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Fenômenos de
Transporte
DR. RODRIGO ORGEDA
ESP. HENRYCK CESAR MASSAO HUNGARO YOSHI
Fenômenos de
Transporte
Professor Dr. Rodrigo Orgeda
Professor Esp. Henryck Cesar
Massao Hungaro Yoshi
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos
Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William
Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de
Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a
Distância; YOSHI, Henryck Cesar Massao Hungaro; ORGEDA,
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Rodrigo.
Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James
Fenômenos de Transporte. Henryck Cesar Massao Hungaro Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação
Yoshi; Rodrigo Orgeda. e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de
Maringá-PR.: Unicesumar, 2020. Reimpressão, 2021.
368 p.
Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de
“Graduação - Híbridos”. Design Educacional Débora Leite; Head de
Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza
1. Fenomeno. 2. Transporte . 3. Química 4. EaD. I. Título.
Filho; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros;
ISBN 978-85-459-2113-4 Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie
CDD - 22 ed. 541.3 Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel
CIP - NBR 12899 - AACR/2
F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos
Diogo Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria
Impresso por: Carolina Abdalla Normann de Freitas; Supervisão
do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de
Almeida Toledo; Supervisão de Projetos Especiais
Yasminn Talyta Tavares Zagonel; Projeto
Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães
Cripaldi; Fotos Shutterstock
Coordenador de Conteúdo Fabio Augusto Genti-
line e Crislaine Rodrigues Galan.
Designer Educacional Janaina de Souza Pontes e
NEAD - Núcleo de Educação a Distância e Amanda Peçanha dos Santos.
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação Revisão Textual Cintia Prezoto Ferreira e Erica
CEP 87050-900 - Maringá - Paraná Fernanda Ortega.
unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Editoração Lavígnia da Silva Santos.
Ilustração Welington Vainer Satin de Oliveira e
Natalia de Souza Scalassara.
Realidade Aumentada Maicon Douglas Curriel,
Thiago Marçal Surmani, Matheus Alexander de Oli-
veira Guandalini e Kleber Ribeiro da Silva.
PALAVRA DO REITOR
Caro(a) aluno(a), este livro iniciará seus estudos acerca dos chamados fenô-
menos de transporte, disciplina fundamental para a maioria dos cursos de
engenharia, uma vez que busca explicar como a transferência de momento
(mecânica dos fluidos), de calor e de massa acontecem na natureza. Este
entendimento permite desenvolver processos e equipamentos para diversas
aplicações, mas, mais do que isso, desenvolverá a habilidade de observar e
analisar os fenômenos da natureza.
Suponha que você, buscando concentrar-se melhor na leitura deste livro,
resolva preparar uma xícara de chá. Para isso, você precisará de água, a qual
é fornecida até a sua casa através de longos sistemas de abastecimento que
contam com tubulações, bombas, válvulas e caixas d’água. Entender quais
são as energias associadas ao escoamento de um fluido (neste caso, o fluido
é a água) é um clássico problema de mecânica dos fluidos.
Após colocar a água em um recipiente, será necessário aquecê-la. Isto pode
ser feito de diferentes maneiras, mas consiste, essencialmente, em adicio-
nar energia à água, até alcançar a temperatura desejada – um problema de
transferência de calor. Por fim, resta apenas colocar o saquinho de chá junto
da água, iniciando um processo de infusão – moléculas que dão aroma e
sabor saem das ervas do chá e são transportadas para a água. Tal processo
está relacionado à transferência de massa.
Você poderia então se perguntar: que potência seria necessária para
que a bomba seja capaz de escoar a água da estação de tratamento até
as torneiras de casa? Haverá diferença se você fizer o chá em um dia
mais frio ou em um dia mais quente? Quanto tempo levará até que a
infusão esteja completa? Quanto o chá terá esfriado por estar exposto
ao ambiente? O estudo dos fenômenos de transporte procura responder
a perguntas como essas, estando presente desde situações mais simples
do cotidiano até aplicações complexas por estar inseparavelmente li-
gado à natureza.
O objetivo deste livro é dar um enfoque prático à disciplina de Fenô-
menos de Transporte, apontando os caminhos que você, futuro Enge-
nheiro(a), deverá seguir caso necessite se aprofundar em qualquer um
dos assuntos aqui abordados. Assim, aproveite o processo de aprendi-
zagem e entenda que só não gostamos daquilo que sabemos pouco.
Siga o fluxo de leitura mesmo que naquele momento você não tenha
entendido algum termo. Lá na frente, ele fará sentido. E se mesmo lá
na frente você não entender? Não hesite em buscar outras fontes. Saber
pesquisar é uma das competências que esperamos de um profissional de
Engenharia. Quando tudo se conectar na sua mente, você comprovará
que o conhecimento é realmente libertador!
CURRÍCULO DOS PROFESSORES
13
Introdução à
Mecânica
dos Fluidos
61
Pressão e Estática
dos Fluidos
97
Introdução à
Cinemática
Transferência
dos Fluidos
de Calor
137 257
Equação da
Trocadores
Energia no
de Calor
Regime Permanente
169 297
Introdução à
Escoamento em
Transferência
Condutos Forçados
de Massa
209 331
113 Manômetro de Bourdon
188 Bombas e turbinas na equação da energia
219 Escoamento dos fluidos
281 Efeito do isolamento em tubos cilíndricos
304 Trocadores de calor de tubo e casco
Utilize o aplicativo
Unicesumar Experience
para visualizar a
Realidade Aumentada.
Dr. Rodrigo Orgeda
Esp. Henryck Cesar Massao Hungaro Yoshi
Introdução aos
Fenômenos
de Transporte
PLANO DE ESTUDOS
Conceitos Fundamentais
Definindo os Fenômenos
Balanço Material
de Transporte
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Definir o que são os fenômenos de transporte: transfe- de transporte, como conversão de unidades e fração
rência de momento (mecânica dos fluidos), calor e massa. mássica.
• Estruturar os conceitos básicos necessários para li- • Estudar o conceito de balanço material, abordando estraté-
dar com os problemas relacionados aos fenômenos gias de resolução e aplicações, como reciclo, bypass e purga.
Definindo
os Fenômenos
de Transporte
Lei Equação
Lei da Conservação da Massa Equação da Continuidade
Segunda Lei de Newton Teorema do Momento
Primeira Lei da Termodinâmica Equação da Energia
Fonte: adaptado de Welty, Rorrer e Foster (2017).
Exemplificando: imagine que o sistema em questão seja uma pia de cozinha. Ao abrir
a torneira, você permite uma entrada de água no sistema. A água que desce pelo ralo,
por sua vez, é a saída de água do sistema. Se você tampar o ralo, você fecha a saída
do sistema, de modo que a pia começa a encher – este é o acúmulo do sistema. Esta
situação ilustra a lei de conservação da massa.
Evidentemente, estamos desconsiderando outras possíveis saídas ou entradas de
água (como a evaporação da água para a atmosfera), mas o intuito aqui é observar a
natureza das leis de conservação: tudo que entra no sistema, ou sai, ou fica. Apesar de
soar como um conceito bastante simples ou, até mesmo, óbvio, as leis de conservação
são instrumentos essenciais para o entendimento dos fenômenos de transporte.
UNIDADE 1 15
Uma segunda observação fundamental acerca dos fenômenos de transporte é:
se há um desequilíbrio de uma propriedade em um meio, a natureza tende a redis-
tribuí-la, até que um equilíbrio seja estabelecido – a esta tendência é dado o nome
de força motriz, frequentemente descrita no contexto dos fenômenos de transporte
como os “gradientes”:
• Mecânica dos Fluidos: gradiente de momento.
• Transferência de Calor: gradiente de temperatura.
• Transferência de Massa: gradiente de concentração.
Até aqui, você esteve apenas conhecendo o que são os chamados fenômenos de trans-
porte e de que maneira os observamos na natureza. A partir de agora, iniciaremos
um estudo mais direcionado à definição de alguns conceitos básicos para entender e
interpretar os problemas que você irá encontrar durante todo o curso. Aproveitaremos
esta primeira unidade para tratar com mais rigor os chamados balanços materiais,
conhecimento que irá ajudar você a se familiarizar com o uso das leis de conservação.
UNIDADE 1 17
Conceitos
Fundamentais
UNIDADE 1 19
1 EXEMPLO Temos os seguintes fatores de conversão: uma milha são 5280 pés; um pé são 12
polegadas; uma polegada são 2,54 centímetros. Sabendo que a altura do Everest é de,
aproximadamente, 5,49 milhas, converta este valor para metros.
Solução:
Note que cada uma destas “frações” é igual a um: se uma milha equivale a 5280 pés,
a divisão de 5280 pés por uma milha é igual a um. Isto comprova que não estamos
alterando a altura (dimensão) do Monte Everest, apenas convertendo-a entre dife-
rentes unidades de medida.
Uma maneira prática de acompanhar se você está fazendo as conversões adequadas é
escrever todas as conversões em uma única expressão e “cortar” as unidades que se “cance-
lam”, da mesma forma que provavelmente fez quando estudou matemática e física básicas:
Você pode estar se perguntando: todos estes cálculos não poderiam ter sido resolvidos
por uma série de regra de três? A pergunta é fantástica e significa que seu raciocínio
está no caminho certo! Apesar de podermos utilizar uma série de regra de três para
chegarmos no mesmo resultado, a maneira prática apresentada anteriormente nos
ajuda a visualizar como as unidades irão se cancelar e qual será nossa unidade final.
Acredite, isso será muito útil em cálculos mais complexos, pois será um indicador
para saber se o resultado está correto. Dessa forma, os demais exemplos e problemas
presentes neste material serão preferencialmente resolvidos dessa maneira.
Fração mássica: a massa de uma substância dividida pela massa total de todos os
componentes da mistura (ou solução) em que ela está presente.
massa de A
fração mássica do componente A ( x A )
massa total
Fonte: adaptado de Himmelblau e Riggs (2003).
Vamos iniciar com um exemplo simples sobre fração mássica de uma solução com
dois componentes.
UNIDADE 1 21
2 EXEMPLO Uma solução contém os componentes A e B, sendo 360 g de A e 700 g de B. Qual é a
composição mássica desta solução?
Solução:
massa de A 360 g
fração mássica do componente A x A 0, 34
massa total 360 g 700 g
massa de B 700 g
fração mássica do componente B xB 0, 66
massa total 360 g 700 g
Uma vez compreendido o conceito de fração mássica, fica fácil entender o conceito
de fração molar, pois são bastante semelhantes.
Fração molar: o número de mols de uma substância dividido pelo número total
de mols da mistura (ou solução) em que ela está presente.
mols de A
fração molar do componente A y A
mols totais
Fonte: adaptado de Himmelblau e Riggs (2003).
Solução:
mols de A 1 mol
fração molar do componente A y A 0, 11
mols totais 1 mol 5 mols 3 mols
mols de B 5 mols
fração molar do componente B yB 0, 55
mols totais 1 mol 5 mols 3 mols
mols de C 3 mols
fração molar do componente C yC 0, 33
mols totais 1 mol 5 mols 3 mols
y A yB yC 1
m
n=
MM
4 EXEMPLO A tabela a seguir mostra os dados de fração mássica e massa molar de cada composto
presente em uma solução. Dessa forma, calcule a composição molar sabendo que a
solução possui uma massa total de 100 g.
Solução:
Composto Massa Molar (g/gmol) Fração Mássica
A 50 0,20
B 40 0,30
C 20 0,45
D 25 0,05
Total - 1
UNIDADE 1 23
Para o composto A, temos que:
massa de A
xA =
massa total
massa
= de A 0=
, 2 . 100 20 g
Sabendo que:
m
n n . MM m
MM
Temos que:
Veja que, se conhecemos a composição da mistura, podemos lançar mão de uma base
de cálculo arbitrária para calcular a massa molar média da mistura. Tente calcular este
valor para a mistura do exemplo anterior. O resultado procurado é de 27,78 g/mol,
que também poderia ser calculado simplesmente dividindo a massa da mistura pelo
número de mols (afinal, esta é a definição da qual partimos para o desenvolvimento
da última equação).
Ao longo deste material, a composição de gases sempre será assumida como dada
em base molar, a menos que seja especificado o contrário. Da mesma maneira, a
composição de líquidos e sólidos será assumida como dada em base mássica, como
é geralmente usada na indústria, a menos que seja especificado o contrário.
UNIDADE 1 25
Balanço
Material
Sistemas
100 kg H2O
UNIDADE 1 27
No contexto da engenharia, é comum o uso da palavra “sistema” para se referir a uma
parte arbitrária do processo que você deseja analisar. Dessa forma, nosso sistema, aqui,
coincide com o próprio tanque. É também usual se referir às “fronteiras do sistema”,
linhas imaginárias (que podem coincidir com partes dos equipamentos e processos)
que dão forma ao seu sistema.
Ainda, um sistema pode ser dito aberto ou fechado: aberto, se existe matéria
entrando ou saindo do sistema; fechado, se a matéria não entra nem sai do sistema.
Nosso tanque é, portanto, um sistema fechado.
Nesse caso, se aplicarmos a equação de balanço material para nosso sistema,
teremos:
00 0
Este resultado é, evidentemente, uma conclusão lógica simples. Se não entra nem sai
água do tanque, não haverá variação na quantidade de água dentro dele. Em outras
palavras, a taxa de acúmulo de matéria do sistema é nula.
Agora, suponha que este tanque faz parte de um processo industrial, que despeja
dentro dele 50 kg de água por hora. Deste mesmo tanque, são também retirados 50 kg
de água por hora.
Fronteira
do sistema
50 kg H2O/h 50 kg H2O/h
100 kg H2O
Pela definição dada anteriormente, nosso tanque agora é um sistema aberto, pois
existe matéria cruzando a fronteira do sistema. Ao aplicar novamente a equação de
balanço material, temos:
kg H 2O kg H 2O
50 50 0
h h
Como a vazão de entrada é igual à de saída, o acúmulo de água no sistema ainda é nulo.
Sistemas nestas condições podem ser chamados de sistemas em estado estacionário.
20 kg H2O/h 50 kg H2O/h
100 kg H2O
UNIDADE 1 29
É fácil concluir que, se sai mais água do que entra, a quantidade de água no tanque
diminuirá com o tempo. Na equação de balanço:
kg H 2O kg H 2O kg H 2O
20 50 30
h h h
Isto é, a taxa de acúmulo de água no sistema é de -30 kg H₂O por hora. Observe que,
no contexto de balanços materiais, é comum o uso da palavra “acúmulo” tanto para
valores positivos (que elevariam o nível de água do tanque) quanto negativos (que
diminuem o nível de água no tanque). Com essa informação, você poderia, então,
responder a seguinte pergunta: quanto tempo levará até que a quantidade de água
no interior do tanque seja de 40 kg?
Vamos começar identificando a variação de água no interior do tanque:
40 kg H 2O 100 kg H 2O 60 kg H 2O
Para atingir uma quantidade de 40 kg de água dentro do tanque, deve-se retirar 60 kg.
Por definição, temos que:
Massa
Vaz ão M ássica =
Tempo
Observe que a taxa de acúmulo de água do sistema é, evidentemente, uma vazão, pois
tem dimensões de massa por tempo (estudaremos mais detalhadamente o conceito
de vazão na Unidade 4). Podemos, portanto, aplicar a equação da seguinte forma:
kg H 2O - 60 kg H 2O
-30 =
h Tempo
60 kg H 2O h
Tempo
30 kg H 2O
Tempo = 2 h
Evidentemente, não é absurdo chegar a esta conclusão sem fazer quaisquer contas
no papel. Se existem 100 kg de água dentro de um tanque, do qual são removidos 30
kg de água por hora (taxa de acúmulo negativa), o tempo necessário para que haja
apenas 40 kg de água no tanque (remover 60 kg) é de 2 horas. Problemas de balanço
material são resolvidos de maneira puramente lógica: não se trata de decorar equações,
mas sim de ter habilidade em analisar o problema e saber como abordá-lo.
Agora que você compreende os princípios dos balanços materiais, iremos aprimorar
as suas capacidades analíticas estudando processos mais complexos, com múltiplos
componentes, etapas e correntes de processo.
Imagine que estamos trabalhando com uma solução com concentração de 50% em
massa de soda cáustica (NaOH em H₂O). Isto significa que em 1000 kg de solução
há 500 kg de soda e 500 kg de água. Uma corrente de processo entra em um tanque,
enquanto outra sai deste mesmo tanque, como na figura a seguir:
Fronteira
do sistema
UNIDADE 1 31
Observe que se trata de um sistema aberto em regime estacionário. Poderíamos
analisar o sistema da seguinte forma:
• Dentro do tanque: 1000 kg de solução
• 500 kg de água + 500 kg de soda
• Entra no tanque: 100 kg de solução por hora
• 50 kg de água por hora + 50 kg de soda por hora
• Sai do tanque: 100 kg de solução por hora
• 50 kg de água por hora + 50 kg de soda por hora
kg solução kg solução
100 100 0
h h
Evidentemente, estando em estado estacionário, a taxa de acúmulo é nula (a massa
de solução dentro do tanque permanece a mesma ao longo do tempo).
O balanço por componente, por outro lado, considera apenas o componente em análise
para todas as correntes. Por exemplo, fazendo o balanço material para a água, teremos:
kg soda kg soda
50 50 0
h h
Este é um raciocínio bastante valioso para solucionar problemas de balanço material.
Observe o exemplo a seguir, em que passamos a trabalhar com mais de um compo-
nente e mais de duas correntes.
A B
30 kg solução/min 50 kg solução/min
SAÍDA
C
Solução:
UNIDADE 1 33
A B -C 0
kg solução kg solução
30 + 50 -C=0
min min
kg solução
C = 80
min
Sendo xsac,i a fração mássica de sacarose na corrente “i”, podemos escrever esta equação
da seguinte forma:
xsac, A . A xsac, B . B - xsac,C . C 0
kg sacarose
xsac,C = 0, 2437
kg solução
UNIDADE 1 35
Na prática, você não é obrigado a seguir estes passos à risca nem os decorar, mas
abordar os problemas de maneira ordenada e analítica ajuda a identificar possíveis
pontos fracos, aprimorando suas habilidades de interpretação e resolução. Faremos,
agora, um exemplo com uma complexidade maior aplicando esta estratégia.
6 EXEMPLO Duas correntes de processo, F1 e F2, são misturadas. A corrente resultante (W) é então
direcionada para uma segunda etapa, que visa a purificação de um dos componentes,
obtendo, assim, duas correntes de produto, P1 e P2. Conhecendo as informações a
seguir, qual a vazão e a composição da corrente F1? As composições estão dadas em
quantidades mássicas.
• Corrente F2:
• Vazão: metade de F1
• Composição: 80% A, 20% B
• Corrente P1:
• Vazão: 1200 kg/h
• Composição: 60% A, 40% B
• Corrente P2:
• Vazão: 300 kg/h
• Composição: 5% B, 95% C
Solução:
Passo 2: esboços podem, geralmente, ser feitos de forma bastante simples por meio de
diagramas de blocos, em que as setas são as correntes de processo e os blocos são as etapas.
F1 P1
W
E1 E2
F2 P2
Fronteira do
Sistema 2
W
E1 E2
Fronteira do
Sistema 1
Fronteira do
F2 Sistema Global P2
• Fronteira do Sistema 1:
• Correntes de entrada: F1 e F2
• Corrente de saída: W
• Fronteira do Sistema 2:
• Corrente de entrada: W
• Correntes de saída: P1 e P2
• Fronteira do Sistema Global:
• Correntes de entrada: F1 e F2
• Corrente de saída: P1 e P2
Note que a escolha de um sistema não invalida o outro – muito pelo contrário, talvez
seja necessário estabelecer diferentes fronteiras até se obter os resultados procurados,
os quais devem validar todos os sistemas possíveis de serem estabelecidos. Do con-
trário, o princípio da conservação da massa não seria obedecido, indicando alguma
falha ou ineficiência do processo.
UNIDADE 1 37
Passo 4: a princípio, nenhuma informação parece faltar, pois não estamos preocu-
pados com quem são os componentes A, B ou C, nem com o que são, na prática, as
etapas E1 e E2. Estamos preocupados apenas com valores de vazão e composição,
então estas informações deverão ser suficientes.
Passo 5: como o problema já nos forneceu valores de vazão, não precisamos adotar
uma base de cálculo. Caso o enunciado fosse “a vazão de P1 é quatro vezes a de P2”,
poderíamos adotar um valor arbitrário para a vazão P2, e com ela chegaríamos às
mesmas composições em todas as correntes. Contudo, a vazão de F1 mudaria para
cada base de cálculo adotada.
Aqui, temos quatro das variáveis desconhecidas (referentes à corrente W), junto de
quatro equações independentes. Como nosso número de equações é igual ao número
de incógnitas, o sistema é possível e determinado (graus de liberdade iguais a zero).
Observe que, para o balanço global, todas as variáveis referentes à corrente interme-
diária W não estão presentes. Temos apenas as quatro variáveis desconhecidas para a
corrente F1, junto de quatro equações independentes. Isto é, como o problema solicita
apenas a caracterização da corrente F1, podemos utilizar este sistema para que não
precisemos trabalhar com a corrente intermediária W.
Passo 8: usando as equações para o sistema global (exceto uma das equações de ba-
lanço por componentes, por ser dependente das demais) e substituindo as variáveis
conhecidas.
F1
F1 1200 300
2
F1
x A, F 1 . F1 0, 80 . 0, 60 . 1200 0, 00 . 300
2
F1
xB , F1 . F1 0, 20 . 0, 40 . 1200 0, 05 . 300
2
x A, F 1 xB , F 1 xC , F 1 1
( x A, F 1 0, 40) . F1 720
( x A, F 1 0, 40) . 1000 720 x A, F 1 0, 320
( xB , F 1 0, 10) . F1 495
( xB , F 1 0, 10) . 1000 495 xB , F 1 0, 395
X C , F 1 1 X A, F 1 X B , F 1
X C , F 1 1 0, 32 0, 395 X C , F 1 0, 285
UNIDADE 1 39
Passo 10: podemos conferir o resultado com a equação de balanço para o compo-
nente C, que não utilizamos.
xC , F 1 . F1 xC , F 2 . F 2 xC , P1 . P1 xC , P 2 . P2
1000
0, 285 . 1000 0 . 0 . 1200 0, 95 . 300
2
285 285
Neste tópico final, abordaremos brevemente três aspectos importantes quando tra-
tamos dos balanços materiais em termos de aplicação industrial. Essencialmente, são
manobras realizadas nas correntes de processo que permitem seu funcionamento
de maneira eficiente, contínua e controlável. Os balanços materiais entram com o
papel de mensurar estas manobras e passam a ter um nível de complexidade maior.
Reciclo: corrente do processo que é alimentada em uma etapa anterior àquela que
a originou (veja Figura 6).
Fonte: adaptado de Himmelblau e Riggs (2003).
Reciclo
7 EXEMPLO Deseja-se concentrar uma corrente (F) contendo uma solução de 10% Hidróxido de
Sódio (NaOH) em água por meio de um processo integrado de evaporação, cristaliza-
ção e filtragem. Para atingir maior eficiência no processo, a corrente líquida que passa
pelo filtro é retornada na forma de reciclo (R). O diagrama a seguir ilustra o processo
e apresenta as concentrações em cada corrente. Qual a razão entre as vazões R e P?
R
50% NaOH
50% H2O
E
30% NaOH
70% H2O
Processo
F A P
10% NaOH 96% NaOH
90% H2O 4% H2O
W
100% H2O
Passo 7: mais de um sistema pode ser avaliado. Aqui, faremos em dois deles: no ponto
em que o reciclo é adicionado à alimentação (ponto A) e o global.
UNIDADE 1 41
• No ponto A:
FRE
xNaOH , F . F xNaOH , R . R xNaOH , E . E
x H 2O , F . F x H 2O , R . R x H 2O , E . E
• Global:
F P W
xNaOH , F . F xNaOH , P . P xNaOH ,W . W
xH 2O, F . F xH 2O, P . P xH 2O,W . W
R 100 kg / h
9, 60
P 10, 42 kg / h
R
50% NaOH
50% H2O
R/P ≈ 9,60
F
10% NaOH Processo
90% H2O P = 10,42 kg/h
96% NaOH
4% H2O
W
100% H2O
F W R P
xNaOH , F . F xNaOH ,W . W xNaOH , R . R xNaOH , P . P
xH 2O, F . F xH 2O,W . W xH 2O, R . R xH 2O, P . P
UNIDADE 1 43
Resolvendo as duas primeiras equações com os valores conhecidos, e utilizando a
relação R/P ≈ 9,60:
F W R P
F W 9, 60 . P P
F W 10, 60 . 10, 42 F W 110, 452
Como você pode observar, para obter a mesma quantidade de produto, o processo
sem reciclo exigiria uma alimentação seis vezes maior devido às perdas pela corrente
R, que não foi reaproveitada. A indústria sempre irá buscar minimizar o desperdício.
Bypass
8 EXEMPLO Certo processo industrial é alimentado por uma corrente composta de 30% compo-
nente X e 70% componente Y. O processo é responsável por remover apenas com-
ponente Y, e a corrente de saída precisa sair com 80% de X e 20% de Y para atender
às especificações de operação dos equipamentos. Contudo, um cliente solicita um
produto contendo 60% X e 40% Y. Para atender a este pedido, o engenheiro de pro-
cessos sugere o uso de uma corrente de bypass, conforme o diagrama a seguir. Calcule
a razão entre as vazões B e F que deve ser utilizada para atender ao pedido.
B
F E P
30% X Processo 60% X
70% Y 1 S 2 40% Y
80% X
20% Y
W
100% Y
Solução:
UNIDADE 1 45
Passo 7: os quatro principais sistemas que devemos prestar atenção são os pontos 1
e 2, o processo e o sistema global.
Para o sistema global, temos as seguintes equações:
F P W
x X , F . F x X , P . P x X ,W . W
xY , F . F xY , P . P xY ,W . W
x X , F . F x X , P . P x X ,W . W
0, 30 . 100 0, 60 . P 0, 00 . W
P 50 kg / h W 50 kg / h
Agora, para as equações do ponto 2:
BS P
B S 50 B 50 S
x X , B . B x X ,S . S x X , P . P
0, 30 . B 0, 80 . S 0, 60 . 50
0, 30 . (50 S ) 0, 80 . S 30
15 0, 30 . S 0, 80 . S 30
0, 50 . S 15
S 30 kg / h B 20 kg / h
9 EXEMPLO Certo processo para a formação de água a partir dos gases hidrogênio (H2) e oxigênio
(O2) foi implantado. Uma corrente (F), contendo ambos os componentes, é alimentada
a um reator. Em seguida, a corrente de saída passa por um condensador, que remove
água líquida do processo como produto.
Para evitar a perda de material, procurou-se utilizar os gases remanescentes (que
não reagiram) como uma corrente de reciclo do processo. Contudo, ao testar a nova
configuração, observou-se que os níveis de argônio (Ar) – que é um gás inerte – no
processo começaram a subir. Isto aconteceu porque a corrente contendo hidrogênio
e oxigênio apresentava, também, baixos traços do gás. Como forma de solucionar o
problema, você, engenheiro de processos, sugere utilizar uma corrente de purga (P).
Considerando o diagrama a seguir, qual deve ser a razão entre as vazões P e F, se a
concentração de argônio na corrente de reciclo não pode ser superior a 7,5%?
Reciclo
P
92,5% H2 e O2
7,5% Ar
F Reator Condensador W
99,7% H2 e O2 100% Água
0,3% Ar
Passos 1 a 4: o diagrama nos fornece todas as informações necessárias para analisar
o problema. Note que, apesar de envolver um reator, o problema não está preocupado
com a reação química, de modo que ela não será necessária. Além disso, é importante
observar que o reciclo possui a mesma composição da purga, apesar de não estar
especificado.
UNIDADE 1 47
Passo 7: note que não conhecemos as composições de H2 e O2 separadamente.
Contudo, se fizermos o balanço global e o balanço por componente para o argônio,
teremos duas equações independentes:
F P W
x Ar , F . F x Ar , P . P x Ar ,W . W
100 P W
0, 003 . 100 0, 075 . P 0, 000 . W
P 4 kg / h W 96 kg / h
P 4
0,004 4%
F 100
Isto é, para manter a concentração de argônio no reciclo igual a 7,5%, deve-se purgar
uma vazão equivalente a 4% da vazão de alimentação.
Com isso, terminamos nossa introdução aos balanços materiais. Como você
pode ter notado, apesar de não demandarem cálculos sofisticados, os balanços de
massa trabalham fortes habilidades de interpretação do problema, análise crítica e
organização. Aprimorar estas qualidades facilitará o seu estudo dos fenômenos de
transporte, que começaremos propriamente na unidade a seguir.
2. Deseja-se produzir 1000 kg/h de uma solução de soda cáustica, com concentra-
ção molar de 14,89%. Devido ao alto calor de dissolução da soda em água, este
processo deve ser feito em duas etapas, de modo que parte da água alimentada
siga por uma corrente de bypass e retorne no tanque de diluição. Considerando
o diagrama a seguir, calcule a razão entre as vazões mássicas das correntes E
e B. As porcentagens são todas molares. Considere que MMNaOH = 40 g/mol,
MMH2O = 18 g/mol.
B=?
Água de 31,03%
Alimentação E=? NaOH Solução Produto
Tanque de Tanque de
Dissolução Diluição
F=? P = 1000 kg/h
100% H2O 14,89% NaOH
Soda Cáustica
S=?
100% NaOH
49
3. A dessalinização da água do mar e de águas salobras é comum em países de-
sérticos ou com pouca disponibilidade de água potável, como no Oriente Médio
e na África. A dessalinização de água pode ser realizada por meio de processos
de osmose reversa. Admitindo que estão presentes apenas sal e água e consi-
derando a figura a seguir, determine:
a) A vazão de água do mar necessária para alimentar o processo (F).
b) A vazão de salmoura removida (W).
c) A porcentagem da salmoura que sai das células de osmose reversa e é reciclada.
Reciclo de Salmoura
R=?
E
Água do Mar 4,0% Sal Células de S Salmoura Removida
F=? Osmose W=?
3,1% Sal Reversa 5,25% Sal
Água Dessalinizada
P = 2000 kg/h
0,05% Sal
50
LIVRO
51
HAUKE, G. An introduction to fluid mechanics and transport phenomena. 1. ed. Holanda: Springer
Netherlands, 2008.
HIMMELBLAU, D. M.; RIGGS, J. B. Engenharia química – princípios e cálculos. 7. ed. São Paulo: Editora
LTC – GEN (Grupo Editorial Nacional), 2003.
PARTINGTON, J. R. Antoine Laurent Lavoisier, 1743-1794. Nature, [S.l.], v. 152, p. 207-208, ago. 1943.
