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Autor:
Wagner Damazio
Aula 07
23 de Março de 2020
649710
Sumário
Introdução ......................................................................................................................................... 5
4.1. Competência.......................................................................................................................................... 30
8.3. Extinção de Ato Eficaz por sua Retirada do Mundo Jurídico ................................................................. 99
INTRODUÇÃO
Caríssimo(a)! Vamos dar continuidade, aqui no Estratégia Concursos, ao Curso de Direito Administrativo com
teoria e exercícios resolvidos e comentados para o concurso de ingresso à carreira de Delegado da Polícia Civil de São
Paulo.
Na aula passada, nós estudamos o tema poderes administrativos, explorando em especial:
o poder de polícia;
o poder normativo e regulamentar;
o poder disciplinar;
o poder hierárquico;
o poder discricionário e vinculado;
o abuso de poder; e
Jurisprudência.
Hoje, nós estudaremos os Atos Administrativos. Tema eminentemente doutrinário e que, por essência, é
relevantíssimo, já que é por meio dos atos administrativos que a Administração Pública se manifesta e se
relaciona com os administrados.
Difícil, senão impossível, uma prova de concurso que não aborde, ainda que indiretamente, o tema Atos
Administrativos. Portanto, não titubeie quanto aos aspectos que veremos aqui hoje.
Havendo dificuldade na compreensão da teoria ou na resolução dos exercícios expostos nesta aula ou em
qualquer outra, não deixe de entrar em contato comigo pelo fórum de dúvidas!
Repito que estou sempre atento ao fórum de dúvidas para, de forma célere, buscar uma maneira de
reescrever o conteúdo ou aclarar a explicação anteriormente oferecida para que você alcance a sua
meta de aprendizagem.
Frise-se que o nosso objetivo precípuo é a sua aprovação e para isso me dedicarei ao máximo para atendê-
lo e auxiliá-lo nessa caminhada.
Além disso, para ficar por dentro das notícias do mundo dos concursos públicos, recomendo que você siga
o perfil do Estratégia Carreira Jurídica e do Estratégia Concursos nas mídias sociais! Você também poderá
seguir meu perfil no Instagram. Por meio dele eu busco não só transmitir notícias de eventos do Estratégia
e de fatos relativos aos concursos em geral, mas também compartilhar questões comentadas de
concursos específicos que o ajudará em sua preparação!
5
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
2) Qual a diferença entre fato da administração e fato administrativo? E entre ato da administração e
ato administrativo?
3) Qual a diferença entre ato legislativo, ato político, ato judicial e ato administrativo?
8) Quais as características da competência? Quais atos não podem ser delegados? E quais podem ser
avocados?
9) Há diferença entre finalidade em sentido amplo e em sentido restrito? E forma em sentido amplo e em
sentido restrito?
12) A Teoria dos Motivos Determinantes pode autorizar o controle do Poder Judiciário em atos
discricionários?
16) A nomeação de autoridades previstas no inciso XIV do art. 84 da CRFB pelo Presidente da República,
após aprovação do Senado Federal é ato administrativo complexo ou composto? Há divergência
doutrinária? E nas bancas?
17) O professor Hely Lopes Meirelles diferencia convalidação de conversão ou santória. Qual é a diferença?
18) O ato administrativo perfeito é aquele que não apresenta vício, certo?
28) Qual a diferença entre revogação e anulação? E entre anulação e invalidação? E entre atos nulos e
anuláveis?
30) Quais são os vícios quanto à competência? E quanto à forma? Só os vícios quanto à competência e à
forma podem ser convalidados?
Se você não tem certeza de uma ou algumas das respostas a esses questionamentos, fique atento que elas
estarão ao longo da aula de hoje!
Ato Jurídico
Ato em sentido
Jurídico estrito
Lícito em
Sentido
Negócio
Voluntário Amplo
Jurídico
Jurídico Ilícito
Ou seja, um acontecimento é um evento que pode ser vertido em linguagem ou não. Se for descrito por
qualquer meio (linguagem escrita, verbal, imagens, ....), será um fato. Permanecendo sem descrição, será um
evento. Ou seja, o fato surge pela descrição de um evento.
Sem dúvida, há autores que não diferenciam evento e fato, mas outros doutrinadores influenciados pela
filosofia da linguagem1 os diferenciam. Então, fica o registro.
1
No mundo, entre muitos outros: Immanuel Kant, Georg Wilhelm Friedrich Hegel e Hans-Georg Gadamer. No Brasil:
Lourival Vilanova e Paulo de Barros Carvalho.
De todo modo, os fatos podem ter efeitos jurídicos ou não. Inclusive, de um mesmo fato podem haver cortes
metodológicos de várias ciências diversas: jurídica, econômica, política, social, contábil, entre tantas outras.
Eis aqui uma grande cisão de consequências enormes para o direito: a segregação entre o que é jurídico e o
não jurídico.
Como você sabe, na história do Direito há aqueles que propugnaram por uma teoria pura do direito2e outros
que internalizaram valores ao ordenamento jurídico3.
Para o nosso foco, predomina hoje, e a Constituição da República Federativa do Brasil – CRFB é rica nesse
sentido, a posição de que valores, desde que absorvidos pelo ordenamento jurídico, ainda que do ponto de
vista principiológico, incluem-se no ser jurídico.
Mas há, sem dúvida, fatos que nenhuma relação tem com o jurídico.
Nessa linha, a professora Maria Helena Diniz4 apresenta a seguinte definição para os fatos jurídicos:
Do conjunto fatos jurídicos (portanto, relevantes para o Direito), há aqueles que são volitivos, por
expressarem a manifestação da vontade de um agente humano, e aqueles involuntários, por decorrem de
um acontecimento da natureza.
Dentre os voluntários, há os fatos jurídicos lícitos (conforme a lei e o direito) e os ilícitos (contrário à lei ou ao
direito).
Focando nos fatos jurídicos voluntários lícitos, têm-se os atos jurídicos em sentido amplo subdividido em
duas espécies5, quais sejam os atos jurídicos em sentido estrito e os negócios jurídicos.
Os atos jurídicos em sentido amplo são aqueles que produzem os efeitos jurídicos desejados pelos agentes,
amparados pelo ordenamento jurídico.
Por seu turno, os atos jurídicos em sentido estrito são aqueles nos quais os resultados jurídicos decorrem da
vontade do agente, mas em linha com o previamente fixado pelo ordenamento.
2
Hans Kelsen e Alf Ross
3
Miguel Reale
4
Curso de Direito Civil Brasileiro, 25ª edição, p 372.
5
Há na doutrina citação também à espécie ato-fato jurídico, que seria aquele que gera consequência prevista no
normativo, mas não decorrente da vontade ou da intenção do agente.
10
Ou seja, os atos jurídicos em sentido estrito identificam aqueles atos em que o agente exerce a sua intenção
unilateral de praticar uma ação previamente prescrita em lei e cujas consequências, em regra, já estavam
previamente fixadas.
Já o negócio jurídico, também espécie do ato jurídico em sentido amplo, é aquele pelo qual são produzidas
novas regras para atender, em regra, à composição de interesses das partes.
11
...a declaração do Estado (ou de quem lhe faça as vezes - como, por
Celso Antônio Bandeira de Mello9 exemplo, um concessionário de serviço público), no exercício de
prerrogativas públicas, manifestada mediante providências jurídicas
6
Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p 105.
7
Direito Administrativo, 30ª edição, p 237.
8
Direito Administrativo Brasileiro, 42ª edição, p 173.
9
Curso de Direito Administrativo, 14ª edição, p 340.
12
...atos jurídicos que o Estado pratica para realização dos seus fins,
Mário Masagão10
exceto os contenciosos
Portanto, perceba que há três elementos principais para a definição de ato administrativo:
finalidade pública
10
Curso de Direito Administrativo, 5ª edição, p 144.
11
Princípios Gerais de Direito Administrativo, Volume I, p 413.
12
Princípios Gerais de Direito Administrativo, Volume I, p 413.
13
Curso de Direito Administrativo, 12ª edição, p 219.
13
Fatos da administração são aqueles acontecimentos praticados pela Administração Pública que não
apresentam nenhuma repercussão no âmbito do Direito Administrativo.
Outra acepção, que pode ser exemplificada pela professora Maria Sylvia15, afirma que fato administrativo é
todo aquele descrito em lei ou no ordenamento jurídico que, quando realizado, traz repercussão no campo
do Direito Administrativo.
14
Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p 101.
15
Maria Sylvia Zanella Di Pietro, Direito Administrativo, 30ª edição, p 231.
14
Há ainda a caracterização de fato administrativo como o silêncio ou inércia da Administração Pública do qual
decorram efeitos jurídicos.
Nessa linha, Celso Antônio Bandeira de Mello16:
Na verdade, o silêncio não é ato jurídico. Por isto, evidentemente, não pode ser ato
administrativo. Este é uma declaração jurídica. Quem se absteve de declarar, pois,
silenciou, não declarou nada e por isto não praticou ato administrativo algum. Tal
omissão é um “fato jurídico” e, in casu, um “fato jurídico administrativo”.
16
Curso de Direito Administrativo, 14ª edição, p. 365.
15
Sem dúvida, não há grandes dificuldades em identificar os atos legislativos e os atos judiciais, já que são
atividades finalísticas e típicas, respectivamente, do Poder Legislativo e do Poder Judiciário.
Frise-se apenas que, como já vimos no nosso curso, tanto o Poder Legislativo quanto o Poder Judiciário
podem e praticam atos administrativos quando no exercício da função administrativa, embora de forma
atípica em cada um desses poderes da República.
Por outro lado, merece algumas palavras a diferença entre ato político e ato administrativo.
Ato político ou de governo remete à pratica de atos por órgãos ou agentes que possuem competência
diretamente fixada no texto Constitucional, por pertencerem à estrutura de governo do Estado. Ou seja, está
sujeito ao regime jurídico-constitucional.
Como exemplos, temos as prerrogativas do Presidente da República e, por simetria constitucional, as dos
Governadores e Prefeitos, tais como a iniciativa privativa para a produção de algumas leis e a participação no
processo legislativo, com o poder de sanção ou veto.
Portanto, não se confundem ato administrativo e ato político, já que este é praticado por integrantes do
Governo (cúpula da Administração Pública), regido diretamente pelo regime jurídico- constitucional,
enquanto aquele é praticado pelo agente público ou delegatário da Administração Pública no exercício da
função administrativa em concreto.
16
CAI NA PROVA
O concurso para Procurador do Município de Belo Horizonte, aplicado pela banca CESPE
em 2017, afirmou em uma das alternativas de uma das questões da prova que: “O ato que
decreta o estado de sítio, previsto na CF, é ato de natureza administrativa de competência
do presidente da República”.
Ato da administração é o conjunto amplo de todos os atos praticados pela Administração Pública no exercício
da atividade administrativa, incluindo não só aqueles que se revestem de prerrogativas públicas, ou seja,
podem incluir, entre outros, os atos regidos predominantemente pelo Direito Privado.
Lembre-se aqui da teoria do professor Renato Alessi ao diferenciar interesse público primário e interesse
público secundário.
Os atos meramente patrimoniais do Estado, seja da Administração Direta ou da Indireta, não se revestem,
em regra, da finalidade de tutelar o interesse público primário, mas sim o secundário. De todo modo, os atos
da Administração Pública assim praticados são atos da administração, mas não necessariamente atos
administrativos.
Assim, ato da administração é bem mais amplo do que a ato administrativo, já que este inclui apenas os atos
praticados no exercício da função administrativa em concreto, enquanto aquele engloba inúmeros outros.
A professora Maria Sylvia17 apresenta as seguintes espécies de atos como integrantes do gênero ato da
administração:
17
Direito Administrativo, 30ª edição, pp 231 e 232.
17
Ato DA
atos políticos
Administração
contratos
atos normativos
(Ex.: decretos, portarias, resoluções, regimentos, de feitos gerais e abstratos)
Há divergência doutrinária nessa estruturação realizada pela professora Maria Sylvia, sobretudo em função
de diferenciar os atos administrativos propriamente ditos dos atos de conhecimento, opinião, juízo ou valor,
bem como os atos normativos.
Como já repisei ao longo do curso, a taxinomia (classificações) realizada pelos autores é muito particular, não
havendo na maioria das vezes um alinhamento entre eles.
A própria professora Maria Sylvia18 adverte que dependendo do critério mais ou menos amplo que se utilize
para conceituar ato administrativo, nele se pode incluir ou não algumas categorias anteriormente citadas.
Veremos ainda na aula de hoje algumas das classificações dos atos administrativos, com o detalhamento e
as diferenciações relevantes.
18
Direito Administrativo, 30ª edição, p 232.
18
Há divergência na doutrina já quanto à denominação a ser dada ao fato de a administração se manter inerte
quando há o dever de praticar uma ação.
José dos Santos Carvalho Filho19utiliza a denominação silêncio administrativo. Marçal Justen Filho20 e Maria
Sylvia Zanella Di Pietro21 utilizam a denominação o silêncio da Administração Pública. Já Hely Lopes Meirelles
denomina de omissão da Administração22. Por sua vez, Odete Medauar23 alude ao não ato.
Também há debates na doutrina se o silêncio administrativo pode caracterizar ou não manifestação da
vontade da Administração Pública.
Lembre-se que no Direito Privado, conforme prevê o art. 111 do Código Civil, o silêncio, em regra, importa
em anuência. Veja:
No Direito Público, entretanto, a regra não pode ser que o silêncio importe em consentimento, por afrontar
a indisponibilidade do interesse público.
De todo modo, o silêncio, caracterizador de omissão da Administração Pública, após transcorrido certo lapso
temporal, poderá, inevitavelmente, acarretar em consequências jurídicas prejudiciais ou beneficiadoras ao
administrado.
Para a professora Maria Sylvia24 o silêncio pode acarretar sim em manifestação da vontade da Administração,
sobretudo quando a lei fixa que o silêncio significará concordância ou discordância. Veja:
19
Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p 107.
20
Curso de Direito Administrativo, 12ª edição, p 225.
21
Direito Administrativo, 30ª edição, p 249.
22
Direito Administrativo Brasileiro, 42ª edição, p 124.
23
Direito Administrativo Moderno, 8ª edição, p 177.
24
Direito Administrativo, 30ª edição, p 249.
19
Até mesmo o silêncio pode significar forma de manifestação da vontade, quando a lei
assim o prevê; normalmente ocorre quando a lei fixar um prazo, findo o qual o silêncio
da Administração significa concordância ou discordância
De outro lado, o professor José dos Santos Carvalho Filho adota a posição de que o silêncio administrativo
não é manifestação formal de vontade, mas que configura fato jurídico administrativo, acarretando, por
conseguinte, a produção de efeitos jurídicos:
Urge anotar, desde logo, que o silêncio não revela a prática de ato administrativo, eis
que inexiste manifestação formal da vontade; não há, pois, qualquer declaração do
agente sobre sua conduta. Ocorre, isto sim, um fato jurídico administrativo, que, por
isso mesmo, há de produzir efeitos na ordem jurídica.
Também o professor Celso Antônio Bandeira de Mello25 é categórico ao afirmar que o silêncio não é ato
jurídico e sim fato jurídico. Veja:
Na verdade, o silêncio não é ato jurídico. Por isto, evidentemente, não pode ser ato
administrativo. Este é uma declaração jurídica. Quem se absteve de declarar, pois,
silenciou, não declarou nada e, por isto, não praticou ato administrativo algum. Tal
omissão é um “fato jurídico” e, in casu, um “fato jurídico administrativo”. Nada importa
que a lei haja atribuído determinado efeito ao silêncio: o de conceder ou negar. Este
efeito resultará do fato da omissão, como imputação legal, e não de algum presumido
ato, razão porque é de rejeitar a posição dos que consideram ter aí existido um “ato
tácito”.
Raimundo Márcio Ribeiro Lima26 considera silêncio administrativo como espécie de inatividade
administrativa em sentido amplo, aquele decorrente da inatividade formal da Administração Pública, quer
25
Curso de Direito Administrativo, 14ª edição, p 365.
26
Em seu, no mínimo, excelente trabalho “O Silêncio Administrativo: A Inatividade Formal do Estado como uma
Refinada forma de Ilegalidade”. Disponível em: www.agu.gov.br/page/download/index/id/9200684.
20
Próprio
Silêncio Inominado
o silêncio administrativo positivo decorre da lei e prevê efeitos favoráveis ao administrado em face
da inércia da Administração Pública, quando esta não se manifesta durante o prazo legal ou,
inexistindo prazo legal, quando extrapola um prazo razoável para manifestação;
o silêncio administrativo positivo próprio ocorre quando a lei prevê expressamente os efeitos
positivos da inércia da Administração para o administrado, independentemente de qualquer ação
adicional deste;
o silêncio administrativo positivo implícito ocorre quando a lei não fixa expressamente os efeitos
da inércia da Administração, mas do contexto se pode concluir que se ela ocorrer haverá um
benefício ao administrado;
o silêncio administrativo negativo próprio ocorre quando a lei prevê expressamente os efeitos
negativos da inércia da Administração para o administrado, independentemente de qualquer ação
adicional deste;
o silêncio administrativo negativo implícito ocorre quando a lei não fixa expressamente os efeitos
da inércia da Administração, mas do contexto se pode concluir que se ela ocorrer haverá um
prejuízo ao administrado;
o silêncio interno ocorre quando não houver interesse de administrado envolvido, mas apenas de
agentes públicos;
o silêncio inominado ocorre quando a lei não prevê efeitos positivos ou negativos, mas há um
dever formal de decidir/controlar/regulamentar.
No que tange ao que se considerar como prazo razoável para manifestação por parte da Administração, o
professor Celso Antônio Bandeira de Mello27 crava que, exceto para situações urgentes nas quais seja
necessário prazo mais expedito, 120 dias a partir do pedido seria o prazo limite, em analogia ao prazo para
impetração do Mandado de Segurança.
De fato, o art. 23 da Lei nº 12.016, de 2009, fixa o prazo de 120 dias para se requer o Mandado de Segurança.
27
Curso de Direito Administrativo, 14ª edição, p 365.
22
Contudo, em que pese o importante posicionamento do ilustre professor, cabe ao Poder Judiciário, ante ao
caso concreto, avaliar a razoabilidade ou não do lapso temporal sem manifestação da Administração.
A teoria do silêncio eloquente tem origem no Direito Alemão, cunhada na expressão “beredtes Schweigen”,
e traduz a ideia de se expressar sem dizer.
Já os julgados do RE 130552 e do RE 135637 no STF, de relatoria do Ministro Moreira Alves, no ano de 1991,
alude ao silêncio eloquente para diferenciá-lo de lacuna e omissão.
A lacuna ocorre quando não há disciplina sobre determinado tema, autorizando, em alguns casos, a aplicação
da analogia.
Por seu turno, a omissão ocorre quando há um dever de agir e este não é realizado.
De outro lado, no silêncio eloquente há uma manifestação no não dizer.
Como vimos, no Direito Privado prevalece a regra prevista no art. 111 do Código Civil de que o silêncio, em
regra, importa em anuência.
Já no Direito Público é diferente, ainda mais no plano constitucional.
23
A tese é a seguinte: se a lei não disse, é porque não quis dizer. Ainda mais em se
tratando de direito público, como é o caso do Constitucional. Exige-se um mínimo de
segurança jurídica, de modo que não se atribua às autoridades públicas a faculdade de
fazer algo que a lei não comanda. Se não há o comando constitucional (...), isto não
significa uma omissão ou uma inadvertência do legislador constituinte. Não disse,
porque não quis dizer. Não se trata de uma lacuna, mas de um silêncio eloqüente.
Portanto a regra é a incompatibilidade da teoria do silêncio eloquente com o Direito Público, dentre o qual o
Direito Administrativo, sobretudo pela incompatibilidade com a motivação dos atos administrativos.
28
As Lacunas e o Silêncio eloquente. Disponível em:
http://www.justocantins.com.br/files/publicacao/20120831174246_as_lacunas_e_o_silencio_eloquente.pdf
24
Já Pontes de Miranda, em seu Tratado de Direito Privado29, aludiu aos planos de existência, de validade e de
eficácia ao discorrer que:
Quanto ao ato administrativo, a sua existência exige a presença de todos os pressupostos necessários para
o seu surgimento. Sem qualquer dos pressupostos, o ato não existe.
Ou seja, a existência dos atos administrativos está relacionada à presença de todos os elementos, ainda que
haja deficiência em um ou mais deles.
Já a validade do ato administrativo, que só poderá ser avaliado se superada a análise quanto a sua existência,
está intimamente ligada não só à presença de todos os requisitos necessários previstos em lei, mas com a
conformidade desses requisitos com a lei.
Daí decorre que, existindo, o ato jurídico pode ser válido ou inválido.
Por sua vez, a eficácia está relacionada à presença dos fatores necessários para a sua produção de efeitos
jurídicos.
Para Marçal Justen Filho30, a validade tem natureza estática, enquanto a eficácia é um fenômeno dinâmico.
Frise-se que para o professor José dos Santos Carvalho Filho31 ainda há a possibilidade de se avaliar os efeitos
dos atos quanto à sua exequibilidade, ou seja, a efetiva disponibilidade que tem a Administração de dar
operatividade ao ato ou, em outras palavras, executá-lo em sua inteireza.
Em resumo, o ato jurídico pode ser existente ou inexistente. Os existentes podem ser válidos ou inválidos.
Que por sua vez podem ser eficazes ou ineficazes.
