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Comunicações

Um sermão de Frei Francisco de Sampaio:


eloquência e patriotismo no início do oitocentos
A sermon by Friar Francisco de Sampaio: eloquence and patriotism at the beginning
of XIX century

Maria Renata da Cruz Duran

Resumo
Frei Francisco de Sampaio (1778-1830) é muitas vezes lembrado por ter sido um dos
principais conselheiros de d. Pedro I, entre outros temas, no delicado movimento de
independência brasileira. Chega-se mesmo a aventar que a declaração de independência
tenha sido escrita em sua mesa de estudos, até hoje conservada no Convento Santo
Antônio, no Rio de Janeiro. Infelizmente, não nos é dado conhecer o teor exato das
palavras que dirigia ao jovem monarca. Todavia, é possível conhecer o fluxo de suas
ideias no contato com a publicação dos poucos sermões que lhe foram atribuídos. A fim
de torná-los conhecidos, destacando sua figura para futuros pesquisadores,
apresentamos no presente a transcrição de um de seus manuscritos, o Sermão de ação
de graças pela prosperidade do Brasil, pregado a 4 de março de 1822 na Capela Real.

Palavras-chave: Sermonística. Retórica. Frei Francisco de Sampaio. Rio de Janeiro


oitocentista.

Abstract
Friar Francisco de Sampaio (1778-1830) is often remembered for being one of the main
advisers of d. Pedro I, among others at the delicate movement of Brazilian independence.
It is even reaches guess that the Declaration of Independence was written on his desk
studies, today preserved in the Convent St. Anthony in Rio de Janeiro. Unfortunately, we
couldn't know the exact content of the words that the Friar has oriented the young
monarch. However, it is possible to know the flow of his ideas in contact with the
publication of his few sermons. In order to highlighting his figure for future researchers,
we present the transcription of one of his manuscripts: the Sermão de ação de graças
pela prosperidade do Brasil, pregado a 4 de março de 1822 na Capela Real.

Keywords: Semonistic. Rethoric. Frei Francisco de Sampaio. Rio de Janeiro at XIX


century.


Doutora em História pela FHDSS/Unesp – Franca, com a tese intitulada “Retórica e eloqüência no Rio de
Janeiro (1759-1834)”. Autora de “Ecos do Púlpito. Oratória Sagrada no tempo de d. João VI”, EDUNESP.
Atualmente, professora adjunta de História Moderna e Contemporânea na Universidade Estadual de Londrina.
Paralellus, Recife, v. 6, n. 13, p. 515-528, jul./dez. 2015.
~ 516 ~ Maria Renata da Cruz Duran – Um sermão de Frei Francisco de Sampaio...