52
1. O processo descrito pode ser resumido pelo diagrama:
M
100% KCI
F P = 300 lb
0,9% KCI 10% KCI
99,1% H2O 90% H2O
F M P
xKCl , F . F xKCl ,M . M xKCl , P . P
x H 2O , F . F x H 2O , M . M x H 2O , P . P
Temos duas variáveis desconhecidas e duas equações independentes. Substituindo os valores conhecidos e
resolvendo as equações:
F M 300 M 300 F
0, 009 . F 1 . M 0, 10 . 300
0, 009 . F (300 F ) 30
0, 991 . F 270
F 272, 45 lb M 27, 55 lb
272, 45 lb 1 kg
F 123, 56 kg
2, 205 lb
27, 55 lb 1 kg
M 12, 49 kg
2, 205 lb
53
2. O diagrama contém todas as informações que conhecemos sobre o problema. Contudo, as composições
das correntes de solução foram dadas em frações molares. Como estamos mais interessados em trabalhar
com valores mássicos, calcularemos inicialmente as composições mássicas.
Para a corrente P, temos, em base molar, 14,89% NaOH e, portanto, 85,11% H2O. Assumindo a base de cálculo
de 100 mol de solução P, podemos calcular a massa molar da solução P da seguinte forma:
Veja que, como conhecemos a composição molar para a base de cálculo empregada, teremos 14,89 mols de
NaOH e 85,11 mols de H2O:
g g
14, 89 mol . 40 85, 11 mol . 40
MM P mol mol
100 mol
MM P 21, 2758 g / mol
Este valor pode ser utilizado para converter a vazão mássica em molar:
54
Como conhecemos as frações molares, temos as seguintes vazões por componente na corrente de produto:
mol mol
PNaOH ,molar 0, 1489 . 47000 7000
h h
mol mol
PH 2O,molar 0, 8511 . 47000 40000
h h
Convertendo estes valores em vazões mássicas:
mol g kg
PNaOH ,mássica 7000
= = . 40 280
h mol h
mol g kg
PH 2O,mássica = 40000 . 18 = 720
h mol h
Isto é, a corrente de produto P possui 28% NaOH e 72% H2O em massa. Agora, podemos fazer o balanço no
sistema global, em termos das vazões mássicas:
F S P
xNaOH , F . F xNaOH ,S . S xNaOH , P . P
x H 2O , F . F x H 2O , S . S x H 2O , P . P
Temos duas incógnitas (F e S) e duas equações independentes. Além disso, como F e S são correntes puras, a
solução é bastante simples:
0 . F 1 . S 0, 28 . 1000
S 280 kg / h
1 . F 0 . S 0, 72 . 1000
F 720 kg / h
55
Agora, como conhecemos F, podemos fazer o balanço no tanque de dissolução, do qual sai a corrente interme-
diária I. Como não se sabe a composição e vazão mássica desta corrente, faz-se o balanço material em termos
molares. Teremos o sistema:
ES I
X NaOH , E . E X NaOH ,S . S X NaOH , I . I
X H 2O , E . E X H 2O , S . S X H 2O , I . I
Podemos calcular a vazão molar de S:
kg mol mol
=S 280
= 7000
h 40 g h
E 7000 I
0 . E 1 . 7000 0, 3103 . I
mol
7000 0, 3103 . I I 22558, 81
h
mol
E I 7000 E 15558, 81
h
Observe que também podemos calcular a vazão mássica de E, por ser uma corrente de água pura:
mol g kg
E 15558, 81 18 280
h mol h
Fazendo o balanço no ponto em que a corrente F se divide, temos:
F BE
kg kg
720 B 280
h h
kg
B 440
h
56
Assim, podemos enfim calcular a razão pedida pelo problema:
E 280
63, 63%
B 440
3. O diagrama nos fornece todas as composições das correntes e a vazão de água dessalinizada que deve ser
atingida. Dessa forma, as únicas variáveis desconhecidas são as demais vazões.
F P W
xSal , F . F xSal , P . P xSal ,W . W
xH 2O, F . F xH 2O, P . P xH 2O,W . W
Portanto, temos duas equações independentes e duas variáveis desconhecidas (F e W). Resolvendo estas
equações com os valores conhecidos, teremos:
F 2000 W
0, 031 . F 0, 0005 . 2000 0, 0525 . W
0, 031 . (2000 W ) 1 0, 0525 . W
62 0, 031 . W 1 0, 0525 . W
W 2837, 21 kg / h F 4837, 21 kg / h
57
Com isso, chegamos às respostas pedidas nos itens (a) e (b).
Em seguida, para chegar à porcentagem da salmoura que é reciclada, precisamos definir sua vazão. Para isto,
faremos um balanço no ponto em que o reciclo se une à alimentação do sistema, formando a corrente resul-
tante que entra na célula de osmose (E) com concentração de 4,0% em sal:
FRE
xSal , F . F xSal , R . R xSal , E . E
x H 2O , F . F x H 2O , R . R x H 2O , E . E
Como agora conhecemos F, temos novamente duas equações independentes e apenas duas variáveis desco-
nhecidas (R e E). Logo:
4837, 21 R E
0, 031 . 4837, 21 0, 0525 . R 0, 04 . E
149, 95 0, 0525 . R 193, 49 0, 04 . R
R 3483, 2 kg / h E 8320, 41 kg / h
Agora, precisamos apenas saber a vazão de saída de salmoura do processo (S). Ela pode ser obtida fazendo
o balanço nas células de osmose reversa ou, até mesmo, no ponto que se divide entre o reciclo e a salmoura
removida:
E PS
8320, 41 2000 S
S 6320, 41 kg / h
S R W
S 3483, 2 2837, 21
S 6320, 41 kg / h
R 3483, 2
55, 11%
S 6320, 41
58
59
60
Dr. Rodrigo Orgeda
Esp. Henryck Cesar Massao Hungaro Yoshi
Introdução à Mecânica
dos Fluidos
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Introduzir o estudo da mecânica dos fluidos por meio • Estudar a teoria matemática da análise dimensional, apre-
da conceptualização dos fluidos, seguida da definição da sentando sua aplicação na mecânica dos fluidos e os nú-
tensão de cisalhamento. meros adimensionais.
• Definir os conceitos de viscosidade absoluta (dinâmica),
massa específica, peso específico e viscosidade cinemática.
Definindo
os Fluidos
Superfície livre
UNIDADE 2 63
Ft = c te Ft = c te
(a) (b)
Figura 2 - Experiência das duas placas para um sólido
Fonte: Brunetti (2008, p. 2).
Dessa forma, podemos dizer que: ao aplicar uma força tangencial constante a um
sólido, ele se deforma angularmente até atingir uma nova posição de equilíbrio
estático.
Agora, vejamos o que acontece com um fluido submetido a esta mesma expe-
riência. Imagine que seja possível acompanhar cada unidade de fluido ao longo do
experimento. Para facilitar a visualização, denominaremos o volume de ABCD, cada
letra correspondendo a uma extremidade (Figura 3a).
Ao aplicar a força tangencial à placa superior, ela passa a se deslocar a uma veloci-
dade v. O que se observa é que os pontos do fluido em contato com a placa superior
(lado AD) adquirem esta mesma velocidade v, enquanto os pontos do fluido em
contato com a placa inferior (lado BC) ficam parados junto dela (veja a Figura 3b).
Surge, portanto, o princípio da aderência: quando em contato com uma superfície
sólida, os pontos de um fluido aderem-se aos pontos desta superfície.
Dessa forma, se a força tangencial for mantida sobre a placa superior, movendo-a
à velocidade v, as partículas de fluido em contato também se moverão à velocidade v,
na mesma direção e sentido. Isto significa que a condição de equilíbrio estático não
será atingida, de modo que o volume de fluido poderá se deformar continuamente
(veja a Figura 3c).
Ft = c te Ft = c te
A D A D A D
B C B C B C
Apesar de parecer exagero chegar a esta definição, você verá, em capítulos futuros,
que o princípio da aderência é fundamental para compreender certos conceitos,
como o de camada limite, que é essencial no estudo tanto da mecânica dos fluidos
quanto dos demais fenômenos de transporte. Outra observação importante pode ser
feita com relação à experiência de duas placas. Para tanto, é necessário antes definir
o conceito de tensão de cisalhamento.
Considere uma superfície de área A, sobre a qual é aplicada uma força F . Podemos
decompor esta força na sua componente tangencial (Ft ) e na sua componente normal
à superfície (Fn ), como mostra a Figura 4. Nesta unidade, discutiremos sobre a com-
ponente tangencial e, na próxima, analisaremos a componente normal.
Fn
F
A
Ft
Figura 4 - Ação de uma força sobre uma superfície e suas componentes normal e tangencial
Fonte: Brunetti (2008, p. 3).
UNIDADE 2 65
A tensão de cisalhamento é definida como a razão entre o módulo da componente
tangencial da força e a área da superfície em que é aplicada:
Ft
t=
A
Portanto, é a força tangencial por unidade de área, sendo dada, geralmente, em N/m²
(SI), kgf/m² ou dina/cm².
Voltando à experiência de duas placas, note que, no caso dos fluidos, ao exercer
a força tangencial sobre a placa, ela passa a ser acelerada da velocidade nula até uma
velocidade finita, v0, que permanece constante ao longo do experimento. Isto é, a partir
de um determinado momento, não há mais aceleração. Pela segunda Lei de Newton
da dinâmica, isto significa que a resultante das forças deve ser nula (condição de
equilíbrio dinâmico). Como não existem outras forças externas atuando no sistema,
conclui-se que a força aplicada na placa é equilibrada por forças internas do fluido.
Para entender estas forças internas, podemos recorrer ao princípio da aderência.
Na experiência, a camada de fluido junto à superfície superior move-se à velocidade
v0, enquanto a camada de fluido junto à superfície inferior terá velocidade nula. As
camadas intermediárias, por sua vez, passam a se mover conforme um gradiente de
velocidades, indo de zero (na placa inferior) até v0 (na placa superior), como mostra
a Figura 5a.
v0 Ft
A v v0
v1 v1
v2
(v1 é maior
v2 que v2)
Diagrama
y de velocidades
B
(a) (b)
v + dv
v
y + dy
y
(c)
Figura 5 - Gradiente de velocidade e tensões de cisalhamento entre as camadas de fluido na expe-
riência de duas placas
Fonte: adaptada de Brunetti (2008).
dv τ
τα ou = cte.
dy dv
dy
Esta é a chamada lei de Newton da viscosidade. Fluidos que obedecem esta relação
são chamados de fluidos newtonianos, como água, ar e óleos, por exemplo. Fluidos
não newtonianos não serão trabalhados, pois são de menor interesse geral e pode
ser bastante difícil descrever seu comportamento.
Sir Isaac Newton (4 de janeiro de 1643 – 31 de março de 1727) foi um físico e ma-
temático inglês reconhecido como o ícone da revolução científica do século XVII.
A descoberta da decomposição da luz branca, suas três leis da mecânica clássica,
a lei da gravitação universal e suas contribuições no desenvolvimento do cálculo
diferencial e integral são consideradas como alguns de seus principais trabalhos.
Fonte: Westfall (2018, on-line)1.
UNIDADE 2 67
Propriedades
dos Fluidos
τ dv
cte. τ µ
dv dy
dy
UNIDADE 2 69
1 EXEMPLO É necessário substituir o lubrificante do pistão de certo equipamento. Você sabe que
o pistão é cilíndrico, com massa de 500 g, diâmetro de 15 cm e altura de 6 cm. Ele
trabalha dentro de um cilindro com 15,1 centímetros de diâmetro e deve cair com
a velocidade constante de 1,4 m/s. Qual deve ser a viscosidade do lubrificante para
atender a estas condições de operação? Considere uma aceleração da gravidade de
10 m/s².
Solução:
Dc = 15,1 cm
Dp = 15,0 cm
h = 6 cm
Lubrificante
Força Peso (P)
Para que o pistão caia à velocidade constante, é necessário que ele esteja em equilíbrio
dinâmico: há movimento, mas não há aceleração. Pela segunda lei de Newton, temos:
F m.a 0
Aqui, duas forças estão atuando: o próprio peso do pistão (P) e a força da tensão de ci-
salhamento (Ft), que é a resistência do lubrificante ao movimento. Assim, em módulo:
Ft = P
Ft
t=
A
Ft = t . A
dv
Ft τ . A µ . (π . D p . h) P
dy
Note que, para calcularmos a viscosidade por meio desta equação, é necessário ava-
liarmos o gradiente de velocidades de alguma maneira. O procedimento rigoroso e
de resultado mais preciso seria empregar coordenadas polares para resolver a integral.
Entretanto, em algumas situações, é possível simplificar o gradiente de velocidade,
assumindo a variação de velocidade como linear. Observe o diagrama a seguir:
y dv
v2
dy
dy v1
y v0
dv
dy
UNIDADE 2 71
Assim, podemos simplificar a lei de Newton para a seguinte forma:
v0
τ =µ
ε
m. g .ε
µ
v0 . π . D p . h
(0, 500 kg ) . (10 m / s ²) . (0, 0005 m)
µ
(1, 4 m / s ) . (3, 14) . (0, 15 m) . (0, 06 m)
kg .m². s
µ 6, 32 . 102
s ².m3
kg .m
A unidade base de Newton é N = . Assim, temos que:
s2
N .s
6, 32 . 10 2
m2
Apenas para fins comparativos, o resultado mais preciso para este problema (não consi-
derando o gradiente de velocidade linear) seria de, aproximadamente, 6,29.10-2 N.s/m².
Isso indica um erro de 0,48%, que pode ser admitido como desprezível, comprovando
a viabilidade da simplificação feita.
As próximas propriedades que iremos abordar são relativamente simples, mas seus
nomes podem causar certas confusões. Para evitar que isso ocorra, iremos caracteri-
zar: densidade, massa específica e peso específico. Nos seus estudos, os fluidos serão
admitidos como meios contínuos e homogêneos, ou seja: as propriedades em cada
ponto do fluido coincidem com as suas propriedades médias. Com isso em mente,
vamos começar diferenciando densidade de massa específica.
Considere um corpo de massa ( m ) e volume total ( V ), seja ele maciço ou oco.
É possível definir, matematicamente, a densidade desse corpo por meio da seguinte
relação:
m
d=
V
Caso o corpo analisado seja maciço e homogêneo ou caso a parte oca seja descon-
siderada, a densidade é chamada de massa específica (ρ). Em geral, depende da
temperatura e da pressão, sendo característica do fluido. No SI, a unidade é kg/m³.
m
r=
V
UNIDADE 2 73
Por sua vez, o peso específico (γ) segue uma lógica semelhante: é o peso (P) por
unidade de volume (V). No SI, a unidade é N/m³, sendo comum também encontrá-la
dada em kgf/m³:
P
g=
V
m.g
γ γ ρ.g
V
Para líquidos, estas duas propriedades são essencialmente constantes, pois podem ser
consideradas substâncias incompressíveis, ou seja, uma variação na pressão não varia
o seu volume. Para gases, os efeitos da pressão não podem ser desprezados. Vejamos,
agora, um exemplo para esclarecer o que acabamos de estudar.
2 EXEMPLO Você possui duas esferas, uma maciça e uma oca, feitas de um único e mesmo material.
Conhecendo suas massas e volumes, calcule a massa específica e o peso específico
deste material, e a densidade de cada esfera.
Esfera A Esfera B
Maciça Oca
Volume: 3 cm³ Volume: 5 cm³
Massa: 9 g Volume vazio: 2 cm³
Massa: 9 g
Solução:
mA 9g
=
rA == 3= g / cm³ 3000 kg / m³
VA 3 cm³
kg m N
= . g 3000
γ ρ= 10 =
2
= 30000 3
30
m³ s m
Agora, calculando a densidade da esfera A:
mA 9g g kg
d=
A = = 3
3= 3
3000 3
VA 3 cm cm m
Note que este resultado é igual à massa específica do material. Isto faz sentido pois
ela é maciça. Por outro lado, ao calcularmos a densidade da esfera B, veremos que,
apesar de ter massa e volume de material idênticos ao da esfera A, o fato dela ser oca
faz com que sua densidade seja menor:
mB 9g g kg
=dB = = 3
1,=
8 3 1800 3
VB ,total 5 cm cm m
µ
ν=
ρ
No SI, sua unidade é m²/s. Existe também outra unidade utilizada com frequência, o
stoke (St), equivalente a cm²/s, sendo também frequentemente utilizado o centistoke
(cSt). Este é um parâmetro importante para a mecânica dos fluidos, sendo também
chamado de “difusividade de momento”.
Por fim, conhecidas estas propriedades, é importante definirmos dois conceitos
fundamentais para o restante de seu estudo:
UNIDADE 2 75
Fluido ideal: aquele cuja viscosidade é nula, sem
perdas de energia por atrito e sendo também in-
compressível. Naturalmente, não existem fluidos
ideais, mas às vezes este conceito é utilizado em
problemas de mecânica dos fluidos.
Escoamento incompressível: escoamento de
fluido, em que seu volume não varia ao modificar
a pressão. Em geral, os escoamentos podem ser
considerados incompressíveis, pois ou o fluido
é um líquido ou as velocidades em questão são
baixas.
Fonte: adaptado de Çengel e Cimbala (2015).
UNIDADE 2 77
Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.
Equações Dimensionais
Equação dimensional: equação monômia (ou seja, de um único termo) que relaciona
uma grandeza derivada com a base completa.
Fonte: Brunetti (2008).
Agora, vamos explorar o uso da análise dimensional por meio das propriedades dos
fluidos que estudamos anteriormente.
Solução:
Sabemos que a viscosidade cinemática é dada pela razão entre a viscosidade dinâmica
e a massa específica:
µ
ν=
ρ
m
r=
V
Note que estamos trabalhando com a base FLT: força, comprimento e tempo. Isso
significa que a massa é uma de suas grandezas derivadas e deve ser escrita em função
das grandezas fundamentais. A lei física que consegue expressar a massa nessa base
é a segunda lei de Newton:
F
F m.a m
a
UNIDADE 2 79
A força (F) é uma de nossas grandezas fundamentais. Portanto, ao analisar sua di-
mensão, temos que [F] = F. A aceleração (a), por outro lado, tem unidades de compri-
mento dividido por tempo ao quadrado, como m/s², por exemplo. Suas dimensões
são, portanto: [a] = L/T² = LT-2. Assim:
F [F ] F FT 2
m [ m] 2
FT 2 L1
a [a ] LT L
dv τ
τ µ µ
dy dv
dy
Ft
t=
A
A força tangencial (Ft) é, evidentemente, uma força, portanto, uma grandeza funda-
mental: [Ft] = F. Por sua vez, da geometria sabemos que a área (A) tem dimensões de
comprimento ao quadrado: [A] = L². Combinando-as, temos, então:
[ Ft ] F
[t ] 2 FL2
[ A] L
O gradiente de velocidade dv dy também pode ser analisado da mesma maneira:
são variações de velocidade (comprimento/tempo) por variações de posição (com-
primento). Assim:
dv [v] LT 1 1
dy [ y ] L T
[τ ] FL2
[µ ] 1
FL2T
dv T
dy
[µ] FL2T
[ν ] 2 4
F 0 L2T 1 L2T 1
[ρ ] FT L
Números Adimensionais
No estudo dos fenômenos de transporte, é comum nos depararmos com alguns nú-
meros que, apesar de possuírem grande significado prático e físico, não apresentam
unidades. São os chamados números adimensionais, que independem de todas as
grandezas fundamentais e costumam ser indicados pela letra grega π.
Para melhor ilustrar como eles funcionam, vamos começar por um dos números
adimensionais mais fundamentais e conhecidos da mecânica dos fluidos: o número
de Reynolds (Re).
ρ.v. D v. D
=Re =
µ ν
UNIDADE 2 81
Façamos, inicialmente, a análise dimensional desta equação. Nos exemplos ante-
riores, verificamos que [r ] FT 2 L4 e [ ] FL2T . Além disso, v é uma velocidade
e D é um comprimento, então: [v] LT 1 e [ D] = L . Combinando-os na forma do
número de Reynolds, teremos:
[ρ ] .[v] .[ D] FT 2 L4 . LT 1 . L
[Re] 2
F 0T 0 L0
[µ ] FL T
Como todos os expoentes são iguais a zero, conclui-se que o número de Reynolds
independe das grandezas fundamentais força, comprimento e tempo. Assim, por
definição, é um número adimensional.
As utilidades do número de Reynolds serão mais bem discutidas nas unidades a
seguir, mas já vale mencionar de antemão que seu principal uso é na caracterização
de escoamentos de fluidos, como laminares ou turbulentos, sendo de grande impor-
tância tanto na mecânica dos fluidos quanto nos processos de transferência de calor
e massa. Dessa forma, o número de Reynolds demonstra que este comportamento
do escoamento depende de um conjunto de grandezas e não delas individualmente.
Afinal, de onde surgem os números adimensionais e como eles têm tamanha
significância? Neste material, você será poupado das raízes matemáticas rigorosas
e exaustivas que existem por trás destes números, como o chamado Teorema Pi de
Buckingham, utilizado na concepção de um número adimensional para um certo
fenômeno. Em vez disso, faremos uma apresentação qualitativa em que seja mais fácil
compreender o papel dos números adimensionais.
Brunetti (2008) sugere o seguinte exemplo: imagine que você deseja determinar
a força F de resistência ao avanço de uma esfera lisa mergulhada em um fluido. Tal
força costuma ser chamada de força de arrasto ou arraste.
Experimentalmente, observa-se que esta força é uma função de variáveis, como
o diâmetro ( D ) e a velocidade ( v ) da esfera, e a massa específica ( r ) e viscosidade
( µ ) do fluido. Isto é:
F = f ( D , v, ρ , µ )
v
D ρ, μ
F
ρ1, μ1
D
Figura 7 - Diagrama FxD para diferentes velocidades com massa específica e viscosidade constantes
Fonte: Brunetti (2008, p. 145).
Ainda seguindo nosso exemplo, observe quantos dos seus resultados seriam con-
templados por este diagrama:
• 1 valor de massa específica (r ) .
• 1 valor de viscosidade ( µ ) .
• 5 valores de diâmetro ( D) .
• 5 valores de velocidade (v) .
Isto é, um único diagrama destes contemplaria apenas 25 dos seus 625 resultados:
cinco curvas, uma para cada velocidade, cada uma com cinco pontos para cada um
dos diâmetros testados. Isto significa que seriam necessários 25 diagramas diferentes
para representar todos os resultados, basicamente formando uma matriz ρ (linhas)
x µ (colunas), em que cada elemento da matriz é um diagrama.
UNIDADE 2 83
F F
vn v2 vn v2
v1 v1
μ variável
ρ fixo
ρ1, μ1 ρ1, μ n
D D
ρ variável ρ variável
μ fixo μ fixo
F F
vn v2 vn v2
v1 v1
μ variável
ρ n , μ1 ρ fixo ρ n, μ n
D D
Figura 8 - Matriz de diagramas FxD para avaliação da força de arraste em diferentes diâmetros, velo-
cidades, massas específicas e viscosidades
Fonte: Brunetti (2008, p. 145).
Como se isto tudo já não fosse exaustivo o bastante, reflita acerca de duas últimas
perguntas: seria viável tentar identificar e descrever o comportamento desejado tendo
que observar e analisar 625 diagramas diferentes simultaneamente? Se o número de
variáveis ou de valores testados para cada uma fosse reduzido, visando simplificar o
experimento e a análise, será que os resultados seriam realmente bons e suficientes
para descrever um fenômeno físico rigorosamente?
Vamos verificar como os números adimensionais podem simplificar este experi-
mento. Considere os seguintes números:
F ρvD
= π1 = 2 2
e π2
ρv D µ
Note que π2 é justamente o número de Reynolds. Caso queira praticar, você pode
fazer a análise dimensional de π1 para verificar se ele é mesmo adimensional. O im-
portante neste momento é que você perceba que p1 e p2 , juntos, contemplam as
quatro variáveis em estudo ( D, v, ρ, µ) .
Agora, voltemos para o experimento. Se utilizarmos uma única esfera de diâme-
tro D e um único fluido de massa específica r e viscosidade µ , pode-se variar a
Ponto F v D ρ π1 π2
µ
F1 ρv1 D
1 F1 v1 D r π1,1 = π2,1 =
2
ρv D12 µ
µ
F2 ρv2 D
2 F2 v2 D r π1,2 = π2,2 =
2
ρv D22 µ
µ
F3 ρv3 D
3 F3 v3 D r π1,3 = π2,3 =
2
ρv D32 µ
µ
F4 ρv4 D
4 F4 v4 D r π1,4 = π2,4 =
2
ρv D42 µ
F5 ρv5 D
5 F5 v5 D r µ π1,5 = 2
π2,5 =
ρv D52 µ
Fonte: os autores.
π1 = F
ρv²D²
(80; 1,6)
1,6
(200; 0,5)
0,5 ρvD
π2 =
80 200 µ
Figura 9 - Diagrama hipotético π1 x π2
Fonte: os autores.
UNIDADE 2 85
esferas de diâmetros diferentes ou outros fluidos com massas específicas e viscosi-
dades diferentes. Por exemplo, o ponto (200; 0,5), na Figura 9, é válido para qualquer
conjunto (ρ , v, D, µ, F ) , desde que:
F ρvD
=π1 = 0, 5 e =
π2 = 200
ρv 2 D 2 µ
Dessa forma, a curva contempla todas as infinitas combinações de valores das cin-
co variáveis, sendo capaz de descrever o fenômeno em estudo com versatilidade e
economizando tempo e recursos. Diagramas como este são chamados de diagramas
universais do fenômeno. Vamos fixar esta ideia por meio de um exemplo quantitativo.
4 EXEMPLO Você possui um óleo cuja massa específica é 930 kg/m³ e a viscosidade dinâmica é de
5,81x10-2 N.s/m². Se uma esfera de 1 centímetro de diâmetro se desloca neste fluido
à velocidade de 0,5 m/s, qual a força de arrasto sobre ela? Considere o diagrama
hipotético da Figura 9.
Solução:
2
F kg m 2
π1 F π1. ρv2 D2 1, 6 . 930 . 0, 5 . 0, 01 m 3, 72 . 102 N
ρv 2 D 2 m³ s
Como você deve ter notado, os números adimensionais podem facilitar bastante o
estudo de leis e fenômenos físicos. Assim como o número de Reynolds, alguns núme-
ros que aparecem com certa frequência nos fenômenos de transporte recebem nomes
próprios, como os números de Mach, Euler, Fourier, Biot, Nusselt, Prandtl, Schmidt,
Sherwood e muitos outros. Uma vez que este material é de natureza introdutória, eles
não serão todos abordados, mas caso você procure conhecê-los, certamente sua visão
analítica acerca dos fenômenos de transporte ficará mais aguçada.
v0 = 3 m/s
3 mm
2. Uma película de óleo de 2,5 mm foi colocada sobre uma superfície plana inclinada
em 45°. Em seguida, uma placa quadrada, com peso de 30 N e 1 metro de lado,
foi colocada para deslizar sobre este plano. Observou-se que, ao longo de sua
descida, a placa atingiu a velocidade de 4,2 m/s, que se manteve constante até
o final do deslocamento. Qual a viscosidade dinâmica do óleo?
2,5 mm
4,2 m/s 30 N
45°
87
3. Sendo a pressão (p) em um ponto qualquer de um líquido em repouso dada
pela equação:
p =r.g .h
88
LIVRO
89
BRUNETTI, F. Mecânica dos Fluidos. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.
ÇENGEL, Y. A.; CIMBALA, J. M. Mecânica dos fluidos: fundamentos e aplicações. 3. ed. Brasil: AMGH Edi-
tora, 2015.
REFERÊNCIAS ON-LINE
90
1. O problema pode ser resolvido utilizando a lei de Newton da viscosidade:
τ dv
cte. τ µ
dv dy
dy
Por conveniência, como a distância ε é relativamente pequena, é razoável considerar um gradiente de velocidade
linear, conforme indicado na figura. Neste caso, podemos simplificar a expressão para a forma:
v0
τ =µ
ε
Para utilizar esta equação, precisamos da viscosidade dinâmica do óleo, que pode ser calculada a partir da
viscosidade cinemática e da massa específica, que foram fornecidas. Convertendo em unidades do SI:
1 cm² / s 104 m2 m2
n 0, 2 St 2 . 105
1 St 1 cm² s
µ
ν µ ρ .ν
ρ
kg 5 m2 kg N .s
µ 850 . 2 . 10 1, 7 . 102 1, 7 . 102 2
m3 s m.s m
N . s 3 m / s
t 1, 7 . 102 2
m 3 . 103 m
t 17 N / m2
91
2. A viscosidade dinâmica pode ser encontrada por meio da avaliação da tensão de cisalhamento que atua
sobre a placa. O primeiro passo é realizar o balanço de forças, decompondo a força peso (P) em uma com-
ponente normal (Pn) e uma tangente (Pt) à superfície inclinada, e indicando a força que impõe resistência
ao movimento da placa (Ft):
Ft
Pn
P
45° Pt
Se a velocidade da placa estava constante, significa que a aceleração na direção do deslocamento era nula.
Portanto, pela segunda lei de Newton (F = m.a), a força resultante (FR) nessa direção também será nula, ou seja:
FR Pt Ft 0
Pt Ft
Como conhecemos G, a geometria nos possibilita determinar Gt, pois o ângulo interno deve ser justamente
a inclinação da superfície, 45°:
Pt
sen q
P
Pt P . sen q
Pt (30 N ) . sen 45 Pt 21, 21 N
Portanto:
Pt Ft Ft 21, 21 N
Ft
t=
A
92
Observe que a força Ft está atuando sobre toda a superfície inferior da placa, a qual está em contato com a
película de óleo. Dessa forma, como é uma placa quadrada de um metro de lado, a área em questão será:
A= l 2= (1 m)2 = 1 m2
Ft 21, 21 N N
=
t = 2
= 21, 21 2
A 1m m
Em posse deste valor, podemos alcançar o objetivo da questão utilizando a lei de Newton da viscosidade:
dv
τ =µ
dy
Precisamos, agora, determinar, de alguma maneira, o gradiente de velocidades. Note que a distância da placa
à superfície (ε) é justamente a espessura da película: 2,5 mm. Por ser uma espessura pequena (afinal, é uma
película), é razoável considerar um gradiente de velocidades linear. Assim:
dv dy ε
τ µ µ τ. τ.
dy dv v0
N 2, 5 . 10 3 m
21, 21 2 .
m 4, 2 m / s
N .s
1, 26 . 10 2
m2
3. Nos Exemplos 3 e 4 desta unidade, já foi demonstrado que as dimensões da massa específica na base FLT
são:
[m] FT 2 L1
[r ] 3
FT 2 L4
[V ] L
Além disso, sabemos que g é a aceleração da gravidade e, portanto, possui dimensões de comprimento por
tempo ao quadrado, como apresentado no Exemplo 4:
L
[g] 2
LT 2
T
93
A última variável que resta, h, representa a profundidade do ponto. Logo, sua dimensão deve ser unicamente
de comprimento:
[ h] = L
Com estes três parâmetros, podemos fazer a análise dimensional da pressão conforme a equação enunciada:
De fato, este resultado faz sentido, pois significa “força por unidade de área”, sendo compatível com unidades
típicas de pressão como N/m² (ou Pa).
