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FESTIVAL XETRUA . LAVIZALA, 2° EDIGAO TATA KASULEMBE Idealizador e proponente Alexandre Sousa, conhecido como Tata Kasulembe, é membro da comunidade tradicional de povos de terreiro Kongo-Angola tem participacao ativa em todas as aces culturais da Casa de Cultura Lode Apara localizada em Santa Luzia, MG. Em 1996, foi conferido a ele os cargos de Tata Kambondo e Xicarangoma nessa instituigao. A partir de 2020, Tata Kasulembe expandiu sua atuagao para o ambiente digital, produzindo contetido cultural e educative disponibilizado em suas redes sociais, Essa presenca online tem gerado diversos desdobramentos positives, possibilitando encontros e interagdes Interestaduais em prol da promocao valorizagao da cultura Kongo-Angola, Em 2021, Tata Kasulembe realizou a 1 Edi¢ao do Festival Xetrud Lavizala, enfocando a relevancia dos caboclos na tradi¢o Kongo-Angola estabelecida no Brasil. Esse festival foi viabilizado através dos recursos da Lei Aldir Blanc no Ambito estadual de Minas Gerais (Projeto 3866 16/2020) e teve como objetive promover a cultura Kongo- Angola, além de destacar a importancia dos caboclos nessa tradi¢o. Durante 0 evento. foram realizadas entrevistas online com representantes e estudiosos da Cultura Kongo-Angola. que compartilharam seus conhecimentos sobre 0 tema. O festival apresentou cantigas de caboclo de pena, caboclo boiadeiro, samba e sotaque de caboclo em uma emocionante liveshow, que também incluiu palestras com a transmissdo de saberes tradicionais. Essa liveshow foi transmitida no YouTube e em outras redes sociais, ficando disponivel na integra para 0 puiblico. Além disso, 0 conteuido do evento foi transformado em um album musical, que foi distribuido nas principais plataformas de streaming, como YouTube Music e Spotify. Para garantir 0 acesso a0, conhecimento compartilhado durante o periodo do festival. também foi produzide um ebook que abordou 0 contetido apresentado e incluiu um memorial do processo, Esse ebook foi disponibilizado gratuitamente em formato digital. Em 2023, Tata Kasulembe realizou a 2° Edicao do Festival, que trouxe a cena as Divindades do candomblé Kongo-Angola pertencentes ao ciclo das aguas. Essa edicao garantiu celebracao da cultura, tradicao @ saberes dos povos Kengo-Angola, enriquecendo ainda mais a experiéncia cultural proporcionada pelo evento. Tata Kambondo é 0 cargo conferido aos homens da tradicao que sio responsdveis pela seguranga, representaco social e cuidado com ritos e Minkisi, além de outras atribuigdes, Xicarangoma 6 0 cargo conferido a0 Tata Kambondo, responsavel pelos cantos e toques tradicionais, FESTIVAL XETRUA LAVIZALA Kuxonga Kua Menh, 0 ciclo das aguas, é tema da 2" Edicao do Festival Xetrua Lavizala 2° Edigao do Festival Xetrud Lavizala, com 0 tema "Kuxonga kua menha’ (O Ciclo das Aguas), teve como objetivo valorizar as tradicées de matriz afro-brasileira e os saberes originarios, refletindo sobre a relacdo e manifestacao dessas culturas com a agua e seu ciclo, O evento contou com diversas atividades, como apreciacao musical, oficinas, grupos de estudo e compartilhamento de conteido em midias digitais. Realizado de forma hibrida, com recursos da Lei Municipal de Incentivo & Cultura de Belo Horizonte, o festival ocorreu entre 18 de malo e 08 de Julho de 2023. Contou com a participaciio de convidados da tradicéio Kongo: Angola de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Salvador, além de representantes da cultura originaria. Um ciclo de palestras foi realizado de forma virtual, e também foi promovido um curso online de cultura bantu-brasileira ministrado por Walter Nkosi, © encerramento do Festival foi marcado pela apresentacdo presencial da criacdo musical produzida em colaboracao entre Tata Kasulembe. Nath Rodrigues e Acaud Rane, cujo dlbum *kuxonga Kua Menha" (© Ciclo das Aguas) fol lancado em todas as plataformas de streaming, juntamente com uma publicacdo digital memorial do projeto. Toda a programacio do festival foi gratuita, e parte do contetido permanece disponivel nas redes sociais de Tata Kasulembe (@tatakasulembe] e no site www-tatakasulembe.com.br. Essa iniclativa permite que o conhecimento ea cultura compartilhados durante o evento continuem acessiveis ao pubblico interessado. CICLO DE PALESTRAS As palestras foram realizadas em formato de live, contaram com tradugao em libras e permanecem disponivels no youtube do Tata Kasulembe, Makota Célia Goncalves Souza (Makora Celinha). {toi forme CICLODEPALESTeAS “Mas por que reunir saberes paige indigenas e africanos em peatases um s6 encontro?” caboclos dagua cute contol) ai Durante a programacao do 2° Festival Xetrua Lavizala, realizou- se um ciclo de 6 palestras com convidados abordando as Divindades do candomblé Kongo-Angola pertencentes ao ciclo das aguas, bem como as manifestagées littirgicas e culturais associadas a elas. Além disso, foram recebidas duas convidadas da comunidade indigena, que compartilharam suas experiéncias e vivencias em relagao as Divindades, encantados e caboclos d'agua, Asseguir, vocé encontrara textos do Tata Kasulembe e de convidados, abordando algumas das divindades que compéem a tematica do Festival, além da divulgagao das Lives e links para acessé-las! NILMA LINO GOMES Texto de Abertura do Ciclo de Palestras 18 de malo de 2023 Agradeco © convite, em especial ao Tata Kasulembé na pessoa de quem cumprimento todas as pessoas que nos assistem nessa live Uma honra fazer a abertura do Festival Xetrud Lavizala e ouvir a fala cheia de axé de Junior Pakapym. Cumprimento