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Cuidados Paliativos - Ebook - A4
Cuidados Paliativos - Ebook - A4
de Cuidados
Paliativos
Marcço/2022
Expediente
Conteúdo:
Flavio Augusto de Oliveira Serra
Enfermeiro, Especialista em Cuidados Paliativos Pediátricos e
Docência nas Ciências da Saúde
Validação:
Camilla do Rosario Nicolino Chiorino
Enfermeira, Mestre e Doutora em Ciências.
Coordenadora de Ensino na BP
Design / Diagramação:
Danilo Araújo Silva
Biomédico, Especialista em Designer Instrucional.
Analista de EaD na BP
Educação Continuada BP
Sumário
1. Sobre cuidados paliativos ............... 2
2
Cuidados paliativos no brasil
No brasil, somente em 1998 que os cuidados paliativos foram normatizados
como uma prática integrativa ao processo do cuidado.
Em 2001, foi Instituído o Programa Nacional de Humanização da Assistência
Hospitalar que dá subsídios à implementação de serviços de cuidados paliativos
no país, atualizando suas diretrizes em 2018.
Em 2002, inserido no (SUS) o Programa Nacional de Assistência à Dor e
Cuidados Paliativos.
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Princípios Norteadores
Dos Cuidados Paliativos
Os princípios norteadores dos
cuidados paliativos baseiam-se
em:
Promover o alívio da dor e de outros
sintomas;
Considerar a morte como um
processo natural e afirmar a vida;
Não acelerar nem adiar a morte dos
pacientes;
Integrar os aspectos psicológicos,
emocionais e espirituais no cuidado
ao paciente;
Oferecer um sistema de suporte que
possibilite ao paciente viver tão
ativamente quanto possível até o
momento da sua morte;
Realizar o acolhimento aos
familiares com o intuito de auxiliá-
los durante o progresso da doença
do paciente e o processo de luto;
Oferecer abordagem
multiprofissional com foco nas
necessidades dos pacientes e seus
familiares;
Melhorar a qualidade de vida do
paciente e influenciar positivamente
o progresso da doença;
Iniciar os cuidados paliativos o mais
precocemente possível, juntamente
com outras medidas de
prolongamento da vida, ou seja,
tratamentos curativos como
quimioterapia e radioterapia, e
incluir todas as investigações
necessárias para melhor
compreender e controlar situações
clínicas estressantes.
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Quando iniciar a proposta de cuidados paliativos:
Os cuidados paliativos devem ser propostos para o paciente e família o mais
precoce possível, diante o diagnóstico de uma doença ameaçadora da vida ou
incurável, este tipo de abordagem expande a ideia de cuidados paliativos, e
não limita a um pensamento antigo e estigmatizado de que os cuidados
paliativos só devem ser propostos á pacientes em estado de terminalidade.
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Sinais de alerta para maior proposta de Cuidados Paliativos
Internação prolongada – maior que 2 semanas
3 ou mais internações em UTI recentemente
Suporte de ventilação mecânica persistente
Falência de orgãos ou critérios de gravidade da doença
População com alta Morbidade ou Mortalidade
Lesão neurológica grave
Substituição renal contínua – (CRRT)
Oxigenação por membrana corpórea – (ECMO)
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Objetivos de Cuidados e Planos terapêuticos
O plano terapêutico, tem como objetivo principal Alinhar a proporcionalidade
de medidas invasivas sob um olhar ético com foco no conforto do paciente, do
que seria um tratamento benéfico, evitando medidas fúteis que não modificam o
curso da doença ameaçadora a vida, trazendo assim sofrimento desnecessário.
Entender a evolução natural da doença, o contexto social do paciente e as
condições clínicas atuais, possibilita traçar planos terapêuticos mais assertivos
com base em 4 parâmetros segundo (FORTE; KAWAI; COHEN, 2018):
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Manejo efetivo dos Sintomas
Manejo da Dor
Podemos definir a dor, segundo a OMS como: “Uma experiência
multidimensional, desagradável, envolvendo não só um componente sensorial
mas também um componente emocional e que se associa a uma lesão tecidular
concreta ou potencial, ou é descrita em função dessa lesão.”
