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raterno. HA mesmo as nidade se naneira de enfim, na descreve zioe sem lar da sua 80 2 UMA FILOSOFIA DA PAISAGEM'” po! ian caRCHIA entre as ideias mais aceitas, € mais dificeis de descartar, na teoria de escensencia negeliana OU, de modo geral, historicista, encontra-se aquela segundo a ual paisagem enquanto dimensao estética, seria uma invengao da modernidade. & atese ‘projelva’ da paisagem que @ 1é como uma reago. Por assim dizer, como uma resposta & afirmagao do espirito modemo do desencanto. A paisagem — na tese célebre de Joa perda da naturez coeobgica Ié a paisagem em termos de Stimmung, como um substiuto psicolégico chim Ritter - € um fenémeno de "compensacdo", um substitute daquela ‘a experimentada pelo homem modemo. A estética historicista- dequela dimenséo de estranhamento que seria a esséncia da nova liberdade do sujeito a propésito da paisagem, diz que o significado nao Na Estética™, Hegel, is, mas € buscado nos “estados de alma pertence mais aos objetos enquanto tai Ninguém foi to longe nesta linha interpretativa quanto Simmel na cia da natureza sendo wando © homem. im_ fendmeno suscitados Filosofia do dinheiro; segundo ele, néo pode haver experién« indo o homem deixa de ter relagdes naturais de produgo, sendo 4 quar burgués; a paisagem seria u 6, por assim dizer, “citadino’, constitutivamente crist4o-moderno. to de descendéncia Pode-se objetar que justamente no amago do pensamen cia que o belo hegeliana se deu o desmentido deste esquema, salientando a importan ‘ado que, no, uma vez livre do papel subordin natural assume na Teoria estética de Ado! Todavia, mesmo Adorno, se €m Hegel, ele possuia em relagéo ao belo arti lermos atentamente suas consideragdes, confirma et m tudo @ por tudo a dimensdo por exemplo: "De fato, © ‘A reprodugao do belo a manifestagao, @ te que a paisagem tem na estetica historicista. Diz ele, e 0 natural, enquanto manifestagao, ¢ ele tambem imagem Mat lural € uma tautologia que, ao mesmo tempo que objetualiza SS Pane py aco D'Angelo (ed), Estetica @ paesaggio. Bologna Mulino, 2008 9. 209-218. fe nau 1976p Hegel. Estetica, ecitada por N. Merker, tad. de Merker @ N. Vaccaro, Torino, Einauc, fr. Também pg. 927 e seguintes 81 ett climina’. Dai a ideia, decisiva para ele, da Iepresentabilidade do belo natura) e Pesar de tudo, € claro que em Adorno a revalorizagao do belo natural esta sob a insigni ia da historia. Este 6, para ele, um sinal da redeng&o historica. A imagem que Adorno t fem da natureza € aqui especular & histéria: trata-se da natureza enquanto nature, za Sujeitada ao espirito. Toda imagem de conciliago @ refutada como ideol6gica IPS0 facto A carga ut6pica e redentora do belo natural é entregue a dimensto da dor, do reprimido, da negatividade. E a imagem paulina da criagdo que sofre, retomada depois Pela tradi¢éo especulativa idealista, sobretudo por Schelling. Em Adomo se refiete ‘oda a ambivalencia de uma concepgao dialética que, mesmo quando parece querer Salvar a experiéncia do belo natural, 0 reduz, na realidade, a projego de uma bem Precisa disposigao da consciéncia historica: no caso de Adorno, a impossibilidade de representacao do belo natural serve para consolidar a utopia negativa da arte sem figura, Nao se pode dizer, portanto, que a posi¢ao de Adorno seja substancialmente diversa daquela ‘compensatoria” de Ritter: ambos tém por pressuposto que a natureza ficou definitivamente desencantada, portanto ela pode retornar, no maximo, como figura de uma consciéncia historia, ou seja, no caso de Ritter, a paisagem, vista como “secularizago” da antiga ideia de theoria; no caso de Adorno, a utopia, que nao Pode ter imagem, sob o risco de reificago. Ora, 0 problema teérico da paisagem, enquanto problema estético, nao esta de fato na questao, carregada de implicages psicoldgicas e sociolégicas, de ser licito ou nao representar a natureza, ou de como