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TCC Modelo 2016.1
TCC Modelo 2016.1
CURSO DE DIREITO
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NOVA IGUAÇU
2016/1
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NOVA IGUAÇU
2016/1
Dedico esse trabalho aos meus pais, meus irmãos
e meu marido. Obrigada por acreditarem em mim.
Agora vamos começar a colher o que, juntos,
plantamos. Amo vocês para sempre!
AGRADECIMENTO
RESUMO
Diversos institutos já foram trazidos para o âmbito das atividades notarial e registral como
formas de desafogar o Poder Judiciário. Dentre os principais, temos o registro de propriedade,
a retificação, a legitimação da posse e o inventário e divórcio. Publicado em 17.03.2015 e
com vacatio legis2 de um ano a contar de sua publicação, o Novo Código de Processo Civil
introduziu na Lei de registros públicos (lei 6.015/73) o artigo 216-A 3, trazendo a usucapião ao
âmbito extrajudicial, como uma nova medida de desjudicialização, prejudicada, no entanto,
pelo requisito do parágrafo segundo do citado artigo, que flagrantemente vai na contramão
aos princípios da celeridade e eficiência.
SUMÁRIO
1. Introdução; 2. Origem histórica e conceito da usucapião; 3. Função da atividade notarial e
registral: delegação extrajudicial; 3.1. Registro de Imóveis; 4. Das medidas de
Desjudicialização de institutos jurídicos através de registro de imóveis; 4.1. Do registro de
propriedade (art. 26 da lei 6766/79); 4.2. Retificação extrajudicial (lei 10.931/04); 4.3.
Sucesso do inventário e divórcio extrajudicial (lei 11.441/07); 4.4. Legitimação da posse (lei
11.977/09); 5. Da usucapião extrajudicial como forma de Desjudicialização e sua trajetória no
registro de imóveis (lei 13.105/15); 6. Dos requisitos para o registro da Usucapião no registro
de imóveis e a flagrante violação aos princípios da celeridade e eficiência; 7. Conclusão; 8.
Referências.
1 INTRODUÇÃO
1
Aluna da UNESA do Campus de Nova Iguaçu, cursando o 10º período do curso de Direito e Escrevente
Auxiliar no Cartório de Registro de Imóveis do 3º Ofício de Justiça de Belford Roxo.
2
“Vacatio legis é um termo jurídico, de origem latina, que significa vacância da lei, ou seja, “a Lei Vaga”, que é
o período que decorre entre o dia da publicação de uma lei e o dia em que ela entra em vigor, ou seja, que tem
seu cumprimento obrigatório”.
3
Artigo 216-A da lei de Registro Público: Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de
reconhecimento extrajudicial de usucapião, que será processado diretamente perante o cartório do registro de
imóveis da comarca em que estiver situado o imóvel usucapiendo, a requerimento do interessado, representado
por advogado, instruído com: (...)
6
posteriores, como ser vista como medida de desjudicialização efetiva em virtude do grande
retrocesso quanto à operacionalização dos princípios da celeridade e eficiência.
A metodologia aplicada neste trabalho é de cunho bibliográfico, haja vista focar na
legislação vigente referente ao tema da pesquisa, livros e artigos retirados da internet.
Nessa linha acerca da natureza jurídica da usucapião, o saudoso professor, Caio Mário
da Silva Pereira (Instituições de direito civil. 2009, p.118), conceitua o instituto como forma
derivada de aquisição, uma vez que, para ele, “é modalidade aquisitiva que pressupõe a perda
do domínio por outrem, em benefício do usucapiente.”8
No entanto, a questão chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF, RDA 73:160 e RTJ,
117:652) e prevaleceu o entendimento que a aquisição é originária, inocorrendo transmissão.
Em outras palavras, é originária porque não há qualquer vinculação com o dono anterior, e
nessa situação a propriedade será adquirida de forma plena, sem quaisquer restrições e ônus.
Além disso, sem alienante voluntário, não há transmissão. E sem transmissão, não há
cobrança de imposto de transmissão (ITBI) pelo ente público fazendário municipal, uma vez
que ausente o fato gerador.
