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Diessica Michelson Martins
Diessica Michelson Martins
IJUÍ/RS
2022
DIESSICA MICHELSON MARTINS
IJUÍ/RS
2022
Catalogação na Publicação
M386c
Martins, Diessica Michelson.
Contribuições da coordenação pedagógica na formação
continuada de professores: estudo pautado em uma escola de
Educação Básica / Diessica Michelson Martins. – Ijuí, 2022.
95 f. : il. ; 30 cm.
CDU: 371.13
Bibliotecária Responsável
Ginamara de Oliveira Lima
CRB10/1204
UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul
Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências – Mestrado e Doutorado
Banca Examinadora:
This dissertation socializes the results of studies developed in the Master's Degree of the Stricto
Sensu Postgraduate Program in Education in Sciences at the Regional University of
Northwestern Rio Grande do Sul, and it is part of the research line Curriculum and Teacher
Training. Thus, this research was carried out with the aim of investigating the attributions and
the contribution of the pedagogical coordinator in the continuing education of Basic Education
teachers to their professional development. This study has a qualitative approach, and it is
composed of two stages: state-of-the-art knowledge and empirical, in the school space. The
state-of-the-art knowledge stage was carried out on two platforms that provide scientific
productions: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (English: Digital Library of Theses and
Dissertations) and Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (English: Coordination of Superior Level Staff Improvement). The empirical
study was carried out in a municipal elementary school. Nine teachers and two pedagogical
coordinators of the school participated in the field study. Questionnaires with open and closed
questions were submitted to the field research participants. An interview was also held with the
coordinators. Furthermore, the moments of continuing education were monitored and registered
in a logbook. The data produced were organized according to the assumptions of the Discursive
Textual Analysis (MORAES; GALIAZZI, 2020) for analysis and, afterwards, they were
discussed with basis on theorists who discuss this theme, which contributes to the teacher's
work and to the teaching-learning process of students. The results indicate that the attributions
of the pedagogical coordinator are vast and often confused, due to the lack of public policies
related to them. This professional is an articulator of practices that aim at the professional
development of teachers, and their main function is to organize moments of continuing teacher
training in the schools so that their main objective is achieved: the qualified training of students.
For this organization, the pedagogical coordinator needs to consider the context, contemplate
the view, objectives, philosophy, culture, among other elements present in the Pedagogical
Political Project, and the practical and scientific knowledge imbricated in the pedagogical
practice.
Quadro 1 – Mudanças no nome da EMEF Dom Pedro I no decorrer dos anos .........................18
Quadro 11 – Trechos das respostas dos professores referentes aos principais objetivos do
trabalho do(a) coordenador(a) pedagógico(a) ......................................................55
Quadro 13 – Trechos das falas dos professores e das coordenadoras pedagógicas sobre o
compartilhamento de experiências .......................................................................63
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................13
2 O PERCURSO TRILHADO, O CONTEXTO E OS SUJEITOS DA PESQUISA ..17
2.1 ABORDAGEM METODOLÓGICA DA PESQUISA ..................................................17
2.2 O CONTEXTO DO ESTUDO DE CASO: A ESCOLA, OS PROFESSORES E AS
COORDENADORAS PEDAGÓGICAS .......................................................................17
2.3 INSTRUMENTOS DE PRODUÇÃO E DE ANÁLISE DE DADOS ............................23
2.3.1 Estado do conhecimento ..............................................................................................23
2.3.2 Estudo de campo ...........................................................................................................27
3 O COORDENADOR PEDAGÓGICO COMO ARTICULADOR DE FORMAÇÃO
CONTINUADA DE PROFESSORES: O QUE PESQUISAS PUBLICADAS
ENTRE 2010-2020 EXPRESSAM ..............................................................................29
3.1 DIALOGAR E REFLETIR: ANÁLISE DAS PRODUÇÕES SELECIONADAS .........30
3.1.1 Formação continuada ..................................................................................................34
3.1.2 Coordenação pedagógica .............................................................................................39
3.1.3 Relação coordenador-professor ..................................................................................44
4 A COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE
DOCENTES NA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL DOM
PEDRO I .......................................................................................................................47
4.1 COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA ..............................................................................48
4.1.1 Constituição profissional da coordenação pedagógica ..............................................48
4.1.2 O trabalho pedagógico das coordenadoras: suas funções e atribuições ...................49
4.1.3 O papel da coordenação pedagógica nas formações continuadas de professores nas
escolas ............................................................................................................................57
4.2 FORMAÇÃO CONTINUADA .....................................................................................60
4.3 ATUAÇÃO DAS COORDENADORAS .......................................................................66
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................78
REFERÊNCIAS ...........................................................................................................82
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO SUBMETIDO ÀS COORDENADORAS
PEDAGÓGICAS ..........................................................................................................90
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO SUBMETIDO AOS PROFESSORES ............91
ANEXO A – AUTORIZAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DA PESQUISA .............92
ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .........93
1 INTRODUÇÃO
1
De partida, vale salientar que utilizaremos a ideia de “formação continuada na escola”, mas reconhecemos que
há uma diversidade de nomenclaturas que contemplam ideias similares a esse conceito, sendo: formação em
contexto, formação em serviço, formação in loco, Horário de Trabalho Coletivo, dentre outros.
14
O CP precisa estar atento às necessidades do grupo que está liderando e ser capaz de
envolver os componentes do mesmo, pois, deste modo poderá iniciar um processo de
problematização por parte dos professores acerca de suas atividades e ações educativas. As
estratégias e metodologias que o CP utiliza para oportunizar momentos de práticas formativas
nas escolas servem de alicerce para a compreensão em relação à mobilização para o processo
do ensino e da aprendizagem. É indispensável, portanto, que na organização das formações o
CP valorize o Projeto Político Pedagógico (PPP), pois este, afinal, é um instrumento pelo qual
a instituição garante a sua autonomia e abriga a cultura da escola (PINTO, 2006).
O CP tem a função de proporcionar aos sujeitos desse espaço reflexões e colaborações,
para que seja promovida uma aprendizagem significativa aos alunos. Contemplando essas
ideias, “a escola torna-se um lugar profícuo para a transformação, porque congrega a atividade
profissional, a possibilidade de reflexão sobre a ação, bem como um profissional específico
para promovê-la” (DOMINGUES, 2014, p. 66). O professor, deste modo, não se constitui de
domínios de conhecimentos, mas principalmente de análises, decisões, planejamentos e
mobilizações de seus conhecimentos, de acordo com as situações (NÓVOA, 1995). Esse
pressuposto parte, acima de tudo, quando há uma formação continuada com a equipe docente,
e é a partir disso que será enfatizado o papel do CP.
As questões centrais da pesquisa são as seguintes: Quais são as evidências de que o
CP atua nas formações continuadas de professores nas escolas? De que maneira o CP contribui
nas formações continuadas para a qualificação e constituição docente?
Esta pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de investigar as atribuições e as
contribuições do CP na formação continuada de professores da Educação Básica (EB) para o
desenvolvimento profissional docente. Os objetivos específicos são os seguintes:
− Investigar sobre o que expressam as pesquisas acerca da atuação da coordenação
pedagógica nas formações continuadas de professores nas escolas;
− Analisar as compreensões das coordenadoras pedagógicas (CPs) e de professores
sobre o trabalho pedagógico do CP, principalmente em relação à organização de
formações continuadas;
− Analisar as compreensões das CPs e de professores sobre a formação continuada
de professores nas escolas;
− Descrever a atuação das CPs em relação às formações continuadas de professores
nas escolas.
15
Neste tópico é apresentado o contexto no qual foi realizado o estudo de caso, que,
conforme Lüdke e André (2018) possui relevância para a obtenção de informações e
compreensão de elementos que fazem parte do cotidiano escolar. Tornou-se necessário,
portanto, a escolha de uma instituição para a concretização do estudo de campo e, em vista
disso, foi realizada uma conversa com equipes de gestão escolar de escolas nas quais esta
pesquisadora já havia trabalhado, com o compartilhamento das ideias e do projeto de pesquisa,
em fase de conclusão, para ver sobre a disponibilidade de realizar o estudo.
A gestão da EMEF Dom Pedro I aceitou o desafio para que o estudo de campo
acontecesse na instituição. Assim, foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da
Unijuí a documentação necessária para a apreciação do projeto, com o retorno de aprovação do
mesmo no dia 27 de novembro de 2020, conforme o parecer n. 4.426.246.
A escola está situada no Bairro Pinhal, no município de Nova Ramada, na Região
Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (RS). A população do município é de 2.437
18
habitantes, segundo o Censo de 20102. Conforme O PPP da EMEF Dom Pedro I (NOVA
RAMADA, 2018), há indícios de que existia no local uma escola, entre 1940 e 1962, nomeada
Escola Venâncio Aires, e que a trajetória da EMEF Dom Pedro I iniciou nela. Várias mudanças
aconteceram para chegar ao nome atual, adotado no ano de 2000, de acordo com o Decreto
Executivo Municipal nº 223/2000, conforme mostra o Quadro 1.
Figura 1 – Localização da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Pedro I, Nova Ramada, RS
2
Dado disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rs/nova-ramada/panorama. Acesso em: 11 out. 2021.
3
Disponível em: https://abre.ai/mapaemefdompedroi. Acesso em: 8 out. 2021.
19
Composta por Educação Infantil (EI – Berçário II, Maternal I e II e Pré-escola I e II) e
Ensino Fundamental (1º ao 9º ano), neste ano de 2021 a escola atende 278 alunos entre os turnos
da manhã e da tarde. O grupo de profissionais que constitui o quadro da escola são: o diretor, a
vice-diretora, 2 CPs, 22 professores (uma das CPs também é professora na instituição e está
inclusa nesta contagem) e 7 funcionários4.
A escola possui uma infraestrutura ampla de aproximadamente 1 hectare (NOVA
RAMADA, 2018), e deste espaço, a área construída é de 750 m², dividida em cinco salas de
aula: uma sala para o Atendimento Educacional Especializado (AEE), uma secretaria, uma
biblioteca, um almoxarifado, uma sala de direção, uma sala para a coordenação pedagógica, um
laboratório de informática, dois banheiros, uma cozinha e uma área coberta denominada
pavilhão. Além disso, há um prédio com dois pisos, que é composto por cinco salas para a
Educação Infantil (EI), uma sala de artes e um banheiro destinado aos pequenos. A escola conta
também com um ginásio de esportes para a prática de Educação Física e um parque infantil
com a sua estrutura coberta. Outro fator importante a ser considerado é que todas as salas de
aula são climatizadas e possuem aparelhos receptores de imagens.
