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Biodiversidade, População e Economia
Biodiversidade, População e Economia
Ter inventado esse território, ter praticado Neste sentido é com satisfação que estamos
esse esforço coletivo de reconhecimento e per- apresentando os resultados do Programa Bio-
meabilidade ao novo, para a alteridade, ainda diversidade, População e Economia, vinculado ao
que insuficientemente, foi talvez o ganho mais Biodiversidade, Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (PADCT), subprograma de Ciências
importante do Programa que estamos repor-
tando aqui. João Antônio de Paula (Coordenação Geral) . Alisson Flávio
Barbieri . Cláudio B. Guerra . Elena Charlotte Landau . Fábio
população e Ambientais (CIAMB), desenvolvido pela Uni-
versidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
Nesses nossos tempos bicudos, em que o Es-
tado é culpabilizado por todas as mazelas sociais,
Vieira . Francisco A. R. Barbosa . Heloísa S. M. Costa .
Leonardo Pontes Guerra . Roberto L. de M. Monte-Mór .
Rodrigo F. Simões . Tânia M. Braga (Organizadores). Ana Maria
economia por meio do Programa de Pós-Graduação em
Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silves-
em que a Universidade enfrenta os novos cren-
tes da salvação pela privatização, queremos dar H. C. de Oliveira . André C. Junqueira . Ariaster B. Chimeli . tre (ECMVS) e do Centro de Desenvolvimento
Carlos E. G. Torres . Cláudio Scliar . Dorival Mata-Machado e Planejamento Regional (Cedeplar). Trata-se
testemunho de um trabalho que reafirma os . Eduardo J. Coelho . Eduardo M. de M. e Souza . Fausto R.
compromissos da Universidade com o desen- A. Brito . Germana de Paula C. P. Renault . Gustavo A. B. da de esforço coletivo, interdisciplinar e inter-
volvimento da ciência e da tecnologia e com os Fonseca . Haroldo Gama Torres . João Bosco Guimarães . João institucional, que buscou enfrentar três grandes
melhores destinos de nosso povo.
Júlio V. Amaro . João Renato Stehmann . Luíz Antônio Rocha
. Marcelo Pinho . Maria das Graças L. Brandão . Maria
PADCT-CIAMB desafios: o primeiro refere-se à formação de
recursos humanos aptos a abordar a questão
João Antônio de Paula Regina Nabuco . Michael B. Ullman . Paulina M. Maia- PADCT-CIAMB
UFMG
UFMG ambiental a partir de perspectiva totalizante e
Coordenador Geral Barbosa . Ricardo M. Ruiz . Sandra M. Oberdá . Sérgio E. B.
Lins . Sueli A. Mingoti . Vanja A. Ferreira . Virgílio B. Carneiro Cedeplar Cedeplar interdisciplinar; o segundo desafio remete à
ECMVS ECMVS montagem de metodologia de estudos ambientais
BIODIVERSIDADE,
POPUL AÇÃO E
ECONOMIA
uma região de mata atlântica
C OORDENADOR :
João Antonio de Paula
O RGANIZADORES :
Alisson F. Barbieri
Cláudio B. Guerra
Elena Charlotte Landau
Fábio Vieira
Francisco A. R. Barbosa
Heloisa S. M. Costa
Leonardo Pontes Guerra
Roberto Luís M. Monte-Mór
Rodrigo F. Simões
Tânia M. Braga
BIODIVERSIDADE,
POPUL AÇÃO E
ECONOMIA
uma região de mata atlântica
REVISÃO DE TEXTO
Roberto Barros de Carvalho
FORMATAÇÃO
César de AlMeida Correia / Mangá
Marco Antônio Cardoso de Campos / Mangá
FORMATAÇÃO DE TABELAS
Luiz Roberto Moreira
ILUSTRAÇÕES - MAPAS
Adriano Esteves
DIGITAÇÃO
Gustavo Martins Caldeira dos Reis
Francisco Edgard Figueiredo
Simone Sette
4
INSTITUIÇÃO EXECUTORA
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)/
Centro de Desenvolvimento e Planejamento
Regional (Cedeplar) - Programa de Pós-
Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da
Vida Silvestre (ECMVS)
INSTITUIÇÃO INTERVENIENTE
Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa
(Fundep)
5
Germana de Paula C. P. Renault EQUIPE DE BOLSISTAS
Gustavo A. B. Fonseca Alexandre Oliveira
Haroldo da Gama Torres Alisson Flávio Barbieri
Heloisa S. Moura Costa Ana Paula Bossler Costa
Hugo Godinho Bernardo Brito
João Bosco Guimarães Cristiane M Lopes
João Júlio V. Amaro Cristiane V. Horta
João Renato Stehmann Dorival da Mata-Machado
Leonardo V. C. e Silva Eduardo M. de M. e Souza
Leonardo P. Guerra Eduardo M. Queirós
Leonora Pires Costa Elizabeth A. B. Seabra
Liliane Resende Fábio A. Nascimento
Luiz Antônio Rocha Fábio da Cunha Garcia
Magna Figueiredo Fernanda da Mota Thomaz
Mairy B. L. dos Santos Flávio Godoy Domingues
Marcelo Pinho Genimar Julião
Maria das Graças Lins Brandão João Marcos de Castro Andrade
Maria Regina Nabuco Joseane Souza
Marise da S. Theresa Júlio César R. Fortenelle
Michael B. Ullman Leocádia Aparecida Chaves
Millor Godoy Sabará Magno A. Z. Borges
Mônica Tavares da Fonseca Maria Margarida G. Marques
Paulina Maia-Barbosa Mariana da Silva e Paula
Renata O. de O. Abdo Marise da Silva Theresa
Ricardo Bomfim Machado Marise Theresa Silva
Ricardo Machado Ruiz Paula Paixão
Roberto Luís M. Monte-Mór Paula Sestini
Rodrigo F. Simões Raquel Araújo
Sandra M. Oberdá Renata Octaviano de O. Abdo
Sérgio Camargo Renata Rabello S. de Melo
Sérgio E. B. Lins Rosane Augusto I. Vieira
Sheila Maria de C. M. Bicalho Simone Araújo
Sueli A. Mingoti Valéria Aquino
Tânia Moreira Braga Valéria Kind
Terezinha Abreu Gontijo Vanja Abdallah Ferreira
Vanja A. Ferreira Wladmir Wanderley Bromberg
Virgílio Baião Carneiro
Volney Vono
(...)
“Aquele rio
jamais se abre aos peixes,
ao brilho,
à inquietação de faca
que há nos peixes.
Jamais se abrem em peixes.
(...)
“Aquele rio
saltou alegre em alguma parte?
Foi canção ou fonte
em alguma parte?
Por que então seus olhos
vinham pintados de azul
nos mapas?
(...)
“Como todo o real
é espesso.
Aquele rio
é espesso e real”
(...)
Aquele rio
é espesso
como o real mais espesso.
(...)
Espesso,
porque é mais espessa
a vida que se luta
cada dia,
(...)
Novalis
Agradecimentos
.....................................
A PRESENTAÇÃO . 15
P REFÁCIO . 23
O P ROBLEMA . 25
A R EGIÃO . 47
4 . A ESTRUTURA ECONÔMICA
REGIONAL E O MEIO AMBIENTE ...................... 155
SIDERURGIA, CELULOSE E MEIO AMBIENTE
NA BACIA DO RIO PIRACICABA ...................... 156
AGROPECUÁRIA E MONOCULTURA
DE EUCALIPTO NA BACIA DO RIO PIRACICABA ...................... 165
MINERAÇÃO NA BACIA DO RIO PIRACICABA ...................... 189
A M ETODOLOGIA . 199
5 . FUNDAMENTOS HISTÓRICOS
E METODOLÓGICOS DA QUESTÃO AMBIENTAL ...................... 201
MODERNIDADE E CRISE AMBIENTAL ...................... 201
A EMERGÊNCIA DA QUESTÃO AMBIENTAL ...................... 204
A QUESTÃO AMBIENTAL NO BRASIL ...................... 210
A POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA ...................... 213
A CRISE DOS PARADIGMAS
E A INTERDISCIPLINARIDADE ...................... 215
I NTERDISCIPLINARIDADE ...................... 218
A ECONOMIA AMBIENTAL ...................... 233
B IODIVERSIDADE
E DESENVOLVIMENTO S USTENTÁVEL ...................... 245
6 . A BACIA HIDROGRÁFICA
COMO UNIDADE DE ANÁLISE E REALIDADE DE
INTEGRAÇÃO DISCIPLINAR ...................... 257
UM CONCEITO DE BACIA HIDROGRÁFICA ...................... 257
O RIO COMO TESTEMUNHO-SÍNTESE ...................... 262
AS SUB-BACIAS E OS PONTOS AMOSTRAIS ...................... 263
12
O S R ESULTADOS . 271
7 . ATIVIDADES ANTRÓPICAS
E IMPACTOS AMBIENTAIS ...................... 273
O SETOR INDUSTRIAL ...................... 273
O CASO DO SETOR SIDERÚRGICO ...................... 279
O CASO DA PRODUÇÃO DE CELULOSE ...................... 297
I MPACTOS AMBIENTAIS DAS ATIVIDADES
DE AGROPECUÁRIA E DA IMPLANTAÇÃO
DE GRANDES ÁREAS COM A M ONOCULTURA DE EUCALIPTOS ...................... 315
8 . IMPACTOS ANTRÓPICOS
E BIODIVERSIDADE AQUÁTICA ...................... 345
CARACTERIZAÇÃO F ÍSICO-Q UÍMIC A
DAS PRINCIPAIS SUB-BACIAS DO MÉDIO RIO DOCE ...................... 345
ÍNDICES FÍSICO-QUÍMICOS (IFQ) E BIOLÓGICOS (IB) DE
QUALIDADE DE ÁGUA: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA ...................... 362
METAIS PESADOS NAS SUB-BACIAS DO MÉDIO RIO DOCE ...................... 384
COMPOSIÇÃO, ABUNDÂNCIA, D ISTRIBUIÇÃO
E DIVERSIDADE DE ALGUMAS COMUNIDADES AQUÁTICAS ...................... 415
9 . IMPACTOS ANTRÓPICOS
E BIODIVERSIDADE TERRESTRE ...................... 455
CARACTERIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE ...................... 456
IMPACTOS SOBRE A FAUNA E FLORA ...................... 458
S ÍNTESE ...................... 466
13
AGENTES A MBIENTAIS : POLÍTICAS P ÚBLICAS
AMBIENTAIS E ATUAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL ...................... 514
C ONSIDERAÇÕES F INAIS ...................... 532
A S ÍNTESE . 569
A NEXOS . 641
14
....................................
APRESENTAÇÃO
15
gia, por isso mesmo, instrumentos analíticos, metodologias e procedimentos necessari-
amente globalizantes. Tratava-se, assim, de incorporar não só as dimensões bióticas e
abióticas da realidade ambiental, como também mobilizar as diversas ciências sociais,
físicas e biológicas, no enfrentamento da questão ambiental contemporânea.
Tais pressupostos-exigências do Edital catalisaram um processo de interação
já existente entre grupos de pesquisa e de pós-graduação da UFMG, resultando daí uma
proposta classificada em primeiro lugar entre as quatro aprovadas, recebendo do Comitê
Asssessor (C.A.) o seguinte parecer:
O Parecer Analítico abaixo reflete o exame efetuado pelo C.A. com base no
Programa apresentado (Curso + Projeto Vinculado). A Proposta apresenta
total identificação no que concerne aos princípios constantes do Documento
Básico e do Edital CIAMB 01/90, chamadas 01 e 02. Cumpre ressaltar a
elevada qualificação da equipe, bem como a preocupação em desenvolver um
referencial teórico-metodológico que contempla a questão ambiental numa
abordagem interdisciplinar, a partir do estudo de uma área-piloto com graves
problemas sócio-ambientais, adequando-o realisticamente a um programa de
pós-graduação. É ainda louvável a identificação da relação homem-natureza
como vetor básico para a compreensão dialética do território.
16
Escolheu-se como área básica objeto da pesquisa uma região da bacia do Rio
Doce, em Minas Gerais. A escolha obedeceu a três ordens de motivações:
1. por tratar-se de região que foi coberta por amplas extensões de Mata Atlân-
tica até o início deste século, experimentando, a partir daí, acentuado pro-
cesso de devastação, fruto de intervenções antrópicas. Nesse sentido, além
de sua pertinência específica, a compreensão da situação atual de trecho da
bacia do Rio Doce oferecerá subsídios para prevenir processos ainda passí-
veis de correção, como os que são impostos hoje à Amazônia;
2. por tratar-se de região detentora de uma complexidade ambiental ímpar,
abrigando um conjunto de realidades físico-biótico-antrópicas que sinteti-
zam vários dos principais processos e impasses ecológicos e sociais brasi-
leiros;
3. por ser região relativamente bem investigada, tendo merecido estudos
recentes e aprofundados, sobretudo sobre a realidade hidrológica, o que
facilitaria comparações e construção de base de dados abrangente.
O Rio Doce, referência geográfica e ambiental básica do projeto, tem 875 km,
nasce nos contrafortes da Serra da Mantiqueira, correndo inicialmente na direção Sul-Norte
e sofrendo posteriormente inflexão para Leste. A característica básica do Rio Doce é a sua
diversidade física e natural, como suporte de uma diversidade econômico-social.
17
do Mucuri e do Rio Doce, do Frei Jacinto de Palazzolo, 1973, além dos vários registros dos
viajantes estrangeiros que passaram por Minas Gerais no século XIX.
Desde o início do século XIX as jazidas de minério de ferro da bacia do Rio
Doce eram exploradas para abastecer as dezenas de fornos das manufaturas de ferro de
pequeno porte que se espalhavam pela Província. Uma queixa constante dos minerado-
res e metalurgistas de então era quanto à precariedade do sistema de transportes de
Minas Gerais. Só no início do século XX, com a constituição da Estrada de Ferro Vitória-
Minas, por meio do Decreto 4.337, de 1º de fevereiro de 1902, é que se inicia a efetiva
ocupação da região, tendo como móveis a exportação de minério de ferro e a expansão
da atividade madeireira.
A partir daí haverá aceleração do processo de ocupação. A construção da Estra-
da de Ferro permite a expansão da exploração mineratória, culminando com a instala-
ção de uma das maiores empresas de mineração a céu aberto do mundo, a Companhia
Vale do Rio Doce, em Itabira (1942). É constituído ali também o maior complexo
siderúrgico do Brasil, produzindo hoje cerca de 6 milhões de toneladas/ano de aço,
composto pela Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira, em João Monlevade (1937), pela Acesi-
ta, em Timóteo (1944), e pela Usiminas, em Ipatinga (1956).
Ao par da consolidação deste complexo mínero-siderúrgico, também expan-
diu-se o plantio de matas de eucalipto para a produção do carvão empregado nas usinas
siderúrgicas da região (à exceção da Usiminas, que utiliza o coque como redutor). Minas
Gerais possui hoje a maior área plantada de eucalipto do Brasil, cerca de 2.500.000
hectares, e a região do Médio Rio Doce, área de nossa pesquisa de campo, tem impor-
tante participação nesse plantio.
Ao lado do complexo mínero-siderúrgico e das grandes matas plantadas de
eucalipto, continuaram a ser desenvolvidas atividades tradicionais, como o garimpo de
ouro e pedras preciosas e a agropecuária. Mais recentemente, na década de 1970, insta-
lou-se na região uma grande empresa produtora de celulose, a Cenibra, que veio inten-
sificar ainda mais a expansão das áreas de plantio de eucalipto.
Do ponto de vista da urbanização, há duas áreas em que a concentração popu-
lacional é ponderável. A primeira delas reunindo os municípios de Santa Bárbara, Itabi-
ra, Monlevade e municípios vizinhos, apesar de pequena em termos populacionais,
apresenta alto grau de urbanização. A segunda área compreende o Vale do Aço, formado
por um aglomerado urbano de mais de 300 mil habitantes, que apresenta características
de região metropolitana, ora em processo de constituição legal.
Além dessas realidades, marcadas por intensa atividade antrópica, há também
uma outra realidade regional que reforça ainda mais a condição de “região expressiva”
para o Médio Rio Doce. Trata-se da existência nas nascentes e na foz do principal
afluente do Rio Doce, o Rio Piracicaba, de dois parques - o do Caraça e o do Rio Doce -
preservados em sua integridade. Respectivamente com cerca de 12.000 e 36.000 hecta-
res, esses parques foram pensados como realidades referenciais, que poderiam permitir
o cotejo dos impactos antrópicos vis-à-vis aquelas áreas preservadas.
Desse modo, a região apresenta um sistema ambiental em que, ao lado de
grandes complexos de atividades impactantes do meio ambiente - mineração, garimpo,
18
siderurgia, reflorestamento com monocultura de eucaliptos, agropecuária, indústria de
celulose e núcleos urbanos —, há áreas preservadas que conservam, no essencial, as
características básicas da fauna e flora originais.
Levando em conta essa diversidade, buscou-se um foco mais preciso na defi-
nição da área-objeto de pesquisa. Optou-se assim por concentrar os esforços analíticos,
os experimentos e as pesquisas de campo, principalmente, na bacia do Rio Piracicaba
e suas extensões próximas, por abrigar tanto aquele complexo de atividades antrópicas
quanto as áreas preservadas propícias às comparações e estudos sobre biodiversidade.
Entre os principais impactos presentes na sub-bacia do Rio Piracicaba, devem
ser destacados: exploração não-sustentável de recursos minerais, florestais e hídricos;
pesados efeitos negativos nos ecossistemas aquáticos e terrestres e na biodiversidade
em geral; perdas irreparáveis de solos com o conseqüente assoreamento e elevadas
cargas de sólidos em suspensão nos corpos d’água; diversas formas de poluição industrial
(óleos e graxas, fenóis, cianetos, metais pesados etc.), advindas, principalmente, das
atividades de mineração, usinas siderúrgicas e garimpo de ouro; rejeitos das áreas ocupa-
das pela monocultura de eucaliptos (fertilizantes e pesticidas); além dos esgotos domés-
ticos e lixo das cidades da região. Destaque-se que nenhum desses municípios têm, até
o momento, qualquer tratamento de seus esgotos, os quais são lançados in natura nos
corpos d’água receptores.
A sub-bacia do Rio Piracicaba constitui, portanto, um mosaico de problemas
ambientais interdependentes, cujos efeitos vêm se acumulando ao longo dos anos. O rio
é considerado, neste projeto, como capaz de refletir o conjunto das atividades desenvol-
vidas em sua bacia de drenagem.
Um dos objetivos do Projeto foi a formação de recursos humanos e buscou-se
atendê-lo não apenas pelas atividades formais de ensino oferecidas pelos cursos de pós-
graduação stricto sensu. A integração ensino/pesquisa, a realização de workshops e semi-
nários, o intercâmbio de professores e alunos e os convênios internacionais foram
atividades que também buscaram atender à meta de formação de recursos humanos.
Foram desenvolvidas atividades de pós-graduação sobre a questão ambien-
tal, englobando cursos e outras atividades de ensino e pesquisa, que perseguiram a
interdisciplinaridade, sem a perda das competências disciplinares específicas. Resultou
disso a elaboração de dissertações de mestrado e teses de doutorado no âmbito dos três
cursos responsáveis pelo Projeto, sintonizadas com a perspectiva interdisciplinar.
A formação de recursos humanos é, assim, parte do processo maior de desen-
volvimento de uma metodologia de análise ambiental, que busca superar a disciplinari-
dade na direção da transdisciplinaridade. Tal objetivo foi perseguido pela mobilização
de uma ampla gama de atividades integradoras, como cursos, seminários de tese,
workshops, seminários nacionais e internacionais etc.
O investimento em material permanente voltado para o ensino — compra de
livros relacionados a temas ambientais, assinatura de publicações especializadas, aquisi-
ção de softwares e equipamentos computacionais adequados ao ensino e ao armazena-
mento de dados da pesquisa — foi outro instrumento relevante para a viabilização do
programa de treinamento proposto.
19
Também importante dentro do objetivo geral de formação de recursos huma-
nos foi o Programa de Educação Ambiental que atingiu, direta ou indiretamente, mais
de dez mil pessoas em nove municípios da bacia do Rio Piracicaba.
Como síntese o que foi buscado, pode-se dizer, que o grande objetivo do
Programa foi o contribuir para modificar conceitos e práticas no campo das ciências
ambientais, superando posturas reducionistas, por meio de efetiva prática interdiscipli-
nar e da busca de visão abrangente e crítica sobre o meio ambiente e as formas concretas
de sua apropriação e transformação.
Nesse sentido, foram mobilizados diversos instrumentos materiais e simbóli-
cos visando criar condições para a formação, treinamento e qualificação de recursos
humanos a partir de perspectiva interdisciplinar. Foram usados no âmbito do Programa
os seguintes instrumentos de formação: a) cursos de graduação; b) cursos de pós-gradua-
ção; c) programas de treinamento; d) seminários e workshops; e) ampliação do acervo
bibliográfico; f) ampliação de recursos computacionais; g) programa de Educação Ambi-
ental; h) elaboração de diversos materiais de divulgação não-acadêmicos; i) participação
em debates, seminários, conferências, mesas-redondas; j) elaboração de trabalhos aca-
dêmicos; l) elaboração de monografias, dissertações e teses.
O programa de formação de recursos humanos do Projeto buscou atuar em
diversos níveis no 3º grau, formando mestres, doutores, graduados, atingindo também
estudantes e professores de 1º e 2º graus, membros das comunidades, técnicos e funcio-
nários de empresas e prefeituras.
Vem a seguir uma súmula das atividades desenvolvidas:
1. CURSOS DE GRADUAÇÃO
Foram oferecidos entre 1993 e 1995 os seguintes cursos no âmbito da gradu-
ação em Economia e Ciências Biológicas no campo das ciências ambientais:
a. Economia - População, Espaço e Meio Ambiente; Economia, Espaço e Meio
Ambiente; Economia e Ecologia; Economia Regional e Urbana.
b. Ciências Biológicas - Introdução à Ecologia; Ecologia e Limnologia; Conser-
vação e Biodiversidade; Ecologia e Recursos Hídricos; Ecologia e Recursos Florís-
ticos.
2. CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO
População e Meio Ambiente; O Uso das Estatísticas Sócio-econômicas e o
Retrato das Condições de Vida e Políticas Sociais no Brasil; Biodiversity and Running
Waters; Economia Urbana com Especial Referência à Economia Popular; Concept, Plan-
ning and the Implementation of Programs and Centers in the Area of Conservation;
Sistemas de Gestão e Planejamento Ambiental.
3. CURSOS DO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
a. Cursos de Curta Duração: Lixo; Esgoto Doméstico e Industrial; Garimpo
de Ouro;
b. Cursos de Longa Duração: Fundamentos da Questão Ambiental; Monito-
res Ambientais
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4. PROGRAMAS DE TREINAMENTO
a. Cursos de treinamento em softwares UNIX, ARC-INFO e S;
b. Bolsas de Iniciação Científica;
c. Bolsas de Aperfeiçoamento Científico.
5. SEMINÁRIOS E WORKSHOPS
a. Seminários com as grandes empresas que atuam na área de pesquisa de
campo do Programa: Usiminas/Acesita/Cenibra/C.S.Belgo-Mineira - 1993/
1994/1995;
b. Seminários com as Associações de Municípios do Vale do Aço e do Médio
Piracicaba, assim como participação em seminários municipais em Antô-
nio Dias, Barão de Cocais e Santa Bárbara;
c. Seminários sobre Economia Mineira, realizados pelo Cedeplar em 1992 e
1995, quando os pesquisadores do Programa apresentaram cerca de seis
trabalhos e organizaram/expuseram em três mesas-redondas temas refe-
rentes ao Programa;
d. Seminários internos para elaboração do Projeto, organização do trabalho e
apresentação de resultados preliminares do Programa em 1990, 1991, 1992,
1993, 1994, 1995;
e. Seminário Internacional sobre Biodiversidade realizado em conjunto com
a Conservation International (dezembro de 1993);
f. Seminário geral do Programa, realizado em Belo Horizonte entre 29 de
novembro e 1º de dezembro de 1995.
Como resultados já alcançados pelo Programa no que se refere à produção
científica, têm-se: nove monografias de graduação; nove dissertações de mestrado de-
fendidas e quatro em andamento; uma tese de doutorado defendida e uma em andamen-
to; 26 relatórios temáticos que sintetizam as pesquisas; 119 artigos técnico-científicos
publicados, entre 1991 e 1996.
Finalmente um balanço do funcionamento do Programa, de seus resultados e
desdobramentos, do ponto de vista das duas questões financeiras, gerenciais e adminis-
trativas; e das questões teórico-científica,s é o seguinte:
a. Deve-se registrar que os anos 1991 e 1992 foram particularmente restriti-
vos para o Programa no que se refere aos repasses dos recursos financeiros.
Isso significou na prática o funcionamento precário do Programa, que só
terá dinâmica normal a partir de 1993;
b. Do ponto de vista gerencial e administrativo, criou-se uma estrutura míni-
ma, que funcionou com o apoio da Fundep e do Cedeplar nos processos de
importação e gerenciamento financeiro;
c. No campo das questões teórico-científicas, destaquem-se três grandes as-
pectos positivos: 1) consolidação de uma sistemática de atividades inter-
21
disciplinares em diversos campos - ensino, pesquisa, seminários, treina-
mentos, utilização de equipamentos, publicações; 2) consolidação de uma
temática, de conceitos e métodos analíticos comuns entre biólogos, ecólo-
gos, economistas, demógrafos, historiadores, geógrafos, urbanistas, enfim
entre a equipe do Programa; 3) consolidação das linhas gerais, testadas
empiricamente, de uma metodologia de estudos ambientais a partir de
perspectiva interdisciplinar.
Nesse sentido, com limites e deficiências, nosso Programa pode reivindicar
ter consolidado grupo de pesquisa, com experiência e qualificação, contando com infra-
estrutura material (parque informático, bibliotecas, equipamentos e instalações de apoio)
e gerencial de excelência.
Muitos resultados do Programa podem ser avaliados quantitativamente. Con-
tudo, há um conjunto de impactos importantes do Programa sobre mentalidades e postu-
ras, sobre o fazer acadêmico-científico, sobre a consciência ambiental da população,
sobre práticas políticas de empresas, do poder público e das comunidades locais, que
não podem ser avaliados nem quantitativamente nem a curto prazo. Contudo, é nesse
campo, na mudança de conceitos, hábitos, práticas e políticas que o Programa pretende
ter contribuído para o enfrentamento da crise ambiental a partir da idéia de desenvolvi-
mento sustentável, biodiversidade e melhoria da qualidade de vida. O estudo que se vai
ler é uma síntese do muito que se buscou fazer nesse sentido, e está assim estruturado:
a. a primeira parte busca situar o problema estudado dentro da problemática
geral da questão ambiental no plano internacional, nacional, salientando as
especificidades do tema e da região escolhida para a pesquisa de campo e
a imposição de uma perspectiva necessariamente interdisciplinar para o
enfrentamento da questão;
b. a segunda parte traça a constituição histórica da região estudada, seu pro-
cesso de ocupação demográfica, econômica e sua estruturação urbana;
c. a terceira parte explicita os instrumentos analíticos e conceituais mobiliza-
dos no desenvolvimento do estudo, constituindo-se em base metodológi-
ca geral do projeto;
d. a quarta parte apresenta os principais resultados heurísticos alcançados,
uma súmula do que se conseguiu em termos de conhecimento da realida-
de ambiental estudada;
e. a quinta parte sintetiza a metodologia desenvolvida no projeto e apresenta
perspectivas para intervenção sobre a realidade ambiental estudada no
sentido da biodiversidade e do desenvolvimento sustentável.
Ao final, apresentam-se anexos que listam os diversos trabalhos e produtos
gerados pelo Projeto.
22
....................................
PREFÁCIO
23
abundam na região exemplos de usos não sustentados do Meio Ambiente, que
resultaram em profundas modificações no funcionamento e na estrutura de seus
ecossistemas. A existência de uma ampla base de dados primários para a região permitiu
suplantar uma árdua e geralmente prolongada fase de levantamento de dados primários,
tornando possível iniciar imediatamente uma fase de síntese, fundamental para desen-
volvimento do Programa.
O Programa contou desde seu início com um alto grau de integração entre
pesquisadores das ciências sociais e ecológicas, cujo embrião vinha se desenvolvendo
desde a implantação no ICB do Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação
e Manejo de Vida Silvestre e do Programa de Economia e Demografia do CEDEPLAR.
Estes pesquisadores tiveram o bom senso de levar um grande componente de formação
de recursos humanos ao Programa, através da orientação de teses dentro do escopo do
mesmo e da realização de vários cursos e seminários de auto avaliação e aperfeiçoamentos
e metodologias do programa. Este instrumento foi fundamental para a divulgação e
futura implantação da abordagem empregada por outros grupos no País.
Mais do que uma experiência acadêmica, o programa avançou em uma das
metas mais caras ao desenvolvimento científico e tecnológico do País, a divulgação e
utilização dos conhecimentos gerados pela Sociedade, que em princípio, mantém os
recursos a tais programas. A abordagem interdisciplinar aplicada com sucesso no Programa,
permitiu a proposição de diretrizes e políticas públicas, visando a conservação e o uso
sustentado da região e de seus recursos naturais. Mais ainda, propõe métodos de
acompanhamento de impactos antropogênicos através de indicadores de qualidade
ambiental, sensu lato, desenvolvidos especificamente para a região. Tais indicadores
poderão no futuro próximo, ser avaliados quanto à sua aplicabilidade em outras sub-
bacias do País.
Findo o Programa, urge um estudo detalhado de seu fazimento. O sucesso do
Programa deverá ser dissecado em seus detalhes, e, principalmente, em suas falhas, que
houve, porém sem prejudicar o desenvolvimento do programa e seu resultado final.
Essas falhas deverão, entretanto, ser objeto de análise crítica, com o mesmo grau de
detalhamento que a análise de seus muitos pontos positivos. Esta análise, a posteriori,
comparada as outras experiências do PADCT/CIAMB, deverá ter lugar de destaque na
confecção das próximas chamadas para o programa.
24
O P R O B L E M A
1. DINÂMICA CAPITALISTA,
DIVISÃO INTERNACIONAL
DO TRABALHO E MEIO MBIENTE
.....................................
João Antônio de Paula (Coord.)
Cláudio B. Guerra
Fausto R. A. Brito
Francisco A. R. Barbosa
Maria Regina Nabuco
O
tema meio ambiente ocupa hoje conside-
rável espaço, tanto nos meios de comuni-
cação, quanto na discussão acadêmica. A
questão ambiental transcendeu os limites de sua in-
serção inicial, para tornar-se tema permanente de
preocupação e ocupação de cientistas, políticos, ati-
vistas. As denúncias com relação aos perigos que
ameaçam nosso planeta degradado colocam no cen-
tro da política internacional a questão ambiental.
A banalização do tema, sua pasteurização,
que permitiu fosse apropriado por perspectivas e
interesses heterogêneos e mesmo antagônicos, tem
impedido a presença de reflexão crítica que busque
superar os marcos da discussão, que, até aqui, pare-
ce condenada a uma espécie de malthusianismo sui
generis, que é a perspectiva que tem somado desde
o explícito conservadorismo do relatório do Clube
de Roma, dos anos 70, até o “Ecologismo Radical”
dos anos 80. Essa perspectiva, em última instância,
significa a interdição de qualquer projeto que im-
plique uma ampliação da produção material com
base na apropriação dos recursos naturais existentes.
Expressa na fraseologia do “crescimento zero” ou
do “preservacionismo absoluto”, o resultado final
dessas posturas implica desconsiderar as possibili-
dades de se construir um processo de desenvolvi-
mento sustentável, isto é, processos de produção e
distribuição de riquezas comprometidos com a garantia da biodiversidade e com a
melhoria da qualidade de vida para as gerações atuais e futuras.
O que se está dizendo é que é preciso superar os quadros conceituais e
metodológicos que têm caracterizado, até aqui, a reflexão sobre a questão ambiental.
Trata-se de buscar idéias e procedimentos que superem a estreiteza das perspectivas
e práticas reducionistas e problematicamente ultra-especializadas que dominam a
temática. A questão ambiental só será efetivamente compreendida em toda a sua
extensão e complexidade quando for tema de variados olhares, variadas perspectivas,
que, organizadas, sejam capazes de articular os três planos constituintes do objeto (o
plano físico, o plano biótico e o plano antrópico) a partir da articulação das disciplinas
pertinentes derivadas das ciências físicas, biológicas e sociais.
Esse esforço, necessário e urgente, no sentido da superação dos marcos
atuais dos estudos sobre meio ambiente tem que ser processo coletivo e interdisciplinar.
Depois de uma longa trajetória de êxitos e otimismo, a economia capi-
talista, na década de 1970, passa a experimentar uma sucessão de crises e cons-
trangimentos estruturais. E a parte deste quadro a emergência, a descoberta, dirão
alguns, da crise ambiental. No esforço de superação daquela crise geral, o capita-
lismo desenvolveu estratégias de recuperação do crescimento por intermédio de
profundas modificações na divisão internacional do trabalho. Tais modificações
resultam na reestruturação industrial dos países desenvolvidos, com ênfase na
substituição de produtos naturais e trabalho barato por informação, novos mate-
riais e mão-de-obra qualificada.
A economia norte-americana, como a maior provedora de excedentes mo-
netários desde a Segunda Guerra Mundial, foi a grande artífice dessa reestruturação,
buscando recobrar a confiança no dólar e manter sua já frágil posição de economia
hegemônica no capitalismo mundial. Assim, a partir do 1º Governo Reagan, adotou-
se um conjunto de políticas monetárias ortodoxas, valorizando-se o dólar e aumen-
tando a taxa de juros, a fim de atrair capitais externos para os Estados Unidos.
Ademais, a ampliação das importações americanas tornou a produção interna de
bens e serviços mais competitiva, reformulando-se o modo de produzir por meio de
maiores investimentos em tecnologia e informação. Vários setores produtivos não
resistiram à concorrência e foram sucateados. Outros contaram com forte apoio estatal
para seu desenvolvimento, como é o caso das telecomunicações, indústria
aeroespacial, química fina e biotecnologia.
Embora se credite ao livre mercado esse processo de reestruração, vários
autores (Jenkins, 1984; Castells, 1986; Tanzi & Coelho, 1991; Zysman & Cohen, 1983)
demonstram que o Estado liberal da economia americana nos anos 80 não passou de
um mito. Ao contrário, esse Estado, através de investimentos em pesquisa, recursos
humanos qualificados e encomendas aos setores industriais privados, proporcionou,
com enormes custos sociais, uma nova arrancada da economia americana, com a ma-
nutenção do dólar como moeda das moedas. Embora se possa dizer que os Estados
Unidos tenham apresentado um crescimento pequeno comparativamente a países
28
como o Japão, Alemanha e Canadá, nos anos 80, é inegável que o ajuste de Reagan
deu um pouco mais de fôlego para uma economia que se encontrava em crise latente
desde os anos 60. Além disso, baseando seu crescimento em novos ramos industriais e
de serviços, os Estados Unidos, e as demais economias capitalistas, reorganizaram a
economia mundial redistribuindo novos papéis entre si e reduzindo cada vez mais a
importância econômica da periferia (Rattner, 1989).
Aos países centrais cabe a liderança na fronteira do conhecimento científico,
o recurso mais escasso nesse novo modelo de expansão capitalista. Por meio do conhe-
cimento científico cada vez mais centralizado, esses países ampliam sua autonomia em
relação aos países subdesenvolvidos, substituindo os produtos antes importados por
novos produtos gerados pela tecnologia de ponta. Além disso, reduzem a produção das
indústrias poluidoras e devastadoras do meio ambiente, exportando-as para os países
ávidos de crescimento.
Essa nova divisão internacional do trabalho é possível graças ao controle do
setor de serviços avançados exercidos pelos países centrais. O controle do excedente
gerado por tais serviços - financeiros, consultorias, pesquisa e desenvolvimento, segu-
ros, transportes, telecomunicações e propaganda - mudou a geografia do mundo. Cri-
ados a partir da reestruturação produtiva mundial, os serviços são o setor que mais se
expandiu em termos de investimento direto externo mundial nos anos 80, constituin-
do hoje metade do valor do estoque mundial dos investimentos diretos externos.
Ademais, aparecem como o item responsável pelo maior dinamismo das exportações
de países como os Estados Unidos, o Reino Unido, a Alemanha e a França. Os oito
maiores exportadores de serviços exportaram cerca de 60% do total mundial nos anos
80. Por outro lado, esse paradigma dos serviços avançados praticamente exclui os
países subdesenvolvidos dos benefícios do desenvolvimento. A América Latina não
é mais a área de maior concentração de investimento direto externo como já fora.
Endividados, estagnados e com economias altamente inflacionárias, os países latino-
americanos, nos anos 80, não constituíram mais um espaço adequado para investimentos
externos de ponta. O capital internacional passou a buscar consumidores de alto nível
de renda, mão-de-obra qualificada e relativizaram a anterior importância dos recursos
naturais. Na década de 1980 amplia-se, portanto, a concentração do excedente
econômico/financeiro nos países centrais. Para buscar mais espaço nas relações
internacionais, os países periféricos dedicam-se a incentivar o comércio entre si.
Os lugares-chave para sediar os serviços avançados são as chamadas “cida-
des mundiais”, para onde se dirigem e de onde saem os grandes fluxos de capital
financeiro. O extraordinário aumento da liquidez financeira dos anos 80 origina-se,
pois, da ampliação da capacidade de controle do sistema produtivo mundial pela órbita
da circulação da riqueza financeira. Esse processo foi também apoiado pelo movi-
mento de repatriamento do capital para os países ricos, durante o mesmo período. A
Tabela 1.1, a seguir, dá uma idéia acurada desse processo de concentração econômico/
financeira, gerador da perda da posição relativa dos países pobres.
29
30
FIGURA 1.1
LOCALIZAÇÃO DA REGIÃO DE ESTUDO: BACIA DO RIO DOCE/BACIA DO PIRACICABA
31
TABELA 1.1
NÚMERO DE MATRIZES DAS 500 MAIORES FIRMAS TRANSNACIONAIS NAS 17 MAIORES
...................................................
ÁREAS METROPOLITANAS MUNDIAIS, 1984
...................................................
Cairo 0
Shangai 0
Fonte: Feagin e Smith, 1987. APUD: Sassen, 1991, Table 7.1, p. 170.
32
aço, alumínio, cobre etc., são cada vez mais dirigidos no sentido sul-sul, em geral sem
restrições efetivas à proteção do meio ambiente, contando, ao contrário, com expres-
sivas isenções fiscais e tributárias. Além disso, tendo em vista o aviltamento dos preços
internacionais desses bens, cai o valor das exportações de recursos naturais, o que
pressiona ainda mais a tendência à ampliação da quantidade exportada.
Enquanto isso, ao contrário, nos países centrais grande parte dos incentivos
à ruptura com o padrão tecnológico foi gerada não só pela exaustão de alguns recursos
naturais fundamentais, como, principalmente, pela pressão dos movimentos contra a
poluição e destruição dos recursos naturais. Além disso, nesses países a proteção am-
biental é hoje uma das áreas dinâmicas para investimentos, comparando-se, na Europa
e Estados Unidos, ao dinamismo da indústria eletro-eletrônica. É de se esperar que,
por meio da já internacionalizada ideologia ecológica, a expansão desses investimentos
também se dê via países subdesenvolvidos. A proposta de controle ambiental pode
estar significando a adoção, nesses países, de um modelo de crescimento (como o
chamado “crescimento zero”) viável apenas para os países que já atingiram altos pa-
tamares de desenvolvimento tecnológico e de bem-estar social.
A prioridade do controle ambiental como um bem em si mesmo (como as
propostas do ecologismo ingênuo), sem considerar as especificidades territoriais,
econômicas e sociais dos países subdesenvolvidos, casa-se perfeitamente com a pers-
pectiva de crescimento econômico desses países através do preenchimento de “ni-
chos” tecnológicos permitidos pela nova divisão internacional do trabalho. Assim,
buscar-se-ia reduzir a distância centro/periferia via investimentos em Pesquisa &
Desenvolvimento, transferência de tecnologia de ponta, joint ventures com o capital
estrangeiro, medidas necessárias para nos associarmos, mesmo que como parceiros
minoritários, ao capitalismo avançado. Para isso, nada melhor que o livre mercado,
que amplia a competitividade, cabendo ao Estado adotar políticas liberais a favor
das importações, extinguindo quotas e reservas de mercado, privatizando empresas
estatais e induzindo apenas o crescimento dos setores de ponta, via recursos para
pesquisa e qualificação de mão-de-obra. Acompanham essa perspectiva a criação e
o desenvolvimento de blocos regionais de comércio, que ampliam as vantagens
comparativas e as economias de escala entre os periféricos.
Na verdade, porém, o que vimos acontecer nos países subdesenvolvidos, a
partir da reorganização estrutural do capitalismo mundial nos anos 80, foi a rápida
ampliação da distância tecnológica com o Centro, incluindo aqueles países que se
destacavam dentro da periferia.
Ademais, o que se vê nesses anos de agudização da crise para a periferia é a
ampliação da intensidade da exploração dos recursos naturais (extrativos vegetais e
minerais), a fim de manter-se o valor de suas exportações, tendo em vista a queda de
seus preços no mercado internacional. Em outras palavras, a periferia, rica em recursos
naturais, contraditoriamente ao que reza o paradigma dos serviços avançados e da mi-
croeletrônica, nunca cumpriu tão bem seu clássico papel de periferia quanto agora. Os
preços de seus produtos estão aviltados, a mão-de-obra é fortemente explorada e, en-
33
quanto isso, difundem-se discursos ambientais inócuos, exatamente porque não consi-
deram todos os aspectos dessa crise que vivem a periferia e sua população. A “barbárie
toma conta do não preservado” e sonhamos com a mata intacta para as gerações futuras.
Sair da triste condição de periferia significa também alcançar o desenvolvi-
mento sustentável e a preservação da natureza. Mas esse discurso universalista esconde
que a condição inequívoca de periféricos nos é dada pela relação desigual das trocas que
se estabelecem entre os desenvolvidos e nossos países, ampliando a exploração do
trabalho e a miséria da população. Na luta pelo controle ambiental, portanto, não pode-
mos esquecer as “velhas” características da oposição “centro-periferia”, sob o risco de
nos condenarmos a uma história de exclusão social ainda maior.
Durante muito tempo predominou um conceito de desenvolvimento que
privilegiava apenas os aspectos econômicos do processo histórico. Desenvolvimento
econômico, tendo como paradigma o caso da industrialização inglesa, confundia-se
com industrialização, com crescimento do produto, com urbanização, com crescimento
da renda per capita. Mais tarde se incorporaram ao conceito as dimensões sócio-vitais
- esperança de vida, mortalidade infantil. Quer-se mais hoje e condiciona-se o desen-
volvimento econômico à preservação ambiental e à melhoria da qualidade de vida.
Isto é, não haverá desenvolvimento econômico sem preservação e mesmo
enriquecimento do meio ambiente e sem melhoria das condições de vida.
Se há considerável avanço no que diz respeito à ampliação do conceito de
desenvolvimento econômico, é certo que existem ainda muitos obstáculos à sua plena
caracterização. Tais obstáculos derivam da complexidade do problema a ser enfrenta-
do. O velho conceito de desenvolvimento econômico padecia de vícios de origem
que o tornavam ignorante das implicações de longo prazo da estratégia que lhe era
implícita. A perspectiva tradicional de desenvolvimento econômico perfilhava idéia
de que o crescimento econômico, resultado da ação e do critério da racionalidade
capitalista individual, é um valor universal e absolutamente inquestionável. Dessa
imposição decorre a seguinte conseqüência: não pode haver freio à ação do capital,
independentemente dos danos e custos sociais de suas iniciativas. Outra implicação
importante do paradigma tradicional é a idéia de que o caminho do “desenvolvimento
econômico” estava aberto a todos os países e que o “subdesenvolvimento” era situação
provisória e decorrente do atraso dos países subdesenvolvidos em assumir a perspectiva
do mercado e participar da dinâmica capitalista.
Na verdade o chamado “subdesenvolvimento” não é estágio provisório de-
corrente do fato de certos países participarem retardatariamente da dinâmica capita-
lista. Os países ditos subdesenvolvidos participam da dinâmica capitalista desde a sua
eclosão, participam do processo mesmo do surgimento do capitalismo, são elementos
fundamentais do processo chamado de acumulação primitiva do capital.
Os países subdesenvolvidos participam da dinâmica capitalista desde o seu
início, só que em lugar subordinado, como periferia daquela dinâmica, como produ-
tores de matérias-primas e alimentos, como mercado cativo dos países do centro da
dinâmica capitalista. É essa situação subordinada, é essa inserção dependente, é essa
34
condição periférica que condiciona o desenvolvimento atrofiado das economias dos
países ditos subdesenvolvidos. A rigor, a realidade desses países não é de subdesen-
volvimento, mas a do desenvolvimento do capitalismo na periferia, com todas as suas
implicações: concentração de renda e riqueza, desequilíbrios, crises, desemprego,
miséria e depredação do meio ambiente.
OBJETO DA PESQUISA
O OBJETO IMPÕE A INTERDISCIPLINARIDADE
A constatação da existência de uma crise ambiental é contemporânea do
esgotamento do modelo de desenvolvimento capitalista, que prevaleceu e teve pleno
êxito no período pós-1945. Esse modelo, chamado pela “Escola da Regulação” de
fordista, tinha, entre outros aspectos característicos, no referente às normas de produ-
ção e consumo, a marca da massificação e da padronização. A massificação e a padro-
nização da produção e do consumo foram os aspectos mais salientes de uma etapa do
desenvolvimento capitalista, que prometia satisfazer todas as necessidades de consu-
mo de uma ampla camada da população dos países centrais. De 1945 ao início dos
anos 70 o capitalismo experimentou seu mais intenso período de crescimento, marcado
tanto pela vigorosa expansão americana, quanto pela emergência e consolidação dos
“milagres” de Japão e Alemanha.
No início dos anos 70, esse quadro sofre modificação importante. O rela-
tório do Clube de Roma é sinal de uma mudança do quadro, como também o é o
relatório da Comissão Brundtland, na década de 1980. Em lugar do otimismo ex-
pansionista — que embalou o grande capital, fazendo-o acreditar num crescimento
sem fim, na inesgotabilidade dos recursos naturais e na infinita capacidade da
tecnologia de dar respostas a todas as mazelas do fordismo triunfante —, emergem
a desconfiança, a cautela, a constatação de sérios desequilíbrios, expressos no que
passou a ser chamado de “crise ambiental”.
Essa “crise ambiental” será entendida e enfrentada de variadas formas, a
partir de variadas perspectivas e interesses. No que se vai considerar aqui, trata-se de
reconhecer que, apesar da diversidade de objetivos e interesses com que grupos,
instituições, empresas, governos e pesquisadores se debruçam sobre a questão ambi-
ental, há consenso quanto à ausência de perspectiva teórica capaz de dar conta, ade-
quadamente, da problemática ambiental em seu conjunto.
Esse consenso tem sido traduzido, com freqüência, a partir da constatação da
limitação das perspectivas disciplinares para a abordagem do objeto, o ambiente, que é
sobretudo global, constituído de diversas dimensões interdependentes. É a constatação
dos limites das abordagens disciplinares que tem determinado, com força crescente, o
consenso quanto à superioridade e adequação de perspectivas interdisciplinares.
Também é consenso que a construção de perspectiva interdisciplinar é pro-
cesso complexo, que exigirá esforço sistemático de reflexão, pesquisa e intervenção
prática, experimentação e debates de equipes multidisciplinares e interinstitucionais.
35
A imposição da interdisciplinaridade é, então, resultado da natureza do pró-
prio objeto em questão: o ambiente. Contudo, como é comum acontecer com concei-
tos largamente usados e com diversas acepções, há permanente ambigüidade e desli-
zamento de significados quanto ao uso da palavra “ambiente”. Esse quadro cambiante
não é só conseqüência do uso corrente da palavra pelos leigos. Também entre os
especialistas que têm o ambiente como seu objeto de trabalho — biólogos, ecólogos,
geógrafos etc. — há heterogeneidade de acepções decorrente da especialização do
olhar que o esquadrinha.
Também essencial aqui é considerar a própria historicização dos significa-
dos, as mudanças verificadas nos conteúdos das palavras em função das transformações
históricas, da ação do tempo. Exemplo disso é o que decorre da comparação entre os
significados da palavra ambiente quando confrontadas no Novo Dicionário Aurélio,
edição de 1986, e no Dicionário Moraes, edição de 1844.
No Aurélio, a palavra ambiente aparece como adjetivo: “Que cerca ou en-
volve os seres vivos ou as coisas, por todos os lados; envolvente (...)” No velho Moraes,
ambiente, como adjetivo, aparece assim: “Que cerca, que circunda”. Há uma impor-
tante diferenciação de significado da palavra na versão contemporânea pela explícita
ligação que ela estabelece entre ambiente e seres vivos. Enquanto no Dicionário Mo-
raes, ambiente, substantivo, aparece como “o ar que cerca os corpos, atmospherico,
que rodeia o globo, ou qualquer fluido ou gás que circunda algum corpo (...)”, no
Aurélio, o substantivo ambiente aparece assim: “Aquilo que cerca ou envolve os seres
vivos ou as coisas; meio ambiente (...)”.
O significado contemporâneo da palavra ambiente impõe o entrelaçamento
fundamental entre vida e ambiente: “Desenvolvendo-se graças aos recursos ofereci-
dos pelo ambiente que os rodeia, os seres vivos mantêm com ele relações de tal modo
estreitas que a sua paragem irreversível significa a morte. As noções de ‘ambiente’ e
de ‘organismo vivo’ são, portanto, necessariamente complementares e somente a abs-
tração pura pode isolar um organismo do seu ambiente” (Brun, B., Lemonnier, P.;
Raison, J.P.; Roncayolo, M., 1986, p. 11).
Rigorosamente, a categoria ambiente deve englobar tanto os organismos vivos
(os elementos bióticos da realidade ambiental) quanto os elementos abióticos, especifi-
camente os complexos climáticos, hidrográficos e edáficos. Se há sentido didático-
expositivo nessa distinção, no fundamental é preciso ter em conta as interconexões entre
os fatores bióticos e abióticos de que é exemplo o seguinte: “A arbitrariedade desta
classificação aparece já no fato de os fatores edáficos serem em grande parte condiciona-
dos pela atividade de seres vivos como as minhocas ou pela presença de matérias orgâni-
cas que, depois de morrerem, se depositam no solo” (Brun et alli, 1986, p. 14).
Para efeito de exposição, os fatores bióticos são desdobrados, destacando-
se neles os elementos decorrentes da ação antrópica, isto é, as formas concretas da
vida social e suas incidências sobre as outras dimensões constituintes do ambiente.
Assim, haverá abordagem abrangente do ambiente quando forem conside-
rados, em suas especificidades, tanto os elementos abióticos e bióticos do ambiente,
quanto suas inter-relações. Isso supõe tratamento teórico-prático que deverá mobili-
36
zar tanto as ciências físicas e da terra, quanto as ciências biológicas e da vida e as
ciências sociais e humanas, além da filosofia.
Tal exigência de tratamento global da realidade não pode ser entendida
como mera justaposição de disciplinas. O que efetivamente está posto aqui é a
necessidade de articulação coerente entre “olhares” e metodologias distintas. A simples
mistura acrítica de métodos e conceitos, por vezes incompatíveis entre si, só produzirá
ecletismo e incoerência. A justaposição de disciplinas, colocadas lado a lado, estanques
e impermeáveis ao que não pertence às suas tradições específicas, continuará a resultar
em conhecimento fragmentado e falseado, em não-conhecimento efetivo.
Assim, a globalidade do objeto ambiente, a crise ambiental contemporâ-
nea e as limitações manifestas dos enfoques disciplinares impõem a necessidade de
abordagem interdisciplinar e, mais que isso, a grande meta da transdisciplinaridade.
Além de equipes multidisciplinares e de esforço de integração interdisciplinar, a
construção da transdisciplinaridade ocorrerá quando as disciplinas, mobilizadas para
a compreensão da realidade ambiental, forem permeáveis umas às outras, puderem
dialogar entre si; enfim, forem capazes de construir um território comum de lingua-
gens, conceitos e preocupações.
Não se trata em absoluto de negar a importância do enfoque disciplinar, de
retirar-lhe a legitimidade, mas de afirmar a necessidade de verticalização ainda maior
dos estudos disciplinares. O que está sendo dito aqui é que, ao lado do esforço de
aprofundamento vertical dos estudos disciplinares, o objeto ambiente exige perspec-
tiva heurística, que integre métodos e teorias, que busque a totalidade.
Esse caminho/meta, a transdisciplinaridade, não é novidade, não é inédito.
Na verdade, as ciências, até a voga positivista no século XIX, eram amplamente inte-
gradas, isto é, os objetos do conhecimento científico eram considerados em suas inte-
rações como complexos de determinações que exigiam métodos de abordagens abran-
gentes. Exemplos disso são a filosofia de Aristóteles, o enciclopédico cientista-filóso-
fo, e de Kant, igualmente universal em sua reflexão. A existência, até pouco tempo
atrás, de um ramo do conhecimento como a História Natural, que envolvia estudos de
geologia, paleontologia, botânica, zoologia, genética etc., é prova das possibilidades
do diálogo que se quer retomar.
Trata-se, assim, de tentar reconstituir, em bases mais sólidas e amplas, os
nexos interdisciplinares ocultos pela febre das especializações. Nesse sentido, o
trabalho de reconstituição da perspectiva interdisciplinar assemelha-se ao da arque-
ologia, a recuperação e identificação dos vestígios de uma viagem compartilhada,
os sinais de uma caminhada conjunta, que, a título de exemplo, poderia ser assim
sintetizado: ... Malthus, leitor de Petty; Darwin, leitor de Malthus; Marx, leitor de
Petty, Malthus e Darwin...
Não se tome a lista anterior como juízo de valor, mas como testemunho de
uma certa tradição intelectual marcada pelo universalismo das referências, pela inter-
conexão entre as ciências e a filosofia. O que se põe nesse sentido é a exigência da
construção de metodologia que consiga articular as várias disciplinas num todo coe-
rente, capaz de compreender o ambiente, realidade globalizante por excelência.
37
O PROBLEMA
Certo pensador do século XIX disse uma vez que os homens não se colo-
cam problemas que não podem resolver. Não se tome a fase como arroubo ufanista.
Trata-se, na verdade, da constatação de que tanto a eleição de problemas quanto
dos métodos de se os enfrentar são realidades histórico-sociais. Em outras palavras,
a humanidade só admite como problema e busca solucionar realidades que têm
incidência coletiva, historicamente condicionadas. Assim, se são tão velhas quanto
a humanidade as práticas predatórias sobre a natureza, tais questões só se universa-
lizam — inserem-se nas preocupações comuns de indivíduos e instituições, da ciência
e da tecnologia — na medida em que a universalização da apropriação do espaço
natural, da generalização da produção, da expansão planetária da economia, ameaça
efetivamente a sobrevivência da espécie.
Trata-se, na verdade, de uma descoberta múltipla, cujas conseqüências signi-
ficam rediscutir a velha certeza de uma tradição filosófico-científica baseada no deter-
minismo, no otimismo tecnológico, num antropocentrismo estreito, numa dimensão do
racionalismo, a racionalidade instrumental, tomada como absoluta. Essa tradição filosó-
fico-científica é a base, no plano do pensamento, das mentalidades, de uma ampla
vitória política, técnica, material — a modernidade, o iluminismo, o capitalismo. Suas
expressões mais acabadas são o industrialismo, a revolução urbana, o individualismo.
Suas conquistas técnico-econômicas são incontrastáveis — a explosão da produtivida-
de, da ciência, da tecnologia, a multiplicação dos meios e modos de produção da riqueza.
Este é o cenário descrito por Karl Polanyi no seu A Grande Transformação,
quando descreve aquele longo período do auge da dominação capitalista, que vai do
final das Guerras Napoleônicas (1815) ao início da Primeira Guerra Mundial. Eric
Hobsbawn, num outro registro, chama esse período de “Longo Século XIX” e o data
como indo da Revolução Francesa, em 1789, até a Revolução Russa, em 1917. Há,
nas duas periodizações, a mesma tese. Os dois registros apontam para o auge da mo-
dernidade, a longa trajetória da estabilidade do otimismo burguês, marcados pela
“Pax Britannica”, pela Revolução Industrial, pelo Estado Liberal.
Contudo, se aquele era o tempo da certeza e da confiança de Condorcet e
Laplace, era também o tempo do início de um questionamento profundo daquela mo-
dernidade triunfante. Tempo da descoberta dos limites e das contradições da moderni-
dade. Tempo de Marx, de Nietzsche, de Freud. Tempo da descoberta da 2ª lei da
termodinâmica, da entropia, da complexidade, da indeterminação, da irreversibilidade.
É nesse contexto, como um capítulo de uma descoberta maior, que se põe
a questão ambiental. A invenção do conceito de ecologia, em 1866, por Haekel, a
descoberta das interações complexas entre as espécies vivas e o meio onde vivem são
sintomas daquela frase com que se abriu este capítulo. Os homens não se colocam
problemas que não podem resolver. Dito de outro modo, a definição do que é problema,
a atribuição de suas determinações e responsabilidades e a mobilização de métodos e
meios de enfrentá-los são realidades históricas, socialmente condicionadas, isto é, são
realidades marcadas pelo conflito, pelas diferenças de pontos de vista e interesses.
38
No referente ao Programa de Ensino e Pesquisa — “Biodiversidade, Po-
pulação e Economia” —, procuramos atender às exigências do Edital PADCT/CI-
AMB/90, elegendo um “problema” a ser investigado que permitisse atender a qua-
tro objetivos básicos: a) formação de recursos humanos em ciências ambientais a
partir de perspectiva abrangente; b) desenvolvimento de metodologia de estudos
ambientais interdisciplinares; c) subsídios à montagem de políticas ambientais nos
planos empresarial, estatal, público, não-estatal, individual; d) desenvolvimento de
programa de educação ambiental.
A escolha do problema objeto da pesquisa obedeceu, de fato, às seguintes
questões. De um lado estão as determinações decorrentes da praticidade operacional.
Escolheu-se assim, como área para a pesquisa de campo a bacia do Rio Doce pelas
seguintes razões: 1) parte da equipe já vinha realizando ali trabalhos de pesquisa; 2)
a existência de vários estudos anteriores, como os realizados pelo Cetec e pela Coo-
peração Franco-Brasileira; 3) a proximidade de Belo Horizonte, o que permitia logística
e operacionalização convenientes.
De outro lado, a região em tela é como que um microcosmo dos grandes
problemas ambientais brasileiros, por vários aspectos: 1) por ter sido até o início deste
século área dotada de ampla cobertura de Mata Atlântica, hoje quase inteiramente
devastada; 2) por ser palco de importantes atividades econômicas, que produzem
impactos ambientais significativos (grandes projetos de mineração, siderurgia de grande
porte, garimpo de ouro, reflorestamento com a monocultura de eucaliptos, indústria
de celulose de grande porte); 3) por abrigar conglomerado urbano metropolitano — o
Vale do Aço; 4) por abrigar parques naturais (Caraça e Rio Doce), permitindo compa-
rações e estudos de parâmetros bióticos entre áreas preservadas e áreas fortemente
impactadas por atividades antrópicas.
O objeto-problema implicou, desde logo, a necessidade de se construir uma
visão abrangente, na mobilização de instrumentos interdisciplinares. Mais que isso, o
objeto exigiu a interação intra- e interinstitucional, o desenvolvimento de métodos
gerenciais complexos, a constituição de uma sistemática de práticas interdisciplinares,
a busca de parceria e contatos com o poder público em seus variados planos, com as
empresas e comunidades locais.
A ninguém escapa a complexidade do desafio que se colocava para nós e se
coloca para todos quantos se proponham a contribuir para o enfrentamento da questão
ambiental a partir da realidade contemporânea e da constatação do caráter inquestiona-
velmente interdisciplinar que deve presidir esse processo. Desafio tão mais exigente
quanto mais se sabe das dificuldades para a superação de práticas consolidadas, de
mentalidades e tecnologias consagradas, quanto mais se explicita o caráter político,
os enormes interesses econômicos e sociais envolvidos nos processos de produção e
reprodução material. Trata-se, enfim, de reconhecer que a questão ambiental, pela
abrangência de suas implicações e determinações, evidencia o entrelaçamento, a in-
terdependência das dimensões físicas, bióticas, sociais, econômicas, culturais e políti-
cas que constituem a realidade ambiental.
39
A ÁREA DA PESQUISA DE CAMPO
Apesar de cobrir apenas 10% do território nacional, a região sudeste abriga
quase 50% da população do país e constitui-se no maior centro industrial e comercial
da América Latina. Tal concentração industrial e densidade demográfica causam vá-
rios impactos sobre os recursos naturais, entre os quais os cursos d’água, que têm sido
grandemente degradados.
O Estado de Minas Gerais é considerado um dos mais ricos do país em
recursos naturais, principalmente em recursos hídricos, possuindo oito grandes bacias
hidrográficas, o que lhe valeu ser chamado de a “caixa d’água do Brasil”. Destaque-se
a bacia do Rio Doce, que cobre uma área total de 83.400 km2 e abriga 3,1 milhões de
pessoas, distribuídas em 221 municípios, se considerarmos aí sua porção no Estado do
Espírito Santo (Governo do Brasil, 1991).
Com uma extensão de 875 km, o Rio Doce desempenha, juntamente com
seus afluentes, um papel fundamental na economia da região, fornecendo água para
uso doméstico, industrial e agrícola, geração de energia elétrica etc. e funcionando
também como canal receptor e transportador da carga de esgotos e rejeitos produzidos
por essas atividades.
Entre os principais impactos antrópicos presentes em praticamente toda a
extensão do Rio Doce, destacam-se o seu elevado grau de assoreamento (com a con-
seqüente elevada carga de sólidos em suspensão), diversas formas de poluição industrial
(rejeitos de usinas siderúrgicas, mineração e garimpo, como óleos e graxas, metais
pesados e fenóis), rejeitos da agroindústria (notadamente agrotóxicos, adubos e ferti-
lizantes), além do recebimento de esgotos domésticos da maioria das cidades de sua
bacia hidrográfica.
Diante de tal mosaico de impactos, uma avaliação da qualidade das águas
da bacia do Rio Doce, incluindo a diversidade biótica existente, é de grande
importância para a manutenção das atividades sócio-econômicas da região, além de
ser fundamental para a preservação e proteção de seus ecossistemas.
Considerando o elevado grau de impactos a que esses ambientes têm sido
submetidos, seu estado de degradação, a julgar pelos recentes estudos realizados sobre
a bacia (Cetec, 1988; Cooperação Franco-Brasileira, 1990; Guerra, 1992), e o pequeno
avanço da política ambiental para a proteção dos ecossistemas lóticos, podemos afirmar
que estudos visando identificar espécies e/ou grupos de espécies adaptadas ou resis-
tentes às diversas formas de impactos antrópicos características da bacia são funda-
mentais para a definição de políticas de recuperação e proteção desses ambientes.
Tais estudos só poderão ser levados a cabo com a participação efetiva das empresas,
governos e comunidades da região, os quais deverão engajar-se como parceiros no
processo e co-responsáveis pela recuperação e proteção desses ecossistemas, em vez
de serem apenas causadores da atual degradação.
Do ponto de vista da diversidade biológica, cursos d’água são ambientes
ricos em espécies e geralmente bastante ameaçados, sobretudo pela degradação dos
seus hábitats e invasão de espécies (Allan & Flecker, 1993). Em conseqüência, ne-
40
cessitam, quase sempre, de medidas de restauração e proteção. Por outro lado, nossa
habilidade para conduzir tais questões está freqüentemente limitada por um conheci-
mento inadequado de dados básicos dos ambientes. Em conseqüência, estudos volta-
dos para a descrição de espécies, inventários de sua abundância e distribuição, intera-
ções entre esses ecossistemas e as atividades antrópicas desenvolvidas em sua bacia
de drenagem devem ser implementados, de forma a permitir a definição de políticas
de proteção desses ecossistemas e sua utilização racional.
Entre as atividades econômicas desenvolvidas na bacia do Rio Doce, as
ligadas à siderurgia, mineração e garimpo, agropecuária e reflorestamento com a mo-
nocultura de eucalipto exigem grande consumo de água. Paradoxalmente, verifica-se
que os maiores consumidores de água da bacia também são seus maiores poluidores.
Em conseqüência, os rios da região apresentam hoje um elevado grau de deterioração
da qualidade de suas águas, evidenciada pelo aumento de sua turbidez e por elevados
valores de DBO e DQO, entre outros, aspectos problemáticos, com consideráveis
impactos negativos para sua biota, inclusive redução da produção pesqueira. Além
disso, tais impactos resultam em sérias ameaças às populações humanas da bacia, uma
vez que somente na bacia do Rio Piracicaba, um dos maiores afluentes do Rio Doce,
dos 10,5 m3/s retirados para as diversas atividades, 7,1 m3/s retornam como água servida,
sem qualquer tratamento prévio (Cooperação FrancoBrasileira, 1990). Ressalte-se que
nenhuma das 16 cidades localizadas nessa que é a principal bacia contribuinte do Rio
Doce tem sistema de tratamento de esgoto doméstico. Esses problemas ambientais
têm reflexo direto na saúde pública e na qualidade de vida da população da região,
cuja densidade demográfica é da ordem de 124 hab./km2, enquanto a média no Estado
de Minas Gerais é de 27,4 hab./km2 (Brasil-IBGE, 1991).
Mais especificamente, segundo dados do Cetec (1988) e da Cooperação
Franco-Brasileira (1990), estimou-se que somente a Companhia Siderúrgica Belgo-Mi-
neira (CSBM) despejava, em 1992, no Rio Piracicaba, 80.000 m3 de efluentes líquidos,
contendo inúmeras substâncias tóxicas, sem nenhum tipo de tratamento. A carga de
sólidos totais em suspensão lançada foi estimada em 93.205 kg/dia, a demanda química
de oxigênio, em 71.855 kg/dia e a demanda bioquímica de oxigênio, em 9.558 kg/dia. A
toxicidade estimada de tais efluentes foi da ordem de 7.500 kg Equitox/dia. Tais níveis
de poluição são tão elevados que as cidades ribeirinhas de João Monlevade, Rio Piracicaba,
Nova Era, Coronel Fabriciano e Ipatinga passaram a não captar água para seu abasteci-
mento no Rio Piracicaba, utilizando-se de seus tributários ou de fontes subterrâneas. Até
para consumo industrial a água do Rio Piracicaba vem apresentando restrições.
Em conseqüência das atividades agropecuárias na região, quantidades con-
sideráveis de fertilizantes e agrotóxicos são carreados para os cursos d’água, conforme
atestam os níveis de organoclorados (DDT, Dieldrin, Endrin, Mirex) verificados pelo
relatório da Cooperação Franco-Brasileira (1990) e Cetec (1988).
Uma análise da qualidade da água com base nas duas pesquisas menciona-
das anteriormente permitiu que Guerra (1992) apontasse as seguintes características
para as águas da bacia do Rio Piracicaba:
41
altos índices de contaminação bacteriológica;
presença de elevada carga de matéria orgânica, agravada por baixa biode-
gradabilidade;
presença constante de pesticidas;
altas concentrações de óleos, graxas e fenóis;
altas concentrações de mercúrio;
alta carga de sedimentos.
42
Por outro lado, a região do Vale do Aço constitui hoje o maior parque siderúr-
gico do país. Tanto a demanda por carvão vegetal para usinas como as atividades
agropastoris estabelecidas nas suas proximidades (região de influência de Governador
Valadares) contribuíram significativamente para a redução drástica da vegetação
original. Estima-se que menos de 7% da área possui hoje cobertura florestal (Fonseca,
1983; 1985). Destes, menos de 1% está em estágio primário (Mittermeier et alli, 1982;
Fonseca, 1985).
A Mata Atlântica é caracterizada por alta diversidade e endemismo de es-
pécies de plantas, insetos, répteis, pássaros e mamíferos (Muller, 1973; Jackson, 1978;
Haffer, 1974; Mittermeier et alli, 1982; Fonseca & Kierulff, 1989). Mesmo dentro do
grande bioma Mata Atlântica, existem variações regionais em padrões biogeográficos,
com vários centros de endemismo reconhecidos, incluindo-se aí a bacia do Rio Doce.
Como exemplo, no refúgio proposto para a região do Rio Doce (Kinzey, 1982), cinco
das seis espécies de primatas da Mata Atlântica ocorrem na área com subespécies
endêmicas. No entanto, o grau de devastação experimentado pela região faz com que
este seja considerado um dos ecossistemas tropicais mais ameaçados de todo o mundo.
Dada a alta taxa de perda de cobertura florestal, várias espécies típicas são hoje con-
sideradas altamente ameaçadas de extinção (Bernardes et alli, 1990).
Em vista da progressiva redução da biodiversidade típica dessa formação,
faz-se necessário o estudo dos impactos causados pelas diversas atividades antrópicas
sobre a fauna, flora e hábitats nativos. Na busca de soluções adequadas, as estratégias
de preservação da diversidade biológica desse ecossistema devem necessariamente
mudar seu eixo de ação, hoje concentradas em parques, reservas e outras unidades de
conservação (representando menos de 1% da superfície da região), para áreas sob
impacto humano direto. A baixa disponibilidade de remanescentes de vegetação
original e a pequena extensão e alto grau de isolamento dos fragmentos secundários
restantes, associadas ao precário e limitado sistema de unidades de conservação da
região, tornam imperativos esforços nesse sentido (Fonseca, 1989).
Estudos preliminares em áreas focais do Vale do Rio Doce indicam que a
perda de espécies da fauna e flora locais atinge proporções alarmantes (Fonseca, 1988;
Stallings, 1988). Por outro lado, as informações sugerem que florestas naturais em
regeneração e áreas de uso múltiplo (reflorestamentos sob diferentes práticas de ma-
nejo, por exemplo) podem desempenhar um papel de extrema importância na manu-
tenção de uma fração significativa da biodiversidade local, tornando urgente a pes-
quisa dos parâmetros biológicos desses sistemas (Fonseca, 1989).
43
transformou-se, na segunda metade do século XIX, num entreposto co-
mercial, ponto de encontro de tropas que navegavam pelo rio. Foi com a
construção da estrada de ferro Vitória-Minas, que liga a região do Vale do
Rio Doce ao litoral capixaba, fortemente estimulada pela descoberta de
jazidas minerais no quadrilátero ferrífero, que realmente se consolidou a
colonização da região.
Em 15 de agosto de 1910, a primeira locomotiva entra em Figueiras e
consolida o entreposto comercial. Esse entreposto era parada obrigatória
no comércio através do Rio Doce e, principalmente, na ligação entre as
mercadorias do interior e do litoral.
A exploração de recursos naturais, principalmente a madeira, e a pecuária
fornecem bases sólidas para a colonização regional. A emancipação do
município, em 1931, é atribuída, segundo alguns, à pressão da C. S. Belgo-
Mineira, interessada em comprar terras na região e legalizá-las rapidamen-
te para desmatamento e produção de carvão vegetal para seus altos-fornos.
Em 1942, Figueiras muda seu nome para Governador Valadares, já con-
solidada como pólo regional na ocupação do Vale do Rio Doce. A indústria
madeireira, a agropecuária e o beneficiamento de mica, estimulado pelas
necessidades militares da Segunda Guerra Mundial, trazem o apogeu
para a região. Assiste-se a uma fantástica experiência de degradação
ambiental provocada pelas grandes empresas madeireiras, pelas usinas
siderúrgicas e pela pecuária.
Nas décadas de 1960 e 1970, inicia-se um processo de reversão da ten-
dência de crescimento populacional na região. A floresta natural é de-
vastada, a pecuária moderniza-se e o entreposto comercial é ampliado
com a construção da rodovia Rio-Bahia. Emerge então na região o Vale
do Aço, hoje a área mais dinâmica da bacia do Rio Doce, com suas
grandes plantas siderúrgicas e de celulose. A aceleração da degradação
ambiental dá-se então concomitantemente à prática de reflorestamento
empresarial com a monocultura de eucaliptos, desenvolvido pelas grandes
indústrias siderúrgicas e pela indústria de celulose. A devastação da Mata
Atlântica segue assim até o litoral norte do Espírito Santo.
2. Algumas culturas, como a da cana-de-açúcar e do café, mais a sudeste da
bacia, completam o quadro da história do dramático desencontro entre
atividade econômica e meio ambiente.
Nas duas últimas décadas, mormente no período 1970-1980, tem-se ob-
servado, do ponto de vista demográfico, um enorme esvaziamento popu-
lacional na bacia do Rio Doce, principalmente na área rural. Todas as
microrregiões da bacia perderam população rural em termos absolutos,
sendo que as microrregiões Bacia do Manhuaçu e Mata de Caratinga
perderam mais de 100.000 habitantes.
44
Ao esvaziamento rural contrapõe-se uma relativa urbanização, principal-
mente nos municípios da região siderúrgica do Vale do Aço. Mas, apesar
do crescimento urbano desses municípios, a bacia do Rio Doce, na sua
parte mineira, teve um saldo líquido migratório negativo de 615.259 ha-
bitantes. Caracteriza-se assim como a região que mais perdeu população
em Minas Gerais.
Os dados do Censo Agropecuário de 1985 mostram um aumento relativo
do emprego rural, o que indica certamente uma redução do enorme êxo-
do rural, mas não o suficiente para modificar a característica fundamental
de uma dinâmica demográfica.
3. A dinâmica do setor produtivo da bacia do Rio Doce é relativamente
diversificada. A maior parte da população ainda está empregada no setor
primário da economia, ainda que a maior parcela do valor da produção
seja de responsabilidade do setor industrial. Isso, de alguma forma, re-
flete a característica de enclave relativo das principais atividades
industriais desenvolvidas na região.
Apesar de ter aumentado entre 1980 e 1985, o emprego agrícola não foi
suficiente para se contrapor à queda dos setores secundário e terciário.
A indústria está fundamentalmente assentada nos ramos extrativo, side-
rúrgico e de celulose. Deve-se levar também em conta os complexos
agroindustriais ligados à cana-de-açúcar e o reflorestamento ligado à
produção de carvão vegetal e celulose.
Todas essas atividades têm conseqüências ambientais danosas. A quali-
dade de recursos naturais como a água e o ar fica comprometida em de-
corrência da poluição industrial gerada pelas atividades industriais ou
dos rejeitos da mineração e garimpo. O solo também fica comprometido
pelas atividades de agricultura, pecuária e reflorestamento com a
monocultura de eucaliptos, principalmente no Médio Rio Doce.
4. Os dados dos Censos Agropecuários de 1980 e de 1985 revelam que na
estrutura da agropecuária há uma predominância da produção animal
(51,2%) sobre a vegetal (48,8%). A natureza extensiva da pecuária era
responsável em 1980 por 63% da área de estabelecimentos agrícolas. Gran-
des extensões de terra e pouca absorção de mão-de-obra caracterizavam
a pecuária tradicional de corte e leite da bacia do Rio Doce.
As lavouras temporárias, entre as quais se destacava o cultivo de cana-
de-açúcar, predominavam sobre as lavouras permanentes, com desta-
que para o café.
Apesar de significar apenas algo em torno de 5,0% da área agrícola, as
florestas plantadas de eucaliptos têm indiscutível importância, seja por
sua enorme concentração regional, seja por funcionar como fonte gera-
dora de matéria-prima para o setor industrial.
45
Outra característica da mobilidade espacial da população é a alta incidên-
cia de trabalhadores temporários (16%), prevalecendo sobre trabalhado-
res permanentes (11,7%) e parceiros (12%).
Como discutido anteriormente, entre 1980 e 1985 houve uma tendência
para a substituição da atividade pecuária pela agrícola, o que contribuiu
para aumentar o emprego rural e reduzir relativamente a emigração do
campo. Parte do crescimento das atividades agrícolas ocorreu concomi-
tantemente ao aumento do número de propriedades com tamanho infe-
rior a 100 hectares.
5. Finalmente, vale ressaltar que, de acordo com o relatório técnico da Co-
operação Franco-Brasileira (1990), na bacia do Rio Doce, a bacia con-
tribuinte mais problemática do ponto de vista da degradação ambiental
é a do Rio Piracicaba. Conforme detalhado anteriormente, a bacia do
Rio Piracicaba é um verdadeiro mosaico de problemas ambientais, pois
concentra numa área relativamente pequena (em torno de 6.000 Km2)
um conjunto de atividades econômicas importantes e altamente impac-
tantes. Esse cenário é agravado não só por suas condições topográficas
acidentadas, como também pelo processo de ocupação rápido e sem
planejamento.
Sem perda de rigor e da centralidade da bacia do Rio Piracicaba como
região privilegiada da pesquisa de campo, na medida das necessidades
dos diversos temas pesquisados, alargou-se a área de estudos, incorpo-
rando regiões limítrofes àquela bacia para exame comparativo de parâ-
metros ambientais. Assim, ao lado da pesquisa para avaliar os parâmetros
físico-químicos e biológicos da qualidade da água do Rio Piracicaba e
afluentes - base principal da integração metodológica interdisciplinar per-
seguida neste projeto -, foram incorporadas ao estudo outras áreas do
Médio Rio Doce . É o caso dos seis pontos de coleta de amostra de água
estabelecidos no próprio Rio Doce e um no Ribeirão Ipanema e da
incorporação de área de Mata Atlântica do município de Caratinga para
estudos de pequenos mamíferos e comunidades de primatas.
46
A R E G I Ã O
2. A OCUPAÇÃO DO
TERRITÓRIO E A DEVASTAÇÃO
DA MATA ATLÂNTICA
.....................................
Fausto R. A. Brito (Coord.)
Ana Maria H. C. de Oliveira
André C. Junqueira
M
inas Gerais, como o próprio nome indica, é
uma região marcada por riquezas naturais.
A natureza propiciou-lhe uma abundância
de recursos não-renováveis, como o ouro e o miné-
rio de ferro, e de recursos teoricamente renováveis,
como as florestas exuberantes da Mata Atlântica.
Tais privilégios em riquezas naturais fo-
ram percebidos pelo colonizador ávido em metais
preciosos, sem os quais o Mercantilismo não faria
sentido para as grandes metrópoles. Uma coloniza-
ção, a princípio litorânea, demorou a superar os obs-
táculos naturais, serras e densas florestas, que prote-
giam as Minas Gerais.
As primeiras entradas e bandeiras perse-
guiam índios e procuravam pedras preciosas. Mas
somente depois de quase dois séculos do início da
colonização, com a descoberta de ouro nas minas do
Tripuí, é que se iniciou o processo de ocupação regi-
onal. Uma história que vai ter sempre a marca das
complexas relações entre a população, com suas de-
sigualdades, e a natureza na sua heterogeneidade de
recursos nem sempre renováveis.
O ouro de Minas Gerais, no século XVIII,
ajudou decisivamente na emergência da Revolução
Industrial Inglesa. A riqueza não durou muito. Meio
século foi suficiente para demonstrar que os recursos
naturais, dada a tecnologia da época, eram finitos.
No século XIX, Saint Hilaire e outros naturalistas deslumbraram-se com a
riqueza da flora e fauna da Mata Atlântica mineira. O geólogo alemão Wilhelm Ludwig,
Barão de Eschwege, e o engenheiro francês Jean Antoine Félix Dissande de Monlevade
ficaram fascinados com as nossas disponibilidades de minério de ferro e de outras rique-
zas minerais. Ambos se dedicaram à transformação manufatureira do minério de ferro.
Outro engenheiro francês, Henry Gorceix, foi convidado pelo Governo Im-
perial para criar e dirigir a Escola de Minas de Ouro Preto, em 1876. Se as riquezas
naturais delineavam uma alternativa de desenvolvimento regional, era necessário for-
mar uma elite para comandá-lo tecnicamente.
É de Gorceix a síntese: “Minas é um coração de ouro em um peito de ferro”.
A verdade é que boa parte do ouro já havia sido transferida para a Europa e bem servi-
do aos ingleses, principalmente. O que restou, o ouro em lavras de maior profundida-
de, explorado também por ingleses, estava longe de se constituir em recurso estratégi-
co para o desenvolvimento regional.
Realmente, nossas maiores riquezas eram não só o “peito de ferro”, mas
também as densas florestas, as quais Gorceix não mencionou. Ele sabia, porém, como
engenheiro metalurgista, que sem elas de pouco valeria o peito de ferro.
A descoberta, no início deste século, da imensidão do quadrilátero ferrífero
começou a desenhar o caminho por onde trilharia o desenvolvimento mineiro, princi-
palmente na sua região leste. O binômio minério de ferro-reservas florestais forneceria
a combinação estratégica. Faltava, evidentemente, o capital.
Algumas décadas foram consumidas na sua procura através da definição de
uma política siderúrgica, importante para Minas e fundamental para a economia brasi-
leira. O esforço mineiro, comandado pela elite técnica formada na Escola de Minas de
Ouro Preto, foi no sentido de desenvolver uma siderurgia a carvão vegetal. Não foram
poucas as controvérsias sobre o papel do Estado, do capital privado e sobre qual tecno-
logia seria mais adequada. Como pano de fundo, interesses e concepções políticas di-
vergentes digladiavam-se na arena republicana.
Minas definiu uma política siderúrgica na qual conviveram o capital estran-
geiro e o estatal e, como vinha se delineando historicamente, como uma radical opção
pela tecnologia de redução a carvão vegetal. Nos grandes debates, principalmente
quando se tratava da participação do capital estrangeiro na mineração, era feito o alerta
de Artur Bernardes: “Minério não dá duas safras”. Infelizmente, ninguém alertou:
“Nossas reservas florestais não dão necessariamente duas safras”. O próprio Bernardes
chamou a atenção para a “exploração vampírica de nossas matas”. Faltou, porém, um
apelo político contundente.
Esses recursos naturais abundantes, somados a uma população que oferecia a
força de trabalho necessária, foram o fundamento de uma opção de crescimento econô-
mico em que as metas de curto prazo se sobrepuseram às de longo prazo. O resultado,
como podemos observar hoje, é que no leste de Minas Gerais se exauriram as riquezas
naturais, minérios e florestas, uma quantidade enorme de sua população emigrou e mui-
to pouco se acrescentou à qualidade de vida dos que permaneceram. Foi uma combina-
50
ção socialmente trágica de crescimento econômico, concentração fundiária, desigualda-
de social e, fundamentalmente, degradação ambiental. Seria, utilizando um conceito
moderno, um exemplo indiscutível de Desenvolvimento Não-Sustentado no sentido
clássico consagrado pelas Nações Unidas, ou seja, a completa desarmonia entre o desen-
volvimento e o meio ambiente, por um lado, e, por outro, uma falta de eqüidade entre a
satisfação das necessidades da geração presente e das gerações futuras (COMISSÃO
MUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1988).
A siderurgia, no entanto, não foi a única responsável pela degradação ambi-
ental. O café, a pecuária, a indústria madeireira, a siderurgia a carvão mineral, a fabrica-
ção de celulose, entre outras atividades, também foram responsáveis pelo desmata-
mento, o que, evidentemente, não deixaremos de levar em conta.
Quando falamos em degradação ambiental, não nos referimos somente à ero-
são, à poluição de água e ar e às questões de qualidade de vida ambiental, que são proble-
mas típicos do leste mineiro. Neste trabalho vamos destacar fundamentalmente a perda
de biodiversidade expressa na destruição de cerca de 90% da área original da Mata Atlân-
tica em Minas Gerais. Entre os ecossistemas brasileiros, foi este o mais degradado. E a
maior expressão dessa degradação é, sem dúvida, a parte mineira da Mata Atlântica, a
chamada Região Leste do Estado, composta pelas bacias dos rios Jequitinhonha, no ex-
tremo norte, Mucuri, Doce e Paraíba do Sul, no extremo sul, e delimitada a leste pelas
fronteiras com a Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro e a oeste pela Serra do Espinhaço.
Esta é a nossa região de trabalho, que pode ser visualizada nos Mapas 2.1 e
2.2. No primeiro temos a Mata Atlântica na sua extensão original; no segundo, os rema-
nescentes atuais, nem sempre primários.
Em se tratando de Minas Gerais, o desmatamento assume uma proporção
incrível. Sua economia está intimamente ligada a ele. Se comparamos o balanço ener-
gético de Minas Gerais com o do Brasil, verificamos como a biomassa ainda é uma
fonte de energia fundamental para o nosso Estado.
TABELA 2.1.
...................................................
BALANÇO ENERGÉTICO (%) - MINAS GERAIS E BRASIL (1989)
...................................................
Total
51
TABELA 2.2.
...................................................
CONSUMO DE CARVÃO ENFORNADO - MINAS GERAIS (1978/1987)
...................................................
Gusa não-integrado 5.885.672 12.513.141
Ferro liga 737.186 1.718.571
52
tizados pelas atividades econômicas. Foi por essa razão que procuramos estabelecer histori-
camente como os diversos atores, na cena política, compreendiam o desenvolvimento regi-
onal e a utilização dos recursos naturais estratégicos segundo seus interesses ou ideologias.
Evidentemente, as elites importavam uma concepção de utilização das forças
produtivas gerada pela ideologia da racionalidade instrumental, tão bem descrita por Max
Weber, cuja conseqüência mais importante era a fé cega na ciência e no progresso técnico.
Os engenheiros da Escola de Minas ou estrangeiros que passavam pelas Minas
Gerais ficavam deslumbrados com os recursos naturais e com as suas possibilidades de combi-
nações produtivas. Os políticos, cujas dimensões ideológicas privilegiavam quase sempre o
imediato, encontravam na opção dos engenheiros a âncora para seus interesses de curto prazo.
Como pano de fundo, a divisão internacional do trabalho colocava o Brasil, à
época, como produtor de matéria-prima e importador de tecnologias e investimentos
segundo os interesses dos grandes cartéis da siderurgia, sem dúvida um dos grandes
atores que definiam o modo de utilização dos recursos naturais em Minas Gerais.
É evidente que o Brasil precisava criar seu departamento de produção de bens
intermediários para desenvolver seu capitalismo. Mas a opção pela tecnologia de redução a
carvão vegetal, pelo menos para parte do setor, colocou uma questão interessante para a análi-
se da ideologia do desenvolvimento: politizou a questão do minério de ferro e despolitizou a
questão das florestas ou das riquezas de fauna e flora. Mesmo assim, na questão mineral, a
exaustão dos recursos acabou ficando em segundo plano diante de quem deveria explorá-los.
O desenvolvimento da região leste de Minas Gerais foi também produto
dessas contradições políticas e ideológicas: a história ambiental não poderia cometer
essa omissão metodológica.
53
vência dos mineradores e condições para enfrentar as epidemias. Nascem Ouro Preto,
Antônio Dias, Padre Faria, Bandeirantes e muitos outros ao longo do Ribeirão do Car-
mo. O leste de Minas Gerais começava a ser povoado (Pimenta, 1970b).
O povoamento foi rápido, movido por intensa migração. A administração colonial
mobilizou-se no sentido de manter o controle político e em 1709 criou a Capitania de São
Paulo e Minas do Ouro. Em 1711 surgem as duas primeiras vilas do leste mineiro: Ribeirão
do Carmo (Mariana) e Vila Rica (Ouro Preto). Foi tão intensa a corrida para o ouro que, no
início do século XVIII, Minas Gerais já possuía cerca de 30.000 habitantes (Pimenta, 1970b).
Em 1714 foi criada a Vila do Príncipe, atualmente Serro. O caminho que ligava
as minas do Mato Dentro de Vila Rica, Ribeirão do Carmo e Vila do Príncipe “passava
por Catas Altas do Mato Dentro, Itabira do Mato Dentro e Itapanhoacanga (depois dis-
trito do Serro), prosseguindo ainda para as vilas do Jequitinhonha, Tejuco e Minas No-
vas” (RBG, 1958). As densas florestas do Rio Doce e do Mucuri eram contornadas: pra-
ticamente inacessíveis, serviam de proteção natural para as regiões mineradoras.
No dia 2 de dezembro de 1720, El-Rei Dom João V cria a Capitania de
Minas visando garantir os objetivos do Sistema Colonial, que dependiam do controle e
monopólio do comércio do ouro e diamante extraídos. Sua população já era estimada
em mais de 200.000 habitantes, entre os quais 50.000 escravos.
TABELA 2.3.
...................................................
Comarcas
POPUL
OPUL AÇÃO DE MINAS GERAIS (1776-1821)
ULAÇÃO
1776 1821
Vila Rica 78.618 75.573
Rio das Mortes 82.781 119.520
Sabará 99.576 213.617
Serro 58.794 83.626
...................................................
Paracatu - 21.772
Total 319.769 514.108
Fonte: “Taboa dos habitantes da Capitania de Minas Gerais, 1776”, atribuída a Claudio Manuel da
Costa: Notícias e Reflexões Estatísticas da Província de Minas Gerais pelo Barão de Eschwege; apud
Maxwell, 1977.
54
O declínio da mineração do ouro provocou um deslocamento da população, reduzindo
o número de habitantes de Vila Rica e expandindo outras vilas.
Vale a pena fazer um parêntese: devemos ser cuidadosos quando falamos de
migração numa economia escravista. Sabemos bem que um escravo não é um ser livre,
é propriedade do seu senhor. Nada impede que o senhor migre e leve com ele seus
escravos. Isto certamente aconteceu em Minas Gerais (RBG, 1958).
Os “homens livres da ordem escravocrata” não eram poucos e, pobres à pro-
cura da sobrevivência, redistribuíam-se regionalmente segundo a dinâmica de outras
atividades econômicas que se expandiam além da mineração: a agricultura, a pecuária
e manufatura (RBG, 1958). O mesmo podemos dizer dos senhores e seus escravos que
emigraram em grande quantidade para novas regiões de atração, como a Zona da Mata,
onde começava a emergir a economia cafeeira (Iglésias, 1958).
Como afirmou Maxwell, “Minas Gerais, entretanto, devia continuar uma
sociedade essencialmente urbana pelo último quartel do século XVIII e o desenvolvi-
mento da economia regional deveria resultar da própria demanda urbana. A sociedade
mineira no século XVIII jamais foi constituída apenas por senhores e escravos, pelo
menos no sentido em que tais termos podem ser aplicados às grandes propriedades
agrícolas das zonas litorâneas” (Maxwell, 1977).
Os impactos sobre a Mata Atlântica, apesar da falta de dados empíricos, não
devem ser subestimados. Já no início do século XIX, Saint-Hilaire chamava atenção para o
desmatamento e para as queimadas que comprometiam a flora e a fauna (Saint-Hilaire,
1975). Tanto a atividade mineradora quanto a agropecuária, desenvolvidas sem nenhuma
preocupação de preservação, tinham efeitos devastadores. Não deve ter sido pequeno o
uso da floresta como energia, através da transformação em carvão ou para o próprio consu-
mo doméstico. Isso pode ser estimado pelo tamanho da população que se constituía numa
demanda a ser atendida. A tradição de grandes produtores de lenha e carvão assumida por
alguns municípios como Ouro Preto e Mariana vem certamente dessa época.
Entretanto, à exceção do sul da Zona da Mata e das regiões mineradoras, a
Mata Atlântica foi praticamente contornada. Fazia parte da política colonial manter
virgens as florestas ao norte da Zona da Mata e nos vales dos rios Doce, Mucuri e
Jequitinhonha para evitar “os descaminhos do ouro”. A rota permitida e fiscalizada era
o chamado “caminho novo”, aberto por Garcia Rodrigues em 1720, que tinha o traçado
da futura ferrovia União-Indústria, ou seja, seguia o sudoeste da Zona da Mata e do
Vale do Paraíba.
Nesse caminho havia “pousos” para que as tropas descansassem e “regis-
tros” onde a coroa exercia sua rigorosa fiscalização. O primeiro registro em Minas foi
instalado onde a estrada penetrava na floresta, o Registro do Campo, hoje Barbacena.
Do lado de Minas, o último posto para cobrança de impostos era Matias Barbosa, o
maior aglomerado populacional da Zona da Mata, apesar de pequeno e economica-
mente pouco expressivo (RBG, 1958).
Até o século XIX o médio Rio Doce, o vale do Rio Mucuri e a parte norte do
vale do Rio Jequitinhonha eram quase inacessíveis: densas florestas habitadas por na-
55
ções indígenas muitas vezes hostis tornavam a região extremamente perigosa. Era o
caso dos Aimorés, que, em guerra com os Tapajós, foram se refugiando na mata: “Lon-
ge de tudo e de todos, perderam seu próprio nome e se transformaram nos Botocudos
que desde o final do século XVII ocupavam a região” (José, 1958).
Entretanto, com a decadência da mineração em Vila Rica e sabendo da exis-
tência de ouro no Vale do Suaçuí, o Governo do Distrito das Minas promoveu, em
1758, uma expedição chefiada pelo Guarda-Mor João Peçanha e pelo Vigário Francis-
co Martins. A meta era explorar o Rio Suaçuí Grande desde a sua nascente, perto da
Vila do Príncipe, até sua foz, no Rio Doce, assim como o Suaçuí Pequeno desde o Rio
Doce até a região onde haviam sido descobertas as minas de ouro. Aí foi construído um
quartel e uma capela, onde surgiu um pequeno povoado que depois se transformou na
cidade de Peçanha (Pimenta, 1970b).
Mas foi realmente no século XIX que se iniciou a ocupação do médio Rio
Doce. Estimulado pelo Conde de Linhares, Dom João VI interessou-se pelas possibi-
lidades de navegação naquele rio. Já eram conhecidos, no entanto, os conflitos entre os
Botocudos e os imigrantes que avançavam sobre as suas terras vindos das regiões de
decadência da mineração no Distrito Diamantino. A política do governo colonial foi,
então, de aniquilar os indígenas sob a justificativa de “bárbara antropofagia”. Através
da Carta Régia de 1808 dirigida ao Governador da Capitania de Minas Gerais, Dom
João VI fez uma declaração de guerra aos indígenas. “O objetivo era que os índios,
movidos de justo terror, fizessem a paz e se submetessem ao jugo das leis e pudessem
assim viver em sociedade, transformando-se em vassalos úteis” (Iglésias, 1958).
Foi criada uma Junta Militar de Civilização dos Índios com seis divisões mili-
tares distribuídas pelo Vale do Rio Doce. A guerra impiedosa dizimou quase por comple-
to a nação dos Botocudos. As matas eram invadidas à procura dos índios e, quando se
mostravam inacessíveis, ateava-se fogo para que ali morressem queimados. O geólogo
alemão Eschwege, que a serviço do Governo viajou pela região do Rio Doce, descreveu
em seu livro Plutus Brasiliensis as “cenas abomináveis” que presenciou (Eschwege, 1944).
Pimenta enfatizou que “este massacre de índios indefesos dentro de sua própria área de
habitação é uma das mais negras manchas do nosso período colonial” (Pimenta, 1970b).
Foi sob essa barbárie que a região do Rio Doce começou a ser ocupada. Imi-
grantes recém-chegados e soldados recrutados sem nenhum critério destruíam as tribos
indígenas e devastavam as florestas para se apossar das terras. As atrocidades eram tantas
que o próprio Governador da Província se viu diante da necessidade de nomear o Capi-
tão de Cavalaria Guido Tomas Marlière Inspetor Geral das seis divisões militares do Rio
Doce. Esse oficial francês havia chegado ao Brasil em 1808 e tinha adquirido grande
experiência no trato com os índios Puris e Caiapós na Zona da Mata. Os historiadores são
unânimes em destacar Marlière como a única grande exceção no trato com os silvícolas,
durante o período da Província, nas matas dos rios Pomba, Muriaé, Doce, São Mateus e
Jequitinhonha. Ele não só se dedicou à pacificação dos índios como também ao assenta-
mento de colonos, distribuindo sesmarias para fixá-los (Pimenta, 1970b).
A política era implantar aldeamentos junto aos quartéis para “civilizar” os
índios através da catequese e do ensino dos fundamentos da agricultura e, assim, usar
56
sua força de trabalho. No início da década de trinta do século passado já existiam mais
de 20 aldeamentos entre o Rio Pomba, passando pelo Rio Doce, até o Jequitinhonha,
“onde se abrigavam milhares de índios pertencentes às tribos dos Puris, Coroados,
Macomis, Botocudos e Naknuk, ocupados com a agricultura, caça, pesca, navegação e
extração da poaia” (José, 1958).
Vale a pena lembrar que a Lei das Terras, implementada em torno de 1850
com o objetivo de criar um mercado de terras no Brasil, facilitou a ocupação da região
e a garantia da propriedade. Assim, as terras indígenas foram legal e definitivamente
incorporadas pelos nacionais. A questão do aldeamento dos índios transformava-se
exclusivamente numa questão de catequese desenvolvida pelas ordens religiosas.
Um fato interessante ocorrido nessa época, e que será importante para o
futuro da região, foi a solicitação feita a Marlière pelo Governo Imperial para transpor-
tar, pelo Rio Doce, uma carga para o engenheiro Jean Antoine de Monlevade. Era nada
menos que a maquinaria necessária para que Monlevade, em 1827, produzisse ferro
fundido em Minas Gerais.
O Conselho Geral da Província, já em 1831, reconhecia a falta de população para
um território tão extenso como o de Minas: “Sem população proporcional à vasta extensão
do nosso território, incertos e tardios serão nossos passos na carreira de nossos melhoramen-
tos materiais” (apud Iglésias, 1958). Minas, de fato, não era mais uma região de atração
migratória como havia sido no período da mineração. Pensava-se, então, numa política de
população que atraísse os imigrantes europeus para o trabalho agrícola. Vale a pena subli-
nhar que essa não era uma opção exclusivamente mineira, mas do Governo Central, que
implementava uma política de atração de imigrantes alemães para o sul do país.
Diversas tentativas foram feitas. A Companhia do Rio Doce, por exemplo,
foi criada no sentido de atrair imigrantes estrangeiros através de concessão de terras.
No entanto, somente algumas poucas famílias alemãs e austríacas se fixaram na parte
capixaba do vale (Iglésias, 1958).
Outra experiência de ocupação demográfica foi a Companhia do Mucuri,
empresa criada por Teófilo Otoni com participação acionária também do Governo. Em
1853, na perspectiva de atrair imigrantes estrangeiros, Teófilo Otoni contratou uma
empresa alemã para trazer para o Brasil cerca de 2.000 agricultores. No ano seguinte foi
criada a Colônia Militar do Urucu, afluente do Rio Mucuri, “para proteger os elemen-
tos das áreas de mata devassadas, como garantia de suas pessoas e propriedades entre
Santa Clara e Filadelfia, hoje Teófilo Otoni” (Iglésias, 1958).
Mais tarde outros imigrantes chegaram, mas as dificuldades eram imensas: a rea-
lidade da selva e das doenças era muito distante das promessas de um vale com as margens
tão férteis “quanto as do Nilo”, como dizia a propaganda da companhia na Europa. Apesar
de tudo, em 1873, 402 estrangeiros estavam residindo na Colônia (Monteiro, 1974).
Foram efetuadas outras tentativas de promover a imigração estrangeira para
a região do Rio Mucuri, mas, geralmente, sem grandes êxitos (Monteiro, 1974). Ape-
nas no início do século XX é que o vale do Rio Mucuri vai ser realmente ocupado,
fundamentalmente através de migrações internas.
57
FASE 1: 1900-1940
A ECONOMIA CAFEEIRA
No início do século XIX a região do vale do Rio Paraíba do Sul sofreu uma
profunda transformação com a emergência da economia mercantil cafeeira escravista (Mello,
1982). Ainda que o Rio de Janeiro despontasse como o maior produtor, o dinamismo da
economia era tal que transbordava para o lado mineiro do vale. Era o princípio de uma
grande mudança na Zona da Mata e na economia mineira como um todo.
Segundo Alvim (1929), o espantoso crescimento da economia cafeeira na
primeira metade do século XIX deveu-se à abundância de braços liberados pelas regi-
ões de mineração em franca decadência. Realmente são muitas as evidências de uma
grande corrente migratória: não só de homens livres, mas também de senhores com
seus escravos. Segundo Saint-Hilaire (1975), a população da Comarca do Rio das Mor-
tes, no fim do século XVIII, emigrava para São Paulo, enquanto os habitantes de Vila
Rica se deslocavam para a Zona da Mata. Lembra também Alvim (1929), a facilidade
de se obterem terras com a política de sesmarias, que possibilitava a ocupação de matas
virgens. Resta acrescentar que o trabalho e a terra não seriam articulados se não existis-
se um capital mercantil disponível atraído pelos preços favoráveis do café e oriundo do
próprio comércio entre a sede da Corte e a Província (Furtado, 1980).
A partir de 1830 o café tomou um forte impulso em Minas, principal-
mente na fronteira com a Capitania do Rio de Janeiro. As maiores plantações en-
contravam-se em Mar de Espanha, Matias Barbosa, Rio Preto, Porto do Cunha
(Além Paraíba) e Rio Pomba.
Em meados do século XIX, o café já representava mais de 50% das exporta-
ções de Minas, chegando a quase 90% em 1880. Com o crescimento da produção, a
população aumentou enormemente, mais de 12 vezes.
TABELA 2.4
...................................................
POPULAÇÃO TOTAL DA ZONA DA MATA DE MINAS GERAIS (1822-1872)
Ano Habitantes
1822 20.000
...................................................
1872 254.000
Fonte: Minas e o Bicentenário do Cafeeiro no Brasil: 1727-1927. Belo Horizonte, Imprensa Oficial, 1929.
58
O Relatório Carlos Prates, de 1905, não é muito animador quanto à devasta-
ção das florestas na Zona da Mata, mostrando índices muito baixos de preservação. Os
cafezais evidentemente investiram sobre as matas, apesar de o mesmo Relatório acen-
tuar que “no alto do morro permaneciam as florestas, nas vertentes interiores, o café,
isolado quando adulto e com culturas intercalares quando novo... ”(Prates, 1906).
Essa característica foi muito importante na economia mineira: o café não se
constituiu como monocultura. O uso da terra era também disputado por outras cultu-
ras, como o milho, o feijão e, principalmente, por pastagens. Nas áreas pesquisadas por
Prates, 40% das terras eram pastagens ou capoeirinha. O café, como cultura itinerante,
se sobrepôs à mata e, posteriormente, acabou cedendo lugar à pastagem.
A região leste possuía a metade das reservas florestais do Estado em 1925, isto
é, 7.057.500 ha de um total de 14.349.320 ha. A Zona da Mata contribuía somente com
34,36% da região leste. Evidentemente, esses dados já refletiam o impacto da própria
expansão da economia cafeeira, que nesse momento vivia o seu auge em Minas Gerais.
A grande importância que tinha o café para Minas e a pouca relevância atri-
buída às florestas ficavam claras no “sonho” de Alvim (1929) de superar a produção
paulista quando dizia que se “...apenas metade destas reservas de terras virgens apro-
priadas à cultura cafeeira seja transformada em cafezais, verifica-se que podemos plan-
tar ainda cinco milhões de pés de café em terra de mata virgem (...) equivale a cinco
vezes a imensidão dos cafezais paulistas...”.
Em outras regiões do leste o café também teve alguma importância, mas seu
impacto sobre as reservas florestais foi bem menor. Um bom exemplo foi o vale do Rio
Mucuri, onde o café se desenvolveu razoavelmente sem que o desmatamento fosse
significativo. Em 1925 as reservas florestais tinham a seguinte distribuição nas bacias
dos rios do leste do Estado:
TABELA 2.5.
...................................................
RESERVAS FLOREST
ESERVAS
Bacias
AIS - REGIÃO LESTE DE MINAS GERAIS (1925)
ORESTAIS
Área (ha) %
Rio Pardo 390.000 5,87
Jequitinhonha e Araçuaí 2.296.000 35,65
Doce e São Mateus 2.524.000 39,19
Mucuri 905.000 14,05
Muriaé 130.000 2,02
Paraibuna e Preto 90.000 1,40
Pomba 65.000 1,01
Novo 65.000 0,22
...................................................
Paraíba 14.000 0,22
Total 6.441.000 100,00
Fonte: ALVIM, Sócrates. “O Meio Agrícola e as Reservas de Terras Cafeeiras”. In: SECRETARIA DE
AGRICULTURA DE MINAS GERAIS. Minas e o Bicentenário do Cafeeiro no Brasil: 1727-1927. Belo
Horizonte, Imprensa Oficial, 1929.
59
Dentro da região leste, a Zona da Mata era a mais populosa nessa pri-
meira fase do século XX, principalmente diante da expansão da economia cafeei-
ra. Como o café, tivemos um auge e um declínio demográfico. A partir da década
de 1920, quando começou a decair a produção cafeeira, a população também co-
meçou a declinar. Uma boa parte das cidades que cresceram graças à migração
induzida pelo café chegou em 1940 com uma população menor do que a de 1920
em termos absolutos. Caratinga, sua maior cidade, é um bom exemplo: em 1920
tinha 137.017 habitantes e em 1940 somente 66.696, ou seja, em vinte anos per-
deu mais da metade de sua população. Juiz de Fora, a segunda maior cidade da
Zona da Mata, também sofreu um pequeno declínio: no mesmo período diminuiu
sua população de 118.166 para 104.172. Seu razoável crescimento industrial e fi-
nanceiro não foi suficiente para conter a evasão demográfica.
Apesar do enorme crescimento populacional, sua pressão no início deste
século foi atenuada pelas formas específicas de relações de trabalho incorpora-
das pela economia cafeeira e pela policultura, que retirava do café a responsabi-
lidade única pela expansão do emprego agrícola. Alguns autores ressaltam a im-
portância da migração temporária: muitos trabalhadores, principalmente do nor-
te de Minas, deslocavam-se para a Zona da Mata somente em períodos nos quais
a demanda por trabalho era alta, cumpriam sua jornada e retornavam à sua ori-
gem (RBG, 1958).
Entretanto, com o declínio do café e sua substituição pela pecuária, cres-
ceu a concentração de terra, houve queda do emprego sob as suas diferentes mo-
dalidades, apesar da expansão de Juiz de Fora, e não restou à população outra
alternativa senão a emigração. O destino foi a própria região sul do Estado, onde o
café expandia-se acompanhando o outro lado da fronteira paulista. Começava a
institucionalizar-se o grande itinerário de muitos mineiros: emigrar para outros
Estados para sobreviver. Nenhuma região como o leste de Minas Gerais contri-
buiu tanto para isso.
60
Mas a ferrovia de maior impacto sobre a região leste foi a Estrada de Ferro
Vitória-Minas. Concebida no final do século passado, seus primeiros trinta quilôme-
tros foram inaugurados em 1903 e apenas em 1907 ela penetra em Minas, com desti-
no a Diamantina (IBGE, 1945). A mudança da história dessa ferrovia ocorre com a
descoberta das jazidas de minério de ferro em Minas Gerais. Os ingleses compraram
as terras onde se encontravam as jazidas, constituindo o Brazilian Hematite Syndica-
te, que assumiu também o controle da construção da ferrovia. O destino da ferrovia
foi então alterado para Itabira.
A construção da ferrovia esteve politicamente articulada às decisões sobre o
controle das jazidas e à política siderúrgica do governo brasileiro (Gomes, 1983). Em
1920 foi concedido aos ingleses da Itabira Iron o direito de exploração do minério e de
construção de uma usina siderúrgica e o monopólio do transporte ferroviário. A discus-
são dessa concessão levou duas décadas, até o governo brasileiro criar a Companhia
Vale do Rio Doce, com o monopólio estatal de extração e transporte do minério até o
porto de Vitória, e concluir a ferrovia até Itabira (Pimenta, 1981).
A grande importância da Vitória-Minas não se deveu apenas ao transporte do
minério de ferro para exportação, mas principalmente porque foi o eixo em torno do
qual se construiria o maior complexo siderúrgico brasileiro. A ferrovia traçou, ainda,
um caminho de desmatamento necessário à sua construção e manutenção e estabele-
ceu uma ocupação demográfica regional que, de fato, só se aceleraria mais tarde com a
expansão da indústria madeireira, da pecuária e da própria siderurgia.
A região da bacia do Rio Doce que aqui estamos chamando de Siderúr-
gica, apesar de seu nítido declínio demográfico, era, depois da Zona da Mata, a
mais populosa do leste mineiro. Ocupada desde o século XIX pela atividade
mineratória, tinha um tradicional complexo urbano que se nutria de uma econo-
mia basicamente agrícola articulada por um antigo eixo ferroviário construído
no início deste século. Em torno dele se organizou um conjunto de indústrias
siderúrgicas a carvão vegetal, sendo a mais importante delas a Companhia Side-
rúrgica Belgo-Mineira, localizada inicialmente em Sabará. Havia outras, algu-
mas criadas ainda no século passado: Usina Queiroz Júnior Ltda., Itabirito, 1889;
Mineração e Usina Wigg, Miguel Burnier, Ouro Preto, 1893; Companhia Side-
rúrgica Mineira, Sabará, 1918; Companhia Brasileira de Usinas Metalúrgicas,
Barão de Cocais, 1925; Companhia Ferro Brasileiro, Caeté, 1931; Metalúrgica
Santo Antônio, Rio Acima, 1931.
Essas empresas aproveitaram a produção de carvão vegetal de municípios
como Ouro Preto e Mariana, facilmente transportada pelas ferrovias, e uma demanda
da industrialização voltada para bens de consumo não-duráveis que ocorria principal-
mente no eixo Rio-São Paulo. Em 1937, uma nova usina siderúrgica da Companhia
Belgo-Mineira foi fundada no município de João Monlevade. Em razão de sua impor-
tância, e da siderurgia em geral, principalmente a partir da década de 1940, falaremos
sobre ela no próximo capítulo.
61
O DESMATAMENTO E ALGUNS INDICADORES DEMOGRÁFICOS
TABELA 2.6
TAXAS DE CRESCIMENTO TOTAL (TCT), PERCENTUAIS DA POPULAÇÃO TOTAL (PPT) E
...................................................
PERCENTUAL DE REMANESCENTES FLORESTAIS POR REGIÃO EM MINAS GERAIS (1910/1940)
...................................................
6 2,90 -0,65 22,50 22,20 11,76 8,75
7 2,47 -1,22 20,70 18,20 23,60 10,50
Fonte: Elaboração própria a partir de: Censos Demográficos - FIBGE/Anuário Estatístico de Minas Gerais - 1925/
1940. Governo de Minas Gerais/Cedeplar.
62
za”, reduziu relativamente pouco a sua área de Mata Atlântica. Os princi-
pais responsáveis foram a construção da ferrovia, que contribuiu para a pri-
meira fase da indústria madeireira, e o crescimento da pecuária na região
noroeste da Codema, que se expandiu em direção a Governador Valadares.
c. O vale do Rio Mucuri (região 3), com suas altíssimas taxas de crescimento
baseadas numa urbanização acelerada e precária, a qual já chamamos de
“urbanização transitória da pobreza”, convivia com as mais altas taxas de
preservação da Mata Atlântica. O café, a pecuária e a própria exploração
da madeira não foram suficientes para reduzir a mata nativa em mais de
10% entre 1925 e 1940.
Certamente, os imigrantes que abandonaram as cidades não se dirigiram
para a área rural do vale do Rio Mucuri para sobreviver como camponeses
nas vastas extensões de terras devolutas. A crise do café servia de espan-
talho, empurrando os imigrantes em direção a Governador Valadares.
d. A parte mais antiga do vale do Rio Jequitinhonha, a região 2, economica-
mente estagnada, com sua população diminuindo em termos absolutos,
conseguiu reduzir em mais da metade a área de matas nativas. Uma econo-
mia tipicamente camponesa mostrava-se também devoradora das matas,
apesar de não existir nenhuma pressão demográfica.
A região 1, a parte mais ao norte do vale do Jequitinhonha, inicia o século
com altas taxas de crescimento em razão da malha rodoviária que se desen-
volvia e estimulava a migração dos que não sobreviviam à economia cam-
ponesa. Cidades como Jequitinhonha, Araçuaí e Grão Mogol cresceram
muito até 1920, quando tinham, todas, mais de 67.000 habitantes. Não era,
de fato, uma região onde predominava a mata tropical. A sua maior exten-
são era constituída de caatinga e cerrado. Ainda assim, apesar do declínio
acentuadíssimo da população, a área de matas foi reduzida à metade.
FASE 2: 1940-1970
PECUÁRIA E INDÚSTRIA MADEIREIRA
A dinâmica da relação entre população e meio ambiente na região leste de Mi-
nas Gerais, nesta segunda fase de nossa periodização, foi determinada por dois grandes
vetores: o crescimento da pecuária e da indústria madeireira, cujo grande pólo foi Governa-
dor Valadares, e a expansão dos grandes projetos siderúrgicos, cujos pólos mais importantes
foram, no princípio, João Monlevade e, posteriormente, os municípios do Vale do Aço.
Esses dois grandes vetores interagiram, pois, de fato, tinham o mesmo objetivo: a subordi-
nação da floresta, ainda abundante na região nos anos 40, a seus interesses econômicos.
A ocupação da região do médio vale do Rio Doce deu-se fundamentalmente
por meio do fluxo migratório que se estabeleceu entre a Mata de Peçanha e as matas dos
afluentes do Rio Doce, a noroeste. Milhares de pessoas deslocaram-se das áreas decaden-
tes de mineração, como Diamantina, Serro, Conceição, Itabira, Ferros, Minas Novas e
Itamarandiba, para os municípios de Peçanha e Guanhães, criados em 1875 (Barbosa, 1971).
63
Peçanha já havia sido um destino imposto a muitos pelo governo colonial, como degredo,
para solucionar o problema do desemprego e da vadiagem de mulatos, mestiços e negros
forros na fase de decadência da mineração de ouro na região mais central de Minas.
Um dos aldeamentos plantados à beira do Rio Doce, Porto de Figueiras,
onde hoje se situa a cidade de Governador Valadares, foi transformado em distrito de
Peçanha em 1884. Figueiras foi um entreposto comercial de grande importância regi-
onal. Como dali até sua foz o Rio Doce era navegável, esse ponto tornou-se um local
perfeito para a troca de mercadorias da região noroeste do Rio Doce com os produtos
industriais e o sal vindos do litoral.
Entretanto, Figueiras só se firmou definitivamente como entreposto comer-
cial com a chegada da ferrovia Vitória-Minas em 15 de Agosto de 1910. Foram muitos
os imigrantes que chegaram. Vieram da própria região do Rio Doce, do Espírito Santo,
da Bahia. Chegaram também alguns estrangeiros de nacionalidade italiana, espanhola
e síria (Siman, 1988).
Do início do século até 1930, o café foi o produto mais comercializado ali. Alguns
comerciantes funcionavam como intermediários entre os produtores regionais e o porto de
Vitória. A partir de 1930, com a intensificação da migração de nordestinos, foi introduzido o
capim colonião na região, o que possibilitou a expansão da pecuária. Desmatou-se ferozmen-
te para se conseguirem os pastos necessários. Cresceu, conseqüentemente, a indústria ma-
deireira, e as serrarias propagaram, definindo a imagem urbana de Figueiras.
As terras eram devolutas em sua maioria, pertencentes ao Estado. Em função
disso, os conflitos entre posseiros e “proprietários” eram constantes. O mecanismo de
apropriação das terras era quase sempre a violência, e o poder político garantia a legaliza-
ção. Segundo relatos da época (Siman, 1988), a Companhia Belgo-Mineira interessava-se
somente por propriedades “limpas”. Os fazendeiros apropriavam-se, legalizavam e ven-
diam as terras para a empresa. Mas esta só as aceitava livres de posseiros. Havia, então, a
“limpeza das terras” com a contratação de pistoleiros para desalojar os posseiros. A cadeia
de violência começava no campo e estendia-se à cidade, para onde se dirigiam os expulsos
das terras. A média de mortes por assassinato chegava a seis por noite (Siman, 1988).
Em 1936, numa visita à cidade, a diretoria da Companhia Belgo-Mineira
mostrou seu interesse em desmatar uma faixa de 6 km em ambas as margens do Rio
Doce, numa extensão de 150 km de estrada de ferro Vitória-Minas. A empresa garantia
que haveria uma regeneração das florestas em 30 anos. Em troca, a Belgo colaboraria
no combate à malária, que assolava quase toda a região.
Em 1942, Figueiras transformou-se em Governador Valadares. Com esse nome,
expandiu-se fantasticamente. A cidade cresceu em torno de inúmeras serrarias alimenta-
das pela mão-de-obra imigrante. Desde 1936, a estrada de rodagem ligando Governador
Valadares a Itambacuri estava em funcionamento, facilitando as migrações vindas do
vale do Rio Mucuri, fortemente atingido pela crise do café. Continuavam a chegar, tam-
bém, imigrantes do Nordeste, do Espírito Santo e de toda a região do Rio Doce.
A década de 1940 caracterizou-se pelo império da extração de madeira e
pelo início de um processo de explosão populacional que duraria até o final da década
de 1960. Com a inauguração, em 1937, da usina da Companhia Belgo-Mineira em João
64
Monlevade, iniciou-se um encontro histórico entre a expansão da exploração da ma-
deira e a expansão da siderurgia a carvão vegetal. Já em 1943 a Belgo inaugurou a mais
importante empresa de Governador Valadares: a Companhia Agropastoril de Madeira
Compensada do Rio Doce, visando aproveitar parte da madeira mais nobre de suas
terras que não era transformada em carvão.
Outro recurso natural contribuiu decisivamente para o crescimento da cida-
de: a mica, material dielétrico que assumiu grande importância durante a Segunda
Guerra Mundial. Os americanos estimulavam a produção e importavam praticamente
tudo. As minerações estavam distribuídas entre Governador Valadares e os municípios
vizinhos. Por isso Valadares foi incluída, juntamente com a Amazônia, em razão da
produção de borracha, e Itabira, por causa do minério de ferro, entre as regiões onde
seria desenvolvido um serviço de proteção às populações envolvidas na produção de
materiais estratégicos. Esse serviço se restringiu ao combate à malária.
Apesar do declínio da exploração econômica da mica com o fim da guerra,
Governador Valadares consolidou-se como pólo regional, expandindo suas empresas
de madeira até o Rio Mucuri, ao norte, e para leste, seguindo os trilhos da ferrovia
Vitória-Minas. Na verdade, ocorria um mecanismo perverso, principalmente nas terras
que não pertenciam às grandes siderúrgicas: após a derrubada da mata, a empresa ma-
deireira transformava a área em pasto. O solo rapidamente erodia e raramente presta-
va-se a qualquer outra forma de agricultura. A própria expansão demográfica da cida-
de, que chegou ao início da década de 1960 com quase 110.000 habitantes, não resistiu
ao declínio econômico e foi fortemente desacelerada.
TABELA 2.7
...................................................
TAXAS DE CRESCIMENTO POPULACIONAL - GOVERNADOR VALADARES - 1940/91
...................................................
Rural 0,81 0,29 -0,63 -5,62 -1,70
Total 3,69 7,04 4,07 1,93 1,62
Fonte: FIBGE. Censos Demográficos, 1940-80. Resultados Preliminares do Censo Demográfico - 1991.
65
municípios produtores de lenha no vale do Rio Doce, em 1949, eram Guanhães, Ponte
Nova, Caratinga, Viçosa, Conceição do Mato Dentro, Barbacena, Ferros, Itabira e Ubá; os
principais produtores de carvão, todos ligados à indústria siderúrgica, eram Santa Bárbara,
Ouro Preto, Coronel Fabriciano, Rio Piracicaba, São Domingos do Prata, Antônio Dias,
Itabira, Mariana, Barbacena, Conselheiro Lafaiete, Barão de Cocais e Mesquita.
Destacavam-se não só aqueles que forneciam carvão e lenha para as siderúrgicas,
mas também para as ferrovias. Apenas na parte mineira da ferrovia Vitória-Minas existiam
45 serrarias para o beneficiamento da madeira (Strauch, 1955). Também a Estrada de Ferro
Leopoldina, que servia a Zona da Mata, era grande consumidora de lenha, principalmente
dos municípios de Manhuaçu, Rio Casca, Teixeiras, Dom Silvério e Rio Piracicaba.
66
momento, as nações capitalistas mais desenvolvidas ingressavam na fase monopolista
e mapeavam os recursos naturais do mundo para dividi-los segundo os interesses de
seu desenvolvimento industrial (Pimenta, 1981).
O relatório brasileiro chamou atenção. Embora os países desenvolvidos já
compreendessem a importância da siderurgia, ainda não tinham a exata dimensão da
disponibilidade mundial das jazidas de minério de ferro. Europeus e americanos esta-
vam, pois, diante da possibilidade de ver atendidas as demandas do recurso natural
básico para suas indústrias siderúrgicas.
O governo brasileiro, por seu lado, já havia elaborado as linhas básicas de
uma política siderúrgica: seriam concedidas licenças para empresas nacionais ou es-
trangeiras para explorar e exportar o minério, desde que com os recursos financeiros
advindos destas exportações fossem implantadas indústrias siderúrgicas no país (Cou-
tinho, 1984). Recordemo-nos que já estava sendo construída a estrada de ferro Vitória-
Minas, cujo traçado inicial tinha como destino Diamantina. Com a descoberta das jazi-
das, teve sua rota alterada para alcançar Itabira.
O debate sobre a política siderúrgica brasileira durou mais de 20 anos. Não é
nosso objetivo discuti-lo aqui, a não ser no que se refere a seus impactos sobre a Mata
Atlântica. Havia duas correntes fundamentais na discussão sobre a natureza da política
siderúrgica. A Escola de Minas patrocinava as posições mais nacionalistas, assim como
a Sociedade Mineira de Engenheiros e outras instituições da sociedade civil. Alguns
segmentos do Estado, como parte das Forças Armadas, também eram nacionalistas e
reagiram contra o parecer do Conselho Técnico de Economia e Finanças, favorável às
concessões para a Itabira Iron. Segundo esse parecer, a Itabira Iron se utilizaria do
frete de retorno da exportação do minério de ferro para importar carvão mineral.
Era muito interessante a coincidência entre as posições nacionalistas e a defesa
ardorosa da siderurgia a carvão vegetal. Apesar de um dos lemas nacionalistas ser “mi-
nério não dá duas safras”, ninguém chegou a questionar se nossas florestas dariam
necessariamente duas safras. Artur Bernardes foi um dos poucos a denunciar, na época,
a destruição de nossas riquezas florestais ao enaltecer o papel desempenhado pelo
Horto Florestal criado em 1917. Condenava as “queimadas, tão comuns e nefastas” e
as “fornalhas das estradas de ferro e os fornos de fundição de ferro que consumiam
milhões de quilos de carvão vegetal e toneladas de lenha, sem falar no consumo do-
méstico de mais de 5 milhões de habitantes” (Coutinho, 1984).
Além disso, outros interesses patrocinados pelo governo federal estavam em
jogo, o que ficou claro no discurso pronunciado por Getúlio Vargas em São Lourenço, em
1938. Dizia ele: “A nossa produção siderúrgica atual é reduzida, cara e anti-econômica,
devido aos processos adotados. Trabalha com pequenos altos-fornos a carvão de madeira.
Ainda mais, o seu crescimento depende de reservas florestais, que vão diminuindo com
o tempo e cuja reconstituição é demorada e custosa, sobretudo se considerarmos que só
deverá ser utilizado o carvão de madeira de lei. Admitindo-se mesmo a possibilidade de
reflorestamento regular, a siderurgia explorada nestas bases se tornará cada vez mais
onerosa e precária devido ao consumo crescente das reservas florestais. Mas o caráter
67
anti-econômico da siderurgia a carvão de madeira se acentua diante de duas observações:
a destruição das florestas sem nenhuma garantia de que serão reconstituídas, quando o
interesse nacional aconselha defendê-las ou melhorá-las e a limitação do consumo inter-
no de produtos siderúrgicos que fica condicionada a um regime de preços altos pelas
deficiências do processo de produção...”. “... tão defeituosa economia da produção está
presentemente agravada em detrimento dos interesses nacionais pela organização dos
produtores em trusts...”. “... a solução do problema está, portanto, na grande siderurgia.
Falta-nos o carvão mineral? Teremos condições de importá-lo pelo menos enquanto o
nosso não se acha em condições de substituí-lo. Encontrar-se-á uma fórmula de compen-
sar esta importação com a exportação de minério” (Coutinho, 1984).
De fato, Vargas estava reagindo ao cartel comandado pela Sociedade Side-
rúrgica Ltda., controlado pela Belgo e detentor da hegemonia no mercado siderúrgico,
com amplos poderes na determinação dos preços. Por outro lado, sem dúvida o mais
importante, Vargas concebia a política siderúrgica com uma forte intervenção do Esta-
do, o que determinaria, no início dos anos 40, a criação da Companhia Vale do Rio
Doce e da Companhia Siderúrgica Nacional.
O debate em torno da estatização estava ligado aos interesses estrangeiros por
nossas jazidas de minério de ferro, expresso em duas décadas de conflito com a Itabira
Iron, que detinha a concessão para a exploração e o monopólio do transporte ferroviário.
Acabaria predominando a estratégia de Vargas, na qual coexistiam o capital estatal na
siderurgia a carvão mineral, a partir da criação da Companhia Siderúrgica Nacional, e o
capital privado, que utilizava a redução a carvão vegetal. Mas, em 1950, o próprio Estado,
através do Banco do Brasil, entrou na siderurgia a carvão vegetal encampando a Acesita,
usina criada por grupos privados em 1944, em Timóteo, no vale do Rio Doce.
Diante das necessidades do crescimento econômico, saíram de cena as dis-
cussões sobre a sobrevivência de nossas reservas florestais. O fundamental era a ex-
pansão da nova fábrica da Belgo-Mineira em João Monlevade, que, com o apoio dos
governos federal e estadual, começava a funcionar a partir de 1937, assim como a emer-
gência e recuperação da Acesita, o que se deu entre 1944 e 1950. O binômio minério
de ferro-recursos florestais marcou as características do crescimento econômico da re-
gião leste e, principalmente, determinou a degradação do ecossistema no qual ela esta-
va inserida: a Mata Atlântica.
Mas voltemos à criação da Companhia Belgo-Mineira. O grupo belga ARBED,
diante das novas condições mundiais após a Primeira Grande Guerra, redefinia sua estra-
tégia no mercado de produtos siderúrgicos, cada vez mais cartelizado, voltando seus olhos
para as reservas de minério de ferro do Brasil. Em outubro de 1920, a ARBED enviou
uma primeira missão a Minas e, em 1921, assinou um contrato de associação com a Com-
panhia Siderúrgica Mineira, única possibilidade de furar o monopólio da Itabira Iron.
Os belgas adquiriram uma propriedade no município de Rio Piracicaba com
9.680 ha e, no ano seguinte, 1922, compraram outra área contígua, de 2.463 ha, com
importantes jazidas de minério de ferro e manganês. Foi também solicitado ao gover-
no brasileiro que efetuasse a ligação ferroviária entre João Monlevade e a Ferrovia
Central do Brasil, para que a usina pudesse transportar seus insumos e produtos.
68
A Usina de Sabará, a princípio, era praticamente um projeto piloto. Ela só se
expandiu a partir de 1927, com a garantia dada pelo governo de Minas da reserva de
mercado e graças a um empréstimo junto ao Banco Comércio e Indústria. Também foi
efetuada uma renovação tecnológica, importando-se equipamentos de segunda mão
da matriz européia para laminação e trefilação. Entretanto, o planejamento da Belgo
estava fundamentalmente voltado para o início da construção da Usina de João Monle-
vade. A direção da ARBED defendia que a única siderurgia a carvão vegetal realmente
viável do ponto de vista econômico deveria se localizar na Codema do Rio Piracicaba
por causa da disponibilidade de minério de ferro e manganês e das enormes reservas
de matas com madeira da melhor qualidade.
Em 1937-38 entraram em funcionamento em Monlevade, quatro altos-for-
nos para a fundição do gusa e geração do aço, laminação, trefilaria e oficinas elétricas e
mecânicas, além do sistema de articulação ferroviária com a Estrada de Ferro Central
do Brasil e com a ferrovia Vitória-Minas.
O suprimento de carvão vegetal vinha das enormes reservas de mata nativa
que a empresa havia adquirido principalmente na região do vale do Rio Doce e de uma
grande área em Várzea da Palma, na região do sertão noroeste de Minas Gerais. Em
1940, a demanda de carvão de Sabará e Monlevade era assim atendida:
TABELA 2.8
...................................................
PRODUÇÃO E CONSUMO DE CARVÃO VEGET
Origem
AL - BELGO-MINEIRA - 1940
EGETAL
...................................................
92.618 - Monlevade
Caratinga
Governador Valadares
Fonte: Elaboração dos autores a partir do Anuário Brasileiro de Economia Florestal, 1951.
69
para as grandes empresas a preços inferiores aos obtidos pelas siderúrgicas em suas
terras. Essa prática era generalizada: o conjunto das empresas integradas de produção
de aço em Minas Gerais, na mesma época, comprava de terceiros 63,5% do carvão
vegetal que consumiam (INDI, 1978). Elas não só desmatavam suas próprias proprie-
dades como estimulavam o desmatamento por terceiros, institucionalizando um mer-
cado de carvão vegetal que produzia a preços muito mais baixos porque dependia qua-
se que exclusivamente dos custos da mão-de-obra fortemente rebaixados por estarem
fora de qualquer controle legal.
Na década de 50 voltava ao debate a realidade de nossas riquezas florestais,
não mais na perspectiva de sua conservação e, sim, pela impossibilidade óbvia de rege-
neração das matas nativas no compasso da demanda das siderúrgicas. A idéia proposta
então era substituir as florestas destruídas por eucalipto, cuja capacidade de regeneração
era mais acelerada e possuía um ciclo médio de três colheitas a cada 21 anos.
A Belgo-Mineira havia iniciado suas primeiras experiências de refloresta-
mento em 1948. Entretanto, entre 1948 e 1957, ela só o fez em cerca de 8.000 a 9.000
ha. Uma dimensão praticamente insignificante diante do que seria desenvolvido pos-
teriormente (CSBM, 1955). Em 1966, só na região do Rio Doce, a Belgo possuía reflo-
restamento em 20 municípios, com aproximadamente 43.000 ha plantados. Os municí-
pios onde ela havia plantado mais de 1.000 ha eram os seguintes:
TABELA 2.9
...................................................
REFLOREST
EFLORESTAMENTOS - COMP
ORESTAMENTOS
Municípios
ANHIA BELGO-MINEIRA - 1966
OMPANHIA
Área (ha)
Antônio Dias 3.220,30
Bela Vista 2.613,27
Belo Oriente 2.904,00
Caratinga 3.993,00
Dionísio 5.068,00
João Monlevade 4.559,09
Mariana 1.131,00
Mesquita 2.178,00
Rio Piracicaba 2.147,21
Santa Bárbara 5.678,97
São Gonçalo do Rio Abaixo 1.581,28
...................................................
São José do Goiabal 2.480,09
São Pedro dos Ferros 2.911,41
Fonte: INDI-MG.
70
estatizada e passou para o controle do Banco do Brasil juntamente com 27.400 ha
de terras e um consumo de 112.490 m3 de carvão quase totalmente de oferta pró-
pria (Acesita, 1989). Com dificuldade para equilibrar seus custos, a empresa resol-
veu seus problemas de caixa, até 1959, vendendo energia elétrica gerada em sua
usina de Sá Carvalho, inaugurada em 1951 no município de Antônio Dias.
Em 1954, além da jazida de minério de ferro em Itabira, a Acesita possuía
mais de 69.000 ha de matas naturais no vale do Rio Doce. No ano seguinte, teve
início o seu programa de expansão, paralisado entre 1958 e 1961 por falta de recur-
sos. O plano de expansão exigiu a aquisição de novas terras, que definiram o chama-
do “primeiro momento do processo de apropriação de terra” (Acesita, 1967).
TABELA 2.10
...................................................
REL AÇÃO DAS PROPRIEDADES DA ACESIT
ELAÇÃO
Município
A POR MUNICÍPIO - 1967
CESITA
Área (ha)
Açucena 23.197,14
Bom Jesus do Galho 18.567,16
Córrego Novo 13.506,48
Governador Valadares 3.044,86
Jaguaraçu 1.668,73
Marliéria 4.730,87
Mesquita 3.978,24
São Geraldo da Piedade 1.835,62
...................................................
Timóteo 5.288,67
Total 77.197,30
...................................................
Região
INDIC ADORES DEMOGRÁFICOS E AMBIENT
NDICADORES
...................................................
7 -0,4 2,3 -2,4 -186970 -33,88 66,8
Fonte: Elaboração dos autores a partir dos Censos Demográficos, Agropecuários do IBGE e
- -
71
Obs.:
TCT: Taxa de Crescimento Total na década de 1960.
TCU:Taxa de Crescimento Urbano na década de 1960.
TCR:Taxa de Crescimento Rural na década de 1960.
SLM: Saldo Líquido Migratório na década de 1960.
TML: Taxa de Migração Líquida na década de 1960.
PEC.: Percentual de Pastagens em 1970 (área de pastagens dividida pela área total
dos estabelecimentos, em ha).
PROP.: Área de propriedade de empresas em 1970 (ha).
REF.: Área de reflorestamento até 1970 (ha).
72
O Vale do Jequitinhonha era o único do leste mineiro que não estava, originaria-
mente, coberto pela Mata Atlântica em toda a sua extensão. Da sua área, apenas
25,0% eram florestas. O restante constituíase de caatinga e cerrado. Os dados do
Censo de 1970 revelam que ainda havia 11,0% de mata nativa na região 1 e
5,0% na região 2 em relação ao total da área dos estabelecimentos. Provavel-
mente esses dados estão superestimados. Se compararmos com os dados de
1940, apesar de as duas regiões terem ficado praticamente estagnadas, a pecu-
ária tradicional e a economia de subsistência não pouparam as matas nativas.
c. Na região do Mucuri (3), como já vimos, as florestas foram praticamente devas-
tadas pela indústria madeireira, a princípio, e, posteriormente, pela pecuária:
80,0% da área de seus estabelecimentos em 1970 eram cobertos por pastagens.
Explica-se o altíssimo fluxo migratório rural que acelerou a urbanização
transitória na região pela baixa elasticidade do emprego na pecuária. Mas
o êxodo foi muito maior para fora do Mucuri: 36,0% da sua população em
1970 emigrou durante a década.
Como em todo o leste, havia uma forte economia de subsistência que
coexistia com o emprego permanente na pecuária ou na sua restrita agri-
cultura, que contava apenas com 5,8% da área dos estabelecimentos.
Em 1940 o Mucuri tinha a maior densidade de florestas do leste mineiro.
Segundo o Censo Agropecuário, ela ficou reduzida, em 1970, a apenas
7,0%, depois de trinta anos de exploração madeireira, pecuária extensiva
de baixa produtividade e de uma precária economia de subsistência.
d. A região do Rio Doce (4 e 5), madeireira e pecuária, foi a maior responsá-
vel pela emigração da região leste, quase 40,0% da sua população em 1970.
Isso apesar de conter nesta década o pólo regional mais importante do
ponto de vista econômico e demográfico: Governador Valadares.
Havia nessa parte do vale uma combinação de pecuária extensiva de bai-
xa produtividade e agricultura tradicional que não dispensava a forte pre-
sença de relações de parceria: 21,7% dos empregados agrícolas em 1970,
segundo o Censo Agropecuário.
A moderna empresa de reflorestamento, impulsionada pela siderurgia, já era
encontrada nessa parte do vale e se articulava com uma silvicultura e uma agri-
cultura tradicionais assentadas em parceiros e arrendatários. Entretanto, a pe-
cuária ainda dominava, ocupando quase 69,0% da área dos estabelecimentos.
A região do vale do Rio Doce onde predominava a siderurgia apresentava
uma situação particular no leste mineiro: a grande expansão das empresas
siderúrgicas e de suas propriedades agrícolas — e, conseqüentemente, a
emergência do reflorestamento — reduziu suas taxas de pecuarização.
Talvez, por essas razões, as taxas de emigração eram as mais baixas. E isso não
era porque as grandes empresas gerassem empregos suficientes, mas principal-
mente porque estimulavam um mercado de carvão do qual faziam parte, como
na região 1, porém em maior proporção um grande número de pequenos pro-
prietários. Estes eram, muitas vezes, parceiros, arrendatários ou mesmo tempo-
73
rários trabalhando em terras alheias, que produziam a preços muito mais bai-
xos, atendendo de forma mais satisfatória a demanda das grandes siderúrgicas.
Os dados do Censo sobre os remanescentes de florestas indicavam 7,0%
para o vale onde prevalecia a pecuária e a indústria madeireira e 12,0%
para a região siderúrgica. Em 1940 tínhamos 29,16% para a primeira e
19,2% para a segunda. Se tomamos como referência os mapeamentos fei-
tos mais recentemente, não resta dúvida de que há uma superestimação.
Seria mais realista, ainda que arbitrário, considerarmos taxas bem mais
baixas: algo em torno de 5,0% de remanescentes para o Vale mais pecuá-
rio e madeireiro e no máximo 7,0% para a região siderúrgica.
e. A região da Zona da Mata, que no passado foi predominantemente cafeeira
(7), na década de 1960 era basicamente pecuária, com uma média de apro-
ximadamente 65,0% de área de pastagem nas duas regiões. Entretanto, não
podemos deixar de sublinhar que elas possuíam as maiores áreas de lavoura
do leste mineiro: aproximadamente 17,0% dos estabelecimentos.
A coexistência da lavoura e da pecuária não impediu que as regiões 6 e 7
tivessem as mais baixas taxas de crescimento populacional na década de
1960. A população rural teve as taxas negativas mais altas. Houve uma emi-
gração de mais de 400.000 habitantes, quase 27,7% de sua população total.
Existia uma agricultura mais moderna, em especial a agroindústria açucareira,
provavelmente a maior responsável por uma taxa de emprego permanente de
mais de 16,1%. Porém, ela coexistia com a tradicional parceria da região, que
ainda absorvia 17,0% da população ativa rural, segundo o Censo Agropecuário.
O fato interessante revelado pela Zona da Mata é que a combinação da
pecuária com uma maior área de agricultura não foi suficiente para redu-
zir o êxodo rural, mesmo mantendo ainda relações tradicionais como a
parceria. Sem dúvida, o crescimento das oportunidades de emprego agrí-
cola tem sido sempre inferior à pressão demográfica.
Os dados do Censo sobre as matas nativas para as regiões 6 e 7 são duvido-
sos: 10,7% e 10,5% de remanescentes contra 8,75% e 10,5% em 1940. Ou
seja, em 30 anos elas ampliaram ou mantiveram as áreas de florestas. Os
mapeamentos mais recentes também não revelam isso, apesar de serem
visíveis os remanescentes nas partes montanhosas. Ainda que arbitraria-
mente, não seria demais reduzirmos à metade as informações censitárias.
FASE 3: 1970-1991
OS GRANDES PROJETOS DE REFLORESTAMENTO
E A EXPANSÃO DA PECUÁRIA
Nesta terceira fase, os vetores mais importantes na determinação das
relações entre população e meio ambiente na região leste mineira foram: gran-
des projetos de reflorestamento subsidiados pelos incentivos fiscais, que favo-
receram a expansão das siderúrgicas, a emergência da indústria de celulose, a
74
expansão devastadora da pecuária e a consolidação do Aglomerado Urbano do
Vale do Aço (AUVA).
Antes de 1970 as grandes empresas siderúrgicas já desenvolviam projetos de reflo-
restamento. Entretanto, a viabilidade econômica desses projetos deixava a desejar. Era bem
mais vantajoso, em termos de preço, comprar carvão de terceiros, produto de mata nativa.
As empresas reflorestadoras mantinham sacrifícios em diversas regiões de
Minas, no norte do Espírito Santo e no sul da Bahia, responsáveis muitas vezes por
mais de 50% do atendimento de sua demanda. A Belgo-Mineira, por exemplo, mon-
tou escritórios de compra:
a. Na região do sertão, isto é, ao norte de Curvelo, no vale dos rios São
Francisco, Jequitinhonha e Curvelo. Esse carvão era proveniente basica-
mente do cerrado e, para estocá-lo, a empresa mantinha depósitos em
Curvelo, Várzea da Palma e Janaúba. O sertão fornecia, no final da década
de 1970, 45% de suas compras de carvão.
b. Na região de Monlevade, dentro de um raio de 200 km da usina, é com-
prado 20% do carvão.
c. Na região de Vitória, abrangendo o norte do Espírito Santo e o sul da
Bahia. Era carvão de mata nativa e representava 35% das compras. O de-
pósito situava-se em João Neiva.
A Acesita também possuía escritórios de compra, alguns com grandes depó-
sitos, nas mesmas regiões da Belgo-Mineira ou nas proximidades: Águas Vermelhas,
Curvelo, Acesita, Ibiruçu (Espírito Santo). Pretendia, ainda, abrir escritórios em Mon-
tes Claros e Teófilo Otoni (FJP, 1978).
Mas voltemos aos projetos de reflorestamento das grandes empresas.
Já mencionamos que apenas na região do Rio Doce, até o final da década de
1960, período anterior à implementação da legislação de incentivos fiscais, a
Companhia Belgo-Mineira possuía 73.852 ha e a Acesita, aproximadamente
41.796 ha de áreas reflorestadas.
A política de incentivos fiscais para o reflorestamento tinha o objetivo explíci-
to de reduzir os custos da produção de carvão vegetal, isto é, viabilizá-la economicamen-
te. A primeira lei, nº 5.106, de 1966, possibilitava que as pessoas jurídicas abatessem do
imposto de renda até 50% das inversões em reflorestamento após a aplicação do capital.
