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Jogos Africanos
Jogos Africanos
Resumo: Este estudo visa apresentar os resultados do projeto de intervenção realizado com o objetivo
de elaborar, aplicar e avaliar atividades nas aulas de Educação Física, que desenvolvam o
conhecimento e a valorização da pluralidade do patrimônio sociocultural, em especial, a influência da
cultura africana e afro brasileira na formação cultural do Brasil, como ferramenta de combate ao
racismo, ao preconceito e à descriminação racial. A partir disso, desenvolveu-se uma intervenção
pedagógica no primeiro semestre de 2017, no Colégio Estadual de Pato Branco – Ensino Fundamental,
Médio, Profissional e Normal, localizado no município de Pato Branco-PR, com alunos do 6º ano D, do
Ensino Fundamental Vespertino. Cerca de 30 alunos participaram do projeto. As atividades foram
realizadas durante as aulas de Educação Física, e algumas aulas de História e Geografia, nas
dependências do próprio colégio, onde foram disponibilizadas salas de aula, auditório, pátio e ginásio
de esportes do Colégio, além de toda infraestrutura necessária, tais como materiais eletrônicos e
materiais pedagógicos, condições que contribuíram muito para o desenvolvimento e sucesso desse
projeto. O projeto intitulado de “Práticas corporais da cultura afro nas aulas de Educação Física” foi
organizado em 32 planos de aula, que contemplaram um total de 32 horas/aula. Os resultados deste
trabalho foram expostos e discutidos levando em consideração as etapas propostas na metodologia.
Os alunos fizeram parte através de aulas expositivas e dinâmicas.
1 INTRODUÇÃO
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Professora. Aluna do Curso do PDE ofertado pela Universidade Estadual do Centro-Oeste. 2015. E-
mail: - Área de conhecimento: Educação Física
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Docente do Departamento de Educação Física da Unicentro, Campus Cedeteg, Guarapuava - Pr.
Mestre em Educação pela Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO.
vvolski@unicentro.br.
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2 REVISÃO DE LITERATURA
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O racismo não apareceu de uma hora para outra, ele é produto de um vasto
caminho, “objetivando usar a mão-de-obra barata através da exploração dos povos
colonizados. Exploração que causava riqueza e poder, sem nenhum custo-extra para
o branco colonizador e opressor” (MUNANGA, 2005, p.42).
A presença de grande quantidade de negros no Brasil ocasionou
transformações relevantes na formação brasileira, tanto em relação aos aspectos
culturais, como com relação aos aspectos sociais trazidos pelas famílias e passados
para as gerações seguintes (GIFFONI, 1974, apud PEREIRA; GONÇALVES
JUNIOR; SILVA, 2009).
Pode-se citar, dentre as contribuições culturais trazidas pelos negros ao Brasil,
a música, a dança, o jogo e o samba. Assim como os instrumentos musicais
(atabaque, agogô, berimbau, ganzá); nas lutas como a capoeira; na religião o
candomblé e a umbanda, entre outros.
Com a vinda dos africanos para este país, junto vieram algumas “técnicas de
produção de objetos, de como modelar e cozer o barro utilizado para confecção de
recipientes, bem como padrões estéticos presentes nas formas, nas decorações e no
colorido” (PEREIRA; GONÇALVES JUNIOR; SILVA, 2009, p.5).
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A história do negro no Brasil, não acaba com a abolição. Ela somente introduz
uma nova etapa, marcada pelo trabalho, pelo preconceito e pela pobreza, mas
também através das práticas culturais que excedem as barreiras étnicas. Aspectos
da vida cotidiana, estratégias de sobrevivência e formas de resistência, em uma
sociedade marcada pelo preconceito. Segundo Nogueira (2014, p.1) “a memória e a
história do negro após a abolição talvez sejam um dos campos mais férteis para
pesquisa da atualidade e, certamente, ainda pouco explorado”.
Assim sendo, os professores são desafiados a produzir uma educação voltada
ao combate do racismo e à valorização da cultura africana e afro-brasileira.
curso primário regular e a um curso preparatório para o ginásio, sendo este criado
pela Frente Negra Brasileira (SP).
Ademais, existe registro de uma escola criada pelo negro Cosme, no Quilombo
em Chapadinha, no Estado do Maranhão, para o ensino da leitura e escrita para os
escravos aquilombados (CUNHA JR., 1999).
Enquanto ao que se refere ao acesso a escolas públicas, é possível observar
na literatura que a partir da segunda metade do século XIX há maior evidência da
participação dos negros em processos de escolarização (CRUZ, 2005).
Nesse sentido, destaca Costa (2008, p.12) de que:
A primeira lei sobre instrução pública no Brasil data de 1827, portanto três
anos após a promulgação da Primeira Carta Magna do País, mediante a qual
já se assegurava a todos os cidadãos o direito à instrução primária e gratuita.
