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TCC - Artigo A INFLUÊNCIA DO APADRINHAMENTO AFETIVO NA ADOÇÃO TARDIA
TCC - Artigo A INFLUÊNCIA DO APADRINHAMENTO AFETIVO NA ADOÇÃO TARDIA
TARDIA1
RESUMO: O presente artigo tem o objetivo de analisa questões relativas à adoção tardia e o
instituto do apadrinhamento, como forma de garantia de direito a convivência familiar e
comunitária. A pesquisa deu-se por meio de artigos e monografias acadêmicas,
documentários, reportagens referentes a adoção em sentido amplo. O estudo evidenciou, que
a adoção de adolescentes e crianças maiores de 2 anos ainda enfrenta grandes desafios e
preconceitos, mas tal cenário vem sendo modificado gradativamente com algumas iniciativas,
como o apadrinhamento afetivo, prática reconhecida por lei desde 2017. Desse modo, o
apadrinhamento afetivo constitui alternativa eficaz e praticável com programas de incentivo,
na busca e garantia de direitos fundamentais e vínculos afetivos que possibilitam o convívio
fora das instituições de acolhimento.
ABSTRACT: This article aims to analyze issues related to late adoption and the sponsoring
1
CASTRO, Eduarda Cristina; SANTOS, Mariana Moreira dos; MARRA, Natália Cardoso. A influência do
apadrinhamento afetivo na adoção tardia. 2022. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito),
das duas primeiras autoras (alunas), sob orientação da terceira autora (Professora) – Centro Universitário Una
Contagem, Contagem/MG, 2022.
2
Graduanda do 10º período do Curso de Direito pelo Centro Universitário Una Contagem.
3
Graduanda do 10º período do Curso de Direito pelo Centro Universitário Una Contagem
4
Professora pelo Centro Universitário UNA, advogada, Mestre em Gestão Social e Doutora em Ciências Sociais.
institute, as a way of guaranteeing the right to family and community coexistence. The
research was conducted through academic articles and monographs, documentaries, reports
related to adoption in a broad sense. The study showed that the adoption of adolescents and
children older than 2 years still faces great challenges and prejudices but this scenario has been
gradually modified with someone with some initiatives, such as affective patronage, practice
recognized by law since 2017. Thus, affective patronage is an effective and feasible alternative
with incentive programs, in the search and guarantee of fundamental rights and affective bonds
that enable living outside the host institutions.
1. INTRODUÇÃO
Inúmeras crianças e adolescentes encontram-se confinadas em instituições de
acolhimento, distante do convívio familiar. É uma realidade árdua, visto que muitas crianças
acabam crescendo sem a oportunidade de serem adotadas, e ao completar a maioridade não
podem continuar nos abrigos de acolhimento.
Incontáveis são os casos em que os adotantes abandonam o processo de adoção, pois
já se passaram muitos anos e com isso, perdem o estímulo, a saúde física e mental para receber
e criar um filho. Nessa perspectiva, foi possível concluir que institutos alternativos como o
apadrinhamento, além de campanhas e projetos feitos por organizações governamentais ou
privadas, são essenciais para a garantia de uma vida digna aos jovens acolhidos, que não foram
adotados e garantir direitos elencados pela Constituição.
O instituto adoção é totalmente distinto do apadrinhamento, todavia existem casos em
que os padrinhos afetivos criam uma conexão tão forte com o apadrinhado que decidem adotá-
lo.
Dessa forma, é de suma importância a criação de projetos de incentivo a adoções
tardias e ao apadrinhamento, pois busca garantir os direitos elencados no artigo 227 da
Constituição Federal e consequentemente reforça o princípio do melhor interesse da criança.
Para trabalhar o seu objetivo, a presente pesquisa apresenta a evolução histórica, tanto
mundial quanto nacional, do instituto adoção, apresentando seu conceito, formas, desafios e
processo. Em seguida foi tratado sobre o direito à convivência comunitária e familiar, e as
formas que o poder público disponibiliza para a garantia desse direito, por exemplo, o
acolhimento institucional. Por fim, foi apresentado o projeto do apadrinhamento, suas
especificações e se é uma alternativa eficaz de garantia de direitos fundamentais para crianças
institucionalizadas.
2. ADOÇÃO
2.1. Evolução histórica no mundo
A adoção é um dos institutos mais antigos do direito de família. Mas, não se sabe
historicamente quando surgiu de fato, mas, é possível identificar suas manifestações na mais
remota antiguidade, como entre os egípcios, hebreus, gregos e romanos.
Na antiguidade, a adoção tinha uma perspectiva totalmente voltada para a religião,
onde as crenças primitivas impunham a necessidade de conceber filhos para impedir a
extinção do culto familiar doméstico, que era apontado como a base da família na época. E
para quem não tinha descendentes, a adoção, era a forma de dar continuidade ao culto
doméstico. Segundo Jason Albergaria (1996, p.29), “[...] o filho adotado continuava o culto
do pai adotivo. Posteriormente a adoção vai ter função de transmitir ao adotado o patrimônio
do adotante”.
