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Enc@Enciclopedia de Champlin. Vol.3
Enc@Enciclopedia de Champlin. Vol.3
TEOLOGIA E FILOSOFIA
Por
Russell Norman Champlin, PH. D.
Volume 3
H -L
Direitos Reservados
UIAGNOS
Av. Jacinto Júlio, 620
São Paulo - SP - Cep 04815-160 - Tel/fax: (11)5668-5668
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1. Form as A ntigas
H
fenício (semítico), 1000 A.C. grego ocidental, 800 A.C. latino, 50 D.C.
w
2. N os M anuscritos G regos do Noto Testam ento
B
H In 71
3 . Form as M odernas
HHhh HHh h Ht f hA H h
HADADEZER HADES
No aramaico, «Hadade é ajudador». Ele era rei de Ver também sobre Sheol.
Zobá, na Síria, nos tempos de Davi. Seu território
estendia-se para leste até às margens do Eufrates, e Esboço:
para o sul até à fronteira com Amom. O Antigo I. Hades na Mitologia Grega
Testamento refere-se a ele como quem entrou em II. Na Septuaginta
vários choques armados com Davi. Sofreu sua III. Portas do Inferno (Mat. 1:18)
primeira derrota diante de Davi nas vizinhanças do IV. Na Literatura Hebraica
rio Eufrates, em cerca de 984 A.C. Houve grande V. A Descida de Cristo ao Hades
matança, com o envolvimento de várias cidades.
Hadadezer perdeu muitos homens, e Davi tomou VI. Hades — o Abismo (Apo. 9:1)
como despojos muito de seu equipamento. Ver II I. Hade* na Mitologia Grega
Sam. 8:3 ss e I Crô. 18:3 ss. Nessa batalha, vieram Originalmente, Hades era o nome do deus do
sírios de Damasco ajudar a Hadadezer, pelo que Davi submundo que, segundo os gregos, ficava no seio da
matou a vinte e dois mil sírios. terra. Hades era o filho de Cronos (Tempo), o deus
Os amonitas, ato contínuo, formaram uma liga mais alto. Zeus, outro filho de Cronos finalmente o
com outros arameus, a fim de apresentarem uma substitiu através do uso de força. Assim, ele ficou o
frente sólida contra Davi. Eles insultaram embaixa deus mais poderoso da mitologia grega. Hades
dores que Davi tinha enviado, raspando suas barbas continuava reinando no submundo compartilhando
(ver II Sam. 10:1-6). Em vista disso, Davi enviou seu poder com sua esposa, Persefone. Com o desenvol
forças armadas contra eles, sob o comando de Joabe. vimento da mitologia, o termo Hades começou a ser
Este obteve uma notável vitória; mas Hadadezer não usado para significar o próprio subm undo, a
desistiu. Retirou-se para o território a leste do rio habitação dos fantasm as de homens desencarnados.
Eufrates e reuniu um novo e mais poderoso exército, No início, estes seres foram representados como
sob o comando de Sofaque, seu general. Dessa vez a entidades sem razão ou qualquer vida real. Gradual
ameaça era suficientemente séria para fazer com que mente, uma vida real foi atribuída a eles, e assim
Davi fosse pessoalmente à cena da batalha. A vitória se tornaram espíritos e não fantasmas. Mas o hadesfoi
de Davi foi tão definitiva que o poder de Hadadezer descrito como a habitação dos espíritos bons e maus e
sofreu um golpe fatal. Outros governantes, que se somente depois de maior desenvolvimento da doutrina,
tinham sujeitado a ele, aproveitaram a oportunidade é que os espíritos bons receberam no submundo um
para se livrarem de seu jugo. Dessa maneira, Davi lugar bom, em contraste com o estado miserável dos
estendeu o seu poder sobre todos aqueles territórios espíritos maus.
envolvidos. Ver II Sam. 10:15-18. Davi estabeleceu
uma guarnição armada em Damasco, e recebia H. Na Septuaginta
tributos por parte de Hadadezer. Na versão LXX (Septuaginta) do A.T. (a tradução
do original hebraico do A.T. para o grego), a palavra
hades passou a ser usada para traduzir o termo
HADADRIMOM hebraico «sheol», lugar dos espíritos desencarnados,
Esse nome é a combinação dos nomes de duas igualmente tanto bons quanto maus, tanto os que se
divindades sírias, H adade e R im o m , formando um encontram na bem-aventurança quanto os que sofrem
título que significa «lamentação por Hadade». o justo castigo de seus pecados. Algumas traduções
Hadadrimom era um deus da vegetação, cujo nome vernáculas, entretanto, têm obscurecido a idéia do
forma combinação com Romom, o deus das «hades», traduzindo essa palavra por «inferno», o que
tempestades, que figura em fontes extrabíblicas. Os dá a entender algum lugar horrível de punição
textos de Ras Shamra demonstram que Hadade era o ardente. O próprio termo «hades», entretanto, não
nome apropriado para designar Baal. indica necessariamente nem bem-aventurança e nem
castigo, embora também possa indicar qualquer
Nas páginas da Bíblia, Hadadrimom designa uma dessas situações, dependendo do sentido tencionado
localidade, existente no vale de Megido (Zac. 12:11), no contexto em que o vocábulo aparece.
onde os judeus efetuaram uma cerimônia de lamento
nacional, em face da morte do rei Josias, na última Os empregos da palavra são bastante amplos,
batalha que ele participou, na famosa planície de porquanto pode ela significar tanto simplesmente a
Esdrelom. Ver II Reis 23:29 e II Crô. 35:23. Jerônimo m orte, sem qualquer pensamento especial sobre as
identificava esse lugar como Maximianópolis, uma condições que existem antes da morte (que parece ter
aldeia próxima de Jezreel. Mas, alguns intérpretes sido o uso hebraico mais antigo do vocábulo, bem
supõem que essa palavra não tem o intuito de como no pensamento grego dos tempos mais remotos,
identificar uma localidade e, sim, o próprio estado de quando não havia ainda surgido a idéia de almas
lamentação. Outros identificam esse lugar com a imortais a residirem nesse lugar, mas quando muito,
moderna Rummaneh, ao sul de Megido. Seja como apenas —alguma forma— de fantasma vazio, que
for, a grande lamentação que assinalou a morte de não retinha a inteligência e a memória do indivíduo
Josias, às mãos de Neco II, Faraó do Egito, em cerca ali parado), mas também pode significar o lugar dos
de 609 A.C., foi tão grande que se tomou proverbial. espíritos desencarnados. Os judeus calcularam que
E o termo hadadrim om veio a simbolizar tal esse lugar estaria dividido em duas porções, uma para
lamentação, sem importar se está em pauta ou não os ímpios e outra para os justos. Nesse caso, algumas
alguma localidade específica. vezes surge a idéia da existência de uma parede fina
como papel entre essas duas porções. Isso significaria
que embora não houvesse comunicação entre essas
duas divisões, e embora não pudessem passar
H A D ES
mensageiros de uma para outra parte, o que ocorria os intérpretes em geral não aceitam, embora a
em um dos lados podia ser observado do outro. promessa de Cristor naturalmente, tenha incluído a
idéia de que Satanás e seus agentes (seu reino) jamais
O lado bom desse lugar recebeu o nome de paraíso, poderão vencer a igreja edificada sobre a rocha. As
de «seio de Abraão», etc. E, naturalmente, existem portas do hades abrem-se para devorar a humanidade
outras descrições fabulosas sobre toda a questão, na inteira, e fazem-no com êxito; mas Cristo e sua igreja
literatura judaica, embora nenhum intérprete .as leve vencerão esse poderoso inimigo. Esse reino da morte
a sério, por não serem tais descrições inspiradas será abolido por Cristo (ver as seguintes passagens: Is.
divinamente e dignas de confiança. A palavra 25:8; I Cor. 15:15 e Efé. 1:19,20). Esse trecho
«Tártaro» (igualmente de origem grega), tem sido implica, n- —almente, na luta contra o reino do mal,
usada para fazer alusão àquela parte do hades onde os mas ensina, principalmente, a vitória sobre a morte,
homens são punidos. Essa palavra é usada no N.T. com todas as suas implicações. Há bons intérpretes,
exclusivamente na passagem de II Ped. 2:4. Mas o porém, como Erasmo, Calvino e outros, que
próprio Senhor Jesus empregou a palavra geena, a fim interpretam o trecho como a vitória final sobre
de referir-se ao lugar de punição; e, se tivesse sido Satanás. A vitória sobre a morte, realmente, deve
indagado sobre a identificação desse lugar, mui incluir essa idéia, pelo menos por implicação. Essa
provavelmente teria concordado que a parte «má» do expressão, «porta do hades», é comum na literatura
hades é a que estava em foco. (Ver o artigo sobre judaica (fora do V.T.), mas também se encontra em
Geena, que também aborda o simbolismo contido Is. 28:10 e em Sabedoria de Salomão 16:13. Na
nesse termo). passagem de Apo. 6:8 o símbolo da morte é mais
O trecho de Luc. 16:19-31 pinta tanto o rico como personificado, pois a m orte é apresentada montada
Lázaro no «hades», o que preserva a idéia judaica da em um cavalo e seguida pelo hades.
natureza daquele lugar. (Comentários sobre esse
lugar podem ser encontrados nessa referência bíblica IV. Na literatura Hebraica
no NTI. Tal palavra ocorre também em passagens Não há nenhum conceito simples de «hades», nem
como Mat. 11:23; 16:18; Luc. 10:15; Atos 2:27,31; na literatura judaica, anterior aos tempos neotesta-
Apo. 1:18; 6:8; 20:13,14). mentários, nem no próprio N.T. A idéia hebraica
A idéia de que o lado bom do hades foi eliminado original do «após-vida», é que não havia «após-vida».
desde a ressurreição de Cristo, tem base na ênfase Portanto, até mesmo nos primeiros cinco livros do
dada por Paulo ao terceiro céu (ver II Cor. 12:1-4), e A.T., apesar de ali ser ensinada a existência da vida
na declaração paulina que Cristo levou cativo o espiritual, não ensinam a possibilidade de «vida
cativeiro (ver Efé. 5:8-10), o que supostamente espiritual para os homens». Os comentários dos
significa o transporte dos bons espíritos para outro mestres judeus, acerca desses livros, bem como seu
lugar, não está bem fundamentada nas Escrituras, e uso no N.T., parecem subentender tal coisa; mas
certamente não é consubstanciada por qualquer das esses livros, considerados em si mesmos, não ensinam
referências bíblicas geralmente apeladas para isso. a possibilidade do «após-vida» para os homens. O
Muitas evidências demonstram que continua em estágio seguinte, no pensamento judaico, no tocante a
existência o m undo interm ediário, sob muitas formas isso, é similar aos conceitos gregos com seu «hades» (a
fora de nossa capacidade de investigação plena. região «invisível» dos espíritos). Então os judeus
Poderíamos afirmar, pois, que não sabemos grande vieram a crer (tal como o criam os gregos) que o hades
coisa sobre esse mundo intermediário, que continuará era um lugar literal, localizado no centro da terra.
existindo até o julgamento final, quando o hades Para esse lugar desceriam todos os espíritos humanos,
entregará os seus mortos, e for estabelecido o bons e maus, sem qualquer distinção; e ali não teriam
julgamento eterno, conforme lemos em Apo. 20:13, qualquer existência real, com memória e consciência;
14. Acreditamos, todavia, que na era da graça os antes, arrastar-se-iam em uma vida sem formas, como
verdadeiros convertidos vão para os «lugares celes se fossem energias desgastadas, e não seres reais.
tiais», esferas mais altas do que «o lado bom» do Gradualmente, entretanto, veio a aceitar-se que os
hades. «espíritos» possuem existência real, de alguma
Embora o vocábulo hades possa fazer alusão à modalidade. Assim o hades se tornou lugar de puni
simples morte física, nada dando a entender sobre a ção ou de recompensa. Essa idéia de que o hades é
vida após-túmulo, contudo, é muito provável que não lugar de recompensa ou de punição, surgiu primeira
seja esse o sentido que lhe é atribuído neste passo mente na religião persa, de onde parece que penetrou
bíblico, conforme E.H. Plumptre observa (in loc.): «A no judaísmo. Já que o «hades» prometia recompensa
morte de Cristo foi uma morte verdadeira, e apesar de ou castigo, foi apenas natural que daí se pensasse
que o seu corpo foi posto no sepulcro, a sua alma estar o mesmo dividido em «duas regiões distintas». E
partiu para o mundo dos mortos, que é o ‘sheol’ dos assim essa idéia veio a fazer parte da doutrina do
hebreus e o ‘hades’ dos gregos, para continuar ali a «hades». Todos esses «estágios» de desenvolvimento
obra remidora que ele havia iniciado à face da terra... dessa idéia podem ser traçados na literatura judaica, e
e aqui temos, uma vez mais, uma interessante mais de um estágio desses é refletido nas páginas do
coincidência com a linguagem de Pedro (ver I Ped. N.T. Como exemplo disso, considere-se o décimo
3:19), quanto à obra de Cristo que foi pregar aos sexto capitulo do evangelho de Lucas, onde se percebe
espíritos em prisão ». a divisão do hades em porção pertencente.aos bons e
U I. Portas do Inferno (Mat. 1:18). porção pertencente aos incrédulos. A idéia no
«Portas do inferno», ou melhor, portas do hades, Apocalipse, é de que todos os espíritos descem ao
era uma expressão oriental para indicar a corte, o hades, com exceção dos «mártires», que passam
trono, o poder e a dignidade do reino do mundo diretamente para os «céus», um lugar glorioso e
inferior. No V.T. (como aqui neste texto), indica o totalmente distinto do hades. Seja como for, para o
poder da morte. A idéia principal é que a igreja nunca vidente João, o «hades» era um lugar interm ediário, e
será destruída por qualquer poder—nem mesmo pela não permanente. Isso perdurará até que o estado
morte ou pelo resultado da morte, e nem pelo reino do eterno divida os homens em suas habitações devidas.
mal. A igreja é eterna; a morte, ou qualquer outro As almas dos crentes martirizados aguardam, nos
poder oculto e perverso, jamais poderá ser vitoriosa céus, pela primeira ressurreição (ver Apo. 20:4-6), ao
sobre ela. «Reino de Satanás» é uma interpretação que passo que os demais mortos permanecerão no hades,
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aguardando a segunda ressurreição, ou ressurreição e absolutamente certa sobre o próprio hades.
geral (ver Apo. 20:12,13). Originaliriente, o lugar era reputado como a prisão
No livro de Apocalipse, tal como no pensamento que abrigava os fantasm as dos mortos; mas ali
grego, o «hades» parece ser distinguido do m undo viveriam não realmente como almas sobreviventes, e,
inferior, do qual um anjo tem a chave (ver Apo. 9:1 e
sim, como sombras sem bom senso, a vaguearem ao
ss). Parece que o «m undo inferior », pertence a
redor. Mais tarde, a idéia de «autêntica sobrevivência»
espíritos horrendamente malignos, piores que os veio a fazer parte da doutrina. Finalmente, surgiu a
ímpios mortos. Essa distinção, entretanto, parece não idéia da «separação» entre os «bons» e os «maus»,
ser geralmente observada nas páginas do N.T. havendo «galardões» para os primeiros e «punições»
para os segundos. Por conseguinte, a cada vez em que
O hades do N.T. é equivalente ao «sheol» do A.T., o «hades» é mencionado, não podemos ter a certeza (a
ainda que, conforme já foi destacado, o «sheol» não menos que o próprio contexto entre em detalhes)
representa um único conceito, mas muitos, formando acerca do «estágio» do desenvolvimento da doutrina
uma série que mostra estágios cada vez mais do «hades» que ali se reflete. (Ver no NTI as notas
desenvolvidos. Por conseguinte, o «sheol» pode expositivas em Luc. 16:23 e Apof 1:18, quanto a
significar apenas «estado de morte», e não «estado maiores detalhes sobre essa doutrina). O trecho de II
onde habitam os mortos». Contudo, por toda a parte, Ped. 2:4 emprega o vocábulo «Tártaro». Originalmen
a Septuaginta (tradução do original hebraico do A.T. te, era uma região ainda mais inferior e desgraçada
para o grego, feita antes da era cristã) traduz «sheol» que o hades. O hades era considerado como algo que
por «hades». Ora o termo grego «hades» envolve um estava no coração da terra. Nesse caso, o Tártaro
desenvolvimento similar como conceito. estaria bem no centro do globo, sendo reputado um
V. A Descida de Cristo ao Hades lugar de dores e castigos especiais. Gradualmente,
Os trechos de I Ped. 3:18-20 e 4:6 descrevem a entretanto, o conceito de «Tártaro» se foi mesclando
descida misericordiosa de Cristo ao hades, a fim de com o conceito de «hades», a tal ponto que tanto uma
que ele ali anunciasse, às almas perdidas, o como outra palavra puderam ser usadas para indicar
evangelho. A maior parte da igreja cristã tem o mesmo lugar. (Ver o artigo sobre Tártaro. Ver
reconhecido a descida de Cristo ali como uma também II Ped. 2:4).
melhoria, ou até mesmo para «oferecer a salvação» aos No Apocalipse, essa «fenda do abismo» também é
perdidos daquela região. Porém, alguns grupos mencionada em Apo. 11:7; 17:8 (lugar de onde subirá
evangélicos dos tempos modernos, têm chegado a a «besta»), e 20:1,2 (onde se lê que ali serão lançados
rejeitar essa doutrina com base «a p rio ri » do que a besta e o próprio Satanás). Ali ficarão até o fim do
Cristo poderia ter feito ou não (segundo a opinião milênio, após o que serão lançados no lago do fogo, o
deles), já que isso entraria em choque com suas lugar do castigo final (ver Apo. 14:11, onde, sem que
rígidas idéias sobre o que deverá ser o julgamento. A seja empregado esse nome, evidentemente também há
despeito dessas objeções, não há que duvidar que alusão a essa «fenda», mostrando que os seguidores do
esses versículos ensinam uma missão misericordiosa anticristo haverão de compartilhar de sua sorte).
de Cristo entre as almas perdidas. É possível (m as não Comparando-se entre si todas essas referências,
provável) que João, o vidente, se tenha referido a esse chegamos à conclusão de que o vidente João estava
conceito ao falar das «chaves» brandidas por Cristo, as aqui descrevendo a «porção má» do hades, e não
quais, como é óbvio, podem abrir ou fechar aquele algum lugar distinto do mesmo. Cumpre-nos observar
lugar temível; mas lugar que pode ser aberto no caso que «a morte e o hades» serão lançados no «lago do
de todos quantos aceitarem sua misericórdia. As fogo», juntamente com os perdidos; e supomos que o
fronteiras eternas não serão traçadas senão quando da «diabo», a «besta» e seu «falso profeta» (mencionados
«parousia» ou segundo advento de Cristo. Tais no trecho de Apo. 20:10) participarão dessa sorte.
fronteiras não são determinadas quando da morte Portanto, do «hades» serão transferidos para o
física de qualquer indivíduo. O julgamento final não definitivo «lago do fogo». Já que o vigésimo capítulo
ocorrerá senão após o «milênio», conforme fica claro do Apocalipse não estabelece distinção entre o
no vigésimo capítulo do livro de Apocalipse. (Ver I «hades» e a «fenda» (no grego, *phrear»), fazendo com
Ped. 4:6 quanto ao estabelecimento dos limites que os perdidos, o anticristo, Satanás, etc. estejam
eternos, por ocasião da «parousia», que é conceito associados ao «hades», ao passo que, em Apo. 9:1 e
neotestamentário comum). (Ver o artigo sobre a em Apo. 11:7 e 17:8, estão vinculados à «fenda do
Descida de Cristo ao Hades). abismo», somos forçados a concluir que o «hades» e
essa «fenda» são uma e a mesma coisa, a menos que o
VI. Hades - o Abismo (Apo. 9:1) autor simplesmente estivesse falando a respeito
Poço do abismo, Apo. 9:1. O grego seria mais de «vários compartimentos do hades», ou então de
literalmente traduzido ainda como «fenda do abis diversas localidades do mesmo lugar em geral,
mo». O termo grego *phrear» pode significar ou existentes no âmago da terra.
