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DIREITO

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João Luiz da Silva Almeida

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DIREITO

Editora luMEN JuriS


rio dE JaNEiro
2018
Copyright © 2018 by Ana Cecilia Bezerra de Aguiar
Ana Siomara de Oliveira Ferreira
Ana Tarna dos Santos Mendes
Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira
Lorrayni de Bortoli
Mara Livia Moreira Damasceno
Rachel de Mesquita Rodrigues

Categoria: Direito Constitucional

Produção Editorial
Livraria e Editora Lumen Juris Ltda.

Diagramação: Alex Sandro Nunes de Souza

A LIVRARIA E EDITORA LUMEN JURIS LTDA.


não se responsabiliza pelas opiniões
emitidas nesta obra por seu Autor.

É proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer


meio ou processo, inclusive quanto às características
gráficas e/ou editoriais. A violação de direitos autorais
constitui crime (Código Penal, art. 184 e §§, e Lei nº 6.895,
de 17/12/1980), sujeitando-se a busca e apreensão e
indenizações diversas (Lei nº 9.610/98).

Todos os direitos desta edição reservados à


Livraria e Editora Lumen Juris Ltda.

Impresso no Brasil
Printed in Brazil

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE

AG282d
Aguiar, Ana Cecilia Bezerra de.
Direito sistêmico : o despertar para uma nova consciência
jurídica / Ana Cecilia Bezerra de Aguiar ... [et al.]. – Rio de Janeiro
: Lumen Juris, 2018.
232 p. : il. ; 21 cm.

Bibliografia : p. 195-222.

ISBN 978-85-519-0955-3

1. Direito Constitucional. 2. Direito à Família. 3. Justiça


Brasileira. 4. Direito Penal. 5. Direito Civil. I. Ferreira, Ana
Siomara de Oliveira. II. Mendes, Ana Tarna dos Santos. III. Lima,
Gabriela Nascimento. IV. Pereira, Karolina Evangelista. V. Bortoli,
Lorrayni de. VI. Damasceno, Mara Livia Moreira. VII. Rodrigues,
Rachel de Mesquita. VIII. Título.

CDD 340

Ficha catalográfica elaborada por Ellen Tuzi CRB-7: 6927


Agradecimentos

No processo de construção deste livro, tivemos a sorte de ter ao


nosso lado pessoas que foram essenciais para o resultado final. Por
isso, gostaríamos de manifestar nossos agradecimentos aos pro-
fessores e coordenadores do Curso de Formação em Constelação
Familiar, Isabel Lopes e Guilherme Ashara, que nos inspiraram
profundamente a tomar nossos pais e nossas vidas, além de trans-
mitirem todos seus conhecimentos.
Tivemos ainda o privilégio de vivenciar a prática das constela-
ções de forma supervisionada em nosso grupo de estudo, por meio de
encontros mensais com nosso amigo e constelador Geetesh, a quem
seremos eternamente gratas por ter compartilhado conosco sua sabe-
doria e nos presenteado com ensinamentos esclarecedores.
Em especial, reverenciamos Bert Hellinger, por nos presentear
com as Leis Sistêmicas e as constelações familiares. Gratidão por
possibilitar transformar positivamente tantas vidas. Agradecemos
também ao juiz de Direito Sami Storch, pela atitude corajosa de
inserir a abordagem sistêmica no âmbito judicial, sem a pretensão
de criar de um novo ramo do Direito, mas por proporcionar a evo-
lução dessa ciência tão importante e necessária para a sociedade
e, principalmente, para as relações humanas.
E, por fim, gratidão aos nossos pais, esposos e filhos, que nos
ensinam lições de amor diariamente.
As Autoras

Ana Cecilia Bezerra de Aguiar


Filha de Rosângela e Sarto. Mediadora Judicial (CNJ) e Ex-
trajudicial. Consteladora Familiar. Advogada Sistêmica e Cola-
borativa. Mestre em Direito pela Universidade Federal do Ceará.
Professora do Curso de Direito da Universidade de Fortaleza.

Ana Siomara de Oliveira Ferreira


Filha de Eliane e Milton. Psicóloga e bacharel em Direito.
Mediadora Judicial (CNJ) e Extrajudicial. Consteladora Familiar.
Especialista em Mediação de Conflitos pela Universidade de For-
taleza e MBA em Gestão de Pessoas pela FGV.

Ana Tarna dos Santos Mendes 


Filha de Rita e Oscar. Advogada Sistêmica. Mestranda em
Ciências Jurídicas pela Universidade Autônoma de Lisboa.
Especialista em Mediação e Gestão de Conflitos pela Univer-
sidade de Fortaleza. Pós- graduada em Direito Sistêmico pela
CUDEC - Faculdade Innovare Helling Sciencia. Idealizadora
do Programa Olhares e Fazeres Sistêmicos no TJCE. Constela-
dora Familiar. Mediadora Comunitária pelo Ministério Publico
do Estado do Ceará.

Gabriela Nascimento Lima


Filha de Francisca, Luiza, Medeiros e Derval. Advogada Sis-
têmica. Sócia-fundadora do escritório de Advocacia França &
Lima Advogados Associados. Mestranda em Ciências Jurídi-
cas pela Universidade Autônoma de Lisboa. Pós-graduanda em
Transformação de Conflitos e Estudos de Paz pelo Instituto Paz e
Mente. Consteladora Familiar. Diretora da Comissão dos Advo-
gados IBDFAM-CE. Idealizadora do Programa Olhares e Fazeres
Sistêmicos no TJCE.

Karolina Evangelista Pereira


Filha de Maria Etelvina, Antonio Marcelino e Antonio Fran-
cisco. Advogada Sistêmica. Consteladora Familiar.

Lorrayni de Bortoli
Filha de Maria Aparecida e José Albano. Advogada Sistêmica
atuante na área do Direito de Família. Especialista em Direito e
Processo do Trabalho e em Processo Civil. Proprietária do escritó-
rio Bortoli & Bortoli – Consultoria e Advocacia Sistêmica. Cons-
teladora Familiar. Terapeuta Integrativa.

Mara Livia Moreira Damasceno


Filha de Iolanda e Valnir. Advogada Sistêmica e Colaborativa.
Mediadora Judicial (CNJ) e Extrajudicial. Mestre e Doutoranda
em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza. Profes-
sora do curso de Direito da Universidade de Fortaleza. Constela-
dora Familiar. Terapeuta Reiki.

Rachel de Mesquita Rodrigues


Filha de Sandra Helena e Francisco Roberto. Advogada Sistê-
mica e Colaborativa. Especialista em Direito Ambiental pela Uni-
versidade de Fortaleza. Membro da Comissão de Direito Ambien-
tal da OAB/CE. Mediadora Extrajudicial (IMECC). Consteladora
Familiar. Terapeuta Reiki.
Sumário

Agradecimentos......................................................................... V
Introdução...................................................................................1
1. Influências Teóricas para o Entendimento da
Constelação Sistêmica................................................................5
1.1 Fenomenologia.....................................................................6
1.2 Psicodrama........................................................................ 11
1.3 Esculturas Familiares......................................................... 14
1.4 Lealdades Invisíveis........................................................... 18
1.5 Inconsciente Coletivo........................................................ 21
1.6 Pensamento Sistêmico....................................................... 25
1.7 Campos Mórficos............................................................... 29
2. Bert Hellinger e as Constelações Sistêmicas...................... 37
2.1 História e Vida de Bert Hellinger ..................................... 37
2.2 Conceito e Constelação em Grupo....................................40
2.3 Constelação Individual......................................................44
2.4 Leis Sistêmicas................................................................... 52
2.5 As Consciências Sistêmicas............................................... 59
2.5.1 Consciência pessoal..................................................... 59
2.5.2 Consciência coletiva, sistêmica ou familiar................. 61
2.5.3 Consciência espiritual................................................. 63
3. Direito Sistêmico: Uma experiência na justiça brasileira.......67
3.1 Biografia de Sami Storch............................................................. 67
3.2 Direito Sistêmico e Constelação Familiar................................... 70
3.3 Resolução 125 do Conselho Nacional
de Justiça e Código de Processo Civil de 2015........................ 73
3.4 Experiência pioneira na Justiça brasileira.......................... 75
3.4.1 Nordeste....................................................................... 76
3.4.2 Sudeste.........................................................................84
3.4.3 Centro Oeste............................................................... 89
3.4.4 Norte............................................................................ 95
3.4.5 Sul.............................................................................. 101
4. Aplicação das Constelações Sistêmicas no Direito.......... 107
4.1 Direito de Família............................................................ 107
4.1.1 Sistema Familiar......................................................... 109
4.1.2 Visão sistêmica para processos de separação ............. 110
4.1.3 Solução sistêmica em situações de alienação parental.... 117
4.1.4 Situações envolvendo adoção..................................... 120
4.2 Aplicação das Constelações Familiares no Direito
das Sucessões......................................................................... 124
4.3 Direito Penal................................................................... 131
4.3.1 Crime......................................................................... 132
4.3.2 Sujeitos do crime....................................................... 134
4.3.3 Agressor versus Vítima.............................................. 135
4.3.4 Função Social da Pena versus Função Sistêmica
da pena............................................................................... 139
4.3.5 Sistema Penal Processual e o Direito de Pertencer.....141
4.3.6 Juizados Especiais e Leis Sistêmicas........................... 146
4.4 No Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA .......... 147
4.5 No Direito Empresarial e Direito do Trabalho................ 150
5. Advocacia Sistêmica........................................................... 161
5.1 Definição de advocacia sistêmica.................................... 161
5.2 Capacitação para atendimento sistêmico......................... 162
5.2.1 Autoconhecimento.................................................... 163
5.2.2 Qualidade de Presença.............................................. 165
5.2.3 Empatia..................................................................... 167
5.2.4 Ausência de julgamentos........................................... 170
5.3 Capacitação para aplicar o método da Constelação..................171
5.4 Aplicabilidade............................................................................173
5.4.1 Aplicação Extrajudicial e Judicial...............................174
5.4.2 Aplicação pela Ordem dos Advogados do Brasil....... 180
5.5 Postura sistêmica............................................................. 182
5.6 Honorários Advocatícios................................................. 186
Conclusão................................................................................ 191
Referências.............................................................................. 195

XI
Material de Apoio e Download

O presente livro possui seus organogramas disponíveis no site da


editora. Para acessar o conteúdo, visite o www.lumenjuris.com.br,
faça a busca pelo título do livro e efetue o download dos arquivos.
As imagens impressas na obra são apenas para localizar o leitor
no conteúdo.

XII
Introdução

O histórico dessa obra inicia-se muito antes do período em que


ela começou a ser escrita. Em meados de março de 2017, algumas
rodas de conversas aconteceram em Fortaleza-CE, com o objetivo
de divulgar o tema do Direito Sistêmico e as Constelações no Judi-
ciário. Logo depois, em junho do mesmo ano, ocorreu o lançamen-
to oficial do Programa Olhares e Fazeres Sistêmicos no Judiciário
do Ceará, voltado para a aplicação das constelações sistêmicas nos
processos judiciais.
Por força desse movimento, um grupo de pessoas com interesse
comum se formou. Os encontros, antes esporádicos, passaram a
ser mais frequentes. Até que, em agosto, uma parte dos volun-
tários teve a oportunidade de iniciar um curso de formação em
constelação familiar.
Em decorrência dessa formação, um grupo de estudos foi for-
mado, composto por oito integrantes, todas da área do Direito.
As componentes do grupo, muito inquietas e questionadoras, de-
cidiram aprofundar as leituras e realizar pesquisas voltadas para a
repercussão da abordagem sistêmica na seara jurídica. Assim, com
o intuito de contribuir, concretamente, com o desenvolvimento
da temática, surgiu a ideia de consolidar os estudos em uma obra.
Em janeiro de 2018, ocorreu a primeira reunião para defini-
ção do projeto editorial do livro. Nela, foi delimitado o sumário
e decidido que a obra seria escrita coletivamente pelas autoras da
seguinte forma: em cada capítulo, cada integrante contribuiria
com uma seção, e, ao final, o capítulo seria revisado na íntegra
por todas conjuntamente. Os momentos em grupo eram espaços
de discussão profunda, que geravam integração dos mem-

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Ana Cecilia Bezerra de Aguiar, Ana Siomara de Oliveira Ferreira
Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

bros, possibilitando que cada autora desse sua contribuição para o


produto final. Tal formato permitiu que a obra fosse, de fato, uma
construção coletiva.
Destarte, a presente obra foi dividida em cinco capítulos. Ini-
ciou-se com a abordagem das influências teóricas que embasaram
a elaboração da teoria da Constelação Familiar e das técnicas que
auxiliaram diretamente no seu desenvolvimento e na sua evolu-
ção. O intuito desse capítulo foi contextualizar o surgimento do
método, evidenciando a riqueza de contribuições das teorias utili-
zadas por Hellinger para desenvolver sua própria abordagem.
Para que houvesse uma melhor compreensão das conste-
lações, no segundo capítulo, explanou-se sobre a vida de Bert
Hellinger, seu criador, bem como foram abordadas a sua defini-
ção e as diferentes modalidades em que elas podem ser aplica-
das. Segundo Bert, os relacionamentos humanos são baseados
em Leis Sistêmicas, que são definidas pela lei da hierarquia, do
pertencimento e do equilíbrio entre dar e receber. Portanto, ain-
da neste capítulo, foi explicado cada uma das Leis e os tipos de
Consciências que a integram. O objetivo da Constelação é iden-
tificar quais leis pode-se estar inconscientemente transgredindo
para, então, possibilitar a recolocação na vida de uma forma que
se possa respeitá-las.
A Constelação Sistêmica tem encontrado aplicações em áreas
distintas, como no campo familiar, organizacional, pedagógico, na
saúde e também no Judiciário, justamente porque ela foca nos re-
lacionamentos humanos, que são a base dos conflitos judiciais ou
extrajudiciais. Nesse contexto, no terceiro capítulo, foi demons-
trado de que forma se deu sua aplicação no Judiciário, na figura
do juiz brasileiro Sami Storch, e o conceito de Direito Sistêmico.
Ainda no decorrer deste capítulo, foram constatados o reconheci-
mento e a aplicação da técnica pelos Tribunais de Justiça brasilei-
ros, bem como de que forma ela contribui para o Judiciário.

2
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

Como será visto, o Direito Sistêmico envolve diversos ramos


do conhecimento, tais como: Direito Material, Direito Processual,
Mediação de Conflitos, dentre outros. Dessa forma, no quarto ca-
pítulo, foi demonstrado de que forma é possível ser utilizada a téc-
nica das Constelações nas áreas do Direito de Família e Sucessões,
Direito Penal, Direito Empresarial e Direito do Trabalho.
Por fim, no quinto e último capítulo, abordou-se a Constelação
Sistêmica na advocacia, demonstrando que é possível transformar
a cultura do litígio, por meio de um atendimento sistêmico, no de-
senvolvimento de uma advocacia mais humanizada e consensual.
O assunto aqui explorado ainda é novo e pouco conhecido,
todavia trata-se de temática de extrema relevância, pois faz men-
ção ao momento atual e ao futuro do Judiciário, bem como da
Advocacia brasileira. Ademais, diante de um cenário jurídico na-
cional pouco satisfatório para o tratamento efetivo e adequado dos
conflitos, a constelação surge como um mecanismo com potencial
para transformar essa realidade.
Queremos, com esta obra, contribuir para o despertar de um
novo olhar sobre o Direito, possibilitando a reflexão acerca da pos-
tura tradicional dos profissionais da área jurídica e o questiona-
mento das possibilidades existentes de transformação da realidade
que estão ao seu alcance.

3
1. Influências Teóricas
para o Entendimento da
Constelação Sistêmica

Este capítulo tem o objetivo de facilitar a compreensão das


constelações sistêmicas por meio da exploração de algumas
teorias e técnicas terapêuticas consagradas, todavia algumas
antecedem e embasam a elaboração da teoria da constelação,
enquanto outras sucedem a sua constituição, colaborando para
explicar o seu funcionamento.
Na elaboração de sua teoria, Bert Hellinger realizou diversos es-
tudos, dentre os quais: a Psicanálise, a Terapia Contextual, a Tera-
pia Primal, a Análise Transacional, a Técnica da Família Simulada
ou Escultura Familiar, o Psicodrama e a Hipnoterapia com base nos
quais desenvolveu seu próprio método terapêutico, que ficou conhe-
cido no Brasil como Constelação Familiar ou Sistêmica.
O presente capítulo buscou abordar alguns teóricos responsáveis
por desenvolver conhecimentos que colaboraram de forma signi-
ficativa na construção da teoria das constelações, como Edmund
Husserl (Fenomenologia), Jacob Moreno (Psicodrama), Virgínia
Satir (Esculturas Familiares), Ivan Boszormeny-Nagi (lealdades in-
visíveis), Carl Gustav Jung (inconsciente coletivo); bem como Fritjof
Capra (pensamento sisêmico) e Rupert Sheldrake (campos mórfi-
cos), cujas teorias contribuíram para a fundamentação da teoria de
Hellinger, dentro de uma perspectiva mais contemporânea.
Assim, torna-se de extrema importância conhecer um pouco
melhor sobre esses assuntos e técnicas que auxiliaram diretamente
no desenvolvimento e evolução das Constelações Sistêmicas.

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Ana Cecilia Bezerra de Aguiar, Ana Siomara de Oliveira Ferreira
Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

1.1 Fenomenologia
O termo fenomenologia tem origem grega (phainesthai + logos),
em que phainesthai significa "aquilo que se mostra ou se apresen-
ta" e o sufixo logos representa "reflexão, estudo ou explicação". O
conceito da fenomenologia foi desenvolvido pelo matemático e fi-
lósofo Edmund Husserl, que nasceu em 1859 e faleceu em 1938,
aos 79 anos, na Alemanha (HUSSERL, 2009). Apreende-se que
fenômeno é aquilo que se mostra pelos sentidos e fenomenologia é
a metodologia que estuda a essência das coisas e a forma como elas
são percebidas no universo.
Dutra (2000, p.48) esclarece que Husserl criticou o conheci-
mento tradicional e inaugurou uma diferença básica entre atitude
natural do senso comum e atitude do pensamento filosófico, ques-
tionando as diversas possibilidades do conhecimento. A atitude
dita natural, inerente tanto ao cientista quanto ao leigo, aceita o
mundo como algo existente por si só, independente de uma cons-
ciência, ou seja, o mundo e tudo o que nele se encontra (animais,
objetos, ideias) existem, e deles criam-se enunciados, elaboram-
-se avaliações e editam-se leis. Essa atitude natural relaciona-se
à experiência direta vivida empiricamente, de modo que assim as
ciências são desenvolvidas.
Para as ciências, a possibilidade do conhecimento é sempre ra-
cional e óbvia, composta de argumentos compreensíveis e prova-
dos por uma verdade objetiva. Segundo Dutra (2000, p.48), para
Husserl, essa certeza científica não se sustenta após uma reflexão
mais rigorosa própria do pensamento filosófico, em que é necessá-
rio abandonar a atitude natural, do senso comum, que considera
tudo óbvio e esgotado, para assumir um comportamento crítico
diante do mundo. Deve-se, portanto, prescindir a crença racio-
nalizante da “tese do mundo”, sem duvidar de sua existência, ou
seja, a percepção do mundo continua sendo uma vivência racio-

6
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

nal, entretanto não se deve mais utilizá-la para a construção do


conhecimento. Conforme Zilles (2007):

O primeiro passo do método fenomenológico consiste em


abster-se da atitude natural colocando o mundo entre pa-
rênteses (epoqué). Isso não significa negar sua existência,
mas metodicamente renunciar ao seu uso. Ao analisar,
após essa redução fenomenológica, a corrente de vivên-
cias puras que permanecem, constata que a consciência é
consciência de algo. Esse algo chama de fenômeno. (ZIL-
LES, 2007, p.218, grifo do autor)

O mundo concreto deixa de ser o criado pela ciência e passa-


-se a percebê-lo apenas como fenômeno: “É me permitido dispor
de todas as ciências só enquanto fenômeno, portanto não como
sistemas de verdades vigentes” (HUSSERL, 1986, p.26). É óbvio
que Husserl não nega a existência do mundo, mas ensina que o
que muda é a forma de abordá-lo. Segundo o filósofo, “Não o
assumo simplesmente como existente, mas abstenho-me de toda
a tomada de posição, quanto ao ser e à aparência” (HUSSERL,
1992, p.15 apud DUTRA, 2000, p.48-49). Acerca disso, Dutra
(2000) defende que:

[...] ao efetuarmos a redução fenomenológica, “perde-


mos” o mundo num certo sentido, mas apenas para 'ga-
nhá-lo' num outro sentido, mais puro, no qual podemos
vislumbrar as essências. Isso porque, quando desconec-
tamos o mundo, quando deixamos de considerá-lo como
dado, para nos defrontarmos com ele de uma forma mais
pura, livre dos pré-conceitos, o que resta é o eidos ou es-
sência. Ou seja, quando nos livramos de tudo o que é con-
tingente num objeto, teremos diante de nós uma estrutura
invariante, cuja presença permanente, ao longo de todas
as variações possíveis, define o objeto. Essa é a região das

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Ana Cecilia Bezerra de Aguiar, Ana Siomara de Oliveira Ferreira
Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

vivências puras, da consciência pura e seus atos correlatos


puros. A famosa frase de Husserl sobre “voltar às coisas
mesmas” refere-se exatamente a estas essências ou ideali-
dades universais: a fenomenologia pretende voltar-se para
o objeto ideal entendido como correlato de uma consciên-
cia pura (DUTRA, 2000, p.48-49, grifo do autor).

É necessário subtrair de si todas suas vivências, recordações,


sentimentos, avaliações e julgamentos para se alcançar uma cons-
ciência pura do fenômeno. Ao reduzir o seu lado cognitivo e emo-
cional, é possível potencializar o lado essencial, concebível em sua
relação com o que está sendo visto, que deixou de ser um objeto do
mundo racional e passou a ser um objeto intencional. Para Husserl
(1965), um objeto/imagem é desprovido de sentido, e é a consciên-
cia um ato doador que estabelece a compreensão das significações.
Segundo Capalbo (2003), a fenomenologia:

É o método fenomenológico da descrição e da compreensão


dos atos da consciência intencional, do qual o primordial é
atribuir sentido, que farão “aparecer” a “essência” do ser.
Assim, para a fenomenologia, a consciência do tempo ou
se abandona ao fluxo temporal das vivências, ou se volta
através de um esforço atentivo da consciência especialmen-
te humana, para pensar esta vivência e dar-lhe sentido. A
condição para que a consciência se volte para a vivência
tal como ela se mostra é de suspender as teses objetivantes
que já se desvincularam da sua origem, é a de suspender
(epoché) os pré-julgamentos e as posições já adquiridas,
romper com este tipo habitual de consciência. Esta fase de
“redução”, denominada por Husserl de “epoché”, ou sus-
pensão dos juízos, a priori, das teses objetivantes, não con-
duz o homem ao desvio da busca da verdade e do objetivo.
Apenas este passo é necessário para entender o que é ver-

8
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

dadeiramente fundado na realidade tal como ela se mostra


dela mesma (CAPALBO, p.440, 2003, grifou-se).

A essência é o modo de ser de algo, é sua maneira única de ser.


Apreender o sentido da essência de algo em relação à consciência
e ao mundo é possível a partir de um afastamento, de uma redução
fenomenológica, por isso o conhecimento para Husserl (1965) é
uma transcendência, em que é preciso ultrapassar as próprias bar-
reiras limitantes e buscar novas possibilidades de ser. Para Husserl
(1965), isso é possível por meio do “retorno às coisas mesmas”,
pois, em algum momento, já existiu o contato com o objeto, então
não se trata de um primeiro contato ou uma primeira ida, trata-
-se de um retorno. Buscar a essência do ser é relacionar-se com o
mundo como fazem as crianças, em uma relação imediata e sem
barreiras, de modo ingênuo, sem filtros racionais e sem encobri-
mento. O conhecimento, portanto,

[...] não busca, pois, a verdade numa esfera autossuficiente


da razão, pois a verdade se dá no horizonte do mundo e
da história, esferas as quais o homem tem acesso imediato
por encontrar-se neles aí situados. Não busca, portanto, as
razões explicativas e esclarecedoras em princípios lógicos
e deduções a priori, em sistemas formais da lógica. […] As
construções do pensamento lógico são como véus que
encobrem e impedem de ver o que existe em verdade
na vida tal como ela é vivida pelos homens (CAPAL-
BO, p.439, 2003, grifo do autor).

A fenomenologia busca desintoxicar a vida dos resultados cien-


tíficos e reduzir a crença de que tudo tem que ser explicado cientifi-
camente. Ao contrário da ciência positivista, que limita seu campo
de análise ao provado experimentalmente, a fenomenologia acolhe
situações veladas por esse método. Segundo Husserl (1965),

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Ana Cecilia Bezerra de Aguiar, Ana Siomara de Oliveira Ferreira
Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

A percepção fenomenológica do ser abre um campo de


trabalho e leva a uma ciência que, sem todos os méto-
dos indiretamente simbolizantes e matematizantes, sem o
aparelho das conclusões e provas, não deixa de chegar a
amplas e intelecções das mais rigorosas e decisivas para
toda a filosofia ulterior. (HUSSERL, 1965, p.73)

O constelador, seguindo o entendimento fenomenológico, deve


suspender sua compreensão significativa e seus conhecimentos teó-
ricos, que seriam fatores de distorção e incompreensão. Ele deve so-
mente ajudar o paciente a refletir, que, na maioria das vezes, encon-
tra-se preso em suas atitudes naturais, o que o leva a crer que seus
pensamentos significantes são a única verdade que se impõe á sua
consciência. Entretanto, conforme Dutra (2000, p.52), “se passar a
refletir fenomenologicamente, se voltar sua consciência intencional
para o seu vivido e operar a redução fenomenológica, poderá perceber
que seu significado é apenas um entre os vários significados possíveis”.
O método fenomenológico caracteriza a Constelação Sistê-
mica por ser uma tentativa de captar o sentido das coisas do
mundo como aparecem, em sua essência, com o menor grau de
interferência possível dos próprios julgamentos, dos valores, das
teorias, das crenças e dos preconceitos. O ideal, para Husserl
(1986, p.92), é “o menos possível de entendimento, mas o mais
possível de intuição pura” ou, em outras palavras, o máximo de
descrição e o mínimo de interpretação racional, prescindindo de
teorias explicativas intelectualmente construídas, externas ao
indivíduo. É aceitar e acreditar no que aparece e o que se sente,
da forma que se mostra em sua essência.
Enfim, torna-se evidente que a Fenomenologia contribui na
construção da teoria das constelações. Em sequência, será abor-
dado o Psicodrama, desenvolvido por Jacob Levi Moreno, e sua
colaboração para o funcionamento das constelações sistêmicas.

10
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

1.2 Psicodrama
Para melhor compreender como se deu o desenvolvimento do Psi-
codrama, faz-se necessário conhecer a biografia de seu criador, Jacob
Levy Moreno. Sua vida pessoal explica, em grande parte, a elabora-
ção de seu pensamento científico e de sua técnica terapêutica.
Moreno nasceu em 1889, na cidade de Bucareste, na Romênia.
Seus pais eram de descendência judaico-sefardita, vieram da Pe-
nínsula Ibérica e se radicaram na Romênia, na época da Inquisi-
ção (GONÇALVES, 1988).
Aos quatro anos de idade, migrou com sua família para Viena,
onde afirma ter vivido sua primeira experiência psicodramática,
ao brincar de ser Deus. Junto com seus amigos, que representa-
vam os anjos, empilhou cadeiras sobre uma mesa até alcançar o
teto, representando o céu e seus vários planos. Sentou na cadeira
mais alta, a qual simbolizava o trono de Deus, e, do chão, seus
amigos o incentivaram a voar, fato que resultou numa queda e na
fratura do seu braço direito. Posteriormente, Moreno intitula essa
experiência como precursora da criação do psicodrama, pois, ao
mesmo tempo em que dirigia a cena, era também o protagonista
(MORENO, 2014).
Durante a adolescência, já demonstrava interesse por teatro e
por atividades grupais. Durante seus passeios pelos jardins públi-
cos de Viena, costumava reunir crianças e formar grupos para re-
presentações improvisadas propondo-lhes “encenações históricas,
espontâneas e criativas” (ALMEIDA, 1998, p.22).
Em 1909, Moreno entrou para a universidade de Viena, onde
cursou Filosofia e Medicina. Durante os seus estudos, reunia gru-
pos de prostitutas para conscientizá-las de sua situação e de seus
direitos como cidadãs. Desenvolveu também um trabalho jun-
to aos refugiados, ajudando a se recuperarem psicologicamente
(MARINEAU, 1942).

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

Em 1921, fundou o Teatro da Espontaneidade, cujo objetivo era


desenvolver a capacidade criativa e a espontaneidade do ser hu-
mano. Ele conhecia o poder de catarse1 do teatro, mas discordava
da necessidade de um dramaturgo para escrever as peças e do uso
de textos decorados pelos atores. Por essa razão, passou a utilizar
a improvisação, por meio da qual o próprio ator tornava-se autor
e criador de sua história, tendo a possibilidade de transformá-la
(GONÇALVES, 1988).
Em 1925, Moreno saiu de Viena e emigrou para os Estados
Unidos. A partir de suas experiências desenvolvidas em grupos no
Teatro da Espontaneidade, criou o Teatro Terapêutico, embrião do
psicodrama (RAMALHO, 2010).
O psicodrama representa o ápice da passagem do tratamen-
to do indivíduo isolado para o tratamento do indivíduo em gru-
pos, privilegiando o estudo do homem a partir de suas relações
interpessoais. Trata-se de um método que passa a estudar as
verdades existenciais através da ação. Desse modo, a proposta
do psicodrama é colocar a pessoa num palco onde ela possa
exteriorizar seus problemas, buscando a verdade através da dra-
matização (MORENO, 1975).
“Moreno construiu palcos, nos quais tudo podia ser interpre-
tado: dramas internos, sonhos, fantasias e realidade” (FRANKE,
2006, p.13). Através da espontaneidade e da criatividade dos
participantes, buscava-se penetrar em níveis de consciência que
não eram acessados na vida cotidiana. A técnica permitia che-
gar o mais próximo possível da realidade do sujeito (FRANKE,
2006). Desse modo, o protagonista, ou seja, a pessoa cuja questão

1 Segundo Almeida, “Catarse significa purificação, descarga de emoções, confissões,


alívio de tensões. No psicodrama, ela ocorre através da representação onde o
cliente é autor e ator, ao mesmo tempo, de seu próprio script ou roteiro. A catarse do
psicodrama ocorre na relação dos vários membros do grupo, a partir da encenação
de alguns e do envolvimento dos outros.” (ALMEIDA, 1998, p.35).

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Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

esteja em foco no grupo, é levado a vivenciar a realização e a atu-


ação através de sentimentos e atitudes envolvidas na situação,
independentemente de estas terem acontecido no passado, no
presente ou no futuro.
Como fica evidenciado, o psicodrama surgiu como uma ideia
inovadora no âmbito da psicologia, unindo as práticas inspiradas
no teatro aos conceitos desenvolvidos na psicologia social. Segun-
do Moreno (1975), os principais participantes numa sessão tera-
pêutica de psicodrama são: o protagonista, o diretor, os egos auxi-
liares e o grupo.

O protagonista apresenta um problema privado ou co-


letivo; os egos auxiliares ajudam-no a dar vida ao seu
drama pessoal e coletivo, e a corrigi-lo. Às experiências
psicológicas significativas do protagonista é dada uma
forma muito mais completa e detalhada do que a vida
permitiria em circunstâncias normais. [...] Em geral, é
importante que o tema, privado ou coletivo, seja um
problema verdadeiramente sentido pelos participantes
(reais ou simbólicos). Os participantes devem represen-
tar suas experiências espontaneamente, embora a re-
petição de um tema possa revestir-se, com frequência,
de vantagens terapêuticas. A seguir ao protagonista, os
egos auxiliares e o terapeuta principal desempenham um
importante papel. É da responsabilidade deles elevar ao
mais alto nível possível a produtividade terapêutica do
grupo (MORENO, 1975, p.31).

Toda essa dramatização facilita e promove mudanças de com-


portamento diante de situações difíceis, possibilitando desenvol-
ver a espontaneidade, bem como testar medos e receios diante da
realidade que se apresenta (FRANKE, 2006). Moreno é conside-
rado o pioneiro na terapia sistêmica dramatizada, entretanto não
se pode confundir psicodrama com Constelação Familiar.

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Logo, apesar de suas diferenças, torna-se evidente que o méto-


do terapêutico de Moreno apresenta semelhanças com o método
das constelações. De forma semelhante, Virgínia Satir, por meio
de sua teoria das esculturas familiares, influenciou significativa-
mente Hellinger no modo como se realizam as constelações.

1.3 Esculturas Familiares


De família católica, Virginia Satir nasceu em Neillsville, Wis-
consin, em 26 de junho de 1916. A norte-americana, desde muito
pequena, sempre se interessou por leituras e por conhecimentos
que tivessem relação com a família, o que era muito compreensí-
vel, já que aprendeu a ler aos três anos. Foi ainda na infância que
decidiu que, quando crescesse, trabalharia a relação entre pais e
filhos (BIOGRAFIA DE..., 2018).
Fundadora de inúmeros projetos e detentora de vastas pre-
miações, Virginia, sempre muito dedicada, conciliou os estudos
e o trabalho desde cedo, tendo ingressando na Universidade
de Wisconsin-Milwaukee, nos EUA. Dentre suas premiações,
Satir é doutora honoris causa pela Universidade de Wisconsin-
-Madison e Professional School of Psychological Studies (BIO-
GRAFIA DE..., 2018).
Satir iniciou o desenvolvimento de suas atividades clínicas em
1951. Vanguardista na Teoria Sistêmica Familiar, ela é conhecida
como “A Mãe da Terapia Familiar” porque acreditava no trata-
mento terapêutico concentrado nas famílias, em vez de pacientes
individuais (LIERMEISTER, 2013). Virginia Satir (1988, p.162)
diferencia as terapias afirmando que: “Na terapia familiar, o te-
rapeuta terá uma maior oportunidade de observar objetivamente.
Na terapia individual, uma vez que há apenas duas pessoas, o te-
rapeuta faz parte da interação.”

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Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

Assim, a psicoterapeuta focava seus estudos especialmente em


grupos familiares, observando o desenvolvimento humano na so-
ciedade. Satir acreditava que os comportamentos absorvidos atra-
vés do núcleo familiar na formação da identidade estruturam o pa-
drão de todas as interações sociais de uma pessoa (O MODELO...,
2017). Daí sua afirmação “A família é um microcosmo. Ao saber
como curar a família, eu sei como curar o mundo.” (ALIGN ,1988,
p. 20 apud ARAUJO, 2013).
A notável autora, em seus estudos e atendimentos, desenvolveu
e empregou algumas técnicas que denominou de “jogos” dentro
da terapia familiar. Como exemplo, pode-se mencionar a família
simulada ou a escultura familiar (SATIR, 1988).
É possível afirmar que essa técnica é um meio simbólico de
representar o sistema familiar, sendo muito eficiente, ao passo que
combina uma série de sensações e percepções com a experimen-
tação, dentre elas, o cognitivo, o afetivo e o emocional. Sua utili-
zação, através do corpo e do movimento, viabiliza a expressão de
emoções e falas silenciadas (OLIVEIRA, 2015).
De forma geral, os familiares posicionam a si e aos demais
membros da família da forma como os percebem na teia familiar.
O objetivo é tornar clara a estrutura familiar através da represen-
tação (SATIR, 1988).
Melhor explicando a técnica, o terapeuta escolhe um escultor
dentre os membros da família, então a ele é solicitado que feche os
olhos e visualize-se, bem como que visualize seus familiares ima-
ginando como posicionaria a si e a cada um do sistema, assim,
vai criando a escultura familiar. Nesse momento, será observado
o individual e o todo, proximidades, expressões e olhares, toda a
fisionomia corporal (OLIVEIRA, 2015).
O terapeuta pergunta ao escultor como se sente, aguardando
que ele relate seus sentimentos e pensamentos. Então, questiona-
-se, ainda, se o escultor faria alguma modificação na imagem cria-

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da. É de extrema importância que cada um seja fiel à forma como


vê a si e aos outros na relação familiar (OLIVEIRA, 2015).
Esse processo ocorre até que o último familiar proceda com a
montagem da sua escultura e, assim, possa mostrar sua imagem da
família. Desse modo, todos vivenciam seus sentimentos, e torna-se
visível para todos os membros como as formas de comunicação e
regras familiares são vividas de maneiras diferentes por cada um
deles, mesmo sendo componentes de um mesmo sistema familiar
(OLIVEIRA, 2015).
Excepcionalmente, Virginia utilizou participantes externos
para representar algum integrante da família durante a prática.
Isso ocorreu quando algum membro da família não se fazia presen-
te e era necessário incluir um estranho para representá-lo. Desse
modo, descobriu que outras pessoas, na posição de um determina-
do familiar, poderiam sentir o que o familiar real sentiria (LIER-
MEISTER, 2013).
Melhor explicando, notou-se que, quando uma pessoa estra-
nha ao grupo era convidada a representar um membro de determi-
nada família, aquela passava a se sentir exatamente como o repre-
sentado, muitas vezes, repetindo espontaneamente seus sintomas
físicos, mesmo sem conhecê-lo ou sem saber nada a seu respeito2.
A exemplo, cita-se o caso ocorrido em 1954, em Palo Alto,
nos Estados Unidos, quando um grupo trabalhava com a téc-
nica da família simulada e observaram que estavam acessando
sentimentos e vivenciado comportamentos de pessoas que eles
representavam (SATIR, 1988). Acrescenta-se, ainda, um caso
narrado pela autora:

2 Esse fenômeno, denominado atualmente de campos morfogenéticos e estudado


por Rupert Sheldrake, como será visto, já havia sido observado anteriormente pelo
criador do psicodrama, Levy Moreno.

16
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

Em uma ocasião memorável, uma jovem assistente social


assumiu o papel de uma filha Paciente Identificado numa
determinada família simulada, enquanto que um clínico
geral, interessado em terapia familiar, era o seu pai simu-
lado. Ao final de aproximadamente quarenta minutos de
interação familiar, a “filha” levantou-se, abraçou-se ao
“pai”, dizendo “Eu o amo de verdade!”, e ele, com lágrimas
escorrendo pela face, falou: “Esta é a primeira vez que eu
realmente senti o que eu perdi por não ter tido uma filha!”
(SATIR, 1988, p.269)

Foi pouco mais tarde, na década de 70, quando Virginia Satir


trabalhava e divulgava seu jogo da família simulada, que Hellinger
deparou-se com o curioso fenômeno revelado pela psicoterapeuta.
Nesse período, Bert participou de inúmeros seminários realizados
por Satir, acompanhando e estudando de perto seu trabalho, até
que começou a aplicar a técnica. Acontece que, de acordo com
Liermeister (2013):

Hellinger refinou a percepção de Satir, usando apenas


representantes para se posicionarem diante dos membros
originais da família e deu a esses representantes a liberda-
de para seguir o que sentissem dentro de si mesmos, sem
serem influenciados pela interpretação pessoal do cliente.
(LIERMEISTER, 2013, p.18)

As contribuições de Satir para a Terapia Familiar tiveram pa-


pel fundamental na construção da abordagem de Bert Hellinger.
Os diferenciais entre as técnicas são extremamente sutis. Enquan-
to na família simulada utilizam-se os próprios familiares, na Cons-
telação, faz-se uso de representantes. Acrescente-se que naquela
os movimentos são limitados, enquanto que, na técnica de Bert,
os representantes têm liberdade de movimentos.

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Ademais, não se pode deixar de destacar a percepção do fenô-


meno e o seu desenvolvimento na Constelação Sistêmica, o que
não ocorreu efetivamente nas esculturas, porquanto, mesmo com
a percepção de que algo ocorria quando um estranho assumia o
papel de um familiar nas esculturas, não se buscou entendimento
sobre o acontecimento. Isso somente foi possível quando Bert ini-
ciou seus trabalhos com a escultura e então teve o insight do fenô-
meno e dos campos, originando, assim, a Constelação Sistêmica.
Ainda em relação às contribuições para a construção das cons-
telações, tem-se Ivan Boszormenyi-Nagy, responsável pelo desen-
volvimento da teoria das lealdades invisíveis.

1.4 Lealdades Invisíveis


Ivan Boszormenyi-Nagy foi um psiquiatra húngaro que viveu
boa parte de seus dias nos EUA. Em meados dos anos 70, depois
de ter realizando pesquisas com milhares de famílias que frequen-
tavam seu consultório, Ivan Boszormenyi-Nagy chegou ao enten-
dimento de que os sistemas familiares são determinados por uma
dinâmica ética existencial, ou seja, estão envolvidos pelas lealda-
des invisíveis (FRANKE, 2006).
De acordo com Boszormenyi-Nagy e Spark (1973), as lealdades
invisíveis funcionam como leis no sistema familiar e se estruturam
em uma fidelidade multipessoal (entre os membros da família).
Ela está fundamentada em: confiança, mérito, comportamentos e
ações do grupo familiar, que geram expectativas a serem cumpri-
das de forma externa e interna por cada componente. Tais expec-
tativas configuram mandatos direcionados para cada integrante
da organização familiar, o qual possui uma função e, portanto,
certas obrigações a cumprir para com o grupo. Esses mandatos
podem ser cumpridos ou não, porém sempre acarretam consequ-

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Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

ências (positivas ou negativas) para o ente em especifico, destina-


tário do mandato, e para todo o sistema familiar.
O membro leal procura alinhar seus objetivos individuas com
as expectativas do seu grupo familiar. O seguimento dessas ex-
pectativas gera mandatos tanto externos quanto internos que
devem ser cumpridos pelo integrante da família. Para exemplifi-
car, quando a criança segue a disciplina oferecida pelos pais, os
mandatos externos estão sendo respeitados; já quando os filhos
se tornam adultos, as expectativas encontram-se internalizadas
(MAGALHÃES, 2010).

Todas as pessoas da família adquirem um compromisso


em relação às expectativas estruturadas do grupo, com
um forte componente de obrigação ética. Pode se dizer,
então, que a lealdade é uma força que coloca o sujeito
como membro efetivo do grupo, mas, que exige, em troca,
o compromisso de obedecer às regras desse sistema, cum-
prindo com os mandatos que lhes são delegados (MAGA-
LHÃES, 2010, p.47).

