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ANTES E

PARTO
DEPOIS
A experiência de ser
(A)NORMAL
O que você precisa saber para evitar abusos e
mãe é acompanhada de maus-tratos na maternidade
mudanças no corpo e na
mente que precisam ser
compreendidas

PODER DE
ESCOLHA
Toda gestante precisa
ter voz e ser respeitada

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E D I TO R I A L

Infelizmente, nem sempre a maternidade


S
PRO T EÇ ÃO resulta em realização. Fatores como falta de
planejamento familiar e de vínculo a uma
maternidade no pré-natal, desinformação,
2
A Q UEM GER A ausência de uma rede de apoio e de acom-
panhante na sala de parto, bem como o
descumprimento das leis que garantem o

UM A VIDA direito ao atendimento médico adequado,


podem potencializar o padecimento da mãe 4
e do filho. Mais grave e traumático é quando
ocorrem maus-tratos.
É preciso combater todo tipo de abuso antes, Ainda não há consenso sobre o termo
correto para se referir à imposição de um 6
durante ou depois do parto grau significativo de dor e sofrimento evi-
táveis à parturiente e ao bebê. Há entida-
JEANETE LIMA des e acadêmicos que chamam a prática de
14
O
“violência obstétrica”, enquanto outros,
milagre da vida se renova a cada gestação e faz da mater- incluindo a Organização Mundial de Saúde
nidade uma experiência singular, permeada de significados (OMS), referem-se a ela como “abusos, des-
e emoções. Da concepção até o nascimento e o desenvolvi- respeito e maus-tratos durante o parto nas
mento da criança, existe um caminho cruzado por situações inusita- instituições de saúde”.
das e atores que podem favorecer ou frustrar essa vivência sublime. Fato é que esse problema diz respeito aos
Lembro-me de quando eu e meu esposo planejamos a chegada maus-tratos físicos, psicológicos, xingamentos,
do nosso filho. Inicialmente, houve euforia e felicidade, mas, à negligência e procedimentos impostos pelos
medida que a gravidez avançava, meu corpo se transformava e os profissionais de saúde que desrespeitam a auto-
enjoos frequentes mudaram nossa rotina. Antes do parto, o medo
e a insegurança se instalaram em minha mente. Uma cesárea de
emergência foi realizada para salvar a mim e ao bebê, por causa
nomia materna para tomar certas decisões.
Todo tipo de abuso antes, durante ou depois do
parto, viola o direito à vida e à saúde, podendo
22
da perda significativa de líquido no rompimento antecipado da afetar seriamente a mãe e o bebê. Por isso, em
bolsa, seguido da não-dilatação e de horas de espera. O turbilhão caso de violência, a denúncia deve ser levada
de emoções e surpresas continuou ao amamentar e cuidar do aos órgãos competentes.

Fotos: Adobe Stock


bebê. A recuperação da cirurgia e o retomar a vida levou tempo, O nascimento de uma vida transforma
mas a boa equipe de profissionais de saúde, a assistência do meu vidas. Com acolhimento, apoio, informa-
esposo e a rede de apoio dos familiares e amigos me ajudaram a ção e um bom acompanhamento médico
superar as dificuldades e viver o melhor dessa experiência. em cada fase é possível proporcionar uma

Fotos: ©Jorm S | Adobe Stock e Gustavo Leighton/DSA


experiência feliz na maternidade. Cuidar de
quem gera a vida é promover o que Jesus
nos oferece: “Eu vim para que tenham vida
e a tenham em abundância” (João 10:10).

JEANETE LIMA é educadora e


coordenadora da campanha
Quebrando o Silêncio na
América do Sul
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Edu

2 QUEBRANDO O SILÊNCIO
de
de
SUMÁRIO 8 SONHO OU PESADELO?
Como tornar o parto mais seguro e evitar traumas

ma
o,
m- 2 EDITORIAL
o Proteção a quem gera uma vida
o
o,
ãe 4 ENTREVISTA
do Poder de escolha

mo
m 6 ENTENDA 16 PARADOXOS DA MATERNIDADE
vi- Responsabilidades compartilhadas
O choque entre a expectativa e a realidade
a-
de
s,
14 REDE DE SALVAÇÃO
de
As mães precisam de cuidado e companhia
s-
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os
o-
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do 22 RESENHA 20 ANTES E DEPOIS
do Consulte o manual O pós-parto e as mudanças no corpo e na
m mente da mulher
da
Fotos: Adobe Stock

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co 24 FAMÍLIA
ma PLANEJADA
Fotos: ©Jorm S | Adobe Stock e Gustavo Leighton/DSA

de O que levar em conta


us
antes de ter filhos
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).

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Sinais dos Tempos é Marca Registrada no Instituto
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Eduardo Olszewski

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razer uma criança ao mundo envolve muitas situações e pessoas. Porém, qu

Foto: ©chompoo | Adobe Stock


a mãe é a protagonista. Se a equipe médica não respeita os desejos e nã
necessidades dela no momento do parto, ocorre a violência obstétrica. de
ANNE SEIXAS Esse termo define o uso de procedimentos dispensáveis, agressões físicas ou alé
verbais e condutas invasivas contrárias à vontade daquela que está prestes a a
dar à luz. Ocorrências desse tipo têm ampliado o debate sobre algumas práti- sa
cas utilizadas nos centros de obstetrícia. É o caso das cesarianas, método que em
ainda divide opiniões. Embora esse tipo de procedimento possa salvar vidas pa
nas situações em que o parto vaginal oferece risco à mãe ou ao bebê, o ele- sa
vado número de cesáreas eletivas é um fenômeno que merece atenção. Países po
sul-americanos como Brasil, Chile, Colômbia, Paraguai e Equador lideram in
o ranking dos que mais realizam esse tipo de cirurgia sem uma indicação
médica real ou contra a vontade da gestante, segundo pesquisa publicada na E
revista científica The Lancet, em 2018. A  enfermeira obstetra, professora e em
pesquisadora Vivianne Silva acompanha o dia a dia de pacientes no hospital tra
público em que trabalha. Na entrevista a seguir, a mestre em Enfermagem da E
Mulher pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutora em Enfermagem mo
pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro nos ajuda a entender e evitar a M
violência no parto. pr

4 QUEBRANDO O SILÊNCIO
A cultura de se realizar cesáreas tem em histerectomia, que é a retirada cirúrgica do
influência nos índices de violência obstétrica? útero e seus anexos, de forma desnecessária.
Sem sombra de dúvidas. Às vezes, a violência Geralmente, o modelo cesarista traz o pressuposto
obstétrica pode vir disfarçada de auxílio para de que a mulher que se submeteu a esse procedi-
ajudar a gestante. Mas ainda é difícil apresentar mento não poderá ter um parto vaginal em novas
o outro lado, uma vez que os grupos educativos gestações. O parto normal também garante menor
sobre o assunto são incipientes. Fato é que as índice de bebês prematuros, visto que cada parto
mulheres passam hoje por uma grande mudança e cada gestação têm o seu tempo dada a questão
no entendimento do que é o parto, independen- hormonal. O puerpério dessas mulheres é muito
temente de classe social e etnia. Isso varia depen- mais rápido, com menores índices de complicações
dendo de onde ela será atendida, se no sistema e até de dores. Ela será a protagonista do próprio
público ou privado. O apelo para que a cesariana parto e terá as possibilidades de escolhas para as
seja escolhida também está relacionado à dor cau- posições mais confortáveis.
sada durante o parto. Na rede privada, essa cultura
prende-se muito à justificativa de que a cesariana Você trabalha diretamente com partos,
causa menos sofrimento à mulher. Já na rede pública, assistindo as parturientes e a equipe médica.
é adotada para poupar os profissionais dos gritos Quais práticas precisam mudar nesse
que, em sua dor, as mulheres emitem durante o processo para torná-lo mais respeitoso para
parto normal. a mãe?
Quanto mais orientada ela estiver sobre seus
Quais são os riscos de um procedimento direitos, menor será a incidência da violência
como esse de forma desnecessária? obstétrica. É imprescindível que haja um acom-
A cesariana costuma ser apresentada como um panhante no momento do parto. Ele é um grande
benefício à mulher. Assim, ela pode entender que aliado para evitar o ato violento. A presença
a equipe salvou sua vida, desconhecendo, porém, das doulas também fortalece o apoio emocional.
os riscos e malefícios associados a esse proce- Essa pessoa pode perceber violências às quais a
dimento, que, vale lembrar, não é uma via de mulher nem sempre está atenta devido à atividade
parto, mas uma intervenção cirúrgica. Muitas do parto. A capacitação contínua dos profissio-
mulheres submetidas à cesariana acabam tendo nais também é importante para que eles sejam
m, que retornar às instituições de saúde por causa sensibilizados.
Foto: ©chompoo | Adobe Stock

