Professional Documents
Culture Documents
Definição: UC 24 - Problema 02 - Socorro! Acho Que Estou Morrendo - @resumosdakali
Definição: UC 24 - Problema 02 - Socorro! Acho Que Estou Morrendo - @resumosdakali
Definição
A síndrome coronariana aguda consiste em uma das faces da doença aterosclerótica, a qual é
oriunda da presença de placas ateromatosas na circulação arterial do coração. Ela se evidencia como
um quadro instável, que se apresenta com sintomas anginosos que surgem aos mínimos esforços e até
mesmo em repouso, estando associada a altos índices de morbidade e mortalidade.
Epidemiologia
Apesar da queda da taxa de hospitalização decorrente de síndrome coronariana aguda ter caído
cerca de 4 a 5% a cada ano nos Estados Unidos, são contabilizados ainda cerca de 550 mil eventos
cardiovasculares coronarianos primários e cerca de 200 mil reincidentes a cada ano. Logo, faz sentido
o fato de que as doenças isquêmicas do miocárdio tenham se tornado as principais responsáveis por
gastos no sistema de saúde, dado o seu impacto quanto aos anos de vida perdidos por incapacidade
(do inglês disability-adjusted life-years ou DALY).
O infarto agudo do miocárdio é responsável por cerca de 8,8% dos óbitos no Brasil, sendo a
mortalidade mais alta no sistema público do que no privado, decorrente de dificuldade de acesso ao
serviço de terapia intensiva precocemente.
Nos Estados Unidos, a doença coronariana por si só (quadro esse que inclui a síndrome
coronariana aguda) atinge cerca de 17 milhões de pessoa, sendo que cerca de 10 milhões sofrem de
sintomas anginosos, ocorrendo cerca de 380 mil mortes decorrentes de infarto agudo do miocárdio a
cada ano por meio de morte súbita. É importante ressaltarmos que a incidência da doença coronariana
aumenta conforme a idade do paciente, sendo que a ocorrência do evento é responsável por limitações
na qualidade de vida do indivíduo ao restringir suas atividades em decorrência de incapacidade
adquirida após o evento, a sua maioria decorrente de quadros de angina instável e déficits do
ventrículo esquerdo.
Mecanismos fisiopatológicos
Ao longo dos anos ocorre o depósito de colesterol do tipo LDL no subendotélio de vasos arteriais.
Em associação com macrófagos, formam as chamadas células espumosas, quadro esse que configura a
formação de um ateroma, o qual consiste em uma estrutura com core lipídico localizada na região
subendotelial do vaso, recoberta por uma capa fibrosa.
Os fatores de risco para a doença aterosclerótica se relacionam com a presença de um endotélio
mais inflamado, o qual acaba por expressar moléculas de adesão, como VCAM1. Tais moléculas atraem
elementos presentes no plasma, com ênfase nos monócitos, os quais, ao entrarem em contato com essas
proteínas de adesão, se internalizam na camada subendotelial, local onde essas células se diferencial em
macrófagos.
Uma vez instalados, os macrófagos subendoteliais fagocitam moléculas de gordura,
principalmente colesterol do tipo LDL, de modo a gerar as chamadas de células espumosas, os quais se
acumulam na camada subendotelial ao longo do tempo, comprimindo o endotélio contra a luz do vaso.
Toda essa lesão gera uma capa fibrótica que recobre essas células, em decorrência da migração de células
da camada muscular lisa do vaso, que pode se calcificar ao longo do tempo.
O quadro em questão é desencadeado pelo instabilização aguda de placa aterosclerótica
localizada em campos coronarianos, propiciando a agregação plaquetária, de modo a formar um trombo
na luz arterial, o que gera um agravamento agudo da obstrução vascular. O grau de obstrução
determinará o aparecimento de diferentes sintomas clínicos, bem como o grau de isquemia ao qual o
miocárdio for submetido. Nos casos em que o trombo promover uma obstrução parcial, com fluxo
sanguíneo residual (seja pela porção ainda não ocluída ou por circulação colateral), ou com a ocorrência
de uma oclusão transitória da luz vascular, temos dois quadros possíveis mais brandos da doença: o
infarto agudo do miocárdio sem supradesnivelamento do segmento ST (IAMSSST) e a angina instável.