A repetição de padrões familiares pode ser compreendida pela


manifestação das lealdades invisíveis no sistema familiar. Na fa-
mília, a lealdade se manifesta tanto no grupo como no indivíduo.
A busca pelo pertencimento ao grupo leva a um nível de com-
prometimento do indivíduo com as lealdades do seu sistema. O
que define a profundidade desse engajamento é a função que foi
direcionada a cada participante da família (GRAÇA, 2015).
Como uma forma de serem aceitos pela família, os novos in-
tegrantes se adequam às lealdades invisíveis e seguem sua in-
dicação para se sentirem pertencentes ao núcleo familiar. Essa
necessidade de pertencer pode levá-los a integrar, em suas vidas,
muitas vezes, a dor e o sofrimento inerente aos seus antepassa-
dos. Isso os impende de seguir sua vida de forma livre, pois, por

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fidelidade à dor dos seus entes queridos, preferem segui-los na


dor e não apenas no amor. Então, na vida do indivíduo que se
identifica com o sofrimento de seus ancestrais, por não ter dis-
posto de forças para seguir a felicidade, sempre haverá uma falta,
um vazio (SHAVASTI, 2014).
Contudo, as lealdades não fortalecem só os padrões negativos.
Quando o indivíduo opta por honrar o seu sistema familiar pelo
amor e tem a coragem de seguir seu caminho apesar de toda dor e
sofrimento que teve que passar, sua vida flui de forma harmônica
(SHAVASTI, 2014).
A lealdade acarreta uma contabilidade de méritos familiares
sem que as gerações atuais, para compensar tudo o que receberam
das gerações anteriores, ingressem em um processo de equilíbrio
regido pelo dar e receber, gerando um processo de compensação
dentro do sistema familiar. O referido processo forma uma justiça
na esfera familiar, que rege todos seus membros. Quando ocorre
a incapacidade de cumprir com os compromissos impostos, surge
a culpa, uma força que rege o sistema de forma subsidiária. Essa
culpa, quando não compensada no sistema, é repassada para os
descendentes (BOSZORMENYI-NAGY; SPARK, 1973).
Assim, o trabalho de pesquisa e estudo de Boszormenyi-Na-
gy, que gerou a Terapia Contextual, demonstra como ocorre o
equilíbrio das contas psíquicas internas nos sistemas familiares
(FRANKE, 2006).
Outro conceito desenvolvido por Boszormenyi-Nagy foi o da
parentificação, que consiste na outorga da função de pais para
um ou mais filhos. Verifica-se uma inversão de papéis, em que os
filhos são expostos a atribuições emocionais e físicas que vão além
de sua capacidade, sendo colocados como pais de seus genitores.
Isso ocorre quando os pais se tornam “amigos” de seus filhos, pro-
curando desabafar com eles e receber deles conselhos emocionais,

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Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

trazendo um desequilíbrio para o sistema familiar (BOSZOR-


MENYI-NAGY; SPARK, 1973).
Outro exemplo para observar esse fenômeno é analisar os ca-
sos de alienação parental presentes nos processos de Direito de
Família. Quando se discute a guarda dos filhos e um dos genitores
tende a posicionar o filho contra o outro genitor, gera-se também
uma parentificação, pois o filho está atuando no lugar de um dos
pais para atingir o ex-cônjuge (CASTRO, 2016).
Embasado nos estudos de Boszormenyi-Nagy, Bert Hellinger
observou a atuação da parentificação e suas repercussões dentro
do sistema familiar, para, aprofundando os estudos sobre as lealda-
des invisíveis e suas consequências, sintetizar as Ordens do Amor
ou Leis Sistêmicas, que são: Lei do Pertencimento, Lei da Hierar-
quia e Lei do Equilíbrio entre dar e receber, que serão abordadas
em maiores detalhes no segundo capítulo.
Outra teoria importante para Hellinger em sua construção das
constelações foi a desenvolvida por Carl Gustav Jung, com seu
conceito de inconsciente coletivo.

1.5 Inconsciente Coletivo


Carl Gustav Jung nasceu em 26 de julho de 1875, em Kesswil,
Suíça. A família de Jung era profundamente envolvida com ques-
tões religiosas. Seu pai era ministro da igreja evangélica. Ademais,
todos os seus tios e o seu avô materno mantinham profundo en-
volvimento com a religião. Assim, o contato com o sutil e com
o mundo intangível foi presente desde sempre em sua vida. Na
juventude, ganhou uma bolsa para estudar Medicina na Univer-
sidade de Basel. Era um estudante aplicado. Além dos conteúdos
de sua área, dedicou-se a estudar Filosofia (principalmente Kant
e Nietzsche), espiritismo e paranormalidade. Sua incursão pela

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Psiquiatria iniciou-se em dezembro de 1900, quando passou a tra-


balhar como assistente no Hospital Psiquiátrico Burghölzli, onde
acompanhava pacientes esquizofrênicos. Seus estudos ganharam
grande destaque, fazendo com que se tornasse médico sênior do
mencionado hospital e conferencista da Faculdade de Medicina de
Zurique (HYDE; MCGUINNESS, 2012).
Sua história com Sigmund Freud é bastante curiosa. Am-
bos trocaram correspondências e construíram relevante amiza-
de no período compreendido entre 1906 a 1913, quando Jung
pode apresentar a Freud seus testes utilizando a associação de
palavras. Importa salientar, inclusive, que Jung foi o primeiro
presidente da Associação Internacional de Psicanálise (HYDE;
MCGUINNESS, 2012).
No entanto, em 1912, a parceria foi rompida, por divergências
teóricas inconciliáveis (HYDE; MCGUINNESS, 2012). Jung de-
fendia o monismo, ou seja, que a libido deveria corresponder a
toda a energia presente no indivíduo. Por sua vez, Freud era dua-
lista: defendia a existência de uma pulsão sexual e uma pulsão de
autoconservação (DUNKER, 2016). A primeira teria como fon-
te a libido enquanto que a segunda teria o interesse como fonte.
Tal ruptura tornou possível a fundação por Jung de uma corrente
distinta da Psicanálise de Freud, qual seja: a Psicologia Analítica
(HYDE; MCGUINNESS, 2012).
A partir de então, Jung começa a teorizar acerca de institutos
inéditos, o que o permitiu traçar um caminho próprio, afastando-
-se da concepção freudiana. Dentre as novidades, encontram-se as
ideias de inconsciente coletivo e dos arquétipos, que serão aborda-
das com mais detalhamento a seguir.
De acordo com a teoria junguiana, a psique seria formada por
duas estruturas: o consciente e o inconsciente. Essas duas esferas
se opõem em suas propriedades e, ao mesmo tempo, complemen-
tam-se. O inconsciente corresponde a tudo que se encontra fora

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Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

da consciência, já que é limitada a quantidade de conteúdo que


essa consegue comportar num dado momento. Essa descrição da
psique coincide, em vários aspectos, com a estruturação desenvol-
vida por Freud, pai da psicanálise (JACOBI, 2013).
Contudo, teorizando sobre o inconsciente, Jung inova ao con-
siderar a existência, além do inconsciente individual, do incons-
ciente coletivo3. O primeiro, segundo Jung, seria formado por ex-
periências pessoais que foram conscientes, mas que acabaram sen-
do recalcadas ou esquecidas. O teórico denomina esse conteúdo
de complexos de tonalidade emocional, resultantes da intimidade
pessoal da vida anímica. Já o inconsciente coletivo é constituído
por conteúdo inato e, portanto, herdado4. Tratam-se dos arquéti-
pos - ou das estruturas preexistentes (JUNG, 2000). Destarte, os
arquétipos determinam o modo de apreensão do sujeito acerca de
suas próprias ações e acaba por determinar as ações consequentes
à compreensão (HYDE; MCGUINNESS, 2012). Por estarem lo-
calizados no inconsciente, os arquétipos em si não se dão a conhe-
cer, mas podem ser acessados por meio das imagens arquetípicas,
que penetram na consciência (HYDE; MCGUINNESS, 2012).
Explicando um pouco mais esse aspecto de sua teoria, Jung
leciona que, numa camada mais superficial do inconsciente, en-
contra-se sua porção individual. Contudo, num nível mais profun-
do, encontra-se o inconsciente coletivo. Esse é comum a todos os
seres humanos, podendo ser definido como “um substrato psíquico
comum de natureza psíquica suprapessoal que existe em cada in-
divíduo” (JUNG, 2000, p. 15).

3 “Assim sendo, segundo Freud, o inconsciente é de natureza exclusivamente pessoal,


muito embora ele tenha chegado a discernir as formas de pensamento arcaico-
mitológicas do inconsciente” (JUNG, 2000, p. 20).
4 “O inconsciente coletivo não se desenvolve individualmente, mas é herdado”
(JUNG, 2000, p. 54).

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Assim, Jung advoga pela necessidade de olhar para as questões


subjetivas de forma mais ampla, considerando que há causas, para
além de sua individualidade, que determinam o modo de ser do
sujeito e suas neuroses. As raízes dessas questões relacionam-se,
na realidade, com construções ancestrais por ele herdadas (arqué-
tipos), pois, como bem afirma: “O homem do passado está vivo
dentro de nós [...]” (JUNG, 2000, p. 57).5
Para sustentar sua ideia, o teórico levanta a questão de que maio-
ria dos casos de neurose não são fenômenos apenas particulares,
mas sim sociais. Assim, dado que existe uma quantidade significati-
va de neuroses que causam um estado prejudicial a um número re-
lativamente grande de indivíduos, não se pode ignorar a existência
dos arquétipos. Seus tipos variam de acordo com as situações típicas
da vida. Dessa forma, considerando o acontecimento de determina-
do evento na vida do sujeito que corresponde a um arquétipo, esse é
ativado e determina um modo de ação instintiva que se sobrepõe a
qualquer razão ou vontade (JUNG, 2000).
Dessa breve explanação acerca de tão caro conceito para a te-
oria junguiana, percebe-se a grande contribuição que as ideias de
Jung deram para o pensamento sistêmico, pois sua tese acerca da
existência de um inconsciente compartilhado por toda a humani-
dade contribui para a compreensão acerca da existência de conte-
údos que povoam o inconsciente familiar, ao invés de estarem res-
tritos às vivências individuais do cliente. Assim, ao se realizar uma
constelação sistêmica, promove-se uma ampliação de consciência

5 “Não obstante, a psicologia puramente personalista procura negar a existência dos


motivos arquetípicos e até busca destruí-los pela análise pessoal, reduzindo tudo
a causas pessoais. Considero isto um atrevimento perigoso. [...] Acaso não vemos
como uma nação inteira ressuscita um símbolo arcaico e até formas arcaicas de
religião - e como essa nova emoção transforma o indivíduo de um modo catastrófico?
O homem do passado está vivo dentro de nós de um modo que antes da guerra nem
poderíamos imaginar, e em última análise o destino das grandes nações não é senão
a soma das mudanças psíquicas dos indivíduos?” (JUNG, 2000, p. 57).

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Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

que evidencia elementos presentes no inconsciente do grupo, ele-


mentos do campo compartilhados por todos os seus membros.

1.6 Pensamento Sistêmico


As teorias abordadas ao longo deste capítulo propõem uma
compreensão diametralmente oposta à visão de mundo dominan-
te ou tradicional, quer dizer, á visão mecanicista ou cartesiana,
desenvolvida por René Descartes, no século XVI.
Essa visão de mundo ou paradigma pode ser definida como
modelo da prática científica composta por leis, teorias, aplicações
e instrumentalização, enquadrada em certas tradições filosóficas,
responsáveis por promover uma coerência de pensamento em
determinado período histórico. Como resultado, “homens cuja
pesquisa é fundamentada em paradigmas comuns se submetem
às mesmas regras e padrões da prática científica” (BRANDÃO;
CREMA, 1991, p.15).
Com efeito, o paradigma mecanicista, segundo Sheldrake
(1995), resulta de uma síntese das filosofias platônica e mate-
rialista, segundo as quais, respectivamente, a natureza é regida
por leis eternas, imutáveis e não materiais; e a realidade física se
assenta nos átomos, partículas indivisíveis e permanentes que
compõem a matéria.
Por exemplo, a própria concepção de que a natureza e os seus
fenômenos observáveis são previsíveis, justificativa para que sejam
realizadas experimentações que podem ser repetidas com resulta-
dos iguais ou semelhantes (o que constitui um dos fundamentos
do método científico), encontra-se embasado no platonismo, que
postula que o universo é regido por leis imutáveis, uma realida-
de inalterável, em que a impermanência das coisas é derivada de
uma ilusão. Ou seja, o que nos é perceptível como real, pelos nos-

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

sos sentidos, possui uma realidade subjacente que nunca se altera


(SHELDRAKE, 1995).
Já a filosofia materialista propõe que toda a matéria existente
é composta de elementos indivisíveis, os átomos, elementos estes
em permanente deslocamento no vácuo. As mudanças na matéria,
portanto, devem-se ao movimento, reordenamento e combinação
desses elementos que, embora reais, são invisíveis. Essa filosofia
propõe uma compreensão absolutamente materialista, na medida
em que até mesmo os pensamentos humanos terminam por ser
percebidos como mudanças materiais registradas no corpo e que
a única realidade passa a ser a matéria perceptível e quantificável
por meio da ação dos átomos (SHELDRAKE, 1995).
O mesmo autor afirma ainda que o paradigma mecanicista de-
fende a fragmentação do conhecimento para sua melhor compre-
ensão, propondo a visão da realidade segundo a qual os organismos
são máquinas complexas, inanimadas e desprovidas de finalidade,
evoluindo, sem razão ou programação, por meio da seleção natu-
ral. Esse modelo constitui mais do que uma teoria científica, ele é
tido como uma verdade que nenhum ser racional pode contestar.
Embora esse paradigma encontre-se, de certo modo, ultrapassa-
do pelos novos conhecimentos desenvolvidos, como, por exemplo,
por estudos envolvendo a teoria da relatividade e a física quântica,
responsáveis por transformar o mundo da matéria estática em um
mundo de movimento e campos de energia, o paradigma cartesiano
continua a contaminar a ciência e a percepção da realidade, dificul-
tando a aceitação generalizada de outras teorias melhor capazes de
explicar o mundo de acordo com as novas descobertas.
Aprofundando os estudos acerca do paradigma sistêmico, tem-
-se a teoria desenvolvida pelo físico teórico Fritjof Capra, nascido
na Áustria, cujas obras se tornaram referência do pensamento sis-
têmico. O seu livro Ponto de Mutação (2007) aborda esse pensa-
mento fazendo uma comparação com o cartesiano de Descartes,

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Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

realizando diversas críticas a este, dentre as quais a de que o estu-


do das partes em separado não permite conhecer o funcionamento
de um todo, concebendo o mundo enquanto integrado e interli-
gado, cuja visão holística ficou conhecida como visão sistêmica.
No livro A Teia da Vida (2006), Capra trata de uma nova
compreensão científica dos sistemas vivos, afirmando que a vida
consiste em redes dentro de redes6. Em seu último livro, A Visão
Sistêmica da Vida (2014), escrito em coautoria com Pier Luigi Luisi,
Fritjof Capra aborda modelos e teorias baseados nessa nova visão
sistêmica e unificados dentro de várias áreas de estudo, como a
biologia, a ecologia, a economia, dentre outras.
Sob esse paradigma emergente no século XX, denominado ho-
lístico ou sistêmico, portanto, o mundo é analisado como um todo
integrado, compreendendo as interdependências entre as suas par-
tes, tendo como principal característica a mudança da perspectiva
do estudo dessas partes para o todo (CAPRA, 2014).
O pensamento sistêmico, de uma forma geral, pode ser definido
como uma nova forma de percepção da realidade. Segundo Capra
(2006), quanto mais são estudados os problemas contemporâneos,
mais se percebe que eles não podem ser entendidos isoladamente,
como no modelo cartesiano.
A visão sistêmica da vida ensina que todos os sistemas de-
vem ser percebidos como complexos. Isso significa que o pen-
samento sistêmico é inerentemente multidisciplinar e pode ser
aplicado a disciplinas acadêmicas integradas para descobrir si-

6 A teia da vida consiste em redes dentro de redes. Em cada escala, sob estreito e
minucioso exame, os nodos da rede se revelam como redes menores. Tendemos
a arranjar esses sistemas, todos eles aninhados dentro de sistemas maiores, num
sistema hierárquico colocando os maiores acima dos menores, à maneira de uma
pirâmide. Mas isso é uma projeção humana. Na natureza, não há “acima” ou
“abaixo”, e não há hierarquias. Há somente redes aninhadas dentro de outras redes
(CAPRA, 2006, 45).

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

milaridades entre diferentes fenômenos dentro de uma ampla


faixa de sistemas vivos, ou seja, a nova percepção do mundo se
pauta na consciência das inter-relações e na interdependência
inerente aos fenômenos físicos, psicológicos, biológicos, sociais
e culturais (CAPRA, 2007).
Por entender o todo como indissociável das partes e que uma
parte é algo inseparável de uma teia maior de relações, essa mu-
dança de percepção pode ser considerada também como a mudan-
ça do estudo de objetos isolados para o estudo das relações entre
esses objetos. Essas relações não podem ser pesadas nem medidas,
mas mapeadas, percebendo-se com mais clareza e compreensão as
mudanças ocorridas ou até mesmo algumas repetições de padrão7.
A melhor imagem que representa as relações existentes entre os
diferentes níveis sistêmicos é a da árvore (CAPRA, 2007). Assim
como em uma árvore, as relações são formadas por interligações e
interdependências de seus galhos e ramos, que se apresentam em
todos os níveis sistêmicos. Tal símbolo é bastante utilizado para
representação da Constelação Familiar.
Sinteticamente, é possível definir a abordagem sistêmica
como a visão de que cada indivíduo faz parte de um sistema e
não deve ser visto apenas individualmente, mas sim conectado a
um grupo de pessoas entre si por um destino comum e relações
recíprocas, em que cada membro do grupo influencia os demais
membros do seu sistema.
Desse modo, a compreensão sistêmica da Constelação Fami-
liar representa o fundamento da visão sistêmica de Fritjof Capra,

7 “Na ciência, somos informados de que as coisas precisam ser medidas e pesadas. Mas
relações não podem ser medidas e pesadas; relações precisam ser mapeadas. Desse
modo, a mudança perceptiva de objetos para relações caminha de mãos dadas com
uma mudança de metodologia de medir para mapear. Quando mapeamos relações
descobrimos certas configurações que ocorrem repetidamente. É os que chamamos
de padrão” (CAPRA, 2014, p. 114).

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Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

cujas mudanças ocorridas no mundo implicaram numa mudan-


ça de paradigma, de uma visão fragmentada para a sistêmica. O
tempo mudou e a ciência também; o relógio passou a ter peças
obsoletas com o advento da nova tecnologia, saindo do contexto
mecanicista, de um pensamento reducionista para um mais amplo
e sistêmico, em que tudo se conecta.
Por fim, colaborando para a fundamentação da teoria de cam-
po desenvolvida por Bert Hellinger em suas constelações sistêmi-
cas, tem-se Rupert Sheldrake, com sua teoria de campos mórficos.

1.7 Campos Mórficos


Dentre esses pesquisadores contemporâneos que colaboraram
para a fundamentação da teoria das constelações de Bert Hellinger,
encontra-se Rupert Sheldrake, biólogo pesquisador inglês, doutor
em bioquímica pela Universidade de Cambridge e graduado em
filosofia pela Universidade de Harvard, nascido em 28 de junho
de 1942. Em consonância com a visão sistêmica de mundo, ele
propõe em seus livros a necessidade de uma nova forma de com-
preender a realidade, abrangendo fenômenos que costumam ser
desconsiderados pela ciência tradicional (SHELDRAKE, 1995).
Segundo Sheldrake (2003, p.14), o mundo encontra-se em um
momento de crise paradigmática, pois as hipóteses oferecidas pela
física, pela química e pela biologia convencionais, baseadas em
concepções pré-evolucionistas, como o platonismo e o materialis-
mo, estão em desacordo com a realidade percebida. Existem diver-
sos fenômenos naturais, como a sensação de estar sendo observa-
do, a premonição e a telepatia, os quais, apesar de marginalizados
pela ciência fundada no paradigma cartesiano-mecanicista, que
é incapaz de explicá-los, existem e vêm sendo objeto de estudo,

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servindo para demonstrar que a ciência está incompleta. Quando


esses fenômenos

[...] forem finalmente levados a sério pela comunidade cien-


tífica, os efeitos dessa tomada de consciência serão revolu-
cionários. Serão ampliadas as nossas ideias sobre a mente
e o cérebro, sobre a natureza animal e a natureza humana,
sobre o espaço e o tempo (SHELDRAKE, 2003, p.14).

Por meio do estudo desses fenômenos chamados paranormais,


termo que evoca a palavra normal e o que é considerado aceito ou
válido, tem-se de lutar contra o estigma e o preconceito atribuídos
a esses fenômenos pelo paradigma naturalista da mente, segundo
o qual esta é apenas um aspecto atividade cerebral e, tal qual o
paradigma cartesiano, não passa de uma teoria de explicação da
realidade. Todavia tal visão ignora que, por exemplo, a sensação
de estar sendo observado e a telepatia são normais e fazem parte
da nossa natureza biológica (SHELDRAKE, 2003).
À medida que surgem novos conhecimentos, a ciência também
progride, e o que é considerado normal ou aceito tende a ampliar-
-se. O materialismo, enquanto filosofia, muda no compasso das
alterações na concepção da realidade física no contexto das ciên-
cias. Por meio dos avanços na física, a matéria não é mais a reali-
dade fundamental, sendo mais relevantes os campos de energia e
as partículas elementares da matéria que passaram a ser percebidas
como vibração da energia dentro dos campos.
Desse modo, a resistência encontrada diante da aceitação de
certos fenômenos e certas teorias modernas deve-se, principal-
mente, a uma resistência quanto à mudança de visão de mun-
do e teorias que têm predominado na ciência, tornando-se parte
do senso comum, por muitos séculos. Dentro dessa perspectiva,
a visão evolucionista de Sheldrake, segundo a qual todos os ele-
mentos orgânicos e inorgânicos, dos mais simples aos mais com-

30
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

plexos, inclusive as leis ou os campos de influência que governam


o modo de funcionamento desses elementos, evoluem no tempo
e no espaço, sendo influenciados pelo que efetivamente acontece
no mundo, representa uma nova forma de interpretar a realidade
(SHELDRAKE, 1995).
Tem-se que a visão radicalmente evolucionista proposta por
Sheldrake corresponde, na verdade, a uma mudança de para-
digma, em que as respostas encontradas pela ciência nos séculos
passados não são mais capazes de responder aos questionamentos
contemporâneos e que novas hipóteses para a percepção do hu-
mano e do mundo fazem-se necessárias.
Nessa mesma ótica, Bert Hellinger buscou, no desenvolvi-
mento das constelações, uma compreensão ampliada das proble-
máticas humanas que surgem em decorrência dos relacionamen-
tos, tendo como base os sistemas familiares, utilizando-se, para
tanto, principalmente, dos conceitos de campos morfogenéticos,
da causalidade formativa e da ressonância mórfica, desenvolvi-
dos por Rupert Sheldrake.
Os campos de influência percebidos durante a constelação
familiar, que possibilitam a transmissão de informações, en-
contram seu embasamento na teoria dos campos mórficos, con-
siderados “regiões não materiais de influência que se estendem
no espaço e se prolongam no tempo” (SHELDRAKE, 1995,
p.15). A percepção coletiva do campo da pessoa que está sendo
constelada e a imersão nesse campo pelos representantes, que
percebem emoções e sensações das pessoas que estão represen-
tando, compõem um fenômeno passível de ser explicado por
meio das teorias desenvolvidas por Sheldrake, que partiu da
perspectiva biológica na busca pela compreensão da formação
e da interação dos organismos vivos.
A morfogênese ou o processo pelo meio do qual se formam
os sistemas biológicos, como as células e os órgãos, não pode ser

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explicado apenas por meio da influência do DNA. O código ge-


nético inscrito na molécula de DNA é responsável por determinar
a sequência dos aminoácidos na construção das macromoléculas,
mas é incapaz de explicar como células indiferenciadas durante o
desenvolvimento do embrião são capazes de se tornar estruturas
complexas no momento certo e no lugar certo. Principalmente, a
regeneração de organismos simples (como os platelmintos, que po-
dem se regenerar completamente depois de sofrer cortes drásticos
em sua estrutura, de modo que o segmento anatômico é capaz de
formar um organismo completo) sugere a existência de uma matriz
invisível ou campo morfogenético (SHELDRAKE, 2003).
Analogamente, ainda segundo o mesmo autor, comportamentos
individuais e de sistemas maiores, como famílias e sociedades, po-
dem ser formados e transmitidos por meio dos campos mórficos, que
são campos estruturantes relacionados a outras áreas do desenvolvi-
mento que não apenas a morfologia ou desenvolvimento da forma.
Tem-se, por exemplo, os campos comportamentais, responsáveis
pelo desenvolvimento do comportamento dos animais, assim como
os campos sociais, que interligam membros de um mesmo grupo
social, possibilitando que ele atue como um grande sistema coeso.
Sheldrake (1995) afirma que a memória é inerente à natureza,
com base na hipótese da causalidade formativa, postulando que
colônias de formigas, flores e mesmo moléculas como a de insulina
herdam a memória coletiva de todos os fenômenos referentes à
sua espécie, distantes no tempo e no espaço, por meio dos campos
mórficos, sendo, portanto, uma memória cumulativa. Por exem-
plo, com base nessa memória herdada, os pássaros de determina-
da espécie sabem o momento adequado para a migração e como
proceder. Pode-se afirmar, então, que essa memória não se funda
unicamente na questão genética.
A memória coletiva herdada torna-se cada vez mais habitual
à medida que os fenômenos se repetem, transmitindo-se por meio

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Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

do fenômeno de ressonância mórfica. A ressonância possibilita


que as informações se propaguem nos campos mórficos, alimen-
tando a memória coletiva (SHELDRAKE, 1995).
Desse modo, é possível afirmar que um indivíduo constitui
um sistema individual, assim como uma família compõe um sis-
tema familiar. Ambos os sistemas armazenam memórias do que
foi experienciado tanto no presente, quanto no passado, o qual
pode ser mais ou menos remoto, estando essas informações dis-
postas no campo e aptas a serem transmitidas e captadas. Pode-
-se dizer que “[...] os nossos hábitos pessoais podem depender de
influências cumulativas do nosso comportamento passado, com
os quais «nos sintonizamos»” (SHELDRAKE, 1995, p.14). Logo,
com base na similaridade, ou seja, na experiência de circuns-
tâncias semelhantes, torna-se possível presentificar o passado,
influenciando o comportamento do indivíduo por meio do fenô-
meno de ressonância mórfica.
Assim, o acesso dos observadores de uma constelação ao cam-
po da pessoa que está sendo constelada e a atuação dos represen-
tantes fundamentam-se em uma compreensão mais ampla do que
seja a mente, tendo como ponto de partida a pesquisa, realizada
por Rupert Shledrake, de experiências diretas de pessoas que tive-
ram, por exemplo, a sensação de estar sendo observado ou viven-
ciaram chamadas telepáticas por meio do telefone. Esses estudos
promovem uma compreensão da mente que não se limita ao cor-
po, no caso o cérebro, mas estende-se para além dele, e um enten-
dimento de que a atividade mental depende de campos invisíveis,
que podem provocar efeitos à distância (SHELDRAKE, 2003).
As chamadas telepáticas, ou seja, a concentração da aten-
ção sobre outra pessoa de forma que ela corresponda a esse
chamado é um fenômeno comum. Ele vem sendo estudado,
juntamente com outros fenômenos semelhantes, com base na
coleta de casos e na análise de dados desde 1930, pelo Labora-

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tório de Parapsicologia da Universidade de Duke, na Carolina


do Norte (SHELDRAKE, 2003).
Segundo Sheldrake (2003), exemplos de chamadas telepáticas
são os casos de telepatia por telefone, que envolvem situações em
que alguém pensa em uma pessoa conhecida que liga em segui-
da; pode também ocorrer o inverso, quando uma pessoa sente a
vontade súbita de ligar para alguém que estava pensando nela.
Outra situação ocorre quando o telefone toca e a pessoa já sabe
quem está ligando. Esses são fenômenos extremamente comuns,
que tendem a ser ignorados pela ciência tradicional, mas que são
inegáveis, até mesmo pelo volume de casos coletados.
Sheldrake (2003, p.116-117) coletou dados para sua pesquisa
sobre esse tema durante mais de cinco anos de pessoas que fre-
quentaram suas aulas, seus seminários e suas conferências nas
Américas do Sul e do Norte, assim como na Europa. Ele constatou
que, dentre um público de 6.000 pessoas, 80 a 95% afirmaram ter
tido uma experiência de telepatia por telefone. O autor também
aplicou questionários sobre experiências com telefone com 1.691
pessoas do Reino Unido, da Alemanha, dos Estados Unidos e da
Argentina. 92% dessas pessoas responderam afirmativamente à
pergunta: “Já aconteceu de você pensar em alguém quando o tele-
fone tocou, ou pouco antes, e de o telefonema ser de fato da pessoa
em que você pensou?”. Finalmente, com a ajuda de uma equipe
de pesquisa, foi realizado um levantamento por telefone, de uma
amostra aleatória de domicílios na Inglaterra e nos Estados Uni-
dos, que constatou que mais de 50% dos entrevistados afirmaram
ter adivinhado quem estava ligando antes de atender o telefone.
Essas amostragens, além de outros testes experimentais rea-
lizados por Sheldrake e sua equipe atestam que esses fenômenos
existem e vêm sendo estudados de forma sistemática, de modo a
provar a existência de outras formas de comunicação e interação
humanas que não somente as constatadas por meios dos órgãos

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Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

básicos dos sentidos, formas de transmissão de informação utiliza-


das pela espécie humana de forma mais ou menos consciente há
muito tempo. Além disso, suas pesquisas apontam a necessidade
de adotar um novo paradigma capaz de quebrar o tabu criado em
torno dos fenômenos psíquicos, muitos destes presentes durante a
realização das constelações sistêmicas.
Em suma, as diversas teorias abordadas ao longo deste capítulo
representam contribuições significativas para o construto teórica
das constelações sistêmicas em sua origem, oferecendo subsídio,
inclusive, para uma melhor compreensão do fenômeno que se dá
durante a vivência de constelação. Esse fenômeno será explorado
detalhadamente, em conjunto com a biografia de seu fundador, no
capítulo seguinte.

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2. Bert Hellinger e as
Constelações Sistêmicas

2.1 História e Vida de Bert Hellinger


De família católica, nascido em Leimen, Alemanha, em 18 de
dezembro de 1925, Anton “Suitbert” Hellinger é conhecido mun-
dialmente como Bert Hellinger (SCHUBERT, 2011).
Desde os 05 anos, já manifestava seu interesse em ingressar
como sacerdote no Clero, então, aos 10 anos passou a ser semi-
narista. Nesse período, morava na Itália, em Cologne (HELLIN-
GER; HÖVEL, 2006).
Após sete anos, alistou-se no exército alemão, durante a Se-
gunda Guerra, vivenciando e combatendo juntamente com os na-
zistas no front, momento em que foi capturado e mantido preso em
um campo de guerra dos Aliados, na Bélgica, até que conseguiu
escarpar (HELLINGER et al, 2008).
Após o fim da Grande Guerra, já com seus 20 anos, Bert re-
tornou para a ordem católica. Em 1951, cursou Teologia, Filoso-
fia e Pedagogia na Universidade de Würzburgo e tornou-se padre.
Logo após, foi destinado à África do Sul como missionário cató-
lico, onde continuou seus estudos, viveu e trabalhou durante 16
anos, tendo, inclusive, atuado como diretor de muitas escolas de
nível superior. Nessa época, conheceu o povo e a cultura Zulu, da
qual ele absorveu a importância vital do respeito pelos anciãos
(HELLINGER, 2010).

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Foi também nesse período que Bert participou de uma forma-


ção interrracial e ecumênica sobre dinâmica de grupos, conduzi-
da pelo Clero Anglicano. Nessa oportunidade, Hellinger pôde se
conectar com uma forma de trabalhar com grupos que valoriza-
va o diálogo, a fenomenologia e a experiência humana individual
(HELLINGER et al, 2008).
Já quase no início dos anos 70, após 25 anos dedicados ao
Clero, retornou à Alemanha, deixando definitivamente a ordem
religiosa, pois acreditava que, em uma nova função mais apro-
priada, buscaria com melhores ganhos seu crescimento interior
(HELLINGER et al, 2008).
Posteriormente, Bert concluiu seu curso de Psicanálise em
Vienna. Nesse período, conheceu sua primeira esposa, a psicotera-
peuta Herta. Ele dedicou-se à formação terapêutica diversificada,
estudando os diversos métodos e teóricos citados no primeiro ca-
pítulo deste livro (HELLINGER et al, 2008).
Foram várias as escolas terapêuticasestudadas ao longo da
jornada de Hellinger. Além das já citadas dinâmica de grupo,
aprendida com os anglicanos, e a compreensão da necessidade
fundamental de alinhamento dos seres humanos com as forças
da natureza, advinda da convivência com os Zulus na África
do Sul, Hellinger estudou a Terapia Primal8 e a Gestalt-terapia9.

8 Arthur Janov foi um psicoterapeuta norte-americano nascido em 1924, criador da


terapia primal. Segundo Janov (1974), a dor primal é a dor original sobre a qual
se desenvolvem todas as neuroses posteriores. Ela não é uma dor consciente e se
difunde por todo o organismo físico, terminando por afetar o comportamento.
A terapia primal foi desenvolvida a partir da experiência clínica de Janov com o
objetivo de erradicar a dor primal.
9 A teoria da Gestalt foi desenvolvida na Alemanha sob influência de diversos
nomes: Marx Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Kohler (1887-1967) e Kurt
Lewin (1890- 1947). Frederick “Fritz” Perls aplicou essa teoria a uma terapia que
enfatiza as experiências atuais do paciente no “aqui e agora”, ao contrário do “lá e
então” das escolas psicanalíticas. Em termos de motivação, os pacientes aprendem

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Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

Interessou-se, ainda, por Análise Transacional10, Lealdades In-


visíveis, Pensamento Sistêmico11, Hipnoterapia12, Psicodrama e
a Escultura Familiar.
Tantos estudos e aprofundamentos dirigiam-se na busca de
uma terapia que pudesse restaurar radicalmente a força e a dig-
nidade de uma pessoa. Através da experimentação e da integra-
ção de todas as terapias com as quais Bert entrou em contato,
em 1980, ele começou a sistematizar sua própria terapia familiar
sistêmica, a qual denominou de “Familienaufstellen”, traduzida no
Brasil com a terminologia de Constelação Familiar (RIBES, 2013).
Hellinger se divorciou de Herta e casou-se com Marie Sophie,
conhecida como Sophie Hellinger, também terapeuta, com a qual

a reconhecer as suas necessidades em determinado momento e a forma como esses


impulsos, para satisfazer essas necessidades, podem influenciar seu comportamento
atual. Segundo o ponto de vista da Gestalt, o comportamento representa mais que
a soma de suas partes. Uma Gestalt, um todo, inclui e vai além da soma dos eventos
menores e independentes. Ela lida com as características essenciais da experiência
real, como valor, significado e forma (SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017, p.183).
10 De acordo com a International Transactional Analysis Association (ITAA), a
Análise Transacional faz parte da psicologia social, tendo sido desenvolvida por
Eric Berne (1910-1970). A teoria de Berne consiste em conceitos centrais que
são utilizados para auxiliar clientes, estudantes e sistemas, de modo a analisar
e mudar padrões de interação que interferem com objetivos de vida almejados.
Nos último 40 anos, a teoria de Berne tem evoluído podendo ser utilizada em
aconselhamento, educação, desenvolvimento organizacional e psicoterapia
(INTERNATIONAL..., 2018).
11 Gregory Bateson foi um antropólogo, psicólogo e biólogo nascido na Inglaterra,
Grantchester, em 1904. Foi um pensador sistêmico e epistemólogo da comunicação
humana, tendo realizado pesquisas nas áreas da linguística, psiquiatria, psicologia,
ecologia e cibernética (OS PARADOXOS..., 2018).
12 Milton Hyland Ericson foi um psiquiatra americano que se especializou em
hipnose médica e terapia familiar. Ele deixou como legado a reinvenção da hipnose
ensinando estratégias efetivas de transformação da percepção humana através da
forma de levar informações à mente inconsciente proporcionando aprendizados
profundos, transformando crenças limitantes, liberando o potencial dos recursos
internos (ACT..., 2018).

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permanece casado até a presente data. Em ambos os casamentos,


ele não teve filhos.
Juntos, o casal dirige a Hellingersciencia®, ministrando cur-
sos, oficinas e seminários em vários países. Ademais, na atualida-
de, Bert Hellinger é autor de 84 livros, traduzidos em 30 idiomas.
Seu trabalho está documentado em vídeos, CDs e, ainda, DVDs
(SCIENCIA, 2018).

2.2 Conceito e Constelação em Grupo


A constelação consiste no método utilizado pela terapia sistê-
mica para observar um sistema (por exemplo, uma família) de for-
ma ampliada, investigando se existe algum emaranhamento. Ou
seja, se algum de seus membros encontra-se envolvido em questões
pertencentes a outros integrantes do mesmo grupo.
Podemos tomar como exemplo uma situação em que alguém da
família retoma e passa a viver inconscientemente o destino de um
familiar de uma geração anterior. Dessa forma, ele passa a ser con-
duzido por sentimentos e padrões de comportamentos que, apesar
de incomodarem, sobrepõem-se à vontade consciente do sujeito,
que não consegue explicá-los ou entendê-los13. Lançar luz sobre
essas questões torna possível liberar os envolvidos nesses emara-
nhamentos (HELLINGER; HÖVEL, 2006)14.

13 “Estamos presos a comportamentos e atitudes que nos derrotam e incitam a


cometer atos que não compreendemos e dos quais acabamos por nos arrepender”
(MANNÉ, 2008, p. 3).
14 Segundo Hellinger, “As constelações familiares são, na verdade, um método simples.
Escolhemos representantes para as pessoas de referências importantes e as colocamos
umas em relação às outras ou deixamos que as coloquem umas em relação às outras.
De repente, aparece algo oculto, que vem à luz simplesmente através da constelação,
sem que aquele que constela a família logo note o que, na verdade, através dela vem à

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Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

Conforme será explicado nessa mesma obra, os emaranha-


mentos decorrem da consciência coletiva presente no sistema.
Assim, por exemplo, se um dos membros do grupo foi vítima de
uma injustiça causada por outro, o sistema carece realizar uma
compensação. Para tanto, a consciência coletiva alcança outros
membros do grupo, fazendo com que sofram pela injustiça prati-
cada. Destarte, nas palavras do próprio Hellinger, provoca-se uma
espécie de “compulsão sistêmica de repetição”. No entanto, essa
compensação não é capaz de trazer ordem para o sistema. Daí, a
importância e a utilidade da constelação. Ela promoverá a cons-
ciência dos emaranhamentos, possibilitando que os movimentos
de amor interrompidos sejam vistos e que a ordem do sistema seja
recuperada (HELLINGER; HÖVEL, 2006).
No mesmo sentido, Manné (2008) explica que as constelações
sistêmicas promovem condições de olhar, num nível mais profun-
do, para os esquemas que unem os membros do grupo, proporcio-
nando libertação, paz e felicidade.
Nas constelações em grupo, o trabalho começa com uma con-
versa entre terapeuta e cliente. Nesse primeiro momento, objeti-
va-se saber qual a questão central que incomoda o cliente, poden-
do-se, assim, definir o tema da constelação. Para tanto, não se
faz necessária uma narrativa detalhada. Pelo contrário, buscam-se
apenas os fatos externos e significativos, excluindo-se, portanto,
o que os sujeitos pensam a respeito daquela questão (HELLIN-
GER; HÖVEL, 2006). Aqui, fica evidente a raiz fenomenológi-
ca da abordagem sistêmica, pois a preocupação está voltada para
o que é (fatos), sem julgamentos, interpretações ou explicações.
Assim, por exemplo, se o cliente diz: “Minha mãe não me ama”,
está, na realidade, externando uma interpretação sua a partir do

luz. Esse é o lado externo. Isso é fácil. Agora, se eu compreendo o que diz a imagem e
o que indica, isso é uma outra coisa” (2005, p. 198).

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Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

comportamento da mãe que ele observa. Dessa forma, é função do


terapeuta filtrar aquilo que não é dado objetivo, questionando, por
exemplo, como o cliente sabe disso (MANNÉ, 2008).
Em seguida, os representantes dos membros do sistema a ser
constelado serão escolhidos entre o público, podendo, inclusive,
tratar-se de pessoas completamente desconhecidas (HELLIN-
GER; HÖVEL, 2006). É aconselhável que o terapeuta, inicial-
mente, coloque um número mínimo de representantes. No de-
correr do processo, caso seja necessário, outros representantes
podem ser acrescentados (MANNÉ, 2008). Nesse mesmo senti-
do, Hellinger (2005, p. 234) afirma: “A regra é: começa-se com
poucas pessoas e deixa-se, a partir delas, que a constelação se
desenvolva passo-a-passo”.
Os membros se posicionam livremente ou são posicionados
de acordo com a imagem interior que o cliente possui da questão
que será constelada naquele momento. (HELLINGER; HÖVEL,
2006). Uma maneira bem tradicional de realizar esse posiciona-
mento consiste em o cliente conduzir o representante até o lo-
cal que deseja, segurando-o nos ombros por trás. Contudo, pode
acontecer também que o próprio terapeuta monte a constelação e
que o cliente ocupe seu lugar no processo (MANNÉ, 2008).
Importa também acrescentar que, além das constelações pes-
soais, em que se apresentam questões relacionadas às pessoas, in-
tegrantes da família e pessoas interligadas de algum modo a esse
grupo familiar, é possível também realizar constelação transpes-
soal, em que a questão apresentada refere-se a conceitos abstratos
como doenças, morte, traumas, sucesso profissional, país, vida,
dinheiro, dentre outros (MANNÉ, 2008).
Após a montagem, passa-se a observar como os representan-
tes se comportam, pois, a partir do momento em que entram
na constelação, eles começam a sentir-se e comportar-se como

42
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

as pessoas que estão representando (HELLINGER; HÖVEL,


2006; HELLINGER, 2005).
Nesse momento, há duas formas de trabalhar a constelação. A
primeira conta com uma participação mais ativa do terapeuta, que
pergunta aos representantes sobre suas sensações, mais uma vez,
excluindo dados subjetivos, como explicações e interpretações.
Nessa modalidade, o terapeuta também move os representantes,
aproximando-os, distanciando-os e ainda virando-os de frente ou
de costas uns para os outros (MANNÉ, 2008). Todavia, Hellin-
ger (2005) chama atenção para a espera por parte do terapeuta
do tempo necessário para que a imagem inicial aja sobre os re-
presentantes. Assim, não é indicado que, imediatamente após a
colocação dos representantes, o terapeuta inicie suas intervenções.
Nesse momento, é interessante que o constelador procure identi-
ficar quem é a pessoa que está mais ameaçada ou carregada, para
só então identificar o sentido inicial de sua ação.
A segunda possibilidade de trabalho na constelação em grupo
prescinde de qualquer intervenção do terapeuta. É possível ado-
tá-la quando os representantes são capazes de se deixar guiar pe-
los “movimentos da alma”15, ou seja, pelos impulsos do próprio
campo. Há vários exemplos registrados de constelações feitas por
Hellinger, nas quais não foi necessário que ele pronunciasse uma
palavra sequer (MANNÉ, 2008).
Após os desdobramentos do método terapêutico em pauta, che-
ga-se à imagem de solução. Costuma ser um momento em que os

15 Hellinger define o movimento da alma como aquele que ocorre quando o sujeito se
liberta da pressão exercida pela consciência individual e pela consciência coletiva.
Segundo o terapeuta, “O movimento que nos possibilita escapar da pressão das duas
consciências é um movimento da alma. Isto é, quando nos libertamos da pressão
dessas duas consciências, sem desrespeitá-las, mas respeitando-as de maneira mais
elevada que antes, algo em nós se põe em movimento, um movimento que conduz
a soluções que ultrapassam, em muito, o que nossas consciências nos possibilitam e
exigem” (2005, p. 247).

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Ana Cecilia Bezerra de Aguiar, Ana Siomara de Oliveira Ferreira
Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

representantes sentem-se em paz, aliviados, satisfeitos. Nessa oca-


sião, pode-se observar, por exemplo, a ausência de movimentos
adicionais por parte dos representantes. Contudo há situações em
que, mesmo sem chegar a uma imagem de solução, a constelação
deve ser encerrada. São elas: quando não se dispõe de informações
necessárias para trabalhar, estando, por exemplo, diante de segre-
dos da família; quando o cliente não se implica no processo, tor-
nando-se apenas um telespectador passivo; quando o cliente tenta
influenciar na constelação, não respeitando a autonomia do próprio
campo; quando o cliente não apresenta disposição necessária para
continuar olhando para a questão, por exemplo, passando a caçoar
ou a ironizar o que está acontecendo diante de si (MANNÉ, 2008).
Ao final da constelação, o cliente percebe uma nova imagem
da família, mais completa, com elementos que antes ele ignorava
(HELLINGER; HÖVEL, 2006). Os efeitos do trabalho realizado
podem desenrolar-se ao longo de meses, produzindo mudanças
profundas. Assim, o ideal é que o cliente deixe que o processo flua
livremente, sendo inclusive aconselhável que mantenha reserva
para falar a respeito, permitindo, assim, que a integração das mu-
danças ocorra de forma mais fluída e natural (MANNÉ, 2008).
A tempo, ressalte-se que é possível, contudo, que, antes do fi-
nal da sessão, os participantes tenham a oportunidade de colocar
para o cliente informações adicionais que julguem relevantes sobre
o que sentiram ao longo da constelação (MANNÉ, 2008).

