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Homeschooling - Ministério Público e Conselho Tutelar de Mãos Dadas Com A Educação Domiciliar
Homeschooling - Ministério Público e Conselho Tutelar de Mãos Dadas Com A Educação Domiciliar
Vários autores.
Bibliografia
ISBN 978-65-00-63474-7
23-146788 CDD-371.0420981
Índices para catálogo sistemático:
i
Autoria do E-Book
Organizador:
Dr. Tales Alcântara de Melo
Escreveram os artigos:
• Dra. Andressa Neves de Oliveira – Advogada, pós-graduada em Direito de Família;
• Dra. Fernanda Xavier Barbalho Bezerra - Advogada, Pós-graduada em Direito do Trabalho
e Processo do Trabalho;
• Dra. Emili Dorissote Rodrigues – Advogada, Pós-Graduada em Direito Previdenciário;
• Dra. Michelle Paola Pereira Coura – Advogada, Pós-graduada em Docência com Ênfase
em Educação Jurídica;
• Dr. Ticius Godoy – Advogado, Pós-graduado em Advocacia Cível e Processual Cível;
• Dra. Vânia Maria Dos Santos Vieira - Advogada e Professora Voluntária;
• Dra. Rossana Mendonca Farias – advogada, pós-graduada em Direito Penal e Processo
Penal;
• Dra. Isabelle Cristina Santos Monteiro - Advogada e Pedagoga, Pós-graduada em Direito
Educacional;
• Dra. Bianca Bruna Clock Stall – Advogada, especializada em Estatuto da Criança e do
Adolescente e Usucapião;
• Dra. Magaly Gouvêa Seri Fernandez - Advogada, pós-graduada em Direito do Trabalho;
• Dra. Vanessa Elisa Jacob Anzolin – Advogada, Mestre em Direito pela Universidade
Federal de Minas Gerais – UFMG;
• Dra. Stephany Ruth Matzenbacher Lisbôa – Advogada, pós-graduada em Direito
Empresarial;
• Dra. Raíssa Marelli Pelissari – Advogada, Pós-graduada em advocacia Cível e Especialista
em LGPD;
• Dra. Ana Carolina Andrade Griz - Pós-graduada em Direito Penal e Processo Penal e
Servidora Pública do Ministério Público do Estado de Rondônia
• Alan Freitas - Estudante de Direito (6° Período);
• Dra. Eulla Santana Ricardo – Advogada, Pós-graduação em Direito Público e Gestão
Pública, Cursando Licenciatura em Filosofia.
• Dra. Rosana Rabelo Montanini – Advogada;
• Dr. Pedro Tomaz Manfrim - Advogado (SP);
• Dra. Regiane Aline Salles Cichelero - Advogada, Pós-graduada em Direito Processual Civil;
• Dra. Aline Machado Carneiro dos Santos –Advogada;
• Dr. Rafael Durand – Advogado, Pós-graduado em Direito Público. Especialista em
Direito Religioso; Membro do IBDR - Instituto Brasileiro de Direito e Religião;
• Dra. Fabiola Fontana Martins – Advogada, Pós-graduada em direito tributário;
• Dra. Sílvia Bispo K. Manea - Advogada, Ex-Conselheira Tutelar por dois mandatos - 2013
a 2020 e Pós-graduanda em Neuropsicopedagogia;
• Thalita Marotta Imoto Sato – Bacharel em direito.
ii
Agradecimentos
iii
Sumário
Autoria do E-Book ....................................................................................................................... ii
Sumário ....................................................................................................................................... iv
1. Introdução ................................................................................................................................ 1
11. Conclusão............................................................................................................................. 58
iv
1. Introdução
1.
Introdução
1
1. Introdução
A educação deve ser compreendida e orientada para a formação integral do ser humano,
formando indivíduos em sua dimensão intelectual, moral, emocional, social, espiritual e física.
Neste sentido, o papel dos pais, enquanto Tutores/Educadores, é vislumbrar as potências,
interesses e talentos de seus filhos e conduzi-los conforme as suas necessidades, aplicando, desta
forma, uma educação personalizada, oferecendo instrução individual à criança, com
flexibilidade para adaptar seu ensino às suas necessidades acadêmicas e muito rapidamente (por
ser individualizada/personalizada) identificar deficiências e corrigi-las. Nessa perspectiva, a
educação vai muito além de atender às necessidades financeiras e econômicas do indivíduo
enquanto mão-de-obra treinada para um mercado de trabalho em constante transformação.
2
1. Introdução
1º, parágrafo único, da Constituição Federal: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
Neste contexto, uma das dúvidas mais comuns, sinceras e justas, é como funcionaria a
socialização das crianças educadas em casa? Mas o que é a socialização? É a capacidade das
pessoas de interagirem de forma amigável nos ambientes sociais do mundo real, quais sejam, a
família, a vizinhança, o local de trabalho, a igreja, parquinhos, atividades esportivas (natação,
futebol), aulas de música, aulas de inglês, dança, teatro, encontros familiares, dentre outros.
Estes são exemplos de socialização, de respeito, a pessoas de diferentes idades, sexos, crenças e
condições sociais, que trabalham e convivem pacificamente. As crianças em educação
domiciliar estão plenamente aptas a interagir socialmente com os diferentes indivíduos,
conforme será demonstrado ao longo deste conjunto de artigos, embasados em inúmeras
pesquisas científicas.
3
1. Introdução
Outra questão justa seria questionar se o ensino domiciliar não configura crime de
abandono intelectual, previsto no artigo 246 do Código Penal. De forma alguma! Conhecer o
Ensino Domiciliar levará qualquer pessoa a rechaçar qualquer afirmação que insinue isso, haja
vista que o artigo citado estabelece que os pais devem prover a instrução primária dos filhos; no
entanto, não estabelece em qual modalidade tal instrução deverá ser fornecida, dando liberdade
de escolha aos pais. A eles cabe a escolha do método educacional que melhor atenda aos
interesses de seus filhos, considerando 1a individualidade de cada ser humano e o princípio do
melhor interesse da criança, conforme previsto no artigo 6, do Estatuto da Criança e do
Adolescente.
Por fim, cabe mencionar que os artigos abordam o poder discricionário do Conselho
Tutelar – importantíssima entidade defensora dos direitos das crianças e adolescentes –, ao
analisar que cabe aos conselheiros, experientes conhecedores das realidades locais,
compreender no caso concreto se os interesses da criança e do adolescente estão sendo
atendidos e que não está configurando violação de direitos. In loco, amparado por visitas e
entrevistas, o Conselho Tutelar poderá decidir pelo arquivamento da denúncia, sem incorrer
em qualquer falha de atuação ou prevaricação, respaldado em sua autonomia legal e com
fundamento nos artigos 136 e 137 do Estatuto da Criança e do Adolescente. É objetivo do
presente E-book demonstrar a constitucionalidade do Ensino Domiciliar ou homeschooling e
desmistificar diversos temas que permeiam este assunto.
Emili Dorissote
4
2. Breve panorama sobre os problemas da educação escolar no Brasil
Na Grécia antiga1, a educação formal tinha início após os sete anos de idade, quando as
crianças eram enviadas às escolas da época. No período que precedia a escola, a criança
permanecia em casa sendo educada, de maneira informal, pela própria família, observando seus
1
Na Antiguidade Clássica (greco-romana), o modelo de educação, sobretudo dos filhos das famílias mais
abastadas, centrava-se nas denominadas Sete Artes Liberais, divididas em Trivium (lógica, gramática e
retórica) e Quadrivium (aritmética, astronomia, música e geometria, ficando a instrução a cargo,
principalmente, de tutores. A característica precípua da educação liberal (do latim, liber significa livre)
consistia na liberdade de escolha educacional, isto é, não havia obrigatoriedade e controle pelo poder
estatal, o que perdurou até o fim da Idade Média.
