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PRÁTICAS CORPORAIS DA CULTURA AFRO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO


FÍSICA

Ana Maria Fianco Gheller1


Verônica Volski2

Resumo: Este estudo visa apresentar os resultados do projeto de intervenção realizado com o objetivo
de elaborar, aplicar e avaliar atividades nas aulas de Educação Física, que desenvolvam o
conhecimento e a valorização da pluralidade do patrimônio sociocultural, em especial, a influência da
cultura africana e afro brasileira na formação cultural do Brasil, como ferramenta de combate ao
racismo, ao preconceito e à descriminação racial. A partir disso, desenvolveu-se uma intervenção
pedagógica no primeiro semestre de 2017, no Colégio Estadual de Pato Branco – Ensino Fundamental,
Médio, Profissional e Normal, localizado no município de Pato Branco-PR, com alunos do 6º ano D, do
Ensino Fundamental Vespertino. Cerca de 30 alunos participaram do projeto. As atividades foram
realizadas durante as aulas de Educação Física, e algumas aulas de História e Geografia, nas
dependências do próprio colégio, onde foram disponibilizadas salas de aula, auditório, pátio e ginásio
de esportes do Colégio, além de toda infraestrutura necessária, tais como materiais eletrônicos e
materiais pedagógicos, condições que contribuíram muito para o desenvolvimento e sucesso desse
projeto. O projeto intitulado de “Práticas corporais da cultura afro nas aulas de Educação Física” foi
organizado em 32 planos de aula, que contemplaram um total de 32 horas/aula. Os resultados deste
trabalho foram expostos e discutidos levando em consideração as etapas propostas na metodologia.
Os alunos fizeram parte através de aulas expositivas e dinâmicas.

Palavras-chave: Expressão corporal; Educação Física; cultura; aprendizagem.

1 INTRODUÇÃO

A formação cultural brasileira tem como característica a fusão de etnias e


culturas e a multiplicidade de visões sobre a miscigenação em sentido amplo,
algumas ainda presas às desinformações e ao preconceito. Neste, como em tantos
outros assuntos, o saber é a melhor estratégia contra preconceitos (PEREIRA;
GONÇALVES JUNIOR; SILVA, 2009).

1
Professora. Aluna do Curso do PDE ofertado pela Universidade Estadual do Centro-Oeste. 2015. E-
mail: - Área de conhecimento: Educação Física
2
Docente do Departamento de Educação Física da Unicentro, Campus Cedeteg, Guarapuava - Pr.
Mestre em Educação pela Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO.
vvolski@unicentro.br.
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Os professores em diversas etapas de sua carreira profissional já se


depararam com situações de preconceito com os afrodescendentes. Pensa-se que,
se todos, dentro da interdisciplinaridade, abordarem o tema em cada disciplina, pode-
se reverter este quadro. Muitas vezes, o preconceito acontece por ignorarmos as
maravilhas da cultura afro. Dessa forma, quanto mais proporcionarmos
conhecimentos dessa cultura aos alunos, menos preconceitos terão, colaborando,
assim, para que haja uma maior integração entre os educandos, favorecendo,
portanto, o respeito mútuo entre afrodescendentes e os não afrodescendentes.
Dentro da proposta do projeto de trabalhar na escola a valorização da cultura
afro-brasileira, propõe-se a realização de projetos que busquem promover um espaço
para trabalhar expressões da cultura negra, a utilização de práticas corporais de
origem e/ou ascendência africana como um instrumento facilitador na educação das
relações étnico-raciais no cotidiano escolar.
Tendo em vista que muitas vezes acontecem algumas situações de
preconceito com os afrodescendentes em diversos momentos no cotidiano escolar,
sentiu-se necessidade de trabalhar com a temática. Percebe-se que esse preconceito
é acentuado pela ignorância de muitos sobre a cultura afro, pois quanto mais se
conhece, mais se aprende a respeitar os valores que cada cultura traz, favorecendo
assim, uma maior integração entre todos os envolvidos no processo de educação.
Sendo assim, é neste local de estudo, a escola, que se deve propiciar uma
reflexão crítica sobre os valores de cada indivíduo. Com este artigo, pretendeu-se
aprofundar o conhecimento e a valorização da cultura afro dentro da escola, através
dos jogos e práticas corporais da cultura africana. Sendo assim, tem-se a seguinte
problemática: De que forma as práticas corporais da cultura afro nas aulas de
Educação Física podem servir de instrumentos de combate à discriminação e ao
preconceito?
Partindo-se dessa premissa este artigo tem como objetivo elaborar, aplicar e
avaliar atividades nas aulas de Educação Física, que desenvolvam o conhecimento
e a valorização da pluralidade do patrimônio sociocultural, em especial, a influência
da cultura afro na formação cultural brasileira, como ferramenta de combate ao
racismo, preconceito e descriminação racial.

2 REVISÃO DE LITERATURA
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O referencial teórico deste estudo aborda inicialmente a história dos negros;


a cultura africana e afro-brasileira e as manifestações da cultura afro em relação
aos jogos, danças e capoeira.

