RAMATIS: — A Bíblia é um conjunto de antigos livros que descreviam a vida e os costumes de vários povos. Mais tarde foram agrupados e atribuídos a uma só etnia, conhe- cida por hebréia.
PERGUNTA: Seria um tratado científico ou filosófico da
antigüidade desses povos? RAMATIS: — Não; o seu principal valor e fundamento é a revelação religiosa. O Velho Testamento, apesar do seu sentido simbólico e alegórico, somente entendido pelos ini- ciados da época, é repositório valioso da "revelação". Esse sentido iniciático perde a nebulosidade com o progresso científico do mundo atual; e a Bíblia parece-nos agora uma história inverossímil e mesmo infantil. No entanto, quanto à sua época, jamais poderia ser diferente! Mas, à medida que cresce a compreensão humana e a própria ciência do mundo, vai-se desvestindo a revelação bíblica de suas alegorias iniciáticas ajustadas à época em que foi escrita.
PERGUNTA: — Qual a causa da verdadeira ojeriza dos
espiritualistas modernos com referência à Bíblia? Principal- mente os espíritas? RAMATIS: — Desde que os espiritualistas crêem na
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influência da hierarquia espiritual sobre a Terra, não
podem desprezar a Bíblia, embora não queiram admiti-la como roteiro ou fonte de pesquisas e soluções espirituais. Apesar de sua linguagem fantasiosa e alegórica, representa o esforço máximo feito pelos Espíritos, no passado, no sen- tido de se comprovar a glória, o poder e as intenções de Deus.
PERGUNTA: — No entanto, todos os religiosos que ado-
tam a Bíblia consideram-na diretamente revelada da "palavra de Deus"! Que dizeis? RAMATIS: — Não se pode atribuir ao texto bíblico o caráter vertical da "palavra de Deus"; mas os espíritas sabem que se tratava de mensagens mediúnicas comunica- das por emissários do Alto através de médiuns poderosos, tal como Moisés, Jeremias e outros. A mentalidade dos povos daquela época e o seu modo de vida exigiram que as revelações não ultrapassassem a sua capacidade de entendimento, tal como acontece hoje, quando o homem moderno domina a terminologia de fluidos, ondas, átomos, energias, radiações, forças mentais e etéricas.
PERGUNTA: — Mas a Bíblia estabelece a sua revelação
pela "Voz de Jeová", o que implica em se considerar direta- mente do Criador! RAMATIS: — O povo, muito supersticioso, não estava preparado para aceitar e confiar nos poderes e revelações de almas semelhantes aos seres humanos, o que enfraque- ceria bastante a revelação espiritual. No entanto, a "Voz de Jeová", ou de Deus, seria aceita unanimemente, quer pelo temor, como pela impossibilidade de os hebreus avaliarem a natureza sublime e poderosa do Senhor! Mas a verdade é que, em seu fundamento, assentam-se todos os esforços posteriores e o êxito no sentido de haver sido compreendida a unidade de Deus, que Moisés depois consolidou no Monte Sinai. Havia necessidade de os
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médiuns, na época, atribuírem uma grande autoridade às
mensagens recebidas, a fim de serem acreditados pelos seus conterrâneos. Aliás, a mentalidade humana não mudou muito, pois ainda hoje, nos centros espíritas e ter- reiros de Umbanda, os médiuns continuam a receber enti- dades de elevada estirpe sideral, materializando-as de modo a se promiscuírem com as paixões terrenas! Os homens ainda não se aperceberam de que o ense- jo mediúnico não tem por finalidade precípua a produção de milagres, assistência incondicional às tricas do mundo material e resolução de problemas humanos que pedem o discernimento e a iniciativa pessoal. Ignoram que a presen- ça dos elevados prepostos do Senhor obedece ao progra- ma de libertação espiritual, em vez de contribuição no sen- tido de maior satisfação nas atividades transitórias da maté- ria. Tanto quanto no tempo de Moisés, hoje ainda se explo- ra os desencarnados para solucionarem as conseqüências nefastas das imprudências humanas!
PERGUNTA: — Acontece que, em face dos costumes tão
deformantes na atividade do povo judeu, narrados na Bíblia, ficamos duvidando de sua eleição para o advento de Jesus! RAMATIS: — Porventura, o vosso país também não foi profetizado como o "Coração do Mundo e Pátria do Evan- gelho", (1) em face da divulgação profícua do Espiritismo? No entanto, ainda perdura em seu povo a corrupção moral, vícios degradantes, desarticulação social, infância subverti- da, juventude transviada, desleixo administrativo e fanatis- mos religiosos, conjugados às crises políticas, sociais e eco- nômicas. Domina o crime nas favelas, o vício de entorpe- centes e os desatinos nas épocas carnavalescas; grassa o lenocínio e vulgarizam-se as uniões ilícitas pelo advento 1 — Vide a obra “Brasil, Coração do Mundo e Pátria do Evangelho”, pelo espírito de Humberto de Campos, através de Chico Xavier. Obra editada pela Livraria da Federação Espírita Brasileira; e “Elucidações do Além”, de Ramatis, cap. I, págs. 7 a 12, editada pela Editora do Conhecimento.