You are on page 1of 43
Glicolise, Gliconeogénese ea Via das Pentoses-Fosfato 1A Gliélise 548 142 Masalimentadorasda glclse 558 143 Destinos do pirwata em condigéesanaerébias: fermentago 563 UA. Glconeogénese 568 US Oxidago da glcose pela via daspentosesfosfato. 575 alicose ocupa posigio central no metabolismo de plan- tas, animais e muitos microrganismos, Bla € relativa- mente rica em energia potencial e, por isso, ¢ um born combustivel; a oxidacao completa da glicose a diéxido de carbono e gua ocorre com uma variacéo da energia livre padrao de ~2.840 ki/mol. Por meio do armazenamento da ‘glicose na forma de polimero de alta massa molecular, como o.amido eo glicogénio, a célula pode estocar grandes quan- lidades de unidades de hexose, enquanto mantém a osio- laridade citosdlica relativamente baixa. Quando a demanda de energia aumenta, a glicose pode ser liberada desses po limeros de armazenamenta intracelulares e utilizada para produzir ATP de maneira aerdbia ou anaerdbia A glicose, além de excelente combustivel, também & um precursor admiravelmente versatil, capaz de suprir luma enorme variedade de intermediaries metabdlicas em reagdes biossintéticas. Uma bactéria como a Escherichia coli pode obter a partir da glicose os esqueletos carbéni- cos para cada aminodcido, nucleotide, eoenzima, dcido graxo ou outro intermedisrio metabélico necessério para © seu crescimento. Um estudo abrangente dos destinos metabélicos da glicose compreenderia centenas ou railha- res de transformagoes quimicas. Bim animais e em vegetais vasculares, a glicose tem quatro destinos principais: ela pode ser usada na s{ntese de polissacarideos complexos direcionados ao espaco extracelular; ser armazenada nas células (como polissacarideo ou como sacarose); ser oxi dada a compostos de trés dtomos de carbonos (piruvato) por meio da glicdlise, para fornecer ATP « intermedirios metabdlicos; ou ser oxidada pela via das pentoses-fosfato (fosfogliconato) produzindo ribose-5-fosfato para a sintese de Acidos nucleicos e NADPH para processos biossintéti cos redutores (Figura 14-1), Os organismos sem acesso a glicose de outras fontes devem sintetizé-la, Os organismos fotossintéticos sintet zam glicose inicialmente por redugo do CO, atmostférico a trioses e, em seguida, por conversio das trioses em glicose. {As edlulas no fotossintéticas produzem glicose a partir de precursores simples com trés ou quatro stomos de carbono pelo processo de gliconeogénese, que reverte a gliedlise em. uma via que utiliza muitas enzimas glicoliticas, Este capitulo descreve as reagdes individuals da glic lise, da gliconeogénese e da via das pentoses-fosiato © o significado funcional de cada via, Descreve também os ¥é rios destinos metabdlicos do piruvato produzido na glicsl se, Entre eles, estio inclufdas as fermentagdes, utilizadas ‘por muitos organismos em nichos anaerdbios para produzir ATP e industrialmente exploradas como fontes de etanol, ‘icido lactico e outros produtos iteis comercialmente. Alémm disso, o capitulo aborda as vias que disponibilizam varios agticares, mono, die polissacarideas, para. via glicolitica. A Matrieexraceluar fe polseacarideos lcogenio, ‘daparede celular amido, sacarose Cleese ossto nana Peto testto eoraicae Ribose 5 fosato Piuvato FIGURA 4-1 As principais vias de utilizagto da glicose. {inbora ni ‘eiam os nicosdestines posses da gles, essas quaro vas sto a8 735 ‘Ssgnfiatvas em lermos de quanisade de glicose que Mk alravs delas na maiora cas cola, 544 DAVID L. NELSON & MICHAEL M. COX discussio sobre o metabolisino da glicose continua no Cap tulo 15, onde os processos de sintese e degradagio de car- boidratos sao utilizados para ilustrar os diversos mecanis- ‘mos pelos quais os organismos regulam as vias metabolicas. As vias biossint¢ticas que utilizam a glicose para produgao dos polissacarfdleos da matriz.extracelular, da parede celu- lar e dos polissacarideos de armazenamento sio discutidas sno Capitulo 20, 14.1 Glicdlise Na glicélise (do grego glykys, “doce” ou “agicar”, ¢ lysis, “quebra"), uma molécula de glicose é degradada em uma série de reagoes catalisadas por enzimas, gerando duas moléculas do composto de trés étomos de carbono, 0 pi ruvato, Durante as reagdes sequenciais da glicdlise, parte da energia livre da glicose é conservada na forma de ATP e NADH. A glicélise foi a primeira via metabélica a ser eluci dada e provavelmente seja a mais bem entendida. Desde a descoberta da fermentagao, em 1897 por Eduard Buchner, em extratos de eétulas de levedura, até a elucidagio da via completa em leveduras (por Otto Warburg ¢ Hans von Euler-Chelpin) e em miisculo (por Gustav Embden e Otto Meyerhof) na década de 1930, as reagoes da glicélise em extratos de leveduras e de mtisculo foram o objetivo prin- cipal da pesquisa bioquimica. A mudanga filos6fica que acompanhou essas descobertas foi anunciada por Jacques Loeb em 1906; Por meio da descoberta de Buchner, a biologia foi i bertada de outro fragmento de misticismo. A cisao do agiicar em CO, ¢ leool nao 6 mais o efeito de um “prin- cipio vital”, mas sim a quebra do agticar da cana pela invertase. A historia desse problema ¢ instrutiva, pois serve de alerta quanto a considerar problemas como além do nosso aleance porque ainda nao tiveram uma solugaa, 0 desenvolvimento de métodos de purificagao de en- zimas, a descoberta e 0 reconhecimento da importancia de coenzimas, como NAD, e a descoberta do crucial pa- ‘pel metabélico do ATP e de outros compostos fosforilades Fesultaram dos estudos da glicdlise. Enzimas glicoliticas de muitas espécies foram purificadas e minuciosamente estudadas, Hans won Euler Chelsin, 1873-1964, Gustav Embden, 1974-1933, oto Meyerhot, 1884-1951 A glicélise é uma via central quase universal do cata- bolismo da glicose, a via com o maior fluxo de carbono na maioria das células. A quebra glicolitica da glicose & a tini- ca fonte de energia metabélica em alguns tecidos e células, de mamiferos (p. ex., eritrécitos, medula renal, e¢rebro e sperma). Alguns tecidos vegetais modificados para 0 ar- mazenamento de amido (como os Lubérculos da batata) e algunas plantas aquéticas (p, ex., agrido) derivam a maior parte de sua energia da glicdlise; muitos microrganisimos anaerébios sao totalmente dependentes da glicdlise, Fermentagao é um termo geral para a degradagio anaerébia da glicose ou de outros nutrientes organicos para obtengao de energia, conservada como ATP. Como os ‘organismos vivos surgiram inicialmente em uma atmosfera sem oxigénio, a quebra anaerobia da glicose provavelmen- te seja 0 mais antigo mecanismo biologieo de obtengdo de energia a partir de moléculas orgénicas combustiveis. 0 sequenciamento do genoma de varios organismos revelou que algumas arquibactérias e alguns microrganismos para sitas sdo deficientes em uma ou mais enzimas da glicdlise, ‘mas possuem as enzimas essenciais da via; provavelmente realizem formas vatiantes de gliedlise. No curso da evolu ‘20, a sequéncia dessas reagdes quimicas foi completamen- te conservada; as enzimas glicoliticas dos vertebrados sio estreitamente similares, na sequéncia de aminoacidos € na estrulura tridimensional, as suas homélogas em levedura e no espinafre. A glicdlise difere entre as espécies apenas nos detalhes de sua regulagao e no destino metabdlico subse quente do piruvato formado. Os prineipios termodinamicos © 0s tipos de mecanismos regulatérios que governam a gli= lise sao comuns a todas as vias do metabolismo celular. A via glicolitica, de importaneia central por si s6, também. pode servir de suodelo para muitos aspectos das vias discu- lidas ao longo deste livro. Antes de estudar cada etapa da via em seus detalhes, cconvém examinar a glicélise como um todo, Uma visdo geral: a glicdlise tem duas fases A quobra da glicose, formada por seis dtomos de carbono, ‘em duas moléeulas de piruvato, cada uma com trés carbo- nos, ocorre em 10 elapas, sendo que as primeiras 5 cons lituem a fase preparatéria (Figura 14-2a). Nessas rea- (des, a glicose é inicialmente fosforilada no grupo hidroxil ligado ao C-6 (etapa @). A p-glicose-6- -fosfato assim formada ¢ convertida J P-frutose-6-Fosfato (etapa @), a qual 6 novamente fosforilada, desta vez em C-L, para formar p-frutose-1,6-bifosfato (etapa ©). Nas duas reagdes de fosfori- lagdo, o ATP é 0 doador de grupos fos~ ) foril. Como todos os acticares formados ry na glicélise sao isomeros D, omite-se a designagao p, exceto quando 0 objetivo 6 enfatizar sua estereoquimica A frutose-1,6-bifosfato é dividida ema duas moléculas de trés carbonos, a di -hidroxiacetona-fosfato e o gliceraldes do-B-fosiato (etapa @); essa é a etapa de “lise” que dé nome & via, A di-hidroxiace- tona-fosfato ¢ isomerizada a. uma segun- FIGURAT4-2 As duas fases da gliclise. Par coda molécula de glicose que passa pela ase prepaatéria fa), duas moléulas de glcerldedoos. fat so formacas a dus pas pola ase de pagamerto(b).Opinvato & © produto final de segund fase da gleclise. are cada molécua de geose, dois ATP so consumidos na fase preparatriae quatro AT sfoprodurdos PRINCIPIOS DE SIOQUIMICA DE LENNINGER 545, nafase 6 pagamento, dando um erdimente liquide de dos ATP por mo Iecub de gicese convert em piuvat. As reapBes numeradascorespo ‘dem 28 ttulos numerados dieuidas a texte, Lemire se que cada gtune ‘esto epresentaca aqui como) por duascargasnegativas (PO) 546 DAVID L. NELSON & MICHAEL M. COX da molécula de gliceraldetdo--fosfato (etapa ®), finalizan- do a primeira fase da glieélise, Note que duas moléculas de ATP sto consumidas antes da clivagem da glicose em duas partes de trés carbonos; Navera depois um bom retorno. para esse investimento, Resumindo: na fase preparatéria da slicdlise, a energia do ATP ¢ consumida, auentando o con- tetido de energia livre dos intermedisrios, e as cadeias de carbono de todas as hexoses metabolizadas sio convertidas a.um produto comum, 0 gliceraldeido-3-fosfato, ganho de energia provém da fase de pagamento da sliedlise (Figura 14-2b). Cada molécula de gliceradefdo-3- “fosfato é oxidada e fosforilada por fosfate inorganico (nao por ATP) para formar 1,3-bifosfoglicerato (etapa @). Ocor re liberagao de energia quando as duas moléculas de 1,3-bi- fosfoglicerato slo convertidas a duas moléculas de piruvato (etapas @ 2 ®). Grande parte dessa energia 6 conservada pela fosforilacao acoplada de quatro moléculas de ADP a ATP. O rendimento liquido sao duas moléculas de ATP por ‘molécula de glicose utlizada, ja que duas moléculas de ATP foram consumidas na fase preparatéria. A energia tam- bbém & conservada na fase de pagamento com a formaga0 de duas moléculas do transportador de elétrons NADH por molécula de glicose. Nas reagdes seguintes da glicdlise, trés tipos de trans- formagdes quimicas sdo particularmente notaveis: (1) a de- -gradagao do esqueleto carbdnico da glicose para produzir piruvato; (2) a fosforilagao de ADP a ATP pelos compostos com alto potencial de transferéneia de grupos fosforil, for ‘mados durante a glieélise; (3) a transferéneia de um fon hidreto para © NAD*, formando NADH, A légica quimica ‘lobal da via esta descrita na Figura 14-3. Destinos do irate, Com excegio de algumas variagoes in teressantes entre as bactérias, o piravato formado na glieo- lise € mais adiante metabolizado por trés rotas catabdicas. Em organismos aerabios ou em tecidos em candigaes acto bias, a glicdlise 6 apenas o primeiro estagio da degradacao completa da glicose (Figura 14-4). 