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Introdução ao Orçamento
Público
Sumário

Módulo I - Aspectos introdutórios.........................................................................3

Unidade 1 - Conceitos básicos.........................................................................3

Unidade 2 - Princípios orçamentários...............................................................8

Unidade 3 – A natureza jurídica do orçamento no Brasil...............................16

Módulo II - Receita e despesa............................................................................25

Unidade 1 - Conceitos e estágios da receita..................................................25

Unidade 2 - Classificação da receita e as receitas municipais......................27

Unidade 3 – Conceito, estágios e classificação da despesa..........................35

Módulo III - O Orçamento público na Constituição Federal...............................45

Unidade 1 - O Plano Plurianual, a Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei


Orçamentária Anual........................................................................................45

Módulo IV - O processo orçamentário no Poder Legislativo..............................53

Unidade 1 - A Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e


Fiscalização (CMO) e o processo de apreciação do PPA, da LDO e da LOA
.........................................................................................................................53

Unidade 2 – As emendas parlamentares às leis orçamentárias....................57

Módulo V - Execução Orçamentária...................................................................66

Unidade 1 - A programação orçamentária e financeira e o contingenciamento


.........................................................................................................................66

Unidade 2 - Alteração orçamentária e apreciação pelo Poder Legislativo....69


Módulo I - Aspectos introdutórios

Bem-vindo(a) ao curso de introdução ao orçamento público. Este módulo


inaugural tem como propósito apresentar a definição de orçamento público e
ilustrar como ele impacta no dia a dia de nossa comunidade. Além disso,
iremos tratar dos princípios que devem ser observados na sua elaboração, bem
como da sua natureza jurídica, apontando as controvérsias envolvidas nesse
tema. Ao final, esperamos que você tenha uma visão geral sobre o papel do
orçamento público.

Unidade 1 - Conceitos básicos

Analisando a imagem acima, podemos ver uma cidade com


monumentos gigantescos, ruas, transportes públicos, instalações elétricas etc.
O mesmo acontece pertinho de você, na sua comunidade, onde diariamente
são ofertados serviços que, de uma forma ou de outra, influenciam a sua vida.
Para refletir:

Você já parou para pensar de onde vêm os recursos para a execução


das obras e prestação dos serviços ofertados à sua comunidade?

A resposta é simples e é também o tema da nossa unidade! Os recursos


vêm do orçamento público que, guardadas as devidas proporções, na sua
essência assemelha-se ao orçamento familiar. Estou certo de que, após a
conversa que teremos, você estará apto a definir orçamento público e a
identificar suas principais características.

Como as decisões tomadas pelos nossos dirigentes afetam a nossa


vida em comunidade?

Vejamos:

A vida em cidades - pequenas, médias, grandes - nos dá a oportunidade


de utilizar os serviços públicos voltados à educação, saúde, transporte, entre
outros. Encontramos obras construídas, ou em construção, pelo governo, como
drenagem de águas pluviais, canalização de um córrego situado na periferia,
ampliação da rodoviária da cidade ou a modernização do aeroporto.

A construção de obras, a prestação de serviços, a concessão de


benefícios, entre outras ações executadas pelo governo, seja ele federal,
estadual ou municipal, dependem do orçamento público.

É através do orçamento público que os governantes estimam o que vão


arrecadar e como devem gastar os recursos obtidos com os impostos pagos
pela sociedade. É por meio dele, ainda, que são decididas as obras prioritárias,
as promessas de campanha a serem cumpridas, e quais as reivindicações
sociais da população serão atendidas, por exemplo.

Por outro lado, você já deve estar habituado a ouvir comentários de


políticos e especialistas no assunto no sentido de que não há recursos para
aumentar o salário mínimo, pagar melhor os professores e médicos, aumentar
o valor das pensões e aposentadorias, por exemplo. E o que dizer da falta de
policiamento nas escolas e da violência nas cidades em geral?

A situação se agrava quando se constata o estado precário das rodovias


e portos do País, tão necessários ao escoamento da produção agrícola, em
especial, a voltada para o setor externo.

Compreenda:

A vida da comunidade e a economia em geral são afetadas diretamente


pelas decisões tomadas pelos nossos representantes, sejam eles
parlamentares, prefeito, governador ou presidente da República.

Algumas famílias, conhecedoras da sua renda anual e das despesas


que têm de efetuar para custear a sua sobrevivência, programam-se para que,
mês a mês, consigam fechar as contas no azul, ou melhor, não encerrem as
contas do mês no vermelho. Se houver sobra, ótimo: pode ir direto para a
poupança ou financiar algum projeto futuro. Quem sabe a reforma da casa?
Isso é a essência do orçamento.

No caso do setor público, o estudo do orçamento faz parte de uma


disciplina mais ampla denominada Finanças Públicas, cujo objeto de estudo é a
atividade financeira do Estado. Isto é, a atuação estatal voltada à obtenção de
recursos e à posterior utilização desses valores para atender às necessidades
da sociedade por bens e serviços a serem providos pela administração pública.

A obtenção de recursos está relacionada à necessidade de custeio do


governo, que pode ser suprida por receitas advindas da tributação, da atividade
econômica desenvolvida pelo próprio Estado ou por meio de empréstimos
obtidos junto ao setor privado. Dentre essas fontes, a tributação é a mais
relevante, e consiste em uma transferência compulsória de recursos da
sociedade para o Estado.

Por outro lado, a aplicação dos recursos arrecadados pelo Estado é


tratada no orçamento público. É o orçamento que estima as receitas que serão
arrecadadas e define em quais atividades o governo poderá gastar os recursos
obtidos, com vistas a suprir as necessidades da população.

É exatamente esse instrumento estatal, o orçamento público, que nosso


curso se propõe a estudar.

Mas, então, o que significa orçamento público?

O conceito de orçamento tem evoluído ao longo do tempo. Cada autor


costuma apresentar mais de um conceito e escolhe o de sua preferência, de
acordo com o objetivo que pretende alcançar com a disciplina.

Veja, por exemplo, o conceito clássico apresentado por Aliomar Baleeiro


(1997, p. 387), um importante estudioso do assunto:

"Orçamento público é o ato pelo qual o Poder Executivo prevê e o


Poder Legislativo autoriza, por certo período de tempo, a execução das
despesas destinadas ao funcionamento dos serviços públicos e outros
fins adotados pela política econômica ou geral do país, assim como a
arrecadação das receitas já criadas em lei.”

Há quem o defina, também, de uma forma mais jocosa, como o


pitoresco Barão de Itararé, para quem o “orçamento público é uma conta que o
governo faz para saber onde vai aplicar o dinheiro que já gastou.”

Brincadeira à parte, para o nosso curso, o conceito que será adotado é o


seguinte:

Orçamento público é um instrumento de planejamento


governamental, estabelecido por lei, em que são estimadas as receitas e
fixadas as despesas para o período de um ano.

Agora vamos decifrar esse conceito de orçamento público apresentado:

i) É um instrumento de planejamento governamental: o orçamento


não é um mero documento contábil em que se preveem receitas e
despesas. Ele evidencia o programa de trabalho do governo, com metas
e objetivos a serem alcançados.
• Vejamos o exemplo de um plano de trabalho simples no
orçamento municipal: Projeto de ampliação da escola municipal
Dom Pedro II.

a) Objetivo: ampliar a escola municipal Dom Pedro II para


proporcionar aos alunos melhores condições de estudo e
convivência escolar;

b) Meta: construir duas salas de aula, ampliar o espaço da sala de


leitura e do refeitório;

c) Valor: R$ 250.000,00.

ii) Estabelecido por lei: todos os anos, cada ente federado (União,
estados e municípios) deve aprovar sua lei orçamentária. A proposta
orçamentária é elaborada pelo chefe do Poder Executivo (prefeito,
governador ou presidente da República) que a envia para discussão e
votação no Poder Legislativo (câmara municipal, no caso do município;
assembleia legislativa, no caso do estado; e Congresso Nacional,
quando se tratar da União).

iii) Estima as receitas: as receitas são previstas para serem


arrecadadas ao longo do ano. Portanto, o orçamento traz uma
expectativa de arrecadação e não uma certeza de obtenção da receita.
Porém, é importante que essa estimativa, ou previsão da receita, seja a
mais precisa possível, pois ela irá balizar o montante de despesas que
serão autorizadas no orçamento. Por isso, exige-se de quem a elabora
um mínimo de conhecimento técnico e do comportamento da
arrecadação nos anos anteriores. Caso bem realizada, a estimativa da
receita evita problemas como a falta recursos durante o ano para a
continuidade dos serviços e das obras já iniciados, bem como a
necessidade de cortes inesperados em programas sociais ou atrasos no
pagamento do funcionalismo e dos aposentados e pensionistas, por
exemplo.

iv) Fixa a despesa: ao contrário da receita, a despesa é fixada no


orçamento, no sentido de que são autorizados gastos até um limite que
não pode ser ultrapassado. No Módulo V do curso, estudaremos as
formas de alteração desse valor fixado.

v) Para o período de um ano: No Brasil, o orçamento público é anual.


Ele se inicia em 1º de janeiro e se encerra em 31 de dezembro,
coincidindo com o ano civil. Há países que adotam datas diferentes.

Compreenda:

O orçamento é uma lei - a lei orçamentária - que autoriza o Poder


Executivo a gastar os recursos arrecadados e demostra o programa de trabalho
de todos os órgãos e entidades da administração pública

A programação e as respectivas despesas que não estiverem


autorizadas na lei orçamentária não poderão ser realizadas. Além disso, a
elaboração do orçamento deve seguir determinados princípios, que serão
estudados na unidade seguinte.

Porém, antes de finalizar esse tópico, gostaria de convidá-los a assistir a


um vídeo da série Orçamento Fácil, elaborada pelo Senado Federal, que trata
da importância do orçamento público. Já adianto a vocês que, ao longo do
curso, iremos aproveitar outros vídeos dessa série para aprofundar alguns
conceitos que serão abordados. Agora, clique aqui para assistir ao vídeo e bom
aprendizado!

Unidade 2 - Princípios orçamentários

Na primeira unidade aprendemos o conceito de orçamento público.


Agora, veremos que a sua elaboração deve seguir determinados princípios.

Vejamos, então, o que são esses princípios:

Você já percebeu que os orçamentos da União, dos estados e dos


municípios sempre se referem ao período de um ano? E, mais, que sempre são
publicados?
Isso ocorre porque a matéria orçamentária é regida por princípios, ou
seja, por normas, que vamos conhecer agora.

O orçamento público – federal, estadual, municipal – obedece a um


conjunto de normas chamadas “princípios orçamentários”. Uns estão previstos
expressamente nos dispositivos da Constituição Federal, outros em leis de
Direito Financeiro, e ainda há alguns que derivam da doutrina que estuda a
matéria.

Os princípios, úteis para o entendimento dos diversos aspectos do


orçamento, são produtos da evolução do processo de elaboração e execução
orçamentária ao longo do tempo.

Veja o que diz o autor Matias Pereira (2003, p. 146-147) a respeito do


assunto:

“Deve-se recordar que, historicamente, o orçamento público apresenta-


se como forma de restringir e de disciplinar o grau de arbítrio do governante.
Dessa forma, procura impor algum tipo de controle legislativo sobre a ação
desses governantes, visto que estes possuem prerrogativas para cobrar
tributos dos cidadãos.

Pode-se afirmar, portanto, que o orçamento público surgiu para cumprir


uma função de controle da atividade financeira do Estado. Para a efetivação
desse controle torna-se necessário que, no processo de elaboração da
proposta orçamentária, sejam respeitados determinados princípios
orçamentários. Assim, os princípios orçamentários se apresentam como
as premissas básicas de ação a serem cumpridas na elaboração da
proposta orçamentária.”

Agora que você conheceu a importância dos princípios, vamos estudar


os mais relevantes:

1. LEGALIDADE: esse princípio impõe que o orçamento público seja


aprovado formalmente como uma lei.

O princípio da legalidade é inerente ao Estado de Direito. Isto é, a


administração pública só pode fazer aquilo que está previsto em lei. No caso da
lei orçamentária, somente as despesas nela previamente autorizadas poderão
ser executadas pelo governo. Para a elaboração da lei orçamentária, cabe ao
chefe do Poder Executivo (presidente da República, governadores ou prefeitos)
enviar o projeto de lei ao Poder Legislativo, a quem compete analisá-lo, alterá-
lo se for o caso (no Módulo IV veremos as regras para isso) e aprová-lo. Assim,
cada ente federado deve aprovar a sua própria lei orçamentária.

2. ANUALIDADE: o princípio, também conhecido como da


periodicidade, estabelece que a previsão da receita e a fixação da despesa
devem referir-se a um exercício financeiro. No caso do Brasil, o exercício
financeiro coincide com o ano civil, ou seja, tem início em 1º de janeiro e se
encerra em 31 de dezembro.

A lei orçamentária tem um “prazo de validade”, quer dizer, o orçamento


fica em vigor por um período limitado. A elaboração de um novo orçamento a
cada ano permite ao Poder Executivo reavaliar os planos de governo e o
cumprimento das metas e prioridades estabelecidas para o período anterior.
Além disso, possibilita ao Poder Legislativo controlar periodicamente as
despesas que estão sendo autorizadas. Na prática, no novo orçamento podem
e devem constar as ações e projetos em fase de execução (que, por isso,
também figuravam no orçamento anterior) ao lado de novos projetos e novas
ações que se pretendem realizar.

3. UNIDADE: o princípio determina que deve existir apenas um


orçamento para cada ente federado. Nenhum governante pode elaborar e
executar mais de um orçamento para o mesmo período.

Talvez você esteja se perguntando sobre a necessidade desse princípio,


uma vez que parece ser tão clara a existência de um único orçamento. Mas a
história recente do orçamento no Brasil registra época em que conviviam vários
orçamentos, por exemplo: orçamento da previdência, orçamento monetário,
além de outros. Essa pluralidade de orçamentos paralelos dificultava
sobremaneira o controle do Poder Legislativo e da sociedade sobre a execução
das despesas públicas. Em boa hora a Constituição de 1988 pôs um fim nessa
história.
4. EXCLUSIVIDADE: de acordo com essa regra, a lei orçamentária deve
conter apenas matéria financeira e orçamentária. Isto é, não pode cuidar de
assunto que não esteja relacionado com a previsão da receita e com a fixação
da despesa para o período a que se refere.

