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Curso de Direito Processual Penal Militar para

Analista do Ministério Público da União

Olá amigos,
Bom dia, Boa tarde e Boa noite!
Nosso objetivo de hoje:

Aula 2:

Ação penal militar e seu exercício.

Denúncia.

Processo.

Trabalhadas as disposições a respeito da aplicação da lei


processual penal militar e da primeira parte da persecução penal
militar (Inquérito Policial Militar e Polícia Judiciária Militar), passamos
a analisar a chamada persecução criminal in judicio, segunda fase da
persecução penal.

Vejamos então as disposições relacionadas à Ação Penal Militar,


o Processo e a Denúncia.

1
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Persecução Penal Militar

De início precisamos lembra o que vem a ser persecução penal.


Assim definimos: “a persecução penal pode ser definida como o
conjunto de atos destinados à apuração do delito e à devida aplicação
da lei penal. Reconhecendo que a persecução penal é entendida como
a resultante da soma da investigação preliminar com a ação penal,
ambas estudadas no direito processual penal, passaremos a analisar
agora a Ação Penal Militar, parcela e, somente uma fase da
denominada persecução criminal, conforme se visualiza na seguinte
esquematização:”1

"
Persecução = Investigação + Ação
Penal Preliminar Penal

Ação Penal Militar

Conceito de Ação Penal: Direito Público subjetivo ao exercício


da atividade jurisdicional penal2militar.
O direito de ação é classificado classicamente como um direito
público, subjetivo, autônomo, abstrato e instrumental. A ação é um
direito público na medida em que se dirige contra o Estado e em face
do réu; subjetivo, pois decorre da qualidade de sujeito de direitos,
inerente a cidadania; autônomo, na medida em que não se confunde
com o direito material violado; abstrato, porquanto independe do fim
ou da sorte do processo penal, existindo, inclusive, quando negado o
direito material postulado; e instrumental, por servir como
instrumento de proteção ao direito material violado.

1
CRUZ, Pablo Farias Souza. Processo Penal Sistematizado. Rio de Janeiro: Grupo Gen: Forense, 2013,
no prelo a 1ª edição, p. 220.
2
Feitoza, Denilson. Direito processual penal: teoria, crítica e práxis/ Denilson Feitoza. – 7ª ed., ver. e
atual. Niterói, RJ: Impetus, 2010, p. 222.

2
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Analista do Ministério Público da União
No contexto da Ação Penal condenatória, deve-se inquirir sobre
seus elementos. Assim, são elementos da ação penal: as partes, a
causa de pedir e o pedido. Entenda-se por elementos os fatos
jurídicos que estão presentes em toda Ação Penal.
“Para visualização sistemática do processo penal comum, eis o
seguinte gráfico:

”3

Adequando ao processo penal militar temos o seguinte:


Primeiramente é importante ressaltar que não se fala na vítima
como legitimada ativa principal na seara processual penal militar, já
que a mesma não admite a denominada ação penal privada
propriamente dita (ver art. 29 do CPPM) .
Assim, só se imagina a legitimidade da vítima no processo
penal militar em caso de inércia do Ministério Público, quando se
vislumbrará a aplicação do princípio da inafastabilidade da jurisdição
através da Ação Penal Privada Subsidiária da Pública, conforme

3
CRUZ, Pablo Farias Souza. Processo Penal Sistematizado. Rio de Janeiro: Grupo Gen: Forense, 2013,
no prelo a 1ª edição.
3
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Analista do Ministério Público da União
sustenta a doutrina, utilizando-se a aplicação analógica do CPP
comum.
Outra cautela que se deve ter no âmbito militar, é que não se
fala em contravenção penal militar, embora se utilize o termo
contraventor. É importante saber que no âmbito militar, contraventor
é o militar que praticou infração disciplinar, ou seja, praticou uma
infração de natureza administrativa e não penal.
“Pergunta: Existe Ação Penal não condenatória no Brasil?
Resposta: SIM. São exemplos: o Habeas Corpus (ação penal
liberatória), a Revisão Criminal e o Mandado de segurança em
matéria criminal.
No contexto das ações penais não condenatórias teríamos como
partes no polo ativo: o réu, o advogado ou qualquer pessoa (no caso
do Hábeas Corpus onde a legitimidade ativa é universal); e no polo
passivo o Estado (Revisão criminal) ou a autoridade coatora (HC e
MS). Como causa de pedir teríamos o ato ilícito ou abusivo que
culminou na restrição indevida do direito fundamental. E como pedido
teríamos a anulação do ato processual, a declaração de inexistência
da relação jurídica e consequentemente o restabelecimento do
exercício do direito fundamental violado ou ameaçado de violação.”4

Sobre o Habeas Corpus, no contexto do estudo da ação penal,


indagou a Cespe:

1 • CESPE – 2011 – STM – ANALISTA JUDICIÁRIO


O esgotamento das vias administrativas e ordinárias consiste
em condição específica da ação penal constitucional não condenatória
de habeas corpus na esfera militar.
Certo ou Errado

4
CRUZ, Pablo Farias Souza. Processo Penal Sistematizado. No prelo a 1ª edição.
Rio de Janeiro: Grupo Gen: Forense, 2013, no prelo, p. 122/123.
4
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Como se sabe, o Brasil não adota o sistema da jurisdição
condicionada. Sobre o tema discorremos em nosso Direito
Constitucional Fundamental:
“O acesso à justiça também é garantido através da assistência
jurídica integral e gratuita. Art. 5º, LXXIV, CF e art. 134, CF.
Quando a CF/88 diz que a lei não excluirá, isso não é
uma mensagem só para o legislador. Serve também para toda e
qualquer autoridade. E essa lesão ou ameaça pode se dar de forma
direta ou indireta.
Ex.: o STF afirma, por exemplo, que quando é feita a análise da
vida pregressa do candidato ao cargo em concurso público, sem que
se revele quais são os critérios utilizados pela banca, isso inviabiliza
a defesa do candidato, e assim, de forma indireta, viola o Princípio do
Acesso à Justiça.
De acordo com o presente princípio se afirma que não é preciso
se esgotar a via administrativa para só depois se bater às portas do
Pode Judiciário.
Por isso se diz que não mais se admite no Brasil o sistema de
jurisdição condicionada, pois não é necessário o prévio esgotamento
das vias administrativas para a provocação da função jurisdicional.
Exceção legítima à esse princípio se refere ao previsto no art.
217, § 1º e § 2º da CF/88.
Dispõe o artigo: § 1º - O Poder Judiciário só admitirá ações
relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se
as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei. § 2º - A justiça
desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias, contados da
instauração do processo, para proferir decisão final.
A Lei 9507/97, lei do habeas data, e ainda, a Súmula 2 do STJ
– informam que o HD só é cabível quando há recusa ou demora de
determinado ente que preste serviço público em fornecer a

5
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informação solicitada. Assim, não cabe HD se não houver recusa de
informação.
Embora alguns autores reputem a hipótese de habeas data
como uma exceção à jurisdição incondicionada, entendemos que na
verdade se está diante da de condição para a propositura a ação
constitucional, que no caso reflete o próprio interesse processual (de
agir).”5

Espécies de Ação Penal

No âmbito castrense só se admitem as seguintes espécies de


ação penal:
1) Ação Penal Pública Incondicionada – Regra;
2) Ação Penal Pública Condicionada à Requisição; e
3) Ação Penal Privada Subsidiária da Pública

Sobre o tema indagou a Cespe:

2 • CESPE – 2004 – STM – ANALISTA JUDICIÁRIO


Nos crimes militares, a ação penal é, em regra, pública,
condicionada ou incondicionada e promovida pelo Ministério Público
Militar; excepcionalmente, é privada, promovida pelo ofendido,
quando a lei assim dispuser.
Certo ou Errado

CESPE – 2010 – MPE/ES – PROMOTOR DE JUSTIÇA


No sistema processual penal militar, todas as ações penais são
públicas incondicionadas.
Certo ou Errado

5
CRUZ, Pablo Farias Souza. Direito Constitucional Fundamental. 1ª edição. Juiz de
Fora: produção independente, 2013, p. 264/265.
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Obs.: O art. 122 do CPM, lido adequadamente, nos informa


que: Nos crimes dos arts. 136 a 141, se o agente for militar a ação
penal dependerá de requisição do Ministro da Defesa (para alguns do
Comandante da Força), se no caso do art. 141, for um civil o autor do
fato, e não for o caso de concurso de agentes com um militar, a
requisição será feita pelo Ministro da Justiça.

