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SANTOS, Rodolfo Rocha dos; ROVER, Suliani.

“Influência da governança pública na


eficiência da alocação dos recursos públicos”. Rio de Janeiro: RAP – Revista de
Administração Pública, 2019.

Neste artigo, Santos e Rover construíram um índice de eficiência municipal, batizado de


IEM, composto por diversos aspectos relacionados aos indicadores de saúde e educação, como
parâmetro para comparar a eficiência da gestão pública, utilizando como variáveis a presença, ou
não, dos princípios da nova gestão pública.

Após breve descrição sobre os diversos movimentos de reforma do estado, os quais são
classificados como “neoliberais”, o estudo busca fundamentação no conceito Nova Governança
Pública (NGP), considerado de viés mais democrático. Dentre as várias opções disponíveis na
literatura, seleciona como princípios aqueles listados por A.G. de Oliveira e Pisa (2015):
Transparência, Accountability, Participação, Integridade, Conformidade Legal, Equidade e
Efetividade.

Citando S. G. Chan e Karim (2012, p. 8), os autores definem eficiência como “a capacidade
do governo para maximizar suas atividades econômicas, dado um nível de gastos, ou a
capacidade do governo para minimizar seus gastos, dado um nível de atividade econômica”.

De posse desses conceitos, os autores utilizaram os dados de 2010 (data do último censo
realizado no Brasil) fornecidos por cerca de 57% dos municípios brasileiros na base do IBGE para
construir um índice de eficiência (IEM) baseado no modelo DEA-VRS (Data Envelopment
Analysis). Os inputs do modelo foram os gastos per capita com saúde e educação e a proporção
do pib per capita. Já os outputs foram os indicadores relacionados às duas áreas, como por
exemplo: taxa de atendimento de crianças nas escolas e mortalidade infantil. Os princípios da
NGP foram classificados como variáveis explicativas e atrelados a indicadores de diferentes
fontes, por exemplo, equidade foi representada pelo índice de gini e transparência pelo índice de
gestão e responsabilidade fiscal produzido pela confederação nacional dos municípios.

Os principais achados do estudo foram correlações positivas, ou seja, aumento da


eficiência do gasto público, quanto maior fossem os índices de responsabilidade fiscal, a redução
do trabalho infantil, menor desigualdade social, menor nível de desemprego, maior nível de
educação em adultos e nos casos de presença de Conselho de Saúde. Por outro lado, indo de
encontro as expectativas dos pesquisadores, a maior participação eleitoral, a presença do
conselho de educação e o maior nível de renda apresentaram correlações negativas ao IEM.

A conclusão dos autores para a quebra de expectativa em relação aos índices de


participação (eleitoral e em conselho) foi no sentido de indicar a baixa eficiência do gasto em anos
eleitorais e a forma como se dá a participação da sociedade civil nos conselhos de educação. Já
no caso do aumento do nível de renda, relata-se a busca por serviços privados crescente nos
extratos mais abastados da sociedade, reduzindo assim as taxas de participação em serviços
públicos, o que pressiona o IEM para baixo.
Nesse ponto é preciso discutir o modelo adotado pelos pesquisadores para dois dos três
índices que se comportaram de maneira contrária ao esperado. Em primeiro lugar a taxa de
participação medida pela taxa de comparecimento nas eleições é um indicador bastante
discutível, haja vista que não há homogeneidade ou relação direta entre participação e eficiência
de gastos por um motivo bastante simples, o voto no Brasil é obrigatório, portanto, as médias de
abstenção, historicamente, mantem-se nos mesmos patamares, não sendo representativo para o
que o estudo se propôs. É claro que em épocas eleitorais o gasto tende a perder eficiência
durante a busca do governante pela reeleição, mas os parâmetros adotados pelo IEM, como taxa
de atendimento de crianças e índice de mortalidade infantil não tem como refletir essa perda de
qualidade do gasto público num espaço tão curto de tempo.

Por fim, a forma como foi calculado o fator nível de renda é bastante interessante e merece
uma análise mais detalhada. De fato, os serviços públicos brasileiros são utilizados
majoritariamente pelas camadas mais pobres da população, sendo notório que o incremento da
renda reflete em afastamento da utilização desses serviços: plano de saúde privado, escola
particular, condomínio fechado, etc. Dessa forma ressalva-se apenas que os autores
consideraram a correlação de forma errônea por omitirem parte do efeito do fenômeno estudado.

Colocadas as ressalvas acima, pode-se dizer que o estudo é bastante interessante e


representativo: na prática, de acordo com a tabela 2 da página 744, o indicador com a maior força
de correlação foi justamente o IRFS – Índice de Responsabilidade Fiscal, Social e de Gestão,
indicando que uma boa governança pública, começa por transparência e accountability dos
agentes públicos, as bases para uma gestão democrática e participativa.

Por fim, como sugestão para futuros artigos, seria interessante adicionar a equação a
presença de ações como Orçamento Participativo, índice de transparência da câmara de
vereadores do munícipio, transmissão das sessões de votação, presença de controladorias
municipais e grau de dependência de recursos federais ante recursos próprios. Todos esses
indicadores poderiam adicionar uma camada extra de complexidade ajudando a explicar o
comportamento mais ou menos eficiente das verbas públicas.

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