representa-la. © impedimento de produzir imagens da natureza sempre descende da perspectiva da sua colonizagdo, embora invertida. E uma leitura “projetiva’, que no fundo no admite a possibilidade de um confronto com a natureza que prescinda da historia, ou seja, no admite aquela dimensdo de “alteridade” radical da natureza em relag&o a nés, que € 0 pressuposto de toda grande arte da paisagem A interpretado "projetiva” da paisagem € 0 Ultimo fruto de um mal entendido & equivocado romantismo maneirista, que nos legou esta visao incerta & negligentemente sentimental da ideia de paisagem. Aqui, a palavra exata fol pronunciada por Rilke, 0 autor novecentista que, sobre a paisagem, falou as cois2s mais persuasivas e exatas: "Os Romnticos alemdes provaram um grande amor pela natureza. Mas eles a amavam do mesmo modo que o herdi de um conto de Turgene” amava uma mulher, da qual dizia: ‘Eu gostava de Sofia especialmente quand sentado, dava-Ihe as costas, isto é, quando pensava nela, quando a via diante de mim 82 entre retere, de certo, a0s grandes pintores alemaes de paisa gem, que ge rotulavam “romanticos que $6 por comodidade Ss atistas, como para todos os grandes artistas da paisagem, ela nao é de — projecao da subjetividade, portanto uma nova variante da Opressdo es natureza, Mas, a0 contrario, € a revelagéo de uma dimenséo invisivel — ws aprofundamento da sua visibilidade. Escreve, por exemplo, Friedrich: “O homem ou o pintor nobre, reconhece Deus em todas as coisas, o homem (mesmo o pintor) comum vé apenas a forma, nao o espirito’. Nesta mesma direcdo véo também as consideragdes de Carus que, segundo a tradi¢&o neopiatonica cara a Goethe, delineiam uma ideia de paisagem como passagem, por assim dizer, do eidos como figura, como exterioridade, ao eidos como ideia, interioridade. O artista devera, portanto, aprender a falar a lingua da natureza, e a aula na qual ele devera receber tal ensinamento nao podera ser sendo a propria natureza livre: bosques e campos e mares, montanhas, rios, vales, cuja forma e cujas cores ele devera estudar incessantemente, por toda a vida. Ele jamais chegara ao fim deste aprendizado e deste exercitar-se e podemos dizer 0 que diz Goethe no Diwan: “o que nao se pode acabar / é o que engrandecel”. Ora, so quando a alma estiver compenetrada do sentimento fntimo destas diversas formas, quando Ihe for descerrada vividamente a secreta vida divina da natureza, [...] quando finalmente a alma do artista for pura e se apresent luz que vem do alto, entéo nao poderai do, imagens que co natureza que, justat far como receptaculo santo para acolher 0 raio de ‘9 nascer sendo imagens da vida terrena de um nduzirdo, mesmo quem as contempla, a uma nove fina, mais eleva mente por isso, deverao ser chamadas de visdo mais elevada 66 fa da vida terrena [Erdlebenbildkunst] tera misticas, drficas. Enté atingido o seu apice. a arte representativ go pelo qual o homem projeta a si mesmo, tal qual talismo va: ‘ Nao @ 0 sentimer impurezes psicolegicas, sobre a natureza que esta no as ele é, com todas as once da paisagem, como quer 0 cliché pseudo-romantico e ' esl da visé0 fundamento - idealista da visdo projetiva, com todo o seu emaranhado de feridas € compensacse, ‘emotivas. Ao contrario, como fica evidente na remissao de Carus & mistica @ ao orfismo, 0 pressuposto para 0 acesso a uma possivel visdo estética da natureza é um a ética, Tem exatamente 0 sinal contrario a0 da ideia kitsch da alma ou, por conseguinte, do substitute psicologico, Este leia da autoconservagao, a capacidade de sair de pressuposto de naturez projegao do estado de pressuposto € 0 abandono da id de deixar a si proprio, a capacidade de desconcerta-se, de maravilhar-se, de ver g natureza como uma intencionalidade que nao esta voltada ao NOSSO servigo, como uma finalidade sem fim. Nao nos sera possivel, porém, ter acesso a esta compreensao se antes ndo exercitarmos esta ascese nos confrontos