2.3 Constelação Individual16


É possível realizar a constelação em sessão individual, sem a
presença de um grupo de representantes. Diante dessa afirmação,

16 Para maior aprofundamento sobre o estudo das constelações individuais, ler o livro
Quando fecho os olhos vejo você, de Úrsula Franke (2006).

44
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

surge um questionamento: como é possível captar as informações,


apresentadas pela qualidade fenomenológica, que se manifestam
por meio dos comportamentos e sensações dos representantes?
As percepções dos representantes e as sensações do terapeuta
emergem do campo do cliente, ou seja, a cognição dos fatos e das
pessoas que fazem parte do seu sistema será percebida pelas rea-
ções e pelas sensações do cliente e do terapeuta, que serão verifica-
das para comprovar (ou não) se têm relevância para a construção
da solução. Na constelação individual, o cliente está posicionado
à frente do constelador, que está em ressonância com os movi-
mentos e as informações do seu campo, as quais são recebidas por
intermédio das declarações verbais, corporais e emocionais do
cliente (FRANKE, 2006).
Nesse tipo de atendimento, é necessário utilizar-se de repre-
sentações simbólicas de pessoas, como bonecos Playmobil®, como
também é possível utilizar-se de âncoras de solo17, em que os
clientes ficam em pé sobre os objetos como almofadas, folhas em
branco, pedaços de cartolinas ou feltros coloridos, com intuito de
identificar as posições das pessoas ou das questões abstratas que
envolvem a situação apresentada (FRANKE, 2006).
Em contato com os objetos, o cliente estabelece uma conexão
entre sua consciência e suas “sensações/emoções”, espaço em que
se encontra a força dessa terapia. Após entrar em sintonia com o
que deseja constelar, o cliente escolhe os símbolos que representa-
rão pessoas ou questões nos momentos em que o constelador for

17 Ursula Franke (2006, p.18), ao utilizar essa expressão, faz referência a Dilts (vide
MADELUNG, 1996) e explana que “para marcar os lugares dos membros familiares
na sala usamos as denominadas 'âncoras de solo”. Esses são instrumentos de ajuda
que ficam no chão, e o cliente pode se posicionar sobre eles durante o processo. A
experiência corporal de estar em seu sistema e contexto, encontrando um bom lugar
para si através de mudanças na constelação, será “ancorada” em sua organização
corporal como uma nova estrutura.

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Ana Cecilia Bezerra de Aguiar, Ana Siomara de Oliveira Ferreira
Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

lhe solicitando. O cliente projetará nos objetos suas representações


internas e inconscientes por meio de suas escolhas, por exemplo,
pela cor e pelo tamanho dos objetos, pela posição e pela distância
colocada entre eles, pela direção do olhar, dentre outras imagens
que poderão ser formadas pelo cliente (GRAÇA, 2015).
Nas constelações individuais, ele identifica o seu lugar no sis-
tema familiar. É possível solicitar ao cliente que crie uma imagem
interna de sua mãe e se posicione sobre uma âncora de solo que a
represente, percebendo suas sensações a partir do ponto de vista
dela. Conforme Franke (2006),

[…] é vantajoso quando o cliente assume as diversas po-


sições dentro de seu sistema familiar e vivencia as trans-
formações em cada lugar. Este método é bem adequado
para clientes que ainda sabem pouco dos procedimentos
terapêuticos ou sobre o pensamento sistêmico. Por exem-
plo, se o cliente se posicionar no lugar de seu pai, então é
como se entrasse no campo do pai. Ele irá vivenciar que
haverá uma diferença nas sensações que tivera até então.
Através dessa mudança de perspectiva, o cliente vivencia
como o seu pai se sente em relação a ele, como se sente
corporalmente e como o pai está em relação aos outros do
sistema. O terapeuta pode acompanhá-lo e apoiá-lo com
perguntas: “Como você se sente quando está no lugar de
seu pai?” e incluir as informações quando o cliente está
no lugar do pai: “Como se sente quando você ouve isso?
Quando vê a sua filha dessa forma?” Novamente quando
o cliente volta para o seu próprio lugar: “Como é agora
para você com as experiências que você teve no papel de
seu pai?” (FRANKE, 2006, p.22)

O cliente, ao observar as imagens simbólicas e assumir deter-


minadas posições de representações, deve presentificar suas sensa-
ções ao terapeuta, deve ficar atento para que os relatos do cliente

46
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

sejam verdadeiros sentimentos daquele exato momento, evitando


a narração de ideias já formadas sobre alguns integrantes da famí-
lia (LIEBERMEISTER, 2013).
A escolha do material a ser utilizado para as representações de-
pende da opção de cada terapeuta. JoyManné (2008, p.10) relata
sua prática: “utilizo pedaços de papel nos quais escrevo o nome de
um membro da família, depois dobro uma extremidade em ponta
para figurar a orientação do olhar do representante”. De forma
diversa, Svagito R. Liebermeister expõe seu método:

Eu normalmente uso almofadas, para as quais eu dou uma


direção colocando guardanapos de papel sobre as mesmas
[…]. Melhor do que o papel visto que você vê as posições
facilmente de uma certa distância […]. É sempre impor-
tante saber em que direção a pessoa colocada está olhan-
do (LIEBERMEISTER, 2013, p.251).

Úrsula Franke descreve em detalhes a forma de utilizar o mate-


rial para a prática das constelações individuais:

Quando faço constelações com âncoras de solo, gosto de


trabalhar, de preferência, com papéis do tamanho A4.
Sempre estão disponíveis e têm exatamente o tamanho
certo para ambos os pés. Papéis brancos ou superfícies e
objetos sem significados sensoriais oferecem um campo de
projeção ideal para a imagem interna. Pedaços de feltro de
cores variadas e do mesmo tamanho são agradáveis e bons
para serem diferenciados (segundo Madelung). Moldes de
papelão que sejam de um tamanho adequado para a pessoa
ficar em pé sobre eles podem ser cortados: redondos, para
pessoas femininas e quadrados, para as pessoas masculinas
do sistema. Se for necessário podem ser feitos pequenos
cortes nos papéis, nos papelões e nos feltros para mostrar a
direção do olhar da pessoa ou pode-se pedir para marcar a

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
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direção com uma flecha e os papéis com nomes, iniciais ou


símbolos simples (FRANKE, 2006, p.17).

É importante diferenciar os objetos entre homens e mulheres,


adultos e crianças, mas não é obrigatório que as escolhas do clien-
te coincidam, ou seja, que de fato seja escolhido um símbolo mas-
culino para representar um homem do seu sistema familiar.18

Através das posições dos bonecos podemos obter as in-


formações contidas nas suas relações: a intensidade dos
sentimentos diminui à medida que a distância dos bo-
necos aumenta; os bonecos que estão juntos e próximos
pertencem ao mesmo grupo; quanto mais centralizado o
boneco estiver representado, mais importante ele é; um
boneco colocado oposto à pessoa, mas fora do círculo ín-
timo, geralmente indica que há um conflito, dentro do
círculo íntimo denotaria afeição; os bonecos que olham
em direções distintas (e não olham um para outro) perde-
ram o contato; os bonecos que olham na mesma direção
estão em harmonia; os bonecos que estão olhando para as
costas de alguém frequentemente estão “do mesmo lado”;
o tamanho dos bonecos é equivalente a status; os bonecos
que querem algo de você, olharão para você; os bonecos
que o apoiam ficam atrás; os bonecos que têm um objetivo
parecido, ficam ao seu lado (GRAÇA, 2015, p.132).

Úrsula Franke relata que 50 minutos são suficientes para a re-


alização de uma constelação individual e que este procedimento
pode ser dividido em 4 (quatro) momentos essenciais. Na primeira
etapa, o cliente deve apresentar os sintomas e esclarecer a questão,
sem muitos detalhes ou juízo de valor, o que custaria aproximada-

18 Essa informação foi consolidada por meio das vivências em constelação realizadas
por diversos terapeutas.

48
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

mente 10 (dez) minutos. Em um segundo momento, o constelador


solicita uma anamnese biográfica e familiar, bem como tenta com-
preender a árvore genealógica do cliente, o que destinaria também
mais 10 (dez) minutos. A terceira etapa, que dura em média 20
(vinte) minutos, é a constelação em si, na busca de uma imagem
de solução final. Por fim, deve-se desenvolver uma conversa poste-
rior, por aproximadamente 10 (dez) minutos, para que o terapeuta
possa sugerir eventuais exercícios, se necessário, e instruções para
“deveres de casa” (FRANKE, 2006).
Percebe-se, portanto, que a constelação em si é realizada em
um terceiro momento da terapia individual. Para essa etapa, Ma-
rusa Helena da Graça afirma que é possível observar cinco partes
da seguinte forma:

Na primeira parte o tema é definido junto ao cliente;


na segunda, o cliente entra em contato presentificando
suas imagens internas e estabelecendo a conexão vibra-
tória com o tema; na terceira, temos a escolha dos re-
presentantes, sejam eles bonecos, âncoras ou pessoas; na
quarta, o movimento ou posicionamento dos bonecos ou
representantes na Constelação; e por último, as frases de
solução por meio das quais, na Hellinger Sciencia®, po-
dem ser observados os movimentos em direção à solução
(GRAÇA, 2015, p.128).

A primeira imagem formada pelo cliente representa sua inter-


pretação sobre o problema, baseado em seus julgamentos. Então,
durante o procedimento, o constelador pode alterar as posições
iniciais em busca de uma imagem final de solução. A constelação
percorre um caminho em direção à aproximação entre os mem-
bros do sistema familiar (FRANKE, 2006).
Dentre as duas possibilidades de escolha do cliente entre
constelação em grupo ou individual, o melhor método é aquele

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em que o cliente se sente mais seguro e confortável. A cons-


telação individual é uma boa opção para os clientes que são
tímidos e não têm coragem de expor sua questão pessoal a um
grupo (FRANKE, 2006).
No entanto, as circunstâncias externas podem tornar a cons-
telação individual mais adequada, por exemplo, nos casos em que
não houver um grupo disponível ou não existir espaço suficiente.
Além disso, o cliente pode não estar em condições de participar
no local específico ou o caso do cliente diz respeito a uma questão
familiar bastante difícil que envolve um número grande de pessoas
envolvidas, o que pode dificultar a participação de todos no pro-
cesso (FRANKE, 2006).
Outra vantagem desse método é a possibilidade de o cliente
perceber a sua estrutura familiar através de diversos lados e anali-
sar a dinâmica familiar de diversos ângulos, inclusive, estando de
fora, ou seja, na metaposição. Esse modelo faz o cliente entender
o pensamento sistêmico, além de permitir que ele esclareça suas
dúvidas após a constelação (FRANKE, 2006). Embora apresen-
te vantagens, é preciso cautela ao desenvolver uma constelação
individual, pois ela possui peculiaridades que podem dificultar o
trabalho do terapeuta, como defende Liebermeister (2013):

O terapeuta não vê as mudanças de energia em represen-


tantes diretamente, tais como ocorrem em constelações
usando pessoas reais – isso é a desvantagem de não ter
pessoas disponíveis – mas é uma alternativa prática quan-
do não se pode trabalhar com um grupo e os resultados
são semelhantes. Dificuldades podem surgir se for neces-
sário voltar às gerações anteriores onde não há muita in-
formação disponível, porque sem representantes é muito
problemático decidir como cada membro da família se
sente, meramente a partir do arranjo de almofadas ou
outros símbolos. Aqui o terapeuta precisa focar mais no

50
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

presente e limitar o trabalho a esse aspecto da dinâmica


familiar. (LIEBERMEISTER, 2013, p.252-253)

Outra dificuldade percebida nesse tipo de constelação é que,


muitas vezes, a única desordem que fica evidenciada é a falta
de pertencimento do cliente em relação a sua estrutura familiar.
Quando isso ocorre, é preciso interromper a sessão, solicitar ao
cliente que levante algumas informações essenciais, investigue
com seus familiares que ainda estão vivos as histórias das gera-
ções anteriores e somente depois retorne à constelação individual,
pois, para esse tipo de trabalho, é indispensável um mínimo co-
nhecimento sobre as “dinâmicas sistêmicas multigeracionais dos
sistemas familiares: as lealdades de pertencimento, a contabilidade
familiar para as situações de compensação, as inversões de lugar, a
repetição dos padrões de interação e o conhecimento das dinâmi-
cas do apego” (GRAÇA, 2015, p.127).
Outro cuidado que se deve ter refere-se ao cliente que re-
presenta muitos papéis diferentes em sua constelação individual.
As inúmeras informações e percepções são avassaladoras, por
isso é necessário buscar um equilíbrio e respeitar o limite de
atenção do cliente. Ressalta-se que, possivelmente, ele ficará tão
desnorteado devido às experiências de representar e perceber as
sensações de cada papel que informações demais poderiam difi-
cultar os processos internos (FRANKE, 2006). Assim, é preciso
ter cautela com o excesso de emoções e também com a ausência
delas, ou seja, “quando um cliente está afastado de suas emoções,
não podemos lhe pedir para ser representante em sua própria
constelação, quer se trate de um trabalho individual ou de gru-
po” (MANNÉ, 2008, p.10).
O desenvolvimento da constelação, qualquer que seja a mo-
dalidade escolhida, é baseado no respeito às Ordens do Amor,

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consolidadas por Bert Hellinger em três leis sistêmicas, a do Per-


tencimento, a da Hierarquia e a do Equilíbrio entre dar e receber.

2.4 Leis Sistêmicas


Ordem e amor
O amor preenche o que a ordem abarca.
O amor é a água, a ordem é o jarro.
A ordem reúne,
O amor flui.
Ordem e amor atuam unidos.
Como uma canção obedece às harmonias,
O amor obedece à ordem.
E como é difícil para o ouvido
acostumar-se às dissonâncias,
mesmo que sejam explicadas,
é difícil para a alma
acostumar-se ao amor sem ordem.
Alguns tratam essa ordem
Como se ela fosse opinião
que eles podem ter ou mudar à vontade.
Contudo, ela nos é preestabelecida.
Ela atua, mesmo que não a entendemos.
Não é inventada, mas descoberta.
Nós a percebemos, como ao sentido e à alma,
por seus efeitos.
(HELLINGER, 2009, p. 32)

Com base em suas experiências práticas, bem como dentro de


uma percepção natural e universal, Bert Hellinger, o criador das
Constelações Familiares, ao observar a dinâmica das relações hu-
manas, percebeu a relevância do sistema familiar para a saúde e
o equilíbrio dos indivíduos. Percebeu, portanto, que deveria haver

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Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

uma ordem, ou leis, para que tudo possa fluir adequadamente den-
tro do sistema familiar, sendo o amor uma parte importante dessa
ordem. Assim, Hellinger descobriu que existem princípios que re-
gem os relacionamentos e que agem mesmo sem o conhecimento
ou a vontade dos envolvidos, denominando-os “Ordens do Amor
ou Leis Sistêmicas” (HELLINGER, 2009).
Ao respeitar essas leis sistêmicas, os membros de um núcleo
familiar estão garantindo que o amor possa fluir e florescer, evi-
tando circunstâncias que possam ocasionar desequilíbrios e ema-
ranhamentos no campo familiar (HELLINGER, 2010).
O momento do nascimento de uma pessoa afirma seu perten-
cimento a um núcleo familiar, sendo o seu lugar estabelecido em
função da ordem ou da posição que ela ocupa, surgindo daí as
trocas decorrentes dos relacionamentos que se formam dentro e
fora do núcleo familiar.
Tem-se, portanto, que a primeira Lei Sistêmica, que é a Lei do
Pertencimento, trata que nenhum membro familiar deverá ser ex-
cluído. Cada um tem sua real importância dentro do sistema, seja
esse membro vivo, falecido, doente, criança, mulher, homem, idoso,
etc. Todos os que pertencem à família têm o direito de pertencer
ao sistema familiar e deverão ser reconhecidos e aceitos (HELLIN-
GER, 2010). Acerca disso, Hellinger (2006) defende que:

Todos os membros, no sistema, têm igual direito à partici-


pação e nenhum pode negar ao outro o seu lugar. O sistema
familiar se rompe quando um membro diz a outro: “Tenho
o direito de participar, mas você não” [...]. Os membros de
uma família se sentem naturalmente tentados a excluir os
que cometeram um crime, envergonharam a família ou vio-
laram-lhe os valores; mas a exclusão de qualquer membro
é perniciosa para os que aparecem mais tarde no sistema,
independentemente de qual tenha sido a justificativa origi-
nal. (HELLINGER, 2006, p. 155-156).

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Pela Lei do Pertencimento, todos fazem parte, devem ser inclu-


ídos e respeitados mesmo que não sigam o padrão desejado pela
família, podendo ser estes criminosos, alcoólatras, homossexuais,
jogadores. Pois, qualquer exclusão no sistema pode causar pertur-
bações, gerando desequilíbrios no sistema que podem afetar outros
membros da família, pelo mecanismo de reparação, em que um
descendente passa a representar o membro excluído (comportan-
do-se como ele, e, muitas vezes tendo o mesmo destino), de forma
inconsciente, em uma tentativa de reequilibrar o sistema familiar
(HELLINGER, 2010).
Segundo Hellinger (2010), uma vez reconhecida a importância
de cada membro no sistema familiar, predomina a sensação de bem-
-estar, completude e força entre os integrantes para seguirem a vida.
A segunda Lei Sistêmica é a Lei da Precedência ou da Hie-
rarquia, porque os que vêm antes têm preferência sobre os que
vêm depois. É o que acontece com os pais em relação aos filhos:
primeiro vêm os pais e depois os filhos. Entre os filhos, o primo-
gênito tem prioridade sobre o segundo filho e a relação conjugal
tem precedência sobre a relação de paternidade ou maternidade
(HELLINGER, 2010).

Existe uma hierarquia baseada no momento em que se co-


meça a pertencer a um sistema: esta é a ordem de origem,
que se orienta pela sequência cronológica do ingresso no
sistema. [...]. Quando se dispõe uma família de acordo
com essa ordem, por exemplo, num círculo, as pessoas que
ocupam posição inferior ficam, no sentido horário, à es-
querda das pessoas que ocupam posição superior. O ser é
definido pelo tempo e, através dele, recebe seu posiciona-
mento (HELLINGER, 2010, p. 25).

Dessa forma, a ordem de origem dos membros num sistema fa-


miliar é um fator muito importante a ser visto e honrado por todos

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Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

os que dele fazem parte. O amor se adapta a uma ordem e, assim,


pode florescer, como a semente se adapta ao solo e ali cresce e
prospera (HELLINGER, 2010).
Acerca dessa lei, no exemplo a seguir, apresentado por
Hellinger, são abordados acontecimentos trágicos, ocorridos em
uma família, quando uma pessoa de posição inferior quer ocupar
posição superior à sua:

Por exemplo, quando um filho tenta expiar por seus pais


ou carregar em lugar deles as consequências de suas cul-
pas, incorre numa presunção. Mas a criança não se dá
conta disso porque está agindo por amor. Não ouve ne-
nhuma voz em sua consciência prevenindo-a contra isso.
Daí decorre que todos os heróis trágicos são cegos. Pen-
sam que estão fazendo algo de bom e grande, mas essa
convicção não os protege da ruína. O apelo à boa inten-
ção ou à boa consciência, quando acontece - geralmente,
após o evento - não muda em nada o resultado e as conse-
quências. (HELLINGER, 2010, p. 26)

Como exemplos de desrespeito a essa lei, têm-se as seguintes


situações: menores infratores assumem o papel de um dos seus ge-
nitores para garantir o sustento da família e praticam crimes para
conseguir tal intento ou um dos filhos, para evitar a separação dos
pais, ocupa inconscientemente o lugar de um deles e dá supor-
te e cuidados que o outro precisava, e não recebeu. Todos esses
comportamentos são motivados por amor dos filhos por seus ge-
nitores, embora nem sempre esse amor é suficiente para manter o
equilíbrio do sistema familiar, sendo, portanto, necessário manter
a ordem no sistema, pois esse desequilíbrio pode acarretar conse-
quências negativas e, até mesmo, o fracasso do relacionamento dos
pais. Daí a importância de conhecer e verificar essas situações de

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desordem e, assim, restabelecer a ordem da hierarquia no sistema


(MANNÉ, 2008).
Ainda em relação à Lei da Hierarquia, importa notar que, en-
tre os sistemas familiares, o que predomina é o sistema atual sobre
o anterior. Por exemplo, a família recém-formada ou o novo núcleo
familiar tem preferência sobre a família de origem. Dessa forma,
dentro de um sistema, existe uma ordem de precedência, de acor-
do com o início da vinculação dos sistemas, porém, nessa sucessão,
a família atual tem precedência sobre a anterior (HELLINGER,
2010). Nesse sentido, Manné (2008) afirma que:

A consciência sistêmica compreende inúmeras leis muito


fortes que regem os relacionamentos. Pertencemos antes de
tudo à nossa família original. Ela se compõe inicialmente
de nossos pais, avós e irmãos e irmãs de nossos pais (tios e
tias). Quando deixamos nossa família para viver numa re-
lação independente, esta última se torna prioritária. Nosso
cônjuge é a primeira pessoa que conta, depois cada criança
nascida dessa relação assume, por ordem de nascimento,
um lugar. O fato de começar um relacionamento amoroso
e sexual com alguém quer dizer, geralmente, que a relação
anterior acabou. Se uma relação acabou e outra começa,
nosso novo companheiro e a nova relação assumem então
o primeiro lugar. Mas os filhos nascidos da nossa primeira
união conservam seu lugar primordial. Devemos continuar
respeitar nossos antigos cônjuges. Graças à nossa relação
com eles foi que nos tornamos o que somos. Se não respei-
tarmos as prioridades, nossas crianças ficarão emaranhadas
nos esquemas daqueles a quem foi negado um vínculo e
adotam o comportamento deles. (MANNÉ, 2008, p. 18)

Já a terceira Lei Sistêmica, conhecida como Lei do Equilíbrio


entre dar e receber, é essencial na edificação das relações humanas,
nas quais quem dá se torna credor e quem recebe torna-se devedor.

56
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

Para Bert Hellinger, existem três tipos de troca: a abstinência,


em que a pessoa prefere se fechar ou escapar para não receber,
de modo a não ficar obrigada a compensar; a prestimosidade, em
que alguém, para conservar inocência19, nega as suas necessidades,
com o objetivo de ficar com sensação de crédito, recusando-se a
receber; e a troca total, em que há alternância entre dar e tomar
de forma equivalente (HELLINGER, 2008).
A Lei do Equilíbrio não ocorre apenas com a simples troca
entre as pessoas. A depender do tipo de relacionamento, o mo-
vimento de dar e receber assume fluxos diferentes, nos quais a
reciprocidade é impossível, como na relação entre pais e filhos.
Nela, os pais sempre darão mais aos filhos, pois, além da vida,
cuidam, alimentam, proporcionam oportunidades de cresci-
mento e amadurecimento, e esse desnível nunca será compen-
sado (HELLINGER, 2008).
Essa impossibilidade de compensação entre o dar e tomar
também ocorre na relação entre irmãos, já que o filho mais ve-
lho dá mais e o mais novo recebe mais. Assim, quem veio antes
deve dar mais aos que vierem depois, e esses devem tomar dos
que vieram antes. Porém, o filho mais novo equilibra a econo-
mia do sistema ao cuidar dois pais quando estes envelhecem
(HELLINGER, 2016).
Já na relação entre casais, a compensação entre o dar e re-
ceber precisa acontecer, pois ambos devem dar o que têm e to-
mar o que lhes falta, respeitando o fenômeno da polaridade por
meio do equilíbrio entre o feminino e o masculino na relação
(HELLINGER, 2016).

19 Inocência para Hellinger é uma das experiências da consciência pessoal, assim como
a culpa. A inocência não está vinculada às noções de bem ou mal, estando ligada
ao condicionamento social. O ser humano se sente inocente quando se comporta de
modo a assegurar que pertence a um grupo.

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

Quando um dos parceiros se mostra como uma criança ca-


rente, desejando sempre receber, coloca o outro que dá no lugar
de pai ou mãe, ou seja, numa posição superior, gerando conflito
na relação. Para que o equilíbrio entre o dar e receber seja res-
peitado em uma relação amorosa, e essa possa ser bem sucedida,
é preciso que ambos desejem e concedam com respeito e amor
(HELLINGER, 2016).
Para tanto, faz-se necessário que os casais abdiquem das crenças
e dos padrões dos seus sistemas de origem e encontrem novos mo-
delos para a sua relação. Isso é importante porque não romper com
os emaranhados do sistema antigo possibilita que um dos parceiros,
inconscientemente, coloque-se a serviço, por expiação, da solução
de conflitos do seu núcleo de origem (HELLINGER, 2016).
Desta feita, tem-se que, entre as Ordens do Amor, a mais im-
portante é a Lei do Equilíbrio, porque, de acordo com os ensina-
mentos de Bert Hellinger, quando se está em harmonia com os
pais, sem medo e sem julgamentos, a pessoa toma a vida, o seu
destino, as possibilidades e as dificuldades com humildade e cora-
gem (HELLINGER, 2016).
Quando os filhos tomam a vida de seus pais, eles não estão
apenas respeitando a lei do dar e receber, mas sim eles estão acei-
tando seus pais como são, como estes dão, sem acréscimo ou ex-
clusão. Portanto, os filhos não somente têm os pais, eles são os seus
pais, por isso, aqueles nada podem acrescentar ou recusar. Toda-
via, quando os filhos se negam a aceitar os pais em sua integrali-
dade ou quando, no ato de tomar a vida, os pais desejam receber
dos filhos e estes tentam dar mais do que receberam, por exemplo,
o fluxo de amor é prejudicado (HELLINGER, 2016).
Viver em harmonia é equilibrar os vínculos, é permitir o fluxo
do amor por meio do respeito às Leis Sistêmicas, em que cada um
exerça o seu direito de pertencer e ocupe o seu devido lugar, parti-
cipando adequadamente da economia sistêmica do dar e receber.

58
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

2.5 As Consciências Sistêmicas


As consciências sistêmicas são exploradas na teoria de Hellin-
ger (2009) em consonância com sua teoria das Leis Sistêmicas.
Para o autor alemão as três consciências (a consciência pessoal, a
consciência coletiva e a consciência espiritual) atuam como cam-
pos espirituais do sujeito, exercendo influências marcantes no seu
comportamento e em suas dinâmicas de relacionamento.

2.5.1 Consciência pessoal


A primeira delas, a consciência pessoal, é a sentida em nível
individual e tem suas origens no início da infância, fase em que a
criança faz de tudo para pertencer aos pais e os adora incondicio-
nalmente (LIEBEMEISTER, 2013).
A consciência pessoal trata-se de um campo de energia cujas
leis governam as relações entre os membros da família, através
das gerações e entre todas as pessoas consideradas importantes no
decorrer da vida. Por meio da diferenciação entre o bom e o mau,
é possível reconhecer o direito de pertencer ou de ser excluído.
Essa diferenciação permite e mantém a conexão com as pessoas e
os grupos (HELLINGER, 2009).
Ou seja, o direito de pertencer e a perda do direito de pertencer
são determinados por essa consciência. É ela que diz o que é neces-
sário fazer para pertencer a um grupo e o que se deve evitar para
não ser punido ou excluído dele (HELLINGER, 2009). Segundo
Schneider (2007, p.27), “o comportamento correto é, portanto,
avaliado pela consciência pessoal apenas em função da necessida-
de e das possibilidades de se pertencer ao respectivo grupo.”
Assim, é considerado bom aquilo que serve ao próprio grupo
e coloca o indivíduo a serviço dele, mantendo-o vivo. Em contra-

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Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
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partida, é considerado mau o ato que foi praticado em desacordo


com as normas e as exigências do grupo e que coloque em risco
sua permanência nele (SCHNEIDER, 2007). Portanto, pensar ou
agir em desacordo com o seu grupo faz o indivíduo entrar em con-
flito, razão pela qual ele faz de tudo para conseguir identificar as
diferenças entre os valores e os interesses do seu próprio grupo e
os dos outros. Quanto mais ele quiser pertencer, mais ele fará para
se adaptar e estabelecer distinções, fato que ocasiona a separação
de grupos, o acirramento de disputas e até conflitos graves como
as guerras (LIEBERMEISTER, 2013).
De acordo com Manné (2008, p.18), os sentimentos de culpa e
de inocência também surgem da consciência pessoal e encontram-
-se relacionados ao condicionamento social, razão pela qual, neces-
sariamente, não servem aos valores morais. Desse modo, quando o
indivíduo se comporta de forma a assegurar sua permanência no
grupo, sendo acolhido e respeitado pelos demais membros, ele se
sente inocente. Quando ele age de forma que coloca sua perma-
nência em perigo, correndo o risco de perder a proximidade e a
segurança do grupo, ele se sente culpado. Portanto, o certo e o erra-
do seguem apenas o referencial da maneira como se comportam as
pessoas do grupo ao qual se pertence (SCHNEIDER, 2007).
Na consciência pessoal, também existe a necessidade de equi-
líbrio entre o dar e o tomar. Hellinger (2009, p. 58) afirma que
“essa necessidade é um movimento da consciência”, posto que se
tem uma boa consciência quando existe equivalência entre o que
se dá e o que se toma. Ele explica ainda que essa mesma boa cons-
ciência se estabelece quando alguém, não podendo dar de volta
algo equivalente ao que se recebeu de uma pessoa, transmite a
outros algo equivalente em seu lugar. Consequentemente, o indi-
víduo tem uma má consciência quando recebe sem dar algo equi-
valente de volta ou quando faz exigências as quais não lhe cabem
(HELLINGER, 2009). Hellinger ainda ressalta que (2009, p. 58)

60
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

“com referência à necessidade de equilíbrio relativo ao prejuízo e


ofensa mútuos, ela pode chegar até à vingança mortal”. Segundo
Manné (2008, p.17), para estar em harmonia, toda relação neces-
sita de equilíbrio entre o dar e o tomar, e a gratidão é uma das
formas de consegui-lo.

2.5.2 Consciência coletiva, sistêmica ou familiar


A consciência individual está a serviço da sobrevivência de um
indivíduo na sua particularidade, enquanto a consciência coletiva
engloba a família, o sistema como um todo, atuando de forma a
manter a subsistência do grupo. Nesse sentido, Hellinger (2009,
p.51) afirma que “quando o interesse de cada indivíduo se contra-
põe ao interesse de seu grupo, a consciência pessoal também se
contrapõe à consciência coletiva”.
Portanto, na consciência coletiva são cultivadas as crenças
como também são perpetuados os segredos de família e repassadas
as culturas inerentes a cada grupo familiar. Essas características
são consideradas sinais de vínculo do membro com seu sistema.
Desse modo, a consciência coletiva atua de forma mais profun-
da e poderosa, não sendo identificada diretamente pelos membros
da família. A forma mais perceptível de reconhecer a consciência
coletiva é observar o modo como ela afeta a conduta dos membros
do sistema familiar.
Desta feita, pode-se compreender melhor essa atuação a par-
tir da manifestação das Leis Sistêmicas nessa consciência. De
modo que, todas as pessoas que compõem uma família possuem
o igual direito de fazer parte dela. Logo, a consciência coleti-
va busca a integralidade do grupo e está ligada diretamente à
Lei do Pertencimento. Por isso, um membro não é visto por essa
consciência como vítima ou algoz, culpado ou inocente, mas sim

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
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Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

como alguém que pertence à família e assim deve ser integrado


(HELLINGER, 2009).
No tocante à Lei da Hierarquia, essa assegura que cada mem-
bro da família é considerado a partir da ordem de chegada. O
membro que chega antes tem prioridade em detrimento de quem
chega depois; neste caso, a prevalência cronológica é absoluta
(LIEBERMEISTER, 2013). A consciência coletiva atua, dessa for-
ma, gerando a precedência entre as famílias, entre os irmãos e os
demais membros do sistema familiar. Por exemplo, como já citado,
quando duas pessoas decidem se casar, a nova família tem priori-
dade em relação à família de origem. “Esta ordem também é válida
quando um dos pais inicia, durante o casamento, um relaciona-
mento com um outro parceiro do qual nasce uma criança. Com
isso, ele cria uma nova família que tem prioridade em relação à
primeira” (HELLINGER, 2009, p.54). A conexão do parceiro com
a família posterior não cessa vínculo com a família anterior, assim
como o indivíduo que gera uma nova família não encerra a ligação
com a família de origem. Apenas é estabelecida uma prioridade
em relação à anterior.
Quanto à Lei do Equilíbrio, essa também reverbera na cons-
ciência coletiva. Por exemplo, quando ocorre uma injustiça com
um membro de qualquer geração anterior ou essa é cometida por
um membro da família, deve haver uma compensação por um des-
cendente do mesmo sistema (LIEBERMEISTER, 2013). Hellinger
(2009, p.54) salienta que “quem precisa representar uma pessoa
excluída não sabe que está compensando. O equilíbrio aqui é o
movimento de um todo superior que equipara impessoalmente,
pois aqueles que são atraídos para compensar são inocentes, no
sentido da consciência pessoal”. Essa forma de equilíbrio pode ser
comparada a um processo de cura. Em suma, a consciência cole-
tiva visa harmonizar o que foi desalinhado e, desse modo, propor-
cionar novamente a ordem ao sistema familiar.

62
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

Destarte, os movimentos na consciência coletiva são regidos


pelas leis sistêmicas e possuem atuação mais ampla que a cons-
ciência pessoal e inferior à amplitude da consciência espiritual. É
a consciência em que se verifica o excluído e procura integrá-lo,
entretanto segue as lealdades do sistema familiar. Assim, inclui os
que são favoráveis ao seu núcleo e exclui os que divergem dos con-
ceitos cultivados no grupo familiar (HELLINGER, 2009).

2.5.3 Consciência espiritual


Diferentemente das consciências anteriormente descritas, a
consciência espiritual é representada pelo que Hellinger (2009)
denominou de movimentos do espírito. Esses movimentos impli-
cam aceitação, amor e dedicação a tudo e a todos, assim como
tudo e todos se manifestam, sem julgamentos ou críticas. Segundo
o terapeuta, “tudo está submetido a esse movimento, não impor-
tando se queremos ou não, não importando se nos submetemos ou
tentamos resistir a ele” (HELLINGER, 2009, p.55).
Manné (2008, p.56) denomina a consciência espiritual ou su-
perior como sendo “[...] o plano universal da consciência sistêmi-
ca. [...] É o caminho profundamente espiritual que nos guia em
direção ao Todo transcendente”. Todavia, para entrar em sinto-
nia com essa consciência, faz-se necessário abrir mão de precon-
ceitos e crenças relativos ao fato de pertencer a uma família (de
ordem pessoal), mas também aos vínculos religiosos e culturais
(de ordem coletiva).
Schneider (2007) afirma que a consciência espiritual é ne-
cessária quando diferentes grupos passam a se inter-relacionar,
abrangendo unidades cada vez maiores e resultando em um
grande todo universal. Esse todo compõe-se dos habitantes do
planeta, com a mesma origem cósmica, possuindo uma “consci-

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
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ência que se orienta pela participação em um ethos compartilha-


do [...], algo universalmente válido que atua sobre o particular”
(SCHNEIDER, 2007, p.29).
A consciência espiritual não se encontra limitada como as
demais consciências, pois, Segundo Hellinger (2009, p.56), “[...]
esta consciência transcende os limites da consciência pessoal
e os limites da consciência coletiva. Está dedicada de forma
igual a cada um e a todos em sua família e nos outros grupos
dos quais faz parte.”
É importante notar que a sintonia com os movimentos do espí-
rito promove a sensação de bem-estar e ausência de preocupações;
e, de forma, inversa, a falta de sintonia com esses movimentos
causa inquietação, uma espécie de bloqueio espiritual. Ter uma
boa consciência espiritual implica se entregar conscientemente a
um movimento espiritual, que é capaz de guiar o sujeito, condu-
zindo seus passos de forma criativa, dando-lhe força. De modo
análogo, uma má consciência espiritual impede que o sujeito saiba
que caminho seguir, desconheça seu potencial, enfraquecendo-se
(HELLINGER, 2009).
Apesar disso, ainda segundo o mesmo autor, uma má consci-
ência espiritual pode servir de guia, pois, através de seus efeitos, é
possível que o sujeito perceba a necessidade de se sintonizar com
os movimentos do espírito, alcançando, assim, uma boa consciên-
cia. De forma semelhante, as três consciências podem colaborar
para a solução de um problema, pois, ao adquirir conhecimento
de que consciência é responsável por criar ou manter determinado
problema, o indivíduo pode determinar o que é necessário para se
obter uma solução.
Logo, pode-se afirmar que as consciências pessoal, coletiva
e espiritual trabalham em conjunto, de forma sequenciada e
complementar, embora algumas vezes possam se contradizer.
Variando em abrangência, um problema pode estar relacionado

64
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

a uma consciência, a mais de uma ou a todas ou, ainda, segun-


do Hellinger (2009, p.56), as consciências variam segundo “o
alcance de seu amor”.
O autor diferencia, ainda, as constelações familiares das
constelações familiares espirituais, já que nestas o cliente ou o
seu representante, assim como as demais pessoas, são simples-
mente colocadas uma em frente às outras, sem que sejam ofe-
recidas instruções ou manifestadas intenções. As pessoas assim
dispostas são tomadas por uma força que vem do exterior, embo-
ra percebida como uma força interna. Os movimentos realizados
derivam de uma sintonia com os movimentos do espírito, que os
representantes acessam caso encontrem-se centrados, sem medo
ou intenções próprias.
Hellinger (2009) afirma que as constelações familiares do
espírito geralmente permanecem abertas ou incompletas, pois
não é necessário que os movimentos do espírito sejam sempre
levados até o fim, bastando que fique clara a direção a que con-
duzem. Os movimentos do espírito “[...] já são os movimentos
decisivos no processo de cura e precisam também do seu tem-
po para se desdobrar. São o início de um movimento de cura”
(HELLINGER, 2009, p.57).

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Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
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3. Direito Sistêmico:
Uma experiência na justiça brasileira

3.1 Biografia de Sami Storch


A aplicação da Constelação Familiar no Judiciário brasileiro
teve como precursor o Juiz de Direito SamiStorch, atuante no Tri-
bunal de Justiça do Estado da Bahia desde 2006.
Sami é graduado em Direito pela Universidade de São Paulo
(USP) e Mestre em Administração Pública e Governo pela Fun-
dação Getúlio Vargas (EAESP/FGV-SP). Atualmente, é douto-
rando em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP), com tese em desenvolvimento sobre o tema
"Direito Sistêmico: a resolução de conflitos por meio da abor-
dagem sistêmica fenomenológica das constelações familiares"
(STORCH, 2011).
O magistrado tem ainda diversos cursos de formação em Cons-
telações Sistêmicas Familiares e Organizacionais de acordo com
as teorias desenvolvidas por Bert Hellinger (Coord.: Hoffmann
&Partners / Alemanha - Brasil), além de Treinamento Avança-
do Intensivo em Constelações Familiares com Bert Hellinger pela
Hellingerschulle - Alemanha (‘Hellinger Sciencia - Movingwith-
theSpirit-Mind’) (STORCH, 2011).
Sami Storch conheceu o trabalho das constelações inicialmen-
te como técnica terapêutica pessoal, quando participou de um
workshop de constelação em São Paulo, onde morava. Ele procura-

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

va por autoconhecimento para solucionar uma questão pessoal e,


nessa busca, apaixonou-se pela técnica (RIBEIRO, 2014).
Assim, deu início a seus estudos lendo alguns livros do alemão
Bert Hellinger. Pouco depois, cursou sua primeira formação em
coaching sistêmico - orientação empresarial com base na teoria de
Hellinger - e, posteriormente, concluiu o curso de constelações
familiares (RIBEIRO, 2014).
Durante a formação em constelações, Sami tornou-se juiz e logo
concluiu que o conhecimento das leis sistêmicas o auxiliaria na di-
nâmica dos processos, elevando o índice de acordos. Dessa forma,
mesmo que timidamente, começou a aplicar alguns princípios sis-
têmicos nas audiências, utilizando algumas frases, pedindo que as
pessoas fechassem os olhos, imaginando-se olhando para a outra
pessoa e trazendo frases de reconhecimento (RIBEIRO, 2014).
Pioneiro em nível mundial na utilização da abordagem sistêmi-
co-fenomenológica das constelações familiares no Judiciário a pri-
meira vez que Sami verdadeiramente fez uso da prática foi em 2010,
quando ainda trabalhava no município de Palmeiras, a 450 km de
Salvador, em um processo de disputa pela guarda de uma menina
de quatro anos. Acerca desse caso jurídico, Sami Storch relata que:

Mãe e avó queriam a responsabilidade e trocavam acusa-


ções sérias. Percebi que o caso não poderia ser soluciona-
do apenas com uma decisão sobre a guarda da menina, já
que qualquer que fosse a decisão, permaneceria o drama e
o sofrimento da menina, causado pela disputa entre mãe
e avó. No dia da audiência, levei comigo um kit de bone-
cos, que utilizo para a prática da terapia de constelações
familiares no atendimento individual – essa terapia tam-
bém pode ser feita em grupo, com outras pessoas represen-
tando membros da família do cliente. Quando eu chamei
a menina para ser ouvida, coloquei os bonecos em cima
da mesa e pedi para que ela posicionasse os brinquedos e

68
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

montasse a história da família, mostrando que bonecos


eram cada membro da família. Perguntamos onde a me-
nina se sentia melhor, o que acontecia quando se aproxi-
mava da mãe ou da avó e outros personagens da família.
E ela pôde expressar que ela se sentia melhor com a mãe,
ainda que apresentasse um carinho grande pela avó e que
ficasse bem com as duas. Com a prática, a mãe, a avó e os
advogados viram a verdade dos fatos naquela dinâmica.
Antes, um juiz tinha tirado a guarda da mãe, mas, quan-
do a menina se expressou pela constelação, isso foi bem
aceito por todos porque ficou muito claro e isso colaborou
para a resolução do caso. (RIBEIRO, 2014)

Desde então, o magistrado tem utilizado a técnica da Constela-


ção Familiar no auxílio das resoluções de conflitos. Ministra, ain-
da, palestras e workshops de constelações familiares e tem obtido
altos índices de acordos com a utilização dos princípios e técnicas
das constelações sistêmicas (CNJ, 2015a).
É de autoria de Storch o projeto "Constelações Familiares na
Justiça", o que lhe garantiu o Prêmio Destaque do Núcleo Integra-
do de Conciliação do Tribunal de Justiça da Bahia em 2013. O
magistrado recebeu, ainda, reconhecimento do Conselho Nacio-
nal de Justiça – CNJ, quando era titular da Vara Criminal, Júri,
Execuções Penais e da Infância e da Juventude de Amargosa, no
Recôncavo Baiano. Além disso, ganhou menção honrosa do Prê-
mio Conciliar é Legal, na V Edição no ano de 2015, na Categoria
Juiz Individual, do Conselho Nacional de Justiça, trabalhos desen-
volvidos na comarca (CNJ, 2015a).
Sami é autor do blog Direito Sistêmico20, no qual divulga arti-
gos e notícias com base nos ensinamentos e na ciência das Cons-

20 Endereço do blog de autoria do Magistrado SamiStorch: http:\\direitosistemico.


wordpress.com

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telações de Bert Hellinger, que objetivam a resolução de conflitos


em diversas áreas, por meio da aplicação da visão sistêmica do
direito. Além disso, ministra cursos, palestras e workshops sobre
Direito Sistêmico e Mediação, Conciliação e Resolução de confli-
tos com as constelações familiares sistêmicas. Ademais, coordena
e leciona no Curso de Pós-Graduação Hellingerschule de Direito
Sistêmico pela Faculdade Innovare (STORCH, 2018a).