Para poder dar início a esta pesquisa, foi feita a apresentação da proposta aceita pela
gestão escolar aos profissionais da escola e ao Secretário Municipal da Educação. Nesta mesma
ocasião, foi entregue à coordenação pedagógica e aos professores o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE), com a devida explicação de que apenas aqueles que o assinassem
poderiam participar da pesquisa. Diante disso, 11 profissionais deram seu aceite: as 2 CPs e 9
professores da escola, os quais, conforme preceitos éticos, no decorrer da dissertação estão
representados por nomes fictícios. O perfil dos mesmos está explicitado no Quadro 2, a seguir.
HELOÍSA Pedagogia
Pedagógica anos na Coordenação
Pedagógica
21 anos de experiência na
Especialização em Pedagogia
Pedagogia (Supervisão e Educação Básica e 15
MARTA Gestora e Gestão da Educação
Orientação) e Pedagogia anos na Coordenação
Municipal
Pedagógica
4
Dados captados em 26 de outubro de 2021.
20
Pós-Graduação Em EJA e
ELIAS Matemática 20 anos
Educação no Campo
Especialização em Educação
SÔNIA Pedagogia 9 anos
Infantil
Pós-Graduação em
MARIA Direito e Pedagogia 19 anos
Psicopedagogia Institucional
Especialização em Educação
LAURA Pedagogia 9 anos
Inclusiva
Especialização em Educação
PROFESSORES
Inclusiva
Licenciatura Plena em
DEISI Especialização em 8 anos
Educação Especial
Neuropsicopedagogia
Técnico em Radiologia
Especialização em AEE e Gestão
TAÍS História e Pedagogia 5 anos
Escolar
Licenciatura e
Especialização em Gestão
PAULO Bacharelado em 10 anos
Escolar
Educação Física
Especialização em Alfabetização
CARLA Pedagogia 9 anos
e Letramento
Licenciatura em Especialização em
NEIVA Ciências (curta) e Psicopedagogia e Ensino 34 anos
Biologia (plena) Religioso
Fonte: Dados da pesquisa (2021).
Quadro 3 – Planejamento dos momentos de formação continuada de professores na Escola Municipal de Ensino
Fundamental Dom Pedro I
DATA E MODALIDADE TEMA DA FORMAÇÃO
Quadro 4 – Atribuições dos membros da equipe pedagógica, segundo o Projeto Político Pedagógico da Escola
Municipal de Ensino Fundamental Dom Pedro I
COORDENADOR
SUPERVISOR ESCOLAR ORIENTADOR EDUCACIONAL
PEDAGÓGICO
5
Professora contratada pelo período de 28 de agosto de 2021 a 22 de dezembro de 2021.
22
coordenação de todas
Assessorar os professores na Realizar atendimento individual e grupal aos alunos
as atividades
elaboração e execução dos Planos e em casos específicos encaminhar para o
pedagógicas.
de Trabalho. atendimento de profissionais especializados.
6
As CPs foram questionadas sobre a falta do orientador e supervisor educacional na escola e da presença do
mesmo no Projeto Político Pedagógico, todavia, não houve esclarecimentos detalhados sobre esse assunto.
23
Como já mencionado, a produção de dados foi organizada em duas etapas: 1ª) Estado
do Conhecimento, e 2ª) Estudo de caso, sendo que esta última abrange questionários, entrevistas
e observações e registros em diário de bordo das formações continuadas na escola, conforme
detalhado nos tópicos a seguir.
7
Biblioteca virtual que disponibiliza produções científicas nacionais e internacionais.
8
A BDTD foi escolhida por possuir uma parceria com as instituições de ensino e pesquisa, e por oferecer à
comunidade acadêmica o acesso a teses e dissertações nacionais e internacionais, embora possua maior ênfase na
divulgação de pesquisas brasileiras.
24
9
O acesso CAFe permite que os estudantes tenham acesso remoto ao conteúdo assinado pela sua instituição, o
qual fica disponível no Portal de Periódicos da Capes em aba específica.
25
Tabela 1 – Resultados das buscas das produções no Portal de Periódicos da Capes, no período de 2010-2020
DESCRITORES TOTAL REVISADO POR PARES
Formação continuada de
2.214 1.519
professores
Coordenador pedagógico 498 408
Formação continuada de
professores AND coordenador 119 77
pedagógico
Fonte: Dados da pesquisa (2021).
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A revisão por pares trata-se de uma avaliação crítica de produções científicas e é realizada por especialistas na
área da pesquisa e que não faz parte do estudo. É considerada, deste modo, uma extensão relevante do processo da
ciência e facilita aos periódicos a qualificação, precisão, leitura, credibilidade do conteúdo a ser publicado, bem
como o cumprimento das normas da revista e normativas éticas e legais para que ocorra a publicação (JENAL et
al., 2012).
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Tabela 2 – Resultados das buscas das produções na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, no
período de 2010-2020
DESCRITORES DISSERTAÇÃO TESE TOTAL
Formação continuada de
3.995 1.392 5.387
professores
Coordenador pedagógico 1.630 513 2.143
Formação continuada de
professores AND 400 92 492
coordenador pedagógico
Fonte: Dados da pesquisa (2021).
Neste tópico consta como foram produzidos e analisados os dados que envolvem os
instrumentos – questionários, entrevistas e os momentos de formação continuada – registrados
em diário de bordo, por meio dos quais foram realizadas observações e análises. Como
salientado anteriormente, estes procedimentos foram realizados na EMEF Dom Pedro I,
localizada em Nova Ramada, cidade do interior do Estado do RS.
Para a produção de dados, no primeiro momento, foram elaborados e submetidos
questionários às CPs e aos professores, com questões fechadas e abertas. Algumas dessas
questões, tanto do questionário quanto da entrevista, foram adaptadas de Sentoma (2020), pois
vinham ao encontro dos objetivos desta pesquisa. As mesmas possibilitaram a identificação do
perfil dos participantes pelo modo como expressaram suas percepções e compreensões a
respeito do papel do CP nos momentos de formação continuada de professores nas escolas. Esta
técnica de investigação, de acordo com Gil (2008), tem o propósito de coletar informações
como conhecimento, crenças, valores e interesses das pessoas.
Em seguida, foi realizado o acompanhamento e observação dos encontros de
formações continuadas de professores da EMEF Dom Pedro I. Conforme ressaltam Lüdke e
André (2018), as observações precisam ser planejadas, pois é indispensável que o pesquisador
observador, como participante desses momentos, delimite com antecedência o seu objeto de
estudo e exponha desde o início suas intenções com o grupo envolvido. Neste caso, para estes
momentos, foi utilizado um diário de bordo.
Porlán e Martín (1999) enfatizam o uso do diário pelo professor, e reconhecemos que
tal instrumento pode ser adaptado a outras situações, por exemplo, as observações durante a
produção de dados desta pesquisa. De acordo com esses autores, “o diário facilita a
possibilidade de reconhecer esses problemas e assumir a realidade escolar como complexa e
mutante, favorecendo seu tratamento através de análises e acompanhamento da mesma”
(PORLÁN; MARTÍN, 1999, p. 32). Os registros realizados no diário de bordo correspondem
ao acompanhamento das 17 formações continuadas distribuídas em 21 turnos.
Para obter mais informações, se tornou pertinente a realização de entrevistas com as
CPs, pelo Google Meet – plataforma de serviço de comunicação por vídeo desenvolvido pelo
Google – e a gravação das mesmas, para facilitar a transcrição, feita de forma manual. Durante
esse momento, aconteceram diálogos com as CPs sobre as ações que desenvolvem na escola, o
seu percurso de formação e sua constituição profissional, bem como sobre suas concepções
sobre a formação continuada.
28
Após a produção de dados (respostas dos questionários das CPs e dos professores,
transcrições das entrevistas e registros dos momentos de formação), estes foram analisados
seguindo os mesmos pressupostos dos estudos do Estado do Conhecimento, ou seja, a ATD
(MORAES; GALIAZZI, 2020). Ao contrário do procedimento realizado na etapa anterior, que
aconteceu de forma indutiva, desta vez, com os dados produzidos no estudo de caso, este
ocorreu de forma dedutiva/a priori. Entendeu-se que o processo dedutivo seria o mais
qualificado, pois, antes de produzir os dados, já havia objetivos e assuntos traçados para serem
abordados e reconhecidos.
Para o procedimento de análise, ocorrido de forma dedutiva/a priori, foram seguidos
os seguintes passos: 1) Criação das categorias e suas respectivas proposições; 2) Identificação
das US nas entrevistas, nas respostas dos questionários e nos registros realizados no diário de
bordo; 3) Organização das US por aproximação de sentido entre as mesmas; e, 4) Inserção das
US nas categorias a priori de acordo com seus sentidos (Quadro 9).
Os metatextos da etapa relacionada ao estudo de caso, diante disso, compõem o quarto
capítulo desta dissertação, nos quais estão expressas as percepções e concepções das
coordenadoras e dos professores da EMEF Dom Pedro I, e são os seguintes: 1) Coordenação
pedagógica; 2) Formação continuada; e, 3) Atuação das coordenadoras.
Com o propósito de identificar os sujeitos nos trechos, fez-se necessária a elaboração
de códigos, compostos por “sujeito (CP ou P + inicial do nome fictício) + instrumento da
pesquisa (onde Q refere-se ao questionário – Apêndices A e B –, TE representa transcrição da
entrevista, e DB representa o diário de bordo)”. Segue, diante disso, alguns exemplos: 1.
CPHTE (CP Helena durante a entrevista); 2. CPMQ (CP Marta na resposta do questionário); 3.
CPHDB (comentário da CP Helena registrado no diário de bordo); e, 4. PAQ (Professora – P –
Ana na resposta do questionário).
Para as discussões dos metatextos foram considerados autores como: Almeida (2001),
Canário (1998), Domingues (2014), Freire (2001, 2021), Imbernón (2011), Libâneo (2001),
Nóvoa (1995, 2017), Perrenoud (2002) e Placco e Souza (2012).
