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ESTADO DE SANTA CATARINA

PODER JUDICIÁRIO
2ª Vara da Comarca de Urussanga
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AÇÃO PENAL - PROCEDIMENTO ORDINÁRIO Nº 5004114-76.2021.8.24.0078/SC


AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
RÉU: VANDERLEI MARCIRIO

SENTENÇA

I - RELATÓRIO

O Ministério Público do Estado de Santa Catarina, no uso de suas atribuições


legais e constitucionais, ofereceu denúncia em face de VANDERLEI MARCIRIO,  dando-o
como incurso nos sanções do artigo 312 do Código Penal, por quatro vezes, do artigo 299 do
Código Penal e do artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro, tudo na forma do artigo 69 do
Código Penal, em razão dos seguintes fatos:

"ATO 1

  No dia 28 de junho de 2021, entre 14h00min e 14h25min, no Município de


Urussanga, o denunciado VANDERLEI MARCÍRIO, dolosamente e ciente da ilicitude de sua
conduta, agindo em proveito próprio e valendo-se de seu cargo de Diretor da autarquia
denominada Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto – SAMAE, retirou o veículo
Fiat/Siena, cor branca, placas MMA4593, de propriedade da autarquia, e dirigiu-se com ele
até o estabelecimento denominado Bar Lopes Lanches, situado na Avenida Itália, Vila Nova,
Cocal do Sul, onde permaneceu por aproximadamente vinte minutos, a partir das 15h30min.
Assim, valendo-se de seu cargo público, o denunciado utilizou indevidamente veículo oficial
da autarquia denominada Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto – SAMAE para fins
particulares, desviando, em proveito próprio, quantia oriunda dos cofres públicos, ainda não
individualizada precisamente, decorrente dos gastos com combustível do veículo utilizado na
viagem particular, a hora-trabalhada do servidor público, gestor da Autarquia, além de ter
exposto o automóvel a desgaste inerente ao uso, tudo isso para suprir finalidade particular
de frequentar estabelecimento manifestamente alheio ao interesse público e da autarquia. 

ATO 2 

No dia 28 de junho de 2021, em horário a ser esclarecido no decorrer


da  instrução processual, no Município de Urussanga, o denunciado VANDERLEI
MARCÍRIO, valendo-se do cargo de Diretor da autarquia denominada Serviço Autônomo
Municipal de Água e Esgoto – SAMAE, inseriu, no documento público "controle de ponto de
veículo", informação diversa da que devia ser escrita, bem como omitiu declaração que dele
devia constar, tudo com o fim de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante, qual
seja, a utilização do veículo Fiat/Siena, cor branca, placas MMA4593, de propriedade da
autarquia, para fins eminentemente particulares. Conforme apurado, o denunciado
VANDERLEI MARCÍRIO declarou, no documento público "controle de ponto de veículo"1 ,

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que retirou o veículo Fiat/Siena, cor branca, placas MMA4593, de propriedade da autarquia,
às 14h00min, com 74084 km, e o devolveu às 16h30min, com 74153 km, o que resultaria em
69km (sessenta e nove quilometros) percorridos no intervalo de tempo de 2h30min. Ocorre
que, na realidade, o denunciado percorreu 72 km (setenta e dois quilometros) no intervalo de
tempo de 2h55min16s, saindo da autarquia às 14h03min39s e retornando às 16h58min55s,
aproximadamente, conforme se extrai do Laudo Pericial veiculado no evento 6. Apurou-se,
ainda, que o denunciado VANDERLEI MARCÍRIO omitiu, no documento público "controle
de ponto de veículo", as cidades percorridas com o veículo de propriedade da autarquia,
uma vez que limitou-se a indicar como percurso o Município de Criciúma, quando, na
verdade, percorreu pelos Municípios de Criciúma, Urussanga, Morro da Fumaça,
Siderópolis e Cocal do Sul, onde, neste último, permaneceu por aproximadamente vinte
minutos2 nas dependências do estabelecimento denominado Bar Lopes Lanches. Registra-se
que as declarações inseridas e omitidas pelo denunciado tiveram o propósito de alterar a
verdade sobre fato juridicamente relevante, ou seja, de encobrir o uso do veículo Fiat/Siena,
cor branca, placas MMA4593, de propriedade do SAMAE, para fins particulares e
manifestamente alheios ao interesse da autarquia, notadamente a frequência do denunciado
ao estabelecimento denominado Bar Lopes Lanches, situado na Avenida Itália, Vila Nova, no
Município de Cocal do Sul.

ATO 3 

No dia 5 de julho de 2021, por volta das 14h15min, no Município de


Urussanga, o denunciado VANDERLEI MARCÍRIO, dolosamente e ciente da ilicitude de sua
conduta, agindo em proveito próprio e valendo-se de seu cargo de Diretor da autarquia
denominada Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto – SAMAE, retirou o veículo
Fiat/Siena, cor branca, placas MMA4593, de propriedade da autarquia, e dirigiu-se com ele
até as margens da Rodovia SC-108, entre os Municípios de Cocal do Sul e Criciúma, em
conhecidos pontos de prostituição com moteis nas proximidades, onde permaneceu por
aproximadamente trinta minutos, a partir das 14h56min. Em ato contínuo, o denunciado
VANDERLEI MARCíRIO, agindo em proveito próprio e valendo-se de seu cargo de Diretor
da autarquia denominada Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto – SAMAE, fazendo
uso do mesmo veículo oficial, dirigiu-se com ele até o estabelecimento denominado Bar
Lopes Lanches, situado na Avenida Itália, Vila Nova, Cocal do Sul, onde permaneceu por
mais de quinze minutos, a partir das 15h51min. Assim, utilizando-se de seu cargo público, o
denunciado utilizou indevidamente veículo oficial da autarquia denominada Serviço
Autônomo  Municipal de Água e Esgoto – SAMAE para fins particulares, desviando, em
proveito próprio, quantia oriunda dos cofres públicos, ainda não individualizada
precisamente, decorrente dos gastos com combustível do veículo utilizado na viagem
particular, a hora-trabalhada do servidor público, gestor da Autarquia, além de ter exposto o
automóvel a desgaste inerente ao uso, tudo isso para suprir finalidade particular,
manifestamente alheia ao interesse público e da autarquia.

ATO 4 

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No dia 12 de julho de 2021, por volta das 11h00min, no Município de
Urussanga, o denunciado VANDERLEI MARCÍRIO, dolosamente e ciente da ilicitude de sua
conduta, agindo em proveito próprio e valendo-se de seu cargo de Diretor da autarquia
denominada Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto – SAMAE, retirou o veículo
Fiat/Siena, cor branca, placas MMA4593, de propriedade da autarquia, e dirigiu-se com ele
até o Motel Moments, situado na Estrada Geral Linha Tigre, Jardim das Palmeiras, no
Município de Cocal do Sul, onde permaneceu por quase uma hora, a partir de 16h50min.
Assim, utilizando-se de seu cargo público, o denunciado utilizou indevidamente veículo
oficial da autarquia denominada Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto – SAMAE
para fins particulares, desviando, em proveito próprio, quantia oriunda dos cofres públicos,
ainda não individualizada precisamente, decorrente dos gastos com combustível do veículo
utilizado na viagem particular, a hora-trabalhada do servidor público, gestor da Autarquia,
além de ter exposto o automóvel a desgaste inerente ao uso, tudo isso para suprir finalidade
particular, manifestamente alheia ao interesse público e da autarquia.

