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MOTIVAÇÃO PARA CORRIDA DE RUA

Artigos científicos
23 artigos científicos sobre os fatores motivacionais que
influenciam os praticantes de corrida de rua

1 A motivação autodeterminada em corredores recreacionais: uma abordagem


quanti-qualitativa

2 A motivação intrínseca e o estado mental flow em corredores de rua

3 A Teoria das Necessidades e a Busca da Excitação: o que Leva os Corredores às


Ruas

4 Análise dos fatores motivacionais que levam homens e mulheres à prática de


corrida de rua na cidade de ubá-mg

5 Análise qualitativa dos fatores que levam à prática da corrida de rua

6 Dimensões da motivação para correr e para participar de eventos de correr

7 Estilo de vida de praticantes de corrida de rua

8
Evento esportivo ou experiência para o consumidor? Um estudo sobre a
motivação do consumidor em comparecer a eventos de corrida de rua

9 Fatores motivacionais de adesão a grupos de corrida

10 Fatores motivacionais dos praticantes de corrida de rua em grupo

11 Fatores motivacionais para a prática de corrida de rua na cidade de Caxias do


Sul-RS

12 Fatores motivacionais para a prática de corrida de rua

13 Impacto da rede social na motivação para adesão à prática de corrida de rua

14
Motivação e qualidade de vida em corredores amadores de rua na região do
alto tietê

15
Motivação para a prática da corrida de rua diferença entre atletas de
performance e atletas amadores

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MOTIVAÇÃO PARA CORRIDA DE RUA

Artigos científicos
23 artigos científicos sobre os fatores motivacionais que
influenciam os praticantes de corrida de rua

16 Motivação para corredores de rua corredores de rua integrantes de grupos de


rua

17
Motivos de prática e abandono em corredores recracionais sob o ponto de
vista da psicologia socialcognitiva

18 Motivos para a prática da corrida de rua e sua influência na satisfação com a


vida

19 Perfil e preferências de praticantes de corrida de rua um estudo preliminar

20 Perfil motivacional e estado de humor em corredores de rua integrantes de


grupos de corrida

21 Perfis motivacionais de corredores de rua com diferentes tempos de prática

22 Validação de um instrumento para caracterização e verificação de fatores


associados ao desempenho de corredores de rua

23 Das esteiras para as ruas: fatores que levam os alunos de academias às corridas
de rua

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ISSN 2318-5104 | e-ISSN 2318-5090
CADERNO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE
Physical Education and Sport Journal
[v. 17 | n. 2 | p. 29-36 | 2019]
RECEBIDO: 23-05-2019
APROVADO: 05-08-2019

ARTIGO ORIGINAL
DOSSIÊ PSICOLOGIA DO ESPORTE

A motivação autodeterminada em corredores recreacionais:


uma abordagem quanti-qualitativa
Self-determined motivation in recreational runners: a quantitative-qualitative approach
DOI: http://dx.doi.org/10.36453/2318-5104.2019.v17.n2.p29

Antônio Walter Sena Junior1, Danilo Reis Coimbra2,


Helder Zimmermann de Oliveira3, Renato Miranda1
1
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
2
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
3
Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO)

RESUMO
Introdução: Nas últimas décadas o número de corredores de rua recreacionais aumentou substancialmente no Brasil. Assim,
pesquisadores da Psicologia do Esporte vêm tentando identificar quais os motivos levam as pessoas a praticarem essa modalidade.
Uma das teorias mais aceitas para entender a motivação do indivíduo para o esporte e exercício é a Teoria da Autodeterminação
(TAD). A TAD define a motivação em um continuum, do indivíduo mais autodeterminado (intrinsecamente motivado) até o
menos autodeterminado (amotivado). Objetivo: Identificar e analisar a motivação de corredores de rua recreacionais com base
na TAD. Método: O desenho do estudo possui uma abordagem quanti-qualitativa. Foi utilizado o questionário SMS-28BR e uma
entrevista semiestruturada. A amostra consistiu de 51 corredores participantes do Ranking de Corrida de Rua de Juiz de Fora
(MG). Resultados: Verificou-se a existência de diversos motivos atuando concomitantemente para a prática da modalidade,
principalmente por motivos intrínsecos (mais autodeterminado). Conclusão: A motivação intrínseca (autodeterminada) exerce
função primordial para a continuidade da prática em corredores de rua recreacionais.
PALAVRAS-CHAVE: Psicologia do Esporte; Corrida; Motivação.

ABSTRACT
Introduction: In the last decades the number of amateur street runners has increased substantially in Brazil. Thus, researchers
in Sport Psychology have been trying to identify which motives lead people to practice this modality. One of the most accepted
theories for understanding the individual’s motivation for sport and exercise is Self-Determination Theory (SDT). The SDT defines
motivation on a continuum, from the most self-determined (intrinsically motivated) to the least self-determined (mastered)
individual. Objective: To identify and analyze the motivation of recreational runners based on SDT. Method: The study design
has a quantitative-qualitative approach. The SMS-28BR questionnaire and a semi-structured interview were used. The sample
consisted of 51 runners participating in the Street Race Ranking of Juiz de Fora (MG). Results: It was verified the existence
of several reasons acting concomitantly for the practice of the modality, mainly for intrinsic reasons (more self-determined).
Conclusion: Intrinsic (self-determined) motivation plays a primary role in the continuity of practice in amateur street runners.
KEYWORDS: Sports Psychology; Running; Motivation.

Direitos autorais são distribuídos a partir da licença


Creative Commons
(CC BY-NC-SA - 4.0)
SENA JR. et al.
30 A motivação autodeterminada em corredores recreacionais: uma abordagem quanti-qualitativa

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, a corrida de rua tem atraído e aumentado o número de participantes (ROJO et al., 2019).
Esse aumento foi inicialmente impulsionado pela publicação dos estudos do Médico Keneth Cooper na década de 70
gerando também um aumento do número de eventos da modalidade (COOPER, 1972; SALGADO; CHACON-MIKAHIL,
2006). No Brasil, esse crescimento foi um pouco mais tardio sendo verificado na década de 90 e associado a permissão
da participação de corredores recreacionais juntamente com atletas considerados de elite (ROJO et al., 2017; ROJO et al.,
2019). A respeito desse crescimento, alguns números como os divulgados pela Federação Paulista de Atletismo no ano de
2015 realizou 415 provas de corrida de rua com 724.130 inscrições, representando um crescimento de 14,95% em relação
ao número de provas do ano anterior (FEDERAÇÃO PAULISTA DE ATLETISMO, 2017).
Associado ao crescente número de praticantes, verifica-se também um maior interesse pela corrida de rua
em pesquisas científicas, principalmente na tentativa de identificar quais os motivos levam as pessoas a praticarem a
modalidade. Massarella e Winterstein (2009) ao entrevistarem 10 praticantes recreacionais de corrida, de ambos os sexos,
com idades entre 23 e 64 anos com pelo menos 3 anos de prática encontraram que o motivo mais citado foi a influência de
familiares e amigos. Por sua vez, Truccolo et al. (2008) em estudo com 68 corredores de ambos os sexos, com idade entre
22 e 56 anos, encontraram que um dos principais motivos está relacionado a melhora condicionamento físico e saúde. Os
principais motivos encontrados por Sanfelice et al. (2017) também esteve relacionado ao condicionamento e saúde em
estudo realizado com 30 corredores de ambos os sexos e com idade compreendida entre 25 e 55 anos.
Apesar das contribuições que essas e outras pesquisas trouxeram para uma melhor compreensão de quais os
fatores estão relacionados à motivação para a prática da corrida de rua no Brasil, parece haver uma carência de estudos
com base nas principais teorias da motivação. Sobre o tema, foram desenvolvidas algumas revisões sistemáticas: Lindahl
et al. (2015) encontraram a motivação autodeterminada como o tema mais estudado na psicologia do esporte e do
exercício entre os anos de 2008 e 2011. Clancy et al. (2016) encontraram que a maioria dos estudos publicados entre os
anos de 1996 e 2015 sobre a motivação de atletas tiveram como base na Teoria da Autodeterminação (TAD), bem como os
instrumentos mais utilizados para avaliar a motivação no esporte. Além de tornarem evidentes a TAD como mais estudada
e utilizada para explicar a motivação no contexto esportivo, essas revisões também evidenciaram um predomínio da
realização das pesquisas em países de língua inglesa, no entanto, esse predomínio anglo-saxão poderá desconsiderar
características de diferentes contextos (FONSECA, 2001).
Uma das características que levam a TAD ser a mais utilizada para explicar a motivação das pessoas para a
prática esportiva, está associado aos fatores pessoais e sociais que determinam o comportamento motivado. Dentre
esses fatores, verifica-se a existência de três Necessidades Psicológicas Básicas (NPB): Autonomia, Competência e o
Relacionamento. Quando o indivíduo consegue perceber essas NPB na realização de determinada tarefa, o impacto na
motivação é positivo. Em contrapartida, quando não há a percepção de Autonomia, Competência e Relacionamento, a
motivação autodeterminada fica prejudicada (DECI; RYAN, 1985; HAGGER; CHATZISARANTIS, 2005; RYAN; DECI, 2017).
Ao certificar as NPB como antecedentes de uma motivação mais autônoma, Deci e Ryan (1985, p.139), através
da microteria da “intergração organísmica”, propuseram uma categorização da motivação, em um continuum de
autodeterminação, constituído em um dos polos pela amotivação, que representa a ausência de intenção em realizar
a atividade e no outro polo a Motivação Intrínseca (MI) que se refere ao engajamento numa atividade pelo prazer e
satisfação, sendo a mais autodeterminada forma de motivação. Entre esses polos existe um continuum composto por
diferentes Motivações Extrínsecas (ME), composta por quatro regulações: (i) ME de regulação externa, cuja energia para
realizar a atividade provém de pressões externas ou para conseguir bens materiais; (ii) ME de introjeção, em que implica
realizar a atividade com o intuito de evitar os sentimentos ruins, tais como culpa e ansiedade; (iii) ME de identificação,
que é a energia para realizar a tarefa proveniente da percepção dos benefícios da atividade, por isso possui certo grau de
autonomia e (iv) ME de integração, forma mais autodeterminada da regulação externa, em que um comportamento por
estar ligado a percepção da importância da atividade para os objetivos pessoais.
Embora reconhecida importância desses conceitos para a compreensão da motivação humana no contexto
esportivo, o único estudo encontrado com corredores recreacionais brasileiros, com base na TAD foi o de Mizoguchi et
al. (2016) no qual aplicou a versão do Sport Motivation Scale (SMS) validada para atletas portugueses. Esse estudo foi
realizado com 138 corredores (82 homens e 56 mulheres), participantes da prova “Bragança 10k/5k corrida e caminhada”
realizada em Bragança Paulista - SP. Os resultados apresentados apontaram que a MI de experiências estimulantes
(M=5,62±1,10) e a ME de introjeção (M=5,35±1,08) apresentaram maiores valores médios.

Caderno de Educação Física e Esporte, Marechal Cândido Rondon, v. 17, n. 2, p. 29-36, jul./dez. 2019.
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A motivação autodeterminada em corredores recreacionais: uma abordagem quanti-qualitativa 31

Adicionalmente, os estudos que investigaram a motivação de corredores recreacionais no Brasil adotaram uma
metodologia quantitativa (BALBINOTTI et al., 2015; MIZOGUCHI et al., 2016) ou qualitativa (MASSARELLA, WINTERSTEIN,
2009; SANFELICE et al., 2017), não sendo encontrado estudos com abordagem quanti-qualitativa. Dessa forma, o
objetivo do presente estudo foi identificar e analisar a motivação de corredores recreacionais com base na teoria da
autodeterminação, por meio de uma abordagem quanti-qualitativa.

MÉTODOS

Participaram do estudo 51 corredores recreacionais (37 homens e 14 mulheres), extraídos da população cadastrada
no banco de dados do ranking de corridas de rua da secretaria de esporte e lazer de Juiz de Fora (MG). Maiores informações
sobre as características dos participantes são apresentados na Tabela 1. Os critérios de inclusão para extração da amostra
foram: maior de 18 anos e cadastrado nos dois últimos anos do ranking de corridas de rua de Juiz de Fora (2009-2010) e
ter participado de mais da metade das corridas realizadas no ano de realização da pesquisa (2011). Os critérios de exclusão
foram: realizar menos de três sessões de treino por semana ou realizar sessões de treino com menos de 40 minutos.
Foram selecionados 473 atletas que atenderam aos critérios de inclusão. No momento da inscrição de uma das
provas do ranking foi distribuída uma Carta Convite com uma breve explicação sobre a natureza do estudo. Para aqueles
atletas que aceitaram participar da pesquisa foi agendado um dia para a coleta individual dos dados no Laboratório
de Avaliações Físicas da Secretaria de Esporte e Lazer da Prefeitura de Juiz de Fora. No dia marcado, os atletas tinham
uma explicação mais detalhada sobre a natureza do estudo, assinavam do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
respondiam ao questionário geral e ao SMS-28BR, seguido da aferição da massa corporal e estatura. Por fim, foi realizada
a Entrevista Semiestruturada. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de
Fora (Parecer n°. 057/2011). A Secretaria de Esporte e Lazer de Juiz de Fora, permitiu a realização do estudo e forneceu os
dados solicitados para o cumprimento dos critérios de inclusão.
Após o aceite em participar da pesquisa, foi agendada com cada participante para a aplicação de um questionário
geral para identificar as características dos atletas, com as seguintes variáveis: data de nascimento, sexo, tempo de prática,
número de treinos por semana, duração média do treino, distância das provas que realiza, distância das provas favoritas
e número de corridas por ano. Para caracterizar a amostra, também foram aferidas individualmente por um pesquisador
experiente em coletas de variáives dessa natureza as seguintes variáveis: massa corporal e estatura dos participantes com
uma balança Filizola eletrônica, modelo PL- 150, com estadiômetro.
Aplicou-se o SMS-28BR, versão validada para a língua portuguesa com atletas brasileiros por Bara Filho et al. (2011)
do SMS de Pelletier et al. (1995). Esta escala é enunciada pela seguinte pergunta “Porque você pratica seu esporte?” e
avalia os diferentes tipos de motivação estabelecidos pela Teoria da Autodeterminação: MI para saber (ex. “Pelo prazer
de descobrir novas técnicas de treinamento”), MI para realizar (ex. “Pela satisfação que sinto quando estou melhorando
minhas habilidades”), MI para estimulação de experiência (ex. “Porque gosto da sensação de estar totalmente envolvido
na atividade”), ME identificada (ex. “Porque o esporte é uma das melhores maneiras para manter boas relações com
meus amigos/as”), ME introjeção (ex. “Porque eu devo praticar esportes regularmente”), ME regulação externa (ex. “Pelo
prestígio de ser um atleta”) e Amotivação (ex. “Já não está tão claro para mim; na verdade, não acho que meu lugar é
no esporte.”). É composta de quatro itens para cada dimensão da motivação, sendo um total de 28 itens, que foram
respondidas em uma escala tipo Likert (1 - Não corresponde em nada; 7 - Corresponde exatamente).
Adicionalmente, foi realizada também uma entrevista semiestruturada, na qual a pergunta central para o presente
estudo foi: “Por que você corre?”. A entrevista foi armazenada em um gravador digital marca GPx (modelo DVR-540). A
entrevista semiestruturada permite, quando necessário, gerar outros questionamentos em função das respostas, para
maior aprofundamento dos pensamentos e experiências (TRIVIÑOS, 1987) dos entrevistados. Todas as coletas ocorreram
individualmente em uma sala reservada cedida pela Secretaria de Esporte e Lazer de Juiz de Fora.
Os dados coletados foram inseridos no programa Microsoft Excel e exportados para o programa IBM, SPSS, versão
18. Realizou-se uma análise descritiva dos dados (média, desvio padrão, mínimo e máximo). Para as entrevistas, utilizou-
se o método de análise de conteúdo que, segundo Bardin (2011) é um conjunto de técnicas de análise das comunicações.
Dessa forma, foram realizadas a análise de conteúdo das entrevistas, seguindo as três fases propostas por Bardin (2011):
pré-análise: exploração do material; tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Essas etapas resultaram na
categorização das frases verbalizadas pelos entrevistados, nas quais resultaram em Unidades de Registros - UR (BARDIN,
2011).

Caderno de Educação Física e Esporte, Marechal Cândido Rondon, v. 17, n. 2, p. 29-36, jul./dez. 2019.
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32 A motivação autodeterminada em corredores recreacionais: uma abordagem quanti-qualitativa

RESULTADOS

Na Tabela 1 é possível verificar as características da amostra estratificada por sexo. A média de idade acima dos 40
anos de idade, tempo de prática acima dos 10 anos, correm em aproximadamente 5 vezes por semana com 72 minutos de
duração em cada sessão de treino. Na Tabela 2 são apresentados a média e o desvio padrão de cada uma das dimensões
da motivação, segundo a TAD.

Tabela 1. Caracterização da amostra estratificada por sexo.


Masculino Feminino Total
Características
M±DP Min-Máx M±DP Min-Máx M±DP Min-Máx
Idade (anos) 45,7±12,5 23-70 40,9±9,2 18-52 44,4±11,8 18-70
Tempo de Prática (anos) 13,5±10,5 1-40 11,2±8,3 2-29 12,9±9,9 1-40
Treinos por semana (n) 5±1 3-7 4±1 3-6 5±1 3-7
Duração média do treino (min) 73±27 40-165 68±28 40-150 72±27 40-165
Distância em que compete (km) 16±15 8-100 3±9 8-42 16±15 8-100
Distância preferida (km) 22±17 5-100 19±16 0,4-42 22±17 0,4-100
Corridas por ano (n) 16±6 4-30 16±6 6-30 16±6 4-30
Massa Corporal (kg) 71,5±10,5 49,7-95,0 54,9±8,0 41,9-69,2 67,0±12,3 41,9-95,0
Estatura (cm) 170±1 151-196 160±1 150-174 170±1 150-196
IMC (kg/m²) 23,5±2,4 19,8-29,7 21,2±2,3 15,9-25,4 22,9±2,6 15,9-29,70
Nota: M: Média; DP: Desvio Padrão; Min: Mínimo; Máx: Máximo; min: minutos

Tabela 2. Mínimo (Min), Máximo (Máx), Média (M) e Desvio Padrão (DP) das regulações motivacionais.
Masculino Feminino Total
Regulações motivacionais
M±DP Min-Máx M±DP Min-Máx M±DP Min-Máx
MI p/ atingir objetivos 5,2±1,4 1,5±7 5,2±1,1 2,7±7 5,2±1,3 1,5-7
MI p/ experiências estimulantes 6,4±0,6 4,7±7 6,2±0,9 4,5±7 6,3±0,7 4,5-7
MI p/ conhecer 5,4±1,2 2,7±7 4,6±1,3 2,7±6,5 5,2±1,3 2,7-7
ME de identificação 5,9±1,1 2,7±7 5,2±1,4 2,5±7 5,7±1,2 2,5-7
ME de introjeção 5,5±1,1 1,5±7 5,2±1,5 1,5±6,7 5,4±1,5 1,5-7
ME de regulação externa 3,5±1,7 1±7 3,4±1,3 1±5,7 3,5±1,6 1-7
Amotivação 1,8±1,2 1±5,5 1,6±0,9 1±4 1,7±1,1 1-5,5
Nota: M: Média; DP: Desvio Padrão; MI = Motivação Intrínseca; ME = Motivação Extrínseca.

Observou-se maiores valores para a MI para experiências estimulantes e menores valores para a amotivação.
Nota-se valores bem próximos para todas as MI e ME exceto para a ME de regulação externa, e valores médios próximos
para ambos os sexos. Tais resultados estão de acordo com o escopo da TAD, visto que todos os atletas da amostra são
recreacionais, não recebem recompensa financeira e praticam a corrida de forma espontânea. Os resultados estão de
acordo com o estudo de Mizoguchi et al. (2016), que também encontraram a MI para experiências estimulantes com
maior valor médio em corredores recreacionais.
Entretanto, o valor médio da ME de introjeção próximo das motivações mais autônomas (MI e ME de identificação)
pode ser considerado como inesperado pelas características da amostra e escopo da TAD. Nesse sentido, vale ressaltar
que por definição a ME de introjeção está relacioanada à prática desportiva para evitar sentimentos de culpa ou vergonha
(RYAN; DECI; 2017), ou seja, uma motivação controlada por fatores externos a corrida.
Todavia, outros estudos com atletas brasileiros de diversas modalidades (COIMBRA et al., 2013) como também em
atletas de corrida de rua (MIZOGUCHI et al., 2016), reportaram valores similares para a ME de introjeção. Até o presente
momento nenhuma pesquisa conseguiu explicar os inesperados valores da ME de introjeção em atletas brasileiros.

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A motivação autodeterminada em corredores recreacionais: uma abordagem quanti-qualitativa 33

Entretanto, dois fatores podem contribuir para esses altos valores: o primeiro apontado por Clancy et al. (2016) em estudo
de revisão mostrou que o sistema esportivo, estrutura e cultura causam impactos na motivação em atletas; o outro pode
estar relacionado com a adaptação do instrumento visto que esta dimensão apresentou menores valores de consistência
interna quando comparado com as outras dimensões (BARA FILHO et al., 2011; NASCIMENTO JUNIOR et al., 2014).
Os resultados da análise do discurso fortalecem a ideia de que os altos valores da ME de introjeção podem estar
associados a adaptação do instrumento, visto que na análise do discurso, poucos motivos para correr estão associados
com essa dimensão. Verifica-se no discurso dos atletas, esta dimensão associada com o início da prática:

“A corrida para mim é muito importante primeiro por questão de saúde. Eu era, vamos dizer assim que em termos
sanguíneos, meu colesterol era alto, minha triglicéride era alta. Aí eu vim para corrida para poder tentar resolver este
tipo de problema. Mas ela é para mim prazerosa (...)” (Atleta 1);

“Eu comecei a correr com o objetivo de perder peso porque eu tenho uma forte tendência a engordar. E com o tempo
eu fui tomando gosto pelas competições. E hoje eu corro não mais somente para manter a forma, mas também com
o objetivo de ter o prazer da corrida (...)” (Atleta 12).

Porém, por meio da Tabela 3, nota-se que grande parte dos atletas são motivados intrinsecamente, 75% do total
apontaram o prazer como um dos motivos para praticarem a corrida de rua, como nos relatos abaixo:

Tabela 3. Total de Unidades de Registro (UR) e percentual dos atletas por motivos.
Masculino Feminino Geral
Por que você corre?
Total UR % atletas Total UR % atletas Total UR % atletas
Por prazer 27 73 11 78 38 75
Para manter a saúde 11 30 6 43 17 33
Pelo relacionamento com as pessoas 7 19 1 7 8 16
Pelo condicionamento físico 7 19 0 0 7 14
Para superar limites 3 8 2 14 5 10
Outros motivos 3 8 2 14 5 10
Nota: UR: Unidades de Registros.

“Pelo prazer que me proporciona, adoro correr” (Atleta 20);

“Bom, eu corro pelo fato de me sentir bem no esporte. É um esporte que me dá prazer” (Atleta 23);

“Porque sinto muito prazer na corrida. Eu gosto muito, fico feliz” (Atleta28).

Os resultados demonstraram também que os atletas analisados praticam corrida de rua pela saúde e
condicionamento físico, em acordo com outros estudos que os colocam como importantes para a prática da corrida de rua
(TRUCCOLO et al., 2008; BALBINOTTI et al., 2015). Esses motivos podem ser categorizados dentro da ME de identificação
na medida em que essa regulação representa um valor pessoal consciente (RYAN, DECI, 2017). Dessa forma, realizar a
corrida de rua por esses motivos, segundo a TAD, demonstra certo grau de autodeterminação e autonomia porque o
indivíduo consegue perceber a importância e os benefícios da atividade. Alguns relatos demonstram isso:

“Eu corro para manter a saúde, ter tranquilidade, ser mais calmo. Basicamente para a saúde. É o principal objetivo
por que eu corro. E saber que a gente está envelhecendo e quanto menos você fizer atividade física menor vai ser sua
condição física para você ter uma qualidade de vida mais tranquila na velhice. Esse é o motivo principal” (Atleta 13);

“Eu comecei a correr para perder peso e hoje eu continuo pela qualidade de vida. Porque eu percebi a melhora na
minha vida, no meu corpo e tudo, tudo, tudo através da corrida” (Atleta 15).

Outro aspecto destacado pelos corredores recreacionais foi o relacionamento com as pessoas. A TAD tem
dado grande importância ao relacionamento interpessoal em diferentes contextos (RYAN; DECI, 2017). No esporte, o
relacionamento dos atletas com seus treinadores (Smith et al., 2016), familiares (GONZÁLEZ-CUTRE et al., 2014) e colegas
(INGRELL et al., 2016) tem sido considerado como um antecessor importante para o aumento da motivação autônoma (MI
e ME de identificação). Na fala de alguns corredores recreacionais é possível perceber a importância desse fator como um

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34 A motivação autodeterminada em corredores recreacionais: uma abordagem quanti-qualitativa

antecessor da motivação para a corrida:

“O motivo que eu corro é principalmente pela parte social. Fazer amigos, conhecer pessoas. O bem-estar de encontrar
essas pessoas” (Atleta 48);

“Bem, primeiramente eu corro pela saúde. Segundo pelo prazer que me traz a corrida. É, assim, um prazer imenso
de estar com pessoas (...)” (Atleta 50).

Neste sentido, ressalta-se o estudo de Gratão e Rocha (2016), no qual encontrou que corredores recreacionais
orientados por uma empresa de consultoria apresentaram maiores níveis nas suas motivações de competência e de
interações sociais, em relação aos corredores recreacionais autônomos.
Outro tipo de motivação importante na TAD é a ME de integração, a forma mais autônoma de motivação extrínseca.
Segundo Ryan e Deci (2017) essa motivação envolve a modificação ou apropriação de um valor na qual resultará em ação.
Quando alcançado, não existe conflito com qualquer outro valor pessoal promovendo a ação de forma autônoma, sem
questionamento na qual pessoa reconhece os benefícios e passa a integrar a atividade a sua vida. Apesar desse tipo de
motivação não fazer parte do SMS, o discurso dos atletas reflete a importância desse tipo de motivação:

“Bom, eu descobri a corrida de rua quando eu entrei no quartel em 1985 (...). Então assim, o esporte entrou naquele
momento como o objetivo de permanecer no quartel, posterior a isso eu virei um corredor de rua (...)” (Atleta 16);

“Eu corro porque ao longo desses 22 anos eu fui aprendendo a crescer dentro do esporte, a vencer meus limites,
meus medos, minhas inseguranças. A corrida é onde eu me sinto mais segura, onde eu sinto prazer, onde recarrego
minhas baterias onde medito e onde nenhuma negatividade entra na minha cabeça (...)” (Atleta 46);

“Para te falar a verdade, a corrida já faz parte da minha vida (...)” (Atleta 51).

Associado a outros motivos, o discurso de alguns corredores recreacionais destacou a importância da percepção
de melhora ou de superar limites:

“(...) e hoje eu corro não mais somente para manter a forma, mas também com o objetivo de ter o prazer da corrida
e de viver o máximo possível com qualidade de vida. Poder descobrir e superar meus limites. Procuro fazer tudo isso
através da corrida” (Atleta 12);

“O que me leva a correr é o prazer de me sentir bem. De estar fazendo um exercício. De começar e terminar uma
prova bem. Logicamente sempre estar melhorando (...)” (Atleta 18).

A essa percepção é possível vincular a NPB de competência. Esse fator é central em outras teorias da motivação como
a Autoeficácia (BANDURA, 1994) e Objetivos de Realização (NICHOLLS, 1984) por facilitar a motivação intrínseca. Na TAD,
a percepção de competência promove o crescimento pessoal, a integridade e o bem-estar. Para favorecer a percepção de
competência, Amorose (2007) destaca que treinadores devem adotar estratégias para valorizar o aprendizado, a melhora
e o esforço de cada atleta, por conseguinte conseguir resultados motivacionais positivos. Jackson e Csikszentmihalyi
(1999) destacam que a atividade esportiva precisa ser desafiante para indivíduo, mas o mesmo deve possuir potencial
para realizá-la, caso contrário a atividade poderá gerar sentimentos indesejados nos atletas como ansiedade, se o atleta
não tiver habilidades compatíveis, ou tédio, se a atividade tiver pouca exigência.
Entretanto, não foram encontrados relatos dos corredores recreacionais que ressaltassem a importância da
autonomia para prática da modalidade, apesar da necessidade psicológica básica de autonomia ser considerada central
na TAD (RYAN; DECI, 2017). Diversos estudos sugerem que o treinador forneça um ambiente de suporte à autonomia para
seus atletas por estar associado com uma variedade de respostas positivas, como o aumento da motivação intrínseca
(SMITH, 2016). Tal resultado pode estar associado ao fato de muitos corredores recreacionais praticarem a modalidade
sem suporte profissional ou assessoria.
Por fim, vale ressaltar que de uma maneira geral o discurso dos corredores recreacionais está em conformidade
com os resultados encontrados nos questionários, exceto pela dimensão ME de introjeção. Esta e outras motivações
extrínsecas parecem desempenhar um papel importante para iniciar a atividade, mas a sensação de prazer foi a mais
citada pelos atletas para a prática da corrida de rua. Como implicação prática para os treinadores promoverem a motivação
intrínseca em seus atletas, Miranda e Bara Filho (2008) destacam a importância de o atleta perceber claramente que
seu esforço na corrida é produtivo e está associado a benefícios; estabelecer objetivos compatíveis para cada indivíduo;
desenvolver o autocontrole e manter uma concentração ótima na tarefa.
O presente estudo encontrou o prazer como principal motivo para a prática da corrida de rua em concordância
com o escopo da TAD (DECI; RYAN, 1985; RYAN; DECI, 2017) e parcialmente em desacordo com os estudos de Truccolo
et al. (2008) e Balbinotti et al. (2015) que indicaram, respectivamente, melhora do condicionamento físico e a saúde

Caderno de Educação Física e Esporte, Marechal Cândido Rondon, v. 17, n. 2, p. 29-36, jul./dez. 2019.
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A motivação autodeterminada em corredores recreacionais: uma abordagem quanti-qualitativa 35

como o motivo mais reportado pelos atletas. Ainda assim, é importante ressaltar que na TAD a motivação é vista em um
continuum e os resultados apontam para a coexistência de diversos fatores responsáveis pelo engajamento na corrida
de rua, conforme apontado por Massarella e Winterstein (2009). Cabe ressaltar que apesar da limitação do desenho
transversal, o resultado do presente estudo contribui em alguma medida para o avanço na área, por ressaltar a importância
da Motivação Intrínseca para os corredores recreacionais e trazer implicações práticas importantes para promovê-la.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo traz novas contribuições para o conhecimento sobre a motivação autodeterminada em
corredores recreacionais. Tendo por base a Teoria da Autodeterminação, foi possível identificar e analisar os principais
motivos que levam os corredores recreacionais a praticarem a corrida. Como principais resultados, verificou-se a existência
de diversos motivos atuando concomitantemente para a prática da modalidade e constatou-se, ao contrário de outros
estudos com corredores recreacionais em contextos similares, que a motivação intrínseca exerce função primordial para
a prática da corrida de rua. Outra constatação foi de que a motivação extrínseca pode ser um fator importante para
dar início a prática da modalidade, entretanto espera-se que o treinador/professor aplique estratégias para seus atletas
conseguirem ter uma motivação mais autônoma para a prática. Dentro das várias estratégias, o discurso apresentado
pelos atletas pesquisados, nós destacamos as Necessidades Psicológicas Básicas de relacionamento e competência como
fatores favorecedores da motivação intrínseca.

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____________________________________
Autor correspondente: Danilo Reis Coimbra
E-mail: daniloreiscoimbra@yahoo.com.br

Recebido: 23 de maio de 2019.


Aceito: 05 de agosto de 2019.

Caderno de Educação Física e Esporte, Marechal Cândido Rondon, v. 17, n. 2, p. 29-36, jul./dez. 2019.
http://e-revista.unioeste.br/index.php/cadernoedfisica/index
Movimento
ISSN: 0104-754X
stigger@adufrgs.ufrgs.br
Escola de Educação Física
Brasil

Massarella, Fábio Luiz; Winterstein, Pedro José


A Motivação Intrínseca e o Estado Mental Flow em Corredores de Rua
Movimento, vol. 15, núm. 2, abril-junio, 2009, pp. 45-68
Escola de Educação Física
Rio Grande do Sul, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=115315433004

Como citar este artigo


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A Motivação Intrínseca e o Estado Mental Flow em
Corredores de Rua1

Fábio Luiz Massarella*


Pedro José Winterstein**

Resumo: Participaram do estudo qualitativo, dez praticantes de


corrida de rua. A metodologia utilizada foi a análise de conteúdo.
A maioria dos praticantes iniciou a atividade extrinsecamente
motivada, mas a motivação intrínseca mostrou-se determinante
na permanência por muitos anos. Identificamos relações entre
os temas levantados na análise e os elementos que caracte-
rizam o estado mental flow. Esses elementos podem ser impor-
tantes direcionadores na estruturação de atividades físicas,
mantendo o indivíduo intrinsecamente motivado, implicando maior
assiduidade, empenho, tempo de permanência e satisfação.
Palavras-chave: Psicologia. Esportes. Corrida. Motivação.
Estado Mental Flow.

1 INTRODUÇÃO

A corrida pedestre é uma modalidade esportiva muito praticada


atualmente. É comum vermos pessoas correndo por ruas, praças,
parques e avenidas. As provas de corrida de rua se tornaram eventos
populares e têm apresentado rápido crescimento em quantidade e
qualidade. Atletas de elite participam de algumas provas e são atração,
mas constituem um número pequeno diante da massa de corredores
amadores, pessoas que encontram nas corridas de rua uma forma
saudável de lazer, integração social e manifestação pessoal através
do esporte.
O comportamento humano é bastante complexo, mas teorias
sobre motivação podem nos ajudar a compreendê-lo. Uma pessoa

1
Este artigo é resultado de Dissertação de Mestrado realizado na Faculdade de Educação
Física da UNICAMP.
*
Mestre do Laboratório de Psicologia do Movimento Humano. UNICAMP. Campinas, SP, Brasil.
E-mail: fabiomassarella@yahoo.com.br.
** Professor Doutor do Laboratório de Psicologia do Movimento Humano. Faculdade de Educação
Física. UNICAMP. Campinas, SP, Brasil. E-mail: winterstein@fef.unicamp.br.
46 Artigos Originais Fábio Massarella e Pedro Winterstein

pode se envolver com alguma atividade, motivada extrínseca ou intrin-


secamente. Quando a motivação é extrínseca, a atividade constitui
apenas um meio para atingir um objetivo externo, como dinheiro ou
status, e esse tipo de motivação, geralmente resulta em maior tensão
e pressão e em níveis mais elevados de ansiedade e estresse. Quando
a motivação é intrínseca, as pessoas não estão focadas em recom-
pensas, elas podem vir, mas como consequência do envolvimento e
empenho. Esse tipo de motivação está associado geralmente a compor-
tamentos mais estáveis e duradouros. Também pode levar as pessoas
a experimentarem um estado mental diferenciado chamado flow,
em que o envolvimento pleno com a atividade e com o momento pre-
sente resulta numa sensação de prazer e satisfação únicos e de grande
significado pessoal. A vivência de experiências desse tipo pode contri-
buir para que as pessoas se engajem efetivamente na prática de alguma
atividade física ou esportiva.
O estudo de que trata este artigo buscou identificar, nos prati-
cantes de corrida de rua, quais os motivos subjacentes à escolha dessa
atividade como modalidade esportiva ou prática de lazer; que tendên-
cia motivacional eles apresentavam (intrínseca ou extrínseca); que
sentimentos e que pensamentos eram percebidos durante a prática
e se possuíam alguma semelhança com as descrições dos elementos
do flow de Csikszentmihalyi.

2 AS CORRIDAS DE RUA

No Brasil, a corrida de rua é um segmento do atletismo e a CBAt


(Confederação Brasileira de Atletismo), é a associação que a regu-
lamenta, organiza e coordena. Atletas de elite (que atingem índices
mínimos de tempo estabelecidos e têm participação formal no atle-
tismo) participam de provas juntamente com milhares de corredores
amadores, que correm para manter certo nível de aptidão física e por
lazer (CBAt, 2007). Em grande parte das corridas de rua realizadas
no Brasil, o percurso é de 10Km, mas existem provas tradicionais com
percursos maiores, como 15Km, meia maratona (21,097Km) e mara-
tona (42,195Km). Algumas também têm percursos com distância me-
nor ou caminhada, permitindo, assim, que familiares dos corredores

, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 45-68, abril/junho de 2009.


Motivação intríseca e estado mental flow... 47

também participem do evento. Geralmente, há a participação tanto


de homens quanto de mulheres. A idade mínima permitida normalmente
é de 16 anos, com autorização dos pais ou responsáveis, e há eventos
em que também é possível a participação de deficientes físicos.

3 MOTIVAÇÃO NO ESPORTE E NA ATIVIDADE FÍSICA

As pessoas podem praticar certa modalidade esportiva ou ativi-


dade física por diversos motivos. Para Weinberg e Gould (2001, p.
79), “a motivação é a variável-chave tanto na aprendizagem como
no desempenho em contextos esportivos e de exercícios”. A perma-
nência, a intensidade com que se dedica e os resultados que o sujeito
alcança são influenciados por sua motivação, independentemente
de estar ou não no esporte de alto rendimento, embora outros fatores
possam também interferir no desempenho, como nível de ansiedade,
estresse, condicionamento físico, saúde etc.
Embora as pessoas possam se empenhar na realização de uma
atividade por vários motivos, há casos em que elas se envolvem com
atividades que as mantêm interessadas em sua realização, sentindo-
se motivadas a repeti-las mais vezes. A teoria da motivação intrínseca
surgiu para explicar o comportamento de pessoas que gastam muito
tempo em determinadas atividades sem uma recompensa externa evi-
dente. As recompensas, nesse caso, são inerentes à atividade, ligadas
aos sentimentos positivos vivenciados. Por outro lado, se a tarefa for
realizada na expectativa de recompensas externas, o indivíduo está
extrinsecamente motivado. A relevância desse conceito é que a moti-
vação extrínseca tende a deteriorar. Uma vez satisfeita a necessi-
dade ou atingido o alvo extrínseco, a motivação intrínseca tem ten-
dência de ser mais constante (MASSARELLA; WINTERSTEIN,
2005, p. 2).
Vallerand (2001) propôs um modelo hierárquico de motivação
intrínseca, extrínseca e amotivação (que é a relativa ausência de moti-
vação), ele esclarece que as pessoas não são motivadas unicamente
intrínseca ou extrinsecamente, nem amotivadas, elas normalmente apre-
sentam os três tipos de motivação em diferentes graus. A motivação

, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 45-68, abril/junho de 2009.


48 Artigos Originais Fábio Massarella e Pedro Winterstein

deve ser considerada em nível situacional (o momento), contextual (o


entorno) e global (o comportamento normalmente apresentado).
Para Csikszentmihalyi (1999), quando estamos concentrados
em uma tarefa, formamos uma intenção, estabelecemos uma meta.
O tempo que dedicamos a essa meta e a intensidade com que a mante-
mos dependem de nossa motivação. As pessoas demonstram se sentir
melhor quando agem motivadas intrinsecamente, mas ainda demons-
tram se sentir melhor quando motivadas extrinsecamente do que quando
agem amotivadas, por não ter nada melhor para fazer.
Um sólido conjunto de metas nos ajuda a desenvolver um self
coeso e é determinante para nossa autoestima. Os sentimentos que
temos a nosso respeito e a alegria que experimentamos por estarmos
vivos dependem de como nossa mente filtra e interpreta as experiên-
cias. Nossa felicidade depende mais de nossa harmonia interior que
do controle que exercemos sobre eventos externos (CSIKSZENT-
MIHALYI, 1992).

4 A TEORIA DO FLOW

A teoria do “flow” surgiu dos estudos do Psicólogo americano


Mihaly Csikszentmihalyi. Segundo Weinberg e Gould (2001, p. 158),
ela representa uma inovação nos estudos sobre motivação intrínseca.
As pesquisas envolvendo essa teoria têm evoluído bastante em países
como Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Itália, Japão e Austrália,
mas, no Brasil, há relativamente poucos estudos. O conceito de flow
é derivado do estudo de atividades que Csikszentmihalyi considerou
intrinsecamente motivantes, que proporcionam prazer em sua reali-
zação e, por isso, levam o indivíduo a um estado de profundo envolvimento
e a ter um sentimento intenso de alegria e satisfação pessoal.
Para Csikszentmihalyi (1988, 1992, 1999), o flow acontece em
condições específicas, quando a atenção está totalmente focada na
atividade e sentimentos, desejos e pensamentos estão completamente
alinhados. Foram identificados oito elementos que definem essa expe-
riência: equilíbrio entre desafio e habilidade; metas claras e retorno
(feedback); concentração total na atividade e no momento presente;

, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 45-68, abril/junho de 2009.


Motivação intríseca e estado mental flow... 49

fusão entre ação e consciência; sensação de controle; perda da


autoconsciência; perda da noção do tempo; experiência autotélica.
Quando as pessoas refletem sobre o que sentem quando vivenciam
uma experiência muito positiva, elas mencionam pelo menos um
desses oito elementos.
• Equilíbrio entre desafio e habilidade: há um equilíbrio entre o
desafio com o qual o sujeito está envolvido e sua capacidade de res-
ponder a ele de forma adequada (Figura 1).

Figura 1. Relação entre nível de desafio/ habilidade e flow. (adaptado de


CSIKSZENTMIHALYI, 1992, p. 113).

• Metas claras e retorno (feedback) das ações: clareza sobre


o objetivo a ser atingido, conhecimento das regras, do que é neces-
sário fazer para que a atividade ocorra com sucesso. Ter indicadores
efetivos sobre como está sendo o desempenho na tarefa.
• Concentração total na atividade e no momento presente: o foco
da atenção está totalmente na tarefa e no presente, não é desper-
diçada energia psíquica para processar informações que não sejam
pertinentes à realização da atividade.
• Sentimento de ‘fusão’ entre ação e consciência: o envolvi-
mento na atividade é tão intenso que as ações parecem transcorrer
, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 45-68, abril/junho de 2009.
50 Artigos Originais Fábio Massarella e Pedro Winterstein

quase automaticamente, de forma totalmente espontânea e natural,


a pessoa deixa de se perceber como distinta das ações que realiza.
• Sensação de controle: no flow, há certa sensação de controle
sobre a situação, embora não exista uma preocupação efetiva com isso.
Há uma satisfação em exercer o controle sobre si mesmo em situações
difíceis ou complexas.
• Perda da autoconsciência: a percepção que temos de um self
(a soma dos conteúdos da consciência - lembranças, ações, desejos,
prazeres e dores, e a hierarquia de metas que construímos ao longo
de nossa vida) separado do mundo à nossa volta deixa de existir.
Quando estamos profundamente envolvidos (conectados) com o que
estamos fazendo, podemos ter um sentimento de união com as pes-
soas, coisas ou o ambiente à nossa volta.
• Sentimento de distorção ou perda da noção da passagem do tempo:
algumas pessoas descrevem certa desorientação temporal ou perda da
noção da passagem do tempo. Algumas relatam uma sensação de
que o tempo passou muito rápido, outras que se passou muito mais
tempo do que de fato ocorreu.
• Sentimento de viver uma experiência autotélica: para Csiks-
zentmihalyi (1992, p. 103), “o elemento fundamental de uma experiên-
cia máxima, ou flow, é que ela tem um fim em si mesma. Mesmo
que em princípio seja efetuada por outras razões, a atividade que nos
absorve, torna-se um fim em si mesma”. O resultado de vivenciar o
flow é a percepção de uma “experiência autotélica”, capaz de propor-
cionar um profundo sentimento de prazer e satisfação, o fato de estar
ali e poder realizar a atividade é a recompensa.
Dos oito elementos, três deles (equilíbrio entre desafio e habi-
lidade; metas claras e retorno (feedback); concentração total na ativi-
dade e no momento) podem ser entendidos como elementos neces-
sários para que o flow ocorra. Os demais (fusão entre ação e cons-
ciência; sensação de controle; perda da autoconsciência; perda da
noção do tempo; experiência autotélica) podem ser interpretados
como consequências ou como percepções da ocorrência do estado
mental. Essa divisão visa facilitar a compreensão do fenômeno e a
análise de dados no estudo.

, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 45-68, abril/junho de 2009.


Motivação intríseca e estado mental flow... 51

Csikszentmihalyi (1999) aponta que as atividades esportivas


são potencialmente geradoras do estado de flow. Nelas estão presen-
tes todos os elementos necessários para que o flow ocorra. Constituem
atividades que prendem nossa atenção, possuem metas claras, forne-
cem feedback e representam desafios que devem ser respondidos
à altura com determinadas capacidades ou habilidades.

5 METODOLOGIA

Analisamos os dados qualitativamente. A forma como os sujeitos


interpretavam suas experiências é que tinha relevância para objetivos
do estudo. Selecionamos dez praticantes de corrida de rua (seis homens
e quatro mulheres), por serem praticantes no momento da seleção e
por seu tempo de engajamento na atividade (entre 3 e 46 anos de prá-
tica). Os corredores não foram considerados atletas de elite, porque
não participavam de provas nessa categoria e tinham outra profissão
para seu sustento. Todos praticavam, no mínimo, três vezes por semana
e apenas um não participava de provas. Os corredores tinham entre
23 e 64 anos de idade.
Eles receberam inicialmente uma Carta-Convite para partici-
pação com informações sobre o tema, forma de coleta de dados e
outras orientações. Caso aceitassem, assinavam um termo de consen-
timento autorizando a utilização dos dados e recebiam também um
questionário, com dados pessoais e informações sobre seu envolvimento
com a corrida, fornecendo um quadro geral que possibilitou o cruza-
mento de informações com as respostas fornecidas posteriormente
nas entrevistas.
Aplicamos uma entrevistada do tipo semiestruturada, em que
os participantes manifestaram suas opiniões de forma oral, seguindo
um roteiro básico de perguntas formuladas pelo entrevistador. Todas
as entrevistas foram gravadas em aparelho digital e posteriormente
transcritas para a análise de conteúdo. O protocolo da pesquisa foi
aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Ciências Médicas
da Unicamp.
Utilizamos o método de análise de conteúdo para análise dos
dados, que, segundo Triviños e Molina Neto (2004, p. 159), presta-se

, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 45-68, abril/junho de 2009.


52 Artigos Originais Fábio Massarella e Pedro Winterstein

ao estudo das motivações, atitudes, crenças, valores e tendências


que, à simples vista, não se apresentam com a devida clareza. Para
Bardin (1991), a análise de conteúdo é constituída por um conjunto
de técnicas de análise das comunicações, que visa, por meio de proce-
dimentos sistemáticos e de descrição objetiva do conteúdo das mensa-
gens, a obter indicadores quantitativos ou não, que permitam a inferência
de conhecimento relativo às condições de produção e de recepção das
mensagens.
Após a transcrição literal das falas (dados brutos), os mesmos
foram separados em grelhas de análise (nove grelhas), sendo uma a
resposta dos corredores ao complemento da seguinte frase:“A cor-
rida para mim é:” constante do questionário, que possibilitou uma
verificação da consistência das respostas fornecidas nas entrevistas.
As outras oito grelhas foram respostas às perguntas diretamente formu-
ladas aos entrevistados, ou levantadas a partir da recorrência nas entre-
vistas. Foram elas:
1) Quando você começou a se interessar pela corrida e por quê?
2) Por que você corre atualmente?
3) Se deixassem de existir competições, você continuaria cor-
rendo?
4) Quais os sentimentos mais comuns quando você está cor-
rendo?
5) Quais os pensamentos mais comuns quando você está cor-
rendo?
6) Relate uma experiência com a corrida que tenha sido marcante
para você.
7) Como é para você participar da mesma prova que atletas de
elite?
8) Deixe uma mensagem para as pessoas sobre a corrida.
Agrupamos todas as respostas que tinham relação nessas gre-
lhas, independentemente do momento da entrevista em que aparece-
ram, mas tomando o cuidado de não descontextualizá-las. O próximo

, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 45-68, abril/junho de 2009.


Motivação intríseca e estado mental flow... 53

passo foi a separação desses dados dentro das grelhas em unidades


de significação (parágrafos ou paráfrases que encerravam um racio-
cínio do entrevistado). Cada unidade de significação recebeu um núme-
ro sequencial, para facilitar as etapas posteriores de análise e sua
rastreabilidade. Após isso, realizamos um procedimento de interpre-
tação dos dados brutos, visando dar mais clareza à ideia central da
fala do entrevistado e possibilitar uma categorização dos mesmos.
Atribuímos um código inicial de categoria a cada uma das unidades de
significação, e, em seguida, agrupamos as unidades de significação
segundo o código de categoria que receberam, mantendo sua nume-
ração inicial. As categorias que emergiram da análise foram: Incen-
tivos (favoráveis – desfavoráveis); Sentimentos (favoráveis – desfa-
voráveis); Pensamentos (favoráveis - desfavoráveis); Experiências
Próprias (positivas – negativas); Experiências Alheias (positivas –
negativas); Item Informativo.
Nessa etapa, também realizamos uma nova checagem de todas
as unidades de significação, agora com os dados interpretados, visando
verificar sua compatibilidade com a categoria em que situamos e,
caso necessário, fazíamos o seu reenquadramento em outra catego-
ria de análise.
A próxima etapa foi a separação e o agrupamento das unidades
de significação por temas, que foram quantificados por número de
vezes que apareceram e durante qual entrevista.

6 ANÁLISE DE DADOS E DISCUSSÃO

As experiências, os sentimentos e os pensamentos que os prati-


cantes declararam ter com a corrida, analisamos, sob a óptica das
teorias da motivação intrínseca e do flow. Também buscamos identi-
ficar possível relação dos itens analisados com a permanência deles
na atividade por longo período de tempo.
Inicialmente procuramos identificar quais motivos os levaram
a escolher a corrida como modalidade esportiva para praticarem, o
que consideram que os influenciou inicialmente em seu engajamento
nessa atividade. A resposta que os praticantes citaram com maior

, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 45-68, abril/junho de 2009.


54 Artigos Originais Fábio Massarella e Pedro Winterstein

frequência (quatro praticantes), foi a influência de alguém com quem


existia um vínculo afetivo, como pais, irmãos, namorados ou amigos.
Podemos relacionar essa resposta com o motivo de filiação, definido
como: “[...] desejo de estar em relações afetuosas e amistosas com
as pessoas” (MURRAY, 1978, p.159). Esse motivo parece ter sido
determinante para que essas pessoas aderissem à atividade.
A segunda resposta mais frequente, citada em três entrevistas,
foi a vivência da corrida na escola, durante as aulas de Educação
Física. Uma das pessoas também citou a influência da prática da cor-
rida em uma instituição militar. Isso denota a importância da vivência
das atividades físicas e esportivas na escola ou em programas que
promovam a participação e a inserção das pessoas. É preciso criar
oportunidades para que o maior número de pessoas vivencie ativi-
dades físicas e esportivas, despertando a motivação inicial para que
possa ocorrer o interesse e o engajamento em alguma delas. O ambien-
te escolar, os clubes, as associações e programas ligados às prefei-
turas ou a outras entidades, têm um papel bastante importante nesse
aspecto.
Um dos praticantes informou ter iniciado a corrida por indicação
médica, foi orientado a fazer uma atividade aeróbica em função de
problema de saúde e optou pela corrida. A conscientização dos bene-
fícios à saúde decorrente da prática regular de atividades físicas e
esportivas, demonstra papel importante para que as pessoas adotem
um estilo de vida ativo. Esse motivo parece ter relação com o motivo
de evitação de danos, que seria, segundo Murray (1978, p.152), a
necessidade de evitar dores, lesões físicas, doenças ou a morte.
Outro praticante revelou ter iniciado a pratica da corrida por
ser uma modalidade esportiva individual, na qual as decisões e conse-
quências teriam relação apenas consigo próprio, sem depender de
outros. Esse aspecto parece ser coerente com o motivo de autonomia,
definido por Murray (1978, p.152) como a necessidade de emancipar-
se, libertar-se de restrições, resistir à coerção. Evitar ou abandonar
atividades prescritas por autoridades prepotentes. Ser independente
e livre para agir de acordo com a própria vontade.

, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 45-68, abril/junho de 2009.


Motivação intríseca e estado mental flow... 55

Podemos inferir que, para a adesão inicial à atividade física, o


incentivo externo tem papel importante. Oito praticantes apontaram
que iniciaram a prática da corrida por influência de alguém próximo
ou pela vivência da corrida na escola ou em outra instituição e um por
indicação médica, todos motivos extrínsecos à atividade.
Também foi possível identificar, através das análises das entre-
vistas, que nem sempre os motivos que levaram os participantes a
se engajarem na corrida foram os mesmos apontados por eles como
responsáveis por sua permanência, ou então, que outros motivos
somaram-se ao motivo original. Para alguns, o motivo de filiação,
por exemplo, parecia ser ainda um direcionador do comportamento
com relação à atividade, sendo acrescido de outros motivos. Para
outros, no entanto, outros motivos adquiriram maior expressividade,
como o motivo de realização, definido por Murray (1978, p.153) como
a necessidade de realizar algo difícil, vencer obstáculos e atingir um
alto padrão de desempenho, superar a si mesmo ou outras pessoas.
As pessoas se sentem motivadas a melhorar seu desempenho pes-
soal na corrida, ou se esforçam para manter o nível de desempenho
que atingiram. Elas estabelecem padrões de qualidade e procuram
medir qualitativamente seu rendimento.
Outro motivo muito presente no discurso dos corredores que
parece estar muito relacionado ao engajamento deles na corrida, é o
de atividade lúdica, que Murray (1978) define como a necessidade
de agir por divertimento, sem outro propósito. Procurar um relaxamento
gostoso das tensões, participar de jogos, esportes, dança etc. Esse
motivo parece ser também um direcionador importante do compor-
tamento demonstrado pelos entrevistados.
Nem sempre os motivos que levaram os praticantes a iniciarem
a atividade foram reconhecidos por eles como responsáveis por sua
permanência, ou então os motivos originais somaram-se a outros, refor-
çando o comportamento de engajamento na atividade. Para Murray,
nem todas as pessoas apresentam todos os motivos ou todas as neces-
sidades que ele reconheceu existir, podemos sentir todas ao longo da
vida, assim como jamais sentir algumas delas (SCHULTZ; SCHULTZ,
2002).

, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 45-68, abril/junho de 2009.


56 Artigos Originais Fábio Massarella e Pedro Winterstein

6.1 TENDÊNCIA MOTIVACIONAL INTRÍNSECA OU EXTRÍNSECA


Analisamos, nas respostas, o que os praticantes apontaram como
as principais razões que os mantinham engajados na corrida, procu-
rando identificar se apresentavam tendência motivacional intrínseca ou
extrínseca com relação à atividade. No questionário que responderam,
foi solicitado que completassem a frase: “A corrida para mim é:”. A
resposta complementava a análise dos discursos obtidos nas entre-
vistas. Também solicitamos que deixassem uma mensagem para as
pessoas sobre a corrida, em quem poderiam deixar transparecer o que
era agradável e recompensador em sua prática, tentando passar às
pessoas tal conteúdo. Os dados obtidos deram elementos para avaliar
qual a tendência motivacional predominante nos entrevistados. O qua-
dro 1 mostra os temas agrupados dentro das categorias, quantificados
por número de vezes em que apareceram durante as entrevistas.
M otivação Intríns e ca Praticante
Te mas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 %
Empenho, determinação, comprometimento. 4 7 6 3 6 6 4 8 8 1 0 1 00
Bom desempenho, boa colocação em provas. 2 7 13 5 20 12 11 15 6 90
Sentimento de necessidade, de parte integrante da
1 1 8 3 2 1 4 5 10 90
vida ou do estilo de vida.
Sentimento de bem- estar, maior disposição física e
6 1 9 4 2 4 1 3 80
mental decorrentes da corrida.
Sentimento de superação, de conquista. 8 8 9 5 8 4 3 5 80
Momento para organizar a vida, pensar na família,
3 1 3 7 1 7 5 70
trabalho, dia- a- dia.
Sentimento de liberdade, de estar junto à natureza. 3 7 2 5 2 50
Sentimento de fazer algo de que gosta. 4 4 1 1 1 50
O fato de ser um esporte individual. 4 3 1 2 40
Sentimento de missão cumprida, de dever cumprido. 1 1 1 1 40
Sentimento de gratidão por poder correr. 2 1 20
Ter qualidade de vida. 4 10
Pensar em grandes atletas para se motivar. 2 10

Quadro 1. Temas relacionados à motivação intrínseca para a corrida (número de


vezes que surgiram nas entrevistas).
Todos esses itens são sentimentos relacionados ou decorrentes
da prática, ou refletem a maneira como os sujeitos se relacionam
com a corrida em função dos sentimentos e dos pensamentos envol-
vidos, caracterizam, assim, tendência motivacional intrínseca para a
prática da corrida.

, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 45-68, abril/junho de 2009.


Motivação intríseca e estado mental flow... 57

M otivação Extríns e ca Praticante

Te mas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 %
Expectativa de obter benefícios para saúde. 1 3 4 3 1 2 3 1 3 90
Incentivo de alguém próximo. 3 5 3 2 2 8 2 1 80
Convivência ou inserção num grupo. 9 12 3 1 2 11 60
Emagrecimento, perda de peso. 2 2 4 5 1 50
Participação dos atletas de elite nas provas. 1 2 3 5 40
Incentivo de outras pessoas nas provas. 1 1 1 30
Amizade e união entre os corredores. 2 3 1 30

Quadro 2. Temas relacionados à motivação extrínseca para a corrida (número de


vezes que surgiram nas entrevistas).

Os temas do quadro 2 relacionavam-se à motivação extrínseca,


porque representavam algo que obtemos como recompensa pela prá-
tica, ou algo que esperamos obter dela. Dependendo do grau de impor-
tância que a pessoa atribui a eles, sua ausência pode interferir negati-
vamente em sua motivação para a prática.
Devemos levar em consideração que as recompensas extrín-
secas podem contribuir para o fomento da motivação intrínseca,
desde que sejam percebidas pelas pessoas como prêmio, não como
um elemento controlador do seu comportamento (WEINBERG;
GOULD, 2001). É o caso dos elementos extrínsecos encontrados
nos discursos, eles são vistos como um prêmio pelo envolvimento
com a atividade, não como algo recebido para controlar seu compor-
tamento ou o seu rendimento.
Pela análise, verificamos que todos os praticantes tinham tendên-
cia motivacional intrínseca com relação à atividade. Isso aponta para
uma relação importante entre a tendência motivacional intrínseca e o
engajamento e a permanência desses corredores na atividade.

6.2 ESTADO MENTAL FLOW DURANTE A PRÁTICA DA CORRIDA DE RUA


Analisamos, nesta etapa, os aspectos presentes nos discursos
dos praticantes, que poderiam favorecer a ocorrência de um estado
mental de profundo envolvimento na atividade como o flow, e inferir

, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 45-68, abril/junho de 2009.


58 Artigos Originais Fábio Massarella e Pedro Winterstein

se esses praticantes vivenciavam um estado mental similar em suas


experiências com a corrida.
Para a obtenção dos dados que possibilitassem a análise, reali-
zamos os seguintes questionamentos aos participantes: quais os senti-
mentos mais comuns que percebiam quando estavam correndo, quais
os pensamentos, e a descrição de uma experiência com corrida que
tenha ficado marcada na memória como muito gratificante, indepen-
dentemente de ter sido num treino ou numa competição. Os senti-
mentos e pensamentos que os corredores percebiam durante a ativi-
dade, poderiam indicar elementos importantes com relação à vivência
de um estado mental diferenciado como o flow, e as experiências mais
significativas para eles poderiam revelar momentos de profundo envol-
vimento e satisfação com a corrida, coerentemente com a teoria.
Buscamos identificar se os temas que surgiram na análise (Qua-
dro 3), tinham alguma relação com os elementos do flow, ou seja, se
eles indicavam que os praticantes mantinham um equilíbrio entre o
desafio que a corrida representava e a capacidade de responder a ele,
se ficavam totalmente imersos na atividade e focados no momento
presente, se mantinham suas metas claras e buscavam obter feedback
para avaliar o resultado de suas ações.

M otivação Extríns e ca Praticante


Dime ns ão do fl ow Te ma le vantado na anális e 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 %
Percepção realista das capacidades
Equilíbrio entre o desafio 3 5 1 5 22 5 5 10 8 90
e situações.
e a habilidade ou a
capacidade. F acilid ad e co m relação à realização
2 3 2 8 40
da atividade.
Metas claras e retorno Objetivos e metas a serem
4 5 1 3 12 2 4 1 80
(f eedback ). cumpridos.

Concentração total na Manutenção do foco na atividade e


6 1 7 3 3 5 1 7 6 11 100
atividade e no presente. no momento presente.

Quadro 3. Número de vezes que os temas relacionados aos elementos necessários


para que o flow ocorra surgiu nas entrevistas.

• Equilíbrio entre desafio e habilidade: a percepção dos corre-


dores sobre os desafios que a corrida representa e a percepção da

, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 45-68, abril/junho de 2009.


Motivação intríseca e estado mental flow... 59

capacidade de responder a eles, constitui um elemento importante


para a que a experiência do flow ocorra. Dois temas surgidos nas
entrevistas indicavam relação com essa dimensão: a percepção rea-
lista da própria capacidade e das situações (nove entrevistas) e a
percepção de certa facilidade com relação à prática da atividade
(quatro corredores).
O primeiro tema, percepção realista das próprias capacidades
e das situações, tem uma implicação importante nessa dimensão do
flow, somente com uma percepção realista do que somos capazes
de fazer e do desafio com o qual estamos lidando, é possível vivenciar
momentos de plena satisfação e total envolvimento com a atividade.
A figura 1 (página 47) mostra que, se estivermos diante de um desafio
que julgamos além de nossas habilidades, ficaremos ansiosos, se
estivermos envolvidos com um desafio que identificamos como muito
abaixo de nossas habilidades, ficaremos entediados.
Quanto ao segundo tema, facilidade com relação à atividade,
não significa exatamente que a tarefa fosse fácil para os praticantes,
apesar deles poderem estabelecer graus muito variados de dificul-
dade na corrida (variando percurso, ritmo, duração, relevo etc.), o que
eles apontaram foi a percepção pessoal de possuírem certa aptidão
natural para a corrida. Inferimos que essa dimensão do flow esteve
presente no discurso de todos os corredores através de um ou de
outro tema, sendo que alguns deles apontaram os dois temas relacio-
nados a ela.
• Metas claras e retorno (feedback): ter objetivos claros em
mente permite adequar as ações às exigências da tarefa e ter clareza
sobre a contribuição ou não de suas ações para atingir o objetivo. Ter
objetivos claros representa oportunidade para usar e para refinar as
habilidades pessoais (IAOCHITE, 1999, p. 31). Oito participantes
demonstraram ter muito claro os objetivos e as metas perseguidos na
corrida, seja nos treinos ou nas competições. Os corredores procu-
ravam fazer um monitoramento (feedback) para avaliar se estavam
conseguindo atingir as metas que estabeleciam, utilizavam instru-
mentos como cronômetro, frequencímetro, controlavam o tempo a cada

, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 45-68, abril/junho de 2009.


60 Artigos Originais Fábio Massarella e Pedro Winterstein

quilômetro utilizando planilhas de treino etc. É importante ter consciên-


cia de qual é o objetivo na atividade, seja durante um treino ou prova,
e ter meios de avaliar se irá conseguir atingi-lo. Essa dimensão do
flow esteve presente no discurso de oito entrevistados.
• Concentração total na atividade realizada e no momento pre-
sente: a concentração plena na tarefa e no presente impede que a
atenção seja desviada para informações sem relevância. Em nosso
cotidiano, dificilmente estamos plenamente focados no que faze-
mos, geralmente realizamos uma atividade pensando em coisas que
têm pouca relação com sua execução. As preocupações e ansiedades
geralmente tomam conta de nossa mente. Para Csikszentmihalyi (1992,
p. 91) essa é a razão pela qual o flow melhora a qualidade da expe-
riência, as exigências claramente estruturadas da atividade impõem
uma ordem na consciência, impedindo a desordem comum.
Os praticantes demonstraram conseguir, em várias situações,
manter o foco de sua atenção totalmente na corrida, em especial nas
provas, eles indicaram que, em especial, na competição, geralmente
mantêm-se totalmente imersos no presente. Nos treinos, as respostas
variaram bastante. Alguns disseram conseguir focar-se totalmente
na corrida, outros, que, em certos momentos, pensamentos e senti-
mentos não relacionados aparecem, como organização diária, família,
trabalho etc. Os praticantes também pontuaram que nos treinos reali-
zados em grupo, as conversas favorecem a dispersão do foco da
atenção.
Esses são os três elementos fundamentais para que a experiência
do flow ocorra, sendo possível identificá-los no discurso da maioria
dos entrevistados, sugerindo que esses corredores podem realmente
ter vivenciado um estado mental como o flow. Isso foi verificado atra-
vés da análise das demais dimensões.
Buscamos analisar os temas que pudessem ter relação com as
percepções dos entrevistados por Cskszentmihalyi e outros pesquisa-
dores quando vivenciavam um estado mental como o flow (Quadro
4): fusão entre ação e consciência; percepção de controle; perda da
autoconsciência; perda da noção do tempo; experiência autotélica.

, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 45-68, abril/junho de 2009.


Motivação intríseca e estado mental flow... 61

M otivação Intríns e ca Praticante


%
Dime ns ão do flow Te ma le vantado na anális e 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Sentimento de realizar a atividade sem


1 4 2 30
despender grandes esforços.
Fusão entre ação e
consciência. Sentimento de esquecer- se do mundo,
de si mesmo, dos problemas, de curtir o 8 1 2 30
momento.
Sentimento de controle. Sentimento de controle na situação. 1 9 1 1 2 50
Sentimento de autoconfiança,
1 2 4 2 1 50
autoestima.
Sentimento de igualdade, união com os
Perda da autoconsciência. 1 10
outros corredores ou com o ambiente.
Sentimento de paz interior, calma,
3 3 10 4 4 1 2 6 2 1 100
tranquilidade, relaxamento, tipo terapia.
Sentimento de transformação Sentimento de que o tempo passou
3 1 4 30
do tempo. muito rápido.
Sentimento de prazer, satisfação,
Experiência autotélica. 21 11 3 4 10 8 9 7 9 8 100
felicidade, alegria, algo compensador.

Quadro 4. Número de vezes que cada tema relacionado às percepções sobre a


ocorrência do flow surgiu nas entrevistas.

• Fusão entre ação e consciência: é um sentimento de profundo


envolvimento com a atividade realizada, o que conduz a uma ação
automática e espontânea, a pessoa deixa de se perceber como dinâ-
mica distinta da atividade que está realizando.
Dois temas que surgiram nas análises parecem ter relação com
essa dimensão do flow: o sentimento de estar realizando a atividade
sem despender grandes esforços (citado por três corredores), asse-
melha-se à descrição de Csikszentmihalyi (1992, p. 85) sobre a per-
cepção das pessoas sobre essa dimensão: “há uma sensação de movi-
mento aparentemente isento de esforço”. Os corredores relataram
experiências em que tinham o sentimento de que estavam tendo um
desempenho muito bom na atividade sem uma percepção de que tives-
sem que realizar grandes esforços para isso.
Três entrevistados relataram um sentimento de desligar-se do
mundo quando estavam correndo, algo e ncontrado em muitos dos
exemplos de Csikszentmihalyi (1988, 1992, 1999), sobre essa dimen-
são do flow. Os corredores colocam isso como um sentimento posi-
tivo, agradável e prazeroso. Esses momentos sobressaem na memória
dos praticantes como especiais, diferenciados, onde o que importa é

, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 45-68, abril/junho de 2009.


62 Artigos Originais Fábio Massarella e Pedro Winterstein

a corrida e o que vivem naquele momento. Os problemas, as dificul-


dades, ficam em segundo plano, não entram no foco da atenção duran-
te esses momentos.
Metade dos entrevistados relatou um desses dois sentimentos,
indicando que essa dimensão do flow encontra similaridade em suas
experiências.
• Percepção de controle: no flow, pode ocorrer uma sensação
de controle, mas sem haver uma preocupação efetiva com isso. Parece
que a satisfação vem da sensação de exercer o controle sobre si mes-
mo em situações difíceis ou complexas, não de exercer o controle sobre
a situação em si.
Dos corredores entrevistados, cinco demonstram já ter passado
por experiências relacionadas com essa dimensão do flow. Devemos
considerar também, que essa sensação de controle está ligada a um
sentimento de se sentir preparado fisicamente para a atividade, em
particular nas provas. O fato de ter realizado uma boa preparação
pode dar ao praticante uma sensação maior de controle ao acompanhar
seu ritmo pelas quilometragens e verificar que está conseguindo
manter sua meta, além de maior tranquilidade emocional, por saber
que se preparou adequadamente.
• Perda da autoconsciência: esse aspecto do flow pode ser decor-
rente do profundo envolvimento com a atividade. Não há disponibi-
lidade de atenção para lembrar-se do passado ou preocupar-se com
o futuro. Isso é o oposto do que ocorre normalmente em nossa vida,
raramente estamos totalmente imersos na atividade que estamos
realizando, nossos pensamentos e sentimentos nos levam de um lado
para outro; passamos a maior parte do tempo como se estivéssemos
sonhando acordados.
Segundo Csikszentmihalyi (1992, p. 100-102), a perda da autocons-
ciência não significa a perda da consciência, mas que o self, a infor-
mação que usamos para representar para nós mesmos quem somos,
fica abaixo do limiar de percepção consciente, isso pode levar a
uma sensação de que os limites do nosso ser foram ampliados. Por
conta disso, depois de uma experiência no flow, a percepção que a

, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 45-68, abril/junho de 2009.


Motivação intríseca e estado mental flow... 63

pessoa tem de si mesma pode ser mais forte, mais confiante. Isso
tem semelhanças com a relação que os praticantes estabelecem
entre a corrida e o sentimento de autoconfiança e autoes-tima melho-
radas em função da atividade, que foi apontada por cinco corredores.
Outra manifestação dessa dimensão do flow, é que a percepção
de que temos um self separado do mundo à nossa volta deixa de
existir. Algumas pessoas descrevem isso como um sentimento de
união com o ambiente a sua volta, por exemplo, uma montanha, um
time de futebol ou um grupo de competidores. Há relato de um dos
praticantes, da percepção de um sentimento de igualdade, de união
com os outros corredores durante as provas, o que parece ter relação
com essa dimensão.
Uma das consequências também de vivenciar essa dimensão
do flow, é uma sensação de tranquilidade e de equilíbrio decorrente
da atividade. Csikszentmihalyi (1992, p. 99) menciona que quando a
pessoa vivencia essa dimensão, pode perceber algo como uma obliteração
passiva do self, um sentimento do tipo “deixar-se levar pela maré”.
Todos os corredores indicaram em suas respostas que experimentaram
um sentimento de relaxamento, de paz, de tranquilidade, quando esta-
vam correndo ou após. Todos os entrevistados relataram vivenciar
pelo menos um dos três sentimentos relacionados a essa dimensão
do flow. Houve entrevistado que relatou os três sentimentos, e quatro
sujeitos relataram dois deles. Essa dimensão do flow parece encon-
trar, portanto, semelhanças com as experiências vivenciadas pelos
praticantes.
• Perda da noção do tempo: quando vivenciam o flow, as pessoas
podem ter a sensação de que o tempo transcorreu de maneira dife-
rente da habitual, a sensação de que o tempo transcorreu mais rápido
ou mais devagar que o real. Isso mostra o aspecto relativo do tempo,
parece haver um tipo de desorientação temporal ou perda da cons-
ciência da passagem do tempo. Devido a isso, as pessoas podem
passar horas imersas na atividade sem perceber que o fizeram ou
terem a sensação de que uma ação que transcorreu em apenas
alguns segundos ou minutos, levou muito mais tempo do que o real.
Três corredores mencionaram experiências que deixaram trans-
parecer essa sensação de que o tempo passou muito mais depressa

, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 45-68, abril/junho de 2009.


64 Artigos Originais Fábio Massarella e Pedro Winterstein

do que de fato havia ocorrido. Por exemplo, em prova com percurso


extenso como a meia maratona (21Km), realizado em mais de duas
horas, ou seja, um tempo relativamente longo correndo, um prati-
cante relatou a sensação de que o tempo passou muito rápido, que,
quando se deu conta, a prova já havia terminado.
• Experiência autotélica: o sentimento que parece melhor caracte-
rizar a experiência no flow, é que exercer a atividade é a própria recom-
pensa que o indivíduo busca. Quando a experiência é intrinsecamente
gratificante, a vida se justifica no presente e não ficamos aprisionados
em expectativas de recompensas futuras. Vários relatos dos entrevis-
tados apontaram que eles vivenciam essa dimensão do flow em sua
prática. O prazer, a alegria e a felicidade por poder correr, por fazer algo
que acreditam valer a pena, aparecem com bastante frequência nos
relatos de todos os entrevistados quando falam sobre os sentimentos
que têm com relação à corrida e sobre as experiências vivenciadas.
Essa dimensão também é muito significativa para este estudo,
porque revela o caráter autossustentador da atividade, na qual o prazer
e a satisfação que as pessoas sentem durante a corrida, provavel-
mente são as recompensas que as mantêm engajadas na atividade,
ou seja, motivadas intrinsecamente para continuarem praticando por
muitos anos.
Para Csikszentmihalyi (1999, p. 36), os momentos no flow são
‘excepcionais’. O termo foi retirado das descrições que as pessoas
faziam de momentos que se destacavam como os melhores de suas
vidas. No flow, o que sentimos, pensamos e desejamos, se harmonizam
completamente. Parecem ser os sentimentos positivos vivenciados
na corrida que fazem com que os praticantes renovem por tanto tempo
sua opção de continuar correndo.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os participantes do estudo revelaram a existência de vários


motivos responsáveis por seu comportamento de engajamento na
prática da corrida, são razões que coexistem e se reforçam. Os
motivos não atuam isoladamente, mas conjuntamente, reforçando
ou inibindo o comportamento do sujeito com relação à atividade. Os

, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 45-68, abril/junho de 2009.


Motivação intríseca e estado mental flow... 65

Profissionais de Educação Física podem tem maior possibilidade de


êxito em suas intervenções se reconhecerem os motivos determinantes
do comportamento das pessoas, identificando quais reforçam ou ini-
bem o comportamento que desejam incentivar. As razões que se con-
trapõem ao comportamento de engajamento com relação à atividade
devem ser compreendidas e trabalhadas, para que não levem o indi-
víduo a abandonar a prática.
Algum tipo de incentivo externo (motivação extrínseca) parece
ter papel importante para que as pessoas iniciem uma atividade física
ou esportiva, elas geralmente começam extrinsecamente motivadas.
Programas que incentivem a prática e a vivência de atividades físicas
e esportivas em escolas, clubes e outras instituições são muito impor-
tantes, por darem às pessoas a oportunidade de experimentar ativi-
dades dessa natureza, mas o fomento da motivação intrínseca pode
ser crucial para que elas permaneçam engajadas, contribuição a ser
dada pelo profissional de Educação Física.
O estudo apontou relação favorável entre a tendência motivacional
intrínseca e a permanência na atividade por muitos anos. É interes-
sante que os Profissionais de Educação Física se esforcem em esti-
mular o desenvolvimento deste tipo de motivação em seus alunos ou
atletas com relação às atividades, visto que um dos problemas enfren-
tados com grande frequência é a falta de permanência das pessoas
por maior tempo nas atividades físicas.
A vivência durante a prática de atividades físicas e esportivas
de experiências afetivas positivas, intensas e significativas como o flow,
pode contribuir para manter as pessoas intrinsecamente motivadas.
O prazer e a satisfação são recompensas encontradas pelos prati-
cantes, justificando o empenho e o engajamento. Quanto mais as pes-
soas vivenciam essas experiências, mais tempo e dedicação elas inves-
tem na atividade. Um estado mental como o flow realça a experiência
na atividade, diferenciando-a das demais experiências cotidianas e
leva as pessoas a sentirem a atividade como algo recompensador.
É importante também adequar as expectativas individuais na
atividade a real capacidade dos alunos ou atletas, mantendo o equilíbrio
harmônico entre desafio proposto e habilidade necessária para

, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 45-68, abril/junho de 2009.