3.2 Direito Sistêmico e Constelação Familiar


A expressão “direito sistêmico” foi criada e utilizada por Sami
Storch no lançamento de seu blog e surgiu da análise do Direito
sob uma ótica baseada nas ordens superiores que regem as relações
humanas, também denominadas leis sistêmicas. Trata-se da apli-
cação dessas leis no âmbito jurídico, trazendo uma nova forma de
perceber os vínculos entre os indivíduos e os grupos tutelados pelo
Direito (STORCH, 2011).
Segundo Sami Storch (2017), o “conhecimento de tais ordens
(ou leis sistêmicas) nos conduz a uma nova visão a respeito do di-
reito e de como as leis podem ser elaboradas e aplicadas de modo a
trazerem paz às relações, liberando do conflito as pessoas envolvi-
das e facilitando uma solução harmônica”. Dessa forma, o direito
sistêmico se apresenta como um novo paradigma para a ciência ju-
rídica, na busca de soluções pacíficas para os conflitos, que tragam
paz e equilíbrio para todo o sistema das partes envolvidas.
Um dos pilares do Direito Sistêmico é enxergar além daquilo
que está no processo judicial para conseguir identificar o que está
por trás da origem do litígio. Nesse sentido:

[...] a observância e a aplicação das Leis Sistêmicas, atra-


vés da própria Constelação Sistêmica Familiar, uma abor-
dagem eminentemente empírico-filosófica, sem qualquer

70
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

ligação religiosa, holística ou metafísica, podem ajudar a


encontrar a reconciliação e a paz nas famílias, já que, a
partir da sua percepção, é possível alcançar as questões
e disputas processuais dos litigantes com um olhar mais
amplo, imparcial e verdadeiro (STORCH, 2016).

Sami relata que, desde seu ingresso na magistratura, utiliza


a abordagem sistêmica fenomenológica para tratar os conflitos
que chegam à Justiça, por meio da explicação sobre as ordens
que regem os relacionamentos e, em seguida, da constelação das
pessoas envolvidas, o que permite evidenciar as dinâmicas ocul-
tas por trás das situações, sensibilizando as pessoas e facilitando
uma melhor e mais adequada solução. Para Frank-Bryson (2013,
p.8), “o uso desse método faz emergir novas possibilidades de
entender o contexto dos conflitos e trazer soluções que causam
alívio a todos os envolvidos”.
As vivências realizadas por Sami se dão em eventos coletivos,
para os quais são convidadas (e não intimadas) as partes envol-
vidas em processos que versam sobre o mesmo tema. Após uma
palestra sobre vínculos sistêmicos e suas consequências, é reali-
zada uma meditação a fim de que todos possam identificar seus
próprios emaranhamentos. Por fim, algumas questões familiares
das pessoas presentes são consteladas e, por se tratarem de situa-
ções semelhantes, é comum que a maioria se identifique com os
aspectos apresentados. Todos assistem e podem participar como
representantes. Essa percepção por si só já é suficiente para favore-
cer a solução (STORCH, 2014).
Posteriormente, dá-se a realização das audiências de conci-
liação, nas quais os acordos acontecem naturalmente e de for-
ma rápida, muitas vezes até de forma emocionante, posto que os
participantes das vivências “tendem a desarmar seus corações e
reconhecer que, por trás das acusações e dos rancores mútuos,

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existe um sentimento de amor verdadeiro e a dor da frustração”


(STORCH, 2016).
Seu objetivo é se utilizar da função de juiz para buscar soluções
que, além de darem fim ao processo judicial, consigam resolver
definitivamente os conflitos, trazendo paz ao sistema. Isso porque,
segundo Sami,

Na prática, mesmo tendo as leis positivadas como refe-


rência, as pessoas nem sempre se guiam por elas em suas
relações. Os conflitos entre grupos, pessoas ou interna-
mente em cada indivíduo são provocados em geral por
causas mais profundas do que um mero desentendimento
pontual, e os autos de um processo judicial dificilmente
refletem essa realidade complexa. Nesses casos, uma so-
lução simplista imposta por uma lei ou por uma sentença
judicial pode até trazer algum alívio momentâneo, uma
trégua na relação conflituosa, mas às vezes não é capaz
de solucionar verdadeiramente a questão, de trazer paz às
pessoas. (STORCH, 2011)

Embora a aplicação do Direito Sistêmico tenha sido iniciada


em questões familiares, tal abordagem pode ser aplicada em
qualquer área do Direito. O potencial de aplicação da técnica
das constelações na efetivação da conciliação e na resolução de
conflitos é imenso e tem implicações importantes na maneira
de tratar os conflitos e as pessoas neles envolvidas, que vão
desde questões relativas a divórcio, guarda e adoção até vítimas
de violência, réus em ações penais e adolescentes infratores,
além das questões empresariais e das relacionadas a direitos
coletivos e difusos, entre outros (STORCH, 2010). Conforme
Amilton Plácido da Rosa,

[...] isso ocorre porque em todas as situações, indepen-


dentemente da área jurídica envolvida, há uma causa

72
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

sistêmica oculta que pode ser revelada por meio desta


abordagem, com grande vantagem para a solução do
problema. Ademais, o sistema, que se autorregula, não
só cria, como espera todas as possibilidades e auxílio
para se equilibrar, incluir e fazer as compensações ne-
cessárias, de modo que toda contribuição para isso, seja
na área do Direito ou fora dele, é bem vinda ao sistema
(ROSA, 2016).

É importante ressaltar que a abordagem sistêmica pode ser uti-


lizada como ferramenta de trabalho não só por juízes, como tam-
bém por advogados, mediadores, conciliadores, membros do Mi-
nistério Público e qualquer profissional cujo trabalho tenha como
escopo auxiliar as pessoas a solucionarem situações conflituosas
(STORCH, 2010).

3.3 Resolução 125 do Conselho Nacional de


Justiça e Código de Processo Civil de 2015
Há tempos, observa-se a ineficiência do Poder Judiciário de
processar e julgar a crescente demanda de ações que lhe são pro-
postas, porquanto, além da sobrecarga excessiva de processos e da
morosidade, há, ainda, a estrutura de servidores e demais funcio-
nários, somado à falta de material necessário, o que torna impossí-
vel atuar de forma diferente (STORCH, 2017). A sociedade clama
por respostas mais céleres e humanizadas, fato que vem motivando
diversas iniciativas do poder Judiciário na busca por uma cultura
de paz (OLDONI; LIPPMANN; GIRARDI, 2017).
Nesse sentido, em 2010, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
editou a Resolução nº 125/2010, que institui a Política Pública
Nacional de Tratamento dos Conflitos de Interesses no âmbito
do Judiciário, objetivando assegurar o direito e estimular práticas

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Ana Cecilia Bezerra de Aguiar, Ana Siomara de Oliveira Ferreira
Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

capazes de proporcionar tratamento adequado aos conflitos judi-


cializados, com a consequente resolução de forma não litigiosa de
acordo com a natureza e as peculiaridades de cada conflito (CNJ,
2010). Desse modo, trata-se de uma abertura à utilização da postu-
ra sistêmica pelo profissional do Direito, quer seja pelos advogados,
juízes ou promotores, afinal, todos devem ser vistos e considerados
membros de um mesmo sistema, no qual devem atuar juntos na
busca de uma melhor solução para os conflitos sociais (OLDONI;
LIPPMANN; GIRARDI, 2017).
Em 2015, cinco anos após a Resolução do CNJ, a solução con-
sensual de conflitos foi incluída e autorizada no Código de Pro-
cesso Civil, Lei 13.105/2015, inclusive, dando especial atenção aos
métodos alternativos de solução de conflitos, conforme segue:

Art. 3.º Não se excluirá da apreciação jurisdicional amea-


ça ou lesão a direito.
[...]
§ 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução
consensual dos conflitos.
§ 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solu-
ção consensual de conflitos deverão ser estimulados por
juízes, advogados, defensores públicos e membros do Mi-
nistério Público, inclusive no curso do processo judicial.

Esse foi um importante avanço, pois há expressamente o es-


tímulo e a ênfase à utilização das técnicas do sistema multipor-
tas21 de resolução de conflitos e a necessidade de cooperação

21 O sistema multiportas, o Multi-doorCourthouse System, modelo americano, refere-


se às diversas possibilidades de utilização de mecanismo de solução de conflitos.
Lilia Sales (2014, p. 380) complementa que: “O estudo e a prática desses mecanismos
ganharam destaque nos Estados Unidos, na década de 70, quando o presidente da
Suprema Corte dos Estados Unidos, W. Burger, apontou para a necessidade da
utilização dos processos de negociação e arbitragem. No ano de 1976, em conferência
realizada em Minnesota nos Estados Unidos, ressaltou-se a crise na Administração

74
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

entre todas as partes. Ademais, ao ser mencionado no artigo


que “outros métodos de solução consensual de conflitos”, dedu-
z-se que a aplicação da técnica da Constelação Sistêmica está
em perfeita conformidade com o ordenamento processual civil
brasileiro (TARTUCE, 2018).
Ainda sobre o Código de Processo Civil, cita-se o artigo 165,
que garante o incentivo a centros judiciários e ao desenvolvimento
de programas que auxiliem a autocomposição: “Os tribunais cria-
rão centros judiciários de solução de conflito, responsáveis pela
realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo
desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e
estimular a autocomposição”.
Trata-se aqui de um meio inovador no mundo jurídico que
tem se demonstrado importante e eficiente na tratativa de litígios,
apresentando resultados positivos com eficácia na resolução desses
conflitos de forma efetiva, inclusive na prevenção de novos litígios
decorrentes do anterior, contribuindo com a cultura de paz.

3.4 Experiência pioneira na Justiça brasileira


A técnica das Constelações Sistêmicas, após seu reconhe-
cimento e enquadramento legal, já vem sendo aplicada em pelo
menos 20 (vinte) Tribunais no país, em diversas áreas do orde-
namento jurídico brasileiro e em diferentes fases processuais ou
pré-processuais, conforme será exposto.

da Justiça e a insatisfação do povo americano com o Poder Judiciário, apresentando-


se assim a possibilidade de implementação de vários meios (alternativos) de solução
de conflitos, que tinham por base o poder de determinação das partes envolvidas e
o diálogo que ficaram conhecidos como ADR´s – Alternative Dispute Resolutions
(Meios alternativos de resolução de conflitos)”.

75
Ana Cecilia Bezerra de Aguiar, Ana Siomara de Oliveira Ferreira
Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

Fonte: Tribunais de Justiça Brasileiros

3.4.1 Nordeste
Nesta região, 8 (oito) Tribunais de Justiça (Bahia, Alagoas,
Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Sergipe, Maranhão e
Paraíba) têm utilizado o Direito Sistêmico.
Inicialmente, no Tribunal de Justiça baiano, em 2006, o juiz
Sami Storch começou a ministrar workshops, para magistrados e
servidores, sobre constelações familiares, apresentando a possibi-
lidade da utilização dos princípios e das técnicas das constelações
sistêmicas para a resolução de conflitos na Justiça (TJBA, 2015a).
Nos anos de 2012 e 2013, a técnica da constelação foi aplica-
da nas ações que tramitavam na Vara de Família do município
de Castro Alves (BA), por iniciativa do juiz SamiStorch. Nesta
experiência, a maior parte das ações selecionadas para participar

76
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

das vivências em constelação tratavam de divórcio, alimentos e


guarda de filhos. Utilizar a constelação em processos de inventário
também apresenta muitos benefícios, conforme explana o magis-
trado: “Eles costumam ser processos demorados, que têm carga
emocional envolvida de vários entes familiares. A técnica já foi
aplicada em alguns processos e conseguiu reaproximar herdeiros.
Deveremos incluir mais esse tema” (CNJ, 2016).
Antes das audiências de mediação e conciliação da Semana
Nacional da Conciliação em 2012, conforme o Conselho Nacional
de Justiça (CNJ, 2016) o juiz realizou seis palestras, intituladas
“A separação de casais, os filhos e o vínculo que nunca se des-
faz”. Na oportunidade, dedicava um momento à meditação e, logo
em seguida, constelava 3 (três) processos. Exemplificativamente,
o Tribunal de Justiça Baiano (TJBA) informou que, em uma das
reuniões, o juiz selecionou um casal que estava envolvido em um
processo de divórcio e convidou quatro pessoas ao palco, em que
representariam o casal e seus dois filhos, com intuito de perceber
a dinâmica entre os familiares, seus emaranhamentos e a possível
influência que as gerações passadas tiveram ou têm sob eles. Após
a vivência, depoimentos foram colhidos:

“Eu posso dizer que entendi e aprendi a lidar melhor com


os nossos problemas e o divórcio”, revelou emocionada a
manicure Eliana de Jesus. Seu ex-companheiro também
não conteve as lágrimas depois de participar da dinâmica:
“Foi muito interessante. Eu sinto que estou mais próximo
dela, e mais disposto para a conciliação”, declarou Edvan-
do Cruz. “Traz uma forma diferente para as pessoas refle-
tirem sobre a situação familiar, que às vezes é tratada tão
bruscamente”, comentou Joilson Jesus. O voluntário que
representou o filho dos ex-cônjuges, Joilson não escondeu
o entusiasmo com a palestra e a dinâmica: “Acredito que
o que aconteceu aqui vai levá-los a uma mudança. Eu já

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Ana Cecilia Bezerra de Aguiar, Ana Siomara de Oliveira Ferreira
Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

estou pensando em como posso levar isso para a comuni-


dade”, revelou o agente comunitário de saúde, que tam-
bém é líder de um sindicato local (TJBA, 2012).

Em dezembro de 2013, o Tribunal de Justiça do Estado da


Bahia (TJBA, 2013) premiou as unidades judiciais que mais conci-
liaram nos últimos dois anos na Semana Nacional da Conciliação,
destacando a Vara Cível da Comarca de Castro Alves pela criação
do projeto “Constelações Familiares”, que auxiliou a efetivação de
acordos na comarca. O juiz Sami Storch declarou que: “O projeto
é pioneiro e inovador e o reconhecimento é o alimento para uma
boa prática. É uma motivação especial para continuar o movimen-
to em busca de soluções para o conflito” (TJBA, 2013).
Em 2014, na Vara Criminal e na de Infância e Juventude de
Amargosa, a 140 km de Salvador, a técnica foi aplicada aos pro-
cessos que envolviam adolescentes envolvidos em atos infracio-
nais, casos de adoção e com autores de violência doméstica. Como
de praxe, antes da sessão de Constelação Familiar, o juiz ministra
a palestra sobre os emaranhamentos familiares; logo em seguida,
realiza uma meditação com os envolvidos no processo para que
eles avaliem seus próprios sentimentos. Após a prática da conste-
lação, autores e réus dos processos começam a manifestar senti-
mentos ocultos, conscientizando-se, muitas vezes, das origens dos
problemas enfrentados (CNJ, 2014). Quanto a essa prática, o juiz
Sami Storch afirmou que:

Um jovem atormentado por questões familiares pode tor-


nar-se violento e agredir outras pessoas. Não adianta sim-
plesmente encarcerar esse indivíduo problemático, pois,
se ele tiver filhos que, com as mesmas raízes familiares,
apresentem os mesmos transtornos, o problema social
persistirá e um processo judicial dificilmente resolve essa

78
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

realidade complexa. Pode até trazer algum alívio momen-


tâneo, mas o problema ainda está lá. (CNJ, 2014)

Em 2015, o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia foi home-


nageado, no âmbito da Justiça Estadual, por ter alcançado o maior
índice de acordos durante a 9ª Semana Nacional de Conciliação,
realizada em 2014, na V edição do Prêmio Conciliar é Legal. O
magistrado também recebeu o reconhecimento do Conselho Na-
cional de Justiça e ganhou menção honrosa pela categoria Juiz In-
dividual devido aos seus trabalhos com a prática da Constelação
Familiar para a resolução de conflitos judiciais (TJBA, 2015a).
Em abril de 2015, o juiz proferiu palestra com o tema “Aplica-
ção da Constelação Familiar para resolução de conflitos na Jus-
tiça”, no evento internacional Hellinger Tage Internacional, na
cidade alemã de BadReichenhall (TJBA, 2015b).
Atualmente, em 2018, o magistrado tem dado continuidade
ao seu trabalho na 2ª Vara de Família, em Itabuna (BA), onde
ministra palestras com os seguintes temas: “Separação de casais,
filhos e o vínculo que nunca se desfaz”, voltado para processos de
divórcios, alimentos e guarda; e “Constelações Familiares: ema-
ranhamentos e soluções sistêmicas para heranças e sucessões”, já
voltado para processos de inventário. Na sequência, passadas algu-
mas semanas após as palestras, o magistrado convoca as partes do
processo para audiência de mediação (STORCH, 2018).
Em Sergipe, existe um movimento de sensibilização para a te-
mática, no qual o Comitê de Atenção Integral à Saúde do TJSE,
em parceria com a Escola Judicial de Sergipe (EJUSE), promo-
veu, em agosto de 2017, um workshop sobre Constelações Fami-
liares para servidores e magistrados. A Desembargadora Ana
Lúcia Freire dos Anjos relatou que esse treinamento demonstrou
uma preocupação com os colaboradores que integram o Tribu-
nal, informando que:

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Ana Cecilia Bezerra de Aguiar, Ana Siomara de Oliveira Ferreira
Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

Nos encontros do Comitê percebemos que, por conta do


aumento exponencial da demanda judicial e das exigên-
cias para o cumprimento de metas, magistrados e servi-
dores estão trabalhando sob estresse. A ideia do curso
é também fazer com que as pessoas consigam enfrentar
esses desafios de forma mais tranquila e preparada, tanto
física quanto emocionalmente. (TJSE, 2017)

Para além da qualidade de vida dos servidores, o secretário do


Comitê de Atenção Integral à Saúde do TJSE, Thyago Avelino,
ressalta que o curso apresentou a técnica das Constelações Fami-
liares para os magistrados e servidores, informando que:

Vários tribunais no país já utilizam a prática em proce-


dimentos pré-processuais e nas conciliações e mediações
judiciais. Estamos acompanhado o CNJ, que estimula as
práticas de alternativas de resolução de conflitos, diante
de uma conscientização das partes. (TJSE, 2017)

No Maranhão, em meados de 2016, a 3ª da Família da Co-


marca de São Luís organizou palestra, ministrada pelo advogado
e facilitador de abordagem sistêmica, Guilherme Fernandes Souza
Silva, direcionada a juízes, advogados, defensores públicos, pro-
motores de justiça, universitários, servidores do Judiciário, com
intuito de apresentar como a aplicação das leis sistêmicas pode
contribuir para a autocomposição dos conflitos que chegam ao
Judiciário. O palestrante ressaltou que:

Queremos mostrar como a observância e a aplicação das


Leis Sistêmicas, através da própria Constelação Sistêmi-
ca Familiar, uma abordagem eminentemente empírico-
-filosófica, sem qualquer ligação religiosa, holística ou
metafísica, podem ajudar a encontrar a reconciliação e
a paz nas famílias, já que a partir da sua percepção é

80
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

possível alcançar as questões e disputas processuais dos


litigantes com um olhar mais amplo, imparcial e verda-
deiro. (TJMA, 2016).

Em 2017, os processos das 3ª, 4ª, 5ª, 6ª e 7ª Varas de Família


da Comarca de São Luís foram contemplados com a prática da
constelação, facilitado pela consteladora Ariane Mendes Castro
Pinheiro, juíza de direito titular da 13ª Vara Cível. Essa prática
insere-se como uma das ações das oficinas de Pais e Filhos, orga-
nizadas pelo Núcleo Permanente de Solução de Conflitos (NUPE-
MEC) do TJMA, em parceria com o Conselho Nacional de Justiça
(CNJ), com intuito de facilitar a vida de casais que possuem filhos
menores e que estão em processos de divórcio ou dissolução de
união estável (TJMA, 2017a).
Houve também sensibilização quanto à temática no interior do
Estado do Maranhão, onde os servidores dos conselhos tutelares
dos municípios de Araguanã, Newton Bello e Zé Doca, bem como
os servidores da 2ª Vara desta última comarca participaram de um
workshop de Constelações Sistêmica e Familiar. O evento foi pro-
movido por iniciativa da juíza de Direito Leoneide Barros, titular
da vara, e ministrado por consteladores (TJMA, 2017b).
Em julho de 2017, no Estado da Paraíba, o Tribunal de Justiça,
por meio do NUPEMEC, ofereceu o seminário “Constelar e con-
ciliar: a constelação sistêmica como instrumento de resolução de
conflitos”, com o intuito de expor a experiência do Tribunal de
Justiça do Distrito Federal e dos Territórios – TJDFT, que tem
alcançado acordos em processos, por meio do uso prévio da Cons-
telação, em sessões abertas ao público. Segundo a palestrante e
consteladora convidada, Adhara Campos, servidora do TJDFT,

A constelação esclarece as percepções equivocadas das


relações familiares que repercutem no convívio social e
comunitário e constrói percepções positivas, pois favorece

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Ana Cecilia Bezerra de Aguiar, Ana Siomara de Oliveira Ferreira
Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

a expressão das emoções genuínas. O resultado prático da


intervenção com a constelação é a melhora no relaciona-
mento da parte consigo e com seus familiares, ao desen-
volver soluções integradoras (TJPB, 2017).

Além disso, a consteladora ressalta ainda que a aplicação da


Constelação Sistêmica possibilita a identificação dos conflitos hu-
manos que se acobertam por trás dos processos judiciais.
As aplicações da constelação familiar no Judiciário iniciaram
por meio da Coordenadoria da Central de Conciliação, Media-
ção e Arbitragem, em meados de novembro de 2017. A juíza
Wilka Vilela Domingues, titular da 5ª Vara de Família e Re-
gistro Civil da Capital, empregou a técnica em cerca de 30 pro-
cessos, que dispunha de ações como guarda, divórcio, alienação
parental e regulamentação de visitas. As partes de cada processo
foram convidadas a participarem da palestra e vivência sobre “A
Constelação Familiar Sistêmica como instrumento de resolução
de conflitos no poder judiciário”. A palestra teve a expectativa
de que os casais, após experienciarem a constelação familiar, via-
bilizem a autocomposição nos processos (TJPE, 2017a).
Ao fim do ano de 2017, foi apresentado ao Tribunal de Justiça
de Pernambuco o programa “Um Novo Olhar para Conciliar”, que
utiliza a constelação sistêmica na prática jurídica. Inicialmente,
o projeto está sendo implementado nas Varas da Infância e Ju-
ventude, de Família e nas Varas Criminais que tenham compe-
tência de Juizado criminal. Somente os servidores e magistrados
com formação em constelação familiar podem atuar aplicando o
método, inclusive se faz necessário comprovar que possui a certifi-
cação de constelador. O objetivo inicial é solucionar os processos
que são encaminhados das unidades judiciárias para a Câmara de
Mediação e Conciliação do TJPE. Não ocorrendo a conciliação,
as partes são convidadas a participarem de palestras que explanam

82
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

sobre a constelação familiar e, posteriormente, podem integrar às


vivências coletivas (TJPE, 2017b).
Desde o final 2015, o Tribunal de Justiça de Alagoas utiliza as
constelações nas audiências de mediação e conciliação. Conforme
o magistrado Yulli Roter Maia, titular da 2ª Vara de União de
Palmares, o juiz:

Para conciliar, mediar e entender o que está acontecen-


do, muitas vezes é necessário se despir da toga para que
ele encurte a distância entre as partes e ganhe confiança
[…] A gente toca coisas profundas, as pessoas vivenciam
uma emoção muito forte. É importante que nós, juízes,
tenhamos uma visão mais humana porque o objetivo não
é solucionar processos, mas solucionar conflitos entre as
pessoas (TJAL, 2016).

O desembargador Domingos de Araújo Lima Neto, responsá-


vel pelo Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução
de Conflitos (NJUS), corrobora o entendimento afirmando que
“O Judiciário não deve se preocupar apenas com as demandas,
mas principalmente com as pessoas”. Os processos encaminhados
à Constelação são os que não alcançaram êxito por meio das téc-
nicas tradicionais na mediação e na conciliação (TJAL, 2016).
Dando continuidade aos trabalhos iniciados em 2015, em abril
de 2018, Yulli Roter Maia, participou do “Workshop Inovações
na Justiça: O Direito Sistêmico como meio de Solução Pacífica de
Conflitos”, organizado pelo Conselho de Justiça Federal (CJF), em
Brasília, onde ministrou palestra sobre as experiências do TJAL
com a aplicação da Constelação. Segundo o magistrado:

Nos meses de setembro a novembro do ano passado, fizemos


uma escrituração de 31 audiências que eu conduzi, somen-
te em uma eu não consegui conciliação. Então, realmente o

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Ana Cecilia Bezerra de Aguiar, Ana Siomara de Oliveira Ferreira
Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

índice de conciliações que são feitos com esse método é mui-


to alto. Por isso, o Conselho de Justiça Federal reuniu esses
juízes, que fazem o trabalho de constelação, para que expo-
nham o que está sendo feito pelo Brasil afora (TJAL, 2018).

O intuito do workshop foi ampliar as discussões e informar so-


bre a utilização, Tribunais de Justiça brasileiros, dos métodos com-
plementares de soluções pacíficas de conflitos, baseados nas leis
sistêmicas, nos (TJAL, 2016).
Em 2015, a juíza Virgínia Marques, da 6ª Vara da Família da
comarca de Natal, implantou um projeto piloto com a utilização
da abordagem sistêmica, objetivado abreviar a solução dos pro-
cessos, de forma definitiva e pacífica entre as partes. Segundo a
magistrada, com a técnica, o índice de acordos nas audiências de
conciliação subiu de 30% para 70% (TJRN, 2018).
No dia 20 de abril do vigente ano, em mais um trabalho de inova-
ção da Justiça Federal no Rio Grande do Norte para promover a con-
ciliação, foi promovido um evento com a seguinte temática: “Conste-
lação Sistêmica na Justiça Federal: é possível”, com palestras ministra-
das pelo psicólogo Carlos Henrique Cruz, especialista em Psicologia
Jurídica, e pela juíza Virgínia de Fátima Bezerra (JFRN, 2018).
No Ceará, em junho de 2017, foi dado início às atividades do pro-
grama “Olhares e Fazeres Sistêmicos no Judiciário”, que são realizadas
na Comarca de Fortaleza, na Vara Única Execução de Penas e Me-
didas Alternativas (VEPMA). Trata-se de uma idealização das ad­
vogadas Ana Tarna dos Santos Mendes e Gabriela Nascimento Lima
e da psicóloga Maria do Socorro Fagundes, com o objetivo de oferecer
vivências sistêmicas, dentre as quais, a realização de conste­lações fa-
miliares voltadas para os apenados da VEPMA, assim como casos
referentes a processos em andamento, selecionados previamente.

84
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

O referido programa conta com a participação exclusiva de vo-


luntários e com o apoio da juíza titular da VEPMA, a Dra. Maria das
Graças de Almeida Quental. A magistrada, por conta da iniciativa,
foi convidada, em abril do vigente ano, para apre­sentar o programa
no Conselho de Justiça Federal em Brasília, no painel intitulado Boas
Práticas na Justiça Estadual22.

3.4.2 Sudeste
Em São Paulo, desde o ano de 2016, a Comarca de São Vicente
utiliza a técnica da constelação na Casa da Família, onde funcio-
nam as duas varas, um Centro de Conciliação e Mediação e o Ser-
viço Psicossocial. Em agosto de 2017, a magistrada Vanessa Aufie-
ro da Rocha, da 2ª Vara da Família e das Sucessões da Comarca
apoiou dois projetos, um para realizar um curso para servidores e
outro para ministrar palestras vivenciais à comunidade jurídica e
aos demais usuários do sistema de justiça (TJSP, 2017b).
O curso “Percepções sistêmicas: o despertar de uma nova
consciência jurídica” foi composto por sete módulos, direcionado
aos advogados, conciliadores e mediadores, assistentes sociais,
defensores, conselheiros tutelares, juízes, psicólogos e promoto-
res. Destaca-se o relato da servidora LizianeTaconi Migues, par-
ticipante do curso:

Desde o primeiro dia de curso, percebi que se abriram ca-


minhos em minha vida, em meu relacionamento familiar
e profissional, e comecei a enxergar a importância da mi-
nha família. Já no meu trabalho identifiquei as coisas que

22 BRASÍLIA. Conselho da Justiça Federal. Magistrados e servidores relatam


experiências na aplicação de constelações familiares. Disponível em: <http://www.
cjf.jus.br/cjf/noticias/2018/abril/magistrados-e-servidores-relatam-experiencias-na-
aplicacao-de-constelacoes-familiares>. Acesso em: 4 mai. 2018.

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Ana Cecilia Bezerra de Aguiar, Ana Siomara de Oliveira Ferreira
Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

dificultavam os relacionamentos e causavam conflitos


entre os funcionários. Nunca imaginei que haveria essa
grande mudança em nossas vidas (TJSP, 2017b).

Em agosto de 2017, o Tribunal de Justiça de São Paulo, por


meio da Coordenadoria de Apoio aos Servidores (CAPS) e em
parceria com a Escola Judicial dos Servidores (EJUS), promoveu
o evento “Constelação Familiar – Aplicação e Prática” para cer-
ca de 869 servidores, que acompanharam de forma presencial e
online (TJSP, 2017c).
No mês subsequente, a Comarca de Pindamonhangaba reali-
zou a primeira sessão de Constelação Familiar da região. A inicia-
tiva partiu da magistrada da 1ª Vara Cível, Cláudia Aparecida de
Araújo, que utilizou a constelação para tentar sanar um processo
de família que já tramita há quatro anos, envolvendo filhos meno-
res. Para os envolvidos no processo, a vivência foi satisfatória, pois
eles interagiram e saíram da Vara juntos e conversando, algo que
há muito tempo não ocorria entre eles (TJSP, 2017d).
A magistrada se inspirou no trabalho realizado pela juíza Va-
nessa Aufiero da Rocha, da 2ª Vara da Família e das Sucessões
da Comarca de São Vicente, que ressaltou: “Evidenciado tal con-
flito, por meio da constelação, é possível fazer com que as partes
tomem consciência de seus atos e de seu papel no núcleo familiar
para que, ao final, busquem uma composição que de fato as pa-
cifique” (TJSP, 2017d).
Em Ribeirão Preto, desde o início do mês de agosto de 2017,
a equipe que atua no Anexo de Violência Doméstica e Fami-
liar contra a Mulher, coordenada pela juíza Carolina Moreira
Gama, em parceria com o Serviço de Reeducação do Autor de
Violência do Gênero (SERAVIG), realiza atividades de cons-
cientização sobre a Lei Maria da Penha junto à comunidade,
para as quais são convidados alguns agressores a participarem

86
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

de palestras, cursos e analisarem o seu problema. Dentre as


dinâmicas utilizadas, inseriram a técnica da constelação, com
intuito de que homens e mulheres (agressores e vítimas) com-
preendam a razão de determinados comportamentos por meio
da sua própria história familiar (TJSP, 2017a).
Ainda no estado de São Paulo, houve sensibilização no Foro
Regional de Santana, em outubro de 2017, por meio da primeira
palestra vivencial sobre constelação, em que os participantes co-
nheceram a técnica que facilita a resolução consensual de confli-
tos (TJSP, 2017f).
Em fevereiro de 2018, na cidade de Sorocaba, servidores da
Vara da Infância e da Juventude reuniram 66 pessoas, entre jo-
vens acolhidos, pretendentes à adoção e profissionais da área para
participarem da palestra intitulada “Qual é o meu lugar na famí-
lia?”. Neste momento, foram realizadas vivências de constelação
para auxiliar os participantes a superarem suas questões familia-
res. Após o evento, alguns depoimentos foram colhidos, dentre os
quais se destacam: “Foi importante, pois aprendi a olhar as pessoas
de outra forma, dando mais valor para suas histórias de vida”, re-
latou uma pretendente à adoção; e “O que me chamou a atenção
foi que pude ver que você pode amar sem ser amado; é difícil, mas
vale a pena fazer diferente”, afirmou um adolescente acolhido. De
acordo com a magistrada ErnaThecla Maria Hakvoort, titular da
unidade, a utilização da constelação auxilia as pessoas a “se har-
monizarem com sua história familiar e, ainda, a compreenderem a
dos outros, de maneira a propiciar uma vida mais próspera e feliz
a todos” (TJSP, 2018).
Na região de Santo Amaro/SP, em março de 2018, foi criado o
projeto piloto “Paz para Todos”, com o propósito de aplicar a cons-
telação nos processos que tramitam nas Casas de Família do foro.
O projeto possibilita que juízes escolham algumas ações para que
os envolvidos participem de uma palestra vivencial e que a técni-

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

ca da Constelação Familiar seja aplicada posteriormente. A juíza


Cláudia Marina MaimoneSpagnuolo, titular da 11ª Vara da Famí-
lia e das Sucessões do Foro Regional de Santo Amaro, relatou que:
“A Constelação Familiar é muito interessante para o Judiciário,
pois, além de solucionar a causa, evita futuras judicializações entre
as partes. Após a aplicação da técnica, alguns juízes já obtiveram
100% de acordos em processos” (TJSP, 2018).
Em 2017, no Rio de Janeiro, por meio do “Projeto Conste-
lações”, idealizado pelo juiz André Tredinnick, da 1ª Vara de
Família do Fórum Regional da Leopoldina, foram selecionados
cerca de 300 (trezentos) casos com contextos semelhantes de
guarda dos filhos e pensão alimentícia, em que os representan-
tes legais foram solicitados a participarem dos encontros, com
intuito de apresentarem e utilizarem a constelação familiar por
uma equipe multidisciplinar da Associação Práxis Sistêmica. Ao
fim de cada sessão, os participantes avaliaram os benefícios do
método por meio de um formulário. Os resultados preliminares
da pesquisa demonstram que o índice de aprovação da técnica
chegou a 80%. Ademais, das audiências realizadas após a utili-
zação da constelação, 86% sucederam em acordos (TJRJ, 2017a).
Na comarca de Três Rios, por meio do Centro Judiciário de
Soluções de Conflitos e Cidadania (CEJUSC) e do Núcleo Perma-
nente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (NUPE-
MEC), foi realizada a palestra “Constelações familiares sistêmicas
como recurso na resolução de conflitos no Poder Judiciário”. O
evento faz parte do “Projeto Constelação Familiar”, também coor-
denado pelo juiz André Tredinnick (TJRJ, 2017c).
A Casa de Família é um projeto de proposta inédita no Brasil,
anunciada pelo Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de
Solução de Conflitos (NUPEMEC) do TJRJ, cujo objetivo é ofe-
recer assistência diferenciada às questões familiares. Os primeiros
atendimentos foram realizados nos Centros Judiciários de Solu-

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Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

ções de Conflitos (CEJUSC) de Santa Cruz e Bangu. O projeto


visa à resolução dos conflitos familiares de forma consensual, sem
precisar adentrar com processo judicial. Casais que estão em fase
de separação recebem o auxílio de assistentes sociais, psicólogos e
mediadores que utilizam mecanismos da justiça restaurativa, cons-
telação familiar e mediação para se alcançar uma resolutiva de
maior impacto construtivista e positivo entre os parentes, pais e
filhos. Além disso, a Casa da Família pode abranger casos em que
o processo judicial já esteja em tramitação, desde que o juiz com-
preenda que a mediação é uma forma indicada para a resolutiva
do litígio (TJRJ, 2017d).
Em setembro de 2017, aconteceu o I Seminário Nacional de
Constelações Familiares na Justiça, realizado pela Associação Prá-
xis Sistêmica, na Universidade Santa Úrsula, em Botafogo. O en-
contro permitiu a troca de experiências entre os participantes dos
mais diversos estados brasileiros (TJRJ, 2017b).

3.4.3 Centro Oeste


Em Goiás, no ano de 2016, o Tribunal de Justiça foi premiado
com o primeiro lugar no V Prêmio Conciliar é Legal, promovido
pelo Conselho Nacional de Justiça, e recebeu menção honrosa na
10ª Edição do Prêmio Innovare, em virtude da utilização da téc-
nica da constelação no “Projeto Mediação Familiar”, do 3º Cen-
tro Judiciário de Soluções de Conflitos e Cidadania da Comarca
de Goiânia. O coordenador do Núcleo Permanente de Métodos
Consensuais de Solução de Conflitos do Tribunal e idealizador do
projeto, o magistrado Paulo César Alves das Neves, informou que
o índice de solução de conflitos com auxílio da técnica da cons-
telação foi de aproximadamente 94% das demandas (CNJ, 2016).

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Ana Cecilia Bezerra de Aguiar, Ana Siomara de Oliveira Ferreira
Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

Em agosto do mesmo ano, em continuidade ao uso das técni-


cas da constelação, no Fórum Nacional da Justiça Juvenil, foram
apresentados 3 (três) vídeos de boas práticas realizadas por juízes
do Tribunal de Justiça, com casos de superação de adolescentes
que foram internados no Centro de Atendimento Socioeducativo
(CASE) (TJGO, 2016).
Destacam-se também o “Programa Justiça Terapêutica”, co-
ordenado pela Maria UmbelinaZorzetti, e os Juizados da Violên-
cia Doméstica e Familiar contra a Mulher, sob gestão dos juízes
Cristiane e Willian Costa Mello, que firmaram parceria para a
realização de atendimentos aos acusados de violência contra a
mulher, objetivando o resgate da autonomia da vítima, a autor-
responsabilidade e a restituição de sua relação com a sociedade.
O programa utiliza práticas restaurativas, musicoterapia, técnicas
autocompositivas, psicoeducação e a constelação familiar, entre
outras. Até maio de 2017 (seis anos de atuação), foram atendidos,
aproximadamente, 3 mil participantes (TJGO, 2017b).
Em junho de 2017, o TJGO inaugurou o Centro Judiciário de
Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC), em segundo grau do
Poder Judiciário goiano. O espaço é voltado à promoção do diálogo
e à construção de consensos entre as pessoas envolvidas em proces-
sos que tramitem no Tribunal. A psicóloga Rosângela Montefusco,
mediadora e professora da PUC-GO, informou que as sessões rea-
lizadas são baseadas na técnica da Teoria Sistêmica, para que seja
possível alcançar resultados rápidos e eficientes (TJGO, 2017a).
No Distrito Federal, a prática das constelações familiares no
Judiciário se deu por meio do “Projeto Constelar e Conciliar”. Ini-
ciou-se com a pesquisa acadêmica da voluntária Adhara Campos
intitulada: “A constelação sistêmica como um instrumento de me-
diação para a resolução de conflitos no Poder Judiciário”, a qual
tinha como orientador o Ministro do STJ, Dr. Nefi Cordeiro, que
há época integrava o Conselho Consultivo da Presidência para

90
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

Métodos de Soluções de Conflitos do CNJ. Adhara foi autorizada


pelo juiz titular de Direito da Vara da Infância e Juventude (VIJ),
Dr. Renato Scussel, a desenvolver o projeto em uma unidade de
acolhimento, o Lar São José. (TJDFT, 2018).
Em janeiro de 2016, o NUPEMEC, em parceria com a 2 ª
Vice Presidência do TJDFT, implementou o Projeto “Constelar
e Conciliar” em alguns Juízos do Tribunal. Esse projeto continua
em expansão e ocorre na Vara Cível, de Família, de Órfãos e de
Sucessões do Núcleo Bandeirante; na CEJUSC e nas Varas de
Família de Taguatinga; nas Varas da Infância e da Juventude e
na Vara de Execução de Medidas Socioeducativas do Distrito
Federal; no 1º Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra
a Mulher, na 1ª Vara Criminal e no Programa dos Superendivi-
dados de Brasília. (TJDFT, 2018).
Nas audiências de conciliação e mediação, em que somente
uma parte participou da vivência de constelação, obteve-se em
média de 52% de acordos. Essa estatística aumenta para 71% quan-
do ambas as partes comparecem nas vivências (TJDFT, 2018).
Em abril de 2016, o TJDFT sediou o Seminário sobre Constela-
ções Familiares e Ordens Sistêmicas. Participaram do evento Bert
e Sophie Hellinger. O seminário foi organizado pela Associação
dos Magistrados do Distrito Federal (AMAGIS/DF) e pela Asso-
ciação dos Magistrados Brasileiros (AMB), com o apoio do Tribu-
nal. No evento, Bert Hellinger afirmou que “Constelação Familiar
não é uma técnica ou método. É um caminho. Uma transição para
um novo nível de consciência.” (TJDFT, 2016).
Em maio de 2017, em Minas Gerais, foi dado início à utiliza-
ção da técnica das constelações familiares nas varas de família
da Comarca de Contagem, com a participação da consteladora
Andréa Evaristo Coelho Rocha. Atualmente, a metodologia está
sendo aplicada nas três varas de família e sucessões, como des-
dobramento nas audiências de conciliação. O magistrado não

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Ana Cecilia Bezerra de Aguiar, Ana Siomara de Oliveira Ferreira
Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

participa das sessões de constelação, apenas as partes, os seus


procuradores, a consteladora e os representantes voluntários. A
utilização da técnica sistêmica observa os ritos processuais e a
exigência do novo Código de Processo Civil quanto à imprescin-
dibilidade da mediação/conciliação (TJMG, 2017a).
Por iniciativa da Escola Judicial Desembargador Edésio Fer-
nandes (EJEF), através da Diretoria Executiva de Desenvolvimen-
to de Pessoas (DIRDEP), em 14 de setembro de 2017, foi realizado
um workshop ministrado pelo juiz Sami Storch, com o objetivo de
difundir os princípios e as possibilidades de utilização da técnica
das Constelações Familiares no campo do Direito, bem como ha-
bilitar os participantes a identificarem situações que possam ser
beneficiadas com a aplicação da metodologia.
Na ocasião, o 2º vice-presidente do TJMG e superintendente
da EJEF, desembargador Wagner Wilson, destacou que:

O Judiciário mineiro tem empreendido esforços na adoção e


na disseminação de métodos para a resolução de conflitos,
de modo a fazer cumprir sua missão de ser um instrumen-
to de justiça, equidade e promoção da paz social, estando
também empenhado em contribuir para o surgimento de
acordos legítimos e duradouros, frente às desavenças entre
pessoas e divergências de ideias (TJMG, 2017b).

