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Conceitos Gerais

de Cuidados
Paliativos

Marcço/2022
Expediente
Conteúdo:
Flavio Augusto de Oliveira Serra
Enfermeiro, Especialista em Cuidados Paliativos Pediátricos e
Docência nas Ciências da Saúde

Validação:
Camilla do Rosario Nicolino Chiorino
Enfermeira, Mestre e Doutora em Ciências.
Coordenadora de Ensino na BP

Design / Diagramação:
Danilo Araújo Silva
Biomédico, Especialista em Designer Instrucional.
Analista de EaD na BP

Educação Continuada BP
Sumário
1. Sobre cuidados paliativos ............... 2

2. Princípios Norteadores Dos


Cuidados Paliativos ................................ 4

3. Manejo efetivo dos Sintomas ......... 8

4. Cuidados No Fim De Vida ............. 26

5. Referências Bibliográficas ............ 38


Sobre cuidados paliativos:
Os cuidados paliativos tem sua origem na antiguidade com as práticas ainda
que empíricas de cuidar. Na idade média, os monastérios mantinham
hospedarias (hospices), que abrigavam pessoas em estado de terminalidade,
famintos, pobres, órfãos, mulheres em trabalho de parto e pessoas portadoras de
hanseníase (antigamente chamados pejorativamente de leprosos). A intenção
do abrigo era conforto dos sintomas e não necessariamente a cura do indivíduo.

Proteger, esse é o significado de paliar, derivado do latim "pallium", termo que


nomeia o manto que os cavaleiros usavam para se proteger das tempestades
pelos caminhos que percorriam. Proteger alguém é uma forma de cuidado,
tendo como objetivo amenizar a dor e o sofrimento, sejam eles de origem física,
psicológica, social ou espiritual.

Segundo a (OMS 2017), cuidados paliativos é “uma abordagem que melhora a


qualidade de vida de pacientes (adultos e crianças) e suas famílias, que
enfrentam problemas associados a doenças que ameaçam a vida. Previne e
alivia o sofrimento, através da identificação precoce, avaliação correta e
tratamento da dor e de outros problemas físicos, psicossociais ou espirituais”.

2
Cuidados paliativos no brasil
No brasil, somente em 1998 que os cuidados paliativos foram normatizados
como uma prática integrativa ao processo do cuidado.
Em 2001, foi Instituído o Programa Nacional de Humanização da Assistência
Hospitalar que dá subsídios à implementação de serviços de cuidados paliativos
no país, atualizando suas diretrizes em 2018.
Em 2002, inserido no (SUS) o Programa Nacional de Assistência à Dor e
Cuidados Paliativos.

Os Cuidados Paliativos Moderno:


Uma das grandes idealizadoras dos cuidados paliativos
moderno foi sem dúvidas Cicely Saunders.
Nascida em 22 de junho de 1918, na Inglaterra, dedicou
sua vida ao alívio do sofrimento humano.
Ela graduou-se como enfermeira, depois como
assistente social e como médica.
Escreveu muitos artigos e livros que até hoje servem de
inspiração e guia para paliativistas no mundo todo.
Em 1967, ela fundou o St. Christopher´s Hospice, o
primeiro serviço hospitalar a oferecer cuidado integral
ao paciente, desde o controle de sintomas, alívio da dor
e do sofrimento psicológico.
Até hoje, o St. Christopher´s é um hospital reconhecido
como um dos principais serviços no mundo em Cuidados
Paliativos e Medicina Paliativa.
Cicely Saunders – 1918 - 2005
St. Christopher´s Hospice

“O sofrimento Humano só é intolerável


quando ninguém cuida.”