4. Conhecemos a massa específica (ρ) do metanol, o diâmetro (D) da esfera utilizada, a velocidade (v) e a força
de arrasto (F) observadas no experimento. Considerando válido o diagrama hipotético da Figura 9, dois
números adimensionais são importantes:
F ρvD
=π1 = 2 2
e π2
ρv D µ
F 8, 75.106 N
π1 0, 50
ρv 2 D 2 2
kg m
2
788, 4 3 . 1, 49.102 . 102 m
m s
Pela Figura 9, temos que quando π1 = 0,5, π2 = 200. Conhecendo este valor, é possível utilizar a equação de π2
para determinar a viscosidade absoluta do metanol:
kg m
788, 4 . 1, 49.102 . 0, 01 m
ρvD ρvD m 3 s kg
π2 µ 5, 87.104
µ π2 200 m.s
kg 1N N .s
µ 5, 87.104 5, 87.104
m . s 1 kg . m m
2
s
Cuidado, o exercício ainda não acabou! Foi solicitada a viscosidade cinemática e não a absoluta (dinâmica).
Assim, para concluir a questão, basta dividir este último resultado pela massa específica:
N .s
5, 87.104 2
ν
µ
m2 7, 45.107 m
ρ kg s
788, 4 3
m
94
95
96
Dr. Rodrigo Orgeda
Esp. Henryck Cesar Massao Hungaro Yoshi
Pressão e Estática
dos Fluidos
PLANO DE ESTUDOS
Escalas e Unidades
Empuxo
de Pressão
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Resgatar o estudo da pressão por meio da sua definição, • Apresentar os principais instrumentos empregados para
do Teorema de Stevin, da Lei de Pascal e do conceito de a medição de pressões em diferentes situações.
carga de pressão. • Revisar a definição de empuxo.
• Determinar os diferentes referenciais físicos existentes
para a medição da pressão e as principais unidades de
medida empregadas.
Pressão
Uma vez que a pressão é definida como força sobre área, sua dimensão é de força
por comprimento ao quadrado.
No SI, define-se então a unidade de medida Pascal (Pa):
[ FN ] F N
[ p] Pa
[ A] L2 m²
Assim, imagine dois recipientes, submetidos à mesma força, mas de dimensões dis-
tintas.
10 N 10 N
p1 A1 = 5 cm² p2
A2 = 2 cm²
(a) (b)
Figura 1 - Recipientes distintos submetidos a forças semelhantes
Fonte: adaptada de Brunetti (2008).
F1 10 N 10 N N
p1 20000 20000 Pa
A1 5 cm2 5.104 m2 m2
F2 10 N 10 N N
p2 2
4 2
50000 2 50000 Pa
A2 2 cm 2.10 m m
É importante notar que, enquanto no capítulo anterior nos interessamos pelas forças
tangenciais (para definir a tensão de cisalhamento), neste capítulo o nosso foco será
nas forças normais sobre o fluido. Por isso, será importante sempre ter em mente
o chamado “plano horizontal de referência” (PHR) que, basicamente, é um plano
horizontal arbitrário que marca a altura z = 0 de um sistema. Veja a figura a seguir:
UNIDADE 3 99
(3)
1m
(2)
10 m
(1) B
2m
(0)
PHR
Figura 2 - Sistema de tubulações indicando o plano horizontal de referência
Fonte: adaptada de Brunetti (2008).
Para o PHR identificado na figura, teremos:
• Altura da cota (0): z0 = 0 m.
• Altura da cota (1): z1 = 2 m.
• Altura da cota (2): z2 = 2 m + 10 m = 12 m.
• Altura da cota (3): z3 = 2 m + 10 m + 1 m = 13 m.
Lei de Pascal
1 2 1 2
A = 5 m²
3 3
4 4
(a) (b)
Figura 3 - Experimento evidenciando a Lei de Pascal
Fonte: adaptada de Brunetti (2008).
= N m2 ; p2 2=
p1 2= N m2 ; p3 4=
N m2 ; p4 5 N m2
F 10 N N
p
= = 2
=2 2
A 5m m
Assim, as pressões nos pontos indicados passam a ser incrementadas deste valor:
p1 = 4 N/m²; p2 = 4 N/m²; p3 = 6 N/m²; p4 = 7 N/m²
Por fim, note que em ambos os casos as pressões nos pontos 1 e 2, aparentemente
no mesmo nível (linha horizontal), são iguais.
Além desta importante definição para a estática dos fluidos, Pascal também ob-
servou que, uma vez que a pressão aplicada a um fluido é proporcional à superfície
(área), seria possível conectar cilindros de áreas distintas, de modo que o menor
poderia ser utilizado para exercer uma força superior no maior. Assim, um objeto
pesado poderia ser levantado empregando uma força inferior. O exemplo a seguir
ilustra este mecanismo.
UNIDADE 3 101
1 EXEMPLO Em uma oficina, é necessário fazer reparos em um carro de uma tonelada. A manuten-
ção deve ser feita na parte inferior do veículo e, para facilitar o trabalho do mecânico,
deseja-se elevar o carro. Uma ferramenta que pode ser empregada para esta tarefa
é o chamado elevador hidráulico, cujo funcionamento é baseado justamente na lei
de Pascal. Supondo que, para levantar o veículo em questão, uma pessoa aplica uma
força de 1000 N no macaco hidráulico, cujo pistão menor apresenta área de 10 cm²,
qual é a área do pistão maior?
Solução:
F1 = p1A1
A1 A2
1 p1 p2 2
É razoável considerar que os pistões estão no mesmo nível, pois o efeito de pequenas
diferenças de altura é desprezível, especialmente em grandes pressões. Assim, temos
que:
p1 = p2
F1 F2
=
A1 A2
m
1000 kg . 10
1000 N s2 N 10000 N
2
100 2
10 cm A2 cm A2
A2 = 100 cm2
A razão entre áreas A2/A1 é chamada de ganho mecânico ideal do elevador hidráulico.
Esta denominação também pode ser entendida como: a razão entre a força exercida
por um mecanismo e a força aplicada sobre ele. Neste caso, por exemplo, A2/A1 = 10,
de modo que um objeto de 10000 N de peso pode ser levantado com uma força de
apenas 1000 N.
Outra importante ferramenta da estática dos fluidos que você já pode ter estudado
em suas aulas de física é o Teorema de Stevin. O matemático holandês Simon Stevin
(1548–1620) observou que, enquanto a pressão em um fluido em repouso é inde-
pendente da forma ou seção transversal do recipiente (sendo também constante na
direção horizontal), ela varia com a distância vertical. Stevin publicou este princípio
em 1586, e seu teorema pode ser enunciado da seguinte forma: a diferença de pressão
entre dois pontos de um fluido em repouso é igual ao produto do peso específico do
fluido pela diferença de cotas dos dois pontos.
Este teorema pode ser escrito como a seguinte equação, sendo z as distâncias
verticais em relação ao plano horizontal de referência e g o peso específico:
Dp γ=
= . Dz (ρ . g ) . Dz
Note que você talvez já esteja acostumado, de suas aulas de física, a utilizar esta relação
na seguinte forma:
p =r.g .h
Por exemplo, sendo um recipiente aberto para a atmosfera com certo volume de
fluido em repouso, pode-se esboçar o seguinte esquema:
UNIDADE 3 103
p1 = patm
1
2 p2 = patm + pgh
Observe que o plano horizontal de referência pode ser entendido como a super-
fície do fluido. Neste caso, você poderia argumentar que a cota “h” teria um valor
negativo, afinal, estaria abaixo do “zero” de referência. Contudo, se este valor fosse
negativo, a equação indicaria que a pressão no ponto 2 seria menor que no ponto
1, o que sabemos não ser verdade. Assim, para garantir resultados corretos, é im-
portante sempre analisar se o valor obtido faz sentido.
Evidentemente, para que o conceito de carga de pressão faça sentido, deve-se co-
nhecer a massa específica (ou o peso específico) do fluido em questão. Entretanto,
por que este parâmetro é importante a ponto de ser conveniente dar um nome mais
particular a ele?
Imagine uma tubulação pela qual escoa um líquido de peso específico γ sob uma
pressão p (Figura 6a). Agora, considere que seja feito um orifício na parte superior
deste tubo, ao qual é ligado uma nova tubulação. Se a pressão p for maior que a
pressão externa, parte do líquido vai subir por esta nova tubulação até alcançar uma
altura h (veja a Figura 6b).
h
γ p γ p
(a) (b)
Figura 6 - Representação esquemática da carga de pressão em tubulações
Fonte: Brunetti (2008, p. 23).
Para que esta coluna de líquido fique em repouso, ela deverá equilibrar justamente
a pressão P da tubulação, ou seja:
UNIDADE 3 105
Escalas e
Unidades de Pressão
Escalas de Pressão
pman
patm
pvácuo pabs
p1
patm patm
pabs
Vácuo Vácuo
pabs= 0
absoluto absoluto
Figura 7 - Esquema indicando as diferenças entre as escalas de pressão
Fonte: adaptada de Çengel e Cimbala (2015).
Acompanhando pela Figura 7, note que podemos escrever as seguintes equações. Para p1:
UNIDADE 3 107
Logo, se multiplicarmos esta equação por (-1), o valor será positivo:
Dito isto, é importante que você entenda que, para ser capaz de compreender e tra-
balhar com pressão na vida profissional, em vez de tentar decorar equações lógicas,
é muito mais valioso e eficiente que você compreenda os referenciais utilizados nas
duas escalas. Mesmo que estas ideias ainda estejam nebulosas, um pouco de prática
certamente fará com que você se acostume rapidamente.
Unidades de Pressão
g água = 10000 N / m3
g Hg = 136000 N / m3
2 EXEMPLO Um manômetro indica a pressão de 7 psi. Ainda na escala manométrica, converta este
valor para as unidades mmHg e atm. Depois, converta este valor para as unidades
Pa e mca, mas na escala absoluta. Considere a pressão atmosférica patm = 101325 Pa.
Solução:
760 mmHg
7 psi = 361, 91 mmHg
14, 7 psi
1 atm
7 psi = 0, 48 atm
14, 7 psi
Em seguida, devemos fazer novas conversões, mas agora na escala absoluta. Para isso,
devemos lembrar que a pressão absoluta pode ser avaliada por:
UNIDADE 3 109
Naturalmente, para que a soma faça sentido, a pressão manométrica e a pressão
atmosférica devem estar nas mesmas unidades. Como a primeira unidade pedida
é o Pa – a mesma unidade da pressão atmosférica dada – é conveniente converter a
pressão manométrica:
101325 Pa
7 psi = 48250 Pa
14, 7 psi
10, 33 mca
7 psi = 4, 92 mca
14, 7 psi
10, 33 mca
101325 Pa = 10, 33 mca
101325 Pa
10, 33 mca
149575 Pa = 15, 25 mca
101325 Pa
Como os fatores de conversão estão listados com até 2 decimais, alguns dos resultados
podem variar ligeiramente em relação aos valores reais.
Barômetro
UNIDADE 3 111
vácuo
γ
h Patm
0
A
Observe que parte do conteúdo do tubo permanecerá nele, na forma de uma coluna de
líquido. Talvez isto não pareça intuitivo, mas podemos dar uma explicação física com
base nos tópicos que estudamos durante esta unidade. Primeiro, note que enquanto
a vasilha está aberta à atmosfera, o tubo está fechado. Isto significa que a pressão
atmosférica atua na superfície do líquido da vasilha, mas não atua na superfície da
coluna de líquido no tubo. Em segundo lugar, lembre-se que, pelo Teorema de Stevin,
a pressão no ponto 0 deve ser igual à pressão no ponto A. Isto é:
p0 = p A
Agora, note que a pressão em A é a própria pressão atmosférica, enquanto a pressão
em 0 é justamente a pressão causada pela coluna de líquido no tubo. Assim:
Manômetro de Bourdon
Sistema de
Tubo ampliação
metálico
Tomada
de pressão
Fluido à pressão p
Figura 9 - Representação esquemática do funcionamento de um manômetro de Bourdon
Fonte: Brunetti (2008, p. 26).
UNIDADE 3 113
h = p/γ
Seu uso, contudo, tem algumas limitações. Por exemplo, ele só funciona para pressões
manométricas positivas: se houver uma depressão, o ar entra no reservatório, em vez
de uma coluna de líquido subir. Em segundo lugar, não funciona para gases, pois
obviamente eles escapariam sem formar uma coluna. Por fim, ele é útil somente para
pequenas pressões: se forem muito elevadas, as colunas podem ser muito grandes e,
diferentemente do barômetro, não é possível simplesmente escolher usar o mercúrio.
Tubo em U
Gás h
1 2
patm = 90 kPa
p=? h = 65 cm
PHR
A B
Solução:
Sabemos que, por estarem na mesma linha horizontal do mesmo fluido, as pressões
nos pontos A e B são iguais. Podemos desprezar a pequena coluna de gás acima do
ponto A, o que é razoável, pois o peso específico de gases é pequeno. Assim, a única
pressão que precisamos considerar é a do próprio reservatório. No ponto B, como o
tubo está aberto para atmosfera, temos a ação da pressão atmosférica e do peso da
coluna de fluido manométrico. Colocando estas informações em equações, temos:
pA p
pB patm pcoluna patm g Hg . h
p A pB p patm g Hg . h
N
p 90 kPa 1, 36 . 105 3 . (0, 65 m)
m
p 178400 Pa
Repare que esta é a pressão do reservatório na escala absoluta. Para verificar na escala
manométrica, basta desconsiderar a pressão atmosférica:
N
p 1, 36 . 105 3 . (0, 65 m)
m
p 88400 Pa
UNIDADE 3 115
Os manômetros de tubo em U podem também ter uma configuração diferente: os
chamados manômetros diferenciais, os quais são ligados a dois reservatórios, em vez
de serem abertos para a atmosfera. No tópico a seguir, veremos como abordar estes
manômetros matematicamente.
A B
A B
Equação Manométrica
pA γA
γB
pB
h1
γM h3 h4
h2
Figura 14 - Esquema genérico para a elaboração da equação manométrica de manômetros diferenciais
Fonte: Brunetti (2008, p. 28).
Considerando o que você estudou sobre o Teorema de Stevin e a Lei de Pascal, ire-
mos avaliar a pressão na parte mais baixa do tubo (indicado pela linha sublinhada
inferior), do lado esquerdo ( pe ) e do lado direito ( pd ). No lado esquerdo, temos
que considerar: a pressão no reservatório A ( p A ), a pressão causada pela coluna de
fluido A (cuja altura é h1 − h2 ) e a pressão causada pela coluna de fluido manométrico
(altura h2 ). Assim, podemos escrever a equação:
pd pB g B . h4 h3 g M . h3
p A g A . h1 h2 g M . h2 pB g B . h4 h3 g M . h3
Agora, vamos analisar como esta equação pode ser utilizada. Primeiramente, é de se
esperar que você conheça os pesos específicos dos três fluidos. Em segundo lugar,
se você está olhando para o manômetro, deve ser capaz de medir as alturas de cada
coluna. Com isso, os únicos dois parâmetros que você provavelmente não conhece
são as pressões nos reservatórios ( p A e pB ). Dessa forma, como mencionado no
início, você pode utilizar a equação manométrica para avaliar a diferença de pressão
entre os reservatórios:
p A pB g B . h4 h3 g M . (h3 h2 ) g A . h1 h2
Existe também uma regra prática que pode facilitar seu uso da equação manométrica.
Observe, na equação anterior, que cada peso específico sempre multiplica a altura da
sua respectiva coluna. Agora, considere a figura a seguir:
UNIDADE 3 117
pA γ1 γ4
γ6
pB
h1 h6
h4
h3 h5
h2
γ3
γ5
γ2
pB
+ h1
– h6
+ h4
– h3 – h5
+ h2
A escolha de usar esta regra ou de igualar as pressões do lado esquerdo e direito pode
ficar a seu critério. Vejamos alguns exemplos para colocar estes conceitos em prática.
A
h1
B
h2 h3
h4
Solução:
pe p A góleo . h1 g Hg . h2 h4
pd pB g H 2O . h3 g Hg . h4
Como você bem sabe, se o sistema está em equilíbrio, ambas pressões devem ser
iguais. Igualando-as e remanejando a equação para que a diferença ( p A − pB ) fique
isolada, temos:
p A pB g H 2O . h3 g Hg . h4 góleo . h1 g Hg . h2 h4
p A pB g H 2O . h3 góleo . h1 g Hg . h2
Uma vez que todos os parâmetros do membro direito da equação são conhecidos,
basta substituir os valores e calcular a diferença:
N N N
p A pB 10000 3
. 0, 40 m 8000 3
. 0, 15 m 136000 . 0, 40 m
m m m3
p A pB 51600 Pa 51, 6 kPa
UNIDADE 3 119
Poderíamos também aplicar a regra da equação manométrica para chegar à mesma
equação facilmente:
p A góleo . h1 g Hg . h2 g H 2O . h3 pB
p A pB g H 2O . h3 góleo . h1 g Hg . h2
5 EXEMPLO Considerando o esquema da figura a seguir, determine a pressão indicada pelo manômetro.
Em posse deste valor, calcule a força que age na parede superior interna do reservatório.
pM
Área do topo = 20 m²
35 cm Água 30°
110 cm
Solução:
Apesar de talvez não parecer intuitivo, o problema pode ser solucionado utilizando
a equação manométrica. É conveniente adotar a linha pontilhada como referência
(afinal, é com relação a ela que conhecemos as dimensões do sistema). Do lado es-
querdo, teremos:
pe pM g Ar . hAr go . ho g H 2O . hH 2O
Do lado direito:
pd patm g H 2O . L . sen 30 º
Mais uma vez, como você já deve estar acostumado, por estarem no mesmo nível, a
pressão do lado esquerdo deve ser igual à do lado direito. Com isso, podemos isolar
o parâmetro que desejamos descobrir.
pM g Ar . hAr go . ho g H 2O . hH 2O Patm g H 2O . L . sen 30 º
pM patm g H 2O . L . sen 30 º g Ar . hAr go . ho g H 2O . hH 2O
Veja que também poderíamos ter usado a regra da equação manométrica neste caso:
pM g H 2O . L . sen 30 º go . ho g H 2O . hH 2O
Agora, podemos substituir os valores (pois conhecemos todos) e chegar ao resultado
procurado:
N N N
pM 10000 3 . 1, 1 m . 0, 5 8000 3 . 0, 20 m 10000 3 . 0, 35 m
m m m
N
pM 400 2
m
Com este resultado, é fácil calcular a força na parede do reservatório. Pela definição
de pressão, temos que:
Ftopo pM . A
N
Ftopo 400 2 . 20 m2 8000 N
m
UNIDADE 3 121
Empuxo
= f . g . Vdeslocado γ f . Vdeslocado
E ρ=
Em que “E” é o empuxo, “ρf” e “γf” são a massa e o peso específicos do fluido, “g” é a
aceleração da gravidade e “Vdeslocado” é o volume de fluido deslocado. Caso esta última
variável pareça confusa, entenda-a como: “volume do corpo rígido que está submerso”.
Assim, se o sólido estiver completamente imerso no fluido, por exemplo, temos que:
Vdeslocado = Vcorpo
UNIDADE 3 123
Como mencionado, o empuxo é particularmente importante para estabelecer a condição
de flutuação de um corpo. Considere a figura a seguir, em que P é o peso do corpo:
Veja que, como apontado no início desta unidade, nosso foco está em forças verticais.
Fazendo o balanço destas duas forças, podemos afirmar que, para que o corpo flutue:
E≥P
g f ≥ gcorpo
Vamos, agora, trabalhar um exemplo que mostra como o empuxo é importante até
mesmo em tarefas simples de engenharia.
Solução:
Para facilitar a visualização, o primeiro passo pode ser fazer o esboço do problema.
Considere a situação em que o bloco está sendo levantado pelo guindaste na água:
FT, Água
Água
Agora, é importante ter seu objetivo bastante claro: desejamos verificar se a massa
específica do bloco está na faixa de 2100 a 2300 kg/m³. Observe que, se conhecemos
o volume do corpo, este parâmetro pode ser utilizado para calcular a força peso P:
=P m=
bloco . g (rbloco . Vbloco ) . g
Força Resultante na Dir eção Vertical = For ças para Cima - For ças para Baixo
UNIDADE 3 125
Para o sistema em equilíbrio:
E então:
P E FT ,água
P r f . g . Vdeslocado FT ,água
Como o bloco está completamente submerso, Vdeslocado = Vbloco. Podemos então subs-
tituir todos os parâmetros:
kg m
P 1040 3
. 10 2
. 0, 64 m3 6500 N
m s
P 6656 N 6500 N
P 13156 N
P 13156 N
=
rbloco =
Vbloco . g 0, 64 m³ . 10 m / s ²
kg
rbloco = 2055, 63
m³
Dessa forma, podemos concluir que o bloco está, de fato, fora das especificações
exigidas. Outro detalhe importante de se observar neste exemplo é o aparente efeito
“redutor de peso” do empuxo: no ar, todo o peso do bloco estaria na forma de tração
na corda, enquanto na água a tração caiu para menos da metade.
p atm = 98 kPa
p man = 16 kPa 50 N
m=?
A = 50 cm²
p=?
127
2. Considere o manômetro da figura a seguir. Sendo o fluido A um óleo e B um
fluido manométrico de pesos específicos γóleo = 8800 N/m³ e γfluido = 120000 N/
m³, determine a pressão p1 na escala manométrica.
P1
A 25 cm
18 cm
10 cm
B
A
80 cm Óleo
8500 N/m³
40 cm Água
10000 N/m³ 120 cm
Glicerina
60 cm 12600 N/m³
20 cm
128
WEB
WEB
Animação desenvolvida pelo TED-Ed que vai mais longe na história de Arquime-
des e comenta a lei da flutuabilidade. Conteúdo em inglês, mas o vídeo apresenta
legendas em português disponíveis.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.
129
BRUNETTI, F. Mecânica dos Fluidos. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.
ÇENGEL, Y. A.; CIMBALA, J. M. Mecânica dos fluidos: fundamentos e aplicações. 3. ed. Brasil: AMGH Editora,
2015.
LESLIE, M. The First Eureka Moment. Science, [S.l.], v. 305, n. 5688, p. 1219, ago. 2004. Disponível em:
http://science.sciencemag.org/content/sci/305/5688/1219.5.full.pdf. Acesso em: 3 out. 2019.
130
1. O exercício pede dois resultados: a pressão absoluta no gás e a massa do pistão. O primeiro destes pode
ser facilmente avaliado:
F
p F p. A
A
Como já conhecemos a área, é necessário avaliar as forças atuando sobre o gás. Para isso, você poderia usar
tanto a escala absoluta quanto a manométrica – por conveniência, utilizaremos a escala manométrica. Temos
duas forças para analisar: a força exercida pela mola (Fmola) e a força peso (P):
Isolando o termo que desejamos determinar (a massa do pistão) e substituindo os valores de cada parâmetro:
pman . A Fmola
m pistão
g
16000 Pa . 0, 005 m² 50 N
m pistão
10 m / s ²
m pistão 3 kg
2. Para resolver este exercício, usamos a equação manométrica, adotando como plano horizontal de referência
a parte mais baixa do manômetro. A pressão do lado esquerdo pode ser equacionada por:
Do lado direito:
131
Se o sistema está em equilíbrio, é válido:
Esta mesma equação poderia ser alcançada utilizando a regra da equação manométrica:
Como estamos na escala manométrica, podemos desconsiderar o termo referente à pressão atmosférica.
Substituindo os valores na equação:
N N
p A 120000 . (0, 25 m 0, 10 m) 8800 . (0, 18 m 0, 10 m)
m³ m³
p A 17296 Pa 17, 30 kPa
3. Este exercício pode ser resolvido utilizando o conceito de equação manométrica. O usual seria utilizar como
plano horizontal de referência o fundo do manômetro (a parte inferior do tubo na horizontal), contudo,
pela configuração da figura, é conveniente utilizar outro plano: a interface água-glicerina no tanque. Veja
o novo esquema:
A
80 cm Óleo
8500 N/m³
Água 60 cm
40 cm
10000 N/m³
PHR
132
Esta aparente “simplificação” é válida porque, na prática, abaixo deste segmento do sistema, as colunas de
glicerina são iguais de ambos os lados, logo, elas se anulariam na equação manométrica. Equacionando as
pressões do lado esquerdo, temos:
Do lado direito:
pd p A g glicerina . hglicerina
Igualando ambas e isolando o termo solicitado pelo problema, pA:
A regra da equação manométrica ainda pode ser aplicada, e levaria a esta mesma equação.
Como estamos interessados na pressão manométrica, podemos desconsiderar a pressão atmosférica da equa-
ção. Com isso, basta substituir os valores dos pesos específicos e das alturas de cada coluna:
N N N
p A 8500 . 0, 8 m 10000 . 0, 4 m 12600 . 0, 6 m
m³ m³ m³
p A 3240 Pa
Por fim, o exercício solicita a altura necessária para que uma coluna de água causasse esta mesma pressão. Na
prática, isso pode ser entendido como converter o resultado para alguma unidade apropriada, como metros
de coluna d’água:
10, 33 mca
=p A 3240
= Pa 0, 33 mca
101325 Pa
pA 3240 Pa
h=
'
água =
g água 10000 N
m³
hágua
'
= 0, 324 mca
A pequena diferença observada é decorrente de aproximações no peso específico da água devido à acelera-
ção da gravidade empregada (10 m/s² em vez de um valor mais rigoroso, como 9,8 m/s²). Como observação
final, sugere-se que você experimente resolver este exercício novamente, mas adotando a parte mais baixa do
manômetro como plano horizontal de referência. Isto facilitará a compreensão da estratégia que foi utilizada
nesta resolução.
133
134
135
136
Dr. Rodrigo Orgeda
Esp. Henryck Cesar Massao Hungaro Yoshi
PLANO DE ESTUDOS
Vazão e a Equação
da Continuidade
Caracterização
do Escoamento
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Revisitar os conceitos de regime permanente e transien- • Trabalhar com a lei de conservação da massa para definir
te, apresentando as definições de escoamento laminar, a equação da continuidade para o escoamento de fluidos
turbulento e unidimensional. em regime permanente.
Caracterização
do Escoamento
v0 v(y) Região
não viscosa
Região viscosa
Superfície Sólida
Figura 1 - Perfil de velocidade v(y) de um escoamento uniforme sobre uma superfície sólida
Fonte: os autores.
UNIDADE 4 139
Interno ou Externo
Um escoamento pode ser dito interno ou externo de acordo com o local onde ele
acontece: dentro de um conduto ou sobre uma superfície. Caso a palavra “conduto”
soe estranha aos seus ouvidos, ela se refere a qualquer estrutura sólida destinada
ao transporte de fluidos, como tubulações. Dessa forma, as definições são bastante
simples – o escoamento pode ser dito:
• Interno: se o fluido escoa cercado por superfícies sólidas (como dentro de tubos).
• Externo: se o fluido escoa sobre superfícies, como placas, esferas ou, até mes-
mo, por fora de tubos.
Além disso, pode-se ainda dizer que os condutos são livres (ou abertos), se o fluido
em movimento apresenta uma superfície livre (Figura 2b), ou forçados, quando o
fluido preenche o conduto completamente sem apresentar superfície livre (Figura 2a).
Superfície
Superfície livre
livre
(a) (b)
Figura 2 - Comparação entre condutos forçados (a) e condutos livres (b)
Fonte: Brunetti (2008, p. 164).
Compressível ou Incompressível
v Velocidade do Escoamento
Ma= =
c Velocidade do Som
Natural ou Forçado
Permanente ou Transiente
UNIDADE 4 141
significativa com o tempo, podendo ser considerado regime permanente. A Figura
3b mostra um reservatório em que o nível varia sensivelmente com o tempo, pois a
seção transversal é relativamente pequena comparada à descarga do fluido, caracte-
rizando um regime transiente.
t1
NC
Nível variável
t2 (regime variado)
Reservatório de t3
grandes dimensões
(regime permanente) t1
(a) (b) t3
t2
Laminar ou Turbulento
Você certamente já notou que, ao abrir ligeiramente uma torneira, o fluxo é bastante
suave e ordenado (Figura 4). Este tipo de escoamento é chamado de laminar, carac-
terizado pelo movimento suave entre as partículas de fluido em camadas (“lâminas”).
Fluidos de viscosidade alta em baixas velocidades costumam escoar desta forma.
Por outro lado, se você abrir ainda mais a torneira, a velocidade e a vazão de água
aumentam e o escoamento passa a ser mais desordenado. De fato, se você coletar
esta água em um copo, verá que a formação de bolhas é muito mais intensa (Figura
5). Este tipo de escoamento é chamado de turbulento, sendo comum em fluidos de
baixa viscosidade em altas velocidades.
UNIDADE 4 143
Quando as condições de escoamento estão entre o laminar e o turbulento, diz-se
que o escoamento está em regime de transição. O regime laminar ou turbulento
afeta consideravelmente diversos processos envolvendo fluidos, como a potência
necessária para bombeamento ou a transferência de calor, por exemplo. Dessa forma,
surge a necessidade de um parâmetro capaz de determinar se um escoamento será
laminar ou turbulento. Este parâmetro é o número de Reynolds, que você conheceu
na Unidade 2, definido pela seguinte relação:
Corante Corante
vméd vméd
Por fim, é importante apontar que, em geral, o regime turbulento pode ser admitido
como permanente, mesmo sendo caracterizado por flutuações na velocidade. Isto é
razoável, pois as velocidades ficarão sempre em torno de um valor médio (Figura 7).
De fato, alguns aparelhos sequer são capazes de indicar as flutuações com elevada
precisão.
v
Valor médio indicado
pelo aparelho medidor
Flutuações de velocidade
Tempo
Figura 7 - Flutuações na velocidade de um escoamento turbulento ao longo do tempo
Fonte: Brunetti (2008, p. 69).
Unidimensional, Bidimensional
ou Tridimensional
Uma das principais formas de descrever um escoamento é por meio de seu gradiente
de velocidades. Podemos dizer que ele é uni-, bi- ou tridimensional se a velocidade
varia com uma, duas ou três dimensões, respectivamente. Por exemplo: o escoamento
é unidimensional quando precisamos de apenas uma coordenada para descrever
sua velocidade, como na Figura 8, em que a velocidade depende apenas da posição
x, ou seja, v = f(x).
