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16 Otacilio de Azevedo e sua Obra Poética Para Silvio Juilio e Rubens Falcéo S6 talento e muito talento poderia, do Pouco que vocé tem vivido e estudado, tirar estas estrofes célidas, harmoniosas e cintilan- tes em que vibra e chora a alma de um verdadeiro poeta. Antonio Sales Os seus versos despertaram-me a mai viva simpatia por uma {indole de artista que deixa atrés de si toda uma farindola de ca- botinos profissionais. Mario Linhares Azevedo & verdadeiro Otacilio de . geragio. poeta — um dos maiores de sua Dolor Barreira l- Introdugao 0 parnasianismo, que na ‘Franca se _caracterizou pelo eulto exagerado da Forma, praticamente nao existiu em Por- tugal (a nao ser que tomemos como tal alguns momentos rea- jistas de Gongalves Crespo) e, no Brasil, se podemos dizer ue ele existiu, temos ao mesmo. tempo de admitir que seus adeptos se distanciaram demasiadamente dos cinones eu- ropeus, 2 ponto de concluirmos que so eventualmente um Olavo Bilac, um Alberto de Oliveira, um Raimundo Correia ou um Vicente de Carvalho atingem a postura impassivel de Leconte de Lisle ou de José-Maria de Heredia: volta e meia yém a tona as imagens romanticas hauridas na juventude, ou as notas em surdina dos “violons de l’automne”’ verlai- nianos. E nisso nem Francisca Julia da Silva, que estreara com os Mdrmores, constitui excecao. José Verissimo, que nem mesmo na literatura francesa véo rigor que se quer emprestar a escola, j4 afirmou com jus- tea: “Transplantado ao Brasil, o parnasianismo modificou- se sensivelmente & aco do meio, das nossas tradicdes poéti- cas e de outras influéncias e condicées.” E, falando da impas- Sibiblidade, observa: “Contra isso estava a ja forte tradigao do nosso lirismo sentimental, piegas mesmo, e personalissi- 0, 0 nosso temperamento lascivo, senao voluptuoso, im- Pressiondvel, amoroso, senao apaixcnado.”! . i nao podem rigorosamente enquadrar-se na corrente es incipais corifeus do movimento no Brasil, muito menos a Vieram mais tarde, como Hermes-Fontes, Martins Fon- ae Amaral, Olegario Mariano e outros, cuja dicgao Ntre a claridade parnasiana e a penumbra simbolista. ° Cearé, como ja tivemos oportunidade de assinalar 12a ras i 0, José, Estudos de Literauura Brasileira, 2 ed Belo Ho » Matiaia/USP, 1977, p, 156 (Série, 2)- 281 £82 sodnogasd vymnut wag “OFe130}0F aP O ‘opnyargos ‘a y; fa roqwid ap oj9sj0 0 wIe0d © NadTENe ‘epepro Tg aap xoraqut oped soureqex somnp 9 poePP ‘ap ‘apuo ‘pIva) OP ap sasej amua OP! oyrenb op sour TZ 1 9 opojiad asso :ozamt oyun a oyery 0 ‘waSessed ap ‘os-areuissy ayuouvunyrodo sowareTes Tenb wp ‘ops spo vpundos ® souryjoatquosop onb 9 ‘Ozer ap ‘adwoua Se Gaove ‘saodtpo sexy BYUN DYLOSIY DsMAY aNb seuade raz oy ‘oanasqo oyuod wn epuTE SOUIeXIEP ‘BIFeAZoTIgIG vssa zad3I0q -pysar TeqUE} OF “(QLET) e8U94DAD DINZDIIAT wSsOW WEG 0961 Wa ‘s0N'T op oD;sabng ap v a ‘eypod op og 9 oxary op soue 09 Sov OYDEIOWIAUIOD UID “9L6T 9p ‘opnssng op osjuaq ap epeluns-ovj Ovdipa & epure es-opuLjudosause ‘(gger) saooysuadns 2 spywerany ‘sovSppy 2 ‘(0961) ony up ado ¥ (8g6t) SDWa0d SOWA *(LEEL) OSDIOSAC *(F¥6r) opduapay “(L96T ‘P2 °G — GPT) 108 aP Dr2S9Y “(Tz6I) 40n7 op opjsabns ‘(GF6T ‘D2 “ — 9EGT “P2 “Z — OZET) Dyrosre neni “(eee ‘p> 'Z — B16) DSOISUY DUIY “(TGT) OpDssda OP o«zueG ryyso 9 opasazy ap OIIBIO ap ByErsorara VIpeps9%s V zyeod op sozat soudord sou epedureyso se1g0 ap vist vu PIS? soDoAIMbS Sassap suNSTE ep woo v TPT Shand toy og renb & ‘opdpr0saq OrAIT Op OBdIe wpunsos Ht ap ere} 2 “OgGT we opEorqnd oud (HEEL) OVSuapIy HE O pjuatande ‘ssuosnag mibojoqey VU ‘OBIID OpUNLUITEH 2 HET ap OWOD (ze61) 1S ap TIASPY ByO “eAgO BuUSaT sens aa OL’, “BIGT Wa Opres oulca (TZ6T) MRT OP OPT 0 monster (aswasvag DunzosanT DP DILOISIH OO AO|O 2 ‘sesuaivag sDja0d BP VaUpIaI0D BU ‘SAUNT “pinoy op Duplo] Duoisia wu “soteUUrT ONBIN Noster, sojauos sou ‘10,44 OSH) saxoyne soyA OND OPO, "sre sens ap Bist & ByazI09 asTvsyUODU OIET 9 ‘SOUF SP Tay a ooned py Opyz090 ByUA} OSsT azUTISGO OBU ANE sre ap SH Toy “ea souasstp owod ‘o\dyoutad ¥) zojusd NO O1 a ap 301d a ‘wuratt9 ap zoperado no oxtoyz0d 'sapuod ‘sapared ap zopeiovap owoo cpueyreqesy ‘COF® se ops rduoy nos ap saxoyt9s8 SUnSTE, Sg 0 -orde ep 2 ‘soxyayiserq 2 sasanBnziod s9s0108 OI zz IP “oduaz 0 o ‘opmise ewcou nod “adap 0 at 29 "oust yg envi ® (OLE SID) 4UEL © OPEL 2p MHVEG hy —~ z oynay “LPI BININD vanyepar ‘soaysuadsy 2 Hon soP WIE ‘Za}q0 ® NOBAYD ‘szjoos0 opeyuanied voauejereA opUnuiTeRT w20d Op 9 vu] WEMLOH EIST ed Tyny op ‘Opaaezy. 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Deticiava-ce matyamava: ‘Vilido, ViliGo, sombra mata quando met PS!" Gesgraca eterna!’ Esse curioso persona. Ailes elas rans de Fortaleza num “cabriolet” puxadg We piloresto..” Adiante, conta Rubens como Ota. gor um tee BLOT jentaram sitiar 0 Paldcio do Gover: fo, quitin € Tengo um comicio paTa os eatrniciroe de to: comepriaes.“B,a08 gritos de “PAO ou Revolugio’ con. pris tq arteinentat mais de duzentos eaboelos ‘fortes ¢ Seetdns, resolvids, como eles, a tomar o Governo. Ao destemide Fea Rua Sena Madureira, viram as metraiha- dire jé apontadas em sua direeao (as'mas noticias corriam epresa). Os trés improvisados mosqueteiros sumiram como per encanto e a ‘revolgdo’ terminow sem feridos. ..”4 G jovem posta, nos primeitos ancs apds sua mudanca pam Fortaleza, ia’ conseguindo impor-se pelo seu talento, Aapesar de sua humilde condicao sccial e do fato de jamais haver eursado escola. ‘Herman Lima, rememorando o encontro de intelectuais no Café Riche, depois de falar em Anténio Sales, José Alba- ‘no, Quintino Cunha, Carlos Gondim, Mario da Silveira, Serra ‘Azul e outros, e logo apés destacar a elegancia de Leonardo ‘Mota (vindo do Rio em 1921), acrescenta: “Em contraste, surgia também ao seu lado, em sua pobre indumentdria de brim mal-ajambrado, meu antigo combanheiro da Fotografia Olsen, Otacilio de Azevedo, igualmente sem maiores estudos, como Sera Anu, mas de éstro realmente fascinante. ‘Muitos fare quenelhores vesos, de surpreendente trato parnasian® Eitse hamuimal conheeia Bilac ou Raimundo Correia, @3% tres eu do ox mente Fecltados por ele, ante os contrades ilus Porte, e, entre tantos, logo mais transcr'tos em jomais e antologias, jparece-me ouvir ainda hoje, ha quas? 40 Povo, Fortaleza, 4 abr. 1978 24 naiienta anos, em sua vor ainaoncto "esta de Sot""5°° Brave, guage re Sivo steve, corsa wr fegt28 cul ‘aqui , como a ae 2g! ete a te ay EN saMpamirivel