66 Artigos Originais Fábio Massarella e Pedro Winterstein

superá-lo. Orientar os praticantes, para que tenham clareza sobre as


metas e o que é necessário fazer para se atingir os objetivos desejados,
ajudá-los a encontrar formas de obter feedback de seu desempenho
a curto, médio e longo prazo, monitorando parcial e globalmente
suas ações, identificando se elas estão contribuindo ou não para que
atinjam os resultados almejados. Orientá-los para que procurem
manter-se focados o maior tempo possível em elementos relacionados
à atividade, encontrando estratégias para impedir que fatores exter-
nos interfiram negativamente em seus pensamentos e sentimentos.
Controlando esses elementos, as pessoas podem ter mais domínio
sobre suas experiências mentais, melhorando a qualidade da vivência
na atividade e isso pode contribuir para maior engajamento, pela satis-
fação que traz.
São necessários mais estudos sobre o flow no esporte e nas
atividades físicas para compreendermos com mais exatidão sua dinâ-
mica de funcionamento e como obter maior controle pessoal sobre
ele, mas as condições de ocorrência podem ser facilitadas por meio
da intervenção dos profissionais de Educação Física, conforme apon-
tado no estudo, estimulando os praticantes a utilizarem ao máximo
seu potencial, pois o flow tende a ocorrer quando os níveis de habili-
dade são adequados à demanda da tarefa e esta constitui um verda-
deiro elemento de crescimento pessoal e de autoconhecimento.

, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 45-68, abril/junho de 2009.


Motivação intríseca e estado mental flow... 67

Intrinsic Motivation and the State Mental Flow


in Street Runners
Abstract: This article is a result of the Masters Disser-
tation held in the University of Physical Education,
UNICAMP. Participated in the qualitative study, ten practi-
tioners of running. The methodology used was the ana-
lysis of content. Most practitioners began activity moti-
vated by outer circumstances, but the intrinsic motivation
showed crucial in residence for many years. Relations
have been identified among the topics raised in the
analysis and the elements that characterize the state
mental flow. These elements can be important setters
in the structuring of physical activities, keeping the
individual intrinsically motivated, resulting in greater
attendance, commitment, time and satisfaction.
Keywords: Psychology. Sports. Running. Motivation.
State mental flow.

Motivación Intrínseca y el Estado Mental Flow


em Corredores
Resumén: Este artículo es resultado de tesis de máster
celebrada en Universidad de Educación Física de
UNICAMP. Participó del estudio cualitativo, diez profe-
sionales de raza en calles. La metodología utilizada
fue análisis de contenido. La mayoría de los profesio-
nales comenzó la práctica por motivación exterior, pero
la motivación intrínseca mostrou-se crucial en la práctica
por años. Las relaciones se han identificado algunos
temas planteados en el análisis y elementos que carac-
terizan el estado mental flow. Estos elementos pueden
ser importantes en estructuración de actividades físi-
cas, mantenimiento de la persona motivada, que llevaría
a mayor participación, compromiso, tiempo de práctica
y satisfacción.
Palabras clave: Psicología. Deportes. Carrera.
Motivación. Estado mental flow.

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Recebido em: 07.12. 2007


Aprovado em: 16.02.2009

, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 45-68, abril/junho de 2009.


DOI: http://dx.doi.org/10.17921/2447-8938.2018v20n3p205-211
Rodrigues JP, Triani FS, Telles SCC

A Teoria das Necessidades e a Busca da Excitação: o que Leva os Corredores às Ruas

The Theory of Needs and the Search for Excitement: What Takes Runners to the Streets

Jorge Pereira Rodriguesa*; Felipe da Silva Trianib; Silvio de Cassio Costa Tellesa

a
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências do Exercício e do Esporte. RJ. Brasil.
b
Faculdade Gama e Souza.
*E-mail: joprodrigues@globo.com
Recebido em: 27/02/2018
Aprovado em: 20/06/2018

Resumo
As corridas de rua representam para os campos da Educação Física e do esporte um fenômeno de grandes proporções, tendo servido como
objeto de estudo para compreender os efeitos fisiológicos sobre a saúde, as questões relacionadas aos mecanismos de lesão, melhora do
desempenho de atletas e como forma de manifestação de lazer. Além disso, considerando o crescimento da prática da corrida de rua, o número
de eventos e atletas, as academias, que se tornaram populares nos anos de 1980 e 1990, nos últimos anos, fornecem muitos corredores para
as ruas. No entanto, os motivos que fazem os corredores associarem a corrida na esteira das academias às corridas de rua ainda são poucos
conhecidos. Destarte, o objetivo da pesquisa foi revisitar a literatura e investigar as motivações, que têm implicado os corredores a associar
as esteiras das academias com as corridas de rua. Para atingi-lo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica de revisão narrativa nos principais
periódicos da Educação Física brasileira e nas bases indexadoras SciELO e Google Acadêmico, tendo a busca sido realizada até 2014. Logo,
como resultados a revisão contribui na medida em que desvela o sentimento gregário de grupo e a busca pela excitação, por meio do ambiente
diversificado, alternativo e imprevisível das ruas, como os principais motivos que contribuem na associação que os corredores empregam das
esteiras para as ruas.
Palavras-chave: Ciências da Saúde. Ciências do Esporte. Psicologia do Esporte. Saúde. Atletismo.

Abstract
The street running represents a phenomenon of great proportions for the fields of physical education and sport, having served as an object
of study to understand the physiological effects on health, the questions related to the mechanisms of injury, improvement of the athletes
performance and as a leisure manifestation.In addition, considering the growing practice of street running, the number of events and athletes,
the gyms, which became popular in the 1980s and 1990s, in recent years, provide many runners to the streets. However, the motives that make
runners associate the running in the treadmills in the gyms with the street runnings are still little known. Thus, the objective of the research
was to revisit the literature and investigate the motivations that have implicated the runners to associate the treadmilss at the gyms with the
street running. In order to reach this goal, a bibliographical research was carried out on the narrative review in the main Brazilian physical
education journals and on the SciELO and Google Scholar index databases, and the search was carried out until 2014. As a result, the review
contributes to the extent that it reveals the gregarious group feeling and the quest for excitement through the diversified, alternative and
unpredictable environment of the streets as the main motives that contribute to the association that runners employ from the treadmills to the
streets.
Keywords: Health Sciences. Sports Science. Sports Psychology. Health. Athletics.

1 Introdução corridas de rua em São Paulo levou a Federação a criar um


departamento exclusivo para tratar do assunto.
As corridas de rua se tornaram um dos maiores fenômenos
A Federação de Atletismo do Rio de Janeiro - FARJ
esportivos em ascensão no Brasil1. É interessante avaliar como
também tem buscado disciplinar as realizações de eventos de
essa prática se tornou uma tendência relevante dentro das áreas
rua, em virtude do aumento sistemático do número de provas,
urbanas. A busca por um novo espaço para realizar atividades
criando a partir de 2013 um cargo exclusivo para tratar desse
físicas encontrou nas cidades uma possibilidade, que não assunto.
evidencia sinais de estar em processo de desaceleração. A busca pela prática da corrida de rua ocorre por diversos
A Federação Paulista de Atletismo - FPA é o órgão oficial interesses, que envolvem a promoção da saúde, estética,
que melhor possui os números de corridas de rua. Desde que integração social, fuga do estresse da vida moderna, busca
a entidade passou a controlar os números dos eventos rústicos por atividades prazerosas e competitivas2. Nessa esteira, ao
de corrida no ano de 2001, a quantidade de corridas não parou longo do século XX, a corrida de rua se tornou um evento
de crescer. Quando são comparados os anos de 2014 e 2015, esportivo sistematizado. No contexto brasileiro, esse aspecto
o aumento foi de mais de 14,96%. O número elevado de ganha impulso com a propagação, pelo Governo, do Programa

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A Teoria das Necessidades e a Busca da Excitação: o que Leva os Corredores às Ruas

“Esporte Para Todos”. O movimento denominado “jogging relacionados ao corpo. A indústria do fitness está sempre em
boom”, influenciado pela teoria do Método Cooper, estimulou busca de novidades nos serviços, que renovem seu poder de
o surgimento da cultura das corridas, em ambientes externos, atração de novos e potenciais consumidores. As promessas
nos Estados Unidos nas décadas de 1960 e 1970. Essa prática, dessa grande indústria, contando com um avançado aparato
rapidamente, chega ao Brasil, talvez impulsionada pelo no campo do marketing e da propaganda, criam novas
sucesso da seleção brasileira de futebol campeã na Copa do necessidades, junto com o campo científico, ambos legitimando
Mundo do México no ano de 1970, que utilizou o teste de o discurso da saúde, promovendo uma identificação do
Cooper na preparação de seus jogadores1,2. consumidor com produtos e serviços propostos pelo setor6.
Outra hipótese para popularização das corridas de rua O início do século XXI representa o retorno da prática
no Brasil pode ter sido a liberação da participação popular contínua e sistemática de corrida ao ar livre. As corridas de
nas corridas, os chamados “atletas amadores”, haja vista que rua têm se mostrado muito frequentes, angariando a cada
até então, esses eventos tinham como público alvo, os atletas ano um grande número de participantes em suas edições.
de “elite”. Também na década de 1970 surgiram provas em Segundo Evangelista1, as provas de rua tiveram um aumento
que se permitia a participação popular junto aos corredores significativo nos últimos dez anos. Comparando os números
de elite, porém com largadas separadas para os respectivos da FPA, em 2001 eram apenas 11 provas de rua e, em 2005,
“pelotões”2. Nesse período, começam a se tornar tradicionais passaram para 174 somente no Estado de São Paulo, tendo
provas como a Maratona do Rio de Janeiro (1979), Corrida algumas vezes 25 mil pessoas em uma única prova, no ano de
Leblon-Leme (1979), Corrida dos Reis em Goiás (1970) e, 2014 foram 363 e em 2015 foram 415 corridas oficializadas
ainda, a mais antiga corrida existente no Brasil, que ocorre pela FPA3.
desde a década de 1920, a São Silvestre3. Provavelmente, pensando na conjugação entre alunos de
O movimento de corridas de rua, que se tornou popular academias e corridas de rua, cinco das principais empresas
nos anos de 1970, tende a permanecer estável até o fim da organizadoras de eventos rústicos no Brasil, Yescon, Spiridon,
década de 1980, embora as corridas de rua tenham se tornado O2, Corpore e Iguana organizam eventos, exclusivamente,
uma prática constante nas paisagens urbanas de algumas voltados para o segmento academias, possuindo em suas
cidades brasileiras, a última década do século XX tende estruturas cadastros que permitem não somente um contato
a apresentar uma desaceleração na promoção desse tipo de direto com essas empresas do ramo de fitness, visando
atividade esportiva. Eventos tradicionais como a “Corrida facilitar informações sobre os eventos, quanto facilidades nos
da Ponte”, “Leblon-Leme-Leblon” e a “Corrida do Cristo” processos de inscrição, retirada de kits, valores diferenciados
cessam nesse período. Assim sendo, a possibilidade de ter a nas inscrições dos alunos/atletas e premiação às academias
corrida rústica como uma prática regular de atividade física, já com melhores performances e um número cada vez maior
não é tão constante quanto a alguns anos atrás3. de participantes. Essas empresas possuem um cadastro dos
Os anos de 1980 e 1990 representaram a ascensão das participantes, buscando criar uma maior aproximação com os
atividades em academias. Marinho e Guglielmos4 afirmam consumidores de seus produtos.
que a expansão das academias são um dos maiores fenômenos Não há dúvida de que se vivencia um fenômeno de prática
sociais ocorridos recentemente e que a crescente aderência sistemática de corridas no Brasil. Dessa forma, busca-se nesse
às atividades físicas oferecidas tem motivos e fatores artigo identificar quais os principais fatores que compelem as
variados. Assim, aproximadamente, cerca de dez anos após pessoas a buscarem as corridas de rua como fator presente na
da popularização das corridas de rua, uma nova forma de práxis de suas atividades físicas. Dessa maneira, o objetivo da
prática sistemática de atividade física ganha destaque em pesquisa foi revisitar a literatura e investigar as motivações
nosso país. Gradativamente, as “esteiras” tornaram-se uma que têm implicado os corredores a associar as esteiras das
nova oportunidade de exercitação e modismo. Desde então, academias com as corridas de rua.
as práticas físicas “indoor” sofreram vertiginoso aumento nos 2 Desenvolvimento
números de empreendimentos comerciais no ramo do fitness.
2.1 Metodologia
O SEBRAE, em 26 de agosto de 2014, aponta que o
Brasil é segundo país do mundo em número de academias5. Este estudo foi baseado em uma revisão narrativa
O SEBRAE indica a existência de 21.760 empreendimentos de literatura, a partir de produções que versam direta ou
do ramo em território nacional. A mesma publicação aponta indiretamente sobre o tema. Foram investigadas as produções
um crescimento de 29% nos últimos três anos. O número de científicas que abordavam a corrida, tendo como lapso
usuários gira em torno de 2,8 milhões de matriculados. As temporal as publicações entre 2000 e 2014, por considerar que
academias foram determinantes para a mudança na forma somente a partir dessa década os eventos rústicos ficaram mais
como as pessoas faziam as atividades físicas. Desta forma, presentes em nosso cotidiano, caracterizando-se então como
em um único espaço, a oferta diversificada de atividades um fenômeno1. Adicionalmente, ressalta-se que somente
proporcionava uma nova perspectiva na busca pelos objetivos foram utilizadas referências em português, pois o foco foram

206 J Health Sci 2018;20(3):205-11


Rodrigues JP, Triani FS, Telles SCC

as discussões do fenômeno no ambiente brasileiro. encontrado, diversos fatores sobre a motivação que conduz
A pesquisa foi realizada no âmago dos seguintes indivíduos a correrem nas ruas foram explorados. Os discursos
periódicos: Motriz; Revista de Educação Física; Movimento; relacionados à saúde e à estética, a busca pela excitação e o
Cadernos CEDES; Revista Brasileira de Educação Física sentimento gregário apareceram de forma recorrente na maioria
e Esporte; Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde; dos estudos. Nos estudos, foram encontradas indicações de que
Revista da Educação Física UEM; Revista Brasileira de a prática regular de corridas de rua é vista como uma forma de
Ciências do Esporte; UNOPAR Científica Ciências Biológicas atingir metas. Algumas dessas metas poderiam ser alcançadas
e da Saúde; Revista Estudos Feministas UFSC; e Pensar a nos espaços indoor, porém, outras, conforme discorre-se ao
Prática. Na ocasião da busca, os seguintes descritores foram longo do estudo, necessitam extrapolar o ambiente controlado
utilizados: “corrida”, “corrida de rua”, “corrida rústica”, em das academias e suas esteiras.
diferentes ordens e combinações. A prática regular da atividade física possui um discurso
Inicialmente, as edições dos periódicos foram acessadas, quase que hegemônico pelo alcance da qualidade de
os títulos dos artigos observados e foi realizada leitura vida. Contudo, a curiosidade científica incentivou a tentar
do resumo, quando este tinha relações com o tema. As identificar se nos anseios pelo alcance de uma vida saudável,
publicações, que não evidenciavam relação com a temática, existiria algum outro elemento que não apenas o discurso da
foram descartadas. saúde propriamente dita. Sendo assim, foi identificado que o
Foram investigados 345 volumes englobando todos os sentimento gregário e a busca pela excitação não coadunam
periódicos. No entanto, a busca foi ampliada para o banco de com as características das práticas das esteiras, a qual é
dissertações e teses da CAPES, sendo realizada uma busca individual e privada de alternância de ambiente.
com os mesmos descritores. Além disso, portais como o Centro Por outro lado, nas corridas de rua a excitação de
de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida (CPAQV), exploração de novos locais e a possibilidade de correr em
Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), Biblioteca grupo são presentes. Portanto, o sentimento gregário e a busca
Virtual em Saúde (BVS), Instituto Brasileiro de Informação pela excitação mostraram-se como fortes argumentos para
em Ciência e Tecnologia (IBICT) e SciELO, também foram contribuir na substituição das esteiras pelas corridas de rua.
utilizados na ocasião da pesquisa. Das publicações encontradas, cinco estão relacionadas ao
Na área de marketing, administração e economia, foram sentimento gregário e três a excitação. Sendo assim, foram
encontradas sete produções no periódico CAPES e uma no consideradas as categorias sentimento gregário e excitação.
portal SciELO. Nos demais não foram encontradas produções Então, os estudos que não estavam relacionados, diretamente,
correlatas. Na área de saúde e/ou performance obteve-se com as categorias de análise foram excluídos.
os seguintes números: 10 na SciELO, 9 no IBICT, 14 em
Periódicos CAPES. Nos demais não foram encontradas 2.2 Discussão
produções. Cabe ressaltar que como a busca foi ampliada,
O sentimento gregário foi identificado nos estudos dos
as produções nas áreas de Marketing, Administração e
autores Zimerman e Osório7, Rubio8, Albuquerque9 e Oliveira10,
Economia e de Cultura do Portal SciELO, também constam
que utilizaram a teoria das necessidades de Maslow12, e os
em “CAPES”.
estudos de necessidades e ou motivos de McClelland11. Estes
Quadro 1- Resultado da busca nas bases de dados e bases autores versam sobre as questões relacionadas ao convívio
indexadoras por área grupal como agentes facilitadores para o alcance das metas
Áreas individuais. Desta forma, correr em grupo, e mais, pertencer a
Base Marketing, Administração um grupo, também se configurou como decisivo para sair dos
Saúde Cultura
e Economia
CAPES 7 14 16 ambientes indoor. O correr em um grupo parece uma forma de
CPAQV 0 0 0
DeCS 0 0 0 combater a solidão das esteiras e da vida moderna.
BVS 0 0 0
IBICT 0 9 12 A busca pela excitação aparece nos trabalhos de Ferreira13,
SciELO 1 10 1
Fonte: Dados da pesquisa Dallari3, Moretti14. Esses autores que versam sobre corridas de
rua e ou de aventura usaram os estudos de Elias e Dunning15
Além dos periódicos, bases de dados e indexadoras, para analisar a busca pela excitação por meio do esporte. A
também foi realizada uma busca nos órgãos representativos sensação de liberdade e o risco controlado de correr ao ar livre
oficiais do atletismo, tais como: Federação Internacional foram determinantes para levar milhares às corridas.
de Atletismo, Associação Internacional de Maratonas e A partir desses dois sentimentos, apoiados nas teorias
Corridas de Distâncias, Confederação Brasileira de Atletismo de Elias e Dunning15, Maslow12 e McClelland11, foi feita
e Federações. Essa exploração apresentou um cenário mais uma discussão para compor uma versão para a adesão dos
próximo do real, sobre os números de eventos e quantidade de alunos de academia às corridas de rua no Brasil. Como forma
corredores nos eventos rústicos. de tornar essa linha investigativa com mais subsídios serão
Ao final da busca e depois da leitura realizada no material relacionadas outras investigações que, embora não tratem de

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A Teoria das Necessidades e a Busca da Excitação: o que Leva os Corredores às Ruas

forma direta dos dois sentimentos elencados, colaboram com relacionar-se cordial e afetuosamente e, por fim, o poder que
informações sobre o eixo central da pesquisa: o indivíduo e a significa exercer influência.
práxis da corrida de rua. De acordo com Albuquerque9, as questões relacionadas
ao status, juntamente com as realizações, que os eventos
2.2.1 Sentimento gregário e a busca pela excitação rústicos proporcionam, podem permitir um reposicionamento
dos partícipes no organograma de um determinado segmento
Na Teoria de Maslow12, o homem se motiva quando
social.
suas necessidades, como a autorrealização, autoestima,
A questão relacionada à imitação como um forte movente
necessidades sociais, segurança e necessidades fisiológicas
intrínseco. Os alunos passam almejar o que os outros têm. No
são supridas. O teórico identificou que os seres humanos são
caso do estudo em tela, isso pode se evidenciar no sentido em
motivados por necessidades específicas, mas que nem sempre
que os usuários das esteiras consigam perceber nos corredores
são iguais, variando de acordo com o momento vivido pelo
um processo de satisfação pessoal em seus êxitos nas provas
indivíduo. O autor organizou essas necessidades, em forma
disputadas. Talvez isso se torne também seu próprio objetivo9.
de pirâmide, com o intuito de sugerir que as motivações
O grupo exerce um movimento dinâmico de chamar, atrair,
para satisfazer as necessidades do topo (necessidades de
motivar e sedimentar a prática. Albuquerque9 também se
ser) somente surgirão quando as da base forem satisfeitas
reporta ao grupo no esporte como uma espécie de consciência
(necessidades de carência). Isso não significa que mesmo
coletiva. O autor utiliza o termo “grupo de referência” para
quando satisfeitas as necessidades do topo, a motivação cesse.
designar as influências diretas ou indiretas sobre as atitudes
Pelo contrário, ela aumenta na busca de maior satisfação.
ou comportamento da pessoa. O grupo cria o compromisso
Ao analisar o fenômeno corridas de rua é possível
de estar lá. Por um caminho diferente, ele solidifica a escolha
encontrar características peculiares às necessidades, as quais
pessoal e cumpre o seu papel de confirmar a importância de
não são supridas pelas esteiras das academias3. Embora a
estar ali, nos dias e horários combinados.
base da pirâmide evidencie uma necessidade fisiológica, que
Albuquerque9 aponta ainda as questões relacionadas à
poderia estar ligada aos discursos de qualidade de vida, em
mídia que os eventos esportivos mobilizam como sendo um
outros níveis são descritas necessidades, que ultrapassam as
fator que contribui para as pessoas procurarem essas práticas.
possibilidades apresentados pelos ambientes restritos. A possibilidade de pertencer a algo, com tamanha exposição
Dallari3, em seu estudo sobre corrida de rua, ao entrevistar como as corridas de rua, pode ter grande influência na tomada
corredores, que participaram da prova de São Silvestre, de decisão de alguém querer ser corredor.
identificou o sentimento de realização. Os participantes A realização, para McClelland11, trata-se de uma
relatam a experiência de observar a reta de chegada em meio necessidade que as pessoas possuem como fonte motivadora,
aos prédios e a multidão em volta. Para os corredores, o lugar primeiramente, focando no crescimento pessoal e objetivam
ganha significado. fazer melhor e preferencialmente sozinhas, em seguida,
Albuquerque9 recorre à pirâmide das necessidades como querem um feedback concreto e imediato do seu desempenho,
forma de explicar o perfil dos consumidores de corridas de para que possam dizer como estão se saindo. Considera-se que
rua. A discussão versa sobre o indivíduo ser compelido a as corridas de rua se tornam um campo fértil para inserção
consumir produtos para satisfazer suas necessidades, seguindo dos alunos das academias nesses eventos, pois nas academias
a hierarquia que começa na satisfação fisiológica e prossegue muitas dessas necessidades não seriam supridas de maneira
até a autorrealização. tão direta. Embora se considere que um aluno possa satisfazer
Com o objetivo de compreender os hábitos dos corredores, seus anseios, inserido em uma academia, os desafios se
buscou-se identificar seu perfil. A percepção do novo perfil tornam menores, pois dentre outras coisas, o ato de competir
dos corredores de rua, agregado ao potencial financeiro dos não se apresenta tão concretamente. Assim sendo, os atrativos
mesmos e a característica gregária do ser humano, incentivou dos eventos rústicos tanto podem servir como parâmetros para
as academias a investirem em grupos de corredores. A revista autoavaliação, quanto para as inserções em grupos.
aponta um perfil social e econômico com cerca de 60% dos Zimerman e Osório7 consideram o grupo como sendo
praticantes com renda superior a R$ 5 mil mensais, 75% dos não apenas o somatório de indivíduos, mas uma entidade com
corredores têm nível superior e a grande maioria possui idade leis, mecanismos próprios e específicos. Entretanto, ressaltam
acima de 30 anos. a necessidade de que sempre haja espaço para preservar as
McClelland11 também contribuiu quanto à convivência identidades específicas de cada componente, visto que apesar
grupal. O estudo apresenta quatro necessidades ou motivos do sentimento gregário ser fundamental, as necessidades
como os responsáveis pelo comportamento humano. Para ele, individuais devem ser respeitadas, possibilitando com que
os principais vetores da necessidade para que um ser humano as realizações sejam mais plausíveis e, acima de tudo, mais
pudesse obter a sua satisfação seriam: necessidade como meio prazerosas.
para obter a satisfação; realização concretizada pelo ato de Oliveira10 aponta uma forte necessidade de associação
competir como forma de autoavaliação; afiliação que significa a grupos para as práticas esportivas. O estudo relata que

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Rodrigues JP, Triani FS, Telles SCC

os vínculos contemporâneos estão fortemente ligados às de símbolos que são compartilhados entre os corredores. A
academias e assessorias esportivas. Aponta, ainda, que os roupa, por exemplo, não possui apenas uma função técnica de
grupos de corredores, geralmente, surgem nos relacionamentos proteger o corpo durante o exercício, ela possui também uma
entre amigos que acabam se juntando para participar de função estética e de comunicação da posição de corredor.
eventos. Nesse aspecto, as academias podem se constituir um Oliveira10 explica como a relação de poder se materializa
campo fértil para tais formações, uma vez que os alunos já nas participações em corridas de rua. O autor aponta que
frequentam um espaço comum e os profissionais de educação pertencer ao contexto esportivo e se apresentar como atleta
física costumam exercer influência nessa tomada de decisão. ou corredor passou a ter um valor simbólico de superioridade
No que se refere à afiliação, outra necessidade apontada física, disciplina e outros valores que, em geral, dão ao
por McClelland3 indica a ideia de como os grupos esportivos indivíduo um lugar de respeito na comunidade. A necessidade
reforçam a sensação de pertencimento. Os grupos esportivos pode ser concretizada nas corridas de rua, quando os
se formam sem a necessidade de formalidades, entretanto, alunos conseguem melhorar seus resultados ou completar
isso não diminui os compromissos assumidos tacitamente, por uma distância superior àquelas conseguidas por outros
cada integrante. Segundo a autora, esses vínculos abstratos componentes da academia. Essas necessidades, apontadas por
seriam determinantes para a manutenção dos grupos. McClelland, correspondem aos níveis mais altos da pirâmide
Robbins16 aponta seis fatores que levam as pessoas a de Maslow.
conviverem em grupos: por segurança, o que reduz a sensação Rubio8 diferencia grupos esportivos entre primários
de solidão; por status, pois na medida em que se inclui em e secundários. O primeiro envolve grupos parentais,
um grupo traz status para os membros do grupo e para outros enquanto o segundo ocorre fora do ambiente familiar.
grupos; por autoestima, pois o grupo pode aumentar a sensação Nos grupos secundários, as relações ocorrem com seus
de valor próprio; por associação, já que na medida em que se membros perseguindo objetivos comuns, compartilhando um
inserem, as pessoas do grupo reforçam as relações sociais e determinado número de valores, que levam a produção de
as interações tendem a ser prazerosas; por questões de poder, normas com comportamentos específicos que os caracterizam.
uma vez que em grupos elas podem alcançar resultados que O estilo de vida ocidental contemporâneo, baseado na
sozinhas teriam mais dificuldades em alcançar; pelo alcance produção de capital, faz com que os indivíduos fiquem
de metas, pois há momentos em que o grupo se faz necessário imersos em tensões cotidianas. Talvez se possa pensar em um
para que o resultado seja otimizado. novo paradigma de interação entre homem e natureza para
Nesse contexto, é observável um processo de compensar essa maneira de viver. Ferreira13 acrescenta que
interdependência entre grupo e indivíduo, pois enquanto o homem tem procurado interagir com a natureza, buscando
o primeiro se beneficia da presença do indivíduo, o outro novos significados nessa relação. A prática de atividades, em
satisfaz suas necessidades e desejos. Talvez seja possível um ambientes rústicos, pode levar as pessoas a um processo de
entendimento baseado no pensamento do contágio positivo, curiosidade e excitação, que visa compensar as agruras do
que poderia ser compreendido como uma reação em cadeia cotidiano.
com diversos efeitos, tais como: partilha, reflexão, troca,
2.2.2 A busca pela excitação
surpresa, introspecção, inquietação. Conscientes ou não
desse fenômeno, as pessoas têm procurado formar grupos Com o objetivo de compreender como a busca pela
para algumas práticas, incluídas as atividades físicas. Nesse excitação pode contribuir na tomada de decisão dos alunos
sentido, as corridas de rua, pela facilidade de possibilidades de de academias em participar, ativamente das corridas de rua,
participação, quantidade de ofertas de eventos ou até mesmo foi analisada a contribuição de Elias e Dunning15 que apontam
pela naturalidade do ato de correr, concorrem como uma para as características das sociedades contemporâneas em
das primeiras escolhas daqueles que buscam novos desafios sentir prazer, sejam como atores ou espectadores, em provas
concomitantes com as associações grupais. físicas, em confrontos individuais ou de equipe. Moretti14
No que tange a necessidade do poder, apontada por referencia questões relacionadas ao risco controlado e a
McClelland11, se observa que os alunos se tornam diferenciados exacerbação do risco como fatores que contribuem pela busca
dos demais, tanto por suas realizações, como completar de atividades ao ar livre. Além disso, aponta a conjugação
uma prova, melhorar seu tempo, participar de eventos em entre lazer e excitação como fator pela busca da satisfação.
distâncias maiores, consumir os objetos dos kits dos eventos, Nesse sentido, Elias e Dunning15 discorrem sobre a
quanto pelos privilégios desfrutados. Isso pode aumentar sua excitação, com base na teoria do processo civilizador. Os
sensação de estar em patamar diferente dos demais usuários autores procuram estudar as questões ligadas ao lazer no
das academias. Cabe assinalar que, embora McClelland não campo da sociologia. Eles questionaram o motivo do lazer ter
tenha estudado academia de ginástica, faz referência a pessoas sido colocado em uma esfera inferior com relação a outras
e prática de atividade física. áreas, como a economia e a política.
Segalen17 se refere ao consumo desses artigos como o uso O lazer era associado como complementar ao trabalho,

J Health Sci 2018;20(3):205-11 209


A Teoria das Necessidades e a Busca da Excitação: o que Leva os Corredores às Ruas

mostrando uma maneira distorcida do seu real significado. movimento diferente com uma adesão pontual6.
Dessa forma, o trabalho e o lazer deveriam estar no mesmo Para Elias e Dunning15, o lazer se constitui uma forma do
nível de importância nas sociedades atuais. As atividades homem adulto extravasar suas tensões. Considera-se que nas
de lazer não devem ser pensadas como complementares do academias, por se tratar de um local totalmente fechado, as
trabalho e nem como uma forma de relaxar as tensões. O que tensões descritas pelos autores, em sua obra, não encontram
se busca no lazer é uma excitação agradável. Essa afirmação um espaço propício para dar conta do extravaso humano frente
deve ser pensada, tendo como pano de fundo a teoria do às tensões cotidianas. Nesses estabelecimentos, os ambientes
processo civilizador, que busca compreender a sociedade são controlados, as ações são previsíveis e, em função disso,
partindo da análise de seus diversos aspectos, inclusive o é provável que alunos busquem outros espaços nos quais
lazer. Nessa análise, a competição é compreendida como possam experimentar suas sensações.
um sinônimo para a excitação, pois a disputa esportiva se Portanto, quando se discute corridas de rua, o atrativo do
constitui em uma dinâmica de grupo, que é originada pelo que grupo ganha um aditivo especial, pois os alunos podem contar
denominam com sendo tensões controladas15. com a logística e estrutura diferenciadas. Então, o orgulho de
Stigger18 discorre sobre a diversidade cultural do esporte, fazer parte e ser parte do grupo constitui um sentimento de
analisando-o como uma prática de lazer. O autor buscou pertencimento, que se materializam nos ritos que compõem os
estudar os esportes tradicionais e suas apropriações por pessoas grupos de corredores, tais como: vestir e ostentar a camiseta
comuns, que os inserem em suas vidas como atividades de que os identifica e os faz se sentirem como atletas.
lazer. Para ele, mesmo quando uma pessoa está praticando um Nos grupos de corredores de rua é possível encontrar
jogo não oficial, como uma “pelada”, isso não deixa de ser excitações não só nos processos de competição consigo
tratado como uma disputa de jogo de futebol. Então, aquilo que mesmo, revelado nas possibilidades de melhora nos
é considerado como prática esportiva e, consequentemente, resultados atléticos, mas também como a competição com
prática corporal, está disposta por toda a sociedade e por isso os componentes do seu próprio grupo, que poderia ser
constitui opções de lazer das pessoas comuns. Cada praticante manifestado na sensação de poder na hierarquia do grupo.
ou grupo de praticantes busca atribuir valores e significados às Essas condições não poderiam ser observadas, com tanta
suas práticas corporais. Provavelmente, valores e significados clareza, se as ações dos alunos ficassem restritas às esteiras das
convergentes tendem a criar um ambiente fértil para adesão academias, em que normalmente são sozinhos ou interagindo
a uma prática sistemática de atividade física. Para o autor, as com seus aparatos eletrônicos.
práticas corporais são menos rígidas com as regras, o que a
3 Conclusão
torna diferente do esporte profissional.
Nas palavras do autor: “um olhar de dentro, entretanto, Correr nas ruas para muitos tem se tornado uma excelente
permite identificar vários aspectos que sendo adaptações opção para sair das esteiras e fugir da “síndrome do hamster”.
vinculadas aos interesses e possibilidades de cada grupo Correr sem sair do lugar foi, durante muitas décadas, uma
em particular diferenciam os universos estudados entre si, forma de manter a saúde em um ambiente controlado e seguro.
mostrando diferenças na sua relação com o esporte, como O advento das academias e seus aparatos tecnológicos, como
ele é hegemonicamente praticado e definido nas competições as esteiras, cumpriram seu papel em proporcionar a busca
esportivas oficiais”. pela saúde uma tarefa mais fácil. Contudo, atualmente, as
É razoável entender que a sociedade moderna esteja demandas contemporâneas, considerando Elias e Dunning
promovendo a disseminação dos esportes ao ar livre a luz do como base teórica, remetem as pessoas a novos desafios que
moderno processo de esportivização, compreendendo uma tendem a extrapolar os espaços limitados das academias.
transformação da cultura corporal do lazer, manifestação social O fenômeno das corridas de rua com milhares de
do prazer simples e despojado, em uma cultura do esporte ou indivíduos correndo pelas avenidas das grandes cidades
de outra forma uma regulamentação, institucionalização dos demonstra que os espaços fechados das academias não mais
passatempos19. dão conta de manter os corredores atentos apenas aos seus
Distintas categorias, como faixa etária e sexo headphones e as TVs colocadas em frente às esteiras. A
proporcionam uma maior equidade. Uniformes, chip´s, postos solidão em não compartilhar seus anseios, desejos e objetivos
de hidratação, aparatos médicos, mesas de frutas, medalhas, desenvolveu o surgimento de grupos, nos quais seus membros
enfim um “circo” que desenvolve no participante a ideia se automotivam a enfrentarem os perigos das ruas e, assim, se
de uma prova institucional. Interessante pensar que muitos filiam as ações que convergem para a promoção da saúde. O
corriam e, ainda correm por lazer, mas agora o fazem também sentimento gregário e a busca da excitação parecem também
para pertencerem a um modismo que deu as corridas de rua ser os deflagradores dessa nova atitude coletiva.
uma visibilidade nunca vista sob a ótica da participação de A necessidade e o desejo caminham juntos dentro de um
pessoas comuns. Apesar das corridas de rua fazerem parte mesmo momento. Ao correr na rua, o hedonismo é satisfeito.
do calendário de diversas cidades, como: Nova York, Paris, Ao se defrontar com o risco, principalmente controlado, se
Rio de Janeiro e São Paulo, há muitas décadas, estas eram um busca a sensação de vitória sobre o meio hostil, que coloca

210 J Health Sci 2018;20(3):205-11


Rodrigues JP, Triani FS, Telles SCC

o sujeito em circunstâncias nas quais o corpo deverá resistir 5. Terra. Brasil é 2º país em número de academias de ginástica.
ao inóspito e, para isso, deverá ser preparado/controlado. Terra, 2014.
A academia é justamente o espaço que propicia ao cidadão 6. Gomes IR, Chagas RA, Mascarenhas F. A indústria do
comum essa possibilidade de preparar/controlar o corpo fitness, a mercantilização das práticas corporais e o trabalho
do professor de educação física: o caso body systems.
para esse novo desafio. Todo um aparato, que envolve desde Movimento 2010; 16(4):169-86.
a alimentação até a ajuda profissional, se desenvolveu uma
7. Zimerman DE, Osório LC. Como trabalhamos com grupos.
forma de reunir grupos de pessoas com objetivos parecidos, São Paulo: Livraria Duas Cidades; 1997.
nos quais se busca correr mais e melhor. Fazer parte de um 8. Rubio K. Estrutura e dinâmica dos grupos esportivos. In:
grupo é se municiar de conhecimentos fisiológicos, técnicos e Rubio K. Psicologia do esporte: teoria e prática. São Paulo:
táticos, que passam uma segurança, que o individualismo das Casa do Psicólogo; 2003.
esteiras não fornece. 9. Albuquerque RC. Comportamento do consumidor de
Ressalta-se que esse artigo de revisão não objetivou esgotar materiais esportivos para a prática da corrida de rua na região
metropolitana de Belo Horizonte. Belo Horizonte: FIPEL;
o assunto sobre o tema. Ao fazer uma imersão acadêmica, que 2007.
tratasse a associação entre alunos de academias e corridas de
10. Oliveira SN. Lazer sério e envelhecimento: loucos por
rua, não se encontraram produções que versassem diretamente corrida. Porto Alegre: UFRGS; 2010.
sobre o assunto, então se optou por referenciais teóricos que
11. McClelland DC, Burham DH. O Poder é o grande motivador.
ajudassem a entender o fenômeno. Ao analisar estudos, que In: Vroom VH. (Org.). Gestão de pessoas, não de pessoal. Rio
abordavam corridas ou corredores de rua, as duas teorias de Janeiro: Campus; 1997.
citadas no estudo chamaram atenção. Motivos pelos quais 12. Maslow AH. A theory of human motivation. Psychol Rev
se resolveu analisá-las. O estudo se baseia em algumas 1943; 50: 370-96.
evidências associativas para apresentar as conclusões em tela. 13. Ferreira LFS. Corridas de aventura: construindo novos
Entretanto, considera-se que outras produções precisam ser significados sobre corporeidade, esportes e natureza.
Campinas: Unicamp; 2009.
realizadas para aprofundar as discussões.
14. Moretti AR. Corridas de aventura: processos de coesão grupal
Referências na superação de obstáculos. 2009. São Paulo: PUC; 2009.

1. Evangelista AL. Treinamento de corrida: uma abordagem 15. Elias N, Dunning E. A busca pela excitação. Lisboa: Difel;
fisiológica e metodológica. São Paulo: Phorte; 2009. 1992.

2. Salgado JVV, Chacon-Mikahil MPT. Corrida de rua: análise 16. Robbins SP. Comportamento organizacional. São Paulo:
Prentice Hall; 2002.
do crescimento do número de provas e de praticantes.
Conexões 2006; 4(1):90-9. 17. Segalen M. Ritos e rituais contemporâneos. Rio de Janeiro:
FGV; 2002.
3. Dallari MM. Corrida de rua: um fenômeno sócio cultural
contemporâneo. São Paulo: USP; 2009. 18. Stigger MP. Esporte, lazer e estilos de vida um estudo
etnográfico. São Paulo: Autores Associados, 2002.
4. Marinho DA, Guglielmo LGA. Atividade física na academia:
objetivos dos alunos e suas implicações. In: Congresso 19. Dias CAG, Melo VA, Alves Júnior E. Os estudos dos esportes
Brasileiro de Ciências do Esporte, 1997; 10(1). na natureza: desafios teóricos e conceituais. Rev Port Ciênc

J Health Sci 2018;20(3):205-11 211


Revista
ANÁLISE DOS FATORES MOTIVACIONAIS Científica
Fagoc
QUE LEVAM HOMENS E MULHERES
À PRÁTICA DE CORRIDA DE RUA NA Multi
disciplinar
ISSN: 2525-488X
CIDADE DE UBÁ-MG

HENRIQUES, Gabriel Siqueira 1


CORRÊA, Alexandre Augusto Macêdo 2
RODRIGUES, Joel Alves 3
SILVA, Davi Correia da 4 sexos, é o fator menos relevante para a prática
de corrida de rua, ficando atrás dos quesitos de
competência, social e diversão.
RESUMO
As corridas de rua estão cada vez mais em
evidência no Brasil, e diversos fatores são PALAVRAS-CHAVE: Motivação. Corrida de rua.
motivadores para a prática dessa modalidade. Atividade física.
Sendo assim, o presente estudo teve o objetivo
de analisar os fatores motivacionais que levam
homens e mulheres à prática de corrida de rua na INTRODUÇÃO
cidade de Ubá Minas Gerais. Foram avaliados 40
praticantes de corridas de rua, sendo 24 homens A motivação no contexto esportivo
e 16 mulheres; Idade 29,90 ± 8,30; Peso 67,35 ± é preponderante para o bom desempenho
11,91; Altura 170,55 ± 10,33. Como instrumento (NETTO, 2010). Nesse sentido, a motivação é
de avaliação, foi utilizada a versão adaptada e uma soma de variáveis sociais, ambientais e
validada da Escala de Motivação para a Prática individuais que estabelecem a escolha de uma
de Atividade Física Revisada (MPAM‐R). Tal modalidade esportiva e a intensidade da prática
questionário compreende 30 itens que medem dessa modalidade, que acarretará o rendimento
a motivação para praticar atividade física a (ESCARTÍ; CERVELLÓ, 1994). As investigações da
partir de cinco fatores: diversão, competência, motivação em torno da prática esportiva tornam-
aparência, saúde e social. Após a coleta de dados, se relevantes, em especial para compreender
foi realizada a análise descritiva, com média e a influência que a motivação tem sobre o
desvio padrão, e cálculo das prevalências dos desempenho esportivo dos atletas (REINBOTH;
fatores que motivam em função do sexo. De DUDA, 2006).
acordo com os resultados encontrados no estudo, Segundo Schultz e Schultz (2002), a motivação
pode-se concluir que, tanto para homens quanto é de suma importância para que um indivíduo
para mulheres, o fator Saúde e Fitness tem maior se engaje em alguma modalidade esportiva,
relevância como fator motivacional para a prática mesmo tendo consciência de seus objetivos
de corrida de rua; e Aparência, para ambos os e necessidades. Diante disso, a motivação é
1 Graduando em Educação Física - UNIFAGOC. E-mail: também caracterizada como um seguimento
gahsiqueira@hotmail.com ativo, premeditado e direcionado a uma meta,
2 Graduado em Psicologia
o qual depende da relação de fatores pessoais
3 Graduado em Educação Física
4 Docente do Curso de Educação Física - UNIFAGOC. E- (intrínsecos) e ambientais (extrínsecos) (DECI;
-mail: davi.silva@unifagoc.edu.br RYAN, 2000; SAMULSKI, 2008).
Revista Científica Fagoc Multidisciplinar - Volume IV - 2019 95
Devido a esses fatores motivacionais, quando estado de São Paulo, o número de integrantes em
o indivíduo mantém uma atividade por si só, eventos de corrida de rua aumentou de 146 mil
sentindo-se autodeterminado, ele tem uma corredores para 724 mil, gerando um aumento de
motivação intrínseca (KOBAL, 1996). O autor 500% entre 2004 e 2015 (FPA, 2016).
ainda afirma que, nesse tipo de motivação, o Sendo assim, é necessário investigar mais acerca
indivíduo percebe que a prática esportiva se deve da motivação do indivíduo à prática de corrida de
ao prazer interno que surge espontaneamente. rua. Dessa forma, o objetivo do presente estudo
Por outro lado, o indivíduo está extrinsecamente foi analisar os fatores motivacionais que levam
motivado quando realiza uma tarefa visando uma homens e mulheres à prática de corrida de rua na
recompensa (DECI; RYAN, 2000); por exemplo, cidade de Ubá-MG.
o atleta que condiciona sua motivação a fatores
financeiros e não ao prazer da prática esportiva
em si. METODOLOGIA
Segundo Balbinotti (2004), os aspectos
motivacionais mais utilizados pela literatura O presente estudo utilizou como amostra
experimentada para compreender os motivos 40 praticantes de corrida de rua, entre eles 24
que levam indivíduos à prática regular da homens e 16 mulheres; Idade 29,90 ± 8,30; Peso
atividade esportiva são: controle do estresse, 67,35 ± 11,91; Altura 170,55 ± 10,33. Como critério
saúde, sociabilidade, competitividade, estética de inclusão, foram avaliados indivíduos ativos na
e prazer. O estudo de Costa e Pinto (2015) prática de corrida de rua, com no mínimo um mês
aponta que os fatores relacionados à saúde de prática; foram excluídos os indivíduos que não
foram considerados muito importantes, pois responderem ao questionário completamente.
proporcionam uma melhor qualidade de vida. A coleta de dados foi realizada entre os
Por sua vez, o estudo de Andrade, Salgueiro e meses de junho e setembro de 2019, na cidade de
Marquez (2006) relaciona a prática esportiva com Ubá MG. A parte maior da coleta foi aplicada antes
a necessidade de desenvolver novas habilidades da prática da corrida, quando os grupos de corrida
motoras e melhorar a saúde. Adicionalmente, se reúnem. Foi solicitado que os participantes
Gonçalves (2011), em seu estudo, reforça o fator assinassem o Termo de Conhecimento Livre e
saúde como motivo de adesão e permanência na Esclarecido (TCLE), segundo a Resolução 466/12
corrida de rua. do Conselho Nacional da Saúde.
Ao que se refere à prática de corrida de rua, o Como instrumento de avaliação, foi
estudo de Balbinotti (2015) indica que saúde, utilizada a versão adaptada e validada da Escala
prazer e controle de estresse são as dimensões de Motivação para a Prática de Atividade Física
mais motivadoras, independentemente do Revisada (MPAM‐R), proposta por Gonçalves
tempo de prática, respeitando a mesma ordem. e Alchieri, (2010) e traduzida da original
Já o estudo de Nunomura (1998) constatou que Motives for Physical Activity Measure-Revised
alguns aspectos são diferentes entre homens e (MPAM-R) dos autores Ryan et al.(1997). Esse
mulheres para prática de corrida de rua, contudo documento compreende 30 itens que medem
ambos almejam o condicionamento físico. a motivação para praticar AF a partir de cinco
As corridas de rua estão cada vez mais em fatores: 1) Diversão: “Porque acho essa atividade
evidência no Brasil, e diversos fatores são estimulante”; “Porque essa atividade me faz feliz”;
motivadores para a prática dessa modalidade 2) Competência: “Porque gosto do desafio”; “Para
(BALBINOTTI, 2015). A participação de indivíduos adquirir novas habilidades físicas”; 3) Aparência:
em eventos de corrida de rua vem crescendo nos “Para definir meus músculos e ter uma boa
últimos anos, comprovadamente desde 2004 aparência”; “Porque quero ser atraente para os
(FPA, 2016). Nos últimos anos, exclusivamente no outros”; 4) Saúde: “Porque quero ser fisicamente

96 Revista Científica Fagoc Multidisciplinar - Volume IV - 2019


saudável”; “Para ter mais energia”; e 5) Social: Tabela 1: Média e desvio padrão dos motivos para a práti-
“Para estar com meus amigos”; “Porque quero ca de corrida de rua
conhecer novas pessoas”, respondidos em uma
escala de sete pontos variando de 1 = Discordo
Totalmente a 7 = Concordo Totalmente.
Para caracterização da amostra, foi
utilizada a estatística descritiva (média e
desvio padrão) para as variáveis da Escala
de Motivação à Prática de Atividades Físicas
Revisada (MPAM-R). Para verificar a distribuição A Tabela 2 apresenta que não houve
dos dados, foi utilizado o teste Shapiro-Wilk. diferença na comparação entre sexos.
A fim de verificar possíveis diferenças entre as
variáveis, foi utilizado o teste de ANOVA one-way. Tabela 2: Média e desvio padrão dos motivos para a práti-
Para verificar possíveis diferenças entre os sexos, ca de corrida de rua
utilizou-se o teste t independente. Para todos
os testes, foi adotado o nível de significância de
p<0,05. Para o tratamento estatístico dos dados,
utilizou-se o software SPSS (Statistical Package for
Social Science) para Windows®, versão 20.0.

RESULTADOS

A Tabela 1 apresenta que o principal


motivo para prática de corrida de rua por
homens e mulheres é Saúde e Fitness. Ademais,
os resultados do post hoc de Tukey indicam DISCUSSÃO
que, para homens e mulheres, a dimensão
Diversão/Interesse foi mais significativa do que a O objetivo do presente estudo foi analisar
Aparência. Por sua vez, a dimensão Competência os fatores motivacionais que levam homens e
foi mais significativa do que a Aparência apenas mulheres à prática de corrida de rua na cidade
para os homens. Por fim, para ambos os sexos, de Ubá-MG. Verificou-se entre os participantes
a dimensão Social foi mais significativa do que a que o fator saúde é o principal motivador para a
dimensão Aparência. prática de corrida de rua. O estudo de Melo (2010)
reforça que a motivação para prática esportiva
relacionada à saúde recebeu maior valor de
importância. Ainda ao que se refere à prática de
corrida de rua, o estudo de Balbinotti (2015) indica
que saúde, prazer e controle de estresse são as
dimensões mais motivadoras, sendo a saúde
o fator mais importante para a continuidade e
permanência do indivíduo na prática da corrida
de rua. É crescente a importância da promoção
da saúde nas nossas sociedades (OLIVEIRA et al.,
2008).
Os aspectos sociais e diversão se fazem

Revista Científica Fagoc Multidisciplinar - Volume IV - 2019 97


presentes para ambos os sexos em proporções importante para a prática de corrida de rua entre
muito semelhantes, e a sociabilidade parece ser os indivíduos deste estudo.
um fator que, com o tempo, se torna cada vez Podemos então ordenar os fatores
mais relevante para a manutenção da prática da motivacionais obtidos por ambos os sexos em
corrida de rua. Segundo Hassandra, Goudas e cinco patamares de importância: 1º- saúde e
Chroni (2003), ter envolvimentos sociais é motivo fitness, 2º- social, 3º- diversão, 4º- competência
para um aumento da motivação intrínseca. Nesse e 5º- estética.
contexto, a corrida de rua abre espaço para a O engajamento na prática de atividade
integração social, pois os indivíduos dividem o física tem sido alto, todavia o abandono também
mesmo espaço de treinamento e podem correr tem sido comum (LEITE, 2012). Por isso, é
acompanhados, e essa interação cria vínculos necessária uma maior investigação acerca dos
entre eles, colaborando para a manutenção da fatores motivacionais, e dar continuidade a
prática da corrida de rua (OLIVEIRA, 2010). pesquisas relacionadas ao tema motivação
O estudo de Franco (2010) buscou a para prática de corrida de rua, pois é de suma
comparação das pessoas que correm em grupo e importância para os profissionais de educação
individualmente, a fim de investigar as diferenças física compreender esses aspectos e poder
motivacionais para a prática da corrida de rua, difundir essa modalidade esportiva com maior
e mostrou que os indivíduos que correm em clareza.
grupo valorizam a socialização e a amizade, assim
como o auxílio entre uns e outros. De acordo
com o estudo de Kuhn (2008), os principais CONCLUSÃO
motivos que levam o indivíduo a participar de
um grupo de corrida são, em primeiro lugar, o De acordo com os resultados encontrados
acompanhamento profissional, seguido pela no estudo, pode-se concluir que, tanto para
socialização e a companhia nos treinos. O homens quanto para mulheres, Saúde e Fitness
atual estudo indica que, devido à importância têm maior relevância como fatores motivacionais
encontrada para o quesito “socialização”, pode para a prática de corrida de rua. E a aparência
ser um fator que, em longo prazo, colabore para para ambos os sexos é o fator menos relevante
que eles ingressem em grupos de corridas como para a prática de corrida de rua, ficando atrás dos
forma de se manterem motivados por um maior quesitos “competência”, “social” e “diversão”.
período de tempo para a prática da corrida de Assim, podemos considerar que o fator
rua. saúde é de suma importância para motivar um
É interessante salientar, neste estudo, indivíduo para a prática de corrida de rua. Porém,
o fato de que homens e mulheres possuem vale ressaltar a necessidade de mais estudos para
uma menor preocupação com a aparência do reforçar o resultado encontrado.
que a todos os outros fatores como saúde,
diversão, competência e social. Vivemos em
uma sociedade que sofre muita influência dos REFERÊNCIAS
meios de comunicação e que acaba consumindo
certos padrões estéticos; consequentemente, AAMORIM, D. P. Motivação à prática de musculação
a busca pela melhora estética do corpo gera por adultos jovens do sexo masculino na faixa etária
uma obsessão em alguns indivíduos (AMORIM, de 18 a 30 anos. Trabalho de conclusão de curso.
2010). Nesse aspecto, a mulher tem grande Escola Superior de Educação Física da Universidade
tendência a ser influenciada pela mídia e aderir Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2010.
a certos padrões estéticos (MALDONADO, 2006).
Apesar desse fato, a aparência não foi um fator ANDRADE, A.; SALGUERO, A.; MÁRQUEZ, S. Motivos

98 Revista Científica Fagoc Multidisciplinar - Volume IV - 2019


para a participação esportiva em nadadores KOBAL, M. C. Motivação intrínseca e extrínseca nas
brasileiros. Fitness & Performance Journal, Rio de aulas de educação física. Dissertação (Mestrado
Janeiro, v. 5, n. 6, p. 363-369, 2006. em Educação Física) - Universidade Estadual de
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prática regular de atividade física e/ou esporte. KÜHN, M.E.W. Motivação e grupo de corrida: um
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DECI, E. L.; RYAN, R. M. The what and the why of goal (Graduação em Educação Física) - Departamento
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ANÁLISE QUALITATIVA DOS FATORES QUE LEVAM À PRÁTICA DA CORRIDA DE RUA


1 2
Rúbia Sanfelice , Michel Kendy Souza
2 2
Rodrigo Vanerson Passos Neves , Thiago dos santos Rosa
2 2
Rafael Reis Olher , Luiz Humberto Rodrigues Souza
3 4
Francisco Navarro , Alexandre Lopes Evangelista
2
Milton Rocha Moraes

RESUMO ABSTRACT

A corrida de rua tem apresentado grande Qualitative analysis of the factors that take the
crescimento nas últimas décadas, sua prática practice of street race
regular melhora a saúde, diminui o risco de
mortalidade e aumenta o condicionamento Road running has been increasing in the last
físico. Entretanto é importante apontar os decades, its regular practice improve health,
fatores que levam os indivíduos a iniciarem à reduce mortality risk, and increase physical
prática da corrida de rua. Desta maneira, os conditioning. However, it is important to detect
objetivos deste estudo foram identificar os the factors that lead people to practice road
fatores que levam as pessoas à prática da running. Therefore, the aim of this study was to
corrida de rua e se há diferença entre homens identify the factors that lead people to practice
e mulheres. Foram sujeitos da pesquisa 30 road running and differences between men
alunos praticantes de corrida de rua com faixa and women. 30 road runners, 25 – 55 yrs,
etária entre 25 a 55 anos, categorizados em were subjects of our study, categorized in two
dois grupos (15 do gênero masculino e 15 do groups (15 men and 15 women). For data
gênero feminino). Para a coleta dos dados foi collection, a multiple choice questionnaire with
utilizado um questionário de múltipla escolha eight questions was applied. In relation to the
contendo oito questões. Com relação aos factors that lead people to practice road
fatores que levam as pessoas à prática da running, it was verified that the answers with
corrida de rua verificou-se que as respostas greater frequency were physical conditioning
com maior frequência foram condicionamento and quality of life (45.7% and 34.3%,
físico e qualidade de vida (45,7% e 34,2%, respectively), without statistical difference
respectivamente), não sendo observada between groups. We conclude that the main
diferença estatística entre grupos. Conclui-se factor that lead men and women to practice
que o principal fator que levam homens e running were physical conditioning and quality
mulheres à prática de corrida é o of life.
condicionamento físico e a qualidade de vida.
Key words: Running. Motivation. Physical
Palavras-chave: Corrida. Motivação. Exercise.
Exercício Físico.

E-mails dos autores:


rubisanf@hotmail.com
1-Universidade de Mogi das Cruzes-UMC, São mks_gtr@hotmail.com
Paulo, Brasil. rpassosneves@yahoo.com.br
2-Universidade Católica de Brasília-UCB, thiagoacsdkp@yahoo.com.br
Brasília, Brasil. rflolher@gmail.com
3-Universidade Federal do Maranhão-UFMA, luizhrsouza21@yahoo.com.br
Maranhão, Brasil. francisconavarro@uol.com.br
4-Universidade Nove de Julho-UNINOVE, São contato@alexandrelevangelista.com.br
Paulo, Brasil. milton.moraes@ucb.br

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INTRODUÇÃO entretanto ambos buscam o condicionamento


físico.
A corrida é umas formas mais Desta forma, para planejar estratégias
elementares de locomoção terrestre do ser eficazes na prescrição do treinamento, torna-
humano, pode ser executada em qualquer se de grande importância compreender os
lugar, não exige praticamente nenhum motivos que levam as pessoas à prática da
equipamento e não possui um alto custo corrida de rua, verificar se há diferença
(Gueths e Flor, 2004). motivacional entre os gêneros, e os principais
À prática da corrida como exercício e motivos que os levam a continuar essa prática.
esporte teve sua ascensão nos Estados
Unidos da América na década de 70 com o MATERIAIS E MÉTODOS
jogging boom, as primeiras provas de corrida
de rua tiveram a participação de corredores Amostra
amadores e profissionais, estimulados pelos
estudos do médico Dr Kenneth H. Cooper, Foram participantes desta pesquisa 30
criador do famoso teste de Cooper (Salgado e indivíduos, com faixa etária entre 25 a 55
Chacon-Mikahil, 2006). anos, de ambos os gêneros, praticantes de
No Brasil a corrida de rua teve início corrida de rua, recrutados em uma academia
no ano de 1912, realizada pelo jornal O Estado da região do Alto Tietê de São Paulo.
de São Paulo, recebendo o nome de “O Para avaliação dos dados os
estadinho” (Salgado e Chacon-Mikahil, 2006). voluntários foram divididos por gênero em dois
Atualmente, a corrida de rua vem grupos, masculino (M) e feminino (F).
ganhando novos adeptos no Brasil, A pesquisa foi aprovada pelo comitê
apresentando um crescimento no número de de ética em pesquisa com seres humanos da
praticantes de 25% ao ano (Balbinotti e Universidade de Mogi das Cruzes (processo n.
colaboradores, 2015). 57/2011) e obedecerá às exigências da
Além do aumento no número de Resolução 466/12 do Conselho Nacional de
praticantes, a corrida de rua tem sido Saúde do Brasil (Brasil, 2012).
amplamente estuda como um modelo de
exercício aeróbio, devido aos benefícios Procedimentos
cardiovasculares, metabólicos e psicossociais
promovidos pela prática regular, sendo Para coleta dos dados foi utilizado um
fortemente recomendada pelo Colégio questionário contendo oito questões de
Americano de Medicina Esportiva (Garber e múltipla escolha. Todos os sujeitos aceitaram
colaboradores, 2011). participar da pesquisa e foram encaminhados
A corrida de rua mais do que um para uma sala onde foram informados dos
exercício físico tornou-se também um meio de objetivos e orientandos quanto ao instrumento
inclusão social, pois além do bem-estar físico, da pesquisa.
as pessoas buscam na corrida de rua a O questionário foi aplicado sempre
qualidade de vida e o prazer de realizar um pelo mesmo avaliador (RS) e de maneira
exercício físico desfrutando da natureza e das individual, após seu preenchimento os
belas paisagens ao seu redor sem se prender participantes o colocaram dentro de um
as tradicionais pistas de corrida (Scalco, envelope específico, para evitar a
2010). contaminação dos dados.
No entanto, pouco se sabe da
preferência da prática de correr entre os Análise Estatística
diferentes gêneros, ou seja, homens e
mulheres tem o mesmo motivo para sua Todos os dados coletados foram
prática? expostos em forma de tabelas e gráficos com
Além da motivação, é importante levar valores apresentados em frequências
em consideração a aderência dos indivíduos absolutas e relativas (porcentagem).
na corrida de rua, neste contexto Nunomura Para análise estatística dos resultados
(2012) observou em seu estudo que alguns foi aplicado o teste exato de Fisher, utilizando
fatores se diferenciam entre homens e como nível de significância valor de p < 0,05.
mulheres na adesão a corrida de rua,

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RESULTADOS participantes que praticavam a corrida a mais


que dois anos foram de 56,4%. Distância mais
Características dos participantes percorrida nos treinos foi de 10 km (60%).
A frequência semanal de treino
As características dos voluntários da predominante foi de predominante foi de três
pesquisa estão descritas na tabela 1. vezes por semana (56,7%).
Não houve diferença estatística entre Quando perguntados sobre a busca
os grupos M e F (tempo de prática, p = 0,862; por orientação de um profissional da área de
distância percorrida, p = 0,164; frequência educação física na prescrição do treinamento,
semanal, p = 0,252; orientação profissional, p 56,7% afirmou que sim, 40% afirmou que às
= 0,475). vezes e apenas 3,3% (um indivíduo) negou a
O tempo de prática dos participantes busca por orientação do profissional.
menor do que dois anos foram de 43,3%, os

Tabela 1 - Características dos participantes.


Variáveis Total Masculino Feminino
Participantes 30 15 15
Idade (média ± DP) 40 ± 15
Tempo de prática
< 2 anos 13 6 7
> 2 anos 17 9 8
Distância percorrida
5km 5 2 3
10km 18 8 10
≥ 15km 7 5 2
Frequência semanal
< 3 vezes 6 4 2
3 vezes 17 6 11
> 3 vezes 6 4 2
Todos os dias 1 1 -
Orientação profissional
Sim 17 8 9
Não 1 - 1
Às vezes 12 7 5

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Fatores que levaram à prática da corrida de (Tabela 3), não foi observado diferença
rua estatística entre os grupos, p = 0,745.
Os voluntários consideraram a corrida
Quando perguntados sobre os fatores de rua como importante (53,3%) e muito
que levaram à prática da corrida de importante (43,3%). A alternativa “nada
rua (Tabela 2), não foi observado diferença importante” foi retirada da tabela por não
estatística entre os gêneros, p = 0,790. constar frequência.
As respostas com maior frequência Prática contínua da corrida de rua
foram condicionamento físico e qualidade de
vida (45,7% e 34,2%, respectivamente). Os fatores que levam a uma prática
Dois participantes assinalaram duas contínua da corrida de rua são apresentados
alternativas e um participante assinalou três na Tabela 4. Não foi observada diferença
alternativas. estatística entre os grupos masculino e
feminino, p = 0,063.
Importância da corrida de rua A resposta “condicionamento físico e
qualidade de vida” obteve maior frequência por
Quando questionado sobre a parte dos voluntários (53,4%).
importância da corrida de rua nas suas vidas

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DISCUSSÃO corrida de rua uma prática importante na vida


deles, desta forma entende-se que os
A escolha por uma modalidade de benefícios gerados pela prática da modalidade
exercício físico logicamente nunca apresenta atenderam aos objetivos iniciais, como mais
um motivo exclusivo, em nosso estudo, o disposição, menos cansaço durante o dia a
condicionamento físico foi um dos principais dia, melhora da autoestima e mais saúde,
fatores que levam as pessoas a iniciarem à estas melhoras estimularam à busca por
prática de corrida de rua, independente do novos patamares nos objetivos iniciais, ou
gênero, provavelmente devido a sua seja, a busca por um condicionamento físico
popularidade e à percepção que as pessoas melhor e mais qualidade de vida por meio da
têm das atividades aeróbias na melhora do prática.
condicionamento cardiorrespiratório, dado Um estudo avaliou que fatores como
claramente consumado na literatura científica saúde, autoestima e realizar exercícios ao ar
(Garber e colaboradores, 2011). livre são os principais motivos apontados
Um estudo realizado na cidade de como extremamente importantes para a
Joinville, SC, avaliou os motivos que levam as adesão na corrida de rua (Truccolo, Maduro,
pessoas à prática de exercícios físicos em Feijó, 2008).
diferentes faixas etárias. A pesquisa Esses componentes demonstram que
demonstrou que a qualidade de vida foi umas os corredores de rua colocam sua prática
mais apontadas pelos voluntários como prioridade na vida deles à medida que
independente da idade, porém o estudo não percebem os resultados positivos e objetivos
comparou a diferença entre gêneros (Ohf e são alcançados, fazendo com que os motivos
Moreira, 2010). para à prática seja reforçado continuamente
Em nosso estudo comparamos as independente do gênero.
respostas dadas entre os gêneros masculino e Por outro lado, os mesmos autores
feminino, entretanto não foi observada verificaram que homens e mulheres divergiam
diferença no padrão de respostas entre os em outras razões como: aparência física para
grupos. Os achados do nosso trabalho mulheres, e controle do estresse e ansiedade
também apontaram a qualidade de vida como para homens, demonstrando que homens
um dos motivos que levaram os participantes a buscam a corrida de rua mais por fatores
pratica da corrida de rua, sendo a segunda psicológicos, ao contrário das mulheres que
resposta mais assinalado. visam mais a estética (Truccolo, Maduro,
Uma das razões que justificam a Feijó, (2008).
escolha da qualidade de vida pode estar Em nosso estudo não foi observado
relacionada à sensação de bem-estar causada diferença nas respostas do grupo masculino
pós-exercício (Pereira Junior, Rohlfs Lima, frente ao grupo feminino em nenhuma
2009). variável, essa diferença provavelmente
Após situações de estresse no ocorreu devido a um número de participantes
organismo, como no caso do exercício físico, a inferior ao estudo de Truccolo, Maduro, Feijó,
liberação de fatores hormonais como a β- 2008, além disso, os autores selecionaram
endorfina, parece estar envolvida na promoção exclusivamente praticantes que eram
de um efeito analgésico, promovendo redução supervisionados por profissionais em grupos
da sensação de dor e da ansiedade, melhora de corrida de rua, diferente do nosso trabalho.
do humor e diminuição da atividade simpática Todavia, nosso estudo coletou dados
no cérebro, levando a uma melhora de relacionados à distância percorrida, frequência
aspectos emocionais no indivíduo (Pereira semanal e o tempo de prática, para avaliar
Junior, Rohlfs Lima, 2009). possíveis diferenças entre gêneros, porém
Em relação à continuidade da prática estes dados não apresentaram diferença
da corrida de rua, observamos que eles se dão estatística.
pelos mesmos fatores que levaram os Nunomura (2012) também não
participantes a iniciar a sua prática, observou diferença quando avaliou os motivos
demonstrando a forte importância dada ao que levam a adesão em programas de
condicionamento físico e a qualidade de vida. exercício físico na comparação entre homens
Em complemento a esta resposta os e mulheres mesmo com um número superior
participantes afirmaram que consideram a de avaliados (110 voluntários), o estudo

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também demonstrou que o condicionamento Ciênc. Esporte. Vol. 37. Núm. 1. p. 65-73.
físico é um dos principais motivos para a 2015.
adesão nos programas de exercício físico,
semelhante aos nossos achados na corrida de 4-Gueths, M.; Flor, D.P. Os principais métodos
rua. de praticar exercícios aeróbicos. Revista
Em complemento, Balbinotti (2015) Virtual EFArtigos. Ano 01. Núm. 17. 2004.
demonstrou que independente do tempo de
prática, corredores de rua buscam a saúde em 5-Nunomura, M. Motivo de adesão à atividade
primeiro lugar, provavelmente pela relação física em função das variáveis idade, sexo,
custo/benefício, não há necessidade de grau de instrução e tempo de permanência.
grandes investimentos para iniciar a corrida de Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde.
rua, um tênis e roupas adequadas ao clima já Vol.3. Núm.3. p.45-58. 2012.
são o suficiente, condições que levou a
popularidade da modalidade nos últimos anos. 6-Pereira Junior, A. A.; Rohlfs, I. C. P. M.;
Lima, W. C. Dependência ao exercício físico e
CONCLUSÃO a síndrome do excesso de treinamento:
consequências do excesso de exercício
Por fim, o presente estudo conclui que Revista da Unifebe. Núm. 7. 2009.
os principais motivos que levam as pessoas à
prática de corrida de rua em ambos os 7-Salgado, J.V.V.; Chacon-Mikahil, M.P.T.
gêneros é o condicionamento físico seguido Corrida de Rua: Análise do crescimento do
pela busca da qualidade de vida. número de provas e de praticantes. Conexões:
Os motivos que levam a adesão da Revista da Faculdade de Educação Física da
corrida de rua tanto em homens como em Unicamp. Vol. 4. Núm.1. p. 90-99. 2006.
mulheres também é condicionamento físico e
qualidade de vida, o que provavelmente 8-Scalco, L.M. Por isso corro demais... notas
justifica o aumento da importância da prática etinográficas de uma corredora iniciante. 2010.
na vida destes indivíduos. Rev. Bras. de sociologia das emoções. Vol. 9.
Núm. 25. Abril de 2010. João Pessoa. 2010.
Conflito de interesse
9-Ohf, R.; Moreira, T.M.A. Os motivos que
Os autores declaram que não levam as pessoas à prática de exercícios
possuem qualquer conflito de interesse. físicos. Revista Brasileira de Prescrição e
Fisiologia do Exercício. São Paulo. Vol. 4.
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3-Balbinotti, M.A.A.; e colaboradores. Perfis


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Artigo
Original

Das esteiras para as ruas: fatores que levam os alunos de academias às corridas
de rua

RESUMO Jorge Pereira Rodrigues


Mestre em Ciências do Exercício e do Esporte
O estudo buscou conhecer e discutir os fatores Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
que levam um grupo de alunos de academias no Programa de Pós-Graduação em Ciências do Exercício e
Rio de Janeiro que praticam esteira para a do Esporte
prática das corridas de rua. Para atingi-lo, foram Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
joprodrigues@globo.com
entrevistados 10 corredores do sexo masculino e https://orcid.org/0000-0003-1408-5191
10 do feminino. O tratamento das entrevistas se
deu por meio da técnica de análise de conteúdo. Felipe da Silva Triani
Os resultados desvelaram a composição de Mestre em Humanidades, Culturas e Artes
grupos, o discurso da saúde, a presença da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
competição e a cultura do consumo como os Programa de Pós-Graduação em Ciências do Exercício e
fatores que levam os alunos de academias às do Esporte
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
práticas de corridas de rua. Portanto, o estudo felipetriani@gmail.com
concluiu que a substituição das esteiras pelas https://orcid.org/0000-0001-6470-8823
ruas constitui uma decisão multifatorial.
André Malina
PALAVRAS-CHAVE: Ciências do esporte; Doutor em Educação Física
Atividade física; Saúde Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
Escola de Educação Física e Desportos
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
andremalina@yahoo.com.br
https://orcid.org/0000-0001-5832-812X

Silvio de Cassio Costa Telles


Doutor em Educação Física
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
Programa de Pós-Graduação em Ciências do Exercício e
do Esporte
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
silviotelles@terra.com.br
https://orcid.org/0000-0003-2652-6118

Motrivivência, (Florianópolis), v. 31, n. 60, p. 01-18, outubro/dezembro, 2019. Universidade Federal de Santa Catarina.
ISSN 2175-8042. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8042.2019e57308
From the treadmills to the streets: factors that take students from the gym to the street races

ABSTRACT
The study sought to know and discuss the factors that lead a group of students of academies in Rio
de Janeiro practicing treadmill for the practice of street races. To reach it, 10 male and 10 female
runners were interviewed. The interviews were handled through the content analysis technique. The
results revealed the composition of groups, the health discourse, the presence of competition and the
culture of consumption as the factors that lead the students of academies to the practices of street
races. Therefore, the study concluded that replacing mats on the streets is a multifactorial decision.

KEYWORDS: Sports science; Physical activity; Health

De las esteras para las calles: factores que llevan a los alumnos de gimnasios a las carreras
callejeras

RESUMEN
El estudio buscó conocer y discutir los factores que llevan a un grupo de alumnos de gimnasios en
Rio de Janeiro que practican estela para la práctica de las carreras callejeras. Para llegar, se
entrevistó a 10 hombres y 10 mujeres. Las entrevistas se manejaron a través de la técnica de análisis
de contenido. Los resultados revelaron la composición de los grupos, el discurso de la salud, la
presencia de la competencia y la cultura del consumo como los factores que llevan a los estudiantes
de las academias a las prácticas de las carreras callejeras. Por lo tanto, el estudio concluyó que
reemplazar esteras en las calles es una decisión multifactorial.

PALABRAS-CLAVE: Ciencia del deporte; Actividad física; Salud

Motrivivência, (Florianópolis), v. 31, n. 60, p. 01-18, outubro/dezembro, 2019. Universidade Federal de Santa Catarina. 2
ISSN 2175-8042. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8042.2019e57308
INTRODUÇÃO

O fenômeno das corridas de rua com milhares de indivíduos correndo pelas avenidas das
grandes cidades demonstra que os espaços fechados das academias não bastam para suprir as
necessidades de atividade física da sociedade moderna. Um estudo anterior (TRUCCOLO;
MADURO; FEIJÓ, 2008) encontrou associação entre aspectos sociais e adesão aos eventos de
corridas de rua. Para essa associação, aplicaram um questionário a 68 corredores durante uma
competição em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul e, como resultado, as razões psicológicas como
aumento da autoestima, melhora da imagem corporal, diminuição da ansiedade e redução do
estresse, e também as razões sociais como a formação de grupos foram identificadas como uma das
mais importantes para a adesão de adultos em um programa de exercício físico e estão diretamente
relacionadas com apoio social.
O sistema capitalista se apropria desse momento fazendo uma atividade de lazer reverberar
as características básicas do esporte moderno que podem ser sumariamente resumidas em
competição, rendimento físico e técnico, recordes, racionalização e cientifização do treinamento.
Anteriormente, já foi apontado (DIAS; ALVES JÚNIOR, 2007) como a contemporaneidade tem
criado uma nova cultura da prática esportiva não profissional. Para os autores há uma
institucionalização das atividades físicas vinculadas ao lazer.
A Indústria do Fitness está sempre em busca de novidades nos serviços que renovem seu
poder de atração de novos e potenciais consumidores. As promessas dessa grande indústria,
contando com um avançado aparato no campo do marketing e da propaganda, criam novas
necessidades junto com o campo científico, ambos legitimando o discurso da saúde, promovendo
uma identificação do consumidor com produtos e serviços propostos pelo setor. O evento de
corridas denominado “Corrida das Academias”1 é um bom exemplo de empreendimento que ratifica
essa busca por ampliação de mercado.
Permanecer nas esteiras não está sendo mais suficiente para um número cada vez maior de
pessoas. Deixar esse ambiente controlado, com ar condicionado, com reduzido risco de acidentes,
monitores de TV e vestiários ao rápido alcance tem se tornado uma constante para quem gosta de
correr. Assim, o objetivo desta investigação foi conhecer e discutir os fatores que levam um grupo
de alunos de academias no Rio de Janeiro que praticam esteira para a prática das corridas de rua.

1
Trata-se de um evento de corrida de rua organizado por algumas academias com o objetivo de divulgar sua marca.
Nela, grande parte dos corredores são alunos das próprias academias. O evento é organizado por uma empresa e permite
a participação de corredores individuais, porém possui uma metodologia de inscrição, participação e premiação para
grupos vinculados a academias.

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Nessa perspectiva, pressupondo que os fatores que implicam a substituição das esteiras pelas ruas
sejam comportamentais, os estudos (WEINBERG; GOULD, 2001; SMIT, 2007; MASSARELLA;
WINTERSTEIN, 2009; ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012) da psicologia do esporte
compuseram a base teórica utilizada para a discussão dos resultados, sendo as categorias analisadas
por esse viés.

MÉTODOS

A população do estudo foi composta por alunos de academias participantes de corridas de


rua. A amostra foi composta por 20 adultos pertencentes a equipes de corrida de rua, sendo 10
homens e 10 mulheres. Os critérios de inclusão da amostra foram: i) idade entre 20 e 60 anos. A
opção pela faixa etária se deu pelo fato de que é nesse lapso etário que se concentra a maior parte
dos inscritos nas corridas de rua; ii) que fossem praticantes de corrida de rua há pelo menos 6 meses
e possuísse vinculo de matrícula com a academia. Cabe ressaltar que todos participaram de maneira
voluntária por meio da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido e que o projeto foi
aprovado pelo comitê de ética em pesquisa sob guarda do número: 76695517.0.0000.5259.
Como fator de exclusão estabeleceu-se que não entrevistaríamos pessoas que tivessem
vínculo contratual na categoria de atleta/corredor que caracterizasse o informante como
profissional, conforme disposto na lei 9.615/98 em seu artigo 28 e seus parágrafos, caracterizado
por recebimento de proventos e contrato formal de trabalho para representar a academia.
Para obtenção dos dados foi realizada uma entrevista semiestruturada do tipo guiada
pautada em um roteiro. Segundo Severino (2007), ao elaboramos um roteiro para entrevistas,
buscamos as mesmas ou semelhantes informações dos entrevistados. Essa ferramenta permitiu o
ajuste da sequência e o vocabulário das questões em função do entrevistado.
A análise de conteúdo (BARDIN, 2016) foi utilizada como instrumento de tratamento de
dados, sendo assim, após transcrição das entrevistas, foi realizada uma leitura flutuante, objetivando
identificar dimensões para a criação das categorias, unidades de contexto e registros. Esse processo
resultou na criação de quatro categorias de análise, conforme ilustrado na Tabela 1.

