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at nd 7 Pereira r 6 osani Evangelista da Cunha beiro Lids o Cota a Sod a a d z r 1 ie ler Ives Gandra in oe ati ee) Se MCN ie TA IN CRI Conselho Federal de Servico Social Ano | - N- Il - Maio de 1998 Inscrita (ISSN 1415-0921) uma publicagao semestral do Consetio Federal de Servigo Social (CFESS), Amigos ‘enviados espontancamente poderio ser publicados, se aprovatdos pelo Conselho Editorial. As opinides expressas nos artigos slo de responsabilidade de seus aulores. As coluboragies enviadas serio submetidas a critérios editor REVIS Elona Fossete Batt Lise Man do Sous Topi) Xen pelise Soe Cordero) {Cugici Forrajcruo nc) EkineRoseet Beha ledaMariaNobrede Casto (CE) ile Ma cde Souza Taps tSC) Maria Eizabot Santana Boos A Man ca Siva Broce SP) "Mone Bpoknno Ses) ‘Naas Pranode Caato(CE) ‘asa SposauP) ‘a Amooeo(MG) ‘na Caco 4 ‘na ftabeth Mex PE) Boren Rojas Couto(RS) ‘China Pat Dre Come EA) Cons Koga MG) EloabeteBoeeu(SP Fronc Games CadoaoiNA) Helos Mt Josée ObvorS) heteSmionsto(Sc) donb Pal Neto ‘Mia Beare Cort Abrams (SP) ‘a Car vcbeck SP ‘ion do Socata Rs Cavell SPY ‘ara its Bravo RO) ai Mave do Sars Kate(PE) MajiaRosinget Batstone ISP) Martha). MatanataclAbeutQA Matiso noo Shad) ‘Sooty Gomes Cota) Veanoquia(sct Veonta daPaulsFaleros(OF) Porjra Amazons FProka OF) Aagt Rakes ogiaGitontSP) Fenaido Pontes PAY | oes Helora Sake) esemry Souza Sova FR) ‘Strgo AtoroCafesiAS) Iimpressio Gratline Aries Grifleas e Faltora Uda Avenida Mem de 83,69 = Centeo - Rio de Janeiro (CEP 20230 -150 - Tol: (O20 221 6331 INSCRITA ¢ ediada no Rio de Janeiro. Correspondéncias povdem ser enviadas para a sede do CFESS: SCS. Quadra 2. Bloco C. Ed. Serra Dourada, Salas 312/17 Cup. 70300-902. Brasilia DF TelefonesiO6)) 223 1652 - 224 6210 - 225 0398 FaxstOsh 225 0714 coma: efessectess.org.br rae coodenadora de producio ‘Maria Celina Machado (reg. prof 2.774/MG) Projeto griico, editorial e diagramacio Marcia Carnaval Colaboradores desta edigio Aline Mira, Angélica de Carvalho, Christoph Rehr, Getilio Barbosa, Jose Basta de Abreu, Jost Eudes Alencar, Rogério Albuquerque, Sancka Tibana, ¢ Lula. 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Serra Dourada. Salas 312/317. Cep. 70300-902. Brasilia. OF ‘Venda avulsa: Nas sedes do CFESS e dos CRESS. REVISTA Conselhos Regionais /CRESS e Delegacias 1" Regido - Tr. Mauriti, 01203-000 Sio Paulo/SP_ 18° Regio - Rua Sio Cristévao, 2796 Marco BelénvPA 10! Regifo -R. dos Andraéss, 2121 507 CEP 49010 360, “al: 091-228 0888 1560 i. 2017/18 CEP 90020-010 AracaiSE 2" Regido -R de Sana- Porto AcgreS “al: 079-224 7407 nina, 621 Centro CEP Tel: 05 1-224 3935, 19" Regiio-R.I-An" 330, 65010-5805Séo LuizMMA 11 Regido-R. Monsenhor Cel. Qdra.21~AL. 19 St. Aeroporto “et: 098-222 7676 20, 43 Conj 05 CEP 80010-150 Ap. 0] CEP 74075.070 Golinial 3+Regido -R.Waldery ——Curkiba/ PR GO Te: 062-223 9144 Ucida, 90 Bentca Tal: O41 -2324725 20° Regido- R. Basta das ‘CEPG0020. 110 Forslezs/ 12" Regido -R. dos lhéus, 38 SI, Neves, 22 Sl 303 Centro CEP CETL: 085-243 8700 1004 Centro CEPEBOIO-560 _78020-000Cuaba/MtT 4° Regiso-R. 19 de Novem- Florianopolis! 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Alrinio forge, 496 2" andar Sl. 7 Brasteto CEP Tel: 021-240 1727 434 Prado CEP 57010-020, 78916. 000 Porta Velho RO 1 Regigo -SRTVN EdBras- MateifAL el: 069-225 1437 ia, Radio Center SI1139 CEP Tl; 082 -221 5305 oral x Cops le 7079-900 BrasiiayDF 17" Regido - Pca. Getillo Vargas, Bezerra, 353 Centro CEP 69301 Tels ost-208 1033 3551 807 CEP 29010-350 410BonViaelRR CFES: $Regiéo- R. Conseco Vers ‘cre R Gulherme Bato, 269 ig Nébias, 1022 C. Elsios CEP Tal 027-222.0444 Baiero Trdngulo Rio Branco/AC Joaquina Barata Teixeira A Globalizagao € 0 novo-velho discurso ©) Gx Ch Aawer nee cl PO. lott ieic. ay José Paulo Netto ei =) d 30 anos depois das barricadas do desejo Potyara A. P. Pereira Uma air G fia a Gi hele Cs Sulami=s Dain Seguridade e Previdéncia:um drama em fasciculos Rosani Evangelista da Cunha O Financiamento da Assisténcia Social 30¥41 CREM pwo ! SUMARIO EDITORIAL / 4* DOSSIE CFESS: A Globalizacao € 0 novo-velho discurso da economia politica / 6 * Justa comemoragao / 13 * 30 anos depois das barrica~ das do desejo / 17 # Uma arena de conflitos / 21 * Seguridade e Previdéncia: um drama