29
11
Parte deste capítulo está publicado e disponível em:
https://periodicos.ifrs.edu.br/index.php/tear/article/view/5045.
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As produções que compõem o corpus desta pesquisa são apresentadas nos Quadros 5
e 6, organizadas de forma cronológica decrescente e identificadas com códigos: A se refere a
artigos, D são dissertações e T representa as teses. Essas letras estão acrescidas de números para
diferenciá-las no decorrer do presente estudo.
Brazilian Journal of
O despertar do coordenador pedagógico para a AQUINO, J. M. B.;
A1 Development
formação continuada docente FREIRE; M. L. E.
(2018)
Por que ensino como ensino? Contextos e
HOLOS
A2 narrativas da trajetória de um professor LIMA, F. J.
(2018)
formador de professores
FERRI, T. H. J. B.; Revista Educação e Cultura
O professor coordenador: encontros de trabalho
A3 BENITES, L. C.; Contemporânea
coletivo e a formação continuada
NETO, S. S. (2016)
MIZIARA, L. A.
O que revelam as pesquisas sobre a atuação do RBEP
A4 S.; RIBEIRO, R.;
coordenador pedagógico (2014)
BEZERRA, G. F.
Fonte: Dados da pesquisa (2021).
12
Abreviação de código.
31
13
Abreviação de instituição.
32
textos que compõem cada proposição, os quais dialogam reflexivamente com estudiosos
relevantes para cada temática.
Art. 62-A. A formação dos profissionais a que se refere o inciso III do art. 61 far-se-
á por meio de cursos de conteúdo técnico-pedagógico, em nível médio ou superior,
incluindo habilitações tecnológicas.
Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada para os profissionais a que se
refere o caput, no local de trabalho ou em instituições de educação básica e superior,
incluindo cursos de educação profissional, cursos superiores de graduação plena ou
tecnológicos e de pós-graduação (BRASIL, 2017, grifos nossos).
A formação continuada, então, pode ser entendida como um processo que visa a
proporcionar o desenvolvimento profissional do professor mediante a associação entre
teoria e prática e a oportunidade de trocas de experiências, criando condições de
trazer mudanças na sua prática pedagógica e consequentemente alcançar um ensino e
uma aprendizagem de maior qualidade (grifos nossos).
Simão (2012) enaltece o ponto-chave “prática e teoria”, salientando que uma fortalece
a outra e que não há uma formação satisfatória se uma delas não estiver presente durante o
processo de reflexão. Neste contexto, é necessário pensar no professor reflexivo que Pimenta
(2012), por sua vez, questiona: Professor reflexivo – adjetivo ou conceito? Nesta pergunta, há
duas concepções que podemos compreender: refletir é um atributo do professor, e esse atributo
se tornou um conceito muito estudado (PIMENTA, 2012).
Quando atribuímos o adjetivo “reflexivo” a um professor é porque percebemos que o
mesmo é um profissional que atua de maneira criativa, revolucionária e que compreende a
importância de organizar suas práticas com base na coletividade e na diferença presentes no
espaço educativo. Libâneo (2012), nessa perspectiva, salienta que
identidade profissional, podemos nos ancorar na perspectiva de Araújo (2015), que, em sua
dissertação, a conceitua como
trabalho, portanto, deve ser o objetivo principal das instituições de ensino, ou seja, não há outra
maneira de sofisticar as práticas educativas docentes senão pelas formações continuadas.
Ser professor requer ética e moral, pois é uma responsabilidade que influencia outros
humanos (IMBERNÓN, 2011). O comprometimento desse profissional se diferencia quando
há o entendimento de que não há padrões a serem seguidos, mas valores que precisam ser
percebidos e alinhados no exercício da promoção educativa da sua profissão: a autonomia e a
evolução constante. A responsabilidade do professor se entende para além de ensinar seus
alunos a dominar conteúdos, pois seu maior comprometimento deve estar em abrir horizontes
para que os estudantes desenvolvam a capacidade de pensar e agir como cidadãos ativos na
sociedade.
Acreditamos veementemente que, a partir de uma formação continuada, isso possa ser
oportunizado de modo mais qualificado pelos professores. Formações continuadas, todavia, nas
quais os docentes se limitam e não refletem, não geram resultados satisfatórios, visto que é
indispensável mudanças de atitudes e pensamentos a partir das mesmas, pois estaa é a maneira
de evidenciar que o profissional está de fato comprometido com a educação.
A reflexão, contudo, não é um processo simples, principalmente porque é necessária a
articulação entre teoria e prática. A comodidade dos professores e o receio de mudar parte,
muitas vezes, da sua falta de leitura e de analises teóricas. Sobre isso, Nóvoa (1995, p. 28)
ressalta que “é preciso trabalhar no sentido da diversificação dos modelos e das práticas de
formação, instituindo novas relações dos professores com o saber pedagógico e científico.
Refletir sobre a prática sem a teoria como fundamento, sem haver práxis, não haverá mudança”.
Em sua pesquisa, Coelho (2018) pondera sobre a importância dessas mudanças e o que
isso realmente significa. A autora afirma em sua dissertação que
O artigo de Lima (2018) incrementa essas ideias, pois também defende a relevância da
formação profissional e salienta que é uma extensão necessária para os docentes. Esse processo,
diante disso, “deve ser movido por interrogações, pois quando o professor se contenta com
respostas prontas, não caminha, não consegue problematizar, podendo potencializar escassez
de espaço para (re)pensar o seu fazer pedagógico” (p. 265).
39
14
No decorrer de sua escrita, Saviani (2002) utiliza o a terminologia “supervisor educacional”, todavia, como
salientado no segundo capítulo desta dissertação, as CPs da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Pedro
I também realizam as atribuições destinadas à Supervisão. Ao abordar, portanto, estudos relacionados à orientação
e supervisão, estes estão relacionados ao CP.
40
A regra n.1 estabelece que é dever do prefeito “organizar os estudos e dirigir as aulas,
de tal arte que os que as frequentam, façam o maior progresso na virtude, nas boas
letras e na ciência, para a maior glória de Deus”. A regra n. 5 determina que ao prefeito
incumbe lembrar aos professores que devem explicar toda a matéria de modo a
esgotar, a cada ano, toda a programação que lhe foi atribuída. A regra n. 17, referente
à função de “ouvir e observar os professores”, estipula: “de e quando em quando, ao
menos uma vez por mês, assista às aulas dos professores; leia também, por vezes, os
apontamentos dos alunos. Se observar ou ouvir de outrem alguma cousa que mereça
advertência, uma vez averiguada, chame a atenção do professor com delicadeza e
afabilidade, e, se for mister, leve tudo ao conhecimento do P. Reitor”.15
Com o decorrer do tempo, novas nomenclaturas foram criadas até essa que
conhecemos atualmente. O CP é, conforme Aquino e Freire (2018, p. 2.438), uma “figura nova
no cenário educacional”, embora suas atribuições estejam explícitas há muito tempo, desde a
educação jesuíta, por meio de diversos momentos da história da Educação. Além disso, muitos
estudos foram necessários para chegar a essa nomenclatura, assim como mudanças e políticas
públicas educacionais, embora poucas, mas que amparam esse profissional e oferecem base
para a compreensão de suas funções e de sua formação.
Um novo método de ensino foi criado no começo do século 19, denominado como
Método do Ensino Mútuo. Antes desta criação, os professores de primeiras letras ensinavam as
crianças de forma individual, no entanto, após, o ensino passou a ser simultâneo. Tais
incumbências estão presentes na Lei de 15 de outubro de 1827, pontuada por Saviani (2002),
que, em suas palavras, “no ensino mútuo o professor absorve as funções de docência e também
de supervisão. Com efeito, ele instrui os monitores e supervisiona as suas atividades de ensino,
assim como a aprendizagem do conjunto de alunos” (p. 22).
Por um longo período de tempo as informações, funções e nomenclaturas continuaram
as mesmas, até o momento em que foi criada a Associação Brasileira de Educação e, então,
novas mudanças ocorreram no sistema educacional. Em Pernambuco, no ano de 1928,
15
Reitor é o profissional que ocupa atualmente o cargo de diretor nas escolas, visto que era durante o período
jesuíta o sujeito central e de maior autoridade do Colégio. Entre as funções dele estava a distribuição de ofícios,
convocar e dirigir reuniões dos professores (FRANCA, 1952).
41
Quadro 8 – Fragmentos das pesquisas selecionadas sobre a principal atribuição da Coordenação Pedagógica:
formação continuada
Formação de professores, principal atribuição da coordenação pedagógica no ambiente escolar
(VIEIRA, 2019, p. 68).
Esse estudo aposta na construção de um perfil para o coordenador pedagógico que coloque em destaque
a atribuição de agente formador, não desconsiderando os quesitos pedagógicos e de apoio à docência,
mas priorizando as questões formativas de professores em âmbito interno da escola (FABRIS, 2018, p.
45).
Sua principal atribuição – desenvolver a formação de professores – é uma das dimensões mais
estudadas, talvez porque entre tantas demandas urgências na rotina do coordenador, ela nem sempre é
priorizada (RODRIGUES, 2017, p. 52).
Minha compreensão sobre o principal fazer do coordenador pedagógico, ficava bastante clara: a
formação continuada dos professores (GOMES, 2017, p. 14).
Considero que a formação continuada deve ser a principal atribuição da coordenação pedagógica
(RUDNICK, 2014, p. 61)
Fonte: Dados da pesquisa (2021).
Por conseguinte, além da formação do CP, há outros fatores que precisam ser
considerados para que de fato os objetivos sejam atingidos. Para que seu papel de formador,
líder e motivador de professores seja efetuado com sucesso, o profissional da gestão pedagógica
necessita, ademais, estar em contato e atento àquilo que docentes realizam nas salas de aula,
bem como analisar as premissas dos alunos para poder dar feedbacks aos professores.
O exercício de liderança faz parte da educação, pois está relacionado à ação formativa
dos professores. Lück (2014) enfatiza, em suas pesquisas sobre a gestão escolar como prática
de liderança, que os membros dessa equipe influenciam sujeitos para o processo de nutrir
competências profissionais para um ensino e uma aprendizagem efetivos. Em suas palavras, a
liderança é “um conjunto de ações, atitudes e comportamentos assumidos por uma pessoa, para
influenciar o desempenho de alguém, visando a realização de objetivos organizacionais”
(LÜCK, 2014, p. 95).
