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elhor do que Ernst Mayr - consideradopor muitos o maior evo-

i do século XX - para elucidar as sutilezas dos pensamentos de


de seus contemporâneos e herdeiros como A. R. Wãllace, TH.
\ugust Weismann e Asa Gray? Nesta jóia do conhecimento his-
layr encontrou a notável essênciado pensamentocientífico de
)arwin e de seu legado para a biologia do século XX.

Científicas... assim como as espécies viventes, têm precurso-


scendentes, e sofrem pequenas alterações com o passar do
Uma Longa Argumentação progride de maneira admirável,
do com grande precisão as pequenas evidências e inferências
UMAAMPLA
:eram a grande visão de Darwin, elucidando seus erros, bem
:us insights. - GeoKrey Cowley, NewYork Tomes Book Review

lnde valor termos em mãos as reflexões de Ernst Mayr, expressas


Ira concisa e elegante". - Peter J. Bowler Nature
DISCUSSÃO
lue adquirir estelivro com certezaterá enorme prazerao lê-lo
l toda admiração por Darwin ... a sua reverência por ele, esclare-
estimulante, tem profunda autoridade. Quem mais poderia se
lr, de maneira tão honesta, como símbolo vivo da grandezado
nto evolutivo no séculovinte?" - JeKreyLevinton, BioScience
queno volume deveriaser lido por todos aquelesque tem in-
10desenvolvimento, impacto e significado do Darwinismo.
3m escrito e acessívela todos, este é um livro que não se além
ies." - Robert Schoch, Science Books and Films

ayr é Professor Emérito de Zoologia na Universidade de Har-


le ocupa a cadeira de Alexander Agassiz. Ele é Fellow da Socieda-
vencedorde numerososprêmios. Mayr escreveumuitos livros
itemsobre evolução e historia e âlosoâa da ciência.
CIÍê c; boro; Robert Frerck, Tony Stone Worldwide, Chicago
Z)atem.óo;Marianne Perlak
iversity Press
Massachusetts
glaterra

7528-97-1

'./';
P

FUNPEC-Editora
iF29971 www.funpecrp-com.br
UMAAMPLA
DISCUSSÃO

Charles Darwin e a Génese do


Pensamento Evolutivo Moderno

Casa de campo. casa de Charles e Emma Darwin's em Kent,


ERNST MAYR
onde o geologista Charles Lyellencontrou-se com Darwin em abrilde 1836 e o
persuadiu a retratar em papel seus pensamentossobre a evolução.

Tradução
Antonio Carlos Bandouk

Revisão
Prof. Dr. Francisco A. Moura Duarte

ERSITY PRESS
Cambridge, Mass.zcbusetts

@
FUNPEC-Editora
/
.B,=lf:lg'i,:l:=.:'=:.:ll?;':=:!'"H
qa
FUNPEC.EDITORA
Editor Chefe
Prof. Dr. Francisco A. Moura Duarte
Editor Associado Pa,raMicbaelT. Gbiselin e
Prof. Dr. Davíd De jong
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Tradução
Antonio CardosBandouk
Revisão
Prof. Dr. Francisco A. Moura Duarte
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Robert Frerck, Tony Slone Worldwide. Chicago
Design
Marianne Perlak
Dados Internacionaisde Catalogaçãona Publicação(CIP)
(Câmara Brasileira do Lido. SR Brasil)

Mayer. Ernst, 1904-


Uma ampla discussão: Charles Darwin e a Gênese
do pensamento evolutivo moderno / Ernst Mayer ;
tradução Antonio Carlos Bandouk ;
revisão Francisco A. Moura Duarte. --
Ribeirão Preto. SP : FUNPEC Elditora. 2006

Título original: One lona argumenl


Bibliografia
Darwin. Charles. 1809- 1882 2. EvoluçãojBiologia)
3. Evolução(Biologia)- Filosofia
1. Duarte. FranciscoA. Moura. 11.Título.
06-0317 CDD-S7S.O162

Índices para catálogo sistemático:


Darwinismo : Evolução: Ciênciasbiológicas S7S.O162
2. Evolução: leoría de Darwín : Ciênciasbiológicas S75.0162

Direitos para a língua portuguesa cedidos pela Harvard Universíty Presspara a


Fundação de PesquisasCientíficas de Ríbeirão Preto Quese
reserva a propriedade desta tradução.