e não somente de questões estéticas, mas também


a. devido a inferências anatômicas e infecções, Qual seria a equipe ideal para assistir uma
ou além dos diagnósticos errôneos. Muitas vezes, mulher no seu processo de parto?
a a parturiente acaba na mesa cirúrgica sem nem O melhor parto é aquele em que o profissional
ti- saber o motivo. A cultura cesarista é muito focada não precise fazer nada. Trata-se de um processo
ue em medicamentos e procedimentos. Por isso, a fisiológico, natural. A medicina, especialmente a
as paciente acaba submetida às ordens médicas sem ocidental, tomou posse desse processo tão intrín-
e- saber exatamente o porquê. Dessa maneira, ela seco dos seres humanos. O ideal é que os pro-
es pode ser violentada das mais diferentes formas, fissionais sejam aqueles que usam as evidências
m inclusive fisicamente. científicas como base para as decisões, procedi-
ão mentos e eventuais intervenções.
na E quais seriam as vantagens do parto normal
e em relação à cesariana? Que benefícios ele Como a mãe pode se preparar para ter um
al traz para a mãe e o bebê? parto respeitoso, que valide seus desejos e
da Ele é muito mais seguro para ambos. Um dos preferências nesse processo?
m motivos é a preservação do sistema reprodutivo. Orientação prévia, a presença do acompanhante
a Mulheres que passam por cesarianas têm maior e, num plano ideal, a mudança das culturas
probabilidade de hemorragias. Isso pode resultar institucionais.

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E N T E N DA

RESP ONS ABILIDADES


COMPAR TILHADA S N
D
d
m
Pais e mães precisam apoiar-se p
mutuamente para tornar a chegada E
c
de um filho mais leve e feliz c

JEFFERSON PARADELLO

A pia está cheia de louça suja. O cesto de roupas trans-


borda. No sofá está a mãe cansada após um longo
dia cuidando de seu bebê, que tem poucos meses
de vida. O marido trabalha fora. Sai quando o sol nasce e
retorna apenas quando já está escuro. Ao chegar em casa,
o que deve fazer? Dar um beijo na esposa, na criança, e ir
descansar para o dia seguinte, ou vestir a camisa e cuidar
do bebê?
Assim como a mãe, o pai também tem papel funda-
mental a desempenhar não apenas na provisão fi nanceira
para suprir as necessidades dos fi lhos, mas também no
fortalecimento dos vínculos por meio de sua atuação nas
demandas do dia a dia. Isso demonstra o suporte e amor
por sua esposa. Acerca disso, o apóstolo Paulo, em sua
carta aos Efésios, escreveu: “Maridos, que cada um de
vocês ame a sua esposa, como também Cristo amou a
igreja e se entregou por ela” (5:25, NAA).
Isso significa conhecer suas necessidades, suas preocupa- NO SUP OR T E À M Ã E
ções e buscar formas de aliviá-las diante das mais diferentes Após o nascimento de um filho, por diversas
cargas. Com isso, ele faz todo o possível para assegurar sua razões (veja os detalhes na p. 16), há mulheres NO
felicidade, seja no que diz respeito à maternidade ou em que enfrentam uma situação delicada: a depres- Por
outras situações da vida a dois. O casamento deve ser uma são pós-parto ou outras condições adversas que
parceria sólida. A chegada de uma criança requer ainda relacionadas. Nesse momento, o apoio do esposo de
mais compreensão e auxílio por parte de ambos. é fundamental para dar suporte físico/emocio- pa
nal e na própria atenção ao bebê. vol
A seguir, entenda a importância de se ter responsabili- sep
dades compartilhadas: ver
dem
da

6 QUEBRANDO O SILÊNCIO
NO E XE M P L O
Aos olhos de um filho, o exemplo dos pais tem um peso
muito importante. Mesmo que esteja em uma idade em
que não compreenda totalmente o significado das pala-
vras, aquilo que fazem e a forma como tratam outras
pessoas, por exemplo, impacta a mente em formação
N A S TA R E FA S D E C A S A e ajuda a moldar o caráter.
Dentro de um lar, as responsabilidades não
devem se restringir apenas à mãe, principal-
mente quando há uma criança. Tarefas sim- N A S FIN A NÇ A S
ples e complexas devem ser compartilhadas. Quando se une em matrimônio, o casal
Elas precisam ser definidas com base em uma precisa ter definido, com antecedência,
conversa franca e madura, visando deixar um dos assuntos mais cruciais do rela-
claro o papel de cada um. cionamento: as finanças. Como será o
funcionamento do lar? Ambos irão tra-
balhar? E com a chegada de uma criança,
a esposa se dedicará integralmente aos
cuidados dela? Ter o apoio de ambos evi-
tará conflitos.

N A E D UC AÇ ÃO
Educar uma pessoa não se restringe ape-
nas ao ambiente escolar. Isso, na verdade,

Fotos: ©ssstocker, MINIWIDE, mast3r, SurfupVector, Olha, Vector Juice, NTL studio | Adobe Stock
começa em casa. Pai e mãe precisam ser par-
ticipativos nesse processo, mas antes devem
discutir como enxergam os mais variados
temas, os valores que pretendem transmi-
tir e, acima de tudo, devem estar alinhados
quanto a isso. A não concordância em pontos
as fundamentais para o outro pode prejudicar
es NO T E M P O D E QUA LIDA D E a própria relação.
s- Por vezes, a rotina diária compromete o tempo
as que é dedicado aos filhos. Sobretudo nos anos
so de formação da criança, a presença materna e N A F OR M AÇ ÃO D OS VA L OR E S E SPIRI T UA IS
o- paterna são ativos valiosos para o seu desen- Pais também possuem suas crenças espirituais. Muitos optam por repassá-
volvimento. Frente a isso, os pais precisam las aos filhos, enquanto outros esperam que essa seja uma descoberta indi-
separar momentos de qualidade para con- vidual. Por isso, devem dialogar sobre como pretendem lidar com o assunto
versar, interagir, brincar, perguntar, ensinar, e o que querem que seus filhos aprendam. Os valores espirituais podem
demonstrar carinho e participar ativamente influenciar o caráter e contribuir para a formação dos valores morais, sociais
da vida de seus filhos. e, inclusive, profissionais.

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C A PA

SONHO OU
PESADELO?
CHARLISE ALVES

O que fazer para


tornar o parto mais
tranquilo e seguro

Fotos: Adobe Stock, montagem Eduardo Olszewski

8 QUEBRANDO O SILÊNCIO
chegada de um filho é um momento único e muito grande repercussão foi registrado no Rio de
esperado pela maioria dos casais. Mas a experi- Janeiro. O médico anestesista que estuprou
ência do período gestacional até o nascimento do uma mulher anestesiada no centro cirúrgico
bebê nem sempre é boa. Por vezes, é conturbada foi preso pelo crime cometido.