5
2. Breve panorama sobre os problemas da educação escolar no Brasil
hábitos e crenças. Fato é que a educação começa desde a mais tenra idade, quando a criança
absorve boas maneiras, civilidade, aplicando certa disciplina moral, de modo a reprimir os
caprichos naturais da criança. Também neste período a criança adquire oralidade.
Os gregos e as grandes civilizações que vieram antes deles (egípcios, assírios, babilônios
e outros) sabiam que a primeira infância é uma fase riquíssima na vida de uma criança. Nessa
fase, a criança deveria ser iniciada à tradição cultural por meio de cantigas, leitura em voz alta
de histórias, contos, fábulas e narrativas de toda sorte. Não havia na Grécia antiga creches ou
maternal, visto que referidas instituições remetem aos tempos modernos, mais especificamente
ao período industrial, quando o trabalho organizado das mulheres tornou-se necessário (não
conquistado), viabilizando, assim, a organização de “creches” para que as mulheres tivessem
onde deixar seus filhos enquanto trabalhavam nas fábricas.
Ainda na Grécia, após a primeira infância, a família poderia dar continuidade ao ensino
do ofício familiar (o trabalho do pai, que era passado para os filhos), ou o jovem poderia
aprender um novo ofício com um mestre; sendo que as famílias com melhores condições
costumavam contratar tutores aptos a conduzirem o estudante em sua formação.
Na antiga Roma, a família era uma instituição forte e exercia soberana autoridade na
educação dos filhos de forma que a instituição familiar era o meio mais natural de se formar a
criança numa atmosfera de alto teor moral e de severidade. Nessa sociedade, aos sete anos, o
menino era encaminhado aos cuidados do pai, enquanto as meninas seguiam aos cuidados da
mãe. Em Roma, a educação familiar terminava apenas aos 16 anos, quando o jovem era
incluído entre os cidadãos por meio da tutoria de uma pessoa mais velha, normalmente um
amigo da família.
A escola cristã apareceu no século IV, durante o período medieval e era voltada
inteiramente para a formação da vida religiosa. Os monges, responsáveis pela educação das
crianças, acolhiam os alunos e arcavam com a educação delas, mas a obrigatoriedade da
escolarização só veio muitos anos depois.
6
2. Breve panorama sobre os problemas da educação escolar no Brasil
No Brasil, a escolarização iniciou-se com os padres jesuítas, que chegaram ao país no ano
de 1.549 e, no ano seguinte, fundaram, em Salvador, o Colégio dos Meninos de Jesus, que
serviu de modelo para as instituições subsequentes, sendo que, à época, a educação escolar era
restrita às crianças do sexo masculino. Construíram, a partir daí, diversos colégios, seminários,
bem como investiram em missões, até que, em 03 de setembro de 1.759, sobreveio à ordem de
Marquês de Pombal determinando a expulsão dos jesuítas de Portugal, Brasil e demais
domínios, o que fez com que tivessem de abandonar essas instituições que, paulatinamente,
foram sendo assumidas por outros grupos clérigos.3
A saída dos jesuítas do país, porém, acarretou uma estagnação no campo da educação
formal. Esse panorama só se alterou a partir de 1.808, com a chegada da Família Real
Portuguesa, que impulsionou, inclusive, o surgimento de instituições de ensino superior e
cursos profissionalizantes para atender à demanda dos nobres recém-chegados e da elite local,
sobretudo nas cidades do Rio de Janeiro e de Salvador. Em 1.841, a Companhia de Jesus
ressurgiu no cenário nacional e, a partir de 1.845, retomou o trabalho de implantação de
escolas.4 A essa altura, a educação escolar ainda era essencialmente elitista.
Sobreveio, na primeira metade do século XX, o Movimento Escola Nova, que teve como
expoente, na América, o filósofo e pedagogo John Dewey, que exerceu grande influência sobre a
elite brasileira. Para Dewey, a educação era uma necessidade social e tinha por escopo uma função
democratizadora, no sentido de propiciar aos educandos direitos de oportunidades iguais perante
a lei. Referido Movimento inspirou o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, firmado por
diversos intelectuais brasileiros em 1.932, em defesa da universalização da escola.
2
BIRGIN, A. Massificação do ensino. Disponível em: https://gestrado.net.br/verbetes/massificacao-do-
ensino/. Acesso em 15/06/2022.
3
Disponível em: http://www.redejesuitadeeducacao.com.br/educacaojesuita/historia-da-educacao-jesuita-no-
brasil/. Acesso em 15/06/2022.
4
Disponível em: http://www.redejesuitadeeducacao.com.br/educacaojesuita/historia-da-educacao-jesuita-no-
brasil/. Acesso em 15/06/2022.
7
2. Breve panorama sobre os problemas da educação escolar no Brasil
Art. 168. [...] I – o ensino primário é obrigatório e só será dado na língua nacional;
II – o ensino primário oficial é gratuito para todos; o ensino oficial ulterior ao
primário sê-lo-á para quantos provarem falta ou insuficiência de recursos.
No período que vai de 1.940 a 1.980, a frequência escolar da população em idade escolar
aumentou de 15,1% para cerca de 47%, sendo que, após a Segunda Guerra Mundial, o ritmo
de crescimento da educação ficou acima do crescimento da Argentina, Chile e Uruguai.5
A LDB, por sua vez, regulamenta de maneira específica toda a educação brasileira, seja
ela no âmbito público ou privado, iniciando desde a educação fundamental (das creches e pré-
escolas), passando por toda cadeia educacional, incluindo o ensino superior e a pós-graduação.
5
RANIERI, N. Educação obrigatória e gratuita no Brasil: um longo caminho, avanços e perspectivas. In:
Direito à educação e direitos na educação em perspectiva interdisciplinar / organizado por Nina Beatriz
Stocco Ranieri e Angela Limongi Alvarenga Alves. – São Paulo: Cátedra UNESCO de Direto à
Educação/Universidade de São Paulo (USP), 2018. p. 27.
8
2. Breve panorama sobre os problemas da educação escolar no Brasil
respeito aos idosos, aos colegas e mesmo aos animais e à natureza são ensinados primeiramente
em casa e, posteriormente, colocados em prática na vida em sociedade.
Maria Montessori defende que a educação não é adquirida apenas ouvindo palavras, mas
por meio das experiências no ambiente. Ela também já detectava, em sua época, que a maior parte
das escolas oficiais do estado se importavam muito mais (ou apenas) com a execução de um
programa do que com a formação do caráter do pequeno ser humano escolarizado.
Montessori diz ainda que tal abordagem dissocia o jovem do mundo cotidiano,
ocupando-o apenas com estudos, muitas vezes de matérias sem aplicação prática, o que resulta
numa inteligência limitada, pelo que o jovem conclui seus estudos sem ser capaz de avaliar e
solucionar problemas da época em que vive. A renomada educadora italiana não errou em suas
previsões em relação aos jovens submetidos aos atuais métodos de escolarização compulsória,
vide os resultados dos jovens brasileiros nas avaliações de ensino.
Para iniciar este breve estudo a respeito dos resultados da escolarização no Brasil, falaremos
sobre as avaliações a que são submetidos os estudantes brasileiros, a começar pelo Sistema de
Avaliação da Educação Básica (SAEB). Trata-se de um conjunto de avaliações que permite
realizar um diagnóstico da educação básica brasileira e de fatores que podem interferir no
desempenho do estudante. Os testes são aplicados a cada dois anos na rede pública e em uma
parte da rede privada. O resultado da avaliação é um indicativo da qualidade do ensino brasileiro.