Para um estudo adequado do tema, devemos primeiramente


tratar dos princípios aplicáveis à ação penal militar.

Princípios da Ação Penal Pública:

Obrigatoriedade
“O Ministério Público diante da convicção da existência de
indícios de autoria e prova da materialidade de uma infração penal é
obrigado a atuar, ofertando a denúncia respectiva. ”6
Enquanto o referido princípio sofre exceção da esfera
processual penal comum, como é o caso da transação penal, tal não
ocorre na esfera castrense, haja vista a inaplicabilidade da lei
9099/95 no âmbito militar.
Referido princípio é expressamente tratado no CPPM, conforme
se verifica no seguinte artigo:

Obrigatoriedade
Art. 30. A denúncia deve ser apresentada sempre
que houver:
a) prova de fato que, em tese, constitua crime;
b) indícios de autoria.

6
CRUZ, Pablo Farias Souza. Processo Penal Sistematizado. No prelo a 1ª edição.
Rio de Janeiro: Grupo Gen: Forense, 2013, no prelo, p. 170.
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Oficialidade
Somente órgãos oficiais podem propor a Ação Penal.
Obviamente tal afirmação só se aplica às ações penais públicas, já
que a ação penal privada subsidiária da pública poderá ser proposta
por advogado (pessoa privada com capacidade postulatória) como
regra, também podendo ser apresentada por defensor público, em
caso de necessitados.
Assim, no contexto do presente princípio se afirma que a ação
penal pública só pode ser promovida por órgãos oficiais (MP – art.
129, I, CF).
A oficialidade também se aplica na fase preliminar de
investigação => assim, a investigação será promovida por órgãos
oficiais (polícias judiciárias ou, no caso militar, encarregado militar –
superior hierárquico).
Sabemos que, geralmente, quem faz a investigação são as
Polícias Judiciárias (civis e federais), sendo que as polícias
administrativas não detêm tal atribuição, com exceção, é claro, das
hipóteses relacionadas ao Inquérito Policial Militar, estudadas na aula
passada.
Tecnicamente, a investigação particular é ilegal, constituindo
Usurpação da Função Pública, crime previsto no art. 328 do
CP7comum.
Na ótica do princípio da oficialidade, é possível sustentar que,
com base no art. 144, §1º, IV, CF, SOMENTE A POLÍCIA JUDICIÁRIA
poderia investigar.
Entretanto, há quem sustente que esse inciso, juntamente com
o §4º, denota que há diferença entre POLÍCIA JUDICIÁRIA e POLÍCIA
INVESTIGATIVA, sendo que, somente aquela, seria uma função
EXCLUSIVA da polícia, tendo em vista que a CF não utiliza palavras

7
Conforme sustenta Hidejalma Muccio, em seu: Prática de Processo Penal – Teoria e Modelos. São
Paulo: Método, 2009.

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inúteis. Tal distinção se torna relevante para o debate a respeito da
(im)possibilidade do Ministério Público presidir investigação criminal.
O entendimento que tende a prevalecer é o de que o MP pode
investigar por causa da: TEORIA DOS PODERES IMPLÍCITOS, uma
vez que se o MP pode exercer a ação penal, por que não poderia
exercer as atribuições relacionadas à instrumentalização da mesma,
se ele pode o fim, por que não poderia o meio, se ele pode mais, por
que não poderia o menos?
Ademais se o MP tem o poder de exercer o controle externo da
atividade policial, pode também investigar, já que as atividades de
controle envolvem, justamente, a realização de atos de investigação.
Ainda segundo o art. 129, CF, se indaga: Se o MP pode
averiguar atos de improbidade administrativa, presidindo o inquérito
civil, por que não poderia investigar?
Por outro lado, se entende que é justamente porque o MP
realiza o controle externo, investigando a polícia, que ele não poderia
realizar a investigação, em respeito à Separação dos Poderes
(evitando a concentração de poder nas mãos de um único órgão)8.
Assim, não seria saudável que o ente controlador também pudesse
realizar a atividade controlada.
O STF tem caminhado no sentido de admitir a investigação
criminal pelo Ministério Público, vejamos a decisão da 2ª turma:

Ministério Público e Poder Investigatório - 1


O Ministério Público dispõe de competência para
promover, por autoridade própria, investigações de natureza
penal, desde que respeitados os direitos e garantias que
assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob
investigação do Estado, observadas, sempre, pelos agentes de
tal órgão, as prerrogativas profissionais de que se acham
investidos os advogados, sem prejuízo da possibilidade —
sempre presente no Estado Democrático de Direito — do
permanente controle jurisdicional dos atos praticados pelos
promotores de justiça e procuradores da república. Com base
nesse entendimento, a Turma indeferiu habeas corpus em que se
alegava a nulidade de ação penal promovida com fulcro em

8
Para maior aprofundamento, conferir questão subjetiva, no fim da unidade, a respeito da investigação
criminal por parte do Ministério Público.

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procedimento investigatório instaurado exclusivamente pelo
Ministério Público e que culminara na condenação do paciente,
delegado de polícia, pela prática do crime de tortura. Grifos
acrescidos pelo autor
HC 89837/DF, rel. Min. Celso de Mello, 20.10.2009. (HC-89837)

Ministério Público e Poder Investigatório - 2


Inicialmente, asseverou-se que não estaria em discussão, por
indisputável, a afirmativa de que o exercício das funções inerentes à
Polícia Judiciária competiria, ordinariamente, às Polícias Civil e
Federal (CF, art. 144, § 1º, IV e § 4º), com exceção das atividades
concernentes à apuração de delitos militares. Esclareceu-se que isso
significaria que os inquéritos policiais — nos quais se consubstanciam,
instrumentalmente, as investigações penais promovidas pela Polícia
Judiciária — serão dirigidos e presididos por autoridade policial
competente, e por esta, apenas (CPP, art. 4º, caput). Enfatizou-se,
contudo, que essa especial regra de competência não impediria
que o Ministério Público, que é o dominus litis — e desde que
indique os fundamentos jurídicos legitimadores de suas
manifestações — determinasse a abertura de inquéritos
policiais, ou, então, requisitasse diligências investigatórias,
em ordem a prover a investigação penal, conduzida pela
Polícia Judiciária, com todos os elementos necessários ao
esclarecimento da verdade real e essenciais à formação, por
parte do representante do parquet, de sua opinio delicti.
Consignou-se que a existência de inquérito policial não se
revelaria imprescindível ao oferecimento da denúncia,
podendo o Ministério Público, desde que disponha de
elementos informativos para tanto, deduzir, em juízo, a
pretensão punitiva do Estado. Observou-se que o órgão
ministerial, ainda quando inexistente qualquer investigação penal
promovida pela Polícia Judiciária, poderia, assim mesmo, fazer
instaurar, validamente, a pertinente persecução criminal. Grifos
acrescidos pelo autor
HC 89837/DF, rel. Min. Celso de Mello, 20.10.2009. (HC-89837)