Em alguns países, inclusive no Brasil, existiu por um tempo um tipo de


orçamento que recebeu o apelido, ou a denominação, de “orçamento
rabilongo”. Quer dizer: a lei orçamentária incluía em seu texto matérias de
interesse dos governantes que não diziam respeito propriamente ao
orçamento, as chamadas “caudas orçamentárias”. Muitas vezes, era a
oportunidade que o governante tinha para legalizar decisões efetivadas por
decretos ou atos administrativos, quando, na verdade, deveriam ter sido objeto
de leis. Outras, era o momento oportuno para, aproveitando-se do trâmite mais
célere das matérias orçamentárias, aprovar temas que enfrentariam
dificuldades pelo rito ordinário das leis em geral.

Por que isso ocorria?

Ora, como a lei orçamentária possui um rito especial de tramitação e tem


sua aprovação pelo Poder Legislativo quase certa, que melhor oportunidade
teria o governante para emplacar suas pautas ou dar caráter legal a atos já
praticados, sanando eventuais situações irregulares?

Quer exemplos de “caudas orçamentárias”?

A inclusão na lei orçamentária de autorização para o prefeito alterar a


estrutura administrativa da prefeitura, criar novos cargos públicos, perdoar
dívidas etc.

5. UNIVERSALIDADE: todas as receitas e todas as despesas do ente


federado devem ser incluídas na sua lei orçamentária. Nenhuma previsão de
arrecadação ou de gasto pode ser feita “por fora” do orçamento. Isso é válido
para todos os órgãos e entidades da administração pública direta e indireta.

Mas, e aquela unidade administrativa da prefeitura situada na Vila


São João? E a representação que a prefeitura ou o governo do estado
tem em Brasília? Entram no orçamento?
Sim, toda e qualquer instituição que receba recursos orçamentários ou
gerencie recursos públicos deve ser incluída no orçamento do ente federado a
que está vinculada, com suas respectivas programações e autorizações de
gastos, para o período de um ano.

Até os fundos?

Claro, até os fundos que porventura existam, seja na esfera da União,


dos estados ou dos municípios. Cada um deverá constar do orçamento da
unidade federada que o gerencie.

6. PUBLICIDADE: a lei orçamentária precisa ser amplamente divulgada,


para permitir que qualquer pessoa tome conhecimento do seu conteúdo e saiba
como são empregados os recursos arrecadados da sociedade e de outras
fontes de receita. Como o próprio nome diz, o orçamento público é público.

O orçamento do Governo Federal deve ser publicado no Diário Oficial da


União logo que for sancionado (aprovado) pelo Presidente da República. Os
orçamentos do Distrito Federal, dos estados e das grandes cidades também
devem ser publicados nos respectivos diários oficiais.

E, no caso das prefeituras de cidades pequenas, que não possuem


jornal próprio ou internet para dar publicidade à lei?

Estas podem distribuir o texto da lei nos locais mais frequentados pela
população ou afixar a lei orçamentária em um quadro de avisos à entrada da
prefeitura.

O importante é que a população possa conhecer o conteúdo da lei e


compreender do que ela trata.

Esse princípio é reforçado pelo que vamos estudar a seguir.

7. CLAREZA: de nada adianta dar divulgação ao conteúdo do


orçamento se a linguagem for incompreensível para a população. Cabe à
equipe responsável pelo documento expor números e palavras de forma clara e
exata, de tal forma que a sociedade possa compreender suas disposições.

8. EQUILÍBRIO: por este princípio, o orçamento deverá estar sempre


equilibrado, ou seja, o valor total da despesa fixada deve ser exatamente igual
ao valor da receita estimada para o ano a que se refere.

Lembra-se de que na unidade anterior mencionamos a importância da


precisão na estimativa da receita? Como dissemos, ela balizará o montante de
despesas a ser autorizado, tendo em vista o princípio do equilíbrio.

Perceba:

Os princípios são de grande utilidade para o orçamento público no que


diz respeito aos aspectos financeiro, contábil e ético. Servem,
fundamentalmente, como instrumento de controle social, posto que fornecem
as condições para que os atos financeiros do Estado sejam conhecidos e
avaliados pela sociedade.

E como podemos identificar alguns princípios na Constituição


Federal?

Vejamos a seguir. Vamos destacar os dispositivos constitucionais que


enunciam princípios orçamentários:

Constituição Federal – 1988

i) O art. 165 enuncia o princípio da legalidade, no caput, e o da


anualidade, no inciso III:

Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:

(...)

III - os orçamentos anuais.

ii) O mesmo art. 165, desta vez no § 5º, trata do princípio da unidade:

Art. 165, § 5º - A lei orçamentária anual compreenderá:


I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus
fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta,
inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público;

II - o orçamento de investimento das empresas em que a União,


direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com
direito a voto;

III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as


entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou
indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos
pelo Poder Público.

O dispositivo pode dar a entender que são três orçamentos. Mas, na


verdade, trata-se de uma lei que engloba três documentos, cada um com um
enfoque específico.

i) No § 8º do art. 165, encontramos o princípio da exclusividade:

Art. 165, § 8º - A lei orçamentária anual não conterá dispositivo


estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não se
incluindo na proibição a autorização para abertura de créditos
suplementares e contratação de operações de crédito, ainda que
por antecipação de receita, nos termos da lei.

O dispositivo consagra o princípio da exclusividade. As exceções nele


tratadas também são, na verdade, matérias relacionadas ao orçamento, que
visam dar alguma flexibilidade ao Poder Executivo na gestão orçamentária. A
autorização para abertura de créditos suplementares, que será estudada no
Módulo V, possibilita ao governante aumentar o valor de uma despesa
autorizada no orçamento em montante insuficiente. Já a autorização para
contratação de operações de crédito está relacionada com uma das formas de
obtenção de receitas ao longo do ano.

Saiba mais:

A OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é


uma organização internacional fundada em 1961 que tem por missão
“promover políticas que aperfeiçoem o bem-estar econômico e social das
pessoas ao redor do mundo”.

Dado o papel central que o orçamento público assumiu no planejamento


governamental, em 2015, a organização tomou como referência as boas
práticas adotadas em seus países membros e elencou 10 princípios que, na
sua visão, devem orientar o processo orçamentário. São eles: (i) os
orçamentos devem ser gerenciados dentro de limites fiscais claros, críveis e
previsíveis; (ii) os orçamentos devem ser estreitamente alinhados com as
prioridades estratégicas de médio prazo do governo; (iii) o orçamento de capital
deve ser projetado para atender às necessidades de desenvolvimento nacional,
de forma eficiente, efetiva e coerente; (iv) os dados e documentos
orçamentários devem ser abertos, transparentes e acessíveis; (v) o debate
sobre as escolhas orçamentárias deve ser inclusivo, participativo e realista; (vi)
os orçamentos devem apresentar um retrato abrangente, preciso e confiável
das finanças públicas; (vii) a execução orçamentária deve ser ativamente
planejada, gerenciada e monitorada; (viii) avaliações de desempenho devem
ser parte integrante do processo orçamentário; (ix) a sustentabilidade de longo
prazo e outros riscos fiscais devem ser identificados, avaliados e gerenciados
de forma prudente; e (x) a integridade e a qualidade das projeções
orçamentárias, do planejamento fiscal e da execução orçamentária devem ser
promovidas mediante rigorosa asseguração de qualidade, incluindo auditoria
independente.

Tais diretrizes não substituem os princípios orçamentários clássicos que


estudamos nesta unidade, mas os complementam com enfoque em pilares da
governança pública, tais como transparência, integridade, participação,
responsabilidade e planejamento para atingir os objetivos.

Para quem tiver interesse em se aprofundar no assunto, sugiro a leitura do


artigo Governança orçamentária: uma relevante agenda em ascensão,
elaborado por Paulo Roberto Simão Bijos e publicado na série Orçamento em
Discussão da Consultoria de Orçamentos do Senado Federal.
Unidade 3 – A natureza jurídica do orçamento no Brasil

Vimos, na unidade anterior, que não é permitida a execução de


nenhuma obra, pagamento de serviços e de outras despesas que não estejam
autorizadas na lei orçamentária, correto?

Você já percebeu que a lei orçamentária constitui um instrumento


de controle político do Poder Legislativo sobre o Poder Executivo?

Sim, é controle político, porque é do Congresso Nacional, da assembleia


legislativa e da câmara de vereadores a competência privativa para autorizar,
em nome da sociedade, o Poder Executivo a arrecadar as receitas e a realizar
as despesas necessárias ao funcionamento dos serviços públicos e outras que
objetivem o bem-estar coletivo.

Dessa relação entre Poderes, surge um debate interessante acerca da


natureza jurídica da peça orçamentária: uma vez autorizada pelo Poder
Legislativo, a despesa prevista no orçamento deve necessariamente ser
realizada pelo Poder Executivo? Isto é, a despesa prevista no orçamento
obriga o governo a executá-la ou apenas autoriza o gasto e deixa a critério do
gestor realizá-lo ou não. No primeiro caso, estamos diante de um orçamento de
natureza impositiva; no segundo, de natureza autorizativa.

Vamos partir para uma situação hipotética, para deixar mais claras as
duas alternativas. Suponha que, ao examinar o orçamento do seu município,
você verifique que constam ações de suma importância para a comunidade e
que eram esperadas com grande expectativa, como, por exemplo:

i) construção da quadra de esportes – projeto incluído no orçamento pelo


próprio prefeito; e
ii) ampliação da biblioteca da escola municipal – obra incluída pelos
vereadores no orçamento, atendendo à reivindicação de alunos e
professores.

Além disso, você observa que os recursos necessários para custear


essas despesas também estão previstos no orçamento, conforme manda a lei.
Nesse contexto, se entendermos que o orçamento tem caráter
impositivo, o prefeito estaria compelido a realizar as despesas ao longo do ano.
Por outro lado, caso entendamos que o orçamento tem caráter autorizativo, o
prefeito poderia ponderar, com seu juízo de conveniência e oportunidade
político e administrativo, se realiza as duas, uma ou mesmo nenhuma das
despesas.

Mas, afinal, qual entendimento prevalece no Brasil?

Historicamente, a maioria dos estudiosos do assunto tem defendido que


o orçamento no Brasil possui caráter autorizativo. Por essa razão, o governo
não estaria obrigado a executar todas as despesas autorizadas pelo Poder
Legislativo na lei orçamentária.

Os defensores da natureza autorizativa sustentam que o orçamento não


cria direitos e deveres para o Estado nem para os cidadãos e, por isso, não
pode impor, por si só, determinada conduta a nenhum deles. O orçamento
apenas prevê as receitas, cuja cobrança depende de autorização e regulação
pela legislação tributária; e autoriza a execução da despesa, até determinado
montante. A obrigatoriedade de realizar determinados gastos, quando
existente, deriva de outras normas (como a lei previdenciária, que determina o
pagamento de aposentadoria para quem preencha determinados requisitos, ou
mesmo a Constituição Federal, quando determina que parte da arrecadação de
impostos federais seja repartida com estados e municípios), mas não do
próprio orçamento.

No entanto, esse entendimento acerca da natureza meramente


autorizativa do nosso orçamento já sofria algumas críticas. E elas se tornaram
ainda mais contundentes com as recentes mudanças que foram promovidas na
parte da Constituição Federal que trata da matéria orçamentária. Vejamos cada
uma delas.
Quando se deixa de avaliar o orçamento apenas pelo aspecto conceitual
e parte-se para a prática, verifica-se que a maior parte das despesas nele
autorizadas já é de execução obrigatória pelo governo. Isto é, muitas das
despesas previstas independem de qualquer avaliação do gestor para serem
pagas, pois sua realização decorre de regras constitucionais ou legais
previamente estabelecidas. São os casos, por exemplo, do pagamento de
aposentadorias e pensões, de salário de servidores, de juros da dívida pública,
do repasse que a União é obrigada a fazer para estados e municípios de
acordo com o mandamento constitucional.

Além disso, há uma parcela da receita que deve necessariamente ser


direcionada para certas despesas, também por imposição constitucional ou
legal, tais como os gastos mínimos que o governo deve realizar com educação
e saúde.

Essas despesas, em função do seu caráter compulsório para o governo,


são chamadas de despesas obrigatórias, em contraposição às denominadas
despesas discricionárias, sobre as quais o governo tem maior margem de
escolha sobre sua realização.

Analisando os últimos orçamentos federais, e excluindo as despesas


direcionadas ao pagamento da dívida pública e seus encargos, verificamos que
as despesas obrigatórias têm girado em torno de 92% do total de despesas nos
últimos anos. Ou seja, as despesas discricionárias têm representado apenas
8% do total no âmbito da União.

Além desse aspecto estrutural de nosso orçamento, as mudanças


recentes na Constituição Federal têm reduzido ainda mais o espaço de escolha
do governo para realizar as despesas discricionárias.

Atenção:

As emendas parlamentares ao orçamento, dada sua relevância, serão


tema de estudo em unidade específica de nosso curso, no Módulo IV.

Por ora, é suficiente sabermos que a apresentação de emendas a


projeto de lei é uma prerrogativa inerente à atividade parlamentar. No caso da
lei orçamentária anual, as emendas apresentadas pelos parlamentares, em
regra, destinam-se a direcionar recursos para suas bases eleitorais. No âmbito
federal, as emendas ao orçamento podem ser apresentadas pelo parlamentar
individualmente, por uma bancada estadual (formada por deputados e
senadores pertencentes ao mesmo estado) ou por uma comissão permanente
das Casas do Congresso Nacional.

As alterações constitucionais mencionadas visaram tornar obrigatória a


execução das programações incluídas no orçamento individualmente por cada
parlamentar ou pelas bancadas estaduais. Com isso, afastou-se a
discricionariedade que o governo federal tinha em executar ou não essas
despesas.

As primeiras alterações nesse sentido alcançaram algumas


programações decorrentes de emendas parlamentares ao orçamento, que, até
então, se submetiam às mesmas regras das demais despesas discricionárias.
Em 2015 foi publicada a Emenda Constitucional nº 86, que conferiu caráter
impositivo às programações decorrentes de emendas parlamentares individuais
apresentadas ao orçamento federal. Em 2019, a partir da Emenda
Constitucional nº 100, esse caráter impositivo foi estendido às programações
decorrentes de emendas de bancadas estaduais.