1 Introdução

A sermonística ocupava um papel Janeiro. Era filho do capitão Manuel José


de destaque como divulgadora de uma de Sampaio e de Elvira Maria da
noção de patriotismo e de identidade Conceição, que morreu quando Francisco
1
brasileira no Rio de Janeiro do início do Sampaio era ainda uma criança. Em 14
oitocentos seja porque a população de outubro de 1793, foi aceito no
2
carioca tinha poucos lugares de reunião , convento da ilha do Sr. Bom Jesus e, em
como a Igreja, seja porque no sermão se 15 de outubro de 1795, professou seus
publicizava opiniões que dificilmente votos, sendo logo depois admitido no
seriam impressas e, caso impressas, curso filosófico de São Paulo. Em 1799,
pouco lidas, tanto pelo analfabetismo da foi eleito pregador do Convento São
população, quanto pelo auto custo desse Francisco de Assis, onde havia estudado,
3
tipo de folhetim . Neste sentido, a e também foi nomeado passante para o
sermonistica forneceu uma relevante estudo no Rio de Janeiro, mudando-se
contribuição para que se forjasse uma em 1801 para esta cidade, onde ocupou
4
intelligentsia brasileira . Entre os mais a vaga de outro religioso no Convento
afamados sermonistas da época estava Santo Antonio. Em 1801, foi ainda
frei Francisco de Sampaio. Alguns de ordenado presbítero e nomeado lente de
seus biógrafos, como Nabuco de Araújo, teologia e mestre de eloquência sagrada
5
costumam assinalar que de sua cela no do colégio São José . Em 1808, foi
Convento Santo Antonio foi tramada a nomeado secretário da visita geral e
independência. O sermão aqui pregador da Capela Real, segundo José
apresentado é sobre este tema: a Tito Nabuco de Araújo:
independência do Brasil.
O padre-mestre Sampaio nasceu
5
As referências para estas informações estão em:
em agosto de 1778, na Freguesia de ELLEBRACHT, Frei Sebastião. Religiosos
Franciscanos da Província da Imaculada
Nossa Senhora da Candelária, Rio de Conceição do Brasil na Colônia e no Império. São
Paulo: Vozes, 1989. FRANÇA, Jean Marcel
Carvalho. Literatura e sociedade no Rio de
1
Esse tema foi mote para a minha dissertação de Janeiro oitocentista. Lisboa: Casa da Moeda/
mestrado, intitulada Frei Francisco do Monte Imprensa Nacional, 19999. GALVÃO, Benjamin
Alverne e a sermonística no Rio de Janeiro de d. Franklin Ramiz. O púlpito no Brasil. Revista do
João VI. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo
2
CANDIDO, A. Formação da literatura brasileira. 92, volume 146, Imprensa Nacional, 1926, Rio
São Paulo: Martins, 1969. de Janeiro. IHGB, Frei Francisco de Santa
3
WOLF, Ferdinand. O Brasil literário: história da Thereza de Jesus Sampaio. Revista do Instituto
literatura brasileira. São Paulo: Companhia Histórico e Geográfico Brasileiro, volume 7,
Editora Nacional, 1955. Pref./Trad. Jamil Imprensa Nacional, 1866, Rio de Janeiro. IHGB.
Almansul Haddad Sirú. Vol. 278. Biografia (do Ostentor Brasileiro) de Frei
4
MARTINS, Wilson. História da inteligência Francisco de Santa Thereza de Jesus Sampaio.
brasileira (1794 – 1855). São Paulo: Cultrix, Rio de Janeiro: Revista do Instituto Histórico e
1977. E, SOUZA, Roberto Acízelo de. O Império Geográfico Brasileiro, tomo 7, 1866. LOPES, Frei
da Eloqüência: Retórica e Poética no Brasil Roberto. Oratória Sacra no Brasil (Do século XVI
Oitocentista. Rio de Janeiro: EDUERJ/ EdUFF, ao século XIX). Separata da Revista Língua e
1999. Literatura, no. 5. São Paulo: USP/ FFLCH, 1976.
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“Dai por diante Frei Francisco de do Povo, escrito em 2 de janeiro de


Sampaio tornou-se notável pelo
amor que revelava para a 1822, no qual se podia ler:
tribuna sagrada, e pelo
patriotismo manifestado em [...] “os interesses das nações
todas as ocasiões que se tratava reunidas em um centro comum
das coisas da pátria, o que de idéias sobre o bem público
granjeou pela franqueza com que devem ser os primeiros objetos
declarava as suas opiniões, da vigilância daqueles que estão
algumas desafeições no revestidos de caráter de seus
convento, o que seguramente representantes [...] a perda da
contribuiu para sofrer preterições segurança e prosperidade deste
e vexames, a que está sujeito rico e vastíssimo continente,
todo o subordinado que revela ainda começamos a dizer
certa capacidade, independência respeitosamente que esta perda
e coragem, pretendendo terá influência mui imediata
defender contra tudo e contra sobre os destinos da Monarquia
todos os seus princípios e fé em geral [...] Na crise atual o
política” (ARAUJO, 1874, p. regresso de sua Alteza Real deve
195)6. ser considerado como uma
providência funesta aos
Em 1813, foi eleito capelão-mor interesses nacionais de ambos os
hemisférios” (Manifesto do povo
de sua Alteza Real e bispo do Rio de do Rio de Janeiro, 2 de Janeiro
de 1822 apud LYRA, 1994, p.
Janeiro. No ano seguinte, foi nomeado 204)7.
secretário da província Imaculada
Frei Sampaio, um dos últimos dos
Conceição, teólogo da nunciatura e
grandes pregadores do início do século
internúncio apostólico; em 1818,
XIX, morreu em 13 de setembro de
guardião do convento Senhor Bom Jesus
1830. Para Joaquim Manuel de Macedo,
da Ilha; em 1819, recebeu a confirmação
Sampaio era importante porque possuía
da guardiania; em 1821, ocupou o cargo
“uma reunião de qualidades oratórias,
de definidor da mesa de Consciência e
que bem poucas vezes se encontram nos
Ordens.
ministros da santa palavra, e ainda,
Frei Sampaio foi ainda
sustentavam-lhe o crédito de um orador
responsável por um dos mais
que honrava sua religião e sua
importantes impressos do Rio de Janeiro
pátria”(RIHGB, vol. 7, 1866, p. 261).
nos idos de 1820: o Regulador Brasílico-
Para Nabuco de Araújo, Frei Sampaio
Luso, que começou a circular, impresso
“não foi só um eminente pregador, foi
pela Imprensa Nacional, em 29 de julho
também um distinto e patriótico cidadão,
de 1822 e cessou sua circulação, com o
um dos mais ativos colaboradores da
nome de O Regulador Brasileiro em 12
independência” (ARAÚJO, 1874, p. 208).
de março de 1823. Neste periódico
O sermão ora apresentado foi
publicaria textos tais como o Manifesto
encontrado na Seção de Manuscritos da
Biblioteca Nacional em junho de 2008.
6
ARAÚJO, José Tito Nabuco de. Biographia de Frei
7
Francisco de Santa Thereza de Jesus Sampaio. LYRA, Maria de Lourdes Vianna. A utopia do
Revista do Instituto Histórico e Geográfico poderoso Império: Portugal e Brasil, bastidores
Brasileiro,Garnier, 1874, tomo XXXVI, parte 2a, da política, 1879 – 1822. Rio de Janeiro: Sette
Rio de Janeiro. Letras, 1994.
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Sua localização na Biblioteca Nacional é 5. Sermão de cinza, Frei Joaquim