6
Disponível em: https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/avaliacao-e-exames-educacionais/saeb.
Acesso em: 14/06/2022.
9
2. Breve panorama sobre os problemas da educação escolar no Brasil
Em matemática, cerca de 50% dos alunos do 2º ano também se encontram entre os níveis
5 e 8 de proficiência. É preocupante, porém, o aspecto de que 2,82% dos avaliados estão abaixo
do nível 1 em habilidades matemáticas, bem como que a maioria (19,83%) se encontra no nível
4. Apenas o percentual ínfimo de 6,99% está no oitavo nível, que é o de grau máximo.
Já em relação aos estudantes do 9º ano avaliados em ciências humanas, tem-se que, “nos
três últimos níveis da escala de proficiência, de 7 a 9, foi observado um percentual somado
inferior a 3% do total dos estudantes avaliados, o que sugere que poucos estudantes dominam,
além das habilidades listadas nos níveis anteriores, aquelas relacionadas a abordagens históricas
referentes ao período medieval e clássico e aquelas que privilegiavam a explicação da
localização, organização e distribuição de características espaciais, domínios naturais e
fenômenos geográficos de escalas nacionais ou mundiais” 7. É alarmante, ademais, o fato de que
16,97% desses estudantes encontram-se abaixo do nível 1 e que a maioria, 18,6%, está no nível
2. Senão, veja-se no próximo gráfico.
Fonte: INEP8
No que tange à área de ciências da natureza, 17,73% dos estudantes ficaram abaixo do
nível 1; e míseros 0,5% dos participantes estão no nível 8. Apesar de a maior parte dos alunos
7
Disponível em: https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/avaliacao-e-exames-
educacionais/saeb/resultados. Acesso em 17/06/2022.
8
O gráfico ilustrativo abaixo reproduzido foi extraído do Relatório de resultados do Saeb 2019: volume 3, p. 64:
9º ano do ensino fundamental: Ciências Humanas e Ciências da Natureza [recurso eletrônico]. /
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. – Brasília, DF: Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2021. 73 p.: il. ISBN 978-65-5801-051-7.
In: https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/avaliacao-e-exames-educacionais/saeb/resultados.
Acesso em 17/06/2022.
10
2. Breve panorama sobre os problemas da educação escolar no Brasil
Fonte Saeb9
O PISA é um estudo comparativo internacional que é realizado a cada três anos pela
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A avaliação é
aplicada em estudantes na faixa de 15 anos de idade e objetiva rastrear o desempenho dos
estudantes que estão finalizando o período da educação básica. O PISA avalia três domínios
básicos: leitura, matemática e ciências.
A última avaliação do PISA foi realizada em 2018, dela participaram 79 países, entre
membros da OCDE e países parceiros da organização.11
9
O gráfico ilustrativo abaixo reproduzido foi extraído do Relatório de resultados do Saeb 2019: volume 3, p. 34:
9º ano do ensino fundamental: Ciências Humanas e Ciências da Natureza [recurso eletrônico]. /
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. – Brasília, DF: Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2021. 73 p.: il. ISBN 978-65-5801-051-7.
In: https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/avaliacao-e-exames-educacionais/saeb/resultados.
Acesso em 17/06/2022.
10
Disponível em: https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/avaliacao-e-exames-educacionais/pisa.
Acesso em: 14/06/2022.
11
O relatório e todo resumo da aplicação dos testes realizados está disponível em:
https://download.inep.gov.br/publicacoes/institucionais/avaliacoes_e_exames_da_educacao_basica/re
latorio_brasil_no_pisa_2018.pdf. Acesso em: 14/06/2022.
11
2. Breve panorama sobre os problemas da educação escolar no Brasil
Fonte INEP 12
12
O gráfico ilustrativo abaixo reproduzido foi extraído do Relatório de resultados do Pisa 2018/ Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. – Brasília, DF. In:
12
2. Breve panorama sobre os problemas da educação escolar no Brasil
Isso significa que, no Brasil, cerca de 32% dos estudantes atingiram pelo menos o nível 2
em matemática (média da OCDE: 76%). No que diz respeito a equações mais complexas,
apenas 1% dos estudantes atingiram o nível 5 ou acima em matemática (média da OCDE: 11%).
Fonte INEP 13
Como visto, o Brasil possui uma base regulamentadora forte. Além disso, atualmente,
o Brasil investe 5,6% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em educação. Este percentual de
investimento está atrás apenas da Suécia, Bélgica, Islândia, Finlândia e Noruega.
O valor investido em alunos do ensino básico (fundamental e médio) chega a US$ 3.886
por aluno, enquanto o gasto com alunos do ensino superior alcança US$ 14.202. O
investimento médio anual dos países da OCDE é de US$ 9.300 por aluno do ensino básico,
https://download.inep.gov.br/acoes_internacionais/pisa/resultados/2018/pisa_2018_brazil_prt.pdf.
Acesso em 16/06/2022.
13
O gráfico ilustrativo abaixo reproduzido foi extraído do Relatório de resultados do Pisa 2018 / Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. – Brasília, DF. In:
https://download.inep.gov.br/acoes_internacionais/pisa/resultados/2018/pisa_2018_brazil_prt.pdf.
Acesso em 16/06/2022.
13
2. Breve panorama sobre os problemas da educação escolar no Brasil
um valor maior do que o dobro do montante investido pelo Brasil nos mesmos estudantes de
ensino básico.
Tendo como base apenas os resultados das últimas avaliações é preocupante pensar que
crianças são matriculadas nas escolas e lá permanecem por, pelo menos, doze anos e saem sem
saber operações matemáticas, bem como ler, interpretar e resolver problemas cotidianos. O
resultado da escolarização compulsória também pode ser notado no desenvolvimento social e
emocional delas.
Outro fator alarmante é o impacto da pandemia nas crianças e jovens que se encontram
em educação escolar. No 21º Congresso de Cérebro, Comportamento e Emoções – Brain
202214, a Dra. Rochele Paz Fonseca, neuropsicóloga e fonoaudióloga, Professora Titular e
Pesquisadora da área de Psicologia da PUC-RS e Presidente da Sociedade Brasileira de
Neuropsicologia, apresentou o painel sobre “Neurociência e Educação: Impacto da Pandemia
de Covid-19 no desenvolvimento e na aprendizagem escolar”. Em sua apresentação, a Dra.
Rochele apresentou os dados de estudos que demonstram mudanças profundas na saúde
mental das crianças e dos adolescentes, da equipe escolar e dos pais, bem como a diminuição
da interação social e da prática de atividade física, o aumento de desmotivação, de desajuste na
rotina escolar, do uso de telas e, por conseguinte, de dependência tecnológica, além de
discrepância entre o que é ministrado em aulas on-line e o que é cobrado em atividades
14
Disponível em:
https://www.braincongress.com.br/programacao/index_track_cronologico.php?dt_sel=2022-06-01.
Acesso em 16/06/2022.
14
2. Breve panorama sobre os problemas da educação escolar no Brasil
Muitos foram os que, durante a pandemia, com base no senso comum, denominaram
equivocadamente o ensino escolarizado on-line de homeschooling. Trata-se de nítido desacerto,
já que educação à distância, definitivamente, não é homeschooling. A educação domiciliar,
conforme se demonstrará ao longo deste e-book, é um estilo de vida que envolve toda a família
que, de forma intencional e personalizada, educa integralmente a criança e promove seu
desenvolvimento espiritual, emocional, físico, volitivo e cognitivo-intelectual.