Já quando ocorre a obstrução total da luz arterial, sem o suprimento por circulação colateral, ocorre uma
privação completa da irrigação do miocárdio, levando ao infarto agudo do miocárdio com
supradesnivelamento do segmento ST (IAMSST). Sendo assim, esses três quadros fazem parte da
UC 24 – Problema 02 – Socorro! Acho que estou morrendo - @resumosdakali 3
Quadro clínico
Pode ser descrita a irradiação dessa para o epigástrio, cérvice, mandíbula, dorso e membro
superior esquerdo, sendo que é comum a sensação de parestesia nesse último. O paciente geralmente
não associará a dor aos movimentos respiratórios e não indicará um ponto específico doloroso. Isso
porque a dor isquêmica consiste em uma dor visceral, a qual não envia sinais neurológicos de dor
localizada, mas sim de dor difusa.
UC 24 – Problema 02 – Socorro! Acho que estou morrendo - @resumosdakali 5
Os sinais vitais do paciente devem ser monitorados com atenção, observando o surgimento de
hipo ou hipertensão, uma vez que em casos de acometimento extenso do miocárdio, pode ocorrer a
manifestação de sinais e sintomas de insuficiência cardíaca, como dispneia, pressão venosa central
elevada, bem como a evolução para choque cardiogênico aliado à hipotensão e vasoconstrição, que
poderá ser suspeitada pelas extremidades frias ao toque.
Seguimento
Uma vez iniciados os sintomas do paciente, o tempo entre a tomada de decisão de procurar o
serviço de emergência e a chegada nesse geralmente é demorado, especialmente no que concerne
pacientes idosos, do sexo feminino e de baixa condição socioeconômica. Havendo a possibilidade e a
disponibilidade da realização de um eletrocardiograma (ECG) anteriormente à chegada ao serviço de
emergência, esse deve ser feito de imediato, uma vez que a identificação do supradesnivelamento do
segmento ST poderá ser utilizado para encaminhar o paciente para o atendimento prioritário.
No cenário de níveis de troponina duvidosos, bem como nos quais o paciente chega antes de
três horas do início do quadro, pode-se realizar a dosagem seriada de troponina, ou simplesmente o
que se chama de colher a troponina em tempo hábil. O motivo do uso da expressão “tempo hábil”
consiste no fato de que a elevação da troponina não ocorre de imediato, podendo demorar até três horas
após o início do quadro de isquemia para que isso ocorra. Diante disso, deve-se colher a dosagem de
troponina do paciente a cada uma ou duas horas, observando a curva da concentração dessa proteína.
A elevação da dosagem maior do que 20% do valor inicialmente colhido é altamente sugestiva de
infarto, indicando o chamado valor em crescente, configurando quadro compatível com a síndrome
coronariana aguda.
Outra possibilidade consiste no padrão de elevação do tipo platô, o qual é caracterizado por um
aumento menor do que 20% do inicial quando da segunda coleta de troponina, o qual está relacionado
aos diagnósticos diferenciais que podem cursar com elevação dos níveis séricos de troponina.
UC 24 – Problema 02 – Socorro! Acho que estou morrendo - @resumosdakali 9
Algoritmos de diagnóstico
Tratamento
Uma vez realizada uma das terapias fibrinolíticas, deve-se ficar atento para o aparecimento dos
Critérios de Reperfusão entre 60 a 90 minutos após o tratamento. O primeiro critério é
UC 24 – Problema 02 – Socorro! Acho que estou morrendo - @resumosdakali 13
eletrocardiográfico, consistindo na redução de, pelo menos, 30 a 50% do supra de ST, devendo ter como
referência a derivação que apresentava a maior elevação do segmento ST. O segundo critério é
sintomático e consiste na melhora da dor referida pelo paciente. Em caso positivo, adota-se a estratégia
farmacoinvasiva, na qual, após a fibrinólise, o paciente deve ser encaminhado para o cateterismo dentre
2 a 24 horas, uma vez que se sabe que o fibrinolítico pode não ser capaz de desobstruir completamente
a artéria do paciente, de modo que esse necessitará de uma angioplastia. Nos casos em que não forem
satisfeitos os critérios de reperfusão, o paciente é classificado como urgente, devendo ser submetido a
uma angioplastia de resgate.