Santos (2012), por esse viés, ressalta que “o exercício de liderança oferece condições
de interação, articulação e de mobilização das energias de todos os envolvidos” (p. 46). Deste
modo, comprova-se que o trabalho do CP possibilita muitos benefícios para a instituição, tanto
para os docentes quanto para os discentes. Araújo (2015) defende, nessa perspectiva, que o CP,
ao desempenhar a função de formador, implica na qualidade do ensino e da aprendizagem.
Para tanto, “é competência do coordenador criar condições favoráveis que possibilitem
aos professores relacionar criticamente suas experiências com os saberes acadêmicos, num
espaço de problematizações consequentes e interlocuções democráticas” (MIZIARA;
RIBEIRO; BEZERRA, 2014, p. 622). Com as análises das pesquisas foi possível perceber,
portanto, as contribuições do CP ao desenvolver suas funções com eficiência: melhorar o
44
O fato é que todas as boas relações no âmbito social beneficiam uns aos outros, e a
relação coordenador-professor não é diferente. O ponto central das pesquisas D3, D9, D10,
D11, D13, D14, D23 e D32 é a relação entre esses dois profissionais, o que reforça a ideia do
quão importante ela é para a educação escolar.
Como discutido no metatexto anterior, o CP assume o papel de liderança na gestão
escolar e, portanto, cabe a ele administrar a sua relação com os professores. Além disso, é seu
dever favorecer um bom relacionamento entre os docentes (VOLPE, 2019). Essas relações são
determinantes para que suas atribuições na escola tenham um desfecho impulsionador entre os
pares na atuação docente.
Conforme a relação entre o professor e o CP se fortalece, ambos crescem na práxis e
estabelecem vínculos de confiança mútua. Dessa maneira, esses profissionais instituem parceria
de cooperação para que o trabalho em equipe se torne cada vez mais eficiente e significativo.
Nesse mesmo viés, nas palavras de Fabris (2018, p. 45), o CP “precisa também, estabelecer
com o grupo uma relação de parceria e cooperação, onde coexistam funções diferentes, mas
que estão em prol de um objetivo comum: a qualificação de todos”.
Essa relação dinâmica da equipe possibilita a construção de pontes para alcançar os
objetivos propostos com maior facilidade e empenho, uma vez que o esforço coletivo é
condição para a formação humana do aluno. Todos os profissionais da educação exercem suas
funções por esse bem comum – a qualidade da formação do aluno – e, deste modo, a parceria
construída entre o coordenador e o professor é o que possibilita que as decisões sejam tomadas
tendo em vista essa meta (OLIVEIRA, 2018).
45
aproximar, observar, dialogar e conhecer o outro que poderá desenvolver sua capacidade de
compreendê-lo e lidar com as diferentes situações, para, assim, construir vínculos e parcerias
com esse grupo”.
Para Wallon, a afetividade faz parte do desenvolvimento pessoal e da interação entre
os sujeitos (MAHONEY; ALMEIDA, 2005). Durante suas colocações, Wallon abordou que os
processos de ensino e de aprendizagem serão mais bem desenvolvidos, de acordo com seu
conceito de afetividade para o desenvolvimento social e cognitivo, no momento em que forem
permitidas discussões e expressões diante de uma ação solidária.
Não obstante, é importante que a coordenação pedagógica vá além de uma organização
de momentos formativos, marcando presença e interagindo em todos os instantes possíveis com
os professores. Assim, criará uma relação coordenador-professor que reprimirá a forma
hierárquica e consolidará uma união afetuosa em prol do trabalho educativo coletivo.
47
Este primeiro metatexto sobre o resultado do estudo de campo aborda três aspectos
referentes ao CP. Inicialmente, é feita a descrição sobre a constituição profissional da
coordenação pedagógica (1) para, em seguida, contextualizar sobre as compreensões das
coordenadoras pedagógicas e professores da EMEF Dom Pedro I em relação ao trabalho
pedagógico da coordenação (2) e, por fim, sobre o papel da mesma na organização de formações
continuadas de professores nas escolas (3).
[...] o que vai te trazer um respaldo, uma segurança, vai ser o dia-a-dia. É ali na
prática, tu não sai pronta, realmente. Na verdade, eu não estava em nenhum momento
preparada. A gente nunca está preparada para o novo, mas eis que aí a gente conta
com a colaboração da equipe da escola, direção, a vice-direção, o pessoal que
trabalha na escola. Aí te dá todo esse suporte né. Mas estar preparada, isso olha... É
com o tempo (CPHTE, 2021).
Libâneo (2001), à vista disso, aponta que o CP não carece dominar conteúdos e
métodos de todas as matérias. O CP contribuirá com os conhecimentos que obteve no decorrer
de seu processo educativo-docente, ou seja, com aquilo que aprendeu tanto nos seus estudos
teóricos quanto nas suas práticas. Marta, em sua resposta ao questionário e durante a sua
entrevista, respectivamente, adentra nesta perspectiva ao falar sobre suas experiências na sala
de aula:
[...] O tempo precisaria ser maior na coordenação, mas o fato de eu estar em sala de
aula faz com que eu saiba também as demandas que o grupo tem lá naquele espaço.
Então eu acho que a experiência que eu tenho ao longo da minha trajetória como
profissional, isso também já facilita na condução e percepção do que é preciso para
as formações (CPMTE, 2021).
De seguir totalmente não. Porque algumas coisas, até pelo fato de as coisas mudarem
e tal a gente tenta ir pelo viés melhor. Então a gente vai adaptando, mas já teve coisas
que deram certo e coisas que não deram certo, que você vai ter que retomar, reavaliar
e ir por outro caminho. Pelo caminho correto (CPHTE, 2021).
O CP possui uma vasta lista de atribuições, que variam de acordo com as instituições
e os cargos que lhe são atribuídas. Uma escola que tem apenas CP requer que este realize as
50
LAURA [...] deve ser um mediador, tanto com os professores como alunos e pais.
de comunicação, de forma dialógica, entre docentes e família, para que esta se mantenha
conectada e a par do que acontece no ambiente escolar.
É indispensável, entretanto, conhecer o significado de mediar para apurar, se essa
realmente é a palavra correta e que abrange todas as intervenções e funções mencionadas pelos
professores. Mediar, no caso, de acordo com o Dicionário Online de Língua Português16, é: “1.
Tratar ou discutir como mediador; mediatizar. Estar no meio; distar igualmente. Ter ocorrência
entre épocas distintas ou entre fatos e circunstâncias diferentes”.
Ademais, a CP Heloísa traz que o CP é responsável pela conexão entre os envolvidos
na comunidade educacional (CPHQ, 2021). Percebe-se que a palavra mediar não contempla
uma ideia de conexão, afinal, apesar da mediação, por exemplo, do professor com a família ser
importante, é ainda mais relevante que ambos estejam unidos para o sucesso do ensino e da
aprendizagem dos estudantes. Entendemos, deste modo, que essa ideia vai além de um CP
mediador, que é uma busca por um CP articulador; a partir disso, temos, portanto, mais algo a
investigar: O que é articular?
O Dicionário Online de Língua Português indica que a palavra Articular17 pode ser
definida como: “Unir pelas juntas; juntar pelas articulações. Fazer com que fique ligado, unido;
relacionar. Juntar-se”. Diante disso, reconhecemos que este é o adjetivo mais apropriado para
o CP que é articulador, visto que este profissional engloba suas funções de maneira mais
satisfatória, ou seja, o CP é um articulador dos processos que envolvem o ensino e a
aprendizagem na escola. A utilização do verbo “mediar” por parte dos professores, portanto,
nos faz refletir que os mesmos usam essa palavra sem ter a apropriação do seu significado.
Placco, Almeida e Souza (2015), em seus estudos com 400 CPs brasileiros,
identificaram e caracterizaram o trabalho destes profissionais em 3 dimensões: articulador,
formativo e transformador. Se observarmos as atribuições do CP presentes no PPP da EMEF
Dom Pedro I (Quadro 3), podemos perceber a presença da ideia de articulação. Ademais, como
nessa instituição o CP detém as atribuições do supervisor e do orientador educacional, tal visão
está ainda mais presente no seu dia a dia, posto que cabe a ele articular a sua prática com as dos
outros dois profissionais.
Heloísa acrescenta, sobre as atividades desenvolvidas enquanto CP, e esclarece que
[...] quando você está na coordenação, aí você tem atendimento de alunos, você recebe pais,
que daqui a pouco não estava agendado, que esse pai chega e então você deixa o que você está
fazendo (CPHTE, 2021). As atividades do CP, diante disso, acabam acontecendo conforme a
16
Disponível em: https://www.dicio.com.br/mediar/. Acesso em: 17 jan. 2022.
17
Disponível em: https://www.dicio.com.br/articular/. Acesso em: 17 jan. 2022.
52
urgência, o que, por sua vez, altera seus planejamentos previstos, no entanto, é necessário que
esse profissional tenha “coragem de fazer escolhas, definir metas, aproveitar brechas, criar
espaços, fazer parcerias” (ALMEIDA, 2010, p. 45). Ao refletir sobre as parcerias, mencionadas
por Almeida (2010), entendemos que essas podem auxiliar na resolução das urgências e, deste
modo, faz com que o CP detenha seu tempo a outras atividades previstas, afinal, conforme já
salientado, se não houver o trabalho em conjunto, a coletividade e a parceria, sozinho ele não
consegue enfrentar todos os desafios e alcançar os objetivos.
A rotina daquele que está à frente da Coordenação Pedagógica é bem variada. Não
tem nada assim que daqui a pouco eu me projeto, planejo fazer hoje “isso, isso e isso” que dá
certo. Então é semelhante ao planejamento do professor (CPHTE, 2021). Nesse limiar, Marta
respalda que muitas das demandas que chegam na secretaria caem para nós e acabamos não
dando conta daquilo que de repente seria mais efetivo, voltado ao pedagógico da escola
(CPMTE, 2021), e exemplifica, dizendo que:
A gente chega aqui na escola, a secretária coitada é a descarga ali. Todo mundo vem
e descarrega e daí geralmente a gente vai na sala dos profes ou é com a secretária e
já tem alguma coisa para resolver. Nós não conseguimos chegar na sala e ir direto...