15
Segundo a Dra. Rochele Paz Fonseca, o estudo internacional mais contundente até agora sobre a considerável
piora do fechamento das escolas em apenas 08 semanas é o de Engzel e Cols (2021). Disponível em:
https://revistardp.org.br/revista/article/view/416. Acesso em 16/06/2022.
16
PIRLS – Progress in International Reading Literacy Study. In: https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-
atuacao/avaliacao-e-exames-educacionais/pirls. Acesso em: 01.06.2022.
15
2. Breve panorama sobre os problemas da educação escolar no Brasil
Este panorama está começando a mudar com as políticas que vêm sendo implementadas
pelo Ministério da Educação e Cultura – MEC por meio do Programa Tempo de Aprender da
Secretaria de Alfabetização – SEALF, que tem promovido cursos gratuitos para professores e
gestores, sobretudo da rede pública de ensino.
Ocorre que as mudanças, além de serem lentas, por demandarem, precipuamente, uma
predisposição dos gestores educacionais, professores e pais à adoção de uma nova mentalidade
e de uma postura proativa de autoeducação, tiveram seu alcance prejudicado pela pandemia e
medidas restritivas adotadas, como o fechamento das escolas.
16
3. Direito natural dos pais na educação dos filhos
O Direito Natural é, por definição, o direito que está intrínseco à natureza, ou seja, é um
sistema de normas de conduta que existe junto à realidade sem a necessidade de estar positivado
17
3. Direito natural dos pais na educação dos filhos
pelas normas fixadas pelo Estado. Seu valor é universal e “erga omnes”, ou seja, possui valor em
si mesmo e para todos, além disso, é anterior e superior ao Direito Positivo, apesar de que este
último o auxilia.
Dessa forma, é evidente reconhecer que faz parte da natureza humana ser
intrinsecamente social e dependente. E, de forma mais clara, esse fato é verificado na infância.
Efetivamente, uma criança não é apenas uma criatura atirada ao mundo, mas uma pessoa
humana com dignidade, esta defendida, inclusive, como um princípio fundamental na
Constituição brasileira. Incluso nesta dignidade não só o direito à educação, como também sua
necessidade. E essa educação parte primeiro dos pais, pois a família é a primeira instituição
apresentada à criança.
Alan Freitas
Eulla Santana Ricardo
Fernanda Xavier Barbalho Bezerra
Karina Moraes
Rafael Durand Couto
Rosana Rabelo Montanini
18
4. Tratados internacionais e legislação brasileira
19
4. Tratados internacionais e legislação brasileira
17
Aprovada pela Conferência Mundial sobre Educação para Todos em Jomtien Tailândia de 5 a 9 de março de
1.990.
18
UNESCO, 1990.
20
4. Tratados internacionais e legislação brasileira
Ainda na linha dos Tratados Internacionais, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis
e Políticos, em seu Artigo 18.4 (Decreto nº 592, de 6 de julho de 1.992) estabelece que: “O
Estado deve se comprometer a preservar a liberdade dos pais e, quando for o caso dos tutores legais,
de assegurar a educação religiosa e moral dos filhos, que esteja de acordo com suas próprias
convicções”. E esse mesmo texto é praticamente repetido na Convenção Americana de Direitos
Humanos, também conhecida como o Pacto de São José da Costa Rica, em seu Artigo 12.4
(Decreto nº 678, de 6 de novembro de 1.992), bem como no Pacto Internacional sobre Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais, em seu artigo 13.1 (Decreto nº 591, de 6 de julho de 1.992),
ambos são acordos dos quais o Brasil também é signatário.
Por sua vez, o Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos
em Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, conhecido como Protocolo de São
Salvador (Decreto nº 3.321, de 30 de dezembro de 1999), destaca no Artigo 13.3 que “De
acordo com a legislação interna dos Estados-Partes, os pais terão direito a escolher o tipo de
educação que deverá ser ministrada aos seus filhos”. Com isso, verifica-se que os acordos
internacionais sempre vêm destacando em seus textos a liberdade de escolha dos pais ou
responsáveis no que tange à educação das crianças e adolescentes sob sua responsabilidade.
Por último, e não menos importante, a Convenção dos Direitos da Criança, adotada
pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1989, e ratificada pelo Brasil 1.990 (Decreto nº
99.710, de 21 de novembro de 1.990), que serviu de fonte de inspiração ao legislador nacional
na elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e que se caracteriza atualmente
como a norma internacional mais importante acerca da proteção dos direitos das crianças, diz
em seu Artigo 18.1 que: “Caberá aos pais, ou quando for o caso, aos representantes legais, a
responsabilidade primordial pela educação e pelo desenvolvimento da criança”.
21
4. Tratados internacionais e legislação brasileira
Por conseguinte, diante de todo esse arcabouço normativo nacional e internacional que
faz parte do ordenamento jurídico brasileiro, verifica-se que há o reconhecimento do papel do
Estado na promoção do acesso universal à educação; entretanto, há também o claro destaque
de que a primazia no direcionamento da educação dos filhos pertence indiscutivelmente aos
pais.
Alan Freitas
Eulla Santana Ricardo
Fernanda Xavier Barbalho Bezerra
Karina Moraes
Rafael Durand Couto
Rosana Rabelo Montanini
22
5. O que é homeschooling?
5.
O que é homeschooling?
Esta escolha diferenciada pode acontecer por motivos diversos para cada família; dentre
os principais podemos citar: possibilidade de oferecer uma educação personalizada para cada
filho, propiciar uma educação adequada ao ritmo individual dos filhos, currículo e
metodologia diferenciadas, maior convivência familiar e estreitamento de vínculos,
aprendizado mais prático/pragmático, maior ênfase em formar amor pela leitura e produção
textual, sistema de avaliação do conhecimento adquirido diverso ao sistema escolar de provas,
foco na formação integral do indivíduo (intelectual, emocional, social, físico, espiritual), filhos
23
5. O que é homeschooling?
A modalidade, ainda que recente na realidade brasileira e que, por esse motivo, possa
causar estranheza, já é prática comum, estabelecida e respeitada em diversos países com índices
educacionais altíssimos, tendo apresentado inclusive índice de aproveitamento superior à
educação escolar nos Estados Unidos da América. Portanto, é prática internacional
consolidada e efetiva.
Fica claro também que educandos em educação domiciliar estão sempre em ambientes
com pessoas, socializando em diversas situações cotidianas, com pluralidade de pessoas, ideias,
realidades e idades, aprendendo a socializar o tempo todo na realidade da vida. Assim, o
homeschooling proporciona uma socialização mais ampla, visto que existe convivência de
educandos com pessoas de todas as idades.
24
5. O que é homeschooling?
Importante ressaltar que o ensino domiciliar pode ser oferecido por um ou ambos os
pais ou ainda por tutores e professores particulares contratados pelos responsáveis do
educando. Assim, não há que se falar em desvalorização do profissional da educação, visto que
um novo mercado se abre para os bons professores na realidade do homeschooling.
O Brasil ocupa a 58ª posição no Ranking de Liberdade Educacional da Oidel que é uma
organização não governamental com estatuto consultivo junto das Nações Unidas, UNESCO
e Conselho da Europa21. A educação domiciliar é oriunda dos Estados Unidos das Américas na
década de 60 e aplicada em mais de sessenta países de forma regulamentada. Inclusive, 85% dos
países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE
reconhecem o direito das famílias educadoras. A OCDE é uma organização internacional com
19
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 10/06/2022.
20
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948.
Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos. Acesso em:
10 /06/2022.
21
ANED, Associação Nacional de Educação Domiciliar. Disponível em:
https://www.aned.org.br/index.php/conheca-educacao-domiciliar/perguntas-e-respostas. Acesso em:
10/06/2022.