a Carol, intérprete da lingua de sinais, pelo seu trabalho nessa noite. Mukuiu a todas, todos e todes De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia ¢ Estatistica, a atual populagao brasileira ¢ de 213317.639 habitantes. Mulheres e homens negros chegaram a 56.2% da populacao brasileira em 2018, Com certeza é importante olhar para avancos na inclusao dos negros e negras na sociedade, principalmente no periodo de 2003 a 2016, mas sem deixar de reconhecer que ainda enfrentamos muitas barreiras como inser¢3o no mercado de trabalho, usufruto da satde publica, moradia, renda, educa¢ao. Vivemos 0s ultimos 06 anos das nossas vidas em um contexto de desgoverno para os mais pobres e de governo para o mercado e os mais ricos, a chamada intolerancia religiosa que, na realidade é violéncia religiosa, recrudesceu. Vivemos também uma pandemia que ceifou vidas muito em fungao da auséncia de uma politica nacional de satide e perdemos pessoas queridas. companheiras e companheiros de Axé. Vivemos um tempo de racismo religioso no qual grupos fundamentalistas religiosos que ja invadiram a TV aberta e as radios AM e FM também passaram a disputar as redes sociais. Passaram a compartilhar contetido por meio das midias digitais explicitando cada vez mais 0 quanto a mé politica e o lucro tém governado as vidas de varias liderancas e parlamentares religiosos que se apresentam como cristéios, mas na realidade. so apenas pessoas vidas por acumular dinheiro e poder. O verdadeiro cristao pratica a sua fé com amore justica e nao dissemina o édio e a violencia, Nesse proceso, as religiées de matriz africana, que ja sofriam discriminacao e racismo, passaram a softer ainda mais. E a ter que aprender a resistir ainda mais e de formas mais diversas. 10] Professora titular emérita da UFMG, Docente do Programa de Pés-graduagio em Educagéo Conhecimento e Incluso Social/FAE/UFMG. Bolsista de produtividade em pesquisa do CNPQ. Coordenadora do Nucleo de Estudos e Pesquisas sobre Relacdes Etnico-raciais e Agdes Afirmativas (NERA/CNPQ). Ex-ministra das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direltos Humanos do govemo da presidenta Dilma Rousseff NILMA LINO GOMES Texto de Abertura do Ciclo de Palestras Iniciativas como o Festival Xetrud Lavizala podem ser consideradas como parte de um processo de resisténcia € persisténcia. Além disso. elas se organizam como espaco de troca, aprendizagem. ensinamentos. valorizacao das tradigées de matriz afro-brasileira e dos saberes originarios, construgao do orgulho de ser do Santo, de ter os Nkisis regendio nossas cabe¢as, simbolo maior da indissociabilidade entre razdo e emocao. Na nossa cabeca estd a capacidade de pensamento, de emogées, de aprendizagem. de discerimento, dos sentidos da visio, do olfato, da fala, do gosto. da audicao, Encontram-se também os nossos cabelos que podem ser entendidos como adornos do corpo, Eles podem ser doados. em nossos rituais, como simbolo de reconhecimento diante da forca e sabedoria dos Nkisis que nos regem Mas nenhuma cabeca funciona bem se estiver quente. fervendo de raiva ou de édio. Por isso, assim como todo 0 corpo ela precisa ser hidratada com boas palavras, bons pensamentos, com as memérias da nossa fora ancestral, perseveranca e beleza. E nada hidrata melhor do que a agua Mas também vivemos tempos de esperancar. A retomada democratica nas ultimas eleig6es presidenciais de 2022 renova nossas forgas. Os povos de terreiro e as religides de matriz africana novamente tém a possibilidade de serem respeitados pelo Estado, Estamos em tempo de retomada das politicas sociais que tanto beneficiam e garantem direitos as pessoas pobres, negras, indigenas, quilombolas, povos do campo e das florestas, populacao LGBTQIA+, pessoas com deficiéncia. Muitos desses sujeitos e sujeitas se encontram nas casas de Santo, nos terreiros. Vivemos a importante iniciativa de recriago do Ministério da Igualdade Racial com mais forca e recursos do que o extinto Ministério da Mulher, da Familia © dos Direitos Humanos.Assistimos a reconstrugao dos Ministérios da Cultura e do Planejamento. os quais também foram destruidos pelos governos anteriores e retomados pelo governo federal. eleito em 2022, juntamente com as politicas educacionais e os programas “Bolsa Familia. “Minha Casa, Minha Vida’, entre outros mais. Por isso, ¢ fundamental realizar a 2° edicao do Festival tendo como tema a relagao e manifestagao das nassas culturas com a gua e seu ciclo nesse novo contexto histérico, social, econémico, cultural e politico Também acredito que o Festival vai de encontro ao objetivo 114 da agenda 2030 da ONU: Fortalecer esforcos para proteger € 10 patriménio cultural e natural do mundo. € do jar €fortalecer a participagéo das 1 melhorar ai gest6o da dguare do saneamento, uma vez que todo 0 assunto abordado n 0 acer 100s poves tradiicior NILMA LINO GOMES Texto de Abertura do Ciclo de Palestras Do Festival Xetrud Lavizala emerge criatividade e sabedoria. Reconhecer os saberes da tradi Congo-Angola acerca das manifestacées relativas ao ciclo das aguas, no Brasil é a possibilidade de abrir espacos politicos, simbélicos, culturais, estétices e éticos que nos reconectem com as praticas, manifestagées e conhecimentos dessa cultura que ainda precisa ser mais conhecida e valorizada pelo proprio espaco da religido de matriz africana, Qencontro afrodiaspérico presente no rito, na dana, na estética, nas cantigas tradicionais da cultura Congo Angola com a cultura popular tem a forca das aguas. € forte o suficiente para romper barreiras que invisibilizam a