«poço» ou «fenda», que desce até o subsolo. A O Apocalipse não faz o contraste entre a geena e o
própria ambigüidade do vocábulo grego tem provoca hades-, mas é possível que neste livro, o «lago do fogo»
do a ambigüidade de sua tradução e interpretação. seja a mesma coisa que a «geena» é nos evangelhos.
Alguns têm preferido pensar que o próprio «hades» O «a bism o» ou *fenda» nas páginas do A.T.
está em foco; mas outros pensam que se trata de uma Consideremos os pontos seguintes:
fen d a que conduz ao hades, mas não o próprio
hades. E ainda outros imaginam que se trata de uma 1. Talvez haja ali alusão a algum abismo
fenda que leva a algum poço, ou ao próprio poço, subterrâneo que fecha um grande oceano «não da
inteiramente distinto do hades, por ser o lugar da superfície», conforme fica implícito em Sal. 33:7. A
habitação desses seres eminentemente malignos. Não Oração de Manassés, em seu terceiro capítulo, indica
há modo indiscutível para determinar qual a que os antigos imaginavam a existência de uma
interpretação correta, mas a discussão abaixo deixa «fenda» que conduziria a esse mar subterrâneo, desde
implícito que a «fenda» e o «hades* representam uma e a superfície. Esse conceito não tem qualquer relação
a mesma coisa, ou então diferentes locais de uma com o presente texto.
única grande área de julgamento. 2. O abismo era considerado como lugar apropria
Outrossim, não há nenhuma interpretação isolada do para os inimigos de Yahweh (ver Amós 9:3; Jó
11
HADES - HADRAQUE
41:24 LXX). Supiinha-se que esse abismo seria uma tarde ( Guerras 4:9,1). Perto desse lugar, Aretas III
imensa fenda na terra, e não um mar subterrâneo. derrotou Alexandre Janeus (A n ti. 13:15,2).
(Ver Isa. 24:21,22 e 51:9). Esse abismo seria
equivalente aos hades, mas, até este ponto, nunca
fora considerado como um lugar onde há fogo. Essa HADITE (HADIS)
idéia penetrou posteriormente, não antes de 100 A.C. Palavra árabe que significa «tradição». Esse titulo
O abismo, na literatura judaico-apocalíptica. O designa o corpo ou coletânea de tradições que se tem
primeiro livro de Enoque expõe certo ensinamento a reunido no islamismo, desde os tempos de Maomé e
esse respeito. (Ver I Enoque 17:7,8 e 18:12-16). Ali é seus associados, e que veio fazer parte da sunna (vide)
considerado como lugar de punição de anjos caidos. que significa norm a. Esse é o nome da coleção
Supomos que seria um compartimento do «hades», de literária, fora do Alcorão, que é a base da ortodoxia
alguma maneira. Não haveria ali água, nem pássaros, islâmica.
mas seria um lugar caótico, horrendo e invadido pelo
fogo. Em alguns trechos o «abismo» era situado na
terra; mas, em outros escritos, como em Enoque HADJ
22:2; 28:12,15;31:3, o abism o é situado nos confins Palavra árabe que se refere a uma peregrinação a
da terra e dos céus, conforme os conhecemos. Seria Meca (vide). O próprio peregrino, em árabe, é um
um lugar de confinamento «temporário». Em I H adji.
Enoque 10:6,13; 18:11; 21:7-10; 54:6; 56:4; 90:24,25;
118:11 aparece como um lugar de castigo eterno, um
autêntico inferno, um lugar além dos céus e da HADLAI
terra. Nos escritos apocalípticos judaicos há diversos No hebraico, «descanso» ou «guarda de dia santo».
nomes para esse lugar; «o abismo de fogo» (I Enoque Esse foi o nome de um homem da tribo de Efraim,
10:3); o «abismo» (I Enoque 21:7). Nesta última cujo filho, Amsa, era chefe da tribo, durante o
passagem esse lugar é situado na terra, entrando-se reinado de Acaz, rei de Judá (II Crô. 28:12). Viveu
no mesmo através de uma «fenda», conforme se vê por volta de 758 A.C.
aqui, no Apocalipse. Em I Enoque 18:11 esse lugar é
chamado de grande ab ism o ; e em I Enoque 54:6 é
chamado de fornalha ardente. É óbvio que certas HADORÃO
descrições do castigo futuro no Novo Testamento No hebraico, «Hadar é exaltado». Nas referências
foram emprestadas diretamente dos livros pseudepí- originais, parece haver alguma alusão aos adoradores
grafes, como I Enoque. Também, é óbvio que alguns do fo g o . Esse é o nome de três personagens do Antigo
trechos do Novo Testamento olham para além deste Testamento:
tipo de doutrina sobre o julgamento. Ver o artigo 1. Nome de um filho de Joctã, dado também a seus
sobre o Julgam ento. Ver também o artigo sobre descendentes, uma das tribos árabes (ver Gên. 10:27 e
Restauração. I Crô. 1:21). Viveu antes de 2000 A.C.
O mesmo conceito de julgamento contra Satanás, 2. Um filho de Toú, rei de Hamate, que foi
os anjos e os homens perdidos é pintado como um congratular a Davi, por sua vitória sobre Hadadezer (I
«deserto de fogo», mas o trecho de I Enoque 108:3 o Crô. 18:10), em cerca de 984 A.C. A passagem
situa para além dos limites da terra. O conceito do paralela de II Samuel 8:10 diz «Jorào». Mas muitos
lago de fogo do Apocalipse, sem dúvida, foi especialistas pensam que isso envolve um erro textual,
emprestado da literatura pseudepígrafe. embora outros pensem que Jorão é apenas uma
Conforme se pode ver, há muitos conceitos e muitos contração de Hadorão.
nomes para esses conceitos, pelo que também nunca 3. Nome de um homem que foi um dos oficiais de
poderemos ter certeza do que está em pauta. Em Davi, Salomão e Reoboão(II Crô. 10:18). Seu nome,
primeiro lugar, é declarado que Satanás e os seus em I Reis 4:6, aparece com a forma de A donirão ; e,
anjos estão destinados a residir eternamente em tais em II Sam. 20:24, aparece com a forma de Adorão.
lugares. Mais adiante se vê que os homens terão parte Josefo, ao referir-se a esse homem, também grafa o
em tudo isso. Nos evangelhos, poderíamos supor que seu nome com essa forma, A dorão. Nos dias do rei
a «geena» é lugar de castigo exclusivamente dos Reoboão, ele encabeçava o departamento de traba
homens; mas talvez essa impressão seja dada porque lhadores forçados. Por causa disso, tornou-se tão
os autores dos evangelhos não tinham nenhum motivo odiado pelo povo de Israel, que acabou sendo
para mencionar a punição dos ahjos naqueles lugares, apedrejado até à morte (ver II Crô. 10:18).
em que o apelativo «geena» lhes pareceu termo
apropriado para referir-se àquele lugar de «punição».
HADRAQUE
No hebraico, é uma palavra de sentido incerto,
HADIDE embora alguns eruditos arrisquem o significado de
No hebraico, «apontada», «aguda». Uma cidade do «volta periódica». Em Zacarias 9:1, aparece como um
território de Benjamim. Ver Esd. 2:33 e Nee. 7:37; território. Muitos eruditos pensam que se trata de
11:34. Eusébio e Jerônimo falaram sobre duas uma região da Síria, que também ocorre em
cidades, uma chamada Adita, e outra Adi, uma das monumentos assírios posteriores, com a forma de
quais ficava perto de Gaza, enquanto que a outra fica H atarrika. Seria uma região localizada às margens do
va perto de Dióspolis ou Lida. Esta última, mais rio Orontes, ao sul de Hamate e ao norte de Damasco.
provavelmente, corresponde a Hadide. Nos textos A referência do livro de Zacarias faz o lugar aparecer
dados, figura juntamente com Lode e Ono. Provavel juntamente com os nomes de Damasco, Hamate, Tiro
mente, também é a mesma Adida de I Macabeus e Sidom.
12:38 e 13:13. Os estudiosos identificam-na com a Se está em foco uma cidade, então ficava na porção
moderna el-Haditheth, que fica entre cinco a sete noroeste do Líbano, pelo que a referência em Zacarias
quilômetros a nordeste de Lida. Josefo (A n ti. 13:11,5) não seria a um território da Síria. A cidade com esse
informa-nos que Simão Macabeu a fortificou, nome ficava cerca de vinte e seis quilômetros de
conforme também o fez Vespasiano, tempos mais Alepo, para o sul.
12
HAECKEL - HAGAR
HAECKEL, ERNST HAFTARAH
Suas datas foram 1834—1919. Ele foi biólogo e No hebraico, «conclusão». Esse é o nome da seção
filósofo alemão. Nasceu em Potsdam. Educou-se em profética com que termina a lição bíblica, lida nas
Wurzburgo, Berlim e Viena, esta última na Ãustria. sinagogas, aos sábados e durante os cultos festivos.
Tornou-se professor em Jena. Sua grande paixão era
examinar a teoria da evolução, especulando quanto à
natureza da mesma. Seu interesse nesse campo fez HAGABA
dele um cientista filósofo. Ele chegou a pensar que a No hebraico, «gafanhoto». Outros estudiosos
evolução é a chave da verdade filosófica. Era um pensam no sentido torto. Esse era o nome do chefe
pensador naturalista, monista e panteísta. de uma família de servos do templo que retornaram a
Idéias: Jerusalém em companhia de Zorobabel. Seu nome
1. Ele via a necessidade de ampliar a teoria da figura em Esd. 2:45 e Nee. 7:48. Também ocorre no
evolução até abranger o nível da matéria inorgânica. livro Apócrifo de I Esdras 5:30. Ele viveu por volta de
É difícil explicar a seleção natural dentro desse nível. 536 A.C.
Ele postulava duas idéias ou entidades, a fim de
explicar como a evolução atuaria sobre o que não tem
vida. Segundo ele, as moneras teriam surgido da HAGABE
matéria inorgânica mediante geração espontânea. Ele No hebraico, «torto». Os filhos de Hagabe estavam
as identificava como entidades primitivas, protoplas- entre os netinins, ou servos do templo, que voltaram
máticas. As gastrae, por sua vez, seriam supostas para Jerusalém, em companhia de Zorobabel. Esse
entidades vivas, que preencheriam o hiato entre os nome ocorre exclusivamente em Esd. 2:45. Ver
protozoários unicelulares e os metozoários multicelu- também sobre Hagaba, nome que aparece nesse
lares. Mas, embora esses conceitos fossem tratados mesmo versículo. Ele também viveu na época
com respeito nos dias de Haeckel, finalmente foram daquele, cerca de 536 A.C.
rejeitados, como meras invenções ad hoc.
2. Ele acreditava que toda matéria possui
sensibilidade e vontade, posto que em graus mínimos, HAGADA
o que, naturalmente, reflete um conceito hilozoísta ou Esse termo é aplicado à porção não legal da
pampsiquista (vide). Através desse conceito, ele literatura rabínica. Essa palavra significa «afirma
adotou o ponto de vista naturalista acerca da ção». Esse também é o título do texto recitado por
natureza. A evolução, conforme ele dizia, poderia ter ocasião da refeição ritual, o seder (vide), que é
início até na chamada matéria inorgânica, se, de fato, celebrada nas duas primeiras noites da páscoa (vide).
a matéria reveste-se de certa forma de vida, A contraparte da Hagada é a H alakah, que diz
sensibilidade e vontade, posto que imperceptíveis respeito à interpretação da lei mosaica, conforme
para nós. aparece na M ishnah (vide).
3. Em consonância com essas teorias gerais, ele A Hagada consiste em discursos didáticos, com
propunha que a consciência do homem é uma função vistas, principalmente, à edificação dos leitores.
do organismo humano (ver sobre o epifenom enalis- Encontra-se, acima de tudo, na exegese homilética.
m o). Ver também sobre o Problema Corpo-M ente. Os discursos são ali, usualmente, introduzidos
4. Ele defendia um conceito religioso monista, mediante a fórmula «conforme foi dito», ou «segundo
tendo adotado o panteísmo como a sua concepção está escrito». A literatura de Midrash também
pessoal do mundo. pertence a essa categoria de Hagada, no sentido que
Obras. General M orphology o f Organisms; The consiste em exegese homilética reforçada por mitos,
History o f Creation; On the Origin a n d Genealogical lendas, fábulas, parábolas e outros artifícios didáti
Tree o f the H um an Species; Anthropogenie, the cos. Alguns estudiosos supõem que a Hagada não tem
Evolution o f M an; M onism as a B ond Between autoridade obrigatória, mas outros especialistas
Science and Religion; The Riddle o f the Universe, contradizem essa opinião.
além de alguns poucos outros livros menos notáveis. Significados Específicos :
(AM EP P) 1. As narrativas fixas tradicionais da páscoa, o
seder, alicerçadas sobre a narrativa do livro de Êxodo.
2. As porções homiléticas e didáticas do Talmude,
HA-ELEFE em distinção ao código que regulamenta os atos
Ver sobre Elefe. exigidos.
3. A exposição homilética das Escrituras, que veio a
fazer parte integrante da M idrashim : ensinamentos
HAFARAIM morais, edificação, etc. (AM E STRAC)
No hebraico, «poço duplo»..Esse era o nome de uma HAGAR
cidade do território de Issacar. Ocorre somente em
Jos. 19:19. Eusébio informa-nos de que havia um Consideremos estes pontos a seu respeito:
lugar com esse nome, a dez quilômetros de Legio. Ali 1. N om e hebraico. No hebraico temos uma palavra
há, atualmente, uma aldeia chamada el-Afuleh, cerca de sentido incerto, que talvez signifique «estrangeira»,
de dez quilômetros a nordeste de Lejun, o que talvez ainda que outros estudiosos prefiram o sentido de
identifique as antigas localidades. Sisaque, rei do «fugir» (ver Gên. 21:4,10).
Egito, mencionou a cidade original em uma lista de 2. Identificação. Hagar era nativa do Egito, serva e
localidades por ele conquistadas, em cerca de 918 então concubina de Abraão. Se o nome dela significa
A.C. Outros estudiosos, porém, identificam-na com a «estrangeira», provavelmente tal nome lhe foi dado
moderna Khirbet el-Farrihye, que fica ligeiramente quando ela foi recebida no clã de Abraão. Alguns
ao sul do Carmelo. E também há quem pense em supõem que ela foi uma escrava dada a Abraão por
et-Taiyibeh, como a localização mais correta. Essa Faraó, durante sua visita ao Egito (ver Gên. 12:6).
última fica cerca de dezesseis quilômetros a noroeste Entretanto, alguns preferem pensar que a derivação
de Belém. do nome vem do verbo «fugir», e isso se refereria à sua
13
HAGAR - HAGIÕGRAFA
fuga final (ver Gên. 16:6). HAGARENOS
3. Hagar com o concubina de Abraão. (2050 A.C.). Ao que parece, esse vocábulo aponta para os
Sara continuava estéril, e Abraão precisava ter um descendentes de Hagar (vide). Esse nome figura
herdeiro. Por esse motivo, Hagar foi dada a Abraão apenas por três vezes, no Antigo Testamento: I Crô.
como concubina, o que era uma prática oriental 5:10,19,20. Eles eram uma tribo árabe ou araméia,
comum. Hagar tomou-se mãe por procuração, uma que vivia na região leste de Gileade. Nos dias de Saul,
prática que atualmente vai-se tomando mais e mais Israel derrotou por duas vezes essas tribos, tendo-as
comum, através da inseminação artificial. O orgulho saqueado, conforme era costume na época; e,
e o ciúme tomaram conta dos corações. Sara teve finalmente, conquistou totalmente as terras deles (I
ciúmes da nova situação de mãe, de Hagar. E Hagar Crô. 5:10,19,22). Jaziz, o hagareno, foi nomeado por
encheu-se de orgulho e senso de superioridade sobre Davi para cuidar dos rebanhos do rei. O trecho de
Sara, por causa disso. Nas sociedades polígamas Salmos 83:6 refere-se a essa gente, agrupando-os
orientais, a primeira e principal esposa mantinha juntamente com Moabe, Edom e os ismaelitas. Eles
ascendência sobre as demais esposas. Em vista disso, eram inimigos de Israel, e viviam na Transjordânia.
as queixas de Sara contra Hagar foram atendidas por Uma inscrição de Tiglate-Pileser III (745—727 A.C.)