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Tabela 1 – Categorias de análise, unidade de contexto e unidade de registro resultante dos dados da pesquisa
Abreviaturas de alguns meses
Categoria Unidade de Unidade de registro
contexto
Amizade Incentivo
Grupo Família
Atividade social Rito, família, relacionamentos (familiares
afetivos)
Estética Emagrecimento
Saúde Condicionamento Melhorar o tempo
Corpo
Limites Desempenho
Competiçã Superação
o Desafio Maratona
Consumo Estrutura Kit, água, relógios
Fonte: os autores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Grupo

Na entrevista ao questionarmos sobre as práticas da academia e as corridas de rua, pode-se


perceber uma expressiva presença do grupo como fator decisivo para as práticas de corrida de rua.
Durante as entrevistas, foi comum expressões como “a galera da academia”, “o pessoal da academia”
ou “o grupo da academia”.
Diversos estudos também coadunam com o potencial que tem o grupo. Um deles
(ZIMERMAN; OSÓRIO, 2002) assinala que grupo não é apenas um somatório de pessoas, mais algo
que se transforma em uma entidade com normas tácitas que tendem a manter sua coesão. Em outro
(ROBBINS, 2002) são apontadas questões como segurança, status, autoestima e associação, como
motivos que contribuem para que pessoas busquem grupos como parte de seus convívios, de modo a
facilitar o alcance de metas.
Moretti (2009) pontua que a coesão grupal possui três sentidos, sendo o primeiro a atração do
grupo que diminui a possibilidade de afastamento entre seus participantes, o segundo a motivação dos
membros em participar de atividades em comum e ainda a coordenação de esforços para o alcance
dos objetivos propostos coletivamente.

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Em se tratando do potencial do grupo, cabe destacar que algumas corridas de rua utilizam
desse conhecimento. Dessa maneira, eventos incentivam esse tipo de participação, como corridas de
rua de revezamento, as quais o êxito está no somatório de tempo alcançado por todos os membros do
grupo e as premiações se destinam às equipes com maior número de participantes. Além dessas, há
também as corridas das academias, que embora não vetem a participação de corredores individuais, as
ações são direcionadas para a competição entre grupos.
Em se tratando de grupo, Rubio (2003) o define sobre aspectos primários e secundários. O
primeiro é composto pelas relações parentais nas quais se tem a presença de familiares e cônjuges e o
segundo faz referência a todos que não se enquadram no primeiro caso. Nesse sentido, ao analisar as
entrevistas, foi observado o quanto o grupo, os familiares e as amizades decorrentes da convivência
grupal atuam como vetor na adesão e aderência às práticas de corridas pelos praticantes.
Dessa maneira, na ocasião das entrevistas foi questionado se os familiares também
participavam dos eventos e 12 entrevistados disseram que não. Os demais responderam que havia
participação, sendo a maioria nas caminhadas ou corridas curtas do tipo “Family Run”, que são
eventos menores embutidos nas corridas principais.
Na ocasião das entrevistas foi observado que quando os entrevistados se reportavam a
participação de algum membro familiar nas corridas, em todos os casos, havia um semblante que fazia
referência a uma postura de aprovação, felicidade e vontade de ser explicativo, conforme as seguintes
narrativas:

Minha irmã acabou de correr com o meu nome porque eu estou de licença médica.
Ela acabou de correr a primeira corrida e eu estou bem feliz de tá trazendo também a
minha família pra isso (entrevistado 4).

Participa. Até ia trazer minha mãe e meu pai, mas aqui comigo está minha sogra e
meu sogro. Meu noivo está em casa, hoje não deu pra ele vir, mas sempre estão
presente (entrevistado 13).

Minha mãe participa das caminhadas há pouco tempo. De um mês pra cá comecei
inscrevê-la, agora o meu filho começou (entrevistado 14).

Minha mulher e minha sogra fazem a Family Run. Já botei meu filho para a corrida
kids (entrevistado 19).

No percurso das entrevistas, foi questionado o maior incentivo que contribuiu na condução do
início da atividade de corrida, sendo assim, somente 5 dos entrevistados disseram que decidiram
correr por iniciativa própria, já os demais aderiram à prática da corrida por intervenção familiar ou de
amigos. Nesse sentido, dentre os motivos extrínsecos que incentivaram as pessoas a correrem, em

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alguns casos, referenciou-se o professor de educação física da academia que contribuiu de forma
motivacional e técnica.
Essa motivação externa, de acordo com os entrevistados, surge dos grupos de alunos da
academia. Nessa perspectiva, Massarella e Winterstein (2009) ao estudar a motivação intrínseca para
a prática de corridas de rua, identificaram a convivência ou inserção grupal como elementos mais
presentes entre os corredores. Dessa maneira, de acordo com Massarella e Winterstein (2009), é
possível perceber que embora, nas palavras dos corredores, a motivação seja externa, é a motivação
intrínseca que explica o interesse de pessoas que se mantêm motivadas em realizar atividades e
reperti-las, explicando o seu comportamento de gastar muito tempo em determinadas atividades sem
uma recompensa externa evidente, isto é, as recompensas pela realização das atividades são inerentes
aos sentimentos positivos vivenciados.
Nessa perspectiva, quando a tarefa é realizada a partir de recompensas extensas e essas são
atingidas, de acordo com Massarella e Winterstein (2009), a motivação extrínseca tende a se
deteriorar, mas se a realização da atividade se mantém constante é a motivação intrínseca que explica
a sua permanência na tarefa.
Ao questionarmos se os entrevistados percebiam o incentivo do grupo à sua prática de
corridas, foi encontrada uma convergência quase absoluta, conforme as seguintes narrativas:

Quando dá preguiça para treinar ou competir eles sempre dão uma força
(entrevistado 1).

O grupo é legal. Na academia a gente treina sozinho. Na rua é legal correr com os
parceiros (entrevistado 4).

Ah! É sempre legal correr com os amigos. Quando bate o cansaço um ajuda o outro
(entrevistado 5).

Eu comecei por conta própria, mas depois a galera vira uma espécie de família
(entrevistado 6).

Faz a gente se sentir culpada quando está com preguiça de correr (entrevistado 11).

Pra mim foi tudo. Comecei a correr por conta deles. Embora eu goste de correr, acho
que se eles pararem eu perco um pouco do estímulo. Um dá força para o outro
(entrevistado 16).

Esse grupo é massa. Um dá força para o outro. Quem chega por último tem pagar
uma rodada de chopp pra galera. Tem também o batismo. Na primeira corrida de
alguém, ele leva um banho de chopp (entrevistado 17).

Após as entrevistas, pode-se perceber que o grupo é um elemento com potencial influência na
tomada de decisão de sair da esteira e ir praticar a corrida de rua. O convívio, a proximidade de

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objetivos e o incentivo externo, apresentaram-se como consideráveis fatores motivadores para a
prática da corrida de rua, se destacando o apoio de familiares e amigos que, com efeito, tende a
fortalecer a sensação de bem-estar e realização no indivíduo. No entanto, embora o grupo se apresente
como notável influência externa, a permanência na prática da corrida de rua se explica pela motivação
intrínseca do corredor, pois a motivação extrínseca deixa de existir na medida em que o alvo é
atingido (MASSARELLA; WINTERSTEIN, 2009).

Saúde

Durante o roteiro de entrevista sete corredores assinalaram a qualidade de vida como um dos
fatores determinantes na adoção da corrida de rua como prática. Três indicaram a questão da
estética corporal e os demais atribuíram à adoção da prática ao condicionamento físico. Nessa
perspectiva, corroborando com esses resultados, Santos e Knijnik (2006) identificam o
condicionamento físico, devido a sua capacidade de desenvolver aumento da autoestima corporal e
autônima, como elemento associado à qualidade de vida.
Em se tratando de qualidade de vida, Nahas (2010, p.14) a define como percepção de bem-
estar “resultante de um conjunto de parâmetros individuais e socioambientais modificáveis ou não,
que caracterizam condições em que vive o ser humano”. Para o parâmetro socioambiental, são
atribuídas questões ligadas à moradia, transportes e condições de trabalho. Já no parâmetro
individual, a escolha do estilo de vida predomina. Isso ajuda a explicar o motivo pelo qual pessoas
associarem a prática regular de atividade física à qualidade de vida.
A noção de que saúde e qualidade de vida melhoram diretamente a partir da adoção de
estilos de vida saudáveis, trata-se de uma estratégia de controle social (GONÇALVES; VILARTA,
2004). Almeida, Gutierrez e Marques (2012), apontam os efeitos coercitivos que os meios de
comunicação causam à qualidade de vida como uma espécie de obrigação do cidadão. Essa lógica
reforça o discurso de culpabilização (PALMA, 2001) dos sujeitos que não praticam exercício físico,
isto é, não se analisa qualitativamente se esses sujeitos possuem condições para essa prática, uma
vez que muitos se encontram em condição de vulnerabilidade social.
Essa análise não tem por objetivo negar os possíveis benefícios pessoais na decisão das
pessoas incluírem as corridas como prática. Apenas ressalta-se que algumas das respostas obtidas
junto aos entrevistados podem estar contaminadas a partir dos discursos hegemônicos ou
simplesmente atreladas ao senso comum, isto é, causa e efeito, como diz o jargão “pratico atividade
física para ter saúde”. Essa atitude muitas vezes desconsidera um rol de circunstancias que envolve

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a real possibilidade de aquisição da tão almejada qualidade de vida.
Na entrevista, quando questionado sobre os fatores que os entrevistados consideram
importantes para a prática de corridas de rua, diversos termos foram ditos. Na maioria, contudo,
orbitavam os termos competição, performance, amizade, família, qualidade de vida e saúde.
É importante destacar que, quando a resposta tratava-se dos termos associados à categoria
qualidade de vida e saúde, os entrevistados, por vezes, pausavam antes de responder, sugerindo uma
espécie de resposta socialmente aceitável. Por outro lado, quando os entrevistados referiam-se ao
condicionamento físico e/ou estética, davam respostas acompanhadas de complementos que as
referendavam. Esses resultados podem ser observados nas seguintes narrativas:

Condicionamento físico. A gente malha pra poder ficar bem, a gente tem mais
acesso a comer as coisas com mais tranquilidade, estético também né? Acho que
sim (entrevistado 1).

Mas é legal pra saúde e ajudar a emagrecer. A idade vai chegando (entrevistado
12).

Acho que eu só queria perder peso mesmo. Claro que isso influencia na saúde da
gente (entrevistado 15).

Mas ajudou a perder um pouco da barriguinha, já perdi 4kg. Sempre rola um


chopinho depois pra falar da corrida. Por isso que eu corro, porque aí eu bebo sem
culpa (entrevistado 17).

Todas as demais respostas relacionadas à qualidade de vida e saúde foram terminais, não
havendo nenhum processo explicativo sobre o motivo da escolha. É possível que haja nessas
respostas a influência dos discursos hegemônicos de saúde e qualidade de vida. Nesse sentido,
Truccolo, Maduro e Feijó (2008) assinalam que o conhecimento e a crença em benefícios pessoais
decorrentes da atividade física são fortes moventes individuais a essas práticas. Além disso, o
estudo ainda revela que por conta da facilidade do movimento e a grande oferta de eventos, a
corrida de rua apresenta-se como uma forte possibilidade das pessoas alcançarem seus objetivos de
aquisição de saúde.
De outro modo, Balbinotti e outros (2015), ao estudaram os perfis motivacionais de 62
corredores de rua para entender os motivos que levam indivíduos à prática. Na ocasião,
identificaram que o controle do estresse, a saúde, a sociabilidade, a competitividade, a estética e o
prazer correspondem à dimensões motivadoras para a prática. No entanto, a competitividade se
mostrou como uma das dimensões mais expressivas, evidencia que implica interpretar que a
presença da competição na prática do esporte pode servir como imã que aproxima o sujeito da
corrida.

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Nessa perspectiva, o estudo de Oliveira (2010) analisou um grupo de corredores e buscou
investigar se a prática de corrida estava sendo exercida somente na dimensão do lazer ou se estava
ultrapassando os limites preconizados para a prática saudável de atividade física. Como resultado,
foi observado que muitos praticantes de corrida estavam sofrendo lesões, principalmente pela
tentativa de melhorar o rendimento na corrida, algo que, em longo prazo implicou no início de
frustrações, principalmente pelo impedimento da melhora do desempenho. A obtenção/manutenção
da saúde pode ser conquistada correndo apenas nas esteiras, mas assim como o conceito de saúde
não pode se encerrar apenas na ausência de doença e sim em um conglomerado de situações, da
mesma forma as múltiplas sensações que as corridas de rua proporcionam são mais decisivas do que
uma atividade com fim em si mesma com as esteiras.
Por fim, cabe lembrar que a mídia contribui para um pensamento generalizado de que a prática
do exercício físico apresenta-se como uma solução ao alcance da qualidade de vida. Dessa maneira,
quando o praticante mergulha nesse ambiente é perceptível uma sensação de desculpabilização
(ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012).

Competição

Na antiguidade, e de forma bem eloquente na Grécia Antiga, a corrida assume o status de


competição. Essa característica, de acordo com Oliveira (2010) não deixou de existir. Contudo, a
partir da revolução industrial, quando há uma drástica alteração do modus vivendi da população, a
corrida conquista uma nova roupagem, o de lazer moderno.
Weinberg e Gould (2001) acrescentam que a solução de tarefas, aquisição de excelência
esportiva, superação de obstáculos e demonstração de performance como variáveis competitivas,
contribuem como elementos de motivação em atividades esportivas, ocasião em que o praticante
amador assume, de maneira ficcional, o status de atleta.
Nas entrevistas foi possível observar indícios de elementos que mantêm a manutenção da
corrida de rua como prática regular, como a busca pela performance, melhoria no tempo de prova e
superação de limites. Além disso, as competições de corrida potencializam as sensações e anseios dos
corredores. Essas afirmações podem ser observáveis em trechos das entrevistas:

Assim, o fato de eu estar sempre melhorando o resultado, está sempre melhor, estou
sempre conseguindo melhorar, ou não piorar. Pelo menos manter estável. Daí manter
a forma. Enfim, tem varias coisas (entrevistado 5).

Melhorar meu tempo (entrevistado 6).

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Testar meus limites (entrevistado 8).

Acho que o fato de eu tentar me superar cada vez mais. Sempre está me superando,
não é superar ninguém, é me superar entendeu? (entrevistado 9).

Competição (entrevistado 18).

Melhorar o resultado é uma característica inerente ao atleta, pois disso depende suas
recompensas materiais. No entanto, o que se percebe nas narrativas são associações da prática de
corrida de rua, com ênfase nos eventos competitivos, não sendo somente entendida pelos praticantes
como prática esportiva de lazer, mas como prática com vistas ao rendimento.
Essa percepção parece contrária ao que se encontra na literatura, pois, relembrando as
Dimensões Sociais do Esporte, propostas por Tubino (2006), há de se perceber que existem três
manifestações do esporte, são elas: educacional, participação e performance. Na primeira, a prática
ocorre por meio dos princípios socioeducativos, a segunda pelo princípio do prazer e a terceira
quando o praticante tem a profissão de atleta (ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012;
TRIANI, 2016). Dessa maneira, embora não seja possível identificar claramente os praticantes de
corrida de rua como atletas, praticar a corrida a partir de uma vertente associada à competição,
proporciona uma identificação com o “ser atleta”.
Ao questionar sobre as formas de preparação para os eventos de corrida de rua e o local onde
acontece, os entrevistados afirmaram seguir uma rotina de treinamento, conforme ilustrado na Tabela
2.
Tabela 2 - Perfil de treinamento dos corredores entrevistados
Sessões de Treino n Local N
Até duas vezes 5
Três vezes 7 Academia 8
Quadros vezes 2
Cinco vezes 3 Academia e rua 12
Mais de cinco vezes 3
Segue rotina de treino Estabelece metas
Sim 16 Sim 10
Não 4 Não 10
Fonte: Os autores

Destaca-se que é possível identificar a mídia reforçando o discurso do praticante/atleta por


meio de eventos de corrida intitulados “Eu Atleta”, muito presente nas propagandas de televisão.
Salgado e Mikahil (2010) reforçam que aderir a prática do exercício físico mergulha o sujeito
no discurso da estética, promoção da saúde, integração social, prazer e competição. Nesse sentido,
para os autores, ser competitivamente bem classificado tornou-se um atrativo, visto que o elevado

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número de corridas de rua permite constantes mensurações de seus desempenhos. Ter a chance de
melhorar sua performance e poder compartilhar junto ao grupo de convívio, permite usufruir não
somente do processo de autossatisfação, mas também uma possibilidade de posição elevada na
estrutura social do grupo que corre. Isto a esteira também não pode oferecer.
Oliveira (2010) ressalta que os diferentes formatos de corridas oferecidos pelas empresas
organizadoras, permite um maior número de pessoas, com diferentes níveis de treinamento em
participar dos eventos. Para o autor, a corrida serve para que pessoas com diferentes faixas etárias e de
níveis de treinamento interajam e ampliem as perspectivas sociais ao observar o resultado e a visão do
outro que pratique o mesmo tipo de atividade, chegando até mesmo a reproduzir um discurso
intitulado de “lazer sério”.
Na medida em que os sujeitos têm mais oportunidades de participar dos eventos, amplia-se a
busca pelo desempenho e provavelmente a presença do grupo exerça algum tipo de pressão, uma vez
que o prestígio social por conta do resultado tende a elevar a posição social perante aos outros.
Para Massarella e Winterstein (2009), estabelecer metas e perceber que estejam no caminho de
alcançá-las, são fatores que reforçam os processos motivacionais. Dessa maneira, observa-se que
muitos dos entrevistados argumentam que possuíam como objetivos a melhora do resultado,
superação de limites ou poder competir em distâncias maiores do que aquelas que já competiam.

Consumo

Nas entrevistas foi visível muitas questões relacionadas ao consumo que não são
oportunizadas na prática da corrida em esteiras. Nesse sentido, emergiu a criação da categoria
“consumo” como uma possibilidade de desvelar seu efeito nas filiações das pessoas às corridas de
rua, pois de acordo com Albuquerque (2007) as empresas cada vez mais se conscientizam que os
aspectos relacionados ao consumo, possuem importante influência na mente dos corredores. Dessa
maneira, as empresas buscam a criação de um laço com seus consumidores em potencial.
Tranchitella (2014), ao abordar os gerenciamentos de riscos em eventos esportivos de
corridas de rua, relata os procedimentos desenvolvidos pelos gestores no sentido de estreitar e
fidelizar o seu público alvo. Essas ações podem ser percebidas à medida que os entrevistados
afirmam receber informações por parte das academias quanto aos eventos de corrida de rua.
A reprodução de discursos de consumo pode ser observável nas narrativas dos entrevistados,
ora positivos, ora negativos frente aos seus anseios para com as empresas que organizam, mas em
todos os casos os corredores se colocam na qualidade de consumidor do esporte:

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Tem o Kit que, também, é muito legal (entrevistado 6).
O legal seria blusa, medalha né, é tudo o que eles dão (entrevistado 11).

Essa teve a marcação em todos os Km foi muito bom para a gente poder
acompanhar o tempo e a velocidade e as barracas também que dão apoio aos
“atletas” ai com massagem (entrevistado 13).

Eu acho tudo legal, acho legal essa toalhinha (parte do kit), as camisas, viseiras. Eu
gosto dessas coisas (entrevistado 16).

Tá bem organizado. Horários, entrega do kit e apoio (entrevistado 17).

Gosto do kit (entrevistado 18).

Eu acho que hoje virou um comércio muito grande e vendem mais e não dão tanta
infraestrutura pra gente (entrevistado 1).

Eu acho que tinha que melhorar a infraestrutura de banheiro, de saída é, eu acho


que o kit foi muito fraco eram melhores, acho que tinha que melhorar a
infraestrutura pelo serviço que paga pelo valor que é (entrevistado 3).

Colocar aqueles chuveirinhos no meio do caminho, porque nessa época do ano o


calor é muito grande, a água está sempre quente dificilmente você consegue beber
água gelada no meio do caminho então se tivesse esses pontos ao invés de as
pessoas ficarem tomando banho com a garrafinha, tivesse aquele chuveirinho
aquele isorpozinho no meio do caminho, acho que seria muito melhor. Até iria ter
água gelada para todo mundo (entrevistado 10).

Mais banheiros, limpos de preferência (entrevistado 14).

Eu acho que tem andado muito cheio (entrevistado 19).

Diante dos discursos de consumo parece cabível e oportuno referenciar Lasch (1983),
quando relata como a produção capitalista, com a necessidade de manter sua política, transformou
os trabalhadores de produtores em consumidores, sendo a mídia decisiva para garantir o consumo
em larga escala dos produtos das indústrias. Então, o consumo deixou de ser algo pertencente
apenas a um grupo seleto e passou a influenciar o modo de vida de outras camadas da população.
Nesse sentido, Smit (2007) reforça assinalando como as indústrias de produtos esportivos lançaram
mão da imagem dos ídolos do esporte como forma de alimentar no imaginário social, a ideia de que
consumir produtos de ídolos esportivos poderia proporcionar uma sensação de rendimento pessoal e
sucesso.
É oportuno ainda lembrar Debord (1997), quando denuncia o quanto a propaganda compele
o sujeito a um processo obsessivo de consumo. Cria-se um processo hierárquico no qual os
símbolos relacionados à utilização de produtos posiciona o cidadão em organogramas sociais. Em
sua obra, o consumo é uma das formas encontradas para o sujeito transformar-se em protagonista no

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“espetáculo social”. Ver e ser visto durante a corrida e ainda postar nas redes sociais tornou-se uma
prática comum para diversos corredores. Ostentar a medalha, a camisa do evento, o tempo da
corrida e a colocação final, se tornaram sinais de prestígio, sucesso e conquista.
Diante desses entendimentos, colocando a corrida de rua como um produto a ser consumido,
Ahouagi, Gosling e Andrade (2015) assinalam que o mercado nesse segmento, anualmente
apresenta crescimento continuo tanto de eventos como de participantes. Sobre essa evidência, é
pertinente destacar que há influências positiva e negativa, a primeira faz referência ao aumento do
número de praticantes de corrida e difusão do esporte, já a segunda é concernente ao uso do esporte
como mecanismo de difusão da cultura do consumo, isto é, evidenciando um número cada vez
maior de marcas esportivas que procuram se associar às empresas organizadoras de eventos
rústicos.
Atualmente, “Corrida das Estações MIZUNO”, “FILA NigthRun”, “Meia Maratona ASICS”
e “Circuito NIKE Run” são exemplos de como algumas das marcas de produtos esportivos
“emprestam” seus nomes às corridas de rua. Além dessas, há também o crescimento de corridas
temáticas como “Corrida dos Namorados”, “Corrida da Mulher” e “Corrida das Academias”
(TRANCHITELLA, 2014). Nesse sentido, Ahouagi, Gosling e Andrade (2015) descrevem que as
organizações têm percebido nas corridas de rua uma oportunidade de reforçar seus valores e de se
legitimar perante seus segmentos de mercado.
O produto ou a simbologia que a marca representa tende a desenvolver no praticante de
corrida uma sensação de como se estivesse sendo “patrocinado pela marca”, reforçando a
representação social do “ser atleta”. De acordo com Ahouagi, Gosling e Andrade (2015), as marcas
apresentam tanto aspectos racionais, que são diretamente vinculados ao desempenho do produto,
quanto aos aspectos simbólicos, que se referem àquilo que ela representa.
Percebe-se que nas corridas de rua os corredores são instigados pelo imaginário de sucesso,
reproduzindo um momento “atleta”, elementos de consumo que não se fazem presentes nas práticas
das corridas em esteiras, devido a sua variabilidade comportamental previsível e limitada. No
entanto, cabe corroborar com Reis, Telles e DaCosta (2013) ao afirmar que, embora a mídia seja
capaz de influenciar de maneira negativa, também há de se perceber sua participação positiva na
medida em que promove o fomento e aumenta a prática esportiva junto à população local.

CONCLUSÕES

Motrivivência, (Florianópolis), v. 31, n. 60, p. 01-18, outubro/dezembro, 2019. Universidade Federal de Santa Catarina. 14
ISSN 2175-8042. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8042.2019e57308
A substituição ou aderência e adesão das esteiras pelas corridas de rua por parte de alunos de
academias se apresenta como uma questão multifatorial. As entrevistas possibilitaram a criação de
quatro categorias que quando articuladas, podem conduzir a compreensão dos fatores que
desenvolvem tal mudança de hábito, por meio dos elementos que motivam o grupo entrevistado a
extrapolar as possibilidades de exercitação em ambientes indoor e buscar nas corridas de rua suas
realizações.
As respostas obtidas revelaram que os discursos pela aquisição de saúde, estética e corpo
saudável, influenciam os corredores a se filiar a um processo de obrigatoriedade social. O discurso
social contemporâneo impõe a necessidade de estar apto físico e mentalmente para satisfazer o
paradigma utilitarista. Além disso, há a sensação de poder estar diretamente relacionada à
possibilidade de consumir e através desse consumo filiar-se a um estilo atlético e saudável de ser. Por
esse motivo, as corridas de rua parecem ser úteis, na medida em que atendem a duas necessidades
impostas, isto é, a prática regular de exercício físico e a cultura do consumo.
As relações grupais atuam como fator de fortalecimento e transformação para os corredores. O
fortalecimento se apresenta na ocasião em que o evento desenvolve um senso de pertencimento
gerando/despertando características similares entre os participantes, reforçando o sentimento de poder
pessoal e identificando em seus pares perfis que lhe causem admiração. Ver e ser visto e, mais ainda,
fazer parte de um movimento que representa saúde e hábitos saudáveis passou a ser um diferencial
que as esteiras não oferecem.
A competição emerge como símbolo de performance, seja através da indicação do vencedor
ou pela mensuração da melhoria do desempenho pessoal. Atuar em uma prova esportiva representa a
possibilidade real de obter um feedback quanto a sua capacidade produtiva. Além disso, cria no
imaginário do praticante a representação do “ser atleta”.

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NOTAS DE AUTOR

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem as pessoas que contribuíram com a realização do manuscrito.

FINANCIAMENTO
Não se aplica.

CONSENTIMENTO DE USO DE IMAGEM


Não se aplica.

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ISSN 2175-8042. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8042.2019e57308
APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA
Teve aprovação do comitê de ética: CEP UERJ CAAE nº: 76695517.0.0000.5259.

CONFLITO DE INTERESSES
Não há conflito de interesses.

LICENÇA DE USO
Os autores cedem à Motrivivência - ISSN 2175-8042 os direitos exclusivos de primeira
publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons
Attribution Non-Comercial ShareAlike (CC BY-NC SA) 4.0 International. Estra licença permite
que terceiros remixem, adaptem e criem a partir do trabalho publicado, desde que para fins não
comerciais, atribuindo o devido crédito de autoria e publicação inicial neste periódico desde que
adotem a mesma licença, compartilhar igual. Os autores têm autorização para assumir contratos
adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada neste
periódico (ex.: publicar em repositório institucional, em site pessoal, publicar uma tradução, ou
como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial neste periódico, desde
que para fins não comerciais e compartilhar com a mesma licença.

PUBLISHER
Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Educação Física.
LaboMídia - Laboratório e Observatório da Mídia Esportiva. Publicado no Portal de Periódicos
UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não
representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade.

EDITORES
Mauricio Roberto da Silva, Giovani De Lorenzi Pires, Rogério Santos Pereira.

HISTÓRICO
Recebido em: 28 de maio de 2018.
Aprovado em: 19 de dezembro de 2018.

Motrivivência, (Florianópolis), v. 31, n. 60, p. 01-18, outubro/dezembro, 2019. Universidade Federal de Santa Catarina. 18
ISSN 2175-8042. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8042.2019e57308
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Dimensões da motivação para correr


e para participar de eventos de
corrida
Claudio M Rocha

Revista Brasileira de Ciência e Movimento

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Artigo Original

Dimensões da motivação para correr e para participar


de eventos de corrida

Dimensions of motivation to run and to attend


running events

Otávio Augusto Gratão1


GRATÃO AO, ROCHA CM. Dimensões da motivação para correr e para participar
Claudio Miranda Rocha1
de eventos de corrida. R. bras. Ci. e Mov 2016;24(3):90-102.
1
Universidade de São Paulo

RESUMO: O exercício físico é uma das indicações da “World Health Organization” (WHO) para se ter
um estilo de vida saudável. Apesar de ser uma informação de conhecimento da maioria, o sedentarismo
ainda atinge um grande número de indivíduos. Dentro deste contexto, a corrida de rua vem se tornando
uma alternativa de exercício físico cada vez mais popular para combater o sedentarismo e também como
forma de lazer. Assim, este estudo teve como objetivo comparar corredores que têm optado por correr
com uma orientação profissional (corredores orientados) e aqueles que correm sem orientação (corredores
autônomos) em suas motivações para correr e para participar de eventos de corrida de rua. Os sujeitos
foram adultos participantes de uma corrida de rua na cidade de Ribeirão Preto (n = 599). Foram medidas
cinco dimensões da motivação: divertimento, competência, aparência, fatores sociais e saúde 1. Os
resultados mostraram que os participantes eram bastante motivados nas cinco dimensões. Em termos
descritivos, saúde foi considerada a dimensão mais importante tanto para correr como para participar de
eventos. Contudo, os motivos de saúde não diferiram quem busca uma orientação para correr e quem corre
por conta própria. Entretanto, existem diferenças entre corredores orientados e corredores autônomos nos
motivos de “competência” e “fatores sociais” para correr e no motivo “fatores sociais” para participar de
eventos. Os corredores orientados tiveram índices maiores de motivação em relação aos corredores
autônomos tanto para correr como para participar de eventos de corrida. Do ponto de vista da gestão do
esporte, o resultado mais importante do presente estudo foi que corredores orientados apresentaram
maiores níveis em relação aos corredores autônomos nas suas motivações de competência e de interações
sociais.

Palavras-chave: Corrida; Exercício; Eventos; Gestão Esportiva.

ABSTRACT: Exercise is a recommendation from the “World Health Organization” (WHO) to individuals
who desire a healthy lifestyle. Physical inactivity has still affected a large number of individuals and has
become a public health problem. Currently, running is becoming an increasingly popular alternative to
exercise. This study aimed to compare runners who have chosen to run with a professional orientation
(oriented runners) and those who have run without orientation (autonomous runners) in their motivations
to run and to participate in running events. The subjects were adults, participants of a running event in the
city of Ribeirão Preto (Brazil). Based on the literature, we gauged motivation considering five dimensions:
Enjoyment, competence, appearance, social factors and health1. The results showed that participants were
highly motivated in all five dimensions. Descriptive statistics showed that health has been considered the
most important dimension to run and to attend running events. However, health motives did not differ
autonomous to oriented runners. On the other hand, we found differences between autonomous and
oriented runners in the dimensions of competence and social factors to run; and in the dimension of social
factors to attend running events. The oriented runners had higher levels of motivation in relation to
autonomous runners to run and to participate in running events in all these dimensions of motivation.
From the point of view of sport management, the most important result of this study was that oriented
runners had higher levels compared to autonomous runners in their competence and social factors
motivations.

Key Words: Running; Exercise; Events; Sport management.

Contato: Otávio Augusto Gratão - otavio.gratao@usp.br Recebido: 29/06/2015


Aceito: 16/05/2016
91 Motivação para Correr

Introdução
O exercício físico é uma das indicações da “World Health Organization” (WHO) para se ter um estilo de vida
saudável. Apesar de ser uma informação de conhecimento da maioria, o sedentarismo ainda atinge um grande número
de indivíduos e consequentemente se torna um problema de saúde pública devido às complicações de saúde causadas
por esse estilo de vida. É fato que o exercício físico é fator de prevenção, e também auxílio no tratamento, de diversas
doenças provenientes do sedentarismo, tais como dislipidemias, doenças metabólicas e doenças cardiorrespiratórias.
Desta forma, governos e organizações privadas ligadas à promoção da saúde têm tentando estimular um estilo de vida
ativo através do oferecimento de diferentes esportes e exercícios físicos.
Dentre as alternativas de exercício físico, a corrida de rua vem-se tornando uma alternativa cada vez mais
popular. Desta forma, a crescente popularidade da corrida como exercício físico se deve a diferentes fatores. Por
exemplo, uma prova de corrida de rua tem a capacidade de induzir o exercício físico através do treino preparatório para
participar da prova e a participação da prova em si2. Outro fator positivo é que a maioria das provas é aberta à
população em geral e serve como motivo para estimular os participantes a se manterem comprometidos no treino para
atingirem seus objetivos, como a realização de uma prova. Os indivíduos iniciantes se sentem mais estimulados quando
a meta é completar a prova ou melhorar o tempo, pois é uma meta alcançável. Isso motiva o corredor e torna ele cada
vez mais engajado na prática do exercício físico, pois a prática traz ao corredor a sensação de realização (de metas) e de
capacidade. A corrida de rua propicia também uma possibilidade de evolução de metas. Se ao iniciar o objetivo da
maioria dos corredores é apenas completar a prova, posteriormente as metas vão mudando, podendo o corredor desejar
melhorar o seu tempo de corrida ou até buscar o pódio.
Atualmente, as corridas de rua contam com provas disputadas em circuitos (ruas, avenidas, estradas) com
distâncias oficiais variando de 5 a 100 km. Em alguns casos o termo pedestrianismo é usado para a corrida de rua por
representar provas com percursos pedestres ao ar livre, com variação de distância e tipo de terreno. As corridas de rua
surgiram na Inglaterra no século XVIII depois se expandiram pela Europa e Estados Unidos3. As corridas de rua
tiveram dois grandes impulsos para sua popularização. A maratona olímpica, que está presente desde a primeira edição
dos Jogos Olímpicos modernos (em Atenas no ano de 1896) e o “jogging boom” na década de 704. Nesta época,
surgiram provas onde era permitida a participação popular junto com corredores de elite, cada grupo largando nos
respectivos pelotões, a exemplo do que acontece atualmente na corrida de São Silvestre.
As provas de corridas de rua brasileiras seguem um padrão de homologação fornecido pela Confederação
Brasileira de Atletismo (CBAt), que objetiva cadastrar as provas para que os resultados possam ser aceitos
internacionalmente e servir como seletivas nacionais5. Contudo, existem também provas extraoficiais, cujos resultados
não são considerados nas seletivas nacionais. Em 1982, foi fundada uma entidade brasileira diretamente ligada a
corredores de rua, a CORPORE – Corredores Paulistas Reunidos, que foi criada por entusiastas de corrida de rua, que
ainda hoje é uma das maiores instituições de corredores da América Latina 6.
O crescimento do setor de corrida de rua cria novas oportunidades para profissionais de educação física, gestores
de academia, de clubes e gestores de provas de corrida de rua. Um fenômeno que acompanha o crescimento da corrida
de rua é o surgimento de empresas de assessoria de corrida 7. Muitas cidades brasileiras contam hoje com pontos
(geralmente em parques, universidades, praças e clubes), onde um grande número de pessoas se encontra para correr
sob a orientação de profissionais de educação física ligados a tais empresas de assessoria. As atribuições desse serviço
variam desde a elaboração de treinos específicos para cada indivíduo até o comprometimento de motivar os
alunos/corredores. Esses são os pontos principais, mas é possível perceber que é ampla a gama de atribuições dos
profissionais responsáveis nessa área, já que seus clientes são pessoas que possuem diferentes motivos para estarem ali.

R. bras. Ci. e Mov 2016;24(2):90-102.


GRATÃO e ROCHA 92

O desafio dos profissionais envolvidos nestas assessorias tem sido identificar e possibilitar que todos atinjam seus
objetivos.
Com o crescimento das assessorias, o mercado tem-se tornado competitivo e exigente. Como consequência,
aqueles que administram tais assessorias têm sentido a necessidade de estratégias de marketing eficientes para atender
as demandas de mercado e se tornar competitivos. Uma das perguntas essenciais do marketing é o que motiva os
clientes a consumirem determinado produto. Desta forma, gerentes de assessorias de corrida têm-se perguntado o que
motiva corredores a contratarem seus serviços.
Praticantes de corrida de rua podem começar a buscar esses serviços por diversos motivos como: melhoria do
condicionamento e desempenho físico, perda de peso, saúde, bem-estar, divertimento ou até mesmo fatores sociais.
Porém, acredita-se que motivos tais como necessidade de disciplina, auxílio na montagem do treino, falta de companhia
para correr, vontade de fazer parte de um grupo, auxílio na correção técnica, divertimento, integração social e falta de
motivação possam ser importantes preditores da intenção de pessoas se associarem a grupos de corrida 7.
Desta forma, esse estudo teve como objetivo comparar corredores que têm optado por correr com uma orientação
profissional (corredores orientados) e aqueles que correm sem orientação (corredores autônomos) em suas motivações
para correr e para participar de eventos de corrida de rua.

Revisão de Literatura
Dentro desse contexto, é importante entender as definições de motivação para que se possa investiga-la com
8,9,10
mais propriedade. São encontradas na literatura diversas definições para o termo motivação . Em geral, pode-se
considerar a motivação como às forças que iniciam e/ou desencadeiam, direcionam e sustentam e/ou influenciam a
persistência de um comportamento humano11,12. Uma pessoa que não sente ímpeto ou inspiração para agir é
caracterizada como desmotivada, enquanto aquele que tem vigor ou é disposto para um fim é considerado motivado 13.
A motivação pode ser classificada em dois tipos, intrínseca e extrínseca. Motivação intrínseca acontece quando
o indivíduo executa uma atividade voluntariamente, sem depender de recompensas exteriores, o indivíduo faz
simplesmente pelo prazer e satisfação proporcionado pela atividade14,15. Já a motivação extrínseca está ligada a
recompensas externas, o comportamento é um meio para atingir um objetivo14. O indivíduo também pode ser
classificado como amotivado quando ocorre a ausência de motivação e o comportamento expressado não corresponde
nem a motivação extrínseca nem a intrínseca15. Apesar desta divisão acadêmica, é importante lembrar que a motivação
intrínseca e extrínseca acontecem paralelamente e que os resultados de ambas se situam em diferentes pontos ao longo
de um continuum de motivação15.
Dada a necessidade de métodos para mensurar e investigar os níveis de motivação, muitos estudiosos têm
pesquisado essa área e são encontrados na literatura diversos estudos propondo modelos para avaliar e mensurar a
motivação para praticar exercício físico16,17,18. O que a literatura tem apontado é que todos os seres humanos têm
motivações e barreiras para toda e qualquer atividade da vida 19,20. Jackson, Crawford e Godbey19 aprimoraram um
modelo já existente sobre barreiras construído por Crawford, Jackson e Godbey 20 e apresentaram um modelo em que o
foco se encontra na negociação. Este modelo sugere que a participação em exercícios físicos é resultante do sucesso da
negociação entre barreiras e motivações para a prática. É fato que a motivação é um importante fator no processo de
decisão do indivíduo e que a interação entre a motivação e a percepção das barreiras determina em grande parte a
participação em exercícios físicos21.
Segundo Crawford e Godbey22, as barreiras podem ser classificadas em três categorias: barreira intrapessoal,
interpessoal e estrutural. Barreiras intrapessoais envolvem estados psicológicos e características do indivíduo. Barreiras
interpessoais se caracterizam pelas interações sociais e as relações entre os indivíduos. E as barreiras estruturais se

R. bras. Ci. e Mov 2016;24(2):90-102.


93 Motivação para Correr

referem às barreiras externas provenientes do meio e do ambiente como fatores econômicos, tempo e local das
atividades. As barreiras são definidas como fatores que podem inibir a participação de exercícios físicos ou limitar a
satisfação23. Segundo Crawford e Godbey22, as barreiras afetam não só a participação, mas também a aquisição de
preferências de exercício físico. É importante lembrar que as barreiras não necessariamente resultam a não participação
do indivíduo, elas podem ser superadas ou negociadas24. Nesse mesmo sentido, Hubbard e Mannell25 assinalaram em
seus estudos que um alto nível de motivação para participar não leva a redução na percepção das barreiras. Ou seja,
dentro da relação percepção de barreiras e motivação um não anula o outro, mas existe um processo de negociação.
Portanto, é importante entender como as barreiras podem ser removidas ou minimizadas e como aumentar a
motivação26, para que tenha uma maior possibilidade de sucesso na negociação.
Um dos fatores que mais está relacionado com a variação da percepção de barreiras e motivação são as
características demográficas. Ou seja, os motivos para a participação de pessoas em exercícios físicos podem ser
influenciados pelas características demográficas como gênero, idade, nível de escolaridade, nível socioeconômico e
estado civil. Por exemplo, o nível socioeconômico pode ser um fator de forte influência, se por um lado a iniciação a
prática de corrida de rua é acessível, por outro lado a participação de provas restringe o acesso de muitos participantes.
Desta forma, características demográficas como o nível socioeconômico também influencia nos fatores de motivação e
barreiras. Sendo assim, muitos pesquisadores investigaram essas variáveis demográficas em relação à motivação.
Guedes, Legnani e Legnani27 procuraram identificar em seu estudo os motivos para a prática de exercício físico
em universitários de acordo com sexo, idade e condição econômica. Em relação ao gênero, os rapazes reportaram, de
forma significante, maior importância para prática de exercício físico em motivos identificados como condição física e
competência, enquanto as moças identificaram controle de peso corporal e aparência física como motivos relevantes.
Motivos relacionados à prevenção de doenças, ao controle de peso corporal e à reabilitação de saúde aumentaram
significantemente com a idade. Motivos associados ao controle de peso corporal e à aparência física receberam
importância significantemente maior pelos universitários de maior nível econômico.
Os resultados de um estudo feito por Biddle e Bailey28, com uma amostra pequena de adultos participantes de
uma aula de fitness, mostraram que as mulheres classificaram os fatores sociais e a liberação de tensão como as razões
principais para a participação enquanto os homens classificaram a saúde e a boa forma como os principais motivos para
a participação. Em comparação, os homens mostraram maior motivação através da competição enquanto as mulheres
apresentaram maior motivação relacionada à experiência social e liberar a tensão. Os estudos acima mostram que
existem diferenças na motivação para praticar exercício físico quando relacionada às características demográficas como
sexo, idade e nível socioeconômico.
Também podemos encontrar na literatura diferenças no nível de motivação quanto ao tipo de exercício físico
que o indivíduo pratica. Frederick e Ryan29 investigaram os fatores motivacionais que influenciavam o engajamento de
um grupo de adultos em um exercício físico primário. Nesse estudo, foram analisados dois grupos: praticantes de
esporte e praticantes de fitness. A pesquisa foi realizada com adultos de ambos os sexos e com uma média de idade de
39 anos. Os resultados indicaram que as dimensões da motivação diferiram dependendo do tipo de exercício físico
praticado. Os participantes de atividades esportivas são caracterizados por um maior nível de motivação ligado a
divertimento e competência em relação aos participantes do fitness, enquanto que estes são caracterizados por um maior
nível de motivação ligada à aparência e a saúde.
Nesse caminho, Ryan et al.1, por exemplo, compararam os motivos iniciais de praticantes de dois tipos de
exercício físico: Tae Kwon Do e exercícios aeróbios. Seus principais resultados mostraram que participantes de Tae
Kwon Do são mais motivados nas dimensões de divertimento e competência e menos motivados na dimensão motivos
relacionados ao corpo (por exemplo, aparência) quando comparados aos participantes de exercício aeróbio. Além disso,
R. bras. Ci. e Mov 2016;24(2):90-102.
GRATÃO e ROCHA 94

nesse estudo, os praticantes desta luta também mostraram melhor aderência, isto é, maiores intenções de continuar
praticando o exercício físico. Nesse mesmo artigo, os resultados revelaram que a aderência foi associada com os
motivos voltados ao divertimento, competência, e interação social, mas não com motivos voltados à boa forma e
aparência. Estudos como o de Alexandris, Tsorbatzoudis e Grouios 21 corroboram com a ideia de uma relação positiva
entre motivação e frequência de participação, mostrando uma forte relação entre estas duas variáveis.
Alguns pesquisadores de motivação para exercício físico e lazer investigaram mais precisamente participantes
de corrida. Summers et al.30 pesquisaram os motivos para correr uma maratona de 363 corredores de meia-idade (média
de 36,1 anos) que estavam participando de sua primeira maratona. Estes pesquisadores encontraram nesse estudo que
para a maioria dos corredores a principal motivação para começar a correr foi melhorar a condição física, enquanto que
a principal motivação encontrada para participar da maratona foi o desafio pessoal. Summers et al.30 também relataram
nesse estudo que quase todos os corredores (93%) que participaram da pesquisa declararam que os benefícios de correr
uma maratona justificam o tempo e a energia gasta na preparação para a corrida, os benefícios mais apontados foram a
realização e satisfação pessoal.
Truccolo, Maduro e Feijó7, por exemplo, identificaram que as razões mais importantes para as mulheres
aderirem a um programa com assessoria técnica de corrida foram: melhora do condicionamento físico e saúde, apreciar
estar ao ar livre, aumento da autoestima e melhora da aparência física. No mesmo estudo, para os homens, as razões
mais importantes foram: diminuição da ansiedade, melhora do condicionamento físico e saúde, redução do estresse,
melhora da autoestima e apreciar estar ao ar livre. Alguns estudos confirmam que motivos tais como saúde e estética se
encontram entre os mais importantes tanto para homens quanto para mulheres para a prática de corrida7,31. Contudo,
existem motivos que diferem entre homens e mulheres. Dos motivos que diferem entre homens e mulheres para a
prática de corrida, destacam os de redução de estresse e de diminuição de ansiedade que os homens apresentaram mais
fortemente como fator de motivação7. A participação feminina no esporte e exercício físico em geral tende a ser
motivada mais por socialização, diversão e preocupações com o corpo, enquanto a participação masculina é motivada
mais pela competição e preocupações relacionadas ao ego29,32,33.

Materiais e Métodos

Sujeitos
O projeto foi submetido e aprovado por um comitê de ética da área, que permitiu que pessoas que se
inscreveram para participar de uma das mais populares corridas de rua (5k e 10K) da cidade de Ribeirão Preto
participassem da pesquisa (CAAE no. 33625014.1.0000.5407). Os organizadores desta corrida foram contatados e
concordaram em ajudar na pesquisa. Os organizadores perguntaram aos participantes se poderiam passar seus e-mails
para os pesquisadores da presente pesquisa, os quais os contatariam em um futuro breve e pediriam a colaboração para
responder a um questionário sobre corrida e eventos. Aqueles que concordaram receberam um e-mail convite para
responder ao questionário online (N = 2043). Nesta primeira tentativa de contato, 259 e-mails não alcançaram o
destinatário (e-mail errado, caixa postal lotada, ou outros problemas). Para estes não foram enviados os questionários. O
grupo que recebeu o questionário (N = 1784) foi dividido aleatoriamente em dois subgrupos: grupo 1, que recebeu o
questionário perguntando sobre motivação para correr e grupo 2, que recebeu o questionário perguntando sobre
motivação para participar de eventos de corrida. Dos que receberam o questionário, 599 retornaram questionários
utilizáveis para análise (taxa de retorno = 33,57%). O primeiro grupo retornou 394 questionários, enquanto o segundo
retornou 205.

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95 Motivação para Correr

Em termos demográficos a amostra era bastante equilibrada, indicando que 58,4% dos respondentes eram
homens, 50,3% eram casados(as), 51,1% não tinham filhos. Ainda, 63,9% dos respondentes tinham pelo menos um
curso de graduação completo e 63,5% tinham uma renda familiar de onze salários mínimos brasileiros ou mais. Da
amostra total, 56,3% dos respondentes afirmaram que eram orientados por alguém nos seus treinos de corrida. Destes, a
grande maioria (83,8%) eram orientados por empresas de assessoria, personal trainers ou por outros profissionais de
educação física (ex., professor da academia). A idade média dos respondentes era de 38,3 anos (DP = 12). Estes
treinavam em média três vezes por semana (DP = 1), com treinos de duração média de 55,7 minutos (DP = 20,3) e
tinham participado de seis eventos (DP = 5) nos últimos doze meses.

Escalas
A motivação foi verificada através de uma adaptação da escala de Ryan et al.1, com cinco dimensões: (1)
divertimento, (2) competência, (3) aparência, (4) fatores sociais e (5) saúde. Os itens foram respondidos com base numa
escala de Likert, variando de discordo totalmente (1) a concordo totalmente (7). A descrição dos itens e sua respectiva
dimensão encontram-se na Tabela 1.
Ao grupo 1 foi pedido para avaliar as afirmativas com base na sentença “Eu corro porque...”, enquanto que ao
grupo 2 foi pedido o mesmo com base na sentença “Eu participo de eventos de corrida porque...”. Os itens foram
embaralhados para a elaboração do questionário final, de modo que dois itens que representavam uma dimensão nunca
apareceram em sequência. Isto foi feito para evitar um padrão pré-determinado de respostas.

Análise dos dados


Inicialmente, foram verificadas a fidedignidade e validade das medidas usadas no estudo para cada um dos
grupos investigados. O índice alfa de Cronbach, que mede a consistência interna da série de itens que representam cada
dimensão (construto) foi utilizado como uma medida de fidedignidade, de acordo com o proposto por Nunnaly and
Bernstein34. Valores acima de 0,70 indicam boa consistência interna, o que é um bom indicativo da fidedignidade das
medidas.
A validade dos construtos foi verificada através dos procedimentos descritos por Fornell e Larcker 35. Variância
média extraída (AVE, do inglês average variance extracted) igual ou maior do que 0,50 indica que a variância
explicada pelo construto nas respostas dos itens é maior do que o erro de medição e, consequentemente implica em
validade convergente. Adicionalmente, existe validade discriminante quando a AVE for maior do que o quadrado da
correlação entre qualquer par de construtos35. Para o cálculo da AVE foi conduzida uma análise fatorial confirmatória 36,
a fim de se conhecer a carga fatorial de cada item, isto é a covariância entre cada item e seu devido construto (dimensão
da motivação). Para este cálculo foi usado o software Mplus 7.11.
Depois de verificadas a fidedignidade e a validade das medidas, foram conduzidas duas análises de variância
multivariadas (MANOVA), uma para cada grupo de respondentes (grupo 1 respondeu sobre motivação para correr e
grupo 2 respondeu sobre motivação para participar de eventos de corrida). Em ambas, a variável dependente foi
orientação (corredores orientados x corredores autônomos), enquanto que as cinco dimensões da motivação
(divertimento, competência, aparência, fatores sociais e saúde) foram as variáveis dependentes. As variáveis idade e
sexo foram usadas como variáveis controle, isto porque a pesquisa pretendeu investigar as diferenças de motivação
baseando-se no fato de que os corredores poderiam ser classificados entre orientados e autônomos. Controlando por
idade, sexo e estado civil durante a análise de dados, permite afirmar-se que as diferenças de motivação não foram
baseadas nestas três variáveis. Foi considerando um erro alfa igual a 0,05 para se assumir significância nas comparações
efetuadas. Para esta análise foi usado o SPSS 17.0.
R. bras. Ci. e Mov 2016;24(2):90-102.
GRATÃO e ROCHA 96

Resultados
Os índices alfa de Cronbach para todas as dimensões (construtos) foi suficientemente grande (Tabela 1),
indicando boa consistência interna entre os itens e, consequentemente, boa indicação de fidedignidade34. A validade
convergente foi confirmada para todas as dimensões no questionário sobre motivação para participar de eventos de
corrida e para quatro das cinco dimensões no questionário sobre motivação para correr (AVE na Tabela 1). A AVE da
dimensão “competência” ficou um pouco abaixo dos 0,50. Preferiu-se não descartar esta dimensão porque ela é
conceitualmente importante para a motivação intrínseca de praticantes de atividade física e esporte 1,16. Além disto, a
dimensão mostrou boa validade convergente no questionário sobre motivação para participar de eventos.
Adicionalmente, todas as dimensões de motivação tanto para correr como para participar de eventos mostraram boa
validade discriminante ao se comparar a AVE com o quadrado das correlações entre pares de variáveis, inclusive a
dimensão competência que havia falhado no teste de validade convergente. Os resultados das correlações não foram
aqui apresentados por questões de espaço, mas podem ser pedidos ao primeiro autor.

Tabela 1. Dimensões da motivação, itens, alfa de Cronbach e variância média extraída (AVE).

Dimensão da "Eu corro porque" "Eu participo de eventos de corrida porque"


Motivação Itens Alfa AVE Alfa AVE
Divertimento 0,805 0,61 0,723 0,64
1- Me dá satisfação
2- Eu simplesmente gosto
3- A atividade é estimulante
Competência 0,711 0,52 0,711 0,46
1- Eu gosto de desafios
2- Eu quero melhorar meu desempenho
3- Eu quero melhorar minha capacidade de correr
Aparência 0,887 0,80 0,869 0,73
1- Eu quero ter uma aparência melhor
2- Eu quero melhorar minha aparência física
3- Eu quero melhorar meu corpo
Social 0,932 0,85 0,917 0,75
1- Eu gosto de estar com outras pessoas enquanto treino
2- Eu gosto de estar com amigos no treino
3- Eu gosto de passar tempo com outras pessoas
Saúde 0,865 0,73 0,795 0,63
1- Eu quero ter uma vida saudável
2- Eu quero me manter saudável
3- Eu quero estar bem fisicamente

A estatística descritiva indicou que os corredores orientados relataram maior motivação em todas as dimensões
quando comparados aos corredores autônomos na sua motivação para correr. O motivo mais forte para correr foi saúde.
Resultados da primeira MANOVA indicaram que existia uma diferença significante na motivação para correr entre
corredores orientados e corredores autônomos (Wilks lambda = 0,946; F = 4,037; p = 0,001). Os testes univariados
indicaram que corredores orientados diferiram dos corredores autônomos nas dimensões de competência (F = 6,793; p
= 0,010) e fatores sociais (F = 15,559; p < 0,001) da sua motivação para correr (Tabela 2). Nas outras três dimensões, as
diferenças não foram estatisticamente significantes.
A estatística descritiva indicou que os corredores orientados relataram maior motivação em quatro das cinco
dimensões quando comparados aos corredores autônomos (a exceção ocorreu na dimensão aparência) na motivação
para participar de eventos de corrida. O motivo mais forte para participar de eventos foi saúde, a exemplo do que
aconteceu com motivos para correr. Resultados da segunda MANOVA indicaram que existia uma diferença significante
na motivação para participar de eventos de corrida entre corredores orientados e corredores autônomos (Wilks lambda
= 0,933; F = 2,640; p = 0,025). Os testes univariados indicaram que corredores orientados diferiram dos corredores

R. bras. Ci. e Mov 2016;24(2):90-102.


97 Motivação para Correr

autônomos apenas na dimensão fatores sociais (F = 6,044; p = 0,015) da sua motivação para participar de eventos de
corrida (Tabela 3). Nas outras quatro dimensões, as diferenças não foram estatisticamente significantes.

Tabela 2. Comparações entre corredores orientados e corredores autônomos nas dimensões de motivação para correr.

Orientação M DP F p
Autônomo 6,24 1,03
3,597 ,059
Divertimento sOrientados 6,41 ,79
Total 6,34 ,90
Autônomo 6,13 ,95
s 6,793 ,010
Competência Orientados 6,37 ,81
Total 6,27 ,88
Autônomo 5,77 1,24
s ,552 ,458
Aparência Orientados 5,90 1,12
Total 5,84 1,18
Autônomo 5,07 1,51
s 15,559 ,000
Social Orientados 5,67 1,35
Total 5,42 1,45
Autônomo 6,66 ,69
s 2,429 ,120
Saúde Orientados 6,76 ,56
Total 6,72 ,62

Tabela 3. Comparações entre corredores orientados e corredores autônomos nas dimensões de motivação para participar de eventos de corrida.

Orientação M DP F p
Autônomo 6,32 ,84
s
3,255 ,073
Divertimento Orientados 6,51 ,57

Total 6,44 ,70


Autônomo 6,12 ,78
s
,196 ,658
Competência Orientados 6,16 ,83

Total 6,14 ,81


Autônomo 6,17 ,89
s
1,806 ,181
Aparência Orientados 6,03 ,90

Total 6,08 ,90


Autônomo 5,51 1,31
s
6,044 ,015
Social Orientados 5,99 1,15

Total 5,80 1,24


Autônomo 6,69 ,48
s
,002 ,967
Saúde Orientados 6,72 ,53

Total 6,71 ,51

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GRATÃO e ROCHA 98

Discussão
Este artigo contribui para o avanço da literatura em duas linhas. Primeiro, a proposta de uma escala concisa e
adaptada de Ryan et al.1 para se medir cinco dimensões da motivação para correr e para participar de eventos de corrida
é uma contribuição para os profissionais dessa área, principalmente considerando que as medidas de ambas se
mostraram fidedignidades e válidas para uma amostra de corredores. Segundo, o estudo usou uma amostra
relativamente grande de corredores reais, o que permitiu a descrição de um bom estudo de caso acerca das motivações
de corredores tanto para correr (treinar corrida) quanto para participar de eventos de corrida de rua. Ambos os avanços
são importantes contribuições tanto para a área da educação física, quanto para a área de gestão esportiva.
Naturalmente, como não se trata de uma amostra aleatória de todos os corredores de rua de uma região, inferências
populacionais devem ser feitas com precaução. Preferencialmente, replicações deste estudo devem ser realizadas em
outras regiões do estado e do país, antes que se façam tais inferências.
A análise multidimensional da motivação para prática de exercícios físicos e atividades de lazer é um ponto
concordante na literatura1,21. Procurando por um instrumento mais parcimonioso, o presente estudo utilizou-se das
dimensões propostas por Ryan et al.1, mas reduziu o número de indicadores por dimensão. O instrumento original de
Ryan et al.1 contém 30 itens, enquanto que o apresentado aqui tem 15 itens. O novo instrumento se mostrou eficiente
para medir a motivação de corredores, o que se comprovou através das análises de fidedignidade e validade.
Os corredores avaliaram as cinco dimensões como fatores motivacionais importantes, tanto para correr como
para participar de eventos (as médias foram todas acima de 5, que é ponto de concordância da escala de Likert variando
de 1 a 7). Desta forma, diferentes motivos contribuem para a decisão de correr e participar de eventos. Em termos
descritivos, saúde foi considerada a dimensão mais importante tanto para correr como para participar de eventos.
Contudo, os motivos de saúde não diferiram quem busca uma orientação para correr e quem corre por conta própria. O
mesmo aconteceu para as dimensões diversão e aparência. Isto indica que as pessoas que têm mais fortemente estas
motivações podem satisfazer suas necessidades (de saúde, diversão ou aparência) correndo ou participando de eventos
por conta própria, não necessitando de orientação profissional. Estes resultados são similares aos encontrados por Ryan
et al.1, que encontraram que a saúde era o motivo apontado como mais importante por praticantes de musculação para
fazer exercício físico. No contexto cultural do estudo de Ryan et al.1, as pessoas buscavam saúde e faziam musculação
como atividade sem orientação profissional. Contudo, os motivos de saúde não diferenciavam aqueles que continuavam
a se exercitar depois de um tempo daqueles que paravam. Já os motivos de diversão, competência e fatores sociais
diferiam quem continuava e quem parava.
O fato das pessoas que correm e participam de eventos de corrida terem mencionado a saúde como principal
motivação não foi surpresa. Outros autores30,31 encontraram em seus estudos que para a maioria dos corredores a
principal motivação para começar a correr foi melhorar a condição física, que infere preocupações com a saúde.
Contudo, nestes estudos as pessoas também afirmaram que a aparência tinha uma parcela importante em suas
motivações para correr30,31. Este fato também ocorreu no presente estudo, onde as pessoas reconheceram que a
aparência desempenha um papel importante na motivação para correr e para participar de eventos de corrida.
Do ponto de vista da gestão do esporte, o resultado mais importante do presente estudo foi que corredores
orientados apresentaram maiores níveis em relação aos corredores autônomos nas dimensões de motivação
“competência” e “fatores sociais”. Desta forma, uma alternativa para gestores de assessorias de corrida melhorarem
seus serviços, a fim de atender as necessidades de seu público alvo seria focar suas estratégias de marketing em fatores
associados à melhora da competência para correr e aos fatores sociais envolvidos tanto em treinos como em eventos.
A utilização de elementos que favoreçam a identificação dos membros do grupo pode ajudar no aumento da
motivação por fatores sociais. A teoria da identidade social 37 apoia ações que satisfaçam às necessidades de contatos

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99 Motivação para Correr

sociais, uma vez que o senso de “in-group” depende de quão diferente os membros de um grupo se sentem quando
comparados aos demais. E na corrida, essa sensação de fazem parte de um grupo distinto não é diferente, primeiro o
indivíduo ingressa no grupo de indivíduos que correm, depois ele ingressa em um grupo mais específico como uma
equipe de corrida (assessoria de corrida), podendo posteriormente entrar em uma equipe de competidores, por exemplo.
E assim o indivíduo vai encontrando qual grupo ele se inseri melhor. Esta é uma maneira de se sentir parte do grupo e
satisfazer necessidades sociais38. Entretanto, vale lembrar que os corredores não precisam ir muito longe para terem
identificação principalmente com a atividade (corrida), uma das características dos participantes de corridas de longa
distância é que se identificam fortemente com suas atividades, eles falam com orgulho sobre suas participações nos
eventos e sua ligação com a atividade39.
Estudos anteriores, como por exemplo, Alexandris e Carroll 40, se preocuparam basicamente em diferenciar
participantes em suas motivações para fazer exercício físico baseando-se em variáveis demográficas. Alexandris e
Carroll relataram que pessoas casadas e mulheres percebiam significantemente mais barreiras para praticar exercícios
físicos e eram menos motivadas do que pessoas solteiras e homens. No mesmo estudo, eles apontaram que existia uma
relação de um “U” invertido entre a percepção de barreiras e idade, indicando que as barreiras começam baixas,
aumentam e depois voltam a diminuir conforme as pessoas vão se movimentando na escala do tempo. Considerando
que a prática de exercício físico depende basicamente de um processo de negociação entre motivações e barreiras 25, o
mesmo padrão de comportamento deve existir para a relação entre motivação e idade. O presente estudo não teve como
objetivo verificar a influência de variáveis demográficas na motivação para corrida. Desta forma, as variáveis: idade,
sexo e estado civil foram usadas como covariáveis nas análises de variância multivariadas, a fim de controlar estas
variáveis enquanto as comparações por tipo de orientação (orientados x autônomos) fossem conduzidas. Como registro,
pessoas de diferentes sexos e estados civil não diferiram em nenhuma das dimensões de motivação. A única exceção foi
a variável idade, onde pessoas acima de 36 anos (mediana da amostra) eram mais motivadas a correr por divertimento
do que pessoas abaixo desta idade. Para todas as outras dimensões, não houve diferença entre idades.
Na amostra do presente estudo, um pouco mais da metade dos corredores (56,3%) relatou que corre sob a
orientação de alguém, seja professor de educação física, assessoria de corrida ou personal trainer. Isto indica que ainda
há uma parcela considerável que não recebe orientação (autônomos) e que se constitui em consumidores em potencial
para estes profissionais. Uma vez que estas pessoas já correm e participam de eventos de corrida, elas já gostam do
produto “corrida”. Agora, cabe aos profissionais que vendem este produto mostrar a estes consumidores a vantagem de
se receber uma orientação profissional. O marketing tem esta função de estimular o consumidor a comprar um
determinado produto ou a mudar a maneiro como consume o produto. O primeiro passo para uma boa estratégia de
marketing é segmentar o mercado consumidor 41. Neste sentido, a proposta do presente trabalho é que os gestores de
assessorias além de segmentar seu mercado por fatores demográficos (o que aparentemente já fazem), passem a
segmentar também por fatores psicográficos – isto é, por motivos que levam as pessoas a comprar um produto ou a
contratar um serviço. Neste aspecto, os resultados do estudo são uteis tanto a gerentes de assessorias de corrida como
aos organizadores de corrida de rua interessados em aumentar o número de participantes. Para os primeiros, destacar a
melhora da competência e das interações sociais parecer ser uma boa orientação; enquanto que para os segundos, a
sugestão seria enfatizar os benefícios sociais de se participar de eventos de corrida.
Treinos de corrida e participação em eventos estão envolvidos em uma relação de simbiose, uma vez que as
provas de corrida de rua têm a capacidade de induzir o indivíduo ao exercício físico através do treino preparatório para
participar da prova e a participação da prova em si2. Desta forma, não foi surpreendente que as dimensões de motivação
foram aproximadamente as mesmas para correr e para participar de eventos.

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GRATÃO e ROCHA 100

Conclusões
Este estudo teve como objetivo comparar corredores que têm optado por correr com uma orientação
profissional (corredores orientados) e aqueles que correm sem orientação (corredores autônomos) em suas motivações
para correr e para participar de eventos de corrida de rua. Inicialmente o instrumento para medir motivação de
corredores aqui proposto produziu medidas fidedignas e validas para a amostra testada. Estudos futuros interessados em
medir a motivação de corredores (e mesmo de pessoas que praticam outros exercícios físicos) no Brasil podem
aproveitar este instrumento, porém vale a orientação de que a validade e a fidedignidade pertencem às medidas aqui
realizadas. Novos estudos devem, portanto, verificar a fidedignidade e a validade das medidas para a situação em que
forem utilizadas.
Os corredores de rua investigados neste estudo indicaram ter alta motivação tanto para correr como para
participar de eventos de corrida. Os resultados médios das cinco dimensões de motivação aqui testadas – divertimento,
competência, aparência, fatores sociais e saúde – foram todos superiores as cinco, o que indica que os corredores têm
alta motivação para correr e para participar de eventos em todas as dimensões. Contudo, o estudo teve também o intuito
de conhecer melhor os consumidores da corrida orientada, isto é, aqueles clientes que pagam profissionais de educação
física e esporte para receber treinos e/ou outras orientações com relação à prática da corrida. Corredores orientados são
mais motivados a correr por competência e por fatores sociais e são mais motivados a participar de eventos de corrida
também por fatores sociais, quando comparados a corredores autônomos. Assim, na busca de atrair novos clientes e de
manter os atuais, as assessorias e outros profissionais que trabalham com corrida deveriam enfatizar estes dois fatores,
sem se esquecer dos demais. Divertimento, aparência e saúde também motivam as pessoas a treinar corrida e a
participar de eventos, no entanto, parece que elas conseguem alcançar estes objetivos correndo sem orientação.
Apesar do mercado da corrida de rua ter crescido muito nos últimos anos e consequentemente ter aberto
inúmeras possibilidades para os profissionais e empresas da área, o mercado também se tornou muito competitivo e tem
exigido uma maior preparação das empresas. Esta preparação inclui conhecer o perfil do cliente, seus desejos,
necessidades e motivações. É importante identificar e atender os motivos dos clientes, pois esse processo é peça chave
para satisfazer e fidelizar o cliente42. Para um grupo de corrida, por exemplo, é fundamental que se tenha um grupo de
alunos fiéis e consistentes nos treinos principalmente para motivar e servir de exemplo para os alunos iniciantes. O
presente estudo deve ser considerado como uma primeira tentativa de se entender o comportamento de corredores
enquanto clientes de assessorias de corrida e de outros profissionais de educação física. Estudos futuros podem, por
exemplo, investigar a relação entre diferentes dimensões da motivação, envolvimento e continuidade no processo de
consumir a orientação de corrida2.
Em suma, identificar os motivos que levam as pessoas a correr e/ou participar de eventos de corrida é de
grande importância para aumentar a participação de indivíduos nestas atividades e para mantê-los como clientes de
organizações esportivas. Nesta nova era de grande competição entre organizações esportivas, aquelas que conhecerem
melhor seus clientes levarão vantagens em satisfazê-los retê-los. Por fim, vale mencionar que apesar do foco do
presente trabalho ter sido os aspectos de gestão de organizações esportivas, o oferecimento de melhores serviços na área
do exercício físico orientado (seja a corrida, a musculação, ou qualquer outro exercício) tem uma consequência positiva
em muitas outras áreas, com destaque para a saúde pública. O desenvolvimento de melhores assessorias de corrida, de
melhores academias e de melhores profissionais de educação física é benéfico não apenas para os profissionais
envolvidos nesta área, mas também para as comunidades de uma maneira geral.

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ESTILO DE VIDA DE PRATICANTES DE CORRIDA DE RUA

Alice Fiadi1, Bruna Horta1, Carolina Pasetto Lebkuchen1, Hannah Ferreira Rodrigues1
Laislly Junqueira1, Victoria Franco1, Marcia Nacif2

RESUMO ABSTRACT

Introdução: As corridas de rua têm ganhado Quality of life of street racer practitioners
mais adeptos e admiradores a cada dia, sendo
esta uma modalidade esportiva que se Introduction: Street racing has gained more
popularizou em meados do século 19 e que fans and admirers every day, this being a sport
traz inúmeros benefícios ao organismo, como a that became popular in the middle of the 19th
proteção contra diversas doenças. century and. which brings countless benefits to
Independente da modalidade esportiva, as the body, such as protection against various
condutas nutricionais são determinantes na diseases. Regardless of the sport, nutritional
manutenção da saúde, no aumento do behaviors are crucial for maintaining health,
desempenho atlético e no controle da increasing athletic performance and controlling
composição corporal de atletas. Objetivo: athletes' body composition. Objective: To
Avaliar hábitos de vida de praticantes de corrida evaluate the lifestyle of street runners from
de rua de diferentes regiões do Brasil. Materiais different regions of Brazil. Materials and
e métodos: Trata-se de um estudo transversal, methods: This is a cross-sectional study,
realizado com corredores de rua amadores, carried out with amateur street racers, adults, of
adultos, de ambos os sexos, residentes em both sexes, living in different regions of Brazil.
diferentes regiões do Brasil. A coleta de dados Data collection was performed using a
foi efetuada a partir de um questionário questionnaire available on the Google Forms®
disponibilizado na plataforma Google Forms® platform that contained information about.
que continha informações sobre hábitos feeding habits, smoking, consumption of
alimentares tabagismo, etilismo e uso de outras alcohol and other substances, hydration, sleep
substâncias psicoativas; hidratação; duração duration and motivations for running.Results:
do sono e motivações para a prática de corrida. 106 runners were evaluated, with an average
Resultados: Foram avaliados 106 corredores, age of 36 years, who practiced running mainly
com idade média de 36 anos, que praticavam a for the purpose of weight loss and mental
corrida principalmente com o objetivo de health.. Participants showed improvements in
emagrecimento e saúde mental. Os humor, breathing, depression symptoms,
participantes relataram melhora de humor, feeling of freedom and creativity after starting to
respiração, melhora nos sintomas de practice running. it was observed that 31.8% of
depressão, sensação de liberdade, melhora na respondents improved their feeding habits since
libido e na criatividade após iniciarem o hábito they started running. Conclusion: This article
do exercício. Observou-se que 31,8% dos demonstrated the positive impact that running
entrevistados melhoraram sua alimentação has on quality of life and on the professional
desde que iniciaram a prática da corrida. follow-up index of nutritionists.
Conclusão: O presente artigo demonstrou o
impacto positivo que a corrida exerce sobre a Key words: Physical exercise. Running.
qualidade de vida e saúde dos participantes, Guality of life. Motivation.
ressaltando a importância da modalidade.

Palavras-chave: Exercício físico. Corrida.


Qualidade de vida. Motivação. E-mail dos autores:
alicefiadi@gmail.com
1 - Discente do Curso de Nutrição da bruna.rhorta@gmail.com
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São cah.leb@hotmail.com
Paulo-SP, Brasil. hanitahh5@gmail.com
2 - Docente do Curso de Nutrição da lally.cr@hotmail.com
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São vicmjfranco@hotmail.com
Paulo-SP, Brasil. marcia.nacif@mackenzie.br

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INTRODUÇÃO Segundo a Diretriz da Sociedade


Brasileira de Medicina do Esporte (2009), muito
A quantidade de pessoas que mais do que o rendimento no esporte, o
procuram atividade física ao ar livre, em conhecimento sobre nutrição para prevenção
especial a corrida de rua, vem aumentando em de doenças é fundamental para atletas e
proporções significativas desde o final do esportistas.
século XIX com a primeira Maratona Olímpica Neste contexto, esse estudo teve como
(Antonello e colaboradores, 2019; Euclides, principal objetivo analisar o estilo de vida de
Barros, Coelho e 2016). praticantes de corrida de rua de diferentes
Segundo Fredericson, Misra (2007), regiões do Brasil.
esse aumento é motivado pela busca por
benefícios para a saúde com a prática regular MATERIAIS E MÉTODOS
de exercício físico, em uma atividade de fácil
execução e de baixo custo. Trata-se de um estudo transversal,
Ao contrário dos indivíduos pré- realizado com 106 corredores de rua amadores
históricos, que percorriam em torno de 20 a 40 residentes em diferentes regiões do Brasil,
km por dia buscando abrigo e comida, a sendo 59 do sexo feminino e 47 do sexo
população moderna vem cada vez mais se masculino e média de 36 anos de idade.
tornando sedentária. A coleta de dados foi efetuada de forma
Porém, junto com esse novo estilo de online, a partir de um questionário
vida, vem a informação, que proporciona o disponibilizado na plataforma Google Forms® e
medo dos crescentes índices de doenças divulgado em redes sociais, o qual incluiu
relacionadas ao sedentarismo, sendo a falta de informações tais como: hábitos alimentares
atividade física um dos fatores mais (incluindo pré, durante e pós-treino);
determinantes para o aparecimento de doenças tabagismo, etilismo e uso de outras substâncias
(Hallal e colaboradores, 2012). psicoativas); hidratação; duração do sono e
A prática de exercícios físicos pode motivações para a prática de corrida;
atuar protegendo o organismo contra doenças Para a tabulação e análise dos dados,
como o câncer, diabetes, problemas utilizou-se o programa Microsoft Excel®. A
cardiovasculares, distúrbios do sono, pesquisa foi conduzida com base nas diretrizes
hipertensão, hipercolesterolemia e doenças de Ética em Pesquisa para Seres Humanos da
coronarianas. Resolução Número 466, de 12 de dezembro de
A prática estimula a neurogênese, 2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS),
aumentando a função da memória e ainda que garante o anonimato e a confidencialidade
causa alterações metabólicas como a melhora dos dados fornecidos. O estudo foi aprovado
do metabolismo aeróbio e melhora na oxidação pelo Comitê de Ética da Universidade
de gorduras (Euclides, Barros e Coelho, 2016; Presbiteriana Mackenzie, sob número
Salgado e Chacon, 2006) CAAE:50307715.7.0000.0084 e todos os
Ademais, há benefícios na esfera participantes assinaram um Termo de
psicológica, refletindo em uma redução nos Consentimento Livre e Esclarecido
indicadores de depressão e ansiedade. Um
aumento na expectativa de vida, melhora na RESULTADOS
qualidade do sono, sistema cardiorrespiratório,
muscular, endócrino e nervoso também pode Foram avaliados 106 corredores,
ser destacado (Williams e Thompson, 2013; sendo 55,6% (n=) do sexo feminino e 44,3%
Martins, Mello e Tufik, 2001; Cruz, Franco, (n=) do sexo masculino, com idade média de 36
Esteves, 2017). anos.
Independente da modalidade Quanto a principal motivação para
esportiva, as condutas nutricionais são começar a praticar a corrida, a mais relatada foi
determinantes na manutenção da saúde, no a busca por qualidade de vida (41,5%), seguida
aumento do desempenho atlético e no controle pelo emagrecimento ou melhora estética
da composição corporal de atletas e praticantes (18,9%), saúde mental (13,2%) e melhoria em
de atividade física (Ferreira, Bento, Silva e condição de saúde pré-existente (como
2015; Spronk e colaboradores, 2014; Azevedo, hipertensão e diabetes).
2015).

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Quando os benefícios disponibilizados “melhora na respiração”. Outros benefícios


pela corrida foram questionados, a resposta citados incluíram a melhora nos sintomas de
mais frequente foi: “mais disposição para o dia depressão, a sensação de liberdade, melhora
a dia”, seguido pela “melhora de humor” e na libido e na criatividade.

Tabela 1 - Características dos corredores, Brasil, 2020.