0 piravato ¢ oxidado, com a perda de seu grupo carboxil na forma de CO,, para gerar o grupo acetil da acetil-coenzima A; 0 grupo acetil 6 entao completamente oxidado a CO, no ciclo do dei citr- © (Capitulo 16). Os elétrons originados desses oxidagées siio transferidos a0 0, por uma eadeia de transportadores na mitocéndria, formando H,0. A energia liberada nas rea- 6es de transferéncia de elétrons impulsiona a sintese de ATP na mitocénadria (Capitulo 19) O segundo destino do piruvato €a sua redugdo a lactato por meio da fermentagao letica. Quando em contragio vigorosa, o mtisculo esquelético trabalha em condigées de baixa pressio de oxigénio (hipoxia), em que NADH no pode ser reoxidado a NAD", mas NAD” é necessario como aceptor de elétron para a oxidagao do piruvato. Sob essas condigoes, o piruvato ¢ reduzide a lactato, recebendo 0s elétrons do NADH, dessa forma regenerando 0 NAD" ne~ cessério para continuar a glicdlise. Certos tecidos e tipos celulares (p-ex., retina e eritrécitos) convertem glicose a lactato mesmo em condigdes aerabias, eo lactato também 0 produto da glicolise em eondligbes anaerobias em alguns mnlcrorganismos (Figura 14-4), A terceira rota principal do catabolismo do piruvato leva & produgao de etanol. Em alguns tecidos vegetais ¢ em certos invertebrados, protistas microrganismos como le vedura da fabricagao da cerveja ¢ do pao, o piruvato € con- vertido, em hipoxia ou condigdes anaerdbias, em etanol e GO, um processo chamado de fermentagao etandlica (aleoéliea) (Figura 14-4) ‘A oxidacdo do piruvato é um processo catabélico im- portante, mas o piruvato também tem destinos anabélicos. Ele pode, por exemplo, prover o esqueleto carbénico para a sintese do aminodcido alanina ou para a sintese de acidos agraxos. Essas reaches anabélicas do pirwvato sero retoma- {das em capitulos posteriores, ‘Aformacéo de ATP e NADH acopladaagliclise. Durante a glia ‘se, parte da energia da molécula de glicose é conservada na forma de ATP, enquanto a maior parte permanece no pro- duto, o piruvato, A equagio geral da gliedlise 6 Glicose + 2NAD* + 2ADP + 22, —> 2pirwato + 2NADH + 2H"'+ 2ATP + 2H,0 (4-1) Para cada molécula de glicose degradada a piruvato, duas rmoléculas de ATP sao geradas a partir de ADP e P, ¢ das ‘moléculas de NADH sao produzidas pela redugao de NAD* © aceptor de hidrogénio nessa reagdo é NAD" (ver Figura 13-24), ligado a uma estrutura de Rossmann como mostra- do na Figura 13-25. 4 redugao de NAD’ ocorre pela transfe- réneia enzimética de umm fon hidreto (1) do grupo aldetco do gliceraldefdo-3-fosfato para o anel de nicotinamida de NAD", gerando a coenzima NADH reduzida, O outro tomo de hidrogénio da molécula de substrato é liberado para a solugao como H ‘Agora, pode-se dividir a equagio da glicdlise em dois processos ~ a conversio de glicose a pirwato (exergénica) Glicose + 2NAD* +2 piruvato + 2NADH + 2H" (14-2) AG}? = —146 kd/mmol ea formacio de ATP a partir de ADP e P, (endergénica) assy 2(80,5 ksmol) + 61,0 kd/mol 2ADP + 2P, —> 2ATP + 24,0 AG} A-soma das Bquagées 14-2 ¢ 14-3 fomece a variagdo da energia livre pad total da glicdlise, AQ” AGP + AG = -146 ki/mol + 61 kimol 85 ks/mol ace Sob condigies-padrao ¢ sob as condigdes intracelulares (ado padrao), a glicdlise é um processo essentcialmente ir reversivel, conduzido até a conelusdo por um grande de- créscimo liquido de energia livre. ‘energia remanescente do pirwvato. A glicdlise libera apenas uma pequena fragao da energia total disponivel na moléeu- lade glicose; as duas moléculas de piruvato formadas pela alicdlise ainda contém a maior parte da energia potencial ‘quimica existente na glicose, energia que pode ser extraida por reagoes oxidativas no ciclo do dcido eftrico (Capitulo 16) e na fosforilagio oxidativa (Capitulo 19), 1234 5 6 A fesorilagio da © oH oH on licose gaante cieose ives intermedtos da on apermanecam © A fosforisgio ocorre em C6 8 arp acti: queC-1 €um grupo carbone ‘bo pode ser foto. ‘ADP. i on OH On yo Glcose-6fostto on @ Alsomerzacie move o grupe carboni para 062, tum pré-requsto para as etapas @e @. Ho 98 9D tems ATP, on 0.1, agora com um grupo hiro pode ape, ° ‘ser fosforilado. Isso garante que os dois Produtos da cvagem digo CC 0 ‘osonsds eintercanversbe op 2 4,08 0D) Frucsebifosero | oF) logeacenrencanars Dihidrolacetons- “ostato Po aa Gliceraldeide-3-fosfato, o tecanein \ g -© descr prositosds © Aoworaco onda do Sapa Serle fost coma omrge os dos NAD, modus dum NADH. eum twodus em breast para prodeao tims nes Nabi GeAlPnactapa © On 0-® 1 sblfestogierato @ Producio de ATP SHosfoglcerato AvP. are. cme © grupo foster on e remanescente move-se de (C2para C3, configurands 2fosfogcerato ttansferénca para ADP as etapas frais da via HE ° naetapa 0. P TP ‘A desdratacio ava o ‘tue Fosfor para ° Fosfocnalpicuvato | ol * KS 0 @ Producto de ATP PRINCIPIOS DE SIOQUIMICA DE LENNINGER 547 ‘Aimportancia dos intermedisrios fosforilades. Cada um dos nove intermedifrios glicoliticos entre a glicose eo piruvato io fosforilados (Figura 14-2). Os grupos fosforil parece ter trés fungoes, 1. Como a membrana plasmitica geralmente nao tem transportadores para agticares fosforilados, os in- termediarios glicoltieos fosforilados nao podem sair da eélula, Depois da fosforilagéo inicial, nao 6 necessdria energia adicional para reter os inter- Imediérios fosforilados na estula, apesar da grande diferenga entre as suas concentragGes intra e extra- celular. 2. Os grupos fosforl sio componentes essenciais na conservacio enzimética da energia metabdlica. A cenergia liberada na quebra das ligagSes de fosfoani- drido (como aquelas do ATP) é parcialmente con servada na formagio de ésteres de fosfato, como slicose-6-fosfato. Compostos de fosfato de alta energia formados na glicdlise (1,3-bifosfoalicerato ¢ fosfoenolpiruvato) doam grupos fosforil ao ADP para formar ATP, 3. A energia de ligagao resultante do acoplamento de grupos fosfato ao sftio ativo de engimas reduz a cenergia de ativagao e aumenta a especificidade das reagoes enzimaticas (Capfualo 6). Os grupamentos, fosfato do ADP, do ATP e dos intermediarios glico- Inieos formam complexos com Mg’, e 0s sitios de ligagao ao substrato de muitas enzimas glicolhicas sho espeeificos para esses eomplexos. A maior par- te das enzimas da glicélise requer Mg” para sua atividade, FIGURA 143 A kégica quimica da via glicolitiea. Nessa vrséo simpifcada da via, ada molécula est representa na forma ines, comos dtemes de carbaro chidrogénio rio deserts para sai bs ransfermagdes qumicas Lembe-e de que gicos rutose ex ‘tesenesprncpaiments em suas formas lees quando sm solu, pera de estarem trensitoriamentenaforra linear nos sos stos de slgumas enzmas dss vi, ‘Nase prepratéra etanas @ 2 @, converte aglkose, com 6 to ‘mos de caonos em dus Unidodes de 3 Stamos de carbons, cada els exons, A oxide das uniguces de 3 somos de carbo os inciada na fase de pagomento Para produc phuvat, as apes qulmicas ever ocorer na ordem mostaca, 548 DAVID L. NELSON & MICHAEL M. COX Gicose Sicoiee (oranges sees! onaioes conabes oa 2Prwvato Ss condioes ESE sedbae 7 x0, Fermentacio até Fermentacéo até lactato stano!nalevedura [Faceucoa]) pemusculoem contragdo vigorosa, nos ‘cendo _erittcitos, em algumas SEE cutras ctllas em Gite alguns microrganismos C0, = 44,0 Animals, vegetase rmuits éllas rmicrbianas sob condiges aersbas FIGURAT&4 Os tes destinoscatabélicos possivels do piruvato for- made na glieslise. 0 prio amibém serve como precursor em mutes bes anabelcas,nso mostada5 30. ‘Afase preparatéria da glicélise requer ATP Na fase preparatéria da glicdlise, duas moléculas de ATP. so consumnidas, e a cadeia carbénica da hexose & clivada fem duas trioses-foslato, A compreensdo de que as hexoses Josforiladas sao intermedistias na glicélise fol conseguida Jentamente e por um feliz acaso. Em 1906, Arthur Harden e Willian Young testaram suas hipéteses de que inibidores de enzimas proteoliticas estabilizariam as enzimas da fer- mentacdo da glicose em extratos de leveduras. Adicionaram. soro sanguineo (conhecido por conter inibidores de enzi- mas proteoliticas) a extratos de levedura ¢ observaram 0 estimulo predito do metabolism da glicose. No entanto, ema um experimento de controle realizado com a intengzo de demonstrar que ferver 0 soro destr6i a atividade estimulan- te, eles descobriram que 0 soro fervide foi tao efetivo em es- Arthur Harden, 1865-1940, William Young, 19781942 limulara glicélise quanto 0 soro néo fervido. Exames cuida- dosos e testes do contetido do sora fervido revelaram que o fosfato inorginico foi o responsével pela estimulagao. Har- den e Young, logo perceberam que a glicose adicionada ao seu extrato de levedura era convertida a hexose-bifosfato (0 “éster de Harden-Young'”, identificado como frutose-1,6- -bifosfato). Esse foi o inicio de uma longa série de inwesti ‘gages sobre o papel dos ésteres organicos ¢ anidridos de {osfato em bioquimica, que levaram ao nosso entendimento tual do papel central da transferéneia de grupos fosforil ‘em biologia © Afosforilago da glicose. Na primeira etapa da glicdlise, a alicose ¢ ativada para as reagdes subsequentes, pela fosfor:- lagao em 0-6 formancio glicose-6-fosfato, com ATP como doador de grupo fosforl: ton oe OAT apr, fo. We NG Mud vn NY NH Hy Te Kon AL, Boon Bow Gore ico tosto AG" = 167 14/mo! Esta reagao, irreversivel em condigdes intracelulares, ¢ ¢a- talisada pela hexocinase. Lembre-se de que cinases sio ‘enaimtas que catalisam a transferéneia do grupo fosforil ter- minal do ATP a um aceptor nucleofilico (ver Figura 13-20), ‘As cinases siio uma subclasse das transferases (ver Tabela 6-3), O aceptor no caso da hexocinase é uma hexose, geral- mente a p-glicase, embora a hexocinase também catalise a fosforilagao de outras hexoses comuns, como p-frutose € -manose, em alguns tecidos. Ahexocinase, como muitas outras cinases, requer Mg” para sua atividade, j4 que o verdadeiro substrato da enzima nao é ATP!, mas sim o complexo MgATP'” (ver Figura 13- 12). 0 Mg" protege as cargas negativas do grupo fosforil do ATP, tornando 0 dtomo de fésforo terminal um alvo mais, ‘acid para o ataque nucleofilico por um grupo —OH da glico- se, A hexocinase sofre uma profinda mudanga na sua con- Tormagio, um ajuste induzido, quando ela se liga & molécula de glicose; dois dominios da proteina aproximam-se um do ‘outro cerca de 8 A quando o ATP se liga (ver Figura 6-25). Esse movimento aproxima o ATP de uma molécula de glico- ‘se também ligada a enzima ¢ bloqueia o acesso de agua (do solvente), que, caso contrério, poderia entrar no sitio ativo atacar (hidrolisar) as ligagées fosfoanidridas do ATP. As- sim como as outras nove enizimas da gliedlise, a hexocinase uma protefna sohivel e citosdlica, Ahexocinase esta presente em praticamente todos 08, organismos. O genoma humano codifica quatro hexocina- ses diferentes (Ia IV), e todas elas catalisam a mesma rea- ‘go, Duas ou mais enzimas que catalisam a mesma reagio, mas so codificadas por genes diferentes, so chamadas de isoenzimas (ver Quadro 15-2). Uma das isoenzimas “CH,OPOF ye 4 0. ns ‘CH,OH rae a | = Seale = on a 3 on Be ay, ( | Gon co toa a ¢ tL ; Fosfo-hesose- ion fon e 1 Sata non ‘low “ CEE ee ( GOH préton pelo BUOH ‘pelo mesmo Glu HOOH “cH,0PO} — Gludo sito CH,OPO} —_facltaaformagso cH,oP0} Siete | poe ‘fomario do Intermediario ‘fosteno, cirenediol. FIGURA 14-5 A reagio da fosto-hexose-isomerase. nel etapas @ ¢ 8) sic cata pata simpificaci. Wacjacentee pelos removivel pel retrada do ston polo grape ca presente em hepatéeitos, a hexoeinase TV (também cha- mada de glicocinase), difere de outras formas de hexoc- nase com relagdo a cinética e as propriedades regulatrias, com consequéncias fisiolégicas importantes, deseritas na Seco 15.3. © Aconversio de glcose-6-fosfatoafrutose-6fosfato. A enzima fosfo-hexose-isomerase (fosfoglicose-isomerase) ca talisa a isomerizacio reversivel da glicose-6-fosfato (aldo se) a frulose-6-fosfato (celose): Gx,0P0%- Tarot HOO Giicose 6 foxfto Frutose 6 fosfto © mecanismo dessa reagdo envolve um intermediario enediol (Figura 14-5), A reagdo ocorre facilmente em am- ‘bos os sentidos, como previsto pela Variagao relativamente pequena da energia livre padrao. © A fosforlacio da frutose-6-fosfato a frutose-1,6-bifosfato, Na segunda das duas reagbes preparatorias da glicélise, a en- Zima fosfofrutocinase-1 (PFK-1) catalisa a transferéncia, civenediol grpos hidronls snes. Ads suo warserénca do C2. io atv um Sid rao), oprdton é lvremente jor ousejao prétoneavidede C2 na gaps @ rd mente mesmo adcionado 20 C1 na etapa ©. @ Meas de um grupo fosforil do ATP para a frutose-6-fosfato, for- mando frutose-1,6-bifosfato: éx,0P0%- On Ht Fruose 6 fexfato fanoror soe GH, OPO Ou Frutose-s-bifesfato AG = =14.24/mol CONVENCAO-CHAVE: Compostos com dois grupos fosfato ou fosforil acoplados em diferentes posigdes da molécula sao chamados de bifosfatos (ou compastos bifosfo); por exer plo, frutose-1,6-bifosfato ¢ 1,3-bifosfoglicerato. Compos- tos com dois fosfatos ligados como grupo pirofosforil sao chamados de difosfatos; por exemplo adenosina-difosfato CADP). Regras similares sao aplicadas para nomear tif fatos (como inositol-1,4,6-trifosfato; ver