25
5. O que é homeschooling?
sede na França composta por trinta e oito países membros que estimula a economia
internacional e as políticas públicas.22
Após toda explanação, fica evidente o tamanho do esforço dos pais ou responsáveis na
busca por metodologias, técnicas e conteúdos para a educação domiciliar. A situação não causa
nenhuma espécie de prejuízo aos direitos das crianças e adolescentes, não havendo razões para
se adotarem medidas judiciais contra esses pais.
22
BRASIL. Ministério da Educação - MEC. Educação Domiciliar, 2021, v.1.Disponível em
https://www.gov.br/mec/pt-br/assuntos/noticias/ministerio-da-educacao-lanca-cartilha-de-educacao-
domiciliar. Acesso em 10/06/2022.
23
ANED, Associação Nacional de Educação Domiciliar. Disponível em:
https://www.aned.org.br/index.php/conheca-educacao-domiciliar/perguntas-e-respostas. Acesso em:
10/06/2022.
24
ANED, Associação Nacional de Educação Domiciliar. Disponível em:
https://www.aned.org.br/index.php/conheca-educacao-domiciliar/perguntas-e-respostas. Acesso em:
10/06/2022.
25
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº888.815/RS. Disponível em
https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4774632. Acesso em: 10/06/2022.
26
6. A socialização da criança e do adolescente homeschooler
27
6. A socialização da criança e do adolescente homeschooler
A pergunta chave que deve ser apresentada é: que tipo de socialização a escola oferece?
Para os pais homeschoolers, sua casa, os ambientes que frequentam e não somente a escola,
oferece o tipo de socialização que eles desejam para seus filhos.
Embora tudo isso faça parte da socialização, o processo normalmente ocorre durante as
atividades diárias de uma criança enquanto ela interage com indivíduos, com a comunidade e
a cultura em geral. Logo, abarca diversas atividades no seio familiar, bem como, em meio às
atividades extracurriculares.
28
6. A socialização da criança e do adolescente homeschooler
homeschoolers entrevistados têm mais envolvimento cívico do que outros da mesma faixa etária
e estão mais satisfeitos no que diz respeito à “alegria de viver”.26
A socialização não se resume na mera convivência com outros, mas sim na convivência
com todos, pois nada mais respeitoso e harmonioso do que uma criança ou adolescente que
possui a habilidade de manter um diálogo com outra menor do que ela, tanto quanto consegue
ter esse convívio com alguém de idade muito superior a sua, e isso não se aprende convivendo
apenas com um círculo de amigos que tem sua mesma idade, preferências ou estilo de vida, mas
com uma diversidade de pessoas, o que é absolutamente viável na educação domiciliar.
É no seio familiar que a criança começa a entender e perceber a cultura de sua casa, os
hábitos, os costumes, etc. Logo, a família é o início de tudo e o fundamento que a criança terá
para o seu crescimento e desenvolvimento. É nesse seio que as relações começam a ser
estabelecidas e onde a criança encontrará amor, compreensão, refúgio, bem como entenderá as
regras de convivência em sociedade.
Logo, à medida que a criança vai crescendo, ela participará de grupos sociais, tais como:
igrejas, clubes de esportes, áreas comuns do condomínio em que mora, etc. E, assim, ela vai
sendo inserida em vários e diferentes grupos e instituições, percebendo experiências distintas
que enriquecerão seu aprendizado.
26 HomeSchool Legal Defense Association (HSLDA), A Educação Domiciliar Cresceu, 2019, pp. 4-7.
Disponível em: https://www.aned.org.br/index.php/conheca-educacao-domiciliar/ed-no-mundo
29
6. A socialização da criança e do adolescente homeschooler
São inúmeras as pesquisas e estudos que apontam para o fato de que alunos provenientes
do ensino domiciliar têm resultados satisfatórios e, em geral, acima da média em termos de
desenvolvimento social, emocional e psicológico. Ainda, demostram que adultos educados na
juventude mediante ensino domiciliar têm maiores níveis de tolerância política e são
politicamente mais ativos. A saber:
Dessa forma, resta mais do que comprovada à existência de vários ambientes aptos a
promover uma intensa e saudável socialização de crianças e jovens, demonstrando-se por meio
de estudos que os pais que adotam o homeschooling possuem forte engajamento em atividades
extracurriculares as quais são aptas à promoção da socialização de seus filhos.
30
6. A socialização da criança e do adolescente homeschooler
Os pais são os responsáveis pela educação e formação de seus filhos, de modo que a
principal socialização está intimamente ligada à família. O aprendizado de regras de boa
convivência perante a sociedade é primordialmente exercido dentro do seio familiar e isso, na
prática, ocorrerá de maneira muito simples, como por exemplo, inserindo a criança em
atividades domésticas, onde ela se sinta necessária, e, assim, desenvolva a autoconfiança, o
altruísmo e crie vínculos com seus pais depositando neles sua confiança, recebendo os
suprimentos para uma sociabilidade positiva.
27
ZAMBONI, F. A opção pelo homeschooling: guia fácil para entender por que a educação domiciliar se
tornou uma necessidade urgente em nossa época. Campina, SP: Kírion, 2020. p. 53.
31
6. A socialização da criança e do adolescente homeschooler
Por outro lado, não podemos negar que as crianças possam se socializar com seus pares
no ambiente escolar; no entanto, essa modalidade de socialização poderá surtir efeitos
negativos, considerando a pressão de pares para que sejam aceitos em determinados grupos,
que certamente desenvolverá uma sociabilidade negativa. Ademais, estamos falando aqui de
uma realidade em que um grupo de crianças está aprendendo a se relacionar; logo não há como
uma aprender com a outra o que nenhuma sabe.
Segundo o psicólogo infantil Dr. Urie Bronfenbrenner, crianças abaixo do quinto ano
que passam a maior parte do tempo com outras de mesma idade do que com seus pais e outros
adultos, têm visão obscura de seus colegas, pais, de si mesmos e de seu futuro, e são prováveis
candidatos ao fracasso de aprendizagem e à delinquência.28
Portanto, é clarividente que a escola não é o único ambiente de interação que existe para
a criança e para o adolescente e que eles podem socializar de muitas outras maneiras e com
inúmeras pessoas diferentes, sem qualquer prejuízo à sua sociabilidade.
Resta evidente que a socialização se dá muito além da esfera acadêmica, e que, cientes da
importância do convívio social, os pais adeptos à prática do homeschooling estão sempre
presentes e engajados com seus filhos em atividades extracurriculares, garantindo, assim, a
comunhão dessas crianças em sociedade.
Outro ponto que se buscou deixar evidente foi o de que, em que pese à criança tenha
um convívio com seus pares no ambiente escolar, é uma falácia afirmar que dessa relação se
darão apenas bons frutos, visto que, sem o controle parental, não se pode esperar que tudo o
28
D’ALMEIDA, N. Socialização Escolar: A socialização de faz de conta. Ebook (63 p.). Data da publicação:
14.05.2022. ASIN B0B1C222XN. Disponível em: https://amz.onl/2ewcPVw. Acesso em:
01.06.2022.p. 27
32
6. A socialização da criança e do adolescente homeschooler
que é vivido pelo aluno na escola, seja por ele absorvido de forma positiva, havendo, sim,
impactos negativos decorrentes de tal convívio.
Por fim, não há que se atacar a prática do homeschooling pela suposta ausência de
socialização, visto que, tal argumento cai por terra diante dos inúmeros dados estatísticos já
existentes e (ainda um pouco incipientes no Brasil) comprobatórios do contrário, asseverando
que a criança em educação domiciliar tem sua socialização preservada e amplamente realizada.