Essa lei foi criada com a intenção de diminuir e acabar com as discriminações
e preconceitos, a luta do movimento negro incentivou a criação da lei nº 10.639/2003,
a qual obriga o ensino da História e Cultura Afro–Brasileira e Africana na educação
básica (BRASIL/MEC, 2004).
A lei supracitada passou a constar no currículo da Educação Básica em que o
tema africano e afro-brasileiro passou a ser teor obrigatório ministrado em todas as
disciplinas em particular de as de história brasileira, literatura e artes (OLIVEIRA;
SOUZA, 2012). Dessa forma, a lei Nº 10.639 teve como finalidade dar resposta às
antigas reivindicações do Movimento Negro, mas com novas preocupações –
especialmente com a implantação da mesma (DIAS, 2005). Assim, essa lei é um
passo institucional muito importante, e, segundo Jesus (2012), é preciso voltar ao
ponto de origem, reconstituir a trajetória do negro brasileiro, e não podemos ensinar
somente a História da Europa, mas também a História da África.
Mais recentemente, um dos primeiros atos do então governo Lula foi aprovar
um projeto de lei apresentado pelos deputados federais Ester Grossi (educadora do
Rio Grande do Sul) e Ben-Hur Ferreira (oriundo do movimento negro de Mato Grosso
do Sul), ambos do PT (DIAS, 2005). A lei, que mudou o artigo 26, foi ratificada por
Luis Inácio Lula da Silva e também teve o aval de Cristovam Buarque (ministro) em 9
de janeiro de 2003. A lei nº 10.639 altera a lei nº 9.394/96 nos seus artigos 26 e 79, e
torna obrigatória a inclusão no currículo oficial de ensino da temática “História e
Cultura Afro-brasileira” (DIAS, 2005).
A lei acima citada também estabelece que o calendário escolar incluirá o dia
20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra.”
A Resolução 01/2004 do Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno
(CNE/CP) institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações
Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, “a
serem lembradas pelas instituições de ensino, que atuam nos níveis e modalidades
da Educação Brasileira” (BRASIL/MEC, 2004).
Recentemente a Lei Federal n. 12.711/2012 que garante através de cotas o
acesso do negro às universidades no Brasil. A Lei nº 12.711/2012, aprovada em
agosto de 2012, avaliza a reserva de:
A educação dos negros no Brasil está amparada por diversas leis conforme
visto neste tópico. O tópico seguinte apresentará a cultura africana e a afro-brasileira.
De acordo com dados disponíveis no Portal Brasil (2015), nosso país tem a
maior população de origem africana fora da África e, por isso, a cultura desse
continente desempenha grande influência, especialmente na região nordeste do
Brasil.
A formação cultural do Brasil se distingue através da composição de etnias e
culturas, pela sucessiva ocupação de distintas regiões geográficas, pela diversidade
de fisionomias e paisagens e também pela multiplicidade de visões sobre a
miscigenação em sentido amplo, algumas ainda presas à desinformação e ao
preconceito (MUNANGA, 2005). “Atualmente, a cultura afro-brasileira é resultado
também das influências dos portugueses e indígenas, que se manifestam na música,
religião e culinária” (PORTAL BRASIL, 2015, p.1). Uma das principais influências
advindas da África no Brasil é a música, através do samba.
Nas escolas, as crianças que têm valores culturais distintos recebem como
educação religiosa, na maior parte das vezes, valores que não observam a
diversidade religiosa e a riqueza das diferenças culturais (MUNANGA, 2005).
Segundo Silva (2005, p.22):
Sabe-se que toda obra artística africana é carregada de um ritmo com algum
tipo de significado. Suas partes estão ritmicamente articuladas umas às outras. O
ritmo é para o africano a mais legítima expressão da energia fundamental. Segundo
Silva (2005) o ritmo para o africano se encontra na poesia, na música, nos
movimentos da dança, nas linhas, cores, superfícies e formas, através da arquitetura,
da pintura e da escultura. É o que dá forma à palavra, o que a torna viva e eficaz, a
ponto de o africano acreditar: a palavra rítmica divina criou o mundo (SILVA, 2005).
Partindo disso, esse tópico intenciona apresentar a cultura afro no que se
refere às danças, aos jogos e a capoeira.
Os principais elementos da música africana são de caráter rítmico percussivo,
coreográfico, místico-religioso, vocal e humorístico. Esses elementos viriam a fazer
parte direta da estrutura musical brasileira, dando-lhe novas formas e características
representativas. A manifestação mais antiga no domínio do canto, que é a melopeia,
revive no Brasil por meio dos gritos modulados para chamar o gado; pregões dos
vendedores ambulantes; cantos de trabalho antes denominados “vissungos”; cantos
de engenho, entre outros (SILVA, 2005).
