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4.2 Actas CIDC Artigo Calçadas Copacabana
4.2 Actas CIDC Artigo Calçadas Copacabana
Jorge Chinea
(Wayne State University - EUA)
Keila Grinberg
(Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - Brasil)
Marcia Calainho
(Instituto Jurídico Luso Brasileiro - Portugal)
Monique Montenegro
(Instituto Ensinar Brasil - Brasil)
Yanina Benitez
(Instituto de Filosofía Ezequiel de Olaso/Centro de Investigaciones Filosoficas - Argentina)
Elis Regina Barbosa Angelo
Maria Ferreira
(Org)
ISBN 978-989-9037-44-1
Conselho Editorial
Lou Calainho
Magno F. Borges
Maria Auxiliadora B. dos Santos
ISBN 978-989-9037-44-1
CDD: 370
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização
por escrito dos editores e autores.
Ciclo Ibero-Americano de Diálogos Contemporâneos:
Património, Memória e Turismo
Comissão de Organização
Comité Científico
Introdução
Este artigo propõe-se a elencar alguns dos documentos patrimoniais, cuja suas diretrizes
estão diretamente ligadas à preservação do patrimônio cultural natural - paisagem cultural,
traçando a evolução dessa categoria do patrimônio. Além de discutir algumas considerações
sobre o turismo no Rio de Janeiro mediante sua inclusão na Lista de Patrimônio da cultural
da Humanidade, Sitio onde as Calçadas de
Copacabana também estão inseridas.
As calçadas de Copacabana, no Rio de
Janeiro, possuem cerca de 4,2 km de
comprimento, ao longo da Av. Atlântica,
entre a Praça do Leme e a Rua Francisco
Otaviano. Apesar do título deste trabalho se
referir as calçadas, será considerado aqui todo
o conjunto urbano-paisagístico (calçadas
centrais e laterais, canteiro central e espécies
arbóreas) da orla de Copacabana, de autoria
de Roberto Burle Marx, projeto de 1970,
(Figura 1) tombado (provisório) a nível 117
estadual em 25.01.1991, Processo E-
18/000.030/91 do Instituto Estadual do
Patrimônio Cultural - INEPAC e municipal,
Decreto Municipal n.º 30.936, de 04 de
agosto de 2009. Esse decreto determinou o
tombamento provisório de 72 obras
paisagísticas de autoria de Roberto Burle
Marx na Cidade do Rio de Janeiro, incluindo
o Paisagismo referente à orla da Praia de
Copacabana.
Figura 1 - Vista aérea do conjunto urbano-
paisagístico da orla de Copacabana - Avenida
Atlântica no Rio de Janeiro.
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/79266 9/
roberto-burle-marx-ummestre-muito-alem-do-
paisagista-modernista?ad_medium=wid get&ad_
name=navigation-next Imagem de Burle Marx &
Cia. Ltda. Acesso em: 20 de nov. 2020.
1Docente do Departamento de Desenho do Colégio Pedro II – CPII, Duque de Caxias – RJ, Brasil. Especialista
em Técnicas de Representação Gráfica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Brasil. Mestranda
no Programa de Pós-Graduação Patrimônio, Cultura e Sociedade – PPGACS da Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro, UFRRJ, Brasil. Emails: giselle.araujo.1@cp2.edu.br; gisarte.ufrj@gmail.com.
O aterro urbano que se desenvolveu na Avenida Atlântica tornou possível estender a orla
da cidade e inserir a intervenção de Burle Marx. Isso proporciona uma melhoria na
qualidade espacial do conjunto, dando ao indivíduo um espaço público importante para
a apreciação de um olhar mais contemporâneo, em sintonia com as necessidades atuais
da população e permite recuperar um lugar mítico da história do Rio de Janeiro (PÉREZ,
2010, p.108).
2 Na década de 1970, foi realizado o aterro urbano pela SURSAN para a ampliação faixa de areia da praia, seus
objetivos principais eram: o alargamento das pistas da Av. Atlântica, a passagem da tubulação que transporta
todo o esgoto da Zona Sul até o emissário de Ipanema e evitar problemas relacionados às ressacas. Disponível
em: http://www.temporadaselmario.com.br/site/index.php?option=com_content
&view=article&id=219&Itemid=1090 Acesso em: 20 de nov. 2020
O par natureza e cultura, ou, para usar um termo mais recente, a paisagem cultural
apresenta-se como um dos desafios da preservação patrimonial do século XXI.