em fasciculos / 27 * O financiamento da Assisténcia Social na teoria e na pratica / 33 * PROFISSAO: Navegar na Internet é preciso / 39 * DESAFIO DAS ENTIDADES: Curriculo para o novo milénio / 43 * EM DISCUSSAO: Politica de cotas para minorias sociais / 47 * CULTURA: Mulheres dominam a cena do novo cinema brasileiro / 51 * Agenda / 55 * Livros & Idéias / 56 * CARTAS & E-MAILS/ 58 CONSELHO FEDERAL DE SERVIGO SOCIAL - CFESS Revista INSCRITA m 15 de maio de 1891 0 Papa Leao Xill, na Enciclica Rerum Novarum, cha- mou a atencao do mundo para as questées sociais. O fato serviu de inspiracdo - bem 20 estilo nao-laico do Servico Social da época - para a assinatura, a 15 de maio de 1962, do decreto que regulamentou a primeira lei do exercicio profissional e criou 0 entéo Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) e os Conselhos Regionais de Assistentes Sociais (CRAS), hoje CFESS/CRESS. Estava lancada a base legal para 0 reconhecimento da profissio. Neste maio de 1998, a categoria esté envolvida com a preparacao do 9” Congreso Brasileiro, que tem como tema: © Servico Social rumo ao século XXI. A idéia & pensar e discutir o trabalho, a questao social e as politicas sociais na contemporaneidade, Marcado para julho, em Goignia, 0 CBAS faré uma homenagem & poetisa Cora Coralina. INSCRITA participa deste esforco © também comemora, nesta edicio, dois, momentos importantes da histéria. Maio de 1968 é o tema de Emir Sader, que comenta como, hé 30 anos, a luta dos estudantes franceses por mudancas radicais, se alastrou pelos quatro cantos do planeta. Muito antes disto, ha exatos 150 anos, um panfleto que finalizava com a exor- tagio “trabalhadores de todos os paises, uni-vos”, sairia de uma tipografia de Londres para também influenciar idéias e praticas em todo o mundo. José Paulo Netto discute por que 0 Manifesto Comunista, como é chamado, passou a ser referéncia — contra ou a favor ~ @ até hoje desperta apaixonadas polémicas. Sao situagGes politicas, sociais e econémicas aparentemente diversas, a das primeiras crises do capitalismo do inicio do século XIX — quando foi langado o Mani festo ~ e a da realidade globalizante de hoje. A professora paraense Joaquina Barata mostra onde estdo as semelhancas. € que o imperialismo rebatizado reforca as desigualdades sociais, submete a vida a légica do mercado, desmonta as politicas pti- blicas sociais, desestatiza a Previdéncia, incentiva 0 seguro individual privado. Ainda neste nimero, Potyara Pereira discute a questo da Assisténcia, os conceitos do Welfare State, suas politicas, suas conquistas e os revezes decorrentes do retorno do ideario liberal a partir dos anos 70. Fala também da Constituicéo de 1988 e da Lei Organica da Assisténcia Social, com seus prés e contras, Sulamis Dain analisa com informacées relevantes o financiamento da Seguridade Social no Bra- sil, cujo orcamento “continua sendo uma figura de ficcio”. O financiamento da As- sisténcia na perspectiva do municipio é abordado em seus varios aspectos por Rosani Evangelista da Cunha, Revista INSCRITA EDITORIAL INSCRITA apresenta também um mapa para quem pretende navegar na Internet, traz uma reportagem sobre o novo curriculo de Servico Social um texto de Ricardo Cota, que chama a atencio para a presenca marcante das mulheres na nova fase do cinema nacional. O debate, desta vez, fica por conta da politica de cotas para minorias socials, negada pelo jurista Ives Gandrra, apoiada pela assistente social Matilde Ribeiro e questionada pelo escritor Muniz Sodré. A secio de Livros e Idéias cresceu, para abrigar um nimero maior de teses publicag6es, assim como cresceu também o espaco reservado @ Cultura e a0 Desa- fio das Entidades. INSCRITA comemora, assim, a boa aceitacio que recebeu da categoria. A esta damos os parabéns pelo aniversério, fazendo votos de que este maio de 1998 seja um marco positivo, uma verdadeira barricada de luta contra os ataques que vem sofrendo a profissio e as politicas publicas voltadas para a cidadania. Foi Cora Coralina quem disse: “Creio nos valores humanos (...) Creio na superagao das incertezas deste fim de século". Fagamos nossas as palavras desta “mu- Iher terr Fotos AP: Operarios belgas franceses fda Renault ‘fabrics (Paris, 1997); Mulheres argentinas fem panelaco contra a politica, (Buenot