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ARTIGO

A POÉTICA DA ENTREVISTA

DOI 10.18224/gua.v12i1.13071
EM ADÉLIA PRADO*

Nawhana Lessa**
Cleide Maria de Oliveira***

O que me fada é a poesia. Alguém já chamou


Deus por este nome? Pois chamo eu que não
sou hierática nem profética e temo descobrir a
via alucinante: o modo poético de salvação.
Adélia Prado (Solte os cachorros)

Resumo: o artigo pretende identificar quais são os pressupostos estéticos, filosóficos, éticos
e teológicos que animam a concepção do eu poeta e da atividade de escrita que se evidencia
nas entrevistas de Adélia Prado e como, nessas entrevistas, a autora percebe a escrita poé-
tica, sua relevância, valor e significação em tempos contemporâneos. Para isso, foram ana-
lisadas diversas entrevistas dadas por Adélia Prado em diferentes mídias, em especial afir-
mações metalinguísticas contidas nelas, e cotejadas com poemas também metalinguísticos
da autora. Conclui que há uma grande coerência entre a poesia metalinguística de Adélia e
as declarações em entrevistadas sobre seu próprio fazer poético e a poesia de forma geral.

Palavras-chave: Adélia Prado. Entrevista. Poesia. Metalinguagem.

A entrevista é um gênero textual bastante popular e com grande capacidade de atingir um


público mais amplo do que aquele restrito leitor de poesia, por isto é bastante comum
no percurso de escritores, consagrados ou não. Por meio da entrevista é possível uma apro-

* Recebido em: 05.01.2023. Aprovado em: 10.04.2023.


** Graduanda pelo CEFET MG, aluna de Iniciação Científica – PUC Rio. E-mail: magrenawhana@gmail.com.
*** Doutora em Estudos de Literatura pela PUC Rio. Professora de Língua e Literatura no CEFET MG.
E-mail: cleidoliva@gmail.com.

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ximação maior entre escritor e leitor, e mesmo entre escritor e não leitor. Desta forma, este
é um gênero textual privilegiado para um conhecimento maior sobre posicionamentos assu-
midos por um poeta em sua vida cotidiana, quer sejam éticos, políticos, estéticos, religiosos,
etc. Por outro lado, é sempre de grande interesse, para a compreensão crítica de um autor,
entender como ele concebe seu trabalho e sua obra, bem como sua percepção mais geral da
função e do valor da literatura, e no caso específico de poetas, da poesia.
Em se tratando da autora em questão, Adélia Prado, há um número significativo de
entrevistas que ela deu em jornais impressos e eletrônicos, sites, blogues e programas de te-
levisão e rádio. Esse é um patrimônio cultural de relevância na medida em que possibilita um
olhar mais íntimo sobre a percepção que essa autora, de grande importância para o cenário
literário contemporâneo, possui sobre sua obra e questões suscitadas ela.
Por um lado, deseja-se mapear, nas diversas entrevistas de Adélia Prado, em diferen-
tes mídias, o perfil de poeta que se delineia nas falas da autora, perfil esse no qual estejam
relacionados aspectos não apenas puramente estéticos, mas éticos, políticos, culturais; por
outro lado quer-se identificar qual é a concepção que anima a poeta acerca do ser e da subs-
tância da poesia, do fazer poético e da literatura de modo geral, seu valor, potencialidades e
compromissos.
Entretanto, antes desse mapeamento metapoético das entrevistas de Adélia, queremos
iniciar esse percurso com a leitura de um poema surpreendente, que pode lançar luzes para
alguns aspectos singulares de sua poética. O poema é Objeto de amor, e assim diz:

De tal ordem é e tão precioso


o que devo dizer-lhes
que não posso guardá-lo
sem a sensação de um roubo:
cu é lindo!
Fazei o que puderdes com esta dádiva.
Quanto a mim dou graças
pelo que agora sei
e, mais que perdôo, eu amo.
Adélia Luzia Prado Freitas

É provável que a poeta mineira, frequentemente associada a pães de queijo e netos,


choque leitores desavisados, principalmente com o 5º verso - “cu é lindo!”. A estranheza
vem do fato de que a palavra cu, considerada de baixo calão, não é sinônimo de beleza, então
por que estar em um poema? A essa pergunta, Adélia responde:

A poesia não é assunto, não é enredo, não é tema. Poesia é forma, que se utiliza de
tudo. Não há temas mais poéticos. O real é o grande tema. E nós temos o real no co-
tidiano, configurado no amor, na morte, nas virtudes e nas mais diversas paixões que
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nos habitam. Qualquer coisa é a casa da poesia. Ela alimenta, dá significação, sentido
à vida. A poesia pousa onde lhe apraz. Tem o dom de espalhar humanidade (PRADO,
2010, grifo nosso).