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Princípios Norteadores
Dos Cuidados Paliativos
Os princípios norteadores dos
cuidados paliativos baseiam-se
em:
Promover o alívio da dor e de outros
sintomas;
Considerar a morte como um
processo natural e afirmar a vida;
Não acelerar nem adiar a morte dos
pacientes;
Integrar os aspectos psicológicos,
emocionais e espirituais no cuidado
ao paciente;
Oferecer um sistema de suporte que
possibilite ao paciente viver tão
ativamente quanto possível até o
momento da sua morte;
Realizar o acolhimento aos
familiares com o intuito de auxiliá-
los durante o progresso da doença
do paciente e o processo de luto;
Oferecer abordagem
multiprofissional com foco nas
necessidades dos pacientes e seus
familiares;
Melhorar a qualidade de vida do
paciente e influenciar positivamente
o progresso da doença;
Iniciar os cuidados paliativos o mais
precocemente possível, juntamente
com outras medidas de
prolongamento da vida, ou seja,
tratamentos curativos como
quimioterapia e radioterapia, e
incluir todas as investigações
necessárias para melhor
compreender e controlar situações
clínicas estressantes.
4
Quando iniciar a proposta de cuidados paliativos:
Os cuidados paliativos devem ser propostos para o paciente e família o mais
precoce possível, diante o diagnóstico de uma doença ameaçadora da vida ou
incurável, este tipo de abordagem expande a ideia de cuidados paliativos, e
não limita a um pensamento antigo e estigmatizado de que os cuidados
paliativos só devem ser propostos á pacientes em estado de terminalidade.

A aplicação de cuidados paliativo desde o momento do diagnóstico, possibilita


a equipe multidisciplinar entender e traçar cuidados propostos gradualmente á
evolução da doença, a priori, por exemplo, uma abordagem voltada a acolher e
orientar os familiares e paciente, posteriormente o manejo correto dos sintomas
e diminuição do sofrimento decorrente da evolução da doença, onde os
cuidados paliativos são propostos em maior intensidade do que o tratamento
curativo, principalmente no acompanhamento da terminalidade, na construção
e significação do processo de luto dos familiares.

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Sinais de alerta para maior proposta de Cuidados Paliativos
Internação prolongada – maior que 2 semanas
3 ou mais internações em UTI recentemente
Suporte de ventilação mecânica persistente
Falência de orgãos ou critérios de gravidade da doença
População com alta Morbidade ou Mortalidade
Lesão neurológica grave
Substituição renal contínua – (CRRT)
Oxigenação por membrana corpórea – (ECMO)

Sinais de alerta para maior proposta de Cuidados Paliativos

Uma vez que foi estabelecido cuidados


paliativos para um determinado paciente, deve-
se traçar um plano de cuidados, a fim de nortear
o tratamento, importante lembrar que o
tratamento paliativo não substitui o tratamento
curativo, as duas abordagens acontecem
simultaneamente, como já demonstrado
anteriormente. Para tanto a abordagem
paliativa se ancora em alguns pilares
fundamentais para sua construção:
Definição de Objetivos de cuidados
Técnica de Comunicação Adequada
Manejo Efetivo dos Sintomas
Diretivas de antecipadas de cuidados
Manejo Efetivo no final de vida

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Objetivos de Cuidados e Planos terapêuticos
O plano terapêutico, tem como objetivo principal Alinhar a proporcionalidade
de medidas invasivas sob um olhar ético com foco no conforto do paciente, do
que seria um tratamento benéfico, evitando medidas fúteis que não modificam o
curso da doença ameaçadora a vida, trazendo assim sofrimento desnecessário.
Entender a evolução natural da doença, o contexto social do paciente e as
condições clínicas atuais, possibilita traçar planos terapêuticos mais assertivos
com base em 4 parâmetros segundo (FORTE; KAWAI; COHEN, 2018):

1. Foco na doença – o objetivo é levantar informações acuradas, estimativas


de prognóstico, redução de risco, risco relativo de tratamentos;
2. Foco na pessoa – através de comunicação empática aprender sobre os
valores do paciente e o que sofrimento significa para ele. A ênfase é na
escuta ativa;
3. Foco na equipe de saúde – fomentar o trabalho em equipe, compartilhar as
informações sobre a doença e os valores do paciente, conversar em equipe
o que seria aceitável, recomendado, potencialmente inapropriado e fútil;
4. Foco na relação entre o profissional de saúde e o paciente com o objetivo
de tomada de decisão compartilhada para o melhor e o pior cenário.

Assim a equipe multidisciplinar alinha as metas do plano de cuidados propondo


medidas com terapia medicamentosa e não medicamentosa.

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Manejo efetivo dos Sintomas
Manejo da Dor
Podemos definir a dor, segundo a OMS como: “Uma experiência
multidimensional, desagradável, envolvendo não só um componente sensorial
mas também um componente emocional e que se associa a uma lesão tecidular
concreta ou potencial, ou é descrita em função dessa lesão.”