É importante lembrar que, nos casos em que o paciente não responder à terapia fibrinolítica, essa NÃO
deve ser repetida em hipótese alguma, dado o alto risco de sangramento. Ou seja: o tratamento fibrinolítico não
funcionou? O paciente DEVE ir para o serviço de hemodinâmica o quanto antes (lembre-se de que TEMPO É
MÚSCULO!).
Junto a todo esse tratamento de reperfusão, como medida inicial, a dor anginosa deve ser tratada,
a fim de diminuir o tônus simpático, o qual é capaz de gerar mais estresse ao coração que já está
acometido. Para isso, administra-se dinitrato de isossorbida sublingual (Isordil) na dose de 5mg para
alívio do desconforto isquêmico, uma vez que esse fármaco atuará proporcionando a dilatação dos vasos
coronarianos, de modo a dar certo alívio à dor causada pela isquemia. Pode-se utilizar também a
nitroglicerina, 10 mcg/min, por via endovenosa em bomba de infusão contínua. Junto a isso, deve ser
administrada morfina como analgésico para controle adicional da dor, de 2 a 8 mg, via endovenosa,
podendo ser repetida em 5 a 15 minutos, salvo a existência de contraindicações.
ATENÇÃO!
Os nitratos são contraindicados nos casos em que o paciente apresentar hipotensão, infarto de ventrículo
direito e quando esse faz uso de inibidores de fosfodiesterase, como sildenafila e tadafila, nas últimas 48 horas.
Cuidado para não se confundir com os nomes! Não se deve utilizar o nitroprussiato de sódio, uma vez
que ele causa uma vasodilatação difusa, que pode causar o fenômeno chamado de “roubo de fluxo” por meio da
dilatação de vasos arteriais que não precisariam ser dilatados, não priorizando as regiões acometidas.
A morfina NÃO deve ser utilizada nos casos de IAMSST relacionados ao ventrículo direito, uma vez
que a hipotensão que esse fármaco pode gerar acabaria por colapsar a ação do coração direito, o qual depende
de volume (retorno venoso) para o seu funcionamento, podendo levar o paciente ao choque cardiogênico, dada
a hipotensão profunda. Além disso, deve-se atentar para o uso de inibidores de P2Y12, uma vez que ela pode
reduzir os efeitos desses fármacos em alguns pacientes.
Além da terapia de reperfusão, os pacientes com IAMSST requerem também terapias adicionais
que auxiliam na abertura das artérias. Para isso, são prescritos antiagregantes plaquetários, cujo objetivo
consiste na diminuição da formação do trombo branco, bem como na diminuição do risco de trombose
no stent. Administra-se, portanto, ácido acetilsalicílico (AAS) pelo resto da vida do paciente.
Inicialmente, dá-se uma dose de ataque entre 162 e 325 mg mastigados, com manutenção diária de 75 a
100 mg/dia. É importante que todos os pacientes com IAMSST façam o uso da aspirina, uma vez que
ele possui significativo efeito quanto ao desfecho de morte. A única exceção ao uso de AAS consiste na
presença de úlcera gástrica ativa e histórico de reação anafilática prévia quando do uso desse fármaco.
Casos de alergia leve, como urticária, não contraindicam o seu uso, devendo ser prescrita medicação
anti-histamínica para o controle de sintomas adversos.