Na época Pré-Romana, não se tem mais uma conspiração religiosa para o instituto e
sim de direito, onde os primeiros registros de regulamentação por lei do instituto foi pelo
Código de Hamurábi (1.728 – 1686 a.C.), na qual disciplinava, em onze dispositivos, na seção
XI, com título de “Adoção, ofensas aos pais, substituição de criança” (GHIDORSI, 2017).
Já na Roma Antiga, o direito romano institui a adoção, como um ato solene que se
admitia como filho outro que não era proveniente de sua prole natural (GHIDORSI, 2017).
Na Idade Média, com a grande expansão do catolicismo, a adoção volta a ter um viés
religioso e cai em desuso, pois afrontava os interesses da Igreja Católica. Então, aqueles que
não pudessem gerar filhos por meio de uma prole biológica, deixariam todo seu patrimônio
para a Igreja (GHIDORSI, 2017).
Na França, em 1804, é resgatado novamente o instituto da adoção pelo Código de Napoleão
que, pela primeira vez, as vontades e interesse do adotado estão em primeiro plano
(SANTIAGO, 2022).
3. CONCEITO DE ADOÇÃO
Para Diniz (2011, p. 546), “A adoção vem a ser o ato jurídico solene pelo qual,
observados os requisitos legais, alguém estabelece, independentemente de qualquer relação
de parentesco consanguíneo ou afim, um vínculo fictício de filiação”.
Segundo Gonçalves (2009, p. 341), a “Adoção é o ato jurídico solene pelo qual alguém
recebe em sua família, na qualidade de filho, pessoa a ela estranha” .
No ponto de vista de Souza (2001, p. 24) “A adoção envolve vocação, vontade interior
de desenvolver a maternidade e a paternidade instintiva, pelo real desejo de se ter um filho”.
Segundo a lição de Orlando Gomes (2001, p.369), "Adoção é o ato jurídico pelo qual
se estabelece, independentemente do fato natural da procriação, o vínculo da filiação".
Na legislação, o conceito de adoção está descrito no Estatuto da Criança e do
Adolescente, em seu artigo 41: “A adoção atribui a condição de filho ao adotando, com os
mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais
e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais”.
Diante dos conceitos apresentados, é possível perceber que a adoção é uma forma de
conceder filhos a quem almeja ser pai, e pais para quem deseja ser filho e pertencer a uma
família. Sendo mais que um mero instituto jurídico, respaldado no ordenamento jurídico, mas
uma forma de garantia do direito à dignidade da pessoa humana ao permitir estabelecer,
através da adoção, vínculos familiares.
Art. 242 - Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem;
ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao
estado civil:Pena - reclusão, de dois a seis anos. Parágrafo único - Se o crime é
praticado por motivo de reconhecida nobreza: Pena - detenção, de um a dois anos,
podendo o juiz deixar de aplicar a pena.
5. OS DESAFIOS DA ADOÇÃO
Neste tópico, serão discutidos os desafios da adoção no Brasil. Inicialmente serão
apontados problemas que ocorrem no Poder Judiciário, como a morosidade do processo. Em
seguida, será discutido o perfil buscado pelos pretendentes a adotar.
O prazo máximo para conclusão da ação de adoção será de 120 (cento e vinte) dias,
prorrogável uma única vez por igual período, mediante decisão fundamentada da
autoridade judiciária.
A base que orienta a legislação atual sobre o assunto, é o princípio do melhor interesse
do menor. A Lei nº 12.010 de 2009 alterou mais de 54 artigos no Estatuto da Criança e do
Adolescente, buscando incentivar e apoiar todos os grupos de crianças e adolescentes.
Conforme o artigo 197-C, § 1º:
Diante disso, a família é identificada pela legislação brasileira atual, como um pilar
indispensável para o desenvolvimento integral da criança ou adolescente, proporcionando à
humanização e à socialização do indivíduo.
Na sociedade atual, a efetivação desse direito, por sua maioria, é dada maior atenção
às crianças que não são órfãs e que não estejam na fila da adoção. Segundo a lei 12.010/2009
que dispõe sobre a garantia do direito à convivência familiar, em seu artigo 1º, §2º defende
que não sendo possível convivência com a família natural, estão sujeitos a adoção, tutela ou
guarda. Uma solução para preservar tal direito.
De maneira oposta, a situação de crianças que não possuem convívio com os pais, seja
por serem órfãos ou pelo motivo de seus pais perderem o poder familiar, não possuindo tutela
ou guarda de um representante legal. E que estão na fila de adoção, dentro de uma instituição
de acolhimento, quase sempre tem esse direito ignorado. A ausência de convívio familiar, gera
grandes consequências negativas no desenvolvimento, segundo a Psicóloga Patrícia Spada, às
crianças de zero a três anos desenvolvem doenças cognitivas, obesidade, desnutrição e
problemas afetivos relacionados a traumas. "A presença dos pais é primordial neste período,
pois, os traumas sofridos nela se estendem pela vida adulta e vão desde dificuldades de
aprendizagem até a falta de apetite ou a comilança excessiva" (Patrícia Spada,2009).