2.1 A história da luta dos negros

A história do Brasil é marcada pela vinda dos escravos em navios negreiros


que eram trazidos para trabalhar nas fazendas de café. Segundo destacam Pereira,
Gonçalves Junior e Silva (2009, p.5):

Os negros que eram capturados como escravos, de várias regiões da África,


eram embarcados em tumbeiros destinados, inicialmente, aos portos de
Recife e da Bahia. Durante a viagem alguns negros acabavam morrendo
devido às péssimas condições, ou mesmo suicidavam-se. Ao chegar no
Brasil eram escravizados e, quando reagiam em desobediência, eram
açoitados e até assassinados pelos capatazes, a mando dos senhores.

O racismo não apareceu de uma hora para outra, ele é produto de um vasto
caminho, “objetivando usar a mão-de-obra barata através da exploração dos povos
colonizados. Exploração que causava riqueza e poder, sem nenhum custo-extra para
o branco colonizador e opressor” (MUNANGA, 2005, p.42).
A presença de grande quantidade de negros no Brasil ocasionou
transformações relevantes na formação brasileira, tanto em relação aos aspectos
culturais, como com relação aos aspectos sociais trazidos pelas famílias e passados
para as gerações seguintes (GIFFONI, 1974, apud PEREIRA; GONÇALVES
JUNIOR; SILVA, 2009).
Pode-se citar, dentre as contribuições culturais trazidas pelos negros ao Brasil,
a música, a dança, o jogo e o samba. Assim como os instrumentos musicais
(atabaque, agogô, berimbau, ganzá); nas lutas como a capoeira; na religião o
candomblé e a umbanda, entre outros.
Com a vinda dos africanos para este país, junto vieram algumas “técnicas de
produção de objetos, de como modelar e cozer o barro utilizado para confecção de
recipientes, bem como padrões estéticos presentes nas formas, nas decorações e no
colorido” (PEREIRA; GONÇALVES JUNIOR; SILVA, 2009, p.5).
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Como se observa a história do negro no Brasil, de sofrimento e luta, num


sistema que escravizava os povos vindos da África (negros), para alimentar uma
classe média de brancos da Europa. A conjuntura que os negros se acharam no Brasil
foi de coação, exploração e trabalho escravo, ambiente próprio para desenvolver,
segundo Neri (2012, p. 12):

[...] um ar de inferioridade, na cultura, na religião, na vida em geral, daí o


porquê de hoje se ver a luta por resgatar os valores negros, visto que a
cultura negra tem muito a nos oferecer, aos negros e ao mundo civilizado,
isto é aqueles que sabem respeitar as diferenças em todos os campos ainda
que não comunguem desta.

A história do negro no Brasil, não acaba com a abolição. Ela somente introduz
uma nova etapa, marcada pelo trabalho, pelo preconceito e pela pobreza, mas
também através das práticas culturais que excedem as barreiras étnicas. Aspectos
da vida cotidiana, estratégias de sobrevivência e formas de resistência, em uma
sociedade marcada pelo preconceito. Segundo Nogueira (2014, p.1) “a memória e a
história do negro após a abolição talvez sejam um dos campos mais férteis para
pesquisa da atualidade e, certamente, ainda pouco explorado”.
Assim sendo, os professores são desafiados a produzir uma educação voltada
ao combate do racismo e à valorização da cultura africana e afro-brasileira.

2.2 A educação dos negros

A necessidade de liberdade ou de desfrutar a cidadania quando livre, tanto no


que diz respeito a época do Brasil Império quanto nos anos em que se iniciou a
República, aproximou os negros da apropriação do saber escolar, nos moldes das
exigências oficiais. Ainda que não em massa, camadas populacionais negras
chegaram a níveis de instrução quando criavam suas próprias escolas, recebiam
instrução de pessoas escolarizadas, ou adentravam à rede pública, os asilos de
órfãos e escolas particulares (CRUZ, 2005).
Pesquisa feita por Pinto (1993, apud CRUZ, 2005), Cunha Jr. (1996, apud
CRUZ, 2005) e Barbosa (1997, apud CRUZ, 2005) encontrou informações sobre
algumas escolas para negros, como por exemplo: a Escola Primária no Clube Negro
Flor de Maio de São Carlos, localizada em São Paulo, a Escola de Ferroviários de
Santa Maria, situada no Rio Grande do Sul, e o estímulo a cursos de alfabetização,
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curso primário regular e a um curso preparatório para o ginásio, sendo este criado
pela Frente Negra Brasileira (SP).
Ademais, existe registro de uma escola criada pelo negro Cosme, no Quilombo
em Chapadinha, no Estado do Maranhão, para o ensino da leitura e escrita para os
escravos aquilombados (CUNHA JR., 1999).
Enquanto ao que se refere ao acesso a escolas públicas, é possível observar
na literatura que a partir da segunda metade do século XIX há maior evidência da
participação dos negros em processos de escolarização (CRUZ, 2005).
Nesse sentido, destaca Costa (2008, p.12) de que:

A primeira lei sobre instrução pública no Brasil data de 1827, portanto três
anos após a promulgação da Primeira Carta Magna do País, mediante a qual
já se assegurava a todos os cidadãos o direito à instrução primária e gratuita.