ATO 5 

No dia 26 de julho de 2021, entre 13h50min e 14h19min, no Município de


Urussanga, o denunciado VANDERLEI MARCÍRIO, dolosamente e ciente da ilicitude de sua
conduta, agindo em proveito próprio e valendo-se de seu cargo de Diretor da autarquia
denominada Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto – SAMAE, retirou o veículo
Fiat/Siena, cor branca, placas MMA4593, de propriedade da autarquia, e dirigiu-se com ele
até o Posto de Combustível São Marcos, situado na Rodovia SC-446, n. 4320, no Município
de Orleans, onde permaneceu por aproximadamente trinta minutos, a partir das 15h07min
fazendo uso, inclusive, de bebida alcoólica. Posteriormente, no mesmo dia, o denunciado
VANDERLEI MARCÍRIO, agindo em proveito próprio, valendo-se de seu cargo de Diretor da
autarquia denominada Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto – SAMAE e fazendo
uso do mesmo veículo oficial, dirigiu-se com ele até a residência de João Batista Vidoto, nas
proximidades da Rua SD 307-071, bairro São Simão, no Município de Criciúma, onde,
embriagado, permaneceu por mais de duas horas (aproximadamente, entre 19h07min e
21h23min), permitindo, inclusive, que o veículo ficasse sem combustível. Assim, utilizando-se
de seu cargo público, o denunciado utilizou indevidamente veículo oficial da autarquia
denominada Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto – SAMAE para fins particulares,
desviando, em proveito próprio, quantia oriunda dos cofres públicos, ainda não
individualizada precisamente, decorrente dos gastos com combustível do veículo utilizado na
viagem particular, a hora-trabalhada do servidor público, gestor da Autarquia, além de ter
exposto o automóvel a desgaste inerente ao uso, tudo isso para suprir finalidade particular,
manifestamente alheia ao interesse público e da autarquia.

ATO 6

No dia 26 de julho de 2021, em horário a ser esclarecido no decorrer da


instrução processual, certo que após as 15h30min, após dirigir-se ao Posto de Combustível
São Marcos, situado na Rodovia SC-446, n. 4320, no Município de Orleans e fazer uso de
bebida alcoólica nas dependências do estabelecimento, o denunciado VANDERLEI
MARCÍRIO conduziu o veículo automotor Fiat/Siena, cor branca, placas MMA4593, de

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propriedade da autarquia denominada Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto –
SAMAE, pelas vias públicas das cidades de Orleans, Urussanga, Cocal do Sul e Criciúma,
com a capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool, apresentando
sinais indicativos de embriaguez3 , tais como exaltação, fala alterada, dificuldade no
equilíbrio - chegando, inclusive, a cair no chão - e inconstância no modo de dirigir, tudo
conforme prova testemunhal e imagens veiculadas no Inquérito Policial correlato."

A denúncia foi recebida em 11 de novembro de 2021 (Evento 4).

 Citado, o acusado apresentou resposta à acusação por intermédio de defensor


constituído (Evento 15). 

Não configuradas hipóteses de absolvição sumária, a instrução processual


perfez-se regularmente, sendo ouvidas dez  testemunhas de acusação e cinco arroladas pela
defesa. Na oportunidade, foi realizado o interrogatório do acusado (Eventos 119 e 133). 

Em alegações finais, o Ministério Público pugnou pela condenação do réu  às


penas do artigo 312 do Código Penal (por quatro vezes, em concurso material), do artigo 299
do Código Penal e do artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro, tudo na forma do artigo 69
do Código Penal (Evento 164).

A defesa, por sua vez, pugnou pela absolvição, nos termos do art. 386, incisos
III e V, do CPP. Em caso de condenação, pela aplicação da pena mínima e pela substituição
da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos (Evento 167).

Vieram os autos conclusos.

Decido. 

II - FUNDAMENTAÇÃO

A) Dos crimes do artigo 312 do Código Penal (Fatos 1,3, 4 e 5)

O art.  312,  caput, do Código Penal, apresenta, na definição do(s) elemento(s)


objetivo(s) e subjetivo(s) da figura delitiva, a seguinte estrutura redacional:

"Art.  312  - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem
móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito
próprio ou alheio: 

Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa."

Neste tipo penal admite-se três modalidades dolosas: [a] peculato-apropriação


(caput, 1ª parte); [b] peculato-desvio (caput, 2ª parte); [c] peculato-furto (§ 1º). 

No caso dos autos, trata-se de suposto peculato-desvio.

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Na lição de Guilherme de Souza Nucci, "são duas as condutas típicas previstas
no caput do artigo: a) apropriar-se, que significa tomar como propriedade sua ou apossar-
se. É o que se chama de peculato-apropriação; b) desviar, que significa alterar o destino ou
desencaminhar. É o que se classifica como peculato-desvio. Os objetos das condutas são
dinheiro, valor ou outro bem móvel, público ou particular de que tem a posse em razão de
seu cargo. Constitui o peculato próprio, em confronto com a figura prevista no § 1.º. O tipo
1
integral constitui o teor do art. 312 do CP." 

Prevê o art. 327 do CP:

"Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.

§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade


paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada
para a execução de atividade típica da Administração Pública. "

2
Ensina Nucci    que cargo público é aquele ocupado por servidor estatuário.
Emprego público é o posto ocupado por servidor com vínculo contratual regido pela
Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Por último, Função Pública é a denominação
residual, que envolve todo aquele que presta serviços para a administração, embora não seja
ocupante de emprego ou cargo.

No caso dos autos, Vanderlei Marcírio  exercia  função pública na época dos
fatos, mais precisamente de Diretor da Autarquia SAMAE de Urussanga/SC  - Serviço
Autônomo Municipal de Água e Esgoto,  nomeado por meio do Decreto GP/n. 19, de 3 de
fevereiro de 2021.

No tocante ao Fatos 1, 3 e 5, tenho que a materialidade está demonstrada por


meio dos Relatórios de Investigação n. 12/2021 (Autos n.  5003455-67.2021.8.24.0078 -
Evento 1 - Anexo 1 - fls. 22/24), n. 12A/2021 (Autos n. 5003455-67.2021.8.24.0078 - Evento
1 - Anexo 1 - fls. 34/39) e 12B/2021 (Autos n.  5003455-67.2021.8.24.0078 - Evento 1 -
Anexo 2 - fls. 26/29), o controle de ponto (Autos n. 5003455-67.2021.8.24.0078 - Evento 1 -
Anexo 1 - fls. 27/28) e os dados de GPS do veículo (Autos n. 5003455-67.2021.8.24.0078 -
Evento 1 - Anexos 3/12) e o Laudo Pericial n. 2021.19.03888.21.002-50 (Autos n. 5003455-
67.2021.8.24.0078 - Evento 6 - "Laudo 3"), bem como pela prova oral produzida em ambas
as fases. 

A autoria, por sua vez, é inconteste.

O policial civil Samuel Fraga da Silva, ao ser ouvido em Juízo (Eventos


117/118), disse que  no ano passado, meados do ano, começaram a receber uma série de
denúncias de que o réu estava fazendo o uso indevido do veículo da SAMAE, o Siena; que
ele teria ido num posto de combustível em Orleans e utilizado o carro fora da cidade, Cocal
do Sul; que além de ter sido testemunhado nesses locais, o veículo tinha registro de GPS que
acusava o deslocamento indevido; que colocou os dados do GPS, verificou os locais e se