Variáveis Porcentagem (%)

Consumo de bebidas alcoólicas 79,2

Uso de substâncias psicoativas 8,5

Uso de suplementos 50,9

Fumante 12,3

Mudanças na alimentação desde que iniciaram a prática 65,1


da corrida

Preocupação com alimentação pré e pós treino 76,4

Consumo de alimentos durante a corrida 40,6

Quanto aos corredores que consomem Ao serem questionados sobre a


bebidas alcoólicas, apesar de grande parte o ingestão de água, 58,5% dos participantes
fazer ocasionalmente (32,9%), um número relataram beber oito copos por dia, e uma
considerável (26%) consome álcool 2 ou mais parcela menos significativa, (11,3%) disseram
vezes por semana. As bebidas mais relatadas consumir 4 copos diariamente, seguido de 6
foram o vinho e a cerveja, seguidas dos copos por dia (10,4%).
destilados e drinks. Quando os desportistas foram
Entre os suplementos usados pelos questionados quanto a fatores que os
entrevistados, o mais relatado foi o whey desmotivam a começar uma corrida, foi
protein (33 pessoas), seguido pela creatina (8 observado que uma grande parcela dos
pessoas) e glutamina (7 pessoas). O uso de corredores de rua (30,2%), relataram que a
proteínas veganas foi relatado por 6 falta de tempo é um dos principais fatores,
entrevistados. seguido de fatores relacionados à segurança
Em relação à alimentação, entre os (20,8%): como assalto e atropelamento. Além
entrevistados que observaram mudanças em desses fatores, condições climáticas (16%),
sua dieta desde que iniciaram a prática da medo de lesões futuras (12,3%) e lesões já
corrida, 31,8% consideram que adotaram uma existentes (10,4%) também foram
alimentação mais saudável. Dentre estes, considerados pelos corredores de rua.
17,3% disseram ter diminuído o consumo de A qualidade do sono foi analisada por
açúcar e produtos industrializados, e 11,5 % meio do número de horas dormidas. Verificou-
aumentaram o consumo de frutas, legumes e se que 35 dos entrevistados dormem sete
verduras. Além disso, 4,3% se tornaram horas por noite, seguidos por 32 que dormem
vegetarianos ou veganos. seis horas, enquanto 20 indivíduos dormem
Quanto ao consumo intra-treino, 10 apenas cinco horas.
participantes disseram fazer o uso de bebidas A Tabela 2 mostra alguns aspectos
isotônicas, 19 usam gel de carboidrato, e 6 relacionados ao acompanhamento nutricional e
consomem algum tipo de alimento (sendo os alimentação dos corredores de rua.
mais comuns, bananinhas, bolachas, rapadura
e mel).

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Tabela 2 - Aspectos relacionados à alimentação dos corredores, Brasil, 2020.


Variáveis Porcentagem (%)

N de refeições diárias
Cinco 22,6
Quatro 42,4
Três 22,6

Consulta com nutricionista antes de começar a correr 40,6

Continuaram com o acompanhamento nutricional 31,1

Consideram que o acompanhamento nutricional teve 51,9


influência em seu desempenho e bem-estar

Presença de fruta no pré-treino 33

Correm em jejum 9,4

Consumo de proteína em forma líquida nos pós treino 14,1

Consumo de ovos nos pós treino 17,9

Entre os indivíduos que citaram frutas Atenas com intuito de avisar a vitória dos
como componente e/ou protagonista da sua gregos sobre os persas na guerra (Gonçalves,
alimentação pré-treino, houve um destaque 2011).
para a banana. Ainda,12 responderam que Os resultados do presente estudo em
consumiam pão na refeição anterior ao treino. relação a motivação para a prática da corrida
No que se refere ao pós-treino, é são semelhantes aos de Trucollo e
evidente que alimentos dos grupos das carnes colaboradores (2008) que encontraram como
e ovos foram priorizados por grande parte dos razões mais importantes para mulheres
entrevistados. Barrinhas de proteínas e aderirem à atividade física regular, a melhora
iogurtes também fizeram parte das respostas. do condicionamento físico e saúde.
Outro estudo, de Nunomura (1998),
DISCUSSÃO mostra que as razões mais importantes para
homens e mulheres aderirem a um programa
As Corridas de rua surgiram e se de corrida são a melhora do condicionamento
popularizaram na Inglaterra no século XVIII. físico e saúde, aumento da autoestima e
Posteriormente, a modalidade expandiu-se sentirem que a aparência física melhorou
para o restante da Europa e Estados Unidos. (58,5%).
No final do século XIX, após a primeira Fonseca e colaboradores (2019)
Maratona Olímpica, as Corridas de Rua verificaram maior predominância de corredores
difundiram-se ainda mais, particularmente nos do sexo masculino (62%) que feminino (38%).
Estados Unidos (Salgado, Chacon, 2006). Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de
Mesmo sendo uma prática muitas Geografia e Estatística (IBGE) relatou que
vezes considerada nobre, a maior parte das 42,7% e 33,4% dos homens e mulheres,
referências traz consigo a presença da dor, da respectivamente, praticam alguma atividade
superação, do risco ao fracasso e até da física. Isso pode provavelmente estar
ocorrência da morte. relacionado com uma maior ocupação de
Na famosa e legendária façanha que atividades domésticas pelas mulheres (Sá-
dá origem a maratona, a morte encerra a Silva e colaboradores, 2011).
narrativa sobre um soldado que percorreu mais No estudo de Tomazini e Silva (2014)
de 35 km entre as cidades de Maratona e pôde-se concluir que a maioria dos corredores

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apresentou alto nível de formação acadêmica, Quanto a influência de tal esporte sobre
devido a um maior conhecimento sobre os o padrão alimentar dos praticantes, a maioria
benefícios do esporte. afirmou ter melhorado sua alimentação o que
Ao abordar a alimentação de inclui a redução do açúcar na dieta e o aumento
corredores, sabe-se que a nutrição e o do consumo de frutas e hortaliças.
acompanhamento de profissionais da área, são Por fim, a pesquisa demonstrou a
fundamentais para o aumento do desempenho preocupação dos corredores de rua em relação
e da manutenção da saúde destes praticantes. a hábitos de vida saudáveis e a importância de
Considerando-se que se configurou acompanhamento por profissionais da saúde.
predominante o grupo alimentar dos
carboidratos como opção de pré-treino para os REFERÊNCIAS
entrevistados, nota-se que há a preferência por
este grupo. 1-Antonello, A.C.; Lara, S.; Teixeira, L.P.;
Tal dado é positivo, uma vez que vai de Freitas, A.C.S.; Cattelan, A.V. Análise do
acordo com os resultados obtidos no estudo de controle postural de corredores de rua. Revista
Seixas e colaboradores (2011), que teve como Brasileira de Ciência e Movimento. Vol. 27.
objetivo comparar diferenças no Num 3. 2019. p.99-105.
comportamento glicêmico, desempenho e VO2
em corredores com e sem jejum alimentar. 2-Azevedo, F. Efeitos da ingestão de
Indicou-se que a maior disponibilidade de carboidratos sobre a resposta glicêmica em
glicose no sangue no dia em que houve corredores de rua na distância de 5 km. Revista
suplementação de carboidratos resultou em Brasileira de Nutrição Esportiva. São Paulo.
uma melhora do VO2 máximo, resultando em Vol. 9. Num. 49. 2015. p.53-59.
melhora de performance.
Quanto às dificuldades encontradas 3-Cruz, I.; Franco, B.; Esteves, A. Qualidade do
pelos praticantes de corrida de rua, o artigo de sono, cronotipo e desempenho em corredores
Fagundes (2015) evidenciou como os domínios de rua. Revista Brasileira de Medicina do
resultantes: o custo elevado das competições e Esporte. Vol. 23. Num. 6. 2017. p. 483-487.
equipamentos, falta de tempo, condições
climáticas, infraestrutura e trânsito. Os fatores 4-Euclides, C.; Barros, C.; Coelho, J. Benefícios
segurança nas corridas e lesões tiveram da corrida de rua. Rev. Conexão Eletrônica.
dominância menor, mas assim como em nosso Vol.13. Num. 1. 2016. p.50-85.
estudo, foram mencionados pelos
participantes. 5-Fagundes, F. Fatores motivacionais em
Outro dado interessante diz respeito a corredores de rua. TCC. Universidade
qualidade do sono por praticantes de atividade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba. 2015.
física. Os dados de nossa pesquisa em relação
ao número de horas de sono vão de encontro 6-Ferreira, V.; Bento, A.; Silva, M. Consumo
com os apresentados por Cruz, Franco, alimentar, perfil antropométrico e
Esteves, (2017), mostraram que a maioria dos conhecimentos em nutrição de corredores de
corredores de rua (59,52%) apresenta rua. Rev Bras Med Esporte. Vol. 21. Num. 6.
qualidade de sono ruim, enquanto o restante 2015. p. 45-58.
(40,47%) têm uma boa qualidade de sono.
7-Fredericson, M.; Misra, A. K. Epidemiology
CONCLUSÃO and aetiology of marathon running injuries.
Sports Medicine. Vol. 37. Num. 45. 2007. p. 43-
Os resultados desse estudo apontaram 61.
para amplos benefícios de saúde
proporcionados pela realização das corridas de 8-Fonseca, F.; Cavalcante, J.; Almeida, L.;
rua, tais como o aumento da disposição, a Fialho, J. Análise do perfil sociodemográfico,
mudança positiva de humor, qualidade motivos de adesão, rotina de treinamento e
respiratória atenuação da ansiedade e dos acompanhamento profissional de praticantes
sintomas de depressão, emagrecimento, de corrida de rua. Revista Brasileira de Ciência
controle da pressão arterial, e intensificação da e Movimento. Vol. 27. Num. 4. 2019. p. 189-
força muscular. 198.

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REMark – Revista Brasileira de Marketing
e-ISSN: 2177-5184
DOI: 10.5585/remark.v17i3.3583
Data de recebimento: 15/12/2017
Data de Aceite: 10/04/2018
Editor Científico: Otávio Bandeira De Lamônica Freire
Avaliação: Double Blind Review pelo SEER/OJS
Revisão: Gramatical, normativa e de formatação

EVENTO ESPORTIVO OU EXPERIÊNCIA PARA O CONSUMIDOR? UM ESTUDO SOBRE A


MOTIVAÇÃO DO CONSUMIDOR EM COMPARECER A EVENTOS DE CORRIDA DE RUA
Objetivo: O objetivo desse estudo é identificar os fatores motivacionais que levam os corredores a escolher participar
de eventos de corrida de rua.
Método: Para responder ao objetivo foi desenvolvida uma pesquisa quantitativa de caráter descritivo. Elaborou-se um
questionário capaz de responder ao objetivo desse trabalho. O questionário continha afirmações correspondentes a
nove domínios, onde o indivíduo assinalava o grau de concordância com cada afirmação. A amostra foi composta por
243 corredores.
Originalidade/Relevância: Esse estudo poderá contribuir com os produtores de corrida de rua no momento da
elaboração dos eventos, pois, entendendo as motivações de seus consumidores, poderão oferecer um serviço que
atenda às expectativas do público desse esporte e, consequentemente, agregue valor à prova.
Resultados: A dimensão que mais motiva os participantes é o condicionamento físico (4,71), seguido pelo
excitamento (4,44) e o domínio de habilidades (4,40). A dimensão competição aparece na oitava posição (3,63).
Negócios (3,01) foi avaliada como a dimensão que menos motiva os participantes a escolher o evento corrida de rua.
Contribuições teóricas/metodológicas: a motivação desses consumidores e, sim, vários outros aspectos que
comtemplem os fatores que interferem na participação dentro do mercado de corrida de rua.
Contribuições sociais / para a gestão: Esse estudo pode auxiliar no entendimento de um componente específico do
comportamento do consumidor: a motivação. Além disso, o estudo reforça a ideia da busca do consumidor pelo
entretenimento aliado a prática de atividade física.
Palavras-chave: Marketing Esportivo. Comportamento do Consumidor. Eventos Esportivos. Corrida de Rua.

SPORTS EVENT OR CONSUMER EXPERIENCE? A STUDY ON CONSUMER MOTIVATION TO


ATTEND STREET RACING EVENTS
Objective: The aim of this study is to identify the motivational factors that lead runners to choose to participate in
street racing events.
Methods: In order to respond to the objective, a descriptive quantitative research was developed. A questionnaire was
elaborated to answer the objective of this work. The questionnaire contained statements corresponding to nine
domains, where the individual indicated the degree of agreement with each statement. The sample consisted of 243
runners.
Originality / Relevance: This study may contribute to the producers of street racing at the time of the events, because,
understanding the motivations of their consumers, they can offer a service that meets the expectations of the public of
this sport and, consequently, adds value to the proof.
Results: The dimension that most motivates the participants is the physical conditioning (4.71), followed by the
excitement (4.44) and the skill domain (4.40). The competition dimension appears in the eighth position (3.63).
Business (3.01) was rated as the dimension that least motivates participants to choose the street racing event.
Theoretical / methodological contributions: the motivation of these consumers and, yes, several other aspects that
contemplate the factors that interfere in the participation in the street racing market.
Social / management contributions: This study may help in understanding a specific component of consumer
behavior: motivation. In addition, the study reinforces the idea of consumer search for entertainment combined with
the practice of physical activity
Keywords: Sports Marketing. Consumer Behavior. Sporting Events. Street Racing.

Pedro Lucas Leite Parolini1


Ary José Rocco Júnior2
Eduardo De Oliveira Cruz Carlassara3

1
Mestre em Educação Física pela Universidade de São Paulo - USP. São Paulo, Brasil. E-mail:
pedroparolini89@gmail.com
2
Doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP. Professor da
Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo - EEFE/USP. São Paulo, Brasil. E-mail:
aryrocco@usp.br
3
Mestre em Educação Física pela Universidade de São Paulo - USP. São Paulo, Brasil. E-mail:
eoc.carlassara@gmail.com
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Evento Esportivo ou Experiência para o Consumidor? Um Estudo sobre a Motivação do Consumidor em
Comparecer a Eventos de Corrida de Rua
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1 INTRODUÇÃO
plano, em detrimento de um perfil de participante
Um fenômeno esportivo vem chamando a desse tipo de evento, mais voltado para a
atenção, recentemente, no Brasil. Nas grandes participação e entretenimento (Maioral, 2014).
cidades, em qualquer horário, sempre que você Ainda segundo o autor, e para ilustrar esse fato,
passa em um lugar propício para a prática da mais de 60% dos corredores europeus têm entre 30
corrida de rua, você se depara com uma ou mais e 55 anos, são pais de família e apontam a
pessoas correndo. Na verdade, esse fenômeno está flexibilidade para praticar esse esporte como um
se tornando cada vez mais comum. São as pessoas fator determinante em relação a outras
que estão adotando a corrida de rua como um estilo modalidades.
de vida e, independente do horário, clima e local, Um dos aspectos que mais contribui para a
sempre arrumam uma maneira de praticar a grande procura de pessoas pela prática amadora
modalidade. desse esporte é o discurso de “superação pessoal”
Esse crescimento do número de praticantes (Gomes, 2012). Outro aspecto importante, esse
de corrida de rua pode ser explicado por alguns mais recente, é a chamada “disputa de corpos e
aspectos peculiares dessa atividade, como: alta dados nas redes sociais”, mostrando o poder do
acessibilidade à população apta, baixo custo para o ciberespaço nesse ambiente (Maioral, 2014).
treinamento e benefícios para saúde (Weineck, Partindo desse pressuposto, Rocco Júnior
2003). Para quantificar esse crescimento, em 2011, (2006) acredita que esse ambiente, o das redes
a Delloite fez uma pesquisa e identificou que a sociais, propicia a interação e o diálogo. Ainda,
corrida de rua é, hoje, o segundo esporte mais segundo o autor, o ciberespaço não substitui o
praticado no país, tanto entre amadores, quanto mundo real, no entanto, reforça a ideia de interação
entre profissionais, perdendo apenas para o futebol e pertencimento do sujeito. É o local ideal para
(Delloite, 2011). compartilhamento de informações entre corredores,
Paralelamente, a adesão a eventos de como fotos, vídeos, medalhas, superação em treinos
corrida de rua também vem aumentando nos e provas, reforçando, diariamente, o sentimento de
últimos anos, fato comprovado pelo crescimento pertencer a algo ou a algum grupo social.
desde 2004 (FPA, 2016). Nos últimos anos, entre Como observado, o crescimento do
2004 e 2015, somente no estado de São Paulo, o mercado de corrida de rua é evidente e o estado de
número de participantes em eventos de corrida de São Paulo não foge à regra. É possível perceber que
rua cresceu de 146 mil corredores para 724 mil, esse crescimento se deve muito ao aumento da
totalizando um aumento de 500% nesse período prática amadora da modalidade e pelos motivos que
(FPA, 2016). Concomitante a esse aumento do os participantes escolhem correr e participar de
número de participantes em eventos de corrida de eventos de corrida de rua (Gomes, 2012). Diante
rua está o crescimento do número de provas disso, o objetivo desse estudo é identificar os
ofertadas em todo Brasil, em especial, no estado de fatores motivacionais que levam os corredores a
São Paulo. Segundo a FPA – Federação Paulista de escolher participar de eventos de corrida de rua.
Atletismo (2015), o número de provas de Corrida Esses dados podem se tornar fundamentais nas
de Rua nos últimos anos cresceu cerca de 282%, decisões estratégicas dos gestores e produtores de
aumentando de 147 provas, em 2004, para 415, em eventos da modalidade. Para delimitar melhor
2015. nosso estudo, escolhemos trabalhar especificamente
Van Bottenburg, Hover e Scheerder (2010) com o evento Maratona de São Paulo.
creditam esse crescimento da prática de corrida de A Maratona de São Paulo foi escolhida
rua como sendo o segundo running boom, iniciado para o escopo desse estudo por ser o segundo maior
no final dos anos 1990. Comparado com o primeiro evento de corrida de rua do estado de São Paulo,
boom (década de 1970), este vem com maior atrás apenas da tradicional corrida de São Silvestre,
participação de homens e mulheres de meia idade. realizada no último dia do ano. Porém, a São
Ainda, segundo os autores, enquanto no primeiro Silvestre traz, ao lado de corredores profissionais e
boom o caráter competitivo prevalecia, neste amadores, um número grande de participantes que
segundo momento, os corredores optam por correr apresenta, como objetivo único de sua participação,
pelo condicionamento físico, hobby e alívio de a festa, o entretenimento, a confraternização. Foge,
stress. com isso, da proposta deste estudo. Daí a opção,
Nesse sentido as corridas de rua podem para realização desta pesquisa, pelo evento
ser vistas sob três dimensões do esporte, segundo Maratona de São Paulo.
proposta feita por Tubino (2002): educação, lazer e Este estudo propiciará aos gestores e
competição. Nos dias atuais, o caráter competitivo produtores de eventos de corrida de rua um maior
dessa modalidade está sendo deixado para segundo entendimento do comportamento dos seus
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Evento Esportivo ou Experiência para o Consumidor? Um Estudo sobre a Motivação do Consumidor em
Comparecer a Eventos de Corrida de Rua
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consumidores, no caso os corredores, além de Quando incluímos as corridas sem alvará, esse
auxiliar pesquisas futuras sobre as motivações que número chega a 598, contra 502 do ano anterior
levam os indivíduos a praticarem e escolherem (FPA, 2016).
eventos da modalidade. Essa identificação dos Todas essas corridas de rua que
fatores motivacionais poderá contribuir com os aconteceram em 2014 no estado de São Paulo e em
produtores de corrida de rua no momento da todo o Brasil, além de proporcionar momentos de
elaboração dos eventos, pois, entendendo as lazer e saúde, contribuíram para o desenvolvimento
motivações de seus consumidores, poderão oferecer da economia do setor. No ano de 2013, as receitas
um serviço que atenda às expectativas do público oriundas desse tipo de evento esportivo chegaram
desse esporte e, consequentemente, agregue valor à perto dos R$ 4 bilhões (Diário Catarinens, 2013).
prova. Isso demonstra o quanto a corrida de rua está sendo
vista como um negócio nos dias atuais. Entre os
Corrida de Rua e seu mercado stakeholders envolvidos nesse setor, podemos citar
três grandes agentes: instituições que organizam as
Apesar das antigas manifestações do ato de corridas de rua; empresas parceiras; organizações e
correr e do fato do atletismo ter sido desenvolvido profissionais satélites (Campos, Moraes & Lima
na Inglaterra, os autores, em geral, concordam que 2014). Essa relação entre os agentes pode ser
o marco inicial para a corrida de rua aconteceu em visualizada na figura 1.
1896, nos Jogos Olímpicos de Atenas, na Grécia Entre os três grandes agentes desse modelo
(Maioral, 2014). A prova teve a metragem de 40 proposto por Campos et al. (2014), as instituições
quilômetros e homenageava o mensageiro organizadoras de corrida têm como papel nesse
Phidippides, que percorreu distância semelhante sistema produzir e promover os eventos de corrida
entre as cidades de Maratona e Atenas, na Grécia de rua, enquanto as empresas parceiras são
Antiga, para entregar a mensagem da vitória dos organizações interessadas em associar sua marca ao
gregos em uma guerra. Logo após completar sua evento, caracterizando o patrocínio esportivo
missão, Phidippides faleceu. Essa é a principal (Maioral, 2014). Os profissionais e instituições
versão para o surgimento da maratona (Dallari, satélites são agentes que atendem aos praticantes de
2009). corrida de rua, como por exemplo, médicos,
Em relação à chegada desse esporte no nutricionistas, fisioterapeutas, academias e lojas de
Brasil, existem algumas suposições. A mais roupas, entre outras. Oliveira (2010) acredita que o
conhecida é a de que a primeira corrida de rua aumento do número de praticantes fez surgir,
aconteceu em 1912 e foi denominada de “O recentemente, alguns novos stakeholders nesse
Estadinho”, pois fora organizada, muito embora mercado, como as revistas especializadas em
realizada no Rio de Janeiro, pelo jornal Estado de corrida de rua e as assessorias esportivas.
São Paulo (Webrun, 2002). Outra versão é a de que Diante desse contexto cada vez mais
a primeira corrida no país foi realizada na Bahia, no complexo, como não pensar a corrida de rua como
ano de 1906 (Maioral, 2014). um produto? Oliveira (2010) dividiu esse tipo de
De acordo com a CBAt - Confederação evento em dois subprodutos, chamando-os de
Brasileira de Atletismo, as provas da modalidade no corridas convencionais e corridas fashions . O
início do século XX tinham enorme prestígio, sendo primeiro subproduto, as corridas convencionais,
tão importantes quanto as provas de regatas. Ainda são aquelas que estão vinculadas aos valores
segundo a CBAt, a maior prova do Brasil, a Corrida tradicionais da corrida de rua. Os corredores
de São Silvestre, teve sua primeira edição em 1925, participantes são, geralmente, profissionais e
com 60 atletas. No ano de 2013, a corrida contou indivíduos de classes sociais mais baixas. Oliveira
com 22 mil participantes (Globoesporte, 2015). (2010) em sua pesquisa verificou que os
Esse aumento do número de participantes da São participantes dessas provas se dizem “corredores de
Silvestre e de outras corridas pelo Mundo, segundo verdade”. O segundo subproduto, as corridas
Noakes (1991), deve-se a Kennedy Cooper, médico fashions, são corridas com valor de inscrição mais
norte-americano que, em 1968, escreveu um livro alto e que, consequentemente, atraem um público
sobre os benefícios da prática da corrida de rua, de poder aquisitivo mais elevado e, em geral, mais
resultando no primeiro running boom, na década de exigente. Com isso, tais eventos demandam de seus
1970. organizadores uma produção mais elaborada.
A tradicional Corrida de São Silvestre é Nessas corridas, os atletas profissionais são
apenas uma das 361 provas que aconteceram no convidados, porém, sua participação não chega a 1
estado de São Paulo, durante o ano de 2014. Esse % do total de inscritos (Oliveira, 2010).
número representa um crescimento de 11,63% em A Maratona de São Paulo carrega
relação a 2013, contando apenas com as provas alguns dos elementos das corridas fashions citados
chanceladas pela Federação Paulista de Atletismo. por Oliveira (2010), como: alto valor de inscrição,
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Evento Esportivo ou Experiência para o Consumidor? Um Estudo sobre a Motivação do Consumidor em
Comparecer a Eventos de Corrida de Rua
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produção mais elaborada e maior número de Esse comportamento pode se alterar de


corredores amadores do que profissionais. Os consumidor para consumidor, dependendo do seu
corredores amadores que participam da Maratona grau de interesse e envolvimento com determinada
de São Paulo são os agentes que iremos chamar de modalidade. Esse consumo, segundo Funk (2008),
consumidores desse esporte. Em razão disso, é pode ainda afetar consumos de produtos e serviços
necessário o entendimento desse público, pois, são de outras áreas, como roupas, alimentação, filmes,
agentes considerados fundamentais para o mercado todos com alguma ligação com essa prática
running, consumindo produtos e serviços esportiva. Nenhum consumidor é igual. Por
oferecidos por empresas desse segmento, fazendo exemplo, dependendo da sua ligação com o clube,
com que o sistema se mantenha ativo e em alta. atleta ou até mesmo região, alguns torcedores vão a
Para que a demanda de clientes para os produtos e jogos diariamente, enquanto outros vão
serviços oferecidos continue crescendo, é preciso ocasionalmente. Um determinado número de
que os organizadores ofereçam um produto que consumidores está disposto a gastar certa quantia
satisfaça o consumidor. Para o produto satisfazer o em produtos associados àquele esporte, ao contrário
consumidor, é imprescindível, antes de tudo, que de outros consumidores (Redden e Steiner 2000).
suas necessidades sejam entendidas. É esse o ponto Além disso, esse envolvimento pode ser em maior
central deste trabalho: entender o comportamento ou em menor grau, dependendo da época e da
do consumidor do mercado de corrida de rua. performance da equipe ou atleta (Stewart, Smith &
Inicialmente, precisamos conceituar o Nicholson, 2003).
corredor. Na literatura, existem várias definições, Ainda nessa linha, Holbrook e Hirschman
diversos parâmetros para definir o corredor de rua. (1982) afirmam que o comportamento do
Segundo a NSGA – National Sporting Goods consumidor é algo complexo de mensurar, pois,
Association4, os corredores são definidos pela envolve uma interação entre os organismos e o
frequência da prática. Dallari (2009) considera meio ambiente. Os autores reforçam ainda a
como corredor, o indivíduo que, no mínimo, três questão da experiência (sentimentos, diversão,
vezes por semana pratica a modalidade ao ar livre e fantasia) como um dos fatores para delimitar esse
que pretende participar de competições de corrida comportamento do consumidor. Sugere-se então
de rua. No caso deste artigo, optamos pela definição que as pesquisas nessa área devem ir além de
de Maioral (2014), que define corredor como simplesmente estudar o perfil do consumidor sua
aquele que participou de um evento de corrida de forma de consumo, e sim acrescentar aspectos
rua nos últimos 12 meses. hedônicos e sentimentos envolvidos nas diversas
Agora que escolhemos qual definição de formas de consumo de um produto ou serviço.
corredor melhor se encaixa neste trabalho, é Neste estudo, usaremos como fundamentação
necessário entender com mais profundidade o teórica a abordagem multidimensional do
comportamento desse grupo. Qual o perfil desse comportamento do consumidor esportivo, na qual
público? Quais são as principais motivações que os se acredita que o comportamento do consumidor
levam a participar de um evento de corrida de rua? pode ser estudado sobre uma ampla gama de
Esta última, tema central deste estudo, é o que motivações e crenças (Stewart et al., 2003). Essas
pretendemos compreender de forma mais clara ao motivações e crenças são agrupadas em torno dos
final da pesquisa. Nesse artigo o corredor é seguintes fatores: motivações primárias; fator
considerado um consumidor dos eventos de corrida emocional; fator econômico; identificação;
de rua, uma vez que esse passa por um processo de lealdade; foco conectivo; experiência; participação
tomada de decisão de comparecer ou não a esses em jogo. A abordagem multidimensional fornece
eventos, o consome, e posteriormente analisa o uma descrição mais rica desse comportamento do
custo-benefício dessa participação. Para isso é consumidor (Stewart et al., 2003). Para melhor
necessário o entendimento desse comportamento do entendimento, esses oito fatores podem ser
consumidor de eventos esportivos. visualizados no quadro 1, juntamente com os
comportamentos associados a cada um deles.
Comportamento do Consumidor Esportivo

Funk (2008) define o comportamento do


consumidor de eventos esportivos como o momento
de satisfazer suas necessidades e desejos por meio
do seguinte processo: selecionar, comprar, usar e
descartar produtos e serviços relacionados com o
evento em questão.

4 NSGA- Associação Nacional de “Produtos Esportivos”


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Evento Esportivo ou Experiência para o Consumidor? Um Estudo sobre a Motivação do Consumidor em
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Quadro 1 – Abordagem Multidimensional do Comportamento do Consumidor STEWART, SMITH E


NICHOLSON
Fonte: Stewart, B; Smith, A; Nicholson, M .(2003)

Mullin, Hardy e Sutton (2004) acreditam socialização; saúde e boa forma física e diversão e
que existem fatores que influenciam o consumidor festividades (Mullin et al., 2004).
do esporte e podem ser divididos em fatores Quando falamos em motivação para
intrínsecos ou individuais e fatores extrínsecos ou participar de eventos esportivos, tema central deste
ambientais. Para os autores, dentro dos fatores estudo, Maioral (2014) acredita que para que os
individuais, podemos citar a autoimagem, organizadores desses eventos possam ter retorno
características físicas, aprendizagem, percepção e positivo dos participantes, eles devem entender seu
motivação. Entre os fatores ambientais, incluímos comportamento, ou seja, como é seu processo de
valores culturais, classe, grupos de referência tomada de decisão de participar ou não do evento.
(pessoas significativas), gênero, condições Nesse processo de decisão, Hawkins,
climáticas e geográficas, comportamento de Mothersbaugh, David & Best (2007)
mercado das empresas esportivas e estrutura de desenvolveram cinco etapas para melhor
oportunidade esportiva (Mullin, Hardy & Sutton, entendimento dessa escolha. São elas: (1) problema
2004). do reconhecimento da necessidade: o consumidor
Como esse estudo foca nas motivações que tem um desejo ou necessidade que deve ser
levam os corredores a escolherem o evento correspondido; (2) busca da informação: o
Maratona de São Paulo, focaremos mais nesse consumidor busca informações internas (memórias
aspecto da influência no comportamento do passadas) e externas para decidir; (3) avaliação das
consumidor. alternativas: o consumidor analisa as informações
Se seguirmos a teoria da motivação, recolhidas na etapa 2, para melhor escolha; (4)
existem estímulos ambientais que, de certa forma, seleção e participação: o consumidor decide,
ativariam impulsos de satisfazer uma necessidade considerando as opções que possui, de qual evento
subjacente (Mullin et al., 2004). Existem alguns irá participar; (5) avaliação pós-participativa: o
fatores dentro do campo da motivação que consumidor avalia sua participação de acordo com
influenciam o envolvimento esportivo. Entre eles, a expectativa gerada. Se a percepção positiva for
os mais relevantes são a conquista ou a noção de menor que a expectativa, ele está insatisfeito. Caso
vencer; a arte ou o aprendizado de uma nova a percepção positiva for maior que a expectativa ele
habilidade; comunidade ou o sentimento de está satisfeito. Todas essas informações são
extremamente valiosas aos produtores de eventos
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Evento Esportivo ou Experiência para o Consumidor? Um Estudo sobre a Motivação do Consumidor em
Comparecer a Eventos de Corrida de Rua
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esportivos. De posse delas, é possível ter um maior


entendimento do seu consumidor e,
consequentemente, promover eventos que
satisfaçam aos anseios dos seus clientes.
Indo ao encontro, Palhares et al (2012)
identificam que as principais motivações para a
prática da corrida de rua são: socialização; saúde;
indicação médica; ansiedade; aparência; depressão.
Maioral (2014), após um estudo sobre as principais
pesquisas realizadas com corredores de rua no
Brasil, afirma que o principal motivo para a prática
da modalidade é a saúde. O quadro 2 retrata os
principais resultados dessas pesquisas levantadas
por Maioral (2014) a respeito das motivações
encontradas em estudo com corredores de rua no
Brasil. Como pode ser observado, o domínio 5
saúde apareceu como principal fator em quase
todos os estudos (Quadro 2).

5 Domínio ou fator que influencia na escolha em


participar de um evento de corrida de rua
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Evento Esportivo ou Experiência para o Consumidor? Um Estudo sobre a Motivação do Consumidor em
Comparecer a Eventos de Corrida de Rua
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Como é possível perceber, a motivação de rua, optou-se pelo questionário desenvolvido por
para a prática de corrida de rua pode ser avaliada Jung-Hwan (2012), pois, esse teria condição de
por vários aspectos (Scalco, 2010). No caso deste fornecer as informações necessárias para o presente
estudo, verificaremos a motivação para a trabalho. No caso específico deste artigo, o evento
participação de eventos de corrida de rua. Para escolhido para a aplicação do questionário e a
Funk (2008) o passo inicial para o entendimento do coleta de dados foi a Maratona de São Paulo 2015,
comportamento do consumidor esportivo deve ser a realizada dia 17 de maio, na capital paulista.
elaboração de um instrumento de pesquisa válido. O evento Maratona de São Paulo foi
Wann e Branscombe (1993) desenvolveram a Sport escolhido para esta pesquisa porque engloba várias
Fan Motivation Scale6 (SFMS). Kahle, Kambara e provas dentro de um único evento: caminhada de 3
Rose (1996) desenvolveram uma escala para medir km, corridas de 10 e 24 km e a maratona de 42 km.
a motivação dos espectadores nos eventos de Além disso, o evento é um dos principais da
futebol americano universitário. Os autores modalidade no país, transmitido ao vivo pela Rede
identificaram que os fãs eram motivados, Globo de televisão, e que contou, em sua edição
principalmente, pelo desejo de participar de uma 2015, com a presença de 19 mil atletas, entre as
experiência única e de pertencer a um grupo quatro provas oferecidas (Globoesporte.com, 2015).
específico. Posteriormente, Milne e Mc Donald
(1999) utilizaram um instrumento que tentava
responder questões relacionadas ao comportamento 2 MÉTODOS
do espectador e do participante por meio de 12
constructos: assumir risco, redução do stress, O estudo em questão é caracterizado como
agressividade, afiliação, facilitação social, descritivo, que, segundo Gil (2008), tem como
autoestima, competição, realização, domínio de objetivo descrever algum fenômeno ou
habilidades, estética, desenvolvimento de valor e característica de determinada população, no caso, o
auto- realização. Nesses trabalhos citados comportamento dos corredores da Maratona de São
anteriormente é interessante notar que existem Paulo. Uma característica importante desse tipo de
cinco fatores em comum, que são: socialização, pesquisa é a utilização de questionário como
performance, excitação, estima e diversão. Esses instrumento de coleta de dados (Vergara, 2004).
fatores serviram como base para Funk (2003) O universo da pesquisa foi composto por
propor seu instrumento, denominado de SPEED. O corredores devidamente inscritos no evento
instrumento foi utilizado para identificar os motivos Maratona de São Paulo 2015. Dentro desse grupo, a
de adesão dos consumidores nos jogos de futebol amostra foi composta por 243 corredores, inscritos
australiano. O questionário SPEED é a abreviação em todas as quatro provas do evento: caminhada de
de: socialization, performance, excitement, esteem, 3 Km, corridas de 10km e 24 km e a maratona de
diversion7. 42 km. A opção por incluir os participantes da
Posteriormente, Jung-Hwan (2012) propôs caminhada de 3Km se deve pelo fato desse público
um novo instrumento. Nesse instrumento, foram também estar participando do evento em sua
combinados os questionários SPEED, desenvolvido plenitude, e ser um público-alvo potencial para as
por Funk (2003), e o MSSC – Motivation Scale of produtoras de eventos de corrida de rua.
Sport Consumption8, proposto por Trail e James A coleta de dados foi realizada durante a
(2001). Em seu trabalho, Jung-Hwan (2012) “retirada do Kit” do evento. O momento “retirada
identificou as principais motivações que levam os do kit” foi escolhido em razão da disponibilidade
jogadores de golfe a participarem de eventos da dos corredores, durante esse período, para
modalidade. Esse mesmo questionário híbrido foi responder o questionário com mais tempo e maior
utilizado por Maioral (2014) em sua dissertação de tranquilidade, sem a pressão de se concentrar para a
mestrado, na qual avaliou as motivações dos corrida no dia da prova. Com isso, acreditamos ter
corredores que levam os participantes a escolherem excluído das respostas fatores emocionais criados
eventos de corrida de rua. O objetivo desse no momento do evento.
questionário é identificar o principal motivo que faz Antes da aplicação do questionário no
com que os corredores participem de eventos de evento, um pré-teste foi realizado no Campus da
corrida de rua. Como o objetivo desse trabalho é Cidade Universitária, local onde se localiza a
identificar a motivação de consumidores/corredores Universidade de São Paulo (USP), a fim de
em eventos esportivos, no caso específico a corrida verificar a compreensão dos respondentes e a
validade do instrumento de coleta de dados. Esse
pré-teste serviu de base para a construção do
6 Escala de Motivação dos Fãs do Esporte. questionário final.
7 Socialização, desempenho, excitação, estima e diversão.
8 Escala de Motivação do Consumidor do Esporte

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No instrumento aplicado, foram excluídos 6 questionários que não apresentavam


apresentadas 27 afirmações sobre motivações para pelo menos 70% das questões respondidas. Ao
eventos de corrida de rua, para as quais os final, obtivemos uma amostra de 243 corredores.
participantes responderam em uma escala de Likert Para análise dos dados em todas as 27 perguntas,
de 1 (Discordo totalmente) a 5 (Concordo utilizou-se, como medida central, a média
totalmente), o grau de concordância com cada uma aritmética, e, como medida de dispersão, o desvio
delas. Cada três questões do questionário padrão. Posteriormente, para cálculo de cada uma
correspondiam a uma dimensão de motivação para das nove dimensões também foi utilizado a média
participação no evento, somando assim nove aritmética.
dimensões: socialização, performance artística,
estima, excitamento, distração, negócios,
competição, condicionamento físico e domínio de 3 RESULTADOS
habilidades. As questões foram distribuídas em
ordem aleatória, de forma a não existir nenhuma Quando perguntados sobre a motivação
questão da mesma dimensão em sequência, para escolher o evento Maratona de São Paulo,
agrupada. podemos observar, no gráfico 1, as médias de cada
Após a verificação das respostas, entre os um dos nove domínios do questionário.
inscritos na Maratona de São Paulo, foram

Gráfico 1 – Fatores que motivam os consumidores a participarem de um evento de corrida de rua


Fonte: Próprios Autores

A dimensão que mais motiva os Em contrapartida, as afirmações com


participantes é o condicionamento físico (4,71), menor grau de concordância nas respostas, com
seguido pelo excitamento (4,44) e o domínio de médias 2,87 e 2,95, respectivamente, foram:
habilidades (4,40). A dimensão competição aparece “eventos de corrida pedestre me dão a chance de ter
na oitava posição (3,63). Negócios (3,01) foi um relacionamento social com parceiros de
avaliada como a dimensão que menos motiva os negócios” e “eventos de corrida pedestre me
participantes a escolher o evento corrida de rua. ajudam a desenvolver conexões pessoais para meu
Entre as 27 afirmações oferecidas aos negócio ou trabalho”, ambas ligadas à dimensão
respondentes, a que apareceu com a maior média de negócios. As afirmações e seus domínios podem ser
avaliação (4,73) foi “eventos de corrida pedestre me visualizados de forma mais clara na Tabela 1, onde
ajudam a permanecer fisicamente ativo”. Esse item podemos observar a média aritmética e o desvio
pertence à dimensão condicionamento físico, padrão de cada afirmação e à qual domínio a
seguido por “eu me sinto bem depois de praticar assertiva pertence.
eventos de corrida pedestre”, também ligado à
mesma dimensão.
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Tabela 1 – Média e desvio padrão das afirmações relacionadas aos nove domínios de motivação do consumidor
Desvio
Afirmações Domínio Média
Padrão
Eu gosto dos aspectos competitivos dos eventos de
Competição 3,84 0,98
corrida pedestre
Eu gosto do sentimento de ganhar de determinado
Competição 3,06 1,35
indivíduo em eventos de corrida pedestre
Eventos de corrida de rua me dão a oportunidade de
Competição 3,98 1,06
desenvolver meu espírito competitivo
Eventos de corrida pedestre me ajudam a permanecer Condicionamento
4,73 0,71
fisicamente ativo Físico
Participar de eventos pedestres ajuda a me sentir Condicionamento
4,68 0,62
saudável Físico
Eu me sinto bem depois de praticar eventos de corrida Condicionamento
4,72 0,59
pedestre Físico
Eventos de corrida pedestre me ajudam a diminuir a
Distração 4,39 0,8
tensão e ansiedade
Eventos de corrida pedestre dão a oportunidade de dar
Distração 3,82 1,13
uma pausa no meu dia
Eventos de corrida pedestre me ajudam a aliviar meu
Distração 4,38 0,83
stress mental
Eu quero alcançar um objetivo nos eventos de corrida Domínio de
4,39 0,89
pedestre Habilidades
Gosto da sensação de atingir melhores resultados que o Domínio de
4,45 0,85
habitual em eventos de corrida pedestre Habilidades
Eu gosto da sensação de melhorar minhas habilidades em Domínio de
4,48 0,81
eventos de corrida pedestre Habilidades
Participar de eventos de corrida pedestre me traz um
Estima 4,58 0,69
sentimento de autoconfiança
Eventos de corrida pedestre me fazem sentir confiante
Estima 4,25 0,91
sobre minhas habilidades
Eventos de corrida pedestre ajudam a desenvolver meu
Estima 4,31 0,82
potencial
Sinto uma grande alegria ao participar de eventos de
Excitamento 4,71 0,63
corrida pedestre
Acho os eventos de corrida pedestre emocionantes Excitamento 4,3 0,94
Eventos de corrida pedestre são divertidos Excitamento 4,31 0,88
Eventos de corrida pedestre me ajudam com meu
Negócio 3,21 1,27
negócio e/ou carreira profissional
Eventos de corrida pedestre me dão a chance de ter um
Negócio 2,87 1,29
relacionamento social com parceiros de negócios
Eventos de corrida pedestre me ajudam a desenvolver
Negócio 2,95 1,31
conexões pessoais para meu negócio ou trabalho
Performance
Eu acho a corrida pedestre um esporte bonito 4,57 0,76
Artística
Performance
Eu gosto da elegância associada à corrida pedestre 3,52 1,08
Artística
Eu gosto da graciosidade (beleza) associada à corrida Performance
3,68 1,08
pedestre Artística
Eventos de corrida pedestre me dão a oportunidade de
Socialização 4,18 1,02
conhecer novas pessoas
Eventos de corrida pedestre me dão a oportunidade de
Socialização 3,86 1,14
passar o tempo com meus amigos
Eventos de corrida pedestre me dão a oportunidade de
Socialização 3,35 1,32
socializar por meio de redes sociais
Fonte: Próprios Autores
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Comparecer a Eventos de Corrida de Rua
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Maioral (2014), em seu estudo, aplicando fatores pelos quais muitos indivíduos procuram o
o mesmo questionário em corredores de todo o esporte hoje: aliviar a tensão, a ansiedade e o
Brasil, encontrou valores semelhantes: o principal estresse do dia-a-dia, além de proporcionar
motivo para a prática da corrida de rua era o momentos de lazer e de prática corporal saudável.
condicionamento físico (4,5), seguido por domínio Esse domínio, ao qual chamamos de “distração”,
de habilidades (4,3) e excitamento (4,1). Os Palhares et al. (2012) inseriram dentro do termo
resultados desse trabalho coincidem com aqueles “saúde”.
obtidos por Maioral (2014). Dentro desse mesmo contexto, Truccolo et
Truccolo, Maduro e Feijó (2008) em seu al. (2008) encontraram que a principal razão para
estudo sobre fatores motivacionais em adesão a os homens aderirem às corridas de rua com
grupos de corrida de rua, encontaram que 29% das orientação profissional é a diminuição da
mulheres são motivadas pelo fator saúde. No caso ansiedade. Freitas, Santiago, Viana, Leão & Freyre
dos homens, esse número cai para 20%. Para ambos (2007) em um estudo com população idosa,
os sexos, o fator saúde aparece como maior apontaram que os motivos prioritários para a prática
motivador para a participação em eventos dessa de exercício físico é a melhora da saúde e a redução
natureza. Todos esses dados corroboram com do estresse.
Palhares, Bennet, Mazzei & Bastos (2012) que Outra discussão a ser feita neste artigo é
também identificaram o domínio saúde como sobre o perfil dos corredores deste estudo e seu
principal motivo para a participação de pessoas em grau de envolvimento com a corrida de rua. Para
eventos de corrida de rua. isso, as questões como idade, sexo, escolaridade e
Na mesma linha, Casadio, Oliveira e renda foram classificadas como dados sócio-
Coelho (2010) apuraram que o principal motivo demográficos. Para identificar o grau de
para a prática da corrida de rua eram os discursos envolvimento com a corrida de rua, o instrumento
de superação, de fácil acesso ao esporte e de continha três perguntas relacionadas ao tempo
diversão. Nesse mesmo sentido, Nunomura (1998), médio semanal dedicado a treinos da modalidade,
em seu estudo sobre as razões dos indivíduos número de provas já participadas e tempo de prática
permanecerem fisicamente ativos, encontrou o (em anos).
condicionamento físico e a saúde como sendo os Quanto ao sexo dos participantes, a grande
principais motivos. Todas essas pesquisas, maioria foi do sexo masculino (78%). Os resultados
anteriormente realizadas em diversos contextos, são obtidos corroboram com o estudo de Mendonça e
confirmadas pelo nosso estudo. O condicionamento Brito (2012) que encontraram dados semelhantes,
físico permanece como o principal motivo para a com 72,2 % do público corredor masculino. O
adesão de participantes ao evento corrida de rua. estudo dos autores tinha como objetivo analisar o
Quando dividimos os participantes em perfil sócio- demográfico e de características
grupos de acordo com a faixa etária e seguindo a associadas ao treinamento de corredores de rua, em
divisão feita pela Maratona de São Paulo entre suas Sergipe. Isso evidencia que, apesar do segundo
categorias, observamos alguns pontos relevantes. O running boom, na década de 1990, indicar que a
primeiro ponto a ser destacado é que, em todas as participação feminina aumentou, ainda temos os
categorias, a dimensão “condicionamento físico” participantes do sexo masculino como a grande
aparece como principal motivo para participação no maioria em eventos de corrida de rua.
evento. Porém, na categoria que compreende a Quanto à idade dos corredores da amostra,
faixa etária de 20 a 24 anos, a dimensão os participantes tinham uma média de 43,8 anos.
“performance artística” aparece entre os três Palhares et al. (2012) em seu estudo sobre o perfil e
primeiros elementos de motivação, com média preferências dos corredores, encontraram que 24
4,66. dos 89 corredores entrevistados tinham entre 45 e
Outro fato interessante pode ser observado 59 anos.
nas categorias de 40 a 44 anos, 50 a 54 anos e 55 a Em relação ao nível de escolaridade dos
59 anos. Nessas categorias, o domínio “estima” corredores, do total de 222 respondentes, 92 dos
aparece entre os três principais fatores de respondentes tinham Ensino Superior completo, 41
motivação, com médias, respectivamente, de 4,36, tinham Especialização, 35 tinham Ensino Médio, 23
4,51 e 4,56, mostrando que, com o aumento da tinham Mestrado ou Doutorado, 17 tinham Ensino
idade, a corrida de rua se torna um aliado para a Tecnológico, 12 tinham Ensino Fundamental e 2
maior valorização da autoestima do indivíduo. não responderam a essa questão. Em contrapartida,
Para os corredores acima de 69 anos, o Mendonça et al. (2012) em seu estudo, encontraram
domínio “distração” aparece entre os três primeiros que a grande maioria dos corredores tinha como
motivos para a participação em um evento de maior grau de escolaridade o Ensino Médio (37,2
corrida de rua. Esse elemento evidencia um dos %).
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Comparecer a Eventos de Corrida de Rua
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Com relação à renda mensal, foram hora por semana e 10% não responderam. Podemos
encontrados os seguintes valores: 39% dos constatar que quase a metade dos corredores (48%)
participantes possuem renda entre R$ 2.900,00 a R$ dedica, no mínimo, 6 horas por semana em treinos
7.249,00; 22% possuem renda entre de R$ 7.250,00 para participar de eventos dessa natureza,
e R$ 14.4449,00; 16 %, até R$ 1.449,00; 15% entre mostrando que, mesmo sendo um esporte com
R$ 1.450,00 a R$ 2.889,00 e 8% têm renda acima apelo de participação, existe a dedicação dos
de R$ 14.500,00. praticantes em treinos semanais da modalidade.
Quanto ao número de provas de corrida de Por fim, para caracterizar o envolvimento
rua que já haviam participado, 206 dos 243 com a corrida de rua, foi questionado o tempo de
corredores já haviam estado presente em mais de 10 prática da modalidade (em anos) pelos corredores.
provas; 28 entrevistados estiveram presentes entre O resultado ficou assim: 35% dos corredores já
5 e 10 provas; outros 28 entre 1 e 5 provas, e praticam a corrida de rua há mais de 10 anos; 30%
apenas 4 estavam participando de uma corrida de começaram a praticar entre 2 a 5 anos atrás; 21% de
rua pela primeira vez. 5 a 10 anos, 9% de 1 a 2 anos, e 5% de seis meses a
Sobre as horas dedicadas aos treinos para 1 ano. Todos esses dados acerca do perfil dos
corrida de rua, semanalmente, 38% afirmaram participantes desse estudo pode ser melhor
treinar entre 3 e 6 horas; 33% entre 6 e 10 horas; visualizado no quadro 3.
15% mais do que 10 horas; 4% treinam menos de 1

Masculino 78%
Sexo
Feminino 22%

Idade Média 43, 8 anos

Ensino Fundamental 4%
Ensino Médio 16%
Ensino Superior 45%
Nível de Escolaridade Ensino Tecnológico 6%
Especialização 19%
Mestrado ou Doutoramento 9%

Não responderam 1%
Até 1449,00 16%
De 1450 a 2899 15%
Renda Mensal 2900 a 7249 39%
7250 a 14449 22%

14500 ou mais 8%

1 prova 2%

1 a 5 provas 6%
Número de Provas já praticadas
5 a 10 provas 6%

mais que 10 provas 86%


0 a 1 hora 4%
3 a 6 horas 38%
Horas dedicadas aos treinos de
corrida de rua 6 a 10 horas 33%
mais que 10 horas 15%
não responderam 10%

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6 meses a 1 ano 5%
1 a 2 anos 9%
Tempo de prática da modalidade
(em anos) 2 a 5 anos 30%
5 a 10 anos 21%
acima 10 anos 35%

Quadro 3 – Resumo do perfil dos participantes do estudo


Fonte: Próprios autores

4 CONCLUSÃO detrimento de seu papel menor, enquanto corredor


ou atleta. Resumindo, temos um ciclo onde o
O presente estudo apresentou como seu indivíduo treina para participar de uma corrida de
objetivo central identificar os principais motivos rua e, após sair de um desses eventos, sente-se mais
que levam os corredores a participarem de um motivado a treinar para um próximo evento. Nesse
evento de corrida de rua na cidade de São Paulo. tempo, entre uma corrida e outra, o indivíduo
No caso deste estudo, os corredores que começa a perceber os benefícios físicos de uma
participaram da Maratona de São Paulo 2015 prática regular desse tipo de atividade, fazendo com
compuseram o universo de coleta de dados. O que isso se torne um estilo de vida daquela pessoa.
principal motivo identificado pelos 243 Por outro lado, os dados obtidos podem ser
componentes da amostra foi o condicionamento interessantes aos organizadores de eventos de
físico. Isso pode ser explicado pelo alto grau de corrida de rua, pois, como percebemos, os motivos
envolvimento dos respondentes com a corrida de podem se diferenciar, dependendo da faixa etária
rua, pois, como percebemos, a maioria dos dos participantes. Portanto, cabe aos organizadores
participantes entrevistados treina a mais de cinco perceberem esse consumidor e produzirem eventos
anos e no mínimo 6 horas por semana. Com isso, que possam proporcionar satisfação a todos os
esses indivíduos conseguem usufruir dos benefícios envolvidos.
que o treinamento de corrida de rua oferece em Esse estudo pode auxiliar, também, no
longo prazo e um deles é o condicionamento físico, entendimento de um componente específico do
que se torna assim o principal motivo para comportamento do consumidor: a motivação.
continuarem praticando e, consequentemente, Contudo, como sabemos, o comportamento do
participando de eventos de corrida de rua. São consumidor é muito mais complexo e amplo do que
indivíduos que “investem” tempo e recursos os aspectos relacionados à motivação. O processo
financeiros na corrida de rua como forma de de tomada de decisão dos participantes de eventos
melhoria da própria saúde e qualidade de vida. esportivos não deve considerar apenas a motivação
Outro aspecto relevante apontado na desses consumidores e, sim, vários outros aspectos
pesquisa é a dimensão “excitamento”, que aparece que comtemplem os fatores que interferem na
como o segundo principal motivo para adesão à participação dentro do mercado de corrida de rua. É
participação em eventos dessa natureza. Isso essa a principal limitação deste artigo e um convite
reforça o pensamento contemporâneo de que os a que outros pesquisadores procurem contemplar
eventos esportivos “dialogam” com o elementos distintos da motivação para um
entretenimento. O individuo paga a inscrição para entendimento maior do processo de tomada de
praticar esporte e, ao mesmo tempo, entreter-se. decisão em corridas de rua.
Com isso, os eventos de corrida de rua aparecem
como um local interessante para os indivíduos
praticarem o que treinaram durante um determinado REFERÊNCIAS
período. Além disso, os eventos propiciam
momentos únicos, experiências marcantes, e os Campos, T. M.; Moraes, M. B.; Lima, E. (2014).
indivíduos reforçam a ideia de continuar praticando Rede de relação e empreendedorismo na realização
os treinos para participarem de outras experiências de corridas de rua. Encontro de estudos em
ou outros eventos. Esse é um convite para tais empreendedorismo e gestão de pequenas empresas,
indivíduos se divertirem e sentirem toda a emoção VIII., 2014, Goiânia. Anais VIII EGEPE. Goiânia.
dessa experiência única novamente. O evento
corrida de rua assume, aqui, nessa dimensão, o Casadio, P; Oliveira, T; Coelho, E. (2010). Motivos
caráter de produto de consumo do esporte, com o para a prática da corrida de rua orientada e não
participante ocupando o papel maior de orientada por profissionais de educação física.
“consumidor” desse produto esportivo em Coleção Pesquisa em Educação Física- Vol.9, n.6.

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Fatores motivacionais a adesão a grupos de corrida.
Revista Motriz, Rio Claro, v.14, n.2, p. 108-114.

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369 Brazilian Journal of Marketing - BJM
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Motriz, Rio Claro, v.14 n.2 p.108-114, abr./jun. 2008

Artigo Original

Fatores motivacionais de adesão a grupos de corrida

Adriana Barni Truccolo 1


Paula Andreatta Maduro 1
Eduardo Aguirre Feijó2
1
Curso de Educação Física da Universidade Luterana do Brasil, Canoas, RS, Brasil
2
Personal Trainer, Porto Alegre, RS, Brasil

Resumo: O propósito desta investigação foi determinar as razões que levam homens e mulheres a
participarem de grupos de corrida de rua. Estudo com amostragem por clusters, composta por 68 adultos,
sendo 34 homens, com idade variando entre 22 e 57 anos de idade. A coleta dos dados aconteceu em
uma corrida de rua, quando foram percorridas as tendas de assessorias esportivas e solicitado aos
corredores com número de inscrição ímpar, que preenchessem um questionário. Os resultados foram
analisados através do teste t de student a um nível de significância de 5% e mostraram diferenças
significativas entre homens e mulheres. As razões mais importantes para as mulheres aderirem a um
programa com assessoria técnica foram: melhora do condicionamento físico e saúde, apreciar estar ao ar
livre, aumento da auto-estima e melhora da aparência física. Para os homens, as razões mais importantes
foram: diminuição da ansiedade, melhora do condicionamento físico e saúde, redução do estresse,
melhora da auto-estima e apreciar estar ao ar livre. O grupo como fator motivador foi significativamente
mais importante para as mulheres (75%) do que para os homens (40%). O conhecimento das razões que
leva o indivíduo à busca do exercício físico fornece ferramentas ao profissional de educação física para
que elabore programas que promovam a adesão à prática do mesmo.
Palavras-chave: Motivação. Exercício. Corrida.

Motivational factors of adherence to running groups


Abstract: The purpose of this investigation was to determine the reasons for men and women to participate
of street running groups. Study with clusters sample, composed by 68 adults, being 34 men, with age
varying between 22 and 57 years of age. The data collection happened in a street race, when the tents of
sports advisors were visited and requested to the runners with uneven number of registration to fill a
questionnaire. The results had been analyzed through the student t test to a level of significance of 5% and
had shown significant differences between men and women. The reasons most important for women to
adhere to a program with sport advisor were: improvement of physical conditioning and health, appreciate
to be outdoors, increase of auto-esteem, and to feel that physical appearance improved. For the men, the
reasons most important were: to feel itself less anxious, improvement of physical conditioning and health,
form to reduce stress, improvement of auto-esteem and appreciate to be outdoors. The group as a
motivational factor was significantly more important for the women (75%) than for the men (40%). The
knowledge of the reasons that takes the individual to search for a definitive type of exercise supplies the
physical education professional the tools to elaborate efficient programs and promote the adhesion to the
ones.
Key Words: Motivation. Exercise. Running.

Introdução (TIROSCH, 2005), massa corporal (MOUGIOS,


Os exercícios aeróbios, incluindo a corrida, 2006), índice de massa corporal (KAY et al.,
têm sido considerados como um importante 2006) com concomitante aumento nos níveis de
componente de estilo de vida saudável. lipoproteínas de alta densidade (HDL), massa
Recentemente, esta opinião tem sido reforçada corporal magra (COELHO et al., 2005) e taxa
por novas evidências científicas vinculando o metabólica basal (CAMBRI et al., 2006). Estas
exercício aeróbio regular com uma série de alterações podem ser observadas tanto em
benefícios tais como: diminuição na concentração indivíduos sedentários quanto em ativos ou
de triglicerídeos (TG), lipoproteínas de baixa atletas, assim como em pacientes diabéticos
densidade (LDL) e do colesterol total (CT) (VOORRIPS et al., 1993). Desta forma, seja pelo
(SCHAAN et al., 2004), resistência à insulina seu efeito agudo e/ou crônico, o exercício físico
Adesão, Corrida de rua

aeróbio apresenta relação inversa com o distâncias oficiais variando entre 5 e 100 km
desenvolvimento de doenças crônico- (SALGADO; MIKHAIL, 2006).
degenerativas (ARAÚJO et al., 2005).
Pelas suas características, a corrida de rua
Tem sido sugerido que razões psicológicas e pode receber qualquer praticante da modalidade,
sociais também são importantes para a adesão e o corredor não precisa ter necessariamente
de adultos em um programa de exercício e estão uma habilidade específica para participar. Há 10
diretamente relacionadas com: apoio social anos, o atletismo era visto como esporte
(família, esposo (a), profissionais da saúde), praticado, em sua maioria, por atletas
redução da ansiedade e da depressão profissionais. No entanto, com a
(HERBERT; TEAGUE, 1989; MORRIS; SALMON, profissionalização das corridas de rua e o
1994; MCMURDO; BURNETT, 1992). O surgimento das assessorias esportivas, a corrida
conhecimento e a crença dos benefícios que a vem atraindo, cada vez mais, aquelas pessoas
atividade física promove para a saúde podem que não se interessam pela profissionalização e
motivar inicialmente o indivíduo à atividade física que possuem poder aquisitivo maior. Um dos
(SHARPE; CONNELL, 1992). Contudo, fortes indícios é a participação de brasileiros em
sentimentos de bem-estar e divertimento provas internacionais: se em 1982, apenas 2
parecem ser razões fortes para a aderência dos corredores do País foram para a Maratona de
indivíduos em programas de atividade física Nova York, esse número subiu para mais de 500
(MCMURD; RENNIE, 1993). em 2004 (REDE BAHIA DE TELEVISÃO, 2008).
Embora exista um crescimento do público Dessa forma, acredita-se que conhecendo as
consciente dos benefícios fisiológicos, razões de adesão a um programa supervisionado
psicológicos e sociais da atividade física, de corrida de rua, poder-se-á elaborar programas
estimativas revelam que somente 22% dos de treinamento que se adaptem às necessidades
adultos americanos estão engajados em algum do corredor, objetivando, assim, identificar se os
tipo de atividade física diariamente, por um tempo fatores motivacionais que levam indivíduos do
mínimo de 30 minutos; sendo que 54% dos sexo feminino à pratica de corrida de rua são os
adultos americanos exercitam-se esparsamente, mesmos que levam indivíduos do sexo
e 24% da população americana é completamente masculino.
sedentária (PATE et al., 1995); observando-se,
assim, que a aderência à atividade física, ou seja, Metodologia
a adoção e permanência em uma atividade física Modelo do Estudo:
regular é difícil de ser mantida por muitos
O presente estudo é uma pesquisa descritiva
indivíduos.
de delineamento transversal sendo o modelo
Dessa forma, o estudo da motivação torna-se utilizado o Causa-Comparação, também referido
importante para as diversas modalidades como modelo “ex post facto”.
esportivas, sendo a mesma definida por
Amostra: amostragem probabilística por
Weinberg e Gould (2001) como o esforço de uma
“cluster” onde foram sorteados, aleatoriamente,
pessoa a fim de solucionar tarefas, adquirir
20 dos 42 grupos de assessoria técnica esportiva
excelência esportiva, superar obstáculos,
que participaram de uma corrida de rua na cidade
procurar e demonstrar melhor performance do
de Porto Alegre em outubro de 2007. O critério de
que outras pessoas e principalmente sentir-se
inclusão foi o corredor participar de grupo
orgulhoso mostrando seu talento. Na linha que
orientado de corrida há pelo menos seis meses.
define a motivação como uma força interna e
Em cada grupo foram selecionados os corredores
externa, Samulski (2002) cita que a motivação se
com número de inscrição ímpar totalizando 97
caracteriza como um processo intencional, ativo e
pessoas. Das 97 pessoas, dez não concordaram
dirigido a uma meta, o qual depende da relação
em participar do estudo e 19 não preencheram o
de fatores pessoais (intrínsecos) e ambientais
critério de inclusão. A amostra, então, foi
(extrínsecos).
composta por 68 adultos, sendo 34 homens e 34
Atualmente, o critério da Associação mulheres, com idade variando entre 22 e 57 anos
Internacional das Federações de Atletismo/IAAF de idade. Todos os participantes assinaram
define as Corridas de Rua, como as disputadas Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
em circuitos de rua, avenidas e estradas com
Motriz, Rio Claro, v.14, n.2, p.108-114, abr./jun. 2008 109
A. B. Truccolo, P. A. Maduro & E. A. Feijó

A presente investigação foi conduzida no ano parte de grupo de corredores supervisionados por
de 2007 no Rio Grande do Sul com corredores de assessoria esportiva. Para a análise das variáveis
rua integrantes de grupos de corrida. O estudo envolvidas foi utilizada a estatística descritiva,
faz parte de um projeto de pesquisa com idosos, obtendo-se as médias e percentuais de interesse,
desenvolvido na Universidade Luterana do Brasil e o teste t para amostras independentes de
e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa tamanho diferente, a um nível de significância de
com Seres Humanos desta Universidade 5%.
(protocolo # 2006-362H). O instrumento utilizado
foi o inventário de Truccolo (1996), desenvolvido Resultados e Discussão
nos Estados Unidos para o mestrado da autora e Como pode ser visto na tabela 1, a maioria
utilizado nesta pesquisa a fim de determinar as dos respondentes é casada, de raça branca, e
razões que levam corredores de rua a fazerem com bom nível de escolaridade.

Tabela 1. Características sócio-demográficas da amostras

Amostra Mulheres Homens


N=34 N=34
______________________________________________________________________________________
Estado Civil

Solteiro 6 (17,6%) 14 (41,2%)


Casado 20 (58,8%) 18 (52,9%)
Divorciado 8 (23,5%) 1 (2,9%)
Viúvo 0 1 (2,9%)

Raça
Branca 34 (100%) 29 (85,3%)
Preta 0 1 (2,9%)
Pardo 0 4 (11,8%)

Nível De Escolaridade
PG 19 (55,9%) 10 (29,4%)
NSC 12 (35,3%) 14 (41,2%)
NSI 3 (8,8%) 6 (17,6%)
IIGC 0 4 (11,8%)
Onde: PG=pós-graduação; NSC=nível superior completo; NSI=nível superior incompleto; IIGC= segundo
grau completo

Com relação à freqüência semanal da prática significativamente mais importante para as


de corrida, não houve diferença significativa mulheres (75%) do que para os homens (40%)
(p=0,17) entre homens (4,4 ± 1,33 dias) e (p= 0,024).
mulheres (5,1 ± 1,36dias). Por outro lado, pode- A tabela 2 mostra que as razões mais
se observar que os homens correm mais tempo importantes para as mulheres aderirem a um
(64,5 ± 22,7 min.) do que as mulheres (52,9 ± programa supervisionado são: melhora do
7,72 min.), tempo este significativo (p=0,02) a um condicionamento físico e saúde (88,2%),
nível de confiança de 5%. Quando da observação apreciarem estar ao ar livre (82,4%), aumento da
do tempo de prática de corrida, a distribuição dos auto-estima (64,7%) e sentirem que a aparência
dados não foi normal, uma vez que, havia física melhorou (58,5%). Os resultados são
homens e mulheres praticando corrida há muitos semelhantes aos de Truccolo et al. (2007) que
anos, e outros há meses. Dessa forma, encontrou como razões mais importantes para
apresentamos a média e mediana ao invés de mulheres aderirem à atividade física regular: a
desvio padrão. As mulheres praticam corrida a melhora do condicionamento físico e saúde,
um tempo médio de 95,88 meses com mediana apoio do cônjuge, ser divertido e melhora da
de 28 e os homens 57,76 meses com mediana de auto-estima.
33. O grupo como fator motivador foi
110 Motriz, Rio Claro, v.14, n.2, p.108-114, abr./jun. 2008
Adesão, Corrida de rua

Tabela 2. Razões Principais para Mulheres aderirem à corrida supervisionada

EI MI I

Saúde 29(85,3%) 2(5,9%)


Peso 8 (23,5%) 4(11,8%) 3(8,8%)
Aparência 24 (70,6) 7(20,6%)
Sono 7 (20,6%) 7(20,6%) 3(8,8%)
Ansiedade 7 (20,6%) 5(29,4%) 5(29,4%)
Depressão 6 (17,6%) 4(11,7%) 5(29,4%)
Estresse 9 (26,4%) 2(5,9%) 6(17,6%)
Humor 8 (23,5%) 7(20,6% 2(5,9%)
Auto-estima 26(76,5%) 6(17,6%)
Apoio Cônjuge 9 (26,5%) 5(29,4%) 3(8,8%)
Ar livre 14(82,4%) 3(17,6%)
Socializar 6 (35,3%) 1(5,9%) 10(58,8%)
EI=extremamente importante; MI=muito importante I=importante

Os resultados encontrados estão de acordo importantes” estas razões (48,4%). Os achados


com Nunomura (1998) que pesquisou as razões estão de acordo com Tamayo et al. (2001)
para 110 indivíduos permanecerem ativos, sendo quando mencionam que a prática de atividade
as principais o condicionamento físico e saúde, física pode apresentar efeitos de modificação no
bem como manter a forma física. caráter psicológico e social através de mudanças,
reais ou imaginárias, na estética corporal, que
A tabela 3 mostra que as principais razões após os 40 anos começa a gerar insatisfações.
para os homens aderirem à corrida de rua Os resultados desse trabalho também estão de
supervisionada são: sentirem-se menos ansiosos acordo com Freitas et al. (2007), que estudando
(67,7%), melhora do condicionamento físico e 120 idosos ativos encontraram como principais
saúde (64,5%), forma de reduzir o estresse razões para a prática do exercício físico a
(58,1%), melhora da auto-estima e apreciar estar melhora da saúde e a redução do estresse
ao ar livre sendo da mesma forma “extremamente

Tabela 3. Razões Principais para Homens aderirem à corrida supervisionada

EI MI I

Saúde 20(64,5%) 8(25,8%)


Peso 12 (38,7%) 10(32,3%) 6(19,4%)
Aparência 14 (45,2) 7(22,6%) 6(19,4%)
Sono 13 (41,9%) 8(25,8%) 6(19,4%)
Ansiedade 21 (67,7%) 8(25,8%) 5(16,1%)
Depressão 12 (38,7%) 7(22,6%) 7(22,6%)
Estresse 18 (58,1%) 6(19,4%) 4(12,9%)
Humor 14 (45,2%) 10(32,3%) 3(9,7%)
Auto-estima 15(48,4%) 9(29,0%)
Apoio Cônjuge 9 (29,0%) 10(32,3%) 6(19,4%)
Ar livre 15(48,4%) 6(19,4%)
Socializar 6 (19,4%) 1(3,2%) 10(32,3%)
EI=extremamente importante; MI=muito importante I=importante

Conclusão têm sido objeto de muitos estudos (PAZIN et al.,


A participação popular em corridas de rua, no 2008).
Brasil, tem aumentado significativamente nos
Por outro lado, muita informação tem sido
últimos anos, porém os corredores de rua não
publicada chamando atenção para o efeito
benéfico do exercício físico, no sentido de
Motriz, Rio Claro, v.14, n.2, p.108-114, abr./jun. 2008 111
A. B. Truccolo, P. A. Maduro & E. A. Feijó

assegurar condições de bem estar físico, A prática da corrida tem atraído muitos
psicológico e social ao seu praticante. É praticantes devido ao gasto calórico produzido e
crescente a importância da promoção da saúde a aquisição e manutenção de uma aparência
nas nossas sociedades, e as pessoas começam atraente faz das mulheres um público altamente
a entender o papel preventivo do exercício aderente a essa modalidade esportiva, como
(OLIVEIRA et al., 2008). encontrado no presente estudo.
Os praticantes de atividades esportivas e A prescrição do exercício é um aspecto relevante
físicas exercem estas atividades por motivos e que se encontra associado ao da aderência aos
situações diversas. A preocupação com a saúde programas. Se os promotores da saúde desejam
e com o corpo é uma atitude bastante saudável. que as pessoas adiram e permaneçam nos
programas propostos devem, também, promover
No entanto, prender-se a padrões estéticos, atividades que produzam alegria, satisfação e
principalmente corporais, e buscar alcançá-los a mantenham as pessoas interessadas. Acredita-se
qualquer custo pode ser uma grande armadilha que com o conhecimento destas razões tornar-
(SCHUARTZ, 2006). Buscar metas inatingíveis se-á possível a elaboração de programas de
pode gerar grande frustração. É importante atividade física que sejam atraentes e eficazes,
conseguindo atingir um percentual de aderência
lembrar que, na perspectiva da promoção de mais elevado.
saúde, as diferenças precisam ser respeitadas e
as comparações, evitadas. Na presente pesquisa, os fatores psicológicos,
sociais e fisiológicos parecem ser igualmente
O fato do indivíduo, ao realizar exercício, ser importantes para as mulheres. Por outro lado, os
confrontado diretamente com uma dificuldade resultados sugerem que os homens têm no
física ou com um desafio psicológico e o exercício físico uma ferramenta de melhora
conseguir ultrapassar com sucesso, vai provocar psicológica, bem mais importante do que
modificações na imagem corporal do praticante, qualquer outro fator fisiológico ou social.
na sua auto imagem (BOUTCHER, 1993), bem
como no seu sentido de realização. A atividade A aderência à prática da corrida não foi
física permite, desta forma, melhorar os níveis de motivada por uma insatisfação com a imagem
auto-estima, através do desenvolvimento de corporal, mas antes pelo convívio obtido através
competências e de estratégias mais adequadas à da prática da mesma em grupo com outros de
resolução com sucesso de determinadas tarefas. idade e interesses similares. A motivação para a
prática da corrida em grupo também está ligada
O fenômeno da motivação é muito complexo. ao bem-estar dos participantes e não a
Ele se identifica a partir das diferenças motivações diretamente ligadas a alterações no
individuais, é fruto de experiências acumuladas e corpo.
se liga diretamente à história de cada um. Além
das motivações intrínsecas, há os fatores A consciência a respeito do que leva o
extrínsecos ao indivíduo que também o motivam indivíduo a buscar alguma atividade física, ou
às suas ações e escolhas (BERGAMINI, 1993). seja, um objetivo claramente definido, assim
como, a experimentar seus benefícios
O motivo de realização de uma atividade está psicológicos, parece fundamental para mantê-lo
relacionado aos esforços de um indivíduo em consideravelmente motivado e com a auto-estima
dominar uma tarefa, atingir seus limites, superar elevada.
obstáculos, desempenhar melhor que outros e ter
orgulho de seu talento.
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112 Motriz, Rio Claro, v.14, n.2, p.108-114, abr./jun. 2008


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114 Motriz, Rio Claro, v.14, n.2, p.108-114, abr./jun. 2008
FATORES MOTIVACIONAIS DOS PRATICANTES DE CORRIDA DE RUA EM GRUPO

CANCIAN, Queli Ghilardi .1


BOGO, Ariane Patricia.2
ALDERETE , Jorge Luiz de Mendonça Ortellado.3

RESUMO
A corrida de rua pode ser capaz de unir em uma única prática esportiva vários benefícios relacionados aos
aspectos social ou físico. Nos últimos anos observou-se uma explosão do esporte como prática de exercício físico,
atraindo inúmeros indivíduos que buscam a prática por diversas razões, seja para controle de estresse, saúde,
sociabilidade, competitividade, estética ou prazer. Entender o que estimula o ser humano a buscar uma prática de
exercício físico a qual lhe trará satisfação e o ajudará se manter ativo por longos períodos é o que desperta o interesse
em identificar quais são esses fatores. O objetivo o presente estudo foi identificar os fatores motivacionais que levam
os indivíduos a praticarem a corrida de rua. Para a coleta de dados utilizou-se o Inventário de Motivação a Prática de
Atividade Física e Esportiva (IMPRAF-54), construído por Balbinotti e Barbosa (2006) o qual trata-se de um
questionário, que avalia as seis possíveis dimensões associadas a prática regular da atividades físicas e esportivas. A
amostra foi composta por 44 indivíduos de ambos os sexos com idades compreendidas entre 21 e 54 anos. Observou-
se que no grupo estudado a Saúde é o fator que mais motiva os grupos, independentemente de sexo ou tempo de
prática, com o seguinte ordenamento: Saúde, Prazer, Controle de Estresse, Estética, Sociabilidade, Competividade.

PALAVRAS-CHAVE: Corrida de rua, Prática Esportiva, Fatores Motivacionais.

