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PUC/SP
As espacialidades em montagem
no cinema e na televisão
São Paulo
2008
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC/SP
As espacialidades em montagem
no cinema e na televisão
São Paulo
2008
Banca examinadora
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Pesquisa de Doutorado realizada com o auxílio da bolsa de estudos,
concedida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq).
À Regiane
Com carinho e com afeto.
Agradecimentos
Toda boa caminhada se faz sempre no diálogo com o outro. Essa trajetória,
intensa e instigante, foi construída dessa maneira. Nela, entrecruzaram-se
diferentes vozes que contribuíram para a sua expansão. Nomear cada uma
delas é uma forma de expressar os meus sinceros agradecimentos:
À Profa. Dra. Carmen Lúcia José, por me acompanhar todos esses anos, com
suas sábias palavras e seus gestos nobres.
Aos integrantes dos grupos Oktiabr e Espacc, pelas reuniões de estudos, que
muito contribuíram para a composição desta tese.
À Michiko Okano, Karin Thrall e Adriana Vaz Ramos. Amizades feitas nesta
jornada no COS, que levo para outras jornadas.
À Paola Maria Felipe dos Anjos e Sônia Yoshie Nakagawa, pela leitura
cuidadosa desta pesquisa.
Fig. 15- Enquadramento de costas das personagens: Nathan e Carrie; Elias; Britanny,
Jordan e Nicole...................................................................................................................54
Introdução..........................................................................................................................01
Referências bibliográficas.............................................................................................190
Introdução
que sua obra poderia provocar, uma vez que ela foi pensada como um
membros e coração, A pedra do reino “não tem início, meio e fim, pois cada
2
(MENEGHINI, 2007).
(COLOMBO, 2007).
De certa maneira, a expectativa do diretor, em relação à atitude
traduções e bifurcações.
com a microssérie Hoje é dia de Maria, também exibida pela Rede Globo
Maria. Eles buscam traduzir o universo labiríntico não de Ariano, mas dos
segunda jornada.
restabelecida por esse mesmo diretor, desta vez, por meio do cinema, na
trilogia Trois coleurs: Bleu (1993), Blanc (1994) e Rouge (1994). Cada
base para narrar uma determinada história, pode ser vista também em outros
ostra e o vento (Walter Lima Jr./ 1997); Corra, Lola, corra (Tom Tykwer/ 1998);
2003).
a lado, para que o espectador possa escolher qual deles quer assistir. Sua
os filmes escolhe se quer ou não fumar. Trata-se de uma cena crucial para a
trajetória dos dois longas-metragens, pois, a partir dela, cada filme segue
organização.
que o fim parece não existir. Da cartola, saíram questões como: “Quais são
os traços característicos do espaço nos textos audiovisuais?”, “Quais as
dessas linguagens?”.
não existe, a não ser como discurso, junto ao qual o que se tem são conceitos
concretude dos objetos. Isso ocorre porque, de acordo com Ferrara (2004-
somente por meio das espacialidades que o espaço mostra-se como objeto
fenômeno de linguagens.
com o espectador.
3
Idem nota 02.
8
“natural” dos fatos. Ao passo que, na primeira, por não estar sujeita às regras
estrutura.
escolhidos dois: A ostra e o vento (Walter Lima Jr.) e Elefante (Gus Van
Fernando Carvalho.
das franjas do mar (Hoje é dia de Maria). Esse traço em comum tanto os
montagem.
“qualidade rara do ver o que está diante dos olhos” (1974:23). Espera-se
1.
As espacialidades diagramáticas do cinema
versa.
14
Van Sant afirma que procurou “subverter a utilização habitual das técnicas
1. 1.Entrando no labirinto
caminhos errantes e a produzir uma trajetória que o leve para fora das amarras
desse espaço.
só para si, Minos ludibria seus irmãos, afirmando que ele era o preferido
pelos deuses para assumir o trono. Para provar isso, profere que tudo o que
cabia ao deus fazer um ser surgir do mar a pedido de Minos que, em troca,
faz emergir dos mares um belo touro branco, que ratifica a exclusividade do
trono a favor de Minos; porém, o novo rei, encantado com a beleza do animal,
incorpora o touro à sua manada e sacrifica outro em seu lugar. O rompimento
o nascimento do Minotauro.
desperta a paixão de Ariadne, filha do rei Minos, que, movida por tal
sentimento, lhe entrega um rolo de fio para que ele fosse desenrolado durante
2002:83).
17
ilha por causa do ciúme de seu pai, ao passo que, em Elefante, os alunos
(Ricardo Marecos) e Carrera (Márcio Vito) à Ilha dos Afogados, após a noite
quando ele ainda era o ajudante de faroleiro de José, nos quais se observam
embriagado.
Além disso, há também as histórias contadas pelos pontos de vista
filha, que traz à tona a conturbada relação que teve com a esposa (Débora
entretecidas. A compreensão da
a ilha, pintada em uma placa de vidro. Esta fica disposta entre a câmera e o
objeto filmado para, com isso, conseguir uma imagem por sobreposição
seu pai representado pelo farol são duas metáforas indiciadas nesse plano
5
Idem nota 04.
20
O início de cada
seqüência, numerada
de 1 a 25, ocorre nos
seguintes momentos:
1) 02:13; 2) 03:53
3) 04:17; 4) 09:25
5)10:42; 6) 11:44
7) 12:45; 8) 17:03
9) 18:57; 10) 20:58
11) 22:46; 12) 23:16
13) 24:06; 14) 25:10
15) 26:40; 16) 27:05
17) 29:25; 18) 29:27
19) 40:14; 20) 40:47
21) 66:23; 22) 68:10
23) 71:35; 24) 72:01
25) 97:20.
espacialidade circular.