Aires, i996); 50 mil trabalhadores ‘no primeiro rotesto la gestao do primeiro- Dossié CFESS Revista INSCRITA Dossié CFESS * Canin & ccnfetrcia realiac XM Encontro CESS, cess, mm Belém, A Globalizagao 6 er... © novo-velho 2:5: d isc USO cera ‘mento (Nico de ‘Aes Estos Ara da economia “s" politica. Joaquina Barata Teixeira Viverios hoje num mundo cativo das forgas do sistema financeiro globalizado, que conseguiu desligar a reprodugio do dinheiro da reproducéo da riqueza real e, através do aperto de um simples botao, é capaz de deslocar somas astronémicas de um pals para outro, nao importa a distancia. Fala-se em globalizacao econémica ou globalizacao da economia. © termo até jé esta banalizado. Sabemos, no entanto, que por tras desse proceso, ha uma convergéncia de forcas sociais, politicas, ideolégicas e culturais. Ha desiguais trocas materiais e desiguais trocas simbélicas, de objetividades e subjetivida- des. Revista INSCRITA Dossié CFESS E preciso que saibamos o que é novo e © que € velho nesse movimento, o que é perverso e © que caminha independente dele ou até contra ele, apesar dele; para nao cairmos na desesperanca e para que sejamos capazes de situar bem o proble- ma. Um bom entendimento do problema 0 caminho para a soluco. Para que pos- samos desvendar os enigmas do nosso tempo e remover os entulhos que impe~ dem a nossa jornada. No discurso do poder nao ha hoje pa~ lavra mais justificadora da barbarie e do horror econémico do que globalizacdo, Foi 1 palavra que usou o Presidente da FIEPA (Federacao das Industrias do Estado do Par), em Belém, em entrevista na TV, quando a invocou para justificar a iminen- te entrada dos Tigres Asidticos na Amazé- nia, com suas potentes maquinas de alta tecnologia, para, de forma fulminante, ex- plorar a madeira das iiltimas reservas na- turais do planeta. E em nome da slobalizacdo que os paises ricos exportam para os paises pobres as responsabilida- des ambientais, transferindo suas fabricas poluidoras, como as de aluminio e cobre. Himmperiasamehnte! importante parais luta social, que consigamos distinguir os novos tracos constitutivos do que vem sendo chamado hoje de globalizacdo, enquanto no- vvas e mundiais expressées so- ciais e culturais das metamor- foses da reprodugio ampliada do capital. E que consigamos perceber como se articula, esse movimento, o novo-ve- tho discurso da economia po- ltica, que hoje pée na boca dos seus idedlogos as jurassicas teses neoclissicas de 1873, para dar roupa nova a um idedrio absolutamente _ultra- passado. ‘Como afirma Alain Touraine em seu artigo Riscos do Pensa mento Unico: “o que chamamos atualmen- te de globalizacao, era chamado, ha cerca de um século atrés, de imperialismo (1996). Lembremos apenas 0 que os cr ticos da economia politica do século XIX afirmaram, em 1894 © depois em 1916, ‘com respeito ao capitalismo: “O desen- volvimento da produtividade social do tra- balho gera, com a queda da taxa de lucro, uma lei que, em certo ponto, se opde frontalmente a esse desenvolvimento e Por isso tem que ser constantemente su- erada por meio de crises” (MARX). E € af que a cultura da saida da crise aparece como estratagema, como solucdo para o capital, que transfere suas perdas, socializando-as para toda a sociedade. O sentido de crise dado pelos cldssicos, que fizeram a critica a economia politica, nao 0 mesmo do discurso neoconservador da economia politica, que alimenta a cul- tura da saida da crise como se fosse um roblema de toda a sociedade e cuja solu- Gio exigisse o sacrificio de todos. A crise inicialmente se revelou pontual, em cada pais, e tomou o nome de recessdo locall- zada. Hoje se generaliza por todo o siste- ‘ma econémico mundial, por todo o pla- neta, suscitando desesperadas medidas Revista INSCRITA para manter os niveis de acumulagao que j&1nao podem se dar como no pasado. Marx disse também que a producéo capitalista tem a tendéncia a aumentar a parte CONSTANTE (méquinas, equipa- mentos, prédios, matérias-primas, etc..) as custas da parte VARIAVEL (forca de tra- balho), reduzindo assim, cada vez mais, a procura relativa de trabalho. Ou seja, “quanto maiores a riqueza social, o capital ‘em fungéo, quanto maior a dimenséo € O desemprego agora nao se limita aum ramo da producao, mas se espalha por todas as industrias, por todo o