A avaliação inicial da dor, podemos identificar as características da dor do


paciente quanto a: intensidade, topografia/lado/região, irradiação, início da
dor, se dor crônica, se dor aguda, frequência e manifestação tipo: cólica,
aperto, choque, queimação, fisgada, pressão, ardência e etc. Devemos ainda
valorizar aspectos emocionais, como depressão, luto, raiva, ansiedade e
explicar ao paciente e familiares a causa da dor e o plano de tratamento.

O conceito de dor em cuidados paliativos tem um caráter mais abrangente,


trabalhamos com a ideia que a dor não é somente física, mas a dor pode ser
oriunda de aspectos: psicológicos, espirituais ou sociais.
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Quanto a duração, a dor pode ser:

Aguda: tem duração curta e desaparece com a recuperação da lesão.

Cronica: dor persistente, com duração maior que 3 meses ou duração superior
ao esperado para um determinado estímulo.

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Como aferir a Dor?
Afim de um reconhecimento sistematizado e mais acertivo quanto qual a
intensidade de dor, devemos aplicar escalas de avaliação de dor que
rapidamente irão trazer um reconhecimento de quais terapeuticas necessito
aplicar para manejar a dor, bem como qual droga pode ser usada e dosagem.
São alguns exemplos de escalas internacionais de avaliação de dor:

Escalas de Avaliação da Dor

Categórica Numérica
(Alfabetizados)

Faces (Escala Visual Analógica)


(Alfabetizados)

Comportamental (Adultos sedados)


(Adultos Sedados)

PAINAD / ADDA
(Demências/ Alterações Cognitivas)

Categórica Numérica
Paciente adulto ou criança alfabetizada (reconhecer a magnitude da sequência
numeral). Estar consciente, orientado e com boa capacidade cognitiva para
referir sua dor numa escala de 0 a 10.

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Dor
Sem dor Dor leve Dor intensa
moderada

10
Escala Visual analógica
Pessoas que não entendam outras escalas e crianças acima de 7 anos.

Escala Comportamental (Adultos Sedados)


Utilizada para pacientes adultos sedados e entubados sob ventilação mecânica,
ou seja, incapazes de se comunicar.

Escala comportamental de dor (adultos sedados)


Expressão facial
Relaxado
Parcialmente contraída (ex.: testa franzida)
Totalmente contraída (ex.: pálpebras firmemente fechadas)
Semblante fechado ou com careta

Movimento dos membros superiores


Sem movimento
Parcialmente curvados ou inclinados
Totalmente curvado com flexão do dedos
Permanentemente retraído

Submissão à ventilação mecânica


Boa tolerância à ventilação mecânica
Tossindo mas tolerando ventilação a maior parte do tempo
"Lutando" com o ventilador (assincronia)
Incapacidade de controlar ventilação

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Escala Comportamental (Adultos Sedados)
Utilizada para classificar pacientes com demência ou alterações cognitivas.

Escala comportamental de dor (adultos sedados)


Respiração independente de vocalização
Normal
Ocasional, forçada (não natural), curto período de hiperventilação
Difícil e superficial, longo período de hiperventilação, Cheyne-Stokes

Vocalização/Queixas
Nenhuma
Queixas ocasionais ou gemidos, resmungos
Incomodado, chorando alto, gemidos

Expressão facial
Sorrindo ou inexpressivo
Triste, assustado
Fazendo caretas

Linguagem corporal
Relaxado
Tenso, aflito, agitado
Rígido, punhos cerrados, empurrando joelho, agressivo, repelindo algo ou alguém

Consolo
Nenhuma necessidade de consolo
Distraído ou tranquilizado por voz ou toque
Incapacidade, não se distrai ou tranquiliza

Medidas de manejo da dor:


O manejo da dor deve ser adequado ao tipo de doença tratada Ex: uso de
medicamentos adjuvantes – uso de anticonvulsivantes para controle da dor
neuropática. Tratar os efeitos colaterais do uso de medicações opioides Ex: Anti
eméticos, Laxativos, dietas laxativas. Atenção ao paciente que nunca utilizou
opiódes ou que utilizam de maneira crônica, dosagens mais elevadas

Medidas Farmacológicas:
Para a escolha mais assertiva de droga a ser utilizada devemos usar a escada
de avaliação de dor, dessa forma medicamos mais assertivamente o paciente,
evitando medidas farmacológicas não efetivas.
Além da escada, considerar o uso de antidepressivos, anticonvulsivantes,
corticoide e radioterapia, como tratamento adjuvantes.