?
e até traumática. A escolha de um bom obstetra Uma pesquisa da Fundação Oswaldo
para acompanhar o pré-natal é um passo indispensável e fun- Cruz (Fiocruz) revela que a violência obs-
damental para a segurança da gestante. Mesmo assim, com tétrica no Brasil atinge 36% das gestantes,
todos os cuidados, a mulher está suscetível a sofrer abusos, tanto na rede pública quanto na rede pri-
desrespeito e maus-tratos durante esse período. vada. Outra pesquisa da Fundação Perseu
A ginecologista e obstetra do Hospital Adventista de São Abramo apontou que 25% das mulheres, ou
Paulo, Stephani Gomes, afi rma que a violação pode partir seja, uma em cada quatro, já sofreu algum
de qualquer profissional e abranger falhas estruturais no tipo de abuso desse tipo. No Brasil, não há
sistema de saúde de clínicas e hospitais. lei federal ou outra regulamentação nacional
Marceli Santos (pseudônimo) foi vítima desse problema sobre o que configura ou não violência obs-
quando engravidou pela primeira vez, em 2008. Durante as tétrica. No entanto, a violação dos direitos
consultas em uma clínica, seu ginecologista nunca falou sobre das gestantes e parturientes pode ser enqua-
a caderneta da gestante, documento praticamente obrigatório, drada como lesão corporal e importunação
em que constam informações importantes sobre o histórico sexual, por exemplo.
da paciente. De acordo com ela, o médico sequer pediu que Diferentemente do Brasil, alguns países na
tomasse imunizantes cruciais, e, pela falta de orientação, América do Sul, como a Argentina e o Suri-
ficou sem as vacinas. “Como era a minha primeira gesta- name, possuem leis federais que tipificam a
ção, não conhecia os métodos corretos. Admito que não me violência obstétrica. No caso da Argentina,
preocupei em buscar informação sobre como deveria ser o existe, desde 2009, a lei 26.485, que trata de
pré-natal ideal. Apenas acreditei no meu médico”, relembra. violência contra a mulher e contempla, no
Além da negligência em privar a gestante de cuidados artigo 6, a violência obstétrica. No entanto,
importantes, o profissional realizou um procedimento no a legislação argentina não prevê penaliza-
próprio consultório sem a autorização da paciente. “Achei ções para os profissionais de saúde que a
que ele iria fazer o exame de toque, mas a agressividade me praticam. Um estudo estima que a cada qua-
assustou e comecei a gritar de dor, sem imaginar o que estava tro dias uma mulher é vítima de violência
fazendo”, ela lembra. O médico comunicou que havia des- obstétrica no país.
locado a bolsa para acelerar o parto, apesar de o bebê estar No Suriname, esse tipo de abuso foi inse-
com apenas 34 semanas. O marido de Marceli também se rido nas leis penais e se tornou crime. Já o
assustou ao ver o sangramento e desmaiou. A filha do casal Chile segue na contramão desses países e
nasceu no dia seguinte, em uma cesárea de emergência, em busca alternativas para solucionar a falta de
consequência do sofrimento fetal. regulamentação e sanções sobre a violência
obstétrica, já que é expressivo o número de
O QUE É V IOL Ê NCI A OB S T É T RIC A? casos desse tipo em seu território. Para se
Embora o termo “violência obstétrica” divida opiniões, ter ideia, o Observatório de Violência Obsté-
as diferentes formas de “abusos, desrespeito e maus-tratos trica do Chile verificou que mais de 50% das
durante o parto nas instituições de saúde”, como defi ne a mulheres pesquisadas relataram ter sofrido
OMS, são um problema real que precisa ser combatido. maus-tratos.
Fotos: Adobe Stock, montagem Eduardo Olszewski

“Por isso, é importante que a mulher que está em trabalho


de parto ou que acabou de dar à luz conheça seus direitos. C OMO ID E N T IFIC A R
O profissional de saúde tem a obrigação de explicar a fi nali- Para a doutora Giuliana, quando a mulher
dade de cada intervenção ou tratamento, bem como os riscos é privada de orientações durante o acompa-
existentes e as alternativas disponíveis”, especifica a doutora nhamento gestacional, ela pode estar sus-
Giuliana Fernandes, professora universitária e enfermeira cetível a não identificar sinais de violência.
obstétrica. Um exemplo de violência durante o parto que teve Conforme a doutora Stephani acrescenta,

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NÃO SE CALE pr
Cada país da América do Sul tem um canal para receber as as

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denúncias de violência obstétrica. No Brasil, basta discar o a
número 180 (Central de Atendimento à Mulher) ou 136 (Dis- um
que Saúde). No Chile e na Argentina é o 144. De forma geral, lh
os demais países sul-americanos também possuem um canal rea
específico para denunciar casos de violência contra a mulher. en
Procure saber como funciona no país em que você reside.
mu
da
uma forma de detectar a vio- outros procedimentos semelhan- 5. Mantenha-se saudável no período da –r
lência obstétrica é quando a tes são prejudiciais ou ineficazes gestação. Isso inclui boa alimentação e a (em
mulher não é acolhida, respei- e, por isso, devem ser eliminados. prática de exercícios físicos. çã
tada e devidamente orientada 6. Tenha sempre um acompanhante. A de
sobre medicações, manobras ou P R E V E NÇ ÃO presença de outra pessoa previne a violên- po
mudança de conduta. Ela alerta O conhecimento é a melhor cia obstétrica. tal
para frases claramente desres- maneira de prevenir a violência No Brasil, a Lei Federal 11.108/2005 um
peitosas ditas a pacientes: “se obstétrica. Por isso, é fundamen- garante às parturientes o direito à presença mé
você não fi zer a força certa seu tal que tanto a mulher quanto de acompanhante desde o momento do
bebê nascerá parado”, “deixa eu seu acompanhante estejam bem- trabalho de parto até o contexto imediato seu
ajudar você empurrando a bar- informados sobre o pré-natal, ao nascimento no Sistema Único de Saúde as
riga” e “cale a boca, não grite”. o trabalho de parto e a mater- (SUS), seja da rede própria ou conveniada. A ess

Fotos: ©Anatta_Tan, Fernanda | Adobe Stock


Xingamentos, gritos, recusa nidade. As doutoras Stephani e informação é ouro tanto para a parturiente cia
de atendimento, comentários Giuliana sugerem algumas pre- quanto para o acompanhante. “O parto é pe
constrangedores e procedimen- cauções que podem minimizar desafiador e a equipe não é familiar. O acom- ela
tos sem autorização e desne- os riscos e tornar a chegada panhante precisa dar sustentação, e ele não es
cessários do ponto de vista do filho mais tranquila e segura: consegue fazer isso se estiver surpreso, inse- em
clínico são atitudes classifica- 1. Visite o hospital antes do guro ou mal-informado sobre o processo de eq
das como violência obstétrica. parto. Assim, é possível se infor- parir”, a doutora Giuliana observa. da
O mesmo ocorre quando há mar sobre as práticas adotadas do
tentativas de impedir que a pela instituição. PA R T O HUM A NIZ A D O
mulher escolha sua posição 2. Escolha bem o pré-natalista. O aumento da violência obstétrica tem feito in
de parto, quando há falta de Busque um profissional que passe muitas mulheres optarem pelo parto huma- as
analgesia e negligência. confiança e que a acompanhe até nizado, um método que, segundo a OMS, va
Existem, ainda, técnicas médi- o fim da gestação. “respeita o processo natural e evita condu- ab
cas adotadas rotineiramente sem 3. Defina com a equipe do tas desnecessárias ou de risco para a mãe e os
comprovação científica, como a pré-natal o seu plano de parto. o bebê”. Giuliana, que é doutora em Enfer-
episiotomia, realizada com base Nada mais é do que um docu- magem pela Universidade Federal do Rio de TR
na crença de que facilitaria o nas- mento, recomendado pela OMS, Janeiro, explica que o objetivo da assistência Se
cimento e preservaria a integri- com indicações daquilo que a humanizada é permitir que o processo fisio- co
dade genital da mulher. Outro mulher deseja para o seu parto. lógico do nascimento aconteça. qu
exemplo é a chamada manobra de Esse documento deve ser entregue Humanizar o parto significa, portanto, ho
Kristeller, que é a pressão sobre a e protocolado na maternidade. deixar a mulher como protagonista. Ou seja, su
barriga forçando a saída do bebê. 4. Conheça suas patologias. dar a ela liberdade de escolha para condu- ob
O Ministério da Saúde brasileiro Também é preciso se informar zir esse processo de uma forma mais fisio- mu
considera que a episiotomia de sobre o que é ou não aceitável lógica, inclusive podendo parir na posição cio
rotina, a manobra de Kristeller e nos atendimentos realizados. desejada, seguindo, é claro, os critérios da vid