p. 450) e trifosfa- tos (como adenosina-trifostato, ATP), i 550 DAVID L. NELSON & MICHAEL M. COX A enzima que forma a frutose-1,6-bifosfato € chamnada de PPK-1, para distingui-la de uma segunda enzima (PEK- 2), que catalisa a formacao de frutose-2,6-bifostato a par Ur de frutose-6-fosfato em uma via distinla (as papéis da PFK-2 e da frutose-2,6-bifosfato sio discutidos no Capitulo 15). A reac3o com PFK-1 6 essencialmente irreversivel em condigdes celulares, e essa éa primeira elapa “comprometi- da” da via glicolitica; a glicose-6-fosfato e a frutose-6-fosfato tém outros destinos possiveis, mas a frutose-1,6-bifosfato & direcionada para a glicdlise. Certos protistas ¢ bactérias tm, ¢ talvez todos os ve- ‘getais tenham, uma fosfofrutocinase que utiliza pirofosfato (PP), nao ATP, como o grupo fosforil doador na sintese de frutose-1 6-bilostato: Frutose-6-fosfato + HE Irutose-1,6-bilosfato + P, AG? = -2,9 ki/mol A fosfofrutocinase-1 esta sujeita a uma complexa mo- dulagio alostérica; sua atividade estaré aumentada sempre que 6 suprimento de ATP da eélula estiver prejudicado ou. quando ocorrer actimulo dos produtos da degradacio de ATP, ADP e AMP (particularmente o tltimo). A eraima es- lard inibida sempre que a célula tiver muito ATP e estiver ‘bem suprida por outro combustivel, como dcidos graxos Em alguns organismos, 2 frutose-2,6-bifoslato (ndo con- fundir com o produto da reag3o com PFK-1, a frutose-1,6- “bifosfato) é um ativador alostérico potente de PPK-1. A. ribulose-5-fosfato, intermedidrio da via das pentoses-fosfa- ‘to, discutido posteriormente neste capitulo, também ativa indiretamente a fosfofrutocinase. As rnltiplas esferas de regulagdo dessa etapa da glicdlise serdo discutidas em deta- the no Capitulo 15. © Acivagem da frutose-,6-ifesfato, enzima frutose-1,6- Difosfato-aldolase, ruitas vozes chamada simplesmente de aldolase, catalisa uma condensacao alddlica reversivel (ver Figura 13-4). A frutose-1,6-bifosfato € clivada para a formagio de duas trioses-fosfato diferentes, a aldose shi ceraldeido-3-fosfato e a colose di-hidroxiacetona-fos- fato: GuoPoF Gu,0P0% 0. “Ku Hoyt = w ou ee On FE Frutose-16-bifstato oH EHt,0P0F- ag =o + @QHOH 0 CH,OH CH,OPO} Dehidroxacetona- —Gleeraldeldo-3- “foxfato “fosfato AG =238 kimol Existem duas classes de aldolases, As aldolases da classe I, encontradas em animais e vegetais, utiliza. fo mecanismo mostrado na Figura 14-6. As enzimas da classe II, de fungos e bactérias, nao formam a base de Schiff intermediaria, Em vez disso, um fon zinco no sitio. ativo esta coordenado com o oxigénio do carbonil em C-2; 0 Zn** polariza o grupo carbonil e estabiliza o intermedia rio enolato gerado na etapa de clivagem da ligagao C—C. (ver Figura 6-17). Embora a reagio da aldolase tenha uma variagao da cenergia livre padrao fortemente positiva no sentido de cli- var a frutose-1,6-bifosfato, nas baixas concentragées dos reagentes presentes na célula a variagao real da energia livre 6 pequena, e a reagio da aldolase ¢ prontamente re- versivel. Sera visto posteriormente que a aldolase age no sentido roverso durante 0 processo de gliconeogenese (ver Figura 14-17) © Ninterconversio das trioses-fosfato. Apenas uma das duas Irioses-fosfato formada pela aldolase, o gliceraldefdo-3- -fosfato, pode ser diretamente degradada nas etapas sub- sequentes da glicélise. 0 outro produto, a di-hidroxia- cetona-fosfato, é rapida e reversivelmente convertida a aliceraldeido-3-fosfato pela quinta enaima da sequéncia Blicoltica, a triose-fosfato-isomerase. a= Tana cH,0P03- Dehidrowacetona Gicealdeido->- “fosfto “fostro AG" = 75 Wimol 0 mecanismo de reagao ¢ similar ao da reagao promovi- da pela fosfo-hexose-isomerase na etapa @ da gliedlise (Fi- gura 14-5), Depois da reacio da triose-fosfato-isomerase, 0s ‘tomos de carbon derivados de C-1, C-2 e C-3 da glicose inicial s20 quimicamente indistingutveis de C-6, €-5 e C-4, respectivamente (Figura 14-7); as duas “metades" da gli- cose geram gliceraldeido-3-fosfato Essa reagdo completa a fase preparatéria da glicélise. A molécula de hexose foi fosforilada em C-1 e C-Ge entao clivada para formar duas moléculas de gliceraldeido-3- fosfato. Afase de pagamento da glicélise produz ATP e NADH AA fase de pagamento da gliedlise (Figura 14-2b) inclut as cetapas de fosforilagao que eonservam energia, nas quais, parte da energia quimica da molécula da glicose & conser- vada na forma de ATP e NADI. Lembre-se de que uma mo- Igeula de slicose rende duas moléculas de gliceraldefdo-3- -fosfato, e as duas metades da molécula de glicose seguem a mesma via na segunda fase da gliedlise, A converséo das uas moléculas de gliceraldesdo-2-fosfato a duas moléculas de piruvato é acompanhada pela formagio de quatro mo- Iéculas de ATP a partir de ADP. No entanto, 0 rendimento CH,OPOS PRINCIPIOS DE BIOQUIMICA DE LEHNINGER 551 o. GH,0POF HHO ® on HO FHitosey6-bostaro Ligacioeabentura ase deschit es bay | | CHOPOF cx,oro? | son,oro> . . #0 20PO} we fT wk plo Tae fo] Le Xh, © HO'CH — ° HHOCH spe @ oe = Sy leon) Algsdosioate nto | Ovearanjoteves nou i Hace ocarbonlde i formastodeums BH le CGO bse ano HOH base de shi ; | Tuono) Motmagde de um ~~ | protonada na enzims cuoroy bores) Hemet ono | pguptememare, | dnt | ee ‘eee. ‘levon acitnas — 3 eapas subsequent, Glceaidedo-s- Di-hidroxiacetona- fosfato ‘Acivagem de “estate Primeto | igagaoe—c prods | verso da fence ee 7 ldots eve es erate do ase de Sch protonada FIGURAE'S A reagéo daaldolase de dlassel. A roayio mosvada aqu So mverso de umaconcensaricacéliea Observe que aclhagem entteC 3 12 Ca eepende a presenca da grupo carbon em C7, que é convert liquido de ATP por molécula de glicose consumida é de ape- nas dois, jé que dois ATP foram consurmidos na fase prepa- raloria da glicdlise para fosforilar as duas extremidades da molécula da hexose. © Aoxidagéo do gliceraldelde-3-fostatoa 1,3-bifosfoglicerato. A. primeira etapa da fase de pagamento a oxidagio do glice- ralde(do-3-fosfato a 1,3-bifosfoglicerato, catalisada pela cenzima gliceraldefdo-3-fosfato-desidrogenase: Intermadisiocovalents ura imina no sti ava da ervima. 8 repesentam os resis de am nodeidos que seem como Scio (A) ou base. om Noy NAD' NADH +H" t ad lon = lioro oe ° . % 1 CH,OPOP 1.3.8ifostogicerato AG? = 6 314/mol 552 DAVID L. NELSON & MICHAEL M. COX Frutose-s-bifosato Devado dserbonos eriado ‘aagleare rdf dos carbonos dealer 1 4 2 3 5 6 Giiceralceido-3- Tosfato Dihidroxacetona fosfato “ote eto omens @ Dewnado dos carbones da ghcose fa te o Glcraldeco Sou2 HA jon fostare out *cH,—0-® eages subsequentes ‘agkowe o FIGURA4-7 Destino dos carbonos da glicose na formagio de gliceraldeide-3-fosfato. (a) crigom dos catbaros nos dois comostos de ts carbons nas reagées a siolasee da roseslto-somerase 0 produto ra das duasreagées 6 gicerlésco-*fos'to(duss raiéculas)(b}Caca canon 49 glceraldeido-ssfato € derivado de um ou auto dos dol somos de carbon expects da gicose Note que a numeragza dos siomas de carbon 40 glcealdeldo-osfato dere daquels & gcose da qua le ¢denvado. No glealdeido-oxfato,o grupo funcional mas Complexo (0 Up0 Carbon) especticado como Cr. Ea Woce de numeragao& mporante ora nterptetar a5 exper mentos com glcose em que um Unico carbone émarcago com radokstopo (er Poblemas 6 e9ne ina deste capita) Esta é a primeira das duas reagdes de conservagio de energia da glicdlise que no final leva a formagao de ATP. 0 grupo aldefdo do gliceraldefdo-3-fosfato é oxidado, nao em um grupamento carboxil livre, mas em um anidrido de Acido carboxilico com Acido fosférico. Esse tipo de anidrido, chamado de acil-fosfato, tem energia livre padrao de hi drélise muito alta (AG"® = —49,3 ki/mol; ver Figura 13-14, ‘Tabela 15-6). A maior parte da energia livre de oxidagao do grupo aldeido do gliceraldefdo-3-fosfato 6 conservada pela formagdo do grupamento acil-fostato no C-1 do 1,3-bifosto- slicerato, gliceraldeido-3-fosfato € covalentemente ligado & desidrogenase durante a reagao (Figura 14-8). 0 grupo aldefdo do gliceraldefdo-3-fosfato reage com o grupamen- to —SH de um residuo de Cys essencial no sitio ativo, em reagio andloga & formagéo de um hemiacetal (ver Figura 7-5), nesse caso produzindo um tio-hemiacetal. A reagio do residuo de Cys essencial com um metal pesado como 0 Ha inibe a enzima irreversivelmente. A quantidade de NAD” em uma célula (¢ 10°) é muito menor que a quantidade de glicose metabolizada em pou- cos minutos. A via glicolitica pararia se o NADH formado nesta elapa da glicélise nao fosse continuamente reoxidado e reciclado. A discussdo sobre a reciclagem de NAD” sera retomada posteriormente neste eapftulo. © Atransferéncia de grupo fosforil de 1,3-bifosfoglicerato aADP. A cenzima fosfoglicerato-cinase transfere 0 grupo fosforil de alta energia do grupo carboxil do 1,3-bifosfoglicerato para o ‘ADP, formando ATP e 8-fosfoglicerato: * ee ~ bon I 7 CH,0PO} 13.Bifestogiicerato ‘oP age) rososicetocnase Oo COR “HzOPO3” Oo 3 Fosfoglcerato Observe que a fosfoglicerato-cinase tem esse nome devi- 0 eagio inversa,na qua ela transfere um grupo fostorl do ATP para. 3-fsfoglicerato, Como todas as eraimas, ea cata- lisa reagio em ambos os sentidos. Essa erzima age no sen tido sugerido pelo seu nome durante a gliconeogénese (ver PRINCIPIOS DE SIOQUIMICA DE LENNINGER 553, 1 oHOPOS Nap teadoitoa NAD" HEOH ‘cane Ag —\s gh Stele Nay “stato af = I Formato doco idea a azn ce Stato tem um pk, fedaido (55 em verde 8) Formagiodeuma igagio ‘quando NAD” exsigado, covalenteo-hemiaeetl ‘Sando na forma toato tre osbstat 0 grupo marta, TS residuo de Cy “way G:0POF gxi000} Fo ngou whee ¢. Aligagto totter covalent ++ oe @) entteo substrates enzina oly OPS -sofre fosfordlise (ataque por ” 1,3-bifosfoglicerato P),liberando o segundo ne produto, 3-bfostoglicerato, Ointermedisio enamasubtato¢ ©} cxidado pelo NAD" tigado Gsoroy 9 a0 sitio ativo, (sana ¢H.0POF o how ‘Napu Lf ° ‘ONADH formado debra o sitio. i tivo 86 substiulde por outa coe rmolécula de NAD", FIGURA14+S Areagioda giceraldeldo:3 fostato-desidrogenase. Figura 14-17) e durante a fixagio de CO, fotossintético (ver Figura 20-4). Na gliedlise, areagdo que cla catalisa prossegue com mostrado anteriormente, no sentido da sintese de ATP. As etapas @ e @ da glicdlise constituem um processo de acoplamento de energia em que 1,3-bifosfoglicerato & um intermedidrio comum; ele & formado na primeira reagio (que seria endergonica se isolada) e seu grupo acil-fosfato 6 transferido ao ADP na segunda reacao (que é extremamen- te exergénica), A soma dessas duas reagoes & -fosfato + ADP + P, + NAD* = SHfosfoglicerato + ATP + NADH + HY AG" = -12,2 kifmol Portanto, a reagao global é exergonica. Lembre-se do Capftulo 13 de que a variagao de energia I- vre real, AG, € determinada pela variagao de energia livre pa- rao, AG", ¢ pela lei da agdo das massas, Q, que é a relagéo [produtos)/reagentes} (ver Equagio 13-4), Para a etapa ®: Gliceraldeido. AG = AG’ +RTINQ [sliceraldetdo-3-fosfato[P,J[NAD ] AG"? + RT In Note que a [H") nfo est inclufda em Q. Em eéleulos biogut- rmicos, a [H'] é considerada uma constante 10"), ¢ essa constante esta inclufda na definigao de AG (p. 507). Quando a lei da agdo das massas 6 menor que 1,0, seu Jogaritmo natural tem sinal negativo, No citosol, onde es- sas reagdes ocorrem, a razao [NADHY(NAD"] é pequena, contribuindo para um baixo valor de Q. A etapa @, por con. sumir 0 produto da etapa @ (1,3-bifesfoglicerato), mantém 8 [1,3-bifesfogicerato] relativamente baixa no equiibrio e assim mantém @ pequeno para 0 processo global de aco- plamento de energia. Quando Q é pequeno, a contribuig de In Q pode tomar AG fortemente negativo. Essa é sim- plesmente outra forma de mostrar como as duas reagoes, as etapas @ e @, sio acopladas por meio de um intermedidrio O resultado do acoplamento dessas reagoes, ambas reversiveis em condigées celulares, & que a energia libe- rada da oxidagio de um aldetdo a um grupo carboxilato 6 eonservada pela formagio acoplada de ATP a partir de ADP eA formacao de ATP pela transferéncia do grupo fosforil de uum substrato, como o 1,3-bifostoglicerato, é clamada de fosforilacao no nivel do substrate, para distinguir esse mecanismo daquele da fosforilagio li gada A respiragio. As fosforilagdes no nivel do substra- to envolvem enzimas soliveis e intermedisrios quimicos (nesse caso, 1,3:bifostoglicerato). As fosforilagdes ligadas A respiragao, por outro lado, envolvem enaimas ligadas & membrana e gradientes transmembrana de protons (Ca- pitulo 19) 554 DAVID L. NELSON & MICHAEL M. COX © A.conversio de 3-fosfoglcerate a 2-fosfoglicerato. A enzima fosfoglicerato-mutase catalisa o deslocamento reversivel do grupo fosforil entre C-2 e C-3 do glicerato; Ma” éessen- cial para essa reagio: oe a 9 ‘ eee lo Por cH.