Abraão (ver Gên. 21:9 ss ). Mas tudo estava sendo menciona os hagarenos. Os estudiosos não conseguem
dirigido pelo Senhor, cujo pacto teria continuação afirmar com certeza se eles descendiam mesmo de
com Isaque, filho de Abraão e Sara. Os descendentes Hagar. E, em caso negativo, qual a origem desse
de Ismael sempre foram duros adversários dos vocábulo?
descendentes de Isaque. Esses dois irmãos também
ilustram a doutrina da eleição divina, segundo Paulo
esclarece em Gálatas 4:21-31. HAGERSTROM, AXEL
4. Fuga de Hagar. A fuga forçada de Hagar levou-a Nasceu em 1869 e faleceu em 1939. Ele foi um
em direção à sua própria terra, o Egito. Sua rota filósofo sueco que promovia o que ele mesmo
conduziu-a a Sur, através da região arenosa e denominava de «materialismo iluminado». Juntamen
desabitada, a oeste da Arábia Pétrea, com 240 km de te com os positivistas lógicos, ele afirmava que as
extensão, entre a Palestina e o Egito. Era uma rota declarações de natureza metafísica não têm sentido, e
comumente seguida, pelo que ela não se perdeu. O muito se esforçou por retirá-las do vocabulário
anjo do Senhor encontrou-a próxima de uma fonte, filosófico. Também assevera que os julgamentos de
recomendando que retornasse à sua senhora e se valor e aqueles relacionados a obrigações, não têm
mostrasse submissa, acrescentando a promessa de peso como verdades, mas apenas como expressões
que seu filho, Ismael, teria inúmeros descendentes. emocionais. Ele é conhecido como o fundador da
5. A volta. O lugar onde Hagar recebeu sua visão Escola Suppa de filosofia. Seus escritos mais bem
passou a ser chamado de Beer-lahai-roi, «fonte do divulgados foram (com títulos em inglês): The
Deus visível». Partindo dali, ela voltou a Sara e foi Principie o f Science; Inquiries into the Nature o f Law
recebida de volta. O filho de Hagar, Ismael, recebeu an d M orais; Philosophy and Science.
um nome que significa «Deus ouvirá». Isaque nasceu
somente catorze anos mais tarde. Quando Isaque
tinha dois ou três anos de idade, Ismael ofendeu HAGI
grandemente a Sara, zombando do menino. Por esse No hebraico, «festivo». Esse era o nome do segundo
motivo, Hagar foi definitivamente expulsa de casa por filho de Gade (Gên. 46:16 e Núm. 26:15). Foi o
Sara, e Ismael acompanhou sua mãe (ver Gên. 21:9 fundador de uma família que se tornou conhecida
ss ). pelo nome de «hagritas» (ver I Crô. 11:38), embora
nossa versão portuguesa diga ali apenas «Mibar, filho
Abraão, apesar de muito condoer-se de Hagar e de Hagri». Ele viveu por volta de 1670 A.C.
Ismael, anuiu ante a decisão de Sara. Longe de casa,
Ismael adoeceu, e Hagar ficou esperando pela morte
do rapazinho. Porém, o anjo do Senhor interveio HAGIÕGRAFA
novamente, orientando-a na direção de uma fonte. Esse vocábulo vem do grego ágios, «sagrado» e
Nada mais somos informados na Bíblia acerca de grapho, «escrever», pelo que significa «escritos
Hagar, exceto o que diz respeito a Ismael, —que sagrados». Essa designação é de origem cristã,
se estabeleceu no deserto de Parã, nas circunvizi referindo-se à terceira divisão do cânon hebraico das
nhanças do Sinai, onde terminou casando-se com Escrituras do Antigo Testamento. Essas divisões são
uma mulher egípcia (ver Gên. 21:1-21). Ismael as seguintes:
tornou-se um dos progenitores das tribos árabes,
especialmente aduelas mais ao sul da Arábia, as quais 1. A Lei, também conhecida por Pentateuco,
curiosamente, tem uma ascendência hebraico-egíp compõe-se dos cinco primeiros livros do Antigo
cia. Ver o artigo sobre Ism ael. Testamento. Esses são os livros de Moisés.
2. Os Profetas. Essa divisão subdivide-se em
6. M etáfora de Paulo, em Gálatas 4:21-31. Como já profetas anteriores, começando com Josué e ter
dissemos, Paulo aplica alegoricamente o relato sobre minando com I e II Reis; e profetas posteriores, de
Hagar para indicar que aquela escrava e seu filho Isaías a Malaquias.
representavam o antigo pacto com Israel, ao passo
que Sara e Isaque retratam o caminho da graça e da 3. Os Escritos (Hagiógrafa) são os seguintes livros:
liberdade que caracteriza o novo pacto, firmado com Salmos, Provérbios, Jó, Cantares de Salomão, Rute,
todos os crentes de qualquer raça. Essa aplicação do Lamentações, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras,
relato deve ter sido repelente para os judeus, os quais Neemias, I e II Crônicas — treze livros ao todo. No
não podiam ver como eles poderiam ser considerados Talmude, o livro de Rute aparece em primeiro lugar,
descendentes de Ismael. Fisicamente não o são, mas nessa lista.
apenas espiritualm ente, enquanto se mantêm na Essa divisão parece ter sido criada nos meados do
incredulidade. (Ver o NTI, sobre Gálatas 4:21 ss , século II A.C., mas o nome Hagiógrafa é de invenção
onde são dadas notas expositivas completas a esse cristã. Josefo (Âpion 1.38-41) segue a grosso modo
respeito). (TH UN Z) essa divisão, mas inclui apenas quatro livros nessa
14
HAGIOGRAFIA - HALI
terceira seção. É significante a observação de que o li M ibar (vide), um dos trinta poderosos guerreiros de
vro de Daniel, de acordo com esse arranjo, não aparece Davi. Muitos estudiosos pensam que esse nome era
entre os livros proféticos. Mas, de acordo com a uma forma corrompida de Bani, o gadita, que
terceira seção restrita, de Josefo, é possível que Daniel aparece no trecho paralelo de II Sam. 23:36. Ele viveu
tivesse sido posto entre os livros proféticos. Os quatro por volta de 1040 A.C.
livros incluídos por Josefo, nos escritos, foram:
Salmos, Cantares de Salomão, Provérbios e Eclesias-
tes. Jesus dividia o Antigo Testamento em três partes: HAHN, HANS
a Lei, os Profetas e os Salmos (ver Luc. 24:44). É Ver sobre o Circulo Vienenae doe Pocitivistaa
possível que o termo «Salmos», dentro dessa Lógico«.
passagem, designe a Hagiógrafo inteira, embora isso
seja apenas uma conjectura.
HALA
No hebraico, um nome próprio de sentido incerto.
HAGIOGRAFIA Tal palavra, porém, designa um distrito ou uma
Essa palavra vem do grego ágios, «santo», e grapho, cidade da Média, às margens do rio Cabur,
«escrever». Esse termo designa òs escritos que narram provavelmente perto de Gozã. Foi para ali, entre
a história de santos e homens piedosos, em suas vidas, vários outros lugares, que os assírios deportaram a
ensinamentos e bom exemplo. Esses escritos honram muitos dos filhos de Israel (ver sobre o Cativeiro
tais pessoas e contam suas histórias com o propósito Assírio). Os trechos bíblicos que mencionam esse
de prover bons exemplos a serem seguidos por aqueles nome são II Reis 17:16; 18:11 e I Crô. 5:26.
de menores realizações espirituais. Os mártires são ali Os arqueólogos e os historiadores não têm sido
alistados, e a celebração de seus aniversários é capazes de identificar com certeza essa região ou
recomendada em alguns desses escritos. Os escritores cidade. Vários lugares têm sido propostos, como
mais bem conhecidos desse tipo de material, nos Hilacu (na Cilicia), Halacu (perto de Quircuque),
tempos modernos, foram os Bollandistas. Calcítia (referida por Ptolomeu, perto de Gozã), e
Poderíamos citar exemplos desse tipo de obra Calá(esta última de fama bíblica; vide). Neste último
escrita, como os A tos dos M ártires Sicilianos; Paixão lugar, têm sido encontrados nomes tipicamente
das Santas Perpétua e Felicidade; O M artírio de hebreus; mas é difícil ver como Haia poderia ter
Policarpo; A Vida de A ntônio. provindo de Calá.
Houve um grande florescimento de hagiografias
gregas, a começar pelo século VIII D.C., o que HALACÀ
prosseguiu até o século XI D.C. Os centros dessa
atividade foram Constantinopla, a Ásia Menor, o No hebraico, «comportamento», «maneira de
monte Atos, a Palestina e a Calábria, no sul da Itália. andar». Esse é o termo que designa todas as leis,
No Ocidente havia a tradição de Atanásio, que ordenanças e deliberações legais dos rabinos, que
Jerônimo levou à frente. Ele produziu pessoalmente governavam a maneira judaica de viver. Alguns
escritos sobre os três santos monges, Paulo de Tebas, fariseus tolamente imaginavam que o próprio Deus
Malco e Hilário. Também houve a Vida de M ortinho havia dado a Moisés essa literatura, no monte Sinai, e
(bispo de Tours), escrita por Sulpício Seveu (faleceu não apenas os dez mandamentos e o Pentateuco. Essa
em cerca de 410 D.C.). Gregório de Tours produziu o massa de material tradicional veio a ser perpetuada
Livro dos M ilagres ; e o papa Gregório I (pontificou no Talm ude (vide). Esse material interpretava as
entre 590 e 604 D.C.) escreveu os seus Diálogos os Escrituras e representava uma crescente tradição,
quais determinaram o curso da hagiografia da Idade como obra de vários rabinos. Alguns judeus
Média. encaravam tais tradições como se elas protegessem a
lei e as Escrituras; mas outros judeus consideravam
Eusébio, o historiador eclesiástico, foi também o tais tradições inteiramente desnecessárias, além de
primeiro a escrever hagiografias profissionais. Ele corromperem, pelo menos em parte, os documentos
produziu um livro intitulado M ártires da Palestina. originais, inspirados pelo Espírito de Deus. Seja como
Também há hagiografias modernas. Lourenço for, cada pequeno detalhe da vida e da prática dos
Surius compilou um livro historiando as vidas dos judeus acabou sendo incluído ali. Jesus denunciou os
santos, intitulado De Probatis Sanctorum Historiis exageros e distorções dessa forma de atividade (Mar.
(1570 — 1575). João Bolland compilou uma obra 7:6-13).
similar, arranjando as vidas dos santos, e designando
os dias dos meses em que festas feitas em sua honra
deveriam ser celebradas. Os bollandistas, um grupo HALAQUE, MONTE
de eruditos jesuítas, levaram avante essa atividade. No hebraico, «desnudo». Indica uma montanha
(AM E) destituída de vegetação, localizada na fronteira sul
das conquistas militares de Josué (ver Jos. 11:17 e
HAGITE 12:7). Esse monte tem sido identificado com o Jebel
Halaq, no lado noroeste do wadi Marra, e a oeste da
No hebraico, «nascida em dia festivo». Esse era o subida de Acrabim (vide; Núm. 34:4; Jos. 15:3).
nome de uma das muitas esposas de Davi. Ela era
mãe de Adonias, que nasceu em Hebrom, onde Davi
havia estabelecido a sua capital. O nome dela é HALI
mencionado por cinco vezes ao todo: II Sam. 3:4; I No hebraico, «jóia» ou «colar». Esse era o nome de
Reis 1:5,11; 2:13 e I Crô. 3:2. Ela viveu por volta de uma cidade existente na Fenícia, e que mais tarde
1053 A.C. ficou fazendo parte do território de Aser (Jos. 19:25).
Essa cidade é mencionada juntamente com Elcate,
HAGRI Beten e Acsafe. Desconhece-se, entretanto, o local
No hebraico, «perambulador», «excursionista». Seu moderno dessa cidade.
nome ocorre somente em I Crô. 11:38. Ele foi pai de
15
HALICARNASSO - HALUL
HALICARNASSO judaica, eram usados durante a lua nova e as festas
dos Tabernáculos, do Chanukah, de Pentecoste e da
Essa era uma antiga cidade que ficava nas praias do Páscoa. A expressão «Grande Hallel» aplica-se ao
norte do golfo Cerâmico, na Cária. Nesse mesmo local Salmo 136 (ou aos Salmos 120 — 136), onde há vinte e
há hoje a cidade moderna de Bodrum, na parte seis reiterações da palavra «louvor». Por sua vez, os
sudoeste da Turquia. As tradições antigas informam- Salmos 113—118 são denominados de Hallel Egípcio
nos de que, originalmente, o local era ocupado pelos ou Hallel Comum.
cários, e que os gregos vieram estabelecer-se no local,
já no século XI A.C. Remanescentes posteriores da Enquanto o templo de Jerusalém continuava de pé,
era miceniana têm sido descobertos ali pelos esse Hallel era repetido por dezoito dias a cada ano;
arqueólogos. mas era entoado à noite somente durante o período da
páscoa. Nessa ocasião, era dividido em partes. Os
Halicarnasso foi fundada por colonos dórios, mas Salmos 113 e 114 eram entoados antes da refeição,
ficou excluída da confederação dos estados cários, por imediatamente antes de ser ingerido o segundo cálice;
causa de alguma antiga disputa, que manteve aqueles os Salmos 115 a 118 eram entoados após ser cheio o
povos em estado de turbulência (Herodoto, H ist. quarto cálice. A isso é que se refere o trecho de Mat.
1:144). Os persas, com o tempo, dominaram a região, 26:30 (repetido em Mar. 14:26): «E, tendo cantado
mas permitiram que seus habitantes desfrutassem de um hino, saíram para o Monte das Oliveiras». É
um bom grau de autonomia. No século V A.C., a provável que esteja em vista a última porção desse
cidade tomou-se parte da liga de Delos. E, pelo século Hallel, embora alguns eruditos suponham que esteja
IV A.C., ela já era essencialmente independente, em pauta o Grande Hallel, ou seja, o Salmo 136.
embora nominalmente controlada por uma satrapia.
O mais poderoso e famoso de seus governantes,
Mausolo, mudou sua capital de Milasa para HALLEVI, YEHUDAH (Judá)
Halicarnasso, em cerca de 362 A.C. Ele foi sepultado
em um magnificente túmulo, chamado em grego Seu nome próprio também se grafa como Ha-Levi.
M ausoleion, erigido pela rainha Artemísia, em cerca Ele foi um filósofo e teólogo judeu, nascido em
de 350 A.C., o qual veio a tornar-se uma das sete Tudela, na Espanha. Suas datas foram 1075 - 1141.
maravilhas do mundo antigo. Daí é que se deriva Visitou muitos lugares em suas viagens, tendo
nossa moderna palavra «mausoléu», que indica residido em lugares como Córdoba, Granada, Cairo, e
qualquer sepulcro grande e imponente. talvez, Jerusalém. Ele defendia o judaísmo tradicional
como superior tanto ao cristianismo quanto ao
Alexandre, o Grande, lançou cerco à cidade, a qual islamismo. Ele escrevia em árabe, e sua obra melhor
resistiu por muito tempo, antes de render-se e os seus conhecida intitula-se Livro de A rgum entos e Provas
habitantes sofreram grandemente durante o cerco. em Defesa da Fé D esprezada. Essa obra também é
Irado ante a resistência, Alexandre incendiou a conhecida apenas como O K hazar, por causa de Bulà,
cidade, o que foi um desserviço à humanidade e à rei de Khazar, que se converteu ao judaísmo, em
história. Em seguida, a cidade foi governada pelos cerca de 740 D.C. Hallevi também se declarava
Ptolomeus (vide), até o ano de 197 A.C. Nesse ano ela favorável à filosofia, mas rejeitava o seu primado
se tornou independente, por algum tempo, antes de sobre a religião. Nisso, a sua atitude assemelha-se à
sucumbir diante do poder romano; mas, quando isso de al-Ghazali (vide).
sucedeu, ela era cidade de pouca importância. Hallevi respeitava muito as lições que derivamos da
Há duas referências bíblicas à cidade de Halicar história, acima mesmo dos ditames da razão. Ele
nasso, posto que indiretas. Halicarnasso foi uma das muito se utilizava do papel da nação judaica no
cidades independentes para onde os romanos desenrolar da história; e, nessa história, via provas
enviaram missivas, em 139 A.C., declarando a para a sua doutrina. Os sionistas modernos muito
amizade de Roma aos judeus do lugar, defendendo os respeitam suas idéias e prezam os seus escritos.
direitos deles (I Macabeus 15:23). E Josefo (A n ti. Idéias. Ele defendia o judaísmo como a verdaderia
14:10,23) refere-se à ordem passada na cidade, revelação, degradando tanto o cristianismo quanto o
permitindo que os judeus construíssem lugares de islamismo. Atacava a noção aristotélica da eternidade
oração à beira-mar, conforme era costume deles, a fim da matéria; defendia um livre-arbítrio humano
de que pudessem observar apropriadamente o sábado limitado; ensinava a existência de causas intermediá
e cumprir outros seus deveres religiosos. rias, pois não admitia que Deus fosse a única causa de
todos os acontecimentos; promovia a crença em
HALLAJ revelações diretas; defendia o conceito da imortalida
de da alma como algo essencial à fé religiosa; e,
Hallaj foi um místico islamita que foi executado sob finalmente, conferia à filosofia o seu lugar, embora a
a acusação de blasfêmia, em 922 D.C. Ele havia considerasse inadequada, se considerada isoladamen
clamado em Bagdá: «Eu sou a realidade». Essa te.
terminologia só podia ser aplicada a Deus, de acordo
com os islamitas. No islamismo, a grande blasfêmia
imperdoável é quando alguém se faz de Deus ou de HALOÉS
divino em qualquer sentido, ou quando ensina que No hebraico, «sussurrador», «encantador». Era o
qualquer ser pode ser divino, exceto Alá. No entanto, nome do pai de Salum. Este último ajudou a reparar
Hallaj ensinava que o homem é um ser essencialmente as muralhas de Jerusalém (Nee. 3:12). Seu pai esteve
divino, por haver sido criado à imagem de Deus. entre aqueles que assinaram o pacto estabelecido com
Também ensinava que Deus encarna-se em cada ser Esdras (Nee. 10:24). Haloés viveu por volta de 445
humano, e não o fez meramente em Adão e em Jesus. A.C.