Em relação à dança o povo africano leva em consideração o seu corpo de
forma global, ou seja, cada gesto é vivido como simples componente de uma
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3 METODOLOGIA
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
2. Você conhece alguma prática corporal da cultura africana? (brincadeira, jogo, luta, etc.). se
conhece, quais? Como se pratica?
3. Você já presenciou práticas racistas envolvendo afro descendente? Se presenciou, qual foi
sua atitude?
“É um ‘país’ bem pobre” (aluno 1); “Tem bastante bichos” (aluno 2); “Lugar
de muita pobreza” (aluno 3); “Passam fome” (aluno 4); “Lugar muito frio”
(aluno 5); “Lugar muito quente” (aluno 6); “Tem muitos negros” (aluno 7); “De
onde vieram os escravos” (aluno 8); “Muitos leões” (aluno 9); “Muitas girafas”
(aluno 10).
“Já chamei um menino de feio por ele ser negro” (aluno 13); “Já presenciei
no bairro” (aluno 14); “Não presenciei, mas sei que tem bastante” (aluno 15);
“Sim, muitas vezes” (aluno 16).
“Tem muitos negros lá?” (aluno 1); “Quanto tempo demora para chegar lá?”
(aluno 2); “Você viu muitos animais?” (aluno 3); “É muito frio?” (aluno 4); “Eles
são pobres?” (aluno 5).
Na aula seguinte, foi realizada uma mesa redonda, sobre o que já sabiam
sobre a África, e o que aprenderam até agora no projeto. Vários alunos disseram que
achavam que lá havia muitos animais, na África toda. Vários alunos se referiam à
África como um país, confundindo com a África do sul.
Muitos ficaram empolgados com as imagens do Marrocos, apresentada na
palestra, e disseram que se um dia puderem, irão conhecer o continente africano e,
em especial, o Marrocos. Observou-se que os alunos ficaram encantados com a
palestra, e faziam muitos comentários, como:
“Nossa professora, não sabia que na África tinha lugares tão lindos.” (aluno
6); “Professora, é bem quente, mas também é bem frio né?” (aluno 7)
(referindo-se à neve de Ifrane e ao deserto do Saara). “Professora, Marrocos
é muito chique” (aluno 8) (referindo-se aos objetos marroquinos
apresentados).
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“Pensei que a África não tinha nada, e com esse projeto, acabei
descobrindo que tem coisas bem legais lá” (aluno 1); “Pensava que lá só
tinha pobreza, e agora mudei meu pensamento” (aluno 2); “Antes do
projeto, eu pensava que não dava para ir na África, porque só tinha
pobreza. Agora tenho vontade de ir para a África” (aluno 3); “Antes de
conhecer melhor a África, pensava que eram maus, que lá não tinha
felicidade, só tristeza, miséria. Depois do projeto, mudei totalmente meu
pensamento.” (aluno 4); “Eu achava que a África tinha pouca cultura.
Agora sei que tem mais cultura que o Brasil”. (aluno 5); “Agora, acho que
todos nós vamos respeitar mais os negros e ajudar a combater o racismo”.
(aluno 6).
professores do GTR, por muitas vezes esse assunto foi citado como fator
determinante para o desenvolvimento de projetos desse perfil.
Além da intervenção pedagógica realizada em sala de aula foi desenvolvido,
no primeiro semestre de 2017, o Grupo de Trabalho em Rede (GTR). As atividades
foram expostas aos professores participantes do grupo. Como tutora, o GTR
possibilitou experiência profissional e as situações vivenciadas agregaram para a
carreira de docente.
Ao longo do GTR houveram momentos de interação e colaboração,
excelentes discussões nos fóruns que contribuíram para este trabalho. Agregou
conhecimento e experiência para as práticas diárias.
Como exemplo das situações vivenciadas, seguem alguns relatos de
integrantes do GTR:
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível perceber, durante todo o trabalho (tanto na parte teórica quanto
na prática), que os alunos tinham uma percepção ruim sobre a África, relacionando-
a a fatos tristes, como pobreza, escravidão, animais ferozes e muito calor, que os
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6 REFERÊNCIAS
CRUZ, M. dos S. Uma abordagem sobre a história da educação dos negros. In:
ROMÃO, J. (org.) História da educação do negro e outras histórias. Brasília:
Ministério da Educação, 2005, 278p.
DIAS, L. R. Quantos passos já foram dados? A questão de raça nas leis educacionais.
In: ROMÃO, J. (org.) História da educação do negro e outras histórias. Brasília:
Ministério da Educação, 2005, 278p.
JESUS, S. de. O negro na educação brasileira. Revista Vozes dos Sales da UFVJM:
Publicações Acadêmicas, Diamantina, v. 1, n.1, p. 1-11, maio 2012.
NERI, J. de P. O negro na história do Brasil: uma luta pela conquista dos direitos,
2012. Disponível em: <http://www.palmares.gov.br/wp-content/uploads/2010/11/O-
negro-na-historia-do-Brasil.pdf>. Acesso em 24 jun. 2017.