10 QUEBRANDO O SILÊNCIO
equipe de obstetrícia para a segurança da A história de Marceli, vítima grávida novamente. Dessa vez,
própria mulher. O parto humanizado é mais de violência obstétrica por tudo ocorreu bem e seu fi lho
associado ao parto normal ou vaginal, mas parte de seu médico, teve um nasceu sem nenhuma intercor-
Foto: ©vpanteon | Adobe Stock

a cesárea também pode ser considerada fi nal feliz. “Graças a Deus, à rência ou violação por parte da
um parto humanizado, desde que a esco- minha família e à intervenção equipe de obstetrícia. “Apesar
lha seja da gestante ou que haja indicação de outros médicos, minha filha dos traumas que vivi, me tornar
real de risco para a mãe ou o bebê, e que não nasceu saudável e hoje está com mãe foi uma bênção de Deus”,
envolva nenhum tipo de violência obstétrica. 14 anos de idade”, relata. Ape- ela reconhece.
Estudos científicos evidenciaram que sar de não querer ter mais filhos
mulheres que adotaram posições verticaliza- devido ao trauma que passou, CHARLISE ALVES é jornalista e mãe de
das – de pé, sentadas, ajoelhadas ou andando após quatro anos, em 2012, dois filhos
da – reduziram a fase ativa do trabalho de parto engravidou, mas sofreu um
a (em média, 1h20 a menos). Sem contar a redu- aborto espontâneo. Em 2018,
ção de 20% de analgesia de parto e a redução de forma não intencional, ficou
A de 30% de cesarianas. O parto humanizado
n- pode ocorrer de várias formas: na horizon-
TIPOS DE VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
tal, de cócoras, no hospital, em casa e até em
05 uma banheira com o auxílio de enfermeiros, ▪ Tratamento humilhante e degradante.
ça médicos, doulas e familiares. ▪ Abuso de medicamentos.
do “A mulher que está bem conectada com o ▪ Praticar parto por cesariana (existindo con-
to seu corpo consegue perceber intuitivamente dições para realizar um parto normal), sem o
de as posições que lhe trazem mais conforto, e consentimento voluntário, expresso e infor-
A esses movimentos com frequência estão asso- mado da mulher.
Fotos: ©Anatta_Tan, Fernanda | Adobe Stock

nte ciados à abertura de espaços e ângulos na ▪ Forçar a mulher a parir deitada e/ou imobilizada.
oé pelve que vão favorecer a descida do bebê. Se ▪ Impedir que a mãe segure e amamente o bebê imedia-
m- ela está desconfortável, isso provavelmente tamente após o nascimento.
ão esteja relacionado com a pressão do bebê ▪ Falha no atendimento às emergências obstétricas.
se- em estruturas que estão gerando mais dor,
de e que poderiam ser mais facilmente libera-
das com a livre movimentação”, explica a DIREITOS DA MÃE
doutora Giuliana. ▪ Estar informada sobre as diferentes
O parto humanizado é uma forma de intervenções médicas que podem
to inibir a violência obstétrica. Porém, nada ocorrer durante o parto e o pós-parto,
ma- assegura completamente que a violação não e participar ativamente nas decisões
S, vai acontecer. O melhor meio para prevenir tomadas nesse contexto.
u- abusos e maus-tratos é o conhecimento sobre ▪ Ter um parto que respeite os tempos
ee os direitos na gravidez. biológicos e psicológicos, evitando prá-
er- ticas invasivas e fornecimento injustificado
de T R AUM A S E S OF RIM E N T O de medicamentos.
cia Ser vítima de qualquer tipo de violência traz ▪ Estar informada sobre a evolução do seu parto e o estado
o- consequências, ainda mais num período em de saúde do seu bebê.
que a mulher está mais sensível devido aos ▪ Não se submeter a qualquer exame ou intervenção cujo objetivo seja
to, hormônios da gravidez. A doutora Giuliana a pesquisa.
ja, sublinha que “a repercussão da violência ▪ Escolher uma pessoa de sua confiança para acompanhá-la.
u- obstétrica afeta a qualidade de vida das ▪ Ter o bebê ao seu lado durante sua permanência na unidade de saúde,
o- mulheres, e pode resultar em abalos emo- desde que o recém-nascido não necessite de cuidados especiais.
ão cionais, traumas, depressão, dificuldades na Fonte: Magaly Pereyra Cousiño, especialista em ginecologia e obstetrícia
da vida sexual, entre outros”.

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CYNTHIA HURTADO-MÜLLER m
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bebê nasceu e a mãe está encantada me

S ALVAÇ ÃO
observando como, depois de nove
meses, é possível distinguir suas fei- es
ções, tocar suas mãozinhas e finalmente es
tê-lo em seus braços. O que talvez ela não de
perceba é a transformação que seu corpo e rio
Em um período em que acontecem mudanças sua mente estão experimentando. O parto ma
não é somente o nascimento de um bebê; é
drásticas na vida da mulher, o apoio no cuidado também o nascimento de uma mãe. Co
A origem da palavra puerpério vem dos tan
com o bebê é fundamental vocábulos latinos puer (que significa criança) ou
e peri (ao redor). Consiste basicamente no tan
período imediato ao nascimento, estendendo- af
se por cerca de seis a oito semanas. Esse é o mã

14 QUEBRANDO O SILÊNCIO
tempo necessário para que o corpo da mãe
– incluindo os hormônios e o sistema repro- O PARTO NÃO É SOMENTE O
dutivo feminino – retorne às condições ante-
riores à gestação. No entanto, existem órgãos NASCIMENTO DE UM BEBÊ; É TAMBÉM
que aparentemente mudam para o resto da O NASCIMENTO DE UMA MÃE
vida, como o cérebro.
Ao se tornarem mães, as mulheres pas-
sam por uma transformação radical graças
às ondas hormonais. O cérebro muda mais e da companhia de pessoas que 3 ESCUTE-A. É muito comum
durante a gravidez e o puerpério do que em respeitem suas necessidades, seu que, devido a todo esse turbi-
qualquer outro momento da vida, incluindo tempo e deem reforços positivos, lhão hormonal que a mulher
a puberdade. De acordo com um artigo publi- dizendo quão bem elas estão vive durante a gravidez e na fase
cado pela Nature Neuroscience, parte da se saindo e que os momentos do puerpério, haja momentos
razão para isso é um processo de poda sináp- difíceis passarão. em que ela se sinta só, culpada,
tica em que o cérebro “interrompe” a função A escritora Ellen White afirma triste ou ansiosa. Ela pode até
de áreas de que não precisa mais para construir que “as necessidades físicas da sentir que não é uma boa mãe.
as áreas que agora são cruciais para proteger e mãe não devem de modo algum Portanto, ofereça apoio, ouça
cuidar de seu bebê (link.cpb.com.br/2b0f4e). ser negligenciadas. Dela depen- e mostre que está lá para ela.
Existem, inclusive, pesquisas que mostram dem duas vidas; seus desejos Tente entender o que ela está
como o cérebro materno gera novas redes devem ser bondosamente con- passando sem julgar ou invali-
neurais especializadas em responder efetiva- siderados, e suas necessidades dar seus sentimentos e, assim,
mente a sinais como o choro. Nesse período, precisam ser supridas generosa- ela se sentirá segura e, acima de
também aumenta a atividade cerebral das mente” (A Ciência do Bom Viver tudo, apoiada.
áreas associadas à empatia, ao autocontrole [CPB, 2021], p. 231). Mas como 4 O PAPEL DO PAI É INDISPENSÁVEL
Foto: ©Shotmedia | Adobe Stock