Ainda que a poesia habite em “qualquer casa”, um aspecto que sempre retorna nas
entrevistas adelianas, é a categórica afirmação de a poesia é revelação do maravilhoso no
reles cotidiano,

A arte tem esse papel, que é como “correr uma cortina”... Você vê! É o caráter “epi-
fânico” da poesia. Se ela não faz isto, não acontece nada; mas se ela é verdadeira,
acontece. Esse momento de beleza é o momento profundo, de profunda religiosidade.
Você cai em adoração. Porque você está vendo algo inominável. Vocês já repararam
num abacaxi? Todo mundo conhece um abacaxi. Que coisa difícil de conhecer um
abacaxi. Aquela coisa cascuda diante de você. Ele é impenetrável! O abacaxi ou qual-
quer outro fenômeno, como uma árvore... Mas se um artista pinta este abacaxi, faz
pintura real ou faz um poema, você fala: “Gente mas que coisa!”. Então você vai lá
na sua cozinha conferir o abacaxi que está lá. É verdade, porque há um acontecimento
revelador. A poesia me faz perceber a pulsação das coisas. Isso que é poesia, e a isso
chamo também de experiência religiosa (PRADO, 1997, p. 5).

A revelação religiosa de que nos fala o fragmento acima não é a de uma transcen-
dência positiva, quer seja a de uma divindade pessoal ou de qualquer outro tipo de
pessoa, animal ou objeto sagrado. É o mais prosaico abacaxi que aparece diante de
nossos olhos atônitos: a impenetrabilidade daquela “coisa cascuda” nos devolve um
mundo misterioso, inquietante e belo, alheio a nossos esforços cognoscentes que de-
sejam transformá-lo em objeto inteligível. “Você cai em adoração. Porque está vendo
algo inominável”. Mas Isso que se recusa à nomeação não é um deus ou uma figura
divina, não é nem mesmo um arquétipo da beleza – a natureza, o rosto da pessoa
amada, a inocência de uma criança, etc – é apenas e tão somente a áspera recusa
de um abacaxi que se torna acontecimento revelador de outra maior recusa: a aspe-
reza do abacaxi, de repente, nos mostra um mundo impermeável a nossos discursos,
um mundo ao qual podemos aceder apenas esteticamente. E a poesia, é justamente
esse “correr a cortina” de nossas representações, restituindo as coisas – inclusive o
abacaxi - a si mesmas em um processo que lembra a experiência mística, na medida
em que seja um esbarrar-se do intelecto com a impossibilidade de cognição/repre-
sentação de um Isso experimentado como alteridade absoluta e apenas esteticamente
(OLIVEIRA, 2021, p. 184).

Em outra entrevista concedida à Luiz Henrique Gurgel, Adélia traz uma definição do
que ela acredita ser a finalidade da obra de qualquer artista:
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A obra de um artista, quando verdadeira, seja de que arte for, tem o poder de revelar
a poesia contida no ser das coisas. Eu não dou conta de pegar o ser de uma rosa, de
um rio, de uma passagem, de um rosto. Só quem consegue revelar esse ser das coisas
é a arte, que nos mostra a beleza suprema delas (PRADO, 2010).

Ao comparar essas últimas afirmações com o poema citado, fica evidente um aspecto
extremamente importante da poética adeliana, que é a cosmogonização e consequente sacra-
lização do corpo, processo dependente de uma rigorosa ascese1, na qual os pressupostos e
princípios da moral platônica-cristã que delega ao corpo um lugar de assujeitamento serão
desarticulados, em especial pela descoberta encantada da encarnação do Cristo, ou seja, será
pelo espanto de que “- Jesus tem um par de nádegas!/ Mais do que Javé na montanha/ esta
revelação me prostra” (Poema Festa do corpo de Deus) que o corpo será integrado em uma
totalidade significativa e sagrada, como nos ensina uma de suas personagens – Violante – no
livro de prosa Os componentes da banda:

O dia em que eu não me importar mais com minha condição anal e nem tiver mais
necessidade deste eufemismo estúpido para designar aquela parte do corpo, aí sim,
os zombadores verão o que é atravessar enxame de marimbondos, caminhar sobre
brasas e outros milagrezinhos” (1999, p. 210).