Formado a partir do primeiro plano geral da Ilha dos Afogados (I) até
anteriores a ele. Para criar esse efeito de sentido, que vai alterando de um
que o sol se põe, quando os barqueiros deixam a ilha, enquanto Daniel decide
surge na tela pela primeira vez com 13 anos (seqüência 4). Mais adiante,
7
Idem nota 04.
24
aos 20:58 (10), com 6 anos e, nas seqüências seguintes (12,14,16,18), ela
24), em que Marcela surge com uma determinada idade (13 anos) e, logo
material audiovisual:
Eisenstein não coincide com a descrição usual dada pela gramática clássica
extensão de filme compreendida entre dois cortes, o que significa dizer que
sobretudo, à idéia de atração, que foi desenvolvida por ele no período anterior
Segundo Eisenstein:
1983:485).
Assim:
entre células, nas quais, segundo Machado (1982:45), uma célula funciona
com funções distintas, que se ordenam por vizinhança e pela sucessão para,
separam.
segmento “A”, formado a partir do primeiro plano geral da Ilha dos Afogados
(I) até o segundo plano (II), há 25 imagens com função de interface8. Elas se
para gerar lugares onde se compõe o diálogo dissonante, por exemplo, entre
o dia e a noite, ou, ainda, entre o outrora e o agora. São formas de representar
boneca em sua cama (fig. 5). Logo em seguida, surge o contexto relativo
apenas por meio do efeito sonoro, mas Fig. 06- Plano de detalhe da mão de Daniel.
também pela trilha sonora e pelas vozes over das personagens. Segundo
em que ele consegue, no caso do filme de Lima Jr., ler a tensão entre
discute com Daniel, por este último estar bisbilhotando o seu livro de registros;
plano funciona como célula, ao gerar uma qualidade dominante que eclode
maneira pela qual a linguagem articula as várias tensões que se formam nas
indícios, que a linguagem irrompe o seu estado inerte como mensagem para
superior direito, onde estão Marcela, seu pai e Roberto almoçando, o que
a espacialidade tensiva entre células, visto que ela se forma por meio da
11-12 e 23-24.
janela da casa, por onde entra a luz forte do dia, abre e fecha com o sopro
(fig. 8).
de espacialização.
que serviu como texto base para a releitura de Lima Jr. No romance, a figura
do narrador é imprescindível para as diversas debreagens entre os contextos,
Final do capítulo 3
Início do capítulo 4
esperançoso de reavê-la, ele caminha pela ilha gritando o seu nome. Entre
de sua memória.
Na passagem entre a frase “em que idade era ela e esta ilha?” e
“sim... ela está ali”, alteram-se os tempos verbais, que passam do pretérito
páginas do livro. No trecho citado, a pergunta “em que idade era ela e esta
não apenas a ruptura, mas, também, a relação entre eles, no efeito de sentido
na descontinuidade.
obscuros.
processo comunicacional.
seja, onde o limiar é mais denso, mais delimitador, por causa das relações
68).
transpor ou diminuir a barreira entre si. Nesse sentido, toda fronteira é uma
no outro.
literatura fronteiras onde se trocam não apenas dados referenciais, tais como
geral da Ilha dos Afogados (II) até o terceiro plano (III), indicado, no diagrama
e pela letra “C”, que vai do terceiro plano geral da Ilha dos Afogados (III) até
o primeiro (I) e vice-versa. Nesse trecho, segundo Lima Jr. (2002)9, “o círculo
é feita primeira pelo plano da ilha (I) seguido pelo plano do diário (X1) e, no
ilha (III).
limites, construindo, com isso, uma estrutura onde não há início e nem fim,
mas o continuum que se forma entre as suas “bordas”. Através da figura
pelo ciúme doentio de seu pai. É similar a uma ilha que funciona como o
da ilha, uma extensão de terra cercada de água por todos os lados, enquanto
Composto por dois signos que, juntos, remetem à ilha como clausura,
o nome “Marcela”, agregado ao plano geral da Ilha dos Afogados, em cujo
em pleno vôo, que constrói o seu ponto de vista, e pela voz over que ecoa
1.3. O minoelefante
Dirigido por Gus Van Sant, o longa-metragem Elefante narra, por meio
alunos, Eric Harris, 18 anos, e Dylan Klebold, 17, invadiram a escola, munidos
No longa-metragem Elefante,
Sant, é formada pelas trajetórias dos alunos, dentro e fora da escola. Elas
Alex (Eric Deulen e Alex Frost), 6) Michelle (Kristen Hicks), 7) Britanny, Jordan
tal como em uma partitura musical, como bem observou Eisenstein, quando
entre os planos de uma faixa produz o que Deleuze denomina como imagem
A) John
B) Elias
C) Michele
D) Nathan & Carrie
E) Acadia
F) Eric & Alex
G) Britanny, Jordan & Nicole
H) Benny
* Os seguimentos de números 1,
20 e 25 não estão vinculados a
nenhuma personagem, pois são
seqüências de planos gerais fixos
do céu, a princípio, para
demonstrar a passagem do
tempo. Todos os outros
seguimentos se referem às faixas
de uma personagem ou de um
grupo, que vão se entrecruzando
no decorrer da história para serem
amarradas em um único nó, a
partir do segmento de número 24,
quando os alunos responsáveis
pelo massacre entram na escola.
lógica das partes como sendo semelhante a do todo. Aliás, as duas fontes
citadas como inspirações para o título do filme atentam para essa ignorância
elefante, cada um acreditando saber o que tinha diante de si (um rabo, uma
pata, uma orelha, uma tromba) sem jamais conseguir juntar as diferentes
passagem de uma faixa à outra, como ocorre, por exemplo, entre 2A e 3B,
há uma interface, em que cada linha funciona como uma célula de montagem,
gerando, no seu interior, algum elemento construtivo que colide com outro
entre as partes, na qual uma linha não se une à outra, mas elas tencionam
umas as outras.