UNIDADE 4 145
v1
v2
(1) (2)
x1 x2 x
Figura 8 - Escoamento unidimensional
Fonte: Brunetti (2008, p. 71).
y1 v1
(2)
(1)
v = ƒ(x, y)
x1 x2 x
Figura 9 - Escoamento bidimensional
Fonte: Brunetti (2008, p. 71).
z
y
v = ƒ(x, y, z)
É comum encontrar o escoamento sendo descrito como “uniforme”, que pode causar
certa confusão ao comparar bibliografias e traduções diferentes. Por “uniforme”,
entenda: sem variação com a posição em uma determinada região. O escoamento
da Figura 8, por exemplo, pode ser dito: “uniforme na seção”, pois não varia com
as posições y ou z para cada seção na posição x.
Flutuante
t0
t1 tn
t2
Figura 11 - Trajetória de um corpo flutuante ao longo de um escoamento
Fonte: Brunetti (2008, p. 70).
A linha de corrente, por sua vez, é a curva tangente aos vetores da velocidade em
diferentes pontos no mesmo instante, servindo como indicador da direção do es-
coamento naquele instante. Por exemplo, na Figura 12, as linhas pretas são as linhas
de corrente para um escoamento bidimensional:
UNIDADE 4 147
5
3
y
2
-1
0 1 2 3 4 5
x
Figura 12 - Linhas de corrente para um escoamento bidimensional
Fonte: Çengel e Cimbala (2015, p. 111).
É possível desenvolver expressões algébricas para descrever as linhas de corrente a
partir da sua definição, mas isto está fora do escopo deste material. O interesse aqui
é que você compreenda como visualizar o movimento do fluido: se medirmos a
velocidade em diferentes pontos do escoamento, podemos determinar as linhas de
corrente, que coincidem geometricamente com as trajetórias no regime permanente.
Existem diversas formas e técnicas para visualizar o escoamento, muitas das quais
são particularmente importantes para o desenvolvimento de soluções numéricas
para problemas de escoamento. A simulação numérica destas soluções é chamada
de fluidodinâmica computacional (CFD) e transforma números em imagens, provi-
denciando ao engenheiro uma perspectiva privilegiada do escoamento. Algumas
técnicas modernas de análise do movimento de partículas em fluidos envolvem
também métodos ópticos como a velocimetria por imagem de partículas (PIV), grá-
ficos de sombras, fotografia schlieren e interferometria. Isso é importante porque
a mente humana é capaz de processar rapidamente uma quantidade enorme de
informações visuais em vez de apenas listar dados quantitativos.
Fonte: adaptado de Çengel e Cimbala (2015).
UNIDADE 4 149
Vazão e Velocidade Média
Utilizamos a ideia de “vazão” na Unidade 1, mas sem dar atenção particular a ela.
No contexto da mecânica dos fluidos, podemos entender esta expressão da seguinte
forma: a quantidade de massa de fluido que atravessa uma determinada seção do
escoamento por unidade de tempo. Por esta definição, sendo Qm o símbolo utilizado
para representar a vazão mássica, m para massa e t para tempo, pode-se escrever
Massa
Vazão Mássica =
Tempo
m
Qm =
t
1
Como [Qm ] MT , unidades típicas para a vazão mássica são kg/h e o lb/h, por
exemplo. Também é bastante comum pensar na vazão em termos do volume de fluido:
Volume
Vazão Volumétrica =
Tempo
V
Q=
t
Neste caso, [Q] = L³T-1, de modo que várias unidades são comuns: m³/s, m³/h, l/s, l/h,
ft³/s. É importante observar que estas duas vazões se relacionam da seguinte maneira:
Qm = r . Q
Então, se, por exemplo, um chuveiro aberto gasta 150 litros de água durante um
banho de 15 minutos, podemos dizer que a vazão é de 10 litros de água por minuto.
Adotando a massa específica da água como 1000 kg/m³, isto corresponde à vazão
mássica de 10 kg/min:
Qm = r . Q
1000 kg 1 m3 l kg
=Qm = 3 1000 l
. 10 10
1m min min
Solução:
Volume 12000 l l
Vazão Volumétrica
= = = 300
Tempo 40 min min
l
Q = 300
min
m³ kg kg
Qm 5 . 103 1000 3 5
s m s
Observe que, na definição dada para a vazão, é mencionada uma determinada seção
do escoamento. Esta ideia é importante, pois possibilita relacionar a vazão em volu-
me com a velocidade do fluido. Imagine um fluido em movimento dentro de uma
tubulação, em que atravessa a seção de área A no tempo t = 0, deslocando-se uma
distância s em um intervalo de tempo t, como na Figura 13:
A
γ
t=0
A
γ
s t
UNIDADE 4 151
Agora, atente-se à seguinte afirmação: o volume (V) de fluido que atravessou a seção
de área A no intervalo de tempo t é equivalente ao volume do cilindro de altura s e
área da base A. Assim, temos matematicamente que:
V = s. A
V s. A
Q= =
t t
Q =v. A
A
v
dA
dQ = v . dA
Então, a vazão na seção de área A pode ser avaliada por meio da integral:
Q v dA
A
Agora, vamos considerar a seguinte definição para a velocidade média (vm): uma
velocidade uniforme que, substituindo a velocidade real, resulta na mesma vazão
por meio da seção:
Q v dA vm . A
A
Esta expressão pode ser arranjada conforme a devida definição de velocidade média
na seção:
1
A A
vm v dA
vm vreal
Figura 15 - Perfil de velocidades (vreal) e velocidade uniforme média na seção (vm) que resultam em
vazões volumétricas equivalentes por meio da seção
Fonte: Brunetti (2008, p. 73).
UNIDADE 4 153
2 EXEMPLO Um óleo (ρ = 850 kg/m³) escoa em uma tubulação que apresenta seções de tamanhos
diferentes: A1 = 30 cm² e A2 = 18 cm². Se a velocidade média na seção (1) é de v1 =
6 m/s, determine as vazões em volume, em massa e a velocidade média na seção (2)
em unidades do SI.
Solução:
(1)
(2)
v1
A1 30 cm2 30 . 104 m2
A2 18 cm2 18 . 104 m2
Como a velocidade média na seção (1) é fornecida, é possível calcular a vazão vo-
lumétrica:
m
Q v1 . A1 6 . 30 . 104 m2
s
2 m3
Q 1, 8 . 10
s
Agora, como conhecemos a massa específica do óleo, podemos utilizá-la para calcular
a vazão em massa:
kg 2 m3 kg
Qm r . Q 850 . 1, 8 . 10 15, 30
m3 s s
m 30 . 104 m2 m
v2 6 . 4 2
10
s 18 . 10 m s
Caso esta última etapa não tenha sido tão clara para você, não se preocupe: na ver-
dade esta ideia será melhor desenvolvida a seguir, conhecendo a famosa equação da
continuidade.
Equação da Continuidade
em Regime Permanente
Q m2
A2
m
v
Q m1 A1
Na seção (1), de área A1, há uma vazão mássica de entrada Qm1. Na seção (2), de área
A2, há uma vazão mássica de saída Qm2. Em regime permanente, as propriedades em
cada ponto do fluido são constantes ao longo do tempo. Além disso, pelo princípio
de conservação da massa, sabemos que Qm1 = Qm2 (do contrário, em algum ponto no
interior do tubo haveria redução ou acúmulo de massa).
A chamada equação da continuidade para um fluido qualquer em regime perma-
nente é simplesmente esta relação, que, como vimos, pode ser escrita das seguintes
formas:
= m2 ou r1 . Q1 r2 . Q2 ou r1 . v1 . A1 = r2 . v2 . A2
Qm1 Q=
UNIDADE 4 155
Por mais que este conceito talvez pareça simples demais para tanta ênfase, não o
subestime: ele é fundamentalmente necessário para solução de diversos problemas
de mecânica dos fluidos. Vejamos um exemplo a seguir.
3 EXEMPLO Os tubos de Venturi são aparatos utilizados para medir a velocidade do escoamento
por meio da variação de pressão. Para tanto, eles apresentam uma seção larga e depois
outra mais estreita, como na figura a seguir. Um gás escoa em regime permanente
por este trecho de tubulação e, devido à sua compressibilidade, apresenta diferentes
massas específicas na entrada (ρe = 5 kg/m³) e na garganta (ρG = 10 kg/m³). Sendo
Ae = 30 cm², AG = 10 cm² e ve = 40 m/s, qual a velocidade média do escoamento na
garganta do tubo de Venturi?
Venturi
Garganta
AG
Ae
Solução:
= m2 ou r1 . Q1 r2 . Q2 ou r1 . v1 . A1 = r2 . v2 . A2
Qm1 Q=
re . ve . Ae = rG . vG . AG
Isolando o termo que desejamos avaliar, basta substituir os valores conhecidos para
chegar à resposta:
re Ae
vG = ve .
rG AG
kg
5 3 30 cm2
m
vG = 40 . m
s 10 kg 10 cm2
m3
m
vG = 60
s
Qm Qm
e s
Q Q
e s
Com isto, podemos concluir mais uma etapa no seu estudo dos fenômenos de trans-
porte. Nesta unidade, você estudou os escoamentos (fluidos em movimento), como
caracterizá-los e como aplicar o princípio de conservação da massa a eles. O próximo
passo será aplicar o princípio de conservação da energia, que nos levará a mais uma
das equações fundamentais da mecânica dos fluidos.
UNIDADE 4 157
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
(2)
(1)
Ar
v1 = 200 m/s Difusor
158
3. Uma tubulação direciona água para dois reservatórios, ambos cúbicos, como
representado na figura a seguir. O reservatório (1) leva 100 segundos para ser
completamente preenchido, enquanto o reservatório (2) leva 180 segundos.
Sabendo que a velocidade média do escoamento na seção (A) é de 1,25 m/s,
determine o diâmetro da tubulação nesta mesma seção. Avalie o escoamento
nessa seção de acordo com o número de Reynolds (considere ρH₂O = 1000 kg/
m³ e μH₂O = 1,00 x 10-3 Pa.s).
6m
(1)
159
WEB
WEB
O Monge e o Executivo
Vídeo do canal SciShow, que trata dos desafios da aviação com relação aos voos
supersônicos e hipersônicos. Disponível apenas em inglês.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.
160
BRUNETTI, F. Mecânica dos Fluidos. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.
ÇENGEL, Y. A.; CIMBALA, J. M. Mecânica dos fluidos: fundamentos e aplicações. 3. ed. Brasil: AMGH
Editora, 2015.
161
1. Para encontrar a área do tanque, basta unir os conceitos de vazão e de geometria. Note que a única vazão
presente no sistema é justamente a corrente que descarrega o tanque, que permanece constante durante
todo o processo. Convertendo-a para unidades do SI, temos:
l 1 m3 m3
Q 50 5 . 102
s 1000 l s
Agora, lembre-se da própria definição de vazão volumétrica: quantidade de volume por unidade de tempo. Se
conhecemos a vazão e o tempo necessário para esvaziar completamente o tanque, é fácil calcular o volume total:
Vtanque total
Q Vtanque total Q . tdescarga total
tdescarga total
m3
Vtanque total 5 . 102 . 2000 s
s
Vtanque total 100 m3
Da geometria, o volume de um cilindro pode ser calculado pelo produto da área da base com a sua altura. Então:
Vcilindro
Vcilindro Abase . h Abase
h
100 m3
Abase 20 m2
5m
Uma vez que a vazão de saída é constante, a velocidade de descida da superfície livre da água no tanque, por
sua vez, pode ser calculada utilizando a altura total do tanque e o tempo necessário para que ele esvazie com-
pletamente:
• No tempo t = 0 s, o tanque está completamente cheio (altura da superfície livre da água: 5 m).
• No tempo t = 2.000 s, o tanque está completamente vazio (altura da superfície livre da água: 0 m).
variação na posição
velocidade=
intervalo de tempo
0 m 5m
vsuperf í cie livre
2000 s
m
vsuperf í cie livre 0, 0025
s
162
Naturalmente, o sinal negativo indica que a superfície livre está descendo (afinal, o tanque está sendo descar-
regado). Este mesmo resultado também poderia ser alcançado utilizando a área do tanque que calculamos
anteriormente:
vaz ão volumétrica Q
velocidade=
área da base Abase
m3
5 . 102
vsup erf í cie livre s 0, 0025 m
2 s
20 m
Esta operação faz sentido, pois considerando fluido incompressível, o volume de água que sai pela tubulação
deve ser o volume de água que diminui no tanque. Dividindo pela área da base do tanque, sabemos a altura
de coluna de água que é diminuída no tanque por unidade de tempo. Novamente, o sinal negativo indica que
a água está saindo do tanque. Se o tanque passasse a ser alimentado por uma corrente de vazão maior que a
da corrente de descarga, a água passaria a acumular no tanque, ou seja, a altura da superfície livre iria subir
(ou, se completamente cheio, o tanque começaria a transbordar).
Por fim, devemos afirmar que este processo opera, por natureza, em regime transiente. Afinal, mesmo que a
vazão de saída seja constante, o conteúdo de água no tanque está variando com o tempo. Dessa forma, um
ponto do tanque em que t = 0 s existe água, em t = 2.000 s não teria nada, pois o tanque teria sido completa-
mente descarregado.
2. O ar entra no difusor em alta velocidade e deseja-se avaliar as vazões e velocidades do escoamento neste
sistema. Admitindo condição de regime permanente, é possível resolver este problema por meio da equa-
ção da continuidade. Como o fluido em questão é compressível:
= m2 ou r1 . Q1 r2 . Q2 ou r1 . v1 . A1 = r2 . v2 . A2
Qm1 Q=
Uma vez que a velocidade na entrada é conhecida, é conveniente determinar as vazões nesta seção. Para a
vazão volumétrica:
Q v. A
m 104 m2 m3
Q1 200 . 20 cm2 0, 4
s 1 cm2 s
Qm r . Q Qm1 r1 . Q1
kg m3
Qm1 1, 2 . 0, 4
m3 s
kg
Qm1 0, 48
s
163
Novamente, pela equação da continuidade, sabemos que:
kg
Qm1 Qm2 Qm2 0, 48
s
Assim, podemos fazer o processo inverso para chegar à vazão volumétrica e à velocidade média na seção de saída:
Qm2
Q2
r2
kg
0, 48
s m3
Q2 Q2 0, 32
kg s
1, 5 3
m
Q2
v2
A2
m3
0, 32
s m
v2 4 2
v2 64
10 m s
50 cm2
1 cm2
Por fim, devemos avaliar o escoamento conforme o número de Mach, que é definido como:
v Velocidade do Escoamento
Ma= =
c Velocidade do Som
Para a velocidade do som de 346 m/s, chegamos aos seguintes valores na entrada e saída do difusor, respec-
tivamente:
m
200
v1 s = 0, 578
Ma=
1 =
c 346 m
s
m
64
v2 s = 0, 185
Ma=
2 =
c 346 m
s
Como Ma < 1 em ambos os casos, podemos dizer que o escoamento é subsônico em ambas as seções.
164
3. Este problema pode ser resolvido utilizando a equação da continuidade. Conhecemos as dimensões dos
tanques, o tempo necessário para enchê-los e a velocidade na seção (A). O objetivo é encontrar o diâmetro
da tubulação nesta mesma seção. Para isso, o primeiro passo será avaliar o volume dos reservatórios (1)
e (2). Como são cúbicos, temos:
Vcubo = l 3
Vtanque
= =
1 (6 m)3 216 m3
Vtanque
= 4 m)3 64 m3
2 (=
Agora, baseado na definição de vazão, como conhecemos o tempo necessário para enchê-los completamente,
podemos determinar a vazão de alimentação em cada tanque:
Vtanque total
Q=
tcarga total
Vtanque1 216 m3 m3
=Q1 = = 2, 16
tcarga total 1 1000 s s
Vtanque 2 64 m3 m3
=Q2 = = 0, 36
tcarga total 2 180 s s
Conhecidas estas vazões, podemos aplicar a equação da continuidade para calcular a vazão volumétrica na
seção (A). Note que o sistema apresenta uma entrada e duas saídas. Com a condição de fluido incompressível
e homogêneo ao longo da tubulação, teremos:
Q Q
e s
QA Q1 Q2
m3 m3
QA 2, 16 0, 36
s s
m3
QA 2, 52
s
165
Em posse deste resultado, como conhecemos a velocidade média do escoamento na seção (A), é possível avaliar
a área da tubulação nesta seção:
Q
Q v. A A
v
m3
2, 52
Q s 2, 02 m2
AA A
vA m
1, 25
s
Agora, considerando um tubo de seção circular, é possível calcular o diâmetro da tubulação:
2
D 4A
A p . D
2 p
4 . 2, 02 m2
DA 1, 60 m
3, 14
Por fim, pede-se uma avaliação do escoamento conforme o número de Reynolds. Para calculá-lo, temos a
equação:
kg m
1000 3
. 1, 25 . 1, 60 m
m s
Re 3
2 . 106
1, 00 . 10 Pa . s
166
167
168
Dr. Rodrigo Orgeda
Esp. Henryck Cesar Massao Hungaro Yoshi
Equação da Energia
no Regime Permanente
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Estudar o conceito de balanço de energia, definindo a • Analisar os efeitos da presença de máquinas que realizam
terminologia empregada, conceitos e unidades. trabalho na equação da energia.
• Definir a equação de Bernoulli a partir da análise das ener- • Examinar a equação da energia sem a hipótese de fluido
gias mecânicas associadas a um fluido em escoamento. ideal, desenvolvendo o conceito de perda de carga.
• Tratar do princípio de funcionamento da instrumentação
para a medição de velocidade dos fluidos.
Balanço
de Energia
dE
E entra E sai sistema
dt
Em que E entra é a taxa de energia que entra no sistema, E sai é a taxa de energia que
dEsistema
sai do sistema e é a taxa de variação de energia total do sistema. No regime
dt
permanente, a variação no tempo será nula e, então:
E entra E sai 0
E
entra Esai
A energia de um sistema fechado (ou seja, de massa fixa) pode variar por meio de
dois mecanismos: a transferência de calor (energia térmica, Q) e a transferência de
trabalho (energia mecânica, W). Assim, escrevendo os termos na forma de taxas
(grandeza por unidade de tempo), temos:
dE
Q W sistema
dt
UNIDADE 5 171
Esta equação, apesar de carregar muito significado físico, não é exatamente convenien-
te para aplicação prática direta no estudo da mecânica dos fluidos. Por outro lado, ela
serve como ponto de partida teórico fundamental para desenvolver raciocínios que
terão maior prontidão para a solução de problemas. Aqui, o termo de transferência
de calor tratará essencialmente das perdas de energia mecânica, enquanto os efeitos
de trabalho serão analisados conforme os tipos de energias mecânicas associadas a
um fluido, apresentadas a seguir.
Energia Potencial ( EP )
Este é um conceito que você certamente aprendeu em aulas de física. A energia potencial de
um sistema é a medida do seu potencial de realizar trabalho ( EP = W ). Mecanicamente,
ela é apresentada na sua forma gravitacional. Sabendo que, por definição:
Trabalho = For ça x Deslocamento
CG
z P = mg
PHR
Figura 1 - Representação esquemática para avaliação da energia potencial gravitacional
Fonte: adaptada de Brunetti (2008).
Assim, como EP = W :
W = mg . z = mgz
E P = mgz
Outro conceito que você também viu em física é que a energia cinética é aquela
associada ao movimento (nesta disciplina, estudaremos o movimento dos fluidos).
Considere um sistema de massa m e velocidade v, como o da figura a seguir:
v
CG
m
A energia cinética associada a este movimento pode ser avaliada pela equação:
mv2
EC =
2
ds
dt
p
dV
A
F = p.A
Figura 3 - Representação esquemática para avaliação da energia de pressão
Fonte: Brunetti (2008, p. 86).
UNIDADE 5 173
Se a pressão p for uniforme na seção de área A, e
considerando a definição de pressão, temos que
F = p . A . Agora, se pela ação desta força F o flui-
do percorre uma distância ds em um intervalo
de tempo dt, surge o seguinte termo de trabalho:
Trabalho = For ça x Deslocamento
ds p . A ds = p . dV
dW F=
=
Integrando:
EPr p dV
V
UNIDADE 5 175
Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.
p2 (2)
dm1 v2
p1 (1)
v1
dV2
dm2
dt
z1 dV1 z2
PHR
dm1v12
dEM 1 dm1 gz1 p1dV1
2
dm2 v22
dEM 2 dm2 gz2 p2 dV2
2
Agora, considerando as hipóteses descritas anteriormente, note que as hipóteses (b),
(d) e (e) juntas significam que não é retirada nem fornecida energia ao fluido. Assim,
para que a condição de regime permanente seja válida, o sistema deve obedecer à
relação:
E entra E sai 0
E
entra Esai
dEM 1 dEM 2
dm1v12 dm v2
dm1 gz1 p1dV1 dm2 gz2 2 2 p2 dV2
2 2
Esta equação pode ser simplificada utilizando a definição de massa específica, que
pode ser escrita da seguinte forma:
dm dm
r dV
dV r
v12 p1 v2 p
gz1 gz2 2 2
2 r 2 r
UNIDADE 5 177
Na prática, esta já é a tão aguardada equação de Bernoulli. Por fim, as últimas simpli-
ficações desta equação podem ser feitas de duas maneiras. A primeira é multiplicando
a equação por ρ:
rv12 rv22
r gz1 p1 r gz2 p2
2 2
v12 p1 v22 p2
z1 z2
2g g 2g g
Qualquer uma destas três últimas formas são usos válidos da equação de Bernoulli.
A importância destas simplificações distintas reside na interpretação de cada termo.
Quanto à última simplificação da Equação de Bernoulli (que será a simplificação
utilizada neste livro), os termos podem ser interpretados como “cargas” (assim como
estudado na Unidade 3), pois possuem dimensão de comprimento.
• z é a carga de elevação; representa a energia potencial do fluido.
v2
• 2 g é a carga de velocidade, que corresponde à altura necessária para que um
fluido atinja a velocidade v durante uma queda livre sem atrito.
p
• é a carga de pressão que, conforme estudado na Unidade 3, equivale à altura
g
de coluna de fluido necessária para produzir a pressão estática p.
Assim, pode-se afirmar que a equação de Bernoulli nesta forma calcula a carga total
(H) do escoamento, a qual é constante ao longo de uma linha de corrente, conside-
rando as hipóteses simplificadoras pertinentes.
v2 p
z H constante (ao longo de uma linha de corrente)
2g g
É importante também que você note que estes termos correspondem à energia por
unidade de peso. Por exemplo:
mgz EP [E ]
z [ z] P L
mg P [ P]
v2 p
Caso se interesse, faça a análise dimensional dos termos e , seguindo o mesmo
2g g
raciocínio: você deseja chegar na razão energia/peso. Naturalmente, a análise dimen-
sional te confirmará que os termos possuem dimensão de comprimento.
H2O
h = 18 cm Hg
H2O
Solução:
v12 p1 v2 p
z1 z2 2 2
2g g 2g g
v12 p1 v22 p2 v2 v2 p p2
2 1 1
2g g 2g g 2g g
UNIDADE 5 179
Como não conhecemos nenhuma das velocidades ou pressões, é necessário recorrer
a outras equações para resolver o problema. Podemos usar a equação manométrica
para avaliar a diferença de pressão p1 – p2. Partindo do ponto 1 e indo para o ponto
2 por meio da equação manométrica:
p1 g H 2O . h g Hg . h p2
p1 p2 g Hg . h g H 2O . h
N
p1 p2 (136000 10000) . 0, 18 m
m3
N
p1 p2 22680
m2
Isto resolve duas das quatro incógnitas da equação de Bernoulli. Assim, é necessário
mais uma equação para resolver o problema. Você tem algum palpite de qual seria?
Se você pensou na equação da continuidade, acertou! Para as seções 1 e 2, como o
escoamento é incompressível, a equação da continuidade pode ser escrita na forma
volumétrica:
Q1 Q2
A2
v1 A1 v2 A2 v1 v2 .
A1
15 cm2 v2
v1 v2 .
30 cm2 2
2
v22 v12 p1 p2 v p p2
v22 2 2 g . 1
2g g 2 g
N
22680
3 2 m m2
v2 2 . 9, 8 2 .
4 s 10000 N
m3
m2
v22 59, 27
s2
m m
v2 7, 70 v1 3, 85
s s
m 2 1 m2 m3
Q1 v=
= 1 . A1 3, 85 . 30 cm = 0, 01155
s 104 cm2 s
m 1 m2 m3
Q2 v=
= 2 . A2 7, 70 . 15 cm2 4 2 = 0, 01155
s 10 cm s
m3 L
Q=
1 Q
=2 0, 01155 = 11, 55
s s
Note que este exemplo abordou três grandes assuntos que você estudou até
aqui: as equações manométricas, da continuidade e de Bernoulli. Isto é comum
nos problemas de mecânica dos fluidos e por isso é importante que você tenha se
apropriado dos conceitos abordados nas unidades anteriores para que não tenha
dificuldades na resolução dos exercícios. Isso irá desenvolver as competências de
visão macro e pensamento analítico, essenciais para o profissional de Engenharia.
UNIDADE 5 181
Medida da Velocidade
com Tubo de Pitot
γ = 104 N/m3
Solução:
v γ
(1) (2)
h
γm
O fluido (água) está escoando pela tubulação, da esquerda para a direita, até que em
uma determinada seção da tubulação (linha pontilhada) as partículas se deparam
com a entrada de um tubo de Pitot e um piezômetro conectados entre si pelo fluido
manométrico disposto em um manômetro de tubo em U. Como o piezômetro está
posicionado tangente ao escoamento, ele medirá apenas a pressão estática do fluido.
O tubo de Pitot, por outro lado, está posicionado diretamente no sentido do escoa-
mento do fluido, de modo que as partículas, ao incidirem no ponto (2), perdem toda
sua velocidade, transformando sua energia cinética em efeito de pressão.
Basicamente: enquanto ambos os lados estão sujeitos à pressão estática do escoa-
mento, o fluido manométrico é mais empurrado para baixo no tubo de Pitot, pois
as partículas de fluido perdem sua energia cinética se chocando continuamente no
ponto (2), que por isto é chamado de “ponto de estagnação” ou “ponto de parada”.
UNIDADE 5 183
Como os pontos (1) e (2) estão muito próximos, é razoável considerar que as perdas
de energia entre eles sejam desprezíveis. Assim, assumindo que as demais hipóteses
da equação de Bernoulli são válidas, pode-se escrever:
H1 H 2
v12 p1 v2 p
z1 z2 2 2
2g g 2g g
Repare que, como estamos considerando que os pontos (1) e (2) estão no mesmo
plano horizontal de referência ( z1 = z2 ) e que no ponto de estagnação (2) observa-se
v2 = 0 , a equação fica:
v12 p1 p2
2g g g
p p1
v1 2 g 2
g
p1 g m . h g . h p2
Estas duas equações para v1 são importantes, pois permitem determinar a velocidade
do escoamento no ponto em que o tubo de Pitot está instalado de maneira simples
e rápida, bastando conhecer os fluidos envolvidos e a diferença de pressão causada
pela energia cinética do escoamento.
Em posse disto, é fácil resolver o exemplo em estudo. Verificando v1 :
N
136000 3
m m 1 . 0, 04 m
v1 2 . 10 2
s 10000 N
m3
m
v1 3, 17
s
UNIDADE 5 185
É importante notar que, se o escoamento não fosse considerado uniforme, o tubo de
Pitot poderia ser utilizado para medir a velocidade em diferentes pontos da seção, para
montar um diagrama de velocidades (como na figura a seguir), o qual poderia ser
utilizado para obter uma nova vazão média mais precisa e condizente com a realidade.
Além disso, é importante mencionar que o tubo de Pitot também pode ser utilizado
para medir a velocidade de fluidos compressíveis, mas os métodos para tanto são
mais rigorosos e não serão tratados neste material.
No dia 01 de junho de 2009, o voo AF 447, que ia do Rio de Janeiro a Paris, caiu
no Oceano Atlântico, matando 228 passageiros e membros da tripulação. Um dos
problemas relatados foi a inconsistência nas medições de velocidade, que ocorreu
devido ao congelamento e obstrução dos tubos de Pitot da aeronave por cristais
de gelo.
Fonte: Laranjeira (2019, on-line)1.
(2)
(1)
M
H2
H1
Figura 6 - Representação esquemática de um sistema de
escoamento com máquina
Fonte: Brunetti (2008, p. 91).
UNIDADE 5 187
Se H1 e H2 são as cargas de pressão nas seções 1 e 2, respectivamente,
a equação de Bernoulli (com suas hipóteses simplificadoras, ou seja,
sem a máquina M) traz que:
v2 p
z H constante (ao longo de uma linha de corrente)
2g g
H1 H 2
v12 p1 v2 p
z1 H M z2 2 2
2g g 2g g
Assim, se uma bomba com potência de 100 kW tem um rendimento de 80%, o fluido
receberá 80 kW.
Para uma turbina, a relação pode ser escrita como:
Pot ência da turbina
hT =
Pot ência cedida pelo fluido
Assim, se uma turbina com potência de 100 kW tem um rendimento de 80%, o fluido
está cedendo 125 kW.
UNIDADE 5 189
Utilizaremos a letra N para representar a potência da máquina, seja ela uma bomba
ou turbina. Observe que, ao usar a equação de Bernoulli com o termo HM, que foi
apresentado neste tópico, o resultado estará com dimensões de carga, ou seja, com-
primento. Como geralmente estamos habituados a lidar com potências em unidade
de trabalho (energia) por unidade de tempo, a potência propriamente dita pode ser
avaliada pela equação:
N = g . Q . HM
3 EXEMPLO Considere um grande reservatório de água que, ligado a uma máquina e uma tubu-
lação, direciona seu conteúdo para um segundo tanque, a uma vazão de 0,03 m3/s.
Se o sistema está configurado como na figura a seguir e sabendo que a área de seção
da tubulação é de 15 cm², descubra se a máquina em questão é uma bomba ou uma
turbina e, em seguida, determine a sua potência para um rendimento total de 80%.
Adote γH2O = 10000 N/m³ e g = 10 m/s² e considere o fluido incompressível.
