRO De PALAVARS Digitalizado com CamScanner MOROLOGIA * Carlos Rlexanche Gong, - i na pds em linguistica. (55) Futana conse er me fez monte uma peauena miro, com oempitine dt spo que ele passe rover et tipo de truncamento preserva a integridade mor. e ti foldgica do derivante, uma vez que encurta a forma de base sempre considerando um morfema — ou um radical preso, como em fono., ou um prefixo acentualmente auténomo, como em pos-. Do ponto de vista expressivo, tais truncamentos sao neutros, nao apresentando, portanto, 0 que Basilio (1987) chama de fungo discursiva dos pro. cessos de formacao de palavras. Por isso mesmo, podemos afirmar que esse padrao nao tem sua utilizagéo determinada por condicées especificas de produgao (Santos, 2002). Em sintese, ess 0 truncamento misto (ao mesmo tempo morfémico e nao morfémi- co) é caracterizado (i) pela supressao de uma sequéncia fénica que pode ou nao equivaler a um sufixo e (ii) pela adjungao sistematica da vogal a, classificada, por isso mesmo, como marcador de truncamento (Vazquez & Goncalves, 2004). Os dados aparecem em (156), abaixo: (156) periferia | perifa cunhada | cunha salafrério | salafra proletério | proleta gréfino | granfa So Paulo | Sampa malcriado | malera freelancer | frila Nesses casos, encontramos palavras formadas por uma raiz (ou par- te dela) acrescida da vogal, -a, componente de modo algum relacio- nado ao género (ao contrario, todas as formas s4o comuns de dois, prestando-se tanto ao masculino quanto ao feminino). Do ponto de vista expressivo, tais truncamentos quase sempre sao marcados, uma vez que a maioria tem cardter depreciativo, afetivo ou de de- boche, sendo utilizada em estilos menos formais ou em situacdes de fala que pressupdem maior grau de intimidade entre os falantes. Observando os dados em (156), pode-se pensar, em princfpio, num mecanismo de retroformagdo, nos termos de Sandalo (2001: 201), “proceso pelo qual uma palavra é formada pela desafixagdo de certos morfemas”. Haveria, nessa interpretacao, preservagao da integridade morfol6gica das palavras matrizes, com a identificago de uma sufi- *AS20,€, apésa retirada do sufixo, acrescentar-se-ia avogal-a, alinha- Digitalizado com CamScanner » aireita do radical, como em ‘portugu-és’>‘portugu-'>‘portug+a. vel A ree retroformacao certamente da conta de grande maioria Re Peis as palavras matrizes tendem a apresentar estrutura- dos a aica do tipo [(base) + {suflx0}]. No entanto, essa propos- gio wi" de acomodar intimeras formacSes, como, por exemplo, 'ves- ae e‘cerveja,, que, por serem monomorfémicas, nao apresentam sufixo. Entéo, 0 que ha de comum entre as formas que preservam 0 radical e as que nao o preservam? ‘As formas oriundas do truncamento misto tém em comum nao s6 0 acréscimo sistematico da vogal -a, mas também 0 acento: sao todas pa- roxitonas. Além disso, o comprimento dessas palavras constitui outro fator de unificacao, pois nenhuma apresenta menos de duas e mais de trés sflabas. Percebe-se, nos dados do quadro 18, a seguir, que a porgio extraida apresenta estrutura fonoldgica equivalente a da grande maio- ria dos sufixos da lingua: uma sequéncia dissilabica em que a primei- ra silaba nao apresenta o constituinte onset, como, entre outros, -ista, -drio, -eiro, -ense, -ice, -inho e -ano, Embora as sequéncias retiradas nao portem informacao morfoldgica, estruturalmente equivalem a sufixos: Coens FRESUITADO) cerveja Borjeta seta gor) manteiga -eiga mant Quadro 18: Regularidades do truncamento misto, O truncamento misto constitui mecanismo analégico, uma vez que um sufixo ou uma sequéncia nao morfémica formalmente equivalen- ‘ea um sufixo sao retirados do derivante para que o marcador de truncamento, a vogal a, seja anexada ao material remanescente: uma Verdadeira raiz (como em ‘comuna’, de ‘comunista’) ou nao (‘cerva’ de ‘cerveja’), Resta falar, ainda, do truncamento nao morfémico. Esse tipo de ae & caracterizado apenas pela retirada de parte do corpo ° derivante. Nao existe marca morfolégica preestabelecida de nao se acrescenta qualquer segmento @ nos dados abaixo: ,_Wruntcamento, uma vez que forma encurtada, como se vé Io be runes 151 a Digitalizado com CamScanner MOAFOLOGIA * Carlos Alexandre Goncalves, , ju Fiquidagao | tigui 152 | prejuizo | preju qui (157) reagerante | ref Tey visu arafba | parg bijuteria fae tatuagem | tatu — @xPOsiCgO | exp, depresséo o é sempre oxitona eo pro. a acentuagao € ipo de truncamento, ‘i , vesse CP ie emente, atematico. Nos dados em (157), percebe. duto, consequen amento faz parte da base e pode tuada no trunc ; -se que a vogal acen! ‘ ay se wocaliat na sflaba acentuada eee on ase de ‘refrigerante’ e ‘profissional’, ou nao, como em ‘tatuagt lepres- Jo. Esses truncamentos nao sao depreciativos, mas, como os mistos, sio. : cage sao interditados em alguns tipos de contextos interacionais, nao apa- recendo na lingua escrita padrao ou em textos orais que requerem maior formalidade. 