Já as crianças de quatro a doze anos e os adolescentes, sofrem com os efeitos negativos
comportamentais como depressão, ansiedade, insegurança, refletindo no comportamento na
vida amorosa e social.
6. DO APADRINHAMENTO:
Com o fim da ditadura militar e em meio ao processo de redemocratização no Brasil,
foram realizados inúmeros movimentos sociais para garantir o direito da criança e do
adolescente na Constituição. Surge então, em 13 de julho de 1990, o Estatuto da Criança e do
adolescente, lei 8.069, que foi um marco na garantia dos direitos na proteção de crianças e
adolescentes brasileiros. Em destaque, o direito à convivência familiar e comunitária.
As características almejadas de uma família para o bom desenvolvimento de uma
criança é que venha proporcionar afeto, compreensão, proteção e outros direitos, visando
sempre o bem-estar. Art. 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente:
19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua
família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência
familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de
substâncias entorpecentes.
Mas, em alguns casos, a família não consegue cumprir este papel, em decorrência, por
exemplo, de violência doméstica, uso de drogas, abandono e prática de atos imorais que geram
a perda do poder familiar. Nessas situações, como uma das formas de assegurar às crianças,
foi criado o programa de apadrinhamento.
Vale salientar que o apadrinhamento não se confunde com adoção, pois o primeiro visa
promover vínculos afetivos, seguros e duradouros entre as crianças e pessoas que se dispõem
a ser padrinhos e madrinhas, e o segundo instituto atribui a condição de filho para todos os
efeitos, havendo o desligamento do vínculo familiar biológico. Como defende o autor Luciano
Alves Rossato em 2019:
Muitas vezes você não vai chegar aqui (padrinhos e madrinhas) e esperar que as
crianças vão abrir os abraços e dizer: que legal que você está aqui. De repente, você
vai chegar e elas vão dizer: que saco, você está aqui de novo. Mas, de verdade, o que
elas mais queriam é que vocês estivessem aqui mesmo. (Dois pais,2016)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo abordou as influências e consequências do apadrinhamento afetivo
enquanto alternativa eficaz no processo de adoção tardia. Conforme as disposições da Lei nº
13.509/2017, que instituiu, dentre outras coisas, o processo do apadrinhamento afetivo.
A pesquisa para a construção do presente artigo baseou-se na pergunta: se o
apadrinhamento afetivo pode ser uma alternativa eficaz de garantia de direitos a crianças e
adolescentes sujeitos à adoção tardia?
Conforme demonstrado, o Direito da Criança e do Adolescente foi implementado no
Brasil por meio de uma mobilização dos movimentos sociais que visavam o interesse das
crianças e adolescentes no Brasil. Nesse sentido, esclareceu-se a interdisciplinaridade desse
ramo do Direito e, conforme os anos passaram, foram implementados métodos de efetivação
desses direitos para a crianças.
A criação dos projetos de apadrinhamento tem o objetivo de dar a oportunidade das
crianças e adolescentes institucionalizados aproveitarem uma vida fora dos padrões em que
foram abrigados. Fazendo com que essas crianças tenham um futuro promissor, visto que a
convivência familiar é de suma importância para o desenvolvimento do caráter de uma pessoa,
sendo intimamente ligado ao modo de pensar e agir, refletindo nas atitudes e ações que irão
tomar durante a vida, seja pessoal ou profissional.
Por mais que os abrigos e instituições de acolhimento ofereçam suporte psicológico e
educacional, por muitas vezes não é o suficiente. Essas crianças ao atingirem a maioridade
não se sentem preparadas para enfrentar o mundo como realmente é, apresentando
dificuldades em inserido no local de trabalho, no contato com a sociedade, em relacionamento,
oferecem problemas de saúde, etc.
O apadrinhamento vem como solução a esta problemática, oferecendo apoio necessário
à criança. Em especial, O apadrinhamento afetivo, vem para suprir um pouco da falta de afeto
de crianças carentes e sujeitas a adoção tardia. Pois, os abrigos estão abarrotados, fazendo com
que as crianças não recebam atenção individual que necessitam. Muitas chegam aos abrigos
com uma carga emocional desafiadora, na maioria das vezes, e por isso se retraem, são
agressivas e não se desenvolvem de uma forma saudável tanto física quanto psicológica.
Infelizmente, o instituto do apadrinhamento é pouco utilizado pelas redes de apoio à
família, tanto municipal quanto estadual. Há uma falta de atenção do poder público em
incentivar e instalar esses projetos, fazendo com que as instituições privadas ganhem destaque
nesse sentido.
Portanto, o apadrinhamento é uma alternativa eficaz de garantia de direitos para
crianças e adolescentes sujeitos à adoção tardia.
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