49).
que acompanha cada personagem (figs. 11, 12, 13). Dessa forma, surgem
uma mediação, visto que o texto requer uma intensa interação com o
53
conflito.
utilizado por uma das personagens assassinas, Eric. Ele está deitado na
enterrados na neve até a cintura, conforme vão sendo abatidos (fig. 14).
tal como ocorre no game, tornar-se alvo de Alex e Eric, ao entrar no campo
Fig. 15- Enquadramento de costas das personagens: Nathan e Carrie; Elias; Britanny,
Jordan e Nicole.
55
aos 1:02:47, surge uma imagem que se constrói quase como um “decalque”
pela câmera subjetiva e por uma parte do cano da arma, projetado contra
um alvo à sua frente. Tal como nas imagens dos alunos enquadrados de
(fig. 17), por onde trafegam todas as principais personagens, pois ele interliga
uma prisão (fig. 18) e o piso pode suscitar a imagem do tabuleiro de xadrez
demais, o main hallway é a peça chave Fig.19 – Eric e Alex no main hallway.
Nathan e Carrie.
de persuasão e de encantamento do
Fig. 20- Travelling de 360° em torno
da personagem Alex.
60
segunda gerações.
cultural. Segundo Lotman, todo texto é algo que “debe estar codificado,
como mínimo, dos veces” (1996:78), uma vez que ele não se constrói apenas
por uma única linguagem ou uma única cultura. Através do texto é possível
construtibilidade dos textos é feita através das fronteiras, que são ambíguas
contrário. Primeiro, porque toda tradução nunca é exata, mas sempre parcial,
É por isso que Lotman entende o texto como sendo “un espacio
Nele, as fronteiras produzem um processo onde “se crea una estructura única,
perceber com tanta facilidade. Ela surge aos 45:47 minutos da projeção do
travelling.
sete erros, “recupera”, pela leitura, a figura que talvez tenha passado
quarto dos futuros criminosos, mas poucos conseguem percebê-lo, tal como
presente no documentário de Alan Clarke, o qual Van Sant usou como uma
em montagem.
gerada por uma fonte deve ser a mesma a qual o destinatário tem acesso,
pois elas mediatizam-se pela resposta pari passu do leitor, que produz, por
meio delas, um outro signo mais elaborado, formado, no caso dos filmes
desautomatizada.
no teatro, pela montagem de atrações, até sua incursão pelo cinema, por
motriz que, a sua vez, produce una emoción; la emoción pone entonces en
analogia com objeto, daí a sua caracterização icônica. Porém, ele não
13
Idem nota 2.
66
que haja um consenso literal entre leitura e tessitura, porque, sobretudo, busca-
2.
A representação do espaço na jornada de Maria
(COLOMBO, 2007).
para TV. Machado, em seu livro A televisão levada a sério (2000), alerta
outras esferas como se fossem próteses, a fim de, com isso, conseguir um
exibição pela TV das peças teatrais sem nenhuma relação experimental com
o código televisual, as inúmeras adaptações literárias que giram em torno
apenas dos temas e dos motivos abordados nos textos literários ou, ainda,
“imagem de cinema”.
na televisão. Para investigar essa questão, foi selecionada para este capítulo
da televisão.
como se fosse uma tomada, ao escolher e combinar suas partes pelo “corte
1994:163).
38).
Ao pensar a montagem para além das fronteiras da tessitura fílmica,
ele procura demonstrar que a sua construtibilidade não se limita apenas aos
1990a: 16).
percepção apenas da mistura formada entre elas pela cor violeta. Têm-se,
deixar “engolir” facilmente pela relação com o outro plano possibilita deixar
através de um meio que inscreve e, com isso, representa uma dada realidade
célula.
quer dizer que o suporte, por si só, é capaz de originar uma nova linguagem.
Porém, conforme afirma Debray (2000), o suporte não apenas constitui uma
mera base material para a gravação das mensagens, mas ele também
“propõe sem dispor” (DEBRAY, 2000:27), ou seja, o modo como ele inscreve
do receptor.
descontínuo. Tal como o zipper, aquele que recorta o texto gravado pelo
como um processo que vai sendo desvelado de conflito em conflito até chegar
da meta-narrativa, não como uma tábua rasa que inaugura um novo ponto
rumo ao progresso.
mas ele é uma de suas facetas, justamente aquela “obcecada pelo volume,
78
uma utopia na qual se isola “do contexto histórico um caráter, que se crê
mais significativo, e (se) fantasia seu desenvolvimento in vitrô, sem
ser fabricado como uma forma fixa de pensar e de agir, que deveria, ao
por uma linearidade progressiva, sendo que cada fragmento representa uma
para exibir uma progressão hierarquizada entre eles, sem haver, no entanto,
passou ileso pelo pensamento moderno; pelo contrário, esse choque atinge
televisivo.
e, como tal, ela tem na representação do tempo uma base que permite tornar
contíguas as diversas relações de continuidade. Nela, há o domínio da
representação do tempo sobre o espaço e, por isso, pode-se afirmar que tal
ela se expressa e, com isso, expande-se, por exemplo, pelos conflitos entre
desenhos do espaço.