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Cronica: dor persistente, com duração maior que 3 meses ou duração superior
ao esperado para um determinado estímulo.
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Como aferir a Dor?
Afim de um reconhecimento sistematizado e mais acertivo quanto qual a
intensidade de dor, devemos aplicar escalas de avaliação de dor que
rapidamente irão trazer um reconhecimento de quais terapeuticas necessito
aplicar para manejar a dor, bem como qual droga pode ser usada e dosagem.
São alguns exemplos de escalas internacionais de avaliação de dor:
Categórica Numérica
(Alfabetizados)
PAINAD / ADDA
(Demências/ Alterações Cognitivas)
Categórica Numérica
Paciente adulto ou criança alfabetizada (reconhecer a magnitude da sequência
numeral). Estar consciente, orientado e com boa capacidade cognitiva para
referir sua dor numa escala de 0 a 10.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Dor
Sem dor Dor leve Dor intensa
moderada
10
Escala Visual analógica
Pessoas que não entendam outras escalas e crianças acima de 7 anos.
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Escala Comportamental (Adultos Sedados)
Utilizada para classificar pacientes com demência ou alterações cognitivas.
Vocalização/Queixas
Nenhuma
Queixas ocasionais ou gemidos, resmungos
Incomodado, chorando alto, gemidos
Expressão facial
Sorrindo ou inexpressivo
Triste, assustado
Fazendo caretas
Linguagem corporal
Relaxado
Tenso, aflito, agitado
Rígido, punhos cerrados, empurrando joelho, agressivo, repelindo algo ou alguém
Consolo
Nenhuma necessidade de consolo
Distraído ou tranquilizado por voz ou toque
Incapacidade, não se distrai ou tranquiliza
Medidas Farmacológicas:
Para a escolha mais assertiva de droga a ser utilizada devemos usar a escada
de avaliação de dor, dessa forma medicamos mais assertivamente o paciente,
evitando medidas farmacológicas não efetivas.
Além da escada, considerar o uso de antidepressivos, anticonvulsivantes,
corticoide e radioterapia, como tratamento adjuvantes.
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Escada de medicação e analgesia Escada de medicação e analgesia
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Uso De Morfina - Controle da Dor
Intensa
Quando o paciente faz Uso De Morfina
para o Controle da Dor Intensa, os
profissionais que não tem muita
experiência com a morfina podem ficar
com receio da administração do fármaco,
mesmo a morfina sendo a droga mais
utilizada para controle da dor intensa.
Os profissionais devem lembrar que o
efeito da droga é de analgesia e não
sedação. Por este fato não existe dose
máxima de prescrição, normalmente a
dose é titulada conforme o paciente
apresenta efeitos colaterais intoleráveis.
Devido o tempo de metabolização e
concentração plasmática efetiva
normalmente deve ser prescrita de 4/4
horas, mesmo assim o paciente pode fazer
uso de doses de resgate, neste caso é
Importante relatar a equipe médica caso
o paciente esteja fazendo uso de muitos
resgates durante o dia para ajuste de
dose fixa.
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Outra recomendação é Preferir
administrar medicações por via
oral, devido o tempo de
metabolização e forma de
biodisponibilidade e efeito pico
vale é mais difícil de ocorrer. Após
administração oral, o pico de
concentração plasmática é
atingido em aproximadamente
após 60 minutos. A alimentação
não altera a biodisponibilidade da
morfina. Esta recomendação é
Concentração plasmática em relação a via de denominada como Pela Boca.
administração O efeito pico vale refere-se á falta
e cobertura de concentração
plasmática de droga adequada,
após a droga atingir sua
concentração máxima (pico), no
momento em que a droga
apresenta uma concentração
plasmática mínima disposta na
corrente sanguínea do paciente, o
mesmo pode experimentar dor,
medicações por via oral e
subcutânea, apresentam um tempo
de absorção da droga mais
demorado, por este motivo é
preferível utilizar esta via de
administração em relação á via
endovenosa, onde o pico de
concentração plasmática é
atingido mais rapidamente.