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Escada de medicação e analgesia Escada de medicação e analgesia

Outro conceito importante é o tempo de metabolização das drogas, os


fármacos devem ser prescritos e administrados em horários fixos, para se manter
uma cobertura plasmática adequada da droga, e caso o paciente venha a
referir episódios esporádicos de dor, deve-se administrar as drogas de
cobertura “Se Necessário”. Esta é uma recomendação da OMS para o manejo
da dor, segundo o preceito de medicações ajustadas Pelo Relógio.

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Uso De Morfina - Controle da Dor
Intensa
Quando o paciente faz Uso De Morfina
para o Controle da Dor Intensa, os
profissionais que não tem muita
experiência com a morfina podem ficar
com receio da administração do fármaco,
mesmo a morfina sendo a droga mais
utilizada para controle da dor intensa.
Os profissionais devem lembrar que o
efeito da droga é de analgesia e não
sedação. Por este fato não existe dose
máxima de prescrição, normalmente a
dose é titulada conforme o paciente
apresenta efeitos colaterais intoleráveis.
Devido o tempo de metabolização e
concentração plasmática efetiva
normalmente deve ser prescrita de 4/4
horas, mesmo assim o paciente pode fazer
uso de doses de resgate, neste caso é
Importante relatar a equipe médica caso
o paciente esteja fazendo uso de muitos
resgates durante o dia para ajuste de
dose fixa.

Medicações equivalentes com potencial mais


elevado de analgesia:
Metadona – 5 a 10 x mais potente que a morfina.
Oxicodona – 2 x mais potente que a morfina.

As medicações podem ser prescritas


conforme características individuais dos
pacientes, o que pode mudar a
terapêutica tradicional. Ex: Hepatopatias,
Nefropatas, Idosos, Uso crônico de
opioides, Virgens de Opioides, este é um
preceito da OMS que visa a
individualização

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Outra recomendação é Preferir
administrar medicações por via
oral, devido o tempo de
metabolização e forma de
biodisponibilidade e efeito pico
vale é mais difícil de ocorrer. Após
administração oral, o pico de
concentração plasmática é
atingido em aproximadamente
após 60 minutos. A alimentação
não altera a biodisponibilidade da
morfina. Esta recomendação é
Concentração plasmática em relação a via de denominada como Pela Boca.
administração O efeito pico vale refere-se á falta
e cobertura de concentração
plasmática de droga adequada,
após a droga atingir sua
concentração máxima (pico), no
momento em que a droga
apresenta uma concentração
plasmática mínima disposta na
corrente sanguínea do paciente, o
mesmo pode experimentar dor,
medicações por via oral e
subcutânea, apresentam um tempo
de absorção da droga mais
demorado, por este motivo é
preferível utilizar esta via de
administração em relação á via
endovenosa, onde o pico de
concentração plasmática é
atingido mais rapidamente.
Na maioria dos casos, a dor é
controlada com doses de 10mg a
30mg, de 4/4 horas, devendo ser
aumentada gradativamente, sendo
Efeito Pico Vale que a dose noturna pode ser
dobrada a fim de evitar dor ao
despertar.

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Medidas não Farmacológicas

As medidas farmacológicas e não farmacológicas podem ser utilizadas juntas. A


equipe multiprofissional pode dispor de outros recursos como:

Aplicação de calor e frio


Massagem
Medidas de conforto ambiental
Mudança de decúbito
Técnica de relaxamento
Deambulação
Diminuição de ruídos ambientais
Banho para relaxar
Posicionamento no leito
Diminuição de luminosidade
Estimulação elétrica transcutânea
Aplicação de laserterapia
Acupuntura

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Manejo da Dispneia
Segundo a American Thoracic Society a dispneia pode ser
defina como: “Um termo usado para caracterizar a
experiência subjetiva de desconforto respiratório que consiste
de sensações qualitativamente distintas, variáveis em sua
intensidade. A experiência deriva de interações entre múltiplos
fatores fisiológicos, psicológicos, sociais e ambientais podendo
induzir respostas comportamentais e fisiológicas secundárias.”
Quanto a avaliaçao inicial da dispnéia, podemos
identificar as caracteristicas quanto a:

Frequência respiratória
Esforço respiratório
Nível de saturação
Fatores de melhora e piora
de dispneia
Avaliar se as medidas que
vem sendo aplicadas estão
sendo efetivas
Nível de compreensão do
paciente e da família na
falta de ar e seu impacto na
qualidade de vida do
paciente

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Entender qual o Motivo da Dispneia

No manejo da dispneia devemos entender a causa base da dispneia no sentido


de resolver ou melhorar estas condições.