e à reflexão, para estar mais alerta e cuidar fazer isso? Do que a puérpera E INSUBSTITUÍVEL. Tanto para o
do bebê (link.cpb.com.br/609d53). Não é precisa? pai quanto para os filhos mais
maravilhoso? velhos, é importante a partici-
A seguir, veja alguns aspectos pação nos cuidados do bebê:
A P OIO NEC E S S Á RIO chaves para ser considerados: trocar a fralda, dar banho, fazer
O puerpério é um processo que envolve 1 NÃO COMPARE. A última coisa carinho, etc. Com o passar do
muitas mudanças e certo nível de estresse que uma mãe precisa é ser com- tempo, o papel do pai se tornará
motivado por privação do sono, atenção parada com outras mães e seus cada vez mais importante para a
constante ao bebê, cansaço, falta de tempo processos. Frases como “quando criança. Nas primeiras semanas,
para si, podendo, às vezes, desencadear até tive meu bebê, não fazia o que seu papel principal é apoiar a
da mesmo a temida depressão pós-parto. você está fazendo...” são total- mãe, para que ela possa cuidar
ve Todo o sistema familiar, com suas rotinas mente desnecessárias. Parte do de seu filho.
ei- e seus espaços, é reorganizado para incluir processo de adaptação é que a Essa nova fase é tão intensa e
nte esse novo membro. Por essa razão, trata-se mãe conheça o que funciona cansativa quanto deslumbrante!
ão de um momento crítico, em que é necessá- para ela, não para os outros. Os dias passarão lentamente,
oe rio muito apoio, especialmente no ambiente 2 COMEMORE PEQUENAS VITÓRIAS. mas os anos passarão voando!
to mais íntimo. Se a mãe conseguiu fazer o bebê Convido você a aproveitar essa
;é A puérpera nunca deveria ficar sozinha. dormir sem problemas, come- fase e acompanhar da melhor
Com todas as mudanças que está experimen- more! Se a mãe fez com que forma a mulher que mudou sua
os tando, ela precisa que alguém a apoie (veja o bebê pegasse o seu peito de vida ao se tornar mãe.
ça) outros detalhes na p. 6). Por isso é tão impor- forma adequada, comemore!
no tante ter uma rede de apoio, envolvendo o pai, Os bebês não podem elogiar CYNTHIA HURTADO-MÜLLER, psicóloga,
o- a família e a comunidade. Especialmente as suas mães por fazê-los dormir é mestre em Psicopatologia, Psicologia da
éo mães de primeira viagem precisam do cuidado ou alimentá-los, mas você pode. Saúde e Neuropsicologia

QUEBRANDO O SILÊNCIO 15

P4 OP 46105 Quebrando o Silêncio


Designer Editor(a) Coor. Ped. C. Q. R. F.
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O que fazer quando a experiência lut
de ser mãe frustra as expectativas se
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PAULA FERREIRA m
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“ u não sei se realmente queria ser mãe”,


revelou aos prantos a jovem mãe do bebê
de um mês e meio. Os cabelos molhados,
presos em um coque no alto da cabeça, não escon-
diam as olheiras das muitas noites sem dormir.
Aquela parecia ser a primeira vez que ouvia suas

Foto: ©kieferpix | Adobe Stock


próprias palavras, provavelmente ecoadas mui-
tas vezes dentro de sua cabeça nos últimos dias.
Ao externalizar os sentimentos que vinha experi-
mentando nessa fase da vida, ela não hesitou em
dizer que eram de decepção e frustração. Decep-
ção por perceber que a maternidade não era nada
do que ela havia pensado ao longo de nove meses
e frustração principalmente por não saber o que
esperar do futuro. e emocional vivida antes da gestação. Sem dúvida, é
Situações de divórcio, perda do emprego, morte nesse período que as mulheres mais duvidam do res-
de um ente querido e problemas financeiros geram tabelecimento desse equilíbrio.
crises de ansiedade e podem levar à depressão. Mas
e quanto aos fatores que podem fragilizar a saúde T R A N SF OR M AÇ ÃO DA R E A LIDA D E
emocional de quem acabou de dar à luz? O primeiro A mudança após o parto é tão radical que faz com que
passo para compreender o imenso desafio emocional a maior parte das mulheres viva, ao mesmo tempo, uma
que surge com a maternidade é analisar o choque que experiência sublime e apavorante. Essa ambivalência pos-
existe entre a expectativa e a realidade que se apre- sui um imenso potencial de adoecimento psíquico. Mas,
senta com a experiência de ser mãe. em geral, não é o que se espera das mães. Socialmente,
O puerpério é compreendido como o período pressupõe-se que as mulheres assumam a maternidade
que decorre desde o parto até que o estado de como algo sublime e, principalmente, que sejam leva-
saúde geral da mulher volte à condição anterior à das a acreditar numa sensação de plenitude natural.
gestação. A partir dessa definição é possível pensar Seguindo essa forte influência social, parece ser zona
em um problema a ser resolvido: a expectativa ou proibida para as mães experimentar qualquer senti-
mesmo o desejo de voltar a ter a condição física mento que seja oposto a esses.

16 QUEBRANDO O SILÊNCIO
No entanto, saúde mental e mudança são dois con-
ceitos que estão intimamente relacionados. Em geral,
a maioria das pessoas tende a buscar previsibilidade
e garantir que as coisas aconteçam conforme espe-
ram. Héctor Lisondo, autor do livro Mudança Sem
Catástrofe ou Catástrofe Sem Mudanças (Casa do
Psicólogo, 2004), explica que a mudança é o estado A MUDANÇA DEPOIS DO
permanente dos seres vivos. Apesar disso, de acordo PARTO É TÃO RADICAL QUE
com o autor, aceitar transformações como parte essen-
cial da vida é um dos principais desafios emocionais FAZ COM QUE A MAIOR
enfrentados pela maioria das pessoas, que em geral
lutam pela conservação das coisas, pessoas e situações.
PARTE DAS MULHERES
É a partir dessas alterações, sobretudo quando não VIVA, AO MESMO TEMPO,
se enxerga recursos ou apoio para seguir em frente, que
a depressão encontra terreno fértil para se instalar na UMA EXPERIÊNCIA SUBLIME
mente. Ela surge imersa nesse contexto e é muito facil-
mente confundida pela maioria das famílias como uma
E APAVORANTE
fase “normal” da vida gestacional e pós-gestacional.

Por isso, muitas mulheres que deram à luz costumam


ouvir frases do tipo: “é assim mesmo”, “comigo foi até
pior”, ou “já já passa”, o que acaba por tornar ainda
mais doloroso atravessar esse período.
Foto: ©kieferpix | Adobe Stock

De acordo com a Organização Mundial da Saúde


(OMS), a prevalência de transtornos depressivos relacio-
nados ao parto e pós-parto em países em desenvolvimento
é, em média, de 19,8%. Outros estudos internacionais,
como os que foram descritos no artigo intitulado “Depres-
são pós-parto: discutindo o critério temporal do diag-
nóstico”, de autoria da psicóloga Evanisa Helena Maio
de Brum, revelam que entre 10% e 20% das mulheres
desenvolvem transtornos mentais relacionados ao parto
e pós-parto (link.cpb.com.br/913ec7).

P R OC E S S O D E C UR A
A aceitação dos sentimentos contraditórios representa
uma batalha importante a ser enfrentada na mente das
mães, buscando compreensão mais clara do papel da
maternidade e do desafio às estruturas mentais prévias.
Por exemplo, uma jovem mãe criada em uma estrutura
familiar exigente e perfeccionista será profundamente
afetada pelo caos temporário ocasionado pelas roupas
sujas, louça na pia, alteração de horários e rotina caótica
da casa. Outro caso é o de uma mãe que aprendeu a dar
conta de tudo sozinha, absorvendo todas as tarefas e
responsabilidades para si sem pedir ajuda. Essas situa-
ções mostram a extensão do desafio que a maternidade

QUEBRANDO O SILÊNCIO 17

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Designer Editor(a) Coor. Ped. C. Q. R. F.
QUANTO MAIOR FOR O DESAFIO SOCIAL
ENFRENTADO PELAS MÃES, MAIOR
SERÁ O POTENCIAL DE IMPACTO DA
EXPERIÊNCIA EM SUA SAÚDE MENTAL

representa. E se isso não for superado com êxito, pode,


com muita facilidade, levar a quadros depressivos.
Evidentemente, não podem ser esquecidas as dife-
renças sociais presentes entre mulheres que precisam
trabalhar fora, encarar uma tripla jornada de trabalho
ou que sejam as responsáveis fi nanceiras pela família.
O fato é que quanto maior for o desafio social enfren-
tado pelas mães, maior será o potencial de impacto da
experiência em sua saúde mental.
Como integrantes da sociedade, é importante estar
atentos para o reconhecimento dessa fase da vida como
fonte de intenso sofrimento psíquico, potencializado pelo