Na maioria dos casos, a dor é
controlada com doses de 10mg a
30mg, de 4/4 horas, devendo ser
aumentada gradativamente, sendo
Efeito Pico Vale que a dose noturna pode ser
dobrada a fim de evitar dor ao
despertar.
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Medidas não Farmacológicas
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Manejo da Dispneia
Segundo a American Thoracic Society a dispneia pode ser
defina como: “Um termo usado para caracterizar a
experiência subjetiva de desconforto respiratório que consiste
de sensações qualitativamente distintas, variáveis em sua
intensidade. A experiência deriva de interações entre múltiplos
fatores fisiológicos, psicológicos, sociais e ambientais podendo
induzir respostas comportamentais e fisiológicas secundárias.”
Quanto a avaliaçao inicial da dispnéia, podemos
identificar as caracteristicas quanto a:
Frequência respiratória
Esforço respiratório
Nível de saturação
Fatores de melhora e piora
de dispneia
Avaliar se as medidas que
vem sendo aplicadas estão
sendo efetivas
Nível de compreensão do
paciente e da família na
falta de ar e seu impacto na
qualidade de vida do
paciente
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Entender qual o Motivo da Dispneia
Congestão
Derrame pleural
Anemia
Broncoespasmo
Ansiedade
Dor
Infecção Respiratória
Obstrução de Vias Aéreas Superiores
TEP
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Qual o tratamento mais adequado para dispneia
Uso de opioides
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Medidas não Farmacológicas
Assim como no manejo da dor, as medidas não farmacológicas, complementam
a prática das medidas farmacológica, para alívio da dispneia, podemos:
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Manejo da Hipersecreção Respiratória
A hipersecreção respiratória
normalmente ocorre pelo acumulo de
secreções, na cavidade oral nos últimos
dias de vida, devido aos problemas de
deglutição, redução da motilidade e
dismotilidade ciliar.
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Medidas Não Farmacológicas Hipersecreção Respiratória
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Manejo De Náusea E Vômito
Para o manejo correto de náuseas e vômito, a avaliação inicial e a
investigação dos fatores pre disponentes da náusea pode ajudar os
profissionais a intervir na causa base.
Na avaliação inicial podemos investigar:
Intensidade, frequência, volume e duração;
Motilidade intestinal
Medicações que possam exacerbar sintoma de náuseas
Sinais de desidratação
Resposta de náuseas e vômitos estimulados por alterações do SNC.
Alterações na avaliação física abdominal
Alterações de débito urinário e marcadores de função renal
Alterações glicêmicas
Alterações de marcadores hepáticos e pancreáticos
Alterações no RX de abdome agudo obstrutivo
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Manejo Farmacológico
Associar mais de um antiemético.
Evitar a administração de Metoclopramida junto á Escopolamina, devido o
fato que a associação das duas medicações reduz o efeito dos procinéticos
( Metoclopramida)
Evitar altas doses de Metoclopramida devido o risco de síndrome
extrapiramidal
Escolha da melhor via de administração ex: a via oral pode não ser
disponível devido aos vômitos ou por estase gástrica.
Ficar atento aos sinais de desidratação e hipocalemia, evitar o uso de AINES,
iECA e diuréticos.
Ficar atento a regurgitação, risco de broncoaspiração e nesses casos, o
antiemético não aliviará a regurgitação, porém, poderá auxiliar se houver
náusea associada.
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Comunicação Efetiva
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Cuidados No Fim De Vida
Planejamento avançados de cuidados:
Conforme o avanço da doença, com as possibilidades de cura escassas, o
planejamento de cuidados avançados, permite que o paciente e equipe de
saúde definam os cuidados futuros, levando em consideração desejos e valores
pessoais do paciente, e as melhores práticas de saúde com base no
conhecimento ético científico no que tange o campo da benevolência e não
maleficência.
