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As metodologias de ensino e 0 processo de conhecimento cientifico i * Marisa Fernandes Nunes O presente artigo constitui uma adaptagéo de parte do primeiro capitulo de nossa tese de Doutorado em Educagao na drea de concen- trag&o -Metodologia de Ensino, na UNICAMP. © titulo da tese, Metodologias de ensino: as ciéncias como formas de pensar 0 mundo, procura traduzir nossa opgio te6rico-metodolégica no sentido de que a proposta principal do estudo é explicar os fundamen- tos para uma conceitualizagio das metodologias de ensino que considera seus miiltiplos elementos estruturantes. Dentre eles a concepgio de cién- cia como proceso de conhecimento socialmente constru(do, as especifici~ dades das metodologias cientificas e das suas respectivas metodologias de ensino. Essa especificidade se realiza no método filos6fico que direciona © conjunto dos métodos especiais, como mediatizagio do conhecimento do mundo pelo homem. A natureza do conhecimento € a mesma nas me- todologias cientificas ¢ nas metodologias de ensino; 0 que as diferencia & a natureza do método de conhecimento. Portanto, a produgio e a apropriagdo do saber estZo presentes nas metodologias de ensino de forma a superar 0 confronto entre contetido e forma. A ruptura desta relagio, origindria de uma politica educacional tecnicista. & explicada mediante uma abordagem histérica * Professor Adjunto do Departamento de Métodos ¢ Técnicas da Educagdo - UFPR. Doutora em Educagio - UNICAMP. Educar, Curitiba, n.9, p49-58.1993. Editora da UFPR 49 NUNES, M.E As metodologias de ensino epistemol6gica, que traduzindo a prética social para o ambito escolar, fundamenta as metodologias de ensino na formagio de professores. E neste contexto pois, que situamos as idéias ora apresentadas. Conceitualizagies: Antes de tudo, salientamos que definir método e metodologias de ensino implica consideragées tedricas amplas e complexas. Daf o termo conceitualizages nio tratar de conceitos e definigdes de forma isolada, mas de significar a construgiio de um conjunto de conceitos. Desta forma, 0 conceito de método é entendido como abstragao categorial que se define em fungio da situagdo concreta e objetiva segundo a qual os métodos cientificos sucedem-se historicamente. Assim, os métodos podem ser compreendidos como método no sentido que Vieira Pinto apresenta: "Justamente se trata de esclarecer que a idéia geral ndo pode deixar de conter a esséncia dos casos particulares, assim como estes nfo seriam reconhecidos como tais, apesar de sua variedade, se nfo encontrassem a significagao que os define num conceito universal que os envolve, os uni- fica e se realiza concretamente na especificidade distintiva de cada qual."! Entiio nao se trata apenas de reconhecer a multiplicidade dos méto- dos, mas de conciliar a unidade e a multiplicidade na conceitualizagéo do método. Em continuacao & idéia do autor supracitado, "O método é uno no sentido em que todas as modalidades que reconhecemos se unificam pela posse de uma esséncia comum, de cardter dialético, que as torna a todas entendida como "método", sendo por isto chamadas por tal termo. Mas, a0 mesmo tempo, essa esséncia una nio existe num mundo a parte, nio tem realidade fora da multiplicidade dos métodos objetivamente reais € efetivamente praticados pela pesquisa cientifica. " 1 VIEIRA NETO, Alvaro. Ciéncia Existéncia. Sio Paulo : Paz ¢ Terra, 1979, p. 138. 2 VIEIRA PINTO, p. 41. 