A dupla anti-agregação plaquetária é completada pelo uso de inibidores do receptor de P2Y12,
cujo uso deve ser feito por um ano. Uma das opções de escolha é o clopidogrel, sendo que pacientes que
UC 24 – Problema 02 – Socorro! Acho que estou morrendo - @resumosdakali 14
passaram pela angioplastia primária devem receber dose de ataque de 600 mg, com manutenção de 75
mg/dia via oral. Caso o paciente tenha passado pela fibrinólise, a dose diminui pelo risco de
sangramento. O ataque é feito com 300 mg, com manutenção de 75 mg/dia. Porém, caso o paciente
tenha mais de 75 anos, não se deve realizar a dose de ataque, pelo risco elevado de sangramento. Uma
outra opção é o ticagrelor, que possui uma melhor estabilidade quanto fármaco em comparação com o
clopidogrel, no tocante à anti-agregação plena. Porém, esse fármaco só deve ser utilizado nos casos em
que o paciente foi submetido à angioplastia primária, não devendo ser utilizado nos casos após a terapia
fibrinolítica. Realiza-se a dose de ataque de 180 mg, com manutenção de 90 mg, a cada 12 horas, via
oral. Tem-se ainda a opção do prasugrel, que, assim como o ticagrelor, só deve ser utilizado nos casos
de angioplastia primária. Nesse caso, a dose de ataque é de 60 mg, com manutenção de 10 mg/dia, via
oral. Caso o paciente possua mais de 75 anos ou menos de 60 kg, a manutenção deve ser de 5 mg ao dia.
Cabe ressaltar que o prasugrel possui maior risco de sangramento intracraniano, sendo o seu uso
contraindicado nos casos de AVC prévio.
Como opção de anti-agregantes plaquetários, pode-se fazer o uso de inibidores da glicoproteína
IIb/IIIa, cujo uso é mais restrito e infrequente. São administradas por via endovenosa, em bomba de
infusão contínua. A prescrição dessas drogas é geralmente feita pelo próprio hemodinamicista, que irá
indicar o uso nos casos de identificação de grande quantidade de trombos no cateterismo, ou ainda
quando não há fluxo arterial coronariano, mesmo quando o balão é insuflado na coronária obliterada.
Os fármacos geralmente utilizados nesses casos são o tirofibana e o abciximab.
Vamos deixar bem claro que a terapia de anti-agregação plaquetária é geralmente dupla, sendo feita de
preferência com AAS junto a um inibidor de P2Y12. Os inibidores da glicoproteína IIb/IIIa não devem ser a
primeira escolha de uso.
Junto a isso, deve ser feita a terapia anticoagulante, cujo objetivo é prevenir a formação do trombo
vermelho, dissolvendo a trombina. O fármaco mais utilizado é a enoxaparina, que tem usos distintos a
depender da terapia de reperfusão realizada, mas em ambos os casos a administração de ataque é feita
por via endovenosa e a de manutenção, por via subcutânea. Nos casos de fibrinólise, administra-se uma
dose de ataque de 30 UI, com manutenção de 1 mg/kg a cada 12 horas. Caso o paciente possua mais de
75 anos, não deve ser realizada dose de ataque. Agora, se o paciente passou pela angioplastia primária,
realiza-se o ataque de 0,5 mg/kg, sendo geralmente realizada pelo próprio hemodinamicista, com
manutenção semelhante à situação de fibrinólise. A terapia anticoagulante deve ser realizada por um
período de até oito dias, até a alta do paciente, ou até a realização da angioplastia, o que ocorrer primeiro.
A segunda opção de anticoagulante é a heparina não fracionada (HNF), que é mais complicada
quanto à sua utilização, pois é administrada em bomba de infusão contínua. Uma vez que o paciente
tenha passado pela fibrinólise, realiza-se o ataque de 60 UI/kg via endovenosa, sendo o máximo de 4000
UI administradas. A manutenção é feita com 12 UI/kg, com o TTPa mantido entre 50 e 70 segundos.
Na angioplastia primária, o ataque é realizado pelo hemodinamicista, administrando-se de 70 a 100
UI/kg, via endovenosa, sendo a manutenção igual aos casos de fibrinólise. A HNF deve ser utilizada
até a angioplastia ou por até 48 horas, o que ocorrer primeiro.
O uso de oxigenoterapia só se mostra benéfico para pacientes cuja saturação se encontra abaixo
de 90%, ou para aqueles cuja gasometria arterial acusou pressão parcial de oxigênio menor do que 60
mmHg. Betabloqueadores podem ser utilizados, possuindo benefício de médio a longo prazo, devendo
ser iniciados em até 24 horas.
