Partindo de um panorama geral, durante as aulas do semestre, muito se discutiu
sobre a trajetória dos museus, do caminho do colecionismo e dos gabinetes de curiosidades, para o museu neoclássico até o museu cubo branco. O museu neoclássico é o primeiro paradigma, ele é nitidamente mais material, surge com o Iluminismo e está diretamente ligado ao colonialismo e ao imperialismo, já o segundo paradigma seria o cubo branco, há nele um processo de desmaterialização, é mais abstrato e ligado ao modernismo. Em continuidade a isso, durante a aula do dia 01 de dezembro, com a convidada Daniela Rodrigues, assistente curatorial do Museu de Arte de São Paulo (MASP), se estabeleceu uma conversa sobre o real papel do museu, local que não deveria ser apenas um espaço de contemplação e de uma relação top to bottom (de cima para baixo), mas também um local de interação, construção conjunta e questionamentos, pois a história que um museu guarda é indiscutível? É a verdade absoluta? Em que momento um museu se contrapõe com seu conceito comum e se torna um anti-museu? A visita ao museu judaico contribuiu bastante para o entendimento dessa função de um museu, segundo o diretor executivo da instituição, Felipe Arruda, um museu é uma plataforma de projetos culturais e não apenas um local de exposições, Arruda também explicou que não utiliza apenas o número de público, o acervo e a parte financeira como parâmetros de sucesso da instituição, mas também a programação, visibilidade, parcerias e o impacto social. A instituição – inaugurada em 05 de dezembro de 2021 – apresenta o judaísmo de forma muito rica, por estar localizada em um antigo templo sua estrutura também ajuda envolver o visitante na cultura judaica. Ainda segundo o diretor, há uma grande base no conceito de trançar culturas, pois as tranças são um símbolo recorrente no judaísmo, por isso é interessante que as exposições temporárias sejam interligadas de alguma forma as exposições de longuíssima duração, através da iniciativa de dar voz a grupos também considerados minorias sociais, como nas exposições: Modernas: São Paulo vista por elas, que está atualmente aberta para visitação. A exposição conta com fotografias de um período de 50 anos da história de São Paulo, capturadas por mulheres estrangeiras pioneiras na modernização da fotografia brasileira; e Botannica Tirannica, que reunia diversas espécies de plantas que apresentam nomes preconceituosos (misóginos, racistas e antissemitas) e esteve aberta à visitação de maio a setembro desse ano. Voltando à aula do dia 01 de dezembro, a superinterpretação de tudo dentro do ambiente museológico foi outra questão que se estendeu nas discussões, o tema surgiu a partir dos seguintes questionamentos: tudo em um museu de arte precisa ser interpretado e explicado? Caso os museus fossem mais autoexplicativos, seriam necessárias explicações verbais e visitas mediadas? Durante fala na Conferência Geral do ICOM 2013 sobre o museu e a condição humana, o professor, museólogo, arqueólogo e historiador Ulpiano Bezerra de Meneses afirmou que os museus ainda não tinham estabelecido uma linguagem especifica de exposição, que nos museus de arte o padrão dominante é da redução linguística e ainda impera a centralidade do verbal, o que de certa forma limita a experiência do visitante, que não consegue extrair todas as informações e obter uma visão completa sozinho, precisa de alguma forma de apoio, como a visita guiada. No tocante aos filmes exibidos em aula, o filme Arca Russa (2002) do cineasta Russo Alexander Sukorov mostra um museu bastante vivo, com um marquês do passado andando pelos corredores e exposições do Hermitage em São Petersburgo. Durante a passagem pelo museu, o marquês encontra figuras e momentos históricos do império russo, levando o público com ele, numa visão de câmera em primeira pessoa. O filme é todo gravado em um único plano sequência e se apresenta bem imersivo quanto a experiência em um museu, em um dos momentos o marquês chega a comentar sobre o cheiro das pinturas e em outros há apresentações de orquestras sinfônicas e grandes bailes. É uma forma totalmente diferente de visitar e vivenciar um museu que se encontra em movimento, com diversas coisas acontecendo tanto concomitantemente quanto sequencialmente durante o filme. Já no filme Francofonia (2015), também de Alexander Sukorov, o cenário é o Museu do Louvre, em Paris, durante a ocupação nazista no período da Segunda Guerra Mundial, no verão de 1940. Francofonia tem um ritmo bem mais lento que o citado anteriormente e há momentos que o filme apenas busca contemplar as obras em exposição no museu, mas também estão presentes as figuras históricas ajudando a construir sua narrativa. É perceptível que o foco está na importância da arte e na sua forma de resistir e se manter viva, mesmo em um cenário de guerra, como nesse caso.