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ROSÂNGELA SANTOS, WESLEI, LOHAN

MERGULHANDO NAS NARRATIVAS ORAIS DE REMANSO-BA

A comunidade quilombola Remanso/BA é o resultado histórico, social, cultural e


linguístico das famílias que chegaram ali e formaram um povoado. Estabeleceram,
assim, pactos de convivência e foram se constituindo enquanto sujeitos moradores
rurais.

Remanso é um espaço que tem sua nomeação própria e é reconhecido pelas


práticas culturais e religiosas dos sujeitos nascidos ali ou que lá já residem por
muito tempo.

Essa comunidade tem uma grande extensão de área alagada denominada de


Marimbus, território pantanoso, alagado, semelhante ao pantanal com
biodiversidade, fauna e flora específicas.
MERGULHANDO NAS NARRATIVAS ORAIS DE REMANSO-BA

Cada bairro, povoado ou lugarejo tem marcas próprias que os diferem entre si.
Remanso se difere das outras comunidades rurais pela sua formação histórica e cultural,
destacando-se a sua ancestralidade e religiosidade, ressaltando-se a cor
predominantemente negra dos seus habitantes.

Se trata de uma comunidade que está atrelada à cultura africana por causa da
sua ancestralidade e seus mestres e griôs são a representação viva desta cultura africana
naquele espaço.

A comunidade quilombola Remanso-Ba se organiza social, política e culturalmente,


desenvolvendo ações coletivas ealguns de seus moradores demonstram, apesar da
dificuldade de compreensão sobre o que significa ser “remanescente quilombola”, uma
profunda identificação com o território, a partir de uma noção de que eles “são dali
mesmo”, “de uma mesma família”.
Banhos rezas e chás
Catolicismo
Jarê
O catolicismo é a prática de fé mais
comum na comunidade. O Jarê é uma religião de matriz africana, mais
especificamente um candomblé de caboclo, que
São Francisco de Assis
existe exclusivamente na Chapada Diamantina,
A festa de São Francisco de Assis é em alguns dos seus municípios.
uma tradicional festa religiosa
popular que acontece no povoado
do Remanso, cujo padroeiro local é
São Francisco de Assis.
Folia de Reis

Esta festa faz parte do ciclo natalino, sendo


realizada geralmente de 24 de dezembro a 06
de janeiro, quando se comemora o nascimento
de Cristo, por meio do festejo.
Saberes
A importância da tradição oral na preservação da memória coletiva e identidade

A tradição oral é fundamental para a preservação da memória coletiva e da identidade da


comunidade quilombola de Moita Bonita. Através de histórias, lendas, músicas e danças, os
quilombolas transmitem de geração em geração sua cultura e modo de vida. A tradição oral
também é uma forma de resistência política e cultural contra a opressão e a marginalização.

O desafio de manter a tradição oral em um mundo digital

Com o advento da tecnologia digital, a tradição oral enfrenta novos desafios. A


facilidade de acesso à informação e a influência da cultura mainstream podem
ameaçar a preservação da cultura quilombola. No entanto, a comunidade de
Moita Bonita está se adaptando às mudanças e usando a tecnologia para
fortalecer sua cultura e identidade.
Valores
A relação entre oralidade e
identidade quilombola:

A oralidade é uma parte fundamental da identidade quilombola. As narrativas orais,


as músicas, as danças e as festas são elementos que contribuem para a formação da
identidade coletiva da comunidade. Elas são uma forma de expressão cultural que
permite que os quilombolas se conheçam como um grupo distinto e diferenciado.

A importância da valorização da cultura


quilombola através da oralidade:
A preservação da cultura quilombola é um desafio que requer a valorização da
tradição oral. É preciso reconhecer a importância dessas narrativas e das práticas
culturais que as acompanham para garantir a continuidade da cultura quilombola.
Valores
A tradição oral como ferramenta de resistência política e cultural

A tradição oral é uma forma de resistência política e cultural para a comunidade quilombola de
Moita Bonita. Através da transmissão de histórias e valores, os quilombolas fortalecem sua
identidade e resistem à opressão e marginalização. A tradição oral também é uma forma de
lutar contra a invisibilidade e o apagamento da cultura quilombola.
Fazeres
As famílias vivem da pesca e da lida na roça, de onde tiram o sustento da família, “toda vida aqui era a
pescaria e a roça. Como eu lhe digo que minha profissão era a pescaria e a roça. Quando a pescaria não
dava dinheiro eu sabia onde conseguir, no cabo da foice. E eu criei meus filhos tudo e nunca deixei
nenhum chorar por fome (SF).”