Sempre tem aquilo que eu te disse: as pendências. Então é resolver problemas,
sanar aquilo que está na pendência. [...] Eu acabo sentando lá depois na minha sala
e também me falta esse tempo para ir na sala dos professores e conversar um pouco
[...] Sempre tem uma coisinha ou outra dentro dessa rotina para trabalhar [...]
(CPMTE, 2021).
Marta adentra um ponto relevante: a falta de tempo para ir na sala dos professores,
visto que o trabalho pedagógico do docente também carece da mediação da Coordenação
Pedagógica, pois dá suporte para muitas dificuldades enfrentadas pelo professor no dia-a-dia
(PEQ). Placco, Almeida e Souza (2015) compreendem que há determinadas atividades que não
deveriam ser prioridades no cotidiano do CP, mas que, no entanto, estes acabam realizando-as
em virtude de haver poucos profissionais na instituição para exercê-las. As CPs da EMEF Dom
Pedro I são exemplos dessa situação, pois realizam o trabalho do supervisor escolar e do
orientador educacional, conforme explicitado no item 2.2 – O contexto do estudo de caso: a
escola, os professores e as coordenadoras pedagógicas –, o que acaba por interferir em suas
atribuições específicas, as quais deveriam ser vistas como prioridades.
Os mesmos autores consideram que “o CP se aliena de suas atribuições, em
decorrência desse excesso de atividades – e atividades fora de sua função – afastando-se das
prioridades da escola em relação ao PPP e à formação de professores” (Ibidem, p. 23).
Compreender esta perspectiva é fundamental, pois, ao suprir as necessidades e auxiliar nas
dificuldades da equipe docente, o CP estará qualificando a educação. Diante disso, Placco e
53
Souza (2012) afirmam que “qualquer processo formativo e qualquer prática educativa só
avançam se abordados da perspectiva do trabalho coletivo. Este pressupõe integração de todos
os profissionais da escola, a não fragmentação de suas ações e práticas e, fundamentalmente, o
compromisso com a formação do aluno” (p. 27).
Em consonância com as ideias das autoras, Maria ressalta acerca dos principais
objetivos do trabalho do CP, sendo que cabe a ele promover discussões e debates para que
aconteça a construção de ideias coletivamente (PMQ, 2021). Neste sentido, precisará atuar em
conjunto com a direção e corpo docente acolhendo os alunos que chegam até a escola,
buscando formas pedagógicas de atingir cada necessidade dos diferentes alunos (PSQ, 2021).
Segundo Taís, que corrobora com as ideias dos professores citados anteriormente, o
principal objetivo do CP é gerir o trabalho dos profissionais de trabalho, para que busquem o
êxito em sala de aula (PTQ, 2021). Ademais, Deisi, seguindo o mesmo ângulo, expõe que o CP
precisa ajudar os professores a achar caminhos pedagógicos que auxiliem a turma (PDQ,
2021). Nas ideias de Franco (2008),
Os CPs, todavia, não estão preparados para todos os desafios que o docente encontra em
sala de aula e, como já enfatizado na perspectiva de Libâneo (2001), este profissional precisa
dominar todos os conteúdos e metodologias, visto que sua ajuda, afinal, vai além de oferecer dicas
e/ou respostas prontas. E como então seriam estas ajudas?
Ao refletirmos sobre o contexto atual, por exemplo, no momento pandêmico em que nos
encontramos, sabemos que todos os sujeitos, independentemente de suas profissões, estão
precisando de apoio, seja para a realização de suas atividades, seja para um apoio emocional. No
ambiente escolar, isso esteve fortemente presente e, neste caso, a atuação da coordenação
pedagógica é de extrema importância, e isto fica ainda mais perceptível neste período de pandemia
(PSQ, 2021).
Ante a pandemia, o CP teve um desafio, que foi [...] estar ouvindo dos professores que
eles estavam sobrecarregados de coisas (CPHTE, 2021), e, assim, este profissional pode ser
54
considerado, além disso, um dos principais gestores que "ouve as queixas" dos professores (PDQ,
2021). Deste modo, algo positivo e que precisa ser destacado é a função de escuta que acaba
desenvolvendo, que faz parte de sua função (CPMTE, 2021). Fica o questionamento, então: Dicas
e/ou respostas serviram em casos como estes?
O CP precisa estar preparado para amparar emocionalmente a equipe docente, tendo em
vista que deverá motivá-los e encorajá-los nestes momentos de desânimo. Apesar da maior
frequência de necessidade dessas ações, em razão da pandemia, o profissional da Coordenação
Pedagógica precisa estar sempre atento e pronto a escutar, motivar e acolher a equipe docente.
Segundo Almeida (2001), o CP precisa, portanto, olhar e ouvir atentamente, pois “observando e
ouvindo o professor em sua atuação, é possível diagnosticar suas necessidades, sentir suas angústias
e oferecer a ele a ajuda de que precisa naquele momento [...]” (p. 74).
Um ponto fundamental para que isso ocorra é a boa relação entre os membros destas
equipes. Marta, nesta perspectiva, ressalta que a sua relação com os professores
[...] é boa. Eu tenho uma boa relação com eles. Na verdade, a gente não consegue
tirar aquele tempo, sentar e conversar, mas na medida do possível eu sempre estou
na minha sala e quando alguém tem alguma dúvida o pessoal vem até a sala do
pedagógico, conversa, a gente tenta explicar da melhor forma o que está no nosso
alcance. E com alguns professores a gente tem uma proximidade maior, então acaba
brincando, mas na brincadeira já tem aquele fundinho que precisa ser feito, né?
Outros já é uma relação mais técnica, mais profissional, que não temos um contato
mais direto. Mas eu acredito que funciona bem (CPMTE, 2021).
Nosso patrono da educação, Paulo Freire, ao escrever sobre os saberes necessários para a
prática educativa, enaltece que tal prática é “afetividade, alegria, capacidade científica, domínio
técnico a serviço da mudança, ou, lamentavelmente, da permanência do hoje” (FREIRE, 2021, p.
139-140). Apesar de o autor frisar essa perspectiva sobre a relação professor e educandos, entende-
se que em quaisquer relações, para obter sucesso nos seus objetivos, é necessário querer bem o
outro e, neste caso, o CP se tornar amparo aos docentes.
Tardif e Lessard (2008) também ressaltam sobre a relação entre professor e educando –
salientamos, nesse caso, o professor como sendo o CP e o educando sendo o docente – e, em vista
disso, afirma que
Em boa medida o trabalho docente repousa sobre emoções, afetos, sobre a capacidade não
só de pensar nos alunos, mas também de perceber e sentir suas emoções, seus temores,
suas alegrias, seus próprios traumas, etc. O professor experiente sabe tocar o piano das
emoções do grupo, provoca entusiasmo, sabe envolvê-los na tarefa (p. 258).
Todos os dias eu preciso fazer a busca por aquilo que eu não sei e eu preciso também ser
amparo com o grupo a quem eu estou junto, com quem eu estou trabalhando porque eles
nos têm como referência. O grupo dos professores tem a CP como referência para aquilo
que surge, para as demandas diárias do contexto deles em sala ou contexto burocrático
[...] Eles vêm e parece que nós precisamos ter todas as respostas sempre, né? (CPMTE,
2021).
Sobre sua relação com os professores, Heloísa declara que isto é uma
[...] conquista, eu acho que assim, da minha parte é a aceitação dos professores e essa
articulação, essa amizade que a gente criou né, que eu acho que é uma grande conquista.
Porque você estar ali e daqui a pouco não ser bem entendida seria muito ruim. Então
você conseguir fazer essa troca, ser ouvida... É muito bom (CPHTE, 2021).
A afetividade, em vista disso, é fundamental para a relação entre os sujeitos. Para Wallon
(MAHONEY; ALMEIDA, 2005), a afetividade “refere-se à capacidade, à disposição do ser
humano de ser afetado pelo mundo externo/interno por sensações ligadas a tonalidades agradáveis
ou desagradáveis. Ser afetado é reagir com atividades internas/externas que a situação desperta” (p.
19-20). A relação professor-coordenador, portanto, precisa ser afetiva, pois os laços de parceira irão
se constituir e, assim, atingirão seus objetivos perante o ensino e a aprendizagem. Lück et al. (2012),
neste viés, salientam que “mais de 1/3 das perdas ou ganhos dos alunos em testes de desempenho
resulta da qualidade da escola como um todo” (p. 24).
No momento que a parceria afetiva for consolidada entre professor e CP, também haverá
confiança. Compreende-se, neste sentido, que quando há confiança, há também segurança e, com
confiança e segurança, o CP torna-se capaz de realizar as mais complexas atribuições, pois têm a
convicção de suas capacidades. Ademais, conforme pontua Franco (2008), este profissional,
embora seja competente, não alcançará a dinâmica pedagógica se todos da instituição não estiverem
envolvidos, comprometidos e conscientes dos princípios pedagógicos que precisam ser conduzidos.
Para além das atribuições citadas anteriormente, os professores da EMEF Dom Pedro I
salientam outros objetivos do trabalho do CP, conforme demonstrado nos Quadros 11 e 12, a seguir.
Quadro 11 – Trechos das respostas dos professores referentes aos principais objetivos do trabalho do(a)
coordenador(a) pedagógico(a)
PROFESSOR TRECHOS DAS RESPOSTAS
Quadro 12 – Trechos das entrevistas e das respostas do questionário com as coordenadoras pedagógicas sobre
suas funções
CP TRECHOS DAS ENTREVISTAS RESPOSTA DO QUESTIONÁRIO
Controle de aulas, atendimento aos pais, na parte É aquele que articula o grupo de
de históricos [...] pedindo ajuda de um determinado professores e caminha junto a eles,
aluno que não está frequentando a escola buscando alternativas, sugerindo,
HELOÍSA
[...]Reuniões com pais [...] Assembleia do CPM [...] incentivando, estudando, acompanhando-
Registro de atas, um pai vem (na escola) [...]; os para o desenvolvimento da melhor
Articulação (pai, escola, professor, aluno). prática de ensino.