planeta energia de seu crescimento (...) quanto maior a magnitude da forca produtiva, tan- to maior o exército de reserva (...) tanto maior a superpopulacéo consolidada, (... tanto maior © pauperismo” . Em outras palavras, a acumulagao capitalista sempre Dossié CFESS produz, na proporco de sua energia e de sua extensao, uma populacao trabalha- dora SUPERFLUA, EXCEDENTE, DE- SEMPREGADA, OCIOSA. Dizem os neocléssicos, numa aborda- gem empiricista, que hoje o grande con- tingente de desempregados, de trabalha- dores independentes, precarizados, infor- ‘mals, nada tem a ver com o capital, e que estaria dissolvida a relagio capital x traba- Iho. Pois bem, os criticos da economia politica ja refutavam essa tese desde 0 sé- culo XIX, quando chamavam a atengio para o fato de que sé aparentemente a forca de trabalho “supérflua” esté separa- da do capital. Pelo contrério, a vida do trabalhador que sofre a dor do desempre- £0, a dureza do trabalho intermitente € inseguro, a expulséo de suas terras, esta acorrentada ao capital “mais firmemente que 0s grilhdes de Vulcano acorrentavam Prometeu ao Caucaso” (ibid). ‘Ainda de acordo com Marx , 0 capital 6 devorado pela sua prépria tendéncia acumulativa, concentradora (de riqueza, de propriedade e de renda), centra- lizadora e monopolista, provocando a ex- ploragéo de um numero cada vez maior de NAGOES pequenas ou fracas, por uma INSCRITA Revista Dossié CFESS minoria de nagées riquissimas e muito fortes, enfim, potentes. E um dos fatores que marcam essa relacao capitalista é a “constituigao do mercado mundial” ‘Sao palavras do século XIX, que Marshall Berman diz que devemos retomar, para entender 0 século XI. Berman demonstra, como a era moderna perdeu contato com suas rafzes mais fecundas e como empobreceu e se estreitou 0 pensamento critico no século XX. Assim, podemos dizer que o termo globalizacdo, por ser mera- ‘mente descritivo, nao é capaz de dar conta do paradoxo da unidade do mundo, que é, ‘a0 mesmo tempo, DESUNIDADE. $6 falam dessa integracéio econémica, que 6, 20 mesmo tempo, FRATURA, fragmentacdo, imploséo, quer do ponto de vista social, ético ou cultural. Nao mencionam o brutal universo de desigualdades sociais, a doloro- sae conflituosa relacéo de PODER entre o universo dos ricos e o mundo dos pobres. Esse poder que hoje quer que os Estados nacionais se desobriguem da seguridade social no chamado Terceiro Mundo e que desmontem o Welfare State no primeiro; ‘que privatizem a Previdéncia, retirando o seu cardter ptiblico e universal, transforman- do-a em seguro individual, disputado por aqueles que podem vendé-4o, no mercado. Esse poder quer fazer do risco social uma fonte de lucro. Nao obstante a forca dos cléssicos, € preciso responder, contudo: em que foi modificada a imagem de um imperialismo classico? Podemos destacar, entre outras, duas questdes que devem ser mencionadas, indicando como a realidade se transfor- mou profundamente. A primeira delas ¢ a imagem do imperialismo calcada em um capitalisme que funcionava como se fosse um sistema ABERTO, sem limite de espacos, sem limite de fronteiras, sem limite de recursos a serem explorados. Havia sempre um lugar para onde expandir-se, para onde exportar os problemas. As moedas funcionavam como moedas nacionais. Os Estados eram Estados Nacionais. Hole, jé ndo é possivel nem a exterritorializacao da populacéo supérfua, nem a exterritorializacao do esgotamento Revista INSCRITA Dossié CFESS Foto AP: Mats de 10 mi sucoreanon darova lel tc faciica lomissoce (Gout, 1997). dos recursos da natureza, nem a exterritorializacao dos problemas sociais. A mundializacao do capital nos impée encarar 0 PLANETA como um sistema fechado, onde todos 0s recursos estio limitados de forma concreta, onde a vida e o meio ambiente estéo ameacados. A configuracao dos Estados-NacSes no sentido clissico esta sendo triturada, 0 que exige enfrentar a dimensio do SUPRAESTATAL (do ponto de vista global) ou do INFRAESTATAL (do ponto de vista do fragmento). Em segundo lugar, a economia capitalista, sob os marcos da primeira e da segunda revolucées industriais, tinha um movimento ciclico onde, a cada periodo histérico de saturagéo e de desemprego, seguia-se um novo surto de expansio econémica e de novos empregos. Como diz Robert Kurz, “as crises, mesmo que