Em 1970 a legislação tornou-se mais generosa, possibilitando à pessoa jurí-
dica descontar antes no imposto de renda e investir depois. O Fundo de Investimentos
Setoriais (Fiset), administrado pelo IBDF, foi criado em 1974 para estimular o reflores-
tamento através da concentração de recursos e, portanto, com investimentos mais vul-
tosos e em economia de escala.
As empresas evidentemente usaram essa legislação altamente favorável a
elas. No final de 1978, a Belgo-Mineira tinha 145.700 ha reflorestados, sendo apenas
42.973 no vale do Rio Doce e o restante, 102.727, próximos a Belo Horizonte, em Bom
Despacho e em Carbonita, no Vale do Jequitinhonha.
75
MAPA 2.1
MATA ATLÂNTICA ORIGINAL
MAPA 2.2
REMANESCENTES DE MATA ATLÂNTICA
76
MAPA 2.3
PRINCIPAIS MUNICÍPIOS DA REGIÃO LESTE
MAPA 2.4
REGIÕES DE ESTUDO
77
A Acesita, com uma empresa estatal, entrou numa disputa por terras devolu-
tas no Vale do Jequitinhonha que acabaram sendo concedidas a ela, em 1975, pela
Assembléia Legislativa de Minas Gerais, com autorização do Senado Federal. Segun-
do relatório da Acesita Energética, somente na região do Vale do Jequitinhonha essa
empresa possuía 156.786 ha. Nesse “segundo momento do processo de apropriação de
terras” pela Acesita, elas estavam assim distribuídas:
TABELA 2.12
...................................................
Municípios
ACESITA: PROPRIEDADE E ÁREAS REFL
CESITA
Área (ha)
OREST
EFLORESTADAS
ORESTADAS
...................................................
Turmalina 24.796 14,7 15.771
Carbonita 3.971 3,0 1.421
78
movido pelos incentivos fiscais ou, muitas vezes, simplesmente desmatando para
fazer carvão com mata nativa.
Apesar de todos os projetos de reflorestamento fortemente subsidiados,
em 1987, 75% do carvão era derivado de mata nativa e, destes, quase 50% eram
produzidos no noroeste de Minas Gerais. A antiga “Mata Mineira” contribuía apenas
com 14% de todo o consumo do Estado. Quando observamos o carvão de refloresta-
mento, a concentração na produção era também enorme: mais da metade estava no
noroeste e no Jequitinhonha.
TABELA 2.13
...................................................
PRODUÇÃO DE CARVÃO ENFORNADO POR REGIÃO DE PLANEJAMENTO (MDC)
...................................................
Rio Doce 635.072 3,97 476.708 8,66
Total 15.998.389 100,0 5.467.708 100,0
79
TABELA 2.14
...................................................
ÍNDICE DE PECUARIZAÇÃO POR REGIÃO EM MINAS GERAIS (1940/1960/1970/1985)
Regiões Anos
1940 1960 1970 1985
1 39,3 53,2 62,5 62,5
2 43,3 49,4 52,7 41,8
3 34,1 63,0 80,4 81,1
4 30,0 58,7 68,7 69,5
5 38,9 52,7 54,1 55,4
...................................................
6 50,6 60,0 63,9 61,7
7 42,7 56,4 66,8 62,7
Fonte: Censos Agropecuários - IBGE Índices de Pecuarização: área de pastagem dividida pela área total dos
estabelecimentos (ha).
80
Oriente, que é praticamente uma extensão do Aglomerado Urbano no Vale do Aço, e
Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha, todos os outros municípios apresentam ta-
xas significativamente altas. Comparando os dados da década de 1970 com os dados
da década de 1980, verificamos uma clara tendência à diminuição da emigração. (O
fenômeno só não ocorreu em Carbonita.) Como não houve redução na atividade das
empresas nem elas deixaram de ser predominantes na região, num contexto de falta
de alternativas migratórias as atividades reflorestadoras podem exercer, direta ou
indiretamente, a função de reter parte do excedente demográfico.
TABELA 2.15
ÁREAS MONOCULTORAS DE EUCALIPTO DE PROPRIEDADE DE EMPRESAS E TAXAS LÍQUIDAS
...................................................
DE IMIGRAÇÃO POR MUNICÍPIO EM MINAS GERAIS (1970-1991)
...................................................
São José do Goiabal
81
TABELA 2.16
...................................................
Região
INDIC ADORES DEMOGRÁFICOS E AMBIENT
NDICADORES
...................................................
6 1,00 2,2 -1,9 -97836 -8,50 61,7 13091 30050
7 1,20 2,5 -0,9 -36896 -5,66 62,5 - 1984
Fonte: Dados trabalhados a partir dos Censos Demográficos - Agropecuários do IBGE e informações
das empresas.
OBS:
TCT: Taxa de Crescimento Total entre 1980 e 1991
TCU: Taxa de Crescimento Urbano entre 1980 e 1991
TCR: Taxa de Crescimento Rural entre 1980 e 1991
SLM: Saldo Líquido Migratório entre 1980 e 1991
TML: Taxa de Migração Líquida entre 1980 e 1991
PEC.: Percentual de Pastagens em 1985 (área de pastagens dividida pela área total
dos estabelecimentos, em ha)
PROP.: Área de propriedade de empresas em 1991 (ha)
REF.: Área de reflorestamento na década de 1980 (ha)
82
razoável supor, como já mencionamos antes, que numa região estagna-
da e num contexto de crise e de falta de alternativas emigratórias, o
reflorestamento poderia ser uma alternativa de emprego para parte da
população potencialmente emigrante.
Não devemos esquecer que, apesar de ter desacelerado o ritmo de cres-
cimento das cidades, as taxas de urbanização, isto é, a proporção dos
habitantes morando em áreas urbanas, aumentaram em todas as regiões
do leste mineiro.
b. As taxas de pecuarização aumentaram em todo o leste, menos onde as
terras foram dominadas pelos projetos de reflorestamento. O que pare-
ce bastante lógico, pois ambos são extensivos no uso de terras e, portan-
to, competitivos.
O crescimento das áreas de propriedades das empresas foi enorme.
Para se ter uma idéia, somente seis grandes empresas siderúrgicas e
de reflorestamento tinham mais de um milhão de hectares unicamen-
te no leste mineiro.
Já as áreas de lavoura em pouco mais de 20 anos tiveram uma varia-
ção muito pequena, chegando mesmo a diminuir nas regiões do vale
do Rio Doce.
c. Quanto ao emprego agrícola, houve algumas modificações interessan-
tes, segundo os Censos Agropecuários. O emprego temporário cresceu
praticamente em todo o leste mineiro, acompanhado de uma redução
significativa das relações de parceria. Ocorreu uma relativa moderniza-
ção da agricultura, tendo à frente as grandes empresas de refloresta-
mento e a pecuária. Uma das expressões disso foi o crescimento quase
generalizado do emprego permanente.
Um paradoxo importante dessa modernização foi que ela não prescin-
diu de manter praticamente estável uma economia camponesa, indica-
da pela quase estabilidade da mão-de-obra familiar não remunerada. Isso
aponta na mesma direção que mencionamos ao analisar a década de 1970:
as modernas empresas de reflorestamento não prescindem de formas
tradicionais de relações de trabalho que rebaixam seus custos de repro-
dução, assim como estimulam os pequenos proprietários, parceiros e ar-
rendatários na produção de carvão de mata nativa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os diversos padrões de interação entre população e meio ambiente de-
senvolveram-se segundo ciclos, cada qual com sua atividade econômica hege-
mônica e um pólo urbano de maior relevância. À hegemonia econômica de cada
atividade correspondia um auge demográfico de uma cidade ou região, assim
como o declínio econômico correspondia a uma diminuição das taxas de cresci-
mento demográfico.
83
MAPA 2.5
PROPORÇÃO DE MATAS NATIVAS - 1940
MAPA 2.6
PROPRIEDADES DAS EMPRESAS ATÉ 1970
84
MAPA 2.7
PROPRIEDADES DAS EMPRESAS ATÉ 1970
MAPA 2.8
TAXAS DE CRESCIMENTO POPULACIONAL
MAPA 2.9
SALDO LÍQUIDO MIGRATÓRIO - 1980/91
85
Não existem dados de população urbana para o primeiro período de análise,
1900/1940, quando o café era a atividade econômica hegemônica. Entretanto, era evi-
dente, segundo os dados da população total, a predominância de Caratinga e Juiz de
Fora, na Zona da Mata, e de Teófilo Otoni, no vale do Rio Mucuri. Anteriormente,
analisamos essas informações utilizando o conceito de “urbanização transitória da po-
breza” para mostrar como em um determinado momento algumas cidades absorvem o
excedente demográfico gerado pela estagnação regional, mas não dão conta de retê-lo
quando sofrem a competição de outros pólos emergentes.
Nos outros períodos, 1940-70 e 1970-1991, tivemos a hegemonia de Gover-
nador Valadares e do AUVA. Ambos, entre 1980 e 1991, cresceram apenas 1,5% e 1,9%
ao ano, apesar de no passado terem crescido mais de 10,0%.
Uma conseqüência fundamental desses ciclos pode ser observada pelos da-
dos das migrações de duas dessas cidades, Caratinga e Governador Valadares, e do
Aglomerado Urbano do Vale do Aço (AUVA), composto por Ipatinga, Timóteo e Coro-
nel Fabriciano. (Ver tabela 2.17 à pag. 38).
Mais de 60,0% dos imigrantes de cada um destes pólos eram provenientes
da própria região, isto é, do próprio vale do Rio Doce. Eles atraíram o excedente de
população produzido pela estagnação regional durante um certo período, mas não tive-
ram capacidade de reter a maioria deles, servindo apenas à etapa migratória.
A absorção transitória do excedente durante o auge da economia dessas ci-
dades ou regiões era seguida pela expulsão em função de pólos emergentes ou do
aumento da capacidade de atração de outras regiões de Minas ou do Brasil.
Os pólos, nos seus diversos momentos, têm uma relação extremamente de-
sastrosa com o meio ambiente. No auge tendem a criar deseconomias de aglomeração
ou, no caso de monoculturas, a absorver e concentrar os recursos regionais, inclusive a
propriedade. No seu declínio, como interagem muito pouco com outros pólos, atraem
apenas pobreza, tendem a exaurir os recursos naturais, como o solo e a água exaustiva-
mente utilizados.
No caso particular de um complexo siderúrgico, mesmo que o seu de-
clínio seja fundamentalmente demográfico, pelos limites técnicos da curva da
oferta de emprego, as externalidades geradas pela poluição de água e ar levam a
uma situação peculiar: exportam-se as externalidades positivas e internalizam-
se as negativas.
Finalmente, quando discutimos a questão da utilização da biomassa, não
estamos questionando o seu uso como forma alternativa de energia. Nosso objetivo foi
analisar seus efeitos desastrosos sobre a biodiversidade.
Utilizando somente informações do vale do Rio Doce, foi possível construir
duas matrizes de produção e consumo de carvão vegetal de mata nativa e de reflores-
tamento para 1989. E era fantástico como as duas empresas, Belgo e Acesita, dependi-
am do carvão de mata nativa. O problema não era só o reflorestamento promovido
pelas grandes empresas, mas principalmente o mercado de carvão que elas estimula-
vam para comprar a preços em que não conseguiam produzir.
86
TABELA 2.17
.............................................................................
FLUXOS MIGRA
Local
TÓRIOS (%) - GOVERNADOR VAL
IGRATÓRIOS
Governador Valadares
ADARES/CARA
ALADARES
Vale do Aço
TING
ARATING
TINGAA/AUVA*
/AUVA
Caratinga
Imigração Emigração Imigraçã Emigração Imigração Emigração
AUVA 3,75 11,15 - - 14,54 24,00
Caratinga 2,31 0,95 8,69 6,75 - -
G. Valadares - - 6,47 4,48 3,83 2,58
Total Rio Doce 73,67 41,31 68,65 35,69 61,96 38,83
Minas Gerais 81,89 55,20 88,34 72,02 80,97 65,45
São Paulo 4,58 17,75 - - - -
.............................................................................
Brasil/Outros 13,53 27,04 11,66 27,98 19,03 34,55
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
87
TABELA 2.18
PRODUÇÃO, IMPORTAÇÃO E DESTINO DO CARVÃO VEGET
MPORT AL POR MUNICÍPIO -
EGETAL
.............................................................................
Origem
MINAS GERAIS (1989) - CARVÃO DE REFLOREST
EFLOREST AMENTO
ORESTAMENTO
Belo
- - - 37909,0 - - - 37909
Oriente
Bom Jesus
- - - - - - 53562,5 53562,5
do Galho
Caratinga - - - 82794 - - - 82794
Coronel
- - - 25627,0 - - - 25627
Fabriciano
Córrego
- - - - - - 23900,9 23900,9
Novo
Dionísio - - - 79458,0 - - - 79458
Divinolândia 150,0 - - - 357,0 - - 507
Governador
- - - - - - - 0
Valadares
Guanhães 8057,0 - - - 988,0 - - 9045
Ipatinga - - - - - - - 0
Itabira 768,0 - 473,2 - - 12684,5 - 13925,7
Jaguaraçu - - - - - - - 0
Materlândia 769,0 - - - - - - 769
Mesquita - - - 62626,0 - - 27509,9 90135,9
Nova Era - - - - - - - 0
Peçanha 33642,0 - - - 2108,0 97,0 - 35847
Rio
100,0 - - 11069,0 - - 11169
Piracicaba
Sabinópolis 3019,0 - 995,0 - - 4014
Santa
21441,0 - 81,7 59593,0 - - - 81115,7
Bárbara
São
Domingos 50,0 - 18,0 19561 - - - 19629
do Prata
São José do
- - - 59442,0 - - - 59442
Goiabal
Sardoa - - - - 115,0 - - 115
Timóteo - - - - - - 12170,9 12170,9
Virginópolis 1639,0 - - - 3154,0 - - 4793
Bahia 25782,0 - - 40790,0 - - - 66572
Espírito
83571,0 - - 193384,0 - - 206492,2 483447,2
Santo
.............................................................................
Goiás - - - - - - - 0
Total 178988,0 42266, 572,9 721383,0 7717,0 12781,5 362393,2 1326101,6
88
TABELA 2.19
PRODUÇÃO, IMPORTAÇÃO E DESTINO DO CARVÃO VEGETAL POR MUNICÍPIO EM MINAS
.............................................................................
Origem
GERAIS (1989) - CARVÃO DE MATA NATIVA
São Domingos
- - 436,3 2000 - - 1000,5 3436,8
do Prata
São José do
- - - 368,7 - - 40,3 409
Goiabal
Sardoa - - - - - 1182,2 - 1182,2
Timóteo - - - - - - 3090,7 3090,7
Virginópolis - 159 734 - - - - 893
Bahia - - - - - - 89240,1 89240,1
.............................................................................
Goiás - - - - - - 6674,3 6674,3
Total 0 2942 43328,2 10284,2 4907 36752,9 261294,3 1326101,
89
90
3. OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO
E ESTRUTURA URBANA
.....................................
Roberto L. de M. Monte-Mór
(Coord.)
Para uma primeira visão histórica da “desdita” indígena na região, ver Urban (1992), Paraíso (1992) e
2
Hemming (1978).
A respeito da emergência da siderurgia em Minas, ver Iglésias (1958), Diniz (1981), Borges (1983) e
3
Santos (1986).
92
a agropecuária e a mineração: a Escola de Agricultura de Itabira, nos anos 50, uma das
primeiras em Minas Gerais, e a criação da Escola de Minas de Ouro Preto, em 1876.
Entretanto, foi a implantação da ferrovia Vitória-Minas no início do século
XX, ao longo dos rios Doce e Piracicaba que deu o contorno básico futuro da Bacia do
Rio Piracicaba. Deslocada do seu traçado original em direção a Diamantina, a Vitória-
Minas estendeu-se serra acima até atingir as imensas reservas de ferro descobertas em
Itabira, iniciando o império mineral da Cia. Vale do Rio Doce. Em 1930 a ferrovia
chegou a Nova Era; depois, a Itabira; hoje, até Congonhas, estendendo-se para além
da bacia em busca do minério.
Já na década de 1920 iniciou-se a implantação de grandes siderúrgicas na
bacia. Em 1925, uma usina foi criada em Barão de Cocais, pelo grupo inglês Hime
& Cia. Em 1921, a Companhia Siderúrgica Mineira, de capitais locais, foi encam-
pada pelo grupo belgo-luxemburguês ARBED. Utilizando a pequena usina em
Sabará como formadora de mão-de-obra e tecnologia, o grupo logo projetou uma
grande usina siderúrgica a carvão vegetal, sendo o município de Rio Piracicaba
escolhido pela nova empresa, a Companhia Siderúrgica Belgo- Mineira (CSBM),
para o empreendimento.
Ali localizada pela abundância das matas e do minério de ferro (em particu-
lar, a mina de Andrade), em clara opção locacional weberiana4 , característica das indús-
trias de bens intermediários orientadas para as matérias-primas, a CSBM iniciou a con-
centração industrial que se consolidou ao longo do século na região. A ferrovia ligando
a região ao porto, em Vitória, as matas para o carvão e a riqueza mineral próxima garan-
tiram a localização posterior de duas outras grandes siderúrgicas: a Aços Especiais Ita-
bira (Acesita), na década de 1940, e a Usiminas, no final dos anos 50, ambas no municí-
pio de Coronel Fabriciano, junto à confluência dos rios Piracicaba e Doce.
Consolidava-se assim a vocação regional da Bacia. Os grandes investimentos
industriais e a construção das respectivas vilas e cidades requeridas por empreendi-
mentos de tal porte provocaram grande reorganização espacial da população. De um
lado, uma intensa urbanização concentrada em cidades monoindustriais na parte alta
do vale: Monlevade, Itabira, Barão de Cocais e municípios vizinhos, onde siderúrgicas
menores e minerações se concentraram. De outro lado, na planície, Coronel Fabricia-
no dava lugar à formação do Aglomerado Urbano do Vale do Aço (AUVA), conjunto
formado pelo município original e dois municípios dele desmembrados nos anos 60,
em função da concentração siderúrgica, Ipatinga e Timóteo, apresentando taxas de
urbanização as mais altas do país (Monte-Mór, 1974). A criação da Celulose Nipo-Bra-
sileira (Cenibra), na década de 1970, poucos quilômetros rio abaixo, veio aumentar o
poder concentrador do AUVA. Paralelamente, as demandas por carvão vegetal da CSBM
e da Acesita e, mais recentemente, por madeira para celulose da Cenibra, levaram à
concentração da propriedade das terras na região, dando origem a imensas plantações
de eucalipto, que resultaram no esvaziamento populacional do campo e pressões ainda
maiores sobre as poucas cidades.
Ver Leme, Ruy A. da S. Contribuições à Teoria da Localização Industrial. São Paulo, Edusp, 1982.
4
93
ORGANIZAÇÃO ESPACIAL E FORMAÇÃO
DA REDE URBANA
A ORGANIZAÇÃO MUNICIPAL
A herança ibérica do município como unidade autônoma é um dos marcan-
tes legados coloniais à organização sócio-espacial do Brasil. A força legisladora das ca-
sas de câmara, na tradição municipal, em permanente choque com o patrimonialismo
centrado na posse das terras, teve papel fundamental na estruturação do Estado brasi-
leiro. O município, visto como a “célula vital” da organização político-institucional do
país, mostra-se hoje fortalecido pela Constituição de 1988, em alguns casos transfor-
mado no reduto final de um estado do bem-estar falido e em franca decadência.
Apenas dois municípios, criados ainda no início do século XVIII - Sabará e
Mariana - deram origem aos atuais 22 municípios da bacia. Ouro Preto, criado no mes-
mo ano, tem na bacia apenas uma pequena região quase desabitada, onde nasce o
Piracicaba5 . Mariana abrangia 11 dos atuais municípios e já no século XIX deu origem
a três municípios: Santa Bárbara (1839), Ponte Nova (1857) e Alvinópolis (1891). São
Domingos do Prata (1890), desmembrado de Santa Bárbara, e Itabira (1833), do “tron-
co” Sabará-Caeté, são também do século passado (figuras 3.1 e 3.2).
Deste século são os demais 17 municípios da bacia. Em 1911, surgem Rio
Piracicaba (de Santa Bárbara) e Antonio Dias (de Itabira), já mostrando o impacto da
mineração e da siderurgia e da construção da ferrovia Vitória-Minas, que, em 1938,
motivou a emancipação de Nova Era.
Na década de 1940 foram criados Barão de Cocais, ex-distrito de Santa Bár-
bara transformado em “cidade monoindustrial”, e Coronel Fabriciano (desmembrado
de Antônio Dias), base de atuação da Vale do Rio Doce e pólo florestal da CSBM,
fortalecido temporariamente com a implantação da Acesita no distrito de Timóteo.
Em 1962 foram criados os quatro municípios que abrigam as quatro maio-
res indústrias da bacia: João Monlevade (CSBM), Timóteo (Acesita), Ipatinga (Usi-
minas) e Belo Oriente (Cenibra)6 . Também Bela Vista de Minas, criado no mesmo
ano, resulta do crescimento migratório provocado pela expansão urbano-industrial
de Monlevade. Desde então, apenas nesta década foram criados novos municípios
na região, quando se emanciparam de Mesquita e Caratinga seus respectivos distri-
tos de Santana do Paraíso e Ipaba, resultantes do transbordamento do AUVA sobre
sua periferia imediata.
Ouro Preto e Caratinga foram excluídos dos nossos estudos de urbanização; Mariana foi incluída, apesar de
5
ter na bacia apenas (ainda que integralmente) o distrito de Santa Rita Durão. Neste estudo, são considera-
dos somente os municípios pertencentes à bacia do Piracicaba, acrescidos de alguns municípios localizados
à margem esquerda do médio Rio Doce, junto à confluência dos dois rios, totalizando 22 municípios.
A emancipação é uma questão a ser pesquisada em si mesma. Atende muitas vezes a interesses político-
6
partidários, como também a estratégias das empresas para melhor controle de “suas” cidades industriais
e particulares. O isolamento do município original, que arca com os custos da proximidade da concentra-
ção sem os benefícios fiscais e de investimentos das empresas, tem sido uma constante da qual Coronel
Fabriciano é um caso exemplar.
94
FIGURA 3.1
ORIGEM DOS MUNICÍPIOS DA BACIA DO RIO PIRACICABA - ANO DE CRIAÇÃO
Caeté
1814
Manhuaçu
Ferros 1877
1884
Nova Era
1938 Barão de Cocais
1943
Coronel Fabriciano
1948
Belo Oriente Bela Vista Ipatinga Timóteo São Gonçalo João Monlevade
1962 de Minas 1962 1962 do Rio Abaixo 1962
1962 1962
01 - Ouro Preto
02 - Mariana
03 - Santa Bárbara
04 - Alvinópolis
05 - Barão de Cocais
06 - São Gonçalo do Rio Abaixo
07 - João Monlevade
08 - Rio Piracicaba
09 - São Domingos do Prata
10 Bom Jesus do Amparo
11 - Itabira
12 - Bela Vista de Minas
13 - Nova Era
14 - Antômio Dias
15 - Jaguaraçu
16 - Marliéria
17 - Coronel Fabriciano
18 - Timóteo
19 - Ipatinga
20 - Santana do Paraíso
21 - Belo Oriente
22 - Iapu
95
FIGURA 3.2
EVOLUÇÃO TERRITORIAL DA BACIA DO PIRACICABA - PERSPECTIVA HISTÓRICA
96
A fragmentação municipal tem se mostrado mais freqüente nas áreas urba-
no-industriais e cercanias, onde há maior concentração populacional (e da propriedade
da terra rural), quais sejam, o Aglomerado Urbano do Vale do Aço7 e a concentração
urbano-industrial de Monlevade. De outra parte, há grandes municípios com inúme-
ros distritos (Mariana, São Domingos do Prata, Santa Bárbara, entre outros) que certa-
mente terão sua área dividida em futuro próximo, mantidas as atuais tendências de
concentração urbana e fragmentação municipal reinantes na região e no país.
A EMERGÊNCIA DO URBANO
Ainda que várias cidades abrigassem alguma atividade manufatureira de trans-
formação industrial, as sedes dos municípios (e dos distritos) que se estruturaram ao
longo dos vales da Bacia do Rio Piracicaba constituíam principalmente pequenos luga-
res centrais de apoio à atividade mineradora e/ou agrícola. Em 1940, os municípios da
região ainda eram predominantemente rurais, como de resto Minas Gerais e o próprio
Brasil. A região como um todo apresentava um grau de urbanização de 23,35%, próxi-
ma da média estadual de 25,13%.
Um incipiente processo de urbanização podia ser notado apenas em algumas
cidades tomadas para suporte de atividades industriais. Barão de Cocais, o distrito de
Santa Bárbara onde em 1925 se implantou a referida usina siderúrgica do grupo inglês,
tinha 2285 habitantes - 55% de sua população - vivendo na sede distrital, próxima à
usina. Enquanto isso, Santa Bárbara, de tradição mineradora e de pequenas forjas, ti-
nha uma população urbana próxima de 6.500 habitantes, correspondendo a 40% da
população total (Tabela 3.1a). Ainda que reduzida em tamanho, expressava seu papel
histórico de centro de serviços de uma extensa região. Da mesma forma, e mais forte-
mente, Ouro Preto e Mariana (com mais de 10.000 habitantes cada uma e 55% e 40%
de grau de urbanização, respectivamente) se evidenciavam como lugares centrais his-
tóricos na região das minas. Enfim, a própria dimensão reduzida das cidades evidenci-
ava o caráter eminentemente rural da região ao final da década de 1930.
As décadas de 1940 e 1950 assistiram a uma intensificação da urbanização nas
áreas de concentração industrial. A região como um todo urbanizou-se a taxas mais altas
que a média estadual, mais do que triplicando sua população urbana nas duas décadas.
Em 1960, o município de Coronel Fabriciano e os distritos de Timóteo e Monlevade já
apresentavam um grau de urbanização superior a 80%, enquanto Barão de Cocais aproxi-
mava-se de 70%. Além destes, sete outros municípios (ou distritos emancipados em se-
guida) apresentavam grau de urbanização superior à média estadual, que já atingia 40%.
Cabe notar que a implantação da ferrovia e da siderurgia foram indutoras
também de um crescimento demográfico no campo. A população rural da região cres-
ceu quase quatro vezes mais que a população rural de Minas Gerais. Na década de
1950, com a política de garantia de carvão vegetal por parte da CSBM e a implantação
mond, 1974), o AUVA e sua periferia integram hoje o projeto de criação da Região Metropolitana do Vale
do Aço na Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Inicialmente pensada com seis municípios, a RMVA
proposta abrange agora 13 municípios.
97
da Acesita, ambas as empresas demandando grandes extensões de terras para o plantio
de eucalipto, aquele crescimento transformou-se em perda relativa de população rural
(taxa inferior à média estadual) para dar lugar, desde então até 1991, a taxas negativas
de crescimento rural, como de resto em Minas Gerais como um todo.
Na década de 1960, o processo de concentração urbana acentuou-se, tendo o
AUVA e Monlevade superado 90% nos seus graus de urbanização, enquanto Itabira,
Barão de Cocais e Bela Vista de Minas atingiram 70%. De fato, desde o início dos anos
60, a Bacia do Rio Piracicaba caracterizava-se como uma região rural em processo in-
tenso de urbanização concentrada e de expulsão de população rural da terra. As taxas
negativas da população rural permaneceram altas, enquanto a taxa de urbanização (po-
sitiva) se manteve acima da média estadual, puxada para cima por Ipatinga, Timóteo,
TABELA 3.1
.............................................................................
Municípios
POPULAÇÃO URBANA
Período
1940 1950 1960 1970 1980 1991
Alvinópolis 3221 4367 4950 6560 7328 9026
Antônio Dias 1060 1185 1544 2184 3405 3698
Barão de Cocais 2285 5369 7626 8666 12703 18096
Bela Vista de Minas - 0 5350 8035 8910
Belo Oriente - 501 802 3474 5657 12485
São Gonçalo do Rio Abaixo 844 948 1555 1854 2450 3160
.............................................................................
Na Região 52385 74632 157623 299592 517239 650715
MINAS GERAIS 1693040 2320054 3880388 6060300 8982134 11786893
98
Coronel Fabriciano (que recebia parte do crescimento daquelas duas “cidades particu-
lares”) e Itabira.
De fato, Ipatinga passou de uma vila de menos de 10.000 habitantes em
1960 para uma cidade de quase 50.000 pessoas em 1970. Ao lado, Fabriciano mais
que dobrou de tamanho, superando os 40.000 habitantes, enquanto Timóteo so-
mava mais de 30.000, e o AUVA se constitui em uma região urbana quase-conurba-
da e interfuncional, com mais de 120.000 habitantes. Por outro lado, Itabira conti-
nuava crescendo, mais que dobrando sua população urbana a cada década, atingin-
do 56.000 habitantes, enquanto Monlevade atingia quase 40.000, mostrando que
as principais cidades monoindustriais da região tinham ganhado autonomia e porte
de centros médios estaduais.
TABELA 3.1A
.............................................................................
Municípios
POPULAÇÃO TOTAL
Período
1940 1950 1960 1970 1980 1991
Alvinópolis 13411 15015 14545 15547 15045 15324
Antônio Dias 10544 12239 11042 11666 10666 9772
Barão de Cocais 4189 9513 11143 11966 15295 20291
Bela Vista de Minas - - 6769 7584 9922 9594
Belo Oriente - 6866 6307 9978 12623 16718
São Gonçalo do Rio Abaixo 5737 5267 5658 7865 10094 8322
.............................................................................
Na Região 170093 225332 298949 427426 625929 738657
Minas Gerais 6736416 7717792 9698118 1148741 13378553 15743152
99
FIGURA 3.3
GRAU DE URBANIZAÇÃO
FIGURA 3.4
TAMANHO DE CIDADES
FIGURA 3.5
TAXA DE CRESCIMENTO URBANO
100
FIGURA. 3.6
MAPA A.U. VALE DO AÇO
101
Essas cidades médias da região continuaram a crescer intensamente durante
toda a década de 1970, até sofrer brusca desaceleração na década de 1980. De fato, nos
anos 80, as três cidades do AUVA, João Monlevade e Itabira cresceram a taxas bastante
inferiores às médias regional e estadual. Ao contrário, foram as cidades menores da
Bacia as que mais cresceram: Barão de Cocais e Santa Bárbara, no Alto Piracicaba, e
Belo Oriente e Mesquita no Baixo Piracicaba, junto ao AUVA. Neste caso, não são as
“cidades” de Belo Oriente e Mesquita que cresceram, mas sim algumas áreas urbanas
desses municípios, sedes distritais invadidas pelo tecido urbano-industrial urdido no
AUVA e estendido sobre a periferia “metropolitana”. De fato, o AUVA cresceu em
Mesquita, em Belo Oriente, em Jaguaraçu e Ipaba, e na área rural de Marliéria.
Não são apenas as cidades que se estendem; são também as condições de
produção exigidas pela dinâmica industrial, incluída aí a reprodução coletiva da força
de trabalho. Essas novas áreas “urbanizadas” são criadas, em alguns casos, quase como
caricaturas das vilas industriais construídas pelas empresas, espaço urbano legítimo de
suporte à função industrial.
As cidades comerciais tradicionais - os lugares centrais - tomadas pela indús-
tria “explodem”, transformando-se no “tecido urbano-industrial” que se estende, res-
pondendo por um lado à dinâmica do capital - e do capital imobiliário em particular - e de
outro às estratégias de sobrevivência das populações destituídas das condições mínimas
da cidadania, excluídas da pólis. O tecido urbano-industrial consolida-se nas cidades e
estende-se para além delas, ocupando os espaços rurais circundantes com infra-estrutura
produtiva, acampamentos de suporte à produção, concentrações proto-urbanas ao longo
das estradas e no interior das matas (de eucalipto), com casas de campo e espaços de
lazer, empalidecendo as distinções marcadas entre o rural e o urbano8 .
Estas novas formas urbano-rurais existentes na Bacia correspondem, segundo o IBGE, a áreas externas ao
9
perímetro urbano e podem ser: definidas por lei municipal como urbanas (AUI); desenvolvidas a partir da
expansão de vila ou cidade (AREU); aglomerados rurais com mais de 50 domicílios que são centros de
serviços locais (PR); e núcleos isolados (NR) vinculados a um único proprietário do solo (empresa agríco-
la, indústria, usina etc.) (FIBGE, 1991).
102
No baixo vale, o AUVA, hoje com mais de 300.000 habitantes urbanos nos
três municípios, abrange de fato uma população superior a 350.000 pessoas, se consi-
derarmos os habitantes “rurais” dos três municípios e os habitantes dos municípios
vizinhos quotidianamente integrados à vida “metropolitana”, em movimentos pendu-
lares em direção ao aglomerado urbano. Essa concentração metropolitana parece con-
denada à expansão, seja propulsionada por investimentos industriais (há esforços mu-
nicipais recentes para atrair grandes indústrias para o AUVA), seja pela economia de
serviços, que pode fazer da futura RMVA um pólo terciário regional. De fato, ao criar as
condições necessárias à produção, circulação e consumo de mercadorias industriais, o
tecido urbano-industrial cria também condições para a disseminação de certos tipos de
serviços que caracterizam a centralidade do urbano.
Nas montanhas, Monlevade e Itabira, cercadas de cidades pequenas em
crescimento (Santa Bárbara, Barão de Cocais, São Domingos do Prata) e/ou com alto
grau de urbanização (Bela Vista de Minas, Nova Era), vêm buscando maior integra-
ção microrregional. A Associação Microregional de Municípios do Médio Rio Piraci-
caba (AMEPI), com sede em Monlevade, tem se fortalecido, ganhando a adesão até
mesmo de municipalidades do baixo vale anteriormente ligadas a AMVA - Associa-
ção Microregional de Municípios do Vale do Aço. Soluções microrregionais para pro-
blemas urbanos começam a ser estruturadas, ainda de forma tímida, com a eventual
participação de grandes empresas da região e a colaboração de organismos estaduais.
Parece claro que uma organização microrregional mais forte está em gestação (e não
apenas na região), no sentido de buscar soluções conjuntas para problemas comuns
ou correlatos. Nesse sentido, o conceito de bacia hidrográfica contribui para tal mo-
bilização, na medida em que ressalta a interdependência ambiental dos municípios e
identifica problemas comuns.
De qualquer modo, é evidente que o sistema urbano em formação na Bacia
do Piraciacaba está diretamente relacionado à concentração industrial e, mais especifi-
camente, ao setor de bens intermediários, que, por ser fortemente dependente de
recursos naturais, tem um impacto mais significativo no espaço rural onde se concen-
tram esses recursos. De fato, a indústria de bens intermediários produz tradicional-
mente grande impacto ambiental, tanto nas áreas urbanas como nas rurais10 .
Conseqüentemente, essas são áreas que também apresentam problemas
ambientais próprios de áreas industriais e mineradoras, com intensa poluição hídrica e
atmosférica, degradação de solos por erosão e/ou uso indevido, destruição da floresta
rica em fauna e flora, empobrecimento do solo e da biodiversidade pela monocultura
do eucalipto, uso indiscriminado de defensivos agrícolas, etc.
Por outro lado, cabe notar que algumas prefeituras (em especial das cidades
monoindustriais) são ricas, em particular graças à sua participação no Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços, o ICMS. De fato, entre as 40 mais altas receitas
dos municípios mineiros, estão as cidades monoindustriais de Ipatinga (5o), Itabira (6o),
10
A esse respeito, ver os trabalhos de Torres (1992, 1993).
103
104
FIGURA. 3.7
MAPA DA REGIÃO METROPOLITANA DO VALE DO AÇO
Timóteo (12o), João Monlevade (25o) e Belo Oriente (38o)11 . Entretanto, municípios
vizinhos e também impactados, como Marliéria, Jaguaraçu e Bom Jesus do Amparo,
estão entre aqueles de arrecadação mais baixa no Estado.
Soma-se aos recursos próprios municipais a presença de grandes empresas na
região, carreando investimentos diretos delas mesmas e provocando também maior pre-
sença do Estado na região, através de programas federais (BNH, Planasa, incentivos
fiscais para reflorestamento etc.) e da atuação privilegiada da administração direta e indi-
reta do Estado (Cemig, Copasa, Secretarias de Estado, DER, entre muitos outros).
Poder-se-ia então imaginar que as concentrações urbano-industriais apre-
sentariam ótimas condições de serviços sanitários urbanos, enquanto os municípios
rurais pobres estariam em condições precárias nesses aspectos. A análise dos dados dos
serviços sanitários - abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta de lixo (re-
siduos sólidos) - mostra que a complexidade espacial hoje existente na região faz com
que inferências apressadas desse calibre não possam ser feitas.
Fazenda.
105
os moradores dos bairros (Timóteo) e em outras através de uma participação na fiscali-
zação dos serviços da própria prefeitura (Ipatinga, Itabira).
A coleta seletiva de lixo está ainda ausente das prioridades das cidades ana-
lisadas, com exceção de Itabira. Como a coleta de lixo é quase sempre diária apenas na
área comercial central e nos bairros centrais, as cidades apresentam uma grande quan-
tidade de lixo jogado pela população em lotes vagos e nas margens dos rios.
A disposição final do lixo ocorre sob a forma de confinamento adequado
apenas em Ipatinga, que possui um aterro sanitário, e em Itabira, onde existe um ater-
ro controlado. Nas demais cidades, o lixo é lançado em vazadouros a céu aberto, muitas
vezes cortados por cursos d’água. A falta de espaços adequados disponíveis para a dis-
posição final do lixo é um problema generalizado.
Na maioria das cidades, o lixo hospitalar é disposto juntamente com o lixo
urbano a céu aberto, o que torna ainda mais preocupante a “cata do lixo”, que vem
ocorrendo em pelo menos quatro cidades e constitui um sério problema de saúde pú-
blica, na proliferação de vetores e transmissão de doenças.
O atual quadro de disposição de resíduos sólidos municipais na região indica
que é preciso estimular o consórcio entre municípios, de modo que as comunidades se
ajudem mutuamente, através da cooperação técnica e da ampliação das áreas disponí-
veis para a disposição do lixo, via utilização de espaços comuns, entre outros fatores
que podem reduzir os custos crescentes da administração do lixo e melhorar a qualida-
de do atendimento.
ABASTECIMENTO DE ÁGUA
Nas cidades monoindustriais, parte das redes de água foi construída pelas
empresas para abastecer os bairros que abrigavam seus funcionários. Atualmente, as re-
des ainda são utilizadas para abastecer aqueles bairros, embora sua manutenção esteja a
cargo dos órgãos que operam os sistemas municipais, sendo que em Monlevade e Ipatin-
ga a Usiminas e a Belgo ainda fornecem água tratada para alguns de “seus” bairros.
O abastecimento doméstico de água na região é feito pela Companhia de Sane-
amento de Minas Gerais (Copasa), pelos Serviços Autônomos de Água e Esgoto (SAAE’s)
e diretamente pelas prefeituras. Na região do Vale do Aço, a Copasa opera nas cidades de
Ipatinga, Fabriciano, Timóteo, Ipaba e Antônio Dias. No médio Piracicaba, opera em
Bela Vista de Minas, São Domingos do Prata, Rio Piracicaba e Bom Jesus do Amparo.
Nos municípios do AUVA, a água é captada por meio de poços tubulares de
70 metros de profundidade e sofre apenas cloração. Comparados com outros poços
para captação de águas subterrâneas, os da região (aluvionares) são de pequena profun-
didade, mas, por ser a água de melhor qualidade, não há necessidade do tratamento
convencional. Assim, os custos puderam ser reduzidos. No entanto, o problema da
presença de ferro e manganês na água tem sido motivo de protesto por parte da popu-
lação e tem exigido o dispêndio de recursos crescentes nos últimos anos. Além disso, a
transferência de receitas obtidas nas cidades para a estrutura centralizada da empresa e
o elevado nível de perdas físicas, financiado pelos consumidores, não são bem recebi-
106
dos, especialmente em municípios onde o retorno econômico dos sistemas de água é
maior. Os municípios menores, o espaço rural e as regiões mais pobres não têm sido
satisfatoriamente atendidos.
Cidades importantes na região, como Itabira e João Monlevade, entre ou-
tras, apresentam sistemas de abastecimento de água eficientes, que não dependem da
concessionária. Há também municípios com sistemas bem organizados, herdeiros da
FSESP, que pretendem continuar operando o serviço de água independentemente,
considerando o saneamento básico elemento importante dos seus programas políticos.
O maior problema reside nos pequenos municípios rurais, que operam os
sistemas sem conseguir superar a falta de recursos. Nesses casos, não há tratamento da
água, sendo comum a contaminação de nascentes, deficiências na administração dos
recursos e no gerenciamento do sistema, faltando apoio e conhecimento técnico sobre
as necessidades de operação e manutenção do sistema. Esses municípios buscam auxí-
lio em outros mais bem equipados.
Com a nova lei de concessão de serviços públicos, há espaço para a privatiza-
ção. Nesse contexto, pequenos municípios não são atraentes para a iniciativa privada,
pois é de difícil viabilidade econômica o abastecimento de água para populações pe-
quenas e pobres. Com isso, resta aos municípios capacitarem-se para gerenciar com
eficiência seus sistemas de água, o que pode ser grandemente facilitado por meio dos
consórcios intermunicipais.
ESGOTAMENTO SANITÁRIO
A população atendida por redes públicas de esgoto é menor do que no caso
da água. De fato, o esgotamento sanitário carece de recursos públicos, que foram cana-
lizados predominantemente para o abastecimento doméstico de água. Nenhuma cida-
de da bacia trata o esgoto antes de lançá-lo nos corpos d’água. Apenas Itabira iniciou as
obras para tratamento do esgoto de uma parte da cidade.
A Copasa opera o serviço de esgoto apenas em Ipatinga e Coronel Fabricia-
no. Em Ipatinga há um conflito judicial entre a cidade e a concessionária, no qual a
municipalidade tenta recuperar a operação do serviço pois, apesar da empresa estadual
ter aproveitado a infra-estrurura existente, as redes hoje existentes ainda são insufici-
entes o que, aliado à falta de interceptores e de tratamento do esgoto, gera impactos
ambientais e sociais negativos.
No restante dos municípios, as próprias prefeituras e os SAAE’s atuam na
área de esgotamento sanitário. Nas cidades muito pequenas, falta conhecimento técni-
co a respeito do estado de conservação, extensão e localização das redes. Parte das
redes de João Monlevade e Timóteo e a rede de esgoto de alguns pequenos municípi-
os coincidem com a rede pluvial, gerando mau cheiro e possibilidades de inundações.
Onde não há rede, correm esgotos a céu aberto, pondo em risco a saúde da
população de baixa renda. O Ribeirão Ipanema, em Ipatinga, antiga fonte de abasteci-
mento de água, recebe hoje a maioria do esgoto da cidade. Os problemas de esgota-
mento sanitário evidenciam a fragilidade da política de saneamento, que não está in-
107
tegrada às ações de saúde pública e de controle ambiental. Como resultado, tem-se
elevado índice de doenças por veiculação hídrica, que afligem especialmente os po-
bres. Tomando-se como base os critérios da eqüidade e universalização do saneamen-
to, pode-se dizer que o esgotamento sanitário é um serviço público precário na região,
embora melhor do que em outras áreas de Minas e do Brasil.
12
Não pretendemos desenvolver aqui uma discussão teórica sobre o conceito contemporâneo de urbaniza-
ção. Vale apenas registrar que as concepções de urbanização e de espaço urbano sofreram uma inflexão
nos anos 70 a partir do trabalho de autores marxistas, entre os quais Henri Lefèbvre, Manuel Castells e
David Harvey merecem destaque. No momento, a compreensão da urbanização capitalista no estágio
globalizado parece estar pedindo novas abordagens e reflexões, às quais não pretendemos todavia res-
ponder. Nossa incursão nesse campo teórico visa apenas responder a necessidades conceituais imediatas
para análise do nosso objeto empírico, eventualmente gerando questões para posterior reflexão teórica.
108
medida em termos de onde se vive ou de como se vive? As periferias urbanas desprovi-
das das condições urbanísticas mínimas requeridas pela vida moderna devem ser
consideradas parte do processo de urbanização enquanto as concentrações industriais,
agropecuárias e de serviços localizadas fora dos perímetros urbanos devem ser vistas
como rurais, dispensando serviços de saneamento, entre outros? Tal abordagem dico-
tomizada não parece responder às condições reais hoje observadas.
Assim, acreditamos que a análise da urbanização e de seus impactos sobre o
meio ambiente e a qualidade de vida das populações deve contemplar não apenas onde,
mas principalmente, como vivem essas populações. Diante da complexidade crescente
de um espaço social produzido a nível regional - urbano e rural - com requisitos tecnoló-
gicos e organizacionais cada vez mais múltiplos e diversos; dos efeitos polarizadores,
concentradores e excludentes que a crise mundial do capitalismo industrial vem provo-
cando, intra- e internacionalmente; e das contradições geradas pela hegemonia de mo-
delos de desenvolvimento ecologicamente perversos face à necessidade, reconhecida e
premente, de produzir um ambiente saudável e sustentável nesta virada de milênio, há
que buscar maneiras de incorporar à análise sócio-espacial (e ambiental) a diversidade de
padrões de ocupação do território (e de produção do espaço social), que vem gerando
novas formas de articulação rural-urbana e urbano-regional.
Essas formas contemporâneas de produção do espaço e de ocupação do ter-
ritório no Brasil têm expressado um processo de extensão das condições gerais de pro-
dução exigidas pelo atual estágio do capitalismo brasileiro (globalizado e pós-industri-
al, diriam alguns) para além dos limites das cidades (e das áreas urbanas). Tal extensão
pode se dar contígua às áreas urbanizadas, por crescimento extensivo do tecido urba-
no, ou por fragmentos concentrados no território regional, urbano ou rural13 . Em algu-
mas regiões, os serviços de energia elétrica, telefonia e comunicações, por exemplo, já
abrangem todo o território ocupado, redefinindo assim os padrões da vida social e eco-
nômica e da organização do espaço rural. Essa relativa ubiqüidade de serviços e práti-
cas antes restritas à vida urbana, hoje amplamente encontradas em espaços e regiões
economicamente integradas às regiões metropolitanas, tal como nossa área de estudo,
faz com que diversas características do consumo coletivo urbano (Castells, 1974) exis-
tam quase indiscriminadamente tanto nas áreas urbanas como rurais.
Assim, procurou-se uma definição de urbanização que permitisse medi-la
em diferentes níveis de “urbanidade” e “ruralidade”, buscando privilegiar seus im-
pactos antrópicos sobre o meio ambiente. Mais especificamente, dado nosso enfoque
privilegiado na pesquisa, os impactos sobre os cursos d’água.
Apesar do caráter amplo das questões colocadas acima sobre o processo de
urbanização, não cabe aqui entrar na complexidade da “produção do espaço urbano”14 .
Quando reduzimos a questão urbano-rural ao nível imediato dos serviços de consumo
13
Para uma discussão sucinta da idéia de “urbanização extensiva”, ver Monte-Mór (1994); para uma visão
da “urbanização periférica fragmentada”, caracterizada na região em estudo, ver Costa (1995).
14
A abordagem teórica da produção do espaço tem sua expressão maior em Lefèbvre (1974), tendo sido
tratada também por outros autores, como Harvey (1988), Soja (1989), Gottdiener (1989) e Ellin (1996).
109
coletivo (ditos urbanos) - eletricidade, comunicações, transportes, saúde, educação,
habitação, entre outros -, entendemos que uma qualidade mínima aceitável de vida
para populações integradas ao espaço social contemporâneo pressupõe, de algum modo,
o acesso a serviços modernos. Para fins operacionais de análise, dada a dificuldade de
incorporar a totalidade dos serviços próprios da “urbanização”, decidimos trabalhar
apenas com os serviços sanitários que têm implicações diretas sobre os cursos d’água e
o espaço habitacional nas áreas urbanas e rurais.
Assim, para nossos limitados objetivos, a definição de urbanização deve ne-
cessariamente incluir o grau de acesso dos residentes de uma região geográfica aos
serviços ditos urbanos, entre os quais destacamos os serviços sanitários. Com base nas
informações do Censo Demográfico de 1991 (IBGE) sobre água, esgoto e lixo por
domicílio por município (mas sem definição da natureza rural ou urbana dos domicíli-
os), foram construídos índices que permitissem avaliar comparativamente a situação
sanitária na região de estudo. Esses índices, tomados como medidas de urbanização,
tal como definida acima, poderiam vir a integrar um possível índice de qualidade de
vida a ser construído em outra oportunidade. No momento, servem também ao propó-
sito de discutir a situação sanitária na região, tanto quantitativamente em termos com-
parativos intermunicipais, quanto qualitativamente em termos da natureza dos servi-
ços sanitários, sua adequação ao espaço social e possíveis impactos ambientais.
Partimos do pressuposto inicial de que, em teoria, os domicílios nas áreas
urbanas deveriam ter acesso às redes de água e esgoto (Rede Geral), além da coleta
direta, regular de lixo15 . Podemos então pensar em uma medida de urbanização que,
baseada nos serviços sanitários, expressasse a qualidade de tal acesso: um Índice de
Serviços Sanitários Urbanos (Isu). Esse índice considerou “ter acesso” o domicílio servi-
do pelas redes gerais e pela coleta regular, independentemente de quaisquer outras
subdivisões, e foi calculado supondo-se que as três categorias tenham a mesma impor-
tância no resultado qualitativo ambiental da urbanização.
Assim, um Isu de nível 100 seria atingido quando um município completa-
mente urbanizado (Gu - grau de urbanização 100) tivesse todos os domicílios (nas suas
15
As três categorias censitárias usadas pelo IBGE são: abastecimento de água, uso de escoadouro de insta-
lação sanitária e destino do lixo. O IBGE apresenta minuciosa descrição de cada categoria censitária
utilizada em suas divisões ou subcategorias: o abastecimento de água parte da existência ou não de canalização
interna, classificando em Rede Geral o domicílio que é servido de água proveniente de uma rede geral
de abastecimento; Poço ou Nascente, quando o domicílio é servido de água proveniente de poços ou
nascentes próprios; e Outra Forma, quando é abastecido por água das chuvas, carro-pipa, fonte pública,
poço, bica etc. fora da propriedade; quanto à instalação sanitária, parte do uso de um só domicílio ou
comum a mais de um, classificando o esgotamento por tipo de escoadouro em Rede Geral, Fossa Séptica,
Fossa Rudimentar, Vala e Outro (quando se utilizam diretamente rios, lagos etc.) e Não Tem, quando as
demais classificações não forem preenchidas; o destino do lixo é definido como Coletado Diretamente,
quando o lixo domiciliar é coletado diretamente no domicílio; Coletado Indiretamente, quando é
depositado em caçamba, tanque ou depósito, fora do domicílio para coleta posterior; Queimado, quando
é queimado na área do domicílio ou fora dela; Enterrado, quando enterrado diretamente na área do
domicílio ou fora dela; Jogado em Terreno Baldio, quando é jogado em terreno fora da área do domicílio;
Jogado em Rio, quando jogado diretamente nas águas de córregos, rios, lagos ou lagoas; Outro, quando
tiver algum destino diferente dos enumerados.
110
áreas urbanas) ligados às redes gerais de água e esgoto e coleta regular de lixo. Isso
porque não se esperaria que os domicílios rurais tenham tal tipo de serviço, mesmo
que apresentem soluções adequadas e boas condições sanitárias quanto aos três aspec-
tos selecionados: água, esgoto e lixo. Por outro lado, esperar-se-ia que, dada a não-
universalidade dos referidos serviços nas áreas urbanas, os valores do índice de servi-
ços sanitários urbanos seriam em geral inferiores aos valores do grau de urbanização,
indicando assim a relativa qualidade e/ou precariedade das condições sanitárias urba-
nas locais. Ainda que comparações entre a medida de concentração demográfico-terri-
torial e o acesso a serviços sanitários sejam apenas aproximações, não permitindo con-
clusões finais, diferenças positivas entre o índice de serviços sanitários e o grau de
urbanização [(Isu - Gu) > 0] indicam que determinado município estaria “melhor que
o esperado”, implicando que não apenas todos os domicílios urbanos estariam atendidos,
como também que parte dos domicílios rurais seriam servidos por redes gerais e cole-
tas regulares de lixo (o que parece improvável, mas eventualmente acontece, como
veremos). De outra parte, diferenças negativas [(Isu - Gu) < 0] indicariam o oposto,
isto é, uma situação “pior do que o esperado”, onde um percentual dos domicílios
urbanos não preenchem tais condições. Analiticamente, o Isu é assim expresso:
111
TABELA 3.2
..............................................................................................................
ANÁLISE DOS RESULTADOS
112
..............................................................................................................
Timóteo 95,35 91,06 -4,28 2 93,51 1 87,17 1 -1,84 11 -1,76 11
MINAS GERAIS 76,70 68,51 -8,20 10 76,33 9 52,95 9 -0,37 9 -0,23 9
113
categoria restrita às áreas não-urbanizadas). Quanto ao escoadouro de instalação sanitá-
ria, a inversão hierárquica ficou com a categoria Outro, colocada acima da categoria Vala
(a céu aberto), por se entender que esta pode significar um grau de contaminação
potencial maior do meio ambiente que a descarga direta em cursos d’água, lagos etc.
Para o primeiro índice, nomeado Índice Sanitário Ponderado [Isp], foram dados
pontos em escala descendente às diversas subcategorias segundo sua colocação
hierárquica, de tal maneira que a pior situação ficasse com o maior valor e a melhor
situação com o menor. As escalas de pontuação variaram entre 0 e 3.0, e 0 e 2.5. Após a
ponderação, o resultado de cada categoria foi dividido pelo maior valor de sua escala,
de maneira que no final todos os três índices específicos - abastecimento de água,
escoadouro de instalação sanitária e destino do lixo - ficaram com valores variando
entre 0 e 1, como no índice de serviços (Isu).
O segundo índice, denominado Índice Sanitário Crítico [Isc], partindo da mesma
hierarquização, foi calculado após a definição de uma subcategoria considerada crítica, isto
é, uma subcategoria que expressa, para o abastecimento de água, esgotamento de águas
servidas na instalação sanitária e disposição do lixo, as condições mínimas aceitáveis,
independentemente do caráter urbano ou rural do domicílio. Definiu-se assim então um
ponto crítico, a partir do qual as subcategorias, superiores e inferiores, têm impacto positivo
ou negativo sobre a qualidade de vida17 . Ao ponto crítico foi dado o valor 0 (zero), tomado
como um ponto neutro que não implicaria aumento ou redução do valor total calculado. As
subcategorias superiores e inferiores na hierarquia receberam valores ponderados positivos
e negativos, respectivamente, destribuídos proporcionalmente entre [-1 e 0] e [0 e +1].
A seguir é apresentado o resumo das pontuações nas três categorias:
Ao analisar os índices sanitários na Tabela 3.2 (colunas 5, 6, 7 e 8), observa-se
que ambos apresentam uma comportamento parecido com o dos índices de serviços urba-
nos. Isso significa que os municípios com maior grau de urbanização e com cidades mais
populosas - Timóteo, Monlevade, Ipatinga, Coronel Fabriciano e Itabira - apresentam tam-
bém os cinco maiores índices sanitários ponderado e crítico. No entanto, quando compara-
das as diferenças entre os índices sanitários e o grau de urbanização (colunas 9, 10, 11 e 12),
os municípios rurais — Marliéria, Antônio Dias, São Gonçalo do Rio Abaixo, Bom Jesus do
Amparo e São Domingos do Prata — passam a ocupar as cinco melhores posições.
Aceitando-se os critérios adotados, os dados mostram que, genericamente,
a situação sanitária urbana é pior do que a situação rural, isto é, os municípios mais
urbanizados apresentam uma situação pior do que os municípios rurais, indicando
uma carência de serviços nas áreas urbanas maior do que nas áreas rurais. Isso acon-
tece, provavelmente, porque as possibilidades de soluções autônomas aceitáveis (po-
ços e nascentes, fossas para instalações sanitárias e queima de lixo) são mais possí-
veis nas áreas rurais, menos densas, do que nas áreas urbanas, mais densas mas des-
providas dos serviços públicos.
17
Os índices sanitários — particularmente o Isc, dada a definição do ponto crítico — beneficiam as situações
rurais, permitindo que mesmo índices sanitários menores (com predomínio de subcategorias mais baixas)
superem os baixos graus de urbanização encontrados nesses municípios.
114
QUADRO 3.1
.............................................................................
CATEGORIAS CENSITÁRIAS
.............................................................................
Vala comum a mais de um domicílio 2,50 -0,67
Não tem 3,00 -1,00
115
banização, mostra uma situação sanitária precária tanto nas áreas urbanas como rurais.
Dado o seu alto grau de urbanização, essa precariedade é certaemtne devida à baixa
qualidade da urbanização nas áreas periféricas do perímetro urbano.
Municípios cujas sedes são cidades antigas e/ou consolidadas, de tamanho
médio no contexto regional — Itabira, Ouro Preto, Mariana e Santa Barbara, num pri-
meiro plano, e Rio Piracicaba, Nova Era e Alvinópolis, em segundo -, apresentam uma
flutuação em torno da média estadual, com posições médias também entre os vários
municípios ordenados. O destaque da situação crítica fica confirmado para aqueles mu-
nicípios de rápida e intensa urbanização recente localizados na periferia do AUVA (e hoje
propostos para integração metropolitana): Santana do Paraíso, Ipaba e Belo Oriente. So-
mam-se a estes Bela Vista de Minas, quase uma extensão de João Monlevade, e Barão de
Cocais, cidade industrial de grande crescimento urbano recente com índices médios,
mas grandes diferenças negativas quando comparados ao seu atual grau de urbanização.
Mais uma vez, e agora com maior ênfase, a melhor situação está nos municí-
pios rurais, sendo Marliéria novamente o que se apresenta em primeira posição com
“excedentes”, isto é, diferenças positivas, entre os índices sanitários ponderado e crí-
tico e o grau de urbanização, mais que duplamente superiores aos demais colocados -
São Gonçalo do Rio Abaixo, Antônio Dias, Bom Jesus do Amparo, São Domingos do
Prata e Jaguaraçu -, todos com menos de 50% de grau de urbanização. É interessante
notar a equivalência entre os dois índices e, conseqüentemente, entre as diferenças,
mostrando a adequação da definição do ponto crítico às condições locais.
Alguns pontos conclusivos merecem ser destacados no sentido de informar
futuras pesquisas e debates sobre o tema. Em primeiro lugar, fica evidenciado que o
processo de urbanização por que vem passando a região de estudo comporta muito
maior complexidade do que as medidas tradicionais de urbanização permitem ver e
abarcar. É, portanto, necessário que novos esforços sejam feitos no sentido de explorar
as informações disponíveis, a fim de melhor conhecer as realidades urbano-rurais mu-
nicipais e regionais, medindo-as e comparando-as com o propósito de repensar políticas
públicas e privadas ligadas à oferta dos serviços de consumo coletivo “urbanos”.
A prevalência dos municípios rurais na comparação das condições sanitárias face
à magnitude e intensidade da urbanização sugere que há soluções, com graus diversos de
aceitabilidade (ponderável ou crítica), que podem ser vistas como alternativas às formas
dominantes tradicionais, onerosas, demoradas e conseqüentemente carentes, mesmo em
municípios dos mais ricos do Estado, como o são aqueles monoindustriais nessa região.
CONDIÇÕES DE SAÚDE
O conceito que fundamenta estes comentários está baseado na aceitação de
que a estrutura econômica e social de uma região, em um espaço de tempo escolhido
determina, em grande parte, seu perfil nosológico. Entre os diversos elementos que
compõem a estrutura econômica e social, merecem destaque os processos de trabalho.
A região do vale do Rio Piracicaba passou em um tempo relativamente re-
cente por profundas transformações econômicas e sociais que, seguindo o conceito
116
acima, seguramente influíram em seu perfil nosológico. Um bom exemplo para ilustrar
essa afirmação está nos relatos históricos do processo de implantação das grandes side-
rúrgicas em Timóteo e Ipatinga. A reconstituição histórica desse processo pode ser
sintetizada em três fases: construção, início de operação e crescimento e a fase atual de
desenvolvimento tecnológico.
O perfil nosológico desde o início da fase de construção acompanhou o de-
senvolvimento das empresas. Em um primeiro momento, tivemos a construção civil
com grande oferta de emprego, gerando uma forte corrente migratória para a região,
que, nesse momento, não tinha a infra-estrutura necessária para suportá-la. O abasteci-
mento de água, o sistema de esgotos, a habitação, os serviços de saúde e a estrutura de
lazer, comunicação e transporte eram precários.
A região é de baixa altitude, muito quente, úmida e era coberta por grandes
áreas de mata, fornecendo todas as condições para a proliferação de vetores de doenças
como a malária. Os principais problemas de saúde da região nesse período eram a ma-
lária, as verminoses, os acidentes típicos da construção civil, as doenças infecciosas, as
venéreas e a violência de caráter rural.
Em um segundo momento, com o início de operação das usinas, houve
absorção de boa parte de mão-de-obra empregada na construção, que não estava
preparada para o novo processo de trabalho industrial. Nessa fase surgiram os aci-
dentes típicos da siderurgia, como as grandes queimaduras e a difícil adaptação ao
novo processo de trabalho, com seu ritmo, formas de controle e regime de turnos de
revezamento cobrando o seu preço e realizando uma espécie de seleção natural dos
mais aptos. Doenças como úlceras duodenais, hipertensão e depressão mental vão se
tornar freqüentes. Houve também o surgimento das doenças profissionais e proble-
mas sociais como o alcoolismo.
A fixação das famílias fez surgir uma população infantil e com ela o apareci-
mento das doenças típicas da primeira infância. As doenças ginecológicas e o atendi-
mento aos partos também tornou-se freqüente. A falta de infra-estrutura e também o
clima vão favorecer o desenvolvimento das doenças infecciosas gastrointestinais. De-
vemos chamar a atenção para o fato de que essa fase não substituiu a anterior mas se
reproduziu sobre ela gerando um padrão híbrido de patologias.
A terceira fase corresponde a cidades já desenvolvidas e às usinas completa-
mente implantadas procurando o seu aperfeiçoamento tecnológico. Temos então um
perfil nosológico marcado pelo crescimento das doenças degenerativas - acidentes vas-
culares cerebrais, infartos, tumores etc. -, da violência de caráter urbano, pelos aciden-
tes de tráfego e pelas doenças relacionadas com a poluição.
Nas fábricas, temos as doenças profissionais próprias de empresas do ramo
siderúrgico e mais recentemente o surgimento daquelas relacionadas ao desenvolvi-
mento do processo de trabalho, como as lesões por esforço repetitivo.
A destruição da mata e de parte do sistema de águas da região acabou por
eliminar as pré-condições de doenças como a malária. Entetanto, a permanência de
bolsões de pobreza na região ainda mantém o perfil de doenças infecciosas e princi-
117
palmente as gastrointestinais. O risco da eclosão de epidemias como dengue e cólera
também está vinculado às deficiências do processo de urbanização, carência de parte
da população das condições básicas de infra-estrutura e saneamento.
Novamente não temos a substituição do perfil nosológico anterior por um
mais característico das sociedades modernas. Sem resolver os problemas anteriores,
acrescentamos sobre eles outros mais novos. O Brasil como um todo segue um proces-
so muito semelhante a este.
Essa heterogeneidade de condições e perfis nosológicos vai se repetir por
toda a Bacia do Rio Piracicaba. Certamente poderíamos delinear processos semelhan-
tes a este, relacionados ao desenvolvimento da mineração, do garimpo, à implantação
de florestas de eucalipto para produção de celulose e carvão e também à agonia de uma
agricultura tradicional de subsistência, que a cada dia perde espaço para outras formas
de ocupação do solo. Este último processo, já observado também na região norte do
Estado, tem reflexos importantes sobre a causalidade da mortalidade infantil e na inci-
dência de doenças como hipertensão na área rural.
A história do desenvolvimento econômico da região foi, por assim dizer,
marcando no seu trajeto o cenário para a compreensão dos problemas de saúde da
região. Não poderíamos, por diversos motivos, desenvolver um estudo aprofundado
dessa natureza sobre a saúde da região. Optamos apenas por “fotografá-la” em dois
momentos distintos, utilizando para isso alguns indicadores de saúde bastante simples.
As “fotografias epidemiológicas”, entretanto, permitiram-nos, quando comparadas,
desenhar e discutir em grandes linhas a direção e o sentido das transformações de
saúde da região em um dado período de tempo.
Os dados estatísticos disponíveis e de fácil acesso limitaram-se a estatísticas
de mortalidade. A morbidade, que seria mais adequada para estudarmos o perfil noso-
lógico, só poderia ser obtida através de pesquisa direta, dada a inexistência de informa-
ções confiáveis, sistemáticas para toda a região. A alternativa possível foi utilizar os
registros das internações hospitalares do SUS fornecidos pela Fundação Nacional de
Saúde como uma indicação, ainda que precária, da nosologia da região. Ainda assim,
não tivemos acesso aos dados no mesmo período dos dados de mortalidade, o que nos
impediu de compará-los em duas épocas distintas. Isso trouxe-nos grandes limitações
mas, com as ressalvas necessárias, os dados apresentados ajudam-nos a lançar alguma
luz no problema da saúde na região.
118
TABELA 3.3
.............................................................................
Cidade
MORTALIDADE PROPORCIONAL MAIOR DE 50 ANOS
.............................................................................
Timóteo
Fonte: SES/MG
35,07 54,85 1,56
119
TABELA 3.4
.............................................................................
MORTALIDADE POR CAUSA - TAXA POR 100.000 - CAUSA: INFECÇÃO INTESTINAL
.............................................................................
Santa Barbara 121,9 23,14 0,19
Timóteo 85 8,6 0,10
Fonte: SES/MG
A Tabela 3.4 mostra a taxa de mortalidade por 100.000 habitantes das do-
enças infecciosas intestinais. Em todos os municípios estudados, exceto um, houve
queda da taxa. É interessante observar que a queda foi abrupta em quase todas as
cidades, reduzindo-se a um quinto aproximadamente. Vale a pena chamar a atenção
para o fato de que esse tipo de infecção, em nosso meio, é a principal causa de mor-
talidade infantil. É lícito pensar, apesar de não dispormos dos dados de população
para realização do cálculo, que a mortalidade infantil se reduziu, contribuindo para a
queda da mortalidade geral. Além disso, como esse tipo de infecção é sabidamente
de vinculação hídrica, é possível que o fato tenha ocorrido em função de uma melho-
ria no abastecimento de água.
A Tabela 3.5 aborda, com o mesmo tipo de indicador, os sinais e sintomas
mal definidos. O lançamento dessa causa nos atestados de óbito usualmente esconde
óbitos ocorridos sem assistência médica. A redução desse tipo de atestado usualmente
está relacionada a uma melhoria do acesso à assistência médica. No caso em questão,
cerca de 80% dos municípios analisados experimentaram uma queda média de 40% na
mortalidade por essa causa. Esses dados reforçam a hipótese anterior de uma melhoria
da atenção médica na região.
Por outro lado, quando analisamos a mortalidade causada por diversas for-
mas de violência (Tabela 3.6), notamos que esse indicador elevou-se em média cerca
de 45% em 65% dos municípios. Fato idêntico ocorreu com as doenças cardiovascula-
res (Tabela 3.7). Entre os 14 municípios analisados, 60% experimentaram um aumento
médio de 22% desse tipo de morte. Em relação à mortalidade por neoplasias (Tabela
3.8), observamos que em 65% dos municípios houve um crescimento da mortalidade
por essa causa. O aumento médio foi de 45%.
120
GRÁFICO 3.1
TAXAS DE MORTALIDADE GERAL 1980/1991
Fonte: SES/MG
GRÁFICO 3.2
TAXA DE MORTALIDADE ESPECÍFICA POR FAIXA ETÁRIA NO VALE DO AÇO - 1991
121
TABELA 3.5
MORTALIDADE POR CAUSA - TAXA POR 100.000
.............................................................................
Cidade
CAUSA: SINAIS, SINTOMAS MAL DEFINIDOS
.............................................................................
Santa Barbara 94,2 57,8 0,61
Timóteo 100,8 99,5 0,99
Fonte: SES/MG
TABELA 3.6
.............................................................................
MORTALIDADE POR CAUSA - TAXA POR 100.000 - CAUSA: VIOLÊNCIAS
.............................................................................
Santa Barbara 72,07 61,7 0,86
Timóteo 73,1 114,9 1,57
Fonte: SES/MG
122
TABELA 3.7
.............................................................................
MORTALIDADE POR CAUSA - TAXA POR 100.000 - CAUSA: DOENÇAS CARDIOVASCULARES
.............................................................................
Santa Barbara 332,5 204,2 0,61
Timóteo 96,8 102,9 1,06
Fonte: SES/MG
123
GRÁFICO 3.3
MORTALIDADE PROPORCIONAL POR FAIXA ETÁRIA 1980/1994 - CORONEL FABRICIANO
GRÁFICO 3.4
TAXA DE MORTALIDADE ESPECÍFICA POR FAIXA ETÁRIA 1981 - CORONEL FABRICIANO
124
GRÁFICO 3.5
MORTALIDADE PROPORCIONAL POR FAIXA ETÁRIA 1980/1994 - TIMÓTEO
GRÁFICO 3.6
TAXA DE MORTALIDADE ESPECÍFICA POR FAIXA ETÁRIA - 1991 - TIMÓTEO
125
TABELA 3.8
.............................................................................
MORTALIDADE PROPORCIONAL POR CAUSA - TAXA POR 100.000 - CAUSA: NEOPLASIAS
.............................................................................
Santa Barbara 44,3 65,5 1,48
Timóteo 33,6 70,3 2,09
Fonte: SES/MG
TABELA 3.9
.............................................................................
TAXA DE MORTALIDADE ESPECÍFICA POR FAIXA ETÁRIA NO VALE DO AÇO - 1991
.............................................................................
70 a 79 20,21 54,88 54,68
acima de 80 anos 37,45 112,83 115,65
Fonte: SES/MG
126
TABELA 3.10
.............................................................................
MORTALIDADE PROPORCIONAL POR FAIXA ETÁRIA NO VALE DO AÇO - 1980/1991
.............................................................................
ignorado 3,78 0,58 0,93 0,19 0 0,91
Total 100 100 100 100 100 100
Fonte: SES/MG
127
Deve-se observar que os procedimentos cirúrgicos aparecem somente em
duas ocasiões, pelo fato de o sistema de registro das internações ser feito pelo código
do procedimento, pulverizando as causas de natureza cirúrgica. Assim, uma listagem
das dez causas mais importantes de internação dificilmente contemplaria os procedi-
mentos cirúrgicos. O perfil apresentado não difere muito do esperado, exceto pelo
grande número de curetagens pós-aborto.
É lamentável que não pudéssemos comparar os dados de 1994 com outros
de anos anteriores. Dessa forma, não visualizamos sua transformação.
As internações dependem muito da oferta dos serviços, e a maioria dos hos-
pitais da região são instituições de pequeno porte e de baixa complexidade técnica,
fazendo prevalecer as internações de natureza clínica e de procedimentos tecnicamen-
te mais simples. O maior hospital da região e o mais bem equipado é o Márcio Cunha,
em Ipatinga, que concentra 45,73% das internações das cidades analisadas e também
as de maior complexidade. Em Ipatinga as internações clínicas representam apenas
36% do total de internações. A maior concentração é de procedimentos cirúrgicos, com
56%. Situação inversa pode ser observada em Barão de Cocais, com 69% de procedi-
mentos clínicos e apenas 31% de cirúrgicos.
O Quadro 3.2, de internações realizadas em algumas cidades, mostra que
a maior taxa de internação (14,32%) é observada em Ipatinga. As maiores cidades cons-
tantes deste quadro - Ipatinga, Itabira, Timóteo, João Monlevade - somaram no ano
43.429 internações, que representam 82% do total. Essa grande concentração é com
certeza devida à maior oferta de leitos e também a fluxos internos de pacientes das
menores cidades em busca de maiores recursos de tratamento.
QUADRO 3.2
.............................................................................
INTERNAÇÕES HOSPITALARES EM ALGUMAS CIDADES DO VALE DO PIRACICABA - 1994
.............................................................................
TOTAL
Fonte: SES/MG.
11,27 52.740 467.645
128
do. Entre as dez causas mais importantes de internação, três são doenças degenerati-
vas cardiovasculares.
Com base nos dados levantados, nada se pode afirmar categoricamente, mas
algumas hipóteses poder ser alinhavadas de forma coerente. O que procuramos foi
juntar evidências e traçar com elas o sentido das transformações da saúde na região.
129
Os espaços ao longo do eixo principal rio/ferrovia/rodovia constituíam locali-
zação privilegiada, principalmente pelas facilidades de comunicação e transporte, en-
quanto os limites municipais apareciam como elementos secundários na localização
das indústrias ou de atividades ligadas a ela. São exemplos que reforçam a idéia de
continuidade linear induzida pelos investimentos públicos ou privados: a Acesita, que
já nasce separada de Coronel Fabriciano pelo Rio Piracicaba, limite entre este municí-
pio e o de Timóteo; o bairro Amaro Lanari, destinado a funcionários da Usiminas, que
é construído em Coronel Fabriciano; o Distrito Industrial “de Ipatinga”, localizado no
município de Santana do Paraíso (desmembrado de Mesquita); a implantação da Ceni-
bra em Belo Oriente. Pode-se considerar o processo descrito como a tendência princi-
pal de expansão do Vale do Aço.
Entretanto, o processo de ocupação do espaço do conjunto urbano do Vale
do Aço adquiriu uma dinâmica própria, que em muito suplantou as expectativas de
seus planejadores. Seja pela ocupação dita espontânea, seja através da indução do
mercado imobiliário, o tecido urbano derramou-se pelos fundos de vale nas áreas per-
mitidas pela topografia e pela estrutura da propriedade fundiária, concentrada nas mãos
das empresas. Essa segunda tendência desenvolveu-se de forma subordinada à anteri-
or, na medida em que se caracterizou por espaços habitacionais necessários a abrigar o
contingente populacional atraído pelas atividades industriais (ver fig. 3.6).
Houve uma expansão espacial do conjunto urbano, através da incorporação
de novos municípios, entre os quais Santana do Paraíso e Belo Oriente, de forma dire-
ta, além de Mesquita e Ipaba. Assim, o Vale do Aço dos anos 90 corresponde não mais
a três, mas a seis ou sete municípios, se não em termos de contigüidade física stricto
sensu, certamente em termos de interdependência e complementaridade de atividades
sócio-econômicas, configurando assim um espaço metropolitano de peso na região e
na estrutura urbana do Estado.
A estreita vinculação entre os centros urbanos já aparece de forma constante
desde as primeiras análises realizadas nos anos 70, que têm como referência os três
municípios originais, partilhando a visão de que o aglomerado funciona como uma
única cidade, bem como adotando a idéia de complementaridade como princípio nor-
teador para a formulação de propostas e políticas públicas a serem implementadas pelo
conjunto dos municípios19 .
O conjunto urbano constitui-se de forma polinucleada, muito embora identifi-
cando-se uma hierarquia entre os núcleos. Inicialmente Coronel Fabriciano exerceu o
papel de principal centro terciário de apoio às indústrias que se instalavam nos outros
dois municípios, em termos de localização de atividades comerciais e de serviço, como
também de possibilidade de fixação de uma parcela significativa da população que se
19
O Plano de Desenvolvimento Integrado do Aglomerado Urbano do Vale do Aço, concluído pela Funda-
ção João Pinheiro em 1978, constitui o melhor exemplo disponível de abordagem da região em termos
metropolitanos, tanto do conjunto existente à época quanto das tendências de expansão. O Plano propu-
nha, por exemplo, o reforço do papel de Coronel Fabriciano como principal centro terciário do Aglome-
rado, como compensação pela inexistência de base industrial no município.
130
dirigia para o Vale do Aço em função da siderurgia. Coronel Fabriciano aparece como
uma cidade de trajetória convencional, em oposição aos núcleos de Acesita e Ipatinga,
onde o acesso à terra e à habitação estava condicionado a um emprego nas usinas.
Essa importância relativa como pólo terciário do conjunto urbano é logo par-
tilhada com Ipatinga, que em 1976 já apresentava maior número de estabelecimentos
terciários20 (FJP, 1981, p.257), um indicador de maior capacidade de absorção da popu-
lação migrante em atividades não diretamente vinculadas à indústria. Também em
termos da capacidade de absorver população através da habitação, Ipatinga progressi-
vamente tornou-se o município de maior expressão quanto ao crescimento urbano,
seja ele medido em termos populacionais ou espaciais. Ipatinga é também o principal
receptor de migrantes provenientes dos municípios vizinhos, seguido de perto por
Coronel Fabriciano, que aparece como o principal local de residência anterior dos mi-
grantes. Quanto ao emprego urbano, há uma diminuição relativa do papel de Coronel
Fabriciano como pólo terciário e dos outros dois municípios como centros apenas se-
cundários, reforçando a idéia de mobilidade pendular interna ao aglomerado.
A evolução do emprego terciário no Aglomerado como um todo - em Ipatin-
ga de forma mais evidente, aumentando numa intensidade maior do que o crescimen-
to demográfico - sugere diversificação das atividades econômicas, bem como uma ra-
zoável capacidade de absorção da força de trabalho tanto no setor secundário quanto
no terciário (PMI/MPC, 1991, p.25).
O aspecto mais marcante da capacidade de polarização de Ipatinga ao longo
dos anos 80 diz respeito à crescente importância do aglomerado urbano tanto no contex-
to microrregional, caracterizado pelos municípios do entorno imediato, alguns deles já
parte do conjunto urbano do Vale do Aço, como no contexto regional mais amplo, numa
clara alteração da hierarquia urbana preexistente. Estudos recentes sobre a área de influ-
ência potencial de Ipatinga vêm apontando para a perda de dinamismo de Governador
Valadares, tido até então como o principal pólo da região do médio Rio Doce, em contra-
posição ao reforço do papel polarizador do Vale do Aço (PMI/MPC, 1991, p.24). As expli-
cações para tais transformações estão ligadas principalmente aos processos econômicos
que cada área urbana representa, ou seja, um centro de comércio, serviços e indústrias
ligadas à economia rural, no caso de Governador Valadares, e uma área de industrializa-
ção mais moderna e dinâmica típica da especialização industrial mineira anterior aos anos
70, no caso do Vale do Aço (ibidem, p.27). Entretanto, apesar de o Vale do Aço apresentar
uma tendência de fortalecimento de seu papel de pólo regional, podendo até mesmo
suplantar outros centros mais tradicionais, é importante enfatizar o fato de esse conjunto
urbano pertencer à área de influência direta da Região Metropolitana de Belo Horizonte,
com ela estabelecendo uma intrincada rede de relações (Lemos & Simões, 1992).
A primeira metade da década de 1990 é marcada pela cristalização das se-
guintes tendências de ampliação do conjunto urbano do Vale do Aço, já detectadas nas
duas décadas anteriores:
20
Apesar de a concentração relativa do terciário em Coronel Fabriciano ser quase cinco vezes maior que a
dos demais municípios.
131
incorporação de novos municípios aos três municípios originais: Santana do
Paraíso, Mesquita, Belo Oriente e parte de Caratinga são municípios que
integram o Vale do Aço, em termos físicos e/ou pela densidade de relações
econômico-demográficas;
criação de novos municípios21 : Santana do Paraíso, que se emancipa de Mes-
quita, e Ipaba, que se emancipa de Caratinga;
iniciativa dos prefeitos e vereadores de criar a Região Metropolitana do Vale
do Aço, integrada pelos 13 municípios seguintes: Antônio Dias, Belo Orien-
te, Coronel Fabriciano, Ipatinga, Timóteo, Ipaba, Santana do Paraíso, Mes-
quita, Iapu, Joanésia, Jaguaraçu, Marliéria e São João do Oriente, em discus-
são na Assembléia Legislativa de Minas Gerais 22 .
Há, assim, uma maior fragmentação do espaço em termos político-adminis-
trativos. Paralelamente, há um movimento no sentido de reconhecer o caráter global
que deve ser dado ao tratamento desse espaço e das questões que afetam sua popula-
ção, representado pela proposta de constituição da Região Metropolitana. A ampliação
do espaço do Vale do Aço pode ser mais bem visualizada na figura 3.7.
A tendência de crescimento demográfico espacial na direção nordeste man-
tém-se e amplia-se. A transformação do núcleo Ipaba em município e sua adesão à Re-
gião Metropolitana do Vale do Aço evidenciam a ampliação do espaço de influência do
Vale do Aço para além das previsões feitas para a região. No Censo Demográfico de 1980,
Ipaba sequer constava como distrito de Caratinga e, em 1991, apresenta uma população
superior a 11 mil habitantes. Em termos espaciais, a área urbana potencial transpõe o Rio
Doce, enfatizando o eixo Ipatinga/Distrito Industrial/Ipaba/Iapu em direção à BR-116.
Já a previsível emancipação de Santana do Paraíso, principal receptor da ex-
pansão de Ipatinga, se dá em duas direções distintas, representando também processos
distintos de produção do espaço: a primeira ocupação, ao longo do eixo que se dirige a
Ipaba e Caratinga, caracteriza-se pelo Distrito Industrial e representa a fixação de indús-
trias e, conseqüentemente, de recursos no município. O segundo processo, estendendo-
se a norte, rumo à sede municipal de Santana do Paraíso, caracteriza-se pela expansão
para além das fronteiras municipais de Ipatinga, de áreas habitacionais de baixa renda
em condições de extrema precariedade sócio-ambiental, representando o processo de
incorporação de espaços que se convencionou chamar de expansão periférica23 , típico da
maioria das cidades brasileiras. Nesse caso, tem-se um grande acréscimo de população e
de necessidade de intervenções urbanísticas, sanitárias e ambientais, sem o correspon-
dente acréscimo de renda e recursos para o município.
Já Belo Oriente (e seu entorno imediato), ao abrigar a Cenibra, passa a consti-
tuir um fato gerador de grande dinamismo regional do ponto de vista da produção do
21
Através da Lei nº 10.704, de 27/04/92, foram criados 33 novos municípios no Estado.
22
Projeto de Lei Complementar nº 2/95.
23
O entendimento de periferia nesse múltiplo sentido — geográfico, de extrema precariedade sócio-ambi-
ental, cidades-dormitório totalmente desprovidas de serviços e atividades características da vida urbana
— é hoje generalizado na literatura.
132
espaço e da distribuição espacial da população. Essa nova frente de expansão industrial
do Vale do Aço, pela proximidade e dependência do conjunto urbano, faz surgir novas
formas de urbanização, deixando marcas indeléveis na dinâmica espacial e demográfica
de sua área de influência.
Também em Belo Oriente há possibilidade de desmembramento de seu
distrito mais importante, Perpétuo Socorro, que sedia a Cenibra e grande parte do
crescimento urbano do município, representando a possibilidade de fixação de parte
do fluxo migratório que circula pela região. Representa uma periferia espacialmente
deslocada, mas com vínculos estreitos, do núcleo central representado pelo conjunto
urbano do Vale do Aço. A emancipação do distrito acarretaria uma perda financeira
considerável para Belo Oriente, a exemplo do ocorrido em Mesquita, quando da
emancipação de Santana do Paraíso, ou mesmo com Mateus Leme, este na Região
Metropolitana de Belo Horizonte.
O que está em jogo nesses casos é a maior ou menor capacidade financeira
dos municípios para lidar com as demandas e necessidades de sua população. A com-
paração entre os índices de transferência de ICMS aos municípios e as respectivas
populações constitui uma aproximação da capacidade de resposta às demandas da po-
pulação. Há uma disparidade acentuada entre os municípios em termos financeiros,
que se acentuará ou não em função da implantação de novas atividades produtivas, do
ritmo do crescimento demográfico e da distribuição espacial da população na região.
Por outro lado, é expressivo o potencial do conjunto dos municípios, ocupando o quar-
to lugar no Estado em termos de ICMS e de população.
A criação da Região Metropolitana do Vale do Aço e a institucionalização de
outras formas conjuntas de gestão podem representar uma ação política poderosa, com
potencial para minimizar tais disparidades financeiras e administrativas, frente à mag-
nitude das questões comuns ao conjunto dos municípios. O arcabouço institucional
para lidar com realidades complexas e diversificadas como a do Vale do Aço existe e,
diferentemente das regiões metropolitanas instituídas no início dos anos 70, as atuais
têm de passar pela adesão voluntária de cada um dos municípios-membros, o que re-
presenta um avanço considerável em relação ao processo anterior. Representa também
a possibilidade de tratar situações diferentes de modo diferente, a partir de uma pers-
pectiva de conjunto.
133
elevadas - 2,59% e 4,91%, respectivamente - em razão do expressivo crescimento de
suas áreas urbanas. Já a dinâmica da população rural evidencia as dimensões alcançadas
pelo processo de concentração fundiária, com a monocultura de eucalipto e expulsão
da população rural.
Os municípios de Coronel Fabriciano, Ipatinga e Timóteo, considerados como
o centro da região metropolitana em formação, apresentam uma dinâmica demográfica
em vias de consolidação. Por outro lado, os demais municípios, mesmo que ainda pou-
co expressivos em termos de volume de população, vêm progressivamente se deses-
truturando e se rearticulando em torno do centro, seja através das novas subdivisões
político-administrativas, seja pelas características diferenciadas, porém não menos in-
tensas, do crescente processo de urbanização. Estes quatro municípios - Belo Oriente,
Ipaba, Mesquita e Santana do Paraíso - podem ser agrupados sob o conceito mais geral
de periferia do Vale do Aço, tendo portanto sua dinâmica demográfica definida em
função do núcleo central.
Ao longo da década de 1980 observa-se uma mudança significativa nas partici-
pações relativas do centro e da periferia no total da população do Vale do Aço. Consideran-
do-se principalmente a população urbana, já que houve diminuição generalizada em ter-
mos absolutos da população rural já extremamente reduzida, observa-se um aumento ex-
pressivo da participação da população urbana periférica no total, de 3,74% em 1980 para
aproximadamente 10% em 1991. O aumento na participação da periferia na população
total significa necessariamente um processo de urbanização bem mais intenso.
Comparando-se o momento atual com o processo de urbanização experi-
mentado pelos municípios do “centro” em décadas anteriores, caracterizado por taxas
de crescimento anual da população urbana de 24,08%, 11,27% e 9,13%, respectiva-
mente, para as décadas de 1950, 1960 e 1970, pode-se sugerir que um novo padrão de
urbanização esteja se estabelecendo no Vale do Aço, padrão este que tende a se apro-
ximar daquele que vem ocorrendo em grande parte das regiões metropolitanas brasi-
leiras, qual seja: acentua-se um crescimento claramente diferenciado entre municípios
do núcleo central (1,58%) e da periferia (8,12%), intensificando-se o processo de peri-
ferização (Baeninger, 1992; Taschner,1992).
Ao que tudo indica, a Região Metropolitana do Vale do Aço já nasce im-
pregnada pelas tendências contemporâneas, tendo seu centro crescido a uma taxa
de 1,58% ao ano, enquanto a taxa correspondente para a periferia foi de 8,12%.
Entretanto, algumas considerações devem ser feitas acerca de ambas as taxas. No
caso dos municípios do núcleo central, mesmo levando-se em conta processos mais
generalizados em curso nas demais áreas urbanas brasileiras, a redução de 9,13% ao
ano, obtida nos anos 70, para 1,58% nos anos 80 representa uma drástica mudança,
principalmente para um aglomerado urbano que se caracterizava como pólo de atra-
ção da região. Entre os fatores de caráter geral que influíram na expressiva queda
da taxa de crescimento anual do aglomerado, aponta-se inicialmente a queda nas
taxas de fecundidade, fenômeno já presente em décadas anteriores e que se gene-
raliza nos anos 80.
134
No que se refere ao crescimento metropolitano, a intensificação do cha-
mado “padrão periférico de crescimento urbano” está intrinsecamente ligada a fato-
res de valorização imobiliária e formas de produção do espaço urbano que tornam as
áreas centrais mais bem equipadas e valorizadas, progressivamente inacessíveis a
parcelas cada vez maiores da população24 . A transposição de tal processo para o caso
do Vale do Aço, embora verdadeira enquanto tendência que se cristaliza, deve, en-
tretanto, ser relativizada. O transbordamento da periferia via habitação precária e/ou
loteamentos populares vem acontecendo principalmente na expansão de Ipatinga
em direção a Santana do Paraíso.
A expansão dessa periferia do Vale do Aço para além da direção já menciona-
da parece estar sendo marcada pela fragmentação e pela descontinuidade espacial,
manifestando-se em núcleos geograficamente isolados, embora sempre na mesma di-
reção (quadrante nordeste). Pode-se assim entender o crescimento urbano de Ipaba,
manifesto inclusive na sua emancipação como município, o acelerado crescimento de
Santana do Paraíso ou mesmo dos núcleos de Belo Oriente. Tal dispersão e fragmenta-
ção, enfatiza-se novamente, estão vinculadas à estrutura de propriedade empresarial
da terra, na qual o reflorestamento deixa poucos espaços disponíveis até mesmo para
os assentamentos habitacionais precários. Por outro lado, a possibilidade de trabalho
mesmo que temporário no próprio reflorestamento parece vir a desencadear uma mo-
bilidade espacial bastante acentuada da força de trabalho, fazendo-a circular por entre
núcleos, acampamentos, hortos e povoados da região, reforçando o caráter fragmenta-
do das áreas urbanas periféricas do Vale do Aço.
São novos e diversificados arranjos espaciais contemporâneos, que transpõem
a divisão tradicional urbano-rural, que reforçam a necessidade de uma abordagem
empírica mais detalhada dos resultados censitários tradicionais. Embora não se saiba o
número preciso de núcleos, pode-se identificar maior dispersão dos assentamentos
populacionais nos municípios periféricos do que nos centrais. Em ambos os casos, aos
aspectos de caráter quantitativo da urbanização recente, é necessário agregar uma vi-
são qualitativa, uma vez que nem o núcleo central nem a chamada periferia são espa-
ços homogêneos. Pelo contrário, são testemunhos de profundas desigualdades, ex-
pressas na qualidade do meio ambiente urbano, nos mecanismos de produção do espa-
ço, nas condições de vida e trabalho da população.
24
Veja-se Bógus (1992) para uma análise desses fatores à luz dos resultados censitários obtidos para a Região
Metropolitana de São Paulo. Com menor detalhamento empírico recente, Costa (1994) analisa o caso de
Belo Horizonte.
135
percussões no conjunto da região. Como já apontado, o Aglomerado Urbano do Vale do
Aço caracterizou-se como local privilegiado de destino de fluxos migratórios principal-
mente, mas não apenas, de origem rural. Como fatores determinantes desse processo,
pode-se citar a atração exercida pelas possibilidades de emprego direta ou indiretamente
ligado às indústrias, bem como o acesso a bens e serviços do tipo educação ou saúde.
Por outro lado, fatores de expulsão da população rural, entendidos no senti-
do proposto pelo clássico trabalho de Singer (1973), também tiveram peso considerá-
vel nesse processo. Para alguns estudos, tais fatores de expulsão da população rural
chegaram a atuar na região de forma autônoma ao processo de desenvolvimento do
setor siderúrgico, caracterizando alguns municípios como “fornecedores” de grandes
contingentes populacionais para o Vale do Aço (FJP, 1981, p.181). Assim, “a emigração
para o Vale do Aço respondeu principalmente a fatores internos às áreas de origem,
vinculados à agropecuária regional. A atratividade da usina (siderúrgica) deve ser mai-
or sobre o setor urbano desses municípios, embora este, por sua vez, já estivesse deses-
timulado pela incapacidade não só da produção agrícola, como, conseqüentemente,
das atividades de comercialização, em se expandirem a um ritmo suficiente para absor-
ver o crescimento da população da região” (ibidem, p.197).
Transformações recentes relativas à estrutura fundiária e produtiva, bem como
novas formas de contratação do trabalho, terceirização de atividades, trabalho volante
ou temporário, entre outras possibilidades de fixação da força de trabalho, têm influên-
cia direta sobre a dinâmica demográfica e sócio-espacial da região. Cabe avaliar até que
ponto o progressivo esvaziamento populacional das áreas rurais estaria se aproximando
de um limite em termos absolutos, ou seja, um esgotamento da migração clássica rural-
urbana, tal qual a migração que ocorreu no Vale do Aço em décadas anteriores.
Evidências sugerem que a população não-urbana, progressivamente desen-
raizada da terra pela concentração fundiária, logo com maior mobilidade, venha conti-
nuamente se deslocando pelos povoados, núcleos e acampamentos ao sabor do traba-
lho temporário, intermitente, muitas vezes subcontratado.
Além da importância dos fatores identificados nas áreas de origem dos mi-
grantes, certamente as possibilidades de incorporação ao mercado de trabalho urbano-
industrial desempenham uma influência decisiva na atração dos fluxos migratórios para
o Vale do Aço. Nesse sentido, alterações nas políticas de pessoal das siderúrgicas po-
dem ser consideradas como indicadores de maior ou menor atração. De modo geral as
siderúrgicas têm formulado sua política de pessoal através da contratação de serviços
de terceiros (empreiteiras), aumentando seu pessoal sobretudo “em categorias profis-
sionais com maior nível de qualificação e em cargos vinculados à melhoria organizaci-
onal da empresa” (FJP, 1981, p. 220), o que certamente já limita o contingente de
trabalhadores que atendam tais requisitos. Visto dessa óptica, o crescimento populaci-
onal parece ter um elevado componente flutuante, representado por um volume ex-
pressivo, embora temporário, de empregados de empreiteiras. Usualmente estima-se
que o número de empregos nas empreiteiras seja superior ao de empregos nas usinas.
Há, entretanto, dois tipos de empreiteiras: aquelas que prestam serviços na expansão
136
das usinas, responsáveis pelo volume mais importante de empregos, e aquelas que
prestam serviços dentro da usina, em caráter relativamente permantente, onde predo-
mina uma força de trabalho essencialmente não-qualificada.
A conclusão da última fase de expansão da Usiminas, em 1982, provavel-
mente foi um componente importante na explicação da drástica redução das taxas de
crescimento da população. Com a privatização das siderúrgicas, o processo de enxuga-
mento da força de trabalho vem paulatinamente se intensificando. No caso da Acesita,
a estratégia parece ter sido a demissão coletiva de trabalhadores. Já a Usiminas vem
empregando formas mais sutis de “controle vegetativo de pessoal”, envolvendo in-
centivo à aposentadoria e não-substituição do funcionário aposentado, o que implica
um aumento da intensidade do trabalho para os que ficam. Nesse processo, num perí-
odo de dois anos, a Usiminas reduziu seu quadro de funcionários de 13.000 para 10.50025 .
Em qualquer dos casos, fica patente que a possibilidade de obtenção de um emprego
nas usinas, passaporte seguro para acesso à cidade e a uma série de serviços, deve
parecer, cada vez mais, uma conquista intangível.
INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS
E IMPLICAÇÕES SÓCIO-AMBIENTAIS
A cidade, criação central na evolução humana e berço (até por definição eti-
mológica) da civilização, sofreu modificações profundas nos dois milênios que se es-
tendem da pólis grega à metrópole mercantil européia. No entanto, nada se compara à
brutal transformação urbana resultante da emergência e consolidação hegemônica do
capitalismo industrial, na Europa e na América do Norte, nos últimos dois séculos.
Naqueles países, onde a indústria prosperou, as metrópoles barrocas sofre-
ram a invasão da indústria, aos poucos submetendo-as à lógica da produção capitalista
industrial. A grande cidade sofreu então, diz Lefèbvre (1968, 1972), um duplo proces-
so de implosão sobre si mesma na sua área central histórica e explosão sobre o espaço
circundante, invadindo vilas e campos, dando origem às primeiras intervenções urba-
nísticas modernas de grande porte26 .
Paralelamente à grande metrópole industrial que se desenvolveu por sobre
as cidades mercantis existentes, surgiu também uma cidade industrial “pura”, a cidade
monoindustrial, isto é, resultante da necessidade do capital de criar as condições gerais de
produção (organização e reprodução da força de trabalho, infra-estrutura e serviços de
transporte, energia, saneamento e vida social) sempre que as exigências locacionais da
produção se centram nos recursos naturais utilizados no processo de produção industri-
al (matérias-primas, energia, dejetos) em áreas distantes dos centros de produção e
consumo. Assim, quando uma ou mais empresas (em geral, indústrias intermediárias)
cuja produção, fortemente dependente de recursos naturais, se localiza (weberiana-
25
Segundo entrevista realizada com técnicos de nível de gerência da empresa, em 29/07/93.
26
A intervenção de Cerdà em Barcelona, na década de 1850, e de Haussmann, em Paris, na década seguin-
te, são famosas pelo impacto e sentido demonstrativo que tiveram.
137
mente) no “campo”, faz-se necessário criar localmente as condições de (re)produção
que lhe são necessárias. O resultado tem sido a construção de uma cidade nova e/ou a
urbanização daquele novo espaço industrial, seja a partir do espaço natural/rural, seja
justapondo-se e/ou sobrepondo-se a uma pequena cidade pré-industrial já existente. A
cidade monoindustrial é aqui, então, tomada como sendo o espaço urbano-industrial
resultante da ação de uma ou mais indústrias que buscam produzir um espaço urbano
restrito às suas necessidades. Na medida em que as condições gerais de produção se
alteram, altera-se a relação indústria/espaço produzido.
A metrópole industrial moderna, tal como a conhecemos, é criação do início
deste século, desenvolvendo-se com as tecnologias eletromecânica, do motor a explo-
são e do concreto armado, expandindo-se nos países capitalistas periféricos em vias de
industrialização com o Estado intevencionista que emerge da crise do capitalismo cen-
tral nos anos 30. A retomada da expansão capitalista no pós-guerra consolidou o taylo-
rismo e o fordismo como modos de integração produtiva dominantes em todos os espa-
ços onde a indústria se desenvolveu.
No Terceiro Mundo, a ideologia desenvolvimentista da promessa da inclu-
são dos países periféricos na dinâmica fordista hegemônica mundial cumpriu impor-
tante papel na acumulação capitalista, adaptando as condições gerais da produção às
demandas do capital industrial internacionalmente integrado. O resultado já foi descri-
to como sendo um fordismo periférico, um regime de acumulação fordista parcial, desin-
tegrado e incompleto, tanto na organização tecnológica das etapas da produção como
carente também dos elementos de regulação característicos do fordismo na sua versão
central, que tem os Estados Unidos como modelo (Lipietz, 1987).
As cidades industriais terceiro-mundistas responderam - particularmente no
Brasil - ao impacto industrial fordista com uma velocidade e intensidade de crescimento
que gerou níveis de carência (espaço urbanizado e serviços sociais e urbanos) insuportá-
veis, mas duradouros e ainda muito distantes de serem resolvidos de forma comparável
aos países capitalistas do centro ou mesmo do bloco socialista. A mercantilização do solo
e a conseqüente disputa pela renda fundiária, no contexto do capitalismo industrial que
se implantou celeremente, aliadas à fragilidade econômica, cultural e social da maioria
da população migrante, fizeram da cidade industrial periférica/brasileira um espaço soci-
al dicotomizado entre “haves & have-nots”, proprietários e destituídos.
As cidades monoindustriais, resultantes das demandas urbanas de uma úni-
ca firma ou indústria, ilustram essa situação exemplarmente, segmentando o espaço
urbano entre a cidade particular - controlada diretamente pela indústria e da qual os
destituídos estão excluídos - e a cidade pública, espaço do pequeno capital comercial e
dos serviços tradicionais locais e/ou microrregionais da cidade mercantil mas também,
muitas vezes, espaço de urbanização periférica e incompleta transformada em refúgio
dos excluídos. Esse quadro urbano dual é encontrado em todo o Brasil, do Sul Maravi-
lha ao Nordeste e à Amazônia, ilustrando em cores vivas o espaço social dicotomizado
que caracteriza o tecido urbano-industrial do país nas últimas décadas. Em Minas Ge-
rais, dada sua vocação industrial de bens intermediários, com conseqüente orientação
locacional weberiana para matérias-primas, as cidades monoindustriais proliferaram
138
desde os tempos das minas de ouro e diamantes, muitas vezes (re)conquistadas neste
século pelo taylorismo, como nos casos de Ouro Preto, Sabará e Itabira, entre outros.
As transformações contemporâneas na organização da produção industrial (e
dos serviços) afetam tanto as grandes cidades industriais quanto as monoindustriais, ain-
da que de formas diferenciadas. De fato, na íntima relação existente entre a dinâmica
industrial e a produção do espaço urbano-regional, os dois termos da equação são modi-
ficados quando há uma alteração nas relações internas a qualquer dos termos. Assim, o
texto analisa inicialmente as transformações na produção do espaço urbano-regional na
Bacia do Rio Piracicaba/Médio Doce, exemplificada pela relação entre as indústrias e os
espaços urbanos gerados pelas empresas Belgo-Mineira, Usiminas e Cenibra. Num se-
gundo momento, examina o referencial teórico e as transformações recentes na dinâmica
industrial e suas implicações ambientais e quanto aos processos de gestão.
PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO-INDUSTRIAL
E EXCLUSÃO DA FORÇA DE TRABALHO
A exclusão dos trabalhadores do espaço do poder é uma estratégia de contro-
le dos grupos dominantes desde o início da cidade. De fato, integra mesmo o conceito
de cidade como o locus do excedente econômico, do poder social e institucional e da
“festa” cultural e religiosa, isto é, como o espaço da concentração dos elementos estru-
turadores de uma formação social. Em sociedades agrárias, a cidade templária, a cidade
político-militar e mesmo a cidade comercial integram o circuito da produção econômica
apenas no momento de sua apropriação, circulação e/ou consumo. É a cidade industrial
que traz para dentro de si a produção, conseqüentemente justapondo ao espaço do
excedente/poder/festa o espaço do trabalho.
A emergência da cidade industrial na Europa no século XIX teve sua corres-
pondência no Brasil no início deste século. A cidade dita industrial, gerada por uma
fábrica, é uma novidade histórica própria do capitalismo. Apenas as cidades minerado-
ras de modos de produção anteriores partilham dessa especificidade de organização do
espaço onde riqueza, poder e festa se juntam no espaço da produção e do trabalho,
submetidas ao controle da produção. Nas Minas Gerais do século XVIII (assim como
nas cidades garimpeiras da Amazônia contemporânea), apenas quando a exploração
mineral decai é que se estrutura mais claramente o espaço da cidade.
O planejamento de cidades modernas no Brasil sempre primou pela exclu-
são dos trabalhadores da cidade, expulsos para as áreas suburbanas, como em Belo
Horizonte, ou caricatamente para “cidades satélites”, como em Brasília (Monte-Mór,
1981, 1994). Esses grandes projetos de cidades políticas caracterizaram um “urbanis-
mo de luxo” voltado para a expressão monumental do poder de Estado.
As cidades industriais projetadas para servir de suporte a uma grande em-
presa industrial apresentam características distintas das cidades políticas. Organizadas
em função das necessidades das empresas que as construíram, visavam atender às de-
mandas da reprodução coletiva da força de trabalho dessas empresas, assim como aos
requisitos mais amplos das condições de produção exigidas pela produção industrial.
Nesses casos, a inclusão da força de trabalho no espaço da cidade é sua própria condi-
139
ção de existência. Por outro lado, o espaço urbano produzido pela indústria apresenta
maior rigidez e controle, pois é uma extensão do espaço da produção da fábrica/usina.
A exclusão de parte da força de trabalho não diretamente contratada pela indústria do
seu espaço urbano precípuo tem também sido uma constante nas estratégias capitalis-
tas de gestão da força de trabalho.
Na Bacia do Rio Piracicaba, foi a implantação da ferrovia Vitória-Minas que,
no início do século XX, conferiu à região o seu contorno básico futuro como parte
privilegiada do vale do Rio Doce. Deslocada do seu traçado original para Diamantina,
a Vitória-Minas estendeu-se serra acima para atingir as imensas reservas de ferro des-
cobertas em Itabira, iniciando o império mineral da Companhia Vale do Rio Doce.
O município de Rio Piracicaba foi escolhido pela CSBM para a implantação de
uma grande usina siderúrgica a carvão vegetal. Ali localizada pela abundância das matas
e do minério de ferro, iniciava assim a concentração industrial que se consolidou ao longo
do século na região. A ferrovia ligando ao porto, as matas para o carvão e a riqueza mineral
garantiram a localização posterior das duas outras grandes siderúrgicas da Bacia: a Aços
Especiais Itabira (Acesita), na década de 1940, e a Usiminas, no final dos anos 50, ambas
no município de Coronel Fabriciano, junto à confluência dos rios Piracicaba e Doce.
27
As estratégias da CSBM para a formação de mão-de-obra na região são descritas por Santos (1986).
140
Os projetos concorrentes são cuidadosos na especificação das condições sa-
nitárias básicas das edificações e dos equipamentos coletivos, como tratamento de água,
coleta de esgotos e águas pluviais, arruamentos, loteamentos e zoneamento geral. O
vencedor previa “saneamento rural, abastecimento de leite, carne, gêneros alimentíci-
os em geral, matadouros e cemitério” (Continentino, 1936, p.284)28 . De fato, a preocu-
pação sanitária, que marcou o urbanismo do início do século, está presente em todos os
trabalhos, talvez aguçada pelo caráter inóspito do terreno escolhido, junto ao rio e em
frente à usina, em encosta de grande declividade. Com maior ou menor delicadeza,
todos os autores comentam sua inadequação relativa à nova “cidade”.
Como era de se esperar, a vila planejada não pôde conter a população mi-
grante que se dirigiu para a região. A ocupação da área de Carneirinhos, um pequeno
povoado junto à estrada para Santa Bárbara, foi uma das saídas para o crescimento
populacional. Do outro lado, próximo à vila mas fora das terras da Belgo, já no municí-
pio de Nova Era, crescia também um povoado que se transformaria na década de 1960
no município de Bela Vista de Minas.
Entretanto, foi em Carneirinhos que de fato se desenvolveu a cidade de
Monlevade. Já com 12.800 habitantes em 1950, absorveu o intenso fluxo migratório
que se dirigiu para a cidade na década de 1960, com crescimento urbano anual de
9.1%, impulsionado pela expansão da usina. Em 1991, 76.7% da população urbana
localizavam-se no bairro Carneirinhos, já de fato o centro comercial, funcional e admi-
nistrativo da cidade, enquanto a vila inicialmente projetada pela indústria abrigava
apenas 4,2% da população (PDDU, 1992). Em suma, a cidade de Monlevade esten-
deu-se pelos vales apertados fora da área projetada, restando ao “centro” original ape-
nas o caráter simbólico de espaço do poder industrial.
28
Três dos projetos foram publicados em 1936: de Lúcio Costa, Angelo Murgel e Lincoln Continentino,
vencedor do concurso.
141
A contemporaneidade com a construção de Brasília e a identificação con-
ceitual com o urbanismo modernista aparecem explicitamente: “Construída e plane-
jada quase à mesma época de Brasília, (Ipatinga) não tem desta a sofisticação de obra
monumental com uma arquitetura e uma trama urbana destinada às gerações do fu-
turo” (idem, p. 40).
Condicionada pela localização e layout da planta da siderúrgica, pelo Rio
Piracicaba e pela EFVM, a cidade é concebida de forma linear, na qual os bairros resi-
denciais são ligados por eficientes vias de circulação que circundam a usina. Interna-
mente, cada bairro foi concebido como uma “unidade de vizinhança”, ou seja, a habi-
tação, acompanhada dos equipamentos de comércio, serviço e lazer. Dentro de cada
bairro, há grande homogeneidade na arquitetura das edificações e na inserção sócio-
econômica-funcional de seus habitantes, ou seja, há bairros para as chefias e quadros
superiores, para operadores, para a mão-de-obra não-especializada. O espaço urbano
projetado reproduziu, ao nível da cidade, as relações funcionais e de poder existentes
no âmbito do processo de trabalho.
A produção das condições gerais de reprodução da força de trabalho abrange a
moradia e a implantação inicial da infra-estrutura e demais serviços e equipamentos soci-
ais. Posteriormente, alguns serviços e equipamentos seriam assumidos pelas administra-
ções locais ou por programas nacionais, como os do BNH, sendo a influência das usinas
um fator decisivo para garantir prioridade no atendimento dos bairros de seus funcioná-
rios. Outro aspecto fundamental na política habitacional da Usiminas é aquele que trans-
forma o morador em proprietário. Para tanto, foram garantidas formas de acesso a finan-
ciamentos via SFH, em atitude considerada inovadora para a época, representando uma
ruptura com relação a padrões anteriores de produção da habitação ligada à indústria:
142
“outra” Ipatinga passa a ser denominada “cidade espontânea” ou cidade pública, em
contraposição à “cidade planejada” pela Usiminas (Costa, 1979; FJP, 1978), enfatizando-
se a dualidade entre as duas Ipatingas, a contraposição entre os processos de formação de
cada um dos espaços, as diferenças em termos de qualidade de vida das populações.
Tal processo, longe de ser espontâneo, traduz uma ocupação cuidadosamen-
te controlada pelo capital imobiliário fortemente concentrado pois, com exceção de
dois bairros mais antigos, o restante da atual cidade “espontânea” de Ipatinga era pro-
priedade de duas famílias. À concentração fundiária associa-se o poder político dessas
famílias que tradicionalmente se alternavam na administração de um município rico e
com relativo poder de barganha junto a fontes de recursos. Assim, a cidade conta hoje
com generosa infra-estrutura viária funcionando como elemento estruturador do espa-
ço ocupado e das áreas de expansão, cuidadoso tratamento paisagístico de algumas
áreas, alguns córregos saneados e canalizados, além de grande extensão de área central
destinada à implantação de um parque urbano, expressando condições urbanas e am-
bientais raras de serem encontradas em outras cidades. Como o acesso à terra e à habi-
tação só se dá via mercado imobiliário ou via emprego na usina, a ocupação de encostas
e fundos de vale, bem como a expansão periférica para outros municípios, tem sido a
alternativa encontrada pela população de baixa renda para residir na cidade.
Ipatinga é hoje o núcleo principal de um aglomerado urbano de 325 mil
habitantes, a quarta maior concentração urbana do Estado, em vias de se tornar uma
região metropolitana a partir da adesão de 13 municípios.
143
Também para a Cenibra a acessibilidade/disponibilidade da força de trabalho
é uma questão central. Nas fases iniciais a empresa chegou a construir unidades habita-
cionais para seu corpo gerencial em Ipatinga, porém atualmente, para alojar “sua” força
de trabalho, a Cenibra desenvolveu eficiente sistema de transporte subsidiado para as
cidades próximas: 60% com destino ao Vale do Aço e 40% para Governador Valadares, a
75 km de distância na direção oposta. A mobilidade pendular diária foi a fórmula encon-
trada para fixar a força de trabalho e assim evitar o ônus do planejamento e construção de
cidades. Entretanto, tal qual nos casos anteriores, o crescimento urbano não previsto
manifesta-se de forma contundente, agravado pelo elevado percentual de trabalhadores
temporários e terceirizados, sobre os quais a indústria não tem qualquer responsabilida-
de. Também à semelhança dos casos anteriores, esse urbano “espontâneo” é em grande
parte constituído por espaços de baixíssima qualidade sócio-ambiental, convencional-
mente chamados de “periferias” num sentido que transcende o meramente geográfico.
Porém, diferentemente, trata-se nesse caso da periferia da não-cidade, que se desenvol-
ve contígua à fábrica, do crescimento espontâneo sem o planejado, de fragmentos urba-
nos carentes, espacial e institucionalmente deslocados do centro — em 30 km no caso do
núcleo urbano mais importante —, ou seja, do Aglomerado Urbano do Vale do Aço.
144
A usina, entretanto, no alto da vertente oposta, parece dominar visualmente a
vila, quase exercendo um controle sobre o espaço de vida, como o faz no espaço do
trabalho. Apenas os funcionários graduados se livram do “olhar controlador” da empresa
capitalista, localizados que estão acima da usina, protegidos pela vegetação. A vila não
poderia mesmo crescer naquele vale encaixado, como reconhece o próprio autor do pro-
jeto. A ocupação em Carneirinhos e Bela Vista de Minas fazem-se assim imperativas,
diante do forte crescimento migratório que a região apresenta já na década de 1950.
O caso da Usiminas é diferente por duas razões principais: em primeiro lu-
gar, ela se implanta num aglomerado urbano onde já havia uma grande empresa side-
rúrgica — a Acesita e, conseqüentemente, um mercado de trabalho embrionário e con-
dições mínimas de infra-estrutura microrregional. Por outro lado, a presença de uma
empresa “irmã” — uma outra siderúrgica estatal — criava vantagens também no controle
sobre a mão-de-obra, na medida em que as siderúrgicas podiam tomar medidas coer-
citivas comuns, como “listas negras” de empregados indesejáveis, controle sobre os
sindicatos, ameaças e pressões sobre o emprego etc.
Em segundo lugar, sua implantação ocorre num momento em que a indus-
trialização no país já estava atingindo um novo patamar, impulsionado pela política
progressista e industrializante de Kubitschek. Assim, o controle que a empresa exerce
sobre o espaço vai ganhar contornos mais sutis, na medida em que há desde o início a
preocupação com a integração no contexto urbano microrregional. A cidade particular
da Usiminas já nasceu pensada para ser integrada ao Aglomerado do Vale do Aço. En-
tretanto, isso não significa que ela se misturasse ou se confundisse com a(s) cidade(s)
pública(s), na medida em que várias das facilidades e equipamentos de reprodução
coletiva criados pelas empresas estavam restritos em seu uso aos seus empregados
diretos (abastecimento, lazer, habitação subsidiada etc.), criando uma diferenciação
social de privilégios entre “o da empresa” e o restante da população.
No caso da Cenibra, o controle se dá principalmente em termos das exigênci-
as de escolaridade e qualificação para seleção e das vantagens sociais e assistenciais que
a empresa oferece aos seus empregados diretos, uma vez que as condições urbanas de
reprodução coletiva exigidas pela força de trabalho não são objeto de preocupação da
empresa, mas resolvidas diretamente pelas cidades próximas. Nesse caso, a acessibilida-
de fica sendo a questão crucial a ser assumida pela empresa. Diferentemente dos outros
casos, não há um espaço urbano planejado. Mas há o espaço espontâneo, espacialmente
descontínuo, sobre o qual a empresa não tem responsabilidade ou ônus corretas.
Nas fases iniciais de implantação e consolidação das cidades planejadas, tan-
to a produção quanto a gestão dos espaços diretamente ligados à reprodução da força
de trabalho eram totalmente assumidas pelas empresas. Progressivamente esse ônus
vai sendo repassado ao município, que já tem sob sua responsabilidade os demais espa-
ços onde se dá o crescimento urbano.
A vila de Monlevade dependia integralmente da Belgo-Mineira até a déca-
da de 1960, quando se emancipou do município de Rio Piracicaba. A partir de então o
novo município, que tem área muito pequena em terreno extremamente acidentado, é
quase forçado a deslocar sua área urbana das margens do Rio Piracicaba em busca dos
145
vales mais altos. O lento e gradativo processo de libertação do controle da empresa ali
se inicia inexoravelmente.
Após a implantação do novo município, foi elaborado um Plano Diretor para a
cidade dentro do modelo SERFHAU. A empresa parecia — como de resto aconteceu
em outras “cidades particulares”, cujas “cidades públicas” cresceram muito — forte-
mente interessada em equipar o município para também poder repassar-lhe parte dos
encargos de gestão do espaço urbano não mais de seu interesse, pois que não lhe perten-
cia diretamente. Como a prefeitura era considerada rica em função dos tributos que a
própria indústria gerava (ainda hoje, já muito enfraquecida diante de outras cidades in-
dustriais médias de Minas, Monlevade é a 27ª maior arrecadação de ICMS do Estado), a
cooperação e interlocução ficaram facilitadas. Hoje o município busca alternativas eco-
nômicas que lhe garantam maior autonomia face a uma indústria que quer reduzir seu
pessoal, buscar novos padrões de competitividade, terceirizar grande parte dos setores
não diretamente ligados ao cerne da produção, que faz a autocrítica do seu “paternalis-
mo” e busca desvencilhar-se de históricas obrigações comunitárias e trabalhistas. Coope-
rar para buscar autonomia do município face à empresa é de interesse mútuo.
Em Ipatinga, a Usiminas arca com a construção inicial das unidades habitaci-
onais e da infra-estrutura básica, bem como de vários equipamentos sociais coletivos:
escolas, clubes, supermercado, hospital (este de abrangência regional) etc. Contempo-
rânea do BNH, Ipatinga beneficia-se de várias linhas de financiamento, tanto habitaci-
onal, para a aquisição da moradia pelo empregado da usina, quanto de desenvolvimen-
to urbano, principalmente através do Projeto CURA, quando foram realizadas obras
significativas de saneamento ambiental. Em ambos os casos a participação da empresa
foi decisiva. Na medida em que a cidade pública se expande, a gestão das “duas cida-
des” tende a tornar-se menos diferenciada, embora as diferenças permaneçam em ter-
mos da qualidade sócio-ambiental dos espaços.
Além da indústria, o poder local esteve tradicionalmente ligado aos proprie-
tários fundiários, que em muito se beneficiaram das generosas obras públicas de apoio
à produção — sistema viário, principalmente — que contribuíram para estender a ou-
tras partes da cidade a aparência de modernidade típica de sua porção planejada. A
emergência de gestões identificadas com os setores populares, fortemente calcados na
tradição operária-sindical, introduziu na década atual novas estratégias de participa-
ção, tanto da população em geral, até então ausente do processo político, quanto da
empresa, que passa a transformar sua marcante presença em formas diferenciadas de
parcerias com o poder público e a sociedade civil organizada.
Quanto ao espaço urbano decorrente da implantação da Cenibra, dada a sua
fragmentação espacial em vários núcleos distintos, observa-se uma relativa dispersão
da representação política local e um distanciamento com relação à gestão simbolizada
pela sede municipal. Apesar de prescindir da cidade como espaço deliberadamente
construído para a reprodução da “sua” força de trabalho, a indústria utiliza estratégias
de controle visando à presença direta nos escalões decisórios do município de Belo
Oriente e nas organizações sindicais de trabalhadores.
146
MUDANÇA NO PARADIGMA DOMINANTE E A DINÂMICA
INDUSTRIAL RECENTE
A mudança no paradigma sócio-tecnológico da produção industrial que se in-
sinuava nos anos 70 com a emergência de uma nova divisão internacional do trabalho e
sua articulação espacial em escala planetária, tornada possível pela difusão da microele-
trônica no controle da produção e das operações e serviços capitalistas, tornou-se eviden-
te e ganhou consenso (inclusive acadêmico) nos anos 80. A crescente internacionalização
da economia, as inovações tecnológicas com suas conseqüências em termos de mudan-
ças nos processos produtivos e nas relações de trabalho, a centralidade da questão das
comunicações, a agilidade na capacidade de produzir respostas a novas demandas, a ten-
dência à perda de autonomia das cidades e regiões frente a processos mais globais, entre
outros, são elementos fundamentais desse processo de transformação em curso.
O caráter marcadamente espacial das mudanças tecnológicas contemporâ-
neas tem sido muitas vezes minimizado ou reduzido à variante do que se poderia cha-
mar de uma nova “geografia da produção”, onde se enfatiza uma nova lógica locacional
das atividades econômicas de ponta, principalmente da indústria, através das análises
dos novos distritos industriais. Entretanto, tais mudanças não se dão apenas nos espa-
ços urbano-industriais diretamente ligados às tecnologias avançadas trazidas pela mi-
croeletrônica, mas provoca modificações também naqueles setores (e espaços) resul-
tantes de uma base taylor-fordista anterior e que vem se adaptando gradativamente
aos impactos das inovações.
A referência teórica mais utilizada para explicar a reestruturação econômica
ocorrida com o declínio da prosperidade econômica do pós-guerra, nos países de cen-
tro, é a chamada perspectiva regulacionista, que trata simultaneamente do processo de
produção e das formas socias globais onde se opera a reprodução do modo de produção
(Preteceille, Valladares, 1990). Identifica-se inicialmente a crise do modelo tido como
hegemônico, representado pelo fordismo/taylorismo como regime de acumulação e
pelo estado de bem-estar social como seu modo de regulação, bem como sua substitui-
ção por um (ou vários) regime(s) de acumulação flexível, tanto em termos da organiza-
ção da produção quanto do trabalho, ao mesmo tempo em que se consolidam tendên-
cias no sentido da progressiva diminuição da participação do estado na esfera da repro-
dução social (Leborgne, Lipietz, 1990; Scott, Storper, 1986). Assim, o conceito de pro-
dução flexível expandiu-se e ganhou quase hegemonia na explicação das novas formas
de organização intra- e interfirmas capitalistas de produção industrial, impondo regras
e padrões na organização do trabalho, controle da força de trabalho, cooperação e com-
petição intercapitalista, articulação dos mercados, entre outros.
Essas novas tendências foram identificadas principalmente a partir de evi-
dências de estudos da indústria manufatureira, na qual novos espaços industriais se
estruturavam a partir de inovações tecnológicas de ponta, novos processos produtivos
e, naturalmente, novas necessidades de espaço. Os “novos distritos industrias” são
assim identificados como a manifestação espacial desse novo regime de acumulação
(pós-fordista), organizados não mais em torno da grande indústria fordista, mas a partir
147
de uma rede de empresas de pequeno e médio porte. Um outro aspecto sugerido diz
respeito ao papel desempenhado pelas aglomerações urbanas, consideradas muito mais
centrais no modelo fordista do que na acumulação flexível (Castells, 1986)29 .
A substituição do paradigma taylorista/fordista com sua articulação comerci-
al internacional pelo paradigma da economia da produção flexível em sua articulação
globalizada parece significar também a ruptura da lógica anterior, que relacionava o
crescimento da economia (produção e produtividade) ao aumento do bem-estar social.
No contexto atual da exclusão, que tem se apresentado como inerente ao novo quadro
da competição global capitalista, a equação economia/bem-estar social tem soluções
bem mais complexas do que aquelas que alimentaram as tentativas do planejamento
desenvolvimentista nas últimas décadas desde o pós-guerra.
Por outro lado, apesar da ruptura da interdependência entre os rumos da
produção e a extensão e incorporação crescentes da população à dinâmica central da
economia, com pretensões a universal e de pleno emprego, que caracterizava o modo
de integração fordista em favor de exclusão da produção e do consumo de setores e
regiões econômicas, as análises continuam sendo marcadamente economicistas, como
que centradas em um farol que de fato obscurece a realidade circundante, os espaços
lindeiros à estrada principal.
Mas há também evidências recentes da importância crescente que a instância
sócio-cultural exerce sobre as determinações econômicas e suas transformações contem-
porâneas. Saxenian (1994), analisando o Vale do Silício e a Rota 128, mostra diferenças
culturais em processos antes tidos como similares, enquanto Granovetter enfatiza a questão
da “ïmersão” da indústria no seu ambiente sócio-espacial e econômico, mostrando que
“...o comportamento e as instituições a serem analisadas estão tão condicionadas pelas
relações sociais que tomá-las como independentes é um grave equívoco” (1985: 482).
Por sua vez, Conti chama a atenção para o fato de que a “imersão territorial” e as ligações
frágeis (weak bonds) desempenham papel mais importante no desenvolvimento das
empresas do que tem sido pensado, atentando também para o fato de que existem dife-
rentes formas e intensidades de imersão. Já Storper enfatiza a questão das interdependên-
cias não-comerciais como um conjunto de convenções eficazes de coordenação econômica
(cultura cívica) que objetiva eliminar ou reduzir o grau de incerteza. A territorialização
de tais interdependências faz com que determinadas regiões ou áreas passem a usufruir
de vantagens absolutas em relação a outras.
29
Questionamentos importantes quanto à formulação geral, bem como quanto à sua capacidade de genera-
lização, têm o mérito de rejeitar discursos simplificadores e aprofundar o debate. Boddy (1990), por
exemplo, entre outros aspectos, enfatiza a importância de se averiguar o papel dos serviços (tarefa essa
bastante árdua no Brasil, em face da pouca disponibilidade de indicadores e da própria diversidade de
definições do setor), enquanto reafirma a dominância do capital financeiro e multinacional nas decisões
acerca do destino de grande parte das localidades. Já Dicken, Peck e Tickell (1995) rejeitam a chamada
globalização enquanto um discurso homogêneo, reconstruindo o conceito a partir de mudanças de caráter
eminentemente qualitativo no que consideram um complexo conjunto de tendências mutuamente rela-
cionadas. A contraposição, dentro do novo paradigma proposto, entre processos universais e generaliza-
ções feitas a partir de casos especificos é também uma preocupação constante, a ser considerada no caso
do presente trabalho.
148
Parece que o que de fato se pode afirmar é que estamos observando um proces-
so de transição da dinâmica econômica a partir da transformação do paradigma sócio-tecno-
lógico que informa a produção capitalista tendencial dominante, e os padrões resultantes
observados são apenas alguns fragmentos mais evidentes (ou mais estudados, por razões
diversas) das muitas adaptações que ocorrem, em graus e formas diferentes, nos vários
setores e espaços do capitalismo industrial contemporâneo. Além disso, o conjunto das
preocupações com as articulações entre a economia da produção industrial e as condições
sócio-culturais dos espaços onde estas se inserem manifestam-se na atenção crescente que
se tem dado ao conceito de “imersão”, conseqüentemente enfatizando a importância das
relações que se estabelecem entre as firmas, a vários níveis de competição, complementa-
ridade e colaboração, sob o beneplácito do Estado e com a cumplicidade da sociedade
organizada para o consumo taylor-fordista e para a informação globalizada.
Markusen (1996), entretanto, identifica não apenas um, mas vários tipos de
novos espaços industriais segundo seu grau de articulação com a estrutura regional30 .
Entre estes, interessa-nos aquele cuja articulação se dá em torno de uma ou mais cor-
porações pertencentes a poucas indústrias, já que parece adequado para se pensar o
caso da Bacia do Rio Piracicaba.
Por outro lado, os “novos distritos industriais” representam apenas situações
“puras” da manifestação do modelo econômico tendencial dominante em países do cen-
tro capitalista. Assim, sua manifestação na periferia terceiro-mundista, em países semi-
industrializados como o Brasil, que se integraram apenas parcialmente ao fordismo mun-
dial, necessariamente apresentaria distinções ainda mais marcantes. Tais distinções vari-
am em função do padrão regional de produção, do setor econômico e sua articulação com
o novo paradigma de organização industrial, e da base urbana de suporte à indústria. Em
metrópoles nacionais e regionais e suas áreas de influência imediata os impactos serão
diversos daqueles encontrados em cidades médias mais isoladas e, particularmente, na-
quelas cidades monoindustriais mencionadas acima. É um desses últimos casos — as
cidades monoindustriais da Bacia do Rio Piracicaba e Médio Doce, em Minas Gerais —
que é reportado e discutido na parte seguinte deste trabalho.
Identificou-se, de imediato, um problema de natureza teórica e metodológi-
ca, qual seja, o de procurar utilizar um referencial teórico abrangente, ainda em cons-
trução, para pensar um caso localizado, com todas as suas peculiaridades. E, ainda as-
sim, é a partir da leitura feita desse espaço em transformação da Bacia do Rio Piracica-
ba que se pode identificar elementos característicos da reestruturação econômica mais
ampla, elementos esses que, associados a processos mais tradicionais em curso, vêm
resultando em novas espacialidades.
30
Markusen (1996) identifica quatro modelos principais de sticky places (novos distritos industriais): Mar-
shalliano, centro-radiais (hub & spoke), plataforma industrial satélite e os “suportados” (sic) pelo Estado.
149
Desde a implantação da Belgo-Mineira nos anos 30, em Monlevade, seguida da Vale
do Rio Doce explorando o minério em Itabira, passando pelas Cosígua (antiga Cime-
tal), em Barão de Cocais, Acesita e Usiminas, em Coronel Fabriciano (depois Timóteo
e Ipatinga, respectivamente), e culminando com a instalação da Cenibra, em Belo Ori-
ente, na década de 1970, os grandes impactos econômicos regionais tiveram nas gran-
des empresas, estatais e/ou privadas com participação do Estado, seu principal motor
de desenvolvimento. Apenas as quatro grandes siderúrgicas - Usiminas, Belgo, Acesita
e Cosígua - foram responsáveis nos últimos dez anos por uma produção superior a 50
millhões de toneladas de aço, de valor superior a 40 bilhões de dólares, empregando
diretamente cerca de 30 mil trabalhadores. Hoje, todas as quatro empresas são priva-
das e, passando por um processo significativo de transformações tecnológicas e organi-
zacionais, vêm redefinindo suas estratégias empresariais para aumentar sua competi-
ção nos mercados nacional e internacional, em relativa estagnação desde os anos 80.
Apesar disso, nos útimos dez anos a produção cresceu 30%, a uma taxa média anual de
2,7% (Pinho & Ruiz, 1995; Torres & Simões, 1996).
A estratégia dominante tem se pautado por uma tentativa de enobrecimento
de suas linhas de produtos com o objetivo de aumentar o valor agregado por unidade,
sem significar portanto um aumento na produção (Pinho, Ruiz, 1995). Trata-se, assim,
da busca de economias de escopo, apoiadas na diversificação da produção e investindo
na melhoria da qualidade dos produtos oferecidos. Apostando na redução dos custos
de produção através da utilização de tecnologias de produção em massa (robotização e
linhas mais integradas de produção), as empresas têm também adotado medidas ditas
contemporâneas para cortar custos, tais como a redução do emprego31 e a terceirização
de serviços de apoio e produtivos, (além dos tradicionais serviços subcontratados, como
limpeza, alimentação, transporte etc.) incluindo mesmo partes do processo produtivo,
anteriormente sob controle direto da empresa e restritas à planta industrial principal.
As tendências dominantes, portanto, apontam no sentido de uma intensificação na
exploração do trabalho e na utilização de matérias-primas (aumento da relação maté-
ria-prima/valor agregado, com impactos ambientais positivos e negativos) acompanha-
das de uma interdependência crescente com as empresas fornecedoras e subcontrata-
das. Além disso, está em curso uma mudança tecnológica parcial da base energética na
Belgo e na Acesita, passando do carvão vegetal para o coke (carvão mineral).
Na Cenibra, a produção de celulose apresenta um quadro diferenciado. A
demanda crescente no mercado internacional garantiu-lhe condições para se envolver
em um plano de expansão que duplicará sua produção nos próximos anos. Entretanto,
o aumento no número de empregos na planta industrial não corresponde, como espe-
rado, ao aumento da produção, dado que a tecnologia (de ponta, no setor) da empresa
é poupadora de mão-de-obra, além de apresentar significativas economias de escala
nessa duplicação do volume de produção. Na área do reflorestamento por eucalipto, no
entanto, que hoje já emprega um contingente três vezes superior à mão-de-obra in-
31
Em média, os empregos industriais no setor metalúrgico foram reduzidos em aproximadamente 25%, em
Ipatinga, Monlevade e Timóteo no período de 1986 a 1993, segundo dados da RAIS.
150
dustrial, a grande expansão da área plantada garantirá um aumento do emprego, dado
o caráter mais rudimentar da tecnologia no setor. Paralelamente, um dos processos de
transformação expressivos em curso na Cenibra refere-se à terceirização de atividades-
meio, através da contratação de pequenas e médias empresas prestadoras de serviços
produtivos e de apoio, tanto no chão da fábrica quanto nas áreas de reflorestamento.
Há um grande diferencial tecnológico entre as cinco grandes indústrias de
transformação da região. Se a Usiminas e a Cenibra representam empresas de tecnolo-
gia mais avançada nos seus respectivos setores de produção, competitivas a nível inter-
nacional, a Belgo-Mineira e a Acesita são consideradas detentoras de tecnologias típi-
cas do setor siderúrgico, enquanto a Cosígua é representativa de um padrão tecnológi-
co antigo (Torres & Simões, 1996). Entretanto, em todos os casos são identificadas
preocupações, em diferentes níveis, com transformações e aprimoramento na gestão e
organização da produção, reduzindo níveis hierárquicos, descentralizando decisões e
caminhando no sentido de uma flexibilização crescente, com grande impacto sobre o
quadro de pessoal (Pinho & Ruiz, 1995). De fato, o emprego já vem sendo sistematica-
mente reduzido na indústria metalúrgica, com cortes significativos, acentuados pela
privatização da Acesita e Usiminas nos primeiros anos desta década.
Como um todo, a microrregião apresenta-se, segundo Diniz e Crocco (1996),
como uma área industrial relevante32 , de crescimento inferior à média brasileira, tanto na
variação do valor agregado (1970/85) quanto no crescimento de empregos industriais
(1970/91). Apesar de apresentar uma queda de 18,7% na participação relativa no índice
de valor agregado do país, a microrregião de Ipatinga/Monlevade apresentou um cresci-
mento médio anual do emprego industrial de 3,2% nos respectivos períodos referidos.
Em síntese, a microrregião já não apresenta o intenso dinamismo urbano-
industrial que a caracterizou nas décadas passadas, mas mantém uma sólida base in-
dustrial que vem sofrendo rápidas transformações, tanto institucionais quanto produti-
vas, diversificando sua produção por setores, como também internamente aos setores
mais importantes. Essas transformações apontam no sentido de uma mudança qualita-
tiva que pode ter impactos significativos na própria cultura urbano-industrial da re-
gião, que se viu transformada, de um espaço dominado pela presença do Estado em
seu esforço de substituição de importações, num complexo industrial apoiado em pou-
cas grandes empresas privadas atuando como motores do desenvolvimento regional e
importantes participantes do esforço exportador do país.
A transformação pela qual essa região industrial vem passando nos últimos
anos, com a saída do Estado e a redefinição das estratégias empresariais das grandes
indústrias que historicamente dominam social e economicamente a bacia do Rio Pira-
cicaba, sugere uma rearticulação daquele “distrito industrial” segundo dois dos mode-
los apontados por Markusen (1995): a passagem de uma área industrial suportada pelo
Estado para uma situação centro-radial (hub & spoke), onde se monta uma rede de
inter-relações a partir de uma ou poucas unidades “motrizes”. Essa hipótese requer
32
Os autores definem áreas industriais relevantes como aquelas que apresentavam mais de 10.000 empregos
industriais em 1970 (Diniz & Crocco, 1996).
151
maior investigação, mas os processos de terceirização, as articulações internas à região
entre as diversas empresas e o estreitamento das relações externas com outras indús-
trias motrizes (como os acordos de estamparia de chapas entre Usiminas e Fiat, na
RMBH; as íntimas ligações entre a Belgo e a Siderúrgica Mendes Junior, em Juiz de
Fora; as articulações internas da planta da Cosígua em Cocais com outras unidades do
grupo Gerdau) em outras regiões já são evidência significativa de que o caráter fecha-
do, de quase-enclave, que caracterizou as grandes empresas da região está se modifi-
cando rapidamente. Por outro lado, os esforços das administrações municipais dessas
cidades monoindustrias têm se voltado no sentido de diversificar sua base econômica,
reduzindo assim a dependência da cidade, hoje pública, da “empresa-mãe” (os casos
de Itabira/Vale do Rio Doce e Monlevade/Belgo-Mineira são talvez os mais expressi-
vos no sentido da definição conjunta e cooperação para a implantação de uma política
de desenvolvimento econômico entre municípios e empresas).
Parece, assim, que se pode esperar que o processo de transformação indus-
trial que parece estar se iniciando na Bacia do Rio Piracicaba deverá intensificar-se nos
próximos anos, com impactos significativos sobre a organização sócio-espacial da re-
gião, tanto a nível urbano como em sua articulação com os espaços rurais.
Do ponto de vista da gestão do espaço urbano-regional, diversas transforma-
ções articulam-se em maior ou menor grau com as mudanças tecnológicas e de estraté-
gia das empresas, associando-se também, naturalmente com as novas tendências de
gestão intra- e interurbanas vivenciadas recentemente pela sociedade brasileira. Além
da ampliação do conjunto de atores do processo, com a crescente incorporação da cha-
mada “sociedade civil organizada” em torno de vários aspectos do cotidiano, há uma
mudança qualitativa no papel por eles desempenhado.
Assim, por exemplo, embora extremamente forte, o poder de interferência
das (mono)indústrias nos governos locais, em décadas passadas tido como absoluto,
tende gradativamente a modificar-se para incorporar parcerias, negociações, articula-
ções com outras instâncias. A retirada (parcial) do Estado por meio das privatizações, a
reestruturação das estratégias empresariais no sentido de diminuir custos (particular-
mente com a reprodução da força de trabalho, esta também em processo de enxuga-
mento e/ou terceirização) e a reivindicação de setores da população no sentido de par-
ticipar da gestão da cidade são alguns dos elementos que realinham o balanço das
forças políticas na dimensão local. Em paralelo e articuladas a tal processo proliferam,
pelo menos potencialmente, diversas formas de associações culturais, ambientais, in-
centivadas pela igreja e também, mas não apenas, sindicais. Até que ponto a organiza-
ção em torno do trabalho, nessas sociedades onde a indústria possui uma centralidade
incomum, potencializou o florescimento das demais formas de associação e resistência
é uma questão que permanece em aberto. Mas há indícios de que a problemática do
trabalho sempre foi uma constante a invadir as diferentes esferas da vida urbana.
Também a gestão intermunicipal vem apresentando elementos novos, que
podem ser considerados promissores. No caso do Aglomerado Urbano do Vale do Aço, a
iniciativa de constituição formal de sua Região Metropolitana, em processo de discussão
152
no Legislativo Estadual, independente de sua formulação legal, representa o reconheci-
mento do caráter metropolitano da realidade urbano-industrial, bem como da necessida-
de de tratamento conjunto das questões comuns, principalmente as ligadas aos graves
problemas ambientais da região/bacia. A disparidade entre os municípios em termos de
base econômica, logo de arrecadação e recursos disponíveis, transforma as tentativas de
associação em questão crucial para o sucesso de ações regionais integradas.
Paradoxalmente, as novas tendências de urbanização na região, associadas a
elementos da flexibilização da produção (em especial, aqueles ligados ao emprego e à
reprodução da força de trabalho), cuja manifestação espacial são os inúmeros pequenos
núcleos urbanos (e rurais) que crescem aceleradamente nos municípios da periferia
metropolitana, parecem dificilmente se integrar à gestão do conjunto do espaço me-
tropolitano. São aglomerados, povoados, vilas, acampamentos, embriões de periferias
metropolitanas que partilham a precariedade da qualidade sócio-ambiental, assim como
o distanciamento espacial e político dos centros do poder local.
Já no espaço caracterizado pela articulação microrregional, os consórcios in-
termunicipais firmados em torno de questões comuns aparecem com grande potencial
para consolidar a cooperação entre governos locais, até mesmo entre esses e outras
instituições e/ou níveis de governo. Além de questões associadas à utilização de recur-
sos naturais, como o Rio Piracicaba, por exemplo, as possibilidades de complementari-
dade e diversificação econômica tendem a compor a pauta das chamadas questões de
interesse comum entre municípios, que atualmente experimentam relativo conforto
quanto à situação financeira. Esse tipo de iniciativa parece ser algo que tende a se
generalizar, apontando para a necessidade de novos enfoques teóricos para se pensar a
organização sócio-espacial das relações urbano-industriais na região.
153
154
4. ESTRUTURA ECONÔMICA
REGIONAL E MEIO AMBIENTE
.....................................
Alisson F. Barbieri (Coord.)
Carlos E. G. Torres
Cláudio Scliar
Marcelo Pinho
Ricardo M. Ruiz (Coord.)
Sérgio E. B. Lins
156
direta1 , com a escala em que a produção é conduzida. Portanto, estratégi-
as que contemplem a ampliação de plantas já instaladas ou a implantação
de novas unidades têm um claro impacto ambiental, cujo horizonte geo-
gráfico depende de decisões locacionais e de características próprias da
atividade. Por outro lado, se a expansão de uma empresa em seus merca-
dos de origem se faz pela aquisição de concorrentes já estabelecidos, a
situação naturalmente é diversa.
2. Seleção de alternativas tecnológicas. As opções existentes quanto à tecnolo-
gia de processo para a produção de um determinado bem muitas vezes
implicam diferentes requisitos em termos de uso de recursos naturais e
geração de resíduos e efluentes. Além disso, empresas mais habilitadas
do ponto de vista de estruturas dedicadas ao desenvolvimento tecnológi-
co estão, em princípio, mais preparadas para responder às demandas de
maior controle do seu impacto ambiental.
3. Amplitude das operações em termos de linhas de produto e setores de atividade.
Como o impacto ambiental dos vários ramos industriais e, dentro deles,
das diversas linhas de produto não é homogêneo, as decisões empresariais
quanto às alternativas possíveis têm impacto ambiental diferenciado.
Focalização ou diversificação setorial, integração vertical para frente ou
para trás, enobrecimento do mix ou concentração em itens mais simples
são exemplos de opções estratégicas que comportam resultados distintos
quanto ao impacto ambiental2 .