Caso o paciente possua fração de ejeção do ventrículo direito reduzida (menor do que 40%),
preconizam-se betabloqueadores com benefícios quanto à mortalidade, que são: carvedilol, bisoprolol e
UC 24 – Problema 02 – Socorro! Acho que estou morrendo - @resumosdakali 15
succinato de metoprolol. Esses fármacos são contraindicados nos casos de choque cardiogênico,
insuficiência cardíaca descompensada e bradiarritmias.
IECA e BRA também podem ser utilizados, sendo que, caso seja adequado, a terapia com esses
fármacos deve ser iniciada em até 24 horas. Os pacientes que se beneficiam do uso dessa classe de drogas
não aqueles com fração de ejeção do ventrículo esquerdo menor do que 40%, diabéticos ou hipertensos.
Os antagonistas de aldosterona, como a espironolactona, devem ser utilizados quando já se faz o
uso de IECA ou BRA junto com um betabloqueador, diante do cenário de fração de ejeção do ventrículo
esquerdo menor do que 40%, com apresentação de insuficiência cardíaca ou diabetes mellitus. Porém,
esses fármacos não são utilizados no tratamento inicial, sendo avaliada a necessidade do seu uso em
momentos oportunos. É importante o uso de estatinas de alta potência, dado o seu benefício de reduzir
infartos, por meio da estabilização das placas ateromatosas. Sendo assim, faz-se o uso de atorvastatina
de 40 a 80 mg, ou de rosuvastatina de 20 a 40 mg. É importante que seja observado o alvo de LDL do
paciente diante do uso desses fármacos, o qual deve ser menor do que 50 mg/dL.
O ticagrelor, quando disponível, pode ser preferido para administração ao paciente em SCA
sem supra, uma vez que há uma maior resposta desses a esse fármaco, diferente do que ocorre com o
clopidogrel no tocante à farmacodinâmica (metabolização), prejudicando a anti-agregação.
Como a principal queixa do paciente com SCA é a dor anginosa, o alívio dessa faz-se necessário
para a tranquilização e bem-estar do paciente, bem como para que a colaboração desse para com o
tratamento seja adequada. Para tal, pode ser administrada morfina para o controle da dor e nitratos,
cujas indicações e contraindicações já foram vistas no tratamento de IAMSST.
Dado que um dos sintomas da SCA é a dispneia, a oxigenoterapia pode ser benéfica. A
suplementação com oxigênio deve ser feita nos casos em que o paciente apresenta sinais de hipoxemia,
seja com a saturação menor do que 90% ou pela pressão de oxigênio menor do que 60 mmHg na
gasometria arterial.
Os anticoagulantes devem ser administrados a fim de evitar a formação do trombo vermelho,
resultante da agregação de hemácias. Nos casos de pacientes com SCA sem supra, a primeira opção
consiste na enoxaparina, devendo ser aplicada por via subcutânea, 1 mg/kg a cada 12 horas.
Ela dever ser administrada até a realização da angioplastia, ou até a alta do paciente ou por até
oito dias (importante frisar aqui a questão do “ou”, de modo que o evento que ocorrer primeiro é
suficiente para a interrupção da administração do medicamento).
Pode ser utilizada a heparina não fracionada, mas o seu manejo é mais complicado quando
comparado à enoxaparina. Ela deve ser administrada em bomba de infusão contínua, via endovenosa,
com ataque de 60 UI/ kg sendo máximo de 5000 UI, com manutenção de 12 UI/kg, mantendo o TTPa
(tempo de protrombina) entre 50 e 70 segundos. Esse fármaco pode ser utilizado até a angioplastia ou
por até 48 horas, o que ocorrer primeiro.
O fondaparinux é utilizado principalmente para pacientes com alto risco de sangramento,
devendo ser administrado por via subcutânea, 2,5 mg, uma vez ao dia.
Em até 24 horas após o início do tratamento devem ser administrados fármacos que melhoram o
desfecho quanto ao remodelamento e quanto à sobrevida a longo prazo, como estatinas de alta potência
em dose máxima, betabloqueadores e vasodilatadores, como inibidores da enzima conversora de
angiotensina (IECA) e bloqueadores do receptor de angiotensina (BRA), principalmente para aqueles
cujas sequelas contemplam fração de ejeção reduzida (menor do que 40%).