Assim, após a promulgação das Emendas Constitucionais n os 86/2016 e


100/2019, o governo federal passou a ser obrigado a executar as
programações orçamentárias incluídas pelos parlamentares ou pelas bancadas
estaduais, a despeito dessas despesas ainda serem classificadas como
discricionárias.

O gráfico a seguir demonstra, para o período compreendido entre 2016 e


2022, o percentual da despesa federal direcionada para despesas obrigatórias
e para despesas discricionárias, distinguindo, neste último caso, as despesas
decorrentes de emendas impositivas (individuais e de bancadas estaduais) das
demais despesas discricionárias.
Gráfico 1 – Percentual de despesas obrigatória e discricionária no
orçamento federal (2016-2022)

100% 0.50% 0.71% 0.70% 0.75% 0.74% 0.89% 0.78%


6.43% 6.83% 6.00%
95% 8.94% 8.39% 8.74% 9.74%

90%

85%

80%
92.83% 92.28% 93.22%
75% 90.56% 90.90% 90.56% 89.51%

70%

65%

60%
2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

DESP. PRIM. OBRIGATÓRIA DESP. PRIM. DISCRICIONÁRIA EMENDAS IMPOSITIVAS

Fonte: Siga Brasil. Valores empenhados entre 2016 e 2021 e autorizado até jun/2022.
(1) Dados referentes às despesas primárias (não considera, portanto, despesas relacionadas ao pagamento da
dívida pública e seus encargos), excluídos os gastos extraordinários com enfrentamento da pandemia de
Covid-19 realizados em 2020, 2021 e 2022. (2) Apesar de ter sido incluída na Constituição Federal em 2019,
pela EC nº 100, as emendas de bancada estadual já eram consideradas impositivas desde 2017, em razão de
previsão nas Leis de Diretrizes Orçamentárias.

Conforme se pode observar do gráfico, as despesas obrigatórias


preponderam no orçamento federal. São despesas sobre as quais não cabe
valoração do governo quanto à conveniência e oportunidade de realizá-las.
Para alterá-las, o governo precisa mudar as leis que as estabelecem.

As despesas discricionárias, por outro lado, representam uma parcela


reduzida do orçamento. E mesmo assim, parte delas, especificamente as
decorrentes de emendas individuais e de bancadas estaduais, tiveram sua
execução tornada impositiva.

Essa baixa margem de manobra que o governo tem na gestão das despesas
públicas revela a rigidez do orçamento federal.

A propósito, caso reste alguma dúvida, este vídeo da série Orçamento Fácil
diferencia as despesas obrigatórias das discricionárias. Não deixe de assistir.
De forma similar à sistemática adotada na União, diversos estados e
municípios passaram a prever em suas constituições e leis orgânicas que as
programações decorrentes de emendas parlamentares apresentadas aos
respectivos orçamentos também possuem caráter impositivo.

A execução de programações decorrentes de emendas parlamentares


sempre foi objeto de atrito entre os Poderes Executivo e Legislativo. Tendo em
vista o entendimento prevalente de que o orçamento possui caráter apenas
autorizativo, o governo muitas vezes deixava de executar as programações
incluídas pelos parlamentares no orçamento. Em outras situações, usava esse
poder discricionário como barganha para aprovar matérias de seu interesse no
Parlamento. Isto é, só executava as programações orçamentárias de interesse
do parlamentar caso ele votasse favorável ao governo em outras matérias.

Se, por um lado, conferir caráter impositivo às programações


orçamentárias decorrentes de emendas limita essa prática política indesejável,
por outro, ela torna ainda mais rígida a gestão orçamentária do governo. Ou
seja, ela reduz ainda mais as despesas sobre as quais o governo tem alguma
escolha em sua execução.

Mas esse debate não para por aí, e agora vem a parte mais
importante!

A Emenda Constitucional nº 100/2019, além de conferir caráter


impositivo às programações decorrentes de emendas de bancadas estaduais,
incluiu dispositivo expresso na Constituição prevendo que “a administração
tem o dever de executar as programações orçamentárias, adotando os
meios e as medidas necessários, com o propósito de garantir a efetiva entrega
de bens e serviços à sociedade.”

Diferentemente do caráter impositivo conferido às emendas


parlamentares, cuja reprodução pelos entes subnacionais requer ajustes na
legislação local, entendeu-se que esse dispositivo seria de observância
obrigatória por União, estados e municípios. A partir de então, parte da doutrina
passou a considerar que, agora, o orçamento no Brasil seria de natureza
impositiva. Contudo, surgiram algumas dúvidas sobre como implementar essa
nova sistemática. Por essa razão, ainda em 2019, foi aprovada a Emenda
Constitucional nº 102, que tentou aclarar o assunto. Assim, foi incluído novo
dispositivo na Constituição Federal (§ 11 do art. 165), estabelecendo que o
dever de execução das programações orçamentárias:

i) aplica-se exclusivamente às despesas primárias discricionárias;


ii) não se aplica nos casos de impedimentos de ordem técnica
devidamente justificados, isto é, quando alguma situação fática ou
jurídica existente impeça a execução da despesa;
iii) subordina-se ao cumprimento de dispositivos constitucionais e legais
que estabeleçam metas fiscais ou limites de despesas, ou seja, não
precisam ser executadas caso o governo necessite “bloquear” a
execução de algumas despesas para garantir a economia que se
comprometeu a fazer no ano (esse assunto será estudado na
Unidade 1 do Módulo V); e
iv) não impede o cancelamento necessário à abertura de créditos
adicionais, isto é, a despesa pode ser cancelada para que seus
recursos sejam direcionados a outra despesa de interesse do governo
(os créditos adicionais são leis que alteram o orçamento vigente. Eles
serão estudados em outro momento, na Unidade 2 do Módulo V).

Assim, ao esclarecer como funcionaria o dever de execução das


programações orçamentárias, a Emenda Constitucional nº 102/2019 acabou
por restringir seu alcance às despesas discricionárias e prever algumas
situações em que esse dever estará afastado.

Se essas modificações mantiveram o caráter autorizativo de nosso


orçamento, ou se, com essas novas regras, nosso orçamento passou a ser de
fato impositivo, é assunto que deixamos para a doutrina discutir. O fato
importante para nosso curso é que as Emendas Constitucionais n os 100 e 102,
ambas de 2019, impuseram um dever ao gestor público de ao menos declarar
as razões pelas quais não executou determinada despesa prevista no
orçamento (seja porque houve impedimento de ordem técnica, a despesa foi
contingenciada por restrições fiscais verificadas ou mesmo cancelada para
ceder espaço para outra despesa). Antes das referidas emendas
constitucionais, esse dever não existia.

No âmbito da União, as justificativas para eventual não execução das


programações do orçamento deverão constar da prestação de contas que o
governo deve apresentar anualmente aos órgãos de controle da administração
pública.

Aqui chegamos ao final de nosso primeiro módulo. No módulo seguinte


iremos aprender detalhes sobre a receita e a despesa pública. Nos vemos lá!
Módulo II - Receita e despesa

Objetivos:

Ao final deste módulo, você compreenderá o orçamento na sua totalidade e


estará apto a:

 Conceituar receita pública e identificar seus estágios; e


 Conceituar despesa pública e identificar seus estágios.

Unidade 1 - Conceitos e estágios da receita

Você observou que, nas unidades anteriores, tratamos das questões


orçamentárias relacionadas principalmente à despesa, sem falar muito sobre a
receita?

Pois bem, esta unidade será dedicada exclusivamente à receita,


esperando que, ao final da leitura, você seja capaz de conceituar a receita
pública e identificar seus estágios.

Quem trabalha em orçamento, especialmente no Poder Legislativo,


sabe, por experiência, que a receita não desperta tanto interesse quanto a
despesa no debate orçamentário. Além disso, é um assunto naturalmente
antipático à sociedade, por afetar direta ou indiretamente a sua renda.

A receita é o conjunto de recursos que o governo - federal, estadual e


municipal - espera arrecadar para fazer face às despesas a serem realizadas
no exercício. A maior parte da receita é arrecadada de forma compulsória, quer
dizer, obrigatória, principalmente por meio dos impostos e das contribuições.

De acordo com o Regulamento Geral de Contabilidade Pública, a receita


engloba todos os créditos de qualquer natureza que o governo tem direito de
arrecadar em virtude de leis gerais e especiais, de contratos e quaisquer títulos
de que derivem direitos a favor do Estado. Em outras palavras, define-se como
receita pública o recebimento de recursos pelo Estado com o objetivo de
financiar as despesas públicas.
O orçamento da receita é relativamente simples, se comparado com o
da despesa, pois envolve um número bem menor de regras e normas. É
constituído de um quadro analítico com as estimativas de arrecadação de cada
um dos tipos de receita, além de alguns poucos quadros sintéticos. Ao
contrário da despesa, que é programada, autorizada e controlada, a receita é
apenas estimada em termos orçamentários, sendo seus demais procedimentos
regulados na legislação tributária.

Mas há algum procedimento, algum rito, para que as receitas


previstas no orçamento ingressem nos cofres públicos?

Sim, para que os recursos efetivamente ingressem nos cofres públicos,


a receita passa pelos seguintes estágios: previsão, lançamento, arrecadação
e recolhimento.

A previsão diz respeito à estimativa do valor que será arrecadado no


ano. Em geral, a previsão toma por base o comportamento da arrecadação
efetivada no ano anterior, conjugado com o emprego de técnicas de projeção
que levam em conta o cenário econômico esperado para o período.

O lançamento, especialmente no caso dos tributos, é a informação


prestada à sociedade sobre o valor e a data do pagamento. Certamente você já
recebeu em sua residência, ou mesmo por e-mail, o carnê do IPTU (Imposto
Predial e Territorial Urbano) ou do IPVA (Imposto sobre a Propriedade de
Veículos Automotores) com a data e o valor que deverá ser pago. Isso é o
lançamento. Nos dias atuais, o lançamento é acompanhado de ampla
divulgação na mídia.

Quando você paga o carnê referente ao imposto, seja no órgão


arrecadador da prefeitura, numa agência bancária, ou mesmo no aplicativo de
celular do seu banco, está dando cumprimento ao terceiro estágio da receita,
ou seja, à arrecadação.

O quarto estágio, recolhimento, se dá quando os recursos arrecadados


ingressam na conta do Tesouro e estão aptos a serem gastos.
Para refletir:

A menor complexidade do orçamento da receita não diminui em nada a sua


importância, uma vez que sem receita não haverá despesa, certo?

Modernamente, para tornar mais eficiente a gestão dos recursos


públicos, a administração pública trabalha com o que se convencionou chamar
de Conta Única, tanto na União quanto nos estados e municípios. É uma conta
bancária onde ficam depositados todos os recursos do ente federado e de onde
serão retirados os valores para efetuar o pagamento de compromissos por ele
assumidos.

Aqui chegamos ao final da nossa unidade. No próximo tópico,


continuaremos nosso estudo sobre a receita pública, com enfoque na sua
classificação e nas receitas de interesse dos municípios.

Unidade 2 - Classificação da receita e as receitas municipais

Na unidade anterior, iniciamos o estudo da receita pelo seu conceito e


estágios. Passaremos, agora, à sua classificação. Vamos ver, também, o
detalhamento das receitas municipais, esperando que, ao final, você identifique
cada tipo de receita.

Existem várias formas de classificar a receita. A mais conhecida, e mais


utilizada, é a classificação por categoria econômica, estabelecida pela Lei nº
4.320/1964. De acordo com essa classificação, a receita se divide em:

 Receita corrente, e
 Receita de capital.

Como a Lei nº 4.320/1964 dispõe sobre normas gerais de Direito


Financeiro aplicáveis a todos os entes federados, a classificação por categoria
econômica deve ser utilizada pela União, estados e municípios.
O termo "corrente" desta classificação está relacionado com o aumento
das disponibilidades financeiras do Estado, sem o surgimento de um passivo
correspondente. Ao receber uma receita corrente, o Estado não se obriga a
entregar nada em troca, ou seja, não há obrigatoriedade de prestar nenhuma
contrapartida direta a quem realizou o pagamento. Na prática, essa
contrapartida vem de forma indireta e para toda a sociedade, quando o Estado
utiliza as receitas correntes para financiar as obras e serviços públicos.

Dentro das receitas correntes, a que mais se destaca, em termos de


valores, é a tributária. Ela é constituída pelos recursos cobrados da sociedade
sob a forma de impostos, como o imposto de renda, o IPTU e o IPVA, por
exemplo, além das taxas e contribuições, como a previdenciária.

A receita de capital, por sua vez, também gera aumento de


disponibilidade financeira para o Estado, porém acompanhada de um dever
patrimonial. São receitas de capital os recursos recebidos em razão da venda
de um imóvel do governo, por exemplo (o governo recebe o recurso e, em
troca, tem que transferir a propriedade sobre o bem).

A principal receita de capital, porém, advém dos recursos originados de


empréstimos, mais conhecidos como operações de crédito. Quando o governo
necessita de recursos para financiar obras de grande valor, por exemplo, ele
pode recorrer a esse tipo de operação. É a sociedade – famílias e empresas –
quem empresta dinheiro ao governo, que, em contrapartida, obriga-se a
devolver, no prazo combinado, o capital recebido acrescido de juros
remuneratórios. É muito comum o emprego desse tipo de operação pelo setor
público.

Certamente, você já leu ou ouviu falar sobre a dívida pública, não?

Ao tratarmos de operações de crédito, é indiretamente sobre isso que


estamos falando. Os empréstimos realizados pelo governo afetam a dívida
pública do Estado. Todavia, o estudo desse tema é amplo e complexo e
escapa ao escopo deste curso introdutório. De toda forma, se quiserem ter uma
breve noção sobre essa relação entre operações de crédito e dívida pública,
sugiro assistirem ao vídeo da série Orçamento Fácil, do Senado Federal,
destinado ao assunto. Basta clicar aqui.
Outra classificação bastante utilizada é a que divide a receita em:

 Receita própria - aquela arrecadada pela própria unidade da


Federação, valendo-se do suporte administrativo de seu quadro de
servidores; e
 Receita transferida - receita recebida de outra unidade federada.