29
Apud Marçal Justen Filho, Curso de Direito Administrativo, 12ª edição, p 231. Vide também Antônio Junqueira de
Azevedo, Negócio Jurídico: Existência, Validade e Eficácia, 1ª edição, p 23.
30
Curso de Direito Administrativo, 12ª edição, pp 231 e 232.
31
Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p. 133.
25
Além disso, há a possibilidade excepcionalíssima de o ato jurídico não existir e ser eficaz. É o caso, por
exemplo, da aplicação da teoria do fato consumado por aquele que exerceu a função de fato de agente
público (Teoria da Aparência, pela qual o particular de boa-fé tem fundada suposição de que o agente de
fato, também denominado agente putativo, é regularmente investido no direito32). Neste caso, o ato
administrativo de nomeação inexistiu e efeitos jurídicos decorreram do agente de fato (ainda que restritos
e limitados).
Para Marçal Justen Filho33 os atos jurídicos inexistentes e os atos jurídicos inválidos podem ser dotados de
eficácia. Nas palavras do ilustre professor:
Os atos jurídicos inexistentes e os atos jurídicos inválidos podem ser dotados de alguma
eficácia. Portanto, a existência e a validade não são requisitos para alguma eficácia.
Eficaz
Válido
Inefiz
Existente
Eficaz
Ato Inválido
Administrativo Ineficaz
Inexistente - Eficaz
32
Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p 634.
33
Curso de Direito Administrativo, 12ª edição, p 233.
26
CAI NA PROVA
O concurso para Procurador do Município de Belo Horizonte, aplicado pela banca CESPE
em 2017, afirmou em uma das alternativas de uma das questões da prova que: “O ato que
decreta o estado de sítio, previsto na CF, é ato de natureza administrativa de competência
do presidente da República”.
27
A Lei nº 4.717, de 196534, que disciplina a ação popular, a partir do teor de seu art. 2º, inspirou alguns dos
doutrinadores administrativistas a adotarem os 5 elementos, requisitos de validade ou aspectos para os atos
administrativos.
Esses 5 “elementos” dos atos administrativos são:
Competência
(Quem?)
Finalidade
(Para quê?)
Forma
(Por qual meio?)
Motivo
(Qual a causa ou fundamento?)
Objeto
(Com qual conteúdo?)
Importante esclarecer que, por exemplo, a obra do professor Hely Lopes Meirelles denomina esses
componentes do ato administrativo de requisitos, posto que necessários à formação do ato e por
constituírem a infraestrutura do ato administrativo35.
34
Art. 2º: São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de: a)
incompetência; b) vício de forma; c) ilegalidade do objeto; d) inexistência dos motivos; e) desvio de finalidade.
35
Direito Administrativo Brasileiro, 42ª edição, p 175.
28
Por outro lado, a professora Maria Sylvia36 adota a nomenclatura de elementos, em que pese preferir utilizar
a expressão “sujeito” em vez de “competência”.
Além disso, noticia a ilustre professora que José Cretella Júnior utiliza, por influencia italiana, em vez de
“elementos” ou “requisitos”, a denominação “anatomia do ato administrativo”:
Há um autor italiano, Humberto Fragola, que escrevendo sobre “Gli atti amministrativi”,
fala, por analogia com as ciências médicas, em anatomia do ato administrativo, para
indicar os elementos que o compõem; com isso ele pretende examinar os vícios que
esses elementos possam apresentar sob o título de patologia dos atos administrativos.
Cretella Júnior adota essa terminologia e define a anatomia do ato administrativo como
“o conjunto dos cinco elementos básicos constitutivos da manifestação da vontade da
Administração, ou seja, o agente, o objeto, a forma, o motivo e o fim.
Cite-se ainda que o professor José dos Santos Carvalho Filho37, em que pese adotar a denominação elementos
do ato administrativo, critica tanto esta nomenclatura quanto requisito de validade:
Reina grande controvérsia sobre a nomenclatura a ser adotada em relação aos aspectos
do ato que, se ausentes, provocam a sua invalidação. Alguns autores empregam o
termo “elementos”, ao passo que outros preferem a expressão “requisitos de
validade”. Na verdade, nem aquele termo nem esta expressão nos parecem
satisfatórios. “Elemento” significa algo que integra uma determinada estrutura, ou seja,
faz parte do ser e se apresenta como pressuposto de existência. “Requisito de
validade”, ao revés, anuncia a exigência de pressupostos de validade, o que só ocorre
depois de verificada a existência. Ocorre que, entre os cinco clássicos pressupostos de
validade do ato administrativo, alguns se qualificam como elementos (v.g., a forma), ao
passo que outros têm a natureza efetiva de requisitos de validade (v.g., a competência).
Adotamos o termo “elementos”, mas deixamos consignada a ressalva acima quanto à
denominação e à efetiva natureza dos componentes do ato.
36
Direito Administrativo, 30ª edição, p 243.
37
Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p 110.
29
Por fim, cabe citar aqui que o professor Marçal Justen Filho prefere a nomenclatura aspectos em vez de
elementos ou requisitos de validade. Em suas palavras:
Por isso, é mais apropriado falar em aspectos do ato administrativo, para deixar claro
que cada ato administrativo apresenta diversas facetas, as quais estão ligadas entre si
de modo indissociável.
Assim, tenha em mente a divergência doutrinária acerca da nomenclatura quanto aos componentes do ato
administrativo.
De todo modo, adotaremos nessa aula, até por ser o termo mais comum nos concursos públicos, a expressão
“elementos”.
Vejamos as principais características de cada um dos elementos ou requisitos de validade ou aspectos do ato
administrativo, adotando-se as denominações utilizadas pela Lei de Ação Popular para os componentes.
4.1. COMPETÊNCIA
É a atribuição dada por lei ao agente que poderá de forma legítima realizar o ato. Ou seja, diferentemente
do Direito Civil que só exige capacidade, no Direito Administrativo deve também o agente ter competência
declinada por lei.
A distribuição e alocação de competências entre os diversos órgãos e agentes públicos se dão pela
multiplicidade de atividades administrativas realizadas pelo Estado.
Assim, as pessoas jurídicas integrantes da Administração Pública, por possuírem personalidade jurídica, são
titulares de direitos e obrigações.
Dentro da estrutura dessas pessoas jurídicas há os órgãos, para os quais são repartidas as funções da
administração.
Ao final, são os agentes públicos, pessoas físicas, que exercitam em concreto as atividades competenciais a
eles transmitidas.
30
Tal qual ocorre com a descentralização e desconcentração administrativa, institutos que abordamos no
estudo do tema Organização da Administração Pública, poderá também haver a necessidade de distribuição
de competência interna ou externamente.
Repartição de competência interna, em analogia à desconcentração da Organização Administrativa, ocorrerá
quando a atribuição de competência deixar de ser centralizada em uma autoridade de grau hierárquico
superior e passar a ser distribuída entre outros agentes integrantes da mesma estrutura organizacional, mas
de nível hierárquico inferior.
Atenção: a criação de cargos e unidades administrativas exige lei em sentido estrito, com iniciativa fixada
ao Chefe do Poder Executivo (art. 61, §1º, inciso II, alíneas “a” e “b”, da CRFB38).
38
Art. 61: (...) § 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: I - fixem ou modifiquem os efetivos
das Forças Armadas; II - disponham sobre: a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta
e autárquica ou aumento de sua remuneração; b) organização administrativa e judiciária, matéria tributária e
orçamentária, serviços público e pessoal da administração dos Territórios; (...).
31
Sobre a necessidade de as competências dos órgãos de menor hierarquia serem originárias ou não na lei, há
algumas posições diferentes.
Para o professor José dos Santos Carvalho Filho39:
Sob outra ótica, a professora Maria Sylvia40, ao citar Renato Alessi, discorre que:
É interessante a colocação feita por Renato Alessi, aplicável ao direito brasileiro. Ele
distingue dentro da organização administrativa, dois tipos de órgãos:
a) os que tem individualidade jurídica, pelo fato de que o círculo das atribuições e
competências que os integram é marcado por normas jurídicas propriamente ditas (leis);
b) os que não tem essa individualidade jurídica, uma vez que o círculo de suas
atribuições não está assinalado por normas jurídicas propriamente ditas, mas por
normas administrativas de caráter interno, de tal modo que, sob o ponto de vista
jurídico,tais órgãos são apenas elementos de um conjunto maior
39
Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p 112.
40
Direito Administrativo, 30ª edição, pp 244 e 245.
32
#ficadica
De acordo com o art. 17 da Lei nº 9.784, de 1999, não existindo competência legal específica,
o processo administrativo deverá ser iniciado perante a autoridade de menor grau hierárquico
para decidir.
decorre da lei
é irrenunciável
é inderrogável
(não pode ser transferida por acordo entre as partes)
é improrrogável
Características da
Competência: (órgão ou agente incompetente não se torna competente
pelo exercício da atividade, exceto por lei)
No que tange à possibilidade de delegação ou avocação, lembre-se que só podem ser utilizadas com o fim de
melhor atender ao interesse público, seja por razões técnicas, sociais, econômicas, jurídicas ou territoriais.
Nessa linha, o art. 11 da Lei nº 9.784, de 1999, que trata do Processo Administrativo no âmbito da
Administração Pública Federal, estabelece que:
33
Na avocação, o superior hierárquico assume atribuição que ordinariamente é estabelecida para a função
exercida por um de seus subordinados.
De acordo com a o art. 15 da já citada Lei nº 9.784, de 199941, a avocação deve ser utilizada em caráter
excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, bem como em caráter temporário.
Na delegação, que só pode ocorrer quando não houver impedimento legal, o titular da competência pode
delegar parte de sua competência a outro agente a ele subordinado ou não42.
Ou seja, enquanto na avocação a autoridade atrai a competência, na delegação ela distribui parte de sua
competência, em razão da função administrativa por ela exercida.
Frise-se, contudo, que não são todas as competências que podem ser delegadas.
De acordo com o art. 13 da Lei nº 9.784, de 1999, não podem ser delegadas as seguintes competências:
41
Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, a avocação
temporária de competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior.
42
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal, delegar parte da
sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando
for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.Parágrafo único.
O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos
presidentes.
34
Ou seja, a Lei nº 9.784, de 1999, indica que, exceto para os casos em que ela expressamente vedou, pode
ocorrer a delegação.
Assim, a possibilidade de delegação seria regra, enquanto a impossibilidade, exceção.
Contudo, ressalte que para o professor José dos Santos Carvalho Filho tanto a delegação quanto a avocação
devem ser excepcionas:
Para evitar distorção no sistema regular dos atos administrativo, é preciso não perder
de vista que tanto a delegação como a avocação devem ser consideradas como figuras
excepcionais, só justificáveis ante os pressupostos que a lei estabelecer. Na verdade, é
inegável reconhecer que ambas subtraem de agentes administrativos funções normais
que lhes foram atribuídas. Por esse motivo, é inválida qualquer delegação ou avocação
que, de alguma forma ou por via oblíqua, objetive a supressão das atribuições do círculo
de competência dos administradores públicos.
CAI NA PROVA
O concurso para Promotor de Justiça do Estado de São Paulo, aplicado por banca própria
em 2017, afirmou em uma das alternativas de uma das questões da prova que: “A
autoridade competente para a prática de um ato administrativo tem sempre, em razão de
seu poder hierárquico, a possibilidade de delegação e avocação”.
CAI NA PROVA
O concurso para Defensor Público do Estado do Paraná, aplicado pela FCC em 2017,
afirmou em uma das alternativas de uma das questões da prova que: “A delegação e
avocação se caracterizam pela excepcionalidade e temporariedade, sendo certo que é
proibida avocação nos casos de competência exclusiva”.
Comentários: Correta a assertiva. A banca adotou a posição do professor José dos Santos
Carvalho Filho, constante em sua obra Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p 14,
na qual afirma: “Para evitar distorção no sistema regular dos atos administrativos, é preciso
não perder de vista que tanto a delegação como a avocação devem ser consideradas como
figuras excepcionais, só justificáveis ante os pressupostos que a lei estabelecer”. Correta a
assertiva porque nem sempre é aplicável a delegação ou a avocação para a prática de atos
administrativos. Por exemplo, de acordo com o art. 13 da Lei nº 9.784, de 1999, não podem
ser delegadas a edição de atos de caráter normativo, a decisão de recursos administrativos
e as matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade. Ademais, de acordo com
o art. 15 da aludida lei, a avocação deve ser utilizada em caráter excepcional e por motivos
relevantes devidamente justificados, bem como em caráter temporário.
4.2. FINALIDADE
Todo ato administrativo deve ter por finalidade o interesse público, já que o agente público deve agir para
alcançar o melhor para a coletividade e não para si ou para outrem.
36
Para a professora Maria Sylvia43 é possível falar em finalidade do ato administrativo em dois sentidos
diferentes:
•resultado específico que cada ato deve produzir, conforme definido expressa ou
implicitamente em lei
Recorde-se que uma das espécies de abuso de poder é a figura do desvio de finalidade, também denominado
desvio de poder.
Esta surge quando a autoridade administrativa realiza ou deixa de realizar um ato para o qual é competente,
mas desvirtuando os fins a que a norma almeja ou mesmo se utilizando de motivos outros que não aqueles
reclamados pelo ato.
43
Direito Administrativo, 30ª edição, p 250.
44
Exemplos fornecidos pelo professor José dos Santos Carvalho Filho. Manual de Direito Administrativo, p 125; e pela
professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro. Direito Administrativo, 30ª edição pp 250 e 251.
37
O professor José dos Santos Carvalho Filho45 noticia uma aproximação feita entre os elementos competência
e finalidade pelos autores mais modernos de Direito Administrativo, da qual decorreria um elo indissociável
entre esses dois elementos.
Nessa linha, afirma que:
Há ainda uma divergência na doutrina quanto ao desvio de finalidade ser objetivo ou subjetivo, ou seja, se
sua ocorrência independe ou não da intenção do agente.
Para a corrente que adota o desvio de finalidade como critério objetivo, é irrelevante a identificação da
intenção do agente, isto é, se realizou o ato por culpa ou dolo.
Já a corrente que adota o desvio de finalidade como critério subjetivo parte da premissa de que nem todo
ato praticado sem atender à finalidade da lei pode ser considerado como abuso de poder, na espécie desvio
de finalidade. Isso porque pode ocorrer por mero erro ou ineficiência do agente.
Portanto, para essa segunda corrente há a necessidade de identificar se houve intenção do agente para a
prática do desvio de finalidade ou, em caso negativo, se a ilegalidade do ato decorreu de mero erro ou
ineficiência.
De todo modo, havendo ou não a intenção, o ato é ilegal. As repercussões e responsabilizações sobre o agente
é que poderão ser diversas.
Ademais, a própria Lei nº 4.717, de 1965, prevê quando se verifica o desvio de finalidade para a realização
do ato. Veja:
Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo
anterior, nos casos de: (...)
e) desvio de finalidade;
45
Manual de Direito Administrativo, p 125.
38
e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso
daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência.
4.3. FORMA
É o elemento que fixa o meio pelo qual o ato administrativo será exteriorizado.
Para a professora Maria Sylvia46, é possível falar em finalidade do ato administrativo em dois sentidos
diferentes:
46
Direito Administrativo, 30ª edição, p 250.
39
§ 1o Os atos do processo devem ser produzidos por escrito, em vernáculo, com a data
e o local de sua realização e a assinatura da autoridade responsável.
Portanto, os atos do processo administrativo não dependem de forma determinada senão quando a lei
expressamente a exigir.
De todo modo, exige a aludida lei que os atos do processo sejam realizados por escrito, em língua portuguesa
(vernáculo), com aposição da data e local de onde foi realizado o ato, bem como assinatura da autoridade
competente.
#ficadica
Cabe dizer também que o Decreto nº 9.094, de 2017, previu em seu art. 9º que, exceto se existir dúvida
fundada quanto à autenticidade ou previsão legal, ficam dispensados o reconhecimento de firma e a
autenticação de cópia dos documentos expedidos no País e destinados a fazer prova junto a órgãos e
entidades do Poder Executivo federal.
Interessante também ressaltar o fato de que, havendo necessidade, o próprio servidor pode autenticar a
cópia de documentos apresentados na repartição.
Nessa linha, é o §1º do artigo 10 do Decreto nº 9.094, de 2017:
40
#ficadica
Cabe dizer que, em respeito ao paralelismo das formas, a mesma forma utilizada para a produção do ato
deve ser aquela utilizada para sua modificação ou revogação.
Além disso, frise-se que a própria Lei nº 4.717, de 1965, prevê o que consiste em vício de forma na realização
do ato administrativo. Veja:
Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo
anterior, nos casos de: (...)
b) vício de forma;
47
Fábio Tartuce, Direito Civil 3, Teoria Geral dos Contratos e Contratos em Espécie, p 35. Cita a posição de Silvio
Salvo Venosa, Direito Civil, 2003, p 415; e da Maria Helena Diniz, Curso de Direito Civil, 2005, p 99.
41
4.4. MOTIVO
O motivo, também denominado causa, é a situação de fato ou de direito que determina ou autoriza a
realização do ato administrativo48.
Situação fática ou pressuposto fático é o conjunto de realizações materiais que conduzem a Administração a
praticar o ato.
Por seu turno, situação ou pressuposto de direito é o fundamento previsto em lei para a realização do ato
administrativo.
Quando o motivo vier expresso em lei, denomina-se o ato como vinculado. Já quando a lei deixa certa
margem de escolha ao administrador público, o ato será discricionário.
Motivação: é a exposição dos motivos, ou seja, é a demonstração, por escrito, de que os pressupostos de
fato realmente existiram.
48
Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo Brasileiro, 42ª edição, p 177.
49
Direito Administrativo, 30ª edição, p 251.
42
Ou seja, a motivação é a descrição, que integra as formalidades do próprio ato administrativo, para
comprovar a ocorrência do motivo.
Portanto, ressalte-se que o motivo “É” o pressuposto, já a motivação é a indicação que comprova a presença
do motivo.
A motivação integra a própria formalidade do ato administrativo, diferentemente do motivo que é
autônomo e um dos elementos do ato.
O art. 2º da Lei nº 9.784, de 1999, alçou a princípio a motivação ao prever que:
Ademais, o próprio art. 50 da Lei nº 9.784, de 1999, elenca os casos em que a motivação é obrigatória:
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos
fundamentos jurídicos, quando:
50
Exemplos fornecidos pela professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro. Direito Administrativo, 30ª edição, p 251.
43
Enfatize-se que a exteriorização do motivo deve ser explícita, clara e congruente, podendo constar no próprio
ato, sendo denominada contextual, ou ser uma motivação aliunde ou per relationem, que é aquela em que
se declara concordância com fundamentos anteriores de pareceres, informações, decisões ou propostas, que
passam a ser considerados parte integrante do ato51.
51
Conforme art. 50, §1º, da Lei nº 9.784, de 1999. Posição também do professor José dos Santos Carvalho Filho.
Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p 122.
44
Motivo Motivação
indicação da existência de o
Por quê?
porquê o ato foi praticado
No que tange à divergência doutrinária acerca da obrigatoriedade da motivação, há quatro posições 52:
os que consideram ser a motivação necessária apenas nos atos vinculados, de modo a demonstrar,
por escrito, que o motivo previsto em lei foi atendido;
os que consideram ser a motivação obrigatória apenas nos atos discricionários, já que nesses só
haverá controle da legitimidade do ato se houver a indicação dos fatos que o motivaram;
os que consideram ser a motivação, em regra, necessária tanto para ato vinculado quanto para
discricionário por permitir a verificação da legalidade do ato;
os que consideram ser a motivação não obrigatória, em regra, por não haver fundamento
constitucional, mas que poderá passar a ser obrigatória se a lei assim o exigir53.
52
Correntes discorridas pela professora Maria Sylvia. Direito Administrativo, 30ª edição, p 251.
53
Posição do professor José dos Santos Carvalho Filho. Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p 120.
45
De todo modo, como bem ensina o professor José dos Santos Carvalho Filho, não é lícita ao administrador
público a utilização de fundamentos genéricos e indefinidos para indicar o motivo do ato administrativo.
Por outro lado, não é lícito ao administrador adotar, à guisa de motivo do ato,
fundamentos genéricos e indefinidos, como, por exemplo, o ‘interesse público”,
“critério administrativo’, e outros do gênero. Semelhantes justificativas demonstram
usualmente o intuito de escamotear as verdadeiras razões do ato, com objetivo de
eximi-lo do controle de legalidade pela Administração ou pela via judicial. A
dissimulação dos fundamentos não é o mesmo que praticar o ato por razões de
conveniência e oportunidade, fatores próprios dos atos discricionários. Em casos como
aquele, portanto, o ato sujeita-se à invalidação por vício no motivo, restaurando-se, em
consequência, a legalidade ofendida pela manifestação volitiva do administrador.
Ademais, a própria Lei nº 4.717, de 1965, exigiu adequação entre o motivo e o resultado obtido. Veja:
Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo
anterior, nos casos de: (...)
CAI NA PROVA
O concurso para Juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, aplicado
pela VUNESP em 2017, apresentou a seguinte questão:
46
a) a normatividade jurídica que irá incidir sobre determinada situação de fato que lhe é
antecedente.
A Teoria dos Motivos Determinantes foi desenvolvida na França e sistematizada por Gaston Jèze.
Nas palavras de Gaston Jèze54:
54
Apud Meirelles, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 42ª edição. p. 110.