Terra ¢ Povo do Card, tts a8 22 ees | Sp café Riche, com Rubens Faledo, jageee®, Moo eseris jet Gouvela, Moésta Rolim, debatiamas te, nie CGtacilo de Azevedo stiperava us ite Bea pretérita, porquanto era um dos mat Gordo grupo. Bolido intelectual, agit assays seeS © irae Hore pintura @ outra sobre estilo ateranie, Sum tese spkog de sal et suas OracBes zombeteiras, Neo faa eramara destrucito; racionava, isto sim, com agiidade: @eevonara prestidigitador. Distra‘a-se,‘brincando ae go, Tapesta ou Paoutrinas e pensamentos.”s rar para 9 ‘Tem 0 autodidatismo do cantor de do funda impressao em quan‘os Perera panda Gm conferénela. pronuneiada anés a morte do mete eisemente intitulada “Otacilio de Azevedo, o antodidatanns, lime da arte poética no Ceara”, F. Alves de Andrade sit, mou, servindo-se de trecho da Muisa Risonha: "0 que avait, fo que domina, o que nos impressiona, porém, na atte de Ole eillo de Azevedo & a antitese entre o operdrio eo erudlte oa melhor, 0 autodidata que soube se expressar em alto exile revelando conhecimentos da natureza e da vida, da mito. logia e da literatura que ele aprendeu por si mesmo, como ele proprio confessa: ‘Nunca transpus as portas de uma es- cola, / © pouco que aprendi s6 a mim devo... / Escrevo an- dando..."e enche-se-me a cachola / de idéias, cada vez que, andando, eserevo!’ "7 Otacilio pertenceu ao Grémio Literdrio Cearense (enti dade que seria responsavel pela publicagio de Alma Ansiosa, em 1918), onde brilhow ao lado de Gilberto Camara, Buclides César, Pancréeio Lima, Vulmar Borges, Silva Thé, Luis Su- cupira, Clodoaldo Pinto e varios mais, No estudo que escre- Yeu sobre a agremiacio, Maria da Conceicio Souza inform: {Xa Yaga de Hugo Silva, prime'ro ocupante da cadre per Hocinada por Lopes Filho, fol eleito Otacflio de Azevedo, em S—LIMA, Herman. Pocira do Tempo. Rio de Jani, José Olympic, 196% p. 10: 5 — yoLI rd, 2. ed. Rio de Santiro, Cont JOL10, Silvio, Tera e Povo do Cet nie Editorial, 1978, p. 30. — 9 Povo, Fortaleza, 30 jul. 1978. 285 .918."8 Ficaria 0 poeta, segundy sn de eer dee os utimes tempos do gem con, igo tals SHURE, fendimentos dlspersaram 0: grupe’ Wan, do, em 100 io somente ingressatia na Academia ¢g Mas Otarr Mia 21 de fevereiro de 1969. Refering, an. se de Letras 1 Oe a sua entrada para a nossa quo 2 seu segunda Ut ger de Carvalho, a0 reeebé-to: «4jS* dog Quarenta, oerrs idos de 18, arrancando aplausos, yr? 4n- sioss ver Pett pelo poder imaginativo do auton Po Sua fon een Te esta Academia hoje reecbe, m'°, Ole Arie i atras."® OCOPOU 0 Poeta a Cadeteg to Patrono Manuel Soares da Silva Bezen , gue ten em 1968 com a morte de Andrade Furtagge "hutor de dea livros de poesia, € presente em numero, antolgias cearenses ¢ brasilelras, faleceu Otacilio Rents ami omredo em Fortaleza, na sua casa da Rua Jaime poet weno 73 (onde residia. desde 1942), &8 9,30 h do dias Ti de 1978, com oitenta e dois anos de idade portante casado desde 1919 com Teresa Almeida de Azevedo, toy a casal nov filhos: Zenda, Maria Mirtes, Rubens, Jose; 4° hilo, Vandick, Maria Consuelo, Miguel Angelo e Rafael’ sim: to, Os dois prime'ros, o quarto, o quinto e o sexto faleceram na inféncia, Note-se que, com excecao de José (batizado is pressas no dia de Sio