evitar os vários apartes que seriam necessários para situar o leitor sobre o
compilados por Câmara Cascudo e Sílvio Romero, escrita por Luiz Fernando
seus 40 anos.
mar”. Garota simples, ela vive com o pai (Osmar Prado) em uma roça que já
estuprar a própria filha. O ato não se consuma, pois surge no céu o Pássaro
Cansada dos maus tratos, Maria, com a posse da chave mágica dada
pela mãe, foge de casa em busca do tesouro que está lá nas “terras de
lonjura, perto das franjas do mar”. Para encontrá-lo, ela precisa passar pela
Terra do Sol a Pino, local onde o sol nunca se põe e onde “seca bicho, homem,
Camilo), rapaz de boa índole, que vende a própria sombra para o demônio
lhes a dívida não paga durante a vida. E, ainda, ela cruza o espaço das
Asmodeu, o diabo, feito pelo ator Stênio Garcia. Coisa ruim, ele não é fácil
plano maquiavélico que pretende executar. Tal como o dito popular que afirma
que o gato possui sete vidas, Asmodeu também tem nas mangas seis outras
(Ricardo Blat).
converter em noite por causa do objeto mágico dado pelos índios Xavantes
outras sensações que não faziam parte do seu universo. Dessa forma, o
a acompanha.
Maria e Amado não foge à regra. A começar pela maldição que acomete
pequena, sem perceber, toma o rumo de volta para casa. Durante o retorno,
suas condições de vida. Haja vista, por exemplo, Zé Cangaia, antes sujeito
seca X chuva, assim como, bem X mal, menina X mulher, ida X volta, homem
microssérie.
prosperando e o lar todo refeito, pois os irmãos não partiram, a mãe está
viva e o pai, sóbrio e amável, trabalha na colheita com a família —, que conta
87
melhorar a situação, a madrasta nunca se casou com seu pai, mas com o
convencional, mas numa construção esférica, onde foi possível filmar tomadas
por Clécio Regis, para representar Fig. 22- Vista externa do domo
produções.
Em entrevista publicada no
encarte que acompanha a versão em
ou sem função, mas que possuem, ainda, uma alta capacidade em potência
de representação.
modos de usos que uma combinação possa ter ou, a partir dela, propor
memória presente nos textos culturais, tal como entende Lotman, a qual será
discutida mais adiante, pois tanto o uso quanto o arranjo primevos não são
91
vez que “o redesenho deixa patente o discurso anterior, porém cede a ele
(BASTOS, 2003:04).
concreta, cuja matéria-prima não parte das notas musicais, mas das amostras
distintos de reciclagem.
passa a ser diagramada pelo embate de, pelo menos, dois modos de
Boninho, ao ser perguntado pelo Jornal Folha de São Paulo sobre a relação
2007).
36; 42; 56), na qual o “conteúdo” de um novo meio não surge do nada, mas
arranjo, feito pelo compositor Tim Rescala. Remixados num mesmo sintagma
sonoro19, trechos de Sapo jururu; O cravo e a rosa; Cai, cai, balão; Que
popular.
microssérie.
de uma peça teatral com a subida das cortinas (a), a partida do pai enquanto
pai de Maria (c), a cena dos executivos espancando um cadáver (d), a fuga
dos retirantes por causa da seca (e), a andança a cavalo dos nativos (f), o
em atividade (h), o casamento de Maria com o príncipe (i), até finalizar com
o palco italiano (j), onde, em cena, se escreve o nome do programa (fig.24).
pluraliza suas funções, expandindo-as para além dos usos habituais. Esses,
iniciais.
a)
f)
b)
g)
c)
h)
d)
i)
e)
j)
se essa “costura” com o signo “Maria”, que surge como uma palavra bordada
microssérie.
responde:
índices de alguns dos plots que serão desenvolvidos em Hoje é dia de Maria.
se estrutura como um signo que remete a uma dada história, assim como
cada trecho sonoro das cantigas de roda funciona como índice das
para a história e, ao mesmo tempo, partindo dela para fora dos limites do
e as cantigas de roda.
sua perna, o Maltrapilho é socorrido pela garota que molha na água a barra
executivos.
casa para iniciar a jornada, ela funciona como sinal sonoro que demarca o
referencial do córrego que separa e aproxima dois mundos: aquele que ficou
para trás e o outro que desponta como futuro. Dessa maneira, o uso da
canção na diegese articula-se tal como numa vinheta mediante uma de suas
funções: servir como texto intermediário entre dois enunciados e, com isso,
que segue a sua trajetória, após haver a alteração do dia para a noite. Dessa
cena.
dia de Maria tem como base diferentes contos maravilhosos, dos quais fo-
21
Em Hoje é dia de Maria, a protagonista encontra um castelo onde reina a infelicidade por causa do
sumiço do príncipe. Trata-se do início de A lebre encantada, quando o príncipe sai para caçar lebres
e encontra um outro palácio, após adentrar um buraco. Encantado com o novo lugar, ele não retorna à
casa. Tal atitude acaba gerando a infelicidade no reino de origem.
22
Versão de a Bela adormecida (La belle au bois dormant). No conto, todos os moradores do castelo
foram enfeitiçados por uma fada velha que os pôs a dormir por cem anos. Apesar de os habitantes do
castelo não terem sido enfeitiçados como no conto, a maioria dos moradores é representada por
imensos bonecos que permanecem imóveis até o retorno do príncipe. Postura semelhante àquela
tomada pelo sol que, de desgosto, “se estatelô lá no céu e só se mexe de novo quando o moço
Príncipe vortá”.