Pacientes classificados pelos escores mencionados como de alto risco, devem seguir para
cateterismo cardíaco, enquanto os de baixo risco podem ser submetidos a exames para estratificação não
invasivos, como o Eco estresse, cintilografia e teste ergométrico, podendo ser prescrito para esse paciente
somente AAS e estatinas. Pacientes com risco intermediário podem seguir para ambas as estratégias,
devendo ser internados, sendo que a escolha deverá partir do consenso do médico com o paciente,
avaliando qual desses se encaixará melhor para a correta avaliação do quadro do paciente.
UC 24 – Problema 02 – Socorro! Acho que estou morrendo - @resumosdakali 17
UC 24 – Problema 02 – Socorro! Acho que estou morrendo - @resumosdakali 18
Nos casos de IAM sem complicações pós-tratamento com angioplastia primária, a internação
dura cerca de três dias. Durante a fase final da hospitalização, o paciente deve retomar suas atividades,
mas ainda deve ser monitorado, devendo a terapia medicamentosa deve ter preferência pela via oral, que
é adequada para que o paciente a utilize fora do ambiente hospitalar.
Deve ser realizada uma avaliação funcional antes da alta, incluindo um ECG para avaliar a
função ventricular esquerda e um teste de estresse deve ser aplicado em determinados pacientes, como
naqueles que receberam que foram classificados de baixo risco. Devem ser incentivadas medidas de
mudança do estilo de vida, como dieta, atividade física, tabagismo e outros fatores de risco (dislipidemia,
HAS e diabetes).
Os tratamentos ambulatoriais e de prevenção secundária devem ser revistos, devendo ocorrer um
planejamento para o acompanhamento. Junto a isso, o paciente com alta deve ser referenciado para a
reabilitação cardíaca, dado o fato de que essa possui efeitos de melhoria quanto ao desfecho desse
paciente.
Medidas preventivas
O tratamento inicial da síndrome coronariana aguda inclui repouso com monitoramento via ECG
e pronta terapia antitrombótica. A dor anginosa deve ser tratada com morfina, salvo nos casos de
hipotensão, sendo que administração de nitroglicerina sublingual é indicada inicialmente para o alívio
do desconforto isquêmico, por meio da dilatação arterial coronariana, podendo ser seguido por terapia
intravenosa para o desconforto isquêmico em curso, insuficiência cardíaca congestiva ou hipertensão
não controlada. A abordagem com betabloqueadores é controversa, mas de modo geral é favorável, com
início do tratamento nas primeiras 24 horas após a admissão.
A administração via oral costuma ser segura, sendo a terapia intravenosa preconizada para os
casos não controlados de hipertensão. O uso dessa classe de fármacos deve ser evitado em casos de risco
de choque cardiogênico, evidenciados por hipotensão e déficits do ventrículo direito, associados
principalmente com queda do retorno venoso, o que diminui a pré-carga do ventrículo direito.
O início ou a continuação de terapia com estatinas leva a efeitos pleiotrópicos, bem como à
redução dos níveis séricos de colesterol, resultando em melhorias nos desfechos cardiovasculares a longo
prazo. Essas devem ser iniciadas em até 24 horas do início do quadro, devendo ser tomadas pelo paciente
continuamente, em dose máxima. O uso de IECA e de BRA possuem um papel relevante no tratamento
da síndrome coronariana aguda, especialmente nos casos em que o paciente possui IAM prévio,
disfunção ventricular ou insuficiência cardíaca. Na ausência de contraindicações, a terapia deve ter início
dentro de 24 horas após a admissão.
Uma vez realizada essas medidas gerais, deve-se ter em mente os principais passos a serem
seguidos diante de um paciente com dor torácica com clínica sugestiva de Síndrome Coronariana, os
quais são resumidos por meio do quadro abaixo:
UC 24 – Problema 02 – Socorro! Acho que estou morrendo - @resumosdakali 19
FUNCIONAIS
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
progride. Avaliações repetidas da ausculta nos campos pulmonares são necessárias na fase aguda do
infarto. O aparecimento de sopro transitório de insuficiência mitral (disfunção de músculo papilar) ou
de comunicação interventricular deve sempre ser procurado, especialmente durante dor precordial
recidivante.