ancestralidade e 0 presente negro do nosso pais e é calmo o quanto se faz necessario para nutrir nosso coracao de beleza. Entendo que o 2° Festival Xetrud Lavizala, e a forma como ele se articula por meio do mundo digital e das redes socials, mostra a indissociabilidade entre o tradicional ¢ o maderno. E a tradico respeltada e recriada de acordo com a dinamica do tempo em que vivemos e a vida moderna com 0 uso das tecnologias. o que prova que 0 povo de Santo esta atento 4 renovacdo da vida, 4 evolucao tecnolégica, as midias e as novas formas de contato, sem perder o axé que ven do chao do Terreiro, da roda de Santo, da feitura, do consume das comidas, das vestimentas cuidadosamente confeccionadas. do som dos atabaques que regem nossos sentimentos, a nossa emogao e a nossa razao. Na minha perspectiva, todas, todos e todes que participam do Festival. desde aquelas e aqueles que o conceberam. escreveram 0 projeto e o apresentaram para as instdncias responsaveis pelo financiamento até aquelas e aqueles que aceitaram o convite para palestrar, demonstram compromisso com a democracia. 0 povo de Axé aprende no terreiro os ensinamentos de democracia, de hierarquia, de resolucao de conflitos. E 0 Festival 6 uma forma de divulgar esse compromisso juntando pessoas e autoridades religiosas de diferentes regides do Brasil e pessoas que assistem ¢ participam - via democratizacao da internet - da programacio. Além disso, 6 um compromisso com o antirracismo porque enfrenta a violéncia religiosa tornando publicas a beleza, a sabedoria e a forca dos ensinamentos ancestrais, Ensinamentos e aprendizados importantes e que podem apontar caminhos para a realidade inéspita vivida por tantos brasileiros e brasileiras. O antirracismo ¢ realizado por meio de atitudes e acdes e no somente pelo reconhecimento retérico. O Festival 6 agdo.O ciclo das Aguas é aco. Sao, portanto, agdes de combate ao racismo. ‘Além de divulgar e realizar a arte. a cultura, a musica e a performance. a 2° Edicao do Festival Xetrua Lavizala é um ato politico. Por meio dela podemos aprender ainda mais como ser antirracistas. Por isso, ele é também pedagégico. HONGOLO A palavra Hongolo quer dizer arco-itis,o arco- itis 6 a refragao dos raios solares em goticulas de dgua, Nao existe arco-iris sem a presenca da agua! Varias so as cantigas de Hongolo que remetem a chuva, em varias dizemos que ele 0 senhor que fez/faz chover nos 4 quantos do mundo, A prosperidade da colheita, o milagre do renascimento, o ciclo da agua etc, Tudo sé acontece com a permissao e presenca de Hongolo. Hongolo foi aquele que conseguiu o direito de transitar entre o céu ea terra! Em algumas culturas Bantu, no mito da criagao, é contado que quando Nzambi criou © mundo, 0 mundo era sem cor e que Hongolo foi o responsavel por colorir 0 mundo. Divindades, encantados e caboclos d'agua com Avelin Kambiwa Patricia Fetes abriré @ VE de hoe & noite NZAZI Selembe € o nome dado ao machado de dois umes, também conhecide como machado duplo. Uma das simbologias do machado de dois gumes é exatamente fornecer a idela que o corte acontece para os dois lados. As maos que descem para efetuar um corte severo e preciso, hdo de retornar a posicao original com a mesma velocidade, intensidade e preciso, Na 3* lel de Isaac Newton, onde fol comprovado que toda acao term uma reagao de igual intensidade, temos uma visao cientifica do que represente o Selembe de Nzazi Minha Mae sempre me diz a seguinte frase: "Nunca pega justi¢a a Nzazi, sempre pega vitéria, Nunca sabemos se somos dignos da Justica estamos pedindo !. SAMBA KALUNGA Kalunga tem come tradugao literal mais préxima a palavra infinito’. Tudo aquilo que ndo conseguimos mensurar. pode ser denominado como Kalunga. Inclusive a terra dos mortos também pode ter essa referéncia (embora que por outros motivos). ‘Samba tem como traducao literal mais préxima (para este caso) a palavra "Cortes'’. no mais puro sentido daquela ‘alta dama da corte’ Quando louvamos a divindade Samba Kalunga, estamos nos referindo literalmente a "Cortes do Infinito’, ou seja. a Rainha/Senhora/Dama daquela corte que ¢ o fundo do mar. naquela imensidao de coisas e seres que lé habitam. No candomblé Kongo Angola, temos uma divindade chamada Kalaia (ou Kaiala ou “Mikaia") que tem como habitat a Kalunga Hoje, a abertura da nossa live (0 mar infinito), Na traducdo literal de Kaiaia quer dizer é com a Makota Kidoiale : : ipelxinho’. Em diversos cénticos destinados a essa divindade nos referimos a nés como "pelxinhos' Neste sentido nos colocames como filhos (peixinhos) dela que seria essa grande Mae que esta presente na Kalunga. KITEMBU Kitempo ¢ a divindade considerada o patrono do povo de candamblé Kongo Angola no Brasil. Embora sua traducao literal esteja remeta a palavra "AR", penso que sua simbologia esteja muito além disto. Patricia Freitas absird a UE Kitempo possul forte ligacao com os astros, de hoje a noite. principalmente Mbeji (Lua) e Muilo (Sol), também possui ligacae com a crenologia das coisas. Em sua homenagem as Casas de candomblé de Angola estiam uma bandeira branca na porta de suas Casas, bandeira essa que passam por preceitos especificos para serem estiadas. A existéncia destas bandeiras remetern também a uma das lendas desta de divindade, onde (de forma bem resumida), contava-se que seu povo estiava essa bandeira para dar orientacao/direcionamento, Para o lado que a bandeira soprasse era o caminho que o seu povo deveria seguir. Macaé Evaristo abre o préximo encontro do Festival. anc Kitembu e Matamba 4 Sérgio yew SERGIO JITU Boa noite a todos, béngdos gerais! Gostaria de expressar meus sinceros agradecimentos & organizac3o do evento Festival Xetrua Lavizala, que, nesta segunda edicdo, reafirma o desejo de engrandecer o nome do candomblé Angola Kongo. Sinto-me imensamente feliz por ter participado da primeira edico, que foi sem duivida um sucesso, e agora estou ainda mais entusiasmado com esta segunda edicao. que certamente superaré a anterior. Vocés néo podem imaginar a emogao e alegria que senti, especialmente agora, ao saber que a abertura deste nosso bat papo fol realizada por Sinhavanju. E engragado como o destino nos surpreende, pois conheci ela pessoalmente na casa de Kasulembe, em Minas Gerais, ¢ a partir dai, nossa amizade cresceu. 