Um dos únicos espaços existentes no século XIX para discutir a inclusão ou


não à educação daqueles que não pertenciam à classe abastada, e junto destes
encontravam-se os negros foi a imprensa que era palco dos debates recorrentes
sobre a escolarização ou não das classes populares, bem como das funções da
educação escolar destinada a esses segmentos populacionais (COSTA, 2008).
Sabe-se que “na história do Brasil, marcadamente no que se refere à primeira
constituição, pode haver uma significativa distância entre a forma, as políticas e as
práticas sociais” (COSTA, 2008, p.24). Segundo Costa (2008) foi somente a partir do
final da década de 1980, com a promulgação da Constituição de 1988, que pôde-se
abrir mais a discussão sobre as questões étnicas, pois esse novo conjunto de normas
possibilitou a análise de novas perspectivas, já que apontou para possibilidades de
novos rumos nas formas como se configuram as relações sócio raciais no Brasil.
Assim sendo e na percepção de Costa (2008, p.10):

Na Constituição de 1988, o Brasil reconhece-se como um país racista,


sinalizando para a necessidade de se lidar com as problemáticas
relacionadas à discriminação racial como um problema a ser enfrentado pela
nação. Contudo, no que se refere especialmente à educação, a Lei nº
9394/96 que instituiu as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
não levou em conta o fato de, mediante a Constituição de 1988, o Brasil
reconhecer-se um país racista, sinalizando para a necessidade de se lidar
com as problemáticas relacionadas à discriminação racial como um problema
a ser enfrentado pela nação. Em nenhum momento essa questão foi
diretamente focalizada, exigindo mais quase uma década de luta do
Movimento Negro para, em 2003, ter-se aprovada no país a Lei nº 10.639/03.
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Essa lei foi criada com a intenção de diminuir e acabar com as discriminações
e preconceitos, a luta do movimento negro incentivou a criação da lei nº 10.639/2003,
a qual obriga o ensino da História e Cultura Afro–Brasileira e Africana na educação
básica (BRASIL/MEC, 2004).
A lei supracitada passou a constar no currículo da Educação Básica em que o
tema africano e afro-brasileiro passou a ser teor obrigatório ministrado em todas as
disciplinas em particular de as de história brasileira, literatura e artes (OLIVEIRA;
SOUZA, 2012). Dessa forma, a lei Nº 10.639 teve como finalidade dar resposta às
antigas reivindicações do Movimento Negro, mas com novas preocupações –
especialmente com a implantação da mesma (DIAS, 2005). Assim, essa lei é um
passo institucional muito importante, e, segundo Jesus (2012), é preciso voltar ao
ponto de origem, reconstituir a trajetória do negro brasileiro, e não podemos ensinar
somente a História da Europa, mas também a História da África.
Mais recentemente, um dos primeiros atos do então governo Lula foi aprovar
um projeto de lei apresentado pelos deputados federais Ester Grossi (educadora do
Rio Grande do Sul) e Ben-Hur Ferreira (oriundo do movimento negro de Mato Grosso
do Sul), ambos do PT (DIAS, 2005). A lei, que mudou o artigo 26, foi ratificada por
Luis Inácio Lula da Silva e também teve o aval de Cristovam Buarque (ministro) em 9
de janeiro de 2003. A lei nº 10.639 altera a lei nº 9.394/96 nos seus artigos 26 e 79, e
torna obrigatória a inclusão no currículo oficial de ensino da temática “História e
Cultura Afro-brasileira” (DIAS, 2005).
A lei acima citada também estabelece que o calendário escolar incluirá o dia
20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra.”
A Resolução 01/2004 do Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno
(CNE/CP) institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações
Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, “a
serem lembradas pelas instituições de ensino, que atuam nos níveis e modalidades
da Educação Brasileira” (BRASIL/MEC, 2004).
Recentemente a Lei Federal n. 12.711/2012 que garante através de cotas o
acesso do negro às universidades no Brasil. A Lei nº 12.711/2012, aprovada em
agosto de 2012, avaliza a reserva de:

50% das matrículas por curso e turno nas 59 universidades federais e 38


institutos federais de educação, ciência e tecnologia a alunos oriundos
integralmente do ensino médio público, em cursos regulares ou da educação
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de jovens e adultos. Os demais 50% das vagas permanecem para ampla


concorrência (BRASIL/MEC, 2017).

A educação dos negros no Brasil está amparada por diversas leis conforme
visto neste tópico. O tópico seguinte apresentará a cultura africana e a afro-brasileira.