Nas cidades coexistem, muitas vezes, em ambientes distintos, os espaços
reservados às estruturas arquitetônicas e aqueles destinados às praças, parques e 120
jardins. Em lugares como museus, centros de memória, galerias de arte, conventos
e monastérios, os jardins postam-se como o entorno imediato dessas edificações.
Nestes casos, os jardins ocupam o seu lugar e função, criando um parâmetro
artístico e estético, preparando o espírito dos visitantes que chegam, antes de
entrar na edificação, e, após sair dela, mantendo a aura artística do lugar
(MAGALHÃES, 2013, p.8 - 9, itálico do autor).
De acordo com Fowler (2003, apud CASTRIOTA, 2017, p.18) a Convenção do Patrimônio
Mundial de 1972, já citada, classificava separadamente o patrimônio cultural e o natural, e só
após 20 anos, em 1992, na 16ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial, realizada em Santa
Fé, no Novo México, que a categoria de paisagem cultural passou a existir definitivamente.
Em 1995, foi elaborada pelo Conselho da Europa a Recomendação R (95) 9 sobre a
conservação integrada das áreas de paisagens culturais como integrantes das políticas
paisagísticas, trazendo algumas definições e recomendações sobre o tema. Em 2000, na
Convenção Europeia da Paisagem, o Conselho da Europa regulamentou a proteção das
paisagens na Europa, trazendo ao campo do patrimônio cultural um “novo instrumento
dedicado exclusivamente à proteção, gestão e ordenamento de todas as paisagens europeias”.
Segundo Fowler (2003, apud CASTRIOTA, 2017, p.18) a Convenção pode ser considerada
Scifoni (2016) ainda ressalta, que a criação da categoria paisagem cultural permitiu unificar o
conjunto, patrimônio natural e cultural e o patrimônio material e imaterial, entendendo essa 121
união como “um todo vivo e dinâmico”.
Segundo Pérez (2010, p.107- 113) a valorização do homem como produto e produtor de
cultura, o inclui como parte integrante de um espaço territorial que ao longo do tempo
reafirma uma história dentro desse ambiente cultural. Pensando nessa inserção social
territorial, as calçadas de Copacabana e seu conjunto urbano-paisagístico se encaixam nessa
categoria de Paisagem Cultural. Em seu trabalho a autora elenca valores que permite inclui-
lo nessa categoria: Valor de testemunho histórico e valor paisagístico – a praia com
exuberante paisagem natural; Valor de recuperação de um espaço público para apoio dos
testemunhos sociais e culturais e o valor de modificar a paisagem existente – aterro urbano
que tornou possível estender a orla da cidade; Valor da qualidade do conceito original do
trabalho, valor metodológico original e valor como obra de testemunho moderno e
profissional – o trabalho em si, no momento da concepção e da elaboração; Valor da
reincorporação do passado – o uso da pedra portuguesa e o emprego da técnica
correspondente aos calceteiros; Valor da árvore como uma forma de arte e valor da
identificação individual com a árvore – a espécie vegetal com a função escultural, plástica e
estética e também com a função de conectar as pessoa e a cidade, além de levar vida à obra;
Valor para a geração da sequência de espaços diferentes – articulação harmoniosa dos
elementos; Valor de identificação de arte para o público carioca - a interação entre o cidadão
e a obra de arte; E Valor da originalidade e autenticidade da obra - a praia de Copacabana e
o seu conjunto urbano-paisagístico atualmente é um lugar com características históricas,
paisagísticas e sociais únicas. Além de todos os valores elencados pela autora destaca-se o
valor de símbolo brasileiro, sendo este alcançado ao longo dos 50 anos após a intervenção
de Burle Marx na orla na praia carioca que é hoje um dos cartões postais da cidade e do país.
“Desde a década de 1990, mais de setenta sítios em todo o mundo foram inscritos na Lista
como paisagens culturais, sendo o Rio de Janeiro o mais recente deles” (RIBEIRO, 2017,
p.30). Influenciado pelas diretrizes e recomendações da UNESCO, o Brasil cria o mais novo
instrumento de preservação da paisagem cultural nacional, a chancela da Paisagem Cultural,
conforme a Portaria Iphan nº 127/2009, que regulamenta essa chancela. Esse novo
mecanismo aborda a paisagem do ponto de vista da interação do homem com a natureza.