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Confrontando os Críacionistas

CAPITULO DOIS Em todos os escritos dos naturalistas.dos geólogos e dos filósofos


daquele período, Deus tinha papel dominante. Para eles era muito
natural explicar todos os fenómenos, incluindo a origem das espécies,
Confrontando os Criacionistas: como sendo obras de Deus.
A Primeira RevoluçãoDarwiniana
O Argumento Contra o Criacionismo

Quando Darwin decidiu ser clérigo, em 1827, ele já era um Cristão muito
l IMA NOVA IDEIA ou UMA NOVA DESCOBERTA.como a estrutura ortodoxo. Como ele mesmo disse em sua autobiografia (1958:57), "Eu.
\-Jem dupla hélice do DNA, é aceita rapidamentepela comunidade então, não tinha a menor dúvida com relação à verdade estrita e literal. presente
científica. Se, posteriormente, tal idéía ou descoberta mostrar-se baseada em todas as palavrasda Bíblia". Darwin não Questionavaa ocorrênciade
em erro ou equívoco, logo desapareceráda literatura. De outra maneira. milagres e nem de Qualquer outro fenómeno sobrenatural. A bordo do BezKZe.
se uma nova ídéia for resistente à introdução de novas teorias, principalmente ele uma vez relatou Que, "Eu era totalmente ortodoxo, e me lembro Queem
aquelas fundamentadas em novos conceitos, ela será, então, mais poderosa muitas ocasiões era ridicularizado pelos oficiais, por citar a Bíblia como
e mais abrangente. A teoria da gravitação de lsaac Newton demorou oito autoridade inquestionávelem algumasQuestõesde moralidade" 119S8:8S).
anos para ser reconhecida. A teoria da deriva continental de Alfred Wegener Sabemos agora Que muitas das experiências Que ele teve, durante seus cinco
publicada em 19 12, só foi adotada cinQÉientaanos mais tarde, depois Que anos de viagem. levantaramas primeiras dúvidas sobre as suas crenças
a teoria da tectónica de placasfoií acolhida.
acolhida. l religiosas.Como poderia um Criador tã( tão sábio e bom, permitir tamanha
n ou
As teorias Que implicam ou Que assumem
assumem publicamente aa l crueldade como a escravidão? Como
crueldadecomoaescravidão?ComoesteC este Criador poderia provocar terremotos
evolução orgânica foram propostas
apostas por Buffon (1749) e, mais
por Buffon(1749) mais l e erupçoes vulcânicas Que matavam milhares de inocentes? Darwin , entretanto.
eerupçõeswlcânicasauematavammílhare;
explicitamente, por Lamarck (1 809). todavia foram largamente
,ll?:=lhJ=U:..T=.1='===:
ignoradas ou ativamente repelidas. Quando Charles Darwín começou
a pensar sobre tais problemas, nosseusdiasdeCambrídgeedurante
nos seus dias de Cambridge e durante
1
l
estava muito ocupado com os seus trabalhos para Hlcarobcecado por essas
idéiasperturbadoras.Ao retornar:::1
=='=::,====:=1.=
crenças de sua família
pelas crenças
1 ficou muito maisinfluenciado
de suaviagem,
família do Que p(
pelas crenças de seus colegas da
a viagem a bordo do BeaK/e,tanto os seus professores
ntoosseus professores como os seus
comoosseus l Cambridge.ComoRuse(1979:181)havia
Cambridge. Como Ruse( 1979: 18 1) haviaobservado: "Seu avõ Erasmusera
colegas acreditavam firmemente : na imutabílidadedasespécies; crença
imutabilidade das espécies; crença l umdeísta.totalmentecapazdeacredítarr
um deísta. totalmente capaz de acreditar na evolução ... seu pai Robert, Que
Que era devida às suas convicções ções religiosas. Os dois professores l tinha muita influência
ínfjuênciasobre Darwin, erae um descrente;seu tio josiah

=:!e:;:i==11=;:!çs:
de maneira literal, incluindo a história
l
mais próximos de Darwín em Cambridge eram Henslow e Sedgwick;
os dois eram Cristãos muito ortodoxos e aceitavamo dogma da Bíblia
tistóría da criação. Mesmo ogeólogo
o geólogo l
zu==,"=:=:='i=::=u=J
Wedgwood era um unítarista:e o mais importante de todos, seu irmão mais
velho, Erasmus,haviase tornado um descrentena época em QueCharles
voltou da sua viagema bordo do Beagle
voltoudasuavíagemabordodoBeagle"
Charles Lyell, cujo trabalho influenciou
ienciou profundamenteo pensamento l Mas o mais importante
importante para a si
sua mudança de crença foram as

:,:J'=:;r':==':=!=u=1
de Darwin -- embora ainda não o tivesse encontrado pessoalmente suas próprias descobertas científicas. Quase tudo o Que ele havia
até a sua volta da viagem a bordo do BeaK/e-- era um teísta Que =;1:.::s:'::
::='::=::;':=lll
aprendido em seus estudos sobre história natural, estava mais ou