34 tinhamos nos conectado por WhatsApp e Facebook, mas tive o prazer de conhecé-la pessoalmente ¢ fortalecer ainda mais nosso vinculo, E falando sobre o ciclo das dguas, inicio minhas palavras recitande um poema: Aqua que nasce na fonte serena do mundo E que abre um profundo grotéo Agua que faz inocente riacho E desagua na corrente do ribeirdo Aguas escuras dos rios, Que levam a ferilidade ao sertéo Aguas que banham aldeias E matam a sede da populacdo Aguas que caem das pedras No véu das cascatas. ronco de trovo E depois dormem tranquilas No leito dos lagos Agua dos igarapés Onde lara, a mae d'agua E misteriosa cangao ‘Agua que o sol evapora Pro céu vai embora Virar nuvens de algodéo Gotas de agua da chuva Alegre arco-itis sobre a plantaco Gotas de agua da chuva Tao tristes, sdo lagrimas na inundacado ‘Aguas que movem moinhos $840 as mesmas aguas que encharcam 0 ch8o E sempre voltam humildes pro fundo da terra Pro fundo da terra Eu preferi primeiro recitar este poema, pois ele é algo muito profundo e nos remete a nossa vida em comum dentro do candomble. especialmente o candomblé de Angola. Estamos aqui falando do ciclo das aguas. que essencialmente representa os movimentos da agua, Estou alegre porque sabemos que estamos superando uma etapa ardua e estamos prontos para o desafio de elevar nossos cultos. que por séculos foram aniquilados em seus direitos de expressao. No entanto, apesar dessa alegria, no posso deixar de sentir tristeza quando percebo que ainda nos dias de hoje nos deparamos com um nivel consideravel de analfabetismo e semi-analfabetismo entre nossos adeptos, o que limita a compreensao da aco da natureza, Precisamos sair dessa bolha, devemos abandonar a atitude de ignorancia, como 0 personagem XICO do "Auto da Compadecida" que. quando questionado, respondia: ‘Nao sei ndo, s6 sei que foi assim’, Devemos afirmar que sabemos, sim.. foi assim. Por isso, conclamo os zeladores € os mais velhos a incentivarem seus filhos, netos ¢ até mesmo a si mesmos a estudarem, a fim de sairmos dessa bolha e quebrarmos o paradigma do mito da caverna, Precisamos nos exteriorizar dessa sombra, para que ndo ougamos a sociedade em que vivernos nos rotulande come um bando de analfabetos. Devemos buscar conhecimento e entendimento para honrar nossa cultura e tradi¢o com dignidade e sabedoria, Quando falamos sobre a proposta do ciclo das aguas, recordo-me claramente que formes orientados a compartihar nossa vivéncia no candomblé, Ao abordar essa vivéncia, muitos de nds nos vemos presos a crencas inexplicdveis, e é sabido que em determinado momento eu me enveredei em pesquisas histéricas que buscavam explicagées que meus mais velhos nao podiam fornecer. Sempre ouvi dizer que religido e ciéncia ndo se combinavam, mas isso se mostrou um equivoco. Entre a fé e a razo, existem caminhos paralelos que se complementam nas explicacdes. Nao devemos desvincular nossa fé das acées da natureza e tampouco negar a existéncia de fenémenos cientificamente comprovados. A religido ¢ fundamentada na crenca, devemos acreditar na chuva, no raio. no arco-itis. pois sao essas forcas que nutrem nosso espirito, A ciéncia, por sua vez, busca apenas oferecer uma explicacao razoavel de sua existéncia Dito isso, é importante explicar que. ao falar do ciclo das aguas, devemos abordar os tios, mares, lagos e lagoas, bem como o papel do calor do sol. que provoca a evaporagao dessa dgua. O vapor resultante, ao entrar em contato com uma camada fria, se condensa e forma as nuvens. Com © movimento de rotacao da Terra, o ar estagnado entra em movimento, gerando os ventos. que por sua vez movimentam as nuvens. provocando raios. trovdes © relampagos. e consequentemente, as chuvas, completando assim o ciclo das Aguas. € importante lembrar que cada um desses movimentos possui uma energia, um inkissi que os domina, o que nos leva a compreender que os inkissis representam as forcas da natureza Ha de se lembrar que 0 Candomblé de Angola Congo é baseado na ancestralidade, onde um membro da comunidade, seja nganga, kimbanda, soba, entre outros, passa da vida fisica para a espiritual, o que chamamos de *morrer’. Porém, entre os bantu, no se considera que a pessoa tenha morrido, mas sim que ela se tornou um, antepassado querido, que de alguma forma se transforma em um ancestral. Normalmente, esse ancestral est ligado a uma energia especifica, a uma forca da natureza, Conforme lembrado pelo tata Walter em sua palestra quando alguém se incorpora ou recebe a forca da natureza, na realidade é a forca de um ancestral que tinha envolvimento com aquela energia. Essa forca é algo que todos que nascem tém como base em sua propria energia ancestral Isso posto, podemos ser mais diretos ao assunto. Para que haja um entendimento bem fundamentado, darei continuidade as falas do Tata Walter. Para falar sobre Matamba e Kitembu, é necessario abordar