José), todos os filhos do sexo masculing tém nomes de pintores famosos: era o tributo de admiragio do arlstaplastico aos seus idotos 16,2 — Primeiros Versos Para falarmos das primeiras manifestacdes de Otacilio ém verso, nfo serd fora de propésito recuarmos & sua infén- Geom Redencio, Nao que queiramos apresenté-lo, nos Pr cage ,atts a2 séeulo, como um men‘no-prodigio: mas, s° ainda nfo havla propiiamente poesia, pelo menos, vocacio tio, eseite ron neeavel nesta quadrinha de cunho humoris: observava toe Oo Tenino que, em sua pequena cidade, it so diferent ragdes das pessoas, Ieamo sob um tale @LeTeRUES a5 aspiragdes das Ps =p $= 2 Poo, Fe =o ila, 2 den. 1969, 2 neg, de Discurso. In Faas Académicas. Ore, Riad? Academia Cearense de Letras, 1976, p. 54l- 7 Domingos pede inverng Pra bodeguinha aumentar ‘a Taninha pede seca Pros alfenim nao metar.10 pre-se que esta é a trova de Lem mnalfabeto.... uM mening, ino aner'o poeta que, chegandi * dem tava , io a For rar a frente 4 casa de um Tmateenei £M 1910, fo} mot na versos: era Her We fazia serena. ‘compu metério ena. i creriria para 0 Amazonas, onde, entre nas te se ttn Brontses (1958). Um dia Hemetéro, gaa Ree B piderava um mestre de arte poéties, lou assay? pe quarieto que o ne6fito The mostfou; eram see seo a2 gecassilabos, todos séficos, acrescentamos née Cem ciara em desalinhos toucos /’ Embora morra na cane, ce] se minha alma vel morrendo aos ‘poutass ose Fanfou as ilusbes da vida! : essa época 6 também um soneto cujo terceto final di sia: Desde esse tempo todo dia venho / Rever este arroty saudades tenho, / E aquela ingrata nunca mais vottou,. falera entio a incultura do jovem versejador que ‘erguado confessaria anos mais tarde) usava certos vocébulos sem Thes saber o significado exato: € 0 caso desse arrebol, que ele en- tendia ser algo assim como bosque, on coisa parecida. Mas, é 0 caso de se argumentar, guardadas as proporeées, qué Bilac, na 3.9 edicéio de suas’ Poesias (1905), ainda emprega. va, em “A Tentacdo de Xenécrates”, cnémide, em ver de cldmide. . ‘Ainda desses anos, que 6 0 mesmo tempo da Fotografia Olsen, 6 um soneto em alexandrinos jama's publicado, e que merecera elogios de Raimundo Vardo, estranho e extraordi- nirio poeta. Desse poema apenas ficatia na meméria do au- tor 0 derradeiro verso: Dormir, dormir, dormir, ndo acordar mais nunca! Dolor Barreira, no quarto volume de sua monumental Historia da Literatura Cearense (1962), escreveu o mais com- Bleto e amplo estudo sobre a poesia de Otacilio de Azevedo, surpreendendo-the as primeiras aparigdes na imprensa f tense, a partir de 1913, quando estampou no Ceard Operdrio 0S Poemas “Anita”, “No Cemitério” e “Nao ‘Sei! . —_ "0 — Tata ova conste de depoimento grado no Muse, Cees ‘unicagio, irigido pelo musicélogo M. A. Azevedo Poa 28T toriador; « la o proprio hist iy we amore 0 verso como de Primeir ng uega que Ine deu o poeta, se © © apart ne expresioinal OV Po, embora louvavel pelo ato de elay em iva" Tal autor estudado, tem a nosso yer"® Tepe tars tml cp nes apzesentar O escrtor em sua ¢,!08on, veniete dre arios estigios de seu apertelcoames ylieay artesanal, °¢fsgavia que Dolor Barreira assim agin pang Se tio, Cremos (oramente o estud> (que abrange 73 Bagh to