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l
acreditava Que as espécies tinham sido criadas pelas mãos de Deus.
amsidocriadaspelasmãosdeDeus.
l
menos em conflito com o dogma Cristão. Todas as espécies tinham
menosemconflítocomodogmaCri=
.' t3, , .
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Confrontando os Criacionistas Confrontando os Criacionistas

numerosas adaptações, dos cantos ou dos rituais de acasalamento problema? A resposta esta na própria ambigüídade de Darwin. Isso tem
específicos, à especialização nos hábitos alimentares e inimigos sido esplendidamente analisado por Kohn ( 1989). Uma luz a mais para
específicos. De acordo com a filosofia da teologia natural, muito aceita as mudanças no pensamento de Darwin é encontrada em Moore( 1989).
na Inglaterra daquele tempo. Deus havia planelado todos aqueles A leitura dessas avaliações(bem como as anteriores de Ospovat, Greene.
incontáveis detalhes. Eles não poderiam ser controlados pelas leis Gillespie, Moore, Manter e Richards)levou-me as conclusões Quevem a
físicas, pois eram muito específicos. As leis podem controlar o mundo seguir. No entanto, Kohn disse, de maneira certa. Quetodo intérprete da
físico, onde a adaptaçãoestá ausente,masas especificidadese religiosidade de Darwin, tende a ler em Darwín aquilo Que ele Quer
adaptações do mundo orgânico referentes às milhares, ou como descobrir, e, provavelmente, eu também não escapei dessa inclinação.
sabemos agora, milhões de espécies, precisavam dos cuidados pessoais Agora já sabemosQueantes do final de julho de 1838. Darwin havia
de Deus. Darwin não poderia aceitar essaexplicaçãorelacionadaa escrito alguns apontamentos totalmente " materialistas" (- agnósticos). Mas
grande diversidade e adaptação Quehavia observado, e foi assim Que entre 29 e 3 1de julho de 1838, Darwín visitou os Wedgwoodsem Maer.
ele começou a descobrir Queestava cada vez mais inclinado em favor StaKordshire. e o namoro de Charles com a sua prima Emma começou
dos mecanismos naturais. naquela ocasião. Emma era uma Cristã muito ortodoxa, deixando claro
As observaçõesde Darwin estavam.também,em conflito com a para Darwín Que se ele não fosse cuidadoso ao expressar suas crenças
crença em um mundo perfeito dos teólogos naturais; já Queele havia religiosas. ela acabaria com as suas esperanças de casamento. Mais do Que
descoberto numerosas imperfeições no mundo orgânico. Como isso. como disse Kohn, "Emma tornou-se o modelo de Darwin da reitora
Vitoriana convencional" (1989:226). Ela, claramente, influenciavaa
poderiam as primeiras espécies tornarem-se extintas se eram perfeitas?
Como Hul1 (1973: 126) disse corretamente, "Ao fazer uma avaliação construção dos textos de Darwin. Para mim isso significa uma coisa crucial.
realista do mundo orgânico, o Deus envolvido... foi caprichoso, cruel, ou seja. nenhuma palavra sobre a crença ambígua em Deus presente na
arbitrário, imprevidente, negligente, e. totalmente indiferente com Ocz©empode ser tirada "ao pé da letra" (Kohn 1989:226). Seguramente.
relação ao bem-estar de suas criações" . Taisconsiderações gradualmente parecia Que o próprio Darwin ainda estava hesitando. "0 ateísmo tanto o
levaram Darwin a tentar explicar o mundo sem invocar Deus ou Qualquer atraía como o amedrontava" (p.227). Ele estava ciente do grande

outro tipo de força sobrenatural. desconhecido, e parecia ser um conforto para ele, ainda acreditar num ser
Como veremos mais detalhadamente, Darwin adotou a seleção supremo. Mas todos os fenómenos da natureza Queele encontrou, eram
natural no outono de 1838, o Quesugere Queele lá haviadecidido rejeitar consistentes com uma explicação científica díreta, Que não precisava de
nenhum agente sobrenatural
explicações sobrenaturais antes daquela data. Tal idéia, todavia, tem sido
vigorosamente rejeitada por diversos autores. cujas visões são Treze anos mais tarde, em 18S1, um evento importante marcou
aparentemente bem suportadas pelas afirmações de Darwin na Or7Beme profundamente a vida de Darwín. Ele perdeu sua amada filha Ande, de dez
em outras obras. Há, agora, na literatura sobre Darwin, opiniões Quevão anos, uma criança aparentementeperfeita em sua benevolência.Como
desde a conclusão de Queele já era agnóstico em 1837, Quando começou Moore ( 1989) descreveu.esseevento "cruel" parece ter extinguidoos
a escrever seus /Vo/eóooÁs, até a noção de Que ainda era um teísta em últimos traços de teísmo em Darwin
18S9, tornando-se agnóstico mais tarde. Como pode haver tanta Se alguém Quiser chama-lo de deísta, agnóstico, ou ateu, faz
divergência de interpretação diante de tanto material encontrado nas sentido, porque na O/vagem
Darwin já não precisavade Deus como fator
próprias notas, cartas e publicações de Darwin, relacionadasa este explanatório. A criação como descrita na Bíblia foi contestada por Darwín