Ele era membro dossifis (vide), os. quais repudiaram a
sua doutrina.
HALUL
No hebraico, «esburacada». Uma cidade existente
HALLEL na região montanhosa de Judá, mencionada apenas
Essa palavra hebraica significa «louvor». Serve de èm Jos. 15:58. Até hoje existe essa cidade, cerca de
subtítulo dos Salmos 113—118, os quais, na liturgia seis quilômetros e meio ao norte de Hebrom.
16
H AM Ã - H A M A TE
HAMÃ confusão sobre esse vocábulo. Em outras versões e
No hebraico, «célebre», «magnificente». Nas adições traduções o nome aparece por duas vezes, em Jer.
apócrifas ao livro de Ester, o seu nome aparece com a 36:26 e em Jer. 38:6. Entretanto, em nossa versão
forma de Amã, de acordo com a Septuaginta (Est. portuguesa ocorre somente em Jer. 36:26, como se
12:6; 16:10,17). Também era nome aplicado antiga fosse um nome próprio.
mente ao planeta Mercúrio. Hamã era um dos oficiais Os estudiosos preferem pensar que se trata apenas
favoritos do rei da Pérsia, Xerxes, atuando como seu do termo hebraico comum que significa «o rei» (o
primeiro ministro. Na Bíblia, é mencionado somente prefixo ha é o artigo definido). Nesse caso, haveria a
no livro de Ester (vide). Era filho de Hamedata, o menção, respectivamente, a Jeoiaquim e, no segundo
agagita. caso, a Zedequias, nunca tendo existido qualquer
homem com o nome de Hameleque. De fato, essa é a
Tornou-se Hamã um figadal adversário de Morde- interpretação, em nossa versão portuguesa, em Jer.
cai, primo da rainha Ester. E isso porque, sendo 38:6, mas não em Jer. 36:26. Os revisores devem ter
judeu, Mordecai recusava-se a prostrar-se diante do deixado escapar este último versículo na revisão, e
rei ou de qualquer de seus oficiais, o que parecia um assim ficou retido o erro no mesmo.
profundo desrespeito para Hamã. Por ser um agagita
(Agague era uma espécie de titulo dos reis
amalequitas), é bem possível que ele pertencesse a HAM ANN, HOHANN GEORG
uma linhagem real. É provável que seus antepassados Suas datas foram 1730—1788. Foi um filósofo e
tivessem chegado à Pérsia como cativos. Mas, sendo teólogo protestante alemão, alcunhado M agus des
homem inteligente e astuto, Hamã subiu a um elevado N ordens (Sábio do Norte). Ele nasceu emi Königs
posto no governo. Provavelmente, Mordecai era por berg, na Prússia, e faleceu em Munster, na Westfália.
ele considerado como um competidor pelo poder, ou Exerceu poderosa influência sobre o pensamento
como um dos favoritos do monarca persa. O ciúme e a alemão, por meio do classicismo e do realismo
inveja transmuturam-se na ira assassina, e Mordecai religioso. Herder, Jacobi, Goethe, e Hegel tiraram
foi assinalado por Hamã para ser morto. Hamã estava proveito de seus pensamentos, os quais mostram
resolvido a livrar-se de Mordecai; mas seu plano a sua grande estatura como pensador.
ambicioso tinha por intuito produzir a matança de Hamann enfatizava a vida em sua inteireza, em
toda a comunidade judaica do império persa (uma contraste com as abstrações, divisões e artifícios em
antiga manifestação de genocídio, do que Hitler é um que muitas pessoas se envolvem. Ele era dotado de um
exemplo mais recente). Hamã preparou uma forca profundo senso do divino, encontrando em Deus a
(vide), ou talvez uma estaca de empalação(vide), onde
Mordecai seria executado. Em seguida, Hamã raiz de toda a realidade. Ele acreditava que a
cuidaria em desfazer-se de todos os judeus. revelação de Deus é ampla, podendo ser vista na
natureza, na linguagem, na história e até nas
Mordecai recebeu notícias dos planos homicidas de instituições sociais. Procurava demonstrar que todas
Hamã e utilizou-se de Ester, sua prima, que se essas coisas compartilham dos mesmos elementos
tornara a rainha de Xerxes, para que ela intercedesse estruturais, referindo-se à mesma Mente Divina,
em favor dele mesmo e em favor dos judeus em geral. como procedentes dela.
Ester atuou por meio do esquema de dois banquetes. Ele não se contentava em amoldar-se a sistemas,
No primeiro banquete, ela conseguiu fazer Xerxes pelo que também se recusava a prover as idéias do
conferir muitas honrarias a Mordecai, por serviços Iluminismo (vide) de sua época. Antes, ele adotava
prestados antes à coroa, e que ainda não haviam sido uma postura de personalismo religioso e literário, que
recompensados. No segundo banquete, ela informou ensinava o respeito às crenças e estilos individuais. Ele
o rei acerca dos planos de Hamã. Tomando atacava tanto o Iluminismo quanto Emanuel Kant de
conhecimento do plano traiçoeiro, Xerxes reagiu com haverem esvaziado a razão, a linguagem, a tradição e
violência, e ordenou que Hamã fosse executado na a história de seus elementos vitais. Por outra parte,
mesma forca que havia sido preparada para elogiava a Sócrates e a Hume, por causa da
Mordecai. Algumas vezes, conforme diz um ditado independência do espirito deles, e porque inquiriam
popular, «o feitiço vira contra o feiticeiro», punindo pessoalmente pela verdade. Encarava a realidade
àqueles que se voltam contra os inocentes. Como como um sacramento divino, e a linguagem como um
medida de segurança, Xerxes mandou ou permitiu a meio de nossa entrada ao significado da realidade. Se
execução dos dez filhos de Hamã. Essa era uma ele fora apelidado de «Sábio do Norte», alterou isso
maneira comum de proceder, por parte dos monarcas para «Verme do Norte», em atitude de autodeprecia-
antigos. ção.
A festa de Purim, celebrada pelos judeus, relembra
esses acontecimentos, trazendo à memória do povo de
Israel um exemplo de como a providência de Deus
atua em favor deles. O relato sobre Hamã aparece nos HAMATE
capítulos terceiro e nono do livro de Ester. No hebraico, «fortaleza», «murada». Era uma
Posteriormente, a festa de Purim causou dificuldades cidade da Síria, cerca de duzentos quilômetros ao
entre os cristãos e os judeus, porque estes últimos norte de Damasco. Na qualidade de cidade-estado,
tinham o mau gosto de pendurar uma efígie algumas vezes foi chamada de pequeno reino da Síria.
representando Hamã em uma estrutura parecida com Zobá ficava mais para o leste; Reobe, mais para o sul.
uma cruz. Os cristãos consideravam isso uma Esse lugar foi conquistado pelos israelitas, e veio a ser
blasfêmia, pensando que os judeus tinham uma a fronteira norte da Terra Prometida (Núm. 13:21).
segunda intenção ao usarem para isso uma cruz. O Cercada de colinas, tinha um clima quente e úmido.
imperador Teodósio II (Cod. Theod. 16:8,18) proibiu A arqueologia tem mostrado que foi fundada ainda
qualquer prática dessa natureza. Ver o artigo geral no período neolítico, tendo sido destruída em cerca de
sobre Festas (F estividades) Judaicas. 1750 A.C., provavelmente pelos hicsos, embora nãe
contemos com provas diretas para essa especulação.
Todavia, sabe-se que Tutmés III (1502-1448 A.C.)
HAMALEQUE tomou a cidade e a área geral em redor, quando o
Em nossa versão portuguesa há considerável Egito controlava a Síria. Em cerca de 900 A.C.,
17
H AM A TE - HAM ILTO N
tornou-se a capital dos hititas, bem como o centro de que ele foi o pai da casa de Recabe, e que ele era um
um pequeno reino. Os arqueólogos têm descoberto dos queneus (vide).
muitas evidências acerca desse período.
Os assírios invadiram essa área sob Salmaneser III
(cerca de 860 — 825 A.C.). Ele encontrara a HAMATE, ENTRADA DE
resistência de uma federação de quinze reis, entre os Essa era a área na fronteira sul do território
quais estavam os monarcas de Damasco, de Israel e controlada pela cidade de Hamate (vide). Essa era a
de Hamate. Uma feroz batalha, ocorrida em 854 fronteira norte ideal, profetizada, de Israel. Mas,
A.C., deixou as questões longe de serem resolvidas. somente nos tempos de Davi, de Salomão e de
Três anos mais tarde, Salmaneser III foi novamente Jeroboào II, a fronteira norte de Israel chegou,
repelido pela liga. — No entanto, ele se mostrou realmente, até ali. Ver Núm. 13:21; 34:8; Jos. 13:5;
ser um atacante incansável, e foi capaz de Juí. 3:3; I Reis 8:65; II Reis 14:25; I CrÔ. 13:5; II Crô.
destruir e saquear várias cidades da área. Finalmente, 7:8; Amós 6:14. Ezequiel previu o tempo em que a
derrotou a liga de quinze reis. Tiglate-Pileser III, da fronteira norte de Israel estender-se-ia até aquele
Assíria (745 — 727 A.C.), obrigou Hamate a pagar ponto (Eze. 47:16,20). É impossível, entretanto,
tributos. Sargão II destruiu a cidade, em 720 A.C., determinar exatamente qual o ponto geográfico
tendo levado muitos dali para o cativeiro. Ele colocou referido, embora saibamos que ficava em algum lugar
alguns israelitas em Hamate, a fim de repovoar o entré as montanhas do Líbano e do Antilíbano,
lugar (Isa. 11:11). O Antigo Testamento contém provavelmente na porção mais baixa do vale do On.
várias referências à conquista de Hamate pelos Uma estrada que conduzia a Hamate atravessava a
assírios. Ver II Reis 18:34; 19:13; Isa. 10:9; 36:19; região. O trecho de Núm. 13:21 situa a entrada de
37:13; Amós 6:2. A referência em Amós 6:2; que Hamate, juntaménte com Reobe, perto do território
chama a cidade de Hamate de «grande», indica algo de Dã. Alguns eruditos dizem que está em pauta o vale
de sua antiga importância. do Orontes, entre Antioquia e a Selêucia, que fazia
Os babilônios, por seu turno, chegaram a controlar parte da Coele-Síria, no território de Ribla.
a cidade. Ver Jer. 49:23; Zac. 9:2. Ezequiel
profetizou que as fronteiras do norte do território de
Israel algum dia estender-se-iam até Hamate (Eze. HAMATE-ZOBÀ
47:6 e 48:1). Essa era uma cidade conquistada por Salomão.
As conquistas de Alexandre, o Grande, fizeram Ficava localizada perto de Tadmor (II Crô. 8:3; sua
todo o território em redor de Hamate tornar-se parte única ocorrência em toda a Bíblia). Alguns estudiosos
do império dele. Após a sua morte, a dinastia dos a têm identificado com H am ate (vide), mas há outros
Selêucidas passou a dominar a área. Antíoco IV que pensam que o sufixo Zobá mostra que era uma
Epifânio rebatizou a cidade com o nome de Epifania cidade distinta daquela. Poderia ser, portanto, uma
(ver Josefo, A n ti. 1:6,2). Quando os Macabeus cidade existente no território de Zobá, um reino
guerrearam contra os Selêucidas, Jônatas enfrentou o arameu, registrado nos anais assírios, e que se
exército de Demétrio perto de Hamate. Juntamente estendia até às margens do Eufrates, no século X
com o resto da Palestina, essa região acabou nas mãos A.C., servindo de ameaça para o império assírio.
dos romanos, antes da época de Cristo; e essa era a Mas, visto que o sufixo Zobá significa «fortaleza», há
sua situação, nos dias do Novo Testamento. também aqueles eruditos que pensam que temos aí
No local, há uma cidade moderna, construída em apenas uma referência a Hamate. Na verdade, os
redor do cômoro da antiga cidade. Chama-se Hama e estudiosos não têm conseguido chegar a uma opinião
tem uma população de cerca de sessenta e cinco mil unânime a respeito.
habitantes. Escavações arqueológicas efetuadas ali
têm desenterrado nada menos de doze níveis de
HAMATEUS
ocupação, a começar pelo período neolítico.
H am ate de Naftali. Em nossa versão portuguesa,
Esse é o patronímico de certos descendentes de
há uma outra cidade, cujo nome é grafado do mesmo Canaã, que residiam no extremo norte da Palestina.
Por esse motivo, é possível que a menção envolva os
modo, embora com diferenças no original hebraico. habitantes de Hamate (vide). Essa palavra, ham ateus,
No original, pois, seu nome significa «fontes termais». ocorre no Antigo Testamento por duas vezes: Gên.
Essa outra cidade é referida na Bíblia somente por 10:18 e I Crô. 1:16, onde também são mencionados os
uma vez, em Jos. 19:35. Ficava localizada próxima da naturais de outros lugares.
moderna Hamman Tabarihye, famosa por seus
banhos termais, cerca de três quilômetros ao sul de
Tiberíades, nas praias ocidentais do mar da Galiléia. HAMEDATA
Alguns estudiosos identificam-na com Hamom (I. No hebraico, «dado por Hom». Seu nome aparece
Crô. 6:76), com Hamote-Dor (Jos. 21:32) ou com somente no livro de Ester, por cinco vezes: Est.
Emaús, mencionada por Josefo (A n ti. 18:2,3; Guerras 3:1,10; 8:5; 9:10,24. Ele foi o pai de Hamã, o agagita,
4:1,3). As referências a essa cidade, no Talmude, que era um dos cortesãos do rei da Pérsia (Assuero ou
situam-na cerca de um quilôm. e meio de Tiberíades. Xerxes?). Hamedata deve ter vivido por volta de 550
Eles a chamavam de C ham m ath, «banhos termais». A.C.
Atualmente existem três h u m a n n , ou fontes de águas O nome «agagita», dado tanto a Hamedata quanto
aquecidas, naquela região, cujas águas sulfurosas a seu filho, provavelmente era um título nobiliárqui
correm todas para um mesmo lugar, cerca de quase co, talvez indicando que sua família pertencia à corte
dois quilômetros ao sul da cidade moderna. O trecho real dos amalequitas, visto que A gague era um título
de Jos. 21:32 chama o lugar de Hamote-Dorte; mas, real entre eles, tal como Faraó o era entre os egípcios.
em I Crô. 6:76 lemos apenas Hamom. Q que se sabe sobre Hamã aparece no artigo sobre ele.
Mas, quanto a Hamedata, só possuímos essas
informações.
HAMATE (PESSOA)
O nome desse homem figura exclusivamente em I HAMILTON, SIR WDLXIAM
Crô. 2:55. A única informação que possuímos dele é Suas datas foram 1788—1856. Ele foi um filósofo
H A M O LEQ U ETE - HAM UL
escocês, que atuou como professor, em Edimburgo. «Vale das Forças de Gogue». Outros estudiosos
Tornou-se melhor conhecido, no campo da filosofia, opinam que está em foco a cidade de Bete-Seã, e que
por causa de sua teoria sobre a consciência e por Hamona é uma interpolação. Parece melhor entender
causa de certas idéias sobre a epistemologia. Ele Hamona simplesmente como nome figurado do lugar
acreditava que todo conhecimento humano é relativo, onde aqueles adversários de Israel, dos tempos do
limitado às experiências humanas. Portanto, também fim, serão sepultados, sem qualquer tentativa de
cria que o infinito não pode ser conhecido (posição do identificar alguma cidade com esse nome.
agnosticismo; vide). Entretanto, ele também ensinava
que o Ser Infinito pode ser experimentado através da
certeza moral oferecida pela fé. Isso posto, apesar do HAMOR
nosso conhecimento estar alicerçado sobre a fen o - No hebraico, «asno». Era o nome de um príncipe de
menologia empírica (vide), a fé poderia transcender Siquém. Ele foi o pai de Siquém, que desvirginou
essa limitação, conduzindo-nos até ao Não-condicio- Diná (vide). Ela era a filha caçula de Jacó (Gên. 34:2).
nado. A razão requer esse transporte ou extrapolação Em Atos 7:16, Estêvão asseverou que «nossos pais»
até ao não-condicionado, embora seja incapaz de foram sepultados em um túmulo que Abraão
concebê-lo. A fé é capaz de experimentá-lo, embora comprara dos filhos de Hamor, em Siquém. Porém,
não possa oferecer descrições racionais, conferindo- Abraão adquiriu um túmulo em Macpela, e não em
nos fórmulas adequadas a respeito. Siquém (Gên. 23:17 ss), e Jacó foi sepultado ali. As
soluções que têm sido propostas para essa discrepân
cia são expostas nas notas expositivas do NTI, em
HAMOLEQUETE Atos. 7:16. Quanto à história geral que envolveu
No hebraico, «a rainha». Essa palavra aparece Diná, ver o artigo acerca dela.
somente em I Crô. 7:18. Nossa versão portuguesa
grafa o nome com «H» maiusculo, como se fosse um
nome próprio feminino; mas os Targuns dizem «que HAMOTE-DOR
reinou». Portanto, se, realmente, está em foco um No hebraico, «fontes termais». O nome dessa cidade
nome'próprio, então a alusão é à filha de Maquir e aparece somente em Jos. 21:32. Era uma cidade
irmã de Gileade. Mas, se os Targuns estão certos, levitica, no território de Naftali, entregue à família de
então o texto meramente diz que a irmã de Gileade Gérson. Provavelmente deve ser identificada com
reinou, sem especificar o nome dela. As tradições Hamate (vide), a menos que houvesse duas cidades
judaicas afirmam que ela governou toda a região de com o mesmo nome, que, atualmente, não podem ser
Gileade, e que por causa desse fato, a linhagem dela distinguidas uma da outra. Provavelmente é a
foi preservada nas genealogias. Ela viveu em algum moderna cidade de Hamman Tabariyeh, um pouco
tempo entre 1874 e 1658 A.C. Entre seus três filhos mais ao sul de Tiberíades.
estava Abiezer, de cuja família proveio o grande juiz,
Gideão (vide).