(2)
(1)
30 m 20 m
Solução:
Lembre-se sempre que o primeiro passo para resolver problemas de mecânica dos
fluidos é verificar quais hipóteses simplificadoras você precisará adotar para resolver
o problema de forma adequada. Primeiramente, serão consideradas as hipóteses
necessárias para o uso da equação de Bernoulli, com exceção da ausência de uma
máquina, permitindo escrever:
v12 p1 v2 p
z1 H M z2 2 2
2g g 2g g
p1 v2 p
z1 H M z2 2 2
g 2g g
Veja na figura que as cotas z1 e z2 estão dadas com relação a um plano horizontal
de referência localizado praticamente na base da tubulação (as dimensões do tubo
são pequenas perto das cotas em questão).
p1 v2 p
30 m H M 20 m 2 2
g 2g g
Como tanto o nível do tanque (1) quanto a saída da tubulação (2) estão abertos para
a atmosfera, ambos os termos de carga de pressão se anulam:
Tenha em mente que nosso objetivo com esta equação é determinar HM. Para isso,
v2 pode ser avaliado por meio da equação da Continuidade:
Q
v2 =
A2
m3
0, 03
s m
=v2 = 2
20
0, 0015 m s
UNIDADE 5 191
Com isso, podemos retornar à equação anterior para calcular a carga fornecida
ou removida pela máquina:
2
m
20
s
HM 20 m 30 m
m
2 . 10 2
s
H M 10 m
Este resultado significa que a máquina é responsável por fornecer uma carga de pres-
são equivalente a 10 m ao escoamento. Do contrário, ele não teria energia suficiente
para chegar à saída (2), na velocidade de 20 m/s. Como este valor é positivo (energia
foi fornecida), a máquina em questão é uma bomba.
O passo final é determinar a potência desta bomba – para isso, é necessário, pri-
meiro, converter este valor de carga em potência:
N = g . Q . HM
N m3
=N 10000
= . 0, 03 . 10 m 3000 W
m3 s
Tenha cuidado! Esta é a potência fornecida ao fluido. Para avaliar a potência da
máquina, como solicitado pelo enunciado, é necessário utilizar o seu rendimento:
Isto significa que a bomba em questão consome uma potência de 3,75 kW para
acrescentar uma potência de 3 kW ao escoamento.
Como você pode perceber, os exercícios vão se tornando mais extensos à medida
que novos conceitos são integrados, e saber quais hipóteses simplificadoras são ade-
quadas para solucionar o problema é um aspecto vital para o sucesso do seu estudo e
aprimoramento do conhecimento. Contudo, aguente firme, porque o passo seguinte
é remover mais uma das considerações utilizadas na equação de Bernoulli!
H2
(1) (2)
Hp1, 2
H1
Figura 7 - Representação da dissipação de energia em um
escoamento
Fonte: Brunetti (2008, p. 95).
UNIDADE 5 193
Como já vimos, em condições perfeitas, a equação de Bernoulli seria válida:
H1 = H 2
Os efeitos viscosos removem energia do sistema, como indicado pela seta H p1,2 na
Figura 7. Fazendo o balanço de energia, na forma de carga de pressão:
H1 H 2 H p1,2
v12 p1 v2 p
z1 H M z2 2 2 H p1,2
2g g 2g g
A perda de carga pode ser convertida para a forma de potência dissipada, assim como
fizemos com a potência das máquinas:
N diss = g . Q . H p1,2
4 EXEMPLO Uma bomba de 12 kW e eficiência de 78,5% é utilizada para levar a água de um lago
até um tanque, como na figura a seguir. Se a vazão de operação é de 25 L/s, determine
a perda de carga deste sistema. Adote γH₂O = 9800 N/m³ e g = 9,8 m/s² e considere
que tanto o lago quanto o tanque apresentam grandes dimensões.
(2)
Tanque
30 m
(1)
Lago
v12 p1 v2 p
z1 H M z2 2 2 H p1,2
2g g 2g g
Adotando como ponto (1) a superfície do lago e como ponto (2) a superfície do
tanque, podemos fazer mais algumas considerações. A primeira delas é com relação
às pressões p1 e p2 que, por estarem abertas à atmosfera, podem ser aproximadas
como a própria pressão atmosférica do ambiente:
p1 p2 patm 0
v12 v2
z1 H M z2 2 H p1,2
2g 2g
v1 v2 0
z1 H M z2 H p1,2
Veja que a cota fornecida na figura é conveniente para adotar como plano horizontal
de referência a superfície do lago, de modo que:
z1 0 ; z2 30 m
H M (30 m) H p1,2
UNIDADE 5 195
Agora, é necessário determinar HM. Como conhecemos a potência e a sua eficiência
da bomba, basta determinar primeiro a potência fornecida pela bomba ao fluido e,
então, converter este valor para uma carga:
N
ηB N ηB . N B
NB
N 0, 785 . 12 kW 9, 42 kW 9420 W
N
N γ . Q . HM HM
γ .Q
9420 W
HM 38, 45 m
N m3
9800 3 . 0, 025
m s
Retornando na equação da energia, determina-se a perda de carga:
(38, 45 m) (30 m) H p1,2
H p1,2 8, 45 m
N m3
N diss 9800 3 . 0, 025 . 8, 45 m
m s
N diss 2070, 25 W 2, 07 kW
Agora, faremos uma última observação com relação à equação da energia. Assim
como fizemos com a equação da continuidade, também podemos escrever a equa-
ção da energia para situações com mais de uma entrada ou uma saída. O raciocínio
é o mesmo: deve-se fazer a somatória de todas as energias que entram e que saem
e avaliar também a presença de uma (ou mais) máquinas e as perdas de carga. De
forma genérica, considere o sistema a seguir, com n entradas e saídas:
N1e (1s)
(1e) Ndiss N1s
(2e) (2s)
N2e M
N2s
(ne) (ns )
Nne N
Nns
Figura 8 - Representação esquemática de um sistema com múltiplas entradas e saídas
Fonte Brunetti (2008, p. 101).
Em que:
v2 p
• H z em cada seção.
2g g
• N = g . Q . H M pode ser positivo (se for uma bomba) ou negativo (se for
uma turbina).
• N diss g . Q . H P com Q e HP referindo-se a cada trecho do escoamento.
Note-se que, mesmo com múltiplas entradas e saídas, as hipóteses consideradas até
o momento para o desenvolvimento destas equações ainda devem ser válidas.
O objetivo desta unidade é fazer uma análise da energia dos escoamentos em
regime permanente, baseada no princípio da conservação da energia. Em situações
perfeitas, vimos que a equação de Bernoulli é aplicável – contudo, sabemos que a
realidade nunca é perfeita e, por isso, removemos duas importantes simplificações
da equação de Bernoulli em busca de uma equação da energia mais geral.
Com o que vimos até aqui, você já pode avaliar sistemas simples de tubulações e
dizer se uma bomba será necessária ou não para levar o fluido de um ponto a outro,
por exemplo. Poderíamos ir adiante e remover as hipóteses de escoamento uniforme
e fluido incompressível, mas como isto iria além do escopo desta disciplina, os alunos
que despertarem interesse podem recorrer à literatura de referência para encontrar
desenvolvimentos matemáticos mais rigorosos em busca de uma equação da energia
geral.
Na próxima unidade, nossos objetos de estudo serão os efeitos causados pela
tubulação no escoamento. Esteja bem preparado e com o conteúdo visto até aqui
bastante esclarecido, pois ele será vital para a continuação do seu aprendizado!
UNIDADE 5 197
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
10 m z
Água
V2
0
2
CÂMARA
Patm
H2O
(1) (2)
198
3. Certa turbina de uma usina hidrelétrica é capaz de produzir 60 MW de energia
elétrica, com uma eficiência total de 80%. A movimentação desta turbina é
feita com a captação de água localizada em um nível superior (1) que é então
direcionada para um nível inferior (2), sendo ambos grandes corpos d’água.
Considerando os dados da figura a seguir, calcule a perda de carga associada
ao processo. Adote ρH2O = 1000 kg/m³; g = 9,8 m/s².
Q = 120 m3/s
100 m
Hp1,2 = ?
Turbina 2
η Turbina = 80%
199
WEB
WEB
Vídeo desenvolvido pelo Portal Aeronáutico Trem de Pouso que explica o funcio-
namento do tubo de pitot e do sistema pitot-estático em aeronaves. Conteúdo
em português.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.
200
BRUNETTI, F. Mecânica dos Fluidos. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.
ÇENGEL, Y. A.; CIMBALA, J. M. Mecânica dos fluidos: fundamentos e aplicações. 3. ed. Brasil: AMGH
Editora, 2015.
REFERÊNCIA ON-LINE
201
1. Considerando que as hipóteses simplificadoras necessárias para o uso da equação de Bernoulli são válidas,
e de que o tanque tem dimensões grandes o suficientes para considerar que z1 seja constante e que v1 = 0:
v12 p1 v2 p
z1 z2 2 2
2g g 2g g
p1 v2 p
z1 z2 2 2
g 2g g
Como tanto o tanque quanto o tubo de descarga estão abertos para a atmosfera, temos que p1 = p2 = patm = 0
(escala efetiva) e, portanto:
v22
z1 z2
2g
Adotando o fundo do tanque como plano horizontal de referência e considerando que a distância do tubo de
descarga ao fundo é desprezível, temos que z1 = 10 m e z2 = 0 m. Então, basta substituir estes valores na equação
e resolver para a velocidade de descarga:
v22
10 m 0 m
m
2 . 9, 8
s2
m2
196 2
v22
s
m
v2 14
s
2. Considerando que o problema atende às hipóteses simplificadoras da equação de Bernoulli (regime per-
manente, fluido ideal, ausência de máquina, sem troca de calor e escoamento uniforme), é possível utilizar
a equação entre a saída do tubo (1) e a garganta (2):
v12 p1 v2 p
z1 z2 2 2
2g g 2g g
202
Independentemente do plano horizontal de referência adotado, os centros das seções (1) e (2) estarão locali-
zados à mesma altura z1 = z2. Assim:
v12 p1 v22 p2
2g g 2g g
Sabemos que (1) está aberta para o ambiente, enquanto em (2) deve estar em depressão de 250 mmHg. Como
visto nas unidades anteriores, o conceito de “depressão” indica o quanto a pressão mensurada está abaixo da
pressão atmosférica. Então, pode-se escrever:
Para converter a diferença de pressão (p1 – p2) de mmHg para o SI, pode-se utilizar a relação:
p r.g .h
kg m
p 13600 3
. 10. 0, 250 m
m s2
p ( p1 p2 ) 34000 Pa 34 kPa
γ ρ.g
p p2
2. 1 v22 v12
ρ
34000 Pa
2. v22 v12
kg
1000 3
m
m2
v22 v12 68
s2
203
Como é fornecida a vazão mássica de água e o diâmetro da seção (1), considerando que a seção transversal da
tubulação é circular, é possível avaliar v1:
2
D
Qm ρ . v . A ; A π .
2
Q Qm
v m 2
ρ.A D
ρ .π .
2
kg
8
s m
v1 2
v1 0, 71
kg 0, 12 m s
1000 3 . 3, 14 .
m 2
Agora, é possível retornar e avaliar v2:
2
m m2
v22 0, 71 68 2
s s
m
v2 8, 22
s
Em posse deste resultado, basta retornar na equação utilizada para calcular v1, mas agora para a seção v2:
2
D
Qm ρ . v . A ρ . v . π .
2
kg
8
Qm s
D2 4 4
ρ H 2O . v2 . π kg m
1000 3 . 8, 22 . 3, 14
m s
D2 3, 5 cm
3. O problema em questão pede a perda de carga do processo. Além disso, envolve uma máquina que retira
trabalho do sistema – uma turbina. A equação que contempla todos estes efeitos é a equação da energia
na forma:
v12 p1 v22 p2
z1 H M z2 H p1,2
2g g 2g g
204
O uso desta equação considera algumas hipóteses, tais como regime permanente, fluido incompressível, es-
coamento uniforme e sem trocas de calor. Por serem dois grandes corpos d’água, pode-se considerar também
que v1 = v2 = 0, com os níveis de água z1 e z2 permanecendo constantes. Além disso, ambos estão abertos para
a atmosfera, de modo que p1 = p2 = patm = 0 (escala efetiva). Dessa forma, a equação simplificada fica:
100 m H M 0 m H p1,2
Como o enunciado fornece a energia produzida por esta turbina e sua eficiência mecânica, é possível medir a
potência removida do escoamento:
Potência da turbina N
hT T
Potência cedida pelo fluido N
60 MW
0, 80 N 75 MW
N
N N
N γ . Q . HM HM
γ .Q ρ . g .Q
75 . 106 W
HM
kg m m3
1000 3 . 9, 8 2 . 120
m s s
H M 63, 78 m
Agora, basta retornar este valor à equação da energia para chegar à perda de carga do sistema. Observe que,
por se tratar de uma turbina, a carga HM é removida do escoamento pela turbina. Dessa forma, o termo na
equação deve ser negativo:
205
206
207
208
Dr. Rodrigo Orgeda
Esp. Henryck Cesar Massao Hungaro Yoshi
Escoamento em
Condutos Forçados
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Introduzir o estudo para determinação da perda de carga • Estudar a determinação das perdas de carga distribuídas
e definir os termos: condutos, raio/diâmetro hidráulico e e localizadas.
rugosidade. • Aplicar a equação da energia em sistemas envolvendo
• Desenvolver o conceito de camada limite, partindo da reservatórios, tubos, singularidades e máquinas.
definição do número de Reynolds.
Definições
Iniciais
H1 H M H 2 H p1,2
Nesta unidade, nosso objetivo geral será aplicar esta equação em instalações hi-
dráulicas, a fim de que você adquira uma visão técnica dos seus aspectos técnicos
fundamentais e desenvolva uma noção inicial do que é necessário para desenvolver
um projeto de tubulação. Para isso, o primeiro passo é definir alguns dos principais
termos a serem usados nesta unidade.
Chamaremos de conduto qualquer estrutura sólida destinada ao transporte de
fluidos (BRUNETTI, 2008). Em outras palavras, condutos são tubulações ou canais
por onde fluidos escoam. Eles podem ser classificados como forçados (quando o
fluido o preenche totalmente) ou livres (quando o fluido apresenta uma superfície
livre). Para melhor ilustrar estas definições, veja a Figura 1, em que (a) representa
um conduto no qual o fluido está em contato com toda a sua parede interna e (b)
apresenta dois condutos livres.
Superfície
Superfície livre
livre
(a) (b)
A tabela a seguir apresenta os exemplos mais comuns de condutos quanto aos seus
parâmetros A , s , RH e DH . Caso esta definição tenha soado confusa, procure
chegar você mesmo aos parâmetros RH e DH – é uma boa forma de exercitar o
conceito e fixar o conhecimento.
UNIDADE 6 211
Tabela 1 - Principais condutos forçados e seus diâmetros hidráulicos
A σ RH DH
D
πD2 D
πD D
4 4
a 4a a a
a2
a 4
a ab 2ab
ab 2(a + b) 2 (a + b) ( a + b)
b
ab 4 ab
a ab 2a + b
2a + b 2a b
a a a2 3 a 3 a 3
3a
4 12 3
a
ε ε
aspereza
Rugosidade (ε)
Material
ft mm
Vidro, plástico 0 0
UNIDADE 6 213
Camada
Limite
Mais uma vez, consideremos uma placa plana de pequena espessura, posicionada
paralelamente ao escoamento uniforme de um fluido em regime permanente com
velocidade v0 (Figura 3). A experiência nos mostra que o perfil de velocidade do
escoamento muda ao se encontrar com a placa devido ao princípio da aderência
(discutido na Unidade 2), de modo que a velocidade junto à placa é nula.
seção ao longe
(1) (2) (3)
V0
C
B
A
O x
Observe, pela Figura 3, que quanto mais o fluido escoa ao longo da placa (seções 1,
2 e 3), mais o princípio da aderência afeta o perfil de velocidades do escoamento (os
pontos A, B e C indicam a primeira camada de fluido que ainda está na velocidade
original do escoamento, v0 ).
Evidentemente, estão sendo representados apenas os pontos referentes a três
seções do escoamento. Na realidade, para qualquer seção que observarmos sobre a
placa, haverá um primeiro ponto indicando a primeira camada de fluido que ainda
está na velocidade v0 . Se traçarmos uma linha imaginária que passa por todos estes
pontos, podemos dividir o escoamento em duas regiões, como na figura a seguir:
UNIDADE 6 215
seção ao longe
(1) (2) (3)
V0
C
B
A
O x
A região acima da linha, chamada de “fluido livre”, é onde o escoamento tem velocida-
de v0 , ou seja, onde ele não é influenciado pela presença da superfície sólida. A região
abaixo da linha, por sua vez, é a chamada camada limite – região do escoamento em
que os efeitos viscosos e variações na velocidade são significantes. De forma mais
simplificada, podemos representar a Figura 4 da seguinte forma:
V0
fluido
livre camada
limite
5
Na prática, o que se observa é que, para Re x < 5 x 10 , as forças viscosas na camada
limite são significantes, de modo que o escoamento é laminar, enquanto acima deste
valor o escoamento passa para um comportamento turbulento. Por causa disto, é
comum chamar este valor de “número de Reynolds crítico”:
Recr 5 105
ρ . v0 . xcr
Recr 5 105
µ
µ
xcr 5 105 .
ρ . v0
Além disso, duas observações adicionais podem ser feitas. A primeira é de que a
espessura da camada limite aumenta repentinamente quando ela passa do regime
laminar para o turbulento. A segunda é de que, mesmo após atingir a turbulência,
uma camada de espessura ( d ) muito fina junto à placa ainda se mostra em compor-
tamento laminar, sendo, por vezes, chamada de “subcamada limite laminar”. Todas
estas observações estão representadas na figura a seguir:
UNIDADE 6 217
CL turbulenta
V0
CL laminar
δ
δ
x cr
x subcamada limite
laminar
fluido
livre Vmax x
V r R
Região de
escoamento Lh camada limite
irrotacional
ρvD
Re 2000
µ
r 2
v vmax 1
R
1
r 7
v vmax 1
R
UNIDADE 6 219
Perdas
de Carga
(0)
(2)
(1)
H p1,2 h f h s
Assim como feito frequentemente nas unidades anteriores, o estudo das perdas de
carga distribuídas requer que algumas hipóteses sejam estabelecidas. São elas:
a) Regime permanente e fluido incompressível.
b) Condutos longos.
c) Condutos cilíndricos (seção transversal constante).
d) Escoamento dinamicamente estabelecido (completamente desenvolvido).
e) Rugosidade uniforme.
f) Ausência de máquinas (dispositivos que realizam trabalhos).
UNIDADE 6 221
Matematicamente, podemos partir das equações fundamentais que estudamos até o
momento para tentar expressar (e mensurar) a perda de carga distribuída. Da equação
da continuidade, como pela hipótese (c), a seção transversal (área) é constante e, pela
hipótese (a), o fluido é incompressível, temos:
Q1 Q2 v1 A1 v2 A2
A1 A2 v1 v2 cte.
Da equação da energia, com base nas hipóteses descritas, H p1,2 = h f1,2 , e, então, por
definição:
h f1,2 H1 H 2 DH
Sendo:
v2 p
H z
2g g
Temos:
v12 v22 p1 p2
h f1,2 z1 z2
2g g
p p
h f1,2 1 z1 2 z2
g g
p
Em que a soma g z é chamada de “carga piezométrica”, pois pode ser medida
com o uso de um piezômetro.
Note que nosso objetivo é encontrar uma relação entre a perda de carga distribuída
e o comprimento do conduto. Os próximos passos deste desenvolvimento levam a
equações cujo uso não é conveniente (por exemplo, por exigirem a determinação da
tensão de cisalhamento na parede do conduto, o que é de difícil determinação prá-
tica). Alternativamente, o uso de técnicas de análise dimensional pode levar a uma
dedução mais interessante e com fins práticos mais apropriados.
γ h f = f (ρ , µ, DH , L, ε, v)
L v2
hf = f
DH 2 g
D
f = f Re, H
e
Nesta equação para a perda de carga distribuída hf, o único parâmetro que não é
diretamente mensurável de forma experimental é justamente o coeficiente da perda
de carga distribuída. Contudo, como ele é função de dois números adimensionais
(note que DH e é adimensional), o coeficiente f pode ser obtido por meio da cons-
trução de um diagrama universal, que pode ser aplicado a qualquer escoamento, de
qualquer fluido, em qualquer conduto (afinal, estamos preocupados apenas com os
números adimensionais, pois são estes que caracterizam o problema).
Diversos estudiosos trabalharam no desenvolvimento deste diagrama, como
Nikuradse e Colebrook, até chegar ao chamado Diagrama de Moody-Rouse (Figura
9). O uso desse diagrama pode ser classificado em três casos:
• 1º Caso: determinar hf, conhecendo L, DH , Q, v, e .
• 2º Caso: determinar Q, conhecendo L, DH , h f , v, e .
• 3º Caso: determinar DH, conhecendo L, Q, h f , v, e .
Apenas trataremos do primeiro caso, pois os demais são mais complexos, podendo
envolver métodos iterativos com o diagrama, além de que o primeiro caso é o mais
importante conceitualmente. Faremos isso a partir de dois exemplos.
UNIDADE 6 223
Figura 9 - Diagrama de Moody-Rouse
Fonte: adaptada de Brunetti (2008) e Çengel e Cimbala (2015).
Solução:
H1 H M H 2 H p1,2
Queremos determinar o termo H p1,2 . Além disso, das nossas considerações, sabemos
que para este caso podemos escrever:
L v2
H p1= h=
f f
,2
DH 2 g
Observe que conhecemos todos os parâmetros desta equação, exceto pelo coeficien-
te de perda de carga distribuída (f). Para determiná-lo, o passo inicial é calcular o
número de Reynolds:
kg m
999, 77 . 0, 8 . 0, 3 . 102 m
ρ . v . DH m 3 s
Re 3
µ 1, 308 . 10 Pa . s
Re 1834, 44
Para este valor de Reynolds, sabemos que o escoamento é laminar (<2000). Lembre-
-se que, para usar o diagrama de Moody-Rouse, é necessário também conhecer a
rugosidade relativa da tubulação. Entretanto, ao analisarmos o diagrama, é possível
notar que o escoamento laminar (região à esquerda) obedece a equação:
64
f =
Re
Isto significa que, para escoamentos laminares, o fator de atrito é função apenas do
número de Reynolds e independe da rugosidade da tubulação. Com isso, podemos
calculá-lo:
64
= f = 0, 0349
1834, 44
UNIDADE 6 225
Em posse disto, a perda de carga é facilmente calculada:
2
L v2 3m 0, 8 m
hf f 0, 0349 . s
DH 2 g 2
0, 3 . 10 m 2.9, 8 m
s2
h f 1, 14 m
Para converter este valor em queda de pressão, basta multiplicá-lo pelo peso espe-
cífico do fluido:
Dp γ . h f ρ . g . h f
kg m
Dp 999, 77 3
. 9, 8 . 1, 14 m
m s2
Dp 11169, 43 N 11, 17 kPa
m2
Atenção! Note que mais uma vez estamos relacionando os conceitos de perda de
carga e queda de pressão. O sentido físico é o mesmo: as forças viscosas atuando
no fluido fazem com que parte da sua energia seja dissipada. Se medíssemos a
carga piezométrica no início e no final da tubulação, a diferença seria justamente
a altura hf.
Solução:
L v2
hf = f
DH 2 g
Com base nos dados fornecidos, trata-se de um problema do 1º caso para a utilização
do Diagrama de Moody-Rouse. Veja que foram fornecidos a velocidade v do escoa-
mento e o diâmetro hidráulico DH da tubulação (equivalente ao próprio diâmetro
m
3 . 0, 18 m
v . DH s
Re
µ m2
ρ 6, 75 . 106
s
Re 80000
Em seguida, calcula-se a rugosidade relativa. Para isso, na Tabela 2, temos que a ru-
gosidade nominal para o aço comercial é de 0,045 mm. Então:
DH 0, 18 m
4000
e 0, 045 . 103 m
f = 0,02
DH /ε = 4000
Re f
Figura 10 - Representação esquemática do Diagrama de Moody
Fonte: adaptada de Brunetti (2008).
UNIDADE 6 227
1. No eixo horizontal superior, encontre a curva referente ao número de Rey-
4
nolds desejado (no caso, Re = 8 x 10 ).
2. Caminhe pela curva do número de Reynolds, saindo do eixo superior até
encontrar a curva do diagrama referente à rugosidade relativa do conduto
em questão (aqui, DH e = 4000 ).
3. A partir desta intersecção da curva do número de Reynolds com a curva da
rugosidade relativa, caminhe na horizontal até o eixo da direita e faça a leitura
do fator de atrito f (para os valores do exemplo, f = 0, 02 ).
2
1000 m 3m
h f 0, 02 . . s 50 m
0, 18 m 2 . 10 m s2
v2
hs = k s .
2g
Singularidade Representação ks
1 _ A1 / A2
A1 (onde v = v1)
A2
A2 >> A1
1
Alagarmento
A1
A1 / A2
A1 A2
A1 >> A2
0,5
Estreitamento
A2
D d
k s = 0,15 para d/D = 0,6
θ V
k s = 0,10 para d/D = 0,8
(contração gradual com
θ = 20°; v = v1)
UNIDADE 6 229
Cotovelo 90° 0,9
haste
Válvula de com rosca 0,2
gaveta (totalmente aberta)
gaveta
10
Válvula tipo
globo (totalmente aberta)
Válvula de
0,5
retenção
Em geral, assume-se que estes valores são aproximações razoáveis para escoamentos
com número de Reynolds elevados, mas o processo rigoroso e mais adequado é con-
sultar manuais específicos das singularidades em questão ou catálogos de fabricantes.
Há, ainda, um segundo método para determinar as perdas de carga singulares,
chamado de “método dos comprimentos equivalentes”.
Com isso, pode-se avaliar a perda de carga total do sistema pela soma:
H p1,2 h f h s
Lreal v2 Leq v2
H p1,2 f f
DH 2 g DH 2 g
( Lreal Leq ) v2
H p1,2 f
DH 2g
3 EXEMPLO Água (ρ = 1000 kg/m³, μ = 1,308x10-3 Pa.s) escoa por uma tubulação circular de aço
inoxidável com 10 cm de diâmetro, quando passa por uma expansão gradual com Ѳ
= 60° para um diâmetro de 15 cm. Antes da expansão, a velocidade média do escoa-
mento era de 3 m/s, a uma pressão de 140 kPa. Determine a perda de carga devido a
esta singularidade usando o valor tabelado do coeficiente de perda de carga singular.
Qual é a pressão do escoamento após o alargamento? Resolva o problema novamente
usando o valor nominal de comprimento equivalente fornecido pelo fabricante de
Leq = 0,45 m. Admita a aceleração da gravidade g = 9,8 m/s².
1 2
10 cm 15 cm
Água
3m/s
140 kPa
UNIDADE 6 231
Solução:
v2
hs = k s .
2g
2
3m
hs 0, 07 . s 0, 032 m
2 . 9, 8 m
s2
É pedida também a pressão do escoamento na seção 2. Isto pode ser obtido por meio
da equação da energia:
H1 H 2 H p1,2 H 2 hs
p1 v2 p v2
1 2 2 hs
r . g 2g r . g 2g
Multiplicando a equação por “ r.g ” e isolando a pressão na seção (2), temos que:
(v12 v22 )
p2 p1 r r . g . hs
2
Para resolver esta equação, é necessário calcular a velocidade v2. Da equação da con-
tinuidade, para escoamento incompressível, temos:
Q1 Q2 v1 A1 v2 A2
A1 D2 (0, 1 m)2 m
v2 v1 12 v1 3
A2 D2 (0, 15 m)2 s
m
v2 1, 33
s
m 2
2
3 1 33 m
kg s
,
s 1000 kg . 9, 8 m . 0, 032 m
p2 140000 Pa 1000 3 .
m 2
m3 s2
p2 143301, 95 Pa 143, 3 kPa
Lreal v2 Leq v2
H p1,2 f f
DH 2 g DH 2 g
( Lreal Leq ) v2
H p1,2 f
DH 2g
Como estamos trabalhando apenas com a singularidade, podemos assumir Lreal = 0 .
Para resolver esta equação, devemos calcular o número de Reynolds no escoamento:
kg m
. 3 . 0, 1 m
1000
ρvD m 3 s
Re 3
229357, 8
µ 1, 308 . 10 Pa . s
2
Leq v12 0, 45 m 3m
hs f . 0, 0155 . . s
D1 2 g 0, 1 m 2 . 9, 8 m
s
hs 0, 032 m
UNIDADE 6 233
Que é o mesmo valor obtido pelo método dos
coeficientes de perda de carga singulares tabe-
lados (na realidade, os valores divergem muito
pouco, sendo estas diferenças desprezadas nas
aproximações). Evidentemente, como a perda de
carga é a mesma nos dois casos, o uso da equação
da energia com este último resultado também
trará que p2 ≈ 143, 3 kPa .
UNIDADE 6 235
Figura 11 - Descarga de água por tubulações em um reservatório aberto
Em geral, podemos esquematizar uma instalação de recalque de forma genérica da
seguinte forma:
(2)
recalque
registro
globo
(s)
sucção válvula de
B retenção
ze (e)
(1) válvula
de pé
De maneira simples, o sistema é composto por dois reservatórios (um sendo des-
carregado e o outro carregado), uma bomba (responsável por levar o tubo de um
tanque ao outro), a tubulação de sucção (antes da bomba) e a tubulação de recalque
(depois da bomba). Estão representados também válvulas que evitam a entrada de
sedimentos (não permitem que o fluxo de fluido seja invertido) e um registro para
o controle da vazão.
4 EXEMPLO Considere o sistema a seguir. Para uma vazão de 0,05 m³/s de água (γ = 10000 N/m³;
ν = 1x10-6 m²/s), determine a potência da bomba (rendimento ηB = 0,75) e a pressão
na entrada dela (seção (e)), para que a pressão p8 = 550 kPa seja mantida constante.
Considere que a tubulação é de aço comercial (ε = 4,5x10-5 m), com seção circular,
sendo os diâmetros da tubulação de sucção DS = 18 cm e da tubulação de recalque
DR = 9 cm. São dados: ks1 = 15; ks2 = ks6 = 0,9; ks3 = ks5 = 10; ks4 = 0,5; ks7 = 1; patm = 101
kPa; g = 10 m/s², pvap,H₂O = 1,96 kPa (absoluta).
P8 ((8)
8)
(1) - válvula de pé com crivo
(2) e (6) - cotovelos 25 m 1m
(6)
(3) e (5) - registros tipo globo
(4) - válvula de retenção (7)
(7) - alargamento brusco
(5)
9m 9m
(4)
(2) (s)
B
(3) (e)
2m
3m
(0)
(1)
UNIDADE 6 237
Solução:
H 0 H B H 8 H p0,8
O problema pede a potência da bomba, que pode ser calculada se conhecermos HB.
Os termos H0 e H8 são mais fáceis de avaliar. Considerando pressões manométricas,
lembre-se que:
p v2
H z
g 2g
Adotando como plano horizontal de referência (PHR) o nível do ponto (0) e baseado
nas nossas considerações, como fizemos nas unidades anteriores (velocidade nula na
superfície, pressão superfície livre, sendo a pressão atmosférica):
0 02
H0 0 0
g 2g
p8 v82 550000 0
H8 z8 (2 m 9 m 1 m)
g 2g 10000 N 2 . 10 m
m3 s2
H 8 67 m
H p0,8 h f h s
H p0,8 H p0,e H ps ,8
Temos que:
L v2 v2
=h f f= ; hs k s .