Ademais, não basta que o possuidor exerça a posse por muito tempo, mas também lhe
é exigida a posse qualificada, ou seja, a posse que reúna elementos mínimos, como: posse sem
interrupção (contínua), posse sem oposição (mansa e pacífica) e posse (animus domini).
7
FIUZA, César. Direito Civil: curso completo/ César Fiuza. – 16º ed. Revista, atualizada e ampliada. – Belo
Horizonte: Del Rey, 2013.
8
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro, Editora Forense, 2009.
9
razão pela qual as delegações atuam sempre em prol do usuário, guiada pelos princípios
basilares da administração, principalmente, pelo princípio da eficiência.
O tabelião de protesto e Oficial de Registro, Emanoel Macabu Moraes, resume
posicionamento extraído de julgado do Supremo Tribunal Federal (ADIN 2.602/Minas
Gerais) no sentido de que:
10
Lei de Registro Público, publicada no Diário Oficial da União, de 31/12/1973. Republicada em 16/09/1975 e
retificada em 30/10/1975.
11
Kern, Marinho Dembinski. A lei 13.097/2015 adotou o princípio da fé pública registral? R evista de Direito
Imobiliário. Coordenação:Leonardo Brandelli. Publicação oficial Instituto de Registro Imobiliário do Brasil.
Thomson Reuters-Revista dos Tribunais .Ano 38. 78. Julho-Dezembro/2015.
12
Este instituto, inclusive, pode ser entendido como uma adjudicação compulsória
extrajudicial, já que seus requisitos se assemelham à ação judicial, sendo, contudo,
fundamental, para o enquadramento do caso ao artigo 26, §6° da lei 6766/79, o registro da
promessa ou cessão no registro de imóveis competente.
Fato é que, embora a súmula 239 do Superior Tribunal de Justiça estabeleça que “o
direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do compromisso de compra e
venda no cartório de imóveis”, essa orientação, na verdade, parece ter sido superada pelo
artigo 1.417 do Código Civil:
Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou arrependimento,
celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no Cartório de Registro
de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à aquisição do imóvel.
12
ZAMPIER, Débora. Tribunais investem em desjudicialização e comemoram resultado. Disponível em
http://www.cnj.jus.br/notíricias/cnj/80389-tribunais-investem-em-desjudicializacao-e-comemoram-resultados.
Acesso em 28 de Abril de 2016.
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notário e será elaborada pelo tabelião de notas de livre escolha da parte, podendo o
delegatário comparecer ao local do imóvel para verificar a exteriorização da posse, os indícios
de sua duração e demais circunstâncias relevantes, às expensas do requerente.
Note-se, no entanto, que ao tabelião de notas é vedado realizar diligências fora dos
limites territoriais do município de sua atuação, nos termos do art. 9º da Lei 8.935/1994. Não
sendo realizada diligência devem comparecer ao tabelionato de notas para a lavratura da ata
notarial tanto o solicitante a quem a posse mansa e pacífica pertence quanto às testemunhas do
fato da exteriorização da posse.
A ata notarial, prevista no artigo 384 do Novo Código de Processo Civil, foi definida
por Josefina Chinea Guevara, em La actividad del notario y los diversos tipos de actas, como:
Ata notarial será todo documento público autorizado por tabelião que não tenha a
forma de escritura. Portanto, não terão como conteúdo um ato jurídico; e sim, fatos,
atos ou circunstâncias de relevância jurídica dos quais se derivem ou declarem
direitos ou interesses legítimos para as pessoas, ou qualquer outro ato de declaração
lícita que por sua natureza não constitua ato jurídico (GUEVARA, Josefina Chinea
La actividad del notario y los diversos tipos de actas. Disponível em
http://www.atanotarial.org.br/ata_notarial.asp. Acesso em 01/06/201513).
Assim, frise-se, para lavrar a ata, o tabelião deverá ir até o imóvel e verificar a
exteriorização da posse, não obstante a possibilidade de a testemunha do requerente
comparecer ao tabelionato de notas para declarar seu conhecimento sobre a posse do
usucapiente.
