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Manual Simplificado de Análise de Riscos
Manual Simplificado de Análise de Riscos
Riscos Geológicos
Manual Simplificado de
Procedimentos e técnicas
SUMÁRIO
Introdução SLIDE 3
Pré-Campo SLIDE 23
Campo SLIDE 27
Publicação SLIDE 36
Este manual foi desenvolvido com o objetivo de auxiliar novos profissionais a atuarem na análise e
mapeamento de riscos geológicos. Além disso, apresentar conceitos básicos, processos analisados e
elencar as etapas de trabalho. Por fim, compreender a metodologia de setorização de riscos
desenvolvida pelo CPRM e aplicá-la no pré e pós campo.
A fundamentação teórico-conceitual visa fornecer uma base para a atividade que se quer
desenvolver. Neste manual, foram escolhidos temas considerados como mais importantes para a
compreensão dos procedimentos e que melhor poderiam caracterizar as atividades.
Introdução
Abordar as discussões teóricas sobre movimentos de massa é fundamental para compreender os
agentes envolvidos, seus processos e embasar conceitualmente os resultados que serão obtidos nas
atividades práticas no local de estudo selecionado. A análise do comportamento do clima e da
hidrologia interferem na velocidade dos processos de formação de solo, por exemplo, e mesmo na
ocorrência de deslizamentos. A temperatura, índice pluviométrico, incidência de raios solares e o
papel da água nos solos fazem parte das transformações e reações dos solos.
Destacando o papel antrópico, a relação sociedade x natureza é elencada posto que o homem
interfere nos processos de escorregamentos, muitos vezes acelerando sua deflagração através de
cortes em taludes, ocupação massiva de encostas e uso do solo, alterando redes de drenagem e
retirando sua cobertura vegetal.
O Cenário de Desastres Brasileiro
Tabela 1: Pessoas afetadas por desastres entre 2013 e 2022
De 2013 a 2022, os desastres naturais causaram R$ 341,3 bilhões de
prejuízos em todo o Brasil (CNM, 2022). Segundo o relatório, a
quantidade de pessoas afetadas por desastres nesse intervalo chegou a casa
de 347 milhões de pessoas, como é possível verificar na tabela ao lado,
posto que ao longo desse período, alguns municípios decretaram
emergência mais de uma vez. A CNM chama atenção que entre 01 de
janeiro a 05 de abril de 2022, os prejuízos causados por desastres já
somam mais de R$ 72,3 bilhões e acabou atingindo a primeira posição em
prejuízos, ou seja, os 04 primeiros meses de 2022 já ultrapassaram os
prejuízos do ano de 2021 inteiro, do qual apontou o montante de R$ 60,3
bilhões, acompanhado de 2020, que somou R$ 54,2 bilhões em prejuízos,
ou seja, dentro do recorte analisado, o ano de 2022 mal começou e já bateu
os recortes em prejuízos dos demais anos anteriores.
Fonte: S2ID/ MDR.
Conceitos Básicos
RISCO
Risco representa a probabilidade de algum evento, positivo ou negativo ocorrer, multiplicado pelas
consequências desse evento. Para este treinamento em específico, trata-se de eventos negativos, geralmente
causados pelos movimentos de massa. Em termos matemáticos, pode-se utilizar a seguinte expressão:
DANO: resultado das perdas humanas, materiais ou ambientais infligidas às pessoas, comunidades, instituições,
instalações e aos ecossistemas, como consequência de um desastre.
DESASTRE: resultado de eventos adversos, naturais, tecnológicos ou de origem antrópica, sobre um cenário
vulnerável exposto a ameaça, causando danos humanos, materiais ou ambientais e consequentes prejuízos
econômicos.
PREJUÍZO: medida de perda relacionada com o valor econômico, social e patrimonial de um determinado bem,
em circunstâncias de desastre.
Processos Analisados em Campo
De acordo com o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais Figura 1: Mortos por tipo de desastre no Brasil entre 1991 e 2012.
(UFSC CEPED, 2013), mais de 87% das mortes
provocadas por desastres, entre os anos de 1991 a 2012,
no Brasil, estão relacionadas a eventos de inundação,
enxurrada e movimentos de massa como mostra a
figura 1.
Em campo, a identificação desses processos não é trivial. Eles podem ser complexos, ou seja,
envolvem mais de um tipo de fenômeno. Por isso, é importante a discussão com a equipe para
chegar a um diagnóstico em consenso, assim como identificar possíveis fatores deflagradores,
extensão e direção.