HAMPSHIRE, STUART NEWTON
Ele nasceu em 1914. Trata-se de um filósofo inglês
HAMOM que ensinou no Colégio da Universidade da Filosofia
No hebraico, «quente», «ensolarado», e, talvez da Mente e da Lógica, em Londres. Também ensinou
«incandescente». Esse era o nome de duas cidades, no Colégio Warden of Wadham, em Oxford. Seu
mencionadas nas páginas do Antigo Testamento: pensamento é esboçado no seu livro Thought and
1. Uma cidade levitica da tribo de Naftali, Action (Pensamento e Ação). Ele rejeitava a noção
outorgada aos gersonitas (I Crô. 6:70). Tem sido cética de que o mundo só pode ser analisado em
identificada pelos estudiosos com Hamate (vide), termos das impressões dos sentidos. E supunha que a
aludida em Jos. 19:35, e, talvez, seja a mesma própria linguagem pressupõe seres identificáveis,
Hamote-Dor, de Jos. 21:32. persistentes, e que a autoconsciência é um dos modos
2. Uma cidade do território de Aser (Jos. 19:28). como uma pessoa se situa no mundo. A personalidade
Aparentemente, ficava localizada a meio caminho seria mais do que mero intelecto contemplativo. Ela
entre o território de Naftali e a cidade de Sidon. também incluiria a vontade e os atos da pessoa. A
Alguns eruditos têm-na identificado com ‘A in H am ul, liberdade do indivíduo é demonstrada quando
cerca de dezesseis quilômetros ao sul de Tiro; mas não alguém, mediante a vontade, pode derrotar as
há certeza quanto a isso. Outros sugerem U m m E l intenções. Apesar de termos de continuar tentando
'Aw am id, perto de Ras en-Naqurah, mas essa definir a bondade, esse conceito, em si mesmo, é
identificação também é incerta. Renan (M ission de indispensável como uma base da ética.
Phenice, págs. 708 ss) encontrou duas inscrições
fenícias em honra a Baal H am om , em Khirbet
Ummel-’amud, que fica perto da costa marítima, HAMUEL
imediatamente ao norte da Escada de Tiro (vide). No hebraico, «calor de Deus», ou «ira de Deus».
Também há quem pense na interpretação «sol de
Deus». Esse era o nome do filho de Misma e pai de
HAMONA Zacur. Ele era da tribo de Simeão (I Crô. 4:26). Deve
ter vivido por volta de 1200 A.C.
No hebraico, «multidão». O trecho de Eze. 39:16
prediz que o sepultamento de Gogue e seu exército
ocorrerá nesse lugar. Os estudiosos desconhecem HAMUL
qualquer cidade na Palestina com esse nome. Talvez No hebraico, «compadecido», «poupado». Era um
se trate de um uso metafórico do termo. Visto que dos filhos de Perez(Gên. 46:12; I Crô. 2:5), cabeça de
haverá uma tremenda matança, qualquer lugar onde uma família que tinha o seu nome (Núm. 26:21).
isso venha a suceder poderá ser chamado de M ultidão.
Alguns lêem o texto que ali existe como se fosse «e Viveu por volta de 1870 A.C. Neste último versículo
todas as suas multidões», em Eze. 39:11. A nossa eles são chamados de «hamulitas».
versão portuguesa prefere interpretar esse nome como
19
HAMURABI - HAMURABI, CÓDIGO DE
HAMURAB1 subido muito, na Babilônia, desde os tempos de
Hamurabi, e a cidade que ele conheceu e embelezou
Essa palavra significa «Amu é grande». Amu era não é acessível para o trabalho dos arqueólogos.
uma divindade dos amorreus e dos cananeus
orientais. Ver o artigo geral sobre a Babilônia. Ver A fama de Hamurabi não repousa tanto sobre suas
também sobre H am urabi, Código de. conquistas e realizações, conforme mostramos acima,
mas sobre sua obra como compilador de leis,
Hamurabi foi um rei da primeira dinastia da organizador e benfeitor. Isso é descrito no artigo sobre
Babilônia. Governou de 1792 a 1750 A.C., com uma H am urabi, Código de.
margem de erro de sessenta anos para mais ou para
menos. A ele se credita o feito de haver unificado a
Babilônia. Tornou-se famoso, acima de tudo, por sua HAM URABI, CÓDIGO DE
contribuição como legislador, através da coletânea de Esboço:
leis conhecida como Código de H am urabi, sobre o I. Descoberta
qual expomos um artigo separado. II. Códigos Mais Antigos
Hamurabi foi o sexto rei da dinastia dos amorreus III. Natureza Geral do Código de Hamurabi
da Babilônia. Os eruditos informam-nos de que a IV. Algumas Leis Específicas
forma mais correta de grafar o seu nome é H am urapi. V. Funções do Código de Hamurabi
Essa dinastia descendia de xeques do deserto
ocidental, em relação à Babilônia. O seu nome é VI. O Código de Hamurabi e a Lei Mosaica
tipicamente semita ocidental, e não babilónico. I. Descoberta
Quando Hamurabi ascendeu ao trono, por ocasião da Ver o artigo separado sobre Hamurabi. Em 1901 e
morte de seu pai, Sin-Mubalite, a dinastia de que ele 1902, uma escavação feita por arqueólogos franceses
fazia parte já estava governando fazia cerca de cem em Susã, numa região que atualmente faz parte do
anos. Evidentemente, essa dinastia governou durante Irã, descobriu uma esteia de diorito negro, com cerca
um período de paz externa, e sem conflitos intensos, de 2,10 m de altura. Figuras esculpidas na parte
mas também não desempenhou qualquer parte ativa superior da mesma mostram um rei mesopotâmico
na confusa política mesopotâmica. Quando Hamura recebendo as insígnias de sua autoridade, por parte de
bi começou a reinar, a Mesopotâmia e a Síria estavam uma divindade. O texto gravado nessa esteia foi feito
divididas em um quadro de xadrez de pequenos em escrita cuneiforme acádica. O texto elogia a
estados, engajados em constantes conflitos uns contra piedade e a justiça de Hamurabi, rei da Babilônia,
os outros. Hamurabi, pois, iniciou várias campanhas que governou no século XVIII A.C. Contém um
militares e construiu templos e edifícios para uso civil. código de leis.
Porém, somente quando já estava reinando fazia Essa foi uma descoberta sensacional, porquanto
trinta anos é que suas atividades levaram-no a trata-se do primeiro código legal a ser descoberto, de
tornar-se cabeça dos estados mesopotâmicos, com o antes dos textos bíblicos. Atualmente, códigos mais
que se conseguiu uma unidade geral. Quando ele antigos ainda já foram descobertos, mas esse continua
derrotou o seu grande rival e vizinho do sul, Rin-Sin, sendo o mais extenso e o mais bem preservado de
de Larsa, subitamente viu-se guindado à posição de todos os códigos encontrados no Oriente Médio. A
maior autoridade da área. Naturalmente, houve esteia, originalmente, foi posta em alguma cidade da
outros eventos significativos que levaram até a esse Babilônia, talvez na própria cidade da Babilônia, ou
ponto, e essa aparência de ter acontecido subitamente em Sipar. Fora levada para Susã como parte dos
mostra-nos apenas a nossa falta de conhecimentos despojos tomados por algum monarca elamita do
sobre a história dessa época. século XII A.C. Têm sido encontrados outros códigos
Sabemos que os reinos de Mari e de Esnuna eram legais babilónicos, que lançam luz e acrescentam
aliados de Hamurabi, quando ele encetou sua detalhes aos escritos da esteia de Hamurabi. Mas esse
campanha militar contra Larsa. No entanto, dois anos código de Hamurabi continuou muito popular e
mais tarde, Hamurabi conquistou Mari, e, mais cinco generalizado durante mais de dez séculos, o que^ é
anos, era a.vez de Esnuna. Portanto, há detalhes comprovado pelo fato de que os arqueólogos têm
desse período confuso, de consolidação, sobre o que descoberto muitas porções do mesmo, pertencentes a
nada sabemos. Seja como for, as vitórias de tempos posteriores.
Hamurabi sobre Larsa, Mari e Esnuna tornaram-no o Ê curioso e significativo que essa esteia afirma que
dono do território desde o golfo Pérsico até à Assíria. um deus babilónico foi o criador do código. Ali é dito
Não se sabe dizer se ele combateu contra os assírios; que esse código fo i dado a Hamurabi. A maioria dos
mas, se houve choques armados com a Assíria, nada povos, naturalmente, tem pensado que suas leis e seus
de importante resultou disso. Seu reino estendia-se costumes têm sido divinamente inspirados. No caso
desde os sopés das colinas do Zapros até o curso do código de Hamurabi, quem teria dado o mesmo a
médio do rio Eufrates. Seu território, contudo, era ele foi o deus babilónico da justiça, Samás.
menor do que aquele governado por Narã-Sin, de H. Códigos Mais Antigos
Acade, ou pelo outro, governado por Ur-Namu, de
Ur, de tempos anteriores. Além disso, seu reino não Sabe-se que houve três coleções de leis, na língua
perdurou por muito tempo. Seu reino relativamente suméria, antes do aparecimento do código de
pequeno ficava mais ou menos no centro da Hamurabi, a saber:
Babilônia. I. Várias-leis e reformas foram promovidas por
Urucagina, rei de Lagás, na Suméria, em cerca de
As Cartas de Mari são a mais rica fonte de 2400 A.C.
informação sobre Hamurabi. Elas o apresentam como 2. Namu, fundador da terceira dinastia de Ur
um benfeitor e hábil administrador. Ele dava atenção (cerca de 2100 A.C.) também tinha a sua própria
até à questões secundárias, em vez de delegar tais coleção de leis.
coisas a subordinados. Ele ajudava àqueles que 3. Lipite-Istar, rei de Isis (cerca de 1800 A.C.),
sofriam por causa de calamidades e construiu grandes também tinha sua coleção de leis.
sistemas de irrigação. A arqueologia não nos tem 4. O único código de leis que, segundo se sabe,
conseguido prestar muitas informações sobre os antecede ao de Hamurabi, e de origem acádica, é o de
tempos dele. O nível de águas subterrâneas tem um rei desconhecido de Esnuna, a nordeste da
20
H A M U R A B I, CÓDIGO DE
Babilônia. Porém, não era muito mais antigo que o de eram punidos com a morte. O adultério com uma
Hamurabi. O código de Hamurabi, sem dúvida, não mulher casada envolvia a morte tanto para o homem
se desenvolveu no vácuo. Pelo contrário, desenvolveu- quanto para a mulher, como em Deu. 22:22. Os
se durante um longo período de tempo, a começar, estupradores eram executados, tal como em Deu.
pelo menos, desde 2100 A.C. 22:25. Uma concubina era protegida por lei contra o
m. Natureza Geral do Código de Hamurabi divórcio ou a redução à servidão, a menos que ela
Esse código tem 282 parágrafos que tratam sobre viesse a cometer ofensas contra a esposa legítima.
questões civis, criminais e comerciais. Essas leis Nesse caso, uma concubina poderia ser severamente
abrangiam todas as atividades comuns das pessoas. punida. O incesto era punido com severidade. Um
Ali aparece a lista de crimes, com suas devidas hebreu podia divorciar-se de uma esposa enferma (ver
punições, conforme se vê em todos os códigos legais. Deu. 24:1); mas, na Babilônia, um homem não podia
A omissão de leis sobre o homicídio é surpreendente. fazer isso, pois, se o fizesse, estaria sujeito a castigo.
As punições requeridas para outros crimes são as Qualquer tipo de assalto era severamente castigado.
mesmas que se conhecem em todos os períodos da Dentro dessa categoria ficava o erro de um cirurgião
história. A punição capital era requerida para vários que prejudicasse a um seu cliente, ou algum erro de
tipos de crimes, devendo ser executada mediante a fabricação, como na construção de uma embarcação,
morte na fogueira, a empalação ou o afogamento. Mas que terminasse causando danos a seu proprietário. Se
também havia punições menores, como a de açoites, a um filho desobediente cometesse alguma violência
de mutilações diversas e a de pagamento de multas. contra um de seus pais, perdia o membro com que o
Além disso, aprisionamento ou exílio eram exigidos tivesse atacado.
no caso de certos crimes. As mulheres tinham muitos 3. Outras Leis e Provisões. No artigo sobre a
direitos, mas não eram consideradas iguais aos Babilônia (5.f), oferecemos uma discussão sobre as
homens, perante a lei. práticas morais e éticas dos babilônios. Naquele
material, várias leis que governavam a sociedade
Há um prólogo elaborado, como também um babilónica foram mencionadas, incluindo aquelas de
epílogo, nesse código, o que ocupa cerca de uma Hamurabi, mas indo mais além que essas suas leis. O
quinta parte do volume total escrito. O prólogo elogia código de Hamurabi se encerrava com leis que
Hamurabi por sua sabedoria e justiça, por sua controlavam o comércio de escravos, o que provia um
preocupação com o bem-estar do povo, e com a sua labor barato, e era uma das principais instituições das
promoção do culto aos deuses, em várias cidades da nações da antiguidade.
Mesopotâmia. O epílogo prossegue nesses elogios ao
rei, por sua piedade pessoal, e recomenda as suas V . Funções do Código de Hamurabi
estipulações legais à posteridade. Finalmente, há uma No artigo sobre a Babilônia (5.f), último parágrafo,
maldição invocada sobre quem quer que altere oferecemos um comentário sobre o fato de que os
aquelas leis ou apague o que está escrito na esteia. babilônios, tal como todos os povos, tinham leis que
IV. Algumas Leis Especificas eles não cumpriam à risca. A história e a arqueologia
1. Categorias A m plas: 1 — 5: Ofensas contra a demonstram que eles não viviam à altura da nobreza
administração da justiça e falsa acusação. 6 — 25: de suas próprias leis. Naturalmente, outro tanto
Ofensas contra a propriedade, como furto, roubo e sucedia entre os israelitas, circunstância essa que tem
ocultamento de escravos fugitivos. 26 e ss: trechos servido de temas para incontáveis sermões. A
apagados aqui, foram preenchidos com base em perversão da natureza humana garante esse resulta
outras fontes: leis sobre a terra, casas, direito de posse do. A função das leis, na antiga Babilônia, continua
do governo, danos às propriedades, aluguéis, etc. sendo um assunto controvertido entre os historiado
Outros trechos apagados e preenchidos — 126: res. Sabemos também que situações especificas, não
Muitas leis comerciais, regulamentação de dívidas, cobertas pelas leis escritas, eram resolvidas pelos
depósitos, etc., 127 — 194: Leis concernente ao juízes. Podemos supor que os juizes punham em vigor
matrimônio, à posição da família, à propriedade, à os conceitos gerais do código de Hamurabi. Em caso
legitimação, à adoção, à herança e às ofensas sexuais. contrário, seria impossível explicar como esse código
195 — 214: Assaltos. 215 — 240: Regulamentação de continuou vigorando por tanto tempo, naquela
profissões como a de médicos, barbeiros, construtores, sociedade. A esteia que contém essas leis era uma
construtores de embarcações, embarcadiços, agricul espécie de memorial da vitória da lei e da prática
tores, pastores e sobre o abuso de implementos justa; e, a menos que as leis estivessem sendo postas
agrícolas e de suprimentos. 268 — 277: Salários e em prática, — nada teria havido para celebrar.
taxas livres para uso de animais, trabalhadores, A compilação do código, na esteia, ocorreu
artesãos e embarcações. 278 — 282: Leis que regulam somente alguns poucos anos após a morte de
o tráfico de escravos. Hamurabi, mas durante dez séculos, essas leis
continuaram governando a sociedade babilónica.
2. Ofensas e Punições Específicas. Falso testemu VI. O Código de Hamurabi e a Lei Moaaica
nho e bruxaria eram estritamente proibidos, merecen Há um número suficiente de paralelos, entre esses
do severas penas, embora não a punição capital. dois códigos, para que sejamos levados a crer que
Porém, a pena de morte era imposta para casos de ambos tiveram um pano de fundo comum. Alguns
furto e receptação de propriedades roubadas, se estas estudiosos têm pensado que a lei mosaica foi tomada
tivessem sido levadas de um templo ou palácio. Em por empréstimo e adaptada com base em fontes
outros casos, era imposta uma restituição dez vezes babilónicas; porém, uma declaração mais acurada a
maior. Isso pode ser contrastado com as estipulações respeito seria que tanto uma .quanto a outra
de Exo..22:l e Lev. 6:2, onde se requer uma dupla repousavam sobre uma lei tradicional comum, que
restituição. A pena de morte, contudo, podia ser. caracterizava os povos semitas daquela porção do
imposta ao furto, mesmo que não estivesse envolvido mundo antigo, incluindo, finalmente, aqueles que se
algum palácio ou templo. Um ladrão podia ser estabeleceram na Palestina. Naturalmente, um e
vendido como escravo, a fim de pagar a dívida outro desses códigos tinham seus pontos distintivos,
incorrida por seu furto. O seqüestro era punido com a visto que as leis, tal como a cultura, são coisas que se
morte, o que também se vê em Exo. 21:16 e Deu. desenvolvem. Além disso, devemos pensar na
24:7. Por igual modo, o furto de escravos e o saque iluminação espiritual, que faz a lei transcender a
H AM U TAL - H A N A N IA S
formas comuns de legislação, assumindo aspectos HANANEEL
mais espirituais. Tanto a lei moSaica quanto o código No hebraico, «Deus favoreceu». Esse foi um
de Hamurabi são extremamente severos, de acordo israelita que emprestou seu nome a uma das torres de
com os padrões modernos, impondo a sentença de Jerusalém (ver Nee. 3:1; 12:39; Jer. 31:38; Zac.
morte para crimes que atualmente são considerados 14:10).
sem gravidade. (AM BOH DM ND Z)
HANANEEL, TORRE DE
HAMUTAL
No hebraico, «parente do orvalho». Esse era o nome Essa torre fazia parte das muralhas de Jerusalém
(Nee. 3:1 e 12:39). Ficava localizada perto da esquina
de uma filha de Jeremias, de Libna, que veio a nordeste da cidade, não muito distante da Porta das
tornar-se esposa de Josias, o rei, e mãe de Jeoacaz e de Ovelhas. Esse portão ia desde esse ponto até à torre.