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r Confrontando os Criacionistas
Confrontando os CriacionEstas

em Quasetudo aquilo Que estava relacionado ao mundo natural. Além A teoria de Lyell foi uma tentativa de reconciliação entre aquelesQue
disso, a criação simplesmente não poderia explicar o registro fóssil, nem reconheciam um mundo em constante mudança e aqueles Que ainda
a hierarquia dos tipos de organismos propostos pelo taxonomista Carl suportavam os princípios do criacionísmo.
Linnaeus. e nem muitas das outras descobertas da ciência. Quase todos A Questão de como. precisamente, essas novas espécies foram
os contemporâneos de Darwin, contudo, ainda acreditavam em alguma introduzidas, ficou sem resposta por parte de LJell. Ele deixou esse problema
forma de criação, bem como no cálculo do Bispo Usher para a criação. para Darwin, Que na época devida fez disso o seu principal programa de
Queteria ocorrido por volta de 4004 A.C. pesquisa. Darwín tratou o problema da evolução de maneira totalmente
De outra maneira. os geólogos estavam cientes da antíQjiíssíma diferente de Lamarck. Para Lamarck a evolução era um fenómeno
idade da Terra, já Que seria necessárioum longo período de tempo estritamente vertical, procedendo numa única dimensão, a do tempo. A
para chegar a essa grande diversidade conseQiiente da evolução orgânica. evolução seria um movimento do menos perfeito para o mais perfeito. dos
Outras descobertas da geologia. muito mais perturbadoras para o mais primitivos protozoários para os mamíferos e, finalmente, o homem. A
criacionismo, foram às extinções abundantes.lá no século dezoito o P»ü)sopó#' Zóoiç::lg/@ae de Lamarck era o paradigma do evolucíonismo
naturalista alemão lohann Friedrich Blumenbach e outros, admitiam a vertical: As espécies não desempenhavamnenhum papel, segundo o
extinção das primeiras formas existentes. como os amonites. belemnitas pensamentode Lamarck.Novas espécies originavam-se. o tempo todo.
e trílobitas e mesmo de faunos inteiras. Entretanto. demorou muito por geraçãoespontâneaa partir da matéria inanimada;masisso produziu
para Que o reconhecimento da extinção se tornasse inevitável. Isso só somente os mais simples protozoários. Cada linha evolutiva. novamente
aconteceu Quando CuVíer descobriu a extinção de uma seQiiência inteira estabelecida,movia-se gradualmente na direção de uma perfeição cada
de mamíferos, no terciário da bacia de Pauis.A última prova a favor da vez maior. Os organismos perfeitamente adaptados ao seu ambiente
extinção foi à descoberta de mastodontes e mamutes fósseis, animais passavampara as suas proles, as características novamente adquiridas.
Quepor serem tão grandes, com certeza já teriam sido descobertos, se Darwín foi incapaz de prosseguir nesta linha de pensamento, de
outra maneira partiu de uma Questãofundamental deixada por Lyell: como
í..- ainda existissem alguns sobreviventes.
Três explicações para a extinção são oferecidas. De acordo com as novas espécies se originavam? Embora Lyell tivesse apelado às "causas
J Lamarck, nenhum organismo ficou extinto para sempre; houve, intermediárias" como fonte para novasespécies,o processo era. todavia.
simplesmente, uma mudança muito drástica nas formas primeiramente uma forma especial de criação. "% espécies podem ter sido criadas em
existentes; ou seja, elas mudaram tanto Que ficaram irreconhecíveis. sucessão, em certas épocas e em certos locais, multiplicando.e
'l De acordo com outra escola. à Qual l::gyi5.6991:!ê.pertencia,cada uma prosperando por um período estabelecido, e. assim, ocupando
das primeiras faunas tornou-se totalmente extinta devido a alguma determinado espaço no globo"(Lyel1 183S, 3:99- 100). Para Lyell. cada
catástrofe, sendo substituída por uma fauna novamente criada e mais criação era um evento cuidadosamenteplanejado. A razão de Lyell.
avançada. Isso ocorreu, segundo Agassiz, cinqüenta vezes desde a Henslow, Sedgiwck. e todos os outros colegas de Darwin terem aceitado
» formação da Terra. Tais catástrofeseram inaceitáveispara.!:yÊy.,Que a estabilidade das espécies, em meados de 1830, era, em última análise.
produziu uma terceira teoria consistente com o seu uniformitarismo. filosófica. A estabilidade das espécies isto é, a sua incapacidade de
Ele acreditava Que as espécies individuais tornaram-se extintas uma a modificação -- foi a única peça do velho dogma de um mundo criado Que
\ uma, como condição de mudança, e as lacunascriadas na natureza permaneceu invíolada depois Que os conceitos de recentidade e
estabilidade do mundo físico foram abandonados.
\~ foram então preenchidas com novas espécies, por meios sobrenaturais.