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deslocaram até os locais dos registros; que deu num bar em Cocal do Sul e numa outra casa
no município, bem como no posto de gasolina em Orleans; que no posto coletaram imagens e
verificaram que o acusado fez uso de bebida alcoólica, saiu do local com a porta aberta,
sugerindo que talvez estivesse alcoolizado; que as informações chegaram por meio de
denúncias anônimas; que a primeira constatação foi que o acusado foi até o posto de
combustível; que depois o delegado pediu os registros para a SAMAE, pois era veículo com
GPS, então constataram outras situações; que as denúncias era de que o acusado estava
frequentando bares e se deslocando até outras cidades com o veículo do órgão; que depois
identificaram os locais por meio do GPS do veículo; que muitas vezes tinha incongruência
das informações, mas não se recorda com exatidão; que confirma que o bar em Cocal do Sul
era o bar Lopes; que inclusive falou com a proprietária e ela confirmou que o acusado ia ao
local frequentemente e até tinha um caderninho para comprar “fiado”; que teve deslocamento
durante o expediente e também registros fora do expediente; que não conseguiu comprovar
que o réu esteve no motel em Criciúma; que tinha registro de deslocamento do veículo, mas
em relação ao motel, não foi comprovado pelas câmeras de monitoramento; que também
verificaram deslocamento para a região de Cocal em que tem ponto de prostituição; que no
posto de gasolina, conseguiram imagens do acusado comprando cerveja e bebendo dentro da
conveniência, bem como saindo parecendo que estava alterado, saindo com pressa, brigando
com outras pessoas no local; que não se recorda da situação envolvendo cone; que confirma
as informações dos relatórios acostados aos autos; que no tocante à residência de João
Batista, foi um colega seu que fez a identificação; que até teve registro de boletim de
ocorrência, porque foi achado droga no local; que o proprietário da residência confirmou que
conhecia Vanderlei e que este esteve lá naquele dia; que não se tinha rasuras nos registros do
GPS; que o controle manual era mal organizado, não especifica local, tempo, ou especificava
muito mal; que alguns trajetos não batiam ou sequer eram mencionados corretamente; que
Vanderlei foi vereador e presidente da câmara; que ano passado ele estava trabalhando na
SAMAE; que no fim daquele mês, o depoente foi transferido para Criciúma, então não
acompanhou dos desdobramentos desta investigação; que ficou bem evidenciado que houve o
mau uso do veículo da SAMAE (…); que foi verificado todos os pontos do GPS; que alguns
se repetiam, bastante deslocamento em Cocal, o que lhes chamou atenção; que não
conseguiram identificar todos os locais, pois o GPS está sempre mudando; que as paradas
eram indicativos que podiam estar se tratando de algum lugar; que o posto de Orleans, o bar
em Cocal, o local no São Simão em que ficou por mais de uma hora, foi o que chamou
atenção; que também teve a região do motel, mas não conseguiram comprovar; que é uma
estrada de chão que só tem motel; que ele ficou lá por volta de 1h; que acha que ficaram bem
claras as alterações; que além dos pontos relatados nos autos, tinha bastante deslocamento,
mas essas são as alterações; que o acusado ficou parado num ponto que é na frente do motel;
que não conseguiu registro ou imagens das câmeras, mas ele ficou 1h lá, hora exata de uso de
motel; que só existe o motel no local, não existe outro ponto que não seja o motel; que ali é
bairro Linha Tigre, interior de São Simão, e tem as cerâmicas; que é uma área de empresa
industrial; que na rodovia tem ponto de prostituição, bem como nas paradas de ônibus, tudo
naquela região.

Edson Manoel, funcionário do SAMAE, em audiência (Eventos 117/118),


relatou que  era nomeado como auxiliar técnico da SAMAE; que assumiu como diretor no
retorno do Prefeito Gustavo; que entre o depoente e o acusado, teve outra pessoa que assumiu

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o cargo; que entrou no órgão em maio/2021 e fazia poucos meses que o acusado era diretor;
que o depoente era oficial técnico, ou seja, ajudava a equipe a executar o trabalho de controle
e tudo mais; que não sabe precisar o número exato, mas acredita que na época o SAMAE
tinha 7 veículos; que o Siena era para fazer visitas em obras e ir em outros municípios quando
necessário, mais para a parte de direção; que geralmente era utilizado pelo diretor; que
quando havia necessidade e não tinha outro veículo a disposição, outros funcionários usavam
o Siena; que na maior parte era o diretor e a parte administrativa que utilizavam o veículo:
Filipo, Luciano, o depoente e o diretor; que geralmente o carro era utilizado durante o
expediente; que se fosse uma viagem mais longa, ultrapassava o horário de trabalho; que tem
uma planilha de controle e a pessoa que vai utilizar o veículo anota a hora da saída, km inicial
e o destino, bem como o retorno; quanto ao abastecimento, é pedido autorização para o
almoxarifado para ir até o posto; que cada pessoa que fosse utilizar, era responsável pelo
preenchimento da planilha; que depois de a ficha estar completa, iria para o escritório para
Filipo dar uma averiguada; que confiavam no preenchimento de cada funcionário; que um
destino mais longo, por exemplo, se iria para Criciúma e parava em Cocal, não se colocava
Cocal, apenas o destino mais distante; que em Orleans, tem o Consórcio dos SAMAES, então
iam fazer visitas; que também já foram até Criciúma solicitar verbas para uma deputada; que
era situações pontuais de irem em outra cidade; que as vezes funcionário também iam buscar
peças; que em Cocal, geralmente era mais passagem para Criciúma; que não sabe apontar
alguma oportunidade em que algum funcionário teve que ir a trabalho para Cocal; que teve
conhecimento depois da situação dos autos, dentro do órgão (…); que da embriaguez, teve
conhecimento por meio da imprensa (…); que o diretor não precisa cumprir horário, é um
cargo comissionado, desde que resolva as situações que cabe a ele; que visitaram bastante
obras juntos; que já foram até o consórcio em Orleans juntos, com o Siena; que Vanderlei as
vezes saia com o carro dele e depois sabiam que por ser caminho, já usava para visitar obra;
que o carro do SAMAE o réu usava bastante também, para visitar obras; que a planilha fica
na prancheta dentro do carro e cada um preenche os dados; que pode acontecer de botar a
data no lugar da hora e ter alguma rasura; que tinha uma relação ótima com Vanderlei.

O assistente administrativo da SAMAE, Filipo de Brida, aduziu que é efetivo


da SAMAE, há 18 anos; que conhece o réu da época em que trabalhou no local; que o
depoente é responsável por compras, licitação; que o réu assumiu a função em fev/2021 e
exonerado em começo de agosto, final de julho; que acredita que a exoneração foi
consequência dos fatos narrados nos autos; que o Siena era de uso exclusivo da direção, para
viagens e voltas; que volta e meia, quando não tinha carro disponível, era cedido; que esse
carro ficava na garagem junto com os demais; que o diretor usava o carro para viagens,
Criciúma, redondezas; que também já usou para ir em bancos, contratos, voltas inerentes ao
serviço; que acontecia de ter que ir para outras cidades com o carro, principalmente
Florianópolis; que volta e meia tinha reuniões; que para Orleans se usava muito, em virtude
do consórcio; que Cocal do Sul, basicamente iam no SAMAE, mas era bem incomum; que
normalmente utilizavam o veículo dentro do horário de trabalho, mas em viagens maiores
ultrapassava; que os veículos do SAMAE tem GPS desde 2019 e os funcionários tinham
conhecimento disso; que o controle era feito por meio da planilha, em que a pessoa anotava o
horário que saía, o local que ia e, quando voltava, a quilometragem e o horário; que
basicamente colocavam o local que ia mesmo, bairro; que Cocal também era passagem, pois
as vezes tinha eventos em Criciúma; que não era comum ter rasuras no controle de ponto, as

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vezes era ruim de identificar umas letras; que volta e meia tinha erro de numeração, mas
rasura não era comum; que confiavam na informação de cada servidor; que não faziam
comparação com o GPS, pois era mais para proteção, se tivesse alguma denúncia
verificavam; que não se recorda de recebeu denúncia específica do dia do posto de gasolina,
mas recebeu uma ligação anônima de direção perigosa, em que falaram da velocidade do
veículo; que não mencionaram quem era, mas sim que era o Siena do SAMAE; que isso foi
mais ou menos na época dos fatos; que na época não conseguiu identificar quem era; que
tinham alguns boatos envolvendo o acusado, comentários de funcionários do SAMAE; que
como tinha esses comentários, Edson levou a situação ao Prefeito; que não sabe quanto
tempo depois o réu foi exonerado, mas acredita que na sequência; que Vanderlei estava no
SAMAE trabalhando todos os dias, em sala separada (…); que volta e meia faziam
manutenção no GPS, por causa do rastreador; que não se recorda de problemas no GPS do
Siena; que não se recorda de fatos de o GPS ter apontado um local e ser outro, apenas de não
ter marcado o local em certo período; que sempre tentaram colocar controle dos veículos do
SAMAE, mas começou em 2021; que antes como não tinha esse controle, botaram GPS; que
acredita que foi Edson que teve a ideia do controle, foi quando ele entrou que passou a ter
mais controle; que lembra de ter ido ao CISAM com o acusado; que não sabe dizer se o
acusado utilizava o carro próprio para ir visitar obras; que se recorda que uma vez o réu pediu
remédio no SAMAE; que não se recorda se levou ele em casa ou ao hospital; que como
Vanderlei ficava mais na sala, era função de diretor, era um trabalho que acha normal.