Zedequias, ambos reis de Judá. Ver II Reis 23:31; Não se sabe dizer por que motivo a torre tinha esse
24:18; Jer. 5:2. Viveu por volta de 632 ou 619 A.C. nome. Sabe-se, porém, que a Torre de Antônia (vide),
finalmente, substituiu a torre de Hananeel.
HANÃ
No hebraico, «misericordioso», nome de nove HANANI
homens, referidos nas páginas do Antigo Testamento, No hebraico, «gracioso». Esse foi o nome de vários
a saber: homens que figuram nas páginas do Antigo
1. Um dos chefes da tribo de Benjamim (I Crô. Testamento:
8:23), que viveu em cerca de 1500 A.C. Mas os 1. O filho de Hemã, um profeta que ajudou Davi.
eruditos diferem muito quanto à cronologia de sua Ele era o cabeça do décimo oitavo turno de sacerdotes
época. que serviam no templo de Jerusalém (I Crô. 25:4). Ele
2. O sexto filho de Azei, descendente de Saul (I viveu em cerca de 1014 A.C.
Crô. 8:38 e 9:44), e que viveu por volta de 588 A.C. 2. Um profeta que atuou na época do rei Asa, de
3. Um filho de Jigdalias (Jer. 35:4), que viveu por Judá. O rei mandou detê-lo e lançá-lo na prisão. Isso
volta de 600 A.C. Seus filhos viviam em uma das foi ocasionado pela declaração do profeta de que o
câmaras do templo de Jerusalém. Presume-se que eles monarca perdera a oportunidade de dominar os sírios
se ocupavam de serviços no templo. inimigos. Ver II Crô. 16:7. Alguns eruditos supõem
4. O filho de Maaca. Ele foi um dos trinta que esse mesmo homem era pai de um outro profeta,
poderosos guerreiros de Davi (I Crô. 11:43). Viveu por de nome Jeú (I Reis 16:7); mas, as circunstâncias e a
volta do ano 1000 A.C. cronologia parecem contrárias a essa suposição.
5. Os filhos de Hanã retornaram entre os netinins 3. Um sacerdote do tempo de Esdras, que se casara
ou servos do templo, depois do cativeiro babilónico com uma mulher estrangeira (Esd. 10:20), e viu-se
(vide), em companhia de Zorobabel. Ver Esd. 2:46 e obrigado a divorciar-se dela. Viveu em cerca de 459
Nee. 7:49. O tempo foi cerca de 536 A.C. A.C. Ver também I Esdras 9:21.
6. Um levita que ajudou Esdras a instruir o povo 4. Nome de um irmão de Neemias. Ele trouxe
quanto à lei mosaica, após o cativeiro babilónico notícias de Jerusalém a Susã, a respeito da miserável
(Nee. 8:7). Uma pessoa com o mesmo nome, em Nee. condição dos judeus que haviam retomado do
10:10, conforme a maior parte dos eruditos, seria o cativeiro babilónico. Ver Nee. 1:2. Posteriormente, foi
mesmo indivíduo. Ele viveu por volta de 410 A.C. nomeado governador de Jerusalém (Nee. 7:2). Viveu
7. Um dos chefes do povo, que assinou o pacto com por volta de 455 A.C.
Neemias, terminado o cativeiro babilónico (Nee. 5. Um sacerdote, um músico que oficiou na
10:26). Viveu por volta de 410 A.C. cerimônia da purificação das muralhas de Jerusalém,
8. Um dos filhos de Zacar. Seu trabalho consistia que haviam sido reconstruídas ainda bem recente
em cuidar dos fundos provenientes dos dízimos, sob o mente (Nee. 12:36). Viyeu por volta de 445 A.C.
poder de Neemias (Nee. 13:13). Viveu por volta de
410 A.C. HANANIAS
9. Ainda um outro homem que assinou o pacto com No hebraico, «a bondade de Yahweh». Esse é o
Neemias (Nee. 10:22). Viveu por volta de 410 A.C. nome de nada menos de catorze homens, referidos nas
páginas do Antigo Testamento:
1. Um dos filhos de Zorobabel, e pai de Pelatias e
HANAMEL Jesaías(I Crô. 3:19,21). Sua época foi em tomo de 536
No hebraico, «Deus é gracioso», embora também A.C. Ele figura na genealogia de Jesus.
possa significar «Deus deu». Esse era o nome de um 2. Um benjamita, filho de Sasaque (I Crô. 8:24).
dos filhos de Salum, e tio de Jeremias. Ele vendeu um Tornou-se cabeça de um dos clãs da tribo de
campo a Jeremias, antes do cerco de Jerusalém pelos Benjamim. Viveu por volta de 605 A.C.
babilônios. Esse foi um ato simbólico, mostrando a fé 3. Um dos filhos de Hemã. Era músico e profeta;
de que os negócios finalmente voltariam ao normal, cabeça do sexto dos vinte e quatro turnos de
em tempos normais. Jeremias, o comprador, a sacerdotes que serviam no templo de Jerusalém (I
despeito das calamidades do momento, tornou-se Crô. 25:4,23). Viveu em cerca de 1014 A.C.
assim o proprietário daquelas terras, que havia 4. Um comandante militar sob o rei Uzias (II Crô.
adquirido. Ver Jer. 32:6-15. Hanamel, como levita 26:11). Viveu em cerca de 803 A.C.
que era, não podia vender terras pertencentes à casta
sacerdotal; ou então, nesse tempo, o preceito de Lev. 5. Um filho de Azur, gibeonita. Foi um falso
25:34 havia caído em desuso. Porém, é possível que profeta que fez oposição a Jeremias. Ele provocou
aquelas terras pertencessem ao lado materno de sua uma rebelião entre o povo de Israel, e a sentença
família; e, nesse caso, tais terras podiam ser vendidas. divina de morte foi proferida contra ele. Ele
profetizava entusiásticas profecias de imediata restau
ração e volta do cativeiro babilónico para Israel, e
assim insuflava falsas esperanças em Israel. Ver Jer.
22
H A N A N IA S - H AN F E I TZU
'28. Sua época foi por volta de 596 A.C. uma figura pública a maior parte de sua vida adulta, e
6. O pai de Zedequias, um príncipe de Judá, da não foi esquecido por ocasião de sua morte. Fez
época de Jeoaquim (Jer. 36:12). Viveu em cerca de importantes contribuições a todos os campos da
605 A.C. música, mas tornou-se melhor conhecido por seu
7. O avô de Jerias, capitão da guarda que deteve o oratório em inglês. A mais famosa de suas peças é seu
profeta Jeremias, sob a falsa acusação de que ele imortal Messias, que tem sido muito usado em
tencionava desertar para os babilônios (Jer. 37:13-15). programas musicais desde que foi composto. Ele
Viveu por volta de 589 A.C. afirmava tê-lo composto por inspiração divina.
8. Um dos companheiros de Davi, cujo nome foi Escreveu-o em tão pouco tempo que a maioria dos
alterado para Sadraque(vide), pelos babilônios (Dan. músicos nem ao menos seria capaz de copiar a peça
1:6,7; I Macabeus 2:59). Viveu em cerca de 550 A.C. tão rapidamente, quanto menos compô-la. Estrita
9. Um levita, filho de Bebai, que se casara com uma mente falando, os oratórios não são músicas sacras.
mulher estrangeira, durante o exílio babilónico, mas Antes, seu intuito é serem apresentados em teatros,
teve de divorciar-se dela após retornar a Jerusalém com o acompanhamento de orquestra e coro. Um
(Esd. 10:28; I Esdras 9:29). Viveu em cerca de 459 oratório podia ser um ensaio musical, sobre um tema
A.C. moral ou outro tema elevado; e o estilo dos oratórios
prestava-se para servir de música sacra.
10. Um sacerdote que tinha por encargo preparar os Handel nasceu em Halle, uma cidade no sudoeste
perfumes e ungüentos (Exo. 30:22-38; I Crô. 9:30). da Alemanha Oriental. Naturalizou-se cidadão inglês
Ele reparou uma parte das muralhas de Jerusalém,
sob a liderança de Neemias (Nee. 3:8). Sua época foi em 1727. Era filho de um cirurgião barbeiro, que
cerca de 446 A.C. queria que ele fosse advogado. Porém, em 1702,
Handel ingressou na Universidade de Halle e foi
11. Um homem que ajudou a reconstruir as nomeado organista da catedral de Halle. Dali, ele
muralhas de Jerusalém, sob a orientação de Neemias. mudou-se para Hamburgo, onde tocava o violino e a
A parte que lhe coube ficava acima da Porta Oriental espineta na orquestra da ópera. Sua primeira
(Nee. 3:30). Alguns eruditos identificam-no com o ópera, Alm ira, foi produzida e levada ao palco ali, em
mesmo Hananias anterior (sob o número dez, acima). 1705. dando início à sua carreira musical de maneira
12. Um governador das fortalezas ou portões de irrevogável. Handel escreveu muitas óperas e obras-
Jerusalém, que esteve associado a Neemias após o primas da música em outros estilos musicais. O seu
cativeiro babilónico. Há comentários sobre a sua M essias foi levado a efeito, pela primeira vez, em
piedade pessoal. Ver Nee. 7:2. Ele era fiel e temia a Dublin, na Irlanda, em 1742. Ele escreveu outras-
Deus mais do que muitos (Nee. 7:2). Viveu por volta notáveis peças de música sacra, algumas das quais
de 446 A.C. oratórios.
13. Um líder dos judeus, que assinou o pacto com Após uma brilhante e variegada carreira, Handel
Neemias, terminado o cativeiro babilónico (Nee. faleceu em Londres, na Inglaterra, a 14 de abril de
10:23). Viveu por volta de 446 A.C. 1759, tendo sido sepultado na abadia de Westminster.
14. Um sacerdote que esteve presente à dedicação
das muralhas de Jerusalém, depois que elas tinham
sido refeitas, terminado o cativeiro babilónico (Nee. HANES
12:12,41). Ele era chefe de um dos vinte e quatro Alguns estudiosos pensam que esse nome significa
turnos sacerdotais que serviam ao templo. Viveu por «Mercúrio». Era uma cidade do Egito, nas vizinhan
volta de 446 A.C. ças de Zoã (Tânis), mencionada na Bíblia somente em
Isa. 30:4. Outros identificam-na com Heracleópolis
Magna, capital da parte norte do Alto Egito, cerca de
HANATOM oitenta quilômetros ao sul de Mênfis, um pouco ao sul
No hebraico, «dedicada à graça» ou «favorecida». de Fayyum. Durante as dinastias XXV e XXVI era
Esse era o nome de um lugar ou cidade, na fronteira uma cidade importante (cerca de 715 — 600 A.C.).
norte da tribo de Zebulom (Jos. 19:14), cerca de meio Outros eruditos identificam-na com Heracleópolis
caminho entre o mar da Galiléia e o vale de Jifitael. Parva, na porção oriental do Delta do Nilo. Ainda
Os tabletes de Tell el-Amarna (do século XIV A.C.) outros estudiosos pensam que era outro nome de
dão duas referências a esse lugar. Os anais de Tapanes, uma cidade fortificada na fronteira oriental
Tiglate-Pileser III (747-727 A.C.) também mencio do Egito. A paráfrase aramaica da passagem nos
nam esse lugar por uma vez. Tem sido, tentativamen transmite essa idéia. Entretanto, é possível que
te, identificado com o moderno Tell el-Badeiwiyeh, a palavra Hanes não indique qualquer lugar ou
um lugar ligeiramente ao norte de Nazaré, embora a cidade, mas, antes, seja uma transliteraçâo do
localização exata seja desconhecida. vocábulo egípcio hwtnsw, que significa «mansão do
rei». Nesse caso, tudo quanto temos no texto é o fato
de que o rei do Egito contava com um palácio para
HANBAL, IBN sua conveniência em Zoã (Tânis).
Faleceu em 885 D.C. Ele foi o fundador de uma das
quatro escolas ortodoxas da lei islâmica, que foi a
escola dominante na Mesopotâmia e na Síria. HAN FEI TZU
Finalmente, a escola hanifita a ultrapassou em Filósofo chinês do século III A.C. Era príncipe de
importância. Han e sistematizador da Escola Legalista (vide) de
Filosofia. Em 233 A.C., cometeu suicídio, aparente
mente porque não foi aceito pelo rei da China como
HANDEL, GEORGE FREDERIC um serviçal do governo.
1685-1759 foram suas datas. Ele foi um compositor Idéias:
anglo-germânico que, — juntamente com seu 1. Apesar de louváveis, a virtude e a gentileza não
contemporâneo, Johann Sebastian Bach, é reconheci são suficientes para pôr fim às desordens. Em
do como um dos dois maiores compositores dos fins qualquer Estado, torna-se mister um poder que
do período barroco. Diferentemente de Bach, ele foi inspire respeito e temor. Existe tal coisa como homens
23
H A N IE L - H AN YUZ
bons, mas essa nào é a norma da humanidade. O se fosse uma espécie de purificação do helenismo que
governante de um Estado precisa tratar com todos os ali se instalou, e não meramente uma purificação
tipos de homens, incluindo aqueles que são ineren do próprio templo. Essa festa também é chamada de
temente maus. Portanto, eles devem treinar a Festa das Luzes. Isso se originou da lenda de que um
severidade e a flexibilidade, usando tanto a punição pequeno receptáculo de azeite não contaminado
como a bondade, como suas duas principais maneiras supriu o combustível para acender as lâmpadas
de agir. durante os oito dias da festa original. Desde então,
2. O confucionismo e o moísmo tinham um ponto luzes, como tochas, lâmpadas e velas, têm sido uma
de vista exageradamente otimista da natureza característica proeminente nessa celebração. Ver
humana. Louvavam a humanidade e a retidão, mas comentários adicionais sobre essa festa, no artigo
olvidavam-se da depravação essencial do homem. geral intitulado Festas (Festivais ) Judaicas. Ver
Ademais, os reis bem-sucedidos são aqueles que sabem especialmente o ponto III.2 do mesmo.
como usar a sua autoridade; e aqueles que são sábios
e humanitários não são muito comuns. Aqueles que se
mostram tais não obtêm sucesso necessário, ao HANUM
tentarem governar homens maus e imprevisíveis. No hebraico, «gracioso» ou «favorecido». Há três
3. Tao (ver sobre o Taoísmó) é um princípio que homens com esse nome, nas páginas do Antigo
operaria no mundo, controlando todas as coisas. Testamento:
Utiliza-se de forças materiais para alcançar os seus 1. Nome do filho do sucessor de Naás, rei dos
propósitos. Todo governante sábio tenta empregar o amonitas. Algumas vezes, as boas intenções são mal-
principio do tao , no seu exercício do poder. interpretadas, e daí seguem-se desgraças. Naás, pai de
Hanum, mostrara-se amigável para com Davi. E
assim, quando Hanum subiu ao trono de Amom, por
HANIEL ocasião do falecimento de seu pai, Davi lhe enviou
No hebraico, «graça de Deus». Esse é o nome de uma embaixada, a fim de congratulá-lo e de
dois homens, mencionados nas páginas do Antigo oferecer condolências, por causa da morte de seu pai.
Testamento: Hanum, porém, deve ter lido perversas intenções da
1. Nome de um filho de Êfode, que era um dos parte de Davi, e, dessa forma, ofendeu grosseiramen
líderes da tribo de Manassés (Núm. 34:23). Ele foi te aos embaixadores judeus. Suas barbas foram
nomeado para ser superintendente da distribuição das cortadas pela metade e suas vestes foram cortadas de
terras qué ficavam a oeste do rio Jordão. Ele viveu por modo a deixar as nádegas aparecendo. Ora, a barba
volta de 1618 A.C. era muito respeitada pelos antigos hebreus (ver sobre
2. Um dos filhos de Ula. Foi guerreiro e príncipe da a Barba), pelo que danificá-la era um dos piores
tribo de Aser. É mencionado somente em I Crô. 7:39. insultos. Hanum, porém, sem dúvida, sabia que Davi
Viveu por volta de 720 A.C. não aceitaria essas coisas pacificamente. Talvez ele
até estivesse querendo provocar uma guerra e, se
assim foi, Davi nào o decepcionou.
HANOQUE Hanum conseguiu o apoio de outros reis sírios,
No hebraico, «iniciado». Foi nome de duas mas a aliança foi derrotada em duas batalhas
personagens referidas no Antigo Testamento: principais. Seguiu-se uma tremenda matança, o que
1. O terceiro filho de Midiã, neto de Abraão e era apenas usual, e os amonitas perderam a
Quetura (Gên. 25:4). Tornou-se cabeça de um dos independência. Os seus cidadãos foram reduzidos a
clãs midianitas. No trecho paralelo de I Crô. 1:33, seu trabalhos forçados. Davi obteve um rico despojo,
nome aparece com a forma de Enoque. Viveu por incluindo uma magnífica coroa de ouro, cravejada de
volta de 1800 A.C. pedras preciosas. Assim, a vida continuava como
2. O filho mais velho de Rúben (Gên. 46:9; Êxo. sempre tivera sido, nos dias de Davi. Sobi, irmão de
6:14; I Crô. 5:3). Foi o fundador do clã dos Hanum, ficou sendo o governante de Moabe, vassalo
hanoquitas, sobre quem se lê em Núm. 26:5. Viveu de Davi. O nome de Hanum aparece nos trechos de II
por volta de 1700 A.C. Sam. 10:1-4; II Crô. 19:2-4,6. Hanum deve ter vivido
por volta de 1037 A.C.
2. Em Neemias 3:13 há menção a um certo Hanum
HANRÂO que, juntamente com pessoas de Zanoa, reparou a
No hebraico, «vermelho». Ele era o filho mais velho Porta do Vale, nas muralhas de Jerusalém. Ele viveu
de Disom (I Crô. 1:41). Em Gên. 36:26, seu nome por volta de 445 A.C.
aparece com a forma de Hendam, «agradável». Ele 3. Em Neemias 3:30 há menção a um certo Hanum,
era bisneto de Seir, o horeu. Viveu por volta de 1700 o sexto filho de Zalafe, que reparou as muralhas de
A.C. Jerusalém, uma porção acima da Porta dos Cavalos.