O desenvolvimento de insuficiência cardíaca congestiva, mesmo que não seja grave, implica
habitualmente grande extensão de área isquêmica ou de área de perda. Atenção especial deve ser dada
a indivíduos com grandes hipertrofias e infartos pregressos, que implicam disfunção ventricular prévia.
O oxigênio deve ser administrado com cateter nasal ou máscara. Diuréticos são o primeiro medicamento
a ser utilizado, usualmente furosemida 20-40 mg por via endovenosa; caso seja necessário, o
medicamento deve ser repetido em intervalos precoces. A nitroglicerina endovenosa está habitualmente
indicada, tomando-se cuidado para se evitar hipotensão arterial. Inibidores da enzima conversora da
angiotensina devem ser iniciados na dosagem de 6,25 mg ou 12,5 mg a cada 12 horas ou a cada 8 horas,
na ausência de hipotensão, hipovolemia ou insuficiência renal significativa. O betabloqueador via oral
deve ser iniciado nas primeiras 24 horas pós-infarto, a não ser que haja contraindicação, como crise de
asma recente, hiperreatividade brônquica ou bloqueios atrioventriculares avançados. O uso de
betabloqueadores endovenosos, especialmente nos dois primeiros dias pós-infarto, deve ser restrito a
pacientes hipertensos e na ausência de perfusão periférica ruim ou risco aumentado de choque
cardiogênico (mais que 70 anos, PAS menor que 120 mmHg, FC > 110 bpm e apresentação tardia), pois
está associado a maior risco de progressão para choque cardiogênico nestes pacientes. Em indivíduos
com disfunção ventricular e sem congestão pulmonar, o uso de betabloqueadores (orais) é indicado, a
não ser que haja contraindicação grave, como crise de asma recente, doença pulmonar obstrutiva crônica
ou doença vascular periférica graves.
CHOQUE CARDIOGÊNICO
MECÂNICAS
COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR
A comunicação interventricular pode ocorrer entre o terceiro e quinto dia pós-infarto. Essa
complicação decorre do acometimento do suprimento vascular do septo interventricular, que é suprido
pela artéria descendente anterior (em seus dois terços anteriores) e pela descendente posterior (em seu
terço posterior). Logo, em linhas gerais, pode-se dizer que para que ocorra a comunicação
interventricular, faz-se necessário um infarto dessas duas artérias levando a isquemia de uma região do
septo que seja capaz de gerar esse quadro. Em pacientes com artéria descendente anterior longa (tipo 3),
UC 24 – Problema 02 – Socorro! Acho que estou morrendo - @resumosdakali 22
que pode irrigar a porção apical por completa do septo, a obstrução desse ramo arterial pode cursar com
necrose da porção apical do septo interventricular, causando o quadro de comunicação. A comunicação
interventricular desencadeia um quadro clínico caracterizada pela presença instabilidade hemodinâmica,
culminando em choque. Junto a isso, observa-se a preponderância de sinais de insuficiência cardíaca
direita (congestão sistêmica), auscultando-se um sopro muito característico: holossistólico, focado em
ápice (nos casos de comunicação apical), mas podendo ser bem auscultado em todos os focos, sendo
descrito como de 4 + ou mais (sopro com frêmito).
Como toda complicação mecânica, o diagnóstico é dado pelo ecocardiograma, que evidenciará a
lesão com sinais de sobrecarga ventricular direita, dado o aumento de pressão pelo maior volume
sanguíneo. O tratamento consiste na administração de vasodilatadores, inotrópicos e diuréticos, a fim
de diminuir o gradiente pressórico na aorta (dado o mecanismo de vasodilatação periférica), fazendo
com que haja um gradiente pressórico maior entre o ventrículo esquerdo e a aorta, de modo que o sangue
tenha maior tendência para se dirigir para ela ao invés de para o ventrículo direito. O diurético atua
diminuindo o volume circulante, de modo a haver menos volume a ser transferido para o coração direito
pela comunicação. O inotrópico atua melhorando a performance cardíaca em bombear o sangue para a
aorta, auxiliando no mecanismo dos vasodilatadores. Logo, tem-se que tal conduta é apenas paliativa, a
fim de que haja tempo hábil para que a comunicação seja interrompida por via cirúrgica, que consiste
no tratamento resolutivo.