Apesar de ter a mesma denominação, não deve se confundir a chancela da paisagem cultural
do Brasil, com a criada pela Unesco, pois os critérios da organização precisam ser muito
rígidos e excepcionalidade do patrimônio considerado deve transcender as fronteiras
nacionais. Sobre o papel da Lista de patrimônio cultural da humanidade Ribeiro (2017, p.33)
comenta:
Rio de Janeiro tornou-se, em 1º julho de 2012, a primeira cidade do mundo a receber o título
de Patrimônio Cultural da Humanidade por sua paisagem cultural. A categoria paisagem
cultural nunca havia sido utilizada por uma grande cidade para a candidatura a lista de
Patrimônio Mundial, sendo a primeira área urbana do mundo a receber esse título. 122
Segundo o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade – IRPH, as características apresentadas
à UNESCO que conferiu o titulo de Paisagem Cultural a Cidade do Rio de Janeiro foram
fundamentadas nos critérios I, II e VI estabelecidos nas Diretrizes Operacionais para a
Aplicação da Convenção do Patrimônio Mundial:
I) “Representar uma obra-prima de um gênio criativo humano” – intervenções
paisagísticas significativas. Destacam-se alguns dos gênios: O mestre e escultor Valentim da
Fonseca, o botânico francês Auguste Glaziou, o arquiteto Affonso Eduardo Reidy e o
paisagista Roberto Burle Marx;
II) “Ser testemunho de um intercâmbio de influência considerável, durante um dado
período ou numa determinada área cultural, sobre o desenvolvimento da arquitetura ou da
tecnologia, das artes monumentais, do planejamento urbano ou da criação de paisagens” –
complexa paisagem cultural, apropriação da natureza por parte dos colonizadores, desastres
ambientais e o reflorestamento;
VI) “Estar direta ou materialmente associado a acontecimentos ou tradições vivas,
ideias, crenças ou obras artísticas e literárias de significado universal excepcional” – Desde a
fundação a cidade tem inspirado inúmeras manifestações: na música, na literatura, no cinema
e na fotografia, além de inúmeras tradições vivas destacam-se: o carnaval de rua, o samba, a
bossa nova, o futebol e as tradicionais festas religiosas.
Segundo Ribeiro (2017, p.31) a Lista do Patrimônio Mundial foi criada a partir de uma
demanda internacional para a proteção de sítios considerados importantes além dos seus
territórios nacionais. Ao longo dos anos, a Convenção tornou-se um grande sucesso na área
A salvaguarda dos patrimônios materiais das cidades sempre esteve atrelada aos
políticos, que negam, contudo, sua dimensão política, pois as políticas do
patrimônio se transformaram em artefatos essenciais das atuais estratégias de
intervenção nas imagens de certos espaços essenciais da cidade, na forma de
marketing urbano (ARRUDA, [2007?, p.12]).
A atividade econômica que gira entorno do mercado do turístico é muito grande e o clima tropical
brasileiro favorece o turismo no litoral do país. No verão esses índices aumentam
significativamente, essa movimentação vai desde o turismo doméstico até o internacional. A beleza
natural e os espaços voltados ao lazer e a apreciação da paisagem também são pontos que definem
a escolha do turista pelo litoral. Ou seja, o turismo no litoral não precisa de eventos “mirabolantes”,
mas sim de um turismo consciente que deve ser estimulado por ações de planejamento e gestão
adequada. Não se pretende aqui tirar o mérito dos ganhos que envolvem o turismo, mas sim
pontuar o exagero e o efeito indesejado (ambiental e sociocultural) que o desequilíbrio turístico traz
quando se excede o suporte das praias e infraestrutura turística do litoral.
Considerações finais
Referências:
EL DAHDAH, Farés. Paisagens Instáveis. In: Roberto Burle Marx 100 anos: a
permanência do instável\ Lauro Cavalcante. Rio de Janeiro: Rocco, 2009. p. 62 – 73.
GRANATO, Marcus; RIBEIRO, Emanuela Sousa; ARAÚJO, Bruno Melo de. Cartas
Patrimoniais e a Preservação do Patrimônio Cultural de Ciência e Tecnologia. Informação
& Informação, [S.l.], v. 23, n. 3, p. 202-229, dez. 2018. ISSN 1981-8920. Disponível em:
<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informação/ article /view/30997>. Acesso
em: 12 set. 2020.
GRAYLEY, Mônica Villela. ONU News – Reportagem da Rádio ONU em Nova York - Rio
de Janeiro é Patrimônio Mundial. 01 julho 2012. Disponível em:
https://news.un.org/pt/story/2012/07/1409211-rio-de-janeiro-e-patrimonio-mundial
Acesso em: 20 de nov. 2020.
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