Vargner Bettiol, também funcionário, ao Magistrado (Eventos 117/118),


relatou que que usava o Siena uma vez a cada três meses; que não tem muito conhecimento
em relação ao uso do carro, pois não ficava muito no SAMAE; que faziam o controle de uso
do veículo na planilha: horário de saída e volta, bem como quilometragem e aonde iriam; que
quando era para fora, tinha que especificar a cidade correta; que se tinha mais de uma cidade,
especificavam todos elas; que não sabe se o Siena era utilizado fora do expediente, exceto em
viagens para fora, que maioria das vezes era Florianópolis; que as vezes iam para Orleans por
conta do consórcio, SAMAE de Orleans; que em relação a Cocal não tem conhecimento; que
tomou conhecimento da situação envolvendo o acusado por meio da imprensa e comentários
dos servidores; que antes disso apenas souberam que um dia o acusado chegou tarde no
SAMAE, bem depois do horário, mas não soube motivo; que não sabe a data específica em
que foi implantado o controle dos veículos: antes tinha, depois acabou e após voltaram; que o
controle foi retomado quando Edson assumiu; que o diretor era Vanderlei.

O encanador Jailson Rossetti, por sua vez, na fase judicial (Eventos 117/118),
sustentou que estava de plantão no dia em que Vanderlei chegou atrasado no SAMAE; que o
réu chegou umas 21:45h e para o depoente, estava normal; que o acusado estava com o Siena
e chegou sozinho; que conversou com Vanderlei, uns 10 minutos; que o acusado disse que
tinha ido ao dentista, comentando que tinha gastado um monte; que ouviu boatos de que o réu
estava embriagado; que ouviu o pessoal comentando, depois foram chamados na delegacia
(…); que o controle é feito mediante anotação da hora, quilometragem e local; que as vezes
tem que ir para Orleans, Cocal; que as vezes falta peça, então buscam em outros locais; que
não acontecia direto, apenas de vez em quando; que depois disso sabe que Vanderlei saiu,
mas como foi não sabe direito (…).

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Ainda, o motorista Wilson Cittadin, em audiência (Eventos 117/118), disse que
era motorista e utilizava todos os veículos do SAMAE; que trabalhava mais com o pessoal da
área técnica (…); que não estava de plantão no dia em que Vanderlei chegou tarde no
SAMAE; que o depoente soube isso por comentários no outro dia, não se recorda por quem;
que não sabe o que Vanderlei disse para ter chegado naquele horário; que ouviu dizer que o
réu estava alterado, diferente, mas não pode afirmar; que ouviu esses comentários no outro
dia já, todo mundo comentava; que não sabe quanto tempo depois o acusado saiu da
SAMAE, foi quando o Nandi assumiu; que não sabe de nada em relação ao réu ir a locais
com o veículo do SAMAE; que sempre teve prancheta para anotar abastecimento, saída, mas
depois parou; que depois voltaram com esse controle; que não sabe especificar as datas; que
não sabe se voltou na época de Edson ou “Déco”; que podia acontecer de preencher a
planinha de controle errado; que já aconteceu com o depoente de botar a hora no lugar da
data; que botavam hora que sai, hora que chega, era bem específico (…).

Andressa Cunha, caixa do Posto São Marcos, ao Juiz (Eventos 117/118),


aduziu que não conhece o acusado, apenas estava no posto quando ele passou com o carro;
que estava trabalhando e o réu chegou no posto com o carro da SAMAE, muito bêbado, por
sinal; que tinha um moço com latinhas; que sua colega Susicleia falou que parecia que
estavam brigando lá fora; que foi verificar e realmente eles estavam brigando; que o acusado
caiu, de tão embriagado que estava naquele dia; que a depoente foi ajudar; que o réu meio
que não conseguia se levantar; que depois ele entrou com o rapaz e eles começaram a
conversar; que o réu pegou uma cerveja para ele e para o rapaz; que depois o acusado entrou
no carro da SAMAE e passou por cima dos cones, arrastando um até o asfalto; que um
frentista fez ele parar, pois o barulho era grande; que o frentista tirou o cone e o réu foi em
direção ao centro de Orleans, fazendo curvas; que ele estava muito embriagado; que não tem
muita lembrança do horário, mas era no período da tarde; que o acusado estava sozinho no
carro do SAMAE; que quando juntou o réu, o cheiro de alcool na boca era visível; que ele
não conseguia segurar o corpo dele com as pernas, a cada passo que dava, iria se segurando
nos vidros ao redor do posto; que no posto ele bebeu uma long neck; que não viu o acusado
chegando, foi notar ele porque sua colega alertou acerca da discussão na rua; que na
delegacia a depoente reconheceu Vanderlei, não tendo nenhuma dúvida de que era a pessoa
que viu no posto; que o acusado saiu com a porta de trás do carro aberta; que o réu saiu em
alta velocidade e deu para ver que estava bem descontrolado (…).

Sua colega, a testemunha  Susicleia Spricigo, perante a Autoridade Judiciária


(Eventos 117/118), afirmou que ela e Andreza estavam no caixa, no meio da tarde, e avistou
no vidro o acusado e outra pessoa em uma conversa bem alterada; que Andreza foi até a rua e
o acusado realmente estava em discussão com o rapaz que estava com ele; que Andreza
entrou para o posto e eles entraram em seguida; que o réu fez a compra de cervejas, não se
recorda se duas ou três, mas uma de cada tem certeza; que ele também pagou um salgado
para o menino que estava junto com ele; que o réu dizia que o menino tinha sido abandonado
pela mãe; que era uma conversa muito estranha, num tom bem alterado; que o rapaz começou
a chorar; que eles fizeram consumo da cerveja e do lanche e saíram dali; que o réu chegou
com o carro do SAMAE; que era um carro branco, sedan, quatro portas; que tinha a
logomarca do SAMAE; que o acusado também estava com o uniforme do SAMAE; que o
acusado chegou falando alto e gesticulava muito; que parecia que ele já tinha consumido

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bebida alcoólica e estava consumindo novamente; que Andreza que viu um dos dois caindo,
mas a depoente não; que não sabe qual deles, mas ela disse que o ajudou a levantar; que
quando ele começou a conversa, parecia que ele era o pai do rapaz; que foram alguns minutos
dessa conversa dentro da conveniência; que não sabe dizer se eles chegaram juntos; que o
menino não aparentava embriagado, apenas nervoso; que o réu saiu do posto com o carro em
alta velocidade, com uma direção até mais perigosa, era um local de bastante movimento; que
ele tava meio que cavando; que confirma que ele saiu levando o cone; que o menino foi com
ele; que foi o acusado quem pagou a conta naquele dia; que de certeza ele pagou duas
cervejas e um salgado; que eles saíram com as duas cervejas na mão; que eles abriram no
local, mas não consumiram tudo.

O frentista Renato Marcelino Nazário, por sua vez, na fase judicial (Eventos


117/118), relatou que o acusado estava embriagado e atropelou os cones; que foi atrás dele,
que saiu rapidamente; que não viu o réu chegando no local, porque estava em atendimento;
que viu quando ele foi no banheiro; que o acusado estava no carro do SAMAE; que o réu
estava alterado, pegou o cara e saiu; que Vanderlei quase atropelou os cones tudo; que não
viu o acusado bebendo cerveja na conveniência nem quando caiu; que o réu saiu dirigindo
fora do comum, saiu muito rápido (…); que não viu o acusado com cerveja na mão; que não
se recorda qual era o carro, mas era de empresa.