(4) Definição dos mercados de destino da produção. A orientação das vendas para
mercados com exigências mais rigorosas de controle ambiental induz as
empresas a se capacitarem mais nessa área. Por conseguinte, as opções
mercadológicas quanto às regiões em que a produção é colocada afetam o
impacto ambiental das operações. É de se esperar, por exemplo, que um
volume elevado de vendas para países da OCDE dependa crescentemente
de esforços significativos na área ambiental, embora o rigor das pressões
seja bastante variável de setor a setor.
5. Qualificação dos sistemas de gestão da produção e dos recursos humanos. A adoção
de estratégias gerenciais e organizacionais modernas que procurem apri-
morar a produtividade (particularmente quando voltadas para a redução
dos níveis de desperdício) e garantir a qualidade tende a melhorar os
indicadores ambientais da firma ou pelo menos facilitar a incorporação de
normas ambientais aos parâmetros de acompanhamento do desempenho
Cabe notar que algumas das tecnologias disponíveis para tratamento de resíduos industriais parecem ser
1
sujeitas a expressivas economias de escala, o que implica que grandes plantas podem ter um acesso
relativamente mais barato ao controle ambiental.
Uma hipótese a princípio bastante plausível é a de que estratégias empresariais que priorizem a atuação
2
nos elos iniciais das cadeias produtivas sejam mais agressivas ao meio ambiente, em razão do caráter de
uso intensivo de recursos naturais e pela própria natureza dos processos produtivos da maioria dos bens
intermediários e insumos básicos.
157
das plantas. Isto é particularmente verdadeiro quando aquelas estratégias
contemplam um papel importante para a capacitação da força de trabalho.
Um exemplo bastante conhecido que revela a relação entre controle am-
biental e qualificação das práticas gerenciais é o “acesso” que a adoção de
sistemas de garantia de qualidade certificados pelas normas ISO 9.000
proporciona às normas ambientais, a série ISO 14.000.
6. A escolha dos canais de financiamento dos investimentos tampouco é neutra
do ponto de vista ambiental. Bancos de fomento estatais e instituições
multilaterais não raramente incluem compromissos nesse campo entre as
exigências contratuais.
158
Para os dois mercados (celulose de mercado e aços comuns), as oscilações de
preços deprimem a rentabilidade dos investimentos, adiando vários projetos3 . Com
preços em baixa, particularmente os internacionais, apenas as empresas já instaladas e
com equipamentos parcialmente depreciados conseguem operar, pois o elevado custo
fixo de produção e o volume de capital necessário ao investimento em novas plantas
geram restrições às novas empresas/unidades produtivas. Um endividamento excessi-
vo na fase pré-operacional e nos primeiros anos após o início das atividades tendem a
comprometer parte significativa da acumulação interna com juros e amortizações. Dessa
forma, a queda dos preços internacionais obriga as empresas, mesmo as apoiadas em
recursos subsidiados (BNDES), a uma constante reestruturação financeira para garan-
tir o alongamento de suas dívidas e minimizar perdas.
Na fabricação de celulose e produtos siderúrgicos, o acesso garantido às
matérias-primas básicas assegura a divisão de mercado entre as empresas estabeleci-
das-as, protege da entrada de novas empresas e estabelece vantagens competitivas
frente às possíveis restrições à utilização desses insumos em outros países. Assim, os
possíveis menores custos operacionais dessas empresas podem estar relacionados a
uma específica exploração de vantagens naturais condicionada por uma legislação local
que regulamenta seu uso4 .
Por exemplo, Soares et alli (1990, p. 53) afirmam que o setor de celulose é
responsável por apenas 6% da demanda nacional por madeira, provenientes de reflo-
restamentos próprios ou independentes. Os principais demandantes de madeira são as
empresas que consomem carvão vegetal (26%) e lenha (53%), supridas na sua maioria
por madeira de matas nativa. Durante os anos 70, uma série de leis estabeleceu que as
empresas siderúrgicas e outros grandes demandantes de carvão vegetal deveriam ser
auto-suficientes no abastecimento, o que certamente redefiniu a organização da pro-
dução e os custos dos insumos básicos.
Outro exemplo seria o controle da madeira (verticalização da estrutura pro-
dutiva) na indústria de celulose. A floresta é uma barreira fundamental à entrada de
novos produtores e à ampliação da capacidade produtiva, pois os investimentos na
aquisição de terra são elevados e o prazo de maturação das florestas requer um longo
comprometimento de recursos. No Brasil, uma planta de celulose de fibra curta bran-
queada de tamanho ótimo (360 a 400 mil toneladas/ano) requer investimentos da or-
dem de US$ 900 milhões, cerca de três a quatro anos para instalação, caso haja uma
base florestal. Na sua ausência, a implantação do projeto demanda mais de sete anos e
o volume de investimento sofre significativo acréscimo.
O comportamento dos preços nas duas indústrias estudadas é assimétrico. Os preços dos aços apresentam-
3
se estagnados há 20 anos, enquanto os da celulose apresentaram bom desempenho até o final dos anos
80. Diversamente, nos anos 90 o preço de celulose apresenta uma acentuada queda enquanto o preço do
aço sindiza a manutenção dos patamares históricos. Há portanto diferenças quanto à perspectiva de novos
investimentos.
Existe ampla disponibilidade de alguns recursos naturais no mercado internacional. O que ocorre é que
4
nessas indústrias a disponibilidade de recursos naturais continua a representar uma vantagem competiti-
va crítica, expressa na apropriação de vantagens locacionais.
159
Um segundo aspecto da integração floresta-indústria é o aumento no rendi-
mento da madeira e na qualidade final do produto, além do controle dos custos. Na
tabela abaixo, entre os principais fatores que determinam a competitividade da indús-
tria de celulose nacional esta o reduzido custo da madeira, o que justifica uma estraté-
gia de verticalização.
TABELA 4.1
CUSTO DE PRODUÇÃO DE CELULOSE FIBRA CURTA - CFC - 3O TRIMESTRE DE 1994
.............................................................................
País
(US$/TON. CIF - MERCADO EUROPEU)
.............................................................................
Suécia 250 15 45 75 55 440 35 15 490
Espanha 244 35 49 78 55 461 20 17 498
Fonte: Celulose & Papel, São Paulo, no 50, p.6-7, set/out. 1994.
160
siderúrgicas, a ampliação da capacidade produtiva e sua redefinição são fortemente
condicionadas pela performance do mercado interno. No caso da Cenibra, as condi-
ções competitivas no mercado externo são as mais relevantes.
Por fim, deve-se ressaltar que as empresas siderúrgicas selecionadas não
são um oligopólio concentrado homogêneo típico, como colocado inicialmente. Ape-
sar de possuir todas as características dessa estrutura de mercado, as siderúrgicas
analisadas já desenvolveram importantes diferenciações de produtos e segmentaram
mercados. As estratégias da Acesita e Usiminas indicam que essa diferenciação de
produtos tende a incrementar-se.
161
da tecnologia de processo incorporada, quando esses fabricantes são nacionais, parte
central da estrutura técnica são licenciamentos de projetos de fabricantes externos.
Particularmente para as empresas nacionais de celulose, os equipamentos e
máquinas ofertados refletem os padrões tecnológicos desenvolvidos para a indústria
mundial, o que dificulta, mudanças na estrutura técnica, mas que, facilita a introdução
de equipamentos de proteção ao meio ambiente criados nos países centrais em função
de restrições legais à utilização de equipamentos poluentes. Por exemplo, na Alema-
nha, Áustria e Suíça, a tecnologia tradicional de uma planta química de celulose —
processo kraft — não é mais aceita na construção de novas plantas. Processos alternati-
vos de produção (ASAM, MILOX e Organocell) são pesquisados e aperfeiçoados, mas
ainda são considerados de baixa viabilidade econômica (Jorge, 1993). Mas viabilizada a
rentabilidade, a difusão dos mesmos pelas filiais das multinacionais instaladas no Brasil
pode ser um espaço de ação em direção a uma maior proteção ao meio ambiente.
Na fabricação de celulose, as três fases que mais agridem o meio ambiente
são: preparação da polpa, lavagem e depuração e branqueamento. Na polpação, o aper-
feiçoamento do processo de produção realiza-se com a interação do produtor de bens de
capital e do usuário (fábrica de celulose), mas é o fabricante do equipamento que fornece
contribuição relevante para as inovações técnicas. Na fase de lavagem e depuração e
branqueamento existem efluentes líquidos e gasosos agressivos ao meio ambiente. Os
desenvolvimentos tecnológicos que visam reduzir o volume de insumos utilizados e tra-
tar os resíduos desses processos têm nos fabricantes de equipamentos os principais in-
vestidores em P&D. A contribuição dos usuários tem sido limitada (Soares, 1990).
Tal dependência tecnológica é particularmente intensa nas empresas brasi-
leiras. Na fabricação de celulose, Soares et alli (1990) entrevistou grandes empresas e
constatou que as atividades de P&D eram relativamente restritas. Quanto aos fabri-
cantes de equipamentos instalados no Brasil, nenhuma das sete empresas visitadas
realizava pesquisa de processo ou produto. O desenvolvimento tecnológico era total-
mente feito em suas matrizes no exterior.
Nas atividades siderúrgicas, outro exemplo que ilustra essa dependência é o
grupo Gerdau. Na década de 1980, esse grupo incorporou inúmeras empresas siderúr-
gicas semi-integradas, o que constitui uma base técnica relativamente homogênea.
Entretanto, o grupo possui restritas atividades de P&D, seja no aprimoramento dos
processos ou produtos fabricados. A Gerdau não priorizou a capacidade de introduzir
autonomamente as inovações e qualquer modificação técnica de maior vulto necessi-
tará de alguma importante absorção externa de tecnologia. Descrição similar pode ser
apresentada para a empresa Belgo-Mineira.
As máquinas e equipamentos críticos têm sua tecnologia condicionada pelo
processo inovador no setor de bens de capital, em que, de modo geral, a liderança é
exercida por empresas japonesas e alemãs. Contudo uma relativa autonomia inovativa
no sentido de um upgrading tecnológico incremental (diversificação da linha de pro-
dutos e progressivos ganhos marginais na produtividade) pode ser obtida a partir de
esforços internos das empresas (gastos em P&D.
162
Diante dessa configuração do setor produtor de bens de capital e das estra-
tégias das empresas nacionais líderes de mercado, o desenvolvimento de inovações
tecnológicas e sua difusão às unidades industriais fogem em parte do controle indivi-
dual das empresas e ficam dependentes de outros setores industriais e do grau de
cooperação inovativa intersetorial. Mas estratégias locais/individuais de P&D podem
gerar uma autonomia tecnológica parcial, que possibilite ajustes e adaptações em dire-
ção a estruturas produtivas minimizadoras de impactos ambientais. O conhecimento
tecnológico é, pois, fundamental tanto para a constituição de empresas mais competi-
tivas e como também menos agressivas ao meio ambiente.
PERSPECTIVAS DE EXPANSÃO
Setorialmente classificadas e comparadas, as firmas estudadas, apresentam
distintas perspectivas de crescimento. A indústria papeleira é estruturalmente intensi-
va em recursos naturais, possui restrita capacidade inovadora e difusora de novos pro-
dutos e processos, o que pode comprometer seu crescimento futuro, fato comprovado
no período 1990-1993, quando a indústria foi marcada por uma profunda recessão.
Entretanto, é consenso entre os analistas que a indústria papeleira nacional é capaz de
concorrer com outros países e ocupar parcelas significativas do mercado internacional
de celulose. Essa capacidade competitiva centraria-se principalmente nas vantagens
de custo (matéria-prima e mão-de-obra), sendo futuras ampliações da capacidade pro-
dutiva um cenário possível.
Na indústria siderúrgica a possibilidade de crescimento pode ser considera-
da modesta. Classificada como pouco dinâmica, essa indústria não apresentou durante
um ciclo expansivo de 10 anos uma capacidade endógena de crescimento. Inovações
de produto e processo foram implementadas, mas não foram capazes de gerar mais do
que uma limitada recuperação. Diversamente do setor de celulose e papel, ainda em
fase de expansão/consolidação, a siderurgia é uma indústria antiga, à exceção de alguns
nichos de mercado, seu dinamismo depende do crescimento de outras indústrias e/ou
das economias em desenvolvimento, ou seja exportação.
Caso essa tendência seja confirmada, o potencial de crescimento das side-
rúrgicas brasileiras é restrito. Para uma expansão além da preconizada acima, três hipó-
teses podem ser levantadas. Primeira: as empresas nacionais intensificam sua inserção
no comércio internacional e ocupam parcelas de mercado nos países centrais. Assim, o
crescimento da capacidade produtiva seria condicionado pela expansão das exporta-
ções; um virtuoso drive exportador.
Essa opção pelo drive exportador não se apresenta como a mais viável a curto
e médio prazo, pois, por exemplo, a crise das economias do Leste Europeu contribuiu
para aguçar a concorrência no comércio internacional. Defrontando-se com uma queda
brutal na demanda doméstica (algo como 40% entre 1987 e 1992), as usinas desses
países procuraram reagir aos níveis elevadíssimos de ociosidade (cerca de 45% em
1992, o equivalente a 120 milhões de toneladas anuais de aço bruto, quase cinco vezes
a produção brasileira) aumentando as exportações e estimulando manobras protecio-
163
nistas no Ocidente. Dadas as deficiências tecnológicas da siderurgia da Europa Orien-
tal, a concorrência tem sido expressiva nos produtos mais simples, justamente aqueles
em que se concentram as exportações brasileiras (de Paula, 1994).
Uma segunda opção seria direcionar a capacidade instalada para linhas de
produtos mais nobres e para a diferenciação: aços especiais, sob encomenda, revesti-
dos, produtos semimanufaturados etc. Esses segmentos de mercado são mais dinâmi-
cos (crescem a taxas superiores aos “comoditizados”) e apresentam margem de lucro
maior. Tal opção exigiria esforços de P&D, redefinição das linhas de produtos, investi-
mentos em máquinas, equipamentos e serviços, além da requalificação da mão-de-
obra. Algumas empresas (como a Acesita e a Usiminas) estão optando por realocar a
capacidade produtiva: redução da produção de commodities e ampliação da fabricação
de produtos diferenciados. Os efeitos são mudanças no leque de insumos, introdução
de equipamentos auxiliares e de processos produtivos finais e otimização da capacida-
de produtiva; o que certamente traz impactos ambientais diversos.
Essa opção estratégica defronta-se, porém, com outra limitação no caso da
siderurgia brasileira proveniente da perda de espaço na matriz industrial de alguns
setores que proporcionam demandas mais sofisticadas (bens de capital, por exemplo).
Em certo sentido, a reestruturação da indústria brasileira tornou-se essa alternativa
dependente, ao menos parcialmente, de um drive exportador.
A terceira estratégia seria reflexa ao movimento do mercado nacional. Uma
retomada sustentada do mercado interno estimularia novas inversões na ampliação da
capacidade produtiva. Diferentemente da anterior, tal estratégia pode ser considerada
passiva e com resultados incertos. Primeiro, o crescimento da economia vem apresen-
tando uma cadente elasticidade-renda para produtos siderúrgicos e, segundo, as exi-
gências futuras do mercado interno e a abertura comercial podem exigir estratégias
que não correspondam simplesmente à ampliação da capacidade instalada e à imple-
mentação de investimentos “convencionais”.
A estratégia mais plausível para as empresas seria, então, uma combinação
das citadas acima: progressiva diferenciação das linhas de produção, modernização tec-
nológica das plantas, ampliação incremental da capacidade instalada e exportação de
produtos relativamente padronizados, mas mantendo-se o mercado interno como es-
paço central de acumulação.
ALGUMAS CONCLUSÕES
A análise das estratégias das grandes empresas que se localizam na bacia do
Rio Piracicaba confirmou a hipótese apresentada no início deste texto: a decisão quanto
às alternativas estratégicas tem vínculos importantes com os impactos ambientais. Os
condicionantes estruturais da indústria (inserção na estrutura produtiva, escalas mínimas
de produção etc) e as características específicas das firmas (capacidade financeira, seg-
mentos de mercados prioritários, controle do capital etc) definem as opções estratégicas
e os possíveis desdobramentos sobre o meio ambiente. A expansão horizontal das ativi-
dades e a forma como são implementadas, a trajetória tecnológica associada a essa expan-
são, o escopo das linhas de produtos e os setores de atividades relacionados, os mercados
164
de destino da produção, a gestão da produção e dos recursos humanos e as condições de
financiamento mostraram-se importantes condicionantes dos impactos ambientais.
Dois outros aspectos foram destacados. O primeiro refere-se às trajetórias tecno-
lógicas das empresas: as fontes de inovações de produto e de processo. No estudo, a capa-
cidade das empresas de inovar e imitar mostrou-se central no equacionamento de soluções
para impactos ambientais. Entretanto, existem aspectos da inovação — as relações interse-
toriais de inovação — que ficam além da capacidade decisória da empresa. Nos casos estu-
dados, as relações das empresas com os fornecedores de bens de capital foram identificadas
como condicionantes importantes da trajetória inovativa e, indiretamente, dos impactos
ambientais. Esses laços intersetoriais estabelecem uma dependência das empresas seleci-
onadas em relação a outras, e estas, por sua vez, têm outros padrões de concorrência e
relações intersetoriais, ambos quase sempre externos ao ambiente da economia nacional.
Uma segunda constatação foi a delimitação do núcleo decisório. Demons-
trou-se que as empresas são parte de uma estrutura de capital (grupo econômico) que
tem em outras empresas/unidades produtivas interessses específicos e que refletem as
diferenças técnicas e econômicas. A interação entre elas delineia estratégias que não
são explicadas só pelo perfil econômico de uma unidade produtiva, mostrou-se impe-
rativo a avaliação de estratégias implementadas em outras regiões e empresas. Obser-
vando-se as estratégias empresariais mais gerais, os impactos ambientais locais passa-
ram a ser condicionados indiretamente (ou diretamente) por decisões relacionadas a
outras unidades produtivas e mercados.
O estudo das grandes empresas da bacia do Piracicaba reafirmou alguns vín-
culos entre as firmas e o meio ambiente, como as escalas de produção e a intensidade
do uso de matérias-primas. Além desses, procurou-se, de forma exploratória, ressaltar
outros, nem tão evidentes e talvez não menos importantes, como capacidade inovativa
das empresas, relações intersetoriais de difusão de produtos e processos, definição dos
núcleos decisórios e gestão da produção. Esse esforço de pesquisa — que qualificamos
como preliminar — já sinaliza a existência de um vasto campo de investigação, no qual
novos estudos certamente mostrar-se-ão frutíferos.
165
Dessa forma, ao comparar a evolução das áreas ocupadas pelos estabelecimen-
tos com mais de 1.000 ha com as áreas de propriedade da Cenibra, pudemos estabelecer
uma relação inversa entre a estratégia de ocupação fundiária dessa empresa e das demais
companhias reflorestadoras da região. Essa relação caracterizou-se pelo fato de que, en-
quanto as companhias siderúrgicas tradicionalmente localizadas na região optaram por
vender suas terras na bacia do Rio Piracicaba, a Cenibra ao contrário tornou-se a principal
compradora dessas propriedades, chegando a adquirir cerca de 10.000 ha anuais da CAF
(subsidiária florestal da CSBM). Nessa perspectiva, as áreas de monocultura destinadas à
produção de energia parecem ter se deslocado para fora da bacia do Rio Piracicaba, ao
passo que as áreas reflorestadas mantidas dentro dela se destinaram à produção de celu-
lose. Um fator a motivar essa movimentação é a possibilidade de que a demanda das
siderúrgicas possa ser suprida através da derrubada da mata nativa, enquanto que a de-
manda por celulose só pode ser suprida através da monocultura de eucalipto.
Uma das principais críticas à monocultura de eucalipto diz respeito à forte
concentração fundiária que ela engendra. No entanto, essa concentração, resultante de
diversos processos históricos, tem sido observada em quase todo o Brasil, mais especi-
ficamente em Minas Gerais.
TABELA 4.2
.............................................................................
Regiões
CONCENTRAÇÃO FUNDIÁRIA EM MINAS GERAIS (1989)
.............................................................................
Rio Doce 83,5 26,3
MINAS GERAIS 83,2 23,3
A Tabela 4.2 acima demonstra que Minas Gerais apresenta, de modo geral,
um panorama de forte concentração fundiária. Os estabelecimentos de até 100 ha ocu-
pam uma área relativamente pequena. A região Metalúrgica e Campo das Vertentes,
na qual está contida a maior parte da bacia do Rio Piracicaba, apresenta um perfil
fundiário nitidamente mais bem distribuído do que a média do Estado. A região Noro-
este, que durante as décadas de 1970 e 1980 tornou-se a região com maior área reflo-
restada de Minas Gerais, apresenta o pior perfil de distribuição fundiária do Estado,
onde 76% dos estabelecimentos agrícolas se situam no estrato de 0 a 100 ha, ocupando
apenas 11,1% da área total da região.
166
A política de concessão de incentivos fiscais à atividade reflorestadora não
teria assim influenciado tão profundamente a concentração fundiária na bacia do Rio
Piracicaba ao longo dos anos 70 e 80. Essa afirmativa é reforçada quando se percebe
que os estabelecimentos compreendidos entre 0 e 50 ha em 1970 correspondiam a
aproximadamente 69% do número total de estabelecimentos na bacia do Piracicaba,
ocupando uma área de aproximadamente 18% da área total. Essa relação para o ano
censitário de 1985 correspondeu a 74,15% do número total de estabelecimentos com-
preendidos entre 0 a 50 ha, ocupando uma área correspondente a 19,66% da área total
da bacia.Os estabelecimentos com área acima de 1000 ha representavam 0,77 do nú-
mero total de estabelecimentos em 1970 ocupando uma área correspondente a 27% da
área total, enquanto que em 1985 representavam 0,68% do número total de estabele-
cimentos ocupando 27,51% da área total da bacia. (FIBGE 1970, 1985).
Temos então que a dinâmica de concentração fundiária na bacia do Rio Pira-
cicaba se consolidou quase que totalmente em um período anterior à política de incen-
tivo fiscal pró-reflorestamento com a monocultura de eucaliptos. Dinâmica essa que
teve início a partir da instalação da CSBM, em 1937, ganhando corpo posteriormente
com a instalação da Acesita e da Usiminas. Quando do início da operação da Cenibra,
na década de 1970, época que coincidiu com o auge da política de incentivos fiscais, o
ritmo da concentração fundiária contraditoriamente parece ter diminuído.
O fator principal a influenciar esse movimento correspondeu ao aumento do
preço das terras nas áreas próximas às empresas consumidoras de matéria-prima vegetal,
à medida que se ia processando a expansão da rede urbana na bacia do Rio Piracicaba.
Outro fator que influenciou essa tendência são os incentivos adicionais concedidos pela
Sudene, visando fomentar o reflorestamento com a monocultura de eucaliptos no Vale
do Jequitinhonha. Dessa forma, temos que de 1967 a 1982 171.797,40 ha foram reflores-
tados com incentivo fiscal na região Metalúrgica e Campo das Vertentes (onde está inse-
rida a bacia do Piracicaba), ao passo que no mesmo período o reflorestamento atingiu a
734.854,20 ha na região Noroeste e 413.375,20 no Vale do Jequitinhonha.
O reflorestamento com a monocultura de eucaliptos na bacia do Rio Piracica-
ba foi introduzido no início dos anos 50, trazendo em sua proposta uma enorme contradi-
ção, como aponta Guerra: “A principal contradição foi a de que o eucalipto foi apresenta-
do como a grande opção para a reduzir a pressão sobre as matas nativas na região. Na
prática isso não aconteceu. Sua presença não trouxe uma redução no desmatamento e
ainda criou um aumento na demanda de carvão vegetal de origem nativa: o preço do
carvão de origem nativa sempre foi menor que o da floresta plantada de eucaliptos. Além disso,
as empresas precisavam de florestas mais rapidamente renováveis. Desta forma, elas
avançaram na região comprando terras cobertas por matas nativas, desmatando e plantando
em seu lugar as florestas homogêneas de eucaliptos” (Guerra, 1995, p. 61).
A tendência à utilização de carvão vegetal de matas nativas tem se mantido
a despeito das grandes áreas reflorestadas com eucalipto. Guerra (1995) aponta que as
grandes siderúrgicas consomem aproximadamente 50% de carvão vegetal oriundo de
florestas nativas. Tal prática, contrariando a legislação ambiental, que prevê a neces-
167
sidade do auto-abastecimento por parte das siderúrgicas, é motivada pelo menor preço
do carvão da mata nativa. Para burlar a lei, as grandes siderúrgicas vêm adquirindo
carvão de áreas mais distantes e com uma fiscalização ambiental menos intensa (como
Mato Grosso e Bahia). Dessa forma, as áreas reflorestadas na bacia do Piracicaba mui-
tas vezes permanecem intactas
Como tendência geral, irá então o estancamento da área destinada à mono-
cultura de eucalipto na bacia do Rio Piracicaba. Essa conclusão está baseada no fato de
que, como veremos a seguir, a Cenibra foi efetivamente a principal companhia reflo-
restadora na bacia do Piracicaba ao longo dos anos 70 e 80. Por sua vez, a companhia
declarou já possuir terra suficiente para seu suprimento de matéria-prima, mesmo ten-
do ela inaugurado uma nova unidade industrial.
Naturalmente uma fiscalização mais rigorosa nas áreas provedoras de carvão
vegetal nativo pode reverter a estratégia das siderúrgicas de deslocar suas áreas de
plantio da bacia do Piracicaba. Mas, ainda assim, a tendência à produção do carvão
deverá deslocar-se para áreas mais distantes das regiões de consumo, beneficiando-se
do preço mais baixo dessas terras.
Em um movimento inverso, o município de Antônio Dias destacou-se dos
demais municípios da bacia, pois, a partir dos anos 70, a área ocupada por monocultura
de eucalipto nesse município cresceu de maneira pronunciada. Em 1993 esse municí-
pio apresentou 18.735,26 ha plantados com eucalipto de um total de 32.579,27 ha em
poder de empresas reflorestadoras (Prefeitura Municipal de Antônio Dias, 1993). Ba-
cha (1991) aponta que Antônio Dias e os municípios de Januária, Lassance, Rio Pardo
de Minas e João Pinheiro, “os cinco maiores reflorestadores de Minas Gerais em 1980”,
tinham 25,4% do total de eucaliptos. Em 1970 tinham 2,15%” (Bacha, 1991, p. 162).
Infelizmente os dados disponíveis para a avaliação da ocupação fundiária de
Antônio Dias apresentam graves incoerências, de acordo com as informações dos censos
agropecuários. A área total dos estabelecimentos agrícolas informada em 1970 foi de
27.691 ha, em 1975, 44.919 ha, em 1980, 64.897 ha e em 1985, 51.105 ha (FIBGE 1970,
1975, 1985). Para o ano de 1993 esse valor correspondeu a aproximadamente 83.000 ha
(Prefeitura Municipal de Antônio Dias, 1993). No entanto, apesar dessas incongruênci-
as, o estudo específico da evolução do reflorestamento com a monocultura de eucaliptos
centrado em Antônio Dias se faz necessário, pois foi o município onde a monocultura de
eucalipto mais cresceu na bacia do Rio Piracicaba. O entendimento dos motivos que
levaram à expansão da monocultura de eucalipto nesse município certamente levará a
uma melhor compreensão da expansão da monocultura como um todo.
Sendo assim, estruturou-se o argumento que se vai desenvolver aqui em
quatro partes: a) Caracterização do Setor Agropecuário e do Reflorestamento com a
Monocultura de eucaliptos na Bacia do Rio Piracicaba; b)Caracterização da Evolução
da Ocupação Fundiária na Bacia do Rio Piracicaba; c) Caracterização da Expansão
Recente do Reflorestamento com a Monocultura de Eucaliptos na Bacia do Rio Piraci-
caba; d) Análise da Expansão do Reflorestamento com a monocultura de eucaliptos
em Antônio Dias; e) Conclusão.
168
CARACTERIZAÇÃO DO SETOR AGROPECUÁRIO
E DO REFLORESTAMENTO COM A MONOCULTURA
DE EUCALIPTOS NA BACIA DO RIO PIRACICABA
Apresentamos a seguir dados básicos da produção agrícola e dos usos múlti-
plos da terra na bacia do Rio Piracicaba. São levantadas também algumas questões
gerais, consideradas importantes para uma adequada compreensão daquela realidade .
Os principais produtos agrícolas cultivados na região, considerando-se a área
colhida, produção e produtividade, são o milho, o feijão, o arroz, a cana-de-açúcar, a
banana, a mandioca e o tomate.
De modo geral, a agricultura da região é praticada de forma tradicional, com
pouca modernização tecnológica e escasso uso de insumos agrícolas e mecanização,
esta última dificultada pela topografia acidentada do local. A baixa fertilidade dos solos
exigiria um preparo mais adequado para os plantios. Produtos básicos como o feijão e o
milho, que ocupam as maiores áreas de lavouras temporárias na região, apresentam
baixa produtividade se comparada com a média estadual.
Na Tabela 4.3, são mostradas as áreas totais (em ha) de lavouras (temporárias
e permanentes) em cada município, nos anos de 1970, 1975, 1980 e 1985. Na Tabela
4.4, são mostradas as atividades agrícolas relevantes por município, enfatizando-se aque-
las com áreas superiores a 500 ha e/ou produtividade acima da média estadual.
Em relação à dinâmica de ocupação dos solos da região por pastagens, obser-
va-se uma redução na área ocupada a partir de 1975 (Tabela 4.5). Paradoxalmente, a
partir desse ano observa-se um aumento significativo na população de bovinos, que
quase duplicou em relação ao período 1970-1991 (Tabela 4.6), e uma tendência de
queda da produtividade leiteira, se tomarmos por base a média estadual. No período
1975-1985, a média estadual de produção leiteira cresceu 46,49%, enquanto na região
esse crescimento não atingiu 20% (Tabela 4.7).
Em relação ao avanço da monocultura de eucalipto (num regime de cortes
sucessivos a cada sete anos), a Tabela 4.8 mostra que até 1967 cerca de 70% dos plan-
tios de eucalipto em Minas Gerais estavam localizados na região de planejamento I, a
maior parte na bacia do Rio Piracicaba.
Embora na década de 1970 tenha havido um deslocamento marcante para as
regiões VI e VII, ainda assim a média anual de plantio na região I ficou em torno de
10.000 hectares/ano. Em razão da proximidade dos centros consumidores (usinas side-
rúrgicas e indústria de celulose) e da importância do item transporte na composição do
custo final dos produtos, o preço da terra na região I aumentou significativamente
naquele período. Com a primeira crise do petróleo, o “raio econômico” (distância fá-
brica-plantios) passou a ser uma variável fundamental na composição dos custos e no
planejamento de novos plantios.
A Tabela 4.9 mostra as áreas adquiridas pela Cenibra nos municípios da bacia e
seu entorno, cujo processo de ocupação deve ser analisado levando-se em conta os critérios
econômicos adotados, como “raio econômico”, presença de linha férrea, custo da terra etc.
169
Finalmente, a Figura 4.1 (“Evolução do Uso da Terra na Bacia do Rio Pira-
cicaba e seu Entorno”) permite uma análise quantitativa do processo de competição e/
ou substituição das lavouras (permanentes e temporárias) e pastagens pela monocultu-
ra de eucalipto na região, de 1970 a 1980, período áureo da política de incentivos fiscais
para reflorestamentos no Brasil.
TABELA 4.3
ÁREAS DE LAVOURAS POR MUNICÍPIO -
.............................................................................
REGIÃO DA BACIA DO RIO PIRACICABA - 1970/1975/1980/1985
.............................................................................
MINAS GERAIS 3542326 3980821 4773356 5340110
% DA REGIÃO NO ESTADO 2,64 1,97 1,95 1,95
170
TABELA 4.4
ATIVIDADE AGRÍCOLA RELEVANTE POR MUNICÍPIO * -
.............................................................................
Município
REGIÃO DA BACIA DO MÉDIO RIO DOCE - 1983
Produto agrícola
Arroz Banana Cana-de Feijão Mandioca Milho Tomat
em -açúcar em em
casca grão grão
Alvinópolis - - - a p a -
Antônio Dias p - - - - a -
Barão de Cocais - p - - p a -
Bela Vista de Minas p - - - p a -
Belo Oriente a p - a p a -
Bom Jesus do Amparo p p - - - a -
Caratinga a/p p - a - a -
Coronel Fabriciano p - - - - - -
Iapu a p a - a/p a p
Ipatinga - p - - p - -
Itabira p p - a - a -
Jaguaracu p - - - - - -
João Monlevade - - - - p - -
Mariana - - - - p a -
Marliéria p - - - - - -
Mesquita - p - a p a -
Nova Era p - - - p a -
Ouro Preto - - - - p a -
Rio Piracicaba p - - - p a -
Santa Bárbara - p - a p a -
São Domingos do Prata a/p - a a p a -
.............................................................................
São Goncalo do Rio
- - - a p a -
Abaixo
500 ha. Nota: A letra “A” significa que o município considrado tem área colhida acima de 500 ha com o produto especifi-
cado. A letra “P” significa que o município considerado tem produtividade acima da média estadual.
171
TABELA 4.5
ÁREA DE PASTAGENS POR MUNICÍPIO* -
.............................................................................
REGIÃO DA BACIA DO RIO PIRACICABA - 1970/1975/1980/1985
.............................................................................
MINAS GERAIS 29716266 31931282 29608796 28924183
% DA REGIÃO NO ESTADO 1,26 1,27 1,33 1,33
172
TABELA 4.6
EFETIVO DA AGROPECUÁRIA - BOVINOS -
.............................................................................
REGIÃO DA BACIA DO RIO PIRACICABA - 1970/1975/1980/1985/1991
.............................................................................
MINAS GERAIS 15140297 20022834 19560399 19983506 20764329
% DA REGIÃO NO ESTADO 1,04 1,59 1,63 1,44 1,48
173
TABELA 4.7
PRODUTIVIDADE LEITEIRA -
.............................................................................
REGIÃO DA BACIA DO RIO PIRACICABA - 1970/1975/1980/1985
.............................................................................
TOTAL DA REGIÃO* 707,31 830,83 953,31 994,24
MINAS GERAIS 696,13 826,64 1007,02 1211,00
174
TABELA 4.8
..............................................................................................................
Ano
O AVANÇO DAS FLORESTAS DE EUCALIPTOS - MINAS GERAIS - 1967-1982
Evolução Anual das Áreas Plantadas por Região de Planejamento (em ha)
Região Região Região Região Região Região Região Região Total do
I* II III IV V VI VII VIII Estado
Anteriores à 1967 42.680,30 5.182,60 1.719,50 594,30 585,20 _ 109,00 11.488,20 62.359,10
1967 1.959,20 200,40 534,20 _ 683,50 _ _ _ 3.377,30
1968 6.203,30 657,40 3.013,10 1.001,10 1.034,50 55,40 _ 694,30 12.659,10
1969 9.115,60 1.630,70 2.522,90 2.588,00 3.823,90 486,00 _ 3.434,00 23.601,10
1970 11.037,60 1.169,80 3.958,10 10.752,80 7.258,00 888,70 26,20 3.442,20 38.533,40
1971 30.198,90 1.188,50 3.859,20 19.658,40 6.323,50 2.800,90 59,40 8.540,10 72.628,90
1972 15.616,60 1.837,90 2.029,50 18.414,30 11.858,90 5.092,10 792,00 3.414,30 59.055,60
1973 10.023,40 1.063,70 2.677,20 23.301,50 9.511,70 8.331,90 _ 2.582,70 57.492,10
1974 8.383,70 1.654,40 3.155,50 30.703,70 8.786,10 20.787,90 9.500,50 2.755,40 85.727,20
1975 7.272,30 993,40 3.180,80 30.753,90 11.047,00 43.458,30 35.834,20 1.912,30 134.452,20
1976 3.985,50 835,00 1.039,40 27.865,40 20.159,10 57.638,30 47.156,70 6.098,00 164.777,40
1977 3.528,40 _ 394,00 22.105,30 17.715,00 101.513,50 59.225,50 _ 204.481,70
1978 8.071,30 167,50 917,40 17.262,80 22.489,00 103.051,20 74.394,50 129,80 226.483,50
1979 3.027,00 31,70 626,40 5.648,40 20.127,30 111.478,20 59.913,00 1.000,00 201.852,00
1980 3.255,40 268,90 388,80 1.462,50 9.749,40 86.696,80 45.489,90 _ 147.311,70
1981 2.756,90 _ 206,70 4.519,20 11.318,00 92.305,20 45.465,20 _ 156.571,20
1982 4.682,00 _ 11,50 800,00 9.844,10 100.269,80 35.409,10 6.035,00 157.051,50
..............................................................................................................
Total do Estado 171.797,40 16.881,90 30.234,20
.............................................................................
REGIÃO DA BACIA DO RIO PIRACICABA E ENTORNO - 1993
Área em ha
% da Área Ocupada
Cenibra
Município
Município Área Área Área Área
Bruta Plantada Bruta Plantada
Alvinópolis 61.600 2.245,98 1.287,75 3,65 2,09
Antônio Dias 83.300 15.808,22 8.869,13 18,98 10,65
Barão de Cocais 35.300 2.217,64 1.258,00 6,28 3,56
Bela Vista de Minas 10.700 1.084,51 436,80 10,14 4,08
Belo Oriente 32.300 6.371,63 4.152,45 19,73 12,86
Bom Jesus do Amparo 19.700 667,94 496,00 3,39 2,52
Coronel Fabriciano 20.200 4.367,84 2.389,55 21,62 11,83
Iapú 53.700 1.655,68 1.010,20 3,08 1,88
Ipatinga 16.000 2.135,88 914,00 13,35 5,71
Itabira 130.500 5.897,47 3.096,10 4,52 2,37
Mariana 119.800 1.103,70 583,50 0,92 0,49
Marliéria 47.800 753,54 367,60 1,58 0,77
Mesquita 28.500 1.429,54 763,80 5,02 2,68
Nova Era 35.500 6.281,40 3.056,80 17,69 8,61
Santa Bárbara 85.900 9.453,81 6.362,31 11,01 7,41
Santana do Paraíso 27.600 1.260,32 734,79 4,57 2,66
São Domingos do Prata 79.100 2.784,16 1.633,48 3,52 2,07
São Gonçalo do Rio
37.400 2.873,56 1.620,00 7,68 4,33
.............................................................................
Abaixo
TOTAL 924.900 68.392,82 39.032,26 7,39 4,22
Fonte: Cenibra.
176
CARACTERIZAÇÃO DA EVOLUÇÃO DA OCUPAÇÃO FUNDIÁRIA
NA BACIA DO RIO PIRACICABA
A bacia do rio Piracicaba foi, no século XX, objeto de importantes interven-
ções que redefinam seu perfil sócio-econômico-demográfico. Momentos divisíveis deste
processo foram: 1) a implantação da Estrada de ferro Vitória-Minas, em 1903 à, implan-
tação da Usina de Monlevade da Belgo Mineira, em 1937, da cia Vale do Rio Doce em
1942 da Acesita em 1994, da Usiminas, em 1956, e da Cenibra em 1977. Em todos
estes processos a questão da constituição de um coletivo de trabalhadores, aptos para o
trabalho industrial foi fundamental.
Santos (1986) defende que a utilização de carvão vegetal por parte da usina
da Belgo em João Monlevade atuou no sentido de não só garantir combustível para seu
funcionamento, como também fornecer um exército de mão-de-obra que se veria for-
çado a vender sua força de trabalho a partir do momento em que a produção de carvão
vegetal se expandisse sobre suas posses. “A política do combustível por parte da side-
rurgia a carvão vegetal teve outro resultado muito importante a nosso ver: ela deu uma
contribuição significativa para a criação de uma mercadoria — escassa àquela época na
região — essencial à produção em forma capitalista: a força de trabalho. Ela liberou
mão-de-obra para a indústria, quando concentrou as terras, quando levou ao aumento
de preços as terras mais bem situadas (e mais férteis) quanto à infra-estrutura de trans-
porte; enfim, quando reforçou as forças que atuam no sentido da eliminação da peque-
na produção camponesa, voltada para a auto-subsistência.” (Santos, 1986, p. 204). Como
demonstrativo dessa tendência, Santos (1986) aponta o relato de um dirigente sindical
à época da implantação da CSBM: “Antigamente aqui era o seguinte: você vinha, aquelas
pessoas da roça vinham vender carne, leite etc., o que a Companhia tinha aqui tam-
bém, mas eles, a polícia com os seus bate-paus chegava lá e jogava os mantimentos
todos dentro da água do rio, jogava fora, não deixava entrar aqui dentro de Monlevade.
Não deixavam vender”. E conclui que a finalidade de tais procedimentos seria: “invi-
abilizar a expansão e até mesmo a sobrevivência da economia camponesa porventura
subsistente na região; por meio disso assegurar a disponibilidade de matas para carvão
vegetal diante do crescente distanciamento destas com relação à Usina; assegurar a
oferta de mão-de-obra, principalmente para seus empreiteiros “contratistas”, encarre-
gados das atividades de desmatamento e fabrico de carvão, mas também para as pró-
prias necessidades de força de trabalho da usina. Mais ainda, como veremos adiante, a
Companhia, a partir de fins da década de 1940, se viu diante da necessidade de organi-
zar um progressivo e contínuo programa de reflorestamento com a monocultura de
eucaliptos, o que trouxe novas carência de mão-de-obra na região” (p. 249-250).
Brito (1992) analisa de forma diferente da exposta acima o problema do forne-
cimento de carvão vegetal para a siderurgia. Para ele, a expansão da siderurgia acabou
por fixar vários pequenos proprietários perto das siderúrgicas (ao contrário do processo
de pecuarização que ocorreu com grande intensidade principalmente no vale do Rio
Doce, gerando um forte movimento de expulsão), que se veriam responsáveis pelo su-
primento de carvão vegetal para essas companhias. “A região do vale do Rio Doce onde
177
predominava a siderurgia apresentava uma situação particular no leste mineiro: a grande
expansão das empresas siderúrgicas e de suas propriedades agrícolas — e conseqüente-
mente a emergência do reflorestamento com a monocultura de eucaliptos — reduziu
suas taxas de pecuarização. Talvez por essas razões, as taxas de emigração eram mais
baixas. E isso não era só porque as grandes empresas geravam empregos suficientes, mas
principalmente porque elas estimulavam um mercado de carvão do qual faziam parte,
como na região 1, porém em maior proporção, um grande número de pequenos proprie-
tários. Estes eram muitas vezes parceiros arrendatários ou mesmo temporários traba-
lhando terras alheias, que produziam a preços muito mais baixos, atendendo de forma
mais satisfatória a demanda das grande siderúrgicas” (Brito, 1992, p. 35).
A hipótese proposta por Santos (1986) da desarticulação total da produção
camponesa parece não ter se concretizado. Na realidade, grande parte da mão-de-
obra local efetivamente se proletarizou, vendendo seu trabalho para a CSBM. No
entanto, um contigente relevante da população continuou a trabalhar no setor agrí-
cola. Mas a estratégia de atuação dos produtores locais passou a se dar em duas ver-
tentes principais. Ao lado da produção tradicional de gêneros de subsistência, esses
agricultores se viram responsáveis por suprir expressivas quantias de carvão vegetal
às siderúrgicas, através do desmatamento da floresta nativa ainda presente em suas
propriedades. Essa tendência é confirmada por Brito (1992), segundo quem as side-
rúrgicas “não só desmatavam suas próprias propriedades como estimulavam o des-
matamento por terceiros, institucionalizando um mercado de carvão vegetal que pro-
duzia a preços muito mais baixos porque dependia quase que exclusivamente dos
custos da mão-de-obra fortemente rebaixados por estarem fora de qualquer controle
legal” (Brito 1992, p. 30).
O padrão de ocupação fundiária da bacia do Rio Piracicaba acima exposto —
coexistência de grandes estabelecimentos agrícolas pertencentes às companhias side-
rúrgicas e pequenas propriedades rurais de baixa produtividade — ainda se mantém,
como indicam as Tabelas 4.10 e 4.11.
A Tabela 4.10 indica que o percentual da área ocupada com lavouras é rela-
tivamente baixo em relação à área total, variando de um percentual de 5,36% até no
máximo 23,48%. Por outro lado, a pastagem natural ocupa o maior percentual da área
ocupada na região. As exceções vão para os municípios de Barão de Cocais — onde a
floresta natural ocupa a maior área —, Belo Oriente, Coronel Fabriciano, João Monle-
vade, Santa Bárbara e Timóteo, onde a pastagem natural parece ter perdido lugar para
o eucalipto. No município de Antônio Dias há uma grande parcela da terra classificada
como produtiva não utilizada, a qual somada com a área ocupada pela floresta plantada
corresponde praticamente à área ocupada pela pastagem natural. As áreas referentes à
pastagem plantada são pouco signficativas se comparadas com as cobertas por pasta-
gem natural, o que pode significar baixo investimento na pecuária. Naturalmente a
propriedade coberta por pastagem natural apresentará um preço de venda menor do
que as terras já plantadas com lavoura, teoricamente representando um espaço mais
propício à expansão da monocultura de eucalipto.
178
TABELA 4.10
.............................................................................
PADRÃO DE OCUPAÇÃO DA TERRA NA BACIA DO RIO PIRACICABA (1985)
Município Área % % % % %
(ha) Lavoura Pastagem Pastagem Mata + Floresta
Permanente+ Natural Plantada Floresta Plantada
Plantada Natural
Alvinópolis 38.735 13,79 52,39 3,38 16,94 8,26
Antônio Dias 51.105 5,65 36,16 1,06 16,89 22,49
Barão de Cocais 15.764 11,55 18,94 1,37 40,97 17,61
Bela Vista 4.739 13,86 50,05 1,67 23,74 8,44
Belo Oriente 28.954 9,20 26,00 5,30 7,22 43,23
Bom Jesus 14.623 15,75 57,20 7,69 11,97 4,13
Caratinga 202.07 23,48 50,00 0,63 10,97 6,12
Coronel Fabriciano 15.088 13,11 27,22 0,64 11,51 35,38
Iapu 45.238 15,06 68,02 0,83 8,84 2,56
Ipatinga 8.711 7,31 66,18 0,54 5,66 11,78
Itabira 57.357 9,51 48,59 3,58 18,47 14,97
Jaguaraçu 10.204 5,36 76,88 0,38 9,22 0,00
João Monlevade 5.874 2,77 35,73 2,83 3,76 48,47
Mariana 60.105 12,54 34,90 0,83 22,33 17,88
Marliéria 19.797 5,32 43,86 1,37 12,27 29,12
Mesquita 44.379 12,38 45,25 2,52 11,31 22,24
Nova Era 24.554 6,67 40,58 3,64 20,61 18,22
Ouro Preto 35.838 14,72 38,37 2,17 20,81 8,20
Rio Piracicaba 20.552 9,60 53,47 4,61 15,16 14,46
Santa Bárbara 62.335 5,48 15,60 1,22 28,00 32,52
São Domingos Prata 46.520 18,01 54,14 4,19 16,20 3,17
São Gonçalo 21.728 11,60 30,52 8,56 17,25 25,65
.............................................................................
Timóteo 4.620 12,71 28,74
179
TABELA 4.11
COMPARAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA DOS DIVERSOS MUNICÍPIOS
..............................................................................................................
DA BACIA DO RIO PIRACICABA (1985)
180
Município % % % % % 0 a 50 ha % >1000 ha
Coopera- Assis- Fertili- Prática de Número Total área Número área
tivados tência zantes Conserva- de Estabele- Ocupada Total de Ocupada
Técnica Defensivos ção do cimentos em relação à Estabele- em relação à
solo Área Total cimentos Área Total
Alvinópolis 39,98 11,86 88,13 6,67 78,96 36,3 0,80 45,19
Antônio Dias 2,73 5,46 68,53 12,35 69,82 16,34 0,10 4,52
Barão de Cocais 0,26 3,17 78,36 6,33 85,22 20,17 0,26 14,60
Bela Vista 8,96 5,97 59,7 5,97 61,19 13,86 0,00 0,00
Belo Oriente 6,49 2,88 24,03 0,002 81,97 12,66 0,72 50,52
Bom Jesus 6,39 7,13 89,18 5,65 79,6 21,32 0,00 0,00
Caratinga 15,84 4,36 63,44 37,72 81,99 33,86 0,09 11,24
Coronel Fabriciano - 3,54 37,00 3,93 88,18 21,56 0,79 41,52
Iapu 22,16 3,64 42,66 5,51 78,94 24,54 0,44 21,64
Ipatinga - 16,66 23,33 7,50 67,50 18,14 1,67 25,62
Itabira 19,01 19,01 8,53 72,81 4,26 70,27 0,46 17,91
Jaguaraçu 15,84 3,96 61,38 - 56,43 11,83 0,99 24,40
João Monlevade 1,2 5,97 64,17 10,44 82,08 13,10 1,49 67,60
Mariana 8,37 2,12 83,97 1,13 73,07 15,96 0,43 29,46
Marliéria 20,92 9,21 58,15 2,51 66,52 13,19 1,26 39,92
Mesquita 4,72 0,81 12,37 0,63 78,57 18,57 0,38 31,34
Nova Era 5,31 11,50 73,89 4,42 49,11 9,26 0,88 27,71
Ouro Preto 0,49 6,03 87,22 2,97 86,03 26,63 0,20 15,96
Rio Piracicaba 19,48 5,16 83,87 1,64 73,47 25,36 0,23 18,09
Santa Bárbara 1,67 7,99 81,78 4,46 75,27 8,29 1,86 59,27
SãoDomingos Prata 34,43 15,19 74,98 13,55 84,74 37,70 0,21 10,60
..............................................................................................................
São Gonçalo 10,55 10,13 91,13 8,01 58,64 12,31 0,84 29,82
Timóteo 4,62 15,38 49,23 9,23 78,46 21,70 1,54 45,74
181
que indiferentemente podem operar com carvão de mata nativa ou floresta plantada (e
até mesmo com adptações com carvão mineral), a produção de celulose requer um tipo
específico de fibra, retirada do eucalipto. Dessa forma, a Cenibra é a única empresa da
região efetivamente dependente da monocultura de eucalipto. Conseqüentemente,
sua estratégia de aquisição de terra e produção vegetal foi diferente das demais reflo-
restadoras, tendo se caracterizado nos últimos anos pela compra anual de 10.000 ha da
CAF. Segundo informações da própria empresa, o último plantio de eucalipto será da
CAF, estando a terra a partir daí pronta para o plantio do eucalipto necessário à produ-
ção de celulose. A Cenibra informou ainda que já possui terra suficiente para o forne-
cimento de matéria-prima até mesmo para sua nova unidade de produção, devendo
encerrar seu ciclo de aquisição de terras.
Analisando-se a Tabela 4.12, percebe-se que o movimento de ocupação fundi-
ária se deu de maneira bastante diferenciada entre os diversos municípios na bacia do
Rio Piracicaba. Podemos até mesmo delimitar dois grande grupos diferenciados de acor-
do com suas similaridades na dinâmica da ocupação fundiária da bacia entre 1970 e 1985.
Grupo I - Bela Vista de Minas, Bom Jesus do Amparo, Caratinga, Iapu, João
Monlevade, Mariana, Mesquita, Ouro Preto e Timóteo, municípios onde os
estabelecimentos com mais de 1000 ha diminuíram a sua área ocupada;
Grupo II - Alvinópolis, Antônio Dias, Barão de Cocais, Belo Oriente, Coronel
Fabriciano, Ipatinga, Itabira, Jaguaraçu, Marliéria, Nova Era, Rio Piracicaba,
Santa Bárbara, São Domingos do Prata e São Gonçalo do Rio Abaixo, municípi-
os onde os estabelecimentos com mais de 1000 ha aumentaram a área ocupada.
Dentro do Grupo I, temos que o município de Bom Jesus do Amparo pos-
suía em 1970 uma única propriedade de 1661 ha e o município de Bela Vista de Minas,
duas propriedades de 4.737 ha. Em 1985 esses doi municípios não possuíam nenhuma
propriedade ocupando mais de 1000 ha. O município de João Monlevade possuía em
1970 uma grande propriedade de 4.930 ha e, em 1985, continuava possuindo uma pro-
priedade que ocupava então 3971 ha. Ora, coincidentemente esses três municípios
situam-se na área de influência da CSBM, localizada no município de João Monlevade.
Como a CAF tem apresentado uma estratégia de retração em suas atividades na bacia
do Rio Piracicaba, vendendo grande parte de sua terras para a Cenibra, podemos infe-
rir que essas áreas que abasteciam a siderúrgica com carvão vegetal foram desmobiliza-
das, indicando que para a empresa se tornou mais estratégico obter carvão de origem
mais distante do que manter fontes provedoras perto da unidade industrial. Para o ano
de 1993 a Cenibra informou, no entanto, que possui 1.084,51 ha em Bela Vista de
Minas e 667,94 em Bom Jesus do Amparo.
O município de Mariana apresentou uma diminuição de aproximadamente
10.000 ha na área ocupada pelos estabelecimentos com mais de 1.000 ha entre 1970 e
1985. Diminuição essa provavelmente motivada pela grande distância entre esse mu-
nicípio e a principal demandante de reflorestamento com a monocultura de eucaliptos
na década de 1980 na bacia do Rio Piracicaba, a Cenibra. Confirmando essa tendência,
temos que a Cenibra em 1993 informou possuir apenas 1.103,70 ha em Mariana.
182
TABELA 4.12
COMPARAÇÃO ENTRE A VARIAÇÃO DA ÁREA OCUPADA PELOS ESTABELECIMENTOS
COM MAIS DE 1.000 HA NOS MUNICÍPIOS DA BACIA DO RIO PIRACICABA
.............................................................................
Municípios
E AS ÁREAS EM PROPRIEDADE DA CENIBRA (1993)
.............................................................................
Timóteo 5288 2113 -3175 0,00 0,00 0,00 0,00
Total da
184441 205733 21292 69392 82 39032 26 - -
Fonte: Elaboração dos autores a partir de FIBGE, 1970/1985, e Cenibra, 1993.
Município criado a partir da divisão de Mesquita.
*
183
Quanto aos demais municípios desse grupo, a relação entre o aumento da
área ocupada pelos estabelecimentos com mais de 1.000 ha e a atuação da Cenibra é
muito clara. Essa relação pode ser medida pela coluna G da Tabela 4.12, que indica a
proporção entre as propriedades da Cenibra e a variação da área ocupada pelos estabe-
lecimentos com mais de 1.000 ha (coluna C). À exceção de Jaguaraçu e Rio Piracicaba,
todos os o valores de G corresponderam a no mínimo 69,29%, ou seja, a Cenibra foi
responsável por no mínimo cerca de 70% da expansão das grandes propriedades nos
diversos municípios da bacia do Rio Piracicaba.
Para os casos em que G superou 100% (notadamente no caso de Coronel
Fabriciano, onde chegou a 1.611,75 ha), temos duas hipóteses básicas:
a Cenibra continuou comprando terras nesses municípios no período com-
preendido entre 1985 e 1993;
em alguns casos, o percentual entre a área correspondente ao crescimento
das grandes propriedades e as propriedades em posse da Cenibra foi muito
alto, pois essas propriedades simplesmente “trocaram de mãos”, passando de
antigos proprietários para a Cenibra.
A coluna F da Tabela 4.12 apresenta também uma relação importante ao
indicar o percentual das propriedades da Cenibra que efetivamente estão plantados.
Dessa forma, temos que a empresa possui espaço suficiente para sua produção de ma-
téria-prima, sem necessidade de comprar novas terras. Essa observação coloca-se com
a afirmação de dirigentes da empresa, que declararam ter encerrado seu ciclo de com-
pra de terras, possuindo capital invertido capaz de suprir as necessidades de sua re-
cém-inaugurada planta de produção.
184
TABELA 4.13
QUADRO COMPARATIVO DAS CARACTERÍSTICA GERAIS
.............................................................................
DA AGROPECUÁRIA NO MUNICÍPIO DE ANTÔNIO DIAS (1994)
Características %
Propriedades situadas no estrato de 0 a 50 ha* 75
Produtores analfabetos ou que concluíram apenas o primário 73
Contratação de crédito no último ano agrícola 1
Contratação de crédito em anos anteriores 22
Utilização apenas da mão-de-obra familiar 54
Produtores que procuram o produtor para comercializar sua produção 43
Recebimento do pagamento pela produção a prazo 62
Agricultores que não controlam ou controlam apenas "de cabeça" suas despesas e receitas 83
Produtores que não souberam informar se tiveram lucro ou prejuízo no último ano agrícola 21
Agricultores que tiveram prejuízo no último ano agrícola 14
Agricultores cujo lucro empatou com os prejuízos no último ano agrícola 36
Agricultores que compram insumos por conta própria 80
Agricultores que nunca procuraram orientação técnica 90
Agricultores que nunca participaram de eventos técnicos (cursos, palestras, etc) 83
.............................................................................
Agricultores que não receberam visitas técnicas em suas propriedades no último ano agrícola 90
Número de tratores (em 107 entrevistas em Antônio Dias) 3
Fonte: Elaboração dos autores a partir do Diagnóstico Agro-Sócio-Econômico da Realidade Rural de Antônio Dias -
MG (ESAL, 1994).
Excetuando-se propriedades da Cenibra, CAF, Acesita e CVRD.
*
185
TABELA 4.14
.............................................................................
PRODUTIVIDADE LEITEIRA POR ESTRATO DE PRODUÇÃO EM ANTÔNIO DIAS (1994)
.............................................................................
> 150,1 ha 2,12
Geral 1,91
Fonte: Elaboração dos autores a partir do Diagnóstico Agro-Sócio-Econômico da Realidade Rural de Antônio
Dias - MG (ESAL, 1994).
TABELA 4.15
PERCENTUAL OBSERVADO DAS PRINCIPAIS FORMAS DE OCUPAÇÃO DA TERRA
.............................................................................
EM RELAÇÃO À ÁREA TOTAL OCUPADA* EM ANTÔNIO DIAS (1994)
.............................................................................
Culturas Temporárias 13,27 6,13 1,29
Matas e Capoeiras 19,00 22,41 15,14
Fonte: Elaboração dos autores a partir do Diagnóstico Agro-Sócio-Econômico da Realidade Rural de Antônio Dias -
MG (ESAL, 1994).
Excetuando-se as áreas das grandes empresas.
*
186
TABELA 4.16
.............................................................................
EVOLUÇÃO DA OCUPAÇÃO DA TERRA EM ANTÔNIO DIAS, EM HA (1970/1975/1985)
.............................................................................
198 64897 6956 10,7 5844 9,00 7753 11,94 5729 8,83 3988 6,14 34627 53,3
198 51105 8353 16,3 8268 16,1 6378 12,48 3307 6,47 1700 3,33 23094 45,1
Fonte: Elaboração dos autores a partir de FIBGE, 1970, 1975, 1980, 1985.
187
CONCLUSÃO
A análise anterior pretendeu demonstrar que a debilidade da agropecuária
na bacia do Rio Piracicaba se deveu antes ao descaso da política agrícola brasileira
como um todo do que resultou da pressão exercida pelo reflorestamento com a mono-
cultura de eucaliptos. A partir do início da década de 1970, época que coincide com o
milagre econômico e a política de incentivos fiscais pró-reflorestamento com a mono-
cultura de eucaliptos, a pequena produção foi posta de lado. Os projetos agroindustri-
ais foram os únicos a serem contemplados pela então farta política creditícia, o que
permite a sua expansão e modernização, cabendo aos pequenos produtores lutar ape-
nas por sua auto-subsistência e por sua não-proletarização.
Na década de 1980, a chamada “década perdida”, estancaram-se os financia-
mentos aos grandes projetos agrícolas. Observa-se uma crise de abastecimento de gêne-
ros básicos no mercado interno, fruto, entre outros fatores, da política de créditos subsi-
diados no período anterior. O governo federal então muda a ênfase da política agrícola,
incentivando a produção de gêneros básicos através da política de preços mínimos.
A Tabela 4.17 reflete essa dinâmica, demonstrando a variação do número de
estabelecimentos e da área ocupada por eles para a bacia do Rio Piracicaba como um todo.
TABELA 4.17
.............................................................................
DINÂMICA DA OCUPAÇÃO FUNDIÁRIA DA BACIA DO RIO PIRACICABA, EM HA (1970-1985)
.............................................................................
> 1000 184441 50 201757 60 240217 55 205733 59
Total 789958 12510 784940 12636 859734 14380 838804 16142
Fonte: Elaboração dos autores a partir da FIBGE 1970, 1975, 1980, 1985.
188
A variação da ocupação fundiária da bacia do Rio Piracicaba como um todo
parece ter observado o mesmo padrão de Antônio Dias (mesmo porque o aumento da
área ocupada pelos estabelecimentos com mais de 1.000 ha entre 1970 e 1985 se deu
de maneira mais significativa nesse município). Ou seja, os estratos de 0 a 200 ha,
mesmo apresentando certa fragmentação, aumentaram a área absoluta por ele ocupa-
da, ao passo que os estratos de 200 a 500 ha e de 500 a 1000 ha apresentaram uma
diminuição da área ocupada.
Esse movimento, conforme indicado, parece ser fruto de duas causas básicas:
os estratos menores, por apresentar em uma relação de subsistência com a
terra, teriam uma tendência a utilizá-la de maneira mais intensa; preferindo
conservar sua posse a vendê-la e enfrentar um processo de proletarização;
os estabelecimentos menores dificultariam a operacionalização do refloresta-
mento com a monocultura de eucaliptos, que requer em áreas contínuas como
forma de racionalizar sua atuação. Além disso, a legalização da posse de inú-
meras propriedades seria uma operação mais complicada do que a legalização
da posse de uma única grande propriedade. Esse fato pode ser comprovado
pelo fato de a Cenibra ter comprado preferencialmente grandes áreas contí-
nuas da CAF.
A maior parte da expansão da área ocupada pelos estabelecimentos com mais
de 1.000 ha pode ser imputada à Cenibra, que, diferentemente das empresas que se
utilizam do reflorestamento com a monocultura de eucaliptos com monocultura de
eucalipto para fornecimento de energia, optou por fixar suas áreas reflorestadas perto
da unidade industrial. Esse fato pode significar que a desmobilização das áreas de
monocultura pelas siderúrgicas adviria do fato de que elas estariam suprindo sua de-
manda através de carvão terceirizado, inclusive de mata nativa. Outro fator que expli-
caria essa diferenciação de estratégia apontaria para uma relação desfavorável entre o
transporte da tora de eucalipto necessária à produção de celulose e da madeira já trans-
formada em carvão.
A tendência geral é de estancamento da área de monocultura de eucalipto
na bacia do Piracicaba, pois, como já foi dito, a direção da Cenibra afirmou ter encerra-
do seu ciclo de aquisição de terras, hoje suficientes até mesmo para suprir a demanda
de sua nova unidade industrial.
189
190
FIGURA 4.2
FIGURA 4.1
Neste item será feita uma caracterização geral da mineração na bacia do Rio
Piracicaba, procurando-se indicar suas principais características produtivas e de organi-
zação, bem como seu processo histórico de desenvolvimento e as repercussões e rela-
ções da atividade com a base econômica regional.
191
para o grande salto industrial de Minas Gerais e do país a partir da década de 1940,
sustentada pela presença de reservas significativas de minério de ferro e pela abun-
dância das reservas florestais. Porém, essa opção de industrialização foi responsável
pela rápida exaustão de várias minas, pelo desmatamento da Mata Atlântica e pela
grave degradação ambiental do Estado. A bacia do Rio Piracicaba é um retrato dessa
situação, na medida em que a siderurgia e a mineração determinaram o seu processo
de ocupação e o seu crescimento econômico.
Na década de 1960 ocorreu a liberalização do setor extrativista mineral à
participação do capital estrangeiro. Esse fato foi fundamental para entender o grande
crescimento dessa atividade a partir de então, sustentado pela instalação de grandes
projetos mineradores (Samitri, Samarco e MBR entre outros), que privilegiavam a ex-
portação de seu produtos. Já na década de 1970 ocorreram dois processos relacionados
à necessidade de atender a demanda oriunda do surto de crescimento econômico bra-
sileiro. O primeiro foi a diversificação da pauta produtiva mineral do Estado para aten-
der os setores metalúrgicos do pólo dinâmico da economia brasileira. O segundo relaci-
ona-se à expansão da fronteira mineral através da ocupação de novas fontes de recursos
minerais localizadas em outras regiões do país. As novas descobertas foram viabilizadas
pelas iniciativas do governo federal em ampliar a infra-estrutura de transportes e co-
municação e investir na área de pesquisa mineral, com o objetivo de subsidiar e orien-
tar a ocupação desse novo espaço.
Nas décadas de 1980 e 1990, o desenvolvimento das atividades mineradoras
enfrentou as seguintes questões: queda do preço internacional dos produtos minerais
decorrente do excesso de estoques no mercado internacional, impactos decorrentes da
mudança tecnológica sobre a demanda desses produtos, concorrência das novas reser-
vas minerais localizadas em outras regiões do país. Tais fatores levaram à paralisação de
algumas minas, principalmente da CVRD e do grupo Socoimex. Mas o complexo mí-
nero-siderúrgico ainda continua sendo a base econômica da região, constituindo, jun-
tamente com os centros urbanos de porte médio, os principais responsáveis pelos gran-
des problemas ambientais na bacia do Rio Piracicaba.
CARACTERIZAÇÃO DA MINERAÇÃO
NA BACIA DO RIO PIRACICABA
A mineração não se desenvolve em todos os municípios da bacia do Rio
Piracicaba de forma homogênea, concentrando-se principalmente na região do Alto e
Médio Piracicaba. Dos 19 municípios pertencentes à bacia, em 10 existem empresas
de mineração que apresentaram relatório anual de lavra ao Departamento Nacional de
Produção Mineral (DNPM) no ano de 1992. Verifica-se, porém, uma clara concentra-
ção da atividade de extração de minerais em alguns municípios da bacia, destacando-
se Itabira, Rio Piracicaba, Santa Bárbara, Mariana e Barão de Cocais.
Conforme a Tabela 4.18, que reproduz informações do DNPM para o ano de
1992, a produção mineral da bacia do Rio Piracicaba é composta principalmente por 12
substâncias minerais, algumas delas com significativa participação na produção benefi-
192
ciada do Estado, como é o caso do minério de ferro (25,67%) e ouro (27,03%). A tabela
também indica a participação da produção do Estado em relação à produção bruta
mineral brasileira em 1990.
TABELA 4.18
BACIA DO RIO PIRACICABA E ESTADO DE MINAS GERAIS:
.............................................................................
DADOS GERAIS DA PRODUÇÃO BENEFICIADA POR CLASSE DE MINERAIS (1990/1992)
.............................................................................
Gnaisse (m³) 25990 6159517
Fonte: Elaboração dos autores a partir dos relatórios anuais de lavra do DNPM de 1991 e 1992.
0,82 nd
nd - dados não-disponíveis
Valores preliminares do DNPM para 1992
*
193
que explotam minério de ferro e ouro permite a centralização nessas empresas de im-
pactos ambientais característicos da etapa de beneficiamento, principalmente os rela-
cionados à poluição química (por exemplo, o cianeto utilizado no tratamento do ouro).
Além da heterogeneidade da produção mineral, indicada na Tabela 4.18, na ba-
cia também se encontram várias mineradoras de pequeno e grande porte atuando na ex-
plotação de diferentes substâncias minerais. As principais substâncias minerais explotadas
por município e suas principais empresas mineradoras estão identificadas na Tabela 4.19.
TABELA 4.19
PRINCIPAIS EMPRESAS POR MUNICÍPIO SEGUNDO
.............................................................................
AS PRINCIPAIS SUBSTÂNCIAS MINERAIS NA BACIA DO RIO PIRACICABA (1992)
.............................................................................
" Ferro Socoimex
São Domingos do Prata Manganês Mineração Rio Bravo, Tratex Mineração
194
Além da CVRD, destacam-se na bacia do Rio Piracicaba a mina de Germano
(Samarco), recentemente exaurida economicamente, e a mina Alegria (Samarco e Samitri),
em Mariana, que explotam minério de ferro. A produção da Samarco é totalmente exporta-
da e o minério de ferro é transportado através de mineroduto até o Porto de Ubu, no
Espírito Santo (porto privativo da empresa). A produção da Samitri é destinada à exporta-
ção e a atender a demanda de minério de ferro da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira.
Destaca-se também a atividade mineradora no município de Santa Bárbara, ca-
racterizada pela diversidade das substâncias minerais explotadas e pela atuação de várias
empresas mineradoras. O município tem uma significativa participação na produção de mi-
nério de ferro e ouro da bacia, além da totalidade da produção de prata, bauxita, dolomito,
serpentinito e ocre. Há no município uma significativa produção de ouro por parte de em-
presas de grande porte: Itajobi Mineração (Grupo Gencor) e a São Bento Mineração (Grupo
Anglo América). A produção de prata é realizada pela empresa São Bento Mineração (pro-
duto secundário). Outro fator relevante em relação à mineração no município é a presença
de intensa atividade mineradora em área de alto valor ecológico (Serra do Caraça).
195
crescimento de importantes centros urbanos. Outros fatores também devem ser anali-
sados para se entender o padrão locacional dessa atividade, como a presença de infra-
estrutura, mão-de-obra qualificada, política siderúrgica, dentre outros.
O minério de ferro na bacia do Rio Piracicaba é produzido principalmente por
grandes empresas cujas estratégias de crescimento definem a dinâmica de seu aproveita-
mento. A instalação dessas empresas e seu crescimento condicionaram o processo de
desenvolvimento regional, na medida em que geraram empregos, contribuíram para a
arrecadação de impostos, foram fatores de atração de outros empreendimentos de gran-
de porte para a região e contribuíram para a formação de um passivo ambiental.
O grande volume de capital, as elevadas escalas de produção e a falta de
alternativa de concorrência via diferenciação do produto fazem com que o padrão de
eficiência da atividade de extração de minerais seja atingido pela redução de custos,
eliminação de desperdícios através do melhor aproveitamento do material explotado e
melhoria da qualidade do produto para atender a demanda do mercado.
O destino da produção da indústria de extração de minério de ferro é princi-
palmente a indústria siderúrgica5 , e o ritmo de crescimento dessa atividade define, em
primeira instância, o crescimento da demanda por minério de ferro.
Conforme Paula (1993), constata-se que a produção mundial da indústria
siderúrgica vem se mantendo estagnada nos últimos 20 anos, sendo que vários fatores
podem justificar uma redução do uso do aço e uma tendência da siderurgia em dimi-
nuir a demanda por minério de ferro. Esses fatores são:
desenvolvimento de novos materiais substitutos do aço;
aumento do uso de sucata como matéria-prima em substituição ao minério
de ferro, através do aumento da importância das aciarias elétricas (crescente
participação das usinas semi-integradas);
mudança na composição da demanda agregada em favor de atividades de
baixo consumo de aço, como é o caso dos setores de serviço e material eletrô-
nico;
baixo poder de competição das indústrias siderúrgicas nacionais em decor-
rência da falta de capacidade de desenvolver produtos mais elaborados (cha-
pas galvanizadas e inoxidáveis) e conquistar novos mercados;
aumento do rendimento das siderúrgicas integradas, reduzindo os rejeitos ao
longo do processo de fabricação de aço.
Ainda segundo Paula (1993), o aumento da produção de minério de ferro no
Brasil é condicionado pelo aumento da demanda externa, pela reestruturação econô-
mica mundial e pela capacidade de retomada de crescimento da economia brasileira. O
Brasil possui um significativo mercado consumidor de minério de ferro e também parti-
cipa com parcela significativa do mercado externo. De fato, em 1991 suas exportações
Estima-se que 98% das vendas de minério de ferro são direcionadas para a indústria siderúrgica, principal-
5
mente nas atividades de fabricação de aço, ferro-gusa e ferro-liga. A outra indústria que demanda minério
de ferro é a indústria de cimento (Paula, 1993).
196
atingiram aproximadamente 125 milhões de toneladas de minério de ferro, sendo o
principal país exportador de minério de ferro do mundo neste ano, e sua produção
interna correspondia a aproximadamente 165 milhões de toneladas.
Pode-se constatar também uma estabilidade no mercado mundial de minério
de ferro (total das exportações e importações) e no nível de produção de aço ao longo da
década de 1980, o que deverá se manter ao longo da de 1990. As possíveis alterações que
venham a ocorrer seriam na distribuição espacial entre os países exportadores de minério
de ferro e produtores de aço. As principais tendências são (Paula, 1993):
os países do hemisfério sul, principalmente Brasil e Austrália, tendem a au-
mentar sua participação no total das exportações mundiais de minério de
ferro em detrimento de outros países;
os países do Terceiro Mundo, principalmente Brasil, países asiáticos e China,
tendem a aumentar sua participação na produção de aço bruto mundial;
os EUA tendem a reduzir sua participação na importação de minério de ferro e
na produção bruta de aço bruto em face da crise na sua indústria siderúrgica.
Nesse sentido, o aumento da produção e exportação de minério de ferro das
empresas brasileiras está condicionado à redução da extração e da exportação de miné-
rio de ferro em outros países e ao seu potencial de competitividade. Isso porque os
prognósticos apontam para a estabilidade no volume das exportações mundiais de mi-
nério de ferro e na capacidade produtiva mundial de aço bruto. Uma das estratégias de
competitividade e consequente aumento na participação no mercado externo é a atu-
ação no segmento de produtos minerais mais elaborados, como as pelotas para altos-
fornos, em detrimento da produção de minério de ferro fino e granulado. O Brasil está
em uma posição privilegiada, dado que é o maior exportador de pelotas do mundo — é
responsável por 24% deste mercado em 1991 (Paula, 1993).
As empresas que atuam na bacia do Rio Piracicaba devem considerar em
suas estratégias de crescimento a capacidade de competitividade de seus produtos no
mercado externo, a capacidade de gerar excedentes para exportação, experiência em
realizar negócios no mercado externo, situação de exaustão de suas minas, possibilida-
de de explotar minas mais competitivas em outras regiões para atender o mercado
externo e o aumento de demanda do mercado interno. Esses fatores e decisões influ-
enciarão na intensidade de explotação das minas localizadas na região.
197
Localizada na área polarizada pela Região Metropolitana de Belo Horizonte,
situando-se num raio de até 200 Km desta capital, a bacia do Rio Piracicaba constitui uma
alternativa locacional às atividades do contexto da área industrial de Belo Horizonte. As
diferentes localizações, os acessos e sistemas de transportes (rodoviários e ferroviários), a
presença de mão-de-obra com perfil para atender as empresas, a infra-estrutura urbana e a
presença de um setor de comércio e serviço desenvolvido são os fatores que definirão o
potencial de seus municípios em atrair novos empreendimentos. Quanto à atração de no-
vos empreendimentos, sobretudo industriais, os fatores que poderiam influenciar na esco-
lha da área entre a bacia e a região metropolitana de Belo Horizonte seriam, além de sua
dotação de recursos naturais e de infra-estrutura, a distância em relação a Belo Horizonte,
o acesso a outros centros dinâmicos da economia brasileira, como São Paulo e Rio de Janei-
ro, e o acesso aos portos de exportação, como é o caso dos portos de Tubarão e de Vitória via
estrada de ferro Vitória-Minas (Lemos & Simões, 1992).
Dado o baixo poder de encadeamento da mineração e visto que os principais
centros urbanos da bacia do Rio Piracicaba são especializados na atividade industrial
desenvolvida por grandes empresas, as possibilidades de diversificação econômica da
bacia dependerão da retomada de crescimento da economia brasileira, da capacidade
de crescimento da base exportadora de cada município, da capacidade das administra-
ções municipais das cidades mineradoras em oferecer condições para o desenvolvi-
mento de outras indústrias e aplicar os recursos gerados pelos royalties sobre a explota-
ção do minério em favor do processo de diversificação e sustentabilidade econômica,
do desenvolvimento do sistema de polarização a nível microrregional através do incre-
mento do setor terciário nos pólos regionais mais importantes e do interesse das gran-
des empresas em atrair novos investimentos para a região, diversificando sua área de
atuação (Lemos & Simões, 1993).
Finalmente, deve-se mencionar que alguns depósitos presentes na região têm
futuro limitado, tanto pelo fato de serem de pequena monta quanto pela impossibilidade
de se encontrarem outros (como é o caso do linhito) ou por apresentar baixa economici-
dade frente a outros depósitos conhecidos no país (como é o caso do urânio). Jazimentos
de minérios como ocre, dunito, calcário, dolomito, gemas, minerais industriais e materi-
ais de construção civil têm reservas pouco conhecidas, necessitando de pesquisas geoló-
gicas mais detalhadas. Os jazimentos de bauxita, manganês, amianto e caulim só são
viáveis como fornecedores de indústrias próximas, pois os depósitos da região não têm
economicidade para concorrer com as grandes minas brasileiras e internacionais.
Conquanto não se tenha dúvida da importância da mineração na bacia do
Piracicaba, conforme demonstrado no item 4.3.2., o setor apresenta baixo poder de
atração de outras atividades, tanto para frente quanto para trás na cadeia produtiva, e
também um mercado consumidor estagnado (item 4.3.3.). Tais fatores, associados à
questão da transitoriedade da atividade e à incorporação de novas tecnologias ao pro-
cesso produtivo (como os chamados “novos materiais”), colocam em pauta a questão
da diversificação da base econômica da bacia do Piracicaba, principalmente nos muni-
cípios caracteristicamente mineradores.
198
A M E T O D O L O G I A
199
5. FUNDAMENTOS HISTÓRICOS
E METODOLÓGICOS
DA QUESTÃO AMBIENTAL
.....................................
João Antônio de Paula (Coord.)
Fausto R. A. Brito
João Júlio V. Amaro
Maria Regina Nabuco
MODERNIDADE
E CRISE AMBIENTAL
202
cio dos anos 70, questionados seus critérios, ritmos, padrões de produção e consumo,
perspectivas, a partir de variados pontos de vista e interesses. Essa descoberta da fragili-
dade e inconsistência sistêmica da economia contemporânea será partilhada tanto por
grupos e propostas que buscam salvar o status quo, isto é, manter a desigual distribuição
de renda, riqueza e poder, quanto por variadas perspectivas críticas e reformistas.
O que é decisivo nesse caso é o quanto a questão ambiental se tornou uni-
versal e o quanto ela tem conseguido sintetizar grandes desafios do nosso tempo, na
medida em que passou a incorporar, além dos temas propriamente “verdes”, também
as questões referentes à pobreza, aos padrões tecnológicos, às formas de propriedade,
à organização da sociedade civil, ao controle e regulação social das atividades produti-
vas, à legislação, planejamento e gestão de territórios, como apontam Milton Santos
(1994) e Henrique Rattner (1994).
Também consensual é o reconhecimento da necessidade de se superarem os
paradigmas monodisciplinares, no tratamento da questão ambiental, por meio de um
sistemático esforço de construção de perspectivas interdisciplinares, que signifiquem,
efetivamente, interação e partilhamento, socialização de linguagens, conceitos, méto-
dos, perspectivas entre as ciências sociais e humanas e as ciências físicas e da vida, e
que deve ter como ponto de partida a busca de referenciais e categorias filosóficas
comuns coerentes.
A busca e a construção de paradigma interdisciplinar capaz de abordar a ques-
tão ambiental como totalidade é desafio coletivo, que só será vencido coletivamente a
partir de esforço, que deve, necessariamente, incorporar instituições de ensino e pes-
quisa, os Estados em suas diversas instâncias e poderes, a sociedade civil organizada.
Já foi dito, que há um amplo consenso quanto a dois aspectos centrais do que
está sendo discutido aqui: o primeiro consenso diz respeito à existência de uma crise
ambiental geral. O segundo aspecto sobre o qual há consenso é quanto à precariedade
e insuficiência dos instrumentos heurísticos e políticas mobilizadas para entender-
intervir-transformar a realidade ambiental.
São consensos importantes porque pontos de partida para o encaminhamen-
to de propostas de solução. Contudo, tais consensos são apenas pontos de uma agenda
na qual os conteúdos, determinações, desdobramentos e conseqüências são ampla-
mente conflitantes e em parte desconhecidos.
Em que pese as muitas variantes e especificidades que as perspectivas sobre
a questão ambiental assumem, também aqui é possível agrupá-las em dois grandes
blocos, que reproduzem no campo ambiental a mesma clivagem que divide a interpre-
tação sobre a realidade social, isto é, a perspectiva neoliberal e a perspectiva crítica. No
referente à questão ambiental, a perspectiva neoliberal entenderá a crise ambiental
como resultado da insuficiente generalização do sistema de preços, das relações de
mercado, que, bloqueadas ou adulteradas por ações regulatórias artificiais, acabam por
produzir distorções e externalidades negativas, justamente porque se bloquearam as
atribuições de preços para todas as relações econômicas. Para essa perspectiva, na me-
dida em que tudo e qualquer coisa tiver preço, expressão do livre jogo das forças de
203
mercado, nessa medida a realidade ambiental estará em condições de alcançar o equi-
líbrio, no sentido de que o mercado será capaz de atribuir preço para todas as externa-
lidades, degradações, depredações etc., inibindo esses processos por seus altos preços
ou criando condições para a descoberta — desenvolvimento de elementos substitutos.
Está implícita nessa perspectiva uma visão do processo natural-social como dotado de
continuidade-reversibilidade-substituição absolutas, condições que não são encontrá-
veis, com freqüência, nem mesmo em experimentos laboratoriais controlados.
De outro lado, a perspectiva crítica sobre a questão ambiental partirá do su-
posto de que a realidade ambiental só será compreendida-transformada na medida em
que se a considere como totalidade complexa, marcada por contradições, em que nem
tudo tem ou pode ter preço, na medida em que a realidade ambiental é vista como
marcada pela descontinuidade, pela irreversibilidade de processos, pelo desequilíbrio.
Sobretudo é central na perspectiva crítica a idéia de que a crise ambiental é um
produto histórico das formas concretas de produção, reprodução material, das formas con-
cretas de apropriação da natureza, formação dos territórios, do exercício do poder e organi-
zação social, dos modos, mentalidades e culturas. Isso significa dizer que nenhuma inter-
venção sobre o mundo é neutra, desprovida de conseqüências, e que as formas concretas
de apropriação da natureza e seus desdobramentos ambientais decorrem do interesse e das
estratégias das classes de grupos sociais, empresas, comunidades, Estados etc....
A superação da atual crise ambiental é, então, um processo que deve con-
templar tanto aspectos teórico-metodológicos, quanto aspectos político-organizativos.
No referente aos aspectos teórico-metodológicos, é fundamental superar a
hegemonia da racionalidade manipulatória da natureza, e a construção de uma “Raci-
onalidade Ecológica”, sem que isso signifique uma negação maniqueísta da razão ins-
trumental, mas a construção de uma certa complementariedade, como nos diz Gerd
Bornheim: “Tecnologia e política são os caminhos que a razão encontra para dar plena
expressão ao conflito que vinha se armando desde séculos. Digamos, então, que a
razão se extroverte, se realiza, se objetiva em termos de revolução tecnológica, de
revolução política. E é dentro destas novas coordenadas que deve ser colocada hoje a
questão da complementaridade.” (Bornheim, 1993, p. 166).
Novas tecnologias compatíveis com as exigências ecológicas e revolução
política, significando democratização da sociedade, da economia, da cultura e do Esta-
do, eis as tarefas que se põem para o nosso tempo.
204
lismo; domínio sobre diversos campos e instituições — a ciência, a técnica, a religiosi-
dade, as artes, o sistema legal, o Estado, a burocracia.
Trata-se, num outro registro, de reconhecer a radicalidade das conseqüênci-
as da substituição da hegemonia do conceito de cosmos, típica da pré-modernidade,
pela concepção de universo derivada da física moderna — “significa a destruição de
uma idéia: a de um mundo de estrutura finita, hierarquicamente ordenada” ... “pelo
espaço homogêneo e abstrato da geometria euclidiana” ... “a matematização (geome-
trização) da natureza e, por conseqüência, a matematização (geometrização) da ciên-
cia” (Koyré, s/d, p. 17-18).
O mundo tomado como espaço homogêneo e infinito, plástico e divisível
infinitamente, passivo a todas as intervenções, inesgotável em seus recursos, reversí-
vel em conseqüências, eis a base conceitual, o paradigma filosófico-científico que ba-
lizou o formidável desenvolvimento técnico-material que o capitalismo construirá.
Não só a economia será revolucionada pelo capitalismo. É todo um novo
mundo que emerge: novas sensibilidades, novas mentalidades, novos
conceitos-modos-de-ver-viver o espaço e o tempo, em função dos novos meios de trans-
porte, de telecomunicações. Revolução na sociabilidade com a expansão urbana, revo-
lução política com a constituição do Estado moderno, revolucão-tecnológica, do mun-
do do trabalho com a Revolução Industrial.
Todos esses processos seriam, no século XIX, catalisados. Há aceleração de
ritmos, paroxismos de movimentos, naquele que é, por muitos títulos, o momento de
apogeu da modernidade: a vitória do industrialismo, o capitalismo universalizado sob a
forma de um novo imperialismo, a revolução científica e tecnológica, a aceleração de-
mográfica, a tensão entre o individualismo triunfante e a emergência dos novos sujei-
tos e projetos coletivos — o socialismo, o comunismo.
Karl Polanyi fala-nos desse período como os “cem anos de paz”, 1815-1914,
do final das guerras napoleônicas à Primeira Guerra Mundial. Tempo do equilíbrio de
poder entre as grandes potências, tempo do predomínio do padrão-ouro, tempo do
mercado auto-regulável, tempo do Estado liberal (Polanyi, 1980, p. 23). Tempo, en-
fim, em que o capitalismo, na plenitude de sua força de jovem, parece não ter limites,
máquina condenada ao progresso, à prosperidade.
Contudo, havia quem visse sombras naquele cenário idílico. Cada qual à sua
maneira, Marx (1818-1883), Nietzsche (1844-1900) e Freud (1856-1938) viram o precá-
rio, a desigualdade, a tensão, o conflito, a crise, a opressão, a violência, onde só parecia
haver lugar para a harmonia, o equilíbrio, a igualdade, a racionalidade instrumental. Es-
ses críticos da modernidade, como disse Touraine (1995), antecipam características e
processos que serão exacerbados no curto século XX, (1914-1991), de que nos fala Hobs-
bawn (1995). Século tanto de esperanças brutalmente frustradas, quanto de barbárie.
Em meio aos muitos aspectos críticos deste nosso tempo, tempo que se quer
da pós-modernidade, o relativo à crise ambiental tem lugar importante. De maneira
exemplar, a crise ambiental contemporânea expressa as conseqüências problemáticas
da dinâmica capitalista. Os diversos problemas ambientais instalados hoje, as tentati-
205
vas de enfrentamento desses processos, os instrumentos, políticas, instituições e co-
nhecimentos mobilizados para enfrentá-los estão entre as grandes questões do nosso
tempo, questões globais, que desafiam o conjunto do planeta.
206
de que é hoje. O efeito do aumento da temperatura será a elevação dos níveis dos ocea-
nos entre vinte centímetros e um metro no espaço de cem anos”... “Dezenas, talvez até
centenas de milhões de pessoas terão de viver como “refugiados” do meio ambiente e
serão forçados a deixar as suas comunidades e lares” (Wahlström, 1993, p. 8-9).
TABELA 5.1
ESTIMATIVAS DA CONTRIBUIÇÃO AO AQUECIMENTO GLOBAL
.............................................................................
Setor
PARA 1980-2030 POR SETOR E GÁS (%)
Gás
Anidrido Metano Ozônio Óxido CFC % por
Carbônico Nitroso Setor
Energia Direta 35 3 x 4 x 42
Energia Indireta - 1 6 x - 7
Deflorest. 10 4 x x x 14
Agricultura 3 8 x x x 11
.............................................................................
Indústria 2 x 2 x 20 24
% por gás 50 16 8 4 20 98
x - Não-disponível.
LIXO
Trata-se de um problema que atinge desigualmente os países, porque desi-
guais são tanto as fontes produtoras de lixo quanto os métodos de remoção e tratamen-
to. Enquanto os EUA reciclam apenas 13% do seu lixo, no Japão esta taxa é de 50%
(Wahlström, p. 12). De qualquer forma, há resíduos, como os radiativos, que desafiam
tecnologias e mecanismos de controle, pois continuarão ativos por 10 mil anos. De
resto, a solução do lixo implica mudanças nos sistemas de coleta e tratamento, em
novas concepções de embalagens, novos materiais biodegradáveis e mudanças tecno-
lógicas e comportamentais no campo da reciclagem.
A CRISE ENERGÉTICA
Apesar da considerável redução do consumo de energia após os choques do
petróleo, em 1973 e 79, a questão energética continuará sendo um dos limites impor-
tantes para a produção, impondo tanto a necessidade de reduzir desperdícios, quanto a
busca de fontes alternativas. Segundo Wahlström (p. 14), no Japão houve redução de
consumo de energia de 6% entre 1973 e 76, para um crescimento econômico de 46%,.
207
sos lençóis de água, tendo como resultado a redução da disponibilidade de água
potável” (Wahlström, p. 13).
Mesmo o Brasil, dotado de considerável disponibilidade de água, corre riscos,
sobretudo em algumas de suas regiões metropolitanas, de uma crise de falta de água em
virtude da degradação acelerada dos recursos hídricos em curso: “Se medidas corretivas
e de gerenciamento de recursos hídricos não forem adotadas já, dentro de no máximo 15
anos a bacia do Rio Piracicaba, em São Paulo, ficará sem água para beber”, diz Paulo
Canedo Magalhães, vice-presidente da Superintendência Estadual de Rios e Lagoas do
Rio de Janeiro, alertando que a capital carioca já se encontra no limiar da carência de
água (“Rio Ciência 92”, in Ciência Hoje, SBPC, vol. 14, nº 81, maio/junho 1992).
TABELA 5.2
.............................................................................
CONSUMO GLOBAL DE CFC, POR REGIÃO (1986)
Região % do Total
Estados Unidos 29
Outros países industrializados 41
Ex-URSS e leste europeu 14
.............................................................................
China e Índia 2
Outros países em desenvolvimento 14
PERDA BIODIVERSIDADE
DE
Se o hemisfério Norte concentra a riqueza produzida, o Sul é o domínio da
riqueza natural, da biodiversidade. A esse respeito, há duas questões importantes: a
primeira é quanto ao acelerado processo de extinção de espécies que se verifica hoje.
Há quem fale que de 20 a 50% das espécies estarão extintas ao final deste século. Há
predições mais moderadas. Contudo, ninguém nega a importância e a gravidade do
208
fenômeno. A outra questão é o próprio desconhecimento científico desse patrimônio
genético. Apenas 1,7 milhões de espécies foram identificadas até aqui, quando há esti-
mativas de que podem existir até 30 milhões de espécies no planeta. (Nuestra Propia
Agenda..., p. 45). A questão aqui é que estão sendo destruídas espécies sem que as
conheçamos, inviabilizando assim todo um potencial econômico e terapêutico.
A concentração da biodiversidade no hemisfério sul abre, por outro lado, um
enorme potencial de redefinição de relações norte-sul e sul-sul, estimulando a coope-
ração, os convênios, os consórcios, criando possibilidades para uma inserção soberana
dos países do sul na divisão internacional do trabalho.
INSTRUMENTOS DE INTERVENÇÃO
A emergência da questão ambiental impôs mudanças em vários campos: da
cultura, ciência, educação, ação do Estado e da sociedade civil. A questão ambiental,
apesar de sua ultra-exposição na mídia, de sua banalização, veio para ficar; é questão
importante, apesar dos oportunismos que se cometem em seu nome.
Um primeiro aspecto dessa incidência é fortemente visível no campo da
economia. A questão ambiental obrigou a ampliação dos métodos e conceitos de men-
suração de riqueza, criou uma “contabilidade verde” e, daí, uma série de novos critéri-
os de aferição de preços, custos, estoques, tributação. Também introduziu novos ele-
mentos no processo de concorrência a partir das normatizações, como as ISO 9000,
14.000, 21.000, dos “selos verdes” etc.
No plano da ação, o Estado exigiu a instituição de legislações e mecanismos
de acompanhamento, monitoramento e controle ambientais. Finalmente, explicitou a
necessidade de cooperação interinstitucional a constituição de comitês regionais de
gerenciamento de bacias hidrográficas, estimulou convênios, acordos, tratados, indu-
ziu o surgimento de importantes redes de organizações não-governamentais.
209
Por outro lado, a questão ambiental coloca-se como um grande desafio para
a academia, para a ciência e tecnologia, na medida em que cobra não só novos conhe-
cimentos sobre realidade complexa, quanto exige novas tecnologias e comportamen-
tos compatíveis com um conceito de desenvolvimento não-imediatista.
A constatação da complexidade e urgência desses problemas desafia não só os
diversos níveis de governo mas as empresas, o mundo acadêmico-científico, a sociedade
civil organizada, os organismos supranacionais. Na verdade, trata-se de um desafio a todos
os países. Esse desafio, como se sabe, implica várias modalidades de ação, dirige-se a várias
instâncias e competências. Ocupam lugar especial nesse processo a ciência e a tecnologia.
Trata-se de buscar novas modalidades de desenvolvimento, compatíveis com a biodiversi-
dade e a sustentabilidade, o que implica estabelecer novos padrões de intervenção huma-
na, novas formas de apropriação da natureza, novos modos de produção, de transformação
de espaço e da paisagem à luz da descoberta da irreversibilidade, da entropia, dos diversos
graus de degradação ambiental existentes, do esgotamento de recursos naturais.
Os capítulos 34 e 35 da Agenda 21 tratam da importância da tecnologia e da
ciência para o desenvolvimento sustentável. Em uma passagem, afirma: “A ciência é
essencial à pesquisa para o desenvolvimento sustentável e deve encontrar as respostas
às necessidades emergentes. Uma compreensão mais ampla da ligação entre as ativi-
dades humanas e o meio ambiente, assim como melhor utilização desse conhecimen-
to, deve ser incorporada à formulação de política para o desenvolvimento e para a
administração ambiental”.
No campo da tecnologia, o desenvolvimento sustentável impõe buscar novos
processos capazes de minimizar os impactos negativos das atividades antrópicas sobre o
meio ambiente. Isso implica reconhecer que nossa estrutura produtiva utiliza tecnologi-
as geradas fora do nosso contexto natural-cultural, ocasionando desequilíbrios e inade-
quações comprometedoras da sustentabilidade. Para o sucesso de um projeto de desen-
volvimento sustentável, é, pois, imperativo o desenvolvimento de uma base científico-
tecnológica sintonizada com nossa realidade. Isso implica dois grandes objetivos: 1) for-
mação de recursos humanos capacitados; 2) fortalecimento do sistema nacional de ciên-
cia e tecnologia. São essas as tarefas que o CIAMB veio ajudar a construir.
210
processo mais geral da crise de uma matriz energética, de um modelo industrial, de
uma estrutura de insumos e matérias-primas.
Tanto a estrutura produtiva quanto os modelos teórico-metodológicos exis-
tentes tomavam os “recursos naturais” como inesgotáveis e dotados de plasticidade
absolutas, capazes de regeneração, autocorreção e reversibilidade plenas. Essa con-
cepção ao mesmo tempo determinística e otimista, que via os recursos naturais como
realidade passiva, foi surpreendida pela violência da crise ambiental, pela contundên-
cia de questões como o efeito estufa e o buraco na camada de ozônio, em que se evi-
denciam a insensibilidade e a irracionalidade dos mecanismos de mercado.
É nesse contexto que surgem, em 1972, sinais claros de uma modificação subs-
tancial na consciência mundial sobre o meio ambiente. A Conferência de Estocolmo, o
Relatório Brundtland, o Relatório do Clube de Roma, são os registros-chave da emergên-
cia de uma questão que não mais poderá ser afastada do horizonte das preocupações e das
ocupações de governos, academia, sociedade civil em geral. Trata-se fundamentalmente
da emergência de uma dupla constatação: 1) a urgência e gravidade de um conjunto de
problemas ambientais de caráter global; 2) a ausência de mecanismos institucionais e de
instrumentos analíticos capazes de enfrentar adequadamente aqueles problemas.
Se há amplo consenso sobre a centralidade desses dois problemas, a resposta a
eles — o enfrentamento teórico e prático a esses desafios — é múltipla e controversa.
Num balanço das perspectivas teóricas sobre a questão ambiental feito em 1990, Micha-
el Colby lista cinco paradigmas que estariam disputando a primazia para explicar-intervir
sobre a realidade ambiental: 1) a Economia de Fronteira; 2) a Proteção Ambiental; 3) a
Administração de Recursos; 4) o Ecodesenvolvimento; 5) a “Ecologia Profunda”. Para-
digmas decorrentes de bases conceituais, de interesses político-ideológicos, de premis-
sas filosóficas, de concepções de mundo diversas e por vezes não convergentes. (Colby,
Michael E., Environmental Management in Development. “The Evolution of Paradigms”.
Washington, D.C., The World Bank, 1990). Trata-se, enfim, de uma disputa em que o
consenso não passa do reconhecimento da existência do objeto. A partir daí, as divergências
incidirão tanto sobre o significado quanto sobre as conseqüências e os métodos e categorias
analíticas capazes de compreendê-lo.
Se há problemas ambientais que têm incidência global, transcendem países,
repercutem mundialmente, outros têm vigência local. Mais ainda: mesmo os proble-
mas gerais têm implicações locais distintas, exigindo respostas particulares. O Brasil é,
nesse sentido, um caso particularmente complexo por várias razões: enorme território,
estrutura ecológica complexa, desigualdade de padrões regionais de desenvolvimento,
diversidade de padrões culturais, profundidade e extensão da crise econômica e social,
enormes desigualdades de renda, riqueza, poder e informação.
Isso significa dizer que, no Brasil, aos problemas típicos da industrialização e
urbanização intensivas, somam-se as mazelas das carências e precariedades da
infra-estrutura básica, dos saneamentos, dos sistemas de educação e saúde, a fome e a
miséria. Desse modo, para o Brasil está posto um grande desafio: conferir cidadania
plena a milhões de excluídos mediante a retomada do desenvolvimento com distribui-
ção de renda e da riqueza, à luz dos critérios de sustentabilidade, garantia de biodi-
211
versidade e melhoria da qualidade de vida. O Brasil tem que, necessariamente, por um
imperativo ético, voltar a crescer, isto é, produzir e distribuir riquezas. Tem, portanto,
que se apropriar de recursos naturais, intervir na paisagem, transformar, construir e
reconstruir espaços, tudo isso submetido a exigências ambientais.
Nesse sentido, alguns avanços importantes ocorreram. A Constituição de
1988 tem capítulo ambiental sintonizado com as mais justas demandas; há a consolida-
ção, entre nós, da consciência do direito ambiental, como direito difuso de que todos
somos titulares; há a expansão dos movimentos ambientais; há a imposição da exigên-
cia dos EIA-Rima’s. Vários aspectos da emergência e consolidação de consciência e
práticas ecológicas e cidadãs.
Contudo, sabe-se o quanto se está longe de resolver adequadamente a ques-
tão. A degradação ambiental, a destruição dos recursos hídricos, a devastação da biodi-
versidade florística, o comprometimento, enfim, tanto das condições de vida das atu-
ais gerações quanto das futuras continua: falta fiscalização, falta controle, são precários
os sistemas de monitoramento, falta conhecimento, faltam políticas e instrumentos de
intervenção e planejamento, faltam tecnologias e recursos humanos qualificados para
enfrentar a questão ambiental a partir de perspectiva globalizante e crítica.
212
a. Problemas Ambientais Globais e suas Implicações sobre o Brasil: al-
terações climáticas globais; a problemática do ozônio; manejo de produtos
químicos e resíduos tóxicos; esgotamento de recursos naturais não-renováveis;
degradação de ambientes fluviais e marítimos transnacionais.
b. Problemas Decorrentes da Urbanização e Metropolização: Setenta e
cinco por cento, ou mais, da população brasileira vivem hoje em áreas urba-
nas. Grande parte desse contigente, 60%, em áreas metropolitanas desapare-
lhadas para garantir condições dignas de vida a grande parte dessa população.
Disso decorre um conjunto de problemas em que a miséria e a degradação
urbana são os aspectos mais salientes. Parte desses problemas ambientais,
não se pode deixar de enfatizar, não terá resolução efetiva senão a partir de
enfrentamento da questão da exclusão social, da miséria e da fome.
Os principais problemas ambientais brasileiros decorrentes da urbaniza-
ção e da metropolização são: exclusão social, fome e miséria; precarieda-
de do sistema de esgotamento sanitário, coleta e tratamento de lixo; pre-
cariedade de sistemas de tratamento e abastecimento de água; poluição
do ar, solo e água; degradação dos ambientes naturais e construídos; ex-
pansão da ocupação de áreas de riscos ambientais, encostas, nascentes,
fundos de vale; deterioração da qualidade de vida urbana no referente à
saúde, habitação, lazer, alimentação e transporte.
c. Problemas Ambientais Decorrentes do Uso da Terra Rural em Proje-
tos Agro-Silvo-Mínero-Pastoris: desertificação e erosão; assoreamento, con-
taminação e redução física dos recursos hídricos; redução da biodiversidade
florística e faunística e extinção de espécies; comprometimento do estoque
de recursos naturais; degradação de sítios de valor cultural e arqueológico.
d. Problemas Ambientais Decorrentes da Industrialização: poluição
do ar, solo, subsolo e recursos hídricos; redução da biodiversidade florísti-
ca e faunística; comprometimento do estoque de recursos naturais; degra-
dação da paisagem.
e. Impactos Antrópicos sobre os Grandes Biomas Brasileiros: Amazô-
nia; Pantanal Mato-Grossense; Semi-Árido; Cerrados; Mata Atlântica;
Campos do Sul; Mata de Araucária; Ecossistemas Costeiros.
213
quando há mudança no quadro — a descoberta dos limites, o início de uma efetiva
política ambiental brasileira. Antes disso, assistiu-se à constituição de uma economia
absolutamente insensível à questão ambiental, porque convencida da abundância plena.
É esse o pano de fundo que determinou a montagem de processos produtivos tão
problemáticos, do ponto de vista ambiental, quanto o extrativismo inicial, que
virtualmente extinguiu do Brasil a árvore que lhe deu nome; a agroindústria açucareira
e a economia cafeeira, que contribuíram decisivamente para a devastação, à quase
exaustão, da Mata Atlântica; a economia mineratória e seus variados impactos sobre a
paisagem, os recursos hídricos, a flora e a fauna.
Não foi menos depredatório o resultado de nossa modernização. Tanto a
urbanização quanto a industrialização, nos moldes em que se deram aqui, trouxeram
graves conseqüências sócio-econômico-ambientais. Basicamente, essa modernização,
incontestável, essa economia, que foi das que mais cresceram no mundo ocidental
entre 1880 e 1980, produziu tamanhos desníveis sociais, concentrou de tal modo a
renda, a riqueza, o poder e a informação, criou um tal quadro de crise ambiental, no
campo e na cidade, que é forçoso reconhecer a necessidade de se buscar um novo
modelo de desenvolvimento, que, sem descurar a necessidade de produção de rique-
zas, de apropriação da natureza, subordine esse objetivo central à busca da eqüidade
social e da sustentabilidade. A estratégia desse desenvolvimento sustentável foi defi-
nida pela CEPAL/PNUD, Nuestra Propia Agenda sobre Desarrollo y Medio Ambiente, como
tendo os seguintes aspectos: 1) enfrentamento da pobreza; 2) aproveitamento
sustentável dos recursos naturais; 3) ordenamento do território; 4) desenvolvimento
tecnológico compatível com a realidade social e natural; 5) nova estratégia
econômico-social; 6) organização e mobilização da sociedade; 7) reforma do Estado.
Há um lugar central para o Estado na construção do desenvolvimento sus-
tentável em vários aspectos. Ao contrário do que diz o ditado neoliberal dominante, há
um papel intransferível do Estado nesse processo, que deve, no entanto, passar por
reformas profundas para atender a esses requisitos: 1) reformas no campo político, de
modo a democratizá-lo efetivamente; 2) descentralização territorial de sua presença e
políticas; 3) profissionalização e capacitação de seus servidores.
No campo das políticas ambientais, pode-se dizer que a ação do Estado bra-
sileiro iniciou-se, efetivamente, em 23 de janeiro de 1934, com o primeiro Código
Florestal (decreto 23.793). Seguem-se outros diplomas legais, que vão regulamentan-
do a questão ambiental de forma setorizada: também de 1934 é o Código de Águas e o
decreto (24.645) que trata da proteção e conservação da fauna; de 1937 é o decreto-lei
que organiza a proteção do nosso patrimônio histórico e artístico, incluindo neles os
monumentos naturais, sítios e paisagens; de 1954, lei 2.312, de 3 de setembro, sobre a
defesa e proteção da saúde, destacando a solução de problemas de abastecimento da
água e remoção de dejetos, canalização de esgoto e destino final do lixo; de 1962, a Lei
4.131, em 10 de setembro, que define os casos de desapropriação por interesse públi-
co, incluindo aí a proteção do solo e preservação de cursos, mananciais de água e de
reservas florestais; de 1965 é o Novo Código Florestal; de 1967 é a lei que dispõe sobre
a proteção da fauna silvestre e o Código de Pesca.
214
São todas intervenções importantes mas que expressam uma visão fragmen-
tada da questão ambiental. A modificação substantiva da política e da questão ambien-
tal no Brasil virá com a Conferência de Estocolmo, de 1972. A partir daí é possível
identificar quatro grandes marcos da política ambiental brasileira:
a. A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvi-
mento Humano, realizada em Estocolmo, em 1972, e que deu dimensão
global e urgência à questão ambiental, repercutindo no Brasil por meio da
criação, pelo Decreto 73.030, de 30 de outubro de 1973, da Secretaria
Especial do Meio Ambiental (Sema), subordinada ao Ministério do Inte-
rior, que teria entre suas atribuições “examinar os impactos do desenvol-
vimento nacional e do progresso tecnológico sobre o meio ambiente”, “o
controle da poluição dos recursos hídricos”;
b. A lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, que instituiu a política nacional de
meio ambiente, constituiu o Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisna-
ma), integrando as atribuições locais, regionais, nacionais, composto pelo
Conselho Superior de Meio Ambiente e pelo Conselho Nacional de Meio
Ambiente;
c. A Constituição de 1988, que consagra tudo num capítulo, o VI, ao tema
ambiental a partir de perspectiva do equilíbrio ambiental como um bem,
um direito coletivo, essencial à qualidade de vida saudável;
d. A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvi-
mento (Rio-92), que estabeleceu o desenvolvimento sustentável como o
novo conceito de desenvolvimento a ser perseguido a partir do suposto
de que as melhorias sociais e econômicas devam ser buscadas de forma
compatível com a conservação da biodiversidade e dos recursos naturais
para as atuais e futuras gerações1 .
Para uma cronologia da política ambiental brasileira, ver LOPES, Carlos. “A Política Ambiental Brasileira”,
1
in Almanaque Brasil 1995/1996 (org.). MOREIRA, Neiva. Rio de Janeiro, Editora Terceiro-Mundo, 1995.
215
ção, no aprofundamento da segmentação dos mercados de trabalho, em novas modali-
dades de controle de fluxos e estoques, na utilização maciça das novas tecnologias
microeletrônicas e informacionais. A explosão das novas tecnologias nos campos das
telecomunicações, da biotecnologia, a emergência de uma nova base de matérias-primas,
novos materiais, a globalização transnacional de mercados e o desemprego estrutural
crescente são traços decisivos deste novo tempo que já se faz presente.
Ao mesmo tempo que a essas transformações e, em parte, conseqüência delas,
assiste-se também ao recrudescimento de conflitos e tensões nos campos das relações
étnicas, religiosas, nacionais. Há inquietantes sinais de ressurgimento e expansão da bar-
bárie, expressos no caos urbano, na crise ambiental, no desemprego estrutural crescente.
Trata-se, pois, de reconhecer a extensão e profundidade das transformações e
tensões em curso e, do ponto de vista teórico, constatar a incapacidade dos paradigmas
científicos até então prevalecentes de dar conta de uma realidade que se recusa a revelar-se
a perspectivas teóricas monodisciplinares, determinísticas, reducionistas. Trata-se, en-
fim, de reconhecer, nos termos de Kuhn, que não estamos no tempo das “ciências nor-
mais”, mas no centro mesmo de uma enorme turbulência que abala, interdita, circuns-
creve, requalifica, limita paradigmas antes aparentemente incontrastáveis.
Vive-se hoje, inegavelmente, a emergência da complexidade dos sistemas,
a redescoberta da irreveribilidade dos processos, da indeterminação, da incerteza,
como dimensões constituintes, inescapáveis tanto das realidades físicas e biológicas,
quanto do mundo social.
É aí, na contundência da crise contemporânea, que se afirma a emergência
de novos programas de pesquisas, de novas perspectivas metodológicas, a necessidade
de superar os velhos paradigmas do equilíbrio, da harmonia, o determinismo de Lapla-
ce, o otimismo de Condorcet. Nesse processo, o primeiro passo do novo esforço teórico
que se impõe é a construção de uma perspectiva interdisciplinar.
Não há consenso quanto a isso. Parte da controvérsia deve-se à confusão
sobre os reais termos da discussão. Há quem se manifeste contrário à interdisciplinari-
dade por ver nela a vitória da superficialidade, a interdição do necessário “mergulho
vertical” da ciência em seus objetos e temas. Aqui é preciso que se explicite que a
perspectiva interdisciplinar não exime a ciência de compreender cada vez mais seus
objetos. Pelo contrário, o que a perspectiva interdisciplinar significa é a necessária
complementaridade entre “verticalização” do conhecimento e a “horizontalização” do
diálogo com outras disciplinas, objetos, métodos, conceitos. Não há incompatibilidade
entre interdisciplinaridade e aprofundamento vertical do conhecimento senão que
quanto mais se aprofunde o conhecimento de um objeto mais imperiosa se faz a busca
da inter-relações, da globalidade do fenômeno.
Também importante é dizer que a interdisciplinaridade não quer interditar
as disciplinas, criar uma espécie de “superespecialistas em tudo”. O próprio avanço do
conhecimento monodisciplinar das últimas décadas impede que qualquer um, por mais
genial, consiga abarcar adequadamente o conjunto do conhecimento disponível.
Trata-se aqui, fundamentalmente, de afirmar a importância estratégica do
diálogo, a busca da interdisciplinaridade como procedimento, como atitude, como cul-
216
tura. Esclarecer os termos da discussão ajuda a evitar controvérsias ociosas, ajuda a
explicitar, quando existente, a natureza real da controvérsia.
Em texto de Kendal e Mackintosch, de 1979, há síntese da trajetória concei-
tual que vai da monodisciplinaridade à transdisciplinaridade:
217
Complexidade e alteridade, indeterminação e incerteza, desequilíbrio e en-
tropia; irreversibilidade e limites, eis os dados centrais de um tempo que parece ter
banido as velhas certezas da modernidade. É possível discordar do cerne das proposi-
ções de Luhmann, contudo, é inegável o vigor e a atualidade de sua proposta filosófica:
“La exigencia de un pensamiento nuevo, la ousadía de pensar con un nuevo concepto
de sujeto, la ontologia de la diferencia, el pensamiento ecológico y la teoria de la obser-
vación son tan sólo algunos de los elementos que bien pueden guiar una reflexión
filosófica de la obra de Luhmann” (Izusquiza, 1990, p. 31).
De outro lado, a interdisciplinaridade impõe-se como resultado do próprio
avanço das monodisciplinas. Objetos do conhecimento contemporâneos como a robó-
tica-cibernética, que reúne a matemática, a eletrônica, a neurofisiologia, a mecânica, a
teoria da informação; as ciências ambientais, que incorporam as ciências físicas, bioló-
gicas e sociais; a gestão do território, que abrange a geografia, a geomorfologia, a polí-
tica, a economia, etc... são objetos fundamentais do nosso tempo que só são abordáveis
a partir da perspectiva transdisciplinar.
De resto, as grandes questões colocadas para a consolidação interdisciplinar
são de ordem prático-institucionais. Toda a tradição da formação científica, entre nós,
está marcada pela perspectiva monodisciplinar. Mais que isso, toda a estrutura institu-
cional de ensino e pesquisa no Brasil não só não pratica quanto, em grande medida,
bloqueia a interação interdisciplinar. Consolidar uma perspectiva interdisciplinar en-
tre nós passa então pela criação de mecanismos sistemáticos de promoção da interação,
do diálogo, das pesquisas e cursos conjuntos de disciplinas e perspectivas
teórico-metodológicas distintas.
INTERDISCIPLINARIDADE
A modernidade instaurou a confiança na capacidade humana de controlar e
administrar a natureza e a história. Em sua mais acabada tradução, o Iluminismo, a
razão ocidental se julgou capaz de construir o futuro sem sustos ou equívocos. A razão
guiando os homens nos caminhos do progresso e das luzes. Com a Revolução Industri-
al, a promessa da modernidade parecia se cumprir: o trabalho potencializado, a máqui-
na a serviço da produção; a humanidade próspera e livre poderia se emancipar defini-
tivamente da faina estafante e embrutecedora do trabalho alienado.
Durante muito tempo reinou, em variadas disciplinas e perspectivas, um
otimismo tecnológico radical. Acreditava-se que a tecnologia tudo podia, que não ha-
via limites ao seu desenvolvimento. Na segunda metade deste século, diferentes fatos
e questões vieram questionar a validade do paradigma do otimismo tecnológico. A
ameaça de uma guerra nuclear com terríveis conseqüências, os inúmeros desastres
ecológicos, o esgotamento das reservas de matérias-primas importantes, o agravamen-
to do problema gerado pela explosão urbana, a devastação sistemática das últimas re-
servas biodiversificadas do planeta, tudo isso fez emergir, a partir de diversos pontos
de vista e concepções, a suspeita quanto ao determinismo tecnológico e questiona-
mentos quanto à forma atualmente hegemônica de produção e reprodução material.
218
Desse grande espectro de posições despertadas para o questionamento dos
padrões dominantes nas relações entre o homem e o meio ambiente estão presentes
desde o neomalthusianismo conservador do Clube de Roma até as perspectivas que
querem combinar o marxismo e a questão ecológica.
O esforço que se vai fazer aqui no sentido da construção de um marco teóri-
co interdisciplinar para a abordagem da questão do meio ambiente parte do suposto da
diversidade dos enfoques e dos variados interesses envolvidos. Nesse sentido, e para
ser coerente com o próprio objeto que se quer analisar, a linha básica do argumento
que se vai perseguir será a diversidade, a perspectiva multiespecular, a polifonia dos
vários discursos, das várias cores, dos vários olhares que se debruçam sobre o tema das
relações homem-meio ambiente.
Direta ou indiretamente, seja de forma especificamente técnica ou de forma
mais genérica, o homem é o objeto final da ciência e, portanto, também o é a sua
relação com o meio ambiente. Assim, de alguma forma, diversas áreas das ciências
abordam a questão ambiental.
No caso da geografia, desde as primeiras visões historiográficas, como as de
Heródoto, até a contemporânea metodologia desenvolvida pela escola dos “Annales”
que se estendeu e cunhou a relação fundamental entre espaço e tempo na compreen-
são da trajetória da humanidade. Quando Heródoto diz “o Egito é uma dádiva do Nilo”,
é todo um programa metodológico e reflexivo que se anuncia ali.
Essa lição clássica foi por vezes tomada de forma problemática e unilateral.
No século XVIII, com Montesquieu, há como a ditadura do meio (clima, qualidade da
terra) determinando de forma absoluta a dinâmica histórica. No século XIX, com Rat-
zel e com Taine, consolida-se uma tradição teórica que marcará gerações e que se
caracteriza pelo determinismo raça-meio.
A anistia da geografia, sua emancipação dos determinismos da pseudociên-
cia oitocentista, vem com Vidal de la Blache e sua geografia humana, lição superior-
mente apreendida e desenvolvida pelos historiadores da escola dos “Annales”, que
incorporarão de forma sistemática e conseqüente a geografia a seu fazer historiográfico,
como o demonstram A Terra e a Evolução Humana, de Lucien Febvre, e O Mediterrâ-
neo, de Fernand Braudel.
Com Braudel, a reflexão sobre a história, sobre o tempo, é também uma
reflexão sobre o espaço geográfico, onde a geografia não é nem um determinante abso-
luto nem um simples cenário passivo e estático em que se dá a trajetória humana. A
geografia na perspectiva braudeliana é ativa e dinâmica, é determinante e determina-
da, é espaço natural e espaço construído, move-se ainda que lentamente.
Essa nova maneira de abordar a questão geográfica abriu caminho para uma
interação de riquíssimas implicações, no interior da própria geografia, entre a geografia
humana e física e entre esta e as outras ciências, em particular com as ciências sociais.
O clima e os microclimas, o solo, a terra e suas variadas dimensões, a água e
seus usos e vastidões, a vegetação, a região, o território, a população, o ambiente, os
recursos, a habitação, as cidades, os caminhos são objetos na encruzilhada de uma profu-
219
são de olhares. Contudo, é a partir da perspectiva geográfica que esses aspectos do
meio ambiente, tanto o natural quanto o constituído, revelam suas especificidades.
Assim, o material de que é feito a história, o tempo, é o outro elemento que
completa a estrutura básica em que se move a vida social, ou seja, espaço e tempo
humanos. A história é o estudo dos homens no tempo, disse Marc Bloch.
O tempo e a mudança, o tempo e o movimento, o tempo é a dimensão capaz
de introduzir a referencialidade essencial na compreensão dos fenômenos sociais. A
história é, nesse sentido, o instrumento insubstituível de reflexão. No campo necessa-
riamente interdisciplinar da temática “Meio Ambiente”, a história contribui para o
estabelecimento da dinâmica espaço-temporal das atividades humanas em suas varia-
das determinações: econômicas, políticas, sociais, demográficas e culturais.
Por outro lado, se com a geografia e a história estamos no campo da reflexão
sobre o espaço-tempo, no âmbito da antropologia há um deslocamento para o momento
da cultura, entendida como o conjunto de formas e padrões de comportamento, crenças,
valores, instituições e procedimentos materiais transmitidos coletivamente e caracterís-
ticos de uma sociedade. A cultura é o momento da diferença e do imaginário, é a realiza-
ção das diversas formas simbólicas e materiais com que os grupos humanos se relacionam
e se apropriam da natureza. A cultura é a matriz da diferença, é a expressão do que é
incorruptível na humanidade: sua capacidade de criar e sonhar, seu desejo de liberdade.
Cada grupo humano, apesar de toda a homogeneização em curso, apesar da
forte tendência globalizante de usos e costumes imposta pelo mercado, conserva e
desenvolve maneiras específicas tanto em seus relacionamentos internos quanto nos
relacionamentos com outros grupos e com o meio ambiente. Cada comunidade, em
função de sua cultura, constituirá um complexo de interações com o meio ambiente no
qual, de um lado, há limitações impostas pelo estoque e qualidade dos recursos dispo-
níveis e, de outro, há os determinantes decorrentes das formas específicas como os
grupos humanos se entendem e a seus lugares no mundo, bem como entendem a
natureza e a presença humana aí.
Com Keith Thomas, em seu belo livro O Homem e o Mundo Natural, apren-
demos a historicidade das percepções humanas com relação à natureza. Com Marcel
Mauss e sua etnologia aprendemos a ler a variedade das tecnologias que regem a
produção e a reprodução da vida social; aprendemos a ler as técnicas do corpo e das
indústrias especializadas; aprendemos a ler o envoltório complexo da cultura que
recobre e explica a vida social.
É a partir daí que emergirá o dado fundamental do imaginário coletivo e suas
determinações sobre o modo de conceber, conservar e transformar a natureza.
Assim, se por um lado temos o estrato espacial e temporal das relações hu-
manas e, de outro, padrões culturais enquanto produtos dessas relações, logo devem
ser constituídos instrumentos de legitimação e regulamentação dos mecanismos de
funcionamento e reprodução das estruturas sociais vigentes. Os códigos, as normas e as
leis são elaborados exatamente com esta função.
220
As formas de utilização dos recursos naturais de um determinado país ou
região são conseqüência do próprio sistema econômico predominante, dos padrões de
relacionamento social e, portanto, de como isto é, ou não, regularizado e fiscalizado.
As leis ou a inexistência delas, suas formas de aplicação e efetivação, sua
inadequação devido às diferenças dos contextos onde são elaboradas e onde devem ser
aplicadas, a elaboração de códigos específicos e funcionais, tudo isso é matéria dos
estudos jurídicos. O entendimento e tratamento do meioaAmbiente requer, assim, a
incorporação da análise dos aspectos legais.
No campo da saúde, a descoberta dos aspectos ambientais das doenças é das
primeiras manifestações da observação empírica em medicina. Hipócrates associava a
malária às águas estagnadas, criando uma tradição de investigação médica em que o
meio ambiente é de alguma forma entendido como interveniente nos processos mór-
bidos. “Doenças do meio geográfico”: as febres, as pestes... Doenças marcadas pela
presença inadequada de águas, matas, animais; doenças tropicais, nome genérico de
uma pletora de males costumeiramente atribuídos ao clima, à vegetação, à umidade, à
fauna... Doenças de zonas ainda incivilizadas, marcadas pela selvageria do meio.
É certo que existem importantes fatores mórbidos determinados pela geogra-
fia: fatores predisponentes à reprodução de ciclos de contágios e expansão das doenças.
Entretanto, tal constatação não deve ser absolutizada. Os inegáveis fatores geográficos
incidentes sobre o fato patológico são mediatizados por uma série de determinações
sociais e econômicas: nível de renda, padrão de habitação e urbanização, processo de
trabalho e forma específica de apropriação da natureza a que se aplica o trabalho. Assim,
muitas vezes, o que é caracterizado como doenças do meio geográfico são mais propria-
mente “doenças profissionais”. A malária e a leishmaniose, por exemplo, são doenças
que estão fortemente marcadas pelo meio ambiente, pelo meio geográfico.
Mas para além dessas importantes determinações é indispensável registrar
que o impacto da malária, por exemplo, sobre a população “exposta” não é indiferencia-
do. A malária na Amazônia brasileira tem sido sobretudo doença de adultos do sexo
masculino, normalmente ocupados em atividades produtivas e outras que os aproximam
fisicamente das coleções de água, das matas, hábitat dos anofelinos (mesmo consideran-
do os hábitos endofílicos do Anopheles, principal vetor malárico na Amazônia brasileira).
O geográfico e o ambiental são, certamente, elementos decisivos do quadro
patológico, mas são determinações mediatizadas por fatores sócio-materiais e mesmo
por fatores culturais, como a experiência e a percepção da população sobre a doença e
os seus veículos de transmissão e controle.
Mas se o estado de saúde do homem é afetado pela sua “terra”, esta também
será afetada pela presença humana. “No conjunto das línguas latinas - não se tratando
no entanto de um caso específico - o termo ‘terra’ abrange uma grande variedade de
sentidos. É o solo que se pisa com os pés ou que se trabalha, o espaço restrito das
atividades rurais, o pequeno país em que se vive, mas é também o elemento sólido por
oposição aos oceanos, ou ainda mais globalmente, o nosso planeta em relação ao resto
do universo.” (Lemmounier, 1986, p.117).
221
No que interessa aqui vai se considerar a terra enquanto solo e subsolo,
enquanto objeto do trabalho humano, sobre o qual o trabalho se aplica na tarefa de
produção e reprodução material da sociedade.
Interessa-nos a qualidade do solo e as tecnologias mais adequadas ao seu uso
e conservação, as quantidades e qualidades das reservas minerais, o espectro da tecno-
logia de exploração dessas reservas e suas implicações econômicas e ecológicas, agro-
culturais, técnicas e tradições de cultivo e suas conseqüências.
Mesmo a engenharia, em sua aparente materialidade funcional, é passível
da surpresa e do conflito típicos do social. “Os homens, as sociedades não criam o seu
ambiente apenas para satisfazer suas necessidades físicas e sociais, mas também para
projetar num espaço real de vida algumas das suas ambições, das suas esperanças, das
suas utopias”. Essa frase de Pierre de Francastel nos põe de imediato no campo da
diversidade de que é feito o fenômeno social. A cidade, a geometria de seu traçado, o
padrão e a estética das construções, as variadas formas de captar e distribuir as águas,
como se lida com a vegetação e com o relevo, os materiais de construção e os espaços
coletivos construídos, o modo de administrar o trânsito e os esgotos, tudo isso está
profundamente marcado pela experiência histórica dos grupos humanos, as relações
de poder, a dinâmica da economia, as relações sociais.
Do ponto de vista ambiental essas disciplinas têm uma função essencial de
elaboração de novas regras e métodos capazes de garantir a democratização das deci-
sões quanto às tecnologias e formas do espaço construído, ao mesmo tempo em que
devem ser a denúncia e a crítica das distorções e violências cometidas em nome de
uma racionalidade estreita e comprometida com interesses subalternos.
Enfim, se a realidade é assim complexa e multideterminada, a teoria capaz
de dar conta dela terá que incorporar essa diversidade. Contudo, não se tome isso
como declaração de ecletismo, mas como afirmação do caráter necessariamente aberto
e abrangente do esforço teórico adequado ao objeto em questão. Toda a complexa
trama de argumentos e perspectivas que se vai mobilizar para o enfrentamento da
temática assenta-se na suposição da possibilidade de construção de um objeto teórico
coerente, crítico, aberto e plural.
222
Engendra-se, assim, uma dinâmica na qual a realidade ambiental “original”
é modificada, por meio de alterações, adaptações e acomodações das estruturas demo-
gráficas, econômicas e sociais vigentes.
Tem-se notado, na literatura que trata da conjunção das Ciências Biológicas
com as Ciências Sociais, a preocupação em elaborar instrumentos para lidar com a ques-
tão do gerenciamento dos recursos naturais de uma forma que se convencionou cha-
mar de “desenvolvimento sustentável”. É preciso preservar, mas sem estancar o de-
senvolvimento. É preciso desenvolver, mas sem deixar de levar em conta os custos
ambientais do crescimento.
Assim, o custo de oportunidade de uma determinada atividade econômica
que implique utilização de recursos naturais não renováveis deveria englobar as possí-
veis conseqüências, para as gerações futuras, do esgotamento de tais recursos. Por
outro lado, recursos caracterizados como “renováveis” se utilizados de forma indevida
podem vir a merecer a classificação de “não-renováveis”, com novas e importantes
implicações. Em ambos os casos, nos remetemos de alguma forma à questão da quali-
dade de vida humana, ou seja, o problema ambiental acabará por se refletir nas condiç-
ões de vida da população de um determinado local.
Da mesma forma, se observa nas Ciências Biológicas a necessidade de estu-
dar as populações animais e vegetais para além de seus aspectos específicos. As influ-
ências das atividades humanas, definidas no âmbito das relações econômicas, sobre a
vida — preservação e extinção — de sistemas naturais podem explicitar mais efetiva-
mente a natureza dos impactos ambientais.
É preciso compreender que no campo das Ciências Ambientais não existe
uma, mas várias interdisciplinaridades. No caso específico deste projeto, buscou-se
elaborar um sistema interdisciplinar cujas principais matrizes são a Economia, a De-
mografia e a Ecologia. Não será conveniente, no entanto, descuidar-se das interfaces
necessárias com outras áreas de estudo.
A ECOLOGIA
A busca de uma abordagem interdisciplinar para a questão ambiental é um
grande desafio contemporâneo. Trata-se de desafio tão mais complexo quanto mais
grave se apresentam os problemas ambientais, exigindo enfrentamento global envol-
vendo, sem exagero, todas as disciplinas e métodos analíticos. Tendo em vista que a
formação de pesquisadores enciclopédicos é uma tarefa inviável e contrária à prática
científica corrente, faz-se necessário um certo grau de especialização em um ou alguns
dos segmentos que compõem a questão maior.
Uma das principais clivagens na busca da abordagem interdisciplinar diz res-
peito à distinção feita entre trabalhos sobre o meio ambiente em áreas rurais ou semi-
urbanizadas e aqueles que enfocam áreas eminentemente metropolitanas. A natureza
dos problemas é, em sua essência, diferenciada, muito embora seja necessário que
eventualmente ergam-se pontes de ligação.
Enquanto em áreas rurais a questão ambiental se traduz nas diferenças entre
variáveis como biodiversidade, caça e coleta de subsistência, aspectos cognitivos liga-
223
dos à percepção dos elementos do ambiente, práticas agropecuárias e agroflorestais,
estrutura fundiária, natalidade e migração, as áreas urbanas estão naturalmente depau-
peradas em sua base biológica. Desse modo, seus problemas ambientais estão mais
diretamente relacionados com parâmetros ligados à qualidade de vida, tais como sane-
amento básico, poluição e urbanização.
A linha de pesquisa mais tradicional em biologia da conservação enfatiza,
principalmente, o desenvolvimento de métodos de priorização e seleção de áreas para
preservação de espécies que geralmente excluem populações humanas da equação
global da conservação. As técnicas, portanto, visam minimizar o problema da perda de
espécies causada pela fragmentação do hábitat natural. Essa abordagem é limitada
justamente pela incapacidade de incorporar a atividade antrópica, por não considerar
as questões éticas ligadas à sobrevivência das populações humanas.
O Brasil possui hoje apenas 2% de áreas naturais protegidas. Se desejarmos
que uma fração significativa da biodiversidade do país seja preservada para as futuras
gerações, deveremos “incorporar à preservação, recuperação etc.” áreas que estão hoje
sob a influência humana direta.
Em vista desses fatos, buscou-se construir interfaces entre os “comparti-
mentos” conservação de flora, fauna e recursos aquáticos de áreas rurais e aquele re-
presentado pelos aspectos sócio-econômicos ligados ao uso da terra por populações
humanas rurais e urbanas. A busca de uma base metodológica comum se deu sem a
descaracterização de cada um dos subprojetos de pesquisa e formação de pessoal, mas
na direção de um pressuposto teórico que permitisse aos pesquisadores ter uma visão
da questão maior dentro da qual se insere sua atuação.
A título de exemplo, considere-se um caboclo da Amazônia, vivendo em
condições miseráveis, com uma família para alimentar, possuindo, em bases legais du-
vidosas, um pequeno lote de terra, que decida derrubar um jacarandá para vender a
madeireiros autônomos. Estes, por sua vez, venderão a madeira para serrarias estabeleci-
das a partir de incentivos governamentais para estimular as exportações.
Pode-se imaginar este comportamento por parte do caboclo como resultan-
te de uma vasta gama de determinantes. Juntos, esses determinantes atravessam os
pontos focais de várias disciplinas: Botânica (a existência da árvore em primeiro lugar;
as conseqüências ecológicas da sua remoção), Macro-sociologia (as estruturas legais
que impedem a posse definitiva da terra), Ciência Política (os grupos de interesse que
conseguem concessões do Estado na forma de subsídios para certas atividades), Antropo-
logia (processos pelos quais as pessoas estabelecem suas atividades de sustento; as
categorias cognitivas que informam sobre tais práticas), Economia (os preços relativos
do jacarandá no mercado doméstico e internacional)3 .
Pode-se agora detalhar os aspectos ecológicos relacionados ao problema co-
locado acima. O que significa em termos de perda de biodiversidade, na composição
das comunidades animais e vegetais e na estrutura da comunidade como um todo, a
derrubada seletiva de árvores em uma área da Amazônia ou da Mata Atlântica?
WOOD, 1990.
2
224
O conhecimento dos recursos biológicos representa o fundamento sob o qual
políticas de ocupação da terra podem ser elaborados e seus resultados monitorados. As
pesquisas ecológicas são instrumentos capazes de indicar que processos do ecossiste-
ma poderão ser afetados. São exemplos disso os aspectos dinâmicos da competição
entre espécies; a seleção de micro-hábitat por espécies; as relações de mutualismo
sendo rompidas, levando à biossimplificação; as atividades de polinização e fluxo gêni-
co afetadas, o que, por sua vez, compromete a existência de estoques futuros; a manu-
tenção de ciclos hídricos, incluindo lençol freático, proteção de mananciais, regulação
de cheias e vazantes e taxas de deposição de sedimentos; qualidade da água, com
conseqüências diretas na produção primária e secundária e afetando ainda as popula-
ções de peixes disponíveis para consumo humano; a regulação climática, tanto a nível
local quanto regional, com efeitos sobre a temperatura, precipitação e ventos; a com-
posição química e erosão do solo etc.
Esse tipo de abordagem pode ser decomposta hierarquicamente, proporcio-
nando um número razoável de teorias passíveis de teste que servirão de ligação entre
os vários níveis de investigação.
Enfim, os padrões de uso de recursos biológicos sofrem a influência de di-
versos fatores. Em meio à progressiva deterioração das áreas silvestres e de seus recur-
sos associados, quais são os obstáculos à manutenção ou criação de sistemas locais de
produção sustentável? A conservação dos recursos bióticos não se dará sem a participa-
ção do homem e este não poderá utilizá-los em níveis sustentáveis de exploração sem
o conhecimento dos componentes e processos ecológicos dos sistemas naturais.
A ECONOMIA
O objetivo fundamental de uma nova ordem econômica e social, segundo as
Nações Unidas, é articular a macroeconomia da transformação produtiva com a eqüi-
dade social e com o equilíbrio na utilização dos recursos naturais.
Para superar o dilema entre “conservacionismo” e “crescimento econômi-
co”, devemos ser realistas no sentido de equacionar os custos e benefícios do objetivo
de um desenvolvimento ambiental sustentável. Os benefícios serão evidentemente
mensuráveis pela melhoria na qualidade de vida e os custos devem obedecer aos parâ-
metros de um gerenciamento econômico.
Os critérios que definem o gerenciamento ótimo dos recursos naturais de-
vem obedecer a uma avaliação não só econômica, mas também social no sentido de se
gerar uma nova ética nas relações entre a sociedade humana e a natureza.
Nesta perspectiva, alguns determinantes globais devem ser considerados:
1. É absolutamente necessária a intervenção do Estado para regular e con-
trolar os efeitos sobre o meio ambiente e a qualidade de vida das ativida-
des econômicas baseadas ou não na utilização dos recursos naturais. O
mercado por si só não aloca os recursos dentro de um “ótimo ecológico”.
2. Como país em desenvolvimento, estamos localizados na periferia do
sistema capitalista, exportando recursos naturais não-renováveis com to-
225
dos os custos ambientais conhecidos e importando tecnologia de segunda
ordem, geralmente defasadas, descartadas pelos países centrais.
3. Recebemos a herança histórica de progresso técnico que raramente levou
em conta os custos ecológicos, isto é, ambientais e sociais envolvidos.
Transformar essa realidade é fundamental para superar o dilema entre
conservacionismo e crescimento.
Existem várias abordagens sobre as articulações entre Economia, Demogra-
fia e Meio Ambiente. Michael Colby fala da existência de risco de grandes paradigmas
sobre essas relações. Sem desconhecer outras perspectivas, é possível traçar uma tipo-
logia básica de abordagens, que é a seguinte:
a. Abordagem segundo o modelo “Banco Mundial”
b. Análise ecológica da atividade econômica
c. Visão crítica do modelo tecnológico capitalista
226
a pobreza, a ausência de estruturas institucionais voltadas para a preservação do Meio
Ambiente, a pressão do crescimento demográfico e o papel da mulher são tão impor-
tantes para a questão ambiental quanto à utilização ótima dos recursos naturais. As
“ações paralelas” dizem respeito a políticas de distribuição de renda, planejamento
familiar e apoio à ascensão social da mulher.
227
a. A necessidade de gerenciamento dos recursos naturais renováveis e não-
renováveis segundo um padrão de análise de custos e benefícios econô-
micos e sociais;
b. A necessidade de manter o equilíbrio do ecossistema com inovações tecno-
lógicas com alta taxa de retorno, objetivando otimizar a qualidade de vida;
c. O equilíbrio de um ecossistema não pode assentar-se sobre a base da de-
sigualdade social ou sobre qualquer restrição à biodiversidade.
228
Temos então que a relação entre população e meio ambiente é um proces-
so de mão dupla: os processos populacionais afetam o ambiente e os fatores ambien-
tais afetam a dinâmica demográfica. Essas relações, ainda que nem sempre estejam
explicitadas pela ciência segundo um modelo ecodemográfico, ficam mais fáceis de
serem compreendidas.
A título de exemplo, não é difícil imaginar que não podemos fugir a uma
análise, tanto na área urbana quanto na rural, das relações entre nutrição e fecundida-
de; ou sobre os impactos ambientais da transição epidemiológica de doenças infeccio-
sas em direção a doenças degenerativas; ou mesmo sobre como as migrações determi-
nam e/ou são determinadas por processos de degradação ambiental.
De acordo com o que foi discutido até aqui, a centralidade de uma metodo-
logia apropriada para abordar a questão ambiental do ponto de vista interdisciplinar.
Apontar uma área com graves problemas ambientais, detectar tais problemas, definir
disciplinas pertinentes e respectivas capacidades de análise, tratamento e correção e
passar a uma atuação in loco não deixa de ser importante, mas tem se mostrado insufi-
ciente. O cerne da questão é extrapolar esse padrão de atuação.
Uma metodologia que se queira realista e coerente deve ter a propriedade
fundamental de ser aplicável às variadas realidades ambientais e, portanto, à diversida-
de de problemas daí decorrentes; os cenários ambientais são inúmeros e diferenciados.
Também o são os padrões sociais e econômicos e, portanto, as formas de apropriação e
utilização dos recursos naturais em uma dada área. Conseqüentemente, os impactos
ambientais são resultado da associação entre um determinado universo ecológico e
uma determinada forma de ocupação e atuação humana nesse universo.
Assim, o homem interage com o meio ambiente de formas variadas, obtendo
resultados diferenciados. Posto isto, temos os seguintes pressupostos: o homem intera-
ge com o meio ambiente; esta relação resulta em um processo dinâmico; este processo
tem conseqüências diversas de acordo com a realidade ambiental e os padrões sócio-
econômicos predominantes em uma dada área.
A presença humana em uma determinada região implica comportamentos e
atividades ligadas à exploração dos recursos naturais que podem ser uma decorrência
tanto de fatores internos quanto de fatores externos à área em exame. É verdade,
também, que essa presença resulta em modificações no meio ambiente original. Pode-
mos assumir dois tipos de atividades e comportamentos: os que resultam em deteriora-
ção ambiental e os que são articulados de acordo com a capacidade de manutenção da
qualidade do meio ambiente natural.
O primeiro movimento da relação dinâmica entre o homem e o ambiente re-
flete-se na modificação do que estamos chamando de “Meio Ambiente Original”, resul-
tante da presença de atividades antrópicas em uma determinada região (Figura 5.3).
O impacto ambiental se refletirá, ao longo do tempo, em uma nova “realida-
de ecológica”. Esta influenciará, talvez não de forma tão determinística quanto no
primeiro movimento, os padrões de ocupação, apropriação, exploração, produção vi-
gentes até então no espaço focalizado.
229
FIGURA 5.1
SISTEMA ECONÔMICO GLOBAL
SUPERESTRUTURA POLÍTICO-IDEOLÓGICA
Estado
Cultura
Ideologia
SISTEMA DE ESTRATIFICAÇÃO
Hierarquias baseadas na distribuição de
Terra, Renda, Educação, Prestígio etc.
INFRA-ESTRUTURA ECO-DEMOGRÁFICA
Modo de Produção
Modo de Reprodução
230
FIGURA 5.2
INFRA-ESTRUTURA ECO-DEMOGRÁFICA
MODO DE PRODUÇÃO
ESTRUTURA ECONÔMICA
Divisão Setorial
Extração
Transformação ESTRUTURA
Serviços POPULACIONAL
Demanda de Trabalho Razão de Sexo / Distribuição
Quantidade Etária / Taxa de Crescimento /
Qualidade Distribuição Espacial
(idade, sexo, qualificação,
distribuição espacial e
temporal etc.)
231
FIGURA 5.3
ENFOQUE INTERDISCIPLINAR PARA A ABORDAGEM DO MEIO-AMBIENTE
BIOLOGIA
(outras áreas de estudo)
DEMOGRAFIA ECONOMIA
Estrutura Fundiária
FECUNDIDADE Distribuição de Renda
MORTALIDADE Industrialização
MIGRAÇÃO Exploração de Recursos Naturais
Políticas Públicas...
1
1 1
BACIA
HIDROGRÁFICA
1
ALTERAÇÕES NO MEIO
AMBIENTE REGIONAL
2
CONSEQÜÊNCIAS DO SISTEMA
3 3
AMBIENTAL ALTERADO NA
REGIÃO EM QUESTÃO E/OU EM
OUTRAS REGIÕES
232
O segundo movimento da relação homem-meio ambiente, portanto, signifi-
ca que o meio natural transformado pelo próprio homem tem efeitos sobre sua vida
em um determinado local.
Se pressupomos que as atividades e os comportamentos ligados à utilização dos
recursos naturais são do tipo negativo, então podemos imaginar uma queda das condições
da qualidade ambiental e de vida da população local. Decadência (sócio-econômica), nes-
te caso, diz respeito tanto à questão da má qualidade de vida humana, em todos os seus
aspectos, quanto às mutações e adaptações econômicas, sociais e demográficas.
Há, ainda, um terceiro movimento que se pode depreender dos dois anteri-
ormente discutidos. A deterioração ambiental de uma região, com queda da qualidade
de vida da população local, pode ser capaz de ocasionar “movimentos migratórios”
para regiões onde a qualidade ambiental ainda esteja preservada. Com “movimentos
migratórios” queremos dizer tanto os de populações humanas quanto os de atividades
produtivas. Neste caso, todo o processo teria início em uma nova área. O terceiro mo-
vimento seria, assim, um looping, ou seja, um retorno às condições que propiciaram o
desencadeamento de todo o processo.
