You are on page 1of 4

Das outras objecções

Fora às objeções já estudadas, todas às outras presentes no opúsculo são vistas como
objeções à tese principal já provada. São estas, três: (1) “se o mundo não tem início o que é
criado é coeterno a Deus?”; (2) “as coisas se equiparam a deus em duração” e (3) “a
quantidade de almas imortais até agora seriam infinitas”. As respostas a essas questões são
vistas como meros esclarecimentos sobre o que já foi definido anteriormente no opúsculo.

O número infinito como objecção


Começando pela terceira objeção pode-se dividir a resposta a esta em duas partes,
uma primeira na qual argumenta-se não ser necessário recorrer a quantidade infinita e a outra
que aceita a não total demonstrabilidade da impossibilidade de um número infinito de seres
em ato. Levando tal argumento a sério pode-se concluir que deve-se reformular todas às
demonstrações utilizadas para provar tais impossibilidades por não serem apodícticas como
aparentavam até então.

Sobre a primeira parte da resposta


Aquino, afirma na primeira parte que poderiam, os homens, não terem existido desde
sempre ou mesmo, poderiam nunca ter existido. Tal afirmativa vai contra o antropocentrismo
de Boaventura e resolve a problemática da infinitude de almas imortais. Entretanto Aquino
não é de todo contra o antropocentrismo, pois vale-se dele na “Suma contra os gentios” para
justificar o mundo criado, dizendo que este é maior em “clareza”, ou seja, mais fácil de ser
interpretado por seres pensantes. Apesar de ser um antropocentrismo muito mais factual que
essencial continua sendo uma postura antropocêntrica.

Sobre a segunda parte da resposta


Nesta segunda parte, o argumento de Aquino é mais direto e não dá espaço para a
compreensão dos pontos de seus adversários. Aquino expressa no opúsculo uma opinião
própria, entretanto os argumentos presentes são importantes para a compreensão de tal
opinião. Estes argumentos são que o mundo não pode ser infinito pois dessa forma nunca se
chegaria no presente visto que percorrer o "início" do infinito até o presente é impossível bem
como a infinidade das causas simultâneas aos efeitos é impossível. Seguindo esta linha de
raciocínio, Aquino fundamenta uma série de refutações às outras objeções que aparecem para
defender um mundo infinito com argumentos baseados na impossibilidade de acrescer algo
ao infinito, de percorrê-lo ou de sucedê-lo. A única questão que apresenta maior dificuldade é
a de compreender como poderia haver um número infinito de almas humanas, questão a qual
Aquino responde classificando tal tipo de infinito como não simultâneo e potencial.

Consequências: infinito e possibilidade


Para Aquino apenas o infinito que é simultaneamente infinito e completamente
presente é impossível no mundo, assim a possibilidade do mundo existir antes da sua própria
existência é incompatível, mas caso houvesse um tempo anterior ao tempo este tempo estaria
em Deus.
A ideia de possibilidade, quando põe-se em questão a noção da vontade livre, deixa de
ser apenas uma suposição lógica da mente humana para uma possível ontologia que poderia
ter sido escolhida por Deus, pondo o lugar da possibilidade em um meio termo entre
Aristóteles e Leibniz, bem como formulando esta estrutura criacionista de conhecimento -
vontade - ação.

Parte culminante do texto


O texto de Aquino se estrutura de forma a dar foco às questões a respeito da relação
entre Deus e a duração do mundo, bem como de suas criaturas.

Da duração das criaturas mais perfeitas


Agostinho afirma que seres como anjos e a sabedoria primeira foram criados antes do
tempo e são subordinados a deus apesar de eternos. Aquino se vale desta crença para
demonstrar como a ideia de um mundo infinito e criado não é contrária e pode funcionar,
fazendo com que os Agostinianos tenham de aceitá-la como não herética.

1° Dos anjos
Os anjos para Agostinho poderiam ter sido criados no momento em que fez-se o
mundo ou desde sempre mas inseridos no tempo. O problema da primeira é que não resolve a
necessidade de Deus ser eternamente venerado, portanto deve-se crer que eles são anteriores
a temporalidade do mundo material mas inseridos no próprio tempo que apenas não decai por
querer divino. Tal teoria não se contradiz com a de Aquino, na verdade pode ser melhor
inserida dentro de seu sistema, dessa forma Aquino pode defender-se de heresias das quais
era acusado por ter um pensamento muito diferente.

