You are on page 1of 18
Wallin f. frm Histdriadapsicologia fenomenoldgica Marina Massimi | Savio Passafaro Peres [orgs.] Capitulo 5 MARTIN HEIDEGGER Séivio Passafaro Peres André Sendra de Assis Paulo Roberto Reimao Machado Heidegger & um dos flsofos mais importantes do séulo XX. Em virude éapubicagd de Sere tempo, em 1927, ee &muitas vere consideradeenbors opliprio nunea tenha se auido como tal um dos princi fandaors da caret flosbfica do exisencilismo, que iia marcaro sul XX no apenas 10 imbito académico, mas também artistico ¢ cultural. A expressio “existen ialsmo” foi usada assumidamente por Sartre para denominar asia todo 0 ‘movimento que tinha como centro o €xi ‘Contudo, ¢ discutivel se Heidegger ‘deve mesmo ser considerado um dos fundadores do movimento, existencialista, Posto que outros autores, anteriores a cle, como Kietkeaard «Kal Barth am im dcutiam frontalmentea questo, De todo modo, Sere temp um mace naflosofia do séeulo XX, se pela maneirainovadora como Hides 00° ‘4questio do sentido do Ser, em contraste coma metafisica tradicior nea riginalidade do método fenomenolégico-hermenéutico com 0 qual ‘Sosamente aborda o tema da existéncia humana, Nio € novidade que Ser e tempo é uma obra dil steed ok co. eroMEOL ECA ca responde&pergunt pelo er onsieand oc reps o que para 0 aor eta deum mages de 38 ontologia Fenomenolgico-hermenfenc ne feo comprendido de man Yegten nog ce encoberto. perman sridegger € Husserl. 0 problema do lugar do transcendental ‘tempo € uma obra de ontologia fundamental seu méndo¢ a hermengutico. O problema do “sentido do pode deve se bor. aetna por construcbes tebricas ehipotétcs, mas dee ser guido ome vars do ser. método & deixar apaecero ser. Afi de enender set faomenologia de Heidegger, € preciso compreende o que Heidegger entende por fendmeno. ; endmeno, em seu sentido mais autético,nio & uma aparéncia que es conde uma esséncia. A aparéncia nunca é “mera aparénci’ Ser eaparecer eto jntimamente conectados. Aparecendo, um ente sem tsa “phos” esté nos fosforos, no fosforescente na Igumas vezes, 0 ente se mostra como se fossa ncia enganosa’. O camaleio,pendurado nd mostrando-se como se fosse uma folha. Neste cso, ele most que nio & Contudo, 0 mostrar-se como ele nio fax parte do qe é A nogio de fendmeno como mera aparéncia enganosa fem com co ‘nosio de fendmeno em seu sentido mais autstio, um mostrar ds I Afnalo que corrge wa fala aparini so ute sa isso com um exemplo. Percebo, a0 longe, algo que se mostra como snd % Pesoa, Contudo, 2 medida que vou me aproximand, come Fe HS algo estranho naquela pessoa. Entio descubro que é um maneguin, 1 Mt 4 pereepsao inicial ocorreu no suceder das experiéncits con © ue eu via de longe agora aparece de peto, no deta ‘Be textura, a sua imobilidade etc. Entdoo ene s€ mostra ome © fendmeno enganoso é parasitiri do fendmeno verde "aquilo que ele mesmo é a'ltidegger,portanto, conco 40 € uma mera “aparent sda com Husserl a0 entendet ‘Uma ver que fendmen? log como filosofia transcend ude natural, pos esta carrega ser dados como ébvios. Pra lite dos pressupastos os inerentes a atitude natural, a fenomenoioga kt serianaexige a efetuagio da epoch eda reflexdo transcendental Ofendnes io € algo que simplesmente aparece, mas aparece para 0 sujeto conscinte 0 épassiva diante do fendmeno. ela que, em suas mil na possvel o aparecimento de qualquer sempre dado como uma identidade em uma multiplicidade de apar Huser a inves tomada como condicio de meno de algo, ‘mundo e os ent luto, e nao o mundo. O que Husser! nem sempre deixa claro € que a expresso “mundo” possui dois sentidos. Em sentido mundano, © mundo é tomado coma tudo aquilo que