Agravos de saúde condicionantes á dispneia:

Congestão
Derrame pleural
Anemia
Broncoespasmo
Ansiedade
Dor
Infecção Respiratória
Obstrução de Vias Aéreas Superiores
TEP

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Qual o tratamento mais adequado para dispneia

Determinar o objetivo do cuidado:


Se o objetivo for prolongar a vida independente da qualidade de vida (não
frequente) pode-se optar pela intubação oro-traqueal.
Se o objetivo for priorizar o conforto em detrimento ao prolongamento da vida,
podemos propor cuidados farmacológicos e não farmacológicos
prioritariamente antes de medidas invasivas como a intubação oro traqueal.

Medidas farmacológicas para o controle da dispnéia

Oxigênio suplementar se saturação abaixo de 92 %.

Uso de opioides

A Morfina é o agentes mais utilizados no controle da dispneia, por reduzir a


sensação subjetiva de falta de ar, pode ser usado em crises agudas ou controle
dos sintomas em fase crônica, a dose inicial em fase cronica varia de 1-5 mg,
por via SC ou EV repetido a cada 15 á 30 minutos, após o controle, pode ser
usada em manutenção de 4/4 horas.
Os Diuréticos podem ser utilizados no intuito de se manter o balanço hídrico
negativo, balanços hídricos positivos, podem levar o paciente a ter um aumento
do desconforto respiratório. Furosemida – dose mg/kg.
Já os Benzodiazepínicos controlam a ansiedade do paciente que pode estar
relacionado ao aumento do esforço respiratório. Midazolam – 1 a 1,5mg EV ou
SC, Alprazolan – 0,5 a 1mg VO, Repetido a cada 30 min, Diazepan – 2 a 10 mg a
noite.

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Medidas não Farmacológicas
Assim como no manejo da dor, as medidas não farmacológicas, complementam
a prática das medidas farmacológica, para alívio da dispneia, podemos:

Manter local arejado, com bom fluxo de ar;


Melhorar padrão respiratório através de melhor posicionamento no leito,
manter posição confortável;
Manter fonte de oxigênio ou ventilação próximo ao rosto (ativação de
neuroreceptores na face que modulam a percepção da dispneia);
Evitar esforços que induzem a dispneia;
Acupuntura em parede torácica;
Estimulação elétrica neuromuscular com vibração da parede torácica

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Manejo da Hipersecreção Respiratória
A hipersecreção respiratória
normalmente ocorre pelo acumulo de
secreções, na cavidade oral nos últimos
dias de vida, devido aos problemas de
deglutição, redução da motilidade e
dismotilidade ciliar.

Medidas Farmacológicas de Hipersecreção Respiratória


Pode-se conseguir a redução da hipersecreção de vias aéreas superiores,
através do uso de alguns medicamentos como por exemplo:

Anticolinérgicos como Butilbrometo de Escopolamina (Hioscina): 10-20mg


até 4X/dia SC ou IV quando necessário (max. 120mg/dia).

Colírio de Atropina: 2 gotas na cavidade oral a cada 6-12h (conforme


resposta)

Alguns sedativos com maior efeito anticolinérgico pode auxiliar na


diminuição da secreção, mais indicado em processo de terminalidade do
que o haloperidol.

Clorpromazina – Dose conforme Mg/Kg.

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Medidas Não Farmacológicas Hipersecreção Respiratória

Do ponto de vista não farmacológico, podemos trazer conforto ao paciente,


com o melhor posicionamento no leito, para facilitar a drenagem de secreções,
assim como aspiração de vias aéreas superiores, o acumulo de secreções,
promove uma respiração ruidosa: (sororoca), o que pode ser muito angustiante
para a família.

Algumas medidas que melhoram a hipersecreção:


Manter o decúbito elevado.
Reposicionar o paciente de 3 em 3 horas, para mobilizar a secreção.
Intensificar a higiene oral, fim de diminuir a quantidade de secreção em
cavidade oral.
Realizar com cautela e cuidado a aspiração de cavidade oral para não
lesionar mucosa do paciente,
Realizar a aspiração das vias aéreas superiores com cautela, pode causar
lesão na mucosa nasal e trazer desconforto ao paciente.