I-48,13,36 e sua referência é: SÃO José de Sant’Anna – recitado
CARLOS, Francisco et al. Oração fúnebre em 1778, na capela da
recitada na Igreja da Cruz do Rio de Universidade de Coimbra;
Janeiro, nas exéquias de D. Maria I.
6. Oração de ação de graças,
Biblioteca Nacional, Divisão de
recitadas no dia 7 de março
Manuscritos. Neste “endereço”, o que se
de 1800, na capela real, dia
encontra é um caderno no qual um autor
aniversário da feliz chegada
anônimo transcreveu seis orações do
de sua alteza real a esta
final do setecentos e início do oitocentos.
cidade, pelo padre mestre frei
São elas:
Francisco de São Carlos.
1. Oração fúnebre recitada na
Igreja da Cruz do Rio de Não pude identificar algumas
Janeiro, nas exéquias de D. palavras ou letras do sermão
Maria I; apresentado, no primeiro caso preferi
utilizar o seguinte sinal: [...] e no
2. Oração de graças pelo
segundo a letra que acreditava ser a
nascimento de d. Maria da
mais adequada entre parêntesis.
Glória, princesa da Beira,
Algumas frases estão em negrito e em
recitada por Frei Francisco de
itálico, elas foram escritas com tinta
São Carlos;
mais grossa, provavelmente o dono das
anotações reforçou estas palavras com
3. Sermão de ação de graças
duas mãos de seu nanquim, ademais,
pela prosperidade do Brasil,
elas estavam sublinhadas no original. Em
pregado a 4 de março de 1822
algumas palavras, a grafia foi modificada
na Capela Real por Frei
por mim, por exemplo: substitui o “s”
Francisco de Sampaio;
pelo “z” em vizinho e o “e” pelo “i”, em
4. Oração Fúnebre de D. Maria morais. Todavia essas alterações não
Leopoldina, arquiduquesa chegam a um número total de 5
d’Austria e princesa do Brasil, modificações. As vírgulas, pontos e
recitado pelo arcebispo da espaços entre os parágrafos – como se
Bahia, D. Romualdo Antonio verá, em alguns casos, se pulou duas
de Seixas, na igreja da Santa linhas no caderno em que o sermão se
casa de misericórdia do Rio de encontrava, aí, inclui dois espaços
Janeiro, em 6 de março de também – foram mantidos.
1821;

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2 Sermão de ação de graças pela prosperidade do Brasil, pregado a 4