—on sostogiceata 2osoglcerao 6° = 4440! A reagio ocorre em duas ctapas (Figura 14-9). 0 grupo {osforilinicialmente acoplado a um resicuo de His da rmuta- se 6 transferido a um grupo hidroxil em C-2 do 3-fosfoglice- Fosfoglicerato-mutase _ ma rope | (con | H 6-0-5 H,C—0—Po} ¢ | sHestogtceato BN tie corte a transerénciade um grupo ‘osforl entre uma His do so avo e @ | 062104) do substrate. Uma Segunda His do sto ato age como Lum eatalisador geral bisico. 666 —— a0 (e i x foto A He-0050 | WO > 228Hosoghcerso —( AN. Be \ as Atransfertncia de grupo fosfor ‘de C3 do substato para @ | primeira s dost ativo.A Segunda His do sto avo age ‘como um cataisador geal ido BG —0-20F H,C—0-1 [_ sFaseptnan FIGURA14+9 Areagéoda fosfoglicerato-mutase. rato, formando 2,3-bifosfoglicerato (2,3-BPG). O grupo fos- foril em C-3 do 2,3-BPG ¢ entao transterido para o mesmo residuo de His, produzindo 2-fosfoglicerato e regenerando a erima fosforilada. A fosfoglicerato-mutase é inicialmen- te fosforilada pela transferéncia de um fosforil de 2,3-BPG, necessério em pequenas quantidades para iniciar o ciclo ca- lalitico e & continuamente regenerado por esse ciclo, © Adesidratagio de 2-fostogliceratoafosfoenclpinuvato. Na se- gunda reagéo glicottica que gera um composto com alto po- tencial de transferéncia de grupamento fosforil (a primeira foi etapa ®), a enolase promove a remogao reversivel de luma moléeula de agua do 2-fosfoglicerato para gerar fosfo- enolpiruvato (PEP): ene Coroy == ‘HO-cH, 2Fosfoglcerato Fosfoenalpiuvato AG" =75ku/mel 0 mecanismo da reagio da enolase envolve tm intermedi Tio ensdlico estabilizado por Mg" (ver Figura 6-26). A reagio converte um composto com reativamente baixo potencial de transferéncia de grupo fosforil (o AG" para a hidrélise de 2-fosfoglicerato é —17,6 ki/mol) para um com alto potencial de transferéncia de grupo fosforil (0 AG” para a hidrélise de PSP € ~61,9 kl/mol) (ver Figura 13-13, Tabela 13-8), © Atransteréncia de um grupo fosfril do fosfoenolpiruvate para ADP. Altima etapa na glicdlise ¢ a transferéncia do grupo fosforil do fosfoenolpiruvato 20 ADP, catalisada pela piru- vato-cinase, que exige K’ e Mg" ou Mn’; os ® bo +® on, S ADP Fosfoenoipinwvate AG" = ~314 kmal Nesta fosforilagiio no nivel do substrato, o piravato re- sultante aparece inicialmente em sua forma endlica, depois, tautomeriza de modo rapide e ndo enzimético a sua forma ceténica, que predomina em pH 7.0: a 0 oo = emus B rows erento voi sone A reagao global tem grande variagao negativa da energia livre padrio, devido, em grande parte, a conversao espon- tanea da forma enélica do piruvato a forma ceténica (ver Figura 13-13). Aproximadamente metade da energia ibera- dda pela hidrlise de PEP (AG"” = ~61,9 kiimol) 6 conser ‘vada na formagio da ligagio fosfoanidrido do ATP (AG" 30,5 kiimol),¢ o restante (—31, 4 ki/mol) constitul uma grande forga que empurra a reagio no sentido da sintese de ATP. A regulagao da piruvato-cinase sera discutida no Capftuto 15. Obalanco geral mostra um ganho liquido de ATP Agora, pode-se construir um balango da glicélise para de- monstrar (1) 0 destino do esqueleto de carbono da glicose, (2) aentrada de P, e ADP e a safda de ATP, e (3) 0 caminho dos elétrons nas reagoes de oxidagio redugdo. O lado es tquerdo da equagao que se segue mostra todas as entradas de ATP, NAD", ADP P, (ver Figura 14-2), e0 lado direito mostra todas as saidas (lembre-se de que cada molécula de ilicose rende duas moléculas de piruvato) Glicose + 2ATP + 2NAD* + 4ADP + 2, —> 2piruvato + 2ADP + 2NADH + 2H" + 4ATP + 2H,0 Cancelando os termos comuns nos dois lados da equacio, € obtida a equagdo global para a gliedlise em condigoes acrdbias: Glicose + 2NAD* + 2ADP + 2P, —> 2 piruvato + 2NADH + 2H’ + 2ATP + 21,0 As duas moléculas de NADH formadas pela glicélise no citosol sao, em condigdes aerdbias, reoxidadas a NAD* pela ransferéncia de seus elétrons para a cadeia de transporte de elétrons, que em células eucaristicas esta localizada na rmitocéndria. A cadeia de transporte de elétrons conduz es: ses elétrons para o seu destino final, 0 O,: 2NADH + 2H" + 0, —> 2NAD™ + 2,0 A transferéncia de elétrons do NADE para o 0, na mito: cOndria fornece a energia para a sintese de ATP pela fosfo- rilagao ligada & respiragao (Capttulo 19), No processo glicolitico em geral, una motécula de glico- se 6 convertida a duas moléeulas de piruvato (a via do car- bono). Duas moléulas de ADP e duas de P, sA0 converti¢as a duas moléeulas de ATP (a via dos grupos fosforil). Quatro celétrons, na forma de fons hidreto, sio transferidos de duas PRINCIPIOS DE SIOQUIMICA DE LENNINGER 555, -moléculas de gliceraldetdo~ via dos elétrons). Josfato para duas de NAD" (a Aaglicélise é precsamente regulada Durante seus estudos sobre a fermentagao da glicose por leveduras, Louis Pasteur descobrit que tanto a vlocidade quanto a quantidade total de glicose consumida é muitas vezes maior em condigdes anterdbias do que em aerobias Estudos posteriores com misculo confirmaram a grande variagao nas taxas da glicdlise anaerdbiaeaerdbia. As bases bioguimicas para esse “efeito Pasteur” agora estao claras O rendimento de ATP da glicdise em condigoes anaeré bias @ ATP por molécala de lioase) & muito menor do que aquele a partir da oxidagao completa da glicose a CO, em condigdes acrébias (30 ou 32 ATP por glcose; ver Tabela 19-5). Portanto, para produzira mesma quantidade de ATP, ‘6 necessario consumir cerca de 15 vezes mais glicose em condigées anaerdbias do que aerdbias O fluxo de glicose pela via glicolitica é regulado para ranter os niveis de ATP pratieamente constantes Cassia como quantidades adequadas dos intermedidrios glicoliti- cos que possiem papeis biossintticos), O ajuste neces- Sério na velocidade da glicélise ¢ aleangado pela inters- Gao complexa entre o consumo de ATP, a regeneragéo de NADH e a regulagao alostérica de algumas enzimas glicol{- tieas ~ineluindo a hexocinase, a PFK-1 ea piravato-cinase “eas futuagdes segundo a segundo das concentracoes dos metabdlitos-chave que refletem o equilibrio celular entre a produgao eo consumo de ATP. Em uma escala de tempo um pouco maior, a glicélise é regulada pelos hor- ‘ménios glucagon, adrenalina e insulina e por variagdes na. expresso de genes de varias enzima glicoiticas. Ui caso especialmente interessante de regulagao anormal da glcd- se ¢ visto no cancer. O bioquimico alemao Otto Warburg foi o primeiro, em 1928, a observar que tumores de pra- ticamente todos os tipos posstem velocidade da glcdlise muito maior que a de tecidos normais, mesmo quando axrigénio esta dispontvel Esse “efeito Warburg” é a base dlo varios métodos de deteegio e tratamento do cancer (Quadro 14-1). ‘Warburg 6 consderadoo bioginico mais importance da primeira metade do século XX. Be fez contribuigdesinspi- radoras em muitas outras ras da biogusinies, inchuindo respi- racio, folossntese e envimolo- gin do metabolism intermedia. fio. Iniciando em 1930, Warburg ¢ seus colaboradores puriica Tome cristazaram sete enzimas da glicdise. A equipe de War burg desenvolven uma forra- menta experimental que revolt cionou of estudos bioguimicos dio metabolsmo oxidativo: oma- i rometro de Warburg, que mede onoWarburg.10ea.970— sifetamente o constimo de ox f2nio dos tecidos por monitorar variagdes no volume de gis, assim permite medidas quar- titativas de qualquer enzima com atividade oxidativa 556 DAVID L. NELSON & MICHAEL M. COX eer CEU Em muitos tipos de tumores encontrados em humanos e-em outros animais, a captagio e a degradacao de gli- case ocorrem cerca de 10 vezes mais rapido do que em tecidos normais, no cancerosos. A maior parte das cé- Iulas tumorais cresce em condigoes de hipoxia (i.e, com suprimento de oxigénio limitado) devido a falta, pelo menos inieialmente, das redes capilares que suprem com oxigénio suficiente. Células cancerosas localizadas a mais de 100 a 200 juin dos capilares mais prOximos dependem somente da glicose (sem oxidagao adicional de piruvato) para a maior parte da produgio de ATP. 0 rendimento de energia (2 ATP por glicose) & mul- to menor do que 0 que pode ser obtido pela oxidagao completa do piruvato a CO, na mitocondria (cerea de 80 ATP por glicose; Capitulo 19), Portanto, para lazer a mesma quantidade de ATP, as células turtorais devern aptar muito mais glicose do que as eélulas nor mais, convertendo-a a piruvato e depois a lactato enquanto reciclam NADH. E provivel que as duas tapas iniciais na transformagio de uma cétula nor- mal em uma célula tumoral sejam (1) a mudanga para a dependéncia da glicdlise na produgao de ATP, e (2) 0 desenvolvimento de tolerdncia a pH baixo no fluido extracelular (causado pela libera- do do produto final da glicdlise, 0 dcido léctico), Em geral, quanto mais agressivo é 0 tumor, maior & ataxa de gliedise. Bsse aumento da gliedlise ¢ aleangado ao me- nos em parte pelo aumento da sintese das enaimas slicoliticas e dos transportadores da membrana Plasmaética GLUTI e GLUTS (ver Tabela 11-3) que carregam a glicose para a célula, (Lembre-se de que GLUTI e GLUTS nao sao dependentes de insu- Jina.) O fator de transerigéo induzivel por hi- poxia (HIF-1, de hypo.ria-inducible transcrip- tion factor) 6 uma proteina que regula a sintese de MRNA, estimulando a produgao de pelo menos oito enzimas glicoliticas e dos transportadores de glico se, quando a oferta de glicose est limitada (Figura @1). Com a alta velocidade de glicélise resultan- te, as células tumorais podem sobreviver em con- digdes anaerébias até que o suprimento de vasos sanguineos aleance o tumor em crescimento. Outra proteina induzida por HIF-1 é 0 horménio peptidi- co VEGF (fator de crescimento vascular endotelial, de vascular endothelial growth factor), que e t FIGURAG-1 Ometadolismo anaerdbie da gicose em edu a moras rende muta menos AP 2 por giease) da que 2 oxeagso Completa a CO, que acarre em cul saudive's em concigies ser6bias(~30 ATP por gcose de forma que uma céul tural Seve consumit muta mals giose para produ a mesma uo tidode de ATP Os ransporradores de gicose ea malor nate 635 enzimes gcoltcas std superexoressas em turotes Compostos {que sbarnas enatrashexoe nase glcose 6 fosfaro desidrogena se ou tanscetolase blogueiam a preducio de AIP pela ges, prvande anima cia cancerosa de enegia © matango a lise em tumores sugere alvos para qu Tee eR uc mula o crescimento dos vasos sanguineos (angiogéne- se) em diregao do tumor. Existe também a evidéncia de que a protefna supres- sora de tumor p53, mutada na maior parte dos tipos de cancer (ver Seca 12.12), controla a sintese e a monta- _gem das proteinas mitocondriais essenciais para o trans- porte das elétrons ao O,. As células com p53 mutada sio deficientes no transporte de elétrons na mitocdndria e sao forgadas a depender mais significativamente da gli- COlise para a produgao de ATP (Figura Q-1). Essa dependéncia maior dos tumores pela gliestise ‘em comparagio aos tecidos normals sugere uma possibi- lidade de terapia anticancer: inibidores da gliedlise pode- riam atingir e matar tumores por esgotar seu suprimento de ATP, Trés inibidores da hexocinase mostrant-se pro- missores como agentes quimioterdpicos: 2-desoxiglicose, 4 cu tk aus cancér . Geo Mf 2oeongnse ado 6 Fesfoghconato| ° ona H i He | [aeeaacaos|,__@ : -osfato Tract Enaimas alates ° i “0-F-0. HQ ATP ADP o- HOM % NS H0* ——%\ on ee 2 HO” aay nO i (*F2-Fidor-2-desoriglicose [Fie-Fosto-2-Rior.2-desoxiglcose Fda) (GFosfo-FdG) FIGURAG2 A foxforlagio da? Mor? desoxigicase marcada cor "F pela haxocirase mans ‘onde sua perenga pode ser detectacs por em acu come 6 fs lonidamina ¢ 3-bromopiruvato. Por impedir a formagao de glicose-6-fosfato, esses compostos no apenas privam as eélulas tumorais de ATP glicoliticamente produzido, mas também evitam a formagao de pentoses-fosfato pela via das pentoses-fosfato, que também inicia com glico- se-G-fosfato. Na auséncia de pentoses-fosfato, a célula no consegue sintetizar os nueleotideos essencials para asintese de DNA e de RNA, e assim nao consegue cres- cer nem se dividir, Outro farmaco anticancer jé aprovado para 0 uso clinico é o imatinibe (Gleevec), descrito no Quadro 12-5, Ble inibe uma Lirosina-cinase especifica, impedindo a sintese aumentada da hexocinase, que nor malmente é ativada por essa cinase especifica. 