2° Sabedoria Criada
Agostinho se refere a uma criatura criada antes do mundo e antes do tempo como
sabedoria personificada que está conjunta ao criador e é a primeira criatura, ela não tem
passado ou futuro e existe sem precedência temporal de causa e efeito porém só é assim pois
o criador assim quis e caso ela se separe dele será, também, sujeita ao tempo. Por qual motivo
se dá a exigência de uma criatura tal em Agostinho?

Triplo sentido do termo “Eternidade”


Existem, assim, três formas de duração sem início ou fim: Uma existência que não se
perca no passado e não tenha que avançar para o futuro, um mundo sem início ou fim no
tempo e um ser cuja duração é intemporal.

In principio: dupla interpretação


Para Aquino, como já visto, a forma como deu-se a criação não pode ser demonstrada
pela razão, porém a fé tende para que o mundo tenha sido criado com um início. O uso do
termo “In principio” no gênesis é, para o filósofo, um termo que pode sugerir tanto “no
princípio" quanto “em verbo”, que é uma comprovação da incapacidade da razão de definir a
criação mas dá fé de inferi-la.

Do não-início como hipótese iluminadora


Os argumentos que defendem o início partem de pressupostos incorretos, mal
interpretados, amplos demais ou ingênuos. Ao considerar o não-início, eleva-se a criação do
mundo a outro patamar, compreendendo ideias como a causalidade instantânea e o absoluto
divino, podendo assim abrir margem para qualquer configuração de mundo iniciado ou não e
com fim ou não, mas com argumentos superiores e mais bem estruturados.

O criacionismo tomista e o princípio parmenidiano


O princípio de Parmênides que afirma que do não ser não se faz o ser é considerado
por Aquino como válido apenas na filosofia natural ou às causas particulares, não se
aplicando ao campo lógico-metafísico. Aquino o faz pois seria para ele impossível conceber
tal princípio junto da ideia da criação pelo nada então opta por descartá-lo como algo que
aplica-se apenas ao mundo criado.

Conclusões finais
a) Aquino crítica que a razão possa provar ou desacreditar uma das hipóteses sobre a
criação;
b) As duas alternativas são possíveis;
c) Não se pode concluir qual foi o caso pois Deus é livre para que tenha feito como
quisesse;
d) Não é papel da razão pura descobrir verdades factuais a partir de premissas
metafísicas e lógicas;
e) Descobrir o que ocorreu é uma questão histórica que não está acima da razão, mas
está fora de seu alcance;
f) A bíblia, para Aquino demonstra o que de fato aconteceu;
g) Após saber, pela bíblia, qual alternativa se deu, podemos seguir pensando na outra;
h) Da mesma forma se o contrário fosse poderíamos manter-nos pensando sobre aquela
que foi refutada
i) Esta solução corrobora com a criação como livre, autônoma, eterna e acima do
tempo;
j) Existem dois tipos de revelação, um racional de conteúdo claro e inquestionável e o
outro misterioso que pode ser pensado e discutido;
k) Aquino considera absurdo que a razão acuse de absurdo verdadeiras alternativas
válidas no campo racional;
l) Aquino critica a absolutização da obediência à letra da escritura como se esta não
pudesse ser discutida em certas passagens (posição de Boaventura e seguidores) e a
obediência a aristóteles (posição dos averroístas);
m) Contra qualquer simplismo interpretativo;
n) É do espírito tomista saber que qualquer um que por meio da razão ao mesmo
raciocínio de Aquino concluiria que qualquer uma das duas possibilidades de criação
é possível e caso tivesse a confirmação de uma das duas não descartaria a
possibilidade da outra ter sido;
o) Sem a hipótese da criação sem início a criação com início seria fraca e mal fundada;
p) O criacionismo filosoficamente falando continua a ser um tema que pode ser
explorado e discutido;
q) Outros aspectos da filosofia de Aquino podem ser relevantes da mesma forma, como
às 5 vias.

Conexão com as vias


A segunda e a terceira via, as mais relevantes para o contexto e às quais as outras três
se subordinam, levam em conta as duas possibilidades, tanto do mundo com início quanto do
mundo sem início.

You might also like