47
“para se ter a certeza de que os agentes públicos exercem a sua função movidos apenas
por motivos de interesse público da esfera de sua competência, leis e regulamentos
recentes multiplicam os casos em que os funcionários, ao executarem um ato jurídico,
devem expor expressamente os motivos que o determinaram. É a obrigação de motivar.
O simples fato de não haver o agente público exposto os motivos de seu ato, bastará
para torná-lo irregular; o ato não motivado, quando o devia ser, presume-se não ter
sido executado com toda a ponderação desejável, nem ter tido em vista um interesse
público da esfera de sua competência funcional”.
Essa teoria foi acolhida no Brasil para fixar que o fundamento exteriorizado para a tomada de decisão ou para
a prática de uma ação ou omissão vincula-se à validade do ato administrativo vinculado ou mesmo
discricionário.
Portanto, existindo a exteriorização do motivo como o determinante a justificar a realização do ato
administrativo, caso fique comprovado não ter este ocorrido ou não representar a realidade, o ato será ilegal.
E mais, sendo ilegal, poderá haver controle do Poder Judiciário sobre o ato administrativo.
Nesta linha são as palavras de André Laubadère55:
O ato administrativo pode ser ilegal porque os motivos alegados pelo autor não
existiram, na realidade, ou não têm o caráter jurídico que o autor lhes emprestou; é a
ilegalidade por inexistência material ou jurídica dos motivos (considerada, ainda, erro
de fato ou de direito).
Exemplo: se um servidor requer suas férias para determinado mês, pode o chefe da
repartição indeferi-las sem deixar expresso no ato o motivo; se, todavia, indefere o
pedido sob a alegação de que há falta de pessoal na repartição, e o interessado prova
que, ao contrário, há excesso, o ato estará viciado no motivo. Vale dizer: terá havido
incompatibilidade entre o motivo expresso no ato e a realidade fática; esta não se coadune com o motivo
determinante56.
55
Apud Carvalho Filho, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p 123.
56
Exemplo fornecido pelo professor José dos Santos Carvalho Filho. Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p
123.
48
CAI NA PROVA
O concurso para Procurador do Estado de Pernambuco, aplicado pelo CESPE em 2018,
afirmou em uma das alternativas de uma das questões da prova que: “Por serem os
ocupantes de cargo em comissão demissíveis ad nutum, é sempre inviável a anulação do
ato de exoneração de ocupante de cargo em comissão com fundamento na teoria dos
motivos determinantes”.
4.5. OBJETO
O objeto, a que alguns autores também denominam conteúdo57, é o efeito jurídico imediato que se busca
atingir com o ato administrativo.
Para Hely Lopes Meirelles:
57
A professora Maria Sylvia cita que o professor Régis Fernandes de Oliveira faz diferenciação entre objeto e
conteúdo. Portanto, não é pacífica a utilização do termo objeto e/ou conteúdo. Direito Administrativo, 30ª edição, p
247.
49
Já para o professor José dos Santos Carvalho Filho, o objeto do ato administrativo pode ser uma aquisição,
um resguardo, uma transferência, uma modificação, uma extinção ou uma declaração de direitos, conforme
o fim a que a vontade se preordenar58.
58
Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p 114.
59
Exemplo fornecido pelo professor José dos Santos Carvalho Filho. Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p
114.
60
Direito Administrativo, 30ª edição, p 247.
50
1) natural - quando seus efeitos decorrem da própria natureza do ato, como previsto na lei;
2) acidental - quando há cláusulas acessórias que alteram os efeitos naturais do ato, podendo ser dos
seguintes tipos:
2.1) termo: indicação do momento a partir do qual o ato passa a ser eficaz ou quando deixa de sê-lo;
2.3) condição: quando há fixação de que a eficácia do ato depende de evento futuro e incerto, podendo
ser:
2.3.1) suspensiva: quando a eficácia do ato fica pendente até que ocorra o evento futuro e incerto; e
2.3.2) resolutiva: quando o ato tem eficácia desde sua edição, mas cessa com a ocorrência do evento
futuro e incerto.
Cabe apontar também a diferença entre os elementos finalidade e objeto do ato administrativo.
O objeto representa o fim imediato do ato, isto é, o resultado prático a ser alcançado pela atuação
administrativa.
Já a finalidade representa o fim mediato, que é atingir ao interesse da coletividade.
Portanto, em que pese variar o objeto, a depender do ato administrativo a ser praticado, a finalidade é
invariável: esta sempre será o interesse público.
Finalidade Objeto
51
Competência
(Quem?)
Finalidade
(Para quê?)
Forma
(Por qual meio?)
Motivo
(Qual a causa ou fundamento?)
Objeto
(Com qual conteúdo?)
Já o mérito administrativo é a capacidade de que por vezes a lei dota a Administração Pública de decidir ou
avaliar a conveniência e a oportunidade para a produção do ato administrativo.
O mérito administrativo está intimamente relacionado aos elementos motivo e objeto.
Isso porque o mérito administrativo se sobressai nos atos discricionários da Administração Pública que, como
já estudamos no nosso curso, despontam quando a lei concede alguma margem de avaliação ao
administrador público para a prática do ato.
Frise-se que essa discricionariedade se limita aos elementos motivo e objeto do ato administrativo.
Ou seja, mesmo nos atos discricionários, os elementos competência, forma e finalidade serão fixados por lei.
52
Desse modo, o mérito administrativo ou, em outras palavras, as margens de discricionariedade ao qual o
administrador público pode avaliar conveniência e oportunidade para a prática, o momento ou a intensidade
do ato, limitam-se aos elementos motivo e objeto.
Portanto, nos atos vinculados, isto é, naqueles em que a lei fixa os 5 elementos do ato administrativo, não há
que se falar em mérito administrativo. Este pressupõe discricionariedade, na medida em que a lei estabeleça.
Importante ressaltar desde já que mesmo o mérito administrativo é apreciável pelo Poder Judiciário quando
presente ilegalidade.
Resume bem o objeto deste tópico o seguinte texto do professor Hely Lopes Meirelles61:
O que convém reter é que o mérito administrativo tem sentido próprio e diverso do
mérito processual e só abrange os elementos não vinculados do ato da Administração,
ou seja, aqueles que admitem uma valoração da eficiência, oportunidade, conveniência
e justiça. No mais, ainda que se trate de poder discricionário da Administração, o ato
pode ser revisto e anulado pelo Judiciário, desde que, sob o rótulo de mérito
administrativo, se aninhe qualquer ilegalidade resultante de abuso ou desvio de poder.
Fique atento com o fato de que não cabe ao Poder Judiciário anular ato político praticado pela Administração
Pública sob o argumento de que não se seguiu determinada metodologia técnica.
É a chamada doutrina Chenery ou Chenery doctrine.
61
Direito Administrativo Brasileiro, 42ª edição, p 180.
62
https://supreme.justia.com/cases/federal/us/318/80/
53
Ou seja, as escolhas políticas dos órgãos governamentais, desde que não sejam revestidas de reconhecida
ilegalidade, não podem ser invalidadas pelo Poder Judiciário.
9. Eventual intento político da medida não poderia ensejar a invalidação dos critérios
tarifários adotados, tout court. Conforme leciona Richard A. Posner, o Poder Judiciário
esbarra na dificuldade de concluir se um ato administrativo cuja motivação alegadamente
política seria concretizado, ou não, caso o órgão público tivesse se valido tão somente de
metodologia técnica. De qualquer forma, essa discussão seria inócua, pois, segundo a doutrina Chenery -
a qual reconheceu o caráter político da atuação da Administração Pública dos Estados Unidos da América -
, as cortes judiciais estão impedidas de adotarem fundamentos diversos daqueles que o Poder Executivo
abraçaria, notadamente nas questões técnicas e complexas, em que os tribunais não têm a expertise para
concluir se os critérios adotados pela Administração são corretos (Economic Analysis of Law. Fifth Edition.
New York: Aspen Law and Business, 1996, p. 671). Portanto, as escolhas políticas dos órgãos
governamentais, desde que não sejam revestidas de reconhecida ilegalidade, não podem ser invalidadas
pelo Poder Judiciário. (AgInt no AgInt na SLS 2240/SP, Ministra Laurita Vaz, julgado em 06/06/2017).
54
Autoexecutoriedade
Atributos do Ato
Administrativo:
Tipicidade
Imperatividade
Por atributos dos atos administrativos se quer dizer características próprias que os diferenciam dos atos de
Direito Privado.
Também não há harmonia entre os doutrinadores quanto à citação de quantos e quais são os atributos do
ato administrativo, como noticia a professora Maria Sylvia63:
63
Direito Administrativo, 30ª edição, p 238.
55
A presunção de legitimidade quer dizer que o ato foi produzido de acordo com o ordenamento jurídico.
Por sua vez, a presunção de veracidade quer dizer que o conteúdo do ato administrativo é verdadeiro e
dotado de fé pública.
A presunção de legitimidade e a presunção de veracidade são relativas (iuris tantum) e não absolutas (iuris
et iuris), cabendo, portanto, prova em contrário.
A professora Maria Sylvia64 reuniu 5 fundamentos utilizados pelos autores administrativistas a justificar o
atributo da presunção de legitimidade. São eles:
64
Direito Administrativo, 30ª edição, pp 239 e 240.
56
57
A professora Maria Sylvia faz ainda um alerta no sentido de que, para ela, é errado afirmar que a inversão do
ônus da prova decorre da presunção de legitimidade.
Ou seja, a inversão do ônus da prova decorre da presunção de veracidade, porque é neste atributo que se
alude a fatos a exigir prova quanto ao alegado (presunção de legitimidade => conformidade com a lei;
presunção de veracidade => fatos verdadeiros alegados pela Administração).
O professor José dos Santos Carvalho Filho65 diverge desse posicionamento, já que para ele dois efeitos da
presunção de legitimidade são a autoexecutoriedade e a inversão do ônus da prova.
5.2. AUTOEXECUTORIEDADE
Outro atributo dos atos administrativos é a sua autoexecutoriedade, ou seja, o ato administrativo pode ser
executado de ofício e imediatamente pela Administração Pública sem necessidade de autorização do Poder
Judiciário.
Em outras palavras, o ato administrativo é um título executivo extrajudicial a dar concretude à função
administrativa.
Esse atributo garante a celeridade e a eficiência na atuação administrativa para atingir a finalidade pública.
Exemplos66: destruição de bens impróprios ao consumo público e a demolição de obra que apresenta risco
iminente de desabamento.
#ficadica
65
Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p 127.
66
Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p 128.
58
exigibilidade: resulta da possibilidade de a Administração tomar decisões executórias que são aquelas
que dispensam a tutela jurisdicional. Com base na exigibilidade, a Administração pode se utilizar de
meios indiretos para exigência do cumprimento da obrigação (Exemplo: condicionar o licenciamento
do veículo ao pagamento das multas de trânsito).
CAI NA PROVA
O concursopara Promotor de Justiça do Estado de Rondônia, aplicado pela banca FMP em
2017, apresentou a seguinte questão: “Dentre as alternativas abaixo, conflagra-se como
exemplo concreto predominante de exigibilidade de ato administrativo.
67
Direito Administrativo, 30ª edição, p 159.
59
5.3. TIPICIDADE
É o atributo do qual se fixa que os atos administrativos devem decorrer de tipos previamente definidos em
lei a serem utilizados para se atingir a determinada finalidade pública.
Deriva do princípio da legalidade e juridicidade.
Ou seja, o ato administrativo deve ter sido previsto anteriormente por lei em sentido amplo, de modo que
seja legítima a sua utilização para alcançar o interesse público.
Assim, segundo a professora Maria Sylvia, este atributo é uma garantia ao administrado no sentido de que
impedirá o administrador público de praticar atos dotados de poder de império e autoexecução
unilateralmente, sem autorização legal.
Havendo lei anterior, o ato deve a ela se conformar, respeitados, inclusive, os eventuais limites de
discricionariedade.
#ficadica
60
A tipicidade não existe em atos bilaterais, como os contratos. Isso porque em contrato não
há vontade unilateral, mas a confluência de atos de vontades das partes. No ato
administrativo, por ser unilateral, há o atributo da tipicidade.
5.4. IMPERATIVIDADE
É atributo que decorre do Poder de Império do Estado de, por meio de atos unilaterais, como os atos
administrativos, impor aos particulares o cumprimento de determinada ação ou de impor a eles obrigações
ou restrições.
Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello68, que cita Renato Alessi, trata-se do “poder extroverso” da
Administração Pública em editar atos que vão além da sua esfera jurídica e atingem a esfera jurídica do
particular, constituindo unilateralmente uma obrigação.
Nas palavras do ilustre professor:
68
Curso de Direito Administrativo, 14ª edição, p 370.
61
Conforme já vimos em outros temas, também aqui em atos administrativos varia de autor para autor a
taxonomia (classificação).
Vamos utilizar aqui, como base, a classificação dos atos administrativos constantes na obra do professor Hely
Lopes Meirelles, posto que é bem completa, e vou fazendo os adendos necessários com o posicionamento
de outros administrativistas importantes que podem ser explorados em prova.
Segundo a obra de Hely Lopes Meirelles, assim podem ser classificados os atos administrativos:
Gerais
Quanto aos destinatários:
Individuais
Internos
Quanto ao alcance:
Externos
Império
Expediente
Vinculados
Quanto ao regramento:
Discricionários
Simples
Composto
Constitutivo
Extintivo
Declaratório
Quanto ao conteúdo:
Alienativo
Modificativo
Abdicativo
62
Válido
Inexistente
Perfeito
Imperfeito
Quanto à exequibilidade:
Pendente
Consumado
Irrevogável
Suspensível
Autoexecutório
Quanto ao modo de execução:
Não autoexecutório
Principal
Complementar
Ato-Condição
Ato de Jurisdição
Constitutivo
De Constatação
atos administrativos gerais (ou regulamentares): são aqueles expedidos a destinatários indeterminados
para alcançar a todos aos quais venham a incidir em seus dispositivos. São os atos normativos.
Quando forem de efeitos externos devem ser publicados no órgão oficial de publicidade do Ente para
produzir seus efeitos jurídicos ou a ele ser dada ampla publicidade nos meios possíveis.
atos administrativos individuais (ou especiais): são aqueles expedidos a destinatários determinados
para que se realize algo em concreto de modo específico.
Ainda que individual, o ato pode ser direcionado a vários sujeitos desde que identificável
autonomamente.
De igual modo, só produzem efeitos externos quando a eles for dada publicidade no órgão oficial ou pelo
meio possível.
Podem ser revogados ou modificados pela Administração Pública, desde que indenize o prejudicado, em
caso de prejuízo, e, em todo caso, respeite eventuais direitos adquiridos.
Além disso, podem ser anulados pela própria Administração Pública, por meio da autotutela, ou pelo
Poder Judiciário, pelo controle jurisdicional.
69
Exemplos deste capítulo são ofertados pelo professor Hely Lopes Meirelles in Direito Administrativo Brasileiro, 42ª
edição, pp 188 e ss; ou pela professora Maria Sylvia in Direito Administrativo, 30ª edição, p 262 e ss; ou por mim, com
base na teoria deles.
64
atos administrativos internos: são aqueles expedidos a destinatários internos do órgão público, não
produzindo efeitos externos ou extroversos.
Podem ser gerais ou individuais e não necessitam de publicação no órgão oficial, podendo ser o
interessado ou os interessados internos cientificados por comunicação direta dentro da própria unidade.
Caso haja efeitos sobre os particulares, deverá ser dada publicidade70.
Os atos internos estão sujeitos à revisão hierárquica e ao controle do Poder Judiciário
atos administrativos externos (ou de efeitos externos): são aqueles expedidos e que repercutem nos
interesses gerais da coletividade. Podem ser destinados a alcançar os administrados propriamente ditos
(externos à Administração Pública), bem como, eventualmente, os próprios servidores. Também se
enquadram como externos os atos que onerem o patrimônio público.
Só produzem efeitos externos quando a eles for dada publicidade no órgão oficial ou pelo meio possível.
Sofrem controle da própria Administração Pública, por meio da autotutela, ou pelo Poder Judiciário, pelo
controle jurisdicional.
70
Nesse ponto, o professor Hely Lopes Meirelles critica a utilização de atos que na origem eram internos para impor
deveres aos cidadãos, tais como as portarias e instruções ministeriais. Fato é que, atualmente, esses atos têm sido
utilizados largamente como instrumento de disciplina geral que afetam também aos particulares.
65
Quanto ao objeto (ou quanto às prerrogativas71), os atos administrativos podem ser de império, de gestão ou
de expediente:
atos de império (ou de autoridade): são aqueles expedidos no exercício pleno da supremacia pública,
ou seja, com as prerrogativas e privilégios próprios do Poder Público, por haver ascendência ao interesse
particular (relação de verticalidade).
São atos unilaterais que expressam a vontade do Estado e seus direitos exorbitantes.
atos de gestão: são aqueles expedidos e praticados pelo Poder Público em situação de horizontalidade
com o particular, sem o exercício da supremacia do Poder Público.
Em geral são utilizados na administração dos bens públicos e gestão dos serviços públicos.
Quando forem regidos pelo Direito Privado serão atos da administração e não propriamente atos
administrativos.
71
A professora Maria Sylvia classifica os atos administrativos quanto às prerrogativas em atos de império ou de gestão.
66
atos de expediente: são aqueles expedidos e praticados para impulsionar os processos administrativos
e demais expedientes para a sua devida conclusão, por meio de decisão de mérito administrativo ou
despacho decisório da autoridade competente.
atos administrativos discricionários: são aqueles em que a Administração Pública, avaliando sua
conveniência e oportunidade, pode expedir com liberdade quanto aos elementos objeto e motivo.
A lei autoriza, considerando as peculiaridades e especificidades de determinado tema, conceder certo
grau de liberdade à Administração para a prática do ato.
Cabe ao administrador público, entre as várias soluções possíveis para o caso, adotar aquela que melhor
atinja o interesse da coletividade em observância ao quanto desejado pela lei.
Acerca dos atos discricionários, Hely Lopes Meirelles cita Seabra Fagundes:
“A competência discricionária não se exerce acima ou além da lei, senão, como toda e
qualquer atividade executória, com sujeição a ela. O que a distingue da competência
vinculada é a maior mobilidade que a lei enseja ao executor no exercício, e não na
liberação da lei. Enquanto ao praticar o ato administrativo vinculado a autoridade está
presa a lei em todos os seus elementos (competência, motivo, objeto, finalidade e
forma), no praticar o ato discricionário é livre (dentro de opções que a própria lei prevê)
quanto à escolha dos motivos (oportunidade e conveniência) e do objeto (conteúdo).
Entre praticar o ato ou dele se abster, entre praticá-lo com este ou aquele conteúdo (p.
ex.: advertir apenas, ou proibir), ela é discricionária. Porém, no que concerne à
competência, à finalidade e à forma, o ato discricionário está tão sujeito aos textos
legais como qualquer outro”.
67
Portanto, o ato discricionário, ainda assim, deve respeitar a competência, a forma e a finalidade previstas em
lei.
atos administrativos vinculados (ou regrados): são aqueles em que a lei fixa os elementos para sua
realização, deixando mínima margem de escolha ao administrador público ou mesmo nenhuma margem.
Nessa linha, o professor Hely Lopes Meirelles afirma que:
Antes de passarmos ao estudo da próxima classificação, fica aqui o recital do professor Hely Lopes Meirelles
acerca dos atos discricionários e vinculados que acompanharão todo administrador público enquanto
titulariza cargo, emprego ou função públicos:
68
A responsabilidade pelos atos discricionários não é maior nem menor que é decorrente
dos atos vinculados. ambos representam facetas da atividade administrativa, que todo
homem público, que toda autoridade, há de perlustrar. A timidez da autoridade é tão
prejudicial quanto o abuso do poder.Ambos são deficiências do administrador, que
sempre redundam em prejuízo para a Administração. O tímidofalha, no administrar os
negócios públicos, por lhe falecer fortaleza de espírito para obrar com firmeza e justiça
nas decisões que contrariam os interesses particulares; o prepotente não tem
moderação para usar do poder nos justos limites que a lei lhe confere. Um peca por
omissão; outro, por demasia no exercício do poder
Quanto à formação da vontade, os atos administrativos podem ser simples, complexos ou compostos:
atos administrativos simples: são aqueles que se originam da manifestação de vontade de um único
órgão, que pode ser unipessoal ou colegiado.
Os atos internos estão sujeitos à revisão hierárquica e ao controle do Poder Judiciário
atos administrativos complexos: são aqueles que se originam da manifestação da vontade de mais de
um órgão administrativo, podendo ser singulares ou colegiados. Há um concurso de vontade
homogênea de órgãos para a produção do um único ato administrativo.
Exemplos: investidura do servidor público (nomeação feita pelo Chefe do Executivo com
a posse e entrada em exercício realizada pelo Chefe da repartição de Recursos Humanos
ou da própria unidade onde será lotado o servidor); assinatura de um Decreto pelo Chefe
do Executivo e referendado pelo Ministro ou Secretário.
69
atos administrativos compostos: são aqueles que se originam da manifestação da vontade de um único
órgão, mas dependem da verificação por parte de outro órgão para se tornarem eficazes.
Ou seja, embora haja a participação de mais de um órgão, a vontade é do órgão que pratica a atividade
principal e não do órgão que pratica o ato acessório.
Enquanto no ato complexo há a manifestação da vontade de dois ou mais órgãos, no composto há a
manifestação da vontade de um único órgão.
#ficadica
72
Direito Administrativo, 30ª edição, p 266.
73
Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p 136.