Ingryd Almeida
Aline Machado Carneiro dos Santos
Ana Carolina A. Griz
33
7. A constitucionalidade do homeschooling
A constitucionalidade do homeschooling
7.
7.1. Geografia Legislativa
Seguindo uma ordem hierárquica, a primeira lei a ser mencionada é a mais importante
do ordenamento, a Constituição Federal.
Promulgada em 1.988 e vigente até hoje, é a “rainha” das leis no Brasil. Tanto que
inaugura em torno de si um princípio de controle que dá origem a um tribunal, cuja função é
especificamente de assegurar a conformidade das leis que devem ser submissas a ela. Este é o
34
7. A constitucionalidade do homeschooling
Supremo Tribunal Federal, que também funciona como última instância para discussões
judiciais no país.
Não bastasse isto, a legalidade do homeschooling está garantida por uma outra alta
categoria de leis: os tratados internacionais.
Por causa do nosso sistema de integração de leis estrangeiras, via de regra, os tratados
internacionais que o Brasil adere são integrados aqui com condição “supralegal”. Isto é, uma
condição superior às demais leis, porém inferior à Constituição. Além disso, aqueles que
versem sobre direitos humanos são aqui integrados com condição de emenda à Constituição,
ou seja, tornam-se parte dela, a partir da sua aprovação segundo as regras da Constituição
Federal. Note-se o poder de um tratado internacional.
Fonte: https://www.infoescola.com/direito/hierarquia-das-normas/
35
7. A constitucionalidade do homeschooling
Neste âmbito, pode-se afirmar que há quatro grandes tratados internacionais sobre
direitos da criança, (somados a nada menos do que a Declaração Universal de Direitos
Humanos de 1.948), que tratam cristalinamente da soberania dos pais no dever de prover
educação formal aos filhos. São eles:
"Art. 18 (...) Caberá aos pais, ou quando for o caso, aos representantes legais, a
responsabilidade primordial pela educação e pelo desenvolvimento da criança”
(BRASIL, 1.990).
Por isso, não parece razoável pensar que por causa da existência de uma lei,
infraconstitucional, inferior aos tratados internacionais e às demais legislações estabelecidas
hierarquicamente, que aborde uma suposta necessidade dos pais matricularem os filhos em
escolas, deva ser observada irrestritamente.
Por exemplo, na Lei de Diretrizes e Bases, o artigo 5º (que antecede o que trata dessa
obrigação) qualifica a educação escolar como direito público “subjetivo”, o que comprova que
a opção pelo sistema de ensino é uma faculdade dos pais, e que se quiserem o ensino escolar, o
estado tem a obrigação de garantir isso. Essa norma, aliás, concorda quase que literalmente com
o § 1º do artigo 208 da Constituição Federal.
36
7. A constitucionalidade do homeschooling
Curioso é que, no início dessa mesma lei, no § 1º do artigo 1º, afirma que a educação no
país deverá ser ministrada em “instituições próprias”. E logo em sequência, no caput do artigo
2º, ao falar do dever, qualifica duas instituições: “família e estado”.
Isso confirma, mais uma vez, que a lógica legislativa não contradiz as leis superiores, pelo
princípio do controle constitucional.
Por fim, tudo o que foi exposto demonstra a coerência do nosso ordenamento jurídico
com a permissão da atividade no país. Caso contrário, haveria uma inconstitucionalidade mal
resolvida no país, sobre a qual o Supremo Tribunal Federal já negou, conforme se verá a seguir.
29
§ 1º do art. 1.035 do Código de Processo Civil.
37
7. A constitucionalidade do homeschooling
“Não existe direito público subjetivo do aluno ou de sua família ao ensino domiciliar, inexistente
na legislação brasileira”.
O que, inicialmente, parece uma derrota ao direito dos pais de optarem pelo
homeschooling, na verdade se materializou em uma grande interpretação legislativa, que
ignorou os tratados internacionais descritos no título anterior, e, em grande parte, foi obtida a
manifestação dos Ministros sobre a constitucionalidade da prática. Quem sabe se não tivessem
ignorado os tratados internacionais, poderiam ter fixado uma tese mais apropriada.
“[...]
“A análise conjunta dos arts. 226, 227 e 229 da Constituição, que tratam da parte
de família, criança, adolescente e do jovem, colocando-os como principais sujeitos de
direito, com os arts. 205, 206 e 208, que disciplinam a questão educacional, leva à
conclusão de que não há vedação absoluta ao “ensino domiciliar” no Brasil.
38
7. A constitucionalidade do homeschooling
[...]
A finalidade não foi criar uma rivalidade Estado/família, mas promover uma
cooperação solidária, uma união de esforços que resultasse em maior efetividade na
educação das novas gerações, até porque somente em Estados totalitários – e isso já
ocorreu na História recente da humanidade - se afasta a família da educação e
formação de suas crianças e adolescentes. Somente em Estados totalitários se impede
a liberdade individual de participação na escolha do que ensinar, aprender; somente
em Estados totalitários a educação e ensino são reservados exclusivamente nas mãos
do Estado, retirando-se qualquer participação da família e da sociedade.
[...]
“Eu penso que não há como nós dizermos, de imediato, desde logo, que o
homeschooling é absolutamente incompatível com a Constituição, pedindo vênia aos
Colegas que votaram no sentido da inconstitucionalidade do homeschooling. Eu
39
7. A constitucionalidade do homeschooling
penso que a educação é um dever de todos e, sendo um dever de todos, ela não pode ser
vista como um monopólio do Estado, mas uma obrigação do Estado.”
“Sob essa perspectiva, seria possível aduzir, na linha de diversos memoriais juntados
aos autos, que a educação domiciliar é, em verdade, um método de ensino – ou, quiçá,
um ensino individualizado – e, como tal, pode ser escolhido pelos pais como forma de
legitimamente garantir a educação dos filhos. O homeschooling seria, assim, apenas
uma entre as várias técnicas de ensino, razão pela qual, nos termos do art. 206, III,
da CRFB, caberia ao Estado garantir o pluralismo das concepções pedagógicas.
[...]
Mas negar aos pais e às crianças eventual acesso a uma técnica eficaz poderia violar
o mesmo pluralismo que, agora, se requer em relação às ideias que devem circular na
sociedade. Desde que atendidos os princípios constitucionais relativos à educação,
nenhuma concepção pedagógica pode ser aprioristicamente afastada.
[...]
Diante da análise das razões dos Ministros no julgamento do R.E. 888.815, Tema 822
do Supremo Tribunal Federal, é possível ver a sinalização clara da corte no sentido da
constitucionalidade do ensino domiciliar, o qual aguarda a devida regulamentação pelo
parlamento.
40
7. A constitucionalidade do homeschooling
Como seria possível os deputados aprovarem um projeto de lei que trate de matéria
inconstitucional ou ilegal?
Por que não foi suscitada, nem mesmo por adversários políticos da pauta? Este é mais
um sinal da constitucionalidade da matéria.
41
8. Homeschooling não configura crime de abandono intelectual
Não se trata apenas de garantir que o filho ou o menor sob sua responsabilidade tenha
uma educação básica de qualidade, mas significa garantir-lhes princípios e valores morais, a fim
de que se possa construir uma sociedade livre, justa e solidária.
42
8. Homeschooling não configura crime de abandono intelectual
O artigo 246 do Código Penal estabelece que, o pai, mãe ou responsável legal que deixar
de garantir a instrução primária do filho em idade escolar sem justa causa, responderá pelo
crime de abandono intelectual que possui pena de detenção de 15 dias a um mês, ou multa.
Na parte inicial do artigo de Lei é previsto o termo “sem justa causa”, sendo este um
termo abstrato que necessita ser melhor compreendido, a fim de se evitar abusos ou mesmo
falsas denúncias para este tipo penal.
