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EDITORIAL

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JUNTE-SE A NÓS

AUTORIA FEMININA DOCUMENTÁRIOS

A Escrita das
Mulheres
18 de janeiro de 2023

Mulheres de Luta
Mulheres de Luta é um
projeto que tem como
missão criar e promover
conteúdos de interesse
geral, não restritos às
pautas feministas, onde
mulheres especialistas
Documentário produzido pela Lascene
em suas áreas são fonte
produções | Inédito de informação, opinião e

Literatura feminina ou inspiração.

literatura de autoria feminina? b 4 

“Não existe lugar de fala na arte”. Assim afirma a


escritora Sônia Rodrigues, na entrevista para o
MAIS RECENTES
:
documentário A Escrita das Mulheres. Para ela, bem
como para outras entrevistadas, os livros podem ser de
autoria feminina ou masculina, mas não há que se falar Websérie Exposição
em obras femininas ou masculinas, pois mesmo um autor Moda Marielle
sem Marés
homem seria capaz, com talento e boa vontade, de
Medida:
encontrar a alma feminina a ponto de retratá-la com assista e
perícia, detalhe e profunda realidade. Exemplos não aprenda
faltariam, tal como Flaubert, ao descrever Madame a amar
seu
Bovary, ou Tchekhov através de suas diversas criações
corpo!
femininas (com indiscreta predileção ao As Três Irmãs).

A premiada escritora Lúcia Bettencourt questiona: “o que


faz com que reconheçamos verdade na personagem de Curso Maria
gratuito Firmina
Madame Bovary, que foi escrita por um homem?”
de dos Reis
Pergunta que vem a ser respondida pela escritora e Storytelli ea
tradutora Susana Fuentes: “há uma sensibilidade no ng para literatura
feminino que pode também estar no texto de um autor.” mulheres do
da testemun
periferia ho
A escritora Beatriz Bracher é ainda mais assertiva: carioca

“nunca ninguém conseguiu me dizer quais são as


características da literatura feminina… tudo o que me
falam encontro em livros escritos por homens também.”

“Eu não conseguiria ler um bom livro e saber se ele foi


escrito por um homem ou por uma mulher” (Ana Maria
Machado, jornalista, professora, pintora e escritora).

A eterna Nélida Piñon, que partiu e nos deixou as


saudades e seu imenso legado artístico, descortina sua
visão com tamanha lucidez:

“Eu acho muito importante que o autor pense ‘eu sou


:
você’, ‘eu sou homem’, ‘eu sou mulher’. Você tem que
assumir todas as formas. Eu não posso ser a escritora
que eu desejo ser se eu não for mulher, se eu não for
homem, se eu não for criança, se eu não sentir as
vibrações, as modalidades afetivas, os bichos” (Nélida
Piñon).

No entanto, há escritoras que possuem uma visão um


pouco diferente. Elas acreditam que a escrita feminina é
essencialmente singular e, portanto, não pode ser
simulada por um autor masculino.

A poeta Alice Ruiz defende que o fato do ser mulher


determina a escrita: “o tempo inteiro eu sou uma mulher
que escreve.”

Meimei Bastos e Cristina Sobral também advogam nessa


vertente. Meimei se recorda da força da escrita feminina,
e Sobral nos faz lembrar que não só existe uma escrita
feminina, mas que “ela é urgente”.

Para a escritora Marina Colasanti, a escrita é sim


feminina, pois a ferramenta do autor é o olhar, e o olhar
sobre o mundo possui um gênero: “eu vejo o mundo com
olhos de mulher.”
Nascida no Chile, a escritora e tradutora brasileira Carola
Saavedra compartilha dessa visão, ao dizer que é mais
fácil se aproximar de uma personagem feminina; todavia,
em relação ao homem há uma distância, um limite –
depois desse limite, a escrita advém de pura observação:
é algo mais intuitivo, pois está para além da fronteira da
compreensão da alma feminina.
:
Para essas mulheres, a escrita não é, portanto, fruto tão
somente de uma construção social. Homens e mulheres
são visceralmente distintos, de modo que a visão que
possuem de mundo e, por consequência, seus escritos,
encontrarão, invariavelmente, diferentes percepções e
valores.

“Nosso sangue se dá
de mão beijada
se entrega ao tempo
como chuva ou vento”
(Marina Colasanti)

A controvérsia segue no documentário, porém, o que é


ponto pacífico entre as escritoras é a importância de as
mulheres escreverem; escreverem para construir uma
identidade, até porque a literatura também é um discurso
social. A literatura feminina – ou de autoria feminina – é
fruto da interrogação das mulheres em cada período
histórico.

E hoje as conjunturas são deveras oportunas, como bem


destacou Heloísa Buarque de Hollanda: a presença das
mulheres é enorme e passa dos 50% no mercado
editorial, de modo que “a literatura feminina hoje está no
seu melhor momento”, afirmou a ensaísta.

“Ser mulher… Buscar um companheiro, e encontrar um


senhor”
(Gilka Machado)

É importante destacar que o bom momento não é fruto


:
do acaso, mas sim de uma construção – histórica, lenta e
corajosa. Em A Escrita das Mulheres, as escritoras,
poetas, tradutoras, estudiosas e pensadoras
entrevistadas homenageiam as célebres escritoras que
desvelaram esse mundo sem limites da escrita, para que
os primeiros fachos de esperança alcançassem as novas
gerações e, nos dias presentes, possamos comemorar
um cenário em que mulheres já estão completamente
integradas, ativas e protagonistas no mercado editorial.

Ganham destaque Virginia Woolf, verdadeira lenda


britânica nascida no século XIX, e, no Brasil, Gilka
Machado, escritora que alcançou a fama no início do
século XX. Essas escritoras retiraram as mulheres de
suas casas, de suas realidades impostas e limitadas,
rumo à arte, à eroticidade, ao leme que permitiu tomar a
direção de suas próprias vidas.

“Luzia não queria ser santa; queria ser menino, porque


santa não pode fazer nada, e menino pode fazer tudo”
(Susane Fuentes).

O documentário A Escrita das Mulheres desenvolve esse


questionamento sobre a essencialidade do gênero
feminino na literatura e abarca diferentes visões de
algumas das principais escritoras brasileiras. Embora a
discussão não tenha um desfecho e, portanto, a pergunta
continue acesa e provocante, o maior tesouro dessa
produção é justamente o encontro de tantas
personalidades notáveis, as deliciosas conversas e a rica
inspiração motivadora que vem do encontro de mulheres
tão inteligentes, fortes, corajosas, vivas, donas de si,
protagonistas de seu próprio mundo e criadoras da sua
:
história.

“Anseio por liberar-me das obrigações, da falsa polidez,


do peso dos objetos. A solidão, que a noite acentua, é a
minha salvaguarda” (Nélida Cuíñas Piñón, nascida em 3
de maio de 1937, no Rio de Janeiro, falecida em 17 de
dezembro de 2022, com 85 anos, e integrante da
Academia Brasileira de Letras).

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