0 anilogo de tiamina oxitiamina, que bloqueia a a¢ao de uma enzi- ma tipo transcetolase que converte a xilulose-5-fosfato a gliceraldeido-3-fosfato (Figura Q-1), esta em triagem ppré-clinica como farmaco antitumora A\ alta taxa glicolitica em células tumorais também tem utilidade para diagnésticos. As taxas relativas em que 08 tecidos captam glicase podem ser usadas em al- PRINCIPIOS DE SIOQUIMICA DE LENNINGER 557 orks lepésivonsda "= _guns casos para identificar a localizagio de tumores, tomografia por emissao de pésitrons (PET, de positron emission tomography), injota-se nos pacientes urn and- logo inofensivo da glicose isotopicamente mareado que 6 captado, mas nao metabolizado pelos tecidos. O com- posto marcado é a 2-Mlior-2-desoxiglicose (FUG), em que © grupo hidroxil em C-2 da glicose € subslituido por “F (Eigura Q-2). Esse composto é captado pelos transporta- dores GLUT, sendo um bom substrato para a hexocinase, mas nao pade ser convertido ao intermediério enediol na reacio da fosfo-hexose-isomerase (ver Figura 14-5) € consequentemente se acumula como 6-fosfo- FG. A ex tensdo do seu actimulo depende da sua taxa de captaco e fosforilagao, que, como citado anteriomente, costuma ser 10 ou mais vezes maior em tumores do que em teci dos normais. O decaimento do “F libera pésitrons (dois por atomo de “F) que podem ser detectados por uma série de detectores sensiveis localizadas ao redor do ca po, 0 que permite a localizagao acurada de 6-fosfo-Fal acummulado (Figura Q-3) FIGURAQ'S _Dexcccio de tecdoscancorsos por tomografia por emis sfo de pésivons (PET) O pacien:eaduto do sexo mi ure ogo erirgca de urn cincer de pele primo (melanoma elgne). A imagem 3e:4.2%03, obi do coro todo aoe tomograf comoutade- ‘toda (varie por'C) mest aloolagae des ters oles eos, O pain! central # ua varedra por PLI 236s 0 paciente ter ingerdo 2 dor 2-desoxgiose Fe) marcada corn am egies de aa utizagio da gicose. Como espe a bexiga esta foremer =o céebre porque uta a maicr fare da gleosecarsumida po corp, ¢3 exga porque a & mateado com "F¢ excetaeo na uta, Quando aintensicode dam Gaon vated pot PET #trauda em cor fas (anton dade aurent de vide pata amatelo pare vermelho) tedura po" TC imagern resultant fea revela nce nos wss0s da oluna vertebral superior, ne igado e em algumas regibes usculares sos resutantes de propagacio do melanoma maigns prio, 2 magem & sbvepasta 558 DAVID L. NELSON & MICHAEL M. COX ‘Treinado em quinica de carboidratos no laboratério do notavel Emil Fischer (que recebeu o Prémio Nobel em. Quimica em 1962), Warburg ganhou o Prémio Nobel de Fi siologia e Medicina em 1931. Varios dos estudantes © co- laboradores de Warburg também foram agraciados com Prémios Nobel: Otto Meyerhof em 1922, Hans Krebs e Fritz Lipman em 1953 e Hugo Theorell em 1955. 0 laboratério de Meyerhof forneceu treinamento para Lipmann e para ‘muitos outros ganhadores do Prémio Nobel: Severo Ochoa (21959), Andre Lwoff (1965) e George Wald (1967). Acaptacao da glicose é deficiente no diabetes melito tipo O metabolismo de glicose em mamfferos é limitado pela taxa de captagdo da glicose pelas células e sua fosforilagao pela hexocinase. A eaptacio da glicose do sangue é mediada pela familia GLUT de transportadores de glicose (ver Tabela 11-3). Os transportadores nos he- patécitos (GLUTI, GLUT2) e nos neurénios cerebrais (GLUT3) estdo sempre presentes nas membranas plas- réticas. Por outro lado, o principal transportador de ali cose nas eélulas do muisculo esquelético, misculo car- diaco e tecido adiposo (GLUT) est armazenado em pequenas vesfculas intracelulares e se destoca para a ‘membrana plasmética apenas em resposta a um sinal de insulina (Figura 14-10). Esse mecanismo de sinalizagao da insulina foi disentido no Capitulo 12 (ver Figura 12- 16). Portanto, em rmisculo esquelético, coragio e tecido adiposo, a captagéo e o metabolismo da glicose depen- dem da liberagao normal de insulina pelas eélulas B pan- credticas em resposta & quantidade elevada de glicose no sangue (ver Figura 23-26). Os individuos com diabetes melito tipo 1 (também cha- mado de diabetes dependente de insulina) tém pouquissi- mas células B e so incapazes de liberar insulina suficiente para desencadear a captagéo de glicose pelas eélulas do isculo esquelético, do coracio ou do tecido adiposo. As Sim, apés uma refeigao contendo carboidratos, a glicose se acumnula a niveis anormalmente altos no sangue, condigao conhecida como hiperglicemia. Incapazes de captar glicose, © misculo e 0 tecido adiposo utlizam os dcides graxos ar rmazenados nos triaciglicer6is como seu principal combus- tivel. No figado, a aceti-CoA derivada da degradagao desses fcidos graxos & convertida a *corpos cetOnicos” — acetoa- cetato e B-hidroxibutirato — que sto exportados e levados a outros tecidos para serem utilizados como combustivel (Capitulo 17). Esses compostos sao especialmente criticos: para o eérebro, que utliza as corpos eeténicos eomo com bust{vel alternativo quando glicose esta indisponivel. (Os fcidos graxos nao conseguem atravessar a barreira hema toeneeflicae, por isso, nfo servem de combustivel para os neurénios do cérebro.) Em pacientes com diabetes tipo 1 ndo tratados, a super produgao de acetoacetato e B-hidroxibutirato leva a seu acti rmulo no sangue, ea consequente redugao do pH sanguineo leva a eetoacidose, una condicio potencialmente etal. A administragio de insula reverte esta sequéncia de eventos GLUTS se desloca para a membrana plasmdtica dos hepat6 Citos e adipécitos, a glicase é captada e fosforilada por essas ccélulas, © 0 nivel de glicose no sangue decresce, reduzinda potencialmente a produgao de corpos ceténicos. (0 diabetes melito tem efeitos profundos no metabolis- mo de carboidratos e ipideos. Esse topico serd retomado no Capitulo 23, aps considerar o metabolismo de lipideos (Capitulos 17 € 21). RESUMO 14.1 Glicdlise > A glicolise é uma via quase universal pela qual uma mo- lécula de glicose ¢ oxidada a duas moléculas de piruva- to, com energia conservada na forma de ATP e NADH. > As 10 enzimas glicoliticas estao mo citosol, e os 10 in termedisrios s40 compostos fosforilados de trés ou seis, carbons, > Na fase preparatéria da gliedlise, ATP ¢ consumido para a conversa de glicose em frutase-1,6-bifosfato, A liga- (cio entre C-3.e C-4 6 ento clivada para gerar duas mo- Iéculas de triose-fosfato. > Na fase de pagamento, cada uma das duas moliculas de sliceraldesdo-3-fosfato derivada da glicose sofre oxida- (gio em C-1; a energia dessa reagio de oxidagio 6 cor- servada na forma de um NADH e dois ATP, por triose- -fosfato oxidada, A equacéo para o processo global é Glicose + 2NAD* + 2ADP + 2P,—> 2piruvalo + 2NADH + 2H" + 2ATP + 2H,0 > A glicolise ¢ rigidamente regulada de forma coordenada com outras vias geradoras de energia para garantir um suprimento constante de ATP. > No diabetes tipo 1, a captagdo deficiente de glicose pelo :misculo e tecido adiposo tem efeitos profundos sobre 0 ‘metabolisma de carboidratos e gorduras. 14.2 Vias alimentadoras da glicélise Muitos carboidratos, além da glicose, encontram seus des- Linos catabélicos na glicélise, apés Serem transformados em um dos intermedidrios glicoliticos. Os mais significati- vos so os polissacarideos de armazenamento, glicogénio e amido, contidos nas células (endégenos) ou obtidos da dicta; os dissacarideos maltose, lactose, trealose e saca- rose; e as monossacarideos frutose, manose ¢ galactose (Figura 14-11). 0s polissacarideos e os dissacarideos da dieta sofrem hidrélise a monossacarideos Para a maioria dos seres humanos, 0 amido é a principal Fonte de carboidratos na dieta (Figura 14-11). A digestao inicia na boca, onde a a-amilase salivar hidrolisa as liga- {¢0es glicosidicas internas (a1—+4) do amido, produzindo fragmentos polissacaridicos curtos ou oligossacarideos. (Note que nessa reacao de hnidrélise, a agua © nao P, é a espécie atacante.) No estémago, a a-amilase salivar é inativada pelo pH baixo, mas uma segunda forma de a~ amilase, secretada pelo pancreas no intestino delgado, PRINCIPIOS DE SIOQUIMICA DE LENNINGER 559) oes o> Eas Qo. ciara + © meiodeGiUTs . plasmstica Giese Herocinase @ fostorisa slcose Pievato Bihidroxbutrato 30 A1P fecepor de @ hain aes Vesiulascontendo © GLUTé fundemse com amemtranaplasmitica Amobilizasio de ‘willie! fornece ‘idos graxos como combustivel alternativo oniacso co @ paws” (S\ fotos Pele cielo do oxidativa na eoames Zp Moca cof” Atransfernciadeelétons CO: © nasmitoconerias ‘ireiona a sinteze de ATP FIGURA 4-10 feito do diabetes tipo 1 sobre o metabolismo dos carboldratos e das gorduras em um adipéeito, Norra ania, o insulin desencadela o insergSe ce tonsportagores GLUTA na ‘mamoranaplasmstica gelato de vestcuas contend GLUT cor ame bara, permtindo aaptagiede gicase do sangue, Quando os rives de in sulina diminuers ne sangue, GLU éessecuesttad om vestculas po endo Cose. No dabetes meio tipo | (dependerte ce insuina),ainsergio d= GGLUT4 nas memranas asim como altos procesios normaimert esimi= lados por rsuiina, 256 miidos como insieaco por Adefciencade msi lnaiopede acapiogse de glicse po LUTE come convequénca a cus continua o proceso de degradagao. A a-amilase pancreé- tica gera principalmente maltose e maltotriose (os di e trissacarideos de glicose) e oligossacarfdeos chamados de dextrinas-limite, fragmentos de anuilopectina conten- do pontos de ramificacao (a1—96). A maltose e as dex. trinas sto degradadas até glicose por enzimas do epité- lio intestinal com borda em escova (as micravilosidades das cétulas epiteliais do intestino, que aumentam muito a érea da superticie intestinal). 0 glicogénio da dieta tem sho prvadas de gliose, enquanto ela esta elevado na corete sanguinea. Sem lcose para osuaximento de ener. 3 adipécitos degradam tsi er estocados em gas de garde fornecen os Sidos 97105 resulta tes para curs ecidos pare aproduqdo mitoconcial de ATP_Dos subproc tos da oxdagie dos dct gros aeumulam se no figado(actoacatato@ Brhidroxibutato, erp. 686) ¢ so liber na corrente sanguinea forne endo combustivel para. cétebo, mas amisém diminund 0 pH do san ‘ue causando celoacdese, A mesma sequéncia de eventos ocore no ms ul, excete Que os mécitos nao estocam tacgicers, mas cptary 05 {321505 raees que 90 lberados na covente sanguinea pelos adincetas. essencialmente a mesma estrutura do amido, e sua diges- tao segue a mesma via Como foi visto no Capitulo 7, a maioria dos animais nao pode digerir celulose devido & falta da enzima celulase, que cliva as ligacbes glicosidicas (814) da celulose. Em ani- ‘mais ruminantes, o estdmago estendido inclut uma camara onde microrganismas simbidticos que produzem celulase dogradam celulose em moléculas de glicose. Esses micror- ganismos utilizam a glicose resultante por meio de fermen- 560 DAVID L. NELSON & MICHAEL M. COX “ 2 —_ J wong cok vor i cise is we Jprsecinse Frutose-t-osfto Ghost Teafonanose womerse | ea vena i | ae FIGURA 4-11. Entrada de licogénio, amido, dissacarideos e hexoses da: tagdo anaerébia, produzindo grandes quantidades de pro- pionato. Esse propionato serve como material de partida para a gliconeogénese, que gera a maior parte da lactose do leit, 0 glicogénio endégeno eo amido sio degradados por fosfordlise Os estoques de glicogénio em tecidos animais (principal- mente no figado e no misculo esquelético), em micror- sanismos ou em tecidos vegetais podem ser mobilzados, para o uso da mesma célula, por uma reagao fosfolitica ca- talisada pela glicogénio-fosforilase (amido-fosforilase em vegetais) (Figura 14-12). Essas enzimas catalisam 0 ‘ataque por P, sobre a ligago glicosidica (al—>4) que une os dois tiltimos residuos de glicose na extremidade nao re dutora, gerando glicose-1-fosfato ¢ um polimero com uma. unidade de glicose a menos. A fosfordlise preserva parte da energia da ligagao glicosidica do ésterfosfato da glico- se-1-fosfato. A glicogénio-fosforilase (ou amido-fosforilase) ‘age