ELÉTRICAS
UC 24 – Problema 02 – Socorro! Acho que estou morrendo - @resumosdakali 23
A bradicardia sinusal ocorre em 30%-40% dos pacientes com infarto agudo do miocárdio,
principalmente dentro da primeira hora do infarto de parede inferior, da isquemia do nó atrioventricular
ou do aumento da atividade parassimpática (tônus vagal), devido à reperfusão da artéria coronária
direita (reflexo de Bezold-Jarish).
Por outro lado, o bloqueio atrioventricular total ocorre em 6%-14% dos pacientes com infarto
agudo do miocárdio e é preditor de maior risco de óbito intra-hospitalar; entretanto, não é um bom
preditor de mortalidade a longo prazo nos pacientes sobreviventes à fase hospitalar. Em publicações
anteriores à era fibrinolítica, distúrbios na condução intraventricular foram relatados em 10%-20% dos
pacientes com infarto agudo do miocárdio. Já em pacientes submetidos a tratamento fibrinolítico, os
bloqueios de ramo estiveram presentes em apenas 4%, mas foram preditores de aumento importante da
mortalidade intra-hospitalar.
O aumento da mortalidade, associado a distúrbio na condução intraventricular e com bloqueio
atrioventricular total, está relacionado mais ao extenso dano provocado ao miocárdio do que ao bloqueio
de condução propriamente dito. Por isso, o marca-passo não tem mostrado clara redução da mortalidade
associada a bloqueio atrioventricular total ou distúrbios da condução intraventricular. A dificuldade em
demonstrar o benefício na influência sobre a mortalidade é o reflexo do extenso dano miocárdico que
esses pacientes apresentam, ofuscando o benefício desse recurso em uma fração desses indivíduos.
Portanto, o uso do marca-passo para proteger contra hipotensão, isquemia e precipitação de arritmias
causadas pelo bloqueio atrioventricular é ainda recomendado em pacientes selecionados, de alto risco.
O prognóstico no bloqueio atrioventricular está relacionado com a localização do infarto (anterior
versus inferior), o local do bloqueio (intranodal [proximal], acima do feixe de Hiss versus infranodal
[distal], abaixo do feixe de Hiss), a natureza do ritmo de escape e as consequências hemodinâmicas. O
risco de desenvolver bloqueio atrioventricular total nos pacientes com IAM é maior quando uma ou
mais das seguintes situações estão presentes: bloqueio atrioventricular de primeiro grau; bloqueio
atrioventricular tipo Mobitz I; bloqueio atrioventricular tipo Mobitz II; bloqueio divisional ântero-
superior; bloqueio divisional póstero-inferior; bloqueio do ramo direito e bloqueio do ramo esquerdo.
TAQUIARRITMIAS SUPRAVENTRICULARES
➢ Taquicardia sinusal
É comumente causada por ansiedade, dor persistente, disfunção ventricular, febre, pericardite,
hipovolemia, tromboembolismo pulmonar e ação de agentes farmacológicos, como atropina, epinefrina
ou dopamina. Raramente é ocasionada por infarto atrial. Muito frequente no infarto de parede anterior,
associada à disfunção ventricular. A taquicardia sinusal é indesejável por prejudicar a perfusão coronária
e aumentar o consumo de oxigênio. A persistência da taquicardia confere pior prognóstico ao IAM
podendo significar evolução para insuficiência cardíaca. O tratamento deve ser dirigido para correção
da causa desencadeante e, se apropriado, a administração de um betabloqueador, lembrando que este
fármaco é contraindicado nos pacientes que estão hipovolêmicos ou apresentam disfunção de bomba.
esquerdo pode ser realizado tratamento farmacológico. Caso haja acentuada repercussão
hemodinâmica, está indicada a cardioversão elétrica.