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O amor é um apetite intelectivo.

Ele está a priori, na condição de conhecer e


abstrair o que existe de mais integral no objeto amado. Não é possível amar
sem ter o conhecimento do objeto amado. Ambos os processos (conhecer e
amar) são operações nobres que são pressupostas na operação ativa do
intelecto. Conhecer as partes mais nobres até que exista todo processo de
"amar" depende também da categoria do amor existente (já vou chegar lá),
mas todas elas pressupõem o conhecimento integral das partes amadas.
Amar é conhecer, logo conhecer é mais nobre do que amar, pois conhecer
gera uma integralidade da verdade na vida do próximo, então para não
pararmos em uma mera paixão, encaixamos virtudes intelectuais praticadas
na vontade, o que determina que o ato de conhecer também atualiza
virtualmente objetos mais nobres.

Vamos supor "O amor pode ser anterior às ciências de vários modos: porque
o amor pela sabedoria fundamenta a busca pelo conhecimento". Como
sabemos a abstração do que determina a vontade de amar sem nem passar
por um plano virtual conceitual do objeto amado?? Como amamos a busca
pela sabedoria? O que é o amor? O que buscamos nessa sabedoria? Um dos
critérios principais para falar sobre primazia de uma potência diz respeito à
operação dela... Já que a potência é conhecida por conta de seus atos
próprios e também porque a sua "quantidade virtual ou nível de participação
no ser ou seu quantum de atualidade" é medido de acordo com a sua
operação mais "forte", nobre, eminente, etc. E a ciência na minha visão a
ciência tem efeito eficiente, causal e formal na vontade. A minha posição é a
de que a vontade não é só movida pelo objeto dado pelo intelecto de modo
terminativo ou como causa final, mas também como causa eficiente... Já que
a causa formal pode ser a causa final e eficiente.

É importante fazer uma colocação aqui, quando falamos que o amor é uma
substância formal do ato de conhecer o objeto amado, eliminamos a
possibilidade de amarmos algo que não possui um fim em si mesmo, como
objetos que são pura potencialidade, como bens materiais.

Quando eu me refiro a “categorias do amor” eu quero dizer que existem


duas noções regulativas no ato de conhecer o objeto amado, são elas: Amor
de amizade e o amor romântico.

O amor da amizade surge quando você encontra virtudes e outras ações


nobres no objeto amado e sente a vontade de manter por perto a pessoa que
você ama, pois sente a necessidade de atualizar as suas potências mais
nobres no próximo (seus hábitos virtuosos como caridade, justiça, prudência,
virtudes intelectuais, etc), mesmo que de modo inconsciente.
O amor romântico surge após o processo da amizade, pois nele já existe a
vontade de querer por perto aquilo que tem de melhor no objeto amado e de
atualizar no próximo aquilo que tem de mais virtuoso em si mesmo. Mas o
que difere substancialmente ambos, é que no amor romântico, existe a ideia
de que além de você tratar o objeto amado como virtuoso, sentindo
admiração por suas virtudes intelectuais, morais ou até mesmo uma paixão
pela aparência do sujeito. O fim de querer a pessoa por perto não é
meramente por tratar ela como um fim de virtude, mas tratar ela como uma
virtude que te completa, na medida em que você deseja formalizar sua
relação com ela, apreendendo todos os aspectos reais dentro dela. O que
une substancialmente essas duas concepções de amor, de modo simples,
seria dizer que o amor além de ser conhecer o objeto amado, também
significa criar laços.

Dentro da metafísica clássica, podemos concluir que existem possibilidades


de existir um “amor à primeira vista”, mas no sentido de desejar o bem ao
próximo, o que é relativo ao objeto amado, mas não é um amor tão universal
quanto os demais, que já partem de um processo cognitivo no entendimento
do que é conhecido na amizade e no romance.

O amor é propriamente uma abstração, mas uma abstração que não pode
incorrer aos falhos momentos de idealização do que não é conhecido ou
ainda apreendido, algo que é possível observar em relacionamentos na
adolescência, onde não conseguimos avaliar virtudes reais, mas aparências
que partem de uma avaliação singular do que parece* ser bom, mas nem
sempre de fato é. Existe também uma noção do que é visto e do que não é
visto dentro do amor, isso lembra fortemente uma passagem do pequeno
príncipe.

- “Ela me perfumava e iluminava...


Não deveria jamais ter fugido.
Deveria ter-lhe adivinhado a ternura sob os seus pobres ardis.
São tão contraditórias nas flores!
Mas eu era jovem demais para saber amar”.

Nesse contexto, o pequeno príncipe percebe que existem ações que em sua
fase de imaturidade, não era observável o aspecto fundamental e constitutivo
do amor, que seriam as ações morais. As ações morais são virtudes que
possuem maior grau de perfeição do que as virtudes intelectuais. Para que
você tenha o desejo de ter uma pessoa mais intelectualizada por perto, não
basta apenas que a pessoa seja inteligente, mas que a pessoa tenha uma
ética que corresponda suficientemente ao amor que você presta a ela. As
virtudes morais são mais difíceis do que as virtudes intelectuais em suas
realizações. É mais fácil para o intelectual dissertar sobre teologia moral do
que enfrentar os vícios de temeridade e covardia.
O amor na adolescência pode ser verdadeiro no sentido apresentado (desejar
o bem), mas é imaturo, como o do little prince. A verdade tem primazia sobre
o amor, pois primeiro conhecemos e depois amamos. É impossível amar o
desconhecido, embora o jovem tenha muita vontade de amar, pois envolve
uma inclinação da paixão, mas sua mente ama confusamente por não ter
conhecido bem o objeto de seu amor. Se a mente é confusa, o amor é
passageiro, logo, ele não possui uma unidade sofisticada como as demais.
Isso chamamos de paixão

Entendendo esses pressupostos, serei breve ao analisar a formalidade


institucional dentro deste tema.

O amor é uma virtude, mas existe uma divisão em graus de perfeição, como
dito antes em relação ao amor, pois não basta você ter o amor da amizade,
ou o amor romântico sem a atualidade progressiva da relação. A amizade é
dada no momento que existe a mutualidade entre as condições integrais que
foram mencionadas anteriormente, o amor romântico também, mas para o
efeito ser mais universal e possuir maior unidade, é necessário que exista
uma união entre as almas, mas essa união não é algo que pode ser
corruptível, mas algo que é unido por Deus, visto que o amor é uma busca
mútua entre os agentes amados para chegar até Deus, nesse caso, podemos
perceber que existe uma institucionalização do amor, que é dado em uma
união metafísica, que qualifica tal unidade como muito mais universal do que
os outros tipos de relação. Nessa situação, o que foi dito por “O fim de
querer a pessoa por perto não é meramente por tratar ela como um fim
de virtude, mas tratar ela como uma virtude que te completa, na medida
em que você deseja formalizar sua relação com ela, apreendendo todos
os aspectos reais dentro dela” é consolidado de modo que une as duas
almas para a eternidade.

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.

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