inevitaveis, pareciam somente transicdes dolorosas para se atingir novos patamares de prosperidade” (1996). Hoje, com a terceira revolucao industrial (microeletrénica, robética, automacio, informacao), a producdo foi racionalizada ao maximo. O surto econémico nfo causou mais um correspondente aumento de empregos como das vezes anteriores. “Pela primeira vez na hist6ria da modernidade”, diz Kurz, “uma nova tecnologia é capaz de economizar mais trabalho em termos absolutos”. “A eficacia de uma fase expansiva, criadora de empregos, deixou de existir” e o desemprego faz 0 seu retorno triunfal, s6 que agora nao se limita a um ramo da produgéo, mas se espalha por todas as inddstrias, por todo o planeta”. E Kurz é dramético quando diz que nao hi surto de emprego: Esperar outro ciclo de emprego “é esperar em vio Godot”. Encontra-se ai a raiz para que se diga que tende a desaparecer a Seguridade Social, Porque o seu potencial esta vinculado ao potencial do trabalho, Desaparecido 0 traba- Revista INSCRITA Dossié CFESS lho, tenderia a desaparecer a Seguridad, Mas nao devernos nos esquecer que hoje 0 potencial do trabalho esta deformado, sob a forma de emprego no proceso de pro- ducao capitalista. Queremos mesmo um outro patamar, que supere as formacSes corporativas e que se universalize para o cidadao! Isto possibilitaria transitar da centralidade do trabalho oprimido para a centralidade do trabalho criador, para a centralidade da vida, para a centralidade da existéncia. Lutemos por uma Seguridade Social que seja melhor que a do pasado e do presente. Que se inscreva numa outra civilizagio, onde 0 trabalho explorado, degradado e compulsério, seja abolido. Nao mais s6 protegio ao trabalhador, mas protecao aos seres humanos, sem discriminacao de espécie alguma: de classe, de género, de idade, de cor, de etria, Bibliogratia BRAGA, José Carlos de Souza — 0 Espectro que Renda 0 Copitalismo. FS.P 1996: 5-3; ‘CAMPOS, Lauro.~ FHC: A Fore, o Desemprego, a Concentracéo de Renda eo Sucateamento dos Esttols Commo Solusées Falsas Para Ume Crise que se Abrofundaré. Brasilia. Sonado, 1995; CHOMSKY, Noam — Novas e Velhas Ordens Mundiais. Sto Paulo Scrita, 1996; FORRESTER, Viviane - O Hlorrer Econdmico. Sao Paulo, Editora da UNESP 1997; GIDDENS, Anthony ~ Para Além da Esquerdae da Direita. Séo Paulo, Editora da UNESP. 1996; KORTEN, David ~ Quendo as Corporagées Reger 0 Mundo. S30 Paulo, Futura, 1996; KURZ, Robert — O Torpor do Copitalismo. FS.P 1996, 5-14; MARX, Karl O Capital (Crtco da Economia Politico). Livro 03, Vol O4 @ Livro OI, Vol. 02, Rie de Janeiro, CCwilizagio Brasileira, s/d; MATTOSO, jorge ~A Desordem do Trabalho. Sio Paulo, Scritea, 1996; MOTA, Ana Elzabete ~ Cultura da Crise e Seguridade Socil. Sto Paulo, Cortez, 1995; RIBEIRO & JUNIOR ~ Globolizacdo, Fragmentacio e Reforma Urbana. Rio de Janeiro, Civiizacio Brasilia, 1997 (2 ed. Revista INSCRITA Dossié CFESS Justa comemoragao José Paulo Netto Revista INSCRITA Anénima, Siig da Prat ‘rade Part por ineendi ‘ax Comuna, fd Dossié CFESS Em todo 0 mundo culto, nos quatro cantos do planeta, sucedem-se, neste ano, eventos comemorativos dos 150 anos de publicacao do Manifesto do Partido Co- munista, texto que, a partir de 1872, teve seu titulo reduzido simplesmente a Mani- festo Comunista. (© que pode justificar tantas comemo- ragées, século e meio depois daquele 24 de fevereiro de 1848, quando sairam de uma tipografia de Londres 0s primeiros exemplares (sem indicacao do nome dos autores) daquilo que nao era, formalmen- te, mais que um panfleto? Mais ainda: como cexplici-las, no momento mesmo em que ‘© movimento socialista vive um periodo de crise e refluxo? Imediatamente, a resposta parece sim- ples: 0 texto, redigido por Marx e Engels lade de suas teses centrais nao é fruto de uma genialidade qualquer de seus autores, mas a resultante da correcdo da sua analise teérica da realidade (encarregados de fazé-lo pelo Il Congres- so da Liga dos Comunistas, realizado entre novembro e dezembro de 1847), redimensionou no século XIX a pratica politica do proletariado e, no século XX, foi rectamado como inspirador das mais profundas inflexdes sociais. Ou sefa: tra- tar-sevia de uma comemoracao que, tao somente, faz justica a uma histéria que (apesar dos esforcos da midia e da intelectualidade bem posta na vida) nao