Esta abordagem permite que mesmo com a evolução da doença a autonomia
do paciente seja respeitada, e o processo de morte esteja norteado pelos
princípios da ortotanásia, evitando um prolongamento do sofrimento humano
(distanásia), tão pouco o encurtamento da vida através da eutanásia ativa.
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Limitação terapêutica
Quando pensamo em limitação terapêutica entre os manejos no final de vida
remetemos a imaginar a não reanimação cardiopulmonar, mas será que
somente esta ação está relacionada a limitação terapêutica? Evitar terapia fútil
como coleta diária de amostra de sangue para exames laboratoriais
(procedimento recorrente em UTI), manter o paciente em monitorização
contínua com alarmes não ajustados para o momento de sua apresentação
clínica, aspiração contínua de vias aérea mesmo quando o paciente não
apresenta sinais de necessidade de aspiração, processos estes que podem ser
dolorosos e que não irá modificar o curso da evolução da doença.
O Foco no tratamento deve ser amplo, que vise a qualidade de vida do
paciente onde a equipe deve propor medidas de conforto, manejo efetivo dos
sintomas, comunicação adequada com os familiares, resgatando o conceito que
o tratamento holístico da dor, como citado anteriormente deve ser físico,
psicológico, social e espiritual, importante salientar o espaço para que o
paciente e os familiares possam dar vazão para a espiritualidade, não é
incomum as equipes de cuidados paliativos contarem com o apoio de um
capelão, o capelão pode auxiliar no encontro ecumênico. A espiritualidade
ajuda ao paciente e família a significar a vida.
Publicado em 2006, pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) a resolução
1.805, tratando sobre: “É permitido ao médico limitar ou suspender
procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente em fase
terminal, de enfermidade grave e incurável, respeitada a vontade da pessoa ou
de seu representante legal” (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2006),
possibilitando portanto a realização da ortotanásia em todo território nacional,
respaldada legalmente.
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Referências Bibliográficas
1. Matsumoto DY. Cuidados paliativos: conceito, fundamentos e princípios. In: Manual de
cuidados paliativos. Academia Nacional de Cuidados Paliativos – ANCP. Rio de Janeiroi:
Diagraphic, 2009.
2. Brito PCC, Sobreiro IM, von Atzingen DANC, Silva JV, Mendonça ARA. Reflexões sobre a
terminalidade da vida com acadêmicos de Medicina. Rev Bras Educ Med . 2020;44(1):e033.
4. Toledo AP, Priolli DG. Cuidados no fim da vida: o ensino médico no Brasil. Rev Bras Educ Med .
2012;36(1):109-17.
5. Santos AFJ, Ferreira EAL, Guirro UBP. Atlas dos cuidados paliativos no Brasil 2019. São Paulo:
ANCP; 2020.
6. Prieto, J., Atala, J., Blanch, J., Carreras, E., Rovira, M., Cirera, E., Espinal, A. and Gasto, C.
(2005). Role of Depression As a Predictor of Mortality Among Cancer Patients After Stem-Cell
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Mechanisms, Assessment, and Management of Dyspnea. Am J Respir Crit Care Med. [Internet];
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8. Ferreira, G. D. and Mendonça, G. N. (2017). Cuidados Paliativos: Guia de Bolso. 1st ed. São
Paulo: ANCP, pp.5-62.
9. FORTE, D. N.; KAWAI, F.; COHEN, C. A bioethical framework to guide the decision-making
process in the care of seriously ill patients. BMC Medical Ethics, v. 19, n. 1, p. 1–8, 2018.
Educação Continuada BP
BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo
R. Maestro Cardim, 769 - Bela Vista, São Paulo - SP, 01323-001
Responsável Técnico: Renato José Vieira – CRM 100.594 SP
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