22
Manejo De Náusea E Vômito
Para o manejo correto de náuseas e vômito, a avaliação inicial e a
investigação dos fatores pre disponentes da náusea pode ajudar os
profissionais a intervir na causa base.
Na avaliação inicial podemos investigar:
Intensidade, frequência, volume e duração;
Motilidade intestinal
Medicações que possam exacerbar sintoma de náuseas
Sinais de desidratação
Resposta de náuseas e vômitos estimulados por alterações do SNC.
Alterações na avaliação física abdominal
Alterações de débito urinário e marcadores de função renal
Alterações glicêmicas
Alterações de marcadores hepáticos e pancreáticos
Alterações no RX de abdome agudo obstrutivo

Manejo De Náusea E Vômito

Ofertar ao paciente pequenas refeições em intervalos curtos;


O local de refeição deve ser calmo e arejado;
Respeitar a tolerância da quantidade de aceitação do paciente, não forçar
a se alimentar;
Verificar quais alimentos o paciente tem preferencia;
Estimular que o paciente não repouse logo após a refeição. Se possível faça
um pequeno percurso caminhando;
Se acamado, manter a cabeceira da cama elevada por uma ou duas horas
após refeição;
Verificar a temperatura antes de ofertar ao paciente, preferindo alimentos à
temperatura ambiente ou frios;
Não ofertar líquidos em excesso durante as refeições (minimiza a pressão no
estômago e refluxo);

23
Manejo Farmacológico
Associar mais de um antiemético.
Evitar a administração de Metoclopramida junto á Escopolamina, devido o
fato que a associação das duas medicações reduz o efeito dos procinéticos
( Metoclopramida)
Evitar altas doses de Metoclopramida devido o risco de síndrome
extrapiramidal
Escolha da melhor via de administração ex: a via oral pode não ser
disponível devido aos vômitos ou por estase gástrica.
Ficar atento aos sinais de desidratação e hipocalemia, evitar o uso de AINES,
iECA e diuréticos.
Ficar atento a regurgitação, risco de broncoaspiração e nesses casos, o
antiemético não aliviará a regurgitação, porém, poderá auxiliar se houver
náusea associada.

Ferreira, G. D. and Mendonça, G. N. (2017). Cuidados


Paliativos: Guia de Bolso. 1st ed. São Paulo: ANCP, pp.5-62.

24
Comunicação Efetiva

Procurar melhora na comunicação em saúde é também uma busca por maior


excelência no desenvolvimento da assistência em saúde, quando os profissionais
de saúde explicam o que está sendo feito, e qual a proposta terapêutica, a
família e o paciente conseguem assimilar melhor a situação, de modo que
percebam a importância das abordagens propostas e compartilham o que
realmente faz sentido para eles.
Contudo, nem sempre o que temos que comunicar, são boas notícias, para tanto
na comunicando más notícias existem metodologias para se noticiar ao
paciente e familiar uma notícia difícil.
O protocolo Spikes utiliza seis momentos para a comunicação de más noticias.
O primeiro passo (Setting up) se refere à preparação do médico e do espaço
físico para o evento. O segundo (Perception) verifica até que ponto o paciente
tem consciência de seu estado. O terceiro (Invitation) procura entender quanto
o paciente deseja saber sobre sua doença. O quarto (Knowledge) será a
transmissão da informação propriamente dita. Neste ponto, são ressaltadas
algumas recomendações, como: utilizar frases introdutórias que indiquem ao
paciente que más notícias virão; não fazê-lo de forma brusca ou usar palavras
técnicas em excesso; checar a compreensão do paciente. O quinto passo
(Emotions) é reservado para responder empaticamente à reação demonstrada
pelo paciente. O sexto (Strategy and Summary) diminui a ansiedade do paciente
ao lhe revelar o plano terapêutico e o que pode vir a acontecer.

25
Cuidados No Fim De Vida
Planejamento avançados de cuidados:
Conforme o avanço da doença, com as possibilidades de cura escassas, o
planejamento de cuidados avançados, permite que o paciente e equipe de
saúde definam os cuidados futuros, levando em consideração desejos e valores
pessoais do paciente, e as melhores práticas de saúde com base no
conhecimento ético científico no que tange o campo da benevolência e não
maleficência.
Esta abordagem permite que mesmo com a evolução da doença a autonomia
do paciente seja respeitada, e o processo de morte esteja norteado pelos
princípios da ortotanásia, evitando um prolongamento do sofrimento humano
(distanásia), tão pouco o encurtamento da vida através da eutanásia ativa.