Violante, tal como outras personagens da prosa adeliana,

(...) parecem repetir com o Apóstolo Paulo: “Se esperamos em Cristo apenas por essa
vida somos os mais miseráveis de todos os homens”. Mas, contrária a uma perspectiva
dolorista e repressora, em especial do corpo feminino, Adélia retorna ao imaginário
do cristianismo primitivo, e enfatiza um Cristo homem, cujo corpo será modelo para a
recuperação da dimensão sacra inerente ao humano, veja-se um último exemplo de Os
componentes da banda: “Depois de ressuscitado, apareceu em Emaús na beira do mar
e comeu, comeu peixe com eles, peixes na brasa e pão. Minha boca se abrasa, quero
peixes também, pão de escuro cereal”. Novamente a preferência por imagens sensíveis
e concretas para representar um deus cujo corpo (mesmo após a sua ressurreição) tem
idênticas demandas às do corpo humano, e por isso pode partilhar com seus discípulos
uma refeição rústica à beira do mar de Tiberíades (OLIVEIRA, 2021, p. 133).

A arte, a poesia, revela a beleza do que está exposto, cada ser possui sua beleza própria,
talvez ela não seja visível a mim ou a você, mas há alguém capaz de enxergá-la, e é isso que
a poesia faz, nos mostra a beleza que está contida em todas as coisas:

A poesia não é assunto, não é enredo, não é tema. Poesia é forma, que se utiliza de tudo.
Não há temas mais poéticos. O real é o grande tema. E nós temos o real no cotidiano,
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configurado no amor, na morte, nas virtudes e nas mais diversas paixões que nos habi-
tam. Qualquer coisa é a casa da poesia. Ela alimenta, dá significação, sentido à vida.
A poesia pousa onde lhe apraz. Tem o dom de espalhar humanidade (PRADO, 2010)

A poesia de Adélia Prado aborda o pequeno cotidiano de uma mulher simples do inte-
rior mineiro, uma realidade sem glamour ou fetichismo. É a “vida, vidinha” a que a autora
alude em várias de suas entrevistas2. E, segundo ela, isso é a poesia, o real, não há nada mais
bonito e poético do que ele. No real está tudo que possa ser considerado poesia, o amor, a
tristeza, a raiva, o orgulho, a felicidade... A afirmação beirando ao obsceno - O cu é lindo –
é também poética e cabe a cada leitor sentir a beleza que é irradiada pelo poema como um
todo. A beleza do mundo é refletida na poesia, que revela ao mundo que até o aparentemente
desprezível possui beleza em seu ser. E não apenas beleza, sentido, dado que nós, seres fini-
tos, feridos pela sede do absoluto,

Somos humanos de inesgotável fome por sentido, significação e transcendência. Um


copo d’água nos oferece ocupação para a vida inteira, belo, absurdo, escapando a
toda tentativa racional de explicá-lo. Graças a Deus que temos a abordagem da poe-
sia, a abordagem da fé que nos responde e consola e nos faz conhecer a realidade que
pulsa atrás das aparências com as quais, bobamente às vezes, nos ocupamos (Progra-
ma Roda Viva, 2014).

Por ser inesgotável fonte de sentimento e sensibilidade, a poesia é considerada por muitos
como um “ser” feminino, cheio de beleza, amor. Outros, scholars, simples leitores, ou escrito-
res, dentre outros amantes de poesia, afirmam que a poesia de Adélia Prado é um “ser” masculi-
no, isso porque a poesia dela vem do divino, de um ser superior no qual ela acredita e afirma ser
a inspiração de seus poemas. Mas, e para Adélia, a poesia é feminina ou masculina? Ela deu essa
resposta a algumas entrevistas, dentre elas, a que já foi citada, e uma outra entrevista concedida
ao programa Roda Viva em 1994.

Poesia feminina é uma tristeza tão grande quanto poesia masculina. Como não tem
assunto, a poesia também não tem gênero. É hermafrodita. A poesia é fraterna, soli-
dária, chama tudo a um centro humano divino. É sempre comunhão (PRADO, 2010).

A poesia é comum ao homem e a mulher, ela não é masculina nem feminina, o ato cria-
dor é masculino, para mim. Mas a poesia é hermafrodita, é comunhão (PRADO, 1994).