Vale ressaltar que, atualmente, a conciliação, a mediação e


a justiça restaurativa integram as práticas do Judiciário mineiro.
Nesse sentido, o desembargador enfatiza que: “As pessoas preci-
sam encontrar na Justiça profissionais preparados para lidar com
as situações de sofrimento e desencontro, que levam aos confli-
tos” (TJMG, 2017b).
Em abril de 2018, foi realizado o seminário “Conhecendo a
constelação sistêmica na prática”, também realizado pela EJEF,
com o escopo de sensibilizar o público presente, em especial os

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Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

magistrados, para um olhar humanizado do conflito. Conforme


ressaltou o desembargador Wagner Wilson, “por desconhecer a
origem do conflito, a sentença nem sempre consegue devolver a
paz às partes envolvidas em um processo” (TJMG, 2018). O ob-
jetivo desse seminário foi avançar na utilização das constelações,
tendo em vista os benefícios que já vêm sendo observados.
Em Mato Grosso, processos relativos a divórcio, dissolução
de união estável, execução de alimentos, destituição de poder
familiar, maus-tratos de menores, dentre outros, que tramitam
nas Varas Especializadas de Família, Violência Doméstica e In-
fância e Juventude de Cuiabá e Várzea Grande, são constelados
mensalmente no Fórum de Várzea Grande e no Complexo Po-
meri (TJMT, 2016a).
A 2ª Vara da Infância e Juventude de Cuiabá, com o objeti-
vo de reinserir na sociedade adolescentes em conflito com a lei,
realiza Constelação Familiar com jovens, de 14 a 19 anos, e seus
responsáveis (TJMT, 2016b).
Segundo a gestora do Centro Judiciário de Solução de Conflitos
e Cidadania (CEJUSC), Rita Medeiros, desde julho de 2015, a téc-
nica é utilizada para resolver vários conflitos na Comarca de Sorriso
(420 km de Cuiabá), inclusive com resultados nítidos. Nesse mesmo
período, a juíza Jaqueline Cherulli realizou oficinas de Direito Sis-
têmico. Sobre essa experiência, a magistrada faz o seguinte relato:

Logo nas primeiras oficinas percebi que houve um inte-


resse por parte de alguns magistrados em realizá-las em
suas varas. Mas foi após a realização da metodologia na
2ª Vara Especializada da Infância e Juventude de Cuiabá
que surgiu a ideia da padronização, pois o juiz Tulio Du-
ailibi me solicitou que desse continuidade ao projeto. Esta
continuidade resultou posteriormente no primeiro Centro
Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc)
da Infância e Juventude. (TJMT, 2016c)

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Ana Cecilia Bezerra de Aguiar, Ana Siomara de Oliveira Ferreira
Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

As oficinas de Direito Sistêmico foram padronizadas pelo NU-


PEMEC e serão expandidas para várias comarcas do interior. A ofi-
cina foi disponibilizada para todos os juízes que atuam nas varas de
Infância e Juventude, Violência Doméstica e Familiar contra a Mu-
lher e Família e Sucessões. O gestor dos Centros Judiciários de So-
lução de Conflitos (CEJUSC) é o responsável por realizar a triagem
dos processos e indicar os que serão constelados (TJMT, 2016c).
A Corregedoria-Geral da Justiça do Estado desenvolveu o
programa “Justiça pela Paz em Casa” a fim de tratar as relações
conflituosas de casais envolvidos com agressões, com o intuito de
que a vítima verbalize o conflito, identifique sua origem e receba
orientações práticas para solucionar a questão. O projeto utiliza a
técnica da constelação familiar na Primeira Vara Especializada de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Cuiabá, e, de
acordo com o juiz desta Vara, Jamilson Haddad Campos,

A constelação oferece um novo caminho à mulher agre-


dida, revela o seu papel dentro da situação vivenciada,
buscando empoderá-la para que saiba lidar com esta reali-
dade. Os princípios sistêmicos mostram que ela tem opção
de reconstruir este vínculo ou mesmo rompê-lo definitiva-
mente, pondo fim à postura vitimizada e ao ciclo de vio-
lência, muitas vezes, repetidas por gerações (CNJ, 2017c).

 Em meados de 2016, o Tribunal realizou o “Curso Básico de


Direito Sistêmico”, composto por cinco módulos, em parceria com
a Escola dos Servidores. Segundo a desembargadora Clarice Clau-
dino, participante do curso, o intuito foi:

Conhecer estes recursos e identificar quando podemos


usá-lo, para então chamar alguém com formação para
aplicar essa ferramenta. Temos que conhecer, aplicar nós
vamos deixar para profissionais, pois utilizar a técnica das

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Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

constelações requer habilidade e responsabilidade. Aqui


nós estamos tendo noções, o que eu considero de suma
importância. (TJMT, 2016d)

A capacitação foi destinada a juízes, desembargadores, servi-


dores do Poder Judiciário, advogados, mediadores e conciliadores,
objetivando disseminar o conhecimento das leis sistêmicas sem o
propósito de formar consteladores.
Em Mato Grosso do Sul, em meados de 2016, o Poder Judiciário,
representado pela Coordenadoria da Infância e da Juventude (CIJ),
de forma inovadora, realizou convênio com o Instituto de Atendi-
mento Psicológico (IAP). Tal parceria teve o apoio do Dr. Amilton
Plácido da Rosa, procurador aposentado e especialista na técnica da
Constelação Familiar. O objetivo do convênio é realizar atendimen-
tos para crianças e adolescentes que são vítimas de abusos e violên-
cia, bem como para atender supostos agressores (STORCH, 2016).
Devido aos bons resultados do convênio, em meados de 2018,
o Tribunal realizou parceria com o Instituto CrerSer para ofertar
curso de Formação Pessoal Sistêmica Fenomenológica em Conste-
lação Familiar (TJMS, 2018).

3.4.4 Norte
Segundo o Relatório de Gestão do Tribunal de Justiça do Pará,
ano base 2015-2017, esse Tribunal foi o primeiro no Brasil a insti-
tuir formalmente a técnica da Constelação Sistêmica como ferra-
menta de apoio para orientação das decisões dos juízes e solução
consensual dos conflitos (TJPA, 2018).
Em abril de 2015, o NUPEMEC/TJPA promoveu palestra com
a oficiala de Justiça Carmem Sisnando, especialista na técnica
da Constelação Familiar, com o intuito de expor a metodologia
e viabilizar sua aplicação como método de resolução de conflitos,

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Ana Cecilia Bezerra de Aguiar, Ana Siomara de Oliveira Ferreira
Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

auxiliando a conciliação e a mediação. A prática foi adotada ini-


cialmente em junho de 2016, com treinamento para os servidores
da 2ª e 4ª Varas de Família. Posteriormente, em agosto de 2016, o
NUPEMEC inaugurou o projeto piloto “Aplicação das Constela-
ções Familiares”, com palestra da médica Marly Azevedo, em que
participaram magistrados, servidores, representantes do Ministé-
rio Público, da Justiça do Trabalho e da OAB/PA. Nesse mesmo
mês, realizou-se a triagem de processos e agendamento de sessões
individuais com cada uma das partes e uma reunião para que os
envolvidos pudessem conversar, frente a frente, na presença da
consteladora (TJPA, 2018).
Em maio de 2017, o TJPA, em parceria com a Faculdade Fa-
ciDevry, realizou curso “Percepção Sistêmica no Judiciário Bra-
sileiro” para qualificar magistrados, servidores e profissionais do
Direito. O TJPA foi o primeiro Tribunal brasileiro a chancelar um
curso de extensão universitária com essa temática junto a uma
faculdade. A desembargadora Dahil Paraense, coordenadora do
Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Con-
flitos, relatou: “É um avanço e uma conquista capacitar pessoas
para atuarem sistemicamente nas audiências, observando o emo-
cional envolvido no litígio, e assim levar os litigantes a se percebe-
rem e juntos construírem uma solução consensual” (TJPA, 2017c).
Essa capacitação foi ministrada pelo desembargador e correge-
dor do TRT 8ª Região, Walter Paro, que é Constelador Sistêmi-
co, e pela oficiala de Justiça Carmen Sisnando, doutoranda pela
Universidade de Lisboa, com tese em Constelações Sistêmicas. A
oficiala afirma que: “os conflitos emocionais de relacionamento
fazem do processo judicial o caminho para as pessoas quantifica-
rem sua dor, por isso a percepção sistêmica é importante, ou seja,
olhar o todo e sentir o que está por trás do conflito. Olhar não só
a pessoa, mas o contexto que ela se encontra” (TJPA, 2017c).

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Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

A Comissão Sistêmica do Tribunal foi criada em 13 de julho de


2017, por meio da Portaria n.º 3434/2017, instituída pelo presidente,
desembargador Ricardo Ferreira Nunes. A Comissão é vinculada
ao Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Resolução de
Conflitos (NUPEMEC) e atua nas Varas Especializadas de Famí-
lia e Sucessões, nas Varas Especializadas da Violência Doméstica
e Familiar contra a Mulher, nas Varas Especializadas da Infância
e Juventude, nas Varas Criminais especializadas em Crimes con-
tra Criança e Adolescente, bem como nas Varas Únicas em que
tramitam processos envolvendo as matérias acima descritas. No
entanto, podem ser encaminhados processos de outras unidades
judiciárias para aplicação da técnica da constelação. Para o juiz
coordenador da Comissão, Agenor Andrade,

A comissão é uma iniciativa inovadora do TJPA, em que


se demonstra à sociedade Paraense que nosso Tribunal
está preocupado com a celeridade processual e produti-
vidade de sentenças, mas também se preocupa com a dis-
seminação da paz na sociedade, recuperando a verdadeira
função do Direito e da Justiça, que é a harmonia entre as
relações. Tudo com objetivo de pacificar e fortalecer os
laços de paz e amor entre as pessoas envolvidas em con-
flitos. (TJPA, 2017b)

Em agosto de 2017, foi realizado o I Mutirão da Comissão Sis-


têmica do TJPA, na sede da Defensoria Pública. Para esse evento,
foram selecionados 30 casos, todos pré-processuais, ou seja, trata-
vam-se de pessoas que buscaram a Defensoria Pública antes de o
conflito se tornar um processo judicial. Os interessados participa-
ram de uma palestra de sensibilização sobre as relações familiares,
ministrada por Carmen Sisnando. Após a palestra, os familiares
foram atendidos pela equipe do Núcleo de Atendimento Especia-

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

lizado à Família, com o intuito de resolverem os conflitos por meio


do diálogo (TJPA, 2017a).
Em Rondônia, depois de dois anos de formação, o Tribunal de
Justiça fundou a primeira turma institucional de Constelação Fa-
miliar, em agosto de 2017. Participaram 34 magistrados, que agora
estão aptos a utilizar as técnicas das leis sistêmicas no cotidiano
de trabalho. O curso foi composto por sete módulos, realizados
bimestralmente em Porto Velho. O corpo docente do curso foi
formado por professores nacionais e internacionais, especialistas
em Constelações Familiares. A Escola da Magistratura de Ron-
dônia (EMERON) foi reconhecida internacionalmente, pela La
Montera (instituição espanhola, referência mundial em ensino da
Constelação Familiar), como a primeira escola de magistratura
no mundo a promover a formação de magistrados em constelação
sistêmica para uma atuação mais humanizada na solução de con-
flitos (TJRO, 2017).
O Tribunal de Justiça de Rondônia ressalta também a atuação
da ACUDA (Associação Cultural e de Desenvolvimento do Ape-
nado e Egresso), fundada em 2001, que integra práticas e terapias
aos cidadãos em conflito com a lei, com intuito de provocar mu-
danças profundas para reintegração de sentenciados na sociedade.
O projeto já beneficiou cerca de 1.500 reeducandos, utilizando a
terapia de constelação familiar, yoga, cone chinês, massoterapia
ayurvédica, atendimento psicoterápico, heike, biodança, palestras
ecumênicas (revezamento entre culto evangélico, missa e reunião
espírita), encontro familiar e, uma vez por mês, o banho de argila.
Após sete meses, frequentando o projeto, Janiel Galdino relatou
a chance de recomeçar, fazendo a seguinte afirmação: “Quando
eu sair daqui quero cuidar da minha família, pois não dava valor
a eles. Vou sair um homem melhor, pensando no futuro”. Além
dessas terapias, utilizam atividades laborais, como artesanato de

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Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

cerâmica, pintura, tapeçaria, marcenaria, oficina mecânica e la-


vanderia (TJRO, 2016).
Em outubro de 2017, em Ji-paraná/Rondônia, ocorreu o lan-
çamento do “Projeto Implementação da Justiça Restaurativa”,
direcionado a servidores do Judiciário, priorizando mediadores
e conciliadores do CEJUSC. O projeto visa realizar oficinas de
sensibilização da temática para as lideranças e as organizações
governamentais e não governamentais, bem como formar faci-
litadores de práticas restaurativas para atuarem com processos
circulares, mediação de conflitos, constelação sistêmica, lingua-
gem não violenta, nos espaços institucionais, comunitários ou
acadêmicos (TJRO, 2017).
A 1ª Vara de Família de Macapá deu início à utilização da
constelação familiar para auxiliar magistrados e servidores a sele-
cionar processos que pudessem se beneficiar do método, tais como
casos de separação, pensão alimentícia, guarda, que desordenam
a boa convivência familiar. Além disso, cerca de 100 (cem) pro-
fissionais que atuam na Rede de Atendimento à Mulher partici-
param do curso de capacitação que engloba, dentre outros méto-
dos, a constelação familiar. Sempre oferecendo possibilidades de
aprendizagem aos seus servidores, o Judiciário do Amapá realizou
curso de Educação Emocional com base na filosofia e nas leis da
Constelação Familiar. A Escola Judicial do Amapá ofereceu curso
específico para magistrados e servidores do Judiciário sobre Cons-
telação Familiar (TJAP, 2016).
Ademais, o Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de So-
lução de Conflitos do Tribunal de Justiça do Amapá (NUPEMEC)
ofereceu a capacitação em Técnicas de Resolução de Conflitos, in-
cluindo a constelação familiar, para servidores da Companhia de
Eletricidade do Amapá (CEA) e Companhia de Água e Esgoto do
Amapá (CAESA), diretores de escolas da Zona Norte de Macapá e
líderes comunitários. Além disso, casais comparecem em Plenário do

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Fórum de Macapá para Oficina do Casamento e Mediação Familiar,


que engloba conhecimento de círculos restaurativos, constelação fa-
miliar e recursos de mediação como escuta ativa (TJAP, 2017a).
O NUPEMEC do TJAP também realizou o primeiro workshop
sobre a temática sistêmica, em que se reuniram mais 250 (duzentos
e cinquenta) servidores públicos. O Desembargador Carmo Antô-
nio de Souza, coordenador do Comitê de Práticas Restaurativas,
explanou a importância do workshop: “A Constituição estabelece
que a família é a base da sociedade, então a Constelação Familiar
ajuda exatamente nisso, proporcionando que a família se cons-
cientize do problema e que ela própria possa encontrar soluções
com o menor trauma possível” (TJAP, 2017b).
Em continuidade, em 2018, magistrados e servidores partici-
param de módulo experimental na primeira parte de um curso de
especialização sobre Constelações Familiares, resultado do con-
vênio firmado entre o Tribunal de Justiça do Estado do Amapá
(TJAP), Ministério Público, Governo do Estado e Prefeitura de
Macapá. O módulo de sensibilização é parte integrante do curso,
que será dividido em seis etapas, capacitando cerca de 110 (cen-
to e dez) servidores públicos. Conforme afirma a desembargadora
Sueli Pini, coordenadora do NUPEMEC/TJAP, “a sensibilização
é mais um reforço para as práticas de mediação ou conciliação
como alternativas para facilitar a resolução de conflitos”. Muitos
são os projetos e as capacitações que o Judiciário do Amapá tem
desenvolvido para fortalecer a utilização da constelação familiar
em suas práticas jurídicas (TJAP, 2018).

3.4.5 Sul
Em maio de 2017, o Centro Judiciário de Solução de Confli-
tos e Cidadania (CEJUSC) de União da Vitória, no Paraná, deu

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Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

início à adoção das técnicas para a implantação da Justiça Res-


taurativa. Dentre as ações implantadas, utiliza a técnica de cons-
telações familiares, em parceria com a advogada Anna Christina
Pacheco, que já atende as vítimas de violência doméstica, por
meio de grupos de mulheres ou de forma individual. Essa técnica
não substitui as mediações nem o atendimento psicológico rea-
lizado pelo CEJUSC. As constelações podem ser realizadas em
casos pré-processuais, no decurso do processo ou mesmo após o
seu término. O pedido para a aplicação da técnica pode ser efe-
tuado tanto pelas partes, como pelos seus advogados, assim como
pode ser solicitado pelo magistrado ou mediador, inclusive de
qualquer vara da Comarca. A solicitação é avaliada previamente
pela equipe multidisciplinar do CEJUSC, que definirá qual téc-
nica será aplicada. Segundo a psicóloga Cláudia Zaions, o mo-
delo de atendimento permite que “cada uma das partes consiga
efetivamente se colocar no lugar do outro, entendendo que todos
são humanos, passíveis de comportamentos disfuncionais e que
merecem um voto de confiança para rever os comportamentos e
reavaliar suas posturas” (CNJ, 2017b).
No Rio Grande do Sul, o projeto “Justiça Sistêmica: Resolução
de Conflitos à Luz das Constelações Familiares” teve início na
Comarca de Capão da Canoa e logo se estendeu para as Comar-
cas de Parobé e Novo Hamburgo. A implementação do projeto
tem por objetivo apresentar uma resolutiva aos inúmeros conflitos
judicializados, de forma eficaz e humanizada (SCHMIDT; NYS;
PASSOS, 2018). O projeto já demonstra resultados positivos:

Na Comarca de Capão da Canoa – com o Projeto Justi-


ça Sistêmica –, em aproximadamente sete meses de im-
plementação do Projeto, foi possível colher importantes
resultados, tal como o índice de não envolvimento dos
adolescentes encaminhados ao Projeto com a prática de

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atos infracionais, o qual alcançou o percentual de 93%, ou


seja, apenas 7% dos adolescentes encaminhados ao Pro-
jeto Justiça Sistêmica voltaram a se envolver em outros
atos infracionais no período de 07 meses. Tal índice mos-
tra-se bastante representativo quando, segundo pesquisas
(vide reportagem da Revista Veja, edição 2460, ano 49, p.
74/75), a taxa (média) de reincidência entre os adolescen-
tes chega a 68%, sendo que metade dos adolescentes que
estiveram com medida de internação tornam a delinquir
nos três primeiros meses de liberdade (SCHMIDT; NYS;
PASSOS, 2018, p. 10).

Tais resultados apresentam impactos não apenas no âmbito


jurídico, mas também no social. As partes que participaram do
projeto afirmam, por meio de um questionário, maior percepção
do autoconhecimento, o que resultou em melhorias nos relacio-
namentos e aumento da sua motivação na busca de uma solução
pacífica para os conflitos (SCHMIDT; NYS; PASSOS, 2018).
Em meados de 2015, em Santa Catarina, a juíza Vânia Petter-
man, titular do Juizado Especial Cível e Criminal do Fórum do Nor-
te da Ilha, iniciou a Oficina de Pais e Filhos, um projeto que utiliza
a mediação familiar, indicada pelo Conselho Nacional de Justiça. A
Oficina de Pais e Filhos proporcionou a instalação do projeto "Con-
versas de Família", que é composto por uma equipe multidisciplinar
das áreas de psicologia, mediação, constelações familiares, filosofia
e comunicação não violenta. O objetivo principal é a “pacificação
das relações íntimas e interpessoais e restauração dos vínculos fami-
liares, através do empoderamento das partes e do desenvolvimento
de habilidades emocionais” com o objetivo de que as partes possam
lidar, de forma mais positiva, ante o novo panorama familiar que
surge após a resolutiva consensual (TJSC, 2017a).
Nesse Tribunal, outras iniciativas estreitaram o elo entre a
constelação familiar e o Poder Judiciário de Santa Catarina,

102
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

como o Curso de Direito Sistêmico direcionado aos magistra-


dos, que tem como foco a capacitação destes para “identificar
se o caso é adequado aos parâmetros de utilidade da teoria sis-
têmica, interpretar as influências conscientes e inconscientes
dos envolvidos no conflito” e verificar os elementos que impos-
sibilitam uma tomada de decisão em direção a uma resolução
consensual (TJSC, 2017a).
Na comarca de Porto Belo, foi implementado o programa “Con-
versas de Atitudes", que utiliza a constelação familiar para amparar
o atendimento e direcionar uma solução nos casos envolvendo vio-
lência familiar e doméstica. O programa é conduzido e presidido
pela juíza Janiara Maldaner Corbetta, titular da 2ª Vara daquela
unidade, segundo a qual: “O ‘Conversas de Atitudes’, que tem por
escopo a reestruturação familiar em casos que envolvem violência
doméstica, é dirigido à vítima e também ao agressor, nos termos da
Lei n. 11.340/2006 - Lei Maria da Penha” (TJSC, 2017b).
O programa beneficia também os moradores da cidade de
Bombinhas. Além desse programa, foi realizado, no Fórum de Por-
to Belo, um workshop sobre Direito Sistêmico, que foi promovido
por advogados atuantes na visão sistêmica. O evento foi apoiado e
incentivado pelos os juízes André Luiz AnrainTrentini, diretor do
Fórum e titular da 1ª Vara, e JaniaraMaldaner Corbetta, titular da
2ª Vara de Porto Belo (TJSC, 2017c).
Na comarca de Camboriú, são realizadas palestras mensais que
incentivam a temática sistêmica, denominadas de “Um novo olhar
sobre as dinâmicas familiares”, que compõem o Projeto “Justiça
Sistêmica: vínculos de amor”. O programa é coordenado pela ma-
gistrada Karina Müller Queiroz de Souza, titular da 1ª Vara Cível.
As palestras são abertas ao público em geral, e, em cada encon-
tro, “será tratado algum tema relacionado aos vínculos familiares
e pessoais. A exposição do motivo do encontro se dá através da

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

demonstração de dinâmicas sistêmicas e, quando possível, a partir


da constelação de algum caso” (TJSC, 2018).
Em Blumenau, ocorreu mais uma edição do projeto "Rodas de
Conversas sobre Conciliação", que abordou a temática das "Cons-
telações Sistêmicas". Ao longo dos diversos encontros, sempre com
o intuito de estimular a reflexão crítica sobre as questões impor-
tantes na busca da harmonização das lides sociais e jurídicas, par-
ticiparam juízes, advogados, árbitros, mediadores, conciliadores,
acadêmicos e público em geral. Na Comarca de Urubici, também
foi realizada palestra que visa a incentivar o uso das constelações
familiares e o Direito Sistêmico (TJSC, 2017d).
Por fim, de forma pioneira, a Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) introduz o Direito Sistêmico na graduação e no
Mestrado Profissional em Direito. A iniciativa partiu da professora
Grazielly Alessandra Baggenstoss, segundo a qual: “A UFSC é a
primeira instituição de ensino brasileira a estudar cientificamente
o método e a aplicar, na modalidade de extensão, as técnicas para
pacificação de conflitos familiares”. O programa é direcionado aos
clientes do Núcleo de Práticas Jurídicas (NPJ) da UFSC, no âmbi-
to de Direito das Famílias (UFSC, 2017).

104
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

105
4. Aplicação das Constelações
Sistêmicas no Direito

4.1 No Direito de Família


As famílias são a célula base da sociedade. O primeiro núcleo
de convivência de qualquer ser humano. Assim, não é à toa que
seja também um espaço de surgimento de diversos conflitos. Es-
sas desavenças, por vezes, desdobram-se em situações mais graves
cujas partes não se sentem aptas a solucionarem sozinhas e aca-
bam chegando ao Poder Judiciário, por meio de ações nas varas de
família. Ademais, outra seara que comumente envolve conflitos
familiares é o Direito Sucessório. Para ilustrar, brevemente, o que
se acaba de afirmar, alguns dados recentes do Judiciário brasileiro
serão apresentados a seguir.
No último relatório Justiça em Números apresentado pelo
Conselho Nacional de Justiça (CNJ, 2017), tendo como ano-
-base 2016, ações de família acerca de alimentos figuram no
5º lugar do ranking dos assuntos mais demandados na Justiça
Estadual, correspondendo a 1,68% das ações ou 853.049 pro-
cessos. Quando se consideram apenas as ações que tramitam
em 1º grau de jurisdição da Justiça Estadual, esse percentual
sobe para 2,44% (correspondendo a 768.224 ações), alçando a
3ª colocação. Nesse último ranking, aparece também outra te-
mática de ações de família, qual seja, casamento, com 419.068
ações (1,33% dos casos).

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

Considerando apenas as ações cíveis que tramitavam nas Jus-


tiças Estaduais brasileiras, o relatório demonstra que as ações de
família figuram em 2º lugar em quantidade, com o quantitativo de
1.859.411 processos, perdendo apenas para as ações que envolvem
obrigações (com 3.376.659 processos). As ações envolvendo direito
das sucessões, por seu turno, tem quantidade correspondente a
337.914 processos. Somando-se os dois valores, têm-se 2.197.325
ações, o que equivale a aproximadamente 27% de todas as ações
em tramitação nas Justiças Estaduais do Brasil (CNJ, 2017). Perce-
be-se, portanto, que se tratam de quantitativos representativos que
não podem ser ignorados.
No entanto, por todo o exposto até aqui nessa obra, não se
pode olvidar todas as dinâmicas ocultas que perpassam as relações
familiares. Assim, para bem compreender os conflitos familiares e
construir para eles boas soluções, faz-se necessário um olhar ma-
cro, que considere o funcionamento do sistema como um todo à
luz das leis sistêmicas anteriormente apresentadas.
Nesse diapasão, a Constelação Familiar chega como uma
valiosa ferramenta da ampliação da visão acerca das temáticas
pertinentes ao Direito de Família e Sucessões, trazendo à lume
elementos do inconsciente coletivo de uma família que, não
obstante serem muitas vezes desconhecidos, influenciam na
forma como seus membros se relacionam e se colocam diante
dos conflitos que surgem.
Além desses benefícios advindos com a utilização da técni-
ca, obtém-se a tão chamada humanização dos conflitos, promo-
vendo o empoderamento das partes para que juntas encontrem
formas de resolver consensualmente o conflito. Por isso, muitas
vezes as vivências de Constelação Familiar são realizadas antes
de audiências de mediação, proporcionando às partes uma me-
lhor comunicação entre elas.

108
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

4.1.1 Sistema Familiar


Dentre os princípios gerais do direito de família, o da dignidade
da pessoa humana traduz um valor maior que a simples sobrevi-
vência, mas um respeito à existência humana, segundo as suas pos-
sibilidades e expectativas, patrimoniais e afetivas, indispensáveis à
realização pessoal e à busca da felicidade (GAGLIANO, 2015).
Segundo Bert Hellinger, existem modos de sentir a felicidade:
um deles ocorre quando alguém faz um bom trabalho e consegue
algo de bom no que faz; outro modo diz respeito à sensação de
alegria, que também é felicidade, e isso ocorre quando se toma os
pais do jeito que são, e, assim, tudo flui na vida com muito mais
facilidade (HELLINGER, 2005).

Também existe a sensação de alegria. Isso também é fe-


licidade. Posso ter isso junto com outras pessoas, mas
também independente delas. Essa sensação de alegria
aparece quando tomei meus pais e eles podem estar
vivos dentro de mim como um todo, do jeito que são.
Quem toma os seus pais dessa forma experimenta que
tudo aquilo que tem de bom flui deles para si, e tudo
aquilo que deles temiam ou negavam fica de fora. Quem
consegue isso sente que sua sensação de felicidade au-
menta. (HELLINGER, 2005, p.78)

Para a felicidade prevalecer num sistema familiar, é necessário


olhar situações que não são vistas, mas fazem parte do inconsciente
coletivo da família, o que Bert Hellinger denomina de consciência
coletiva, conforme já desenvolvido no capítulo primeiro. Com uma
visão sistêmica do conflito familiar, consegue-se perceber a origem
dos conflitos e, assim, ressignificá-los (HELLINGER, 2009).
Nesse sentido, o indivíduo não é trabalhado isoladamente,
mas dentro do seu sistema familiar, cuja consciência coletiva é

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Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

muito maior e abrangente que a pessoal, não distinguindo entre


bom e mau, certo ou errado, mas atuando de modo a garantir
a manutenção do grupo. “A consciência sistêmica é um campo
de energia, uma estrutura em que as leis governam as relações
entre os membros de uma família e ele, de uma geração à outra”
(MANNÉ, 2008, p. 16).
Ter consciência, ou seja, trazer do inconsciente uma circuns-
tância do seu sistema familiar, faz o indivíduo ter maior controle
sobre seus atos e, principalmente, despertar o desejo de desema-
ranhar todos os nós das suas gerações passadas, e, ao assumir essa
postura com relação à sua história familiar, a paz é restabelecida
(LIEBERMEISTER, 2013).
Pode-se definir abordagem sistêmica como uma visão que cada
indivíduo faz parte de um sistema e não deve ser visto apenas in-
dividualmente, mas conectado a um grupo de pessoas entre si por
um destino comum e relações recíprocas, em que cada membro
do grupo influencia os membros do seu sistema. A Constelação
familiar permite uma compreensão de que nenhum homem é uma
ilha, para viver isoladamente, sem laços com as gerações anterio-
res. (LIEBERMEISTER, 2013).
Por isso, a importância de analisar o conflito familiar com
mais informações do que as apresentadas no processo judicial,
sendo necessário olhar para o sistema familiar dos envolvidos de
forma mais ampliada.

4.1.2 Visão sistêmica para processos de separação


Para se obter sucesso no relacionamento entre casais, é neces-
sário atender a lei básica do dar e receber. Bert Hellinger chama
de intercâmbio entre o dar e receber. Da mesma forma que se
troca algo bom, ocorre também a troca para situações ruins, por

110
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

exemplo, a traição. Nesse caso, há uma compensação em propor-


ção um pouco menor, suficiente para reparar o dano causado pela
outra parte, finalizando o mal e prevalecendo a paz na relação
(HELLINGER, 2005).
Devido à relação entre casais basear-se em duas necessidades
- uma de compensação e a outra de amor -, quando um parceiro
dá algo com amor, passa a ter a necessidade de receber também;
assim o outro dá um pouco a mais do que recebeu, gerando esse
intercâmbio de felicidade entre eles e aumentando a união através
dessas duas necessidades (HELLINGER, 2005).
Em casos de separação, Bert Hellinger diz que é necessário
cada um reconhecer o amor que existiu, aceitando e honrado
tudo o que construíram durante o período em que permane-
ceram juntos, pois só assim encontrarão a paz (HELLINGER,
2005). Segundo Hellinger,

Uma boa separação dá certo quando os parceiros dizem


um para o outro: “Eu amei muito você. O que dei para
você, dei com muito prazer. Você também me deu mui-
to, vou guardar isso com honra. Assumo a minha parte
da responsabilidade pelo que não deu certo conosco
e deixo a sua com você. E agora deixo você em paz”
(HELLINGER, 2005, p.105).

Assim, haverá paz entre o casal, podendo seguir cada um o seu


caminho. Isso é muito importante, pois, “na medida em que con-
cordamos com nosso passado, cresce também a nossa capacidade
de dominar o presente” (FRANKE, 2006, p.13).
Deste modo, os operadores do direito podem auxiliar as partes
a encontrarem consensualmente uma boa solução para os casos de
separação. Ao invés de instigar desavenças, estimulam as partes
a buscarem boas lembranças (tais como o momento quando se
conheceram, como foi o primeiro encontro, entre outros) sempre

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

partindo de um ponto inicial onde ainda não havia discórdia entre


eles, trazendo à lume momentos agradáveis que tiveram juntos e
que foram bons a ambos.
A inserção de frases de empoderamento proporcionam alívio e paz
entre o casal, como “Você foi importante para mim”, “Recebi o que
de bom você me deu e vou guardá-lo como um tesouro. Tudo o que
dei para você, dei-o com gosto; portanto, guarde-o também. Assumo
a minha parcela de responsabilidade pe­lo que saiu errado entre nós e
deixo-lhe a sua. Agora partirei tranquilo” (HELLINGER, 2008, p.58).
“As frases servem para estimular o movimento direcionado e
levar o cliente a acessar os seus sentimentos” (FRANKE, 2006,
p.78), proporcionando impulsos no caminho de uma solução, aces-
sando sentimentos guardados, os quais, compartilhados com o ou-
tro, traz paz e alívio ao sistema (FRANKE, 2006). Tratam-se de
palavras libertadoras, conforme assim define Joy Manné:

As declarações de verdade não são utilizadas sistemati-


camente. Elas fazem parte do método experimental. Po-
de-se dizer que são pertinentes, já que trazem mudanças
instantâneas no seio do campo de energia. Os represen-
tantes são ajudados, e o peso que recai sobre o campo é
aliviado. Quando uma frase é inoportuna, ela se revela
pura e simplesmente ineficaz. Os atos de verdade são
muito importantes nas antigas religiões indiana e na Bí-
blia. Jesus disse: “A verdade o libertará. A própria essên-
cia da frase libertadora é procurar, no campo de energia
sistêmica onde ela é necessária, aquilo que é bom para
ele. Quando pronunciamos uma declaração de verdade,
devemos fazê-la com toda a sinceridade. No plano da
alma, essa frase é rigorosamente verdadeira. Quando a
pronunciamos impregnando-a com um respeito realpor
seu significado, seu sentido mais profundo se difunde
até chegar ao nível do ego e provocar o nascimento de

112
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

uma nova visão. Os representantes e os espectadores são


também tocados pelo efeito benéfico da declaração de
verdade. (MANNÉ, 2008, p. 10)

Desse modo, enquanto na separação houver dor e discórdia, o


casal ainda quer permanecer unido, nem que seja pela dor, cujo
rompimento da relação somente ocorrerá com o amor, reconhe-
cendo e aceitando tudo o que aconteceu; só assim a paz reinará e
cada um poderá seguir o seu destino (HELLINGER, 2008).
Quando um dos parceiros se apega ao sofrimento, fica liga-
do ao outro, mas, se escolher fazer algo melhor, segue a vida,
liberando o outro também. “Tirar alguma coisa realmente boa
da desgraça é, talvez, a forma mais edificante de perdoar, pois,
nesses casos, reconcilia mesmo quando a separação persiste”
(HELLINGER, 2008, p.27).
Para Hellinger, um casamento se desfaz quando um deles ainda
está relacionado à família de origem ou o casal caminha em dire-
ções opostas. A acusação entre os parceiros cria a falsa ilusão de
que poderia ter sido feito algo diferente. “A solução para combater
a ilusão e a crítica destrutiva é resignar-se à forte dor provocada
pelo fim do relacionamento” (HELLINGER, 2008, p.58).
Analisando o campo sistêmico de um caso concreto, como uma
ação de divórcio, as partes poderão ver o real motivo do problema
e ressignificar a situação, gerando uma organização no campo fa-
miliar, evitando problemas, como alienação parental, disputa de
guarda, alimentos, visitas e, em algumas situações, poderá ocorrer
até a reconciliação do casal, como aconteceu num caso concreto
na Comarca de Sorriso em Mato Grosso:

Durante a sessão, os envolvidos têm a oportunidade de


enxergar de fora a situação que os aflige. E foi exatamente
isso que aconteceu com J.D. “Eu nunca tinha ouvido falar
desta técnica, mas achei muito interessante. Durante a

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Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

sessão eu pude perceber que nós brigamos por bobeira,


besteiras. Na hora da discussão ficamos com raiva um
do outro, com ódio no coração, por coisas que não são
graves. Isso eu conseguir ver muito bem. J.D conta que o
casal percebeu que grande parte das discussões que eles
têm é ocasionada por fatores externos, por discussões pro-
vocadas por interferência familiar. “Isso ficou bem claro
durante a constelação. A gente pode ver isso de fora. Per-
cebemos também que ainda nos gostamos e que brigamos
por coisas tolas. Decidimos tentar novamente, resolvemos
dar uma nova chance a nós, ao nosso casamento, à nossa
família e aos nossos filhos. (CNJ, 2015b)

Com uma visão sistêmica, o casal em processo de divórcio é


chamado a enfrentar a dor, sem apontar erros ou culpa no outro,
mas olhando para a realidade como é. Desta forma, é possível se
separar em paz, resolver de comum acordo o que precisa ser solu-
cionado e essa postura reverbera nos filhos. Por conseguinte, os
filhos entendem que não são culpados pela separação dos pais,
desta maneira não terão que escolher entre eles, porque os laços
paternos continuam para sempre (HELLINGER, 2008).
Quem fica procurando pelo culpado ou culpa a si mesmo ou
o parceiro recusa-se a encarar o fim. Quando um juiz, advoga-
do, defensor público ou psicólogo decide constelar o processo
de divórcio, o objetivo não é encontrar o culpado pelo fato,
mas, sim, levar aos envolvidos a verdade que eles não querem
ver ou não têm consciência, olhar muito mais além do existente
nos autos e assim conseguirem enxergar as causas que levaram
à separação, que são inúmeras.
Existem dinâmicas sistêmicas inconscientes que indu-
zem a separação entre casais: 1)crença em não merecimen-
to ou medo do abandono; 2) fidelidade à família de origem;
3) identificação consciente com outra pessoa prejudicada no

114
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

sistema familiar; 4) cumprimento de uma obrigação pessoal23


(HELLINGER, 2008).
Outra lição passada por Bert Hellinger é que o relacionamento
entre o casal é prioritário sobre os filhos, pois, quando colocam o
amor dos filhos em primeiro lugar, a ordem do amor é prejudicada
e a família fica em desequilíbrio (HELLINGER, 2008).
Outra dinâmica de desordem na família ocorre quando um dos
filhos está ocupando um lugar hierarquicamente superior ao seu,
ocupando um lugar de pai ou mãe, no intuito de assumir responsa-
bilidades e proporcionar algo que não está sendo preenchido pelo
outro genitor24. Além de infringir a lei da hierarquia, é também
uma forma de exclusão, provocando tragédias familiares principal-
mente ao filho (HELLINGER, 2008).

Uma vez que as violações da ordem de precedência são


motivadas pelo amor, os que se enredam nessa dinâmica
nunca reconhecem sua culpa. Essas violações contri-
buem em muito para as tragédias familiares: por exem-
plo, casos de suicídio ou doença mental psicogenética,
e ainda casos de crime cometido por pessoa mais jovem
(HELLINGER, 2008, p.101).

23 Para melhor explicação desse item, Hellinger exemplifica: “Um homem abandonou
a antiga família para assumir o atual relacionamento. A segunda esposa, muito
enciumada, quis abandoná-lo também. Na constelação familiar, percebeu
claramente que se sentia obrigada para com a primeira família do marido, solidária
com ela”HELLINGER, 2008, p.56).
24 “Nossos antepassados, compreendidos aí os pais, certamente têm direito a
homenagens. Diante deles somos apenas crianças e devemos nos comportar como
crianças respeitosas. Isso significa que devemos confiar neles para encarregar-
se de seus problemas de adultos. Não devemos nos mostrar arrogantes e pensar
que podemos assumir seu lugar. Por exemplo, quando um casamento vai mal, um
filho carregará o peso de precisar fazer feliz um de seus pais. Muitas vezes, numa
constelação, fazemos com que um filho diga a seus pais: "Vocês são os adultos e eu
sou a criança. Eu sou pequeno e vocês são grandes” (MANNÉ, 2008, p.18).

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No segundo casamento, geralmente o novo parceiro ou tem


ciúmes dos filhos ou quer ter prioridade sobre o relacionamento
anterior; quando tal situação ocorre, a separação é certa, pois a
ordem de precedência atua muito forte nos relacionamentos, as-
sim, para o êxito do segundo casamento, é necessário reconhecer
a importância do primeiro25 (HELLINGER, 2008).
Enfim, existem inúmeras situações que somente podem ser
identificadas através das vivências de constelação familiar, permi-
tindo o casal olhar para a dor e percebendo o que contribuiu para
o afastamento entre eles. Ao contrário disso, os adultos movidos
pela dor do abandono não conseguem preservar os filhos e acabam
inserindo-os no meio do conflito, causando mais dor entre eles.
Para Bert Hellinger, os pais precisam dizer a seus filhos: “Isso
não diz respeito a vocês. Nós nos separamos, mas continuamos
sendo seus pais” (HELLINGER, 2010, p.26), porque a relação de
paternidade e maternidade é inseparável.
O relacionamento básico numa família é entre o pai e mãe. A
força necessária para o melhor desempenho dessa função decorre
da relação entre eles, pois, enquanto for bom, respeitoso e harmo-
nioso, os filhos se sentirão seguros. A segurança dos filhos é sentir
a presença dos pais (HELLINGER, 2008).
Por isso, com base na visão sistêmica, a melhor solução para os
filhos em caso de divórcio dos pais é a criança ficar com o genitor
que mais respeita o outro, pois, assim, aquele que não detém a
guarda será sempre respeitado e lembrado (HELLINGER, 2008).
Deste modo, as Constelações Familiares possibilitam as par-
tes identificarem o problema daquele sistema familiar e obter uma
melhor solução para restabelecer o equilíbrio das relações, com um

25 Em famílias assim, o amor bem-sucedido usualmente requer que o vín­culo anterior


com os filhos se sobreponha ao amor recente de um parceiro pe­lo outro; segue-se
sua união como homem e mulher numa parceria de iguais; e, finalmente, o vínculo
a quaisquer filhos que venham a gerar (HELLINGER, 2008, p.101).

116
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

acordo que permite, além de proporcionar o fim do litígio judicial,


alcançar a paz e a felicidade daquele núcleo familiar.

4.1.3 Solução sistêmica em situações de


alienação parental
Movidos pela dor da separação, o casal inicia uma disputa sem
fim, medindo forças para ver quem tem mais poder. Nesse con-
texto, não há um olhar para os mais fracos, como acontece nos
casos de divórcio com relação aos filhos. A vitória pelo poder está
ligada à sensação de triunfo e, onde quer que ele exista, também
há um perdedor, ou seja, perde-se algo. Se o homem se sobressai
sobre a mulher, perde-a, e, se a mulher triunfa sobre o esposo,
perde-o. Geralmente, nessas lutas, quem sai perdendo são os filhos
(HELLINGER, 2008).
Com as agressões, o casal transmite aos filhos sentimentos de
raiva e ressentimentos guardados em face do outro, que vão se agra-
vando cada vez mais, resultando em situações de alienação parental.
Em decorrência de comportamentos dessa natureza, foi criada
a Lei n.º 12.318 de 26 de agosto de 2010, cujo artigo 2º define a
alienação parental:

Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interfe-


rência na formação psicológica da criança ou do adoles-
cente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos
avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob
a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie
genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à ma-
nutenção de vínculos com este.

Na alienação parental, sob um enfoque sistêmico, evidencia-se


desrespeito à lei do pertencimento, porque um dos pais quer ex-

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cluir o outro da vida do filho, e tal situação gera uma desordem no


sistema familiar, além de sérios problemas ao filho.
Conforme mencionado anteriormente, os filhos se sentem se-
guros quando percebem o amor de ambos os pais. Já quando um
dos genitores nega o outro, está negando também o filho, que é
fruto dos genes, dos comportamentos e das atitudes deles. Nesse
sentido, Hellinger explica:

A criança se sente melhor quando, na família, o pai estima


e respeita a si próprio e à mãe, e quando a mãe estima e res-
peita a si própria e ao pai. Então o relacionamento dos pais
com os filhos é a continuação e a realização do seu relacio-
namento mútuo; os filhos são o coroamento e plenitude do
amor um pelo outro. Os filhos se sentem livres quando seus
pais se amam. (HELLINGER, 2008, p.51)

A relação fundamental do filho é com ambos os genitores, e


a exclusão de um deles no convívio da criança, deixa-a insegura
para a vida. Dessa forma, diz Stephan Hausen:

Falamos de um movimento de aproximação interrompido


quando uma criança, devido a uma separação prematura
da mãe ou também do pai, per­de a confiança nos pais.
Pelo temor de vivenciar novamente essa perda, não ousa
mais aproximar-se deles, embora voltem a acolhê-la e a
cuidar dela depois da separação. Depois da separação a
criança defende-se contra a de­dicação dos pais e repri-
me o seu real anseio de proteção. Ela tenta afastar-se sem
decepcionar a mãe, e possivelmente desenvolve sintomas
como uma forma de resolver esse conflito. Muitas vezes
essa dinâmica de relaciona­mento fica condicionada e per-
manece até uma idade adulta avançada, sen­do vivida na
relação conjugal e mais tarde projetada sobre os filhos.
Essa criança desenvolverá mais tarde uma dinâmica se-

118
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

melhante também nas re­lações com outras pessoas impor-


tantes para ela (HAUSEN, 2008, p.42).