de março de 1822 na Capela Real por Frei Francisco de Sampaio

assoladora que voltando do norte


“Deus me mandou aparecer
entre vós para que não embravecida havia (f)ibrado fartar sua
experimentásseis os flagelos
fome, e a sua vingança com os despojos
que ameaçam outros povos;
foi a vontade do Senhor que da monarquia portuguesa além dos
me conduziu a este País.”
mares sobre as ilhas, e continentes em
Gênesis, C45.
ambos os hemisférios; já se nos figurara
“Não é sempre na ordem política
ouvir de muito perto os vôo das águias,
que nós devemos ir procurar a causa
já se nos parecia que víamos o gênio de
destes acontecimentos famosos na
Duclerc, vítima de nosso patriotismo
história das nações que mudando os
ainda na infância do Brasil unindo-se
destinos dos impérios apresentaram a
com os novos Duqnais Franis... Graças
época da prosperidade dos povos. A
ao céu! O dia 7 de março raiou no nosso
providência escondendo das nossas
horizonte, nós vimos aparecer o senhor
vistas os filanos de sua sabedoria parece
d. João IV e ao seu lado o verdadeiro do
que em alguns lances deixa cair o véu do
trono, o senhor de nossas futuras
seu mistério para que os homens vejam
prosperidades podendo-se dizer com
mais de perto a fonte donde saíram os
mais justiça do que esse ilustre israelita
bens de que gozam. Do meio das
que veio da Palestina salvar o Egito na
revoluções das monarquias, do furor dos
crise das suas calamidades “prognisit
combates, da queda dos tronos nós
me Deus ut resermini super terram”.
vemos romper uma nova ordem de
Seriam por ventura maiores os motivos
fenômenos que julgaríamos impossível
que fizeram nascer as Olimpíadas e os
nascerem de semelhantes causas e por
jogos públicos, que elevaram em Atenas
isso mesmo, são considerados fora do
e em Roma os templos, os arcos de
alcance até onde chegam as idéias dos
triunfo e as estátuas? Não, senhores,
homens.
outro par deste dia não vejo nos faustos
Quem poderia pensar, senhores,
das nações motivos mais fortes para que
que a glória do Brasil se manifesta na
elas transmitissem de século em século
época das formidáveis convulsões da
as épocas de sua glória. Roma
Europa? Que o plano traçado em
celebrando o dia, em que veio augusto
Fontainableau para a desgraça de
voltar dos campos d’Accio é uma escrava
Portugal fosse o mesmo plano da nossa
beijando suas cadeiras diante do
fortuna e da mudança da nossa sorte?
soberano que sepultou debaixo do seu
Nós temíamos a sombra dessa espada
trono os últimos galhos da árvore da

