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EU NÃO COMO BICHO A consciência ecológica tão decantada fecha

os olhos para as barbaridades cometidas


E pensar que houve um tempo em que contra os animais.
eu me deliciava com carne vermelha. Nos 50 É uma hipocrisia, e outra forma de
almoços e jantares, gostava de filés egoísmo, abandonar a carne vermelha para
sangrentos, pantagruélicos churrascos e comer só frango e peixe. Ora, um frango passa
5 hambúrgueres suculentos. Achava a carne de 45 dias ingerindo uma ração pavorosa, sem
animais indispensável. E hoje não consigo poder se mexer, unicamente para ser
olhar uma chuleta. Picanha, nem em 55 decepado e retalhado. Em gaiolas em que
fotografia. Só o cheiro de maminha me enjoa. caberiam vinte, ficam entulhados cinquenta
Meu paladar não mudou nem estou mais frangos. A galinha, por sua vez, é mantida em
10 preocupado com a minha saúde. São as ambiente iluminado artificialmente, o tempo
informações e o conhecimento que me inteiro, para botar mais ovos. Assim, viola-se o
embrulharam o estômago. Há dois anos fundei 60 ciclo noite e dia para, à custa dos animais,
o Instituto de Proteção aos Animais do Brasil, conseguir mais lucros. Você já imaginou ficar
mas batalho pela causa faz mais de dez anos. num cubículo permanentemente iluminado,
15 Uma das atividades do instituto é o preso até morrer? Isso é barbárie.
recebimento de denúncias sobre maus-tratos Os bezerros que depois viram baby beef
aos bichos. Infelizmente, é o setor mais 65 só conhecem o sofrimento em seus poucos
agitado. Foram as denúncias de crueldade meses de vida. Eles são mantidos, desde o
contra os animais que me fizeram fugir dos nascimento, em cubículos pouco maiores que
20 prazeres da carne. eles – para não criar músculos e ter a carne
Uma vaca leva três marretadas na macia. Morrem sem ter dado um único passo.
cabeça, às vezes mais, para morrer. São 70 Quanto mais comemos baby beef e vitela,
marretas de ferro, com cabo de aço. Imagine- mais bezerros serão mantidos assim. Os
se a dor. Quando não morre, o animal é porcos, além de ser tratados como animais
25 retalhado ainda vivo. Ao ver aquela carne toda sujos – que não são – e ser alimentados com
assando sobre as brasas da churrasqueira, a restos de comida, muitas vezes na beira de
imagem que me vem à cabeça é essa. Nem a 75 córregos imundos, morrem de forma cruel. Um
lembrança do sabor delicioso consegue me facão corta-lhes o pescoço de lado a lado, e
fazer render à tentação. eles são deixados sangrando, até secar. Em
30 Não como mais carne vermelha. Mas alguns casos, depois são jogados numa
não porque ela pode fazer mal ao meu piscina de água fervendo. Imaginem, morrer
organismo. Não é uma questão de carne 80 esfaqueados e seus corpos são afogados e
vermelha contra carne branca. Evito carne de queimados.
boi, porco, aves e peixes. Também não No transporte de bois, se algum cai ou
35 compro cintos, maças nem sapatos de couro se deixa, leva umas bordoadas para se
animal. Eu protesto pelos crimes contra levantar. Quando não dá certo, o motorista do
animais. Não consumo a carne de um bicho 85 caminhão liga uns fios à bateria e dá choques
que foi torturado e sofreu intensa dor. Sou nos coitados.
vegetariano por uma questão de consciência. Esses métodos cruéis de abate, criação
40 Em geral, os homens não estão nem um e transporte são mais comuns do que se
pouco preocupados com os métodos pelos imagina. Alguns frigoríficos e avícolas já fazem
quais os animais são abatidos. Como seres 90 abate humanitário, mas eles são poucos. Além
pretensamente superiores, querem apenas se disso, várias pesquisas mostram que cerca de
alimentar. É uma pena, pois todo esse metade da carne que comemos é proveniente
45 sofrimento, dor e angústia é o que se ingere de abatedouros clandestinos. Isso significa
junto com os bichos.
95 que, além de sofrer um abate terrível, o animal 16 – Assinale com um X a única afirmação
pode ser doente. verdadeira em relação ao texto:
O ato de não comer carne vermelha por
não ser saudável é ganância do homem. O ato a) ( ) O autor não come carne vermelha, mas
de não comer outros seres vivos por respeito a aprecia a carne de aves e peixes.
100 eles é divino. Todos os animais nascem iguais b) ( ) Há uma grande preocupação humana
diante da vida e têm o mesmo direito a uma com os métodos de abatimento dos animais.
existência e a uma morte digna. (COCA, c) ( ) O autor não come carne porque protesta
Maurício Esteves. Veja, 18 out. 1995. p. 142) pelos crimes cometidos contra os animais.
d) ( ) O autor escreveu o texto na primeira
ATIVIDADES pessoa do discurso para chamar a atenção
sobre si mesmo.
Responda as questões relacionadas ao texto e) ( ) Os métodos cruéis de abate, criação e
“Eu não como bicho”. transporte de animais são pouco comuns nos
abatedouros clandestinos.
1 – Em que veículo de comunicação e quando
foi escrito o texto? 17 – Indique os referentes de:
2 – Quem é o autor do texto?
3 – A quem é dirigido o texto? a) ela (linha 31)
4 – Em torno de que questão o texto é b) pelos quais (linha 41 e 42)
organizado? c) isso (linha 63)
5 – Indique o sentido dos seguintes vocábulos d) seus (linha 65)
no texto: e) eles (linha 66)
f) lhes (linha 76)
a) bicho (título do texto) g) eles (linha 100)
b) pentagruélicos (linha 4)
c) suculentos (linha 5) 18 – Que sentido estabelecem os operadores
d) embrulharam (linha 12) argumentativos que seguem:
e) crueldade (linha 18)
f) hipocrisia (linha 50) a) quando (linha 20)
b) porque (linha 31)
6 – Qual é uma das atividades do Instituto de c) assim (linha 59)
Proteção aos Animais do Brasil?
7 – Como o autor qualifica os métodos de 19 – Proposta de produção textual: a partir
abate, criação e transporte de animais? do texto analisado, faça um comentário escrito
8 – Segundo o autor, qual é a consequência a respeito do texto em questão, imaginando
do consumo de animais abatidos através de que seria lido em um programa de rádio.
métodos cruéis? _____________________________________
9 – Qual é a apreciação final do autor em _____________________________________
relação ao ato de não comer carne? _____________________________________
10 – Você acha adequado o título dado ao _____________________________________
texto pelo autor? Justifique. _____________________________________
11 – Destaque duas passagens do texto em _____________________________________
que há uma maior aproximação do autor com _____________________________________
o leitor. _____________________________________
12 – Qual é a atitude do autor em relação ao _____________________________________
texto? (Por exemplo, ele é irônico, indiferente) _____________________________________
13 – Identifique e explique as elipses _____________________________________
empregadas no seguinte trecho: “E hoje não _____________________________________
consigo olhar uma chuleta. Picanha, nem em _____________________________________
fotografia”. (Linhas 6, 7 e 8) _____________________________________
14 – A que gênero textual pertence o texto em
questão? Qual é a tipologia predominante?
Justifique.
15 – Qual é o nível de linguagem utilizado pelo
Bom desempenho!
autor do texto “Eu não como bicho”?

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