Os filhos são mais seguros quando aceitam e reconhecem os


pais como são. Por outro lado, quando excluem um dos pais, sen-
tem-se incompletos e vazios, tornando-se passivos e inúteis. Eis aí
uma possível causa de depressão, consequência da alienação pa-
rental (HELLINGER, 2008).
A solução sistêmica para casos de alienação parental é ressaltar
que o filho é resultado das características de ambos os pais, esti-
mulando a aceitação mútua, de modo que, quando olharem para a
criança, reconhecerão a presença do outro nela.
Ademais, a renúncia ao poder do triunfo traz mais força ao ca-
sal. As forças que curam e promovem a paz podem agir, dirigindo
todo o sistema para a reconciliação, o respeito e o reconhecimento
recíproco (HELLINGER, 2005). “Denomino isso de procedimen-
to fenomenológico. Isto é, ganho compreensão através da renúncia
do querer saber. E ganhoforça e influência através da renúncia do
poder” (HELLINGER, 2005, p. 139).
A completude dos filhos é o reconhecimento de ambos os pais
no sistema familiar, dando a cada um o mesmo direito de pertenci-
mento e lugar de honra no coração (HELLINGER, 2005):

Uma criança só pode estar bem consigo mesma quan-


do tomou seus pais. “Tomou”, foi o que eu disse. Isto
é, eu os tomo do jeito que são e os respeito do jeito que
são, sem querer ou desejar algo diferente. Exatamente do
jeito que são, eles são certos. Quem toma os pais dessa
forma está em paz consigo mesmo, sente-se completo.
Seus pais estão presentes dentro dele com toda a força
(HELLINGER, 2005, p.133).

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Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

Quando uma mãe ou um pai consegue perceber, na constela-


ção, a dor causada nos filhos pela exclusão do outro genitor, pode
fazer o amor voltar a fluir no sistema, cessando o comportamen-
to outrora praticado.
Para Stephan Hausen, os filhos procuram em si mesmos a cau-
sa de dificuldade com os pais e, quando não conseguem resolver
isso, resta o desespero ou a raiva. Através de uma constelação fa-
miliar, a mãe ou o pai pode perceber essa dor do filho e, com essa
visão, notar a necessidade do respeito mútuo e deixar o amor fluir
no sistema (HAUSEN, 2008).
Outra forma de tratar casos de alienação parental é conduzir
uma das partes a fazer o seguinte exercício: “Imaginar que diz ao
filho ou filha: ‘Quando eu olho para você, vejo também seu pai/
mãe. Vejo a sua beleza e vejo a beleza dele/dela em você’. Desse
modo, a relação parental é respeitada, e os filhos voltam à esfera
de influência de ambos os pais” (MANNÉ, 2008, p.27).
Uma abordagem sistêmica, por parte do profissional do direito,
contribui para o casal ter a percepção de que o filho é um resul-
tado da soma de características, atitudes e comportamentos de
ambos e, quando se nega a um deles, está negando e rejeitando
o próprio filho. Ainda, a luta pelo poder enfraquece diretamente
o filho e a melhor solução para a situação é reconhecer a impor-
tância de cada genitor no desenvolvimento do filho, medida essa
garantida pelas leis sistêmicas e jurídicas.

4.1.4 Situações envolvendo adoção


Quando se fala em adoção, o que vem em mente é a substitui-
ção dos pais biológicos pelos adotivos, permitindo à criança ou ao
adolescente a formação de uma nova família, de um novo sistema
familiar, esquecendo-se totalmente do sistema de origem.

120
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

Pois bem, a criança acaba perdendo a sua identidade original e


muitas vezes pode nunca saber quem são seus pais biológicos ou até
mesmo a questão da adoção (LIEBERMEISTER, 2013). Esse mo-
vimento interrompido em direção aos pais biológicos gera, incons-
cientemente, dor na criança e um sentimento de profunda rejeição.
É necessário, para os casos de adoção, os pais adotivos terem
consciência de que estão agindo em substituição aos pais bioló-
gicos na função de guardião, mantendo a historicidade daquela
criança (HELLINGER, 2008).
Pontes de Miranda define adoção de modo totalmente coeren-
te com o pensamento sistêmico: “ato solene pelo qual se cria entre
o adotante e o adotado relação fictícia de paternidade e filiação”
(MIRANDA, 1947, p.177).
Sob um enfoque sistêmico, o instituto da adoção não pode ser
utilizado com fins de compensação para aqueles que não puderam
ter filho, mas sim no intuito de proporcionar o melhor para o ado-
tado, sem excluir a família de origem à qual ele pertence.
A adoção é justificada por abandono da criança ou morte dos
pais e nenhum parente mais próximo pode acolhê-la, tornando-se
um ato justificado a acolhida desta criança. De outra forma, quan-
do se adota para fins de satisfazer a necessidade dos adotantes, tra-
ta-se de um ato leviano, gerando uma culpa no sistema. Primeiro,
é uma injustiça retirar a criança dos pais e dos avós; segundo, é
uma injustiça também com os pais, pois a criança está sendo ex-
cluída de sua convivência, em função de dificuldades destes; e, ter-
ceiro, tal situação impede que pessoas reconheçam o fato de terem
condições de arcar com o próprio destino (HELLINGER, 2010).
Adoções são consideradas levianas com base no Direito Sistê-
mico quando alguém quer uma criança para si, pensando em seus
próprios interesses, e não nos dela. Se o adotado não sente segu­
rança com os pais naturais, pode reconhecê-los como pais, mas
sabe que só conseguirá se desenvolver com os pais adotivos.

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

Não há uma exclusão dos pais biológicos, mas sim uma inclu-
são dos pais adotivos no sistema familiar, em que todos, pela lei
do pertencimento, fazem parte do sistema familiar e devem ser
honrados e respeitados, valendo lembrar que a lei da hierarquia
prioriza quem chegou primeiro; assim, os pais biológicos são mais
importantes porque deram a vida à criança ou ao adolescente.
(HELLINGER, 2010)
Atualmente, no ordenamento jurídico brasileiro, sob o princí-
pio do melhor interesse da criança e do adolescente, passou-se a
preocupar-se mais em prestigiar os interesses superiores da crian-
ça e do adolescente. O marco inicial dessa nova postura jurídica
se deu quando o Brasil ratificou a Declaração dos Direitos da
Criança, em 1990.
No Brasil, a adoção é uma medida de caráter excepcional, prio-
rizando o crescimento e o desenvolvimento da criança com sua
família natural, formada pelos pais ou qualquer um deles e seus
descendentes. É o teor do art.39 da Lei 8.069/90:

Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á


segundo o disposto nesta Lei.
Parágrafo único. É vedada a adoção por procuração.
§ 1o A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se
deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de ma-
nutenção da criança ou adolescente na família natural ou
extensa, na forma do parágrafo único do art. 25 desta Lei.

Sobre a família natural, recai a preferência legal para criação da


criança ou adolescente, sendo excepcionais as hipóteses de criação
por família substituta (MADALENO, 2015). Para Bert Hellinger,
a adoção também é uma medida excepcional, pois, quando os pais
não podem criar os próprios filhos, deve os avós fazer; caso estes
não possam, o parente mais próximo, como um tio ou tia, tem

122
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

essa responsabilidade. A adoção é o último recurso a ser utilizado


(HELLINGER, 2008).
O sucesso de uma adoção, com menos sequelas para a criança,
acontece quando os pais adotivos fazem isso por amor a ela, e não
para suprir o vazio de não poderem ter filhos (VERDE, 2015).
Para uma melhor compreensão da importância do reconheci-
mento dos pais biológicos na vida de uma pessoa, segue um exem-
plo relatado por Celma Nunes Villa Verde:

Exemplo de constelação de uma criança adotada. Uma mulher de 40


anos procurou a constelação porque sua filha adotiva, de nove anos,
estava apresentando comportamentos difíceis na escola. Ela havia
adotado a criança sozinha, sem um pai. A menina estava “pegando”
objetos de seus coleguinhas. No momento em que contava esta his-
tória na sessão, a mãe adotiva demonstrou uma preocupação com a
possibilidade de que esse comportamento pudesse ter relação com os
pais biológicos da menina e, a seguir, começou a falar de uma for-
ma depreciativa em relação a esses pais. Nesse momento, fez-se uma
intervenção terapêutica; o terapeuta, interrompendo a fala da clien-
te, iniciou a montagem da constelação. Inicialmente, escolheram-se
duas representantes, uma para a cliente e outra para a menina. Em
seguida, solicitou-se para a mãe adotiva posicionar as duas represen-
tantes; ela as colocou uma em frente à outra. A representante da me-
nina ficou parada e com um olhar triste, como estivesse procurando
algo. Nesse momento, colocaram-se representantes para os seus pais
biológicos na constelação. Nesse momento, a menina, que estava sen-
tada ao lado do terapeuta, pediu para levantar e fazer um movimento.
Por livre e espontânea vontade, ela se dirigiu a seus pais biológicos
ali representados e os abraçou até chorar. Um choro sentido de um
grande reencontro aconteceu ali. Um amor de almas se revelou. Essa
situação comprova que o vínculo entre pais e filhos vai muito além de
qualquer racionalização (VERDE, 2015, p.59,60).
Por isso, é importante, no curso do procedimento de adoção,
instruir os pais adotivos sobre a necessidade de reconhecerem a

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Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

história do filho adotivo, respeitando-o com toda a bagagem ad-


vinda da família de origem.
Numa família, deve reinar uma lei fundamental,, a do perten-
cimento,em que todos que pertencem àquele sistema familiar não
podem ser excluídos. O não cumprimento dessa lei causa desor-
dem em todo sistema (HELLINGER, 2005).
Nos casos de adoção,os pais adotivos são incluídos no sistema
familiar do adotado, pertencendo os pais biológicos e os adotivos.
É necessário também que os pais adotivos honrem os biológicos por
terem trazido a criança ao mundo. De modo igual, os pais biológicos
devem respeitar os adotivos por proporcionarem ao filho os cuidados
necessários para o seu desenvolvimento (LIEBERMEISTER, 2013).
Na medida em que o adotado aceitar a decisão da sua ado-
ção, consegue se conectar com muito mais intensidade aos pais
adotivos, por isso é necessária a inclusão da família de origem
nos procedimentos de adoção, mantendo a criança informada de
toda a sua história.
Quando todos são integrados e reconhecidos, cada um ocu-
pando um lugar de importância no seio familiar, ocorre a sensação
de completude (HELLINGER, 2005).

4.2 No Direito das Sucessões


Inicialmente, cumpre esclarecer que, para a teoria sistêmica, di-
ferentemente da visão jurídica tradicional, a herança não pode ser
tomada como um direito, mas como um presente, posto que se trata
de um patrimônio que não decorre de esforço pessoal do herdeiro,
mas do trabalho e do sacrifício do de cujus. Assim, a priori, toda he-
rança é imerecida (HELLINGER, 2008; MACHADO, 2017).
Nesse sentido, tomando a herança como um regalo, o seu autor
poderia distribuí-la como melhor lhe aprouver, sem precisar neces-

124
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

sariamente partilhar de forma igualitária entre os herdeiros. Esses,


por seu turno, devem aceitar de bom grado o destino que foi dado
ao patrimônio por quem de fato se empenhou para construí-lo. Do
contrário, o que se observa nos trabalhos com constelações acerca
dessa temática é que queixas e ressentimentos dos descendentes
quanto à divisão patrimonial feita pelo testador provocam turbu-
lências no fluxo de amor que une os membros de uma família,
causando divisões entre eles. No entanto, Bert alerta para a pos-
sibilidade de o membro da família que foi mais beneficiado com
a deixa sucessória repassar parte do que herdou ao que se bene-
ficiaram menos, assegurando a paz e a harmonia para o sistema26
(HELLINGER, 2008; MACHADO, 2017).
Ainda nessa perspectiva, Hellinger pontua que o que se obser-
va, muitas vezes, nessas disputas entre herdeiros por parcelas mais
significativas do patrimônio do de cujus, é que a herança é dissi-
pada pelos herdeiros sem observância das intenções do falecido.
Nesses casos, Bert chama atenção para o que mais é perdido jun-
tamente com o patrimônio dispendido. De acordo com o teórico,
uma grande parcela do que se recebeu dos pais, por exemplo, em
termos de nutrição amorosa, é dissipado juntamente com esse gas-
to. Assim, o dar e o receber dentro do sistema ficam prejudicados,
pois há uma perda daquilo que é mais valioso na transmissão de
ascendente para descendentes. Por isso, afirma-se: “Uma herança
assim facilmente se torna uma maldição. Ela tira algo ao invés de
dar” (HELLINGER, 2014, p. 86).
Ademais, segundo Hellinger, toda herança traz consigo uma
carga. Essa pode, por vezes, trazer consequências danosas ou ain-
da representar um fardo para os sucessores. Explicando melhor,

26 Nas palavras de Bert Hellinger, “Uma herança é um presente dos pais para os
filhos e, como qualquer presente, deve ser dado conforme o gosto do doador. Ainda
que um filho herde tudo e o outro nada, o ressentimento não traz consequências
benéficas. Toda herança é imerecida” (HELLINGER, 2008, p. 71).

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tem-se que aquele que planeja sustentar-se com o patrimônio de


alguém que ainda vive está, na realidade, esperando a morte do
dono do patrimônio. Essa esperança ocupa o lugar da gratidão que
deve partir daqueles que receberam a vida em direção aqueles que
lhes deram. Tal substituição pode trazer consequências danosas
para o membro da família que a praticou, pois, ainda que incons-
cientemente, passa a não honrar a memória amorosa dos que lhe
precederam (HELLINGER, 2014).
Considerando, assim, todos os aspectos negativos que podem
acompanhar a herança e o ato de herdar, Hellinger chega a afir-
mar que “o mais simples é não herdar nada” (HELLINGER, 2014,
p. 99). Dessa forma, Bert reconhece a liberdade que o herdeiro
tem para deliberar acerca da aceitação ou da renúncia de heran-
ça, tal como prevê o Código Civil brasileiro, nos artigos 1.804 e
seguintes. Assim, caso o herdeiro considere que a herança está
marcada por situações gravosas, cujo recebimento o enredará em
circunstâncias indesejáveis, o melhor a fazer é declinar o patrimô-
nio do falecido (HELLINGER, 2010).
Outra saída possível seria aceitar a herança e colocá-la a ser-
viço da vida, ou seja, promovendo o bem para outras pessoas. Se-
gundo explica Hellinger, quanto mais a herança serve à vida, mais
o herdeiro torna-se merecedor de possuí-la, posto que, como já fora
explanado, a priori não existe merecimento a nenhuma herança.
Tal estado se constrói quando o herdeiro direcionada o patrimônio
herdado para o ganho daqueles que estão à volta (por exemplo,
uma empresa herdada que promove sustento para várias famílias
de trabalhadores). Destarte, a destinação dada ao que se herdou
vira símbolo de gratidão e amor aos sucedidos27. Essa conduta é

27 “Se na herança repousar um fardo, nós nos livramos dele por meio de uma renúncia.
Se nela repousar uma bênção, nós a tomamos como uma bênção. Provemos benção
com ela: uma rica bênção para muitos” (HELLINGER, 2014, p. 88).

126
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

capaz, inclusive, de trazer ordem para o sistema em algum ponto


que precisa ser reorganizado (HELLINGER, 2014; VERDE, 2015).
Dentre questões que precisam ser reorganizadas num sistema
e podem sê-lo por meio de um bom destino dado ao patrimônio
herdado, está o acúmulo de riquezas realizado às custas da explo-
ração e do prejuízo de terceiros. Inclusive, nesse tocante, cumpre
esclarecer que, de acordo com a teoria sistêmica, aqueles cuja
morte, saúde ou destino provocou ganhos para a família passam
a fazer parte do sistema (HELLINGER, 2009). As consequências
para a família de um patrimônio construído às custas de tercei-
ros foram evidenciando-se a partir da observação do que aconte-
cia com os herdeiros. Segundo Hellinger (2005), observou-se que
os descendentes dos responsáveis pela acumulação das riquezas
não tinham bons destinos, sofrendo com os emaranhamentos
do sistema. Nas constelações dessas famílias, ficou demonstrado
que os seus descendentes estavam identificados com as vítimas
(que, como fora explicado, agora também faziam parte do sis-
tema). Tal emaranhamento somente era desfeito quando todos
os membros da família olhavam para os que foram explorados e
reconheciam todo o mal que lhe causaram, prestando reverência
e manifestando seu pesar (HELLINGER, 2005).
Outra possibilidade de emaranhamento decorrente das ques-
tões sucessórias relaciona-se com a exclusão de algum(ns) her-
deiro(s) pelos demais ou quando a parcela devida não é entregue
em sua integralidade a quem deve ser. Tal conduta afronta dire-
tamente a lei sistêmica do pertencimento. Sobre essa questão da
exclusão indevida da sucessão de um membro da família por ou-
tro que deseja uma parcela maior do patrimônio do morto, Lie-
bermeister (2013) explica que tal atitude foi motivada por uma
crença da consciência individual, segundo a qual se afirma: “Eu
tenho mais direito ao dinheiro que ele!”. No entanto, nessas situ-
ações, a consciência coletiva tratará de reparar a injustiça provo-

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cada, colocando os irmãos novamente em situação de igualdade.


Para tanto, pode ser, por exemplo, que aquele que herdou em
detrimento do outro perca a herança. Outra forma possível de
compensação encontrada pelo sistema, nessas situações, é a cria-
ção de uma identificação entre alguém que nasce posteriormente
ao fato e o excluído. A chave para o restabelecimento da ordem,
nesse caso, é a inclusão daquele que fora posto em desvantagem,
por meio do reconhecimento dos demais membros da família
(HELLINGER, 2005).
Para ilustrar as consequências danosas geradas pelo emaranha-
mentos de um sistema em que houve exclusão de um de seus mem-
bros da sucessão patrimonial, traz-se a seguir um caso atendido
pelo próprio Bert Hellinger e por ele também narrado:

Há algum tempo, um advogado veio a mim completamente perturba-


do. Ele tinha pesquisado em sua família e descobrira o seguinte: sua
bisavó fora casada e estava grávida quando conheceu outro homem.
Seu primeiro marido morrera no dia 31 de dezembro com 27 anos, e
existe a suspeita de que ele tenha sido assassinado. Mais tarde, essa
mulher acabou por não dar a propriedade que herdara do marido ao
primeiro filho, mas ao filho do segundo matrimônio. Isso foi uma
grande injustiça. Desde então, três homens dessa família se suicida-
ram no dia 31 de dezembro, na idade de 27 anos. Quando o advogado
soube disso, lembrou-se de um primo que acabara de completar 27
anos; e o dia 31 de dezembro se aproximava. Ele foi, então, até a casa
dele para avisá-lo. Este já havia comprado um revólver para se ma-
tar. Assim atuam os emaranhamentos. Posteriormente, esse mesmo
advogado voltou a me procurar, em perigo iminente de se suicidar.
Pedi-lhe que se encostasse numa parede, imaginasse o homem morto
e dissesse: “Eu o reverencio e você tem um lugar no meu coração.
Vou falar abertamente sobre a injustiça que lhe fizeram para que tudo
fique bem” (HELLINGER, 2010, p. 8.)

128
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

Antes de concluir essa explanação teórica, pode-se ainda men-


cionar um outro aspecto importante do Direito Sucessório brasi-
leiro que está de acordo com a teoria sistêmica. Trata-se da ordem
de vocação hereditária na sucessão legítima, ou seja, da suposição
do legislador acerca da vontade do de cujus que não deixou testa-
mento ou daquele cujo testamento não dispõe acerca da totalidade
dos seus bens. De acordo com o art. 1.829 do Código Civil, em
primeiro lugar, devem herdar os descendentes em concorrência
com o cônjuge sobrevivente. Somente na impossibilidade de estes
herdarem é que os ascendentes tocarão no patrimônio. Como se
pode perceber, está contemplada, nessa disposição legal, a hierar-
quia entre as famílias, segundo a qual, a nova família tem prece-
dência sobre a família de origem, devendo, portanto, aquela ser
amparada em prioridade nos casos de falecimento do ascendente
(HELLINGER, 2009).
Para ilustrar melhor tudo que foi exposto sobre a visão sistê-
mica do direito sucessório, retrata-se a seguir um caso em que um
processo de inventário foi constelado.

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A cliente trouxe o caso do inventário do seu avô para a constelação.


Tratava-se um processo muito antigo, de mais de 25 anos, que estava
estagnado há muito tempo. No início da constelação, após ouvir a
narrativa da cliente, a consteladora decidiu colocar três representan-
tes: o primeiro para o avô (de cujus), o segundo para a avó (viúva)
e o terceiro para a herança. Evidenciou-se um forte impasse entre o
casal, por meio do relato de uma mal-estar sentido pelos represen-
tantes. Ela sentia uma grande mágoa dele por conta de sua ausência,
pois, segundo contou a neta, ele esteve distante da família, por muitas
vezes, por conta de seu trabalho. Assim, a herança deixada pelo avô
tinha uma conotação de sacrifício, porque o patrimônio acumulado
era também a consequência do pouco convívio familiar. Dessa forma,
o representante da herança apresentava-se paralisado, como um peso,
apenas observando a situação entre o casal. Ademais, o constelador
percebeu que deveria haver um excluído no sistema e colocou mais
um representante. Tratava-se de um antigo amor da avó, que não era
visto. Ao ser colocado na constelação, ele pode ser incluído. A par-
tir disso, o sistema como um todo se sentiu aliviado. Em seguida, foi
trabalhada a relação entre os avós por meio da utilização de algumas
frases sistêmicas. Depois disso, os representantes dos herdeiros foram
incluídos na constelação. A eles foi dito pela avó que fizessem um bom
uso da herança. Depois, todos foram abençoados, e, definitivamente,
o representante da herança pôde sentir aliviado. Cerda de 15 dias após
a sessão, houve a expedição de alvará no processo autorizando o le-
vantamento de uma quantia significativa, e a ação retomou seu curso,
saindo da estagnação em que se encontrava.
Como se pode observar a herança assumiu, nesse caso, uma carga re-
lacionada ao acúmulo do patrimônio, que se deu mediante o sofrimen-
to dos membros da família, os quais ficaram privados do convívio com
o pai e marido. Assim, para que o sistema recobrasse seu equilíbrio,
e a transmissão do patrimônio ocorresse com tranquilidade, fazia-se
necessário olhar para aquela essa questão.

130
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

4.3 No Direito Penal


O Direito Penal tradicional é um ramo do Direito Público, for-
mado por um conjunto de princípios e leis que objetivam combater
o crime e a contravenção penal, através da aplicação de sanções
penais, além de limitar o poder de atuação do Estado.
É uma área do Direito que se diferencia das demais pela se-
veridade das sanções atribuídas aos sujeitos autores do crime e
por impor estruturas e condições rigorosas no cumprimento da
pena. No âmbito da ciência penal, existem a política criminal,
que objetiva apresentar propostas para a melhoria do sistema
penal, e a criminologia, ciência que visa estudar o crime, a pes-
soa do infrator, a vítima e o contrato social do comportamento
delitivo (NUCCI, 2006).
Ao Direito Penal são atribuídas as funções de zelar pela boa
convivência das pessoas em sociedade, proteger os bens públicos,
funcionando como um escudo aos cidadãos e, principalmente, ser
instrumento de controle e transformação social, colaborando com
a evolução da comunidade. Ademais, ele caminha em unidade
com o Processo Penal, seara que garante a efetiva e justa aplicação
da pena ao caso concreto (MASSON, 2014).
Dentre os princípios28 que norteiam o sistema jurídico penal,
destacam-se o princípio da reserva legal ou da estrita legalidade, o
da insignificância ou da criminalidade de bagatela, o da adequa-

28 Princípio da reserva legal (não existe crime sem lei que o defina, art. 5º XXXIX),
princípio da insignificância ou da criminalidade de bagatela (quando ocorrer a
mínima ofensividade da conduta, ausência de periculosidade, o reduzido grau de
reprovabilidade no comportamento e inexpressividade da lesão jurídica), princípio
da adequação social (não poder ser considerado crime uma conduta que afronte o
sentimento social de justiça), da intervenção mínima (a atuação estatal deve ocorrer
na tutela dos bens jurídicos mais relevantes e em case de maior gravidade), princípio
da proporcionalidade (a sanção aplicada não deve ser excessiva), humanidade
(apregoa a incostitucionalidade da criação de tipos penais ou sanções que violem

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ção social, o da intervenção mínima, o da proporcionalidade, o


da humanidade e o da isonomia ou igualdade, todos criados para
orientar e limitar o poder punitivo ou ius puniendi estatal, do qual
não pode abrir mão ao ser provocado, mediante a imposição de
garantias aos cidadãos (NUCCI, 2006).
Todavia, como o poder estatal não pode ser afastado quan-
do instigado, o controle judicial ou direito de ação e de execu-
ção penal tem procurado garantir a todos, sem discriminação de
qualquer natureza, um tratamento adequado, efetivo e célere aos
conflitos judiciais apresentados. Ademais, nos últimos anos, pri-
ma-se por uma pacificação do conflito entre os envolvidos, através
de mecanismos restaurativos.
Corroborando com a ampliação dos estudos na ciência criminal e
no avançar por melhorias e humanização na aplicação da pena e da
condenação, no Direito Penal foi inserida a abordagem sistêmica, por
meio das Ordens do Amor (Hierarquia, Pertencimento e Dar e Rece-
ber). Com isso, surgiu a denominação Direito Penal Sistêmico, que visa
analisar as partes envolvidas, a pena e sua aplicação, os crimes, sejam
da Justiça Comum ou dos Juizados Especiais Criminais (JEC), mediante
uma postura de inclusão e verdade, em prol da efetivação da Justiça.

4.3.1 Crime
De forma sucinta, o crime possui três aspectos importantes
para a sua constituição: o material, o formal ou analítico e o le-
gal29. O Código Penal Brasileiro adotou um conceito bipartido do

a integridade física ou moral) e o princípio da isonomia ou igualdade (pessoas,


nacionais ou estrangeiras, em iguais situações devem receber idêntico tratamento)
29 Crime material é toda conduta humana, seja ativa ou passiva, que lesione ou
exponha a perigo de lesão bens jurídicos tutelados penalmente; já conforme o
critério formal ou analítico, crime seria um fato típico, ilícito, culpável e cabível de

132
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

crime, acolhendo crime como um fato típico e ilícito, incluindo a


culpabilidade como elemento do crime (MASSON, 2014).
Para Cesare Lombroso, para quem o crime seria oriundo de
um fenômeno biológico, em 1875, já citava, “certos indivíduos já
nascem com predisposição ao delito e que tal predisposição é de-
monstrada através de sua figura física. Pelas características físicas
seria possível conhecer o indivíduo capaz de delinquir. Era um
criminoso nato” (LOMBROSO apud OLIVEIRA, 1999, p.23).
No entanto, independentemente dos aspectos adotados para
se definir crime, pode-se afirmar que qualquer conduta humana
que configure a ilicitude vem precedida de um conflito. Este é
associado ao dissenso e presente nas relações humanas quando os
interesses, as expectativas ou os valores são contrariados, gerando
uma disputa conflituosa, na qual o outro é visto como um inimigo,
adversário ou como a próxima vítima de um ato criminoso.
Para Bert Hellinger (2007), os conflitos ocorrem diariamente
e surgem quando o ser humano necessita se impor dentro do
contexto ao qual está inserido, seguido pelo desejo de destruir e
eliminar o obstáculo do caminho. Quando se sente ameaçado,
busca fugir ou exterminar o outro, através da agressão. Porém,
liquidar o outro não é único objetivo, pois existe também o de-
sejo de se apropriar do que ele possui, estando esse movimento a
serviço da sobrevivência.
Sistemicamente, o que estimula um conflito, individual ou gru-
pal, é a boa consciência, já que essa está atrelada à vontade de
exterminar, porque o sujeito ativo se julga melhor do que os ou-
tros, posicionando-se no direito de fazer mal, desejando lesionar,
difamar, ameaçar ou até matar (HELLINGER, 2007).

punição, por fim, no contexto legal o conceito de crime é o definido pelo legislador
(MASSON, 2014, p.157-162).

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A percepção sistêmica do conflito alinha-se com os primórdios da


evolução humana e penal, quando, primeiramente, predominava a
lei do mais forte, existindo a vingança privada. Nesse contexto, o ho-
mem primitivo, ao ser ofendido, voltava-se contra o ofensor, fazendo
“justiça com as próprias mãos”. Assim, a penalidade era desproporcio-
nal à lesão porque o objetivo era se salvar, defender o grupo e extermi-
nar o outro, muitas vezes, ocasionando guerras (HELLINGER, 2016).
Com a evolução humana, adveio o surgimento do Estado e com ele
o poder-dever de manter a ordem e a segurança social, assumindo a
pena o caráter público, configurando a vingança pública. Os envolvidos
em um conflito não mais precisavam apelar para a lei do olho por olho
e dente por dente, já que a justiça seria feita com a aplicação da sanção
penal, de acordo com o Direito Penal vigente (MASSON, 2014).
Os conflitos humanos afastam o homem do equilíbrio entre o dar
e o receber, ou seja, da Justiça. Portanto, quando o indivíduo sofre um
dano gerado por outrem, o desejo natural é revidar por meio da vingan-
ça; essa necessidade vem do anseio de compensar. Quando a pessoa se
vinga do seu perpetrador, ela supera o desejo de compensação e justi-
ça, gerando mais sofrimento e despertando, no seu algoz, a vontade de
também se vingar.Com isso, o conflito nunca acaba e a justiça se torna
um elemento motivado para a vingança (HELLINGER, 2007).
Dessa forma, o caráter punitivo do Estado é importante para
conter soluções violentas e impedir a ocorrência de crimes. Ade-
mais, no contexto sistêmico, a ordem legal determina limites à
vontade pessoal de compensar o mal sofrido pela vítima e, por
consequência, ao desejo de exterminar (HELLINGER, 2007).

4.3.2 Sujeitos do crime


Penalmente, são considerados sujeitos do crime as pessoas ou en-
tes que praticam atos ilícitos, dividindo-se em sujeito ativo e passivo.

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Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

Existem duas modalidades de ofendidos: o primeiro seria o su-


jeito passivo constante, geral ou formal, que é o Estado, ao qual
pertence o direito público de exigir o cumprimento da pena; já a
segunda espécie seria o passivo eventual, particular ou material,
que é o titular do bem, ou seja, sujeito sobre o qual recaiu a ação
criminosa (MASSON, 2014).
Destacam-se as posições que o Estado ocupa como sujeito pas-
sivo do crime,as quais, dependendo do tipo penal, estão em de-
sacordo com a lei do pertencimento, pois a vítima é excluída do
sistema penal, como será visto a seguir (JESUS, 2013).
Ressaltam-se as observações de Damásio de Jesus no que tange
às posições assumidas pelo Estado, esse podendo assumir o polo
passivo da demanda como sujeito genérico, geral, formal ou me-
diato, como em todos os crimes(ex.: crime de homicídio, em que é
lesado diretamente um interesse particular); como sujeito passivo
único, nos casos em que há lesão a interesse exclusivo do Esta-
do(ex.: crimes de rebelião); também como sujeito passivo, junto a
outro sujeito passivo, em que se personifica a autoridade ou a fun-
ção do Estado, como nos atentados à autoridades públicas; e, por
fim, sujeito passivo junto a outro sujeito passivo cujos interesses
são lesados no âmbito da lesão do interesse estatal, como no crime
de moeda falsa (art. 282) (JESUS, 2013).

4.3.3 Agressor versus Vítima


Dentro de uma visão cartesiana, seria possível separar a vítima
do agressor ao se analisar a conduta delitiva. Contudo, isso só é
possível porque, nesse prisma linear, o autor do delito é sempre
visto como culpado e a vítima exclusivamente como inocente.
A visão sistêmica, por seu turno, traz uma nova abordagem
dessa problemática, explicando que a conduta da vítima pode ter

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

influência direta ou indireta no crime. No entendimento de Ed-


mundo de Oliveira,

Não são raras as oportunidades em que a vítima vai além


de seus limites e passa a ser agente dominante no crime,
quando, por qualquer pretexto, ela adota a via de gerar
ou programar as coordenadas de sua própria vitimização,
atraindo o agressor, tal qual as ovelhas atraem os lobos
nos campos (OLIVEIRA apud CALHAU, 2003, p. 34).

Na abordagem sistêmica, é impossível separar o agressor e a


vítima, já que o vínculo que os mantém unidos é mais forte do
que aquele que os mantém no interior de sua família original.Com
isso, caso a vítima e seu algoz não façam as pazes, os futuros mem-
bros de ambos os sistemas familiares continuarão emaranhados30
(MANNÉ, 2008).
A ideia simplista de que as vítimas são inocentes e que os agres-
sores são responsáveis pelo sofrimento que causaram e que, por isso,
devem ser censurados e punidos reflete apenas a interpretação dos
acontecimentos relatados pelos envolvidos, mas nem sempre é a ver-
dade (MANNÉ, 2008). Para Bert Hellinger (2016), após a consuma-
ção do ato que prejudicou a vítima, surge nesta o desejo de causar um
mal ao agressor, ou seja, o inocente também planeja maldade.

Entre agressor e vítima existe a necessidade de compen-


sação, inclusive para garantir que a sensação de justiça
aconteça. Essa troca entre dar e receber, ou seja, entre
culpa ou dívida e inocência é satisfativa quando um está
na boa culpa e o outro na boa inocência, com isso pode-se
encerrar a relação (HELLINGER, 2016, p.23).

30 “A expressão emaranhamento significa o envolvimento emocional de uma pessoa


na vida de outro membro de sua família ou de seu grupo social” (LIEBERMEISTER,
2013, p.15).

136
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

Todavia, no transcorrer do século XIX, a preocupação deixou


de ser o poder punitivo ou ius puniendi estatal e suas discriciona-
riedades, para se concentrar na defesa social em face do crime e
criminoso, surgindo várias escolas voltadas a estudar o delito e o
autor do ato ilícito (GONÇALVES; ESTEFAM, 2014).
No contexto atual, compreender os motivos que geraram o
crime não é o único interesse. Hoje, a forma como as instituições
estão desenvolvendo suas atividades com relação ao criminoso e a
busca de modelos de controle social e de políticas criminais torna-
ram-se mais importantes (GONÇALVES; ESTEFAM, 2014).
Quando alguém pratica um crime, pode-se dizer que essa pes-
soa seguiu os passos de um terceiro pertencente ao seu sistema,
que, ao cometer um delito, foi excluído do seio familiar, sendo es-
quecido por todos. Com isso, por identificação com este, repete,
inconscientemente, um comportamento oriundo de um emara-
nhado que não foi desfeito. Isso ocorre porque, quando um grupo
exclui ou expulsa um membro, a consciência grupal faz com que
um outro familiar ocupe o lugar do excluído (HELLINGER, 2016).
Bert apresenta, em um contexto histórico, que, na época do
holocausto, muitas pessoas foram mortas e os seus perpetradores
foram excluídos dos seus sistemas de origem, fazendo com que
despertasse em um membro da sua família uma energia assassina,
cujo motivo ela própria desconhece. Dessa forma, a energia do
criminoso esquecido é repassada de geração em geração até que
ele receba um lugar no sistema, com isso, evita-se que o futuro
descendente repita o seu ato (HELLINGER, 2013).
Para a percepção sistêmica, o criminoso precisa ser acolhido
para que possa mudar; assim, essa postura necessita estar acima da
moral tradicional. Bert Hellinger exemplifica (2013):

Quando alguém diz: “Esses perversos devem ser rejeita-


dos, eles merecem cadeia”, ele próprio se torna um per-

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Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
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petrador. Quem os rejeita tem os mesmos sentimentos


assassinos que lhe atribui. Enquanto encontrarmos essa
distinção moral entre bons e maus, não poderemos ajudar.
É preciso reconhecer que um perpetrador também é um
ser humano como nós (HELLINGER, 2013, p. 47-48).

Do outro lado do cenário criminal, está a vítima. Como citado


anteriormente, antes da criação do Estado, predominava a vingan-
ça privada. Sistemicamente, pode-se afirmar que, nesse período, a
vítima fazia parte do sistema penal, existindo o respeito à lei do per-
tencimento. Ela gozava de posição de destaque dentro do conflito
decorrente do crime, cabendo-lhe decidir a sanção a ser aplicada.
Todavia, com a evolução social, o titular da persecutio criminis
passou a ser o Estado; com isso, a vítima foi delegada a um con-
texto secundário dentro da ação penal. Ademais, a lei do perten-
cimento também não é respeitada pelo preceito processual penal,
pois, pelos motivos já relatados acima, a vítima é excluída do ce-
nário, contexto que será apresentado logo a seguir.
Bert Hellinger relata que conduziu uma constelação, em Israel,
que tratou da questão do assassinato do pai de sua cliente, o qual
foi morto por um árabe. A constelação mostrou que, ao se dar
um bom lugar para a vítima e agressor, nenhum descendente de
ambos os sistemas precisam se identificar (HELLINGER, 2013).
Foram inseridas na constelação representantes para o pai e foi coloca-
do um representante para o criminoso, que foi posicionado em frente
à vítima já morta. Inicialmente, os movimentos mostraram que o as-
sassino recuou com medo, depois os dois se olharam, aproximaram-se
lentamente e se abraçaram. Logo depois a vítima se estendeu no chão
e o árabe se deitou ao seu lado, ou seja, na morte houve reconciliação
entre os envolvidos. Com isso, vítima e agressor foram vistos de am-
bos os lados. Para a filha da vítima ficou claro que, a partir daquele
momento, ela estava livre de qualquer movimento de identificação
com o pai morto (HELLINGER, 2013, p. 54).

138
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

Assim, romper com o destino de culpa ou abandono fortalece


o sistema das partes, haja vista que impede que outro membro da
família, por força do campo de energia do sistema, repita o seu pa-
drão. Portanto, os efeitos das constelações familiares reverberam
em todo campo, no nível individual e coletivo.
No âmbito penal, a aplicação da abordagem sistêmica, por meio
da dinâmica das constelações familiares, objetiva proporcionar às
partes envolvidas, seja agressor, vítima (pessoa ou Estado) ou so-
ciedade, a oportunidade de trazer à luz ou mover do inconsciente
para a consciência a verdade dos fatos.
Desta feita, as constelações familiares buscam saber o que de
fato ocorreu, sem julgamento algum. Portanto, perpetrador e víti-
ma, após o despertar de consciência, são convidados a assumirem
a uma nova postura e suas respectivas responsabilidades.

4.3.4 Função Social da Pena versus Função


Sistêmica da pena
De forma resumida, pode-se afirmar que pena é espécie do
gênero sanção penal. Para Guilherme de Souza Nucci, a pena é
necessária para a sobrevivência do homem em sociedade e sua
aplicação ao criminoso significa a retribuição pela prática do de-
lito, além de prevenir que outras infrações sejam cometidas pelo
mesmo condenado ou por diversas pessoas (NUCCI, 2006).
Inicialmente, a pena visava retribuir ao agressor o mal por ele
causado. Contudo, com o tempo, a pena deixou de ser apenas um
instrumento para garantir o bem-estar social e adotou a postura de
prevenir futuros danos. Essa postura foi acolhida pela Lei 7.210 de
1984, Lei de Execução Penal, em seu art. 10, caput “A assistência
ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o
crime e orientar o retorno à convivência em sociedade”.

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
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De acordo com a função social atribuída à pena, não basta


retribuir, faz-se necessário atender aos anseios sociais, baseados
na tutela dos bens jurídicos, imprescindíveis ao equilíbrio e ao de-
senvolvimento do indivíduo e da coletividade, além de combater a
impunidade e dar condições de recuperação aos condenados vol-
tarem ao convívio social (MASSON, 2014).
O cumprimento da pena é muito importante e necessário para
o perpetrador. A aplicação das constelações sistêmicas no âmbito
penal não objetiva afastar a penalidade, ao contrário, a compensa-
ção é imprescindível para o equilíbrio do dar e receber dentro da
relação criminal, pois todo erro gera, em algum momento, punição
e reparação dentro do sistema familiar do agressor.
Para Bert, a verdadeira solução acontece quando se coloca
frente a frente ofendido e perpetrador, para que eles se olhem
nos olhos. Caso isso não seja feito, a pena, ao invés de garan-
tir o equilíbrio entre os envolvidos no meio social, transfor-
mar-se-á em instrumento de expiação (castigo ou penitência)
(HELLINGER, 2013).
Porém, a sociedade se satisfaz com a expiação dos criminosos,
simbolizada pela punição dos delitos por eles praticados. Nessa
hipótese, a lei do equilíbrio não é respeitada e, mesmo que o per-
petrador cumpra dez anos da pena, de nada adiantará, porque a
verdadeira compensação ocorrerá com o encontro entre o agressor
e a pessoa da vítima (HELLINGER, 2013).
Dessa forma, ao invés de saciar a sociedade com a simples ex-
piação do perpetrador, a função sistêmica da pena, por meio da di-
nâmica das constelações familiares e com base nas leis sistêmicas,
possibilita aos envolvidos no crime, seja agressor ou vítima (pessoa
ou Estado), a oportunidade de entender, de forma mais profunda,
as motivações do delito e as responsabilidades de cada um, trazen-
do à luz ou movendo do inconsciente para a consciência a verdade
dos fatos. Com isso, as partes podem assumir uma nova postura e

140
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

seguirem seus caminhos em paz e ordem. Nesse sentido, Márcia


Sarubbi e Fabiano Oldoni, entendem que:

[...] a constelação pode auxiliar que a pena ocorra com


menos percalços e desvios, onde o preso, aceitando a
punição estatal, já que prevista em lei e fixada por uma
autoridade competente, entenda o seu papel no mundo e
em seu grupo familiar e social, assuma a responsabilida-
de pelo crime, identifique as questões ocultas e quebre o
ciclo de repetição de padrões (OLDONI; LIPPMANN;
GIRARDI, 2017, p. 132).

Portanto, quando vítima e agressor compreendem melhor o seu


papel, assumem o controle sobre seus comportamentos e atitudes.
Destarte, as partes são libertas, o que gera paz e equilíbrio para
todo o sistema familiar e impede que gerações futuras paguem
pelo erro por elas cometido.

4.3.5 Sistema Penal Processual e o Direito


de Pertencer
Na concepção de Guilherme de Souza Nucci, ação penal “é o di-
reito do Estado-acusação ou do ofendido de ingressar em juízo, solici-
tando a prestação jurisdicional, representada pela aplicação das nor-
mas de direito penal ao caso concreto” (NUCCI, 2006, p. 194-195).
Nos moldes do artigo 100 do Código Penal Brasileiro, resta
evidente que no polo ativo figura, como titular da ação públi-
ca incondicionada, o Estado. Assim, no silêncio da lei, a ação
pública é a regra, como, por exemplo, é a ação cabível nos cri-
mes de associação criminosa (art.288); peculato (art. 312); roubo
(art. 157); homicídio doloso (art. 121), entre outros (ESTEFAM;
GONÇALVES, 2014).

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Dessa forma, o titular da persecutio criminis passou a ser o Es-


tado e a vítima saiu de uma posição de destaque para um contex-
to secundário dentro da seara penal. Assim, nos primórdios do
Direito Penal brasileiro, a vítima conheceu o que se denominava
a Idade de Ouro, na qual o sujeito passivo, além de ter a satisfa-
ção pessoal, decidia pela melhor solução para o próprio proble-
ma. Mas, atualmente, prevalece o abandono da vítima, que é
excluída do sistema penal, tornando-se esquecida pelo Estado,
que se sub-roga em seu papel.
De acordo com Antonio García-Pablos de Molina e Luiz Flávio
Gomes, essa neutralização da vítima dentro do contexto processu-
al acarreta várias consequências negativas, dentre elas:

O infrator, de um lado, considera que seu único interlo-


cutor é o sistema legal e que só frente a ele é que contrai
responsabilidades. E esquece para sempre de sua “vítima”.
Esta, de outro lado, se sente maltratada pelo sistema le-
gal: percebe o formalismo jurídico, sua criptolinguagem e
suas decisões como uma imerecida agressão (vitimização
secundária), fruto da insensibilidade, do desinteresse e do
espírito burocrático daquele. Tem a impressão, nem sem-
pre infundada, de atuar como mero pretexto da investiga-
ção processual, isto é, como objeto e não como sujeito de
direitos” (MOLINA; GOMES, 2002, p.70).