• Geometria indefinida
Figura 6: Desplacamento Figura 7: Rolamento de blocos Figura 8: Tombamento Figura 9: Queda de blocos
Exemplo: Eventos chuvosos em fevereiro de 2022 em Petrópolis. A estação pluviométrica São Sebastião - estação mais próxima do
CEMADEN Nacional em funcionamento no dia 15/02/2022 – foram registrados 259.6 mm de chuva concentrados em 3 horas e 30
minutos de acordo com a figura .
Figura 11: Índice pluviométrico do dia 15/02/2022 em Petrópolis
ALAGAMENTO *
● Acúmulo momentâneo de água em regiões topograficamente mais baixas
que as imediações;
● Pode não ter relação direta com os eventos de enchente, inundação e
enxurrada; Fonte: CEMADEN, 2016.
● Pode ser causado pelo afloramento do nível freático.
● Geralmente relacionadas com extrapolação da capacidade de escoamento
de sistemas de drenagem urbana e consequente acúmulo de água em
ruas, calçadas ou outras infraestruturas urbanas, em decorrência de
precipitações intensas.
*Alagamentos urbanos, provocados exclusivamente por ausência ou insuficiência de redes de drenagem pluvial, também não são considerados durante a elaboração das setorizações de áreas de risco
geológico, uma vez que sua ocorrência está intimamente relacionada a intervenções antrópicas inadequadas, não tendo relação direta com processos naturais do meio físico.
ENXURRADA, ENCHENTE OU INUNDAÇÃO brusca e de curta duração;
Figura 13: Enxurrada na Índia em julho de 2021.
● Caracteriza-se por alta energia de transporte e alto potencial
destrutivo;
● Frequentemente associada com o processo de erosão de margem
fluvial.
● escoamento superficial concentrado e com alta energia de
transporte, que pode estar ou não associado ao domínio fluvial (do
rio).
● Provocado por chuvas intensas e concentradas, normalmente em
pequenas bacias de relevo acidentado.
● Este processo apresenta grande poder destrutivo.
● Nas cidades, quando a chuva é muito forte e os bueiros e as
tubulações não tem capacidade para transportar toda a água, pode
ocorrer uma enxurrada em poucos minutos.
● A força das águas pode ainda provocar o rolamento de blocos de
pedras, arrancar árvores, destruir edificações e causar corrida de
massa. Fonte:
<https://www.tempo.com/noticias/actualidade/raios-enchentes-e-enxurradas-deixam-de
zenas-de-mortos-na-india-moncao.html>. Acesso em 04/10/22.
Setorização de Risco
A classificação proposta pelo Ministério das Cidades & IPT foi originalmente concebida para ser aplicada no mapeamento de
áreas de risco a movimentos de massa e processos hídricos. Todavia, apesar de apresentarem mecanismos de deflagração
diferentes, outros processos, como erosão, subsidência, solapamento ou colapso, movimentação de dunas, expansão e contração de
argilas, apresentam algumas características semelhantes àquelas associadas aos movimentos de massa. Dessa forma, na prática, o
mapeamento das áreas de risco geológico considera alguns atributos do meio físico que são comuns a diversos processos.
Portanto, a orientação proposta para a classificação dos graus de risco a movimentos de massa foi estendida para esses processos.
As setorizações de áreas de risco geológico desenvolvidas pelo Serviço Geológico do Brasil delimitam apenas as áreas de
risco alto e muito alto.
As áreas de risco baixo e médio, eventualmente avaliadas durante a elaboração do trabalho, são apontadas como áreas de
monitoramento, com o intuito de salientar a importância da aplicação de boas práticas de uso e ocupação do território, bem como
das atividades de fiscalização voltadas à inibição do surgimento de novas áreas de risco alto ou muito alto.
Setorização
de Risco
De conhecimento das normas e instruções da Metodologia de Setorização de Riscos do CPRM, já é possível iniciar
o trabalho na prática. Para a realização da análise de risco em campo, temos 4 fases a serem seguidas em equipe.
Cada uma delas é muito importante para que o produto final esteja o mais coerente possível com a realidade e possa
de fato ajudar a comunidade a se proteger de eventos destrutivos em potencial.
A setorização de riscos, metodologia criada e aplicada pelo CPRM, se baseia nos procedimentos propostos pelo
Ministério das Cidades & IPT (2007), os quais empregam a abordagem heurística para o mapeamento e
classificação das áreas de risco. Tal método oferece grandes vantagens com relação aos baixos custos de execução e
larga aplicabilidade a nível nacional, uma vez que o enfoque qualitativo se mostra bastante conveniente quando se
trata de um método de ampla aplicação em regiões cujas características naturais e antrópicas podem variar
consideravelmente. O trabalho é desenvolvido em quatro fases que serão detalhadas a seguir.