Por óbvio, o requerimento também deverá vir acompanhado da planta do imóvel,
assim como já é feito na via judicial, bem como por memorial descritivo e Anotação de
Responsabilidade Técnica (ART). A planta, no entanto, deverá ser assinada pelos titulares de
direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel
usucapiendo, e nas matrículas dos imóveis confinantes, manifestando concordância ao pedido
a fim de que seja caracterizado o consenso. E é exatamente nessa norma legal que se encontra
o principal obstáculo à consumação da desjudicialização do instituto da usucapião.
Ora, se a usucapião tem natureza jurídica de aquisição originária da propriedade, como
já pacificado perante o Supremo Tribunal Federal e diversos doutrinadores renomados, não
haveria qualquer vínculo do possuidor do imóvel usucapiendo com o antigo dono, aquele
descrito no fólio real, pois inexistiria voluntariedade de transmissão. Logo, como poderia o
13
GUEVAVA, Josefina, Chinea. La atividade del notário y los diversos tipos de actos. Disponível em
http://www.atanotarial.org.br/atanotarial.asp. Acesso em 01.06.2015.
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possuidor conseguir assinaturas dos titulares de direitos reais e de outros direitos registrados
ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo, e nas matrículas dos imóveis confinantes?
A regra acima além de impossível de ser cumprida, caracterizando verdadeiro
retrocesso quanto aos avanços já obtidos pelos princípios da celeridade e eficiência, ainda vai
na contramão da característica originária de tal aquisição, uma vez que demanda a criação de
vínculo jurídico que o instituto não possui. Tornar-se-ia derivada a usucapião?
Caso essa etapa seja cumprida, recebida a petição, com os documentos já citados, o
procedimento irá ser desenvolvido sob a condução do Oficial de Registro de Imóveis, sendo
dispensada a fiscalização do Ministério Público ou a homologação judicial, sem deixar de
observar a cautela adotada na via judicial, sendo prenotado no livro de protocolos e assim se
iniciará a qualificação do título.
Ausente algum documento ou algum elemento essencial ao registro da usucapião, o
registrador formulará exigência, a qual deverá ser cumprida pela parte interessada para suprir
as lacunas que foram encontradas no procedimento e que não sendo cumpridas poderá ser
objeto de suscitação de dúvida, bem como notificará os interessados que não tenham assinado
a planta com o fito de se manifestarem. A fazenda pública também deverá ser notificada para
eventual impugnação de que o imóvel possa ser público e, portanto, não usucapível.
Além de tudo, deverá o oficial de registro publicar edital em jornal de grande
circulação para dar publicidade a terceiros, que poderão impugnar o pedido.
Todas as manifestações deverão ser elaboradas por escritura e protocoladas junto ao
cartório de registro de imóveis, que serão encaminhadas ao juízo competente para apreciação,
e o silêncio não importará anuência, como ocorre na retificação extrajudicial.
Vale observar que o maior obstáculo à efetividade do novo instituto poderá ser
exatamente a recusa do titular de direito real sobre o imóvel usucapiendo ou confrontante em
assinar a planta ou até mesmo sua não localização.
O registrador poderá, ainda, realizar diligências que julgar necessárias, para sanar
eventuais dúvidas. Tudo com a máxima cautela, priorizando a segurança jurídica.
No entanto, não ocorrendo qualquer manifestação contrária ao pedido ou ausente
manifestação expressa dos confrontantes ou exigência não cumprida, o registrador deverá
apreciar o requerimento da usucapião, e registrar caso a qualificação seja positiva.
Essa decisão não obsta o ajuizamento de ação, até porque isso seria uma violação ao
princípio do acesso à justiça.
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Diante disso, a atribuição aos notários e aos registradores de soluções de questões sem
litígio as quais envolvam direitos disponíveis poderá vir a colaborar para desafogar a justiça
somente se houver manifestação expressa do antigo dono, inserindo, assim, a usucapião no
fenômeno da desjudicialização de forma ineficaz, retrocedendo para tornar o instituto
aquisição derivada, o que não se coaduna com o posicionamento do Supremo Tribunal
Federal.
Poder Judiciário, o que não se coaduna com os princípios da celeridade e eficiência, previstos
tanto para o Registro de Imóveis, como para qualquer medida de desjudicialização que se
preze.