70
CAI NA PROVA
O concurso para Procuradoria Geral do Estado de Pernambuco, aplicado pelo CESPE em
2018, afirmou em uma das alternativas de uma das questões da prova que: “A nomeação
dos Ministros de Tribunais Superiores no Brasil é um ato administrativo complexo”.
Comentários: correta a assertiva. A banca considerou tal assertiva correta. Então, daí se
depreende que a banca CESPE discorda do posicionamento da professora Maria Sylvia
para a qual este ato administrativo é um ato composto e concorda com o professor José
dos Santos Carvalho Filho no sentido de que se trata de ato complexo.
Atenção: a Fundação Carlos Chagas – FCC adota a posição da professora Maria Sylvia.
Quanto ao conteúdo, os atos administrativos podem ser constitutivos, extintivos, declaratórios, alienativos,
modificativos ou abdicativos:
atos administrativos constitutivos: são aqueles em que a Administração cria um novo direito ou uma
obrigação individual ao destinatário.
atos administrativos extintivos (ou desconstitutivos): são aqueles em que a Administração Pública põe
fim a direito ou a obrigação do destinatário.
71
atos administrativos declaratórios: são aqueles em que a Administração Pública reconhece situações
jurídicas existentes.
atos administrativos modificativos: são aqueles em que a Administração Pública altera situações
jurídicas preexistentes, mas sem criar ou extinguir direitos ou obrigações.
atos administrativos abdicativos: são aqueles em que a Administração Pública abre mão de um
determinado direito em caráter incondicional e irretratável.
72
atos administrativos válidos: são aqueles que expedidos em sintonia com todos os requisitos previstos
em lei para a sua produção.
Como vimos, pode haver atos válidos, mas ineficazes por haver condição ou termo.
atos administrativos nulos: são aqueles expedidos com vício insanável. Contudo, em função da
presunção de legitimidade do ato administrativo, a nulidade deve ser declarada pela Administração ou
pelo Poder Judiciário.
De acordo com o art. 53 da Lei nº 9.784, de 1999:
Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de
legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos.
Segundo o professor Hely Lopes Meirelles74, a nulidade pode ser explícita ou virtual. Será explicita quando a
própria lei fixar o vício que a acarreta. Será virtual quando o vício ocorrer por afronta a princípios
administrativos.
74
Direito Administrativo Brasileiro, 42ª edição, p 198.
73
#ficadica
Para o professor Hely Lopes Meirelles75 não pode haver ato administrativo anulável no
Direito Administrativo, já que não se pode admitir a manutenção de atos ilegais ou, ainda, a
preponderância do interesse privado sobre o interesse público.
a) Convalidação é o instituto pelo qual a Administração pode sanar defeitos de um ato administrativo do
qual não acarreta lesão ao interesse público ou prejuízo ao particular. Nessa linha, é o art. 55 da Lei Federal
nº 9.784, de 1999:
b) conversão ou sanatória ocorre quando determinado ato administrativo é inválido para determinado
propósito, mas aproveitável quanto aos elementos válidos para outro propósito.
Exemplo: uma licença para edificação permanente que seja inválida para essa finalidade, mas aproveitável
quanto a ser uma autorização para edificação provisória. A denominação do instituto que decorre de o ato
de licença permanente se tornar autorização temporária é conversão ou sanatória, mas não se confundo
com convalidação.
atos administrativos inexistentes: são aqueles em que há falsa aparência de manifestação da vontade
da Administração Pública.
75
Direito Administrativo Brasileiro, 42ª edição, p 199. Também o exemplo é da obra do professor Hely Lopes Meirelles.
74
Quanto à exequibilidade, os atos administrativos podem ser perfeitos, imperfeitos, pendentes e consumados:
atos administrativos perfeitos: são aqueles que estão aptos a produzir seus efeitos jurídicos.
#ficadica
atos administrativos imperfeitos: são aqueles que ainda não estão aptos a produzir seus efeitos
jurídicos.
Exemplos: todos os atos administrativos cujo ciclo de formação esteja incompleto ou que
exija complementação.
75
atos administrativos pendentes: são aqueles que estão sujeitos à condição ou termo, não produzindo
por ora seus efeitos jurídicos.
atos administrativos consumados: são aqueles que já exauriram todos os seus efeitos jurídicos.
#ficadica
Não cabe modificação quanto ao ato consumado, sequer na esfera judicial. Poderá,
contudo, gerar responsabilidade civil, em caso de ato lícito ou ilícito do qual tenha decorrido
danos a terceiros; ou responsabilidade criminal, em caso de ilegalidade.
atos administrativos revogáveis: são aqueles que por motivo de conveniência e oportunidade a
Administração Pública pode retirar do mundo jurídico com efeitos ex nunc (prospectivos ou para
frente).
76
#ficadica
Não cabe falar em ilegalidade para ato revogado. Ato ilegal é anulado. Ato legal, mas que
deixou de ser conveniente e oportuno para a Administração por motivos diversos, é
revogado.
atos administrativos irrevogáveis: são aqueles que não podem mais ser revogados pela
Administração Pública, seja por seus efeitos já terem sido consumados, seja por ter se tornado direito
subjetivo do interessado ou seja por resultar de decisão final na esfera administrativa.
Atos administrativos suspensíveis: são aqueles que a Administração Pública pode suspender os seus
efeitos por algum fato novo superveniente e por certo tempo, sem revogá-lo. Após o prazo de
suspensão ou superado o fato novo, o ato pode voltar a ter seus efeitos jurídicos naturais.
Quanto ao modo de execução, os atos administrativos podem ser autoexecutáveis ou não autoexecutáveis:
77
atos administrativos autoexecutáveis: são aqueles que podem ser executados pela Administração
Pública sem necessidade de manifestação judicial.
atos administrativos não autoexecutáveis: são aqueles que dependem de manifestação judicial
prévia para que possam ser executados.
Quanto ao objetivo visado pela Administração, o ato administrativo pode ser principal, complementar,
intermediário, ato-condição ou ato de jurisdição:
ato administrativo principal: são aqueles que representam a manifestação de vontade final da
Administração Pública.
ato administrativo complementar: são aqueles que aprovam ou ratificam o principal para que
possam passar a produzir efeitos.
78
ato administrativo intermediário (ou preparatório): são aqueles que ocorrem para dar suporte a um
ato administrativo final.
É um ato administrativo autônomo, podendo ser impugnado.
ato administrativo ato-condição: são aqueles produzidos para permitir a pratica de um outro e sem
o qual este outro não ocorre. É um ato que seja pré-requisito para realização de um outro ato
administrativo.
ato administrativo de jurisdição: são aqueles produzidos para decidir determinado conflito de
interesses no campo administrativo, não se confundindo com o ato finalístico do Poder Judiciário.
Quanto aos efeitos, o ato administrativo pode ser constitutivo, desconstitutivo e de constatação (ou
enunciativo):
79
ato administrativo constitutivo: são aqueles em que a Administração Pública cria, modifica ou
extingue um direito.
ato administrativo desconstitutivo: são aqueles produzidos para desfazer situação jurídica
preexistente.
ato administrativo de constatação: são aqueles em que a Administração Pública apenas reconhece
ou constata determinada situação jurídica ou de fato, sem constituir, desconstituir ou alterá-la.
80
Para fins de estudo dos Atos Administrativos em espécie, parte da doutrina76 adota o seguinte agrupamento:
normativos
ordinatórios
enunciativos
punitivos
CAI NA PROVA
O concurso para Promotor Público do Estado do Mato Grosso do Sul, aplicado por banca
própria em 2018, afirmou em uma das alternativas de uma das questões da prova que:
“São espécies de ato administrativo, segundo entendimento doutrinário tradicional:
normativos, ordinatórios, negociais, vinculativos e punitivos”.
76
Diogo de Figueiredo Moreira Neto, Curso de Direito Administrativo, p 245. Hely Lopes Meirelles, Curso de Direito
Brasileiro, p 203.
81
São aqueles produzidos, em regra, com comandos gerais e abstratos, entre os quais:
Decretos autônomos ou independentes: são os Decretos expedidos com base nos casos previstos no
art. 84, inciso VI, da CRFB, sem a necessidade de lei preexistente.
82
#ficadica
Os Decretos podem ser gerais e abstratos ou de efeitos concretos. Para a professora Maria
Sylvia77, os Decretos gerais e abstratos não são considerados atos administrativos
propriamente ditos porque a sua definição de atos administrativos não inclui os atos
normativos. Para ela, somente os Decretos de efeitos concretos seriam atos administrativos.
Instruções Normativas: são atos normativos expedidos, em regra, pela autoridade administrativa
hierarquicamente abaixo do Chefe do Poder Executivo (Ministro ou Secretário) para fiel execução de
lei ou decreto, tal como prevê o art. 87, §único, inciso II, da CRFB.
Resolução: são atos normativos expedidos por autoridades superiores da Administração Pública. São,
hierarquicamente, inferiores às leis, aos Decretos e ao Regimento.
77
Direito Administrativo, 30ª edição, p 276.
83
CAI NA PROVA
O concurso para Promotor Público do Estado do Mato Grosso do Sul, aplicado por banca
própria em 2018, afirmou em uma das alternativas de uma das questões da prova que:
“Resoluções, instruções e portarias são atos administrativos normativos”.
CAI NA PROVA
O concurso para Defensor Público do Estado do Paraná, aplicado pela FCC em 2017,
afirmou em uma das alternativas de uma das questões da prova que: “As deliberações e
os despachos são espécies da mesma categoria de atos administrativos normativos”.
São os atos que disciplinam o funcionamento da Administração Pública, incluindo as condutas dos agentes
administrativos.
A seguir, tem-se os principais atos ordinatórios:
84
Circulares: tal qual as instruções, são atos com orientações gerais para atuação dos servidores, mas
em um âmbito mais restrito que as instruções. Limita-se a um grupo de servidores ou de órgãos, mas
também com o objetivo de orientar a realização de uma atividade pública.
Ordens de Serviço: atos expedidos pelas chefias com determinações especiais relativas à execução
de determinadas tarefas ou atividades.
Avisos: atos reservados ao Ministro de Estado, muito utilizados no período imperial, e que se
destinam a comunicar um fato ou dar conhecimento de temas relacionados à atividade pública.
Portarias: ato pelo qual a chefia designa servidores para determinadas atividades ou funções, bem
como determina regras gerais ou especiais.
Despachos Normativos: despacho ao qual a autoridade competente determina sua aplicação para
casos análogos. Deixa de ser apenas uma decisão para o caso concreto e passa a ter efeito geral a
casos similares.
CAI NA PROVA
O concurso para Promotor Público do Estado do Mato Grosso do Sul, aplicado por banca
própria em 2018, afirmou em uma das alternativas de uma das questões da prova que:
“Instruções, avisos e certidões são atos administrativos ordinatórios”.
85
Também denominados atos receptícios78, são os atos administrativos em que a declaração de vontade da
Administração coincide com a do particular por tratar de objeto cujo interesse é recíproco do Poder Público
e do administrado.
Em que pese a vontade do particular não integrar a formação do ato, ela é relevante para provocar a atuação
da Administração Pública.
Entre os atos administrativos (unilateral), os atos negociais são aqueles que mais se aproximam de um
negócio jurídico (bilateral).
A seguir, tem-se os principais atos negociais:
Admissão: ato vinculado ao cumprimento dos requisitos legais para fruição de interesse
predominante do particular.
CAI NA PROVA
O concurso para Procurador do Município de Paranavaí no Paraná, cuja banca foi a
Fundação de Apoio à Universidade Estadual de Londrina – FAUEL em 2018, afirmou em
uma das alternativas de uma das questões da prova que: “A aprovação é o ato
administrativo que confere ao indivíduo, desde que preencha os requisitos legais, o direito
de receber o serviço público desenvolvido em determinado estabelecimento oficial”.
78
Diogo de Figueiredo Moreira Neto, 16ª edição, p 257.
86
A licença tem presunção de definitividade por ser um ato vinculado e gerar um direito subjetivo ao particular.
Para seu desfazimento, a Administração Pública pode se valer da cassação expropriatória, mas, conforme
ensina o professor Diogo de Figueiredo Moreira Neto79, é medida administrativa onerosa e de extrema
severidade, que só deve ser utilizada como último recurso para atender a relevante interesse público
supervenientemente definido.
CAI NA PROVA
O concurso para Procurador do Município de Paranavaí no Paraná, cuja banca foi a
Fundação de Apoio à Universidade Estadual de Londrina – FAUEL em 2018, afirmou em
uma das alternativas de uma das questões da prova que: “A licença é o ato vinculado por
meio do qual a Administração confere ao interessado consentimento para o desempenho
de certa atividade”.
79
Curso de Direito Administrativo, 16ª edição, p 670.
87
Autorização: ato discricionário que expressa uma concordância precária por parte da Administração
Pública com relação à realização de uma atividade ou utilização de um bem pelo particular no
interesse predominante deste.
Para que seja concedida a autorização, o particular precisa também cumprir todos os requisitos previstos
para o ato, mas a lei concedeu à Administração Pública, ante ao caso concreto, consentir ou não com o ato.
CAI NA PROVA
O concurso para Procurador do Município de Belo Horizonte, aplicado pela banca CESPE
em 2017, afirmou em uma das alternativas de uma das questões da prova que: “Licença e
autorização são atos administrativos que representam o consentimento da administração
ao permitir determinada atividade; o alvará é o instrumento que formaliza esses atos”.
88
#ficadica
Na obra do professor Hely Lopes Meirelles há o relato de que o uso da autorização vem sendo
desvirtuado, com a sua expedição com prazo ou condicionada. Isso faz com que este ato
administrativo acabe deixando de ser ato unilateral, discricionário e precário para se
aproximar de um contrato (bilateral).
Nas palavras do professor, tem-se que:
Permissão: ato discricionário que expressa uma concordância precária por parte da Administração
Pública com relação à realização de uma atividade ou utilização de um bem pelo particular no
interesse predominante público.
Pode ser a título gratuito ou remunerado, conforme condições fixadas pelo ente público, bem poderá ser
expedida com condições de modo a restringir a discricionariedade e precariedade do ente público e
incentivar o particular a aderir ao interesse público.
89
CAI NA PROVA
O concurso para Procurador do Município de Paranavaí no Paraná, cuja banca foi a
Fundação de Apoio à Universidade Estadual de Londrina – FAUEL em 2018, afirmou em
uma das alternativas de uma das questões da prova que: “A concessão é o ato
administrativo discricionário e precário pelo qual a Administração consente que o particular
execute serviço de utilidade pública ou utilize privativamente bem público”.
Registro: ato vinculado que se caracteriza por assentar em órgão público o reconhecimento
administrativo do cumprimento das condições para fruição de uma situação jurídica da vida privada
do particular.
Visto: ato pelo qual a Administração controla seus atos ou do administrado, conferindo a eles
legitimidade formal para que produzam seus regulares efeitos.
Sempre incide sobre ato administrativo anterior sem interferir em seu conteúdo.
Inicialmente era tido como ato vinculado, mas tem sido utilizado com grau de discricionariedade.
80
Exemplos do professor Diogo de Figueiredo Moreira Neto, Curso de Direito Administrativo, 16ª edição, p 248.
90
Homologação: ato vinculado pelo qual a autoridade superior avalia a legalidade, bem como a
conveniência de ato anterior praticado para dar-lhe eficácia.
É considerado ato de simples controle, não podendo alterar o conteúdo do ato controlado, podendo apenas
confirmá-lo ou rejeitá-lo.
CAI NA PROVA
O concurso de 2017 para Juiz Federal da 5ª região, cuja banca foi a CESPE, afirmou em
uma das alternativas de uma das questões da prova que: “A homologação é um ato
administrativo unilateral vinculado ao exame de legalidade e conveniência pela autoridade
homologante, sendo o ato a ser homologado passível de alteração, em virtude do princípio
da hierarquia presente no exercício da atividade administrativa”.
CAI NA PROVA
O concurso para Procurador do Município de Paranavaí no Paraná, cuja banca foi a
Fundação de Apoio à Universidade Estadual de Londrina – FAUEL em 2018, afirmou em
uma das alternativas de uma das questões da prova que: “A homologação é a manifestação
discricionária do administrador a respeito de outro ato. Pode ser prévia ou posterior”.
91
São os atos que externam ou declaram uma situação existente em registros, processos ou arquivos públicos
sem qualquer manifestação de vontade original da Administração. Também são denominados atos de
pronúncia81 ou meros atos administrativos82.
Certidão: ato que reproduz registro de órgãos públicos acerca de informação de interesse do
particular. Não há manifestação da vontade da Administração, apenas a transcrição fiel de
informação sob seu poder.
De acordo com o art. 1º da Lei nº 9.051, de 1995, devem ser expedidas no prazo improrrogável de 15 dias
contados do pedido.
Atestado: ato pelo qual a Administração comprova um fato ou uma informação de seu conhecimento.
Diferencia-se da certidão porque o atestado comprova fatos ou informações transitórias, que podem ser
modificadas com certa frequência. Por outro lado, a certidão comprova fatos ou atos permanentes (ou
alteráveis apenas excepcionalmente).
81
Expressão utilizada pelo professor Diogo de Figueiredo Moreira Neto.
82
Expressão utilizada pela professora Maria Sylvia.
92
CAI NA PROVA
O concurso para Procurador do Município de Paranavaí no Paraná, cuja banca foi a
Fundação de Apoio à Universidade Estadual de Londrina – FAUEL em 2018, afirmou em
uma das alternativas de uma das questões da prova que: “Atestado é o instrumento formal
expedido pela Administração, que, através dele, expressa aquiescência no sentido de ser
desenvolvida certa atividade pelo particular”.
Autos de Infração: ato pelo qual a Administração descreve situação que caracterizou transgressão
administrativa.
Apostila: ato pelo qual a Administração declara um direito criado por norma legal.
Parecer: ato pelo qual se externa uma opinião de órgão técnico acerca de determinado tema ou em
atenção a quesitos apresentados.
93
A doutrina ainda alude à possibilidade de um parecer ser aprovado por autoridade competente e passar a
vincular os órgãos e os servidores subordinados à aludida autoridade, que deverão respeitar o conteúdo do
ato.
Assim, se passar a ser exigida sua observância para outros casos análogos, torna-se ato normativo geral e
abstrato denominado Parecer Normativo.
CAI NA PROVA
O concursopara Promotor Público do Estado do Mato Grosso do Sul, aplicado por banca
própria em 2018, afirmou em duas alternativas de uma das questões da prova que: 1)
“Parecer vinculante e obrigatório possuem o mesmo significado”. 2) “No parecer
vinculante, a manifestação de teor jurídico deixa de ser meramente opinativa, não podendo
a decisão do administrador colidir com a sua conclusão”.
Comentários: correta a assertiva “2” e incorreta a assertiva “1”. Incorreta a assertiva “1” e
correta a “2” porque os pareceres podem ser facultativos (é meramente opcional),
obrigatórios (exige-se o parecer para a realização do ato, mas é mera opinião, podendo a
autoridade dele divergir) ou vinculantes (a autoridade não pode dele divergir, deixa de ser
mera opinião).
94
São aqueles praticados pela Administração cujo objeto é aplicação de sanção por infrações administrativas,
podendo ser extroversos, quando aplicados aos administrados, ou introversos, quando aplicados a agentes
públicos.
Os atos administrativos punitivos extroversos são vinculados enquanto os atos administrativos punitivos
introversos possuem margem de discricionariedade quanto à valoração da sanção a ser aplicada ao agente
público.
Entre os atos administrativos punitivos extroversos, tem-se:
Multa: ato administrativo punitivo pelo qual a Administração impõe uma sanção pecuniária
ao administrado
Necessário se faz a produção de documento circunstanciado com os motivos para aplicação da medida.
Cassação anulatória: ato pelo qual a Administração desfaz um ato negocial, como meio
punitivo, pelo descumprimento superveniente das condições originais necessárias
Demolição administrativa: ato pelo qual a Administração, de forma urgente e para remover
perigo público iminente, demole edificação ou parte dela.
95
Necessário se faz a produção de documento circunstanciado com os motivos para aplicação da medida.
Confisco: ato pelo qual o particular perde seu bem ou direito a favor da Administração Pública
nos casos estritamente previstos em lei.
96
São diversos os motivos para extinção de um ato administrativo e os seus consequentes efeitos.
Para o professor Celso Antônio Bandeira de Mello83, são as seguintes as possíveis causas de extinção dos atos
administrativos, não diferenciando ser a extinção do próprio ato ou de seus efeitos:
esgotamento do
conteúdo jurídico
cumprimento dos
execução material
efeitos
sujeito
desaparecimento de
elemento infungível da
relação
objeto
Ato Eficaz
revogação
invalidação (anulação)
Extinção do ato
retirada cassação
administrativo
renúncia caducidade
contraposição
mera retirada
(derrubada)
Ato Ineficaz
recusa
83
Curso de Direito Administrativo, 14ª edição, pp 393 a 396.
97
São 3 as possibilidades de extinção do ato administrativo eficaz por cumprimento de seus efeitos:
Esgotamento do seu conteúdo jurídico: ocorre quando os efeitos jurídicos são efetivamente
usufruídos no período, até o seu esgotamento.
Ocorrência de termo final ou condição resolutiva: ocorre com o implemento de termo ou condição
previamente fixada discricionariamente pela Administração em cláusula acidental ou acessória.
Lembre-se que o termo é cláusula acessória que se baseia na ocorrência de evento futuro e certo. Já a
Condição, em que pese também ser uma cláusula acessória, baseia-se em evento futuro e incerto.