Ministério Público e Poder Investigatório - 3


Em seguida, assinalou-se que a eventual intervenção do
Ministério Público, no curso de inquéritos policiais, sempre
presididos por autoridade policial competente, quando feita
com o objetivo de complementar e de colaborar com a Polícia
Judiciária, poderá caracterizar o legítimo exercício, por essa
Instituição, do poder de controle externo que lhe foi
constitucionalmente deferido sobre a atividade desenvolvida
pela Polícia Judiciária. Tendo em conta o que exposto, reputou-se
constitucionalmente lícito, ao parquet, promover, por
autoridade própria, atos de investigação penal, respeitadas —
não obstante a unilateralidade desse procedimento
investigatório — as limitações que incidem sobre o Estado, em
tema de persecução penal. Realçou-se que essa unilateralidade
das investigações preparatórias da ação penal não autoriza o
Ministério Público — tanto quanto a própria Polícia Judiciária — a
desrespeitar as garantias jurídicas que assistem ao suspeito e ao
indiciado, que não mais podem ser considerados meros objetos de
investigação. Dessa forma, aduziu-se que o procedimento

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Analista do Ministério Público da União
investigatório instaurado pelo Ministério Público não interfere
nem afeta o exercício, pela autoridade policial, de sua
irrecusável condição de presidente do inquérito policial, de
responsável pela condução das investigações penais na fase
pré-processual da persecutio criminis e do desempenho dos
encargos típicos inerentes à função de Polícia Judiciária. Grifos
acrescidos pelo autor
HC 89837/DF, rel. Min. Celso de Mello, 20.10.2009. (HC-89837)

Ministério Público e Poder Investigatório - 4


Ponderou-se que a outorga de poderes explícitos, ao
Ministério Público (CF, art. 129, I, VI, VII, VIII e IX), supõe
que se reconheça, ainda que por implicitude, aos membros
dessa instituição, a titularidade de meios destinados a
viabilizar a adoção de medidas vocacionadas a conferir real
efetividade às suas atribuições, permitindo, assim, que se
confira efetividade aos fins constitucionalmente reconhecidos
ao Ministério Público (teoria dos poderes implícitos). Não fora
assim, e desde que adotada, na espécie, uma indevida
perspectiva reducionista, esvaziar-se-iam, por completo, as
atribuições constitucionais expressamente concedidas ao
Ministério Público em sede de persecução penal, tanto em sua
fase judicial quanto em seu momento pré-processual. Afastou-
se, de outro lado, qualquer alegação de que o reconhecimento do
poder investigatório do Ministério Público poderia frustrar,
comprometer ou afetar a garantia do contraditório estabelecida em
favor da pessoa investigada. Nesse sentido, salientou-se que,
mesmo quando conduzida, unilateralmente, pelo Ministério
Público, a investigação penal não legitimaria qualquer
condenação criminal, se os elementos de convicção nela
produzidos — porém não reproduzidos em juízo, sob a
garantia do contraditório — fossem os únicos dados
probatórios existentes contra a pessoa investigada, o que
afastaria a objeção de que a investigação penal, quando
realizada pelo Ministério Público, poderia comprometer o
exercício do direito de defesa. Advertiu-se, por fim, que à
semelhança do que se registra no inquérito policial, o procedimento
investigatório instaurado pelo Ministério Público deverá conter todas
as peças, termos de declarações ou depoimentos e laudos periciais
que tenham sido coligidos e realizados no curso da investigação, não
podendo o membro do parquet sonegar, selecionar ou deixar de
juntar, aos autos, qualquer desses elementos de informação, cujo
conteúdo, por se referir ao objeto da apuração penal, deve ser
tornado acessível à pessoa sob investigação. Grifos acrescidos pelo
autor
HC 89837/DF, rel. Min. Celso de Mello, 20.10.2009. (HC-
89837)9

Uma das decisões mais recentes do STF a respeito do tema foi


da 2ª turma, onde se afirmou:

9
Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo564.htm

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Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Ministério Público e investigação criminal
A 1ª Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se
pretendia o trancamento de ação penal, sob o argumento de
que a investigação criminal teria partido exclusivamente do
Ministério Público. Observou-se que a denúncia se baseara em
declarações prestadas, espontaneamente, pelo co-réu ao
representante do Ministério Público e que, a partir dessas
informações, o parquet realizara diligências, devidamente
acompanhado pela polícia civil, além de ouvir outras pessoas, o que
não implicara presidir inquérito policial e nem invadir seara reservada
à Polícia Judiciária. Afirmou-se, ademais, a desnecessidade do
inquérito policial se o Ministério Público já dispuser de
elementos capazes de formar sua opinio delicti. Concluiu-se não
ter havido ilegalidade nos procedimentos adotados pelo órgão
ministerial nem ilicitude das provas produzidas. Vencido o Min.
Marco Aurélio, que sobrestava o feito até o julgamento pelo
Plenário do HC 84548/SP, no qual se discute a distinção do
inquérito para propositura da ação civil e para ação penal. No
mérito, concedia a ordem por entender que o Ministério Público
procedera à investigação e que o acompanhamento da polícia
inverteria a ordem natural das coisas. Grifos acrescidos pelo autor
HC 96638/BA, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 2.12.2010. (HC-
96638)10

Nos mesmos moldes é a posição do STJ:

DENÚNCIA ANÔNIMA. INQUÉRITO. FUNÇÃO. MP.

... Ademais o Parquet, conforme entendimento da Quinta


Turma deste Superior Tribunal, possui prerrogativa de
instaurar procedimento administrativo de investigação e
conduzir diligências investigatórias (art. 129, VI, VII, VIII e
IX, da CF; art. 8º, § 2º, I, II, IV, V e VII, da LC n. 75/1993 e
art. 26 da Lei n. 8.625/1993). Aduziu ainda que,
hodiernamente, adotou-se o entendimento de que o MP possui
legitimidade para proceder, diretamente, à colheita de
elementos de convicção para subsidiar a propositura de ação
penal, só lhe sendo vedada a presidência do inquérito, que
compete à autoridade policial. ... Precedentes citados: HC
159.466-ES, DJe 17/5/2010, e RHC 21.482-RS, DJe 12/4/2010. RHC
24.472-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 15/9/2011.11 Grifos
acrescidos

Não se ignore que, ainda que se admita a investigação criminal


por parte do Ministério Público, tal conclusão não viabiliza uma
investigação ilimitada, pois apesar da ausência de regulamentação
legal, o próprio STF, além de reconhecer como subsidiária a
10
Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo611.htm
11
Informativo 483 do STJ.