com a nossa vontade de dominio, se, portanto, nao estivermos abertos aquele "mistério", aquele “invisivel" que 6 a visdo da paisagem pode nos dar. Foi Kant, tanto na Critica do juizo estético quanto na Critica do juizo teleoldgico, através dos conceitos de sublime e de admiragd0, que langou luz sobre esta dimenséo moral como pressuposto do sentimento estetico da natureza, que nao pode de modo algum ser reconduzido as expectativas histéricas, ou seja, egoisticas dos homens. No pardgrafo 42 da Critica do Juizo, Kant coloca como diferencial para a apreciagao do belo natural justamente a existéncia de uma alma capaz de se langar para fora da sociabilidade do gosto e da historia para atingir uma universalidade mais elevada. Se um homem, que tem gosto sufciente para avaliar os produtos das belas artes com a maxima justeza e fineza, abandona voluntariamente o saléo onde brilham estas belezas que satisfazem a vaidade e alimentam os prazeres sociais, e se dirige em busca do belo natural para desfrutar como que de uma volUpia para 0 espirit, num caminho de pensamento do qual ele jamais podera atingir 0 fim (veja-se a analogia com Carus); consideramos esta escolha com muito Fespeito e veremos nele uma bela alma [schone Sele], a qual nao pode pretender um conhecedor ou um amante da arte mediante o interesse que sente pelos seus objetos. Mais explicitamente, sempre no mesmo paragrafo, Kant afirma que ‘aquele que sente interesse pelo belo natural nao seria capaz disto se antes nao tivesse tido um interesse bem fundamentado pelo bem moral. E de se supor, portanto, naquele que se interessa imediatamente pelo belo natural, ao menos uma disposi¢ao para os bons sentimentos morais”. De fato, € sobretudo diante do espetaculo da natureza que 2 fungao categorial do nosso intelecto menos intervém, que a nossa capacidade cognoscitiva se torna mais impotente diante daquilo que Kant chama de inexplicavel: Se, por um lado, este impedimento nos entrega a nossa impoténcia (tanto no sublime como na admira¢ao), por outro, ele nos remete — justamente através da emog30 ao fundamento suprassensivel da beleza. Ha, portanto, certa dramaticidade a4 estética - ' Sera aquele q o enigma, que transformara, como diz Kant, o pl Ue sabera proteger.ine roptio comentando as palavras de Maeterlinck, segundo Stupor em admiracao 7 © qual nte neces: a a. apsolutamel sario para que o espetaculo Nos ent Progresso nao @ usiasme. Oe, nigma 6 sufciente’, Rilke escreve que, neste sentido, o artista 6 até sup eFiOr 20 Sabi, “Se 7 este rata de resolver enigmas, o artista tem um papel muito maior 0U, Se quisermos isermos, um toda arte é Esta — go como um di estrutura do enigma nos coloca, assim, em presen, de algo como um duplo movimento do espirito que s6 aparentemente & cont a ni direito ainda maior. E proprio do artista amar © enigma. Px getramado sobre enigmas’. oraue De um lado, portanto, o antincio de um estranhamento, de uma distan on isto, € a0 mesmo tempo, © sentimento de que este estranho ee maximamente proprio, que esta distancia é f suma, 0 sentimento de um n&o-humano cove one neamene ee quilo que & mais proximo da nossa essencia. Nao ha paisagem que nao seja acompanhada pela consciéncia da sua demonicidade. As marcas da historia podem reforgar este sentimento, mas nao pede imp6-lo. O que conta ndo é 0 sinal da no presenga do homem, como quer Simmel que vé na paisagem, antes de tudo, 0 enredamento de natureza e historia. O a conta € a presenga do invisivel, dada no siléncio, no pressagio, no aceno, 0 que faz com que a paisagem se associe, nao @ historia, mas ao mito, ndo a presenga -mesmo que passada — do homem, mas a presenga oculta e, justamente por isso mais evidente, do divino (esta associagéo de mito e paisagem explica, mais do que qualquer outra coisa, a relutancia de Adorno diante da possibilidade de se representar © belo natural). Justamente no interior da modemidade, a poesia da ilusao heroica