anager demeseveequndo volume de sia obra, apPifAy), fe producdes de Cruz Filho, Julio Maciel @ ou vara ge Olclio, no eledo, quatto volume, cp, , e mesmo dé eto “Saudade”. duals sestapado na revista Fénit de outubry ayy ve it ne XVII), & p. 7, € 0 soneto “Ultimo thar” que anc (ents tal eomo alt se encontra (aqui agradecer pele Carlyle Martins, que nes emprestou sua colegio): Entretanto, o sol no oceso... € 0 olhar de minha amad Qual meigo sol distante a cintilar morn 2s, Gemia 0 seu soluco errando pela estrada, Bo meu solugo enorme em convulsées. gemia, Perdia o sol mimoso a sua luz doirada, Eo vulto dela ao longe, aos poucos se perdia, Fugia 0 meu olhar em'rumo da jornada, Eo seu fagueiro olhar a desmaiar fugia. ‘Tombou no vacuo imenso o sol dentro do ninho, Eeu vi sumirse ainda curva do caminho, derradeiro olhar que a vacilar tombou. No entanto 0 mesmo sol que desmaiara outr‘ora, Vem todas as manhés ao despontar d’aurora, $6 ela nunca mais... oh! nunea mais voltou. Note-se, j& nesse tempo, certo requinte formal, como i ranadiplose nos quartetos: o mesmo vocdbulo que ee im Ketso termina o seguinte. Cinco anos depois, a variant teaser? Ansiosa, pela substituicdio de palavras e pel@ PO : Nstlo tals precisa, vai revelar a evoltugao do poeta, TU. —_ 4M BARREIRA, Dolor, Inst ‘lo do Ce set Histéria da Literatura Cearense. Fortalez®, rd, 1962, v. 4, p. $4, 288 dominio de uma Unguagem m, Suitulado “A Curva do Camino etn Mortia 0 so! no caso qual meigo sol distante 9 U2" ae minha Gernia 9 Sou seluco erage e-errando peta estrada on Pela Perdia 0 sol tombando a ¢ € 0 vulto d'Bla, 20 longe, aos pit, ettda Fugia e meu olhar no eurso da jee, Pela @-0'seu magoado othar tess © sol tombou no poente em nun © Cleonice chorando & curva do camo? € aminho entre as sombras da noite, sour tombon, Entanto o mesmo sol que desmaiara vem todas as manhis 29 86 Ela, nunca mais, oh! cutrora, Gespontar da aurora: hnunea mais yoltout Todas as alteracGes revelam ay rimoramente dades artistieas do autor: o sol “s rutin ena tae Ulan {v.,2), @ substituicdo total do verso 49, 2 omit do adjetivo “mimoso”, de extracéio romantica, attibulde a. sol, com oaue se eu shalsforea so v.51 "noc a, 22 me's proprio do que “em 'rumo da jomada", no verse ¢ substituicio de “fagueiro” (y, 8), que no combinava com 0 verbo desmaiar, que vinha em seguida, nem com a tristeza que se derrama desde os primeiros versos do poema; o sol tom- bando “no vacuo imenso” e “dentro do ninho”, aquele “ai da”, verdadeira cavilha no verso 10, e o olhar tombando “a vacilar”, tudo isso merecia realmente substituicio, Mais tar- de, na 28 edic&io de Alma Ansiosa (1955), haveré pouess al teracées, igualmente precisas: 0 “meigo sol” do verso 2 passa BepetekO Sol”; ‘a solucar”, do verso 11, passa a “exdnime Estas alteracdes valem como uma ligdo de arte poética. Em 1914, na revista Panéplia de marco e abril dese ano, Rubicon o poeta um soneto em verses alexandtins, nunea qeulildo em livro pelo autor, ¢ intitlado “Vestal”, Varava fit 88 rimas dos tereetos, em CCD EED no soneto a Nanserito, e em CDC EDE neste: 289 te fina Jiida alvura eburneament Zum fia caméla a0 despontar da aurora Pa Fyuenina Bsfinge em forma de menina, A Pfuem mink‘alme Jouca ansiosamente