12
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
investigação ministerial, estabelece as seguintes linhas restritivas
iniciais:

“a) ritos claros quanto à pertinência do sujeito investigado;


b) formalização do ato investigativo;
c) comunicação imediata ao Procurador-Chefe ou ao
Procurador-Geral;
d) autuação, numeração, controle, distribuição e publicidade
dos atos;
e) pleno conhecimento da atividade de investigação à parte;
f) princípios e regras que orientariam o inquérito e os
procedimentos administrativos sancionatórios;
g) ampla defesa, contraditório, prazo para a conclusão e
controle judicial.”12

12 Conforme se observa no informativo 672 do final de junho de 2012:


Ministério Público e investigação criminal – 17
O Plenário retomou julgamento de recurso extraordinário em que discutida a constitucionalidade da realização de procedimento
investigatório criminal pelo Ministério Público. O acórdão impugnado dispusera que, na fase de recebimento da denúncia,
prevaleceria a máxima in dubio pro societate, oportunidade em que se possibilitaria ao titular da ação penal ampliar o conjunto
probatório. Sustenta o recorrente que a investigação realizada pelo parquet ultrapassaria suas atribuições funcionais
constitucionalmente previstas, as quais seriam exclusivas da polícia judiciária — v. Informativo 671. O Min. Gilmar Mendes,
acompanhado pelos Ministros Celso de Mello, Ayres Britto, Presidente, e Joaquim Barbosa, negou provimento ao recurso.
Ressaltou que a 2ª Turma reconhecera, de forma subsidiária, o poder de investigação do Ministério Público, desde que atendidos os
requisitos estabelecidos no inquérito criminal, inclusive quanto à observância da Súmula Vinculante 14. Destacou ser imperioso
observar: a) ritos claros quanto à pertinência do sujeito investigado; b) formalização do ato investigativo; c) comunicação imediata
ao Procurador-Chefe ou ao Procurador-Geral; d) autuação, numeração, controle, distribuição e publicidade dos atos; e) pleno
conhecimento da atividade de investigação à parte; f) princípios e regras que orientariam o inquérito e os procedimentos
administrativos sancionatórios; g) ampla defesa, contraditório, prazo para a conclusão e controle judicial. Verificou que seria lícita a
investigação do parquet nos crimes praticados por policiais e contra a Administração Pública. Além disso, a 2ª Turma teria
reconhecido a higidez da atividade complementar de investigação quando o órgão ministerial solicitasse documentação, como no
caso dos autos, em que a mera aferição de documentos para saber se teria havido, ou não, a quebra da ordem de precatórios
acarretaria desobediência. RE 593727/MG, rel. Min. Cezar Peluso, 27.6.2012. (RE-593727)
Ministério Público e investigação criminal – 18
O Min. Celso de Mello enfatizou que a questão debatida seria de grande importância por envolver o exercício de poderes por parte
do Ministério Público. Reconheceu a legitimidade do poder investigatório do órgão, extraída da Constituição, a partir de cláusula
que outorgaria o monopólio da ação penal pública e o controle externo sobre a atividade policial. Salientou que o parquet não
poderia presidir o inquérito policial por ser função precípua da autoridade policial. Consignou que a função investigatória do
Ministério Público não se converteria em atividade ordinária, mas excepcional a legitimar a sua atuação em casos de abuso de
autoridade, prática de delito por policiais, crimes contra a Administração Pública, inércia dos organismos policiais, ou
procrastinação indevida no desempenho de investigação penal, situações que exemplificativamente justificariam a intervenção
subsidiária do órgão ministerial. Realçou a necessidade de fiscalização da legalidade dos atos investigatórios, de estabelecimento de
exigências de caráter procedimental e de se respeitar direitos e garantias que assistiriam a qualquer pessoa sob investigação —
inclusive em matéria de preservação da integridade de prerrogativas profissionais dos advogados, tudo sob o controle e a
fiscalização do Poder Judiciário. O Presidente afirmou que o Ministério Público teria competência constitucional para, por conta
própria, de forma independente, fazer investigação em matéria criminal. Mencionou que essa interpretação ampliativa melhor
serviria à finalidade, conferida pelo art. 127 da CF, de defender a ordem jurídica, sobretudo em âmbito penal. Aludiu que diversas
leis confeririam competência investigatória ao parquet (Estatuto do Idoso; Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA; Lei Maria
da Penha; Estatuto de Defesa e Proteção do Consumidor). Por fim, asseverou que o inquérito policial não exauriria a investigação
criminal. Ademais, outros órgãos, além do Ministério Público, poderiam desempenhar atividades investigativas. Após, pediu vista o
Min. Luiz Fux. RE 593727/MG, rel. Min. Cezar Peluso, 27.6.2012. (RE-593727). Disponível em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo672.htm#Ministério Público e
investigação criminal - 17

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Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Por fim, no presente contexto deve-se ter cautela ao se
transportar essa admissibilidade ao contexto da caserna, pois,
conforme vimos, existem exigências, pautadas na proteção da
segurança nacional (hierarquia e disciplina), que demanda que a
presidência da investigação seja elabora por superior hierárquico, o
que poderia ser um obstáculo à uma investigação criminal a ser
presidida pelo Ministério Público Militar, que então só poderia auxiliar
o encarregado da investigação, conforme autoriza expressamente o
CPPM.
Em que pese tal reflexão informamos que a tendência é admitir
a investigação também por parte do Ministério Público Militar, isso
com base nos precedentes citados pelo STF e na fundamentação legal
seguinte:

Dentre as instituições dotadas desses poderes


investigatórios e requisitórios, encontra-se o MINISTÉRIO
PÚBLICO MILITAR, como ramo integrante do MINISTÉRIO
PÚBLICO DA UNIÃO, consoante previsão contida no art.
129, incs. VI, VII e VIII, da CRFB, art. 7º, incs. I, II e III,
art. 8º, incs. I, II, IV, VII, e art. 117, da Lei Orgânica do
Ministério Público da União (Lei Complementar nº 75/93)
e, ainda, art. 10, letra “e”, do Código de Processo Penal
Militar (CPPM).13

Indisponibilidade
O princípio da indisponibilidade, decorrência da obrigatoriedade,
informa que uma vez instaurada a ação penal o Ministério Público não
pode desistir da mesma.
Destarte, caso o MP mude de opinião, entendendo que o
imputado não é autor da infração penal ou de que a mesma não

13
http://www.jusmilitaris.com.br/uploads/docs/mpm_e_denuncia_anonima.pdf
14
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
ocorreu, ele não deve pedir a extinção do processo penal, mas sim
opinar pela absolvição do réu, já que um processo penal garantista
deve servir tanto para condenar o culpado como para absolver o
inocente.
Tal princípio decorre expressamente de duas disposições do
CPPM:
Art. 32. Apresentada a denúncia, o Ministério Público não
poderá desistir da ação penal.

Proibição da desistência
Art. 512. O Ministério Público não poderá desistir do
recurso que haja interposto.

Da mesma forma que afirmamos em relação ao princípio da


obrigatoriedade, não se aplica, na seara castrense, a mitigação ao
princípio da indisponibilidade, de que é exemplo a suspensão
condicional do processo (“SUSPRO”), tendo em vista que
também se trata de instituto regulado pela lei 9099/95, que não
incide na esfera militar.

15
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Ação Penal Pública Condicionada à Requisição
Conforme se afirmou anteriormente, o Direito Processual Penal
Militar admite a Ação Penal Pública condicionada à Requisição.
Assim, afirmamos que:
O art. 122 do CPM, lido adequadamente, nos informa:
Nos crimes dos arts. 136 a 141, se o agente for militar a ação
penal dependerá de requisição do Ministro da Defesa14 (para alguns
do Comandante da Força15), se no caso do art. 141, for um civil o
autor do fato, e não for o caso de concurso de agentes com um
militar, a requisição será feita pelo Ministro da Justiça.
Sobre o tema importante traçar alguns detalhes sobre a
requisição. Vejamos
Requisição do Ministro da Justiça: É um pedido e ao mesmo
tempo uma autorização de natureza política que condiciona o início
da persecução penal.
Natureza jurídica: é uma condição objetiva de procedibilidade.
Ela é uma condição para que a persecução seja deflagrada. Sem ela
não pode haver inquérito, processo, nem lavratura do flagrante. Sem
ela, providências criminais não podem ser tomadas contra o suposto
infrator.
- Destinatário: o chefe do MP = Procurador Geral Republica
- Legitimidade ativa: do próprio Ministro da Justiça.
Prazo: não tem limite de prazo, sendo possível requisitar a
qualquer tempo, desde que pretensão punitiva em relação ao crime
não esteja prescrita. Logo, não há que se falar em prazo decadencial.
Retratação do Ministro da Justiça: a doutrina majoritária
(Denilson Feitoza, Luiz Flávio Gomes e Eugênio Pacelli) vem buscando
equiparar a representação com a requisição, para também admitir a
retratação. Entretanto, longe de pacífica a questão, há entendimento