Os estudiosos estão divididos quanto às suas opiniões
se esse terceiro capítulo de Neemias fala apenas sobre
HANUKKAH um homem ou sobre dois homens com esse nome. Seja
No hebraico, «dedicação», «consagração». Esse é o como for, eles eram contemporâneos (ver o ponto «2»,
nome de uma festividade judaica que durava oito acima).
dias, comemorando a rededicaçào do templo de
Jerusalém, em 165 A.C., depois que os Macabeus
haviam derrotado os exércitos siro-gregos, na guerra HAN YUZ
de libertação dos judeus. As principais personagens Suas datas foram 768 — 824 D.C. Ele foi um
nessa guerra foram Antíoco IV Epifânio e Judas filósofo chinês neoconfuciano que, juntamente com Li
Macabeu, sobre quem damos artigos separados nesta Ao (vide), emprestou orientação e caráter à filosofia
enciclopédia. Essas comemorações começam no neoconfuciana. Eles restauraram a ênfase histórica
vigésimo quinto dia do mês de quisleu, durante o sobre a natureza humana e impediram o aniquila
inverno (João 10:22). Os Macabeus purificaram o mento do sistema, ameaçado pelo taoísmo e pelo
templo, depois que o mesmo foi contaminado, como budismo. As mais importantes obras literárias de Han
HAPIZEZ - HARA
Yu chamam-se Uma Inquirição na Natureza pertencem, em sua maioria, ao período da dominação
H um ana e Uma Inquirição sobre o Tao. romana, no qual o local da cidade ficava nas
proximidades de Harã, perto do lugar onde os partos
derrotaram Crasso (53. A.C.). E outra parte dessas
HAPIZEZ ruínas pertence a ocupações posteriores, por parte de
No hebraico, «dispersão». Era o nome de um governantes sabeus e islamitas, quando esse lugar
sacerdote, descendente de Aarão. Sua família .recebeu o nome de Carrae. Por isso é que, no texto da
constituía o décimo oitavo turno dentre os vinte e versão da Septuaginta, essa localidade recebe um
quatro turnos de sacerdotes que serviam aos ritos nome similar, isto é Charran. (Ver o artigo sobre
religiosos instituídos por Davi (I Crô. 24:15). Viveu «Abraão»). Ele é mencionado aqui como o progenitor
por volta de 1030 A.C. da nação judaica; e isso nos mostra que Estêvão
(Atos 7:4) começou a sua narrativa acompanhando a
história da nação desde o seu ponto mais remoto.
HAQUILÂ
No hebraico, «trevas» ou «escuro». Esse era o nome Esse era o nome de uma cidade da Mesopotâmia,
de um monte cerca de dezesseis quilômetros ao sul de situada c. de trinta e dois quilômetros a suleste de
Jerico, onde Davi se ocultou de Saul, quando este o Urfa (Edessa), às margens do rio Balique, um
perseguia, com o intuito de matá-lo (I Sam. 23:19 e tributário do grande Eufrates. Ficava na porção
26:3). Saul acampou nesse monte. Ficava próximo do noroeste da Mesopotâmia. Alguns estudiosos pensam
deserto de Zife, o moderno Tell ez-Zif, ao sul de que o nome dessa cidade deriva-se de Harã, pai de Ló.
Hebrom. Porém, o local específico, mencionado na Porém, essa conjectura não tem qualquer base
Bíblia, nunca foi identificado. Jônatas Macabeu histórica. Abraão, depois de haver sido chamado por
construiu ali a fortaleza de Massada(vide), famosa na Deus, de Ur dos Caldeus, ficou em Harã durante
história judaica. algum tempo, até que seu pai, Terá, faleceu. Então,
Abraão prosseguiu até à terra de Canaã (Gên.
11:31,38; Atos 7:4). Parte da família, entretanto,
HARA permaneceu em Harã. Foi isso que armou o palco
para visitas posteriores ao lugar, como quando o servo
No caldaico, «montanha». A Vulgata Latina diz de Abraão foi enviado até ali, a fim de obter esposa
A ra, ao passo que a Septuaginta omite o nome. Para para Isaque (ver Gên. 24), ou como quando Jacó fugiu
esse e outros lugares (Haia, Habor e o rio Gozã), para evitar a ira de seu irmão, Esaú, a quem havia
Tiglate-Pileser 111, da Assíria, levou as tribos de enganado (ver Gên. 28:10). O trecho de Ezequiel
Rúben, Gade e a meia-tribo de Manassés. Ver sobre o 27:23 refere-se aos negociantes de Harã, que
Cativeiro Assírio. Isso ocorreu entre 734 e 732 A.C. negociavam com os tirios. Foi perto de Harã que o
O nome dessa cidade ocorre somente em I Crô. 5:36 exército romano foi derrotado pelos partas, quando
em toda a Bíblia. Visto que aqueles outros nomes foi morto o triúnviro Crasso.
Iocativos designavam lugares ou acidentes geográficos Nos tempos antigos, Harã ficava localizada em uma
da Mesopotâmia, na parte norte da mesma, sabe-se importante rota comercial, que vinculava a Babilônia
que ali também deveria ficar Hara. Todavia, no às margens do mar Mediterrâneo, fazendo-a prospe
trecho paralelo de II Reis 17:6 e 18:11, Hara não é rar. Escavações arqueológicas têm descoberto evidên
mencionada. cias de habitação, naquela localidade, até o terceiro
O texto hebraico diz «cidades dos medos», mas a milênio A.C. Salmaneser I, no século XIII A.C.,
Septuaginta diz «montanhas dos medos». Alguns conquistou-a. Uma inscrição de Tiglate-Pileser I
estudiosos supõem que o texto, em I Crô. 5:26, sofreu (cerca de 1115 A.C.), também menciona o lugar.
alguma forma de alteração. Ê possível que as palavras Durante muito tempo, Harã foi uma capital
«dos medos» tenham sido apagadas, e que a palavra provincial assíria, mas acabou destruída, por causa de
«montanhas» tenha sido acrescentada. Se essa sua rebeldia. Todavia, foi restaurada por ordem de
conjectura é correta, então o nome Hara designa uma Sargão II.
região montanhosa a leste do vale do rio Tigre. Unger, Assur-Urbalite, o último rei da Assíria, tornou
um erudito moderno, comentando sobre o lugar, Harã a sua capital, em 612 A.C., depois que Nínive
chama-o de uma província da Assíria. Seja como for, foi destruída pelos babilônios. Foi nessa ocasião que
ficava localizada na parte ocidental da Assíria, entre os assírios tentaram impor-se, pela última vez.
os rios Tigre e Eufrates. Porém, os assírios não foram bem-sucedidos, e o
império assírio chegou a um final súbito. Assur-Urba
HARÃ (LUGAR) lite teve de abandonar Harã em 610 A.C. Isso deixou
No hebraico, «ressecado». Se transliterássemos o os babilônios no firme controle de vastos territórios.
Harã foi sucessivamente governada, depois disso, por
nome para o português teríamos Charan. O texto zoroastrianos, cristãos nestorianos, islamitas e cruza
grego da Septuaginta diz Charran (ver também Atos dos. Atualmente, uma pequena aldeia árabe assinala
7:4), e a Vulgata Latina, Charrae. o local antigo.
Essa localidade ficava localizada cerca de trinta
e dois quilômetros a suleste de Urfa (Edessa), às
margens do rio Bali. Ficava na estrada principal que HARÃ (PESSOAS)
partia de Nínive até às margens do rio Eufrates e era Há três homens com esse nome, nas páginas da
um centro comercial importante, que mantinha Bíblia, a saber:
contacto com portos comerciais, tal como Tiro. (Ver 1. Um filho de Terá, irmão de Abraão e Naor. Ele
Eze. 27:23). Há escavações que mostram que vinha era o pai de Ló, e tinha duas filhas chamadas Milca e
sendo habitada pelo menos desde 3000 A.C. A Iscá. Ver Gên. 11:27-31. Faleceu antes de seu pai,
princípio foi dominada pelos assírios, e por longo Terá, o que parece ter sido um caso raro, porquanto é
tempo foi uma capital provincial assíria (chamada mencionado. Muitos estudiosos têm pensado que esse
Tartã). Posteriormente tomou-se capital dos assírios, nome significa ou «forte» ou «iluminado». Ele viveu
até que foi capturada pelos babilônios, em 609 A.C. por volta de 1990 A.C. Interessante é observar que
As ruínas dessa localidade, até hoje existentes, Iscá, filha de Harã, é considerada por alguns antigos
25
HARAD A - H A R ÉM
como a mesma Sara, esposa de Abraão. Entre esses páginas da Bíblia. O mais provável é que se refira a
poderíamos citar Josefo. Contudo, não se sabe qual a alguma cidade ou território. Entretanto, outros
base para essa opinião. estudiosos supõem que a palavra significa apenas
2. Um levita gersonita, da família de Simei, que ’«montanhês», como palavra derivada do termo
viveu nos dias de Davi (I Crô. 23:9). Viveu por volta hebraico har, «montanha».
de 1014 A.C.
3. Um filho de Calebe e sua concubina, Efá, tinha HARÀS
esse nome (I Crô. 2:46). Ele viveu por volta de 1618
A.C. No hebraico, «pobreza». Esse é o nome de dois
homens, que figuram nas páginas do Antigo
Testamento; ou de livros apócrifos do mesmo:
HARADA 1. Nome do avô de Salum. Ele era marido de
No hebraico, «lugar de terror». Esse era o nome da Hulda, uma profetisa que viveu nos dias de Josias (II
vigésima quinta estação ou ponto de parada dos Reis 22:14 e II Crô. 34:22). Em algumas versões, seu
israelitas, quando vagueavam pelo deserto do Sinai. O nome aparece com a forma de Hasrás, em II Reis
local é mencionado somente em Núm. 33:24. Ficava 22:14.
em algum ponto entre o monte Sefer e Maquelote, 2. O cabeça de um clã que atuava como servos do
embora se desconheça o local preciso. templo restaurado de Jerusalém, após terem voltado
do cativeiro babilónico em companhia de Zorobabel (I
Esdras 5:31). Esse nome não aparece nas listas
HARAlAS paralelas dos livros de Esdrás e Neemias.
No hebraico, «Yahweh protege». Esse era o nome
do pai de Uziel. Ele foi um ourives que ajudou a
reparar as muralhas de Jerusalém, sob a direção de HARBONA
Zorobabel, depois que os israelitas retornaram do No hebraico, «guia de asnos». Esse era o nome de
cativeiro babilónico (ver Nee. 3:8). Viveu por volta de um dos eunucos de Assuero ou Xerxes, mencionado
445 A.C. no livro de Ester. Seu nome é mencionado apenas por
duas vezes na Bíblia, em Ester 1:10 e 7:9. Ele agia
como camareiro-mor. Foi ele quem, por ordem do rei
HARAKIRI persa, trouxe a rainha Vasti à sua presença (Est.
Palavra japonesa que significa, literalmente, «golpe 1:10). E também foi ele quem sugeriu a Hamã que
no ventre». Esse é o nome vulgar de uma forma de preparasse uma forca para a execução do judeu
suicídio, mediante perfuração dos intestinos e outros Mordecai (Est. 7:9).
órgãos do ventre. Um nome mais nobre, em japonês, é
sepp uku . Essa forma de suicídio vem sendo praticada
no Japão desde tempos antigos. Era praticado HARE, RICHARD M.
principalmente por guerreiros conscientes, que não Nasceu em 1919. Um filósofo inglês, educado em
queriam ser capturados pelo inimigo. Durante os Oxford. Ensinou em Oxford. Era, essencialmente,
últimos anos do período Ashikaga (1338 — 1573), o um filósofo moral, que fazia oposição ao naturalismo
harakiri ficou restringido à classe dos sam urai, os (vide), argumentando que os juízos morais não são
guerreiros. Em tempos pacíficos, era praticado por descritivos, mas imperativos, visto que exercem
guerreiros condenados à execução, e que preferiam funções orientadoras das ações. Ele dava grande
executá-la pessoalmente, pensando ser isso mais atenção ao complexo comportamento lógico das
honroso. Também tornou-se uma forma de protesto palavras, como uma chave para a compreensão do
contra atos governamentais, tidos como desonrosos à comportamento ético. Acreditava que os termos éticos
nação. possuem sentidos tanto descritivos quanto avaliado
O ato chegou a tornar-se uma cerimônia, res.
acompanhada por todo um ritual. A cerimônia do
sepp uku chegava ao seu clímax quando o guerreiro HARÉM
cravava uma lâmina curta à altura do umbigo, da Esse vocábulo vem do árabe, harim, isto é algo
esquerda para a direita. O golpe de misericórdia era proibido ou sagrado. Deriva-se da raiz verbal harama,
dado por um auxiliar, o kaishaku, ou «segundo», que «proibir». Essa palavra é usada entre os islamitas para
decapitava a vitima com uma pesada espada de cabo» indicar os aposentos reservados às mulheres, como
duplo. Com freqüência, o ritual era testemunhado por também para as esposas e concubinas que ocupam
outras pessoas. Em tempos de guerra, coirio durante a tais aposentos, e para os lugares santos reservados
Segunda Guerra Mundial, os soldados japoneses exclusivamente aos fiéis. A idéia envolvida em um
fizeram ataques suicidas — os famosos kamikazes — harém é a noção de reclusão. A reclusão das mulheres
que podem, ser considerados um harakiri muito era um antigo costume dos semitas, visto que aquelas
honroso. Nem com isso, porém, eles ganharam a sociedades eram sempre poligamas. As muitas
guerra. mulheres de um homem eram abrigadas em lugares
A questão do suicídio. A filosofia e a teologia desde de acesso difícil, excetuando para pessoas autoriza
há muito têm investigado as implicações morais desse das. O islamismo não inventou tais práticas; tão-
ato. Ver o artigo separado sobre o Suicídio. somente sancionou-as, incorporando-as na vida
privada e religiosa dos seus adeptos.
O que nos admira mais, porém, é a poligamia que
HARARITA havia entre os hebreus. Ver o artigo separado sobre
Esse termo refere-se a três homens, ligados de esse assunto. Quanto a uma ilustração, ver o gráfico
alguma forma aos trinta poderosos guerreiros de onde estão alistadas as esposas e concubinas do rei
Davi. Foram Samá, filho de Agé, o hararita (II Sam. Davi. De forma um tanto frívola, muitas mulheres são
23:11), Sarna, o hararita, e Aião, filho de Sarar, assim mencionadas, mas sem que seu nomes sejam
ararita (II Sam. 23:33). Ver, igualmente, I Crô. revelados, porque ou o autor sagrado não tinha a
11:35. Desconhece-se o nome hararita fora das informação, ou porque pensava ser muito tedioso
26
H A R IF E - H A RM O NIA
entrar em tais detalhes. Naturalmente, um dos filhos estrangeiras, e tiveram de se separar delas. Firmaram
de Davi, Salomão, foi o campeão dos proprietários de o pacto com Neemias (Esd. 10:21 e Nee. 10:5). O
harém em Israel, pois o seu harém tinha mil trecho de I Crô. 24:8 mostra que havia uma família
mulheres, entre esposas e concubinas! com esse nome que pertencia ao terceiro turno dos
Não nos devemos olvidar, entretanto, que os sacerdotes, o que pode ter tido conexões com essa
antigos monarcas orientais tinham haréns numerosos, gente, mencionada depois do cativeiro babilónico.
muitas vezes por razões políticas, ou então para 3. Nome do pai de Malquias, o qual, juntamente
obterem maior prestígio entre seus súditos. É bem com Hassube, filho de Paate-Moabe, ajudou a
possível que muitas mulheres, nesses haréns, nunca reparar parte das muralhas de Jerusalém, após o
tivessem contacto sexual com seus proprietários. Por cativeiro babilónico. Ele pertencia a uma ou outra das
outra parte, o sexo era considerado muito livre para os duas famílias mencionadas acima, embora não haja
homens, mas muito limitado para as mulheres, o que, certeza a respeito de qual delas. Ver Nee. 3:11.
em si mesmo, envolve uma contradição difícil de
reconciliar. O Senhor Jesus ensinava o ideal de uma
mulher para um homem, embora esse ideal HAR-MAGEDOM
dificilmente se tenha cumprido na sociedade judaica. Ver sobre Annagedom .
De todos os haréns do islamismo, os haréns dos
sultões otomanos eram os mais renomados e
glamourosos. Essa prática teve começo no serralho HARMOM
(palácio) de Constantinopla (atual Istambul). A coisa Esse é o nome de um dos lugares para onde o povo
acabou se desenvolvendo em uma instituição, de Samaria haveria de ser exilado. Essa localidade é
abrigando, sob um mesmo teto, esposas, concubinas, mencionada exclusivamente em Amós 4:3. Porém,
parentas, escravas e eunucos. Era a mãe do rei quem não se conhece qualquer lugar com esse nome, nem
dirigia essa sociedade em miniatura. Os eunucos, na história e nem na arqueologia. Muitas correções do
quase todos eles negros, agiam como guardas de texto têm sido propostas, por causa desse nome
segurança. E, visto que elas não tinham muitas coisas desconhecido, mas nenhuma das sugestões tem sido
para fazer, as esposas e concubinas, nesses haréns, satisfatória. Algumas traduções dizem ali Armom. O
tornaram-se famosas por seus conluios em busca de Targum sobre esse texto diz «montes da Armênia».
poder político, especialmente aquele relacionado à Outras traduções dizem «Armom Mona», e isso, por
sucessão no trono. Muitos assassinatos políticos e sua vez, tem sido identificado com o reino de Mini
muitos dramas estranhos ocorreram, em conivência (vide), mencionado juntamente com o monte Ararate
com as intrigas iniciadas nos haréns. (um monte da Armênia), mencionado no trecho de
Mediante a influência da civilização ocidental, a Jer. 51:27.
começar pelo século XIX, foi entrando em declínio a
instituição do harém no Oriente Próximo e Médio.