Exemplo: permissão para retirada de água do rio com a condição de o rio não esteja
abaixo de determinado nível.
84
Exemplos do professor Celso Antônio Bandeira de Mello ofertado em seu Curso de Direito Administrativo, 14ª
edição, pp 394 a 396.
98
O ato administrativo eficaz pode ser extinto quando for intuitu personae (personalíssimo ou pessoal) e
sobrevier o falecimento do beneficiário.
De forma análoga, também ocorrerá a extinção do ato administrativo eficaz com o perecimento do objeto.
O ato administrativo eficaz pode ser extinto quando a Administração Pública expedir outro ato
administrativo extintivo do anterior, retirando este do mundo jurídico.
Cassação: ocorre quando a Administração Pública retira a juridicidade e produção dos efeitos do ato
anterior porque deixaram de ser atendidos os requisitos necessários para sua manutenção.
Caducidade: ocorre quando a Administração Pública retira a juridicidade e produção dos efeitos do
ato anterior porque sobreveio norma jurídica que o torna incompatível com a nova disciplina jurídica.
99
Contraposição ou Derrubada: ocorre quando a Administração Pública expede novo ato em sentido
contrário ao anterior.
As duas formas mais importantes de retirar do mundo jurídico um ato administrativo eficaz, sem dúvida, são
a revogação e a anulação (também denominada invalidação).
Por isso, é necessário tratar acerca deles com mais detalhes.
Revogação: ocorre quando a Administração Pública por conveniência e oportunidade produz novo
ato retirando a juridicidade e produção dos efeitos do ato anterior a partir daquele momento (ex
nunc).
Ou seja, todos os efeitos produzidos até aquele momento são válidos normalmente.
Revoga-se ato administrativo quando, em que pese sua legalidade, sobrevier condição de incompatibilidade
com o interesse público que sugira a sua retirada do mundo jurídico a partir daquele momento.
A revogação poderá ser expressa ou implícita. Expressa nos casos em que a autoridade expede ato que aduz
de forma direta e transparente a sua revogação. É implícita quando o ato expedido for incompatível com o
anteriormente divulgado.
Frise-se que a revogação, em regra, não gera nenhum direito de indenização ao anterior beneficiário do ato
revogado.
100
Poderá gerar, contudo, o dever de indenizar se a Administração Pública lançar mão da revogação em
situações em que esta era incabível, mas foi realizada em substituição à expropriação.
A revogação é ato privativo da Administração Pública, não cabendo ao Poder Judiciário adentrar ao mérito
administrativo (avaliação de conveniência e oportunidade).
Ademais, por ser ato discricionário da Administração Pública, a revogação deve ser realizada dentro dos
limites previstos em lei.
Nessa linha, não podem ser revogados:
atos vinculados
a autoridade competente para a revogação é a mesma que tenha competência para a prática do ato
original ou aquela que possa conhecer do tema de ofício ou pela via recursal; e
a forma a ser utilizada deve ser a mesma do ato original.
101
CAI NA PROVA
O concurso para Juiz do Trabalho, aplicado pela FCC em 2017, afirmou em uma das
alternativas de uma das questões da prova que: “Pode haver revogação de ato
administrativo vinculado, a exemplo da licença”.
Comentários: incorreta a assertiva. Incorreta a assertiva porque não podem ser revogados
atos vinculados, atos que já exauriram seus efeitos, atos enunciativos (mero ato
administrativo), atos que integram procedimento nem atos que geraram direito adquirido
(Súmula 473 do STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de
vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por
motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada,
em todos os casos, a apreciação judicial).
CAI NA PROVA
O concurso para Promotor de Justiça do Estado de Roraima, aplicado por banca própria
em 2017, apresentou a seguinte questão na prova.
II a revogação de ato complexo, ou seja, ato formado pela manifestação de dois ou mais
órgãos, demanda a edição de ato igualmente complexo; vale dizer, formado pela
manifestação dos mesmos órgãos subscritores do ato a ser revogado.
102
Resposta: alternativa “c”. As duas assertivas estão corretas e a segunda justifica de forma
acertada a primeira, já que em linha com o entendimento do STJ esposado no julgamento
do MS 14731 em 2016: “A regulamentação exigida pelo art. 7o. do Decreto 6.253/07,
constitui ato administrativo complexo, demandando a manifestação de dois órgãos da
Administração para sua constituição, quais sejam, o Ministério da Educação e o Ministério
do Planejamento, Orçamento e Gestão, sob pena de invalidade. 2. Por simetria, apenas se
admite a revogação do ato administrativo por autoridade/órgão competente para produzi-
lo. A propósito, o ilustre Professor DIOGO FIGUEIREDO MOREIRA NETO assinala que a
competência para a revogação do ato administrativo será, em princípio, do mesmo agente
que o praticou (...) Assim, se o ato foi suficiente e validamente constituído a revogação é,
simetricamente, um ato desconstitutivo, ou, em outros termos, um ato constitutivo-
negativo, pelo qual a Administração competente para constituí-lo - e apenas ela - retira a
eficácia de um ato antecedente, exclusivamente por motivos de mérito administrativo,
jamais por motivos jurídicos (Curso de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Editora
Forense, 2014, p. 230-231). 3. No caso, a Portaria 788/09 aqui combatida, emitida pelo
MEC, por si só, procurou revogar a regulamentação anterior, composta pela manifestação
das duas Pastas responsáveis. Nesse contexto, dada a simetria necessária para a edição-
desconstituição do ato administrativo, entende-se viciado o ato”.
Exemplo: retirada de uma autorização de porte de arma deferida para menor de idade
em desacordo com a lei.
Não se pode confundir revogação com anulação (ou invalidação) dos atos administrativos.
103
ex nunc ex tunc
Inclusive as súmulas 346 e 473 do STF tratam da revogação e anulação de ato administrativo:
Súmula 473:
A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam
ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a
apreciação judicial.
Súmula 346:
A Administração Pública pode declarar a nulidade de seus próprios atos.
A anulação quando realizada pela própria Administração Pública independe de requerimento do interessado,
sendo realizada dentro do seu poder-dever de respeito à legalidade. Já quando realizada pelo Poder
Judiciário, dependerá de provocação do interessado.
104
Para nós, a Administração tem, em regra, o dever de anular os atos ilegais, sob pena de cair
por terra o princípio da legalidade. No entanto, poderá deixar de fazê-lo, em circunstâncias
determinadas, quando o prejuízo resultante da anulação puder ser maior do que o
decorrente da manutenção do ato ilegal; nesse caso, é o interesse público que norteará a
decisão. Também têm aplicação os princípios da segurança jurídica nos aspectos objetivo
(estabilidade das relações jurídicas) e o subjetivo (proteção à confiança) e da boa-fé.
De todo modo, para que a Administração decida, com base na segurança jurídica e boa-fé pela não anulação
do ato, há que se observar:
85
Direito Administrativo, 30ª edição, pp 279 e 280.
105
Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de
legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os
direitos adquiridos.
Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos
favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram
praticados, salvo comprovada má-fé.
Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse público nem
prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados
pela própria Administração.
Ou seja, a Administração poderá convalidar o ato administrativo no lugar de anulá-lo quando não acarretar
lesão ao interesse público nem prejuízo a terceiros.
Ademais, há a fixação do prazo de 5 anos para que seja realizada a anulação do ato administrativo do qual
tenham decorrido efeitos favoráveis ao destinatário.
Outro aspecto a ser ressaltado é o fato de que podem ocorrer vícios no ato administrativo em qualquer dos
5 elementos: competência, forma, finalidade, motivo ou objeto.
1) Vícios quanto à competência do ato administrativo: será viciado o ato praticado por autoridade
incompetente ou incapaz.
106
excesso de poder
agente de fato
Vícios quanto à
Competência
impedimento
incapacidade
suspeição
Ressalte-se que a Lei nº 4.717, de 1965, previu quando fica caracterizada a incompetência para a realização
do ato. Veja:
Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo
anterior, nos casos de: (...)
a) incompetência;
a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições legais
do agente que o praticou;
Conforme estudamos na aula sobre poderes administrativos, o excesso de poder, juntamente com o desvio
de finalidade, são espécies do gênero abuso de poder.
Assim, há vício na competência quando a autoridade age exorbitando de suas atribuições, ou seja, praticando
o excesso de poder.
A usurpação de função, tipo penal previsto no art. 328 do Código Penal (usurpar o exercício de função
pública), caracteriza o vício de competência porque o usurpador dolosamente pratica o ato por conta própria
sem ter sido atribuído para o exercício da função pública.
107
Diferentemente é o caso daquele que exerce a função pública de fato por atuar com total aparência de
legalidade, mas tendo havido alguma irregularidade na investidura do cargo, emprego ou função públicos ou
no exercício destes.
No que tange aos vícios de incapacidade, cabe dizer, impedimento e suspeição, aquele é um vício absoluto,
já que previsto objetivamente em lei, enquanto esta é um vício relativo, já que depende de conceitos abertos
e avaliáveis no caso concreto.
Nessa linha, o art. 18 da Lei nº 9.784, de 1999, estabelece que:
Portanto, o impedimento ocorrerá, de forma absoluta, para o servidor ou autoridade que se enquadre em
um dos incisos do dispositivo, ficando proibida sua atuação.
Frise-se que a aludida lei previu em seu art. 19 que é dever do servidor ou autoridade que incorrer em
impedimento abster-se de praticar o ato e comunicar o fato à autoridade competente, respondendo
disciplinarmente por falta grave em caso de omissão.
Por outro lado, o art. 20 da Lei nº 9.784, de 1999, estabelece que:
Art. 20. Pode ser argüida a suspeição de autoridade ou servidor que tenha amizade
íntima ou inimizade notória com algum dos interessados ou com os respectivos
cônjuges, companheiros, parentes e afins até o terceiro grau.
Art. 21. O indeferimento de alegação de suspeição poderá ser objeto de recurso, sem
efeito suspensivo.
Ou seja, a suspeição do servidor ou da autoridade ocorrerá quando este tiver amizade íntima ou inimizade
notória com algum dos interessados ao ato ou com os respectivos cônjuges, companheiros, parentes e afins
até o terceiro grau.
108
Em virtude de serem conceitos abertos e não objetivos, a suspeição tem presunção relativa de incapacidade
do agente, não acarretando, portanto, vício se a parte não alegar a suspeição e esta ficar caracterizada.
De todo modo, seja no impedimento, seja na suspeição, o ato administrativo poderá ser convalidado por
autoridade superior que não incorra em impedimento ou suspeição, sendo considerado, portanto, como
anulável.
2) Vícios quanto à forma do ato administrativo: será viciado o ato praticado sem a forma prevista em lei
ou por cuja forma pela qual foi expedido não se atinge a finalidade pretendida.
Além disso, frise-se que a própria Lei nº 4.717, de 1965, prevê o que consiste em vício de forma na realização
do ato administrativo:
Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo
anterior, nos casos de: (...)
b) vício de forma;
3) Vícios quanto à finalidade do ato administrativo: será viciado o ato praticado com o desvio de
finalidade (espécie do gênero abuso de poder), ou seja, ato que não vise ao interesse público.
Ademais, a própria Lei nº 4.717, de 1965, prevê quando se verifica o desvio de finalidade para a realização
do ato. Veja:
Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo
anterior, nos casos de: (...)
e) desvio de finalidade;
e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso
daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência.
109
4) Vícios quanto ao motivo do ato administrativo: será viciado o ato praticado com o motivo inexistente
ou ainda em que ocorra falsidade.
Também a Lei nº 4.717, de 1965, previu que:
Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo
anterior, nos casos de: (...)
5) Vícios quanto ao objeto do ato administrativo: será viciado o ato praticado com objeto ilícito,
impossível, imoral ou indeterminado.
De igual modo, previu a Lei nº 4.717, de 1965, que:
Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo
anterior, nos casos de: (...)
c) ilegalidade do objeto;
110
CAI NA PROVA
O concurso para Juiz do Trabalho, aplicado pela FCC em 2017, afirmou em uma das
alternativas de uma das questões da prova que: “O direito da Administração de anular os
atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em
cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé, sendo
certo que, no caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo decadencial contar-se-á da
percepção do primeiro pagamento”.
Comentários: correta a assertiva. Correta a assertiva que está em linha com o art. 54 da Lei
nº 9.784, de 1999, c/c seu §1º: “Art. 54. O direito da Administração de anular os atos
administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco
anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé. § 1o No caso
de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do
primeiro pagamento”.
Em que pese haver divergências doutrinárias, é possível destacar a definição de que ato nulo é aquele que
possui vício insanável, ou seja, não pode ser convalidado.
Por outro lado, o ato administrativo anulável é aquele em que o ato apresenta um vício, mas esse vício
poderá ser convalidado pela autoridade competente.
A convalidação (também denominada saneamento) é o ato pelo qual a Administração Pública ou,
excepcionalmente, o administrado regulariza determinado vício existente em um ato administrativo com
efeitos retroativos à data em que praticado (ex tunc).
111
A regra é que a convalidação seja realizada pela própria Administração Pública, mas pode haver casos em
que a edição do ato dependa de alguma ação do particular que, realizando-a posteriormente, convalidará o
ato86.
Tradicionalmente, a doutrina aponta para o fato de que, dos 5 elementos do ato administrativo -
competência, forma, finalidade, motivo e objeto – somente podem ser convalidados aqueles com vícios nos
elementos forma e competência, mas não quanto aos elementos finalidade, motivo e objeto.
Cabe ainda destacar que, neste entendimento tradicional, a convalidação quanto aos elementos forma e
competência só se aplica se a forma não for essencial e a competência não for exclusiva ou em razão da
matéria.
A professora Maria Sylvia denomina de ratificação a convalidação por vício de incompetência.
86
Maria Sylvia. Direito Administrativo, 30ª edição, p 289.
87
Exemplos da professora Maria Sylvia. Direito Administrativo, 30ª edição, p 291.
88
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: VI – dispor, mediante decreto, sobre: (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001); a) organização e funcionamento da administração federal, quando não
implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; (Incluída pela Emenda Constitucional nº
32, de 2001); b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 32,
de 2001); (...); XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei; (...);
XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei; (...). Parágrafo único. O Presidente da República
poderá delegar as atribuições mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao
Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas respectivas
delegações.
89
Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p 171.
112
Ratificação:
Reforma:
•ocorre quando um novo ato suprime a parte inválida do ato anterior, mantendo
somente a parte válida.
Conversão:
•ocorre quando um ato substitui a parte inválida do ato anterior, de modo que se forme
um novo ato formado por parte já existente e por parte nova.
Contudo, ele mesmo afirma que na reforma e na conversão o elemento saneado é o objeto, não havendo
convalidação propriamente dita, mas sim supressão ou substituição da parte viciada90.
Ademais, o professor José dos Santos Carvalho Filho aduz que:
Nem todos os vícios do ato permitem seja este convalidado. Os vícios insanáveis
impedem o aproveitamento do ato, ao passo que os vícios sanáveis possibilitam a
convalidação. São convalidáveis os atos que tenham vício de competência e de forma
nesta incluindo-se os aspectos formais dos procedimentos administrativos. Também é
possível convalidar atos com vício no objeto, ou conteúdo, mas apenas quando se tratar
de conteúdo plúrimo, ou seja, quando a vontade administrativa se preordenar a mais
de uma providência administrativa no mesmo ato: aqui será viável suprimir ou alterar
alguma providência e aproveitar o ato quanto às demais providências, não atingidas
por qualquer vício. Vícios insanáveis tornam os atos inconvalidáveis. Assim, inviável será
90
Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p 171, nota de rodapé 201.
113
Ou seja, além da posição tradicional de poder haver convalidação nos elementos competência e forma, o
professor José dos Santos Carvalho Filho aduz a possibilidade de convalidação do ato quando viciado o
elemento objeto, sendo este plúrimo, isto é, plural (não único), de modo que um ou mais objetos sejam
mantidos e o viciado ou os viciados sejam convalidados (reformado ou convertido).
Frise-se que o professor Celso Antônio Bandeira de Mello91 ainda diferencia ratificação de confirmação:
Portanto, se formos consolidar a doutrina, é possível identificar quatro tipos de convalidação: ratificação,
confirmação, reforma e conversão.
#ficadica
Para o professor Hely Lopes Meirelles92 não pode haver ato administrativo anulável no
Direito Administrativo, já que não se pode admitir a manutenção de atos ilegais ou, ainda, a
preponderância do interesse privado sobre o interesse público.
a) Convalidação é o instituto pelo qual a Administração pode sanar defeitos de um ato administrativo do
qual não acarreta lesão ao interesse público ou prejuízo ao particular. Nessa linha, é o art. 55 da Lei Federal
nº 9.784, de 1999:
91
Curso de Direito Administrativo, 14ª dição, p 418.
92
Direito Administrativo Brasileiro, 42ª edição, p 199. Também o exemplo é da obra do professor Hely Lopes Meirelles.
114
b) conversão ou sanatória ocorre quando determinado ato administrativo é inválido para determinado
propósito, mas aproveitável quanto aos elementos válidos para outro propósito.
Exemplo: uma licença para edificação permanente que seja inválida para essa finalidade, mas aproveitável
quanto a ser uma autorização para edificação provisória. A denominação do instituto que decorre de o ato
de licença permanente se tornar autorização temporária é conversão ou sanatória, mas não se confundo
com convalidação.
CAI NA PROVA
O concurso para Procurador do Estado de Pernambuco, aplicado pelo CESPE em 2018,
afirmou em uma das alternativas de uma das questões da prova que: “Admite-se a
convalidação de ato administrativo por meio de decisão judicial, desde que não haja dano
ao interesse público nem prejuízo a terceiros”.
CAI NA PROVA
115
CAI NA PROVA
O concurso para Promotor de Justiça do Estado de São Paulo, aplicado por banca própria
em 2017, afirmou em uma das alternativas de uma das questões da prova que: “No caso
de ato vinculado, praticado por autoridade incompetente, a convalidação é obrigatória
pela autoridade competente se estiverem presentes os requisitos para a prática do ato”.
CAI NA PROVA
O concurso para Juiz do Trabalho, aplicado pela FCC em 2017, afirmou em uma das
alternativas de uma das questões da prova que: “Os atos que apresentarem defeitos
sanáveis, em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse público nem
prejuízo a terceiros, serão convalidados pela própria Administração com efeitos ex nunc”.
116
O concurso para Defensor Público, aplicado pela FCC em 2017, afirmou em uma das
alternativas de uma das questões da prova que: “existe, no direito brasileiro, apenas duas
formas de convalidação, a ratificação e a reforma”.
CAI NA PROVA
O concurso para Defensor Público, aplicado pela FCC em 2017, afirmou em uma das
alternativas de uma das questões da prova que: “é possível convalidar atos com vício no
objeto, ou conteúdo, mas apenas quando se tratar de conteúdo plúrimo”.
8.3.4. Confirmação
Ocorre a confirmação quando a Administração renuncia ao seu poder de anular determinado ato ilegal.
Conforme visto, em caso de interesse público e em respeito à segurança jurídica e a boa-fé, pode ser que a
Administração não anule determinado ato ilegal, desde que não cause prejuízo a terceiros e à própria
Administração, bem como a sua anulação acarrete mais males do que sua manutenção.
Ou seja, na confirmação a Administração mantém o ato tal como ele foi praticado, diferentemente da
convalidação que corrige o vício do ato.
117
O ato administrativo ineficaz, ou seja, mesmo sem ainda produzir efeitos, poderá ser extinto por sua mera
retirada (se for por mérito – conveniência e oportunidade - pode ser englobado na revogação; se for por
incompatibilidade com a lei pode ser englobado na anulação).
Poderá ser extinto também o ato ineficaz quando houver a recusa do beneficiário e o ato dependia da
concordância dele para sua produção dos efeitos.
118
119
e) é universal, exceto para ações das polícias militares, civil e federal, que necessitam de aprovação
dos respectivos órgãos corregedores.
3. (2018/CESPE/PC-SE/Delegado) A respeito da extinção de atos administrativos, julgue os
próximos itens.
- Tanto a anulação como a revogação retiram do mundo jurídico atos com defeitos e produzem
efeitos prospectivos.
120
121
122
2. Ato administrativo vinculado que tenha vício de competência poderá ser convalidado por meio
de ratificação, desde que não seja de competência exclusiva.
123
124
b) apenas os atos de transferência dos docentes são passíveis de anulação, em face de abuso de
poder, ostentado vício de motivação passível de controle administrativo e judicial.
c) descabe impugnação judicial dos atos em questão, eis que praticados no âmbito da
discricionariedade legitimamente conferida à autoridade administrativa.
d) apenas o ato de fechamento de salas de aula poderá ser questionado judicialmente, com base
em vício de motivação, sendo os demais legítimos no âmbito da gestão administrativa.
e) o poder judiciário poderá anular as transferências dos docentes por desvio de finalidade, bem
como o fechamento das salas por vício de motivo com base na teoria dos motivos determinantes.
126
127
128
c) Atos de expediente.
d) Atos normativos.
131
132
c) As contas bancárias de entes públicos que contenham recursos de origem pública prescindem
de autorização específica para fins do exercício do controle externo.
d) Os atos punitivos são os atos por meio dos quais o Poder Público aplica sanções por infrações
administrativas pelos servidores públicos. Trata-se de exercício de Poder de Polícia com base na
hierarquia.
e) A licença não é classificada como ato negocial, pois se trata de ato vinculado, concedida desde
que cumpridos os requisitos objetivamente definidos em lei.