a ctiagdo dos povos ambundu, que é a minha area de conhecimento, sem desmerecer aqueles que adentraram pelas terras do Congo. aos quais tenho 0 maximo respeito, Nesse sentido, cito uma figura que se tornou referéncia entre os historiadores contemporaneos, Joseph Miller. e especialmente indico uma de suas obras intitulada "O Poder Politico e Parentesco’, onde ele aborda 0s umbundu de Angola Contam os Mbundu que © mundo comegou quando Ngola Inene chegou de terras longinguas do nordeste e se estabeleceu onde os Mbundu hoje vivem, Ngola procriou uma filha, Samba, e esta, por sua vez, deu & luz Kurinje kwa Samba e Kiluanje kya Samba, Deixande momentaneamente de lado os descendentes de Kiluanje kya Samba, Kurinje kwa Samba foi o progenitor de Mbulu wa Kurinje, e este gerou Zundu dya Mbulu, Kongo dya Mbulu, Mumbanda a Mbulu, Matamba a Mbulu, Kajinga ka Mbulu, Mbumba a Mbulu, e possivelmente Kavunje ka Mbulu, No contexto de minhas falas, cabe citar Mbamba a Mbulu (ou Mba Mbulu) e Matamba a Mbulu, Com base em Miller. citado por Patricio Batsikama, podemos observar que esses nomes eram titulos dados aos descendentes que se estabeleceram como os fundadores das areas em que se fixaram. Portanto, Matamba Mbamba, Dembu, entre outras, eram os nomes dos ancestrais descendentes que deram origem aos clas e foram usados como referéncia para identificar suas respectivas regiées de origem, Muitos se admiram ao ouvir que Matamba era uma guerreira, atribuindo essa qualidade a inhanga (espititos ancestrais femininos), mas é importante lembrar que essa caracteristica estava relacionada a propria terra e a0, povo que a habitava, Os povos que habitavam aquelas terras eram guerreiros, nao por desejo de conquista, mas sim para defender seu territério, j& que reinos vizinhos frequentemente tentavam impor seus direitos sobre aquelas regides. Por esse motivo, Matamba, vez ou outa, se apresentava com suas espadas. langas ou adagas, demonstrando sua forca e determinaco em proteger e defender a sua terra e seu povo. Também se atribui a essa ancestral ou divindade, que chamo de divindade por terem sido esses ancestrais divinizados dos ventos naquela regido de Matamba, Mbamba, Dembu, a influéncia sobre as ventos, De acordo com 05 relatos de Cadornega, Henrique de Carvalho, Hermenegildo Capelo e outros desbravadores, 8 tarde os ventos imperavam nessa area. Os povos locals também atribuiam os fendmenos, especialmente os climaticos, 05 ancestrais daquela terra. Tanto é que nas terras de Mbamba a Mbulu ou Mbambulu, ao final da tarde. eles observavam os relampagos, atribuindo esse fato a presenca dessa divindade. © nome por si s6 ja nos induz a um significado profundo, pois em kimbundu, a palavra dobrada com os prefixes "mba® ou ‘Nga’ da um sentido de superlativo, grandiosidade, Portanto, "Nga" seria "Nganga’ e "Mba" seria ‘Mbamba’ referindo-se a um eximio conhecedor e "Mbulu' significaria “o mais alto associado ao céu. A palavra ‘Sema’ origina-se do verbo *kusema’, que significa ansiar, desejar, e "Nvula" é chuva. Dessa forma, a palavra Mbambulu sema nvula" representa aquela eximia conhecedora do céu au do alto, que anseia pela chuva Portanto, ela também representa os ventos, os relampagos, as chuvas, as guerras ¢ © fogo. Essa divindade engloba uma série de forcas naturais e 6 de grande importancia para o povo que a cultua. Certamente, quando vemos essa ancestralidade se apresentar com aquela peca com rabo de bufalo, comumente chamada de eiru, eiruexim ou eiruqueré, ¢ nés de Angola a denominamos de MUFUCA ou Mpungu, fica evidente que os sacerdotes a utilizavam para controlar os ventos @ a chuva. Todas essas atribuicées se encaixam perfeitamente com as explicagdes apresentadas, ¢ isso refuta a ideia de que essas caracteristicas pertenciam a divindade iorubana chamada inhaga. Dessa forma, podemos entender a parte do ciclo das aguas associada a essa ancestralidade e divindade de forma mais clara e consistente, 38 fui alertado aqui sobre o tempo para falar sobre tempo para dar tempo de outras coisas Entdo, sobre Matamba, o que eu pude falar fol isso. Infelizmente, ndo posso me aprofundar muito no assunto devido ao tempo limitado e também porque ha muitas outras pessoas que vdo falar. Aqui, temos nao apenas conhecedores, mas também pessoas com diferentes nivels de conhecimente, incluinde Ndumbe e muzenza recente, Por esse motivo, nao adianta oferecer muitas explicaces detalhadas neste momento. Por isso. fiz um apanhado geral para fornecer uma visio abrangente sobre o tema, ‘Agora. falar de Kitembo no meu entendimento ou tempo, para mim seria muito redundante porque eu sempre considerei o Tempo como o cabega de tudo, 0 cabega de todo esse processo ou. no minimo, participante de quase todo esse processo, Entdo, quando eu falo isso, ndo quero que entenda que Tempo é Nzambi? Nao, Nzambi foi o criador do céu e da terra. Inclusive, quando eu falo em Tempo. fica muito dificil eu passar uma informagao mais precisa sobre Tempo, através da histéria porque o que acontece é que Tempo criou uma dinastia e se espalhou por quase toda a Africa bantu, Entao, as historias passaram a ser regionais. Entao. eu contar aqui uma historia A. B, C, vai acontecer de falarem: "eu sabia que era essa € nao essa outra’. Por isso. fica dificil até de falar, mas fazendo um apanhado, eu posso dizer assim: eu tenho Tempo na minha casa tido como 0 dia, a noite, o sol, a chuva, as estacdes do ano, a brisa, os ventos, a tempestade, o vendaval, talvez até seja por isso ele seja denominado o rei de Angola, tem até uma historinha mas fica dificil para