Todavia, o sistema processual penal, ao priorizar o Estado em


detrimento da vítima, que foi a real pessoa lesada e que veio antes,
desrespeita a lei da hierarquia. Essa ordem em desequilíbrio oca-
siona na vítima danos psíquicos, sociais, físicos e, principalmente,
gera emaranhado em seu sistema familiar, já que ela não ocupa
o seu verdadeiro lugar e não é honrada. Para Márcia Sarubbi e
Fabiano Oldoni, o Estado retira dos particulares o ius puniendi, ou
seja, usurpa o direito de punição:

142
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

Nesse caso, a hierarquia, não se observa, posto que os en-


volvidos direto no conflito, os que tem maiores interesses
em resolver e de que forma melhor solucionar não partici-
pam frente a frente do processo (OLDONI; LIPPMANN;
GIRARDI, 2017, p. 132).

No entanto, não apenas a vítima é excluída, o agressor tam-


bém, haja vista ser este renegado pela sociedade, pelo poder estatal
e, em inúmeros casos, pela própria família. Porém, como já expla-
nado no capítulo 2, o sistema familiar de qualquer indivíduo tem
consciência. Para Bert Hellinger, “todos os membros são ligados
entre si como comunidade do destino31, em que a sina funesta de
um membro afeta todos os demais e os leva a querer partilhá-lo
com ele” (HELLINGER, 2016, p. 99).
A exclusão, seja da vítima seja do agressor, é um dos principais
fatores de aumento da criminalidade através da ótica sistêmica. Por-
tanto, o sistema da vítima deve acolher o agressor, e o sistema deste,
por sua vez, deve incluir a vítima, caso contrário, ao serem elimina-
dos ou esquecidos, futuramente, por força da consciência coletiva,
ambos serão representados nos sistemas (HELLINGER, 2009).
Outro ponto que agrava a exclusão do perpetrador é o sistema
penitenciário brasileiro, que não efetiva medidas para garantir a
função social da pena, como forma de reeducar, ressocializar e re-
adaptar o criminoso ao meio social. O que se verifica é um sistema
de tratamento repressivo aos sentenciados, gerando o isolamento e
o acúmulo de males psíquicos, emocionais e sociais. Sobre o desvio
de finalidade da pena privativa de liberdade, Laertes de Machado
(2000) explana que:

31 Destino é aquilo que sem saber o motivo uma pessoa segue. Quando se olha com
exatidão, percebe-se que o destino é determinado por uma consciência coletiva
inconsciente que atua nas famílias (HELLINGER, 2016, p.66).

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
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A esperança inicial de que a pena de privação de liberdade


poderia se constituir em fórmula correta de ressocializa-
ção do desviante hoje se resume ao evidente pessimismo,
diante do fracasso dos sistemas e estabelecimentos peni-
tenciários onde seriam cumpridas as penas institucionais
(MACHADO, 2000, p. 35).

Todavia, para colaborar na mudança do cenário do sistema pe-


nitenciário brasileiro, alguns estados do país, movidos pelos prin-
cípios da humanização e da dignidade da pessoa humana, visando
garantir a função social da pena, possibilitaram a aplicação da di-
nâmica das constelações familiares junto aos presos. Destacam-se
o trabalho feito por Marcelo Pelizzoli, que utiliza a técnica dentro
de presídios de Pernambuco; o projeto Casa do Albergado Irmão
Uliano e do Hospital de Custódia em Florianópolis; e o projeto
Olhares e Fazeres Sistêmicos em Fortaleza.
Marcelo Pelizzoli, professor da Universidade Federal de Per-
nambuco e coordenador do Núcleo de Justiça Restaurativa do
Estado, foi um dos primeiros a utilizar as constelações em unida-
des prisionais e, há mais de oito anos, está fazendo trabalhos com
presos. Ele entende que:

É um trabalho terapêutico que atua junto às imagens e


emoções que temos dentro de nós, que são determinadas
pelos acontecimentos dolorosos, traumáticos, amorosos
ou marcantes do sistema familiar e que atuam em nos-
sas vidas presentes sem que saibamos. Então se abre a
constelação do problema da pessoa em um set específico
(TEIXEIRA, 2016).

Em setembro de 2017, o projeto Casa do Albergado Irmão


Uliano e do Hospital de Custódia, idealizado por Márcia Sarubbi
e Fabiano Oldoni, inseriu as constelações familiares junto aos

144
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

detentos com idade entre 20 e 50 anos, com sessões individu-


ais. Na percepção de Márcia Sarubbi, uma das responsáveis pelo
projeto e facilitadora das sessões de constelação familiar: “Até o
presente momento, em relação aos que aplicamos na dinâmica
da constelação e que foram para a rua, nenhum deles voltou a
delinquir e todos relatam melhora nas relações com os familia-
res” (OTONI, 2018).
No estado do Ceará, no projeto Olhares e Fazeres Sistêmicos32,
em parceria com a Secretaria de Justiça e Cidadania (SEJUS), com
a participação de consteladores voluntários, foram aplicadas as di-
nâmicas das constelações familiares em 47 detentos. A primeira
experiência ocorreu dezembro de 2017, junto a 33 homens autores
de violência doméstica, e em dezembro de 2017, em 13 mulheres
que haviam cometido crimes contra os filhos e que por isso eram
excluídas pelas demais dentro da unidade prisional.
Portanto, são experiências como as demonstradas acima que
estimulam as partes a tomarem consciência de seus contextos fa-
miliares. Ademais, despertam o desejo de perdoar e de pedir per-
dão. Quando o agressor, movido pela dor de ter gerado um mal
ao ofendido, solicita o perdão, faz com que a vítima esqueça mais
rápida o erro e a injustiça. Dessa maneira, as partes podem re-
começar, sem retornar ao que aconteceu, e ambas permanecem
iguais (HELLINGER, 2013).
Destarte, para que o Estado cumpra o seu papel de proteger a
sociedade e garantir o seu bem-estar, é importante a inclusão de
todos os envolvidos, independentemente da gravidade do crime,

32 CEARÁ. Presídio feminino é segunda unidade receber prática de constelação


familiar. Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado do Ceará. Publicado em:
10 jan. 2018. Disponível em: <http://www.sejus.ce.gov.br/2018/01/10/presidio-
feminino-e-segunda-unidade-receber-pratica-de-constelacao-familiar/>. Acesso
em: 15 maio 2018.

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dando a eles a possibilidade de serem verdadeiramente vistos e


ouvidos, e, com isso, proporcionar a paz.
Ademais, a aplicação da abordagem sistêmica também se ade-
qua aos crimes de menor complexidade, acolhidos pela Lei 9.099
de 1995, a conhecida Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais.

4.3.6 Juizados Especiais e Leis Sistêmicas


Na seara penal, os Juizados Especiais (Lei n.º 9.099/95) tratam
dos crimes de menor potencial ofensivo, que são as contravenções
penais e os crimes com pena máxima não superior a 2 (dois) anos,
cumulada ou não com multa. Contudo, assim como os crimes de
maior gravidade, esses também podem ser regidos pela função sis-
têmica da pena.
Partindo dessa premissa, diferentemente do procedimento pe-
nal comum, nos juizados especiais, não existe prisão privativa de
liberdade. Um dos principais objetivos é a reparação dos danos à
vítima, o que demonstra a importância de incluí-la ao sistema.
Ademais, a não exclusão social do autor da infração comunga em
afinidade com o que impera na lei do pertencimento.
É oportunizada ao autor do fato e à vítima uma audiência pre-
liminar, momento no qual as partes poderão conversar, apresentar
as suas propostas e tentar um acordo. Nesse ato, existe o desejo
de compensação, ou seja, o dar e receber, e como já explanado
anteriormente, o equilíbrio ocorre quando as partes são colocadas
frente a frente e se olham com verdade.
Deve-se destacar que a vítima não é mera testemunha, como
no procedimento processual comum. Nesse contexto, ela verda-
deiramente ocupa o seu lugar no processo, ou seja, a sua vontade
tem prioridade sobre a do Estado, o que caminha de acordo com
a lei da hierarquia.

146
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

Ademais, assim como já acontece em alguns tribunais do país,


que utilizam as dinâmicas das constelações familiares antes das
audiências de mediação e conciliação, as partes dos conflitos cri-
minais dos Juizados Especiais também poderiam passar por uma
vivência coletiva de constelações.
Portanto, conclui-se que os emaranhados criminais contem-
porâneos consistem em conflitos humanos, independentemente
da gravidade do delito, tendo, como base, as relações interpes-
soais existentes.
A constelação familiar aplicada a essas lides representa um
convite aos envolvidos no crime a olharem para as controvérsias
da vida com mais profundidade, além de ser uma oportunidade
para estes desenvolverem mudanças comportamentais, compre-
enderem que integram um sistema familiar, o qual precisa ser
visto e ordenado. Assim, o equilíbrio e a paz prevalecerão nas
famílias e, consequentemente, na sociedade, evitando o aumento
de vítimas e agressores.

4.4 No Estatuto da Criança e do Adolescente


No Brasil, muitas legislações foram criadas e implantadas com
o objetivo de conter o avanço da criminalidade infantil,entretan-
to, cada uma à sua época, foi se mostrando ineficaz. Em decorrên-
cia da ausência da distinção entre a fase adulta e a infância, foi
negado, durante muitos anos, lugar e tratamento adequados para o
menor, até que, em 13 de julho de 1990, foi promulgado o Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA), Lei Complementar Federal
n.º 8069, que revogou o Código de Menores de 1979.
Destarte, conforme definição estabelecida no artigo 2º do
dispositivo legal, é considerado criança o menor de até doze anos
incompletos e adolescente aquele entre doze anos completos e

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dezoito anos, garantindo a todos tratamento legal e social dife-


renciado. Em seu parágrafo único, acrescenta-se que, excepcio-
nalmente, aplica-se o Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e
um anos de idade.
O ECA foi criado como Lei Complementar com o escopo
de regular os dispositivos referentes à proteção da infância e da
juventude presentes na Constituição Federal de 1988 e de as-
segurar sua real efetivação, passando a reconhecer a criança e
o adolescente como sujeitos de direitos e deveres e ressaltando
os deveres da sociedade, do Estado e da família para com eles.
Segundo Maciel (2018),

O Estatuto da Criança e do Adolescente é um sistema


aberto de regras e princípios. As regras nos fornecem a
segurança necessária para delimitarmos a conduta. Os
princípios expressam valores relevantes e fundamentam
as regras, exercendo uma função de integração sistêmica
(MACIEL, 2018, p. 19).

Em relação à sua estrutura, o ECA divide-se em duas partes:


o primeiro Livro dedica-se às políticas públicas e à proteção dos
direitos fundamentais da criança e do adolescente e o segundo
descreve os órgãos e as medidas socioeducativas. Diferentemente
do Código Penal Brasileiro, que considera inimputável o menor
que pratica crime ou contravenção penal, o Estatuto prevê puni-
ção para tais práticas, as quais denomina de ato infracional.
Os artigos presentes no Estatuto determinam, ainda, situações
nas quais tanto o menor quanto seu responsável devem ser esti-
mulados a modificarem suas atitudes, sendo impostas sanções por
parte das autoridades competentes, as chamadas medidas socioe-
ducativas, que podem ser: advertência, prestação de serviços à co-
munidade, liberdade assistida, obrigação de reparar o dano, inser-
ção em regime de semiliberdade e internação em estabelecimento

148
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

educacional. Assim, para cada ato infracional praticado por um


menor, haverá uma medida socioeducativa correspondente.
Ressalta-se que a internação em estabelecimento prisional faz
referência à medida privativa da liberdade, sendo, portanto, apli-
cada de forma excepcional. Acrescenta-se ainda que o limite má-
ximo para essa internação jamais ultrapassará três anos, devendo
o menor ser liberado e colocado em regime de semiliberdade ou
de liberdade assistida. Ademais, atingidos os vinte e um anos de
idade, sua liberação será compulsória.
Por sua vez, a Lei n.º 12.594/12 instituiu o Sistema Nacional de
Atendimento Socioeducativo (SINASE), em que estão contidas as
medidas socioeducativas aplicadas,o qual prevê, em seu artigo 35,
incisos II e III, a possibilidade da autocomposição e da justiça res-
taurativa como técnicas a serem utilizadas, dentre as quais podem
ser incluídas as Constelações Sistêmicas, com a finalidade de pos-
sibilitar aos menores compreenderem os motivos que os levaram a
praticar o ato infracional bem como desemaranharem seu sistema
e evitarem a repetição do padrão de condutas violentas.
Ao aplicar as Leis Sistêmicas bem como as Constelações junto
à situação concreta desses menores infratores, sejam eles crianças
ou adolescentes, objetiva-se proporcionar melhoria para a vida de-
les. Busca-se, muitas vezes, quebrar padrões de fidelidade ou honra
ao sistema e, ainda, despertar um bom olhar para a situação vivi-
da, ressignificando-a e possibilitando empoderamento ao menor e
a todo seu sistema.
Ainda de acordo com as Leis Sistêmicas, uma injustiça come-
tida em gerações anteriores será representada e sofrida por algum
membro da família até que a ordem do sistema seja restabelecida,
razão pela qual se faz necessário tratar a violência apresentada pelo
menor de forma diferenciada e mais humana, visando às sanções
como uma forma de auxílio, e não apenas como uma punição.

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

Já na fase de execução das medidas socioeducativas, as Cons-


telações têm o condão de auxiliar o menor a aceitar a punição
estatal, entender o seu papel no mundo, reconhecer o seu lugar
dentro do seu sistema familiar e identificar as questões ocultas,
possibilitando a autorresponsabilização e a quebra do ciclo de re-
petição de padrão, o que refletiria diretamente na diminuição do
índice de reincidência.
Dentro do contexto abordado, segue o caso de Constelação
ocorrido na Vara do juiz Yulli Roter, em Alagoas, que “[...] deu iní-
cio à utilização da técnica das constelações familiares em um caso
de ato infracional cometido por um adolescente: um estupro de
uma criança de quatro anos. Durante a dinâmica, foi revelado que
o adolescente infrator também havia sido vítima de abuso quando
criança" (CNJ, 2018).
Com o presente caso, torna-se notória a repetição de padrão
aqui já abordada. A constelação acontece nesse momento não com
o objetivo de alterar o que já aconteceu, até porque isso é impossí-
vel, mas vem viabilizar a tomada de consciência do ato praticado,
podendo, assim, auxiliar o menor infrator a romper esse padrão
que anteriormente seguia, ainda, que de forma inconsciente.

4.5 No Direito Empresarial e Direito do Trabalho


Como visto, as Constelações Familiares foram adotadas, se-
gundo Schneider (2007), como um método universal, capaz de re-
presentar processos sistêmicos, de sorte que atualmente podem ser
constelados todos os domínios que envolvem relações humanas,
encontrando-se consolidada, inclusive, a constelação de estrutu-
ras como equipes e organizações.
A ideia de adaptar o método terapêutico desenvolvido por
Hellinger para o âmbito organizacional foi de iniciativa de Klaus

150
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

Grochowiak e seu aluno Peter Klein no ano de 1995. O método


sistêmico-fenomenológico desenvolvido por Bert Hellinger é capaz
de oferecer diversas vantagens para os profissionais da área orga-
nizacional, dentre as quais a ampliação e o aprofundamento das
dinâmicas existentes nas organizações, que costumam se desen-
volver de forma inconsciente, promovendo a mobilização ou a pa-
ralisação dos indivíduos (GROCHOWIAK; CASTELLA, 2007).
Grochowiak e Castella (2007) afirmam que teoria das Cons-
telações Familiares decorre, primordialmente, do fato de os seres
humanos encontrarem-se inseridos em sistemas, formando asso-
ciações de diversos tamanhos, dentre os quais podem ser citados:
família, casamento, partidos políticos, associações culturais,os
quais possuem finalidades diversas, que implicam diferenças na
forma de interação entre seus membros. Essa forma peculiar de
agir característica de cada agrupamento possibilita que estes sejam
considerados sistemas do ponto de vista estrutural.
Em relação ao sistema familiar, Hellinger (2010) estabelece três
leis, ou Ordens do Amor, que devem ser seguidas e respeitadas
para que os seus membros, bem como o sistema como um todo,
desenvolvam-se de forma saudável e sem complicações. São elas a
Lei do Pertencimento (ou vínculo), a Lei da Hierarquia (ou ordem)
e a Lei do Equilíbrio (entre o dar e o tomar), já exploradas no tó-
pico sobre Leis Sistêmicas.
Importa notar que as três leis mencionadas servem, segundo
Hellinger, como parâmetro central que governa todas as interações
que ocorrem dentro do sistema familiar. Segundo Grochowiak e
Castella (2007),

[...] o total da comunicação e da interação interfamiliar


pode ser, no conceito de Hellinger, completamente des-
crito no âmbito dessa tríade: todas as interações poderão
ser atribuídas a uma das três, a duas das três áreas em

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
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diferentes variantes ou a todas as três ao mesmo tempo;


tudo o que acontece em famílias pode ser visto como ex-
pressão e realização de dinâmicas sistêmicas de ordem,
vínculo e/ou compensação.(GROCHOWIAK E CAS-
TELLA, 2007, p.33)

Apesar de também serem consideradas sistemas, as empre-


sas não são famílias, o que requer a adaptação das Ordens do
Amor, desenvolvidas primordialmente para o contexto familiar,
ao contexto de relações diferentes estabelecidas nas organizações.
Apesar disso, Grochowiak e Castella (2007) perceberam que as
dinâmicas fundamentais decorrentes das Leis desenvolvidas por
Hellinger aplicam-se analogamente aos sistemas organizacionais.
“A diferença, portanto, não se refere ao fato de que a ordem, o
vínculo e a compensação sejam parâmetros de sistemas relevantes
também em sistemas empresariais, mas somente ao fato de como
isso acontece” (GROCHOWIAK; CASTELLA, 2007, p. 38).
Ainda segundo os mesmos autores, as principais diferenças
existentes entre os sistemas familiares e os sistemas empresariais
derivam de dois aspectos principais: que as empresas possuem um
objetivo determinado e que a pertinência de um indivíduo no sis-
tema pode ser iniciada e encerrada a qualquer momento. São esses
aspectos que influenciam diretamente na forma como as Ordens
do Amor passam a ser interpretadas no contexto das organizações.
Desse modo, a Lei do Pertencimento também aplica-se às em-
presas, embora com algumas modificações. Isso ocorre porque o
direito ao pertencimento não pode ser negado nem quantificado
(ninguém tem mais direito de pertencer ao sistema) para que pos-
sa haver o equilíbrio no sistema empresarial. Stam (2012) afirma
que não somente os trabalhadores de uma empresa têm direito ao
pertencimento, mas também todas as pessoas que foram impor-
tantes para a história da organização.

152
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

No entanto, o direito ao pertencimento, neste caso, é relati-


vo, haja vista que o indivíduo possui um momento determinado
de entrada na organização, deixando de pertencer no momento
que deixa o sistema. Diferentemente do que ocorre nos sistemas
familiares, não existe um direito inato de pertencimento, e aquele
que faz parte da organização tem o direito ilimitado de fazer parte
apenas enquanto encontra-se nesse sistema (GROCHOWIAK;
CASTELLA, 2007).
No tocante à Lei da Hierarquia, Hellinger (2010) afirma
que cada grupo possui uma hierarquia particular, com base no
momento em que o indivíduo passou a fazer parte do sistema.
Assim sendo, aquele que entrou primeiro no sistema tem pre-
cedência sobre aquele que chegou depois, no que diz respeito
às famílias e também às organizações. Todavia, nestas últimas,
além da ordem de origem, existe também uma hierarquia refe-
rente à função e ao desempenho.

Numa clínica, por exemplo, o administrador está do lado


do chefe, pois é sua mão direita. A função do chefe e da
administração fornece base para toda a organização. Só
depois vêm os médicos, apesar de constituírem o grupo
mais importante, do ponto de vista da finalidade da clí-
nica [...]. Portanto, o segundo grupo mais importante é
constituído pelos médicos. Seguem-se as enfermeiras, no-
vamente como um grupo próprio, e depois o pessoal auxi-
liar, por exemplo [...]. Entre esses grupos existe portanto
uma hierarquia, de acordo com a sua função. De forma
semelhante, em um escritório de advocacia encontra-se
presente uma hierarquia quanto às funções exercidas que
precisa ser honrada e respeitada. Os sócios ou sócio fun-
dador (que podem inclusive não se encontrar mais presen-
tes), e que representam a base da estrutura; seguidos dos
advogados associados que, em conjunto com o(s) advoga-

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do(s) fundador(es), constituem o grupo mais importante


em relação à finalidade. Estes contam com o apoio de
secretárias ou secretários, responsáveis pela recepção de
clientes e aspectos administrativos, bem como os estagiá-
rios, que também formam grupo próprio na hierarquia do
escritório (HELLINGER, 2010, p. 28).

Pode-se aduzir, por conseguinte, que existem, no tocante à


hierarquia, duas ordens: uma quanto à origem e outra quanto à
função. No entanto, importa notar que, quando um profissional
entra na empresa por último, passa a ocupar esta posição, mesmo
que exerça um cargo de chefia. Isso significa, segundo Hellinger
(2010), que o novo chefe precisa exercer sua atividade como se
fosse o último, adotando uma postura de honra e respeito a todos
os que já pertenciam ao sistema.
Outro aspecto relevante, ainda sobre o mesmo tema, diz res-
peito à ordem de origem entre grupos ou departamentos, de forma
que, quando é criado um novo departamento em uma empresa,
este passa a ocupar o último lugar em relação aos preexistentes,
a menos que se encontre subordinado a outro departamento já
existente (GROCHOWIAK; CASTELLA, 2007).
Quanto à Lei do Equilíbrio, ela pode ser aplicada de forma
análoga às organizações. A dinâmica, que busca manter equili-
brada a equação sistêmica do dar e receber entre os indivíduos de
um sistema, agindo na forma de compensações, em que algum ou
alguns indivíduos assumem a posição de membros excluídos ou
assumindo dívidas existentes dentro do sistema, ocorre também
de forma semelhante. Tem-se que:

Se a empresa, por exemplo, tornou-se rica à custa da saú-


de de outros, então se torna devedora desses. Depois ha-
verá, então, pessoas nesse sistema que sofrerão por causa
da dívida antiga ou tentarão assumir essa dívida para

154
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

que o equilíbrio entre o dar e o receber seja restaurado.


Eles fazem isso sem que eles próprios saibam algo sobre
a dívida e sem que sejam conscientes disso. Inconscien-
temente pagam até mesmo com sua própria saúde e, des-
sa forma, são solidários com as vítimas de antigamente
que para eles são, na maioria das vezes, desconhecidas
(STAM, 2012, p.21).

Lacerda (2017) aponta que a Lei do Equilíbrio pode ser com-


preendida também por meio da distribuição ou remuneração
bem como da responsabilidade assumida pelos membros de uma
organização, de modo que deve ser analisado se o retorno finan-
ceiro é adequado a cada empregado, com base em seu nível de
atribuições e responsabilidades. A autora aponta, inclusive, que
privilégios na forma de incentivos verbais e não verbais (inves-
timentos na forma de cursos ou sanções, por exemplo) direcio-
nados individualmente ou a um grupo de funcionários de forma
indevida, em demasia ou de forma deficiente, pode gerar dese-
quilíbrios no sistema organizacional.
Por fim, ainda dentre as diferenças relativas à aplicação da
teoria de Hellinger nos sistemas organizacionais, Grochowiak e
Castella (2007) fazem referência à Lei do Número Inteiro, que re-
presenta uma condição substancial que o autor alemão elaborou
para que os relacionamentos de um sistema familiar sejam bem
sucedidos, pois, em contraposição ao que ocorre nos sistemas fa-
miliares, dependendo do tamanho da organização, não é possível
que cada colaborador tenha ciência do pertencimento de todos os
seus componentes e, consequentemente, dar-lhes seu devido lugar
em sua percepção de empresa.
A seguir, apresenta-se um caso concernente a assédio mo-
ral tramitando junto à Justiça do Trabalho do Estado do Ceará,
conforme informações disponibilizadas por uma das advogadas

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responsáveis pela ação. De acordo com o narrado, o reclamante


trabalha em um banco na cidade de Juazeiro do Norte, havendo
apresentado laudos atestando sintomas dentre os quais: síndrome
do pânico, ansiedade e depressão. Os diversos sintomas seriam
possivelmente decorrentes de bullying e perseguições sofridas por
colegas e superiores no ambiente de trabalho.
Foi sugerida pela advogada em questão a realização de uma
constelação abordando o tema do processo. A consteladora deci-
diu que fossem trabalhados o cliente e o sintoma. O representante
do sintoma se personificou em um personagem raivoso, de postura
rígida, enquanto que o representante do cliente assumiu postura
submissa, fraca, olhando para o chão.
Foram, então, dispostos representantes para os pais do clien-
te, sendo percebido um vínculo muito grande deste especialmente
com a representante de sua mãe. Esse personagem sentiu uma co-
brança muito grande em relação à mãe para agir com perfeição, de
modo que, quanto mais ele se identificava com sua criança, mais
forte se sentia o representante do sintoma.
O representante do cliente, orientado pela consteladora, ex-
pressou em frases sistêmicas sua gratidão pelo amor e cuidado ofer-
tados por sua mãe, passando a expressar a necessidade de assumir
o seu lugar e autorresponsabilidade, seguidas de frases expressan-
do o peso diante da necessidade de agir com perfeição, pedindo à
sua mãe que o libere para ser uma pessoa imperfeita. A represen-
tante de sua mãe, então, liberou-o e abençoou-o, fazendo com que
o representante do sintoma se sentisse mais calmo.
A consteladora orientou que o cliente assumisse o seu lugar
no campo e se sentasse aos pés dos representantes de seus pais.
Posteriormente, solicitou que se deitasse segurando os pés dos
seus pais para adquirir a força de que precisava. Sendo conduzido
pela consteladora a levantar-se, o cliente apresentou dificulda-
de, sendo necessário que o representante de seus ascendentes

156
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

afirmassem, por meio de frases sistêmicas, que já fizeram o que


podiam e que o cliente deveria agir sozinho a fim de alterar a
situação em que se encontrava.
Após alguns instantes, o cliente começou a se levantar,
sendo então auxiliado pelo representante do sintoma. Por fim,
como encerramento da constelação, cliente e representante do
sintoma se abraçaram.
Percebe-se, portanto, com base no caso descrito que o assédio
moral pode ser percebido de acordo com uma perspectiva mais
ampla, tendo como base emaranhamentos no sistema familiar da
vítima de assédio, em virtude de desobediência às Leis Sistêmicas
desenvolvidas por Bert Hellinger, especialmente quanto às Leis do
Pertencimento e da Hierarquia.
A interrupção no fluxo do Amor referente ao vínculo do clien-
te constelado com sua mãe resulta de seu sentimento de exclusão,
além da incapacidade de ocupar o seu devido lugar em seu sistema
familiar. Ao sentir-se aceito, ao sentir-se parte de seu sistema, pôde
adquirir a força necessária para modificar seu comportamento, as-
sumir sua posição enquanto adulto responsável.
As constelações não só são capazes de trazer à luz elementos
importantes da dinâmica das relações de indivíduo enquanto par-
te do sistema organizacional, mas também de ampliar a discussão
acerca do assédio moral tido apenas como uma disputa pecuniá-
ria, na forma de indenização materializada no litígio processual.
Por fim, as constelações possibilitam, com efeito, que sejam traba-
lhados conflitos existentes, contribuindo para evitar que surjam
novos emaranhamentos.
Para ilustrar a atuação da Lei da Hierarquia no ambiente or-
ganizacional, segue-se um caso constelado e narrado por Bert
Hellinger (2014)..

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Segundo Exemplo: Sócios


Extraído de um curso sobre as Leis do Sucesso, em Moscou, nos dias
20 e 21 de maio de 2009.

HELLINGER Ok, vamos continuar.


Para uma mulher De que tipo de empresa se trata?
MULHER É uma empresa têxtil.
HELLINGER Quantos empregados você tem?
MULHER 500.
HELLINGER Qual o problema no momento?
MULHER Há dificuldades para administrar a empresa.
HELLINGER De quem é a empresa?
MULHER São dois proprietários dois sócios. Minha irmã e eu.
HELLINGER Vocês duas são proprietárias?
MULHER Sim.
HELLINGER Qual de vocês duas é a mais velha?
MULHER Minha irmã é a mais velha. Eu sou a mais nova.
HELLINGER Quem fundou a empresa?
MULHER Eu.
HELLINGER Qual é exatamente a dificuldade?
MULHER Minha irmã e eu somos diferentes e tivemos sérios confli-
tos.
HELLINGER De onde veio o dinheiro para a empresa?
MULHER Em parte, foi dinheiro da minha irmã. A maior parte veio
de mim.
Hellinger escolhe representantes para essa mulher e sua irmã e as co-
loca lado a lado, com a mulher à esquerda de sua irmã. Em seguida,
posiciona diante delas uma representante para a empresa.

158
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

A representante da mulher vai em direção à empresa e esta em direção


a ela. A irmã mais velha se afasta da empresa e da irmã.
HELLINGER para a mulher A quem pertence a empresa quando ve-
mos isso?
MULHER A mim.
HELLINGER A empresa pertence a você, somente a você. Você a
fundou. Ninguém pode passar a ter os mesmos direitos da fundadora.
Trata-se de uma ordem. Pague à sua irmã e toque a empresa sozinha.
Quando ela vai responder Espere um pouco.
De repente a mulher ri alto.
HELLINGER para a representante da irmã Como você se sente aqui?
REPRESENTANTE DA IRMÃ Eu me sinto melhor aqui.
HELLINGER para os representantes Ok, isso é tudo (HELLINGER,
2014, p.56-58).

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5. Advocacia Sistêmica

5.1 Definição de advocacia sistêmica


Por tudo que se apresentou nessa obra até aqui, pode-se perce-
ber que a Teoria das Constelações Sistêmicas aplicada ao Direito
propõe um novo olhar sobre uma Ciência marcada pelo tradicio-
nalismo. Trata-se, portanto, de uma mudança de perspectiva que
alcança diversas áreas desse saber, como se teve a oportunidade de
explanar anteriormente.
Referida mudança de paradigma se espraia para a atuação do
profissional das carreiras jurídicas. Neste capítulo, elegeu-se a ad-
vocacia com a finalidade de descrever como se dá a atuação do
profissional dessa área dentro de uma orientação sistêmica.
Em primeiro lugar, cumpre esboçar o que se compreende por
advocacia sistêmica. Trata-se de proposta que busca superar a atu-
ação linear, reducionista e cartesiana do advogado (SANTOS,
2016). Nessa perspectiva, o papel do profissional vai muito além
do ajuizamento da ação e do acompanhamento do processo judi-
cial. Trata-se da execução de uma função importante no sentido
de imprimir, na prática da Ciência Jurídica, um viés terapêutico,
tal como propõe Sami Storch. Ou seja, o profissional da advocacia
capacitado para atuar sistemicamente será responsável por, atra-
vés de seu acompanhamento, contribuir para que o conflito real
de seu cliente seja trabalhado ao longo do procedimento judicial
ou extrajudicial de resolução de disputa. Tem-se, portanto, uma
advocacia mais humanizada e consensual (CARVALHO, 2018).

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Esse tom é empregado desde o início da condução dos traba-


lhos. Assim, por exemplo, é importante para o exercício da advo-
cacia sistêmica que o profissional se preocupe com a ambiência
externa de seu escritório e com a sua própria ambiência interna.
Dessa forma, no trato com o cliente, esse poderá sentir-se seguro
para relatar as questões que o levaram a procurar um profissional
do Direito. Após a escuta ativa desse relato, por meio da qual se
deve buscar o estabelecimento de conexão com o cliente, o ad-
vogado deve conduzir seus questionamentos a fim de esclarecer e
identificar quais são os sentimentos primários e os secundários do
cliente com relação ao conflito narrado (SOUZA, 2018).
Como se pode perceber, as competências comumente desenvolvi-
das nos cursos de graduação em Direito não atendem às necessidades
da atuação sistêmica do advogado. Assim, faz-se necessária a expan-
são em conhecimentos e atitudes. Sobre essa necessária formação
complementar, bem como sobre outros aspectos relevantes da atuação
sistêmica do profissional, tratarão as seções seguintes deste capítulo.

5.2 Capacitação para atendimento sistêmico


Para o advogado atuar de forma sistêmica, não se faz necessário
aplicar o método da constelação. É possível atuar sistemicamente
em seus atendimentos iniciais e durante o processo sem utilizar
a referida técnica. Ou seja, o advogado sistêmico não precisa ser
constelador, no entanto precisa conhecer e respeitar as leis sistê-
micas de Bert Hellinger (vide capítulo 2).
Além disso, outros requisitos embasarão sua atuação com mais
segurança, tais como: possuir conhecimento sobre a abordagem sis-
têmica33, buscar o autoconhecimento, manter a qualidade de pre-

33 Vide capítulo 1.

162
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

sença, entender a prática da empatia e abster-se de julgamentos. É ne-


cessário enfatizar que essa postura sistêmica se aprende e se exercita.
De modo indireto, desenvolver o conhecimento sobre essas habi-
lidades é dever do advogado, conforme artigo 2º, incisos IV e V,
do Código de Ética da OAB: “empenhar-se, permanentemente, no
aperfeiçoamento pessoal e profissional; e contribuir para o apri-
moramento das instituições, do Direito e das leis”.
Fundamentado nesses conhecimentos transversais, o atendi-
mento sistêmico torna-se mais humanizado. Assim, a consulta se
torna mais agradável, pois o advogado cria um ambiente seguro,
propõe-se a efetivar a escuta ativa, a realizar questionamentos que
provocam autorreflexão do cliente, a praticar a empatia e a desen-
volver posturas sistêmicas.

5.2.1 Autoconhecimento
O advogado deve ser capaz de observar a si mesmo. A maioria
dos profissionais se preocupa exclusivamente em como lidar com
seu cliente e esquece da arte da auto-observação, que se realiza
“olhando para o próprio processo interno, momento a momen-
to, que pode ser chamada de centramento” (LIEBERMEISTER,
2013, p.200). Autoconhecer-se amplia a possibilidade de o profis-
sional se observar e explicar suas características pessoais, como se
fosse fazer uma autodescrição.
Sem dúvida, esse centramento não é tarefa fácil, por isso, mui-
tas pessoas evitam ter esse encontro consigo mesmas. “Os homens
estão sempre fugindo. Fogem de si mesmos, estando sempre fora.
Fora do outro, fora da compaixão, fora do amor. Estando fora de
si mesmos, estarão sempre em conflito. A questão é como poder
reverter isso, pois seu maior conflito é o retorno ao seu interior”
(WARAT, 2001, p.58).

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Conhecer seu próprio interior vai além de refletir sobre si mes-


mo e identificar suas características e personalidade. É mais pro-
fundo e dinâmico. O ser humano não é estático, está sempre em
processo de contínua mudança, o que muitas vezes causa mal estar
em virtude do medo do novo ou do desconhecido. No entanto,
como ensina Luis Alberto Warat, “para nos encontrarmos inte-
riormente é preciso perder-nos, unicamente perdendo-nos dentro
de nós podemos nos encontrar” (WARAT, 2001, p.45).
Conhecer a si mesmo é elemento essencial para o atendimento
sistêmico, pois significa ser capaz de descobrir seus próprios dese-
jos, sentimentos, emoções, motivos, medos, interesses e valores, e,
principalmente, compreender a relação intrínseca que existe entre
eles. Ou seja, é a possibilidade de entender como as emoções e
os impulsos influem seu comportamento e seus objetivos de vida.
Afinal, qual o seu propósito? Qual caminho da advocacia você
quer seguir? Por que você está lendo esse livro agora?
O medo, a insegurança e a ansiedade podem te paralisar. Por
outro lado, quando você integra e aceita sua história passada,
conseguindo relacioná-la ao presente, projetando-a em direção ao
futuro, mas consciente de que a vida somente pode ser vivida no
aqui e agora, torna essa passagem um processo libertador, em que
conquista mais confiança e aceitação por si mesmo. Tudo flui com
mais sentido e facilidade. William Ury acrescenta que:

Talvez o maior obstáculo seja a resistência interna ou a


tendência de dizer não para a vida tal como ela é: la-
mentamos o passado, receamos o futuro e rejeitamos as
circunstâncias atuais. O segredo para continuar no aqui
e agora é superar a resistência interna, aceitar o passado,
confiar no futuro e abraçar o presente como são. A cha-
ve, em outras palavras, é dizer sim à vida. (URY, 2015,
p.76, grifos do autor)

164
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

O advogado que trilha o caminho do autoconhecimento ad-


quire mais habilidades para abordar as questões sem expectativas,
julgamentos ou ideias preconcebidas. Ele possui mais força para
manter-se firme em seus valores e ideais, desenvolvendo uma nova
consciência jurídica e um novo olhar para advocacia, que não é ex-
clusivamente beligerante. Na verdade, entende que litigar e advogar
são coisas diversas. Torna-se capaz de compreender que sua missão
como advogado é representar as partes em juízo, de forma respeito-
sa, ética, pacífica, honrando o sistema ao qual o cliente pertence,
independentemente da obtenção de acordos, possibilitando a ressig-
nificação daquela situação conflituosa em suas vidas.

5.2.2 Qualidade de Presença


Após perceber quais são seus sentimentos, interesses e valores,
é fundamental o advogado se valer da escuta ativa para compre-
ender mais e melhor o seu cliente, que é uma fonte valiosa de in-
formação. André Gomma Azevedo ensina que “ouvir ativamente
significa escutar e entender o que está sendo dito sem se deixar
influenciar por pensamentos judicantes ou que contenham juízos
de valor – ao mesmo tempo deve o ouvinte demonstrar, inclusive
por linguagem corporal, que está prestando atenção ao que está
sendo dito” (AZEVEDO, 2016, p.202).
A arte de bem escutar requer um estado de qualidade de pre-
sença, que “é a qualidade de estar disponível no presente momento
e estar em alerta a tudo o que está acontecendo aqui e agora, sem
se distrair com o conhecimento acumulado, teoria ou pensamento
sobre o passado ou o futuro” (LIEBERMEISTER, 2013, p.197).
A simples utilização da presença é uma forma de afeto que
pode tranquilizar alguém. Pesquisas revelam que a presença de um
familiar querido tem uma particularidade analgésica que acalenta

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os pontos que registram a dor. Destarte, quanto mais presente for a


pessoa diante de alguém que está sentindo dor, maior será o poder
tranquilizador (GOLEMAN, 2014).
Essa qualidade de presença se desdobra em dois tipos de com-
portamentos para o advogado. Em primeiro lugar, representa sua
aptidão para abandonar todos os pensamentos pré-concebidos
que adquiriu durante o percurso profissional com clientes ante-
riores e, principalmente, com suas experiências pessoais. É ser
capaz de observar cada novo cliente de forma pura, entendendo
a questão como se nunca tivesse visto nada parecido antes (LIE-
BERMEISTER, 2013).
Em segundo lugar, significa renunciar qualquer ideia ou plano
previamente arquitetado sobre o que pode ser o melhor para o
cliente. O que é bom para uma pessoa não é algo que o outro
saiba, na verdade, cada pessoa só sabe o que é bom para si mesma,
não para o outro. Com efeito, ninguém pode ser salvo ou protegi-
do por outra pessoa. A intenção de salvar alguém é uma atitude
arrogante, por se achar superior ao outro. Para manter a qualidade
de presença, é preciso repousar em um estado de curiosidade e
investigação aberta, nutrindo um desejo de escutar, conhecer e ex-
perimentar, fundamentado por um comportamento de “não saber”
(LIEBERMEISTER, 2013).
Valorizar o presente momento é um elemento essencial para
a empatia. Significa estar completamente presente para a outra
pessoa e com aquilo que ela está narrando. Essa qualidade de pre-
sença difere-se da empatia e da solidariedade. “Embora possamos
ocasionalmente escolher nos solidarizarmos com os outros ao sen-
tir o que eles sentem, é útil ter consciência de que, no momento
em que estamos oferecendo nossa solidariedade, não estamos ofe-
recendo nossa empatia” (ROSENBERG, 2006, p.137). Afinal, o
que é empatia e como é possível o advogado fazer um atendimento
de forma empática?

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Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

5.2.3 Empatia
Daniel Goleman (2014) denomina de Tríade da Empatia as
três principais formas da capacidade humana de perceber o que
as outras pessoas estão vivenciando, que são a empatia cognitiva,
emocional e preocupação empática.
A empatia cognitiva dá a possibilidade de compreender a pers-
pectiva da outra pessoa, entender seu estado emocional e, simulta-
neamente, gerir as próprias emoções, enquanto avalia as da outra
pessoa, ou seja, torna-o capaz de analisar a forma de pensar do
outro e seguir uma linha de pensamento que o ajuda a eleger uma
comunicação que se encaixe no modelo de compreensão alheio
(GOLEMAN, 2014).
A empatia emocional, por um outro viés, o une à outra pessoa
e o faz sentir junto a ela. Os corpos ressoam quaisquer sentimen-
tos, seja alegria seja tristeza, que a pessoa possa estar sentindo.
Embora essas duas formas auxiliem o advogado a reconhecer o
que o cliente pensa e sente o que está sentindo, isso não necessa-
riamente o conduz a se preocupar com seu bem-estar. A preocu-
pação empática transcende essas duas formas. Ela estimula que o
indivíduo se preocupe com o outro e o mobiliza para auxiliá-lo no
que for necessário (GOLEMAN, 2014).
O atendimento empático exige do profissional um trabalho
de autoconhecimento. Consoante entendimento de Daniel Gole-
man, “a empatia exige um ato de autoconsciência: lemos os outros
ao nos conectarmos com nós mesmos” (GOLEMAN, 2014, p.105).
Com efeito, o atendimento sistêmico, e mais humanizado, ne-
cessita da aliança dos pressupostos acima descritos: autoconheci-
mento, presença e empatia. “Quando um profissional do Direito
também está presente, o cliente sente-se visto e recebido. A pre-
sença estabelece uma base de respeito e confiança entre o profis-
sional e o cliente” (CARVALHO, 2018, p.77).