2.3 A cultura africana e afro-brasileira

De acordo com dados disponíveis no Portal Brasil (2015), nosso país tem a
maior população de origem africana fora da África e, por isso, a cultura desse
continente desempenha grande influência, especialmente na região nordeste do
Brasil.
A formação cultural do Brasil se distingue através da composição de etnias e
culturas, pela sucessiva ocupação de distintas regiões geográficas, pela diversidade
de fisionomias e paisagens e também pela multiplicidade de visões sobre a
miscigenação em sentido amplo, algumas ainda presas à desinformação e ao
preconceito (MUNANGA, 2005). “Atualmente, a cultura afro-brasileira é resultado
também das influências dos portugueses e indígenas, que se manifestam na música,
religião e culinária” (PORTAL BRASIL, 2015, p.1). Uma das principais influências
advindas da África no Brasil é a música, através do samba.
Nas escolas, as crianças que têm valores culturais distintos recebem como
educação religiosa, na maior parte das vezes, valores que não observam a
diversidade religiosa e a riqueza das diferenças culturais (MUNANGA, 2005).
Segundo Silva (2005, p.22):

A predominância de uma única matriz religiosa em educação nas escolas,


doutrinada sob forma de catequese e não de apreciação histórica e cultural
das diversas religiões, tem cooperado para uma fragmentação da fé que a
criança traz do seu grupo familiar e cultural, tornando-a confusa, muitas
vezes internalizando a imagem idealizada negativa que a escola expande da
sua religião de origem.

Observa-se que a história das religiões afro-brasileiras abrange


essencialmente a totalidade das relações sociais, políticas e econômicas constituídas
entre os seus principais grupos formadores: negros, brancos e índios (SILVA, 2005).
As principais religiões afro-brasileiras são o candomblé e a umbanda,
praticadas em todos os estados brasileiros. Candomblé e umbanda são religiões de
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pequenos grupos que se agrupam em torno de uma mãe ou pai-de-santo,


designando-se terreiro cada um desses grupos (PRANDI, 2003). A popularidade do
candomblé no Brasil, por sua vez, foi desenvolvida pela interferência dos seus ritmos
e danças nas grandes festas populares brasileiras (SILVA, 2005).
O candomblé aos poucos foi extravasando suas fronteiras geográficas,
abandonando os limites originais de raça e etnia dos seus fiéis e aumentando seu
território. Difundiu-se pelo Brasil, conquistando para seus quadros até mesmo antigos
seguidores da umbanda. Nas pegadas da umbanda, também chegou ao estrangeiro.
Cada vez mais foi se fazendo visível através da captura da imagem por meio das
artes e costumes de uma sociedade consumista e multicultural, tendo presença
marcante em campos culturais não religiosos: literatura, cinema, teatro, música,
carnaval, televisão, culinária entre outros (PRANDI, 2003).

2.4 As manifestações da cultura afro

Sabe-se que toda obra artística africana é carregada de um ritmo com algum
tipo de significado. Suas partes estão ritmicamente articuladas umas às outras. O
ritmo é para o africano a mais legítima expressão da energia fundamental. Segundo
Silva (2005) o ritmo para o africano se encontra na poesia, na música, nos
movimentos da dança, nas linhas, cores, superfícies e formas, através da arquitetura,
da pintura e da escultura. É o que dá forma à palavra, o que a torna viva e eficaz, a
ponto de o africano acreditar: a palavra rítmica divina criou o mundo (SILVA, 2005).
Partindo disso, esse tópico intenciona apresentar a cultura afro no que se
refere às danças, aos jogos e a capoeira.
Os principais elementos da música africana são de caráter rítmico percussivo,
coreográfico, místico-religioso, vocal e humorístico. Esses elementos viriam a fazer
parte direta da estrutura musical brasileira, dando-lhe novas formas e características
representativas. A manifestação mais antiga no domínio do canto, que é a melopeia,
revive no Brasil por meio dos gritos modulados para chamar o gado; pregões dos
vendedores ambulantes; cantos de trabalho antes denominados “vissungos”; cantos
de engenho, entre outros (SILVA, 2005).
Em relação à dança o povo africano leva em consideração o seu corpo de
forma global, ou seja, cada gesto é vivido como simples componente de uma
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demonstração humana complexa que recorre ao mesmo tempo à palavra, à memória,


à tradição, aos sentidos, às reações viscerais (SILVA, 2005).
Dessa forma, o gesto é sempre de grande significado. O africano analisa o seu
meio ambiente um cenário vivo, carregado de forças e símbolos. Deste modo,
segundo Silva (2005, p.5):

Como todos os povos do mundo, os africanos também observaram que a


força muscular e a habilidade manual são nitidamente maiores do lado direito
do corpo, devido a causas já descobertas pela anatomia e fisiologia
modernas. Assim, o eixo direita-esquerda é o eixo do poder e da fraqueza.

Para Silva (2005) a arte africana, e, sobretudo as danças, músicas, máscaras


e cimeiras de máscaras criadas para a dança, nos levam ao seguinte sentido: a dança
– e todas as artes que dela vieram ou a seguem, do canto à escultura e à poesia –
tem por função captar a força viva cósmica e transcendental que nasce dos esforços
ritmados do grupo.

A dança está presente em todas as atividades cotidianas do homem e da


mulher africanos: na caça, na pesca, no trato com a terra, nas cerimônias de
casamento, de nascimento, nos rituais de passagem da adolescência para a
idade adulta, e até mesmo na morte (MUNANGA, 2005, p.).