50. Elucar, Curitiba, n.9, p49-58.1993, Eulvora da UFPR NUNES, M.E As metodologias de ensino Considerando tais aspectos é que podemos apresentar uma classifi- cagio dos métodos de conhecimento em dois grandes grupos: 0 método filos6fico e os métodos especiais das ciéncias. O método filoséfico surge como generalizago de todos os outros métodos. Entretanto, a transformagiio dos métodos especificos em método filos6fico nao ocorre de forma mecinica e linear, mas o método filos6fico surge levando em conta os resultados dos métodos especiai Os métodos especiais sao particulares de uma ciéncia ou conjunto de ciéncias, constituindo um meio de obtengado de novas teorias e novos resultados cientificos. Tais métodos especiais podem ser aplicados em uma ou muitas ciéncias, ou seja, podem ser universalmente cientificos, mas nunca se igualam ao método filos6fico, "de vez que nao determinam o caminho geral da evolugao do conhecimento no sentido da verdade com todos os componentes, mas apenas alguns aspectos, alguns momentos desta evolugio". Assim sendo, 0 método filos6fico & irredutivel aos métodos espe- ciais. De outro lado, nenhum método cientifico pode transformar-se num método universal. Os métodos especiais, na sua originalidade, constituem formas de manifestagao do método filoséfico. Por conseguinte, conclui-se que hé uma relagéo entre os métodos filoséficos e os métodos cientificos especiais. E necessério, ainda, dentro desta perspectiva, distinguir método de metodologia. A metodologia constitui a doutrina do método, a sua teoria. Ela dis- cute os varios tipos particulares de métodos, organiza-os num sistema, que orienta num todo tedrico o trabalho de investigagao da realidade. A metodologia explica um conjunto de métodos, donde também decorre a técnica. A metodologia de ensino pode ser entendida, enti, como a apli- cago dos princfpios gerais de uma ciéncia, traduzidos nos seus métodos de investigacio nas situagdes de ensino, Concretiza-se pela aplicagio dos métodos de ensino em seus pressupostos tedricos, Entretanto algumas distingdes sio necessdrias em termos de método cientifico ¢ método de ensino. Wachowicz. apresenta assim a questo: "O caminho que a inteligéncia percorre para aprender a realidade no € 0 mesmo que a inteligéncia percorre para apropriar-se daquilo que foi descoberto e sistematizado, patriménio cientffico e cultural da hu- 3 KOPNIN, P. V. A dialética como ldgica e teoria do conhecimento. Rio de Janeiro : Civilizacdo Brasileira, 1978, p. 100. Educar, Curitiba, n.9, p.49S8.1993. Editora da UFPR st NUNES, M.E As metodologias de ensino manidade. Ambos, os resultados sio 0 contetido do conhecimento, porém © primeiro refere-se & ciéncia, enquanto o segundo ao saber." HA métodos adequados para apropriagio do saber em cada érea, sendo esse 0 campo da metodologia do ensino, mas a metodologia cien- tifica e a metodologia do ensino, ambas, referem-se ao objeto a ser inves- tigado ou ensinado. Observamos que tanto a metodologia cientifica como a metodologia de ensino esto na dependéncia do objeto de estudo e sua finalidade. O ‘objeto do conhecimento passa a ter, entio, uma prioridade; no entanto, este, como também o método de ensino, vio depender do método de filosofia, ou seja, da légica a ser utilizada na compreensio da realidade como um todo e, conseqiientemente, da educacéo. Com isso, fica esclare- cido que, além da diferenciagao entre a metodologia cientifica (conhe- cimento da realidade) e metodologia de ensino (apresentacio do conhecimento), ainda hd a questo do método filoséfico, isto é, da forma de conhecimento da realidade. Portanto, a cada ramo especifico do conhecimento corresponde uma metodologia de ensino. O conhecimento do real, 0 método filosdfico como Iégica do conhecimento, 6 que vai determinar tanto a construgdo da ciéncia como a apropriagao deste saber cientifico, Para o ensino, isso sig- nifica que metodologia cientifica e metodologia de ensino tém corres- pondéncia em funcao do préprio método de investigac’o do objeto do conhecimento. Assim, 0 mesmo pressuposto da relacdo entre os métodos filoséfi- cos € os métodos cientificos especiais é transposto para os métodos de ensino. Ou seja, reconhecemos que a cada érea do conhecimento corres- ponde uma metodologia de ensino, "mas hé uma ldgica que comanda a apreensio da realidade pela inteligéncia, I6gica essa que vai determinar a forma pela qual se dé a mediatizagao da ciéncia e a mediatizagao do sa- ber". A partir destas conceitualizagdes podemos estabelecer as bases das relagGes entre as metodologias especificas de uma drea de conhecimento © as metodologias de ensino. 