pode mais ser negada. Uma resposta como esta nao é inteira- mente desprovida de sentido, Porém, 0 {que ela deixa na sombra é mais importan- te do que aquilo que expée luz: o Mani- festo nao é apenas parte de uma histéria passada, mas elemento constitutivo da his- toria presente - e é exatamente a isto que se deve a forca dessas comemoracées. Enquanto hist6ria passada, esta 0 pro- sgrama pratico de medidas que o Manifes- to propée, em boa parte inadequado para os problemas do nosso tempo. Também so passado algumas apreciagées relativas a idéia de que, com o desenvolvimento da sociedade capitalist, os conflitos e tenses Revista INSCRITA it-se-iam condensando e simplificando no confronto entre burgueses e proletérios. Igualmente pasado ¢ a nocao, prépria de 1848, de que o cardter revo ago socialista manifestar-s damente sob a forma insurrecional. O contetido do Manifesto, todavia, ultrapassa largamente este registro carac- teristico do século XIX. O essencial deste contetido diz respeito, diretamente, anos- sa condicio de sujeitos inseridos concre- tamente na contemporaneidade da socie~ dade burguesa, conforme o atestam as suas teses centrai = 0 desenvolvimento capitalista é, neces- saria e simultaneamente, producao inces- santemente renovada de riquezas sociais O Manifesto nao é apenas parte de uma historia passada, mas elemento constitutivo da historia presente © pauperismo, de possibilidades de humanizacao e de barbarizacao; - © evolver da sociedade burguesa, con- centrando poder e riqueza nas maos de poucos, exclul, também necessariamente, a massa dos trabalhadores da participagao em condicées de vida qualitativamente superiores; = a solucio positiva dos impasses e dile- ‘mas gestados com o desenvolvimento ca- pitalista sé pode ser o resultado conscien- te da vontade politica dos trabalhadores, corganizados autonomamente. Revista INSCRITA Estas teses fundamentais, que partem da verificagio do carater explorador da producio capitalista, revelam-se hoje ab- solutamente verdadeiras. Nunca como antes, no decurso desses 150 anos, foi tio visivel e palpavel a realidade que o Mani- festo antecipou analiticamente: quando se discute a distribuicdo de renda, 0 absurdo crescimento das desigualdades, o desem- prego estrutural, as novas formas de po- breza e exclusio, a reducdo dos direitos sociais, a tensa relacio entre democracia econdicdes de exercité-laem meio fome 8 doenca, etc., o que se faz é, sabendo- se ou néo, discutir as questdes cujas com- plexas causalidades o Manifesto esclare- ‘cou com pertinéncia e rigor. Esta assombrosa atualidade do Mani: festo deve-se a0s seus supostos teéricos. Da esquerda para Raver Ananima, Franca 1897; = Pierre Petit, Esti- ‘wa da Liberdade, Paris, 1876-81; Pierre Petit deta- Thoda fale da Estatua eet Durandelle, Paris, test Dossié CFESS A validade das suas teses centrais néo é fruto de uma genialidade qualquer dos seus autores, mas a resultante da corregao da sua andlise teérica da realidade. Foi esta andlise que permitiu a Marx e a Engels compreender, antes de todos, a natureza da modernidade capitalista e, no seu interior, o papel das classes enquanto sujeitos sociais fundamentais. Foi esta anélise que Ihes propiciou determinar, antes de todos, a funcao classista do Estado. E foi esta andlise, que depois amadureceram e adensaram, que os capacitou a indicar o drama do mundo contemporéneo: enquanto a producdo social permanecer nos quadros de relacées sociais que, a base da propriedade privada dos meios de produgdo, asseguram a apropriagao privada do excedente, seus resultados sociais, cul- turais e éticos apontarao sempre para a barbérie Neste sentido, o Manifesto nao é peca ou signo de uma histéria passada. Muito a0 contrério: ele é constitutivo da histéria que vivemos (ou sofremos) no calor de hora. Eo & tanto pela sua anilise, quanto pela soluco que aponta - 0 projeto comunista. Nao uma sociedade ideal ou paradisiaca, um idflico fim da histéria: antes, um direcionamento consciente, pelos trabalhadores organizados, de tendéncias emancipatérias que, operantes jé hoje, s6 poderao desenvolver-se efetivamente a partir do momento em que 0 poder politico (cuja expresso central é o Estado) for apropriado pelos produto- res da riqueza social, Na prépria conjuntura histérica em que o aparentemente