Existem no país, diversos legados das danças africanas, não somente no


Candomblé, no samba e na capoeira, porém nos variados ritos e práticas do dia a dia,
como: expressões de angústia, sofrimento, recordações, ânsia de liberdade, entre
outros (MUNANGA, 2005).
Sabe-se que jogos e brincadeiras estiveram direcionados para o campo
educacional e preparo para vida. O jogo vai muito afora os limites físicos e
psicológicos, pois todo jogo tem algum significado, “o jogo supera os limites da
atividade puramente física ou biológica, tendo capacidade de criar ordem,
deslocando-se da imperfeição do mundo para uma perfeição temporária” (PEREIRA;
GONÇALVES JUNIOR; SILVA, 2009, p.4).
Na cultura africana, certos jogos podem ser praticados exclusivamente por
meninas ou apenas por meninos, pois esses jogos, “assim como em outras culturas,
têm algumas características em relação a gênero, idade e número de participantes”
(PEREIRA; GONÇALVES JUNIOR; SILVA, 2009, p.4).
Junto aos jogos africanos trazidos para o país pode-se citar a Mancala, que é
jogada, tradicionalmente, em duplas em um tabuleiro de 6 orifícios de cada lado
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contendo 6 sementes ou pequenas pedras em todos esses. A movimentação das


sementes tem o sentido anti-horário (em algumas versões do jogo sentido horário)
conhecido como "semeadura" (colocação das sementes ou pedras) e "colheita"
(retirada das sementes ou pedras) (PEREIRA; GONÇALVES JUNIOR; SILVA, 2009).

Figura 1. Tabuleiro de mancala


Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6d/Wooden_Mancala_board.jpg>

O Matacuzana, é um jogo da cultura africana que joga pedrinhas ou castanhas


de caju com as mãos. “Os jogadores podem formular ou alterar as regras como: ‘jogar
a semente para cima e pegar com a mão contrária’, ‘quem deixar cair à semente que
jogou devolver as que ganharam em outras partidas’” (PEREIRA; GONÇALVES
JUNIOR; SILVA, 2009, p.5).
A capoeira se destaca na expressão cultural que combina luta, dança, cultura
popular, música. Criada pelo povo africano, que era escravizado e trazido ao Brasil, e
seus descendentes, é caracterizada por movimentos ágeis e complexos, empregando
os pés, as mãos e elementos ginástico-acrobáticos. Uma propriedade que a
caracteriza de outras lutas é o fato de ser seguida por música (CARVALHO, 2011).
A origem e história mais antiga da capoeira não está totalmente clara. A
capoeira é uma combinação de artes marciais africanas e brasileiras, porém opiniões
estão genericamente dividas entre aqueles que acreditam que sua origem está nos
estilos de luta africanos e os que acham que ela é uma forma dança brasileira única,
resultado de várias influências africanas e brasileiras (RUNNERS, 2016).
Alguns pesquisadores creem que a capoeira foi criada e desenvolvida por
escravos vindos da África para a prática das artes marciais de forma camuflada,
semelhante a um jogo ou dança. Este fato se dá porque os senhores dos escravos
coibiam qualquer forma de arte marcial, a capoeira a dissimulava como uma dança.
Já outros pesquisadores confiam que a capoeira era exercitada e utilizada contra os
ataques portugueses ao quilombo de Palmares (RUNNERS, 2016).
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O termo capoeira possui alguns significados, um dos quais refere-se às áreas


de mata rasteira do interior do Brasil. Sugeriu-se que fosse dado o nome de capoeira
a partir dos locais que cercavam as grandes propriedades rurais de base escravocrata
(RUNNERS, 2016).
Observa-se que na área de Educação Física, são poucos os estudos que
adotam e valorizam as contribuições de uma educação antirracista. Até a capoeira
que é a dança mais conhecida entres os brasileiros, muito pouco é desenvolvida como
conteúdo da Educação Física Escolar e, mesmo quando isto acontece, dificilmente
vai além da repetição de movimentos descontextualizados, ou seja, que ofereçam e
valorizem sua relação com a cultura em que foi originada e, assim, favoreçam a
construção de uma identidade negra positiva (RUNNERS, 2016).

3 METODOLOGIA

A partir dessas ideias, foi desenvolvido uma intervenção pedagógica que


aconteceu no primeiro semestre de 2017, no Colégio Estadual de Pato Branco –
Ensino Fundamental, Médio, Profissional e Normal, localizado no município de Pato
Branco-PR, com alunos do 6º ano D, do Ensino Fundamental Vespertino. Cerca de
30 alunos participaram do projeto.
As atividades foram realizadas durante as aulas de Educação Física, e
algumas aulas de História e Geografia, nas dependências do próprio colégio, onde
foram disponibilizadas salas de aula, auditório, pátio e ginásio de esportes do
Colégio, além de toda infraestrutura necessária, tais como materiais eletrônicos e
materiais pedagógicos, condições que contribuíram muito para o desenvolvimento
e sucesso desse projeto.
O projeto, intitulado “Práticas corporais da cultura afro nas aulas de
Educação Física”, foi organizado em 32 planos de aula, que contemplaram um total
de 32horas/aula, dividido em quatro partes:

a) PARTE I – História da cultura africana e afro brasileira:


• Diagnóstico sobre o conhecimento dos alunos sobre a cultura
africana e afro brasileira;
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• Palestra sobre localização, geografia, moeda, costumes e


curiosidades do pais africano Marrocos; 
• Cultura africana e afro brasileira.
b) PARTE II – Trabalhando os jogos e brincadeiras de origens africana:
• Trabalhos práticos dos mais variados jogos e brincadeiras da cultura
africana.
c) PARTE III – Capoeira:
• História da capoeira;
• Atividades práticas lúdicas dos movimentos básicos da capoeira;
• Participação de uma roda de Capoeira com a participação de um grupo
de capoeira da cidade de Pato Branco, com aprendizagem dos
movimentos básicos e conhecimento de instrumentos musicais e
músicas da capoeira.
d) PARTE IV – Danças africanas e afro brasileiras.
• Maculelê vídeo, música, aprendizagem de passos e ensaio de
coreografia;
• Kabetula vídeo, música, aprendizagem de passos e ensaio de
coreografia;
• Festival de dança com apresentação da Kabetula e Maculelê.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados deste trabalho foram expostos e discutidos levando em


consideração as etapas propostas na metodologia. A parte I (História da cultura
africana e afro brasileira), foi composta dos planos de aula 01 e 02. Buscaram
apresentar o projeto aos alunos, verificar o conhecimento dos alunos sobre cultura
africana e afro brasileira, e contribuir para o aumento do conhecimento do tema.
Os alunos fizeram parte através de aulas expositivas e dinâmicas.
O questionário (quadro 1) foi o instrumento utilizado para diagnosticar o
conhecimento que os alunos tinham sobre cultura africana. Composto de três
perguntas abertas, basicamente buscaram saber o conhecimento que eles já
possuíam sobre a África, sua cultura e racismo.
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Quadro 01. Questionário sobre cultura africana.

Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE


Professora Ana Maria Fianco Gheller

Série: __________ Turma: ______________


(não precisa se identificar, apenas a série e turma)

1. O que você conhece sobre a África?

2. Você conhece alguma prática corporal da cultura africana? (brincadeira, jogo, luta, etc.). se
conhece, quais? Como se pratica?

3. Você já presenciou práticas racistas envolvendo afro descendente? Se presenciou, qual foi
sua atitude?

Obrigada pela participação!

Fonte: as autoras (2017)

Na primeira pergunta, sobre o que conhecem sobre a África, a grande


maioria dos alunos afirmaram ser um país pobre e com muitos negros e animais,
usando respostas como estas:

“É um ‘país’ bem pobre” (aluno 1); “Tem bastante bichos” (aluno 2); “Lugar
de muita pobreza” (aluno 3); “Passam fome” (aluno 4); “Lugar muito frio”
(aluno 5); “Lugar muito quente” (aluno 6); “Tem muitos negros” (aluno 7); “De
onde vieram os escravos” (aluno 8); “Muitos leões” (aluno 9); “Muitas girafas”
(aluno 10).

A segunda pergunta, que buscou saber quais brincadeiras e práticas


corporais da cultura africana os alunos conheciam, muitos responderam que não
conheciam. Dentre os que responderam que conheciam, eles responderam:

“Capoeira” (aluno11); “Algumas danças” (aluno 12).

Em seguida, a terceira pergunta, refere-se a saber se os alunos já haviam


presenciado práticas racistas e quais as atitudes tomadas, muitos alunos afirmaram
já terem presenciado, porém não responderam a atitude tomada, como se pode notar
nas seguintes falas dos alunos:
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“Já chamei um menino de feio por ele ser negro” (aluno 13); “Já presenciei
no bairro” (aluno 14); “Não presenciei, mas sei que tem bastante” (aluno 15);
“Sim, muitas vezes” (aluno 16).

Ao ter em mãos o resultado do questionário, onde verificamos que grande


maioria dos alunos relacionava a África com “pobreza, sofrimento e negros”,
utilizamos aula de geografia, cedida pela professora, onde optamos por uma palestra
sobre o Marrocos, para que pudéssemos passar aos alunos que a África não é só
pobreza, que tem as mais diversas etnias, possui uma cultura muito rica, que é um
lugar tão belo como o Brasil.
A palestra foi ministrada pela estudante Larissa Gheller, a qual participou de
um projeto voluntário em um intercâmbio no Marrocos, África, em janeiro/fevereiro de
2017. Nessa palestra, foram apresentadas as experiências que ela vivenciou lá, e
também vídeos explicativos sobre a cultura, religião, geografia, clima, economia e
costumes de várias regiões do Marrocos. Foi proporcionado também aos alunos, a
oportunidade de conhecer e manusear alguns objetos do Marrocos, como por
exemplo, bules de chá, luminárias, carteiras de couro dos curtumes do Marrocos,
moedas marroquinas, porcelana, entre outros objetos.
Durante a palestra, houveram muitos questionamentos, como segue:

“Tem muitos negros lá?” (aluno 1); “Quanto tempo demora para chegar lá?”
(aluno 2); “Você viu muitos animais?” (aluno 3); “É muito frio?” (aluno 4); “Eles
são pobres?” (aluno 5).