Acompanhar o processo pedagógico; Dar suporte A própria palavra já diz, aquele que
para o grupo de professores; Fazer ligação entre coordena a parte pedagógica na escola;
escola-família-professor, [...]da própria direção que acompanha o fazer pedagógico de
com os professores; Ajudar até os próprios alunos todo o grupo dos professores; que ajuda a
em alguns problemas; Quando nós diagnosticamos avaliar as ações tomando por base dados
MARTA algum problema de conduta, por exemplo, para concretos; que está ao lado mantendo os
encaminhar para a rede de apoio, aos profissionais elos com seus colegas professores,
de saúde; Mas as questões burocráticas, de vida direção, famílias, alunos; que acompanha
escolar do aluno, de tentar sempre ter atualizado; A os documentos formais da escola; acima
questão de ter formação continuada, de ter esses de tudo é um articulador, mediador de
registros também dos professores; Livro ponto. tudo o que foi elencado anteriormente.
Fonte: Dados da pesquisa (2021).
a falta de existência desses documentos, o diálogo entre esses profissionais é a forma mais
eficiente disso se tornar indubitável e então compreenderem as atribuições deste profissional.
Compreende-se, por conseguinte, a amplitude de atribuições que o CP detém e, diante
disso, entende-se que
Essa tarefa de coordenar o pedagógico não é uma tarefa fácil. É muito complexa
porque envolve clareza de posicionamentos políticos, pedagógicos, pessoais e
administrativos. Como toda ação pedagógica, esta é uma ação política, ética e
comprometida, que somente pode frutificar em um ambiente coletivamente engajado
com os pressupostos pedagógicos assumidos (FRANCO, 2008, p. 128).
Esta concepção vai ao encontro do que Libâneo (2001) defende, pois, de acordo com
ele, o CP precisa auxiliar a equipe docente para desenvolver suas práticas pedagógicas com o
intuito de qualificar o ensino e a aprendizagem não apenas dos docentes, mas também dos
58
estudantes. Para que isso aconteça, a coordenação pedagógica precisa ter esse olhar para as
áreas que necessitam aperfeiçoamento e fomentar para que o mesmo seja feito (PTQ, 2021),
ou seja, entender os anseios e necessidades dos professores, de forma clara, para poder atender
essas demandas (PMQ, 2021).
O CP precisa estar atento em todas as situações, e um momento importante é quando
acontecem as orientações. Conforme salienta Heloísa:
Tu estar lá com o profe, na orientação dele e daqui a pouco saber onde tá faltando
pra conseguir auxiliar. Que competência que daqui a pouco ele não tá conseguindo
chegar, atingir. Que habilidade também está falha, tanto para passar para o aluno,
quanto para professor. Aí a gente vai em busca para sanar (CPHTE, 2021).
Não conseguir trazer alguém pra junto de nós, um profissional da educação que ficou
pra trás, que não aceita, que não quer se inovar, estudar... Isso eu coloco como uma
dificuldade, de não conseguir trazer ele para o nosso grupo. Mas é o mínimo que
acontece aqui na nossa escola, o pessoal é muito bom (CPHTE, 2021).
Perceber essas questões e ter habilidade e até a competência de dizer “Todo mundo
precisa fazer, todo mundo precisa acompanhar essas questões. A escola está aí, nós
não podemos ficar para trás”, no sentido de acompanhar a evolução. Se era assim
há um tempo, agora não é mais, nós precisamos evoluir para o melhor, aproveitar o
que o passado nos trouxe de positivo e projetar para o futuro (CPMTE, 2021).
O docente, de acordo com Freire (2021)18, precisa realizar práticas educativas que
potencializem a autonomia dos estudantes. Para que isto aconteça, é necessário que este
profissional aprenda, pois “ensinar inexiste sem aprender e vice-versa” (p. 25). Surge, nesta
direção, um questionamento: Como o professor aprende, se constitui e se desenvolve
profissionalmente?
Tardif (2013) nos oferece subsídio para refletir acerca desse questionamento, afinal,
segundo ele, a prática docente integra uma variedade de saberes: da formação profissional,
disciplinar, curricular e experiencial. Cada um destes saberes é conquistado de uma maneira,
logo, há diversas formas de o professor aprender, constituir-se e desenvolver-se. Por mais
repetitivo que seja, é válido salientar que apenas a formação inicial não contempla toda essa
gama de saberes e, portanto, é preciso buscar constantemente por formações.
O presente metatexto, destarte, tem como objetivo analisar compreensões de
coordenadores pedagógicos e de professores sobre a formação continuada de professores nas
escolas. Esta análise envolverá, sobretudo, as seguintes questões: 1) O que é formação
continuada de professores?; 2) Por que realizar formações continuadas na escola?; 3) Como são
organizadas estas formações?; e, 4) Qual é a importância das mesmas?
A formação continuada é uma das maneiras pelas quais o docente pode se desenvolver
profissionalmente (IMBERNÓN, 2011). Marta, nesse sentido, compreende que a formação
continuada não pode parar nunca, por isso que ela é contínua [...] a mesma acontece
permanentemente. Ela não pode ser estanque, naquele período determinado. Sempre que
sentir a dificuldade ou a necessidade diante de uma demanda preciso buscar a formação
(CPMQ, 2021), afinal, conforme salienta Heloísa, o professor precisa e deve sempre estar
buscando, se aperfeiçoando e estudando (CPHTE, 2021).
Gatti (2008) defende que há “uma vastidão de possibilidades dentro do rótulo de
educação continuada” (p. 57), ou seja, formação continuada. Cursos estruturados e/ou
formalizados, horas de trabalho coletivo, reuniões pedagógicas, conversas entre pares e eventos
– seminários, congressos, cursos, videoconferências –, de acordo com a mesma, são algumas
das práticas/atividades que possibilitam a formação permanente dos professores.
Freire (2001), nesta perspectiva, evidencia que
18
Nesse instante, o CP é considerado como docente, e o professor, como estudante.
61
Entra aqui em questão a recordação de uma situação presenciada entre uma professora
e a mãe de um aluno, onde a última questionou sobre a realização de uma atividade produzida
na escola. Isso valida a concepção de Elias de que estar informado sobre os conhecimentos
pedagógicos é, também, ter alicerce para defender e argumentar sobre suas práticas educativas.
Para ser um profissional informado, nada mais óbvio do que arrazoar que é indispensável a
formação continuada, pensamento que vai ao encontro das ideias de Sacristán e Pérez Gómez
(2007) de que a formação
é fruto da reflexão sobre a ação, ajudada por quanta tradição do pensamento tenha
sido capaz de dar sentido à realidade educativa. Os professores/as serão profissionais
mais respeitados quando puderem explicar as razões de seus atos, os motivos pelos
quais tomam umas decisões e não outras, quando ampararem suas ações na
experiência depurada de seus colegas e quando souberem argumentar tudo isso numa
linguagem além do senso comum, incorporando as tradições do pensamento
institucionalizado. Para transformar, é preciso ter consciência e compreensão das
dimensões que se entrecruzam na prática dentro da qual nos movemos (p. 10, grifos
nossos).
Ao enfatizar sobre suas práticas com fundamentações teóricas, portanto, será notória
a capacitação e desenvoltura profissional do docente. A CP Marta defende que
A busca é constante. A busca por tudo, por qualquer assunto é permanente, é no dia-
a-dia. Se não sabe, a gente precisa ir atrás. E para mim a formação é tudo. É onde a
gente aprende coisas novas, onde às vezes a gente não concorda com o que é colocado
e muitas vezes faz algumas coisas que precisam ser feitas não tendo tamanha
convicção daquilo [...] (CPMTE, 2021).
Parece indispensável criar em cada sistema escolar um observatório das práticas e das
profissões do ensino, cuja missão não seria pensar a formação dos professores, e sim
oferecer uma imagem realista dos problemas que eles precisam resolver todos os dias,
dos dilemas que enfrentam, das decisões que tomam, dos gestos profissionais que
realizam (p. 17).
Quadro 13 – Trechos das falas dos professores e das coordenadoras pedagógicas sobre o compartilhamento de
experiências
Se a experiência não é o que acontece, mas o que nos acontece, duas pessoas, ainda
que enfrentem o mesmo acontecimento, não fazem a mesma experiência. O
acontecimento é comum, mas a experiência é para cada qual sua, singular e de alguma
maneira impossível de ser repetida. O saber da experiência é um saber que não pode
separar-se do indivíduo concreto em quem encarna. Não está, como o conhecimento
científico, fora de nós, mas somente tem sentido no modo como configura uma
personalidade, um caráter, uma sensibilidade ou, em definitivo, uma forma humana
singular de estar no mundo, que é por sua vez uma ética (um modo de conduzir-se) e
uma estética (um estilo). Por isso, também o saber da experiência não pode beneficiar-
se de qualquer alforria, quer dizer, ninguém pode aprender da experiência de outro, a
menos que essa experiência seja de algum modo revivida e tornada própria (BONDÍA,
2002, p. 27).
Podemos dizer, portanto, que usualmente os espaços de formação continuada na escola não
estão sendo bem ocupados, visto que as ações realizadas nesses momentos são, na maior parte
das vezes, utilizados para fazer o que Vasconcellos (1996) enfatizou sendo perigoso.
Dificilmente encontramos espaços bem ocupados, por exemplo, onde a teoria e a prática se
encontram, afinal, na perspectiva de Zeichner (2008), entende-se a teoria como sendo da
universidade, e a prática, da escola. Todavia,
pelo Google Meet. Vale ressaltar que cada assunto foi discutido por um palestrante específico
e formado na área.
Embora as formações relacionadas ao segundo assunto tenham acontecido no período
noturno, a CP Marta reitera que a formação continuada acontece dentro da carga horária
destinada ao planejamento, formação, atividades, ou seja, dentro da jornada de 1/3 da carga
horária reservada para esta finalidade, prevista para tal no Plano de Carreira, Lei
Complementar nº 37, de 2009 (CPMQ, 2021). Isso outorga o artigo 67 da Lei 9394/96
(BRASIL, 2017), que estabelece:
Para complementar essa questão, a CP Marta esclarece que na maioria das vezes
acontece no turno da noite, às 17h30, ou nos sábados. Importante reiterar que professores
computam essas horas dentro da sua jornada semanal (CPMQ, 2021). Com essas informações
esclarecidas, portanto, podemos retomar o questionamento e o foco deste último metatexto:
atuação das CPs em relação às formações continuadas organizadas pelas mesmas. Para tal, a
discussão abordará as duas temáticas centrais anteriormente mencionadas, na qual é enfatizada
a atuação das CPs nos momentos formativos, em um primeiro momento de forma implícita e,
posteriormente, explícita, por meio da Figura 4.