Neste diapasão, José Lucas Rodrigues Olgado14 aborda:
Aliás, a presunção da discordância è que não parece estar em harmonia com os
valores de eticidade, socialidade e operabilidade que informam o Código Civil de
2002. Consoante esses valores, a discordância deve ser expressa e fundamentada,
pois se for vazia, sem motivos, configurará o abuso de direito previsto no art. 187 do
CC/2002. Assim, nada mais justo que, aquele que discordar do exercício de um
direito, tenha o ônus de apresentar seus fundamentos. Admitir o contrario possibilita
ao proprietário desidioso e eventuais vizinhos contendedores, impedirem o livre
exercício de um direito potestativo, legitimando a situação de abuso de direito
O texto do artigo 216-A, II, §2º nos parece inadequado ao objetivo proposto que seria
o da celeridade nos processos extrajudiciais, uma vez que a usucapião é um instituto que no
que concerne não é exigido, impreterivelmente, consenso ou concordância entre o requerente
e o requerido, tendo em vista que, mesmo que com ausência do consenso, mas cumprida as
condições legais impostas pelo usucapiente, este estaria com plenas possibilidades de adquirir
o imóvel usucapiendo.
Por conseguinte, pode-se estimar que tal procedimento só terá eficácia àqueles casos
em que houver um negócio anterior entre o usucapiente e o titular do domínio do imóvel, pois
assim haverá registro da matrícula do imóvel e sua anuência contribuirá para a eficiência da
usucapião extrajudicial. Ora, se o titular do domínio, em algum momento, pactuou com o
usucapiente, haveria relação jurídica e a aquisição, nesse caso, se daria de forma derivada,
com todas as características dos direitos reais, como direito de preferência e sequela, o que
não parece ser razoável já que esta não é a verdadeira natureza jurídica da usucapião.
Originar-se-á, entretanto, um problema de impossível solução na conjectura em que
haja o silêncio do titular do direito real sobre o imóvel, sem que isso signifique, propriamente,
em discordância com a realização do procedimento, mas representa indiferença às
decorrências de sua não manifestação expressamente, nada obstante que venha a ser a
hipótese mais ocasionada nos futuros procedimentos.
Em 12 de maio de 2016 saiu uma publicação oficial do Tribunal de Justiça do Estado
do Rio de Janeiro, as folhas 61/66 ano 08, nº 164/2016, caderno 01-Administrativo, com
Parecer firmado pela juíza auxiliar Ana Lucia Viera do Carmo e Provimento CGJ Nº 23/2016
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OLGADO, José Lucas Rodrigues. O papel da ata notarial no procedimento extrajudicial de usucapião. Revista
de Direito Imobiliário. Coordenação:Leonardo Brandelli. Publicação oficial Instituto de Registro Imobiliário do
Brasil. Thomson Reuters-Revista dos Tribunais. Ano 38. 79. Julho-Dezembro/2015.
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5 CONCLUSÃO
sofriam com a morosidade do Poder Judiciário. Todavia, não se pode introduzir um instituto
que vise agilizar a satisfação dos anseios da sociedade moderna, que necessita de soluções
dinâmicas para seus conflitos, sem que sejam garantidos os princípios da celeridade e
eficiência, sob pena de perder seu sentido, retrocedendo.
6 REFERÊNCIAS
CASTRO, Guilherme de Couto de. Direito Civil: Lições. 5º edição. Niterói, RJ. Impetrus.
2012.
FIUZA, César. Direito Civil: curso completo. 16º edição. Revista atualizada e ampliada.
Belo Horizonte. Del Rey. 2013.
PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro. Editora
Forense. 2012.
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: direitos reais. 5º edição. Coleção direito civil,
volume V. São Paulo. Atlas. 2013
Legislação:
LEI Nº 11.977, DE 7 DE JULHO DE 2009. Dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha
Vida – PMCMV e a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas;
altera o Decreto-Lei no 3.365, de 21 de junho de 1941, as Leis nos 4.380, de 21 de agosto de
1964, 6.015, de 31 de dezembro de 1973, 8.036, de 11 de maio de 1990, e 10.257, de 10 de
julho de 2001, e a Medida Provisória no 2.197-43, de 24 de agosto de 2001; e dá outras
providências.
NICOLETTI, CÉSPEDES, CURIA, VADE MECUM, 19ªed atual.e amp- São Paulo. Saraiva,
2015.