4 WACHOWICZ, Lilian A. O Método dialético em Didética. Curitiba, 1988, p 14, Tese (Professor Titular) - DMTE - Setor de Educagao - Universidade Federal do Parané. S| WACHOWICZ, p. 20. 2 Etucar, Curitiba, n.9, p.49-58.1993. Eitora da UFPR NUNES, M.E As metodologias de ensino Metodologias cientificas especiais e metodologias de ensino: suas relagoes. ‘As metodologias cientificas identificam-se com a concepgio de ciéncia como processo, de vez que aquelas, as metodologias, se cons- troem com base nos métodos particulares das ciéncias. A unicidade do método existe & medida que retira a esséncia dos métodos especiais e, por esse motivo, o método nao se constitui & parte dos métodos cientifi- cos, nem transforma mecanicamente 0 método aplicado nesse ou naquele campo da ciéncia em método universal da teoria cientifica. Ao contrério, a unicidade do método se efetiva pelo método filos6fico que se funda- menta num sistema de conhecimento. A especificidade das metodologias cientificas é reconhecida, haja vista a diferenga de método das Ciéncias Naturais e das Ciéncias Sociais. Mas, ao mesmo tempo, essa especifici- dade se realiza no método filos6fico que direciona 0 conjunto dos méto- dos especiais do conhecimento, Nesse sentido é que nao podemos separar as metodologias cientificas do método filos6fico. ‘A propésito, expressa Goldman que "a ciéncia se torna positiva no proprio momento em que se separa da filosofia e obtém um estatuto ex- perimental que Ihe permite estudar os fatos e suas correlagdes fora de qualquer problematica filoséfica ".° E isso 0 que contestamos do positi- vismo: tomar o saber humano, seja ele voltado ao estudo dos fatos fisico- naturais, seja ele voltado para os fatos sociais ¢ das leis humanas, como fatos isolados, independente dos proprios condicionamentos do homem pela sua realidade concreta e objetiva. © conhecimento cientifico é um movimento do pensamento humano sobre a realidade objetiva, A filosofia, tendo como ponto de partida a e- xisténcia do homem no mundo, explica o tipo de movimento desse pen- samento sobre a realidade. O problema da explicacéo do conhecimento humano pela Ciéncia no pode ser independente do conhecimento sobre 0 proprio homem. Nao se trata apenas de estabelecer as relagdes entre filosofia e cién- cia, mas também de saber que filosofias, que doutrinas filos6ficas estio explicando 0 conhecimento cientifico. © que queremos dizer, no fundo, é que no existe ciéncia sem filosofia e vice-versa. Nao ha diivida de que a ciéncia e a filosofia sao 6 GOLDMAN, Lucien. Epistemologia ¢ Filosofia Politica. Lisboa : Editorial Presenga, 1984, p. 135. Educar, Curitiba, n.9, p.49-58.1993. Eaivora da UFPR 53 NUNES, M.E As metodologias de ensino atividades humanas distintas. O objeto do conhecimento da ciéncia nao é ‘© mesmo da filosofia. De um lado, a ciéncia, em certo sentido, faz parte da filosofia. Por outro lado, a filosofia nao pode dispensar a ciéncia como forma metédica do conhecimento humano. A questio também nao é a de colocar a existéncia de uma filosofia da ciéncia. Se assim fosse entendido © problema, a filosofia estabéleceria aprioristicamente as atividades cien- tificas. © que temos a levar em conta é a piritica cientifica. Ou seja, a cientificidade se explicita na atividade cientffica, que se concretiza na tealidade vivida pelo homem. Este é sentido que assume a concepgao de ciéncia como proceso, ¢ método cientifico como explicitagao da ativi- dade cientifica de forma sistematizada. E, em assim sendo, as metodolo- gias