ta demonicidade da paisagem. Em Leopardi, sempre cultivou esta nao humanidade, est © tema da distancia este tema se oferece numa série de variagbes sobre ela indefinigdo, veja-se 0 meu poema Linfnito, que me de modo que a vista, a certa distancia ccom fim a perder de vista, seja pela onstrugdo, uma torre, et, vista este ndo se veja, produz A propésito das sensagdes que agradam Pp evoca a ideia de um campo tdo audaciosamente ingre! ‘ou aquela de uma fileita de arvores, tar em declive, ete. etc. Uma & 1a do horizonte, € que o finito @ 0 indefinido, ete. ete nao chega ao vale; extensdo da fileira, seja por ela 65 de modo que ela parega elevar-se um pouco acin ‘az e sublimissimo entre um contraste fortemente efit el e 0 invisivel como contraste entre 0 visiv ivel 6 remetido a fa sensibilidade to, novamente, © re a possibilidad de fugidio; da-se E notavel e sing Leopardi evoca en! espaco estético no qual se ab algo que ndo dominamos, 2 219° 5 do fenomenico. le da paisagem: © um rebaixamento de ular a afinidade com a tematica 85 que incide nos limite: um adjetivo como sublimissimo, Em outeg kantiana, atestada até pela presenga de a da distancia aquele da meméria passagem notavel de Zibaldone, Leopardi liga o tem da recordagao, sublinhando mais uma vez 0 tema da interiorizagao do visivel, ou soja, © tema de uma figurago que se torna ideia. "Uma pintura de paisagem (una pittura gj .¢ bela porque nos remete a uma vista real, a um juga, paese) nos agrada e nos parect je nos remete as pinturas. Como todas as real, porque parece ser pintada, porqui imitagées (...). Assim, estando no presente, agrada-nos e parece-nos belo somente o que € distante, e todos os prazeres que chamarei de poéticos consistem em ". Para ser bela, a percepgées de similaridades e relagées, consistem em recordagse: visio deve ser impregnada de meméria, o que equivale a dizer que ela deve dar ocasi&o a uma passagem do visivel ao invisivel: “Se um objeto qualquer, por exempio um lugar, um sitio, um campo, por mais belo que seja, nado despertar alguma lembranga, nao @ pottico vé-lo (...). A lembranga é essencial e fundamental no sentimento poético, nao por outro motivo sendo porque o presente, qualquer que ele seja, ndo pode ser poético; 0 poétice, de um modo ou de outro, sempre consiste no distante, no indefinido, no vago". Certa sugestéo leopardina pode-se encontrar, em anos mais proximos a nés, em uma passagem de Pavese sobre o mito, onde de novo © tema da paisagem é associado a presenga do mistério, 4 demonicidade sagrada uma planura em meio a colinas, composta de prados, arvores em planos sucessivos ¢ amplas clareiras, que um pouco de bruma da manha de setembro faz destacar da terra, desperta interesse pelo evidente carater de lugar sagrado que deve ter assumido no passado. Nas clareiras, festas, flores, sacrificios a beira do mistério que acena e ameaga por detrés das sombras silvestres. La, na fronteira entre 0 céu e os troncos, Podia despontar a Divindade". Ninguém, porém contou de maneira tao admiravel como Rilke 0 proceso doloroso de desantropomorfizagao, como ruptura com o egoismo da autoconservagao, necessario para que se abra para nds o espaco estético da Paisagem. Para entrar no espaco da distancia e da memoria, da “recordagao” interiorizada, 0 artista deve sair da sociabilidade, do seu Ego habitual, para entrar no espago mitico da solidao, onde ele sera um estranho sobretudo para ele proprio: Musto longo era'0 caminho @ percorter, porque era dificil desabituar-se tanto assim do mundo 8 Ponto de nao olha-lo mais com 0s olhos normais, sempre ciosos de referr tudo a si e a S125 percentvo, alargamento e intetiorizagéo da visao uma arte autonoma; teria que ser distante e Muito Se tornar, nos confrontos do nosso destino, um exemplo Seguindo este caminho, justamente por estas razées, visto que © espaco da Paisagem 6 9 &spago mitico da distancia (que conduz a interioridade) ou do