Alguns dias antes de iniciar o ano letivo de 2021 todos os funcionários da EMEF Dom
Pedro I participaram de formações sobre inclusão escolar. Nesses momentos formativos
estavam presentes professores, gestão da escola, atendentes de ensino, serventes, merendeiras
e demais funcionários que compõem o quadro de profissionais da mesma. Foram quatro turnos
onde os mesmos tiveram contanto, presencialmente, com os seguintes temas:
− Processos de aprendizagem – transtornos e dificuldades;
− Transtorno do Espectro Autista (TEA);
− Adaptações de materiais.
Afinal, por que esses temas? Por que as CPs trouxeram uma palestrante para debater
acerca da inclusão escolar?
Conforme esclarece a CP Marta,
Posto isso, vale salientar que a escola precisa estar preparada para receber todos os
estudantes, conforme suas peculiaridades, para atender ao disposto sobre a Educação Especial,
conforme a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência – Lei Federal n. 13.146/15
(BRASIL, 2015) –, documento que embasa a proposta política pedagógica da EMEF Dom
Pedro I, em seu artigo 28, inciso X:
As CPs consideram que, portanto, é necessário buscar formações acerca desse tema
para dar um amparo aos professores (CPHTE, 2021), afinal, o professor não está preparado,
a escola também não (CPHTE, 2021). Percebeu-se, diante disso, que uma das preocupações é
referente às nomenclaturas utilizadas para se referir aos estudantes, conforme salienta Marta:
as nomenclaturas vão mudando, tanto que a gente não sabe nem como se referir a esses alunos
(CPMTE). Em vista disso, no decorrer desses momentos, a palestrante19 salientou acerca dessa
dúvida e esclareceu que o termo correto é pessoa com deficiência.
Marta considera também que a palestrante tem a concepção da teoria enquanto
professora e isso ela tenta fazer na prática com o filho. Então, olha que interessante [...]
(CPMTE, 2021). Cabe, diante disso, salientar que a palestrante é formada em Pedagogia, possui
Especialização na área da Educação Especial e é mãe de um menino com TEA. As CPs,
portanto, consideram relevante esse aporte teórico e prático que a mesma possui e, da mesma
forma, que é importante que os docentes tenham contato e que estudem e ampliem seus próprios
conhecimentos a partir de experiências socializadas pela palestrante. Percebe-se, deste modo, a
relevância de escolher profissionais capacitados para, conforme defende Vasconcellos (1996),
ocupar bem esse espaço de formação.
Além das nomenclaturas, na visão de Marta, é muito complicado essa questão de você
estar atualizado na legislação (CPMTE, 2021). Referente a isso, um dos momentos previstos
19
Ao me referir à palestrante desse tópico, em alguns momentos relacionados aos registros realizados no diário de
bordo, utilizarei o código P1.
69
nessas formações incluiu as políticas públicas para a educação inclusiva. Por opção, ficou
decidido, no entanto, que os materiais que iriam ser apresentados pela palestrante sobre esse
assunto seriam disponibilizados para as CPs e que essas ficariam, portanto, responsáveis por
enviar estes aos demais profissionais da escola. Essa decisão foi tomada visto que o debate
acerca do Transtorno do Espectro Autista levou a um debate mais profundo, afinal, a temática
estava tão presente no contexto da escola que subsidiou uma ampla discussão e momentos para
tirar dúvidas.
Os profissionais da escola, segundo a palestrante, precisam conhecer o aluno e a
família para saber o contexto, as situações de transtorno e síndrome. Isso implica também no
trabalho coletivo, na parceria entre escola e família, embora, muitas vezes não há uma boa
interação entre essas duas instâncias. A CP Marta exemplifica isso, ao descrever que há
situações difíceis com famílias de alunos com deficiência e, diante disso, salienta: Tem uma
mãe que nós estamos com problema porque ela quer atividades de 5º ano, ela não quer
atividades que estão ao alcance (atividades adaptadas), e essa é uma dificuldade que nós temos
também: a mãe quer uma coisa, mas o aluno não corresponde (CPMTE, 2021).
E o que fazer nesses casos? A palestrante salienta que é preciso seguir os seguintes
contatos: 1º família; 2º secretaria da educação e; 3º conselho tutelar (P1DB, 2021). Esse é um
processo de conversa e de buscar pelos direitos desses alunos, embora a família, algumas vezes,
não compreenda o que é o correto a ser feito. A escola precisa continuar a oferecer os direitos
dos alunos, cumprindo o papel, pois é direito da escola e é preciso respeitar esses sujeitos
(P1DB, 2021).
É indispensável, nesse viés, salientar sobre as adaptações de atividades que a CP Marta
comenta no trecho anterior, afinal, isso está previsto no Estatuto da Pessoa com Deficiência:
Entende-se, por esta razão, que as legislações e os direitos do aluno com deficiência
são considerados intrínsecos ao ensino e à aprendizagem pelas CPs. Foi propiciada, nessa
perspectiva, oficina de atividades adaptadas, mas vale salientar que antes da realização desta,
houve estudos teóricos.
70
Figura 2 – Sugestões de atividades apresentadas pela palestrante para os participantes da formação continuada
Para concluir as discussões desse primeiro momento de formação articulado pelas CPs,
aludimos um comentário da CP Marta referente ao mesmo: Foi essa contribuição que nós
buscamos: o que podemos ao menos tentar começar a fazer mesmo sabendo que nem tudo o
que ela falou é passível de ser feito em sala (CPMTE, 2021).
As formações referentes a tecnologias de informação e comunicação na escola (A
integração escola e família: ética e responsabilidade na internet e; Ensino e aprendizagem na
cibercultura: formação de professores e currículo) foram realizadas pelo Google Meet, no
período da noite. Vale salientar que o primeiro momento foi direcionado aos pais dos alunos da
73
escola Dom Pedro I, todavia, os professores e demais funcionários da mesma, bem como,
professores e famílias da escola Estadual de Nova Ramada foram convidados a participarem.
Já o segundo encontro foi voltado a todos os profissionais da EMEF Dom Pedro I.
A discussão sobre essas formações tem início com um comentário que não é novidade:
a tecnologia está cada vez mais presente no cotidiano dos sujeitos, e o período pandêmico em
que estamos vivendo desde 2020 nos remete ainda mais para esse cenário tecnológico e a
relevância do uso das tecnologias na escola. Apesar dos debates e luta pela presença da
tecnologia na escola, bem como as discussões sobre a ética e a responsabilidade desse espaço
educativo e da família perante o uso das tecnologias serem constantes há bastante tempo, nos
dois últimos anos ela se tornou ainda mais presente.
As instituições de ensino sentiram-se desafiadas, bem como obrigadas a estudar e se
adaptar ao cenário que cada vez mais está sendo tomado pelas tecnologias. Conforme ressalta
o palestrante20, na verdade essa questão da ética e da responsabilidade na internet já vem há
muito tempo [...] Agora com a questão da pandemia e o uso desses recursos isso é ampliado
[...] A questão da tecnologia é um caminho sem volta (P2DB, 2021).
Foram buscadas, diante dessa demanda emergencial, formações que contribuíssem
com esse contexto para os docentes potencializarem as suas práticas pedagógicas e sua
identidade profissional ao encontro da demanda, das necessidades, das novas mudanças e do
ajustamento das políticas educacionais21. O palestrante foi um professor que realizou boa parte
de seu percurso acadêmico na Unijuí, com Mestrado e Doutorado realizados pelo Programa de
Educação nas Ciências da mesma instituição. Nesse sentido, a CP Marta relatou que
Como é bom quando graduandos, quando alguém está fazendo pesquisa pode vir até
a escola. Nós temos a professora Diessica (autora desta dissertação), ela está fazendo
Mestrado na Unijuí na temática da gestão pedagógica. Foi por intermédio dela [...]
ela disse: a Unijuí pode citar alguns nomes de palestrantes e daí ela citou alguns e
entre eles estava o palestrante de hoje. E eu disse: é esse! (CPMBD, 2021).
20
Ao me referir à palestrante desse tópico, em alguns momentos relacionados aos registros realizados no diário de
bordo, utilizarei o código P2.
21
É importante salientar que, tanto a pesquisadora quanto a orientadora desta dissertação auxiliaram na articulação
desses dois momentos, visto que as CPs estavam em busca de palestrantes que abordassem sobre esse assunto.
74
Perante essas formações, a CP Marta comentou que a formação voltada aos pais nós
estamos buscando há muito tempo. Nossa, elas vieram a calhar [...] a fala dele é voltada aos
cuidados que as famílias precisam ter com esse contato abusivo ao acesso das tecnologias, não
só ao celular, mas a televisão (CPMTE). Na perspectiva do palestrante,
[...] é um dos grandes desafios das escolas nos dias de hoje: fazer com que os pais
venham mais à escola, participem mais da escola, vivenciem mais o espaço da escola
e façam que esse espaço seja um espaço vivo, de construção do conhecimento [...]
Geralmente os pais vem para a escola, quase sempre, para ouvir sobre os filhos [...]
ou seja, receber as queixas [...] e nesse caso (o momento de formação) nós estamos
chamando para construir juntos essa educação (P2DB, 2021).
A CP Marta, nesse viés, ressalta que é isso que nós queremos enquanto escola: nos
aproximar das famílias em todos os momentos e não somente nos ruins (CPMDB, 2021).
No primeiro momento de formação, no qual a família, a Escola Estadual de Nova
Ramada e os profissionais da Dom Pedro I participaram, foi comentado como as tecnologias
podem afetar a capacidade criativa dos estudantes, bem como sobre a presença das Fake News
nas redes sociais, sendo esse um fator que atrapalha na aprendizagem e nos conhecimentos dos
sujeitos. O palestrante sugeriu três livros de Fernando Savater para os participantes: Ética para
meu filho; O valor de educar; e, A importância da escolha. Vale salientar que as ideias centrais
de cada um desses livros foram salientadas na formação.
Ao direcionar sua fala aos funcionários da EMEF Dom Pedro I (Ensino e
aprendizagem na cibercultura: formação de professores e currículo), o palestrante pontuou, de
forma interligada, sobre:
− Ensinar e aprender na cibercultura;
− Sociedade pedagógica;
− Lógica das redes;
75
− Cibercultura;
− A computação na EB;
− Pensamento computacional e cultura digital;
− Formação de professores e currículo: Desafios (Novas culturas de aprendizagem;
Aprendizagem permanente; e, Formação de professores em rede).