14
Enio Luiz Rossetto nesse sentido.
15
Célio Lobão nesse sentido.
16
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
mais conservador, no sentido da inadmissibilidade do referido
instituto. Tourinho Filho afirma que se o Ministro da Justiça se
retratar é porque foi precipitado.
Segundo Tourinho Filho o ato é irretratável por ausência de
previsão legal e também pelo risco que a admissão poderia gerar no
sentido de demonstrar a fragilidade do Estado brasileiro.
Em que pese o debate exposto acima, o STF e o STJ não
julgaram a matéria.
Eficácia objetiva: a requisição do Ministro da Justiça goza de
eficácia objetiva, se restringindo aos fatos.
Não vinculação: esta requisição é um mero pedido de
providencias e não vincula o MP.

17
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Ação Penal Privada Subsidiária da Pública na esfera militar

Em que pese a inexistência de regulamentação expressa no


CPPM a respeito da conhecida ação penal privada subsidiária da
pública, a doutrina e a própria jurisprudência admitem a utilização
desse instrumento, que pode ser enquadrado como uma garantia
individual prevista no art. 5º da Constituição Federal.
Nesse sentido encontra-se a posição do Supremo Tribunal
Federal, nas valorosas lições do douto ministro Celso de Mello:
Dessa forma, a vítima ou ofendido, que maior interesse
têm na fiscalização da atuação do órgão acusador, substitui o
‘Parquet’ no ‘impulso’ da ação penal, se dele decorrer inércia
(...).
Sob esse aspecto, portanto, é indiscutível o ‘poder’ da
vítima ou do ofendido em ‘mover’ a ação penal privada
subsidiária da pública no processo penal ‘militar’ quando da
omissão ministerial.” (grifei)
Igual percepção do tema é revelada por CÉLIO LOBÃO
(“Direito Processual Penal Militar”, p. 76, item n. 4.10, 2009,
Método):
“A norma constitucional de conteúdo processual penal
(art. 5º, LIX, da CF) estatui que ‘será admitida a ação privada
nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo
legal’. Trata-se, portanto, de ação penal privada subsidiária da
ação penal pública, proposta mediante queixa. Como
afirmamos (...) a lei processual penal militar ainda não se
ajustou à norma constitucional, logo, aplica-se,
supletivamente, o disposto no CPP, relativo à ação penal
privada subsidiária (art. 29 do CPP, c/c o art. 3º, ‘a’, do CPPM).
Em nosso entendimento, não há como discutir, diante da
norma constitucional expressa. Não se pode pôr em dúvida a
admissão da ação penal militar privada subsidiária, diante do
enunciado claro, preciso e impositivo da norma constitucional
(art. 5º, LIX, da CF) (...).” (grifei)
Em suma: torna-se lícito concluir, considerados o
magistério da doutrina e a diretriz jurisprudencial prevalecente
na matéria, que o ajuizamento da ação penal privada
subsidiária da pública, mesmo em sede de crimes militares,
pressupõe a completa inércia do Ministério Público, que se
abstém, sem justa causa, no prazo legal, (a) de oferecer

18
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
denúncia, ou (b) de adotar medidas que viabilizem o
arquivamento do inquérito policial ou das peças de informação,
ou, ainda, (c) de requisitar novas (e
indispensáveis) diligências investigatórias à autoridade policial
ou a quaisquer outros órgãos ou agentes do Estado.
Decisão monocrática Ministro CELSO DE MELLO Relator
(Brasília, 10 de agosto de 2009).16

Nesse contexto indagou a Cespe:

3 • CESPE – 2010 – DPU – DEFENSOR PUBLICO FEDERAL


Considere que, diante de crime impropriamente militar, cuja
ação é pública e incondicionada, o Ministério Público, mesmo
dispondo de todos os elementos necessários à propositura da ação,
tenha deixado, por inércia, de oferecer a denúncia no prazo legal.
Nessa situação, não obstante se tratar de delito previsto em
legislação especial castrense, o ofendido ou quem o represente
legalmente encontra-se legitimado para intentar ação penal de
iniciativa privada subsidiária.
Certo ou Errado

No mesmo concurso indagou a banca examinadora:

4 • CESPE – 2010 – DPU – DEFENSOR PUBLICO FEDERAL


Considere a seguinte situação hipotética.
A Associação Nacional de Sargentos do Exército (ANSAREX), em
nome próprio e na defesa estatutária de seus associados, ofertou
representação ao Ministério Público Militar (MPM) em face da conduta
de um oficial que era comandante de batalhão de infantaria
motorizada, superior hierárquico de 20 sargentos desse batalhão,
todos associados à ANSAREX, uma vez que ele, diuturnamente,

16
Transcrições do Informativo 556 do STF. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo556.htm
19
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
tratava seus subordinados com rigor excessivo; punira alguns
militares com rigor não permitido por lei; ordenara que dois militares
em prisão disciplinar ficassem sem alimentação por um dia; e ofendia
os subordinados, constantemente, com palavras. Decorridos dois
meses da representação, sem que tivesse havido manifestação do
MPM, a associação promoveu ação penal privada subsidiária da
pública perante a Justiça Militar da União, pedindo conhecimento da
demanda e, ao final, a total procedência dos pedidos, com
consequente aplicação da pena correspondente pelos delitos, além da
anulação das sanções disciplinares injustamente aplicadas, com a
respectiva baixa nos assentamentos funcionais. Considerando essa
situação, é correto afirmar que é da Justiça Militar da União a
competência para julgar ações judiciais contra atos disciplinares
militares e que, mesmo sem previsão no CPM e CPPM, se admite a
ação penal privada subsidiária da pública no processo penal militar,
bem como seu exercício pela pessoa jurídica, no interesse dos
associados, com legitimação concorrente nos crimes contra a honra
de servidor militar.
Certo ou Errado

Nesse último questionamento, a afirmativa se encontra errada


por dois motivos:
1) Apesar do STF admitir a Ação penal privada subsidiária da
pública o mesmo não reputa viável a legitimação de pessoas
jurídicas para tal ato, conforme se percebe na decisão
abaixo:
EMENTA: AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA (CF,
ART. 5º, LIX). HIPÓTESE EXCEPCIONAL DE DERROGAÇÃO DO
MONOPÓLIO QUE A CONSTITUIÇÃO OUTORGOU AO MINISTÉRIO
PÚBLICO QUANTO À TITULARIDADE DA AÇÃO PENAL PÚBLICA
(CF, ART. 129, I). CRIMES MILITARES: POSSIBILIDADE, EM
TESE, QUANTO A ELES, DE AJUIZAMENTO DE QUEIXA
SUBSIDIÁRIA. AUSÊNCIA, NO CASO, DOS PRESSUPOSTOS