4.11.5 Cruzamento vocabular O cruzamento vocabular pode ser definido como um processo nao concatenativo de formagao de palavras consistente na fusao de duas bases, como em ‘sapaténis’ (jungao de ‘sapato’ com ‘ténis’, “tipo de calgado”), ‘feminazi’ (mistura de ‘feminista’ com ‘nazista’, “referéncia pejorativa A militancia feminina pela igualdade de di- reitos”) e ‘boacumba’ (jungdo de ‘boa’ com ‘macumba’: branca; macumba do bem”). Alves (1990) denomina o produto de Palavra-valise, uma vez que resulta da unido de pedacos de duas outras palavras. Cruzamentos vocabulares (doravante CV) podem ser distribuidos em trés grandes grupos de processos de formagao de palavras. 0 pri- meiro deles — e o mais produtivo na lingua — é o entranhamen- to lexical, mecanismo que consiste na fusao de duas palavras pela interposi¢ao de uma a outra. Do Ponto de vista fonoldgico, as duas bases sao literalmente superpost ° tas, de modo que um ou varios seg mentos s4o compartilhados: (158) aborrescente (aborrecer + adolescente) alcoolancia (alcool + ambulancia) Craquético (craque + caquético) crionga (crianga + ‘onga) escragiario (escravo + estagiério) Digitalizado com CamScanner Os dados revelam que as bases compartilham idéntica estrutura seg- mental (sflabas, rimas ou mesmo porgées fonicas nao equivalentes a categorias de andlise fonolégica) e se fundem de tal modo que ge- ram, no nfvel de palavra resultante, intimeras relagdes de correspon- déncia de um para muitos entre a forma cruzada e as formas de base. Na grande maioria dos dados, os itens envolvidos nao sao do mesmo tamanho. Quando isso acontece, a palavra mais curta aparece maxi- mamente representada na forma resultante, nao sofrendo, Pportan- to, nenhuma perda segmental, como em ‘mautorista’ e ‘boilarina’. A forma de base mais longa, embora caracterizada pela perda de seg- mentos, contribui, no CV, com suas estruturas métrica e silabica. Em varios casos de entranhamento lexical, o niimero de sflabas e a pauta acentual da base mais longa correspondem ao ntimero de silabas e 3 acentuagao da forma cruzada, a exemplo do que ocorre com ‘brutu- gués’, ‘petelho’ e ‘pedragogia’. 0 segundo subprocesso de CV é a combinagdo truncada, que, em geral, nao faz uso da ambimorfemia (compartilhamento de material fonol6gico), uma vez que séio raros os casos em que ha semelhanca fonica. Quando as palavras nao s4o do mesmo tamanho, a maior so- fre truncamento e a menor se concatena a ela (‘lambafunk’, ‘futivé- lei’). Quando as duas apresentam equivalente niimero de segmentos, ha redugao em ambas (‘portunhol, ‘brasiguaio’). De modo geral, 0 significado do produto corresponde a uma combina¢ao quase sem- pre transparente dos significados de ambas as palavras. Tal 6 0 caso de ‘portunhol’, em que as duas palavras sao truncadas, e ‘lambae- robica, forma em que apenas uma das bases é encurtada (no caso, ‘lambada’), Esses CVs so mais designativos que expressivos, ou seja, neles predomina a fungao de rotulagdo, enquanto no entranhamento Sobressai a fungao atitudinal: (159) futevélei (futebol + vélei) lambaerdbica (lambada + aerdbica) showmicio (show + comicio) tobodgua _(tobog’ + dgua) 0 Ultimo fenémeno relacionado ao CV é a reanilise. Nesse caso, uma sequéncia fonolégica de uma das palavras é interpretada mor- FORMACAO De prLavAAS. Digitalizado com CamScanner 154 MOAFOLOGIA * Carlos Alexandre Goncay, Andrade & Almeida (2 -enfda. Gonsalves: ee o1r fologicament® © Se ‘tuigoes sublexicais (SSLs) e ea i mo § ym tais casos como fen descrevem ta mo process distinto do cruzamento, eno co} preendemos © fendm "corre MOS cruzamentos, uma pala, srio do que Ls, ao contrario nud Ness r conta da relagao formal e semAntica que parte dela man. vra — Po! ntendida como morfologicamente complexa e, uturada em fungdio dessa identidade. Em te do verbo (‘come’) é in- tém com outra — éel consequentemente, reestr' » rimeira par! “ morar’, por exemplo, @ P! | a eve r daa partir do radical de ‘comer’, ja que co- utur a Dae ao frame de festa: sao ee fescontrais em que normalmente se oferecen’ “comes e bebes’. A formacao ana- légica ‘bebemorar’, ja bastante consagrada pelo uso e catalogada no dicionario eletronico Aurélio, designa expressivamente uma situagao de festejo regada a bebida. como SSLs porque duas palavras cons- tituem bases para a formagao de uma terceira. No caso de ‘crentino’ (“falso crente”), por exemplo, as duas formas de base se entranhame a fusdo nao necessariamente se processa pela decomposigao morfo- légica de uma das palavras matrizes, uma vez que nao ha reinterpre- tacdo estrutural de uma das bases. Nos termos de Goncalves (2004: 151), cruzamentos constituem produtos da jun¢ao de dois vocdbulos em ‘planos alternativos, a0 contrdrio das formagées analégicas, cujas pases operam em ‘planos competitivos’. Nas SSLs, portanto, 0 alvo é apenas uma das palavras ea intersegao das bases é ocasionada pela reandlise intencional de uma delas, como se vé nos seguintes dados: CVs nao podem ser analisados (160) enxadachim

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