Foto: ©amorn | Adobe Stock


pouco apoio encontrado pelas mulheres para atravessá-
1 Abrace a mudança e conviva com todas as incertezas
lo. Dentre os sintomas importantes a ser considerados,
que ela traz.
pode-se destacar a perda ou excesso de apetite, irrita-
bilidade intensa, dificuldade para criar vínculo afetivo 2 Tolere os sentimentos contraditórios presentes na
com o bebê, tristeza intensa e choro excessivo. Esses sin- maternidade.
tomas podem ser identificados por pessoas próximas ou 3 Reestruture regras como “tenho que fazer tudo sozinha”,
pela própria mãe. Quanto antes essa pessoa reconhecer “pedir ajuda é sinal de fraqueza” e “não posso falhar”.
um estado de adoecimento e iniciar o tratamento ade-
quado, melhores são as possibilidades de recuperação Por fi m, precisamos assumir um papel mais ativo
e restabelecimento do equilíbrio psíquico. no suporte às jovens mães, oferecendo-lhes uma rede
de apoio que vai desde a simples escuta sem jul-
C ONE X ÃO C OM A M AT E R NIDA D E gamento até o suporte com atividades cotidianas.
Para encarar as profundas mudanças e, principalmente, A maternidade é uma das mais ricas possibilidades de
os desafios da maternidade, é preciso criar uma conexão transformação e enriquecimento psíquico. Uma nova
com as próprias limitações e imperfeições, o que inclui mulher surgirá dessa experiência, madura, segura,
a aceitação da incapacidade de prever e controlar pre- flexível, mais bem preparada para a vida. Tolerar os
sente e futuro, reconhecendo um estado humano muitas sentimentos, reestruturar as regras internas e se ver
vezes carente de apoio e suporte. Nenhuma escola será como merecedora de apoio são passos importantes
mais eficiente para alcançar esse amadurecimento emo- para alcançar isso. Sem dúvida, o reconhecimento
cional do que a maternidade e sua constante exposição de ser apenas uma pessoa com limitações, que não
ao pouco controle sobre o que está ao redor. busca a perfeição e que aceita ajuda, tornará você a
E que passos uma jovem mãe pode dar para alcançar, melhor mãe possível. Curta cada momento!
de maneira preventiva, o equilíbrio emocional nessa fase
da vida? Aqui vão três pontos importantes: PAULA FERREIRA é psicóloga e supervisora clínica

18 QUEBRANDO O SILÊNCIO
Foto: ©amorn | Adobe Stock

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E u estava em frente ao espelho e simples-


mente não conseguia me reconhecer.
A quarentena estava perto de acabar e
me sentia insegura. Havia me tornado mãe
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Foto: ©fizkes | Adobe Stock


há apenas um mês, o mais intenso da minha co
vida. A maternidade é uma experiência que de
transforma, e o pós-parto é um momento au
de intensas modificações físicas, emocionais as
e sociais para a mulher. Os primeiros dias O
são marcados pela adaptação que leva ao ex
cansaço, muitas vezes chegando perto da ta
exaustão. Adaptação ao bebê, amamenta- da
ção, noites interrompidas ou não dormidas. an
Sim, a maternidade também é tudo isso. tem
Embora possa fazer parte da vida de uma A
mulher, a verdade é que ela não a defi ne. ch
Por isso, chega um momento em que se faz

20 QUEBRANDO O SILÊNCIO
necessário resgatar todos os papéis. Afi nal, P R OB L E M A S C ONJUG A IS
somos mais que mães, não é mesmo? Gosto A chegada de um bebê é um presente, mas também representa um
de chamar esse momento de reencontro! E dos desafios mais profundos que um casal experimentará. Ajustes
ali estava eu, olhando para o espelho, ten- são necessários para ambos. Na cabeça da mulher, é natural que
tando me reencontrar. Existia saudade de surjam dúvidas relacionadas ao desempenho sexual, o medo de
quem eu era. que a relação sexual gere dor, a insegurança de que a vagina não
Tudo o que descrevi é um movimento sau- mais satisfaça sexualmente o marido, crenças equivocadas de que
dável que deveria acontecer com todas as o parto normal “estraga” seu corpo e o potencial de sentir prazer.
mulheres. Um movimento reflexivo em que Emocionalmente, existe conflito e confusão em relação à materni-
se percebe que a maternidade é algo a mais dade e aos desejos sexuais. É como se os dois não pudessem habitar
acrescentado à sua vida, e esse papel não a mesma pessoa. A rotina, previsibilidade e regularidade, tão impor-
exclui quem você já foi. Aliás, ele potencia- tantes para o bebê, geram pais responsáveis, mas que podem ter difi-
liza. Mas quando isso não acontece, pode culdades para voltar a se relacionar como casal. Todas essas questões
surgir um sentimento de tristeza, incom- são desafios reais do período pós-parto.
pletude, insuficiência e até arrependimento,
e desencadear uma depressão pós-parto. R E T OR NO À NOR M A LIDA D E DEPOIS DO
O número de mulheres que desenvolvem É preciso esperar pelo menos 40 dias
depressão nesse período é assustador (veja a para retomar a atividade sexual. PARTO, VOCÊ
p. 16). Ela geralmente tem início entre a quarta Durante esse período, o corpo traba- PODE ESTAR
e a oitava semana após o parto e traz irri- lhará intensamente para que todos os
tabilidade, choro frequente, sentimentos de órgãos voltem a funcionar normalmente. DIFERENTE
desamparo e desesperança, falta de energia É importante esclarecer que sexo não é
e motivação, desinteresse sexual, alterações só penetração. A intimidade sexual e o FISICAMENTE,
alimentares e do sono, sensação de ser inca- prazer podem ser desenvolvidos a par- MAS ISSO NÃO
paz de lidar com novas situações e queixas tir de outros estímulos, a começar pelo
psicossomáticas. Dentre os fatores que podem desejo que é alimentado por meio do EXCLUI SEU
desencadear a depressão, dois me chamam a carinho, cuidado, conversas, cumplici-
atenção: insatisfação em relação à imagem dade e conexão.
PRAZER NEM
corporal e problemas conjugais. Importante atenção deve ser dada DEVE PREJUDICAR
para a musculatura do assoalho pél-
IM AG E M C OR P OR A L vico. Esses músculos são muito requisi- SEU CASAMENTO
As mudanças diante da gravidez são acom- tados durante a gravidez e precisam ser
panhadas por frases como: “você está grá- reabilitados no período puerperal. Eles
vida, precisa comer por dois” ou “que barriga são importantes para a continência urinária e fecal, apoiam os órgãos
mais linda”. Porém, é no pós-parto que as pélvicos e também são essenciais para o prazer sexual. Depois de
Foto: ©fizkes | Adobe Stock

cobranças começam. Nesse momento, nos seis horas do parto normal, a mulher pode exercitar seu assoalho
deparamos com um novo corpo. As mamas pélvico. Se ela passou por uma cesárea, deve esperar por oito horas.
aumentam de tamanho, a barriga incomoda,
assim como a presença de estrias e a flacidez. R E E NC ON T R O
O medo da mudança em relação à vagina Após a maternidade, não tenha medo de se olhar no espelho. Se
existe. Um novo corpo surge e, muitas vezes, reencontre com a mulher que um dia você foi. Nesse período, você
também a dificuldade de aceitá-lo. A socie- pode estar diferente fisicamente, mas com a capacidade de viver uma
dade pressiona para que o retorno ao corpo maternidade que não exclui seu prazer nem prejudica seu casamento.
anterior aconteça. Muitas mulheres se sen- Lembre-se: a maternidade não precisa limitar, ela pode potencializar.
tem incapazes e não gostam do que veem.
A autoestima fica prejudicada e os impactos ELIANE MELO é psicóloga, fisioterapeuta pélvica e idealizadora do perfil
chegam à vida íntima do casal. @elianemelo.destrave, no Instagram

QUEBRANDO O SILÊNCIO 21

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Designer Editor(a) Coor. Ped. C. Q. R. F.
R E S E N H A

CONSULT E O M ANUAL pu
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Livros apresentam dicas práticas sobre saúde e maternidade cio

ADRIANA TEIXEIRA co
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ocê sorri 15 minutos por “Há uma relação de diálogo e dú
dia? Percebe gatilhos que compreensão?”, “Quanto tempo pr
levam a doenças indeseja- ele dedica à consulta?”, “Qual é es
das? Sabe identificar o melhor a opinião dele sobre e medicina do
médico e o melhor tratamento? alternativa?” devem ser feitas mu
Já fez seu planejamento para para que haja uma boa análise có
sentir-se bem nas mais diversas do caminho a seguir. pa
situações da vida? Toda mulher O livro traz algumas normas ag
precisa tomar tempo para o auto- de conduta indispensáveis tanto di