estranhamento (que conduz ao Verdadeiro Eu), visto que nada € mais distante da idei libertador”, la de paisagem que o Sentimentalismo projetivo, Rilke também criticou como um contra senso a ideia historicista segundo a qual a paisagem seria uma magistralmente, como no havia Nsteria do pensamento ocidental, aparecem as ideias capazes de circunscrever a Pesagem como espago mitico-epitanico e, por isso mesmo, . estético: as ideias de , onde exatamente a paisagem se constitui como aquele espago, fora da urbanidade e da Sociabilidade, fora da historia, onde © controle do homem Sobre 0 mundo é menor, onde o mundo se torna epifania, ©spaco do evento e do mistério, E aqui, na paisagem, que a atopia, a excentricidade de Socrates encontra a sua verdadeira morada. Além, portanto, de constituir, como Mostrou E. R. Curtius, o paradigma fisico da paisagem ideal, o Fedro platénico associa 89 tema da paisagem o mito da imortalidade da alma e a propria possibilidade de a ‘letheia se dar como epiphaneia. O mito da alma enamorada tem como seu Pressuposto, no Fedro, 0 espago da paisagem como lugar de saida do mundo, como “Pago de encantamento, de éxtase, no qual se repete 0 cenario arquetipico ‘ss rigens, 0 cenario supercelestial anterior 4 queda da alma sobre a terra. & nevessi ait da polis, na qual o dialeghestai de Socrates mal corasgn 0 de " ie Sntilegein sofistico, para que se ctie aquele estranhamento capaz o culo da evidencia natural, justamente no amago da ), a0 coragao da interioridade. A histéria do mito da negagao (uma entre as muitas palinédias icial (e, retrospectivamente, carregada guir Fedro fora da cidade: "os justamente diante do espeta exterioridade (no panico do meio-dia da alma imortal s6 pode ter inicio a partir que se encontram no didlogo) da afirmagae in! s, aparentemente relutante em se querem ensinar nada @ eu sO posse aprender com os & sendo ironia: a atopia de Sécrates, que se de ironia) de Sécrate: campos e as drvores no nos homens na cidade’. Tudo isto nao comporta na paisagem como um “forasteiro’, é indispensavel para que ele possa se colocar na condigao de acolher uma revelagdo. Este Gisposigao espiritual capaz de corresponder ao mistério, a0 enigma, proprios da que parece premer Sécrates mais de perto, com estranhamento € a Unica paisagem, e também, exatamente, 0 uma sugestao de intimidade, de proximidade: Por Hera, que lugar de repouso encantador! Como ¢ rico de folhas e alto este platano! E aquele Vitex, que com seus longos ramos langa tdo bela sombra, tem uma floragdo t4o exuberante que impregna com seu perfume tudo em volta. E como graciosa aquela fonte que brota sob 0 platano, de 4gua tdo fresca, como bem atestam os nossos pés! O lugar deve ser consagrado as Ninfas e a Aquelau, a jugar pelos pequenos idolos e estatuas votivas, Como é suave e doce o ar ‘que se respira! Ha algo de estival e vivaz que ecoa no canto das cigarras. Porém, sobretudo, é agradavel este relvado que, em suave declive, parece feito para apoiar, amavelmente, a cabesa de quem nele se abandona. Pela primeira vez, mas de maneira definitiva, Plato delineou, assim, o sentido filosofico da paisagem como espago estético. E na paisagem que o logos humano, apoiado na vontade da razao, recorrendo por isto a estratagemas e enganos, da lugar a linguagem da revelagao, que nao esta em poder dos homens mas, antes, dele se apodera. Linguagem demoniaca que fala a quem saiu da estrutura da autoconservagao, ao enamorado, que esta fora do proprio Ego. Através do enigma da beleza natural, que nos enche de admiragao e de amor, somos chamados do sensivel isa ‘em 6 Invisivel porque tanto mais a conquistames 88 quanto mais nos perdemos nela. Para chegar & paisagem devema 8 ren a toda determinagao temporal, wunciar, © quanto possivel, sentido oposto: € o perceber"®, a Berlin, Springer. 1995. P29 231 89. ® Erwin Straus, Vom Sinn der Sine. 89

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