1. INTRODUÇÃO

A corrida é um exercício físico bem completo que envolve praticamente todos os músculos
do corpo, proporcionando ganho de massa muscular e queima de calorias, sendo também um dos
exercícios mais recomendados nos consultórios médicos seja para perca de peso ou promoção de
saúde, além do bem-estar físico e mental (TRUCCOLO; MADURO; FEIJÓ, 2008; RIBEIRO,
2014).
Em uma vida corrida um cotidiano turbulento, nos deparamos com pessoas pelos parques,
avenidas e rua, que se dedicam a prática de uma exercício físico, em especial a corrida de rua, sendo
assim observamos um grande aumento de indivíduos aderindo a corrida de rua como prática de

1
Professora Licenciada em Educação Física, pelo Centro Universitário FAG, Formanda do Curso de Educação Física –
Bacharel, Centro Universitário FAG. E-mail:quelicancian@gmail.com
2
Formanda do Curso de Educação Física – Bacharel, Centro Universitário FAG.
E-mail:Ariane_bgo@hotmail.com
3
Professor Mestre e Orientador do estudo, Docente do curso de Educação Física, Centro Universitário FAG.
E-mail:jorgealderete@fag.edu.br

Anais do 15º Encontro Científico Cultural Interinstitucional e 1º Encontro Internacional - 2017


ISSN 1980-7406
exercício físico, por diversas razões, que as levam a uma regularidade, sejam para controle de
estresse, saúde, sociabilidade, competitividade, estética ou prazer (RIBEIRO, 2014).
Sendo a corrida de rua um esporte de baixo custo e sem a necessidade de materiais
estruturais, torna-se muito acessível não sendo o único fator pelo qual as pessoas buscam a seu
prática. Podemos citar também os benefícios para a saúde, nas prevenções de doenças cardíacas,
prevenção da osteoporose, além da perceptível melhora na aptidão física (TRUCCOLO;
MADURO; FEIJÓ 2008; RIBEIRO, 2014, FURLAN, 2014, BALBINOTTI, 2015).
Existem dois motivos que influenciam à prática do exercício físico, é a motivação intrínseca
a qual esta ligada intimamente a fatores pessoais de cada indivíduo e dos fatores extrínsecos os
quais são relacionados com os fatores ambientais (SAMULSKI, 2002; MASSARELLA e
WINTERSTEIN, 2009).
Os indivíduos podem ser motivados por diferentes razões, sendo o controle de estresse uma
ferramenta capaz de ajudar a controlar a ansiedade e o estresse presentes no cotidiano; a motivação
para a saúde é constituída pela necessidade de se recuperar ou de prevenir doenças, dores e lesões
físicas; sociabilidade é uma dimensão a qual engloba os fatores sociais do indivíduo, ao qual se
refere o contato interpessoal que permite a aceitação, a autoestima e o interesse da permanência no
exercício físico; a dimensão da competitividade engloba os aspectos individuais do ser humano, que
é a competição por interesse ou por circunstância; define-se a estética como uma dimensão vaidosa
pois é a busca pelo corpo perfeito; o prazer está relacionado a sensação de bem estar, e realização
própria, sendo o fator chave determinante para que as pessoas se mantenham por mais tempo
praticando o exercício físico (SALGADO, 2006; STAPASSOLI, 2012; RIBEIRO, 2014;
BALBINOTTI et al., 2015).
O conhecimento a respeito dos fatores que motivam os praticantes de corrida de rua ainda é
limitado, apesar de haver um grande número de grupos de prática de corrida de rua pelo país,
poucos estudos foram realizados com o intuito de identificar o perfil dos praticantes. Embora
existam alguns artigos sobre fatores motivacionais dos praticantes de corrida de rua, as informações
ainda não suprem a necessidade da demanda. Após busca na base de dados Lilacs, Medlaine,
Google Acadêmico utilizando-se os termos perfil motivacional, fatores de motivação, relacionados
a corrida de rua encontrou-se apenas 15 trabalhos que ressaltam o quão explorada necessita ser está
área.
Neste contexto de compreender o indivíduo e os fatores que o motivam, possibilitará ao
profissional de Educação Física, um suporte para que possa adaptar seus treinos de acordo com o

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perfil de cada um dos seus alunos, estimulando o mesmo a atingir seus objetivos e a se manter
dentro de uma prática de exercício físico regular por longos períodos (GONÇALVES, 2011).
Sendo assim o estudo teve como objetivo identificar quais fatores motivacionais são
determinantes para a escolha da corrida de rua como prática de exercício físico em grupos, na
cidade de Cascavel - PR.

2 MÉTODOS

O presente estudo é uma pesquisa descritiva e quantitativa de corte transversal. Participaram


do estudo indivíduos de um grupo praticantes de corrida de rua da cidade de Cascavel - Paraná, que
se caracteriza, por ser um grupo de corrida particular, orientado e desenvolvido por um Profissional
de Educação Física, com finalidade de prática esportiva. A amostra foi composta de 44 indivíduos,
com idades compreendidas entre 21 e 54 anos de ambos os sexos, praticantes deste grupo. Sendo
que todos os participantes da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
A presente investigação foi conduzida no ano de 2017 com corredores de rua integrantes de
um grupo de corrida. O estudo foi conduzido dentro dos padrões éticos, exigidos pelas “Diretrizes e
Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos” (466/12) editadas pela
Comissão Nacional de Saúde, foi também submetido e aprovado ao Comitê de Ética em Pesquisa
do Centro Universitário FAG. Número do parecer: 2.130.396
Para a realização do estudo foi utilizado Inventário de Motivação a Prática Regular de
Atividade Física e Esportiva (IMPRAF-54), construído por Balbinotti e Barbosa (2006) o qual trata-
se de um questionário, que avalia as seis possíveis dimensões associadas a prática regular da
atividades físicas e esportivas, este instrumento de pesquisa e composto por 54 itens, agrupados de
seis em seis. Cada bloco respeita a sequência de ordem dos itens associadas a uma dimensão
motivacional, como mostrado na tabela a seguir.

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Tabela 1- Dimensões motivacional associada aos itens de cada bloco (IMPRAF-54)

Ordem do item de cada Dimensão motivacional Exemplo de item do 1º bloco


bloco associada

1º Controle de estresse Aliviar minhas tensões mentais

2º Saúde Manter minha forma física

3º Sociabilidade Estar com meus amigos

4º Competitividade Vencer competições que participo

5º Estética Manter uma boa aparência física

6º Prazer Me sentir melhor

Fonte: Balbinotti e Barbosa (2006).

Para cada um dos itens do questionário, o sujeito respondeu pontuando conforme uma escala
bidirecional, de tipo likert, graduada em 5 pontos, que inicia do menor grau de motivação que
responde (1) Isto me motiva POUQUÍSSIMO; (2) Isto me motiva pouco; (3) mais ou menos – não
sei dizer – tenho dúvida; (4) Isto me motiva muito; para a praticar atividades físicas ou esportivas,
indo até o maior grau de motivação (5) isto me motiva MUITÍSSIMO para a praticar atividades
físicas ou esportivas. Com 9 blocos, todos contendo seis itens, há no inventário o mesmo número de
itens para cada dimensão motivacional, tornando possível analisar cada dimensão de modo
individual ou de modo comparativo com outras dimensões presentes no instrumento, a
confiabilidade (fidedignidade) e validade de construto deste inventário foram testadas e
demostradas nos estudos de Barbosa (2006), Balbinotti & Barbosa (2006). Além disso, coletou-se
informações sócio demográficas.
Para analisar os dados, as questões do inventário foram organizadas nas seis categorias de
análise, separando-se as pontuações das respostas por dimensão. Os dados foram coletados e
digitados em uma planilha e analisados em software análise estatística, SPSS, versão 22.0 para
Windows.
A análise do resultado de cada dimensão foi efetuada na amostra geral e controlando a
variável sexo. Para verificação da confiabilidade dos dados foi utilizado a escala de verificação que
permitiu a avaliação do nível de atenção do sujeito durante a aplicação, a medida da validade da

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aplicação foi obtida através da análise das diferenças entre as respostas. Para a obtenção dos
resultados em relação a motivação dos indivíduos, participantes da pesquisa foi utilizada as tabelas
de cortes de acordo com o sexo.

RESULTADOS

Inicialmente o projeto de pesquisa tinha como objetivo coletar dados de 32 praticantes


oficialmente inscritos em um referido grupo de corrida, e supreendentemente na data da coleta nos
deparávamos com um aumento de 37,5% no números de inscritos oficiais praticantes do esporte
neste grupo. O que pode demonstrar o crescente aumento da preferência desta prática esportiva
como exercício físico. A amostra então fora composta por 44 indivíduos praticantes de corrida
sendo 20 do sexo masculino e 24 do sexo feminino com idades compreendidas entre 21 e 54 anos.
No intuito de responder de forma adequada e minuciosa à questão central da pesquisa,
realizou-se a exploração dos escores obtidos pelo IMPRAF-54 segundo princípios comumente
aceitos na literatura especializada (BALBINOTTI e BARBOSA, 2006).
Ao analisar os dados coletados obtivemos os seguintes resultados relacionados ao grupo,
expostos no Gráfico 01.

Gráfico 01: Análise descritiva das médias do grupo.

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

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Os resultados encontrados referentes as médias dos fatores de motivação do grupo
apontaram que, a Saúde tem maior importância quando relacionado a prática esportiva de corrida de
rua, obtendo média de 70,48%, seguido da motivação pelo Prazer médias 67,86% deixando em
último lugar o fator de Competividade com apenas 45,55% de escore.
A motivação pode ser caracterizada por ser um processo ativo, intencional e direcionado a
um objetivo, de modo que se torna fundamental para a adesão ou permanecia dentro de uma prática
esportiva (SAMULSKI, 2009; WEINBERG e GOULD, 2001).
A aptidão física, ligada a saúde agrupa características que, em níveis apropriados, permitem
maior energia tanto no trabalho quanto na vida diária seja nas atividades habituais ou no lazer,
proporcionando de forma paralela o menor risco de desenvolver enfermidades ou condições
crônico-degenerativas, geradas pela inatividade física (NAHAS, 2003).
Segundo Ribeiro (2014), pode-se afirmar que o prazer nada mais é do que o fator chave
determinante para que as pessoas se mantenham por mais tempo praticando o exercício físico.
Quando citado os benefícios do exercício físico Saba (2001) destaca que os aspectos
psicológicos se originam do prazer obtido através de uma atividade realizada e posteriormente o
bem-estar, os quais resultam da satisfação das necessidades ou do sucesso no desempenho das
habilidades em desafio.
Quando avaliado apenas o sexo masculino, que corresponde à 45,5% do grupo, totalizando
20 indivíduos, observamos que a Saúde permanece sendo o fator de maior influência no grupo do
sexo masculino atingindo uma média de 71,05% seguido do prazer com 67,55%, diferente da
análise do grupo, o sexo masculino aponta a sociabilidade como fator de menor importância com
score de apenas 39,2%, como se observa no gráfico 02.

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Gráfico 02: Análise descritiva das médias do sexo Masculino.

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

A organização mundial da saúde definiu saúde em sua constituição com “um estado de
completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas em ausência de doença ou
enfermidade (DALLARI, 2009, p.84). A saúde é um estado de vitalidade e energia ao qual dá
condições ao indivíduo de suportar situações de emergência sem demostrar cansaço em excesso
(STAPASSOLI, 2012).
A saúde está constituída da necessidade do indivíduo em buscar a manutenção do seu estado
físico, mental e social, de modo que possa correr atrás dos referidos prejuízos, ocasionados por uma
vida desregrada e descuidada, sem pratica de atividades física e alimentação inadequada, esses
fatores geram nos indivíduos uma necessidade de se recuperar ou de prevenir de doenças, dores,
lesões físicas em busca de uma vida com mais qualidade e longevidade.
O grupo representado pelo sexo masculino aponta que a saúde e o fator que mais motiva o
grupo para que os, mesmos se envolvam em uma prática de esporte, seguido pelo prazer que
complementa o desejo em buscar atingir o desejo pessoal que cada um alimenta, pois, toda
motivação e dirigida em função de conquistar um objetivo intimo proposto por cada um.

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O grupo do sexo feminino representa 54,5% da amostra, perfazendo um total de 24 pessoas.
A análise aponta que o fator motivacional que mais estimula esse grupo continua sendo a Saúde
com escore de 70% seguido pelo Prazer com 68,13 %, trazendo em último lugar o fator
competividade com apena 44,79% de motivação, dados que se assemelham com os resultados
obtidos pela amostra geral, como oberva-se no gráfico 3.

Gráfico 03: Análise descritiva das médias do sexo Feminino

Fonte: Elaborado pela Autora (2017)

A prática de exercício físico relaciona-se positivamente com os benefícios associados à


saúde de cada indivíduo em diferentes períodos etários, de modo que são reconhecidas por
inúmeros estudos disponibilizados na literatura (BAUMAN, 2004; GONÇALVES, 2011;
GUEDES; LEGMANI; LEGMANI, 2012,)
A motivação relacionada ao “prazer pelo exercício” segundo diversos autores está ligada aos
benefícios psicológicos proporcionados pela prática regular de exercícios físicos, de modo que o

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prazer se destaca quando o indivíduo e testado em relação a sua motivação pelo esporte praticado
(BAPTISTA, 2001; ZANETTE, 2003; PEREIRA e BERNARDES, 2005; ZANETTI et al., 2007).
A aptidão física relacionada a Saúde, está em oferecer alguma proteção para os distúrbios
orgânicos ocasionado gerados por distúrbios alimentares e uma vida sedentária sem qualquer prática
de exercício físico (LIZ et al. 2010).
De acordo com a definição de Saúde e Prazer citado acima por diversos autores cria-se uma
compreensão a nível da motivação do grupo feminino, lembrando sempre que cada indivíduo
indiferente do sexo, classe social, raça ou cor possui uma motivação própria, nesta análise os dados
apontaram que a motivação do sexo feminino pela pratica do esporte em questão, e a Saúde seguido
pelo Prazer, fatores que se complementam enquanto estimulo a prática do esporte.
O gráfico 04, traz os dados comparativos das médias do grupo divididos por sexo, de modo
que se possa ter uma melhor visualização das diferenças obtidas entre os grupos.

Gráfico 04: Análise descritiva da médias comparativa entre sexo.

Fonte: Elaborado pela Autora (2017).

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Através do teste Unidirecional Anova Bonferoni, obtivemos que os dados analisados
apresentam similaridades entre si, exceto a motivação a sociabilidade que apresenta um grau de
significância de 0,014, que comprova diferença significativa entre os grupos. Apresenta-se os
seguintes resultados CE 0,978; SA 0,898; CO 0,831; ES 0,856; PR 0,944 a análise demostra que
existe similaridades entre os dados dimensões citadas, quando comparadas entre os sexos. Níveis de
significância abaixo de 0,05 aponta que as médias são diferentes, significância maior que 0,05
demostra que as médias são similares (GOMES, 2000; OLIVEIRA, 2008).
Aos observamos o grupo em sua totalidade, observamos que o mesmo apresentava
indivíduos com diferentes tempo de prática esportiva, deste modo analisamos a motivação do grupo
dividido em grupos de tempo de prática que inicia-se de 1 a 6 meses, de 6 a 12 meses, 12 a 24
meses, e por fim praticante com tempo de atividade superior a 25 meses as quais se enquadram as
pessoas que tem o esporte como parte de sua rotina. Observa-se a comparação com o percentil entre
os indivíduos, conforme tabela 1.

Tabela 01. Análise descritiva das dimensões quanto ao tempo de prática esportiva.

TEMPO_PRÁTICA CE SA SO CO ES PR

1 a 6 meses Média 57,00 68,08 43,33 34,17 53,25 79,58

N 12 12 12 12 12 12

6 a 12 meses Média 57,86 62,86 44,29 37,86 47,14 56,43

N 7 7 7 7 7 7

12 a 24 meses Média 63,80 82,60 91,20 64,80 74,60 76,60

N 5 5 5 5 5 5

A cima de 25 meses Média 64,40 71,55 51,05 50,25 55,75 62,65

N 20 20 20 20 20 20

Total Média 61,27 70,48 52,43 45,55 55,84 67,86

N 44 44 44 44 44 44

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

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A análise descritiva das médias apontam que o nível de iniciante tem o prazer como
principal dimensão de motivação com 79,58%, seguido pela saúde com 68,08%, dados opostos dos
grupo de níveis intermediários que apresenta a Saúde como fator de dominância com 62,86%, em
segundo lugar o Prazer com 56,43%, dados que se consolidam nos níveis maduros e veteranos
apontando a Saúde seguidos pelo Prazer, como fatores que mais estimulam o desenvolvimento da
corrida de rua enquanto prática de exercício físico.

DISCUSÃO DE RESULTADOS

A constante procura pela qualidade de vida talvez seja o maior atrativo que a corrida de rua
possa oferece, isto porque o ato de correr na rua não é apenas um exercício físico, mas uma forma
de compreender o corpo e o movimento em um contexto sociocultural (AUGUSTI, 2011; QUEIRO,
2014). A partir do momento em que o indivíduo desenvolve um desejo de praticar um esporte os
benefícios correlacionados a saúde, não são mais a única razão pela qual se procura praticar o
exercício físico, sendo as recompensas inerentes aos sentimentos positivos vivenciados
(FERREIRA, 2009; RODRIGUES, 2012; FONSECA,2012).
A prática da corrida de rua pode ser motivada por diversas razões, as pessoas podem correr
simplesmente para melhorar algum aspecto da sua vida, seja ele para promoção de saúde, estética,
qualidade de vida ou bem-estar. Os motivos são variados e cada praticante tem sua motivação
específica, e para tentar compreender o que motiva as pessoas a buscar a corrida de rua como
prática esportiva, temporária ou permanente estimulou alguns estudos em torno da questão expostos
seus resultados abaixo por alguns autores em comparação com a atual pesquisa.
Em estudos realizados por Ribeiro (2014) o qual tinha por objetivos descrever o perfil
motivacional pela prática esportiva em corredores de rua de Porto Alegre, utilizando como
parâmetro para a coleta dos dados o Inventário de motivação a prática esportiva, obtendo uma
amostra estabelecida por 34 indivíduos praticante de corrida de rua, com idades entre 19 e 57 anos
de ambos os sexos. Os resultados encontrados pela pesquisa apontaram a seguinte ordem de
significância 1º) Prazer; 2º) Saúde; 3º) Controle de stress; 4º) Estética; 5º) Sociabilidade e 6º)
Competitividade. Quando a análise da pesquisa foi feita por divisão de sexo o perfil motivacional se
manteve.
Em estudos realizados por Tomazini e Silva (2014), os quais tinham por objetivo analisar o
perfil motivos que levam a pratica regular de corrida de rua, assim como identificar os níveis de

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conhecimentos de corredores não profissional sobre seus benefícios. Na pesquisa conduzida com
60 corredores (40 homens e 20 mulheres) com idade média de 38,6 anos. Dentro da análise dos
resultados observou-se que a amostra apresentou alto grau de escolaridade, frequência semanal de
treinamento entre 3 e 7 vezes por semana. Os principais motivos que fizeram com que estas
pessoas começassem a correr foram: buscar bem-estar psicológico, perde peso/emagrecer e aliviar
o estresse.
Segundo estudos realizados por Balbinotti (2015), tiveram por objetivos testar se existem
diferenças no perfil motivacional de dois grupos de corredores de rua. Com diferentes tempos de
pratica: Grupo adesão (até um ano de prática) e grupo permanência (mais de um ano de pratica). A
amostra contou com 62, praticantes de ambos os sexos e com idades entre 18 e 68 anos, que
responderam o inventario de motivação a pratica de atividade física, aonde as dimensões que se
destacaram foram (saúde, prazer e controle de estresse), independente do tempo de pratica,
respeitando a mesma ordem, a conclusão principal é que essas são as dimensões que melhor
representam os motivos de adesão e permanência a corrida de rua. Porém as dimensões
sociabilidade e competitividade são significante mais importante para o grupo permanência.
Em estudos realizados por Furlan (2014), tiveram por objetivos analisar os fatores
motivacionais que levam a prática de corrida de rua por mulheres com idade entre 20 e 40 anos na
cidade de Curitiba/Pr. Utilizado como metodologia o questionário (IMPRAF-54), obtendo como
resultado os seguintes dados: Saúde; Estética; Controle do estresse; Prazer; Sociabilidade e por
fim Competitividade, nesta ordem na importância.
Quando comparados os estudos realizados pelos autores citados acima encontramos maior
proximidade dos dados encontrados pela pesquisa conduzida por Balbinotti (2015) aonde a atual
pesquisa aponta o seguinte ordenamento dos fatores motivacionais relacionados ao grupo: Saúde;
Prazer Controle de Estresse; Estética; Sociabilidade; Competividade. Os resultados obtidos dentro
deste estudo apontam que a Saúde e a dimensão de maior importância para o grupo quando
avaliado em sua totalidade, deixando em segundo lugar a motivação pelo Prazer, sendo a
Competitividade o fator de menor influência dento do grupo, nas divisões por sexo a análise
demonstram similaridades entre a dimensão de maior motivação mantendo a Saúde e o Prazer
como fatores de maior significância, o sexo masculino aponta que a Sociabilidade como sendo o
fator que menos influencia na motivação da prática do esporte, enquanto o sexo feminino aponta
baixos nível motivação para a Competitividade.

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Observamos também que existe diferença na motivação dos praticantes do esporte de
acordo com o tempo de prática, os quais nos grupos de prática de 1 a 6 meses o “Prazer” se
sobressai as demais dimensões, já nós demais grupos de tempo de prática existe uma dominância na
motivação pela “Saúde”. Balbinotti (2015), ao estudar o tempo de prática dos corredores de rua cita
que não existe diferença entre os grupos por tempo de prática, mas que ao classificar o grupo de
permanecia que se refere aquele grupo que tem a pratica do esporte como rotina, sendo praticantes
da atividade acima de 25 meses, os fatores de motivação mudam tornando-se a “Sociabilidade” o
fator de dominância seguido da “Competição”, o atual estudo constanta que no grupo de
permanência, que são aqueles praticantes com tempo superior a 25 meses, a “Saúde” continua
predominante, seguida pelo “Prazer”.

CONCLUSÃO

O atual estudo oferece uma condição de ampliar os conhecimentos a partir dos resultados
apontados nesta produção científica elegida no campo da Educação Física, identificando através de
uma pesquisa de campo dados que comprovem os motivos pelos quais as pessoas buscam a prática
de exercícios físicos. Sob esta ótica, estudos deste caráter constituem-se em um instrumento a ser
adotado, levando em conta a possibilidade de aprendizado e construção crítica.
A importância deste estudo está no conhecimento adquirido a respeito da percepção do
indivíduo quanto as suas necessidades, sendo de fundamental importância, identificar os principais
motivos de aderência seja pela busca pela saúde, aparência idealizada, socialização, melhoria da
condição física, bem-estar e prazer proporcionado pela prática. De modo que a corrida de rua por
sua vez tenta favorecer a toda população, sejam jovens, adultos ou idosos, uma contribuição
significante nas alterações do humor, ansiedade, agressividade, na depressão, contribuindo de forma
positiva na autoestima e na sua autoimagem de si próprio.
Respondendo o propósito deste estudo temos que a “Saúde” é o fator que mais motiva os
grupos desta amostra, independentemente de sexo ou tempo de prática, seguindo o seguinte
ordenamento: saúde, prazer, controle de estresse, estética, sociabilidade e competividade.
São vários os autores que apontam que a motivação para a prática de esportiva está
relacionada diretamente com a saúde, isto porque Saúde não significa apenas estar livre de
enfermidades, mas sim de possuir uma condição emocional, social estável, sendo o lazer e a
qualidade de vida parte integrante para a promoção deste conceito de saúde (NAHAS, 2003;

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BAUMAN, 2004; DALLARI, 2009, p.84; SALCEDO, 2010; GONÇALVES, 2011; GUEDES;
LEGMANI; LEGMANI, 2012, STAPASSOLI, 2012; RIBEIRO, 2014; BALBINOTTI, 2015).
Na constante busca pela de um estilo de vida ativo e saudável, o profissional de Educação
Física deve estimular a prática de exercícios físicos, e para tal é necessário conhecer profundamente
os alunos, o que deve ser uma prioridade em sua atuação.
Afim de compreender melhor os fatores que influenciam de forma positiva os indivíduos a praticar
uma exercício físico de forma constate e evolutiva, sugere-se que novas pesquisas sejam realizadas em torno
dos fatores motivacionais do praticantes de corrida de rua em grupo ou praticantes individuais, de modo que
a análise seja realizada por classificação de idade e sexo, diferentemente da atual pesquisa que se utilizou
apenas de classificação por sexo.

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FATORES MOTIVACIONAIS PARA A PRÁTICA DE CORRIDA DE RUA


NA CIDADE DE CAXIAS DO SUL-RS

Daiane Cassol1, Fernanda Bissigo Pereira2

RESUMO ABSTRACT

Introdução: Entre as atividades físicas mais Motivational factors for the street race practice
praticadas no mundo, a corrida de rua in the city of Caxias do Sul-RS
destaca-se por sua ascendência e vem
crescendo muito nos últimos anos. É uma Introduction: Among the most practiced
atividade que não faz distinção de sexo, idade physical activities in the world, street running
e classe social e sua prática, assim como as stands out for its ancestry and has been
outras atividades físicas, proporciona muitos growing a lot in recent years. It is an activity
efeitos benéficos à saúde. Compreender os that does not distinguish between sex, age and
motivos que levam as pessoas a praticar social class and its practice, like other physical
corrida de rua é importante para manter a activities, provides many beneficial health
mesma atraente ao praticante. Objetivo: effects. Understanding the reasons why people
Descobrir quais são os aspectos motivacionais practice street racing is important to keep it
para a prática de corrida de rua em atletas attractive to the practitioner. Objective: To find
amadores de Caxias do Sul-RS. Materiais e out what are the motivational aspects for the
métodos: Estudo observacional com corte practice of street running in amateur athletes
transversal obtido por meio de amostra não from Caxias do Sul-RS. Materials and
probabilística por conveniência. Foram methods: Observational cross-sectional study
incluídos amadores de corrida de rua de obtained using a non-probabilistic sample for
ambos os sexos, maiores de 18 anos e convenience. Street race amateurs of both
participantes de algum grupo de corrida. Para sexes, over 18 and participants in a running
a coleta dos dados foi utilizado um group were included. For data collection, a
questionário IMPRAFE-132 autoaplicável self-administered IMPRAFE-132 questionnaire
composto por 132 itens relacionados à composed of 132 items related to motivation
motivação. As características was used. Sociodemographic characteristics
sociodemográficas foram obtidas por meio de were obtained through a standardized
questionário padronizado Resultados e questionnaire Results and Discussion: 52
Discussão: Participaram do estudo 52 atletas amateur athletes aged between 18 and 60
amadores com idade entre 18 e 60 anos. A years participated in the study. Most
maioria dos participantes relataram a Saúde participants reported Health (81.17 ±10.06) as
(81,17 ±10,06) como maior motivação para the greatest motivation for running, followed by
realizar a corrida, seguida do Prazer (80,56 Pleasure (80.56 ±8.53). Conclusion: the main
±8,53). Conclusão: os principais aspectos motivational aspects for the practice of street
motivacionais para a prática de corrida de rua running among amateur athletes were Health
entre os atletas amadores foram a Saúde e o and Pleasure.
Prazer.
Key words: Street running. Physical exercise.
Palavras-chave: Corrida de rua. Exercício Motivation. Health.
físico. Motivação. Saúde.

E-mail dos autores:


fernanda.pereira@fsg.edu.br
daianecassol@hotmail.com
1 - Educadora Física, Pós-graduanda em
Nutrição Esportiva e Fisiologia do Exercício do Autor Correspondente:
Centro Universitário da Serra Gaúcha-FSG, Fernanda Bissigo Pereira.
Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil. fernanda.pereira@fsg.edu.br
2 - Nutricionista, Docente do Centro Rua Fabio Antônio Cavagnolli nº317 ap 302.
Universitário da Serra Gaúcha-FSG, Caxias do Caxias do Sul-RS, Brasil.
Sul, Rio Grande do Sul, Brasil. CEP: 95032-747.

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INTRODUÇÃO Nessa perspectiva, este estudo tem o


objetivo descobrir quais são os aspectos
Entre as diversas categorias motivacionais para a prática de corrida de rua
relacionadas à prática de exercícios físicos, a em atletas amadores de Caxias do Sul-RS.
corrida de rua teve grande crescimento, tanto
no Brasil quanto no mundo. É possível supor MATERIAIS E MÉTODOS
que isso ocorreu, pois cada vez mais as
pessoas querem sair do sedentarismo, A pesquisa está caracterizada como
participar de grupos, perder peso ou até um estudo observacional com corte
mesmo por recomendações médicas. transversal, realizado com amadores
Não há informações disponíveis participantes de grupos de corrida de rua de
acerca da quantidade exata de indivíduos que Caxias do Sul-RS.
praticam a corrida de rua no Brasil, porém, A amostra foi não probabilística obtida
estimativas baseadas nos inscritos em por conveniência, composta por amadores de
corridas de diferentes distâncias, apontam, de corrida de rua que aceitaram voluntariamente
forma imprecisa, entre dois e cinco milhões de participar da pesquisa.
pessoas (Dias, 2017). Entre os critérios de inclusão
Dados da Federação Paulista de considerou-se amadores de corrida de rua de
Atletismo, mostram que apenas no Estado de ambos os sexos, maiores de 18 anos, que
São Paulo, registrou-se aumento de mais de fazem parte de algum grupo de corrida de rua
200% nos últimos dez anos. Além disso, o de Caxias do Sul-RS e que estão inclusos no
aumento na quantidade de publicações que grupo de bate-papo via aplicativo WhatsApp
oferecem desde manuais para treinamento de do grupo de corrida.
corredores até mesmo a tentativa de Foram considerados critérios de
compreender subjetivamente a experiência exclusão o não preenchimento dos
dos maratonistas também indica esse instrumentos de pesquisa, idade inferior a 18
crescimento. anos e não praticantes de corrida de rua em
Há algum tempo, a corrida era Caxias do Sul/RS.
considerada um evento específico para os O projeto foi aprovado pelo Comitê de
corredores e tinha como objetivo a competição Ética (CEP) do Centro Universitário da Serra
(Rojo e colaboradores, 2017). Gaúcha (FSG) sob o parecer nº 3.503.168,
Atualmente evidencia-se um aumento juntamente com o Termo de Consentimento
também no número de indivíduos que não Livre e Esclarecido (TCLE).
buscam a modalidade apenas como esporte, Para a coleta de dados foi utilizado
mas também como uma maneira de socializar, como ferramenta o Inventário de Motivação a
manter a saúde física e mental, estética e Prática de Atividades Físicas ou Esportivas
prazer, o que a torna com diversas práticas, (IMPRAFE-132) (Balbinotti, 2013).
maneiras e significados sociais (Balbinotti e Trata-se de um instrumento que avalia
colaboradores, 2015; Gratão e Rocha, 2016). as seis possíveis dimensões associadas a
A motivação para a prática de motivação para a prática regular de atividade
atividade física regular pode ser avaliada por física (controle de estresse, saúde,
seis dimensões diferentes, mas com relação sociabilidade, competitividade, estética e
entre si. São elas: controle de estresse, saúde, prazer).
sociabilidade, competitividade, estética e Esse instrumento é composto por 132
prazer. E os motivos que levam as pessoas a itens agrupados seis a seis. Cada bloco
buscarem a corrida de rua, permeiam duas respeita a sequência de ordens dos itens
vertentes, a motivação intrínseca e a associadas a uma dimensão motivacional.
motivação extrínseca (Balbinotti e O tempo de prática esportiva e as
colaboradores, 2015). características sociodemográficas foram
Por mais que haja indícios de que a obtidas por meio de questionário padronizado
prática de atividade física e esportiva seja composto por questões elaboradas pela
motivada por fatores extrínsecos e intrínsecos, pesquisadora. Os instrumentos de coleta de
ainda não é clara a compreensão dos fatores dados foram digitados na plataforma Google
motivacionais que levam os indivíduos a forms e enviado para os amadores de corrida
aderirem à prática da corrida de rua, sendo de rua via aplicativo de celular WhatsApp.
relevante uma abordagem mais abrangente. Na análise estatística, as variáveis
categóricas foram descritas por frequência

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bruta e relativa. As variáveis numéricas foram 36 a 45 anos (38,5%). A maioria dos


descritas por média e desvio padrão (DP). participantes tem escolaridade superior
Verificou-se a normalidade das incompleto ou completo (82,7%), 46 atletas
variáveis numéricas por meio do teste de amadores (88,5 %) são profissionais liberais e
Shapiro-Wilk. Realizou-se o Teste t de Student 57,7% são casados.
e ANOVA para amostras independentes, com A maioria dos participantes relataram
o objetivo de identificar a diferença das médias praticar corrida de rua por um ano ou mais
entre os grupos avaliados. (90,4%), bem como 92,3% afirmaram correr
Realizou-se a análise de correlação de três vezes por semana ou mais, com uma
Pearson, em dados paramétricos, objetivando média de 3,88 ± 1,19 vezes de corrida por
identificar a relação entre a idade e a semana. Dos 52 atletas, 44 (84,6 %) praticam
frequência de corrida por semana com os outro exercício físico paralelo a corrida.
fatores motivacionais para a prática de corrida, Na tabela 1 são apresentadas as
obtidos por meio do Inventário de Motivação à médias referentes ao IMPRAFE-132, o qual
Prática de Atividades Físicas ou Esportivas fornece dados sobre as motivações para a
(IMPRAFE-132). realização do exercício.
As análises foram realizadas por meio Desta forma, observa-se que a maioria
do programa Statistical Package for the Social dos participantes relataram a saúde (81,17
Sciences (SPSS), versão 25.0. Para todas as ±10,06) como maior motivação para realizar a
análises estatísticas considerou-se nível de corrida, seguida do prazer (80,56 ±8,53).
significância de 5% (p≤0,05). No entanto, a sociabilidade foi a menor
motivação identificada entre os atletas
RESULTADOS amadores (43,46 ± 10,96), e a segunda menor
motivação foi a competitividade (45,35 ±8,63).
Participaram da pesquisa 52 atletas Com a figura conseguimos analisar
amadores de corrida de rua da cidade de esses percentuais e o número dos
Caxias do Sul-RS, prevalecendo o sexo participantes em cada fator de motivação
feminino (55,8%) e indivíduos com idade entre (Figura 1).

Tabela 1 - Descrição dos fatores motivacionais para a prática de corrida por meio dos domínios do
Inventário de Motivação à Prática de Atividades Físicas ou Esportivas (IMPRAFE-132) em atletas
amadores da cidade de Caxias do Sul-RS, 2020, (n=52).
Variáveis Média ± DP
Controle de estresse 61,40 ± 12,46
Saúde 81,17 ± 10,06
Sociabilidade 43,46 ± 10,96
Competitividade 45,35 ± 8,63
Estética 63,60 ± 8,41
Prazer 80,56 ± 8,53
Legenda: RS - Rio Grande do Sul. DP - Desvio Padrão. Variáveis foram descritas por média e desvio
padrão.

Figura 1 - Distribuição das médias dos fatores motivacionais para a prática de corrida por meio dos
domínios do Inventário de Motivação à Prática de Atividades Físicas ou Esportivas (IMPRAFE-132)
em atletas amadores da cidade de Caxias do Sul-RS, 2020, (n=52).

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Embora não tenha sido observada Há uma pequena diferença entre os


diferença estatística entre as médias dos sexos, nas variáveis de motivação saúde e
domínios de motivação para realizar esportes estética, onde para os homens a saúde se
e o sexo, destacam-se como maiores médias destacou um pouco mais, e para as mulheres
observadas, entre as mulheres, a média de foi a estética que teve um valor maior que dos
prazer (80,34 ±9,20) e saúde (79,70 ±10,16). homens, entretanto, não houve diferença
Quanto aos homens, a maior média significativa (Figura 2).
identificada foi referente ao domínio de saúde
(83,04 ±9,84) (Tabela 2).

Tabela 2 - Descrição dos fatores motivacionais para a prática de corrida por meio dos domínios do
Inventário de Motivação à Prática de Atividades Físicas ou Esportivas (IMPRAFE-132) em relação ao
sexo em atletas amadores da cidade de Caxias do Sul-RS, 2020, (n=52).
Sexo
Variáveis Média ± DP p-valor*
Feminino Masculino
Controle de estresse 61,17 ± 13,50 61,70 ± 11,32 0,882
Saúde 79,70 ± 10,16 83,04 ± 9,84 0,235
Sociabilidade 43,28 ± 12,74 43,70 ± 8,47 0,892
Competitividade 45,41 ± 8,28 45,26 ± 9,24 0,950
Estética 64,48 ± 8,29 62,48 ± 8,62 0,399
Prazer 80,34 ± 9,20 80,83 ± 7,80 0,842
Legenda: RS - Rio Grande do Sul. DP - Desvio Padrão. Variáveis foram descritas por média e desvio
padrão. *Teste t de Student para amostras independentes. Valores em negrito são estatisticamente
significativos (p≤0,05).

Figura 2 - Distribuição das médias dos fatores motivacionais para a prática de corrida por meio dos
domínios do Inventário de Motivação à Prática de Atividades Físicas ou Esportivas (IMPRAFE-132)
em relação ao sexo em atletas amadores da cidade de Caxias do Sul-RS, 2020, (n=52).

Na tabela 3, verificou-se diferença idade, assim, atletas mais jovens (18 a 35


estatística entre as médias de domínio de anos) apresentavam maiores médias desse
sociabilidade com a idade, na qual, os domínio (49,53 ± 9,76) quando comparados
indivíduos com idade de 18 a 35 anos (42,29 aos de maior idade (36 a 45 anos - 43,40
±10,95) apresentavam menor média quando ±8,40; >45 anos - 43,20 ± 5,94) (p=0,048). As
comparados com os de 45 anos ou mais médias em relação à idade são ilustradas na
(49,20 ± 10,21) (p=0,043). Figura 3.
Em relação ao domínio de
competitividade, observou-se diferença com a

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Tabela 3 - Descrição dos fatores motivacionais para a prática de corrida por meio dos domínios do
Inventário de Motivação à Prática de Atividades Físicas ou Esportivas (IMPRAFE-132) em relação à
idade em atletas amadores da cidade de Caxias do Sul-RS, 2020, (n=52).
Idade em anos
Variáveis Média ± DP p-valor*
18 a 35 36 a 45 > 45
Controle de estresse 63,53 ± 15,96a 58,75 ± 9,60a 62,53 ± 11,52a 0,476
Saúde 79,18 ± 10,84 a 81,15 ± 10,35 a 83,47 ± 8,87a 0,494
Sociabilidade 42,29 ± 10,95a 40,15 ± 10,29ab 49,20 ± 10,21b 0,043
Competitividade 49,53 ± 9,76a 43,40 ± 8,40b 43,20 ± 5,94b 0,048
Estética 62,71 ± 6,50a 65,30 ± 9,60a 62,33 ± 8,83a 0,519
Prazer 77,94 ± 8,97a 82,95 ± 8,07a 80,33 ± 8,27a 0,207
Legenda: RS - Rio Grande do Sul. DP - Desvio Padrão. Variáveis foram descritas por média e desvio
padrão. ab - Letras diferentes expressam diferença entre as médias por idade. *ANOVA para
amostras independentes. Valores em negrito são estatisticamente significativos (p≤0,05).

Figura 3 - Distribuição das médias dos fatores motivacionais para a prática de corrida por meio dos
domínios do Inventário de Motivação à Prática de Atividades Físicas ou Esportivas (IMPRAFE-132)
em relação à idade em atletas amadores da cidade de Caxias do Sul-RS, 2020, (n=52).

Realizou-se uma correlação entre os Também se destaca o domínio do


domínios do IMPRAFE-132 com a frequência prazer, evidenciando uma correlação negativa
de corrida por semana e a idade. (rs -0,118), assim, quanto menor a frequência
Em relação a frequência de corrida por de corrida por semana, maior a motivação por
semana, embora não tenha apresentado prazer (Tabela 4).
significância estatística, destacou-se a Referente às correlações entre os
correlação com a competitividade (rs 0,135), domínios do IMPRAFE-132 e a idade,
na qual quanto maior a frequência de corrida destaca-se a correlação negativa no domínio
por semana, maior a motivação por de competitividade (rs-0,284; p=0,041), na qual
competitividade. quanto maior a idade do atleta amador, menor
a motivação por competitividade (Tabela 4).

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Tabela 4 - Relações das variáveis dos fatores motivacionais para a prática de corrida por meio dos
domínios do Inventário de Motivação à Prática de Atividades Físicas ou Esportivas (IMPRAFE-132),
idade e frequência de corrida por semana em atletas amadores da cidade de Caxias do Sul-RS,
2020, (n=52).
Frequência de corrida por semana Idade
Variável
rS *p-valor rS *p-valor
Frequência de corrida por semana - - 0,078 0,583
Idade 0,078 0,583 - -
Controle de estresse 0,018 0,901 -0,042 0,767
Saúde -0,081 0,567 0,142 0,317
Sociabilidade 0,009 0,952 0,266 0,057
Competitividade 0,135 0,341 -0,284 0,041
Estética 0,106 0,454 -0,030 0,834
Prazer -0,118 0,404 0,096 0,499
Legenda: rS: coeficiente de correlação de Pearson. p-valor: índice de significância estatístico.
*Correlações de Pearson. Valores em negrito apresentaram significância estatística.

DISCUSSÃO De acordo com o tempo de prática de


corrida foi constatado que a maioria pratica há
Dos 52 atletas amadores de corrida de mais de um ano corrida de rua (90,4%).
rua da cidade de Caxias do Sul-RS que Kuhn (2018) analisou 21 questionários
participaram da pesquisa, 55,8% são de alunos de uma assessoria de um grupo de
mulheres. corrida da cidade de Porto Alegre, com alunos
Em estudo apresentado por Sabino de ambos os sexos, com idades entre 19 e 70
(2017) a participação feminina também foi anos e a maioria também corre há mais de um
maior que a participação masculina, o estudo ano.
adotou metodologia parecida com a do As médias referentes ao IMPRAFE-
presente estudo, coleta de dados por meio de 132, o qual fornece dados sobre as
questionário online divulgado em redes motivações para a realização do exercício,
sociais. ficaram na seguinte ordem: 1°: Saúde (81,17 ±
Considerando que os estudos que 10,06) como maior motivação para realizar a
apresentaram maior participação feminina são corrida; 2°: Prazer (80,56 ± 8,53); 3°: Estética
recentes, contribuem com o apresentado por (63,60 ± 8,41); 4°Controle de Estresse: (61,40
Estevam (2016), que aponta o crescimento ± 12,46); 5° Competitividade: (45,35 ± 8,63) e
significativo da participação feminina em 6° Sociabilidade: (43,46 ± 10,96).
provas de corrida de rua. Ribeiro (2014) entrevistou 34 pessoas,
No que se refere à idade dos de ambos os sexos, corredores de rua de
participantes, a maioria dos indivíduos tem Porto Alegre, com o objetivo de descrever o
idade de 36 a 45 anos (38,5%). Existe uma perfil motivacional desses atletas para a
tendência de maior participação nas corridas prática da corrida de rua, como resultado
de rua de pessoas com idade superior a 30 constatou que o fator motivacional saúde foi o
anos e inferior a 50 anos de idade. segundo principal fator apontado pelos
O presente estudo confirma essa entrevistados, o primeiro foi o prazer e em
tendência e contribui com os resultados terceiro foi controle de estresse. A saúde
encontrados por Estevam (2016) e Kuhn também foi a principal motivação apontada por
(2018), no qual verifica-se números absolutos 33 mulheres de Curitiba para a prática da
nesta faixa etária que possui maior corrida de rua (Furlan, 2014).
participação em provas de corrida de rua. Dessa forma, os resultados aqui
Para participar das corridas de rua os encontrados são semelhantes aos da
entrevistados realizam treinamentos semanais. literatura, uma vez que as pessoas têm se
A maioria (92,3%) corre três vezes ou mais por preocupado muito com os aspectos
semana; a média de frequência de corrida relacionados à saúde e o exercício de modo
ficou de 3,88 vezes por semana. Resultado geral, assim como a própria corrida é um meio
parecido foi encontrado por Sabino (2017), fundamental para que isso ocorra. O interesse
com corredores de rua do Distrito Federal, da população em ter hábitos de vida que
onde a média semanal de treinos foi de três melhorem a saúde, faz as pessoas se
vezes por semana.

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motivarem a começar a correr e se manter na Brasileira de Ciências do Esporte. Vol. 37.


atividade. Núm. 1. 2015. p. 65-73.
Em seu estudo sobre corrida de rua e
motivação, Gonçalves e colaboradores (2016) 2-Balbinotti, M. A. A. Inventário de Motivos à
apresentou como resultado a saúde como Prática Regular de Atividades Físicas e
dimensão que mais representa o motivo de Esportivas. Laboratório de Psicologia do
adesão e permanência na corrida de rua. Além Esporte. Porto Alegre. Universidade Federal
disso, o prazer também ficou como a segunda do Rio Grande do Sul. 2013.
dimensão motivacional.
O resultado do presente estudo 3-Dias, C. Corrida de rua no país do futebol.
corrobora com Gonçalves e colaboradores Recorde. Vol. 10. Núm. 1. 2017. p. 1-32.
(2016), evidenciando que existe uma
motivação intrínseca dos participantes, que a 4-Estevam, L. C. Estudo do crescimento do
recompensa esperada é a sensação de bem- número de corridas de rua e perfil dos
estar. Nesse caso, a corrida não representa participantes no Brasil. São Paulo. Monografia.
uma atividade externa para ganhar Bacharel em Educação Física. Faculdade de
gratificações materiais, ou por alguma Educação Física. Universidade Federal de
recomendação médica. Ouro Preto. São Paulo. 2016.
Em outro estudo, no qual foi
investigado possíveis diferenças na parte 5-Franco, K. N. Comparação de fatores
motivacional entre corredores de grupos e motivacionais entre corredores de rua de
corredores individuais, Franco (2010) afirma equipes e individuais. TCC. Educação Física
que os cuidados físicos (saúde) foram mais da Universidade Federal do Rio Grande do
evidentes entre os corredores que treinam em Sul. Rio grande do Sul. 2010.
equipe, onde 83% relataram como muito
importante contra 61% dos corredores 6-Furlan, A. J. Fatores motivacionais
individuais. relacionados à prática de corrida de rua por
Apesar dos resultados serem mulheres adultas na cidade de Curitiba-PR.
satisfatórios e terem relação com achados de Monografia. Bacharelado em educação física.
estudos anteriores, o presente estudo Departamento Acadêmico de Educação Física.
apresentou limitações no seu Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
desenvolvimento, que podem justificar os 2014.
resultados obtidos, entre elas, a metodologia
que foi utilizada, optando-se por ser não 7-Gonçalves, D.; Sties, S. W.; Andreato, L. V.;
presencial, o que pode ter interferido nas Aranha, E. E.; Pedrini, L.; Oliveira, C.
respostas dos entrevistados, uma vez que, Prevalência de lesões em corredores de rua e
dúvidas ou questionamentos possam ter fatores associados: revisão sistemática.
surgido e estes não foram sanados pelas Revista Cinergis. Vol. 17. Núm. 3. 2016. p.235-
pesquisadoras. 238.

CONCLUSÃO 8-Gratão, O. A.; Rocha, C. M. Dimensões da


motivação para correr e para participar de
Os principais aspectos motivacionais eventos de corrida. Revista Brasileira de
para a prática de corrida de rua entre os Ciência e Movimento. Vol. 24. Núm. 3. 2016.
atletas amadores foram a Saúde e o Prazer. p. 90-102.
Do mesmo modo e não menos
importante, a estética, o controle de estresse, 9-Kuhn, M. E. W. Motivação e Grupo de
a competitividade e a sociabilidade, também Corrida: um estudo misto com alunos de uma
se destacam como pilar para a aderência e assessoria de corrida. Universidade Federal
permanência dos corredores em tal prática. do Rio Grande do Sul Escola de Educação
Física. Porto alegre. 2018.
REFERÊNCIAS
10-Ribeiro, D. A. Fatores motivacionais de
1-Balbinotti, M. A. A.; Gonçalves, G. H.; pessoas praticantes de corrida de rua em
Klering, R. T.; Wiethaueper, D.; Balbinotti, C. Porto Alegre. Monografia. Bacharel em
A. A. Perfis motivacionais de corredores de rua educação Física. Departamento de Educação
com diferentes tempos de prática. Revista Física da Escola de Educação Física,

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Universidade Federal do Rio Grande do Sul.


2014.

11-Rojo, J. R.; Starepravo, F. A.; Canan, F.;


Mezzadri, F. M.; Silva, M. M. Transformações
no modelo de corridas de rua no Brasil: um
estudo na “Prova Rústica Tiradentes”. Revista
Brasileira de Ciência e Movimento. Vol. 25.
Núm. 1. 2017. p.19-28.

12-Sabino, G. S. Perfil dos corredores de


Brasília: independentes x assessorias
esportivas. Revista Interdisciplinar Ciências
Médicas. Vol. 1. 2017. p.110-122.

Recebido para publicação em 17/07/2020


Aceito em 22/01/2020

Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, São Paulo. v. 14. n. 87. p.390-397. Jul./Ago. 2020. ISSN 1981-9927.
ARTIGO ORIGINAL
FATORES MOTIVACIONAIS PARA A PRÁTICA DE
CORRIDA DE RUA
FACTORS FOR THE PRACTICE OF STREET RUNNING

FACTORES MOTIVACIONALES PARA LA PRÁCTICA DE STREET RUNNING

Maria Geovania Cardoso Batista


Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES
E-mail: mgeovaniabatista@gmail.com

Maria Gabriela Antunes dos Santos


Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES
E-mail: gabi.moc.mg@hotmail.com

Marcelo de Paula Nagem


Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES
E-mail: marcelo.nagem@unimontes.br

José Roberto Lopes de Sales


Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES
E-mail: betocanaa@yahoo.com.br

Rosângela Ramos Veloso Silva


Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES
E-mail: rosaveloso9@gmail.com

Giovanna Mendes Amaral


Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES
E-mail: giovannamamaral@gmail.com

Hellen Veloso Rocha Marinho


Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES
E-mail: hellenvrmarinho@gmail.com

Data de Submissão: 04/04/2022 Data de Publicação:11/05/2022


Como citar: BATISTA, M. G. C.et al. FATORES MOTIVACIONAIS PARA A PRÁTICA DE CORRIDA DE RUA. Revista
Eletrônica Nacional de Educação Física, v. 13, n. 19, jul. 2022. https://doi.org/10.46551/rn2022131900057

RESUMO
O presente estudo objetivou verificar os fatores motivacionais para a prática da
corrida de rua. Trata-se de um estudo transversal, descritivo. A amostra foi composta
por 90 praticantes de corrida de rua com idade média de 41,12 ± 12,12 anos, sendo
28 do sexo masculino e 62 do sexo feminino. Os voluntários responderam a um
formulário estruturado que continham questões relacionadas aos objetivos do
estudo. Análise descritiva foi utilizada para caracterizar a amostra. As variáveis
categóricas foram apresentadas na forma de frequência absoluta e frequência

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relativa. Foi evidenciado que do total de 161 respostas, 36.35% corresponderam à


outros objetivos, onde a maioria destacou a promoção de saúde, 30,43% à
condicionamento físico e 20,50% emagrecimento. Outros objetivos reportados
incluiram competição (4,97%), aumento da força muscular (3,11%), hipertrofia
muscular (2,48%) e definição muscular (1,86%). Considerando a totalidade das
respostas, 132 (81,99%) refere-se à percepção de melhora completa por parte dos
voluntários, de acordo com as suas respectivas motivações. Os principais fatores
motivacionais para a prática da corrida de rua relatados pelos praticantes de corrida
de rua foram promoção de saúde, condicionamento físico e emagrecimento.
Palavras-chave: Corrida. Motivação. Atividade motora.

ABSTRACT

The present study aims to verify the motivational factors for the practice of street
running. This is a cross-sectional, descriptive study. The sample consisted of 90
street runners with a mean age of 41.12 ± 12.12 years, 28 males and 62 females.
Responders are a model for studying related questions. Descriptive analysis was
used to characterize a sample. Categorical variables were in the form of absolute
frequency and relative frequency. It was evidenced that the total objective of 161
answers, 36.35% corresponded to others, where the majority highlighted a health
promotion, 30.43% to the total physical conditioning objective and 20.50% weight
loss. Other goals reported by volunteers include competition (4.97%), increased
muscle strength (3.11%), muscle hypertrophy (2.48%) and muscle definition (1.86%).
Considering the totality of the answers, 132 (81.99%) refer to the perception of
complete improvement by the volunteers, according to their respective motivations. It
is concluded that the main motivational factors for the practice of the weight loss race
were reported in the street of health promotion, physical and physical conditioning.

Keywords: Run. Motivation. Motor activity.

RESUMEN
El presente estudio tuvo como objetivo verificar los factores motivacionales para la
práctica del street running. Se trata de un estudio transversal, descriptivo. La
muestra estuvo compuesta por 90 corredores callejeros con una edad media de
41,12 ± 12,12 años, 28 hombres y 62 mujeres. Los voluntarios respondieron un
formulario estructurado que contenía preguntas relacionadas con los objetivos del
estudio. Se utilizó análisis descriptivo para caracterizar la muestra. Las variables
categóricas se presentaron como frecuencia absoluta y frecuencia relativa. Se
evidenció que del total de 161 respuestas, el 36,35% correspondió a otros objetivos,
donde la mayoría destacó la promoción de la salud, el 30,43% al acondicionamiento
físico y el 20,50% a la pérdida de peso. Otros objetivos informados incluyeron la
competencia (4,97%), el aumento de la fuerza muscular (3,11%), la hipertrofia
muscular (2,48%) y la definición muscular (1,86%). Considerando la totalidad de las
respuestas, 132 (81,99%) se refieren a la percepción de mejoría total por parte de

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los voluntarios, según sus respectivas motivaciones. Los principales factores


motivacionales para la práctica de street running reportados por los street runners
fueron la promoción de la salud, el acondicionamiento físico y la pérdida de peso.
Palabras clave: Raza. Motivación. Actividad del motor.

INTRODUÇÃO
Atualmente, a procura pela prática esportiva tem aumentado de forma
considerável (ALMEIDA; PENONI, 2020). Diversos são os benefícios advindos com
a prática de esportes, incluindo, melhora do condicionamento físico, aumento da
força muscular, emagrecimento, socialização, melhora do desempenho funcional,
performance esportiva, entre outros (FERREIRA; BENTO; SILVA, 2015). Dentre as
modalidades esportivas, a corrida de rua tem se tornado uma opção cada vez mais
procurada e inúmeros adeptos deslocam-se para diferentes locais a fim de praticá-la
em função do baixo custo, fácil acesso e seus inúmeros benefícios (FERREIRA;
BENTO; SILVA, 2015). A busca por saúde, bem-estar, controle de estresse, melhor
qualidade de vida advindos com a prática em combinação aos benefícios sobre
massa magra, níveis glicêmicos, triglicérides, capacidade cardiorrespiratória tornam
esse tipo de atividade física frequentemente estimulada, favorecendo a sua adesão
(FERREIRA; BENTO; SILVA, 2015; ABREU; LEAL-CARDOSO; CECCATTO, 2017).
Diversas áreas do conhecimento tem como objeto de estudo os fatores
motivacionais para a prática de atividade física regular (BALBINOTTI; SALDANHA;
BALBINOTTI, 2009). Os resultados percebidos quanto aos fatores que motivam a
realização de atividades físicas e esportes podem ser determinantes para a adesão
à prática regular (TRUCCOLO; MADURO; FEIJÓ, 2008; TRUCCOLO et al, 2007).
Entende-se que o conhecimento dos principais motivos de adesão e continuidade
para a prática de uma modalidade específica, como a corrida de rua, pode otimizar
os planejamentos de treinamento que atendam às necessidades e demandas dos
praticantes. A avaliação e compreensão dos fatores motivacionais para a prática da
modalidade corrida de corrida de rua pode ser de extrema relevância para o melhor
direcionamento e otimização dos treinos prescritos.

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Vale salientar que a escolha pela prática de uma modalidade esportiva pode
ser influenciada pelo perfil do praticante e da atividade em si, ambiente de prática,
experiência prévia, fatores facilitadores ou dificultadores, entre outros, e identificar
os objetivos para a prática das modalidades é essencial para a adoção de
estratégias que contribuam tanto na adesão, quanto na persistência da prática
esportiva com os inúmeros benefícios relacionados à mesma. Nesse contexto, o
objetivo do presente estudo foi verificar os fatores motivacionais para a prática de
corrida de rua.

METODOLOGIA
Amostra
A amostra foi composta por 90 praticantes de corrida de rua com idade média
de 41,12 ± 12,12 anos, sendo 28 do sexo masculino e 62 do sexo feminino. Para
inclusão no presente estudo o voluntário deveria ter pelo menos 6 meses de prática,
com ou sem orientação e/ou acompanhamento profissional. Somente foram
incluídos indivíduos que aceitaram participar da presente pesquisa voluntariamente
e que estiveram em condições físicas e psicológicas para responder as questões no
momento que houve aplicação dos formulários.

Procedimentos e instrumentos
Inicialmente, os participantes do estudo receberam explicação sobre os
objetivos e procedimentos do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE). Os voluntários responderam a questionário geral com questões
relacionadas aos critérios de inclusão e à um formulário estruturado específico,
contendo questões objetivas e subjetivas relacionadas aos objetivos propostos do
presente estudo, perfil de caracterização da amostra contendo dados demográficos,
antropométricos e características do treino. Ressaltamos que referente aos fatores
que os motivam à prática da modalidade, os participantes podiam informar mais de
uma opção do formulário. Conforme recomendação da Organização Mundial de
Saúde (OMS), foi realizado o cálculo do índice de massa corporal (IMC), sendo
considerado o auto-relato sobre massa e altura corporais dos participantes
(SILVEIRA et al., 2020; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2021). O presente

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estudo trata-se de um recorte de projeto de pesquisa que foi aprovado pelo Comitê
de Ética em Pesquisa. Os procedimentos utilizados respeitam as normas
internacionais de experimentação com humanos, de acordo com a resolução 466 do
CNS que trata de pesquisas em seres humanos e atualiza a resolução 196).

Análise estatística
Análise descritiva foi utilizada para caracterizar a amostra. As variáveis
contínuas foram descritas por média + desvio padrão e as variáveis categóricas
foram apresentadas na forma de frequência absoluta e frequência relativa.

RESULTADOS
O perfil da amostra com dados demográficos, antropométricos e
características do treino de praticantes de corrida de rua estão apresentados na
Tabela 1.

Tabela 01 – Média e desvio padrão dos dados demográficos, características


antropométricas e do treino dos praticantes de corrida de rua (n = 90)

Variáveis Praticantes de Corrida de Rua

Idade (anos) 41,12 ± 12,12


Sexo (M/F) 28M/62F
Massa corporal (Kg) 68,16 ± 11,20

Altura (m) 1,67 ± 0,10

IMC 24,29 ± 2,90


Tempo de prática (meses) 76,21 ± 99,88
Frequência semanal (dias) 2,68 ± 0,83
Duração do treino
Até 30 minutos 1 (1,11%)
31 min. à 60 min. 65 (72,22%)
61 min. À 120 min. 24 (26,66%)
Mais de 120 min. 0
Fonte: próprio autor

Diante dos resultados obtidos, observa-se que, em função dos voluntários


poderem optar por mais de uma resposta quanto aos objetivos da prática, evidencia-
se que do total de 161 respostas (nr), a opção “outros” no formulário aplicado
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apresentou o maior percentual, correspondendo à 36,65% das finalidades com a


referida prática. Vale destacar que dentro das 59 respostas correspondentes à
“outros” objetivos, 86,44% se referiu a prática da modalidade para a promoção da
saúde. O condicionamento físico foi reportado por 30,43% dos voluntários.
Hipertrofia muscular não foi um objetivo destacado, apresentando baixa adesão,
correspondendo à 2,48% das respostas dos praticantes de corrida de rua. A busca
por “emagrecimento” correspondeu à 20,50% das respostas relatadas. A cerca da
definição muscular, 1,86% das respostas foram relacionadas a esse objetivo,
conforme percepção dos voluntários. A respeito do objetivo de competição, 4,97%
dos voluntários informaram praticar a corrida de rua com essa finalidade (Tabela 2).

Tabela 2 - Freqüência absoluta (frequência relativa) dos fatores motivacionais relatados


r
pelos praticantes de corrida de rua (n =161)

Fatores motivacionais Praticantes de Corrida de rua

Condicionamento físico 49 (30,43 %)

Hipertrofia muscular 4 (2,48 %)

Aumento da força muscular 5 (3,11 %)

Emagrecimento 33 (20,50 %)

Definição muscular 3 (1,86 %)

Competição 8 (4,97 %)

Outros 59 (36,65 %)

Fonte: próprio autor

Ao analisar o Gráfico 1, pode-se observar que, considerando a totalidade das


respostas, 132 (81,99%) referiram-se à percepção de melhora completa de acordo
com os seus respectivos objetivos, enquanto que 29 (17,39%) foram referentes à
melhora parcial com a prática e apenas 1 resposta, correspondendo à 0,62%, foi
indicativa de que não sabia opinar quanto aos resultados obtidos.

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Gráfico 1 - Freqüência absoluta dos resultados dos fatores motivacionais relatados


pelos praticantes corrida de rua

Corrida de rua
60 54

45 41

30
23

15 10
8 6 5
000 22000 23000 000 0
3
000 1 001 000
0

Emagrecimento

Competição
Condicionamento físico

Outros
Aumento da força

Definição muscular
Hipertrofia muscular

muscular

Melhora parcial Melhora completa Não influenciou Piora Não sabe opinar
Fonte: próprio autor

Quando consideramos o condicionamento físico, foi evidenciado que 100%


dos voluntários informaram perceber melhora em relação à esse objetivo com a
prática da modalidade, sendo que, de acordo com a percepção dos voluntários, a
melhora completa no condicionamento físico correspondeu à 83,67% das 49
respostas, enquanto que 16,33% referem-se à melhora parcial em relação à esse
fator motivacional.
Em relação às respostas correspondentes à hipertrofia muscular, 100% dos
voluntários informaram perceber melhora com a prática. Das 4 respostas referentes
à hipertrofia muscular, metade correspondeu à melhora completa e a outra metade
referiu-se à melhora parcial. Quanto às respostas referentes ao aumento da força
muscular, também foi evidenciado por 100% dos voluntários uma percepção de
melhora com a prática. Para as 5 respostas dos praticantes de corrida de rua em
relação à essa opção, 60% correspondeu à melhora completa e 40% melhora
parcial.

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Assim como em relação ao condicionamento físico, hipertrofia muscular e


aumento da força muscular, em relação ao fator motivacional emagrecimento, 100%
dos voluntários informaram observar melhora com a prática da modalidade.
Observou-se que das 33 respostas relacionadas ao emagrecimento, 69,70%
relataram melhora completa, enquanto que 30,30% informaram melhora parcial.
Em relação às respostas correspondentes à definição muscular, todos os
voluntários informaram melhora, sendo que as 3 repostas referentes à definição
muscular corresponderam melhora completa. Quanto ao desempenho em
competições, do total de 8 respostas para competições, 75% destacou melhora
completa, 12,50% melhora parcial e 12,50% não sabe opinar.
No que se refere à opção “outros” objetivos presente no formulário, das 59
respostas para a modalidade corrida de rua, 91,53% informou melhora completa
com a prática, enquanto que 8,47% correspondeu à melhora parcial. Vale salientar
que, conforme previamente referido, para essa opção considerada, a maioria
(86,44%) especificou “promoção de saúde” como fator motivacional para a prática da
corrida de rua.

DISCUSSÃO
O objetivo do presente estudo foi verificar os fatores motivacionais para a
prática de corrida de rua. Foi evidenciado que saúde, condicionamento físico e
emagrecimento foram os principais motivos relatados pelos participantes para a
prática de corrida de rua. De acordo como relato dos voluntários do estudo,
considerando o total de respostas, 132 (81,99%) refere-se à percepção de
melhora completa, conforme os seus respectivos fatores motivacionais. Nessa
perspectiva, ao considerarmos os principais objetivos destacados pelos voluntários,
a maioria das respostas referiam-se à melhora completa para a promoção de
saúde, condicionamento físico e emagrecimento. Nossos resultados corroboram
com o estudo de Truccolo et al. (2007) que também verificou a melhora no
condicionamento físico e saúde como os objetivos mais importantes para a adesão
à atividade física regular da amostra estudada.
Na corrida de rua, o objetivo “outros” apresentou a maior adesão de
respostas, onde a promoção de saúde foi o fator motivacional com maior
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porcentagem, onde foi percebida melhora nesse aspecto com a prática por parte
dos participantes do estudo. Os benefícios da prática de atividade física
relacionados à saúde, incluindo a corrida, tem sido associados à atenuação do
risco de doenças crônicas e psicossociais como a ansiedade, depressão, estresse
(DANTAS; BEZERRA; MELLO, 2009), bem como pode estar agregada no
tratamento desses quadros clínicos (DANTAS; BEZERRA; MELLO, 2009). Nessa
persepctiva, a prática regular de exercícios físicos é capaz de atuar favoravelmente
nas dimensões social, intelectual, emocional e física, podendo favorecer a melhora
da autoestima e condicionamento físico (DANTAS; BEZERRA; MELLO, 2009;
FERREIRA; BENTO; SILVA, 2015).
O condicionamento físico resulta de exercícios físicos regulares em sessões
repetidas onde indivíduo alcança melhora no funcionamento musculoesquelético e
metabólico (ABREU; LEAL-CARDOSO; CECCATTO, 2017). No presente estudo,
todos os 49 voluntários que destacaram o condicionamento físico como fator
motivacional, informaram perceber melhora com a prática. De acordo com Rodrigues
et al. (2007), o condicionamento físico e a elevada capacidade cardiorrespiratória é
capaz de fornecer uma proteção em oposição as consequências indesejadas do
estresse, o que pode favorecer à uma melhor qualidade de vida. Vale salientar que,
conforme percepção dos voluntários, aspectos relacionados ao desempenho
muscular como o aumento da força muscular. Em relação ao sistema muscular, a
prática de exercício físico, como a corrida promove o aumento da densidade capilar,
densidade mitocondrial, reservas de substratos musculares e a atividade de enzimas
oxidativas, além de melhorar o nível de resistência muscular do diafragma (ABREU;
LEAL-CARDOSO; CECCATTO, 2017).
A busca pela estética corporal também é um fator motivacional que leva as
pessoas praticarem exercício físico (SALDANHA et al., 2008). Conforme relato dos
participantes do estudo, o emagrecimento foi um dos principais fatores que os
motivaram para a prática da corrida, sendo que todos os voluntários que informaram
ser motivados por esse objetivo relataram perceber melhora com a prática. Brito e
Mendonça (2012) destacam que a prática de corridas também provoca redução da
gordura corporal, triglicerídeos, colesterol total, e pressão arterial sistêmica após o
exercício. Como mencionado, a prática da corrida de rua pode proporcionar

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benefícios para saúde e melhora a qualidade de vida, aumentando o gasto calórico,


sendo considerada uma das modalidades mais eficazes em programas de controle
peso corporal, melhorando o humor, o metabolismo e os resultados (EUCLIDES;
BARROS; COÊLHO, 2016; MATTHIESEN, 2007). Vale salientar que a prática
regular de atividade física associada a uma alimentação saudável torna-se um
excelente instrumento para ajudar no processo de emagrecimento (STAPELFELDT,
2004). Além do emagrecimento, hipertrofia muscular e definição muscular também
foram fatores de motivação para a prática da corrida de rua, embora com menor
proporção de respostas, o que pode estar relacionado às próprias características e
exigências metabólicas dessa modalidade esportiva. Uma possível explicação para
a percepção de maior definição e hipertrofia musculares pode estar relacionados à
diminuição da massa corporal gorda, porém são necessárias outras análises para
melhor elucidação.
De acordo com a percepção dos praticantes de corrida de rua, considerando
o total de respostas referente aos resultados obtidos com a prática, 81,99% dos
entrevistados relataram que tiveram uma melhora completa, portanto, se as
atividades físicas foram bem planejadas e praticadas de forma regular, pode se
considerar que a modalidade corrida de rua proporciona diversos benefícios, como,
por exemplo, aumento da massa magra em detrimento do tecido adiposo,
condicionamento físico geral, hipertrofia muscular e ganhos de força muscular
(CÂMARA et al., 2007). É importante ressaltar que é necessário um programa de
treino acompanhado por um profissional de Educação Física, pois este possui
conhecimento científico e prático, capaz de instruir em cada ciclo de treinamento
e o que melhor se adequa para o sujeito, visando o que o indivíduo deseja
(PINHEIRO et al., 2017). Há que se destacar que do total de 8 indivíduos que
informaram objetivar melhorar o desempenho em competições, 87,5% informaram
melhora nesse aspecto, enquanto que 12,50% não souberam opinar. Nessa
perspectiva, ressalta-se o papel do profissional habilitado para a adequada
prescrição do treino em vistas de otimizar o desempenho esportivo.
As análises realizadas no presente estudo, limitaram-se à análise dos fatores
motivacionais para prática de corrida de rua em adultos praticantes da modalidade,
sendo que os achados não devem ser generalizados para outras populações.

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Embora as informações obtidas no estudo tenham se baseado na percepção


subjetiva dos voluntários, tais achados não devem ser negligenciados, visto que
podem contribuir para a adoção de estratégias que favoreçam tanto para a adesão,
quanto para a continuidade da prática, tendo em vista os seus benefícios,
percebidos pelos participantes do presente estudo.

CONCLUSÃO
O presente estudo objetivou verificar os principais fatores motivacionais para
a prática de corrida de rua. Os principais fatores relatados pelos participantes do
estudo foram saúde, condicionamento físico e emagrecimento, sendo percebido
melhora nesses aspectos pelos praticantes de corrida de rua.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos aos voluntários do estudo e equipe de pesquisa.

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ISSN Impresso: 1806-6356 ISSN Eletrônico: 2317-2983
http://dx.doi.org/10.12819/2020.17.6.13

Impacto da Rede Social na Motivação para Adesão à Prática de Corrida de Rua

Impact of Social Networking on the Motivation for Adherence to the Practice of Street Racing

Eryclis Eduardo Miguel Nunes


Mestrado em Nutrição e Saúde pela Universidade Federal de Lavras
Graduação em Educação Física pela Universidade Federal de Lavras
E-mail: erycliseduardo25@hotmail.com

Priscila Carneiro Valim-Rogatto


Doutora em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo
E-mail: lappex@yahoo.com.br

Ana Alice Vilas Boas


Doutora em Administração pela Universidade de Reading
E-mail: ana.alice@ufla.br

Endereço: Eryclis Eduardo Miguel Nunes Editor-Chefe: Dr. Tonny Kerley de Alencar
Av: Doutor Sylvio Menicucci, 1001, Kennedy, Lavras, Rodrigues
Minas Gerais, Brasil. CEP: 37200-900, Lavras/MG,
Brasil. Artigo recebido em 17/02/2020. Última versão recebida
Endereço: Priscila Carneiro Valim-Rogatto em 12/03/2020. Aprovado em 13/03/2020.
Av: Doutor Sylvio Menicucci, 1001, Kennedy, Lavras,
Minas Gerais, Brasil. CEP: 37200-900, Lavras/MG, Avaliado pelo sistema Triple Review: a) Desk Review
Brasil. pelo Editor-Chefe; e b) Double Blind Review (avaliação
Endereço: Ana Alice Vilas Boas cega por dois avaliadores da área).
Av: Doutor Sylvio Menicucci, 1001, Kennedy, Lavras,
Minas Gerais, Brasil. CEP: 37200-900, Lavras/MG, Revisão: Gramatical, Normativa e de Formatação
Brasil.
Impacto da Rede Social na Motivação para Adesão à Prática de Corrida de Rua 245

RESUMO

Objetivo: Analisar o comportamento pré e pós-competitivo de corredores de rua pertencentes


a uma equipe de corrida da cidade de Lavras-MG por meio do aplicativo WhatsApp®.
Metodologia: Participaram da pesquisa 60 corredores, de ambos os sexos, com a faixa etária
de 19 a 70 anos de uma equipe de corrida de rua da cidade de Lavras-MG e que pertenciam a
um grupo de mensagens no aplicativo. O WhatsApp® foi utilizado como ferramenta para
analisar as mensagens no período de dois meses. Resultados: Observamos que os principais
assuntos do grupo no aplicativo eram encontros para treino de corrida e divulgação dos
resultados da corrida. Conclusão: No período pós-competitivo, houve maior troca de
mensagens quando comparado com o período pré-competitivo, devido ao compartilhamento
de comemorações das vitórias ou sucessos ao fim das competições.

Palavras-chave: WhatsApp. Comportamento Humano. Corrida de Rua.

ABSTRACT
Objective: To analyze the pre and post competitive behavior of street runners belonging to a
race team in the city of Lavras-MG through the WhatsApp® application. Methodology: Sixty
male and female runners from the age of 19 to 70 years of a street racing team from the city of
Lavras-MG who belonged to a group of messages in the application participated in the study.
WhatsApp® was used as a tool to analyze the messages within a period of two months. Results:
It was observed that the main subjects of the group in the application were meetings for training
of race and divulgation of the results of the race. Conclusion: In the post-competitive period
there was a greater exchange of messages when compared to the pre-competitive period, due to
the sharing of celebrations of the victories or successes to the end of the competitions.

Keywords: WhatsApp. Human Behavior. Street Racing.

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1 INTRODUÇÃO

A “rede” é considerada como uma estrutura na qual as pessoas são inseridas no intuito
de compartilhar ou simplesmente fazer parte de algo. As redes sociais são espaços de comum
interesse, objetivos semelhantes, compartilhamento de conhecimento, interação e comunicação,
que visa impulsionar o relacionamento entre pessoas (MARTELETO, 2001), e quem vêm
adquirindo importância nas vidas das pessoas.
Conforme o rankeamento das redes sociais mais utilizadas no mundo, o Facebook® é
um dos principais meios de comunicação virtual atingindo cerca de 2,6 bilhões de usuários, o
que o torna líder absoluto em relação aos demais meios. Em seguida, aparece o Youtube®, com
aproximadamente 1,5 bilhões de usuários. O WhatsApp® aparece em terceira colocação, com
1,3 bilhões. Embora os três primeiros apareçam na liderança, outras redes sociais também são
utilizadas pelos usuários, entre as quais aparecem Wechat® (963 milhões); QQ® (850 milhões);
Instagram (700 milhões); QZone (606 milhões); Tumbrl (368 milhões) e Sina Weibo (361
milhões) (BELING, 2017).
Os termos rede social e mídia social são pronunciados com bastante frequência entre as
pessoas que usam tais termos como sinônimos. Na verdade, rede social é um termo clássico
bastante difundido entre as pessoas que têm a intenção de criar relacionamentos com o objetivo
de compartilhar valores comuns. Assim, não necessariamente preciso estar conectado à internet
para fazer parte de uma rede social (TOMAÉL; ALCARÁ; CHIARA, 2005).
O aplicativo para smartphone WhatsApp® foi criado em 2009 por Jan Koum. O
objetivo, no início, era criar um aplicativo de trocas de mensagens gratuito e fácil de usar que,
ao mesmo tempo, pudesse utilizar a lista de contatos das pessoas, como o antigo SMS. Segundo
Souza, Araújo e Paula (2015), o aplicativo é considerado uma mídia social, pois pode ser usado
como ferramenta de interação, do ponto de vista social e mercadológico.
Segundo Presse (2017), no mundo são aproximadamente 1 bilhão de usuários, sendo
que no Brasil são contabilizados cerca de 100 milhões de usuários ativos. O portal faz uma
comparação entre o Facebook® e WhatsApp®, sendo que o primeiro é bastante difundido e
conta com números gigantescos de usuários no país, mas o segundo se disseminou em pouco
tempo, tornando-se o aplicativo mais baixado no Brasil.
A utilização do aplicativo abrange as mais variadas formas de comunicação, podendo
ser utilizado em conversas entre amigos, no ambiente de trabalho e até em ambiente esportivo.
Desse modo, algumas equipes de corrida de rua possuem grupos de conversa no WhatsApp®.

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Impacto da Rede Social na Motivação para Adesão à Prática de Corrida de Rua 247

Sendo assim, o profissional pode utilizar desse recurso para ter um acompanhamento dos treinos
executados pelos seus atletas.
A corrida de rua, modalidade esportiva vinculada à CBAT - confederação brasileira de
atletismo comporta tanto a vertente competitiva quanto à vertente relacionada à saúde. O ponto
mais importante é que as corridas de rua estão ganhando números expressivos de estudos por
parte dos profissionais de Educação Física (MASSARELLA, 2008).