Ivonete Ignes Dal Toé Pagnan, proprietária do Bar Lopes Lanches, em


audiência (Eventos 117/118), sustentou que  vende refeição e bebida alcoólica no seu
estabelecimento; que funciona das 5:30h até 20h; que confirma que Vanderlei chegou no
local com o carro do SAMAE e já estava alterado; que ele tomou cerveja e depois saiu com o
carro fazendo cavalinho de pau; que não se recorda o horário, mas era de dia; que até teve um
pessoal que reclamou de ele estar ali; que então o acusado disse que trabalhava por telefone;
que várias vezes o pessoal se incomodou; que ele foi umas duas vezes no local com o carro
da SAMAE; que outras vezes ele foi com o carro próprio, 6:30h ele já estava em Cocal com o
menino; que ele sempre ia ao local em horário de trabalho: 9h, 11h, 13h; que ele bebia
cerveja; que várias vezes o réu saiu dirigindo de forma errada; que na verdade, não era só
embriagado, acha que tinha uso de drogas; que ele era uma pessoa muito gentil, muito
querida, gostava de atender, mas nos últimos tempos tinha umas atitudes estranhas; que nunca
viu o réu com a roupa do SAMAE, apenas com o carro; que ele “passava” fiado (…); que o
acusado sentava no cantinho dele e quando chegava alguém conhecido, escondia a
cervejinha, botava meio camuflado para que a pessoa não visse; que não teve nenhuma briga
com o réu; que discutiu com o acusado por causa de “Carlinhos”, mas não mudou o
tratamento com ele, trata todos iguais; que o réu não tem dívida com a depoente, nem ela com
Vanderlei.

A testemunha João Batista Vidoto não foi ouvida em Juízo. Porém, na


delegacia de polícia  (Autos n. 5003455-67.2021.8.24.0078 - Evento 1 - "Vídeo 13"),
sustentou que começo de 2016, o acusado apareceu para fazer um conserto no carro dele; que
depois fez uns 3/4 serviços e ele virou cliente; que no dia 26, o acusado chegou em sua casa a
pé, pois o carro tinha faltado gasolina, na entrada, bem na entradinha; que Vanderlei passou
por cima do canteiro; que era um veículo branco, da SAMAE; que o réu foi buscar gasolina,
voltou, colocou; que Vanderlei ficou uma hora, "uma hora e pouco" no local (...).

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As testemunhas  Naglyon Goulart, Moisés da Rosa, Pedro Celio Pereira,
Daniela Machado e Tania Regina Rabelo nada acrescentaram acerca dos fatos, sendo
meramente abonatórias (Eventos 117/118).

O acusado  Vanderlei Marcírio, na fase policial (Autos n. 5003455-


67.2021.8.24.0078 - Evento 1 - "Vídeo 21"), fez uso de seu direito constitucional de
permanecer em silêncio.

Sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, ao ser questionado por este


Magistrado, afirmou (Eventos 117/118):

Fato 1: que a acusação é falsa; que estavas em tratativa com o Sr. Ariel, que
estava trabalhando neste endereço; que foi buscá-lo para qui fizesse orçamentos urgentes que
a SAMAE precisava; que eram rachaduras de caixas d´água, coisas assim; que esteve ali
algumas vezes; que esteve na lanchonete, se sentou lá algumas vezes com ele para fazer
lanche; que Ivonete é sua inimiga, pois ela se declarou sua inimiga por um fato grave que
aconteceu no local, num sábado; que inclusive emprestou dinheiro para ela, que nunca mais
lhe pagou; que emprestou R$ 500,00 e em outra oportunidade mais um trocado; que não
bebia naquele local; que toma medicamentos e as vezes sua língua fica meio travada e as
pessoas confundem; que Ivonete lhe odeia; que no dia dos fatos foi falar com o pedreiro que
trabalhava próximo ao bar, na casa do Teles; que na volta passou no barzinho, pois ainda era
amigo de Ivonete; que só passou no local, deixou o carro no lado e foi a pé na obra, que
ficava 100m; que era beira de asfalto, se quisesse fazer algo de errado iria num lugar
escondido.

Fato 3: que é a acusação é falsa; que nesse dia estava indo até Criciúma, a
serviço do SAMAE, iriam lançar três programas e foi pegar orçamentos, na Due Imagem;
que era um adia muito quente e passou mal; que o depoente dá entrada com frequência no
hospital, com pressão alta e baixa; que parou em frente a Cerâmica Gisele, pois tinha umas
árvores; que não sabe de foi vinte minutos ou meia hora, e não teve coragem de seguir para
Criciúma; que chupou uma bala e veio de volta para Urussanga; que parou na mesma
paradinha que é acostumado a parar, pegou uma água, comeu um salgado e veio embora para
o SAMAE; que não sabe se foi nesse dia que alguém lhe levou em casa; que passou no Bar
Lopes para tomar uma água e comer um salgado.

Fato 4: que nunca entrou num motel e não entraria com carro público; que nesse
dia, tinha uma reunião marcada, era uma segunda-feira; que estava com um projeto na mão
para implantar energia solar em toda a SAMAE; que tinha que resolver esse problema e
outros em Criciúma; que saiu umas 11h e iria almoçar por lá; que todos os SAMAE´s sabem
que a proteção do carro estava quase caindo sempre e não tinha sido mandado arrumar; que
estava chegando próximo a Cocal e a proteção do motor caiu e enroscou embaixo do carro;
que então parou o veículo no local e avistou um pavilhão que parecia uma oficina; que se
dirigiu até o local e perguntou se ele podia arrumar; que a pessoa disse que não, pois era
chapeador, e lhe indicou para falar com Gaúcho, que fazia socorro mecânico; que foi atrás
desse rapaz e achou no caldo de cana antes de Cocal; que deixou a chave do carro para ele e
disse que tinha que fazer umas voltas; que pediu para ele ir a hora que pudesse e que falou

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que iria fazer as voltas a pé em Cocal; que naquele dia estava sem cinco dentes, pois estava
fazendo prótese; que fez as voltas e foi no dentista; que, quando saiu, o carro chegou; que a
primeira coisa que fez foi ver o celular, que tinha esquecido no carro; que tinha uma chamada
de Edson Manoel (oficial técnico) e retornou na hora; que Edson disse que teve uma denúncia
que o carro estava em alta velocidade e que foram olhar no GPS e estava parado na frente de
um motel; que voltou para dentro do dentista e filmou, para dizer que estava no local; que
disse para Edson que tinha deixado o carro para arrumar e que a pessoa foi testar em uma
estrada; que tal pessoa disse que quando foi testar, teve um problema na estrada que é uma
região de motel; que não trouxe essa pessoa na audiência porque morreu de Covid; que pegou
o carro, largou ele e foi para o SAMAE; que guardou o carro e o outro dia de manhã foi
explicar para os rapazes e disse que tinha o vídeo que estava no dentista; que pagou o
mecânico, R$ 120,00, do seu bolso, pois não tinha nota fiscal; que Felipo disse para não
esquentar, pois não foi a primeira vez que um mecânico tinha andado com o carro do
SAMAE; que é um carro velho e não tem lugar específico de manutenção, é aonde dá na
telha, não tem nem licitação; que como era uma coisa pequena, proteção de motor, não ia
incomodar ninguém.