O mito de Hermafrodito também irá nos dizer coisas interessantes sobre a poética
adeliana. Segundo Lúcia de Belo Horizonte3 a mitologia grega, Hermafrodito era fruto
do romance adúltero entre Hermes e Afrodite. Ele foi criado pelas ninfas da floresta da
Frídia e, quando cresceu tornou-se um jovem de extrema beleza, ele encantava a todas as
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mulheres, entretanto ele não se interessava por nenhuma delas, queria apenas conhecer o
mundo. Em uma de suas viagens, passou pelas águas onde reinava a Ninfa Salmácis, que
se apaixonou por ele à primeira vista, porém os encantos de Salmácis não fizeram com que
Hermafrodito se apaixonasse por ela. Extremamente ofendida e ardendo de desejo por ele,
Salmácis aproveitou que Hermafrofito entrou nas águas, despiu-se e entrou abraçando-o,
ela conseguiu aderir-se ao corpo dele, e ordenou as águas que jamais deixassem seus corpos
se separarem. A fusão dos dois corpos criou um ser que era homem e mulher, uma única
natureza, perfeita e completa.
Como se vê, é sob o signo da paixão que nasce o hermafrodito, enquanto potente jun-
ção dos princípios masculino e feminino que se identifica com o fazer poético. Se o ato cria-
dor é masculino – afirmação polêmica de Adélia, que só pode ser compreendida descolada
das caracterizações culturais de gênero, quiçá à moda da filosofia chinesa, em que os polos
Yin e Yang traduzem o aspecto binário das energias cósmicas: o yin representa a escuridão,
o princípio passivo, feminino, frio e noturno, já o Yang representa a luz, o princípio ativo,
masculino, quente e claro – a poesia é hermafrodita, dado que integradora das potências
masculina e feminina do ser humano.
Hermafrodita, pois possui traços masculinos e femininos, ao mesmo tempo em que
pode ser delicada, ela pode ser brusca, a beleza vem da sensibilidade e melancolia, mas tam-
bém vem do grotesco, raivoso, como já falado, a arte só revela a beleza, o ser já a contém.
Além disso, a poesia não tem um assunto, ela não fala de uma coisa só, é livre, traz o senti-
mento, e na mesma pode-se até mesmo ter a contradição do rude com o afável. Através do
mito contado anteriormente, percebe-se que, ao invés de um ser estranho, a fusão dos dois
corpos criou algo harmônico e perfeito – a poesia – marcado e orientado para a beleza, como
Adélia afirma na entrevista ao Programa Roda Viva, onde tece fios apertados entre a ideia da
poesia enquanto expressão/representação, a beleza e a alegria:

Eu não acho que a tristeza seja o motor da poesia. Uma pessoa não escreve poesia
porque é triste ou é alegre. A poesia vem de um outro lugar que inclui a tristeza e a
alegria, mas isto não é condição para escrever nenhuma obra. Porque toda obra,
‘inda que nascida da tristeza, por ser poética ou por ser arte, ela é bela. E a beleza é
alegria pura (2014, grifo nosso).

Em poema metalinguístico intitulado A rosa mística, interessante desde o título, que


aponta para a relação direta entre poesia e sagrado tão fortemente articulada em Adélia, a
mesma conjugação de ideias aparecerá:

A primeira vez
que tive a consciência de uma forma,
disse à minha mãe:
dona Armanda tem na cozinha dela uma cesta
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onde põe os tomates e as cebolas;


começando a inquietar-me pelo medo
do que era bonito desmanchar-se,
até que um dia escrevi:
”neste quarto meu pai morreu,
aqui deu corda ao relógio
e apoiou os cotovelos
no que pensava ser uma janela
e eram os beirais da morte”.
Entendi que as palavras
daquele modo agrupadas
dispensavam as coisas sobre as quais versavam,
meu próprio pai voltava, indestrutível.
Como se alguém pintasse
a cesta de dona Armanda
me dizendo em seguida:
agora podes comer as frutas.
Havia uma ordem no mundo,
de onde vinha?
E por que contristava a alma
sendo ela própria alegria
e diversa da luz do dia,
banhava-se em outra luz?
Era forçoso garantir o mundo,
da corrosão do tempo, o próprio tempo burlar.
Então prossegui: “neste quarto meu pai morreu.
Podes fechar-te, ó noite,
teu negrume não vela esta lembrança”.
Foi o primeiro poema que escrevi.
Adélia Luzia Prado Freitas

O poema é bastante característico da poética adeliana. Inicia-se com uma epifania - a


“consciência da forma” – que advém da contemplação da beleza humilde de uma reles cesta
de frutas e legumes, mas tal epifania é dolorosa, pois vem acompanhada pelo pressentimento
da finitude – “começando a inquietar-me pelo medo/do que era bonito desmanchar-se” – e
isso fica bem evidenciado no verso “até que um dia escrevi”, que indica acontecimento que
garantirá a surpreendente indestrutibilidade de coisas e pessoas – a cesta de D. Armanda
e o pai morto – e permitirá “burlar o tempo”, garantindo no mundo da contingencialidade
um lugar onde “banhava-se em outra luz”. E que acontecimento é esse? Nada menos que a
escrita, a poesia. A beleza “é alegria pura” (2014), mas essa não é a beleza bem comportada
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dos padrões estéticos da sociedade do espetáculo, é a beleza do real despido de sua capa de
tédio e reificação, é a beleza de palavras agrupadas de tal modo que “dispensavam as coisas
sobre as quais versavam”, tornando-se passaporte para uma vivência autêntica4, no sentido
heideggeriano, do real. Um outro texto metalinguístico de Adélia que nos ajuda a entender
sua concepção de poesia, agora da prosa, é “A caçada”, transcrito abaixo:

Poesia, o perfume que exalas é tua justificação.