repetidamente até aleangar um ponto de ramificagao iota no est preparatério da liélise, (16) (ver Figura 7-13), onde cessa sua agao. Uma enzi- ma de desramificagdo remove as ramifieagoes. Os meca- nismos ¢ 0 controle da degradacio de glieogénio sto deseri- tos em maior detalhe no Capftulo 15, A glicose-I-fosfato produzida pela glicogénio-fosforilase 6 convertida a glicose-6-fosfato pela fosfoglicomutase, ‘que catalisa a reagao reversivel: Glicose-1-fosfato —* Glicose-6-fosfato AA fosfoglicomutase utiliza basicamente 0 mesmo mecanis- mo que a fosfoglicerato-mutase (Figura 14-9): ambas en- volver uum intermedidrio bifesfato, e a enzima é transito- lamente fosforilada em cada cielo eatalitico. O nome geral mutase é dado a enzimas que catalisam a transferéncia de lum grupo funcional de uma posigao para outra, na mesma molécula. As mutases so uma subclasse das isomerases, eriruas que interconvertern estereoisomeros ou isimeros cestruturais ou de posigao (ver Tabela 6-3). A glicose-b-fos- {ato formada na reacao da fosfoglicomutase pode entrar na alicélise ou em outra via, como a via das pentoses-fosfato, deserita na Secao 14.5, Extremidade nioreduiora CHOH HAL non HOW On HO Lg ° oH HOH Glicogénio amido) nnunidades de gcose ‘cogenioamie ‘estorase CH,OH CH,OK 0. HAL H HAL HOH On “Kon a HO HO 0. HOH HOH Glos fosfato licogéni (amido) (ost)unades de glcare FIGURA 4-12 Degradagio do glicogénio intracelular pela glicogé- nlo-fesforlase. A erzmacatlsa cataque peo fesfatoinorginiea em eat iu g cos termina fer azul na extremdade ro red- do gicoset-osfato eformando lima molgcua e gicogério com um residuo de gicasea meres Areagio uma sorts (do hide PROBLEMA RESOLVIDO 14-1. Economia de energia para a quebra do licogénio por fosforlise Caleule a economia de energia (em moléculas de ATP por monémeros de glicose) obtida pela quebra do glicogénio por fosfordlise em ver. de hidrdlise para iniciar 0 processo de glicdlise, Solugio: A Tosfordlise produz uma glicose fosforilada (gli- cose-1-fosfato), que ¢ entao convertida a glicose-6-osfato — sem gasto da energia celular (1 ATP) necesséria para a formagao de glicose-6-Fosfato a partir de glicose livre. Por- tanto, 6 consumido apenas 1 ATP por mondmero de glicose na fase preparatéria, em comparagao com 2 ATP consuini- dos quando a glicdlise inicia com glieose livre, Consequen- temente, a célula gana 3 ATP por mondmero de glicose (4 ATP produzidos na fase de pagamento menos 1 ATP usado na fase preparatoria), em vez de 2 ~ uma economia de 1 ATP por monémero de glicose A quebra de polissacarideos da dicta, como o glicagénio © 0 amido, no trato gastrintestinal por fosfordlise em vez de hidrolise nao produziria ganho de energia: agticares fos- fatados nao sao transportados para dentro das eélulas que rovestem 0 intestino, devendo primeiro ser desfosforilados ‘a agiicar livre PRINCIPIOS DE BIOQUIMICA DE LEHNINGER 561 Os dissacarfdeos deve ser hidrolisados a monossaca- rideos antes de entrar na célula, Dissacarideos intestinais e dextrinas sdo hidrolisados por enaisnas acopladas & superti- cie externa das células epileliais intestinais: Dextrina + nH,0 ——+ n o-licose Maltose + 1,0 —— 2v-glicose Lactose + H,0 —— galactose + picose Sacarose + 10 —— p-trutose + valcose ‘Trealose + HO ——+ 2v-glicose (Os monossacarideos assim formadas so transportados ativamente para as células epiteliais (ver Figura 11-43), em ssegutida passam para o sangue e so transportados para va Flos tecidos, onde sto fosforilados e entram na sequéncia alicolitica, ‘A intolerneia a lactose, comum entre adultos na_ ‘maior parte das populagdes humanas, exeeto aquelas origindrias do norte da Buropa e alguns paises da Africa, é devida ao desaparecimento, apés a infancia, da maior parte ‘ou de toda atividade lactsica das eélulas epiteliais intesti- nals, Na ausénela de lactase intestinal, a lactose néo pode ‘ser completamente digerida ¢ absorvida no intestine delga- do, passando para o intestino grosso, onde bactérias @ con vertem em produtos t6xicos que causam caibras abdominals e diarreia, O problema é ainda mais complicado porque a lactose nao digerida e seus metabdlitos aumentam a ostnola- ridade do conteido intestinal, favorecendo a retencio de ‘gua no intestino. Na maioria dos lugares do mundo onde a intolerincia & lactase é prevalente, o leite nao 6 usado como alimento para adultos, embora os produtos do leite pré-dige- ridos com lactase estejam comercialmente disponiveis em. alguns paises. Em certas patologias humanas, estao ausen- tes algumas ou todas as dissacaridases intestinais. Nesses casos, 0 disturbio digestivo ocasionado pelos dissacarideos da dicta pode ser minimizado por uma dicta controlada. I ‘Outros monossacarideos entram na via glicolitica em diversos pontos Na maior parte dos organisinos, outras hexoses além da gli- cose podem softer glelise apds a conversio a um derivado {osforiado. A o-frutose, presente na forma livre em multas frutas eformada pela hidrélise da sacarose no intestino del- ado de vertebrados, é fosfrilada pela hexocinase: Frutose + ATP > frutose- Josfato + ADP Esta 6 a prineipal via de entrada da frutose na glicdlise nos -msculos e nos rins. No figado, a frutose entra por uma via diferente. A enzima hepatica frutocinase catalisa a fosfor'= Iago da frutose em C-I em vez de O-6: 562 DAVID L. NELSON & MICHAEL M. COX A frutose-L-fosfato é entio clivada a gliceraldefdo e di- -hidroxiacetona-fosfato pela frutose-1-fosfato-aldolase GLoros- e=0 1cH,OPOF- oH,0H ad Diidronacetna- © foto Hoc HCOH Frere at “isoare Hon f *CH.OH gon Frotose ostto HOH Gicealdeido A di-hidroxiacetona-fosfato 6 convertida a gliceralde- fdo-3-fosfato pela enzima glicoltica triose-fosfato-isome- ase, O gliceraldetdo 6 fosforilade pelo ATP e pela triose- einase a gliceraldefda-3-fosfato: Glioeraldeido + ATP “> gliceraldeido-tfostato + ADP Assim, os dois produtos da hidrélise da frutose-1-fosfato entrar na via glicolitica como gliceraldeido-3-fstato, A.b-galactose, produto da hidrélise da lactose (agiicar jo leite), passa, pela corrente sanguinea, do intestino para o figado, onde é primeiro fosforilada em C-1, 8 custa de ATP, pela enzima galactocinase: Met Galactose + ATP “> galactose-1-fosfato + ADP A galactose-1-fosfato é entao convertida ao seu epime- ro em C-4, a glicose-I-fosfato, por um conjunto de reacoes nas quais que o difosfato de uridina (UDP) funciona como coenzima transportadora de grupos hexoses (Figu- ra 14-13). A epimerizacao envolve primeiro a oxidagao do ‘grupo —OIT em C-4 para uma cotona, em seguida a redu- (Gio da cetona para um —OH, com inverse da eonfigura- Gio em C-4, NAD ¢ o cofator tanto para a oxidagio como Para a reducao, A deficiéncia de qualquer uma das trés enzimas dessa via causa galactosemia em humanos, Na galactosemia por deficiéncia de galactocinase, altas concentracoes de galac- tose sdo encontradas no sangue ¢ na urina. Os individuos afetados desenvolvem catarata durante a infincia, causada pela deposicao no cristalino de um metabdlito da galactose, 0 galactitol no—b—a nob n-(on bon Galatta 0s outros sintomas dessa patologia so relativamente leves, ¢ a limitagio rigorosa de galactose na dieta diminui de modo significativo sua severidade. ‘A galaclosemia por deficiéneia da transferase é mais séria; ela é caracterizada por retardo do crescimento na infincia, anormalidade na fala, deficiéncia mental e dano Galactose ATP ug?) caacocinase ADP. ® OD corcose-Hosoo Hon or sieoseqaacase+ Mostatourdivandease Giicose-1fosfato CHLOH -—o, UDP galactose H OH H ‘o-[upP] HOH NAD* ~J uoPsicoue api +a! |" cH,OH ©, " H on ‘oan HOH NADH + Ht vor gicos « “epmesse Nap™ CHLOH UDP ghicose HOH FIGURA 1413 Conversio da galactose em glicose-fosfato. con versio cere por meio eum derivado agucar-nucleatieo, a UD galato 5, que ¢fermado quando galactose osato desioca glcase- fasta da UbP-glicose. A UDP-gaactose¢ eno converts pela UDP-glcose~eph ‘merase 8 UDP-gicose, em ume re3;30 que envoie a oxdaca0 de C4 fem oe slo} pelo MAD entéo a reduGao de Ct por NADH oresutado a ‘nverso da confguragio em C4 AUD gicase€regenerada por mew de Un nove cca des mesma eagbes. 0 eet auido desse cco a conve SSodegolctose | fasatoa gicose I foslate;n30hs produyse ou consume liquide €e UDP gicose ou UDP galactose hepatico que pode ser fatal, mesmo quando a galacto- se é retirada da dieta. A galactosemia por deficiéncia da epimerase leva a sintomas similares, porém é menos grave quando a galactose da dieta 6 cuidadosamente controlada, Hl A pemaniose, liberada na ingestao de varios polissaca- rideos e glicoproteinas dos alimentos, pode ser fosforilada em C6 pela hexocinase: we Manose + ATP > manose-6-fostato + ADP A manose-6-tosfato 6 isomerizada pela fosfomanose- isomerase, gerando frutase-6-fosfato, intermedisrio da sliedlise. RESUMO 14,2 _Vias alimentadoras da glicdlise > O glicogénio e o amido endégenos, as formas de armnaze- amento da glicose, entram na glicdlise em um processo de duas etapas. A clivagem fosforolitica de um residuo do alieose de uma extremidade do polimero, formando slicose-I-fostato, é catalisada pela glicogénio-fosforila- se ou pela amido-fosforilase. A fosfoglicomutase ento converte a glicose-1-fosfato em glicose-6-fosfato, que pode entrar na glicdlis. > Os polissacarideos e os dissacarideos ingeridos so con- vvertidos a monossacarideos por enzimas hidroiiticas in- testinais, e os monossacarideos ento entram nas eélu- Jas intestinais e so transportados para o figado ou para outros tecidos. > Varias o-hexoses, incluindo a frutose, a galactose e a manose, podem entrar na glicélise. Cada uma delas ¢ fosforilada e convertida a glicose-6-fosfato, frutose-6. -fosfato ou trutose-1-fosfato. > A conversio de galactose-I-fosfato a glicose-I-fosfato envolve dois derivados nucleotidicos: UDP-galactase & UDP-glicose. Defeitos genéticos em qualquer das trés enaimas que catalisam a converséo de galactose em gli- ccose-1-fosfato resultam em galactosemias de severidade variada, 14,3 Destinos do piruvato em condicées anaerdbias: fermentacao Bm condigdes aer6bias, o pirwvato formado na etapa final da gliedlise ¢ oxidado a aeciato (acetil-CoA), que entra no Cielo do dcido eftrico e & oxidado a CO, H,0. 0 NADH, formado pela desidrogenagao do gliceraldeido-3-fosfato & finalmente reoxidado a NAD" pela transferéneia de seus elétrons ao O, na respiragao mitocondrial. No entanto, em condigées de hipoxia (pouco oxigénio) — assim como no rmiseulo esquelético muito ativo, nos tecidos vegetais submersos, nos tumores sélidos ou nas baclérias lécticas ~ 0 NADH gerado pela glicdlise nao pode ser reoxidado pelo 0,. A falha na regeneragao de NAD” deixaria a eéhula carente de aceptor de elétrons para a oxidagio de ali raldefdo-3-fosfato, © as reagdes geradoras ce energia da alicdlise cessariam. Portanto, NAD” deve ser regenerado de outra forma. PRINCIPIOS DE SIOQUIMICA DE LENNINGER 563, As células primitivas que viviam em umna atmosfera pra- licamente desprovida de oxigénio tiveram que desenvolver estratégias para extrair energia de moléculas combustiveis em condigdes anaerobias. A maioria dos organismos moder- nos reteve a capacidade de regenerar NAD’ continuamente durante a glicdise anaerébia pela transferéncia de elétrons do NADH para formar um produto final reduzido, como lac- tato ou etanol, Opiruvato é 0 receptor final de elétrons na fetmentagéo lactica Quando tees animais nto podem ser supridos com oxige- rio suiciente para realizar a oxidagso aerdbia do piruvato e do NADH produzidos na glicélise, NAD’ é regenerado a partir de NADI pela redugio do piruvato « Iaetato, Como mencionado antes, alguns tecidos e tipos celulares (como os eritrécitos, que nio possuem mitocéndriae, portsnto, rio podem oxidar piruvato até CO,) produzem lactato a partir de glicose mesmo em condicées aerdbias. A reducao do pinavato por essa via ¢catalsada pela Inetato-desidro- fenase, qe forma o s6mero do lactato em pH 00° sang 9 be ono 25,1 kvmol © equilbrio global da reagio favorece bastante a formagio delactato, como mostrado pela grande variagao negativa da enorgia livre padrao. Na glicélise, a desidrogenagao de duas moléeulas de gli- ‘ceraldetdo-3-fosfato derivado de cada molécula de glicose ‘converte duas moléeulas de NAD" a duas de NADIE, Como ‘a redugio de duas moléeulas de piruvato em duas de lacta- to regenera duas moléculas de NAD’, no ocorre variagio liquida de NAD' ou NADIE: Giicose 2 Pirwvato 2 Lactato 0 lactato formade pelo miisculo esquelético em ati- vidade (ou pelos eritrécitos) pode ser reciclado; ele é transportado pelo sangue alé o ligado, onde é convertido em glicose durante a recuperagéo da atividade muscular exaustiva. Quando o lactato ¢ produzido em grande quan- dade durante a contragao muscular vigorosa (p. ex., durante uma arrancada), a acidificagdo resultante da io- nizagao do fcido lactico nos misculos e no sangue limita © periodo de atividade vigorosa. Os atletas mais bem con- icionados s6 podem correr por um minuto em velocidade maxima (Quadro 14-2). 