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Confrontando os Criacionistas Confrontando os Criacionistas

Evidência da Evolução Gradual e da Multiplicação das Espécies espécies do continente Sul-americano e derivavam claramente dessas
últimas. Assim, os pássaros das Galápagos não seriam o resultado de um
Nenhuma teoria da evolução, genuína e testável, pede se desenvolver simples salto, como Darwin havia postulado para as novas espécies de
até o reconhecimento de Que as espécies tinham a capacidade de mudar emas da Patagânia, mas teriam.evoluído gradualmente (ver capítulo 3).
transformando-se e multiplicando-se em novas espécies. Para aceitar esta O mais importante foi o fatodas três diferentes espécies de tordos dos
possibilidade Darwin precisou romper com as idéias de Lyell. As Questões remédios terem divergido de uma única espécie parental do continente
Que agora devemos levantar são, como Darwin foi capaz de se emancipar observação Que deu a.Darwin a solução para o problema da especiação
das idéias de Lyell e. Quais seriam as observações e as mudanças -- isto é. como e poçéwe as espécies se multiplicam.
conceituaisQuepermitiram a Darwin adotar a teoria da capacidadede Paraalguém Qlie acredita na evolução por saltos. especiaçãosignifica
mudança das espécies.
mudança repentina de uma espécie em outra diferente. lá para outros, Que
Em sua autobiografia. Darwin nos díz Queencontrou tantos
acreditam na evolução transformacional. especíação é a mudança gradual
fenómenosdurante a sua visita a América do Sul a bordo do Be;lgZe.Que de uma espécie em outra diferente, porém dentro de uma linhagem filética
Qualquer biólogo moderno não hesitaria em explicar tais fenómenos como Mas nenhuma dessasduas teorias explica a origem da enorme diversidade
uma clara evidênciada evolução. Quando estavaorganizando a sua coleção orgânica Que Darwín encontrou. Existem, pelo menos, dez milhões de
durante a viagem de volta a bordo do Beagle, Darwin compreendeu Queas espécies animais e Quasedois milhões de espécies vegetais na Terra. sem
variedades" observadas por ele "debilitariam a idéía de estabilidade das mencionar as incontáveisformas de fungos, protestase procariotos. Embora
espécies". Todavia, até aquela data (aproximadamentejulho de 1836) ele nos dias de Darwín somente uma oraçãodesse número fosse conhecida. a
ainda não abandonara conscientemente o conceito da estabilidade (Barlow Questãode porque haver tantas espécies e como elas se originaram. já era
1963). Tal abandono aconteceu,aparentemente,em dois estágios.A cogitada. Lamarck ignorou a possibilidadeda multiplicação das espécies
descoberta de uma segunda espécie de R»ea (a ema sul-americana) de em seu P»ü)sopó#'Zbo/ç:Ká2ue( 1890). Paraele a diversidadesurgia devido
tamanho menor levou-o a teoria de Queuma espécieexistentepode originar às diferenças nas taxas de adaptação, e as novas linhas evolutivas oríginavam-
uma nova espécie de maneira súbita ou por um salto. Tal origem la foi se por geração espontânea. No mundo invariável de Lyell, o número das
diversasvezespostulada, desde a época dos Gregosa Robiínete Maupertuis espéciesera constante, e novas espécies foram introduzidas para substituir
IOsborn 1894). Novas origens repentinas, contudo, não são consideradas aquelas já extintas. Qualquer idéia de separação de uma.espécie parental
como eventoevolutivo. O critério diagnósticode mudançaevolutivaé a em diversas espécies filhas estava ausente entre esses primeiros autores.
progressãogradual.
Uma solução para o problema da diversificação das espéciesrequeria
O conceito de gradualísmo foi o segundo passo para a sua um tratamento totalmente novo, e somente o naturalista estavaem condições
conversão.Darwin adotou-o Quandoo ornitologísta lohn Gould, Que de descobrir isso. Leopold von Buch nas Ilhas Canárias, Darwín nas
preparou o relatório científico sobre a coleção de pássarosde Darwin. Galápagos.Moritz Wagner na Áfríca do Norte e A.R. Wallace na Amazânia
alertou-o de Quehaviatrês espéciesendêmícasde tordos-dos-remédios
e no Arquipélago Malaio foram os pioneiros nesse campo. Cada um deles
em três diferentes ilhas nas Galápagos. Darwín, na época. achavaQue descobriu numerosas populações em estágios intermediários de formação
11
eram apenas variedades(Sulloway 1982b). O episódio dos tordos-dos- das espécies. A pronunciada descontinuidade entre as espécies. Quetanto
remédios foi de particular importância para Darwin por duas razões. Os havia impressionado john Ray. Carl Linnaeus. e outros, era agora Questionada
tordos-dos-remédios endêmicos nas Galápagoseram muito similares às por uma continuidade entre as espécies.