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Ana Cecilia Bezerra de Aguiar, Ana Siomara de Oliveira Ferreira
Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

Conceituar o termo empatia é tarefa difícil. Sabe-se que vai


além de colocar-se no lugar do outro. “A empatia é a compreensão
respeitosa do que os outros estão vivendo” (ROSENBERG, 2006,
p.133). Empatia é conexão, é a sensação que une as pessoas umas
às outras. É a possibilidade de captar o sentimento da pessoa e
informá-la do que está sendo compreendido pelo profissional.
É imperioso que, durante a escuta ativa, o profissional se abstenha
de realizar qualquer outra atividade e concentre-se nos olhos do clien-
te. “Aquela falta de contato visual torna o encontro anônimo, tirando
dele qualquer conexão emocional” (GOLEMAN, 2014, p. 104).
Realizar um atendimento empático requer presença, escuta
ativa, captação dos sentimentos do cliente e, por fim, a informa-
ção do que o ouvinte sentiu e compreendeu. “A empatia depende
de um esforço da atenção: entrar em sintonia com os sentimen-
tos de alguém exige que assimilemos os sinais faciais, vocais e
outros indícios de suas emoções […] Nós efetivamente sentimos
em nossa fisiologia o que está acontecendo no corpo do outro”
(GOLEMAN, 2014, p. 104).
O lado humano e emocional não pode ser negligenciando.
Ao contrário, deve ser observado e identificado. “Estar orientado
às emoções do paciente produz uma relação empática. Desviar a
atenção dos sentimentos e se concentrar apenas em detalhes clíni-
cos produz um muro” (GOLEMAN, 2014, p. 109). O atendimento
sistêmico e humanizado transcende os dados quantitativos, resu-
midos a números: data de casamento e da separação, quantidade
de filhos, regime de casamento, valor da pensão, quantidade de
bens, dias de visita, etc. Não obstante, agir de forma empática
pode ser confuso, pois:

Em vez de empatia, tendemos a ter uma forte premência


de dar conselhos, ou encorajamento e de explicar nos-
sa própria posição ou sentimento. A empatia, por outro

168
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

lado, requer que se concentre plenamente a atenção na


mensagem da outra pessoa. Damos aos outros o tempo
e o espaço de que precisam para se expressarem comple-
tamente e sentirem-se compreendidos. (ROSENBERG,
2006, p.134-135)

Marshall B. Rosenberg (2006, p.135-136) afirma que “acreditar


que temos que 'consertar' situações e fazer os outros sentirem-se me-
lhor impede que estejamos presentes”. O autor elencou alguns com-
portamentos que impedem estar presente e se conectar com empatia
ao outro, ressaltando que ser empático é diferente de ser simpático.
Eis alguns exemplos de como ser simpático, e não empático:

Aconselhar: "Acho que você deveria...", "Por que é que


você não fez assim?" Competir pelo sofrimento: "Isso não
é nada; espere até ouvir o que aconteceu comigo". Educar:
"Isso pode acabar sendo uma experiência muito positiva
para você, se você apenas." Consolar: "Não foi sua culpa,
você fez o melhor que pôde". Contar uma história: "Isso
me lembra uma ocasião…” Encerrar o assunto: "Anime-se.
Não se sinta tão mal". Solidarizar-se: "Oh, coitadinho... ".
Interrogar: "Quando foi que isso começou?" Explicar-se:
"Eu teria telefonado, mas..." Corrigir: "Não foi assim que
aconteceu.” (ROSENBERG, 2006, p.136)

O autor sugere a utilização de paráfrases para o diálogo empático.


Parafrasear é interpretar e reformular uma mensagem, alterando ex-
pressões e palavras originais, mas mantendo a ideia principal do que foi
narrado. É aconselhável utilizar paráfrases interrogativas. “Essas per-
guntas requerem que procuremos perceber o que está acontecendo den-
tro das outras pessoas, ao mesmo tempo que estimulam a corrigir-nos,
se o que percebemos não for correto” (ROSENBERG, 2006, p.140).
É recomendável utilizar paráfrase em forma de pergunta que
revele a sua compreensão e ao final questionar se foi entendido o

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

que a pessoa realmente quis dizer. “Se não temos certeza de que
compreendemos a mensagem com exatidão, podemos usar uma
paráfrase para provocar uma correção do nosso palpite” (RO-
SENBERG, 2006, p.141). Pode haver um questionamento errôneo
de que repetir a mensagem do cliente, por meio de paráfrases, é
perda de tempo, no entanto o autor expõe o contrário:

Parafrasear tende a poupar tempo, não a desperdiçá-lo.


Estudos de negociação trabalhistas demonstram que o
tempo necessário para atingir a solução do conflito é re-
duzido à metade quando cada negociador concorda, antes
de responder, em repetir precisamente o que o interlocu-
tor anterior disse. (ROSENBERG, 2006, p.145-146)

A escuta empática é uma habilidade que não é nata ao ser


humano, assim pode ser ensinada, treinada e desenvolvida. A pes-
quisadora e escritora norte-americana Brene Brown afirma que
há quatro peculiaridades ligadas à empatia. Em primeiro lugar, é
a capacidade de tomar perspectiva, ver sob o ângulo do outro; na
sequência, apresenta-se a ausência de julgamento; seguido da iden-
tificação dos sentimentos em outras pessoas; e, por fim, conseguir
comunicar essas emoções percebidas ao outro.
“A empatia ocorre somente quando conseguimos nos livrar
de todas as ideias preconcebidas e julgamentos a respeito deles”
(ROSENBERG, 2006, p.134). O segundo elemento referido acima,
ausência de julgamento, é imprescindível para a atuação sistêmica
e está intimamente associada ao diálogo empático.

5.2.4 Ausência de julgamentos


A partir do pensamento sistêmico, é possível desenvolver uma
conduta com ausência de julgamentos e críticas quanto ao cliente,

170
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

à sua família e, inclusive, quanto à outra parte envolvida no con-


flito. “[...] Somos capazes de não fazer julgamentos sobre a perso-
nalidade das partes de um processo ou de uma dinâmica familiar
e social e, com esse pensar, acolher arranjos que regem a músi-
ca interna do cliente e das demais partes envolvidas no conflito”
(CARVALHO, 2018, p.73).
Ao efetuar julgamentos, adentra-se no sistema do cliente, sem
convite algum. Quanto mais associados à postura permeada de ju-
ízo de valor, criticidade e (des)aprovação, menores são as chances
de conexão com o outro. Ajudar, no sentido sistêmico, significa
recolher-se ou abdicar (CARMO, 2015). Pode parecer difícil, mas
é possível realizar uma escuta ativa desligando-se do pensamento
julgador, quando o advogado efetivamente concentra sua atenção
às necessidades e as emoções presentes naquele momento. “Todo
tipo de crítica, ataque, insulto e julgamento desaparece quando
concentramos nossa atenção em ouvir os sentimentos e necessida-
des por trás de uma mensagem” (ROSENBERG, 2006, p.139-144).
Portanto, observar de forma pura não é tarefa fácil para a maio-
ria das pessoas, pois geralmente elas respondem a uma observação
interpretando o que está acontecendo e, muitas vezes, não conse-
guem nem perceber a distinção entre observar e interpretar. As
instituições de ensino treinam os alunos para rotularem as coisas
e alcançarem conclusões rapidamente, o que dificulta a identifica-
ção do essencial (LIEBERMEISTER, 2013).

5.3 Capacitação para aplicar o método


da Constelação
O profissional que deseja ser constelador precisa adquirir formação
específica, com certificação e carga horária adequada à função. Em

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geral34, as capacitações para torná-lo constelador possuem duração


de 6 a 18 meses, com módulos mensais ou quinzenais. O conteúdo
programático pode variar, porém fundamenta-se essencialmente nos
seguintes módulos: A base filosófica, antropológica e metodológica
das constelações; Campos de ressonância, Níveis de Consciência e
Leis Sistêmicas; As ordens do amor para casais; Educação sistêmica;
Direito Sistêmico; Saúde sob o olhar das constelações; Constelações
organizacionais; Frases de solução; Constelações Sistêmicas para
atendimento individual, As ordens da ajuda; A prática do constelador
em grupo; Práticas Supervisionadas; dentre outros.
Realizando uma analogia ao que Luís Alberto Warat entende
sobre mediação, reforça-se o mesmo raciocínio para a formação
dos consteladores e para a prática da constelação:

A mediação não é uma ciência que pode ser explicada,


ela é uma arte que tem que ser experimentada. Muitas
escolas de mediação acreditam formar mediadores como
se fossem magos que poderiam acalmar as partes com
seus truques. A magia é outra, consiste em entender de
gente. Para ser mediador é preciso ascender a um misté-
rio que está além das técnicas de comunicação e assis-
tência a terceiros. Os conflitos, como parte da vida, não
podem ser compreendidos. Um enigma pode ser resol-
vido. Um mistério é insolúvel por sua própria natureza.
(WARAT, 2001, p.42)

Ressalta-se que o serviço da constelação é uma atividade remu-


nerada, que existe desde 1980, inserida no mercado como terapia
breve. Apesar de inserida no ambiente judicial, a constelação não
pode ser considerada serviço jurídico, pois qualquer pessoa, inde-

34 Informação colhida com base nos cursos de Formação em Constelação ofertados


em Fortaleza.

172
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

pendentemente da formação que possua, pode se tornar constela-


dor se realizar o curso específico referido acima.
É fundamental que o cliente perceba a distinção entre os dois
serviços (consultoria jurídica e terapia em constelação) e evite
responsabilizar o advogado pela imagem de solução que o campo
morfogenético tenha apresentado.

5.4 Aplicabilidade
Ao advogado cabe o papel de postular, ou seja, pedir ou exigir
do Estado a aplicação da sua função jurisdicional. Para que o ci-
dadão tenha o seu direito tutelado, necessita da assistência de um
advogado, termos presentes no art. 133 da Constituição Federal
de 1988: “O advogado é indispensável à administração da justiça,
sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da pro-
fissão, nos limites da lei”.
Por seu turno, o art. 2º do Estatuto da Advocacia, Lei n.º 8.906,
de 04 de julho de 1994, ressalta as características primordiais da
Advocacia, que são a indispensabilidade; inviolabilidade; a função
social e a independência.
Dentro do contexto social, na concepção de Paulo Lôbo, a
função da advocacia, quando exercida no viés privado, ganha
status de função social intrínseca, porque o interesse particular
do cliente e os honorários do advogado não podem prejudicar os
interesses sociais e coletivos. Portanto, na edificação de uma jus-
tiça social, o causídico precisa sedimentar a aplicação do Direito
e não apenas da lei (LÔBO, 2017).
Na atualidade, a advocacia, estimulada pelo Código Processo Civil,
art. 3º, o qual “estabelece que a conciliação, a mediação e outros méto-
dos de solução consensual de conflitos devem ser estimulados pelos ad-
vogados e demais operadores do direito, inclusive no curso do processo

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
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judicial, (...)”, tem voltado a sua atenção para a prevenção, diminuindo


o foco do contencioso; com isso, o advogado passou a trazer novas ferra-
mentas para o seu contexto de atuação judicial e extrajudicial.
Contudo, o art. 2º, inc. IV do Código de Ética e Disciplina da
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) já instigava o advogado
a empenhar-se, permanentemente, no aperfeiçoamento pessoal
e profissional, o que antigamente restringia-se ao uso do acervo
jurídico, que incluía várias doutrinas, jurisprudências e códigos,
todos voltados a fortalecer a oralidade e a escrita do advogado.
No entanto, um novo formato de Advocacia surgiu, ao qual se
aplicam outros métodos35, como a abordagem sistêmica, que pode
ser aplicada em qualquer tipo de conflito.
Desta forma, o advogado que escolhe a aplicação das constela-
ções familiares como instrumento para aprimorar o seu desempe-
nho necessita, antes de tudo, acolher em seu coração as Ordens do
Amor ou Leis Sistêmicas e suas nuances.
Com isso, a Advocacia, como atividade meio, precisa estar aberta às
novas ferramentas de aplicação de práticas compassivas. Existem pro-
fissionais que endossam a lide, mas, atualmente, os denominados advo-
gados sistêmicos buscam propiciar ao seu cliente uma transformação do
conflito, ou seja, uma ressignificação ao contexto apresentado. Esse é o
grande desafio da Advocacia Sistêmica: possibilitar a oportunidade de
mudança de pensamento e postura ao cliente e, consequentemente, a
alteração da situação conflituosa em que está inserido.

5.4.1 Aplicação Extrajudicial e Judicial


Pode-se afirmar que a sociedade brasileira culturalmente é li-
tigante, segundo o Relatório Justiça em Números, produzido pelo

35 Vide tópico sobre Capacitação Sistêmica neste capítulo.

174
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

Conselho Nacional de Justiça, de 2017, com ano-base 2016, apro-


ximadamente 79,7 milhões de processos tramitavam, aguardando
uma solução definitiva. Este número aumenta continuamente,
desde 2009, concluindo-se que, “mesmo que o Poder Judiciário
fosse paralisado sem o ingresso de novas demandas e mantida a
produtividade dos magistrados e dos servidores, seriam necessá-
rios aproximadamente 2 anos e 8 meses de trabalho para zerar o
estoque” (CNJ, 2017).
Culturalmente, qualquer fato que gere um abalo emocional,
financeiro ou psicológico ao cidadão o estimula a buscar a tutela
do Estado. Nesse contexto, o pensamento do cliente que busca um
advogado, seja como autor seja réu, é dualista, pois, de um lado
estão as vítimas e do outro os agressores. Na maioria dos casos, ele
se vê como o injustiçado.
É papel do advogado sistêmico, ao primeiro contato com o seu
cliente, em comunhão com o Código de Processo Civil e o Có-
digo de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil,
como já demonstrado acima, apresentar e estimular o caminho
do consenso. Contudo, nem sempre essa é a opção escolhida pela
pessoa emaranhada em um conflito, e isso precisa ser respeitado
pelo profissional. Na concepção de Bert Hellinger, quem mais di-
ficulta o acordo mediante um conflito é o que mais está sofrendo,
por isso, insiste em continuar atrelado ao outro, mesmo que pelo
sofrimento (HELLINGER, 2016).
O advogado sistêmico, ao receber um cliente, acolhe tam-
bém todo o seu sistema familiar. E a estrutura do discurso do
cliente também envolve essa totalidade, na qual todos fazem
parte e cada um tem o seu lugar (CARVALHO, 2018, p. 35).
Eis uma das frases de Bert Hellinger (2013): “Isso significa que
a empatia do ajudante deve ser menos formal, mas sobretudo
sistêmica”. Ele acrescenta ainda:

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Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
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O indivíduo é parte de uma família. Somente quando o


ajudante o percebe como uma parte de sua família é que
ele percebe de quem o cliente precisa e a quem ele talvez
deva algo. Logo que o ajudante vê junto com seus pais e
ancestrais e talvez, também com o seu parceiro e seus fi-
lhos, ele o percebe realmente. Percebe também quem nes-
sa família precisa, em particular, de seu respeito e ajuda
e a quem o cliente precisa se dirigir para reconhecer os
passos decisivos e caminhar (HELLINGER, 2013, p. 18).

No escritório, o atendimento individual precisa ser conduzido


com amor e ordem, em um espaço acolhedor que transmita segu-
rança e paz. O primeiro contato deve ser o visual, já que o olho
no olho é fundamental para que o possível cliente sinta a presença
e a atenção do advogado. Esse, mediante uma escuta ativa, passa
a ouvir a parte com muita atenção e sem nenhum julgamento, já
identificando em que posição a pessoa se insere no conflito e os
pontos que estão em desordem no relato.
Após ouvir o cliente por meio dos pensamentos sistêmicos (or-
dem, inclusão e equilíbrio), o advogado questiona sobre o histórico
familiar dele, perguntando acerca da forma como ele se vê no con-
flito, qual a sua postura dentro do litígio, como ele agiu mediante
o fato narrado, como o ele está se sentindo no presente momento
e qual seria a solução ideal desejada. O objetivo dessa conduta é
despertar na pessoa uma nova percepção sobre si mesmo, o proble-
ma e as partes envolvidas.
O advogado, após as respostas do cliente, conseguirá ver a
questão com uma maior amplitude, o que favorece a sua orien-
tação jurídica. Nesse momento, o profissional pode apresentar
a abordagem sistêmica e se posicionar como um advogado que,
dentre outras ferramentas de trabalho, utiliza as constelações fa-
miliares como um meio de facilitar a compreensão do caso, ajudar

176
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

no autoconhecimento do cliente e, com isso, colaborar para a boa


condução da demanda.
Destaca-se que o profissional apto a conduzir constelações
pode se utilizar de exercícios sistêmicos, por meio de bonecos ou
âncoras de solo, para representar os envolvidos no conflito, sem
que os movimentos configurem uma constelação familiar36. Com
os movimentos feitos pelo próprio cliente no exercício, tanto o ad-
vogado como a parte podem ter novas percepções com relação ao
conflito relatado.
A essa altura, cumpre esclarecer que o advogado pode atu-
ar por meio da abordagem sistêmica mesmo que, inicialmente,
as partes não cheguem a um consenso extrajudicialmente. Nes-
se caso, o trabalho do causídico, ainda assim, será pautado na
postura sistêmica. Como exemplo, pode-se citar o caso de uma
cliente que deseja contratar um advogado para defendê-la das
acusações de alienação parental, em ação de guarda, requerido
pelo genitor do menor.
Assim, inicialmente o advogado pode realizar os seguintes
questionamentos: “Como se sente com a separação?”; “Como está
emocionalmente o menor?”; “Qual o motivo que a leva a afastar
o pai do filho?”; “Como avalia a postura do genitor na função de
pai?”. Diante dessas respostas, é possível verificar se há atos de
alienação parental praticadas pela genitora. Ademais, percebe-se,
que, ao afastar o menor do pai, ela busca, movida pela dor da rejei-
ção, atingir e maltratar o genitor.
Casos como esse são recorrentes nas Varas de Família, opor-
tunizando ao profissional adotar a concepção sistêmica, por meio
de frases: “A separação dos pais não diz respeito aos filhos”; “A
relação de paternidade e maternidade é indissolúvel”; O que acaba
é a conjugalidade e não a parentalidade”; “O final do casamento

36 Vide capítulo 2.

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
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não ocorreu por culpa de alguém”; “A cliente não precisa buscar


culpados ou se culpar, porque tudo está certo e foi da forma que
deveria ser”. Essas falas sistêmicas incentivam a aceitação dos fatos
da forma que ocorreram.
Nesse contexto, o advogado não precisa necessariamente optar
por uma sessão de constelação familiar na condução do andamen-
to processual, com utilização de frases que ressoam e fortalecem as
partes. Uma nova postura pode surgir, como aconteceu num caso
real e concreto, narrado a seguir.
Um pai insatisfeito com uma decisão judicial anterior que de-
terminou que ele estaria na companhia do filho apenas em finais
de semanas alternados, ajuizou uma nova ação de guarda. Antes
de iniciar a audiência de mediação, o advogado da parte promo-
vida, mãe da criança, explicou a sua cliente o instituto da guarda
compartilhada e que a presença de ambos os genitores na vida do
filho era muito importante, proporcionando uma maior segurança
à criança, que assim cresceria com o amor de ambos os pais. Na
sequência, o referido advogado se aproximou do autor, ainda antes
da audiência, para saber quais eram as suas intenções e ele res-
pondeu: “Dr. sinto falta do meu filho no dia a dia, preciso ter mais
convivência com ele, quero participar das atividades rotineiras
dele”. Após o início da audiência, o casal acusou-se mutuamente,
por isso, o juiz chamou atenção para a necessidade de direcionar
a atenção para os cuidados com o menor. Então, o advogado da
promovida, com o seu conhecimento sistêmico, perguntou a sua
cliente se ela se sentia segura quando a criança estava com o ge-
nitor, e ela respondeu que sim, reconhecendo que ele era um bom
pai. O autor ficou surpreso, mudando completamente o semblante
do rosto. O advogado continuou com o seu posicionamento sis-
têmico e fez a mesma pergunta a parte contrária, a qual também
respondeu de forma afirmativa, confirmando que a promovida
era uma boa mãe. A partir daí, iniciou-se um diálogo construtivo

178
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

entre as partes que chegaram numa composição amigável. Ficou


mantida a guarda unilateral materna, mas o período de convivên-
cia com o pai foi ampliado.
Em outro contexto, quando não há acordo na audiência de
mediação, é possível adotar postura sistêmica na elaboração da
contestação. O advogado pode optar por não utilizar palavras
ofensivas ou de exclusão, para que a defesa não estimule a lide,
mas já seguir pautado na inclusão, buscando o equilíbrio entre
as partes envolvidas. Ademais, no decorrer do processo, pode o
advogado sugerir as partes participarem de uma sessão de cons-
telação, convidando o advogado da parte contrária a acompa-
nhar o seu cliente.
Desta forma, o advogado sistêmico, quando aplica a abordagem
aliada ao saber jurídico, proporciona ao seu cliente um tratamento
diferenciado e adequado, alcançando muito mais que uma mera
resolução judicial. Como exemplo, tem-se a possibilidade de, em
uma ação de divórcio, o profissional despertar no seu cliente, por
meio de frases sistêmicas, um sentimento de aceitação da reali-
dade como ela é. De acordo com Bert Hellinger, as partes, nessa
situação, deveriam dizer um ao outro: "Aceito as boas coisas que
você me deu. Aquilo que dei a você, dei com alegria, e isso lhe
pertence. Assumo a minha parte de responsabilidade pela nossa
separação e deixo para você a sua parte de responsabilidade. Eu o
deixo em paz agora” (MANNÉ, 2008, p. 28).
Além da aplicação individual, o advogado pode, por exemplo,
direcionar o seu cliente a uma vivência coletiva antes de uma au-
diência, seja de conciliação ou instrução. Esse movimento possibi-
litará a este se ver e principalmente o ajudará a perceber como o
seu agir reflete na vida da outra pessoa, muitas vezes alimentando
o conflito. Ademais, tal ação contribui para que as próprias partes
vejam e sintam com maior clareza qual o caminho para a compas-
siva solução. Sami Storch entende que:

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Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

O mero conhecimento das ordens do amor, conforme


descritas por Hellinger, permite a compreensão das dinâ-
micas dos conflitos e da violência de forma mais ampla,
além das aparências, facilitando ao julgador e às partes
em conflito adotarem, em cada caso, o posicionamen-
to mais adequado à pacificação das relações envolvidas.
(STORCH, 2017)

Destarte, ao aplicar a abordagem sistêmica, bem como as di-


nâmicas das constelações familiares, o advogado está colaborando
com a mudança de pensamento e postura do seu cliente. Para a
advogada Bianca Pizzatto Carvalho, “Muitas vezes, a linguagem
sistêmica é o suficiente e o essencial para que o cliente perceba
o conflito com um novo olhar e encontre uma solução por conta
própria” (CARVALHO, 2018, p.83).
Ademais, ressalta-se que a condução do trabalho no pensamen-
to sistêmico deve transcorrer desde o atendimento inicial ao final
do processo. As constelações coletivas podem ser conduzidas pelo
próprio advogado ou por um facilitador indicado por ele, sendo
aplicadas independentemente da existência de processo judicial. É
importante o profissional acompanhar o seu cliente no momento
das dinâmicas, para que este se sinta mais acolhido e seguro, por
tratar-se de uma situação nova para o cliente e também para que o
advogado possa acompanhar o processo a partir de uma percepção
mais profunda, auxiliando o cliente a ressignificar a situação.

5.4.2 Aplicação pela Ordem dos Advogados


do Brasil
A Seção da OAB em Santa Catarina foi pioneira ao instituir
a Comissão de Direito Sistêmico em abril de 2017, tendo como
escopo propagar a utilização das constelações e, assim, reduzir

180
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

a judicialização. Para Eunice Schlieck, presidente da comissão,


“olhar para a questão de forma sistêmica possibilita ao advogado
desenvolver melhores acordos e contratos, além de atender de-
mandas de forma mais efetiva e evitar a judicialização dos casos”
(OAB/SC, 2017).
Em agosto de 2017, a referida comissão realizou o Simpósio de
Direito Sistêmico, objetivando apresentar a temática da constela-
ção familiar e sua utilização no Direito brasileiroalém de demons-
trar o movimento dessa temática no âmbito jurídico. No encontro
da comissão realizado em fevereiro de 2018, foi definida a criação
de uma cartilha para facilitar a compreensão do Direito Sistêmico.
Em São Paulo, o movimento das Constelações Familiares tam-
bém foi incorporado às subseções da OAB. Nas subseções de Ta-
tuapé e Franca foram instituídas as Comissões de Direito Sistêmi-
co. A seguir, na Lapa, a Comissão de Direito Sistêmico deu início
às suas atividades em dezembro de 2017. Na ocasião, ocorreu a
palestra com Cláudia Boatti, criadora dos Movimentos Essenciais
(SANTOS, 2017). Também em meados de dezembro de 2017, foi
deferido o pedido para criação da Comissão de Direito Sistêmico
na subseção da OAB em São Carlos37.
Em Mato Grosso do Sul, foi constituída a Comissão de Di-
reito Sistêmico da Seccional, visando incentivar os profissionais
envolvidos na temática e apoiar o desenvolvimento do equilíbrio
nas relações onde existem conflitos. A Comissão abrange áreas do
conhecimento como Mediação, Arbitragem, Direito Material, Pro-
cessual, Filosofia, Psicanálise, dentre outros. Rita Vieira, presidente
da comissão, esclarece que “o Direito Sistêmico é uma ferramenta
importante para a total e efetiva solução de conflitos, na medida em

37 SANTOS, Marcella. Criada a Comissão de Direito Sistêmico da 30ª Subseção


da OABSP/São Carlos. Publicado em: 6 dez. 2017. Disponível em: <https://www.
gestaodaadvocaciasistemica.com.br/single-post/2017/12/06/Criada-a-Comissao-de-
Direito-Sistemico-da-OAB-SaoCarlos>. Acesso em: 27 maio 2018.

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

que aborda a resolução pelo convencimento direto das partes, por


isso a importância da criação da Comissão” (SANTOS, 2018).
Em Minas Gerais, a Seccional da OAB constituiu a Comis-
são de Direito Sistêmico38, bem como na subseção da cidade
de Itajubá/MG39.
Segue abaixo onde já foram constituídas Comissões de Di-
reito Sistêmico da OAB:
Santa Catarina (estadual);Balneário Camboriú;Itajaí/
SC; Tatuapé/SP; Minas Gerais (estadual);Juazeiro do Norte/
CE;Araranguá/SC;Lapa/SP;Itajubá/MG;Franca/SP;São Carlos/
SP;Rio de Janeiro (estadual);Ribeirão Preto/SP;Mato Grosso do
Sul (estadual);Jaraguá do Sul/SC;São José dos Pinhais/PR;So-
rocaba/SP;São Sebastião do Paraíso/MG;São Caetano do Sul/
SP;Joinville/SC;Uberlândia/MG;São José dos Campos/SP;Para-
ná (estadual);Ipiranga/SP;Alagoas (estadual).

5.5 Postura sistêmica


No contexto da advocacia, pode-se dizer que a postura que
dá força e faz o advogado atuar com equilíbrio e eficácia ocorre
quando ele ocupa o seu verdadeiro lugar, ou seja, de Advogado.
Parece óbvio, mas sistemicamente a postura adotada pelo profis-
sional para com o seu cliente faz muita diferença.
O advogado pode ter uma postura que alimenta a solução da
lide ou que nutre o conflito, por isso, para ser um profissional a

38 OAB/MG. Disponível em: <https://www.oabmg.org.br/Institucional/Home/Comis-


saoMembros/222>. Acesso em: 27 maio 2018.
39 SANTOS, Marcella. Constituída Comissão de Direito Sistêmico OAB Subseção
Itajubá/MG. Publicado em: <https://www.gestaodaadvocaciasistemica.com.
br/single-post/2017/11/08/Constituida-Comissao-de-Direito-Sistemico-OAB-
Subsecao-ItajubaMG>. Acesso em: 27 maio 2018.

182
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

favor da decisão que traga paz aos envolvidos, após absorver os


pensamentos sistêmicos, necessita se conhecer40, ou seja, respeitar
os seus limites, para que os seus emaranhados não interfiram no
sistema do cliente e vice-versa, evitando-se com isso os fenômenos
da transferência41 e contratransferência.
Portanto, a postura adotada pelo advogado é muito importan-
te, influenciando na posição do cliente e no caminhar processu-
al da demanda. Anteriormente, foi apresentada a relevância do
autoconhecimento por parte do advogado. O primeiro passo é
dar apenas o que se tem, esperar e tomar apenas o que lhe cabe
como profissional. Muitas vezes, o advogado, já acolhendo a dor
do seu cliente, faz além do necessário, dando o que não possui
e, em vez de colaborar, alimenta a posição de vítima do cliente
(HELLINGER, 2013).
A relação deve ser de confiança entre contratante e contra-
tado, e isso decorre da postura sincera e respeitosa do advogado,
já que, ao se utilizar da abordagem sistêmica, a primazia deve ser
a verdade dos fatos, sem endossar ou rejeitar a situação, traba-
lhando com base no relatado, nas percepções e no retratado na
constelação. Com isso, desperta-se no cliente a aceitação das cir-
cunstâncias, para que ele veja o conflito como é, sem distorções
da realidade, já que, muitas vezes, os sentimentos de frustração os
impedem de acolher a verdade como se apresenta.
Para Bert Hellinger, as pessoas que buscam ajuda acreditam
que seus ajudantes devem agir como os seus pais, justamente,
porque se veem como filhos, esperando que o ajudante se dedi-

40 A seção a seguir traz mais esclarecimentos sobre a importância do autoconhecimento


para o atendimento sistêmico.
41 Quando alguém procura um terapeuta desejando ajuda surge no cliente
uma transferência da criança para com os pais e surge no terapeuta uma
contratransferência do terapeuta para o cliente, como de um pai ou mãe para com
uma criança (HELLINGER, 2013, p.34).

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

que a ele de forma incondicional. Entretanto, o que ocorre se o


terapeuta, facilitador em constelação ou advogado correspon-
der a esse desejo?

Os ajudantes ficam na mesma situação dos pais, lugar


onde se colocaram através desse querer ajudar. Passo a
passo, precisam colocar limites aos que procuram ajuda,
decepcionando-os. Então, estes desenvolvem frequente-
mente, em relação aos ajudantes, os mesmos sentimentos
que tinham antes em relação aos pais. Dessa maneira, os
ajudantes que se colocaram no lugar dos pais e talvez até
queiram ser melhores que os pais tornam-se para os clien-
tes iguais aos pais deles. (HELLINGER, 2013, p. 16)

Exatamente porque os seres humanos estão acostumados a


buscar um terceiro para resolver os seus conflitos, que, quando
crianças, recorrem aos pais para solucionar algo que lhes faz mal
e, quando adultos, muitas vezes, procuram a figura do Advogado.
Quem nunca ouviu: “Não quero saber, agora o problema está com
o advogado e ele é que vai resolver!”? Todavia, quando o advogado
se recusa a ocupar o lugar de pai ou mãe do cliente, colabora para
que a pessoa assuma o seu lugar de adulto e suas responsabilidades
na situação (HELLINGER, 2013). Nesse caso, é comum ouvir do
cliente contrariado:“O senhor não está interessado no meu caso”
ou “Acho que você está a advogar para a outra parte”.
Uma postura sistêmica requer do advogado observação, percep-
ção e compreensão do todo. Entrar em sintonia com o cliente de-
manda do profissional abertura para que entre na mesma vibração
do outro, entendendo-o. Porém, para compreendê-lo, é necessário
também entrar em sintonia com sua origem e destino, possibilida-
des, limites, além do seu comportamento (HELLINGER, 2013).
Como já explanado, o advogado necessita se capacitar para ad-
vogar sistematicamente. Para ter uma postura de empatia, precisa

184
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

abrir mão diariamente de suas próprias intenções, julgamentos e


desejos. Com isso, o profissional entra em sintonia com o cliente,
mas não se perde, ou seja, não entra em contato pessoal com o
conflito da parte que o procura (HELLINGER, 2013). Isso é im-
portante porque tanto o julgamento quanto a intenção de salvar o
cliente prejudicam o trabalho do advogado, que fica mais a serviço
do conflito que da solução.
Deste modo, o advogado, na condição de ajudante, não deve
assumir as dores do cliente, sob pena de causar desordem na re-
lação. Deve agir como um representante numa constelação, en-
tregando-se apenas às percepções advindas do cliente (HELLIN-
GER, 2013). É dessa forma que se posiciona a advogada sistêmica
Bianca Pizzatto Carvalho:

Desse modo, com o pensamento sistêmico, somos capazes


de não fazer julgamentos sobre a personalidade das partes
de um processo ou de uma dinâmica familiar e social e,
com esse pensar, acolher os arranjos que regem a música
interna do cliente e das demais partes envolvidas no con-
flito. Compreendendo a existência de sistemas complexos
de causa e efeito, conseguimos perceber que somos parte
de vários todos, de vários sistemas inter-relacionados e
que também fazemos parte de várias relações interligadas.
O pensamento sistêmico faz você enxergar não apenas
uma árvore, mas sim a floresta como um todo. (CARVA-
LHO, 2018, p.73)

Para a referida causídica, o advogado sistêmico é capaz de ver o


conflito sem, entretanto, nada querer mudar, conectando-se com
uma postura de respeito e livre de qualquer intenção (CARVA-
LHO, 2018). Para isso, precisa desenvolver uma percepção espe-
cial; de acordo com Bert Hellinger “eu me direciono a uma pessoa,
entretanto, sem querer algo determinado, a não ser percebê-la in-

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
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teriormente, de uma forma abrangente, considerando a próxima


ação que deve ser realizada” (HELLINGER, 2013, p. 19).
Desta feita, transpondo os enquadramentos tradicionais, a
advocacia sistêmica vem sob uma perspectiva distinta da prá-
tica usual, com diferencial no atendimento. Essas novas ferra-
mentas possibilitam ao advogado, além da escuta ativa, colher
informações através dos movimentos não verbais da pessoa, os
quais demonstram os sentimentos que o cliente possui. É o que
diz Úrsula Franke:

Quando o cliente fala de sua família e nos denomina os


membros familiares, dá ao mesmo tempo, informações
não verbais sobre o significado de cada uma das pesso-
as. Seu organismo reage com uma mudança do ritmo
respiratório e tensão, assim como nós reagimos em nossa
totalidade às informações e às mudanças sutis do cliente
(FRANKE, 2006, p.65).

Destarte, sob o viés sistêmico, o advogado assume naturalmen-


te uma postura amorosa, inclusiva, sem julgamento ou intenção.
Com isso, colabora no restabelecimento da paz e harmonia na
vida e no campo familiar do cliente bem como equilibra o próprio
sistema, já que, via de regra, a ajuda é recíproca e se ordena pela
necessidade de compensar, servindo não somente aos outros mas
também ao ajudante (HELLINGER, 2013).
Por se tratar de uma abordagem em construção, orienta-se
que o advogado, ainda que constelador, não realize pessoalmen-
te a prática da constelação com seu cliente. Não obstante, possa
indicar um profissional para aplicação da técnica. Tal indicação
justifica-se pelo risco de, ao ser constelado pelo seu advogado, o
cliente confunda a função do advogado com a do terapeuta, por
exemplo, responsabilizando-o pelo o que foi apresentado na cons-
telação, caso isso lhe descontente. Todavia, como já explanado,

186
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

nada impede que o advogado, em seus atendimentos, realize exer-


cícios e dite frases sistêmicas, com intuito de que o cliente possa
ressignificar a situação vivenciada.

5.6 Honorários Advocatícios


Inicialmente, deve-se esclarecer que, com relação à cobran-
ça e à estipulação dos valores de honorários, a prática da ad-
vocacia sistêmica não exige alterações quanto ao adotado no
mercado tradicionalmente.
Os contratos de prestação de serviços, assinados para concre-
tizar a contratação do profissional, também podem ser elaborados
nos moldes da abordagem sistêmica. Além de conter as condições
legais tradicionais, faculta ao advogado incluir cláusulas que enal-
tecem a lei do dar e receber, inclusive no que tange aos honorários
advocatícios, movimento que fortalece a relação sistêmica entre o
profissional e seu cliente.
Com a contratação do serviço advocatício, o advogado assume
as suas obrigações, como elaborar as peças processuais, compare-
cer às audiências, prestar assessoria jurídica no decorrer do proces-
so bem como atuar como facilitador de constelações individuais
se necessário. Como compensação, o cliente deve efetuar o paga-
mento pactuado.
O art. 22 do Estatuto da Advocacia alude que ao advogado
cabe o direito aos honorários convencionados, aos fixados por ar-
bitramento judicial e aos de sucumbência. Portanto, seguindo o
pensamento sistêmico, para que ocorra o equilíbrio entre o dar
e tomar, ou seja, para que a relação entre contratante e contrato
transcorra em harmonia, a compensação, em forma de pagamen-
to, não pode ser negada por parte do cliente, sob pena de incorrer
em desequilíbrio nos dois sistemas (do advogado e do cliente).

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
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Ademais, com a aplicação das práticas humanizadas na advo-


cacia, que geram resultados mais eficazes e céleres, muitos clientes
se negam a pagar o valor ajustado no contrato, com a alegativa de
que o profissional não teve praticamente trabalho, já que as partes
logo chegaram a um consenso. Assim, para não ser injustiçado, o
pagamento deve ser feito com valor a menor do que o contrata-
do. Portanto, o advogado que possibilita um resultado consensual
entre os envolvidos, em um tempo mais ágil do que o usual, con-
siderando a realidade da justiça brasileira, merece receber integral-
mente o seu pagamento.
Contudo, quando o cliente não efetua o pagamento dos ho-
norários ao final da ação, gera emaranhado no seu próprio siste-
ma, colocando-se na posição de devedor do advogado. Para Bert,
quando a pessoa se beneficia à custa de outro, torna-se agressor, e
quem paga são os seus descendentes, com o objetivo de restaurar o
equilíbrio em lugar de seus antepassados, sem que tenham consci-
ência disso (HELLINGER, 2005).
Por fim, resta claro que a abordagem sistêmica constitui-se como
mais um meio para aprimorar e dar mais qualidade ao trabalho do
advogado, despertando nesse profissional o desejo pelo autoconhe-
cimento e a ampliação de visão, intuição e percepção. A proposta é
advogar com inclusão, oportunizando o seu cliente a possibilidade
de estender a consciência, ressignificar o conflito e assumir uma
nova postura comprometida com a pacificação social.

188
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

189
Conclusão

Diante do exposto ao longo desta obra, pode-se concluir que


foram diversas as teorias psicológicas e terapêuticas que influen-
ciaram o desenvolvimento das constelações sistêmicas, e que, em
conjunto com outras mais recentes, atuam proporcionando uma
melhor compreensão de seu funcionamento. Dentre as mais im-
portantes, podemos citar a Fenomenologia, o Psicodrama, as Es-
culturas Familiares, as Lealdades Invisíveis, o Inconsciente Cole-
tivo, a Visão Sistêmica de mundo enquanto novo paradigma e a
teoria dos Campos Mórficos.
Em relação às suas contribuições para as constelações, viu-
-se que a teoria Fenomenológica trouxe a percepção da realidade
enquanto fenômeno destituído de julgamentos, valores, crenças e
preconceitos do sujeito, na busca por perceber a realidade enquan-
to essência. Já o Psicodrama, com sua abordagem terapêutica de
grupos, possibilitou a exteriorização de problemas humanos por
meio de dramatizações, tornando possível o acesso a níveis de
consciência mais profundos.
Por meio das Esculturas Familiares, com seu método simbóli-
co de representação do sistema familiar, encontra-se evidenciada
a importância deste sistema para a saúde do indivíduo, além da
existência de um fenômeno de campo na estrutura que é monta-
da. A teoria das Lealdades Invisíveis apontou a existência de leis
presentes no sistema familiar, cujo cumprimento ou não acarreta
consequências positivas ou negativas para o indivíduo e para o seu
sistema. Essas leis são responsáveis por atribuir a cada membro do
sistema uma função e uma responsabilidade, além de conferir-lhes
o sentimento de pertença.

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
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O conceito de Inconsciente Coletivo, representado por tudo o


que se mostra fora da consciência, armazenado na forma de arqué-
tipos, contribuiu com a concepção da existência de um conjunto de
memórias compartilhadas pela espécie humana, para além da expe-
riência individual. Outra contribuição importante foi apresentada
pelo novo paradigma da Visão Sistêmica, em que o indivíduo deve
ser percebido enquanto parte desse sistema. Tem-se, com efeito,
uma visão de mundo enquanto sistema complexo, integrado, inter-
ligado, interdependente e, portanto, de caráter transdisciplinar, em
que vida é compreendida como uma rede dentro de redes.
Por fim, dentre as teorias mais recentes que contribuíram para
uma melhor compreensão do funcionamento das constelações, a te-
oria dos Campos Mórficos representa um modelo pelo meio do qual
é possível compreender o compartilhamento e a transmissão de in-
formações que ocorre entre os participantes de uma constelação.
A constelação sistêmica, desenvolvida por Bert Hellinger, com
base na experimentação e na integração dessas, além de outras
teorias, pode ser definida, portanto, como uma prática terapêutica
que se fundamenta em uma perspectiva sistêmico fenomenológica,
que consiste no posicionamento físico/emocional de representan-
tes de elementos importantes do sistema familiar da pessoa que
será constelada. Podendo ser realizada nas modalidades de grupo e
individual, seja com a ajuda de um grupo de pessoas (representan-
tes), bonecos, objetos ou âncoras de solo, que permitem visualizar
conexões estabelecidas inconscientemente e que muitas vezes per-
manecem invisíveis aos membros de um sistema familiar.
Percebendo o potencial terapêutico dessa técnica, o Brasil vem
utilizando de forma pioneira as constelações sistêmicas no âmbito
do Poder Judiciário, movimento que contou com a iniciativa do
juiz de Direito Sami Storch, no Tribunal de Justiça da Bahia desde
o ano de 2012. Atualmente, pelo menos vinte Tribunais adotam

192
Direito Sistêmico: O despertar para uma nova consciência jurídica

princípios e técnicas das constelações sistêmicas em diferentes fa-


ses do processo mesmo em fase pré-processual.
Embora o uso das constelações no Judiciário brasileiro tenha
se iniciado com questões que envolvem Direito de Família, com
efeito, a utilização dessa prática terapêutica pode ser aplicada a
qualquer área do Direito, pois, no âmago de qualquer conflito,
existe uma causa sistêmica oculta, que, ao ser evidenciada, pro-
porciona benefícios na busca por uma solução efetiva da questão.
Observa-se que a conscientização do sujeito acerca do funciona-
mento das Leis Sistêmicas e da origem de seus emaranhamentos,
ou seja, a ampliação da consciência acerca da importância do sis-
tema familiar e da dinâmica familiar são capazes de promover o
empoderamento do indivíduo, facultando ao sujeito agir de forma
consciente em busca de soluções.
O Direito Sistêmico representa, dessa forma, um novo para-
digma para a compreensão da ciência jurídica. A aplicação das
Leis Sistêmicas (Hierarquia, Pertencimento e Equilíbrio) propor-
cionam, como resultado, uma nova visão do Direito, de como ele
pode vir a ser elaborado e aplicado em consonância com essas
leis, de modo a liberar os indivíduos de conflitos (percebidos de
forma sistêmica e complexa, e não somente restritos ao que se
encontra presente nos autos do processo) e gerar a pacificação
dos relacionamentos por meio da paz e do equilíbrio de todo o
sistema das partes envolvidas.
A aplicação das constelações e de suas técnicas apresenta,
também, implicações benéficas para a atuação do profissional da
área jurídica, até mesmo para todos os profissionais que buscam
atuar na solução de conflitos, caracterizando-se como uma ferra-
menta capaz de facultar um olhar mais amplo, humano e impar-
cial aos conflitos judicializados; capaz, também, de sensibilizar os
envolvidos nas lides processuais, tornando possível a emersão de

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Ana Tarna dos Santos Mendes, Gabriela Nascimento Lima
Karolina Evangelista Pereira, Lorrayni de Bortoli,
Mara Livia Moreira Damasceno, Rachel de Mesquita Rodrigues

novas formas de compreensão do contexto dos conflitos, oportu-


nizando soluções melhores e mais adequadas.
Tem-se, por fim, que o uso das constelações sistêmicas, em
relação à demandas jurídicas de caráter judicial e extrajudicial,
desponta como uma ferramenta capaz de contribuir para a trans-
formação da cultura do litígio em cultura de pacificação social,
atuando de forma profunda na construção de formas efetivas de
solução de conflitos.

194
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Ana Tarna dos Santos Mendes , Lorrayni de Bortoli,
Ana Cecilia Bezerra de Aguiar, Karolina Evangelista Pereira,
Gabriela Nascimento Lima, Rachel de Mesquita Rodrigues

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