Em uma análise inicial, verificamos que o artigo 246 do Código Penal estabelece o termo
sem justa causa para a prática do crime, entendendo-se que em casos que figurem a justa causa,
não ocorre o referido delito.
Importante informar que as situações nas quais um menor de idade não está
efetivamente matriculado em instituição regular de ensino deve ser averiguada caso a caso, uma
vez que a justa causa enseja juízo de valor.
Salienta-se que todo o aparato legal, em verdade, visa proteger o menor em situação de
vulnerabilidade, a fim de que seus responsáveis não deixem de prover a educação básica, uma
vez que no Brasil, o ensino primário ocorre dos 4 aos 17 anos de idade.
Importante destacar que a legislação penal se pauta em diversos princípios e, dentre eles,
o da lesividade que abarca, dentre outras funções, proibir a incriminação de condutas desviadas
que não afetem qualquer bem jurídico, no caso do artigo 246 do Código Penal, à formação do
menor.
“De acordo com o artigo 246 do Código Penal o abandono intelectual consiste em
deixar, sem motivo justificável, de prover à instrução primária de filho em idade
escolar. O direito ao ensino fundamental do filho que se encontra em idade escolar é
o bem que se procura proteger por meio da incriminação contida no tipo penal”.
(Greco, 2017, p. 902)
Ainda sobre o núcleo do artigo 246, aborda-se a questão de deixar de prover a instrução
primária aos filhos, o que certamente não ocorre com a educação domiciliar.
O artigo estabelece que os pais devem prover a instrução primária dos filhos, no entanto,
o artigo não estabelece em qual modalidade tal instrução deverá ser fornecida. Cabe aos pais a
43
8. Homeschooling não configura crime de abandono intelectual
escolha do método educacional que melhor atenda aos interesses de seus filhos, levando-se em
consideração a individualidade de cada ser humano.
Alguns tratados internacionais, conforme demonstrado acima, destacam que cabe aos
pais a escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos, e, ainda, a educação
religiosa e moral a estes, de acordo com suas próprias convicções.30
A educação domiciliar abarca uma minoria que, insatisfeita com a educação formal
proposta pelas instituições de ensino, não aceita delegar nenhuma atribuição educacional à
escola; sendo certo que essa minoria deve ser respeitada com base no pluralismo político.
Com efeito, o próprio Supremo Tribunal Federal (RE 8888815) votou pela
constitucionalidade do homeschooling. Com exposição do voto do Ministro Barroso que foi
categórico ao afirmar:
30
Declaração universal de direitos humanos, art. 26; Pacto Internacional de direitos civis e políticos, decreto nº
592 de 06/07/1.992.
44
8. Homeschooling não configura crime de abandono intelectual
Em recente avanço, foi aprovado pela Câmara dos Deputados o PL 3179//2012 que
versa sobre a regulamentação da educação domiciliar no Brasil, no qual foi previsto em seu
texto a reforma do artigo 246 do Código Penal a fim de se retirar a tipicidade do crime de
abandono intelectual das famílias que optarem pelo ensino domiciliar, conforme se verifica:
Podemos assim concluir que os pais ou responsáveis legais que optam pela educação
domiciliar não incorrem na prática do crime de abandono intelectual, uma vez que os mesmos
proveem a instrução primária de seus filhos, sendo oportuno destacar que se trata de hipótese
educacional tida por constitucional pelo Supremo Tribunal Federal, carecendo de legislação
infraconstitucional que, atualmente, encontra-se em trâmite para aprovação no Senado.
45
9. Princípio do melhor interesse da criança
46
9. Princípio do melhor interesse da criança
Seguindo esse raciocínio vamos pensar nas crianças chamadas atípicas, destacamos
Espectro Autista, TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), superdotação,
dentre outras, cujas potencialidades não são devidamente exploradas em ambiente escolar, em
função do número de alunos em sala de aula, o que torna impossível o atendimento
personalizado pela professora regente, gerando frustração para o professor e inadequação para
a criança.
“Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos
na rede regular de ensino.”
31
TORRES, R. L.; TAKAOCA, E. T.; GALDINO, F. Dicionário de princípios jurídicos. 2011, Elsevier
Editora Ltda. São Paulo/SP. P. 836.
47
9. Princípio do melhor interesse da criança
“Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se
dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a
condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento.” 32
Quando lemos “levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige”, temos presente o
Princípio do melhor interesse da criança, que tem como objetivo do legislador (aquele que cria
a lei) e do Juiz (aquele que aplica a lei) criar e aplicar uma lei que atenda o melhor interesse da
criança de maneira geral.
No Direito, uma lei jamais deve ser interpretada de forma isolada; tal interpretação é
conhecida como interpretação sistemática, que segundo FARIAS
“é aquela que analisa a norma levando em consideração o sistema em que ela está
inserida”. A interpretação sistemática parte do pressuposto “de que a lei não existe
isoladamente, devendo ser alcançado o seu sentido em consonância com as demais
normas que inspiram aquele ramo do Direito”.33
32
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. 17/06/2022.
33
FARIAS, C. C. de; ROSENVALD, N.. Curso de direito civil: parte geral e LINDB, volume 1. São Paulo:
Atlas, 2020.
34
Disponível em:
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Camara_Especial/Ac%C3%B3rd%C3%A3o%20RE%208
88.815%20-%20Homeschooling.pdf Acesso em: 17/06/2022.
48
9. Princípio do melhor interesse da criança
Quando atende a finalidade do melhor interesse da criança, ele deve ser aplicado, e o
julgador não deve tomar por base o julgado, mas o princípio que está sendo melhor atendido
quando se aplica o ensino domiciliar. Para não haver conflito com a interpretação do artigo
227 da Constituição Federal, o Estado entra como cooperador, através dos Conselhos
Tutelares, Assistentes Sociais, Ministério Público e o próprio juízo.
49
10. O poder discricionário do Conselho Tutelar
50
10. O poder discricionário do Conselho Tutelar
Essa autonomia engloba tanto o aspecto de como o Conselho Tutelar cumprirá suas
atribuições no sentido de que ações realizar, a forma como se relacionará com as famílias,
comunidade, sociedade e Poder Público na defesa dos direitos das crianças e adolescentes, bem
como quais medidas e em quais momentos serão aplicadas, sempre visando atender o melhor
interesse da criança e do adolescente. São decisões exclusivas do Conselho Tutelar que não
deverão sofrer interferências.
Cabe salientar, ainda, que o termo “zelar pelo cumprimento dos direitos das crianças e
adolescentes” significa que o Conselho Tutelar não tem a função de atender, mas sim garantir
que estes direitos sejam atendidos pelos órgãos competentes, tendo como função fiscalizar,
zelando pelo seu cumprimento, garantindo que os serviços sejam devidamente prestados e
podendo para tanto requisitar serviços indispensáveis, provendo a defesa desses direitos.
Explicitada essa breve noção referente ao Conselho Tutelar, seguimos para análise
detalhada do artigo 136 da Lei 8069/90, no qual consta as atribuições do órgão.
51
10. O poder discricionário do Conselho Tutelar
Inciso I – atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105,
aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII;”
A ideia de criação do Conselho Tutelar veio pela busca de saciar a sede de democracia
de crianças e adolescentes indefesos, pois começou a tomar forma juntamente com a
Constituição Federal; assim, quando se tem o verbo “atender”, nada mais é do que manter a
integridade que uma criança ou adolescente necessita.