23
Versões do conto A gata borralheira ou Cinderela, denominações mais conhecidas no imaginário
popular. A história da enteada maltratada pela madrasta e que depois se casa com o príncipe
encantado, após ter calçado o sapatinho mágico, está quase na íntegra na microssérie. As versões
do interior do Rio Grande do Norte e de Sergipe, respectivamente compiladas por Cascudo e Romero,
também contém a personagem do doador como um mortal de boa índole que depois se transforma em
Deus ou Nossa Senhora. Esse papel dúbio do doador também surge em Hoje é dia de Maria através
das personagens mãe/ Nossa Senhora, ambas interpretadas por Juliana Carneiro da Cunha.
24
Outra variante do conto A gata borralheira.
104
Dessas histórias, sai a personagem do príncipe que de noite é homem e, de dia, transforma-se em
25
papagaio. Essa personagem ambígua migra para microssérie mediante a figura de Amado e do
Pássaro Incomum. Nos contos, o papagaio é afastado pela irmã ou vizinha de sua amante, dependo
da versão, por causa da inveja dela em relação ao amor entre o príncipe e a moça, assim como ocorre
em Hoje é dia de Maria no triângulo formado por Amado, Maria e Quirino.
26
A história em si não foi aproveitada na microssérie, apenas os nomes Quirino e Rosa. No conto, eles
se referem ao vaqueiro e à filha do fidalgo, sua futura esposa, e, em Hoje é dia de Maria, eles batizam
os irmãos saltimbancos.
27
Classificada por Câmara Cascudo como conto de adivinhação, Carvalho e Abreu retiram da narrativa
justamente o desafio de três perguntas, lançado pelo rei ao frei/padre. Na versão de Cascudo, as três
questões lançadas são: onde é o meio do mundo, quanto pesa a lua e em que o soberano estava
pensando. Recebe como respostas: 1) O meio do mundo fica onde está o rei, pois o mundo sendo
redondo qualquer lugar é meio. 2) A lua pesa uma libra porque se divide em quatro cantos. 3) O rei está
pensando que Frei João sem cuidados é o seu pastor. Dando-se por contente, o rei lhe recompensa e
o deixa ir embora. Na versão compilada por Romero, o padre, com medo da pena morte imposta pelo
rei, caso não conseguisse responder às perguntas, aceita a proposta do criado que vai em seu lugar
travestido com suas vestes. No dia do desafio, o rei, apontando para um canto do palácio, pergunta-
lhe: “De quantos cestos é preciso para caber aquele monte de areia?”. O falso padre responde: “Um
cesto muito grande que caiba todo o monte”. Em seguida, surge a segunda questão: “Quantas estrelas
há no céu?”. O criado, astucioso, diz: “Milhões e milhões de estrelas”. Como o rei não sabia o número
exato, aceitou a resposta. Por fim, tal como na versão de Cascudo, o rei pergunta: “O que eu estou
pensando?”. Finalizando o conto, tem-se a seguinte resposta: “Vossa Real Majestade pensa que está
falando com o padre sem cuidados, mas está falando é com o criado”. O jogo de três perguntas é
proposto na microssérie pelo demônio à Maria na forma de aposta. Caso ele vença, ela perde a
sombra, do contrário, ele devolve a sombra de Zé Cangaia. A primeira pergunta surge como uma
charada: “Uma casa tem quatro cantos, cada canto tem um gato; cada gato vê três gatos. Quantos
gatos tem na casa?”. Zé Cangaia assopra: “12”, mas Maria sem pestanejar responde que são quatro.
A segunda pergunta assemelha-se à primeira questão de Frei João sem cuidados: “Onde é o centro do
mundo?”. Zé Cangaia de novo se intromete: “Se num fô Jauzeiro, é Campina Grande, Mariazinha. Eu
tenho certeza”. Sem dar ouvidos ao amigo, a garota diz: “É aqui mesmo onde a gente tá. Das dereita
tem metade do mundo, das esquerda tem outra metade. Com ódio pelo bom desempenho de Maria, o
belzebu lança a mais difícil: “Quantos dias se passaram desde Adão até hoje?”. Maria demora um
pouco e grita: “Sete dias. Segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e domingo!”. Apesar da vitória
de Maria, a palavra do coisa ruim pouco vale e ele segue o desafio desta vez, por meio de um repente.
Mesmo assim, não obtém sucesso e acaba devolvendo a sombra de Zé cangaia.
28
Conto sobre a menina morta pela madrasta e desenterrada com vida pelo pai. A narrativa encontra-se
na quase na integra no primeiro episódio de Hoje é dia de Maria. Além da história, a microssérie
também aproveitou a versão brasileira da cantiga portuguesa Figuinho da figueira, presente no texto
compilado tanto por Cascudo quanto por Romero. Carvalho e Abreu também trouxeram para a
microssérie uma das falas existente em A menina enterrada viva, que é proferida pelo pai após Maria
tentar convencê-lo a se casar com a madrasta por causa de sua bondade em lhe dar um favo de mel.
Trata-se da frase: “Agora ela lhe dá mel, minha filha, amanhã lhe dará fel” e que, na versão para
televisão, ficou: “Agora a tarzinha te dá mer, puis a despois, minha fia, ela há de te dar fer”. Essa fala
também foi compilada por Romero no conto Maria borralheira, da seguinte maneira: “Minha filha, ela
hoje te dá papinhas de mel, amanhã te dará de fel” (1954:115).
105
historieta em historieta.
após a garota ser desenterrada, a madrasta, que provocou sua morte, foge
ou morre, concretizando, com isso, a função 18, definida por Propp (1984:50-
prefere organizar o discurso não pela subordinação entre as partes, tal como
ocorre com os textos tipográficos, mas pela relação por adição. Segundo
para somá-lo com outro não implica o contraponto com as relações por
da protagonista.
entre eles.