41. (2017/CESPE/TJ-PR/Juiz de Direito) De acordo com o art. 54 da Lei n.º 9.784/1999, o direito
da administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os
destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada
má-fé. Trata-se de hipótese em que o legislador, em detrimento da legalidade, prestigiou outros
valores. Tais valores têm por fundamento o princípio administrativo da
a) presunção de legitimidade.
b) autotutela.
c) segurança jurídica.
133
42. (2017/CESPE/TJ-PR/Juiz de Direito) Com base na Lei n.º 9.784/1999, assinale a opção
correta acerca da revogação e dos elementos dos atos administrativos.
a) A revogação de um ato administrativo deve apresentar os seus motivos devidamente
externados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos.
b) O ato de delegação pode ser revogado a qualquer tempo pela autoridade delegante ou pela
autoridade delegada.
c) O ato de delegação deve ser publicado no meio oficial, mas não o de sua revogação.
d) Caso um ato administrativo esteja eivado de vício de legalidade, o Poder Judiciário terá de
revogá-lo.
135
e) Há formalidades que são essenciais ao ato administrativo; assim, a ausência de ampla defesa e
contraditório acarreta a invalidade da imposição de sanções administrativas, do mesmo modo que
a ausência de motivação causa a nulidade da demissão de servidor público.
136
1. B 18. B 35. A
2. C 19. B 36. A
3. ERRADO 20. E 37. A
4. CERTO 21. A 38. C
5. ERRADO 22. C 39. ERRADO
6. ERRADO 23. E 40. CERTO
7. E 24. C 41. C
8. A 25. C 42. A
9. C 26. C 43. A
10. D 27. E 44. B
11. A 28. E 45. D
12. E 29. D 46. E
13. ERRADO/CERTO 30. A
14. E 31. C
15. D 32. D
16. E 33. C
17. B 34. C
137
Comentários
Correta a alternativa “a”. Os cargos em comissão previstos em lei como sendo de livre provimento
dispensam a autoridade competente de motivar o ato de nomeação ou de exoneração. Dessa
forma, a lei dá àquela autoridade a oportunidade de utilizar-se de critérios pessoais para escolher
as pessoas que, em seu entendimento, estejam mais aptas a ocuparem os cargos de chefia, direção
e assessoramento.
Incorreta a alternativa “b”. É sempre bom frisar que os elementos, requisitos ou pressupostos do
ato administrativo são os seguintes: competência, motivo, objeto, finalidade e forma. Como se vê,
motivação não é elemento do ato administrativo. Motivação é a exposição dos motivos que
motivaram a prática de determinado ato.
Correta a alternativa “c”. Os cargos de livre provimento dispensam motivação por parte da
autoridade competente, seja para nomear, seja para exonerar a pessoa do cargo. Contudo, por
138
força da teoria dos motivos determinantes, se a autoridade expuser os motivos ficará a eles
vinculada. Caso exponha motivos incongruentes com a situação fática, poderá ocorrer a
invalidação do ato ad nutum.
Correta a alternativa “e”. O comentário da alternativa “d” atende ao que a alternativa expõe.
Frise-se que o motivo deve se dar em função de uma situação fática que leve o agente público a
praticar determinado ato. Diante da inexistência do motivo, não há outro caminho senão o
reconhecimento da nulidade da conduta adotada pela autoridade.
Comentários
Incorreta a alternativa “a”. Toda atuação estatal presume-se compatível ao Estado Democrático
de Direito, em que o Estado elabora as leis e a elas se submete. Nesse sentido, a Administração
só está legitimada a fazer aquilo que for previsto ou autorizado em lei. Caso haja abuso por parte
de algum Poder, exsurge a atuação do Poder Judiciário, que deve coibir e retirar do mundo
jurídico as atuações estatais em desconformidade com o ordenamento. Tal raciocínio se aplica aos
atos legislativos, em que as leis são presumidamente compatíveis com a Constituição. Não há que
se falar em submetê-las a uma comissão antes de sua concretização em função de episódios de
corrupção. Não há qualquer previsão constitucional acerca disso.
139
Incorreta a alternativa “b”. Toda atuação estatal presume-se legal, verdadeira e legítima.
Contudo, trata-se de presunção iuris tantum, em que se admite prova em contrário. Enquanto não
se provar o contrário, a atuação do Estado prevalece legítima, seja quem for o agente público
responsável pela prática do ato.
Correta a alternativa “c”. Como já comentado anteriormente, toda atuação estatal goza da
presunção de legitimidade. Nesse sentido, os atos administrativos praticados são revestidos dessa
presunção, regendo-se também por esse princípio.
Incorreta a alternativa “e”. Como já se sabe, toda a atuação estatal, de qualquer órgão ou Poder,
tem a presunção de legitimidade, não sendo diferente o raciocínio em relação às ações das
polícias.
Comentários
Resposta: errado.
140
Comentários
Certo. A cassação é uma das modalidades de retirada do ato administrativo do mundo jurídico. É
definida pela doutrina como a circunstância em que o destinatário do ato passa a descumprir as
condições exigidas para a concessão daquele ato inicial. Por exemplo, se um determinado
estabelecimento comercial que tinha licença para funcionar como um revendedor de alimentos
congelados passa a fornecer refeições prontas (restaurante ou lanchonete), houve uma nítida
contrariedade em relação ao ato anterior. O comerciante estará sujeito a ter sua licença de
funcionamento cassada, tendo em vista que contrariou e modificou a atividade comercial que
estava autorizado pelo Estado a desempenhar.
Resposta: certo.
Comentários
Resposta: errado.
141
Comentários:
De acordo com o posicionamento da doutrina, os atos administrativos podem sim ser não escritos
(verbais, sonoros,…), como, por exemplo, nos sinais sonoros representados pelos silvos do apito
do agente de trânsito. Nessa linha, por exemplo, Maria Sylvia Zanella di Pietro e José dos Santos
Carvalho Filho.
Gabarito: Falso.
Comentários
Incorreta a alternativa “a”. O Controle Judicial avalia somente a legalidade do ato, não entrando
no mérito do ato praticado (conveniência e oportunidade).
Incorreta a alternativa “b”. O controle do Poder Judiciário pode incidir sobre atos vinculados, e,
de certa forma, sobre o ato discricionário, sendo que o Poder Judiciário pode apenas apreciar os
aspectos de juridicidade do ato praticado pela Administração, verificando se ela não ultrapassou
os limites da discricionariedade.
142
Incorreta a alternativa “c”. O princípio da deferência estabelece que as decisões proferidas por
autoridades detentoras de competência específica, sobretudo de ordem técnica, precisam ser
respeitadas pelos demais órgãos e entidades estatais, porém tal princípio não é absoluto.Se a
decisão proferida for eivada de vício de ilegalidade, por exemplo, ela poderá ser revista pelo
Poder Judiciário.
Incorreta a alternativa “d”. A CRFB/88 prevê, no artigo 5º, inciso XXXV, o princípio da
inafastabilidade da jurisdição: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito”. Dessa forma, não há a necessidade esgotar todas as instâncias na esfera
administrativa para levar uma lide ao Poder Judiciário.
Correta a alternativa “e”. O controle judicial dos atos administrativos discricionários deve-se limitar
ao exame de sua legalidade, eximindo-se o Judiciário de adentrar na análise de mérito do ato.
Comentários
Correta a alternativa “a”. O primeiro ato do magistrado é de natureza jurisdicional, não sendo
passível de controle administrativo. Trata-se do exercício de funções estatais distintas (função
jurisdicional e função administrativa), ainda que exercidas pelo mesmo agente público.
Incorreta a alternativa “b”. O primeiro ato do magistrado é a decisão em processo judicial, o qual
não cabe controle administrativo. Contudo, o ato administrativo é passível de controle
administrativo interno, seja por meio da autotutela, seja pelo sistema de controle interno do Poder
Judiciário.
Incorreta a alternativa “c”. O CNJ não tem poder jurisdicional. Dessa forma, a decisão em processo
judicial, que tem natureza jurisdicional, não é passível de controle pelo CNJ.
143
Incorreta a alternativa “d”. O segundo ato, que tem natureza administrativa, é passível de controle
pelo CNJ, conforme previsto na CRFB, art. 130-B, §4º, “compete ao Conselho o controle da
atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais
dos juízes (...)”. Contudo, o primeiro ato, que é o jurisdicional, não se submete ao controle do
CNJ, visto que não tem competência jurisdicional.
Comentários
144
Comentários
Incorreta a alternativa “a”. O poder de autotutela é o que confere à Administração Pública anular
seus próprios atos quando eivados de vício de ilegalidade.
Incorreta a alternativa “c”. Trata-se do atributo imperatividade, que impõe a coercibilidade para
o seu cumprimento ou execução, criando unilateralmente obrigações aos particulares sem a sua
prévia concordância.
Correta a alternativa “d”. A Administração tem a possibilidade de, com seus próprios meios,
executar suas decisões, sem precisar de autorização prévia do Poder Judiciário.
145
Comentários:
Correta a alternativa “a” porque, de fato, discricionariedade não se confunde com arbitrariedade
e, portanto, havendo vício deverá ser anulado, seja no exercício da autotutela da Administração
Pública (Controle Interno) ou no exercício legítimo pelo Controle Externo (dentro dos limites de
atuação previstos no ordenamento jurídico. Quanto à convalidação, cabe dizer que, sendo sanável
o defeito do ato administrativo e não acarretando lesão ao interesse público nem prejuízo a
terceiros, o ato poderá ser convalidado pela própria Administração Pública (nessa linha, por
exemplo, o art. 55 da Lei nº 9.784, de 1999).
Incorreta a alternativa “b” porque o Regime Jurídico do Direito Administrativo, em especial dos
atos administrativos e do exercício do Poder Discricionário, não exige a listagem taxativa (numerus
clausus) dos atos que são discricionários (conveniência e oportunidade / mérito administrativo /
variabilidade dos elementos motivo e objeto do ato administrativo) e dos atos que são vinculados
(todos os cinco elementos dos atos administrativo estão definidos em lei – competência, forma,
finalidade, motivo e objeto).
Incorreta a alternativa “c” porque fatos da administração são aqueles acontecimentos praticados
pela Administração Pública que não apresentam nenhuma repercussão no âmbito do Direito
Administrativo. Não confunda Fato DA Administração com Fato Administrativo. Este “tem ode
atividade material no exercício da função administrativa que visa a efeitos de ordem prática para
a Administração” (José dos Santos Carvalho Filho – Manual de Direito Administrativo, 31ª edição,
p 101).
146
Incorreta a alternativa “d” porque não há no texto constitucional qualquer vedação expressa à
revogação de atos vinculados. Segundo parte da doutrina, de fato, os atos vinculados não podem
ser revogados.
Incorreta a alternativa “e” porque atos administrativos complexos são aqueles que se originam da
manifestação da vontade de mais de um órgão administrativo, podendo ser singulares ou
colegiados. Há um concurso de vontade homogênea de órgãos para a produção do um único ato
administrativo. Logo, podem sim ser discricionários. Exemplo: assinatura de um Decreto pelo
Chefe do Poder Executivo, referendado pelo Ministro ou Secretário.
Gabarito: alternativa A.
Comentários:
A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam
ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou
147
Incorreta a alternativa “b” porque ao Poder Judiciário é vedado adentrar ao mérito administrativo.
O controle jurisdicional poderá ocorrer em caso de ilegalidade.
Incorreta a alternativa “c” porque não há no texto constitucional vedação expressa no sentido de
que ao Poder Judiciário descabe convalidar atos administrativos.
Incorreta a alternativa “d” porque o art. 55 da Lei nº 9.784, de 1999, não obriga que a convalidação
seja feita pela autoridade superior àquela que praticou o ato. Pode ser, inclusive, pela própria
autoridade que o produziu.
Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse público nem
prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados
pela própria Administração.
Correta a alternativa “e” porque em linha com a posicão doutrinária. De fato, a regra é que a
anulação do ato administrativo produza efeitos ex tunc (retroativos, desde a origem). Contudo,
excepcionalmente, quando o prejuízo resultante da anulação retroativa for maior do que o prejuízo
dos efeitos produzidos pelo ato, a Administração deverá ser norteada pelo interesse público.
Nessa linha, a professora Maria Sylvia (Direito Administrativo, 30ª edição, pp 279 e 280).
Gabarito: alternativa E.
Comentários:
A 1 está errada porque, de acordo com a Súmula 473 do STF, a administração pode anular seus
próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam
148
Portanto, não se pode confundir anulação e revogação. Anulação se refere a ato ilegal (efeitos ex
tunc). Revogação se refere a ato legal que deixou de ser conveniente e oportuno para a
Administração (efeitos ex nunc).
A 2 está correta porque em linha com o que ensina a doutrina. Nas palavras, por exemplo, da
professora Maria Sylvia, tem-se que:
Comentários
Incorreta a alternativa “a”. Dentro das espécies admitidas pelo ordenamento jurídico para os atos
administrativos encontra-se a categoria dos atos negociais, em que a Administração, via de regra,
atende a pleitos dos interessados – daí a nomenclatura de negociais. Como exemplo, temos as
autorizações e licenças. Ambas não possuem os atributos da imperatividade e não são sanções, o
que invalida por completo a alternativa.
Incorreta a alternativa “b”. Trata-se de atos administrativos também sujeitos a controle interno,
seja pela via da autotutela, seja pela via do sistema de controle interno, e também a controle
149
externo, tais como Tribunal de Contas, Ministério Público e Poder Judiciário. Além disso, os atos
negociais são exercidos no exercício da função administrativa do Estado, em nada se relacionando
com a função política.
Incorreta a alternativa “c”. Nem todos os atos administrativos negociais são discricionários. O
maior exemplo é o das licenças, que são atos vinculados. Ou seja, se o interessado atender aos
requisitos legais para a concessão da licença, a Administração é obrigada a concedê-la. Os atos
negociais são exercidos no exercício da função administrativa, o que os reveste também da
característica da sindicabilidade, ou seja, da possibilidade de serem controlados interna ou
externamente.
Incorreta a alternativa “d”. Os atos administrativos negociais podem ser praticados pela
Administração Pública em geral – Direta ou Indireta. É equivocado o que é afirmado pela
alternativa ao vincular tais atos apenas aos entes paraestatais no exercício da função interventiva
no domínio econômico.
Correta a alternativa “e”. O exemplo das licenças, citado em comentário de alternativas anteriores,
é um caso de exercício de poder de polícia. Por exemplo, ao se exigir uma licença para construir,
o Estado concede tal licença após verificar se o projeto da obra atende aos diversos requisitos da
legislação. Trata-se de um poder de polícia preventivo exercido pelo Estado. Além do exercício
do poder de polícia, vários outros atos negociais podem ser praticados, a exemplo dos acordos
setoriais e termos de compromisso no geral. Portanto, não restam dúvidas de que os atos
administrativos negociais são admitidos pelo ordenamento jurídico nacional.
Comentários
150
Correta a alternativa “d” porque os pareceres podem ser facultativos (é meramente opcional),
obrigatórios (exige-se o parecer para a realização do ato, mas é mera opinião, podendo a
autoridade dele divergir) ou vinculantes (a autoridade não pode dele divergir, deixa de ser mera
opinião).
Incorreta a alternativa “a” porque instruções e portarias são atos ordinatórios (aqueles que
disciplinam o funcionamento da Administração Pública, incluindo as condutas dos seus agentes) e
não atos normativos (em regra, comandos gerais e abstratos). Cuidado para não confundir a teoria
dos atos administrativos com eventuais práticas incorretas adotas pelos órgãos públicos.
Resolução sim é ato normativo.
Incorreta a alternativa “b” porque certidões são atos administrativos enunciativos (externam ou
declaram uma situação existente em registros, processo ou arquivos públicos sem qualquer
manifestação de vontade original da Administração). De fato, instruções e avisos são atos
ordinatórios.
Incorreta a alternativa “c” porque parecer vinculante e parecer obrigatório são diferentes, como
visto na explicação da alternativa “d”.
Incorreta a alternativa “e” porque são espécies de atos administrativos segundo a doutrina
tradicional: normativo, ordinatório, negocial, enunciativo e punitivo. Não incluído, portanto, atos
vinculativos.
151
Comentários
Correta a alternativa “e” porque, como o vício no ato administrativo foi no elemento competência
e esta não era exclusiva (art. 84, XXV, combinado com o seu parágrafo único, da CRFB), cabe a
convalidação pelo Secretário Estadual (neste caso denomina-se ratificação). Lembre-se que a
convalidação, que é possibilidade de a autoridade competente regularizar determinado vício
existente em um ato administrativo com efeitos retroativos à data em que praticado, em regra,
somente se aplica em vícios nos elementos forma e competência e, ainda, desde que a forma não
seja essencial e competência não seja exclusiva ou em razão da matéria (cuidado com a posição
do professor José dos Santos Carvalho Filho no sentido de também caber convalidação quanto
ao elemento objeto quando plúrimo). Portanto, se o vício for nos elementos finalidade, motivo ou
objeto não cabe convalidação (objeto quando único).
Incorreta a alternativa “a” porque o eventual direito subjetivo do candidato aprovado em 1º lugar
em concurso público para provimento efetivo não tem o condão de sanear ato administrativo
inválido.
Incorreta a alternativa “b” porque o ato praticado existe, mas é inválido por ter sido expedido por
autoridade incompetente. A existência dos atos administrativos está relacionada à presença de
todos os elementos, ainda que haja deficiência em um ou mais deles.
Incorreta a alternativa “c” porque o ato da nomeação é inválido porque um dos elementos, a
competência, não foi produzido de acordo com a lei. Em que pese pela Teoria da Aparência os
atos praticados pelo agente putativo ou funcionário de fato poderem ser convalidados, em
respeito à boa-fé do administrado, isso não torna o ato da nomeação válido, mas sim os eventuais
atos por ele praticados. Inclusive, lembre-se que, de acordo com o STF, não se aplica a Teoria do
Fato Consumado nos casos em que se pleiteia a permanência em cargo público, cuja posse tenha
ocorrido de forma precária, em razão de decisão judicial não definitiva (RE 405964).
Incorreta a alternativa “d”, em função da previsão do art. 84, XXV (primeira parte), combinado
com o seu parágrafo único, da CRFB, em que se autoriza ao Presidente delegar as atribuições
mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao Procurador-
Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas
152
Comentários
Correta a alternativa “b”, já que o enunciado representa bem a aplicação da Teoria dos Motivos
Determinantes. Essa teoria foi acolhida no Brasil para fixar que o fundamento exteriorizado para a
tomada de decisão ou para a prática de uma ação ou omissão vincula-se à validade do ato
administrativo discricionário ou vinculado. Assim, existindo a exteriorização do motivo como o
determinante a justificar a realização do ato administrativo, caso fique comprovado não ter este
ocorrido ou não representar a realidade, o ato será ilegal. Sendo ilegal, abre-se margem para o
controle pelo Poder Judiciário. Não se trata aí de mérito administrativo (conveniência e
oportunidade) e sim de uma ilegalidade.
Incorretas as alternativas “a”, “c” e “d” porque, no caso descrito, abriu-se a possibilidade do
controle judicial em função do motivo externado no ato administrativo ser incompatível com a
realidade. Logo, o ato judicial foi legítimo, ainda que se tratasse de ato discricionário na origem,
mas que passou a ser vinculado ao motivo após a sua externalização.
153
Incorreta a alternativa “e” porque a legitimidade do ato judicial não está condicionada a vício na
discricionariedade técnica. Ademais, ao Poder Judiciário não cabe adentrar e invalidar ato político
(discricionário) da Administração Pública sob a alegação de que se utilizou metodologia técnica,
como fixado pela Doutrina Chenery (STJ AgInt na SLS 2240/SP).
Comentários
Em que pese haver discordância na doutrina, a CESPE considerou a alternativa “b” correta, ou
seja, para esta banca a nomeação de ministros de tribunais superiores no Brasil é um ato complexo,
ou seja, há concorrência da manifestação da vontade de dois órgãos, e não ato composto, no qual
há manifestação da vontade de um órgão em um ato administrativo principal e a participação de
outro órgão para dar-lhe eficácia. Frise-se que, de acordo com o inciso XIV do art. 84 da CRFB,
cabe ao Presidente da República a nomeação dos Ministros do STF e dos Tribunais Superiores,
após aprovação pelo Senado Federal. Para a professora Maria Sylvia, que defende a posição de
ato composto, embora haja a participação de mais de um órgão, a vontade é apenas de um deles.
O ato principal é a nomeação (indica e nomeia). O ato acessório é a aprovação pelo Senado). Para
o professor José dos Santos Carvalho Filho, trata-se de ato complexo sendo necessária a
manifestação da vontade de dois órgãos diversos.
154
Incorreta a alternativa “a” porque ao Poder Judiciário cabe anular atos administrativos ilegais e
não a sua convalidação. A convalidação compete à própria Administração Pública ou,
excepcionalmente, ao administrado.
Incorreta a alternativa “c” porque, em que pese a competência ser improrrogável (órgão ou
agente incompetente não se torna competente pelo exercício da atividade, exceto por lei), pode
haver convalidação de ato administrativo com vício de competência, desde que esta não seja
exclusiva ou em função da matéria (denomina-se a convalidação no elemento competência de
ratificação ou confirmação, a depender da autoridade que sanear o ato).
Incorreta a alternativa “d” porque se o administrador público externar o motivo pelo qual praticou
a exoneração, o ato administrativo estará vinculado a este motivo. Demonstrada, portanto, sua
incompatibilidade com a realidade haverá uma ilegalidade. Logo, passível de controle pelo Poder
Judiciário.