Carlos Drummond de Andrade

Que tanto feliz vem junto quando se pensa em: o Zodíaco. Vêm peixes, virgo, câncer, es-
corpião sem maldade. É a poesia, rateira. Piso no rabo dela, ela escapole. Armo de novo
a ratoeira e penso em Folhinha de Mariana, calendariozinho de armazém: moça vestida
à cawboy, com seu lindo sorriso, segurando a rédea do alazão, cagadinho de mosquito.
Pé ante pé me achego, é preciso um subagir de gato para pegar a ladrona.
Na Folhinha de Mariana ela sentou praça, também pudera: 365 nomes de santos,
mais fases de lua, previsões do tempo, que ela adora, e os preceitos quaresmais com
uma palavra ímpar: colação. Eu, às vezes, fico duas horas de relógio sem fazer nada,
ou então desmancho e torno a fazer um barracão, num dia. Tudo truque, disfarce para
pegar ela distraída. O signo de virgo tem uma ânfora grega, ânfora grega, ânfora
grega? Podem ir passear. Eu fico aqui com a ânfora grega. Qualquer negócio eu faço
para conseguir o laço certo. Fiz de fita de pano, ela disse com sua vozinha: quero fita
de prata. Fiz de prata, ela disse: quero fita de ouro. Fiz de ouro, ela nem liga. Ela é
homem andrógino? Ela é de Deus. Ela parece vida de santo, sem riqueza, nem pom-
pa, sem os brilhos, mas dura, parecendo meio louca, tão serena. Sabe onde a vi outro
dia? Num monte de cisco. Como a conheço bem, não fiz nada. Só busquei mais lixo
e pus por cima, com cuidado: uma lata, papéis, tripa de galinha e penas. Ela ficou
lá refestelada, tomando sol. Virava de bruços, de costas, eu, de cá, apreciando. Comi
um cacho de bananas, um bule de café, de litro, enquanto aproveitava, bem pertinho.
Quando cansei, pus fogo no monturo e fui pro meu quarto, me refazer. Pois ela pousou
na janela e ficou me olhando, quase boa: uma cinzazinha à-toa, pozinho de carvão
que o vento trouxe.
Ela é dura Carlos, ela não morre (PRADO, 1999, p. 97).

Como o próprio nome da narrativa indica, a poesia é arredia, e demanda um “subagir de


gato” para capturá-la, não obstante esteja tão disponível e à vontade no nosso cotidiano, quer
seja na beleza caipira da Folhinha de Mariana, ou “refestelada” num monturo de lixo. Vê-se
então que a beleza de que se fala não se enquadra em nenhuma idealidade platônica, antes
habita o caos cotidiano gostosamente e, paradoxalmente, tão austera quanto vida de santo.
Por outro lado, a arte é algo tão esplendoroso, tocante, que para Adélia não há como ela
não vir de um ser superior. Sua fé é o que move sua escrita, e ela não faz questão de esconder,
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ela se considera apenas uma porta voz, que revela ao mundo a beleza dos seres e, a beleza de vi-
ver servindo a um propósito maior e melhor. Há um ser que quer ser visto, e nada melhor do que
usar a arte para lhe mostrar, já que é um espaço livre, permitido fazer associações não esperadas
ou fora do padrão. Adélia faz menção a isso em uma entrevista concedida ao Grupo Tempo:

– arte é pura expressão, o discurso dela é só expressivo… Ele não é político, ele não
é religioso… (…) Mas o que você estava falando da participação, para mim é assim:
algo – esse algo eu vou chamar de Deus – Ele quer se mostrar. Ele quer mostrar-se,
Ele quer ser mirado. Então, uma das formas mais perfeitas, eu acho que aí há uma
coisa de uma liberdade inaudita, que é o espaço da criação artística (que é onde você
põe vaca roxa, põe acácia chorando, sei lá o que… (PRADO, 1993).