cientfficas apresentam um componente estrutural da cultura ¢ da sociedade em que 0 conhecimento humano é produzido. E pertinente aqui lembrar Marx,’ na sua conhecida afirmagdo, que as forgas produtivas siio condigées de producao do conhecimento. Nesse sentido, o desenvolvimento da ciéncia nao é mais que um aspecto e uma forma de desenvolvimento das forgas produtivas humanas. No entanto, isso no significa uma reducdo do conhecimento a um economicismo es. treito. O que salientamos é que a origem ultima do conhecimento esté na esfera da producio material, em que teoria e prética sio inter-re- lacionadas. Daf concluirmos que: - a fonte do conhecimento humano é a experiéncia humana geral; - 0 conhecimento humano é condicionado socialmente pela estrutura social, pelas ideologias; - entretanto, a atividade cientifica esté condicionada também a uma I6gica epistemoldgica propria, decorrendo entio as divergéncias tedricas em torno da interpretago de um mesmo fenémeno. Este ultimo aspecto nos leva ao fundamento da diferenca intrinseca entre 0 método das Ciéncias Sociais e 0 das Ciéncias Naturais, em re- lago aos seus respectivos objetos do conhecimento. As Ciéncias Naturais nao estudam somente os fatos éxteriores ao homem, nem estudam a agao humana sobre o mundo, mas analisam as préprias agdes humanas. J4 0 dissemos anteriormente, o positivismo nao reconhece essa especificidade das Ciéncias Sociais em relacao as Ciéncias Naturais. Traduzimos estas colocagdes para as metodologias de ensino na sua relacéo com as metodologias cientificas especiais, no sentido de que aquelas, as metodologias de ensino, conservam as mesmas peculiaridades 7 MARX, Karl. O Capital: Critica da Economia Politica, Livro 1. 0 processo de produgéo do capital. Rio de Janeiro : Bertrand Brasil, 1988, p. 440-41. 34 Etucar, Curitiba, n.9, p.498.1998, Editora da UFPR NUNES, M.F. As metodologias de ensino do campo de conhecimento a que estio referidas e as suas relagdes se originam no mesmo processo que retém 0 método cientifico filoséfico. ‘As metodologias de ensino possuem, portanto, duas vertentes: a do método cientifico da érea do conhecimento, que implica 0 reco- nhecimento da diferenga entre Ciéncias Naturais e Ciéncias Sociais, e a do ensino no seu sentido pedagégico-educacional mais amplo, que traz subjacentes as Cigncias da Educagdo caracterizadas como ciéncias hu- mano-sociais. Essas duas vertentes:se encontram no método filoséfico de interpretagao da realidade em ambas as metodologias. ‘As Ciéncias da Educac&o sio constitufdas pelo conjunto das ci cias humanas e sociais, tais como a Filosofia, a Sociologia, A Historia, a Biologia, a Economia, etc. aplicadas & educagdo. Se existe ou nfo um es- tatuto proprio das Ciéncias da Educagdo é assunto bastante controvertido. O que queremos enfatizar é a inter e pluridisciplinaridade presentes nas ciéncias pedagégica, dada a propria complexidade do ato educativo. A pedagogia e, em wltima instancia, 0 ensino sio metodologias retiradas de prinefpios estipulados nas diferentes ciéncias da educagao. Entendamos as Ciéncias da Educagio cada uma em particular como cigncia, ou seja, um sistema de teorias, e a teoria da educagao como teo- ria, unificac&o de conceitos. Em educagio, portanto, as metodologias de ensino manifestam a doutrina do método, ipso facto assumem uma im- portdncia e uma dimensio maior de ciéncia como pritica social. As metodologias de ensino esto subordinadas a sistemas de teorias traduzidas pelas Ciéncias da Educagio que como Ciéncias se desen- volvem durante 0 seu préprio exercfcio. Como tal, apresentam na com- plexidade do ato de ensinar vérios elementos para estruturacio do método, desde 0 contetido, passando pela técnica de ensino até a relacio professor-aluno. A maneira como se lida com esses miltiplos elementos fica na de- pendéncia do corpo tedrico-filos6fico advindo