Essa classificação é importante para analisar as finanças públicas


municipais, haja vista que essas unidades federadas costumam receber
transferências tanto da União quanto do estado em que estão inseridas.

Aproveitando, então, vamos conversar um pouco sobre receitas


municipais.

Receitas dos municípios

Atenção:

Quando discutimos as questões municipais, devemos ter em mente que não se


pode olhar os municípios como uma categoria homogênea, ou seja, não há
como comparar o orçamento da cidade de São Paulo, por exemplo, com o de
um município pequeno da região Norte ou Nordeste. Apesar de empregarem a
mesma classificação, existem diferenças na programação e nos valores que
devem ser levados em conta nas análises que se pretende fazer.

O município brasileiro conta com várias fontes de receita. É a


Constituição Federal que determina os componentes da receita, tanto no
âmbito da União, quanto dos estados e dos municípios.

Entende-se como receita própria a arrecadada diretamente pela


prefeitura, como os tributos municipais. Via de regra, essa arrecadação requer
do município um aparato administrativo mínimo para que seja efetivada.

Já a receita transferida é aquela recebida de outro ente da Federação,


ou seja, do estado ou da União. Nesse caso, o município adota uma postura
mais passiva, pois o esforço arrecadatório já foi feito pelo ente que transferiu o
recurso.
Ao tratar das receitas próprias municipais, a Constituição Federal atribui
a esses entes competência para instituir impostos sobre:

i) propriedade predial e territorial urbana: trata-se do IPTU, que incide


sobre a propriedade dos imóveis localizados na zona urbana do município.

Para as capitais e grandes municípios, em que há quantidade


significativa de imóveis em seu território, o valor arrecadado com o IPTU é
significativo. Contudo, para os pequenos e médios, o imposto gera pouca
receita e é de difícil cobrança, pois exige uma estrutura administrativa
capacitada para efetuar os procedimentos tributários inerentes à sua
arrecadação, que muitas vezes o município não possui.

Observe que o IPTU varia de acordo com o tamanho e a condição do


imóvel e não se relaciona com a renda do proprietário. Assim, é comum
encontrarmos situações em que uma pessoa é proprietária de um bom imóvel,
mas não possui renda suficiente para pagar o imposto. Nesse caso, corre-se o
risco de perder o bem, se a obrigação tributária perante a prefeitura não for
cumprida.

ii) transmissão “intervivos” de bens imóveis: é o imposto incidente


sobre a transação de compra e venda de bens imóveis, conhecido como ITBI.
Para que essa receita seja relevante, é preciso que haja quantidade
significativa de transações imobiliárias no território municipal e que a prefeitura
tenha ciência desses negócios (muitas vezes, os imóveis transacionados não
são regularizados, sequer possuem matrícula em cartório de imóveis). A receita
de ITBI também é insignificante nos pequenos municípios.

iii) serviços de qualquer natureza: trata-se do ISS, cobrado dos


prestadores de serviço em território municipal. Os serviços passíveis de
tributação pelos ISS são elencados em lei complementar editada pela União, e
não alcançam aqueles que já são tributados pelo ICMS (Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços), um imposto estadual.
Saiba mais:

Um estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)


traçou uma série histórica da arrecadação anual de cada município brasileiro
com o IPTU, ITBI e ISS, entre 2003 e 2019.

O estudo revelou que a arrecadação dos impostos municipais é extremamente


desigual no Brasil, com os municípios maiores respondendo por parcela
desproporcionalmente alta da arrecadação total. Em 2019, por exemplo, o
estudo estimou que 96% de toda a arrecadação do IPTU, ISS e ITBI tenha
ocorrido nos 1.772 municípios brasileiros com mais de 20 mil habitantes
naquele ano (que representam 32% dos municípios brasileiros). Isso significa
que os 3.796 municípios com população abaixo de 20 mil habitantes somados
(68% dos municípios brasileiros) teriam sido responsáveis por apenas 4% da
arrecadação conjunta dos impostos municipais em 2019.

O estudo completo pode ser acessado por aqui.

Além dos impostos, a Constituição Federal estabelece que os municípios


poderão instituir e cobrar taxas pelos serviços públicos prestados ao
contribuinte, ou postos à disposição, e também para o custeio do serviço de
iluminação pública.

E as receitas transferidas, também estão previstas na Constituição


Federal?

Sim, a transferência de recursos entre entidades federadas é uma forma


de repartição compulsória dos recursos arrecadados na Federação, e tem
como objetivo garantir o equilíbrio financeiro dos entes com menor potencial
arrecadatório. Por essa razão, sua previsão também decorre da Constituição.

Enquanto na receita tributária - receita própria - o município exerce o seu


poder de tributar, na receita partilhada - ou transferida – o município recebe
parcela da arrecadação de tributos cuja competência foi atribuída pela
Constituição a estados ou à União.

Assim, o estado é obrigado a transferir vinte e cinco por cento da


arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)
para seus municípios, de acordo com critérios definidos em lei. Além disso,
devem repassar cinquenta por cento da arrecadação do Imposto sobre a
Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) para o município onde o veículo
está licenciado.

No caso da União, o município recebe cinquenta por cento da receita do


Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) relativa a imóveis nele
situados. Os municípios recebem, ainda, a parcela de 25,5% da arrecadação
do Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza (IR) e do
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que vão compor o Fundo de
Participação dos Municípios (FPM).

Para Refletir:

Acreditamos que você já possua algum conhecimento sobre a


importância dos recursos do FPM para os municípios. E qual o motivo desta
importância, além do valor, é claro?

Cabe destacar que, originalmente, a Constituição Federal de 1988 previa


que o FPM seria composto por 22,5% da arrecadação do IR e do IPI. Contudo,
como resultado da constante luta dos prefeitos por mais recursos, o Congresso
Nacional tem ampliado esse montante ao longo do tempo. Hoje, além dos
22,5%, a União deve repassar aos municípios 1% adicional sobre a
arrecadação do IR e do IPI nos meses de julho, setembro e dezembro a título
de FPM.

Saiba mais:

A receita própria é muitas vezes insuficiente para o gestor municipal


realizar as despesas demandadas pela população local, posto que a atividade
econômica do município pode não ser capaz de gerar receita em valor
suficiente. Daí a necessidade das transferências governamentais. Porém, se,
por um lado, ela resolve o problema da receita, por outro, agrava a
dependência financeira do município.
Partindo para dados concretos, o mesmo estudo do IPEA citado
anteriormente avaliou a quantidade de municípios brasileiros cuja receita
própria de impostos superava 10% da sua receita total (própria + transferida).
De acordo com o estudo, mais de 90% dos municípios com mais de 500 mil
habitantes superam esse patamar. Esse número cai para pouco mais de 60%
nos municípios com população entre 100 mil e 500 mil habitantes; para cerca
de 40% nos municípios com população entre 50 mil e 100 mil habitantes; para
a casa dos 20% nos municípios com população entre 20 mil e 50 mil
habitantes; e, por fim, para menos de 1% nos municípios com população
inferior a 20 mil habitantes.

O estudo completo pode ser acessado por aqui.

Como já adiantamos, a repartição da receita proveniente da arrecadação


de impostos entre os entes federados representa um mecanismo fundamental
para amenizar as desigualdades regionais, na busca por promover o equilíbrio
socioeconômico da nação. Dessa forma, o FPM é importante pois sua receita é
contínua e certa, permitindo o planejamento mais racional das despesas
municipais e dos respectivos desembolsos, ou seja, da programação
orçamentária e financeira da prefeitura. Para a grande maioria dos municípios
brasileiros, o FPM é a principal fonte de receita. Pode-se afirmar: os pequenos
e médios municípios são extremamente dependentes dos recursos do FPM.

O FPM tem suas cotas calculadas pelo Tribunal de Contas da União


(TCU), que também atua como órgão fiscalizador dos repasses. A participação
de cada município é determinada pela aplicação de coeficientes que variam de
acordo com o número de habitantes, reajustados por meio de recenseamento
demográfico geral.

Finalizando a unidade, e como informação complementar, que tal


algumas palavras sobre as receitas dos estados?

É o art. 155 da Constituição Federal que define a competência dos


estados em matéria tributária, estabelecendo que lhes compete instituir:
i) O ICMS - imposto sobre operações relativas à circulação de
mercadorias e sobre prestações de serviço de transporte interestadual e
intermunicipal e de comunicação;

ii) O IPVA - imposto sobre a propriedade de veículos automotores; e

iii) O ITCMD - imposto sobre a transmissão por herança e doação de


quaisquer bens ou direito.

Os estados e o Distrito Federal também participam da partilha do IR e do


IPI por meio do Fundo de Participação dos Estados (FPE), que recebe 21,5%
do total arrecadado pela União com os dois impostos.

Além disso, os estados e o Distrito Federal recebem 10% da


arrecadação da União com o IPI, proporcionalmente ao valor das respectivas
exportações de produtos industrializados, e 29% da arrecadação da União com
a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico incidente sobre
combustíveis (Cide-Combustíveis), na forma da lei.

Saiba mais:

Para ampliar e consolidar seu conhecimento sobre o FPE e o FPM, recomendo


a visita ao Portal Tesouro Transparente, em que são disponibilizadas
diversas informações acerca das finanças públicas geradas ou consolidadas
pela Secretaria do Tesouro Nacional. Dentre os painéis disponíveis, há um
exclusivo para transferência de recursos da União para estados e municípios,
que pode ser acessado por aqui. Que tal verificar quanto o seu estado e seu
município receberam no último ano a título de FPE e FPM?

Outra fonte de informações relevantes sobre os fundos constitucionais é o sítio


do próprio Tribunal de Contas da União, em que você poderá conhecer os
coeficientes definidos para o rateio dos recursos do FPE e do FPM entre as
unidades federadas. Clique aqui que te direcionamos para o portal!
Unidade 3 – Conceito, estágios e classificação da despesa

Pode-se conceituar a despesa pública como a aplicação dos recursos


arrecadados pelo Estado com vistas ao atendimento das necessidades
coletivas e ao cumprimento das responsabilidades institucionais.

O acompanhamento da realização da despesa pública é uma atividade


de grande importância para o Estado. Afinal, os recursos disponíveis são
limitados e é por meio da sua aplicação que o governo consegue entregar à
sociedade os bens e serviços por ela demandados.

Conforme já estudamos em unidades anteriores, o Estado só está


autorizado a executar as despesas previstas na lei orçamentária. No entanto,
para que os recursos públicos sejam efetivamente desembolsados, os gestores
públicos devem cumprir algumas etapas necessárias à execução da despesa.
São elas o empenho, a liquidação e o pagamento.

Vamos ver com um exemplo prático como cada estágio ocorre.

Suponha que uma prefeitura necessite comprar materiais para equipar


uma nova escola que acabou de construir. Será necessário adquirir novas
cadeiras, mesas, bebedouros, lousas etc. Para isso, a lei orçamentária
municipal autorizou a Secretaria de Educação a gastar R$ 100 mil.

Para realizar a compra das cadeiras, por exemplo, a prefeitura estima


que precisará de R$ 20 mil. Após realizar o processo licitatório, o fornecedor
escolhido solicitou prazo de 1 mês para entregá-las. Para evitar que nesse
período os recursos destinados à compra das cadeiras sejam direcionados
para outra finalidade (como a compra das mesas, por exemplo), o governo
deve “reservar” esses R$ 20 mil. Essa “reserva” é chamada orçamentariamente
de empenho da despesa.

Assim, o empenho é o estágio da despesa em que o governo separa o


recurso que será utilizado para pagamento quando o bem for entregue ou o
serviço concluído. Por um lado, o empenho ajuda o governo a organizar os
seus gastos, evitando que se gaste mais do que foi planejado. Por outro, é uma
garantia ao fornecedor de que existe previsão orçamentária suficiente para que
seu crédito seja honrado.

Continuando com o nosso exemplo, imagine que, no prazo combinado, o


fornecedor efetue a entrega das cadeiras. Nesse momento, cabe ao governo
verificar se o objeto foi entregue na quantidade e na qualidade pactuadas, isto
é, se corresponde àquilo que foi contratado. Caso esteja tudo certo, o governo
deve reconhecer que o fornecedor cumpriu sua parte do contrato e, portanto,
merece receber o valor combinado. Essa etapa é denominada liquidação da
despesa.

Dessa forma, podemos dizer que a liquidação da despesa ocorre


quando o governo atesta que recebeu aquilo que efetivamente contratou. Ou
seja, quando se confere que o bem foi entregue corretamente, que o serviço foi
prestado da forma devida ou que a etapa da obra foi concluída como acordado.

Por fim, após o governo reconhecer que as cadeiras foram entregues


conforme o combinado, ele pode efetuar o devido pagamento ao fornecedor,
que consiste no efetivo desembolso do recurso público.

A série Orçamento Fácil, do Senado Federal, possui um episódio


específico sobre os estágios da despesa pública. Convido todos a assisti-lo
clicando aqui.

Agora que já aprendemos os estágios para a execução da despesa


pública, podemos tratar da sua classificação.

Você pode se perguntar: classificação? Há necessidade disso?


Qual a importância? É só para complicar o estudo do orçamento?

A classificação da despesa é de grande importância, sim, pois auxilia na


compreensão do orçamento e das contas públicas. São utilizadas para facilitar
e padronizar as informações que se deseja obter.

Pela classificação é possível visualizar o orçamento por poder, função,


subfunção, programa, categoria econômica, e olhar a despesa sob diferentes
enfoques, ou abordagens, conforme o ângulo que se pretende analisar.

Imagine que um organismo internacional, como o Banco Mundial, por


exemplo, necessite de informações sobre o valor gasto com o Poder Legislativo
do País em determinado ano, ou sobre o valor aplicado em educação e saúde.
Pela despesa classificada, temos condições de dar a resposta quase que
imediatamente com a utilização dos instrumentos fornecidos pela informática.

Observe que o gasto total com o Poder Legislativo engloba as despesas


com as câmaras de vereadores de todos os municípios, com as assembleias
legislativas dos estados e com o Congresso Nacional. Para obter essa soma é
preciso que as despesas estejam classificadas da mesma forma e sob os
mesmos critérios. O mesmo ocorre com educação, saúde e outros setores.