564 DAVID L. NELSON & MICHAEL M. COX QUADRO1 Os vertebrados sao em sua maior parte onganismos es- sencialmente acrobios: eles convertem glicose em piru- vato pela glicdlise, depois utilizam 0 oxigenio molecular para oxidar 0 piruvato a CO, ¢ H,0. O eatabolismo anae- rObio da glicose a lactato ocorre durante eurtos pulsos de atividade muscular extrema, por exemplo, er ura corrida de 100 m, durante @ qual o oxigénio nao pode ser transportado para os misculos com a rapidez suficien para oxidar o piruvato. Assim, os miiseulos utilizar seus estoques de glicose (glicogénio) como comibustivel para gerar ATP por fermentacao, com lactato como produto final, Na arrancada de uma corrida, a concentragao de lactato no sangue aumenta muito. No figado, ele é I tamente convertido em glicose pela gliconeogénese no periodo de descanso ou recuperacio, quando, ento, 0 oxigénio 6 consumido em taxas gradualmente menores até a velocidade da respiragao retornar ao normal. O ex cesso de oxigénio consumido no periado de recupera- (Gao representa a reposicao do débito de oxigénio. Essa 6a quantidade de oxigénio necesséria para suprir ATP. para a gliconeogénese durante a recuperagao da respi ago, para regencrar o glicogénio “tornado emprestado do figado e do masculo para realizar atividade muscular intensa na corrida de velocidade. O ciclo de reagées que Ineluer a conversio de glicose em lactato ne mmisculo a conversao de lactato em glicose no figado & chamado de ciclo de Cori, em homenagem a Carl e Gerty Cori, ccujos estudos, nas décadas de 1930 e 1940, elucidaram a via e seu papel (ver Quadro 15-4) sistema eirculatério da maioria dos vertebrados pequenos consegue transportar oxigénio para os mus- culos com rapidez suficiente para evilar 0 uso anaerdbio de glicogénio muscular. Por exemplo, os passaros mi grantes com frequéncia voam grandes distancias em alta volocidade sem descansar e sem incorrer em débito de oxigénio. Muitos animais velozes de tamanho moderado também mantém essencialmente um metabolisto aer6 bio em seus misculos esqueléticos. No entanto, o siste ma cireulatério de animais de grande porte, incluindo 0 homem, ndo consegue sustentar 0 metabolismo aerébio nos miisculos esqueléticos por longos periodos de ativi- dade muscular intensa. Esses animais em geral movem- -se lentamente em circunstneias normais ¢ desenvol- vern atividade muscular intensa apenas em emergencias muito graves, ja que tal pulso de atividade requer longo perfodo de recuperagio para repor a débite de oxigenio Os jacarés e 08 crocodiles, por exemplo, séo normal- nte animais lentos. No entanto, quando provocados, eles sofrem mudangas & velocidade da luz.e podem dar chicotadas violentas com suas caudas poderosas, Es- ses pulsos de alividade intensa sdo curtos e dever ser seguidos por longos perfodos de recuperagao. Os mo vimentos répidos de emergéncia requerem fermenta: (fo Kictica para gerar ATP nos mdisculos esqueléticos, Os estoques musculares de glicogénio slo rapidamente Atletas, acarése celacantos:glcdlise em concentr consumidos na atividade muscular intensa, e o lactato atinge concentragbes muito altas em mideitos e no fut do extracelular. Enquanto um atleta treinado pode se recuperar de ura corrida de 100 m em 30 minutos ou menos, umn jacaré pode precisar de muitas horas de d canso ¢ de consumo extra de oxigenio para limpar 0 ex- cesso de lactato de seu sangue e regenerar o glicogénio muscular apés wn pulso de atividade. Outros animais de grande porte, © os rinocerontes, tém caracteristicas metabélicas simi- lares as dos mamiferos aquéticos, como as baleias e as focas. Os dinossauros ¢ outros anuimais de porte enorme, agora extintos, provavelmente dependiam da fermenta: ‘cdo léctica para fornecer energia para a atividade mus. cular, seguida de periodos muito longos de recuperacao ‘em que ficavam vulneraveis ao ataque por predadores ‘menores, mais capazes de utilizar oxigénio e, assim, mais, bem adaptados para atividades musculares continuas e sustentadas 4o alto-mar revelaram muitas espécies om grandes profundidades ovednicas, ‘onde a coneentragao de oxigénio 6 quase 2er0. Por exer. plo, ocelacanto primitivo, peixe grande encontrado em profundidades de 4.000 m ou mais na costa da Attica do Sul, tem metabolismo essencialmente anacrabio em quase todos os tecidos. Ble converte carboidratos em lactato © em outros produtos, serdo que @ maior parte doles deve ser exeretada. Alguns vertebrados marinhos fermentam glicose a etanol e CO, para gerar ATP Embora a conversio de glicose em lactato compreenda, duas etapas de oxidagio-redugdo, no ocorre variagao liqui- da no estado de oxidacao do carbono; na glicose (C,H,,0,) eno acido lictico (C,H,0,), a relagdo H:C é a mesma, To- davia, parte da energia da molécula da glicose é extraida pela sua conversdo em lactato ~ 0 suficiente para dar um rendimento liquido de duas moléculas de ATP para cada molécula de glicose consumida. Fermentagao ¢ 0 termo geral para esse processo, que extrai energia (come ATP) mas nao consome oxigénio nem varia as concentragoes de NAD' ou NADH. As fermentagdes sdo realizadas por uma grande variedade de organismos, muitos deles ocupando nichos anaerdbios e produzindo diversos produtos finais, alguns com aproveitamento comercial O etanol é o produto reduzido na fermentacao alcodlica Leveduras © outros microrganismos fermentam glicose em etanol e CO,, em vez de lactato. A glicose & convertida a piruvato pela gliosis, e o pinwato ¢ convertido a etanol CO, em um processo de duas etapas: NADH SHY | aD on A by is Teast L by, cosine bat rato Acti carol Na primeira etapa, o piruvato 6 descarboxilado em uma rea- ‘Go irreversivel catalisada pela piruvato-descarboxilase. Essa reagao ¢ uma descarboxilagao simples e ndo envolve a oxidacao do piruvato. A piruvato-descarboxilase requer Mg’ e contém uma coenzima fortemente ligada, a tiamina- “pirofosiato, discutida a seguir. Na segunda etapa, o acetal- deido é reduzido a etanol pela acao da aleool-desidroge- nase, com o poder redutar fornecido pelo NADH derivado da desidrogenagao do gliceraldefdo-3-fosfato. Essa reacao um caso bem estudado de transferéncia de grupo hidreto do NADH (Figura 14-14}. Etanol e CO, sao entao os pro- ddutos finais dla fermentagio etansiiea, ¢ a equagao geral & Glicose + 2ADP + 2P, +2 etanol + 2CO, + 2ATP + 21,0 Como na fermentagéo lictica, néo existe variagao liqui- da na razio entre dtomos de hidrogénio carbono quan- do a glicose (razio HC = 12/6 = 2) é fermentada a duas moléculas de etanol e duas de CO, (razao H:C combina- da=12/6=2). Hm todas as fermentagdes, a razao H:C dos reagentes ¢ dos produtos permanece a mesma, A piruvato-descarboxilase esta presente na levedura utilizada para fabricagio de cerveja e pio Saccharomyces cerevisiae) e em todos os organismos que fermentam gli- cose em etanol, incluindo algumas plantas. 0 CO, produ- zido pela piruvato-descarboxilase na levedura da cerveja é responsavel pela efervescéncia caracteristica do champa- he, A antiga arte de fazer cerveja envolve virios proces sos enzimaticos além das reagées da fermentacio aleodlica (Quadro 14-3). Na panificagao, 0 CO, liberado pela piru vato-descarboxilase, quando a levedura 6 misturada com PRINCIPIOS DE SIOQUIMICA DE LENNINGER 565, Zn do sto atvo polarizaooxigénio do sw) catboni do acctaldeide permitindo a ‘ansferénca de um on hidreto fem verme'ho) ‘do NADH, Ointermedisrioreduzido adguie um préton do meio fem azul paraformar etanol, FIGURA S14 Areagio da slcooldes “desiiogenase 6 agticar fermentavel, faz a massa erescer. A enaima est nsente em tecidos de vertebrados ¢ em outros organismos ‘que realizam fermentagao léctica A alcool-desidrogenase est presente era muitos orga~ nismos que metabolzam etanol, incluindo o home, No figado cla catalsa a oxidagéo do etanolingerido ou produ zaido por microrganismos intestinais, com a concomitante redugao de NAD” a NADH, Nesse caso, a reagio segue no sentido oposto aquele envolvido na produgao de etanol pela fermentacao. Atiamina-pirofosfato transporta grupos “acetaldeido ativos” ‘A reagiio da piruvato-descarboxilase proporciona nos- so prineiro encontro com a tiamina-pirofosfato (TPP) (Figura 14-15), coenzima derivada da vitaruina B,, A deficiéncia de vitamina B, na dieta humana leva a urna ppatologia conhecida como beribéri, caracterizada pelo acti- ‘malo de fuidos corporais (inchaco), dor, paralisia e, em i- tima instancia, morte. ‘A tiamina-pirofosfato exerce wm papel importante na clivagem de ligagdes adjacentes ao grupo earboxila, como a descarboxilagao de a-cetoécidos, e em rearranjos quitni- cos em que um grupo acelaldefdo ativado é transferido de ‘um tomo de carbono para outro (Tabela 14-1). A porgio funcional da TPP, o anel tiazélico, contém um proton rela- tivamente dcido em C-2. A perda desse préton produz um carbanion, que & a espécie ativa nas reagdes dependentes ‘de TPP (Figura 14-15). 0 carbanion liga-se prontamente a0 grupo carbonil, ¢ 0 anel tiazélico esta, consequentemente, posicionado para atuar como “escoadouro de elétrons”, 0 que facilita grandemente as reagées, como a descarboxila- fo catalisada pela piruvato-descarboxilase. 566 DAVID L. NELSON & MICHAEL M. COX CUCM MUG cok GGG cu CU A produgao de cerveja foi uma ciéncia aprendida cedo na historia da humanidade, sendo mais tarde aprimorada para a produgao em larga escala. Os cervejeiros fabricam a cerveja por meio da fermentagao ctandlica de carboi- datos presentes em graos de eereais (sementes) eomo a cevada, realizada pelas enzimas glicoliticas das levedu- ras, Os carboidratos, grandes polissacarfdeos, devern ser primeiro degradados a dissacarideos e monossacarideos No processo chamacio de maltagem, as sementes da ceva da germinam até formarem as enimas hidroliticas neces- sérias para a quebra dos polissacarfdeos, Nesse ponto, a {germinacao ¢ interrompida por aquecimento controlado, 0 produto ¢ 0 malte, 0 qual contém enzimas que cata lisam a hidrotise das ligagdes B da celulose e de outros polissacarideos da parede celular da casca da cevada, € enzimas como a a-amilase ea maltase. Em seguida, o cervejeito prepara o mosto, 0 meio nu triente necessério para a fermentagao pelas eélulas d: leveduras. O malte é misturado com agua, sendo ento macerado. Isso permite que as enzimas formadas no processo de maltagem hidrolisem os polissacarideos das cereais para formar maltose, glicose e outros agticares simples, soldveis em meio aquaso. O material celular res- tante € separada, ¢ o mosto liquido € fervido com Iipulo para dar 0 sabor, O mosto ¢ resfriado e entao aerado, Agora, sio adicionadas eétulas de levedura, No mo: to aerdbio, as leveduras crescem e se reproduzem mui- to rapidamente, usando a energia obtida dos acicares disponiveis. Nao é formado etanol durante esse esti, porque as leveduras, amplamente supridas com oxigénio, oxidam o piruvato formado pela gliedlise em CO, e H,0 por meio do ciclo do écido citrico. Quando todo 0 oxi génio dissolvido existente no tanque de fermentacao do mosto tiver sido consumido, as leveduras mudam para o metabolismo anaerébio, e a partir desse ponto elas fer- rmentam os agticares em etanol e CO,. 