chora, ides divina seu colo de neve a palidez d Poter nao na tivesse a propria Helena, outrora! sabia quem, vendo-a assim, angélica e tranzina, Nao sinta o mesmo ardor que me consome agora, se desprende a sorrit, divinamente doce, F evsgiosa voz da Kimpida garganta $ como se 0 cantar da cotovia fosse! E quando ao céu descerra 0 meigo olhar profundo, # tanta a luz que surge e a claridade é tanta, Como se um novo sol iluminasse 0 Mundo! Escrito em agosto de 1915, é porém no ano seguinte que vird a lume o livro com que Otacilio de Azevedo fez sua estréia ha, bibliografia poética cearense, Dentro do Passado, 16.3 — Dentro do Passado Publicado em Fortaleza pela Tip. Moderna — Carneiro & Cia, em 1916, e composto de 14 sonetos em versos alexan- drinos, esse opiisculo se tornaria de tal modo raro que muitos 0 conheciam somente através de sua inclusio em Alma An- siosa (1918), quando, em vez de catorze sonetos, apresenta apenas dez; com varias estrofes sensivelmente modificadas, na verdade ndo foram simplesmente eliminados quatro sone- tos na nova forma: da edicfo original foram retirados 08 s0- netos IV, X e XII, fundindo-se 0 XI com o XII, ou seja, 205 quartetos do primeiro se juntaram os tercetos do segundo. Em 1976, gracas & gentileza de Clodoaldo Pinto, que cedeu o exemplar de sua biblioteca, péde a familia de Otacilio de Azevedo fazer uma edigdo fac-similada dessa obra. Para resumir-Ihe o tema, nada melhor do que estas pa- lavras de Clévis Monteiro, de'um artigo publicado no Correio do Ceard em 18 de setembro de 1917, e transcrito por Dolor Barreira: ‘Como que estamos a ver, diante de nés, a virgem que, de ordinario triste ¢ sé, & semelhanea do proprio ‘sentiment que lhe incendeu as fibras, um dia despertow subitamente. 290 vg que ela 4 .. E em seu ol ‘Amott Ihar enlanguese, wquaiguer coisa de vago e indaspitsl4> © doce nido havig, ug a quem ela amou? perguntar-nog, griosidade, 0 lellor. Queres ty Sabeton COM justice, «go simples fazedor desses magoatos verso, . ugseusamo-nos de pormenorizar que sta talvez supérfluo, Apenas Tos reskin gue, em sintese, o poeta f0i infeliz nasa mem nar fuirem os castelos que arquitetara, exper’; su? Vid qe um desengano inesperado,”12 lentou 0 fel Tembra Dolor Barreira que este artigo de Choy sero deu ensejo a um outro, de Nonato Batiste S08 Mon- ata" no Correio do Ceard de 20 do mesma met Cues de Gioulista pretendia ver nos versos transeritos ua Goa? Shit", de Guerra Junguelto: Na luz do seu olnar wee dp e to doce / Havia um quer que fosse... “4° “ngui- No dia 26 volta Clovis Monteiro ao 6 bindo inmeros casos de mera influéncla ou eer ete jisias envolvendo Olavo Bilac e Guerra Junquens wie Batista e Olavo Bilac, Maranhao Sobrinho e Raimundo One rela, nao deixando de aludir & presenca de Dante hunt wens de Alberto de Oliveira e & cléssica influéncia de Viteile ce Camées, para concluir dizendo: “Creio haver dito o safle te, Bm forma de resposta, a propésito da sua agradével re, aus A gua de carta, abe, presume, manteiar alsin lo poeta de quem i tnpata Plo poeta de quem deseonfiow, procurando agra ., Fosse porque reconhecesse haver em seu verso reminis- givsa da letura de Junqueizo, ou porque desejasse um qua- llestivo mals consenténeo como