passar essa historia por causa do tempo. Um dos pais fundadores dessas terras como herdeiro seria Ndumba Ya Tembo. reconhecido em todas as tradigdes como o condutor de varios povos, ao longo de uma migragao até ao Ciboco. Um descendente deste grande chefe contou, no século XIX, aos viajantes portugueses Hermenegildo Capelo € Roberto Ivens, sobre a saga de seu povo: “Ouvi contar a meus avés que toda esta terra que se estende ao longo do Cuango, de ca e de Id, era, em outro tempo, pouco poveada. Existia jd 0 poderoso governo dos Lundas, ndo t8o poderoso como ficou depois, para nao ficar muito embolado. Existia uma mulher, e é importante frisar que sempre a primeira em todas as hist6rias. Isso que eu faco questo de enfatizar, em todas essas historias que falam sobre Kitembo da dinastia, 0 inicio foi uma mulher. No que Kitembo seja feminino, gente! Pelo amor de Nzambi, estou passando um conhecimente histérico, nao religioso. E histérico, mas pode se relacionar ao religioso. Daqui a pouco, dirdo que Jitu falou que Kitembo era uma mulher, mas nao, nao falei nada disso. E mentira. Negarei até morrer... Entdo. essa Tembo, que era dessa leva de Samba, dessa mulher, nasceram trés filhos, Também uma mulher na mesma Lunda, denominada Tembo ou Lucuoquessa, que tinha trés filhos chamados N'Dumba-Tembo, Muzumbo-Tembo e Cassanje-Tembo, guerteiros notaveis, possuindo grandes partidas de gente, com que vagueavam pelo sertéo. Questées sérias, envolvendo o chefe do estado, resultaram na perseguicao dos trés descendentes. fazendo com que eles fugissem para o oeste, acompanhados por uma grande quantidade de pessoas, com a intengao de se estabelecerem Id, Eles abandonaram a Lunda e avangaram em direcao & margem do Cuango, conquistando os povos que estavam dispersos na regido e dividindo as terras entre si. Nidumba-Tembo tomou para si 0 Tchiboco, a0 sul 0 Casal; Muzumbo-Tembo tomou o Sango. isto é, a terra que fica entre o Cuando e Tala-Mogongo até o Cuije; Cassanje-Tembo escolheu para si as terras que ficavam no Norte, sob a denominacéio de Quembo, Songo e Holo. A partir dessas divisées, surgiram os Jagas. os Mbangalas e os Kassajes, Parece até que ha uma raiz do Angola chamada Kassanje, que acredito estar relacionada a essa dinastia Kitembo, e ela foi crescendo de tal maneira que criou uma dinastia que se espalhou por quase toda a Africa Bantu e que perdura até os dias de hoje. "Tembo' em kimbundu significa vento, logo "Kitembo’, tendo a particula ‘ki’ como prefix aumentativo, significa © grande vento, que para muitos pode ser entendide come vendaval. No entanto, "Kitembo" é mais apropriado para se referir a0 grande vento ou ao senhor dos ventos, assim como denominamos "Kisimbe". Eles so detentores das atribuicées dos ventos e chuvas, e por isso se apresentam nas casas de candomblé com a indumentaria mencionada anteriormente, a "MUFUKA" ou ‘MPUNGU! ou "Mupungu’, que é aquele rabo de bufalo, Viaqui na minha cidade um Tembu com um facdo na mao, riscando 0 chao, especialmente quando cantavam aquela cantiga ‘tempo amola faca no Kandembo". Quero crer que seja possivel o uso do facdo por se tratar de um guerreiro, como os Jagas, imbangalas e cassanges, mas a cantiga talvez tenha sido deturpada pelo vicio da audigao, Nao sou linguista, mas quero crer que, ao invés de ‘amola faca no Kandembu’, possa ser “maala' relative 20 plural de “diala’, pois andavam sempre em grupos. inclusive. recebi ontem a ajuda do meu maninho Glauber. Obrigado pela ajuda, 6 que nao da para passar todos os detalhes aqui devido ao tempo, mas agradeco a sua colaboracao, a0 Jitona e 20 Tinho também, que me ajudaram muito quando explicaram essa versio em kikongo. Fiquei um pouco apreensivo quando falaram em kikongo, pois Tembo é de Angola e nao tem nada a ver com kikongo. No entanto, depois parei e cai em mim que Tembo espalhou sua dinastia por quase toda a Africa Bantu. e talvez eles tenham traduzido essa cantiga para o kikongo, o que foi muito bacana. Ainda vou me dedicar um pouquinho mais para desvendar esse mistério. Bom, fica aqui. como o tempo ja esta muito avangado. Meu Nzambi ua kuatesd a todos os meus maninhos que me ajudaram, a todos que participaram e dedicaram seu tempo para assistir a esse bate-papo, essa conversa, Espero ter sido util de alguma maneira, ter contribuido para o estudo ou entendimento das minhas palavras. Qualquer coisa que precisarem, estou disponivel nas redes sociais, é sé me procurar, e meu Nzambi ud kuatesa a todos. Kasulembe... Beijo no coracao lestra de Sergio Jitu na programagdo do 2° Festival Xetrud Lavizala. Sedo de parte do p ASSISTA AS PALESTRAS Nzazie Hongolo com Junior Pakapym, abertura de Nilma Lino Gomes e mediagao de Tata Kasulembe. Acesse Divindades, encantados e caboclos d'égua com Avelin Kambiwa, abertura de Makota Celinha e mediagao de Tata Kasulembe. Acesse aqui ‘Samba Kalunga e Nzumb4 com Walter de Nkosi, abertura de Makota Kidoiale e mediagao de Tata Kasulembe. Acesse aqui! imbi e Ndandalunda com Tata Laércio, abertura de Macaé Evaristo e mediagao de Tata Kasulembe, Acesse aqui! Matamba e Kitembu com Sérgio Jitu, abertura de Mametu Siavanju e mediago de Tata Kasulembe, Acesse aquit Divindades, encantados e caboclos d'égua com Eva Potiguara, abertura de Marquinhos Lemos e mediagao de Tata Kasulembe Acesse aqui! ee Pore tee areal Cele eee ge Cerrar caer Peete erent eer cr peg ec) eens - Prec esata eerie) oe ty ere Seas eee ia ele een eye 4 Pree tarnr eros Pe Cui) oon Corro em leito as vezes ri, Pere sce cry Perry Pee aan fespelho, céu refletido ensina reer tenersrere nary Poetry