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liberdade civil: o Brasil do dia de hoje progmisit me Deus. São estes os motivos
aos pés dos altares lembra-se que foi um das nossas presentes ações de graças
escravo e que vendo em seus braços o fundadas, como louvou mostrar, sobre
senhor d. João VI concebeu esperanças as vantagens que nós recebemos e ainda
de receber a carta de sua emancipação e temos a receber. Feliz eu se puder atrair
de sua liberdade. Nós seríamos injustos os ânimos daqueles que desconfiam de
com o céu se deixássemos passar este nossa futura prosperidade, tendo na
acontecimento com o século que o viu energia do príncipe regente, e no penhor
nascer ou se nos contentássemos só em da Constituição da Monarquia os títulos
transcrevê-lo nas páginas da história. mais capazes de firmar suas esperanças.
Sim, a presença do senhor d. João VI no Ó Deus, Tu conhece que o meu interesse
Brasil foi o escudo da salvação deste sobre a glória do Brasil não nasce de
vastíssimo continente ameaçado pelas pretensão nem de vistas particulares e
alterações do termômetro político da por isso é merecedor de sua aprovação,
Europa, o dia em que nós o vimos abriu- dirige portanto as minhas idéias, que
o a suspirada época de nossa futura elas saindo dos pórticos do tempo se
glória; os ferros coloniais começaram a espalhem por todas as províncias deste
cair dos nossos pulsos; a franqueza do continente e que vinha de longe mostrar
comércio extinguindo o abominável os sentimentos do Brasil na época atual,
sistema do monopólio fez ao mesmo em que se fazem esforços para que ele
tempo que os nossos gêneros de retroceda da mocidade do estado de
exportação tivessem outro peso na infância; vejam os legisladores o que nós
balança das transações mercantis; os somos, para que mudando de plano
estrangeiros procuraram nossa amizade concordem no que de justiça e de
trazendo-nos as riquezas da literatura, necessidade absoluta devemos ser.
das ciências e das artes, firmaram-se os Senão...ó Deus!
laços de nossa união com Portugal, nós
passamos a ser considerados na Em princípio:
hierarquia das nações; em uma palavra,
Senhores, o Brasil elevado ao grau das Nós devemos acreditar como um
monarquias adquiriu o direito dos grandes sábios dos nossos dias que
indisputável de oferecer para o futuro a no momento em que a América aparece
majestosa perspectiva da soberba Tiro, diante de si ilustre aventureiro que a
ou de um Corinto pela abundância de procurava arcanjo de Céus, e sobre
suas riquezas. Confessamos pois que foi mares ainda virgens para a navegação a
Deus que nos mandou o Senhor D. João Europa fez uma pausa em sua carreira
VI para que nós não experimentássemos pública e moral; e que as pertencias, a
as desgraças que sofreram outros povos: quem pertenceram os domínios deste
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continente-marcado e dividido pela linha as forças dum porvir que d’ano a ano
fatal do célebre Alexandre 6º avançava para o estado de sua
começaram-se a decair de sua glória. Se madureza, o que algum dia pelo
a filosofia nessa época tivesse chegado à desenvolvimento da sua indústria, pela
esfera, em que nós a vemos, ou se mais fecundidade do seu solo, pelo aumento
ocupada da prosperidade do que das da sua população, pelo giro das suas
disputas escolares tivesse dilatado suas riquezas chegaria a um ponto de romper
visitas sobre a futura influência da os laços de sua dependência, ou de
América diria aos soberanos que os clamar novas leis acomodadas as suas
deixassem em repouso os impérios dos circunstâncias físicas e morais.
incas e montezumas, como pretendem o Que comoções tão violentas, não
famoso Carlos 5º da mesma época da experimentaram as províncias do meio
descoberta da América, ou que dia da América quando viram ao longe
desviando dos seus campos o formidável sobre as ondas do Delassare e do
aparato das conquistas abrissem os Mississipi refletirem os passos com que
caminhos da amizade e da beneficência as colônias do norte incendiaram os
para se fraternizarem com essas nações. monumentos de sua escravidão
Marcha seguida por inteiramente oposta erguendo sobre as ruínas os troféus de
a este plano: viram-se cobertas de sua independência? Que abalo não
sangue essas províncias, que não tinham sentiram vendo as forças da Grã
outro crime mais do que o de não Bretanha caírem nos campos de
haverem sido desde o seu princípio Maryland e de Lexynton, e o sangue dos
escravas: veio-se a intriga, o crime, a escravos correndo aos pés do tronco da
ambição, [...], as virgens do templo do árvore da liberdade? Nós sabemos,
sol sacrificadas à incontinência dos senhores, quais são os efeitos que
conquistadores, veio-se enfim o carro do produzem os vulcões, estes não são
despotismo rodando em triunfo sobre os fatais só nos lugares onde rebenta,
corpos de mil vítimas porque levam muito ao longe os seus estragos,
desconhecendo o poder do chefe da e se os edifícios não caem, ficam ao
Igreja, e os direitos do Rey d’Espanha menos muito pouco firmes em seus
recusaram com toda a justiça entregar alicerces. No mundo moral as revoluções
os pulsos às cadeiras da escravidão. dos Impérios influem mais ou menos
Portugal mais cheio de humanidade não sobre a marcha das nações, se elas são
ofereceu estas cenas no Brasil, mas deu- felizes no seu resultado ficam servindo
lhe um sistema de governo próprio para como de modelos para todos os projetos,
conservarem uma perpétua infância, não que se tentarem contra o antigo sistema
se lembrando que nenhuma das suas do governo; se abortam, oferecem
providências poderia ligar para sempre contudo à política grandes motivos para
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reformar o seu plano de legislação, eloqüente Padre da Igreja da França que


