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Desta maneira, é conforme as significações que a criança dará frente a estas Ainda, conforme Dias (2004), esses mecanismos defensivos são: fixação (e a
indagações, que a situará em alguma categoria de neurose. Conforme Zimerman (2001), estas regressão) e a denegação da realidade, como forma de recusa em reconhecer a castração da
categorias são: Neurose atual, Neurose de angústia, Neurose de caráter, Neurose mista, mãe. Ou seja, a criança até reconhece a diferença entre os sexos, porém a denega, sendo que
Neurose narcísica, Neurose traumática, Neurose fóbica e Neurose obsessiva. Contudo, por ela não aceita que a mãe não tem o objeto fálico e que ela (criança) não é o objeto de desejo
não se tratar do objetivo do presente trabalho não apresentaremos tais categorias materno e sim que este desejo encontra-se endereçado ao pai.
individualmente, mas sim das Estruturas Clínicas (Neurose, Perversão e Psicose) que são o De acordo com Lacan (1957), recordando os três tempos do Édipo, o primeiro tempo é
foco do trabalho. caracterizado pela identificação do falo, porém, tal consideração é vista como normal, sendo
que a posição da criança neste primeiro tempo é caracterizada como ‘perversão imaginária no
plano imaginário’. Contudo, quando a criança reconhece que ela não é o único desejo materno
2.4.2 Perversão é que a leva para o segundo tempo do Édipo. Assim, no segundo tempo, tem-se a entrada de
um terceiro na relação, o pai, fazendo aparecer na criança a falta. Porém, quando a mesma não
Conforme relembra Person et. al. (2007, p. 121) “a perversão carrega três significados: aceita tal dado é que a situa na Estrutura clínica perversão. Logo, sendo na passagem do
o de doença, o de sanção moral e o da própria sexualidade humana”. Porém na psicanálise, o segundo para o terceiro tempo do Édipo que acontece a entrada efetiva do pai no complexo
objetivo não é “condenar” ninguém, seja pelo mesmo burlar alguma regra socialmente aceita Edípico, é que se situa também a identificação perversa neste tempo.
ou por se tratar de uma ‘anormalidade’ perante a sociedade. Por sua vez, homossexuais e/ou Assim, conforme aponta Faria (2003), citando Lacan, é exatamente no momento em
bissexuais são reconhecidos como pervertidos, perversos pela sociedade em geral, contudo, a que o pai entraria na relação como o terceiro, ditando a lei, (através da qual, ele passaria a
escolha sexual não é sinônima de doença ou transtorno mental. Deste modo, acrescenta-se que mensagem de que o filho não é o único desejo da mãe) que não ocorre na perversão. Quem
“a sexualidade não tem nada intrinsecamente a ver com saúde ou doença mental” (PERSON passa a ditar tal lei é a mãe, como se ela fosse detentora do falo, sendo que a mesma oferece o
et. al., 2007, p. 122). suporte para que tal ruptura na relação entre ela e o filho não ocorra. Desta maneira, a mãe
Na psicanálise, conforme enfatizado anteriormente, segundo Laplanche e Pontalis não convoca a figura paterna para tal relação, e a partir da negação.
(2001), a perversão é vista somente no âmbito da sexualidade e de forma geral, pode ser A negação do perverso configura-se em negar a questão do desejo materno estar
determinada como comportamentos psicossexuais atípicos para a obtenção do prazer sexual. voltado ao pai e a negação das diferenças entre os sexos (DIAS, 2004). Assim, com base no
Zimerman (2001) lembra que a perversão quanto Estrutura Clínica, se organiza como defesa mecanismo da negação, a criança retorna para a mãe como uma segurança contra a castração.
contra angústias. Ou seja, a mãe, assim como a figura paterna, tem papel fundamental para a instauração de tal
Deste modo, de acordo com Dias (2004), citando Freud, na perversão, o indivíduo ruptura simbiótica (FARIA, 2003).
reconhece a falta, porém a denega. Assim, para o perverso não importa leis, pois o que lhe Ainda, convêm lembrar que, conforme Laplanche e Pontalis (2001, p. 341),
importa é somente seu desejo e não o do outro, além de não querer perceber-se como
incompleto, com falta, e por conseqüência a não-castração. Além disso, o autor complementa:
Que existe perversão, quando o orgasmo é obtido com outros objetos sexuais
(homossexualismo, pedofilia, bestialidade, etc.), ou por outras zonas corporais (coito
anal, por exemplo) e quando o orgasmo é subordinado de forma imperiosa a certas
Aceitar a castração sob reserva de transgredi-la continuamente é o que ocorre nas condições extrínsecas (fetichismo, travestismo, voyeurismo e exibicionismo,
perversões, cujas origens situam-se entre dois pólos, o da angústia da castração e os sadomasoquismo); estas podem mesmo proporcionar, por si sós, o prazer sexual.
mecanismos defensivos destinados a neutralizá-las (a angústia da castração) (DIAS,
2004, p. 108).
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Estas categorias apresentadas por Laplanche & Pontalis (2001), que são:
homossexualidade, pedofilia, bestilidade, fetichismo, travestismo, voyeurismo, exibicionismo,
masoquismo e sadomasoquismo, não serão trabalhados por não se tratarem do foco do
presente trabalho.

2.4.3 Psicose

O termo Psicose foi criado no século XIX como substituto do termo ‘loucura’. Freud,
em 1911, através da publicação “Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um
caso de paranóia”, o conhecido ‘Caso Schreber’, analisou tal Estrutura (ZIMERMAN, 2001).
De acordo com Faria (apud Lacan, 2004), a psicose ocorre porque a operação de
introdução da Lei paterna fracassa. Assim, para explicar teoricamente a origem do mecanismo
psíquico psicótico, tem-se o conceito de Foraclusão, que segundo Nasio (1995, p. 149) é:

[...] o nome que a psicanálise dá à falta de inscrição, no inconsciente, da experiência


normativa da castração, experiência crucial que, na medida em que é simbolizada,
permite à criança assumir seu próprio sexo e, desse modo, tornar-se capaz de
reconhecer seus limites.

Conforme expõe Lacet (2004, p 2), “Os significantes foracluídos, diferentemente do


que ocorre no recalque, no qual são reintegrados ao inconsciente via simbólico, retornam de
fora pela via do real, como é o caso dos fenômenos alucinatórios”.
Assim, de acordo com Lacan, a psicose ocorre a partir de uma falta da função paterna
no desenvolvimento da criança, ou seja, quando necessário a presença da função paterna para
que a criança reconheça a castração (diferença entre os sexos e a aceitação de que a mãe tem
outros desejos, além do filho), e se instaure assim a Lei paterna (LACAN, 1957). Desta
forma, o psicótico é aquele que nem reconhece a Castração.
Ainda, segundo Lacet (2004, p.5):

O psicótico situa-se fora da lógica fálica, principal consequência da operação


paterna [...] e quando a significação fálica não advém, , cria, no discurso,
consequências avasssaladoras para o sujeito, que fica sem rumo frente a uma
enxurrada de significações.

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