Ainda, faz menção ao artigo 105, pois quando se refere ao ato infracional praticado por
criança, corresponderão às medidas previstas no artigo 101, ou seja, medidas como orientação,
apoio e acompanhamento temporários; matrícula e frequência obrigatórias em
estabelecimento oficial de ensino fundamental; inclusão em serviços e programas oficiais ou
comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da criança e do adolescente; requisição
de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras
e toxicômanos; - acolhimento institucional; inclusão em programa de acolhimento familiar; ou
colocação em família substituta.
52
10. O poder discricionário do Conselho Tutelar
O abrigo em entidades deverá ser medida extrema, devendo figurar somente como
medida provisória e excepcional, haja vista a complexidade em que se trata a situação.
Insta salientar que este papel é de suma importância na função do Conselho Tutelar,
que por vezes poderá sanar os problemas da violação de direitos com orientação e
acompanhamento, desmistificando também o papel do Conselho como sendo um poder de
polícia, mas sim um órgão que deve ser acolhedor e agir pelo bem da família, a intenção sempre
será ajudar essa família a se ajustar e seguir protegendo seus filhos.
53
10. O poder discricionário do Conselho Tutelar
Assim, cabe requisitar, ou seja, exigir que se cumpra a decisão imposta e, justamente por
esse motivo, a Lei confere a autonomia ao órgão que, por vezes, terá que agir contra a própria
administração pública que viola o direito de crianças e adolescente ao não prestar serviços
públicos adequados, por exemplo.
Guilherme Nucci esclarece ser um inciso óbvio, pois traz a proteção dos direitos da
criança e do adolescente, para que não se alegue no futuro falta de previsão legal, caso o
Conselheiro deixe de comunicar o fato grave ao juiz, não havendo que se falar em desculpa de
não existir determinado dever.
54
10. O poder discricionário do Conselho Tutelar
Aqui o inciso reforça o poder de requisição do conselho de forma mais específica aos
casos de certidões; é uma ordem, porém, na verdade, trata-se de um direito que a criança tem
de manter sua integridade como ser humano, devendo ser requisitado quando necessário, ao
Conselho Tutelar, para fins de sua atuação ou para auxiliar quem perdeu e vai em busca de
auxílio junto ao Conselho.
“íntima relação que deve existir entre o Conselho Tutelar e o Conselho Municipal
dos Direitos da criança e do adolescente (CMDCA), que delibera a política
municipal e destina recursos do fundo para programas que atendam as prioridades
apontadas” (HEMERSON GOMES COUTO).
55
10. O poder discricionário do Conselho Tutelar
O Conselho Tutelar é um dos meios legais criados para garantir os direitos das crianças e
adolescentes, minimizando quaisquer injustiças ou abusos, visando proteger essa fase tão importante
na formação do indivíduo e buscando evitar danos psicológicos às crianças ou adolescentes.
Ressaltamos novamente que, para que ocorra a perda do poder familiar, deve haver uma
verificação criteriosa, tendo em vista se tratar de situação de extrema medida, aplicável em
último caso.
56
10. O poder discricionário do Conselho Tutelar
Há situações extremas e de urgência que não podem esperar uma ação judicial, nas quais
o Conselho Tutelar aplica como medida de proteção, o afastamento do lar imediato; nestes
casos, o fato deverá ser comunicado ao Ministério Público.
“Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente poderão ser revistas pela
autoridade judiciária a pedido de quem tenha legítimo interesse.”
Dessa forma, após analisar a realidade fática do ambiente familiar contra o qual foi feita
a denúncia, o Conselho Tutelar, observando que não houve abandono intelectual e que o
melhor interesse da criança ou adolescente está sendo atendido (levando-se em consideração
que a qualidade do ensino domiciliar costuma ser superior ao que a escola regular consegue
oferecer, haja vista a personalização possível nessa modalidade de ensino) e de acordo com seu
poder discricionário, no cumprimento de seu dever legal, poderá arquivar a denúncia
improcedente e tal decisão só poderá ser revista pela autoridade judiciária, a pedido de quem
tenha interesse, conforme o já citado artigo 137 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Cumprira, assim, suas atribuições com eficiência, justiça e real zelo pelos interesses das crianças
e adolescentes.
57
11. Conclusão
11. Conclusão
O poder familiar confere aos pais o poder-dever de dirigir a criação e educação dos
filhos , ou seja, governá-las, determinando a maneira como serão conduzidas; corroborando
35
Trazendo a norma jurídica para a realidade concreta das famílias, inúmeros tratados
internacionais de Direitos Humanos (status supralegal) previram expressamente o direito e a
35
Artigo 229 da Constituição Federal, Art. 1.634, I do Código Civil e Art. 22 do ECA.
36
Na técnica de hermenêutica jurídica, considerando-se a intenção do legislador, verifica-se que elenca os entes
responsáveis sempre em ordem de preferência e prioridade; ou seja, estando a família prevista à frente do
Estado no texto legal, é clara a obrigatoriedade de primeiramente incumbir à ela o dever de assegurar a
educação.
58
11. Conclusão
liberdade dos pais em transmitirem sua cultura e valores morais, religiosos e políticos, por meio
de práticas de ensino, com a possibilidade de escolha do modo que essas serão ministradas37.
Assim, não havendo qualquer ilegalidade na conduta dos pais educadores, agindo eles
totalmente de acordo com a lei e com os tratados internacionais de Direitos Humanos e,
pautando-a no extremo amor, cuidado e doação dedicados aos seus filhos, é certo que a atuação
de todos os órgãos de proteção à infância e juventude – Conselhos Tutelares, Ministério
Público e Poder Judiciário – bem como, entidades de apoio a estes, devem, no caso concreto,
observar atendimento correspondente à tamanha dedicação:
Por fim, enquanto não aprovada a lei federal que regulamente a matéria, quando da
tomada da decisão quanto à manutenção do direito daquela família ensinar diretamente seus
filhos em domicílio, deve-se considerar a realidade do caso concreto, sopesando-se o princípio
do superior interesse da criança, em vista da demonstração do completo desenvolvimento
37
Declaração Universal dos Direitos Humanos (art. 26.3), Pacto de São José da Costa Rica (art. 12.4), Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (art. 18.1 e 18.4), Pacto Internacional dos Direitos Sociais,
Econômicos e Culturais (art. 13.1) e Convenção Internacional dos Direitos das crianças (art. 18.1 e 18.2)
38
A comprovação da ausência de evasão escolar e da realização efetiva do ensino pode ser feita por meio de
documentos que demonstrem as atividades realizadas por aquela criança/adolescente no seio do seu lar,
fotos de atividades de socialização, requerimento de oitiva da criança, para que demonstre sua capacidade
de leitura, dentre outros.
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11. Conclusão
Para uma coesão e desenvolvimento real de nossa sociedade, é imprescindível que todos
os entes, sejam eles públicos ou privados, atuem em consonância, desvinculando suas ações de
vieses ideológicos, refletindo que cada atitude, cada decisão, não pode ser pautada em um
ideário geral; pelo contrário, devem corresponder à realidade, observando as reais possibilidades
e necessidades daquele caso posto à prova, pois apenas concretamente é que a justiça pode ser
realmente efetivada.
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12. Referências
12. Referências
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12. Referências
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12. Referências
KLEIN, Luiz Fernando. História da Educação Jesuíta no Brasil. 2016. Rede Jesuíta de
Educação, 2022. Disponível em:
http://www.redejesuitadeeducacao.com.br/educacaojesuita/historia-da-educacao-
jesuita-no-brasil/. Acesso em: 16/05/2022.
ZAMBONI, Fausto. A opção pelo homeschooling: guia fácil para entender por que a
educação domiciliar se tornou uma necessidade urgente em nossa época.
Campinas; SP: Kírion, 2020.
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12. Referências
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