Outra alternativa polêmica é a “e”, considerada incorreta. De fato, de acordo com a jurisprudência
tradicional do STF, não pode a Administração Pública desrespeitar a coisa julgada e, por
conseguinte, a segurança jurídica e a proteção à confiança, para afastar vantagem de servidor
incorporada em função de mudança na situação de fato ou de direito (STF AgR no RE 394638,
julgado de 2004, e MS 30780, julgado de 2013). Nessa linha, realmente incorreta a alternativa, já
que dependeria de novo provimento judicial. Contudo, no julgado do MS 32435, o próprio STF
decidiu que “a força vinculativa das sentenças sobre relações jurídicas de trato continuado atua
rebus sic stantibus: sua eficácia permanece enquanto se mantiverem inalterados os pressupostos
fáticos e jurídicos adotados para o juízo de certeza estabelecido pelo provimento sentencial. A
superveniente alteração de qualquer desses pressupostos determina a imediata cessação da
eficácia executiva do julgado, independentemente de ação rescisória ou, salvo em estritas
hipóteses previstas em lei, de ação revisional”. De todo modo, a banca seguiu a jurisprudência
anteriormente firmada.
155
b) declarar nulo o ato, retroagindo os efeitos à época do ato, vez que ilegal.
c) revogar o ato com eficácia ex nunc, vez que eivados de vício de legalidade.
d) revogar o ato com eficácia extunc, retroagindo os efeitos à época da origem do ato.
Comentários
Resposta: alternativa “b”. A situação descrita caracteriza abuso de autoridade em sua espécie
desvio de finalidade. Ou seja, a finalidade do ato administrativo deve sempre ser o interesse
público. Fato incompatível com a realização da alteração de lotação do servidor com intuito de
prejudicar adversário político e, por outro lado, beneficiar parceiro político. Havendo o desvio de
finalidade, não é possível se falar em convalidação e, portanto, não se trata de ato anulável e sim
de ato nulo, já que contém vício insanável. Assim, os efeitos do ato nulo são ex tunc, retroagindo
desde o momento de sua produção.
Incorreta a alternativa “a” porque não é ato anulável (vício na finalidade não pode ser convalidado,
mas só na competência e forma – ou no objeto quando plúrimo) e sim nulo. Ademais os efeitos
são ex tunc (desde a origem) e não ex nunc (a partir do ato).
Incorretas as alternativas “c” e “d” porque não se pode revogar ato viciado. Ato viciado é nulo ou
anulável.
d) apenas o ato de fechamento de salas de aula poderá ser questionado judicialmente, com base
em vício de motivação, sendo os demais legítimos no âmbito da gestão administrativa.
e) o poder judiciário poderá anular as transferências dos docentes por desvio de finalidade, bem
como o fechamento das salas por vício de motivo com base na teoria dos motivos determinantes.
Comentários
Correta a alternativa “e” porque a situação descrita caracteriza abuso de autoridade em sua
espécie desvio de finalidade, em função de a transferência dos docentes ter ocorrido não para
atender ao interesse público. Logo, cabe controle do Poder Judiciário. Ademais, os atos de fechar
as turmas matutinas e enviar a circular com o motivo não verdadeiro aos pais dos alunos
caracterizam vício no motivo, também controlável pelo Poder Judiciário. Frise-se que cabe o
controle do Poder Judiciário inclusive em atos discricionários em que tenha sido externado motivo,
em função da Teoria dos Motivos Determinantes, em caso de o motivo alegado não representar
a realidade.
Incorreta a alternativa “a” porque a situação descrita caracteriza abuso de autoridade em sua
espécie desvio de finalidade. Não pode haver desvirtuamento do interesse público. Assim, como
ato ilegal, tanto por vício na finalidade quanto o motivo, pode haver o controle do Poder Judiciário
e não só da própria Administração Pública.
Incorreta a alternativa “b” porque tanto o ato de transferência dos servidores quanto o
fechamento das classes matutinas e a circular expedida aos pais dos alunos estão viciados e,
portanto, são inválidos.
Incorreta a alternativa “c” porque cabe controle do Poder Judiciário em atos ilegais, bem como
em atos discricionários em que tenha sido externado motivo, em função da Teoria dos Motivos
Determinantes.
Incorreta a alternativa “d” porque tanto o ato de transferência dos servidores quanto o
fechamento das classes matutinas e a circular expedida aos pais dos alunos estão viciados e,
portanto, são inválidos.
b) A aprovação é o ato administrativo que confere ao indivíduo, desde que preencha os requisitos
legais, o direito de receber o serviço público desenvolvido em determinado estabelecimento
oficial.
c) A homologação é a manifestação discricionária do administrador a respeito de outro ato. Pode
ser prévia ou posterior.
d) A concessão é o ato administrativo discricionário e precário pelo qual a Administração consente
que o particular execute serviço de utilidade pública ou utilize privativamente bem público.
e) Atestado é o instrumento formal expedido pela Administração, que, através dele, expressa
aquiescência no sentido de ser desenvolvida certa atividade pelo particular.
Comentários
Correta a alternativa “a” porque a licença é um ato administrativo negocial vinculado em que a
Administração Pública, verificando o cumprimento de todos os requisitos legais pelo particular,
consente a realização de uma atividade ou fruição de alguma situação jurídica.
Incorreta a alternativa “b” porque é a admissão e não a aprovação o ato vinculado ao cumprimento
dos requisitos legais que confere ao administrado a fruição de serviço público desenvolvido em
determinado estabelecimento oficial.
Incorreta a alternativa “c” porque a homologação é ato negocial vinculado e por ser ato de
controle ocorre após o ato controlado. A alternativa apresenta a definição de “aprovação”.
Incorreta a alternativa “d” porque concessão não é um ato administrativo, mas um contrato
(bilateral) com regras próprias previstas em lei, em especial na Lei nº 8.987, de 1995. A alternativa
apresenta definição da permissão. Incorreta a alternativa “e” porque o atestado é ato enunciativo
pelo qual a Administração comprova um fato ou uma informação de seu conhecimento. A
alternativa apresenta definição de alvará.
158
Comentários
Correta a alternativa “c” que está em linha com o §3º do art. 103-A da CRFB que prevê: do ato
administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar,
caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato
administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com
ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso.
Comentários
Resposta: alternativa “e”. São exatamente as palavras da professora Maria Sylvia em seu livro
Direito Administrativo, 30ª edição, p 289: “tratando-se de ato vinculado praticado por autoridade
incompetente, a autoridade competente não poderá deixar de convalidá-lo, se estiverem
presentes os requisitos para a prática do ato”.
Incorreta a alternativa “a” porque nem sempre é aplicável a delegação ou a avocação para a
prática de atos administrativos. Por exemplo, de acordo com o art. 13 da Lei nº 9.784, de 1999,
não podem ser delegadas a edição de atos de caráter normativo, a decisão de recursos
159
Incorreta a alternativa “b” porque, em que pese a regra ser a não apreciação pelo Poder Judiciário
de ato discricionário, de modo a não adentrar ao mérito administrativo (análise de conveniência e
oportunidade), no caso de o ato ser motivado, haverá vinculação do motivo ao ato, trazendo a
possibilidade de controle do Poder Judiciário com base na Teoria dos Motivos Determinantes.
Incorreta a alternativa “c” porque no exercício da “função de fato” (agente putativo), em privilégio
à Teoria da Aparência e para resguardar a boa-fé do administrado que teve atos praticados por
quem agia na função de fato (agente putativo), os atos praticados podem ter seus efeitos
regulares.
Incorreta a alternativa “d” porque a revogação não pode ser adotada pela Administração Pública
em atos vinculados, em atos que já exauriram seus efeitos, em atos enunciativos (mero ato
administrativo), em atos que integram procedimento nem em atos que geraram direito adquirido
(Súmula 473 do STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios
que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de
conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os
casos, a apreciação judicial).
160
Comentários
Incorreta a alternativa “b” porque, em que pese o ato de exoneração de cargo em comissão ser
ad nutum (livre nomeação e exoneração), o fato de ter sido externado o motivo vincula a
Administração e abre a possibilidade de controle pelo Poder Judiciário com base na Teoria dos
Motivos Determinantes.
Incorreta a alternativa “d” porque a homologação é ato vinculado pelo qual a autoridade superior
avalia a legalidade, bem como a conveniência de ato anterior praticado para dar-lhe eficácia. É
161
considerado ato de simples controle, não podendo alterar o conteúdo do ato controlado,
podendo apenas confirmá-lo ou rejeitá-lo.
Incorreta a alternativa “e” porque decreto regulamentar é ato privativo do Chefe do Poder
Executivo. Ademais, ocorrida a descentralização administrativa com a criação, por lei, de
Autarquia, conforme preconiza o inciso XIX do art. 37 da CRFB, não compete ao Ministério a que
ela estiver vinculada intervir em sua organização administrativa. A vinculação entre a autarquia e
o Ministério é apenas de controle finalístico (supervisão ministerial) e não de hierarquia.
Comentários
Correta a alternativa “c” porque são atributos dos atos administrativos a presunção de
legitimidade e de veracidade, a autoexecutoriedade, a tipicidade e a imperatividade. A presunção
de legitimidade quer dizer que o ato foi produzido de acordo com o ordenamento jurídico.
Incorreta a alternativa “a” porque os atos administrativos estão sujeitos ao regime jurídico público,
em especial ao regime jurídico administrativo.
Incorretas as alternativas “b” e “d” porque, conforme súmula 473 do STF, a administração pode
anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se
originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os
direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial dos atos ilegais.
Portanto, atos ilegais não se revogam, são nulos ou anuláveis. Já atos inconvenientes ou
inoportunos não se anulam e sim são revogados.
Incorreta a alternativa “e” porque nos atos vinculados não há margem de subjetividade ao agente
público.
162
Comentários
Correta a alternativa “c” que está em linha com o art. 54 da Lei nº 9.784, de 1999, c/c seu §1º:
“Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos
favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados,
salvo comprovada má-fé.§ 1o No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência
contar-se-á da percepção do primeiro pagamento”.
Incorreta a alternativa “a” porque a convalidação opera efeitos ex tunc, ou seja, saneia o ato desde
o momento de sua produção.
Incorreta a alternativa “b” porque, de acordo com o art. 64 da Lei nº 9.784, de 1999, em especial
seu §único: “Art. 64. O órgão competente para decidir o recurso poderá confirmar, modificar,
anular ou revogar, total ou parcialmente, a decisão recorrida, se a matéria for de sua competência.
Parágrafo único. Se da aplicação do disposto neste artigo puder decorrer gravame à situação do
recorrente, este deverá ser cientificado para que formule suas alegações antes da decisão ”. Ou
seja, se houver a reformatio in pejus (alteração da decisão com agravamento do prejuízo inicial
para o particular), deve o particular ser cientificado para formular suas considerações prévias à
decisão.
163
Incorreta a alternativa “e” porque não podem ser revogados atos vinculados, atos que já exauriram
seus efeitos, atos enunciativos (mero ato administrativo), atos que integram procedimento nem
atos que geraram direito adquirido (Súmula 473 do STF: A administração pode anular seus
próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam
direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos
adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial)
Comentários
Correta a alternativa “e” porque o atributo da autoexecutoriedade dos atos administrativos pode
ser desdobrado em exigibilidade e executoriedade. A exigibilidade resulta da possibilidade de a
Administração poder se utilizar de meios indiretos para o cumprimento da obrigação. Já a
executoriedade resulta da possibilidade de a Administração realizar diretamente a execução
forçada se utilizando inclusive da força pública, caso necessário. As demais alternativas apresentam
reflexos predominantes da executoriedade (meios diretos) e não da exigibilidade (meios indiretos).
164
c) a vícios que podem ser sanados e, nestes casos, a convalidação terá efeitos ex nunc.
d) a violação das normas jurídicas causa um vício que só pode ser corrigido com a edição de novo
ato, pelo poder Judiciário.
e) é possível convalidar atos com vício no objeto, ou conteúdo, mas apenas quando se tratar de
conteúdo plúrimo.
Comentários
Correta a assertiva “e” porque nessa linha é a doutrina do professor José dos Santos Carvalho
==9e9ee==
Filho em seu Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p. 72: “Também é possível convalidar
atos com vício no objeto, ou conteúdo, mas apenas quando se tratar de conteúdo plúrimo”.
Plúrimo quer dizer plural, ou seja, objeto não único, de modo que se possa reformar ou converter
um dos objetos sem macular o outro ou os demais.
Incorreta a alternativa “a” porque, pela doutrina do professor José dos Santos Carvalho Filho em
seu Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p. 71, há três formas de convalidação:
ratificação, reforma e conversão.
Incorreta a alternativa “b” porque, após a impugnação, não se pode mais falar em convalidação,
mas sim o pleno efeito do processo recursal.
Incorreta a alternativa “c” porque a convalidação opera efeitos ex tunc (retroativos à data da
produção do ato).
Incorreta a alternativa “d” porque a própria Administração Pública pode sanear ou anular seus
atos.
165
Comentários
Incorreta a alternativa “d” porque anulação é desfazimento de ato administrativo por razões de
ilegalidade e não de legalidade.
Correta a alternativa “a”, já que, de fato, a própria Administração pode anular seus atos praticados
com ilegalidade (Súmula 473 do STF:A administração pode anular seus próprios atos, quando
eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por
motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em
todos os casos, a apreciação judicial).
Correta a alternativa “b” porque, de fato, ao Poder Judiciário, caso provocado pelo interessado,
cabe controlar os atos administrativos ilegais, devendo anulá-los se confirmada a ilegalidade.
Correta a alternativa “e”, já que, de fato, se afetar interesse ou direitos de terceiros, impõe-se a
precedência de ampla defesa e contraditório com base no art. 5º, LV, da CRFB (STF: RE 594296 -
A partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, foi erigido à condição de garantia
constitucional do cidadão, quer se encontre na posição de litigante, num processo judicial, quer
seja um mero interessado, em um processo administrativo, o direito ao contraditório e à ampla
defesa, com os meios e recursos a eles inerentes. Ou seja, a partir de então, qualquer ato da
Administração Pública que tiver o condão de repercutir sobre a esfera de interesses do cidadão
deverá ser precedido de prévio procedimento em que se assegure ao interessado o efetivo
exercício do direito ao contraditório e à ampla defesa).
Comentários
Incorreta a alternativa “a” porque, de acordo com a alínea “e” do §único do art. 2º da Lei nº 4.717,
de 1965 (Lei da Ação Popular), o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato
visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência. Veja
o inteiro teor do aludido artigo: “art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades
mencionadas no artigo anterior, nos casos de: a) incompetência; b) vício de forma; c) ilegalidade
do objeto; d) inexistência dos motivos; e) desvio de finalidade. Parágrafo único. Para a
conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as seguintes normas: a) a incompetência fica
caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições legais do agente que o praticou; b) o
vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta ou irregular de formalidades
indispensáveis à existência ou seriedade do ato; c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o
resultado do ato importa em violação de lei, regulamento ou outro ato normativo; d) a inexistência
dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de direito, em que se fundamenta o ato, é
materialmente inexistente ou juridicamente inadequada ao resultado obtido; e) o desvio de
finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto,
explícita ou implicitamente, na regra de competência”. Portanto, corretas as demais alternativas.
Comentários
167
Incorreta a alternativa “c” porque a revogação é ato privativo da Administração Pública, já que
afeto à conveniência e oportunidade (mérito administrativo). Ao Poder Judiciário cabe anular os
atos administrativos viciados com ilegalidade. As demais alternativas apresentam hipóteses que,
de fato, podem acarretar a extinção do ato administrativo. Conforme sintetiza o professor Celso
Antônio Bandeira de Mello, os atos eficazes podem ser extintos com o cumprimento dos seus
efeitos ao longo do tempo (esgotamento do conteúdo jurídico, execução material, termo final ou
condição resolutiva), com o desaparecimento de elemento infungível da relação jurídica (sujeito
ou objeto), com a retirada (revogação, invalidação ou anulação, cassação, caducidade,
contraposição) ou a renúncia. Já o ato ineficaz pode ser extinto pela mera retirada ou pela recusa.
Comentários
Correta a alternativa “b” porque o motivo é o pressuposto de fato e de direito que fundamenta o
ato administrativo.
Incorreta a alternativa “a” porque para a norma incidir o fato deve ser posterior à sua produção.
Ademais, o motivo é concreto, um fato ocorrido na vida social (mundo fenomênico para Immanuel
Kant).
168
Incorreta a alternativa “d” porque a valoração subjetiva representada pela intenção do agente não
se inclui entre os elementos do ato administrativo. Pela teoria do órgão, os atos do agente público
são imputados à Administração.
Comentários
Resposta: alternativa “c”. A classificação dos atos administrativos quanto ao objeto ou quanto às
suas prerrogativas apresenta: atos de império (expressão da supremacia pública sobre o interesse
particular), atos de gestão (ausência da supremacia – atos praticados pela Administração em
posição de horizontalidade com o particular) e atos de expediente (são os praticados para
impulsionar os processos administrativos e demais tarefas administrativas para sua devida
conclusão). Atos administrativos normativos são aqueles produzidos, em regra, com comandos
gerais e abstratos.
169
Comentários
Resposta: alternativa “c”. As duas assertivas estão corretas e a segunda justifica de forma acertada
a primeira, já que em linha com o entendimento do STJ esposado no julgamento do MS 14731
em 2016: “A regulamentação exigida pelo art. 7o. do Decreto 6.253/07, constitui ato
administrativo complexo, demandando a manifestação de dois órgãos da Administração para sua
constituição, quais sejam, o Ministério da Educação e o Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão, sob pena de invalidade. 2. Por simetria, apenas se admite a revogação do ato
administrativo por autoridade/órgão competente para produzi-lo. A propósito, o ilustre Professor
DIOGO FIGUEIREDO MOREIRA NETO assinala que a competência para a revogação do ato
administrativo será, em princípio, do mesmo agente que o praticou (...) Assim, se o ato foi
suficiente e validamente constituído a revogação é, simetricamente, um ato desconstitutivo, ou,
em outros termos, um ato constitutivo-negativo, pelo qual a Administração competente para
constituí-lo - e apenas ela - retira a eficácia de um ato antecedente, exclusivamente por motivos
de mérito administrativo, jamais por motivos jurídicos (Curso de Direito Administrativo. Rio de
Janeiro: Editora Forense, 2014, p. 230-231). 3. No caso, a Portaria 788/09 aqui combatida, emitida
pelo MEC, por si só, procurou revogar a regulamentação anterior, composta pela manifestação
das duas Pastas responsáveis. Nesse contexto, dada a simetria necessária para a edição-
desconstituição do ato administrativo, entende-se viciado o ato”.
Comentários
Resposta: alternativa “a”. A situação descrita configura abuso de poder na modalidade desvio de
finalidade. Em sentido amplo a finalidade do ato administrativo sempre corresponde ao interesse
público. Em sentido restrito é o resultado específico que o ato deve produzir conforme definido
expressa ou implicitamente em lei. O ato do Prefeito, ao afrontar o princípio da impessoalidade,
macula o elemento finalidade do ato administrativo, viciando-o.
Comentários
Resposta: alternativa “a”. A licença e a autorização são atos negociais que, em regra, são
formalizados por meio de alvará. A licença é ato vinculado em que a Administração Pública,
verificando o cumprimento de todos os requisitos legais pelo particular, consente a realização de
uma atividade ou fruição de alguma situação jurídica com presunção de definitividade. Já a
autorização é ato discricionário que expressa uma concordância precária por parte da
Administração Pública com relação à realização de uma atividade ou utilização de um bem pelo
particular no interesse predominante deste.
Incorreta a alternativa “b” porque atos políticos ou de governo são aqueles que remetem à pratica
de atos por órgãos ou agentes que possuem competência diretamente fixada no texto
Constitucional, por pertencerem à estrutura de governo do Estado. Ou seja, estão sujeitos ao
regime jurídico-constitucional, não se enquadrando como ato administrativo.
171
Incorreta a alternativa “c” porque as concessionárias de serviço público também podem praticar
atos administrativos já que atuam em nome do Estado que transferiu a execução do serviço de
público ao particular, mantendo, contudo, sua titularidade.
Incorreta a alternativa “d” porque, comprovada a ilegalidade do ato pelo Poder Judiciário, a
Administração Pública responde independentemente de dolo ou culpa (responsabilidade objetiva
do Estado - §6º do art. 37 da CRFB).
Comentários
Resposta: alternativa “a”. A banca adotou a posição do professor José dos Santos Carvalho Filho
constante em sua obra Manual de Direito Administrativo, 31ª edição, p 14, na qual afirma: “Para
evitar distorção no sistema regular dos atos administrativo, é preciso não perder de vista que tanto
a delegação como a avocação devem ser consideradas como figuras excepcionais, só justificáveis
ante os pressupostos que a lei estabelecer”. Ademais, de acordo com o art. 15 da Lei nº 9.784,
de 1999, é expresso que a avocação tem caráter excepcional e temporário (Art. 15. Será permitida,
em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, a avocação temporária
de competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior). Em que pese não haver a mesma
disciplina expressa no art. 12 da aludida lei que trata da delegação (Art. 12. Um órgão
administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal, delegar parte da sua
competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente
subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social,
econômica, jurídica ou territorial), fato é que este instrumento não transmuda a competência de
forma definitiva, podendo, a qualquer tempo, a autoridade delegante revogar a delegação. Assim,
ínsita a precariedade, o que a banca adotou como algo temporário. Frise-se também que está
172
correta a parte final da alternativa, já que, em sendo a competência exclusiva, não há que se falar
em avocação.