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Confrontando os Criacionistas Confrontando os Criacionistas

O problema de como essas novas espécies e as espécies implicar incontáveis gradações súbitas entre todos os grupos; e (3) como
incipientes surgiram foi esclarecido por Darwín, no caso dos tordos- os táxons superiores evoluíram. Mas talvez a conseQiiêncíamais decisiva
dos-remédios das Galápagos. O exemplo dessespássarosmostrou Que para Darwin, relacionada à descoberta da especiaçãogeográfica, foi o
novas espécies podem se originar pelo processo denominado de conceito da ramificação na evolução. Isto explica o porquê desse conceito
especíação geográfica (ou alopátríca). Segundo essa teoria de aparecernos cadernosde apontamentosde Darwin logo nos primeiros
especíação. novas espécies podem se originar pela alteração genética estágios de sua pesquisa (ver abaixo).
gradual de populações isoladas. Essas populações isoladas estariam no A despeito dos »7.s®ó/sdeDarwin e de outros naturalistas,a profunda
caminho para a formação de subespécies ou raças geográficas, e Darwin significância do conceito de especiaçãodemorou muito para ser esclarecida.
compreendeu Que elas poderiam se tornar novas espécies, se isoladas Como veremos em maiores detalhes no capítulo 3, nas décadas seguintes
suficientemente ao longo do tempo. A partir dessa idéía. Darwin à publicação da .4 (2r7kemdas /llspá Jks,o próprio Darwin vacilou óa sua
descobriu um novo evolucionismo, designado de elygjygg!!!111g compreensão de como as espécies se multiplicam. Além disso, seus conflitos
horizontal. em contraste com o evolucionismo estritamente vertical de com o problemada origem da diversidade.continuaram pelo resto de sua
Lamarck.Os dois termos tratam de dois aspectosinteiramente diferentes vida. ]odavía, sua compreensãode Quetoda teoria evolutiva deve considerar
da evolução, ainda Que os processos responsáveis por ambos procedam a multiplicação das espécies, foi um dos pilares do pensamento evolutivo
simultaneamente. O evolucionismo vertical trata das mudanças de Darwin, a partir de 1837
adaptativas na dimensão do tempo, enquanto o evolucionismo horizontal
trata da origem da diversidade na dimensão do espaço, isto é, a origem
de espécies incipientes e de novas espécies enquanto populações Que A ]eoría da Origem Comum
se movem dentro de novos nichos ambientais. Essasespécies enriquecem
a diversidade do mundo orgânico e são os fundadores potenciais de O caso dos tordos-dos-remédios das Galápagosforneceu a Darwin mais
novos táxons superiores e de novas saídasevolutivas. Quedeverão ocupar um ü.ç/kó/ importante. As três espécies de tordos-dos-remédios
novas zonas adaptatívas. descendiam claramente de uma única espécie ancestral proveniente do
Foía partir de 1837, QuandoDarwin reconheceue solucionou o continente sul-americano. A partir disso faltava pouco para postular Que
problema da origem da diversidade. Queessadualidade vertical/horizontal todos os tordos-dos-remédios derivavam de um ancestral comum -- de
do processo evolutivo surgiu para nós. Infelizmente, apenas alguns autores fato, Que todo grupo de organismos descendia de uma única espécie
tiveram a visão e a experiência de Darwin. o Queos possibilitou tratar ancestral. Esta é a teoria da origem comum de Darwin. Por outro lado
simultaneamente ambos aspectos da evolução. Em vez disso, paleontólogos para aqueles Que aceitaram o conceito da ica/a /7a/z/rae(escala da natureza.
e geneticistas dirigiram sua atenção à evolução vertical, enquanto a maioria ou A Grande Cadeia da Vida) -- e no século dezoito isso incluía a maioria
dos naturalistas tem estudado a origem da diversidade refletida no processo dos naturalistas -- todos os organismos eram parte da simples escalalinear
horizontal de multiplicação das espéciese na origem dos táxons superiores. de uma perfeição eternamentecrescente. Lamarckaderiu, em princípio.
Para Darwin, a idéia de especiaçãohorizontal permitiu a solução de a esse conceito, embora permitisse alguma ramificação na sua classificação
três importantes problemas evolutivos: 11) porque e como as espécies se dos Filos maiores. Peter Simon Palhae outros, também publicaram
multiplicam; (2) porque existe descontinuidade entre os grandes grupos de diagramasde ramificação.todavia, isso exigiu a rejeição categóricada
organismos na natureza, Quando o conceito de evoluçãogradual pareceria sca/a /7a/urbede Cuvier, na primeira e na segunda década do século