Para Adélia, a arte tem o poder de alcançar os lugares mais profundos do ser humano
e tocar sua alma, liberar uma série de emoções através de palavras, é inexplicável e, talvez,
só possível se algo maior que todos nós a produzir. Adélia ama a poesia, ama a arte, ama ser
porta voz de um ser divino, que a escolheu para reproduzir tanta beleza. Apenas uma dona
de casa, ou uma dona de casa cheia de inspiração e sensibilidade para transformar um coti-
diano tão simples em arte. Se somos todos marcados pela temporalidade e pela finitude, não
obstante, a poesia é aquilo que sobrevive ao poeta, porque ela não depende dele, ela é um
ser com vida própria. Adélia Prado fala sobre isso em uma participação no evento Encontros
Notáveis da Escola de Teatro de São Paulo.

O poema está palpitando, vivinho como se tivesse sido escrito ontem, hoje de manhã,
agora. Porque a obra, a obra de arte, ela tem essa natureza que é estar acima dessa
mortalidade, dessa precariedade, dessa pobreza nossa (PRADO, 2010).

O ser humano é mortal, o poeta também o é, o que permite que eles sejam lembrados
é a arte que deixam, diversos nomes sobreviveram ao tempo, mas isso só acontece por cau-
sa das suas obras, porque elas ultrapassam o tempo. Como dito por Adélia, um poema que
possa ter sido escrito há anos atrás, ainda possui a mesma beleza e vitalidade de como se
estivesse sido escrito hoje. O sentimento emanado por essas obras pode ser internalizado por
qualquer um que leia e se identifique. Sendo essa uma das maiores características da arte,
talvez ela tenha sido criada pensando em determinado público alvo, mas é possível que atinja
qualquer um, independentemente de suas particularidades. Veja-se, como exemplo, o poema
“Explicação de poesia sem ninguém pedir”:

Um trem-de-ferro é uma coisa mecânica,


mas atravessa a noite, a madrugada, o dia,
atravessou minha vida,
virou só sentimento.
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Compara-se a poesia com um trem de ferro, que atravessa os dias, a vida, e a poesia,
também o tempo. Cabe lembrar um dado biográfico da autora, que não apenas morou sua
infância e juventude próxima à linha ferroviária, mas cujo pai também era ferroviário, e por
isso a figura do trem de ferro integra sua memória afetiva, especialmente ligada ao pai ama-
do, tão presente em sua primeira obra (Bagagem e O coração disparado). Em entrevista à
atriz Regina Duarte, Adélia irá, a partir de uma história pessoal, defender que a poesia é não
é propriedade intelectual de uma elite favorecida, mas de livre acesso e apreensão estética,
inclusive aos mais humildes:

A Nélida Piñon fez uma conferência uma vez, que eu assisti, e ela dizia: “Não se pode
baratear a linguagem.” E não se pode mesmo. Por exemplo, meu pai só tinha o terceiro
ano do grupo escolar. Eu lia os poemas pra ele. Não é que ele entendesse os registros
todos mas quando eu acabava de ler, ele estava chorando. Porque ele entendia o que é
pra ser entendido na obra (DUARTE, 1993 apud MOREIRA, 2007, p. 62, grifo nosso).

E, ainda na Conferência proferida na PUC-Rio nos idos de 1997, Adélia retoma o tema
através de uma narrativa saborosa:

Conheci um homem muito simples, ferreiro e a escolaridade dele era só até o 3° ano
primário. Mas ele plantava jardim em sua casa. Quando ele fazia jardim, ele falava
assim: “Eu não gosto de canteiro quadrado, é muito sem poesia. Eu gosto de um ‘fin-
gimento’ de lua, de um ‘fingimento’ de estrela”. Olha que coisa fantástica! Um “fingi-
mento”. E aquilo, que era “fingimento” para ele, era o mais profundo de sua alma, era
a expressão da beleza, da busca da necessidade da beleza. A arte tem este papel na sua
natureza - de salvação coletiva da humanidade. Ela é uma via de salvação, porque ela
toca naquilo que em mim é mais precioso, que não tem preço (PRADO, 1997, p. 03).

A poesia nos salva. Essa contundente afirmativa comparece não apenas em entrevistas,
como a supracitada, de Adélia, mas também no poema Guia (Bagagem, in: PRADO, 1991),
que transcrevemos abaixo:

A poesia me salvará.
Falo constrangida, porque só Jesus
Cristo é o Salvador, conforme escreveu
um homem — sem coação alguma —
atrás de um crucifixo que trouxe de lembrança
de Congonhas do Campo.
No entanto, repito, a poesia me salvará.
Por ela entendo a paixão
que Ele teve por nós, morrendo na cruz.
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Ela me salvará, porque o roxo


das flores debruçado na cerca
perdoa a moça do seu feio corpo.
Nela, a Virgem Maria e os santos consentem
no meu caminho apócrifo de entender a palavra
pelo seu reverso, captar a mensagem
pelo arauto, conforme sejam suas mãos e olhos.
Ela me salvará. Não falo aos quatro ventos,
porque temo os doutores, a excomunhão
e o escândalo dos fracos. A Deus não temo.
Que outra coisa ela é senão Sua Face atingida
da brutalidade das coisas?