0 processo de fer- mentacio é controlado em parte pela concentragio de etanol formado, pelo pH e pela quantidade remanescente de agiicar. Apés a fermentagao ler sido interrompida, as células sa0 removidas ea cerveja “erua’ esta pronta para 6 processamento final, Nas etapas finais da fabricagio da cerveja, 6 ajusta- daa quantidade de espuma (ou colarinho), resultante de proteinas dissolvidas. Geralmente, isto 6 controlado por enimas proteoliticas que surgem do processo de malta- gem, Caso essas enzimas atuem sobre as protefnas por eee longo periodo de tempo, a cerveja tera colarinho mut- to pequeno e fieard “choca”; se elas no agirem por um tempo suficiente, a cerveja ficaré turva quando gelada, Algumas vezes sto adicionadas enzimas proteolitieas de ‘outras fontes para controlar a espurma, Grande parte da tecnotogia desenvolvida para a pro- dugao de bebidas aleodlicas em larga escala encontra aplicagao em um problema inteiramente diferente: a produgio de etanol como combustivel renovavel. Com a redugio continua dos estoques conhecidos de combus- tives fosseis e o aumento do custo do combustivel para motores de combustda interna, existe 0 aumento do in- teresse no uso de etanol como um combustivel substitu to ou um complemento. A principal vantagem do etanol ‘como combustivel é que ele pode ser produzido a partir de fontes relativamente baratas e renovéveis, ricas em. sacarose, amido ou celulose - amido de milho ou trigo, sacarose de beterraba ou cana, ¢ eclulose de palha, de residuos de industrias florestais ou de residuos sélidos domésticos. Geralmente, a matéria-prima € convertida {quimicamente primeiro a monossacarfdeos, entao forne- cidos como alimento a uma linhagem robusta de levedura ‘em um fermentador em escala industrial (Figura Q-1). Fermentagio pode render no apenas etanol para com- Ddustivel, mas também subprodutos como protefnas que podem ser usadas para alimentagio de animats. FIGURAG-1 _Fermentaydesemescalaincusia para producio de combustvel euros produtos si reizadas em tanques que compo tam mihares delves de mec, As fermentagées sio usadas para produzir alguns alimentos comuns e reagentes quimicos industrais Ha milénios a humanidade aprendew a usar afermentagio za produgio e na conservagio de alimentos. Certos mi crotganismios presentes em alimentos naturaisfermentam 0s carboidratos e geram produtos metabolicos que dio a08 alimentos sua forma, textura e sabor earacteristicos. Os iogurts, jé conhecidos no periodo biblico, so produzidos quando a bactéria Lactobacillus bulgaricus fermenta os carboidratos do leite, produzindo dcido lictico; a diminut- ‘sao do pli resultante causa a precipitagao das proteinas do Ieite, produzindo a textura espessa ¢ 0 sabor Acido do io- gurte nao adocado. Outra bactéria, a Propionibacterium Jfreudenreichii, fermenta o leite produzindo acid propi- Onieo © CO,; 0 dcido propidnico preeipita as protefnas do leite, ¢ as bolhas de CO, formam os furos earacteristicos do queijo sufgo, Muitos outros produtos alimentares sao PRINCIPIOS DE SIOQUIMICA DE LENNINGER 567 ® Hn | taldeido CH, —f—-OH = NH on, cH Ff x \= Io 1 Qa thet, 0-f-0-P-0 cian ty oo Hidroseti-tiamina pirofosfto FIGURA14-15 —Tiamina-pirofosfato (TPP) e seu papel na descarboxi- lagéo do piruvato, (a) F? 82 forma de coanzima da itarina 8 (ami na. stoma decane ratvo no anel de iar a TPP est mattrado em vermelh, Na eagio catasada pela pruvato descarboxlase, dts dos 8s ‘atbones do piuato sso vanstorarsentevansportados pea TPP na fara ‘dem grupo h droit), ouacetaldeido athe), que &subsequentemen telnerado como aceaidelco(e)© ane de taal da TP> estaba interme didros earbinion provendo uma estrauia eltofica(defciente em ele trons) em que es elétions do carbinion padem ser desiocads por ressondncia As estruturas com essa propriedade, Fequentemente Chama das de ‘escoadouros de elétrons, desempennam um importante papel em. ou eee de ce en ., ess Cannone Aeaaleeido Nn ® ‘© corbinion TPP atace VES - Gases nS GN oe Oo sf 3 On mL crite Yo fey CHs Hidroxiest f.° TP RO F or Ras Re TET Fidronietrtee. © Kays {facitada pelo Ppa Sa oro em.-¢-on 'R! porressongncia SR resultantes de fermentagées: picles, chucrute, salsicha, molho de soja ¢ uma variedade de pratos tipicos, como Kimchi (Coreia), tempoyak (Indonésia), kefir (Ruissia), dahi (india) e pozol (México). A redugao do pH associa~ da a fermentagdo também ajuda a preservar os alimentos, J que a maioria dos microrganismos que causam a dete vioragio dos alimentos nao eresee em pH baixo, Na agri- cultura, subprodutos vegetais, como os colnos de milho, so mantidos para 0 uso na alimentagio de animais, sendo embalados em grandes silos com acesso de ar limitado; a fermentacao microbiana produz dcidos que diminuem 0 pH. A silagem resultante desse processo de fermentagao pode ser utilizada como alimento animal por longos perfo- dos sem estragar. Em 1910, Chaim Weizmann (posteriormente o primweiro presidente de Israel) descobriu que a bactéria Clostridium acetobutyricum fermenta amido em butanol e acetona. Essa descoberta abriu o campo das fermentagoes indus- trials, em que alguns materiais facilmente dispontveis, ricos em carboidratos (p. ex., amido de milho, ou melago), sao fornecidos a uma cultura pura de microrganismos espe- cificos, que os fermenta a um produto de valor comercial 568 Agus res ependenes eT? DAVID L. NELSON & MICHAEL M, COX Enzima Wats) Pirvato-descarboxlase Fermentagao aleodlica Sintese de acetil-Coa, Cielo do éeidocttrico Pinavato-desidrogenase a-Cetoglutarato-desidrogenase ‘Transcetolase Reagbes de fxagio de carbon Vie das pentoses-fostato maior, O etanol usado para fazer gasohol (mistura de 10% de etanol e 90% de gasolina) é produzido por fermentacao mucrobiolégica, assim como 0s &eidos f6rmico, acético, pro- pidnico, bulitico e succinico, e os dlcoois glicerol, metanol, ‘sopropanol, butanol e butanediol. Em geral, essas fermen: lagdes sio desenvolvidas em grandes tanques fechados em que a temperatura e o acesso de ar sao controlados para favorecer a multiplicagao dos organismos desejados © ex- cluir organismos contaminantes. A beleza das fermentagdes industriais esta no fato de que as transformagdes quimicas complexas e de miltiplas etapas sao realizadas com grande rendimento e com poucos subprodutos, por fabricas qu ‘micas que se autorreproduzem — as eélulas microbianas. Para algumas fermentagdes industriais, foi desenvolvida a tecnologia para imobilizar as células em um suporte inerte, passar a matéria-prima continuamente pelo leito de eétulas Iimobilizadas, e coletar 0 produto desejado no efluente— um, sonho dos engenheiros! RESUMO14.3 _ Destinos do piruvato em condicdes anaerias: fermentagéo > (0 NADH formado na glicdlise dove ser reciclado para regenerar NAD”, necessario como receptor de elétrons na primeira etapa da fase de pagamento, Em condigoes aerBbias, os elsrons passam do NADH para o O, na res- piragao mitocondrial > Em condigdes anaerdbias ou de hipoxia, muitos orga- nismos regeneram NAD" pelo transporte de elétrons do NADH para o pirwvato, formando lactato, Outros corganismos, como as leveduras, regeneram NAD" pela redlugio de piruvato em etanol e CO;, Nesses proces- ‘sos anaerdbios (fermentagées), nado ocorre oxidagao ou redugo lquida dos earbonos da glicose. > Uma grande variedade de mierorganismos pode fermen- tar 0 agicar de alimentos frescos, resultando em mu- dangas de pH, sabor e textura, protegendo os alimentos dda deterioragio. As fermentagoes so usadas na indis- ‘tia para produzir uma ampla variedade de compostos orginicos comercialmente valiosos a partir de matérias- -primas baratas. 14.4 Gliconeogénese 0 papel central da glicose no metabolismo surgiu cedo na evolugao, ¢ esse acticar permanece sendo combustivel qua- se universal ¢ unidade estrutural nos organismos atuais, desde mier6bios até humanos. Em mamiferos, alguns teci- dos dependem quase completamente de glicose para sua energia metabélica, Para o cérebro humano e o sistema ner- -voso, assim como para os eritrécitos, os testiculos, a medu- la renal e os Lecidos embriondrios, a glicose do sangue € a principal ou tinica fonte de combustivel. Apenas 0 cérebro requer em média 120 g de glicose por dia ~ mais da metade de Loda a glicose estocada como glicogénio nos miisculos eno figado. No entanto, o suprimento de glicose a partir desses estoques nao é sempre suficiente; entre as refeigdes ¢ durante periodos de jejum mais longos, ou apés exerci- cio vigoroso, o glicogénio se esgota. Para esses periodos, os organismos precisam de um método para sintetizar glico- se a partir de precursores que nao sao carboidratos. Isso é realizado por uma via chamada de glieoneogénese (“nova formagao de agticar"}, que converte em glicose 0 piruvato ‘© 08 compostos relacionados, com trés e quatro carbonos. A gliconeogénese ocorre em todos 08 animais, vegetais, ‘fungos e microrganismos. As reagoes sao essencialmente as _mesmas em todos 0s tecidos e ern todas as espécies, Os pre~ cursores importantes da glicose em animais sio compostos de trés carbonos como 0 lactato, o piruvato e 0 glicerol, as- sim como certos aminodcidos (Figura 14-16). Em mam{- Feros, a gliconeogenese ocorre principalmente no figado, ‘em menor extensio no eértex renal e nas eélulas epiteliais que revestem internamente 0 intestino delgado. A glicose assim produzida passa para o sangue e vai suprir outros te~ cidos. Apés exercicios vigorosos, o lactato produzido pela glicdlise anaerébia no misculo esquelético retorna para 0 figado e é convertido a glicose, que volta para os miisculos © é convertida a glicogénio ~ circuito chamado de ciclo de Cori (Quadro 14-2; ver também Figura 23-19). Em plantas oriundas de sementes, as gorduras as proteinas estoca- das nas sementes so convertidas, por vias que incluem a gliconeogénese, ao dissacarideo sacarose para o transporte ao longo da planta em desenvolvimento. A glicose ¢ seus derivados sao precursores para a sintese da parede celular, Glicose sanguinea outros Glcoproteinas _monossacardeos—_Sacarose Glcose 6 fstato Animals Plantas Fosfoeno! pirwvato Glo doscido ico Piewvato Aminedcides Giicerol 3-Fsfoglcerato t aglicogénicos t t Lactate ‘Taciglceris Facto do o; FIGURA 14-16 _Sintese de carboidratos a partir de precursores sim= ples. Avioapartirdefos(ceralpinuiao até gicose 6 sate Scomum para 2 conversio biosiniética de mu'tos precursors dferentas de caroidatos dd animals planta. Ava partinde de pruvato a ferfeenojpravata pase por oxaleacetata, ue intermediire da cic do ido cia, iscutido no Capitulo 16. Quaiquer composto que possa ser comerido& piato Ou xaioacetato pode, consequentemente seri come mate Ill pare a glconeogénese soci alanina easpartat, que podem set conver os a piruato e oralcacetato, respectharnent,eoutos aminedcldos que também podem gear agentes ders oy quatro carsenes cs chamodes aminodcidosgicogéricos (ver abel 4; ver também Figure 113) Pan tar bactéas otosintetzantes fo as Uricas capazer de converts CO, em Caboldrtas, usando o clo de Cabin ver Seg30 203) nucleotfdeos, coenzimas e uma série de outros metabslitos essenciais das plantas. Em muitos microrganismos, a glico- neogénese inicia a partir de compostos organicos simples de dois ou trés carbonos, como acetato, lactato e propiona- to, presentes em seu meio de ereseimento, Embora as reagdes da gliconeogénese sejam as mesmas em todos os organismos, o contexte metabslico e a regu- Jagdo da via diferem de uma espécie para outra e de teci- do para tecido, Nesta segdo, analisa-se a gliconeogénese © como ela ocorre no figado de marniferos. No Capitulo 20 € mostrade como organistios folossintéticos usam essa via para converter os produtos primérios da fotossintese em slicose, para ser estocada como sacarose ou amido, A gliconeogénese e a glicélise nao sdo vias idénticas cor rendo em direcdes opostas, embora compartilhem varias etapas (Figura 14-17); sete das 10 reagbes enzimaticas da gliconeogénese sao 0 inverso das reacdes glicoliticas. No PRINCIPIOS DE SIOQUIMICA DE LENNINGER 569) xP ercins ae * ostatase pop <7 Sclicose- /\ sfosfato HO Fruose-6- aa “fesiato r Fosorutcinse Frtse 1 ‘Disttae-1 Frutose-16- sbifosato Dehicrowacetona- Dihidrowacetons- = a SS Gliceraldeido ca “foxato 2 |-2, 2nan’ | | -2Na0" 2NADH +24" <] | 2NADH + 2H (2)13-Biosfoglicerato 2aop | | 240° axe 4] |Nontp 2) 3Fostoglicerto 2)2 Fostoglcerto 2) 0maloacetato 2aDP “orbontase DAT? FIGURA 4-17 Vas opostas daglicéise «da gliconeogénese em figa dode rato, As eagées da gicelie esti do lado esquerse, em veel ub oposta a gieoncogenese std mastada do lado diet, em aul Os, princpas pontes de regulsio da glicaragénese representados2qU $30 lscutdes poseriormente neste capita e em detalhe no Captuo 15. AF (ura 1470 isa uma rota atemstiva para a preducae de oxaloacetate ra mitocéncri.

You might also like