O plano de cuidados aborda:


Valores de vida e desejos de cuidado do paciente e da família;
Possíveis situações clínicas e respectivos desfechos;
Opções de tratamento;
Diretivas antecipadas de vontade;
Opções de cuidados de fim de vida.

26
Limitação terapêutica
Quando pensamo em limitação terapêutica entre os manejos no final de vida
remetemos a imaginar a não reanimação cardiopulmonar, mas será que
somente esta ação está relacionada a limitação terapêutica? Evitar terapia fútil
como coleta diária de amostra de sangue para exames laboratoriais
(procedimento recorrente em UTI), manter o paciente em monitorização
contínua com alarmes não ajustados para o momento de sua apresentação
clínica, aspiração contínua de vias aérea mesmo quando o paciente não
apresenta sinais de necessidade de aspiração, processos estes que podem ser
dolorosos e que não irá modificar o curso da evolução da doença.
O Foco no tratamento deve ser amplo, que vise a qualidade de vida do
paciente onde a equipe deve propor medidas de conforto, manejo efetivo dos
sintomas, comunicação adequada com os familiares, resgatando o conceito que
o tratamento holístico da dor, como citado anteriormente deve ser físico,
psicológico, social e espiritual, importante salientar o espaço para que o
paciente e os familiares possam dar vazão para a espiritualidade, não é
incomum as equipes de cuidados paliativos contarem com o apoio de um
capelão, o capelão pode auxiliar no encontro ecumênico. A espiritualidade
ajuda ao paciente e família a significar a vida.
Publicado em 2006, pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) a resolução
1.805, tratando sobre: “É permitido ao médico limitar ou suspender
procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente em fase
terminal, de enfermidade grave e incurável, respeitada a vontade da pessoa ou
de seu representante legal” (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2006),
possibilitando portanto a realização da ortotanásia em todo território nacional,
respaldada legalmente.

27
Referências Bibliográficas
1. Matsumoto DY. Cuidados paliativos: conceito, fundamentos e princípios. In: Manual de
cuidados paliativos. Academia Nacional de Cuidados Paliativos – ANCP. Rio de Janeiroi:
Diagraphic, 2009.

2. Brito PCC, Sobreiro IM, von Atzingen DANC, Silva JV, Mendonça ARA. Reflexões sobre a
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3. World Health Organization. Palliative care. WHO; 2020 .

4. Toledo AP, Priolli DG. Cuidados no fim da vida: o ensino médico no Brasil. Rev Bras Educ Med .
2012;36(1):109-17.

5. Santos AFJ, Ferreira EAL, Guirro UBP. Atlas dos cuidados paliativos no Brasil 2019. São Paulo:
ANCP; 2020.

6. Prieto, J., Atala, J., Blanch, J., Carreras, E., Rovira, M., Cirera, E., Espinal, A. and Gasto, C.
(2005). Role of Depression As a Predictor of Mortality Among Cancer Patients After Stem-Cell
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7. American Thoracic Society. An Official American Thoracic Society Statement: Update on the
Mechanisms, Assessment, and Management of Dyspnea. Am J Respir Crit Care Med. [Internet];
2012.

8. Ferreira, G. D. and Mendonça, G. N. (2017). Cuidados Paliativos: Guia de Bolso. 1st ed. São
Paulo: ANCP, pp.5-62.

9. FORTE, D. N.; KAWAI, F.; COHEN, C. A bioethical framework to guide the decision-making
process in the care of seriously ill patients. BMC Medical Ethics, v. 19, n. 1, p. 1–8, 2018.

10. CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução CFM n°1805 de 28 de novembro de 2006. Na


fase terminal de enfermidades graves e incuráveis é permitido ao médico limitar ou suspender
procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente, garantindo-lhe os cuidados
necessários para aliviar os sintomas que levam ao sofrimento, na perspectiva de uma assistência
integral, respeitada a vontade do paciente ou do seu representante legal. Conselho Federal de
Medicina, 2006. Disponível em: https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/
resolucoes/BR/2006/1805. Acesso em: 1 abr. 2020.

Educação Continuada BP
BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo
R. Maestro Cardim, 769 - Bela Vista, São Paulo - SP, 01323-001
Responsável Técnico: Renato José Vieira – CRM 100.594 SP

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