A finalidade desse momento foi a realização de uma fala, com momentos abertos para
discussão, a qual defende que o professor é pesquisador, mediador e problematizador para a
criação de atividades que potencializem a aprendizagem dos alunos. Na concepção da CP
Marta, a formação tem por objetivo a busca sobre a questão das tecnologias que faz parte [...]
está na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e não tem mais nós querermos voltar atrás.
Isso vai fazer parte do contexto diário do grupo de professores (CPMTE, 2021).
O palestrante, em vista disso, questiona: Quais outros desafios se apresenta à
profissão docente? (P2DB, 2021). Nessa perspectiva, a professora Taís comenta que:
[...] o grupo apoia a ideia, mas por outro lado sempre é levantado a questão das
avaliações externas [...] E a lista de conteúdos acaba recaindo nas avaliações
externas [...] E nós sabemos que quando trabalhamos com projetos interdisciplinares
que envolve diferentes componentes curriculares, nós damos voz aos alunos e eles se
tornam protagonistas. Por outro lado, vem a preocupação dos professores: Mas eu
não consegui passar aquele conteúdo e agora? [...] Então tem os dois lados e também
por parte dos órgãos superiores que não avançam nesse sentido.
Percebe-se, por conta disso, uma preocupação por parte da CP Marta e do grupo, como
a própria menciona, sobre as possibilidades de aprendizagens e também sobre as
legislações/avaliações externas. É evidente, portanto, que para isso é indispensável o estudo
sobre projetos interdisciplinares e situações de estudos para, então, compreender as
potencialidades que o mesmo possibilita na formação humana do aluno.
76
Como a própria CP ressalta, [...] é esse nosso objetivo: crescer juntos e que nossos
alunos possam ter as melhores aprendizagens e, em vista disso, enquanto grupo (de
professores) precisamos ter esses momentos de encontro, momentos em que a gente possa
estudar o que está acontecendo no nosso contexto local, estudar autores e poder fazer essa
interação (CPMDB, 2021).
Finalizadas as descrições, vale ressaltar que o foco não foi relatar as formações, tão
pouco discutir com teóricos essas temáticas tão relevantes para o ensino e os debates realizados
pelos palestrantes. Como salientado logo no início, o foco era descrever, primeiramente, de
forma implícita a atuação das CPs nas formações continuadas. O questionamento, deste modo,
é: Foi possível notar a atuação das mesmas nesses momentos formativos? A atuação das CPs
no decorrer dessas formações está explicada na Figura 4, a seguir.
Figura 4 – Atuação das coordenadoras pedagógicas nas formações continuadas na EMEF Dom Pedro I
qualificação do ensino e da aprendizagem dos discentes. Percebe-se, nesse sentido, que há uma
intencionalidade nos assuntos abordados nas formações continuadas articuladas pelas CPs da
EMEF Dom Pedro I. É relevante, por parte da própria coordenação pedagógica, o
reconhecimento sobre o fato de que esses momentos qualificam a sua própria formação e que a
sua participação por meio de questionamentos, diálogos, atividades e socialização de
experiências e opiniões são fundamentais e enriquecem os debates.
78
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
complexo, afinal, elas acontecem de forma acelerada, e é por este motivo que as formações
continuadas são indispensáveis.
As formações continuadas na escola aprimoram o desenvolvimento profissional dos
docentes. Os professores e as CPs da EMEF Dom Pedro I reconhecem que essas formações são
importantes para seus conhecimentos e saberes pedagógicos, e que precisam estar informados
e preparados para desenvolverem com maestria as suas práticas pedagógicas. Reiteram, além
disso, que as “trocas” de experiências entre os pares também são uma forma de formação na
escola, posto que é na interação com o outro que acontece o aprendizado. Destacamos, todavia,
que não ocorrem trocas de experiências, mas, sim, uma socialização, onde um sujeito pode
aprender com o outro. Percebe-se, deste modo, que há uma variedade de ações que favorecem
o desenvolvimento profissional e que podem acontecer até mesmo em momentos informais,
como é o caso das socializações de práticas que os professores realizam entre si.
As formações “formais” realizadas na escola também são fundamentais, pois agregam
aprendizados nas práticas pedagógicas, uma vez que oportunizam subsídios para que sejam
articuladas ações com as teorias. Isso faz com que os professores possuam aporte teórico para
defenderem suas práticas e concepções relacionadas ao ensino e à aprendizagem. Toda ação
possui uma reação e, portanto, para alcançar bons resultados com os momentos formativos
realizados no ambiente escolar, é necessário compreender que estes qualificarão o ensino e a
aprendizagem somente se estiverem conectados com situações do contexto.
As CPs precisam, portanto, articular a participação dos professores nesses momentos
e instigá-los a participar, a debater, a opinar. Para que isso aconteça, é indispensável salientar
aos docentes a relevância da formação continuada para seu desenvolvimento profissional e suas
práticas pedagógicas. Vale ressaltar que, apesar disso, as CPs, por sua vez, atuaram de forma
notória nas formações, desde a organização até o momento final das discussões. As mesmas
ofereceram palestras e assuntos relevantes relacionados ao contexto da instituição, dialogando,
salientando sobre legislações, enfatizando a importância dos conhecimentos científicos e
propiciando momentos de integração entre os segmentos que compõe o corpo da escola.
Por fim, cabe destacar que aprendi muito no decorrer da produção desta dissertação,
desde sua projeção até a sua (in)conclusão. As produções analisadas, as leituras dos estudos
teóricos que embasam esta pesquisa, o envolvimento dos professores e das CPs, as respostas
desses sujeitos, as formações das quais participei e o contato com os palestrantes das mesmas
não vieram somente a contribuir para este estudo e para mim enquanto pesquisadora, mas
contribuíram, também, para a minha formação enquanto professora, bem como para continuar
a estudar o que defendo: a formação continuada na escola sob a articulação da Coordenação
81
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Questão 1 – Nome.
Questão 2 – Formação.
Questão 3 – Formações complementares.
Questão 4 – Tempo de experiência na Educação Básica.
Questão 5 – Tempo de experiência na coordenação pedagógica.
Questão 6 – Em qual momento ocorre a formação continuada nesta unidade escolar?
Questão 7 – Como ela ocorre?
Questão 8 – Como você planeja e organiza a formação continuada?
Questão 9 – Há quanto tempo você atuou (ou ainda atua) na docência antes de iniciar na função
de professor coordenador?
Questão 10 – O que é ser coordenador pedagógico para você?
Questão 11 – Qual a importância do seu trabalho na escola?
Questão 12 – O que você entende por formação continuada?
Questão 13 – Qual a importância do seu papel para a formação continuada dos professores da
sua escola?
Questão 14 – Com que frequência você participa de projetos, pesquisas e ações de formação
continuada? Qual a importância dessa participação para você? Cite as mais significativas.
Questão 15 – Gostaria de acrescentar algo sobre o seu trabalho?
91
Questão 1 – Nome.
Questão 2 – Formação.
Questão 3 – Formações complementares.
Questão 4 – Tempo de experiência na Educação Básica.
Questão 5 – Como você percebe a atuação do(a) coordenador(a) pedagógico(a) no processo da
formação continuada centrada na escola? Como você definiria essa atuação?
Questão 6 – Considerando o contexto da escola pública quais são ou seriam, para você, os
principais objetivos do trabalho do coordenador(a) pedagógico(a)?
Questão 7 – No contexto educacional atual do país, no qual a formação continuada do
professorado tem sido apontada como importante, e como uma maneira de trazer soluções para
questões que são consideradas problemáticas, em sua concepção, quais os principais papéis
desenvolvidos pelo(a) coordenador(a) pedagógico(a) no espaço escolar?
Questão 8 – Quais as principais implicações e contribuições da formação centrada na escola
para o seu fazer docente?
Questão 9 – Para você, a escola é ou pode ser um espaço de formação de professores? Por quê?
Como?
Questão 10 – O que você acha do fato da formação continuada centrada na escola ser
obrigatória?
Questão 11 – Gostaria de acrescentar algo sobre o seu trabalho?
92
22
O título e os alguns objetivos da pesquisa foram alterados após a submissão ao CEP.
94
aprendizado propiciado pela dissertação. Dessa forma, será possível partir dos resultados da
pesquisa e promover aos sujeitos participantes a respeito da importância da formação
continuada no espaço escolar.
Nessa pesquisa serão incluídos coordenadores pedagógicos e professores da Escola
Municipal de Ensino Fundamental Dom Pedro I, do município de Nova Ramada/RS, que
aceitarem participar ao assinar o Termo de Compromisso Livre Esclarecido. No entanto, serão
critérios de exclusão os sujeitos deste estudo que se negarem a participar da pesquisa, ou que
não tenham assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), assim como
também os coordenadores pedagógicos e professores que não atuam na escola citada
anteriormente.
Nós pesquisadores garantimos que seu anonimato está assegurado e as informações
obtidas serão utilizadas apenas para fins científicos vinculados a este projeto de pesquisa,
podendo você ter acesso as suas informações e realizar qualquer modificação no seu conteúdo,
se julgar necessário. Você tem liberdade para recusar-se a participar da pesquisa, ou desistir
dela a qualquer momento sem que haja constrangimento, podendo você solicitar que as
informações sejam desconsideradas no estudo. Mesmo participando da pesquisa poderá
recusar-se a responder as perguntas ou a quaisquer outros procedimentos que ocasionem
constrangimento de qualquer natureza.
Está garantido que você não terá nenhum tipo de despesa financeira durante o
desenvolvimento da pesquisa, como também, não será disponibilizada nenhuma compensação
financeira.
Eu, Vidica Bianchi, bem como Diessica Michelson Martins, assumimos toda e
qualquer responsabilidade no decorrer da investigação e garantimos que as informações
somente serão utilizadas para esta pesquisa, podendo os resultados vir a ser publicados.
Se houver dúvidas quanto à sua participação poderá pedir esclarecimento a qualquer
um de nós, nos endereços e telefones abaixo:
__________________________
Assinatura do entrevistado
__________________________
Vidica Bianchi
CPF: 368.679.420-91
__________________________
Diessica Michelson Martins
CPF: 032.771.420-43