2 REFERENCIAL TEÓRICO

No Brasil, ocorrem mais de 250 corridas de rua por ano, sendo elas divididas em
categorias: 5 ou 10 quilômetros, meia-maratona (21 quilômetros), maratonas (42 quilômetros)
e ultramaratonas (acima de 42 quilômetros) (CBAT, 2019). Essas corridas possuem diversos
significados para seus participantes, dentre eles, o lazer e a socialização, sendo esse último
observado em muitos estudos como o mais marcante para aqueles que praticam essa modalidade
(SANFELICE et al., 2017; MEISSER, 2017; BALBINOTTI et al., 2007).
Em um programa de atividade física, as pessoas buscam o engajamento em um grupo
para que elas possam estabelecer interações e partilhar experiências, mesmo que seja em curto
ou longo período de tempo. Segundo Hoffman e Harris (2011), a participação em um grupo ou
comunidade faz com que a pessoa se sinta mais encorajada a continuar praticando alguma
atividade física, ao mesmo tempo em que assume uma identidade positiva através de simples
objetos que remetem a esse grupo, a exemplo de uma camiseta, um boné, um agasalho ou outros
tipos de produtos.
Outro aspecto importante dentro de um grupo é a coesão, que se manifesta na tendência
dos grupos de ficarem juntos e permanecerem unidos e com objetivos traçados (CARRON,
1982). Quando todos os membros compreendem e aceitam seus papéis dentro de um grupo, a
coesão é construída com facilidade. Muitas pessoas preferem exercitar-se com outras pessoas
ou fazer parte de um grupo, pois, dessa forma, aumentam a satisfação, o suporte social e o
compromisso com um programa de atividade física (HOFFMAN; HARRIS, 2011).
Nos estudos de Balbinotti et al. (2015), Truccolo, Maduro e Feijó (2008) e Dumith,
Domingues e Gigante (2008), nos quais os autores avaliaram, respectivamente, o perfil
motivacional de corredores de rua, fatores motivacionais na adesão à corrida de rua e mudanças
de comportamentos em atividade física, foi verificado como resultado que as pessoas estão mais
preocupadas com a saúde, com o condicionamento físico e com o prazer. As pessoas que foram
estudadas relataram que a socialização ou condição de pertencer a algum tipo de comunidade

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ou grupo seria como um acréscimo na prática e não um fator primordial para praticar alguma
atividade física (corrida, mountain bike, academia, dança, entre outros).
Lembramos que a competição faz parte da vida do homem desde os tempos mais
antigos, refere-se a uma disputa, luta ou conflito em que as pessoas têm a necessidade de superar
obstáculos para saírem vitoriosas ou simplesmente superar aqueles que as desafiam (DE ROSE
JUNIOR, 2008). Em uma competição encontramos três períodos marcantes que os
competidores precisarão enfrentar: os períodos pré-competitivo, competitivo e pós-
competitivo. Neste trabalho, a ênfase foi dada nos períodos que antecedem e sucedem uma
competição e nos aspetos psicológicos que podem sofrer alterações.
Na fase Pré-competitiva, o participante pode experimentar vários pensamentos
frequentes, que podem levá-lo ao estresse, alterações no humor, desânimo, dentre outros. As
respostas do agente externo (competição) podem influenciar na percepção do participante sobre
aquela situação, podendo ocasionar resultados positivos ou negativos (VERARDI et al., 2014).
De acordo com Santos e Pereira (1997), a Pré-competição é um dos fatores mais
determinantes para que uma pessoa consiga um bom desempenho, pois os níveis de ansiedade,
estímulos e impulsos são descarregados de forma contínua até que o participante esteja no local
competindo e/ou até mesmo durante a competição.
Com base na citação anterior, percebemos que existe uma ligação direta entre emoções,
sentimentos e estado de humor. Segundo Balbinotti et al. (2007), o profissional envolvido com
o competidor precisa conhecer e administrar os fatores psicológicos e, assim, poderá minimizá-
los e potencializar os resultados positivos do atleta. Nesse sentido, Hoffman e Harris (2011)
destacam que o profissional, usando poucas palavras, pode encorajar ou desencorajar o
competidor, pois ele o considera como principal alicerce para o êxito em uma competição.
O que fica claro na literatura sobre o comportamento na fase Pré-competitiva é que,
independente do nível de desempenho do atleta envolvido ou do desafio proposto, ao ser
deparado com uma competição, a tendência do participante é aplicar o máximo de esforço para
ser bem sucedido (BALBINOTTI et al., 2007; DE ROSE JUNIOR, 2008).
Na fase Pós-competitiva, o participante da competição tende a relaxar, a aliviar-se e
recuperar-se da situação estressante que passou. Nessa fase, o sentimento de dever cumprido e
satisfação são aqueles que também a sucedem (BALBINOTTI et al., 2007; BALBINOTTI et
al., 2011).
As perspectivas possuem diferenças entre os grupos de elite e de amadores. Enquanto o
primeiro grupo busca a vitória e o melhor desempenho frente aos seus adversários, o segundo
busca o prazer, autoestima, condicionamento físico, sociabilidade, estética, dentre outras

Rev. FSA, Teresina, v. 17, n. 6, art. 13, p. 244-258, jun. 2020 www4.fsanet.com.br/revista
Impacto da Rede Social na Motivação para Adesão à Prática de Corrida de Rua 249

satisfações (BALBINOTTI et al., 2015; DUMITH, DOMINGUES; GIGANTE, 2008;


TRUCCOLO; MADURO; FEIJÓ, 2008; BALBINOTTI et al., 2007). Segundo Rúbio (2000),
o atleta profissional ou de elite é aquele que tem uma representação vitoriosa, que produtos
querem vincular sua imagem a ele e, na maioria dos casos, atinge altos ganhos financeiros.
A partir das citações e perspectivas dos corredores de rua, o período pós-competitivo
para muitos é animador, pois os recursos tecnológicos (fotos, mensagens, vídeos, etc) fazem
com que a competição sirva como um espaço de recordações de uma equipe/comunidade ou
grupo (BALBINOTTI et al., 2007; RÚBIO, 2000).
É importante destacar neste estudo os aspectos do comportamento humano e o uso
WhatsApp®, pois tal tecnologia pode ser uma ferramenta que possibilita aos treinadores o
acompanhamento de seus corredores de rua durante os períodos pré e pós competitivo, por meio
de trocas de mensagem, imagens, vídeos e de outras formas de interação.
Partindo desses pressupostos, o objetivo desse estudo foi realizar uma análise das trocas
de mensagens entre os usuários do grupo de corrida de rua, utilizando o aplicativo WhatsApp®,
para identificar possíveis comportamentos e percepções em relação às fases pré e pós-
competitiva.

3 METODOLOGIA

A amostra foi composta por 60 voluntários, sendo 42 homens (34±3,4 anos) e 18


mulheres (32±2,6 anos). A coleta de dados foi feita a partir do método observacional simples,
no qual o pesquisador não realizou qualquer tipo de manifestação ou interação com os
participantes da pesquisa.
O pesquisador fez contato com o administrador do grupo e responsável pela equipe de
corrida para que pudesse ser inserido no grupo do aplicativo WhatsApp®. Em seguida, foi feita
a apresentação do pesquisador e, consequentemente, da pesquisa que o mesmo desenvolveu
com os integrantes do grupo de corrida de rua, por meio do WhatsApp®. A pesquisa foi
aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de
Lavras (CAAE: 86592718.0.0000.5148). Os critérios de inclusão da amostra determinaram que
os participantes deveriam estar na faixa etária de 19 a 70 anos e com mais de um ano praticando
corrida de rua.
Como critério de exclusão, estabelecemos qualquer desconforto com a participação na
pesquisa, por algum fenômeno por consequência de lesões articulares, e ou por qualquer motivo
que levasse o participante ao abandono da equipe de corrida.

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A pesquisa teve abordagem qualitativa, pois contou com conteúdo textual, divisões e
atribuições de categorias para a análise dos dados. De acordo com Bardin (2011), a
categorização de conteúdo facilita o agrupamento de informações acerca daquilo que está sendo
tratado, pois o que é similar é posto em categorias para posteriormente realizar uma análise. A
coleta de dados foi feita online, ou seja, somente dentro do grupo do aplicativo WhatsApp®,
no período de 03/09 a 10/11/2018, acompanhando tanto a fase pré-competitiva quanto a fase
pós-competitiva.
A competição alvo deste estudo foi o XTERRA™, etapa Tiradentes-MG (Brasil), que
foi realizada nos dias 29 e 30 de setembro de 2018. Os corredores que compuseram a amostra
desse estudo participaram das seguintes provas: 5 km (27 pessoas); 7,5 km (18 pessoas); 21 km
(9 pessoas) e 50 km (6 pessoas). As corridas aconteceram durante o dia, exceto a prova de 5
km. Posteriormente ao período de análise das mensagens, o pesquisador fez o uso de um dos
recursos do aplicativo WhatsApp®: O backup. Por meio do próprio aplicativo, é possível
arquivar e salvar todas as conversas que estão dispostas no modo privado ou em grupo. Para
minimizar os riscos, pelo fato de o material conter nomes, fotos, vídeos e qualquer tipo de dado
que exponha a imagem do participante ou de terceiros, tais informações pessoais não serão
apresentadas no presente estudo.
Por conta do grande volume de material, a análise dos dados foi realizada em duas
etapas. Em um primeiro momento, foi analisado todo o conteúdo com o objetivo de mapear as
principais temáticas, a frequência de mensagens compartilhadas durante o período escolhido e
de apontar indicadores que permitissem a constituição de um corpus para uma leitura qualitativa
e em profundidade. Após a observação, o conteúdo textual foi distribuído em categorias e
realizada uma análise estatística descritiva. O MICROSOFT EXCELL® foi utilizado para
calcular soma, média e total das mensagens. Para tanto, cada categoria foi apresentada em
porcentagem. Em seguida, dentro da semana observada, como foi determinado,
acompanhamos, um dia antes e depois da competição, para descrevermos e analisarmos esses
momentos, a partir de categorias de análise das interações do grupo investigado, via
WhatsApp®.
Para a análise qualitativa das mensagens, o método utilizado foi à análise de conteúdo,
técnica que abrange iniciativas de explicitação, sistematização e expressão de conteúdo de
mensagens, com o objetivo de efetuar deduções lógicas e justificadas a respeito da origem das
mensagens (BARDIN, 2011).

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

No período de 03/09 a 10/11/2018, foram trocadas 884 mensagens no grupo. Durante


a observação de temáticas e de conteúdos nessa semana, foram mapeadas 13 categorias mais
recorrentes. O Quadro 1 representa a quantidade de mensagens trocadas, a categorização dos
assuntos no grupo de corrida de rua e a frequência em porcentagem das mensagens.

Quadro 1 – Categorias e quantidade de mensagens trocadas no período analisado.


Categorias Frequência
(Porcentagem e
Quantidade)
1. Encontro para treinos de corrida 12% (106)

2. Emoticons e emojis 7% (62)

3. Experiência do cotidiano e do 9% (81)

momento

4. Expressões que indicam risadas 2% (18)

5. Imagens e vídeos 12% (106)

6. Notícias sobre eventos de corrida 2% (18)

7. Onomatopeias e interjeições 5% (44)

8. Saudações 8% (70)

9. Sugestão e aconselhamento 6% (53)

10. Motivação antes da corrida 11% (97)

11. Divulgação dos resultados da corrida 13% (114)

12. Festejar o cumprimento da corrida 11% (97)

13. Combinações de próximas provas de 2% (18)

corrida

Total de categorias: 13 Total de mensagens =

884

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A categoria “Encontro para Treinos de Corrida” engloba os convites entre os


participantes para realizarem alguma atividade em conjunto, nos quais eles combinavam
formas de deslocamento, hospedagem em hotéis e locais para alimentação. Foram aqui
incluídas corridas locais, estaduais, nacionais e internacionais.
A categoria “Emoticons e Emojis” incluiu expressões que indicavam risadas,
onomatopeias e interjeições, pois são elementos da comunicação informal, bem comum no
âmbito virtual.
A categoria “Notícias sobre Eventos de Corrida” contém informações que os
participantes divulgaram para outros corredores sobre corridas que iriam acontecer na cidade,
estado ou país, assim como detalhes sobre quais deles participariam das corridas.
As categorias “Experiência do Cotidiano e do momento” e “Sugestão e
aconselhamento” representam momentos em que os participantes relataram o dia a dia de
seus treinos, as dificuldades, perspectivas, dúvidas e os sucessos. Sendo assim, o treinador
entrava nessas discussões construtivas para sanar qualquer tipo de questionamento acerca dos
treinos.
As categorias “Saudações” e “Imagens e vídeos” apresentaram-se juntas, pois a
quantidade de mensagens de “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite” eram acompanhadas por
vídeos e imagens. Para as divulgações de corridas, os participantes utilizaram recursos de
imagem e vídeo, com o intuito de despertar o interesse dos outros membros do grupo. Nesse
aspecto, os participantes sentiram-se atraídos quando a corrida envolvia alguma marca
esportiva como Nike®, Adidas®, Under Armour®, Asics®, Fila® ou qualquer outra do
segmento.
A categoria “Motivação antes da corrida” foi estabelecida incluindo mensagens do
treinador com a finalidade de levar segurança, confiança, motivação e outros aspectos para
que cada corredor pudesse dar o seu máximo nas corridas.
As categorias “divulgação dos Resultados da Corrida” e “Festejar o Cumprimento da
Corrida” são as categorias mais marcantes da equipe, porque os membros do grupo marcavam
encontros sociais em bares ou restaurantes para festejarem uma etapa ou prova vencida.
A categoria “Combinações de Próximas Provas” contém informações sobre quais
corridas o grupo iria participar, bem como votações dos corredores sobre quais competições
seriam ideais para poderem competir. Portanto, as categorias listadas aparecem para marcar
como a equipe é vencedora e a união dos seus participantes.

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Os resultados mostram o interesse entre os participantes em divulgar as corridas, a


motivação antes da competição e na pós-competição marcada pela divulgação dos êxitos dos
corredores. Por meio desses dados, buscamos compreender as interações da equipe, a partir de
um diálogo entre uma perspectiva mais comunicacional.
Houve destaque para três categorias nas quais o volume de mensagens foi mais alto
(mais de 100 mensagens sobre o assunto), entre elas: “Encontro para treino de corrida”,
“Imagens e Vídeos” e a “Divulgação dos resultados da corrida”.
Segundo Balbinotti et al. (2015), no que diz respeito à categoria Encontro para treino de
corrida, afirmam que atividades em conjunto proporcionam uma maior motivação, nas quais os
praticantes de exercícios físicos e de esportes conseguem até obter um desempenho superior
quando comparado com o mesmo sujeito sozinho
Truccolo, Maduro e Feijó (2008), quanto à “Categoria Imagens e vídeos”, explicam que
os recursos visuais, na maioria das situações, têm o objetivo de chamar a atenção das pessoas.
Essas ferramentas estão ficando muito comuns em redes sociais, pois seu uso possibilita uma
difusão e alcance mais assertivo ao comparado com textos digitados.
Quanto à categoria “Divulgação dos resultados da corrida”, segundo Massarella (2008),
o final de uma competição é a chance de cada competidor mostrar seus resultados, pois toda
prova de corrida de rua tem seus desafios e dificuldades; sendo assim, cada competidor tem sua
maneira de expressar seu desempenho e mostrar o quanto valeu o esforço enfrentado. Essa ideia
corrobora com os resultados de Mizruchi (2006), para quem, além da corrida de rua, os
corredores fazem o consumo de diversos produtos ligados à corrida de rua (tênis, bonés,
mochilas de hidratação, suplementos, roupas e outros), como uma forma de mostrar que estão
engajados no esporte.
Os grupos de conversa do WhatsApp® podem ser um tipo de comunicação ativa que
permite partilhas de decisões e a criação de vínculos sociais. O aplicativo também pode ser
usado como um canal mais rápido com o intuito de dinamizar encontros entre os demais
usuários. Dessa forma, podemos lançar mão desse meio para compreender melhor este tipo de
público, acompanhando seus hábitos, consumos e práticas. Podemos dizer que o próprio
WhatsApp® é um produto cultural. A convergência midiática do dispositivo agrega valor
simbólico ao aplicativo e o torna um objeto de consumo (BALBINOTTI et al., 2015;
RASCADO et al., 2014; BALBINOTTI et al., 2011).
Lasen (2004) observou que os indivíduos frequentemente seguram o celular, mesmo
sem usá-lo. Além disso, os dispositivos constituem “tecnologias afetivas” e medeiam as
emoções e os laços sociais, ou seja, os usuários possuem um relacionamento emocional com

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seus telefones e sentem-se ligados a eles. No presente estudo, os participantes e o treinador


conseguiam conversar acerca de suas planilhas e quando surgiam muitas dúvidas o treinador
acompanhava os treinos e consequentemente um grande número de participantes se reunia em
prol daquele que possuía alguma dificuldade. Esse tipo de comportamento justifica o fato de
que eles se enquadrariam em uma equipe de corrida, e não em um grupo de corrida ROBBINS;
JUDGE; SOBRAL, 2010)
Do mesmo modo, durante as corridas de rua, os participantes mandavam arquivos de
áudios para a equipe, para saber se alguém estava em determinado ponto da cidade para se
encontrarem e fazerem um percurso juntos ou simplesmente mandavam as mensagens para
dizerem como estava sendo difícil o percurso proposto pelo treinador. De acordo com
SANFELICE et al. (2017), a corrida de rua provoca em seus participantes um estado de euforia
e, consequentemente, promove uma adesão daqueles que a praticam.
Das treze categorias listadas, podemos observar uma maior frequência sobre aquelas
que norteavam essa pesquisa: o comportamento pré e pós-competição. O comportamento pré-
competição precisa ser bem trabalhado entre os participantes, porque é o momento em que o
sujeito precisa estar psicologicamente e fisiologicamente equilibrado, pois qualquer alteração
pode fazer com que o desempenho seja comprometido (SANFELICE et al., 2017; SPENCE,
2014).
Da mesma forma, o período pós-competitivo, pode ser um momento em que o sujeito
comemore mais uma conquista, pois, depois de uma longa maratona, meia maratona ou de outro
percurso, pode ser motivo de comemoração com fotos, vídeos, áudio ou outra forma de
extravasamento (BALBINOTTI et al., 2015).
Os corredores de rua que participavam da equipe puderam contribuir positivamente com
a pesquisa, pois expressaram naturalmente como se sentiam antes e depois da competição.
Vimos que eles mostravam mais preocupações durante a competição. Depois dela,
apresentavam receios, medos, dúvidas e até o medo de lesões durante o percurso da competição.
Porém, o treinador tentava minimizar tais preocupações por meio de conselhos e de sugestões
aos participantes.
De acordo com Trucolo, Maduro e Feijó (2008), é de fundamental importância o
treinador estar presente em todas as etapas que se referem à competição, pois assim a adesão
dos seus alunos ao esporte e a probabilidade de êxito serão grandes. Dumith, Domingues e
Gigante (2008) mostraram que o treinador é uma ferramenta importante em qualquer tipo de
processo quando se refere ao esporte de alto rendimento e até nível de amadorismo.

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Ao analisar as mensagens por fase competitiva, observamos que os participantes se


manifestavam mais pelo aplicativo no período pós-competitivo, quando comparado com o pré-
competitivo. Este achado pode ser justificado porque, ao final das competições, o desejo de
divulgar os resultados, através de textos, fotos e vídeos, torna mais forte o fator social. Além
disso, parece mais proeminente porque eles estão juntos como equipe no local da competição e
a alegria e o sucesso são dominantes nessa fase (SANFELICE et al., 2017; BALBINOTTI et
al., 2015; SPENCE, 2014).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo, identificamos o comportamento de um grupo de corredores de rua nas


fases pré e pós-competitiva, utilizando o WhatsApp® como ferramenta. No período do estudo,
foi observado que, antes da competição, os corredores de rua expressavam insegurança, medos
e traços de ansiedade. Nesse momento, o papel do treinador é de suma importância, pois através
de estratégias como textos, vídeos, imagens, filmes e até mesmo reuniões pode proporcionar
segurança, motivações, fazendo com que os competidores mantenham o foco e possam
competir dando o melhor de si. Após a competição, os corredores expressavam sensações de
conquista, vitória e êxito por mais uma corrida concluída.
Entre as fases competitivas, foi observado que houve maior troca de mensagens no
período pós-competitivo, pois é nesse momento que os corredores expressavam suas emoções,
através de mensagens, fotos e vídeos, por mais uma competição finalizada. Foi também nesse
momento que os membros do grupo estavam juntos para poderem interagir e demonstrar a união
que há entre eles. Mensagens sobre encontro para treinos de corrida, imagens e vídeos
motivacionais e a divulgação dos resultados da corrida foram as mais frequentes. Isso pode ser
justificado por serem os assuntos mais tratados no grupo WhatsApp® durante o período do
estudo.
Até a finalização desta pesquisa, não foram encontrados trabalhos que tratassem do
aplicativo WhatsApp® e as suas dinâmicas envolvendo esse esporte, considerando os períodos
pré e pós-competitivo. A maioria dos materiais disponíveis na literatura trata de comunicação
mediada por computador ou por celulares, mas ainda são escassos os estudos com smartphones
e aplicativos de celular, em especial com o WhatsApp®, indicando uma lacuna na literatura e
a necessidade de mais estudos sobre o tema.

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Rev. FSA, Teresina PI, v. 17, n. 6, art. 13, p. 244-258, jun. 2020 www4.fsanet.com.br/revista
E. E. M. Nunes, P. C. Valim-Rogatto, A. A. Vilas Boas 258

Como Referenciar este Artigo, conforme ABNT:

NUNES, E. E. M; VALIM-ROGATTO, P. C; VILAS BOAS, A. A. Impacto da Rede Social na


Motivação para Adesão à Prática de Corrida de Rua. Rev. FSA, Teresina, v.17, n. 6, art. 13, p. 244-
258, jun. 2020.

Contribuição dos Autores E. E. M. P. C. A. A. Vilas


Nunes Valim- Boas
Rogatto
1) concepção e planejamento. X X
2) análise e interpretação dos dados. X X
3) elaboração do rascunho ou na revisão crítica do conteúdo. X X X
4) participação na aprovação da versão final do manuscrito. X X X

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MOTIVAÇÃO E QUALIDADE DE VIDA EM CORREDORES AMADORES DE
RUA NA REGIÃO DO ALTO TIETÊ

Arthur Okitsu Buark Alves1, Fábio Ujie Campolino2, Camila Campos Guerra3, Silvia
Regina Matos da Silva Boschi4

Estudante do Curso de Educação Física; e-mail: arthurokitsu@hotmail.com¹


Estudante do Curso de Educação Física; e-mail: fabio_campolino@hotmail.com2
Professor da Universidade de Mogi das Cruzes; e-mail: camilacg@umc.br3
Professor da Universidade de Mogi das Cruzes; e-mail: boschi@umc.br4

Área do Conhecimento: Educação Física

Palavras-chave: motivação; qualidade de vida; corredor amador.

INTRODUÇÃO
Segundo Fraga (2006) a prática de atividade física moderada, é importante para quem
busca um estilo de vida saudável, pois auxilia no combate do sedentarismo, gerando
melhora da capacidade cardiorrespiratória, do controle de peso, da pressão arterial e
aumento da densidade óssea, além de benefícios psicológicos, como redução de
estresse, diminuição de depressão e aumento da autoestima. No Brasil, segundo Dallari
(2009) as primeiras corridas de rua tiveram seu início do século XX, sendo que a mais
famosa, a Corrida de São Silvestre realizada na cidade São Paulo, teve sua primeira
edição em 1925. Salgado et al, (2006) justifica que essa grande procura pela corrida,
pois essa modalidade não necessita de um grande investimento. Os corredores de rua
são diferenciados em corredores amadores e profissionais. É possível observar algumas
diferenças entre eles sendo que de acordo com (MASSARELA, 2008), existem pessoas
que vivem exclusivamente em função da corrida de rua considerados atletas
profissionais, porém um número elevado de praticantes de corrida de rua é representado
por corredores amadores, que normalmente trabalham o dia todo em outra ocupação,
estudam, possuem diversas obrigações e ainda encontram disposição para treinar
diariamente, estes adoram o ambiente das provas, da emoção, prazer e alegria
proporcionada pela competição.

OBJETIVOS
Verificar a motivação e a qualidade de vida em corredores amadores de rua na região do
Alto Tietê.

METODOLOGIA
Foram selecionados 100 corredores amadores, homens e mulheres com idade entre 19 a
62 anos. Foram adotados como critérios de inclusão: maiores de 18 anos; corredores
amadores; ausência de alterações neurológicas; com no mínimo seis meses de prática de
corrida. Após a aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética da Universidade
de Mogi das Cruzes (CAEE: 56350116.8.0000.5497), foi feita a seleção dos voluntários
de acordo com os critérios de inclusão. Os voluntários foram abordados em locais
públicos, durante a sua participação em corridas de rua ou em treinos nas praças. Os
mesmos foram informados quanto aos objetivos e procedimentos da pesquisa e a partir
da sua aceitação, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Em seguida
foi realizada a caracterização da amostra a partir do levantamento dos dados referentes a
idade, sexo, tempo de prática desportiva, número de treinos por semana, dentre outros.
Após foi aplicado por meio de uma entrevista, 2 questionários, sendo o primeiro o
Inventário de Motivação à Pratica Regular de Atividades Físicas e Esportivas
IMPRAFE-54 (Balbinotti e Barbosa 2006), e em seguida foi aplicado o questionário
WHOQOL-BREF para a análise da qualidade de vida dos praticantes de corrida de rua
(FLECK et al., 2000) Após a aplicação dos 2 questionários foi realizado o levantamento
dos dados para análise. Os dados foram expostos por meio de tabelas e gráficos, e
tabulados por meio da frequência, média e desvio padrão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram selecionados para esta pesquisa 100 voluntários com idades entre 19 e 62 anos
(37,92±10,90) sendo 55% do sexo masculino e 45% do sexo feminino com tempo de
prática de (5,20±5,28) que praticam a modalidade entre duas e sete vezes por semana,
sendo que 28,04% praticam a modalidade 3 vezes por semana e 21,5% praticam a
modalidade 2 vezes por semana.
Os voluntários foram questionados sobre como conheceram a modalidade, onde os
dados levantados demonstram que 56,6% dos voluntários conheceram a modalidade
através de amigos, 25,47% conheceram a modalidade através de outros meios e 8,49 %
por orientação médica.

Figura 1 – Média dos escores da qualidade de vida nas diferentes faixas etária

De acordo a Figura 1, é possível observar os escores de qualidade de vida, sendo que o


domínio físico foi predominante em todas as faixas etárias, os adultos atingiram o
melhor escore nesse domínio (79,5), também podemos observar que o domínio
psicológico obteve escore elevado, média geral de (71,6). Foram encontrados valores
similares por Meissner et al. (2017) que utilizaram o instrumento para coleta dos dados
o questionário WHOQOL-BREF em 75 mulheres praticantes de corrida de rua, sendo
que os valores alcançados nos domínios físico foram (76,3) e psicológico (75,3),
também identificaram que o domínio ambiente obteve menor pontuação média de
(71,2). Da mesma forma, que Tedesco (2006), que buscou avaliar a qualidade de vida
em corredores da prova da São Silvestre, em 962 corredores, utilizando o questionário
WHOQOL-BREF, onde pode-se comparar que os corredores também valorizaram os
escores nos domínios físico e psicológico, com o maior escore de (84,7±12,6) no
domínio físico e psicológico (81,3±9,7), assim como em nossa pesquisa e o domínio
ambiente novamente foi classificado com uma menor pontuação, com escore de
(58,6±14,5). Neste estudo observou-se que os escores do domínio ambiente foram os
que apresentaram menor média geral (61,3) em comparação com os outros domínios. O
menor escore atingido foi no domínio social nos adultos (59,1), porém nas demais
faixas o domínio obteve escore com maiores pontuações. Em relação aos jovens pode-
se destacar o domínio psicológico (76,2) social (76,0) e ambiente (62,3) sendo que
apresentam uma qualidade de vida superior, em relação à média geral das demais faixas
etárias, apresentando escores elevados em todos os domínios.

Tabela 3 - Média das dimensões para a motivação da prática de atividade física nas
diferentes faixas etárias
Controle
Faixas etárias de estresse Saúde Sociabilidade Competitividade Estética Prazer
Jovens adultos 28.72 35.36 25.59 24.45 34.31 36.27
Adultos 30.64 36.52 27.07 16.28 27.35 35.96
Idosos 29 34.5 27 18 22 35
Total 30.19 36.23 26.75 18.12 28.78 36.01

Na Tabela 3 é possível observar a média das dimensões para a motivação da prática de


atividade física nas diferentes faixas etárias, sendo que os fatores motivacionais de
predominância foram saúde (36,23) e prazer (36,1). Em relação aos fatores de controle
de estresse e sociabilidade notamos que os valores são próximos com variação de
apenas 1,5 em todas as faixas etárias. Também foi possível observar uma queda
considerável em relação à competividade e a estética quando relacionada com o
aumento da idade dos praticantes de corrida de rua, porém não podemos afirmar com
exatidão pelo fato do número da amostra não ser equivalente em todas as faixas etárias,
pois a coleta dos dados foi realizada de forma aleatória. Em pesquisa realizada por
Balbinotti et al. (2015) com corredores de rua em diferentes tempos de prática, foram
encontrados dados semelhantes aos dessa pesquisa, onde a média dos escores mais altos
foram no grupo com menos de 1 ano de corrida (118,38) para a dimensão saúde,
(110,25) dimensão prazer e (94,58) controle de estresse, já no grupo permanência a
dimensão saúde atingiu (117,77), prazer (116,09) e a dimensão controle de estresse
(102), a diferença na pontuação dos escores em relação a pontuação deste trabalho se dá
ao fato que para esta pesquisa foi utilizado um questionário resumido do instrumento de
pesquisa IMPRAFE-132 o IMPRAFE-54. A dimensão de motivação competitividade
apresentou menor escore tanto no grupo permanência quando no grupo adesão, dados
que vão de encontro com os encontrados no presente estudo que também revelou menor
escore na dimensão de competitividade com pontuação média de (18,12). Em estudo
realizado por Rissoni, Araujo e Boschi, (2015), com 100 voluntários idosos, praticantes
de atividade física, entre 60 e 84 anos, verificaram que o fator de maior importância foi
o social escores (33,7) seguido por saúde (33,5) e o prazer com (22,6), dados esses que
não vão de encontro com essa pesquisa onde os resultados alcançados com os idosos
foram prazer como maior fator motivacional com média de (35) seguido de saúde (34,5)
e logo após sociabilidade com (27). Sugere-se que o pequeno número de voluntários
idosos neste estudo pode ter influenciado para esses dados divergirem e outro fator é
que o estudo acima citado foi realizado com praticantes de diversas modalidades
esportivas.

CONCLUSÕES
Através desse estudo foi possível verificar que a qualidade de vida e a motivação
apresentaram poucas diferenças entre as faixas etárias. Os escores de qualidade de vida
que tiveram melhor pontuação na média geral foram os domínios físico (79,0) e
psicológico (71,6). O domínio ambiente foi o que atingiu menor média geral (61,3). Os
jovens adultos foram os que apresentaram melhor qualidade de vida, escores mais
elevados nos domínios: psicológico (76,2), social (76,0) e ambiente (62,3). Em relação à
motivação dos corredores, também não houve grandes diferenças entre os fatores
motivacionais nas diferentes faixas etárias, os fatores predominantes foram saúde
(36,23) e prazer (36,01), controle de estresse (30,19) e a estética (28,78) também
demonstraram serem fatores motivastes para a prática de atividade física,
principalmente nos jovens adultos, sendo que os valores de estética e competividade
caíram de acordo com a idade mais elevada. Faz-se necessária a realização de mais
estudos com um numero maior da amostra de jovens adultos e idosos a fim de comparar
de forma mais efetiva a motivação e a qualidade de vida nas diferentes faixas etárias.

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RECEBIDO: 10-12-2018
APROVADO: 24-07-2019

ARTIGO ORIGINAL
DOSSIÊ PSICOLOGIA DO ESPORTE

Motivação para a prática da corrida de rua: diferença entre atletas


amadores de alta performance e atletas amadores
Motivation for the practice of the street race: difference between high performance amateur
athletes and amateur athletes
DOI: http://dx.doi.org/10.36453/2318-5104.2019.v17.n2.p21

Pâmela Norraila da Silva1, Bruna Solera1, Taís Luiz de Almeida2,


Ana Luiza Barbosa Anversa1,3, Francisco de Assis Manoel1
1
Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Centro Universitário Leonardo da Vinci (Uniasselvi)
2
3
Centro Universitário Metropolitano de Maringá (Unifamma)

RESUMO
Objetivo: Esse estudo investigou a motivação para a prática de corrida de rua em atletas amadores de alta performance e
amadores da cidade de Maringá (PR). Métodos: Participaram 34 atletas de corrida de rua (16 amadores e 18 amadores de alta
performance). Como instrumentos de coleta de dados foram aplicados um questionário sociodemográfico para caracterização
da amostra e trajetória no esporte assim como a Escala de Motivação para o Esporte (SMS- II). Para análise dos dados, foi
utilizado o pacote estatístico SPSS 20.0. As respostas sociodemográficas dos atletas foram expressas em estatística descritiva; os
dados da escala de motivação foram expostos em média e desvio padrão, para verificar a normalidade dos dados foi adotado o
teste Shapiro Wilk, a comparação da motivação para o esporte dos atletas foi utilizado o teste “t” de Student, adotado o nível de
significância de p<0,05. Resultados: Os resultados apontaram que a média de idade dos atletas foi de 34,3±8,1 anos; 52,9% são
do sexo masculino e 47,1 são do sexo feminino; o tempo de prática varia de 3 meses à 22 anos. Com relação à motivação para o
esporte, foi predominante a motivação intrínseca tanto para o grupo de atletas amadores de alta performance (6,2±1,1) quanto
para atletas amadores (5,8±1,6). Além do mais, não foram encontradas diferenças estatísticas na motivação entre os grupos.
Conclusão: Não há diferença entre motivação para a prática de corrida de rua entre atletas amadores de alta performance e
amadores da cidade de Maringá, além disso, para ambos os atletas as motivações para o esporte são predominantemente
intrínsecas.
PALAVRAS-CHAVE: Incentivo; Treino Aeróbico; Praticantes.
ABSTRACT
Objective: This study investigated the motivation for the practice of street racing in high performance amateurs athletes and
amateurs of the city of Maringá-PR. Methods: Thirty-four street-racing athletes participated (18 high performance and 16
amateurs). Sociodemographic questionnaires were used to characterize the athletes and trajectory in the sport, as well as the
motivation scale for the sports (SMS-II). Data were analyzed using the Statistical Package for the Social Sciences 20.0 software
(SPSS Inc., USA). Results: The sociodemographic responses of the athletes were expressed in descriptive statistics; data for
the motivation scale are presented as means ± standard deviations (SD), to verify the normality of the data the Shapiro Wilk
test was used, the comparison of the motivation for athletes’ sports, with a significance level of p<0.05. The results indicated
that the mean age of the athetes is 34.3±8.1 years, and 52.9% are male and 47.1% are female, and the practice time varies
from 3 months to 22 years. Regarding the motivation for the sport, the intrinsic motivation was predominant for both the high
performance athlete group (6.0±1.1) and for amateur athletes (5,8±1,6). Conclusion: There is no difference between motivation
for the practice of street racing between high performance amateurs athletes and amateurs of the city of Maringá, moreover,
for both athletes the motivations for the sport are predominantly intrinsic.
KEYWORDS: Incentive; Endurance Training; Athletes.

Direitos autorais são distribuídos a partir da licença


Creative Commons
(CC BY-NC-SA - 4.0)
SILVA et al.
22 Motivação para a prática da corrida de rua: diferença entre atletas amadores de alta performance e atletas amadores

INTRODUÇÃO

Com o avanço das tecnologias, grande parte dos trabalhos vem sendo substituídos por máquinas, assim como
ações cotidianas tem contado com recursos como carros, elevadores, computadores, celulares, entre outros (TOMAZINI;
SILVA, 2014). Devido a isso, cresce o número de pessoas sedentárias agravando o estado de saúde da população. Por outro
lado, a população tem sido informada cada vez mais sobre a importância e os benefícios que uma vida fisicamente ativa
pode vir a proporcionar para o organismo, destacando, melhoras no sistema cardiorrespiratório, aumento da densidade
mineral óssea e diminuição do risco de doenças crônico-degenerativas (ANTUNES et al., 2006). Além disso, o exercício
físico pode auxiliar na prevenção e tratamento da hipertensão arterial, resistência à insulina, diabetes, dislipidemia e
obesidade (CIOLAC; GUIMARÃES, 2004). Dentre os diversos exercícios praticados pela população em geral, destaca-se a
corrida, em específico a corrida de rua.
Grande número de pessoas tem procurado a corrida de rua como exercício físico, devido a sua facilidade e o
baixo custo para prática (BARRIOS, 2009; LIMA; VIEIRA; SILVA, 2017), além de uma busca de melhorar a qualidade de
vida, integração social, promocional, negócios, responsabilidade social e para alguns é uma profissão (HAYEK, 2014;
ALBUQUERQUER et al., 2018). Castro (2014) ressalta que a busca pela qualidade de vida e o bem-estar tem se colocado
como os maiores atrativos para corrida de rua, que também compreende a relação entre corpo e movimento no contexto
sociocultural. É visível que uma corrida orientada melhora os níveis de colesterol e diabetes, controla hipertensão arterial,
previne osteoporose, doenças cardiovasculares, câncer e obesidade (NEITZ, 2010; ISHIDA et al., 2013; BALBINOTTI et al.,
2015), controla e/ou auxilia na perca do peso corporal (TOMAZINI; SILVA, 2014; NEITZ, 2010), e auxilia na redução dos
índices de estresse e ansiedade, proporcionando sentimentos de prazer, bem-estar e realização pessoal (NEITZ, 2010;
GONÇALVES, 2011).
Os praticantes da corrida podem ser considerados corredores amadores, amadores de performance e elite, uma
vez que, conforme Rojo (2017), a corrida de rua é o único esporte capaz de unir atletas amadores e de elite em um
mesmo evento. No entanto, nota-se que muitos não sabem a diferença entre essas três categorias, apenas considera
elite os que “largam a frente”. Segundo Ruivo (2018), atleta de elite profissional faz do esporte sua renda e vive dele, ou
seja, se dedica exclusivamente a corrida. De acordo com os parâmetros usados pelas federações estaduais e a Comissão
Brasileira de Atletismo (CBAt), um atleta de elite tem o tempo igual ou inferior a 31 min para homens e 36 min para
mulheres (ritmo por km 3’06’’e 3’36’’, respectivamente) na prova dos 10k; tempo igual ou inferior a 48 min para homens
e 57 para mulheres (ritmo por km 3’12’’e 3’48’’, respectivamente) na prova dos 15k; tempo igual ou inferior a 01h08
min para homens e 01h20 min para mulheres (ritmo por km de 3’13’’ e 3’47’, respectivamente) para a Meia-Maratona;
tempo igual ou inferior de 02h20 min para homens e homens e 02h48 min para mulheres (ritmo por km de 3’19’’ e 3’58’’,
respectivamente) na Maratona (RUIVO, 2018).
Os atletas amadores são aqueles que praticam eventualmente a modalidade por prazer ou vaidade, sem intenção
de lucro e inexistência de qualquer incentivo material ou remuneração (ROMERO, 2018). Por outro lado, há os amadores
que buscam performance, ou seja, aqueles que praticam o esporte sem receber remuneração, porém recebem incentivos
materiais e/ou patrocínios (ROMERO, 2018).
Nesse sentido, questionamos: O que motiva a prática da corrida de rua por atletas amadores? A partir disso,
realizou-se uma revisão da literatura sobre corrida de rua e motivação, e foi encontrado que a motivação vem sendo
abordada em estudos pela Teoria da Autodeterminação (DECY; RYAN, 1985; DECY; RYAN, 2009), e que fundamenta o
plano de fundo deste estudo. Esta teoria aborda que a motivação do indivíduo deve ser considerada pela satisfação das
necessidades psicológicas básicas de competência, autonomia e relacionamento (DECY; RYAN, 2009). De acordo com
Coimbra et al. (2013) a necessidade de competência é o se sentir capaz de fazer algo; a autonomia parte do desejo de
se sentir na origem das suas ações, enquanto a necessidade de relacionamento se fundamenta no esforço de constituir
relações afetivas com o meio em que vive. Assim, para tentar satisfazer suas necessidades e atingir a autodeterminação,
o sujeito pode ser motivado intrínseca ou extrinsecamente (DECI; RYAN, 1985)
Quando voltamos o olhar para os estudos que tratam da motivação no esporte, poucos são os estudos que tratam
da temática corredores amadores de performance, porém muitos são os achados com atletas amadores em diversas
modalidades, como praticantes de escalada e skate downhill (VIEIRA et al., 2011), nadadores (NAZARIO et al., 2013),
jogadores de futebol (BORGES et al., 2015), e golfistas (MANSOR et al., 2019) e ambas pesquisas relatam uma maior nível
de motivação intrínseca dos atletas para atingir seus objetivos. Já o estudo de Mizoguchi et al. (2014) com corredores
de rua, foi encontrado que os atletas apresentaram maiores motivações intrínsecas, mas quando comparado com
outros fatores de influência na prática, foi possível observar que atletas mais jovens expressam níveis de motivação mais
extrinsecamente.
Assim, surge a seguinte inquietude: Há diferença entre os motivos para a prática de corrida de rua entre atletas
amadores de alta performance e amadores? A motivação intrínseca é o principal fator para manutenção nos treinamentos

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Motivação para a prática da corrida de rua: diferença entre atletas amadores de alta performance e atletas amadores 23

de corrida de rua? Dessa forma, o estudo teve por objetivo identificar a motivação para a prática de corrida de rua entre
atletas amadores de alta performance e amadores do município de Maringá (PR). Nossa hipótese é que a motivação dos
atletas seja intrínseca, ou seja, a prática da corrida de rua é por condições internas do sujeito, sem objetivo de receber
algo por isso. Com esse estudo, espera-se contribuir com a ampliação da produção do conhecimento já existente sobre
corrida de rua e motivação, assim como, auxiliar, aos treinadores deste esporte, de forma que consigam reconhecer e
identificar qual a motivação do seu grupo, para o aperfeiçoamento do rendimento de seus atletas e compreender os
motivos que levam atletas a ingressar em um dos esportes mais populares no Brasil.

MÉTODOS

Participaram da pesquisa 34 atletas (sendo classificados como 16 amadores e 18 classificados como de alta
performance) de corrida de rua do município de Maringá (PR), cujo os critérios de inclusão foram: a) aceitar a participação
na pesquisa mediante a assinatura do Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE); b) estar treinando regularmente;
e c) responder de forma correta os questionários. Para coleta de dados, vários grupos de corrida foram contatados para
explicar sobre os objetivos da pesquisa. A partir disso, foram entregues 60 TCLE, tendo o retorno de 34 deles, respondidos
corretamente. A participação no estudo foi voluntária e isenta de qualquer bônus ou ônus. Os procedimentos utilizados
nesta pesquisa seguiram as regulamentações exigidas na Resolução n. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde sobre
pesquisa envolvendo seres humanos e foi aprovada pelo comitê de ética sob Parecer n° 1.022.468/2015.
Como instrumentos de coleta de dados foram utilizados questionários sobre os dados sociodemográficos
(identificação do atleta e tempo de prática), de modo a levantar informações básicas sobre os atletas como sexo, idade,
tempo de prática. E a Escala de Motivação para o Esporte (SMS- II), proposta por Pelletier et al. (2013), validada para
a população brasileira por Nascimento Junior et al. (2014), para mensurar a motivação para o esporte dos atletas de
corrida de rua. O instrumento é constituído por 18 questões divididas em seis subescalas (Quadro 1): regulação intrínseca,
regulação integrada, regulação identificada, regulação introjetada, regulação externa e desmotivação, e ainda as respostas
são em escala Likert, com os itens variando de 1 (não corresponde totalmente) até 7 (corresponde completamente).

Quadro 1. Dimensões teóricas e respectivos itens da SMS-II.


Dimensão Itens Descrição
A motivação para realizar determinada atividade deriva da
Regulação Intrínseca 3, 9, 7 satisfação encontrada no próprio comportamento.

É a forma mais autônoma de motivação extrínseca; ocorre


quando o comportamento não é somente visto como algo
Regulação Integrada 4, 11, 14 de valor, mas também é considerado coerente com os outros
objetivos, metas e necessidades de vida.

O comportamento é interpretado como pessoalmente


Regulação Identificada 6, 12, 18 importante e que vale a pena.

Ações dirigidas por uma tentativa de evitar sentimentos de pena


Regulação Introjetada 1, 7, 16 e/ou culpa e vergonha.

Reflete situações nas quais o comportamento é controlado


Regulação Externa 5, 8, 15 externamente por prêmios ou punições.

Desmotivação 2, 10, 13 Consiste na falta de intenção de praticar determinada atividade.

Fonte: Pelletier et al. (2013) apud Nascimento Junior et al. (2014)

A coleta de dados foi realizada no mês de março de 2018 e o local de aplicação do questionário foi nas dependências
de treino dos atletas em dia e horário marcado com os treinadores, para que o pesquisador estivesse presente para sanar
qualquer dúvida de interpretação das perguntas. Para a análise dos dados foi utilizado o pacote estatístico SPSS (Statistical
Package for the Social Sciences), versão 20.0. As respostas obtidas com o questionário sociodemográfico de identificação
dos atletas foi expresso em estatística descritiva. Os dados foram expostos em média e desvio padrão. Para verificar
a normalidade dos dados foi adotado o teste Shapiro Wilk, como os dados apresentaram distribuição paramétrica, os
resultados são apresentados em média e desvio padrão, e o teste “t” de Student foi utilizado para comparar a motivação
entre atletas amadores de alta performance e amadores. Para todas as análises foi adotado o nível de significância de
p<0,05.

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RESULTADOS

Os resultados referentes às características dos 34 atletas de corrida de rua investigados apontaram que, a média de
idade é de 34,3±8,1 anos, sendo que 52,9% são do sexo masculino e 47,1 são do sexo feminino. Na literatura encontramos
estudos diversos, ora com maior participação de mulheres, ora de homens, como é o caso dos achados de Brandão e
Silva (2012), no qual houve maior participação de pessoas do sexo feminino (68,4%) do que masculino (31,6%), enquanto
o estudo de Goston e Mendes (2011) 68,4% dos sujeitos eram homens e 31,6% mulheres, sendo a média de idade de
40,5±8,9 anos. Balbinotti et al. (2015) também investigaram corredores de rua e verificaram a dominância de atletas
masculinos em comparação aos do sexo feminino em sua mostra, com idade média de 35,4±11,1 anos. O que pode ser
observado em comum entre o presente estudo e a literatura, é que a modalidade corrida de rua é praticada por ambos os
sexos e há uma proximidade entre a média de idade dos atletas, assim como é apontado pelo Globo esporte (2017) que o
público praticante de corrida de rua no Brasil atualmente tem idade entre 25 a 35 anos.
Os participantes do presente estudo foram questionados sobre a média de treino semanal de prática de corrida
de rua, considerando que 52,9% são considerados amadores de alta performance, 47,1% amadores, a média de treinos
semanal variou entre 4,3±1,3 dias. Quando questionados há quanto tempo praticam esta modalidade, as respostas
variaram entre 3 meses até 22 anos, sendo que os atletas amadores expressam um tempo de prática de 4,3±4,1 anos,
enquanto os amadores de alta performance foram de 8,6±5,5 anos. Nesse sentido, o estudo de Balbinotti et al. (2015)
trabalhou com grupos específicos de treinamento, tendo grupo ‘adesão’ com 31 participantes, que são aqueles corredores
com menos de um ano de prática e frequência semanal de treino de 3 a 4 dias na semana; e o grupo ‘permanência’
com 31 participantes, classificados com mais de um ano de prática e 5 dias na semana de treino. Ressalta-se que não
foram encontrados muitos estudos comparando o tempo de prática entre atletas amadores e de atletas amadores de alta
performance, porém os achados afirmam que o tempo de prática dos atletas amadores é de aproximadamente de 5 anos
(HESPANHOL JUNIOR, 2012; FERREIRA et al., 2012). Assim, nota-se que devido a corrida ser um novo fenômeno esportivo,
são encontrados grande quantidade de atletas amadores na cidade de Maringá, e pelo pouco investimento no esporte,
poucos são os atletas amadores de alta performance e de elite.
Para descobrir como os atletas de corrida de rua iniciaram a prática esportiva, foram questionados o que os levou
a adesão desse esporte. A partir disso, foi identificado que são diversos os motivos, entre eles reabilitação, à trabalho,
para perder peso, melhorar o condicionamento físico e manter a saúde, por influência da família, amigos ou professores,
devido ao alistamento militar, ou para fugir da depressão por decepções amorosas. Outros atletas ainda contam que
se desafiaram a realizar uma corrida de rua e partir de então, permanecem no esporte até os dias atuais. O estudo de
Herther (2016) também buscou verificar os fatores de adesão e permanência de corredores em provas de corrida de rua
na cidade de Ijuí (RS), e foram questionados 15 corredores por meio de um questionário que aponta seis dimensões dos
fatores de permanência no esporte, sendo elas: competitividade, prazer, estética, controle do estresse, sociabilidade e
saúde.
O autor encontrou que a competitividade, o prazer e a saúde se sobressaem nos resultados obtidos, mas não há
um único fator de adesão e permanência na prática de corrida de rua e estes podem se alterar conforme a idade, gênero
e tempo de prática. Nesse sentido a Teoria da Autodeterminação, auxilia na verificação dos motivos que envolvem os
atletas na prática esportiva, num continuum de níveis de motivação, desde o menos autodeterminado (desmotivação
e motivação extrínseca) ao mais autodeterminado (motivação intrínseca) (BORGES et al., 2015), assim, satisfazendo as
necessidades psicológicas básicas (competência, autonomia e relacionamento).
Com relação aos resultados do questionário de motivação para o esporte utilizado com o objetivo de descobrir se
a prática de corrida de rua se dá por motivos internos ou externos, foi encontrado um alto nível de motivação intrínseca
(6,2±1,1), ou seja, os atletas continuam na prática pela satisfação encontrada em seu próprio comportamento. Cassettari
e Graça (2014) corroboram esta afirmação ao citar que a motivação para participação em treinamentos esportivos advém
da motivação intrínseca. De acordo com os estudos de Legal e Delvan (2011) estar motivado implica em ter alguma
necessidade que move a pessoa na direção da satisfação desta, sendo a motivação intrínseca, aquela que a pessoa faz por
prazer, para ganhar habilidade, para demonstrar suas habilidades.
Outro destaque é que a regulação identificada (5,6±1,2), que é a motivação pelo comportamento importante e
que vale a pena, seguida da regulação integrada (5,1±1,3) e regulação introjetada (4,9±1,1) também expressam alto nível
de motivação para a prática. A regulação externa (2,0±1,2), ou seja, motivação extrínseca, aquela que se busca fazer algo
para obter uma recompensa, ou seja, um reforço externo e desmotivação (1,5±0,9) foram as motivações que pouco se
mostraram presentes entre os atletas de corrida de rua.
Nota-se que na literatura, pesquisas com objetivo de verificar a motivação para a prática esportiva em diferentes
modalidades, como é o caso do estudo de Borges et al. (2015) que objetivou analisar as relações entre os níveis
motivacionais e de desempenho tático de jogadores de futebol de campo, e os resultados corroboram com os achados

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do presente, no qual a motivação intrínseca foi a mais evidenciada entre os atletas. Estudos com atletas de natação
(NAZARIO et al., 2013), esportes de aventura (VIEIRA et al., 2011) e golfistas (MANSOR et al., 2019) com a escala de
motivação para o esporte também foi evidenciada uma alta média na motivação intrínseca. Já com a mesma modalidade,
a corrida de rua, foi encontrado no estudo de Mizoguchi et al. (2014) que os corredores também apresentaram maiores
motivações intrínsecas. Para melhor entendimento e visualização da motivação presente entre os atletas amadores de
alta performance e amadores, foi realizada uma comparação entre os grupos (Tabela 1).

Tabela 1. Comparação entre atletas amadores de alta performance e


amadores na motivação para o esporte.
Amador Amador AP1
Tipo de Motivação p
(N=16) (N=18)
Intrínseca 5,7±1,4 6,1±0,7 0,328
Integrada 4,9±1,3 5,3±1,4 0,459
Identificada 5,6±1,3 5,7±1,1 0,929
Introjetada 4,8±1,3 5,0±0,9 0,556
Externa 1,8±1,5 2,1±1,0 0,472
Desmotivação 1,3±0,8 1,7±1,0 0,281
1
AP - Alta Performence
Fonte: os autores.

Nota-se que não houve diferença significativa entre a motivação esportiva dos atletas amadores de alta performance
e os amadores no presente estudo. Por outro lado, Cassettari e Graça (2014) salientam que a motivação de atletas amadores
e profissionais será diferente, pois os atletas amadores não recebem apoio financeiro para à prática e a motivação acaba
sendo motivação intrínseca, ao contrário dos profissionais, que acaba recebendo patrocínios e recompensas e, assim a
motivação externa se alia a motivação intrínseca em momentos da carreira, e quando a motivação externa é maior no
atleta, esta acaba prejudicando o seu desempenho e o esporte não é prazeroso para si.
Diante dos resultados apresentados, identifica-se que não há diferenças entre a motivação para a prática de corrida
de rua entre atletas amadores de alta performance e amadores do município de Maringá, ou seja, para ambos atletas a
motivação para o esporte é predominantemente intrínseca. Há uma limitação no estudo quanto ao número de atletas de
elite participantes, no qual foram agrupados ao grupo amadores de alta performance pelo ‘n’ reduzido (n=2) e prejudicaria
a estatística do estudo, bem como o retorno dos questionários, pois muitos não foram entregues. Desta forma, sugere-se
que para o estudo futuros tenha um número maior de atletas de elite, assim como, para ampliar as discussões e reflexões,
estender a investigação a treinadores, pois este conta muito para o envolvimento e motivação no esporte.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após análise dos dados obtidos nessa pesquisa, conclui-se que não há diferença entre a motivação de atletas
alta performance e amadores de corrida de rua do estudo e a motivação predominante em ambos os grupos de atletas
é a motivação intrínseca. Salienta-se que os motivos que iniciaram a carreira são diversos, mas quando analisados são
motivos intrínsecos, que se auto desafiam e também pela saúde, visto que na atualidade com todas as transformações
tecnológicas cresce o número de pessoas sedentárias e obesas.

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____________________________________

Autor correspondente: Pâmela Norraila da Silva


E-mail: pamelanorraila@gmail.com

Recebido: 10 de dezembro de 2018.


Aceito: 24 de julho de 2019.

Caderno de Educação Física e Esporte, Marechal Cândido Rondon, v. 17, n. 2, p. 21-27, jul./dez. 2019.
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Revista ENAF Science Volume 11, número 1, Junho de 2016 - ISSN: 1809-2926
Órgão de divulgação científica

MOTIVAÇÃO PARA CORREDORES DE RUA

Faria, P.D.1, Nascimento, S. F.1, Silva, F. S.1, Perazzo,O.S.1,Souza,O.R.1, Scoss, M.D.1


Centro Universitário Ítalo Brasileiro-São Paulo Brasil.
deividyellow@hotmail.com

RESUMO

O presente estudo trata dos motivos que levam o indivíduo a prática regular da atividade física. A
motivação na atividade física vem sendo bastante estudada e está presente em diversas áreas da vida das
pessoas, devido a isso, tem sido um tema bastante tratado pela psicologia. Compreender os motivos que
levam as pessoas a prática da atividade física e a seguirem a praticá-la é importante para manter a mesma
atraente ao praticante. Desta maneira, o indivíduo poderá desfrutar por mais tempo os benefícios
promovidos pela modalidade desportiva escolhida. A metodologia adotada neste estudo é definida como
revisão de literatura, a qual é caracterizada como: A busca de informações bibliográficas, seleção de
documentos que se relacionam com o problema de pesquisa. Dentre as dimensões motivacionais
valorizadas, a saúde é a que mais se destaca em relação a melhora para diminuição dos riscos de doenças
cardiovasculares e controle da hipertensão arterial.

Palavras chave: Prática, Motivação, Corridas de Rua.

ABSTRACT
This study deals with the reasons that lead the individual to practice regular physical activity. Motivation in
physical activity has been extensively studied and is present in several areas of people's life. Due to that, it
has been a topic fairly treated by psychology. Understand the reasons that drive people to the practice of
physical activity and, in a continuous mode, conduct them to follow the practice is important to keep it
attractive to the practitioner. This way, the individual can enjoy for longer the benefits promoted by the
sport chosen. The methodology adopted in this study can be defined as a revision of bibliography such as:
search in bibliographic information, selection of documents related to the question raised. Among all
motivational dimensions valued, those related to health must be highlighted. Especially those connected
with reducing the risk of cardiovascular disease and control high blood pressure.

Keywords: Practice, Motivation, Street Racing.

INTRODUÇÃO

O presente estudo trata dos motivos que levam o indivíduo a prática regular da atividade física, a
motivação na atividade física vem sendo bastante estudada (BALBINOTTI , 2007; JUCHEM, 2007). De
acordo com Ryan e Deci (2000) a motivação está presente em diversas áreas da vida das pessoas e, devido
a isso, tem sido um tema bastante tratado pela psicologia. Dentre estas várias áreas, a psicologia vem
ganhando cada vez mais espaço no esporte, uma das suas facetas é a motivação para prática desportiva.
A motivação para prática desportiva se destaca como sendo uma variável fundamental para se tentar
compreender o que leva as pessoas a prática da atividade física, do desporto e do treinamento desportivo
(BALBINOTTI 2007; SALDANHA, 2007). Compreender os motivos que levam as pessoas a prática da
atividade física e a seguirem a praticá-la é importante para manter a mesma atraente ao praticante. Desta
forma, o indivíduo poderá desfrutar por mais tempo os benefícios promovidos pela modalidade desportiva
escolhida (BALBINOTTI, 2015).

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Órgão de divulgação científica

O objetivo geral do estudo foi analisar a evolução e levantar algumas implicações do crescimento de
números de provas e de participantes, verificar se essas corridas realmente recebem os participantes e o
reconhecimento que merecem.
Na última década ocorreu um crescimento na prática da corrida de rua, originado por interesses diversos,
como: promoção à saúde, estética, integração social, fuga do estresse e busca de atividades prazerosas ou
competitivas. O que se tornou um atrativo, visto que isso se associa aos grandes números de provas com
diferentes premiações, patrocínios, prestigio social e evidência. Acreditamos que essa evolução numérica
das provas e dos participantes deve ser considerada como um fenômeno atual, e obter uma atenção
especial dentre profissionais da área de Educação Física e Saúde (SALGADO, 2006).
O presente estudo trata dos motivos que levam o indivíduo a prática regular da atividade física. O objetivo
geral do estudo foi analisar a evolução e levantar algumas implicações, do crescimento de números de
provas e de participantes, Descrever os fatores motivacionais que levam pessoas à prática e participação
competitiva em Corridas de Rua, verificar se essas corridas realmente recebem os participantes e o
reconhecimento que merecem.
A prática da corrida de rua vem apresentando um aumento significativo no número de adeptos a essa
modalidade. Os motivos dessa aderência são diversificados, assim como, das propostas dos profissionais
que trabalham na orientação desses corredores. Entretanto, a relevância em conhecer os motivos que
levam a prática e a permanência na atividade assume uma dimensão elevada.
A ideia foi tirada de um grupo de amigos que estão querendo montar uma equipe de corrida e pediu para
que pudéssemos auxiliá-los, diante do interesse de conhecidos em relação ao tema.
A metodologia adotada neste estudo é definida como revisão de literatura, a qual segundo Macedo (1994)
é caracterizada como: A busca de informações bibliográficas, seleção de documentos que se relacionam
com o problema de pesquisa (livros, verbete de enciclopédia, artigos de revistas, trabalhos de congressos,
teses etc.) e o respectivo fichamento das Referências para que sejam posteriormente utilizadas (na
identificação do material referenciado ou na bibliografia final). (MACEDO, 1994, p13).
Esta revisão reúne os trabalhos mais recentes entre 1977 à 2015, sobre motivação para corredores de rua.

A CORRIDA DE RUA
De acordo com a Secretaria Municipal de Esportes da Cidade de São Paulo (2005) e a Federação Paulista de
Atletismo (FPA,2006), a corrida de rua é uma das modalidades que mais têm crescido na cidade.
O ato de correr está instalado em uma grande teia de significados que pode ser observado na atualidade e
nos diferentes momentos da existência humana conhecida (FIXX, 1977). São encontrados registros desta
ação nos mais antigos e variados materiais arqueológicos, sugerindo que a prática da corrida perdura
desde as civilizações mais primitivas, seja por necessidade ou expressão. Mesmo sendo uma prática muitas
vezes considerada nobre, a maior parte das referências traz consigo a presença da dor, da superação, do
risco ao fracasso e até de ocorrências de morte. Na famosa e legendária façanha que dá origem a
maratona, a morte encerra a narrativa sobre um soldado que percorreu mais de 35 km entre as cidades de
maratona e Atenas com o intuito de avisar a vitória dos gregos sobre os persas na guerra, Isso ocorreu por
volta de ano 490 a.C. (OLIVEIRA, 2010).
Alguns elementos desta história parecem ter uma forte relação com a prática da corrida, inclusive na
atualidade. A resistência ao sofrimento, a perseverança na busca do seu objetivo, a solidão e
individualidade no caminho percorrido e, as relações sociais, que implicam em uma certa renúncia da
própria vontade (abnegação) em favor de uma responsabilidade e dever social. (OLIVEIRA, 2010).
A princípio a busca pela prática da corrida de rua ocorreu por diversos interesses, que envolvem desde a
promoção de saúde, a estética, a integração social, a fuga do estresse da vida moderna, a busca de
atividades prazerosas ou competitivas (SALGADO, 2006).
Como prática esportiva sistemática, a corrida foi muito difundida nos anos 60, quando foram descobertos
seus benefícios para saúde (FRIZZO, 2006).
Um estudo que mostra o crescimento dos eventos de corrida é o de Salgado e Chacon-Mikahil (2006), que
constam informações sobre o número de prova e inscritos nessas competições na cidade de São Paulo.
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Segundo os dados obtidos pelos autores o número de corridas passou de 11 em 2001 para 174 provas em
2007, Enquanto que o número de inscritos nas Corridas de rua promovidos pela CORPORE (entidade que
regula as provas na cidade de São Paulo) passou de 9.430 em 1997 para 103.260 em 2005 (SALGADO,
J.V.V.; CHANCON-MIKAHIL, 2006).
Podemos entender que este aumento do número de participantes em provas de corrida de rua pode ter
uma ligação com o número de praticantes desta prática esportiva, principalmente nesta cidade. Segundo
os autores, esse crescimento advém pela busca da qualidade de vida, o convívio com outros praticantes
que contagiados pelo prazer das provas, das medalhas e camisetas recebidas, que de certa forma passam a
representar conquistas nos ambientes de trabalho, familiares e esportivos (SALGADO, J.V.V.; CHANCON-
MIKAHIL, 2006).

CORREDORES
Os principais agentes das corridas de rua são os corredores. Ao longo de todo este trabalho são assim
designadas as pessoas que praticam a corrida habitualmente em espaços abertos, no mínimo três vezes
por semana e que participam ou buscam participar de competições. Ou mesmo aqueles que praticam
corridas apenas em esteiras e os que correm sozinhos, como parte de suas atividades físicas. A língua
inglesa estabelece termos distintos para fazer referência aos dois primeiros tipos de praticantes de
corridas mencionados acima: os primeiros são chamados de “runners” os outros são identificados como
“joggers”. Nas palavras do Barão de Coubertin apenas os primeiros estão envolvidos com o esporte, que
tem por essência o esforço e como condimento indispensável o concurso (CAILLAT, 1996).

GRUPOS DE CORRIDA

As corridas de rua precisam de uma boa estrutura para oferecer um suporte adequado aos atletas. Por
serem competições de elevada exigência física, requer uma estrutura impecável, como entre outros itens,
posto de água a cada 2 quilômetros e ambulâncias preparadas para atender os participantes de forma
rápida e eficiente. Em alguns eventos são oferecidos isotônicos e gel com carboidrato, produtos adequados
para atividade aeróbicas de baixa intensidade e longa duração, como ocorre com esse tipo de prova.
Todo esse suporte é oferecido pelas assessórias esportivas, mais conhecidas por grupos de corrida.

MOTIVAÇÃO

Etimologicamente, segundo Bzuneck (2004, p.9), o termo motivação, significa “ação de pôr em
movimento” e parece ter origem nas palavras do latim motum (movimento) e movere (mover), o que lhe
confere uma ideia de movimento para ir de um local para outro (Alves et al, 1996 apud Cid 2002). “ Um
conjunto de processos que dão ao comportamento uma intensidade, uma direção determinada e uma
forma de desenvolvimento próprias da atividade individual” (HOUAISS; VILLAR; FRANCO,2004, p.1968).
A motivação está associada à palavra motivo, que pode ser definido como alguma força interior, impulso,
intenção, que leva a pessoa a fazer algo ou agir de certa forma e que afeta o início, a manutenção e a
intensidade do comportamento (INTERDONATO, 2008).Alves et al (1996), entende que a motivação pode
ser compreendida pelo conjunto de variáveis que determinam a “razão pela qual os sujeitos escolheram
aquele desporto como prática desportiva, porque se mantém nesta atividade ao longo do tempo e porque
desenvolvem um determinado nível de empenhamento”.
Para Rodrigues (1991 apud MARZINEK, 2004), um dos principais fatores que interferem no comportamento
de uma pessoa é a motivação, que influi com muita propriedade em todos os tipos de comportamentos,
permitindo um maior envolvimento ou uma simples participação em atividades que relacionem com a
aprendizagem, o desempenho, a atenção.
O grande papel do estudo da motivação deriva da necessidade em explicar e analisar os motivos que
conduzem a determinadas ações, porque é que variam e porque é que se perpetuam ou não (BRITO, 1994
apud CID, 2002).
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De acordo com Davidoff (2001 apud PEREIRA, PAIM, 2005), “motivo ou motivação refere-se a um estado
interno que resulta de uma necessidade e que ativa ou não desperta um comportamento usualmente
dirigido ao cumprimento da necessidade ativante”.
Segundo Weinberg e Gould (2008), a motivação para a prática esportiva depende da interação de fatores
pessoais (necessidades, interesses, metas e personalidade) e situacionais (estilo de liderança do técnico,
facilidades, tarefas atrativas, desafios, influências sociais).
Ao estudarmos sobre o tema motivação, observamos que, em geral, a literatura a classifica de acordo com
as suas “fontes”. A motivação é dividida em intrínseca, quando sua “fonte” é interna ao ser (ex.: prazer). A
outra divisão é chamada de extrínseca, quando a “fonte” é inerente ao ser, ou seja externa (ex.: prêmios).
(VALLERAND, 2001, MASSARELLA, 2008).

DIMENSÕES RELACIONADAS Á PRÁTICA REGULAR DE ATIVIDADES FÍSICAS E ESPORTIVAS

Em detalhes explicaremos cada uma das 6 dimensões motivacionais que fazem parte do instrumento
utilizado para a conclusão deste trabalho.
Segundo Balbinotti (2004) as dimensões motivacionais mais utilizadas pela literatura especializada para
entender os motivos que levam indivíduos a pratica regular da atividade físicas ou esportivas são: Controle
do estresse, saúde, sociabilidade, competitividade, estética e prazer.
Verificamos que estas dimensões motivacionais foram utilizadas em outros estudos (BALBINOTTI, 2004),
revelando que
esta é uma importante ferramenta utilizada para demonstrar o perfil motivacional de praticantes de
atividade física e esportivas (BALBINOTTI, A. A. B, 2015).

Controle do Estresse
É a dimensão na qual avalia em que nível pessoas se utiliza da atividade física regular como forma de
controlar a ansiedade e o estresse da vida cotidiana, além dos benefícios fisiológicos as atividades trazem
benefícios psicossociais melhorando a autoimagem e autoestima, o bem estar, reduzindo o isolamento
social (WEINBERG; GOULD, 2008).

Sociabilidade
Avalia em que nível as pessoas utilizam a atividade física regular e esportiva como forma de buscar
uma melhor relação interpessoal podendo ser buscada por intermédio da atividade física ou esportiva
através de clubes, academias e agremiações. (GOULD, 2001, apud BABINOTTI, 2015).

Competitividade
É dimensão que avalia em que nível o indivíduo utiliza a atividade física como forma de manifestação dos
aspectos relacionados ao vencer, sugerindo uma sensação de superioridade e/ou de destaque em uma
determinada atividade física ou desporto, a competitividade pode ser orientada a vitória ou ao objetivo
(GONZALEZ, R. G, 2008).

Saúde
Avalia em que nível as pessoas utilizam a atividade física e/ou esporte para a manutenção da saúde geral e
a prevenção de doenças associadas ao sedentarismo (WANKEL, 1993; Apud BALBINOTTI, 2015).

Prazer
É a dimensão relacionada a sensação de bem estar, de diversão e a satisfação que a prática regular de
atividade física proporciona (BALBINOTTI, 2007).

Estética

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É a dimensão motivacional que avalia o nível no qual o indivíduo se utiliza da prática regular da atividade
física como forma de se obter ou manter um corpo que seja considerado atraente e aprovado pela
sociedade em que o mesmo está inserido (SALDANHA, 2007).

FATORES MOTIVACIONAIS PARA CORREDORES DE RUA

Apesar das contribuições que a corrida de rua traz aos seus praticantes, seja para a melhoria da condição
física ou para saúde geral dos indivíduos, estas podem não ser as únicas nem mais importantes aspectos
que integram as dimensões motivacionais que levam este grande número de pessoas a aderir ao programa
de atividade física (GAYA; CARDOSO, 1998).
Na perspectiva do lazer, incluindo no contexto a socialização (FRAANCO, 2010) e o prazer (BALBINOTTI, et
al, 2007), estudos encontram resultados bastante interessantes. Trucollo, Maduro e Feijó (2008) dão um
destaque grande a saúde como um dos principais fatores motivacionais entre homens e mulheres. Nestes
mesmos estudos a corrida é considerada por muitos como uma forma de reduzir o estresse e a ansiedade.
A questão estética é bastante valorizada principalmente por mulheres. No entanto, questões como
“autoestima” podem ser relacionadas nos casos do sexo masculino (TRUCOLLO; MADURO; FEIJÓ, 2008). A
dimensão associada à superação de limites e resultados em provas não aparece nestes estudos como um
fator motivacional muito importante, apesar de ser um esporte que exige de seus praticantes uma grande
resistência física e emocional, exigindo poder de superação (OLIVEIRA 2010).
Estudos analisam possíveis fatores de adesão a prática da corrida de rua para diferentes grupos, Franco
(2010) analisa as diferenças motivacionais entre corredores que integram grupos de corrida e corredores
individuais. Trucollo, Maduro, Feijó (2008) verifica os motivos de adesão a grupos de corrida. Balbinotti et
al. (2007) avalia, a partir do sexo, as mesmas seis dimensões motivacionais do presente estudo em
corredores de longa distância. Massarella e Winterstein (2009) analisa a motivação intrínseca em
corredores de rua.
Estes são alguns exemplos que demonstram um grande interesse de especialistas pelo assunto, afinal, o
aumento da popularidade deste esporte justifica querer-se explorar as dimensões que melhor
caracterizam os praticantes desta atividade (BALBINOTTI et al, 2007).

CONCLUSÃO

Esta analise nos permite inferir ser muito expressivo o fenômeno de crescimento do número de provas e
de praticantes de corrida de rua, fenômeno este cujas explicações e implicações precisam ser bem mais
exploradas e relacionadas ás práticas de atividades físicas da população em geral.
Considerando como um ponto positivo a evolução nos números de provas e praticantes, também devemos
relacionar a este fenômeno as preocupações inerentes a prática de atividades físicas. Dentre essas
preocupações, podemos destacar as dimensões motivacionais que levam o indivíduo a prática regular da
atividade física.
Respondendo ao objetivo deste estudo o principal motivo de adesão a prática é a saúde, em seguida o
prazer, enquanto que os principais motivos para permanência à saúde, o prazer, o controle do estresse,
isto indica que não há apenas um fator que motive a prática da corrida, e sim uma série de fatores
interligados.
Estes resultados podem auxiliar os profissionais da área tanto no planejamento de volume e intensidade
treino, quanto nas atividades, que podem envolver desde o treinamento em grupos, viagens e corridas de
revezamento, até reuniões, jantares e festas. Identificando o perfil motivacional do praticante fica mais
fácil conduzir as atividades, inclusive os resultados podem ser mais satisfatórios, tanto para o praticante
quando para o treinador, tendo em vista que o mesmo está sempre engajado.
A corrida de rua exige treinamento contínuo e frequente, isto é, tempo e dedicação superiores a outras
práticas esportivas lúdicas, muitas competições, momento de avaliação e autoconhecimento de cada
corredor, reúnem milhares de pessoas, participam de um mesmo evento, muitas vezes, mais de 10.000
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protagonistas. É necessário o uso de espaços públicos tanto para os treinos como para as provas. Assim, é
assunto da mídia, objeto de polêmica entre os adeptos e os nãos praticantes, tema de pesquisas, fonte de
ganhos econômicos. Isto é, um tema do cotidiano da sociedade, objeto digno de investigação cientifica.
Os profissionais de Educação Física podem ter maior possibilidade de êxito em suas intervenções se
reconhecerem os motivos determinantes do comportamento das pessoas, identificando quais reforçam ou
inibem o comportamento que desejam incentivar. As razões contrapõem ao comportamento de
engajamento com relação à atividade devem ser compreendidas e trabalhadas, para que não levem o
indivíduo a abandonar a prática.

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Revista Diálogos em Saúde 80
Volume 1 - Número 1 - jan/jun de 2018

MOTIVOS DE PRÁTICA E ABANDONO EM CORREDORES RECRACIONAIS SOB O


PONTO DE VISTA DA PSICOLOGIA SOCIALCOGNITIVA

Edson Medeiros da Silva


Stephanney Karoline M. S. F. de Moura
Aline Albuquerque Nobrega Rabay
Ana Paula Urbano Ferreira
Rogério Márcio Luckwu dos Santos

RESUMO

A psicologia do Esporte surgiu há mais de cem anos e é considerada uma ciência nova comparando
com outras. A corrida de rua é uma competição que faz parte da modalidade do atletismo, onde o
atleta tenta percorrer uma certa distância no menor tempo possível. O objetivo deste trabalho foi
identificar motivos de prática e abandono em corredores recreacionaisna cidade de João Pessoa-PB. A
amostra foi composta de por 49 pessoas, 32 do sexo masculino e 16 do sexo feminino com idades
entre 19 e 70 anos (M=38,83 ± 11,16) e com um tempo de prática de (M= 89,67 meses). Os resultados
mostraram que o principal motivo da prática da corrida de rua está relacionado com fatores de saúde.
Enquanto o principal motivo apontado para o abandono é a falta de tempo ou incompatibilidade entre
as atividades esportivas e as demais atividades do cotidiano.

Palavras chaves: Psicologia do Esporte, motivos de prática e abandono, corrida de rua.

ABSTRACT

The psychology of the Sport came over 100 years ago and is considered a science new comparing with
others. The street racing is a competition that is part of the track mode, where the athlete tries to go a
certain distance in the shortest long as possible. The aim of this study was to identify practical reasons
and abandonment in recreational runners in the city of João Pessoa-PB. The sample was composed by
49 people, 32 male and 16 female aged between 19 and 70 years (M = 38.83 ± 11.16) and with a time
of practice of (M = 89.67 months). The results showed that the main reason for the practice of street
racing is related to health factors. While the main reason for the abandonment is the lack of time or
incompatibility between the sports activities and the activities of daily life.

Key words: Sport Psychology, practical reasons and abandonment, street racing.
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1. INTRODUÇÃO

A corrida tem sua origem na pré-história, quando o homem necessitava andar por vários
quilômetros para deslocar-se de uma aldeia pra outra, para caçar e pescar e fugir de predadores. De
acordo com Weineck (2003), nossos ancestrais percorriam em torno de 20 a 40 km, por dia. As
corridas de rua surgiram na Inglaterra no século XVIII. Posteriormente, a modalidade expandiu-se
para o restante da Europa e Estados Unidos. No final do século XIX as corridas de rua ganharam
impulso depois do grande sucesso da primeira maratona Olímpica popularizando-se particularmente
nos Estados Unidos. (RUNNER`S WORLD, 1999).

A corrida de rua é um dos esportes mais praticados no Brasil. Todos os anos cresce o número
de eventos e de praticantes. Na cidade de João Pessoa não é diferente, segundo a Federação Paraibana
de Atletismo (FPBA) no ano de 2018 a previsão é de mais de trinta eventos nos finais de semana sem
contar os eventos que não são registrados na FPBA.

A motivação é um fator psicológico primordial para a prática da corrida, segundo Samulki


(1995) ela é caracterizada como um processo ativo, intencional e dirigido a uma meta, o qual depende
da interação de fatores pessoais (intrínsecos) e ambientais (extrínsecos). Ainda segundo este autor a
motivação apresenta uma determinante energética (nível de ativação) e uma determinante de direção
do comportamento (Intenções, interesses, motivos e metas).

A motivação é objeto de estudos de diversas áreas do conhecimento, como: as necessidades


humanas, o bem estar psicológico, a autoestima, os valores humanos, as relações humanas, a
educação, a organização e o trabalho, cuidados com a saúde, atividade física e o esporte
(BALBINOTTI; SALDANHA; 2009). A palavra motivo tem várias referências que dependem do
contexto em que ela é usada. Em seu uso mais geral e difundida, como causa, razão, circunstância,
entre outras alternativas, que move alguém para fazer algo. Desde meados do século XX (MURRAY,
1938) o termo motivo tem um significado próprio, diferente de motivação, que designa a disposição
momentânea do indivíduo para agir, que é variável.

Segundo Weinberg e Gould (2008) é preciso continuar a monitorar os motivos para a


participaçãouma vez que os motivos mudam com o passar do tempo e osmotivos que alguns individuo
citaram para começar um programa de exercícios não eram os mesmos citados para continuar no
programa. Os motivos podem ser classificados em internos e externos. Dentre os primeiros estão os
fisiológicos, psicológicos e sociais, afiliação, poder e realização; quanto aos externos encontram-se
incentivos, recompensas e dificuldades.
Samulski e Noce (2000) identificaram que os motivos mais relevantes para a prática de
atividades físicas por professores, funcionários e estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) são os seguintes: Prazer pela atividade, reduzir o estresse no trabalho, reduzir a ansiedade,
melhorar a saúde e a qualidade de vida, manter-se em forma, manter ou melhorar o condicionamento
físico e prevenir doenças.Reconhecendo-se os fatores intervenientes na prática da corrida recreacional,
pode-se identificar estratégias para a captação e manutenção de pessoas de pessoas na prática desta
atividade, contribuindo assim para uma sociedade mais ativa fisicamente gerando uma base de apoio
para futuras pesquisas de teor semelhante.
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Levando em consideração estes conceitos, o objetivo deste trabalho foi identificar motivos de
prática e abandono em corredores recreacionaisna cidade de João Pessoa-PB. Apresentaram-se ainda
como objetivos específicos:
Identificar os motivos que levam a população a procurar um grupo de corrida.