Sea pe Petry Pete) Netra Come o sangue que corre em esac cece) oko ool cae aie Imisturando passado, presente e ihe Paes Cero eee rr es perc eee) Cetera! Coote Coe ne Cee od Peer ORCI Kasulembe; nos arranjos, et Eee) ere eee Sc) Ra clic Leen te) Cee Tata Kasulembe explica que a producao musical, tanto do show quanto do album, promove 0 encontro da musicalidade de terreiro com a musica popular. Ele afirma: "Na composigao imagética do Album, destaca-se 0 cortejo das 4guas. que percorrem as culturas musicais brasileiras. Além disso, esto presentes vozes marcantes, como as de Fernando Bento, Sérgio Pereré, JosyAnne, Elisa de Sena, Fabiola Machado, Imane Rane e laid Drumond" Tata Kasulembe, que representa as culturas tradicionais, possui um repertério voltado para as, lutas e a defesa da garantia de direitos, preservacao e manutencao das tradicdes. Ele ainda esclarece que as cangées musicadas pertencem a tradi¢3o do candomblé Kongo-Angola. ‘As cancées foram escolhidas de forma a contemplar algumas das Divindades participants do ciclo das aguas’, conclu Aapresentagao musical aconteceu no dia 08 de julho de 2023, a5 10:00 horas no Centro de Referéncia da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado, em Belo Horizonte - MG, foi transmitida ao vive pelo youtube do Tata Kasulembe e ficou disponivel para visualizagae gratuita Conheca um pouco das Divindades contempladas na gravagao do album inédito e a ficha técnica de cada faixa na sequéncia KIsIMBI ‘Acaua Ranne: violao, rumpi Ie, agog6, coros Nath Rodrigues: coros Richard Neves: teclados (marimba e synth) Alagbé Helton Ty Ogun: rum laid Drumond: voz lead Kisimbi é uma Divindade associada as aguas que brotam da terra, toda nascente de agua pertence a kisimbi. Ela é considerada a senhora do poco sagrado nas tradicées de candomblé Kengo Angola. E a 4gua que nutre a terra e que de Id brota para também nos alimentar. NOANDALUNDA Acaua Ranne: violdes, rumpi, cores, ag096, Ie Nath Rodrigues: coros e voz lead Alagbé Helton Ty Ogun: rum Elisa de Sena: voz lead Ndandalunda é uma divindade que est associada {as dguas que fluem sobre a terra (rios, lagos etc) é a continuidade de kisimbi. Seu nome remete a uma tradugo de nobre e encanto, onde NDA = Nobre ou (NDA-NDA = Nobrissima) senhora e LUNDA = regido ou povoado onde ela reinou, Ndandalunda seria a nobrissima senhora dos povos Lunda. SAMBA KALUNGA MATAMBA ‘Acaua Ranne: cavaco, moringa, tama, efeitos, Acaua Ranne: violao, ferro, rum, pi, Ié. cores, baixo palmas elétrico Nath Rodrigues: bandolim, violino com palheta Nath Rodrigues: coros palmas, coros Josy Anne: voz lead, efeitos de voz, coros Richard Neves: teclado Fabiola Machado: voz lead Samba Kalunga é uma divindade associada as Le Aguas das profundezas dos mares, onde o mar é uma grande corte onde ela reina SAMBA = Cortesdo e KALUNGA = Infinito. 0 Matamba é uma divindade que esta ligada aos fortes ventos que antecedem uma tempestade. E uma divindade que esta presente tanto no elemento fogo, quanto no elemento 4gua, possui a capacidade de viver e ser essa dualidade. KITEMPO ‘Acaud Ranne: violéo, rumpi. Ie fetro, agbé. voz lead coro, balxo elétrico Nath Rodrigues: coros Richard Neves: teclado (synth) Alagbé Helton Ty Ogun: rum Imane Ranne: voz lead e letra versada Kitempo é uma divindade ligada ao ar, traducao literal de Kitempo “AR” ou "Vento’. Eo vento responsavel por levar ou trazer a chuva para perto de nés, também ¢ a divindade responsavel pela cronologia das coisas, NZAZI Acaua Ranne: violdo, agog6, Ié Nath Rodrigues: coros Fernando Bento: voz lead, louvacao Alagbé Helton Ty Ogun: rum | PED ee Nzazi é uma divindade que esta associada aos raios, mais especificamente a energia emanada pelos raios. Esté associado a justica por representar a unio de cargas negativas e cargas positivas. A palavra NZAZI = Raio. HONGOLO Acaua Ranne: baixo elétrico, cores, Ié, shake-balde Nath Rodrigues: coros Sérgio Pereré: voz lead, efeitos de voz Alagbé Helton Ty Ogun: rum No aspecto littirgico Hongolo esti ligado as chuvas que caem abaixo do arco-iris, a tradugao da palavra, Hongolo é ARCO IRIS. £ a divindade que faz a agua da chuva chegar na terra, é quem molha e pacifica a terra cumprindo o final (ou inicio) do ciclo da gua. NZUMBA Acaua Ranne: violdo, agog6, Ié, rumpi Nath Rodrigues: coros Alagbé Helton Ty Ogun: rum Tata Kasulembe: voz lead Nzumba é uma divindade associada as aguas turvas, por nés considerada a senhora das dguas turvas ue fornece 0 barro como matéria prima, NZUMBA = TURVAS RIA = DAS e NDA= Nobre. € a divindade da representacdo da jun¢ao do elemento agua mais © elemento terra ASSISTA A APRESENTAGAO MUSICAL DE ENCERRAMENTO A apresentacao foi transmitida ao vivo pelo canal do youtube do Tata Kasulembe e ainda esta disponivel! Acesse aqui! ESCUTE 0 ALBUM MUSICAL NA PRINCIPAIS MIDIAS DE STREAMING AGRADECIMENTOS Povo da Aldeia ou Povo das Aguas? Povo de Terreiro! Mais uma vez nosso agradecimento especial a tados os que fizeram parte da nossa comunidade digital, que acompanharam os bastidores e seguiram bem de pertinho toda a programacao do 2° Festival Xetrua Lavizala, Nosso Nzambi ua Kuatesa! Benco a quem for de direito. Tata Kasulembe e todos os envolvidos. Varna Alhandra Santos Barreto - Belo Horizonte / MG. Lucas Campos - Contagem / MC \Wanderson focrigo de Oliveira Divinopolis / MG Emanuele Ria Ndandalunda - Sanuto Producées - Rio de Janeiro / RI Kaiana Muxitu - Guaiba / RS Mona Nsinge - Rio de Janeiro / RJ Bianca Medeiros Calonico dos Santos (kinamb6) - Rio de Janeiro / RI Ubirajara Santos Amelia Rodrigues - BA Tata