Fica também aparente que os efeitos da transformação ambiental, assim como
suas causas, podem romper os limites da região que se analisa. Como pode ser observa-
do nessa esquematização, é possível que na interação homem-meio ambiente haja uma
seqüência de causas e efeitos que, no seu desenrolar, produz modificações simultâneas
(ou não) em diversos aspectos da “vida” de uma determinada área, podendo ainda
refletir-se externamente a ela.
Apesar de sucinto, o esquema apresentado explicita a relação entre o ho-
mem e o seu meio natural e as realidades derivadas daí. Talvez este dinamismo tenha
muito pouco de esquematizável e certamente não obedeça a um fluxograma. Não obs-
tante, certos fatos dessa cadeia são ou poderão ser identificados, de forma que alguns
deles são ou serão entendidos como causa e outros como efeito. A inversão posterior
dessa ordem não modificará o pressuposto básico.
A ECONOMIA AMBIENTAL
A primeira dificuldade na designação dos limites de um território a ser ana-
lisado pela abordagem da economia ambiental liga-se às especificidades das duas dis-
ciplinas aí envolvidas: a economia e a ecologia. Para a primeira, o território é aquele das
relações de troca. Visto numa perspectiva do desenvolvimento histórico, quanto mais
se desenvolve a tecnologia, e com ela a capacitação de produção e a velocidade dos
deslocamentos, mais vão se esfumando os contornos territoriais de uma dada comuni-
dade econômica. Para a ecologia, ao contrário, os limites de um território são dados
pela capacidade, geneticamente determinada, em última análise, de as espécies se
manterem em um ecossistema. A idéia de carrying capacity, por exemplo, implica para
a ecologia o maior número de espécies que pode viver em um território, sem o com-
prometimento dos recursos naturais que garantiriam a vida das gerações futuras. A
partir daí, pode-se dizer muito pouco de um possível território “para o homem”, já que
233
o ser humano não é limitado por instruções genéticas no seu consumo de matéria e
energia (Martinez-Alier, 1991); quer dizer; seu território se expande na medida em
que se criam novas necessidades, novas capacidades produtivas; enfim, na medida em
que a cultura se transforma.
Embora com as diferenças entre o espaço para o homem e o espaço para as
espécies naturais, algumas analogias entre sociedades humanas e sistemas ecológicos
têm sido feitas. No primeiro quartel deste século, por exemplo, a chamada escola de
Chicago propõe uma sociologia urbana calcada numa (suposta) semelhança entres as
lógicas de distribuição funcional nas cidades com a luta pela vida das espécies animais
em um território. Mas se o território de uma comunidade humana é irredutível à das
comunidades naturais, e vice-versa, coloca-se então como problema a caracterização da
unidade espacial onde convivem espécies naturais (ecossistemas) e sociedades huma-
nas. A tradição geográfica alemã recorre à noção de “paisagem” (Landschaft) para desig-
nar superfícies do planeta onde ocorre o encontro de comunidades humanas com as
espécies naturais. Humboldt, considerado um geógrafo com visão holística, referiu-se à
Landschaft como a totalidade de uma porção da superfície terrestre: uma paisagem deter-
minada é aquela unidade espacial em que o conjunto formado pela capacidade produti-
va, a conformação física e o uso difere de outras unidades espaciais. Esta é a primeira,
mas também a mais precária definição de “paisagem” (Buchwald; 1995; 160)
Autores mais recentes incluem no conceito de “paisagem” também as áreas
edificadas; e, com isso, a interdependência funcional entre ecossistemas e sociedades
humanas, tentando-se demarcar os “impactos” antrópicos; ou seja, buscando-se uma
“paisagem primeira”, uma certa nostalgia de uma natureza intocada. Como os fatores
naturais de paisagem e suas cadeias de relações causais estão não apenas submetidas à
intervenção antrópica como também dependem do desenvolvimento das sociedades
humanas, deve-se, na consideração metodológica desses autores, distinguir três “tipos
ideais” de paísagens naturais:
a. a paisagem natural anterior (por exemplo, uma determinada época do
período pós-glacial), reconstruída hipoteticamente;
b. a paisagem natural existente;
c. a paisagem natural potencial, quer dizer, abstraída, na medida do possível,
a influência humana.
Com isso, tem-se a distinção “paisagem natural” e “paisagem cultural” (ou
“paisagem edificada”). Por paisagem natural entende-se aquela porção da superfície da
terra cujo estado não é alterado pelo homem. Nesse caso, o relevo, o solo e as relações
causais que se estabelecem entre os ecossistemas são determinados apenas através de fato-
res naturais. A vegetação existente em uma paisagem natural é idêntica à vegetação permi-
tida pelo potencial natural. (O Diagrama 5.1 mostra em linhas tracejadas a demarcação de
um ambiente natural e as setas indicativas das interações entre seus componentes.)
Como “paisagem cultural” ou “paisagem construída”, entende-se um esta-
do da paisagem em um determinado ponto no tempo no qual o uso humano influencia
234
DIAGRAMA 5.1
MODELO DE ESTRUTURA DE UM SISTEMA ECOLÓGICO /
ECOTOPOS SEGUNDO RICHTER 1968
Macroclima
Meso-clima
Solo
Subsolo
Fonte: Lore Steubing et al (org.) “Natur-und Umweltschutz”. Editora Gustav Fisher. Suttgart, 1995, p.164.
235
de certo modo sua cadeia de interações causais e sua conformação física. Esta, no en-
tanto, pode ser uma “paisagem construída próxima à natureza”, onde a intervenção
humana deixa ainda grande parte da superfície natural ou seminatural e, parcialmente,
até mesmo sistemas ecológicos naturais. Nesse caso, a vegetação existente permanece
em grandes superfícies próximas à vegetação natural potencial. Ao contrário, por “pai-
sagem construída contra a natureza”, designa-se aquela com uso intensivo e com o
total reordenamento (deslocamento ou eliminação) dos ecossistemas naturais ou semi-
naturais ou ainda com um resto insignificante desses sistemas. Nesse tipo de paisagem
não há coincidência entre a vegetação natural existente e a potencial. São essas paisa-
gens da agricultura intensa (monocultura) e os espaços urbano-industriais.
Um caminho metodológico para a demarcação do território de análise além
da simples classificação ou para definir uma unidade territorial já visando qualificar e
prever as dinâmicas inerentes ao contato antrópico com o meio natural, deve-se, con-
forme a literatura mais recente sobre o assunto, contar com a idéia de “desenvolvi-
mento sustentável”. A partir do Relatório de Brundtland difunde-se entre os meios
ambientalistas de todo o mundo a noção de “sustainable development”, expressão
que resume a idéia de que “o desenvolvimento deve satisfazer as necessidades do
presente sem colocar em risco as necessidades das gerações futuras”. Essa é, na verda-
de, uma reapropriação da noção da ecologia de “carrying capacity”, tal como definida
acima. Segundo Martinez-Alier (1995), a própria palavra “sustentabilidade” remete à
“noção biologizante de capacidade de suporte”, sem, no entanto, deixar claro qual o
“território-suporte”. Não se sabe se o alcance dessa noção implicaria todo o planeta,
algumas regiões específicas ou estados concretos; ou ainda se envolveria as necessida-
des das sociedades humanas paralelamente à preservação das comunidades biológicas.
Numa tentativa de precisar melhor a idéia de desenvolvimento sustentável
e de trazê-la para a análise das comunidades humanas, Rees (1990) aponta que, en-
quanto a capacidade de suporte da população de uma dada espécie natural implica a
manutenção de seu hábitat sem o dano do ecossistema do qual ela depende, a capaci-
dade de suporte para a população humana pode ser medida pelos níveis máximos do
uso (sustentando, no sentido de não comprometer o uso das gerações futuras) dos re-
cursos naturais e pelos níveis de emissões que possam ser absorvidos em uma dada
região do planeta sem danificar progressivamente a integridade funcional e a produti-
vidade de ecossistemas da qual a vida neste planeta depende.
Para White e Whitney (1992), um território para ser ‘sustentável’ não deve
exceder a ‘capacidade de suporte’ de sua base física ou de suas áreas de influência (no
caso, de alcance regional); quer dizer, a população humana deveria ser mantida nos
limites em que o consumo não comprometeria irreversivelmente o ecossistema (no
conjunto da região formada pela área de influência do referido território) do qual ela
depende. A idéia subjacente para esse autores é de que se a população mundial fosse
capaz de viver dentro dos limites impostos pela ‘capacidade de suporte regional’, o
resultado líquido seria a sustentabilidade global.
Para esses autores, a cidade pré-industrial, na qual as dimensões e o espaço
onde se davam as atividades dependiam das áreas territoriais imediatamente próximas
236
ao assentamento urbano, é definida como “quase-sustentável”. A revolução industrial
e o desenvolvimento tecnológico destroem esse equilíbrio, permitindo àqueles assen-
tamentos urbanos, que, por condições geográficas ou poder político, tinham condições
de competir com outros centros, apropriar-se da ‘capacidade de suporte’ da região ou
da hinterland dos assentamentos vizinhos. No período colonial muitos centros euro-
peus já se apropriavam da capacidade de suporte além das fronteiras nacionais ou con-
tinentais (White e Whitney, 1992).
A passagem de um modelo de assentamento humano ‘não-sustentável’ para
um modelo ‘sustentável’ é, segundo Alberti (1994), caracterizada se por três condi-
ções. A primeira é que o assentamento A minimize os ‘níveis de entropia’ do sistema
urbano, adotando a melhor tecnologia disponível. A segunda é que o assentamento A
já tenha atingido os níveis máximos da ‘capacidade de suporte’ da sua hinterland para
apropriar-se da capacidade de outra região B — e esta tenha de contar com um ‘surplus
ecológico’; considerado-se aqui não só a capacidade produtiva de B, mas também a
capacidade de absorção dos seus próprios impactos antrópicos e ainda sua função eco-
lógica de manutenção do sistema ambiental global. A terceira condição é de que exista
um mecanismo de compensação segundo o qual A restitui a B, C e D os valores reais
subtraídos, incluindo-se aqui os valores econômicos, sociais e ambientais.
O modelo de assentamento humano sustentável proposto por White e Whi-
tney (1992) não é explícito sobre a maneira de medir os benefícios retirados das regi-
ões B, C e D e nem sobre as formas de compensação. Para Ekins (1990), tais mecanis-
mos de compensação deveriam reequilibrar a distribuição de riqueza entre os diversos
centros, mas, na verdade, as condições de ‘troca desigual’ entre realidades econômicas
e políticas fazem com que surjam efeitos opostos: as trocas entre regiões desenvolvidas
e não-desenvolvidas acabam por criar relações de dependência, quando os países mais
pobres, para se vincular ao mercado mundial e em grande parte para saldar suas dívi-
das, acelerem a erosão do ‘capital natural’ dessas áreas.
Como se pode ver a partir dos textos mais recentes, os autores lançam mão
de categorias de análise não usuais na literatura econômica e em particular naquela
referente à análise regional: ‘déficit ecológico’, ‘fluxo de matéria e energia’, ‘produção
de resíduos’, exportação de entropia’, ‘capital natural’ etc. Tais categorias são desdo-
bramentos recentes de investigações teóricas e práticas sobre o consumo de matéria e
energia e são movidas tanto pela escassez dos recursos naturais quanto pelas emissões
que comprometem a vida na Terra. ‘Consumo’ e ‘escassez’ indicam que se trata de um
problema da economia, mas, como se pode ver mais adiante, a economia, tanto como
disciplina acadêmica quanto como prática profissional, apresenta um déficit frente às
necessidades de respostas para problemas prementes.
Tentativas de se fazer um ‘balanço’ do consumo de energia têm sido feitas a
partir das fontes de geração e de dissipação de energia e matéria, no sentido de demar-
car as possibilidades e limites de consumo e produção tal como vem se dando. O Dia-
grama 5.2 procura esquematizar o fluxo de energia e matéria impulsionado pelas soci-
edades industriais desde a fotossíntese até as emissões dos gases e outras substâncias
237
nocivas ao meio ambiente. Esse esquema não pretende retratar o fluxo de energia de
uma região particular. Para efeito da metodologia de análise ou de demarcação espaci-
al, pode se dizer que onde ocorre o fluxo nem sempre pode estar delimitado por uma
única cidade ou região, mas é um fluxo que envolve as regiões industrializadas alcan-
çando outras regiões. Por exemplo: a fotossíntese que inicia o fluxo pode ter origem
em países não industrializados ou algumas emissões podem ser ‘exportadas’ para fora
dos países industrializados (como ocorre com o lixo na Europa). A partir daí pode-se
pensar as regiões, ‘paisagens’, cidades do planeta de acordo com a presença mais signi-
ficativa de alguns dos elos desse fluxo: aquelas regiões com maior capacidade de trans-
formação de energia solar em fotossíntese, aquelas onde se dão mais intensivamente as
transformações da matéria etc.
Da pequena fração da energia do Sol que chega à atmosfera terrestre, apenas
dois quintos chegam à superfície da Terra. Essa energia do Sol, mais a energia calorífi-
ca da Terra e ainda a energia química de moléculas inorgânicas são as fontes primárias
que vão impulsionar o fluxo que se manifestará como energia térmica, energia elétrica,
energia mecânica ou energia química e que se dissipará no ambiente terrestre em for-
ma de calor. O sistema composto por esse fluxo inclui captadores especiais de energia
solar: a clorofila das plantas transforma a energia da luz em energia química no proces-
so conhecido por fotossíntese. Desse modo, a energia química pode ser utilizada pelas
próprias plantas e também pelos consumidores e agentes de decomposição que se
alimentam das plantas.
A ínfima quantidade de energia absorvida pela vegetação de toda a energia
solar que atinge a superfície de nosso planeta é o combustível que alimenta o ecossis-
tema terrestre. Mesmo a energia fóssil é produto da fotossíntese. Com as transforma-
ções de clima e relevo sofridas pela Terra, os mares interiores e pântanos dos períodos
Carboníferos, Permiano e Devoniano — constituídos por moléculas orgânicas portado-
ras de energia fixada da luz pela fotossíntese — desapareceram, e os vegetais e seres
microscópicos permaneceram soterrados passando a sofrer lentas alterações de caráter
químico, sem perder, no entanto, suas características de moléculas orgânicas, dotadas
de elevado conteúdo energético. Originaram-se, assim, em diferentes regiões do mun-
do, os depósitos de carvão fóssil, petróleo e gás combustível, hoje utilizados como
fontes de energia, responsável atualmente por cerca de 80% do consumo energético
mundial (Murgel Branco, 1990).
Ao contrário dos sais minerais e outras substâncias nutritivas, a energia solar
não pode ser utilizada mais de uma vez pelos seres vivos. A vida existe na Terra apenas
enquanto receber combustível do Sol. A maior parte da energia que chega à Terra se
dispersa na atmosfera na forma de calor. E essa dispersão em forma de calor também
acontece quando a energia é transformada ou transferida de um organismo para outro:
a energia química amarzenada em um organismo (energia potencial) se transforma em
energia quando esse organismo se movimenta (energia cinética), por exemplo, trans-
formando-se em calor uma grande parcela de energia potencial. O mesmo acontece
quando qualquer máquina transforma em trabalho (energia cinética) sua energia po-
238
DIAGRAMA 5.2
FLUXO DE MATÉRIA / ENERGIA
material fóssil
minerais
Combustíveis fósseis Vegetação (agricultura)
ar água
ar água
carvão, gás natural óleo cru
CO2, CO, CH
Transformação de Energia Transformação de Matéria Reciclagem de resíduos
SO2, Pó, escória calor, energia nuclear óleo refinado (material processing)
gás, diesel etc
transporte de energia produtos diretos e indiretos da Líquidos químicos (solventes,
Nox neutralizadores etc.)
transformação industrial de fotossíntese
energia (aquecimento, - alimentos
lixo radioativo
resfriamento, etc. energia - produtos da agroindústria
transformação de E. em disponível - prod. químicos-orgânicos
comércio, serviços, - prod. da pesca etc. material orgânico e inorgânico
instituições, residências - prod. da química inorgânica p.ex. hidrogênio carburado,
- prod. metálicos (ferro, não lixo industrial, dejetos de
animais confinados
ferrosos etc.)
ruído
- materiais de construção.
(recycling)
água ar
produtos petroquímicos
matéria plástica
material químico
Consumo alimentos
Final
Produtos metálicos
energia
CO2 ar água
Materiais de construção
Esgoto Texteis, papéis, madeira
Destinação dos Dejetos Finais
pelo Poder Público
Fonte: Hermann Behrens. “Marktwirtschaft und Umwelt”. Editora Peter Lang. Frankfurt, 1991, p68.
239
DIAGRAMA 5.3
A ECONOMIA NEOCLÁSSICA
empresas famílias
reciclagem
ENERGIA SOLAR CALOR DISSIPADO
ECONOMIA
NEOCLÁSSICA
energia residual
energia útil
240
tencial: parte da energia dissipa-se em forma de calor e não pode mais ser usada. Daí
dizer-se que não existe máquina com 100% de eficiência.
Como parte da energia se perde sempre que é transformada ou transferida, os
organismos ou máquinas sempre transmitem menos energia do que recebem. Quando
um coelho come uma planta qualquer, recebe energia química, mas essa energia é muito
menor que a energia que a planta recebeu do Sol. O mesmo acontece com o carnívoro
que come o coelho: a energia recebida é menor ainda do que aquela do início da cadeia
alimentar. A conclusão mais imediata que se tira daqui é que numa sociedade vegetaria-
na não há tanto ‘desperdício’ de energia primária quanto nas sociedades carnívoras. Com
isso, a ecologia humana chega a mais algumas categorias para a análise das sociedades
humanas: as noções do consumo de energia exossomática e energia endossomática.
Por energia exossomática entende-se a energia que flui fora dos processos
metabólicos dos organismos vivos. A energia somática, ao contrário, flui através dos
organismos vivos.
Pode-se analisar a crescente dependência das cidades dos recursos naturais e
da capacidade de absorção do impacto ambiental a partir do crescente consumo e degra-
dação de energia. As cidades demandam uma quantidade crescente de energia. Com o
que tende a crescer a relação entre energia extrassomática (dada a implantação de hidre-
létricas, usinas nucleares, consumo de combustíveis fósseis etc.) e energia somática. As-
sim, o consumo de energia cresce em um ritmo mais elevado do que a população urbana.
Estudos desde o início dos anos 70 mostram que a proporção global entre a energia
somática e a energia extrassomática nas áreas urbanas estimadas em 1/17 era influencia-
da pela proporção verificada nos países industrializados igual a 1/50 (Alberti, 1994, p. 42).
Segundo Martinez-Alier (1995, p. 31), a distinção entre os dois tipos de consumo de
energia é fundamental para a abordagem econômica da ecologia humana:
241
quirida: em apenas 25 anos nos EUA (de 1945 a 1970) a quantidade de Kcal contida no
milho produzido dividida pela quantidade de energia gasta para produção e transporte
passou de 3,70 para 2,82 (Gruhl, 1978, p. 79). O saldo ainda é positivo, mas quando se
considera que houve uma maior velocidade no aumento de energia aplicada, o resulta-
do é assustador: a energia gasta em transporte para cada Kcal produzido foi multiplica-
da por 3,5; itens como fósforo para fertilizantes, secagem e eletricidade aumentaram
4,7; 12,6 e 10 vezes mais, respectivamente.
É visando esse gasto de matéria/energia, que se esconde por trás do cálculo
econômico, que Georgescu-Roegen (1967) desenvolve seus textos sobre análise econô-
mica: diante do fato de que a energia usada no mundo industrializado é predominante-
mente de origem fóssil e, portanto, não-renovável, torna-se imperativo pensar as catego-
rias da economia à luz da esgotabilidade dos recursos naturais. Desse modo, à idéia de
reversibilidade dos modelos da economia (ou da circularidade implícita nas representa-
ções abstratas dos inúmeros fatos da realidade econômica, na qual, por exemplo, os gas-
tos de uns são ganhos para outros que, por sua vez, investirão esses ganhos etc. etc.)
Georgescu-Roegen (1967) contrapõe a noção de irreversibilidade contida na segunda lei
da Termodinâmica: “a reversibilidade é o pecado original da teoria econômica”.
De acordo com a primeira lei da Termodinâmica, a energia pode ser transfor-
mada de uma forma a outra, mas não pode ser criada ou destruída. A segunda lei,
introduzindo o conceito de entropia, afirma que o uso de uma quantidade de energia
diminui constantemente e que tudo no universo se inicia com uma estrutura (ordem)
e se transforma irreversivelmente para uma situação de desordem e degradação.
O princípio da entropia pode ser assim formulado: “nenhum processo que
implique transformação energética pode acontecer sem que haja uma degradação de
energia de uma forma concentrada a uma dispersa” (Alberti et al, 1994, p. 109). Isso
quer dizer que a transformação de energia nunca acontece com uma eficiência de 100%.
A fotossíntese é aqui um exemplo: de 100 unidades da energia luminosa do Sol absor-
vida por determinada planta, 98 serão dispersas como energia térmica (calor) e apenas
duas serão transformadas em energia potencial, sob a forma de matéria orgânica que a
planta produz. Parte da energia derivada da transformação, estando dispersa como ener-
gia térmica, não se encontra mais como energia disponível. Desse modo, a entropia é a
medida da não-disponibilidade de energia derivada na transformação; um aumento de
entropia significa uma diminuição da energia disponível.
Georgescu-Roegen (1967) estende as conseqüências da segunda lei da Ter-
modinâmica à matéria, afirmando que, embora todo planeta seja constituído de maté-
ria, também esta se degrada continuamente a uma forma não disponível (Piper, 1993).
Em todo trabalho aparece o atrito, que vai atingir a dispersar a matéria. As moléculas
dispersas a partir do trabalho de um pneu de automóvel, por exemplo, ainda existem,
mas elas só podem ser novamente juntadas através de uma enorme quantidade de
energia. Para se conseguir a baixa entropia (energia/matéria concentrada) necessária às
suas atividades, o homem cria sempre mais energia/matéria dispersa (alta entropia).
Aqui pode-se trazer um exemplo dado por Piper (1993) bem apropriado ao nosso tema:
242
uma folha de papel contém entropia mais baixa do que a massa de celulose, com a qual
a sua produção se iniciou. E isso só foi possível porque em algum lugar a entropia
aumentou: a fábrica de papel produziu objetos líquidos, os trabalhadores dispersaram
energia de si mesmos e das máquinas etc.
A partir das considerações acima sobre energia (matéria) tal como trazidas pela
abordagem ecológica da economia, basicamente através de Georgescu-Roegen (1967),
torna-se inevitável tanto para a economia política quanto para a política ambiental colo-
car o problema da distribuição sobre o planeta da baixa entropia ou das “ilhas de sintro-
pia”, segundo a terminologia utilizada por Altvater (1992), e as condições de sua apropri-
ação econômica. Logo após a Segunda Guerra Mundial, no quadro da divisão internaci-
onal do trabalho, alguns países do Terceiro Mundo (ou pelo menos determinadas regiões
deste) passam a funcionar não apenas como “ilhas de sintropia” para os países centrais,
mas são incorporados ao “circuito fordista”, quando iniciam o processo de industrializa-
ção. A partir dos anos 60, no entanto, o modelo fordista dos países industrializados come-
ça a sofrer alterações. A elevação dos salários nos países centrais impede que os
acréscimos de produtividade (na época já bastante tolhidos pelo esgotamento dos “paco-
tes tecnológicos” então utilizados) sejam apropriados pelo capital, o que pressiona, con-
seqüentemente, as taxas de lucro. Num cenário de taxas de lucro declinantes, torna-se
rentável o deslocamento de partes do processo produtivo e, em última análise, do pro-
cesso de transformação energética para os países do Terceiro Mundo, dentro da raciona-
lidade dos processos produtivos fordistas. Assim, nesse período, assistimos à transferên-
cia de determinadas indústrias dos países industrializados para a periferia, atraídos basi-
camente por menores salários e fontes de matéria-prima. Essa alteração nos moldes de
acumulação do grande capital, com um conseqüente aumento da mobilidade global do
capital financeiro internacional, passa a ser mais visível a partir dos fins da década de
1960 (Altvater, 1992). Um pressuposto para essa mudança é a “globalização” no espaço
da malha fordista, ou seja, a interconexão dos vários “tempos” dos processos físicos de
valorização do capital. Desse modo, os sistemas de transportes e comunicação devem ser
desenvolvidos, principalmente nos países periféricos, para que os “sistemas de transfor-
mações energéticas” não tenham mais de ser concentrados espacialmente, mas descen-
tralizados. A dispersão dos processos produtivos será feita então através da concentração
dos mecanismos de decisão e de captação dos lucros no “centro”, ou seja, nos países
industrializados (Altvater, 1992).
O fato é que a nova (des)ordem mundial implica e pressupõe a apropriação
diferenciada dos recursos naturais (baixa entropia) para o conjunto dos países. Na ver-
dade, o que vem se mantendo na “nova” ordem mundial é a configuração política que
remonta ao colonialismo europeu e que polariza as nações entre “centro” e “perife-
ria”, ou entre norte e sul: os primeiros industrializados com o alto padrão de consumo,
os segundos com um nível de consumo insuficiente até mesmo para repor os gastos de
energia biótipos (humanos) da maior parte da população e com um sério agravante, a
elevação da dívida externa. A polarização entre países centrais e países periféricos que
se integraram ao circuito fordista pode ser expressa em determinadas características
(Altvater, 1992, p. 149), conforme sintetizado no Quadro 5.1.
243
Os países não-industrializados puderam, de algum modo e em alguns mo-
mentos, antever posição favorável na divisão internacional do trabalho. Até no início
da década de 1970, acreditavam que o “subdesenvolvimento” era uma conseqüência
inevitável do colonialismo e com a quebra dos laços coloniais, pelos movimentos naci-
onais de independência da África e Ásia, eles se adiantariam no processo de desenvol-
vimento, valendo-se politicamente da maioria que tinham nas instituições internacio-
nais como a ONU (a partir daí e sintomaticamente a ONU passa a perder em importân-
cia como um fórum internacional “neutro”). Quando em 1973 a Organização dos Paí-
ses Exportadores de Petróleo (OPEP) consegue triplicar o preço do petróleo, políticos
e intelectuais terceiro-mundistas acreditaram que o papel reservado aos países do Ter-
ceiro Mundo de fornecedores de matéria-prima não seria tão mal assim, uma vez que
os países do hemisfério norte ficariam mais e mais dependentes do sul. O decorrer da
década de 1970 mostra o quão incorreta era essa avaliação: os países centrais iniciam
uma reestruturação industrial, com ênfase na substituição de matéria-prima e mão-de-
obra barata por informação, novos materiais e mão-de-obra qualificada (Paula e Nabu-
co, 1992). Ao mesmo tempo, aumenta vertiginosamente a dívida externa dos países do
Terceiro Mundo, conforme se pode ver no Gráfico 5.1.
Após o choque do petróleo, os países industrializados se empenharam em
conseguir tecnologias poupadoras de energia e minerais, temerosos de uma nova crise
energética motivada pela cartelização dos fornecedores. Assim, temas como “energia”,
“recursos não-renováveis”, “tecnologias poupadoras de energia e minerais” ganharam
importância. Projeções otimistas — como o livro Soft Energy Paths, de Amory Lovins
(1977) — chegaram a apontar que o consumo energético de origem fóssil poderia ser
reduzido em até sete vezes se houvesse a incorporação sistemática da energia solar.
De fato, consumo energético, consumo de minerais e crescimento industrial
não se relacionam com grandezas fixas. Apesar do consumo crescente, em termos ab-
solutos, de minerais, por exemplo, decrescem as taxas de crescimento da demanda dos
países industrializados. Nos anos 60 os países industrializados consumiram mais de
80% da produção mundial de aço e no mínimo 90% de outros metais. Já a partir de
meados dos anos 70, as taxas de crescimento da demanda dos países industrializados
por aço e outros minerais começam a decrescer. Alguns fatores explicam a queda:
as economias dos países industrializados crescem mais lentamente a partir do
alta tecnologia (as indústrias farmacêutica e eletrônica são ramos que cres-
cem mais velozmente e são menos intensivas em material e energia que as
indústrias de transformação);
a reciclagem de metais, que embora consuma, é capaz de reduzir o consumo
total de matéria-prima;
a descoberta de novos materiais que concorrem com os metais (como plásti-
cos, cerâmicas e ligas) em diferentes usos e aplicações nos mais variados cam-
pos; o cobre, por exemplo, é substituído por fibras de vidro ou polivinil (PVC);
244
outro componente importante na explicação da queda relativa do consumo
de minerais talvez seja o fato de os países industrializados já terem construí-
do suas infra-estruturas urbanas.
Por sua vez, a continuada dependência dos países industrializados de maté-
ria-prima em geral e de energia (de origem fóssil) não resulta no aumento relativo da
importância (medido em valor) dos países exportadores no comércio internacional (ver
Tabela 5.2).
Paralelamente à perda de importância econômica das regiões exportadoras,
como a América Latina, acentuam-se as diferenças entre os países ricos e pobres, como
se pode ver na Tabela 5.3. Diante desses dados não deixa de ocorrer a ninguém uma
espécie de “círculo vicioso da destruição ecológica”, no qual estaria comprometida
toda uma possibilidade de desenvolvimento “sustentado” que, pelo menos, fosse menos
brutal no “consumo” do Planeta:
a pobreza generalizada faz com que não apenas os países vendam seus recur-
climáticas onde apenas chuva e ventos são capazes de destruir numa veloci-
dade muito grande os solos férteis;
BIODIVERSIDADE
E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Tanto a economia quanto as ciências ambientais mantiveram-se, durante mui-
to tempo, prisioneiras de perspectivas que impediram a compreensão mais funda das
inter-relações entre aqueles dois universos. A economia, tomada de otimismo, acredita-
va infinitos os recursos naturais e absoluto e ilimitado o progresso técnico. Quando se
mostrou o equívoco dessa perspectiva, foi a vez de as ciências ambientais entrarem em
cena e, à sua maneira, também se equivocaram. Revelada a falácia do otimismo econô-
mico, a irreversibilidade de certos processos de degradação ambiental, os pesados custos
sociais decorrentes de processos produtivos poluentes, a solução proposta por certa pers-
pectiva ambientalista foi a criação de reservas ecológicas, preservadas e ausentes de se-
res humanos, enquanto a barbárie toma conta do resto, do não-preservado.
Essa perspectiva lembra aquela cidade fantástica, Bauci, que a imaginação
de Italo Calvino criou em As Cidades Invisíveis (1991). Na narrativa, a cidade ergue-se
sobre longas pernas, de flamingos, enquanto o solo é deixado livre da humanidade, é
só natureza preservada. Calvino deixa aberta a explicação para esse fenômeno. “Há
três hipóteses a respeito dos habitantes de Bauci: que odeiam a terra; que a respeitam
a ponto de evitar qualquer contato; que a amam da forma que era antes de existirem e
com binóculos e telescópios apontados para baixo não se cansam de examiná-la, folha
245
por folha, pedra por pedra, formiga por formiga, contemplando fascinados a própria
ausência” (1991, p. 73).
Essa perspectiva, digamos bauciana, é que é preciso ser superada. A preser-
vação ambiental que se quer é a que incorpora também as populações humanas e suas
atividades, sua dinâmica espacial e demográfica. Nesse sentido, o esforço teórico ne-
cessário é o que consiga traduzir, em um todo coerente, tanto as exigências ambientais
quanto o desenvolvimento econômico irrenunciável. Os conceitos que possibilitam
esse duplo encontro são os de biodiversidade e desenvolvimento sustentável.
A BIODIVERSIDADE
Este é um conceito que tem conseguido rápida e ampla difusão e aceitação
por sua clareza e capacidade de síntese. Numa primeira aproximação, a biodiversidade
pode ser definida assim: “É um termo guarda-chuva utilizado para definir o grau de
variedade na natureza, incluindo tanto o número quanto a freqüência de gens, espéci-
es e ecossistemas em determinada região. É normalmente considerada em três níveis
diferentes: diversidade genética, diversidade de espécies e diversidade de ecossiste-
mas”. Numa outra conceituação: “The variety and variability among living organisms
and the ecological complexes in which they occur. The term encompasses different
ecosystems, species, genes, and their selective abundance” (Sanderson & Redford,
1991, p. 2).
O conceito de biodiversidade envolve tanto uma dimensão quantitativa,
número e variedade de gens, espécies e ecossistemas, quanto qualitativos, isto é, a
saúde dessas realidades biológicas e dos ambientes onde elas ocorrem. Assim, falar em
biodiversidade é falar de um indicador sensível de qualidade, sustentabilidade e enri-
quecimento do patrimônio genético, indispensável para a saúde do planeta a longo
prazo.
Concretamente, uma política para a biodiversidade implicaria um complexo
de políticas e manejos com vistas tanto a assegurar a sobrevivência dos recursos bioló-
gicos quanto o seu efetivo enriquecimento. Está implícita no conceito de biodiversida-
de uma série de complexas interações que incorporam às formas concretas de utiliza-
ção dos recursos naturais, tecnologias e processos de trabalho as formas de propriedade
e gestão do patrimônio natural.
Não haverá biodiversidade senão a partir de uma nova matriz de relações
homem-natureza, em que as necessárias produção e distribuição de riqueza se reali-
zem a partir de uma sistemática observância de critérios e políticas
agro-urbano-ecológicos. Isso significa subordinar tanto a propriedade quanto os inte-
resses e motivações particulares nos campos do investimento, das tecnologias e da
produção ao critério do interesse coletivo, expresso em planos, legislações, programas,
zoneamentos e incentivos, definidos a partir de estruturas de representação legítimas
e com base em estudos e proposições amplamente divulgadas e debatidas com o con-
junto da sociedade. Esse processo, em que a produção material se subordina ao inte-
resse coletivo e à perspectiva de longo prazo, é um dos elementos centrais da afirma-
ção do conceito de desenvolvimento sustentável.
246
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O debate atual sobre a questão ecológica tem se dado basicamente pelo con-
fronto de duas posições antagônicas — “preservacionistas” x “desenvolvimentistas”
—, o que tem impedido que outras perspectivas se apresentem. Uma particularmente
importante e que supera o impasse preservação x desenvolvimentismo é a perspectiva
do desenvolvimento sustentável.
Uma definição amplamente aceita de desenvolvimento sustentável é a que
está no Relatório da Comissão Brundtland, que o vê como “development that seeks to
meet the needs and aspirations of the present with out compromising the ability to
meet those of the future” (Sanderson & Redford, 1991: 3).
Se o desenvolvimento sustentável parece ser um objetivo geral, capaz de
conciliar crescimento econômico e biodiversidade, no entanto a complexidade e dife-
renciação dos grupos, instituições e idéias que adotam, em princípio, a mesma defini-
ção geral tornam esse campo complexo e contraditório em seus interesses e motiva-
ções. O suposto consenso que haveria em torno do desenvolvimento sustentável
desfaz-se na mesma medida em que se identificam seus defensores, suas motivações e
as perspectivas teóricas de que se servem. O desenvolvimento sustentável tem junta-
do do Banco Mundial aos defensores das reservas extrativistas.
Há várias questões importantes envolvidas aqui. Em primeiro lugar, há de
alguma forma um questionamento do modelo produtivista-consumista típico dos paí-
ses capitalistas centrais e também dos paradigmas teóricos decorrentes da lógica da
maximização da teoria econômica convencional, da racionalidade individualista como
critério legítimo e racional para garantir melhor qualidade de vida, sustentabilidade do
desenvolvimento econômico e biodiversidade.
Dados esses elementos, impõe-se uma série de pontos para o exame da ques-
tão ambiental, que implicam reconhecer preliminarmente a enorme ignorância que
existe sobre os caminhos de um efetivo desenvolvimento sustentável. Os pontos cen-
trais aqui são: a) uma legislação compatível com as novas exigências ambientais; b)
novas políticas e planejamento agro-urbano-industrial e zoneamento
zgro-urbano-ecológico; c) reforma urbana,aAgrícola, agroecológica; d) novas formas de
organização do trabalho, novas formas de propriedade e novas tecnologias; e) perspec-
tivas do desenvolvimento científico e da biotecnologia.
247
inexistência de leis, mas sua inaplicabilidade em função da morosidade do processo
jurídico, da precariedade dos meios e instrumentos de fiscalização e administrativos,
da corrupção em vários planos de administração pública, da força e impunidade do
poder econômico.
A questão de legislação ambiental tem várias dimensões importantes, mas
certamente uma das mais importantes é a questão do direito da propriedade. Num
tempo em que o direito da propriedade é alçado à condição de direito sagrado, em que
há valorização absoluta do mercado, em que o neoliberalismo parece ser a solução
única para todos os problemas sociais, em que o paradigma do individualismo radical
se põe como sinônimo de princípio ético fundante, ressalta-se a relação entre direito
de propriedade, interesse coletivo e questão ambiental.
Um exemplo importante dessa questão é a posição defendida pelo econo-
mista americano Joseph Henry Vogel. Vogel propõe como solução para a questão ambi-
ental a privatização, defendendo a criação de direitos do proprietário sobre informação
genética. Assim, “cada proprietário de uma área florestal onde existem plantas com
propriedades medicinais que interessem a uma indústria farmacêutica para produzir
um medicamento, pelo qual ela requer uma patente, será considerado dono da infor-
mação genética natural e terá direito a receber um percentual das receitas obtidas
pelas indústrias farmacêuticas, médicas” (J.B., 28/10/91).
Vogel manifesta justificada ojeriza à centralização, à burocracia. Diz ele: “O
leste Europeu nos deixou a lição de que a centralização não funciona”. (J.B., 28/10/91).
Daí, para Vogel a solução só pode ser o mercado, a privatização. É possível questionar
essas disjuntivas, ou mercado ou centralização burocrática; ou mercado ou Estatismo
absoluto; ou mercado ou o caos — mas isso é temática que escapa aos propósitos deste
trabalho. De qualquer forma, é possível levantar pelo menos uma objeção fundamen-
tal à prevalência do critério do mercado sobre a questão ambiental. Trata-se, funda-
mentalmente, de levar a sério a lógica do mercado e concluir que, na medida em que
os tais laboratórios sejam capazes de sintetizar seus produtos a partir de uma outra
matriz, que não a florística, então aquele patrimônio genético seria inútil e portanto
poderia ser destruído. A lógica do mercado, a privatização das espécies são um claro
retrocesso em relação aos avanços que a questão ecológica já alcançou. No caso do
Brasil, a Constituição afirma um princípio — que é o do direito coletivo a um ambiente
ecologicamente equilibrado, garantia de uma sadia qualidade de vida (artigo 225) —
que é absolutamente superior, seja em termos éticos, seja em termos políticos, à hege-
monia do critério mercantil.
248
volvimento dessas regiões, como sinônimo da ampliação de sua participação no PIB,
considerava como objetivo principal de política regional a desconcentração das ativi-
dades produtivas, via o modelo adotado nas regiões desenvolvidas.
Dessa forma, a política de redistribuição regional da produção econômica
baseou-se em dois submodelos principais:
A substituição de importações regionais, via investimento (em geral com ca-
pital externo à região) em setores fortemente polarizadores, como os grandes
complexos industriais, com largos efeitos “para frente” e “para trás”. O prin-
cipal recurso utilizado na região foi a mão-de-obra não-qualificada e, portan-
to, barata, transformando-se grande parte dessas regiões em zonas para a mon-
tagem de componentes produzidos fora delas. Os casos mais expressivos são
os NIC´s asiáticos e as Zonas de Processamento para Exportação existentes
em alguns países, como o Brasil. Com a massa de salários muito reduzida,
tendo em vista a baixa taxa dos mesmos, sendo os impostos locais inexisten-
tes ou negativos e o retorno do capital migrando, em grande parte, para fora
da região, os efeitos multiplicadores de ampliação da renda regional foram
muito pequenos. A maior parte do excedente retido localmente dirigiu-se
para a melhoria da infra-estrutura urbana, onde reside a elite e/ou para o pa-
gamento dos altos soldos da burocracia que se instalou em virtude da admi-
nistração local das políticas de incentivos ao crescimento.
A extração de recursos naturais e a expansão da fronteira agrícola. Esse sub-
modelo da desconcentração espacial, que se verificou especialmente em pa-
íses periféricos, como o México, Brasil e os produtores de petróleo, foi ainda
mais inócuo do ponto de vista do desenvolvimento regional. Do ponto de
vista do PIB regional, evidentemente que houve ampliação na participação
de regiões, cujos recursos naturais passaram a ser extraídos e exportados em
escala industrial. Já do ponto de vista da expansão da fronteira agrícola, a
pequena produção não se manteve, a não ser em casos raros, predominando o
grande estabelecimento agropecuário especulativo ou, no limite, a grande
empresa capitalista exportadora de produtos agrícolas, através de tecnologia
intensiva em terra e capital.
Os dois exemplos acima citados, em maior ou menor grau, portanto, foram
ineficientes em termos de desenvolvimento regional sustentável e quanto à melhoria
de bem-estar da população.
Ademais, a partir dos anos 80 essa situação tendeu a tornar-se crítica, não só
do ponto de vista do estreitamento do mercado externo para os produtos naturais,
como também pela crise dos estados periféricos, incapazes de manter políticas regio-
nais desconcentradoras por falta de recursos financeiros. Regiões como o Nordeste
brasileiro involuíram econômica e socialmente, aumentando a distância em relação às
regiões mais desenvolvidas. A não ser por algumas “ilhas” de riqueza nas regiões po-
bres, o escasso crescimento econômico nos países periféricos passa a concentrar-se
mesmo nas regiões de desenvolvimento industrial consolidado. Na verdade, o que
249
houve foi uma desconcentração concentrada, espraiando-se o crescimento pelo entor-
no próximo à Região Metropolitana de São Paulo (em especial o interior do Estado),
aproveitando e ampliando a infra-estrutura urbana e rodoviária existentes. Semelhan-
temente ao Nordeste americano, que parecia perder posição relativa com respeito ao
desenvolvimento da microeletrônica, do setor de telecomunicações e armamentos na
Costa Oeste nos anos 80, o Estado de São Paulo também se recupera da crise da estag-
nação industrial que o afetou (indústria automobilística, metal mecânica, aeroespacial,
equipamentos etc.). Esaa recuperação se dá, da mesma forma como se deu com Nova
York, com o rápido desenvolvimento do setor terciário moderno, caracterizado princi-
palmente pelos serviços produtivos, como os transportes, os serviços financeiros, jurí-
dicos, consultorias, seguros, propaganda, pesquisa e desenvolvimento etc. (Nabuco,
1989). Dá-se também a recuperação via expansão agroindustrial, beneficiando-se a
região de terras férteis, proximidade aos portos de exportação e um mercado interno
local de alto poder aquisitivo.
Os fatores de aglomeração, que tendem a reduzir os impactos da desconcen-
tração espacial, apresentam hoje mais força, quando se considera que os setores de
ponta do desenvolvimento econômico sustentável necessitam estar cada vez mais pró-
ximos aos grandes centros urbanos que oferecem serviços modernos. O setor industrial
de ponta hoje está próximo às universidades e centros de pesquisa, mesmo porque a
crise reduziu os subsídios estatais a fracos incentivos para o capital deslocar-se para
regiões atrasadas. A reprodução ampliada do capital dá-se hoje mais por inovações no
processo e no produto, por estar na fronteira do conhecimento, do que pelos ganhos de
produtividade advindos das economias de escala. Em países de desigualdades profun-
das na renda pessoal, a regra será também a ampliação das desigualdades espaciais.
250
A segunda via possível de descontração espacial, dado o quadro de déficit
público do governo federal, é através de desconcentração pessoal de renda. Para tanto,
será necessário um conjunto de medidas que ampliem a participação da massa salarial
na renda nacional, além de outras políticas de redistribuição de renda e riquezas, cuja
possibilidade de implementação está, certamente, nas mãos dos movimentos sociais
organizados e suas pressões sobre o aparelho do Estado.
251
limitada quanto à existência de áreas para agricultura comercial (como as várzeas). É,
no entanto, favorável à agricultura de subsistência, que deve se tornar mais sustentável
no que diz respeito à preservação do meio ambiente.
Para um encaminhamento adequado da reforma agrária é, portanto, indis-
pensável o conhecimento da variabilidade da dotação de recursos naturais, identifican-
do as áreas agroecologicamente homogêneas para as quais se desenharam estratégias
baseadas em recursos (semelhanças em tipos de solo, inclinação dos terrenos, índices
pluviométricos, clima), a fim de estabelecer políticas de desenvolvimento agrícola re-
gional. A Embrapa identificou, através desse critério, 55 zonas agroecológicas no Bra-
sil, com marcantes diferenças entre elas com respeito ao uso de terras para a agricultura
e pecuária e à força de trabalho utilizada. (Ayres et alii, 1991).
Ainda do ponto de vista das políticas regionais em países periféricos que
busquem reduzir as desigualdades na renda espacial via desenvolvimento econômico
sustentável, deve-se mencionar a questão da localização/deslocamento das plantas in-
dustriais. Já foi mencionado anteriormente que os clássicos fatores de localização de-
têm hoje importância reduzida. Pode-se dizer, como Da Silva e Oliveira (1990), que “o
que ocorre no Brasil é uma regionalização menos determinada por fatores específicos
(...). Assim, toda uma regionalização do parque industrial brasileiro, atual e futuro,
coloca-se como ponto fundamental de uma nova política de desenvolvimento industri-
al”. Essa maior liberdade espacial para a localização das indústrias permite ao planeja-
mento mais margem de manobra nas decisões locacionais. Além disso, dever-se-á re-
avaliar políticas anteriores inadequadas, como a má administração dos orçamentos de
empresas estatais, as joint ventures, que causaram destruição ambiental, isolamento de
alguns projetos, falta de transparência nas decisões.
É inegável que o desenvolvimento regional no Brasil se fez através da arti-
culação da periferia ao centro da industrialização pesada, especialmente via implanta-
ção de indústrias regionais de insumos básicos. Mas é importante considerar a possibi-
lidade do aumento da autonomia do crescimento econômico na periferia, através de
uma nova e específica política de exportação, aliada à implantação de setores produti-
vos de ponta e ao controle do meio ambiente. A periferia deve recusar-se a ampliar sua
integração, se ela significa mais poluição, destruição da pequena produção agrícola,
redução da produção de alimentos para o mercado interno etc. Hoje, as pessoas ques-
tionam cada vez mais os custos associados ao aumento da produção agrícola, tanto para
produtores quanto para consumidores (Vosti, 1991). Haverá, no entanto, um trade-off
entre os benefícios do crescimento econômico e os custos ambientais dele decorren-
tes, especialmente nos países periféricos, que necessitam crescer para melhorar seu
baixo nível de alimentação, educação, moradia etc.
As indústrias mais tóxicas são as básicas, pertencentes ao grupo de bens in-
termediários e processadoras de matérias-primas não-renováveis, como alumínio, fer-
ro, cobre, bauxita, cimento etc. Dessa forma, as regiões que produzem tais bens opta-
rão por desenvolver políticas de controle ambiental como medida paliativa, já que não
podem abandonar as plantas industriais. Para que o trade-off entre o crescimento eco-
252
nômico e a preservação ambiental se situe num ponto tal que traga o maior benefício
possível para a sociedade local (trabalhadores, moradores, etc), deve-se encontrar mei-
os para que a indústria cumpra o que prevêem as leis. Para poder vencer as dificulda-
des da aplicação da lei, “o essencial é estabelecer uma agência responsável pela prote-
ção ambiental, com competência independente de outras instituições. Além disso, é
necessário que “os próprios organismos de fomento industrial tenham um papel fun-
damental (...), junto a organismos de controle da saúde da população e de proteção ao
meio ambiente”. (CEPAL, 1991). Em suma, que a política industrial institucionalize a
ação combinada com outras políticas setoriais e sociais, retirando o viés “industriali-
zante” do desenvolvimento latino-americano, acumulado ao longo dos últimos 40 anos.
253
necessidade de socialização dos benefícios da pesquisa (importância da qualidade das
sementes para vasto contingente de produtores agrícolas), reforçam a participação dos
institutos públicos e de formas não internalizadas pelas empresas. Na verdade, a rela-
ção entre os setores público e privado sempre se manteve estreita, incluindo os produ-
tores/usuários dos produtos genéticos. Apesar disso, essa proximidade não tem gerado
grandes benefícios sociais. Ao contrário, as instituições públicas de pesquisas, como a
Embrapa, no Brasil, têm desenvolvido pesquisa genética, cuja regra é a apropriação
privada dos resultados por grandes cooperativas e empresas agrícolas. São pacotes tec-
nológicos caros e, portanto, inacessíveis aos pequenos produtores agrícolas. Para evitar
a privatização especulativa das pesquisas públicas, as universidades e os institutos pú-
blicos de pesquisa deverão ser instrumentos centrais na democratização das descober-
tas da biogenética, em esforço conjunto com as áreas da saúde, controle ambiental e
abastecimento alimentar.
254
No Brasil uma importante experiência nessa direção é a lição de Chico Men-
des. A combinação de variadas perspectivas: sindicalista, política, ecológica, produtiva. A
combinação da produção, da geração de riquezas, com a preservação ambiental, a produ-
ção se fazendo a partir de tecnologia compatível com o meio ambiente, tudo isso no
contexto de formas de propriedade e organização do trabalho em que a hegemonia é
dada pelo interesse coletivo, pelo desenvolvimento sustentável, pela biodiversidade.
A lição de Chico Mendes é a materialização de um projeto que compatibili-
za, em certo contexto natural e cultural, economia e ecologia. Não se trata, contudo, de
ver nisso regressismo, oposição à busca de conhecimentos, à produção e à apropriação
de novas tecnologias. O que a lição de Chico Mendes aponta é para um novo paradig-
ma de relações, em que a ciência, a tecnologia e o desenvolvimento são legítimos e
buscados, na medida em que são a expressão da radicalização da democracia em todos
os planos da vida social.
255
256
6. A BACIA HIDROGRÁFICA
COMO UNIDADE DE ANÁLISE
E REALIDADE
DE INTEGRAÇÃO DISCIPLINAR
.....................................
Francisco A. R. Barbosa
João Antônio de Paula
Roberto L. de M. Monte-Mór
UM CONCEITO DE BACIA
HIDROGRÁFICA
Inicialmente, os esforços para aprimorar o
manejo dos recursos naturais enfocavam, via de re-
gra, grandes projetos: desenvolvimento industrial,
infra-estrutura, irrigação. Esses tipos de atividades têm
a característica de originar problemas ambientais
bem definidos. Em muitos casos, porém, principal-
mente nos países em desenvolvimento, o efeito cumu-
lativo de milhares, ou milhões, de micro-decisionmakers
acarreta problemas ambientais tão sérios quanto os
decorrentes de grandes empreendimentos.
Tradicionalmente, os esforços de prote-
ção do meio ambiente se deram no sentido de miti-
gar os impactos de grandes projetos. Tem sido mais
complicado, no entanto, influenciar e atuar sobre o
usuário de recursos naturais em pequena escala.
257
Um abordagem nova e mais abrangente se faz necessária. Esta deverá utili-
zar análises e formas de gerenciamento de caráter “multinível” para dar conta das
conseqüências tanto dos impactos de grandes projetos de desenvolvimento quanto
dos usuários individuais.
258
demanda crescente pelos recursos aquáticos causada pelo crescimento populacional
contínuo, urbanização, industrialização e irrigação certamente resultará na diminuição
da qualidade dos biomas aquáticos. A perda da diversidade registrada nos ecossistemas
de água doce começa a se estender para aos oceanos, particularmente nas áreas costeiras
mais rasas, uma vez que a capacidade dos ambientes aquáticos de absorver os impactos
(tamponamento) está sendo rapidamente perdida.
A grande diversidade biológica da maioria dos ecossistemas aquáticos, principal-
mente aqueles de água doce, constitui outra razão para sua conservação. Considerando-se
que a Terra é coberta por 2/3 de água e que a profundidade média dos oceanos é de aproxi-
madamente 4.000 metros, é razoável supor que a maioria das espécies aquáticas seria encon-
trada em mar aberto. Entretanto, isso não é verdade, pois as águas oceânicas são hábitats
relativamente uniformes, com baixa produtividade e contendo poucas espécies. A maioria
da diversidade biológica aquática está distribuída na plataforma continental, em recifes de
coral e na água doce. Assim, 41% dos peixes existentes são exclusivos da água doce, 1% vive
entre oceanos e água doce, 44% são espécies marinhas de águas rasas, 12% são espécies de
águas oceânicas profundas e apenas 1% são espécies de mar aberto (Cohen, 1970).
A diversidade de peixes nas águas marinhas rasas e na água doce é resultante
dos mesmos processos evolutivos responsáveis pela alta diversidade dos hábitats terres-
tres: especiação, seguindo eventos como movimentos orogênicos que isolaram áreas ou
flutuações do nível do mar, que formaram baías isoladas. Considerando que a água doce
cobre apenas 1% dos continentes e que a plataforma continental abrange uma área
inferior a 10% destes, a diversidade de espécies aquáticas é surpreendentemente alta.
Em termos gerais, os ecossistemas aquáticos têm maior número de taxa
mais elevados (famílias, ordens, phyla) do que os ecossistemas terrestres, existindo,
segundo Ray (1988), aproximadamente duas vezes mais phyla nos oceanos do que nos
ecossistemas terrestres. Por outro lado, os hábitats terrestres possuem maior riqueza de
espécies do que os aquáticos, principalmente devido à grande diversidade de insetos
e plantas com flores.
Essa grande biodiversidade aquática está contudo seriamente ameaçada, ten-
do como uma das causas principais o crescimento exponencial das populações humanas
e o conjunto de suas atividades, resultando nos mais diversos impactos para os ambien-
tes aquáticos. Para Moyle & Leidy (1992), as principais causas da perda da diversidade
biótica nos ecossistemas aquáticos podem ser divididas em cinco categorias:
usos da água através de ações como barramentos, canalização, irrigação, con-
trole de inundação, consumo doméstico e industrial, provocando competição
com a biota;
alterações dos hábitats: canalização, represas e barragens, assoreamento, de-
gradação de áreas alagáveis;
poluição: fontes puntuais, esgotos domésticos e industriais, poluentes agríco-
las, chuva ácida;
introdução de espécies exóticas;
exploração comercial de recursos.
259
A manutenção da biodiversidade aquática constitui portanto uma das ra-
zões básicas para a conservação, uma vez que a flora e a fauna têm um papel funda-
mental na sustentabilidade dos ambientes aquáticos e constituem uma fonte impres-
cindível de alimentos.
Segundo Tundisi & Barbosa (1995), a razão primordial para a conservação
dos ecossistemas aquáticos é o fato de a água doce ser um recurso limitado, passível
de ser aumentado até o momento apenas através do processo de dessalinização, de
custo muito elevado. Assim, embora cobrindo 71% da superfície da Terra, 94% de
toda a água encontram-se nos oceanos e portanto não prontamente utilizáveis para
as necessidades humanas; dos 6% de água doce, 27% formam as calotas polares,
72% é água subterrânea, restando 1% formando rios, lagos, atmosfera, que pode ser
prontamente utilizada. Considerando o aumento da demanda para garantir o cresci-
mento populacional e tecnológico (demofórico), o qual por sua vez resulta no au-
mento de esgotos e degradação, a conclusão óbvia é que esse recurso é limitado,
tornando necessária a implementação de medidas de conservação e recuperação
dos recursos disponíveis.
Tal necessidade é reforçada quando se considera que o consumo mundial de
água dobrou entre 1940-1980 e deverá dobrar novamente até o ano 2000. Segundo
dados da United Nations Environmental Programme-UNEP (1991/92), 40% da popula-
ção mundial (80 países) já sofrem de sérias limitações de água, dividindo bacias comuns
nas quais competição e conflito têm sido freqüentes.
Outra razão para a conservação de ecossistemas aquáticos segundo Tundisi &
Barbosa (1995) é o custo de tratamento para garantir o suprimento de água potável: US$
2,00 para tratar 1000m3 de água de boa qualidade contra US$ 8,00 para tratar o mesmo
volume de águas degradadas. Acrescente-se o fato de que os custos para recuperação são
muito maiores do que os custos com preservação e conservação.
O aumento de doenças de veiculação hídrica, particularmente nos trópicos
(schistosomose, cólera, malária etc.) constitui outra razão para tornar uma prioridade a
conservação de recursos hídricos. A esse respeito, Tundisi (1990) chama a atenção para
as relações entre a expansão geográfica de doenças tropicais, a construção de reservató-
rios, a conseqüente migração de populações e a deterioração da qualidade da água.
Considerando todos esses fatores, fica evidente que o recurso água é um recurso
finito e que qualquer ação no sentido de sua utilização sustentável tem que considerar a
conservação dos ecossistemas aquáticos.
Até a introdução do conceito de carga por Volleweider (1968), os ecossiste-
mas aquáticos eram vistos como sistemas isolados na paisagem, mantendo pequena
interação com o seu entorno. Com o novo conceito, problemas como eutrofização, con-
taminação e poluição em geral passaram a ser vistos com tendo suas origens/causas
freqüentemente fora do ambiente aquático, mostrando neste as conseqüências das ações
antrópicas na bacia. Em conseqüência, novos problemas conceituais passaram a ser dis-
cutidos, evidenciando a necessidade de uma abordagem integrada que considere não
260
apenas os aspectos biogeográficos mas também aqueles sócio-econômicos e o papel
que os mesmos desempenham na definição da qualidade da água e na deterioração dos
ecossistemas aquáticos. Essa visão introduziu também novas escalas de espaços e tem-
pos e novos conceitos de atividades interdisciplinares.
Tais idéias provocaram uma mudança no antigo paradigma de Forbes — o
lago como um microsmo (Forbes, 1887) —, como ressaltado por Rigler & Peters (1995),
resultando num conceito mais integrativo, segundo o qual a bacia da drenagem e as
inter-relações bacia/corpo d’água têm um papel fundamental. Assim, a bacia de drena-
gem e o conjunto de processos que nela atuam constituem a unidade de estudo, um
novo paradigma para a limnologia, na medida em que se constata que as ações visando
à conservação devem considerar o conjunto das atividades em toda a bacia de drenagem
e não apenas aquelas restritas ao corpo d’água.
Considerando as limitações das teorias anteriormente descritas e suas possibi-
lidades de aplicação para a conservação de ecossistemas aquáticos, Barbosa (1994) pro-
põe que três conjuntos de atividades sejam considerados como elementos fundamen-
tais para a definição de políticas e programas de conservação de ecossistemas aquáticos:
a bacia de drenagem e o conjunto de inter-relações dos fatores físicos e bióti-
cos devem ser tomados como unidade de estudo, para a qual as intervenções
devem ser planejadas;
os usos da água na bacia, dentre os quais o abastecimento público, a manuten-
ção da vida silvestre, o atendimento às necessidades da agricultura, indústria,
pecuária e atividades de lazer e recreação, devem ser priorizados, consideran-
do-se as especificidades regionais;
os aspectos sócio-econômicos devem ser incluídos nos programas de conserva-
ção e manejo, considerando que a melhoria da qualidade de vida das populações
humanas deve ser a principal meta, sem desconsiderar, porém, que essa qualida-
de de vida será tanto maior quanto menor for a degradação dos recursos naturais.
Uma mudança significativa decorrente desse novo paradigma para a limnolo-
gia é a necessidade de conceitos e ações interdisciplinares, segundo os quais a limnolo-
gia deve continuar desempenhando um papel fundamental na conservação e recupera-
ção dos ecossistemas aquáticos, incorporando, porém, as contribuições de áreas novas,
como por exemplo, a Engenharia Ecológica e Sócio-Economia Ambiental, de forma a
promover ações integradas e a utilização de ecotecnologias que considerem as ações
antrópicas e seus impactos na bacia de drenagem como um todo e para onde as ações
corretivas e/ou preventivas devem ser definidas, de modo a permitir a utilização susten-
tável dos recursos existentes.
O novo paradigma da bacia de drenagem como unidade de conservação im-
põe nova concepção no treinamento e formação pessoal: os curricula e o sistema de
ensino devem ser orientados no sentido de solucionar problemas práticos urgentes, para
o que uma abordagem interdisciplinar teórica e prática é fundamental, como sugerido
por Tundisi & Barbosa (1995).
261
O RIO COMO TESTEMUNHO-SÍNTESE
Escolhida a área da pesquisa de campo — a bacia do rio Piracicaba e suas
extensões próximas —, foi fundamental para efeito de operacionalização do projeto
encontrar, dentro da infinidade de aspectos constituintes da realidade ambiental, aquele
que fosse capaz de sintetizá-lo e ao mesmo tempo permitisse a convergência das disci-
plinas e métodos necessários à sua compreensão.
Tratava-se, nesse sentido, de encontrar um objeto que fosse abrangente e
sistêmico o suficiente que permitisse que se o compreendesse em sua totalidade e que
se prestasse a ser testemunho da realidade ambiental como um todo. Para tanto, escolhe-
ram-se 13 pontos amostrais no Rio Piracicaba e seus afluentes e sete pontos amostrais no
Rio Doce, como áreas-experimentos-testemunhos da realidade ambiental da bacia do
Rio Piracicaba e suas extensões próximas. Nesses pontos, durante dois anos e meio, em
períodos secos e chuvosos, foram coletadas amostras para mensurações de variáveis
físico-químicas e bióticas. A esses dados foram acrescentadas informações referentes à
biodiversidade faunística e florística terrestre e informações sócio-econômico-político-
culturais mediante pesquisas de campo e levantamento de dados secundários quando
pertinentes.
A articulação desses dados numa metodologia coerente é o grande desafio
que se enfrenta neste projeto. Uma dificuldade inicial refere-se à diversidade da escala
das informações e a heterogeneidade das fontes e recortes espaciais. Buscou-se respon-
der a esta mediante a montagem de base de dados e base cartográfica calibrados para
atender a diversos tipos de escalas e níveis de agregação.
Na verdade, tomar o rio como testemunho, como síntese, é abrir-se para a
multiplicidade dos seus papéis e registros. São vários os rios, como são várias as formas
de sua apropriação simbólica e material:
a. O rio dos viajantes — a visão do estrangeiro; dos viajantes que o percorrem
no século XIX;
b. O rio do antropólogo — a visão e o imaginário das populações ribeirinhas
sobre o rio;
c. O rio da literatura — o rio apropriado pela ficção e pela poesia;
d. O rio do geógrafo — o rio e sua região; o rio e sua bacia de drenagem;
e. O rio do historiador — o rio e as transformações de seus usos e perspectivas
ao longo do tempo;
f. O rio do economista — o papel econômico do rio; seus potenciais como
meio de transporte (inclusive de dejetos), fonte de energia, fonte de ali-
mentos, supridor de água;
g. O rio do hidrólogo e do biólogo — as características físico-químicas e a
realidade biótica do rio;
h. O rio legal — legislação, políticas e fiscalização de seus usos;
i. O rio da população — espaço de lazer, trabalho, fonte de alimento, meio
de transporte;
262
j. O rio do arqueólogo — as escavações dos depósitos produzidos pelas
ações do rio, datações e inventário de utensílios e modos de trabalho e
vida do passado;
k. O rio possível — políticas e medidas capazes de melhorar a qualidade do
rio e a qualidade de vida;
l. O rio-síntese — o rio como registro do passado e do presente e como indi-
cador da qualidade de vida e da biodiversidade.
O Rio Piracicaba foi — e ainda é — o principal elemento organizador do
espaço social na região. Ao longo de sua bacia implantou-se a Estrada de Ferro
Vitória-Minas, que se estendeu serra acima em busca dos minérios até interligar-
se, recentemente, à bacia do Rio das Velhas. À ferrovia seguiram-se as concentra-
ções urbano-industriais, assim como as principais rodovias e áreas massivas de
reflorestamento com a monocultura de eucaliptos. O rio e alguns de seus princi-
pais afluentes — os rios Conceição, Santa Bárbara, Peixe, Prata, Severo, entre
outros — condicionam a malha rodo-ferroviária e as principais atividades huma-
nas naquela bacia.
A análise das águas do Rio Piracicaba e seus afluentes nos permite assim
desconstruir e reconstituir as relações entre as atividades antrópicas e o meio ambiente
natural. A análise físico-química nos fornece uma visão estática, um retrato momentâ-
neo da drenagem da sua bacia, expressa em índices e medidas de elementos físico-
químicos em suas águas. A análise da biodiversidade encontrada em suas águas nos
permite identificar processos mais permanentes, na medida em que a sobrevivência e/
ou o desenvolvimento de certos organismos vivos refletem as condições ambientais
presentes no seu leito em períodos mais dilatados.
263
FIGURA 6.1
PONTOS DE COLETA
264
Ponto 6 João Monlevade (a jusante de João Monlevade)
- urbano/industrial (João Monlevade)
Ponto 7 Rio do Peixe (próximo à confluência com o Rio Piracicaba)
- urbano/mineração (Itabira e Nova Era) e garimpo de pedras preciosas (Nova Era)
Ponto 7a Drummond (Rio Piracicaba)
- caso controle (antes do encachoeiramento)
Ponto 8 Severo (Ribeirão Severo)
- reflorestamento com a monocultura de eucaliptos/agropecuária
Ponto 9a Cachoeira do Vale (Rio Piracicaba)
- caso-controle (efeito encachoeiramento, antes do Vale do Aço)
Ponto 9 Porto do Bote (a jusante de Timóteo e Coronel Fabriciano)
- urbano/industrial (Acesita)
Ponto 10 Cariru (à jusante da USIMINAS)
- urbano (Ipatinga) industrial (Usiminas)
Ponto 10a Ipanema (Ribeirão Ipanema)
- urbano (esgoto de Ipatinga)
Ponto 11c Rio Casca (Rio Doce)
- caso-controle (efeito do PERD), agricultura e pecuária
Ponto 11b Revés do Belém (Rio Doce no PERD)
- depuração do PERD, monocultura de eucaliptos
Ponto 11a Porto de Areia (Rio Doce após a confluência com o Rio Piracicaba e
Ribeirão Ipanema)
- urbano/industrial (Ribeirão Ipanema + Rio Piracicaba)
- efeito diluidor do Rio Doce
Ponto 12 Cenibra (a montante da Cenibra)
- urbano (Ipaba)
- caso-controle
Ponto 13 Cenibra (a jusante da Cenibra)
- industrial (Cenibra)
Ponto 14 Cachoeira Escura (a jusante da Cachoeira Escura)
- capacidade depuradora da cachoeira
265
Ponto 2
G2 + M2 (Samarco e Samitri)
Ponto 3
U3 (Barão de Cocais) + I3 (Cosígua)
Ponto 4
U4 (Santa Bárbara) + M4 + ∑1 + ∑3
Ponto 5
M5 + ∑4 - D5 (barragem de Peti)
Ponto 6A
U6 (Rio Piracicaba) + G6 + ∑2
Ponto 6
I6 + U6 + ∑6a - D6 (barragem de João Monlevade)
Ponto 7
U7 (Itabira) + M7 (parte da Companhia Vale do Rio Doce)
Ponto 7a
G7a + U7a (Nova Era, São Domingos do Prata e Bela Vista de Minas) + ∑5 + ∑6 + ∑7
Ponto 8
R8 + A8
Ponto 9a
U9a (Antônio Dias, Jaguaraçu e Marliéria) + ∑7a + ∑8 - D9a (encachoeiramento
e represa)
Ponto 9
U9 (Timóteo) + I9 (Acesita) + U9 (lixão e parte da área urbana de Coronel
Fabriciano ) + ∑9a
Ponto 10
U10 (Coronel Fabriciano e parte de Ipatinga) + I10 (Usiminas) + ∑9
Ponto 10a
U10 (Ipatinga)
Ponto 11c
∑11 (∑ Rio Doce)
Ponto 11b
U11b (Bom Jesus do Galho, Entre Folhas, Córrego Novo) + ∑11c - D11b (PERD)
Ponto 11a
∑10A +∑10 +∑11b
Ponto 12
U12 (Ipaba) + ∑11a
Ponto 13
I13 (Cenibra) + U13 (Santana do Paraíso) + ∑12
Ponto 14
∑13 - D14 (Cachoeira Escura)
266
Posteriormente às primeiras medições e em função do avanço dos estudos
antrópicos nas sub-bacias, foram incluídos outros cinco pontos para controle e melhor
comparação entre os pontos iniciais, de modo a incluir aspectos adicionais, tais como:
medição das condições do Piracicaba antes de receber os esgotos industriais e urbanos
da cidade de João Monlevade e da Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira; medição no Rio
Piracicaba após receber seus principais afluentes (Santa Bárbara, Peixe e Prata) e antes
de descer a serra em direção à planície, quando o efeito de oxigenação provocado pelas
quedas de altitude promove recuperação natural da qualidade da água; medição antes
de receber o esgoto industrial e urbano do Vale do Aço; medição no Rio Doce, antes do
Parque Estadual do Rio Doce, de modo a tentar-se determinar o “efeito Parque”;
medição na foz do Ribeirão Ipanema, cuja microbacia contém integralmente o municí-
pio mais populoso da região, Ipatinga (excluindo o esgoto da Usiminas, lançado direta-
mente no Piracicaba).
Os 20 pontos amostrais resultantes estão localizados na Figura 6.1 e descritos
em suas grandes características no quadro. A coleta de material para análise físico-quími-
ca e biológica vem sendo feita em cada ponto nos períodos de chuvas e de seca (iniciada
em julho de 1993, até dezembro de 1995; no caso dos cinco pontos adicionados, foram
feitas apenas duas coletas em 1995). O material coletado engloba aspectos físico-quími-
cos e da biodiversidade, sendo medidas as seguintes variáveis:
1. Físico-químicas:
temperatura da água; oxigênio dissolvido; pH; alcalinidade total; conduti-
vidade elétrica; sílica solúvel “reativa”; amônia; nitrito; nitrato; nitrogênio
total; orto-fosfato; fósforo total; metais pesados; granulometria; teor de ma-
téria orgânica e cinzas; clorofila-a.
2. Biológicas:
Fitoplâncton: número de taxa; densidade; composição em espécies; ri-
queza e diversidade de espécies.
Zooplâncton: número de taxa; densidade; composição em espécies; ri-
queza e diversidade de espécies.
Benton: número de taxa; densidade; composição em famílias; riqueza de
famílias; EPT; Chironomidae.
Peixes: diversidade; composição em espécie;capturas por unidade de es-
forço em números e biomassa.
As variáveis medidas foram escolhidas em função do seu significado ecológico,
isto é, do que podem informar sobre os processos ecológicos observados no meio aquático
estudado. Considera-se que as variáveis físico-químicas determinam, em última instância,
as condições dos diversos hábitats onde a vida aquática se desenvolve. Essas condições
são alteradas, entretanto, pelas próprias atividades da biota, isto é, pela interação entre os
organismos vivos e as condições específicas dos hábitats. O objetivo é conhecer e carac-
terizar os ambientes aquáticos amostrados do ponto de vista físico-químico para que se
possa interpretar a estrutura e funcionamento das comunidades em estudo.
267
Além das variáveis medidas em cada ponto amostral, estão sendo utilizados
dados de vazão existentes na literatura técnica especializada e em outros estudos, e a
altitude, medida localmente com altímetro de precisão.
Quanto aos aspectos sócio-econômicos, buscou-se uma abordagem que evi-
tasse um amplo diagnóstico tradicional de economia e/ou planejamento regional. Trata-
va-se de compreender aspectos locacionais e organizacionais das principais atividades
desenvolvidas na bacia em função de seus impactos ambientais sobre os rios. Para tanto,
identificamos as áreas de estudo onde os levantamentos locais e regionais deveriam
concentrar-se: indústria; mineração; agropecuária e reflorestamento com a monocultura
de eucaliptos; estruturação espacial e urbana; políticas públicas, cultura e organização
social. Os estudos nessas áreas envolvem os aspectos históricos de formação e organiza-
ção do espaço regional e urbano e um cuidadoso levantamento de dados secundários
disponíveis, entrevistas com representantes das instituições públicas, empresariais e
comunitárias atuantes na bacia, além de observações diretas em campo.
Uma série de aspectos ligados à metodologia interdisciplinar e à organização dos
dados disponíveis colocaram enormes dificuldades e desafios ao trabalho. Em primeiro
lugar, a interdisciplinaridade metodológica exige um esforço especial de integração de
objetivos, linguagens, métodos de trabalho e de conhecimento das subáreas no sentido de se
construir uma abordagem-síntese comum. Essa é uma tarefa permanente, cujo desenvolvi-
mento exige um esforço de médio prazo, se pretende chegar a resultados satisfatórios.
Em segundo lugar, como nosso espaço referencial, nosso território e escala
de trabalho são as micro- e sub-bacias da região, a organização dos dados sócio-econô-
micos disponíveis torna-se difícil e trabalhosa, visto que os dados estão organizados
por municípios, microrregiões homogêneas, macrorregiões planejadas para estados
como um todo. Assim, apenas por meio de observações de campo e da utilização de
informações adicionais (municipais, da Sucam, atual FNS), pode-se reorganizar o
espaço ocupado segundo categorias espaciais ainda não-oficiais ou inexistentes (no
caso, as bacias hidrográficas).
Para integração analítico-metodológica, dividimos a bacia do Rio Piracicaba
em seis outras sub-bacias: Santa Bárbara/Conceição; Alto Piracicaba; Peixe; Médio Pira-
cicaba (englobando o Prata e Severo); Baixo Piracicaba; Médio Doce. Ainda que a
utilização das sub-bacias cumpra o papel de referenciar o trabalho a nível microrregio-
nal, para a aplicação da metodologia conjunta tornou-se necessário pensar em sub-bacias
menores, correspondentes aos pontos de coleta (individualmente ou em conjunto), exi-
gindo dessa forma um detalhamento maior. Buscou-se, então, identificar os principais
elementos impactantes sobre — e potencialmente expressos em — cada ponto amos-
tral, de forma a se proceder a uma análise comparativa do conjunto do rio.
Assim, os pontos estão sendo analisados segundo suas características naturais
e antrópicas (de sua bacia), buscando-se identificar e medir os aspectos principais das
duas abordagens: das ciências sociais e biológicas. O quadro sistematiza alguns aspectos
principais a serem considerados quando da análise dos resultados das análises físico-
químicas e biológicas em cada ponto.
268
A articulação das duas abordagens — sócio-econômica e biológica — surge
quando correlações e causalidades podem ser identificadas, somando-se num diagnósti-
co ambiental mais agudo, tanto no balizamento das medições dos biólogos quanto nas
conclusões sobre as possíveis diversas causas e impactos das atividades antrópicas nas
condições ambientais e na qualidade de vida no rio.
Paralelamente, estudos disciplinares que dialogam com a problemática am-
biental vêm sendo desenvolvidos nas áreas da economia, demografia, urbanismo e sa-
neamento, estudos regionais sobre políticas públicas e história. Esses estudos também
vêm contribuir diferenciadamente para a espacialização dos dados e informações, para a
quantificação e qualificação de processos e na construção de índices referenciais que,
utilizando cartografia geo-referenciada, alimentem a metodologia analítica centrada
nos pontos amostrais e nas bacias hidrográficas.
269
270
O S R E S U L T A D O S
271
7. ATIVIDADES ANTRÓPICAS
E IMPACTOS AMBIENTAIS
......................................
Alisson F. Barbieri (Coord.)
Cláudio B. Guerra (Coord.)
Haroldo G. Torres
Rodrigo F. Simões (Coord.)
Alessandra V. Reis
Cláudio Scliar
Renata O. de O. Abdo
Sérgio E. B. Lins
O SETOR INDUSTRIAL
O estudo das conseqüências ambientais
das transformações ocorridas na esfera econômica e
da vida social não é tarefa simples, particularmente
se o objeto dessa reflexão não é apenas o dimensio-
namento desse impacto em termos físicos ou bióti-
cos, mas a compreensão dos processos ambientais
articulados aos processos sociais. Existem, nesse caso,
pelo menos três níveis diferenciados de questões (ou
limitações) que um analista dos problemas sócio-
ambientais tem que enfrentar.
Uma primeira limitação tem a ver com o
fato de que, como já mencionamos, o espaço quase
nunca é entendido como parte de um ambiente mais geral que, mesmo tendo sido
transformado, continua tendo características naturais e continua a condicionar os pro-
cessos de ocupação. Admitir essa proposição implica, inevitavelmente, reduzir o nível
de generalidade das análises: embora a poluição industrial possa ser considerada um
problema em si, seus impactos são muito diferenciados segundo as condições naturais.
Cidades como Cubatão, Los Angeles e Santiago (com evidentes problemas de disper-
são de poluentes) confirmam largamente esse argumento. Em outras palavras, os pro-
blemas ambientais variam segundo o ecossistema.
Uma segunda limitação essencial tem a ver com a identificação das diversas fon-
tes potenciais de degradação ambiental. Goldsmith (1993) sugere três “causas” mais gerais:
as de origem industrial, as relacionadas ao sistema de transporte e as de origem doméstica.
Nem sempre é simples a nível empírico separar os efeitos de cada uma dessas fontes.
Finalmente, um terceiro e importante aspecto da questão ambiental urbana
tem a ver com as relações entre o pólo e sua área de influência. Nesse item, além dos
impactos da indústria sobre outras atividades, no que diz respeito principalmente ao
uso de recursos naturais, há que se considerar também outros fluxos, tais como econô-
micos e migratórios1 .
Além dessas limitações, temos que levar em conta a falta de dados que nos
permitam compreender, de forma mais definitiva, como se articulam produção e polui-
ção industrial no bacia do Rio Piracicaba. Ainda assim, através de uma leitura crítica
dos indicadores quantitativos e qualitativos existentes, buscaremos estabelecer algu-
mas dessas conexões.
AMBIENTE E INDÚSTRIA
DE BENS INTERMEDIÁRIOS EM MINAS GERAIS
Defendemos a hipótese de que Minas Gerais tem baseado seu desenvolvi-
mento industrial no sentido de incorporar setores industriais sujos e intensivos em
recursos naturais (Torres, 1992). Quando elaborada, essa hipótese baseava-se nos se-
guintes argumentos:
a. Grande parte do crescimento da indústria em Minas Gerais deveu-se à
especialização do Estado na chamada indústria de bens intermediários2 ;
b. A indústria de bens intermediários é mais poluente e intensiva em recur-
sos naturais do que a média das indústrias. A maior parte dos recursos
naturais consumidos pela indústria mineira de bens intermediários é pro-
duzida no próprio Estado (Torres, 1992).
Tentávamos, a partir desses argumentos, mostrar que o crescimento da in-
dústria de bens intermediários definia uma certa inserção ambiental do Estado na divi-
são regional do trabalho, com graves conseqüências para a qualidade ambiental. No
Uma vez que trataremos apenas do impacto direto das empresas, esse aspecto será menos considerado.
1
Incluímos nessa categoria os gêneros minerais não-metálicos, metalurgia, papel e celulose e química. Tais
2
setores respondiam por 50,2% do Valor de Transformação Industrial (VTI) mineiro em 1970 e 55,9% em 1985.
274
entanto, essa análise era fragilizada pela baixa qualidade da informação ambiental en-
tão disponível. Afinal, o argumento sobre o impacto diferencial desse segmento era
baseado em informações fragmentadas.
Mais recentemente, com o acesso a outras fontes bibliográficas, pudemos fun-
damentar melhor as hipóteses a respeito do impacto ambiental das indústrias de bens
intermediários. Identificamos, por exemplo, autores norte-americanos, como Leonard
(1988), que buscaram observar o problema a partir de dois “novos” tipos de indicadores:
a. O registro das indústrias fechadas nos Estados Unidos por causa da poluição.
Sua conclusão é que o número de plantas fechadas por questões exclusi-
vamente ambientais é muito baixo, não permitindo uma conclusão a
respeito dos setores mais poluentes a partir desse indicador. Tal resultado
correspondeu ao obtido pela OIT (1990).
b. Estatísticas de gastos dos diversos setores industriais no controle de poluição.
Com base nesse indicador, o autor chegou à conclusão de que apenas
quatro setores (papel e celulose, mineração e beneficiamento mineral,
química e petróleo) pagaram mais de dois terços de todo o gasto com
controle de poluição nos EUA, entre 1970 a 19843 .
Sem dúvida, essa hipótese implícita, de que o gasto com controle da poluição
seria proporcional à poluição emitida pelos diversos setores industriais, é problemática.
Afinal, investimentos antipoluição dependem do volume total de investimentos no gê-
nero industrial em questão, bem como do custo das diversas tecnologias adotadas.
Porém, mesmo que essas limitações fossem menos importantes, este indica-
dor só poderia ser obtido em países onde o controle da poluição fosse homogêneo tanto
em termos regionais quanto setoriais. Em outras palavras, além das dificuldades para a
obtenção de dados, sua aplicabilidade seria muito reduzida em países como o Brasil.
Mais recentemente, surgiram outras alternativas metodológicas. O relatório
Toxics Release Inventory, publicado pela Agência Ambiental do governo norte-america-
no (EPA, 1995), apresenta, por exemplo, o volume físico de emissões dos principais
poluentes gerados por mais de vinte mil indústrias norte-americanas. Trata-se do mais
completo levantamento sistemático de dados sobre poluição de origem industrial atu-
almente disponível no mundo.
Pela primeira vez, aproximamos-nos de uma evidência muito poderosa de
que as chamadas indústrias de bens intermediários têm efetivamente um impacto subs-
tantivo sobre o volume total de poluentes emitidos pela indústria. De fato, ao obser-
varmos os dados agregados desse relatório e considerando apenas os chamados resídu-
Leonard (1988) estuda também os investimentos, as importações e exportações desse segmento. Sua
3
conclusão é que, apenas para os subsetores de processamento mineral (cobre, zinco e chumbo principal-
mente) e químico (amianto, arsênio, benzeno e pesticidas), existem evidências de migração de plantas
industriais dirigidas a número pequeno de países: Brasil, México, Irlanda e Espanha, principalmente.
Seriam, de modo geral, setores decadentes ou cujo momento do ciclo do produto implica simultanea-
mente a possibilidade de expansão internacional e a necessidade de redução de custos articulado a outros
fatores locacionais.
275
os metálicos e resíduos cancerígenos, podemos afirmar que os setores de metais primá-
rios, produtos químicos, plásticos de papel e celulose respondem por uma parcela im-
portante do total de poluentes gerados (EPA, 1995).
Evidentemente, o peso desses setores na poluição total tem a ver não ape-
nas com a poluição efetivamente gerada por eles, mas também com as características
da estrutura industrial norte-americana. No entanto, como se trata de uma estrutura
industrial diversificada, onde esses setores (de bens intermediários) vêm perdendo
participação relativa (Leonard, 1988), podemos realmente afirmar que esse grupo de
indústrias é o mais significativamente poluente (e intensivo em recursos naturais) en-
tre todos os gêneros industriais existentes.
Assim, podemos afirmar agora, com muito mais propriedade, que o Estado
de Minas, cuja atividade industrial se concentra na produção de bens intermediários
(56% em 1985), reúne indústrias altamente poluentes. A região objeto de nossa inves-
tigação, a bacia do Rio Piracicaba, constitui no Estado a maior concentração de indús-
trias siderúrgicas e de celulose. Em conseqüência, trata-se de uma área crítica em ter-
mos de controle da poluição.
No caso específico da poluição hídrica, objeto ainda mais restrito de nosso
empreendimento, podemos observar que o setor de metais primários é responsável
pela emissão de 31,19% (em termos de peso) dos compostos metálicos lançados na
água por indústrias americanas e por 3, 69% de todos os poluentes cancerígenos lança-
dos na água. A indústria de papel e celulose, também presente na região em estudo,
responde por 18,23% dos poluentes metálicos ou de componentes metálicos e por
20,13% dos cancerígenos (EPA, 1995).
Em síntese, estaremos falando dos setores industriais mais poluentes, mes-
mo em países onde a legislação ambiental se encontra desenvolvida e implementada.
Estaremos também falando de indústrias em diferentes estágios técnicos e de um sis-
tema de monitoramento e controle ambiental relativamente precário.
METODOLOGIA
Como forma geral de organizar este trabalho, partimos de três opções meto-
dológicas bastante simples: trabalhar apenas com cinco empresas, que respondem por
mais de 80% do valor de produção da indústria de transformação da região e que são as
mais poluentes; considerar apenas um leque restrito de poluentes, os mais freqüente-
mente monitorados; buscar associar esses poluentes com os volumes de produção ge-
rados por essas indústrias. As principais justificativas de tais opções são as seguintes:
a. A leitura do texto Cetec (1988a), a respeito das fontes de poluição
hídrica no bacia do Rio Piracicaba, revelou que um número pequeno
de indústrias era responsável por uma parcela significativa da poluição
industrial produzida na área do Piracicaba. De fato, excluída a polui-
ção industrial hídrica de origem orgânica (cujo principal gerador era a
usina Alcoolprata, já fechada), o documento indica que apenas quatro
empresas do setor siderúrgico (Usiminas, Acesita, Cosígua/Cimetal e
Belgo-Mineira) eram responsáveis por mais de 80% de toda a poluição
276
industrial potencial4 . A única outra grande empresa próxima é a Cenibra,
que, no entanto, não constava desse relatório. Assim, nossa primeira opção
metodológica no escopo do presente estudo foi o de reduzir o âmbito de
nossa investigação para estes dois gêneros industriais apenas, bem como
trabalhar com apenas cinco empresas. Vale mencionar que, dado o seu por-
te, sua importância regional e o volume de recursos financeiros, humanos e
materiais mobilizados, não se trata de opção reducionista, mas que abarca
um volume significativo de produção e de geração de poluentes.
b. O documento do Cetec (1988a) também mostrou que, ao menos do ponto
de vista das indústrias siderúrgicas, existia um leque muito preciso de
indicadores de poluição hídrica a ser pesquisado: presença de sólidos em
suspensão (turbidez), óleos e graxas, amônia, fenóis, cianeto e fluoreto5 .
A vantagem desses indicadores é que eles não são, de modo geral, influ-
encidos pela poluição derivada do processo de urbanização, permitindo,
assim, isolar os efeitos produzidos diretamente pela indústria. Assim, as-
sumimos, como segunda opção metodológica, que os registros de sua pre-
sença nas águas do Rio Piracicaba refletiam sobretudo essas atividades
industriais, das áreas próximas aos pontos de coleta de dados6 ;
c. No entanto, nosso problema não tem a ver apenas com a estimativa do
volume de poluentes, mas sua comparação com o volume de produção.
Afinal, embora não assumamos inteiramente as abordagens reducionistas
que avaliam projetos exclusivamente a partir da comparação entre seus
custos e benefícios traduzidos apenas em termos monetários, é evidente
que, quanto maior o volume de produção, emprego e renda por unidade
de poluente gerado, maior a probabilidade de essa mesma poluição ser
“aceitável” do ponto de vista social7 . Em outras palavras, nessa reflexão
sobre as conseqüências ambientais do processo de industrialização do bacia
do Rio Piracicaba não podemos adotar apenas o sentido da denúncia con-
tra a poluição gerada, mas considerar os interesses contraditórios gerados
ao longo do tempo, bem como — por que não? — os benefícios em ter-
mos de emprego e renda eventualmente gerados por tal processo.
Um aspecto decepcionante do estudo foi o fato de estar baseado em potenciais de poluição e não em
4
medições diretas de volume de emissões: “o parâmetro utilizado para aferir a estimativa de emissão é o
“Fator de Emissão”, que expressa a quantidade de poluente (em kg) emitida em cada tonelada de produ-
to obtido ou de matéria-prima utilizada pela indústria. Os fatores de emissão utilizados neste trabalho são
extraídos, em sua maior parte, de uma literatura americana e refletem, portanto, a tipologia industrial
existente no país” (Cetec, 1988a: 6).
Outros poluentes, como metais pesados, por exemplo, não foram aqui considerados por falta de dados.
5
O estudo da Cenibra exige, por suas caracteríticas técnicas específicas, outra abordagem metodológica,
6
Precisamos, no entanto, ter presente que aos diferentes grupos sociais são atribuídos diferentes “custos”
7
e “benefícios”, enquanto outros só participam dos custos. Por isso a comparação entre essas duas dimen-
sões calculadas em termos exclusivamente monetários pode obscurecer “tragédias sociais” que, não raro,
se manifestam na elaboração de projetos no Brasil.
277
Embora simples, essa metodologia revelou-se bastante complexa do ponto
de vista das fontes de dados. De modo geral, foi mais simples obter indicadores de
poluição do que relacioná-los com o volume da produção realizada por essas empresas.
Além disso, as informações obtidas, que são afetadas pelas características técnicas de
sua coleta, podem também ser distorcidas em face dos interesses e pressões em jogo
no campo ambiental.
Para contornar essa limitação, adotamos uma metodologia matricial, por meio
da qual procuramos cotejar as diversas informações obtidas nas diversas fontes. Para
um leitor rigoroso, parecerá talvez uma metodologia arbitrária, uma vez que se baseia
numa base empírica precária. No entanto, aquele mais familiarizado com as dificulda-
des técnicas de empreendimentos desse tipo compreenderá o esforço aqui realizado,
bem como os cuidados que buscamos adotar para apresentar um resultado o mais cien-
tífico possível. As características dessa abordagem matricial, que também poderia ser
chamada de check and balance, são apresentados a seguir.
278
O CASO DO SETOR SIDERÚRGICO
Segundo levantamentos feitos pela Feam/Copam, até 1985 as principais
empresas do bacia do Rio Piracicaba praticamente não eram monitoradas quanto ao
seu impacto sobre os recursos hídricos. A partir daquele ano, passam a ser assinados os
chamados “termos de compromisso” (TC), documentos em que as empresas assu-
mem junto às autoridades ambientais do Estado o compromisso de implantar medidas
mitigadoras quanto aos impactos ambientais de suas atividades industriais (Braga, 1995)8 .
No entanto, a simples assinatura desses termos de compromisso nem sempre
são indicativos consistentes de que a qualidade da água venha a melhorar. De fato, entre
1990 e 1994 só a Acesita e a Usiminas foram autuadas três vezes cada uma por descum-
prir os acordos (Braga, 1995). Além disso, não necessariamente o órgão ambiental esteve,
ao longo do tempo, em condições técnicas e políticas de exercer o monitoramento.
Em outras palavras, o levantamento do fluxo de documentos relativos à autu-
ação e ao monitoramento dessas empresas, embora importante, não é suficiente para
configurar sua atuação ambiental concreta. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é,
sobretudo, fornecer subsídios para a avaliação do impacto ambiental desses empreendi-
mentos industriais da bacia do Rio Piracicaba sobre os recursos hídricos. Para fins analíti-
cos, consideraremos separadamente os impactos da siderurgia e da produção de celulose.
Nos últimos dez anos, as quatro indústrias siderúrgicas mais importantes da
bacia (Usiminas, Acesita, Belgo e Cosígua) produziram um volume de aço superior a 50
milhões de toneladas. Essa produção, em termos monetários, significou um faturamento
em torno de 40 bilhões de dólares e aproximadamente 30 mil empregos diretos. Se con-
siderarmos os empregos indiretos e os impostos arrecadados, podemos ter a dimensão da
importância regional e mesmo nacional dessas empresas (Paula, 1993). No entanto, toda
essa produção não se deu sem impactos ambientais diretos e indiretos importantes. Dis-
cutimos a seguir os impactos diretos sobre os recursos hídricos da região.
A Acesita, por exemplo, foi convocada em 1985 e assinou o TC em 1990. A Cenibra foi convocada em
8
1986 e assinou esse termo no mesmo ano. A Usiminas foi convocada em 1986 e assinou o TC em 1990
(Braga, 1995).
Há que se considerar, por outro lado, que a coqueria constitui um equipamento crítico para o aumento de
9
produtividade das siderúrgicas, somente viabilizado a partir de uma escala de produção de um milhão de
toneladas ano (Pinho & Ruiz, 1995).
279
TABELA 7.1
..............................................................................................................
FATORES DE EMISSÃO (KG/TON) DE POLUENTES HÍDRICOS SEGUNDO UNIDADES DE PRODUÇÃO DAS SIDERÚRGICAS
280
..............................................................................................................
FeSO4 - - - - - - 5,13 - 5,13
Emulsões - - - - - 0,15 - - 0,15
TABELA 7.2
PRINCIPAIS TIPOS DE EQUIPAMENTOS UTILIZADOS
...................................................
PELAS
Equipamentos Principais
SIDERÚRGICAS DA BACIA DO RIO PIRACICABA
...................................................
Laminador de Barras - - x -
Zincagem Eletrolítica x - - -
281
b. A Belgo e a Acesita, empresas consolidadas, as mais antigas dentre as insta-
ladas na região, com importante participação nos seus mercados (trefilados
e aços especiais, respectivamente) e até recentemente as únicas integradas
operando a carvão vegetal, podem ser enquadradas na categoria de tecnolo-
gias típicas, muito embora a utilização de carvão vegetal, incomum interna-
cionalmente, implique problemas para essa classificação;
c. A Cosígua, a menor entre as empresas consideradas, que opera com uma
linha de produtos pouco enobrecida e com equipamentos de menor porte
(Pinho e Ruiz, 1995), pode ser também, sem maiores problemas, ser agru-
pada entre as que operam com tecnologias antigas.
Esse enquadramento das empresas da bacia do Rio Piracicaba nas categorias
de tecnologia siderúrgica apresentadas acima, bem como a consideração sobre os equi-
pamentos especificamente utilizados por essas mesmas empresas (Tabela 7.2), permi-
te-nos propor uma matriz que apresenta a emissão teórica de poluentes de forma mais
específica (Tabela 7.3).
Nessa nova tabela, uma empresa como a Usiminas — identificada como sen-
do de tecnologia avançada — terá seus fatores de emissão (de cada atividade) somados,
exceto para os poluentes gerados no processo de sinterização, uma vez que não dispõe
dessa unidade; uma empresa do tipo da Belgo-Mineira, identificada como sendo de
tecnologia típica, terá seus fatores de emissão considerados para as unidades de sinte-
rização, alto-forno, aciaria, decapagem e laminação a quente; uma empresa como a
Acesita, também identificada como típica, terá seus fatores de emissão considerados
para as unidades de alto-forno, aciaria, laminação a quente, laminação a frio e decapa-
gem; finalmente, uma empresa do tipo da Cosígua, identificada como sendo de tecno-
logia antiga, terá seus fatores de emissão considerados para as unidades de alto-forno,
aciaria e laminação a quente10 .
A Tabela 7.3 mostra (ao contrário do senso comum) que, em determinadas
circunstâncias, mesmo as empresas que utilizam tecnologias avançadas podem apre-
sentar fatores de emissão (segundo determinados parâmetros) mais elevados do que as
que utilizam tecnologias antigas. Nesse caso, a presença da coqueria entre as unidades
de produção consideradas é crítica para que esse tipo de empresa apresente fatores de
emissão mais elevados, particularmente para os parâmetros de sólidos em suspensão,
fenóis, cianeto, amônia e emulsões11 .
Vale advertir, no entanto, que esses fatores de emissão são teóricos, referin-
do-se, por um lado, ao volume de emissão por unidade de produto (kg/tonelada) e, por
outro, à especificidade da organização técnica do processo de produção de uma instala-
ção industrial específica. Normalmente, nem a legislação ambiental nem o monitora-
mento ambiental são pensados segundo esses parâmetros.
Existem equipamentos considerados na Tabela 7.2 para os quais não existem indicadores de poluição
10
hídrica. Não foram nesse caso considerados. A decapagem, entendida como o processo de lavagem quí-
mica das chapas de metal para remoção da ferrugem e não um como equipamento propriamente dito, foi
assumida como sendo uma tecnologia utilizada apenas pela siderurgia avançada e típica.
11
Excluímos das tabelas 7.1 e 7.3 os dados referentes a zinco, estanho e cromo.
282
Afinal, a legislação refere-se, por exemplo, à emissão de mg de poluentes
por litros de efluentes gerados12 . Além disso, todos os dados de monitoramento do
Cetec, da Feam/Copam e do próprio projeto PADCT têm sido obtidos a partir de
amostras de água colhidas a montante e a jusante das unidades industriais, isto é, tam-
bém apresentados como mg de poluentes por litro de água amostrado. Em outras pala-
vras, embora tenhamos sempre defendido a proposição de que as empresas devem
adotar tecnologias e estratégias de controle ambiental que ultrapassem a lógica do end
of the pipe13 , há que se reconhecer que tanto a legislação quanto as próprias estratégias
de monitoramento são também organizadas a partir dessa lógica.
TABELA 7.3
FATORES DE POLUIÇÃO DE SIDERÚRGICA (KG/TON) DE ACORDO COM O TIPO DE
TECNOLOGIA, CORRIGIDOS SEGUNDO A NATUREZA DOS EQUIPAMENTOS EMPREGADOS PELAS
...................................................
SIDERÚRGICAS DA BACIA DO RIO PIRACICABA, MINAS GERAIS (1995)
...................................................
FeSO 4
4,77 5,97 5,97 -
Emulsões 0,53 - 0,18 -
Fonte: Elaboração dos autores a partir do cruzamento das tabelas 7.1 e 7.2.
Assim, não podemos considerar a Tabela 7.3 como a síntese de nossa matriz
teórica. Para obtê-la, precisamos converter sua unidade de medidas, de forma a asse-
gurar sua comparabilidade com os demais indicadores existentes tanto na legislação
quanto nos dados de monitoramento. Assim, converteremos kg de poluentes por tone-
lada de produto em mg por litro de efluente. Utilizaremos para isso os dados de vazão
de efluentes por tonelada de produto, segundo o tipo de tecnologia empregada e o tipo
de unidade de produção utilizado (Tabela 7.4).
O resultado dessa conversão não deixa de ser surpreendente. Afinal, mesmo
apresentando na Tabela 7.3 o maior volume de poluição por tonelada de produto para
12
Ver, por exemplo, a Deliberação Normativa 010/86 da Copam/MG.
Trata-se de tratar os efluentes na saída do processo industrial e não pensar a questão ambiental da indús-
13
tria ao longo das diversas etapas do processo produtivo. Ver, a propósito, Braga (1995), para o caso das
empresas do Rio Piracicaba.
283
cinco fatores de emissão (sólidos em suspensão, fenóis, cianeto, amônia e emulsões), a
empresa teórica de tecnologia avançada (tipo Usiminas) apresenta na Tabela 6 o me-
nor volume de poluição por litro de efluente para três desses mesmos fatores (sólido
em suspensão, cianeto e emulsões). No entanto, esse paradoxo é explicado pelo fato
de a vazão total de efluentes dessa empresa teórica ser mais do dobro da vazão das
demais empresas consideradas14 .
TABELA 7.4
A MATRIZ TEÓRICA: FATORES DE EMISSÃO DE SIDERÚRGICAS (MG/L), DE ACORDO COM O
TIPO DE TECNOLOGIA, CORRIGIDOS SEGUNDO A NATUREZA DOS EQUIPAMENTOS
................................................
EMPREGADOS PELAS SIDERÚRGICAS DA BACIA DO RIO PIRACICABA, MINAS GERAIS (1995)
................................................
FeSO4 92,44 238,42 242,98 -
Emulsões 10,27 - 7,33 -
Fonte : Elaboração dos autores a partir do cruzamento das tabelas 7.1 e 7.2.
Cabe indagar que o indicador de poluição é o mais conveniente do ponto de vista de uma reflexão sobre
14
284
d. Espera-se que empresas com equipamentos e tecnologia do tipo da Usi-
minas apresentem níveis mais elevados de poluição hídrica para fenóis,
amônia e emulsões.
Essa matriz teórica, no entanto, não reflete a realidade dos equipamentos e
políticas de controle ambiental efetivamente implementados pelas empresas e pelas
agências ambientais de Minas Gerais. Além disso, sua referência temporal (1985) é
bastante defasada, não refletindo a evolução técnica e de controle ambiental efetiva-
mente ocorrida desde então. Para incorporar essas dimensões, discutimos na próxima
seção a matriz institucional.
QUADRO 7.1
INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS AMBIENTAIS NA USIMINAS,
...................................................
Empresa
BELGO-MINEIRA, ACESITA E COSÍGUA, APÓS 1990
...................................................
Recirculação dos efluentes da ETE;
Tratamento do esgoto sanitário.
285
Não necessariamente, no entanto, esse avanço pode ser totalmente credita-
do ao papel do Estado. No período recente, o avanço do movimento ecológico a nível
nacional e internacional implicou uma crescente exposição das empresas a riscos de
comprometimento da sua imagem institucional e mesmo de perda de mercados em
função de sua imagem quanto à questão ambiental. De toda maneira, não se trata de
investigar, neste texto, os efeitos da ação do Estado sobre as atividades ambientais das
siderúrgicas do Piracicaba, mas de tentar compreender os impactos concretos da ação
dessas empresas sobre o rio.
Nesse sentido, sabemos que nossa matriz teórica baseada em dados de 1985
(Tabela 7.4) deve ser corrigida no sentido de incorporar os avanços das empresas na área
de controle ambiental nos últimos dez anos. No entanto, não podemos adotar a postura
ingênua de acreditar que a adoção de meios de controle ambiental implique, por defini-
ção, a melhoria da qualidade da água. Por isso, detalharemos aqui as informações tanto a
respeito da legislação quanto do efetivo monitoramento ambiental realizado.
A LEGISLAÇÃO
A Deliberação Normativa 010/86 do Conselho de Política Ambiental do Es-
tado de Minas Gerais (Copam-MG), em seu artigo 15, estabelece os valores máximos
admissíveis para substâncias químicas presentes nos efluentes hídricos emitidos por
qualquer fonte poluidora em Minas Gerais, bem como para as condições dessas emis-
sões (temperatura, pH etc.). O número de parâmetros considerados por essa delibera-
ção chega a 41. Como dispomos de apenas nove parâmetros na matriz teórica (Tabela
7.4), apresentaremos os limites máximos admissíveis na legislação apenas para esses
indicadores15 (Tabela 7.5).
Quando comparamos os dados da matriz teórica (Tabela 7.4) com a legisla-
ção (Tabela 7.5), podemos formular alguns comentários gerais sobre o perfil dessa
deliberação normativa. Uma primeira observação tem a ver com o fato de que a legis-
lação parece ser excessivamente genérica. Afinal, dos nove principais parâmetros
físico-químicos de poluição considerados na literatura para o monitoramento do se-
tor siderúrgico — o principal setor industrial do Estado —, apenas cinco foram dire-
tamente mencionados.
Uma segunda observação mais específica, obtida a partir da comparação
entre as Tabelas 7.4 e 7.5, revela que, enquanto para alguns parâmetros a legislação
parece muito rigorosa (como para sólidos em suspensão), para outros (como para flu-
oretos e amônia) ela parece excessivamente generosa. É difícil reconstituir no âmbi-
to deste trabalho os fatores que levaram a essas opções de política ambiental. Uma
provável explicação tem a ver com a baixa capacidade de monitoramento de outros
indicadores que não o nível de turbidez da água (presença de sólidos em suspensão).
No entanto, como se verá adiante, alguns dos parâmetros para os quais a legislação
parece ser “folgada” ou omissa (como a amônia e óleos e graxas) apresentaram me-
Consideraram-se nesta tabela apenas os tipos de água para fins industriais (água tipo III, segundo a
15
legislação).
286
nor queda no volume de emissões entre 1985 e 1995, segundo os dados oficiais de
monitoramento ambiental16 .
TABELA 7.5
VALORES MÁXIMOS ADMISSÍVEIS PELA LEGISLAÇÃO DE MINAS GERAIS PARA OS PRINCIPAIS
PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DE POLUIÇÃO HÍDRICA GERADA PELAS INDÚSTRIAS
...................................................
Parâmetro (mg/l)
SIDERÚRGICAS
...................................................
FeSO4 Não previsto na legislação -
Emulsões Não previsto na legislação -
O MONITORAMENTO INSTITUCIONAL
O monitoramento efetuado institucionalmente apresenta problemas seme-
lhantes aos da legislação. Em primeiro lugar, abrange um número menor de parâme-
tros do que os recomendados pela literatura (excluindo fluoretos e emulsões); em se-
gundo lugar, apresenta uma periodicidade e um padrão técnico bastante irregular; em
terceiro lugar, foi substituído recentemente pela chamada “automonitoração” efetua-
da pelas próprias empresas segundo os termos de compromisso assinados entre a agên-
cia ambiental e as indústrias (Oliveira, 1995).
Como resultado dessas restrições, os dados disponíveis para essas fontes são
problemáticos. Ainda assim, buscamos utilizá-los (Tabela 7.6) ao menos para aqueles
parâmetros cujos resultados da comparação entre 1985/90 e 1995 estavam disponíveis18 .
Ver tabela 7.6. Vale observar que os fluoretos, H2SO4, FeSO4 e emulsões não foram monitorados pela
16
Feam/Copam. Outros parâmetros tais como pH e ferro solúvel são, todavia, monitorados.
Uma hipótese possível seria assumir, por exemplo, que todas as empresas cumprem rigorosamente essa
17
Os dados para o período 85/90 foram coletados no chamado “Projeto Rio Doce”, do Copam; os dados
18
287
Podemos observar (Tabela 7.6) os dados referidos às amostras de qualidade
das águas do Rio Piracicaba colhidas a jusante das empresas em questão. Mesmo de
um ponto de vista exclusivamente jurídico, a qualidade desse indicador é polêmica no
sentido da atribuição de responsabilidades. Finalmente, muitos dos parâmetros não
estão disponíveis para alguns períodos (cianeto, pH e ferro solúvel).
TABELA 7.6
COMPARAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DA BACIA DO PIRACICABA NO PERÍODO 85-90
(VALORES MÁXIMOS OBSERVADOS EM MG/L) COM OS DADOS DO MONITORAMENTO FEITO EM
...................................................
MAIO DE 1995. PONTOS DE CONTROLE A JUSANTE DAS EMPRESAS
...................................................
pH 7,0 7,3 7,5
Nota: (*) Parâmetros com valores superiores aos obtidos no período 1985-1990.
Ainda assim, o documento que deu origem a esta base de dados (Oliveira,
1995), gerado no âmbito do sistema Feam/Copam, extraiu as seguintes conclusões a
respeito da evolução dos indicadores de poluição hídrica derivada da siderurgia no
bacia do Rio Piracicaba:
a. A grande melhoria verificada nas águas do Rio Piracicaba foi com relação
aos parâmetros fenol, sólidos em suspensão e DBO519 ;
b. O parâmetro pH permaneceu estável em toda a extensão do Rio Piracicaba;
c. Com relação ao parâmetro óleos e graxas, verificou-se uma queda na qua-
lidade da água do Rio Piracicaba em praticamente toda a sua extensão,
com valores até 7,5 vezes maiores em relação ao período 85/90;
d. Com relação ao parâmetro ferro solúvel, verificou-se uma queda na quali-
dade da água do Rio Piracicaba na área de influência da Acesita e da Usi-
minas com valores até quatro vezes maiores em relação ao período 85/90;
19
DBO não é um parâmetro ambiental crítico para a indústria siderúrgica (Cetec, 1988).
288
e. Com relação ao parâmetro amônia, observou-se um aumento acentuado
da concentração no trecho João Monlevade-Timóteo, permanecendo ele-
vado até à confluência com o Rio Doce;
f. Apesar das melhorias de processo e do tratamento de efluentes implanta-
dos nas siderúrgicas nos últimos cinco anos, pode-se verificar a necessida-
de de sistemas complementares de tratamento e otimização do sistema
de acompanhamento de automonitoração pela Feam, tendo em vista que
os padrões para Classe II ainda não foram atingidos para a maioria dos
parâmetros” (Oliveira, 1995:6).
Em outras palavras, os próprios dados da Feam/Copam, obtidos segundo o
sistema de automonitoração, mostram que apesar dos esforços das empresas em exer-
cer controle ambiental sobre a poluição hídrica, a qualidade ambiental das águas do
Piracicaba piorou nos últimos dez anos para os parâmetros óleos e graxas, amônia e
ferros solúveis20 . Dos parâmetros críticos amostrados, as melhorias sensíveis verifica-
das são efetivas apenas para os parâmetros fenóis e sólidos em suspensão.
Diante desses elementos e considerando a fragilidade dos dados existentes,
como aperfeiçoar nossa matriz teórica a partir das informações geradas institucional-
mente? Uma possibilidade seria assumir essa matriz teórica (Tabela 7.4) como correta.
No entanto, tal proposição tenderia a sobrestimar os dados de poluição tendo em vista
as melhorias ocorridas nos últimos dez anos (Quadro 7.1). Assim, nossa opção metodo-
lógica para a geração dessa matriz institucional (da correção da matriz teórica) parte dos
pressupostos apresentados abaixo. Apresentamos também, a seguir, a Tabela 7.7, que
sintetiza essas hipóteses:
a. Para os parâmetros nos quais houve piora da condição ambiental, nas áre-
as de influência das empresas, são mantidos os dados da matriz teórica;
b. Para os parâmetros nos quais houve melhora da condição ambiental, nas
áreas de influência das empresas, os dados da matriz teórica serão corrigi-
dos na mesma proporção de queda dos valores máximos observados21 .
O leitor atento poderá argumentar que a hipótese “a” tende a subestimar a
poluição, uma vez que se refere aos casos em que os dados de monitoramento indicam
piora em relação ao passado e não estabilização da poluição. Por outro lado, poderá
argumentar que a hipótese “c” é arbitrária, uma vez que o fato de não existir monitora-
mento para um parâmetro não necessariamente implica, para ele, numa melhora da
condição ambiental similar à média das melhoras para os parâmetros monitorados da
principal empresa da região. No entanto, entendemos que essas hipóteses são bastan-
te razoáveis porque, fundamentalmente, partem do pressuposto de que o pior cenário
possível é o representado pela matriz teórica de 1985.
Como mencionamos anteriormente, exatamente para os parâmetros de amônia e óleos e graxas, a legisla-
20
ção parece ser “folgada”. Infelizmente, outros parâmetros, como emulsões e fluoretos, não foram consi-
derados nesse levantamento.
21
É inevitável trabalhar com máximos, uma vez que as médias não estão disponíveis.
289
A Tabela 7.7 permite-nos acrescentar uma série de observações às efetuadas
anteriormente no trabalho de Oliveira (1995):
TABELA 7.7
A MATRIZ INSTITUCIONAL: FATORES DE CORREÇÃO DA MATRIZ TEÓRICA, SEGUNDO A
REDUÇÃO, ENTRE 1985 E 1995, DOS NÍVEIS DE POLUIÇÃO HÍDRICA NA ÁREA DE
...................................................
INFLUÊNCIA DAS SIDERÚRGICAS DA BACIA DO RIO PIRACICABA
...................................................
FeSO4 0,50 0,50 0,50 0,50
Emulsões 0,50 0,50 0,50 0,50
As restrições financeiras do período anterior à privatização indicam que, pelo menos no período 85-92, a
22
290
hipótese baixa a respeito do volume de emissões gerado por esse conjunto de empre-
sas, para os diversos parâmetros.
TABELA 7.8
FATORES TEÓRICOS DE EMISSÃO DE SIDERÚRGICAS (MG/L) CORRIGIDOS
SEGUNDO A NATUREZA DOS EQUIPAMENTOS EMPREGADOS PELAS SIDERÚRGICAS
DO PIRACICABA E SEGUNDO OS NÍVEIS DE EMISSÃO OCORRIDOS
...................................................
NAS ÁREAS DE INFLUÊNCIA DAS EMPRESAS NO PERÍODO 85-95
...................................................
FeSO4 46,22 119,21 121,49 -
Emulsões 5,13 - 3,66 -
Antes de gerar uma versão final da matriz do rio, buscamos também observar
os dados produzidos no âmbito do próprio projeto, relativo às amostragens de qualida-
de de águas. Apresentamos, na Tabela 7.9, esses resultados para parâmetros que per-
mitem comparação com os dados apresentados acima. Embora os resultados da compa-
ração sejam relativamente decepcionantes, existem algumas inferências que podem
ser formuladas.
Infelizmente, a coleta de dados realizada por este projeto gerou, para os
parâmetros físico-químicos, apenas dois indicares similares aos disponíveis anteri-
ormente: pH e amônia. Sendo assim, sua aplicabilidade é bastante limitada do pon-
to de vista da correção dos resultados anteriores. Ainda assim, podemos observar, na
comparação entre as tabelas 7.6 e 7.9, que a única empresa que, na automonitora-
ção, declarou valores significativamente inferiores aos observados foi a Cosígua. Ao
contrário, a Usiminas e a Acesita declararam valores substantivamente superiores
aos aqui observados.
291
TABELA 7.9
RESULTADO DAS AMOSTRAS DE ÁGUA SEGUNDO ÁREAS DE INFLUÊNCIA
...................................................
DAS EMPRESAS NA BACIA DO RIO PIRACICABA, MINAS GERAIS (1994-95)
...................................................
Acesita (ponto 9) 6,86 6,95 6,69 6,73 6,80 0,25 0,32 0,05 0,121 0,18
Cosígua (ponto 3) 9,32 8,20 7,40 8,89 8,45 0,81 0,70 1,25 1,03 0,95
292
consistentes com as informações relativas à baixa capacidade de investi-
mento da empresa, antes de sua privatização (Pinho e Ruiz, 1995). Os
piores resultados foram os parâmetros sólidos em suspensão e óleos e
graxas. Os prováveis níveis elevados de fluoretos, H2SO4, e FeSO4 se
devem, em parte, à sua estrutura técnica (voltada para uma linha de
aços especiais), porque nesse caso os equipamentos de laminação e de-
capagem são ampliados;
d. A Cosígua, apresentou, à semelhança da Belgo, importante redução do
nível de emissão de poluentes em sua área de influência, com a implanta-
ção de sua primeira ETE, o que também pode ser em parte creditado ao
seu pequeno porte, à pequena sofisticação de seus equipamentos e à bai-
xa diversificação de sua linha de produtos. No entanto, dado o seu estágio
tecnológico relativamente atrasado, verificou-se uma importante eleva-
ção na presença de fenóis e, de cianeto23 .
TABELA 7.10
MATRIZ DO RIO: FATORES TEÓRICOS DE EMISSÃO DE SIDERÚRGICAS (KG/TONELADA)
CORRIGIDOS SEGUNDO A NATUREZA DOS EQUIPAMENTOS EMPREGADOS PELAS
SIDERÚRGICAS DO PIRACICABA E SEGUNDO OS NÍVEIS DE EMISSÃO
...................................................
OCORRIDOS NAS ÁREAS DE INFLUÊNCIA DAS EMPRESAS NO PERÍODO 85-95
...................................................
FeSO4 2,38 2,99 2,99 -
Emulsões 0,26 - 0,09 -
O parâmetro amônia relativo à area de influência da Cosígua parece ser bastante problemático. Ver a
23
293
eletrolítica etc.) implicarem o acréscimo, ao processo produtivo, de novos equipa-
mentos e processos altamente poluentes24 .
De posse dessas informações, estaremos em condições de propor nas próxi-
mas seções a associação dos níveis de poluição aos níveis de produção gerados por
essas indústrias. Dada a precariedade das informações aqui geradas, trataremos a ma-
triz teórica como hipótese alta e a matriz do rio como hipótese baixa. Detalhamos essa
discussão abaixo.
A MATRIZ DE PRODUÇÃO
Em 1994, as quatro maiores siderúrgicas da bacia do Piracicaba foram res-
ponsáveis por uma produção de aço correspondente a 6,5 milhões de toneladas. Desse
total, a Usiminas produziu isoladamente 64%, e a Belgo, segunda maior produtora,
22% (Tabela 7.11).
No período de 1985 a 1994, a produção total dessas siderúrgicas cres-
ceu 30%, ou 2,7% ao ano, uma taxa de crescimento relativamente baixa em ter-
mos econômicos. Se é verdade que esse baixo ritmo de crescimento pode ser
creditado à instabilidade da economia brasileira no período, é também verdade
que tem a ver com as condições estruturais da siderurgia mundial, cuja capaci-
dade instalada parece ultrapassar a demanda de forma significativa (Paula, 1993;
Pinho e Ruiz, 1995).
TABELA 7.11
A MATRIZ DA PRODUÇÃO: PRODUÇÃO TOTAL DE AÇO DAS PRINCIPAIS
...................................................
Ano
SIDERÚRGICAS DA BACIA DO RIO PIRACICABA, MINAS GERAIS (1985-94)
10³ toneladas
Total Usiminas Belgo Acesita Cosígua
1985 5004 3328 855 581* 240*
1986 4699 3073 805 581* 240*
1987 4551 2874 856 581 240*
1988 5918 4120 919 639 240*
1989 6074 4395 862 577 240*
1990 5149 3464 842 583 240*
1991 5774 4135 826 573 240*
1992 5728 4033 864 591 240*
...................................................
1993 5986 4133 948 665 240*
1994 6517 4186 1461 630 240*
menos poluente. No entanto, esse tipo de unidade não será disseminado no Brasil, a curto prazo, diante
da escassez de sucata no mercado nacional (Pinho e Ruiz, 1995).
294
O movimento mais importante dessas empresas, principalmente após a pri-
vatização da Usiminas, Acesita e Cosígua (antiga Cimetal), foi no sentido de enobrecer
sua linha de produtos, buscando aumentar seu valor agregado, sem necessariamente
aumentar a produção. Esse movimento foi significativo tanto para a Usiminas quanto
para a Acesita (Pinho e Ruiz, 1995).
Poderíamos argumentar que, com o baixo ritmo de crescimento da produção
e com a pouca probabilidade de instalação de novas plantas na área diante da supero-
ferta de aço no mercado mundial, a tendência da poluição hídrica seguiria em direção
à redução, uma vez que os controles ambientais (mesmo com seus problemas) estão se
ampliando. No entanto, o movimento no sentido do enobrecimento da linha de produ-
tos traz novas formas de poluição, pois implica novos equipamentos e processos quími-
cos. Em outras palavras, embora não seja razoável supor que os níveis globais de polui-
ção aumentem no futuro, não é necessariamente razoável admitir que a poluição irá se
reduzir de modo significativo.
Muito provavelmente, as formas de poluição é que vão se alterar. Ao
invés dos parâmetros sólidos em suspensão e óleos e graxas, seria necessário
também observar as emulsões, zinco, metais pesados e ácidos. Infelizmente, esses
parâmetros ainda são pouco considerados tanto na legislação quanto nos proces-
sos de monitoramento.
Apresentaremos, a seguir, a chamada matriz de poluição, onde, pretencio-
samente, tentamos estimar o volume de poluentes hídricos gerados por esse proces-
so produtivo.
A MATRIZ DE POLUIÇÃO
Apresentamos na Tabela 7.12, abaixo, os dados de poluição por empresa,
para o ano de 1994, segundo uma hipótese alta e uma hipótese baixa. A hipótese alta
parte do princípio de que as empresas observavam naquele momento os mesmos ní-
veis de poluição previstos na literatura da década passada; a hipótese baixa incorpora
os dados relativos à queda nos níveis de poluição observados no Rio Piracicaba segun-
do os dados de monitoramento.
Antes de fazer uma observação geral da Tabela 7.12, vale reconstituir, mes-
mo que sinteticamente, os principais passos lógicos adotados para sua construção.
De forma resumida, o resultado dessa tabela pode ser entendido como função de
quatro elementos distintos: 1) das tecnologias gerais adotadas pelas empresas (cuja
base de dados é a Tabela 7.1); 2) dos equipamentos utilizados pelas mesmas empre-
sas (Tabela 7.2); 3) da evolução de suas práticas ambientais, aqui representadas pelos
dados institucionais de monitoramento (Tabela 7.6); 4) dos volumes de produção
realizado (Tabela 7.11)25 .
Podemos observar na Tabela 7.12 que o conjunto de fontes de dados e hipó-
teses aqui adotados implicam o despejo anual de toneladas de diferentes poluentes no
Os dados de tecnologias e equipamentos foram sintetizados na matriz teórica (Tabela 4); os dados sobre
25
295
Rio Piracicaba, mesmo quando considerada a hipótese mais otimista26 . Independente-
mente da crítica que se possa fazer à acuidade da análise quantitativa aqui realizada, a
Tabela 7.12 permite uma série de importantes conclusões. Discutimos esses resulta-
dos a seguir.
TABELA 7.12
A MATRIZ DA POLUIÇÃO: HIPÓTESES A RESPEITO DOS VOLUMES (TON)
ANUAIS EMITIDOS DOS PRINCIPAIS POLUENTES HÍDRICOS PELAS PRINCIPAIS
...................................................
Hipótese
SIDERÚRGICAS DA BACIA DO RIO PIRACICABA, MINAS GERAIS (1994)
...................................................
FeSO4 9963 4368 1884 -
Emulsões 1109 - 57 -
Fonte: Elaboração dos autores a partir das tabelas 7.3, 7.10 e 7.11.
CONCLUSÕES
Apresentamos a título indicativo algumas conclusões pensadas tanto do ponto
de vista das políticas públicas atualmente existentes (legislação e monitoramento)
quanto do ponto de vista da construção de cenários para a região.
a. Dada a importância de sua participação na produção total das siderúrgicas
da região (64% em 1994), a Usiminas responde, evidentemente, por uma
O leitor atento poderá observar que os dados da Tabela 7.3 (dados teóricos de produção por unidade de
26
produto, 1985), multiplicados pelos dados da Tabela 7.7 (ritmo de queda dos níveis de poluição entre
1985 e 1995), nos dão diretamente os dados da Tabela 7.10 (a matriz do rio). Os esforços de conversão de
medidas destinaram-se, sobretudo, a assegurar a comparabilidade tanto com as informações da legislação,
quanto com as geradas pelo próprio projeto. As outras hipóteses formuladas serviram, sobretudo, para
viabilizar a utilização de uma base de dados bastante precária.
296
parcela significativa do total de poluentes lançados nas águas do Piracicaba.
Assim, uma política que opere na lógica da redução quantitativa do volume
de poluentes hídricos no rio deverá pautar-se necessariamente por uma ação
concentrada sobretudo nas empresas com esse grau de concentração da pro-
dução. Esse argumento é ainda mais consistente quando se sabe que a
empresa atravessa uma fase excepcional do ponto de vista de sua capacida-
de financeira, dispondo de recursos compatíveis com um investimento am-
biental mais significativo do que o atualmente realizado27 .
b. A natureza das tecnologias e das linhas de produtos buscadas pela Usimi-
nas e pela Acesita faz com que elas sejam endogenamente mais poluen-
tes que as demais. Tais características sugerem que essas empresas de-
vam gastar com tecnologias antipoluição de forma proporcional aos bene-
fícios adicionais que auferem por adotar processos mais poluentes;
c. Na hipótese de um aumento linear do rigor do controle ambiental na re-
gião, não parece provável que essas empresas, dada sua situação atual e as
características do mercado em que atuam, venham a se deslocar espacial-
mente (Pinho e Ruiz, 1995). A única possível exceção é a Cosígua, em
virtude de seu menor porte e diversificação. No entanto, esse fechamen-
to teria um impacto pouco significativo no volume total de produção efe-
tuado regionalmente. Essa conclusão também aponta para o fato de que a
dicotomia entre produzir ou preservar é, em parte, uma falácia. Mesmo
mantendo os níveis atuais de produção, existe muito espaço para ampliar
significativamente o controle ambiental na região;
d. Tanto a legislação quanto os processos de monitoramento parecem pouco
adequados a captar e interpretar os reais impactos ambientais dessa indústria
para o rio e para as populações que dele se beneficiam. A automonitoração
não parece definitivamente o instrumento de monitoramento mais adequa-
do para assegurar a melhoria da qualidade ambiental das águas do Piracicaba.
Esses resultados, do ponto de vista do debate sobre políticas públicas de
controle ambiental, sugerem que nem sempre a hipótese de que o “mais moderno é o
mais limpo” é realista. Há que investigar, para cada setor industrial, suas características
técnicas específicas, a natureza dos equipamentos utilizados, suas lógicas empresariais
e suas estratégias espaciais.
A Cosipa, em Cubatão, empresa pertencente ao mesmo grupo econômico que a Usiminas, recebeu 37
27
multas da Cetesb no dia 05/10/95, em razão do não-cumprimento dos acordos ambientais anteriormente
firmados. Gazeta Mercantil, 06/10/95, p.1.
297
bilhões, com longo prazo de maturação (próximo a 10 anos); estrutura de armazena-
mento, transporte, distribuição e comercialização integradas. Quando essa rotina foi
consolidada, por volta da segunda metade dos anos 70 e início dos 80, a Cenibra apre-
sentava um trade off entre controle/qualidade ambiental e produção física. Recente-
mente a empresa tem mostrado preocupação no que tange à questão ambiental. Essa
preocupação será demonstrada mediante a realização de um exercício de avaliação da
degradação ambiental gerada pela Cenibra na bacia do Rio Piracicaba.
Neste trabalho, serão analisados parâmetros como o pH, a temperatura, SS, DBO5 e DQO. Com base no
28
estudo da Natron (1988), confirma-se que algumas comunidades aquáticas são mais sensíveis à alteração de
pH que outras. Contudo, verifica-se que efeitos adversos podem ocorrer fora da faixa 6,5 a 9,0. O aumento
significativo da temperatura afeta os fenômenos da autopurificação, as qualidades estéticas e as condições
da balneabilidade do local. Os organismos aquáticos e a fauna ictiológica, em função das suas características
básicas, apresentam uma faixa ótima de temperatura para sua sobrevivência. Os sólidos em suspensão em
grandes quantidades reduzem a penetração da luz na água, reduzindo a zona de fotossíntese e, portanto, da
produção primária, diminuindo conseqüentemente a abundância de alimentos para os peixes. Além disso,
as águas próximas à superfície podem sofrer aquecimento em decorrência de uma maior absorção de calor,
provocando assim uma redução na mistura vertical da água, na dispersão de oxigênio dissolvido e de nutri-
entes às camadas inferiores do corpo d’água. A presença em grandes quantidades de sólidos suspensos
também modifica os movimentos naturais e a migração de peixes. DBO5 dias (Demanda Bioquímica de
Oxigênio) é o parâmetro mais usual de medição de poluição orgânica aplicado às águas residuárias, o qual
envolve a medida de oxigênio dissolvido utilizada pelos microrganismos na oxidação bioquímica da matéria
orgânica. A DBO é então empregada na determinação da quantidade aproximada de oxigênio que será
necessária para oxidar biologicamente a matéria orgânica. DQO (Demanda Química de Oxigênio) é tam-
bém utilizada para medir o conteúdo de matéria orgânica de águas residuárias e águas naturais. A DQO, em
um despejo, é, em geral, mais alta que a DBO, em virtude da maior facilidade com que grande número de
compostos pode ser oxidado por via química que por via biológica. O lançamento de matéria orgânica no
Rio Doce, desde que em quantidades que não alterem os limites de oxigênio dissolvido, pode trazer bene-
fício no sentido de servir de alimento para a cadeia de seres vivos, aumentando a produção primária, princi-
palmente nos locais onde é baixa a produtividade primária; caso contrário, a fauna ictiológica, o zooplâncton
e o fitoplâncton poderão ser atingidos.
298
apresentam uma aplicabilidade quando se fala em legislação ou monitoramento ambi-
entais. Essa restrição, porém, não impede a análise da relação produção/poluição, que
será inicialmente cotejada mediante a construção da matriz teórica.
A matriz teórica, que pode assim ser denominada por se basear em padrões
tecnológicos internacionais, no caso deste trabalho se baseia em dados obtidos no estu-
do da Natron (1988), tendo como parâmetro o trabalho de Torres e Simões (1996).
Todas as demais matrizes construídas aqui seguem esse mesmo raciocínio, diferenci-
ando-se pela fonte, pelos dados que incorporam e pelos objetivos que almejam. Mui-
tos desses dados e objetivos relacionam-se com as medidas de prevenção e proteção
que visam otimizar a qualidade ambiental. A maioria dessas medidas já vem sendo
implementada pela Cenibra, como é o caso do tratamento secundário e outros projetos
ambientais compromissados com o Copam-MG.
Para diminuir a carga poluente a ser lançada no rio Doce, a Cenibra modifi-
cou sua Estação de Tratamento de Efluentes (ETE), separando os efluentes brutos
em dois grupos: Grupo I e Grupo II, que podem ser visualizados na Tabela 7.13, se-
gundo as unidades de produção.
Os efluentes brutos, para efeito de tratamento, são segregados em dois gru-
pos distintos, em função de suas características físicas, químicas e biológicas:29
GRUPO I - Efluentes líquidos muito contaminados, provenientes dos pica-
dores, cozimento, lavagem, deslignificação com oxigênio, branqueamento,
depuração e evaporação. O tratamento desses efluentes compreende as se-
guintes fases: mistura; gradeamento (retirada de sólidos grosseiros); desarea-
mento (retirada dos sólidos menores); neutralização (controle do pH); resfri-
amento; aeração (tratamento biológico); adensamento do lodo biológico ge-
rado; desidratação do lodo adensado; retirada do lodo desidratado.
GRUPO II - Efluentes líquidos pouco contaminados, provenientes das áre-
as de secagem da celulose, plantas químicas, caldeira de recuperação, causti-
ficação, caldeira de força, casa de bombas e compressores. Fases de trata-
mento: mistura; homogeneização; decantação primária.
O efluente hídrico final a ser lançado no Rio Doce resulta da mistura dos
efluentes tratados do Grupo I e do Grupo II.
Como se pode verificar na Tabela 7.13, os efluentes brutos da Cenibra a
serem analisados diferem daqueles considerados para a siderurgia. As fontes de emis-
são dos efluentes do Grupo I e do Grupo II também diferem.
Observando-se a Tabela 7.13, percebe-se que, apesar de a vazão total dos
efluentes brutos do Grupo II ser relativamente maior, o volume de cada efluente do
Grupo I é proporcionalmente maior tanto no que tange à concentração quanto à tem-
peratura. Por outro lado, verifica-se que, quanto ao Grupo I, a unidade de produção
que apresenta maior vazão de efluentes é a de branqueamento; a unidade de secagem
de celulose apresenta grande vazão de efluentes pouco contaminados. Essas unidades
podem então ser consideradas fontes críticas de emissão de efluentes hídricos.
29
Maiores informações poderão ser obtidas em Natron (1988).
299
300
TABELA 7.13
FATORES DE EMISSÃO DE POLUENTES HÍDRICOS BRUTOS
..............................................................................................................
Fatores de
SEGUNDO UNIDADES DE PRODUÇÃO DA CENIBRA - (VALORES MÁXIMOS DE
GRUPO I
OPERAÇÃO)
GRUPO I
Emissão Digestor Branquea- Evaporação Picadores TOTAL Secagem Planta Casa de Caldeiras TOTAL
mento Química Bombas
Compressores
Vazão (m³/h) 60 2055 260 270 2645 3195 800 160 200 4355
(ppm) 362 318 1069 147 376 78 11 10 53 62
DBO5
Kg/h) 957,27 840,92 2826,85 388,72 994,29 206,26 29,09 26,44 140,15 163,95
(ppm) 1833 909 3113 99 1064 239 37 30 141 189
DQO
(Kg/h) 4847,16 2403,75 8231,98 261,79 2813,63 632,01 97,84 79,33 372,86 499,79
(ppm) 1200 19,6 38,8 673 115 125 1 1 80 96
SS
(Kg/h) 3173,26 51,83 102,6 1779,67 304,1 330,55 2,64 2,64 211,55 253,86
..............................................................................................................
Temperatura (ºC) 40 50,3 50 30 48 45 35 30 32 42
pH 8...9 3...4 7...8 7 4...6 6...7 7...8 6...7 7...8 7...8
TABELA 7.14
FATORES DE EMISSÃO DE POLUIÇÃO HÍDRICA DO GRUPO I
...................................................
Fatores de Emissão
(VALORES MÁXIMOS DE OPERAÇÃO)
...................................................
Temperatura (ºC) 48 48
pH 4...6 4...6
Está previsto então que, após ampliação, haverá um aumento da vazão dos
efluentes brutos do Grupo I assim como da concentração de SS. A concentração de
DBO5 e DQO reduzir-se-á, mantendo-se num mesmo nível a temperatura e o pH. Em
outras palavras, é óbvio que, com a duplicação da fábrica, haverá um aumento dos
efluentes brutos do Grupo I. No entanto, apesar da redução da concentração dos mes-
mos, principalmente de DBO5 e DQO, a quantidade absoluta sofrerá elevação em
torno de 14% no caso de DBO5 e DQO e de quase 100% no caso de SS.
Mediante a proposta de ampliação, a Cenibra pode ser enquadrada na ca-
tegoria de tecnologia avançada31 , ocasionando as seguintes mudanças em relação à
planta existente:
30
A nova planta foi inaugurada dia 17/04/96.
“(...) A Cenibra pode ser considerada uma indústria tecnologicamente avançada, com elevado grau de
31
301
302
TABELA 7.15
FATORES EMISSÃO DOS EFLUENTES BRUTOS DA CENIBRA (MG/L)
DE
..............................................................................................................
Fatores de Emissão GRUPO I
SEGUNDO A NATUREZA DOS EQUIPAMENTOS EMPREGADOS
GRUPO II
Digestor Branquea- Evaporação Picadores TOTAL Secagem Planta Casa de Caldeiras TOTAL
mento Química Bombas
Compressores
Vazão (l/s) 16,67 570,83 72,22 75 734,72 887,5 222,22 44,44 55,55 1209,72
DBO5 231,22 203,12 682,81 93,89 240,17 49,82 7,03 6,39 33,85 39,60
DQO 1170,81 580,62 1988,40 63,23 679,62 152,66 23,63 19,16 90,06 120,72
SS 766,49 12,52 24,78 429,87 73,45 79,84 - - 51,10 61,32
..............................................................................................................
Temperatura (ºC) 40 50,3 50 30 48 45 35 30 32 42
pH 8...9 3...4 7...8 7 4...6 6...7 7...8 6...7 7...8 7...8
TABELA 7.16
FATORES DE EMISSÃO DOS EFLUENTES TRATADOS DA CENIBRA
...................................................
Fatores de Emissão
(VALORES MÁXIMOS DE OPERAÇÃO)
...................................................
Temperatura (ºC) 36 42 40
pH 6...9 7...8 6...9
303
salientar que as informações obtidas não continham, para esses efluentes, dados se-
gundo unidades de produção.
Quando se comparam as Tabelas 7.13 e 7.16, verifica-se a eficiência no trata-
mento dos efluentes do Grupo I e II na planta de celulose existente. (Tabela 7.17). Por
exemplo, na Tabela 7.16, divide-se o valor de DBO5 para o Grupo I pelo valor total de
DBO5 para o mesmo Grupo na Tabela 7.13 (60/360 = 158,66/994,29 = 0,16 => 84%),
obtendo-se uma eficiência no tratamento de DBO5 para o Grupo I da ordem de 84%.
TABELA 7.17
FATORES DE EMISSÃO DO EFLUENTE TRATADO DA CENIBRA,
APÓS INSTALAÇÃO DO TRATAMENTO SECUNDÁRIO NA PLANTA
...................................................
DE CELULOSE EXISTENTE (VALORES MÁXIMOS DE OPERAÇÃO)
...................................................
Temperatura (ºC) 36 25 42 -
pH 6...9 - 7...8 -
304
TABELA 7.18
FATORES DE EMISSÃO DO EFLUENTE LÍQUIDO DO GRUPO I DA CENIBRA,
...................................................
APÓS AMPLIAÇÃO (VALORES MÁXIMOS DE OPERAÇÃO)
...................................................
Temperatura (ºC) 36 36
pH 6...9 6...9
TABELA 7.19
...................................................
FATORES DE EMISSÃO DOS EFLUENTES TRATADOS (MG/L) DA CENIBRA
...................................................
Temperatura (ºC) 36 42 40
pH 6...9 7...8 6...9
TABELA 7.20
A MATRIZ TEÓRICA: FATORES DE EMISSÃO
...................................................
DOS EFLUENTES TRATADOS (MG/L) DA CENIBRA
...................................................
Vazão (l/s) DBO5 DQO SS Temperatura (ºC) pH
1944,44 38,13 225,48 33,47 40 6...9
305
2. Mesmo estando em operação a nova planta e já que não se têm os dados
concretos dos planos empreendidos, os chamados “avanços” não passam
de projetos.
Segundo informações da Natron32 (1988), a Cenibra efetua um controle
ambiental via controle das emissões33 , firmado pelos projetos discriminados abaixo.
Projetos Efetivados
1. Projeto de tratamento de efluentes hídricos (ETE-I), cujo objetivo é tratar
todo efluente gerado na fábrica a nível de tratamento primário e biológico.
2. Projeto de tratamento de efluente hídrico II, cujo objetivo é eliminar as
emissões de TRS (Total Reduced Sulfur) no sistema de recuperação atra-
vés da destilação de condensados contaminados (desodorização) em uma
instalação de oxidação de stripping.
3. Projeto de tratamento de efluente III, cujo objetivo é eliminar as emis-
sões de H2S através da estabilização dos compostos de sódio em uma ins-
talação de licor preto.
Projetos em Estudo
1. Projeto de sistema de emergência, cujo objetivo é implantar bacias de con-
tenção providas de comportas e poços de bombeamento nas canaletas de
efluentes potencialmente poluidores. Tal medida visa evitar a contaminação
do efluente geral da fábrica, caso venha a ocorrer algum acidente no processo.
2. Projeto de monitoramento contínuo, cujo objetivo é promover o conheci-
mento de informações relativas aos efluentes internos e efluentes finais,
através de instrumentos detectores de condutividade, pH e outros. Tal
monitoramento é trabalhoso e necessita de constante manutenção.
3. Projeto de racionalização do uso da água industrial e classificação dos eflu-
entes, cujo objetivo é otimizar o processo e promover um melhor controle
dos efluentes.
Todos os projetos classificados pela Natron como “projetos em estudo e projetos das futuras instalações”
32
são projetos atualmente efetivados em razão principalmente da operação da fábrica II. Essas informações
foram obtidas com o Departamento de Controle Ambiental da Cenibra, que enviou o relatório das inova-
ções e melhorias ao Copam.
33
Refere-se à lógica do end of the pipe.
306
bem como outros inconvenientes das tecnologias ditas convencionais: a uti-
lização de asbestos, por exemplo, requer menor consumo de energia, menor
investimento, menor custo de produção e apresenta maior facilidade opera-
cional, melhor qualidade nos produtos e maior segurança ambiental. Assim
o único efluente será o precipitado oriundo do tratamento da salmoura.
3. Estabilização e oxidação de Na2S contido no licor fraco, através de siste-
ma de oxidação, reduzindo significativamente a formação de gases odoro-
sos (H2S) quando da queima na caldeira de recuperação. Esse sistema é
utilizado desde 1989.
4. Sistema de desodorização, eliminando as substâncias odorosas (TRS) con-
tidas nos condensados provenientes de evaporadores e digestor. Na fábri-
ca I, utiliza-se o stripping a ar e, na fábrica II, o stripping a vapor, apresen-
tando maior eficiência.
5. A nova caldeira de recuperação da Cenibra deverá ter as variáveis de pro-
jeto e de operação suficientemente otimizadas de forma a não superar a
concentração de TRS em 1,0 ppm.
6. O material particulado (TSP) da caldeira de recuperação será retido em um
precipitador eletrostático de quatro campos, com eficiência da ordem de
99%, o que limitará a concentração de TSP em 0,2 g/Nm3 ou 94,2 Kg/h.
7. Utilização de lavador de gases para o controle das emissões de odor do
tanque de dissolução, com eficiência de remoção de compostos reduzidos
de enxofre (TRS) da ordem de 75%.
8. Ampliação do atual tratamento secundário com a nova ETE, de forma a
limitar a carga orgânica no efluente tratado em até 59,7 ppm.
9. A eficiência de tratamento da ETE está prevista em 65% para resíduos
não-filtráveis (RNF), acima de 80% para DBO e 65% para DQO.
A partir disto, realizar-se-á a correção da matriz teórica, detalhando as infor-
mações advindas tanto da legislação quanto do monitoramento ambiental realizado.
A LEGISLAÇÃO
A adequação industrial à legislação ambiental vigente é um primeiro
passo para se atingir uma qualidade de vida ambiental sustentável. Situar-se se-
gundo esses padrões legais, pode-se assim dizer, seria alcançar um padrão ecológi-
co. Segundo Braga (1995), a adoção de padrões tecnológicos, que já ocorre em
países industrializados, tende a transformar tais normas em barreiras comerciais
não- tarifárias, tanto a nível do produto quanto do processo produtivo. Como bar-
reira de produto, tem-se o chamado “Selo Verde”, que, à primeira vista, pode
parecer que o produto é inofensivo ao meio. Contudo, a posse de tal selo indica
que o produto possui um programa para minimizar emissões nocivas ao meio am-
biente. No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) estuda
regras para criação do selo ambiental.
307
Por outro lado,
Apesar de ser uma carta de intenções, a ISO 14000 significará que a empresa
localizou seus problemas e possui um plano de melhoria contínua a respeito da redu-
ção de poluentes hídricos, atmosféricos e ruídos.
Paralelamente aos selos e certificados ambientais, as pressões exercidas pela
legislação estadual de meio ambiente e pelo órgão de controle ambiental do Estado,
somados aos fatores comerciais e econômicos, determinaram a incorporação das ques-
tões ambientais na esfera empresarial.