Ora, falar em “classificadas da mesma forma” é o mesmo que dizer que


todas as unidades da Federação têm que adotar a mesma classificação. Ou
melhor, são obrigadas por lei.

Saiba mais:

Atualmente, o órgão coordenador da metodologia de classificação


orçamentária é o Ministério da Economia, que dita as normas a respeito do
assunto. Originalmente, a classificação foi estabelecida pela Lei n°
4.320/1964.

Vamos estudar quatro tipos de classificação da despesa. Cada


classificação possui uma finalidade específica e um objetivo original que
justificam sua criação e pode ser associada a uma questão básica que procura
responder:

a) Classificação Institucional
“Quem” é o responsável pela programação?

b) Classificação Funcional
Em que área de ação governamental a despesa será realizada?

c) Classificação Programática
Para que os recursos são alocados? (finalidade).

d) Classificação da Despesa por Natureza


O que será adquirido e “qual” o efeito econômico da realização da
despesa?

a) Classificação institucional

Sua finalidade primordial é colocar em evidência a unidade responsável


pela execução da despesa, ou seja, os órgãos que gastam os recursos de
acordo com a programação aprovada. Ao evidenciar responsabilidades, a
classificação institucional ajuda no controle e na avaliação da política pública
objeto da despesa.

A classificação institucional compreende os órgãos orçamentários e


suas respectivas unidades orçamentárias (UOs).

De acordo com a Lei nº 4.320/1964 (art. 14), “constitui unidade


orçamentária o agrupamento de serviços subordinados ao mesmo órgão [..] a
que serão consignadas dotações próprias.”

As UOs constituem-se em agrupamentos de serviço aos quais são


atribuídas dotações orçamentárias com vistas à execução das programações
autorizadas no orçamento. Em outras palavras: a UO é a responsável por
aplicar os recursos públicos, por executar do orçamento. O órgão orçamentário,
por sua vez, agrupa as unidades orçamentárias a ele relacionadas.

No caso do orçamento federal, por exemplo, o Ministério da Saúde é um


órgão orçamentário. A ele estão vinculadas as UOs Fundo Nacional de Saúde,
Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) e Hospital Nossa Senhora da Conceição. A cada UO são
atribuídas dotações orçamentárias para execução das políticas públicas sob a
respectiva responsabilidade.

Como a União, estados e municípios devem elaborar seu próprio


orçamento, a classificação institucional utilizada por cada ente federado vai
refletir a respectiva estrutura administrativa local.
Uma particularidade da classificação institucional é que ela permite
identificar como órgão orçamentário, com suas respectivas UOs, despesas e
encargos que, embora relevantes a ponto de justificar sua segregação para fins
de transparência, não possuem conotação própria de entidade ou unidade
administrativa. No caso do orçamento federal, são exemplos desses “órgãos”
os registros correspondentes a Encargos Financeiros da União, Operações
Oficiais de Crédito, Dívida Pública Federal, Reserva de Contingência e
Transferências a Estados, Distrito Federal e Municípios. Nenhum desses
órgãos orçamentários possui uma estrutura administrativa subjacente, porém
eles são segregados no orçamento em função do montante ou da natureza
singular das despesas por eles realizadas.

b) Classificação funcional

A atual classificação funcional, utilizada a partir do exercício de 2000,


substituiu a antiga classificação funcional-programática, instituída pela Lei nº
4.320/1964, que, à época, representou grande avanço na técnica de
apresentação orçamentária.

A classificação funcional, composta de um rol de funções e subfunções


pré-fixadas, serve como agregador dos gastos públicos por área de ação
governamental. Por ser de aplicação comum e obrigatória no âmbito dos
municípios, dos estados e da União, essa classificação permite a consolidação
nacional dos gastos do setor público.

No total, são 28 funções, que se subdividem em subfunções, cada uma


com seu código.

A função representa o maior nível de agregação das diversas áreas de


despesa que competem ao setor público. Reflete a competência institucional do
órgão, como, por exemplo, saúde, educação, defesa etc.

A subfunção representa uma partição da função, agregando


determinado subconjunto de despesas do setor público. Identifica a natureza
básica das ações que se aglutinam em torno das funções. Observe que a
função Segurança Pública, por exemplo, possui três subfunções: Policiamento,
Defesa Civil e Informação e Inteligência.
Há outro aspecto a apresentar: as subfunções poderão ser combinadas
com funções diferentes daquelas a que estejam vinculadas, dependendo da
programação que se pretende executar.

Por exemplo: podemos usar a subfunção “181 – Policiamento”, atrelada


à função “01 – Legislativa”, no caso da polícia que garante a segurança dos
membros do Poder Legislativo.

Explicando melhor: você pode ter a informação de que a prefeitura de


seu município programou R$ 1 milhão para aplicar em Segurança Pública.
Porém, sem maiores detalhamentos, você não consegue saber como esses
recursos afetarão sua realidade. Então, pesquisando mais, você verifica que
estão destinados R$ 800 mil para Policiamento Civil e R$ 200 mil para as
ações de Defesa Civil. Essa informação adicional te permite identificar de forma
mais precisa a natureza da atuação governamental. Entendeu?

c) Classificação programática

O programa é o instrumento de organização das ações do governo. Ele


articula o conjunto de ações que têm o mesmo objetivo. Portanto, a estrutura
programática é o conjunto de programas definidos pelo governante, tendo em
vista as soluções propostas para os problemas de determinada comunidade ou
do País como um todo.

Dessa forma, governador, prefeito e o presidente da República têm a


liberdade de definir a estrutura programática que pretende executar.

Exemplos de programas na área federal: Defesa Agropecuária,


Educação Básica de Qualidade, Proteção e Promoção dos Direitos dos Povos
Indígenas, Atenção Primária em Saúde, Aviação Civil, Modernização
Trabalhista e Trabalho Digno, Defesa Nacional e Mobilidade Urbana.

O programa é executado por meio da ação orçamentária, que consiste


numa operação da qual resultam produtos (bens ou serviços) que contribuem
para atender a finalidade de um programa. A ação orçamentária pode ser
classificada como:

i) Projeto: é o instrumento de programação utilizado para alcançar o


objetivo de um programa, envolvendo um conjunto de operações que se
realizam num período limitado de tempo e das quais resulta um produto em
benefício da sociedade. Em outras palavras: o projeto tem data para começar e
data para terminar.

Exemplos: construção de escolas; ampliação do prédio da prefeitura;


abertura de estradas vicinais.

ii) Atividade: é o instrumento de programação utilizado para alcançar o


objetivo de um programa, envolvendo um conjunto de operações que se
realizam de modo contínuo e permanente e das quais resulta um produto
necessário à manutenção da ação de governo.

Exemplos: pagamento de professores; manutenção do prédio da


prefeitura; manutenção de rodovias.

iii) Operação Especial: são ações que não contribuem para a


manutenção, expansão ou aperfeiçoamento das ações de governo e das quais
não resulta um produto e não geram contraprestações diretas sob a forma de
bens ou serviços.

Explicando melhor, no caso da União, por exemplo, as operações


especiais caracterizam-se por não retratar a atividade produtiva da
administração federal, tais como os desembolsos com pagamento de
previdência social ou juros da dívida pública. Contudo, em algumas situações,
ainda que configurem um desembolso neutro sob a ótica da União, as
operações especiais podem contribuir indiretamente para a produção de bens
ou serviços à sociedade. São exemplos dessas situações as transferências de
recursos realizadas via fundos constitucionais, tais como o Fundo de
Participação dos Estados (FPE) e o Fundo de Participação dos Municípios
(FPM), nos quais os recursos transferidos pela União podem gerar benefícios à
sociedade quando aplicados pelos entes recebedores. Nesses casos, o
repasse é uma operação especial para a União, mas pode ser um projeto ou
uma atividade para o estado ou município que aplicar os recursos. Além
desses, são exemplos de operações especiais no orçamento federal as ações
destinadas ao Financiamento de Operações no âmbito do Programa Nacional
de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF (Lei nº 8.427, de 1992), e
à Subvenção Econômica ao Preço do Óleo Diesel de Embarcações Pesqueiras
(Lei nº 9.445, de 1997), ambas pertencentes ao programa finalístico
Agropecuária Sustentável.

d) Classificação por natureza da despesa

A classificação pela natureza da despesa visa informar o que será


adquirido e qual o efeito econômico de sua realização. Quanto ao efeito
econômico, a Lei nº 4.320/1964 divide as despesas em corrente e de capital.

As despesas de capital são aquelas que contribuem para a formação ou


aquisição de um bem de capital, podendo implicar aumento patrimonial. A mais
importante é a despesa classificada como investimento, que engloba despesas
com o planejamento e a execução de obras e com a aquisição de
equipamentos e material permanente.

Já as despesas correntes, a contrario sensu, são as que não contribuem


diretamente para a formação ou aquisição de um bem de capital. São
despesas correntes, por exemplo, os gastos com pessoal e a manutenção da
máquina administrativa.

A classificação da despesa é instrumento indispensável para o


conhecimento e o controle dos gastos públicos por permitir a leitura
detalhada do orçamento. Propicia, inclusive, que sejam detectados
exageros, erros e desvios na aplicação dos recursos públicos.

E aqui finalizamos nosso segundo módulo. Agora que já


compreendemos os conceitos e classificações das receitas e das despesas
públicas, no próximo módulo vamos ver como a Constituição Federal estruturou
nosso sistema orçamentário.
Saiba mais:

Agora que você já aprendeu a classificar a despesa, que tal ver como isso
funciona na prática? O Senado Federal disponibiliza uma ferramenta
interessante de consulta orçamentária, com interface gráfica e interativa que
permite análises plurianuais da despesa da União. Trata-se do Siga Brasil
Painéis. Para um primeiro contato, recomendo navegarem pelo Painel
Cidadão, que permite pesquisas no orçamento da União por palavras-chave.
Após ganhar familiaridade, pode-se avançar para o Painel Especialista, em
que as consultas têm como base a linguagem das classificações orçamentárias
que tratamos nesta unidade. O Siga Brasil Painéis pode ser acessado por aqui.

Módulo III - O Orçamento público na Constituição Federal

Este módulo se destina a estudar o orçamento público na Constituição Federal.


Após a leitura de suas unidades, você será capaz de:

 Identificar os documentos formais que fazem parte do modelo


orçamentário brasileiro;
 Apontar a relação que existe entre eles; e

Identificar a forma e as etapas de tramitação dos projetos de leis

Unidade 1- O Plano Plurianual, a Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei


Orçamentária Anual

O modelo orçamentário brasileiro está definido nos arts. 165 a 169 da


Constituição Federal. Ele tem por base o elo entre o planejamento e a fixação
de despesas para determinado exercício e materializa-se em três documentos
formais: Lei do Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)
e Lei Orçamentária Anual (LOA).
O papel dessas três leis orçamentárias é integrar as atividades de
planejamento e orçamento, com vistas a assegurar o sucesso da atuação
governamental. Esse sistema integrado de planejamento e orçamento deve ser
adotado pela União, estados e municípios.

O planejamento orçamentário é inicialmente definido para um período de


quatro anos, nos termos do PPA. Além disso, para cada exercício financeiro
são aprovadas as respectivas LDO e LOA. A LOA trata da alocação dos
recursos públicos propriamente dita. Já a LDO faz a integração entre o
planejamento de médio prazo constante do PPA e as despesas a serem
autorizadas para o ano na LOA. Via de regra, as leis orçamentárias devem ser
aprovadas no exercício anterior ao de sua referência.

SUGESTÃO: Inserir uma imagem representado o PPA (4 anos) e a LDO e a


LOA para cada ano, como a abaixo que peguei da internet a título de exemplo:

As três leis orçamentárias (PPA, LDO e LOA) devem estar estreitamente


ligadas entre si, compatíveis, harmônicas e utilizando a mesma linguagem. Isto
é, a denominação de um determinado programa e das ações correspondentes
constantes do orçamento deve estar condizente com a terminologia utilizada no
PPA.

A Constituição Federal atribui competência exclusiva ao chefe do Poder


Executivo - prefeito, governador e presidente da República – para elaborar os
projetos de lei do PPA, da LDO e da LOA e encaminhá-los à apreciação do
Poder Legislativo. Ao Parlamento compete analisar os referidos projetos e
sobre eles deliberar. Por essa razão, não podem os parlamentares –
vereadores, deputados estaduais e federais ou senadores – dar início ao
processo legislativo relacionado às leis orçamentárias.

Atenção:

Os prazos de tramitação dos projetos de lei do PPA, da LDO e da LOA


foram estabelecidos, em caráter provisório, no art. 35, § 2°, do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), uma vez que a Constituição
Federal delegou à lei complementar sobre finanças públicas disciplinar em
caráter permanente a matéria. Na prática, esta lei complementar substituiria a
Lei n° 4.320/1964. Porém, a despeito das diversas propostas que foram
apresentadas no Congresso Nacional sobre o tema, nada foi aprovado e, até
os dias atuais, os prazos de tramitação das três leis orçamentárias continuam
regidos pelo ADCT.

Observe que a Lei nº 4.320/1964 foi editada na vigência do regime


constitucional anterior para estabelecer normas gerais de Direito Financeiro
aplicáveis a União, estados e municípios. Essa lei foi em grande parte
recepcionada pela Constituição Federal de 1988, por ser compatível com a
ordem constitucional por ela estabelecida. Por isso, muitos de seus dispositivos
continuam vigentes e fazem as vezes da lei complementar sobre finanças
públicas prevista na atual Constituição. No entanto, a Lei nº 4.320/1964 não
trata dos prazos de tramitação do projeto de LOA, muito menos dos projetos de
PPA e LDO, que foram inovações trazidas pela Constituição de 1988.

Enquanto não for editada pela União a lei complementar dispondo sobre
finanças públicas, os estados e municípios seguem os prazos de tramitação
das leis orçamentárias previstos nas respectivas constituições estaduais e leis
orgânicas municipais. Caso essas normas locais sejam silentes, os entes
devem aplicar os prazos previstos provisoriamente no ADCT.