Foto: Banco de imagem CPB


cuidado e para a busca adequada para os médicos quanto para
de profissionais que a ajudem no as pacientes. Por exemplo: o bo
processo. Isso é extremamente interesse do médico no histórico ca
importante a fim de que possa da mulher mostra que ele quer sin
também cuidar dos seus. conhecer o contexto mais amplo an
Obter informação segura em da vida dela, e isso pode ajudá- O livro ainda ajudará a leitora a perceber da
uma época de excesso de con- lo a relacionar a saúde física quais são suas atitudes diante do profissio- ma
teúdo é um verdadeiro oásis. O com a psicológica e até mesmo nal e com isso identificar pontos de atenção.
livro Sinta-se Bem (CPB, 2021), social da paciente. O tempo Expectativas devem ser declaradas. Assim, na
escrito pela doutora Lidia La dedicado pelo médico para constrói-se uma relação de reciprocidade entre tra
Marca, ginecologista, obstetra entender o problema que a ele o médico e a paciente. Na escolha do gineco- qu
e oncologista, é leitura obriga- é levado precisa ser analisado, logista são importantes as referências. Não se ce
tória para toda mulher que se pois isso demonstrará a empatia deve confiar apenas nos títulos acadêmicos sa
preocupa com a saúde no âmbito do profissional com a paciente. nem na publicidade feita sobre o médico. É rel
integral. Trata-se de uma ver- O fornecimento de explicações válido também informar-se sobre a orienta- mé
dadeira joia encontrada em um detalhadas e claras são também ção terapêutica do médico, unindo os dados os
“mar de informações”. Para a fatores que ajudam na escolha obtidos às expectativas quanto ao tratamento. do
mulher grávida, planejar o parto do médico, principalmente nos Conhecimento é a chave que traz liber- em
inclui ser ativa na análise, não casos de intervenções maiores, dade e segurança, principalmente nos vários bid
temendo mudar de médico, se como o parto, por exemplo. O momentos frágeis pelos quais a mulher passa. ep
for preciso, a fi m de obter a médico precisa ser minucioso ao A exposição a um ginecologista precisa ser
assistência desejada. Na seção analisar todas as variáveis existen- feita com muito critério e cuidado, pois a GU
“Controles e exames”, a dou- tes em uma gravidez e passar segu- intimidade da mulher é exposta, e por isso M
tora Lidia destaca os cuidados rança à futura mamãe. Quanto a relação deve ser confiável, com profissional
necessários na consulta ao gine- à prescrição de medicamentos é que seja capaz de responder às muitas dúvi- sab
cologista. Perguntas como: “O interessante observar se o médico das e assim atenuar os medos e as ansiedades. pa
médico se esmera nas consul- detalha quais podem ser os possí- A obra ainda ressalta temas de prevenção en
tas?”, “Ele se informa do histó- veis efeitos, atrelando isso à tole- adquirida por meio de remédios naturais gu
rico clínico de seus pacientes?”, rância da paciente ao tratamento. (alimentação saudável, atividade física, ar de

22 QUEBRANDO O SILÊNCIO
puro, descanso, confiança em Deus, tem- da tarefa. Nesse contexto, o livreto que possa resistir à tentação de
perança, luz solar e água) e de exames de Ser Mãe: O Que É? (CPB, 2008), conformar-se aos padrões do
rotina. Além da prevenção, há destaque para de Ellen White, destaca o papel de mundo. Sua obra é para o tempo
cuidados em caso de distúrbios e doenças igualdade que a esposa tem com o e para a eternidade” (p. 7). “Que
que acometem as mulheres, com dicas pre- marido na valorização do traba- cada mãe compreenda quão
ciosas para o tratamento e mesmo a cura. lho e ainda esclarece sobre a vasta grande são os deveres e suas
“Passear” pelas páginas do livro será influência que a mãe exerce sobre responsabilidades e quão grande
como fazer várias consultas ao médico, sem os filhos. Consciente disso, a mãe será a recompensa da fidelidade.
sair de casa. Na seção “Consulta ao médico”, assumirá o papel de rainha, e não A mãe que alegremente assume
a leitora terá a oportunidade de sanar as escrava, do lar e compreenderá sua os deveres que jazem diretamente
dúvidas sobre o assunto abordado de forma nobre missão em modelar o caráter em seu caminho sentirá que a
prática e eficiente. As “Regras de ouro” são do filho. A alegria da santidade de vida para si é preciosa, porque
essenciais no tratamento das mais variadas tal obra trará saúde física e emo- Deus lhe deu uma obra a reali-
doenças que infelizmente acometem muitas cional para a mãe sobrecarregada zar. Nesta obra ela não precisa
mulheres (cefaleia, excesso de peso, insônia, de cuidados e a libertará de pesares necessariamente comprimir o
cólon irritável, problemas nas articulações, que o mundo impõe, fazendo-a por espírito nem permitir que seu
patologias venosas, patologias coronarianas vezes acreditar que está privada intelecto se debilite. O trabalho
agudas, tumores, problemas nas mamas, de crescimento nas mais variadas da mãe é dado por Deus, para
dificuldades hormonais). áreas da vida. que crie os filhos na doutrina e
Foto: Banco de imagem CPB

Sinta-se Bem também é recheado de admoestação do Senhor” (p. 9).


boxes com informações adicionais e práti- “A esfera de atividade da mãe
cas (como cálculo de peso ideal e análise de
MUNIDA DE pode ser humilde; mas sua influ-
sintomas e diagnósticos, por exemplo). As MATERIAIS COMO ência, unida à do pai, é tão dura-
análises de casos são momentos importantes doura como a eternidade. Depois
ber da leitura, pois permitem um entendimento ESSES, A JORNADA de Deus, o poder da mãe para o
o- mais prático do assunto destacado na seção. DA MÃE SE TORNA bem é a maior força conhecida
ão. Longe de ser uma leitura acessível ape- na Terra” (p. 19).
m, nas aos médicos, a obra é bastante didática, LEVE, SEM CULPAS, Munida de materiais como
tre trazendo glossários ao longo das páginas, o esses, a jornada da mãe se torna
o- que permite melhor compreensão dos con- COM PROPÓSITO E leve, sem culpas, com propósito
se ceitos abordados. Um verdadeiro guia da PROTEÇÃO e proteção.
os saúde integral da mulher, que deve ser lido,
É relido e consultado a qualquer momento. Um
ta- médico à disposição, sempre à mão. Estudar Apreciará cada oportunidade
os os conselhos, as dicas, os cuidados sugeri- como um sagrado dever e será
to. dos, ter acesso à informação de qualidade e motivada a crescer física, men-
er- embasamento desfará conceitos pré-conce- tal e espiritualmente, a fi m de
os bidos e trará a liberdade da prevenção, cura desenvolver seu maior projeto,
sa. e proteção contra possíveis abusos. a criação dos fi lhos. Tendo os
ser olhos fixos em Jesus, sua carga
a GUI A DA de cuidados será abrandada e
so M AT E R NIDA D E valorizada, com a certeza de que
nal Toda mulher precisa reconhecer seu valor, seu nome será escrito no Livro
vi- saber quem é e o que Deus pensa dela. Quando da Vida. Será confortante para
es. passa para a fase da maternidade, deve ainda a mãe ler frases como: “Com-
ão entender que não está sozinha e que é amada e preenda a mãe tão somente o ADRIANA TEIXEIRA, mestre em Linguística
ais guiada por Alguém maior. Isso atribui uma dose elevado caráter de sua obra e Aplicada, é mãe e editora
ar de leveza extremamente necessária à execução tome a armadura de Deus, para

QUEBRANDO O SILÊNCIO 23

P4 OP 46105 Quebrando o Silêncio


Designer Editor(a) Coor. Ped. C. Q. R. F.
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Na hora de decidir ter filhos, é preciso levar em conta alguns critérios pa
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Foto: ©anoushkatoronto | Adobe Stock


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Foto: ©Silkstock | Adobe Stock


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24 QUEBRANDO O SILÊNCIO
T odos aguardavam na sala, até que a
tensão deu lugar ao choro da criança
que acabara de nascer. Aqueles que aju-
daram no parto se aproximaram e, com um
sorriso, anunciaram à família reunida: “É
período. Felizmente, os núme-
ros mostram que os índices de
pobreza começaram a melhorar
novamente, assim como vinha
ocorrendo antes da crise sani-
CURA PARA OS TRAUMAS