Fato 5: que os fatos são falsos; que era uma segunda-feira, dia em que
normalmente acordava muito ruim; que o médico disse que estava tomando os remédios
errados e demais; que chegou no SAMAE e teve um problema sério, ficou estressado, o clima
já não estava bom; que estava muito depressivo, ansioso; que almoçou normal, cumpriu sua
manhã de serviço; que a noite, tinha marcado para levar dois projetos no gabinete da
deputada (…); que se dirigiu para o CISAM, em Orleans, para falar com o engenheiro do
SAMAE sobre os projetos; que antes de ir para o CISAM, resolveu ir no posto, pois percebeu
que o carro estava com pouco combustível; que chegou nesse posto e colocou o carro no lado
do banheiro; que tinha um rapaz sentando, um mendigo, que falava com uma pessoa, pedia
algo; que a pessoa chamou ele de “craquento”, “sujo”, “nojento”; que se meteu e disse pro
rapaz ter calma, pois iria ajudar; que esse cara não gostou e lhe disse umas coisas; que
retrucou; que quando foi levantar o rapaz que estava sentado, esse indivíduo lhe empurrou e
lhe deu um tapa na cara; que não sabe porque ninguém do posto viu isso; que foi no carro,
pegou o álcool em gel e passou; que foi no banheiro meio tonto, surtado, ai perdeu a noção de
tudo, dali em diante não sabe o que aconteceu, ficou louco; que estava sob efeito de remédios
e perdeu a noção; que o rapaz, na rua, já tinha lhe pedido algo para comer e uma cervejinha e
uma passagem para ir embora para São Joaquim; que esse cara que lhe bateu, alguém tirou
ele dali; que entrou na conveniência com o mendigo, meio na marra, pois os caras do posto
não faziam questão que ele entrasse; que é meio ativista e disse que ele tinha o direito de
sentar e comer lá dentro igual todo mundo; que discutiu, brigou e depois não sabe; que disse
que iria tirar o rapaz dali e então deu R$ 50,00 e levou próximo à rodoviária; que em relação
à porta do carro aberta, o rapaz abriu a porta traseira, jogou o saco dele e, ao fechar, deixou
entreaberta; que não costuma beber; que foi um surto; que depois daquele acontecimento não
prestou mais, foi parar em uma clínica; que foi para abastecer o carro e acabou nem fazendo
(…); que não registrou boletim de ocorrência, porque também agrediu a pessoa; que não
conhecia o mendigo, nunca tinha visto ele; que recorda que na rua, ele tava dizendo que
queria comer e uma cerveja; que ai o cara disse: vai dar cerveja pra esse “craquento”; que
depois que levou o tapa, ficou louco; que esqueceu o que aconteceu posteriormente e foi se
recordando a partir do momento em que saiu do local; que em relação à residência no Bairro

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São Simão, afirma que depois do acontecimento em Orleans, ficou surtado; que foi se
acalmando, mas achou que não tinha condições de ir na CISAM; que então decidiu que iria
direto para Criciúma, falar com a Giovana; que, quando estava perto do São Simão, faltou
gasolina no carro; que com a confusão toda do posto, não botou gasolina; que então parou o
veículo e lembrou que morava um rapaz que trabalhava com carro, o Vidotto; que já tinha ido
no local levar um carro seu (…); que nesse dia foi até a casa dele e tinha uns parentes dos
EUA que tinham chegado naquele exato momento; que então deu um tempo para aquele
momento de família e depois disse que tinha que ir para Criciúma e estava sem gasolina; que
ele pegou um parente e foram buscar gasolina; que depois eles voltaram, colocaram a
gasolina, conversaram e o depoente voltou para o SAMAE; que tinha uns plantonistas no
SAMAE, ficou uns 15/20 minutos com eles; que nem foi no CISAM (…); que tinha marcado
com a deputado final da tarde; que ´´e um diretório, eles ficam lá, atendem até às 22h; que
nas reuniões políticas, fica o Wilian e a deputada; que não marcava horário, só avisava, era
bem recebido, pois era presidente do partido; que chegou em Urussanga por volta 21:45h,
pelo que os plantonistas disseram (…); que depois prestou explicações para Filipo e Edson
Manoel; que não avisou para a deputada que não iria mais, pois pra ela não precisa avisar.

Pois bem!

Em que pese a versão apresentada pelo  réu,  as provas existentes nos autos
revelam, com segurança, no tocante aos Fatos 1, 3 e 5,  que  na qualidade de funcionário
público, Vanderlei desviou, em proveito próprio, de  quantia oriunda dos cofres
públicos, correspondente a gastos com combustível do veículo utilizado na viagem particular,
a hora-trabalhada do servidor público, além de ter exposto o automóvel a desgaste inerente ao
uso, tudo isso para suprir finalidade particular de frequentar estabelecimento manifestamente
alheio ao interesse público e da autarquia.

Em relação aos Fatos 1 e 3, além das declarações da testemunha Ivonete, que


confirmou que o réu esteve em seu bar - local em que consumia bebida alcoólica - nos dias
28 de junho de 2021 e 5 de julho de 2021, e do policial Samuel Fraga da Silva, extrai-se do
relatório policial (Autos n. 5003455-67.2021.8.24.0078 - Evento 1 - Anexo 1 - fl. 35):

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No que tange ao Fato 5, de igual forma, tem-se as declarações das testemunhas


Andressa, Susicléia e Renato, funcionários do Posto de Combustível. Se isso não bastasse,
cola-se a imagem da câmera de segurança do estabelecimento, que comprova que o réu
esteve no local com o carro da autarquia (Autos n. 5003455-67.2021.8.24.0078 - Evento 1 -
Anexo 1 - fl. 22):

Ainda, ficou demonstrado que, na mesma data, ou seja, 26 de julho de 2021, o


acusado foi até a casa de João Batista Vidoto, com o veículo da SAMAE, e lá permaneceu
por mais de duas horas.

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Nesse sentido, tem-se as declarações do próprio João quando ouvido na
Delegacia de Polícia, do policial Samuel Fraga da Silva, bem como o contido no relatório
policial, veja-se (Autos n. 5003455-67.2021.8.24.0078 - Evento 1 - Anexo 1 - fl. 38):

Conforme bem ressaltou a representante do Ministério Público, "não há sequer


indícios de que o réu tenha se dirigido aos locais para realizar qualquer atividade afeta ao
interesse público da autarquia a que estava funcionalmente vinculado."

E ainda:

"(...) é possível aferir que: (a) o valor total consumido em combustível nos
períodos indicados foi de R$ 201,19 (sendo R$ 36,60 no mês de junho e R$ 164,59 no mês de
julho); (b) o custo de depreciação do veículo foi de R$ 13,54; e (c) as horas de trabalho
pagas ao servidor enquanto se estava envolvido em assuntos particulares, durante o
expediente e fazendo uso de veículo oficial, foram quantificadas em R$ 1.640,20."

É certo, portanto, que o réu praticou, por três vezes,  o  crime de  peculato,
tipificado no art. 312 do Código Penal. 

A propósito, já decidiu o Tribunal de Justiça de Santa Catarina:"Incorre no


crime de peculato, na modalidade de desvio, aquele que, na condição de servidor público, dá
ao objeto material uma aplicação diversa daquela que lhe foi determinada, em benefício

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próprio ou de terceiro".   (TJSC, Apelação Criminal n. 0001777-36.2014.8.24.0050, do
Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel. Luiz Antônio Zanini Fornerolli, Quarta Câmara
Criminal, j. 30-09-2021)

No mais, salienta-se que, conforme dispõe a Súmula 599 do STJ, "O princípio
da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública."

Desse modo, a condenação em relação ao Fatos 1, 3 e 5, narrados na


denúncia, é medida de rigor.

Diferente, entretanto, quanto ao narrado pelo Ministério Público no Fato 4.

Isso porque, tenho que não há a demonstração da materialidade delitiva.

Como visto, o próprio policial civil Samuel Fraga da Silva, responsável pelas
investigações, ao ser ouvido em Juízo, disse que "que não conseguiu comprovar que o réu
esteve no motel em Criciúma; que tinha registro de deslocamento do veículo, mas em relação
ao motel, não foi comprovado pelas câmeras de monitoramento", e que "que também teve a
região do motel, mas não conseguiram comprovar; que é uma estrada de chão que só tem
motel; que ele ficou lá por volta de 1h".