108
evidência.
Porém, tal como ocorre com o dispositivo pensante da cultura,
alguns traços no devir histórico, do outro lado, ela funciona como lugar de
1996:160).
cultura.
plano do tempo, pois não se constitui pela lógica contígua dos segmentos
de anterioridade e de posterioridade.
refere a algo que já foi e o segundo representa um tempo que ainda não
por “um tempo às avessas, pois, sem cronologia, o tempo tem seu caráter
presente tem sua identidade marcada pelo espaço que ocupa no instante”
(FERRARA, 2008)30.
da cultura.
justifique pelo fato de que a questão agostiniana não se volta para a relação
alargamento do presente.
instaura uma espécie de marco zero, mas está em diálogo com toda a
31).
e, com isso, ela se volta para o que Lotman denomina como “máximo de
cultura no aqui agora, feitos por meio de percursos de sentido que apontam
outras funções: a vinheta por meio das analogias com o modo de costurar a
das cantigas possibilita o uso desse gênero como trilha sonora, sem perder
Parabolic people, causou grande frisson no meio artístico pelo modo como
qualquer pessoa podia adentrá-la, ficando livre para fazer o que quissesse
33
Posterioremente a idéia da videocabine foi copiada pela produção do extinto Programa H, apresentado
por Luciano Huck na Rede Bandeirantes de televisão, veiculado de 1997 a 2000. Colocada no pátio da
emissora no momento em que a platéia se aglomerava na porta do estúdio principal para participar das
gravações do programa de auditório, a cópia da videocabine de Kogut coletava depoimentos e
performances de alguns participantes, a maioria adolescentes, para depois transformá-los em curtos
vídeos inseridos entre o início ou fim do bloco e os breaks comerciais.
114
mental.
qualidades inventivas.
notícia.
de “abraçar com o olhar uma vasta zona” (AUMONT, 2004:55). O termo foi
artificialidade.
figurantes.
que há para além dos limites desse espaço cenográfico, representado pela
locação externa. Tal relação será analisada no próximo item deste capítulo.
No que se refere ao “gosto pelo grande” ou à tentativa de representar
não tem como medida o corpo humano, o plano geral na microssérie surge
explorados (fig.28).
do ser humano de lidar com os percalços impostos pela natureza, pela viajem
e pela própria trajetória da vida. Assim, a escolha do plano geral parece ser
espaços”.
lavar a roupa.
o mesmo plano.
Fig. 28- Planos gerais dos percursos
O limite e a fronteira entre o
B) Primeira
parte de
A) Início da planos e
seqüência contra-planos
C) Imagem
intervalar
D) Segunda
E) Final da
parte de
seqüência
planos e
contra-planos
dentro do domo.
chegar, é caminhar”.
a)
f)
b)
g)
c)
h)
d)
i)
e)
j)
existente entre eles serve, em outro momento, como estímulo para a geração
composição.
fixa-se por alguns instantes, enquanto Maria sai de cena, ao descer por uma
a) e)
b) f)
c) g)
d) h)
a obscena.
do teatro, tanto que se tornou símbolo das artes cênicas, mediante as duas
teatro grego.
em que serve de meio para o ator criar e improvisar (AMARAL, 1996:49) ou,
ainda, o teatro japonês Nô, no qual ela representa a fronteira entre exterior e
papel, criando uma atmosfera peculiar, onde tudo resulta harmônico, como
boba da vida”, e “o lote de tempo” que será roubado pelo demo ao transformar
feliz, principalmente, por causa dos cantos dos lábios, traçados por fortes
de tensão da testa, a
esquerdo e os cantos da
(fig.40). O retorno à
gerar.
Aos 38:04 do sétimo episódio, enquanto o pai dorme dentro da carroça dos
em seu rosto. “Há uma longa viagem a ser feita, que começa agora”, alerta
maior aventura”.
do pai (fig.43).
em diálogo.
construtibilidade da espacialidade em
texto.
processo.
duratividade das linguagens, uma vez que são elas as responsáveis pelo
tráfego contínuo das informações entre sistemas sígnicos. Por meio delas,
arte de citar sem aspas. Nela, constroem-se imagens dialéticas, nas quais
137
sua luz sobre o presente” ou do “presente (que) lança luz sobre o passado”
de bolo—, no romance Alice no país das maravilhas, escrito por Lewis Carrol,
Comédia da vida privada, exibido entre 1995 e 97, pela Rede Globo.
para o fato de que cada episódio traça seu caminho independente do outro,
em todos os episódios.
essa que lhe possibilitou ser qualificada como “obra aberta”, dado o alto
da personagem, que pouco tem a ver com o plot principal, e o modo como
1988.
diagrama IV36.
36
No diagrama IV, do lado
direito do esquema de exibição
de cada episódio, há as
indicações visuais da primeira e
da última cena de cada bloco,
assim como as deixas iniciais
e finais das falas das
personagens, quando
acontecem. A indicação dos
tempos em parênteses está de
acordo com o tempo da versão
em DVD da microssérie e não
com o tempo de exibição pela
televisão, pois o acesso ao
DVD pelos possíveis leitores
dessa pesquisa é maior que a
versão transmitida pela Rede
Globo.