Na aula seguinte, foi realizada uma mesa redonda, sobre o que já sabiam
sobre a África, e o que aprenderam até agora no projeto. Vários alunos disseram que
achavam que lá havia muitos animais, na África toda. Vários alunos se referiam à
África como um país, confundindo com a África do sul.
Muitos ficaram empolgados com as imagens do Marrocos, apresentada na
palestra, e disseram que se um dia puderem, irão conhecer o continente africano e,
em especial, o Marrocos. Observou-se que os alunos ficaram encantados com a
palestra, e faziam muitos comentários, como:

“Nossa professora, não sabia que na África tinha lugares tão lindos.” (aluno
6); “Professora, é bem quente, mas também é bem frio né?” (aluno 7)
(referindo-se à neve de Ifrane e ao deserto do Saara). “Professora, Marrocos
é muito chique” (aluno 8) (referindo-se aos objetos marroquinos
apresentados).
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Muitas atividades escolhidas para trabalhar as práticas corporais da cultura


africana nesta intervenção pedagógica eram conhecidas e fáceis de serem
praticadas, possuindo um grande potencial de serem adaptadas. A grande maioria
delas aconteceram como o planejado e tiveram grande aceitação.
Nas primeiras atividades, Labirinto, Ampe, Kameshi Mpku Ne (o gato e o
rato), Fogo na montanha, My God, houve grande aceitação na turma, pois são
jogos simples e envolventes, onde eles podiam vivenciar na prática as atividades,
bem como suas variações.
Na atividade seguinte, Escravos de Jó, a professora cedeu sua aula de
História para que pudéssemos trabalhar a história de Escravos de Jó, a origem e
significados das palavras da letra da música. Os alunos desconheciam a origem da
atividade, questionaram bastante o significado das palavras. Comentaram também
que conheciam outras versões da letra. Em outro momento, partimos para a prática
da atividade, onde eles gostaram muito, bem como suas variações. Uma das
variações com bastão, não deu muito certo, pois acreditamos que devido a faixa
etária, faltava-lhes coordenação motora. A adaptação com bolas, foi a que mais
deu certo, onde aconteceu uma maior interação e menos erros de coordenação
motora.
No jogo Mancala, inicialmente foi explicado sua história, seu significado,
suas regras. Alguns alunos já conheciam o jogo, porém desconheciam que tinha
origem africana. Iniciamos com apenas algumas regras, e gradativamente
incluímos as demais regras, tornando assim, mais fácil seu aprendizado. A
atividade foi muito bem aceita pelos alunos.
Para desenvolver a atividade sobre Capoeira, utilizamos aula de História
onde fizemos uma roda de conversa para trabalharmos a História da Capoeira, sua
origem, instrumentos (utilizamos imagens e vídeos), músicas, e observamos
também o que os alunos já conheciam sobre a Capoeira. Acreditamos que das
atividades praticadas, era a que eles sabiam que tinha uma origem africana,
principalmente os meninos, que relatavam várias situações vivenciadas por eles na
prática de Capoeira.
A seguir, foram proporcionadas várias atividades práticas relacionadas a
movimentos básicos da Capoeira, onde priorizamos atividades lúdicas, para que
eles vivenciassem a atividade da forma mais natural possível. Para encerrar a
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atividade, foi convidado um grupo de Capoeira da cidade, onde os alunos puderam


conhecer melhor os instrumentos (berimbau, caxixi, pandeiro, atabaque, agogô),
observando e manuseando os mesmos. Os alunos tiveram a oportunidade de
vivenciar os movimentos básicos da capoeira, cantar suas músicas, finalizando
com uma roda de Capoeira. A interação dos alunos foi excelente.
Para finalizar as atividades, trabalhamos danças de origem africana.
Inicialmente, foi previsto as danças Kabetula, Maculelê e dança Circular, porém,
observamos que a turma apresentou dificuldades na aprendizagem e memorização
de passos, então não deu tempo de trabalharmos a dança Circular. Entre as
danças trabalhadas, Maculelê e Kabetula, a que teve uma melhor interação foi o
Maculelê, onde eles gostaram muito de trabalhar com os bastões. Começamos
com vídeos e músicas de ritmos africanos, e após, começamos a introduzir os
passos e ensaio de coreografias. Para finalizar, organizamos um festival de
danças, onde os alunos apresentaram as danças para outras turmas do colégio.
Para encerrar o projeto, organizamos uma roda de conversa, onde
relembramos as etapas trabalhadas no projeto, questionário inicial, palestra,
brincadeiras, Capoeira e Danças, e após, foi questionado o que esse projeto
contribuiu para suas vidas, gerando um debate interessante e oportuno sobre a
importância que a cultura africana exerce em nossas vidas, bem como sobre o
preconceito que ainda existe sobre os afro descendentes. Os alunos foram muito
críticos levantando vários pontos conforme relatos a seguir:

“Pensei que a África não tinha nada, e com esse projeto, acabei
descobrindo que tem coisas bem legais lá” (aluno 1); “Pensava que lá só
tinha pobreza, e agora mudei meu pensamento” (aluno 2); “Antes do
projeto, eu pensava que não dava para ir na África, porque só tinha
pobreza. Agora tenho vontade de ir para a África” (aluno 3); “Antes de
conhecer melhor a África, pensava que eram maus, que lá não tinha
felicidade, só tristeza, miséria. Depois do projeto, mudei totalmente meu
pensamento.” (aluno 4); “Eu achava que a África tinha pouca cultura.
Agora sei que tem mais cultura que o Brasil”. (aluno 5); “Agora, acho que
todos nós vamos respeitar mais os negros e ajudar a combater o racismo”.
(aluno 6).