No setor de papel e celulose, a Cenibra, desde o início de seu funcionamen-
to, sentiu necessidade de adotar a gestão ambiental em sua planta industrial, visando
preservar sua imagem. No tocante à Copam, órgão de controle ambiental do Estado de
Minas Gerais, a Cenibra demonstrou uma postura pró-ativa, pois, mesmo após ter cum-
prido o Termo de Compromisso, manteve um grupo especial de trabalho encarregado
de desenvolver novos projetos ambientais. Porém, anteriormente às pressões do Co-
pam, a preocupação ambiental era incipiente.
Quanto à base legal e institucional, Minas Gerais revela uma legislação am-
biental menos desenvolvida se comparada a outros Estados, como, por exemplo, São
Paulo. Refletindo na existência de frágeis restrições ambientais.
308
Com base na Deliberação Normativa 010/8634 do Copam, obtêm-se os limi-
tes máximos admissíveis na legislação para apenas cinco indicadores, os quais com-
põem a matriz teórica.
Comparando-se as tabelas 7.20 e 7.21, parece razoável supor que a Ceni-
bra, pelo menos por volta de 1988, respeitava a legislação. Entretanto, para obter
melhores resultados quanto aos indicadores dos potenciais de poluição hídrica da
Cenibra, trabalhar-se-á com dados oficiais de automonitoramento ambiental reali-
zado no Rio Doce.
TABELA 7.21
VALORES MÁXIMOS ADMISSÍVEIS (MG/L) PELA LEGISLAÇÃO DE MG PARA OS PRINCIPAIS
...................................................
PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DA POLUIÇÃO HÍDRICA GERADA PELA CENIBRA
...................................................
Temperatura (ºC) < 40
pH 6,5 - 8,5
O MONITORAMENTO INSTITUCIONAL
No caso em estudo, o monitoramento institucional foi substituído, no perío-
do recente, pela automonitoração efetuada pelas próprias empresas, segundo os ter-
mos de compromisso assinados entre a agência ambiental e as indústrias.
Apresentam-se, na Tabela 7.22, os dados referentes à qualidade da água no
Rio Doce, os quais abrangem o período de 1983 a 1994.
A análise dos chamados “atuais” estágios de controle ambiental da Cenibra
compreenderá uma comparação dos dados dos parâmetros considerados de 1983 a 1986
e de 1987 até 1994. Segundo informações advindas da Feam/Copam, a partir de 1985,
são assinados termos de compromisso35 , acordos entre empresas e autoridades ambi-
entais do Estado no tocante à implantação de medidas mitigadoras em relação aos
impactos ambientais de suas atividades industriais (Braga, 1995). O ano de 1986 foi
Conforme DN 010/86, são classificadas como águas da Classe 2 aquelas destinadas ao abastecimento
34
doméstico, após tratamento convencional; à proteção das comunidades aquáticas; à recreação de contato
primário; à irrigação de hortaliças e plantas frutíferas; à criação de espécies destinadas à alimentação
humana. A utilização da Classe 2 como parâmetro segue Cetec, op. cit.
Ao assinar o TC, a empresa compromete-se a adaptar-se à legislação vigente. Apenas após ter cumprido
35
integralmente o Termo, há o processo de licenciamento que envolve três fases: licença provisória, licença
de implantação e licença de operação. A Cenibra obteve junto ao Copam licença de operação de sua
unidade industrial em novembro de 1994.
309
escolhido como referência em razão da assinatura do termo de compromisso, e o ano
de 1994 foi tomado como limite superior, pois, a partir de então, passa-se a ter infor-
mações sobre os valores dos parâmetros de análise contidos no efluente hídrico da
Cenibra. Esses dados baseiam-se em valores médios obtidos durante o ano. Basean-
do-se nos estudos EIA/Rima, é posssível inferir que esses valores correspondem a
pontos a jusante da Cenibra.
TABELA 7.22
COMPARAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA
...................................................
PARÂMETRO
DO RIO DOCE, TENDO COMO REFERÊNCIA A CENIBRA
À JUSANTE DA CENIBRA
1983-1986 1987-1994
Vazão (l/s) 1442,36 1151,56
DBO5 (mg/l) 214,25 112,75
DQO (mg/l) 714,5 427,25
SS (mg/l) 78 46,5
...................................................
Temperatura (ºC) 42,73 39,51
pH * 7,1 7,6
310
Comparativamente, “(...) a atuação da Cenibra representa um avanço considerável em
termos da relação entre produção industrial e meio ambiente” (Costa, 1995: 182).
Utilizando a mesma opção metodológica daquela realizada para a siderurgia
e levando-se em conta os períodos 1983-86 e 1987-94, a geração da matriz institucional
segue os pressupostos:
a. Para os parâmetros em que houve piora da qualidade ambiental, no caso o
pH, será mantido o dado da matriz teórica;
b. Para aqueles em que ocorreu melhora da condição ambiental, os dados da
matriz teórica serão corrigidos na mesma proporção da queda dos valores
máximos observados.
Essas hipóteses podem ser visualizadas na Tabela 7.23, denominada matriz
institucional.
TABELA 7.23
A MATRIZ INSTITUCIONAL: FATORES DE CORREÇÃO DA MATRIZ TEÓRICA,
SEGUNDO A REDUÇÃO, ENTRE OS PERÍODOS 83-86 E 87-94,
...................................................
DOS NÍVEIS DE POLUIÇÃO HÍDRICA NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DA CENIBRA
...................................................
Vazão DBO5 DQO SS Temperatura (ºC) pH
0,8 0,53 0,6 0,6 0,92 1
311
TABELA 7.24
FATORES TEÓRICOS DE EMISSÃO DOS EFLUENTES TRATADOS
CENIBRA (MG/L) CORRIGIDOS SEGUNDO OS NÍVEIS DE EMISSÃO
DA
...................................................
Vazão
OCORRIDOS NAS ÁRESA DE INFLUÊNCIA DA MESMA, NO PERÍODO DE 83-94
...................................................
1555,55 20,21 135,29
TABELA 7.25
A MATRIZ DO RIO: FATORES TEÓRICOS DE EMISSÃO DOS EFLUENTES TRATADOS DA
CENIBRA (KG/H) , CORRIGIDOS SEGUNDO OS NÍVEIS DE EMISSÃO
...................................................
OCORRIDOS NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DA CENIBRA NO PERÍODO DE 1983-84
...................................................
Vazão (m³/h) DBO5 DQO SS Temperatura (ºC) pH
5599,98 83,67 560,1 83,13 36,8 6...9
A MATRIZ DE PRODUÇÃO
A Cenibra, no ano de 1995, obteve uma produção de 369.728 toneladas de
celulose. A Tabela 7.26 revela a produção anual de 1985 a 1994.
No período de 1985 a 1994, a produção total da Cenibra revelou um crescimen-
to de 17%. Acrescente-se a isso o fato da Cenibra entrar em operação lançando mão da
quase totalidade da capacidade instalada. Prova disso é que, em 1985, com uma produção
de 329.461 toneladas, a Cenibra contava com apenas 6% de capacidade ociosa. Em 1987,
aproximadamente dez anos após entrar em operação, tal capacidade instalada — 350 mil
312
t/ano de celulose de fibra curta branqueada — já estava sendo totalmente utilizada. Cabe
aqui lembrar que as decisões de investimento, visando aumentar a capacidade produtiva,
requerem expectativas de crescimento rápido e prolongado do mercado.
TABELA 7.26
A MATRIZ DE PRODUÇÃO: PRODUÇÃO TOTAL
...................................................
DE CELULOSE (T/ANO) DA CENIBRA - 1985 A 1994
ano toneladas
1985 329.461
1986 344.571
1987 351.056
1988 362.274
1989 336.190
1990 362.468
1991 375.925
1992 378.816
...................................................
1993 338.993
1994 387.165
313
A MATRIZ DE POLUIÇÃO
Na Tabela 7.27, apresentam-se os dados de poluição da Cenibra, para o ano de
1994, segundo hipótese alta e baixa semelhantes àquelas da siderurgia. A hipótese alta
pressupõe que a Cenibra observa neste momento os mesmos níveis de poluição de 1988
(matriz teórica) e a hipótese baixa baseia-se na matriz institucional, incorporando os da-
dos relativos à variação nos níveis de poluição do Rio Doce. Por motivos já considerados,
o único parâmetro que deverá obedecer à hipótese alta é o pH. Como o pH não apresen-
ta valor absoluto, ao qual possa ser comparado a produção de 1994, e sim um intervalo de
variação, será considerada, na matriz de poluição, apenas a hipótese baixa
TABELA 7.27
A MATRIZ DE POLUIÇÃO: HIPÓTESE A RESPEITO DOS VOLUMES (TON.) ANUAIS
...................................................
EMITIDOS, PELA CENIBRA, DOS PRINCIPAIS POLUENTES HÍDRICOS - 1994
...................................................
Fatores de emissão DBO5 DQO SS Temperatura (ºC) pH
Hipótese baixa 733,06 4907,24 728,33 36,8 6...9
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tomando-se como parâmetro os níveis de poluição hídrica de origem indus-
trial na bacia do Rio Piracicaba (e o caso do setor siderúrgico analisado em Torres e
Simões (1996) reforça tal afirmação), ratifica-se a hipótese de que o padrão de desen-
volvimento adotado na região encara a natureza como reservatório ilimitado dos resí-
duos da economia. É verdade que a realidade vem produzindo maior relacionamento
entre as esferas econômica e ambiental. Em outras palavras, pode-se dizer que a vari-
ável ambiental vem tomando corpo no tocante ao aparato da análise econômica e influ-
enciando a tomada de decisões.
Essa influência pode ser sentida no discurso atual da Cenibra, que prioriza a
ênfase em novas tecnologias, em detrimento da instalação de equipamentos end of the
pipe . Como afirma Braga, “(...) a postura atualmente adotada é resultado da experiência
314
acumulada pela empresa ao longo dos anos e do esgotamento das possibilidades de me-
lhora ambiental através da instalação de filtros e sistemas de tratamento” (1995: 59).
Percebe-se que a Cenibra vem tentando compatibilizar desenvolvimento
tecnológico e proteção ambiental. Mas ainda há muito o que fazer, pois a externalidade
negativa sobre o meio ambiente não tem preço. O efeito negativo mais expressivo e
evidente neste setor é a poluição hídrica, que é tratada neste trabalho mediante uma
relação com a produção industrial.
Ao invés de encarar a poluição como conseqüência do emprego de tecnolo-
gias sujas/obsoletas ou de falhas no processo de produção, a Cenibra relaciona sua po-
luição ao tipo de processo necessário à produção de celulose, que é limitado pela tec-
nologia. O processo de produção da celulose pode ser entendido como uma pseudojus-
tificativa à poluição, uma vez que a indústria vem introduzindo novos mecanismos
capazes de aliviar a pressão da poluição sobre o ecossistema.
Essa restrição tecnológica não é compatível com o perfil construído pela
Cenibra — indústria moderna, ágil, competitiva e de alta tecnologia. Tal paradoxo se
traduz na falsa idéia de compensar a poluição com um efeito local maior inexistente na
região (Costa, 1995).
315
a um sistemas isolados e independentes (mata nativa, floresta de eucaliptos, jazida de mi-
nério de ferro, rio ou córrego). Principalmente no caso da agricultura e pecuária, é necessá-
ria a compreensão global do meio ambiente para que se possa entender, as estreitas rela-
ções entre o uso da terra, o consumo dos recursos hídricos e as atividades antrópicas.
Uma das principais características da bacia do Rio Piracicaba é a sua topogra-
fia predominantemente montanhosa. Esse aspecto físico-geográfico, aliado ao proces-
so de desmatamento indiscriminado ocorrido nas últimas décadas na região, vem con-
tribuindo para o agravamento dos problemas da erosão, sobretudo a provocada pelas
águas das chuvas.
É sabido que, em geral, nas regiões montanhosas os solos são mais profun-
dos, tendo assim maior capacidade de armazenar a água da chuva, permitindo a ali-
mentação dos córregos durante os períodos mais secos. Isso provavelmente explica a
existência de uma extensa rede de drenagem nessa bacia hidrográfica, com a presença
de centena de córregos e ribeirões. Entretanto, na questão dos recursos hídricos, é
preciso ressaltar a importância de outras variáveis, como a vegetação predominante, o
tipo de solos, o regime de chuvas etc.
Um fenômeno recente observado por agricultores, especialmente na região
do Médio Rio Piracicaba, é a redução significativa do volume das águas superficiais em
suas propriedades. A maioria deles afirma que o regime de chuvas tornou-se irregular,
e as conseqüências tem sido evidentes: várias nascentes estão secando, os córregos
estão com seu volume muito menor, cisternas têm que ser abandonadas no período de
seca etc. Tais observações são confirmadas pelos dados técnicos da Agência Técnica da
Bacia do Rio Doce, que mostram uma queda na precipitação anual e na vazão média
dos rios da região nos anos de 1993, 1994 e 1995.
Considerando que, em geral, os solos da região não são muito férteis, há a
necessidade de abundância de água para que ocorra a reciclagem eficiente dos nutri-
entes e a reabsorção pelas raízes das plantas dos nutrientes então liberados. Essa rela-
tiva escassez periódica de água pode se tornar uma séria ameaça à continuidade das
atividades agropecuárias na região, especialmente a produção de alimentos. Esse já é
um motivo de preocupação de parcela significativa dos agricultores ali estabelecidos,
conforme constatado nas entrevistas da pesquisa de campo feita em 1995.
Numa consulta à bibliografia técnica internacional, encontrou-se dezenas de
trabalhos, nos quais os impactos ambientais ligados às florestas homogêneas de eucalip-
tos estão bem detalhados. Há uma tendência geral de se concluir que esses problemas
parecem ficar mais graves quanto maiores forem as áreas de plantio. Entretanto, é preci-
so considerar as limitações e riscos de se fazer generalizações, não recomendáveis no
caso de ecossistemas muito diferentes. Brasil, Índia e Austrália, por exemplo, têm solos,
condições climáticas e espécies de eucaliptos plantados bastante diferentes. Não se deve,
portanto, fazer generalizações e extrapolações de resultados de um país para outro.
A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO),
através de sua publicação técnica The ecological effects of eucalyptus, vem, desde 1985,
expressando oficialmente que “o eucalipto não deve ser plantado, especialmente em
316
larga escala, sem uma cuidadosa e inteligente avaliação de suas conseqüências econô-
micas e sociais, além de um balanço de suas vantagens e desvantagens. Isto poderia ser
feito através de uma avaliação das condições ambientais da região, bem como das ne-
cessidades da população local”.
Carvalho, 1987, enfatiza:
No caso da bacia do Rio Piracicaba, enormes áreas contínuas foram ocupadas por uma
silvicultura intensiva em regime de curta rotação (sete anos), sem que houvesse a menor
preocupação com possíveis impactos ambientais e sociais ou com a preservação dos ecos-
sistemas locais.
Uma análise dos impactos ambientais do reflorestamento em enormes áreas
contínuas com a monocultura de eucaliptos começa com a constatação da eliminação
da vegetação existente e preparação do terreno para o plantio e sua manutenção (cons-
trução de estradas, desbaste das áreas, preparação do solo, adubação, combate às formi-
gas etc.), atividades que envolvem o uso rotineiro do fogo, intensa movimentação de
trabalhadores, caminhões e máquinas como tratores e carregadeiras. Até o sexto ou
sétimo ano, quando é realizado o primeiro corte raso das árvores, vários efeitos ambi-
entais negativos ocorrem no ecossistema florestal renovável, principalmente no que se
refere ao consumo de água e de nutrientes, propriedade dos solos, efeitos alelopáticos,
consumo de fertilizantes e agrotóxicos etc.
Após o primeiro corte raso da floresta plantada, ou seja, a primeira colheita,
surgem novos problemas ambientais. Os solos ficam desprotegidos, havendo um au-
mento de sua temperatura e maior impacto das gotas das chuvas sobre suas partículas.
O escoamento superficial das águas aumenta e com ele os efeitos nocivos da erosão.
Há maior compactação dos solos, uma perturbação da sua camada orgânica e, com isso,
a infiltração das águas, que alimentam os lençóis subterrâneos, diminui. Inevitavel-
mente aumenta o assoreamento dos corpos d’água mais próximos. Além disso, os efei-
tos nocivos na biodiversidade daquele ecossistema são facilmente perceptíveis sobre a
avifauna, mamíferos, flora etc. A eles deve-se somar ainda os efeitos negativos da enor-
me carga de resíduos dos fertilizantes e agrotóxicos utilizados. Na maioria das vezes,
eles são carreados para os corpos d’água mais próximos, que já vêm sofrendo os efeitos
negativos mencionados acima. Portanto, a qualidade das águas que servem à popula-
ção local pode ficar comprometida pelo efeito conjugado do aumento do assoreamen-
to, da concentração de sólidos em suspensão e nitratos, além da presença dos agrotóxi-
317
cos. Aqui é importante lembrar que a topografia acidentada da região contribui para o
agravamento dos problemas mencionados acima.
“O meio ambiente reage como um todo, mesmo quando agredido apenas
num ponto específico” (Trudgill, 1990). Assim, percebe-se que os diversos impactos
ambientais num ecossistema florestal renovável são interdependentes e que, portanto,
é conveniente que se faça uma análise global de suas causas, efeitos e relações. Esse
entendimento do que acontece no conjunto não invalida, entretanto, uma análise de
cada impacto ambiental separadamente.
A seguir, descrevemos resumidamente os principais impactos ambientais
provocados pela implantação dos grandes projetos de reflorestamento com monocul-
tura de eucaliptos e pelas atividades agropecuárias na região.
318
segundo a FAO, “(...) Quando as árvores perdem suas folhas ou fecham seus
estômatos, a fotossíntese e o crescimento cessam. A perda de água é o preço
que as plantas precisam pagar pelo seu crescimento. A taxa de crescimento das
árvores é proporcional à quantidade de água que elas consomem. Se, portanto,
o objetivo do crescimento das árvores é produzir grandes volumes de madeira
é de se esperar que elas vão consumir grande quantidade de água. Como o
eucalipto é escolhido justamente por seu crescimento mais rápido do que ou-
tras espécies, é de se esperar dele um maior consumo de água”.
Grande consumo de fertilizantes. O ecossistema florestal renovável de
eucaliptos é bastante frágil, necessitando de uma periódica “alimentação su-
plementar” de fertilizantes para manter seus altos níveis de produtividade.
De acordo com informação das empresas, consomem-se em média 200 Kg de
fertilizantes para cada hectare de eucaliptos plantado. Entretanto, a adição
de fertilizantes químicos à base de nitrogênio, fósforo e potássio não aumen-
ta ou melhora as condições da matéria orgânica dos solos nem seu estoque de
micronutrientes. Dessa forma, grande quantidade de fertilizantes deve ser
reaplicada após cada corte, visando manter o elevado nível de produtividade
do sítio, criando-se assim um círculo vicioso de consumo. Numa região de
topografia acidentada, parte significativa desses fertilizantes não é absorvida
pelas plantas; eles são carreados pelas enxurradas para os corpos d’água mais
próximos. As inúmeras estradas, trilhas e aceiros dentro dos sítios florestais
funcionam como calhas que facilitam o transporte dos resíduos de fertilizan-
tes e agrotóxicos, o que vai contribuir para o assoreamento dos cursos d’água
e uma redução da qualidade de suas águas. Quanto maiores forem as áreas
dos plantios e menores os cursos d’água, mais significativos deverão ser tais
efeitos negativos (Sabará, 1994).
Grande consumo de agrotóxicos, especialmente herbicidas, inseticidas
e formicidas. Altamente persistentes no meio ambiente, os agrotóxicos po-
dem intoxicar seres humanos e animais ou atingir grupos de insetos conside-
rados “predadores naturais”. Os insetos aumentam a cada dia sua resistência
aos agrotóxicos, o que induz um aumento no consumo. Alguns desses produ-
tos, como os inseticidas e os formicidas, podem atingir a cadeia alimentar.
O combate sistemático às formigas nas enormes áreas de plantio de eucalip-
to envolve custos consideráveis de mão-de-obra e o consumo anual de milhares de
toneladas de iscas, que até três anos atrás eram fabricadas à base de dodecacloro (marca
comercial Mirex). Esse organoclorado pode continuar atuando nos solos por até 15
anos, tem um efeito tóxico muito grande, é cumulativo na cadeia alimentar e teve seu
uso proibido nos Estados Unidos em 1977.
Também os herbicidas, especialmente as marcas comerciais Round Up e
Goal, têm sido usados na bacia do Rio Piracicaba de forma indiscriminada e sem ne-
nhum tipo de fiscalização por parte dos órgãos governamentais responsáveis, conforme
verificado nos levantamentos de campo realizados em 1994 e 1995.
319
Erosão provocada pela água. Uma das maiores inimigas dos solos, a erosão,
é um fenômeno lento e por isso passa quase despercebido pelos milhares de
“usuários” que trabalham e vivem da terra. Comparando-se um solo coberto
com uma floresta natural e um outro coberto com uma floresta artificial de
eucaliptos, vamos constatar que o primeiro estará mais protegido da ação des-
trutiva da radiação solar intensa e das chuvas torrenciais. O solo coberto com
mata nativa terá também muito mais matéria orgânica para a manutenção de
sua vida. A limpeza para o plantio, os primeiros anos após o plantio e após o
corte raso das árvores deixam os solos das grandes áreas contínuas cobertas
pelas florestas de eucalipto desprotegidos por longos períodos, fragilizando-os
e tornando-os mais susceptíveis à erosão. A topografia acidentada e a não- ado-
ção de medidas simples de prevenção à erosão têm contribuído para que haja
aumento do volume e da velocidade das enxurradas nas áreas de plantio. Com
isso, uma enorme quantidade de fertilizantes e agrotóxicos é carreada para os
corpos d’água mais próximos, indo provocar seu assoreamento, piorar a quali-
dade da água, além de ter um efeito negativo na realimentação dos lençóis
freáticos, conforme já mencionado anteriormente. A FAO, 1985, diz: “O euca-
lipto não é uma árvore indicada para controle da erosão. Quando em fase de
crescimento, ele é muito susceptível à competição e para se obter uma boa taxa
decrescimento é necessária a limpeza do sub-bosque, o que não é recomendá-
vel no caso de áreas erodidas ou muito inclinadas”.
Uso abusivo e indiscriminado do fogo. Prática rotineira de todas as em-
presas reflorestadoras e proprietários rurais da região, o uso abusivo do fogo
tem provocado uma perda direta de nutrientes, além de contribuir para uma
redução sensível da atividade microbiológica nos solos.
Drástica redução na biodiversidade regional. A mudança radical de “flo-
restas antigas” (ricas em biodiversidade) para “florestas homogêneas novas”
(pobres em biodiversidade) contribuiu para que um grande número de plan-
tas, pássaros e mamíferos simplesmente desaparecessem da região. A pouca
presença de luz, a competição por água e nutrientes, a ocorrência de efeitos
alelopáticos e a pobreza de hábitats para os animais nos sub-bosques ralos
contribui significativamente para uma redução da biodiversidade nas flores-
tas de eucaliptos. A FAO, 1985, aponta que “geralmente, as espécies exóticas
abrigam uma comunidade mais pobre em animais herbívoros do que as espé-
cies que elas substituem; esta é uma das razões do seu sucesso. Portanto, elas
dão uma contribuição menor à cadeia alimentar do que as espécies nativas”.
Desperdício de biomassa na produção de carvão vegetal. Finalmente,
cabem algumas observações sobre a produção de carvão vegetal e suas impli-
cações na degradação ambiental da região. Como se sabe, os altos-fornos da
C.S. Belgo-Mineira, Acesita, Cosígua e Nova Era Silicon são abastecidos com
essa matéria-prima. Um aspecto importante a mencionar aqui é que a tecno-
logia de conversão da madeira em carvão vegetal utilizada em nosso país é
320
extremamente rudimentar. O rendimento térmico da conversão madeira-car-
vão vegetal é absurdamente baixo, em torno de 30%, segundo dados da Ce-
mig, 1987. Em termos práticos, isso significa que de uma área de um hectare
(10.000 metros quadrados) de floresta cortada aproximadamente 70% (7.000
metros quadrados) são queimados inutilmente. Essa é uma prova irrefutável
do desperdício existente na produção de carvão vegetal. Assim, mais da me-
tade de nossas florestas (nativas ou plantadas) é cortada para simplesmente
transformar-se em fumaça. Os subprodutos da carbonização da madeira, como
o ácido pirolenhoso, o alcatrão e os diversos gases da combustão, não são
normalmente aproveitados. Hoje poucas empresas os utilizam, em pequena
escala, na substituição do óleo combustível. As condições ambientais nas ba-
terias de fornos de produção do carvão vegetal são extremamente nocivas à
saúde dos trabalhadores. Muito pouco tem sido feito para mudar essa situa-
ção, especialmente pelas empreiteiras, que a cada dia aumentam seu contin-
gente de trabalhadores dada a terceirização crescente na área de produção de
carvão vegetal em Minas Gerais.
321
Piora significativa na qualidade das águas consumida pelos moradores e ani-
mais na propriedade rural. A alta carga de sedimentos jogada nesses cursos
d’água contribui para um aumento de sua turbidez e da concentração de sóli-
dos em suspensão.
Efeitos negativos e distúrbios na vida aquática, principalmente a redução na
transparência da água e menor presença da luz solar nos corpos d’água.
Redução na recarga dos lençóis freáticos pelo aumento exagerado no volume e
na velocidade das enxurradas, que diminuem a infiltração dessas águas nos solos.
Aqui é preciso lembrar que a maioria dos solos da bacia é do tipo argiloso, o que
significa maior capacidade de retenção das águas. Em conseqüência, ocorre me-
nor infiltração das mesmas nas camadas mais profundas dos solos. Portanto, o
efeito combinado de relevo muito acidentado, atividades antrópicas e especial-
mente desmatamento indiscriminado nas últimas décadas contribuiu para que a
bacia fosse considerada em “estado crítico” do ponto de vista da erosão.
322
Embora não se possa afirmar que ocorra um alto consumo de agrotóxicos na
bacia, ainda assim seus efeitos nocivos ao meio ambiente e à saúde dos trabalhadores
podem ser observados. Persistentes no meio ambiente por vários anos, os agrotóxicos
nem sempre produzem efeitos imediatos, como nos casos mais comuns de acidentes
com trabalhadores rurais. Às vezes esses produtos acumulam-se no organismo humano
por longos períodos, vindo a causar efeitos danosos muitos anos após sua ingestão.
As principais causas de acidentes com agrotóxicos têm sido:
O baixo grau de instrução dos trabalhadores que manuseiam e aplicam esses
produtos.
A aplicação é feita sem a necessária orientação, uma vez que só a leitura da emba-
lagem não é suficiente para se fazer o trabalho com a segurança devida. Assim,
não são obedecidos alguns requisitos básicos como dosagens recomendadas, uso
de equipamento de proteção individual, presença de sol forte e ventos etc.
A estocagem desses produtos tem sido feita em lugares inadequados, como
cozinhas, quartos de dormir etc.
As embalagens, depois de usadas, são atiradas nos solos e até mesmo nos
corpos d’água e, em muitos casos, reutilizadas como recipientes em casas,
fazendas e bares.
A grande maioria dos agricultores desconhece o que é período de carência de
um produto químico, o que os leva a fazer a colheita ainda dentro do período
ativo do mesmo.
Os dados do Censo Agropecuário de 1985 mostram que o município de An-
tônio Dias, cuja produtividade agrícola está entre as menores da região, se coloca entre
aqueles que mais consomem os chamados defensivos agrícolas. Isso pode ser explica-
do provavelmente pela ocorrência de enormes áreas cobertas com monocultura de
eucalipto e pela presença mais recente da cultura de tomate nesse município, como
observado em nossa pesquisa de campo na sub-bacia do Ribeirão Severo. Medições
realizadas pelo Cetec em 1988 nesse curso d’água constataram que os níveis de pesti-
cidas estão acima dos padrões técnicos aceitáveis. Como já mencionado, os plantios de
eucalipto consomem grande quantidade de fertilizantes e pesticidas, especialmente o
formicida Mirex, que é persistente no meio ambiente (solos e águas) por vários anos.
Observações de campo nos três maiores municípios produtores de tomate
da bacia (Iapu, Caratinga e Antônio Dias) mostraram que o consumo de pesticidas
nesses plantios é indiscriminado, abusivo e sem nenhum tipo de controle por órgãos de
fiscalização. Além disso, a estocagem dos pesticidas e o descarte de suas embalagens
são feitos de forma totalmente inadequada. Comumente os trabalhadores dormem em
barracos improvisados, junto aos sacos de fertilizantes e caixas de pesticidas.
QUEIMADAS
A queimada ainda é uma prática corrente na região, apesar de recentemente
estar havendo um aumento das restrições com a nova legislação e a fiscalização da Polícia
323
Florestal, especialmente nas propriedades localizadas mais próximas aos centros urba-
nos. Infelizmente, a queimada é uma tradição secular muito difícil de ser abandonada,
mesmo pela chamada “agricultura moderna” praticada pelas empresas reflorestadoras
de eucalipto. Assim como “deixar a terra descansar” não faz parte de seus planos de
trabalho, os agricultores locais não vêem a queimada como um problema e sim como
uma alternativa. A falta de capital de giro, as dificuldades com mão-de-obra, a falta de
garantia de preços mínimos fazem com que, principalmente os pequenos agricultores,
adotem práticas agrícolas de menor custo e, infelizmente, predatórias.
O baixo nível educacional e a falta de conhecimento a respeito de práticas
simples de conservação levam-nos a praticar uma frágil agricultura de subsistência.
Nela, a baixa produtividade convive com o uso rotineiro do fogo.
Além de perigosa, a prática da queimada é mais prejudicial do que benéfica
aos solos. Quando da queima, há, é verdade, uma boa liberação de nutrientes nos solos,
mas ocorre também uma perda enorme dos nutrientes que não ficam retidos na super-
fície dos solos em razão de sua volatização. Após a queima os solos ficam muito mais
expostos e sua fertilidade ameaçada. A alta temperatura do fogo tem um efeito des-
truidor sobre a vida microbiológica dos solos, fundamental para a estabilidade e a ma-
nutenção da fertilidade dos mesmos.
IMPACTOS DA PECUÁRIA
A quase totalidade das propriedades rurais da bacia (pequenas, médias ou
grandes) trabalha com criação de gado, seja de leite ou corte.
Dois são os principais problemas ambientais advindos das atividades pecuárias:
O excessivo pisoteio do gado numa determinada área pode contribuir para
uma compactação do solo e a iniciação de focos de erosão. Infelizmente, es-
pecialmente no período da seca, dada a escassez de pastagens em boas condi-
ções, o rebanho é colocado em áreas reduzidas, ocorrendo superpopulação.
Dados do Censo Agropecuário do IBGE mostram que de 1970 a 1993 o reba-
nho bovino nos municípios da bacia teve sua população dobrada, o que certa-
mente tem implicações ambientais significativas, mesmo considerando que
as áreas com as pastagens tenham também aumentado no período (embora
em proporção muito menor). Não deixamos de considerar aqui a introdução
das capineiras, pricipalmente nas propriedades de médio porte, no regime de
semiconfinamento do gado leiteiro. Um problema mais recente observado
pelos extensionistas rurais da região é o empobrecimento das pastagens. Esse
problema está associado ao manejo inadequado e à falta de investimento em
programas de recuperação de pastagens, que, assim como as culturas, exigem
cuidados e manutenção.
A contaminação microbiológica (estreptococos e coliformes fecais) dos cor-
pos d’água ou do próprio leite quando as condições mínimas de higiene não
são observadas, especialmente no caso de ordenha manual feita em currais
não cimentados.
324
MINERAÇÃO E MEIO AMBIENTE
NA BACIA DO RIO PIRACICABA
Serão discutidos neste item alguns aspectos referentes aos impactos da mi-
neração sobre o meio ambiente.
No item 7.5.1 serão discutidos os principais impactos ambientais causados
pela mineração, e no item seguinte tal discussão é estendida e especificada para a bacia
do Rio Piracicaba (BRP). Nesse item também são discutidas as principais medidas de
controle ambiental aplicáveis à BRP, e no item 7.5.3 são analisados os papéis do Poder
Público e outros instrumentos externos de pressão, também em relação ao controle
ambiental. Finalmente, procura-se sintetizar, no item 7.5.4, os principais aspectos dis-
cutidos, tendo como referência a necessidade de relacionar a atividade de mineração e
o meio ambiente na BRP dentro de uma visão de desenvolvimento sustentável, o que
necessariamente deve envolver uma visão interdisciplinar da questão ambiental.
325
receba reagentes químicos e orgânicos, os quais originarão rejeitos prejudiciais ao meio
ambiente, como o cianeto; na obtenção do ouro aluvionar, pode-se empregar substân-
cias altamente tóxicas, como por exemplo o mercúrio.
O porte do empreendimento também condiciona a magnitude dos seus im-
pactos ambientais. Uma lavra de grande porte tem um grande potencial de degradar o
meio ambiente, pois a apropriação dos recursos naturais, como a água e o solo, é mais
intensa. Entretanto, caso se fizesse uma relação entre, por exemplo, poluentes gerados
e volume de minério produzido, as pequenas mineradoras poderiam tender a apresen-
tar impactos relativos muito maiores. Tais impactos, apesar de serem aparentemente
pouco significativos se comparados ao volume total de poluentes gerados pelas gran-
des mineradoras, refletem maior dificuldade operacional e financeira por parte das
pequenas mineradoras em incorporar custos relacionados à proteção ambiental em seus
custos totais de produção e mesmo uma visão distorcida do alcance social da atividade
econômica empreendida.
Os impactos ambientais da mineração, principalmente sobre os recursos hí-
dricos, variam conforme o tipo de lavra e a tecnologia utilizada. Existem basicamente
quatro tipos de lavras: dragagem, subterrânea, céu aberto e mista.
Dragagem. Implica impactos como a alteração da morfologia dos leitos dos
corpos d’água, tornando-os mais turvos e assoreados, lançamento de rejeitos e
estéreis nos recursos hídricos, desmatamento de matas ciliares para a instalação
da estrutura física do empreendimento (tornando as margens suscetíveis à ero-
são), perda da potabilidade da água, poluição química, entre outros impactos.
Subterrânea. Nesse tipo de explotação, o contato com o meio externo é me-
nor, diminuindo a magnitude de impactos decorrentes da poluição visual,
desmatamentos e poluição do ar. Na explotação subterrânea, o estéril pode
ser transportado para o subsolo, onde será acondicionado (backfill). Nesse caso,
porém, caso o acondicionamento seja feito de forma inadequada, haverá risco
de vazamento de materiais estéreis para os lençóis d’água subterrâneos, ge-
rando assim uma forma de contaminação de difícil reversão. Via de regra, são
característicos da explotação subterrânea impactos sobre os recursos hídricos,
como incremento da turbidez, lançamento de sólidos sedimentáveis e sólidos
dissolvidos e, em alguns casos, modificações de pH, incremento de metais,
sulfetos, arsênio, dependendo da mineralogia. Tais impactos são principalmente
derivados do arraste de partículas finas das áreas de acesso por água pluvial,
solubilização do estéril pelo contato com o sistema ar/água.
Céu Aberto. Contato permanente de cargas poluidoras com o ar, água e solo,
sendo assim possível a formação de vários tipos de impactos ambientais, prin-
cipalmente em termos de poluição do ar em virtude do arraste eólico e por
água pluvial de partículas finas das áreas decapeadas (mina, estradas, depósi-
to de estéril e pátios) e também o contato do ambiente, principalmente os
recursos hídricos, com produtos químicos e rejeitos da mineração. As altera-
ções de parâmetros de qualidade ambiental dos recursos hídricos característi-
326
cas da explotação a céu aberto são o incremento da turbidez, sólidos sedi-
mentáveis, pH e outros compostos, dependendo de mineralogia.
Mista. Corresponde a uma combinação das explotações subterrânea e a céu
aberto.O tipo de explotação mais comum na bacia do Rio Piracicaba é a de
céu aberto. As exceções são a mina subterrânea de ouro e prata da São Bento,
em Santa Bárbara, e de esmeralda, em áreas garimpeiras de Nova Era; explo-
tação mista de manganês pela Samitri e explotação de ouro por dragagem
pela Cooperativa Regional dos Garimpeiros e Pedristas do Rio Piracicaba, no
município de Rio Piracicaba.
Em virtude da importância da explotação de minério de ferro na bacia, será
detalhada, a seguir, a tecnologia utilizada na produção de minério de ferro, que correspon-
de às etapas de lavra (ou produção bruta) e beneficiamento (ou produção beneficiada)36 .
Na etapa de lavra, o minério é extraído do subsolo, assim como é removida
parte dos materiais estéreis. As lavras de minério de ferro na bacia do Rio Piracicaba
são realizadas a céu aberto e envolvem dois tipos de operações: perfuração/desmonte e
carregamento/transporte.
Perfuração/desmonte. Através da utilização de equipamentos de percussão
e rotação, são feitos furos nos maciços de rocha de minério para a colocação de
explosivos (desmonte). O recurso mineral, assim, é explotado do subsolo.
Carregamento/transporte. O material desmontado é carregado, através de
equipamentos de escavação, em um sistema de transporte que o conduza até
a usina de tratamento. Na BRP são utilizados como transporte caminhões e
correias transportadoras.
Na etapa de beneficiamento, os minérios lavrados têm suas condições de
composição ou de forma modificadas, formando uma concentração de minério utilizá-
vel comercialmente. Essa etapa compreende basicamente quatro atividades: fragmen-
tação ou cominuição, separação por tamanho, concentração, espessamento e filtragem.
Fragmentação ou cominuição. Consiste na utilização de equipamentos
mecânicos para fragmentar o minério de modo a ser utilizado nos processos
seguintes. Essa atividade compreende operações de britagem (que pode ser
primária, secundária, terciária ou quartenária, em que o minério vai sendo
seqüencialmente reduzido) e moagem a seco ou a úmido (última etapa de
fragmentação do minério).
Separação por tamanho. A separação por tamanho é “... intercalada entre
as etapas do circuito de fragmentação para evitar a sobrequeda de partículas
já nas dimensões desejadas para o produto de um dado estágio, com benefí-
cios de consumo de energia, redução de material alimentado e menor produ-
ção de superfinos” (Cemig, 1993). Através de peneiras espirais e hidrociclo-
O detalhamento dos processos de produção de minério de ferro descritos neste item foi realizado com
36
base no trabalho “Uso de energia em mineração de minério de ferro em Minas Gerais”, publicado pela
Cemig em 1993.
327
nes, é feita a separação por tamanho nas etapas de britagem e por classifica-
ção nas etapas de moagem.
Concentração. A concentração do minério pode ser feita por flotação (utili-
zada para minérios que exigem moagem fina), por densidade (minérios que
exigem moagem grossa) e por concentração magnética.
Espessamento e filtragem. Consiste na separação de sólidos e líquidos en-
volvidos no tratamento do minério, sendo que o espessamento ocorre através
de sedimentação e a filtragem corresponde à utilização de um meio poroso
para filtrar o líquido contido em uma determinada massa sólida.
A Tabela 7.28, elaborada pelo Ibram (1992, p. 23), resume os parâmetros de
qualidade da água afetados e as causas dos impactos, segundo algumas etapas de bene-
ficiamento de minério de ferro.
Conforme exposto até o momento, os impactos mais significativos da mine-
ração ocorrem sobre os recursos hídricos. A fim de ilustrar tal afirmação, a Tabela 7.29
apresenta um quadro genérico do potencial poluidor da mineração segundo os princi-
pais produtos explotados na bacia do Rio Piracicaba, identificando os principais parâ-
metros de qualidade da água afetados e a presença de metais pesados37 .
A Tabela 7.29 contém informações genéricas, visto que o potencial poluidor
das substâncias minerais depende de vários fatores, entre os quais se destacam o tipo,
a intensidade de explotação, a localização da mina, a forma em que a substância mine-
ral se encontra no subsolo e a utilização de tecnologia, equipamentos e produtos quí-
micos que se diferenciam segundo as minas e os minérios.
TABELA 7.28
PARÂMETROS AMBIENTAIS AFETADOS NA ETAPA DE BENEFICIAMENTO SEGUNDO O TIPO E
...................................................
ATIVIDADE DA EXPLORAÇÃO MINERAL NA BACIA DO RIO PIRACICABA, MINAS GERAIS
...................................................
Flotação e desaguamento
d'água com insumos químicos Presença de coletores,
incorporados. depressores, moduladores de
Vide Deliberação Normativa nº 010/86, de 16 de dezembro de 1986, do Copam, que estabelece normas e
37
padrões para a qualidade das águas, lançamento de efluentes nas coleções de águas e dá outras providências.
328
O crescimento e a intensidade da explotação na BRP, e os seus consequen-
tes impactos sobre o meio ambiente, dependem também da estratégia de crescimento
das empresas e do potencial de crescimento da demanda pelas substâncias minerais e
das reservas do minério presentes na mina.
A atuação das empresas de extração de minerais em outras áreas geográficas que
oferecem vantagens comparativas relacionadas a menores custos de produção (maior teor
de minério, facilidade de transporte, entre outros) pode ou não significar uma redução de
atividades em áreas antigas. Para que isso ocorra, dependerá dos limites impostos pelo
mercado, do tempo de exaustão das minas e dos diferenciais de custo de produção.
Ainda em relação aos impactos da atividade mineradora, alguns comentários
devem ser reservados aos impactos decorrentes da escassez de recursos minerais e às
perdas energéticas.Os impactos ambientais de escassez devem ser entendidos principal-
mente como um problema intertemporal e intergeracional, visto que a redução do esto-
que de minérios representa uma perda de fluxos de bem-estar para as gerações futuras.
As medições físicas de escassez baseiam-se em estimativas geológicas de
reservas e de níveis de demanda. Embora essas estimativas de reservas estejam em
constante revisão face à descoberta de novas reservas, à reavaliação das reservas já
conhecidas ou mesmo à manipulação de informações sobre reservas por parte das em-
presas detentoras dos direitos de pesquisa e lavra, uma pesquisa geológica mais acura-
da em uma área como a BRP aumentaria o nível de certeza sobre a quantidade de
recursos minerais disponíveis e dessa forma possibilitaria a construção de indicadores
de exaustão com uma boa possibilidade de exatidão.
Além dos problemas relacionados à exaustibilidade crescente de recursos
minerais, há que se considerar também o “estoque” acumulado de impactos ambien-
tais durante o tempo de explotação. De fato, conquanto a escassez de determinado
recurso mineral constitua um custo ambiental de natureza intertemporal e intergeraci-
onal, a explotação através dos anos em uma área representa o acúmulo contínuo de
elementos altamente impactantes e diminutivos do “valor” de recursos naturais (água,
florestas etc.), de forma que se pode traçar uma relação direta entre impactos de polui-
ção e de exaustão. Embora o maior controle dos impactos ambientais de escassez e de
poluição em tempos mais recentes possa amenizar os impactos atuais decorrentes da
explotação mineral, em virtude tanto do desenvolvimento de tecnologias produtivas,
substitutos de matéria-primas minerais e técnicas menos impactantes do meio ambi-
ente quanto da efetivação de políticas de controle e proteção ambiental, os impactos
gerados em períodos precedentes, quando os fatores amenizadores eram menos rele-
vantes (ou inexistentes), constituem um estoque acumulado indesejavelmente no meio
ambiente, o qual terá uma capacidade restrita ou nula de absorvê-los através dos anos.
Os impactos ambientais decorrentes da perda de energia na mineração po-
dem ser definidos, para efeito de análise aqui desenvolvida, a partir da ocorrência de
efeitos locais e efeitos globais. Os efeitos locais podem ser definidos como aqueles que
afetam de forma mais tangível o meio ambiente local, envolvendo aspectos como a
poluição hídrica causada pelo escoamento de óleos e graxas da maquinaria utilizada na
329
mina e pela má qualidade do ar respirado pelos trabalhadores da mina e populações
adjacentes devido à combustão de derivados de petróleo e poeiras e minérios em sus-
pensão. Tais efeitos podem ser minimizados através da adoção de tecnologias e/ou
técnicas como, por exemplo, a construção de caixas separadoras de óleos e graxas, a
manutenção periódica das máquinas utilizadas no processo produtivo, a adoção de téc-
nicas combinadas e apropriadas às especificidades de cada mina ou processos mais
modernos de tratamento químico de minérios.
TABELA 7.29
POTENCIAL POLUIDOR DA MINERAÇÃO COM RELAÇÃO À QUALIDADE
...................................................
Parâmetros da
DAS ÁGUAS SEGUNDO ALGUMAS SUBSTÂNCIAS MINERAIS
Substâncias Minerais
qualidade da Ferro Ouro Ouro Calcário Areia Caulim
água primário aluvionar
Sólidos em
suspensão e x x x x x x
sedimentáveis
Turbidez x x x x x x
Acidez (pH) x x x x x x
Condutividade
x x x x x x
elétrica
Oxigênio
x x x x x x
Dissolvido (OD)
Demanda
Bioquímica de x - x x x x
Oxigênio (DBO)
Coliformes fecais x x x x x x
Óleos e graxas x x x x x x
Amônia x x x x x x
Arsênio - x - - - -
Cálcio x x x x x x
Cianeto - x x - - -
Cloreto - - x - - -
Ferro x x x x x x
Magnésio x x x x x x
Manganês x x - - - -
Nitrito - - x - - x
Sódio - x - - - x
Zinco - x - - - -
Mercúrio - - x - - -
Nitrato - - x x - x
Alcalinidade - - - x - -
...................................................
Lençol Freático x x
330
Os efeitos globais, como o aquecimento da superfície terrestre (efeito estu-
fa) e a perda de biodiversidade, embora diretamente relacionados aos efeitos locais,
são muito difíceis de serem incorporados ao valor do produto final e possuem a carac-
terística de afetar vários ambientes ou mesmo todo o meio ambiente terrestre. Em
relação à utilização de energia no processo produtivo, se por um lado um determinado
bem produzido pode ser considerado um quantum de energia estocada, por outro o
processo utilizado para a obtenção desse produto implica a perda de um outro quantum
de energia sob a forma de calor. Essa parcela de energia ou resíduos materiais não
aproveitados no processo produtivo é devolvida ao meio ambiente (aumentando sua
entropia) de forma degradada.
Embora não existam grandes perspectivas quanto à utilização de formas
energéticas alternativas ou de técnicas mais eficientes na produção de minério de ferro
(Cemig, 1993) — e por mais que se argumente que o consumo energético na minera-
ção de minério de ferro é consideravelmente mais baixo do que na mineração de ou-
tros metais, como alumínio e zinco —, há que se pensar em formas mais eficientes de
utilização de insumos energéticos, tendo também em vista problemas já detectados
quanto ao abastecimento energético do país nos próximos anos.
331
Prejuízos à saúde de populações que consomem água contaminada ou resi-
dem proximamente a áreas mineradas.
Observa-se que um impacto está associado diretamente à perda de um be-
nefício potencial. Por exemplo, a remoção de solo orgânico (dentre outros impactos)
implica a perda do potencial agrícola da terra, a poluição visual implica a perda de
potencial turístico, a remoção de áreas de vegetação nativa implica a diminuição do
potencial de biodiversidade regional e a contaminação química da água utilizada para
consumo reduz a capacidade de trabalho do ser humano (menor produtividade da for-
ça de trabalho).
A produção das substâncias mais importantes da BRP (ferro e ouro) concen-
tram-se nas grandes empresas, cabendo às pequenas um menor volume de produção
de ferro e de outras substâncias, como dolomito, areia e gnaisse. A concentração das
usinas de beneficiamento pelas grandes empresas que explotam minério de ferro e
ouro permite a centralização nessas empresas de impactos ambientais característicos
dessa etapa da produção, principalmente os relacionados à poluição química (por exem-
plo, o cianeto utilizado no tratamento do ouro).
Além da concentração da atividade no espaço geográfico, as características
microlocacionais (topografia, drenagem, proximidade de cursos d’água, proximidade
de centros urbanos, entre outras) também irão determinar a magnitude dos impactos
ambientais da mineração na bacia. Um primeiro aspecto importante é a caracterização
física da área. Em termos de topografia, a conformação montanhosa das áreas minera-
das na BRP aumenta o carreamento de sedimentos pelo sistema de drenagem devido
à má disposição dos rejeitos da mineração, fator esse agravado pela existência de vales
favoráveis à sua retenção ou de rios e nascentes que constituem fonte de alimentação
e saúde para as espécies vivas. Além disso, são freqüentemente constatados na BRP
graves problemas decorrentes de remoção irregular da cobertura vegetal, descaracteri-
zação do relevo na área de lavra, poluição sonora e atmosférica, alteração no sistema de
drenagem natural, supressão de hábitats da fauna, comprometimento da vegetação em
torno da mata que margeia a lagoa de rejeitos.
A mineração pode ter um alto potencial de impacto em áreas que apresen-
tam bens de valor histórico e cultural, como ruínas e sítios arqueológicos (municípios
de Santa Bárbara e Barão de Cocais), ou de valor ecológico, como o Parque do Caraça,
em Santa Bárbara. Especificamente em relação ao primeiro caso, pode-se citar a exis-
tência de atividades mineratórias de ferro na região da serra do Gongo Soco, em Barão
de Cocais, situada em uma área de valor histórico (edificações da fazenda Gongo Soco,
datada do século XVIII, e do cemitério e instalações industriais da Brazilian Mining
Association, empresa inglesa que atuava no local no século passado). Em 1992, técni-
cos da Feam verificaram que uma empresa atuante na área executava determinadas
atividades sem licença de operação, colocando em risco o patrimônio histórico local.
Nesse mesmo local, caracterizado pelo relevo montanhoso, foram constata-
dos diversos problemas de poluição e efeitos adversos à biota nativa, às plantas cultiva-
das e à criação de animais na região. No ano seguinte (1993), em conseqüência de uma
332
denúncia da Promotoria de Justiça de Barão de Cocais ao Minstério Público, foi reali-
zada uma fiscalização pela Polícia Militar em comunidades próximas ao empreendi-
mento, constatando-se a ocorrência de graves problemas de poluição hídrica no Rio
Socorro e Ribeirão Inhame, os quais apresentavam excesso de óleos e graxas e outras
substâncias provenientes da mineração. Além disso, o acúmulo de rejeitos nos rios
tornavam seus leitos mais rasos, contribuindo para problemas de enchente e contato
de cargas poluidoras com comunidades humanas locais. A fiscalização concluiu que
não havia no local, àquela data, um sistema de controle eficaz de suas áreas geradoras
de sedimentos, apesar de a empresa ter apresentado RCA/PCA ao Copam.
O exemplo acima é apenas representativo de uma série de outros problemas
de poluição hídrica já constatados na região, principalmente nos municípios de Santa
Bárbara, Barão de Cocais e Rio Piracicaba, em termos de assoreamento e aumento da
turbidez de corpos d’água (responsáveis pelo abastecimento de vários núcleos popula-
cionais) com partículas sólidas e emissão de efluentes líquidos (NaOH, HNO3, NaCN,
óleos e graxas e esgoto normal).
Outro aspecto importante em termos de localização da atividade refere-se à
densidade populacional da área, ou seja, a proximidade de núcleos populacionais à área
de lavra e as consequentes modificações na qualidade de vida local ou a locação da lavra
em áreas isoladas e de baixa densidade populacional. No primeiro caso, cita-se como
exemplo a cidade de Itabira, em cujas montanhas circunvizinhas há explotação de miné-
rio de ferro e ouro pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). A poluição visual e a
descaracterização da paisagem contribuem para tornar o ambiente mais inóspito, mesmo
que esse impacto possa parcialmente ser reduzido com a incorporação pelas novas gera-
ções da imagem do novo perfil topográfico das serras explotadas. O clima úmido e chu-
voso e os ventos facilitam a dispersão de partículas em suspensão, colocando em risco a
saúde da população e, juntamente com a supressão da cobertura vegetal, alteram o mi-
croclima próprio da área. Por fim, deve-se considerar ainda como impacto fundamental
para a população local a previsão de encerramento das atividades da CVRD na cidade
entre os anos de 2020 e 2030 devido à exaustão econômica de suas minas, o que coloca
em questão a necessidade de se investir na diversificação de sua base econômica.
A CVRD começou a implantar programas de controle ambiental em suas
minas na BRP, principalmente em Itabira, 40 anos após o início de sua operação. A
primeira iniciativa da CVRD nessa área ocorreu durante o planejamento da exploração
de Carajás, após o encontro do Grupo de Estudos e Consultoria em Meio Ambiente, e
com a criação da Comissão Interna de Meio Ambiente, recomendada pelo Geamam,
depois de 1981. Mas o grande marco na estratégia da CVRD em Itabira em relação à
questão ambiental foi a ação civil pública contra a companhia, denunciando a poluição
atmosférica. Essa ação, encaminhada ao Ministério Público, induziu a empresa a ado-
tar medidas de controle ambiental. Em resposta a essa pressão, foi criada pela empresa
a Campanha Permanente de Combate à Poluição, mas somente em 1993 foi feito um
acordo entre a CVRD e o Ministério Público, quando a companhia se comprometeu a
implantar o Programa de Recuperação das Áreas Degradadas.
333
As ações mais importantes da CVRD na área ambiental são os Programas de
Controle Ambiental, que atuam no monitoramento dos fatores ambientais, implantam
medidas mitigadoras de impactos e são responsáveis pela recuperação de áreas degra-
dadas. O Programa de Monitoramento abrange o acompanhamento da qualidade do ar,
das condições meteorológicas e da qualidade da água. O monitoramento da qualidade
da água é realizado desde 1992, através de 12 estações de coleta localizadas na cidade
de Itabira. As medidas mitigadoras de impacto abrangem o controle de estéril, do rejei-
to, dos efluentes líquidos e da emissão de particulados. Porém, mesmo com a adoção
do Programa de Recuperação de Áreas Degradadas, ainda são visíveis os grandes pro-
blemas ambientais gerados pela empresa.
Às características de poluição decorrentes da rigidez locacional da área de
mineração pode-se adicionar alguns tipos de impactos ambientais decorrentes das ca-
racterísticas específicas do minério explotado e das características do processo de pro-
dução. No caso do minério de ferro, o fato de a substância ser mais friável, como é o
caso do minério extraído da Serra do Capanema, torna desnecessária a utilização de
explosivos, sendo o desmonte realizado por escavadeiras. Reduzem-se, assim, os im-
pactos decorrentes da utilização de explosivos, mas aumentam as possibilidades de
impactos decorrentes da utilização de escavadeiras (consumo de combustível, polui-
ção hídrica decorrente do uso de óleos e graxas). Da mesma forma, pode-se relacionar
maior teor de ferro a uma menor quantidade de rejeitos gerados em relação a um deter-
minado quantum de minério produzido, como é o caso da Samitri, em Mariana e, inver-
samente, os rejeitos produzidos pela Samarco também em Mariana (mina economica-
mente já exaurida).
Tendo em vista o exposto até o momento, pode-se definir a poluição hídrica
causada pela mineração como um dos mais importantes problemas ambientais da BRP.
De fato, as principais áreas de mineração na BRP estão localizadas nas cabeceiras do
Rio Piracicaba e de dois de seus principais afluentes, o Rio Santa Bárbara e o Rio do
Peixe. Essa característica locacional faz com que os efeitos da mineração sobre a qua-
lidade da água do Rio Piracicaba sejam sentidos em quase todo o seu percurso, e a
magnitude desse efeito dependerá da capacidade do rio em depurar e melhorar a qua-
lidade da água (graças à presença no rio de elementos que neutralizam os efluentes
químicos emitidos pela mineração, como alguns tipos de algas), da existência de uma
infra-estrutura de proteção ambiental como barragens capazes de conter partículas só-
lidas transportadas pela água.
Assim, os efeitos da mineração sobre a qualidade da água do Rio Piracicaba
podem ser observados em praticamente todos os pontos de coleta de amostras ao longo
do rio. Entre esses pontos, pode-se destacar quatro em que a mineração é mais intensa:
Ponto 2: Santa Rita Durão, a jusante da Samitri e Samarco e garimpos de ouro;
Ponto 4: Santa Bárbara, a jusante de empresas mineradoras e garimpos de
ouro em Santa Bárbara;
Ponto 6a: Rio Piracicaba, a jusante da Samitri e garimpos de ouro em Rio
Piracicaba;
334
Ponto 7: Rio do Peixe, a jusante da CVRD e da Belmont, em Itabira, e da
Garimpo de Capoeirana, em Nova Era.
A proximidade dos pontos de coleta em relação às áreas de mineração poten-
cializa os impactos negativos destas sobre os parâmetros de qualidade de água auferidos,
o que obviamente também estará relacionado à eficiência das medidas de proteção am-
biental adotadas. Por sua vez, a maior distância entre os pontos de coleta e áreas de
mineração pode potencializar a capacidade de depuração do rio, o que, do mesmo modo
que o primeiro caso, irá depender da infra-estrutura de proteção ambiental adotada.
A mineração de minério de ferro é responsável pelo maior volume físico de
minério explotado na região, além de possuir o maior número de minas em atividade,
constituindo-se assim no setor que possui maior potencial em gerar impactos ambien-
tais. Além disso, todas as suas minas são a céu aberto, necessitando de várias ações para
recuperar as áreas degradadas, como a construção de barragens de contenção para que
os rejeitos não sejam conduzidos para o leito dos rios.
A Tabela 7.30 apresenta as minas em atividade, usinas de beneficiamento e
barragens de contenção de rejeitos e estéril por município produtor de minério de
ferro, ouro e manganês. A construção de barragens de rejeito e de estéril pode minimi-
zar os impactos gerados na fase de extração e beneficiamento. Nota-se pela Tabela
7.30 que o número de barragens das empresas de grande porte em relação ao número
total das grandes empresas é maior em termos absolutos e relativos do que o total de
barragens da empresas de pequeno porte em relação ao total das pequenas empresas.
Se por um lado as grandes mineradoras podem gerar grandes problemas ambientais
nas etapas de extração e beneficiamento, por outro lado, com algumas ações, tentam
controlar a magnitude desses impactos com investimentos em infra-estrutura.
De forma geral, o nível de poluição identificado nos vários parâmetros da
qualidade da água afeta a qualidade de vida da população e compromete vários aspec-
tos da sustentabilidade ambiental. Utilizando o Levantamento da Poluição Hídrica da
Bacia do Rio Piracicaba (Cetec, 1988), identificam-se como principais impactos decor-
rentes do comprometimento da qualidade da água na BRP os seguintes aspectos:
Os sólidos sedimentáveis e dissolvidos de natureza mineral afetam a qualida-
de estética do rio (turbidez e cor), reduzem a penetração da luz, restringindo
a capacidade de fotossíntese do fitoplâncton, inibem o desenvolvimento da
fauna e flora aquática, comprometem as águas destinadas ao abastecimento
doméstico e industrial e seu uso para recreação. Além disso, promove o asso-
reamento do leito dos rios.
A presença de ferro e manganês contribui para o aumento da turbidez da
água, gerando impactos sobre a biodiversidade aquática e impondo limites ao
uso do recurso hídrico para abastecimento doméstico, industrial e recreação.
Os óleos e graxas provenientes da atividade mineradora (utilização de ma-
quinário e transporte de minério) causam odor na água para consumo huma-
no e têm alto potencial sobre a destruição da vida aquática.
335
336
TABELA 7.30
MINAS EM ATIVIDADE, USINAS DE BENEFICIAMENTO E BARRAGENS DE CONTENÇÃO DE REJEITOS E ESTÉRIL
..............................................................................................................
POR
Município
MUNICÍPIO PRODUTOR DE MINÉRIO DE FERRO, OURO E MANGANÊS NA BACIA DO RIO PIRACICBA, MINAS GERAIS (1992)
..............................................................................................................
São Domingos do Prata 0 2 2 0 2 2 0 0 0
Total 23 9 32 18 3 21 16 2 18
Fonte: Relatórios anuais de lavra do DNPM (1992), Revista Brasil Mineral (1994), Feam (1995), Mascarenhas, 1987.
A presença de mercúrio está relacionada à atuação dos garimpos, que utili-
zam a substância no processo de produção do ouro aluvionar. O mercúrio é
muito tóxico e compromete a saúde dos garimpeiros e da população que tem
alguma relação com o rio.
Finalmente, cumpre fazer alguns comentários sobre os impactos ambientais
decorrentes das perdas energéticas da atividade de mineração, intimamente relaciona-
das às características tecnológicas do processo produtivo e às especificidades das subs-
tâncias mineradas.
Em relação ao consumo energético na BRP, o 11º Balanço Energético Estadu-
al, publicado pela Cemig em 1994, indica que o setor de mineração e pelotização em
Minas Gerais apresentou, no ano de 1992, uma das maiores taxas de crescimento anual
de consumo final de energia (5,2%), inferior apenas ao crescimento verificado no setor
de ferroligas (8,3%) e de cerâmica (7,8%).
Somente a mineração de minério de ferro foi responsável por 76% do consu-
mo de energia do setor de mineração e pelotização no ano de 1988 (Cemig, 1993).
Utilizando-se informações de consumo energético das minas da CVRD, em Itabira, e
da Samarco e Samitri, em Mariana, as quais respondem, juntas, por 72,83% da produ-
ção bruta e 86,81% da produção beneficiada de minério de ferro na bacia do Rio Pira-
cicaba, pode-se constatar que, na fase de lavra, apenas a operação de carregamento e
transporte, em que são utilizadas escavadeiras de grande porte, responde por quase
metade do total do consumo de óleo diesel nas áreas de mineração de minério de ferro
das empresas citadas. O consumo de energia elétrica na fase de lavra representa 22,38%
do total de energia consumida no processo produtivo (25,43 Kwh/t), sendo esse valor
de 77,61% na fase de tratamento (62,72 KWh/t).
Em relação à fase de tratamento, todas as etapas consomem basicamente
energia elétrica. Na etapa de fragmentação ocorre o maior consumo de energia elétrica
durante todo o processo produtivo, etapa também caracterizada pela baixa eficiência
no aproveitamento de energia. A etapa de separação por tamanho apresenta consumo
de eletricidade mais baixo em relação à fragmentação, o mesmo ocorrendo em relação
às etapas de concentração e separação.
Observa-se considerável variação de consumo energético entre as minas, o
que se justifica pela especificidade dos minérios explotados, que requerem formas
diferenciadas de lavra e tratamento. A maior riqueza do minério e as condições de
extração (aspectos locacionais, inclusive) estão diretamente relacionadas às operações
de tratamento mais simples. A mina de Alegria (Samitri) é a única que consome mais
energia elétrica na fase de lavra do que na fase de tratamento, em razão da riqueza do
minério explotado, que não utiliza moinhos durante a etapa de fragmentação (respon-
sáveis pelo maior consumo de eletricidade durante o processo produtivo). Ao contrá-
rio, o minério de ferro da mina de Germano, mais pobre, requer a utilização de opera-
ções de moagem e concentração. Já o minério produzido pela CVRD em Itabira, em-
bora não utilize moinhos, requer as demais fases de tratamento.
337
CONTROLE AMBIENTAL DA MINERAÇÃO NA BACIA
DO RIO PIRACICABA: O PAPEL DO PODER PÚBLICO
E INSTRUMENTOS EXTERNOS DE PRESSÃO
A consolidação dos órgãos estaduais de controle ambiental deu-se ao longo
dos anos 80, com a regulamentação do Conselho Estadual de Política Ambiental
(Copam) e a criação da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), em 1987.
Nesse período, a legislação ambiental federal definiu a política nacional de meio
ambiente e criou o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que, por meio
da resolução 001/86, definiu os empreendimentos que necessitariam de licenciamento
ambiental e explicitou suas regras de funcionamento. A Constituição de 1988 consi-
dera que, ao utilizar os recursos minerais, o empreendedor é obrigado a recuperar o
ambiente degradado. É nesse contexto que se desenvolve a relação entre as ativida-
des mineradoras que atuam na bacia do Rio Piracicaba e a Feam.
A análise dessa relação utilizará informações dos processos das mineradoras
nessa instituição. Os processos são criados por vários motivos. Entre os mais importan-
tes destacam-se as denúncias da sociedade civil, termos de compromissos e apresenta-
ção de relatórios de impacto ambiental ou outros estudos ambientais.
Em relação ao total de processos sobre as atividades desenvolvidas na bacia do
Rio Pìracicaba, a mineração é a atividade que possui o maior número, participando com
50,46% do total. Destaca-se também a atividade industrial, que possui 26,61% dos pro-
cessos. A evolução do número de processos do setor mineral foi influenciada pela Reso-
lução Conama 001/86, que tornou obrigatória a realização de estudo ambiental por parte
das empresas cujas atividades fossem poluidoras, e pela Constituição de 1988.
Os primeiros processos começaram a ser avaliados pelo Copam no ano de
1980, e em 1986 o número de processos havia aumentado significativamente. Mas foi
sobretudo entre 1989 e 1991 que surgiu um grande número de processos. A análise do
comportamento das empresas pela Feam está na tabela 7.31.
Em relação ao número de processos por empresa, as empresas de pequeno
porte são as que mais possuem processos, no total de 18, e por outro lado apresentam
poucos estudos técnicos. Grande parte dos processos dessas empresas consiste de ter-
mos de compromisso ou denúncias. Já as empresas de grande porte, principalmente as
de extração de ferro, têm vários estudos técnicos de impacto ambiental, demonstrando
preocupação em cumprir as normas ambientais existentes, condição fundamental para
obter financiamentos externos e ampliar seu mercado a nível internacional.
Nos anos anteriores a 1986 não estavam definidas as atividades que requeri-
am estudos ambientais, não havendo normas que obrigassem as empresas a elaborar
tais estudos. Não é, pois, por outra razão, que os processos que possuem estudo ambi-
ental são posteriores a 1986. Outro fato importante é que as grandes empresas já pos-
suíam suas concessões de lavra antes de 1986, não tendo sido obrigadas a apresentar
esses estudos, a não ser através da exigência do órgão estadual do meio ambiente.
A presença do garimpo é significativa na região, podendo-se inferir que ape-
nas uma pequena parcela tem processos junto à Feam, mesmo não possuindo o direito
338
de lavra garimpeira concedido pelo DNPM. No total de 12 garimpos com processos na
Feam, quatro são cooperativas de garimpeiros. Do total dos garimpos, oito possuem
Programa de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD), mesmo não possuindo per-
missão garimpeira. A maioria dos garimpos é de ouro aluvionar, existindo também ga-
rimpos de esmeralda, onde atua a COPNERA, e garimpo de alexandrita.
TABELA 7.31
PROCESSOS NA FEAM SEGUNDO PORTE DA EMPRESA MINERADORA
...................................................
NA BACIA DO RIO PIRACICABA, MINAS GERAIS (1995)
...................................................
Garimpo
*Uma empresa pode ter mais de um processo por atuar em municípios diferentes.
339
A escolha da segunda alternativa (investimento em tecnologias menos polu-
entes) pode não ser a mais lucrativa, pois nem sempre há uma compensação na econo-
mia de matéria-prima e energia. A capacidade de uma empresa incorporar a questão
ambiental no processo de decisão de um investimento dependerá da qualificação téc-
nica de seus dirigentes, da qualidade da informação disponível e do nível de capacita-
ção técnica da empresa para enfrentar o problema.
Os fornecedores de tecnologia ou máquinas e equipamentos poderiam ter
um papel importante na difusão de tecnologias limpas. Mas, no caso da mineração,
quatro fatores impedem que assumam esse papel: a particularidade de cada mina, isto
é, cada uma tem características próprias, o que impossibilita o desenvolvimento de
equipamentos padronizados; a incapacidade dos fornecedores de absorver tecnologias
novas, que incorporem os efeitos ambientais; o papel que o planejamento da explora-
ção da mina desempenha, o que acaba sendo mais importante do que as máquinas e
equipamentos utilizados; o fato de as tecnologias e projetos de extração serem em
grande parte desenvolvidos pela empresa demandante.
A atuação da sociedade civil, organizada em torno das Organizações Não-
Governamentais (ONGs), é um novo elemento de pressão para solucionar os proble-
mas ambientais gerados pelas atividades econômicas. As ONGs são cada vez mais par-
ticipantes do processo de decisão sobre a autorização de concessões e sobre a gestão
ambiental, fazendo-se presentes no órgão estadual de meio ambiente.
A ação do Estado no sentido de induzir mudanças de comportamento das
empresas no que diz respeito à questão ambiental pode ser analisada sob duas pers-
pectivas: uma que defende a forma de comando e controle e outra que defende os
instrumentos econômicos. A intervenção do Estado para induzir a adoção de medidas
mitigadoras de impactos ambientais por parte das empresas através de comando e con-
trole deve ser sustentada por uma legislação rígida, em que, através de padrões de
emissões, de cumprimento de termos de compromissos ou através de cumprimento de
medidas definidas em estudos ambientais, as autoridades tentem controlar as ativida-
des das empresas. Esse é o modelo adotado pelo Brasil.
As políticas que tentam corrigir ou induzir o controle ambiental por parte
das empresas através de instrumentos econômicos ou incentivos de mercado são base-
adas no pressuposto de que o mecanismo de mercado é capaz de orientar os agentes
econômicos a valorar os bens e serviços ambientais de acordo com sua escassez e seu
custo de oportunidade social. A idéia é que a intervenção do Estado seria capaz de
corrigir as falhas do mercado aplicando instrumentos econômicos como um elemento
da política ambiental. O Estado atuaria na formação de preços privados ou criariam
mecanismos que estabeleçam um valor social, como é o caso dos princípios poluidor/
pagador e usuário/pagador. Tais princípios estão fundamentados na idéia de internali-
zar as externalidades, isto é, passar a incorporar o meio ambiente na esfera do mercado.
Os poluidores passam a assumir os custos dos danos ambientais e a transferência desse
custo para o preço dependerá da estrutura de mercado. As principais políticas de con-
trole ambiental que utilizam os instrumentos econômicos são: taxação (transferência
340
financeira dos agentes privados para o governo), mercado de licenças de poluição (mer-
cados de direitos de poluição através de certificados de poluição) e subsídios.
As instituições financiadoras de investimentos produtivos, sejam elas ban-
cos estatais ou instituições de fomento em nível internacional, estão cada vez mais
exigindo que os novos projetos adotem medidas de controle ambiental. O BNDES,
única instituição nacional capaz de financiar investimentos com longo prazo de matu-
ração, coloca à disposição para controle da poluição no Brasil uma linha de crédito
especial e impõe que os novos projetos financiados adotem as medidas de controle
exigidas nos EIAs/Rimas. Já os organismos de financiamento do exterior, BID e BIRD,
também estão exigindo dos novos projetos a implementação de medidas que reduzem
seus impactos sobre o meio ambiente.
Observa-se atualmente que os padrões ambientais para produtos e proces-
sos de produção exigidos nos países industrializados estão se transformando em barrei-
ras comerciais não-tarifárias, criando restrições ambientais à entrada de produtos de
origem de outros países. Motta (1994) identifica duas formas de restrições ambientais:
barreiras de processo e barreiras de produto. As barreiras de processo são criadas para
dificultar a importação de certos produtos cujos processos produtivos geram efeitos
ambientais não permitidos no país importador. Essas barreiras manifestam-se a partir
do estabelecimento de padrões de emissões de poluentes por atividade econômica e
de sistemas de gerenciamento da produção e do negócio.
Dois tipos de barreira de processo podem ser destacadas. A primeira refere-
se às sanções comerciais pelo não-cumprimento de acordos internacionais para contro-
le de gases associados ao aquecimento global (CO2 e CFC). A segunda está relacionada
à exigência de cumprimento de normas relativas ao sistema de gestão da produção que
prioriza a qualidade (ISO 9.000) e a gestão ambiental (ISO 14.000, ainda em estudo).
As empresas mineradoras brasileiras, principalmente as de grande porte e
exportadoras, como é o caso da CVRD, Samitri, Samarco e MBR, que atuam na bacia
do Rio Piracicaba, tendem a se adaptar às normas vigentes, principalmente à ISO 9.000
e futuramente à ISO 14.000, para não perderem competitividade no mercado interna-
cional. Nesse sentido, procuram aumentar a produtividade e a qualidade de seus pro-
dutos e serviços e adotam um sistema de gestão ambiental segundo orientações das
normas técnicas definidas internacionalmente.
As exigências quanto à qualidade do produto, no caso da atividade de extra-
ção de minerais, podem transferir as etapas poluidoras do processo de produção e trans-
formação de minerais dos países centrais para os países periféricos. Essas etapas po-
dem implicar um consumo intensivo de energia e matéria-prima e gerar resíduos signi-
ficativos, de forma que o produto comercializado atenda especificações ambientais
exigidas no mercado internacional.
CONCLUSÕES
A discussão realizada neste item é uma indicação das dificuldades técnicas,
financeiras ou de consciência empresarial que eventualmente as empresas minerado-
341
ras encontrem para incorporar às suas atividades a temática ambiental, ou seja, endo-
geneizar ao seu processo produtivo os custos decorrentes da implementação de medi-
das de controle ambiental. A rigor, ambientes degradados pela mineração podem ser
parcialmente recuperados, e o processo de recuperação deve ser entendido como ele-
mento central em todas as etapas do empreendimento, do início do processo de plane-
jamento à exaustão da mina e à desativação da mina..
Na BRP atuam grandes e pequenas empresas mineradoras que explotam
sua riqueza mineral. A diferença de comportamento entre elas no que se refere à mini-
mização dos impactos ambientais é marcante. As grandes empresas têm maior capaci-
dade de implantar infra-estrutura de controle ambiental, fato que não ocorre com as
pequenas. Alguns motivos apontados para esse diferencial de comportamento são:
necessidade de cumprir as normas do órgão estadual do meio ambiente, condição fun-
damental para obter financiamentos externos e ampliar o mercado internacional; ne-
cessidade de atender às pressões exercidas pelos grupos ambientalistas, que centram
sua atuação principalmente sobre as grandes empresas, que tendem a gerar grandes
impactos ambientais; necessidade de cumprir normas internacionais, que incluem en-
tre suas exigências a implantação de um controle ambiental eficiente. Ressalta-se que
as iniciativas são insuficientes para resolver os grandes problemas ambientais decor-
rentes dessa atividade. Um efeito disso é a péssima qualidade dos recusos hídricos da
região, principal elemento afetado por essa atividade.
A riqueza dos depósitos conhecidos e a potencialidade dos ambientes geoló-
gicos da BRP devem ser entendidas como fator importante para a implementação de
políticas que viabilizem um desenvolvimento a serviço da sociedade e que não destrua
a natureza. Essa concepção de desenvolvimento sustentável envolve a avaliação da
capacidade da BRP em endogeneizar os recursos advindos da mineração e promover a
reprodução do capital em seu território, isto é, formar estoques de outros tipos de
capitais, que substituiriam o estoque exaurido, sempre com a preocupação de contro-
lar os impactos das atividades econômicas sobre o meio ambiente.
Políticas de desenvolvimento para a região devem considerar que, con-
quanto seja irrefutável a importância da mineração na bacia do Rio Piracicaba, a
atividade é responsável pela criação de grandes impactos ambientais e que, embora
toda atividade antrópica possa impor custos ao meio ambiente, a mineração apre-
senta especificidades que a tornam altamente significativa, dada a característica de
não-renovabilidade e de capacidade poluidora dos recursos minerais explotados. A
caracterização dos impactos da atividade mineratória sobre o meio ambiente deve
considerar a atividade como um processo entrópico, com um grande consumo de
matéria e energia. Nesse sentido, a análise dos impactos provocados pela mineração
passa necessariamente pela análise da eficiência na utilização dos insumos e meios
de produção, ou seja, a utilização de tecnologias que reduzam as perdas entrópicas
do processo produtivo (e conseqüentemente a menor e melhor utilização de insu-
mos) e a utilização de novos insumos ou técnicas de produção menos poluentes e
adaptadas às condições físicas e geológicas do ambiente.
342
À utilização de novas tecnologias soma-se a necessidade de implementar
um sistema de gerenciamento ambiental eficaz por parte das empresas, assim como
políticas públicas eficientes quanto à regulamentação das relações dos agentes produ-
tores com o meio ambiente.
Pode-se também definir uma característica intertemporal e intergeracional dos
impactos ambientais à medida que, ao não serem incorporados ao cálculo econômico
maximizador de curto prazo, afetam tanto as gerações presentes quanto as futuras. Em-
bora na valorização de um objeto (um recurso natural, por exemplo) possam ser atribuí-
dos tantos valores quanto mais diferentes forem as formas ou conceitos de valorização
desse objeto, uma definição econômica “ecologizada” sustentaria que tal valorização
envolve necessariamente a percepção econômica (e a valorização) dos ecossistemas, ou
seja, do sistema físico, químico e biológico, tanto a curto quanto a longo prazo.
A caracterização acima reforça a idéia de interdisciplinaridade no tratamento
da questão ambiental. Conforme Vedeld (1994), a interdisciplinaridade “surge quando
os esforços são conscientemente levados a desenvolver uma linguagem comum ou um
conjunto de conceitos com o objetivo de empreender um estudo comum. Isto requer
que as suposições implícitas, bem como aspectos metodológicos, sejam claramente
ressaltadas e que o conhecimento de uma referência mútua ou comum seja criado ou
ao menos que uma clarificação formal de diferentes posições seja feita. Isto não envol-
ve o desenvolvimento de uma nova ciência, mas a criação de um campo comum para
diferentes propostas” (p. 10).
Tendo em vista a caracterização dos impactos ambientais na BRP, bem
como seus aspectos de produção e tecnologia, deve-se procurar formas de tornar a
atividade mineratória menos conflituosa com o patrimônio natural, respeitando to-
das as composições de vida presentes no meio ambiente local e os limites de utiliza-
ção deste. Conforme mencionado, essa compreensão está aquém dos limites que
constituem uma única ciência; ao contrário, é a compreensão conjunta da realidade
econômica, biológica e social que permite compreender a ação transformadora do
homem no ambiente em que vive.
343
344
8. IMPACTOS ANTRÓPICOS
E BIODIVERSIDADE
AQUÁTICA
....................................
Francisco A. R. Barbosa (Coord.)
Eduardo M. de M. e Souza
Fábio Vieira
CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E Germana de Paula C. P. Renault
QUÍMICA DAS COLEÇÕES DE Luíz Antônio Rocha
ÁGUA DAS PRINCIPAIS SUB- Paulina M. Maia-Barbosa
BACIAS DO MÉDIO RIO DOCE Sandra M. Oberdá
O
estudo limnológico dos ecossistemas lóti- Sueli A. Mingoti
cos no Brasil encontra-se ainda em fase ini-
cial, não existindo até o momento dados
básicos que possam dar suporte à definição de políti-
cas de conservação e manejo desses ambientes.
Até recentemente, o paradigma de Forbes
— o lago como um microcosmo (Rigler & Peters,
1995) — constituía a base das pesquisas em limnolo-
gia, de tal forma que, apesar do grande crescimento
verificado no conhecimento dos ecossistemas aquá-
ticos nas últimas duas décadas, poucos foram os estu-
dos que procuraram correlacionar os processos em an-
damento nos ambientes aquáticos com as ações an-
trópicas e os usos da água na bacia de drenagem.
Com a introdução do conceito de carga por
Vollenweider (1968), o pensamento científico iniciou
uma mudança considerável na abordagem dos estudos
limnológicos básicos e aplicados, culminando com a
introdução recente de um novo paradigma, que consi-
dera a bacia de drenagem e as interações bacia de dre-
nagem/ecossistema aquático como a unidade de estu-
dos e intervenção. Nessa nova concepção, os usos da
água e os aspectos sócio-econômicos da bacia constitu-
em elementos fundamentais para o entendimento dos
processos em andamento nos ecossistemas aquáticos e
na definição de políticas e estratégias de conservação e
manejo desses ambientes (Tundisi & Barbosa, 1995).
345
O primeiro passo para tal abordagem é a caracterização física e química das
principais coleções de água e dos sedimentos em uma bacia hidrográfica, que constitui
a matriz básica sobre a qual os componentes da biota constroem suas interações recípro-
cas, modificando e incorporando os processos em andamento no meio físico-químico.
Tais estudos são de particular importância na bacia do Rio Doce, a terceira
maior bacia de Minas Gerais, considerando seu alto grau de ocupação antrópica e o
grande número de atividades altamente impactantes, entre as quais mineração/garimpo,
siderurgia, monoculturas, principalmente de Eucalyptus spp., em grandes extensões,
indústria de celulose e aglomerados urbanos, que produzem grandes volumes e tipos de
subprodutos freqüentemente lançados, sem qualquer tratamento prévio, nas coleções
de água da bacia.
ÁREAS DE ESTUDO
Em termos gerais, as diferentes coleções de água do trecho médio da bacia do
Rio Doce foram agrupadas em sete sub-bacias, assim denominadas: Caraça, Rio Santa
Bárbara, Rio Piracicaba, Rio do Peixe, Ribeirão Severo, Ribeirão Ipanema e Rio Doce,
as quais foram amostradas nos períodos de seca e chuva dos anos de 1993, 1994 e no
período de seca de 1995. Para as amostragens, foram definidas 20 estações escolhidas de
modo a representar os possíveis impactos das atividades antrópicas acima listadas.
Uma descrição geral dessas estações por sub-bacia e segundo um gradiente
longitudinal a partir das cabeceiras do Rio Piracicaba é fornecida a seguir e sua localiza-
ção geográfica é mostrada na Figura 8.1.
A estação 1, localizada no Parque Natural do Caraça, apesar de contribuir para
a Sub-bacia do Rio Santa Bárbara, é tomada neste estudo como representando a Sub-
bacia Ribeirão Caraça, considerada como uma estação de referência, onde a quase ausência
de impactos antrópicos fornece uma indicação da qualidade do ambiente existente
antes da ocupação antrópica da bacia. Está localizada a 1200 m de altitude, possui águas
predominantemente ácidas e pobres em nutrientes (oligotróficas), constituindo portan-
to um ambiente naturalmente diferenciado do restante da bacia.
As estações 3, 4 e 5 representam a Sub-bacia Rio Santa Bárbara, cujos impac-
tos predominantes são atividades de siderurgia (estação 3), descarga de esgotos domés-
ticos e mineração (estação 4), impactos estes provavelmente mitigados pelo efeito regu-
lador o reservatório de Peti (estação 5), onde são retidas quantidades consideráveis de
sólidos em suspensão e matéria orgânica das regiões de montante, a julgar pela transpa-
rência da água e existência de algas bentônicas nessa estação.
A Sub-bacia do Rio Piracicaba, um dos principais afluentes do Rio Doce na
margem esquerda, é provavelmente a mais impactada, considerando-se o número e a
diversidade de atividades antrópicas ali instaladas. Neste estudo é representada pelas
estações 2 (a montante de Santa Rita Durão, município de Mariana), 6A (a montante) e
6 (a jusante da cidade de João Monlevade), 7A (a jusante da cidade de Nova Era), 9A (a
montante) e 9 (a jusante da cidade de Coronel Fabriciano), 10 (a jusante dos efluentes
da Usiminas). Apesar de localizada no Rio Doce, foi incluída nessa sub-bacia a estação
11A (margem esquerda do Rio Doce, a jusante do município de Ipatinga), por receber,
diretamente, todas as contribuições da Sub-bacia do Rio Piracicaba e também aquelas da
Sub-bacia Ribeirão Ipanema, concentrando portanto o somatório dos impactos da mine-
ração/garimpo, siderurgia e aporte de esgotos domésticos e industriais.
As Sub-bacias do Rio do Peixe, Ribeirão Severo e Ribeirão Ipanema são re-
presentadas respectivamente pelas estações 7, 8 e 10A, as duas primeiras refletindo
principalmente os impactos das atividades de mineração (estação 7) e agricultura/pecu-
ária extensiva (estação 8). Destaque-se o fato de que essas estações têm a qualidade de
suas águas grandemente melhorada em função dos vários encachoeiramentos ao longo
dos cursos d’água, proporcionados pela grande declividade do terreno. Tais contribui-
ções constituem na verdade entrada de água de melhor qualidade, que contribuem de
forma significativa, através do processo de diluição, para a melhoria da qualidade da
água do Rio Piracicaba. A estação 10A representa a Sub-bacia do Ribeirão Ipanema, que
drena desde a nascente até a foz o município de Ipatinga e constitui o principal coletor de
esgotos domésticos e industriais da maior cidade do Vale do Aço.
A Sub-bacia do Rio Doce é representada neste estudo por um pequeno trecho
do curso médio do Rio Doce, entre os municípios de Rio Casca e Belo Oriente, cuja
qualidade das águas foi avaliada através das estações 11B, 11C, 12, 13 e 14. A estação
11B foi escolhida com a finalidade de possibilitar a realização de um balanço de massa
entre as contribuições da Sub-bacia do Rio Piracicaba, cujo somatório é a estação 11A,
com aquelas do trecho médio do Rio Doce sem receber as contribuições da Sub-bacia do
Rio Piracicaba. Essa estação, apesar da existência de atividades antrópicas a montante
(agroindústrias, pecuária extensiva, entre outras), mostra uma melhor qualidade da água,
provavelmente em função do maior caudal e conseqüentemente da maior capacidade
de diluição do Rio Doce, além de uma menor concentração de atividades impactantes.
As estações 12, 13 e 14 foram definidas em função principalmente das contribuições da
Companhia Celulose Nipo-Brasileira (Cenibra), estando a estação 12 localizada imedi-
atamente a montante da captação de água e portanto representando as condições do Rio
Doce anteriores à entrada dos afluentes dessa indústria, a estação 13 localizada na área
de lançamento dos seus afluentes e a estação 14 localizada a jusante dos lançamentos de
efluentes da empresa, imediatamente abaixo da Cachoeira Escura, elemento natural de
importância fundamental para a recuperação da qualidade das águas, a partir da qual se
considera o retorno às condições naturais do Rio Doce.
O Quadro 8.1 sintetiza as informações existentes sobre essas estações de
amostragem e os impactos principais a que estão sujeitas.
QUADRO 8.1
...............................................................................
Estação
ESTAÇÕES
Nome
DE AMOSTRAGEM NAS SUB-BACIAS DO MÉDIO
Local
RIO DOCE E PRINCIPAIS IMPACTOS A QUE ESTÃO SUJEITAS
...............................................................................
14 Cachoeira Escura Rio Doce - ME a jusante da Cenibra
*Estações cujos dados não foram utilizados na confecção dos índices de qualidade da água.
**Apesar de estar geograficamente localizada no Rio Doce, a estação 11A foi incluída na Sub-bacia do Rio Piracicaba por expressar o somatório das atividades antrópicas e da qualidade
de água desta sub-bacia.
RESULTADOS
TEMPERATURA DA ÁGUA
A temperatura da água nas estações de amostragem das sub-bacias do médio
Rio Doce é mostrada na Figura 8.2.
Foi registrada entre as sub-bacias uma amplitude de variação entre 14,8 e
28,5oC nos períodos de seca e entre 18,4 e 33,3oC entre os períodos de chuva nos anos de
1993, 1994 e 1995. A maior amplitude em ambos os períodos foi registrada na Sub-bacia
do Rio Piracicaba. Temperaturas mais baixas foram registradas nas Sub-bacias Caraça
(estação 1), Rio do Peixe (estação 7) e Ribeirão Severo (estação 8), refletindo, provavel-
mente, os efeitos da altitude e a existência de mata ciliar; as maiores temperaturas foram
registradas nas Sub-bacias Rio Piracicaba e Rio Doce, particularmente nas áreas repre-
sentadas pelas estações 9A, 9, 10, 10A, 11A, 11B, 11C, 12, 13 e 14, características da
microrregião denominada Vale do Aço, tradicionalmente reconhecida pelas elevadas
temperaturas do ar predominantes na região.
Em termos gerais os resultados obtidos demonstram a existência de uma
considerável variação sazonal, sendo as menores temperaturas da água registradas nos
períodos de seca (inverno) e as maiores temperaturas características dos períodos de
chuvas (verão).
FIGURA 8.2
TEMPERATURA DA ÁGUA (OC) NAS SUB-BACIAS DO MÉDIO RIO DOCE NO PERÍODO DE
1993-1995.
OXIGÊNIO DISSOLVIDO
Como mostra a Figura 8.3, com exceção das estações 10A e 11A, onde foram
registradas, respectivamente, concentrações de 1,1 mg/l (chuvas de 1994), 4,2-5,8 mg/l
(seca e chuva de 1993 e 1994) e 1,1-2,1 mg/l (seca de 1995), todas as demais estações
mostraram concentrações superiores a 5,0 mg/l (> 80% de saturação), valor considerado
limite para águas de classe 2, segundo a Resolução 020 do Conama (1984). Os baixos
valores registrados nas estações 10A e 11A refletem provavelmente as elevadas cargas
de matéria orgânica provenientes dos esgotos domésticos e industriais. Os valores regis-
trados demonstram não haver diferenças significativas tanto entre os períodos de seca e
chuva como entre os anos de estudo.
FIGURA 8.3
CONCENTRAÇÃO DE OXIGÊNIO DISSOLVIDO (MG/L) NAS SUB-BACIAS DO MÉDIO RIO DOCE
NO PERÍODO DE 1993-1995.
FIGURA 8.4
PH DA ÁGUA NAS SUB-BACIAS DO MÉDIO RIO DOCE
NO PERÍODO 1993-1995.
ALCALINIDADE TOTAL
Os valores da alcalinidade total (meq. CO2 ) são mostrados na Figura 8.5.
Diferenças significativas tanto entre os períodos de seca e chuva como entre os anos de
1993, 1994 e 1995 foram registradas em praticamente todas as estações amostradas,
sendo os maiores valores verificados nas estações 3 (1,75 meqCO2/l, no período de
chuvas de 1993), 10A (1,49 meqCO2/l, durante as chuvas de 1994 e no período de seca
de 1995) e 11A (2,38 meqCO2/l, no período de seca de 1995), refletindo as elevadas
cargas de esgotos domésticos e industriais lançadas rotineiramente nessas estações. Nas
demais estações os valores mantiveram-se abaixo de 0,5 meqCO2/l nos dois períodos,
particularmente no ano de 1994.
Em linhas gerais, os valores foram sempre mais elevados durante os perí-
odos de chuva, evidenciando a contribuição do aporte de material alóctone nessa
época do ano.
CONDUTIVIDADE ELÉTRICA
Foram registradas grandes variações ao longo das estações amostradas, tanto
entre os períodos de seca e chuva como entre os anos amostrados, com valores oscilando
desde 2,5 µS/cm (estação 1, no período de seca) até valores superiores a 250 µS/cm
(estações 3 e 11A, no período de chuvas), conforme mostrado na Figura 8.6. A existência
de um gradiente crescente em direção à foz é particularmente evidente na Sub-bacia do
Rio Piracicaba, sendo os maiores valores registrados na estação 11A. A grande contribui-
ção dos esgotos domésticos e industriais é particularmente evidente nas estações 3, 9,
10, 10A, 11A e 13.
Em termos gerais, a Sub-bacia do Rio Piracicaba mostra os maiores valores,
refletindo a significativa carga de esgotos lançada em praticamente toda sua extensão.
FIGURA 8.5
ALCALINIDADE TOTAL (MEQ. CO2 ) NAS SUB-BACIAS DO MÉDIO RIO DOCE
NO PERÍODO 1993-1995.
FIGURA 8.6
CONDUTIVIDADE ELÉTRICA (µS/CM) DA ÁGUA NAS SUB-BACIAS DO MÉDIO RIO DOCE
NO PERÍODO 1993-1995.
FIGURA 8.7
CONCENTRAÇÃO DE CLOROFILA-A (µG/L) NAS SUB-BACIAS DO MÉDIO RIO DOCE
NO PERÍODO 1993-1995.
FIGURA 8.8
CONCENTRAÇÕES DE SÍLICA SOLÚVEL REATIVA(MG/L) NAS SUB-BACIAS
DO MÉDIO RIO DOCE NO PERÍODO 1993-1995.
AMÔNIA
As concentrações de amônia nas estações de amostragem são mostradas na
Figura 8.9. Foram registradas diferenças significativas entre as estações e entre os anos
amostrados, com valores oscilando entre < 11µg/l (estação 1, por exemplo) e >1.600 µg/l
(estações 10A e 11A). Entre as sub-bacias, a do Rio Piracicaba foi a que apresentou as
maiores concentrações, seguida da Sub-bacia do Rio Santa Bárbara, na qual a estação 3
mostrou as maiores concentrações nos dois períodos amostrados. Os valores obtidos
para as sub-bacias do Rio do Peixe (estação 7) e Ribeirão Severo (estação 8), assim
como para as estações do Rio Doce, foram significativamente mais baixos (< 50 µg/l),
evidenciando a redução dos aportes de esgotos nessas sub-bacias e os efeitos da dilui-
ção do Rio Doce, capaz de reduzir contribuições elevadas como a do Ribeirão Ipanema
(estação 10A), onde foram registrados valores superiores a 1.600 µg/l. Os valores obti-
dos para a Sub-bacia Ribeirão Caraça estiveram abaixo do limite de detecção durante
todo o período de estudo.
FIGURA 8.9
CONCENTRAÇÕES DE AMÔNIA (µG/L) NAS SUB-BACIAS DO MÉDIO RIO DOCE
NO PERÍODO 1993-1995.
NITRITOS
As concentrações de nitritos são mostradas na Figura 8.10. Exceto nas esta-
ções 3, 4, 7A, 7, 10A, 10 e 11A, as concentrações mantiveram-se abaixo de 10 µg/l nos
períodos amostrados. As maiores concentrações foram registradas nas estações 4, 7, 7A,
10 e 10A, com valores atingindo 74,8mg/l na estação 4, em agosto de 1995. As elevadas
concentrações verificadas, particularmente para as estações 4, 10 e 10A, refletem os
aportes das concentrações de matéria orgânica nessas áreas e a predominância de pro-
cessos de decomposição.
FIGURA 8.10
CONCENTRAÇÕES DE NITRITOS (µG/) NAS SUB-BACIAS DO MÉDIO RIO DOCE
NO PERÍODO 1993-1995.
FIGURA 8.11
CONCENTRAÇÕES DE NITRATO (µG/L) NAS SUB-BACIAS DO MÉDIO RIO DOCE
NO PERÍODO 1993-1995.
FIGURA 8.12
CONCENTRAÇÕES DE NITROGÊNIO TOTAL (µG/L) NAS SUB-BACIAS
DO MÉDIO RIO DOCE NO PERÍODO 1993-1995.
NITROGÊNIO TOTAL
As concentrações de nitrogênio total são mostradas na Figura 8.12. Seme-
lhantemente ao padrão verificado para as concentrações de nitrato, foram registradas as
maiores concentrações nas estações 10, 10A e 11A. Em sua maioria, os valores oscilaram
entre < 11 µg/l e > 6.000 µg/l em 1993 e 1994, mostrando um significativo aumento no
período de seca de 1995, quando se registraram concentrações superiores a 13.000 µg/l,
refletindo a elevada carga de matéria orgânica nessas áreas.
FÓSFORO TOTAL
A Figura 8.14 mostra as concentrações de fósforo total nas sub-bacias do mé-
dio Rio Doce. Diferenças significativas foram registradas entre os anos de amostragem.
Assim, em 1993, exceto pelas estações 4, 6, 7 e 11A, principalmente no período de
chuvas, as concentrações mantiveram-se abaixo de 100 µg/l, aumentando significativa-
mente em 1994 e 1995, quando se registraram valores superiores a 700 µg/l. A Sub-bacia
do Rio Piracicaba foi a que mostrou as maiores concentrações, seguida pelas sub-bacias
do Rio do Peixe, do Ribeirão Ipanema e do Rio Doce, em 1993 e 1994. Uma significa-
tiva redução foi verificada nesta última sub-bacia em 1995, com as concentrações se
mantendo abaixo de 100 µg/l em todas as estações de amostragem.
FIGURA 8.13
CONCENTRAÇÕES DE FÓSFORO SOLÚVEL REATIVO (µG/L) NAS SUB-BACIAS
DO MÉDIO RIO DOCE NO PERÍODO 1993-1995.
...................................................
BACIA DO MÉDIO RIO DOCE NO PERÍODO DE SECA NOS ANOS DE 1993, 1994 E 1995.
...................................................
min. 16,3 19,6 12,7 120,0 18,0 724,0 30,0
P-total (µg/l)\
máx. 81,6 782,5 268,0 165,0 167,0 - 213,4
*Na bacia do Ribeirão Ipanema foi realizada apenas uma coleta no período de seca de 1995, não havendo,
portanto, valores mínimos e máximos.
362
TABELA 8.2
VALORES MÍNIMOS E MÁXIMOS DAS VARIÁVEIS FÍSICAS E QUÍMICAS DA ÁGUA NA
BACIA DO MÉDIO RIO DOCE NO PERÍODO DE CHUVAS DOS ANOS DE
...................................................
VARIÁVEIS
1993, 1994 E 1995.
...................................................
P-total (µg/l)
máx. 33,0 766,0 203,0
*Na bacia do Ribeirão Ipanema foi realizada apenas uma coleta no período de chuva de 1995, não havendo,
portanto, valores mínimos e máximos.
363
Com o objetivo de fornecer tal instrumento, esforços têm sido dedicados no
desenvolvimento de índices de qualidade de água, utilizando tanto variáveis e parâme-
tros físicos e químicos como biológicos, utilizados freqüentemente em estudos de roti-
na de avaliação e monitoramento das condições predominantes na água.
Com essa finalidade, é apresentada e discutida uma metodologia para a cria-
ção de um índice físico-químico (IFQ) e um índice biológico (IB) de qualidade da água,
utilizando-se técnicas estatísticas. Os índices propostos foram construídos a partir de
dados empíricos obtidos nos períodos de seca e chuva dos anos de 1993 e 1994, em 15
estações de amostragem estrategicamente distribuídas, para se avaliar o impacto das
principais atividades antrópicas na bacia.
MATERIAL E MÉTODOS
ÍNDICE FÍSICO-QUÍMICO DE QUALIDADE DE ÁGUA (IFQ)
VARIÁVEIS UTILIZADAS
O índice físico-químico de qualidade da água foi construído a partir de medi-
das in situ e de laboratório da temperatura da água, pH, alcalinidade total, condutividade
elétrica e das concentrações de oxigênio dissolvido, clorofila-a, sílica solúvel reativa,
amônia, nitrito, nitrato, fósforo solúvel reativo, nitrogênio e fósforo total, obtidas de amos-
tras de água colhidas do Rio Piracicaba e afluentes (10 estações) e Rio Doce (5 estações),
segundo as técnicas descritas em Golterman et al. (1978) e Mackereth et al. (1978).
ESTATÍSTICAS UTILIZADAS
A partir do conjunto de dados original, procedeu-se a uma análise descritiva
das variáveis, com o objetivo de verificar sua distribuição e comportamento, bem como
a existência ou não de outliers. Essa análise foi feita separadamente para os períodos de
seca e chuva. As tabelas 8.3 e 8.4 resumem as estatísticas para esses períodos.
Pelas matrizes de correlação de Pearson, verifica-se não haver fortes correla-
ções entre as variáveis físicas e químicas em nenhuma das épocas do ano (seca e chuva).
A temperatura da água mostrou pequena variação entre os períodos de estudo,
sendo contudo mais elevada no período das chuvas (verão); um gradiente crescente a
partir da nascente foi observado para essa variável.
As maiores concentrações de oxigênio dissolvido foram encontradas no perí-
odo de seca, nas estações 1 (Caraça) e 11B (Revés do Belém), enquanto as menores
concentrações foram obtidas nas estações 11A (Porto de Areia) e 3 (Barão de Cocais).
O pH mostrou pequena variação em relação aos períodos de seca e chuva,
existindo contudo valores fortemente ácidos na estação 1 (Caraça) e muito básicos na
estação 3 (Barão de Cocais).
Como esperado, a condutividade elétrica é mais elevada nos períodos de
chuva, estando os maiores valores nas estações 3, 10, 11A e 13, estações que recebem
grande quantidade de esgotos domésticos e industriais; os menores valores foram regis-
trados na estação 1.
364
TABELA 8.3
E STATÍSTICAS D ESCRITIVAS DAS V ARIÁVEIS FÍSICAS E QUÍMIC AS NOS
...................................................
Variáveis
PERÍODOS DE SECA
...................................................
Fósforo total (Ptot) 16,70
TABELA 8.4
E STATÍSTICAS D ESCRITIVAS DAS V ARIÁVEIS FÍSICAS E QUÍMIC AS NOS
...................................................
Variáveis
PERÍODOS DE CHUVA
...................................................
Ortofosfato (Ortof) 3,82 50,40 14,46 10,64
Fósforo total (Ptot) 5,30 765,70 178,80 205,90
365
amostragem (seca), estimou-se o referido valor através da média dos períodos de seca,
de modo a permitir sua utilização no cálculo do Índice Físico-Químico (IFQ) de quali-
dade da água. Pela mesma razão e em virtude de mostrar 28 valores iguais a 0 (zero), a
concentração de clorofila-a foi retirada da análise para o cálculo do IFQ.
Sílica solúvel reativa mostrou maiores concentrações nas estações 8 (Ribei-
rão Severo) e nas do Rio Doce (11A, 11B, 11C, 12, 13 e 14).
Em relação às concentrações de amônia, os resultados sugerem não haver
dependência da época do ano, estando os valores abaixo de 400 µg/l em todas as esta-
ções, à exceção das estações 3, 6, 10 e 11A. Semelhantemente, o nitrito mostrou não
haver qualquer dependência em relação à época do ano, com concentrações superiores
a 15 µg/l somente nas estações 7 (Rio do Peixe) e 10 (Cariru). O nitrato, por sua vez,
mostrou concentração média e desvio padrão, na época de chuva, aproximadamente
oito vezes maior que no período de seca. Suas concentrações no quarto período de
amostragem (chuva) nas estações 10, 11A, 11B, 12, 13 e 14 foram superiores a 1000 µg/
l. A concentração média e o desvio padrão para o nitrogênio total no período de chuvas
é quase o dobro da obtida no período de seca. Os maiores valores foram registrados nas
estações 3, 7, 10 e 11A e os menores nas estações 1 e 11B.
As concentrações de fósforo solúvel reativo (ortofosfato) mostraram-se tam-
bém independentes da época do ano, sendo os maiores valores registrados nas estações
7, 11A e 13. O fósforo total mostrou as maiores concentrações no quarto período de
amostragem (chuvas), com valores superiores a 400 µg/l nas estações 7, 10 e 11A.
366
nomidae e da ordem Oligochaeta, como uma indicação de águas com diferentes níveis
de poluição orgânica.
Para a construção do índice biológico, foram utilizadas as seguintes variáveis:
Número de Taxa (NT): número de famílias, em função das limitações taxonômicas;
Número de Taxa de EPT: para expressar o número de taxa dos grupos indica-
dores de água limpa, expresso em org./m2;
Densidade Total (DeT): número de indivíduos presentes nas amostras, ex-
presso em org./m2;
Densidade de EPT (DeE): número de indivíduos indicadores de água limpa,
expresso em org./m2;
Densidade de CHI+OLI (DeCO): número de indivíduos indicadores de água
poluída, expresso em org./m2;
Dominância Total (DoT): para expressar o quanto uma família está represen-
tada num dado ambiente;
Dominância de EPT (DoE): para expressar a participação dos organismos in-
dicadores de água limpa;
Dominância de CHI+OLI (DoCO): para expressar a participação de organis-
mos indicadores de águas poluídas em cada ambiente amostrado;
Percentagem de indivíduos da família dominante (PT): para expressar a par-
ticipação dos organismos da família com os maiores efetivos e, portanto, a fa-
mília dominante;
Percentagem de indivíduos das ordens Ephemeroptera, Plecoptera e Trichop-
tera-EPT (PE): para expressar a participação percentual desses grupos indica-
dores de águas limpas;
Percentagem de indivíduos da família Chironomidae e da ordem Oligochae-
ta-(PCO): para expressar a participação percentual dos organismos indicadores
de águas poluídas;
Índice de Riqueza (IR): como um indicador de equilíbrio dos indivíduos no
meio aquático;
Relação EPT/[CHI+OLI]: (E/CO), para expressar a razão entre os organismos
indicadores de água limpa e água poluída;
Relação Densidade Total/Número de Taxa (D/T): para expressar uma medida
de quantos indivíduos existem em uma certa área, levando-se em conta o
número de taxa nela presente.
ESTATÍSTICAS UTILIZADAS
Da mesma forma que na descrição das variáveis físicas e químicas, foi feita a
análise estatística descritiva para as variáveis biológicas por estação do ano (seca e
chuva), sintetizada nas tabelas 8.5 e 8.6.
Através das matrizes de correlação de Pearson, verifica-se a existência de
altas correlações em ambos os períodos. Assim, após retiradas as variáveis que mostra-
367
ram altas correlações, foram definidas as seguintes variáveis a serem utilizadas na cons-
trução do índice biológico:
Número de Taxa: onde se verificou pequena variação em relação às estações
do ano, embora os períodos de seca possuam, em geral, maior número de taxa.
Densidade Total: onde se verificou uma considerável variação, como é o caso
da ocorrência de > 60.000 indivíduos da Ordem Oligochaeta na estação 11A
(Porto de Areia), no terceiro período de seca. Para a construção do índice,
estimamos seu valor igualando ao valor mais alto encontrado no período. As-
sim, ao invés de utilizar o valor de densidade total de 62.877,3, utilizou-se o
valor de 2.152,4, densidade que pode ainda ser considerada elevada e indicar
uma condição de águas poluídas por matéria orgânica.
Densidade de EPT: que, no período de chuvas, aparece com valores cuja média
e desvio padrão estão próximos do dobro em relação ao período de seca.
TABELA 8.5
ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS DAS VARIÁVEIS B IOLÓGICAS UTILIZADAS PARA A
...................................................
CONSTRUÇÃO DO ÍNDICE BIOLÓGICO NOS PERÍODOS DE SECA
...................................................
Dom. de EPT (DoE) 0,00 0,75 0,05 0,14
Dom. de CHI+OLI (DoCO) 0,00 1,02 0,31 0,30
368
médias dos dois períodos, pôde-se verificar que a percentagem de Chironomidae/Oli-
gochaeta (CHIr+OLI) é maior nas águas poluídas no período de seca, com uma variação
em torno de 33%. Essa dominância pode chegar a altos valores (> 99,34 %) para o
período de seca e dominância total (100%), no período de chuvas.
TABELA 8.6
E STATÍSTICAS DESCRITIVAS DAS VARIÁVEIS BIOLÓGICAS UTILIZADAS PARA A
...................................................
CONSTRUÇÃO DO ÍNDICE BIOLÓGICO NOS PERÍODOS DE CHUVA
...................................................
Dom. de EPT (DoE) 0,00 0,35 0,04 0,08
Dom. de CHI+OLI (DoCO) 0,00 0,91 0,26 0,30
369
Analisando-se a relação da densidade total com o número de taxa, verifica-se
que existe, em média, o dobro de indivíduos no período de seca, período que mostrou
também os maiores valores de dominância total, dominância de EPT e dominância de
CHI+OLI.
VARIÁVEIS SELECIONADAS
O resultado da Análise de Componentes Principais indicou a utilização de 12
variáveis: temperatura da água, oxigênio dissolvido, pH, condutividade elétrica, alcali-
nidade total, sílica, amônia, nitrito, nitrato, nitrogênio total, ortofosfato e fósforo total
Através da matriz de correlação, foi definida a seguinte fórmula genérica para
o IFQ:
sendo,
a i = peso da variável i
µ$ = estimativa da média da variável i
i
370
σ$ i = estimativa do desvio padrão da variável i
x i = valores amostrais da variável i
onde i =1, 2, 3, ..., p
Para a construção dos índices físico-químico de seca e chuva, foi descartada a
variável clorofila-a em virtude da grande incidência de valores zero; também, como os
valores das variáveis nitrogênio total da estação 8 no primeiro período de amostragem
(seca) e da variável alcalinidade total da estação 12, no terceiro período de amostragem
(seca), foram perdidos, esses valores foram estimados pela média dos respectivos perío-
dos, de modo a permitir sua utilização na construção dos índices.
Assim, para a concentração de nitrogênio total, na estação 8, na amostragem
de julho de 1993, foi usado o valor 817,0 e, para a alcalinidade total, foi usado o valor
0,58, obtidos pelas médias dos períodos de seca. Após tais modificações e utilizando-se
a fórmula geral anteriormente apresentada, foram calculados os valores do IFQ para os
períodos de seca (IFQS) e chuva (IFQC) mostrados abaixo:
371
CLASSES QUALIDADE DA ÁGUA
DE
Com o objetivo de permitir a utilização dos índices acima descritos como
uma ferramenta de monitoramento de fácil acesso e compreensão e considerando-se
que os índices construídos têm uma distribuição amostral aproximadamente normal
com média zero e variância 4,6, foram propostas classes de qualidade da água para as
estações de amostragem. A classificação proposta contempla dois níveis de detalha-
mento. O primeiro, mais abrangente, contempla três classes de qualidade: Ruim (R),
Aceitável (A) e Boa (B); o segundo nível, com maior detalhamento, inclui cinco classes:
Péssima (P), Ruim (R), Aceitável (A), Boa (B) e Ótima (O).
A Tabela 8.7 mostra os limites de cada classe para cada nível, em função dos
índices obtidos.
TABELA 8.7
LIMITES PARA AS CLASSES DE QUALIDADE DA ÁGUA A PARTIR DOS VALORES DO
...................................................
Número de
Í NDICE FÍSICO -QUÍMICO
Classes de Qualidade
Classes Péssima Ruim Aceitável Boa Ótima
3 - i < -1,0 -1,0 i 1,0 i > 1.0 -
...................................................
5 i <-1,8 -1,8 i <-0,6
372
Utilizando-se a fórmula geral anteriormente descrita, foram calculados os va-
lores do índice biológico (IB).
Os índices para os períodos de seca e chuva foram definidos pelas equações
a seguir:
TABELA 8.8
LIMITES PARA CLASSIFICAÇÃO DOS ÍNDICES BIOLÓGICOS DAS ESTAÇÕES DE
...................................................
Número de
A MOSTRAGEM.
Classes de Qualidade
Classes Péssima Ruim Aceitável Boa Ótima
...................................................
3 - i < -0,6 -0,6 i 0,6 i > 0,6 -
5 i < -1,2 -1,2 i <-0,4 -0,4 i 0,4 0,4 < i1,2 i > 1,2
RESULTADOS
ÍNDICE FÍSICO-QUÍMICO DE QUALIDADE DA ÁGUA (IFQ)
A partir da equação geral apresentada e com os dados obtidos nos períodos de
seca (julho) e chuvas (dezembro-fevereiro) de 1993, 1994 e 1995, foram obtidos valores
para o índice IFQ nas 15 estações de amostragem ao longo do Rio Piracicaba e seus
afluentes e parte do médio Rio Doce.
Os valores do IFQ para os períodos de seca e chuva são mostrados nas tabelas
8.9 e 8.10.
A título de ilustração, apresentamos a seguir uma classificação seguindo os
valores da Tabela 8.10, onde as cores abaixo das estações no dendrograma correspon-
dem às cinco classes de qualidade da água, assim como as letras maiúsculas, fora dos
parênteses, ou seja, a cor marrom e a letra P significam que aquele grupo é de estações
373
com uma péssima qualidade de água. A cor vermelha e a letra R correspondem às
estações onde a água é de qualidade ruim; a cor verde e a letra A, às estações cujas águas
mostraram uma qualidade aceitável; a cor azul escuro e a letra B, às estações com águas
de boa qualidade; a cor azul claro e a letra O, às estações com ótima qualidade da água.
As letras minúsculas, dentro dos parênteses, referem-se a uma classificação mais abran-
gente, limitada em três classes, na qual (r) é usado para definir um grupo de estações
com uma qualidade de água ruim, (a) para estações com uma qualidade aceitável da
água e (b) para estações com água de boa qualidade. Tais resultados podem ser vistos
na Figura 8.15.
TABELA 8.9
ÍNDICE FÍSICO-QUÍMICO E CLASSES DE QUALIDADE DA ÁGUA PARA OS PERÍODOS DE
...................................................
Estação de Amostragem
SECA (P1S E P3S)
...................................................
13. Cenibra II 1,06 B B -2,15 P R
14. Cachoeira Escura 1,13 B B -0,56 A A
374
respondente ao período de seca. Observa-se também a presença de quatro blocos de
estações: Bloco 1, formado pelas estações 3, 9, 10, 11A e 13, cuja qualidade da água varia
de péssima a aceitável; Bloco 2, formado pela estação 1, cuja qualidade é ótima; Bloco
3, formado pelas estações 2, 5, 8, 11B e 12, com uma boa qualidade da água e Bloco 4,
formado pelas estações 4, 6, 7 e 14, cuja qualidade da água varia de ruim a boa. Para um
sistema de qualidade baseado em três classes de qualidade, teremos três blocos: Bloco
1, formado pelas estações que têm uma qualidade ruim (3 e 10); Bloco 2, formado pelas
estações com água de boa qualidade (1, 2, 4, 5 e 14); e Bloco 3, cuja qualidade é aceitá-
vel, formado pelo restante das estações.
Uma comparação da qualidade da água das estações entre os dois períodos de
seca é mostrada na Figura 8.17. Verifica-se que apenas na estação 2 (Rio Piracicaba,
distrito de Santa Rita Durão) houve melhora da qualidade da água, tendo se verificado
maiores diferenças entre os dois períodos nas estações 11A (Porto de Areia), 10 (Cariru),
9 (Porto do Bote) e 13 (entrada dos efluentes da Cenibra).
A Tabela 8.10 mostra os valores do Índice Físico-Químico de Chuva (IFQC)
para os dois períodos de chuva (P2C e P4C) juntamente com as classes de qualidade da
água, considerando a utilização de 3 e 5 classes de qualidade. Pelos resultados, observa-
se que sete estações se mantiveram nas mesmas classes de qualidade nos dois períodos
de chuva ao se utilizar um sistema de cinco classes, ao passo que, se adotado o sistema
com três classes, serão oito as estações coincidentes nos dois períodos de chuva.
TABELA 8.10
ÍNDICE FÍSICO-QUÍMICO E CLASSES DE QUALIDADE DA ÁGUA PARA OS PERÍODOS DE
...................................................
Estação de Amostra
CHUVA (P2C E P4C)
...................................................
13. Cenibra II -1,71 R R 0,23 A A
14. Cachoeira Escura 0,27 A A 1,77 B B
375
Na Figura 8.18 a existência de cinco blocos de estações é bastante clara
quando se consideram cinco classes de qualidade: Bloco 1, representado pelas estações
de qualidade ruim (3 e 13); Bloco 2, pelas estações cuja qualidade da água é péssima (9,
10, 11A); Bloco 3, formado pela estação 1, cuja qualidade é ótima; Bloco 4, formado
pelas estações de água de boa qualidade (2, 8, 4, 7 e 5); Bloco 5, cuja qualidade é
aceitável (6, 11B, 14 e 12).
A qualidade da água das estações durante o quarto período de amostragem
(chuvas) pode ser vista através do dendrograma mostrado na Figura 8.19, considerando-
se a existência de cinco classes de qualidade. Comparando-se os resultados desse perí-
odo com aqueles do segundo período de amostragem, verifica-se uma melhoria da
qualidade da água na maioria das estações de amostragem, particularmente na estação
11A (Porto de Areia).
A comparação do índice físico-químico para os períodos de chuva é mostrada
na Figura 8.20. Com exceção das estações 3 e 7, verifica-se uma melhoria na qualidade
da água em todas as estações, destacando-se a estação 11A.
Pelos resultados obtidos, verifica-se que a qualidade física e química da água,
medida através do IFQ varia consideravelmente entre as estações e nos períodos amos-
trados. Em termos gerais, a qualidade diminui durante o período de chuvas, evidencian-
do os impactos do material alóctone carreado para os rios no período. A estação 1 (Casca-
tinha, Parque Natural do Caraça) foi a que apresentou os maiores valores, resultado
esperado uma vez que os efeitos de impactos antrópicos na área são desprezíveis. A
estação 11A (desembocadura do Rio Piracicaba e Ribeirão Ipanema) foi a que apresen-
tou os valores mais baixos nos períodos amostrados.
Uma deterioração da qualidade da água segundo um gradiente longitudinal
em direção à foz do Rio Piracicaba é evidente. Assim, à exceção da estação 3 (a jusante
da Cosígua), as melhores estações são aquelas localizadas nos trechos superior e médio
do Rio Piracicaba, com uma sensível deterioração nas estações localizadas no denomi-
nado Vale do Aço, região que concentra importantes atividades antrópicas, destacando-
se a siderurgia de grande porte (Acesita e Usiminas, entre outras), além dos esgotos e
lixo das maiores cidades da região (Coronel Fabriciano, Ipatinga, Timóteo etc.). As
quatro últimas estações (11B, 12, 13 e 14), localizadas no médio Rio Doce, apesar de
receber uma carga considerável de esgotos domésticos e industriais, mostram uma ligei-
ra melhora da qualidade físico-química da água, provavelmente influenciada pelo maior
volume do Rio Doce, capaz de permitir uma diluição mais eficiente da carga poluidora.
376
qualidade (1 e 14); Bloco 2, formado pelas estações de ótima qualidade da água (5, 12 e
8); Bloco 3, formado pelas estações com uma péssima qualidade da água (2, 3 e 6); Bloco
4, com águas de qualidade ruim (7, 13 e 14); Bloco 5, formado pelas estações com uma
qualidade da água aceitável (9, 10, 11A e 11B). Para três classes de qualidade, os agrupa-
mentos obtidos são: águas de boa qualidade (1, 14, 5, 2 e 8), águas com uma qualidade
aceitável (9, 10, 11A, 11B e 4) e águas com uma qualidade ruim (2, 3, 6, 7 e 13).
TABELA 8.11
VALORES DO ÍNDICE BIOLÓGICO OBTIDOS PARA OS PERÍODOS DE SECA
...................................................
Estação de Amostragem
(BP1S E BP3S)
...................................................
13. Cenibra II -0,98 R R 3,21 O B
14. Cachoeira Escura 1,18 B B 1,86 O B
377
cando-se as estações 11A (Porto do Bote), 10 (Cariru) e 8 (Severo) como aquelas com os
menores valores; das oito estações restantes, verifica-se uma melhora significativa da
qualidade da água nas estações 2 (Santa Rita Durão), 13 (junto ao lançamento dos eflu-
entes da Cenibra) e 14 (Cachoeira Escura).
Os valores do índice biológico e as classes de qualidade da água corresponden-
tes para os períodos de chuva estão na Tabela 8.12. Comparando-se os dois períodos e
considerando-se a existência de cinco classes de qualidade, verifica-se que nove estações
mantiveram-se coincidentes entre esses períodos; uma classificação em três classes de
qualidade eleva esse número de estações coincidentes entre os dois períodos para 11.
TABELA 8.12
ÍNDICE BIOLÓGICO E CLASSES DE QUALIDADE DA ÁGUA PARA OS PERÍODOS DE CHUVA
...................................................
Estação de Amostragem
(BP2C E BP4C)
...................................................
13. Cenibra II -0,11 A A 0,5 B A
14. Cachoeira Escura 1,02 B B 1,02 B B
378
A situação no quarto período de amostragem (chuvas) é descrita na Figura
8.25. Considerando-se a existência de cinco classes de qualidade, verifica-se que tam-
bém nesse período não existem estações cujas águas têm qualidade ruim. Os agrupa-
mentos são os seguintes: Bloco 1, formado pelas estações com água de péssima qualida-
de (2, 6, 11B, 3 e 11A); Bloco 2, formado pelas estações cujas águas têm ótima qualidade
(1, 8 e 9); Bloco 3, com as estações com águas de qualidade aceitável (4, 10 e 7); Bloco
4, formado pelas estações com águas de boa qualidade (5, 12, 13 e 14). Para três classes
de qualidade, os agrupamentos são: águas de qualidade ruim (2, 6, 11B, 3 e 11A); águas
com qualidade aceitável (4, 7 e 10) e águas com boa qualidade (1, 8, 5, 12, 13 e 14).
A evolução da qualidade biológica das águas nos dois períodos de chuva é
mostrada na Figura 8.26. Verifica-se que em sete estações houve uma queda na qua-
lidade da água entre os períodos, destacando as estações 2 (Santa Rita) e 11B (Revés
do Belém) como aquelas onde se verificaram as maiores perdas de qualidade; nas
demais estações verificou-se uma melhora na qualidade da água, principalmente na
estação 8 (Severo).
Em termos gerais, a qualidade da água vista através de variáveis biológicas
tende a ser mais rigorosa do que a obtida de variáveis físicas e químicas. Os resultados
obtidos mostram a ocorrência de significativas diferenças sazonais tanto intra-anuais
como interanuais. Seu maior mérito, contudo, reside provavelmente no fato de repre-
sentarem a integração das condições do meio ao longo do tempo, ao contrário das vari-
áveis físicas e químicas, que geralmente expressam as condições prevalecentes no
momento da amostragem.
379
Período de seca: comparamos o IBS de BP1S com o IBS de BP3S: índices
coincidentes=8, k=0,30 (Z=1,65<1,96).
Período de chuva: comparamos o IBC de BP2C com o IBC de BP4C: índices
coincidentes=11, k=0,60 (Z=3,38>1,96).
380
Esses resultados sugerem que a estação 1 (Caraça) pode ser considerada uma
estação de referência, capaz de indicar parâmetros ideais para a caracterização de uma água de
boa qualidade em termos físico-químicos, o mesmo não sendo possível a partir dos seus
valores do índice biológico, fato que reforça a hipótese de este ter um caráter mais restritivo.
TABELA 8.13
...................................................
LIMITES PARA AS CLASSES DE QUALIDADE DA ÁGUA DAS ESTAÇÕES DE AMOSTRAGEM
...................................................
3 - i < -0,7 -0,7 i 0,7 i > 0,7 -
5 i < -1,4 -1,4 i <-0,4 -0,4 i 0,4 0,4 < i1,4 i > 1,4
381
qualidade de água variando entre ruim e boa, enquanto a estação 10 mostrou uma
qualidade da água oscilando entre aceitável e péssima.
TABELA 8.14
ÍNDICE DE QUALIDADE DA ÁGUA POR PERÍODO DE AMOSTRAGEM, CONSIDERANDO-SE
...................................................
Estações de IQAS
CINCO CLASSES DE QUALIDADE
...................................................
13 -0,07 A 0,66 B -0,61 R 0,29 A
14 0,88 B 0,61 B 0,34 A 1,02 B
DISCUSSÃO
Embora o índice físico-químico obtido no presente estudo forneça uma ferra-
menta de uso relativamente simples para se avaliar a qualidade da água e que pode ser
utilizada em programas de monitoramento, deve ser enfatizado que tal indicador ofere-
ce uma informação de uso limitado, uma vez que retrata, geralmente, uma situação
instantânea, além de estar sujeito a rápidas e profundas modificações. Além disso, índi-
ces físico-químicos geralmente não oferecem respostas integradas das reais condições
do meio, uma vez que não incluem as variáveis biológicas, retratando portanto uma
parte apenas das condições do meio.
As variáveis biológicas, por sua vez, constituem certamente melhores indi-
cadores dos processos em andamento num dado ambiente, pois têm a capacidade de in-
382
tegrar a influência de todos os fatores do meio, até mesmo os não detectados pelos
métodos analíticos convencionais, como salientado por Marvan (1979) em relação ao
potencial de informações de bio-ensaios algais em relação às informações obtidas de
variáveis físico-químicas.
Vale ressaltar, no entanto, que a utilização de variáveis e parâmetros biológi-
cos requer conhecimento básico dos organismos e seu funcionamento, para o que são
imprescindíveis a existência de especialistas e amostras representativas. Assim, a idéia
central quanto à utilização de índices de qualidade deve basear-se no pressuposto de
que índices físico-químicos e biológicos são necessariamente complementares e não
exclusivos e que só sua utilização conjunta poderá fornecer indicações seguras da quali-
dade da água e do ambiente em estudo.
A busca de indicadores satisfatórios da qualidade da água passa necessaria-
mente pela combinação das características físicas, químicas e biológicas, o que pode ser
resumido no seguinte modelo teórico: IQAg = ( IFQ + IB), sendo:
IQAg = Índice de Qualidade da Água
IFQ = Índice Físico-Químico
IB = Índice Biológico
Particularmente no caso da qualidade das águas da bacia do médio Rio Doce,
os índices obtidos retratam, de modo razoavelmente acurado, as condições existentes na
bacia, podendo provavelmente ser utilizados em programas de monitoramento e na
definição de políticas de recuperação e conservação das condições de água da bacia. A
inclusão de outros grupos de organismos aquáticos na definição do índice biológico
(plâncton e peixes, por exemplo) deve ser considerada, com o objetivo de se definirem
índices mais robustos e que melhor representem as reais condições das águas da bacia.
Um exemplo da utilização de tais índices com finalidades de monitoramento
é a confecção de mapas de qualidade da água, nos quais podem ser destacadas a qualida-
de físico-química, a qualidade biológica e a integração de ambas. As Figuras 8.29, 8.30
e 8.31 ilustram tais possibilidades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo construir índices de qualidade da água que
quantificassem os efeitos físicos, químicos e biológicos em diversas estações de amos-
tragem em sete sub-bacias do médio Rio Doce, medindo-se desse modo as mudanças
das estações no que se refere aos tipos e quantidades de poluentes na água, decorrentes
das diversas atividades antrópicas presentes na área.
Os índices foram construídos pela técnica de Análise de Componentes Princi-
pais para os períodos de seca e chuva separadamente. Os resultados encontrados mos-
tram que os índices construídos conseguem captar as mudanças na qualidade da água nas
estações de amostragem consideradas. Entretanto, este trabalho ainda não está concluí-
do, uma vez que a metodologia aqui sugerida deverá ser aperfeiçoada, possibilitando
uma melhor descrição da qualidade da água dos rios amostrados.
383
METAIS PESADOS NAS SUB-BACIAS
DO MÉDIO RIO DOCE
A principal fonte artificial de introdução de metais pesados no ambiente aqu-
ático é a poluição por descargas de efluentes industriais, principalmente através de
efluentes sólidos lançados diretamente na atmosfera, pequenos córregos ou mesmo rios
e lagos, como resultado de atividades tais como mineração, esgotos domésticos e culti-
vos onde são utilizados defensivos agrícolas.
Na área de estudo tais atividades estão amplamente distribuídas em pratica-
mente toda sua extensão, tornando os metais pesados um dos principais elementos de
preocupação nos estudos ambientais e planos de recuperação e manejo.
São apresentados a seguir os resultados de uma primeira avaliação qualitativa
e quantitativa de alguns metais pesados na água e sedimentos de áreas representativas
da bacia, com ênfase em estações de amostragem da Sub-bacia Rio Piracicaba, pela sua
importância econômica para a região.
Uma primeira avaliação dos níveis de metais pesados em peixes foi também
realizada, cujos resultados são apresentados e discutidos juntamente com aspectos tais
como a possível influência de agentes conservantes de amostras nos níveis de metais
pesados encontrados.
Sugestões para a mitigação dos impactos por metais pesados são apresenta-
das, juntamente com uma proposta biotecnológica de descontaminação para essa re-
gião. Deve-se ressaltar também o fato de tais resultados serem os primeiros dados sobre
metais pesados para a região.
O presente estudo teve como objetivo fornecer um panorama da distribuição e
concentração dos principais metais pesados nas sub-bacias do médio Rio Doce, além de
contribuir com subsídios para o diagnóstico da qualidade dos ambientes amostrados,
constituindo assim uma fonte importante de dados para planos de recuperação e manejo
das principais coleções de água do trecho médio da bacia do Rio Doce, em Minas Gerais.
MATERIAL E MÉTODOS
Para as determinações das concentrações de Cu, Cr, Ni, Pb e Zn nas amostras
de água, sedimentos e peixes, utilizou-se um espectrofotômetro de absorção atômica,
aspirando-se as soluções em chama de ar/acetileno ou óxido nitroso/acetileno.
As amostras de água e sedimento foram colhidas em todas as estações de
amostragem, nos períodos de seca e chuva, enquanto amostras de peixes foram colhidas
em apenas cinco estações de amostragem1.
As estações de amostragem mencionadas neste item são as mesmas utilizadas para a avaliação da
1
qualidade da água, anteriormente referidas, exceto para as estações de 11 a 15, que obedecem à
seguinte relação:
Estação 11 = 11b
Estação 12 = 11a
Estação 13 = 12
Estação 14 = 13
Estação 15 = 14
384
As amostras de sedimento foram divididas em dois grupos, submetidos a tra-
tamentos distintos:
para análise de Cr, Cu, Ni, Zn e Pb, o sedimento foi seco em estufa a 100 oC
durante 24 horas, após o que foi triturado e tamisado em malha de 100 mesh;
para análise de Hg, o sedimento foi seco a 40oC durante 72 horas, triturado em
banho de gelo e tamisado em malha de 200 mesh.
Para as amostras de peixes, foram retirados filés no sentido da cabeça para a
cauda, após terem sido descartados cabeça, cauda e tubo digestivo. Após homogeneiza-
ção dos filés de diferentes exemplares, o material foi triturado em graal de porcelana e
as amostras submetidas à digestão ácida.
RESULTADOS
NÍVEIS DE CR, PB, ZN, CU, NI E HG NA ÁGUA
As tabelas 8.15, 8.16, 8.17, 8.18 e 8.19 mostram os resultados obtidos a partir
de amostras de água, os quais foram comparados com os limites máximos permitidos,
segundo Conama (1986) para águas de classe 2. Destaque-se a ausência de mercúrio,
uma vez que sua concentração em todas as amostras se manteve abaixo do limite de
detecção do espectrofotômetro utilizado (LD = 0,0004 g/ml)1.
Os resultados mostram uma grande variação entre as estações amostradas,
oscilando desde concentrações inferiores ao limite de detecção do aparelho utilizado
até valores superiores ao limite máximo permissível, como verificado para o cromo nos
períodos de chuva de 1993/94 na estação 11a e o chumbo nas estações 9 e 11a, respec-
tivamente (tabelas 8.15 e 8.16).
Para o cromo os valores obtidos variaram de 0,005 a 0,060 mg/L nos períodos
de seca e de 0,002 a 0,090 mg/L nos períodos de chuva, como pode ser verificado na
Tabela 8.15. Os maiores valores foram registrados nas amostras das estação 11a (0,060
mg/L) no período de seca e (0,090 mg/L) no período de chuva.
O chumbo esteve presente em um número maior de estações no período de
seca. Do período de seca ao período de chuva, houve uma queda significativa nas con-
centrações desse elemento da estação 1 a 8. Os teores obtidos variaram de 0,005 a 0,027
mg/L no período de seca e de 0,020 a 0,039 mg/L no período de chuva (Tabela 8.16).
Em termos gerais, os teores de chumbo obtidos no período de seca foram
maiores em relação aos obtidos no período de chuva, com exceção das estações 9, 10 e
11a, onde houve uma inversão dos mesmos. Os maiores valores foram registrados nas
amostras das estações 6 (0,027mg/L) nos períodos de seca e 9 (0,039) no período de chuva.
Para o zinco todas as amostras apresentaram valores abaixo da concentração
máxima permitida para águas de classe 2. Os resultados obtidos variaram de 0,011 a
0,100 mg/L no período de seca e de 0,002 a 0,110 mg/L no período de chuva (Tabela
8.17). Os maiores valores foram registrados na estação 10. Exceto as estações 10 e 13,
todas as demais apresentaram teores maiores no período de seca.
385
As concentrações de cobre variaram de 0,004 a 0,009 mg/L em ambos os
períodos de estudo (Tabela 8.18). Os maiores valores foram registrados nas estações 5
(0,009 mg/L), 10 (0,009 mg/L), 11a (0,009 mg/L) e 14 (0,009 mg/L). Até a estação 8
não foi detectado teor de cobre no período de chuvas. Até a estação 9 o período de seca
apresentou teores maiores em relação aos de chuva, ocorrendo uma inversão a partir
da estação 10.
Para o níquel todas as amostras analisadas estavam abaixo da concentração
máxima permitida. Os valores oscilaram de 0,003 a 0,018 mg/L no período de seca e de
0,004 mg/L no período de chuva (Tabela 8.19). O maior teor foi encontrado na amostra
da estação 12. Em todas as estações de amostragem o período de seca apresentou teores
de níquel maiores em relação aos de chuva, com exceção da estação 11b, onde ocorreu
uma inversão.
TABELA 8.15
CONCENTRAÇÃO MÉDIA DE CROMO TOTAL (MG.L-1) NA ÁGUA NO PERÍODO 1993-1995
...................................................
Estações de Amostragem
(CR = 0,05 MG.L-1)*
Seca Chuva
1 ND ND
2 0,008 ± 0,001 ND
3 0,005 ± 0,001 ND
4 0,009 ± 0,001 ND
5 ND 0,003 ± 0,001
6 ND ND
7 0,011 ± 0,001 0,003 ± 0,001
8 ND 0,002 ± 0,001
9 0,027 ± 0,001 0,020 ± 0,001
10 0,017 ± 0,001 0,019 ± 0,001
11 ND 0,007 ± 0,001
12 0,060 ± 0,001 0,090 ± 0,001
13 0,007 ± 0,001 0,009 ± 0,001
14 0,020 ± 0,001 0,009 ± 0,001
...................................................
15 0,008 ± 0,001 0,009 ± 0,001
386
TABELA 8.16
CONCENTRAÇÃO MÉDIA DE CHUMBO TOTAL (MG.L-1) NA ÁGUA NO PERÍODO 1993-1995
...................................................
Estações de Amostragem
(PB = 0,03 MG.L-1)*
Seca Chuva
1 0,010 ± 0,001 ND
2 0,018 ± 0,001 ND
3 0,016 ± 0,001 ND
4 0,009 ± 0,001 ND
5 0,006 ± 0,001 ND
6 0,027 ± 0,001 ND
7 0,005 ± 0,001 ND
8 ND ND
9 0,007 ± 0,001 0,039 ± 0,001
10 0,012 ± 0,001 0,020 ± 0,001
11 ND ND
12 0,006 ± 0,001 0,031 ± 0,001
13 ND ND
...................................................
14 ND ND
15 ND ND
TABELA 8.17
CONCENTRAÇÃO MÉDIA DE ZINCO TOTAL (MG.L-1) NA ÁGUA NO PERÍODO 1993-1995
...................................................
Estações de Amostragem
(ZN = 0,18 MG.L-1)*
Seca Chuva
1 0,025 ± 0,001 ND
2 0,030 ± 0,001 ND
3 0,060 ± 0,001 ND
4 0,020 ± 0,001 0,002 ± 0,001
5 0,011 ± 0,001 ND
6 0,060 ± 0,001 0,006 ± 0,001
7 0,020 ± 0,001 0,003 ± 0,001
8 0,020 ± 0,001 0,002 ± 0,001
9 0,016 ± 0,001 0,010 ± 0,001
10 0,100 ± 0,001 0,110 ± 0,001
11 0,027 ± 0,001 0,019 ± 0,001
12 0,050 ± 0,001 0,050 ± 0,001
13 0,030 ± 0,001 0,027 ± 0,001
...................................................
14 0,021 ± 0,001 0,030 ± 0,001
15 0,032 ± 0,001 0,026 ± 0,001
387
TABELA 8.18
CONCENTRAÇÃO MÉDIA DE COBRE TOTAL (MG.L-1) NA ÁGUA NO PERÍODO 1993-1995
...................................................
Estações de Amostragem
(CU = 0,02 MG.L-1)*
Seca Chuva
1 0,006 ± 0,001 ND
2 0,005 ± 0,001 ND
3 0,007 ± 0,001 ND
4 0,008 ± 0,001 ND
5 0,009 ± 0,001 ND
6 0,007 ± 0,001 ND
7 0,006 ± 0,001 ND
8 0,007 ± 0,001 ND
9 0,008 ± 0,001 0,004 ± 0,001
10 0,005 ± 0,001 0,009 ± 0,001
11 ND 0,005 ± 0,001
12 0,007 ± 0,001 0,009 ± 0,001
13 0,005 ± 0,001 0,008 ± 0,001
...................................................
14 0,006 ± 0,001 0,008 ± 0,001
15 0,004 ± 0,001 0,009 ± 0,001
TABELA 8.19
CONCENTRAÇÃO MÉDIA DE NÍQUEL TOTAL (MG.L-1) NA ÁGUA NO PERÍODO 1993-1995
...................................................
Estações de Amostragem
(NI = 0,025 MG.L-1)*
Seca Chuva
1 0,008 ± 0,001 ND
2 0,005 ± 0,001 ND
3 0,007 ± 0,001 ND
4 0,008 ± 0,001 0,004 ± 0,001
5 0,009 ± 0,001 ND
6 0,006 ± 0,001 ND
7 0,005 ± 0,001 0,004 ± 0,001
8 0,005 ± 0,001 ND
9 0,007 ± 0,001 ND
10 0,008 ± 0,001 0,004 ± 0,001
11 0,003 ± 0,001 0,004 ± 0,001
12 0,007 ± 0,001 0,004 ± 0,001
13 0,018 ± 0,001 0,004 ± 0,001
...................................................
14 0,005 ± 0,001 0,004 ± 0,001
15 0,004 ± 0,001 0,004 ± 0,001
388
METAIS PESADOS NO SEDIMENTO
TABELA 8.20
...................................................
Estações de
PERDA AO FOGO (%) NOS SEDIMENTOS NO PERÍODO 1993-1995
1993 1994-1995
Amostragem Seca Chuva Seca Chuva
1 0,15 0,32 0,35 0,16
2 5,91 2,99 2,07 3,12
3 14,80 9,88 10,64 1,93
4* 8,58 6,39 0,17 7,12
5 2,14 1,64 2,26 1,71
6 NA 3,58 8,56 4,36
7 14,30 15,60 1,37 NA
8 8,82 1,58 9,44 1,17
9 14,40 3,43 6,56 0,59
10 12,80 1,83 4,14 6,01
11* 4,06 9,59 5,55 7,07
12 1,13 2,15 7,08 12,90
13* 7,22 8,00 11,43 9,45
14* 0,55 1,91 4,96 12,40
...................................................
15 8,50 6,94
NA - Não analisado
*
Sedimento de fundo (dragado)
389
CROMO TOTAL
TABELA 8.21
CONCENTRAÇÃO MÉDIA DE CROMO TOTAL (G.G-1) NO SEDIMENTO NO PERÍODO 1993-1995
...................................................
Estações de
(CR = 53 G.G-1 )**
1993 1994-1995
Amostragem Seca Chuva Seca Chuva
1 ND ND ND ND
2 119,9 ± 0,3 132,0 ± 0,1 55,7 ± 0,3 83,3 ± 0,4
3 31,8 ± 0,4 36,0 ± 0,3 24,6 ± 0,1 21,2 ± 0,3
4* 155,9 ± 0,3 140,2 ± 0,3 179,4 ± 0,4 182,9 ± 0,4
5 71,8 ± 0,1 95,8 ± 0,3 84,4 ± 0,3 64,9 ± 0,1
6 NA 36,0 ± 0,3 46,1 ± 0,3 44,2 ± 0,1
7 399,7 ± 0,3 183,4 ± 0,3 79,8 ± 0,2 55,8 ± 0,2
8 51,9 ± 0,4 108,0 ± 0,3 90,2 ± 0,4 104,6 ± 0,4
9 1076,6 ± 0,5 223,9 ± 0,3 40,1 ± 0,2 32,2 ± 0,3
10 108,5 ± 0,1 32,1 ± 0,1 48,1 ± 0,3 NA
11* 67,9 ± 0,3 31,9 ± 0,1 72,3 ± 0,3 64,5 ± 0,5
12 278,4 ± 0,1 28,0 ± 0,4 48,7 ± 0,3 41,3 ± 0,3
13* 68,7 ± 0,3 107,9 ± 0,1 120,8 ± 0,3 112,9 ± 0,1
...................................................
14* ND 28,0 ± 0,4 50,5 ± 0,3 21,2 ± 0,3
15 103,9 ± 0,4 35,9 ± 0,1 90,3 ± 0,4 104,6 ± 0,1
CHUMBO TOTAL
Para o chumbo foram feitos, em todas as amostras, dois ataques ácidos, a
quente e a frio. Os resultados das duas análises de chumbo em sedimento estão apresen-
tados nas tabelas 8.22 e 8.23, respectivamente.
390
De acordo com Pfeiffer et al. (1985), o valor médio de chumbo em áreas não
poluídas é de 19 g/g. De acordo com a Tabela 8.22, a maioria das amostras apresentou
resultados acima desse valor. Os valores obtidos variaram de 21,0 a 125,2 g/g nos perío-
dos de seca e de 2,2 a 87,9 g/g nos períodos de chuva. Os maiores valores foram registra-
dos nas amostras das estações 3 (125,2 g/g) e 9 (91,7 g/g), no período de seca, e na estação
3 (87,9 g/g) no período de chuva.
Houve uma queda acentuada nos teores de chumbo no período de 1993 a
1994-95 em quase todas as amostras. Já em relação à estação 13, houve um aumento
significativo nos teores. Não foi detectado teor de chumbo na estação 1.
No ataque a frio, ao contrário do ataque a quente, a maior parte das estações
apresentou concentrações de chumbo abaixo dos valores encontrados em regiões Não
poluídas e abaixo dos valores obtidos no ataque a quente. Os valores oscilaram de 4,6 a
75,7 g/g nos períodos de seca e de 2,2 a 47,3 g/g nos períodos de chuva (Tabela 8.23). Os
maiores valores foram registrados nas amostras das estações 3 (75,7 g/g) e 9 (70,8 g/g).