20
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
AUTORIZADORES DA UTILIZAÇÃO DA AÇÃO PENAL PRIVADA
SUBSIDIÁRIA. OPÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PELO
ARQUIVAMENTO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
DE INVESTIGAÇÃO PENAL. MEDIDA QUE SE CONTÉM NA ESFERA
DE PODERES DO PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA (RTJ
57/155 – RTJ 69/6 ...
... QUANTO À FEBRACTA, A SUA QUALIDADE PARA AGIR EM
SEDE DE QUEIXA SUBSIDIÁRIA. INEXISTÊNCIA, NO
ORDENAMENTO POSITIVO BRASILEIRO, DA AÇÃO PENAL
POPULAR SUBSIDIÁRIA. MAGISTÉRIO DA DOUTRINA.
PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
JURISPRUDÊNCIA DOS TRIBUNAIS EM GERAL. CONTROLE
PRÉVIO DE ADMISSIBILIDADE DAS AÇÕES NO ÂMBITO DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. COMPETÊNCIA MONOCRÁTICA DO
RELATOR. LEGITIMIDADE (RTJ 139/53 – RTJ 168/174-175).
INOCORRÊNCIA DE OFENSA AO PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE
(RTJ
181/1133-1134). AÇÃO PENAL SUBSIDIÁRIA NÃO CONHECIDA.
... esta Suprema Corte não tem reconhecido, a entidades
civis e sindicais, legitimação ativa “ad causam” para,
agindo em sede penal, ajuizarem, em substituição
processual ou em representação de seus associados, ação
penal, inclusive aquelas de natureza cautelar ou tendentes
a uma sentença condenatória

2) O segundo erro da questão é que, conforme se verá na aula


4, sobre competência da justiça militar, a justiça militar da
União não tem competência para julgar atos disciplinares
militares. Desse modo, à Justiça Militar da União só compete
processar e julgar os crimes militares definidos em Lei.
Constituição Federal: Art. 124. À Justiça Militar
compete processar e julgar os crimes militares
definidos em lei.
Somente a justiça Militar Estadual é competente para julgar
as ações judiciais contra atos disciplinares militares. CF:
Justiça Militar Estadual
Constituição Federal: Art. 125...........

21
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os
militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e
as ações judiciais contra atos disciplinares militares,
ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil,
cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do
posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.

Para demonstrar como o assunto Ação penal Privada Subsidiária


tem sido frequente, colaciono mais uma afirmação da Cespe sobre o
tema na seara militar:

CESPE – 2010 – MPE/ES – PROMOTOR DE JUSTIÇA


A ação penal privada subsidiária poderá ser intentada, ainda
que não prevista no sistema processual castrense, desde que
preenchidas as condições de admissibilidade, entre elas a inércia do
titular da persecução penal em juízo.
Certo ou Errado

22
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Denúncia

O que limita a discussão do caso penal é a causa de pedir (e


não o pedido), tendo em vista que, no processo penal, o réu se
defende dos fatos imputados e não da capitulação legal dada pelo
acusador17. Porém, deve ser respeitado o Princípio da correlação
entre causa de pedir e da sentença. A sentença NÃO pode ultrapassar
a causa de pedir porque esta limita a atuação jurisdicional (o réu se
defende dos FATOS).
No processo penal, o que limita a discussão é a causa de
pedir (descrição minuciosa do fato) e não o pedido.

Requisitos da peça inicial de uma Ação Penal Militar

Requisitos da denúncia

Art. 77. A denúncia conterá:

a) a designação do juiz a que se dirigir;

b) o nome, idade, profissão e residência do


acusado, ou esclarecimentos pelos quais possa ser
qualificado;

c) o tempo e o lugar do crime;

d) a qualificação do ofendido e a designação da


pessoa jurídica ou instituição prejudicada ou
atingida, sempre que possível;

e) a exposição do fato criminoso, com tôdas as


suas circunstâncias;

f) as razões de convicção ou presunção da


delinqüência;

g) a classificação do crime;

17
Assim, é possível se pedir uma coisa e “obter” outra. Exemplo: promotor pede a condenação por
roubo, mas o juiz condena no furto por entender que não existiu violência ou grave ameaça.

23
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
h) o rol das testemunhas, em número não
superior a seis, com a indicação da sua profissão e
residência; e o das informantes com a mesma
indicação.

Dispensa de testemunhas

Parágrafo único. O rol de testemunhas poderá


ser dispensado, se o Ministério Público dispuser de
prova documental suficiente para oferecer a
denúncia.

Lembramos que o Inquérito Policial Militar é dispensável (art.


28). Assim, diante dessa característica do IPM e da leitura do artigo
citado, se percebe que o IPM não é indispensável à propositura da
ação penal.
Sobre o tema perguntou a Cespe:

CESPE – 2010 – MPE/ES – PROMOTOR DE JUSTIÇA


A propositura de ações penais, no âmbito do processo penal
militar, deve lastrear-se em IPM, cuja investigação deve encontrar-se
encerrada, por força de imperativo legal.
Certo ou Errado

Vista a aplicação em concurso, passemos a tratar dos requisitos


da denúncia.
O primeiro requisito fundamental é o endereçamento ao juízo
competente para o conhecimento daquela demanda. Se não o for,
isso não causará a extinção do processo, entretanto o juízo
incompetente não irá receber a denúncia ou queixa e irá,
imediatamente, declinar da competência em prol do juízo
competente.
É necessário ressaltar que a incompetência do juízo, embora
esteja prevista como causa de rejeição no art. 78 do CPPM, na prática
implica sua inadmissão, pois quem é incompetente, tanto o é para

24
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
receber a denúncia quanto para rejeitá-la. Ademais, conforme dispõe
o CPPM:
Incompetência do juiz. Declaração
3º No caso de incompetência do juiz, êste a
declarará em despacho fundamentado,
determinando a remessa do processo ao juiz
competente.

Os requisitos de uma denúncia vão obedecer rigorosamente aos


elementos identificadores de uma demanda, que são (nessa ordem):
as partes, a causa de pedir e o pedido.
Após o endereçamento, se costuma apontar a qualificação das
partes.
Eventuais omissões de dados qualificativos poderão ser sanadas
a qualquer tempo. Nesse sentido é a redação do artigo 70 do Código
de Processo Penal Militar.

Identificação do acusado
Art. 70. A impossibilidade de identificação do
acusado com o seu verdadeiro nome ou outros
qualificativos não retardará o processo, quando
certa sua identidade física. A qualquer tempo, no
curso do processo ou da execução da sentença, far-
se-á a retificação, por têrmo, nos autos, sem
prejuízo da validade dos atos precedentes.

Desse modo a ausência de dados qualificativos não impede que


a denúncia seja recebida. O promotor pode oferecer a denúncia com
a descrição física do acusado, ou até mesmo tratá-lo por meio de
alcunhas para facilitar a identificação.
A causa de pedir é o elemento identificador da demanda mais
importante que temos na seara criminal. Ela se traduz na narrativa
da conduta, que deve ser concisa e clara.

25
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Concisa, porque não deve se estender à descrição de
circunstancias divorciadas da infração ou do autor do fato. Ademais,
quanto maior for a narrativa, maior será o ônus probatório do
Ministério Público.
Já a clareza é necessária, porque é a causa de pedir que
oportunizará, em primeiro lugar, o exercício do direito de defesa e,
em segundo lugar, a fixação dos limites da prestação jurisdicional.
Portanto, a causa de pedir vai delimitar os limites de dois
princípios, quais sejam, ampla defesa e congruência.
No Processo Penal Militar, assim como no comum, o acusado irá
se defender da narrativa fática, bem como a prestação jurisdicional
será limitada por essa narrativa. O juiz está adstrito à causa de pedir,
aos fatos narrados pelo acusador. Sobre o ponto insta transcrever o
artigo do CPPM que prevê, na parte inicial, a denominada emendatio
libelli.