das Ciéneias da Educag&o e das ciéncias especfficas. Porém, estando as metodologias de ensino e as metodologias especfficas em funciio do método filoséfico que assumam na interpretacdo do seu objeto de conhecimento, diferenciam-se ¢ se aproximam em termos do que se compreende por produgdo e apropriagao do saber. ‘A produgio do saber refere-se a investigacdo cientifica; a apro- priacdo do saber refere-se & educacao e ao ensino. Aqui, mais uma vez, reconhecemos a especificidade das metodologias de ensino. No entanto, tal reconhecimento nao constitui a negagdo das suas relagGes. Educar, Curitiba, n.9, p.4958.1993. Editora da UFPR 8 NUNES, M.E As metodologias de ensino Consideremos que, em se tratando de metodologias de ensino, a di- ferenga entre elas ¢ as metodologias cientfficas é a natureza do método. A caracteristica do conhecimento cientffico é a de ser metédico e somente nesse sentido é que o grau de complexidade do conhecimento cientifico é diferente do saber ensino-aprendizado, Nao se trata de mera hierarquizagao do conhecimento humano, nem de mudanca da qualidade do conhecimento. Trata-se, sim, de etapas diferentes do processo gnosio- l6gico. Entio, mesmo considerando a natureza diversa do modo como se produz 0 conhecimento e do modo de apropriagio deste conhecimento pelos homens, face ao nivel de metodologizacao, as metodologias cientifi- cas sio metédicas a nivel de ciéncias especiais, e as metodologias de ensino também 0 sao a nivel de Ciéncias da Educagio. Dessa forma é que podemos explicar o que entendemos por apro- Priag&o do saber © por producao do conhecimento como diferenca entre metodologias de ensino e metodologias cientificas. Explicando melhor: o saber precede a ciéncia. A ciéncia é cons- trufda pelo e no saber acumulado, transmitido social e culturalmente. Se hé algum grau de genialidade e criatividade no insight da produgéo do cientista, isso nao ocorre pura e simplesmente por alguns talentos particu- lares, mas por sua reflex4o sobre um saber construido socialmente. Aqui fica clara, novamente, a idéia de ciéncia como processo. E nesse caso produg&o e apropriagio do saber como categorias do conhecimento se aproximam, porque ambas sio mediatizagdes do conhecimento do mundo pelo homem. Aparentemente essa argumentagéio pode contradizer a diferenca da natureza do método cientifico e do método de ensino. Mas o que sustenta- mos € que a diferenga de natureza reside nas formas diferentes da ativi- dade intelectual, em termos de método, As metodologias de ensino, portanto, trabalham tanto com a produgéio do saber como com a sua apro- Priagao. Nao estamos negando, por outro lado, a especificidade do as- pecto pedagégico presente nas metodologias de ensino; 20 contrério, redimensionamos essa especificidade. Isso porque, ao ensinar uma cién- cia ou uma metodologia de ensino dela resultante, ndo se esté trans- mitindo um conhecimento, mas se esté ajudando quem aprende a construir um conhecimento. Obviamente isso no significa que quem aprende va construir sozinho o que as ciéncias j4 construiram através de séculos, 0 que seria mesmo impossivel. O que pretendemos ¢ que a ativi- dade intelectual de quem aprende corresponde & atividade intelectual do cientista. Esclarecemos, assim, a questdo de que a ciéncia e o saber di- vergem quanto ao método, mas n4o quanto a natureza do conhecimento. 