desviando todas as causas donde os maiores impérios do mundo vem a
nascem as comoções populares. Medidas seu tempo, e cada um por sua vez pagar
opressoras nunca poderão conter os o seu tributo à imutabilidade daquele
povos conquistados; em todos os tempos que marca o dia, em que devem padecer
eles só conservaram suas cadeias e cair as mais respeitáveis monarquias.
enquanto se não oferecem ocasião Era bem de esperar, senhores,
favorável para os conter. Não podem que a revolução da Europa mudando a
sufocar os sentimentos desta nobre face das antigas nações do hemisfério
indignação que os obriga a cobrirem viu-se também influir sobre as
duma raivosa espuma os perros de seu providências da América; a filosofia já
cativeiro; rompido uma vez o laço da havia passado além do Atlântico e
dependência a opinião pública até ali penetrado até o centro dessas regiões
comprimida sai a campo com todos os defendidas pelo oceano, e pelo mar
recursos de sua defesa, o entusiasmo, o pacífico: um golpe de vista lançado sobre
interesse geral enchem os vazios da sua população, sobre suas riquezas, e
força física, aparecem novos franklins, sobre a alternativa, em que elas se
novos [...] homens obscuros se consideravam ou de vergarem o colo
transformam em Guilhermes Tells e diante de um novo senhor, ou de se
tanto mais estes povos se acham aproveitarem das vantagens que teriam
distantes dos conquistadores quantos proclamado sua independência e
fazem mais formidáveis e depois de sustentando-a com firmeza decidiu de
reiterados espaços invencíveis. Roma sua sorte e decidiu por uma vez. Tais em
conheceu já mui tarde o sopro impolítico os quadros, senhores, que tinha diante
que havia dado desprezando as dos seus olhos o Brasil menos abundante
recomendações dos testamentos em recursos de defesa, porém mais
d’augusto sobre a conservação do favorecido por sua posição natural;
império nos limites naturais em que ele o menos fecundo em população, porém
deixava; suas colônias além destes contando com os braços dos seus
marcos engoliram por muitas vezes as vizinhos e com a energia dos seus
legiões mais aguerridas, que as iam habitantes; igualmente vexado pelo
enfeitar; na velhice da gloriosa antigo e assolador sistema, que
monarquia d’otaviano esses povos nunca monopolizava o seu comércio, que
domados, nunca verdadeiramente entorpecia a sua indústria, e paralizava
amigos fizeram de suas cadeias lanças e as suas forças, quando ele já conhecia
espadas e vieram romper a púrpura dos pela balança mercantil a superioridade,
césares dividindo entre si os despojos da que lhe davam os gêneros de sua
sua antiga senhora. É assim, diz exportação e tinha esperanças de
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engrossar ainda mais a artéria onde prosperidades, digam embora os