As estações 3 e 9 mostram um decréscimo acentuado do período de 1993 para
1994-95. Foi detectado teor de chumbo na estação 1 somente no período de chuva de 1994-95.
TABELA 8.22
CONCENTRAÇÃO MÉDIA DE CHUMBO TOTAL (G.G-1) NO SEDIMENTO NO PERÍODO 1993-1995
...................................................
Estações de
ATAQUE A QUENTE (PB = 19 G.G-1 )**
1993 1994-1995
Amostragem Seca Chuva Seca Chuva
1 ND ND ND ND
2 28,0 ± 0,3 22,0 ± 0,1 ND 5,2 ± 0,3
3 125,2 ± 0,6 87,9 ± 0,1 110,0 ± 0,4 3,0 ± 0,1
4* 28,0 ±0,3 36,1 ± 0,1 22,2 ± 0,3 10,6 ± 0,3
5 21,9 ± 0,3 26,0 ± 0,6 ND 7,6 ± 0,3
6 NA 28,0 ± 0,3 20,0 ± 0,6 9,8 ± 0,3
7 44,0 ± 0,1 39,9 ± 0,3 ND NA
8 41,9 ± 0,1 64,0 ± 0,3 28,6 ± 0,3 2,2 ± 0,3
9 91,7 ± 0,3 32,0 ± 0,1 ND 3,8 ± 0,1
10 64,3 ± 0,4 35,1 ± 0,1 30,0 ± 0,6 26,0 ± 0,3
11* 23,9 ± 0,1 29,9 ± 0,3 ND 19,2 ± 0,3
12 67,6 ± 0,1 28,0 ± 0,1 28,0 ± 0,6 47,3 ± 0,4
13* 36,4 ± 0,3 44,0 ± 0,4 32,5 ± 0,3 28,3 ± 0,1
14* ND 18,0 ± 0,3 27,9 ± 0,1 38,9 ± 0,3
...................................................
15 34,0 ± 0,3 27,9 ± 0,3
391
TABELA 8.23
CONCENTRAÇÃO MÉDIA DE CHUMBO TOTAL (G.G-1) NO SEDIMENTO NO PERÍODO 1993-1995
...................................................
Estações de
ATAQUE A FRIO.(PB = 19 G.G-1 )**
1993 1994-1995
Amostragem Seca Chuva Seca Chuva
1 ND ND ND 2,2 ± 0,1
2 5,1 ± 0,5 ND ND 3,6 ± 0,1
3 75,7 ± 0,7 47,3 ± 0,6 38,3 ± 0,8 7,8 ± 0,2
4* 7,7 ± 0,6 4,3 ± 0,2 8,7 ± 0,7 3,8 ± 0,1
5 8,8 ± 0,8 ND 4,8 ± 0,9 ND
6 NA 15,7 ± 0,5 10,1 ± 1,1 12,2 ± 0,2
7 30,0 ± 0,4 16,6 ± 0,3 14,7 ± 1,5 NA
8 21,3 ± 0,7 22,3 ± 0,3 18,4 ± 0,1 9,9 ± 0,2
9 70,8 ± 0,6 21,9 ± 0,2 12,8 ± 1,2 8,0 ± 0,2
10 37,5 ± 0,5 20,4 ± 0,2 44,7 ± 1,3 28,9 ± 0,1
11* 7,9 ± 0,3 6,9 ± 0,3 6,6 ± 0,2 9,4 ± 0,2
12 20,6 ± 0,4 14,2 ± 0,3 17,1 ± 1,7 28,5 ± 0,4
13* 18,2 ± 0,6 16,9 ± 0,4 16,5 ± 0,9 14,5 ± 0,3
...................................................
14* 4,6 ± 0,5 7,6 ± 0,1 11,2 ± 0,9 19,8 ± 0,8
15 16,0 ± 0,4 9,9 ± 0,4 16,0 ± 1,1 12,4 ± 0,4
ZINCO TOTAL
Os resultados das análises de zinco são apresentados na Tabela 8.24. De acor-
do com Pfeiffer et al. (1985), o valor médio de zinco em áreas não poluídas é de 95 g/g.
De acordo com a Tabela 8.24, grande parte das estações de amostragem apresentou
resultados acima desse valor. Os valores oscilaram de 12,0 a 300,0 g/g nos períodos de
seca e de 16,3 a 455,4 g/g nos períodos de chuva. Os maiores teores foram registrados nas
amostras das estações 3 (300,0 g/g) e 11a (284,4 g/g), nos períodos de seca, 3 (455,4 g/g)
e 14 (315,3 g/g) nos períodos de chuva.
No período de chuvas de 1993, foram registrados teores mais elevados que os
da estação seca em todas as estações de amostragem, com exceção das estações 1, 10 e
11a, onde ocorreu uma inversão. No período de 1994-95, houve um decréscimo da
estação seca para chuvosa até a estação 10, invertendo a partir da estação 11b.
392
TABELA 8.24
CONCENTRAÇÃO MÉDIA DE ZINCO TOTAL (G.G-1) NO SEDIMENTO NO PERÍODO 1993-1995
...................................................
Estações de
(ZN = 95 G.G-1 )**
1993 1994-1995
Amostragem Seca Chuva Seca Chuva
1 120,1 ± 0,1 87,8 ± 0,3 ND ND
2 67,9 ± 0,3 130,0 ± 0,4 ND ND
3 300,0 ± 0,1 455,4 ± 0,3 204,2 ± 0,6 ND
4* 36,0 ± 0,4 190,3 ± 0,4 59,1 ± 0,1 11,6 ± 0,3
5 12,0 ± 0,4 139,7 ± 0,3 16,3 ± 0,3 ND
6 NA 89,9 ± 0,1 76,8 ± 0,4 19,8 ± 0,4
7 91,9 ± 0,1 199,4 ± 0,6 62,8 ± 0,2 NA
8 65,9 ± 0,3 285,9 ± 0,1 56,8 ± 0,2 ND
9 133,9 ± 0,4 201,9 ± 0,1 19,5 ± 0,2 ND
10 241,1 ± 0,1 230,6 ± 0,6 106,1 ± 0,3 91,0 ± 0,3
11* 53,9 ± 0,3 207,5 ± 0,7 55,1 ± 0,2 70,7 ± 0,3
12 284,4 ± 0,1 256,3 ± 0,4 78,9 ± 0,3 99,1 ± 0,1
13* 117,2 ± 0,3 193,9 ± 0,4 120,4 ± 0,3 147,5 ± 0,1
...................................................
14* 52,1 ± 0,1 74,0 ± 0,3 51,3 ± 0,4 78,3 ± 0,4
15 67,9 ± 0,1 315,3 ± 0,1 97,0 ± 0,2 30,2 ± 0,3
COBRE TOTAL
Os resultados da análise de cobre são apresentados na Tabela 8.25. De acordo
com Pfeiffer et al. (1985), o valor médio de cobre em áreas não poluídas é de 33 g/g. De
acordo com a Tabela 8.25, todas as estações de amostragem apresentaram resultados
abaixo desse valor, com exceção das estações 4 (seca 1994-95), 8 (chuva 1993), 10 (seca
1993), 12 (seca e chuva 1994-95) e 13 (chuva 1994-95), cujos valores estão acima desse
limite. Os teores oscilaram de 12 a 44,0 g/g nos períodos de seca e de 3,4 a 46,0 g/g nos
períodos de chuva. Os maiores teores foram registrados nas amostras das estações 4 (44,0
g/g), nos períodos de seca, e 8 (46,0 g/g) nos períodos de chuva. Não foi detectado teor
de cobre na estação 1. No ano de 1993, houve um decréscimo nos teores de cobre do
período de seca para chuva em todas as estações de amostragem, com exceção das
estações 5, 8 e 12, onde ocorreu uma inversão. Nos anos de 1994-95 houve um decrés-
cimo acentuado na estação 8.
393
TABELA 8.25
CONCENTRAÇÃO MÉDIA DE COBRE TOTAL (G.G-1) NO SEDIMENTO NO PERÍODO 1993-1995
...................................................
Estações de
(CU = 33 G.G-1 )**
1993 1994-1995
Amostragem Seca Chuva Seca Chuva
1 ND ND ND ND
2 12,0 ± 0,1 ND ND 3,4 ± 0,3
3 16,0 ± 0,3 12,0 ± 0,1 12,0 ± 0,4 4,4 ± 0,3
4* 30,0 ± 0,1 20,0 ± 0,3 44,0 ± 0,2 25,0 ± 0,4
5 16,0 ± 0,1 18,0 ± 0,1 14,0 ± 0,3 10,0 ± 0,1
6 NA 14,0 ± 0,1 ND 9,0 ± 0,3
7 30,0 ± 0,4 16 ,0 ± 0,6 ND NA
8 16,0 ± 0,1 46,0 ± 0,7 21,0 ± 0,3 ND
9 29,9 ± 0,3 ND ND ND
10 34,2 ± 0,3 ND ND 17,4 ± 0,3
11* 16,0 ± 0,1 ND 22,0 ± 0,2 29,7 ± 0,3
12 29,8 ± 0,4 ND 12,0 ± 0,1 28,8 ± 0,4
13* 20,2 ± 0,3 24,0 ± 0,3 36,1 ± 0,1 36,1 ± 0,1
...................................................
14* ND ND 22,0 ± 0,1 44,1 ± 0,1
15 22,0 ± 0,4 ND 25,0 ± 0,3 22,4 ± 0,6
NÍQUEL TOTAL
Os resultados da análise de níquel são apresentados na Tabela 8.26. De
acordo com Torres (1992), o valor médio de níquel em áreas não poluídas é de 29 g/
g. Pela Tabela 8.26, vê-se que grande parte das amostras apresentou resultados acima
desse valor. Os valores variaram de 20,1 a 309,0 g.g-1 nos períodos de seca e de 13,4
a 123,9 g.g-1 nos períodos de chuva. Os maiores teores foram registrados nas amostras
da estação 9 (309,0 g.g-1), nos períodos de seca, e 9 (123,9g.g-1) nos períodos de chuva.
Não foi detectada concentração de níquel nas estações de amostragem de 1 a 5 no
período de 1993. Também não foi detectada concentração desse metal nas estações
de 9 a 11a no período de seca nos anos de 1994-95. Do período de seca ao de chuva
de 1994-95 as estações 10, 11b, 11a e 13 sofreram um aumento significativo nos
valores de concentração de níquel. Houve um decréscimo significativo na estação 9
no período de 1993 a 1994-95.
394
TABELA 8.26
CONCENTRAÇÃO MÉDIA DE NÍQUEL TOTAL (G.G-1) NO SEDIMENTO NO PERÍODO 1993-1995
...................................................
Estações de
(NI = 29 G.G-1 )**
1993 1994-1995
Amostragem Seca Chuva Seca Chuva
1 ND ND ND ND
2 ND ND 44,1 ± 0,1 25,4 ± 0,1
3 ND ND 20,0 ± 0,1 ND
4* ND ND 87,9 ± 0,3 27,6 ± 0,3
5 ND ND 28,0 ± 0,1 15,8 ± 0,4
6 NA 43,9 ± 0,1 24,0 ± 0,1 ND
7 38,0 ± 0,1 74,0 ± 0,3 20,1 ± 0,1 NA
8 69,8 ± 0,3 48,0 ± 0,1 68,1 ± 0,1 ND
9 309,0 ± 0,1 123,9 ± 0,1 ND ND
10 ND ND ND 27,4 ± 0,4
11* 37,9 ± 0,1 88,0 ± 0,3 ND 27,8 ± 0,4
12 ND 28,0 ± 0,1 ND 26,4 ± 0,6
13* ND 44,0 ± 0,1 52,0 ± 0,1 41,7 ± 0,3
...................................................
14* 24,0 ± 0,3 ND ND 50,5 ± 0,6
15 ND ND 52,0 ± 0,1 13,4 ± 0,6
MERCÚRIO TOTAL
Os resultados das análises de mercúrio no sedimento, apresentados na Tabela
8.27, foram comparados com valores obtidos da literatura (Silva et al., 1989), os quais
definem um limite máximo de 0,1 g Hg/g. Todas as estações de amostragem estavam
acima desse limite, com exceção da estação 1, que apresentou valores abaixo desse
limite no período de 1993 a 1994-95.
As concentrações variaram de 0,015 a 4,930 g/g nos períodos de seca e de
0,024 a 0,565 g/g nos períodos de chuva. Os maiores valores foram registrados nas
estações 5 (4,930 g/g ), 11a (0,964 g/g) e 12 (0,745 g/g), nos períodos de seca, e 10 (0,491
g/g) e 11a (0,565 g/g). A estação 5 apresentou um decréscimo significativo do período
de seca de 1993 a chuva de 1993.
395
TABELA 8.27
CONCENTRAÇÃO MÉDIA DE MERCÚRIO TOTAL (G.G-1) NO SEDIMENTO NO PERÍODO 1993-1995
...................................................
Estações de
(HG = 0,1G.G-1 )**
1993 1994-1995
Amostragem Seca Chuva Seca Chuva
1 0,097 ± 0,003 0,024 ± 0,001 0,038 ± 0,002 0,058 ± 0,006
2 0,171 ± 0,001 0,361 ± 0,001 0,148 ± 0,003 0,270 ± 0,003
3 0,596 ± 0,001 0,367 ± 0,003 0,507 ± 0,003 0,115 ± 0,003
4* 0,465 ± 0,001 0,177 ± 0,003 0,317 ± 0,003 0,311 ± 0,006
5 4,930 ± 0,003 0,312 ± 0,003 0,336 ± 0,004 0,159 ± 0,001
6 NA 0,391 ± 0,001 0,274 ± 0,001 0,168 ± 0,004
7 0,557 ± 0,003 0,373 ± 0,004 0,132 ± 0,003 NA
8 0,150 ± 0,001 0,189 ± 0,003 0,188 ± 0,002 0,145 ± 0,004
9 0,257 ± 0,003 0,214 ± 0,001 0,068 ± 0,003 0,084 ± 0,004
10 0,267 ± 0,003 0,318 ± 0,001 0,329 ± 0,001 0,491 ± 0,001
11* 0,067 ± 0,003 0,318 ± 0,004 0,280 ± 0,001 0,311 ± 0,001
12 0,141 ± 0,001 0,565 ± 0,004 0,964 ± 0,006 0,362 ± 0,003
13* 0,282 ± 0,003 0,287 ± 0,003 0,745 ± 0,004 0,260 ± 0,001
...................................................
14* 0,015 ± 0,001 0,232 ± 0,003 0,125 ± 0,004 0,362 ± 0,003
15 0,238 ± 0,004 0,330 ± 0,004 0,261 ± 0,005 0,227 ± 0,001
NA - Não analisado
*
Sedimento de fundo (dragado)
**
Limite máximo tolerável de mercúrio em sedimento (Silva et al., 1989)
396
FIGURA 8.1
MAPA DAS ESTAÇÕES DE AMOSTRAGEM NO TRECHO MÉDIO DO RIO DOCE,
DESTACANDO A SUB-BACIA DO RIO PIRACICABA, EM MINAS GERAIS.
LEGENDA
Limite Intermunicipal
Hidrografia
Cursos d'água onde foram
realizadas amostragens
Pontos de Amostragem -
Limnologia Estação 1 (referência)
Pontos de Amostragem -
Ictiologia
(estações P1 aP11)
397
Fonte: Mapas de Cobertura Vegetal e Uso do Solo do Estado de Minas Gerais, elaborados pela Funcate/INPE em 1994, a partir da interpretação de imagens do Satélite LANDSAT TM-5 de setembro de 1993. Programa Pró-Floresta/
Instituto Estadual de Florestas - IEF/MG
Escala Original: 1:100.000 - Geoprocessamento: Biol. Elena Charlotte Landau / Colaboração: Geog. Alexandre A. de Oliveira - Data: abril/1997
FIGURA 8.15
DENDROGRAMA DO ÍNDICE FÍSICO-QUÍMICO PARA O 1O PERÍODO (SECA) - P1S.
FIGURA 8.16
DENDROGRAMA DO ÍNDICE FÍSICO-QUÍMICO PARA O 3O PERÍODO (SECA) - P3S.
FIGURA 8.17
COMPARAÇÃO DO ÍNDICE FÍSICO-QUÍMICO NOS PERÍODOS DE SECA.
398
FIGURA 8.18
DENDROGRAMA DO ÍNDICE FÍSICO-QUÍMICO PARA O 2O PERÍODO (CHUVA) - P2C.
FIGURA 8.19
DENDROGRAMA DO ÍNDICE FÍSICO-QUÍMICO PARA O 4O PERÍODO (CHUVA) - P4C.
FIGURA 8.20
COMPARAÇÃO DO ÍNDICE FÍSICO-QUÍMICO NOS PERÍODOS DE CHUVA.
399
FIGURA 8.21
DENDROGRAMA DO ÍNDICE BIOLÓGICO DO 1O PERÍODO (SECA) - BP1S.
FIGURA 8.22
DENDROGRAMA DO ÍNDICE BIOLÓGICO DO 3O PERÍODO (SECA) - BP3S.
FIGURA 8.23
EVOLUÇÃO DO ÍNDICE BIOLÓGICO NOS PERÍODOS DE SECA.
400
FIGURA 8.24
DENDROGRAMA DO ÍNDICE BIOLÓGICO DO 2O PERÍODO (CHUVA) - BP2C.
FIGURA 8.25
DENDROGRAMA DO ÍNDICE BIOLÓGICO PARA O 4O PERÍODO DE AMOSTRAGEM (CHUVA) - BP4C.
FIGURA 8.26
EVOLUÇÃO DO ÍNDICE BIOLÓGICO NOS PERÍODOS DE CHUVA.
401
FIGURA 8.27
DISPERSÃO ENTRE OS ÍNDICES FÍSICO-QUÍMICO E BIOLÓGICO NOS PERÍODOS DE SEC A.
FIGURA 8.28
DISPERSÃO ENTRE OS ÍNDICES FÍSICO-QUÍMICO E BIOLÓGICO NOS PERÍODOS DE CHUVA.
FIGURA 8.32
CONCENTRAÇÃO TOTAL DE MERCÚRIO (µG.G-1 PESO ÚMIDO)
NA AMOSTRA DE PEIXE A7 EM TRÊS TIPOS DE CONSERVAÇÃO.
402
FIGURA 8.29
ÍNDICE DE QUALIDADE DA ÁGUA POR PERÍODO DE AMOSTRAGEM
NA BACIA DO RIO DOCE, MG - BRASIL
LEGENDA
Limite Intermunicipal
Hidrografia
Cursos d'água onde foram realizadas
amostragens
Pontos de Coleta
AMOSTRAGEM
Período de Seca/ 1993
Período de Seca/ 1994
Período de Chuva/ 1993
Período de Chuva/ 1994
VALOR DO ÍNDICE
Ótimo
Bom
Aceitável
Ruim
Péssimo
403
Fonte: Mapas de Cobertura Vegetal e Uso do Solo do Estado de Minas Gerais, elaborados pela Funcate/INPE em 1994, a partir da interpretação de imagens do Satélite LANDSAT TM-5 de setembro de 1993. Programa Pró-Floresta/
Instituto Estadual de Florestas - IEF/MG
Escala Original: 1:100.000 - Geoprocessamento: Biol. Elena Charlotte Landau / Colaboração: Geog. Alexandre A. de Oliveira - Data: abril/1997
FIGURA 8.30
404
LEGENDA
Limite Intermunicipal
Hidrografia
Cursos d'água onde foram realizadas
amostragens
Pontos de Coleta
AMOSTRAGEM
Período de Seca/ 1993
VALOR DO ÍNDICE
Ótimo
Bom
Aceitável
Ruim
Péssimo
Fonte: Mapas de Cobertura Vegetal e Uso do Solo do Estado de Minas Gerais, elaborados pela Funcate/INPE em 1994, a partir da interpretação de imagens do Satélite LANDSAT TM-5 de setembro de 1993. Programa Pró-Floresta/
Instituto Estadual de Florestas - IEF/MG
Escala Original: 1:100.000 - Geoprocessamento: Biol. Elena Charlotte Landau / Colaboração: Geog. Alexandre A. de Oliveira - Data: abril/1997
FIGURA 8.31
ÍNDICE BIOLÓGICO DE QUALIDADE DA ÁGUA NA BACIA DO RIO DOCE,
MG - BRASIL
LEGENDA
Limite Intermunicipal
Hidrografia
Cursos d'água onde foram realizadas
amostragens
Pontos de Coleta
AMOSTRAGEM
Período de Seca/ 1993
Período de Seca/ 1994
Período de Chuva/ 1993
Período de Chuva/ 1994
VALOR DO ÍNDICE
Ótimo
Bom
Aceitável
Ruim
Péssimo
405
Fonte: Mapas de Cobertura Vegetal e Uso do Solo do Estado de Minas Gerais, elaborados pela Funcate/INPE em 1994, a partir da interpretação de imagens do Satélite LANDSAT TM-5 de setembro de 1993. Programa Pró-Floresta/
Instituto Estadual de Florestas - IEF/MG
Escala Original: 1:100.000 - Geoprocessamento: Biol. Elena Charlotte Landau / Colaboração: Geog. Alexandre A. de Oliveira - Data: abril/1997
FIGURA 8.33
CONCENTRAÇÃO TOTAL DE MERCÚRIO (µG.G-1 PESO ÚMIDO)
NA AMOSTRA DE PEIXE A8 EM TRÊS TIPOS DE CONSERVAÇÃO.
FIGURA 8.34
MÉDIA DO NÚMERO DE TAXA DE ORGANISMOS FITOPLANCTÔNICOS NAS SUB-BACIAS DO
MÉDIO RIO DOCE NO PERÍODO 1993-1995.
FIGURA 8.35
DENSIDADE MÉDIA DE ORGANISMOS FITOPLANCTÔNICOS NAS SUB-BACIAS DO MÉDIO
RIO DOCE NO PERÍODO 1993-1995.
406
FIGURA 8.42
NÚMERO ACUMULADO DE TAXA DA BENTONOFAUNA NAS SUB-BACIAS DO MÉDIO RIO
DOCE NO PERÍODO 1993-1995.
FIGURA 8.43
PERCENTAGEM (MEDIANA) DA CONTRIBUIÇÃO DA FAMÍLIA DOMINANTE NAS SUB-BACIAS
DO MÉDIO RIO DOCE NO PERÍODO 1993-1995.
FIGURA 8.44
DENSIDADE MEDIANA (ORG./M2) DE ORGANISMOS DA BENTONOFAUNA NAS SUB-BACIAS
DO MÉDIO RIO DOCE, NO PERÍODO 1993-1995.
407
FIGURA 8.45
PERCENTAGEM MEDIANA DE CONTRIBUIÇÃO DAS FAMÍLIAS DE EPHEMEROPTERA, PLECOPTERA
E TRICHOPTERA-EPT NAS SUB-BACIAS DO MÉDIO RIO DOCE, NO PERÍODO 1993-1995.
FIGURA 8.46
DENSIDADE MEDIANA DAS FAMÍLIAS EPHEMEROPTERA, PLECOPTERA E TRICHOPTERA-
EPT NAS SUB-BACIAS DO MÉDIO RIO DOCE, NO PERÍODO 1993-1995.
FIGURA 8.47
PERCENTAGEM MEDIANA DOS GRUPOS CHIRONOMIDAE E OLIGOCHAETA NAS SUB-
BACIAS DO MÉDIO RIO DOCE, NO PERÍODO 1993-1995.
408
EFEITO DO CONSERVANTE DA AMOSTRA
NA CONCENTRAÇÃO DE MERCÚRIO
As concentrações de mercúrio encontradas nas amostras A7 e A8, congeladas,
foram de 0,86 e 0,51g/g, respectivamente. As amostras conservadas em formalina 10%
apresentaram teores de 0,75 e 0,48 g/g e aquelas preservadas em álcool, 0,63 e 0,46 g/g.
Os maiores valores foram registrados para as amostras congeladas, e os menores para as
amostras conservadas em álcool (figuras 8.32 e 8.33). A amostra A7 apresentou teores
acima do limite máximo permitido.
Na amostra A7 houve uma perda de 12,8% de mercúrio quando fixada com
formalina 10%, e de 26,7% quando fixada com álcool absoluto. Já na amostra A8 as
perdas foram de 5,9% e 9,8% respectivamente.
TABELA 8.28
CONCENTRAÇÕES MÉDIAS DE ZINCO E MERCÚRIO TOTAIS (G.G-1 PESO ÚMIDO) EM AMOSTRAS
...................................................
DE PEIXE COLHIDAS NAS SUB-BACIAS DO MÉDIO RIO DOCE NO PERÍODO 1993-1995
...................................................
A5 (P) RP 131 e RP 134 Cenibra 8,0 ± 1,13 0,14 ± 0,03
A6 (A) RP 145 e RP 146 Cenibra 1,9 ± 1,4 0,17 ± 0,07
TABELA 8.29
CONCENTRAÇÃO MÉDIA DE MERCÚRIO TOTAL (µG/G PESO ÚMIDO) EM AMOSTRAS DE
...................................................
PEIXE CONSERVADAS DE MANEIRAS DIFERENTES NO PERÍODO 1993-1995
...................................................
A7 (P) RP840 Álcool idem 0,63 ± 0,05
A8 (P) RP922 Álcool idem 0,46 ± 0,04
P - Piscívoro
409
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
METAIS PESADOS NA ÁGUA
Os resultados obtidos para os metais (Cr, Pb, Zn, Cu e Ni) apresentaram teores
abaixo da concentração máxima permitida para águas de classe 2, com exceção daque-
les obtidos para as estações 9 e 11a. A estação 11a também apresentou teores elevados
de cromo. Esses teores elevados de cromo na estação 11a e de chumbo nas estações 9 e
11a devem-se provavelmente à qualidade dos efluentes recebidos por elas.
A estação 9 recebe efluentes de siderurgia e esgoto doméstico, e a estação
11a recebe efluentes de curtumes e esgotos doméstico e hospitalar carreados pelo Ri-
beirão Ipanema e mais os efluentes das estações anteriores.
Para o zinco e cobre a estação 10, onde as concentrações foram maiores,
recebe efluentes de siderurgia e esgoto doméstico. A estação 12, que apresentou teor de
níquel maior, recebe efluentes da Cenibra.
O fato de o período de seca apresentar, em geral, teores mais elevados de
metais pode estar relacionado a um menor volume de água, sugerindo maior retenção
de metais e possivelmente um carreamento dos mesmos a jusante do rio.
CROMO TOTAL
O cromo apresentou concentrações acima das máximas permitidas em prati-
camente todas as amostras, destacando-se altas concentrações nas estações 7, 9 e 11a,
que recebem efluentes de mineração, agricultura, pecuária, siderúrgicas, curtume e es-
goto doméstico.
Em várias estações de amostragem o período de seca registrou valores mais
acentuados que o período de chuva, o que pode ser explicado por uma maior retenção do
metal em razão de um menor volume de água.
Na estação 1 (Parque Natural do Caraça) não foi detectada concentração de
cromo em nenhum dos períodos de coleta.
410
CHUMBO TOTAL
De maneira geral, o chumbo apresentou concentrações acima das máximas
permitidas em praticamente todas as amostras analisadas, destacando-se altas concentra-
ções nas estações 3 e 9 no ano de 1993. No período de 1994-95, a estação 9 está entre as
menos poluídas por esse metal, e a estação 1 (Parque Natural do Caraça) apresentou
valores abaixo do limite de detecção do aparelho.
As estações que apresentam as maiores concentrações de chumbo recebem
efluentes de siderúrgicas e esgoto doméstico. De forma similar ao mercúrio, foram
feitos dois tipos de abertura das amostras: a quente e a frio. Comparando-se os resultados
dos dois ataques, observa-se uma diferença significativa, sendo que algumas estações
apresentaram teores de chumbo mais baixos no ataque a frio, provavelmente em virtude
de uma abertura incompleta da amostra. Em algumas estações, entretanto, o tratamento
a frio resultou em um aumento nas concentrações, o que pode ser explicado por uma
provável formação de complexos voláteis entre o chumbo e os compostos orgânicos que
se perdem durante o ataque a quente por volatilização.
ZINCO TOTAL
Em termos gerais o zinco apresentou um baixo grau de toxicidade, sendo,
como o cobre, essencial para a maioria dos organismos vivos. As concentrações encon-
tradas permaneceram acima das concentrações máximas permitidas, destacando-se as
estações 3, 11a e 14.
Observando-se os resultados obtidos nas amostras de 1993, nota-se que esses
foram maiores no período de chuva. Padrão oposto foi verificado para o ano de 1994,
quando os valores encontrados no período de chuvas foram ainda menores que os regis-
trados para o período de seca de 1995.
Em relação a 1993, as estações 1 e 2 apresentaram queda acentuada nas con-
centrações de zinco para os períodos de 1994-95.
COBRE TOTAL
De modo geral o cobre não apresentou nas amostras analisadas concentrações
superiores às máximas permitidas. As estações que registraram as maiores concentra-
ções são as que recebem efluentes de mineração, siderurgia, esgotos domésticos, agro-
pecuária, monocultura de eucalipto e curtume. Em praticamente todas as estações os
teores foram mais elevados nos períodos de seca.
NÍQUEL TOTAL
O níquel, de modo geral, apresentou concentrações superiores às máximas
permitidas, particularmente na estação 9. No ano de 1993 o período de chuva registrou
concentrações maiores que as de seca em quase todas as estações de amostragem. Pa-
drão oposto foi verificado para os anos de 1994-95. Na estação 1 não foi detectada
concentração de níquel em nenhum dos períodos de coleta. As estações onde foram
registrados as maiores concentrações de níquel recebem efluentes de mineração, side-
rúrgicas, monocultura de eucalipto e esgoto doméstico.
411
MERCÚRIO TOTAL
De maneira geral, o mercúrio apresentou concentrações acima das máxi-
mas permitidas em praticamente todas as amostras analisadas, destacando-se as esta-
ções 5, 10, 11a e 12. No ano de 1993 o período de seca registrou valores mais baixos
que o período de chuva em grande parte das estações de amostragem. Padrão oposto
foi verificado para os anos de 1994-95. Os teores obtidos podem estar relacionados à
atuação de garimpeiros que utilizam esse elemento no processo de amalgamação
para obter ouro aluvionar, como também de efluentes de mineração, esgoto domésti-
co e siderúrgicas.
412
EFEITO DO CONSERVANTE DAS AMOSTRAS
NA CONCENTRAÇÃO DE MERCÚRIO
Os resultados da Tabela 8.29 mostram que a conservação das amostras por
congelamento é mais eficaz na preservação do material pesquisado e que os valores
obtidos pela amostra A7 são superiores ao limite máximo permitido, que é de 0,5 g/g
de peixe.
As amostras congeladas apresentaram maiores teores de mercúrio em relação
às amostras conservadas em solventes, o que era de se esperar, já que o álcool é mais
volátil que o fenol.
CONCLUSÕES E SUGESTÕES
A contaminação por metais pesados das sub-bacias do médio Rio Doce pôde
pode ser confirmada através da análise de água, sedimentos e um grupo de organismos
(peixes). A água representa o corpo receptor dos poluentes metálicos, mas, em razão das
variações das condições ambientais, a concentração do metal apresenta também um alto
grau de variação, que implica resultados de confiabilidade limitada.
A quantidade de metais na água não corresponde necessariamente às reais
proporções da contaminação. Sabe-se que nos sedimentos de rios e lagos o conteúdo de
metais pesados pode ser de 1.000 a 10.000 vezes maior que o das águas. Os teores de
metais em sedimentos foram mais elevados que os encontrados em água.
O presente estudo mostrou que de uma estação de amostragem a outra ocorre
uma considerável variação na concentração de metais pesados, que pode estar relacio-
nada à variação da qualidade de resíduos industriais e urbanos.
A partir da estação 2 (águas de cabeceira), já se observa um aumento nas
concentrações de todos os metais estudados, evidenciando os impactos de atividades
antrópicas como garimpo, minerações, siderurgia, esgotos doméstico e hospitalar, pesti-
cidas agrícolas, formicidas e herbicidas. As estações mais críticas com relação aos metais
em água são: 5, 9, 10, 11a, 12 e 14.
Os diversos metais analisados apresentaram-se distribuídos ao longo dos rios
Piracicaba e Doce nas estações seca e chuvosa. Os elementos Cr, Pb, Zn, Ni e Hg
apresentaram teores mais elevados que em áreas de controle para sedimentos fluviais.
O zinco é o metal que apresentou teores mais elevados ao longo da bacia.
Em geral, na estação seca as concentrações dos diversos metais apresentaram
valores mais acentuados. Entretanto, observou-se uma situação oposta em algumas esta-
ções de amostragem e para alguns metais. Os resultados obtidos indicam que os metais
que podem comprometer as comunidades aquáticas, por estar acima do limite máximo
permitido, são: Cr, Pb, Zn, Ni e Hg.
Os resultados obtidos permitem concluir que, em termos gerais, a situação da
qualidade das águas nas sub-bacias do médio Rio Doce, particularmente na sub-bacia do
Rio Piracicaba, apresenta poluição hídrica de forma distinta ao longo das estações de
amostragem. A contaminação das águas deve-se provavelmente à qualidade de efluen-
tes industriais e urbanos.
413
De acordo com a média obtida para os teores de matéria orgânica, a região em
estudo caracteriza-se como poluída por matéria orgânica. Por meio dos resultados obti-
dos para os dois ataques feitos para o chumbo, observa-se que o ataque a quente é melhor
para as estações de amostragem que possuem detritos orgânicos.
Nas estações 5, 7, 10 e 11a, onde há pastagens, esgoto a céu aberto e, portanto,
grande concentração de detritos orgânicos, observa-se que o ataque a frio é mais eficien-
te por evitar a perda de compostos organometálicos por volatilização.
Os teores de mercúrio ao longo da bacia podem estar relacionados às mine-
radoras que o utilizam sob a forma de cloreto mercúrico nas análises de minério de
ferro, além da atuação de garimpeiros que o utilizam durante o processo de amalga-
mação para a obtenção do ouro aluvionar. Em relação às amostras de sedimento as
estações críticas são: Cr - 3 e 9; Pb - 3 e 9; Zn - 3 e 14; Cu - 4, 8 e 13; Ni - 9 e Hg - 5. As
concentrações totais de mercúrio e zinco em amostras de peixe variaram de acordo
com a espécie, tamanho e local de captura. Os peixes piscívoros apresentaram teores
mais elevados de mercúrio e zinco que os algívoros. O zinco, por ser um micronutri-
ente de baixo grau de toxicidade e por estar bem abaixo da concentração máxima
permitida, não oferece nenhum risco à comunidade aquática. Por outro lado, o mercú-
rio, por ser um elemento muito tóxico, cumulativo e por se encontrar acima do limite
máximo permissível em dois locais de captura (reservatórios Tanque Grande e Peti),
inspira cuidados, uma vez que esse elemento penetra na cadeia alimentar, podendo
alcançar o homem.
A melhor maneira de conservar amostras de peixe é congelá-las no local da
captura. Baseando-se nos resultados obtidos para os três tipos de conservação de pei-
xes, pode-se concluir que os resultados dos metais nas outras amostras deveriam ser
maiores, uma vez que foi constatado que há perda de até 12,8% quando se conserva
com formalina.
Como sugestões biotecnológicas para a mitigação dos impactos observados
nas sub-bacias do médio Rio Roce, recomenda-se o uso de retortas em garimpos de ouro,
o que é de fundamental importância na redução de emissão de mercúrio durante a
queima do amálgama. De acordo com Farid et al. (1991), o uso da retorta reduziria as
emissões atmosféricas de 70% a valores que variam de 1% a 49%, dependendo da
retorta, com uma média de redução de 20% entre todos os locais. É preciso concientizar
os garimpeiros dos perigos a que estão expostos e da importância de usar retortas. Pro-
gramas de educação ambiental na área devem incluir tais aspectos.
Torna-se importante o estudo dos efeitos dos metais pesados em outros orga-
nismos além dos peixes, uma vez que mercúrio e chumbo, por exemplo, por ser alta-
mente tóxicos e cumulativos, penetram na cadeia alimentar, podendo atingir o homem,
seu último elo, que se alimenta desses organismos.
De acordo com Jardim (1983), é importante que se faça um estudo de metais
pesados em organismos planctônicos por serem um dos primeiros elos da cadeia alimen-
tar. Dizimada essa população, desaparecem as populações que deles se alimentam e
assim por diante.
414
Uma fiscalização periódica e eficaz da qualidade dos efluentes industriais é
fundamental, já que é considerado como a fonte mais poluidora do meio aquático com
relação a metais pesados.
De acordo com Serril (1994), um esforço para o controle do mercúrio importa-
do é imprescindível, já que 40% a 50% do que é importado saem do controle legal e vão
para as mãos dos garimpeiros.
É importante que se estabeleçam alternativas tecnológicas para o controle de
metais pesados no meio ambiente, o que deve envolver monitoramento e controle
rigorosos dos sistemas aquáticos. Novos estudos usando extratores, que poderão indicar
se os metais estão disponíveis ou adsorvidos/complexados nas estruturas do sedimento,
também são necessários.
415
MATERIAL E MÉTODOS
Amostras de água foram colhidas em cada uma das 20 estações de amostra-
gem nos períodos de seca e chuva dos anos de 1993, 1994 e 1995. Para a avaliação
quantitativa do fitoplâncton, foram filtrados 40 litros de água em rede de 20 m de aber-
tura de malha. O material filtrado foi estocado em frascos de polietileno, corado e fixado
com lugol acético. Deve ser ressaltado que a dificuldade no transporte do fitoplâncton
vivo dificultou a identificação de alguns organismos ao nível específico.
No laboratório, os organismos foram identificados e contados sob microscó-
pio óptico binocular. Foram utilizadas câmaras de Sedgewick-Rafter para as contagens.
Os organismos foram listados em tabelas e classificados segundo Bourrelly (1974).
Como parâmetros para avaliar a participação dessa comunidade foram esco-
lhidos o Índice de Riqueza de Espécies (Simpson, 1949) e o Índice de Diversidade de
Espécies (Shannon & Weaver, 1949), calculados através das seguintes fórmulas:
Índice de Riqueza de Espécies
d = (S-1)/log N
onde:
S = número de espécies
N = número de indivíduos
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram identificados 194 taxa distribuídos em nove grandes classes: Cyano-
phyceae (28 taxa), Euchlorophyceae (45 taxa), Zygophyceae (67 taxa), Ulothricophyceae
(8 taxa), Centrophycideae (3 taxa), Pennatophycideae (27 taxa), Dinophyceae (2 taxa),
Euglenophyceae (10 taxa) e Chrysophyceae (3 taxa), listados na Tabela 8.30 (Anexo 1).
Em termos qualitativos, Zygophyceae é o grupo dominante, seguido por
Euchlorophyceae. Segundo Komarek (1983), quando o pH das águas tende a ácido,
como ocorre na estação 1, há o favorecimento de condições propícias ao desenvolvi-
mento das algas desmidiáceas (Zygophyceae), que mostram, principalmente nessa esta-
ção, maior riqueza de taxa em relação aos demais grandes grupos. Contrariamente, em
pH neutro tendendo a alcalino, as espécies do grupo Chlorococcales (Euchlorophyceae)
são normalmente favorecidas em relação às demais, como mostrado pela estação 3, em
virtude do pH mais elevado da água.
Normalmente, nos ambientes aquáticos encontra-se, no período de seca,
maior número de taxa e densidade mais elevada, em razão da maior concentração de
nutrientes e, conseqüentemente, maior presença de organismos. Assim, à exceção das
416
estações 2, 6A, 7A, 8 e 10, a média da densidade no período seco foi sempre maior que
no período chuvoso.
As figuras 8.34 e 8.35 apresentam, respectivamente, em termos médios, o
número de taxa e os valores de densidade para os períodos de seca e chuva. Destaque-
se que para o período de seca foram realizadas três amostragens e no período chuvoso
apenas duas, razão pela qual se utilizaram valores médios para esses períodos. Desta-
que-se ainda que, em virtude de ter sido realizada apenas uma amostragem em cada um
dos períodos nas estações 6A, 7A, 9A, 10A e 11C, foram utilizados os valores absolutos
de cada período.
Quantitativamente, com raras exceções, Pennatophycidae é o grupo domi-
nante. Tal fato corresponde ao esperado para ambientes lóticos, pois esse grupo engloba
as diatomáceas, algas dotadas de carapaça de sílica, que resistem mais em ambientes
lóticos graças à proteção contra injúrias físicas.
Apesar de ser considerada como estação de referência, a estação 01 (Caraça) não
mostrou grande diversidade fitoplanctônica, pois as características geológicas e físico-
químicas da água, principalmente no que diz respeito ao pH e à temperatura, apresenta-
ram resultados extremos, provavelmente limitando o desenvolvimento ótimo das algas.
Mesmo o grupo das desmidiáceas não apresentou densidade e diversidade significati-
vas nessa estação, apesar de serem algas normalmente encontradas em condições extre-
mas, principalmente em pHs mais ácidos. Isso mostra que nem sempre a poluição, seja
de origem orgânica (cujo principal efeito é o desenvolvimento excessivo de organis-
mos) ou tóxica ou física (excesso de material sólido, alteração da condição física da água
ou presença de compostos tóxicos), é determinante de condições ambientais que podem
ser evidenciadas sem uma análise mais profunda de todas as variáveis ambientais, pois
ambientes naturalmente sob condições de estresse não podem ser confundidos com ambi-
entes poluídos, como é o caso da estação 1. Entretanto, em uma análise parcial, essa
estação de amostragem pode ser confundida com um ambiente poluído fisicamente por
exemplo, como corpos hídricos sob o impacto de garimpos.
As estações de amostragem 3, 4 e 5, pertencentes à sub-bacia do Rio Santa
Bárbara, e portanto localizadas numa mesma região, comportaram-se diferentemente
em termos de densidade, número de taxa e diversidade. Assim, a estação 3 apresentou
baixos valores de número de taxa e de diversidade. Em julho de 1993 essa estação
apresentou altas densidades de Synedra ulna, uma diatomácea encontrada na lista de
Palmer (1969), que relaciona algas normalmente encontradas em condições de poluição
orgânica. Certamente, essa estação é a que apresentou as piores condições ambientais
para o desenvolvimento da comunidade fitoplanctônica.
A estação 4 apresentou uma comunidade fitoplanctônica em termos de densi-
dade, número de taxa e diversidade em condições intermediárias entre as estações 3 e
5. Os maiores valores foram encontrados em agosto de 1995. A estação 5 foi a que
apresentou os maiores valores em relação ao número de taxa, densidade e riqueza de
organismos, provavelmente em função de sua localização, a jusante da represa de Peti.
Assim, a presença desse ambiente lêntico na sub-bacia funciona como uma reserva natu-
417
ral de organismos para o rio, uma vez que em função do maior tempo de residência da
água aumenta a disponibilidade de nutrientes para a biota, possibilitando maior riqueza
e diversidade de organismos, favorecendo até mesmo o desenvolvimento de organis-
mos pouco comuns em ambientes lóticos, que passam a incorporar a comunidade comu-
mente encontrada nos rios.
As estações 2, 6, 6A, 7A, 9, 9A, 10 e 11A pertencem à sub-bacia Rio Piracica-
ba. A estação 2 mostrou baixos valores para número de taxa e densidade, exceto em
dezembro de 1993, quando ocorreram altas densidades da diatomácea Navicula sp. Esse
gênero também está presente na lista de Palmer (1969) como uma alga comum em
condições de poluição orgânica. Semelhantemente à estação 3, essa estação também
apresentou um ambiente com elevadas cargas de matéria orgânica, o que favorece a
dominância de organismos adaptados a elevadas concentrações de nutrientes.
As demais estações da sub-bacia do Rio Piracicaba apresentaram baixos valo-
res de densidade, número de taxa, índice de riqueza e diversidade, à exceção das esta-
ções 6A, 7A e 9A, que mostram índices de riqueza e diversidade mais elevados (próxi-
mo de 3), característicos de águas limpas.
As estações 7, 8 e 10A, embora sejam sub-bacias independentes, mostraram
resultados semelhantes àqueles obtidos na Bacia do Rio Piracicaba.
As estações 11B, 11C, 12, 13 e 14 representam a sub-bacia do Rio Doce, na
qual os valores de densidade, número de taxa e dos índices de riqueza e diversidade
foram caracteristicamente mais elevados do que os valores obtidos para a sub-bacia do
Rio Piracicaba, refletindo uma melhoria das condições gerais do ambiente, provavel-
mente em função do maior caudal do Rio Doce.
ZOOPLÂNCTON
A comunidade zooplanctônica de ambientes lênticos tem sido profundamen-
te estudada em diferentes regiões e sobre os mais diversos aspectos. Entretanto, o mes-
mo não se observa com relação à comunidade planctônica de ambientes lóticos. Particu-
larmente no Brasil, país dotado de importante malha fluvial, poucos rios foram intensi-
vamente estudados, destacando-se alguns da bacia Amazônica, outros do médio e alto
Paraná e poucos do Pantanal Mato-Grossense.
Apesar das dificuldades metodológicas de amostragem, utilizadas durante
algum tempo para justificar a escassez de dados, o maior interesse pela dinâmica dos rios
foi acelerado a partir do momento em que as atividades humanas, desenvolvidas ao
longo de toda a bacia, provocaram alterações nas características físicas, químicas e bioló-
gicas das águas, resultando, na maioria das vezes, em perda da biodiversidade e queda na
produção pesqueira.
A composição do plâncton de rios difere daquela de lagos, principalmente
porque parte do potamoplâncton tem origem alóctone, sendo derivada das cabeceiras e
tributários, e parte autóctone, ou seja, desenvolve-se no próprio rio. A distribuição verti-
cal e horizontal do plâncton é geralmente irregular, e a composição é determinada
principalmente por fatores como temperatura, turbidez, velocidade da corrente e quími-
418
ca da água. As respostas do plâncton à variação desses fatores pode ser de valor para o
monitoramento biológico das águas.
Visando à caracterização de mais um parâmetro biológico importante no mo-
nitoramento da qualidade das águas de ecossistemas lóticos da bacia, foram identifica-
dos os seguintes objetivos:
Caracterizar a comunidade zooplanctônica em termos de sua composição, den-
sidade e distribuição de espécies nos períodos de seca e chuva;
Identificar os prováveis fatores determinantes da estruturação das comunida-
des nas estações analisadas;
Identificar organismos zooplanctônicos a serem utilizados como indicadores
de qualidade da água.
MATERIAL E MÉTODOS:
AMOSTRAGEM DO ZOOPLÂNCTON E ANÁLISE DAS AMOSTRAS
As amostras para análise qualitativa e quantitativa do zooplâncton foram
coletadas nas margens dos rios, por meio de arrastos horizontais e filtração de 40 litros
de água, em rede de plâncton de 68 µm de abertura de malha. Após as coletas, as
amostras foram coradas com reagente vital Rosa de Bengala e fixadas com solução de
formaldeído a 4%.
Para a análise quantitativa, as amostras foram concentradas para um volume
conhecido e, após homogeneização, foram retiradas subamostras de 1 ml e efetuadas
contagens em câmara de Sedgwick-Rafter sob microscópio óptico, sendo a densidade
expressa em organismos/l (org./l). As amostras com baixa densidade de organismos
foram contadas na sua totalidade. A identificação dos organismos foi feita, sempre que
possível, a nível específico, utilizando-se bibliografia específica. O grupo Protozoa foi
incluído por ser abundante em algumas estações e períodos, apesar de não ter sido
utilizada uma metodologia específica de coleta e coloração.
Para a análise dos dados, as estações de amostragem foram agrupadas nas mes-
mas sub-bacias referidas anteriormente, utilizando-se a estação 1 (Caraça) como referência.
As densidades de organismos apresentadas para sub-bacias foram calculadas utilizando-
se a mediana em função das diferenças observadas entre os meses amostrados.
A partir do número total de taxa e densidade dos organismos presentes em
cada estação, durante as quatro amostragens, calculou-se o índice de diversidade (Shan-
non & Weaver, 1949).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foi identificado um total de 73 taxa, dos quais 22 ocorreram apenas no perí-
odo de seca, 16 apenas no período de chuvas e 35 em ambos os períodos. A maior
riqueza de taxa foi observada na Sub-bacia do Rio Santa Bárbara (60), seguida pelas sub-
bacias Rio Doce (38) e Rio Piracicaba (34). As sub-bacias Ribeirão Severo, Rio do Peixe
e Ribeirão Caraça apresentaram significativa redução na riqueza de espécies (14,18 e 15
respectivamente). À exceção das estações 5, 12 e 14, as maiores riquezas foram obtidas
no período de seca, sendo as maiores diferenças observadas para as estações 4, 6 e 11B.
419
A Figura 8.36 apresenta o número total de taxa obtido nas diferentes sub-bacias, durante
o período estudado.
FIGURA 8.36
NÚMERO TOTAL DE TAXA DA COMUNIDADE ZOOPLANCTÔNICA NAS SUB-BACIAS DO
MÉDIO RIO DOCE DURANTE O PERÍODO DE 1993/95.
FIGURA 8.37
DENSIDADE MEDIANA DO ZOOPLÂNCTON (ORG/L) EM 15 ESTAÇÕES DE AMOSTRAGEM NA
BACIA DO MÉDIO RIO DOCE NO PERÍODO DE 1993/95.
420
Como verificado para a riqueza de espécies, foi também no período de
seca que, para a maioria das estações, ocorreram as maiores densidades médias de
organismos, principalmente nas estações 3 e 4 da Sub-bacia Rio Santa Bárbara (97,9
e 41,6 org/l, respectivamente), estações 6 e 9 da Sub-bacia Rio Piracicaba (28,5 e
15,3 org/l, respectivamente) e 11A da Sub-bacia Rio Doce (27,2 org/l). Entretanto,
foram registradas grandes oscilações na densidade de organismos, não apenas entre
os períodos de seca e chuva como também entre as duas amostragens de um mesmo
período (Figura 8.38).
FIGURA 8.38
DENSIDADE MÉDIA DO ZOOPLÂNCTON (ORG/L) EM 15 ESTAÇÕES DE AMOSTRAGEM
NA BACIA DO MÉDIO RIO DOCE NOS PERÍODOS DE SECA E CHUVA DE 1993/95.
421
FIGURA 8.39
TOTAL DE TAXA DA COMUNIDADE ZOOPLANCTÔNICA NAS 15 ESTAÇÕES DE
AMOSTRAGEM DA BACIA DO MÉDIO RIO DOCE NO PERÍODO DE 1993/95.
422
Dos grupos identificados, Rotifera constitui a fração mais importante, sendo o
grupo mais diversificado e contribuindo com 43% dos organismos presentes. Sua partici-
pação foi significativa na sub-bacia do Rio Santa Bárbara (28 espécies). Seguiram-se a ele
Protozoa e Copepoda (20%) e, com menor participação, Cladocera (17%). Espécies de
Cladocera não foram identificadas nas estações 7 e 8, assim como Copepoda nas estações
1 e 8. Nesse último grupo predominaram os estágios jovens (náuplios e copepodito).
As figuras 8.40 e 8.41 apresentam a contribuição percentual e a densidade
relativa dos diferentes grupos zooplanctônicos encontrados durante o período estudado.
Protozoa mostrou-se como o grupo mais abundante, seguido por Rotifera (45% e 37% da
densidade total, respectivamente). Nematoda apresenta-se como o terceiro grupo em
abundância (10%) com picos de densidade principalmente nas estações 3 e 6. As densi-
dades de Cladocera e Copepoda foram inferiores a 7%, sendo os organismos muitas
vezes encontrados apenas nas amostras qualitativas.
FIGURA 8.40
PERCENTAGEM DOS DIFERENTES GRUPOS SOBRE O TOTAL DE TAXA IDENTIFICADOS NA
COMUNIDADE ZOOPLANCTÔNICA NA BACIA DO MÉDIO RIO DOCE NO PERÍODO DE 1993-95.
FIGURA 8.41
DENSIDADE RELATIVA DOS DIFERENTES GRUPOS ZOOPLANCTÔNICOS
NA BACIA DO MÉDIO RIO DOCE NO PERÍODO DE 1993-95.
A maioria dos rios analisados apresenta dominância de rotifera, o que pode ser
explicado por seu curto tempo de geração quando comparado com o de outros grupos
zooplanctônicos. Entretanto, Richardson (1992) observou que cladóceros planctônicos
e rotíferos são incapazes de manter suas posições em águas correntes, sendo potenci-
423
almente mais fáceis de serem lavados do que copépodos, que por resistir mais, poderiam
exibir populações em maior número. Dijk & Zanten (1995), analisando a comunidade
zooplanctônica do Rio Rhine (Alemanha), encontraram altos valores para rotíferos e
justificaram tais valores pela maior resistência desse grupo a micropoluentes. Apesar de
haver poucas informações sobre a influência de poluentes no desenvolvimento de plânc-
ton de rios, Guisande & Toja (1988) também concordam que a contaminação favorece a
dominância de rotíferos em rios.
Os argumentos apresentados acima, associados às características do grupo,
talvez possam explicar as maiores densidades de rotíferos observadas neste estudo. A
dominância de Bdelloidea poderia também ser explicada pelo fato de a maior parte dos
representantes desse grupo ter hábitos bentônicos e apresentar pés que ajudam na fixa-
ção, facilitando sua permanência na área.
A Tabela 8.31 (Anexo 1) apresenta a lista dos organismos zooplanctônicos
identificados durante o período estudado, com as densidades médias obtidas para os
períodos de seca e chuva. Entre os Protozoa, Arcella catinus, A. vulgaris, Centropyxis
aculeata, C. arcelloides, Difflugia sp. e Epistylis sp. ocorreram em quase todas as estações e
períodos amostrados. Entre os Rotifera, apenas Bdelloidea apresentou freqüência regu-
lar e densidades quase sempre elevadas, sendo o responsável pelos picos observados
nas estações 3, 6, 10 e 11A. Modenutti (1987), analisando a variação da composição do
zooplâncton de um pequeno afluente da margem direita do Rio La Plata, encontrou uma
dominância de Bdelloideos e ciliados na estação onde o teor de matéria orgânica au-
mentava em conseqüência de despejo doméstico. Vários outros estudos relacionam a
presença de grande número de rotiferos com a presença de material inorgânico em
suspensão. Embora todo o trecho do rio estudado apresente grande quantidade de mate-
rial em suspensão, a situação é marcante em algumas estações em decorrência das ativi-
dades de mineração. Da mesma forma, embora quase todo o rio seja usado como local de
despejo dos resíduos das atividades humanas, em algumas estações o despejo de esgoto
doméstico altera claramente as características da água (odor, cor etc.). A estação 11A
pode ser citada como um exemplo dessa situação, local onde foi registrada a dominância
de rotíferos bdelloideos. Essa estação recebe todo o esgoto da cidade de Ipatinga. Nas
estações 3, 6 e 2 também dominaram os bdelloideos. Foram também freqüentes nesse
grupo as seguintes espécies: Cephalodella sp., Keratella americana, K. cochlearis e Lecane
(M) bulla. Para os grupos Cladocera e Copepoda, não foi possível identificar espécies
com ocorrência regular e significativa, sendo que no último grupo predominaram as
formas jovens de náuplios e copepodito.
BENTON
Tradicionalmente a qualidade da água é medida por parâmetros químicos
(teor de fosfatos, nitratos, oxigênio, íons etc.). Apesar das facilidades de execução e
padronização da metodologia desenvolvida para controle de água para abasteci-
mento humano, o controle por métodos químicos tem a desvantagem de registrar
uma realidade momentânea e dificuldade para mostrar o efeito de doses subletais
de poluentes ambientais.
424
Em vista disso, métodos biológicos para avaliação da potabilidade da água e,
principalmente, da integridade dos ecossistemas aquáticos vêm sendo incorporados aos
métodos químicos. Corpos d’água expostos a condições de estresse respondem com
alterações funcionais (modificação nas taxas de respiração e produção) e estruturais
(modificação na composição de espécies), sendo possível avaliar e quantificar essas
alterações.
Diversos métodos vêm sendo propostos e usados para avaliar a qualidade de
ecossistemas aquáticos (Graça,1985; Rosemberg & Resh, 1993), tendo como subsídio a
integridade da comunidade bentônica. Entre as vantagens de usar organismos bentôni-
cos, pode-se destacar o fato de serem abundantes em todos os tipos de ambientes, serem
relativamente imóveis, facilmente amostrados e sensíveis a modificações nos hábitats.
Um ambiente aquático equilibrado deve apresentar alta diversidade de orga-
nismos, caracterizada por grande número de espécies com poucos indivíduos de cada
espécie. Num ambiente sujeito a estresse por poluição, as espécies sensíveis desapare-
cem e as tolerantes têm seu número aumentado pela eliminação de competidores e
pelo desaparecimento de predadores.
MATERIAL E MÉTODOS
As estações de coleta nas sub-bacias do médio Rio Doce foram definidas
procurando representar a bacia de drenagem e considerando as atividades antrópicas
responsáveis pelos principais impactos ambientais. As coletas foram realizadas nos perí-
odos de seca e chuvas dos anos de 93, 94 e 95.
A maior parte dos trabalhos desenvolvidos em ambientes lóticos usa a ca-
lha central do rio (riffle zone) como local de coleta (Resh & Mc Elray, 1993). Nos
ambientes estudados, esse procedimento teria vários inconvenientes, destacando-se
o fato de que algumas estações eram severamente poluídas, principalmente poluição
orgânica; além disso, a profundidade do rio exigia o uso de barcos. Por outro lado,
estudos prévios conduzidos por Barbosa et al. (1994) não mostraram a ocorrência de
mudanças importantes na composição da bentonofauna, amostrada simultaneamente
na calha central e nas margens.
Em vista disso, foram realizadas amostragens na margem utilizando-se con-
chas metálicas de fundo perfurado (hand dipper) com malha 1mm, com diâmetro de 16
cm, sendo dadas 50 conchadas aleatórias, de modo a cobrir uma área total de 1,005m2 ao
longo da margem, em cada estação. Foram coletadas também três amostras com draga
do tipo Ekman-Birge, com área total de 0,097m2, lançada a aproximadamente 1m da
margem, de modo a amostrar o sedimento do fundo. Após lavagem in situ com rede de
malha 1mm para retirada do excesso de material, o sedimento foi acondicionado em
sacos plásticos, formalizado, etiquetado e transportado para o laboratório.
No laboratório, o material foi lavado em tamiz, triado sob microscópio estere-
oscópio e acondicionado em vidros com álcool 80%. A identificação foi feita a nível de
família ou taxa maior em alguns grupos, usando chaves dicotômicas disponíveis (Merrit
& Cummins,1984; Borror & Delong,1984; e outras).
425
Os seguintes parâmetros foram analisados em cada amostra: número de taxa;
número de indivíduos em cada taxa; densidade total; densidade de Ephemeroptera,
Plecoptera e Trichoptera-EPT; densidade de Chironomidae + Oligochaeta; percenta-
gem de contribuição da família dominante; percentagem de contribuição de EPT; per-
centagem de contribuição de Chironomidae + Oligochaeta; índice de riqueza; número
de taxa de EPT; relação EPT/Chironomidae + Oligochaeta; número de indivíduos de
EPT; número de indivíduos de Chironomidae+Oligochaeta; relação densidade/número
de taxa; índice de dominância; índice de dominância de EPT; índice de dominância de
Chironomidae + Oligochaeta.
Desses parâmetros, foram selecionados, através da análise de componentes
principais, os seguintes, para compor o índice biológico de qualidade da água, apresen-
tado no item 8.2.
Número de Taxa: onde foram computados o número total de taxa por esta-
ção que ocorreram nas quatro campanhas realizadas. Reflete a saúde da comu-
nidade através da variedade de taxa (número total de famílias). Segundo Pla-
fkin (1984), o número de taxa geralmente aumenta com a qualidade da água,
diversidade e aptidão do hábitat. Ambientes naturalmente pobres podem ter o
número de taxa aumentado por enriquecimento orgânico.
Densidade: calculada como n/m2, onde n = número de indivíduos coletados
por estação. A densidade de organismos dá uma indicação sobre a qualidade
do hábitat para o desenvolvimento da vida aquática. Tende a ser baixa em
locais naturalmente pobres em nutrientes, em locais alterados fisicamente, de
modo a impedir o estabelecimento dos organismos, e em locais alterados por
poluentes químicos. Em ambientes afetados por poluição orgânica, espécies
adaptadas para suportar baixos níveis de oxigênio dissolvidos na água apresen-
tam altas densidades.
Percentagem de contribuição da família dominante: calculada pela fór-
mula: d/Dx100, onde d = densidade da família dominante e D = densidade
total de organismos no ambiente. É esperado que em ambientes não-sujeitos
a estresse a distribuição das famílias de organismos se faça de maneira mais ou
menos equitativa, não havendo predominância de nenhum grupo. A identifi-
cação da família mais abundante no ambiente pode também fornecer informa-
ção sobre as condições ambientais do hábitat.
Indicadores (positivos) de qualidade do hábitat: a maioria dos representantes
de Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera são organismos que vivem em am-
biente bem oxigenado, de água límpida, sensíveis a mudanças dessas condições;
são tradicionalmente usados como indicadores de águas não-poluídas.
Nesse grupo foram definidos como parâmetros indicadores a densidade de
EPT e a percentagem de contribuição de EPT do grupo em relação ao total
de organismos.
Indicadores (negativos) de qualidade do hábitat: quironomídeos e oligo-
quetas são organismos adaptados a ambientes com depleção de oxigênio e
426
altas taxas de matéria orgânica, sendo encontrados em altas densidades nesses
ambientes. Tradicionalmente são utilizados como indicadores de poluição.
Nesse grupo foram definidos como parâmetros indicadores a percentagem de
contribuição de quironomídeos e oligoquetas em relação ao restante da fauna
presente nas estações. A predominância desses grupos sugere que o ambiente
está sendo restritivo para outros grupos.
RESULTADOS
Foi identificado um total de 84 taxa, dos quais 70 são Insecta, 9 Mollusca e 5
de outros grupos. Dos insetos, a família Chironomidae (Diptera) apresentou a maior
freqüência de ocorrência, com representantes em todas as estações de amostragem.
Outras famílias também podem ser citadas como tendo ampla distribuição ao longo da
bacia: Hydrophilidae (Coleoptera), representada em 15 estações, Gomphidae (Odona-
ta), presente em 17 estações. Por outro lado, 19 famílias de insetos foram encontradas
em apenas um local, mostrando ser de distribuição restrita. Os anelídeos foram represen-
tados por duas classes: Oligochaeta e Hirudinea, sendo a primeira comum a todas as
estações de amostragem, enquanto a segunda foi encontrada em 11 estações. Dos mo-
luscos, a família Physidae foi de ocorrência mais comum, sendo encontrada em 15
estações, seguida pela família Sphaeriidae, que ocorreu em 11 estações. A família Pla-
norbidae ocorreu em 7 estações.
A Tabela 8.32 mostra a composição e distribuição da bentonofauna por esta-
ção de amostragem, no período 1993 a 1995.
Uma descrição das variáveis analisadas é feita a seguir:
Número de taxa. Não obstante o diferente esforço de amostragem para cada
sub-bacia, foram encontrados na sub-bacia dos rios Santa Bárbara e Doce 55 taxa, na Sub-
bacia do Rio Piracicaba 45, na Sub-bacia do Ribeirão Severo 31, na Sub-bacia do Ribei-
rão Caraça 25, na Sub-bacia do Rio do Peixe 19, e na Sub-bacia do Ribeirão Ipanema 12.
O número acumulado de taxa encontrados nas diferentes estações é mos-
trado na Figura 8.42. As estações da Sub-bacia do Rio Piracicaba mostraram um me-
nor número de taxa quando comparadas com as demais sub-bacias. Assim, as estações
3, 7A, 9A, 10A e 11C mostraram baixos números de taxa, sugerindo a ocorrência de
restrições ao desenvolvimento da bentonofauna nesses locais. Por outro lado, as esta-
ções 1, 4, 5, 8, 12 e 14 foram aquelas identificadas como sendo os locais de maior
diversidade de fauna bentônica.
Percentagem de contribuição da família dominante. As famílias domi-
nantes em cada estação de amostragem podem ser vistas na Tabela 8.33. Chironomidae
(Diptera), Oligochaeta (Annelida) e Physidae (Mollusca) são as famílias dominantes na
maioria das estações. Em geral são organismos abundantes em coleções de águas polu-
ídas por matéria orgânica, onde alcançam densidades elevadas por possuir mecanismos
compensatórios para resistir à falta de oxigênio. A maioria das estações possui grande
parte de sua bentonofauna representada por essas famílias, particularmente abundantes
na sub-bacia do Rio Doce, conforme mostra a Figura 8.43.
427
TABELA 8.32
...................................................................
COMPOSIÇÃO DISTRIBUIÇÃO BENTONOFAUNA MÉDIO RIO DOCE 1993-1995
428
Culicidae - - x - - x - - - - x x - x x - - - - x
Sub-Bacia CA S. Bárbara Piracicaba PE SE IP Doce
430
Calopterygidae x x - x - - - - - x - x x x - x - x x x
Coenagrionidae - - x - - - - - - - x - - - - - - x - x
Sub-Bacia CA S. Bárbara Piracicaba PE SE IP Doce
432
...................................................................
Total Geral 25 11 34 27 15 21 14 10 12 18 14 20 19 31 12 13 21 32 24 39
433
........................................................
FAMÍLIAS DOMINANTES NAS SUB-BACIAS DO MÉDIO RIO DOCE NO PERÍODO 1993-1995
.........................................................
11C - -
434
Percentagem de contribuição de Chironomidae e Oligochaeta. A Fi-
gura 8.47 mostra a contribuição percentual dos grupos Quironomídeos e Oligoquetas
nas estações de amostragem. Verifica-se que esses organismos estiveram presentes em
todas as estações, sendo, contudo, particularmente expressivos nas estações 3, 4, 2, 6, 10
e 11A, onde têm sido registradas significativas contribuições de matéria orgânica. Tais
resultados corroboram a hipótese de tais grupos serem comumente utilizados como
indicadores de águas poluídas por matéria orgânica.
435
Determinar a similaridade na composição das espécies entre as estações amos-
tradas, evidenciando padrões nas comunidades amostradas;
Definir padrões nas comunidades considerando-se os ambientes amostrados
(rio, transição reservatório-rio, reservatórios).
METODOLOGIA
Entre outubro de 1994 e novembro de 1995 foram realizadas cinco campa-
nhas de amostragem, distribuídas por 11 estações localizadas nos rios Piracicaba, Santa
Bárbara e Rio Doce (Figura 8.1). A localização, características, altitudes e os respectivos
códigos das estações são relacionados na Tabela 8.34.
Em todas as amostragens foram utilizadas redes de emalhar (malhas de 3 a 12
cm medidos entre nós opostos), armadas ao entardecer e retiradas na manhã do dia
TABELA 8.34
.............................................................
ESTAÇÕES DE AMOSTRAGEM NA BACIA DO RIO PIRACICABA, MÉDIO RIO DOCE, MG
.............................................................
Município de Santa Bárbara, Parque Natural do
reservatório 1.230 11-res
Caraça, no local denominado Tanque Grande
436
seguinte. Todo o esforço (m2 de redes) utilizado em cada estação foi registrado, de modo
a permitir comparações. Sempre que possível foram realizadas coletas adicionais com
tarrafas, redes tipo picaré e peneiras. Os peixes capturados foram acondicionados em
sacos plásticos etiquetados, separados por estações, artefatos de pesca e malhas. Após
esse procedimento, todos os exemplares foram fixados em formalina 10% e acondicio-
nados em recipientes apropriados. Em laboratório, após a identificação taxonômica e
biometria (pesagem e mensuração), foram transferidos para álcool 70o GL. Exemplares-
testemunho estão depositados na Coleção de Ictiologia do Departamento de Zoologia
da Universidade Federal de Minas Gerais.
As abundâncias relativas (número e biomassa) foram estimadas através da
captura por unidade de esforço (CPUE), com base nos dados obtidos através das redes de
espera. O cálculo das CPUE’s foi efetuado através das seguintes equações:
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram amostradas 25 espécies, distribuídas em quatro ordens e 11 famílias,
como na Tabela 8.35.
Seis espécies tiveram distribuição restrita a somente uma estação, cinco
das quais na estação 1-rio, no Rio Doce (Lophiosilurus alexandri, Prochilodus vimboides,
Pygocentrus nattereri, Rhamdia sp. e Pimelodella sp.). No Piracicaba e seus afluentes
foram registradas 20 espécies, sendo que nenhuma foi comum a todas as estações.
As espécies com distribuição mais ampla foram Hoplias malabaricus, Astyanax bima-
437
TABELA 8.35
...................................................................
438
...................................................................
Phalloceros caudimaculatus (barrigudinho)
Cyprinodontiformes Poeciliidae
Poecilia reticulata (barrigudinho) *
FIGURA 8.48
NÚMERO CUMULATIVO DE ESPÉCIES (%) POR ALTITUDES E ESTAÇÕES DE AMOSTRAGEM
NA SUB-BACIA RIO PIRACICABA E NO TRECHO MÉDIO DO RIO DOCE.
439
TABELA 8.36
DISTRIBUIÇÃO DAS ESPÉCIES DE PEIXES NAS SUB-BACIAS DO MÉDIO RIO DOCE,
.............................................................
440
.............................................................
Tilapia cf. rendalli + - + - - - - + +
Total 17 6 10 11 9 3 4 9 10 10 3
441
FIGURA 8.50
PERCENTUAIS DAS CAPTURAS POR UNIDADE DE ESFORÇO EM NÚMERO
E BIOMASSA POR ESTAÇÕES DE AMOSTRAGEM NOS RIOS PIRACICABA E DOCE.
TABELA 8.37
VALORES MÉDIOS DE RIQUEZA, DIVERSIDADE E CPUE’S EM NÚMERO E BIOMASSA POR
...................................................
AMBIENTES AMOSTRADOS NOS RIOS PIRACICABA E TRECHO MÉDIO DO RIO DOCE
...................................................
Reservatórios 8,2 ± 2,9 1,33 ± 0,68
442
A análise de agrupamento realizada para a matriz de presença e ausência de
espécies não permite evidenciar padrões muito claros (Figura 8.51). Entretanto, obser-
va-se que as estações da parte baixa (1-rio e 2-rio) se encontram destacadas, principal-
mente por apresentar ictiofauna bastante diversa da encontrada nas demais estações.
Embora a relação não seja evidente, pode-se reconhecer dois agrupamentos: um repre-
sentado por vários reservatórios e suas áreas de transição e outro por estações em áreas
lóticas dos rios Piracicaba e Santa Bárbara e do reservatório Tanque Grande, na Serra do
Caraça, ambientes pobres em espécies.
FIGURA 8.51
DENDROGRAMA GERADO A PARTIR DA ANÁLISE DE CLUSTER PARA A MATRIZ DE
PRESENÇA E AUSÊNCIA DE ESPÉCIES REGISTRADAS NOS RIOS P IRACICABA E D OCE.
O MÉTODO DE ANÁLISE EMPREGADO FOI O DE DISTÂNCIA EUCLIDIANA.
443
ba, também é evidenciada em outros trabalhos desenvolvidos em áreas próximas a essa
estação (Bizerril & Peres-Neto, 1991; Cepemar, 1991).
Apesar de este estudo ter coberto apenas parte limitada da bacia, os resultados
obtidos indicam uma ictiofauna pouco diversificada e composta principalmente de es-
pécies que apresentam ampla distribuição geográfica e tolerância às alterações ambien-
tais. A maior riqueza de espécies está sendo mantida em ambientes lóticos nas partes
baixas da bacia, embora essas áreas pareçam ser as mais afetadas quanto à qualidade
ambiental.
444
TABELA 8.30
......................................................................................
COMPOSIÇÃO E ABUNDÂNCIA DOS TAXA FITOPLANCTÔNICOS ENCONTRADOS NAS
Coscinodiscales
Coscinodiscaceae - - - - - - - - 0 0 0 0 0 0 0
Pennatophycideae
Julho de 1993 - SECA
Famílias Estações de Amostragem
446
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11A 11B 12 13 14
Diatomales
Diatomaceae 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Eunotiales
Eunotiaceae - - - - - - - - 0 - - - 0 - -
Naviculales
Naviculaceae 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 -
Surirellaceae - - - - - - 0 0 0 0 - 0 0 0 -
Não identificada 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 - 0 0 - -
Chrysophyceae
Ochromonadales
Dinobryaceae - - - - 0 - - - - - - - 0 - -
Dinophyceae
Peridiniales
Peridiniaceae - 0 - - 0 - - - - - - - - - -
Euglenophyceae
Euglenales
Euglenaceae - 0 - 0 - - - - 0 0 0 - - 0 -
Outros
Fito Flagelados 0 - - - - - - - - - - - - - -
Densidade (org/l) 115 58 3722 91 64 212 76 76 332 95 72 531 187 96 98
Número de Taxa 20 14 25 18 36 11 24 25 23 24 16 20 19 22 21
IR 0,2 0,2 0,006 0,2 0 0,2 0,1 0,3 0,1 0,2 0,2 0 0,1 0,2 0,2
Dezembro de 93 - CHUVA
Cyanophyceae
Chroococcales
Chroococcaceae 3 - - - 2 - - - 8 22 7 40 17 70 58
Nostocales
Nostocaceae - 51 - - - 3 - 5 - 7 - - - - -
Oscillatoriaceae - 34 - - - 6 2 40 - - - - 4 - 4
Scytonemataceae - - - - - - - - - - 7 - - - -
Euchlorophyceae
Chlorococcales
Dictyosphaeriaceae - - - - 9 3 - 3 - - 1 24 - 6 -
Chlorococcaceae - - - - - - - - - 7 - - - - -
Oocystaceae 9 17 - - 4 - - - 88 80 14 30 8 - 12
Hydrodictyaceae - - - - - - - - - 15 1 5 17 18 18
Palmellaceae - - - - - - - - 59 15 - 10 - - -
Scenedesmaceae - - - - 58 - - - 32 218 34 314 64 96 66
Zygophyceae
Zygnematales
Demidiaceae 21 305 12 4 2 - - 45 3 7 - 10 4 12 4
Zygnemataceae - 68 - - - - - - 3 - - - - - -
Ulothricophyceae
Oedogoniales
Oedogoniaceae 3 - - - - - - - 3 - - - - - -
Chaetophorales
Chaetophoraceae - - - - - - 3 - - - - - - - -
Ulothricales
Microsporaceae 6 - - - - 3 - - - - - - - 6 9
Ulothricaceae - - - 2 - - - - 8 22 - - - 6 -
Não identificada 3 - - - - - - - - - - - - - -
Centrophycideae
Coscinodiscales
Coscinodiscaceae 6 - - - 4 - - - - 14 - - 47 12 4
Pennatophycideae
Diatomales
Diatomaceae 3 255 81 23 6 - - 135 21 14 - 30 34 18 22
Eunotiales
Eunotiaceae 6 - - - - - - 15 - - - - - - -
Achnanthales
447
Achnanthaceae - - - - - - - - - - - 5 - - -
Naviculales
Naviculaceae 6 3748 49 22 4 8 5 395 37 15 1 15 34 - 4
Dezembro de 93 - CHUVA
448
Surirellaceae 0 153 - - - - - 15 - - - - 4 - -
Não identificada 50 187 131 13 2 22 2 60 21 102 9 - 38 18 22
Dinophyceae
Peridiniales
Peridiniaceae - 17 - - 62 - - - 3 7 - 10 - 6 -
Outros
Fito Flagelados 6 - - - - - 2 - - 7 3 20 4 12 -
Densidade (org/l) 122 4835 273 64 153 45 14 713 286 552 77 513 275 280 223
Número de Taxa 18 21 13 15 20 9 9 31 22 30 15 22 20 19 21
IR 0,1 0 0 0,2 0,1 0,2 0,6 0 0,1 0,1 0,2 0 0,1 0,1 0,1
Julho de 1994 - SECA
Cyanophyceae
Chroococcales
Chroococcaceae - - - - - - - - - 2 - - - - -
Nostocales
Nostocaceae - - - - - - - - 3 - - 5 - 4 -
Oscillatoriaceae 26 2 - 4 23 - 54 8 8 5 - 5 7 4 -
Euchlorophyceae
Chlorococcales
Dictyosphaeriaceae - 2 1 - 6 - - - - - - - - - -
Chlorococcaceae - - - - - - - 4 - - 3 - - - -
Oocystaceae - 1 - - 4 - 3 22 - - 2 - - - -
Hydrodictyaceae - - - - - - - - - 1 - 5 3 4 -
Palmellaceae - - - - - - - - - 3 - - - 4 -
Scenedesmaceae - 2 - 2 28 - - - 12 - 7 20 15 20 33
Zygophyceae
Zygnematales
Demidiaceae 13 43 1 43 12 - 43 57 15 9 9 - 3 12 5
Zygnemataceae 7 43 - - 37 - - - - - - - - - -
Mesotaeniaceae - 2 - - - - - - 5 - - - - - -
Ulothricophyceae
Oedogoniales
Oedogoniaceae 2 2 - - - - 50 4 - - - 20 - - -
Ulothricales
Microsporaceae - - - - - - 8 - - - - - - - -
Siphonocladales
Cladophoraceae - - - - - - 2 4 10 - - - - - 5
Não identificada 2 - - - - - - - 5 - - - - - -
Centrophycideae
Coscinodiscales
Coscinodiscaceae - 2 1 - 6 - - - 58 29 2 301 284 358 280
Pennatophycideae
Diatomales
Diatomaceae 2 4 56 42 103 11 54 199 73 15 21 97 60 80 53
Eunotiales
Eunotiaceae - - - 2 - - - - - - - - - - -
Achnanthales
Achnanthaceae - - - - - - - 4 - - - - - - -
Naviculales
Naviculaceae 6 7 69 45 28 4 49 35 25 26 17 5 27 32 38
Surirellaceae 0 - - - - - 4 17 5 1 4 10 12 8 5
Não identificada 11 - 13 7 2 - 8 9 2 11 - - 3 8 -
Chrysophyceae
Ochromonadales
Dinobryaceae - - - - - - - - - - - 5 - - -
Dinophyceae
Peridiniales
Peridiniaceae - - - 2 4 - - - - - - - - - -
Euglenophyceae
Euglenales
Euglenaceae - 2 - - - - - - 2 - - 5 - - -
Outros
Fito Flagelados - - 1 - - - - - - 1 - - - - -
449
Densidade (org/l) 69 112 142 147 253 15 275 363 223 103 65 478 414 534 419
Número de Taxa 25 24 15 34 42 10 30 29 31 24 26 22 29 28 21
IR 0,3 0,2 0,1 0,2 0,2 0,6 0,1 0,1 0,1 0,2 0,4 0 0,1 0,1 0
450
......................................................................................
IR 0,4
......................................................................................
Grupos
NA BACIA DO MÉDIO RIO DOCE NO PERÍODO 1993-1995
Estações de Amostragem
1 2 3 4 5 6 6A 7 7A 8 9 9A 10 10A 11A 11B 11C 12 13 14
PROTOZOA
Actinosphaericum sp. - - x - - - - - - - - - - - - - - - - -
Arcella catinus - x x x x x - x - x x x x x x x x x x x
Arcella dentata - - - x x x x - x x - - - - x - - x x -
Arcella vulgaris x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x
Centropyxis arcelloides x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x
Centropyxis ecornis x x - - x - - x x - x x x - - - x - - -
Centropyxis sp. - - - - - - - - - - - - - - - - - - x -
Difflugia sp. - x x x x x x x x x x x x - - x x x x x
Epistylis sp. - x x x - x - x x x x x x x x x x x x x
Systilis sp. - - - - - - - - - - - x - - - - - x - -
Vorticella sp. x - - x - x - x - x x - - - - x x x x x
Tokophrya sp. - - - - - x - - - - - - - - - - - - - -
Zoothamnium/Carchesium - x - x x x - x x x x x x x x x x x x x
Anuraeopsis sp. - - x x x x - - - - x - x - x x - x x -
Bdelloidea sp. x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x
Brachionus angularis x - - - x - x - x x - x - - - x - - - -
Brachionus calyciflorus - - - x - - x - x - - x - x - - - - - -
Brachionus dolabratus - - - - x - - - - - - - - - - - - - - -
Brachionus falcatus x x x x x - x x x - x x - - x x - - x x
Brachionus sp. - x x - - - - - - - - - - - - - - - - x
Cephalodella sp. - x x - - x - x x x x x x - x x x x x x
Collotheca sp. - - - - x - - - - - - - - - - - - - - -
Conochilus sp. x - - - x - - - - - - - - - - - - - - -
Colurella sp. - - x - - - - - - - - - - - - - - - - -
Dissotrocha aculeata - - - - - - x - x x - x - - - - - - x x
Euchlanis meneta - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Euchlanis sp. - - - - - - - - - x - - - - - - - - - -
Filinia terminalis - - - - x - - - - - - - - - - - - - - -
Hexarthra intermedia - x - - x - - - - - - - - - - - - - - -
Keratella americana x x x x x - - x x - x - x - - - x - x x
Keratella cochlearis x x x - x x x - x x x x x - x x x x x x
Keratella lenzi x - - - x - - - - - - - - - - - - - - -
Keratella tropica - - x - - - x x x x - - - - - - - - - -
Lecane bulla x x x x x x x x x x x x x x - x x x x x
Lecane luna - - x - x - x x x - - - - - - - x x x x
Lecane sp. - - - - x - - x - - - - - - - - - - - -
Lepadella patella - - - - x - - - - - - - - - - - - - x -
Lepadella sp. - - x x - - x x - - x - - - - x - - - -
Macrochaetus sp. - - - - x - - - - - - - - - - - - - - -
Platyas quadricornis - - - - - - - - x - - - - - - - - - - -
Polyarthra sp. x - - x x - x - x - x - - - - x - - x -
Ptygura sp. - - - - x - x x x - - - - - - - - - - -
Trichocerca similis grandi x - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Trichocerca sp. - x - x x - - - - - - - - - - - - - - -
CLADOCERA
Alona costata - - - - - - x - - - - - - - - - - - - -
Alona gutata - x - x - - - - x - - - - - x x x x x x
Alona rectangula - - - - x - - - - - - - - - - - x x - -
Alona excisa - - - - - - - - - x - - - - - - - - - -
453
454
Bosmina sp. - x - x x - - - - - - - x - x - - - - x
Bosminopsis deitersi - - - - x - x - - - - - x - - - x - - -
Ceriodaphnia cornuta x - - - x - x - - - - - - - - - - - - -
Ceriodaphnia sp. - - - - x - x - x - - x - - - - - x x x
Daphnia sp. - - - - x - x - x - - - - - - - - - - -
Diaphanosoma birgei x x - x x x - - - x x - - - - - x x x x
Ilyocryptus spinifer - - - x - - - - - - - - - - - - - - - -
Macrothrix sp. - - - x - - - - - - - - - - - - - - - -
Moina micrura - - - x - - - - x - - - - - - - - - - -
Scapholeberis sp. - - - x x - - - - - - - - - - - - - - -
Simocephalus serrulatus - - - x - - - - - - - - - - - - - - - x
COPEPODA
Argyrodiaptomus furcatus - - x - x - - - - - - - - - - - - - - -
Bryocyclops sp. - - - - - - - - - - - x - - - - x x - -
Eucyclops serrulatus - - - x - - - - - - - - - - - - - - - -
Mesocyclops longisetus - - - x - - - - - - - - - - - - - - - x
Mesocyclops sp. - - - - - - - - - - - x - - - - - - - -
Microcyclops sp. - - - x x x x - x - - x x - - x x - x -
Paracyclops fimbriatus - x - x - - - - - - - - - - - - - x - -
Paracyclops sp. - - - x - - - - - - - - - - - - - - x -
Potamocaris sp. - - x x - - x x x - x x x x x x x x x x
Scolodiaptomus corderoi - - x - x - - - - - - - - - - - - - - -
Thermocyclops minutus - - x - x - x x x - - - - - - - - - - -
Tropocyclops prasinus - x - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Tropocyclops sp. - - - - - - x - - - - - - - - - - - - -
Copepodito x x x x x x x x x - x x x - x x x x x x
Nauplius x x x x x x x x x x x x x - x x x x x x
......................................................................................
NEMATODA x x x
CARACTERIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE
A região da bacia do Rio Doce, originalmente quase totalmente recoberta
com vegetação característica de matas semideciduais ou perenifólias pertencentes ao
bioma da Mata Atlântica, possui altíssima riqueza e diversidade biológica, além de abri-
gar um grande número de espécies de distribuição restrita a esse grande ecossistema.
As estimativas preliminares para a Mata Atlântica como um todo sugerem
uma diversidade botânica mínima de 10.000 espécies, sendo que 53% das formas arbó-
reas, 74% das bromélias e 64% das palmeiras são endêmicas. São ainda de distribuição
restrita aproximadamente 214 espécies de aves, das 940 já registradas. A Mata Atlântica
possui mais de 260 espécies de mamíferos, sendo 73 também endêmicas. Os níveis de
endemismo são ainda maiores para os anfíbios, sendo que 92% das 183 formas não são
encontradas em nenhum outro bioma (IEF, 1994).
Para grupos mais bem estudados, como mamíferos e aves, estimativas obtidas
de diversidade regional (diversidade gama) para o bacia do Rio Doce confirmam a
tendência geral observada para a Mata Atlântica. A região abriga, no mínimo, 148 espé-
cies de 98 gêneros, pertencentes a 27 famílias e nove ordens de mamíferos. Esses
números correspondem a mais de 50% de toda a riqueza mastozoológica encontrada na
Mata Atlântica, apesar de a bacia do Rio Doce representar menos de 3% da área original
desse bioma. Observou-se também que 37 das 73 espécies de mamíferos endêmicas da
Mata Atlântica ocorrem na região de estudo. Para pássaros, a pesquisa confirmou a pre-
sença de cerca de um quarto da avifauna brasileira na bacia do Rio Doce, assim como de
metade das espécies com distribuição em Minas Gerais. De acordo com Machado (1995),
quase 20% das aves endêmicas ao Brasil ocorrem na região, assim como 17 espécies
ameaçadas de extinção.
A diversidade local (diversidade alfa) também pode ser considerada alta. Em
apenas 3.000 m2 levantados no Parque Estadual do Rio Doce, foi registrada a presença
de 43 espécies pertencentes a 22 gêneros de térmitas. Cinco áreas relativamente peque-
nas revelaram pelo menos 329 espécies de insetos galhadores, sendo 116 exclusivas de
ambientes xéricos e 145 restritas a hábitats de caráter mais mésico.
A riqueza de vertebrados também revela a mesma tendência. As duas áreas
com maior número de espécies de mamíferos foram o Parque Nacional do Caparaó e a
Estação Biológica de Caratinga, com 79 espécies cada uma. Seguem-se o Parque Esta-
dual do Rio Doce, com 66 espécies de 57 gêneros, declinando em áreas de maior grau
de sazonalidade, como Mariana e Santa Bárbara (respectivamente, 57 e 55 espécies).
456
Para efeito comparativo, pode-se relacionar dados de riqueza local de mamíferos não-
voadores (excluindo-se os morcegos) obtidos em outros biomas, com aqueles registra-
dos na bacia do Rio Doce. Enquanto o Parque Estadual do Rio Doce possui pelo menos
45 espécies (Stallings et al., 1991; este estudo), localidades amostradas no Pantanal e na
Caatinga não excediam a 32 e 26 espécies, respectivamente (Fonseca et al., no prelo).
Os dados sugerem que a bacia do Rio Doce possui uma riqueza de mamíferos típica de
outras localidades da Mata Atlântica, menor somente do que a observada para comuni-
dades faunísticas da Amazônia (Fonseca et al., no prelo), embora esse último bioma
possua uma área cinco vezes maior que a do primeiro.
A diversidade local de aves observada foi bastante alta. Machado (1995) des-
creveu a ocorrência de 393 espécies de aves em seis áreas amostradas na bacia do Rio
Doce. O Parque Estadual do Rio Doce possui, no mínimo, 298 espécies, seguido pela
Estação de Pesquisa e Desenvolvimento Ambiental de Peti, pertencente à Cemig, com
248 espécies. Mesmo as áreas de menor tamanho, essencialmente isoladas de outros
fragmentos de maior expressão, como é o caso da Estação Biológica de Caratinga, reve-
laram a presença de mais de 200 espécies.
Embora a pesquisa de campo não tenha incluído levantamentos de anfí-
bios, vale ressaltar que se registraram 37 espécies, pertencentes a 16 gêneros e oito
famílias, somente no Parque Estadual do Rio Doce, totalizando mais de 20% da
fauna brasileira (IEF, 1994).
Não há levantamentos exaustivos da flora da bacia do Rio Doce, embora as
pesquisas pontuais sugiram que a diversidade é comparável à observada para a fauna. Em
1981, o Cetec registrou 124 espécies florestais em 47 parcelas do Parque Estadual do Rio
Doce, totalizando 9.400 m2. Em duas amostras de áreas em regeneração natural no Parque
Estadual do Rio Doce, totalizando 100 m2, foram registradas 102 espécies de plantas
(Silva, 1996). Na Estação Biológica de Caratinga, perfazendo 880 ha, foram coletadas 99
espécies de 51 gêneros, apenas da família Leguminosae (Mendonça Filho, 1996).
A diversidade botânica de Minas Gerais pode ser considerada uma das mais
altas do Brasil. A flora dos locais visitados na bacia do Rio Doce durante a pesquisa de
campo conduzida por Brandão e Stehmann também indicou ser a região rica em plantas
medicinais, sendo estas de amplo conhecimento da população-alvo do estudo. Várias
delas são rotineiramente coletadas nos remanescentes florestais da bacia do Rio Doce
para uso caseiro. Portanto, com a redução drástica na cobertura florestal nativa, a sobrevivência
dos remanescentes florestais tornou-se essencial para as populações locais.
No âmbito da bacia do Rio Doce, a dinâmica de substituição de espécies
(também conhecida como diversidade beta) é bastante significativa, sendo que a estru-
tura das comunidades faunísticas e florísticas varia entre localidades relativamente pró-
ximas. Esse dado é indicativo da existência de gradientes ambientais ao longo da região
de estudo. Somente 50% das espécies de térmitas amostradas são comuns à área do
Parque Estadual do Rio Doce e à região de São Gonçalo, distantes não mais do que 150
km entre si. Para mamíferos, áreas como o Parque Nacional do Caparaó e mesmo a
Estação Biológica de Caratinga, essa última de tamanho reduzido, possuem gradientes
457
altitudinais marcantes e alta diversidade local, enquanto o Parque Estadual do Rio Doce,
embora moderadamente rico em mamíferos, é basicamente uma área de planície, possi-
velmente com menor diversidade de hábitats. A dinâmica de substituição de espécies
pode ainda ser evidenciada pelo fato de mais da metade de todas as espécies de mamí-
feros só ocorrer em apenas uma entre as cinco localidades mais intensamente inventari-
adas na bacia do Rio Doce. Os índices de similaridade gerados a partir dos dados oriun-
dos das seis áreas inventariadas para aves também mostram que a composição local varia
significativamente entre localidades próximas, com um desvio acentuado no caso de
comunidades localizadas em faixas altitudinais distintas (Machado, 1995). Foi observa-
da ainda a existência de pares de espécies que se substituem altitudinalmente.
FRAGMENTAÇÃO
As questões ligadas aos impactos da fragmentação e da perda de cobertura
florestal sobre a biodiversidade da bacia do Rio Doce foram investigadas primordial-
mente utilizando-se como grupos-alvo os mamíferos e as aves, dado o maior conheci-
mento disponível sobre sua distribuição na área de estudo. Em 1983, Fonseca (1985)
estimou a extensão florestal da bacia do Rio Doce entre 5% a 6% de sua cobertura
original, com base em dados do censo agrícola e dos escritórios do Instituto Estadual de
Florestas de Minas Gerais. Os trabalhos mais detalhados e completos realizados sobre o
458
padrão atual de fragmentação da bacia do Rio Doce, utilizando imagens de satélite e
sistemas geográficos de informação, foram realizados no âmbito do Programa Biodiversida-
de, População e Economia por Machado (1995) e Landau e Fonseca (em preparação).
A paisagem resultante da dinâmica de ocupação da terra, primordialmente de-
terminada pelos vetores ligados à agricultura, pecuária e silvicultura, essa última represen-
tada virtualmente pelas monoculturas de Eucalyptus spp., é composta de fragmentos peque-
nos, isolados, em grande parte compostos por vegetação secundária (Figura 1). Em 29
municípios da região, as florestas remanescentes estão representadas em menos de 24% da
superfície analisada, sendo somente 3,4% compostas por mata alta, mais próximas dos
estágios finais de sucessão. O restante está representado por florestas secundárias e capoei-
ras baixas (Landau e Fonseca, em preparação; Tabela 9.1). Três municípios da bacia inves-
tigados detalhadamente por Machado (1995) revelaram extensões desprovidas de vegeta-
ção florestal variando entre 87% a 94%. O tamanho típico dos fragmentos é também bastan-
te reduzido (20-24 ha), sendo a distância média entre eles de 840 m.
Teoricamente, paisagens altamente fragmentadas, com baixo grau de conec-
tividade, condições observadas para o bacia do Rio Doce nessa pesquisa, irão experi-
mentar um processo de relaxamento de sua diversidade biológica original, com uma
redução generalizada no número de espécies originalmente presentes. Essa dinâmica,
proposta inicialmente para ambientes insularizados, com níveis elevados de isolamen-
to, é descrita pela equação S = CAZ, onde S = número de espécies, A = área remanescen-
te e Z = inclinação da reta de regressão quando a relação curvilínea é linearizada logarit-
micamente. Normalmente, z se encontra entre 0,14 e 0,40, mas tipicamente próxima a
0,25. O fenômeno descrito por essa equação é conhecido como relação espécie/área. O
tempo de relaxamento até um novo equilíbrio, determinado por um número menor de
espécies, varia de acordo com a região, o grupo taxonômico e o grau de isolamento entre
as áreas remanescentes.
Os padrões de composição avifaunística de fragmentos inventariados por Ma-
chado (1995) não indicaram conseqüências notáveis de perda de espécies na bacia do Rio
Doce em função da redução da área disponível, ao contrário do que se poderia prever. No
entanto, esse resultado não significa necessariamente que os efeitos esperados não este-
jam se manifestando. O menor remanescente levantado nessa pesquisa tinha uma área
relativamente grande, com 300 ha. Os efeitos negativos da redução de hábitat e isolamen-
to sobre a avifauna da Mata Atlântica foram observados mais tipicamente em fragmentos
de menor tamanho (ver Willis, 1979), próximos a 20 ha. Dado que a média de tamanho dos
fragmentos nos três municípios examinados na bacia do Rio Doce é comparável a esse
número, é possível que estudos posteriores demonstrem que os mecanismos de erosão de
diversidade se encontrem em operação. Alternativamente, pode-se também especular
que o tempo passado desde o isolamento (na região, a partir da década de 1940, como
ilustrado por Fonseca, 1985) não tenha sido suficiente para completar-se o relaxamento
até um novo patamar, caracterizado por um número menor de espécies.
Uma terceira hipótese é a de que os efeitos da redução de hábitat sejam mais
pronunciados para grupos com distribuição restrita, ou seja, para as espécies endêmicas.
459
Resultados empíricos nessa direção foram apresentados originalmente por Pimm (1994),
corroborando a interpretação pela qual a relação espécie/área, particularmente em áreas
continentais, irá se verificar inicialmente sobre o pool de espécies endêmicas e não
sobre o conjunto total da fauna, que inclui formas de ampla distribuição. Pimm e Askins
(1995) mencionam que cerca de 70 espécies de aves endêmicas da Mata Atlântica, ou
seja, 35% do total de espécies de distribuição restrita a esse bioma, se encontram ame-
açadas de extinção, fração próxima daquela prevista pela relação espécie/área. Apesar
de esses mesmos efeitos não terem sido notados para a avifauna no nível mais localizado
da bacia do Rio Doce, considera-se que 13 espécies, representando 76% de todas as aves
ameaçadas de ocorrência histórica na região, poderiam ter ocorrido no passado em qual-
quer das seis áreas inventariadas durante o projeto que hoje já não abrigam populações
dessas espécies. Portanto, apesar de o número de espécies que teoricamente já deveri-
am ter desaparecido, ou estar em condições precárias na natureza, ser bem menor do que
aquele previsto pela relação espécie/área, já se pode notar tendências na direção da
extirpação de várias formas de distribuição restrita na bacia do Rio Doce.
Essa tendência se fará notar mais fortemente examinando-se a fauna de ma-
míferos da região. Os municípios que possuem remanescentes florestais de maior ex-
pressão ainda mantêm um maior número de espécies e gêneros de mamíferos, abrigan-
do ainda importantes unidades de conservação (Costa e Fonseca, 1995). Grelle et al.
(1996) demonstraram que o número esperado de espécies de mamíferos endêmicos
ameaçados de extinção da bacia do Rio Doce (17), gerado pela relação espécie/área, é
bastante próximo daquele reconhecido oficialmente pelo Instituto Estadual de Flores-
tas de Minas Gerais, com base em estudos recentes realizados por especialistas. O mes-
mo resultado não é observado quando as análises levam em consideração o pool total de
espécies, que inclui as de ampla distribuição. Portanto, corroborando as interpretações
de Pimm e Askins (1995), a redução de hábitat irá afetar primordialmente as espécies de
distribuição restrita, ressaltando a sua importância no desenho de estratégias de conser-
vação de biodiversidade para a região de estudo.
Embora o resultado último da redução no tamanho do hábitat disponível,
juntamente com a deterioração progressiva dos fragmentos remanescentes em função
do efeito de borda, além dos distúrbios antrópicos de natureza variada, seja a eliminação
das populações nativas, a investigação das variáveis que atuam no processo de declínio
é talvez mais relevante do que propriamente a documentação final do evento de extin-
ção (Caughley, 1994). A vasta maioria dos remanescentes da região é caracterizada por
florestas em diversos estágios de sucessão, sendo rara a ocorrência de florestas primárias
bem estratificadas. No âmbito do Programa Biodiversidade, População e Economia,
Grelle (1996) investigou o uso tridimensional do espaço por espécies arborícolas e es-
cansoriais de pequenos mamíferos, demonstrando que, apesar de as matas secundárias
serem importantes para um elenco bastante diversificado da fauna da bacia do Rio Doce
(Fonseca, 1989), os estratos superiores da floresta são essenciais para a manutenção de
várias espécies, sendo sua estratificação uma variável de relevância para a biodiversi-
dade local. Portanto, apesar de as florestas secundárias serem elementos importantes da
460
paisagem atual da região, sendo que as evidências apontam para um bom potencial de
regeneração natural das formações da Mata Atlântica da bacia do Rio Doce (Fonseca,
1989; Strier e Fonseca, no prelo; Silva, 1996), a ausência de extensões significativas de
matas primárias pode estar resultando na deterioração do status de espécies que se segre-
gam espacialmente ao longo dos diferentes estratos da floresta.
Na mesma linha, Hirsch (1996), utilizando primatas da bacia do Rio Doce
como grupo-alvo de seu estudo, avaliou a qualidade do hábitat de 14 fragmentos flores-
tais da região, selecionados por sua localização próxima ao Parque Estadual do Rio
Doce, à Estação Biológica de Caratinga, além de outros identificados em localidades de
atuação do Programa Biodiversidade, População e Economia. Com tamanho médio de
135 ha., 70% dos remanescentes localizam-se em fazendas de gado, todos com evidên-
cias de perturbações oriundas de corte seletivo de madeira, abertura de lavouras e fogo.
Apesar dos distúrbios verificados, quase todos os fragmentos possuem, no
mínimo, três espécies de primatas, das oito nativas da região de estudo, dado de certa
forma surpreendente. Por outro lado, as densidades das populações demonstraram
estar associadas significativamente com a qualidade do hábitat, mensurada por deze-
nas de variáveis ambientais, como altura da mata, estratificação, grau de conectivida-
de, biomassa florestal, diversidade botânica, entre outras. Além disso, as densidades
são positivamente relacionadas ao tamanho do fragmento. Os dados de Machado (1995)
para a avifauna indicam essa mesma tendência, sendo que em todos os fragmentos
inventariados as populações de aves estimadas foram consideradas pequenas, com ex-
ceção de algumas poucas que se beneficiam da ampliação da área de borda e de
estágios iniciais de sucessão. Em resumo, os remanescentes investigados ainda man-
têm populações residuais de primatas, mas vários já mostram indícios de não serem
capazes de suportá-las a longo prazo. As duas espécies de maior porte, Brachyteles
hypoxanthus e Alouatta fusca, historicamente caçadas com grande intensidade na bacia
do Rio Doce, merecem atenção particular.
461
TABELA 9.1
...................................................
COBERTURA VEGETAL E USO DA TERRA EM 29 MUNICÍPIOS DA BACIA DO RIO DOCE, MG
...................................................
Total 8458 12.715,37 100,00
Fonte: Elaboração a partir dos mapas de cobertura vegetal e uso do solo do Estado de Minas Gerais -
FUNCATE/JNPE, 1994.
462
São vários os impactos provocados pelas plantações, que são ainda amplifica-
dos na medida do incremento no tamanho da área plantada. Por outro lado, as conse-
qüências são variáveis, dependendo da região e do contexto ecológico onde se inserem
(Guerra e Reis, 1996). Entre os impactos mais previsíveis, estão a remoção da vegetação
nativa, o uso do fogo, de agrotóxicos e de maquinaria agrícola, além de consumo de água e
nutrientes. Após o corte, os impactos podem ser ainda mais severos, com a exposição do
solo à precipitação e à insolação, resultando em erosão e assoreamento de cursos d’água.
Mas talvez mais relevantes no contexto do Programa Biodiversidade, Popu-
laçao e Economia sejam os possíveis impactos sobre a biodiversidade, objeto de algu-
mas pesquisas de campo. Já se sugeriu em diversas ocasiões que as plantações de euca-
lipto não são capazes de manter os componentes da diversidade biológica original por
sua homogeneidade biológica e estrutural, pela baixa disponibilidade de fontes alimen-
tares para a fauna, além dos possíveis efeitos alelopáticos que inibem a colonização do
sub-bosque por espécies da flora nativa (Guerra, 1995).
Certamente, em maior ou menor grau, as plantações de eucalipto da bacia do
Rio Doce afetaram negativamente a flora e fauna locais. Por outro lado, não há consenso
sobre qual tipo de uso da terra mais freqüente na região — pecuária, agricultura ou
silvicultura de eucalipto — irá provocar maiores danos à biodiversidade. Existem indi-
cações de que, em situações particulares, em que se permite o crescimento do sub-
bosque nativo em meio às plantações de eucalipto, uma porção da fauna nativa, junta-
mente com as comunidades vegetais associadas, pode persistir ou ainda utilizar esse
tipo de hábitat como corredor de migração entre fragmentos (Dietz et al., 1975; Stallings,
1991). Apesar disso, é prática comum na bacia do Rio Doce a remoção do sub-bosque.
Quatro pesquisas de campo examinaram os efeitos das plantações de eucalip-
to sobre a biodiversidade local, além dos aspectos ligados à regeneração do sub-bosque
(Fernandes et al., 1995; Gontijo et al., 1995; Camargo, 1996; Fonseca, 1997). Em primei-
ro lugar, buscou-se determinar a composição florística dos sub-bosques em regeneração
em áreas do município de Dionísio com plantações pertencentes à Companhia Agro-
Florestal Santa Bárbara (CAF), posteriormente transformadas em reserva, cujo último
corte foi feito há 15 anos (Camargo, 1996). A estrutura da comunidade botânica do sub-
bosque mostrou-se bastante diversificada, com 85 espécies nativas pertencentes a 33
famílias, com predominância de leguminosas pioneiras. Os dados também revelaram
que o processo de sucessão natural pode eventualmente resultar na eliminação do euca-
lipto plantado. Determinou-se que 37% dos eucaliptos no estrato superior estavam
mortos, sem nenhum sinal de indivíduos jovens no sub-bosque.
A vigorosa regeneração a partir de propágulos oriundos das matas nativas
vizinhas sugere que os efeitos alelopáticos atribuídos ao eucalipto não são suficientes
para frear o processo de sucessão natural. Além disso, Camargo (1996) especula que a
presença do estrato superior composto de espécies exóticas pode acelerar a colonização
do sub-bosque, já que algumas pioneiras mais agressivas, com Apuleia leiocarpa, neces-
sita de sombreamento nos seus primeiros anos de vida. Essa é a razão pela qual apresenta
densidades altas em matas semidevastadas em regeneração na bacia do Rio Doce. Nes-
463
se contexto, a plantação de eucalipto forneceria o sombreamento necessário a um pro-
cesso mais rápido de sucessão, condição não encontrada para outros tipos de áreas alte-
radas, como aquelas dedicadas à agricultura e pecuária.
Gontijo et al. (1995) investigaram as diferenças na disponibilidade de recur-
sos alimentares para os térmitas, importantes componentes da fauna de invertebrados,
responsáveis por uma fração significativa da ciclagem de nutrientes, entre matas nativas
e plantações de eucalipto. Além disso, essa pesquisa buscou determinar as conseqüênci-
as da remoção da vegetação nativa sobre a composição da comunidade de térmitas,
assim como as taxas diferenciais de ataque à vegetação arbórea em ambos os tipos de
hábitat. Os resultados indicaram que a quantidade de recursos alimentares, determina-
dos principalmente pela constituição dos detritos no solo, foi 40-45% maior na mata do
Parque Estadual do Rio Doce do que nos eucaliptais e na mata secundária de São Gon-
çalo, também objeto do estudo de campo.
Como conseqüência, a maior riqueza da fauna de térmitas, além da ausência
de dominância acentuada por parte de algumas poucas espécies, ocorreu nas áreas me-
nos alteradas. Enquanto a mata do Parque Estadual do Rio Doce registrou a presença de
43 espécies, pertencentes a 22 gêneros, o eucaliptal de São Gonçalo revelou apenas 27
espécies de 14 gêneros, sendo a fauna de térmitas das plantações de eucalipto uma
subamostra depauperada da que ocorre nas matas. Determinou-se ainda que eucaliptais
com sub-bosque desenvolvido têm maior oferta de recursos alimentares. Foram tam-
bém notadas alterações nas guildas tróficas da fauna de térmitas: enquanto na mata do
Parque Estadual do Rio Doce apenas 24% das espécies são consumidoras de madeira,
nos eucaliptais essa proporção passa a 74%. Grande parte dos térmitas da mata subsistem
a partir de recursos presentes no solo e no folhedo.
Essas alterações têm repercussão na freqüência de ataque de térmitas sobre a
biomassa viva. No Parque Estadual do Rio Doce, que possui uma fauna diversificada, o
ataque a árvores vivas é muito baixo. Tanto na mata secundária de São Gonçalo quanto
no eucaliptal vizinho, a incidência de ataques é maior. Sugere-se que esse resultado
possa ser parcialmente atribuído à redução no número de predadores e competidores de
térmitas em hábitats mais simplificados. De acordo com os autores, Nasutitermes crassi-
rostris, espécie especialmente voraz, tem uma densidade 100% maior no eucaliptal de
São Gonçalo do que na mata, em um grau que ameaça a viabilidade da plantação. Com-
parado com a mata do Rio Doce, essa densidade triplica. Resultado bastante interessante
foi o registro de uma incidência muito baixa de ataque de térmitas no eucaliptal adja-
cente ao Parque Estadual do Rio Doce, indicativa da influência dos elementos presen-
tes na mata sobre a dinâmica da plantação vizinha. Conclui-se que a redução na extensão
de matas nativas pode resultar em maiores danos provocados pelos térmitas.
Similarmente, as pesquisas de Fernandes et al. (1996), com insetos indutores
de galhas, embora ainda não concluídas, revelaram dados na mesma direção. Apesar
de não terem sido notados padrões claros vis-à-vis à influência de distúrbios antrópicos
sobre a diversidade de insetos galhadores, que podem ser utilizados como indicado-
res de qualidade ambiental, a estrutura da comunidade não diferiu significativamente
464
entre a mata do Parque Estadual do Rio Doce e as plantações de eucalipto adjacentes.
Esse resultado indica a influência benéfica de ambientes inalterados sobre a matriz de
hábitat circundante.
Fonseca (1977) investigou os parâmetros comunitários dos pequenos mamí-
feros não-voadores em monoculturas de eucaliptos e trechos de mata nativa pertencen-
tes à CAF, sob prática de manejo que permite o desenvolvimento de sub-bosque. Em
síntese, apesar de o sucesso de captura ter sido menor no eucaliptal, os resultados reve-
laram pouca diferença em riqueza e abundância relativa de espécies de roedores e
marsupiais entre a mata nativa e o reflorestamento com sub-bosque, este último não
manejado desde 1988. Foram também observados movimentos de dispersão de indiví-
duos entre os diferentes ambientes, particularmente nos períodos de maior abundância
populacional, sem diferenças no sentido da movimentação (isto é, mata/eucalipto, euca-
lipto/mata), mas com predominância de machos.
Por outro lado, espécies de hábito essencialmente arborícola são mais raras ou
estão ausentes das plantações de eucalipto. De acordo com Laurance (1994) e Fonseca
(1997), espécies que utilizam a matriz do hábitat que circunda fragmentos florestais
tendem a permanecer com populações estáveis ou mesmo experimentar um incremen-
to em densidade; as que evitam a mesma matriz irão declinar ou eventualmente desapa-
recer no local. A matriz, portanto, funcionaria como hábitat-ralo. A cuíca-lanosa (Calu-
romys philander) tem populações mais reduzidas mesmo em matas nativas e não mostrou
utilizar-se do eucaliptal, sugerindo um grau maior de vulnerabilidade aos impactos an-
trópicos. Da mesma forma, primatas não fazem uso desse tipo de hábitat.
Não obstante, para as espécies cuja abundância não experimenta variações
significativas entre o fragmento florestal e a matriz de hábitat circundante, esta
última não pode ser interpretada como uma barreira à migração entre fragmentos
(Malcolm, 1991a). A pesquisa indicou que, à exceção dos mamíferos assinalados aci-
ma, a plantação de eucalipto com sub-bosque desenvolvido pode efetivamente funci-
onar como corredor entre fragmentos e mesmo como hábitat-fonte para algumas espé-
cies. Concluindo, os eucaliptais com sub-bosque podem funcionar como elementos
tamponadores de remanescentes florestais ou de unidades de conservação, embora
com as restrições indicadas.
SÍNTESE
O conjunto das pesquisas realizadas no âmbito do Programa Biodiversidade,
População e Economia produziram dados bastante interessantes e abrangentes sobre a
magnitude e a distribuição da biodiversidade da bacia do Rio Doce, utilizando alguns
grupos taxonômicos como indicadores dos processos em operação em nível local e
regional. Em primeiro lugar, ficou caracterizada a alta diversidade biológica original-
mente presente na área de estudo, fruto não só da riqueza local das comunidades, mas
também da presença de gradientes ambientais pronunciados, que deram origem a uma
fauna e flora regionalmente ricas. Portanto, amostras representativas das diferentes co-
munidades ao longo da região devem ser objeto de esforços de conservação.
465
Por outro lado, há razões para se suspeitar que uma fração significativa dessa
riqueza biológica está em declínio, em conseqüência dos diferentes impactos antrópi-
cos que resultaram no altíssimo grau de fragmentação da paisagem original, além de
provocar o isolamento dos remanescentes florestais. Embora as florestas secundárias
cumpram importante papel na conservação da biodiversidade local, a eliminação das
florestas primárias está também afetando negativamente as espécies da fauna que de-
pendem de matas altas e estratificadas. As populações de árvores de importância econô-
mica e as espécies da fauna tradicionalmente caçadas ao longo da região foram quase
totalmente eliminadas da bacia do Rio Doce.
Apesar de ainda não haver evidências concretas da extirpação total de um
número expressivo de espécies da flora e da fauna, os dados apontam, como previsto
teoricamente, um processo de erosão de biodiversidade, traduzido nesse momento pelo
declínio nas populações de espécies mais susceptíveis, geralmente aquelas de
distribuição restrita ou que ocorrem naturalmente em baixas densidades. Além disso,
são várias as espécies que subsistem em um número reduzido de localidades, já tendo
em grande parte desaparecido da região. Portanto, persistindo as condições atuais, é só
uma questão de tempo para as comunidades biológicas experimentarem espasmos de
extinção sem precedentes no registro biogeográfico mais recente. Várias espécies, por
já se encontrar com populações muito reduzidas, possivelmente já não desempenham
funções ecológicas relevantes. O resultado final de tal processo será a alteração das
características originais das comunidades da Mata Atlântica da bacia do Rio Doce.
Não obstante, as informações geradas também indicam que ainda é possível
reverter a situação atual, principalmente levando-se em consideração o potencial de
regeneração natural das florestas da região. Áreas cujo solo não foi degradado ao extre-
mo e fiquem próximas a fontes de colonizadores (isto é, unidades de conservação e
remanescentes em propriedades privadas) estão aptas a experimentar um vigoroso pro-
cesso de regeneração. Dados obtidos no campo mostram que matas secundárias serão
capazes de abrigar uma flora e fauna bastante diversificadas após um período de dez ou
vinte anos, dependendo das condições locais.
Em termos de impactos antrópicos em área rurais, o eucalipto, não obstante as
conseqüências deletérias da implantação de extensas áreas reflorestadas no passado,
eliminando-se a cobertura florestal original, tem se mostrado menos danoso do que
outros usos da terra, particularmente a agricultura em larga escala e a pecuária. Esta
última é possivelmente a atividade com maiores conseqüências para a biodiversidade
da região.
As plantações de eucalipto, cuja prática de manejo permite a formação de
sub-bosques nativos, mostraram-se aptas a abrigar uma diversidade biológica significa-
tiva, além de servir em muitos casos como corredores de dispersão entre remanescentes
florestais. A importância dessas plantações diminui à medida que elas se distanciam de
matas nativas de maior tamanho e também em função dos níveis de limpeza do sub-
bosque praticados pelas empresas reflorestadoras.
466
467
De qualquer forma, embora não constituam hábitats adequados à persistência
de espécies nativas, as plantações podem servir como elemento tamponador dos rema-
nescentes florestais, proporcionando condições ambientais (microclimas, por exemplo)
menos rigorosas nas bordas da mata. Já que o efeito de borda (deletério principalmente
para os grupos que dependem do interior das matas) é inversamente proporcional ao
tamanho do fragmento, o resultado final do tamponamento por plantações de eucalipto
pode ser a minimização do processo de redução da área efetiva dos remanescentes,
quando comparados àqueles circundados por áreas abertas. Ficou também demonstrado
que a incidência de pragas em plantações de eucalipto pode ser atenuada pela presença
de florestas naturais próximas.
468
1. Ouro Preto 16. Marliéria
2. Mariana 17. Coronel Fabriciano
3. Santa Bárbara 18. Timóteo
4. Alvinópolis 19. Ipatinga
5. Barão de Cocais 20. Santana do Paraíso
6. São Gonçalo do Rio Abaixo 21. Belo Oriente
7. João Monlevade 22. Iapu
8. Rio Piracicaba 23. Ipaba
9. São Domingos do Prata 24. Dionísio
10. Bom Jesus do Amparo 25. Bom Jesus do Galho
11. Itabira 26. Entre Folhas
12. Bela Vista de Minas 27. Ubaporanga
13. Nova Era 28. Caratinga
14. Antônio Dias 29. Ipanema
15. Jaguaraçu 30. Mesquita
31. Córrego Novo
Fonte: Mapas de Cobertura Vegetal e Uso do Solo do Estado de Minas Gerais, elaborados pela Funcate/INPE em 1994, a partir da interpretação
de imagens do Satélite LANDSAT TM-5 de Setembro de 1993. Programa Pró-Floresta / Instituto Estadual de
Florestas – IEF/MG
Escala Original: 1:100.000 – Geoprocessamento: Biol. Elena Charlotte Landau / Colaboração: Geog. Alexandre A. de Oliveira – Data: Abril/ 1997
10. SOCIEDADE, PODER E
MEIO AMBIENTE1
......................................
Tânia M. Braga (Coord.)
Vanja A. Ferreira
1
Parte deste trabalho foi desenvolvido durante o curso de
mestrado em Ciência Ambiental na USP, contando com o
apoio financeiro da FAPESP através da concessão de uma
bolsa de estudos.
469
Quais as políticas ambientais (públicas e privadas) daí decorrentes? É possível falar em
conquistas definitivas nesse processo?
Os casos aqui analisados foram escolhidos de forma a possibilitar respostas a
algumas dessas perguntas, a partir do exame de processos distintos de mobilização polí-
tica em torno da questão ambiental.
A pesquisa que embasou este trabalho desenvolveu-se através de mapea-
mentos e estudos de casos de conflitos e políticas ambientais. Na região da bacia do
Rio Piracicaba (MG) foram pesquisados sete municípios, escolhidos segundo o critério
de presença de grandes empresas poluidoras. São eles: Santa Bárbara, Barão de Cocais,
Itabira, João Monlevade, Timóteo, Ipatinga e Belo Oriente.
O mapeamento foi feito a partir de extensa pesquisa documental. Recorreu-
se ao Ministério Público e ao Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) como
fonte para identificação das situações socialmente reconhecidas como conflito ambien-
tal e das políticas ambientais adotadas pelas empresas e pelo poder público.
Nos arquivos do Copam foram pesquisados todos os documentos — cartas,
denúncias, abaixo-assinados, pedidos de perícia técnica do Ministério Público, projetos
técnicos das empresas, autos de fiscalização, autos de infração, entre outros — referentes
aos grandes poluidores nos municípios estudados. Foram realizadas entrevistas com os
técnicos responsáveis pelo acompanhamento das empresas estudadas.
Nas comarcas correspondentes a cada um dos municípios estudados, foram
pesquisados os livros de inquérito civil, bem as pastas contendo os processos de inquéritos
e/ou ações civis por dano ambiental. Entrevistas com os promotores públicos responsáveis
pelas curadorias do meio ambiente complementaram as informações documentais.
Foram consultados arquivos dos principais jornais da região do Vale do Aço
(que engloba três municípios pesquisados) e de Itabira. Entrevistamos os redatores-
chefe dos jornais cujos arquivos pesquisamos.
Entrevistamos, ainda na fase de mapeamento, os principais reponsáveis pela
condução das políticas públicas e privadas em meio ambiente na região. Utilizou-se tam-
bém nesse caso a consulta a hemerotecas de entidades ambientalistas da região.
Realizamos na etapa de estudos de caso entrevistas livres e guiadas de checa-
gem e aprofundamento das informações obtidas na fase de mapeamento. A escolha dos
agentes a serem entrevistados em cada caso teve como critérios a menção da instituição/
pessoa nas fontes documentais e a referência em entrevistas pretéritas.
As entrevistas livres tiveram como objetivo permitir a expressão do entre-
vistado em relação ao histórico da instituição e às suas opiniões sobre o problema ambi-
ental da região.
As entrevistas guiadas buscaram compreender melhor os conflitos, checar as
informações obtidas nas fontes documentais e em outras entrevistas, bem como obter
informações objetivas a respeito da instituição e de sua estruturação/organização.
A triagem dos casos de conflitos a serem aprofundados através de estudos de
caso, aqui denominados conflitos emblemáticos, foi feita a partir de três critérios: confli-
470
tos com solução democrática, conflitos que deram origem a políticas, conflitos de gran-
de repercussão na opinião pública local ou regional.
No que se refere aos estudos de caso de políticas, a pesquisa em profundidade
foi diversa para cada um dos dois tipos de políticas estudadas. No caso das políticas pri-
vadas, buscou-se obter informações objetivas sobre os sistemas de gestão ambiental
adotados pelas empresas, sobre os fatores indutores da adoção de tais sistemas e sobre as
relações estabelecidas com a comunidade e o poder público local. Para as políticas pú-
blicas, abordaram-se: as principais políticas de meio ambiente conduzidas pelo poder
público, suas diretrizes e mecanismos de definição; as lutas e/ou atividades ambientais
das instituições da sociedade civil, bem como seu papel na definição/implantação das
políticas conduzidas pelo poder público e pelas empresas.
471
de movimentos sociais de caráter heterogêneo e a assimilação de causas políticas de
caráter mais universal, como a questão do meio ambiente, seria assim desfavorecido,
pelo menos nos momentos iniciais do desenvolvimento urbano.
A segregação espacial, que em outras cidades se dá via ação do mercado
imobiliário, é na cidade monoindustrial dirigida de forma planejada pela indústria, tor-
nando-se mais evidente e fazendo surgir uma bipolarização da cidade monoindustrial
em cidade pública e cidade privada.
O surgimento no interior da cidade monoindustrial de duas cidades distintas
— a cidade pública e a cidade privada — tem como origem o fato de que o capital, ao
implantar seu núcleo urbano, via de regra, somente se responsabiliza pela reprodução da
sua força de trabalho. A cidade privada é, então, aquela planejada pela indústria, dotada
de equipamentos, serviços e infra-estrutura urbana, que abriga a sua mão-de-obra. O
resto da cidade, que corresponde à cidade pública, não planejada, é fruto da chegada de
fartos fluxos migratórios e possui infra-estrutura precária, abrigando a parcela populacio-
nal de menor renda.
O controle da produção/organização do espaço exercido pela indústria nas
cidades monoindustriais cria condições favoráveis para um controle sócio-cultural da
população privada (Lefebvre, 1968). Nas cidades privadas estudadas, a vizinhança exer-
ceu tradicionalmente um controle sobre todos os aspectos da vida individual, caracteri-
zando um forte controle social da vida privada.
Quanto aos habitantes da cidade pública, estes eram, em sua maioria, diminu-
ídos e desvalorizados como seres humanos. Ser fichado2 pela grande empresa represen-
tou, por muito tempo, o maior sonho dos que residiam na cidade pública. Exceto no caso
das autoridades (prefeito, juiz, promotor de justiça, padre) e profissionais liberais de
renome, o status social era conferido pelo uniforme da empresa. Até finais da década
passada era comum encontrar pessoas uniformizadas em clubes, bares, danceterias e
outros locais de lazer, inclusive aos sábados e domingos3 .
A cultura da empresa reinava absoluta. Era ela quem ditava as formas de
comportamento socialmente aceitas, fornecia lazer e cultura — clubes, espetáculos de
teatro e dança, shows musicais — para os seus. O acesso à escola, à saúde e ao abasteci-
mento também eram proporcionados pela empresa4.
472
O primeiro grande grupo de problemas sócio-ambientais, causa da grande mai-
oria dos conflitos mapeados, relaciona-se a questões em torno da poluição causada pelas
grandes empresas instaladas na região estudada e encontra-se resumido no quadro abaixo:
QUADRO 10.1
...................................................
IMPACTOS E ATIVIDADES ECONÔMICAS NO MÉDIO RIO DOCE
...................................................
Poluição hídrica, atmosférica e do
Cenibra Belo Oriente celulose
solo. Odores desagradáveis.
473
privada) apresentaram sempre um nível maior de atendimento, enquanto as cidades
públicas amargam índices significativamente menores. A despeito disso, principalmen-
te no que se refere às condições de moradia, esse diferencial também pode ser sentido
dentro da própria cidade privada, onde os bairros destinados aos escalões superiores da
fábrica são mais bem urbanizados que os destinados aos operários.
O terceiro grupo de problemas sócio-ambientais do urbano na região estuda-
da relaciona-se às pressões econômicas e populacionais sobre as suas duas importantes
reservas naturais: o Parque Estadual do Rio Doce (PERD) e o Parque do Caraça.
O Parque Estadual do Rio Doce sofre pressões populacionais, pois faz divisa
com três cidades densamente povoadas: Timóteo, Coronel Fabriciano e Ipatinga. Al-
guns bairros dessas cidades estão crescendo para dentro da área do Parque e parcela da
população vizinha vem obtendo lenha para consumo doméstico através de desmata-
mentos em suas regiões limítrofes.
No que diz respeito ao Parque do Caraça, localizado nos municípios de Catas
Altas e Santa Bárbara, a pressão é econômica. Por estar em região rica em minérios, o
Parque vem sendo ameaçado por atividades de mineração no seu interior e no seu
entorno. O Parque sofreu (e sofre) a ação, em seu interior, desde pequenos garimpos
irregulares até pesquisas de lavra de grande porte concedidas pelo Departamento Naci-
onal de Produção Mineral (DNPM).
CONFLITOS SÓCIO-AMBIENTAIS
Conflito ambiental, conforme definido pela pesquisa conduzida pelo Ibase
sobre o tema, é aquele conflito social que envolve “relações de poder constitutivas do
modo de apropriação e uso de elementos da natureza”, no qual é reconhecida uma
dimensão ambiental e no qual estão envolvidas articulações entre atores distintos —
com seus desafios, contradições, problemas e possibilidades (Conflito, 1995). Nessa
abordagem, o objetivo maior é desvendar “a maneira como se dão os processos decisó-
rios, as relações de força que configuram uma dada situação de acesso ou não aos recur-
sos” (Conflito, 1995).
No que diz respeito à polarização das lutas, o conflito ambiental aparece a
princípio, na literatura e na visão da maior parte dos ambientalistas, como sendo uma
relação polarizada entre os movimentos sociais e o poder público (Conflito, 1995). En-
tretanto, adotamos nesta pesquisa um recorte distinto, que opõe a grande empresa polui-
dora à sociedade local.
Para identificar tal recorte, partimos do concreto, do que era reconhecido
socialmente como conflito ambiental na região estudada, daquilo que o próprio objeto
de pesquisa — conflito ambiental em cidades monoindustriais — exigia. A cidade mono-
industrial é um caso extremo, onde a força política da empresa (dos interesses econômi-
cos) é maior, uma vez que esta exerce seu poder sobre o Estado e sobre a sociedade civil
de forma direta, pairando absoluta sobre a vida cotidiana. Aqui é a empresa, e não o
Estado, a grande receptora das demandas da população e o grande alvo de queixas de
demandas não atendidas.
474
Nesses casos, o Estado irá colocar-se, nos conflitos ambientais, de um ou de
outro lado, em razão das alianças estabelecidas e da dinâmica de cada processo político
específico, caracterizando-se ora como instituição reguladora dos conflitos, ora como
agente de um de seus pólos, ora como ambos.
Trazendo a discussão para a realidade aqui analisada, o conflito ambiental na
região encontra-se intimamente relacionado à contradição entre a apropriação privada
dos elementos naturais e urbanos, que os transforma em recursos econômicos, e o uso
coletivo dos mesmos elementos pela comunidade. Essa contradição traduz-se em um
conflito de interesses distintos, e por muitas vezes opostos, em torno de situações de risco
ambiental. Tais interesses são, de um lado, os interesses econômicos do poluidor — que
não quer arcar com os custos da eliminação/redução da poluição e da reparação/recupera-
ção dos impactos ambientais — e, de outro, os interesses difusos e coletivos da sociedade,
que deseja a melhoria das condições de vida da população e da qualidade do ambiente.
Se a questão central gira em torno de conflitos de interesses e de suas formas
possíveis de resolução, o determinante fundamental, para a composição das forças em
embate e para a resolução de tais conflitos, passa a ser o processo político. Cabe saber,
para cada conflito mapeado, quais são os interesses em jogo, quem são os agentes envol-
vidos, como se estabelecem as alianças e como é exercido o poder político.
475
O quadro abaixo ilustra os conflitos ambientais urbanos mapeados na bacia do
Rio Piracicaba no período 1977/1994, destacando o objeto de conflito e os agentes
envolvidos. No que se refere aos agentes ambientais, optamos por destacar aqueles
responsáveis pela condução política do processo, aqui denominados agente catalisador
dos interesses ambientais.
QUADRO 10.2
...................................................
Município Problema
CONFLITOS AMBIENTAIS NO MÉDIO RIO DOCE
...................................................
João
Monlevade
poluição
atmosférica
Ministério
Público
Cia. Belgo-
Mineira
Ministério
Público
Fonte: Elaboração dos autores a partir de entrevistas e arquivos Feam/Copam e arquivos do Ministério Público.
-
Discutiremos agora de forma breve cada um dos três blocos de agentes que
participaram dos conflitos ambientais mapeados. No que se refere aos interesses econô-
micos, podemos identificar dois tipos de agentes envolvidos nos conflitos ambientais na
região estudada.
O primeiro, e principal, grupo de agentes econômicos é composto pelas gran-
des empresas industriais — de setores altamente poluentes, como a siderurgia e a celu-
lose — e mineradoras localizadas na bacia. O mapeamento aponta a participação direta
em conflito ambiental de quatro das seis grandes empresas da região: Cia. Siderúrgica
Belgo-Mineira, Cia. Vale do Rio Doce, Cosígua e Usiminas.
476
A despeito de sua ausência no mapeamento, a Cenibra e a Acesita não podem
ser consideradas isentas de envolvimento direto em conflitos sócio-ambientais na re-
gião. Foram registrados fortes conflitos entre a Cenibra Florestal, ONGs e sindicatos
da região por degradação ambiental e social promovida pela atividade de monocultura
de eucalipto. A Acesita envolveu-se em conflitos com o sindicato Metasita e com a
CUT por questões relativas à saúde do trabalhador. Por não se caracterizar como predo-
minantemente urbanos — o primeiro é predominantemente rural e o segundo interno à
fábrica —, esses conflitos não foram incluídos no mapeamento aqui realizado.
Um segundo grupo de agentes econômicos observado são as companhias
estatais de serviços públicos. Aqui o destaque vai para as companhias estaduais de ener-
gia (Cemig) e água e esgoto (Copasa). As concessionárias municipais, embora agentes
potenciais, não se envolveram em nenhum dos casos de conflito ambiental aberto ma-
peados na região.
O poder político exercido pelos dois grupos de agentes identificados traduz-
se na composição de um campo de alianças altamente favorável aos interesses econômi-
cos. Alianças com o poder público municipal, efetuadas através da ascendência direta
que muitas dessas empresas têm sobre as prefeituras e câmaras municipais. Alianças
com a opinião pública e a sociedade civil, baseadas na inibição da formação de movi-
mentos populares contestatórios através da imposição de uma cultura própria e de me-
canismos de controle social da vida privada. Alianças com o poder público estadual, via
poder político da composição entre as companhias de serviço público e as empresas nas
Câmaras Especializadas do Copam.
No que se refere aos interesses difusos de melhoria da qualidade ambiental,
identificamos múltiplos agentes envolvidos nos conflitos. São eles: os Conselhos Muni-
cipais de Meio Ambiente, as Organizações Não Governamentais ambientalistas, outras
ONGs, o Ministério Público, as prefeituras, a Igreja, a imprensa local, os movimentos
sociais urbanos e a comunidade (aqui entendida como sociedade civil não organizada).
Entre esses agentes, alguns — como os Codemas, as ONGs ambientalistas e
os departamentos (setores) de meio ambiente das prefeituras — podem ser caracteriza-
dos como ambientalistas, uma vez que têm como objetivo principal a preservação/
melhoria da qualidade ambiental. A maioria, entretanto, é caracterizada como agente
ambiental. Esses agentes, embora não tenham a luta pela qualidade ambiental como
objetivo central, incorporam a questão em sua pauta de lutas.
Em todos os casos estudados o processo foi iniciado a partir da atuação de um
agente, ou grupo de agentes, responsável pela canalização das carências ambientais já
existentes, mas não reconhecidas socialmente, e sua transformação em objetos de luta
social aberta. Esse mesmo agente catalisador foi o responsável, na maior parte dos casos,
pela condução política do processo.
477
QUADRO 10.3
...................................................
Município
TIPOLOGIA DE CONFLITOS AMBIENTAIS NO MÉDIO RIO DOCE
...................................................
Belgo-Mineira
Fonte: Elaboração dos autores a partir de entrevistas e arquivos Feam/Copam e arquivos do Ministério Público.
478
O item intensidade do conflito foi avaliado em função de dois fatores: setores
da sociedade envolvidos; e abrangência do conflito. Consideramos aqui seis setores —
comunidade (sociedade civil não organizada), instituição reguladora/poder público,
imprensa, setor produtivo, Ministério Público/poder judiciário, sociedade civil organi-
zada — e três níveis de abrangência: local, estadual, nacional/internacional5 .
A resolução do conflito pode ser participativa ou não participativa. A forma de
resolução não participativa envolve resoluções burocráticas e/ou legais, bem como aque-
las tomadas por um único agente presente no conflito. A forma participativa envolve
decisões tomadas por um coletivo de agentes ou discutidas entre os agentes envolvidos.
No que tange aos resultados, estes foram avaliados a partir da verificação da
existência em função do conflito de: superação e/ou minoração dos riscos ambientais,
conscientização ambiental da população e/ou constituição de agentes ambientais. Re-
sultados positivos correspondem à verificação dos dois itens; resultados parciais corres-
pondem à verificação de apenas um item; e resultados negativos, à verificação de ne-
nhum dos dois itens.
A catalisação dos interesses ambientais pode ser de três tipos diferentes: cata-
lisação única, exercida por um único agente; catalisação mista por alternância no tempo,
exercida por mais de um agente em momentos temporais distintos, quando um agente
dá continuidade ao trabalho já iniciado por outro; catalisação mista por ação conjunta/
concorrente, exercida por mais de um agente em um mesmo momento temporal. Entre
estes, o que se mostrou mais rico, em termos de intensidade de lutas e durabilidade de
alianças políticas, foi a catalisação mista por ação conjunta/concorrente.
É interessante observar as correlações entre os resultados do conflito e os
outros componentes avaliados. Os três casos com resultados negativos ou parciais estão
associados à catalisação única, intensidade média (dois casos) ou baixa (um caso) de
conflito e resolução não participativa. Os casos com resultados positivos estão associa-
dos à catalisação mista por ação conjunta/concorrente, intensidade alta (dois casos) ou
média (um caso) de conflito e resolução participativa.
Essas constatações reforçam a importância da atuação do agentes catalisado-
res na condução política do processo e na constituição de alianças, bem como a inefeti-
vidade das decisões não participativas, tomadas autoritariamente no interior de gabine-
tes. Uma outra conclusão que pode ser daqui extraída é que conflitos de maior intensi-
dade, envolvendo uma gama mais ampla de agentes e com abrangência territorial
expandida, têm maiores chances de provocar resultados positivos que minorem/supe-
rem riscos ambientais.
Para finalizar, gostaríamos de ilustrar as relações entre os conflitos aqui anali-
sados e as políticas ambientais (públicas e privadas) que serãodiscutidas à frente.
5
A presença de 1 a 3 setores e abrangência local caracteriza uma baixa intensidade do conflito. Um
conflito de média intensidade é caracterizado por três combinações: presença de 1 a 3 setores e
abrangência estadual; presença de 1 a 3 setores e abrangência nacional/internacional; presença de 4
a 6 setores e abrangência local. Um conflito de alta intensidade é caracterizado pela presença de 4
a 6 setores e abrangência estadual ou nacional/internacional.
479
QUADRO 10.4
...................................................
CONFLITOS AMBIENTAIS E POLÍTICAS AMBIENTAIS NO MÉDIO RIO DOCE
...................................................
poluição atmosférica pela Belgo-
João Monlevade Não Sim
Mineira
480
Outro custo ambiental diz respeito à água, que pode ser percebido pelo asso-
reamento de rios, ribeirões e córregos, pela alta concentração de sólidos em suspensão
e alta turbidez, produzindo efeitos nocivos aos ecossistemas aquáticos, à fauna e flora,
além da presença de resíduos químicos, óleos e graxas, provocando também a contami-
nação dos lençóis freáticos.
Quanto ao solo, há erosão, degradação, empobrecimento e contaminação por
metais pesados, principalmente nas áreas de rejeitos. A poluição sonora nas áreas urba-
nas causada pelo ruído das explosões, marteletes, caminhões e trens de carga é outro
grave problema. A vibração causada pelas explosões fez surgir a necessidade de uma lei
municipal que impusesse limites de altura às construções.
A histórica falta de preocupação ambiental da empresa com os impactos am-
bientais negativos tem implicado degradação da qualidade de vida dos moradores de
Itabira e doenças ambientais que apresentam um custo humano e econômico que pode
ser computado em contas hospitalares, remédios e dias de trabalho perdido.
O CONFLITO
Em 20/10/86, foi ajuizada uma ação civil pública contra a CVRD por poluição
da atmosfera do município e degradação do ambiente local. A ação teve início quando
o diretor do jornal O Cometa Itabirano proporcionou a deflagração de dois inquéritos
civis públicos por danos ambientais, através de carta-denúncia publicada.
Os inquéritos contemplavam dois pontos: poluição atmosférica e danos paisa-
gísticos. No primeiro deles, a promotoria considerava que a Companhia Vale do Rio
Doce, na sua atividade de mineração na cidade de Itabira, vinha causando permanente-
mente danos ao patrimônio paisagístico pertencente ao povo da cidade, sem procurar
minimizá-los com ações eficientes de preservação do meio ambiente e da paisagem na
sua área de operações. O segundo inquérito tratava da poluição atmosférica através de
partículas de minério em suspensão no ar.
Nos dois inquéritos foram ouvidos o Superintendente da Vale, a presidente
do Codema e o presidente da Comissão Interna do Meio Ambiente (CIMA) da Compa-
nhia Vale do Rio Doce.
A reação da Vale à abertura dos inquéritos veio através da criação, ainda em
1986, de uma Divisão de Meio Ambiente na Superintendência das Minas, “ainda muito
tímida, de pequeno peso no organograma da empresa” (Mansur, 19956), e a contratação
de uma firma de consultoria para elaborar um Plano de Recuperação de Áreas Degrada-
das (PRAD), aprovado mais tarde pela Feam.
O PRAD envolvia 12 projetos, a saber: monitoramento de água, monitora-
mento do índice de material particulado no ar, monitoramento dos parâmetros climato-
lógicos, sistema de detonações programadas, irrigação das estradas das minas, aspersão
em frentes de lavra, aspersão dos pátios de produtos, aspersão dos vagões, hidrosseme-
6
Promotor Giovanni Mansur em entrevista às autoras em julho de 1995.
481
adura dos taludes, implantação do cinturão verde, parque ecológico do Itabiruçu, e o
projeto Itabira Verde Novo. Porém, tal plano não chegou a ser cumprido integralmente.
Quase sete anos se passaram e os inquéritos foram transformados em ações
civis públicas, que tiveram seu desfecho com um acordo firmado entre a empresa e o
Ministério Público local em um seminário aberto à população. Durante o conflito foram
constituídas alianças e agentes coletivos, em um processo que será agora abordado.
Itabira possuía, na fase anterior ao conflito, um único agente ambiental, o
Codema, em fase inicial de organização, que funcionava ora como apêndice da pre-
feitura para questões relacionadas ao meio ambiente, ora como entidade ambienta-
lista de denúncia.
Com a mobilização em torno da ação civil, constitui-se, do lado dos interes-
ses ambientais, uma aliança composta pelo Ministério Público, pelo jornal O Cometa
Itabirano e pelo Codema. A direção política da aliança foi exercida pelo Ministério
Público. Ao jornal coube iniciar formalmente o inquérito e dar visibilidade ao conflito e
à problemática ambiental do município. O Codema forneceu apoio técnico para a con-
dução do inquérito/ação e para a definição da proposta de acordo feita pelo MP, tendo
sido também responsável pela articulação política com a sociedade civil organizada do
município por ocasião do Seminário do Acordo.
Outros agentes, como a Faculdade de Ciências Humanas de Itabira, associa-
ções de moradores e sindicatos, também estiveram presentes no conflito. A Faculdade
atuou através de apoio técnico ao Ministério Público e ao Codema. As associações e
sindicatos participaram da aliança através de presença no Seminário do Acordo, forçan-
do, através de pressão popular, uma reversão da posição inicial da empresa, que culmi-
nou no aceite, por parte desta, das cláusulas estabelecidas pelo promotor.
O conflito aqui estudado contribuiu para o fortalecimento e a organização do
Codema, que possui hoje maior clareza quanto a seus objetivos, tendo ampliado o cará-
ter e melhorado a qualidade de sua atuação. O Codema vem desenvolvendo desde
então ações relacionadas à fiscalização e acompanhamento sistemático dos índices de
poluição atmosférica do município, à educação ambiental e ao acompanhamento do
acordo judicial firmado pela CVRD. Além disso o Conselho ganhou visibilidade e
representatividade política no município, na região e no Estado, sendo reconhecido
como interlocutor legítimo quando o assunto é meio ambiente em Itabira.
DISCURSOS
O primeiro discurso a ser aqui analisado é o do Ministério Público. A ação
civil pública ambiental contra a CVRD por danos paisagísticos tinha como propositura
(em 16/09/92) “o alto preço ambiental das atividades mineradoras, em especial danos
paisagísticos”. Segundo o promotor, a cidade possuía uma “paisagem lunar, árida, hostil
e desagradável, que tanto magoou o poeta e continua a magoar uma população que tem
orgulho de sua origem e amor à sua terra” (Ação,1992)7 .
7
O poeta ao qual o promotor se refere é Carlos Drummond de Andrade, nascido em Itabira e ativo
denunciante da degradação ambiental promovida pela Vale.
482
A Ação alegava também o fato de os projetos de recuperação não terem saído
do papel e serem insuficientes para reconstrução topográfica das áreas mineradas, uma
vez que não previam o preenchimento das cavas. Em sua conclusão, o promotor pede a
reparação dos danos paisagísticos sob pena de multa diária requisitável em caso de
descumprimento.