PRÉ-CAMPO
Antes do campo, é importante possuirmos informações sobre a natureza e localidade onde a visita será realizada. A
fotointerpretação ajuda a identificar o local exato e possíveis feições já existentes, de modo a facilitar a análise de risco
previamente. Google Earth, Open Street Maps, Avenza são alguns dos aplicativos que podem auxiliar essa tarefa.
PRÉ-CAMPO
A Compilação Bibliográfica, fruto de Planos Municipais de Redução de Riscos (PMRR), Cartas de Suscetibilidade a
Movimentos de Massa e Inundação, Setorizações de Risco pretéritas dentre outros relatórios, auxilia na obtenção de informações para
o conhecimento prévio da região que se pretende analisar.
Sites de notícias, canais oficiais das defesas civis estaduais e municipais, websites da Agência Nacional de Águas (ANA), do Centro
Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres
(Cenad), do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD), nos acervos do SGB-CPRM, dentre outros, são alguns dos
canais indicados para obter essa compilação.
PRÉ-CAMPO
O Contato com a Defesa Civil Municipal é necessário pois, além da setorização de riscos ser elaborada em conjunto com o
órgão, eles possuem total familiaridade e conhecimento das áreas que serão visitadas. Soma-se a isso o fato de serem pessoas
conhecidas pela população local, que traz uma maior confiança para os moradores e favorece a acessibilidade de áreas de maior
vulnerabilidade social.
PRÉ-CAMPO
Organização e instrumentos necessários para o bom desenvolvimento do trabalho em campo. Cadernetas de campo e caneta
para anotação de dados importantes para elaboração dos relatórios pós-campo; celular ou tablet para geolocalização, anotações
diversas, consulta a materiais e obtenção de fotos da vistoria; hipsômetro para medições de vertentes, cicatrizes e suas inclinações;
além obviamente de vestimenta adequada ao ambiente que se pretende visitar, evitando exposição prolongada ao sol, mosquitos e
outros insetos.
CAMPO
O levantamento de campo consiste na identificação de condições potenciais para a deflagração futura dos processos analisados, bem
como de evidências que indicam processos em curso ou ocorrências pretéritas. Além disso, também são avaliadas as condições das
edificações e da urbanização local, as quais serão de fundamental importância para caracterizar a vulnerabilidade durante o processo
de classificação dos graus de risco.
Que condições e evidências são essas que estamos falando e devemos buscar em campo?
Essencialmente evidências de deflagração de movimentos de massa e processos hidrológicos.
CAMPO
Figura 16: Características e indícios naturais a serem observados durante a setorização de áreas de risco a
movimentos de massa.
Por fim, a coleta de informações históricas sobre a ocorrência dos eventos considerados no mapeamento, por meio de
buscas em arquivos da prefeitura municipal, da Defesa Civil e entrevista com moradores locais. Esta, inclusive, é uma das etapas
mais importantes, pois normalmente a vistoria envolve esses indivíduos. Lembre-se de conversar e explicar aos moradores todas
as questões envolvidas. Eles normalmente possuem informações que facilitam MUITO nosso trabalho pois indicam localização de
prováveis áreas de risco geológico e são parte interessada da Setorização. E muitas vezes, são pessoas em vulnerabilidade que
precisam de um esclarecimento sobre a situação de seus imóveis. Essa atenção é muito importante.
PRODUÇÃO E TRATAMENTO DE DADOS
Figura 20: Exemplo de mapeamento de setorização de risco.
Obtidos os dados em campo com a realização das
vistorias, já temos as informações para produção das
publicações de Setorização de Riscos. Em posse dos
mapas ou pontos marcados em campo, iniciaremos com
o mapeamento através da Delimitação e
Classificação das áreas de risco.
Usando uma ferramenta de ambiente SIG (ArcGis,
QGis, por exemplo) são traçados os polígonos de risco
correspondente às evidências e informações observadas
em campo. Utiliza-se como referência as imagens
orbitais Google. Não se delimitam áreas não
urbanizadas, ou seja, sem edificações utilizadas para
permanência humana.
Com as revisões realizadas, pode-se prosseguir para a etapa de publicação e liberação dos produtos de setorização para os órgãos
competentes.
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VOLUME 3 – VERSÃO 1 SETORIZAÇÃO DE ÁREAS DE RISCO GEOLÓGICO Gestão Territorial / Organizado por Julio Cesar Lana et al.. Brasília :
CPRM, 2021.