Nem tudo na vida sai conforme o pla-


nejado. Há situações que fogem do nosso
uma linda menina!” Apenas os que presen- tária (link.cpb.com.br/2c10ba). controle e deixam cicatrizes. A violência é
ciam o esperado nascimento de um bebê Por outro lado, em 2020 uma marca profunda e injustificável. Mas
podem descrever a alegria que essa notícia nasceram 17 pessoas a cada Deus não quer que você carregue esse peso
traz. mil habitantes. Isso mostra um pelo resto da vida. Ele está pronto a ofere-
Deus fez os seres humanos com a capa- grande contraste com o ano de cer alívio. O exemplo deixado por Jesus foi o
cidade de procriar (Gênesis 1:28). Desde a 1963, quando registrou-se 36 de perdoar quem ofende e esperar que haja
criação, deu ao homem e à mulher a ordem nascimentos a cada mil habitan- uma mudança de conduta. Perdoar significa
para povoar a Terra, que acabava de sair tes (link.cpb.com.br/04290b). reconhecer a necessidade de estender ao
de Suas mãos e estava perfeita, com recur- A taxa de natalidade tem dimi- outro aquilo que Deus estendeu a todos os
sos disponíveis e com a perspectiva de vida nuído década após década, seres humanos: uma oportunidade de reco-
eterna. tendência que tem sido influen- meço (Colossenses 3:13, Efésios 4:32). Se
Antes do pecado, o plano era que eles ciada, entre outros fatores, pela você foi vítima de abusos e maus-tratos na
pudessem ter filhos que se convertessem em previsão de uma futura falta de maternidade, peça ajuda a Deus para viver
adoradores. Homens e mulheres que louvas- recursos naturais. Com base em uma nova vida livre dos traumas e ressenti-
sem ao Senhor com a perfeita simetria da cálculos de uma ONG chamada mentos, além de buscar ajuda psicológica.
santidade e o caráter santo daqueles que, em Global Footprint Network, a E se você é um(a) profissional da área obs-
seu livre-arbítrio, escolheriam o caminho da WWF divulgou que os recursos tétrica e escolheu trabalhar em favor do
adoração e obediência ao Santo dos santos. disponíveis para todo o ano de outro, não permita ser a fonte de sofrimento
No entanto, os primeiros pais da huma- 2022 foram consumidos até o de alguém. A vida é uma dádiva sagrada e
nidade decidiram se rebelar contra Deus, fim de julho. Ou seja, o consumo deve ser respeitada e protegida.
comendo do fruto proibido, única coisa que desenfreado tem levado o mundo
lhes havia sido vedada, sucumbindo, assim, a esgotar os recursos do planeta,
ao engano de Satanás (Gênesis 3:1-7). Desde acumulando déficits a cada ano
então, as coisas mudaram bastante. Os lares (link.cpb.com.br/ed7755). (Marcos 12:25). Isso nos leva a
se tornaram o centro do ataque do mal, e se É por isso que organizações refletir que talvez não seja uma
dividiram entre aqueles que servem a Deus em todo o mundo vêm desen- questão de ter muitos filhos
e aqueles que O negam, rebelando-se diante volvendo, há décadas, uma como antes, mas de planejar a
de Sua autoridade e resistindo ao Seu amor. estratégia global para dimi- família que desejamos ter e que
Nesse contexto do grande conflito, as nuir os nascimentos no mundo. podemos manter com dignidade
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famílias aos poucos deixaram de formar Mas será que isso colide com e condições estáveis.
homens e mulheres piedosos, capazes de ser a ordem bíblica de povoar a Os filhos são um presente de
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fiéis administradores dos recursos que Deus Terra? Vamos analisar isso com Deus (Gênesis 4:1; 33:5), e, na
deixou na Terra, transformando-se em pes- cuidado! cultura hebraica, por exemplo,
soas que buscam seus próprios interesses. era uma grande bênção que a
P L A NEJE C OM AT E NÇ ÃO mulher estéril desse à luz (Salmo
MUDA NÇ A C OM P L E TA Quando Deus deu essa ordem, 113:9; 1 Samuel 1:6-8; Lucas 1:7).
Chegamos aos nossos dias com uma popu- a Terra estava vazia. Na Nova É Ele que forma os filhos no ven-
lação estimada em 8 bilhões de habitan- Terra, conforme lemos na Bíblia, tre materno (Salmo 139:13-16) e
tes, de acordo com a ONU. Milhões deles os seres humanos não continu- os conhece antes mesmo de nas-
vivem com até US$ 1,90 por dia. Para pio- arão a se reproduzir, pois Deus cerem (Gálatas 1:15). Isso é muito
rar, em 2020, devido ao impacto da Covid- deixou claro que lá os seres interessante, porque Deus quer
19 na economia, houve uma nova onda de humanos serão como os anjos, que os filhos sejam uma bênção
desemprego, e a pobreza aumentou nesse e não haverá mais casamento no lar. E deseja que as famílias

QUEBRANDO O SILÊNCIO 25

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POIS TU FORMASTE O MEU INTERIOR, TU
ME TECESTE NO VENTRE DE MINHA MÃE.

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GRAÇAS TE DOU, VISTO QUE DE MODO
ASSOMBROSAMENTE MARAVILHOSO
ME FORMASTE; AS TUAS OBRAS SÃO
ADMIRÁVEIS, E A MINHA ALMA O SABE
MUITO BEM. (SALMO 139:13, 14)

sejam felizes e desfrutem de plena familiar são uma excelente Estando casados, o momento ideal para
comunhão entre si e com Ele. opção (sempre em conversa com se ter um bebê dependerá basicamente de
Por outro lado, existem tex- um médico ou especialista) para dois aspectos: o biológico, aquele em que
tos que recomendam que algu- planejar o nascimento dos filhos a mulher apresenta boa saúde e menores
mas pessoas permaneçam soltei- e, assim, contar com recursos e riscos, e o social. Estudos mostram que, a
ras para se dedicar aos interesses energia para acompanhar seu cada ano que o casal adia a gravidez, seus
de Deus (1 Coríntios 7:7, 8, 27, desenvolvimento. rendimentos aumentam em 10% (link.cpb.
32, 34; Mateus 19:12). Então, com.br/aed435). Então, seria recomendável
pela lógica, essas pessoas não G R AV ID E Z N ÃO que o casal planejasse seu primeiro filho no
deveriam se preocupar em ter P L A NEJA DA momento em que sua renda fosse compatível
descendentes. Sendo assim, exis- Quando se fala em uma gravi- com os gastos familiares.
tem pessoas que, por amor ao dez não planejada na adoles- Quanto mais fi lhos o casal deseja ter,
Senhor, decidiram não se casar. cência ou em qualquer outra mais planejamento isso exige. Pelo fato de
À luz da Bíblia, existem as duas época da vida, em maior ou a gestação acabar afetando a vida profis-
recomendações: uma para se menor grau, existem alguns sional da mulher de forma mais intensa, é
casar (1 Coríntios 7:9) e outra, riscos, como falta de acompa- necessário que o homem entenda e assuma o
de acordo com o dom que tenha nhamento médico adequado, desafio de crescer econômica e socialmente.
recebido, para ficar solteiro e, ocorrência de pré-eclâmpsia Assim, do ponto de vista cristão, é melhor
portanto, não ter filhos. (hipertensão arterial específica planejar uma família que possa ser mantida
No entanto, aqueles que já da gravidez) e eclâmpsia (forma feliz, de acordo com o plano maravilhoso
estão casados devem planejar grave da doença), fístula obs- de Deus.
ter os filhos que possam manter tétrica, trauma devido a uma
e cuidar, de acordo com as for- perda. Sem falar no medo, na YVÁN BALABARCA CÁRDENAS é doutor em Educação
ças e benefícios que seu trabalho ansiedade, no estresse, nos pro- Familiar; VICTORIA MARTINEZ TEJADA é doutora em
pode oferecer, tomando o cui- blemas familiares nos casos de Educação. Eles dirigem o Ministério da Família de uma das
dado de não negligenciar seu lar. abuso/estupro e até na rejeição sedes administrativas da Igreja Adventista nos Estados Unidos
Os métodos de planejamento do bebê.

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