Durante as férias do promotor detentor da Curadoria, um primeiro parecer
do Ministério Público, dado pelo promotor substituto, alegava que, segundo o laudo
pericial da Copam,
Com isso, houve o retorno dos autos à comarca de Itabira, para promoção da
ação civil, compelindo a Vale a indenizar o dano já causado e a implementar seus planos
de recuperação, não somente da degradação paisagística, mas também à flora e fauna.
Em resposta à contestação da empresa, a promotoria posicionou-se pela im-
pugnação da mesma, uma vez que “a ré limitou-se a plantar grama num local simples-
mente arrasado por sua atividade (...), e sua atividade minimizadora está absolutamente
aquém do mínimo pretendido pela comunidade Itabirana” (Ação,1992).
483
A segunda ação civil contra a CVRD tinha como propositura (em 24/07/85) o
fato de que a poluição da atmosfera de Itabira continha material particulado em quanti-
dade e volume superiores aos máximos permitidos pela SEMA, Copam e OMS, e com
isso causava não só doenças respiratórias como prejuizos e incômodos vários.
Já o discurso da empresa pode ser dividido em duas fases: antes e após a
assinatura do acordo judicial. A primeira fase caracterizou-se pelo fato de a empresa não
assumir a responsabilidade pelos danos ambientais apurados pelo inquérito civil. Na
contestação da CVRD às ações, a empresa eximia-se de responsabilidade por danos
ambientais e pedia a improcedência das ações. No que se refere ao dano paisagístico, a
Vale afirmava que vinham sendo tomandas providências as mais indicadas para que o
impacto fosse minimizado. No que tange à poluição atmosférica, afirmava estar toman-
do os devidos cuidados para com o problema e que, embora no passado os níveis de
particulados estivessem acima do máximo permitido, tal quadro já havia mudado.
A segunda fase, pós-acordo, é caracterizada por uma visível mudança no dis-
curso ambiental da empresa, que passa a adotar uma postura mais humilde em relação à
sua responsabilidade pelos problemas ambientais de Itabira. O tom do discurso passa a
ser: “Levando com seriedade o tema Meio Ambiente, é claro que a gente não faz mil
maravilhas, mas a Vale tem feito todo um esforço e tem sido bem vista no meio” (CVRD,
19958).
A mudança no discurso veio, nesse caso, acompanhada de uma mudança no
comportamento. A empresa passou a encarar com seriedade o problema, alocando mais
recursos para investimento em controle da poluição e transformando a antiga Divisão
de Meio Ambiente em Departamento de Meio Ambiente. A própria empresa ressalta
que “talvez essa ação tenha sido primordial para a melhoria do relacionamento com a
comunidade. A CVRD era extremamente afastada da comunidade” (CVRD, 19959).
Entretanto, as ações não podem ser consideradas como o único fator indu-
tor da adoção de um tratamento da questão ambiental de forma mais sistemática pela
Vale, em Itabira. Ao lado das ações existe a necessidade da empresa de adequar-se às
normas ambientais internacionais. Aqui cabe lembrar que a existência de ações ju-
diciais por danos ambientais era fator prejudicial às negociações da CVRD com os
mercados externos.
RESULTADOS E DESDOBRAMENTOS
O resultado do conflito travado em torno das ações, que durou sete anos, foi a
celebração de um acordo, em 1993, entre a CVRD e o Ministério Público local. Esse
acordo obrigava a empresa a tomar atitudes concretamente definidas em prol do meio
ambiente de Itabira, sob pena de multas ou, em caso extremo, paralisação da atividade
de extração do minério de ferro.
8
Chefe do Departamento de Meio Ambiente da Companhia Vale do Rio Doce, em entrevista conce-
dida às autoras em julho de 1995.
9
Chefe do Departamento de Meio Ambiente da Companhia Vale do Rio Doce, em entrevista conce-
dida às autoras em julho de 1995.
484
A 7 de abril de 1993 foi realizado um seminário aberto ao público para definir
os termos do acordo, com a participação de órgãos especializados em defesa ambiental,
como a Feam, AMDA e Codema, além de associações de bairros, prefeitura municipal,
Câmara de Vereadores e imprensa local/regional.
Via de regra, a definição dos termos de acordos judiciais dessa qualidade é
feita a portas fechadas, a partir de recomendações tecidas por especialistas em laudos
periciais. Um seminário com tal formato não é procedimento comum, tendo represen-
tado grande avanço ao democratizar a discussão e ao antecipar o resultado final das
ações, que poderiam se arrastar por longos anos.
A iniciativa de realizar o seminário foi tomada pelo promotor e pelo Codema
a partir de uma avaliação política. O intento era pressionar a Vale através da presença da
população e da imprensa. Durante a realização do seminário, a CVRD tentou, repetidas
vezes, modificar cláusulas do acordo, apoiada pela manifestação de grande contingente
de empregados da empresa e familiares presentes no seminário. A firmeza do promotor
na condução da mesa, aliada às intervenções da presidente do Codema e ao apoio de
populares e de expressivos setores da sociedade civil organizada do município, possibi-
litou a reversão das posições iniciais da empresa.
O acordo assinado correspondeu às expectativas do campo de alianças ambi-
entais. Por ele a CVRD comprometeu-se judicialmente a: manter os índices de poeira
abaixo dos limites recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS); fazer
estudos científicos sobre a incidência de doenças respiratórias em decorrência das par-
tículas de minério em suspensão; aplicar na íntegra o seu Plano de Recuperação de
Áreas Degradadas; asfaltar e implantar um sistema de controle da poluição na estrada
entre as minas e a cidade; construir, no mínimo, três parques públicos em diferentes
pontos da cidade.
Foram estabelecidos mecanismos democráticos de acompanhamento/fisca-
lização do cumprimento do acordo, que prevêem a efetiva participação dos agentes
locais. A Faculdade de Ciências Humanas de Itabira ficou responsável pelo monitora-
mento dos índices de poluição atmosférica, a ser publicado periodicamente por dois
jornais locais (entre eles, O Cometa). Os custos do monitoramento e de sua publicação são
cobertos integralmente pela empresa. Ao Codema foi conferido o papel de fiscalizador
do cumprimento do acordo em sua totalidade.
Os principais desdobramentos do processo político desenrolado a partir das
ações foram: constituição/fortalecimento de atores coletivos ambientais; mudança de
postura da Cia. Vale do Rio Doce; visibilidade social conferida à problemática da polui-
ção e destruição ambiental no município.
No que se refere ao fortalecimento dos atores coletivos ambientais, cabe
destacar o amadurecimento da atuação do Codema. No início do conflito, este era um
órgão desprovido de estrutura operacional e direcionamento político. No desenrolar do
processo, no entanto, foi ganhando capacidade operacional e consistência política, ten-
do hoje clareza quanto à atuação preferencial em controle da poluição e educação ambi-
ental, bem como infra-estrutura adequada às atividades que desempenha.
485
A visibilidade social da problemática ambiental do município proporcionada
pelo conflito analisado foi o primeiro passo em direção a um processo de educação
ambiental da população. A comunidade itabirana foi amplamente informada sobre a
qualidade do seu ambiente pela imprensa local. Um cuidadoso trabalho de conscienti-
zação foi realizado junto aos estudantes do município e aos empregados da Vale. Com
isso a questão ambiental foi ganhando aos poucos um espaço consolidado na vida cotidi-
ana do município.
Dois aspectos caracterizam a mudança de postura da Vale: adoção de um
relacionamento menos paternalista e mais democrático com a população de Itabira e
tomada de atitudes concretas e imediatas de proteção ambiental. Cabe aqui mencionar
que a empresa cumpriu integralmente o acordo judicial e está dando os primeiros passos
em direção à implantação de um sistema de gestão ambiental baseado na prevenção da
geração de impacto ambiental em todas as etapas de operação da empresa.
Os principais indutores desses desdobramentos foram o próprio processo de
envolvimento da população no conflito e o estabelecimento de mecanismos locais de
acompanhamento do acordo judicial. Ao permitir o monitoramento constante da im-
plementação de cada item do acordo com sua imediata divulgação pública pela im-
prensa local, os mecanismos de acompanhamento informam sobre a realidade ambien-
tal do município ao mesmo tempo em que mantêm a CVRD sob continuada pressão e
vigilância popular.
486
Classe II e cai na faixa de rios sem classificação, “tornando-se praticamente um rio
morto” (Laudo, 1991).
O efluente líquido dos cinco altos-fornos, que é lançado in natura no Rio
Piracicaba, contém como principais poluentes: amônia, sólidos em suspensão, cianeto,
fenóis e DQO. O lançamento de cianeto e fenol é respectivamente 120 e 2.789 vezes
maior que o permitido pela legislação.
A área de laminação lança no rio poluentes diversos, como graxas, óleos e
sólidos em suspensão. O depósito de carvão contribui com grande quantidade de sólidos
em suspensão (finos de carvão). Quanto aos resíduos sólidos industriais, à exceção da
moinha de carvão, sua disposição é inadequada. O referido laudo conclui que “a Belgo-
Mineira é quem mais colabora para a contaminação do Rio Piracicaba, superando as suas
similares do Vale do Aço” (Laudo, 1991).
O CONFLITO
O conflito é aqui descrito em duas partes: o conflito no Copam e o conflito na
Justiça. Em dezembro de 1985 a Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira recebe o primeiro de
uma série de autos de infração do Copam, pelo qual a empresa é convocada para discus-
são das bases de um termo de compromisso que teria como objetivo adequar a unidade
industrial de Monlevade à legislação e normas ambientais. A empresa não se manifesta
e recebe, em 1987 e 1988, novos autos de infração. A partir daí inicia-se um longo
processo de negociação em torno das condições/prazos do termo, que é finalmente
firmado em outubro de 1889, quase quatro anos após a primeira convocação do Copam
para discussão do assunto.
Durante esse período, sucessivas denúncias de poluição por parte da empresa
chegam ao Copam. A maior parte delas procedente do Codema e da prefeitura de Nova
Era (município a jusante) e de moradores de Monlevade. A população local solicitava
providências contra a poluição atmosférica, em especial a produzida pelos depósitos de
carvão da empresa. A grande questão levantada por Nova Era era a poluição e o assore-
amento do Rio Piracicaba.
Em maio de 1990 a Belgo faz um pedido de prorrogação de prazos, por 18
meses, sob a alegação de dificuldades financeiras impostas pelo Plano Brasil Novo. A
despeito de parecer técnico contrário da Feam, o Copam faz um aditivo ao termo de
compromisso concedendo a prorrogação solicitada. Em fevereiro do ano seguinte a
empresa solicita uma primeira modificação no pedido de prorrogação de prazos, propon-
do soluções definitivas e intermediárias, com prazos variando de 12 a 30 meses. A Feam
emite parecer técnico contrário.
O Codema de Monlevade convida então o superintendente de controle am-
biental da Feam para participar da reunião para discutir o pedido de prorrogação do
termo de compromisso. Dessa reunião participaram a Belgo, a Feam, a prefeitura, o
Sindicato e algumas organizações não-governamentais. É acordada uma segunda modi-
ficação no pedido de prorrogação, reduzindo-se a solicitação de 12 a 30 meses para 10 a
18 meses. O novo termo, firmado em janeiro de 1992 pelo Copam, contrariando as
487
recomendações da Feam e os acordos realizados na reunião do Codema em Monlevade,
concede prorrogações de prazo que vão de 4 a 72 meses.
O conflito na Justiça segue a trajetória descrita abaixo.
Em 17/02/92 foi ajuizada uma ação civil pública, de iniciativa do próprio
Ministério Público, contra a Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, acusada de causar
danos ao meio ambiente e à saúde humana, e o Estado de Minas Gerais, por não exercer
ação fiscalizadora sobre a primeira, sendo com ela conivente.
A Ação, baseada em laudo técnico da Feam solicitado para instrução da mes-
ma, tinha como objetivo compelir a Belgo, através de providência judicial, a eliminar
suas atividades poluidoras. Em sua conclusão, a ação faz um pedido liminar que requer:
imediata suspensão dos termos de compromisso; paralisação das obras da estação de
dessulfuração; adaptação dos altos-fornos I, II e IV para pôr fim aos lançamentos de
efluentes atmosféricos; modificações no setor misturador de gusa, para eliminar a emis-
são de material particulado; substituição do equipamento de controle de poluição do
depósito regulador de carvão vegetal; implantação de sistema de tratamento dos efluen-
tes hídricos de todos os altos-fornos; retificação ou substituição do sistema de tratamento
de efluentes líquidos da área de laminação; instalação de sistema de contenção de
efluentes líquidos do depósito de carvão; parada do depósito de resíduos sólidos em
grota céu aberto; limpeza, com a retirada de todos os resíduos acumulados, e recuperação
ambiental e paisagístico dessa grota.
Além da liminar, a ação também solicitava: fechamento da fábrica em caso de
descumprimento das providências técnicas requeridas liminarmente; obrigação da Bel-
go de fazer um programa de recuperação do Rio Piracicaba que contemple o seu desas-
soreamento, o replantio de suas margens com espécies vegetais nativas e o seu repovo-
amento com espécies de sua fauna ictiológica nativa; a obrigação de fazer uma completa
limpeza nas áreas e vias pública do entorno da fábrica, “retirando os efluentes sólidos
lançados, os dejetos e resíduos industriais, limpando e repintando muros e paredes e
áreas públicas, de modo a não restar sinal de sua ação poluidora” (Inicial, 1992).
O julgamento do pedido liminar recusa algumas solicitações do Ministério
Público e concede outras, com alterações nos prazos que foram alongados em quatro
casos e reduzidos em dois. O julgamento da ação ocorreu em 26/02/93. Nele, a Belgo
foi condenada e o Estado de Minas Gerais absolvido. O julgamento da liminar é confir-
mado, estando a Belgo obrigada a fazer o que este determinou. As demais solicitações
da ação, que não constaram da liminar, foram concedidas.
Insatisfeita com o resultado da sentença judicial, a Belgo recorre ao Tribunal
de Justiça do Estado de Minas Gerais contra: redução do prazo de 24 para 12 meses
referentes à implantação de sistemas de tratamento de efluentes líquidos dos altos-
fornos e da área de laminação; valores exacerbados das multas; decreto de fechamento
da empresa em caso de descumprimento da sentença. O Tribunal aceita recurso quanto
à anulação da determinação de fechamento da empresa em caso de descumprimento da
sentença e recusa a apelação referente aos prazos e multas.
Cabe aqui ressaltar que no conflito judicial descrito não houve a constituição
de alianças ou agentes coletivos antes, durante ou após o conflito. Este limitou-se à
488
contraposição da empresa ao Ministério Público. Não houve envolvimento da socieda-
de civil de João Monlevade nas discussões em torno da ação ou da sentença judicial,
nem apoio técnico ou político local ao promotor durante o processo. Como resultado,
não foi estabelecido nenhum tipo de acompanhamento/fiscalização local do cumpri-
mento dos termos da sentença.
O Codema de Monlevade, à época do julgamento da liminar e da ação com-
posto em sua maioria por empregados e terceirizados da Belgo, ausentou-se de todas as
discussões, a despeito de reiteradas solicitações do Ministério Público nesse sentido.
DISCURSOS
O discurso do Ministério Público contra o Estado de Minas Gerais, na figura de
seu órgão de controle ambiental, o Copam, baseou-se em três linhas principais de argu-
mentação. A primeira centra-se na omissão e ineficiência do Copam “na sua função de
polícia técnica face a ações ilícitas da empresa poluidora” (Inicial, 1992), concedendo
consecutivamente maiores prazos para que a empresa se adequasse às normas ambientais.
A segunda linha é relativa aos termos de compromisso, considerados ilegais
pelo MP. Além da ilegalidade, sobressai-se o fato de que o Copam sabe que esses termos
nunca serão cumpridos, conforme laudo da Feam, que afirma, em vários momentos, que
“a empresa não pretende cumprir o termo de compromisso assinado para esta área ale-
gando motivos financeiros” (Laudo, 1991).
A terceira linha de argumentação centra-se na censura à conduta política do
Copam, que “teve uma atuação no mínimo conivente em relação à empresa-ré, firman-
do termos de compromisso sucessivamente, acatando subserviente e ilegalmente as
condições e os prazos ‘impostos’ pela fonte poluidora” (Impugnação contestação Esta-
do MG, 1992).
O discurso contra a Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira é bem mais pesado e gira
em torno da alegação de que esta “demonstra absoluta falta de sensibilidade para a
questão ambiental, infringindo, consciente e impunemente, todas as normas ambientais
vigentes” (Inicial, 1992).
O Ministério Público enfatiza que a ação da empresa é criminosa, uma vez
que decorre de opção política/administrativa em desrespeitar a legislação. Enfatiza que
o laudo ténico clarifica que “solução técnica existe, faltando somente uma decisão
política por parte da administração da ré” (Inicial, 1992).
A forma pela qual a empresa se apropria privadamente do meio ambiente é
criticada na inicial da ação, que aponta que a “indústria, não obstante estar há décadas
auferindo gigantescos lucros em sua atividade fabril, não é capaz de investir com serie-
dade na conservação e no restabelecimento do meio ambiente, que pertence a todos e
que ela degrada como se fosse de sua propriedade particular” (Inicial, 1992).
O discurso da Belgo apóia-se em três pilares principais. O primeiro deles
alega uma “certa impunidade” da empresa garantida por sua contribuição econômica
para o desenvolvimento e o progresso do município, do Estado de Minas Gerais e de
todo o país. Ressalta que “a pior de todas as poluições é a gerada pela miséria” e que “o
489
grande desafio de hoje é conciliar proteção ecológica com desenvolvimento econômi-
co” (Contestação Belgo, 1992).
O segundo gira em torno de uma declarada “grande preocupação da empresa
com a defesa do meio ambiente” (Contestação Belgo, 1992). Para defesa dessa preocu-
pação, são apresentados três argumentos. O primeiro é o plano de modernização que a
Belgo vem implementando desde a década de 1970, visando “melhoria da qualidade,
aumento da sua capacidade de produção e atendimento aos padrões de proteção ambi-
ental” (Contestação Belgo, 1992). O segundo argumento é a exclusão da empresa da
Lista Suja da AMDA10 e a obtenção do Diploma Ação Verde pelo trabalho no Centro de
Educação Ambiental. O terceiro argumento relaciona-se ao fato de a Belgo ter sido uma
das empresas fundadoras da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável.
O terceiro pilar sob o qual se assenta o discurso da empresa é a defesa da
legalidade dos termos de compromisso e da intenção da Belgo de cumpri-los integral-
mente. Alega-se que a empresa cumpriu e está cumprindo os termos de compromisso e
que os serviços contratados para tal “não sofreram solução de continuidade, tudo indi-
cando que a empresa iria concluí-los dentro dos prazos estipulados nos cronogramas dos
dois termos de compromisso” (Contestação Belgo, 1992).
Além disso é fartamente elogiada a perícia oficial pedida pelo juiz. Cabe aqui
ressaltar que a empresa faz o elogio em defesa própria, uma vez que os resultados aos
quais a perícia chegou ampliam substancialmente quatro prazos de adequação técnica
solicitados na liminar. A empresa termina por atacar os prazos e as multas sugeridos pelo
Ministério Público, caracterizados como “graciosos e despidos de qualquer critério téc-
nico” (Sentença, 1993) e pedir que “seja julgada improcedente a ação e julgados váli-
dos os termos de compromisso firmado com o Copam com as modificações de prazos
recomendadas pelo perito oficial e seu assistente”(grifo da Contestação) (Contestação
Belgo, 1992).
Cabe observar que na contestação a Belgo solicitava manutenção do termo de
compromisso “com as modificações de prazos recomendadas pelo perito oficial e seu
assistente”, mas na apelação da sentença requer que aqueles prazos recomendados pelo
perito que implicam redução (dos prazos) sejam anulados e desconsiderados, optando-
se pelo prazo mais longo pedido na inicial.
O discurso do Estado de Minas Gerais, por meio de sua Procuradoria, faz a
defesa do caráter político e democrático do Copam, bem como da legalidade e legitimi-
dade dos termos de compromisso por ele firmados com a Belgo. Alguns trechos da
contestação do Estado de Minas Gerais (Contestação Estado MG, 1992):
10
Lista publicada desde o início da década de 1980 com os 12 maiores poluidores do Estado de Minas
Gerais.
490
Além do exercício do Poder de Polícia (..) o Copam exerce o seu papel mais
importante, que é a compatibilização das atividades produtivas com o equilí-
brio do meio ambiente.
RESULTADOS E DESDOBRAMENTOS
A sentença judicial conclui que as contestações da empresa e do Estado de
Minas Gerais “se limitaram a afirmar a legalidade e consignar a eficácia dos termos de
compromisso” (Sentença,1993) e que o Ministério Público agiu legitimamente emba-
sado em prerrogativas constitucionais “visando obrigar a Belgo a cumprir as obrigações
legais e normativas oriundas da poluição que causa”, o que “supera, de longe, qualquer
discussão em torno dos termos de compromisso assinados” (Sentença, 1993).
Assim sendo, condena a Belgo e isenta o Estado de Minas Gerais de qualquer
culpa, determinando o acolhimento integral do laudo pericial, confirmando o julgamen-
to do pedido liminar, concedendo as demais solicitações do Ministério Público11 e acei-
tando as multas sugeridas por este.
Apesar de a Belgo ter sido considerada culpada, sendo obrigada, por força de
lei, a tomar medidas visando reduzir os níveis de poluição, o processo judicial acabou
favorecendo a empresa em três aspectos. Primeiro, os prazos exigidos na sentença judi-
cial foram ampliados para além daqueles previstos no termo de compromisso assinado
com o Copam, conforme quadro abaixo.
Segundo, as medidas mitigadoras exigidas ficaram aquém do exigido nos
termos de compromisso e sugerido pela promotoria na inicial. Três itens constantes do
pedido liminar da inicial não foram contemplados; são eles: paralisação das obras da
estação de dessulfuração até a obtenção das licenças ambientais exigidas por lei; modi-
ficações no setor misturador de gusa; retirada dos dejetos industriais depositados por
décadas na grota a céu aberto. Além disso, a nulidade da prerrogativa de fechamento
judicial da fábrica em caso de descumprimento total ou parcial das determinações con-
cedidas na liminar, concedida pelo Tribunal no julgamento da apelação da Belgo, enfra-
quece muito o poder de coerção sobre a empresa.
Terceiro, e mais importante, durante o período de trâmite da ação, o Copam e
a Feam viram-se impossibilitados de exercer qualquer sanção contra a Belgo. Verificou-
Solicitações para o fechamento das instalações da Belgo caso esta não cumpra as obrigações legais
11
determinadas em Liminar: recuperação do Rio Piracicaba e limpeza das áreas e vias públicas do
entorno da fábrica.
491
se nesse período o registro de infrações graves que não puderam ser transformadas em
sanções. Ao longo de quase dois anos a Belgo viu-se intocável pelas recomendações da
Feam e decisões do Copam.
QUADRO 10.5.
..................................................
TERMOS DE COMPROMISSO DA
Compromissos
BELGO-MINEIRA
Prazos
1º. TC 2º. TC Pedido Sentença
liminar
Efluente atm alto-forno I - matéria-prima 10/91 09/94 08/93 08/94
Efluente atm alto-forno I - gases topo 10/91 07/97 08/93 08/97
Efluente atm alto-forno II - matéria-prima 10/92 07/95 08/94 08/96 *
Efluente atm alto-forno II - gases topo 10/92 07/98 08/94 08/98
Efluente atm alto-forno IV - matéria-prima 10/93 12/96 08/95 08/96 #
Efluente atm alto-forno IV - gases topo 10/93 12/96 08/95 08/96 #
Efluente atm depósito carvão 10/92 09/93 08/93 03/94 *
Efluente líq. altos-fornos 08/92 12/92 08/94 08/93 *
Efluente líq. laminação 09/92 - 08/94 08/93
Efluente líq. depósito carvão - - 08/93 08/93
..................................................
Fim de depósitos de resíduos sólidos a céu
- 07/92 08/93 02/93 *
aberto
492
POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA E LUTA
URBANO-AMBIENTAL EM IPATINGA
ANTECEDENTES POLÍTICOS
E CONSTITUIÇÃO DE AGENTES AMBIENTAIS
Os antecedentes políticos do conflito refletem uma trajetória de progressiva
organização da população e constituição de agentes coletivos sociais.
Durante os primeiros tempos de existência de Ipatinga, seu panorama polí-
tico era caracterizado por um domínio direto da Usiminas. A prefeitura esteve desde a
emancipação do município, em 1962, nas mãos de políticos ligados à Usiminas ou de
duas famílias tradicionais proprietárias de terras na região. No que se refere à mobili-
zação social, o que se sentia era um vazio organizacional, causado pela presença da
mão forte da empresa como agente tutelador da sociedade civil, impondo uma cultura
própria e dificultando a organização da sociedade. Os movimentos sociais urbanos,
que não conseguiram se estabelecer na cidade privada diante do controle social exer-
cido pela Usiminas, surgiram na cidade pública a partir da ação da Igreja, no final da
década de 1970.
No caso específico do movimento sindical, este apresenta um histórico de
inibição por parte da empresa da formação de um sindicato autônomo e forte, conjugada
a um permanente acúmulo de contradições de classe que, por duas vezes, vieram à tona
e explodiram na forma de fortes episódios de luta política.
O primeiro momento em que houve a transformação dos conflitos de classe
latentes em luta sindical aberta foi durante o chamado Massacre de 63, considerado o mais
importante episódio da luta política de classes em Ipatinga, aqui analisado a partir de
Pereira (1982).
O Massacre teve início com uma briga entre um operário e um vigilante à saída
da fábrica, revidada pela empresa e pelo corpo de vigilantes na mesma noite, sob a forma
de agressões policiais em dois acampamentos de operários. A agressão policial noturna,
somada ao descontentamento e revolta geral, desembocou em forte protesto e ocupação
da entrada da fábrica. A polícia foi então chamada à Usiminas e um caminhão carregado
de soldados e metralhadoras posicionou-se frente ao operariado reunido e desarmado. O
nível de tensão na porta da fábrica foi se tornando insustentável e a polícia terminou por
encurralar os operários entre a fábrica e o rio. Seguiram-se rajadas de metralhadoras
durante cerca de 40 minutos. O número exato de mortos e feridos nunca chegou a ser
apurado, pois a polícia e a Usiminas fecharam a entrada dos hospitais à imprensa, à igreja
e à população. Os trabalhadores alegaram mais de 30 mortos, enquanto a polícia reco-
nheceu oficialmente apenas 7.
A causa imediata do Massacre de 63 tem ligação com os maus tratos aos quais os
operários eram submetidos continuamente pelos vigilantes. Entretanto, suas causas es-
truturais são mais profundas e encontram-se diretamente relacionadas a problemas liga-
dos à qualidade de vida no interior do núcleo urbano, como: péssimas condições de
acomodação nos acampamentos dos operários, absoluta carência de moradias, transporte
493
de operários inseguro realizado em carrocerias de caminhões, má qualidade da comida
nos refeitórios da empresa e ausência de alternativas de abastecimento alimentar.
Até 1963 o sindicato metalúrgico de Ipatinga era unificado ao Metasita (sindi-
cato de Timóteo e Coronel Fabriciano), de caráter ativo e contestador. A Usiminas, que
temia um endurecimento na ação sindical após o massacre, optou por demitir todas as
lideranças envolvidas no episódio e separar o sindicato dos empregados da Usiminas do
Metasita. Criou-se então, sob as bênçãos da empresa, o Sindicato dos Metalúrgicos de
Ipatinga (Sindipa).
O objetivo da criação do novo sindicato — enfraquecer a luta através do
desligamento do forte sindicato Metasita — foi atingido de forma quase plena, tendo o
Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga convivido harmoniosamente com o capital e a
ditadura militar. O compromisso do Sindipa com os interresses do capital pode ser visu-
alizado na ausência de greves, na sua política assistencialista e até mesmo na fina sinto-
nia político-partidária com a direção da empresa12.
Os agentes coletivos que atuaram no conflito ambiental aqui analisado, cons-
tituindo ampla aliança em torno dos interesses ambientais, foram: a Comissão de Divul-
gação do Relatório Cetec13, as Conferências Municipais de Meio Ambiente e o Conse-
lho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Codema).
Esses agentes compunham por si só, em razão de seu amplo espectro de
instituições participantes, o campo de alianças ambiental. Podemos afirmar que os agen-
tes foram se constituindo a partir do caldo de cultura criado pelos agentes precedentes. A
Comissão de Divulgação, composta por representantes da prefeitura, da Câmara dos
Vereadores e de movimentos sociais (sindicatos, associações de bairro, comissões pasto-
rais da igreja católica), pode ser considerada o embrião da I Conferência Municipal de
Meio Ambiente, que, por sua vez, criou o Codema.
A origem dos três agentes coletivos encontra-se em um processo de organiza-
ção comunitária e sindical que durou aproximadamente duas décadas. Esse processo de
constituição de uma sociedade civil organizada em Ipatinga, a despeito do controle
social imposto pela Usiminas, será aqui brevemente descrito, bem como a inclusão da
questão ambiental em sua pauta de lutas.
Com o adormecimento do movimento sindical de contestação pós Massacre de
63, a luta política de classes em Ipatinga tomou novos rumos passando a se expressar
através das lutas conjuntas de algumas asssociações de bairro e comunidades eclesiais
de base, ganhando um novo epicentro, a cidade pública, que já então crescia de forma
desordenada lado a lado ao desemprego e à falta de estrutura urbana (saneamento, esco-
las, hospitais, espaços de convivência coletiva).
O nascimento dos movimentos sociais de Ipatinga foi fruto do acúmulo de
contradições na cidade pública e da organização da população pela atuação de religiosos
12
Segundo Homens em Série (1991), o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga concorreu
à prefeitura pelo PDS, mesmo partido pelo qual o presidente da Usiminas concorria a uma vaga na
Câmara dos Deputados.
13
Daqui para frente denominada apenas de Comissão de Divulgação.
494
ligados à Teologia da Libertação. Atuando como catalisador do fortalecimento da luta
política urbana, esses religiosos foram de importância fundamental para a organização
popular via constituição das comissões pastorais, das comunidades eclesiais de base, das
associações de bairros e de outros movimentos sociais, entre os quais o ambientalista
(Homens em Série, 1991). Tal organização, inciada na década de 1970, atinge seu ápice
na segunda metade da década de 1980.
Paralelamente à consolidação da organização popular na cidade pública, ocorre,
na década de 1980, mudança substantiva no panorama sindical em Ipatinga. Contra a
atuação do Sindipa surge a Oposição Sindical, filiada à CUT e dotada de expressiva
visão de classe e orientação política de esquerda.
A origem da Oposição Sindical metalúrgica encontra-se em um trabalho
de conscientização do operariado sobre a política de convencimento implementada
pela empresa e sobre a cooptação realizada pelo sindicato oficial. Esse trabalho de base
foi realizado ao longo de anos. A transformação do trabalho de conscientização de
classe em uma oposição sindical visível, aberta e combativa, deveu-se em grande parte
à consolidação de lideranças sindicais expressivas e à atuação de religiosos ligados à
Teologia da Libertação, através da pastoral operária, que atuou como elemento catali-
sador do movimento.
Após a derrota da oposição nas eleições sindicais e demissão maciça de seus
membros da empresa, estes começaram a expressar-se publicamente junto à população
organizada na cidade pública e aos seus ex-colegas de empresa. Falando abertamente
sobre a submissão cultural empreendida pela empresa, sobre a falta de liberdade e medo
presente no cotidiano dos fichados e sobre o sentimento de inferioridade social dos não
Usiminas, os ex-componentes da Oposição Sindical levaram para o campo da luta social
aberta carências até então não reconhecidas. O reconhecimento social de tais carências,
tocando na ferida aberta do medo a da submissão impostos pela cultura Usiminas, foi
fundamental para levar a luta de classes para fora da fábrica.
A aliança entre a Oposição Sindical, sem espaço de luta no interior da fábrica, e
os movimentos sociais urbanos da cidade pública, em crescente efervescência, possibi-
litou o crescimento/fortalecimento do Partido dos Trabalhadores em Ipatinga. Esse pro-
cesso político culminou na eleição, em 1988, do PT para a prefeitura de Ipatinga. En-
cabeçava a chapa vencedora do pleito municipal a principal liderança da oposição sindical.
Os agentes sociais surgidos na organização popular dentro e fora da fábrica
sofreram, na segunda metade da década de 1980, um processo de ecologização. A ques-
tão ambiental, emblematizada no problema da poluição atmosférica provocada pela Usi-
minas, foi se tornando, pouco a pouco, uma questão central na vida política de Ipatinga.
A questão ambiental surgiu na pauta das associações de bairro e comunidades
de base de Ipatinga pelas mão de um grupo de freis franciscanos que fomentaram, junto
a algumas lideranças de movimentos sociais urbanos, discussões sobre o tema meio
ambiente. Tais discussões culminaram na fundação de uma ONG ambientalista, o Cen-
tro de Defesa dos Direitos da Natureza (CDDN), e na participação do movimento social
urbano nas Conferências Municipais de Meio Ambiente e no Codema.
495
A inclusão da questão ambiental na pauta de lutas da Oposição Sindical pode
ser percebida através do importante papel desempenhado por alguns de seus quadros na
definição/condução das políticas públicas ambientais de Ipatinga no período 1898-1996
e na constituição da ONG ambientalista SOS Piracicaba. A absorção da questão ambien-
tal pela Oposição Sindical deu-se em parte via militância simultânea de alguns de seus
membros nas comunidades eclesiais de base sob influência dos franciscanos. O fato de a
questão ambiental poder servir como forte instrumento de luta contra a Usiminas, em
especial às vésperas da Eco-92, foi outro importante fator que reforçou a pertinência da
inclusão da questão ambiental na pauta de lutas da Oposição Sindical.
Cabe chamar atenção para o papel fundamental de catalisação dos interesses
coletivos ambientais desempenhado pelo grupo de freis franciscanos e pelo setor de
meio ambiente da prefeitura. Esses dois agentes foram os principais responsáveis pelas
articulações e composição de alianças que vieram a formar os agentes coletivos ambien-
tais, bem como pela definição do sentido político da ação durante o conflito.
O CONFLITO
O conflito em torno da poluição atmosférica em Ipatinga teve início nos
primeiros tempos da administração petista na prefeitura com a divulgação do relatório
de uma pesquisa realizada pelo Centro Tecnológicos de Minas Gerais (Cetec) sobre a
realidade ambiental no Vale do Aço.
A pesquisa foi contratada pelas prefeituras de Ipatinga e Timóteo e sua ênfase
residia na apuração dos níveis de poluição industrial (atmosférica, hídrica e dos solos) e
de seus efeitos na saúde da população. Os resultados apontaram níveis de poluição
atmosférica — particulados e dióxido de enxofre — muito altos.
Cabe aqui apontar que os índices de poluição por particulados obtidos por
essa pesquisa estavam de acordo com os dados de automonitoramento da empresa, mas
a concentração média de dióxido de enxofre medida pelo Cetec era consideravelmente
superior àquela apontada pelo automonitoramento da Usiminas.
A divulgação pública pelo Cetec dos resultados da pesquisa foi feita em um
seminário aberto ao público que contou com a presença de ambientalistas nacionalmen-
te conhecidos (como Fernando Gabeira), da população local e das empresas avaliadas
(Usiminas e Acesita).
Foi criada grande expectativa em torno do seminário. Escolheu-se como lo-
cal o bairro Cariru, que, além de ser um dos mais poluídos do município, abriga empre-
gados de segundo e terceiro escalão da Usiminas. As expectativas da população não
foram atendidas, uma vez que os resultados foram apresentados pelo Cetec de forma
extremamente técnica, enquanto se esperava uma apresentação em linguagem simples,
estabelecendo a relação entre os índices de poluentes e a saúde da população.
Ao seminário seguiu-se a formação da Comissão de Divulgação, composta
pelas prefeituras, câmaras de vereadores e representantes dos movimentos sociais de
Ipatinga e Timóteo. O objetivo da comissão era traduzir os índices de poluição obtidos
pelo Cetec em informações de fácil compreensão pela população.
496
Foi publicado um boletim informativo, amplamente panfletado no municí-
pio, comparando a poluição atmosférica de Ipatinga com a de Cubatão. Seguiram-se
reportagens sobre a poluição atmosférica em Ipatinga e Timóteo na imprensa local e
regional que, comparando-as a Cubatão e fazendo alusão à dominação social exercida
pelas empresas, chamavam o Vale do Aço de vale do medo e da morte.
A Usiminas mobilizou-se de imediato para tentar reverter a situação, procu-
rando desacreditar o relatório e sua interpretação pela Comissão de Divulgação local
através de desmentidos na imprensa. Pressões políticas foram exercidas sobre o Cetec,
cujos técnicos se viram compelidos pelo governador do Estado a enviar à imprensa um
release, com redação sugerida pela Usiminas, que afirmava ser o ar de Ipatinga respirável.
Perdida a batalha na imprensa, a prefeitura de Ipatinga resolveu mudar a arena do confli-
to: da imprensa para o corpo-a-corpo com a população local e para o Copam.
Foi colocada em prática uma ampla estratégia de conscientização popular. Os
técnicos da prefeitura de Ipatinga, apoiados pela Comissão de Divulgação, saíram a
campo realizando palestras em todas as escolas do município e falando à população nas
reuniões de pastorais, associações de bairro, clubes de serviços e outros movimentos
sociais. Conseguiram assim popularizar os resultados do relatório e informar a população
sobre os riscos ambientais a que estava submetida. Tal mobilização foi responsável pela
criação do Codema de Ipatinga e pela realização de duas conferências municipais de
meio ambiente, que definiram, de forma participativa, as diretrizes e prioridades da
política pública de meio ambiente do município.
Optou-se por, paralelamente à estratégia de conscientização popular local,
levar o embate com a empresa ao Copam/Feam, procurando participar das discussões
sobre o termo de compromisso da Usiminas com este órgão, solicitando da Fundação
informações técnicas periódicas e levando ao Conselho a contenda em torno dos níveis
de dióxido de enxofre.
Visando sua capacitação técnica para a discussão no Copam, a prefeitura
reorganizou o setor de meio ambiente, contratando técnicos (engenheiro metalúrgico
e pedadogos) e uma consultoria externa periódica na área de engenharia ambiental.
Para dirimir as dúvidas que pairavam sobre os índices de poluição atmosférica por
dióxido de enxofre apontados pelo Cetec e pela Usiminas, a prefeitura contratou a
Feema para realizar novas medições. Os resultados obtidos foram bem próximos aos
obtidos pelo Cetec.
No que se refere às discussões sobre o termo de compromisso, a Usiminas
saiu vitoriosa em uma primeira fase, tendo assinado um termo sobre o qual a prefeitura
e a sociedade civil de Ipatinga não conseguiram opinar. Em uma segunda etapa, quando
das negociações em torno do adiamento de prazos do termo solicitado pela empresa, o
jogo inverteu-se: a sociedade civil de Ipatinga e a prefeitura conseguiram se fazer ouvir,
influenciando o conteúdo do novo termo. Além disso o Copam designou a prefeitura de
Ipatinga como fiscal do cumprimento do termo.
No tocante às solicitações de informações técnicas à Feam, essa fundação não
conseguiu atender, em momento algum, às demandas da prefeitura e da comunidade de
497
Ipatinga. Com isso a prefeitura optou por recorrer mensalmente a uma consultoria técni-
ca externa em engenharia ambiental. Com a abertura dos portões da Usiminas à prefei-
tura para fiscalização, a Feam passou a receber da prefeitura de Ipatinga os dados técni-
cos de acompanhamento do termo de compromisso e de emissão de efluentes.
A polêmica em torno dos índices de dióxido de enxofre, levados à Câmara de
Poluição Industrial do Copam, constituiu-se na grande questão não resolvida. Para tentar
elucidar as discrepâncias significativas entre os resultados das medições de automonito-
ramento da Usiminas e os obtidos pelo Cetec e pela Feema — contratados pela prefei-
tura —, a Feam solicitou à Cetesb uma auditoria ambiental relativa a essa questão.
A auditoria concluiu que, embora os dados da Usiminas sejam significativamen-
te mais baixos que os do Cetec e da Feema, não foi possível verificar erros fundamentais
que desqualificassem quaisquer dos dados gerados. Como solução para o problema, pro-
põe um estudo técnico conjunto entre a Usiminas, Feema e Cetec, com homogeneiza-
ção de técnica, locais de coleta e períodos de amostragem. As negociações para a realiza-
ção de tal estudo vêm se arrastando por três anos, permanecendo inconclusas até o mo-
mento do encerramento de nossas pesquisas junto à Feam/Copam14.
DISCURSOS
O discurso da Usiminas15 e dos agentes ambientais16 serão aqui delineados. A
Usiminas não assume a existência de conflito, alegando que os acontecimentos aqui
caracterizados como conflito foram apenas questões técnicas que, em momento algum,
estremeceram as relações da empresa com a sociedade civil local e com a prefeitura. O
discurso da empresa centrou-se na crença local de uma indústria limpa e moderna, cons-
truída ao longo de anos pela cultura Usiminas, e na tentativa de caracterização dos pontos
conflituosos como questões meramente técnicas.
No que se refere às divergências gerais em torno do relatório Cetec, a Usimi-
nas utilizou como principal argumento a alegação de que os dados da pesquisa esta-
vam sendo manipulados por pessoas sem competência técnica, ao lado do argumen-
to de que a discussão era eminentemente técnica e a prefeitura a estava politizando
inadequadamente.
Sobre a polêmica em torno dos níveis de dióxido de enxofre, a empresa
alegou desde o início que não existia qualquer manipulação de dados ou resultados por
parte da empresa. E mais uma vez a questão era puramente técnica, uma vez que as
diferenças encontradas tinham origem nos diferentes métodos utilizados no monitora-
14
As pesquisas na Feam/Copam foram realizadas entre agosto de 1994 e fevereiro de 1995.
15
O discurso da Usiminas foi apreendido a partir de entrevista com o responsável pelo setor de meio
ambiente da empresa em novembro de 1994, da leitura de reportagens de jornais da época do
conflito e das entrevistas com técnicos da prefeitura e com o redator-chefe do maior jornal local.
16
O discurso dos agentes ambientais foi apreendido a partir de entrevistas com técnicos da prefeitura,
membros do Codema, do CDDN, da Fundação SOS Piracicaba e do grupo de freis franciscanos.
Além da leitura de reportagens de jornais da época do conflito e de entrevistas com o responsável
pelo setor de meio ambiente da Usiminas e com o redator-chefe do maior jornal local.
498
mento. A empresa alegava também que o método utilizado por ela era o mais moderno
disponível. Além disso, afirmava ser a questão do dióxido de enxofre secundária, uma
vez que o importante são os níveis de particulados: “como ficaria o ar de Ipatinga se a
Usiminas gastasse os recursos em dessulfuração e o problema dos particulados ficasse
com a solução adiada?”.
Os agentes coletivos ambientais assumiram o conflito como tal, dando-lhe
caráter indiscutivelmente político. No que se refere ao discurso, esse merece ser anali-
sado sob dois aspectos: da linguagem adotada e técnico.
No que se refere ao aspecto técnico, no início havia um grande despreparo,
tanto dos movimentos sociais e dos técnicos do setor de meio ambiente da prefeitura,
quanto do prefeito e de sua equipe, especialmente. Esse despreparo técnico e político
da prefeitura levou o prefeito a declarar à imprensa, em entrevista coletiva, após os
desmentidos da Usiminas sobre a criticidade da poluição atmosférica de Ipatinga que:
“Ipatinga não é nenhuma Cubatão, mas também não é nenhuma Campos do Jordão”.
Tal despreparo fragilizava muito a atuação da aliança ambiental diante do discurso téc-
nico muito bem articulado da empresa.
Em um segundo momento tal distorção foi corrigida pela contratação de téc-
nicos e de consultoria especializada pela prefeitura, que dava suporte ao prefeito e ao
Codema (que falava em nome dos movimentos sociais organizados). Além disso, optou-
se por tornar transparente o lado político do conflito. De acordo com um técnico da
prefeitura, “ganhamos a confiança da população, mostrando o jogo de interesses, que a
coisa era política. Que por trás do discurso da Usiminas de que a discussão era técnica
estava a intenção de excluir do debate a maioria”.
No que diz respeito à linguagem, essa foi o ponto forte do discurso ambiental.
As palestras realizadas pelos técnicos da prefeitura eram apoiadas por um material muito
simples e impactante: um álbum seriado17 , todo ilustrado, que fazia a relação entre a
poluição e a saúde da população e traduzia os índices técnicos em linguagem clara,
simples e metafórica.
O álbum seriado tratava dos principais problemas ambientais do município
— abastecimento e qualidade da água potável, uso da água para fins industriais, esgoto,
poluição atmosférica, erosão do solo e áreas habitacionais de risco, resíduos sólidos do-
mésticos e industriais — e de como se organizar para lutar por um ambiente mais sadio.
Sua redação foi de autoria da Comissão de Divulgação e dos técnicos da prefeitura. Ele
era carregado nas costas pelos técnicos da prefeitura a todos os cantos de Ipatinga, da
pequena reunião de bairro na periferia da cidade aos eventos preparatórios da Confe-
rência Rio-92, passando pelas reuniões do Copam. O álbum foi reproduzido na forma de
um boletim informativo. Durante as palestras, junto à apresentação do álbum seriado e
distribuição do boletim informativo, eram dadas explicações sobre poluição e sobre o
jogo político da Usiminas.
17
Álbum seriado é um recurso audiovisual que consiste em uma série de cartazes, geralmente escritos
e desenhados à mão, presos entre si pela sua parte superior e pregados em uma cruz de madeira. As
páginas são viradas para trás enquanto se dão explicações sobre cada figura (ou texto).
499
DESDOBRAMENTOS
Os principais desdobramentos do conflito aqui analisado foram: um processo
de avanço e retrocesso no estabelecimento de políticas públicas municipais de meio
ambiente e na atuação de agentes coletivos ambientalistas; o reconhecimento dos ato-
res locais como parte legítima na fiscalização/acompanhamento do termo de compro-
misso assinado pela Usiminas com o Copam.
A fase de avanço na atuação dos agentes coletivos ambientalistas corres-
pondeu ao período 1990/1993, no qual se verificou a constituição e a mobilização in-
tensiva dos seguintes agentes: Comissão de Divulgação do Relatório Cetec, CDDN,
Codema — analisados nos itens 10.7.2 e 10.7.4 — e as conferências municipais de
meio ambiente.
As duas conferências, realizadas em 1991 e 1992, reuniram todos os setores
organizados da sociedade civil de Ipatinga com o objetivo de definir as prioridades de
política ambiental do município. Sua conformação não se limitou a uma única e grande
reunião, sendo na realidade um processo composto de várias etapas, cuja importância se
centra em dois pontos: oportunidade efetiva de participação popular na definição das
prioridades de ação do poder público municipal na área ambiental; garantia de verbas
para execução dessas prioridades, consideradas na época da confecção do orçamento do
município, através do COMPOR (orçamento participativo).
A partir de 1994 houve um retrocesso na atuação desses agentes coletivos. A
III Conferência Municipal de Meio Ambiente não se realizou, e não houve participação
popular na definição das diretrizes de política ambiental para o período 1994/1996. O
Codema foi desmobilizado em função da não-aprovação da lei municipal de meio ambi-
ente e da não-realização da Conferência, que deveria indicar sua nova composição. O
CDDN sofreu um enfraquecimento na atuação a partir do afastamento da cidade de suas
principais lideranças.
No que se refere à política municipal de meio ambiente, a fase de avanço,
correspondente à primeira gestão do Partido dos Trabalhadores (1989/1992), é carac-
terizada por:
500
AGENTES ECONÔMICOS:
POLÍTICAS EMPRESARIAIS EM MEIO AMBIENTE
MEIO AMBIENTE E ECONOMIA INTERNACIONAL
O fortalecimento político da questão ambiental nas últimas décadas veio
acompanhado de importantes rebatimentos na economia e no mercado mundial. Segun-
do Lawrence (1991), padrões ecológicos para produtos e processos produtivos já adota-
dos por países do Primeiro Mundo tendem a, quando transformados em normas de co-
mércio internacional, sob a alegação de equalização das condições de concorrência,
transformar-se em barreiras comerciais não-tarifárias — de produto ou de processo —,
discriminando produtos oriundos de outras nações ou blocos econômicos. A percepção
de que esses padrões ecológicos são capazes de alterar a divisão internacional do traba-
lho ao interferir no estabelecimento de vantagens comparativas comerciais aumenta de
forma exponencial o número de interessados em sua adoção, sendo que a gestão ambien-
tal em empresas é utilizada em muitos casos em coisas que nada têm a ver com proteção
do meio ambiente e sim com comércio.
As barreiras comerciais não-tarifárias de fundo ambiental podem ser classifi-
cadas, conforme Motta (1993), em barreiras de produto ou barreiras de processo. As
barreiras de produto encontram-se associadas ao produto em si e aos efeitos de seu
consumo. Quando empregadas, impedem a importação ou venda de determinado pro-
duto, caso ele não se enquadre em padrões ambientais definidos anteriormetne, como:
material, volume de embalagens, nível de emissões e consumo de combustível (no caso
de veículos), nível de ruídos, conteúdo de substâncias tóxicas, destinação final, entre
outros. Essas barreiras, por poder ser erguidas de forma unilateral, implicam a criação de
mercados superprotegidos e segmentados.
As barreiras de processo são aquelas criadas para impedir a importação de
produtos cujo processo de produção cause danos ambientais superiores àqueles prede-
terminados. Isso se dá através do estabelecimento de: padrões fixos de emissões indus-
triais; padrões tecnológicos determinados ou normas/procedimentos de produção e ge-
rência. A adoção desse tipo de barreira seria capaz de, na visão de seus defensores,
eliminar as vantagens comerciais injustas provenientes dos diferenciais de custo exis-
tentes entre aqueles que incorrem em custos de controle e redução de poluição e os que
não o fazem. Na realidade, elas são instrumentos de monopolização de mercados, dado
que quando um país impõe um padrão ele geralmente já o possui, estando em larga
vantagem na corrida tecnológica que se segue.
Os maiores problemas advindos da utilização de barreiras fundamentadas no
estabelecimento de padrões tecnológicos são o aumento da dependência tecnológica dos
países do dito Terceiro Mundo e a ênfase excessiva em equipamentos do tipo end of the pipe.
Um bom exemplo de barreira de processo fundamentada no estabelecimento
de normas e procedimentos de produção e gerência é a futura série ISO 14000, que está
em processo de discussão e pretende estabelecer normas e procedimentos de avaliação
de qualidade da gestão ambiental. Deter-nos-emos mais detalhadamente em sua análi-
501
se em razão de sua importância na determinação do padrão de gerência ambiental a ser
adotado em futuro próximo pelas empresas aqui estudadas, uma vez que, durante as
entrevistas realizadas, foi unânime a eleição da certificação ambiental como prioridade
número um para os próximos anos.
O certificado de qualidade ambiental ISO 14000 é, em resumo, uma coleção
de normas e documentos baseada na norma ambiental britânica denominada BS 7750,
que estabelece que uma gestão ambiental de qualidade deve contemplar, entre outros,
os seguintes pontos: tratamento sistêmico da questão ambiental; levantamento de nor-
mas e leis ambientais; revisão inicial de todos os processos e procedimentos industriais;
avaliação e registro dos problemas ambientais existentes; estabelecimento de uma po-
lítica ambiental que contemple objetivos e metas claras e de fácil mensuração; registro
de procedimentos de produção e controle operacional; realização de auditorias periódi-
cas; análises críticas periódicas e melhoria contínua do sistema de gestão; comprometi-
mento de toda a empresa, do presidente ao chão de fábrica.
A ISO 14000 será uma coleção de 400 a 500 documentos cujo tempo de
elaboração, em empresas de médio porte, girará em torno de um ano a um ano e meio.
Serão contempladas informações sobre a performance da empresa em resíduos hídri-
cos, atmosféricos e ruídos, bem como objetivos de redução dos poluentes18. A certifi-
cação, entretanto, não atesta a qualidade ambiental do produto ou do processo stricto
sensu; significa apenas que a empresa localizou seus problemas e possui um plano de
melhoria contínua.
Essa ênfase na normatização de procedimentos e confecção de documentos
pasteuriza a questão ambiental, trazendo consigo graves problemas relacionados ao
excesso de burocracia, como a cristalização e inflexibilidade organizacional. Conclui-
se que a ISO 14000 é, na realidade, uma carta de intenções e que sua ênfase em proce-
dimentos incentiva a permanência de tecnologias obsoletas ao não conferir o devido
lugar à necessidade de mudança tecnológica, questão central quando se fala em polui-
ção ambiental.
A despeito dos problemas aqui mencionados, a ISO 14000 vem sendo feste-
jada por largos setores empresariais como a panacéia para seus problemas ambientais.
Em entrevista com as empresas estudadas, pudemos perceber a grande expectativa
criada em torno da certificação ambiental. Ao discorrer sobre a importância da ISO
14000, as empresas entrevistadas destacaram: a clara sinalização que dá a norma em
direção a uma incorporação mais sistemática da questão ambiental dentro das empresas,
a ênfase conferida pela norma à melhoria contínua da gestão ambiental e à descentrali-
zação das decisões e do controle da poluição.
Cabe aqui mencionar que as expectativas criadas em torno da certificação
ambiental não são uniformes entre as empresas entrevistadas. A Cenibra e a Acesita
possuem uma expectativa, ao nosso ver, mais realista e menos idealizada da adoção da
ISO 14000, como transparece nas seguintes declarações:
Segundo informações fornecidas no Seminário Internacional Meio Ambiente e Qualidade.
18
502
A ISO não vai livrar comercialmente a cara de ninguém. Vai ser um ponto
positivo para a empresa, comercialmente também. Mas não vemos a ISO
como sendo uma condição do tipo: você tem a ISO 14000? Então está ótimo,
eu posso comprar de você... Não é bem por aí não.
Cenibra
Entretanto, ao discurso que vê a ISO como condição necessária, mas não su-
ficiente, para o aprimoramento da gestão ambiental contrasta a prática de se esperar
pela definição da norma para implementar medidas de fundamental importância, como:
criação de uma política ambiental por escrito; adoção de parcerias com fornecedores,
clientes e distribuidores; fechamento do ciclo de vida do produto. Questionadas sobre os
itens acima, as referidas empresas responderam que implementariam tais medidas no
bojo das mudanças necessárias à obtenção de certificação ambiental.
No que se refere à Usiminas, pudemos observar que a obtenção da certifica-
ção ISO 14000, assim que esta seja iniciada, é considerada como certa, como o demons-
tra trecho da entrevista abaixo reproduzido, sendo que, para tanto, a empresa vem inves-
tindo pesado na qualificação de seu staff. Essa certeza encontra-se relacionada, de forma
inequívoca, à visão idealizada que a empresa possui de sua gestão ambiental19.
Cabe aqui ressalvar que a ISO 14000, caso consiga sistematizar a gestão ambi-
ental dentro das empresas, tornará também possível a materialização da preocupação
ambiental dentro da lógica econômica, sendo esse um de seus maiores pontos positivos.
Um outro ponto positivo que deve ser ressaltado é que a adoção da ISO 14000 obrigará
o setor empresarial a tratar da questão ambiental de forma mais séria e abrangente do
que o que tem sido a rotina.
A rigor, a Usiminas não se vê como empresa poluidora, como será discutido posteriormente.
19
503
Paralelamente à euforia geral criada em torno da adoção de selos e certifica-
dos ambientais, surge a preocupação com os efeitos perversos que as restrições comerci-
ais de caráter ambiental podem causar quando aplicadas a países ditos subdesenvolvidos,
cujas pautas de exportações, em sua grande maioria, se baseiam em recursos naturais,
produtos semi-acabados ou produtos cujo processo produtivo é sujo e energeticamente
intensivo20. Outra importante preocupação é a tendência de os processos descritos acen-
tuarem-se com a criação de blocos comerciais.
Como esperado, a emergência das referidas barreiras possui rebatimentos
concretos sobre os mercados internacionais de celulose e aço. Isso faz com que as em-
presas da região estudada venham procurando adotar um discurso ambiental consonante
com a vanguarda do mercado mundial. Cabe aqui destacar a importância da exportação
nos negócios das empresas estudadas. A Usiminas exporta atualmente aproximadamen-
te 25% de sua produção. Na Acesita, 18% das vendas estão voltadas para o mercado
externo, e um dos pontos contemplados na filosofia da empresa é garantir dentro de dois
anos a presença permanente da empresa no mercado internacional. A Cenibra, como demonstra
o Quadro 10.6, possui uma forte dependência, que vem se acentuando, das vendas para
o mercado externo.
QUADRO 10.6
...................................................
% vendas 1985
ESTRUTURA DO MERCADO DA CENIBRA
...................................................
Mercado
28 29 28 23 22 22 20 16 10
Interno
504
prejuízo e apagar a imagem negativa de grande poluidor que exibiam com grande orgu-
lho em um passado não tão distante, quando sua fumaça vermelha era vista como símbo-
lo máximo do progresso da região21.
Consideramos interessante, a este tempo, examinar de forma breve a relação
entre o discurso ecológico e a lógica econômica. O primeiro vem servindo como uma
cortina de fumaça ideológica, ao encobrir a lógica econômica de oligopolização de
mercados que está por trás da adoção dos selos verdes e da ISO 14000. A adoção de um
discurso ambiental pelas empresas é também uma eficaz estratégia de enfraquecimento
das críticas ambientalistas à indústria, a seus padrões tecnológicos e aos padrões de
consumo da sociedade atual. São as próprias empresas que assim se expressam:
É o que está acontecendo com a gente também. Estes ECF, TCF, para nós,
sinceramente, é tudo barreira comercial, porque ninguém ainda para mim
provou que o copinho de papel feito com a celulose branqueada vai ter a
possibilidade de provocar câncer.
Cenibra
505
A postura legalista corresponde ao conceito de Proteção Ambiental de Colby
(1990). Sua principal característica esperada é uma visão da questão ambiental como
apenas mais uma das restrições impostas à atividade econômica pelo Estado e pela
legislação. Há uma tendência, por parte das empresas, de busca de negociação com os
órgãos estatais de controle ambiental. A adequação à legislação é feita, predominante-
mente, através da adoção de equipamentos do tipo end of the pipe somente nos momen-
tos em que seu adiamento se torna inegociável. Pode ocorrer também uma tendência a
negar o rótulo de poluente e assumir um discurso de autocaracterização como vanguar-
da, baseado na alegação de rigorosa obediência ao que determina a legislação. As ações
de controle/redução da poluição e proteção do meio ambiente podem ser provocadas
também por pressões da opinião pública. Na maior parte dos casos verifica-se um cum-
primento apenas parcial da legislação.
A última postura, denominada estratégica, corresponde ao conceito de Manejo
de Recursos de Colby (1990). Sua centralidade esperada é uma visão da questão ambien-
tal como estratégica, da qual depende diretamente a competitividade internacional da
empresa e de seus produtos. As empresas que apresentam predominância dessa postura
tendem a adotar uma abordagem sistêmica, prevenindo poluição ao longo do processo
produtivo, não se limitando a equipamentos do tipo end of the pipe e ao simples cumpri-
mento da lei. A poluição é entendida como matéria-prima e energia não incorporadas ao
produto e sua prevenção encontra-se associada aos programas de qualidade total. O
modelo de gestão adotado é aquele que está sendo traduzido em normas para a futura
série ISO 14000. As empresas nas quais prevalece a postura estratégica em geral assu-
mem que poluem, declarando reconhecer que, apesar dos esforços envidados, ainda há
muito a ser feito ou assumem que, apesar de estar fazendo o que é possível para evitar/
reduzir a poluição, já foram grandes poluidoras no passado.
Uma gestão ambiental que efetuasse as necessárias mudanças nos padrões de
produção e consumo com vistas a assegurar um meio equilibrado deveria ser compatível
com o conceito de Ecodesenvolvimento de Colby (1990). Tal postura deveria ser capaz de
dar conta de aspectos fundamentais negligenciados nas três posturas aqui elencadas,
como: redução do uso intensivo de matérias-primas renováveis porém esgotáveis; mini-
mização dos impactos das atividades industriais sobre a concentração fundiária e de
renda; cuidado com o impacto de suas atividades sobre o tipo de urbanização e dinâmica
populacional em sua área de influência; padrões de relacionamento com outros atores da
região e relações de poder estabelecidas.
Não descreveremos aqui uma postura empresarial ambiental compatível com
o conceito de Ecologia Radical de Colby (1990), dada a absoluta incompatibilidade
entre a lógica econômica de crescimento e obtenção de lucros que rege a vida empre-
sarial e a postura de crítica aberta e ferrenha ao crescimento e às tecnologias atuais da
Ecologia Radical.
Trazendo a discussão para os casos de políticas privadas mapeados e analisa-
dos em nossa pesquisa, podemos afirmar, em linhas gerais, que as empresas analisadas
em profundidade (Acesita, Cenibra, Cia. Vale do Rio Doce e Usiminas) circularam entre
506
uma e outra postura segundo seus interesses, utilizando atualmente um discurso estraté-
gico com vista à obtenção de certificação ambiental.
A verificação da compatibilidade entre a gestão ambiental implementada
pelas empresas analisadas e a postura estratégica está demonstrada no quadro abaixo, que
resume os seis pontos centrais da referida postura.
QUADRO 10.7
...................................................
ESTRATÉGIAS EMPRESARIAS E MEIO AMBIENTE NO MÉDIO RIO DOCE
...................................................
gerencial forte, flexível e multidisciplinar.
Assume publicamente que é poluidora ou já o foi. Sim Sim Sim Não
Podemos observar que as empresas não atendem a mais da metade dos pontos
elencados como centrais em uma postura estratégica, demonstrando que o discurso nem
sempre acompanha a prática. Nas empresas analisadas que possuem um discurso ambi-
ental compatível com a postura estratégica o desvio entre este e a prática é bastante
considerável. Muitas prioridades elencadas no discurso não foram observadas na prática
da gestão cotidiana das empresas.
A necessidade de uma busca permanente de estar sempre à frente da legisla-
ção é um dos itens de maior ambigüidade no discurso das empresas. Via de regra, essa
preocupação aparece em algum ponto do discurso, mas com pequena ênfase e quase
sempre acompanhada de declarações em sentido contrário. A título de exemplo pode-
mos citar a Usiminas, que contempla o item em sua declaração de política ambiental,
mas afirma reiteradas vezes, em todos os documentos examinados, adequar suas ações
ambientais a níveis compatíveis com a legislação e não a níveis pelo menos compatíveis com
a legislação22 , como seria de se esperar de uma empresa que adotasse, de forma sistemá-
tica, uma postura de antecipação da legislação.
Partindo do pressuposto de que uma postura de antecipação da legislação tem
como condição imprescindível o cumprimento integral da legislação atual, examinare-
mos a relação entre a prática das empresas e a declarada postura, demonstrando no
Quadro 10.8 como vêm sendo cumpridos os Termos de Compromisso (TC) assinados
22
Níveis pelo menos compatíveis com a legislação significa possuir como meta manter, se possível, as
concentrações de poluentes em níveis bastante inferiores ao máximo permitido por lei.
507
com o Copam e, no Quadro 10.9, as infrações registradas pelo mesmo órgão; no parágra-
fo seguinte, a situação legal da CVRD no que se refere a meio ambiente.
QUADRO 10.8
...................................................
TERMOS DE COMPROMISSO DA ACESITA/CENIBRA/USIMINAS
...................................................
Situação atual resíduos Cumprido, exceto
Cumprido Cumprido
sólidos encerramento lixão
Fonte: Elaboração dos autores a partir de arquivos Feam/Copam e entrevistas com técnicos da Feam.
QUADRO 10.9
...................................................
Data
INFRAÇÕES AMBIENTAIS NO MÉDIO RIO DOCE
...................................................
Outros 1 1 (Cenibra Florestal) 1
Total 5 2 7
23
A Cenibra obteve junto ao Copam Licença de Operação de sua unidade industrial em novem-
bro de 1994
508
Com o intuito de analisar se o discurso das empresas se adequa à abordagem
de controle do processo de produção como forma de prevenir/reduzir a poluição, agrupa-
mos abaixo, nos quadros 10.10 e 10.11, respostas dadas a diferentes questões formuladas
durante as entrevistas. O quadro 10.10 refere-se à ordenação declarada pelas empresas às
ações preponderantes para redução da emissão de poluentes. O Quadro 10.11 funciona
como um check list dos pontos centrais da referida abordagem24.
QUADRO 10.10
.................................................
ORDENAÇÃO DAS AÇÕES DE REDUÇÃO DA POLUIÇÃO NO MÉDIO RIO DOCE, SEGUNDO AS EMPRESAS
.................................................
End of pipe 6
27
(Acesita)
509
pipe e o local de destaque à revisão de procedimentos, que é para a empresa sinônimo de
“busca do zelo operacional com relação ao controle ambiental” (Usiminas). Entretanto,
tal ordenação contrasta com o tom dos documentos examinados, onde toda a ênfase é
conferida aos equipamentos do tipo end of the pipe instalados pela empresa, que são exem-
plificados como prova da magnitude dos seus investimentos em meio ambiente.
QUADRO 10.11
.................................................
CHECK LIST
Itens
DE POLÍTICAS AMBIENTAIS EMPRESARIAIS NO MÉDIO RIO DOCE
.................................................
ambiental da empresa nas
contas patrimoniais.
Não Não Não Não
510
*Por razões comerciais, a empresa produz celulose ECF (sem cloro elementar) mas não TCF (totalmente sem
cloro). Diferentemente da Europa, seu principal cliente, o Japão, não exige a celulose TCF.
**Item elencado como prioridade no futuro trabalho de adequação às normas da ISO 14000.
***Apenas constatamos existência formal do item (não foi possível examinar em profundidade).
****Em reformulação (projeto possui concepção bastante abrangente).
QUADRO 10.12
...................................................
INDUTORES DO APRIMORAMENTO DA GESTÃO AMBIENTAL NO MÉDIO RIO DOCE
...................................................
Pressão sociedade
Muito importante Pouco importante Fundamental Pouco importante
civil
*O Japão, principal cliente da empresa, não tem grandes preocupações ambientais (citado em entrevista).
**As exigências ambientais do mercado externo ainda são pequenas, mas tendem a ganhar importância.
***No passado, foi muito importante; hoje não é mais porque a empresa foi licenciada pela Feam/Copam.
511
ambiental das empresas e sobre as informações recolhidas junto à Feam/Copam nos dá
pistas em sentido contrário, sugerindo posturas mais próximas ao legalismo.
A maior parte dos investimentos foi realizada na Acesita, Cenibra e Usiminas,
em decorrência das necessidades impostas pelos termos de compromisso. É a própria
Cenibra quem declara que os principais investimentos ambientais da empresa visaram
“seu enquadramento à legislação ambiental” (Fibra, 1994; p. 4). Segundo informações
fornecidas pelos técnicos da Feam e documentação do mesmo órgão, as empresas estu-
dadas, extremamente poluentes quando da assinatura do termo de compromisso, passa-
ram a tratar a questão ambiental de forma um pouco mais sistemática somente após as
pressões do Copam e penosos processos de negociação.
No caso da CVRD, as respostas dadas pela empresa a esse item nos levariam
a concluir que ela tem uma postura que vai além da visão (e da postura) estratégica,
conferindo papel chave à sociedade civil (e portanto próximo a uma postura ecodesen-
volvimentista). Entretanto, um exame mais detalhado do histórico ambiental da empre-
sa leva-nos a concluir que tanto o aprimoramento da gestão ambiental quanto a preocu-
pação com a relação empresa/comunidade no que se refere ao meio ambiente foram
fruto direto das ações civis ambientais movida pelo Ministério Público contra a CVRD.
As empresas estudadas não entendem sua poluição como sendo causada prin-
cipalmente pelo emprego de tecnologias obsoletas ou falhas no processo de produção
que resultam em matéria-prima e energia não incorporadas ao produto. A Cenibra credi-
ta sua poluição ao tipo de processo necessário à produção de celulose, ressaltando que
esta “não ocorre por falhas eventuais no processo, mas por limitações de processo, uma
vez que a tecnologia atual não permite mais do que já está sendo realizado” (Cenibra).
A Usiminas vê a idade da empresa como a principal causa de sua poluição e associa o
problema ambiental na atividade siderúrgica “mais às grandes quantidades, face ao
porte e dimensões das usinas, do que propriamente à natureza das emissões.” (Controle,
1994). A Acesita declara que “o maior problema não é a tecnologia nem as falhas de
processo, mas o homem, a conscientização” (Acesita). Já a CVRD credita sua poluição à
própria atividade mineradora, “eminentemente poluidora” (CVRD).
A existência de uma estrutura gerencial forte, flexível e multidisciplinar é um
dos pontos centrais da postura estratégica que se encontra presente, pelo no discurso, nas
empresas estudadas. Os principais constituintes de uma estrutura gerencial como a aci-
ma descrita28 encontram-se no Quadro 10.13, bem como a verificação de sua adoção
pelas empresas estudadas.
A postura frente ao dilema de assumir ou não publicamente sua poluição varia
muito entre as empresas estudadas. A Usiminas é a que possui uma postura mais próxima
à legalista. Durante toda a entrevista a Usiminas afirmou sua posição de vanguarda na
preocupação com o meio ambiente, tendo a questão ocupado papel de destaque entre as
prioridades da empresa desde o início de suas atividades. Já a Acesita assume com
tranqüilidade sua condição de poluidora ao declarar que “a Acesita polui, mas conta
Vide Hunt (1990) para maiores detalhes sobre ambiente gerencial adequado a estratégia ambiental
28
competitiva.
512
quem não polui” (Acesita). Entretanto, a Acesita também declara estar atualmente em
posição de vanguarda após esforços envidados para reversão do quadro de grande po-
luidora em passado recente. A declarada posição de vanguarda contradiz o fato de as
referidas empresas ainda não terem cumprido seu termo de compromisso de forma
integral, bem como com os altos níveis de poluição historicamente verificados a jusan-
te do Rio Piracicaba29.
QUADRO 10.13
...................................................
ESTRUTURA GERENCIAL AMBIENTAL NO MÉDIO RIO DOCE
...................................................
Auditoria híbrida: interna (top-down e self-
Não** Não** Sim Não**
assessment) e externa
*Item elencado como prioridade no futuro trabalho de adequação às normas da ISO 14000.
**Esse item não é mencionado no discurso da empresa. Não foi feito questionamento direto a respeito de sua
adoção; solicitamos apenas descrição dos pontos mais importantes da gestão ambiental da empresa.
Ver Capítulo 7.
29
513
A Cenibra é a que possui postura mais próxima à estratégica com relação a
esse item, pois assume que ainda tem importantes fontes de poluição, apesar de todo o
investimento realizado, razão pela qual a empresa continua desenvolvendo projetos em
meio ambiente mesmo depois de licenciada pela Feam/Copam.
514
Para os casos de ação corretiva, o Copam/Feam atua através da assinatura de
termos de ajuste de conduta — os Termos de Compromisso (TCs) e os Planos de Contro-
le Ambiental (PCA) — e da aplicação de sanções.
Os TCs são documentos assinados pelo Copam e pela empresa poluidora nos
quais esta se compromete a adequar-se à legislação ambiental do Estado. O termo de
compromisso é utilizado nos casos de empresas instaladas antes de 1986. O TC detalha
as ações que devem ser empreendidas pelas empresas para a redução, controle e trata-
mento de sua poluição, estabelecendo prazos para a apresentação de projetos técnicos e
a implantação dos processos ou equipamentos necessários. O cumprimento dos termos
de compromisso nos prazos previstos foi prejudicado em função de um expediente de
adiamento de prazos largamente utilizado por várias empresas. Tal expediente tem
origem em uma brecha aberta pelo próprio TC: a contagem de prazos para implantação
dos projetos apenas a partir de sua aprovação pela Feam. A apresentação de um projeto
ruim, que requer reformulações, acarreta a concessão de novos prazos para apresentação
do projeto alterado. Este pode ser reapresentado com falhas, criando-se um adiamento
de prazos em cascata pelo expediente de apresentação de novo projeto/obtenção de
novo prazo para reformulações.
Os PCAs diferem dos TCs apenas em um item: a assinatura do PCA só é
realizada após a aprovação dos projetos. Essa alteração inviabiliza o expediente de
adiamento de prazos descrito acima, tornando os PCAs instrumentos mais eficientes
que os TCs.
As sanções previstas pela legislação são: multas, restrições, suspensões ou
não-concessão de incentivos fiscais e outros benefícios concedidos pelo governo do
Estado, mudança de localização da planta industrial, suspensão e paralisação de ativida-
des. Constatada a infração, a Feam encaminha relatório técnico e jurídico ao Copam,
sugerindo arquivamento da mesma ou aplicação de sanção específica. Cabe à Câmara
Especializada do Copam julgar em primeira instância a infração. Cabe aqui ressaltar que
o Copam pode julgar conforme ou em desacordo parcial/total ao relatório Feam. Da
mesma forma que na concessão de licenças, observamos no julgamento das infrações
um descompasso entre as recomendações da Feam e as decisões do Copam, por várias
vezes mais brandas, proporcionando claro favorecimento às empresas.
O fator estrutural determinante do jogo político interno ao Copam é a compo-
sição das Câmaras Especializadas. Cada Câmara possui sete membros: três representan-
tes do poder público, três representantes da sociedade civil e um presidente.
A paridade de representação governo/sociedade civil é insuficiente para de-
terminar o jogo político das câmaras. Substituímos essa paridade formal por uma análise
em termos de paridade tripartite, governo/sociedade civil/setor empresarial, que leve
em conta o alinhamento e a lógica política da instituição. Tal procedimento é mais
eficaz, uma vez que o que está em jogo quando falamos em controle de poluição indus-
trial são os interesses econômicos das empresas frente aos interesses coletivos e difusos
de qualidade ambiental. Falaremos então em uma divisão política entre ambientalistas
e setor produtivo dentro do Copam.
515
No que se refere ao alinhamento do Estado, este não pode ser determinado a
priori. Podemos, entretanto, detectar algumas tendências, como o alinhamento prefe-
rencial das companhias de serviços públicos — Copasa e Cemig — e do Departamento
de Recursos Hídricos (DRH) ao setor privado, e o alinhamento do judiciário e da Polícia
Florestal aos interesses ambientais. As secretarias estaduais não têm uma política de
alinhamento predefinida.
Um estudo da composição do Copam, entre 1990 e 1995, segundo o alinha-
mento/lógica política da instituição, levou-nos à obtenção de uma composição distinta
da oficial, que favorece o setor privado em detrimento dos interesses ambientais. Isso se
deve a três fatores: algumas instituições arroladas, como, por exemplo, a sociedade civil,
são associações de profissionais que se alinham preferencialmente ao setor empresarial;
a representação das empresas nas câmaras dá-se no interior das vagas destinadas à soci-
edade civil; parte substancial do poder público alinha-se ao setor privado.
QUADRO 10.14
...................................................
Período Setor
COMPOSIÇÃO DO COPAM
Câmara Especializada
CPA CPI CAF CDE CMI CBH
governamental 4 2 4 5 3 2
1990 sociedade civil 2 3 3 2 2 2
setor empresarial 1 2 0 0 2 3
governamental 4 2 2 5 3 3
1991-1994 sociedade civil 2 3 4 2 3 2
setor empresarial 1 2 1 0 1 2
governamental 5 3 2 3 3 2
...................................................
1995 sociedade civil 1 2 4 4 3 3
setor empresarial 1 2 1 0 1 2
Fonte: Elaboração dos autores a partir do Diário Oficial de Minas Gerais (1990, 1991, 1995).
516
presença durante as reuniões de grupos de pressão e da imprensa torna as posturas mais
favoráveis aos interesses ambientais, uma vez que alguns membros mudam seu voto
temendo a repercussão negativa junto à opinião pública.
Podemos concluir então que o jogo político dentro do Copam é altamente
variável, não sendo possível prevê-lo sem o exame dos fatores conjunturais, que variam
muito de uma reunião para outra. Entretanto, cabe ressaltar que a atuação do setor priva-
do, que tem obtido repetidos sucessos ao fazer valer o interesse econômicos das empre-
sas, é mais forte na Câmara de Poluição Industrial.
Outro fator que, aliado ao jogo político interno, determina fragilidade e insta-
bilidade na atuação do Copam é a ausência de uma dinâmica de trabalho conjunto entre
a Câmara de Política Ambiental, responsável pela definição das políticas, e as demais
câmaras especializadas, responsáveis por sua implantação.
Descreveremos agora de forma breve a estrutura de funcionamento da Feam,
analisando sua capacidade de atendimento às demandas de informações técnicas e jurí-
dicas por parte do Copam e da sociedade. A Fundação Estadual do Meio Ambiente foi
criada para fornecer assessoramento técnico/jurídico ao Copam e funcionar como sua
Secretaria Executiva, possuindo como principais atribuições:
apoiar administrativamento o Copam e suas câmaras especializadas;
fiscalizar as normas técnicas de proteção ambiental aprovadas pelo Copam, os
convênios, acordos e termos de compromisso;
fazer cumprir as decisões do Copam;
expedir licença ambiental, após autorização destas pelas câmaras especializadas;
processar as denúncias recebidas.
Além do suporte ao Copam, foram atribuídas à Feam as seguintes tarefas:
assessorar tecnicamente os municípios para inclusão de normas ambientais
em seus regulamentos de obras e posturas;
fornecer informações técnicas a pessoas legitimamente interessadas.
517
No que diz respeito à capacitação dos técnicos, esta pode ser considerada de
boa qualidade. Entretanto, a falta de atualização em algumas áreas cria barreiras signifi-
cativas à atuação do órgão. A maior deficiência técnica sentida pelos próprios quadros da
Feam diz respeito à questão dos custos de controle da poluição industrial. Essa deficiên-
cia faz com que as empresas possam sempre se utilizar do questionamento quanto aos
custos dos equipamentos para prorrogar os prazos concedidos pela Feam para adequação
técnica. Uma capacitação dos quadros da Feam para analisar a capacidade financeira e
de investimento das empresas eliminaria tais problemas.
Outro importante gargalo diz respeito à carência de sistemas de comunicação,
tanto no que diz respeito ao fluxo interno de informações quanto no referente ao atendi-
mento das demandas da população e dos órgãos municipais de meio ambiente. A in-
formatização dos dados trabalhados pela própria Feam também é deficiente.
A carência quase absoluta de estrutura para realizar o trabalho de fiscalização é
apontada pelos técnicos do órgão como uma de suas maiores fragilidades. Ao lado da
ausência de equipamento para monitoramento, faltam verbas para viagens. A manuten-
ção de pelo menos um laboratório para análises mais elementares por parte da Feam é
apontada pelos técnicos como forma de agilizar a fiscalização e garantir a idoneidade dos
dados do automonitoramento (monitoramento realizado pelas próprias indústrias)30.
QUADRO 10.15
...................................................
Pontos Centrais
ATUAÇÃO DO COPAM/FEAM
Descrição
Importância da questão ambiental para definição de políticas
pequena
públicas de desenvolvimento
Abordagem de controle da poluição industrial controle e acompanhamento
Instrumentos jurídicos eficazes
Interação com a sociedade civil ocasional
Integração com outros órgãos do Estado ocasional
...................................................
Estrutura gerencial
30
Esta discussão será aprofundada à frente.
518
A importância da questão ambiental na definição de políticas públicas de
desenvolvimento no Estado de Minas Gerais sempre foi muito pequena. Um rápido
exame sobre as políticas industrial, regional e de desenvolvimento do Estado demons-
tra que o Copam não conseguiu, em nenhum momento, exercer influência sobre as
diretrizes ditadas pelas outras secretarias, em especial pela Secretaria de Planejamento.
O período aqui analisado não foge a essa regra. A grande preocupação manifestada pelo
governo no período foi a econômica, e a questão ambiental aparece como mais uma
política setorial, dissociada das outras decisões governamentais.
Ribeiro (1995, p. 7)31 , ao discorrer sobre os dois setores que devem vir a ser o
foco crítico de atenção do controle ambiental em Minas Gerais, afirma que:
519
ras especializadas, que, por reiteradas vezes, favorece interesses econômicos e/ou po-
líticos particulares em detrimento das recomendações técnicas da Feam e da observân-
cia estrita da norma jurídica. Outro fator que contribui para a subutilização dos instru-
mentos jurídicos de controle da poluição industrial em Minas Gerais é a fraqueza insti-
tucional da Feam.
QUADRO 10.16.
.................................................
INSTRUMENTOS JURÍDICOS DE CONTROLE AMBIENTAL EM MINAS GERAIS
Itens Presença
Legisla concorrente, suplementarmente e/ou em
Sim
interesse local
Cria Sistema Estadual de Meio Ambiente dotado
Sim
de instrumentos de gestão ambiental
.................................................
Regulamentação completa
520
No que se refere à implantação das políticas ambientais, competência de
cinco câmaras especializadas do Copam33 e da Feam, a interação apenas ocasional com
a sociedade civil também é patente. A forma de escolha dos membros das câmaras e do
próprio plenário do Copam fornece importantes elementos para a conclusão por uma
deficiência nos canais de participação. O Copam é composto por membros definidos por
lei34 , não havendo uma substituição periódica em sua composição. Isso faz com que as
possibilidades de mudanças estejam restritas à escolha do representante de cada mem-
bro. Nas câmaras, a escolha via presidente do Copam também restringe a participação. O
ideal seria a eleição dos membros do Copam e de suas câmaras por um coletivo mais
amplo, com representantes eleitos em todo o Estado.
Uma interação íntima com a sociedade civil iria requerer o fornecimento de
informações ambientais à população através de um cadastro, banco de dados ou sistema
de informações de fácil acesso e compreensão. Isso daria à sociedade civil oportunidade
de obter subsídios para o acompanhamento e o monitoramento do trabalho do órgão
ambiental. O Copam/Feam deixa muito a desejar nesse aspecto, uma vez que não
existe um fornecimento sistematizado de informações à sociedade. Em resumo, pode-
mos qualificar a interação entre o órgão de política ambiental de Minas Gerais e a
sociedade civil como fraca, ocasional.
Cabe porém ressaltar que a falta de interação com a sociedade é, paradoxal-
mente, mais fraca no Copam — órgão colegiado de composição paritária poder público/
sociedade civil — que na Feam, órgão de assessoria técnica e jurídica. Na Feam a
dedicação do corpo técnico proporciona um contato ocasional com a sociedade civil e o
poder público municipal, cujas solicitações e pedidos de informação são, na medida do
possível, atendidas. Entretanto, conjugada à incipiente estrutura de trabalho35, a direção
política imprimida pelo Copam cria barreiras muito fortes a tal interação.
Paralelamente à fraca interação com a sociedade civil, observa-se uma fraca
integração com outros órgãos do Estado, apesar de vários secretários adjuntos serem
membros do Copam. Como já foi aqui explicitado, o Copam/Feam não tem influência
nas decisões políticas de outras áreas do governo. Ribeiro (1995, p.2) fala na necessi-
dade de “ecologizar a administração pública”, internalizando a questão ambiental atra-
vés da “criação de núcleo ambiental em cada órgão da administração que gere impactos
ambientais ou naqueles que possam contribuir para mudanças de comportamento”.
A análise da estrutura gerencial é necessária porque esta é de importânica
fundamental para a condução das atividades de rotina e para a definição da capacidade
da instituição de adaptar-se a novas realidades e responder a situações de emergência.
Com exceção da CPA (Câmara de Política Ambiental), as Câmaras Especializadas do Copam são
33
responsáveis pela execução da política ambiental em suas áreas específicas (mineração, indústria,
atividades agropecuárias/florestais, bacias hidrográficas e ecossistemas).
Em alguns casos os técnicos da Feam chegaram a utilizar verbas próprias para cobrir despesas de
35
viagens de fiscalização.
521
No quadro abaixo estão resumidos os itens fundamentais para a caracteriza-
ção de uma estrutura gerencial como forte, flexível e multidisciplinar. A verificação da
presença/ausência de tais itens foi realizada através da pesquisa de campo36.
QUADRO 10.17
....................................................
ESTRUTURA GERENCIAL DO COPAM/FEAM
Áreas Presença
Formação/capacitação de pessoal próprio (individualizado, planejado) não
Formação/capacitação de pessoal de outros órgãos do Estado (individualizado, planejado) não
Princípios/política por escrito e ampla divulgação não
Setor conduzido por político com peso na administração sim
Staff heterogêneo e multidisciplinar sim
Staff adequado ao volume de trabalho não
Participação dos técnicos nas instâncias deliberativas não
Representação da sociedade nas instâncias deliberativas sim
....................................................
Disponibilização para a sociedade de informações de fácil compreensão
522
o cumprimento integral dos TCs das siderúrgicas para 1996 e 1997, podem vir a represen-
tar um importante retrocesso caso os novos prazos não sejam rigorosamente observados.
QUADRO 10.18
...................................................
EFETIVIDADE DA AÇÃO DO COPAM/FEAM
...................................................
Aplicação de sanções
523
Outra alternativa, não observada no período estudado, seria o apoio da Feam
a ONGs da região para a realização de programas de educação ambiental. Observamos,
em entrevistas com os movimentos ambientalistas da região, um contato muito peque-
no da Feam com os agentes locais e um ressentimento por parte dos mesmos em
relação à falta de informações e orientação. Um serviço de atendimento à população,
com abertura de informações técnicas e políticas, somado a um programa de capacita-
ção das ONGs para a redação/condução de projetos, poderia modificar esse quadro
positivamente.
No que se refere aos fatores indutores da fiscalização inicial das grandes em-
presas da região, observamos que estes se relacionam a respostas a denúncias da socie-
dade ou a solicitações de outros órgãos públicos, conforme ilustrado abaixo.
QUADRO 10.19
...................................................
INDUTORES INICIAIS DA FISC ALIZAÇÃO AMBIENTAL NO MÉDIO RIO DOCE
Empresa Indutor
Denúncia de ONG ambientalista. Pedido de informações técnicas de deputado
Acesita
estadual sobre poluição hídrica provocada pela indústria.
Auto de infração da Capitania dos Portos de Minas Gerais por poluição e
Belgo-Mineira assoreamento do Rio Piracicaba, resultante de denúncias da população de
município a jusante.
Denúncia da Câmara Municipal de Governador Valadares sobre derrame de licor
Cenibra
negro no Rio Doce.
Denúncias de poluição hídrica por parte: da Polícia Florestal, da população e do
Cosígua
Serviço de Abastecimento de Água e Esgoto de município a jusante.
...................................................
Portaria interministerial solicitando à empresa licenciamento ambiental do
Usiminas
manuseio e estocagem de carvão mineral.
524
e equipamentos para monitoramento, tendo optado pelo automonitoramento, que en-
volve uma série de problemas.
O principal problema do automonitoramento diz respeito à confiabilidade
dos dados. As possibilidades de obtenção de dados distorcidos são reais, seja através de
alteração dos dados, seja através da utilização de metodologias que puxem para baixo os
indicadores. Um mesmo indicador de poluição pode ser obtido segundo metodologias
bastante diversas, que apresentam resultados distintos. Os equipamentos utilizados, sua
localização, o período do ano, o dia e a hora em que são tomadas as informações interfe-
rem sobremaneira nos resultados de monitoramento, podendo oferecer indicadores com
magnitude maior ou menor. Um bom exemplo disso é a polêmica criada em torno dos
índices de SO2 emitidos pela Usiminas.
Uma forma de garantir a confiabilidade dos dados obtidos pelo automonitora-
mento seria a realização periódica de monitoramento por terceiros contratados pelo Co-
pam/Feam. A comparação dos dados com os produzidos pela empresa poderia garantir a
confiabilidade destes. O Copam/Feam não adota essa prática de forma sistemática, recor-
rendo a ela apenas quando há denúncias reiteradas de irregularidade nos dados. Podemos
então concluir por uma baixa confiabilidade do monitoramento realizado pela Feam.
A ausência de estrutura própria de monitoramento é especialmente grave nos
casos de acidentes e emergências, em que o Copam/Feam precisa contratar terceiros ou
recorrer ao Cetec. Isso envolve grande burocracia, tornando o processo moroso e invia-
bilizando a apuração dos fatos e a resposta a emergências.
Quanto à periodicidade do monitoramento, esta é planejada e encontra-se
definida nos termos de compromisso assinados com as empresas. O licenciamento am-
biental, eficiente instrumento utilizado pelo Copam/Feam como forma de prevenção
ou correção de danos ambientais, ainda não teve aplicação viabilizada para a região
estudada38, uma vez que as grandes indústrias da região foram instaladas antes da entrada
em vigor da lei que institui o licenciamento.
Cabe aqui ressaltar que os equipamentos antipoluentes e as alterações no
processo produtivo constantes dos TCs estão sendo licenciados um a um, bem como as
mudanças nas plantas industriais que visem a ampliação da capacidade produtiva.
Os problemas estruturais da Feam — quadro técnico reduzido e falta de
verba para viagens de fiscalização — impedem a análise dos pedidos de licenciamen-
to em um período inferior a dois ou três meses. Somado aos freqüentes atrasos na aprova-
ção das licenças pelo Copam, isso faz com que o processo de licenciamento ambiental
seja moroso. No que se refere à qualidade das análises, esta pode ser considerada sufi-
cientemente alta, dada a boa formação dos técnicos e a ausência de questionamentos
a seu respeito.
A aplicação de sanções pelo Copam pode ser classificada como imprevisível
em razão do jogo político interno altamente variável das câmaras especializadas e do
38
Entre as empresas da região apenas a Cenibra cumpriu integralmente o Termo de Comprisso e
obteve o licenciamento.
525
plenário. A pesquisa sobre as infrações e respectivas sanções registradas pelo Copam
contra as empresas, ilustradas no Quadro 10.21, não demonstrou qualquer tendência úni-
ca. A regra foi o caso a caso. A transformação de infrações em sanções ou o seu arquivamen-
to, bem como a manutenção ou reconsideração das sanções em segundo ou terceiro
julgamento, dependeram, regra geral, dos fatores aqui arrolados quando da discussão do
jogo político interno do Copam.
QUADRO 10.20
...................................................
LICENCIAMENTO AMBIENTAL PELO C OPAM/FEAM
Itens Qualificação
Qualidade alta
Agilidade morosa
...................................................
Caráter preventivo/corretivo
Resultado Final Razoável
QUADRO 10.21
...................................................
EMPRESA
INFRAÇÕES E SANÇÕES APLICADAS PELO COPAM/FEAM
INFRAÇÕES SANÇÕES
Total Convo- Por Outras Total Mantidas Reconsi- Não
cando p/ descum deradas julgadas
assina- prir TC
tura
de TC
Acesita 6 1 3 2 4 2 1 1
Belgo-
7 2 3 2 2 2 - -
Mineira
1
Cenibra 2 1 - 1 - 1 -
(florestal)
...................................................
Cosígua 3 1 2 - 2 1 - 1
Usiminas 7 1 3 3 5 2 - 3
526
QUADRO 10.22
...................................................
Cidade
CONSTITUIÇÃO DE CODEMAS NO MÉDIO RIO DOCE
...................................................
vontade política da prefeitura,
Timóteo 1991 exigência lei ambiental do prefeitura
município
Fonte: Elaboração dos autores a partir de arquivos Feam/Copam.
QUADRO 10.23
...................................................
AVALIAÇÃO DA ATUAÇÃO DE CODEMAS NO MÉDIO RIO DOCE
...................................................
Atuação em educação ambiental sim sim sim sim
Relacionamento com outras instituições intenso intenso ocasional intenso
527
Para o fator estrutura, avaliamos a percepção do próprio Conselho, através de
questionamento direto, sobre a adequação dos recursos humanos, financeiros e de infra-
estrutura em relação às atividades desenvolvidas.
Os itens atuação política em conflito sócio-ambiental, atuação em controle da
poluição e atuação em educação ambiental foram avaliados em função de nossa leitura
das entrevistas e material documental examinado em pesquisa de campo.
No que se refere ao relacionamento com outras instituições, foram considera-
dos: freqüência na troca de informações com outras instituições; participação em outros
coletivos relacionados à questão sócio-ambiental; acompanhamento periódico de polí-
ticas ambientais implementadas pelo poder público e pelas empresas; estabelecimento
de parcerias em suas atividades.
O segundo agente analisado são os setores/departamentos de meio ambi-
ente das prefeituras municipais. Entre os sete municípios pesquisados, apenas três
— Ipatinga, Itabira e Santa Bárbara — possuem setores específicos para tratar da
questão ambiental.
A Coordenadoria de Controle Ambiental da Secretaria Municipal de Serviços
Urbanos e Meio Ambiente de Ipatinga, mais tarde transformada em departamento, foi
criada em 1989, na primeira gestão do Partido dos Trabalhadores, no contexto de uma
ampla reformulação administrativa do executivo municipal. As discussões sobre a mon-
tagem da máquina administrativa, que contaram com participação da sociedade civil e
assessoria de técnicos em reforma urbana, concluíram pela importância da criação de um
órgão executivo de política ambiental dotado de pessoal qualificado e instrumentos
eficazes de gestão.
Em Itabira foi criada, em 1993, uma secretaria da Serviços Urbanos e Meio
Ambiente, dentro de uma diretriz geral de governo de diversificação econômica do
município. Tal diretriz exigia que Itabira possuísse instrumentos capazes de permitir a
execução de políticas públicas autônomas nas áreas de meio ambiente e desenvolvi-
mento urbano.
A criação do setor de meio ambiente da Secretaria Municipal de Obras de
Santa Bárbara, em 1988, foi um dos desdobramentos do conflito entre a sociedade/
prefeitura e a Cosígua. Além do conflito, determinou a criação do setor a preocupação do
prefeito em puxar para dentro da prefeitura a mobilização em torno da questão ambien-
tal, procurando garantir que esta não se voltasse contra o executivo municipal.
528
QUADRO 10.24
...................................................
ATUAÇÃO DOS ÓRGÃOS DE MEIO AMBIENTE DAS PREFEITURAS DO MÉDIO RIO DOCE
...................................................
relacionamento com
íntimo ocasional ocasional
outras instituições
QUADRO 10.25
...................................................
INQUÉRITOS CIVIS POR OCUPAÇÕES AMBIENTAIS NO MÉDIO RIO DOCE
Inquéritos % em
Coronel Ipatinga Itabira Santa
Fabriciano Bárbara
poluição atmosférica
90 93 4 -
Fatos hídrica
Irregulares desmatamento 5 - 86 71
degradação ambiental 5 7 10 29
grande empresa
(industrial/ 82 57 7 29
mineradora)
Denunciado proprietário
9 - 86 71
cooperativa rural
órgão público - 29 7 -
outros 9 14 - -
inconcluso 64 64 * 57
acordo judicial - 15 28 7
Resultado
arquivamento 36 21 * 14
...................................................
ação civil
* = Dados indisponíveis
529
Não foi possível realizar o levantamento para a comarca de João Monlevade
em virtude da inexistência de Livro de Inquérito Civil. Em entrevista com o promotor
curador do meio ambiente, fomos informados que foram abertos, na referida comarca,
diversos inquéritos civis por dano ambiental contra empresas industriais, por poluição
hídrica e atmosférica, e estabelecimentos comerciais, por poluição sonora. Mais da meta-
de deles foi arquivada ou permanece inconclusa. Grande parte dos inquéritos transformou-
se em acordos judiciais, e um deles, contra a Belgo-Mineira, transformou-se em ação civil.
Degradação ambiental: descaracterização da paisagem por mineradora, asso-
reamento de corpos d’água, erosão, contaminação química de corpos d’água ou planta-
ções, produtos tóxicos mal acondicionados.
No que se refere ao resultado dos inquéritos, cabe enfocar aqui os acordos
judiciais e as ações civis. O estabelecimento de acordos judiciais mostrou-se de crucial
importância para o controle da poluição/degradação ambiental na região. Esses acordos
estabelecem, de forma minuciosa, medidas técnicas que devem ser tomadas para a
redução/eliminação do impacto sobre o meio, determinando prazos para implantação e
estabelecendo formas de monitoramento e controle pela sociedade local.
A principal vantagem do acordo é ser um instrumento jurídico ágil. Sua defi-
nição é mais rápida que as ações, que demoram anos para ser julgadas. Em caso de
descumprimento, a execução judicial e a aplicação da pena são imediatas. Cabe aqui
ressaltar que o estabelecimento de acordos judiciais é especialmente importante nos
casos de João Monlevade e Ipatinga. Em Monlevade, este é o único instrumento de
controle de poluição industrial disponível no âmbito municipal, uma vez que atualmen-
te o Codema é controlado pela Cia. Belgo-Mineira e a prefeitura é omissa em relação à
poluição ambiental. No caso de Ipatinga, que ainda não conseguiu aprovar a lei munici-
pal de meio ambiente, os acordos dão ao setor de meio ambiente da prefeitura e ao
Codema o amparo legal de que necessitam em seu trabalho de controle da poluição
industrial no município.
Seis inquéritos foram transformados em ação civil na região, três deles contra
grandes empresas (Cia. Vale do Rio Doce e Cia. Belgo-Mineira) e três contra proprietá-
rios rurais. Embora todas elas tenham sido movidas pelo próprio Ministério Público, isso
não significa, necessariamente, baixa participação da sociedade local, que, exceto no
caso contra a Belgo, desempenhou importante papel. Além de encaminhar denúncias,
imprescindíveis para a abertura de inquérito civil, os conselhos municipais de meio
ambiente, as ONGs ambientalistas, as prefeituras e as instituições de ensino superior
forneceram assessoria técnica ao promotor e, nos casos de acordo judicial, vêm atuando
na fiscalização do cumprimento dos termos acordados.
Os estudos de caso realizados apontam que a atuação do Ministério Público
na região esbarra na excessiva carga de trabalho/atribuições dos promotores e na precá-
ria estrutura de apoio técnico e administrativo. Com isso, as maiores chances de sucesso
ocorrem quando o MP é respaldado por assessoria técnica local (mais ágil que as perícias
oficiais) e mobilização da imprensa e comunidade interessada.
A capacitação técnica e a conscientização ambiental dos promotores titulares
das curadorias de meio ambiente também desempenham papel central na efetividade
530
da ação do Ministério Público. Nos casos estudados, a força e a agilidade dos inquéritos
e ações civis encontraram estreita relação com o interesse do promotor na matéria am-
biental e com a profundidade de seu conhecimento jurídico sobre os instrumentos de
defesa dos direitos difusos.
531
QUADRO 10.26
...................................................
Atuação
ONGS AMBIENTALISTAS NO MÉDIO RIO DOCE
...................................................
relacionamento com outras
ocasional ocasional ocasional ocasional
instituições
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A título de considerações finais, gostaríamos de tecer breves comentários
sobre algumas questões que permearam este capítulo. Inicialmente gostaríamos de
destacar a importância da informação e da conferência de visibilidade social à problemá-
tica ambiental local. Esses dois fatores desempenham papel-chave na motivação indivi-
dual para a ação coletiva em prol da qualidade de vida e do ambiente urbano, sendo os
responsáveis primeiros pelo surgimento de uma cidadania ambiental ativa.
Dois dos conflitos aqui estudados, Itabira e Ipatinga, possuíram forte caráter
educativo. A grande visibilidade social que a problemática ambiental objeto do conflito
alcançou no início do processo político, via imprensa ou divulgação corpo-a-corpo, foi
responsável pelo impulso inicial para a formação do campo de interesses ambientais. A
constituição de atores ambientalistas e a ambientalização dos agentes sociais já existen-
tes na região, bem como o surgimento de uma política pública de meio ambiente, esti-
veram umbilicalmente ligadas à conscientização popular sobre a poluição/degradação
do ambiente.
No caso de João Monlevade, a falta de visibilidade social do conflito trava-
do no âmbito judicial pode ser considerada, ao lado do controle exercido pela empresa
sobre o único agente ambientalista do município, fator determinante da ausência de
mobilização popular em torno do conflito, bem como da inexistência de políticas ambi-
entais locais.
Os movimentos de avanço e retrocesso observados nos processos de resolu-
ção política dos conflitos estudados e desenvolvimento das políticas públicas de meio
ambiente levam-nos a concluir que não houve conquistas definitivas nesses processos.
Os observados movimentos de avanço e retrocesso foram determinados, por um lado,
pela capacidade das empresas de resistir à pressão popular e reverter o jogo político e,
532
por outro, pela baixa capacidade de manutenção dos níveis de organização e mobi-
lização da sociedade civil e pela força política relativa do poder público local frente à
grande empresa.
O caso de Ipatinga ilustra bem esses movimentos. Ao lado da constituição de
agentes coletivos ambientais de grande representatividade, verificou-se uma conside-
rável fragilidade e temporalidade organizacional da sociedade civil e do poder público
local, extremamente dependentes da atuação de agentes catalisadores que conduzam
politicamente o processo.
No que diz respeito à capacidade de organização e mobilização da sociedade
civil, a grande questão é o baixo nível de institucionalização dos agentes ambientais e
dos coletivos de agentes. Observamos na região a ausência de instrumentos legais que
garantam o funcionamento e a autonomia dos coletivos de agentes, bem como uma
dificuldade na estruturação e capacitação político/administrativa dos agentes constituí-
dos durante os conflitos.
No que se refere à criação de barreiras ao poder político da (mono)indústria,
esta foi facilitada pela transferência do eixo de lutas políticas da produção para a repro-
dução. Isto é, a retirada das lutas sociais do interior da fábrica e a ampliação de seu campo
de atuação política para além das questões trabalhistas.
Já a capacidade política do poder público local em fazer frente à grande em-
presa encontra-se relacionada, em grande parte, ao tipo de direção política conferida
pelo grupo hegemônico na vida política local e ao grau de internalização de uma cultura
ambientalista dentro da máquina administrativa local.
No que se refere às empresas, podemos observar que os avanços obtidos nas
posturas das mesmas frente à questão ambiental estiveram, no caso das siderúrgicas e
mineradora, relacionadas antes às pressões do poder público que às pressões comerciais
internacionais. As barreiras comerciais de fundo ambiental só se fizeram sentir de forma
mais direta no caso da empresa do setor de celulose.
Por fim, no que tange à atuação dos órgãos estaduais de meio ambiente, há
fortes indícios de que sua fragilidade e instabilidade podem ser explicadas pela carência
de infra-estrutura da Feam e pelo jogo político interno do Copam, que torna insuficiente
a paridade formal, conferindo por vezes vantagens políticas aos poluidores. Já a atuação
do Ministério Público, cujo papel foi central nos conflitos estudados, esbarrou por vezes
em sua precária estrutura administrativa interna e na ausência de respaldo técnico e na
fraca mobilização das comunidades locais.
533
11. PROGRAMA
DE EDUCAÇÃO
AMBIENTAL
.....................................
Cláudio B. Guerra (coord.)
Francisco A. R. Barbosa (coord.)
Tânia M. Braga (coord.)
João Bosco Guimarães
João Renato Stehmann
AGENTES LOCAIS E Maria das Graças L. Brandão
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
535
tecnicista de educação; ênfase em promoção de mudanças de comportamentos individuais.
Os programas de educação ambiental conduzidos pelas empresas procuram
divulgar uma imagem positiva, ecologizada das mesmas, funcionando como uma estra-
tégia para reduzir as pressões populares e alinhar-se a um discurso ecologista genérico,
que esconde os conflitos e coloca todos no mesmo barco.
As temáticas trabalhadas nesses programas relacionam-se, majoritariamente,
ao lixo doméstico (com ênfase em mudança de comportamentos individuais) e a ele-
mentos da natureza (em especial, vegetação e fauna). Temáticas sócio-ambientais, rela-
cionando os problemas ambientais da região às atividades econômicas e às relações
sociais e de poder, estiveram ausentes dos programas conduzidos pelas empresas.
Se por um lado tal ênfase temática cumpre o importante papel de fornecer
informações sobre o meio ambiente natural da região, por outro cumpre também o papel
de desviar a atenção de questões como a poluição provocada pelas empresas.
Outra característica da temática tratada nesses programas é sua generalidade,
baseada em um discurso construído a partir de conceitos abstratos, por natureza incapa-
zes de trazer à tona conflitos e embates. A visão tecnicista de educação transparece na
ênfase dada à pura e simples transmissão de conhecimentos já prontos. As informações
produzidas por especialistas não incorporam o conhecimento tradicional e a cultura
local. As atividades são levadas prontas às comunidades, a participação se dá dentro de
um roteiro predefinido, não dando margem à participação na definição de temáticas e
práticas pedagógicas.
A ênfase em comportamentos individuais, se por um lado contribui para a
reflexão sobre o papel de cada um em relação a questões importantes como lixo domés-
tico e preservação do verde em seu espaço de vida (rua, escola, bairro), por outro desvia
a atenção dos grandes poluidores, das formas pelas quais os agentes econômicos se
apropriam dos elementos naturais e destroem o meio.
Tal concepção faz com que as atividades de educação ambiental promovidas
pelas empresas não cumpram três importantes papéis: manter a população informada
sobre os impactos e sobre a gestão ambiental da empresa; proporcionar reflexão crítica
sobre o ambiente, seus problemas, origens e soluções; corresponsabilizar cada funcioná-
rio da empresa pela busca de melhorias no processo produtivo, visando a redução da
emissão de poluentes e minoração dos impactos ambientais.
Descreveremos agora as atividades de educação ambiental promovidas pelas
empresas estudadas. Entre as atividades voltadas ao público externo, as empresas destacam:
CENIBRA
O programa de rádio (AM e FM) nas comunidades onde a empresa está presente, com
chamadas de 40 segundos sobre meio ambiente, como: “Ser ecológico é não jogar lixo
na rua”.
O Programa de Educação Ambiental na Fazenda Macedônia consiste em visitas de
crianças de escolas da região e familiares de empregados da fábrica à fazenda, com
palestras e distribuição de material impresso.
A Semana de Meio Ambiente, com palestras, filmes e distribuição de mudas.
536
USIMINAS
Projeto Xerimbabo, desenvolvido na Usipa (clube dos funcionários da empresa),
voltado a escolares, professores e funcionários. O projeto possui um centro de biodi-
versidade, viveiro de mudas e um parque zoobotânico.
Recepção de segmentos da comunidade e visita às instalações de controle ambiental
da usina; palestras em associações, clubes de serviço; palestra para estudantes de
primeiro grau da rede escolar de ensino; plantio de árvores na rede escolar de ensino.
ACESITA
Programa de educação ambiental formal, que conta com um centro de educação
ambiental, formação de professores multiplicadores das três redes de ensino do mu
nicípio de Timóteo, edição de um livro de educação ambiental para o professor
Programa de Teatro Fórum no Parque do Rio Doce, junto à comunidade e dentro da empresa.
Projeto OIKÓS: carteira de amigo da natureza com código do amigo da natureza;
incentivo à adoção de coleta seletiva de lixo em várias escolas do município; programa
de férias com trilhas de interpretação, plantio, exercícios corporais, instruções/pales-
tras sobre água, ar e lixo, exercícios de contemplação da natureza.
Semana do meio ambiente.
CVRD
Programa de educação ambiental no Parque do Itabiruçu em parceria com a faculdade
de Ciências Humanas.
Programas junto à rede escolar.
Curso para professores.
Programa Verde Escolar em parceria com a prefeitura de Itabira.
CENIBRA
Treinamento fabril, pelo qual passam todos os empregados da unidade industrial, com
alguma ênfase em questões ambientais.
Matérias próprias e clipping da grande imprensa sobre questões ambientais, presente no jornal
interno, Fibra, e no material de circulação interna denominado Meio Ambiente Interessante.
Programa de coleta seletiva de resíduos não-industriais em todas as dependências da
unidade industrial e conscientização quanto à questão do lixo e redução de resíduos.
USIMINAS
Semana do meio ambiente com cursos, seminários, simpósios internos, concursos de
cartazes, fotografias, atividades estas espontaneamente programadas pelos operado-
res da fábrica.
Simpósios técnicos internos, palestras para operadores, dia da árvore, programas de
áreas verdes, minicampanhas, reciclagem de papel, reciclagem de lâmpadas, pilhas e
baterias.
ACESITA
Coleta seletiva de lixo dentro da própria usina. Troca de papel, vidro e plástico por
cadernos nas portarias da usina.
537
Coleta seletiva em contêineres no chão de fábrica.
A empresa pretende iniciar um programa educacional interno sintonizado com as novas
regras de certificação ambiental.
CVRD
Educação ambiental para gerentes e funcionários da empresa com palestras, minicursos
e material informativo.
A empresa pretende iniciar um programa educacional interno sintonizado com as novas
regras de certificação ambiental.
PREFEITURAS
Entre as sete prefeituras pesquisadas, uma delas, a de Barão de
Cocais, não realiza qualquer atividade na área; outras duas, as de Belo Orien-
te e Timóteo, também não realizam atividades por considerar que as empre-
sas locais — Cenibra e Acesita — já cumprem esse papel de forma plena-
mente satisfatória.
A prefeitura de Coronel Fabriciano possui um trabalho pontual jun-
to às escolas do município sobre reciclagem de lixo e arborização a partir das
demandas formuladas pelas escolas ou estudantes.
A prefeitura de Santa Bárbara realiza anualmente um seminário mu-
nicipal de meio ambiente que discute, com as comunidades locais, os principais
problemas ambientais do município e suas possíveis soluções, abrindo espaço
para reflexões e críticas coletivas. As discussões do seminário são embasadas
técnica e politicamente por ambientalistas e pesquisadores da área convidados.
Destaque é dado às campanhas de mobilização relacionadas a projetos de meio
538
ambiente do executivo municipal e a problemas ambientais da região. São tam-
bém realizadas atividades pontuais, como palestras em escolas, passeios ecoló-
gicos e exibições de filme sobre assoreamento do Rio São João.
A atuação da prefeitura de Ipatinga em educação ambiental no perí-
odo pesquisado, 1989/1996, caracterizou-se por marcantes diferenças de dire-
trizes nas duas gestões municipais compreendidas no período. A gestão 1898/
1992 destacou-se por uma atuação em educação ambiental baseada em um
intensivo trabalho de base junto à sociedade civil organizada e às escolas,
dentro do Programa Ipatinga Cidadã. Tal atuação foi caracterizada por uma
visão não-fragmentada de meio ambiente, integrada à discussão dos proble-
mas sócio-econômicos do município, e pelo estímulo à reflexão crítica. Foram
realizadas reuniões e debates com as comunidades, além das tradicionais pa-
lestras, abordando temas relativos à poluição no município, com divulgação
de dados técnicos em linguagem simples e visual (álbum seriado) e discussão
da dimensão política das causas dos níveis de poluição verificados.
Foram formuladas, em parceria com os movimentos populares e as
escolas do município, as seguintes propostas de educação ambiental: Projeto
de Educação para o Meio, cuja centralidade residia em questões relativas à
saúde (problemas causados pelos poluentes industriais à saude dos moradores
da cidade e aos trabalhadores das unidades industriais), à defesa do consumi-
dor e à educação para o trânsito; propostas para educação ambiental formal;
centro permanente de educação ambiental; propostas para educação e limpe-
za urbana (lixo e controle de zoonoses).
Já a gestão 1993/1996 teve uma atuação mais tímida em educação
ambiental. Uma vez que a orientação geral da gestão foi a não-criação de con-
flitos, em especial com a Usiminas — e educação ambiental na perspectiva da
gestão anterior significava trazer os conflitos sócio-ambientais à tona, confe-
rindo-lhes visibilidade social —, a maioria das propostas formuladas no fim da
administração anterior foi interrompida. O Projeto de Educação do Meio, o
Centro de Educação Ambiental e a proposta de educação ambiental formal
não saíram do papel. A atuação em educação ambiental deslocou-se então do
departamento de controle ambiental para o departamento de limpeza urbana,
que realizou um amplo programa de educação ambiental, em parceria com o
movimento popular e com as escolas, relativo a temas como lixo (correta
disposição, coleta seletiva e reciclagem) e controle de zoonoses.
Em Itabira as atividades em educação ambiental conduzidas pela pre-
feitura foram realizadas, em sua maioria, em parceria com a CVRD. Tais atividades
englobaram a capacitação de professores, o programa Verde Escolar, uma série
de palestras em escolas sobre lixo, queimadas e vegetação local. Merece desta-
que o Programa Verde Novo, realizado em parceria com as associações de
moradores, que consiste na criação de áreas verdes a partir de mapeamento dos
bairros e escolha das áreas de plantio pelas próprias comunidades, que se res-
ponsabilizam pela manutenção pós-plantio das árvores, praças e jardins.
539
CODEMAS
Os quatro Codemas existentes na região possuem atuação em edu-
cação ambiental, participando como parceiros em programas e/ou atividades
conduzidas pelas empresas e prefeituras. Um desses Codemas, o de Itabira,
também realiza atividades próprias, em decorrência da importância política
por ele adquirido durante o conflito sócio-ambiental aqui analisado.
O Codema de Itabira divulga, em rádio e jornal, informações sobre
os níveis de poluição do município e outros problemas ambientais. Realiza
palestras em associações de bairro e seminários periódicos sobre diversas te-
máticas relativas à questão ambiental, que vão da caracterização geofísica-
biológica do ambiente regional até a discussão de soluções para os problemas
ambientais da região, passando pela questão do lixo e dos espaços verdes
urbanos. Realiza em parceria com a CVRD um programa de educação ambi-
ental de caráter conservacionista no Parque do Itabiruçu.
Em Timóteo o Codema possui trabalhos com as escolas, em parce-
ria com a secretaria municipal de educação (que tem representante no Code-
ma). Participa das atividades da Semana do Meio Ambiente promovida pela
Acesita e das atividades promovidas pelo Parque Estadual do Rio Doce.
O Codema de Santa Bárbara atua em educação ambiental através de
participação no Seminário Municipal de Meio Ambiente e no Programa de
Educação Ambiental na Bacia do Rio Piracicaba (programa conduzido pelo
“Programa Biodiversidade, População e Economia”, descrito no próximo item
deste trabalho).
A atuação do Codema de Ipatinga em educação ambiental ocorreu
apenas no período 1991-1992, em parceria com a prefeitura no Programa
Ipatinga Cidadã, aqui já descrito.
ONGS AMBIENTALISTAS
No caso da Associação Progresso com Vida (Aprov), de Santa Bárba-
ra, as atividades de educação ambiental surgiram da mobilização em torno das
denúncias sobre poluição do Rio São João. A partir daí foram ampliadas, pas-
sando a atuar através da publicação de artigos sobre meio ambiente no jornal
local (denúncias, matérias informativas e educativas sobre meio ambiente), da
realização de palestras em escolas, de entrevistas na rádio local e da promoção
de atividades de ecoturismo. A associação ressalta que a organização de abai-
xo- assinados pedindo providências para redução da poluição do rio teve im-
portante caráter educativo, pois fez com que a questão ambiental passasse a
freqüentar as rodas de bate-papo da cidade.
Em seu trabalho junto à sociedade civil organizada, em especial
junto às comunidades eclesiais de base, o Centro de Defesa dos Direitos da
Natureza (CDDN) contribui para a conscientização da comunidade de Ipatinga
sobre problemas ambientais do município, em especial a poluição provocada
540
pela Usiminas. Através de uma gincana ecológica que envolveu vários bairros
da cidade, o CDDN deu origem a um programa de coleta seletiva de lixo.
A Fundação Relictus tem trabalhos de educação ambiental sobre
o Parque Estadual do Rio Doce, a flora e a fauna regionais e a recuperação
da mata ciliar dos rios Piracicaba e Doce junto a vários segmentos da socieda-
de: visitantes do parque, populações ribeirinhas, grupos de escoteiros, escolas
e prefeituras.
No caso da SOS Piracicaba, os trabalhos educativos centraram-se na
divulgação de denúncias sobre poluição na bacia do Piracicaba. A instituição
atuou também na divulgação regional dos debates ocorridos no Fórum Global,
em seus eventos preparatórios e em debates com o poder legislativo das cida-
des do Vale do Aço.
OUTRAS ONGS
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) do Vale do Aço realizou, em
parceria com uma ONG japonesa, uma pesquisa sobre os impactos sociais e
ambientais da monocultura de eucalipto na região, que resultou na produção
de um vídeo, de slides e de um documento. Foi feito também um trabalho com
pequenos produtores sobre o uso do solo e técnicas alternativas de agricultura,
considerado prioritário entre as atividades da entidade.
Já o Sindicato Rural de Santa Bárbara atua junto a pequenos produ-
tores esclarendo sobre os problemas para a saúde causados por agrotóxicos,
mobilizando-os contra as capinas químicas por avião feitas por grandes empre-
sas reflorestadoras da região, e possui uma proposta discutida com a comunida-
de para o início de um trabalho de agricultura orgânica e minhocário.
ÁREAS DE PROTEÇÃO
No que se refere às instituições ligadas às áreas de proteção, verifi-
cou-se a existência de trabalhos de educação ambiental bastante distintos nas
duas reservas naturais existentes na bacia.
Os trabalhos de educação realizados na reserva do Caraça limitam-
se ao fornecimento de informações sobre a história e a natureza do local e
sobre comportamento individual no usufruto da reserva. As informações são
disponibilizadas aos visitantes através de livros e palestras. A instrução e ori-
entação dos visitantes é realizada através de um convênio com uma faculdade
de Belo Horizonte, que envia aos domingos dois ou três alunos que fazem a
recepção dos visitantes, distribuem folhetos e sacos plásticos para lixo, orien-
tando os visitantes para não sujar a reserva, não fazer fogueiras e evitar queima-
das. A reserva oferece apoio a pesquisadores de universidades para pesquisas
sobre fauna, flora e geologia local.
O programa de educação ambiental desenvolvido no Parque Esta-
dual do Rio Doce é bastante amplo, cumprindo os objetivos de difundir infor-
mações locais sobre a biodiversidade local, prevenir contra incêndios e inte-
541
grar-se às comunidades limítrofes. O parque possui um Comitê de Educação
Ambiental formado por ONGs ambientalistas da região e de Belo Horizonte,
responsável pela escolha das diretrizes dos programas e atividades realizados.
No que se refere ao trabalho com os visitantes, o Parque Estadual do
Rio Doce possui um programa de educação ambiental que inclui trilhas inter-
pretativas, orientações sobre como usufruir de uma unidade de conservação e
exibição de material audiovisual (filme) sobre o parque e sobre como proce-
der durante a visita.
O Parque Estadual do Rio Doce possui uma biblioteca bastante
completa com publicações sobre meio ambiente, literatura infantil e periódi-
cos diversos, criada para atender à população do entorno, indivíduos e escolas,
mas que é aberta também aos visitantes em geral.
A ênfase do trabalho educativo junto às comunidades limítrofes ao
parque, realizado em parceria com as associações de moradores, é a prevenção
de incêndios e de desmatamentos. Esse trabalho é feito através de palestras,
visitas ao parque, audiovisuais e do programa Rua de Lazer.
O parque realiza, em parceria com universidades e entidades conserva-
cionistas internacionais, pesquisas sobre sua fauna, flora e sistema lacustre. Possui
também infra-estrutura adequada para receber visitantes e pesquisadores.
POLÍCIA FLORESTAL
Os trabalhos educativos da Polícia Florestal na bacia do Rio Piraci-
caba giram em torno da prevenção de incêndios e desmatamentos. As ativida-
des realizadas vão de palestras em escolas e distribuição de panfletos a orien-
tação a produtores rurais quando de autuações e patrulhamentos. Os policiais
atendem também a pesquisas escolares sobre assuntos diversos ligados ao
meio ambiente da região, como animais em extinção, parques, poluição do
Rio Piracicaba e de seus afluentes.
542
elaboração e implementação de políticas voltadas para a solução de seus problemas
ambientais, seja no âmbito das instituições municipais, estaduais ou federais, seja no
âmbito das empresas, públicas e privadas, com atuação local. Em resumo, pretendia-se
contribuir para o processo de constituição de sujeitos sociais locais que possuíssem na
questão ambiental a dimensão central de sua atuação sócio-política.
Mais especificamente, o programa objetivou proporcionar o acesso a novos
conhecimentos, facilitando o entendimento dos problemas ambientais da região dentro
de uma visão global e interdisciplinar, e a um instrumental técnico que possibilitasse às
comunidades da bacia monitorar a qualidade de seu próprio ambiente. Buscou-se disse-
minar conceitos básicos sobre meio ambiente, qualidade de vida, cidadania, cultura e
suas inter-relações; divulgar informações referentes à caracterização do meio ambiente
físico, biológico e sócio-econômico da bacia; discutir os problemas ambientais regionais
de forma a estimular seu entendimento global; estimular a discussão sobre as políticas
ambientais existentes; estimular mudanças de atitude/comportamento nos diferentes
segmentos da sociedade; propor medidas alternativas para a solução dos problemas
ambientais e diretrizes para políticas públicas e privadas em meio ambiente; formar
monitores ambientais com capacidade para monitorar a qualidade das águas e sugerir
medidas para sua recuperação e preservação.
O Programa de Educação Ambiental, em sintonia com os princípios que nor-
teiam o Programa “Biodiversidade, População e Economia”, desenvolveu uma meto-
dologia cuja centralidade foi colocada no rio. A premissa é que o rio é a testemunha-chave
em todo o processo de ocupação e degradação da bacia do Piracicaba, de forma que a in-
terpretação do que o rio fala conduziria a uma melhor compreensão das diversas faces da
questão sócio-ambiental regional.
A concepção de educação ambiental que norteou o programa tem como prin-
cipais características: visão integrada dos problemas ambientais e sociais; participação
da comunidade-alvo em todo o processo; integração entre o conhecimento técnico-cien-
tífico e o conhecimento tradicional das comunidades locais.
A especificidade desse programa foi a opção por um modelo participativo,
que permitisse integrar os novos conhecimentos adquiridos (técnicos e científicos) ao
conhecimento dos agentes locais. O que se buscava era a construção de conhecimentos
e de novas formas de participação, que levasse em conta as necessidades e prioridades
definidas pelos próprios agentes locais, a partir de sua realidade concreta. Tal opção
partiu do reconhecimento de que todo saber é um empreendimento coletivo e provém
da prática social (Giusta, 1985).
Em sua dinâmica junto às comunidades o programa orientou-se para os agentes
locais e para as ações institucionais, fornecendo suporte técnico, informações e diagnósti-
cos ambientais à sociedade civil organizada, aos formadores de opinião e aos responsáveis
pela condução de políticas (públicas e empresariais) locais, além de apoiar o desenvolvi-
mento de agentes multiplicadores de modo a garantir a continuidade das ações.
A participação das comunidades envolvidas no programa ocorreu tanto no
planejamento/elaboração das atividades quanto em sua gestão e avaliação. Baseando-se
543
nesse princípio, a concepção dos cursos e demais atividades foi construída pelos própri-
os participantes, durante a fase de planejamento, através do diálogo e da negociação. A
tarefa principal do grupo de trabalho de planejamento foi a escolha de um eixo temático
que, ao processar um corte na realidade, elegendo um problema central, não desconsi-
derasse outras questões importantes. Ao contrário, servisse de problema-chave aquele
que no processo de seu desvendamento abrisse a possibilidade de compreensão da tota-
lidade das inter-relações entre as alterações ambientais e a dinâmica social, permitindo
integrar: conhecimentos e valores locais aos novos conhecimentos técnicos, natureza à
história, ecologia à economia, bem como os problemas locais à universalidade das ques-
tões ambientais.
Esse método permitiu a operacionalização da interdisciplinaridade, evitan-
do-se o risco da dispersão causada pela pouca experiência no trato de questões que
envolviam a abordagem multidisciplinar, além de valorizar e incorporar diferentes for-
mas de conhecimento, respeitando a cultura e os valores locais. Teve na relação dialógi-
ca o princípio e o fim da ação educacional ao estabelecer o diálogo e a negociação, entre
indivíduos e instituições, como essenciais à busca de soluções para a questão ambiental.
Em sua dinâmica junto às comunidades envolvidas, o programa orientou-se para a busca
de uma racionalidade, não-instrumental e baseada em processos argumentativos, contri-
buindo para a recuperação da capacidade comunicativa e de interação na procura con-
junta de soluções, em oposição às decisões tecnocráticas.
Nesse sentido, procurou-se, mais do que apenas difundir conhecimentos, ope-
rar no sentido de capacitar os agentes locais para ações organizadas em defesa de seu
próprio ambiente.
A formação de um primeiro grupo de monitores ambientais diferencia o progra-
ma, uma vez que contribui para a inserção na comunidade do conhecimento técnico-
científico do ponto de vista prático, abrindo a possibilidade de entendimento da reali-
dade local a partir de dados concretos obtidos por pessoas da comunidade capacitadas
para interpretá-los.
No que se refere ao público-alvo, o programa voltou-se preferencialmente
para agentes sociais já constituídos, fornecendo-lhes suporte técnico, informações e
capacitação em métodos de diagnóstico ambiental através de diversos cursos. Todavia,
procurou-se atender também a um público mais amplo, constituído por estudantes e
pela população em geral, através da realização de atividades como palestras, pesquisa
de opinião, projeção de filme educativo, campanhas de mobilização, exposições em
locais públicos e concurso de redação.
RESULTADOS
A proposta preliminar do Programa de Educação Ambiental foi elaborada por
um grupo de pesquisadores do Programa Biodiversidade, População e Economia e colo-
cada em discussão dentro da Coordenação do Programa para ser aprimorada.
O passo seguinte foi discutir a proposta, adequá-la, aprimorá-la e transformá-la
em um projeto a partir de discussões com as comunidades locais. Para dar início ao
processo de planejamento participativo, foi feita uma parceria com a Associação dos
544
Municípios da Microrregião do Médio Rio Piracicaba (Amepi), que forneceu apoio lo-
gístico, promoveu uma reunião entre pesquisadores do “Programa Biodiversidade, Po-
pulação e Economia” e a diretoria da associação e fez contatos com prefeituras, escolas,
associações comunitárias, ONGs e empresas da região.
Formou-se então um grupo de trabalho responsável pelo processo de planeja-
mento participativo do programa, o qual definiu um cronograma de trabalho, composto
por uma série de atividades integradas. O grupo de trabalho, com representantes dos
diferentes segmentos da sociedade civil e do poder público (comunidade locais, prefei-
turas municipais, escolas públicas e privadas, empresas, órgãos governamentais, Code-
mas etc.) de 12 municípios, desempenhou um papel fundamental como planejador e
também como divulgador do programa em cada uma das cidades envolvidas. O planeja-
mento foi estabelecido em uma série de oito reuniões realizadas na sede da Amepi, em
João Monlevade, no final de 1993 e início de 1994.
As atividades do programa iniciaram-se efetivamente em maio de 1994 e
contaram com a participação de nove municípios da região. Preocupada em manter um
vínculo com as comunidades, mesmo após o encerramento formal do programa, a coor-
denação do programa desenvolveu desde o início, paralelamente às atividades educati-
vas, uma série de contatos e ações de apoio aos grupos organizados visando uma futura
municipalização de atividades.
O Programa de Educação Ambiental contou, além da parceria com a Amepi,
com o apoio da Belgo-Mineira e de várias unidades da UFMG (ICB, Cedeplar, Escola
de Engenharia e Escola de Direito). Em relação aos seus custos, deve ser ressaltado que
o programa só foi possível graças à participação de profissionais não só da UFMG como
da Emater e Feam.
Descrevemos abaixo as principais atividades desenvolvidas no âmbito do
Programa de Educação Ambiental.
VÍDEO EDUCATIVO
A realização de um vídeo educativo teve como objetivo integrar informações
sobre o processo histórico de desenvolvimento da bacia Rio Piracicaba a imagens de
seus efeitos sobre o rio. A edição do vídeo contou com apoio técnico da Fundação Bio-
diversitas; o Centro Audiovisual da UFMG colaborou na produção de cópias.
O vídeo tem como público-alvo a comunidade em geral, servindo como veí-
culo multiplicador de conhecimentos sobre a realidade ambiental da região e como
fator mobilizador e de agregação durante outras atividades desenvolvidas pelo progra-
ma. Cópias foram distribuídas às equipes locais das cidades do médio Piracicaba, que se
incumbiram de sua reprodução e distribuição para escolas, associações de bairros, casas
de cultura e prefeituras.
O vídeo aborda a água como recurso limitado e as exigências crescentes
desse recurso por parte da sociedade urbano-industrial. Em seguida, desenvolve o con-
ceito de bacia hidrográfica, mostrando a bacia do Rio Piracicaba. Faz uma análise da
economia da região e dos seus impactos ambientais. Revela as raízes sócio-históricas
545
dessa degradação, iniciada com o ciclo do ouro, e intensificada com as atividades econô-
micas atuais, centradas na siderurgia, mineração, celulose e reflorestamento com euca-
lipto. Discute as ambigüidades e os dilemas do modelo de desenvolvimento econômi-
co que promove melhorias no sistema viário, na infra-estrutura urbana, nas oportunida-
des de emprego, ao mesmo tempo em que não desenvolve sistemas de tratamento
adequados para o lixo urbano, para o esgoto doméstico e para os efluentes industriais,
além de promover a concentração urbana e de renda. Apresenta os objetivos do “Progra-
ma Biodiversidade, População e Economia”. Termina evidenciando o Rio Piracicaba
como testemunha e vítima do modelo econômico, propondo a construção, coletiva e
democrática, de um novo modelo de desenvolvimento, que leve em consideração a
qualidade de vida da população da região, o meio ambiente e as gerações futuras.
CURSOS
O objetivo dos cursos foi dotar os participantes de conhecimentos teóricos e
práticos, de natureza multidisciplinar, capacitando-os a analisar e intervir em suas reali-
dades com maior qualificação técnica e autonomia, transformando-se em agentes nucle-
adores e multiplicadores em suas comunidades. Foram realizados três modalidades: de
longa duração, de curta duração e de formação de monitores ambientais.
O número total de participantes nos cursos ministrados, de maio de 1994 a
março de 1995, chegou a 97. O perfil dos participantes mostra uma diversidade de
formação (biólogos, engenheiros, geógrafos, técnicos de nível médio) e profissões (pro-
fessores e estudantes de 2º grau, professores de 1º grau, lideranças comunitárias, funcio-
nários de empresas e prefeituras) bastante interessante, mas com predominância mar-
cante de professores do 2º grau. Tal perfil contribuiu para que um dos principais objeti-
vos do programa — formação de agentes multiplicadores — fosse atingido, uma vez
que, além de poder contribuir para a ambientalização das prefeituras, escolas, empresas e
entidades da sociedade civil da qual fazem parte, a maioria dos participantes possui uma
extensa rede de contatos e influência em seus municípios, podendo atuar para além de
suas instituições de origem.
546
SISTEMA DE ESGOTAMENTO E TRATAMENTO DE ESGOTOS
O curso, de oito horas de duração, ministrado pelo professor Marcos Von Sper-
ling, da Escola de Engenharia da UFMG, contou com a participação de 25 pessoas. Seu
conteúdo básico: noções de qualidade e poluição das águas, sistema de esgotamento
sanitário, características das águas residuárias, níveis, processos e sistemas de tratamen-
to. Utilizou-se como material didático a apostila Sistemas de Esgotamento e Tratamento de
Esgoto, da Escola de Engenharia da UFMG.
GARIMPO DO OURO E SEUS REFLEXOS NO MEIO AMBIENTE
Curso de seis horas de duração, ministrado pela técnica Maria Eleonora Des-
champs, da Feam-MG, com o seguinte conteúdo: impactos ambientais do garimpo,
meio físico, meio biótico, meio antrópico, medidas de controle, aspectos legais e reco-
mendações práticas para solução. O curso contou com 11 participantes e utilizou, como
material didático uma apostila da Feam. Como material didático complementar, foi
distribuída a apostila O Preço do Ouro, da Secretaria Municipal de Santarém, e um ques-
tionário sobre percepção ambiental.
547
consenso entre as partes envolvidas , barreiras econômicas, sociais, tecnoló-
gicas, culturais e políticas.
Professores: Cláudio B. Guerra e João Antônio de Paula.
Módulo IV (8 horas):
Introdução à Legislação Ambiental: Estudo das Constituições Federal, Esta-
dual e da Lei Orgânica Municipal; os principais órgãos executivos, regulado-
res e fiscalizadores da política ambiental no Brasil e em Minas Gerais. Análise
da política ambiental no Brasil, suas perspectivas e tendências.
Professor: José Alfredo Baracho Filho
Módulo V (16 horas):
O Compromisso com as próximas gerações:
Análise das diversas abordagens do modelo de desenvolvimento sustentável
e workshop de proposições e alternativas para a solução dos problemas ambien-
tais regionais hoje, dentro de uma visão sustentável de desenvolvimento.
Professores: Cláudio B. Guerra e Roberto Monte-Mór
548
periódicas e sistemáticas de qualidade da água, sob a supervisão da equipe técnica do
“Programa Biodiversidade, População e Economia”.
CAMPANHAS DE MOBILIZAÇÃO
As campanhas de mobilização foram inseridas no programa como instrumen-
tos básicos de ação ao possibilitar contatos entre os pesquisadores do Programa Biodi-
versidade, População e Economia, lideranças locais e o público em geral. As campanhas
deram ampla flexibilidade ao programa, permitindo trabalhar diversos temas e métodos
de abordagens e integrando-se, em muitos casos, a outras atividades sociais e culturais
de iniciativa das comunidades.
As campanhas de mobilização iniciaram-se formalmente com a exibição do
vídeo Recuperação do Rio Piracicaba - Sonho ou Desafio? em vários eventos locais e nas
escolas. As exibições motivaram os estudantes para a participação no concurso de reda-
ção O Rio da Minha Terra e levaram ao público em geral informações sobre a questão
sócio-ambiental na região, criando importantes espaços para debates.
Em Barão de Cocais os membros do programa participaram da Feira do Lixo
proferindo palestras sobre Impactos Antrópicos na Bacia do Rio Doce e exposição de slides
sobre o lixo urbano. Em Antônio Dias, houve participação com palestras no Seminário
da Saúde e divulgação de dados sócio-ambientais da bacia do médio Piracicaba, conse-
guindo, a partir desse evento, espaço permanente no jornal da cidade, O Montanhês. Em
Santa Bárbara, pesquisadores do Programa Biodiversidade, População e Economia par-
ticiparam como palestrantes do Seminário do Meio Ambiente daquela cidade nos anos
de 1994 e 1995, como também em Itabira no ano de 1994.
Em todos os municípios participantes do programa foram realizadas exposi-
ções em locais públicos (escolas, praças, prefeituras etc.) sobre a bacia do Rio Piracicaba.
As exposições de fotos, mapas e gráficos cumpriram o papel de divulgação em massa de
informações referentes à realidade sócio-ambiental da bacia e à percepção/conhecimento
ambiental das comunidades que a habitam.
Cabe destacar as reuniões promovidas pelo Programa Biodiversidade, Popu-
lação e Economia junto à Associação dos Municípios do Vale do Aço (AMVA) e à Asso-
ciação de Municípios do Médio Piracicaba (Amepi), realizados em Ipatinga e em João
Monlevade. Essas reuniões constituíram o início do Programa de Educação Ambiental.
Nesses eventos foram realizadas reuniões com grupos organizados, representantes de
empresas, ONGs e prefeituras de todas as localidades envolvidas. Foram apresentadas
as propostas do Programa Biodiversidade, População e Economia e discutidos os efeitos
das atividades econômicas da região sobre a biodiversidade do Rio Piracicaba.
CONCURSO DE REDAÇÃO
Um concurso de redação sob o tema O Rio da Minha Terra foi realizado em
nove municípios da região, do qual participou toda a comunidade escolar da região do
médio Piracicaba situada na faixa etária de 7 a 17 anos.
O objetivo do concurso foi mobilizar a comunidade estudantil e incentivar
sua participação nas discussões relativas à questão do meio ambiente na região. Busca-
549
va-se também sensibilizar os estudantes para a necessidade de preservar os rios e de uma
integração regional que possa produzir ações comuns no futuro.
O concurso foi dividido em três categorias (7 a 10 anos, 11 a 14 anos e 15 a 17
anos) e em duas fases (municipal e regional). A primeira fase ficou a cargo das escolas
e equipes locais que organizaram e divulgaram o concurso. Uma comissão julgadora
municipal foi formada por professores, promotores públicos e representantes de prefei-
turas, empresas e casas de cultura. A segunda fase ficou a cargo de uma comissão julgadora
regional composta por membros da Coordenação do Programa Biodiversidade, Popula-
ção e Economia.
Os prêmios para todas as categorias foram entregues aos vencedores em sole-
nidade na sede da Amepi, com a presença da direção desta associação, de representantes
municipais, das escolas e de pesquisadores do Programa Biodiversidade, População e
Economia. Na mesma solenidade foram entregues os diplomas aos participantes dos
cursos de curta e longa duração.
O concurso regional de redação O Rio da Minha Terra funcionou como elemen-
to mobilizador e de discussão da problemática ambiental dentro de cada município, espe-
cialmente no âmbito escolar, atingindo de forma plenamente satisfatória seus objetivos.
550
A pesquisa foi aplicada por equipes das próprias comunidades treinadas pelo
Programa Biodiversidade, População e Economia. A mobilização da comunidade para
formação das equipes de entrevistadores foi feita pelos agentes locais participantes do
Programa de Educação Ambiental. O perfil dos grupos de entrevistadores foi diferenci-
ado para cada município, tendo sido formadas equipes compostas por: estudantes das
duas últimas séries do 1º grau (dois municípios); membros de diversas entidades da so-
ciedade civil e professores (dois municípios); professores (um município); funcionários
da prefeitura, professores e membros de entidades da sociedade civil (um município).
A capacitação dos entrevistadores foi realizada através de oficinas em cada
um dos municípios, que envolveram palestras sobre pesquisa de percepção ambiental,
metodologias de pesquisa domiciliar, comportamento do entrevistador e técnicas de
abordagem, palestras estas seguidas por perguntas e debates. Foram realizadas por fim
pesquisas simuladas.
A meta do programa era atingir uma amostragem de 1% da população em cada
município, o que não foi conseguido em todos eles. Cabe aqui ressaltar que a não-uni-
formidade da amostra nos seis municípios (ver quadro abaixo) compromete, estatistica-
mente, uma avaliação comparada de seus resultados. Entretanto, não compromete uma
avaliação em termos qualitativos das diferenças e similaridades em relação à percepção
ambiental expressas pela pesquisa.
QUADRO 11.1
...................................................
ESTATÍSTICAS DA PESQUISA DE OPINIÃO NA BACIA DO RIO PIRACICABA
...................................................
Sta. Bárbara 25.932 91
Fonte: Pesquisa de opinião realizada na bacia do Rio Piracicaba, Censo Demográfico do IBGE (1991).
0,35
551
ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS PELA PESQUISA DE OPINIÃO
A sistematização e análise dos resultados da pesquisa por parte da equipe da
UFMG envolvida no Programa de Educação Ambiental foi realizada a partir da seleção
de 14 questões distribuídas em três painéis temáticos, conforme indicado abaixo:
Painel 1: Conhecimento e Representações Relativos ao Rio Piracicaba: A
Dimensão Cultural da Questão Ambiental, que procurou evidenciar os conhe-
cimentos objetivos sobre bacia hidrográfica, qualidade da água consumida,
situação das nascentes e posição que o os rios da região ocupam nos valores e
no imaginário social das comunidades.
Painel 2: Poluição e Poluidores: A Dimensão Social da Questão Ambiental,
que procurou evidenciar os níveis de percepção da população quanto à exis-
tência de poluição e de suas formas, dos agentes poluidores e das responsabi-
lidades diferenciadas dos vários segmentos sociais no processo de degradação
ambiental.
Painel 3: Sociedade Civil e Estado: A Dimensão Política da Questão Ambien-
tal, que buscou a explicitação da questão ambiental em sua dimensão política,
situando-a ao nível das ações/omissões institucionais, públicas e privadas, com
referência às possibilidades de seu controle e busca de soluções.
DESDOBRAMENTOS
O efeito multiplicador das atividades do programa na região pôde ser sentido já
durante o seu desenvolvimento. Diversas iniciativas tomadas pelas comunidades locais
ainda durante o período de realização do programa tiveram a inserção da problemática
ambiental local com a efetiva atuação dos participantes do programa em seus municípi-
os. Entre essas atividades merecem destaque :
552
Feira cultural em Barão de Cocais (A questão do lixo )
Seminário Municipal de Saúde em Antônio Dias
Seminário do Meio Ambiente em Santa Bárbara
Semana do Meio Ambiente em Itabira
Debates sobre a situação do Rio Piracicaba em Nova Era
553
Em Antônio Dias também está sendo desenvolvida uma pesquisa pelo Insti-
tuto de Ciências Biológicas da UFMG visando a recuperação e propostas de manejo
para a Lagoa do Teobaldo, com o apoio da prefeitura municipal e da comunidade e a
participação técnica de dois monitores ambientais do município, certificados pelo Pro-
grama Biodiversidade, População e Economia.
A continuidade do apoio da equipe da UFMG às iniciativas de mobilização
das comunidades que participaram do programa foi garantida pela realização, em 1996,
pelo Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, de um projeto de educação ambien-
tal que teve o apoio financeiro do Fundo Nacional do Meio Ambiente. Desenvolvido
nos municípios de Barão de Cocais, Santa Bárbara e Antônio Dias, o Programa de
Educação Ambiental na Região do Médio Rio Piracicaba realizou um curso de capaci-
tação para 120 professores de 10 e 20 graus na área ambiental. O projeto também promo-
veu uma série de atividades nas escolas sobre educação ambiental e, em dezembro,
promoveu um seminário no distrito de Brumal (Santa Bárbara) que contou com ampla
participação das empresas da região, das comunidades locais e dos 120 professores
que participaram do projeto.