triunfante projeto da Direita, 0 neoliberalismo, comega a revelar a sua verdadeira face, as comemoragées dos 150 anos do Manifesto nao devem (endo podem) constituir um puro evento cultural, transformadas em elegia/elogio de uma histéria passada. Dever (e podem) servir de ponto arquimédico para a retomada das lutas emancipadoras, prentincios de um mundo sem exploracdo, opressio e alienacéo. Fotos: Publicadas no livo Le Grand Oeuare, Colegio Photo Poche, ecitado em |964 pelo Centro Nacional da Fotografia do Ministério da Cultura da Franca. Sio serventes de pedreiros, contra-mestres,técnicos em ‘edificagdes, engenhelros, escultures, cada um com a suahistéra, incrita a atitude, no gesto, no vestuio. Revista INSCRITA Dossié CFESS PU ete Emir Sader 30 anos depois das barricadas do desejo Um intelectual engajado nas lutas politicas dos anos 60 escreveu, em carta a. um. amigo: “ainda daremos gracas por termos feito vinte anos nos sessenta”. O que teve de tio particular a década de 60? Em primeiro lugar, foi a década em que, juntamente com a de vinte, a histéria esteve mais aberta neste século, o que significa dizer que o sistema capitalista em Revista INSCRITA Unvericads do Paulo ed Faced Senigo Soild Unvesidnde do Estado do Fo de Jane Publica, entre caroe love, 0 Poder cod 0 pada? (Sto Pade Baterpa 1997) © Canas 2 Che Gosia (Sio PauioPes 1997), Celabera com alguns des prncpais oats do pa Dossié CFESS escala mundial esteve mals vulneravel & mais passivel de grandes transformacées Em segundo, se deu nos anos 60 a conflu- éncia de varios fendmenos que possibili- taram esse destaque: a afirmacio da re- volucao cubana, a vitéria da luta de libertacio anti-colonial da Argélia contra ‘98 colonizadores franceses, a revolucdo cultural na China ~ que parecia ser um imenso proceso de renovacao dos modelos de socialismo existentes até ali— , além das mobilizacdes estudantis operérias na Franca, na Italia, na Alema- nha, no Japao. Se tudo isso ja servia para criar um cli ma de efervescéncia politica, ele foi mul- tiplicado por fenémenos na area cultural ~ fermentados e fermentadores daqueles fenémenos ~ e por um fato politico central —a Guerra do Vietna. Nesta, os EUA, até oul Clee Ta entdo praticamente imbativeis — haviam sido derrotados na tentativa de invaséo de Cuba, onde haviam jogado poucas forcas, acreditando que 0 combate seria fécil - resolveram dar uma ligo num longinquo pais asiatico produtor de arroz, que havia derrotado sucessivamente os japoneses e 05 franceses. Seria a licdo definitiva a to- dos 0s que ousassem levantar sua voz e, Principalmente, suas armas, contra o “£ proibido proibir”, “Seja realista: pega 0 impossivel”. Slogans que davam © carater ut6pico-anarquis- ta para alguns, lista radical para outros, do movimento de 68. colosso norte-americano. Arresisténcia do povo vietnamita foi o grande catalizador de tudo 0 que aconte- cet nos anos 60. © que unificava Sartre, Bob Dylan, Chico Buarque, Susan Sontag, ‘Simon and Garfunkel, Joan Baez, Augusto Boal, era a solidariedade com a resistén- DELIVREZ LES LIVRES iormrave eR cia do pequeno Vietna contra o imperia- lismo norte-americano. Muitas imagens povoavam o imaginério das barricadas de 68 - Mao-Tsé-Tung, Ho-Chi-Minh, Fidel, Lénin, Marx, Rosa Luxembrugo - mas 2 mals universal de todas era a de Che. Porque ele personificava uma das conquistas daquele periodo - a revalugéo ‘cubana -, mas principalmente porque suas palavras generalizavam o combate para Revista INSCRITA Ainda daremos gracas por termos feito vinte anos nos sessenta todo 0 mundo, quando dizia que a verda- deira solidariedade com o Vietnd era a de “criar dois, trés, muitos Vietnas”, isto é, universalizar a luta contra o imperialismo. Este elemento deu 0 toque politico aos anos 60, imprimindo-lhe um cardter antiimperialista e anticapitalista, 1968 em particular se tornou o sim- bolo de toda a década, porque foi o ano ‘em que um impressionante movimento popular, desatado pelos estudantes, parou a Franca, no por uma reivindicacdo es- pecifica — embora tenha se iniciado com a ATTENTION fa radia ment, luta de oposigao a uma lei de ensino de orientacao tecnocratica do governo De Gaulle =, mas por mudancas radicais na sociedade como um todo. “E proibido proibir”, “Seja realista: peca o impossivel”, “Conceder um