Salva porque é sagrada, Face de Deus que se mostra no doméstico e no rude cotidia-
no, daí que a imagem do poeta como oráculo ou profeta seja uma constante na poesia e nas
entrevistas de Adélia. Em entrevista concedida ao grupo Tempo e conduzida por Luiz Jean
Lauand, Adélia fala mais sobre essa relação da poesia e do poeta:

Eu acho que a poesia é isto: porque ela é algo que se mostra, eu acho que a poesia é
um fenômeno que realmente escapa ao poeta; ele, coitadinho, é um proletário da coi-
sa, um operariozinho, um operário braçal. Então, há uma coisa, algo, algo, algo quer
se mostrar…(PRADO,1993).

Esse “algo” que se quer mostrar é ora chamado de “real”, ora de “sagrado”, “divino”
ou “Deus”, sendo o poeta espécie de oráculo, à serviço da humanidade, e intérprete disso
que se manifesta. A poesia não é sobre ele – o poeta -, pois é uma parte ínfima de algo maior
e infinito. Adélia compara o poeta a um operário braçal, que apenas faz o trabalho de sub-
meter-se à inspiração divina, imagem curiosa que aparece em alguns de seus poemas, dentre
eles O poeta ficou cansado (Oráculos de maio, PRADO, 1991), leia-se abaixo:

Pois não quero mais ser Teu arauto.


Já que todos têm voz,
por que só eu devo tomar navios
de rota que não escolhi?
Por que não gritas, Tu mesmo,
a miraculosa trama dos teares,
já que Tua voz reboa
nos quatro cantos do mundo?
Tudo progrediu na terra
e insistes em caixeiros-viajantes
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de porta em porta, a cavalo!


Olha aqui cidadão,
Repara, minha senhora,
neste canivete mágico:
corta, saca e fura,
é um faqueiro completo!
Ó Deus
me deixa trabalhar na cozinha,
nem vendedor nem escrivão,
me deixa fazer Teu pão.
Filha, diz-me o Senhor,
Eu só como palavras.

Como sinalizado por Oliveira (2021), o poema citado alude a uma relação de interde-
pendência orgânica entre o divino e o humano quando se trata da realização poética, afinal
“Um Deus que só se alimenta de palavras é, em alguma medida, um Deus a quem falta algo
que apenas poderá ser suprido por um dos mais contingentes bens humanos: a linguagem” (p.
93). Considerando que a linguagem é locus privilegiado de produção de sentido e significa-
ção, é interessante notar como Adélia articula poesia – linguagem cuja densidade significati-
va é elevada à máxima potência – e sagrado, o que se pode ver em outra entrevista concedida
ao Portal Luteranos em 2016:

Toda obra, o objetivo dela é atingir o momento poético. Seja escultura, teatro, cinema,
música. Ela só acontece quando ela vibra poeticamente, numa revelação absolutamen-
te original, singular e única. Nesse sentido, você ou eu, qualquer autor é instrumento de
algo que o suplanta, que é maior que ele. Você é realmente uma boquinha, um oráculo,
para algo que está se dizendo, se expressando, através de você. [...] tanto a experiência
poética quanto a experiência religiosa (vamos dizer dos místicos ou, simplesmente, do
fiel, do crente) remete a você a um centro de significação e sentido. Isso é religioso.
A significação e o sentido são de natureza religiosa. Porque você toca em algo maior
que você, melhor que você, mais bonito que você (PRADO, 2016, grifo nosso).