Art. 437. O Conselho de Justiça poderá:


a) dar ao fato definição jurídica diversa da que
constar na denúncia, ainda que, em conseqüência, tenha
de aplicar pena mais grave, desde que aquela definição
haja sido formulada pelo Ministério Público em alegações
escritas e a outra parte tenha tido a oportunidade de
respondê-la;

Embora se reconheça que a exigência de narrativa detalhada


implementa os princípios do contraditório e da ampla defesa no
processo penal, verifica-se, em determinadas hipóteses, que os
tribunais superiores admitem uma narrativa um pouco mais geral,
desde que precisa o suficiente para viabilizar o direito de defesa e a
realização da prestação jurisdicional.
Ressalte-se, porém, que essa flexibilização somente é possível
se a imputação descrever, ao menos, os chamados elementos

26
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
essenciais, que são os necessários para identificar a conduta como
fato típico.
O que se admite, portanto, é a confecção da denúncia geral18,
impropriamente chamada, em alguns julgados, de genérica. O que,
numa prova objetiva, pode obrigar o candidato a marcar a alternativa
não tecnicamente perfeita, pois apesar de correta a distinção exposta
(em nota de rodapé) verifica-se muitas vezes que os próprios
tribunais utilizam o termo de forma não precisa.

A respeito do tema, aos que se interessarem, vale observar a


transcrição exarada no informativo 607 do STF, disponível em
http://www.stf.jus.br//arquivo/informativo/documento/informativo60
7.htm#transcricao1

Segundo o CPPM, a rejeição da denúncia ocorrerá se não


contiver os requisitos expressos no artigo 77. Contudo, o próprio art.
78, que afirma o mencionado acima, permite a emenda da inicial pelo
Ministério Público, algo não trabalhado pelo CPP comum. Vejamos a
disposição legal atentando para negritada.

Rejeição de denúncia
Art. 78. A denúncia não será recebida pelo juiz:

18
“...para a boa compreensão da matéria ora em apreço, a essencialidade da distinção entre ‘denúncia geral’ e ‘denúncia
genérica’. Entendida a primeira como a descrição clara e precisa do fato criminoso, na inicial acusatória, e a sua imputação a
todos os acusados (seja pelo fato de que todos dele participaram, seja pela impossibilidade de esmiuçar a conduta de cada
acusado, individualmente considerado), não se vislumbra maiores problemas à sua aceitação na doutrina e na jurisprudência
pátrias, uma vez que a denúncia geral possibilita ao acusado o conhecimento preciso da imputação que lhe é feita, não lhe
impedindo ou dificultando a defesa.
Por outro lado, a denúncia genérica caracteriza-se justamente pela não-individualização das condutas/fatos criminosos
narrados, de forma que todos são atribuídos, indistintamente, a todos os acusados – atitude esta de inegável desrespeito, pelo
órgão acusador, aos princípios constitucionais que tutelam o acusado e, em última análise, que asseguram o próprio "ius
libertatis".
Desse modo, a ausência de relação de pertinência subjetiva entre os acusados e os fatos narrados na inicial acusatória – traço
marcante da denúncia genérica – viola diversos postulados constitucionais, tais como o devido processo legal em sua vertente
adjetiva, em que se enquadram as garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LV, da CF/88), o princípio da
não-culpabilidade ou da presunção de inocência (art. 5º, LVII, da CF/88), o princípio da individualização da pena (art. 5º, XLVI, da
CF/88) e, em última análise, o sobreprincípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88). Destarte, defende-se a
impossibilidade de aceitação da denúncia genérica em quaisquer crimes, inclusive, nos denominados crimes societários.” (LIMA,
Marília Silva Ribeiro de. Da (im)possibilidade de denúncia genérica nos crimes societários. Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n.
2592, 6 ago. 2010 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/17111>. Acesso em: 25 jul. 2012.)

27
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
a) se não contiver os requisitos expressos no
artigo anterior;
b) se o fato narrado não constituir evidentemente
crime da competência da Justiça Militar;
c) se já estiver extinta a punibilidade;
d) se fôr manifesta a incompetência do juiz ou a
ilegitimidade do acusador.

Preenchimento de requisitos
1º No caso da alínea a, o juiz antes de rejeitar
a denúncia, mandará, em despacho fundamentado,
remeter o processo ao órgão do Ministério Público
para que, dentro do prazo de três dias, contados da
data do recebimento dos autos, sejam preenchidos os
requisitos que não o tenham sido.

Ilegitimidade do acusador
2º No caso de ilegitimidade do acusador, a rejeição
da denúncia não obstará o exercício da ação penal, desde
que promovida depois por acusador legítimo, a quem o
juiz determinará a apresentação dos autos.

Incompetência do juiz. Declaração


3º No caso de incompetência do juiz, êste a
declarará em despacho fundamentado, determinando a
remessa do processo ao juiz competente.

Trabalhando as distinções entre a Denúncia no processo penal


comum e no processo penal militar, indagou a Cespe:

6 • CESPE – 2004 – STM – ANALISTA JUDICIÁRIO


A denúncia no processo penal militar difere da denúncia no
processo penal comum, primordialmente, por exigir que o Ministério
Público explicite as razões de convicção ou presunção de
delinquência.
Certo ou Errado

28
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Para elucidar a questão propomos o seguinte quadro
comparativo:

CPPM CPP
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a
Art. 77. A denúncia conterá: exposição do fato criminoso, com todas
... as suas circunstâncias, a qualificação do
f) as razões de convicção ou acusado ou esclarecimentos pelos quais
presunção da delinquência; se possa identificá-lo, a classificação do
crime e, quando necessário, o rol das
... testemunhas.

Prazo

Prazo para oferecimento da denúncia


Art. 79. A denúncia deverá ser oferecida, se o
acusado estiver prêso, dentro do prazo de cinco dias,
contados da data do recebimento dos autos para aquêle
fim; e, dentro do prazo de quinze dias, se o acusado
estiver sôlto. O auditor deverá manifestar-se sôbre a
denúncia, dentro do prazo de quinze dias.

Prorrogação de prazo
1º O prazo para o oferecimento da denúncia poderá,
por despacho do juiz, ser prorrogado ao dôbro; ou ao
triplo, em caso excepcional e se o acusado não estiver
prêso.
2º Se o Ministério Público não oferecer a denúncia
dentro dêste último prazo, ficará sujeito à pena disciplinar
que no caso couber, sem prejuízo da responsabilidade
penal em que incorrer, competindo ao juiz providenciar no
sentido de ser a denúncia oferecida pelo substituto legal,
dirigindo-se, para êste fim, ao procurador-geral, que, na
falta ou impedimento do substituto, designará outro
procurador.

29
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União

Prazo para oferecimento da denúncia é PROCESSUAL,


contando-se da data em que os autos chegarem ao MP (“dies a
quo”). Nesse tipo de prazo exclui-se o dia do começo e inclui-se o
do término (“dies ad quem”). Não há sanção de natureza processual.
Portanto, é um prazo impróprio.
Mas MP pode ser punido administrativamente (punição inclusive
expressa no CPPM no § 2º do artigo supracitado) pela mora
injustificada, o que viabilizará ainda a Ação Penal Privada Subsidiária
da Pública (queixa subsidiária) em virtude da aplicação do princípio
da inafastabilidade do poder jurisdicional, bem como eventual
responsabilização criminal.

No que tange ao prazo de oferecimento da queixa, deve-se


observar o seguinte: 6 meses (art. 38 do CPP por analogia).
∟ da data em que se esgotar o prazo para o
oferecimento da denúncia.

O Prazo decadencial é um prazo “penal” e, como tal, é


contado nos moldes do direito material (art. 10, CP, também por
analogia), incluindo o dia do começo e excluindo o dia do término.

Art. 10, CP: “O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo.


Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário
comum”.