existe em si, independentemente da conscigncia, Em sete transcendental, o mundo é o horizonte externo de tudo o que é dado e pode: dado na experiencia, Heidegger accita apenas parcialmente as pasicdes husserlianas, Ur ‘cunstincia privilegiada para observarmos as seme! dia Britanica. Em uma carta de 22 de outubro de 1927, alguns dias depois de a ’bos os fildsofos se reunirem para o primeiro esboco do artigo, Heidegger bss apresentar seus pontos de ressonancia e dissonancia com seu antigo mi © acordo consiste no fato de que o ente, no s voc hams mundo, nao pode ser esclaecido na sua constituigao transcendent recorrendo a um ente que ten ON Jo € a apenas um fato mundanam implesmente presente vista ( de todo o positivo (HEIDEGGER, ‘Ambos concordam que o most o prop Endo depende do proprio ente. O ente & const pena Por algo que no ee algo que const Gn Para Heidegger © spo-mundo (In-der-We Em consequéncia, em seu estudo da constiuig so sue risca 0 método fenomenoldgico husserano. Condo, poco esté preso a atitude natural. A fenomencogia hus cexpoe em [dei as formas de co diferentes entes do mundo, nscendentl, Heidegger idegge tam entretanto, que a investigagio da igagao da consciéncia, A conscitncia objeto, Para Heidegger, acorrelacio: ‘aistencia. O mundo ¢ os entes do mundo no se mostram apenas fandamental ser-no-mundo. © mundo nio ‘orrlatos da consciéncia intencional, real ¢ pos they. Neste sentido, afenomene Rees denominada de fenomenologia hermentutcs em com ‘menologia reflexiva de Husserl Hermenéutica O Signficado mais amplo de hermenéutca€ ate se fra om “Sindog once tee ods dae ane di lemme mpregada, na Antiguidade figutagdes dos astro, os orice, tratar daquilo que ase se na forma de enigns ‘oc deuses € 06 homens. A hermendutica interpretar os sonhos premonit6rios, asc os textos sagraalos Fra essiria para evade a0 pe aa letra, cua sun significado deve ser desvendado, Nio é para ninguém que ning passive levar o texto biblico a0 pe da letra, pois, neste 950, triamos diners contradices, problemas ¢ mal-entendidos. De fato, na Idade Média a herne néutica foi desenvelvida na interpretagio dos textos biblicase muitos dos cm ios medievais foram realizados para se resolver questdes hermenéuticas, ony, por exempla,o da natureza de Cristo, “Trarendo ae dias de hoje, sabemos que a hermenéutica € necessiiaparag is insttuidas estio sujeitas & interpretagio, na medi fem que ¢ preciso saber aplici-las aos casos singulares. E importante obser ‘que as possbildadesinterpretativas nao sio ilimitadas. Se todas as inere Lucie possiveise imagindrias tivessem o mesmo valor, terfamos apen forma estenl de relativismo, Pelo contririo, as possibilidades interpretativassin itadas pelo aparecer dos entes, ou seja, pelos fendmenos. Em vitude deo {endmeno guia 0 processointerpretativo, o interpretar nao € algo que depends apenas docapricho daquele que interpreta, ‘A hermenéutica possui uma longa histéria. No entanto, o que precisamis Paraapreender o sentido da hermenéutica de Heidegger é examinar breverete tum autor do fim século XIX, Dilthey. Dilthey defendeu que ha duas grandes classes de cigncias, as citncias naturais e as cincias humanas (ao pé da lea ‘éncias do espirito). Ampliando uma ideia ja presente em Schleiermacher, que shrmava que 0 método histrico deveria ser hermenéutico, Dilthey defend: {que a hermenéutica é0 método por exceléncia das cincias humanas.O méod? hermenéutico se colocaria em contraste com 0 método hipotético-constutv® exrpregado nas cincias naturais, A diferenga metodolbgica pode ser expres? a seguinte forma: ciémcias naturaisexplicam, as ciéncias humana Co dem Laplcar basicamenteenquadrar