DH 2 g 2g
Para avaliar a perda de carga distribuída na seção de sucção, deve-se calcular o nú-
mero de Reynolds do escoamento:
v.D
Re =
n
m
1, 965. 0, 18 m
Re S s 353700
2
1 . 106 m
s
DH 0, 18 m
4000
e 4, 5 . 105 m
UNIDADE 6 239
Perdas de Carga Distribuídas na Sucção
h f0,e 0,2124 m
v2
hs = k s . , com vs = 1,965 m/s, g = 10 m/s²
2g
hs0,e 5,0002 m
vR 7, 863 m
s
Re R 707670
DH
2000
e
f 0, 0175
L v2
hf = f , com f = 0,0175, DH = 0,09 m, vR = 7,863 m/s, g = 10 m/s²
DH 2 g
Trecho De (s) a (6) De (6) a (7)
Comprimento (L) 9m 25 m
hf 5,4098 m 15,0273 m
h f s,8 20,4371 m
v2
hs = k s . , com vR = 7,863 m/s, g = 10 m/s²
2g
ks 0,5 10 0,9 1
1,5457
hs 30,9134 m 2,7822 m 3,0913 m
m
hss,8 38,3326 m
H B H 8 H p0,8 67 m 64 m
H B 131 m
Para determinar a potência da bomba, usamos a equação estudada na unidade an-
terior, considerando a eficiência ( h B = 0, 75 ):
N m3
10000 . 0, 05 .131 m
γ . Q . HB m3 s
NB
ηB 0, 75
N 87333, 33 W 87, 33 kW
UNIDADE 6 241
Espere! O exercício ainda não acabou. Ainda nos é pedida a pressão na entrada da
bomba, e este é um ponto importante para desenvolvermos o conceito que será apre-
sentado a seguir. Utilizando a equação da energia entre os pontos (0) e (e):
H 0 H e H p0,e H e h f0,e hs0,e
H e H 0 h f0,e hs0,e
H e 0 0, 2124 m 5, 0002 m 5, 2126 m
2
1 965 m
,
s N
pe 5, 2126 m 2 m . 10000 3
2 . 10 m 2 m
s
pe 74056, 61 Pa 74, 1 kPa
Em termos de pressão absoluta, como patm = 101 kPa:
Para evitar que a cavitação aconteça, é necessário garantir que a pressão em todos os
pontos dentro da bomba esteja acima da pressão de vapor. Como forma de fazer isso,
os fabricantes de bombas fornecem um parâmetro denominado NPSH (do inglês
“net positive suscito head”, que pode ser traduzido como “carga de sucção positiva
líquida”). Ele é calculado fazendo a diferença entre a carga de pressão de estagnação
na entrada da bomba e a carga da pressão de vapor:
p v2 pvap
NPSH
g 2g g
e
Os valores fornecidos pelos fabricantes são dados em função da vazão, e tratam-se dos
valores mínimos de NPSH que devem ser operados para evitar a cavitação na bomba.
Com isto, terminamos mais uma unidade – a última referente à mecânica dos
fluidos! A partir da Unidade 7, trataremos dos fenômenos de transferência de calor,
também fundamentais para todas as aplicações de engenharia. Aproveite o momento
para respirar e abrir a cabeça para os novos conceitos que estão por vir!
UNIDADE 6 243
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
1. Considere o trecho de tubulação a seguir, em que (2) é uma válvula de gaveta, (3)
é uma válvula tipo globo e (4) é um cotovelo. O fabricante destas peças fornece
os seguintes comprimentos equivalentes:
(3)
(2)
(1)
244
2. Considere o sistema a seguir.
z1 = ? 1
Estreitamento
Cotovelos
em 90°
D = 6 cm
2 z2 = 8 m
10 m
Válvula de gaveta
totalmente aberta
75 m Alargamento
Fonte: adaptada de Çengel e Cimbala (2015).
245
3. Considere a instalação de recalque a seguir:
2m 2m
(7)
(8)
5m 10 m
(5)
(2) (4)
B (6)
(3)
3m 40 m
(0)
1m
(1)
Fonte: adaptada de Brunetti (2008).
246
WEB
Vídeo desenvolvido pelo canal Engenharia & Cia, em que são apresentados os
conceitos de pressão de vapor, cavitação e o seu impacto na vida útil de equi-
pamentos e instalações.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.
WEB
Vídeo desenvolvido pelo canal Engenharia & Cia, em que são apresentados os
conceitos relacionados às instalações de recalque.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.
WEB
Vídeo desenvolvido pelo canal Smarter Every Day, que faz uma análise de bioe-
ngenharia acerca das lagostas-boxeadoras – crustáceos capazes de dar socos à
velocidade de um tiro calibre .22, que acabam provocando cavitação na água para
quebrar carapaças, conchas e vidros. Áudio em inglês com legendas em inglês.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.
247
BRUNETTI, F. Mecânica dos Fluidos. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.
ÇENGEL, Y. A.; CIMBALA, J. M. Mecânica dos fluidos: fundamentos e aplicações. 3. ed. Brasil: AMGH
Editora, 2015.
248
1. Este é um problema típico para cálculo da perda de carga distribuída e da perda de carga localizada pelo
método do comprimento equivalente. Para isto, temos a equação:
( Lreal Leq ) v2
Hp f
DH 2g
Avaliando a velocidade:
Q 4.Q 4 . 18 L 1 m3 m
v s 1, 02
A p.D 2 2
p . (0, 15 m) 1000 L s
Número de Reynolds:
m
1, 02 . 0,15 m
v.D s
Re 2
153000
n 1 . 106 m
s
Logo, o escoamento é turbulento. Avaliando a rugosidade relativa:
DH 0, 15 m
1000
e 1, 5 . 104 m
Pelo Diagrama de Moody-Rouse, para estes valores, temos o fator de atrito f = 0,022. Agora, como sabemos que
Lreal = 20 m e que Leq = 0,352 m + 16,94 m + 3,91 m = 21,202 m, basta substituir na equação:
m 2
(20 m 21, 202 m) (1, 02 s )
H p 0, 022 . .
0, 15 m 2 . 9, 8 m 2
s
H p 0, 32 m
H1 H 2 H p
249
Em que, baseado nas considerações básicas para o problema:
p v2
H z
g 2g
patm 02 p 02
H1 z1 ; H 2 atm z2
g 2g g 2g
patm p
z1 atm z2 H p
g g
z1 z2 H p
Como já é dado z2 = 8 m (adotando como PHR o fundo de ambos os reservatórios), deve-se calcular Hp:
H p h f hs
L v2
hf = f
DH 2 g
Q 4.Q 4.9 L 1 m3 m
v s 3, 18
A p.D 2 2
p . (0, 06 m) 1000 L s
kg m
999, 7 . 3 , 18 . 0, 06 m
ρ.v. D m3 s
Re 145939, 37
µ 1, 307 . 103 Pa . s
DH 0, 06 m
400
ε 1, 5 . 104 m
250
Então:
m 2
85 m (3, 18 s )
h f 0,027 19, 73 m
0, 06 m 2 . 9, 8 m 2
s
Agora, o próximo passo é calcular as perdas de carga singulares. Utilizando os valores tabelados de ks e orga-
nizando os cálculos em forma de tabela:
v2
hs = k s .
2 g , com v = 3,18 m/s, g = 9,8 m/s²
Singularidade Estreitamento Cotovelo Cotovelo Válvula de Alargamento
90° (1) 90° (2) gaveta
hs 1,8057 m
H p 19, 73 m 1, 81 m 21, 54 m
z1 8 m 21, 54 m
z1 29, 54 m
251
3. Partindo das considerações fundamentais de costume (regime permanente, fluido incompressível, es-
coamento completamente desenvolvido, sem trocas de calor), objetivo é resolver a equação da energia:
H 0 H B H 9 H p1,8
p0 v2 p v2
0 z0 H B 9 9 z9 H p1,8
r . g 2g r . g 2g
patm p9,abs
HB z9 H p1,8
r.g r.g
p9
HB z9 H p1,8
r.g
O termo referente às perdas de carga é a única incógnita. Como os diâmetros da tubulação de sucção e de
recalque são diferentes, devemos calcular as duas seções separadamente:
H p1,8 H p1,3 H p4 ,8
Para a sucção, as duas singularidades presentes estão expressas em comprimento equivalente. Logo:
( Lreal Leq ) v2
H p1,3 f
DH 2g
É necessário determinar o fator de atrito f e a velocidade de sucção vR:
4.Q m
v 2
vS 6, 03
π.D s
v.D
Re S 391766
ν
DH
250
ε
f 0, 028
252
Então, resolvendo a equação:
(9 m 22 m) 6, 03 s
2
m
H p1,3 0,028
0, 065 m 2 . 10 m
s2
H p1,3 24, 28 m
Agora, para o recalque, como os cotovelos estão dados em comprimento equivalente e as outras duas singu-
laridades estão dadas pelo seu ks, é conveniente usar a forma combinada:
( Lreal Leq ) v2 v2
H p4 ,8 f (ks5 k s8 ) .
DH 2g 2g
( Lreal Leq ) v2
H p4 ,8 f ks5 k s8 .
DH 2g
Para isso, é necessário calcular o fator de atrito para o recalque. Partindo da equação da continuidade e pelo
Diagrama de Moody-Rouse:
m
vR 1, 77
s
v.D
Re R 212314, 23
ν
DH
461, 54
ε
f 0, 025
253
Então:
1, 77 s
2
m
(52 m 2 m)
H p4 ,8 0,025
10 1 .
0, 12 m 2 . 10 m s
H p4 ,8 3, 49 m
Feito isso, podemos somar os dois termos para ter a perda de carga total do sistema:
0, 3 . 106 Pa
HB 15 m 27, 77 m
104 N 3
m
H B 72, 77 m
Enfim, pode-se então calcular a potência da bomba, considerando o seu rendimento:
N m3
10000 . 0, 02 .72, 77 m
γ . Q . HB m3 s
=NB =
ηB 0, 76
=N 19150
= W 19, 15 kW
254
255
256
Dr. Rodrigo Orgeda
Esp. Henryck Cesar Massao Hungaro Yoshi
Introdução à
Transferência de Calor
PLANO DE ESTUDOS
Condução Radiação
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Definir o que é a transferência de calor e seus principais • Desenvolver o conceito de camada limite térmica por meio
processos: condução, convecção e radiação. do estudo da convecção por meio da definição da Lei de
• Estudar a transferência de calor por difusão por meio da Newton do Resfriamento.
Lei de Fourier da Condução, das definições de condutivida- • Conhecer o mecanismo de radiação térmica com base na
de e difusividade térmicas, e dos conceitos de resistência Lei de Stefan-Boltzmann da Radiação Térmica.
e circuitos térmicos.
Conceitos
Fundamentais
UNIDADE 7 259
Numa perspectiva industrial, uma possível preocupação seria a perda de energia em
sistemas de tubulações para o ambiente, por não estarem com isolamento térmico
adequado (veja a Figura 2). Dependendo do processo em questão, isto pode significar
prejuízo à eficiência energética do processo, que por sua vez é traduzido em maior
custo e, portanto, menor lucro.
m = 1 kg
∆T = 1 °C
Calor específico = 5 kJ/kg.°C
5 kJ
c p cV R
UNIDADE 7 261
Em que c é o calor específico médio entre as temperaturas T2 e T1 (por isso, frequen-
temente também pode ser chamado de cméd ), m é a massa da substância e Q é a
quantidade de calor.
Na equação anterior, note que o termo Q tem dimensão de energia (uma possível
unidade seria o J, por exemplo). No estudo dos fenômenos de transporte, frequente-
mente são usados os termos taxa e fluxo. A “taxa de transferência de calor” é frequen-
temente denotada por Q e tem dimensões de energia por tempo (uma unidade é o
W, por exemplo). O “fluxo de calor”, por sua vez, tem uma definição um pouco menos
intuitiva: é a taxa de transferência de calor por unidade de área, sendo denotada por
q . Este conceito será mais bem explorado e ilustrado nos próximos tópicos.
Q Q
Q | q
t A
Além disso, é importante definir também o chamado calor latente que, de forma
simplificada, é a energia necessária para que ocorra uma mudança de fase. Para
substâncias puras, a mudança de fase ocorre a temperaturas constantes e pode-se
usar a equação:
Q = m.L
UNIDADE 7 263
Condução Unidimensional
em Regime Permanente
dT
Q cond k . A .
dx
1 EXEMPLO Considere a parede de um forno industrial feita em tijolo, com 0,20 m de espessura.
O lado interno está a 1150 °C e o lado externo a 900 °C. Sabendo que as dimensões
da parede são 1,5 m (comprimento) por 1,0 m (altura), determine a taxa de calor
perdida através desta parede.
Solução:
Considerando que o sistema em questão opera em regime permanente, que a pa-
rede é perfeitamente plana e de condutividade térmica constante, e que a temperatura
varia só ao longo da sua espessura (ou seja, a transferência de calor é unidimensional;
as temperaturas não variam ao longo da largura e da altura), podemos usar a Lei de
Fourier da condução:
dT
Q cond k . A .
dx
Quando trabalhamos com a Lei de Newton da Viscosidade, para simplificar a solução
do problema, assumimos que o diagrama de velocidades era linear com a espessura
do escoamento. Aqui, as condições de estado estacionário nos permitem fazer uma
simplificação análoga, admitindo o diagrama de temperatura linear com a espessura
da parede (como esquematizado na Figura 4):
UNIDADE 7 265
T
T1
Q cond,x T(x)
T2
x
∆x
Figura 4 - Representação esquemática da condução de calor unidimensional em regime permanente
Fonte: adaptada de Incropera e Dewitt (2008).
T
Q cond k . A .
x
A 1, 5 m . 1, 0 m 1, 5 m2
W = 1,5 m
k = 0,72 W /(m.K) H = 1,0 m
T1 = 1150 K T2 = 900 K Q cond,x
Q cond,x
x Área da parede, A
L = 0,20 m x
L
Figura 5 - Representação esquemática do problema de condução de calor unidimensional em parede plana
Fonte: adaptada de Incropera e Dewitt (2008).
Q cond 0, 72
W
m.K
2 1150 C 900 C
. 1, 5 m .
0, 20 m
Q cond 1350 W
T Q cond 1350 W W
qcond k . 900
x A 1, 5 m2 m2
Em alguns livros, o uso do sinal negativo na equação às vezes é ocultado, uma vez
que a função dele é meramente indicar o sentido da transferência de calor (sai do
ponto de temperatura mais alta para o ponto de temperatura mais baixa). Aqui, se a
taxa de transferência de calor for positiva significa que a direção da seta representada
no esquema da Figura 5 aponta corretamente a direção do fenômeno (o calor vai da
face interna da parede para a face externa). Esta observação também é válida para as
demais equações dos fenômenos de transporte, como a Lei de Newton da Viscosidade
que você estudou anteriormente.
Além da condutividade térmica, existe outra característica dos materiais que apa-
rece frequentemente no estudo da transferência de calor. É a chamada difusividade
térmica ( a ), definida pela equação:
Condução de Calor k
=α =
Armazenamento de Calor ρ . c p
Resistência Térmica
UNIDADE 7 267
i
V1 V2
Re
V1 V2
i
Re
x
Rcond
k.A
Com isso, a Lei de Fourier fica exatamente semelhante à equação para cálculo da
corrente elétrica:
T T
Q cond 1 2
Rcond
Não somente a representação pode ser feita de forma análoga, mas também os proble-
mas envolvendo sistemas de resistências. Por exemplo, um problema de transferência
de calor envolvendo múltiplas camadas de materiais diferentes pode ser esquemati-
zado como um sistema de resistências em série:
T3
T4
∆x ∆x ∆x
A B C
kA kB kC
A B C
x
∆x ∆x B ∆x
A C
k .A k k .A
A B .A C
qx
T1 T2 T3 T4
A taxa de transferência de calor da parede composta pode ser determinada avaliando a taxa
em cada parede. Assim, os circuitos térmicos podem ser calculados da mesma forma como
os circuitos elétricos. Para a condução em três paredes em série, como a Figura 6, temos:
T T T T T T
Q 1 2 2 3 3 4
Rcond ,1 Rcond ,2 Rcond ,3
Além disso, bem como é feito com circuitos elétricos, é conveniente trabalhar com
um coeficiente global de transferência de calor (U), análogo ao uso de uma resistência
equivalente para os circuitos elétricos:
1 T
U .A | Q U . A . T
Rtotal Rtotal
W
Em que U tem unidades como m2 .K (no SI). Nesta unidade, nosso foco estará
mais centrado na resistência total ( Rtotal ), mas o coeficiente global de transferência
de calor será importante na unidade a seguir.
UNIDADE 7 269
Definido o conceito de resistência térmica, é fácil compreender o conceito de isolante
térmico: materiais que apresentam elevada resistência térmica, ou seja, são péssimos
condutores (sua condutividade térmica é extremamente baixa). O isolamento térmico
de uma tubulação, por exemplo, é feito revestindo o conduto com um material de
baixa condutividade.
2 EXEMPLO Uma janela de painel duplo é composta de duas placas de vidro separadas por um
espaço de ar estagnado. Este tipo de janelas é popular em climas mais frios, porque
a camada de ar entre os vidros garante uma resistência térmica maior, de modo a
evitar a perda de calor do interior do ambiente para o exterior. Considere o esquema
a seguir, sendo um painel de 1,0 de altura por 1,5 m de largura. Se T1 = 20 °C e T4 =
-10 °C, qual a taxa de transferência de calor por meio desta janela de painel duplo?
Determine também as temperaturas T2 e T3.
Vidro Vidro
Ar
T1 T2
20 °C
T4
T3 10 °C
5 mm 10 mm 5 mm
R1 R2 R3
Solução:
Estamos considerando que o sistema está em regime permanente, de modo que
as temperaturas permaneçam constantes nos valores especificados. Além disso, assu-
me-se que a transferência de calor é unidimensional e que condutividades térmicas
do ar e do vidro são constantes.
= , 5 m) . (1, 0 m) 1, 5 m2
A (1=
x1 5.103 m K C
R1 4, 27.103 4, 27.103
kvidro . A 0, 78 W
m.K
. 1, 5 m2 W W
x2 10.103 m K C
R2 256, 41.103 256, 41.103
kar . A 0, 026 W
m.K
. 1, 5 m2 W W
x3 5.103 m K C
R3 4, 27.103 4, 27.103
kvidro . A 0, 78 W
m.K
. 1, 5 m 2 W W
O sistema pode ser entendido como uma parede multicamadas com resistências em
série. Dessa forma, a resistência total pode ser calculada como a soma das resistências:
C
Rtotal R1 R2 R3 264, 95 . 103
W
T 20C (10C )
Q 113, 23 W
Rtotal 264, 95 . 103 C
W
T T
Q 1 2 T2 T1 Q . R1
R1
C
T2 20C (113, 23 W ) . 4, 27.103 19, 52C
W
Para a camada de ar estagnado:
T T
Q 2 3 T3 T2 Q . R2
R2
C
T3 19, 52 C (113, 23 W ) . 256, 41.103 9, 51 C
W
UNIDADE 7 271
Por meio dos cálculos, foi possível observar que a camada de ar atua como isolante,
pois apresenta uma resistência térmica relativamente elevada. Se ela não estivesse
presente, a taxa de transferência de calor seria consideravelmente maior (pois a
resistência seria menor). Caso uma resistência ainda maior fosse necessária, seria
possível até mesmo utilizar janelas de painel triplo. Note que tanto a perda de calor
no inverno quanto o ganho de calor no verão são reduzidos, ou seja, por meio do
isolamento das janelas, os gastos com aquecedores e aparelhos de ar condicionado
podem ser reduzidos, garantindo uma melhor eficiência energética do ambiente.
Conhecidos os problemas de paredes multicamadas em série, é natural imaginar
que uma ideia parecida também seja aplicável a multicamadas em paralelo, como
representado na figura a seguir:
∆xA ∆x B = ∆x C ∆xD
kB B
T1 kA kD T2
kC
A C D
De fato, tal abordagem existe, mas passa a se tratar de um sistema com escoamento
de calor multidimensional (o que foge do escopo deste material). Dito isso, a hipótese
de condições unidimensionais é frequentemente razoável; conduto, dois diferentes
circuitos térmicos podem ser usados. No primeiro, considera-se que os perfis de
temperatura em B e C sejam iguais, ou seja, as superfícies normais à direção x são
isotérmicas. Assim, o seguinte circuito térmico pode ser representado:
.
Qx T1 T2
Os valores obtidos das resistências totais Rtotal dos circuitos das Figuras 8 e 9 são
distintos, sendo que ambos são aproximações. O valor exato está, na verdade, entre
os valores previstos pelos dois casos. Quanto maior for o efeito multidimensional
(ou seja, quanto maior a diferença entre kC e k B ), maior será a diferença entre os
“ Rtotal ” estimados.
UNIDADE 7 273
Convecção
3 EXEMPLO Um fio elétrico com 1,5 m de comprimento e 3 mm de diâmetro está em uma sala
que é mantida a 15 °C. A passagem de corrente elétrica por esse fio faz com que ele
esquente até uma temperatura de 135 °C na superfície, o que equivale a uma potência
de 75 W. Determine o coeficiente de transferência de calor por convecção entre a
superfície do fio e o ar na sala.
Solução:
Considerando condições de regime permanente e propriedades constantes, po-
demos fazer uma esquematização simples do problema:
T∞ = 15°C
135 °C
i
3 mm
1,5 m
Repare que a potência de 75 W pode ser entendida como uma geração de energia neste
sistema. Nas condições de regime permanente, esta deve ser a taxa de transferência
de energia por convecção que sai do fio para a sala (do contrário, as temperaturas
não estariam constantes/estacionárias).
UNIDADE 7 275
A área superficial do fio é facilmente calculada como a área de um cilindro da
seguinte forma:
A2.p.r .L
0, 003 m 2 2
A 2.p . . 1, 5 m 1, 414 . 10 m
2
Para determinar o coeficiente, basta utilizar a Lei de Newton do Resfriamento:
Q conv
Q conv h . A . Ts T h
A . Ts T
75 W
h
1, 414 . 10 2
m2 . 135 C 15 C
W
h 44, 20
m2 .C
h . LC
Nu =
k
Camada .
Q L
de fluido
T1
∆T = T2 - T1
T
Q cond k . A . | Q conv h . A . T
L
Q conv h . A . T h.L
Nu
Qcond k . A . T k
L
µ
difusividade molecular de momento ν ρ µ . cp
Pr = = = =
difusividade molecular t érmica α k k
ρ . cp
Como sua definição sugere, o número de Prandtl compara a difusão de momento com a
difusão térmica. Isto fica mais claro quando nos lembramos de um conceito estudado na
unidade anterior: a camada limite hidrodinâmica, em que vimos que quando um escoa-
UNIDADE 7 277
mento livre passa a escoar sobre uma superfície sólida, começa-se a desenvolver um perfil
de velocidades devido aos efeitos viscosos decorrentes do princípio do não deslizamento.
De maneira análoga, quando um fluido a uma dada temperatura passa a escoar sobre uma
superfície com temperatura diferente, observa-se a formação de um perfil de temperaturas
e, com isto, a chamada camada limite térmica.
Observe o esquema a seguir, que mostra a formação da camada limite térmica em
um escoamento inicialmente uniforme a T∞ , que passa a escoar sobre uma superfí-
cie à temperatura Ts . A espessura da camada limite térmica ( dt ) é definida como a
distância da superfície em que a diferença de temperatura T Ts 0, 99(T Ts ) .
Em outras palavras, a camada limite térmica é formada pelos pontos em que a tem-
peratura do escoamento é afetada pela temperatura da placa.
T∞ Escoamento livre T∞
T∞
Camada
limite
δ1
x Ts térmica
Ts + 0,99(T∞ Ts )
Como você pode imaginar, a velocidade do fluido tem forte influência em como esta
camada limite térmica irá se desenvolver e, por consequência, na transferência de
calor por convecção.
Q conv h . A . T h . A . Ts T
1 T T
Rconv Q conv s
h. A Rconv
Com isso, problemas envolvendo paredes planas multicamadas com convecção nas
superfícies podem ser resolvidos como circuitos térmicos com relativa facilidade
(desde que sejam conhecidos os coeficientes de transferência de calor por convecção).
4 EXEMPLO Uma janela de painel único tem 1,0 m de altura por 1,5 m de largura e 10 mm de es-
pessura. Em um dia frio, o ambiente interno desta janela é mantido à temperatura de
20 °C, enquanto o ambiente externo está a uma temperatura de -10 °C. Sabendo que os
coeficientes de convecção interno e externo são hi = 12 W/(m².K) e he = 36 W/(m².K),
determine a taxa de transferência de calor e a temperatura das superfícies interna e
externa da janela.
Solução:
Vidro
20 °C
Ti
Te
10 °C
hi = 12 W he = 36W
m2 . K m2 . K
∆x = 10 mm
Ri Rvidro Re
T∞1 T∞2
Ti Te
UNIDADE 7 279
O primeiro passo é avaliar a área da janela:
= A 1,= 0 m . 1, 5 m 1, 5 m2
Sabendo que kvidro = 0, 78 W (m.K ) (veja na Tabela 1), as resistências térmicas são:
1 1 C
Ri Rconv,i 5, 56 . 102
hi . A W 2 W
12 2 . 1, 5 m
m .K
x 10 . 103 m C
Rvidro 8, 55 . 103
kvidro . A
0, 78W m . K . 1, 5 m 2 W
1 1 C
Re Rconv,e 1, 85 . 102
he . A W 2 W
36 2 . 1, 5 m
m .K
Como estão em série, a resistência total é dada pela soma das resistências, logo:
C
Rtotal Ri Rvidro Re 8, 265 . 102
W
Agora, basta substituir na equação para a taxa de transferência de calor para a resis-
tência total do circuito:
T T T [20 (10)]C
Q 1 2 362, 98 W
Rtotal Rtotal 8, 265 . 102 C W
T T
Q 1 i Ti T1 Q . Ri
Ri
C
Ti 20 C 362, 98 W . 5, 56 . 102 0, 18 C
W
T T
Q i e Te Ti Q . Rvidro
Rvidro
C
Te 0, 18 C 362, 98 W . 8, 55 . 103 3, 29 C
W
.
Q
k
r1 h
.
Q
r2
.
Qmax
.
Q sem
isolamento
Efeito do isolamento em
tubos cilíndricos
0 r1 rcr = k/h r2
UNIDADE 7 281
Como mostra o gráfico, se r1 < r2 < rcr , a taxa de transferência de calor aumenta
com a adição de isolamento, atingindo um máximo em r2 = rcr , e passa a diminuir
para r2 > rcr . Isto é, até uma dada espessura, usar isolamento estará aumentando a
perda de calor em vez de mitigá-la, pois a convecção será o efeito dominante. Dito
isso, a experiência demonstra, em geral, que o raio crítico será de, no máximo, 1 cm.
Portanto, podemos isolar a maioria das tubulações sem grandes preocupações com a
possibilidade de estarmos, na verdade, aumentando a transferência de calor. A título
de curiosidade, o raio crítico de isolamento para esferas é dado por:
2 . kisolamento
rcr ,esfera =
h
UNIDADE 7 283
transmite radiação. A equação que determina a taxa máxima de radiação que pode ser
emitida por uma superfície à temperatura Ts é a chamada Lei de Stefan-Boltzmann
da radiação térmica:
Q rad ,max = s . A . Ts4
8 2 4
Em que s 5, 670 10 W (m .K ) é a constante de Stefan-Boltzmann e Ts é a
temperatura termodinâmica (ou seja, em Kelvin ou Rankine) da superfície.
Na prática, esta radiação máxima é emitida somente por uma superfície idealiza-
da chamada de corpo negro. Para superfícies reais, utiliza-se um parâmetro
e (0 ≤ e ≤ 1) que é chamado de emissividade da superfície. Assim:
Q rad = ε . σ . A . Ts4
Alumínio Pele
0,07 Pintura preta 0,98 0,95
em folhas humana
Alumínio
0,82 Pintura branca 0,90 Madeira 0,82-0,92
anodizado
Pavimento
Ouro polido 0,03 0,85-0,93 Água 0,96
asfáltico
Tijolo
Prata polida 0,02 0,93-0,96 Vegetação 0,92-0,96
vermelho
Aço inoxidável
0,17
polido
Solução:
Considerando apenas a troca térmica por radiação, que todas as temperaturas
estão uniformes como descritas e que o corpo se encontra totalmente cercado pelas
superfícies interiores do quarto, basta utilizar a equação da taxa líquida de transfe-
rência de calor por radiação, sendo que o corpo, por estar a uma temperatura maior
(32 °C = 305,15 K), transfere energia para as paredes.
Assim, adotando uma emissividade para a pele humana de 0,95 (conforme Tabela
2), para o dia frio:
m .K
Q rad , frio 0, 95 . 5, 670 108 W 2 4 . 1, 5 m2 . (32 273, 15) 4 (12 273, 15) 4 K 4
Q rad , frio 166, 39 W
UNIDADE 7 285
Para o dia quente:
m .K
Q rad ,quente 0, 95 . 5, 670 108 W 2 4 . 1, 5 m2 . (32 273, 15) 4 (28 273, 15) 4 K 4
Q rad ,quente 36, 02 W
1. O telhado de uma casa apresenta dimensões 7,5 m x 10,0 m, com 0,30 m de espes-
sura, e consiste basicamente em uma placa plana de concreto (k = 0,8 W/m.K). Este
telhado conta com um sistema de aquecimento elétrico que, ao longo de uma noite
(período de 10 horas), é capaz de manter a temperatura da sua superfície interior
em 18 °C, enquanto a superfície exterior é mantida em 6 °C. Determine a taxa de
perda de calor através do telhado e o custo dessa perda (considere R$ 0,42/kWh).
4 °C 6 °C
15 °C 18 °C
Ar
20 °C
T1 T2
hi = 36 W
m2 . K
hi = 12 W T4
m2 . K T3 10 °C
5 mm 10 mm 5 mm
Ti Ri R1 R2 R3 Re Te
287
3. Considere a seguinte parede plana composta:
T0
T1 T2 T∞ = 25°C
h = 1000 W/(m2 .K)
isolante q’’
qA = 1,5 x 106W/m3
kA = 75 W/(m.K) A B Água
kB = 120 W/(m.K)
qB = 0 W/m3
LA = 60 mm
LB = 20 mm
288
LIVRO
289
ÇENGEL, Y. A.; GHAJAR, A. J. Transferência de Calor e Massa: uma abordagem prática. 4. ed. Porto Alegre:
AMGH Editora, 2012.
INCROPERA, F. P.; DEWITT, D. P. Fundamentos de Transferência de Calor e de Massa. 6. ed. Rio de Janeiro:
Editora LTC – GEN (Grupo Editorial Nacional), 2008.