circulavam as suas riquezas. As políticos que a invasão dos satélites do
circunstâncias políticas em que Portugal despotismo em Portugal foi o motivo da
se achava ameaçado pelo tirano da resolução tomada pelo soberano, se eles
Europa, e já em esperar de ser invadido vissem as circunstâncias do Brasil, se
eram bastantes para justificar todos os considerassem no estado de sua
passos que o Brasil desse a fim de exasperação mudariam de linguagem
mudar sua sorte evitando pela instalação confessando que esta resolução havia
de sua independência a desgraça de cair sido inspirada pela sabedoria de sua
debaixo dos ferros de novos senhores, providência; diriam altamente à face do
que fariam passar rapidamente da universo que o soberano fora mandado
mocidade à decrepitude. Mas em que ao Brasil para servir de escudo aos seus
abismo de males e de calamidades nos habitantes e segurar ao mesmo tempo a
não lançaria o sistema de unidade desse continente com Portugal
independência? Por quantas alternativas por meio de uma nova legislação
não teríamos passado primeiro que se inteiramente oposta à política colonial,
assentasse em bases sólidas esta prognisit me Deus ut reservernini
mudança regeneradora? Quantas vítimas superterram.
sacrificadas? Quantas esposas no triste
estado da viuvez? Como se poderiam Se entre as sombras dos mortos,
oferecer ao mesmo tempo soldados para senhores, os movimentos deste mundo
nossa defesa, braços à agricultura e ao fazem alguma impressão, eu creio que
comércio, sem estes recursos que saltaria de prazer a sombra deste
sustentam as forças das monarquias Ministro respeitável, que em outra época
como se poderiam alimentar aqueles, havia inspirado ao senhor D. José I o
que abandonando seus lares e seus projeto de passar ao Brasil servindo-se
campos viessem em nosso auxílio? Em então das confusões vulcânicas que
que estado estava a nossa marinha para abalaram a corte de Lisboa para vir
resistir a invasão dessas potências conter as comoções morais, que nas
formidáveis por suas forças navais e cidades futuras aparecerem neste
todas com os olhos em uma presa tão continente. As vistas de sua política
lisonjeira? Deus onipotente, tu apartaste descobriram os progressos que faria no
de nós estes flagelos ameaçadores espaço d’alguns anos o Brasil marchando
fazendo aparecer entre nós sempre para o zenith de sua glória, e já
augusto senhor d. João VI e o herdeiro conhecem que a ponta da cadeia que
do trono, vingador da nossa causa e tão ligava a colônia à sua metrópole já
publicamente interessado pelos estava muito enfraquecida, e que só a
progressos de nossas futuras esperança do soberano com um novo
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plano de governo poderia eletrizar os de suas ruínas um novo troféu para sua
anéis de sua relação com Portugal. Esta alegria e cingiu-o a frente do seu antigo
providência própria dum gênio escravo com o diadema dos reis para
verdadeiramente político teria elevado a sempre, para sempre. Liguem-se
fortuna da monarquia portuguesa a um embora todas as forças do ciúme e da
ponto de prosperidade incapaz de a rivalidade para lhe roubarem esta
remir da dependência dos estrangeiros: insígnia d’honra, poderá perder em uma
só assim a nação, o país clássico dos batalha a coroa, mas noutra a
Albuquerques e dos Pachecos tornaria a reconquistará com maior glória, porque
adquirir o verniz de sua primeira os povos depois de conhecerem as
mocidade e não teria chegado a sua fatal doçuras e as vantagens da liberdade civil
decrepitude donde pretende sair, mas farão sempre os maiores esforços para a
não vos lembreis hoje dos erros da conservarem e as reações na ordem
administração econômica que não política farão em todos os tempos
desejam ver a influência que deu ao formidáveis.
Brasil a augusta pessoa do senhor D. Permiti-me, senhores, que eu
João VI os Reis só são felizes, só podem faça uma reflexão; que me não parece
fazer a prosperidade dos povos quando deslocada. O supremo arbítrio dos
aparecem no seu gabinete ministros tais impérios não consente às vezes que
como os Sulis, os Holletes, os Kaunitz, saiam a luz dos projetos mais justos
os Pits, os Pombais e Oxensternes: ainda reservando para outras épocas, e para
assim é necessário que corram muitos outros sujeitos a glória de os
anos para que as monarquias subam à desempenhar. David tão célebre por sua
altura em que se deseja que elas fiquem. piedade pretende elevar esse templo,
Nós não tivemos esta fortuna, triunfaram que os romanos viram com assombro e
os Sejanos, ou Gouveias, os Rufinose os que não se atreveriam a destruir se Deus
Fouquets, mas apesar de todos estes não houvesse decretado sua queda. No
obstáculos cresceu a força física e moral momento em que o soberano se
do Brasil, dilatou-se o Império da opinião dispunha a lançar a primeira pedra um
pública, conheceram-se as riquezas profeta lhe suspendeu o braço dizendo-
deste continente, de que muitos e até lhe que deus reservava a seu filho esta
legisladores só formam idéia pela carta grande obra. Correram os tempos e
corográfica, veio-se tudo quanto Salomão subindo ao Trono ergue este
prometia a robustez de sua mocidade, edifício que seu pai não pode começar.
espalharam-se as idéias liberais e o Jerusalém mudou de face, os
soberano convencido de que o Brasil era estrangeiros procurarão sua aliança, o
digno de subir à ordem das monarquias rei de Tiro entrou em sua amizade, as
abateu-o do sistema colonial fazendo-o ilhas, os mares, as nações mais remotas
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obedeceram a sua vez, Ofir lhe deu da marinha, conhecidos por sua
imensos tesouros, o Líbano, o Samir, e o probidade, por seus talentos e por sua
Hernam madeiras preciosas, seus navios filantropia apresentam suas idéias para
cobriram os mares, e Jerusalém ganhou se reformarem os abusos, que se haviam
o nome de Princesa das Nações. Sim, introduzido em suas repartições pela
meus senhores, o dia 7 de março ainda inépcia dos seus antecessores.
será mais célebre para o futuro quando Habitantes do Brasil, nação privilegiada,
unido com o dia 9 de janeiro – nos que com a presença do senhor d. João VI
mostrar o Brasil elevado a este ponto de ficastes a abrigo dos males, e dos
glória que lhe promete a energia do flagelos que fizeram gemer a Europa por
grande príncipe a quem deus reservou o tantos anos, e que no dia 9 de janeiro
direito de fazer a fortuna deste pela heróica e primeira resolução do
continente. As primeiras pedras já estão augusto príncipe real decidindo-se a ficar
lançadas entre toda a extensão do entre nós para garantir a posse das
terreno onde dominava o despotismo nossas atribuições e promover a nossa
ministerial; as nossas províncias são felicidade, recebestes novos escudos não
convidadas para virem deliberar sobre a serão incipientes estas providencias para
prosperidade dos povos debaixo desses animar nossa confiança? Não serão estes
mesmos pórticos onde eles apareciam de os bens, que vós esperais pela
rastos com suplicas, com representação, constituição da monarquia portuguesa?
que validos infames desviaram dos Poderá ela deixar de aprovar estas
ouvidos do soberano quando as mãos medidas tão necessárias para segurança
dos suplicantes senão mostravam de nossa união com Portugal?
cobertas douro: a Indústria, o Comércio, Deixemos, senhores, deixemos
a Agricultura, a Navegação, as Artes e as bramir esses gênios [atavilares] que
Ciências já têm lugares designados em sonham ao meio dia julgando que se
roda do príncipe criador, que as espera procura entronizar o antigo despotismo:
para atender aos seus planos e realizá- o Brasil entrou na marcha geral, que faz
los: um novo Turgot, ministro dos aparecer em movimento a grande família
negócios do reino, um desses homens do gênero humano: os povos estão hoje
raros que dão glória à sua Pátria, assim e muito iluminados, e os soberanos
como a todas as Nações que os admiram convencidos que não poderão ser como
e que a posteridade tem pesar de só não os dionísios em Saragoça e os pigmaliões
haver conhecido, aparece ao lado do em Tyro; se os neros, os calígulas, os
príncipe com a frente cingida dos louros luíses undécimos, os felipes segundos
que a Europa lhe ofereceu na brilhante surgissem dentre os mortos nesta época
carreira de suas viagens literárias: os tornariam logo a descer aos túmulos
novos gênios das finanças, da guerra e confessando que não eram próprios para
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uma cidade tão fecunda em princípios idéias a nosso respeito: abençoai os