Na série Orçamento Fácil, do Senado Federal, há um ótimo material


com o propósito de demonstrar a vinculação entre as três leis orçamentárias.
Clique aqui e veja o vídeo.
Agora que já temos uma visão geral sobre as normas relacionadas ao
planejamento orçamentário, vamos analisar cada uma delas mais detidamente.

a) Plano Plurianual

Certamente você já ouviu falar em PPA, não? E o que vem a ser


esse plano? Qual a sua duração e importância? Vejamos.

O PPA é o principal instrumento de planejamento de médio prazo do


governo, destinado a nortear a atuação governamental por um período de
quatro anos. O plano define, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e
metas da administração pública para as despesas de capital (como os
investimentos, por exemplo) e outras delas decorrentes e para as despesas
relativas aos programas de duração continuada.

Atenção:

Os valores financeiros indicados no PPA são meras estimativas, utilizadas como


referenciais para o planejamento governamental de médio prazo. Na prática, para que
as despesas sejam efetivamente realizadas, é indispensável sua previsão na LOA.

Ao assumir o governo, em seu primeiro ano de mandato, o chefe do


Poder Executivo (presidente da República, governador ou prefeito) deve
elaborar o projeto de PPA e encaminhá-lo para apreciação do Poder
Legislativo, que sobre ele deve deliberar até o encerramento do ano. Assim, a
vigência do PPA se inicia no segundo ano de mandato do chefe do Poder
Executivo e se prolonga até o primeiro ano de mandato de seu sucessor.
Busca-se, com essa sistemática, evitar lacunas no planejamento
governamental.

Embora seja previsto para quatro anos, o governo pode enviar projeto de
lei ao Poder Legislativo propondo alterações no PPA durante sua vigência,
caso entenda necessário. Isso é viável porque o planejamento deve ser flexível
e passível de adaptação caso mudem as circunstâncias fáticas que o
fundamentam.
Atenção:

Assim como o projeto original, os projetos de lei que proponham alteração do


PPA também são de iniciativa exclusiva do chefe do Poder Executivo. Além
disso, de forma análoga ao projeto original, as propostas de alteração no PPA
devem ser apreciadas pelo Poder Legislativo.

No caso da União, o projeto de lei do PPA deve ser enviado ao


Congresso Nacional até 31 de agosto do primeiro ano do mandato presidencial,
devendo ser aprovado pelo Parlamento até o encerramento da sessão
legislativa, em 22 de dezembro.

A série Orçamento Fácil, do Senado Federal, possui dois vídeos para


tratar do PPA. O primeiro trata do papel do PPA no nosso sistema
orçamentário, e o segundo, da elaboração e aprovação do projeto. Dado seu
caráter didático, sugiro que assistam a ambos.

b) Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)

A LDO é a mais complexa das leis orçamentárias, tendo em vista a


ampla gama de assuntos relacionados ao orçamento e às finanças públicas
que ela disciplina. A LDO é elaborada anualmente para indicar as metas e
prioridades do governo para o exercício financeiro, criando um elo entre o
planejamento declarado no PPA e a alocação de recursos que será
efetivamente realizada na LOA. Além disso, cabe à LDO definir o montante de
recursos que o governo deverá economizar ao longo do ano (meta de resultado
primário, já ouviu falar?); fixar as regras, vedações e limites que deverão ser
observados pelo Poder Executivo na elaboração do projeto de LOA e pelo
Poder Legislativo quando de sua apreciação; autorizar aumentos de gastos
com pessoal; disciplinar o equilíbrio entre receitas e despesas, entre outros
temas.

Além desses assuntos, no âmbito federal, a LDO tem disciplinado temas


que deveriam ser tratados por uma norma geral de finanças públicas. Como
essa norma ainda não foi editada e a Lei nº 4.320/1964 não trata de todos os
seus aspectos, a LDO tem sido utilizada para suprir essa lacuna normativa, o
que tem aumentado ainda mais suas disposições.
Na União, o projeto da LDO deve ser enviado pelo Presidente da
República ao Congresso Nacional até o dia 15 de abril do ano anterior ao de
sua referência. O projeto deve ser aprovado até o dia 17 de julho, caso
contrário o Congresso Nacional não pode entrar em recesso parlamentar.

Assim como para o PPA, a série Orçamento Fácil, do Senado Federal,


também possui dois materiais para explicar a LDO. O primeiro deles trata do
papel da LDO no nosso sistema orçamentário, e o segundo, da elaboração e
aprovação do projeto. Mais uma vez, recomendo que assistam aos dois vídeos.

c) Lei Orçamentária Anual

Como já estudamos, é na LOA que o governo estima as receitas e fixa


as despesas que serão realizadas ao longo do ano. No âmbito federal, o
presidente da República deve elaborar e enviar ao Congresso Nacional a
proposta de LOA até 31 de agosto do ano anterior ao de sua referência. Já o
Poder Legislativo tem até 22 de dezembro para apreciar a proposta, para que
ela esteja vigente no início do ano seguinte.

Atenção:

Perceba que a data de envio do projeto de LOA ao Poder Legislativo é prevista


para ocorrer após a aprovação da LDO, que, como visto acima, deve se dar até
17 de julho. Isso viabiliza que a LDO cumpra seu papel de orientar a
elaboração e aprovação do projeto de LOA.

A Constituição Federal determina que a LOA seja elaborada com três


enfoques distintos. Esses enfoques são também chamados de esferas
orçamentárias e se dividem em orçamento fiscal, orçamento da seguridade
social e orçamento de investimento das empresas estatais.

O orçamento da seguridade social tem como enfoque as despesas


com três áreas específicas do governo: previdência social (como os
desembolsos com aposentadorias, pensões, etc.), assistência social e saúde.
Além disso, discrimina as receitas de contribuições sociais, que são vinculadas
pela Constituição à seguridade social. Caso as receitas da seguridade social
sejam insuficientes para custar as despesas da área, o orçamento da
seguridade social pode receber recursos do orçamento fiscal.

O orçamento fiscal, por sua vez, contempla os gastos com as demais


áreas do governo, tais como infraestrutura, educação, agricultura, manutenção
dos órgãos, transferências de receitas tributárias federais para estados e
municípios, entre outros, e discrimina as receitas de acordo com a origem.

Por fim, o orçamento de investimento das empresas estatais, como o


próprio nome indica, contempla apenas os investimentos a serem realizados
pelas empresas estatais, com as respectivas fontes de financiamento. Vale
destacar que, apesar do nome, não são todas as empresas estatais que
figuram nesse orçamento, mas apenas aquelas que não dependam de
recursos públicos para seu custeio. Isto é, as empresas estatais cujos gastos
com manutenção, pagamento de pessoal e investimento sejam financiados
com recursos próprios, oriundos de sua atividade de mercado. São as
chamadas empresas estatais não dependentes.

Atenção:

Há algumas empresas estatais cuja atividade desenvolvida não gera receita


suficiente para seu custeio integral e por isso são dependentes de recursos
repassados pelo ente público que as instituiu (por essa razão, são chamadas
de empresas estatais dependentes). Como necessitam de recursos públicos
para seu funcionamento, essas empresas devem figurar no orçamento fiscal.
Assim, torna-se possível o controle pelo Poder Legislativo e pela sociedade
quanto à utilização dos recursos orçamentários por essas entidades da
administração indireta.

Caso o projeto da lei orçamentária não seja aprovado até 31 de


dezembro, o governo não poderá executar nenhuma despesa?

Conforme estudamos em unidades anteriores, nenhuma despesa pode


ser realizada sem prévia autorização orçamentária. Ocorre que, nem sempre, a
LOA é aprovada antes do ano a que ela se refere começar. Para evitar que o
governo pare caso o projeto da lei orçamentária não seja aprovado pelo Poder
Legislativo até o dia 31 de dezembro, as LDOs têm autorizado o governo a
executar algumas despesas constantes do projeto de LOA em caráter
provisório, enquanto a lei não é aprovada. Via de regra, essas despesas são
limitadas às obrigações constitucionais e legais da União e a uma parcela das
despesas discricionárias.

A série Orçamento Fácil, do Senado Federal, também possui dois


vídeos sobre o LOA, que recomendo assistirem. O primeiro, trata do papel da
LOA no nosso sistema orçamentário, o segundo, da sua elaboração e
aprovação.

Saiba mais:

O modelo estabelecido na Constituição Federal tem, ao longo dos anos,


recebido críticas relacionadas ao seu formato e conteúdo, principalmente no
que concerne à LDO. Contudo, é incontestável que o modelo representou um
enorme avanço para a regulamentação da matéria orçamentária, garantindo a
harmonia que deve existir entre os documentos de planejamento e orçamento:
a lei orçamentária deve estar de acordo com as normas definidas na LDO e
obedecer à programação contida no PPA para o ano a que se refere.
Módulo IV - O processo orçamentário no Poder Legislativo

Objetivos:

No módulo anterior estudamos as leis que fazem parte do sistema orçamentário. Nesta
unidade, vamos apresentar qual é a participação do Poder Legislativo no processo
orçamentário. Ao final, você saberá identificar a estrutura e as etapas definidas para a
apreciação das leis orçamentárias.

Unidade 1 - A Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e


Fiscalização (CMO) e o processo de apreciação do PPA, da LDO e da LOA

A Constituição Federal de 1988 devolveu ao Congresso Nacional a


prerrogativa de participar efetivamente do orçamento, instituindo uma comissão
mista de caráter permanente, composta por deputados e senadores, para tratar
da matéria. A essa comissão compete examinar e emitir parecer sobre os
projetos relativos ao PPA, à LDO, à LOA e aos créditos adicionais, bem como
às emendas a eles apresentadas.

Para cumprir essa determinação, o Congresso Nacional criou, pelo


Regimento Comum, a Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e
Fiscalização (CMO). Atualmente, essa Comissão é regida pelas disposições da
Resolução nº 1/2006-CN.

Além das competências atribuídas pela Constituição Federal, também


cabe à CMO examinar e emitir parecer sobre os documentos pertinentes ao
acompanhamento e à fiscalização da gestão fiscal e da execução orçamentária
e financeira, conforme determinação da Lei da Responsabilidade Fiscal.
Atenção:

De acordo com a Resolução nº 1/2006-CN, a CMO é composta de 40 membros


titulares, sendo 30 deputados e 10 senadores, com igual número de suplentes.
Os membros da Comissão são indicados no ínico de cada ano, sendo vedada
a recondução de parlamentar que tenha figurado como membro titular ou
suplente na composição imediatamente anterior. Com isso, a Resolução nº
1/2006-CN impõe uma renovação integral da CMO a cada sessão legislativa.

Para toda e qualquer matéria a ser examinada pela CMO é designado um


relator, a quem caberá analisar a proposição e apresentar seu parecer para
deliberação do colegiado. A Resolução nº 1/2006-CN determina que haja
alternância na escolha dos relatores das principais leis orçamentárias: PPA,
LDO e LOA. Um mesmo parlamentar só poderá exercer uma destas relatorias
a cada legislatura, que compreende o período de quatro anos. Essa medida
tem por objetivo evitar a concentração de poder em matéria orçamentária.

A LOA, devido ao seu tamanho e aos interesses e valores que envolve,


possui uma sistemática peculiar na designação de relator.

Primeiramente, deve ser designado um relator-geral do orçamento, que


irá coordenar os trabalhos durante a tramitação do projeto de LOA e fazer
ajustes na proposta quando autorizado pela Resolução nº 1/2006-CN.

Além do relator-geral, deverá ser designado um relator específico para a


receita, responsável por avaliar as estimativas contidas no projeto bem como
as emendas parlamentares que almejam alterar as previsões de arrecadação.

Por fim, serão indicados os relatores setoriais, uma para cada área
temática em que o projeto, pelo lado da despesa, é dividido. Aos relatores
setoriais compete apresentar um relatório pormenorizado sobre a área e
apreciar as emendas apresentadas nas programações do setor pelo qual
ficaram responsáveis. De acordo com a Resolução nº 1/2006-CN, a proposta
de LOA será dividida em 16 áreas temáticas.
A Resolução nº 1/2006-CN divide o orçamento nas seguintes áreas temáticas:
(i) Transporte; (ii) Saúde; (iii) Educação e Cultura; (iv) Integração Nacional; (v)
Agricultura, Pesca e Desenvolvimento Agrário; (vi) Desenvolvimento Urbano;
(vii) Turismo; (viii) Ciência e Tecnologia e Comunicações; (ix) Minas e Energia;
(x) Esporte; (xi) Meio Ambiente; (xii) Fazenda e Planejamento; (xiii) Indústria,
Comércio e Micro e Pequenas Empresas; (xiv) Trabalho, Previdência e
Assistência Social; (xv) Defesa e Justiça; e (xvi) Presidência, Poder Legislativo,
Poder Judiciário, MPU, DPU e Relações Exteriores.

A imagem abaixo ilustra um cronograma com as etapas mais


importantes da tramitação do projeto do LOA no Congresso Nacional, como
forma de melhor evidenciar a apreciação da proposta pelo Poder Legislativo:

IMAGEM – Uma linha do tempo com os seguintes marcos

1 – No Congresso Nacional: Chegada do PLOA ao Congresso Nacional;

2 – Na CMO: 2.1 Audiência pública para debate da proposta; 2.2 Apresentação


de emendas parlamentares; 2.3 Deliberação sobre o relatório da receita; 2.3
Deliberação sobre o Parecer Preliminar (apresentado pelo relator-geral, define
as principais regras de atuação do próprio relator-geral e dos relatores
setoriais); 2.4 Deliberação sobre os relatórios setoriais; 2.5 Deliberação sobre o
relatório do relator-geral, que constituirá o Parecer da CMO.

3 – No Congresso Nacional: Deliberação do Parecer da CMO pelo Plenário das


duas Casas do Congresso Nacional.

Os projetos do PPA e da LDO não são divididos em áreas, sendo


examinados por apenas um relator cada. No entanto, assim como o PLOA,
ambos são apreciados inicialmente na CMO e, após aprovados pela Comissão,
são levados à deliberação das duas Casas do Congresso Nacional.

Observe outro ponto importante previsto pela Resolução nº 1/2006-CN:


o relatório do projeto de LOA só pode ser apreciado após a aprovação, pelo
Congresso Nacional, do projeto do PPA ou de projeto de lei que o revise. Essa
medida reconhece a devida importância do PPA no processo orçamentário e
impõe uma ordem lógica na apreciação das leis orçamentárias, uma vez que a
LOA traz o detalhamento do PPA para o ano a que se refere.