Além disso, extrai-se do Relatório de Investigação n. 12C/2021, acostado ao


Evento 4 dos Autos n. 5003455-67.2021.8.24.0078:

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Assim, não restou devidamente comprovado que  o denunciado utilizou
indevidamente veículo oficial da autarquia denominada Serviço Autônomo Municipal de
Água e Esgoto – SAMAE para fins particulares, no dia 12 de julho de 2021.

Nesse sentido, anoto que ""8.2: quando a acusação não produzir todas as
provas possíveis e essenciais para a elucidação dos fatos, capazes de, em tese, levar à
absolvição do réu ou confirmar a narrativa acusatória caso produzidas, a condenação será
inviável, não podendo o magistrado condenar com fundamento nas provas remanescentes".
[STJ, Resp. 1940381, Min. RIBEIRO DANTAS, Sexta Turma]" (TJSC, Apelação Criminal n.
5070708-77.2020.8.24.0023, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, rel. Alexandre Morais
da Rosa, Segunda Câmara Criminal, j. 27-06-2023).

Por tal razão, a absolvição, neste ponto (Fato 4), é medida que se impõe.

B) Do crime previsto no art. 299 do Código Penal - Fato 2

Prevê o artigo 299 do Código Penal:

Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou
nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de
prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a


três anos, e multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis, se o documento é particular. 

No caso dos autos, tem-se que é medida de rigor a  aplicação do princípio da


consunção,  já que o delito narrado no Fato 2 da denúncia foi praticado  com o fim de
garantir  o exaurimento do crime descrito no Fato 1 (art. 312 do CP), tratando-se de fato
posterior não punível.

Sabe-se que o critério de absorção depende da relação de crime-meio e crime-


fim para ser aplicado, ou seja, um delito deve ser  meio  para a prática do outro, sendo este
último mais amplo.

Extrai-se da jurisprudência:

"APELAÇÕES CRIMINAIS. CRIME CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.


PECULATO (ART. 312, CAPUT, DO CP). SENTENÇA ABSOLUTÓRIA, SOB O
FUNDAMENTO DE CRIME DE BAGATELA.    RECURSO MINISTERIAL ALMEJANDO A
CONDENAÇÃO NOS MOLDES DA DENÚNCIA. RECORRIDOS QUE FIZERAM INSERIR
INFORMAÇÕES FALSAS EM DOCUMENTOS COM O FIM DE CRIAR OBRIGAÇÃO
PARA O ESTADO. MATERIALIDADE DOS FATOS DEMONSTRADA PELA PROVA
DOCUMENTAL. AUTORIA CONFESSADA JUDICIALMENTE EM CONSONÂNCIA COM
O CONJUNTO PROBATÓRIO DOS AUTOS. VERSÃO DEFENSIVA DE QUE O VALOR
DESVIADO SE DESTINAVA A QUITAR DÉBITO DO PODER PÚBLICO PARA COM UM
DOS RÉUS, NO VALOR DE UMA DIÁRIA. IMPOSSIBILIDADE. ACUSADO QUE
DEVERIA TER BUSCADO SUA PRETENSÃO PELAS VIAS LEGAIS. DELITO
CONFIGURADO.   PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE NOS
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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. BEM JURÍDICO TUTELADO
(PROBIDADE) QUE NÃO SE LIMITA AO VALOR ECONÔMICO DA VANTAGEM
INDEVIDA. VALOR, ADEMAIS, QUE NÃO PODE SER CONSIDERADO ÍNFIMO.
CONDENAÇÃO QUE SE IMPÕE.   APELO DEFENSIVO. CRIME CONTRA A FÉ
PÚBLICA. FALSIDADE IDEOLÓGICA (ART. 299, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CP).
SENTENÇA CONDENATÓRIA. REQUERIDA ABSOLVIÇÃO AO ARGUMENTO DE
AUSÊNCIA DE DOLO. RÉUS QUE TINHAM PLENA CONSCIÊNCIA DA MANIFESTA
ILEGALIDADE DE FAZER INSERIR DADOS FALSOS EM DOCUMENTOS
PÚBLICOS E PRIVADOS. INTENÇÃO DE ALTERAR A VERDADE SOBRE FATO
JURIDICAMENTE RELEVANTE DEMONSTRADA. REQUERIDA APLICAÇÃO DO
PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. CRIME-MEIO PRATICADO COMO CONDIÇÃO PARA
CONSUMAR O CRIME-FIM. FALSIDADE ABSORVIDA PELO PECULATO.  
RECURSOS MINISTERIAL E DEFENSIVO PARCIALMENTE PROVIDOS." (TJSC,
Apelação Criminal n. 2013.074990-6, de Joaçaba, rel. Alexandre d'Ivanenko, Terceira
Câmara Criminal, j. 25-03-2014).

Portanto, reconheço o delito narrado no Fato 2 como crime-meio para a prática


do  crime-fim (Fato 1), aplicando o princípio da consunção para julgar improcedente a
denúncia neste particular.

C) Do crime do artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro - Fato 6

Dispõe o Código de Trânsito Brasileiro: 

Art.  306.    Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da
influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência:

Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

Porém,  verifica-se nos autos a ausência de provas de materialidade da prática


delitiva.

Não se ignora que, conforme §2º, do art. 306 do CTB, "A verificação do
disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia ou toxicológico, exame
clínico, perícia, vídeo, prova  testemunhal  ou outros meios de prova em direito admitidos,
observado o direito à contraprova.” (grifou-se).

Porém, em se tratando de crime de embriaguez ao volante, vale  destacar a


necessidade de elementos concretos e seguros da prática delitiva, ou seja, constatada
alteração de capacidade psicomotora do agente condutor do veículo.

No caso dos autos, não foi realizado  teste de etilômetro  ou elaborado auto de
constatação de sinais de alteração da capacidade psicomotora.

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Não se tem, sequer, declarações de agentes estatais, dotados de fé-
pública, somente as declarações dos funcionários do posto de combustível, Andressa Cunha,
Susicléia Spricigo e Renato Marcelino Názario (transcrições contidas no item "A" da presente
decisão).

A propósito:

"APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE TRÂNSITO. EMBRIAGUEZ AO


VOLANTE (ART. 306, §1º, I, DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO). ILÍCITO
PRATICADO NA VIGÊNCIA DA LEI N. 12.760/2012. SENTENÇA CONDENATÓRIA.
APELO DEFENSIVO. PLEITO DE ABSOLVIÇÃO POR AUSÊNCIA DE PROVAS.
ACOLHIMENTO. PROVA ORAL INSUFICIENTE PARA LASTREAR VEREDITO
CONDENATÓRIO. APELANTE QUE NÃO FOI FLAGRADO POR QUALQUER
AGENTE PÚBLICO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. PROVA JUDICIAL
FRÁGIL. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DO IN DÚBIO PRO REO. DÚVIDA QUE
MILITA A FAVOR DO RÉU. ABSOLVIÇÃO QUE SE IMPÕE.   RECURSO CONHECIDO
E PROVIDO.   As provas produzidas mostraram-se insuficientes para subsidiar condenação,
não se podendo afirmar, com propriedade, que o recorrente tenha conduzido o veículo
automotor com a capacidade psicomotora alterada pela influência de álcool.   Em respeito
ao princípio in dubio pro reo: "[...] deve-se privilegiar a garantia da liberdade em
detrimento da pretensão punitiva do Estado. Apenas diante de certeza quanto à
responsabilização penal do acusado pelo fato praticado é que poderá operar-se a
condenação. Havendo dúvidas, resolver-se-á esta em favor do acusado" (AVENA, Norberto.
Manual de Processo Penal. 3. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
Método, 2015)."  (TJSC, Apelação Criminal n. 0005576-73.2015.8.24.0011, de Brusque, rel.
Luiz Neri Oliveira de Souza, Quinta Câmara Criminal, j. 18-06-2020) (grifou-se).

Se isso não bastasse, a fotografia extraída o relatório policial (Autos


n. 5003455-67.2021.8.24.0078 - Evento 1 - Anexo 1 - fl. 23) não é suficiente para demonstrar
a alteração da capacidade psicomotora do acusado Vanderlei:

Assim, inexistente a prova da materialidade do delito o acusado, deve ser


absolvido do crime imputado.