Esse programa publicou no segundo semestre de 1996 o livro Curso Básico de
Formação de Professores na Área Ambiental, amplamente distribuído às comunidades da
bacia do Rio Piracicaba, e que possui o seguinte conteúdo: fundamentos da questão
ambiental, ambientes aquáticos e qualidade da água, fazendo educação ambiental na
escola, elaboração de projetos na área ambiental, plantas medicinais, fauna, diagnóstico
ambiental da bacia do Rio Piracicaba.
A ênfase atual do trabalho da equipe da UFMG às comunidades locais através
dos monitores ambientais encontra-se no apoio à discussão e à formulação de propostas,
por parte das comunidades locais, de formas alternativas de desenvolvimento regional,
ecológica e economicamente sustentáveis. Nesse sentido, cabe destacar a pesquisa
realizada pela professora Maria das Graças Lins Brandão (Farmácia/UFMG) sobre plan-
tas medicinais utilizadas na região, sua identificação e formas de uso (etnobotânica),
cujos resultados foram publicados, em parte, no livro acima citado.
No que se refere ao trabalho futuro de apoio e orientação técnica por parte das
equipes da UFMG às comunidades da bacia do Rio Piracicaba, apresentamos a seguir
algumas diretrizes, a título de sugestão.
Limnologia: monitoramento contínuo dos corpos d’água da bacia, de respon-
sabilidade dos monitores ambientais e com apoio das equipes da UFMG.
Promoção de iniciativas, quando da verificação de resultados em desacordo
com a resolução do Copam, junto ao poder público e às empresas para cobrar
medidas preventivas e/ou corretivas.
Desenvolvimento regional: ampliação e fortalecimento do processo de dis-
cussão pelas comunidades locais de propostas de alternativas de desenvolvi-
mento regional, ecológica e economicamente sustentáveis.
Cultura popular: continuidade de pesquisas sobre etnobotânica e informação
às comunidades sobre a melhor forma de aproveitamento do potencial tera-
pêutico das plantas da região.
554
Municiamento de informações/metodologias: os monitores ambientais e ou-
tros interessados precisam obter informações diversas sobre os resultados das
pesquisas do “Programa Biodiversidade, População e Economia” para subsi-
diar seu trabalho. A equipe do programa teria como uma das funções o atendi-
mento da demanda dos monitores e da comunidade por informações e discus-
são com pesquisadores sobre como tornar as informações acessíveis.
555
das plantas nativas por parte dos informantes. Esse fato deve estar associado ao ritmo
acelerado de desmatamento a que foi submetida a região.
É um fato histórico que um número considerável de substâncias medicamen-
tosas se originou de plantas, especialmente daquelas utilizadas na medicina tradicional.
Entende-se por medicina tradicional
556
disso, as diferenças culturais do brasileiro produziu a uma medicina tradicional rica,
baseada em diferentes plantas e métodos de tratamento. Existe uma vasta documenta-
ção sobre as plantas medicinais no Brasil, mas poucas são as espécies inscritas na Far-
macopéia Brasileira 3 ed. (1977), bibliografia oficial dos medicamentos usados no país.
Ao contrário desta última edição, as farmacopéias brasileiras — 1 ed. (1929) e 2 ed.
(1959) — apresentam monografias sobre inúmeras plantas medicinais brasileiras, ex-
cluídas ao longo dos anos do arsenal terapêutico brasileiro em virtude da incontrolável
introdução dos medicamentos sintéticos no Brasil pela indústria internacional. S e -
gundo Mors (1982), a primeira descrição do uso de plantas no Brasil foi realizada dentro
de uma missão científica por Maurício de Nassau (1630-1654), sendo William Pies, um
físico, quem descreveu a utilização de plantas importantes como o jaborandi, a ipeca e
o tabaco. No entanto, outros trabalhos também documentam o uso das plantas, como
Gabriel Soares de Souza (1587) ou Martius, em 1844. Muitos estudos etnobotânicos
visando resgatar o conhecimento sobre as plantas são realizados no Brasil, mas especial
atenção é dada às plantas empregadas pelos índios ou outros habitantes de comunida-
des isoladas, geralmente localizadas no norte e centro-oeste do país, áreas menos habi-
tadas (Branch & Silva, 1983; Stasi & cols., 1994; Agra & Filho, 1990; Agra & Silva,
1993; Rizzini & Mors, 1976).
Minas Gerais possui uma flora riquíssima. Embora a caracterização da vegeta-
ção natural do Estado tenha se iniciado há mais de um século por Saint-Hillaire (1779-
1853), Fellow, Martius, Lund, Smith e Warming, pouco se sabe sobre o aspecto global e
específico da flora mineira. Sabe-se que Minas Gerais possuía originalmente 45% do
seu território coberto por florestas, outra parte por cerrados e cerca de 10% repartidos
entre campos e caatingas (IBDF, 1982). O Estado permaneceu inexplorado até fins do
século XVII, tendo em vista que a ocupação das terras brasileiras se concentrava no
litoral, mantendo-se portanto desconhecido até o ciclo da mineração. Diante da intensa
ação antrópica a que foi submetida, grande parte de sua vegetação nativa foi substituída
por agricultura, pastagens e reflorestamento. O surgimento da atividade siderúrgica, em
meados do século XIX, veio pressionar ainda mais o recurso vegetal nativo para a obten-
ção do carvão (Brito, 1994). É possível prever que tal quadro tenha conduzido a perdas
irreversíveis dos recursos naturais medicinais da região.
O presente trabalho descreve os resultados de um levantamento etnobotâni-
co realizado em algumas localidades da bacia do Rio Piracicaba, área de forte impacto
antrópico. Estudos semelhantes foram realizados em Minas Gerais, primeiro por Badini
(1940) sobre as plantas medicinais de Ouro Preto, seguido de levantamentos na Serra do
Cipó (Hirschmann e Arias, 1990), Belo Horizonte (Grandi e cols., 1981/1982), Grão-
Mogol (Grandi e cols., 1981/82) e Lavras Novas (Stehmann e Brandão, 1995). O presen-
te trabalho baseou-se na coleta e identificação das espécies mais utilizadas, no estudo
das condições em que são coletadas (cultivadas ou nativas), comercializadas, modos de
preparação dos remédios, entre outros aspectos. O trabalho objetivou ainda, através do
programa de educação ambiental, estimular a correta utilização e a conservação das
espécies medicinais em seus hábitats naturais.
557
METODOLOGIA
SELEÇÃO DAS ÁREAS PARA O ESTUDO
A seleção das localidades para o estudo etnobotânico fundamentou-se na exis-
tência de indivíduos com atuação reconhecida na área das plantas medicinais, denomi-
nados informantes-chave. A indicação desses informantes foi feita através de moradores
dos próprios municípios, engajados em outras atividades do projeto PADCT/CIAMB.
Foram selecionadas para o estudo pessoas residentes em áreas urbanas e rurais dos
municípios de Santa Bárbara, Barão de Cocais e Antônio Dias. Em cada um desses
municípios, foram feitas entrevistas e coletaram-se amostras de plantas medicinais nas
seguintes localidades:
1. Município de Santa Bárbara:
Área Urbana
Catas Altas
Brumal
André do Mato Dentro
Florália
2. Município de Barão de Cocais
Área Urbana
Cocais
3. Município de Antônio Dias
Área Urbana
Japão
ESTUDO ETNOBOTÂNICO
Os trabalhos objetivaram o cumprimento de quatro etapas, delineadas abaixo:
1. Conhecer, qualitativamente, as principais espécies medicinais, nativas ou cul-
tivadas, utilizadas pela comunidade.
Para este item, o trabalho foi conduzido através da realização de
entrevistas com os indvíduos pré-selecionados, considerados informantes-cha-
ve. Durante as entrevistas, foram levantadas questões sobre os usos das plantas,
partes usadas e métodos de preparação dos remédios. Para cada espécie citada,
foram coletadas amostras para preparação de excicata e identificação botânica,
segundo a nomenclatura taxonômica recente. Após identificação, as amostras
foram depositadas no herbário do Departamento de Botânica do ICB-UFMG.
2. Analisar os dados levantados durante as entrevistas, buscando informações como:
Que espécies vegetais são mais utilizadas como medicinal e qual sua origem
(nativa ou cultivada);
Que espécies são utilizadas como sucedâneos e se isso ocorre em virtude da
extinção da original;
558
A existência de possíveis extratores de plantas medicinais e o destino das
mesmas (raizeiros, farmácias, indústrias, exportação etc.);
A introdução de plantas exóticas na medicina caseira e se isso ocorre em virtu-
de da extinção de plantas nativas e endêmicas;
A presença de espécies nativas que só crescem em zonas de vegetação natural
e outras que nascem em hábitats perturbados;
A existência de informações sobre utilidades de plantas, o que pode conduzir
à descoberta de espécies com princípios ativos para determinadas doenças.
3. Confrontar os dados obtidos com diferentes bases de dados.
Verificou-se se as plantas citadas são realmente dotadas das propri-
edades que lhe são atribuídas, justificando, portanto, o seu uso. As indicações
foram comparadas com dados provenientes de estudos químicos, farmacológi-
cos e toxicológicos atuais, descritos na literatura experimental recente. As
indicações de cada espécie foram comparadas ainda com informações presen-
tes em outros levantamentos etnobotânicos realizados no Estado.
4. Devolver à comunidade as informações corrigidas
Essa etapa prevê a divulgação do conhecimento científico, de for-
ma simples e não-acadêmica, a respeito das plantas utilizadas. Visa, entre ou-
tras coisas, estimular na região a valorização da flora medicinal. Está sendo
efetivada a produção de um filme educativo apresentando as principais plan-
tas medicinais da região, seus benefícios, cuidados no cultivo/extração e pre-
paração dos remédios. Será elaborado ainda um texto para uma cartilha sobre o
mesmo tema.
Para as plantas de uso amplamente difundido, geralmente cultiva-
das nos quintais das próprias casas, o vídeo/cartilha aborda métodos simples
de cultivos e preparação dos remédios. Para as plantas da flora nativa, o traba-
lho salienta a importância da preservação das matas como fonte futura de mate-
rial farmacológico.
RESULTADOS
Foram entrevistados 17 informantes-chave, seis deles residentes nos municípi-
os de Santa Bárbara, cinco em Barão de Cocais e seis em Antônio Dias. A Tabela 11.1
apresenta a relação do número de informantes-chave entrevistados, por localidade visitada.
A Tabela 11.1 mostra que em todos os municípios foi entrevistada a mesma
proporção de indivíduos. No município de Santa Bárbara, o maior número de entrevista-
dos vivia na zona rural. Catas Altas ofereceu as melhores condições de levantamento das
plantas nativas, em razão da existência de um experiente informante-chave e de uma
mata secundária rica em espécies nativas. Em Barão de Cocais os entrevistados eram da
área urbana, visto não haver informantes-chave na área rural do município. Em Antônio
Dias, foram entrevistados moradores das áreas urbana e rural, na mesma proporção.
Durante as entrevistas, foram catalogadas 88 plantas medicinais da região,
distintas em em dois grupos: (a) plantas muito conhecidas, de uso difundido nas comuni-
559
dades, geralmente exóticas e cultivadas nos quintais das próprias casas. Para estas foram
catalogados os métodos de cultivo, dosagens e preparação dos remédios; (b) plantas
ruderais ou da flora nativa, geralmente extraídas, distribuídas e utilizadas por grupos
restritos da população (raizeiros, benzedeiras, curandeiros). Em ambos os casos, foram
coletadas amostras das plantas para identificação botânica, sendo que, para as plantas do
grupo (b), foram coletadas ainda amostras das partes utilizadas, para futuros estudos
químico-farmacológicos.
TABELA 11.1
...................................................
RELAÇÃO DO NÚMERO DE INFORMANTES-CHAVE ENTREVISTADOS POR LOCALIDADE VISITADA
...................................................
TOTAL (6)
A Tabela 11.2 apresenta a relação das plantas cultivadas (grupo a), incluindo
os nomes científicos e populares, famílias botânicas e principais indicações medici-
nais. Em se tratando em sua maioria de plantas exóticas, não foram compilados os seus
locais de ocorrência.
A tabela apresenta um total de 38 espécies cultivadas identificadas. As espé-
cies estão distribuídas em 16 famílias botânicas, sendo as mais freqüentes a Lamiaceae
(12 espécies), Asteraceae (6 espécies) e Apiaceae (4 espécies). As demais famílias foram
representadas por uma ou duas espécies apenas.
TABELA 11.2
RELAÇÃO DAS ESPÉCIES CULTIVADAS CITADAS, S UAS RESPECTIVAS F AMÍLIAS,
...................................................
Família
NOMES POPULARES E PRINCIPAIS INDICAÇÕES MEDICINAIS
560
Família Espécie Nome Popular Indicação Medicinal
Depurativo
Asteraceae
Digestivo, Clarear
Chamomilla Camomila
cabelos
Mikania Guaco Antitussígeno
Tagetes patula Cravo-de-defunto A flor é antitussígena
Chenopodiaceae Chenopodium ambrosioides Erva-de-santa-maria Vermífugo
Bryophyllum Basco Dor de estômago
Crassulaceae
Kalanchoe Saião Antigripal
Fabaceae Cajanus cajan (L.)Mill. Feijão andu Antigripal
Coleus barbatus Boldo Fígado, Ressaca
Carminativo para
Lavandula Alfazema
criança
Leonurus japonicus L. Erva-macaé Dor de barriga
Melissa officinalis Erva-cidreira Gripe
Mentha Hortelã Vermífugo
Mentha pulegium Poejo Gripe de criança
Lamiaceae
Mentha suaveolens Hortelã branca Vermífugo
Coração
Ocimum Manjerona
Carminativo
Ocimum Manjericão branco Coração
Ocimum selowii Alfavaca Gripe
Rosmarinus officinalis Alecrim Estimulante
Salvia officinalis Sálvia branca Controle da pressão
Gossypium Algodão Tônico capilar
Malvaceae
Malva cf. sylvestris Malva Antitussígeno
Diurético, Infecção
Phytollacaceae Petiveria alliacea Guiné
renal
Ferida na boca,
Plantago majus Tanchagem grande
Infecção
Plantaginaceae
Ferida na boca,
Plantago Tanchagem pequena
Infecção
Portulacaceae Portulaca Beldroega Infecção renal
Rosaceae Rosa cf. canina Rosa branca Purgativo
Rutaceae Ruta graveolens Arrudinha Abortivo, Tóxico
Scrophulariacea Scoparia dulcis Vassourinha doce Sarna, Pereba
Verbenaceae Lippia cf. alba Erva-cidreira Calmante
...................................................
Vitaceae Cissus
561
TABELA 11.3
RELAÇÃO DAS ESPÉCIES NATIVAS/RUDERAIS, SUAS RESPECTIVAS FAMÍLIAS, NOMES
...................................................
POPULARES, LOCAL DE COLETA* E PRINCIPAIS INDICAÇÕES MEDICINAIS
562
Família Espécie Nome Popular Local de Indicação Medicinal
Coleta*
Polygalaceae Polygala Barba-de-são- pedro - STB Contusões
Depurativo,
Smilacaceae Smilax Salsaparrilha - CTA, JAP
anti-sifilítica
Solanum americanum Erva-moura - STB,BRU Calmante de criança
Solanaceae Solanum lycocarpum
Fruta-do-lobo - STB,CTA,FLR A flor é antitussígena
St.Hill
Trigoniaceae Trigonia Barradinha - STB, CTA, FLR Depurativo
Lantana camara Cambará - todas as localidades A flor é antitussígena
...................................................
Verbenaceae Camará vermelho - todas as
Lantana Bronquite
localidades
563
TABELA 11.4
RELAÇÃO DAS PLANTAS NATIVAS /RUDERAIS (NOMES POPULARES) NÃO-IDENTIFIC ADAS
...................................................
E R ESPECTIVAS I NDIC AÇÕES M EDICINAIS
...................................................
Coceira
Jatobá Úlcera
DISCUSSÃO
Desde 1978, a OMS vem incentivando os países em desenvolvimento a bus-
car alternativas de tratamento médico nos recursos naturais, especialmente nas plantas
medicinais. Essa recomendação decorre do alto preço dos medicamentos industrializa-
dos e da dificuldade de acesso a centros de saúde, especialmente pela população rural.
No Brasil, a fitoterapia é uma prática amplamente difundida, sendo uma conseqüência,
entre outros fatores, do alto custo dos medicamentos industrializados
A flora brasileira é uma das principais fontes de matéria-prima com potencial
farmacológico do mundo. A despeito disso, poucas são as espécies nativas do Brasil
efetivamente estudadas visando sua validação como medicamento. Tais estudos re-
querem ensaios químico, farmacológicos e toxicológicos, além do conhecimento dos
seus princípios ativos. A partir da década de 1980, iniciou-se no país um programa,
coordenado pela Central de Medicamentos (Ceme) visando a validação das plantas
medicinais do Brasil. Com a recente aprovação pelo Congresso da lei de patentes,
torna-se também urgente a avaliação da nossa flora, de grande interesse internacional.
564
Além disso, o Ministério da Saúde lançou em 1995 uma portaria que obriga, para o
registro de produtos fitoterápicos, avaliações toxicológicas e farmacológicas das plan-
tas. É possível prever que todos esses fatos impulsionem o estudo das plantas brasileiras
e seu melhor aproveitamento.
O presente trabalho mostra a existência de um grande número de plantas
utilizadas com fins medicinais nas localidades estudadas. Todos os informantes-chave
entrevistados têm amplo conhecimento da flora nativa/ruderal existente nas proximida-
des de suas residências, além de cultivar espécies nativas ou exóticas em suas casas.
A flora medicinal cultivada, constituída principalmente de plantas exóticas,
não foi diferente nas localidades estudadas. As plantas cultivadas estão distribuídas em
16 famílias botânicas, sendo mais freqüentes espécies das famílias Lamiaceae, Astera-
ceae e Apiaceae. O extenso cultivo de plantas da família Lamiaceae segue uma tendên-
cia observada em outras localidades de Minas Gerais. Trata-se de plantas de origem
européia, produtoras de óleos essenciais, que, por ter sido avaliadas em seus aspectos
químicos, farmacológicos e toxicológicos, são muito utilizadas em todo o mundo. No
entanto, apesar de terem se adaptado facilmente ao clima das localidades onde são
cultivadas, é necessária a realização de estudos visando determinar a qualidade e o teor
dos óleos essenciais dessas plantas. É necessário também orientar a população usuária
quanto à melhor preparação dos remédios, visto que a decocção prolongada, prática
comumente observada, leva a perda dos constituintes aromáticos voláteis, responsáveis
pelas atividades farmacológicas.
Entre as plantas nativas e/ou ruderais, 37 foram identificadas até gênero ou
espécie, sendo as das famílias Fabaceae e Asteraceae as mais freqüentes. Foi observado
um amplo conhecimento das propriedades medicinais das plantas, principalmente entre
a população rural mais antiga. Segundo esses informantes, os remanescentes de mata
ainda fornecem o material de que necessitam para uso próprio e distribuição.
Entre as Asteraceae nativas, merece destaque a azougre-dos-pobres (Alomia
sp.), utilizada como depurativo. Segundo os informantes, a presença de uma resina nas
folhas da planta a faz também util como substituto do mercúrio em garimpo.
Interessantes também foram as diferenças em relação às arnicas, plantas am-
plamente utilizadas no tratamento de contusões e outros traumatismos. Enquanto em
Barão de Cocais e Santa Bárbara esse nome e propriedades são atribuídos a uma espécie
do gênero Lychnophora, comum nos campos rupestres, em Antônio Dias a arnica é a
espécie Solidago chilensis. No entanto, ambas as espécies são utilizadas como sucedâne-
os da arnica verdadeira (Arnica montana), nativa da Europa e que não cresce no Brasil. Ao
contrário das arnicas brasileiras, ainda não avaliadas sob o ponto de vista químico, far-
macológico e toxicológico, A. montana é uma espécie amplamente estudada e utiliza-
da em todo o mundo.
Seguindo esse exemplo, outras plantas utilizadas como sucedâneos são o
boldo, representado na região pelo Coleus barbatus (Lamiaceae), e Vernonia condensata
(Asteraceae). Boldo é o nome atribuído às folhas de Peumus boldus, nativa do Chile e com
comprovada ação hepatoprotetora. Já o jaborandi, representado na região pelo Piper
565
aduncum (Piperaceae), é o sucedâneo de espécies do gênero Pilocarpus, plantas nativas
do Brasil e produtoras de pilocarpina. A pilocarpina tem grande valor no mercado inter-
nacional em razão de seu emprego mundial no tratamento do glaucoma, doença que
pode levar à cegueira. A exploração irracional da planta quase a extinguiu, estando as
espécies Pilocarpus jaborandi, P. microphyllus e P. tranchylophus classificadas como em
perigo pela listagem do Ibama (Portaria 037/92N, de 3 de abril de 1992). A utilização do
Piper aduncum como jaborandi é uma prática comum em outras regiões do Brasil, e sua
introdução na medicina tradicional brasileira parece estar diretamente relacionada com
a extinção do Pilocarpus. Sendo da família Piperaceae, essas espécies não apresentam
pilocarpina mas são ricas em substâncias do grupo das alquilamidas, que, por promover
hiperemia, são utilizadas no tratamento da alopécia.
É também curioso observar o desconhecimento da população local das pro-
priedades da Candeia, Vanilllosmopsis erytropapa (Asteraceae), planta endêmica na re-
gião de Santa Bárbara e Barão de Cocais e utilizada na produção de mourões de cerca.
Do cerne do caule dessa planta obtém-se um óleo que, em razão de seu alto valor comer-
cial, vem sendo há anos explorado no Brasil. O óleo é exportado para a Europa para a
obtenção do bisabolol, substância com potente ação antiinflamatória, amplamente em-
pregada pela indústria farmacêutica e cosmética internacional.
No projeto Ceme, plantas como Phyllanthus niruri (quebra-pedra), Cecropia
glaziovi (embaúba), Passiflora edulis (maracujá), Chenopodium ambrosioides (erva-de- san-
ta-maria) e Mikania glomerata (guaco), todas utilizadas na região estudada, tiveram suas
eficácia e segurança comprovadas. É importante que esses dados retornem à população
informante, de forma simples e não-acadêmica, para melhor aproveitamento dos recur-
sos terapêuticos naturais da região. A erva-moura, planta utilizada na região como cal-
mante de criança, é responsável por casos graves de intoxicação, enquanto o confrei,
também utilizado, possui alcalóides com potente ação carcinogênica.
Em sua maioria, as plantas nativas/ruderais foram indicadas como depurativas
do sangue, sendo amplamente utilizadas para esse fim a cainca, o cipó-cravo, a suma-
roxa, a suma-branca e a salsaparrilha. É interessante ressaltar a presença de monografias
na Farmacopéia Brasileira 1 ed. (1929) que tratam de plantas com esses mesmos nomes
populares. Apesar de terem sido excluídas das demais edições da Farmacopéia, tratava-
se de plantas reconhecidas, muito utilizadas e aceitas no arsenal terapêutico nacional. É
urgente que plantas como essas sejam avaliadas em seus aspectos químicos, farmacoló-
gicos e toxicológicos, pois continuam a ser usadas na medicina tradicional.
Saint-Hillaire (1779-1853) cita a presença de diversas apocináceas na região
de Catas Altas, com predominância de uma árvore denominada quina. Em Catas Altas
foi coletada amostra de uma árvore chamada quina-rosa, que, segundo o informante, era
o único indivíduo da área. Apesar de a espécie ainda não ter sido identificada, suas carac-
terísticas fazem supor que se trate de uma Apocinaceae, e este quadro ilustra o elevado
grau de devastação da área estudada.
Uma espécie muito comum na região é a lobeira. Os frutos, ricos em amido,
são utilizados como antidiabéticos. Estudos com outros frutos semelhantes no Japão
566
levou à descoberta de substância que produz hipoglicemia, sendo assim confirmado o
uso popular naquele país (Tomoda & cols., 1986). Apesar de a região estudada ser uma
vasta área de plantação de eucalipto, não houve qualquer menção às suas possíveis
utilidades, nem mesmo como desinfetante. É interessante também destacar o uso cor-
rente de mistura de flores para o tratamento de bronquite e outros problemas respirató-
rios. É muito comum a utilização de flores de lobeira, cambará e melão-de-são-Caetano
para esses fins.
Também seguindo a tendência de outras regiões do Estado, verificou-se ain-
da o emprego de nomes de remédios comerciais (ou de farmácia) nas plantas, segundo as
ações dos medicamentos. É comum, por exemplo, plantas analgésicas denominadas
novalgina, e outras para tratamento do fígado de nomes estomalina ou necroton. Em
Barão de Cocais verificamos o emprego de uma planta para o tratamento de diabetes
denominada insulina. Esse fato parece estar associado à perda cultural ocasionada, entre
outros fatores, pela massificação dos medicamentos industrializados.
Finalmente, é curioso o emprego de uma planta da família Amaranthaceae,
Iresine, que, em razão de seu formato e colorações cardíacos, é usada para o tratamento de
problemas do coração. Essa associação da forma e coloração das plantas com sua utilida-
de medicinal remonta aos tempos primordiais da humanidade, quando se acreditava que
a semelhança era o principal critério para seleção de uma planta para fins medicinais.
Para cada espécie catalogada está sendo realizado extenso levantamento bi-
bliográfico, com o objetivo de obter dados atuais sobre estudos químicos, farmacológi-
cos e toxicológicos. Os dados obtidos deverão retornar à população informante, visando
o melhor aproveitamento dos recursos naturais da região.
A flora dos locais visitados é rica em plantas medicinais, sendo as mesmas
de amplo conhecimento da população entrevistada. Diferente do observado em ou-
tras regiões do Estado, existe grande conhecimento da flora nativa, em conseqüência
talvez do ritmo acelerado com que a região foi desmatada. É necessário, portanto, buscar
formas de preservação das matas remanescentes, ricas em material com potencial
farmacológico.
567
A S Í N T E S E
569
570
12. ANÁLISE INTEGRADA
DOS RESULTADOS
....................................
Roberto Luís de M. Monte-Mór
(coord.)
571
amostral número 1. Apesar de integrar a sub-bacia Rio Santa Bárbara, a sub-bacia do
Caraça foi tratada isoladamente por ser composta por uma unidade de conservação, o que
lhe confere uma condição particular. Inicialmente tomado como caso-controle, dada a
quase inexistência de impactos antrópicos em sua área de influência, o ponto amostral 1
mostrou-se de fato inadequado para as comparações pretendidas. Apesar de suas águas se
mostrarem de excelente qualidade em todas as épocas do ano, apresentam características
muito distintas das demais sub-bacias, resultantes dos padrões particulares daquela mi-
crorregião, situada a 1.200 metros de altitude, nas proximidades das nascentes do Ribeirão.
São águas frias, bem oxigenadas, escuras, ácidas, refletindo a presença de substâncias
húmicas e com baixas concentrações de nutrientes. Mostraram baixa diversidade de algas,
baixas densidade e diversidade de zooplâncton, uma ictiofauna bastante limitada e alta
diversidade de organismos bentônicos, principalmente dos grupos EPT.
Apesar das condições ambientais excepcionais que caracterizam essa sub-
bacia, que abrange o Parque do Caraça, foram detectados traços de metais pesados (mer-
cúrio, em especial) nas suas águas, provavelmente em virtude de garimpos antigos (toda
a região é de ocupação garimpeira centenária), como também de garimpos clandestinos
atuais e/ou de concessão irregular (e já revogada) de lavra de minério e de ouro, com
conseqüentes pesquisas dentro da área daquele parque natural.
O impacto de atividades urbanas e de serviços é pequeno, sendo o espaço
social marcado pelo tradicional Colégio e, recentemente, pelos impactos das atividades
crescentes de turismo e lazer concentradas nos feriados e fins de semana.
Entretanto, foi identificada a presença de conflito de baixa intensidade entre
a administração do Parque e a Prefeitura Municipal de Santa Bárbara/Aprov, em razão da
exploração de candeias e inadequada manutenção do parque.
572
Feam-MG (1995). Hoje, aquelas águas são classificadas na classe 4, impróprias até mes-
mo para uso industrial. Acrescem-se aos fenóis as altas concentrações da amônia emiti-
da, seis vezes acima dos níveis da Acesita e duas vezes acima do permitido para águas de
classe 2. A alta demanda por oxigênio (DQO), que aumentou mais de duas vezes entre
1990 e 1995, reflete as elevadas descargas dos esgotos industriais, mas também os esgo-
tos sanitários urbanos de Barão de Cocais e Santa Bárbara.
O ponto amostral 3 mostra a situação mais crítica dessa sub-bacia. Situado no
Ribeirão Barão de Cocais, a montante da cidade de mesmo nome, mostra os impactos do
esgoto doméstico dessa cidade somado aos dejetos industriais da Siderúrgica Cosígua.
As águas, neste ponto, apresentam condutividade elevada (associada à alta quantidade
de nutrientes), teores elevados de metais pesados (cromo, chumbo e zinco), baixa den-
sidade de fitoplâncton, elevada densidade de zooplâncton, com dominância de bdelo-
déia e predominância bentônica de oligoquetas e chironomídeos. Os índices obtidos
nesse ponto para a qualidade da água (físico-químico + biológico) encontram-se entre
péssimo e ruim.
O município Barão de Cocais apresentou índices sanitários críticos nas análi-
ses desenvolvidas anteriormente, refletindo a escassez dos serviços face ao seu alto grau
de urbanização. A situação tende a agravar-se em face de sua alta taxa de urbanização. A
rede de esgoto, que recolhe os efluentes líquidos de 5.000 economias (80% domicilia-
res), é lançada diretamente no Ribeirão Barão de Cocais (ou Ribeirão São João). O lixo,
apesar de sua disposição final inadequada, em terreno impróprio e sem aterro, está dis-
tante cerca de 2 km do rio, tendo assim efeito poluidor reduzido se comparado a outras
situações da bacia.
A situação maís crítica sem dúvida deve-se à presença da Cosígua, empresa
siderúrgica que se enquadra no tipo tecnologia tradicional e não desenvolve maiores es-
forços em melhoria de produtos. Como foi dito, sua tecnologia defasada implica equipa-
mentos críticos do ponto de vista ambiental no que tange à emissão de fenóis e, em
menor escala, amônia. Diante de sua posição dentro da holding controladora (Gerdau),
de suas características tecnológicas e de sua capacidade limitada de inversão, não se
espera da mesma um investimento maior em controle ambiental. No entanto, por sua
limitada capacidade instalada, utilização de tecnologias antigas e inexistência de estra-
tégias declaradas de requalificação da linha de produtos — o que por si só implicaria
equipamentos críticos do ponto de vista ambiental —, a Cosígua tem menor impacto
poluidor comparativamente às demais siderúrgicas da região. Isso de forma alguma
signfica um atestado de bom comportamento, mas uma derivação da tecnologia utilizada e
da estratégia da holding para aquela unidade.
Sua atuação na região provocou um conflito de alta intensidade com a Prefei-
tura Municipal de Santa Bárbara e com a sociedade civil daquela cidade e de Barão de
Cocais, em torno da poluição hídrica, com resultados positivos verificados na adoção de
medidas de controle e redução da poluição e no aumento da conscientização ambiental
das populações. A prefeitura de Barão de Cocais, que não tem definida qualquer política
ambiental e/ou urbana para o município, tem sido considerada omissa face ao impacto
573
poluidor da empresa, talvez em parte por causa da dependência econômica que sofre em
face de seu principal contribuinte. Nesse sentido, o papel fiscalizador dos organismos
estaduais — Feam e Copam — tem sido fundamental, resultando na assinatura de um
termo de compromisso com a empresa que se encontra em andamento e dentro dos
prazos previstos.
Os pontos amostrais 4 e 5 mostram uma situação bastante melhor face ao
ponto 3, em parte por estar localizados no Rio Santa Bárbara, com vazão muito superior
àquela do Ribeirão Barão de Cocais, seu afluente.
A estação 4 recebe impactos de várias empresas mineradoras de pequeno e
médio porte, especialmente de ferro e ouro, e do garimpo aluvionar de ouro. Deve-se
considerar que, apesar de as grandes empresas mineradoras apresentarem um potencial
poluidor absoluto muito superior ao das pequenas empresas, ao traçarmos uma relação
entre um determinado quantum de poluente gerado por um determinado quantum de
minério explotado, o potencial poluidor relativo por parte das pequenas minerações
será maior, não apenas por suas carcterísticas locacionais mas também por sua menor
capacidade financeira e técnica de adotar medidas de controle de poluentes.
Entretanto, o impacto mais significativo se deve, neste ponto, à maior parte
do esgoto doméstico de Santa Bárbara, que, sem qualquer tratamento e acrescido do
esgoto hospitalar e de um matadouro, é lançado no Rio Santa Bárbara. O município de
Santa Bárbara apresenta, todavia, condições sanitárias menos precárias quando compara-
do às situações mais críticas da bacia, mas tem alto grau de urbanização e as mais altas
taxas de urbanização da microrregião do alto e médio Piracicaba. O lixo urbano é jogado,
juntamento com o lixo hospitalar, a céu aberto junto a um brejo cujas águas também vão
para o Rio Santa Bárbara. A Prefeitura possui, entretanto, um setor voltado para o meio
ambiente e uma legislação ambiental. Além disso, a sociedade civil é relativamente
participativa, o que se manifesta nas campanhas de educação ambiental e na conscienti-
zação e mobilização popular e de grupos organizados em torno de questões ambientais.
Além do mencionado conflito com a Cosígua, dois outros conflitos ambien-
tais relatados ocorreram em Santa Bárbara: um de intensidade alta entre a Cenibra Flo-
restal e a sociedade civil de Santa Bárbara, por contaminação de corpos d’água e culturas
agrícolas por capina química. O conflito desenvolve-se até hoje, com resultados iniciais
positivos expressos na parada da capina química e no aumento da conscientização da
população; e um conflito de intensidade média entre garimpeiros (do ouro) e a Prefeitu-
ra de Santa Bárbara, em torno da poluição hídrica dos cursos d’água, com resultados
parciais2. Apesar da presença de pequenas empresas mineradoras de ouro, é basicamen-
te ao garimpo que se deve a presença forte de metais pesados em todas essas três
estações amostrais, principalmente o mercúrio, em concentrações mais altas na estação
amostral 5 e nos peixes coletados no Reservatório de Peti. O ponto amostral 5, abaixo
2
Aqui, resultados parciais refere-se ao fato de que houve ganhos apenas no aumento da conscientiza-
ção da população em torno dos problemas ambientais. O controle da atividade garimpeira é de difícil
execução, e tem sido frágil e pouco freqüente a fiscalização pelo órgão competente — Copam/
Feam. A Prefeitura pretendeu exercer a fiscalização, mas, sem a anuência do órgão estadual, foi
impedida pela legislação atual.
574
do reservatório, mostra uma sensível melhoria da qualidade da água, que varia entre o
bom e o ótimo, constituindo-se no exemplo de maior transparência na bacia (à exceção do
ponto 1, no Caraça) e aparecendo até mesmo algas bentônicas, importantes na oxigena-
ção. Essa melhoria de qualidade é devida principalmente à presença do reservatório de
Peti, que funciona como uma barreira que retém sólidos em suspensão, matéria orgânica
etc. A presença de matas ciliares entre os pontos 4 e 5 contribui também para a melhoria
visível do meio ambiente aquático do Rio Santa Bárbara3.
É interessante chamar a atenção para o fato de que apenas nessa sub-bacia os
conflitos ambientais se centraram nos aspectos ligados à preservação e ao controle da
qualidade da água. Nos demais casos, os conflitos concentraram-se na poluição do ar.
Isso sugere, de um lado, que problemas prementes de poluição atmosférica vêm atin-
gindo as áreas urbanas ligadas a grandes minerações e siderúrgicas (não manifestos tão
fortemente nessa sub-bacia), monopolizando as atenções, e, de outro, que naquelas
regiões de grande concentração urbano-industrial a qualidade da água já é tão degradada
que a luta política (ainda) nela não se concentrou por dá-la como causa distante, senão
perdida, diferentemente dessa sub-bacia, onde os rios de maior vazão apresentam águas
de melhor qualidade.
575
de gás, além de estar implantando um sistema de coleta seletiva que já atinge 20% do
lixo urbano produzido.
Além das condições sanitárias melhores encontradas no município de Itabira,
o Rio do Peixe corre por terreno acidentado, apresentando-se encaixado e muito enca-
choeirado. Assim, o efeito depurador é significativo e está expresso na qualidade da
água medida no ponto 7, definida em índice como aceitável, por ser bem oxigenada, com
pH próximo à neutralidade, níveis moderadamente elevados de nutrientes e marcada
pela ausência de espécies de cladócera e predominância bentônica de oligoquetas e
chironomídeos. As águas apresentam temperaturas mais baixas, provavelmente em
função da altitude e da presença de mata ciliar, além de níveis elevados de nutrientes,
com ênfase na presença de fósforo, sugerindo impactos decorrentes da atividade agríco-
la, exercida em fazendas médias e pequenas, também na parte sul do município onde se
localiza a sub-bacia.
Depois de muitas décadas de degradação ambiental e poluição atmosférica,
sonora e visual, a população de Itabira, através do Ministério Público, Codema e impren-
sa, participou de um conflito, de intensidade alta, contra a Companhia Vale do Rio Doce,
acusada de poluição atmosférica e descaracterização da paisagem. Os resultados foram
positivos, considerando-se, de um lado, a conscientização da população face aos proble-
mas ambientais gerados pela explotação do minério e, de outro, pela adoção de medidas
de controle e redução da poluição por parte da empresa estatal. Com isso, o Ministério
Público e a cidade ganharam maior controle ambiental sobre as ações da CVRD no
município. Além disso, cabe mencionar a existência de um programa de educação am-
biental e de uma política urbana avançada de gestão municipal de resíduos sólidos.
576
microcustáceos, destacando-se a ausência de copépodas, mas apresentando alta diversi-
dade bentônica.
4
Como foi dito anteriormente, o ponto 11a está geograficamente localizado no Rio Doce, pouco
abaixo da foz do Rio Piracicaba e da foz do Ribeirão Ipanema. Entretanto, para fins de análise, será
considerado em ambas as sub-bacias — Rio Piracicaba e Rio Doce — por representar o conjunto das
águas do Rio Piracicaba acrescido do Ribeirão Ipanema, que, embora deságüe no Rio Doce, tem
grande parte de sua sub-bacia (o município de Ipatinga) dentro da sub-bacia do Rio Piracicaba.
577
de João Monlevade5. Os esgotos da cidade são jogados nos córregos sem qualquer trata-
mento, misturados às águas pluviais, e o lixo urbano é disposto a céu aberto próximo ao
Rio Santa Bárbara que deságua no Rio Piracicaba à jusante do ponto 6. Assim, o chorume
(e eventual transbordamento) do “lixão” não afeta nossa medida neste ponto amostral.
Quanto à emissão de esgotos industriais, a Belgo-Mineira pode ser considera-
da uma empresa siderúrgica a carvão vegetal de tecnologia típica, possuindo equipamen-
tos críticos do ponto de vista ambiental, marcadamente nos parâmetros fluoretos e amô-
nia. Dado o controle ambiental implantado a partir do início dos anos 90, verificou-se
uma melhoria substantiva na concentração relativa de todos os efluentes poluidores
quando comparados com a média do período 1985-1990. Contudo, três conjuntos de
questões devem ser salientados.
O primeiro diz respeito à emissão de amônia, que se situa dez vezes acima
dos limites estabelecidos para águas de classe 2, objetivo do enquadramento da bacia do
Piracicaba para esse trecho do Rio. O segundo diz respeito à modernização da empresa.
Há previsão para conversão da Usina Integrada de Monlevade de carvão vegetal para
coque (carvão mineral). A instalação de uma coqueria na região, um equipamento crítico
do ponto de vista ambiental, levaria ao aumento da emissão de vários poluentes, particu-
larmente óleos e graxas, ferro solúvel, sólidos em suspensão, fenóis e cianeto. A estraté-
gia adotada pela empresa de melhoria da linha de produtos, agregando valor ao produto
por meio de investimentos em tecnologias modernas, pode ter conseqüências deletéri-
as para o meio ambiente se controles rigorosos e tecnologias ambientais não forem
implantados pari passu.
Por fim, uma consideração deve ser feita com respeito à sua escala de produ-
ção, pois se houve queda na concentração relativa de emissão de efluentes poluidores
na década de 1990, contudo a emissão absoluta nos corpos d’água ainda é um sério pro-
blema ambiental a ser enfrentado.
As medidas no ponto 6 mostram uma qualidade das águas oscilando entre ruim
e péssima, com turbidez muito alta, apesar dos esforços de redução dos poluentes industri-
ais. Entre os metais pesados, o mercúrio apresenta níveis acima dos limites aceitáveis.
Aqui também os conflitos ambientais centraram-se na poluição atmosférica,
com baixa intensidade e envolvendo de um lado a CSBM e de outro o Ministério
Público. O conflito teve resultados parciais que implicaram a adoção de medidas de
controle e redução da poluição, resultando também em maior controle ambiental do
Copam/Feam sobre a empresa siderúrgica através da assinatura de um termo de compro-
misso, que vem sendo cumprido. Entretanto, o conflito não gerou impactos significati-
vos sobre a conscientização popular em torno dos problemas ambientais locais. De fato,
Monlevade não apresenta mobilização da sociedade civil em torno das questões ambi-
entais, e os esforços na área da educação ambiental são ainda incipientes.
5
O Rio Piracicaba recebe cerca de 95% dos esgotos de João Monlevade, sendo os outros 5% jogados
no Rio Santa Bárbara, todos através de córregos que cortam a cidade.
578
Os pontos amostrais 6a (antes de Monlevade), 7a (depois do Rio do Peixe e
antes da descida da serra) e 9a (já na baixada, antes do impacto da concentração urbano-
industrial do Vale do Aço) foram estabelecidos como pontos de controle e apresentaram
medidas próximas da média da sub-bacia como um todo. Cabe salientar que o ponto 6a,
a montante de João Monlevade, é impactado pela mineração de grande porte da Samitri
e por garimpo aluvionar de ouro, na cidade de Rio Piracicaba.
O ponto amostral 9 recebe os impactos do esgoto industrial e urbano de
Acesita/Timóteo, parte do esgoto urbano de Coronel Fabriciano e o lixo de ambas as
cidades, sendo o lixão de Fabriciano concentrado na margem esquerda do rio próximo a
uma entrada principal da cidade. As condições sanitárias de Coronel Fabriciano são as
piores encontradas entre os municípios maiores e mais urbanizados da bacia. Com um
grau de urbanização próximo de 100% e uma população urbana de quase cem mil habi-
tantes, o município joga seus esgotos coletados em uma rede geral de quase 100 km.,
sem qualquer tratamento, diretamente no Rio Piracicaba e no Ribeirão Caladão, seu
afluente. O lixo urbano e o lixo hospitalar são depositados juntos em uma área erodida,
quase às margens do Rio Piracicaba.
Timóteo, ao contrário, apresenta as melhores condições sanitárias entre os
municípios mais urbanizados da bacia, estando fazendo investimentos e implementan-
do ações na área através dos programas Somma e Prosege. No momento, entretanto, o
seu esgoto, coletada ao longo de 55 km de rede, é despejado sem qualquer tratamento
no próprio Rio Piracicaba e nos córregos urbanos que nele deságuam. O lixo, por sua vez,
é depositado a céu aberto no município de Coronel Fabriciano, próximo à captação de
água da Acesita, no Rio Piracicaba, onde a empresa também deposita resíduos industri-
ais, como lama de decantação, óleos, borras e escórias6.
Apesar da situação sanitária urbana crítica, o maior impacto que o Rio Piraci-
caba recebe nesse ponto se deve à descarga industrial da Acesita. A Acesita é uma
empresa siderúrgica de tecnologia típica, com equipamentos ambientalmente críticos
no tocante aos parâmetros de sólidos em suspensão, amônia, fluoretos, óleos e graxas,
ácido sulfúrico e sulfato de ferro. Houve uma redução substantiva da sua emissão de
sólidos em suspensão e fenóis entre 1985-90 e 1995, mas os parâmetros de amônia,
óleos e graxas e ferro solúvel sofreram considerável piora no mesmo período. Além
disso, à exceção dos cianetos, todos os parâmetros de emissão da empresa monitorados
estão acima dos padrões exigidos para águas de classe 2, enquadramento previsto para o
rio nesse trecho.
Essas características referem-se à estratégia adotada pela empresa de melho-
ria de sua linha produtiva agregando valor aos produtos finais. Trata-se, basicamente, da
conversão de toda a capacidade produtiva da usina (aproximadamente 700.000 ton/ano)
para a produção de aço inoxidável, hoje restrita a 300.000 ton/ano. Essa característica já
faz com que a concentração de cromo no rio se torne mais de 20 vezes maior do que o
limite de aceitação recomendado na literatura internacional.
6
A Acesita já tem novas soluções para esse depósito, utilizando um novo aterro a ser aprovado pela Feam; a
prefeitura de Timóteo deverá também conseguir, a curto prazo, nova área para disposição final do lixo.
579
Se do ponto de vista da concentração relativa os resultados não se mostram
alvissareiros, a emissão absoluta chega a ser alarmante quando tomamos a escala de
produção da empresa. Apesar de ter produzido metade do que a CSBM produziu em
1994, seus volumes inferidos de emissão absoluta no mesmo ano são maiores para
fenóis, amônia em emulsões e óleos e graxas.
As medidas de metais pesados mostram altas concentrações de chumbo, ní-
quel, mercúrio e zinco, acima dos limites de aceitação, e o cromo destaca-se com os maio-
res valores em toda a sub-bacia. A qualidade de água medida oscila entre ruim e aceitá-
vel, com uma surpreendente medida boa no período de chuvas (1994).
Houve apenas um conflito na área de influência desse ponto amostral, de
intensidade média, entre a Copasa e a Prefeitura Municipal de Timóteo, pela má quali-
dade da água, com alta concentração de ferro e manganês, e pela falta de tratamento de
esgotos. Surgiram resultados parciais com a melhoria da qualidade da água na cidade.
Entretanto, é interessante notar que em Timóteo e em Coronel Fabriciano, sem dúvida
o quadro ambiental urbano mais crítico da região, a poluição intensa da água e do ar não
geraram conflitos ambientais de caráter público ou privado. De fato, a sociedade civil
não está mobilizada pela questão ambiental e o poder público não conta com políticas
de saneamento e/ou de coleta e disposição adequadas de resíduos sólidos. A interven-
ção ambiental, na área de influência do ponto 9, tem se pautado pelo relativo controle
ambiental do Copam/Feam sobre a Acesita, prejudicado pelo adiamento dos prazos do
termo de compromisso.
O ponto amostral 10 recebe o enorme impacto industrial da planta da Usimi-
nas, além de parte do esgoto urbano de Coronel Fabriciano e de pequena parte do esgoto
urbano de Ipatinga. As águas apresentam altas concentrações de nutrientes, em particu-
lar de nitritos. A qualidade da água oscila entre péssima e ruim, com baixa diversidade de
organismos planctônicos e predominância de oligoquetas entre os organismos bentôni-
cos. A contaminação por metais pesados indica a presença de cromo, chumbo e zinco,
além do mercúrio acima dos níveis de aceitação.
Sem tirar a importância do impacto do esgoto urbano de grande parte do esgo-
to de Fabriciano que escoa pelo Ribeirão Caladão e mesmo do esgoto de alguns bairros
da cidade particular de Ipatinga, é sem dúvida o impacto dos dejetos industriais da Usimi-
nas que marca os impactos antrópicos no ponto 10.
A Usiminas é a planta industrial siderúrgica de tecnologia mais avançada na
região. Apesar disso — ou por isso mesmo —, a Usiminas apresenta os piores valores
relativos de emissão de poluentes, se tomarmos um ponto de vista geral. Isso refere-se
basicamente à presença de equipamentos críticos decorrentes de sua escala de produção.
Do ponto de vista teórico, era de se esperar que a Usiminas, por sua base
tecnológica, apresentaram níveis mais elevados de fenóis, amônia e emulsões. Dada a
instalação de tecnologias de controle ambiental após 1990, podemos verificar uma subs-
tantiva melhoria nos parâmetros sólidos em suspensão e DQO. Há também uma melhoria
de menor vulto em fenóis e óleos e graxas. Contudo, podemos notar uma elevação na
emissão de cianeto, amônia e ferro solúvel, decorrente de sua escala e tecnologia insta-
580
lada, destacadamente a coqueria. Assim, mesmo com esses parâmetros, podemos fazer
as observações seguintes.
Todos os parâmetros monitorados apresentam valores superiores ao permitido
para água de classe 2, definida para aquela parte do rio. Amônia e fenóis, por
exemplo, apresentam níveis 200 e 300 vezes maiores, respectivamente, aos
valores permitidos. Também a emissão de cianeto destaca-se negativamente,
sendo a maior de todas as siderúrgicas analisadas.
Posta a sua produção, cerca de duas vezes a soma da produção de todas as
siderúrgicas da região, o nível absoluto estimado de emissão de poluentes
hídricos é crítico.
Por fim, é importante frisar que a capacidade financeira da empresa indica uma
clara disponibilidade de recursos para investimentos. Se isso é válido para a
melhoria do mix de produtos, também o é para a tecnologia ambiental. Assim,
o controle dos níveis emitidos pela empresa deve ser pensado dinamicamen-
te, a qualificação produtiva com a qualificação ambiental de sua planta. Além
disso, tudo parece apontar para a necessidade de uma legislação que se preo-
cupe não só com a concentração relativa de fatores poluentes, mas também —
pelo nível da escala de produção — com a concentração absoluta dos poluen-
tes lançados nos corpos d’água.
O controle ambiental exercido pelo Copam/Feam sobre a Usiminas tem
sido prejudicado por sucessivos adiamentos dos prazos estabelecidos no termo de com-
promisso. A nível municipal, a intervenção tem sido prejudicada pela não-aprovação da
lei municipal de meio ambiente, apesar de Ipatinga apresentar altos níveis de mobili-
zação da sociedade civil, contando com programas de educação ambiental e ONGs
ambientalistas.
De fato, o conflito de intensidade mais alta entre os conflitos pesquisados deu-
se em Ipatinga, entre a Usiminas versus a prefeitura e a sociedade civil, em torno da po-
luição atmosférica. Os resultados foram positivos, tanto no sentido da conscientização
da população quanto na adoção de medidas (ainda incipientes) de controle da poluição
atmosférica pela empresa.
581
Diversos conflitos ambientais têm marcado as relações entre a Copasa e pe-
quenas empresas de serviços e industriais urbanas, versus a Prefeitura Municipal de
Ipatinga (PMI), o Ministério Público e a sociedade civil. O principal conflito deu-se
entre a Copasa e a PMI, sobre a ausência de serviços de esgoto e a má qualidade da água
(alta concentração de ferro e manganês). Foi um conflito de intensidade média, cujo
resultado foi considerado parcial por ter refletido maior conscientização da população e
pequena melhoria na qualidade da água. Além disso, há um bloco de conflitos de inten-
sidade média envolvendo pequenas e médias empresas nos setores de transporte, ma-
tadouro e curtume versus o ministério público, a PMI e a sociedade civil, por poluição
hídrica. Os resultados são positivos, tanto em termos de conscientização quanto de resul-
tados objetivos, que levaram a acordos judiciais visando a redução da poluição através
do controle de efluentes líquidos (óleos e graxas, carcaças e sangue etc.)
582
ção 12, a montante da captação da Cenibra, também apresenta características típicas do
Rio Doce naquela região, apesar de receber o esgoto de Ipaba, que, entretanto, ainda é
uma pequena área urbana, de pouco impacto ambiental. Mas ponto 12 apresenta metais
pesados acima dos níveis aceitáveis também para cromo, zinco e mercúrio. Os índices
de qualidade da água nessas estações variam predominantemente entre aceitável e bom,
com ocorrência eventual de medições ruins.
A estação 13, entretanto, localizada imediatamente a jusante do lançamento
dos efluentes da Cenibra, apresenta concentrações de clorofila elevadas, níveis de nutri-
entes também elevados (à exceção da amônia) e um índice de qualidade da água em
geral aceitável. Essa estação sofre também o impacto dos esgotos urbanos de Santana do
Paraíso, que, apesar da má qualidade das condições sanitárias locais, representam um
volume pequeno face ao grande caudal do Rio Doce.
De fato, a Cenibra apresenta em geral boas condições de controle ambiental,
como foi visto anteriormente, o que está retratado na emissão de efluentes líquidos em
níveis abaixo do permitido pela legislação. Apenas o DQO era medido acima dos ní-
veis genéricos, e a empresa tem uma permissão especial para isso. Depois da duplica-
ção da planta e da instalação do processo de deslignificação por oxigênio, substituindo
o processo anterior, que uti lizava cloro, ela tenderá a reduzir também essas emissões
geradoras do DQO.
Assim, mais uma vez podemos voltar à questão dos níveis de emissão abso-
luta, pois, embora em termos relativos a Cenibra atenda às exigências legais interna-
cionais e, mais do que isso, venha melhorando continuamente esses indicadores, em
termos absolutos, dada sua elevada escala de produção, os impactos (particularmente,
a quantidade de DQO gerado) causados no rio são muito grandes, reforçando a neces-
sidade de uma legislação que considere níveis absolutos de poluentes. Entretanto,
deve ficar claro que o problema ambiental principal da Cenibra se prende ao impacto
dos insumos (reflorestamento por monocultura de eucalipto) e à poluição do ar com
fortes maus odores. Quanto à concentração de metais pesados, estes estão abaixo dos
limites de aceitação, à exceção do chumbo e do mercúrio (este último está apenas
ligeiramente acima).
A estação amostral 14, pouco abaixo, incorpora o esgoto a céu aberto do
núcleo urbano de Perpétuo Socorro, que, no entanto, tem pouco impacto face ao volume
de águas do Rio Doce. Entretanto, o ponto 14 expressa principalmente a redução dos
impactos antrópicos graças ao efeito de depuração e oxigenação resultante da queda de
Cachoeira Escura. Foram encontradas elevadas densidades de bentos e até mesmo os
metais pesados estão ausentes, à exceção de pequenos níveis de cromo e mercúrio. A
qualidade da água nessa estação mostra-se variável, entre aceitável e boa.
Nos pontos amostrais do Rio Doce foi identificado um conflito de intensida-
de média, envolvendo a Cenibra Florestal versus a sociedade civil do Vale do Aço, a
Comissão Pastoral da Terra, envolvendo também ONGs ambientais japonesas. O confli-
to diz respeito aos impactos sócio-ambientais gerados pela monocultura de eucalipto e
está ainda em andamento.
583
Quanto às intervenções ambientais, cabe notar o controle da poluição exerci-
do pelo Copam/Feam sobre a planta industrial da Cenibra, que já tem o licenciamento
concluído. A mobilização da sociedade civil em torno da questão da monocultura pode
ser também considerada um ganho em termos de conscientização face aos problemas
ambientais. Por outro lado, os municípios nessa área da sub-bacia não dispõem de qual-
quer tipo de política urbana e/ou ambiental.
Finalmente, cabe fazer algumas considerações sobre a questão dos diferenci-
ais de vazão dos diversos cursos d’água onde foram coletadas as amostras para análise.
Considerando que os pontos amostrais foram estrategicamente colocados à jusante das
diferentes fontes poluidoras, a questão da vazão dos cursos d’água receptores dos efluen-
tes líquidos é importante na análise de seus resultados. Entretanto, existe uma grande
dificuldade na obtenção de dados da disponibilidade hídrica superficial das bacias hidro-
gráficas de Minas Gerais, especialmente a do Rio Doce. A insuficiência da distribuição
cronológica, a falta de consistência dos dados hidrológicos e sua não publicação pratica-
mente impedem um estudo mais apurado dessa matéria, uma vez que não se tem em
mãos uma série hidrométrica homogênea e confiável.
Ainda assim, com a limitação mencionada acima, verificou-se que dentro de
uma mesma sub-bacia — como os pontos 2 e 9, no Rio Piracicaba e os pontos 3 e 5, na
sub-bacia Santa Bárbara — as vazões são significativamente diferentes. Ao se comparar
a vazão no Rio Doce (ponto 13) com aquela do Ribeirão Barão de Cocais (ponto 3)
observa-se que a primeira é aproximadamente 120 vezes maior que a segunda. Portanto,
a capacidade de diluição destes cursos d’água é muito diferente.
Assim, apenas para uma aproximação primeira à questão, é apresentada a
amplitude de variação das vazões médias consideradas neste estudo: a vazão média dos
pontos 3 (3,0 m3/s), 6a (25,7 m3/s), 7a (65,7 m3/s), 9 (105,0 m3/s) e 14 (389 m3/s)7 . Para
um entendimento mais acurado da relação entre a qualidade da água encontrada e as
fontes de poluição natural e antrópica, seria desejável que fosse feito um balanço de
massa de certos constituintes da água, em cada ponto amostral. Seria assim determinada
a carga de certas substâncias presentes na água, ou seja, a quantidade de uma determina-
da substância transportada através da seção transversal da calha do rio, a um dado instan-
te. Desta forma, seriam comparadas as cargas de umna mesma substância nos diferentes
pontos amostrais, assim como o seu grau de impacto8 . Entretanto, a ausência de informa-
ções sistematizadas, tal como acima ressaltado, impediu que tal aspecto fosse incorpora-
do nas análises em cada ponto de coleta, como inicialmente desejado.
Estimativa feita a partir dos dados fornecidos pelo Diagnóstico Ambiental do Estado de Minas Gerais,
7
584
13. PROPOSTAS DE
INTERVENÇÃO
....................................
Heloísa S. M. Costa (coord.)
Alisson Flávio Barbieri
Cláudio B. Guerra
Francisco A. R. Barbosa
João Antônio de Paula
Leonardo P. Guerra
Roberto Luís de M. Monte-Mór
POLÍTICAS PÚBLICAS Ricardo M. Ruiz
585
onalização das políticas (falta de continuidade de ações com rupturas e paralisações em
projetos entre governos subseqüentes; formação de alianças históricas entre governos e
empresas gerando uma certa ïntocabilidade de algumas delas, que não cumprem certos
requisitos básicos da legislação ambiental, mas investem pesado em marketing ambien-
tal). Os custos sócio-ambientais gerais do empreendimento devem ser pesados junta-
mente com a importância social e econômica para a região, como geração de empregos
e arrecadação de impostos.
Tal aprimoramento institucional faz ressaltar a necessidade da integração de
esforços entre os órgãos federais, estaduais e municipais de fiscalização nas ações de
defesa, preservação e controle do meio ambiente, visando maior articulação, rapidez e
desburocratização das ações, logo, maior credibilidade às políticas públicas.
586
É importante garantir participação igualitária nesse seminário dos órgãos pú-
blicos, empresas e entidades da sociedade civil. Buscar-se-ia também a construção de
cenários, objetivando o aproveitamento futuro dos recursos naturais, o desenvolvimen-
to das atividades econômicas, a identificação dos conflitos existentes e potenciais, defi-
nição de metas de racionalização do uso da água etc. Recomenda-se que o seminário
anual seja precedido pela promoção da Semana da Água em cada município, com
ampla participação das comunidades, especialmente as escolas do meio urbano e rural.
Nelas, seriam discutidos os principais problemas, sugeridas soluções, feitas visitas às
fontes de abastecimento de água, realizadas palestras sobre temas como tarifas, adminis-
tração dos recursos hídricos no município, fontes poluidoras etc.
São importantes o acompanhamento e a discussão da implantação efetiva da
Agência Técnica da Bacia do Rio Doce, que teve como referência outras experiên-
cias bem-sucedidas, como a francesa. A lei federal 9.433, de 08/01/97, estabelece as
diretrizes da Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Geren-
ciamento e um Conselho Nacional de Recursos Hídricos, possibilitando, assim, a im-
plantação da Agência, bem como a superação de entraves institucionais para a sua atua-
ção, a exemplo da efetivação de um sistema de cobrança pelo uso da água. A Agência é
constituída por um Comitê (órgão deliberativo composto por representantes dos usuári-
os) e uma Secretaria Executiva (órgão técnico executivo). A instalação da Agência deve
aproveitar todo o esforço e experiência já desenvolvidos desde 1988 pela Cooperação
Franco-Brasileira e o Projeto Rio Doce. Entretanto, é também importante que seja garan-
tida a efetiva representatividade dos “atores locais” no seu comitê da bacia hidrográfica,
especialmente dos representantes da sociedade civil. Além disso, é preciso estabelecer
mecanismos que garantam que os recursos financeiros captados sejam aplicados na pró-
pria bacia, conforme estabele seu Plano Diretor, elaborado a partir de discussões com as
comunidades locais.
Em termos de alternativas econômicas para a região, que poderiam contar com
a parceria das empresas, pode-se citar a implantação de projetos de ecoturismo, aprovei-
tando as potencialidades de municípios como Santa Bárbara (Parque Natural do Caraça,
Reserva de Peti) e aqueles que abrangem o Parque Estadual do Rio Doce (PERD). Nou-
tros locais da bacia, apesar da infra-estrutura precária, há condições de desenvolvimento
de projetos de intervenção ambiental, também através de parcerias entre empresas, admi-
nistrações municipais e comunidades locais. Entre eles pode-se destacar dois, para os
quais já existe marcante organização e mobilização social: a recuperação do Balneário do
Brumal, município de Santa Bárbara, através da Associação Comunitária de Brumal e
prefeitura municipal; e a criação do Parque Municipal da Lagoa do Teobaldo, município
de Antônio Dias, através de associações comunitárias e prefeitura municipal. Tais opções
localizam-se em regiões montanhosas (exceto o PERD) e aplicam-se ao turismo de verão
e inverno, o que facilita a viabilização do empreendimento durante todo o ano.
Um aspecto primordial é aquele relacionado ao acesso dos cidadãos às infor-
mações sobre problemas ambientais de seu município/região, direito fundamental ga-
rantido pela Constituição Mineira de 1989 e um dos principais responsáveis pelos pro-
cessos de transformações sociais. A formação de uma vontade política na população (ou
587
mesmo em parte dela) de defender seus interesses, seu meio ambiente e sua qualidade
de vida exerce influência direta no processo decisório no que se refere à apropriação e à
administração dos recursos naturais, mas depende basicamente da informação e de sua
organização social. É necessário fortalecer as ONGs da região, de forma a que possam
atuar em bases mais profissionais, inclusive com acesso a recursos financeiros.
Como ações voltadas para o fortalecimento da sociedade civil na bacia, suge-
re-se a formação de um coletivo de entidades que possam partilhar infra-estrutura, sede
ou pessoal profissionalizado de apoio, além de otimizar recursos (materiais e humanos),
com vistas a aliar a mobilização à formulação de propostas e projetos de intervenção
direta. As ONGs poderiam oferecer suporte técnico ao Ministério Público, de forma a
subsidiar os inquéritos e agilizar os processos.
Esforços devem ser desenvolvidos no sentido de uma melhor integração en-
tre a Feam e as comunidades que vivem na bacia. O repasse das informações dos órgãos
de fiscalização em Belo Horizonte para os municípios, acerca da situação atual do meio
ambiente regional, é de grande interesse comunitário.
Considerando que o uso de energia e o consumo dos recursos naturais (mine-
rais, água, madeira etc.) na bacia do Rio Piracicaba pode ser considerado hoje como
totalmente irracional, recomenda-se que no processo de negociação com as empresas as
comunidades discutam os custos sociais da produção de bens e serviços na região, de-
vendo-se cobrar os efeitos negativos dos sistemas produtivos no meio ambiente regio-
nal, até mesmo as prováveis conseqüências que deverão sofrer as gerações futuras.
588
POLÍTICAS DE ABRANGÊNCIA MUNICIPAL
As atribuições da Curadoria do Meio Ambiente do Ministério Público, aproxi-
mando o cidadão do Poder Judiciário, devem ser mais bem divulgadas nos municípios.
É preciso também desburocratizar o processo de formalização de denúncias sobre de-
gradação ambiental e agilizar suas investigações. Acordos e parcerias entre sociedade
civil e setores de meio ambiente das prefeituras devem ser incentivados como forma de
fornecer apoio técnico e sistematização de denúncias. A informatização das comarcas é
fundamental para agilizar os procedimentos. Estes devem priorizar os acordos entre
poder público e fontes poluidoras.
Recomenda-se a criação e/ou consolidação de um setor de meio ambiente
nas prefeituras municipais, bem como o fortalecimento e maior organização do Codema
e das ONGs. A implantação de programas de educação ambiental no município é impor-
tante fator de mobilização social e de ações coletivas. Assim, com uma maior consciên-
cia ambiental da população e um mínimo de organização seriam criadas as condições
necessárias para um maior controle ambiental sobre fontes poluidoras pontuais, como
postos de gasolina, oficinas mecânicas, extração de areia, garagens de ônibus. Também
as atividades de mineração e garimpo de ouro e pedras preciosas passariam a ser mais
fiscalizadas e discutidas em termos de benefícios e desvantagens para o município.
A administração do lixo urbano tem como alternativa a formação de consórci-
os entre municípios vizinhos, com a construção de aterros sanitários conjuntos. Deve-se
considerar que os incentivos da nova Lei Estadual nº 12.040 (ICMS Ecológico) garantem,
em um ano, o retorno integral do investimento em construção de aterro sanitário. Um siste-
ma cotas-parte permite cobrir os custos operacionais nos anos subseqüentes.
Da mesma forma, a ampliação da rede de esgoto sanitário no meio urbano
deveria ser meta prioritária da administração daqueles municípios onde ela ainda é
precária. A implantação de sistemas de tratamento de esgotos domésticos, através da
criação de consórcios municipais é uma alternativa viável e recomendável.
De forma geral, pode-se dizer que a perda relativa do poder, controle e influ-
ência direta das grandes empresas sobre a produção do espaço urbano-regional e sobre as
condições de reprodução das populações locais, indica a necessidade de fortalecimento
de medidas e propostas que privilegiem outros atores para o desenvolvimento ambien-
tal e urbano, em particular os poderes públicos municipais e a sociedade civil organizada
A expansão do tecido urbano e o fortalecimento das articulações urbano-rurais
sugerem a necessidade de repensar os padrões de produção e ocupação do espaço, in-
cluindo a oferta de serviços básicos às diversas formas de assentamentos humanos en-
contradas na região, muitas vezes não atendidas pelas administrações municipais por se
encontrar espacialmente isoladas das sedes dos municípios. Muitos desses assentamen-
tos têm experimentado elevadas taxas de crescimento populacional e, conseqüente-
mente, uma crescente demanda por investimentos ambientais urbanos.
Experiências já em curso na região sugerem que novas formas de gestão
ambiental e urbana, incluindo ações consorciadas a nível supramunicipal e através de
parcerias com as empresas e setores organizados da sociedade civil, encontram terreno
589
fértil em vários municípios da bacia, podendo se fortalecer e dar origem a novas solu-
ções para velhos problemas urbanos e ambientais. Cabe destacar nesse sentido a expe-
riência de parceria Amepi/Universidade, principalmente em relação à educação ambi-
ental, bem como o potencial de tratamento integrado das questões ambientais urbanas
embutido, pelo menos em tese, na proposta de criação da Região Metropolitana do Vale
do Aço, atualmente em processo de formalização na Assembléia Legislativa de Minas
Gerais. Caberá aos próprios municípios, quando da operacionalização dos mecanismos
de gestão metropolitana (ou mesmo microrregional, no caso dos consórcios), criar as
condições efetivas para uma redistribuição mais justa dos custos e benefícios econômi-
cos, sociais e ambientais decorrente das atividades produtivas.
Quanto à legislação ambiental, enfatiza-se a importância da aprovação dos
projetos de lei existentes, bem como da elaboração de anteprojetos de forma participa-
tiva nos demais municípios. A legislação ambiental deve servir de direcionamento para
políticas de desenvolvimento econômico e planejamento territorial, instrumento de ma-
cropolíticas e zoneamento econômico/ambiental do município. Assim, deve prever
canais de participação da sociedade na definição das diretrizes ambientais, bem como
prever formas de cooperação intermunicipais, mecanismos de monitoramento das ativi-
dades e planejamento criterioso da utilização de recursos naturais.
Ainda no âmbito das ações originárias do poder público municipal, deve-se
atentar para a atuação preventiva, envolvendo entre outras medidas a exigência de
EIA/Rima para instalação de atividades e execução de obras públicas de grande porte,
controle de funcionamento de atividades impactantes através, por exemplo, da con-
cessão e/ou renovação de alvarás de licença de localização ou similares. Tais ações
devem ser acompanhadas de audiências públicas para discussão e definição da implan-
tação dos projetos. A atuação municipal coercitiva envolve fiscalização e aplicação
rigorosa das penalidades previstas na legislação, além de formas de parceria com o Mi-
nistério Público.
Quanto ao fortalecimento e/ou criação de canais de participação no âmbito
dos municípios, ressalta-se o papel central dos Codemas, com composição tripartite (a
exemplo do de Ipatinga), além do incentivo a fóruns locais de definição de diretrizes
para as políticas municipais de meio ambiente.
POLÍTICAS EMPRESARIAIS
Considerando especificamente as estratégias empresariais na região, alguns
aspectos devem ser destacados, pois têm influência direta na formulação de políticas.
Inicialmente, a relação das empresas da bacia com as estratégias corporativas dos grupos
industriais a que pertencem. Decisões quanto à localização das plantas industriais, à
escala de produção, ao mix de produtos e à seleção de alternativas tecnológicas resultam,
primeiro, das opções estratégicas das corporações à qual as firmas fazem parte e, segun-
do, das suas particulares dotações de recursos (operacionais, organizacionais, tecnológi-
cos etc.). Assim, justificam-se possíveis ineficiências nas políticas regionais ou locais de
proteção ao meio ambiente.
590
Restrições à instalação/expansão de empresas poluentes em alguns municí-
pios, Estados ou regiões não garantem menor deterioração ambiental. As corporações
industriais multiplantas podem realocar investimentos entre suas diversas unidades opera-
cionais. As regulamentações locais contra, por exemplo, processos poluentes podem
gerar somente diferentes alocações espaciais de recursos e, conseqüentemente, uma
redução circunscrita do impacto ambiental. Além do mais, a nova alocação pode ser
menos eficiente do ponto de vista da competitividade industrial e do bem-estar.
Do ponto de vista ambiental, para que políticas locais sejam eficientes, é ne-
cessário que o específico espaço possua vantagens econômicas não degradantes do
meio ambiente e que só são acessíveis por empresas nele instaladas. Em suma, as polí-
ticas de proteção ao meio ambiente devem ter no espaço de valorização do capital um
ponto central para alcançar eficiência máxima. Esse espaço pode ser muitas vezes o país
ou um conjunto de municípios, e não somente um único Estado ou município.
As políticas de proteção ao meio ambiente que têm como referência os meca-
nismos de mercado e as assimetrias competitivas intra-setorias — particularmente as
tecnológicas — podem ser eficientemente utilizadas na busca de uma estrutura produti-
va menos agressiva ao meio ambiente. Eficiência que pode ser avaliada sob dois pontos
de vista: primeiro, não produz impactos externos à indústria em questão; segundo, não
distorce os critérios de seletividade concorrencial estritamente econômicos.
Uma política de proteção ambiental que desestimule o uso de tecnologias
agressivas ao meio ambiente (por exemplo: aumento de impostos sobre o lucro líquido
das empresas que utilizam processos poluentes) será eficiente se as empresas forem
capazes de recombinar os fatores de produção. Nesse caso, os maiores custos operacio-
nais resultantes dos maiores impostos deixarão de onerar uma empresa inovadora. As
firmas inovadoras poderiam reconverter rapidamente sua base técnica. As imitativas
seriam desoneradas após um certo período de tempo, que seria inversamente proporci-
onal ao volume de investimento tecnológicos e à taxa imposta. As empresas conserva-
doras seriam as mais apenadas, pois teriam de arcar com impostos por mais tempo.
Como estímulo, sugerem-se linhas especiais de financiamento sustentadas
pelos impostos coletados de firmas poluidoras do meio ambiente, o que reduziria a ne-
cessidade de aportes externos de recursos. As empresas menos eficientes (imitativas e
conservadoras) financiariam parcialmente a reconversão tecnológica. Quanto mais in-
tensas e rápidas fossem suas mudanças técnicas visando processos produtivos não polu-
entes, menos apenadas seriam. Quando a reconversão técnica se completasse, o volume
de impostos arrecadados tenderia a zero.
Por meio dessas políticas públicas, geram-se estímulos de mercado pró-prote-
ção ambiental e que são associados às estratégias de capacitação tecnológica das empre-
sas. As firmas mais eficientes em termos econômicos e tecnológicos serão, provavel-
mente, as mais eficientes no que tange à proteção ambiental. Não há, portanto, ruptura
dos mecanismos de seletividade estritamente econômicos, mas uma ampliação das assi-
metrias competitivas que se verificariam no decorrer do processo competitivo. A prote-
ção ambiental passaria a ser mais um critério de eficiência sob o acicate da concorrência.
591
Para uma maior eficiência dessa política deve se ter também como referên-
cia as assimetrias tecnológicas interindústrias. Uma política mais eficiente seria aquela
que apenasse também o setor gerador de tecnologias. Nesse caso, um imposto sobre o
preço de produtos poluentes e subsídios para produtos não poluentes. Desse modo,
toda a cadeia industrial direcionar-se-ia para inovações minimizadoras de impactos
ambientais: as empresas ofertantes de tecnologia tenderiam a produzir um mix de pro-
dutos não poluentes, pois são mais competitivos, e as empresas demandadoras de tec-
nologia optariam por tecnologias não poluentes, que, além de mais baratas, as isentam
de impostos punitivos.
A proposta de taxação é um dos modos — não o único — de se criarem custos
diferenciados entre as diversas empresas. Créditos seletivos para investimentos em P&D,
ampliação da capacidade produtiva ou financiamento de capital de giro, acesso preferen-
cial à infra-estrutura pública, depreciação acelerada de ativos, aval dos órgãos públicos
para captação de recursos podem ser outros mecanismos geradores de assimetrias.
592
Na hipótese de um aumento linear do rigor do controle ambiental na região,
não parece provável que essas empresas, em virtude de sua situação atual e das caracte-
rísticas do mercado em que atuam, venham a deslocar-se espacialmente. A única possí-
vel exceção é a Cosígua, dado o seu menor porte e diversificação. No entanto, esse
fechamento teria um impacto pouco significativo no volume total de produção efetuado
regionalmente. Tal conclusão também aponta para o fato de que a dicotomia entre pro-
duzir e preservar é, em parte, uma falácia. Mesmo mantendo os níveis atuais de produ-
ção, há muito espaço para ampliar significativamente o controle ambiental na região.
Tanto a legislação quanto os processos de monitoramento parecem pouco
adequados para captar e interpretar os reais impactos ambientais dessas indústrias no Rio
Piracicaba e nas populações que dele se beneficiam. A automonitoração não parece o
instrumento de monitoramento mais adequado para assegurar a melhoria da qualidade
ambiental das águas do Piracicaba.
Esses resultados sugerem que, do ponto de vista da formulação de políticas
públicas de controle ambiental, nem sempre a hipótese de que o mais moderno é o mais
limpo é realista. Há que investigar, para cada setor industrial, suas características, a natureza
dos equipamentos utilizados, suas estratégias empresariais e suas estratégias espacias.
Finalmente, as políticas públicas relativas às indústrias devem ter como refe-
rência três aspectos básicos:
as políticas de proteção ambientais devem abranger todo o espaço econômico
e não somente espaços regionais ou locais;
as políticas industriais que têm com referência uma determinada indústria
devem considerar as especificidades interindustriais e intraindustriais. É
possível direcionar as assimetrias competitivas pró-proteção ambiental sem
criar mecanismos intensamente deformadores da eficiência estritamente
econômica. A seleção de instrumentos fiscais (impostos indiretos e diretos,
isenções fiscais) e financeiros (linhas de créditos seletivos, taxas de juro
reduzidas, maiores prazos de amortização) é um mecanismo convencional
de política industrial que pode incorporar como critério o grau de proteção
ao meio ambiente;
as políticas industriais setoriais e sistêmicas pró-competitividade e desen-
volvimento tecnológico podem apresentar complementaridade com políti-
cas de proteção ao meio ambiente. Uma referência comum a essa questão
seria a inclusão dos aspectos ambientais no processo de qualificação da mão-
de-obra e o direcionamento de instituições públicas e privadas de ensino e
pesquisa para o desenvolvimento de processos produtivos menos agressivos
ao meio ambiente.
593
gestão ambiental que englobe saúde e segurança do trabalhador;
investimento em tecnologias poupadoras de energia;
integração à gestão ambiental de etapas pré- e pós-produção, como forneci-
mento, distribuição e comercialzação;
abertura dos índices de monitoramento ambiental para o público externo, de
forma sistemática;
contabilidade ambiental: apuração do passivo ambiental e inclusão nas contas
patrimoniais;
incentivo ao gerenciamento ambiental, a programas internos de educação ambi-
ental e à adoção de staff interdisciplinar nos departamentos de meio ambiente.
MINERAÇÃO E GARIMPO
Considerando a volumosa carga de sólidos lançada diariamente nos cursos
d’água pelas atividades da mineração de grande porte e, conseqüentemente, o alto nível
de assoreamento de córregos, rios e reservatórios, principalmente no alto e médio Pira-
cicaba, recomenda-se a implantação, pela Feam, de um sistema permanente de monito-
ramento da operação das mineradoras, desde a extração, processamento na mina, barra-
gens de rejeitos até a recuperação das áreas mineradas.
É imprescindível garantir a execução, por parte das mineradoras, do Plano de
Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) em várias áreas do município de Santa Bár-
bara, Nova Era (região do Piçarrão) e Antônio Dias (região de Hematita). Essas áreas
tornaram-se “microdesertos” e estão efetivamente contribuindo para agravar o quadro
de erosão e assoreamento na bacia.
Os exames para a determinação da concentração de ferro, realizados pelos
laboratórios das grandes mineradoras, exige grande consumo de mercúrio, que é ro-
tineiramente lançado nos cursos d’água como rejeito doméstico. Tal irregularidade de-
manda providências urgentes por parte das empresas e da fiscalização da Feam.
A caracterização dos impactos da mineração deve considerar a atividade como
um processo entrópico, com um grande consumo de matéria e energia. Nesse sentido, a
análise de seus impactos passa necessariamente pela análise da eficiência na utilização
dos insumos, ou seja, utilização de tecnologias que reduzam as perdas entrópicas de
processo produtivo e a utilização de novos insumos ou técnicas de produção menos po-
luentes e adaptadas às condições físicas e geológicas do ambiente.
A grande mobilidade e rotatividade dos garimpos de ouro, principalmente no
médio e alto Piracicaba, dificultam o trabalho da fiscalização ambiental. Sugere-se a
organização de um trabalho conjunto da Feam com as prefeituras municipais, que co-
nhecem bem a situação dos garimpeiros que operam nos municípios.
Como sugestão biotecnológica à Feam, para controle da emissão de metais
pesados, destaca-se o incentivo ao uso de retortas nos garimpos de ouro, método de fun-
damental importância para a redução de até 49% das emissões de mercúrio durante a
queima do amálgama. O controle do mercúrio importado é também imprescindível, já
594
que 40 a 50% do total que chega ao país vai diretamente para os garimpos, escapando,
portanto, ao controle legal. A inclusão dos riscos da atividade garimpeira em programas
de educação ambiental é uma necessidade imediata para a região.
AGRICULTURA E PECUÁRIA
Propõe-se, como alternativa para os pequenos agricultores da região, a cria-
ção de um canal direto entre produtores e consumidores, com o apoio das prefeituras
municipais, de forma a incentivar a comercialização de gêneros alimentícios na região,
através de feiras ambulantes ou do fornecimento de alimentos para a merenda escolar da
rede municipal e estadual. Os consumidores obteriam produtos de boa qualidade relati-
vamente baratos e os agricultores poderiam melhorar sua renda.
Sugere-se também o aproveitamento das potencialidades da região (condi-
ções agroclimáticas, disponibilidade de terras, proximidade de grandes centros consu-
midores, como o AUVA e Belo Horizonte) para implantação de projetos de fruticultura.
A inserção da questão ambiental nos cursos do Senar e na extensão rural da
Emater dará aos agricultores oportunidade de obter informações básicas sobre manejo
adequado do solo, erosão, uso e manuseio de agrotóxicos, preservação de nascentes,
queimadas etc.
595
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Programas de educação ambiental são fundamentais no processo de mudan-
ça de comportamento das empresas, órgãos governamentais e comunidades locais.
Portanto, o público-alvo deve abranger, além da população em geral, os empresários, téc-
nicos e funcionários das empresas, administradores e técnicos dos diferentes órgãos
governamentais.
A experiência tem demonstrado que tais programas só atingem seus objeti-
vos a médio e longo prazos, devendo para isso contar com a mobilização das comunida-
des locais, através do planejamento de forma participativa, basear-se e estruturar-se a
partir da realidade local, além de contar com a participação de agentes internos à comu-
nidade (professores, líderanças etc.) como elementos de divulgação permanente de
idéias e informações naquele grupo social.
Propõe-se a continuidade dos programas de educação ambiental no médio Pira-
cicaba e a realização de programa semelhante no Vale do Aço, seguindo as diretrizes utili-
zadas, aprofundando e ampliando o envolvimento dos agentes locais (urbanos e rurais) e
envolvendo outras parcerias, como ONGs, Codemas, prefeituras municipais, empresas etc.
É preciso realizar programa de fortalecimento institucional da sociedade ci-
vil, como capacitação gerencial e democratização de informações relativas a fontes de
recursos para projetos ambientais.
596
Do ponto de vista da continuidade dos estudos sobre o processo de urbaniza-
ção e das condições sanitárias e ambientais e sua gestão, dois aspectos metodológicos
devem ser ressaltados:
necessidade de desenvolver estudos visando à construção de índices e medi-
597
14. UMA PROPOSTA
METODOLÓGICA
INTERDISCIPLINAR
.....................................
João Antônio de Paula (coord.)
Alisson F. Barbieri
Ariaster B. Chimeli
Cláudio B. Guerra
Elena C. Landau
Fábio Vieira
“HIC RHODUS, HIC SALTA”
A
Francisco A. R. Barbosa
frase de Esopo que dá título a este item
tem tradição ilustre nas ciências sociais. Foi Haroldo Gama Torres
usada num texto célebre para provocar uma Heloísa S. M. Costa
resposta que, em termos mais pedestres, seria a se- Leonardo P. Guerra
guinte: “Prova agora o que prometeste!” No caso des- Roberto Luís de M. Monte-Mór
te relatório, trata-se de explicitar a metodologia in-
Rodrigo F. Simões
terdisciplinar em estudos ambientais, prometida na
apresentação do projeto como um dos objetivos cen- Tânia M. Braga
trais da proposta.
Uma parte não desimportante dessa res-
posta teria que considerar as vicissitudes do próprio
processo de constituição e dinâmica do trabalho como
um aspecto central do processo. Isto é, num projeto
multidisciplinar, multiinstitucional, interdisciplinar
e que se pretende mesmo transdisciplinar, no senti-
do em que o termo foi definido no Capítulo 5, as
formas de montagem e interação, o funcionamento,
os métodos de integração, de socialização de lingua-
gens e conceitos, a busca de princípios unificadores,
tudo é decisivo para o êxito do processo. Descrever
esses métodos, relatar essa experiência, à moda dos
antropólogos, talvez se imponha como exigência em
estudos como o que este relatório reporta.
Trata-se, enfim, de reconhecer a existência
de redes que se entrelaçam, interagem, influenciam-
se e envolvem desde dimensões subjetivas, inesca-
páveis, até as referentes ao gerenciamento de recur-
599
sos financeiros, às culturas específicas das diversas instituições envolvidas etc. Reco-
nhecer a importância desses aspectos, enfrentar o cotidiano de pequenas precariedades
e aborrecimentos talvez seja o inimigo oculto que assombra uma grande parte dos pro-
jetos, tanto mais perigoso quanto maiores e complexas as ambições dos projetos. Não é
ocioso encerrar essa menção sem extrair uma lição, de resto bastante sabida, que atribui
peso decisivo para o sucesso dos projetos à capacidade que demonstrem de vencer os
pequenos obstáculos cotidianos.
Não faremos tal crônica aqui. Contudo, é essencial insistir que a proposta
metodológica que acabou plasmando o Programa — organizando sua estrutura de in-
vestigação e exposição e centrada na bacia hidrográfica como base de integração discipli-
nar — não nasceu pronta e acabada, que a descoberta e adesão a essa referência, que a
descoberta da sua eficácia heurística e integradora, resultou de um longo processo de
convencimento e descoberta recíproca.
A descoberta do rio como validade de análise integrada foi uma revelação. A
escolha dos pontos amostrais, a escolha dos parâmetros, os significados das medidas
obtidas funcionaram como uma estrutura imantada, que atraiu outros olhares e cuidados
além que os dos biólogos lhes dirigem. Economistas, engenheiros, urbanistas, sanitaris-
tas, médicos, historiadores, geógrafos, demógrafos, geólogos, debruçaram-se sobre os
mesmos indicadores e buscaram explicar, a partir das medidas que o rio oferecia, a rea-
lidade ambiental regional. Isto é, buscou-se explicar como as diversas atividades antró-
picas impactam o meio ambiente, a partir dos resíduos de sua ação que são carreados para
o rio, alterando a qualidade física e química de suas águas e de suas comunidades zoo-
planctônicas, fitoplanctônicas, bentônicas e nectônicas.
É como se cada estação ambiental escolhida se ampliasse, expressando ativi-
dades econômicas, estrutura urbana, culturas, comportamentos, políticas e instituições,
e no registro singelo do parâmetro medido se manifestasse a própria prefiguração da
totalidade. Cada estação amostral, cada parâmetro medido foram tomados como univer-
sos plenos a serem decifrados, síntese dos mundos complexos que os cercam e que estão
refletidos na aparente estreiteza de um número, uma ordenação, um inventário.
Tomou-se o indicador como índice do mundo, a senha que permitiu uma
aproximação da totalidade. Foi uma aposta audaciosa que exigiu esforço continuado,
recursos financeiros consideráveis, equipe numerosa e diversificada. Ao final temos o
que apresentar; ao desafio “Hic Rhodus, Hic Salta”, saltamos. É possível que, com
razão, alguém ponha reparos ao salto. Era e é possível salto melhor, mais elegante. Não
tivemos tempo suficiente para aquela simplicidade que só o tempo e a longa maturação
são capazes de construir.
PARÂMETROS E MATRIZES
Quanto mais a realidade da complexidade se impõe a todos os campos do
conhecimento, mais se faz necessária a construção de indicadores que consigam expres-
sar a diversidade dos mundos que se busca entender. Se esse é objetivo perseguido pela
ciência desde sempre, contemporaneamente essa caminhada tem adquirido outras e
600
mais imediatas implicações. Em áreas como as das ciências ambientais, a necessidade
de indicadores seguros e práticos da realidade ambiental é uma exigência que trans-
cende o campo científico, é instrumento de monitoramento, é objeto de apreciação e
aperfeiçoamento de políticas etc.
Contudo, é preciso acautelar-se contra uma certa fetichização da medida, que é
comum acometer certas perspectivas. Construir instrumentos seguros, desenvolver
métodos confiáveis de medida, são objetivos que não podem divorciar-se dos esforços
de entendimento desses indicadores dentro do quadro mais geral de seus determinan-
tes. Isto é, os indicadores só são expressivos, só são inteligíveis, quando no contexto dos
vários elementos que compõem a totalidade. Trata-se, assim, de reconhecer que os indi-
cadores só são capazes de, efetivamente, descrever a realidade, quando esta for tomada
como totalidade articulada e em movimento. Daí que, quando se tomar um indicador
específico, por exemplo, no campo da qualidade física e química das águas de um rio, o
que efetivamente se está considerando é o conjunto das determinações naturais (a geo-
química do rio), sociais, econômicas, políticas e culturais, que se expressam num certo
Ph, numa certa alcalinidade, numa certa concentração de nutrientes etc. Ou seja, o
indicador tomado isoladamente, sem as referências devidas a seu contexto natural e
histórico, é uma abstração destituída de valor heurístico.
Neste Programa foram mobilizados diversos indicadores, diversas discipli-
nas, diversas especialidades temáticas. No campo das ciências biológicas, pesquisaram-
se diversos ambientes e comunidades e buscou-se transformar os resultados obtidos em
indicadores de qualidade ambiental. Foi o caso do estudo com térmitas e insetos galha-
dores, que fornece elementos para a compreensão do grau de comprometimento ambi-
ental de certos ecossistemas. Também indicadores importantes da biodiversidade regi-
onal, e daí aproximações à realidade ambiental como um todo, foram os estudos sobre os
primatas, os pequenos mamíferos e a avifauna regional, ainda mais expressivos porque
relacionam diretamente tamanho e biodiversidade dos hábitats à biodiversidade da
fauna regional como um todo. Isto é, o estudo integrado desses aspectos coloca em tela
não só as dimensões faunísticas e florísticas da região, bem como aquelas derivadas do
uso e posse da terra, tecnologias, processos de trabalho, políticas públicas e privadas,
culturas e comportamentos etc.
É decisivo para a compreensão do que se buscou fazer neste Programa não
perder de vista que a abordagem metodológica adotada entende a realidade ambiental
como totalidade, isto é, como processo global resultante de interação de esferas naturais
e históricas de elementos bióticos, abióticos e sócio-econômico-culturais. Contudo, seja
para efeitos práticos, referentes à identificação e intervenção sobre determinantes espe-
cíficos da realidade ambiental, seja para efeitos analíticos, da ordem da classificação,
exame, descrição e interpretação dos fenômenos, impunha-se algum procedimento par-
celizador da totalidade, que identificasse seus elementos constitutivos principais e que
também fosse capaz de síntese, de integração das diversas partes em que se o dividiu.
Esse procedimento metodológico, que, partindo da totalidade, a desdobra em
seus elementos constituintes, para depois voltar a reintegrá-los num todo compreensivo
e significante, foi construído neste projeto a partir da seqüência seguinte:
601
1o momento: a escolha do rio, a bacia do Rio Piracicaba, como complexo
capaz de expressar o ambiente, como documento fundamental da realidade
ambiental regional; isto é, a suposição básica foi que os principais processos
naturais e antrópicos da região refletem-se, de variadas maneiras, e que traços
significativos desses processos podem ser encontrados, medidos e interpreta-
dos a partir do exame de parâmetros físicos, químicos e biológicos das águas,
sedimentos e comunidades faunísticas e florísticas presentes no rio.
2o momento: tendo adotado o rio como corpo-testemunho da realidade ambi-
ental, o segundo passo foi o agrupamento dos parâmetros e variáveis básicos que
seriam medidos e interpretados. Para efeito de análise, agrupou-se o conjunto
de aspectos mobilizados na compreensão da realidade ambiental regional e que
tiveram o rio como documento-reflexo, em seis grandes blocos, que foram orga-
nizados sob a forma de matrizes: Matriz I (físico-química); Matriz II (biodiversi-
dade); Matriz III (atividades antrópicas); Matriz IV (insumo-produto); Matriz V
(intervenção ambiental); Matriz VI (desenvolvimento sustentável).
O tratamento quantitativo — o efetivo preenchimento das matri-
zes e a operacionalização de seus indicadores — não foi realizado inteiramen-
te pelo projeto, isto é, nem todas as matrizes foram objeto de preenchimento
e teste empírico.
Das seis matrizes, a IV (insumo-produto) foi preenchida tentativa-
mente no trabalho de Ariaster B. Chimeli listado ao final deste relatório. Duas
não foram preenchidas, a III (atividades antrópicas) e a VI (desenvolvimento
sustentável). E três, a I (físico-química), a II (biodiversidade) e a V (intervenção
ambiental), tiveram seus parâmetros básicos medidos, em parte ou integralmen-
te, ainda que seus resultados não tivessem sido trabalhados nas matrizes.
Contudo, esse resultado incompleto, as lacunas no preenchimento
e eventual cálculo das matrizes, não comprometeu o essencial do esforço me-
todológico perseguido pelo projeto, que basicamente procurou construir duas
coisas: 1. buscar entender a realidade ambiental a partir de perspectiva inter-
disciplinar, isto é, que efetivamente incorporasse as dimensões naturais e soci-
ais da realidade; 2. tornar viável um método de investigação que efetivamente
integrasse as diversas disciplinas num todo coerente e operacionalizável.
Esses dois núcleos centrais da metodologia perseguida foram al-
cançados. Tanto a escolha do rio como testemunho quanto a construção das
matrizes de componentes da realidade ambiental refletida pelo rio materiali-
zam um esforço metodológico que traz contribuição para os estudos ambien-
tais entre nós.
3o momento: finalmente, o terceiro momento é, de novo, sintético, recupera
e articula as matrizes numa forma de organização dinâmica em que o rio como
que se desdobra em três: o rio atual, fruto da ação antrópica expressa pela
combinação das matrizes III, IV e V; o rio natural, uma abstração teórica, que
toma os parâmetros físicos e químicos de suas nascentes, sua geoquímica bási-
602
ca, e projeta a sua biodiversidade potencial (matrizes I e II) levando em
conta parâmetros teóricos para um rio com aquela geoquímica, com aquele
gradiente de altitude, supondo cobertura vegetal original da bacia e sem
nenhum impacto antrópico. Isto é, o rio natural seria o rio tal qual o primeiro
colonizador teria encontrado, possível de ser reproduzido teoricamente a
partir de parâmetros abstratos dados pela literatura pertinente. Finalmente, o
rio possível, que é o rio que pode ser melhorado pela ação combinada de
diversas intervenções, sintetizadas na matriz V’, que é a matriz de interven-
ção ambiental modificada, sintonizada com o objetivo do desenvolvimento
sustentável expresso pela matriz VI. Ou seja, o rio possível é a meta a ser
perseguida tomando em conta sua situação atual, o rio atual, e a pura abstra-
ção teórica do rio natural.
AS MATRIZES E OS RIOS
O que se segue é uma exposição esquemática das matrizes e “rios” da meto-
dologia do projeto. Como já foi dito, algumas dessas matrizes tiveram tratamento quan-
titativo rigoroso, como no caso da matriz IV. Outras, como a V, têm como parâmetros
apenas variáveis passíveis de ordenação ou de atribuição de intensidade ou presença-
ausência. Desse modo, a leitura correta das matrizes e dos rios-síntese implica entender
todo o conjunto como um roteiro compreensivo e abrangente da realidade ambiental,
organizado de tal forma que seus elementos principais estão explicitados, bem como
suas interações substantivas. Trata-se, nesse sentido, de um instrumento metodológico
dotado de plasticidade suficiente para ser adaptado a diversos contextos, realizando
assim a mais essencial das características de qualquer metodologia que pretenda algu-
ma universalidade.
Por fim registre-se que essa proposta metodológica é o primeiro resultado de
um processo em curso, que será certamente modificada em função de novos estudos e
críticas que a venham motivar.
603
Nessa notação, as matrizes que levam o sinal que indica o apóstrofo, as linhas
colocadas acima e à direita dos números em algarismos romanos, são matrizes modifica-
das, isto é, resultantes de intervenções ambientais que alteram suas condições originais.
O rio natural, RN, é o rio considerado como anterior às atividades antrópicas.
Ele é uma abstração teórica construída a partir de parâmetros atribuídos pela literatura
científica para águas com aquela geoquímica e condição natural. Trata-se, nesse sentido,
de construir um artifício analítico-comparativo que permita atribuir o “máximo de bio-
diversidade possível” para um rio com aquelas condições naturais, supondo a ausência
de atividades antrópicas.
Esse artifício teórico permite estabelecer numa espécie de horizonte de qua-
lidade ambiental que balizará os esforços de modificação da intervenção ambiental
sintetizados na matriz V’, que é a da intervenção ambiental modificada, em sintonia com
o objetivo de desenvolvimento sustentável.
O Rio Natural é assim tomado como realidade físico-química-biótica, expres-
sa pelas matrizes I e II, isto é, a realidade físico-química-biótica do rio, idealmente
considerado, sem qualquer impacto antrópico, representando, portanto, a fronteira po-
tencial máxima de qualidade ambiental do rio, dadas as suas características naturais.
O rio atual, RA, é o rio natural sobre o qual se aplica certo conjunto de ativida-
des antrópicas (matriz III), segundo certa matriz tecnológica (matriz IV), informada por
uma determinada consciência-prática ambiental expressa na matriz V, resultando daí o
rio tal como foi detectado pelas pesquisas de campo realizadas e que estão sintetizadas
nas matrizes I’ e II’, que representam respectivamente a realidade físico-química e
biótica do rio hoje.
Por definição a qualidade ambiental do rio atual é inferior à qualidade ambi-
ental do rio natural, isto é, f (I, II) > f’(I’, II’). Nesse passo, é incorporado à metodologia
um elemento dinâmico que permite tanto avanços cognitivos quanto a construção de
instrumentos de monitoramento — intervenção prática. Isso é dado pela construção da
matriz V’, a matriz de intervenção ambiental modificada, que, incidindo sobre o rio
atual, isto é, sobre as matrizes III, IV, modifica-as, transformando-as em III’ e IV’, isto é,
em atividades antrópicas comprometidas com a sustentabilidade, resultando disso um
novo quadro físico-químico-biótico, expresso nas novas matrizes I” e II”, que têm qua-
lidade ambiental superior às matrizes I’ e II’. Essa nova realidade ambiental é sintetiza-
da na matriz VI, Matriz de Desenvolvimento Sustentável, que expressa uma realidade
ambiental superior ao quadro atual e permanentemente passível de modificação, de
melhoria mediante monitoramento e intervenções sistemáticas, tomando em conta os
parâmetros teóricos fornecidos pelas matrizes I e II.
As matrizes I, II, III e IV e suas respectivas variantes apresentam ao final uma
indicação da possibilidade e dos elementos básicos que poderiam compor “índices”
ambientais. No caso da matriz I, trata-se de índice efetivamente construído, cuja meto-
dologia foi descrita no capítulo 8, e que aparece na matriz como Índice Físico-Químico.
A matriz II também apresenta ao final indicador-síntese, o Índice Biológico,
cuja metodologia também está descrita no capítulo 8. A partir disso, é possível, como
604
função do Índice Físico-Químico e do Índice Biológico, chegar-se ao Índice de Qua-
lidade da Água, que está ao final da matriz II.
A matriz III também pode ser sintetizada. Essa síntese aparece na matriz
como Índice Sócio-Econômico. Existem várias aproximações a esse índice na experi-
ência internacional, e uma das mais conhecidas é o Índice de Desenvolvimento Huma-
no, criado pelo Banco Mundial.
Trata-se de tema controverso. Neste projeto procurou-se constituir um cami-
nho metodológico que respondesse alguns dos questionamentos mais frenqüentes às
metodologias sobre montagens de índices, que é quanto à generalização indevida feita a
partir deles, freqüentemente construídos com dados agregados e não-espacializados, que
acabam por apagar diferenças sociais, regionais, culturais e econômicas importantes.
Buscou-se, neste projeto, metodologia que conseguisse captar as especifici-
dades ambientais locais sem perder de vista o contexto mais amplo, cotejando os resul-
tados encontrados com as referências gerais pertinentes.
Ainda que um Índice Sócio-Econômico não tenha sido efetivamente medi-
do, o projeto estabeleceu as bases metodológicas para a sua construção. A matriz V
apresenta ao final esquema básico para a montagem do Índice de Qualidade Ambiental,
que seria função do Índice de Efetividade da Intervenção Ambiental e suas incidências
sobre os índices de Qualidade da Água e Sócio-Econômico.
O que se vai ler a seguir é uma apresentação da configuração básica das matri-
zes. Se uma delas, a IV (Insumo-Produto), tem possibilidade de preenchimento e trata-
mento quantitativo imediato, outras também permitem consolidação quantitativa ime-
diata, como a matriz I’ e a parte referente à biodiversidade aquática da matriz II’. Mas,
com exeção da matriz IV, cuja metodologia é universal, todas as outras matrizes são
passíveis de discussão e modificações em função das realidades em estudo.
Nesse sentido, o que fundamentalmente orientou a trajetória metodológica
deste Programa foi a busca de um objeto-instrumento que permitisse a unificação de
perspectivas — linguagens, conceitos —, que fosse, enfim, a estruturação das regras de
um diálogo interdisciplinar. Foi exatamente isso que se conseguiu ao escolher o rio
como objeto-testemunho e os desdobramentos analíticos descritivos construídos a partir
da escolha dos parâmetros, da construção das matrizes e de sua unificação na metodologia
dos três rios. É essa a contribuição metodológica original que este Programa vem ofere-
cer à apreciação e crítica da comunidade científica e dos interessados na questão ambi-
ental, na certeza de que esse é apenas o primeiro passo de um processo necessariamente
coletivo e interativo.
605
MATRIZ FÍSICO-QUÍMICA
...................................................
Aspectos
(I)
Parâmetros
Estações Sub-Bacias Síntese
Amostrais
Vazão
Hidrologia Turbidez
Barragens
pH
Alcalinidade
Condutividade
Físico-químico
Oxigênio
dissolvido
Eutrofização
Temperatura
Chuvas
Clima
Umidade relativa
Ventos
Altitude
Relevo Perfil do fundo do
rio
Solos Tipologia
...................................................
Subsolo Tipologia
Índice Físico-químico
MATRIZ DE BIODIVERSIDADE
...................................................
(II)
...................................................
Índice Físico-Químico
Índice de Qualidade de Água
606
MATRIZ DE ATIVIDADES ANTRÓPICAS
.......................................................................................
Aspectos
(III)
Produção
608
Produto
Área ocupada
Produção
Mercados
Siderurgia Tecnologia
Efluentes
Controle ambiental
Impactos ambientais
Renda/emprego
Aspectos Parâmetros Brasil Parâmetros Parâmetros
Estações Sub-bacias Gerais Síntese
Amostrais Internacionais
Produção
Mercados
Tecnologia
Serviços Efluentes
Controle ambiental
Impactos ambientais
Renda/emprego
Produção
Mercados
Tecnologia
Outras Efluentes
Controle ambiental
Impactos ambientais
......................................................................................
Renda/emprego
Índice Sócio-Econômico
609
MATRIZ DE INSUMO-PRODUTO
...................................................
(IV)
...................................................
Custos de Degradação
Ambiental
...................................................
(V)
...................................................
Índice Sócio-Econômico
Índice de Qualidade Ambiental
610
MATRIZ DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
...................................................
(VI)
...................................................
Doenças degenerativas
Doenças respiratórias
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A N E X O S
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I - PRODUÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA
1 - MONOGRAFIAS DE GRADUAÇÃO
O desenvolvimento ambiental e a questão do meio ambiente: um debate
necessário
Daniela de Mello Cardoso Vieira
Defesa: 1992
643
2 - DISSERTAÇÕES
Avaliação dos impactos do plantio do Eucaliptus spp., sobre dois lagos naturais do
sistema do Médio Rio Doce-MG: propostas de mitigação de manejo
Millôr Godoy Sabará
Defesa: 1994
644
3 - TESE
Vale do Aço: da produção da cidade moderna sob a grande indústria à diversifica-
ção do meio ambiente urbano
Heloisa Soares de Moura Costa
Defesa: 1995
4 - Relatórios Temáticos
BARBOSA, Francisco A.R. A físico-química da água. Belo Horizonte, 1996.
BARBOSA, Paulina M. Maia, LÓPEZ, Cristiane M. de. Zooplâncton. Belo Horizonte, 1996.
BRAGA, Tânia Moreira. Notas sobre diretrizes metodológicas para pesquisa em políti-
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VIEIRA, Fábio, SANTOS, G.B., ALVES, B.M. A ictiofauna do Parque Nacional da Serra
do Cipó e áreas adjacentes. In: FERNANDES, G.W. (ed.). Serra do Cipó: ecologia e
evolução, Belo Horizonte. (No prelo)
657
658
II - LISTA DE TABELAS, QUADROS,
FIGURAS E MAPAS
TABELAS
Tabela 1.1 - Número de Matrizes das 500 Maiores Firmas Transnacionais nas - 17 Maiores Áreas
Metropolitanas Mundiais, 1984 . 32
Tabela 2.1 - Balanço Energético (%) - Minas Gerais e Brasil (1989) . 51
Tabela 2.2 - Consumo de Carvão Enfornado - Minas Gerais (1978/1987) . 52
Tabela 2.3 - População de Minas Gerais (1776-1821) . 54
Tabela 2.4 - População Total da Zona da Mata de Minas Gerais (1822-1872) .58
Tabela 2.5 - Reservas Florestais - Região Leste de Minas Gerais (1925) . 59
Tabela 2.6 - Taxas de Crescimento Total (TCT), Percentuais da População Total (PPT) e Percentual de
Remanescentes Florestais por Região em Minas Gerais (1910/1940) . 62
Tabela 2.7 - Taxas de Crescimento Populacional - Governador Valadares - 1940/91 . 65
Tabela 2.8 - Produção e Consumo de Carvão Vegetal - Belgo-Mineira - 1940 . 69
Tabela 2.9 - Reflorestamentos - Companhia Belgo-Mineira - 1966 . 70
Tabela 2.10 - Relação das Propriedades da Acesita por Município - 1967 . 71
Tabela 2.11 - Indicadores Demográficos e Ambientais - Minas Gerais (1960/1970) . 71
Tabela 2.12 - Acesita: Propriedade e Áreas Reflorestadas . 78
Tabela 2.13 - Produção de Carvão Enfornado por Região de Planejamento (mdc) . 79
Tabela 2.14 - Índice de Pecuarização por Região em Minas Gerais (1940/1960/1970/1985) . 80
Tabela 2.15 - Áreas Monocultoras de Eucalipto de Propriedade de Empresas e Taxas Líquidas de
Imigração por Município em Minas Gerais (1970-1991) . 81
Tabela 2.16 - Indicadores Demográficos e Ambientais - Minas Gerais (1980-1991) . 82
Tabela 2.17 - Fluxos Migratórios (%) - Governador Valadares/Caratinga/AUVA* . 87
Tabela 2.18 - Produção, Importação e Destino do Carvão Vegetal por Município -
Minas Gerais (1989) - Carvão de Reflorestamento . 88
Tabela 2.19 - Produção, Importação e Destino do Carvão Vegetal por Município em Minas Gerais (1989)
- Carvão de Mata Nativa . 89
Tabela 3.1 - População Urbana . 98
Tabela 3.1a - População Total . 99
Tabela 3.2 - Análise dos Resultados . 112
Tabela 3.3 - Mortalidade Proporcional Maior de 50 anos .119
Tabela 3.4 - Mortalidade por Causa - Taxa por 100.000 - Causa: Infecção Intestinal . 120
Tabela 3.5 - Mortalidade por Causa - Taxa por 100.000 - Causa: Sinais, Sintomas mal Definidos . 122
Tabela 3.6 - Mortalidade por Causa - Taxa por 100.000 - Causa: Violências . 122
Tabela 3.7 - Mortalidade por Causa - Taxa por 100.000 - Causa: Doenças Cardiovasculares . 123
Tabela 3.8 - Mortalidade Proporcional por Causa - Taxa por 100.000 - Causa: Neoplasias . 126
Tabela 3.9 - Taxa de Mortalidade Específica por Faixa Etária no Vale do Aço - 1991 . 126
Tabela 3.10 - Mortalidade Proporcional por Faixa Etária no Vale do Aço - 1980/1991 . 127
Tabela 4.1 - Custo de Produção de Celulose Fibra Curta - CFC - 3O Trimestre de 1994 (US$/ton. CIF -
Mercado Europeu) . 160
659
Tabela 4.2 - Concentração Fundiária em Minas Gerais (1989) . 166
Tabela 4.3 - Áreas de Lavouras por Município - Região da Bacia do Rio Piracicaba - 1970/1975/1980/
1985 . 170
Tabela 4.4 - Atividade Agrícola Relevante por Município * - Região da Bacia do Médio Rio Doce - 1983 . 171
Tabela 4.5 - Área de Pastagens por Município* - Região da Bacia do Rio Piracicaba - 1970/1975/1980/
1985 . 172
Tabela 4.6 - Efetivo da Agropecuária - Bovinos - Região da Bacia do Rio Piracicaba - 1970/1975/1980/
1985/1991 . 173
Tabela 4.7 - Produtividade Leiteira - Região da Bacia do Rio Piracicaba - 1970/1975/1980/1985 . 174
Tabela 4.8 - O Avanço das Florestas de Eucaliptos - Minas Gerais - 1967-1982 . 175
Tabela 4.9 - Área Bruta e Plantada por Município de Atuação da Cenibra - Região da Bacia do Rio
Piracicaba e Entorno - 1993 . 176
Tabela 4.10 - Padrão de Ocupação da Terra na Bacia do Rio Piracicaba (1985) . 179
Tabela 4.11 - Comparação Sócio-Econômica dos Diversos Municípios da Bacia do Rio Piracicaba (1985) . 180
Tabela 4.12 - Comparação entre a Variação da Área Ocupada pelos Estabelecimentos com mais de 1.000 ha
nos Municípios da Bacia do Rio Piracicaba e as Áreas em Propriedade da Cenibra (1993) . 183
Tabela 4.13 - Quadro Comparativo das Característica Gerais da Agropecuária no Município de Antônio
Dias (1994) . 185
Tabela 4.14 - Produtividade Leiteira por Estrato de Produção em Antônio Dias (1994) . 186
Tabela 4.15 - Percentual Observado das Principais Formas de Ocupação da Terra em Relação à Área
Total Ocupada* em Antônio Dias (1994) . 186
Tabela 4.16 - Evolução da Ocupação da Terra em Antônio Dias, em ha (1970/1975/1985) . 187
Tabela 4.17 - Dinâmica da Ocupação Fundiária da bacia do Rio Piracicaba, em ha (1970-1985) . 188
Tabela 4.18 - Bacia do Rio Piracicaba e Estado de Minas Gerais: Dados Gerais da Produção Beneficiada
por Classe de Minerais (1990/1992) . 193
Tabela 4.19 - Principais Empresas por Município Segundo as Principais Substâncias Minerais na Bacia do
Rio Piracicaba (1992) . 194
Tabela 5.1 - Estimativas da Contribuição ao Aquecimento Global para 1980-2030 por Setor e Gás (%) . 207
Tabela 5.2 - Consumo Global de CFC, por Região (1986) . 208
Tabela 7.1 - Fatores de Emissão (kg/ton) de Poluentes Hídricos Segundo Unidades de Produção das
Siderúrgicas . 280
Tabela 7.2 - Principais Tipos de Equipamentos Utilizados pelas Siderúrgicas da Bacia do Rio Piracicaba . 281
Tabela 7.3 - Fatores de Poluição de Siderúrgica (kg/ton) de Acordo com o Tipo de Tecnologia, corrigidos
Segundo a Natureza dos Equipamentos Empregados pelas Siderúrgicas da Bacia do Rio Piracicaba,
Minas Gerais (1995) . 283
Tabela 7.4 - A Matriz Teórica: Fatores de Emissão de Siderúrgicas (mg/l), de Acordo com o Tipo de
Tecnologia, Corrigidos Segundo a Natureza dos Equipamentos Empregados pelas Siderúrgicas da
Bacia do Rio Piracicaba, Minas Gerais (1995) . 284
Tabela 7.5 - Valores Máximos Admissíveis pela Legislação de Minas Gerais para os Principais Parâmetros
Físico-Químicos de Poluição Hídrica Gerada pelas Indústrias Siderúrgicas . 287
Tabela 7.6 - Comparação da Qualidade da Água da Bacia do Piracicaba no Período 85-90 (valores
máximos observados em mg/l) com os Dados do Monitoramento Feito em Maio de 1995. Pontos de
Controle a Jusante das Empresas . 288
660
Tabela 7.7 - A Matriz Institucional: Fatores de Correção da Matriz Teórica, Segundo a Redução, entre
1985 e 1995, dos Níveis de Poluição Hídrica na Área de Influência das Siderúrgicas da Bacia do Rio
Piracicaba . 290
Tabela 7.8 - Fatores Teóricos de Emissão de Siderúrgicas (mg/l) Corrigidos Segundo a Natureza dos
Equipamentos Empregados pelas Siderúrgicas do Piracicaba e Segundo os Níveis de Emissão
Ocorridos nas Áreas de Influência das Empresas no Período 85-95 . 291
Tabela 7.9 - Resultado das Amostras de Água Segundo Áreas de Influência das Empresas na Bacia do
Rio Piracicaba, Minas Gerais (1994-95) . 292
Tabela 7.10 - Matriz do Rio: Fatores Teóricos de Emissão de Siderúrgicas (kg/tonelada) Corrigidos
Segundo a Natureza dos Equipamentos Empregados pelas Siderúrgicas do Piracicaba e Segundo
os Níveis de Emissão Ocorridos nas Áreas de Influência das Empresas no Período 85-95 . 293
Tabela 7.11 - A Matriz da Produção: Produção Total de Aço das Principais Siderúrgicas da Bacia do Rio
Piracicaba, Minas Gerais (1985-94) . 294
Tabela 7.12 - A Matriz da Poluição: Hipóteses a Respeito dos Volumes (ton) Anuais Emitidos dos
Principais Poluentes Hídricos pelas Principais Siderúrgicas da Bacia do Rio Piracicaba, Minas Gerais
(1994) . 296
Tabela 7.13 - Fatores de Emissão de Poluentes Hídricos Brutos Segundo Unidades de Produção da
Cenibra - (valores máximos de operação) . 300
Tabela 7.14 - Fatores de Emissão de poluição hídrica do GRUPO I (valores máximos de operação) . 301
Tabela 7.15 - Fatores de Emissão dos Efluentes Brutos da CENIBRA (mg/l) segundo a Natureza dos
Equipamentos Empregados . 302
Tabela 7.16 - Fatores de Emissão dos Efluentes Tratados da CENIBRA (Valores Máximos de
Operação) . 303
Tabela 7.17 - Fatores de Emissão do Efluente Tratado da CENIBRA, após Instalação do Tratamento
Secundário na Planta de Celulose Existente (Valores Máximos de Operação) . 304
Tabela 7.18 - Fatores de Emissão do Efluente Líquido do Grupo I da CENIBRA, após Ampliação
(Valores Máximos de Operação) . 307
Tabela 7.19 - Fatores de Emissão dos Efluentes Tratados (mg/l) da CENIBRA . 305
Tabela 7.20 - A MATRIZ TEÓRICA: Fatores de Emissão dos Efluentes Tratados (mg/l) da CENIBRA . 305
Tabela 7.21 - Valores Máximos Admissíveis (mg/l) pela Legislação de MG para os Principais Parâmetros
Físico-Químicos da Poluição Hídrica Gerada pela CENIBRA . 309
Tabela 7.22 - Comparação da Qualidade da Água do Rio Doce, Tendo como Referência a CENIBRA . 310
Tabela 7.23 - A MATRIZ INSTITUCIONAL: Fatores de Correção da Matriz Teórica, segundo a
Redução, entre os Períodos 83-86 e 87-94, dos Níveis de Poluição Hídrica na Área de Influência da
CENIBRA . 311
Tabela 7.24 - Fatores Teóricos de Emissão dos Efluentes Tratados da CENIBRA (mg/l) Corrigidos segundo
os Níveis de Emissão Ocorridos nas Áresa de Influência da mesma, no Período de 83-94 . 312
Tabela 7.25 - A MATRIZ DO RIO: Fatores Teóricos de Emissão dos Efluentes Tratados da CENIBRA
(kg/h) , Corrigidos segundo os Níveis de Emissão ocorridos na Área de Influência da CENIBRA
no Período de 1983-84 . 312
Tabela 7.26 - A MATRIZ DE PRODUÇÃO: Produção Total de Celulose (t/ano) da CENIBRA - 1985 a
1994 . 313
661
Tabela 7.27 - A MATRIZ DE POLUIÇÃO: Hipótese a respeito dos Volumes (ton.) anuais emitidos, pela
CENIBRA, dos Principais Poluentes Hídricos - 1994 . 314
Tabela 7.28 - Parâmetros Ambientais Afetados na Etapa de Beneficiamento Segundo o Tipo e Atividade
da Exploração Mineral na Bacia do Rio Piracicaba, Minas Gerais . 328
Tabela 7.29 - Potencial Poluidor da Mineração com Relação à Qualidade das Águas Segundo Algumas
Substâncias Minerais . 330
Tabela 7.30 - Minas em Atividade, Usinas de Beneficiamento e Barragens de Contenção de Rejeitos e
Estéril por Município Produtor de Minério de Ferro, Ouro e Manganês na Bacia do Rio Piracicba,
Minas Gerais (1992) . 336
Tabela 7.31 - Processos na Feam Segundo Porte da Empresa Mineradora na Bacia do Rio Piracicaba,
Minas Gerais (1995) . 339
Tabela 8.1 - Valores Mínimos e Máximos das Variáveis Físicas e Químicas da Água na Bacia do Médio Rio
Doce no Período de Seca nos Anos de 1993, 1994 e 1995 . 362
Tabela 8.2 - Valores Mínimos e Máximos das Variáveis Físicas e Químicas da Água na Bacia do Médio Rio
Doce no Período de Chuvas dos Anos de 1993, 1994 e 1995 . 363
Tabela 8.3 - Estatísticas Descritivas das Variáveis Físicas e Químicas nos Períodos de Seca . 365
Tabela 8.4 - Estatísticas Descritivas das Variáveis Físicas e Químicas nos Períodos de Chuva . 365
Tabela 8.5 - Estatísticas Descritivas das Variáveis Biológicas Utilizadas para a Construção do Índice
Biológico nos Períodos de Seca . 368
Tabela 8.6 - Estatísticas Descritivas das Variáveis Biológicas Utilizadas para a Construção do Índice
Biológico nos Períodos de Chuva . 369
Tabela 8.7 - Limites para as Classes de Qualidade da Água a Partir dos Valores do Índice Físico-Químico . 372
Tabela 8.8 - Limites para Classificação dos Índices Biológicos das Estações de Amostragem. . 373
Tabela 8.9 - Índice Físico-Químico e Classes de Qualidade da Água para os Períodos de Seca (P1S e
P3S) . 374
Tabela 8.10 - Índice Físico-Químico e Classes de Qualidade da Água para os Períodos de Chuva (P2C e
P4C) . 375
Tabela 8.11 - Valores do Índice Biológico Obtidos para os Períodos de Seca (BP1S e BP3S) . 377
Tabela 8.12 - Índice Biológico e Classes de Qualidade da Água para os Períodos de Chuva (BP2C e
BP4C) . 378
Tabela 8.13 - Limites para as Classes de Qualidade da Água das Estações de Amostragem . 381
Tabela 8.14 - Índice de Qualidade da Água por Período de Amostragem, Considerando-se Cinco
Classes de Qualidade . 382
Tabela 8.15 - Concentração Média de Cromo Total (mg.l-1) na Água no Período 1993-1995
(Cr = 0,05 mg.l-1) . 386
Tabela 8.16 - Concentração Média de Chumbo Total (mg.l-1) na Água no Período 1993-1995
(Pb = 0,03 mg.l-1) . 387
Tabela 8.17 - Concentração Média de Zinco Total (mg.l-1) na Água no Período 1993-1995
(Zn = 0,18 mg.l-1) . 387
Tabela 8.18 - Concentração Média de Cobre Total (mg.l-1) na Água no Período 1993-1995
(Cu = 0,02 mg.l-1) . 388
Tabela 8.19 - Concentração Média de Níquel Total (mg.l-1) na Água no Período 1993-1995
(Ni = 0,025 mg.l-1) . 388
662
Tabela 8.20 - Perda ao Fogo (%) nos Sedimentos no Período 1993-1995 . 389
Tabela 8.21 - Concentração Média de Cromo Total (g.g-1) no Sedimento no Período 1993-1995
(Cr = 53 g.g-1 ) . 390
Tabela 8.22 - Concentração Média de Chumbo Total (g.g-1) no Sedimento no Período 1993-1995
Ataque a quente (Pb = 19 g.g-1 ) . 391
Tabela 8.23 - Concentração Média de Chumbo Total (g.g-1) no Sedimento no Período 1993-1995
Ataque a frio.(Pb = 19 g.g-1 ) . 392
Tabela 8.24 - Concentração Média de Zinco Total (g.g-1) no Sedimento no Período 1993-1995
(Zn = 95 g.g-1 ) . 393
Tabela 8.25 - Concentração Média de Cobre Total (g.g-1) no Sedimento no Período 1993-1995
(Cu = 33 g.g-1 ) . 394
Tabela 8.26 - Concentração Média de Níquel Total (g.g-1) no Sedimento no Período 1993-1995
(Ni = 29 g.g-1 ) . 395
Tabela 8.27 - Concentração Média de Mercúrio Total (g.g-1) no Sedimento no Período 1993-1995
(Hg = 0,1g.g-1 ) . 396
Tabela 8.28 - Concentrações Médias de Zinco e Mercúrio Totais (g.g-1 Peso Úmido) em Amostras de
Peixe Colhidas nas Sub-Bacias do Médio Rio Doce no Período 1993-1995 . 409
Tabela 8.29 - Concentração Média de Mercúrio Total (µg/g Peso Úmido) em Amostras de Peixe
Conservadas de Maneiras Diferentes no Período 1993-1995 . 409
Tabela 8.30 - Composição e Abundância dos Taxa Fitoplanctônicos Encontrados nas Sub-Bacias do
Médio Rio Doce no Período 1993-1995 . 445
Tabela 8.31 - Composição qualitativa da Comunidade Zooplanctônica nas estações amostradas
na bacia do Médio Rio Doce no Período 1993-1995 . 452
Tabela 8.32 - Composição e Distribuição da Bentonofauna nas bacias do Médio Rio Doce no período
1993-1995 . 428
Tabela 8.33 - Famílias Dominantes nas Sub-Bacias do Médio Rio Doce no Período 1993-1995 . 434
Tabela 8.34 - Estações de Amostragem na Bacia do Rio Piracicaba, Médio Rio Doce, MG . 436
Tabela 8.35 - Espécies de Peixes Encontradas no Trecho Médio do Rio Doce no Período 1994-1995 . 438
Tabela 8.36 - Distribuição das Espécies de Peixes nas Sub-Bacias do Médio Rio Doce,
com Suas Respectivas Abundâncias Medidas através das CPUE’s em Número . 440
Tabela 8.37 - Valores Médios de Riqueza, Diversidade e CPUE’s em Número e Biomassa por Ambientes
Amostrados nos Rios Piracicaba e Trecho Médio do Rio Doce . 442
Tabela 9.1 - Cobertura Vegetal e Uso da Terra em 29 Municípios da Bacia do Rio Doce, MG . 462
Tabela 11.1 - Relação do Número de Informantes-Chave Entrevistados por Localidade Visitada . 560
Tabela 11.2 - Relação das Espécies Cultivadas Citadas, Suas Respectivas Famílias, Nomes Populares e
Principais Indicações Medicinais . 561
Tabela 11.3 - Relação das Espécies Nativas/Ruderais, Suas Respectivas Famílias, Nomes Populares,
Local de coleta* e Principais Indicações Medicinais . 562
Tabela 11.4 - Relação das Plantas Nativas/Ruderais (nomes populares) Não-Identificadas e Respectivas
Indicações Medicinais . 564
Quadro 3.1 - Categorias Censitárias . 115
Quadro 3.2 - Internações Hospitalares em Algumas Cidades do Vale do Piracicaba - 1994 . 128
Quadro 7.1 - Inovações Tecnológicas Ambientais na Usiminas, Belgo-Mineira, Acesita e Cosígua, após
1990 . 285
663
Quadro 8.1 - Estações de amostragem nas sub-bacias do médio Rio Doce e principais impactos a que
estão sujeitas . 348
Quadro 10.1 - Impactos e Atividades Econômicas no Médio Rio Doce . 473
Quadro 10.2 - Conflitos Ambientais no Médio Rio Doce . 476
Quadro 10.3 - Tipologia de Conflitos Ambientais no Médio Rio Doce . 478
Quadro 10.4 - Conflitos Ambientais e Políticas Ambientais no Médio Rio Doce . 480
Quadro 10.5 - Termos de compromisso da Belgo-Mineira . 492
Quadro 10.6 - Estrutura do Mercado da Cenibra . 504
Quadro 10.7 - Estratégias Empresarias e Meio Ambiente no Médio Rio Doce . 507
Quadro 10.8 - Termos de Compromisso da Acesita/Cenibra/Usiminas . 508
Quadro 10.9 - Infrações Ambientais no Médio Rio Doce . 508
Quadro 10.10 - Ordenação das Ações de Redução da Poluição no Médio Rio Doce, Segundo as
Empresas . 509
Quadro 10.11 - Check List de Políticas Ambientais Empresariais no Médio Rio Doce . 510
Quadro 10.12 - Indutores do Aprimoramento da Gestão Ambiental no Médio Rio Doce . 511
Quadro 10.13 - Estrutura Gerencial Ambiental no Médio Rio Doce . 513
Quadro 10.14 - Composição do Copam . 516
Quadro 10.15 - Atuação do Copam/Feam . 518
Quadro 10.16 - Instrumentos Jurídicos de Controle Ambiental em Minas gerais . 520
Quadro 10.17 - Estrutura Gerencial do Copam/Feam . 522
Quadro 10.18 - Efetividade da Ação do Copam/Feam . 523
Quadro 10.19 - Indutores Iniciais da Fiscalização Ambiental no Médio Rio Doce . 524
Quadro 10.20 - Licenciamento Ambiental pelo Copam/Feam . 526
Quadro 10.21 - Infrações e Sanções Aplicadas pelo Copam/Feam . 526
Quadro 10.22 - Constituição de Codemas no Médio Rio Doce . 527
Quadro 10.23 - Avaliação da Atuação de Codemas no Médio Rio Doce . 527
Quadro 10.24 - Atuação dos Órgãos de Meio Ambiente das Prefeituras do Médio Rio Doce . 529
Quadro 10.25 - Inquéritos Civis por Ocupações Ambientais no Médio Rio Doce . 529
Quadro 10.26 - ONGs Ambientalistas no Médio Rio Doce . 532
Quadro 11.1 - Estatísticas da Pesquisa de Opinião na Bacia do Rio Piracicaba . 551
Matriz Físico-Química - (I) . 606
Matriz de Biodiversidade - (II) . 606
Matriz de Atividades Antrópicas - (III) . 607
Matriz de Insumo-Produto - (IV) . 610
Matriz de Intervenção ambiental - (V) . 610
Matriz de Desenvolvimento Sustentável - (VI) . 611
FIGURAS
Figura 1.1 - Mapa da América do Sul/ Brasil/Minas Gerais e a bacia do Rio Doce . 30, 31
Figura 3.1 - Origem dos Municípios da Bacia do Rio Piracicaba - Ano de criação . 95
Figura 3.2 - Evolução Territorial da Bacia do Piracicaba - Perspectiva Histórica . 96
Figura 3.3 - Grau de Urbanização . 100
Figura 3.4 - Tamanho de Cidades . 100
664
Figura 3.5 - Taxa de Crescimento Urbano . 100
Figura 3.6 - Mapa A.U. Vale do Aço . 101
Figura 3.7 - Mapa da Região Metropolitana do Vale do Aço . 104
Figura 4.1 - Evolução do Uso da Terra na Bacia do Rio Piracicaba e seu Entorno . 190
Figura 4.2 - Localização e Principais Atividades Mínero-Siderúrgicas
na bacia do Rio Piracicaba . 190
Figura 5.1 - Sistema Econômico Global . 230
Figura 5.2 - Infra-Estrutura Eco-Demográfica . 231
Figura 5.3 - Enfoque Interdisciplinar para a Abordagem do Meio-Ambiente . 232
Figura 6.1 - Pontos de Coleta . 264
Figura 8.1 - Mapa das estações de amostragem no trecho médio do Rio Doce, destacando a Sub-bacia do
Rio Piracicaba, em Minas Gerais . 397
Figura 8.2 - Temperatura da água (oC) nas sub-bacias do médio Rio Doce no período de 1993-1995 . 351
Figura 8.3 - Concentração de oxigênio dissolvido (mg/l) nas sub-bacias do médio Rio Doce no período
de 1993-1995 . 352
Figura 8.4 - pH da água nas sub-bacias do médio Rio Doce
no período 1993-1995 . 352
Figura 8.5 - Alcalinidade total (meq. CO2 ) nas sub-bacias do médio Rio Doce
no período 1993-1995 . 354
Figura 8.6 - Condutividade elétrica (µS/cm) da água nas sub-bacias do médio Rio Doce
no período 1993-1995 . 354
Figura 8.7 - Concentração de clorofila-a (µg/l) nas sub-bacias do médio Rio Doce
no período 1993-1995 . 355
Figura 8.8 - Concentrações de sílica solúvel reativa(mg/l) nas sub-bacias
do médio Rio Doce no período 1993-1995 . 356
Figura 8.9 - Concentrações de amônia (µg/l) nas sub-bacias do médio Rio Doce
no período 1993-1995 . 357
Figura 8.10 - Concentrações de nitritos (µg/) nas sub-bacias do médio Rio Doce
no período 1993-1995 . 358
Figura 8.11 - Concentrações de nitrato (µg/l) nas sub-bacias do médio Rio Doce
no período 1993-1995 . 358
Figura 8.12 - Concentrações de nitrogênio total (µg/l) nas sub-bacias
do médio Rio Doce no período 1993-1995 . 359
Figura 8.13 - Concentrações de fósforo solúvel reativo (µg/l) nas sub-bacias
do médio Rio Doce no período 1993-1995 . 360
Figura 8.14 - Concentrações de fósforo total (µg/l) nas sub-bacias
do médio Rio Doce no período 1993-1995 . 361
Figura 8.15 - Dendrograma do índice físico-químico para o 1o período (seca) - P1S. . 398
Figura 8.16 - Dendrograma do índice físico-químico para o 3o período (seca) - P3S. . 398
Figura 8.17 - Comparação do índice físico-químico nos períodos de seca . 398
Figura 8.18 - Dendrograma do índice físico-químico para o 2o período (chuva) - P2C. . 399
Figura 8.19 - Dendrograma do índice físico-químico para o 4o período (chuva) - P4C. . 399
Figura 8.20 - Comparação do índice físico-químico nos períodos de chuva. 399
665
Figura 8.21 - Dendrograma do índice biológico do 1o período (seca) - BP1S. . 400
Figura 8.22 - Dendrograma do índice biológico do 3o período (seca) - BP3S. . 400
Figura 8.23 - Evolução do índice biológico nos períodos de seca. . 400
Figura 8.24 - Dendrograma do índice biológico do 2o período (chuva) - BP2C. . 401
Figura 8.25 - Dendrograma do índice biológico para o 4o período de amostragem (chuva) - BP4C. . 401
Figura 8.26 - Evolução do índice biológico nos períodos de chuva. . 401
Figura 8.27 - Dispersão entre os índices físico-químico e biológico nos períodos de seca . 402
Figura 8.28 - Dispersão entre os índices físico-químico e biológico nos períodos de chuva . 402
Figura 8.29 - Índice de qualidade da água por período de amostragem na Bacia do Rio Doce, MG - Brasil . 403
Figura 8.30 - Índice físico-químico de qualidade da água na Bacia do Rio Doce, MG - Brasil . 404
Figura 8.31 - Índice biológico de qualidade da água na Bacia do Rio Doce, MG - Brasil . 405
Figura 8.32 - Concentração total de mercúrio (Mg.g-1 peso úmido) na amostra de peixe A7 em três tipos
de conservação . 402
Figura 8.33 - Concentração total de mercúrio (Mg.g-1 peso úmido) na amostra de peixe A8 em três tipos
de conservação. . 406
Figura 8.34 - Média do número de taxa de organismos fitoplanctônicos nas sub-bacias do médio Rio
Doce no período 1993-1995. . 406
Figura 8.35 - Densidade média de organismos fitoplanctônicos nas sub-bacias do médio Rio Doce no
período 1993-1995. . 406
Figura 8.36 - Número total de taxa da comunidade zooplanctônica nas sub-bacias do médio Rio Doce
durante o período de 1993/95 . 420
Figura 8.37 - Densidade mediana do zooplâncton (org/l) em 15 estações de amostragem na bacia do
médio Rio Doce no período de 1993/95 . 420
Figura 8.38 - Densidade média do zooplâncton (org/l) em 15 estações de amostragem
na bacia do médio Rio Doce nos períodos de seca e chuva de 1993/95 . 421
Figura 8.39 - Total de taxa da comunidade zooplanctônica nas 15 estações de amostragem da bacia do
médio Rio Doce no período de 1993/95 . 422
Figura 8.40 - Percentagem dos diferentes grupos sobre o total de taxa identificados na comunidade
zooplanctônica na bacia do médio Rio Doce no período de 1993-95 . 423
Figura 8.41 - Densidade relativa dos diferentes grupos zooplanctônicos
na bacia do médio Rio Doce no período de 1993-95 . 423
Figura 8.42 - Número acumulado de taxa da bentonofauna nas sub-bacias do médio Rio Doce no
período 1993-1995. . 407
Figura 8.43 - Percentagem (mediana) da contribuição da família dominante nas sub-bacias do médio Rio
Doce no período 1993-1995. . 407
Figura 8.44 - Densidade mediana (org./m2) de organismos da bentonofauna nas sub-bacias do médio Rio
Doce, no período 1993-1995. . 407
Figura 8.45 - Percentagem mediana de contribuição das famílias de Ephemeroptera, Plecoptera e
Trichoptera-EPT nas sub-bacias do médio Rio Doce, no período 1993-1995. . 408
Figura 8.46 - Densidade mediana das famílias Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera-EPT nas sub-
bacias do médio Rio Doce, no período 1993-1995. . 408
Figura 8.47 - Percentagem mediana dos grupos Chironomidae e Oligochaeta nas sub-bacias do médio
Rio Doce, no período 1993-1995. . 408
666
Figura 8.48 - Número cumulativo de espécies (%) por altitudes e estações de amostragem na sub-bacia
Rio Piracicaba e no trecho médio do Rio Doce . 439
Figura 8.49 - Tendência na riqueza (a) e diversidade de espécies (b) em função da altitude e dos
ambientes analisados nos rios Piracicaba e Doce . 441
Figura 8.50 - Percentuais das capturas por unidade de esforço em número
e biomassa por estações de amostragem nos rios Piracicaba e Doce . 442
Figura 8.51 - Dendrograma gerado a partir da análise de cluster para a matriz de presença e ausência de
espécies registradas nos rios Piracicaba e Doce. O método de análise empregado foi o de Distância
Euclidiana . 443
Figura 9.1 - Cobertura Vegetal e Uso da Terra em 29 Municípios da Bacia do Rio Doce, MG . 463
Gráfico 3.1 - Taxas de Mortalidade Geral 1980/1991 . 121
Gráfico 3.2 - Taxa de Mortalidade Específica por Faixa Etária no Vale do Aço - 1991 . 121
Gráfico 3.3 - Mortalidade Proporcional por Faixa etária 1980/1994 - Coronel Fabriciano . 124
Gráfico 3.4 - Taxa de Mortalidade Específica por Faixa Etária 1981 - Coronel Fabriciano . 124
Gráfico 3.5 - Mortalidade Proporcional por Faixa Etária 1980/1994 - Timóteo . 125
Gráfico 3.6 - Taxa de Mortalidade Específica por Faixa Etária - 1991 - Timóteo . 125
Diagrama 5.1 - Modelo de Estrutura de um Sistema Ecológico / Ecotopos segundo RICHTER 1968 . 235
Diagrama 5.2 - Fluxo de Matéria / Energia . 239
Diagrama 5.3 - A Economia Neoclássica . 239
MAPAS
Mapa 2.1 - Mata Atlântica Original . 76
Mapa 2.2 - Remanescentes de Mata Atlântica . 76
Mapa 2.3 - Principais Municípios da Região Leste . 77
Mapa 2.4 - Regiões de Estudo . 77
Mapa 2.5 - Proporção de Matas Nativas - 1940 . 84
Mapa 2.6 - Propriedades das Empresas até 1970 .84
Mapa 2.7 - Propriedades das Empresas até 1970 .85
Mapa 2.8 - Taxas de Crescimento Populacional . 85
Mapa 2.9 - Saldo Líquido Migratório - 1980/91 . 85
667
668
III - LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ALEMG - Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais
ACESITA - Aços Especiais Itabira
AMDA - Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente
AMEPI - Associação dos Municípios da Micro Região do Médio Rio Piracicaba
APA - Área de Proteção Ambiental
APPROV - Associação Progresso com Vida
AREU - Área Rural de Extensão Urbana
AUI - Áreas Urbanas Isoladas
AUVA - Aglomerado Urbano do Vale do Aço
BDMG - Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais
BID - Banco Interamericano para o Desenvolvimento
BIRD - Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento - Banco Mundial
BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
BNH - Banco Nacional de Habitação
BRP - Bacia do Rio Piracicaba
CAEMI - CAEMI Mineração e Metalurgia S.A.
CAF - Companhia Agrícola e Florestal Santa Bárbara (Grupo Belgo-Mineira)
CAPES - Fundação Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior
CAUE’S - Capturas por unidade de esforço
CDDN - Centro de Defesa dos Direitos da Natureza
CEDEPLAR - Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG
CEMIG - Companhia Energética de Minas Gerais
CENIBRA - Celulose Nipo-Brasileira
CEPAL - Comissão Econômica para a América Latina e Caribe
Cepemar - Centro de Pesquisas do Mar
CETEC - Centro de Desenvolvimento Tecnológico de Minas Gerais
CETESB - Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental
CFC - Clorofluorcarbono
CIAMB - SubPrograma de Ciências Ambientais do PADCT
CIMECA - Comércio e Indústria de Minérios e Metais Caxambu Ltda
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CODEMA’s - Conselhos Municipais de Defesa do Meio Ambiente
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
COOPNERA - Cooperativa de Garimpeiros de Nova Era Ltda
COPAM - Conselho Estadual de Política Ambiental de Minas Gerais
COPASA - Companhia Estadual de Água e Saneamento de Minas Gerais
COSIGUA - Companhia Siderúrgica Guanabara - Grupo Gerdau
COSIPA - Companhia Siderúrgica Paulista
CPA - Câmara de Política Ambiental
CS Belgo-Mineira/CSBM - Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira
CUT - Central Única dos Trabalhadores
669
CVRD - Companhia Vale do Rio Doce
DEMAP - Departameto Municipal de Agricultura e Pecuária
DER - Departamento Estadual de Estradas de Rodagem de Minas Gerais
DNPM - Departamento Nacional de Pesquisa Mineral
ECF - Sem cloro elementar
ECMVS - Mestrado em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre da UFMG
EEUFMG - Escola de Engenharia da UFMG
EFVM - Estrada de Ferro Vitória-Minas
EIA - RIMA - Estudo de Impacto Ambiental - Relatório de Impacto Ambiental
EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EPA - Environmental Protection Agency
ESAL - Escola Superior de Agricultura de Lavras (atualmente UFLA - Universidade Federal de Lavras)
ETE - Estação de Tratamento de Efluentes
EXTRAMIL - Extração e Tratamento de Minérios Ltda
FEAM - Fundação Estadual de Meio Ambiente de Minas Gerais
FEEMA - Fundação Estadual de Meio Ambiente do Rio de Janeiro
FIBGE - Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
FINEP Financiadora de Estudos e Projetos
FJP - Fundação João Pinheiro
FNS - Fundação Nacional de Saúde
FUNDEP - Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa
IBASE - Instituto Brasileiro de Análise Sócio-Econômica
IBDF - Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal
IBRAM - Insituto Brasileiro de Mineração
ICB - Instituto de Ciências Biológicas da UFMG
ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços
IFQ - Índice Físico químico
IFQC - Índice Físico-químico do período de chuva
IFQS - Índice Físico-químico do período de Seca
INDI - Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais
IQAg - Índice de Qualidade das Águas
ISO - International Standart Organization
MARSIL - Marsil Transportes, Terraplanagem e Mineração Ltda
MBR - Minerações Brasileiras Reunidas S/A
MCT - Ministério da Ciência e Tecnologia
OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OIT - Organização Internacional do Trabalho
OMS - Organização Mundial da Saúde
ONG’s - Organizações Não-Governamentais
ONU - Organização das Nações Unidas
PADCT - Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico
PCA - Plano de Controle Ambiental
670
PIB - Produto Interno Bruto
PLANASA - Plano Nacional de Saneamento
PMI/MPC - Plano Diretor de Ipatinga
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PRAD - Programa de Recuperação de Áreas Degradadas
RBG - Revista Brasileira de Geografia
RCA/PCA - Relatório de Controle Ambiental / Programa de Controle Ambiental
RMBH - Região Metropolitana de Belo Horizonte
RMVA - Região Metropolitana do Vale do Aço
SAMARCO - Samarco Mineração S.A.
SAMITRI - S.A. Mineração Trindade
SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
SCMA - Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Minas Gerais
SERFHAU - Serviço Federal de Habitação e Urbanismo
SIMIL - Silva Mineração Ltda
SOBEMILA - Sobemila S.A. Beneficiadora de Minérios
SOCOIMEX - Sociedade Comércio Importação e Exportação Ltda
SUCAM - Superintendência de Companhias de Saúde Pública
TCF - Tratamento sem cloro
TRI - Toxics Release Inventory
TRS - Tratamento de Resíduos Sólidos
UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UFLA - Universidade Federal de Lavras
UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais
UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso
USIMINAS - Usina Siderúrgica de Minas Gerais
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A presente edição, com tiragem de
1000 exemplares, foi composta por
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