pouco é capitular muito “Eleig6es, armadilha para tontos" ~ entre outros slogans, davam o carater utdpico- anarquista, para alguns, socialista radical, para outros, do movimento de 68, que Revista INSCRITA Dossié CFESS se alastrou por toda a sociedade, mesmo contra a vontade dos partidos Comunista @ Socialsta e das centrais sindicais ligadas a eles, Foi um movimento fertilizado pe- los Comitas Vietna Nacional, de solidari- edade com a resisténcia contra os EUA, que tinha na figura do Che, de Mao-Tsé- Tung, de Ho-Chi-Minh, de Marx, seus icones fundamentais Paralelamente, a resisténcia a partici- pacdo na Guerra do Vietna convergiu nos EUA com 0 movimento dos direitos civs, contra a discriminaco racial - © que tinha muito a ver, porque os negros, cidadaos de segunda categoria no pais, eram privi- legiados para serem alistados na guerra - provocando o maior movimento de mas- sas da histéria dos Estados Unidos. No Jape ocorria algo similar, assim como na ‘Alemanha e na Itélia, com repercusses ae pig Mi em todas as grandes cidades européias. Na Europa Oriental, a tentativa de re- novagdo democratica do socialismo na entao Checoslovaquia, também fez parte de 1968. O movimento, de dentro do Par- tido Comunista, liderado pelo primeiro- ministro Alexander Dubcek, com o slogan de “um socialismo com rosto humano”, {oi a ditima tentativa de oposigéo de es- querda ao socialismo de modelo soviéti- Dossié CFESS voici votre bulletin de VOTE co. A invasdo por tropas soviéticas deu inicio 4 época de ‘oposicées de direita, que desembocou no fim da prépria URSS e dos outros paises socialistas do leste europeu. Na América Latina, 0 México foi o pais onde se regist ram as manifestagées de maior vulto, emibora, ao contré de varios outros paises do continente, néo tivesse nenhum movimento armado, MobilizagSes estudantis foram viclen- tamente reprimidas, no ano em que o pais ia realizar as COlimpiadas, © houve pelo menos 400 estudantes mortos rna Praca dos Trés Poderes, que simboliza a confraterniza- do das racas. No Brasil, a ditadura militar enfrentava a resisténcia do movimento estudantil, de greves operdrias em Osasco & ‘em Contagem e de movimentos armados. © clima teérico ‘também era agitado, seja pela publicacao, pela primeira vez, de autores como Trotsky, Gramsci, Deutscher ¢ Lukas, seja por revistas como a Civilizacéo Brasileira e Teoria e Pratica. A isso se somavam 0 Cinema Novo, os teatros de ‘Arena e Oficina, a musica popular, para dar um clima de franco florescimento do que de melhor a cultura brasileira possuia, mobilizados contra a ditadura. ‘As versées biogréficas publicadas sobre aquele periodo no Brasil tm uma marca claramente pessoal, como toda biografia. Ninguém pode confundir biografia com histéria. Hi relatos com muito material de depoimentos, mas 0 ba- lango histérico — no sentido de compreensio profunda do seu significado, inserido na trajetéria geral do pais e suas projecées ~ de 68 e de toda a década ainda est por ser feito. Olivro Les 500 Afiches de Mai 68 foi editado por Balland, em 1978, Paris. Sio serigrafss,itogravuras, que ‘expressam bem o espirito da época, Entre elas “INFORMATION LIVRE'.que publicames na pagina do editorial e as demais ilustracdes deste artigo. Revista INSCRITA Dossié CFESS Potyara A. P. Pereira Uma arena de conflitos. Quando falamos de politica social,estamos nos referindo aquelas modernas fun- oes do Estado de produzir,instituir e distribuir bens e servicos categorizades como (0s de cidadania. Trata-se, portanto, de acZo conjugada a um padrao de organiza- ‘cao que, desde os fins do século XIX e, mais precisamente, depois da Segunda Guerra Mundial, fol se distanciando dos parémetros do laissez-faire e do legado das velhas leis contra a pobreza, para se transformar num esquema de protecio, que incumbe 20 Estado decisiva responsabilidade pelo bem-estar do cidadio. ‘A politica social, assim identificada, integra um complexo institucional denominado Seguridade (inaugurado na Inglaterra na década de 40, sob o comando de William Beveridge), 0 qual, por sua vez, constituiu a base conceitual do Welfare State. Funda- mentalmente, podem ser assim classficadas: a) politicas contributivas, contratuais Revista INSCRITA * esumo da pleta seafands na Univers

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