É oportuno reproduzir o quão importante foi a colaboração da direção,


funcionários e professores para o sucesso deste evento. Cada um, de sua maneira,
oportunizou o possível para melhor atender as necessidades de um projeto que
envolveu a comunidade escolar. Nos fóruns de trocas de experiências do grupo de
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professores do GTR, por muitas vezes esse assunto foi citado como fator
determinante para o desenvolvimento de projetos desse perfil.
Além da intervenção pedagógica realizada em sala de aula foi desenvolvido,
no primeiro semestre de 2017, o Grupo de Trabalho em Rede (GTR). As atividades
foram expostas aos professores participantes do grupo. Como tutora, o GTR
possibilitou experiência profissional e as situações vivenciadas agregaram para a
carreira de docente.
Ao longo do GTR houveram momentos de interação e colaboração,
excelentes discussões nos fóruns que contribuíram para este trabalho. Agregou
conhecimento e experiência para as práticas diárias.
Como exemplo das situações vivenciadas, seguem alguns relatos de
integrantes do GTR:

“O tema é muito relevante e pode ser tratado em vários momentos e


situações, inclusive quando se observa que alguém pode estar sofrendo
devido ao racismo, à discriminação, ao preconceito. Nas aulas de Educação
Física, se pode explorar a relação do tema com vários conteúdos
estruturantes, esclarecendo as influências afro-brasileiras e africanas nos
esportes, nos jogos, nas danças, nas lutas...” (professor 1).
“No Brasil, pretende-se eliminar o preconceito e o racismo através de criação
de leis, porém, é importante dizer também que é necessária, além da
conscientização, a educação, que é o principal instrumento que poderá trazer
esclarecimento a todos. Somente através de informações, conhecimento da
cultura e ´que podemos esperar uma mudança de atitudes.” (professor 2).
“Propiciar atividades que favoreçam a valorização da cultura afro no combate
a qualquer tipo de racismo, preconceito e descriminação racial”, nos levem a
trabalhar em nosso dia a dia de forma relevante, para que aconteça a
valorização da cultura afro-brasileira, promovendo um espaço onde os
alunos possam ter conhecimento e compreensão da cultura negra, através
de práticas corporais de origem e/ ou descendência africana. Como é citado
no estudo proposto, muitas vezes acontecem algumas situações de
preconceito com os afrodescendentes, em diversos momentos no cotidiano
escolar, mediante isso, torna-se necessário reverter esse quadro. Pois,
percebe-se que esse preconceito é acentuado pela ignorância de muitos
sobre a cultura afro, pois quanto mais se conhece, mais se aprende a
respeitar os valores que cada cultura traz, favorecendo assim, uma maior
integração entre todos os envolvidos no processo de educação.” (professor
3).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi possível perceber, durante todo o trabalho (tanto na parte teórica quanto
na prática), que os alunos tinham uma percepção ruim sobre a África, relacionando-
a a fatos tristes, como pobreza, escravidão, animais ferozes e muito calor, que os
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levava a pensamentos racistas e discriminatórios. Constatamos que essa percepção


se deve aos estereótipos que os mesmos possuem sobre África e os pensamentos
relacionados ao racismo são oriundos de omissões seculares na história que, ainda
hoje, refletem no imaginário coletivo da sociedade brasileira.
Esta experiência de ensino mostrou que é possível trabalhar com os conteúdos
africanos e afro brasileiros na escola, ajudando a afirmar a identidade dos alunos.
Finalmente, vale ressaltar que durante todo o processo de desenvolvimento do
projeto tivemos pontos positivos. Podemos citar o conhecimento que os alunos
tiveram sobre a origem africana de várias atividades que os mesmos já conheciam,
porém desconheciam a origem africana que as mesmas possuem. Destacamos a
palestra sobre África, onde visivelmente percebemos que os alunos teceram muitos
comentários positivos sobre o país africano Marrocos, percebendo assim que a África,
como qualquer continente, tem muitas coisas belas, bem como suas contribuições
nas práticas corporais para nossa cultura, e isso refletiu em maior respeito com os
afro descendentes, os quais tiveram uma melhora perceptível na auto estima,
diminuindo consideravelmente as atitudes racistas.
Como ponto negativo, poderíamos destacar que deveríamos ter destinado um
tempo maior para a prática das danças, para que tivesse um maior aprofundamento,
e consequentemente, maior aprendizagem e interação.

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