142
estão divididos em três partes. Porém, a duração dos blocos não tem uma
medida padrão, mas ela varia desde 27:34, como ocorre com o segundo
episódio.
a favor do conjunto, para que ele não se dissipe e não se desmonte de vez.
o ponto de conexão entre elas. Além disso, sua presença indicia o diálogo
é pela voz, no caso das narrativas orais, que tem-se acesso, ou não, à forma
38
Há um outro trecho que consta na versão exibida pela televisão e que foi retirada da versão
em DVD da microssérie. Ela ocorre no início do sétimo episódio e está representada no
diagrama IV pelo quadrado “S2”. Trata-se de uma seqüência com, aproximadamente, 33
segundos. Nela, vê-se um trecho do fim do episódio anterior, no qual Maria, desmaiada, é
carregada por Quirino e, em seguida, surge Amado preso em uma gaiola. No decorrer deste
trecho, ouve-se a voz do narrador dizendo: “E foi assim que os causos de Maria foram se
emendando. Um rosário de lágrimas. Corage. Mas também alguma alegria. Mas vigia que
hoje é momento perigoso. Principal: põe tento que hoje é que Maria faz e desfaz pra perder e
pra ganhar de vez lá no final. Mas vão escutando e vendo. Antonce”.
146
antecipa o que está por vir, ao mencionar a vinda do amor, a tristeza que ele
fragmentação do meio.
traçados pela personagem, que tem sua casa como ponto de referência
principal.
(na versão em DVD), quando Maria foge de casa em busca das franjas do
(X1), aos 23:52, e ela é resgatada, em partes, pelo gancho construído entre
finaliza com o seu retorno ao lar (30:50), no último episódio (C2). Tal como
menina retornar como adulta, assim como Maria adulta voltar para casa como
divergentes.
conforme já mencionado, uma vez que seguir adiante, retornar à casa, parar,
alterar o caminho e escolher entre duas direções opostas são ações que
1978 a 1982. Nele, toda história começa com a chegada do Dr. David Bruce
termina com a sua solitária partida em busca de alguma solução para o mal
Isto acontece porque a narratividade estruturada por esse meio está sujeita
desfecho, configurado sempre como uma certeza e não como uma hipótese
narrativa não se ordenam pela sucessão, mas pelo confronto. Noite e dia
do domo (fig.47).
Em seguida, surge uma cena em
mundo”.
alteração da trajetória em
não mais entre blocos, mas entre dois modos distintos de caminhar39.
travelling horizontal, da esquerda para direita, que vai até o plano mais
sol (1964).
(Othon Bastos) e Dada (Sônia dos Humildes) por Antônio das Mortes
nos outros dois outros planos seguintes, a câmera focaliza apenas a corrida
a horizontalidade do movimento de
margem acaba por cortar diagonalmente o quadro e, com isso, “nos mostra
um mar visto de cima, de modo a evitar que se desenhe uma superfície lisa,
Manuel não chega a destino algum, mas o mar surge pela montagem.
o gesto dos braços abertos de Maria, tendo o horizonte do mar a sua frente,
pelo menos dessa jornada: “Maria virou, mexeu, lutou e mereceu. E até hoje
vive feliz com o seu amado”. Como se jogasse a última pá de cal sobre o
157
com ocês numa festa lá na beira, nas franjas do mar”. Em suas últimas
intenção, porque chegar às franjas do mar nunca foi “a bola da vez”. Tanto
atualização da alegoria “o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão”, quanto
trajetória em ciclos que, como toda espiral, não tem fim e tampouco começo,
Maria, exibida pela Rede Globo em 2006, a garota traça seu percurso na
3.
Desenhos do espaço. Montagem. Modernidade
movimento” (MACHADO, 2006)40. Assim, para ele, “todas as artes que tratam
audiovisual.
41
Idem nota 40.
160
os atritos que surgem dela, propõe que sejam lidos nas espacialidades em
montagem.
sistemas, nascem formas novas, nas quais o novo diz mais sobre o recorte
envolvido.
A tessitura híbrida, pesquisada pelo teórico canadense, ou em
próprios desempenhos.
da câmera fotográfica, com base nas relações que o autor estabelece com
de Peirce.
163
devem-se à
máquina, ao codificar um dado sinal, por exemplo, a cor verde. Esse passa
conforme afirma Flusser, “as imagens técnicas, longe de serem janelas, são
sensória que produz uma síntese, uma generalidade, por meio do seu sistema
de codificação.
164
do homem, não devem ser vistos como meios. Em seu texto intitulado
Mediações segundo McLuhan, Irene Machado afirma que uma extensão
em um meio não pode ser entendida nunca “como uma mera transposição
de relações tensivas para compor as analogias entre formas, ou, ainda, para
tecer textos entre sistemas sígnicos. Esse processo não se encerra aqui,
ser a consciência, tal como aponta Youngblood, que cresce fora da mente,
“tentáculos” das expansões sígnicas de tal esfera decorre das maneiras pelas
espacialidades.
pela mais “ordinária” até chegar à mais complexa, ele busca demonstrar, na
de espacialidades em montagem.
visualidade e da audibilidade.
diferenças.
Eisenstein,
com outra.
que Eisenstein estabelece entre elas. Isso ocorre porque o principal traço
montagem rítmica, Eisenstein afirma que, caso haja uma intensa mobilidade
espaço.
existentes “dentro do quadro”. Porém, ela vai além das relações de contrastes
assim como ocorre na relação de uma ordem com outra, alarga, também,
(EISENSTEIN,1990a:36).
um paralelismo com alguma outra coisa [objeto real ou outro signo]”. Como
simbólica, pois, nesse caso, não se produz um novo conceito, mas edificam-
cifras.
sincrônico.
de representação do espaço.