Distinguir os fatores motivacionais determinantes para a aderência na prática da corrida de


rua.

Identificar os motivos determinantes para o abandono da prática desta atividade.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Psicologia do esporte

Entre os autores há divergência quando e onde surgiu a psicologia esportiva. Para Salmela
(1984); Wiggins(1984); Weinberg e Gould (1995), teve início no final do século XIX princípios do
século XX na Rússia e EUA. Já Barreto ( 2003) afirma que surgiu na Grécia Antiga, tida como o
berço da Psicologia Esportiva, alguns filósofos, como Aristóteles e Platão, especularam sobre a função
perceptual e motora do movimento por meio dos conceitos de corpo e alma. Com isso, o
desenvolvimento da Psicologia Esportiva se confunde com o desenvolvimento da Psicologia Geral,
devido à sua base filosófica. Davis, Huss& Becker, (1995). Enfatizam que o final do século XVII e o
começo do século XVIII as habilidades motoras e processos físicos fisiológicos como tempo de
reação, limiar de determinação, atenção e sentimentos ocuparam os estudos da época no terreno da
Psicologia aplicada ao esporte. A importância do seu surgimento aconteceu a partir da necessidade de
se investigar os fenômenos da psicologia relacionada a prática esportiva. Entre os estudos iniciais em
Psicologia do Esporte encontra-se o de Fitz (1897), o qual afirmou que a prática esportiva era um meio
de se preparar para a vida, por promover a capacidade de julgamento, habilidade de perceber as
condições corretamente e a habilidade de reagir rapidamente a um ambiente mutável. Kellor (1908)
relata também que não basta ter um corpo forte, mas que a mente precisa também fortalecida para o
bom desempenho motor.

Feltz (1992) conceitua esta especialidade como uma subdisciplina da Psicologia, enquanto
outros a veem como uma subdisciplina das Ciências do Esporte (Gill, 1986). Na concepção de Singer
(1993), a Psicologia do Esporte integra a investigação, a consultoria clínica, a educação e atividades
práticas programadas associadas à compreensão, à explicação e à influência de comportamentos de
indivíduos e de grupos que estejam envolvidos em esporte de alta competição, esporte recreativo,
exercício físico e outras atividades. Para Weinberg e Gould (2001), a Psicologia do Esporte e do
Exercício é um estudo científico de pessoas e seus comportamentos em atividades esportivas e
atividades físicas, e a aplicação deste conhecimento. Enquanto disciplina acadêmico-científica emerge
principalmente dos departamentos das Universidades das Ciências do Esporte, Motricidade Humana
ou Educação Física (ARAÚJO, 2002). A Psicologia Esportiva pode trabalhar na prática na intervenção
de atletas de todos os níveis tanto no campo acadêmico, em pesquisas e investigações.
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2.1 MOTIVAÇÃO

Segundo o dicionário Aurélio o termo motivação significa um conjunto de fatores psicológicos


conscientes ou inconscientes de ordem fisiológica, intelectual ou afetiva, os quais agem entre si e
determinam a conduta de um indivíduo. O vocábulo vem do verbo latino movere que significar mover
(LUCKWU,2008).

Pode ser definida como a totalidade daqueles fatores, que determinam a atualização de forma de
comportamento dirigido a um determinado objetivo. É caracterizada como um processo ativo,
intencional e dirigido a uma meta, o qual depende da interação de fatores pessoais e ambientais,
(SAMULSKI 2002).

A motivação pode ser definida simplesmente como a direção e a intensidade de nossos


esforços e do exercício(SAGE 1977). Os psicólogos do esporte e do exercício podem considerar a
motivação a partir de diversos pontos de vista específicos, incluindo a motivação para realização,
motivação na forma de estresse competitivo e motivações intrínseca e extrínseca. Todas essas diversas
formas de motivação são elementos da definição mais geral de motivação, Weinberg e Gould (2016).

Machado (2005), afirma que o estudo da motivação é de suma importância para o


entendimento de diversas ocorrências que envolvem e compõem a prática esportiva, seja com crianças,
jovens ou adultos. Segundo este autor, apresenta-se em qualquer tipo de prática esportiva,
independendo, inclusive, do nível de habilidade em que se encontram seus praticantes. Está presente
inclusive no ambiente escolar, no qual há a interação de todos os níveis de habilidades (MACHADO
2005).

Andrade et al (2006) apontam que um dos principais meios psicológicos utilizados em vários
esportes que pode provocar diversas modificações no rendimento e no desempenho do atleta é a
motivação. Ela está presente em diversos lugares, como treinamento, preleções, aulas e especialmente,
nas competições e jogos esportivos justamente nos momentos em que vários fatores podem provocar
alterações no estado emocional do atleta e da equipe (ANDRADE et al 2006).

2.2 TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO


Segundo Weinberg e Gould (2016) cada um de nós desenvolve uma visão pessoal de como a
motivação funciona, fazendo isso descobrindo o que nos motiva e observado como as outras pessoas
são observadas. Estes autores relatam que as pessoas frequentemente representam suas visões pessoais
de motivação, tanto de modo consciente ou subconsciente.

De acordo com Balbinotti (2009), a disposição para a ação depende da intensidade do


interesse pela atividade, da curiosidade para explorar as diversas e diferentes maneiras possíveis de
atuação nessa atividade, da prontidão para aprender novas formas ainda mais eficazes de ação, da
capacidade de adaptação e essas novas formas e ainda, das diversas outras dimensões relacionadas a
esse comportamento.

Para que as ações comportamentais intrinsecamente motivadas ocorram, é necessário a satisfação das
necessidades psicológicas, que são a percepção de competência, a percepção de relacionamento com
os pares e a percepção de autonomia (RYAN; DECI 2000). Com a compreensão do fenômeno e o
amadurecimento teórico atingido, Deci e colaboradores (1985) desenvolveram a Teoria da
AutoDeterminação,(O que é) abordando a personalidade e a motivação humanas, focalizando as
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tendências evolutivas, as necessidades psicológicas inatas consideradas como a base para a motivação
e integração da personalidade e as condições contextuais favoráveis à motivação, ao funcionamento
social e ao bem-estar pessoal.

Para Deci e Ryan (1985), a motivação pode ser classificada de acordo com o loquo de
casualidade. Quando se trata de fatores internos que motivam uma pessoa para determinada atividade,
trata-se de motivação intrínseca. Quando estes fatores reguladores são externos, chama-se motivação
extrínseca. A motivação intrínseca é reconhecida como um mediador importante na conquista da
competência e autoconceito do indivíduo sobre o ambiente (HARTER, 1978, 1981;WHITE,1959).
Uma pessoa motivada intrinsecamente em uma determinada atividade demostra competência nessa
atividade. Define-se Motivação intrínseca de conhecimento quando o individuo se compromete com
uma atividade pelo prazer e pela satisfação que experimenta enquanto aprende, explora ou tenta
entender alguma coisa nova (WEINBERG e GOULD 2016). Está relacionada com o
comprometimento do individuo na participação de uma atividade pela satisfação experimentada na
tarefa e/ou na vontade de aprender algo novo (VALLERAND, DERCI, E RYAN 1987). Motivação
intrínseca de realização a pessoa participa de uma atividade pelo prazer e pela satisfação que sente ao
criar alguma coisa ou dominar habilidades difíceis (WEINBERG e GOULD 2016). Está relacionada
com o comportamento do sujeito mediante o cumprimento de uma tarefa ou objetivo, onde se obtém
satisfação por cumpri-la e executá-la bem, sendo este seu principal objetivo (VALLERAND, DERCI,
E RYAN 1987). Motivação intrínseca de estimulação a pessoa participa de atividade para
experimentar sensações prazerosas, como alegria, entusiasmo e prazer estético (WEINBERG e
GOULD 2016). Está relacionada com a busca de novas experiências e sensações durante a atividade,
buscando nelas objetivos diferentes do que faz no cotidiano objetivo (VALLERAND, DERCI, E
RYAN 1987).

Motivação extrínseca refere-se as recompensas externas, como medalha, dinheiro ou premio


que o atleta recebe (KATIA RUBÍO 2000). Motivação extrínseca de regulação identificada o
comportamento é muito valorizado, aceito e considerado pelo individuo e, portanto é realizado de boa
vontade, mesmo que a atividade não seja prazerosa em si.( VALLENRAND, 1997). Está relacionada
com dedicação a uma determinada atividade pelas vantagens que são consideradas para o seu
desempenho pessoal, ou seja, o individuo não desfruta da atividade por ela mesma mais na intenção de
obter benefícios próprios (VALLERAND, DERCI, E RYAN 1987). Motivação extrínseca de
regulação introjetada oindividuo é motivado por estímulos e pressões internos, entretanto, o
comportamento ainda não é considerado autodeterminado porque é regulado por contingência externa
(WEINBERG e GOULD 2016).

Motivação extrínseca de regulação externa o comportamento é completamente controlado por


fontes externas como recompensas e coações (WEINBERG e GOULD 2016). Está relacionada como a
participação em uma determinada atividade para conseguir alguma recompensa do meio externo
(VALLERAND, DERCI, E RYAN 1987).

2.3.DIFERENÇA ENTRE MOTIVAÇÃO E MOTIVOS

Weinberg e Gould (2001) definem a motivação com sendo a direção e a intensidade do esforço. A
direção refere-se a um indivíduo buscar, aproximar ou se sentir atraído a certas situações. Enquanto
intensidade refere-se ao esforço que uma pessoa investe numa determinada situação.
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Para Samulski (2002) a motivação para a prática esportiva depende da interação entre a
personalidade e fatores do meio ambiente como facilidade, tarefas atraentes, desafios e influências
sociais. Esse mesmo autor postula que no decorrer da vida de uma pessoa, a importância dos fatores
pessoais e situacionais podem mudar, dependendo das necessidades e oportunidade atuais. Para esses
autores o indivíduo tem a necessidade de sentir-se atraído pela tarefa e no decorrer do tempo essas
necessidades podem variar.

Os motivos para a prática esportiva são elementos importantes para o entendimento do


comportamento humano no contexto do esporte (SANTOS, DA SILVA, HIROTA, 2008). Motivo está
relacionado ao esforço de um indivíduo em dominar uma tarefa atingir seus limites, superar
obstáculos, desempenhar melhor que outros e ter orgulho do seu talento. Para Weinberg e Gould
(2016) as pessoas têm vários tipos motivos para praticar certa atividade, motivos mais pessoais como
os conflitantes e os motivos compartilhados.

2.4ABANDONO DA PRÁTICA ESPORTIVA

Os motivos que levam jovens a praticar, permanecer, modificar e abandonar o esporte são objetos de
investigações na área de Educação Física e da Psicologia do Esporte e os estudos indicam diferenças
entre os motivos que levam as pessoas a praticar e a abandonar esportes coletivos ou individuais.
(GARCIA; CARACUEL, 2008; MARTÍN-ALBO; NÚNEZ; NAVARRO, 2003; WEINBERG;
GOULD, 2001). O abandono da prática esportiva é objeto de pesquisa de vários estudiososPara Arena
(2016) a exigência física, treinamentos exercíveis, exigência no nível técnico na medida que vai se
aprofundado na modalidade. Pressão de competições, técnicos, pais podem ocorrer o abandono
prematuro na modalidade.

2.5CORRIDA DE RUA RECREACIONAL

Pessoas correm há muitos séculos. As evidências mais antigas da existência dessas práticas
está na representação esquemático de dois corredores em um vaso da civilização micênico do século
16 a.C. (YALOURIS, 2004). No século XX, por volta da década de 1970, ocorreu a grande expansão
da modalidade corrida de rua, quando o médico norte-americano Kenneth Cooper difundia o seu
famoso “teste de Cooper” (SALGADO; CHACON MIKAIL, 2006). Nos dias atuais, as corridas de
ruas são bem populares em vários países do mundo, e muitas pessoas as praticam em busca de
melhorar sua qualidade de vida. Nos últimos cem anos, devido, principalmente, aos hábitos de vida
moderna o ser humano tem ser tornado cada vez mais “tecnológicos” e sedentários. Enquanto que os
ancestrais percorriam cerca de 20km e 40km por dia, realizado funções como caça, pesca e coleta,
estima-se que hoje em nossas atividades urbana percorremos cerca de 2km por dia (WEINECK, 2003).

O crescimento da prática dessa modalidade é originado por interesses diversos, e


elenca alguns deles como: promoção à saúde, estética, integração social, fuga do estresse e
busca de atividades prazerosas ou competitivas (SALGADO; CHACON MIKAIL, 2006). A
corrida de rua recreacionais ou de alto nível, também é conhecida por ser um esporte
democrático, pois é um esporte que não precisa de muita logística para pratica-lo, nele se
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difundem pessoas de todas as classes sociais. Onde a grande parte de atletas que se destacam
são de origem humilde, onde eles veem na corrida de rua uma grande chance de ascensão
social. A corrida de rua mais do que um exercício físico tornou-se também um meio de
inclusão social, pois além do bem-estar físico, as pessoas buscam na corrida de rua a
qualidade de vida e o prazer de realizar um exercício físico desfrutando da natureza e das
belas paisagens ao seu redor sem se prender as tradicionais pistas de corrida(SCALCO, 2010).
A corrida é umas formas mais elementares de locomoção terrestre do ser humano, pode ser
executada em qualquer lugar, não exige praticamente nenhum equipamento e não possui um alto custo
(GUETHS E FLOR, 2004). São muitos os benefícios da corrida de rua, para Nieman, (1999) o
organismo melhor oxigenado permite uma vascularização do cérebro mais eficiente. O exercício
fortalece os ossos prevenido a osteoporose e torna o sono mais agradável diminuído a ansiedade.

2.6 ESTUDOS RELACIONADOS

2.6.1Fatores motivacionais de adesão a grupos de corrida


Nesse estudo foi utilizado uma amostra composta por 68 indivíduo adultos sendo 34 homens e 34
mulheres com idade entre 22 e 57 anos de idade. O objetivo desse estudo foi identificar os fatores
motivacionais que levam indivíduos de ambos os sexos a praticarem corrida de rua. O instrumento
utilizado foi o inventário de Truccolo (1996), desenvolvido nos Estados Unidos para o mestrado da
autora e utilizado nesta pesquisa a fim de determinar as razões que levam corredores de rua a fazerem
parte de grupo de corredores supervisionados por assessoria esportiva. Para a análise das variáveis
envolvidas foi utilizada a estatística descritiva, obtendo-se as médias e percentuais de interesse, e o
teste t para amostras independentes de tamanho diferente, a um nível de significância de 5%.Os
resultados encontrados entre homens e mulheres, o fator comum foi a saúde, depois entre as mulheres
os mais citados foram, autoestima, aparência e ar livre. Para os homens estão: ansiedade, estresse e o
ar livre.

2.6.2A percepção do bem estar em praticante de corrida de rua(Castro 2014)

Objetivo deste estudo foi descrever e analisar a percepção do bem estar em corredores de rua e
também verificar a influência do sexo, idade e do tempo de prática sobre a valorização do bem estar. A
amostra foi composta por 100 corredores de ambos os sexos, com idade entre 20 e 62 anos de idade, e
com um tempo de prática de 2 anos. Para verificar a percepção do bem estarfoi utilizado o
questionário “Pentáculo do bem estar” desenvolvido e validado por (NAHAS 1996:2000). Na
descrição do perfil foi utilizado valores de média e desvio padrão e nas análises inferenciais foi feito o
teste de Anova Uni fatorial, assumido um alfa de 0,5. Esse estudo mostrou que os indivíduos
corredores de rua valorizam mais o fator controle do estresse (2,28+0,62). Em relação a influência das
variáveis independente verificou-se que apenas o tempo de prática influenciou de maneira significativa
os fatores.
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2.6.3 Análise dos níveis motivacionais dos corredores de rua de bragança paulista sp
O objetivo deste estudo foi analisar os níveis motivacionais dos corredores de rua de Bragança
Paulista-SP. Fizeram parte do estudo 138 corredores 82homens e 56 mulheres. Como instrumento foi
utilizada a Escala de Motivação para o Esporte (SMS – Sport MotivationScale)validada para a língua
portuguesa por Serpa, Alves e Barreiros (2004). A coleta dos dados foi realizada no momento da
retirada dos Kits. Para a análise estatística dos dados coletados utilizou-se o teste de Mann-Whitney e
ANOVA de medidas repetidas. Foi verificado que todas as dimensões de motivação foram
significativas quanto ao nível geral. Em relação ao gênero, apenas as motivações extrínsecas de
regulação externa, de introjeção e de identificação mostraram se significantes, e, quanto as faixas
etárias, os grupos mais jovens apresentaram maior nível de motivação extrínseca. Neste estudo foi
concluindo que os corredores de rua de Bragança Paulista-SP encontram-se mais motivados
extrinsecamente, principalmente os homens e os mais jovens.

2.6.4Perfis motivacionais de corredores de rua com diferentes tempos de prática

O objetivo desta pesquisa foi testar se existem diferenças no perfil motivacional de dois
grupos de corredores de rua, com diferentes tempos de prática: grupo Adesão (até um ano de prática) e
grupo Permanência (mais que um ano de prática). Para tanto, 62 praticantes de ambos os sexos e com
idades entre 18 e 68 anos responderam ao Inventário de Motivos para a Prática Regular de Atividades
Físicas ou Esportivas (IMPRAFE-132). Os resultados indicaram que as dimensões mais motivadoras
são as mesmas (Saúde, Prazer e Controle de Estresse), independente do tempo de prática, respeitando
a mesma ordem. A conclusão principal é que essas são as dimensões que melhor representam os
motivos de adesão e permanência à corrida de rua. As dimensões Sociabilidade e Competitividade são
significativamente mais importantes para o grupo Permanência.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1Caracterização da pesquisa

Esta pesquisa descritiva possui um caráter quantitativo por se tratar de um


estudo dos fenômenos emocionais sem intervenção manipulativa do pesquisador,
partindo da seleção de uma amostragem com características em comum e buscando
analisar as correlações entre as variáveis selecionadas.Segundo Thomas e Nelson
(2002), a pesquisa correlacional é descritiva, o que faz com que o pesquisador não
consiga presumir a existência de uma relação de causa e efeito. O que pode ser
estabelecido é que existe uma associação entre dois ou mais traços.

3.2Populaçãoe amostra
A população deste estudo foi composta por praticantes de uma equipe de corrida de rua recreacional
da cidade de João Pessoa-PB. Foram analisados os motivos de prática e abandono dos participantes.
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Para tanto, foi utilizadauma amostra de 49 pessoas, 32 do sexo masculino e 16 do sexo


feminino com idades entre 19 e 70 anos (M=38,83 ± 11,16) e com um tempo de prática de (M= 89,67
meses).

3.3 Variáveis e instrumentos de coleta de dados

As variáveis consideradas neste estudo foram,Fatores intrínsecos de permanecia, fatores


extrínseco de permanecia, fatores intrínseco de abandono, fatores extrínseco de abandono, motivação
intrínseca de realização, motivação intrínseca de conhecimento, motivação intrínseca de estimulação,
motivação extrínseca de regulação introjetada, motivação extrínseca de regulação identificada,
motivação extrínseca de regulação externa, desmotivação, motivação intrínseca, motivação extrínseca
e índice de intensidade motivacional.

3.4 Instrumentos

Para avaliar os motivos de prática e abandono dos corredores recreacionais da cidade de João
Pessoa PB. Foi utilizada a escala de motivação esportiva- SMS (Sports MotivationScale) desenvolvido
por Pelletieret al. (1995) traduzida e adaptada ao contexto brasileiro por Serpa, Alves e Barreiros
(2004). O instrumento consiste em 28 questões, divididas em 7sub-variáveis respondidas em escala de
Likert de 1 a 7 onde 1 significa discordo totalmente e 7 concordo totalmente. Esta escala avalia a
motivação de acordo com a teoria da autodeterminação (DECI; RYAN, 1985). E da Sport
AcademicScale (AMS), este adaptado para o contexto do trabalho em questão.Foi utilizado também o
Questionário de Motivos para corrida de rua, considerando-se a realidade da corrida de rua, criado
especificamente para este estudo com base no questionário de Motivos de Início, Manutenção,
Mudança e Abandono desportivos versão brasileira MIMCA-BR o qual já encontra-se validado no
contexto brasileiro, no entanto adaptado para o trabalho presente.

3.5Procedimentos para coleta de dados


Após aprovação do comitê de ética do IESP os dados foram coletados presencialmente pelo
pesquisador entre os meses de outubro e novembro do presente ano. Os participantes voluntários da
pesquisa responderam os questionários na praia de Cabo Branco em João Pessoa PB. Onde ocorreram
os treinos nos finais de semana desta equipe.O procedimento de entrevista aconteceu antes e depois
dos treinos pela manhã. Onde após a apresentação e assinatura do termo de consentimento livre e
esclarecido, foi feita uma breve explanação sobre os objetivos e propósitos deste trabalho, em seguida
foi dada sequência dos procedimentos de aplicação do questionário, processo este que durou o tempo
necessário para a conclusão das respostas de forma que o voluntário se ficasse à vontade para o

Estes questionários avaliaram os principais


isto.

motivosrelacionados à procura pela modalidade


escolhida para o estudo, assim como, osmotivos que
levam a aderência destes participantes.
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Outro questionário apontou osmotivosque resultam


no abandono da atividade, bem como as principais
características emtorno destes aspectos. Esses
participantes foram contatados por email ou por telefone
através do google doc.
3.6 Tratamento e análise dos dados
Depois de coletados, os dados foram tabulados em uma planilha para as análises estatísticas
básicas. Foi utilizado o programa estatístico PASW Statistics (antigo SPSS) versão 24.0 para tais
análises. Primeiramente foram verificados os dados de estatística descritiva (média, frequência,
desvio padrão, valores mínimos e máximos, etc.).

Também foi realizada uma análise dos coeficientes de consistência interna da escala e dos
fatores que a compõem. Desta forma, um valor de α de Cronbach de no mínimo 0.70 deve ter sido
encontrado para que se pudesse considerar um fator confiável.

Após estes procedimentos estatísticos primários, foi realizada uma análise correlacional
bilateral entre as variáveis estudadas. Foram consideradas válidas para nosso estudo as correlações que
alcançaram um nível de significância mínimo de 0.05.

3.7. Considerações éticas

Após a autorização do comitê de ética do IESP, os representantes da equipe de


corrida foram contatados para verificar a disponibilidade de realização do trabalho
junto aos participantes da equipe.Aos participantes da pesquisa foi informado que a
colaboração foi de forma totalmente voluntária e que os mesmos poderiam abandonar
a pesquisa a qualquer momento que assim desejem, sendo assegurada a assinatura de
um termo de consentimento livre e esclarecido (apêndiceA) de cada indivíduo
componente da amostra. Foi informado ainda que todos os dados coletados foram
usados única e exclusivamente para fins de pesquisa e que todas as informações
obtidas serão mantidas em sigilo garantindo o anonimato dos participantes.
Foram usados como critérios de inclusão:
Revista Diálogos em Saúde 90
Volume 1 - Número 1 - jan/jun de 2018

 Ser praticante de corrida de rua recreacionais


pelo menos 3 meses ou pessoas que
abandonaram a prática desta por até no
máximo 3 meses;
 Estejam inseridos na faixa etária dos 18 aos 60
anos;
 Indivíduos que não aparentem estar sob efeito
de drogas lícitas ou ilícitas de quaisquer tipos;
 Indivíduos que não estejam sob tratamento
médico, psicológico ou
psiquiátrico.

Foram usados como critérios de exclusão:


 Indivíduos que estiverem fora da faixa etária;
 Indivíduos que aparentem estar sob efeito de
drogas lícitas ou ilícitas de quaisquer tipos;
 Indivíduos que estejam sob tratamento médico,
psicológico ou
psiquiátrico.
Revista Diálogos em Saúde 91
Volume 1 - Número 1 - jan/jun de 2018

4. RESULTADOS

Foram avaliados dois grupos: o primeiro denominado “grupo A” foi composto por 38 pessoas onde 25
eram do sexo masculino e 13 do sexo feminino, que seguiam praticando a corrida de rua recreacional.
O “grupo B” esteve composto por 11 pessoas onde 7 eram do masculino e 4 do sexo feminino que
haviam, por algum motivo abandonado a prática desta modalidade. Em geral, o nível de escolaridade
dos participantes do estudo (independentemente do grupo) foi composto por pessoas com ensino
fundamental incompleto (4,1%); ensino fundamental completo (4,1%); ensino médio incompleto
(4,1%); ensino médio completo (8,2%); superior incompleto (24,5%); superior completo (30,6%) pós
graduação (24,5%). Verificou-se ainda que as pessoas praticavam a corrida de rua entre 1 e 6 dias por
semana (M=3,69 ±1,51) e o tempo médio de cada sessão de treino era de 74,69 min.

Após a caracterização da amostra, foram verificadas as médias dos itens de cada instrumento
aplicado, com objetivo de identificar os principais fatores de início de prática e abandono dos
participantes da pesquisa. Os resultados mostraram que “Questão de saúde” foi o item que apresentou
maior valor como motivo de início da prática da corrida de rua. Os Motivos “Manter-se em
forma”(M=5,48), “Diversão” (M=5,53) e “Superar as próprias expectativas” (M=5,08)apresentaram
valores mais elevados que os demais.

Em relação aos motivos de abandono o item com maior média foi “Porque as lesões que
tenho/tive não permitem que me dedique mais” (M=3,27) seguido de “Porque treinar é/ está/tornou-se
incompatível” (M=2,73) e “Porque meu trabalho/ estudo não permite que me dedique mais” (M=2,45)
apresentaram valores mais elevados que os demais, estes resultados estão representados na tabela 01.

Tabela 1. Resultados das análises descritivas

Desvio
N Mínimo Máximo Média
Padrão

Fat. Intrins. Permanência 49 2,71 7 4,99 1,24

Fat. Extrins. Permanência 49 1,18 6,09 2,61 0,95

Fat. Intrins. Abandono 11 1 3,33 1,85 0,75

Fat. Extrins. Abandono 11 1 2,63 1,70 0,61

MI de Realização 49 1 7,75 5,38 1,39

MI de Conhecimento 49 1 7 4,70 1,50

MI de estimulação 49 1 7 5,60 1,41

ME de reg. introjetada 49 2 7 5,05 1,50

ME de reg. identificada 49 1 7 5,07 1,45


Revista Diálogos em Saúde 92
Volume 1 - Número 1 - jan/jun de 2018

ME de reg. externa 48 1 7 2,89 1,41

Desmotivação 49 1 5,75 2,53 1,34

Motivação Intrínseca 49 1 7 5,22 1,25

Motivação Extrínseca 48 1,83 7 4,33 1,19

IIM 48 -0,54 5,5 2,31 1,52


Fat.Intríns.Permanência = Fatores intrínseco de permanecia; fat.Extríns.Permanência = fatores extrínseco de permanecia;
Fat.intríns.Abandono =fatores intrínseco de abandono; Fat.Intríns.Abandono = fatores extrínseco de abandono; MI.de
Realização = motivação intrínseca de realização; MI.de Conhecimento = motivação intrínseca de conhecimento; MI. de
Estimulação = motivação intrínseca de estimulação; ME. deReg.Introjetada = motivação extrínseca de regulação introjetada;
ME. de Reg. Identificada = motivação extrínseca de regulação identificada; ME.de Reg. Externa = motivação extrínseca de
regulação externa; IIM = índice de intensidade motivacional.

Após as análises descritivas, procedeu-se a análise correlacional bilateral através do


coeficiente r de Pearson, onde foi adotado um nível de significância mínima de 0.05 para o resultado
ser considerado válido. Os resultados mostraram 56 correlações bilaterais significativas, sendo destas
52 positivas e 4 negativas. As correlações positivas que mais se destacaram foram, entre “Idade e
tempo de prática” (.509*), entre “Treinos por semana” e “Fatores extrínsecos de permanência”
(.497**), e entre “Tempo de treino” e “Motivação externa de regulação externa” (.497**).

As correlações negativas significativas que o estudo apontou foram, entre “Escolaridade” e


“Desmotivação” (-.306**), entre “Treino por semana” e “Escolaridade” (-.321**) e, por fim, entre
“Fatores extrínsecos de abandono”com “Motivação interna de estimulação” (-.641*).Os resultados das
análises correlacionais estão representados na tabela 02.
ARTÍCULO / ARTICLE

Educación Física y Ciencia, vol. 24, nº2, e215, abril-junio 2022. ISSN 2314-2561
Universidad Nacional de La Plata.
Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación.
Departamento de Educación Física

Motivos para a prática da corrida de rua e sua influência na satisfação


com a vida
Running practice: motivation and its influence on life satisfaction
Motivos para la práctica de correr y su influencia en la satisfacción con la vida

Marcos Antonio Barros Filho


Centro Universitário Estácio do Recife, Brasil
marcos.barrosf@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0001-6582-1043

Evenon Henrique da Silva Batista


Centro Universitário Estácio do Recife, Brasil
evenonh@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-1470-6157

Yves Miranda
Grupo de Pesquisa em Esporte e Gestão (GEquip) da
Universidade de Pernambuco, Brasil
miranda95y@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-5733-9951

Caio Tarcísio Ventura Alves


Secretaria Municipal de Educação, Prefeitura Municipal de
Ribeirão Preto, Brasil
caioalves@educacao.pmrp.sp.gov.br
https://orcid.org/0000-0002-7878-5050

Diogo Barbosa de Albuquerque


Centro Universitário Estácio do Recife, Brasil
diogoesef5@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-5739-8879

Resumo:
O objetivo do presente estudo foi analisar a influência dos motivos para prática da corrida de rua na satisfação com a vida de
corredores amadores. O estudo se caracteriza como de abordagem quantitativa. O procedimento de coleta adotado foi o E-survey,
onde os indivíduos foram convidados através das redes sociais a responder um formulário online disponível na plataforma Google
Drive. A amostra foi composta por 158 corredores. O instrumento utilizado foi um questionário composto pelas variáveis: (i)
motivos; (ii) satisfação com a vida; (iii) perfil da prática da corrida de rua e (iv) caracterização dos dados demográficos. Os dados
foram analisados no soware SPSS Statistics 24. A análise do valor preditivo das variáveis independes resultou num modelo
estatisticamente significativo [F (3, 154) = 13,06; < 0,001; R² = 0,20]. Especificamente, o fator social exerceu a influência mais
forte (β = 0.325), seguida pelo divertimento (β = 0.198). Portanto, conclui-se que os motivos da prática da corrida de rua são
fatores significativos para a satisfação com a vida.
Palavras-chave: Motivação, Esporte, Satisfação, Lazer ativo.

Recepción: 10 Agosto 2021 | Aprobación: 15 Marzo 2022 | Publicación: 04 Abril 2022

Cita sugerida: Barros Filho, M. A., Batista, E. H. da S., Miranda, Y., Alves, C. T. V. y Albuquerque, D. B. (2022). Motivos para a prática da corrida
de rua e sua influência na satisfação com a vida. Educación Física y Ciencia, 24(1), e215. https://doi.org/10.24215/23142561e215

Esta obra está bajo licencia Creative Commons Atribución-NoComercial-CompartirIgual 4.0 Internacional https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/deed.es_AR
Educación Física y Ciencia, abril-junio 2022, vol. 24, n° 2, e215. ISSN 2314-2561

Abstract:
e aim of this study was to analyze the influence of motivations for running practice on the life satisfaction of amateur runners.
e study is characterized as a quantitative research. e data collection procedure adopted was the E-survey, where individuals
were invited through social networks to answer an online survey form available on the Google Drive platform. e sample consisted
of 158 runners. e instrument used was a questionnaire composed of: (i) motivations; (ii) life satisfaction; (iii) running profile
(iv) characterization of demographic data. e data were analyzed using the SPSS Statistics 24 soware. e analysis of the
predictive value of the independent variables resulted in a statistically significant model [F (3, 154) = 13.06; <0.001; R² = 0.20].
Specifically, the social factor exerted the strongest influence (β = 0.325), followed by entertainment (β = 0.198). As a conclusion,
the motivations for running practice prove to be significant factors for life satisfaction.
Keywords: Motivation, Sport, Satisfaction, Active leisure.

Resumen:
El objetivo del presente estudio fue analizar la influencia de los motivos de la práctica de correr en la satisfacción con la vida de los
corredores aficionados. El estudio se caracteriza por ser un enfoque cuantitativo. El procedimiento de recolección adoptado fue
la encuesta electrónica, donde se invitó a las personas a través de las redes sociales a contestar un formulario en línea disponible
en la plataforma Google Drive. La muestra estuvo conformada por 158 corredores. El instrumento utilizado fue un cuestionario
compuesto por las variables: (i) motivos; (ii) satisfacción con la vida; (iii) perfil de práctica de carrera y (iv) caracterización de
datos demográficos. Los datos se analizaron utilizando el soware SPSS Statistics 24. El análisis del valor predictivo de las variables
independientes resultó en un modelo estadísticamente significativo [F (3, 154) = 13,06; <0,001; R² = 0,20]. En concreto, el factor
social ejerció la mayor influencia (β = 0,325), seguido del entretenimiento (β = 0,198). Por lo tanto, se concluye que los motivos
de la práctica de correr en la calle son factores importantes para la satisfacción con la vida.
Palabras clave: Motivación, Deporte, Satisfacción, Ocio activo.

Introdução

O esporte assume múltiplas formas de manifestação, que podem ir do alto rendimento a uma prática de
lazer que se desenvolve em quase todos os contextos sociais, isto é, faz parte do cotidiano da vida das pessoas
(Marques, Almeida, & Gutierrez, 2007; Sarmento & Barros Filho, 2018). Neste sentido, a corrida de rua se
destaca como uma alternativa na ocupação do tempo livre, na busca de uma melhor qualidade de vida, na
socialização, na prevenção de doenças e na melhora do condicionamento físico (Albuquerque, Silva, Miranda,
& Freitas, 2018; Oliveira, Lopes, & Hespanhol, 2021). Procurada muitas vezes por ser uma das práticas mais
democráticas e acessíveis em termos de lazer ativo da população, pois não exige um elevado investimento
financeiro, pelo menos inicialmente, é praticável em um tempo limitado, não necessita de um parceiro e pode
ser feita em vários espaços públicos (Alves & Rocha, 2017).
No entanto, observa-se que os hábitos de prática esportiva vigentes na sociedade apresentam uma
“coexistência de práticas”. Isso quer dizer que, o indivíduo, na mesma época, a depender dos seus desejos,
pode optar por uma prática individual, perpassar pela coletiva e culminar na massificada. Esta condição coloca
a corrida de rua como um negócio viável e lucrativo, seja na realização de eventos (Carvalho et al., 2018;
Parolini, Rocco Júnior, & Carlassara, 2018), na produção e comercialização de produtos associados a prática
(e.g. tênis de corrida, monitores de batimentos cardíacos, vestuário específico, alimentos, bebidas) (Ferreira,
Saggin, Miura, & Ribeiro, 2018), além dos serviços prestados pelas assessorias e/ou trabalhos personalizados
na prescrição de treinos (Truccolo, Maduro, & Feijó, 2008).
Tal crescimento torna esse mercado mais complexo, exigindo dos profissionais de educação física,
assessorias de corrida, gestores de academia e de provas de corrida de rua a capacidade de conhecer os seus
consumidores, entender os motivos que os levam a escolher determinados serviços e atender suas necessidades
e desejos (Pereira et al., 2021). Logo, a motivação, conceituada como as forças internas (intrínsecas) e/
ou externas (extrínsecas) que desencadeiam, direcionam, intensificam e perpetuam um comportamento
(Lapointe & Perreault, 2013), foi objeto de investigações acadêmicas relevantes na prática da corrida de rua
(Albuquerque et al., 2018; Gratão & Rocha, 2016), assim como a participação em eventos de corrida (Parolini
et al., 2018) e a adesão a grupos de corrida (Truccolo et al., 2008).

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Explorar os motivos, entender por que as pessoas se envolvem com a corrida de rua, assim como, identificar
possíveis consequências da sua prática, são importantes temáticas a serem desenvolvidas. Uma vez que, o lazer
fisicamente ativo, tanto estruturado (e.g., participar de eventos), quanto não estruturado (e.g. correr com
amigos), pode influenciar a satisfação com a vida (Sato, Jordan, & Funk, 2015). Essa variável é compreendida
como uma avaliação cognitiva global da satisfação com as condições de vida (Diener, Emmons, Larsen,
& Griffin, 1985). Possui como base teórica duas abordagens: “top-down” e “bottom-up”.A abordagem “top-
down” possui uma perspectiva voltada ao indivíduo, enfatizando o papel de grandes diferenças individuais da
personalidade na satisfação, enquanto a abordagem “bottom-up” se concentra no papel de situações, eventos
e contextos na satisfação geral (i.e., a pessoa versus a situação) (Heller, Watson, & Ilies, 2004).
Assim sendo, esse estudo busca contribuir com o entendimento da relação entre os motivos que levam as
pessoas a praticarem a corrida de rua e a satisfação com a vida, ainda não totalmente esclarecida. Acredita-se
que diferentes motivos para prática da corrida de rua podem influenciar a satisfação com a vida de maneira
diferente. Este conhecimento revela-se importante para o ecossistema da corrida de rua na tentativa de
explicar fatores relevantes para manutenção da prática. Além de que, poderá representar um ponto de partida
para estudos futuros e elucidar às organizações esportivas promotoras da prática e os profissionais de educação
física a sua importância. Portanto o objetivo do presente estudo foi analisar a influência dos motivos para
prática da corrida de rua na satisfação com a vida de corredores amadores.

Metodologia

Caracterização do Estudo

O estudo é de abordagem quantitativa, quanto ao objetivo de pesquisa é considerado observacional e


segundo seu desenho se caracteriza como um survey, que permite ao pesquisador obter informações desejadas
sobre uma característica, atitude ou comportamento em uma determinada amostra (Andrew, Pedersen, &
McEvoy, 2011).

Coleta de Dados

A técnica de coleta da amostra foi não aleatória por conveniência (Skinner, Edwards, & Corbett, 2014).
O procedimento adotado foi o E-survey, proposto por Veal e Darcy (2014), onde os corredores foram
convidados através das redes sociais (e.g Facebook e Instagram) a responder o questionário online, disponível
como um formulário, na plataforma Google Drive. A coleta ocorreu entre os meses de janeiro e março de 2021.

Instrumento

O instrumento utilizado foi um questionário composto pelas variáveis: (i) motivos; (ii) satisfação com
a vida; (iii) perfil da prática da corrida de rua e (iv) caracterização dos dados demográficos. Os motivos
foram verificados através da escala proposta por Gratão e Rocha (2016), composta por cinco dimensões (i.e.
divertimento, competência, aparência, fatores sociais e saúde) cada uma mensurada a partir de três itens (total
= 15 itens). Já a satisfação com a vida teve como base uma escala adaptada proposta por Sato, Jordan, e Funk
(2016) com cinco itens. A variável perfil da prática da corrida de rua foi mensurada a partir de escalas de
medida nominal (e.g. prova preferida e orientação para prática) e razão (e.g. anos de prática da corrida e
quantidade de provas disputadas no ano). Todos os itens das variáveis (I) e (II) foram mensurados através de
uma escala do tipo Likert com sete alternativas (1 = discordo totalmente e 7 = concordo totalmente).

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Amostra

O preenchimento do questionário foi realizado por 174 corredores, mas a partir da aplicação dos critérios
de exclusão foram eliminados 16 indivíduos mais especificamente pela pouca experiência com a modalidade,
tendo em vista a necessidade de uma prática de forma sistemática e não esporádica (i.e. praticavam a menos de
três meses) (n = 6), e os demais foram identificados como outliers severos a partir do diagnostico visual com
boxplots (n = 10). Por fim, a amostra do estudo foi composta por 158 corredores de rua amadores. Antes de
responderem ao questionário, todos os participantes foram devidamente esclarecidos sobre os objetivos da
pesquisa e os procedimentos a serem realizados, os que concordaram em participar assinalaram “concordo”
no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Importa referir que o estudo está vinculado a um projeto
de pesquisa aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa de uma Universidade brasileira.

Análise dos dados

Os dados foram tabulados e analisados no soware IBM SPSS Statistics 24, onde foram realizadas análises
descritivas (i.e. M = Média e DP = Desvio padrão, distribuição de frequência absoluta e relativa) fiabilidade
das dimensões que compõe as escalas, por meio do Alfa de Cronbach, e regressão linear múltipla para avaliar
o valor preditivo dos motivos para prática da corrida de rua na satisfação com a vida. O nível de significância
estabelecido foi de p < 0,05.

Resultados

Características da amostra

Em relação às características demográficas da amostra, destaca-se que a maioria foi composta por homens
(57%), média de idade de 39,41 anos, casados (51,3%), com escolaridade completa de pós-graduação (58,2%)
e uma renda familiar de mais de R$5.000,00 (55,7%). A tabela 1 apresenta os dados de maneira detalhada.
TABELA 1
Variáveis demográficas

Fonte: Os autores
Nota: DP = Desvio Padrão

Quanto às informações sobre o perfil da prática da corrida de rua se identificou que o período regular da
prática foi um pouco mais de seis anos, a frequência semanal média foi de três dias de treinamento, geralmente

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em grupo (51,3%), com o tempo médio de atividade dos participantes de aproximadamente 57 minutos
diários. No ano de 2019, o número de participação em eventos de corrida de rua foi de 4 provas em média,
dentre as distâncias das provas selecionadas para a pesquisa as de 5km (31,6%) e 10km (29,7%) foram as mais
frequentes. Finalmente, 76,6% possuíam orientação para a prática por meio de algum profissional capacitado.
Maiores detalhes destes resultados podem ser observados na tabela 2.
TABELA 2
Informações sobre a corrida

Fonte: Os autores
Nota: DP = Desvio Padrão

Fiabilidade da escala e resultados descritivos

Relativamente à fiabilidade das escalas sob investigação, destaca-se que os valores de Alfa de Cronbach
foram aceitáveis, acima do valor de referência (α ≥ 0.70) (Peterson, 1994) em três dimensões dos Motivos,
especificamente: Divertimento (α = 0.72); Aparência (α = 0.88) e Social (α = 0.88), demostrando
consistência interna. Igualmente, a dimensão da Satisfação com a vida apresentou valor acima do mínimo
desejável (α = 0.85). Contudo, as dimensões Competência (α = 0.50) e Saúde (α = 0.20) apresentaram
graves problemas de fiabilidade, ou seja, na amostra sob estudo, os itens que compõem as duas dimensões não
mediram de forma consistente e reprodutível o fator de interesse. Assim, as dimensões foram excluídas das
análises posteriores.
Para avaliar se a distribuição dos dados estava próxima o suficiente da distribuição normal os valores
de assimetria e curtose das variáveis manifestas (itens) foram examinados. Todos os valores absolutos de
assimetria foram menores que 3.0 e para curtose inferiores a 10.0. Assim, de acordo com Kline (2011) pode-se
assumir que o pressuposto da normalidade é plausível. A ausência de multicolinearidade foi verificada através
dos valores de Tolerância (T) e VIF (valores de T > 0.3 e VIF < 5). No que diz respeito à independência
dos resíduos, esta foi identificada a partir do teste de Durbin Watson que apresentou valores próximos a 2,
confirmando esta condição.
A análise descritiva das dimensões evidenciou médias elevadas em todos os motivos, sendo a mais alta o
divertimento (M = 6,6; DP = 0,63), seguida pela aparência (M = 6,0; DP = 1,15). A satisfação com a vida
também apresentou uma média acima da mediana da escala (M = 5,71; DP = 0,91). Na tabela 3, os resultados
descritivos e os valores de assimetria e curtose dos itens das dimensões que permaneceram no modelo estão
apresentados.

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TABELA 3
Medidas de tendência central, fiabilidade e normalidade dos dados

Fonte: Os autores
Nota: DP = Desvio Padrão

Análise preditiva

A análise do valor preditivo das variáveis independentes resultou num modelo estatisticamente significativo
[F (3, 154) = 13,06; < 0,001; R² = 0,20]. Quanto à influência dos motivos para prática da corrida de rua
na satisfação com a vida de corredores amadores evidenciou-se que todas as dimensões obtiveram resultados
positivos e estatisticamente significativos (Tabela 4). Destaca-se que o fator social exerceu a influência mais
forte (β = 0.325), seguida pelo divertimento (β = 0.198). No entanto, o coeficiente de determinação (R²) do
modelo foi baixo, ao demonstrar que apenas 20% da variabilidade na satisfação com a vida é explicada pelos
motivos para prática da corrida de rua (Tabela 4).
TABELA 4
Análise do valor preditivo dos motivos para a prática da corrida de rua na satisfação com a vida

Fonte: Os autores
F= 13,06; p ≤ 0,001; R² = 0,20.

Discussão

Inicialmente, em relação à fiabilidade da escala dos motivos, alguns problemas foram identificados, as
dimensões “Competência” e “Saúde” foram excluídas do modelo por falta de consistência interna. Esses
resultados diferem das evidências apresentadas por uma revisão sistemática que aponta a saúde física e
a realização pessoal como os motivos mais prevalentes na literatura (Pereira et al., 2021). Assim como,
distinguiram da escala original validada no contexto brasileiro (interior de São Paulo) por Gratão e Rocha
(2016). Ao comparar os dois estudos, percebe-se que as características da amostra foram relativamente

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parecidas em vários aspectos, logo, essa divergência pode estar sustentada na dimensão amostral inferior dessa
investigação. Um outro aspecto diz respeito à quantidade de itens em cada dimensão, segundo Peterson
(1994) escalas com dois ou três itens apresentam alfas menores do que aquelas com mais de três itens.
Do ponto de vista empírico, as dimensões podem não ter sido sustentadas por algumas razões, por
exemplo, relativamente à competência a amostra foi composta por corredores amadores, ou seja, grande parte
desses corredores não estão prioritariamente motivados em melhorar o desempenho para obter resultados
esportivos expressivos na corrida. Já a saúde, considera-se amplamente difundido os benefícios da prática
da modalidade relacionado a esse aspecto, assim como, na obtenção de um estilo de vida mais saudável
(Hespanhol Junior, Pillay, van Mechelen, & Verhagen, 2015; Lee et al., 2017). Entretanto, investigações
científicas apontam que o comportamento sedentário ainda é maioria na população mundial (Carter,
Hartman, Holder, ijssen, & Hopkins, 2017; Hallal et al., 2012), ou seja, talvez a saúde por si só não se
constitua como um motivo suficiente. Um outro aspecto diz respeito à amostra desse estudo possuir uma
experiência de prática média de 6,6 anos, o que caracteriza uma prática estabilizada, onde a conscientização
da saúde já foi compreendida pelo indivíduo.
Os resultados referentes aos motivos destacam o divertimento como a média mais alta em nosso estudo.
Este resultado está em concordância com o apresentado por Balbinotti, Gonçalves, Klering, Wiethaeuper, e
Balbinotti (2015) onde sugere-se que a prática de corrida de rua parece proporcionar sentimentos de prazer
desde o momento de adesão aos treinamentos e permanecer ou progredir de maneira sustentada ao longo do
tempo. Realmente, ao observarmos à experiencia de prática da nossa amostra (M = 6,6 anos), percebe-se que
o divertimento é um fator importante para permanência na prática da modalidade. Por outro lado, os outros
dois motivos (i.e. aparência e social) que também foram bem avaliados no nosso contexto de análise divergem
de uma investigação realizada na Espanha, que evidenciou a afiliação e o peso como duas das três menores
médias dos motivos para prática da corrida de rua (Ruiz-Juan & Zarauz Sancho, 2014).
Relativamente ao valor preditivo dos motivos, evidenciou-se que a dimensão social obteve a maior
influência na satisfação com a vida dos corredores. Estes resultados enfatizaram que a oportunidade de
interação social e o senso de pertencimento são razões pelas quais os indivíduos querem praticar esportes e
atividades físicas de lazer (Albuquerque et al., 2018; Berg, Warner, & Das, 2015). Por sua vez, o estudo de
Maher et al. (2013) identificou a partir de uma análise contextual (i.e. abordagem bottom-up) que nos dias
em que as pessoas eram mais ativas fisicamente do que o normal, elas relataram maior satisfação com a vida
naquele dia. Em outro estudo, o envolvimento comportamental com a corrida (i.e. a distância percorrida
por semana e o número médio de horas gastas correndo) não foi associado à satisfação com os domínios
da vida, nem exerceu um efeito indireto na satisfação geral com a vida (Sato, Jordan, & Funk, 2014). Este
resultado levanta uma hipótese de que não é apenas o fato de correr que irá influenciar a satisfação com a vida
do indivíduo, mas também o que motiva as pessoas a praticarem a corrida de rua parece exercer um papel
significativo, conforme evidenciado em nosso estudo.
No que diz respeito à dimensão do divertimento, no estudo de Titze, Stronegger, e Owen (2005) as
mulheres que tiveram um alto nível de prazer associado à prática da corrida foram oito vezes mais propensas
a adotar uma prática regular do que aquelas com uma avaliação baixa de prazer motivacional e apoio familiar.
De fato, em um outro estudo desenvolvido no contexto brasileiro (Maceió – Alagoas), o prazer foi escolhido
por 69,1% da amostra como um dos motivos de adesão à prática da corrida de rua (Fonseca, Cavalcante,
Almeida, & Fialho, 2019). Neste sentido, vivenciar uma experiência agradável e divertida está associado à
satisfação com a vida (Sato et al., 2015). No estudo de Sato et al. (2016) foi evidenciado que a prática da
corrida de rua teve um efeito indireto significativo na satisfação com a vida por meio do prazer. Os estudos
citados corroboram com a presente investigação, no sentido de apontar a importância de se praticar algo que
o indivíduo tenha interesse e se divirta.
Finalmente, a dimensão da aparência também apresentou uma influência positiva na satisfação com a vida
de corredores. É importante referir que aparência, estética, preocupação com o peso ou imagem corporal são

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motivos amplamente difundidos na literatura como antecedentes da prática da corrida de rua (Fonseca et
al., 2019; Pereira et al., 2021; Rodrigues, Triani, Malina, & Telles, 2019). Deste modo, num estudo recente,
Davis, Fowler, Best, e Both (2020) identificaram que a apreciação com o corpo foi um preditor significativo da
satisfação com a vida tanto para homens, quanto para mulheres. Quando se aborda os impactos dos exercícios
aeróbicos (e.g. corrida) na composição corporal, principalmente na redução de gordura, as evidências são
significativas (Hazell, Hamilton, Olver, & Lemon, 2014; Kostrzewa-Nowak et al., 2015; Wanderley et al.,
2015). Portanto, acredita-se que existe uma associação entre prática da corrida de rua, melhora da percepção
da aparência física e satisfação com a vida.
Do ponto de vista teórico, este estudo acrescenta a literatura ao relacionar um antecedente da prática da
corrida de rua (i.e. Motivos) e uma consequência (i.e. Satisfação com a vida). Em um mesmo modelo estas
variáveis ainda não haviam sido amplamente exploradas, o que se caracteriza como um aspecto relevante, pois
foi evidenciado que motivos diferentes influenciam a satisfação com a vida de maneira significativamente
diferente. Como implicações práticas a corrida de rua demostrou ser uma prática social coletiva, logo, esse
fator deve ser enfatizado pelas assessorias de corrida e academias como um diferencial na adesão e fidelização
dos seus clientes. Em relação à aparência e ao divertimento, ficou claro que é preciso criar um ambiente
agradável e promover experiências prazerosas, mas que traga resultados de fins estéticos.
Algumas limitações podem ter influenciado os resultados deste estudo, inicialmente a técnica de coleta
não aleatória por conveniência somada a dimensão reduzida da amostra sugere cautela na generalização dos
resultados. Novos estudos, com amostras mais amplas, podem inclusive retomar a investigação das dimensões
“Saúde” e “Competência” para entender se elas apresentam consistência para análise ou se, de fato, não se
concretiza como um motivo para prática da corrida de rua na realidade observada. Além disso, a satisfação
com a vida é uma variável complexa e multifatorial, assim, algumas variáveis poderiam estar presente no
modelo analisado, por exemplo, o envolvimento com a corrida e a personalidade dos indivíduos. Investigações
futuras, ainda dentro da relação proposta, podem acrescentar variáveis de moderação (e.g. sexo, faixa etária,
rendimento e tempo de prática), assim como, comparar a satisfação com a vida entre praticantes da corrida
de rua e de outras modalidades esportivas.

Considerações finais

Após todo processo de pesquisa conclui-se que os motivos para a prática da corrida de rua influenciaram
de maneira positiva e estatisticamente significativa a satisfação com a vida dos corredores. Com ênfase na
dimensão social, apesar da corrida de rua ser considerada uma modalidade individual nos parece evidente que
a prática em grupo ou em dupla faz toda diferença para sua manutenção. Os achados da presente investigação
são fundamentais para as organizações que ofertam o serviço de corrida de rua, pois podem direcionar a
prática profissional bem como as estratégias de marketing para manter e captar novos clientes, focadas nos
aspectos sociais, no divertimento e na melhora da aparência como elementos associados a prática da corrida
de rua e a satisfação com a vida.

Agradecimentos

Este estudo foi desenvolvido a partir de um projeto de iniciação cientifica - IC aprovado no Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica (PIBIC) do Centro Universitário Estácio do Recife.

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Perfil e Preferências de Praticantes de Corrida de Rua: Um Estudo Preliminar

Article · January 2012

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4 authors, including:

Leandro Carlos Mazzei Flavia Bastos


University of Campinas University of São Paulo
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PERFIL E PREFERÊNCIAS DE PRATICANTES
DE CORRIDA DE RUA:
UM ESTUDO PRELIMINAR

Palhares, J.M.a; Benetti, M. a; Mazzei, L.C.a, Bastos, F.C. a


a
Grupo de Estudos e Pesquisa em Gestão do Esporte (GEPAE)
Departamento de Esporte EEFEUSP, Brasil – flaviacb@usp.br

Palavras-chave: Corrida de rua; Evento; Consumidor

Resumo
Os objetivos do presente estudo foram descrever o perfil e motivos
para a prática de corrida de rua e identificar fatores que determinam a
participação em eventos. Foi realizada pesquisa exploratória, de campo
(VERGARA, 2006), com coleta de dados através de questionário eletrônico,
construído a partir de instrumentos disponibilizados na literatura. A amostra
por conveniência foi constituída de praticantes e corredores com mais de
seis meses de prática. A análise de componentes principais (ACP) aplicada
nos dados obtidos das variáveis relativas a motivação para a prática e para
a participação em competições. Conclui-se que os componentes Obrigação,
Saúde e Superação identificados devem ser considerados pelos
organizadores de provas e em ações de marketing para o público que
participa de competições.

Abstract
The purposes of this study were to describe the profile and reasons for
the practice of street racing and to identify factors that determine participation
in events. It was performed an exploratory and field research (Vergara, 2006),
with collection of data via electronic questionnaire, constructed from
instruments available in the literature. The sample consisted of athletes and
runners with more than six months of practice. The principal component
analysis (PCA) was performed with the variables obtained on the motivation
to practice and to participate in events and competitions. It was identified
factors to be taken into account by the organizers of events and marketing
activities for the public to participate in competitions.

Objetivo
Estudos sobre o consumidor da prática e de eventos de Corrida de
Rua são escassos na literatura brasileira, conforme revelou pesquisa de
Bastos; Pedro; Palhares (2009) que identificaram a produção de estudos
científicos no Brasil voltados para determinadas áreas do conhecimento como
1664 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 1, p 1664-1673, 2012
medicina, psicologia, pedagogia e biomecânica, revelando que a Corrida
de Rua tem sido pouco estudada em termos sociológicos e administrativos.
Dessa forma, os objetivos deste trabalho foram traçar o perfil de
praticantes de corrida de rua, investigar os tipos de provas de Corrida de
Rua que mais agradam aos corredores, e identificar os fatores preponderantes
na avaliação de alternativas e na decisão de compra dos praticantes em
relação as provas de corrida de rua.

Material e métodos
Para a definição do tipo de pesquisa a ser realizada, utilizamos os
critérios estabelecidos por Vergara (2006). Quanto aos fins, caracterizou-se
como pesquisa exploratória, pois há pouco conhecimento acumulado,
estruturado; e descritiva, uma vez que pretendeu expor características de
determinada população ou fenômeno – os participantes de eventos de Corrida
de Rua. Quanto aos meios, trata-se de pesquisa de campo.
A amostra utilizada no estudo foi probabilística por conveniência pois,
tendo em vista o grande número de indivíduos que constituem os participantes
eventos de Corrida de Rua, se torna extremamente difícil a realização de
uma amostragem probabilística, não só onerando o custo de obtenção das
respostas como também exigindo um extenso prazo para a realização do
estudo. Dessa forma a limitação do estudo fica configurada pela
disponibilidade dos participantes em responder o questionário.
O critério de inclusão na amostra foi o corredor participar de grupo
de orientação de corrida há pelo menos seis meses. A amostra foi composta
por corredores vinculados a assessorias esportivas que atuam no Campus
São Paulo da Universidade de São Paulo (USP) e recebem o apoio da
Associação de Treinadores de Corrida de Rua (ATC) e da Coordenadoria do
Campus da Capital (COCESP-USP).
Após uma visita explicativa sobre a pesquisa aos responsáveis pelas
Assessorias de Corrida foi feito contato eletrônico com os treinadores,
fornecendo o link do instrumento, que repassaram aos seus atletas e
companheiros de corrida. No formulário enviado aos sujeitos, os mesmos
foram informados e esclarecidos a respeito dos objetivos do estudo no
instrumento utilizado e não assinaram o Termo de Consentimento tendo em
vista a dispensa aprovada pelo Comitê de Ética da EEFEUSP (protocolo de
pesquisa nº 2010/32). O consentimento foi incluído no formulário, por meio
da obrigatoriedade de se assinalar a concordância em responder o
instrumento.
O instrumento de coleta de dados utilizado foi um formulário
desenvolvido pelos pesquisadores composto de questões elaboradas a partir
de variáveis identificadas nos estudos citados na revisão de literatura sobre
corrida, do questionário validado por Truccolo et al. (2008) em relação ao
perfil e fatores motivacionais de adesão a grupos de corrida e de variáveis

R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 1, p 1664-1673, 2012 1665


levantadas por Shank (1999) e Cobra (2003) em relação à avaliação de
alternativas e decisão de compra dos praticantes. O instrumento foi
submetido a dois experts que analisaram a pertinência e clareza das questões
de acordo com preceitos teóricos sobre o consumidor do esporte, e aplicado
em trinta corredores que praticam corrida no Parque das Bicicletas (PMSP),
abordados aleatoriamente no sentido de se avaliar a o entendimento das
questões. O instrumento foi readequado segundo após a análise da avaliação
dos experts e das respostas obtidas.
A análise dos dados foi realizada através de estatística descritiva, para
a caracterização da amostra. Em uma segunda etapa, no sentido de analisar
as demais variáveis foi aplicado o método de análise dos componentes
principais (ACP) a fim de determinar o número mínimo de fatores que
responderiam pela máxima variância, utilizando-se o pacote estatístico SPSS
(versão 15.0). O número de fatores foi determinado com base na variância
de 69%, pelo método de rotação Varimax (rotação ortogonal). A partir da
determinação dos componentes, aplicou-se a análise discriminante para se
identificar diferenças no perfil dos corredores conforme sua preferência pelos
diferentes tipos de eventos de corrida.

Resultados e discussão
O formulário foi respondido por 89 corredores de Corrida de Rua de
São Paulo que treinam na USP. Neste perfil a predominância dos respondentes
é o sexo masculino (65) tendo sido obtidas 24 respostas de corredores do
sexo feminino. A faixa etária com maior frequência foi a de 45 a 59 anos
(Gráfico 1).
GRÁFICO 1
Distribuição do número de respondentes por faixa etária.

1666 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 1, p 1664-1673, 2012


Quanto ao estado civil, 44% dos respondentes são casados, 42%
solteiros, 8% divorciados/separados e 6% vivem em união estável. A maioria
é da cor branca (77%), seguido da cor amarela (11%) e parda (8%), apenas
3% dos atletas são da cor preta e 1% indígena. No que se refere ao grau de
instrução, a maioria dos sujeitos têm curso de pós- graduação, seguido de
superior completo (Gráfico 2).
GRÁFICO 2
Distribuição do grau de instrução dos respondentes

Os dados encontrados no presente estudo são semelhantes aos


obtidos por Truccolo et al. (2008) que traçaram o perfil de 68 corredores,
com número igual de mulheres e homens, e constataram que a maioria era
casada, branca e com nível de escolaridade de pós-graduação e por Ribeiro
(2009), que investigou indivíduos 153 praticantes de corrida de Fortaleza,
Ceará, verificando predominância de corredores do sexo masculino, solteiro
e com nível superior de escolaridade. Já Albuquerque (2007), em pesquisa
sobre o perfil socioeconômico e os hábitos de consumo de material esportivo
dos praticantes da Corrida de Rua em Belo Horizonte, descreveu o perfil
dos praticantes com as seguintes características: predominância do sexo
masculino, na faixa etária de 30 a 44 anos, casado, renda entre 5 e 10 salários
mínimos e escolaridade alta (pelo menos superior completo).
Apesar da divergência encontrada em relação a variável sexo,
provavelmente em virtude da limitação relativa a composição da amostra.
Dessa forma, pode-se afirmar que há consistência do perfil obtido com os
de corredores de outras regiões no Brasil no que se refere ao estado civil, à
raça e a escolaridade.
Quanto ao comportamento em termos da prática, o levantamento do
número de treinamentos realizados por semana aponta a maioria das
respostas em 3 e 4 vezes por semana e a duração da prática em torno de 70

R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 1, p 1664-1673, 2012 1667


minutos. Esses dados são semelhantes aos encontrados por Albuquerque
(2007) que indicam que a maioria (58%) dos praticantes respondeu que se
exercitam de 3 a 5 vezes por semana.
Em relação a orientação para a prática, apenas 13 corredores não
recebem acompanhamento, sendo que os outros 76 recebem orientação
de um educador físico (85%), percentual semelhante ao obtido por
Albuquerque (2007), de 82%. Dentro do grupo que recebe orientação de
profissional de Educação Física, outras orientações foram citadas: 30,26%
também recebem orientações de nutricionista, 9,21%, de fisioterapeuta e
10,52%, acompanhamento médico, aspectos também verificados por
Albuquerque (2007).

Razões para a Prática da Corrida


As principais razões apontadas para os respondentes terem aderido
à prática da Corrida de Rua, foram Saúde, Lazer, Peso e Autoestima
(Gráfico 3).
GRÁFICO 3
Razão para aderir à prática da Corrida de Rua.

A ACP foi aplicada para se determinar o número mínimo de fatores,


entre as 16 alternativas apresentadas no formulário, que responderiam pela
máxima variância nos dados sobre os motivos porque os sujeitos aderiram
à prática da Corrida de Rua. Determinou-se o número de fatores com base
na porcentagem de 80% da variância e foram retidos os componentes com
autovalor maior que 1. A partir da matriz original foi feita a rotação pelo
método Varimax (rotação ortogonal).

1668 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 1, p 1664-1673, 2012


No Quadro 1 são apresentados os pesos de cada variável em relação
ao fator (componente). Foram consideradas as variáveis que contribuíram
com valores iguais ou acima de 0.70, No componente principal 1 extrai-se a
variável Saúde, no componente 2 Socializar, no 3, Ansiedade, no 4, Aparência,
no 5, Depressão e no 7, Indicação Médica.
QUADRO 1
Componentes principais das razões de aderência à prática da Corrida.

Rotação método: Varimax com normalização Kaiser

No componente 6 a variável Profissão revelou peso negativo, indicando


a probabilidade de a amostra ser constituída por atletas e profissionais que
orientam corredores.
Os componentes Saúde, Socializar, Ansiedade, Aparência, Depressão
e Indicação Médica parecem indicar os fatores relevantes ao se estudar as
motivações para a prática da Corrida de Rua. Os resultados encontrados
por Truccolo et al.(2008) indicam motivos semelhantes para adesão à prática
de Corrida de Rua: melhora do condicionamento físico e saúde, ar livre,
aumento da autoestima, melhora na aparência física, menos ansiedade, saúde
e redução do estresse.
Da mesma forma, Albuquerque (2007) identificou que as razões mais
apontadas foram a Manutenção da saúde, o Lazer e a Perda de peso. Quanto
ao aspecto da socialização, não destacado por esse autores, Ribeiro (2009)
identificou como maior incentivo à participação nos eventos de Corrida de
Rua a participação de outros amigos.

R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 1, p 1664-1673, 2012 1669


Participação em provas de Corrida de Rua
Quanto ao aspecto competitivo, ou seja, a participação em uma prova
de Corrida de Rua, os resultados verificados indicam que os sujeitos da
amostra têm padrão bastante heterogêneo quando a frequência de
participação em eventos e competições. A distribuição de número de provas
não é homogênea entre os respondentes, com o número máximo de provas
realizadas por um sujeito foi de 40 provas por ano, enquanto que outro
sujeito indicou uma prova por ano.
Quanto a preferência por tipo de prova, a modalidade mais indicada
foi a corrida de 10Km (48% assinalaram nota máxima na escala de preferência
de 0 a 4; 2% assinalaram 0); seguida pela meia maratona (47% de nota 4;
12% de notas 0). A prova com maior rejeição foi a ultra maratona (79% de
notas 0, 9% de notas 4), seguida pelas provas de cross-country e maratona.
A ACP para se determinar o número mínimo de fatores foi aplicada
entre os nove diferentes tipos de provas em relação aos quais os respondentes
apontaram sua preferência. Determinou-se o número de fatores com base
nos mesmos parâmetros utilizados para a análise anterior (80% da variância
e componentes com autovalor maior que 1) e rotação ortogonal.
No Quadro 2 são apresentados os pesos de cada variável em relação
ao fator (componente). Foram consideradas as variáveis que contribuíram
com valores iguais ou acima de 0.80. No componente principal 1 atingiram
este critério a variável relativa a prova de 10Km, no componente 2, a meia
maratona e no 3, cross country e corrida de aventura/ecológica. O componente
3 foi denominado provas alternativas. Esses componentes caracterizam
preferências de provas de curta distância, de média distância e provas ligadas
à natureza.
QUADRO 2
Componentes principais dos tipos de provas de Corrida de Rua.

Rotação método: Varimax com normalização Kaiser

1670 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 1, p 1664-1673, 2012


Não apareceram como significativas as provas de longa distância
(maratona e ultramaratona) para a amostra estudada, indicando que este
tipo de corredor provavelmente não realiza sua preparação no local onde
foram coletados os dados (sujeitos que praticam corrida no Campus da
USP – Capital).
Dentre os objetivos apontados ao participar de provas de Corrida de
Rua (Gráfico 4), observa-se que os dois principais objetivos, Superação e
Diversão, estão associados a características pessoais como emoção (COBRA,
2003) e motivação, de ordem intrínseca. Resultados semelhantes foram
obtidos por Balbinotti; Capozzali (2008) sobre a motivação à prática regular
de atividade física com mulheres praticantes em academias de ginástica.
Já o objetivo Saúde é considerado uma motivação extrínseca do tipo
regulação identificada, na qual a pessoa conscientemente avalia suas
atividades (autoendosso dos objetivos) e também pode estar relacionada à
busca de aprovação, voltada ao comportamento e valores de grupos de
referência (COBRA, 2003).
GRÁFICO 4
Objetivos ao participar de prova de Corrida de Rua.

Na ACP entre as sete variáveis relativas ao motivo pelo qual os sujeitos


competem/participam de provas de Corrida de Rua foram extraídos três
componentes: Obrigação (estética ou de atleta), Saúde e Superação
(Quadro 3).

R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 1, p 1664-1673, 2012 1671


QUADRO 3
Componentes principais dos motivos porque participam de
provas de Corrida de Rua.

Rotação método: Varimax com normalização Kaiser

Os fatores para a participação de provas de Corrida de Rua, nesse


primeiro estudo sobre o tema no país, aparecem também fortemente
relacionados com Saúde e com a motivação intrínseca Superação, atributo
relacionado às demais atividades esportivas competitivas.

Conclusões
Para o sucesso na realização de um evento esportivo, além de uma
ótima organização e administração, é de suma importância desenvolver uma
estratégia de marketing em que se considere fatores que influenciam o
comportamento e a tomada de decisão do seu público- alvo.
O perfil dos corredores estudados demonstra que essa prática tem
sido adotada por público predominantemente masculino e com escolaridade
alta, o que pode indicar que os valores culturais e socioeconômicos
propiciem a prática orientada por profissionais e a participação em
competições de corrida de rua.
A análise dos resultados obtidos na presente pesquisa aponta fatores
relevantes na escolha de compra de corredores, tanto na prática de
treinamentos como em relação a provas de Corrida de Rua.
No que se refere a motivação para a prática da corrida, reafirma-se a
preocupação com a saúde, já encontrada na literatura, que foi confirmada e
expressa especialmente quanto a saúde emocional (ansiedade, depressão)
e ainda pelo fator indicação médica. Os fatores aparência e socialização
foram identificados para o grupo como um todo (ambos os sexos).
Quanto a preferência por tipo de provas, os três componentes
identificados – 10 Km, meia- maratona e corridas alternativas demonstram
que, apesar das limitações do presente estudo, especialmente no que se
refere à constituição da amostra, os aspectos ligados à participação em

1672 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 1, p 1664-1673, 2012


competições depreendidos dessa pesquisa podem ser aspectos norteadores
para organizadores de provas como atributos e valores no planejamento de
ações de marketing voltadas ao público que realiza treinamentos no Campus
Capital da USP.
Sugere-se ainda que em estudos futuros seja realizada análise
discriminante de dois grupos em relação a categorias, como sexo, e de
análise discriminante múltipla a partir dos três componentes relacionados
aos tipos de prova.

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R. Min. Educ. Fís., Viçosa, Edição Especial, n. 1, p 1664-1673, 2012 1673

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ConScientiae Saúde
ISSN: 1677-1028
ISSN: 1983-9324
conscientiaesaude@uninove.br
Universidade Nove de Julho
Brasil

Neumann Gula, Jolnes; Volski Mattes, Verônica; Paludo, Ana


Carolina; Pereira da Silva, Michael; Peikriszwili Tartaruga, Marcus
Perfil motivacional e estado de humor em corredores de rua integrantes de grupos de corrida
ConScientiae Saúde, vol. 18, núm. 4, 2019, -, pp. 444-454
Universidade Nove de Julho
São Paulo, Brasil

DOI: https://doi.org/10.5585/conssaude.v18n4.14826

Disponible en: https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=92965872003

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Recebido em: 12 set. 2019 - Aprovado em: 01 jun. 2020

Perfil motivacional e estado de humor em


corredores de rua integrantes de grupos de
corrida
Motivational profile and mood in running group participants

Jolnes Neumann Gula1


Resumo
Verônica Volski Mattes2
Ana Carolina Paludo3 Introdução: A busca pela prática corrida de rua vem aumentando e um melhor
Michael Pereira da Silva 4 entendimento do perfil dos praticantes pode auxiliar na melhor adesão dos participantes à
prática da atividade física.
Marcus Peikriszwili Tartaruga5 Objetivo: investigar o perfil motivacional e estado de humor de corredores de rua.
Materiais e Métodos: foram avaliados 50 participantes de uma prova de corrida de rua. A
motivação e o estado de humor foram avaliados após a prova pelos questionários IMPRAF-
Endereço para correspondência 54 e POMS, respectivamente. As dimensões da motivação foi avaliada pelo teste de
Jolnes Neumann Gula Wilcoxon e o humor foi analisado de maneira descritivas.
Rua Simeão Camargo Varela de Sá, 03 - Bairro Vila Carli
Resultados: as dimensões mais presentes na motivação foram a Saúde e o Prazer. Para o
85040-080 – Guarapuava, PR [Brasil]. +55 42 99809-6175
jolnesneumann@gmail.com humor foi observado um perfil iceberg.
Conclusão: Com base nos resultados, os corredores de rua do presente estudo apresentam
motivação a prática da corrida de rua pela busca da Saúde e Prazer, adicionalmente nota-se
1 um estado de humor positivo dos praticantes.
Graduado em Educação Física Bacharelado, Grupo de Pesquisa
em Biomecânica e Energética do Movimento Humano, Curso de
Educação Física Bacharelado – Universidade Estadual do Centro- Descritores: Motivação. Corrida. Psicologia do Esporte.
Oeste – UNICENTRO. Guarapuava, PR – Brasil.
jolnesneumann@gmail.com Abstract

2
Mestre em Educação, Grupo de Pesquisa em Biomecânica e Introduction: Increasing attention is being paid to street running race practice, and a better
Energética do Movimento Humano, Curso de Educação Física understanding of the practitioner profile can help participants adhere to the practice of
Bacharelado – Universidade Estadual do Centro-Oeste – physical activity.
UNICENTRO. Guarapuava, PR – Brasil. Objective: To investigate the motivational profile and mood of street runners.
vvolski@unicentro.br Material and Methods: 50 participants in a street race event were evaluated. Motivation
and mood were assessed after the race using the IMPRAF-54 and POMS questionnaires,
3
Doutora em Educação Física, Grupo de Pesquisa em respectively. The dimensions of motivation were assessed using the Wilcoxon test, and
Biomecânica e Energética do Movimento Humano, Curso de mood was analyzed in a descriptive approach.
Educação Física Bacharelado – Universidade Estadual do Centro- Results: The dimensions most present in motivation were health and pleasure. For mood,
Oeste – UNICENTRO. Guarapuava, PR – Brasil. an iceberg profile was observed.
anacpaludo@gmail.com
Conclusion: Based on the results, the street runners in this study presented a motivation of
the pursuit of health and pleasure in the practice of street running; in addition, the
4
Doutor em Educação Física, Grupo de Pesquisa em practitioners showed a positive mood.
Biomecânica e Energética do Movimento Humano, Faculdade de
Medicina – FAMed – Universidade Federal de Rio Grande – FURG.
Rio Grande, RS – Brasil. Keywords: Motivation. Running. Psychology sport.
prof_mpsilva@outlook.com

5
Doutor em Educação Física, Grupo de Pesquisa em
Biomecânica e Energética do Movimento Humano, Curso de
Educação Física Bacharelado – Universidade Estadual do Centro-
Oeste – UNICENTRO. Guarapuava, PR – Brasil.
mtartaruga@unicentro.br

Cite como
Vancouver

Gula JN, Mattes VV, Paludo AC, Silva MP, Tartaruga MP. Perfil motivacional e estado de humor em corredores de rua integrantes de
grupos de corrida. Conscientiae Saúde 2019 out./dez.;18(4):444-454. https://doi.org/10.5585/conssaude.v18n4.14826.