olhar da amads, 0 sata & que anos depois Otacilio mudava o inilo do soneto qolou... E em seu olhar resplandecente ¢ doce / qual inlsa de vago ¢ indefinido hava... ‘ara se ter uma prova da evoluedo do poeta, rumo & ver nbuagem cada vez mais correla ea tn manejo cada 2rd eeE29, do instrumental postco, basta que seam io soneto I, assim em Dentro do Passado: aaa BT Ag PARKEIRA, Dolor Op cin p S78 Pos elms a exter # 291 triste e 36... Um tumular desgosto, Ela eft, estnagador, sensacional,, profundo, Medonva'nva ver, contra 0 seu proprio gosto Obrigatranto conver cada vez mais fecundo! fe o romper da aurora 20 Joiro sol j4 posto Drs oop 8 7 ty Fresfp da morte ingrata a palidez no rosto, Fengeva amargamente a solidéo do mundo, subitamente! Um dia ‘a vida Ihe irradia, tho em ressequida flor. . Um dia despertou Aurea réstia de luz Como gota de orval tornou-se altiva e deslumbrante, ‘Beatriz nunca sentiu por Dante, sais do mais profundo amor! E desde entio, E sentiu, qual ‘As chamias col além de 0s versos nfio se iniciarem (a partir do 29 livro, Otacilio adotou Pesquema espanhel), vemos que apenas 0s verses 1, 4, 8, 9 € $i no foram alterados substancialmente: note-se a elimina- (do do suarabicti do v. 6 (obsessdo): Em Alma Ansiosa, todos com maiisculas Ela era triste e s6. Um tumular desgosto e um constante pesar dclorido e profundo obrigavam-na a ver, contra o seu proprio gosto, seu pranto correr cada vez mais fecundo. Desde o claro romper da aurora a0 sol ja posto, presa & amarga obsessio de um sentimento fundo, ima lagrima sempre a umedecer-Ine 0 rosto, buseava amargamente a solidao do mundo. Um dia despertou subitamente. Um dia 4urea réstia de luz a mente Ihe irradia como gota de orvalho em ressequida flor. E entfo tornou-se altiva, alegre e deslumbrante, e sentiu qual Beatriz nunca sentiu por Dante ‘0 mais puro e sincero ¢ ilimitado amor! Nem 6 preciso acentuar a superioridade desta li¢do $0- bre a anterior. & Ja que tegistramos a eliminacao do Suara; etl no voedbuld obsessdo, antes lido com quatro silabas 202 as, opservemos que, além da substitui, sis) das correcdes gramatiats, fel? 4 vocébug Impt@Prmaiedo do poemia, de evitar a egy t’eSt20 0 poeta a 10> sobretudo a monofonia das rimas, “ALES? 2 final ge rao 2.5 7, havia UM caso no soneto Xe, ayia Co Sutabéet ap sor do feliz, em sonhos absortos. ‘Agu 4292 dizia do 0 poems. Quanto A ectlipse, temo-la no’ ys SUPtimido tod0 OF eualmente foi retirado: Quantas juras 5 do soneto, ‘unidas. Também no v. 6 do soneto vy. ers, a0 se ram ! rer em languides eortante... Esse songig i 0s m fem assim o referido verso: 05 ldbios dagett® PASS rol, to mero V, tem assit® 0 Ye Ve ‘arquejante. A monofonia das ri enorese fa ‘evitar no future, como poueds, surgd he geet potige o 20 terceto termina com os voedbulos dayne? i sei, 0 soneto, j& 0 dissemos, fol suprimido, oye seis sara a IV) tinba assim 6 19 tere: Quantne oY ue Patras noites opalinas, / Ndo esorevi sorrindo eaves 0 pinas, / No prateado leneot da areia dos caminos Be itt fieou-o © poeta: Quantas vezes ao luar das noites st Moco excredi sorrindo estas letras saudosas /'no pra. Eado tencol da areia dos caminnos... mo ‘Quem era essa mulher? Ao contrario de Arvers, di sauemoneto V (depois