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DA DOSIMETRIA DA PENA - Fatos 1,3 e 5

Na primeira fase da dosimetria, analisando as circunstâncias judiciais do art. 59


do Código Penal, verifico que a  culpabilidade  (grau de reprovabilidade da conduta) não
justifica a exasperação da pena. O réu não apresenta  antecedentes. A  conduta social  é
normal. Não existem elementos indicadores da  personalidade  do réu. A  motivação  é
inerente ao tipo, deixando de ser considerada. As circunstâncias e as consequências foram
normais ao delito. Não há comportamento da vítima a ser sopesado.

Considerando o conjunto dessas circunstâncias e os limites mínimo e máximo


cominados, fixo a pena base em 2 (dois) anos de reclusão,  além do pagamento de 10  dias-
multa, estes fixados em 1/30 do salário mínimo vigente na data dos fatos.

Na segunda fase da dosimetria, ausente agravantes e atenuantes.

Na terceira fase, ausentes causas de diminuição ou aumento da pena. 

Porém,  uma vez reconhecido que o denunciado desviou em proveito próprio


quantia oriunda dos cofres públicos, configurando três crimes de peculato –todos da mesma
espécie, cometidos pelas mesmas condições de tempo, com identidade de lugar e maneira de
execução semelhantes –, devem os crimes subsequentes ao primeiro ser considerados a
continuação deste.

Dispõe o artigo 71, caput, do Código Penal: 

Art. 71. Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras
semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe
a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em
qualquer caso, de um sexto a dois terços.

Desse modo, aplico a pena de um só dos delitos, aumentada de 1/5 (um quinto).

Relativamente à exasperação da reprimenda:

"APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO,


EM  CONTINUIDADE  DELITIVA (POR 3 VEZES), NOS TERMOS DOS ARTIGOS 344,
C/C  71, AMBOS DO CÓDIGO PENAL. RECURSO DA DEFESA. ALMEJADO A
READEQUAÇÃO DOSIMÉTRICA DA PENA, A FIM DE ALTERAR A FRAÇÃO
REFERENTE À TERCEIRA FASE DA REPRIMENDA - CONTINUIDADE DELITIVA), PARA
1/5 (UM QUINTO). POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. REQUERIDO ALTERAÇÃO DO
REGIME INICIAL FECHADO PARA O SEMIABERTO. DESCABIMENTO. APELANTE
REINCIDENTE EM CRIME DOLOSO, ARTIGO 33, § 2º, B, DO CÓDIGO PENAL.
DECISÃO QUE NÃO MERECE REPAROS, NO PONTO. PARECER DA PROCURADORIA-
GERAL DE JUSTIÇA FAVORÁVEL AO PARCIAL PROVIMENTO. RECURSO CONHECIDO
E PARCIALMENTE PROVIDO.   " - Em se tratando de dois delitos (1 + 1), o aumento será
o de 1/6 (um sexto) sobre a pena imposta ao mais grave. Quando forem três crimes (1 + 2),
será de 1/5 (um quinto), quando forem quatro (1 + 3), será de 1/4 (um quarto), cinco (1 +
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4), será de 1/3 (um terço), seis (1 + 5), a ½ (metade), e, por fim, de 2/3 (dois terços), quando
forem sete ou mais (1 + 6) (Apelação Criminal n. 02.020543-0, de Xanxerê, rel. Des. Irineu
João da Silva).[...]. (TJSC, Apelação Criminal n. 0016998-86.2009.8.24.0033, de Itajaí, rel.
Des. Ariovaldo Rogério Ribeiro da Silva, Primeira Câmara Criminal, j. 28-02-2019).   " -
Conquanto não se possa precisar o exato número de vezes que os atos foram praticados, se a
prova produzida demonstrar que se deram por ao menos de 3 (três) vezes, é devida a
manutenção da fração de aumento da  continuidade  delitiva na fração de 1/5 (um quinto).
[...]." (TJSC, Apelação Criminal n. 0003792-25.2011.8.24.0036, de Jaraguá do Sul, rel. Des.
Carlos Alberto Civinski, Primeira Câmara Criminal, j. 24-10-2018). (TJSC, Apelação
Criminal n. 0006135-27.2013.8.24.0067, de São Miguel do Oeste, rel. Hildemar Meneguzzi
de Carvalho, Primeira Câmara Criminal, j. 07-11-2019) (grifou-se).

Dessa forma, fixo a pena, definitivamente, em 2 (dois) anos, 4 (quatro) meses e


24 (vinte e quatro) dias de reclusão e 12 (doze) dias-multa, estes fixados em 1/30 do salário
mínimo vigente na data dos fatos.

REGIME, SUBSTITUIÇÃO E SURSIS

O regime inicial do cumprimento da sanção é o aberto (art. 33, § 2º, alínea "c"
do CP).

Com fundamento no artigo 44, do Código Penal, substituo a pena privativa de


liberdade acima imposta por 2 (duas) restritivas de direitos,  consistente  em prestação
pecuniária de 2  (dois)  salários mínimos em favor de entidade a ser indicada na fase de
execução penal, além de prestação de serviços à comunidade pelo tempo da condenação. 

Substituída a pena, descabe o sursis (art. 77, inc. III , do CP).

III- DISPOSITIVO

Ante o exposto,  JULGO  PARCIALMENTE PROCEDENTE  a pretensão


acusatória para, em consequência:

A)  CONDENAR  o acusado VANDERLEI MARCIRIO  ao cumprimento de


pena privativa de liberdade de 2 (dois) anos, 4 (quatro) meses e 24 (vinte e quatro) dias de
reclusão,  em regime inicial aberto (substituída na forma acima mencionada),  além do
pagamento de 12 (doze) dias-multa, estes fixados em 1/30 do salário mínimo vigente na data
dos fatos, por infração ao art. 312 do Código Penal, por três vezes (Fatos 1, 3 e 5);

B) ABSOLVER o acusado VANDERLEI MARCIRIO  quanto à  prática dos


crimes previstos no artigo 299 do Código Penal (Fato 2) e do artigo 312 do Código Penal
(Fato 4), com fulcro no artigo 386, inciso VII, do Código de Processo Penal.

A multa será paga de acordo com o art. 50 do Código Penal.

Custas pelo acusado.

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CONCEDO ao acusado o direito de recorrer em liberdade.

Após o trânsito em julgado da sentença:

a) lance-se o nome do réu no rol dos culpados; b) expeça-se o respectivo


Processo de Execução Criminal; c) efetue-se a cobrança da pena pecuniária e, não havendo
pagamento, certifique-se o valor da multa devida e encaminhe-se cópia da certidão à
Gerência de Arrecadação e Crédito Tributário – GERAR da Diretoria de Administração
Tributária da Secretaria de Estado da Fazenda, por meio eletrônico (Sistema de
Administração Tributária – SAT), conforme art. 354 c/c o art. 355, ambos do CNCGJ; d)
realizem-se as devidas comunicações à Justiça Eleitoral e à Corregedoria-Geral de Justiça,
para os fins legais. 

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Oportunamente, arquive-se.

Documento eletrônico assinado por ROQUE LOPEDOTE, Juiz de Direito, na forma do artigo 1º, inciso III, da Lei
11.419, de 19 de dezembro de 2006. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço
eletrônico https://eproc1g.tjsc.jus.br/eproc/externo_controlador.php?acao=consulta_autenticidade_documentos, mediante
o preenchimento do código verificador 310047724090v72 e do código CRC f333cbbd.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): ROQUE LOPEDOTE
Data e Hora: 24/8/2023, às 17:4:46

1. NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de direito parte especial: arts. 213 a 361. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019, p.
483
2. NUCCI. Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 14., ed., RJ: Forese, 2018, p. 1117
5004114-76.2021.8.24.0078 310047724090 .V72

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