Incorreta a alternativa “b” porque renúncia só cabe em atos ampliativos de direito e sobre direitos
disponíveis, isto é, aqueles que aumentam a esfera jurídica do administrado e aos quais ele pode
dispensar. Os atos restritivos de direito, seja por imporem deveres ou obrigações, não se
coadunem com a renúncia.
Incorreta a alternativa “c” porque deliberação é ato normativo expedido por órgãos colegiados
enquanto despachos são atos ordinatórios em que uma autoridade externa decisão acerca de
procedimento administrativo.
Incorreta a alternativa “e” por afrontar a Súmula Vinculante 3 do STF (Nos processos perante o
Tribunal de Contas da União asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão
puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado,
excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e
pensão).
173
e) A licença não é classificada como ato negocial, pois se trata de ato vinculado, concedida desde
que cumpridos os requisitos objetivamente definidos em lei.
Comentários
Correta a alternativa “c” porque, conforme entendimento do STF (MS 33.340), as operações
financeiras que envolvam recursos públicos não estão protegidas pelo sigilo bancário de que trata
a Lei Complementar nº 105, de 2001.
Incorreta a alternativa “a” porque, nos termos do ‘caput’ do art. 37 da CRFB, o princípio da
impessoalidade é basilar da Administração Pública a resguardar o interesse público e não o
interesse privado.
Incorreta a alternativa “b” por afrontar o inciso XX do art. 37 da CRFB, já que depende de
autorização legislativa, em cada caso, a criação de subsidiárias das entidades mencionadas no
inciso anterior, assim como a participação de qualquer delas em empresa privada.
Incorreta a alternativa “d” porque os atos administrativos punitivos são aqueles praticados pela
Administração cujo objeto é aplicação de sanção por infrações administrativas, podendo ser
extroversos, quando aplicados aos administrados (com base no Poder de Polícia), ou introversos,
quando aplicados a agentes públicos (com base no Poder Disciplinar).
Incorreta a alternativa “e” porque a licença (ato vinculado em que a Administração Pública,
verificando o cumprimento de todos os requisitos legais pelo particular, consente a realização de
uma atividade ou fruição de alguma situação jurídica com caráter de definitividade) é classificada
como ato negocial.
( ) Certo ( ) Errado
174
Comentários
( ) Certo ( ) Errado.
Comentários
Resposta: certo. Com base na Teoria dos Motivos Determinantes, caso um ato discricionário seja
motivado e sua motivação não seja real, abre-se a possibilidade de controle do ato administrativo
pelo Poder Judiciário em função da ilegalidade. Sendo comprovado o vício, o ato será anulado
pelo Poder Judiciário. Frise-se que a própria Administração Pública também pode anular seus
próprios atos eivados de vício (Súmula 473 do STF).
41. (2017/CESPE/TJ-PR/Juiz de Direito) De acordo com o art. 54 da Lei n.º 9.784/1999, o direito
da administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os
destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada
175
Comentários
Resposta: alternativa “c”. Busca-se com a segurança jurídica prover a estabilidade das relações
jurídicas para a vida em sociedade, conferir força jurídica à legítima expectativa e interromper ou
mitigar a incerteza no direito.
42. (2017/CESPE/TJ-PR/Juiz de Direito) Com base na Lei n.º 9.784/1999, assinale a opção
correta acerca da revogação e dos elementos dos atos administrativos.
a) A revogação de um ato administrativo deve apresentar os seus motivos devidamente
externados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos.
b) O ato de delegação pode ser revogado a qualquer tempo pela autoridade delegante ou pela
autoridade delegada.
c) O ato de delegação deve ser publicado no meio oficial, mas não o de sua revogação.
d) Caso um ato administrativo esteja eivado de vício de legalidade, o Poder Judiciário terá de
revogá-lo.
Comentários
Correta a alternativa “a” porque, de acordo com o art. 2º da Lei nº 9.784, de 1999, a motivação é
um dos princípios aos quais a Administração Pública deve obedecer, sendo esta considerada a
indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão (art. 2º, §único, inciso
VII). Assim, também na revogação de um ato administrativo há a necessidade de motivação.
176
Incorreta a alternativa “b” porque, de acordo com o art. 14, §2º, da aludida lei, o ato de delegação
é revogável a qualquer tempo pela autoridade delegante, mas não da delegada.
Incorreta a alternativa “c” porque tanto o ato de delegação quanto o de revogação devem ser
publicados no meio oficial (art. 14 da Lei nº 9.784, de 1999).
Incorreta a alternativa “d” porque ao Poder Judiciário cabe anular os atos ilegais. A revogação
dos atos compete à própria Administração Pública por meio de critérios de conveniência e
oportunidade.
Comentários
Correta a alternativa “a” já que as deliberações são atos normativos expedidos por órgãos
colegiados, enquanto as resoluções são atos normativos expedidos por autoridades superiores da
Administração Pública.
Incorreta a alternativa “b” porque homologação é ato vinculado pelo qual a autoridade superior
avalia a legalidade, bem como a conveniência de ato anterior praticado para dar-lhe eficácia.
Incorreta a alternativa “c” porque autorização é ato discricionário que expressa uma concordância
precária por parte da Administração Pública com relação à realização de uma atividade ou
utilização de um bem pelo particular no interesse predominante deste. Ou seja, a autorização não
se trata de direito pré-constituído que vem a ser declarado pela Administração Pública. A licença,
por seu turno, é ato declaratório porque a Administração Pública, verificando o cumprimento de
177
todos os requisitos legais pelo particular, está vinculada a consentir com a realização de uma
atividade ou fruição de alguma situação jurídica.
Incorreta a alternativa “d” porque permissão, em sendo ato administrativo, não é ato bilateral,
mas unilateral. A permissão é ato discricionário que expressa uma concordância precária por parte
da Administração Pública com relação à realização de uma atividade ou utilização de um bem pelo
particular no interesse predominante público.
Comentários
Resposta: alternativa “b”. Busca-se com a segurança jurídica prover a estabilidade das relações
jurídicas para a vida em sociedade, conferir força jurídica à legítima expectativa e interromper ou
mitigar a incerteza no direito. Corolário da segurança jurídica decorre o princípio da proteção à
confiança.
Acerca dessa situação hipotética, assinale a opção correta à luz das normas e precedentes
jurisprudenciais a respeito da desapropriação.
a) A ação de indenização tem natureza pessoal e deve ser proposta pelo proprietário no foro de
domicílio da pessoa jurídica expropriante.
b) Conforme o entendimento atual do STJ, o prazo para a interposição da ação indenizatória, pelo
proprietário, é de vinte anos, contados da imissão na posse.
c) O proprietário poderá obter a restituição do bem mediante a propositura de ação reivindicatória
contra a União.
d) Ocorreu desapropriação indireta, que, comparada à desapropriação comum, caracteriza-se pela
inversão entre as fases de pagamento da indenização e apossamento do bem desapropriado.
e) Não houve ilegalidade na imissão na posse ocorrida, visto que o ato administrativo é dotado de
autoexecutoriedade e decorreu dos poderes transferidos à administração pelo decreto
expropriatório.
Comentários
Alternativa “a”: Incorreta. A ação de indenização tem natureza real e sua propositura deve ocorrer
por competência no local do bem imóvel.
Alternativa “c”: Incorreta. De acordo com o art. 35 do Decreto-Lei nº 3.365, de 1941, “os bens
expropriados, uma vez incorporados à Fazenda Pública, não podem ser objeto de reivindicação,
ainda que fundada em nulidade do processo de desapropriação. Qualquer ação, julgada
procedente, resolver-se-á em perdas e danos”.
Alternativa “d”: Correta. Com vimos, a professora Maria Sylvia “Desapropriação indireta é que se
processa sem observância do procedimento legal; costuma ser equiparada ao esbulho e, por isso
mesmo, pode ser obstada por meio de ação possessória”. Assim, quando o Estado primeiro se
imite na posse para só então, após, caminhar no sentido do pagamento da indenização, tem-se a
desapropriação indireta.
Alternativa “e”: Incorreta. De acordo com o art. 46 da LRF, “É nulo de pleno direito ato de
desapropriação de imóvel urbano expedido sem o atendimento do disposto no § 3º do art. 182
da Constituição, ou prévio depósito judicial do valor da indenização”. Lembrando que o § 3º do
art. 182 da CRFB prevê o seguinte: “As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com
prévia e justa indenização em dinheiro”.
Gabarito: D.
179
Comentários
Alternativa “a”: Incorreta. Somente podem ser convalidados os atos com vícios na forma ou
competência.
Alternativa “b”: Incorreta. Art. 15 da Lei nº 9.784, de 1999: Será permitida, em caráter excepcional
e por motivos relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de competência
atribuída a órgão hierarquicamente inferior.
Alternativa “c”: Incorreta. Atos ordinatórios: São os atos que disciplinam o funcionamento da
Administração Pública, incluindo as condutas dos agentes administrativos. Atos enunciativos: São
os atos que externam ou declaram uma situação existente em registros, processos ou arquivos
públicos sem qualquer manifestação de vontade original da Administração. Também são
denominados atos de pronúncia ou meros atos administrativos.
Alternativa “d”: Incorreta. Emenda à Constituição é ato privativo das Mesas do Congresso (Câmara
e Senado), conforme art. 60, §3º, da CRFB, e não é sancionado pelo Presidente da República.
Alternativa “e”: Correta. De fato, devem ser respeitados os princípios constitucionais expressos
ou implícitos.
180
10. RESUMO
1. Segundo a professora Maria Helena Diniz: “fatos jurídicos seriam os acontecimentos, previstos em
norma de direito, em razão dos quais nascem, se modificam, subsistem e se extinguem as relações
jurídicas”
• Atos jurídicos em sentido amplo são aqueles que produzem os efeitos jurídicos desejados pelos
agentes, amparados pelo ordenamento jurídico.
• Atos jurídicos em sentido estrito são aqueles nos quais os resultados jurídicos decorrem da vontade
do agente, mas em linha com o previamente fixado pelo ordenamento.
• O negócio jurídico, também espécie do ato jurídico em sentido amplo, é aquele pelo qual são
produzidas novas regras para atender, em regra, à composição de interesses das partes.
finalidade pública
2. Fatos da administração são aqueles acontecimentos praticados pela Administração Pública que não
apresentam nenhuma repercussão no âmbito do Direito Administrativo.
181
• Para o professor Celso Antônio Bandeira de Mello, é caracterizado como o silêncio ou inércia da
Administração pública, do qual decorram efeitos jurídicos.
6. Ato da administração é o conjunto amplo de todos os atos praticados pela Administração Pública no
exercício da atividade administrativa, incluindo não só aqueles que se revestem de prerrogativas
públicas, ou seja, podem incluir, entre outros, os atos regidos predominantemente pelo Direito
Privado.
182
contratos
atos normativos
(Ex.: decretos, portarias, resoluções, regimentos, de feitos gerais e
abstratos)
8. Silêncio administrativo (segundo José dos Santos Carvalho Filho), silêncio da Administração Pública
(segundo Maria Sylvia), omissão da Administração (segundo Hely Lopes Meirelles) ou Não Ato
(segundo Odete Medauar): quando a administração se mantém inerte quando há dever de praticar
uma ação.
183
• Raimundo Márcio Ribeiro Lima considera silêncio administrativo como espécie de inatividade
administrativa em sentido amplo, aquele decorrente da inatividade formal da Administração
Pública, quer dizer, por conta da inobservância de um dever legal de
prestar/controlar/regulamentar.
10.O professor Celso Antônio Bandeira de Mello crava 120 dias como o prazo razoável para manifestação
por parte da Administração, mas cabe ao Poder Judiciário avaliar a razoabilidade do prazo.
ausência de disciplina
Não houve uma ação
Há uma manifestação no sobre determinado tema
para um dever pre
não dizer que pode autorizar a
existente
analogia
11.
• O silêncio eloqüente é incompatível com o Direito Público.
12.A existência dos atos administrativos está relacionada à presença de todos os elementos, ainda que
haja deficiência em um ou mais deles.
13.A validade do ato administrativo, que só poderá ser avaliado se superada a análise quanto a sua
existência, está intimamente ligada não só à presença de todos os requisitos necessários previstos
em lei, mas com a conformidade desses requisitos com a lei. Daí decorre que, existindo, o ato jurídico
pode ser válido ou inválido.
14.A eficácia está relacionada à presença dos fatores necessários para a sua produção de efeitos
jurídicos.
15.Exequibilidade: a disponibilidade que a Administração tem para executar um ato em sua inteireza.
184
Eficaz
Válido
Inefiz
Existente
Eficaz
Ato Inválido
Administrativo Ineficaz
Inexistente - Eficaz
Motivo (Qual a
Competência Finalidade (Pra Forma (Por qual Objeto (Com
causa ou
(Quem?) quê?) meio?) qual conteúdo?)
fundamento?)
16.
decorre da lei
é irrenunciável
é inderrogável
(não pode ser transferida por acordo entre as partes)
é improrrogável
Características da
(órgão ou agente incompetente não se torna competente
Competência:
pelo exercício da atividade, exceto por lei)
pode ser definida em função da matéria, hierarquia, lugar,
tempo ou para fracionamento
185
• Os atos do processo administrativo não dependem de forma determinada senão quando a lei
expressamente exigir.
186
• Em respeito ao paralelismo das formas, a mesma forma utilizada para a produção do ato deve ser
aquela utilizada para sua modificação ou revogação.
• Princípio da Solenidade: em contraposição ao princípio de liberdade das formas que prevalece
no Direito Privado, o professor José dos Santos Carvalho Filho alude ao princípio da solenidade
das formas no Direito Público. Este remete a um cerimonial previsto em lei, ou seja, a um rito
adicional à mera formalização do ato.
• Segundo a Lei nº 4.717, de 1965, o vício de forma consiste na omissão ou na observância
incompleta ou irregular de formalidades indispensáveis à existência o seriedade do ato.
Motivo Motivação
21.Não é lícita ao administrador público a utilização de fundamentos genéricos e indefinidos para indicar
o motivo do ato administrativo.
22.Segundo a Teoria dos Motivos Determinantes, o fundamento exteriorizado para a tomada de decisão
ou para a prática de uma ação ou omissão vincula-se à validade do ato administrativo vinculado ou
mesmo discricionário.
• Portanto, existindo a exteriorização do motivo como o determinante a justificar a realização do
ato administrativo, caso fique comprovado não ter este ocorrido ou não representar a realidade,
o ato será ilegal.
187
23.O objeto é o efeito jurídico imediato que se busca atingir com o ato administrativo.
• Para a professora Maria Sylvia:
termo: indica o
Natural: o efeito momento
decorre da natureza apartir do qual
do ato passa a ser ou
deixa de ser
Objeto Jurídico eficaz
Acidental: há
clausulas acessórias modo: quando se
que alteram os fixa um ônus ao
efeitos do ato destinatário suspensiva: a
eficácia fica
pendente até que
condição: a
ocorra o evento
eficácia
depende de
evento futuro e resolutiva: a
incerto eficácia cessa com
a ocorrência do
evento
188
Finalidade Objeto
24.Mérito Administrativo: não é um dos elementos do ato; é a capacidade de que por vezes a lei dota a
Administração Pública de Decidir ou avaliar a conveniência e a oportunidade para a produção do ato
administrativo. Relacionado aos elementos motivo e objeto, uma vez que a discricionariedade se
limita a eles.
25.Doutrina Chenery: Não cabe ao Poder Judiciário afastar ato praticado pela Administração Pública
com base em escolha política sob o argumento de que não se seguiu determinada metodologia
técnica.
Autoexecutoriedade
Atributos do Ato
Administrativo:
Tipicidade
Imperatividade
29.Para a professora Maria Sylvia são estes os fundamentos utilizados pelos administrativistas para
justificar o atributo da presunção da legitimidade:
189
190
Autoexecutoriedade
Executoriedade: A Administração
pode realizar diretamente a execução
forçada, utilizando-se, se necessário,
de força pública.
32.Tipicidade: Os atos administrativos devem decorrer de tipos previamente definidos em lei a serem
utilizados para se atingir a determinada finalidade pública. Deriva do princípio da legalidade e
juridicidade.
33.Imperatividade: Decorre do Poder de Império do Estado de, por meio de atos unilaterais, como os
administrativos, impor aos particulares o cumprimento de determinada ação ou de impor a eles
obrigações ou restrições.
Quanto ao Alcance
Externos: Repercutem nos interesses gerais da
coletivididade. Podem alcançar os administrados ou
aos próprios servidores.
191
192
Quanto à Irrevogáveis: Não podem ser revogáveis pela Adm. Pública, por seus
Retratabilidade efeitos terem sido consumádos ou por ter se tornado direito sujetivo do
interessado, ou por resultarem de decisão final na esfera administrativa.
193
Quanto aos Efeitos Desconstitutivos: produzidos para desfazer situação jurídica preexistente.
normativos
ordinatórios
enunciativos
punitivos
194
195
196
Multa: ato por meio do qual a Adm impõe uma sanção pecuniária ao
administrado.
36.
197
esgotamento do
conteúdo jurídico
cumprimento dos
execução material
efeitos
termo final ou condição
resolutiva
desaparecimento de sujeito
elemento infungível
da relação objeto
Ato
Eficaz
revogação
Extinção do ato
invalidação
administrativo
(anulação)
retirada cassação
renúncia caducidade
contraposição
mera retirada
(derrubada)
Ato
Ineficaz recusa
• Cassação: A Adm. Pública retira a juridicidade e produção dos efeitos porque deixaram de ser
atendidos os requisitos necessários para sua manutenção.
• Caducidade: a Adm. Pública retira a juridicidade e produção dos efeitos do ato anterior porque
sobreveio norma jurídica que o torna incompatível com a nova disciplina jurídica.
• Contraposição: a Adm. Pública expede novo ato em sentido contrário ao anterior.
198
Só pode ser praticado pela Administração Pode ser praticado pela Administração
Pública Pública ou pelo Poder Judiciários
ex nunc ex tunc
• A Administração poderá convalidar o ato administrativo no lugar de anulá-lo quando não acarretar
lesão ao interesse público nem prejuízo a terceiros.
• Há a fixação do prazo de 5 anos para que seja realizada a anulação do ato administrativo do qual
tenham decorrido efeitos favoráveis ao destinatário.
37.Vícios quanto à competência do ato administrativo: será viciado o ato praticado por autoridade
incompetente ou incapaz.
excesso de poder
38.Vícios quanto à forma: será viciado o ato praticado sem a forma prevista em lei ou por cuja forma
pela qual foi expedida não se atinge a finalidade pretendida.
39.Vícios quanto à finalidade do ato administrativo: será viciado o ato praticado com o desvio de
finalidade (espécie do gênero abuso de poder), ou seja, ato que não vise ao interesse público.
40.Vícios quanto ao motivo do ato administrativo: será viciado o ato praticado com o motivo inexistente
ou ainda em que ocorra falsidade.
199
41.Vícios quanto ao objeto do ato administrativo: será viciado o ato praticado com objeto ilícito,
impossível, imoral ou indeterminado.
42.Atos nulos são aqueles que possuem vício insanável, ou seja, não podem ser convalidados.
43.Atos anuláveis são aqueles que apresentam vício, mas que este poderá ser convalidado.
44.A convalidação (também denominada saneamento) é o ato pelo qual a Administração Pública ou,
excepcionalmente, o administrado regulariza determinado vício existente em um ato administrativo
com efeitos retroativos à data em que praticado (ex tunc).
45.Somente podem ser convalidados atos com vícios nos elementos forma e competência, e essa
convalidação só se aplica se a forma não for essencial e a competência não for exclusiva ou em razão
da matéria.
Convalidação
• O professor José dos Santos Carvalho Filho aduz a possibilidade de convalidação do ato quando
viciado o elemento objeto, sendo este plúrimo,
• Convalidação é o instituto pelo qual a Administração pode sanar defeitos de um ato administrativo
do qual não acarreta lesão ao interesse público ou prejuízo ao particular. Nessa linha, é o art. 55 da
Lei Federal nº 9.784, de 1999.
• Conversão ou sanatória ocorre quando determinado ato administrativo é inválido para determinado
propósito, mas aproveitável quanto aos elementos válidos para outro propósito.
48. Na confirmação, a Administração mantém o ato tal como ele foi praticado, desde que não cause
prejuízo a terceiros e à própria Administração.
200
49.Extinção de Ato Ineficaz: O ato administrativo ineficaz poderá ser extinto por sua mera retirada (se
for por mérito – conveniência e oportunidade - pode ser englobado na revogação; se for por
incompatibilidade com a lei pode ser englobado na anulação).
• Poderá ser extinto também o ato ineficaz quando houver a recusa do beneficiário e o ato dependia
da concordância dele para sua produção dos efeitos.
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Qualquer dúvida, seja na teoria ou na resolução dos exercícios, entre em contato comigo por meio do Fórum
de Dúvidas.
Estou à sua disposição para aclarar ou aprofundar qualquer tema.
Deixe lá também suas sugestões, críticas e comentários.
Conte comigo como um parceiro em sua caminhada.
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Que DEUS o ilumine abundantemente para que você consiga focar nos estudos e, em breve, alcançar a sua
vaga!!!!!
Cordial abraço
Wagner Damazio
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