liberais; esperemos portanto, senhores, planos da regeneração política e naval
que se assentem as bases do grande deste vastíssimo continente, que não
edifício de nossa prosperidade, as devia ser escravo depois de receber o
monarquias descem rapidamente para o nome de terra da Santa Cruz, e ficar a
abismo de sua queda, e quando se sombra do estandarte que remiu o
erguem é com grande dificuldade, nem mundo. Mostrai vossas misericórdias
todos são capazes de as levantar, mas com o soberano, que veio quebrar os
se encontram homens hábeis, como nós ferros de nossa humilhação na época
hoje vemos no ministério, é preciso justamente em que eles já começavam a
descansar sobre a garantia dos seus estalar em nossos pulsos: suba, suba a
talentos, não mostre-nos a impaciência vossa presença o rumo das nossas
desses enfermos, que chegarão à boca oblações, e fazei refletir sobre o diadema
do túmulo; mas porque conservaram que cinge sua frente o brilho com que
esperanças de saúde já querem aparecer aparecem no berço da monarquia. Dirige
de pé nas praças, e nos lugares de o príncipe que fiel nos decretos de vossa
prazer. Nós temos a incomparável providência sobre os destinos futuros do
fortuna de possuir um príncipe Brasil mostrou as nações da Europa no
infatigável que nos trabalhos é um dia 9 de janeiro que os planos da política
homem superior às forças da natureza, não devem ser realizados quando se
nos perigos um herói, no meio dos opõe aos interesses dos povos, ajuntai
infelizes um pai, no meio do seu povo dos troféus que ele já adquiriu novos
um amigo: um príncipe com toda a troféus, e para todos tenham por divisa:
resolução de nos fazer ditosos e que tranqüilidade, união, energia, interesse
dentro de pouco tempo terá o gosto de pelo seu público; que a vossa sabedoria
mandar dizer a teu augusto pai o mesmo presida no seu conselho e que no meio
que esse anjo salvador do Egito pedia dos balanços que ainda mostra o furor
que expusessem ao seu filho: nunciate da tempestade donde se salvou o navio
patri meu universam gloriam meam, da pátria, apareça a prudência d’aqueles
et cunta quo vidisti. que estão encarregados da
Deus de bondade, aceitai estas administração - pública.
ações de graças, que vos são devidas e Abençoai também o ventre da
que nós vos oferecemos com as mais Esclarecida filha dos césares, que veio
públicas demonstrações de nossa aumentar o esplendor da augusta casa
gratidão, nós vimos no dia 7 de março de Bragança, dai-nos a satisfação de ver
que a glória do Brasil era um dos objetos sair a luz um príncipe, que venha
das vistas de nossa providência, e enxugar as lágrimas do Brasil, e
esperamos que se não mudem vossas terminar sua indignação contra os
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nativos da perda que sofremos no dia 4 meio deste povo seja o centro da
de fevereiro. E por último, ó Deus, tranqüilidade, e união, que tanto
apartai da pessoa do príncipe regente desejamos. São estes os nossos votos e
esses punhais disfarçados, que o são dignos de vós porque são sinceros,
rodeiam; [cine] o seu trono com os verdadeiros e oferecidos com todo o
corações dos seus súditos, e se entre entusiasmo de nossa piedade. Assim
eles aparecerem alguns rebeldes, daí- seja.”
lhes novos corações e que cada um no

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Recebido em: 28/09/2015.


Aceito para publicação em: 01/12/2015.

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