Hoximoale - Juiz deFora/MG. Kiloondiraa - Sumaré/Sp Tata Lemba DNgongo - Bauru /SP Tata Kajaibiquara - Guarulhos - SP Bruno Nascimento - Belo Horizonte / MG lara Miceli - S40 Paulo / SP Tata kensaromy - S40 Bernardo do Campo - SP + ota Edney William Cruzeiro Moreira - Juiz de Fora / MG Nath A Neidygi Ferreita da Silva - $30 Paulo [SP Renato xikaringoma - S80 Paulo / SP Alessancira Crovato - Juiz de fora/ MG ; : Yara Conceigao de Oliveira Santiago - Salvador / BA Rosana Lima Josua- Rio de Janeiro / FO Herbert Lucio - S80 Paulo , Kelly Cardozo - Rio de Janeiro / RI Tata Kaisongo - Rio de Janeiro / RI Jader Alves des Santos Martins Belo Horizonte / MG \voue Ment. Rita de cassia lima - Santa lusia / MG q LS Ivan Jorge Bispo Amorim = Rio de janeiro RD Sharon Stefani Rivers Caldeira Niterdi- 23 Guaraci da Silva Mendonga - Rio de Janeiro / RI Maria Cecilia dos Santos - Embu das Artes / SP Anna Paula Schleich Guedes - Belo Horizonte / MG. Kambonde MUANI QUIZELA - Marica / Ra ANA PAULA ARANHA = Araraquara /SP Marcos Vinicius Fernandes Nogueira - |taquaquecetuba / SP Aline de Jesus da Cruz - Salvador / BA. Luiz Fernando - Belo Horizonte / MG Makota Olujona ile Asé Mucaless- Bahia Juliano Dilunguzu - Belo Horizonte / Mc Eveline Oys Santos / SP Jorge Luiz - Mutalakutalamasi - Rio de Janeiro / RI FICHA TECNICA 2° Edigdo, Festival Xetrud Lavizala Kuxonga Kua Menha Projeto: 0508/2022 Realizado com recursos da Lei Mul Apolo: Radio Inconfidencia ipal de Incentivo a Cultura de Belo Horizonte. Idealizacao e Coordenacao Geral: Tata Kasulembe Elaboragao e aprovacao, Coordenagao de Produgao e Financeira: Catarina Maruaia Comunicagaio Arte e Midia Social: Breno Ribeiro Copy: José Miguel Toledo Tréfego: Luka Batho Assessoria de Imprensa: Bramma Bremer e Mariana Cordeiro Fotografia: Lina Mintz e Luiza Palhares Transmissao ao vivo: Renca Producées Site diagramacao de publicagdo: Catarina Maruaia Spot de radio: Radio Inconfidéncia Programacao Virtual Palestrantes: Junior Pakapym, Avelin Kambiws, Walter Nkosi, Tata Laércio, Sérgio Jitu, Eva Potiguara, Abertura de Palestras: Nilma Lino. Makota Celinha, Makota Kidoiale, Makaé Evaristo, Mam’etu Sidvan)u, Marquinhos Lemos Interpretacao em libras: Carol Mezanto Facilitador do Curso de Divulgacao da Cultura Bantu Brasileira: Walter Nkosi Mediacao: Tata Kasulembe Assistente de producdo: Luka Batho Produgao Musical colaborativa: Tata Kasulembe, Nath Rodrigues e Acaua Rane. Idealizagao e realizacéio: Tata Kasulembe Direco Musical: Nath Rodrigues Produgéo Musical e arranjos: Nath Rodrigues e Acaua Rane Captaco, edicao, mixagem e masterizacao: Rafael Dutra Produgo Executiva: Catarina Maruaia Album gravado no Estudio Acuistice Motor, em Belo Horizonte, entre maio e junho de 2023. ‘As faixas Ndandalunda, Samba Kalunga e Matamba. tiveram suas vozes leads gravadas nos estuidios Wm estudio (Técnico: Virgilio dos Santos], Estlidio Galvani (Técnico: Fabricio Galvani) e Estidio Traquitana (Técnico: Mauricio Caetano) FICHA TECNICA Faixa: KISIMBI Acaua Ranne: violao, rumpi, Ié, ag0g6, cores Nath Rodrigues: coros Richard Neves: teclados (marimba e synth) Alagbé Helton Ty Ogun: rum laié Drumond: voz lead Faixa: NDANDALUNDA ‘Acaua Ranne: violdes, rumpi, cores, agogé. Ié Nath Rodrigues: coros e voz lead Alagbé Helton Ty Ogun: rum Elisa de Sena: voz lead Faixa: SAMBA KALUNGA, ‘Acaua Ranne: cavaco, moringa, tama, efeitos, palmas Nath Rodrigues: bandolim, violino com palheta, palmas. cores Richard Neves: teclado Fabiola Machado: voz lead Faixa: MATAMBA, Acaua Ranne; violdo, ferro, rum, pi, Ié. coros, baixo elétrico: Nath Rodrigues: coros Josy Anne: voz lead, efeitos de voz. coros Faixa: KITEMPO. ‘Acaua Ranne: violio, rumpi,Ié ferro, agbé, voz lead coro, balxo elétrico Nath Rodrigues: coros Richard Neves: teclado (synth) Alagbé Helton Ty Ogun: rum, mane Ranne: voz lead e letra versada Faixa: NZAZI Acaua Ranne: violo, agog6, Ié Nath Rodrigues: coros Fernando Bento: voz lead, louvagao Alagbé Helton Ty Ogun: rum Faixa: HONGOLO Acaua Ranne: balxo elétrico, cores, I, shake-balde Nath Rodrigues: coros Sérgio Pereré: voz lead, efeitos de voz Alagbé Helton Ty Ogun: rum FICHA TECNICA Faixa: NZUMBA ‘Acaua Ranne: violo, agog6, Ié, rumpi Nath Rodrigues: coros Alagbé Helton Ty Ogun: rum Tata Kasulembe: voz lead Apresentacio Musical Realizado em 08 de julho de 2023 8s 10:00 horas no Centro de Referéncia da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado, Belo Horizonte - Minas Gerais. Com transmissio ao vivo, Ensalos: Estudio Locomotiva Palco: Leandro Martins Sonorizacao: Ganesha Eventos Técnico de som, mapa do palco e rider: Rafael Dutra Assistente de som: Rodrigo Vimieiro Assistente de producdo: Luciana Baeta e Luka Batho Catering: Tia Rosa Confeccao de presentes: Varna Alhandra, Tata Kitualazazi, Makota Mavulukue. Participagao na abertura e entrega de presentes as aguas Tata Tayolo: Rum Tata Miogombe: Pi Tata Lembura: Le Kota Iguatemy Kota Gaioco Kota Javondecy Kota Asuele Muzenza Mikambandembu Mam’etu Aparacile (Mae Gléria) Makota Kualovango: Makota Mavulukwe Texto e leitura: Catarina Maruala Instrumentos Voz Aloisio Horta: Baixo laid Drumond - Kisimbi Elisa de Sena - Ndalunda Fabiola Machado - Samba Kalunga Nath Rodrigues - Matamba Lucas de Moro: Teclado Alagbé Helton Ty Ogun: Rum Tata Tauamin: Pi Imane Rane - Kitempo_ Tata Bantukevi: Le Fernando Bento - Nzazi Tatakasulembe e Tata Tayolo; Ferro Sérgio Pereré - Hongolo Tata Kasulembe - Nzumba ‘Acaua Ranne: Violao e baixo elétrico Nath Rodrigues: Bandalin e violino com paleta

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