' 21 '
Confrontando os Criacionístas Confrontando os Críacionistas

dezenove. antes Quea necessidade de uma nova maneira de representar aparentados como cavalose burros: entretanto ele não aceitavaa evolução.
a diversidade orgânica se tornasse crucial. Há sugestõesocasionaisda idéia de uma origem comum em outros escritores
pré-Darwiníanos, mas os historiadores até agora, não fizeram um estudo
Um grupo denominado de Quüa/ü/zosexperimentoua representação
cuidadoso sobre os primeiros proponentes desse novo conceito. A teoria
por círculos osculados, masseus diagramas não se adaptaram rnulo bem.j
realidade. Os arquétipos de Richard Owen e a NafurpólhsoÁe/zreforçaram da origem comum foi definitivamente abandonada por Lamarck,Queembora
o reconhecimento de grupos discretos na natureza, mas o uso do termo propusesse a ocasional separação dos táxons superiores, nunca pensou
afinidade" em relação a alguma coisa permaneceu inexpre?slvo até a nisso em termos de sepzl1li4$ão
de espécies e de ramificação regular. Para
Lamarcka ascendênciaerh"linear.dentro de cada linha filética. e o conceito
aprovaçãoda teoria evolutiva. Para Agassiz e Henri Mime-Edwards a
ramificação refletia divergência na ontogenia, já Queas formas adultas eram de origem comum ainda era estranho.
muito diferentes dos estágios embriânicos iniciais. Por tudo isso fica evidente A teoria da origem comum. uma vez proposta, é tão simples e tão
Queo diagrama de ramificação estática dos não evolucionistas não representa
óbvia Quefica difícil acreditar QueDarwin foi o primeiro a adotá-la
melhor o pensamento evolutivo, do Que os fluxogramas nos negócios ou consistentemente. A importância dessa teoria não era apenas devidfao
os diagramas ramificados nas hierarquias administrativas. seu grande poder explanatório, mas também porque ela fornecia uma
unidade para o mundo vivo. unidade esta Quehavia sido previamente perdida.
Aparentemente logo após Darwin compreender Queuma espécie de
tentilhão da América do Sul poderia originar três espéciesHllhasnas Até 18S9 as pessoasestavamimpressionadascom a grande diversidade da
Galápagos, ele imaginou Que tal processo, combinado com divergência vida encontrada desde as plantas inferiores até os vertebrados superiores.
Esta diversidade, entretanto, passou a ter um caráter totalmente diferente
contínua, poderia,'também, originar diferentes gêneros e categorias
Quando se compreendeu Queela poderia ter uma origem comum. A prova
superiores. Desta maneira, os membros dos táxons superiores poderiam
estar ligados por um ancestral comum. A melhor maneira de representar final, naturalmente,só veio agora, Quando ficou demonstrado Queaté as
bactérias tem o mesmo código genético dos animais e das plantas.
esta origem comum seria por um diagrama ramificado. lá no verão de 1837
Nenhumadas teorias de Darwin foi aceita tão entusiasticamentecomo
Darwin afirmava Que "os seres organizados representam uma arvore
ramiHicadairregular" IM)/eóooX B. 2 1). Ele representoudiversosdiagramas. a teoria da origem comum. Tudo aquilo Que parecia arbitrário ou caótico
na história natural. agora começavaa fazer sentido. Os arquétipos de Owen
distinguindo com símbolos as espécies viventes daquelas extintas.
Com o tempo Darwin escreveu a (2rv©em.A teoria da origem comum e dos anatomistascomparativospoderiamser explicadorem termos da
tornou-se a espinha dorsal da teoria evolutiva, devido ao seu extraordinário origem comum. Toda a hierarquia Líneana rapidamente tornou-se lógica.