Você deve estar se perguntando: já aconteceu algum caso de


aprovação do orçamento antes do PPA?

Sim, em alguns anos, o projeto da LOA foi aprovado antes que o


Parlamento se pronunciasse sobre a programação constante do PPA, em uma
clara quebra no encadeamento lógico previsto para as leis de caráter
orçamentário.

É correto você indagar: se o Módulo IV se refere apenas ao


processo na esfera federal, qual o interesse que pode ter para estados e
municípios?

O interesse no orçamento federal é de caráter nacional, e advém do fato


de que nele estão previstos valores que serão repassados para estados e
municípios, seja por constarem originalmente do projeto elaborado pelo Poder
Executivo, seja por terem sido incluídos por emendas parlamentares.

É por meio das emendas parlamentares que o Poder Legislativo promove


ajustes e melhorias na proposta orçamentária encaminhada pelo Poder
Executivo. A apresentação de emendas a projetos de lei é uma atividade
legítima, que está na essência da função legislativa. No caso da LOA, é a
oportunidade que os parlamentares têm para realizar alocações de recursos
em benefício das localidades que eles representam.

As emendas são apresentadas apenas ao projeto da LOA?

Não, os projetos do PPA e da LDO também são passíveis de


recebimento de emendas.

Aliás, para manter a coerência entre as leis orçamentárias, as emendas


ao projeto de LDO devem ser compatíveis com o PPA vigente. Já as emendas
ao projeto de LOA devem observância tanto ao PPA quanto à LDO.

Mas o assunto relacionado às emendas parlamentares merece ser


estudado com mais detalhes. Vamos nos deter nele na próxima unidade, e,
após, continuaremos a analisar o trâmite das leis orçamentárias no Congresso
Nacional após a fase de emendas.

Unidade 2 – As emendas parlamentares às leis orçamentárias

Na unidade anterior, vimos que é por meio das emendas que os


parlamentares alteram os projetos de leis orçamentárias.

Vimos também que, em razão do encadeamento existente entre as leis


orçamentárias, as emendas apresentadas ao projeto de LDO devem ser
compatíveis com o PPA. Já no caso das emendas apresentadas ao projeto de
LOA, devem guardar consonância tanto com PPA quanto com a LDO.

Há alguma regra adicional para que o parlamentar apresente


emenda às leis orçamentárias?

Sim, a Constituição Federal traz regras adicionais para as emendas


apresentadas ao projeto de LOA. Assim, somente são admitidas emendas ao
referido projeto quando compatíveis com o PPA e a LDO e:

a) proponham a inclusão de nova despesa ou o aumento de despesa já


prevista e, em contrapartida, indiquem anulações compensatórias em
programações constantes da proposta (ou seja, não impliquem aumento
no valor da proposta orçamentária). Contudo, a anulação não pode
recair sobre despesas com pessoal, transferências constitucionais ou
juros e amortização de dívidas, por serem despesas obrigatórias.
b) destinem-se à correção de erros ou omissões identificados na proposta;
ou
c) estejam relacionados com os dispositivos do texto (e não valores) do
projeto de lei.

No âmbito interno do Congresso Nacional, a Resolução nº 1/2006-CN


classifica as emendas, segundo a autoria, em individuais e coletivas.
Vejamos cada uma delas.

a) Emendas individuais
A emenda individual, como o próprio nome indica, é apresentada pelo
parlamentar individualmente.

As emendas individuais apresentadas ao projeto de LOA são consideras


impositivas pela Constituição Federal. Isto é, as programações por elas
inseridas no orçamento devem ser executadas pelo governo, exceto se houver
algum impedimento de ordem técnica (por exemplo, a ausência de uma licença
ambiental prévia para realizar a licitação, quando necessária) ou a necessidade
de limitar a execução de despesas por razões de equilíbrio fiscal (hipótese em
que a limitação imposta às programações decorrentes de emendas individuais
não pode superar a limitação incidente sobre as demais despesas
discricionárias).

A Constituição também prevê o volume de recursos que deverá ser


destinado para as emendas individuais ao projeto de LOA. Esse montante
corresponde a 1,2% da receita corrente líquida constante da proposta, que
deverá ser dividido igualmente entre cada deputado e senador. Dessa forma,
os parlamentares já contam com recursos reservados na proposta
orçamentária para apresentarem suas emendas.

Ainda de acordo com a nossa Constituição, cada parlamentar deve


destinar ao menos metade do valor de suas emendas individuais para ações e
serviços públicos de saúde.

Atenção:

O caráter impositivo conferido pela Constituição Federal às programações


decorrentes de emendas individuais apresentadas por deputados federais e
senadores ao projeto de LOA federal não se estende automaticamente aos
orçamentos estaduais e municipais. Para que as emendas parlamentares
tenham a mesma prerrogativa nos demais entes, é necessário que essa regra
esteja prevista nas respectivas constituições e leis orgânicas. No entanto, caso
opte por conferir caráter impositivo às programações oriundas de emendas
individuais locais, o ente deve obrigatoriamente seguir o mesmo modelo
adotado na Constituição Federal, conforme entendimento do Supremo Tribunal
Federal.
Historicamente, a maioria das emendas individuais tem como objetivo
favorecer os municípios. A partir da Emenda Constitucional nº 105/2019 foram
previstas duas maneiras de os parlamentares destinarem recursos de suas
emendas individuais a estados e municípios.

A primeira delas é a transferência com modalidade definida. Nessa


modalidade o parlamentar indica a programação orçamentária que será
favorecida pela emenda. Isto é, define antecipadamente aonde serão gastos
aqueles recursos (por exemplo, estruturação de unidade básica de saúde no
Município X). Embora não tivesse sido nominada, essa era forma corriqueira de
se repassar recursos aos entes subnacionais antes da Emenda Constitucional
nº 105/2019.

A segunda é a transferência especial. Nela, os recursos são repassados


diretamente ao estado ou município, sem direcionamento prévio do gasto. Após
o repasse, os recursos pertencem ao ente beneficiário, que poderá aplicá-los
em suas atividades finalísticas, exceto pagamento de pessoal e encargos da
dívida. A transferência especial assemelha-se a uma doação do valor da
emenda ao ente subnacional. Essa forma de transferência foi uma inovação da
Emenda Constitucional nº 105/2019, aplicável exclusivamente às emendas
individuais.

Com relação ao quantitativo, os deputados e senadores podem


apresentar até 25 emendas individuais ao projeto de LOA, limitadas
financeiramente ao valor disponível para cada parlamentar.

Para exemplificar:

Suponha que cada parlamentar possa apresentar emendas individuais ao


orçamento no valor total de R$ 15 milhões. O deputado A pode optar por
apresentar 25 emendas no valor de R$ 600 mil cada, totalizando R$ 15
milhões. O senador B pode escolher apresentar dez emendas de R$ 1 milhão
cada e uma emenda de R$ 5 milhões, totalizando os mesmos R$ 15 milhões.
Já o deputado C pode apresentar apenas uma emenda no valor de R$ 15
milhões.

Com relação às demais leis orçamentárias, o parlamentar pode


apresentar individualmente até dez emendas ao projeto do PPA. Já no caso do
projeto de LDO, o parlamentar pode apresentar até cinco emendas ao anexo
de metas e prioridades e não há limites para emendas apresentadas ao texto
da proposta.

b) Emendas coletivas

As emendas coletivas são divididas em emendas de bancada estadual


e emendas de comissão. As primeiras são apresentadas pelo agrupamento
de parlamentares representantes de um estado da Federação (deputados e
senadores eleitos pela respectiva unidade federada). Já as segundas são
apresentadas pelas comissões permanentes do Senado Federal e da Câmara
dos Deputados, bem como pelas comissões mistas permanentes do Congresso
Nacional.

Assim como no caso das emendas individuais, a Constituição Federal


também atribuí caráter impositivo às emendas de bancada estadual ao projeto
de LOA, em montante limitado a 1% da receita corrente líquida prevista na
proposta. Embora a Constituição não obrigue, esse valor tem sido dividido
igualmente entre cada uma das 27 bancadas presentes no Congresso
Nacional.

Na prática, as bancadas estaduais costumam apresentar emendas cuja


soma ultrapassa o limite disponível para suas emendas impositivas. Tem-se
entendido, então, que essa parte excedente não possui garantia de execução
pelo governo. São as chamadas “emendas de bancada discricionárias”, em
contraposição às emendas de bancada impositivas.

As emendas de bancada, obviamente, devem destinar recursos para as


ações de interesse do estado que representam. E, quando tiverem por objeto
investimento com duração de mais de um exercício financeiro ou cuja
execução já tenha sido iniciada, deverão ser reapresentadas a cada ano pela
mesma bancada estadual, até a conclusão da obra ou empreendimento.

Diferentemente das emendas individuais, no caso das emendas de


bancada impositivas, não há obrigatoriedade de destinar parte dos recursos
para despesas relacionadas com saúde.

As emendas apresentadas pelas comissões permanentes ao projeto de


LOA, por outro lado, não possuem a mesma garantia de execução que as
emendas de bancada estadual. Todas elas são consideradas “emendas
discricionárias” e estão abarcadas pela regra geral que disciplina a execução
das despesas discricionárias estudadas na Unidade 3 do Módulo I.

As comissões permanentes só podem apresentar emendas em temas


afetos às suas competências regimentais. Assim, por exemplo, a Comissão de
Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal não poderia apresentar
emenda ao projeto de LOA para majorar despesa relacionada precipuamente à
agricultura. Além disso, as emendas devem ter caráter nacional, ou seja,
devem beneficiar todo o País, sendo vedada a apresentação de emendas de
comissão destinadas, exclusivamente, a determinado estado ou município.

Com relação à quantidade de emendas, as comissões permanentes


podem apresentar até oito emendas ao projeto de LOA, enquanto que as
bancadas estaduais poderão apresentar de dezoito a 23 emendas ao referido
projeto, dependendo do número de parlamentares na bancada. No caso do
projeto do PPA, cada bancada ou comissão pode apresentar cinco emendas à
proposta. Já no caso do projeto da LDO, ambas podem apresentar até cinco
emendas ao anexo de metas e prioridades e não há limites para emendas
apresentadas ao texto da proposição.

Atenção:

As emendas ao orçamento despertam interesse não só dos membros do


Poder Legislativo. Prefeitos, governadores e determinados agentes privados
também têm interesse no assunto, e costumam encaminhar seus pleitos para
serem atendidos em emendas de seus representantes
E depois de apresentadas ao projeto de LOA, qual o destino dessas
emendas?

Lembra-se de que, na unidade anterior, vimos que essas matérias são


examinadas por relatores setoriais? Pois bem: de posse das emendas, os
relatores de cada área temática as analisam, podendo acatar ou rejeitar as que
estão em desacordo com as normas. E, assim, elaboram seus relatórios, que
serão apreciados pela CMO.

Após a aprovação dos relatórios setoriais, é apreciado o relatório do


relator-geral, contendo, inclusive, as emendas por ele sugeridas. Após
aprovado, o documento passa a constituir o parecer da CMO sobre o projeto de
LOA.

Saiba Mais:

Nos últimos anos, um tipo específico de emenda ao projeto de LOA ganhou


repercussão. Trata-se das emendas apresentadas pelo relator-geral do
orçamento.

Conforme estudamos anteriormente, o relator-geral do projeto de LOA atua


como um coordenador dos trabalhos durante a tramitação da proposta
orçamentária. Historicamente, de acordo com a Resolução nº 1/2006-CN, o
relator-geral apresenta emendas para sanar erros ou omissões da proposta,
para recompor cortes em despesas realizados durante a tramitação do projeto
ou para majorar despesas quando autorizado pelo Parecer Preliminar, isto é,
pelo documento aprovado pela CMO regulamentando, dentre outros aspectos,
as possibilidades de atuação do relator-geral no respectivo processo
orçamentário.

No entanto, ao passo em que os pareceres preliminares vêm ampliado o


campo de atuação do relator-geral, as recentes LDOs têm conferido um
tratamento especial às programações por ele incluídas na LOA, dentre elas a
prerrogativa de indicar os beneficiários dessas despesas, o que tem suscitado
intensos debates na mídia, na doutrina e no Poder Judiciário acerca do tema.
Para quem quiser se aprofundar nesse assunto, recomendo a leitura do texto
As Emendas de Relator-Geral do PLOA nas Normas Regimentais do
Congresso Nacional: Gênese, Configuração e Evolução Histórica, de
autoria de Rodrigo Oliveira de Faria, condecorado no XI Prêmio de Monografias
da Secretaria do Tesouro Nacional.

E o processo encerra aí?

Não, todas as matérias orçamentárias aprovadas pela CMO são


encaminhadas ao Plenário das duas Casas do Congresso Nacional, que tem o
poder de aprovar ou rejeitar, no todo ou em parte, as decisões da Comissão.

Em sendo aprovada, a matéria é encaminhada ao Presidente da


República para sanção.

Não podemos esquecer que esse rito técnico é eminentemente político,


as decisões são políticas, é o momento em que o Parlamento decide onde
serão alocados os recursos públicos.

No que concerne aos estados e municípios, pode mudar o processo,


mas o caráter político é idêntico.

Saiba mais:

A despeito de toda a crítica que recebe da imprensa e da sociedade


organizada, o processo orçamentário vem sendo aperfeiçoado ao longo do
tempo. É evidente que está longe do ponto ótimo, porém, a cada ano são
incorporadas medidas moralizadoras e de controle visando evitar o desvio dos
recursos. O Congresso Nacional é o fórum onde se trava, legitimamente, a luta
pelos recursos públicos, sendo que a CMO desempenha o papel político e o
técnico dessa disputa.

Chegamos ao final no Módulo IV. Agora, você já tem conhecimento


sobre como são elaboradas e aprovadas as leis orçamentárias. No próximo
módulo, que será o último do nosso curso, veremos aspectos relacionados à
execução do orçamento, depois de aprovado. Vamos lá?
Módulo V - Execução Orçamentária

Objetivos:

Passaremos, agora, à etapa da execução orçamentária, ou seja, da aplicação


dos recursos. Este é o último módulo do curso, então, ao final, esperamos que
você tenha uma visão global sobre o processo orçamentário, desde a
elaboração das leis até a sua execução.