(SF).” Com a proibição da atividade do garimpo na região da Chapada Diamantina,


os moradores da comunidade Remanso-BA enfrentaram dificuldades para conseguir dinheiro
para a aquisição de alimentos, desde então a pescaria e a agricultura se tornaram as principais
atividades, “a gente vivia da roça e da pesca, a gente não tinha condições de comprar (DJ);
“Naquele tempo o rio tinha muito peixe, aí a gente pescava e trocava por alguma coisa pra
comer (DJ)”, lembra Dona Judite.

A terra é um dos elementos fundamentais para os povos que vivem no e do campo,


encontra-se intimamente ligada a suas raízes, faz parte de suas histórias de vida. É o espaço
onde essa população vive, trabalha, reúne suas histórias de vida, suas alegrias, tristezas, lutas,
conquistas. A terra é um elo que une o presente, o passado e o futuro dos povos lavradores.
Fazeres
Outro fazer observado na comunidade é a realização de oficinas na Trilha Griô do Quilombo. Esta trilha, ao
representar uma forma de geração de renda, além de constituir um ritual de vínculo e aprendizagem, constitui
também um canal de sobrevivência para a comunidade, uma vez que os mestres griôs e toda a comunidade
envolvida na realização da mesma têm a possibilidade de comercializar os itens produzidos durante as oficinas
realizadas na trilha e de ganhar algum dinheiro por hospedar os participantes da trilha em suas casas.

Trilhas Griô na Chapada Diamantina


Contos e Cantos

A linguagem dessa comunidade é permeada de lendas, mitos, histórias e casos em que


aparecem animais, nego d’água, figuras do imaginário popular, etc., sendo assim, nesta
comunidade, a explicação do futuro e a interpretação do presente são também feitas com base
nestas narrativas - manifestações de cultura local na comunidade.

Essas historias são passadas de geração em geração, conceituando o que entendemos como
patrimônio cultural e identidade étnica de uma determinada comunidade, representando
vivencias misturando o real ao imaginário, esse patrimônio cultural é de extrema importancia
para se manter viva a identidade de um grupo .

Mitos, lendas e contos populares foram sempre vias de acesso à cultura de um povo,
constituem, por isso, excelentes fontes de estudos. Narrativas de formas simples, onde a
linguagem mantém mobilidade, sendo sempre aberta a uma nova narração individual e oral.
Contos e Cantos
Dos mitos aos causos, em que se misturam ficção e realidade, estas narrativas orais
formam um tecido social e estético, exercem um papel que regulam vidas, transmitem
normas, comportamentos, crenças, enfim revelam homens e mulheres que preservam o
passado e vivem um presente de luta não somente pela posse da terra como também pela
afirmação de uma identidade.

“Eh mulher rendeira, eh mulher rendá,


Tu me ensina a fazer renda que eu te ensino a namorar.
Lampião desceu a serra, pra caçar moça bonita
E pra cantar mulher rendeira:
Eh mulher rendeira, eh mulher rendá,
Tu me ensina a fazer renda que eu te ensino a namorar”. (DR)

As cantigas observadas a partir das narrativas orais dos sujeitos desta pesquisa são
líricas e jocosas, frases curtas entoadas com ar de saudade do tempo de brincadeiras que
apresentam características culturais de Remanso e são entoadas durante o trabalho na roça,
durante as festas religiosas e nos momentos de descanso depois do trabalho – momentos em
que observamos a valorização da cultura local através da oralidade.
Obrigado pela atenção....
Referência

PEREIRA, Luciana de Araújo. Nas trilhas de uma comunidade


quilombola: tradição, oralidade, memória coletiva e identidade.

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