poder explanatório. Após 1859, as manifestaçõesda. origem comum porque agora ficava evidente Que cada táxon superior consistia de
descendentesde um ancestralainda mais remoto. Os padrões de distribuição
revelada pela anatomia' e embriologia comp'r'Uvas. pela sistemática :(n:
Que previamente pareciam ser excêntricos agora poderiam ser explicados
busca por um "sistema natural"), e pelabiogeografla,tornaram-sea principal
em termos de dispersão do ancestral. Todas as provas para a evolução
evidência para a evolução. Reciprocamente, essas disciplinas biológicas
Queaté 1859 foram principalmente descritivas. agora se tornaram cicnctas listadas por Darwin na C2r7kem,
agora consistiam de evidência para a teoria
causais, com a origem comum fornecendo uma explicação para aquilo Que da origem comum. Determinar a ascendênciade formas aberrantes ou
antes parecia confuso. isoladas tornou-se o programa de pesquisa mais popular do período pós-
O conceito de origem comum proposto por Darwin. não era O/@'em, permanecendo como programa de pesquisa dos anatomístas
totalmente original. BuKon já havia considerado isso ao observar animais comparativos e paleontólogos. Quaseaté o presente. O programa da
Confrontando os Criacionistas
r' confrontando os Criacionistas

embriología comparativa também estavafundamentado na teoria da origem O Destino da Primeira Revolução de Darwin
comum. Mesmo aqueles Quenão acreditavamQuea ontogenia recapitulava
a filogenia, freQjientemente descobriam semelhanças nos embriões. A teoria da evoluçãode Darwin como tal (juntamentecom a não estabilidade
obliteradas nos adultos. Essassimilaridades,tais como a presençade das espécies), sua teoria da origem comum, e a sua teoria da multiplicação
notocorda tanto em tunicados como em vertebrados, ou os arcos brânQuias das espécies, em pouco tempo tornaram-se vitoriosas. A vitória dessastrês
nos peixes e nos tetrápodes terrestres, haviamsido mistificadasaté Que teorias é a primeira revolução Darwiniana. Quinze anos após a publicação
foram interpretadas como vestígios de um passadocomum. Embora ainda da Orzkem, a maioria dos biólogos Qualificados já se empenhava no
haja um número de conexõesa seremestabelecidasentre os táxons evolucionismo. A origem evolutiva do homem ainda era inaceitável para
superiores, particularmente de plantas e de ínvertebrados, provavelmente aqueles Que tinham comprometímentos religiosos. mas foi firmemente
hoje não existe nenhum biólogo Que duvide de uma origem comum para estabelecida pelos antropologistas .
todos os organismos. Isso Darwin antecipou Quandosugeriu Que"todas as Embora a teoria da multiplicação das espécies seja agora aceita como
nossasplantas e animais jdescendeml de uma única forma, pela Quala vida componenteessencialda teoria evolutiva, ainda há controvérsiassobre
deu seu primeiro alento"( 1859:484). como se dá esta multiplicação. A especiação geográfica é geralmente aceita.
Mas talvez a mais importante conseQüênciada teoria da origem masa importânciade outras formas de especíaçãoaindaé um problema
comum foi a mudança da posição do homem no universo. Para a maioria incerto, como veremos nos capítulos seguintes.
dos teólogos e filósofos, o homem era uma criatura à parte das outras
formas de vida. Aristóteles, Descartes e Kant concordavam Quanto a isso,
não importando o Quanto eles discordavam em outros aspectos de suas
Rllosofias.Darwin, na (2r:kem, limitou-se a uma observação muito cautelosa.
Uma luz será lançadasobre a origem do Homem e de sua história" (p.488).
Mas Ernst Haeckel,T.H. Huxley,e em 187 1 o próprio Darwin demonstraram
conclusivamente Que os humanos deveriam ter evoluído de um ancestral
semelhante ao macaco. O homem. desta maneira, deveria ser colocado
corretamente na árvore filogenética do reino animal. Isso foi o fim do
antropocentrismo tradicional da Bíblia e dos filósofos. A aplicação da teoria
da origem comum aos seres humanos encontrou vigorosa oposição. A
julgar pelascaricaturasda época, a idéía Darwiníanade um ancestral primata
para os humanos foi a menos aceita pelos Vitorianos. Hoje esta dedução
não é apenas substanciada pelos registros fósseis, mas também pela
similarídade cromossâmica e bioquímica entre o homem e os grandes símios
africanos, embora existam diferenças consideráveisQuanto à morfologia e
o desenvolvimento cerebral. A origem primata do homem. como sugerida
por Darwin, imediatamente levantou Questõessobre a origem da mente e
da consciência, ainda hoje controversas.

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