175
de Maria, formam-se dois ciclos que, ao dialogarem, traçam, entre si, uma
complementar”.
virtual (2004).
representação do espaço, ao
diferentes linguagens,
meios digitais.
variante do modo de
organização do
espaço analisado
42
No diagrama
esboçado por Ryan,
as células são
representadas pelas
Fig. 54- Diagrama “labirinto” bolas pretas.
178
Por fim, no terceiro desenho, a rede dirigida (fig. 55), três faixas de
trajetórias, com as decisões tomadas pelo leitor na sua relação com o modo
Isso implica dizer que cada desenho traz uma informação sobre o mesmo
arte de pensar não verbalmente, mas “de modo cada vez mais simultâneo”
(FERRARA, 2002:53).
Nesse sentido, desenhar é o próprio pensamento em montagem, que
programação do tempo
da modernidade, porque ela não pode ser entendida como uma época, mas
combinatórias.
causa disso, ela não pode ser tomada como estratégia de ruptura com a
sirva para o futuro, mas é certo que o plano feito para o futuro serve para
viver hoje”.
marca a modernidade, uma vez que ela funciona como estado crítico e
não são sinônimos. A primeira diz respeito ao espírito crítico da cultura sobre
qual convergem diferentes arranjos sígnicos, que mantém, entre si, uma
estrutura em comum.
sobretudo, o moderno, uma vez que tudo o que é novo não é necessariamente
semiose não finda pela associação entre moderno e novo, mas contamina
(JAMENSON, 2005:47).
Entretanto, sedimentado como programa pela artificialidade do tempo,
algoz:
farsa.
das transformações culturais, que desvela o caráter utópico, para não dizer,
funcionar como centro articulador das esferas culturais e dentro delas e, como
montar.
por meio de um futuro que se apresenta como “el espacio de los estados
possíveis.
187
1999:21).
44
Idem nota 02.
188
(DUPAS, 2006:31).
transformação radical do ato de perceber, que se torna cada vez mais favorável
são construções porosas em relação aos elementos variantes, uma vez que
meio de suas estruturas. Nelas, o tempo linear “à medida que flui, (...) se
achata num mar de miséria, de modo que o ponteiro pode flutuar” (BAUMAN,
1999:19).
190
Referências bibliográficas:
ARRIGUCCI JR. Davi. Coração partido. São Paulo: Cosac Naify, 2002.
FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia
da fotografia. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.
JOSÉ, Carmen Lúcia; RODRIGUES, Elisabete Alfeld. Ouvir para ver a cena
cinematográfica. In: FERRARA, Lucrécia D’Alessio. (Org.). Espaços
comunicantes. São Paulo: Annablume, 2007. p.166-185.
KUSANO, Darci Yosuco. O que é teatro Nô. São Paulo: Brasiliense, 1988.
LIMA JR. Walter. A ostra e o vento: o roteiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.
SANTOS, Milton. Por uma geografia nova. São Paulo: EDUSP, 2002.
Outras referências:
COLOMBANI, Florence. “Meu filme é uma subversão das regras”, diz Gus
van Sant. Folha de São Paulo, São Paulo, 02 abril 2004. Ilustrada.
Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/
fq0204200413.htm>. Acesso em: 19 março 2008.
RIZZO, Sérgio. Gus van Sant suaviza exame da violência. Folha de São
Paulo, São Paulo, 02 abril. 2004. Revista da Folha, p.6.
Imagens – fontes:
ELEFANTE. Produção Dany Wolf. Direção de Gus Vant Sant. Home Box
office, Inc, 2003. 1 disco (81 min.), DVD, son., color.
A ostra e o vento
Brasil, 1997
Direção: Walter Lima Jr.
Produção: Flávio R. Tambellini
Roteiro: Walter Lima Jr.
Direção de fotografia: Pedro Farkas
Montagem: Sergio Mekler
Direção de arte: Clóvis Bueno
Cenografia: Vera Hamburger
Figurinos: Rita Murtinho
Música: Wagner Tiso
Canção-tema: Chico Buarque
Edição de som: Tom Paul
Som direto: Márcio Câmara
Pós-produção: James McQuaide
Direção de Produção: Marcelo Torres
Companhia produtora: Ravina
Distribuição: Riofilmes
Cor, 35mm, 112 min.
Elenco: Lima Duarte (José), Fernando Torres (Daniel), Leandra Leal
(Marcela), Floriano Peixoto (Roberto), Castrinho (Pepe), Débora Bloch
(Mãe), Arduíno Colasanti (Magari), Ricardo Marecos (Pedro), Márcio Vito
(Carrera), Hannah Brauer (Marcela aos 6 anos), Amanda Fontes Freire
(Marcela aos 3 anos), Rodrigo Moreira (amante), Charles Paraventi (voz
de Saulo).
Elephant
Estados Unidos, 2003
Direção: Gus Vant Sant
Produção executiva: Diane Keaton e Bill Robinson
Produção: Dany Wolf
Roteiro: Gus Vant Sant
Direção de fotografia: Harris Savides, ASC
Montagem: Gus Vant Sant
Desing de som: Leslie Shatz, CST
Companhias produtoras: HBO Films, Blue Relief e Meno Films Company
Productions
Distribuição: HBO Films
Cor, 35mm, 81 min.
Elenco: Alex Frost (Alex), Eric Deulen (Eric), John Robinson (John
McFarland), Elias McConnell (Elias), Jordan Taylor (Jordan), Carrie Finklea
(Carrie), Nicole George (Nicole), Brittany Mountain (Brittany), Alicia Miles
(Acadia), Kristen Hicks (Michelle), Bennie Dixon (Benny), Nathan Tyson
(Nathan), Timothy Bottoms (Sr. McFarland), Matt Malloy (Sr. Luce).
199