IV): Chamava-se Cleoniee, «oho Em, era Cleonice... A mesma Cleonice daquele soneto “A Gitva do Caminho", e que ainda aparecera em versos de gutres livros do aedo de Redenca Ha alguns sonetos do primelro livro que, mest sofrido alteragdes para melhor, so belos eben estruturedas em stia forma primitiva. £ 0 caso do soneto VIII (depois Vit), que receberia novas rimas nos tercetos, mas que lere- mos na forma primeira: Voltei. Tudo era festa! A natureza inteira Era_um sacrério d’oiro inteiramente aberto! — 0 monte, o vale, o bosque, a lacrimal ribeira, Desde 2 campina em flor, ao matagal deserto Tudo me recordava essa visio fagueira Que me esperava ansiosa, a suspirar, decerto. Desde o primeiro plano a serra derradeira, ‘Meu transliicido olhar se prolongava incerto. . Contemplei a cascata, 0 riacho, a cerca antiga, Onde ao cair da tarde a festiva cantiga Das cigarras passava, alegremente, ouvindo. 293 srtonte, em febre, 0 FUbrO sol grandlo, Ba otro oom fem Ittellez, radloso, 80, Despontefeque Hi, em crispigdes 8° Abxindo, poomas mostmam que o poeta melhorow artis. ea ag Mee itor demnonstram que ele 2S Yezes consegtn lament ge sun, voracio pogtien, O ultimo soneto lena real gis X) & ainda mals fll, tanto que © autor GaIV antes fie Teves alteragocs: o “em minha Trente™ do die fa tata por “a minha frente”; “inda” © “Entan. Ko ol sv etpsttuir “ainda” e “No entanto”, no ¥. 9, ¢, no {or alimo verso, “"no mundo o meu viver" fol mudado para penultinvtd viver", Lelamo-lo na versio original, de 1918; ‘Tudo tom neste mundo uma expiagio latente, Ea falsidade atroz so pelrifiea em tudo. ‘Aquele que hoje canta, amanhi, certamente, Verd cotter seu pranto indefinido ¢ mudo, Bu também jé cantel! Jé também tive o escudo Da alegria da vida exposto em minha frente! Mas se hoje apenas faco um pequenino estudo Do que fui, nada sou neste infetiz. presente. ‘Amei — como ainda hé pouco o confessei. No entanto, Em troca deste amor restam-me, agora, o pranto, ‘A migoa, 0 desespero, a realidade, a dor! E dentro do passado, onde a saudade existe, No mundo o meu viver 6 to magoado ¢ triste Como um quadro hibernal que vai perdendo a cor. Mesmo trabalhando 0 verso, numa constante Iuta pele perfeicio formal, o que o fazia refundir varias vezes um poema, Otaciio riunea abandonaria totalmente esse tom cre- uscular, nimbado por invernos e outonos, 0 que irla con- {erir ao sew parnasianismo deliberado uns tons leves de pe- numbrismo e simbolismo Eserevendo, anos depois, sobre 0 livro Desolagdo (1947), observaria Joaquim Alves: “'Sente-se na poética de Otacilic de Azevedo a influéneia parnasiana e simbolista”.14 14 — ALVES, Joaquim. Autores Ce i ALVES. Joaquim. Autores Cearenses, Fortaleza, Eadigdes Cli, 194%. 294 De suo Colares, em artigo em Op obra das 7 anos lo poota, exoreya, He fever siiio em stia term no huge an erate ra nag. 0a tip que Olaelll de Azevedo tenia et ess, nao pote Mensagem octlen, vevelado a abt" e S48 ex- da composigio ples parmasiana, Corre yf 5 poomas Io rom porte ce fnvolla com algumas tintag decadent a lpg gene de Tor Cruz © Sousa ecg domans oe eh a oT tas" yatdivino, quando da morte do poet votetip ora 0 parhasiano, som o aticismo rigorosy

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