290
1. Estamos considerando que o sistema permanece em regime permanente durante o período de 10 horas
descrito, ao longo do qual suas propriedades são constantes e o escoamento de calor é unidimensional.
Trata-se, portanto, de um problema de condução em que há geração de energia (no caso, devido ao sistema
de aquecimento por eletricidade).
= , 5 m . 10, 0 m 75, 0 m2
A 7=
Com isso, como conhecemos também a condutividade térmica do telhado (k = 0,8 W/m.K), sua espessura (0,30 m)
e a diferença de temperatura entre as superfícies interna e externa, pode-se calcular o calor perdido através do
telhado pela Lei de Fourier da Condução Térmica:
T T
Q k . A . i e 0, 8
x m
W
. K
2
. 75, 0 m .
(18 6)C
0, 30 m
Q 2400 W 2, 4 kW
Para calcular o custo, precisamos calcular a quantidade de energia em um período de 10 horas. Assim, temos:
Q Q . t 2, 4 kW . 10 h
Q 24 kWh
291
2. Como o próprio esquema apresentado sugere, o problema pode ser resolvido por meio da determinação
das resistências térmicas do sistema. Para isso, primeiro, determina-se a área de troca térmica de cada
superfície do painel, dada por:
= , 5 m) . (1, 0 m) 1, 5 m2
A (1=
Em seguida, determinam-se as resistências, sendo Ri e Re resistências de convecção, enquanto R1, R2 e R3 são
resistências de condução. Logo:
x 1
Rcond | Rconv
k.A h. A
1 1 C
Ri Rconv,i 5, 56 . 102
hi . A W 2 W
12 2 . 1, 5 m
m .K
x1 5.103 m K C
R1 4, 27.103 4, 27.103
kvidro . A 0, 78 W
m.K
. 1, 5 m2 W W
x2 10.103 m K C
R2 256, 41.103 256, 41.103
kar . A 0, 026 W
m.K
. 1, 5 m 2 W W
x3 5.103 m K C
R3 4, 27.103 4, 27.103
kvidro . A 0, 78 W
m.K
. 1, 5 m 2 W W
1 1 C
Re Rconv,e 1, 85 . 102
he . A W 2 W
36 2 . 1, 5 m
m .K
C
Rtotal Ri R1 R2 R3 Re 339, 05 . 103
W
292
Logo, a taxa de transferência de calor pode ser determinada:
Q conv h . A . Ts T
Q gerado q A . VA q A . A . LA
W
Q gerado 1, 5.106 3 . (1 m2 ) . (6.103 m) 9000 W
m
Q gerado Q conv | q gerado qconv
Q conv h . A . Ts T | qconv h . Ts T
Q
Q conv h . A . T2 T T2 conv T
h. A
90000 W
T2 25 C T2 115 C
W 2
1000 2 . (1 m )
m .K
Conhecendo a taxa, pode-se calcular as temperaturas T1, T2, T3 e T4 fazendo a equação de cada uma das resis-
tências térmicas:
T T
Q i 1 T1 Ti Q . Ri
Ri
C
T1 20 C (88, 48 W ) . 5, 56 . 102 15, 08 C
W
T T
Q 1 2 T2 T1 Q . R1
R1
C
T2 15, 08 C (88, 48 W ) . 4, 27.103 14, 70 C
W
T T
Q 2 3 T3 T2 Q . R2
R2
C
T3 14, 70 C (88, 48 W ) . 256, 41.103 7, 99 C
W
T T
Q 3 4 T4 T3 Q . R3
R3
C
T4 7, 99 C (88, 48 W ) . 4, 27.103 8, 37 C
W
Estes resultados são muito mais condizentes com o que se espera observar na prática do que com as aproxi-
mações feitas no exemplo original.
293
3. Considere condições de regime estacionário, com propriedades constantes, em que o escoamento de calor
ocorre unidimensionalmente na direção x.
Q gerado q A . VA q A . A . LA
W
Q gerado 1, 5.106 3 . (1 m2 ) . (60.103 m) 90000 W
m
Em regime estacionário, as temperaturas devem estar constantes, e o calor gerado no material A deve ser justa-
mente igual ao calor removido pela convecção no material B, uma vez que o outro lado do material A está isolado.
Assim, podemos utilizar a Lei de Newton do Resfriamento para avaliar a temperatura da superfície externa (T2):
(T T ) Q cond . LB
Q cond k B . A . 1 2 T1 T2
LB kB . A
90000 W . 20 . 103 m
T1 115 C T1 130 C
W 2
120 . (1 m )
m.K
O mesmo pode ser feito com a camada A para determinar T0:
(T T ) Q cond . LA
Q cond k A . A . 0 1 T0 T1
LA kA . A
90000 W . 60 . 103 m
T0 130 C T0 202 C
W 2
75 . (1 m )
m . K
294
295
296
Dr. Rodrigo Orgeda
Esp. Henryck Cesar Massao Hungaro Yoshi
Trocadores de Calor
PLANO DE ESTUDOS
Transferência de Calor
em Trocadores
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Apresentar os diversos tipos de dispositivos e configura- • Abordar os principais aspectos a serem considerados ao
ções de equipamentos de transferência de calor. analisar um trocador de calor.
• Estudar o conceito de média logarítmica das temperaturas
junto do coeficiente global de transferência de calor.
Tipos de Trocadores
de Calor
UNIDADE 8 299
Geralmente, a transferência de calor em trocadores acontece por meio de dois meca-
nismos: pela convecção em cada fluido e pela condução na parede que os separa. Como
estudamos, a área de troca térmica é um aspecto chave neste fenômeno (lembre-se das
equações da Lei de Fourier da Condução e da Lei de Newton do Resfriamento), de
modo que conhecer a configuração estrutural dos trocadores de calor é fundamental
para uma análise do seu funcionamento e desempenho.
Antes de classificarmos os principais tipos de trocadores existentes, vamos tomar
um momento para ponderar o contexto em que nos encontramos. A indústria, no ge-
ral, trabalha com diversos fluidos, cada um com suas propriedades (como viscosidade,
densidade e calor específico). Ainda, cada processo apresenta uma dada finalidade (por
exemplo, para produção alimentícia, química ou farmacêutica), e o engenheiro não deve
estar somente preocupado com o desempenho e lucratividade do processo, mas também
com relação a aspectos, como segurança, viabilidade técnica, necessidade de manutenção
dos equipamentos e muitos outros detalhes intrínsecos a cada indústria.
Com isso em mente, é razoável concluir que diferentes configurações de processos
e equipamentos são criadas para melhor atender necessidades específicas. Natural-
mente, isto também é válido para os trocadores de calor, sendo que sua principal
diferenciação é dada em termos de sua geometria, destacando-se os trocadores dos
tipos: tubo duplo (“double pipe”), casco e tubo (“shell and tube”) e de placas (“plate”).
O modelo mais simples de trocador de calor é o chamado trocador de tubo duplo,
que consiste essencialmente em dois tubos concêntricos (veja a Figura 2), em que um
dos fluidos escoa pelo tubo de diâmetro menor e o outro escoa pelo espaço anular
entre os dois tubos. Geralmente, este tipo de trocador apresenta dois trechos retos
com conexões nas extremidades dos tubos.
Bucha
Curva de retorno Bucha Bucha
Cabeçote de retorno Tê
Orientando-se pela figura, repare que não há mistura entre os dois fluidos, de modo
que a transferência de calor ocorre através da parede do tubo interno. Esta formação
estrutural em “U” é, às vezes, chamada de “grampo” (em inglês hairpin), e conectando
vários destes em sequência, pode-se alcançar uma área de troca térmica considerável.
T T
Flu
ído
que
Fluí nte
do q
uen Flu
te ídof
rio
o
o fri
Fluíd
Frio Frio
sai entra
Frio Frio
entra sai
Figura 3 - Arranjos de escoamento em trocadores de tubo duplo e seus perfis de temperatura associados
Fonte: Çengel e Cimbala (2015, p. 630).
UNIDADE 8 301
Os trocadores de tubo duplo se destacam pela sua facilidade de construção, manuten-
ção e ampliação da área de troca térmica, sendo geralmente construídos em dimensões
padronizadas, chegando a ter de 1,5 a 7,5 metros de comprimento, geralmente. Há,
entretanto, outros modelos de trocadores que ocupam menos espaço físico e fornecem
maior área de troca térmica, de modo que os trocadores de tubo duplo costumam
ser economicamente viáveis quando os demais não são interessantes e para áreas de
troca térmica de até 30 m².
Um segundo tipo de trocador de calor, um dos mais comumente encontrado em
indústrias, é o trocador casco e tubo. Como o nome sugere, este tipo de equipamento
de troca térmica possui diversos tubos (até mesmo centenas) colocados paralelamen-
te ao eixo longitudinal de um casco cilíndrico (veja a figura a seguir para facilitar a
visualização). A transferência de calor ocorre através da parede destes tubos, em que
um fluido escoa por dentro deles e o outro percorre o exterior dos tubos ao longo
da casca. É comum classificá-los com relação ao número de “passes” que acontecem
no casco e nos tubos, como na Figura 4:
Entrada do fluído
do lado do casco
Entrada do fluído
do lado do casco
Fluído do lado
Saída
dos tubos
Fluído do
Saída lado dos
tubos
Entrada
Entrada
Saída Saída
(a) Um passe no casco e dois passes nos tubos (b) Dois passes no casco e quatro passes nos tubos
2
8 9
1 - Casco ou carcaça 6 - Tampa do carretel
2 - Tubos 7 - Espaçadores de chicanas
3 - Espelho 8 - Bocal (lado tubo)
4 - Chicanas 9 - Bocal (lado casco)
5 - Carretel
O ponto forte deste modelo é que ele pode ser projetado para extensas faixas de pres-
são, temperatura e vazão, podendo alcançar grandes áreas de troca térmica (até acima
de 5000 m²). Em geral, é o modelo de trocador mais versátil e, por isso, a sua popula-
ridade na indústria. Algumas exceções ao seu uso são, por exemplo, em automóveis
e aeronaves, principalmente devido ao tamanho e ao peso destes tipos de trocador.
UNIDADE 8 303
O terceiro e último tipo de trocador que iremos tratar é o chamado
trocador de calor de placas, utilizados especialmente na indústria
de alimentos pela facilidade de manutenção e limpeza. Estes tro-
cadores consistem, essencialmente, em uma sequência de placas,
com os fluidos escoando intercaladamente entre elas, de modo que
uma camada de fluido frio está trocando calor com duas camadas
de fluido quente, o que leva a uma troca térmica bastante eficiente.
São geralmente utilizados quando os dois fluidos são líquidos em
pressões próximas, destacando-se pela facilidade em aumentar ou
diminuir a área de troca térmica, se necessário (pela adição ou re-
moção de placas). Entretanto, são equipamentos que não suportam
pressões muito altas, quando comparados aos trocadores tubulares.
Trocadores de calor de tubo e casco
UNIDADE 8 305
Média Logarítmica das Temperaturas
DT
Q cond k . A . e Q conv h . A . Ts T
Dx
Tfsai Tfen
Figura 8 - Trocador de calor com escoamento puramente contracorrente
Fonte: os autores.
O terminal no qual entra a corrente quente e sai a corrente fria aquecida é chamado
terminal quente. Denominando-se q1 a diferença de temperatura entre estas duas
correntes, então, a diferença de temperaturas no terminal quente é dada por:
q1 Tqen T f sai
No outro extremo do trocador está o terminal frio, no qual entra a corrente fria e sai
a corrente quente resfriada. A diferença de temperaturas entre estas duas correntes,
no terminal frio, será dita q2 , e é dada por:
q2 Tqsai T fen
1 T
U .A | Q U . A . T
Rtotal Rtotal
UNIDADE 8 307
Esta será exatamente a abordagem que utilizaremos com os trocadores de calor.
Veja que a área de troca térmica (A) é um parâmetro característico da estrutura do
equipamento (conforme vimos para os diferentes tipos de trocadores no início desta
unidade). Vamos avaliar, então, o circuito térmico associado a um trocador de tubo
duplo, em que um fluido percorre o interior do tubo e o outro percorre a região
ao redor do tubo. Considere, por exemplo, que no interior do tubo esteja o fluido
quente (por consequência, o fluido frio está percorrendo por fora do tubo). Podemos
representar este circuito como duas resistências de convecção e uma resistência de
condução entre elas (veja a figura e o circuito a seguir):
Fluído
frio
Fluído
quente
Transferência
de calor
Ti
Fluído
frio
Fluído quente
Ai Parede To
A
hi
hO
Ti To
1 Rparede 1
Ri = Ro =
hi . Ai hO . AO
1 1 1 1
U .A Rtotal R parede
Rtotal U . A hi . Ai ho . Ao
Note que, na equação anterior, temos três áreas sendo representadas. É evidente que a área
interna do tubo ( Ai ) é diferente da área externa ( Ao ). Ao mesmo tempo, vimos que a
área “A” é justamente a área de troca térmica característica da estrutura do equipamento;
mas afinal, quem é esta área de troca térmica, Ai ou Ao ? A resposta não é tão intuitiva:
na verdade, o mais sensato é abordar este problema considerando que o trocador de calor
apresenta dois coeficientes globais de troca térmica, U i e U o , numericamente diferentes
entre si, de modo que:
1 1 1
= = = Rtotal
U . A U i . Ai U o . Ao
1 1 1
Rtotal
U . A hi . Ai ho . Ao
1 1 1
A Ai Ao
U hi ho
U ≈ Ui ≈ Uo
Esta é uma aproximação razoável para muitos trocadores de calor. Na tabela a seguir,
são apresentados alguns valores representativos para os coeficientes globais de troca
térmica de trocadores típicos envolvendo diferentes pares de fluidos.
UNIDADE 8 309
Tabela 1 - Valores representativos do coeficiente global de transferência de calor em trocadores de calor
Fluido Rf (m².K/W)
0,0001 (abaixo de 50 °C)
Água (destilada, marinha, fluvial)
0,0002 (acima de 50 °C)
Óleo combustível 0,0009
Vapor 0,0001
Refrigerantes líquidos 0,0002
Refrigerantes gasosos 0,0004
Vapores de álcool 0,0001
Ar 0,0004
Fonte: Çengel e Cimbala (2015, p. 636).
UNIDADE 8 311
Agora que temos nossos conceitos básicos definidos, vamos resolver um exemplo
para ilustrar estes cálculos. Ao longo desta unidade, estaremos sempre considerando
condições de regime permanente, propriedades constantes, com escoamento com-
pletamente desenvolvido e sem perda de carga.
1 EXEMPLO Considere um trocador de calor tubo duplo feito de aço inoxidável (k = 15,1 W/m.K),
cujos tubos possuem um diâmetro interno Di = 1,7 cm e diâmetro externo Do = 2,0 cm.
Sabe-se que os coeficientes de transferência de calor são hi = 750 W/m².K na superfície
interna e ho = 1250 W/m2.K na externa. O fluido quente entra a 110 °C e sai a 70 °C,
enquanto o fluido frio entra a 30 °C e sai a 60 °C, operando em contracorrente. Admi-
tindo os fatores de incrustação Rf,i = 0,0003 m².K/W e Rf,o = 0,0001 m².K/W, determine:
(a) a resistência térmica total do trocador de calor por unidade de comprimento (L = 1
m); (b) os coeficientes globais de transferência de calor Ui e Uo; (c) a média logarítmica
das diferenças de temperatura ao longo do equipamento (MLDT).
Solução:
Fluido frio
Camada externa de incrustação
Parede do tubo
Fluido quente
Di = 1,7 cm
hi = 750 W
DO = 2,0 cm m2 .K
2
hO = 1250 W Rf ,i = 0,0003 m .K W
m2 .K
m2 .K
Rf ,o = 0,0001 W
Do
1 R f ,i ln Di R f ,o 1
Rtotal
hi . Ai Ai 2.p.k .L Ao ho . Ao
Os únicos parâmetros não conhecidos são as áreas Ai e Ao , que podem ser facilmente
calculadas como a superfície de um cilindro:
Ai 2 . p . Ri . L p . Di . L p . (1, 7 . 102 m) . (1 m) Ai 5, 34 . 102 m2
Ao 2 . p . Ro . L p . Do . L p . (2, 0 . 102 m) . (1 m) Ao 6, 28 . 102 m2
Rtotal
1
2
0, 0003 m .K
W
ln 2, 0
1, 7
750 W
m 2 .K
. 5, 34 . 102 m2
5, 34 . 102 m 2
2 . p . 15, 1 W m.K
.1 m
2
0, 0001 m .K 1 K
W Rtotal 0, 0466
2 2 1250 W . 6, 28 . 102 m2 W
6, 28 . 10 m
m 2 .K
1 1
U .A U
Rtotal Rtotal . A
1 1 W
Ui 401, 86
Rtotal . Ai 0, 0466 K
W . 5, 34 . 10 2
m 2
m2 . K
1 1 W
Uo 341, 71
Rtotal . Ao 0, 0466 K W . 6, 28 . 10 2
m2 m2 . K
UNIDADE 8 313
Enfim, para o item (c), precisamos somente das temperaturas de entrada e saída
dos fluidos quente e frio, seguindo a definição de MLDT (note que o trocador está
operando em contracorrente):
q1 q2
q1 Tqen T f sai | q2 Tqsai T fen | MLDT
q
ln 1
q2
q1 (110 60) C q1 50 C
q2 (70 30) C q2 40 C
50C 40C
MLDT MLDT 44, 81 C
50
ln
40
UNIDADE 8 315
Como já foi mencionado, o projeto completo de trocadores de calor é uma ativida-
de bastante complexa. Aqui, iremos discutir o método MLDT de análise de trocadores,
que permite determinar um trocador de forma simples com os conceitos que vimos
até aqui. Acompanhe o desenvolvimento do exemplo a seguir.
2 EXEMPLO Em determinada indústria, um reservatório contém água a 25 °C. Para ser utilizada
no processo, é necessário que ela seja aquecida até 75 °C, com uma vazão de 1,5 kg/s.
O engenheiro opta pelo uso de um aquecedor, que consiste em um trocador de calor
de tubo duplo em contracorrente, em que o fluido quente será vapor superaquecido a
150 °C, disponível a uma vazão de 2 kg/s. O tubo interno possui parede de espessura
muito pequena, de modo que o seu diâmetro (interno e externo) pode ser considera-
do como 2,0 cm. Determine o comprimento necessário para este trocador de calor,
admitindo que para esta aplicação o coeficiente global de transferência de calor é de
1000 W/(m².K). Adote: cágua = 4,18 kJ/(kg.K); cvapor = 2,00 kJ/(kg.K).
Solução:
Q m . c . T m . c . T2 T1
Com isso, podemos avaliar o calor que deve ser fornecido ao fluido frio:
Respeitando a conservação de energia, esta deve ser a taxa de calor cedido pelo fluido
quente. Então, podemos calcular a temperatura de saída do fluido quente conside-
rando que não há mudança de fase:
Q
Q m . c . T2 T1 Tq ,2 Tq ,1
m vapor . cvapor
Tq ,2
313, 5 kW 150C Tq ,2 71, 6C
2,, 0 kg
s
. 2, 00 kJ
kg .K
316 Trocadores de Calor
Observe que o sinal negativo indica que o calor saiu do fluido quente (a temperatura
de saída tem que ser menor que a de entrada). Agora, o MLDT é facilmente calculado
pela definição. Em contracorrente:
q1 Tqen T f sai 150C 75C q1 75C
q2 Tqsai T fen 71, 6C 25C q2 46, 6C
q1 q2 75C 46, 6C
MLDT MLDT 59, 7C
q1 75
ln ln
q2 46, 6
Então, pode-se calcular a área de troca térmica necessária para o trocador com base
no conceito de coeficiente global de transferência de calor:
Q
Q U . A . T U . A . MLDT A
U . MLDT
313500 W
A A 5, 25 m2
1000 W . 59, 7C
2
m .K
Por fim, sabemos que se trata de um trocador de calor de tubo duplo. Logo, esta área
A pode ser calculada como a área superficial de um cilindro. Utilizando esta ideia,
podemos chegar ao comprimento do tubo, que é o nosso parâmetro procurado:
A
Ap.D.L L
p.D
5, 25 m2
L L 83, 56 m
p . 0, 02 m
Agora, analise este resultado por um momento: para cumprir a troca térmica desejada,
é necessário que o trocador tenha mais de 80 metros de comprimento, o que é impra-
ticável. Neste caso, trocadores de placas ou de casco e tubo seriam mais adequados.
Como visto, é relativamente fácil fazer estimativas simples acerca dos parâmetros
de um trocador de calor de tubo duplo, devido, principalmente, à sua simplicidade
geométrica, que facilita a descrição da transferência de calor. Até agora, nossa atenção
esteve voltada para os trocadores de escoamento em contracorrente em trocadores
de tubo duplo, mas ideias semelhantes podem ser trabalhadas para os trocadores de
casco e tubo.
Volte à Figura 4, em que mencionamos que os trocadores de casco e tubo são
classificados quanto aos seus “passes”. Vamos, então, definir isto mais claramente: um
passe é o percurso do fluido de um lado a outro do trocador de calor. Se o fluido que
escoa pelo tubo entra através de um bocal, percorre o trocador de ponta a ponta uma
UNIDADE 8 317
única vez e sai pelo outro bocal. Este trocador terá uma passagem ou um passe no
lado do tubo. O mesmo raciocínio vale para o casco, mesmo que o percurso cruze o
feixe várias vezes. Por convenção, um trocador de calor casco e tubo n-m implica n
passagens no casco e m passagens no tubo.
Embora o escoamento puramente contracorrente seja o tipo de escoamento que
apresenta maior eficiência para efeitos de troca térmica, pode ocorrer, no entanto, que
seja interessante utilizar configurações de trocadores de calor nas quais o fluido que
escoa nos tubos possa passar, antes de sair do equipamento, duas vezes no interior
do trocador. Neste caso, o equipamento é chamado trocador 1-2. Ao analisarmos os
perfis de temperatura, podemos compará-lo com um trocador 1-1 pelo diagrama
da figura a seguir:
Tqen Tqen
Tqsai
Tfsai Tfsai
Tqsai
Tfen
Tfen
Comprimento Comprimento
A interpretação física deste fator F é a seguinte: havendo mais de uma passagem nos
tubos, o escoamento é parcialmente contracorrente e parcialmente paralelo. Com
isso, se MLDT é a diferença média de temperatura no escoamento contracorrente (o
mais eficiente em termos de troca térmica), então a diferença média real de tempe-
ratura deve ser menor do que MLDT. Por isso, o valor de F varia de 0 a 1, adotando
um valor mínimo de 0,8 – caso o trocador em estudo apresente valor de F inferior,
seu uso é inviabilizado e busca-se uma configuração melhor, pois utilizar trocadores
com valores de F abaixo de 0,75 pode implicar problemas operacionais no caso de
pequenas variações de temperatura.
O fator de correção F depende da geometria do trocador de calor e das tempe-
raturas de entrada e saída dos fluidos quente e frio. Aqui, não iremos nos preocupar
em mostrar e utilizar estes diagramas, mas eles são relativamente simples e podem
ser encontrados no livro escrito por Kern (1980, p. 649 a 654) ou em conteúdos dis-
ponibilizados pela TEMA (Tubular Exchangers Manufacturer Association).
Dito isso, podemos calcular a taxa de transferência de calor pela seguinte relação:
Q U . A . Treal U . A . F . MLDT
Ilustraremos o uso desta equação com nosso último exemplo desta unidade!
3 EXEMPLO Um trocador de casco tubo 2-4 (leia-se: duas passagens no casco e quatro passagens
nos tubos) é utilizado para resfriar um óleo na temperatura de 90 °C para 50 °C, uti-
lizando água como fluido de resfriamento, a qual entra no equipamento a 30 °C e sai
a 60 °C. A espessura da parede do tubo é muito fina, de modo que um único diâmetro
pode ser considerado (D = 1,5 cm). Além disso, o comprimento total do tubo é de 75
m. Para as vazões empregadas, estas condições de temperatura fornecem coeficientes
convectivos de hc = 30 W/m².K para o fluido no casco e ht = 150 W/m².K para o fluido
no interior dos tubos. Determine a taxa de transferência de calor no trocador. Após um
certo tempo de uso, uma incrustação externa com Rf,o = 0,0006 m².K/W é formada.
Qual a nova taxa de transferência de calor? Em ambos os casos, adote F = 0,91.
UNIDADE 8 319
Solução:
Água de
resfriamento
30°C
50°C
Óleo
quente
90°C
60°C
Q = U . A . F . MLDT
Como já nos foi dado F, restam três termos a serem determinados. Começando pela
área, é razoável calculá-la como a superfície de um tubo cilíndrico:
A p . D . L p . 0, 015 m . (75 m) A 3, 53 m2
Então, resta calcular o coeficiente global de troca térmica do trocador. Como a parede
do tubo é muito fina, podemos desprezar a resistência térmica da parede, de modo
que a seguinte equação é válida:
1 1 1 h .h
U t c
U ht hc ht hc
Resolvendo, temos:
150 W . 30 W
2 2
U m . K m . K U 25 W
150 W
30 W
m 2 .K
2 2
m .K m .K
Q 25 W 2 . 3, 53 m2 . 0, 91 . 24, 66C Q 1980, 38 W
m .K
Feito isso, devemos avaliar o caso com incrustação. Consideraremos que a área e o
MLDT são os mesmos, de modo que a única diferença será no cálculo do coeficiente
global de transferência de calor, em que devemos acrescentar o termo de resistência
da incrustação:
1
1 1 1 1 1
Rf U Rf
U ht hc ht hc
1
1 m 2 .K 1 W
U 0, 0006 U 24, 63
150 W 2 W 30 W m 2 .K
m .K m 2 .K
E então:
Q 24, 63 W 2 . 3, 53 m2 . 0, 91 . 24, 66C Q 1951 W
m .K
UNIDADE 8 321
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
Água de
resfriamento
15°C
25°C
40°C
Fonte: adaptada de Çengel e Cimbala (2015).
322
3. Um radiador automotivo funciona como um trocador de calor em escoamento
cruzado (ou seja, nem contracorrente nem em paralelo, como no esquema a
seguir), em que os fluidos são água e ar. Esta peça possui 35 tubos cujo diâmetro
interno é de 0,5 cm, cada um com comprimento de 70 cm e distribuídos ao longo
de uma matriz de placas aletadas. Considerando que a vazão mássica de água
(fluido quente) é de 0,5 kg/s, determine o coeficiente global de transferência
de calor deste radiador com relação à superfície interna dos tubos (Ui). Adote
o calor específico da água como 4,18 kJ/kg.K e um fator de correção F = 0,95.
85°C
Ar
25°C
45°C
Água
60°C
Fonte: adaptada de Çengel e Cimbala (2015).
323
LIVRO
Trocadores de Calor
Autor: Everaldo Cesar da Costa Araujo
Editora: Editora da Universidade Federal de São Carlos (EdUFSCar)
Sinopse: essa obra apresenta os fundamentos sobre os tipos e o projeto de
trocadores de calor, focando principalmente nos modelos “casco e tubo”. Serve
como texto de apoio didático sobre o assunto para alunos em nível de graduação
e pós-graduação.
Comentário: escrito com base na experiência de anos ministrando o tópico “Tro-
cadores de Calor” para o curso de Engenharia Química da UFSCar, este material
é utilizado como referência em diversos cursos de engenharia do Brasil, sendo
um excelente recurso escrito originalmente em português para conhecer mais
sobre estes equipamentos fundamentais para a indústria.
324
ARAÚJO, E. C. da C. Trocador de Calor. 1. ed. São Carlos: Editora da Universidade Federal de São Carlos
(EdUFSCar), 2002.
ÇENGEL, Y. A.; CIMBALA, J. M. Mecânica dos fluidos: fundamentos e aplicações. 3. ed. Brasil: AMGH
Editora, 2015.
KERN, D. Q. Processo de transmissão de calor. Tradução de Horácio Macedo. Rio de Janeiro: Guanabara
Dois, 1980.
325
1. Como a espessura da parede do tubo pode ser desprezada, a seguinte relação é válida:
1 1 1
U hi ho
Para determinar os coeficientes convectivos hi e ho, devemos lembrar da definição do número de Nusselt,
apresentado na unidade anterior:
h . LC
Nu =
k
No caso de tubos cilíndricos, o comprimento característico LC é o próprio diâmetro do tubo. Então, podemos
rearranjar a equação para calcular cada coeficiente convectivo, uma vez que conhecemos as condutividades
térmicas dos dois fluidos (kágua e kóleo):
Nu . k
h
D
hi
Nui . kágua
250 . 0, 65W
m.K hi 10833, 3W
D 0, 015 m m 2 .K
ho
W
Nuo . kóleo 10 . 0, 15 m.K
ho 100 W
D 0, 015 m m 2 .K
Agora, basta retornar na primeira equação para determinar o coeficiente global de transferência de calor U:
1
1 1
U U 99, 1 W
10833, 3W 100 W m 2 .K
m 2 .K m 2 .K
Observa-se que U ≈ ho porque hi >> ho. Isto indica que a troca térmica é limitada pela convecção no casco.
326
2. A resolução deste exercício está pautada na conservação de energia: o calor latente que sai do vapor deve
ser equivalente ao calor sensível adicionado à água de refrigeração. Para quantificar este calor, recorremos
à expressão típica dos trocadores de calor:
Q = U . A . MLDT
O coeficiente global U e a área de troca térmica A foram fornecidos. MLDT pode ser facilmente avaliada pela
sua definição, uma vez que as temperaturas de entrada e saída estão identificadas no desenho:
Q 3500 W 2 . 30 m2 . 19, 58C Q 2056 kW
m .K
Pela definição do calor sensível, chega-se à vazão mássica necessária de água de refrigeração:
Q
Q m . c . T2 T1 m água
c . T f sai T fen
2056 kW
m água m água 49, 19 kg
4,18 kJ kg.K .25C 15C s
Encontramos a vazão solicitada pelo exercício (aproximadamente 50 kg/s). Caso necessário, poderíamos calcular
também a vazão de vapor utilizando a definição da conservação de energia: o calor latente que sai do vapor
deve ser equivalente ao calor sensível adicionado à água de refrigeração. Assim, temos que:
Q
Q m . L m vapor
L
2056 kW kg
m vapor m vapor 0, 911
2256 kJ s
kg
327
3. O parâmetro solicitado pelo exercício é o coeficiente global de transferência de calor do radiador com base
na superfície interna dos tubos (Ui). Além disso, como o escoamento não é perfeitamente em contracor-
rente, utiliza-se um fator de correção já fornecido. Com isso, para calcular Ui, devemos usar a equação:
Q = U i . Ai . F . MLDT
Em que a área de troca térmica Ai é calculada com base no diâmetro interno dos tubos. Como são 35 tubos
cilíndricos, esta área pode ser calculada como:
Q m . c . Tqent Tqsai 0, 5 kg
s . 4,18 kJ kg.C . 85C 60C
Q 52, 25 kW 52250 W
Enfim, basta retornar à primeira equação para verificar Ui:
Q 52250 W
Ui
Ai . F . MLDT
0, 385 m2 . 0, 95 . 37, 44C
U i 3816, 72 W
m 2 .K
328
329
330
Dr. Rodrigo Orgeda
Esp. Henryck Cesar Massao Hungaro Yoshi
Introdução à
Transferência de Massa
PLANO DE ESTUDOS
Analogia entre os
Difusão Mássica
Fenômenos de Transporte
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Definir os conceitos básicos nos quais o fenômeno da • Estudar a transferência de massa entre uma superfície e
transferência de massa está pautado. um fluido em movimento, definindo os devidos números
• Empregar a Lei de Fick da Difusão e as condições de con- adimensionais.
torno envolvidas na análise da transferência de massa • Conhecer como os três fenômenos de transporte estuda-
unidimensional em regime permanente. dos ao longo da disciplina se relacionam.