Como se vê pela afirmação acima grifada e o último poema lido, há uma grande coe-
rência entre a poesia metalinguística de Adélia e as declarações em entrevistas sobre seu pró-
prio fazer poético e a poesia de forma geral. Chega-se à conclusão que, para Adélia, a poesia,
mais do que expressão de estados de espirito e emoções ou sentimentos, é a-presentação5
de um real pleno de significado porque epifânico, tocado pelo numinoso. Daí a declaração
adeliana com que terminamos esse percurso por suas entrevistas: “rastro de Deus, ar onde
ele passou, casa que foi Sua morada a poesia é” (PRADO, 1999, p.68).
, Goiânia, v. 12, n. 1, p. 3-16, jan./jun. 2022 15

THE POETICS OF INTERVIEW IN ADÉLLIA PRADO

Abstract: The article intends to identify which are the aesthetic, philosophical, ethical
and theological assumptions that animate the conception of the poet self and the writing
activity that is evidenced in Adélia Prado’s interviews and how, in these interviews, the
author perceives poetic writing, its relevance, value and significance in contemporary
times. For this, several interviews given by Adélia Prado in different media were analysed,
especially metalinguistic statements contained in them, and collated with the author’s also
metalinguistic poems. It concludes that there is great coherence between Adelia’s metalin-
guistic poetry and the statements made by interviewees about their own poetic work and
poetry in general.

Keywords: Adélia Prado; Interview; Poetry; Metalanguage.

Notas

1 Ver OLIVEIRA (2021, p.130) onde tal tema é melhor desenvolvido, a partir da constatação de que “(...) o
cerne de sua poética: a constatação de que corpo e alma, imanência e transcendência são percebidos como
contrapartes de um único todo indiviso, de tal modo que se chega à afirmação, apenas aparentemente heré-
tica, de que “sem o corpo a alma de um homem não goza””.
2 “Todo mundo só tem o cotidiano e não tem outra coisa. Eu tenho este corpo que eu carrego (ou ele me
carrega… o burro) e a vidinha de todo dia com suas necessidades mais primárias e irreprimíveis. É nisso
que a metafísica pisca para mim (risos) e a coisa da transcendência: quer dizer: a transcendência mora,
pousa nas coisas… está pousada ou está encarnada nas coisas. Então não há o que dizer: não adianta
você querer escolher grandes temas; é o grande tema que escolhe, isso é um lugar comum, todo autor fala
disso, mas realmente é assim: você é escolhido… Que que é o grande tema? é o real. E o real configurado
no amor, na morte, nas mais diversas paixões que nos habitam e nas virtudes também. Então eu não vejo
onde é que eu busco poesia… ela já está – o Reino já está no meio de vós… – é isso aí…” (PRADO, 1993).
3 Disponível em: http://eventosmitologiagrega.blogspot.com/2010/11/hermafrodito-e-os-opostos-da-vida.html.
4 “‘Precisamente porque o Dasein (ser-aí) (isto é, o homem) é essencialmente a sua possibilidade, esse ente
pode, no seu ser, escolher-se e conquistar-se ou perder-se, ou seja, não se conquistar ou conquistar-se só
aparentemente’ (SEIN und ZEIT, 1927, &9). A possibilidade própria do dasein (ser-aí) é a morte: por isso,
‘O Dasein (ser-aí) é autenticamente ele mesmo só no isolamento originário da decisão tácita e votada à
angustia’ (SEIN und ZEIT, & 64). Por outro lado, a existência inautêntica é caracterizada pela tagarelice,
pela curiosidade e pelo equívoco, que constituem o modo de ser cotidiano, impessoal do homem e repre-
sentam, portanto, uma decadência do ser em relação a si mesmo (SEIN und ZEIT, & 38)” (ABBAGNA-
NO, 2014, p. 108-109).
5 Lembramos aqui a afirmação do poeta e ensaísta Octávio Paz, para quem “Todas as nossas versões do real
— silogismos, descrições, fórmulas científicas, comentários de ordem prática, etc — não recriam aquilo que
pretendem exprimir. Se limitam a representá-lo ou a descrevê-lo” (2003, p. 46), já a poesia (entendida aqui
para além dos gêneros literários) não “representa, mas apresenta. Recria, revive nossa experiência do real”
(2003, p. 46)

Referências

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2012.


, Goiânia, v. 12, n. 1, p. 3-16, jan./jun. 2022 16

DUARTE, Regina. Reportagem. Regina Duarte encontra Adélia Prado. Jornal Folha de S.
Paulo. São Paulo, 13.07.1993. In: MOREIRA, Ubirajara Araújo. Adélia Prado: itinerário
até Bagagem – esboço da escritora quando jovem. UNILETRAS 29, dez. 2007.
OLIVEIRA, Cleide Maria de. O brilho que a razão não devassa: ensaios sobre a poética
de Adélia Prado. Rio de Janeiro: Multifoco, 2021.
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Acessado em: 18 set. 2021.
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PRADO, Adélia. Entrevista ao Portal Luteranos em 19.02.2016. Disponível em:
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PRADO, Adélia. Entrevista a Daniela Zupo. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=fww083rr-BM. Acessado em: 07 fev. 2022.

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