Conscientiae Saúde, 2019 out./dez.;18(4):444-454 444


Gula JN, Mattes VV, Paludo AC, Silva MP, Tartaruga MP. Perfil motivacional e estado de humor em corredores de rua
integrantes de grupos de corrida

Introdução

Segundo as Diretrizes do Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM), a prática


de atividade física e/ou exercício regularmente resulta em múltiplos benefícios para a saúde1,
além de ser um fator que contribui para a qualidade de vida dos indivíduos2. Em meio a diversas
modalidades de exercício físico, a prática de corrida vem apresentando grande crescimento,
principalmente entre a população adulta3. O aumento do número de praticantes de corrida pode
estar atrelado às próprias características do exercício, como seu baixo custo e disponibilidade
para a prática, assim como por seus benefícios fisiológicos e psicológicos4,5. Dentre as formas
de corrida, destaca-se a corrida de rua, prova de pedestrianismo disputada em circuitos de ruas,
avenidas e estradas, com distâncias oficiais que podem variar entre 5 a 100 Km6,7.
Compreender os motivos que levam os indivíduos à busca pela prática da corrida de rua
se torna importante para que os mesmos possam usufruir melhor e por mais tempo dos
benefícios da prática desta modalidade8,9. Diversos estudos buscaram avaliar a motivação de
atletas maratonistas10,11 e ultramaratonistas12,13, porém, ainda são poucos os estudos que
investigaram a motivação de corredores recreacionais de rua14,15 ou corredores vinculados à
grupos de corrida8.
Entende-se como motivação o conjunto de considerações que levam a pessoa a realizar
uma tarefa, sendo um fator cognitivo crítico na adoção e manutenção de uma rotina de
exercícios16. Balbinotti17 sugere que as dimensões motivacionais relacionadas ao entendimento
da prática regular de atividades físicas ou esportivas são: controle de estresse, saúde,
sociabilidade, competitividade, estética e prazer. Seus pressupostos são fundamentados pela
Teoria da Auto Determinação (Self-Determination Theory), descrita por Deci & Ryan18,19, que
distingue diferentes tipos de motivação. Segundo essa teoria, os indivíduos podem ser
motivados em diferentes níveis, sendo eles: intrinsecamente motivados (quando o sujeito
ingressa na atividade pela sua própria vontade, pelo prazer e pelo processo de conhecer uma
nova atividade); extrinsecamente motivados (quando o sujeito realiza a atividade com outro
objetivo que não o inerente à própria pessoa); ou, então, ser amotivados (quando o indivíduo
não identifica nenhum bom motivo para realizar a atividade)18,19.
Uma maior motivação para a prática de um exercício físico ou esporte pode resultar num
comportamento mais ativo. A adoção e manutenção de um comportamento ativo pode levar a
uma maior percepção de prazer e satisfação por parte do praticante, o que pode
consequentemente gerar uma resposta positiva no domínio psicológico. Dentre as variáveis
psicológicas influenciadas positivamente pela prática do exercício físico destaca-se o estado de

Conscientiae Saúde, 2019 out./dez.;18(4):444-454 445


Gula JN, Mattes VV, Paludo AC, Silva MP, Tartaruga MP. Perfil motivacional e estado de humor em corredores de rua
integrantes de grupos de corrida

humor. Alguns estudos têm demonstrado que maiores níveis de atividade física estão
relacionados a um estado humor positivo quando comparados a indivíduos menos ativos
fisicamente20, entretanto, isso não é um consenso na literatura21-23. Adicionalmente, ainda existe
uma lacuna na literatura, no que diz respeito às respostas de estado de humor em corredores
recreacionais de corrida de rua.
Assim, tendo em vista que a corrida de rua é uma das modalidades com crescimento
significativo dentre a prática de atividades físicas em adultos, e que a motivação é um fator
importante para a adesão à prática da modalidade, assim como a sua prática pode auxiliar na
dimensão positiva do estado de humor, o presente estudo buscou avaliar o perfil motivacional
e de estado de humor de corredores de rua inseridos em grupos de corrida.

Material e Métodos

Participantes

A amostra foi selecionada por conveniência, sendo composta por 50 corredores de rua
de ambos os sexos (masculino = 23; feminino = 27) com idades variando entre 19 e 64 anos
(média = 39,76; DP = 11,02), participantes de diversos grupos de corrida de rua e assessorias
esportivas da cidade de Guarapuava - Paraná. Como critério de inclusão para participação do
presente estudo, considerou-se a inserção dos indivíduos em grupos de corrida de rua, bem
como a apresentação de idade maior que 18 anos, além da assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE); e, como critérios de exclusão, considerou-se o
preenchimento incompleto dos questionários aplicados. O estudo contou com a aprovação do
Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, sob parecer número 3.089.484 –
COMEP/UNICENTRO.

Desenho do estudo

O estudo caracterizou-se como transversal. Os treinadores e líderes dos grupos de


corrida foram contatados previamente com o intuito de levantar o número de praticantes da
modalidade bem como a disponibilidade para participar da coleta. As coletas ocorreram em
apenas um momento, após uma prova beneficente de corrida de rua com percurso de cinco
quilômetros, realizada no período da manhã. Os participantes foram abordados ao final da
prova, em suas respectivas tendas de identificação de grupos de corrida de rua e assessorias
esportivas. Após a explicação do objetivo do estudo, os participantes primeiramente

446
Conscientiae Saúde, 2019 out./dez.;18(4):444-454
Gula JN, Mattes VV, Paludo AC, Silva MP, Tartaruga MP. Perfil motivacional e estado de humor em corredores de rua
integrantes de grupos de corrida

preencheram e assinaram o TCLE e em seguida, os questionários de motivação (IMPRAF-54)


e estado de humor (POMS).

Instrumentos da pesquisa

Questionário biossociodemográfico

O questionário socioeconômico foi aplicado com a finalidade de caracterização da


amostra e controle das variáveis dependentes: ‘‘sexo’’, ‘‘idade’’, ‘‘renda mensal’’,
‘‘escolaridade’’ e ‘‘tempo de prática’’.

Motivação para prática de atividade física

Para avaliação da motivação para a prática da modalidade de corrida, utilizou-se o


Inventário de Motivação à Prática Regular de Atividades Físicas (IMPRAF-54) proposto por
Barbosa24. O IMPRAF-54 é um questionário composto por 54 itens divididos em nove blocos,
e subdivididos em seis domínios: controle de estresse, saúde, sociabilidade, competitividade,
estética e prazer. Cada item é avaliado por meio de uma escala tipo Likert, bidirecional graduada
em 5 pontos, indo de “isto me motiva pouquíssimo” (1) a “isto me motiva muitíssimo” (5). A
validade e fidedignidade desse inventário foram testadas e demonstradas em um estudo prévio,
apresentando valores aceitáveis24.

Perfil de Humor

O questionário de perfil do estado de humor POMS (Profile of Mood State) foi utilizado
para descrição do perfil de humor dos participantes. O POMS é um instrumento amplamente
utilizado na pesquisa com atividade física para medir as subescalas de humor25. Cada adjetivo
é avaliado em uma escala de 5 pontos, indo de “Nunca” (0) a “Muitíssimo” (4). A versão do
POMS utilizada neste trabalho corresponde a uma versão reduzida da escala original, sendo
esta composta por 36 itens que avaliam seis escalas de humor: tensão, depressão, hostilidade,
vigor, fadiga e confusão, além de 6 itens adicionais que compõem a escala de desajuste ao
treino, perfazendo um total de 42 itens no questionário26.

Análise estatística

Para análise estatística utilizou-se o teste de Shapiro Wilk com o intuito de verificar a
normalidade dos dados (p > 0,05). Em seguida foram realizadas as análises descritivas, com

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Gula JN, Mattes VV, Paludo AC, Silva MP, Tartaruga MP. Perfil motivacional e estado de humor em corredores de rua
integrantes de grupos de corrida

mediana, mínimo e máximo, seguidas do teste de Wilcoxon signed-rank test para as


comparações pareadas entre as dimensões. O nível de significância adotado foi de p<0,05. Para
a análise dos dados de humor foram realizadas análises descritivas, com mediana, mínimo e
máximo. Como a maioria das dimensões do questionário POMS não apresentou dados normais
para a comparação entre os grupos, assumiu-se a estatística não paramétrica pelo teste de Mann-
Whitney. Os dados foram analisados no pacote estatístico JASP, versão 0.8.2.

Resultados

Os participantes do estudo compreenderam idade entre 19 e 64 anos, estando a maioria


com idades entre 35 e 50 anos. Adicionalmente, a amostra apresentou as seguintes
características: a maioria dos participantes eram casados; com nível superior e pós-graduação;
renda entre um e três salários mínimos; praticantes da modalidade de corrida de rua há mais de
um ano; e inseridos em grupos de corrida há mais de um ano.
A Tabela 1 apresenta os resultados acerca das dimensões motivacionais dos
participantes a partir das análises descritivas, com mediana, mínimo e máximo. Podemos
observar que as dimensões de motivação para a prática de corrida que apresentaram maiores
escores foram a Saúde e o Prazer para os homens, e a Saúde, o Prazer e a Sociabilidade para as
mulheres.

Tabela 1 - Valores de mediana (mínimos e máximos) em escores das dimensões motivacionais


dos participantes
Dimensões Controle de
Saúde Sociabilidade Competitividade Estética Prazer
Motivação Estresse
Mediana Mediana Mediana Mediana Mediana Mediana
(mín-Máx) (mín-Máx) (mín-Máx) (mín-Máx) (mín-Máx) (mín-Máx)
Geral 32,0 37,0 33,0 17,5 29,5 35,0
(n=50) (9,0 – 40,0) (23,0 – 40,0) (12,0 – 40,0) (8,0 – 38,0) (9,0 – 40,0) (23,0 – 40,0)
Homens 31,0 36,0 29,0 20,0 28,0 33,0
(n=23) (18,0 – 40,0) (28,0 – 40,0) (16,0 – 40,0) (8,0 – 37,0) (15,0 – 39,0) (25,0 – 40,0)
Mulheres 32,0 38,0 36,0 17,0 31,0 36,0
(n=27) (9,0 – 40,0) (23,0 – 40,0) (12,0 – 40,0) (8,0 – 38,0) (9,0 – 40,0) (23,0 – 40,0)
Fonte: Os autores, 2019.

Os resultados das comparações múltiplas realizadas por sexo entre as dimensões


motivacionais são apresentados na Tabela 2. Nas comparações múltiplas realizadas para o sexo
masculino, entre as dimensões de motivação para a prática de corrida, verificou-se que a Saúde
foi a dimensão com maiores escores, sendo superior ao Controle de estresse, a Sociabilidade, a
Competitividade e Estética. Adicionalmente, a segunda dimensão que mais motiva os
corredores de rua é o Prazer, apresentando escores maiores em comparação com o Controle de

448
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Gula JN, Mattes VV, Paludo AC, Silva MP, Tartaruga MP. Perfil motivacional e estado de humor em corredores de rua
integrantes de grupos de corrida

Estresse, a Sociabilidade, e a Competitividade. A dimensão motivacional Controle de Estresse


também apresentou diferenças significativas com maiores escores que a Competitividade e a
Estética. As dimensões Sociabilidade e Estética apresentaram maiores escores com diferenças
significativas apenas quando comparados à Competitividade.
Para o sexo feminino, as comparações múltiplas realizadas entre as dimensões de
motivação mostraram que a Saúde foi a dimensão com maiores escores, sendo superior ao
Controle de Estresse, a Competitividade e Estética. Observamos que dimensões Prazer e
Sociabilidade apresentaram diferenças significativas, também com maiores escores que as
dimensões Controle de Estresse, a Competitividade e Estética. As dimensões Controle de
Estresse e Estética apresentaram diferenças significativas apenas quando comparadas a
Competitividade.

Tabela 2 - Comparações múltiplas de escores de medianas por sexo entre as dimensões


motivacionais
Sexo
Dimensões Pareadas Geral Masculino Feminino
N W p n W p n W p
Controle de Estresse – Saúde 50 106,5 <0,001 23 20,0 <0,001 27 37,0 <0,001
Controle de Estresse – 50 448,0 0,314 23 154,5 0,371 27 75,5 0,034
Sociabilidade
Controle de Estresse – 50 1100,0 <0,001 23 225,0 <0,001 27 347,0 <0,001
Competitividade
Controle de Estresse – Estética 50 724,5 0,007 23 175,0 0,009 27 196,0 0,193
Controle de Estresse – Prazer 50 272,5 <0,001 23 63,0 0,023 27 78,0 0,008
Saúde – Sociabilidade 50 699,0 <0,001 23 190,0 0,002 27 167,0 0,075
Saúde – Competitividade 50 1159,5 <0,001 23 251,5 <0,001 27 344,0 <0,001
Saúde – Estética 50 1166,0 <0,001 23 267,5 <0,001 27 328,0 <0,001
Saúde – Prazer 50 518,5 0,032 23 139,0 0,079 27 129,5 0,170
Sociabilidade – Competitividade 50 1142,0 <0,001 23 237,5 <0,001 27 347,5 <0,001
Sociabilidade – Estética 50 862,0 <0,001 23 161,5 0,262 27 274,5 <0,001
Sociabilidade – Prazer 50 267,5 0,021 23 36,0 0,018 27 113,5 0,464
Competitividade – Estética 50 86,5 <0,001 23 18,0 <0,001 27 31,5 <0,001
Competitividade – Prazer 50 9,5 <0,001 23 3,0 <0,001 27 2,0 <0,001
Estética – Prazer 50 50,0 <0,001 23 19,5 <0,001 27 6,0 <0,001
Nota: N: Número amostral; W: Wilcoxon signed-rank test; p: nível de significância (p ≤ 0,05).
Fonte: Os autores, 2019.

Os valores médios das dimensões do estado de humor estão representados no Gráfico 1.


Observou-se que os participantes apresentaram um perfil iceberg após uma sessão de corrida
de rua. Nota-se no Gráfico 1 que, para a dimensão Fadiga, os homens apresentaram maiores
escores no momento da coleta (após uma sessão de corrida de rua) quando comparados às
mulheres (p = 0,039). Para as demais dimensões, o comportamento apresentou similaridade em
ambos os grupos, não apresentando diferença significativa (p>0,05).

Conscientiae Saúde, 2019 out./dez.;18(4):444-454 449


Gula JN, Mattes VV, Paludo AC, Silva MP, Tartaruga MP. Perfil motivacional e estado de humor em corredores de rua
integrantes de grupos de corrida

Gráfico 1 - Valores médios das dimensões do estado de humor

Fonte: Os autores, 2019.

Discussão

O objetivo do presente estudo foi verificar quais são as dimensões que mais motivam os
corredores de rua inseridos em grupos de corrida e analisar o perfil de humor desses indivíduos.
Devido aos participantes dessa pesquisa estarem inseridos em grupos de corrida, esperava-se
que a dimensão Sociabilidade apresentasse escores mais altos em comparação com Controle de
Estresse, Competitividade e Estética, porém isso só foi observado nas comparações do grupo
das mulheres.
Conforme verificado nas comparações múltiplas realizadas para os sexos masculino e
feminino entre as dimensões de motivação para a prática de corrida, a Saúde e o Prazer foram
as dimensões motivacionais que mais motivaram os indivíduos praticantes de corrida de rua
inseridos em grupos de corrida. O conteúdo medido pelo fator Saúde reflete os possíveis
benefícios decorrentes das atividades físicas à saúde, enquanto o fator Prazer mede a
experiência que os sujeitos experimentam quando atingem seus objetivos e ideais, entendendo
a atividade física como uma fonte de satisfação, bem estar e auto realização, além de ser
comumente apontada como a responsável pela manutenção da prática da atividade física24.
Estudos que também utilizaram o IMPRAF-54 realizados com praticantes de
taekwondo27 e praticantes regulares de atividades em academia28 encontraram resultados
semelhantes, tendo a Saúde e o Prazer como as dimensões que mais motivam para a prática
regular de suas respectivas atividades físicas. Em seu estudo com corredores de rua, Balbinotti
et al.15 também encontraram a Saúde, o Prazer e o Controle de Estresse como as dimensões que
melhor representaram os motivos de adesão e permanência à corrida de rua, e concluíram que

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Gula JN, Mattes VV, Paludo AC, Silva MP, Tartaruga MP. Perfil motivacional e estado de humor em corredores de rua
integrantes de grupos de corrida

as dimensões que mais estimulavam os indivíduos a praticarem regularmente o esporte não


dependem do tempo de prática.
As motivações se modificam quando atletas fundistas de alto rendimento são
avaliados29. Truccollo et al.8 mostrou que razões mais importantes para as mulheres aderirem a
um programa com assessoria técnica divergem das razões indicadas pelos homens, porém,
aspectos como melhora do condicionamento físico e saúde, apreciar estar ao ar livre, e aumento
da autoestima são comuns para ambos os sexos. Em seu estudo com corredores de rua inseridos
em grupos de corrida de rua, Silva et al.9 mostrou que a saúde, prazer, estética, controle do
estresse, superação de limites, e sociabilidade são os motivos e objetivos que as pessoas
procuram e encontram com a prática da corrida.
A adoção e manutenção de um comportamento ativo podem levar a uma maior
percepção de prazer e satisfação por parte do praticante, podendo gerar, consequentemente,
uma resposta positiva no domínio psicológico neste. Repetidas experiências positivas de humor
podem sustentar a motivação para prática do exercício físico14, e alguns exercícios como a
corrida, são associadas ao aumento positivo das dimensões positivas do humor25. No presente
estudo, nota-se que, para ambos os grupos, homens e mulheres, o perfil de humor apresentou-
se positivo (perfil Iceberg) ao final de uma prova de rua, sendo o grupo masculino com maiores
escores para fadiga quando comparado as mulheres. Esses resultados concordam com os
achados de Berger et al.22, os quais demonstraram que corredores de rua apresentaram
significativos benefícios agudos de humor a curto prazo tanto para mulheres quanto para
homens, podendo ser observada melhora do humor em todas as dimensões, com exceção da
Fadiga.
Um conceito clássico na Psicologia do Esporte é o “Perfil Iceberg30”, no qual os
praticantes de alguma modalidade de atividade física tendem a apresentar valores superiores na
dimensão positiva do humor - o Vigor - e resultados mais baixos nas dimensões negativas;
Tensão, Depressão, Hostilidade, Fadiga e Confusão, quando comparados à população
sedentária. Assim como neste estudo, Vieira et al.21 também mostraram que atletas corredores
fundistas tendem apresentar um perfil iceberg, quando avaliados antes das sessões de
treinamento.
Apesar do presente estudo auxiliar na compreensão do perfil de corredores de rua,
algumas limitações devem ser mencionadas, como a quantidade de participantes e a avaliação
do estado de humor em apenas em um período. Sugere-se que novos estudos, com um número
maior de participantes sejam realizados a fim de verificar se existem alterações no estado de
humor antes e depois de uma sessão de corrida de rua. Além disso, uma vez que este estudo
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Gula JN, Mattes VV, Paludo AC, Silva MP, Tartaruga MP. Perfil motivacional e estado de humor em corredores de rua
integrantes de grupos de corrida

tenha avaliado apenas corredores inseridos em grupos de corrida, seria interessante que novos
estudos verificassem se corredores recreacionais independentes apresentam as mesmas
características nas variáveis psicológicas de motivação e estado de humor.

Conclusão

Os resultados obtidos nesta pesquisa indicaram que as dimensões motivacionais que


mais motivaram os indivíduos praticantes de corrida de rua inseridos em grupos de corrida
foram a Saúde e o Prazer. Este estudo mostrou também que os indivíduos que praticam a corrida
de rua tendem a apresentar uma resposta aguda positiva no perfil de humor. Pode-se concluir
que a prática de corrida de rua proporciona importantes benefícios psicológicos relacionados à
motivação e humor de seus praticantes.

Agradecimentos

Os autores agradecem a participação de todos os corredores de rua, grupos de corrida,


equipes e treinadores envolvidos neste estudo. Este trabalho foi apoiado pela fundação CAPES,
através de bolsa de fomento.

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Revista Brasileira de

CIÊNCIAS DO ESPORTE
www.rbceonline.org.br

ARTIGO ORIGINAL

Perfis motivacionais de corredores de rua com


diferentes tempos de prática
Marcos Alencar Abaide Balbinotti a , Gabriel Henrique Treter Gonçalves b,∗ ,
Roberto Tierling Klering b , Daniela Wiethaeuper c e Carlos Adelar Abaide Balbinotti b

a
Département D’orientation Professionnelle, Faculté D’éducation, Université du Québec à Trois-Rivières,
Sherbrooke, QU, Canadá
b
Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano, Escola de Educação Física,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil
c
Departamento de Psicologia, Centro de Ciências da Saúde, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS, Brasil

Recebido em 27 de junho de 2012; aceito em 30 de agosto de 2013


Disponível na Internet em 20 de fevereiro de 2015

PALAVRAS-CHAVE Resumo O objetivo desta pesquisa é testar se existem diferenças no perfil motivacional de
Corrida; dois grupos de corredores de rua, com diferentes tempos de prática: grupo Adesão (até um
Motivação; ano de prática) e grupo Permanência (mais que um ano de prática). Para tanto, 62 praticantes
Saúde; de ambos os sexos e com idades entre 18 e 68 anos responderam ao Inventário de Motivos
Prazer para a Prática Regular de Atividades Físicas ou Esportivas (IMPRAFE-132). Os resultados indicam
que as dimensões mais motivadoras são as mesmas (Saúde, Prazer e Controle de Estresse),
independente do tempo de prática, respeitando a mesma ordem. A conclusão principal é que
essas são as dimensões que melhor representam os motivos de adesão e permanência à corrida
de rua. As dimensões Sociabilidade e Competitividade são significativamente mais importantes
para o grupo Permanência.
© 2015 Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os
direitos reservados.

KEYWORDS Motivational profiles of road runners presenting different levels of practice


Running;
Abstract The main objective of this research is to test if there are differences in the motivati-
Motivation;
onal profile of two groups of road runners, with different times of practice: the Adhesion group
Health;
(up to one year of practice) and the Permanence group (more than one year of practice). A sam-
Pleasure
ple of 62 roadrunners of both genders, with ages ranging from 18 to 68 years-old, answered to
the Inventory of Motives for the Regular Practice of Physical and Sport Activities (IMPRAFE-132).
Results indicated that the main dimensions that motivate both groups are the same (Health,
Pleasure and Stress Control), no matter the time of practice, in the same order of importance.
∗ Autor para correspondência.
E-mail: gabrielhtg@gmail.com (G.H.T. Gonçalves).

http://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2013.08.001
0101-3289/© 2015 Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados.
66 M.A.A. Balbinotti et al.

The main conclusion is that these three dimensions are the ones that best represent the reason
for adhesion and permanence in roadrunning. The Sociability and Competitiveness dimensions
are significantly more important to the Permanence group.
© 2015 Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Published by Elsevier Editora Ltda. All rights
reserved.

PALABRAS CLAVE Perfiles motivacionales de corredores de calle con diferentes niveles de práctica
Corrida; Resumen El objetivo de esta investigación es verificar si existen diferencias en el perfil moti-
Motivación; vacional de dos grupos de corredores de calle, con diferentes tiempos de práctica: grupo
Salud; Adhesión (hasta un año de práctica) y grupo Permanencia (más de un año de práctica). Para esto,
Placer 62 practicantes de ambos sexos y con edades comprendidas entre 18 y 68 años, respondieron
al Inventario de Motivos para la Práctica Reglamentar de Actividad Física o Deporte (IMPRAFE-
132). Los resultados indican que las dimensiones más motivadoras son las mismas (Salud, Placer
y Control del Estrés), independientemente del tiempo de práctica, respetando el mismo orden.
La principal conclusión es que estas son las dimensiones que representan los motivos de adhe-
sión y permanencia en la carrera de calle. Las dimensiones Sociabilidad y Competitividad son
considerablemente más importantes para el grupo permanencia.
© 2015 Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Todos los
derechos reservados.

Introdução e não contra alguém, tornando o treinamento mais agradá-


vel (Cogo, 2009; Massarella e Winterstein, 2009; Ocarino e
Entre as modalidades esportivas escolhidas por indivíduos Serakides, 2006; Santos e Borges, 2010; Weineck, 2003).
que buscam uma atividade física, a corrida de rua vem Tais motivos destacam-se como variáveis fundamentais
se destacando pelo grande crescimento de praticantes para se tentar compreender o porquê de as pessoas pra-
desde a década de 1970. Impulsionada inicialmente pela ticarem determinada atividade física ou esportiva. Por essa
divulgação dos estudos do médico Kenneth Cooper, hoje razão, a motivação vem sendo bastante estudada (Balbinotti
a corrida apresenta, no Brasil, um crescimento de cerca et al., 2007; Balbinotti et al., 2012; Balbinotti e Capozzoli,
de 25% ao ano no número de praticantes (Globo News, 2008; Balbinotti et al., 2009; Barbosa et al., 2008; Fontana,
2010). O aumento da popularidade desse esporte justifica a 2010; Freitas et al., 2007; Gaya e Cardoso, 1998; Gould
exploração dos fatores que melhor caracterizam sua prática. et al., 1996; Hassandra et al., 2003; Juchem et al., 2007;
Apesar das contribuições que a atividade traz, seja para Massarella e Winterstein, 2009; Zaar e Balbinotti, 2011;
melhorias das condições físicas e/ou para a saúde geral dos Meurer et al., 2012; Ribeiro et al., 2012). Segundo Ryan
indivíduos (Pate et al., 2005), estas podem não ser os úni- e colaboradores (1997) e Gould e colaboradores (1996),
cos nem os mais importantes aspectos das dimensões (ou o conhecimento dos motivos por que um sujeito venha a
fatores) motivacionais que levam um grande número de praticar determinada atividade física pode, quando adequa-
pessoas a aderir aos programas de atividades físicas regu- damente utilizado, aumentar as possibilidades de ingresso e
lares e sistemáticas --- por vezes, de elevada intensidade e permanência dos indivíduos nessa prática. Assim, o indivíduo
duração (Gaya e Cardoso, 1998). Desse modo, o aumento no poderá desfrutar por mais tempo os benefícios promovidos
número de praticantes pode ter diversos motivos, tais como: pela modalidade esportiva escolhida.
a) promoção da saúde: melhora nos níveis de colesterol Segundo Balbinotti (2004), as dimensões motivacionais
(aumento do HDL e diminuição do LDL), prevenção de oste- mais utilizadas pela literatura especializada para entender
oporose, diminuição dos riscos de doenças cardiovasculares os motivos que levam indivíduos à prática regular de ativi-
e controle da hipertensão arterial; b) sentimento de pra- dades físicas ou esportivas são: Controle de Estresse, Saúde,
zer: sensação de bem-estar, realização própria; c) benefícios Sociabilidade, Competitividade, Estética e Prazer. A tabela
estéticos: maior utilização de gordura como fonte de ener- 1 apresenta, em linhas gerais, cada uma dessas dimensões.
gia para o exercício, maior gasto calórico e controle do peso Deci e Ryan (1985), em seus estudos sobre a motivação
corporal; d) uma forma de controlar o estresse: ignorar o que e a personalidade humana, desenvolveram a Teoria da
está acontecendo ao redor e se concentrar na atividade que Autodeterminação (TAD), que parte do entendimento de
está fazendo; e) competir: buscar melhor rendimento e com- que grande parcela das pessoas (quando saudáveis) são
petir com outros e consigo mesmo; e, ainda, apesar de ser ativas e curiosas, demonstram prontidão para aprender e
um esporte individual, f) poder estar com outras pessoas (no explorar e, de maneira geral, não necessitam de incentivos
caso de grupos de corrida): treinar com alguém do seu nível, extras para apresentar tais comportamentos. A satisfação
Perfis motivacionais de corredores de rua com diferentes tempos de prática 67

Tabela 1 Dimensões motivacionais relacionadas à prática regular de atividades físicas ou esportivas, propostas por Balbinotti
(2004)

Dimensão Descrição
Controle de Estresse Avalia em que nível as pessoas utilizam a atividade física regular e/ou esporte como maneira de
controlar a ansiedade e o estresse da vida cotidiana. Gould et al. (1992) sugerem que a atividade
física regular pode funcionar como vacina contra o estresse.
Saúde Avalia em que nível as pessoas utilizam a atividade física regular e/ou esporte para a manutenção
da saúde geral e a prevenção de doenças associadas ao sedentarismo. Para Wankel (1993), índices
apropriados de atividade física regular podem adicionar vida aos anos, e anos à vida. O sentir-se
saudável pode levar pessoas a manter uma atividade física regular.
Sociabilidade Avalia em que nível as pessoas utilizam a atividade física regular e/ou esporte para fazer parte de
um grupo, clube ou relacionar-se com outras pessoas. Segundo Gould et al. (1992), a socialização se
origina principalmente através dos fortes laços gerados pelos colegas de treino ou atividade, pelos
professores, técnicos e parentes. A socialização também é uma importante maneira de desenvolver
outras valências psicológicas, tais como a sensação de aceitação, de pertencimento a um grupo
e de autoestima. O sentir-se integrado a um grupo pode ser um agente motivador importante.
Competitividade Avalia em que nível as pessoas utilizam a atividade física regular e/ou esporte como manifestação
de aspectos relacionados ao vencer. Marques e Oliveira (2001) afirmam que não há esporte sem
competição. Comparar o desempenho consigo mesmo e com os outros pode levar pessoas a
manter-se em atividade.
Estética Avalia em que nível as pessoas utilizam a atividade física regular e/ou esporte como meio para obter
ou manter um corpo que seja considerado atraente e aprovado pela sociedade ou grupo em que o
indivíduo está inserido. Segundo Capdevilla et al. (2004), os índices encontrados nesta dimensão
sofrem grande influência do contexto social. A busca do corpo ideal preconizado pela cultura
ocidental pode favorecer a procura por atividades físicas prolongadas.
Prazer Dimensão relacionada à sensação de bem estar, de diversão e à satisfação que a prática regular de
atividade física e/ou esporte proporciona. Supõe o interesse que se tem pela atividade, assim como
a necessidade e a importância acordadas pelo sujeito. O prazer é uma dimensão chave para a
compreensão da motivação no esporte.

das necessidades psicológicas inatas de competência, rela- válida. Foram observadas as questões éticas inerentes à pes-
cionamento com os pares e autonomia são a base para o quisa com seres humanos, conforme previsto na Resolução
desenvolvimento do comportamento automotivado (Ryan e do Ministério da Saúde n◦ 196/1996. O estudo foi analisado e
Deci, 2000a). Apesar de as pessoas apresentarem um com- aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
portamento motivado de maneira natural, as evidências Federal do Rio Grande do Sul, sob o número 2007721.
demonstram que determinadas condições são necessárias
para a manutenção desse comportamento. A TAD procura
responder de que modo esse comportamento motivado se Amostra
mantém ou diminui, assim como que fatores contribuem
para esse fenômeno (Ryan e Deci, 2000b). Não obstante, A escolha da amostra foi por conveniência (não aleató-
de acordo com Lores et al. (2004), mudanças de interesses ria), com o cuidado de evitar indivíduos fora dos critérios
podem ocorrer com o passar do tempo. Portanto, os moti- de seleção. Os 62 corredores, de ambos os sexos (masculi-
vos de adesão ao programa de atividade física podem ser nos = 32; femininos = 30) e com idades variando de 18 a 68
diferentes dos motivos de permanência no mesmo (Freitas anos (Média = 35,45; DP = 11,18), implicados nesta pesquisa,
et al., 2007). eram componentes de diversas assessorias, equipes e acade-
A partir dos conteúdos apresentados, e para responder mias de Porto Alegre. A amostra foi dividida em dois grupos
adequadamente ao objetivo desta pesquisa, foi possível for- específicos: grupo Adesão (corredores com menos de um ano
mular a seguinte questão central: quais os principais motivos de prática) e grupo Permanência (corredores com um ano ou
que levam corredores de rua amadores e com diferentes mais de prática). O grupo Adesão foi composto por 15 indiví-
tempos de prática ao exercício regular da corrida? duos do sexo masculino e 16 do sexo feminino, que treinavam
em média 4,03 horas por semana (DP = 1,90) em cerca de 3
a 4 sessões de treino. Os 17 corredores do sexo masculino
Métodos e as 14 corredoras do sexo feminino do grupo Permanência
treinavam, em média, 7,14 horas semanais (DP = 3,79), em
Os procedimentos metodológicos seguiram uma estru- aproximadamente cinco sessões.
tura previamente programada. Segundo alguns autores Com relação ao tamanho da amostra, não existem
(Cronbach, 1996; Pasquali, 1999), essa qualidade e frequências inferiores a 30 sujeitos em nenhum dos dois
padronização deve ser respeitada a fim de tornar a aná- grupos analisados neste estudo. De acordo com as exigên-
lise dos resultados menos complexa e, consequentemente, cias de alguns autores (Bisquera, 1987; Bryman e Cramer,
68 M.A.A. Balbinotti et al.

1999; Pestana e Gageiro, 2003; Reis, 2000) trata-se de uma A confiabilidade (fidedignidade) do IMPRAFE-132 para
amostra suficientemente grande para estudos de natureza os indivíduos deste estudo foi determinada pelo viés da
descritivo-comparativa. consistência interna. Assim, o coeficiente Alpha Cronbach
obtido para a escala total foi de 0,968. Teve-se o cuidado
de avaliar a fidedignidade para cada dimensão individual-
Instrumentos
mente: Controle de Estresse - CE (0,952), Saúde - Sa (0,878),
Sociabilidade - So (0,950), Competitividade - Co (0,930),
Para a realização da pesquisa, foram utilizados dois instru-
Estética - Es (0,920) e Prazer - Pr (0,874). Esses resultados
mentos: um questionário biossociodemográfico (apenas para
demonstram um escore altamente satisfatório, que pode ser
controle das variáveis dependentes: ‘‘sexo’’, ‘‘idade’’ e
interpretado de maneira altamente positiva; isto é, trata-
‘‘tempo de prática’’) e o Inventário de Motivos para a Prática
-se de um instrumento preciso de medida da motivação de
Regular de Atividades Físicas ou Esportivas (IMPRAFE-132)
corredores de rua. Destaca-se que esses resultados foram
(Balbinotti, 2009).
comparáveis aos resultados de estudos anteriores (Balbinotti
O IMPRAFE-132 (Balbinotti, 2009) é um inventário
e Capozzoli, 2008; Balbinotti et al., 2009; Barbosa, 2006;
que avalia seis dimensões associadas à motivação para
Fontana, 2010; Juchem et al., 2007).
realização de atividades físicas e esportivas regulares.
Trata-se de 132 itens agrupados seis a seis, observando a
seguinte sequência: o primeiro item do primeiro bloco de Apresentação e discussão dos resultados
seis apresenta uma questão relativa à dimensão motivacio-
nal ‘‘Controle de Estresse’’ (ex.: liberar tensões mentais); No intuito de responder adequada e minuciosamente à ques-
a segunda, ‘‘Saúde’’ (ex.: manter a forma física); a ter- tão central da pesquisa, realizou-se a exploração dos escores
ceira, ‘‘Sociabilidade’’ (ex.: estar com amigos); a quarta, obtidos pelo IMPRAFE-132 segundo princípios comumente
‘‘Competitividade’’ (ex.: vencer competições); a quinta, aceitos na literatura especializada (Bisquera, 1987; Bryman
‘‘Estética’’ (ex.: manter o corpo em forma); e a sexta, e Cramer, 1999; Pestana e Gageiro, 2003; Reis, 2000). Assim,
‘‘Prazer’’ (ex.: meu próprio prazer). Esse mesmo modelo se são apresentados, de maneira sucessiva e sistemática, os
repete no segundo bloco de seis questões, até completar 22 resultados do estudo dos casos extremos, das análises de
blocos (em um total de 132 questões). As respostas aos itens itens, das estatísticas descritivas (tendência central, dis-
do inventário são dadas conforme uma escala bidirecional, persão e distribuição) e, finalmente, das comparações das
de tipo Likert, graduada em sete pontos, indo de ‘‘isto não médias (conforme o grupo: Adesão e Permanência).
me motiva’’ (1) a ‘‘isto me motiva completamente’’ (7). Os
sujeitos levam, em média, quinze minutos para responder Estudo dos casos extremos
ao inventário. Cada dimensão é analisada individualmente.
Um escore bruto elevado indica alto grau de motivação para Conforme os gráficos de Bigodes (fig. 1), pode-se notar que
a prática de atividade física regular. no grupo Permanência não há casos extremos. A presença de

Controle de Estresse (CE) Saúde (Sa) Sociabilidade (So)

160,00
140,00
125,00
140,00
120,00
100,00
100,00 120,00

80,00 75,00
100,00
60,00 50,00
80,00
40,00
25,00
60,00
20,00
Adesão Permanência Adesão Permanência Adesão Permanência

Competitividade (Co) Estética (Es) Prazer (Pr)

140,00 160,00
125,00
120,00 140,00
100,00
100,00 120,00

75,00
80,00 100,00

50,00
60,00 80,00

25,00
40,00 60,00

Adesão Permanência Adesão Permanência Adesão Permanência

Figura 1 Análise dos casos extremos.


Perfis motivacionais de corredores de rua com diferentes tempos de prática 69

um caso extremo ocorreu, apenas, no grupo Adesão, precisa- dimensões específicas, controladas pelo tempo de prá-
mente na dimensão motivacional Pr. Na realidade, trata-se tica. Tanto os resultados do grupo Adesão (S-WCE(31) = 0,957,
de um caso que estaria contribuindo no sentido de elevar a PCE = 0,237; S-WSa(31) = 0,976, PSa = 0,699; S-WSo(31) = 0,978,
média da dimensão Pr. Foram calculadas as médias da dimen- PSo = 0,752; S-WCo(31) = 0,946, PCo = 0,119; S-WEs(31) = 0,934,
são Pr com e sem o caso aberrante. As mesmas se mostraram PEs = 0,057; S-WPr(31) = 0,983, PPr = 0,886), quanto os do grupo
numericamente diferentes e favoráveis à média com o Permanência (S-WCE(31) = 0,965, PCE = 0,388; S-WSa(31) = 0,972,
caso extremo (X̄ = 110, 26 e X̄ = 108, 87, respectivamente). PSa = 0,565; S-WSo(31) = 0,969, PSo = 0,483; S-WCo(31) = 0,949,
Ainda assim, foi aplicado um teste t para a comparação PCo = 0,148; S-WEs(31) = 0,933, PEs = 0,054; S-WPr(31) = 0,977,
destas médias (t(31) = 0,480; p = 0,635), no qual não foram PPr = 0,716) indicam que se trata de dados com aderência
verificadas diferenças significativas (p > 0,05) entre elas. Tais à normalidade; portanto, o uso de testes paramétricos é
resultados são estimações importantes e podem auxiliar a adequado.
decisão de não desconsiderar o caso extremo no restante
das análises. Sendo assim, as estatísticas subsequentes serão
calculadas e analisadas considerando a presença do caso Comparações de médias
extremo.
As médias gerais encontradas para cada um dos grupos em
análise (X̄A = 534, 68; X̄A = X̄P = 588, 19) foram comparadas
Análise de itens
com ajuda de um teste t para amostras independentes, e
seus resultados (t(55,134) = -2,309; p = 0,025) indicaram exis-
As médias encontradas para cada um dos 132 itens,
tir diferenças significativas entre os índices médios de
estudados individualmente, variaram entre 1,13 e 6,29,
motivação à prática regular de atividade física. Na reali-
com desvios-padrões variando entre 0,424 e 2,138. Esses
dade, esse resultado era esperado, pois o ato de permanecer
resultados preliminares são interpretados como bastante
no esporte depende, em sua essência, de índices elevados
satisfatórios, pois não houve itens sem variabilidade, e
de motivação, seja ela intrínseca ou extrínseca. Assim, por
nenhum dos itens apresentou médias iguais aos valores
meio da demonstração dos dados da tabela 2, percebeu-
extremos (1 ou 7). Destaca-se, ainda, que a variabilidade
-se que a emergência (valores médios brutos obtidos) das
dos itens foi restrita (com desvios-padrão não ultrapas-
dimensões (sua ordem de prevalência em índices médios,
sando, em nenhum caso, o valor numeral das médias), o
conforme o tempo de prática dos corredores) apresenta
que indica homogeneidade na dispersão avaliada. Mesmo
algumas diferenças nominais: a dimensão com escore bruto
que a mediana das correlações item-total possa ser inter-
mais elevado foi Sa, seguido de Pr, CE, Es, So e Co, para os
pretada como forte (|r| = 0, 71) e altamente significativa
indivíduos do grupo Adesão; já para os indivíduos do grupo
(p < 0,001), duas questões (das 132 avaliadas) revelaram
Permanência, a emergência das dimensões foi Sa, Pr, CE, So,
valores inferiores a 0,20. Estes últimos dados poderiam indi-
Es e Co.
car certa necessidade de revisão das qualidades métricas
Nota-se (tabela 2) que as três dimensões mais emergen-
desses dois itens (‘‘liberar tensões mentais’’ e ‘‘manter a
tes (com escores médios mais elevados), bem como a última,
forma física’’) quando considerados isoladamente. Entre-
não variaram segundo o tempo de prática. Trata-se de uma
tanto, comparando os índices Alpha no caso da retirada
situação interessante. Portanto, levanta-se a hipótese de
desses itens (0,968) com o coeficiente Alpha para a escala
que o perfil motivacional dos corredores de rua é claramente
total (0,968), sem a exclusão de nenhum item, verifi-
definido, independentemente do tempo de prática, quando
camos que esse procedimento torna-se desnecessário e
consideradas as dimensões em análise. Pode-se entender
improdutivo, podendo causar perda na validade de con-
que as três primeiras dimensões são as mais motivadoras, e
teúdo (principalmente quanto à pertinência e à adequada
as três últimas são apenas complementares. Cabe dizer, ini-
exploração de todas as arestas --- significados --- do con-
cialmente, que este resultado corrobora um estudo anterior
ceito em estudo). Finalmente, destaca-se que o valor Alpha
(Balbinotti et al., 2007), em que foi detectado que o perfil
encontrado para a escala total (0,968) revela um escore
motivacional característico (as três dimensões mais emer-
elevado da consistência interna do instrumento para esse
gentes) de corredores de longa distância não se diferencia,
conjunto de dados, um importante preditor da confiabili-
no caso, conforme a variável Sexo. O mesmo ocorreu quando
dade das respostas originárias deste conjunto total de itens.
analisado o perfil motivacional de tenistas infantojuvenis
Todos esses resultados garantem pertinência na continui-
(Juchem et al., 2007). E, diferentemente destes estudos,
dade das análises.
atletas infantojuvenis de basquetebol não apresentam este
padrão (Balbinotti et al., 2009). Essas diferenças parecem
Estatísticas descritivas gerais se dar, por um lado, por características que são típicas des-
ses atletas, e, por outro lado, por exigência e característica
Nota-se que as médias obtidas (X̄A = 534, 68; X̄A = X̄P = do esporte praticado (individual ou coletivo).
588, 19), independente do tempo de prática, varia- Outro aspecto importante de ser salientado é que as
ram, em valores numéricos, de maneira relevante. Os médias aritméticas de todas as dimensões são, de maneira
desvios-padrões associados a essas médias (DPA = 76,50; geral, comparáveis com os valores das medianas, médias
DPP = 103,91) mostraram-se restritos, indicando uma disper- aparadas a 5% e modas, um indicador importante de nor-
são homogênea. Com o objetivo de verificar a adequação malidade da distribuição dos dados desta pesquisa (tabelas
do uso de testes paramétricos para a comparação des- 2 e 3). Quando comparados os valores das médias obtidas
sas médias, testaram-se os índices de normalidade por aos das médias esperadas (X̄e = 88, 00; independentemente
meio do cálculo Shapiro-Wilk (S-W), para cada uma das das dimensões motivacionais em análise), nota-se que os
70 M.A.A. Balbinotti et al.

Tabela 2 Estatísticas de tendência central e não central


Dimensão motivacional Grupo Tendência central e dispersão

n X̄ DP X̄5% Mediana Moda Amplitude

Minimal Maximal
Controle de Estresse A 31 94,58 28,48 94,92 99 124 42 142
P 31 102,00 28,18 103,15 104 87 33 146
Saúde A 31 118,38 13,99 118,63 119 115 89 143
P 31 117,77 19,93 118,59 117 113a 69 150
Sociabilidade A 31 73,64 21,75 73,50 72 72 31 121
P 31 92,58 25,74 93,14 97 97b 38 138
Competitividade A 31 54,48 20,00 53,56 52 29 27 100
P 31 73,87 21,80 73,08 68 68c 43 122
Estética A 31 83,32 22,09 82,76 81 55 52 124
P 31 85, 87 22,21 85, 28 84 88d 55 129
Prazer A 31 110, 25 16,10 109, 85 107 107e 79 152
P 31 116, 09 18,20 116, 44 118 117f 76 150
Múltiplas Modas: a (134); b (38, 101); c (45, 53, 63, 66, 93); d (63, 77); e (105); f (108, 121, 128, 129). O valor da moda mais próximo do valor
da média está apresentado na tabela. A, Grupo Adesão; P, Grupo Permanência.

valores obtidos das dimensões CE, Sa e Pr foram nume- média deste grupo se mostrou indissociável estatisticamente
ricamente superiores em qualquer grupo em análise. Na (p > 0,05) da dimensão Pr.
dimensão So, apenas a média obtida no grupo Permanência A corrida de rua parece proporcionar sentimentos de
superou a média esperada. prazer desde os primeiros treinamentos, como evidenci-
Conforme os resultados apresentados, a Sa é a dimensão ado nos resultados do grupo Adesão (segunda maior média
motivacional que parece melhor representar os motivos de aritmética). No entanto, conforme os resultados do grupo
adesão à corrida de rua. Para confirmar esta hipótese, con- Permanência, o prazer só tende a aumentar com a prá-
secutivos testes t para amostras pareadas foram aplicados tica. Segundo Barbosa (2006), pessoas motivadas pelo prazer
(tabela 4), e seus resultados deixam claro que a média da entendem que a atividade física é uma fonte de satisfação e
dimensão Sa do grupo Adesão se diferencia, de modo signi- de sensação de bem-estar e uma maneira de realizar-se. Não
ficativo (p < 0,05), das médias de todas as outras dimensões é à toa que, segundo o mesmo autor, esta dimensão pode ser
contempladas pelo estudo. O mesmo ocorreu na dimen- apontada como a responsável mais comum pela manutenção
são menos motivadora, Co. Independentemente do tempo da prática da atividade física.
de prática dos corredores, a dimensão Co se diferencia de Realizadas as comparações e análises intragrupo, e
maneira significativa (p < 0,05) de todas as outras dimensões dando continuidade ao estudo das comparações das médias
em estudo. Para o grupo Permanência, a Sa também parece observadas, pode-se ainda testar, no interior de cada
ser a dimensão motivacional mais importante; no entanto, a dimensão motivacional em análise, se existem diferenças

Tabela 3 Estatísticas de distribuição da amostra

Dimensões motivacionais Grupo n Distribuição

Normalidade Assimetria Achatamento

S-W sig Skewness EPs Kurtosis EPk


Controle de Estresse A 31 0,957 0,237 −0,343 0,421 −0,657 0,821
P 31 0,965 0,388 −0,449 0,421 −0,092 0,821
Saúde A 31 0,976 0,699 −0,230 0,421 −0,279 0,821
P 31 0,972 0,565 −0,491 0,421 −0,107 0,821
Sociabilidade A 31 0,978 0,752 0,152 0,421 −0,289 0,821
P 31 0,969 0,483 −0,337 0,421 −0,198 0,821
Competitividade A 31 0,946 0,119 0,551 0,421 −0,452 0,821
P 31 0,949 0,148 0,520 0,421 −0,611 0,821
Estética A 31 0,934 0,057 0,450 0,421 −0,840 0,821
P 31 0,933 0,054 0,379 0,421 −1,087 0,821
Prazer A 31 0,983 0,888 0,413 0,421 0,248 0,821
P 31 0,977 0,716 −0,338 0,421 −0,064 0,821
A, Grupo Adesão; P, Grupo Permanência.
Perfis motivacionais de corredores de rua com diferentes tempos de prática 71

Tabela 4 Comparações de médias entre dimensões em cada grupo

Dimensões pareadas Grupo

Adesão Permanência

t gl sig t gl sig
Controle de Estresse --- Saúde −4,518 30 0,000 −3,791 30 0,001
Controle de Estresse --- Sociabilidade 4,025 30 0,000 2,061 30 0,048
Controle de Estresse --- Competitividade 6,061 30 0,000 5,304 30 0,000
Controle de Estresse --- Estética 1,556 30 0,130 3,270 30 0,003
Controle de Estresse --- Prazer −3,235 30 0,003 −3,659 30 0,001
Saúde --- Sociabilidade 9,531 30 0,000 5,586 30 0,000
Saúde --- Competitividade 19,446 30 0,000 10,304 30 0,000
Saúde --- Estética 10,865 30 0,000 7,364 30 0,000
Saúde --- Prazer 3,394 30 0,002 0,591 30 0,559
Sociabilidade --- Competitividade 4,193 30 0,000 4,335 30 0,000
Sociabilidade --- Estética −1,755 30 0,090 1,357 30 0,185
Sociabilidade --- Prazer −8,871 30 0,000 −7,179 30 0,000
Competitividade --- Estética −10,317 30 0,000 −3,541 30 0,001
Competitividade --- Prazer −20,336 30 0,000 −13,635 30 0,000
Estética --- Prazer −7,519 30 0,000 −7,397 30 0,000
t, Teste t Pareado; gl, Grau de liberdade; sig, Índice de significância.

significativas (ou semelhanças estatísticas) de acordo com o 2000b, 2007), ser aceito e fazer parte de um grupo é uma
tempo de prática. Para tanto, conduziram-se testes t para necessidade psicológica básica, e a satisfação desta neces-
amostras independentes. Os resultados estão apresentados sidade está associada à motivação intrínseca do indivíduo
na tabela 5. (Ryan e Deci, 2000a). Os envolvimentos sociais são determi-
Conforme os resultados descritos na tabela 5, apenas nantes para o aumento da motivação intrínseca (Hassandra
as dimensões So e Co apresentam diferenças significativas et al., 2003). Por ser um modo de fidelizar o aluno, é uma
entre os grupos (p < 0,05). Os dados demonstram que essas dimensão bastante valorizada por treinadores de grupos de
dimensões representam um fator motivacional significati- corrida.
vamente mais importante para o grupo Permanência, em Apesar de apresentar as menores médias em ambos os
comparação ao grupo Adesão. As demais dimensões (Sa, Pr, grupos, a Co merece um destaque especial pela diferença
CE e Es) não diferem estatisticamente entre os grupos. É significativa apresentada quando feita a comparação entre
relevante salientar que, segundo Lores et al. (2004), com o os grupos. O ato de comparar o rendimento com outras pes-
passar dos anos, os indivíduos podem alterar seus interesses soas, ou consigo mesmo, pode levar os indivíduos a se manter
e prioridades. Estas alterações são realçadas em determina- em atividade (Balbinotti et al., 2007). Neste estudo, os indi-
das fases do desenvolvimento vital, quando não apenas suas víduos do grupo Permanência parecem valorizar mais essa
concepções metodológicas mudam, mas todo o meio no qual dimensão se comparados aos indivíduos do grupo Adesão.
o indivíduo se encontra é readaptado à sua nova perspectiva Embora estudos de outra natureza possam explicar melhor
(Lores et al., 2004). os ‘‘porquês’’ dos diferentes resultados encontrados para
A sociabilidade parece ser um fator que, com o tempo, se a dimensão Co, pode-se supor que os indivíduos do grupo
torna cada vez mais relevante para a manutenção da prática Adesão encaram a corrida como uma forma de atingir seus
da corrida de rua. Segundo a TAD (Ryan e Deci, 1985, 2000a, objetivos relacionados à sua saúde, ao seu prazer, etc. Em

Tabela 5 Comparações de médias obtidas por tempo de prática, em cada dimensão em estudo

Teste Levene para Teste t de amostras independentes para igualdade


igualdade de variâncias de médias
F sig t gl sig
Controle de Estresse 0,007 0,932 −1,031 60 0,307
Saúde 4,051 0,049 −0,140 53,782 0,889
Sociabilidade 1,032 0,314 −3,128 60 0,003
Competitividade 0,376 0,542 −3,648 60 0,001
Estética 0,024 0,877 −0,453 60 0,652
Prazer 0,308 0,581 −1,338 60 0,186
t, Teste t para amostras independentes; gl, Grau de liberdade; sig, Índice de significância.
72 M.A.A. Balbinotti et al.

contrapartida, para os indivíduos do grupo Permanência --- Balbinotti MAA, Saldanha RP, Balbinotti CAA. Dimensões motivacio-
talvez por já terem alcançado alguns objetivos ---, com o nais de basquetebolistas infanto-juvenis: um estudo segundo o
passar do tempo, a competitividade parece se tornar um sexo. Motriz: revista de Educação Física 2009;15(2):318---29.
estímulo a mais à superação, principalmente, de limites Barbosa MLL, et al. In: O que mais motiva os corredores meio-
pessoais; afinal, são corredores amadores. -fundistas: Prazer ou Competitividade?; 2008. p. 45, v 1.
Barbosa MLL. In: Propriedades métricas do inventário de motivação
à prática regular de atividade física (IMPRAF-126); 2006.
Conclusão Bisquera R. Introdución a la estadística aplicada a la investigación
educativa: um enfoque informático com los paquetes BMDP y
SPSS. Barcelona: PPU; 1987.
Mesmo não sendo possível generalizar os resultados obti- Bryman A, Cramer D. Quantitative data analysis with SPSS release 8
dos nesta pesquisa (pois o procedimento de coleta amostral for Windows: a guide for social scientists. New York: Routledge;
foi não aleatório), tanto o número de sujeitos em estudo 1999.
quanto a pluralidade setorial onde a amostra foi coletada Capdevilla L, Niñerola J, Pintanel M. Motivación y actividad
e a ordenação das dimensões motivacionais permitem, ao Física: El Autoinforme de Motivos para la Práctica de Ejercicio
menos, conclusões hipotéticas importantes. Considerando Físico (AMPEF). Revista de psicología del Deporte, 2004;13(1):
essa limitação, pode-se concluir que as três dimensões moti- 55---74.
vacionais que mais estimulam esses indivíduos a praticarem Cogo AC. Treinamento intervalado para atletas amadores de corrida
de rua: buscando a intensidade ideal. Trabalho de conclusão de
regularmente o esporte não dependem do tempo de prá-
curso. In: Faculdade de Educação Física e Ciência do Desporto.
tica: Saúde, Prazer e Controle de Estresse. Mesmo essas
Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
dimensões sendo constantes para ambos os grupos em aná- Sul; 2009.
lise, nota-se que o Prazer se associa à Saúde no grupo Cronbach LJ. Fundamentos da testagem psicológica. Porto Alegre:
Permanência, representando um fator motivacional mais Artmed; 1996.
importante para esses indivíduos. As diferenças expressivas Fontana PSA. Motivação na Ginástica Rítmica: Um estudo
entre os grupos foram verificadas nas dimensões Socia- descritivo correlacional entre dimensões motivacionais e
bilidade e Competitividade, que apresentaram resultados autodeterminação em atletas de 13 a 16 anos. Dissertação (Mes-
médios significativamente superiores no grupo Permanên- trado) - Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento
cia, podendo-se dizer que essas dimensões passam a ser mais Humano. In: Escola Superior de Educação Física. Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2010.
valorizadas por esses indivíduos conforme o maior tempo de
Freitas C, et al. Aspectos motivacionais que influenciam a adesão e
prática. Deste modo, destaca-se que esses resultados são
manutenção de idosos a programas de exercícios físicos. Revista
particularmente importantes para treinadores e psicólogos Brasileira de Cineantropometria e Desenvolvimento Humano
do esporte, e podem ser considerados quando se pretende 2007;9(1):92---100.
aperfeiçoar modelos de treinamento de corredores de rua Gaya A, Cardoso M. Os fatores motivacionais para a prática despor-
amadores. Finalmente, novos estudos podem ser realizados tiva e suas relações com o sexo, idade e níveis de desempenho
diferenciando sexo e faixa etária, além de estudos de outra desportivo. Revista Perfil 1998;2(2):40---51.
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Validação de um instrumento para caracterização e verificação


de fatores associados ao desempenho de corredores de rua
Validation of an instrument to characterization and identification of factors related do road
runners performance

M. Thuany1,2,3*; T. N. Gomes1,3; M. B. de Almeida1,2


1 Programa de Pós Graduação em Educação Física, Departamento de Educação Física, Universidade Federal de
Sergipe/ PPGEF – UFS, 49100-000, São Cristóvão – SE, Brasil.
2 Laboratório de estudo e pesquisa em performance no exercício e no esporte (L’esporte), Departamento de Educação

Física, Universidade Federal de Sergipe, 49100-000, São Cristóvão – SE, Brasil.


3 Centro de investigação em Saúde, Atividade Física e Esporte (SAFE), Departamento de Educação Física,

Universidade Federal de Sergipe, 49100-000, São Cristóvão – SE, Brasil.

*mablinysantos@gmail.com
(Recebido em 10 de dezembro de 2019; aceito em 06 de março de 2020)

Tem-se observado, nos últimos anos, um aumento substancial no número de praticantes de corrida de rua no
Brasil, os quais apresentam perfis e propósitos variados – alguns na busca pela competição/rendimento,
outros com propósito de melhora de aspectos relacionados à saúde e qualidade de vida. Nesse sentido, o
presente trabalho visa validar um instrumento que permita a caracterização deste público e a verificação do
papel desempenhado por fatores de diferentes níveis no desempenho da corrida de rua. A amostra foi
composta por 241 indivíduos, de ambos os sexos, com média de idade de 36,1 ± 10,3 anos, praticantes de
corrida de rua no Brasil, dos quais 10%, aleatoriamente selecionados, responderam o instrumento duas vezes,
respeitando-se o intervalo de um mês entre os dois momentos de resposta. O instrumento passou por dois
processos de análise de conteúdo, realizada por avaliadores, seguida pela análise de reprodutibilidade,
realizada pelo Coeficiente de Correlação Intraclasse (ICC) e o Coeficiente Kappa, o que indicou alta
reprodutibilidade nas respostas, exceto para a variável “bairro de residência”. Assim, verifica-se que o
presente instrumento pode ser utilizado na condução de pesquisas futuras, acrescendo os benefícios de sua
aplicação no formato eletrônico, permitindo a aplicação em diferentes amostras, bem como a comparação de
resultados entre sujeitos de diferentes locais, para além do fornecimento de informações que permitam a
ampliação e compreensão acerca dos fatores associados ao desempenho na corrida de rua.
Palavras-chave: Corrida de rua, questionário, validação.

It has being observed, over the last years, a relevant increase in the number of road runners in Brazil, which
have different profiles and purposes – some aiming performance, others aiming to improve their health and
quality of life. So, the present study aims to validate an instrument able to characterize this and also to verify
the role of factors from different levels on road running performance. The sample comprised 241 subjects, of
both sexes, with mean age of 36.1 ± 10.3 years, practitioners of road running in Brazil, of which 10%
answered the questionnaire twice, with one-month interval between the two answered moments. The
instrument submitted to two content analysis processes, performed by experts, followed by the reproducibility
analysis, performed by the Intraclass Correlation Coefficient (ICC) and the Kappa Coefficient, which
indicated high reproducibility in the answered, except for the variable “neighbourhood of residence". Thus,
it can be seen that the questionnaire can be used in future researches, with the benefit of the fact that it is
applied in an electronic format, allowing its use in different samples, as well as, the comparison of results
from subjects from different places, beyond to provide information for a better understanding about factors
related to road running performance.
Keywords: road running, questionnaire, validation.

1. INTRODUÇÃO

Na última década verificou-se um aumento substancial no número de praticantes de corrida de


rua no mundo e no Brasil [1-4]. Embora seja difícil quantificar esse público, dados não oficiais
estimam que aproximadamente 4 milhões de brasileiros (distribuídos entre as cinco regiões do país)
praticam a modalidade frequentemente, movimentando cerca de 3,2 bilhões de reais por ano na
compra de acessórios esportivos e participação em eventos específicos [5].

032801 – 1
M..Thuany et al., Scientia Plena 16, 032801 (2020) 2

Para grande parte do público, a procura pela prática da corrida de rua está associada à busca pela
melhora dos aspectos relacionados à saúde e à qualidade de vida [6, 7]. Não obstante, também é
possível evidenciar que para uma parcela de seus praticantes, sobretudo aqueles com maior tempo
na modalidade, o principal fator motivacional é a busca pelo rendimento esportivo [8]. Dessa forma,
é possível sugerir que atualmente há dois tipos de corredores, os chamados ‘corredores-amadores’
e os ‘corredores-recreacionais’, que têm como lema “from competing to completing”, enfatizando
a participação contrariamente à competição, e demonstrando que entre um grupo aparentemente
homogêneo, há grande variabilidade interpessoal no tocante aos objetivos com a prática [9].
Essa variância pode ser explicada pela diversidade de contextos onde os corredores transitam,
sendo influenciados por variáveis relacionadas às características individuais (biológicos a
comportamentais) e ambientais (treinamento, influência do treinador/família, oportunidade para
prática) [10, 11]. Tais fatores atuam como potencializadores no desempenho desses atletas, e
modulam sua permanência na prática. Embora a mensuração das componentes biotipológicos seja
de difícil acesso, análises relacionadas à influência do ambiente no desempenho tornam-se cruciais,
visto que o ambiente construído se apresenta mais propício a intervenções e alterações [2].
Dessa forma, torna-se relevante identificar os fatores relacionados à prática em ambos os grupos
de corredores de rua (sobretudo pelo uso de instrumentos mais acessíveis e de “baixo custo”, como
a utilização de questionários), permitindo sua caracterização e diferenciação. Contudo, ao nosso
melhor conhecimento, a literatura científica ainda não apresenta um instrumento que permita
identificar esse conjunto de informações de modo sintético e objetivo. Dessa forma, o presente
estudo está centrado na proposição e validação de um questionário que permita a caracterização de
corredores de rua, e análise de informações relacionadas ao ambiente desses corredores que possam
estar relacionados à prática e ao desempenho na modalidade.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Amostra

O presente estudo contou com a participação de 241 indivíduos, com média de idade de 36,1 ±
10,3 anos, praticantes de corrida de rua no Brasil. A inclusão no estudo foi condicionada à idade
mínima de 20 anos, sendo excluídos da análise os indivíduos que não respondessem a alguma das
questões obrigatórias do questionário. Todos os voluntários foram informados sobre os objetivos e
os procedimentos que seriam realizados, tendo, em seguida, consentido por escrito sua participação
no estudo. O projeto teve aprovação prévia pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Federal de Sergipe, sob o parecer nº 3.558.630. O questionário foi aplicado duas vezes para a
referida amostra, respeitando-se o intervalo de um mês entre as abordagens, de modo que no
segundo momento houve um retorno de 10% da amostra inicial.

2.2 Procedimentos

A construção do instrumento foi realizada baseando-se na literatura científica nacional, com


abordagem específica sobre o perfil dos praticantes de corrida de rua e fatores relacionados ao
desempenho esportivo [4, 12, 13], de modo que permitisse a obtenção de informações para
caracterização do público e identificação dos fatores relacionados ao rendimento. Dessa forma, o
mesmo foi dividido em seis blocos, organizados da seguinte forma:
- Dados de identificação do corredor - sexo e idade;
- Variáveis antropométricas – estatura (cm) e massa muscular (kg);
- Perfil sociodemográfico - local de residência (estado, capital ou não, e bairro); renda mensal;
escolaridade; estado civil;
- Aspectos ambientais relacionados à prática de corrida – informações acerca da percepção dos
corredores sobre fatores ambientais (condições climáticas e infraestrutura da cidade/estado);
- Variáveis do treinamento - frequência e volume de treinamento semanal (km); sessões/dia;
tempo de prática (em meses ou anos); ritmo de corrida (min/km); participação em prova nos últimos
12 meses; turno de treinamento; distância preferida (5km, 10km, 21km, 42km, outros); motivação
para prática; participação em grupos de corrida; se possui ou não um treinador, bem como a
influência desse no desempenho;
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- Ambiente familiar - composição familiar; existência de praticantes de corrida de rua na família;


prática esportiva na infância bem como suporte parental para essa prática.
Posteriormente à construção do instrumento, realizou-se uma análise de conteúdo, para
verificação sobre a pertinência das questões e coerência com o objetivo principal. O procedimento
inicial foi realizado por três avaliadores independentes, dos quais dois têm experiência no que diz
respeito à pesquisa científica, e o terceiro parecerista foi um profissional com atuação específica
em corrida de rua. Nessa etapa, os itens que compõem o questionário foram divididos em blocos
(apresentados anteriormente) e avaliados em uma escala de 0 a 4, nos seguintes aspectos:
“conteúdo”, “objetividade”, “clareza”, “facilidade de leitura” e “compreensão do conteúdo”, sendo
considerado ‘0’ quando o item não contemplasse de maneira alguma o critério a que se referia, e
‘4’ se o item satisfizesse completamente o critério [14].
Após a realização de alterações sugeridas, o instrumento passou novamente por um processo de
avaliação, realizada por cinco avaliadores, como propõe Lynn (1986) [15], sendo mantidos os três
avaliadores iniciais e acrescendo outros dois, com expertise em pesquisa científica. A avaliação foi
dividida em dois momentos: 1) Avaliação dos itens e 2) Avaliação dos domínios, sendo realizado
em seguida uma análise de concordância entre os juízes, através do cálculo da taxa de concordância
do comitê (número de participantes que concordaram/número total de participantes) x 100 = % de
concordância). O valor mínimo para aceite de cada domínio foi 90%, de modo que ao não ser
atingido deveria haver uma reconsideração do referente domínio [16].
O procedimento para coleta dos dados foi feito mediante envio online (em redes sociais e contato
de profissionais que atuam na área) do questionário “Caracterização do perfil e fatores associados
ao desempenho em corrida de rua”, entre os meses de setembro/outubro de 2019.

2.3 Análise estatística

A informação descritiva foi feita através da verificação de frequência (para as variáveis


apresentadas em categorias) e média e desvio padrão (para as variáveis contínuas). A análise de
reprodutibilidade para as variáveis contínuas foi realizada pelo Coeficiente de Correlação
Intraclasse (CCI). O CCI (do inglês Intraclass Correlation Coeficient) ou coeficiente de
reprodutibilidade (R) é uma estimativa da fracção da variabilidade total de medidas, devido a
variações entre os indivíduos, tendo sido adotado a seguinte classificação no presente estudo: pobre
(R < 0,4); satisfatória (0,4 ≤ R < 0,75); excelente (R ≥ 0,75). O Coeficiente Kappa pode ser
entendido com uma medida de associação que atesta a concordância entre duas medidas, tendo sido
utilizado no presente estudo para os dados categóricos. A classificação dos itens avaliados seguiu
a proposta por Landis e Koch (1977) [17], compreendendo: Kappa <0,00 = quase inexistente; 0,01
- 0,20 = pequena; 0,21 - 0,40 = insatisfatória; 0,41-0,60 = moderada; 0,61 -0,80= substancial; 0,81-
1,00, quase perfeita. Os dados foram analisados por meio do programa SPSS, versão 24.0, sendo
adotado p<0,05 como nível de significância.

3. RESULTADOS

A análise por pares realizada inicialmente indicou a necessidade de alterações no bloco de itens
relacionados ao treinamento e ambiente familiar (Tabela 1).

Tabela 1. Análise de conteúdo inicial dos tópicos apresentados no questionário “Caracterização do


perfil e fatores associados ao desempenho em corrida de rua”.
Facilidade Compreensão
Conteúdo Objetividade Clareza
de leitura do conteúdo
Dados de identificação 3,6 4 4 4 4
Variáveis antropométricas 4 4 4 4 4
Perfil sociodemográfico 3,6 3 3 2,6 4
Aspectos ambientais 4 4 3,3 3,6 3,3
Variáveis do treinamento 3,6 2,6 2,3 2,3 2,3
Ambiente familiar 3,3 4 3 3,6 3
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Em seguida, após realizados os ajustes necessários/sugeridos, o questionário passou pela


segunda análise por avaliadores, levando em consideração os domínios e itens quanto à
“compreensão” e “relevância” dos mesmos. Observou-se que o critério “compreensão” apresentou
valores abaixo de 90% para as seguintes variáveis: estatura, estado, bairro, número de
sessões/semanal, ritmo de corrida, composição familiar, prática esportiva na infância e suporte
parental. Para o critério “relevância”, os mesmos resultados foram observados para “bairro”,
“composição familiar”, e “suporte parental”, sendo cada questão analisada individualmente e
reconsiderada para o instrumento final. No que diz respeito à análise dos domínios, não houve a
necessidade de exclusão de itens, sendo feitos apenas correções nos referidos anteriormente (Tabela
2).

Tabela 2. Análise de conteúdo realizada pelos avaliadores, e reprodutibilidade da informação através do


Coeficiente de Correlação Intraclasse e Kappa.
Variável Compreensão Relevância
CCI p Alpha de Cronbach
Peso 100 100 0,99 <0,001 0,99
Estatura 80 100 0,99 <0,001 0,99
Tempo de prática 100 100 0,79 <0,001 0,88
Quilometragem semanal 100 100 0,89 <0,001 0,94
Ritmo médio de corrida 80 100 0,97 <0,001 0,98
Kappa p
Sexo 100 100 1,00 <0,001
Estado 80 100 1,00 <0,001
Capital 100 100 1,00 <0,001
Bairro 80 80 0,05 0,24
Escolaridade 100 100 0,87 <0,001
Estado Civil 100 100 0,92 <0,001
Renda 100 100 0,66 <0,001
Percepção sobre a
100 100 0,80 <0,001
influência do ambiente
Clima 100 100 0,51 <0,001
Tempo de prática (Até 1
100 100 0,21 <0,001
ano – Acima de 1 ano)
Motivação para a prática 100 100 0,66 <0,001
Frequência/ semana 100 100 0,63 <0,001
Sessões/ semana 80 100 0,65 <0,001
Distância 100 100 0,84 <0,001
Participação em
100 100 0,37 <0,001
competição
Prova 100 100 0,16 <0,001
Participação em grupo
100 100 0,75 <0,001
de corrida
Planejamento anual 100 100 0,59 <0,001
Treinador 100 100 0,64 <0,001
Importância do treinador
100 100 0,37 <0,001
na prática
Classificação corredor 100 100 0,62 <0,001
Influência para corrida 100 100 0,68 <0,001
Familiar praticante de
100 100 0,83 <0,001
corrida
Composição familiar 40 60 1,00 <0,001
Prática esportiva na
80 100 0,62 <0,001
infância
Suporte parental 80 80 0,83 <0,001

Nota: fórmula para análise dos itens pelos avaliadores, em “compreensão” e “relevância” = (número de
participantes que concordaram/número total de participantes) x 100 = % de concordância).
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A amostra do presente estudo contou com a participação de 241 corredores de rua, distribuídos
entre as cinco regiões do país, com média de idade de 36,3 ± 10,1 anos, sendo 60,6% do sexo
masculino. Verifica-se que grande parte do grupo possui mais de um ano de experiência na
modalidade (80,1%), refletindo (possivelmente) na sua autopercepção/classificação sobre o tipo de
corredor (corredor amador), bem como frequência de treinamento semanal prevalente de “3 a 4
treinos/semana” (49% e 19,5%, respectivamente). Relativamente aos fatores motivacionais,
observou-se uma maior prevalência para as respostas busca pela “saúde e qualidade de vida”
(40,2%), bem como “prazer e bem-estar” (22,4%).
A verificação da confiabilidade e reprodutibilidade, realizada através do CCI, demonstrou que
todas as questões analisadas foram classificadas como excelente (R ≥ 0,75). Relativamente às
questões categóricas, avaliadas por meio do Coeficiente de Kappa, a grande maioria dos itens
apresentou valores significativos (p <0,05) com concordância “substancial” a “quase perfeita",
exceção feita para a variável “bairro”, onde não foi verificada concordância. Além disso, as
respostas referentes ao “tempo de prática”, “participação em competição nos últimos 12 meses” e
“importância do treinador no rendimento”, apresentaram relação “insatisfatória” entre os dois
momentos (Tabela 2).

4. DISCUSSÃO

O aumento do número de praticantes de corrida de rua tem sido evidenciado em diversos locais
do mundo e do Brasil [4, 8, 12, 18], sobretudo entre os adultos, justificando a determinação da
idade mínima de participação no presente estudo. Não obstante a realização de diferentes trabalhos,
na perspectiva de compreender sobre o fenômeno em questão, bem como verificar o perfil de seus
praticantes [6, 8].
Sabe-se que no campo das ciências do esporte há uma demanda relacionada à identificação dos
fatores que contribuem para a maximização do desempenho [19], tornando-se relevante a
construção e validação de instrumentos acessíveis para essa finalidade. No presente trabalho, o
questionário foi pensado levando em consideração o aspecto multifatorial associado à performance
e, para tanto, buscou-se obter informações acerca de aspectos antropométricos, local de residência,
bem como aspectos ambientais e climáticos da região, fatores socioeconômicos, suporte parental
para prática esportiva na infância e variáveis do treinamento [10].
Na perspectiva de verificação da validade e confiabilidade do instrumento, foram realizados o
CCI e Coeficiente Kappa. A validade, entendida como capacidade de um instrumento medir aquilo
que se propõe [20], foi realizada inicialmente a partir da análise dos avaliadores (tabela 1),
permitindo, a partir dos resultados obtidos a verificação da confiabilidade. Conceitualmente,
confiabilidade refere-se à estabilidade das respostas em momentos distintos [21], dando segurança
ao pesquisador sobre a reprodutibilidade da mesma. De modo geral, após análise inicial e
reformulação do questionário, o CCI e coeficiente Kappa, indicaram alta reprodutibilidade nas
respostas (exceto para a variável “bairro de residência”). Vale ressaltar que tal variável foi pensada
para condução de análises de georreferenciação, que identifiquem a possível relação entre a
performance (determinada através da variável “ritmo”), bairro de residência e locais de práticas de
atividades físicas, bem como os fatores socioeconômicos e demográficos da região em questão.
Visto que a resposta a essa questão não é mandatória, já que sua ausência não inviabiliza a
conclusão do questionário por parte dos participantes do estudo, ausência de resposta à mesma não
interfere na qualidade da informação obtida, visto que o instrumento foi pensado em blocos, por
forma que o pesquisador tenha a liberdade de optar por utilizar o instrumento levando em
consideração todos os blocos e itens, ou utilizar blocos e/ou itens específicos, sem haver, portanto,
uma interdependência entre as questões.
A exemplo pode ser citada a utilização das variáveis antropométricas de forma isolada (estatura
e peso) ou em conjunto para a determinação do índice de massa corporal (IMC) [22], e posterior
associação com as variáveis do treinamento, como observado em estudos conduzidos anteriormente
[23-25]. Além disso, análises também podem ser conduzidas de forma a estratificar por sexo e/ou
idades, provas de preferência dos atletas (5km, 10km, 21km, 42km, outros) etc., permitindo inferir
de modo pontual para grupos de interesse.
Relativamente aos fatores ambientais (climáticos e estruturais), há um consenso quanto à
influência dessas variáveis no desempenho em provas de endurance [2, 26]. Portanto, levando em
M..Thuany et al., Scientia Plena 16, 032801 (2020) 6

consideração esses aspectos e tendo em vista a diversidade existente entre as regiões/estados do


Brasil, é possível entender que essas diferenças podem culminar em níveis de performance distintos
entre os corredores. Além disso, torna-se crucial verificar a percepção dos corredores sobre a
interferência desses fatores em sua prática.
Vale ressaltar que a aplicação online do instrumento possibilita que os estudos sejam conduzidos
comparando-se cidades, regiões e estados dentro do país. Além disso, após as respostas obtidas, é
possível ampliar as possibilidades de análise, levando em consideração informações do ambiente
externo ao corredor de rua, e que podem ser obtidas a partir de fontes oficiais [tais como Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) do bairro e/ou estado de residência, renda per capita, tamanho da
população, locais para prática de atividades físico-esportivas, número de competições realizadas
nas mediações do bairro e/ou estado], podendo associar essas informações ao desempenho ou
demais variáveis de interesse. No que concerne ao desempenho [mensurado na corrida de rua
através do ritmo de corrida = tempo (min)/distância (km)] este pode ser obtido através da questão
“ritmo de corrida”, e tal informação pode ser confirmada a partir do confronto com as provas das
quais os corredores relataram participação.
Não obstante o instrumento tenha sido pensado para sanar lacunas existentes no tocante ao
problema levantando, o mesmo apresenta algumas limitações, das quais podem ser referidas
àquelas associadas à utilização de questionários na obtenção de informações: dificuldade de
controle sobre o retorno das respostas, possibilidade de não resposta às questões, e dificuldade de
compreensão ou mal interpretação de questões por parte do participante (embora procedimentos de
análise de conteúdo tenham sido conduzidos para amenizar esses problemas). Porém, há de se
destacar a possibilidade de realização de estudos com grande alcance, possibilitando caracterização
de grupos em diversos locais e contextos.

5. CONCLUSÃO

O questionário “Caracterização do perfil e fatores associados ao desempenho em corrida de rua”


foi elaborado com a perspectiva de ser um instrumento que permita a caracterização de corredores
de rua do Brasil e amplie as possibilidades de obtenção de informações acerca dos fatores que
podem estar associados ao desempenho nesse público. Após as análises conduzidas, observa-se que
o instrumento apresentou boa estabilidade, indicando que o mesmo pode ser utilizado na condução
de novos estudos. A forma de aplicação do instrumento permite uma maior abrangência amostral,
o que possibilita a realização de estudos em larga escala, bem como a realização de comparação
entre perfis e fatores associados ao desempenho entre corredores de diferentes locais. Mais, os
diferentes domínios pelos quais versam suas perguntas também permitem que, consoante o
propósito dos trabalhos, os dados possam ser analisados estratificados por sexo, idade, tempo de
prática, IMC, estados do país, para além de outras possibilidades. Acrescenta-se que um ponto
salutar é a possiblidade de associar, às respostas do questionário, informações acerca de fatores
externos ao indivíduo (variáveis relacionadas ao bairro e/ou estado: IDH, quantidade de locais para
prática da modalidade, bem como número de provas, tamanho da população, condição
socioeconômica), ampliando o entendimento sobre a influência dessas variáveis na performance.

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