Conceitos
Fundamentais
Para explicar este fenômeno, vamos imaginar mais uma situação. Você pega um copo
e coloca duas colheres de sal dentro dele. Em seguida, você o preenche com água.
Com isso, sabemos que a quantidade de sal no copo vai parecer diminuir, pois parte
dele se dissolverá na água. Se deixarmos o copo em repouso por bastante tempo, ou
se utilizarmos uma colher para mexer e misturar o conteúdo, veremos que ainda mais
do sal “desaparecerá”, ou seja, ficará dissolvido na água (veja a Figura 2).
Água Água
com sal
Sal
a) Antes b) Depois
Figura 2 - Dissolução de sal em água
Fonte: adaptada de Çengel e Ghajar (2012).
UNIDADE 9 333
Isto acontece porque a natureza tende a equilibrar este sistema: como há uma diferença
de concentração, surge um fluxo de sal (fase sólida) para a água (fase líquida), até que
esta fique completamente saturada. Em outras palavras: a diferença de concentração
é a força motriz do fenômeno da transferência de massa. Fazendo um paralelo com
a transferência de calor, deixar o copo em repouso (de modo que o sal vai gradual-
mente se dissolvendo até a água ficar saturada) seria a chamada difusão mássica,
semelhante à condução de calor (o transporte acontece molécula a molécula). Por
outro lado, mexer o conteúdo do copo com o objetivo de misturá-lo é justamente o
transporte convectivo de massa (devido ao movimento do fluido), sendo mais rápido
de atingir o equilíbrio.
Com isso em mente, voltemos ao exemplo da pequena poça de água sobre uma
superfície sólida. Se a temperatura está em condições ambiente, por que a água even-
tualmente evapora? A resposta é semelhante ao que discutimos para o copo de água
com sal: por causa da concentração de água no ar. Se o ar não está saturado de água,
ou seja, úmido como em dias de chuva, a natureza busca o equilíbrio do sistema,
criando um fluxo de água da poça (fase líquida) para o ar (fase gasosa). Caso não
haja movimento do ar em torno da poça, podemos dizer que o processo é difusivo.
Se quisermos acelerar essa evaporação, podemos ligar um ventilador direcionado à
poça – o processo passa a ser então convectivo e, caracteristicamente, mais rápido.
Nestes dois exemplos ilustrativos, é fundamental que você perceba como o fenô-
meno da transferência de massa é análogo à transferência de calor. O exemplo do
copo de água com sal em repouso é equivalente a colocar dois corpos com diferentes
temperaturas em contato – são situações de difusão mássica e condução térmica.
Ligar o ventilador para que a poça evapore mais rápido é equivalente a direcionar
um ventilador a um corpo quente para que ele esfrie mais rápido – são exemplos de
convecção mássica e convecção térmica.
De fato, muitos problemas que envolvem a transferência de calor, no fundo, tam-
bém envolvem questões de transferência de massa. Vamos considerar um terceiro
exemplo ilustrativo: a transpiração em corpos humanos. Dentre suas diversas funções,
é de conhecimento geral que o suor serve para promover a perda de calor (ou seja,
resfriamento do corpo); mas como isso acontece? De maneira relativamente simplista,
podemos entender este problema como uma mistura dos dois exemplos anteriores:
são gotículas de água sobre uma superfície que evaporam para o ar atmosférico
devido à diferença de concentração.
Com isso em mente, baseado no que discutimos até aqui, a transferência de massa
parece evidente: se o ar não está saturado (úmido, chovendo), a água do suor que
está sobre a pele irá evaporar. E quanto à transferência de calor? Na realidade, ela
acontece por meio de uma forma discreta, mas importantíssima: através do calor
latente de vaporização. “Discreta”, porque este é um mecanismo de transferência de
calor que não está pautado, essencialmente, em diferenças de temperatura (lembre-se
que, para substâncias puras em geral, a mudança de fase acontece a temperaturas
constantes). “Importantíssima”, porque é capaz de remover calor do corpo mesmo
quando a temperatura ambiente é maior que a da pele.
Por causa destes aspectos, a transpiração humana não é somente um mecanismo
incrível de regulação de temperatura dos nossos corpos, mas também um excelente
exemplo de como os fenômenos de transporte atuam em conjunto na natureza. Se
quiséssemos, poderíamos ir mais adiante: ficar na frente de um ventilador quando
estamos suados promove um resfriamento intenso do corpo, devido à convecção.
Ainda, quanto maior for a velocidade do ventilador, maior será a vazão mássica de ar
passando sobre o corpo e mais turbulento será o escoamento (lembre-se do número
de Reynolds), amplificando ainda mais os fenômenos de transferência de momento,
calor e massa.
UNIDADE 9 335
O corpo humano perde calor por três mecanismos: condução, irradiação e evapo-
ração do suor. Se o ar ambiente estiver a uma temperatura maior que a da pele
(regulada metabolicamente em torno de 33 °C), a condução e a irradiação irão es-
quentar o corpo em vez de resfriá-lo, de modo que a evaporação do suor passa a
ser a única forma de dissipar o calor gerado pelo metabolismo corporal, regulando
a temperatura corporal interna em torno de 37 °C. A própria pele pode apresentar
diferenças de temperatura consideráveis – em um dia de neve, um homem registrou
as temperaturas de sua pele enquanto subia uma montanha, indicando cerca de
15 °C em seus pés enquanto seu peito estava a 32 °C.
Fonte: adaptado de Farzana (2001, on-line)1.
Estes exemplos devem ser suficientes para você começar a enxergar a transferência
de massa em situações do cotidiano. Como toda área da engenharia, agora que con-
seguimos observar o fenômeno, o passo seguinte é encontrar formas de equacioná-lo.
O objetivo deste material é fazer isso de forma bastante pragmática e introdutória – se
você consultar livros-texto mais tradicionais e específicos de fenômenos de transpor-
te, é comum encontrar uma abordagem muito mais extensa, rígida e minuciosa do
assunto, fazendo balanços de massa em diferentes geometrias, com reações químicas
heterogêneas e homogêneas e, até mesmo, trabalhando sistemas em regime transiente;
mas não se preocupe! Para cumprir com o escopo deste material, o fundamental é
apenas que você esteja bem situado com cálculos de concentração e frações mássicas
e molares, semelhante ao que foi abordado na Unidade 1. Sem mais delongas, vamos
dar sequência ao nosso trabalho!
m dif,A dwA
jdif,A r . DAB .
A dx
ndif,A dy
jdif,A C . DAB . A
A dx
UNIDADE 9 337
Em que a primeira está expressa em termos de massa e a segunda em termos do
número de mols. Os parâmetros presentes são:
• jdif,A : fluxo mássico do componente A por difusão – dimensão de massa por
unidade de tempo por unidade de área, por exemplo: kg m2 . s .
• jdif,A : fluxo molar do componente A por difusão – dimensão de mols por
unidade de tempo por unidade de área, por exemplo: mol 2 .
m . s
• m dif,A e ndif,A : vazões mássica e molar do componente A por difusão – dimen-
são de massa por unidade de tempo, por exemplo: kg s , mol s .
• A : área normal à direção da transferência de massa (conceito análogo ao
desenvolvido na transferência de calor) – dimensões de área: m2 .
• r : densidade da mistura binária r r A rB , com dimensões de massa por
unidade de volume, como por exemplo: kg 3 .
m
• C : concentração molar da mistura binária C C A CB , com dimensões de mols
por unidade de volume, como por exemplo: mol m3 .
• DAB : difusividade mássica (também chamada de coeficiente de difusão) da
espécie A na mistura binária A+B, com dimensões de comprimento ao qua-
2
drado por unidade de tempo, como por exemplo: m s .
• dwA e dy A : gradientes de fração mássica e molar na direção x, respectivamente,
dx dx
cujas unidades podem ser, por exemplo: 1 m .
Caso estes termos não tenham ficado tão claros para você, procure fazer a análise
dimensional de cada equação utilizando as unidades fornecidas. Essencialmente, o
significado físico da Lei de Fick da Difusão é em uma mistura de dois componentes
A e B. Havendo um gradiente de concentração, haverá um movimento das moléculas
dos componentes, da região de maior concentração para a de menor concentração – a
intensidade deste fluxo de massa será proporcional ao próprio gradiente e a constante
de proporcionalidade da equação é a difusividade mássica DAB .
UNIDADE 9 339
Tabela 2 - Coeficientes de difusão binária de misturas de gases diluídos a 1 atm
UNIDADE 9 341
Tabela 4 - Coeficientes de difusividade binária da água em ar a 1 atm
DH O-Ar
T (°C) 2
(m2/s)
0 2,09 × 10-5
5 2,17 × 10-5
10 2,25 × 10-5
15 2,33 × 10-5
20 2,42 × 10-5
25 2,50 × 10-5
30 2,59 × 10-5
35 2,68 × 10-5
40 2,77 × 10-5
50 2,96 × 10-5
100 3,99 × 10-5
150 5,18 × 10-5
Fonte: Çengel e Ghajar (2015, p. 804).
1 EXEMPLO Desejamos comparar a difusão de dióxido de carbono (espécie A) em três meios dis-
tintos: ar, água e borracha natural (espécies B), a uma temperatura de 298 K e pressão
de 1 atm. Para tanto, calcule os fluxos mássicos da espécie A no ponto em que dCA/dx
= -1 kmol/(m3.m). Considere que a mistura esteja suficientemente diluída para que
a concentração molar total (C) possa ser admitida como constante. A massa molar
do CO2 é MMCO2 = 44 kg/kmol.
Solução:
Das Tabelas 1 e 3, podemos obter as difusividades para os três casos (aproximando
para o valor de T = 300 K na Tabela 1):
2
DCO2 -Ar 1, 57 . 10 5 m
s
2
DCO 2, 00 . 10 9 m
2 - Água s
2
DCO2 -Borracha 1, 10 . 10 10 m
s
dC A
jdif,A DAB .
dx
Espécie A Espécie B
CA
X dC A
dx
kmol
dC A
m3 kmol
dx m m . m
3
Com isso, podemos calcular os valores desejados. Por exemplo, para a difusão do
CO2 em ar, teremos o fluxo molar:
2
jdif, CO2 -Ar 1, 57 . 105 m . 1 kmol 3
s m . m
jdif, CO2 -Ar 1, 57 . 105 kmol 2
m .s
UNIDADE 9 343
Podemos entender este resultado fisicamente como: uma vazão de 1, 57 x 10−5 kmol
de CO2 por segundo atravessa cada metro quadrado de interface CO2 – ar. Agora,
podemos utilizar a massa molar do CO2 para determinar o fluxo mássico, por meio
da relação:
jdif,A = MM A . jdif,A
kg kmol
jdif, CO2 -Ar MM CO2 . jdif, CO2 -Ar 44 . 1, 57 . 105 2
kmol m .s
jdif, CO2 -Ar 6, 91 . 104 kg 2
m .s
jdif, CO 8, 80 . 10 8 kg
2 - Água m2 . s
jdif, CO2 -Borracha 4, 84 . 10 9 kg 2
m .s
p pi
p .V = n . R . T
ni . R . T
pi V ni = y
= = i
p n . R .T n
V
Em outras palavras, esta relação demonstra que a fração de pressão do componente i
em uma mistura de gases ideais é equivalente à fração molar desta espécie na mistura.
Dessa forma, pressões são parâmetros importantíssimos quando estudamos a
transferência de massa envolvendo gases. Isto é verdade não somente para misturas
de gases, mas também para interfaces gás-líquido em soluções diluídas, em que as
frações molares de uma espécie i nas fases líquida e gasosa são proporcionais entre si:
yi,g ás a yi,lí quido
Como acabamos de ver, para uma mistura de gases ideais à pressão total p, podemos
expressar a fração molar da espécie i na fase gasosa como:
pi , gás
yi,g ás =
p
Com isso, podemos utilizar uma constante de proporcionalidade (c) para transformar
esta relação em uma igualdade:
pi , gás = c . p . yi,lí quido
pi , gás
yi,lí quido =
H
UNIDADE 9 345
Tabela 5 - Constantes de Henry (em bar) para alguns gases em água a baixas e médias pressões
Algumas observações podem ser feitas sobre a Lei de Henry e os valores da Tabela 5.
A primeira delas é a de que quanto maior a constante de Henry, menor a concentração
de gás no líquido (são inversamente proporcionais). Por outro lado, quanto maior
a pressão parcial do gás, maior é a fração molar yi,líquido, de modo que pressurizar o
gás aumenta a quantidade de gás dissolvido no líquido. Além disso, a constante de
Henry aumenta com a temperatura – ou seja, um aumento de temperatura leva a uma
diminuição dos gases dissolvidos no líquido. Estes são alguns dos aspectos físico-quí-
micos que fundamentam os processos de absorção e separação de líquidos e gases.
Apesar de ser um recurso poderoso e matematicamente simples, o uso da Lei de
Henry está limitado a soluções gás-líquido diluídas, ou seja, com uma pequena quan-
tidade de gás dissolvido em líquido. Neste caso simples, a relação yi,lí quido x pi,g ás é
linear (afinal, H é uma constante que depende somente da temperatura). Para situa-
ções em que isto não é válido, ou seja, quando o gás é altamente solúvel no líquido
(ou no sólido), utiliza-se a chamada Lei de Raoult, dada por:
pi , gás y=
= i,g ás . p yi,lí quido . pi ,sat (T )
2 EXEMPLO Considere uma garrafa de 500 ml de água com gás, mantida a 17 °C, cuja pressão
interna é de 355 kPa (aproximadamente 3,5 atm). Duas fases estão presentes: uma
fase gasosa (que pode ser considerada como uma mistura saturada de CO2 e vapor
de água) e uma fase líquida (que contém água e CO2 dissolvido). Admitindo que
este volume de líquido corresponde a uma massa de aproximadamente 500 g, de-
CO2
H2O
17 °C
355 kPa
Solução:
Estamos considerando condições de gás ideal tanto para o CO2 quanto para o vapor
de água. Além disso, não estão sendo levadas em conta perdas de massa pelas pare-
des da garrafa (ou seja, a massa dentro da garrafa é constante). Como o CO2 é pouco
solúvel em água, podemos aplicar a Lei de Henry. Para tanto, podemos consultar a
Tabela 5, em que, para a misturar CO2 em água a 17 °C (≈290 K), temos H = 1280 bar.
Para responder ao item (a), basta analisarmos a fase gasosa. Sabemos que a pressão
no interior da garrafa é p = 355 kPa . Então, na condição de gás ideal, para determi-
narmos a fração molar de vapor, basta conhecermos a pressão parcial do vapor. Este
problema pode ser resolvido lembrando do conceito de pressão de vapor, discutido
brevemente na Unidade 6, que é a pressão exercida por um vapor quando este está
em equilíbrio termodinâmico com o líquido que lhe deu origem.
Em outras palavras, a pressão parcial do vapor na fase gasosa será simplesmente
a pressão de saturação da água (fase líquida). A 17 °C, o enunciado nos informa que:
pvapor,g ás = psat,á gua (17 °C) = 1,96 kPa . Então:
UNIDADE 9 347
Veja que, se os únicos componentes presentes são água e CO2, temos:
yvapor,g ás yCO2 ,g ás 1
yCO2 ,g ás 0, 9945
pvapor,g ás pCO2 ,g ás p pCO2 ,g ás 355 kPa 1, 96 kPa
pCO2 ,g ás 353, 04 kPa
Este resultado pode ser utilizado na Lei de Henry, relacionando a pressão parcial do
CO2 na fase gasosa com a fração molar de CO2 no líquido:
mi MM i . ni
g
mCO2 44 . 2, 76.103 mol mCO2 0, 1244 g
mol
mlí quido 18, 0747 g
g
mH 2O 18 . 0, 99724 mol mH 2O 17, 9503 g
mol
Veja que mlí quido é a massa de líquido calculada para 1 mol de líquido, ou seja, a
massa molar média do líquido pode ser dita como:
Caso este processo não tenha ficado claro, revisite a Unidade 1, em que tratamos deste
aspecto de forma mais minuciosa. Lembre-se que, na prática, o que fizemos aqui foi
simplesmente uma média ponderada das massas molares. Veja que, em posse deste
valor, podemos relacionar frações mássicas com frações molares:
mi MM i . ni MM i
=wi = = . yi
mmistura MM mistura . nmistura MM mistura
44 g
MM CO2 mol . 2, 76.103
wCO2 ,lí quido . yCO2 ,lí quido
MM líquido 18, 0747 g
mol
wCO2 ,lí quido 6, 72.103
E com isso, se a massa de líquido é de, aproximadamente, 500 g, basta fazer uma
última operação para responder o problema:
mCO2 ,lí quido mlí quido . wCO2 ,lí quido 500 g . 6, 72.103
mCO2 ,lí quido 3, 36 g
UNIDADE 9 349
Como você pôde ver neste exemplo, a solução de problemas de transferência de
massa exige que você esteja bastante refinado no trabalho com frações mássicas,
molares e leis físicas que relacionam estas grandezas com propriedades dos com-
ponentes e misturas. Com prática, estes conceitos devem se tornar tão casuais a
você quanto respirar.
3 EXEMPLO Uma lâmina de borracha é exposta a gás nitrogênio a 25 °C e 4 bar. Considerando que
a interface gás-sólido esteja em equilíbrio termodinâmico, determine a concentração
molar de nitrogênio na superfície da lâmina (CN₂,sólido). Admitindo N2 = 28 g/mol, de-
termine também a concentração mássica do gás na superfície da lâmina (ρN2,solido).
Solução:
Da Tabela 6, temos que nestas condições de temperatura (25 °C = 298 K), a solubi-
3
lidade de N2 em borracha é de S = 0, 00156 kmol (m .bar) . Como conhecemos a
pressão do gás ( pN 2 ,gás = 4 bar ), basta utilizarmos a equação da solubilidade para
determinar a concentração molar:
kmol
CN 2 ,sólido S . pN 2 ,g ás CN 2 ,sólido 0, 00156 . 4 bar
m3 . bar
kmol
CN 2 ,sólido 0, 00624
m3
Para apresentar o resultado em termos mássicos, basta multiplicar pela massa molar
do gás:
kmol g
rN 2 ,sólido CN 2 ,sólido . MM N2 rN 2 ,sólido 0, 00624 3 . 28
m mol
kg
rN 2 ,sólido 0, 17472 3
m
Estes resultados podem ser entendidos como: há 0,00624 kmol (ou 0,17472 kg) em
cada m3 de borracha em interface com o gás.
UNIDADE 9 351
Convecção
de Massa
ρA, ∞
V∞ Perfil de
concentração
Camada limite ρA, ∞
y de concentração
0
x ρA, s
Espécie A
Talvez não seja evidente, mas este número é análogo ao número de Prandtl (Pr)
definido na Unidade 7. Estes dois números estão intrinsecamente relacionados na
formação das camadas limite térmica e de concentração em escoamentos laminares.
Um número de Prandtl próximo de 1 ( Pr ≈ 1 ) indica que a difusão de momento e
de calor são semelhantes, de modo que as camadas limite de velocidade e de tempe-
ratura quase coincidem. O mesmo raciocínio se aplica para números de Schmidt
próximos de 1 ( Sc ≈ 1 ), indicando que a difusão de momento e de massa são seme-
lhantes, de modo que as camadas limite de velocidade e de concentração quase
coincidem.
UNIDADE 9 353
Com isso em mente, um pensamento intuitivo seria: “bem, se posso comparar as
camadas limite térmica e de concentração com a camada limite de velocidade, será
que posso comparar as camadas de temperatura e concentração entre si?”. E a resposta
para essa pergunta é sim, utilizando outro número adimensional, o chamado número
de Lewis (Le), definido como:
Sc a difusividade molecular t érmica
=
Le = =
Pr DAB difusividade molecular mássica
hmassa . LC
Sh =
DAB
ν= α= DAB
UNIDADE 9 355
Neste caso particular, os perfis normalizados de velocidade, temperatura e concen-
tração vão coincidir. Como resultado disto, temos também que:
f f v . LC hcalor . LC hmassa . LC
Re Nu Sh ou .
2 2 n k DAB
hconv Nu
=
St t érmico =
r . v . c p Re . Pr
hmassa Sh
St m=
ássico =
v Re . Sc
E com isso, a analogia pode ser escrita como:
f
St= = Stt érmico = St mássico
2
Esta relação é válida para 0, 6 < Pr < 60 e 0, 6 < Sc < 3000 . Usando as definições dos
números de Stanton, podemos rearranjar estas equações formando as seguintes igualdades:
23 23
hcalor Sc α
ρ . cp . ρ . cp . ρ . c p . Le 2 3
hmassa Pr DAB
= , 66
Nu 3= Sh 3, 66
4 EXEMPLO O interior de um tubo circular liso (D = 0,1 m) está molhado e, para secá-lo,
deseja-se utilizar uma corrente de ar disponível a 300 K e 1 atm. A velocidade
média do escoamento é de 2 m/s. Determine o coeficiente de transferência de
massa (hmassa) através da correlação para tubos lisos circulares. Utilize o resultado
obtido para determinar o coeficiente de transferência de calor através da Ana-
logia de Chilton-Colburn. Considere os seguintes dados, com propriedades do
ar seco para a mistura: Dágua-ar = 2,54.10-5 m²/s; ν = 1,562.10-5 m²/s; Pr = 0,7296;
ρar = 1,184 kg/m³; cp,ar = 1007 J/kg.K.
Solução:
Aqui, as considerações usuais são válidas: regime permanente, propriedades cons-
tantes e escoamento completamente desenvolvido. O primeiro passo é determinar
o número de Reynolds:
Re
v.D
s
2 m . 0, 1 m
12804
n 1, 562.105 m2
s
UNIDADE 9 357
Este valor indica que o escoamento é turbulento ( Re > 10000 ). Logo, para utilizar a
correlação adequada, é necessário calcular o valor do número de Schmidt (o número
de Prandtl foi fornecido). Pela definição:
1, 562.105 m2
n s
Sc 0, 615
DAB 2, 54.105 m2
s
Repare que este valor é inferior à faixa proposta para utilização da correlação (mí-
nimo de 0,7). Entretanto, na ausência de outra mais apropriada, utilizaremos esta,
considerando que o valor encontrado será uma aproximação razoável. Com isso,
podemos determinar o número de Sherwood:
hmassa . LC Sh . DAB
Sh hmassa
DAB LC
2
36,6 . 2, 54.105 m
s
hmassa 9, 30.103 m
0, 1 m s
23
hcalor
9, 30.103 m
. 1, 184 kg 3 . 1007 J
s m kg .K
0,615
.
0, 7296
hcalor 9, 89 W 2
m .K
Ar
Ar saturado par seco, gás
y ar seco, líquido
Lago
27 °C
359
2. Uma garrafa de 2 litros de refrigerante se encontra a 27 °C e 500 kPa. No seu
interior, observa-se a presença de duas fases em equilíbrio termodinâmico: uma
gasosa (contendo CO2 e vapor de água) e uma líquida (que pode ser aproximada
como uma solução de CO2 em água). Considerando condições de gás ideal e
que o volume de líquido corresponde a uma massa de, aproximadamente, 2 kg,
determine a massa de CO2 dissolvido na fase líquida. Massas molares: MMH2O =
18 g/mol, MMCO2 = 44 g/mol. Considere psat,água (27 °C) = 3,60 kPa.
CO2
Água
360
LIVRO
361
ÇENGEL, Y. A.; GHAJAR, A. J. Transferência de Calor e Massa: uma abordagem prática. 4. ed. Brasil: AMGH
Editora, 2012.
REFERÊNCIA ON-LINE
362
1. Como estamos na condição de gás ideal e o ar é pouco solúvel em água, podemos utilizar a Lei de Henry
para resolver o problema. Pela Tabela 5, podemos ver que a 27 °C (300 K) a constante de Henry para o par
ar-água é H = 74000 bar.
Admitindo que o ar na superfície está saturado, a pressão parcial do vapor na fase gasosa será simples-
mente a pressão de saturação da água (fase líquida). Dessa forma:
Então, basta usar este resultado na Lei de Henry para chegar ao resultado desejado:
2. A resolução deste exercício é bastante semelhante à do exemplo desenvolvido no texto. Estamos con-
siderando condições de gás ideal tanto para o CO2 quanto para o vapor de água. Além disso, não estão
sendo levadas em conta perdas de massa pelas paredes da garrafa (ou seja, a massa dentro da garrafa é
constante). Como o CO2 é pouco solúvel em água, podemos aplicar a Lei de Henry. Para tanto, podemos
consultar a Tabela 5, em que, para a mistura CO2 em água a 27 °C (≈300 K), temos H = 1710 bar.
Inicialmente, devemos analisar a fase gasosa. Sabemos que a pressão no interior da garrafa é p = 500
kPa. Então, na condição de gás ideal, para determinarmos a fração molar de vapor, basta conhecermos a
pressão parcial do vapor. Aqui, novamente, a pressão parcial do vapor na fase gasosa será simplesmente
a pressão de saturação da água (fase líquida). A 27 °C, o enunciado nos informa que: pvapor,gás = psat,água (27
°C) = 3,60 kPa. Então:
363
Se os únicos componentes presentes são água e CO2, temos:
Este resultado pode ser utilizado na Lei de Henry, relacionando a pressão parcial do CO2 na fase gasosa com a
fração molar de CO2 no líquido:
Com isso, conhecemos as composições molares da fase líquida. Agora, consideramos a base de cálculo de 1
mol de fase líquida (n = 1). Como conhecemos as composições molares, (yCO ,líquido e yágua,líquido), teremos:
2
mi MM i . ni
g
mCO2 44 . 2, 90.103 mol mCO2 0, 1276 g
mol
mlí quido 18, 0754 g
g
mH 2O 18 . 0, 9971 mol mH 2O 17, 9478 g
mol
364
Veja que mlíquido é a massa de líquido calculada para 1 mol de líquido, ou seja, a massa molar média do líquido
pode ser dita como:
Em posse deste valor, podemos relacionar frações mássicas com frações molares:
mi MM i . ni MM i
=wi = = . yi
mmistura MM mistura . nmistura MM mistura
44 g
MM CO2 mol . 2, 90.103
wCO2 ,lí quido . yCO2 ,lí quido
MM líquido 18, 0754 g
mol
wCO2 ,lí quido 7, 06.103
E com isso, se a massa de líquido é de, aproximadamente, 2 kg, basta fazer uma última operação para respon-
der o problema:
365
3. A resolução deste exercício é bastante semelhante à do exemplo desenvolvido no texto para as analogias
entre os fenômenos de transporte. As considerações usuais são válidas: regime permanente, proprieda-
des constantes e escoamento completamente desenvolvido. O primeiro passo é determinar o número de
Reynolds:
Re
m
v . D 1, 6 s . 0, 02 m
2048, 66
n 1, 562.105 m2
s
Este valor indica que o escoamento é laminar (Re < 2300). Logo, para tubos circulares lisos, temos as correlações:
= , 66
Nu 3= Sh 3, 66
hmassa . LC Sh . DAB
Sh hmassa
DAB LC
2
3,66 . 2, 54.105 m
s
hmassa 4, 65.103 m
0, 02 m s
Em posse deste valor, podemos determinar o coeficiente de transferência de calor utilizando a Analogia de
Chilton-Colburn na seguinte forma:
23
Sc
hcalor hmassa . ρ . c p .
Pr
1, 562.105 m2
ν
s
Sc 0, 615
DAB 2, 54.105 m2
s
23
hcalor 4, 65.10 3 m . 1, 184 kg 3 . 1007 J
s m kg . K
0,615
.
0, 7296
hcalor 4, 95 W 2
m .K
366
367
CONCLUSÃO
Nossa breve caminhada pelo mundo dos fenômenos de transporte chega ao fim! Se você
seguiu uma rotina de estudos equilibrada e consistente, com certeza neste momento
você possui uma base conceitual suficiente para continuar seguindo em frente, com
a perspectiva não só de um engenheiro, mas de um observador da natureza. Ao longo
da escrita, nosso intuito enquanto autores era simples: prover, a você, uma abordagem
objetiva, descomplicada, útil e com alto valor conceitual. De qualquer forma, agora você
conhece as mais importantes referências caso necessite relembrar algum conceito ou ir
mais a fundo em um determinado assunto relacionado aos fenômenos de transporte.
Vamos aproveitar este momento para fazer uma breve recapitulação do que você
aprendeu. Na Unidade 1, começamos nossos estudos sobre os fenômenos de transporte
de momento, calor e massa, desenvolvendo também as ideias básicas sobre balanços
materiais. Na Unidade 2, demos nossos primeiros passos no contexto da chamada mecâ-
nica dos fluidos, conhecendo-os e definindo suas propriedades. Isto se prolongou nas 4
unidades subsequentes: estudamos a estática e a cinemática dos fluidos, desenvolvemos
o conceito de balanço energético para chegar à famosa equação de Bernoulli e desven-
damos os efeitos das perdas de carga para escoamentos em condutos forçados. Então, nas
Unidades 7 e 8, migramos para o contexto da transferência de calor, chegando até a tratar
brevemente sobre trocadores de calor, equipamentos fundamentais para a indústria em
geral. Finalmente, na Unidade 9, demos nosso último passo apresentando a transferência
de massa, em que finalizamos nossa jornada conciliando os fundamentos estudados na
forma da analogia entre os fenômenos de transporte.
Dito isso, lembre-se que não existem atalhos e nem fronteiras para o conhecimento!
Experimente usar alguns dos livros que recomendamos ao longo deste material e con-
tinue se aprimorando. Na sua vida profissional, sempre que você se deparar com um
problema de engenharia, lembre-se de analisá-lo segundo a perspectiva dos fenômenos
de transporte, pois os fundamentos, às vezes, podem resolver problemas complexos de
maneira simples, mas eficiente para a situação. Esperamos que esta experiência tenha
sido proveitosa e agradecemos sua dedicação e leitura. Até a próxima!