Unidade 1 - A programação orçamentária e financeira e o


contingenciamento

A execução do orçamento é tema de maior relevância dentro da


administração pública, posto que é a etapa em que são efetivamente aplicados
os recursos programados.

Nas unidades anteriores, estudamos os aspectos relacionados à


elaboração e apreciação do orçamento.

Após a aprovação pelo Congresso Nacional, a sanção do Presidente da


República e a publicação no Diário Oficial da União, o orçamento está apto a
ser executado. O processo é semelhante nos estados e municípios.

A execução orçamentária é regida por normas constitucionais, por


dispositivos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e pela LDO do exercício a
que se refere.

Como você já sabe, não é permitido iniciar a execução de despesas que


não estejam autorizadas no orçamento. Porém, a prudência recomenda que a
execução, mesmo dentro do limite autorizado na lei orçamentária, se dê com
base em alguns parâmetros de planejamento.

Para compreender isso melhor, vamos fazer novamente um paralelo


com o orçamento doméstico. Imagine que uma família tenha uma receita
mensal de R$ 2 mil e que, ao final de um ano, ela espera ter auferido R$ 24
mil. Essa receita anual é uma estimativa, que só irá se confirmar ao final do
exercício, afinal alguns imprevistos podem ocorrer no meio do caminho (como
a demissão do emprego, ou o desempenho abaixo do esperado nos negócios
da família). Supondo que, da receita anual, R$ 20 mil a família irá usar em suas
despesas do dia a dia, como alimentação, luz, água e aluguel, e os R$ 4 mil
restantes serão direcionados para o lazer. Nesse cenário, você acharia
prudente que essa família, já em fevereiro, planejasse fazer uma viagem que
custasse R$ 4 mil? Em tese, esse valor estaria dentro do orçamento da família
para lazer durante o ano, mas será que a receita prevista para a custear irá
mesmo se realizar? Será que não surgirão novos gastos imprevistos ao longo
do ano?

No setor público, as preocupações são similares. Por essa razão, a Lei


de Responsabilidade Fiscal determina que, a partir da publicação do
orçamento, o governo dispõe do prazo de trinta dias para editar um decreto
contendo a programação orçamentária e financeira com um cronograma
mensal de desembolsos, visando ajustar a realização da despesa ao fluxo da
entrada previsto para as receitas. Isto é, o governo planeja como irá realizar
suas despesas mensalmente ao longo do ano, tendo em vista o
comportamento esperado da receita.

Trata-se de uma medida necessária para manter o equilíbrio entre a


receita arrecadada e a despesa realizada. Por outro lado, permite às unidades
orçamentárias saber, de antemão, o volume de recursos que poderão
comprometer mensalmente.

E por que isso?

Porque os recursos não entram de uma só vez e ao mesmo tempo nos


cofres do governo. Eles são estimados para serem arrecadados ao longo do
ano.

A partir da edição do decreto de programação orçamentaria e financeira,


as unidades orçamentárias estão aptas a executar suas programações, ou
seja, a dar cumprimento ao que está estabelecido na lei orçamentária. A
execução deverá seguir os estágios da despesa que estudamos na Unidade 3
do Módulo II (empenho, liquidação e pagamento, lembra-se?) e poderá ser feita
diretamente pela própria unidade orçamentária (execução direta) ou através de
convênios com outras entidades, estados e municípios (execução indireta).

E se, durante a execução do orçamento, o governo verificar que as


receitas estão abaixo das previstas?

A cada bimestre, o governo avalia se as receitas arrecadadas estão


acompanhando a previsão inicialmente realizada. Assim, caso verifique que a
arrecadação está menor do que a estimada e que essa diferença pode
comprometer o alcance da “economia” que o governo se propôs a fazer no ano
(em termos mais técnicos, comprometer o alcance das metas fiscais fixadas na
LDO), ele pode editar um decreto de contingenciamento de despesas. Esse
decreto se destina a limitar o empenho e o pagamento de uma parte das
despesas até que a receita se reestabeleça, como forma de preservar os
resultados fiscais planejados.

Atente que não se trata de “corte”, de cancelamento, na programação e


sim do estabelecimento de um limite temporário para a realização da despesa.
Esse limite será modificado, e até revogado, caso a receita retome o
desempenho esperado.

E quais as despesas que podem ser contingenciadas?

Somente as despesas discricionárias, isto é, aquelas que não decorrem


de imposição constitucional ou legal, podem ser contingenciadas.

O contingenciamento alcança, inclusive, as emendas individuais e de


bancadas estaduais impositivas. Porém, o Poder Executivo não pode
concentrar a limitação de despesas nessas programações oriundas de
iniciativa legislativa. O contingenciamento sobre elas deve se limitar à mesma
proporção da limitação incidente sobre as demais despesas discricionárias.

Para exemplificar:

Suponha que no orçamento federal haja despesas discricionárias passíveis de


contingenciamento da ordem de R$ 100 bilhões. Dentro desse montante, há
despesas no valor de R$ 12 bilhões decorrentes de emendas individuais
impositivas, além de R$ 8 bilhões decorrentes de emendas de bancadas
estaduais impositivas.

Ao avaliar o comportamento das receitas ao final de um bimestre, o governo


conclui que precisará contingenciar R$ 10 bilhões para não comprometer o
resultado fiscal do exercício, o que corresponde a 10% das despesas. Nessa
hipótese, o governo está autorizado pela Constituição a contingenciar, no
máximo, esse percentual das despesas decorrentes de emendas individuais e
de bancadas estaduais impositivas (no caso, R$ 1,2 bilhão e R$ 0,8 bilhão,
respectivamente). O contingenciamento dos R$ 8 bilhões restantes deverá
incidir sobre as demais despesas discricionárias.

Antes de encerrar essa unidade, gostaria de recomendar-lhes assistir ao


vídeo da série Orçamento Fácil que trata do tema que acabamos de estudar.
Clique aqui e bom aprendizado.

Unidade 2 - Alteração orçamentária e apreciação pelo Poder Legislativo

Objetivos:

Na unidade anterior, conhecemos aspectos importantes da execução do


orçamento. Agora, vamos verificar que o orçamento é flexível e que pode
sofrer alterações durante a execução. Ao final, você será capaz de identificar
com facilidade os tipos de mudanças que podem ser feitas.

Conforme já estudamos, a lei orçamentária fixa o limite máximo para o


gasto da administração pública. Entretanto, como em qualquer planejamento,
pode ocorrer de, durante a execução do orçamento, constatar-se que um gasto
que se revelou necessário não foi previsto. Ou, ainda, que, embora previsto,
houve uma falha no valor estimado para uma certa despesa ou para a
arrecadação de uma determinada receita. Tais situações requerem do governo
medidas visando adequar o orçamento às reais necessidades, as quais
estudaremos a seguir.
Imagine que você trabalha no departamento financeiro da prefeitura do seu
município e que o prefeito deseja saber se há possibilidade de realizar uma
importante obra no valor de R$ 100 mil. Você examina o orçamento municipal e
verifica que existe autorização para obra, mas que o valor disponível é de R$
70 mil.

O que fazer então? Existe solução para atender ao pedido do


prefeito? Como?

Sim, a solução para o caso é alterar a lei orçamentária aprovada.

A alteração da lei orçamentária é feita por meio da abertura de um


crédito adicional, cujas regras aplicáveis são iguais para a União, estados e
municípios.

A Lei n° 4.320/1964 define créditos adicionais como as despesas não


computadas ou insuficientemente dotadas na lei de orçamento. Os créditos
adicionais podem ser suplementares, especiais ou extraordinários.

Os créditos suplementares são destinados ao reforço de dotação


orçamentária existente, isto é, tem como objetivo aumentar o valor de uma
despesa já autorizada no orçamento, porém em montante insuficiente. Já os
créditos especiais são destinados a autorizar despesas novas, para as quais
não haja previsão orçamentária específica.

A Constituição Federal proíbe a abertura de crédito suplementar ou


especial sem prévia autorização legislativa e sem a indicação dos recursos
correspondentes. Portanto, a abertura do crédito depende da aprovação pelo
Poder Legislativo e da existência de recursos disponíveis para atender à
despesa proposta.

A fonte de recursos mais comum para abertura de créditos adicionais é o


cancelamento de programação constante do orçamento em valor equivalente à
despesa que se deseja autorizar. Contudo, também pode ser utilizado como
fonte um eventual excesso de arrecadação (quando a receita arrecadada
supera a inicialmente prevista e essa “sobra” de recursos é direcionada para
autorizar nova despesa), recursos oriundos de operação de crédito (como um
empréstimo, por exemplo) ou mesmo o superávit financeiro apurado em
exercício anterior (ou seja, saldos livres de caixa não utilizados do ano
anterior).

A Constituição prevê, ainda, que, se uma parcela das receitas da lei


orçamentária anual ficar sem despesas correspondentes (por estas terem sido
canceladas por emendas ou vetadas pelo chefe do Poder Executivo), esse
valor pode ser oferecido também como fonte para créditos suplementares e
especiais.

Tanto a Lei nº 4.320/1964 quanto a Constituição Federal permitem que a


própria lei orçamentária anual possa ser utilizada para autorizar o Poder
Executivo a abrir, durante o exercício, créditos suplementares até determinada
importância.

O que isso quer dizer?

Significa que o Poder Legislativo, ao aprovar a LOA, pode autorizar, de


antemão, o Poder Executivo a abrir créditos suplementares (ou seja, para
reforçar dotações já existentes no orçamento) em determinado percentual.
Assim, durante a execução orçamentária, o Poder Executivo pode abrir esses
créditos, alterando o orçamento, por mero decreto. Trata-se de medida que
visa dar alguma flexibilidade ao governo para executar o orçamento.

Atenção:

A autorização prévia dada pelo Poder Legislativo ao Poder Executivo é


somente para suplementar programações existentes na LOA. No âmbito
federal, em regra, essa suplementação tem sido limitada a 20% do valor
inicialmente aprovado para a programação.

Além da autorização na LOA, a cada exercício essa matéria é disciplinada,


também, pela LDO correspondente.

Voltando ao estudo de caso apresentado no início desta unidade:


Uma vez que havia dotação prevista na LOA para a obra, porém em valor
insuficiente, a solução seria recorrer ao crédito suplementar, ou seja, a
prefeitura deveria elaborar um projeto de lei solicitando o valor adicional de R$
30 mil para a obra, indicando a fonte de recursos para essa despesa adicional
(que poderia ser o cancelamento do mesmo valor em outra programação, por
exemplo), encaminhá-lo à câmara de vereadores com a justificativa pertinente
e aguardar a aprovação. E, sendo aprovado, o crédito é incorporado ao
orçamento, e a obra pode ser realizada.

E se, ao examinar o orçamento, você verificar que não existe a


autorização para a obra em questão?

O procedimento, nesse caso, seria recorrer ao crédito especial. Como


a obra não está prevista no orçamento, a despesa a ser autorizada será uma
programação nova, no valor de R$ 100 mil. Quanto ao procedimento, o rito é o
mesmo do crédito suplementar mencionado acima.

Falta ainda estudarmos a última modalidade de crédito adicional, os


créditos extraordinários. Neles a atenção não está no fato de a despesa
constar ou não previamente do orçamento, como no crédito suplementar ou
adicional, respectivamente. O foco, aqui, está no contexto que justifica a
realização da despesa. Isso porque, de acordo com a Constituição, os créditos
extraordinários destinam-se a atender a despesas imprevisíveis e urgentes,
como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública. Dado
o contexto de urgência, a Constituição Federal determina que os créditos dessa
natureza sejam abertos por meio de medidas provisórias (que já produzem
efeito desde a sua edição, sendo apreciadas, posteriormente, pelo Poder
Legislativo).

Saiba mais:

O Poder Executivo habituou-se a utilizar o crédito extraordinário para autorizar


despesas “ordinárias”, tendo em vista a celeridade com que o crédito era
aberto em função de ser veiculado por medida provisória. Essa prática
configurava um claro desrespeito às prerrogativas do Poder Legislativo, a quem
cabe, via de regra, autorizar previamente a execução das despesas
orçamentárias. Em boa hora, num passado recente, o Supremo Tribunal
Federal pôs um freio nessa situação. De acordo com a Corte, os conceitos de
“guerra, comoção interna ou calamidade pública” são vetores comparativos
indicados pela própria Constituição que devem ser levados em conta pelo
Poder Executivo na análise da situação fática que demande a abertura de
crédito extraordinário.

Aliás, o controle judicial das leis orçamentárias é tema em constante evolução.


Aos que tiverem interesse no assunto, sugiro a leitura do artigo Orçamento
Público na Jurisprudência do STF: a possibilidade de controle judicial, a
autonomia constitucional orçamentária e problemática do orçamento
participativo, de autoria do Ministro da Suprema Corte Luiz Fux.

No caso da União, compete à CMO a apreciação dos pedidos de crédito


adicional encaminhados pelo Poder Executivo. O processo é semelhante ao da
apreciação da LOA, porém, em versão simplificada. É definido um relator, os
parlamentares podem apresentar emendas, e o projeto, depois de aprovado
pela Comissão, é encaminhado ao Plenário das duas Casas do Congresso
Nacional para apreciação.

Como forma de respeitar a iniciativa privativa do Presidente da


República para encaminhar projetos de lei propondo crédito adicional, a
Resolução nº 1/2006-CN e as LDOs impõem limitações ao conteúdo das
emendas que podem ser apresentadas aos esses projetos. Assim, coíbe-se
excessos na apresentação de emendas e impede-se que os créditos
encaminhados pelo Poder Executivo sejam desvirtuados em seu objetivo
original.

Finalmente, se for aprovado, o projeto de lei é enviado ao Poder


Executivo para sanção, publicação e incorporação ao orçamento vigente.

A participação do Poder Legislativo no orçamento é indispensável em


todas as fases do processo, para dar legitimidade a qualquer alteração na
peça orçamentária, pois uma lei só pode ser alterada por outra lei.
Parabéns! Você chegou ao final do nosso curso.
saberes.senado.leg.br

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