um determinado fenbmeno em ut Ee Ho, oy ntnifestam pré-reflexivamente sem se format OBI TT rcepgio Te Quando efetuo um ato de percePé cia, antes VO" que a vivenci, ida de maneir it 198° os, et espirito” Contudo, no Moment do spirit 7 om gy modo de dar-se se modifica, cla pass | fo € como um espelho que distorce a y, snpmeno esté em SCU Modo de se ima do “elhat 0 560 arctlex 1.0 ser do fe “objeto de reflexio, tratamo-las sey we radios da = a me pan spt © modo de ser daqul que prong io busca descrever as propriedades ea investigar. A hermentutica P eon tema, Seu objetivo € interpretar, do que ¢ dado na percepyao iM! eno de seu ocultamento. re rcs de Heidegger quanto a0 “método fenomenol6gico-refe so “consrencialismo” de Husser!sio atualmente alvo de debates na Sepciizada O debate éaltamente complexo, de modo que nao & po fr som detalhes 0s argumentos usados de ambos os lados. Podemos Jar aluns pontes da controvésia. £ possivel aplicar 0 método fenomen Go-hermenéutico a risca? Sua aplicacao nao acabaria por efetuar implicit ios refienvos? A critica de Heidegger vale para a totalidade do pensamen Hassel oa se fundamenta sobretudo em Ideias e nos manuscritos que Hed 2 de Heidegger continuaria seo [ida se levarmos em consideracio que a maior parte da produgao husseia ‘contra em seus manuscttos? Manuscritos que até a presente data vém sat pPeblicados na edigio husserliana? Partindo dos manusci as investigacoes, porn das anid AB2K, que é inegavel que ha diferencas ent"€°| ster dee due ha difereng War gue serine ete Ode Heidegger, de Sere tempo. E ems ‘ecamest da tradi fens eer Consituem um importante marco n=, anal mmenologica, E, de fato, levando em considers 2. Sener, ee ¢ SE a eran gi ite B09 oje & commu se obseraro5 hee imc te a publcados de Hussel até 1927, cra de Heid Pee ordagem Parament refleca das forme see Lime spaz de dar conta tanto ds problemas tame Se jon problemas rel ido do ser fad facoesconsciéncia-obeto S80 modosdernadon ae io de ser do Dasein. Ea explorasio do modo de ernest logia hermenéutica. * do Dain sed tes vd jet wan soo tal, mo pele frs”omen Oser-ai er ¢ tempo nao uma fenomenol inci, romenologia do ser. Contudo, 0 ser nao € algo abstat, que 6 Tualmente? Pelo contrario, 0 ser & sempre o ser de algum ent. En das diregbes de pesquisas fenomenoldgica se tornam posses. Uma desde ‘ntica, que investiga Os entes, outra ontolégica, que investiga o ser dos entes O uadro da Mona Lisa, esse computador que esténa minha frente, Lua, as pes Seas com quem me encontro no dia a dia, sio entes. Tudo aquilo que, de algum modo, eu posso afirmar que possui esta ou aquela propriedade € um ent. Con tudo, os entes possuem modos de ser. Observemos que alinguagem cotidiana nem sempre faz esta distingao entre os diferentes modos de set. Poderos di “eu sou” e “a pedra é” No entanto, sera que, nestes dos casos 0 verbo se mesmo sentido? Se todo ente tem um determinado modo de se, seria corto afirmar que a pedra tem 0 mesmo modo de ser do ente humano? Esse tipo de é, para Heidegger, assunto da ontologia, Ao contirio as ciéncas Ont westigam os entes e as regides de ents e, no geal ‘oricamente a partir de pressupostos sobre o que €0 se. ‘io possuem meios de formular e muito menos de respor Permanece em terreno ontolégico. Uma vez que nio apenas tram, mas também o modo de ser dos entes se mostra entio ¢ Po dg ed aS rejeita, O que ele argume! anti Ser fundadas em uma concepsio ai aha & invest "conse Ses muy do transcend cou 0 ME pedo de ser em o mesmo ™ Jo de ser conse iéncia, percebeu que a consciéncia Betal eindanos, mas nao problematizou ° "08 diferentes modos de ser. modi ara