30
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Processo

Para falar da parte referente ao Processo, no Código de


Processo Penal Militar, vale diferenciar algumas expressões.
Não se pode confundir Processo, Procedimento, Ação e Autos.
O Processo segundo a doutrina clássica é definido como o
movimento de atos destinados à solução do caso penal. Processo é,
portanto, o CONTEÚDO – é o MOVIMENTO. Já o procedimento é a
FORMA que ordena os atos processuais de maneira lógica – é o
RITMO, o RITO.
Os autos, por sua vez, são a materialização, o elemento físico
que envolve o processo e o procedimento.
O Processo nasce com a citação válida do réu, diferentemente
do que ocorre com a ação que nasce com a oferta da denúncia ou a
da queixa-crime. Portanto, a AÇÃO É ANTERIOR AO PROCESSO.19
Do dito acima, quase tudo se aplica ao poocesso penal militar,
com a seguinte observação: Conforme se verá abaixo, o CPPM afirma
que o processo penal militar se inicia com o recebimento da
denúncia e se efetiva com a citação.
Nesse sentido Guilherme de Souza Nucci afirma que o início da
ação penal se dá pelo oferecimento da denúncia ou da queixa,
independentemente do recebimento feito pelo juiz. Essa afirmativa
decorre de vários aspectos, dentre os quais a própria redação do art.
24 do CPP, isto é, a ação será promovida (promover = originar, dar
impulso, dar causa a, gerar) por denúncia.20
Para o CPPM, o acusado é a pessoa que tem contra si uma
denúncia recebida. Tal conclusão se extrai do seguinte dispositivo:
Personalidade do acusado
19
CRUZ, Pablo Farias Souza. Processo Penal Sistematizado. Rio de Janeiro: Grupo Gen: Forense, 2013,
no prelo a 1ª edição, p. 586.
20
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 7ª ed. 2011. São Paulo:
RT, p. 191.

31
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Art. 69. Considera-se acusado aquêle a quem é
imputada a prática de infração penal em denúncia
recebida.

O CPPM afirma de forma expressa que:


Relação processual. Início e extinção
Art. 35. O processo inicia-se com o recebimento da
denúncia pelo juiz, efetiva-se com a citação do acusado e
extingue-se no momento em que a sentença definitiva se
torna irrecorrível, quer resolva o mérito, quer não.

Esquematizando:

Início => Recebimento da Denúncia


Processo Efetivação => Citação do Acusado
Extinção => Sentença

No mesmo dispositivo informa:


Casos de suspensão
Parágrafo único. O processo suspende-se ou
extingue-se nos casos previstos neste Código.

São casos de suspensão tratadas pelo CPPM as previstas nos


seguinte artigos: 115, 123, 124, 132, 151, 157,§ 2º, 158, 161 e 168.

Em artigo anterior ao tratado acima, que informa o nascimento,


efetivação e extinção do processo, o CPPM não descura dos direitos
de ação e defesa no âmbito jurisdicional penal militar.

Direito de ação e defesa. Poder de jurisdição


Art. 34. O direito de ação é exercido pelo Ministério
Público, como representante da lei e fiscal da sua
execução, e o de defesa pelo acusado, cabendo ao juiz
exercer o poder de jurisdição, em nome do Estado.

32
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Da leitura do dispositivo pode se extrair dentre outras
conclusões, a natureza jurídica do processo.
Afirma-se que o processo tem natureza de relação jurídica,
relação essa composta por três personagens, visualizada da seguinte
forma:

Natureza jurídica do processo penal

Juiz

Autor Réu21

É uma relação jurídica triangular, conforme entendimento


majoritário. Nessa relação, são três os atores processuais: Autor, Juiz
e Réu, sujeitos que serão estudados em nossa próxima aula.

21
Representação gráfica inspirada na realizada por Adolf Wach seguindo as idéias de Oscar Von Bülow.

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Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Questões a respeito da aula:

1 • CESPE – 2011 – STM – ANALISTA JUDICIÁRIO


O esgotamento das vias administrativas e ordinárias consiste
em condição específica da ação penal constitucional não condenatória
de habeas corpus na esfera militar.
Certo ou Errado

2 • CESPE – 2004 – STM – ANALISTA JUDICIÁRIO


Nos crimes militares, a ação penal é, em regra, pública,
condicionada ou incondicionada e promovida pelo Ministério Público
Militar; excepcionalmente, é privada, promovida pelo ofendido,
quando a lei assim dispuser.
Certo ou Errado

3 • CESPE – 2010 – DPU – DEFENSOR PUBLICO FEDERAL


Considere que, diante de crime impropriamente militar, cuja
ação é pública e incondicionada, o Ministério Público, mesmo
dispondo de todos os elementos necessários à propositura da ação,
tenha deixado, por inércia, de oferecer a denúncia no prazo legal.
Nessa situação, não obstante se tratar de delito previsto em
legislação especial castrense, o ofendido ou quem o represente
legalmente encontra-se legitimado para intentar ação penal de
iniciativa privada subsidiária.
Certo ou Errado

4 • CESPE – 2010 – DPU – DEFENSOR PUBLICO FEDERAL


Considere a seguinte situação hipotética.
A Associação Nacional de Sargentos do Exército (ANSAREX), em
nome próprio e na defesa estatutária de seus associados, ofertou
representação ao Ministério Público Militar (MPM) em face da conduta

34
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
de um oficial que era comandante de batalhão de infantaria
motorizada, superior hierárquico de 20 sargentos desse batalhão,
todos associados à ANSAREX, uma vez que ele, diuturnamente,
tratava seus subordinados com rigor excessivo; punira alguns
militares com rigor não permitido por lei; ordenara que dois militares
em prisão disciplinar ficassem sem alimentação por um dia; e ofendia
os subordinados, constantemente, com palavras. Decorridos dois
meses da representação, sem que tivesse havido manifestação do
MPM, a associação promoveu ação penal privada subsidiária da
pública perante a Justiça Militar da União, pedindo conhecimento da
demanda e, ao final, a total procedência dos pedidos, com
consequente aplicação da pena correspondente pelos delitos, além da
anulação das sanções disciplinares injustamente aplicadas, com a
respectiva baixa nos assentamentos funcionais. Considerando essa
situação, é correto afirmar que é da Justiça Militar da União a
competência para julgar ações judiciais contra atos disciplinares
militares e que, mesmo sem previsão no CPM e CPPM, se admite a
ação penal privada subsidiária da pública no processo penal militar,
bem como seu exercício pela pessoa jurídica, no interesse dos
associados, com legitimação concorrente nos crimes contra a honra
de servidor militar.
Certo ou Errado

5 - CESPE – 2010 – MPE/ES – PROMOTOR DE JUSTIÇA


A propositura de ações penais, no âmbito do processo penal
militar, deve lastrear-se em IPM, cuja investigação deve encontrar-se
encerrada, por força de imperativo legal.
Certo ou Errado

6 • CESPE – 2004 – STM – ANALISTA JUDICIÁRIO

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Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
A denúncia no processo penal militar difere da denúncia no
processo penal comum, primordialmente, por exigir que o Ministério
Público explicite as razões de convicção ou presunção de
delinquência.
Certo ou Errado

7 - CESPE – 2010 – MPE/ES – PROMOTOR DE JUSTIÇA


A ação penal privada subsidiária poderá ser intentada, ainda
que não prevista no sistema processual castrense, desde que
preenchidas as condições de admissibilidade, entre elas a inércia do
titular da persecução penal em juízo.
Certo ou Errado

8 - CESPE – 2010 – MPE/ES – PROMOTOR DE JUSTIÇA


No sistema processual penal militar, todas as ações penais são
públicas incondicionadas.
Certo ou Errado

Grande abraço e até a próxima aula!


Prof. Pablo Farias Souza Cruz

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