56 Educar, Curitiba, n.9, p49-58.1993, Edivora da UFPR NUNES, ME. As metodologias de ensino Campos exemplifica com propriedade essa tese, referindo-se ao ensino da matematica: "(...) a propria concepgio da Matematica ciéncia dimensionou o ensino da matematica. Assim, se a matemética é entendida como ciéncia em construcdo, que implica atividade © questionamento por parte de quem a desenvolve, o ensino da matemitica deixa de se preocupar com a transmissio do saber sobre a Matemitica e passa a se preocupar com a construgdo do saber matemiatico. ‘As metodologias de ensino compreendidas somente enquanto téc- nica de transmissao de conhecimento impedem, portanto, quem aprende uma ciéncia de vivenciar esse processo de construgao do saber cientffico, resultando esse ato em memorizagao e automatizacao de procedimentos. Todas essas colocagées acerca das aproximagées das metodologias cientificas e das metodologias de ensino face natureza do conhecimento nao se baseiam na premissa de que 0 contetido é 0 tinico elemento estru- turante do método de ensino. Ao colocar como préprio das metodologias de ensino tanto a apropriagéo do saber como a produgio do conhe- cimento, que se pode abranger a totalidade do conhecimento. A escola, como espago em que se formaliza a especificidade do pedagégico, pode entéio processar a reflexio sobre o saber construfdo. Nesse sentido, 0 contetido ensinado pode ser ou nao ser um meio de so- cializagdo do saber. Dependeré de como as metodologias de ensino se comportam como superagio do antagonismo do contetido e da forma. Consideragées finais Sempre argumentamos neste estudo que as metodologias cientificas especiais e suas respectivas metodologias de ensino estiio em fungiio do método filoséfico de conhecimento que as direciona. Nesse caso, se as diferentes metodologias de ensino se encontram na forma metodolégica geral de aprender uma concepg&o de um mundo e sociedade, a sua espe- cificidade se realiza nessa mesma medida, ou seja, a partir das diferentes 8 CAMPOS, Celina L. N. Atividades de ensino para aquisicdo do conhecimento ‘matemético: uma proposta metodolégica, Curitiba, 1983, p. 110. Dissertagéo (Mestrado ‘em Educagao) - Universidade Federal do Parané. Educar, Curitiba, n.9, p.49-58,1992. Edltora da UFPR 7 NUNES, M.F. As metodologias de ensino 6ticas das dreas do conhecimento cientifico. Em termos bem objetivos, sem querer incorrer no erro do imediatismo, mas tendo em vista o papel das metodologias de ensino na formagio de professores, podemos con- cluir que: as metodologias de ensino no podem se apresentar de modo generalista, do tipo Metodologia do Ensino Superior, Metodologia do Ensino de 1° Grau, Metodologia de 2° Grau. Essa forma de organizagio curricular nao apresenta nenhuma indi- cago das bases filoséficas, conceituais e metodolégico-cientificas que a sustentem. A permanéncia desse tipo de classificago das metodologias de ensino evidencia todo o legado tecnoburocritico nas propostas curricu- lares dos cursos de formagio de professores. Talvez, e com toda cautela nas generalizagdes, esse fato esteja ocorrendo pelos préprios impasses tedricos e priticos da educagio brasileira, no atual momento hist6rico. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS CAMPOS, Celina L.N. Atividades de ensino para aquisigao do conhecimento ‘matemdtico: wna proposta metodolégica. Curitiba, 1983, p. 110. Dissertagio (Mestrado em Educagio) - Universidade Federal do Parand. GOLDMAN, Lucien. Epistemologia e Filosofia Politica. Lisboa : Editorial Pre- senga, 1984, p. 135, KOPNIN, P.V. A dialética como légica e teoria do conhecimento. Rio de Janeiro : Civilizagio Brasileira, 1978, p. 100. MARX, Karl. O Capital: Critica da Economia Politica. Livro 1. © processo de produgio do capital. Rio de Janeiro : Bertrand Brasil, 1988, p. 440-441. VIEIRA PINTO, Alvaro. Ciéncia e Existéncia. Sio Paulo ; Paz. ¢ Terra, 1979, p. 138. . Ciéncia e Existéncia, Sio Paulo : Paz ¢ Terra, 1979, p. 41. WACHOWICZ, Lilian A. O Método dialético em Diddtica. Curitiba, 1988, p. 14. Tese (Professor Titular) - DMTE - Setor de Educagio - Universidade Federal do Parand. . O Método dialético em Didai Titular) - DMTE - Setor de Educ: ica. Curitiba, 1988, p. 20. Tese (Professor fio - Universidade Federal do Parand. 38 Ellucar, Curitiba, n.9, p.4958.1998, Edivora da UFPR

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