Heidegger, ¢investigando a pergunta peo sentido do ser que pg, sos fundamenfar as onfologia materiaiseregionais, bem como os pnt tvos. Contuda, como jd vimos, a pergunta pelo sentido de ™ isa. em primeiro lugar, o modo de ser do ente que pe o pr ser. Como haviamos afirmado, hi uma diferenga entre afirmar "O Da; “Apedra €.O modo de ser do Dascin & a existéncia, a0 passo que oda pea _modida em que esta é tomada como um conjunto de propriedades sube oda presenca Avista ou subsisténcia (Vorhandenhet). A ontologia funds tal investiga a existéncia Se levarmos em consideracio que a existéncia humana é o tema ce Ser e tempo, torna-se compreensivel por que Heidegger & muitas vezes con rado existencialsta. Contudo, pelas raz6es apresentadas, & preciso tere que tal rétulo acaba achatando, de maneira indevic fica da existéncia esta inserida em um problema amplo, que & 0 sentido do ser 86, & algo sempre encontravel, pas Ser presente & intuicao, em algum lugar no mundo, um mundo e stom oa rc ca nem xtc. Esta se, defo, coloca de pont-cabea strate gual distingue entteessénciaeexisténcia como das probes Sipetafisca tradicional, a investigago da esséncia con propriedadesnecessérias que um objeto deve poss aque € Faz pate da essncia do cachoro serum an Prepare da esséncia de um centauro ser parte home, femos observar € que a determinagdo da essnca de ts ents no imp Trsténcia. O problema da existéncia é se hi ao mens um ente que exem ue aquelaesséncia.Sabemos que exstem exemy txistem exemplares de centauro. ‘ho afirmar que a esséncia do homem é sua existncia, Hedegg rmando que 0 ente human: possui propriedades invariaveis e necessrias que estio sempre presents. O| asin ndo é algo cujo modo de ser & 0 mesmo da peda, E isto sin, um ene «ajo ser & poder ser. Em outras palavra, o Dastn possi uma indeerminssio cetoldgica origindria, Ele ndo €a prior mas}i sempre se determinoyacada ver queé. Podemos dizer que 0 Daseinestésendo, © Dasein é um ente cujo ser esta sempre em jogo que €2 cada vez meu, Uma pedra é um ser cujo proprio ser nao esté em jogo para ela. Ua pedra simplesmenteé, Em todos os meus comportamentos, ome st st emjoge ‘isttncia designa o modo de ser de um ente cwo se est sem ti preciso abandonar o uso tradicional do termo existenia afrmamos que a pedra existe, estamos querends Sa.que ha, no mundo, pedras singular, subss Stncia pedra. Contudo, Heidegger ndo ust a expresio © Pea subsist. Seu modo de ser éo da subsstnca (ou Pres modo de ser do homem,e apenas do homem, é0 44 exst-nc, Hié razbes etimol es para o & determinado por esta ov aque ori uma psi tere (ek ~ para forals cunstincia, Dito de outeo modo, 0 que, 38 se ds € apenas 0 sera, ¢ nlo um corpo fisico, que & dotado de deter caractersticasempiricas, uma interioridade ou psiquism ‘A mettisca tradicional operow com a noo de que hi Um nico mod sero da subsstncia, Uma das consequencias disso & que ela petmaneses quanto a0 modo peculiar de ser do homem. Assim, a0 tratar todos os nc? Tartr do modo de ser da subsisténcia, o ent humano foi sempre mal nin {ado e mal compreendido. O modelo bisico da metafisica tradicional ene, nocio aristetelica de que os caraceres mais gerais de todo entesio as suas goras Para Arstteles, toda vez que eu digo algo ¢ algo, eu estou enquadnng © enteem uma das de categorias:relacdo, quantidade, qualidade estado, iy tempo, paixio, ago, hibito,substinca et Dessas categoria, a de substinee, 4 mais fundamental, pois todas as demais categorias dependem del, Por ces lo, se eu digo que Joio & pai de Marcos, eu estou afirmando uma relago eae <éuassubstincias. Se eu digo que essa cadeira é vermelha, estou atribuindo um

You might also like