Mas a prática nunca desapareceu de todo. Em 1926, a HARMONIA
poligamia foi declarada ilegal na Turquia. E foi isso Esboço:
que eliminou totalmente o sistema naquele país. Ver I. A Palavra
os artigos separados sobre M onogam ia e sobre II. Na Filosofia
M atrim ônio. III. Na Teologia
I. A Palavra
HARIFE Esse vocábulo vem do grego harmoa, que significa
No hebraico, outonal, palavra usada em referência «junção». A idéia básica é a unidade onde há a
às estações do ano, como também ao regime de cooperação dos elementos que formam essa unidade.
chuvas daquela época, ou a pessoas nascidas naquela Sinônim os : acordo, unidade, combinação, amizade,
estação. conformidade, unanimidade, união. Os antônim os
Esse era o nome de um israelita cujos descendentes são: discórdia, desunião, conflito, facção, partido.
voltaram para Jerusalém terminado o cativeiro II. Na Filosofia
babilónico (vide). Eles totalizavam cerca de cento e a. Dentro da antiga doutrina chinesa do meio-
doze pessoas. Talvez Harife seja o mesmo Jora, termo, a harmonia refere-se ao estado em que são
referido em Esd. 2:18. Ver também Nee. 7:24. Toda conseguidos sentimentos de prazer, com a exclusão da
essa gente assinou o pacto com Neemias e Esdras. Tal ira e da tristeza. A harmonia produz alegria. Isso
nome aplicava-se tanto ao cabeça do clã como ao resulta de um equilíbrio de forças ou influências. Se
próprio clã. houver elementos discordantes, como a ira e o
conflito, então seus efeitos prejudiciais são anulados,
e o equilíbrio geral é restabelecido.
HARLM b. Nos escritos de Pitágoras, esse termo tem uma
No hebraico, «consagrado», embora outros estudio aplicação cósmica. A astronomia estuda a harmonia
sos pensem em «nariz chato». Esse era o nome de duas dos corpos celestes. Dentro desse sistema, a harmonia
famílias e de um indivíduo, a saber: também é considerada uma necessidade para a boa
1. Uma família que retornou do cativeiro saúde do corpo humano.
babilónico (vide), em companhia de Zorobabel. Os c. Nos escritos de Tom ás d e A q u in o , a harmonia ou
homens dessa família tinham-se casado com mulheres consonantia (palavra latina) é um fator essencial na
estrangeiras, e tiveram de divorciar-se delas, a fim de experiência humana e na estética, explicando por que
que Israel pudesse ter um novo começo como nação. motivo vemos a beleza em alguma coisa.
Eles assinaram o pacto com Neemias. Ver Esd. 2:32 e d. Nos estudos de L eibniz, o termo aparece dentro
Nee. 7:35. Eles não faziam parte de uma família de um arcabouço cósmico, referindo-se à ordem que
sacerdotal. há no Universo. Então, no problema corpo-mente
2. Nome de uma família sacerdotal que retornou a (vide), ele propôs que a mente e o corpo não têm uma
Jerusalém após o cativeiro babilónico, em companhia verdadeira interação, embora assim pareça ser, por
de Zorobabel. Eles tinham-se casado com mulheres causa de uma harmonia divinamente pré-estabeleci-
27
HARM ONIA
da. O corpo e a mente agiriam simultaneamente, e em as modernas harmonias procuram apresentar o
acordo, mas somente porque ambos foram progra conteúdo dos evangelhos em paralelo, para que o
mados para fazê-lo, e não por causa de alguma leitor possa fazer comparações e descobrir relações
interação genuína, de causa e efeito. mútuas entre os relatos sagrados. Dentro da moderna
m . Na Teologia erudição, o Problem a Sinóptico (vide) tem atraído
1. No relacionamento entre os irmãos. Lemos em grande atenção, visto que é fato reconhecido que os
Salmos 133:1,2 que é bom que os irmãos vivam em três evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas «vêem
harmonia. Existem sete coisas que Deus abomina, juntos» a vida e os ensinamentos de Cristo.
entre elas o indivíduo que semeia a contenda entre Paralelamente a isso, reconhece-se que o evangelho de
irmãos (Pro. 6:19). João é algo diferente dos outros três, pelo que não tem
sido incluído nas harmonias mais recentes dos
2. Também há aquela unidade do Espírito, que evangelhos. Na verdade, o evangelho de João contém
vincula entre si a todos os crentes verdadeiros. Isso apenas cerca de dez por cento do material que aparece
contribui para a paz e a harmonia, bem como para o nos evangelhos sinópticos.
bem-estar metafísico dos envolvidos. Ver os artigos
separados sobre a U nidade em Cristo e sobre H. Seu* Exageros
Unidades: A s Sete Unidades Espirituais. Nenhum harmonista na terra é capaz de fazer o
3. O propósito do mistério da vontade de Deus é evangelho de João encaixar-se dentro dos evangelhos
levar todas as coisas a terem unidade em torno de sinópticos, pois só contém dez por cento do material
Cristo. Quando essa harmonia for alcançada, então a que se encontra neles, consistindo em noventa por
existência será, verdadeiramente, feliz. Ver o trecho cento de material inédito. As narrativas do evangelho
de Efésios 1:9,10: «...desvendando-nos o mistério da de João concentram-se quase todas em torno de
sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera Jerusalém, ao passo que os relatos dos evangelhos
em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da sinópticos giram quase inteiramente em torno da
plenitude dos tempos, todas as cousas, tanto as do céu Galiléia. Mateus é um evangelho que expõe cinco
como as da terra...» Ver também o artigo sobre a grandes discursos de Jesus. Esses discursos sumariam
Restauração. seus ensinamentos e, portanto, reúnem declarações
que foram ditas em várias ocasiões, formando um
bloco de material. Em certo sentido, pois, o evangelho
HARMONIA CO-ESTABELECIDA de Mateus é um evangelho tópico , e não cronológico.
Está em pauta uma teoria de Swedenborg (que E então os acontecimentos narrados giram em torno
vide), segundo a qual ele supunha que o corpo e a desses cinco discursos, sem qualquer atenção especial
alma existem em uma harmonia mútua, através do a uma cronologia exata. Portanto, em contraste com o
poder divino. A alma existiria em estados vegetativos de Mateus, os evangelhos de Marcos e de Lucas são
racionais e espirituais em graus variegados. A queda bem diferentes quanto à arrumação de seu conteúdo.
no pecado privou o homem de todo o conhecimento, O artigo sobre o Problema Sinóptico ilustra bem essa
separando o aspecto espiritual da alma (a anim a) da circunstância. Lucas utilizou-se do arcabouço históri
razão (m ens rationalis). Por causa dessa separação, o co de Marcos: e, em contraste com Mateus, ele seguiu
conhecimento continua conosco, mas, normalmente, bem de perto esse arcabouço histórico de Marcos.
não nos é disponível. Ver o artigo que versa sobre o Entretanto, se Mateus não estava preocupado com
Problema do Corpo-M ente. (P) uma estrita cronologia, é perfeitamente possível que
Marcos também não o estivesse, e que a ordem dos
acontecimentos, segundo ele, não apresente a
HARMONIA DOS EVANGELHOS verdadeira ordem cronológica dos fatos. Simplesmen
Esboço: te temos de confessar que os autores originais dos
evangelhos não eram harmonistas e que, mui
I. Inspiração e Natureza Dessa Atividade provavelmente, teriam pensado ser estranha e
II. Seus Exageros desnecessária a exigência dos harmonistas modernos.
III. Várias Obras Harmonizadoras O método de apresentação deles, por outro lado, nada
I. Inspiração e Natureza Dessa Atividade tem a ver contra a verdade ou a fé. Meramente não
£ bom que os homens estudem e aprendam. Era levava em conta certas coisas que os harmonistas
apenas natural que os estudiosos, vendo as diferenças modernos julgam ser imprescindíveis. A despeito
existentes entre os quatro evangelhos, tivessem disso, a tentativa de obter uma harmonia dos
procurado obter uma harmonia entre eles. A mente evangelhos é uma atividade honrosa e proveitosa,
humana não se sente à vontade diante de problemas contanto que não caiam no ridículo, em suas
não resolvidos e de pontas soltas. Portanto, aqueles reivindicações de sucesso. Acima de tudo, o que os
estudiosos, com cuidado meticuloso, prepararam homens dizem acerca da harmonia dos evangelhos
colunas paralelas, procurando mostrar-nos exatamen não pode servir de teste da crença ortodoxa.
te como se foi desenrolando a vida de Jesus, e como H l. Várias Obras Harmonizadoras dos Evangelhos
cada acontecimento seguiu-se aos demais. Eles têm A mais antiga harmonia dos evangelhos de que se
tentado conseguir aquilo que os próprios autores tem notícia é o Diatéssaron deTaciano, um apologista
sagrados do evangelho não tentaram. Eles tentaram o cristão de origem assíria, que residia em Roma em
que não pode ser obtido com precisão. No entanto, a meados do segundo século D.C., mas que, em cerca
tentativa feita por eles é legítima, se não chega a de 172 D.C., voltou ao Oriente. A palavra grega
incluir afirmações ridículas, distorcendo os fatos a fim diatéssaron significa «através dos quatro», ou «por
de obter harmonia a qualquer preço. meio dos quatro». Como é óbvio, foi uma tentativa de
A natureza das harm onias. Uma harmonia dos harmonizar os quatro evangelhos. Temos apresentado
evangelhos é um arranjo tal do conteúdo dos mesmos um artigo separado sobre essa antiga obra.
que faça as passagens aparecerem em colunas Uma outra antiga harmonia dos evangelhos foi a de
paralelas. As harmonias mais antigas dos evangelhos Amónio, um alexandrino que viveu no século III D.C.
procuravam entretecer todos os informes a respeito da Essa obra só chegou até nós por meio de citações
vida e dos ensinamentos de Cristo, em todos os quatro feitas por Eusébio, o grande historiador da antiga
evangelhos, apresentando ao leitor uma síntese. Mas Igreja cristã.
Diatessaron de Tatiano, Dura Pergaminho 24, Século III, — Cortesia de Yale
University
H arm onia antig a doa Evangelhos
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Códex Pi, Século IX, Mat. 5:40 sa, - Cortesia, Public Library, Leningrad
H A RM O NIA - H A R PA
Agostinho usava um texto que tinha os quatro fluia. Gideão e seus homens acamparam às margens
evangelhos em harmonia com uma obra sua, do mesmo, quando se preparavam para lutar contra
intitulada De consensu evangelistarum libri quattuor. os midianitas. Ver Juí. 7:1. Alguns estudiosos têm
Isso aconteceu por volta do ano 400 D.C. sugerido que o terror da guerra é que deu nome a esse
Durante a Idade Média e a Renascença, não houve ribeiro; mas essa sugestão não é tão provável quanto a
quaisquer novas harmonias dos evangelhos a serem outra. O teste da maneira de beber água teve lugar às
publicadas, que tivessem chegado até nós. Um margens desse ribeiro. Alguns eruditos também
estudioso suíço, J. Clericus (Le Clerc) produziu uma supõem que Saul acampou perto desse riacho, pouco
obra chamada Harm onia Evangélica (em cerca de antes da fatal batalha contra os filisteus, durante a
1700). Esse vocábulo, «harmonia», usado para aludir qual morreu (ver I Sam. 29:1).
a tais obras, foi aplicado pela primeira vez em cerca 2. Também havia uma localidade com esse nome,
de 1537, através de A. Osiander, um teólogo alemão. talvez porque ficava próxima desse ribeiro. Era a
A primeira das harmonias modernas foi produzida cidade natal de dois dos trinta poderosos guerreiros de
por J.J. Griesbach. A obra dele intitulava-se Synopsis Davi, a saber, Samá (II Sam. 23:25) e Elica (mesmo
evangeliorum, e foi publicada em 1776. Seguiram versículo). Nesse versículo, ambos são chamados
outras obras dessa natureza, no século XIX, como as «haroditas».
de G.M. de Wette(1818), deJ.H. Friedlieb (1847), a
de C. von Thischencíorf (1851), e a de A. Huck (1892).
HARODITA
Várias harmonias dos evangelhos foram produzidas
no século XX. Entre elas destacamos a de A.T. Dois dos heróis de Davi eram chamados assim, a
Robertson, impressa pela primeira vez em 1922. saber, Samá e Elica (II Sam. 23:25). Em I Crô. 11:27,
Também foi publicada uma harmonia dos evange Elica não é mencionado, e «harodita» é alterado para
lhos, de autoria de W.O.H. Garman, no começo da a forma «harorita». Esse locativo deriva-se de Harode
década de 1950. Ele foi um dos professores deste (vide).
autor, no seminário teológico.
HAROÊ
HARMONIA PREESTABELECIDA No hebraico, «o profeta». Esse nome encontra-se
Um dos problemas mais difíceis da filosofia é o nas listas genealógicas de Judá, onde Haroé é
problema corpo-mente, isto é, se existe um espírito mencionado como um dos filhos de Sobal (I Crô.
que é o homem essencial, que habita, de alguma 2:52). Pensa-se que ele é o mesmo homem chamado
maneira, no corpo físico, como é que esses dois Reaías (vide), em I Crônicas 4:2. Ele deve ter vivido
elementos se interagem. Uma solução proposta por por volta de 1450 A.C.
Leibniz (vide) é que. na realidade, não existe uma
interação. No lugar disto, existe uma harmonia pre
estabelecida pela mente divina. O corpo e a mente HAROSETE-HAGOIM
assim têm histórias paralelas, mas separadas, e a No hebraico, «floresta dos gentios». Acredita-se que
interação entre os dois é apenas aparente. Ver a esse nome indicava uma cidade, mencionada por três
doutrina da mônada de Leibniz e o artigo detalhado vezes no quarto capítulo do livro de Juizes (vs. 2, 13 e
sobre Problema Corpo-M ente. 16). Todavia, pensa-se que ali havia uma «floresta»
realmente, com base na circunstância de que a área
perto dessa cidade cananéia era densamente arboriza
HARNACK, ADOLF VON da nos tempos antigos. Ficava localizada ao norte da
Suas datas foram 1851—1930. Ele foi um autor e Palestina e era a cidade natal de Sísera (ver Juí. 4:2).
historiador luterano. Ensinou em várias universidades Foi a partir dali que ele avançou contra as forças
alemãs, incluindo a de Berlim. Foi presidente do comandadas por Baraque (vs. 13), mas para onde ele
Kaiser W ilhelm Gessellschaft zu r Forderung der fugiu, depois que foi derrotado (vs. 16). Se era uma
W issenschaften e bibliotecário da Preussische S ta a ts cidade cananéia, então não admira que tivesse sido
bibliothek. Foi o fundador e primeiro presidente do chamada de «Hagoim», ou seja, «dos gentios». Várias
Congresso do Evangelho Social. tentativas de identificação têm sido propostas, como
Ele foi um dos professores de Karl Barth; mas, anos Tell ’Amr e Tell el-Harbaj. Outros estudiosos
depois, fez oposição ao mesmo. Os alunos de Harnack identificam esse lugar com a Muhrashti das cartas de
estabeleceram o Die Christliche W elt, que foi Tell el-Amarna, o que o situaria na planície de
suprimido por Adolfo Hitler. Harnack foi um autor Sarom.
prolífico, tendo publicado centenas de livros e
monógrafos. Foi um dos maiores historiadores
eclesiásticos de sua época. A sua História do D ogm a, HARPA
em três volumes, foi muito aclamada e teve larga Ver sobre M tuica e Instrumento* Mudcai*.
distribuição. Seu tratado, intitulado Das Wesen des
Tendo cada um deles um a harpa, Apo. 5:6. O
C hristentum s (Que é o Cristianismo) foi traduzido
para quinze idiomas, tendo sido reimpresso por termo grego kithara não indicava um instrumento
diversas vezes. Talvez sua grande obra isolada tenha semelhante à nossa «harpa», mas antes, se asseme
sido M árciom . Uma outra notável, de sua autoria, foi lhava mais a um violão ou guitarra. De fato, pode-se
o seu tratado sobre o Credo dos A póstolos (vide). notar que a palavra «guitarra» está etimologicamente
vinculada ao vocábulo grego «kithara». Originalmen
te, .tinha formato triangular, com sete cordas. Mais
tarde, o número de cordas foi aumentado para onze.
HARODE Josefo menciona modelos dotados de dez cordas, as
No hebraico, «tremor» ou «terror». Nas páginas do quais eram tangidas com um «plectrum» ou pequena
Antigo Testamento, esse é o nome de um ribeiro e de peça de marfim. O cântico dos cento e quarenta e
uma localidade, a saber: quatro mil será acompanhado por essas «guitarras»
1. No caso do riacho, é possível que esse nome se(ver Apo. 14:2 e ss), tal como no caso do cântico de
tenha derivado da maneira rápida como o mesmo Moisés, entoado por aqueles que obtiveram a vitória
29
HARPER - HARTM ANN
sobre o anticristo (ver Apo. 15:2 e ss). A própria Idéia*:
guitarra talvez não tenha qualquer simbolismo 1. Ele combinava a vontade cega, postulada por
especial, exceto que é o «instrumento» dos louvores Schopenhauer, com a mente racional, postulada por
celestiais; pelo que também supomos que as palavras Hegel. Portanto, toda busca e desenvolvimento, no
e as vidas dos seres celestiais que servem de glória nível individual e no nível do cosmos, compõe-se de
para Deus, estão aqui simbolizadas ou, pelo menos, dois elementos: esforço inconsciente e cumprimento
salientadas. Esse louvor prestado com a vida e com as consciente. Por um lado, juntamente com Schopen
palavras soa como se fosse uma música celestial, cheia hauer, teríamos a dor e o pessimismo. Por outro lado,
de harmonia, graça e agradabilidade. Antigamente, o juntamente com vários outros pensadores, teríamos a
louvor a Deus era acompanhado com harpas, salvação. As idéias de Freud foram influenciadas
conforme se vê em Sal. 33:2. O louvor é similar à sobre essa declaração de Hartmann a respeito da
música, porquanto se trata de uma entidade vontade inconsciente.
intricada, com sua harmonia inerente, que é 2. Antes da descoberta dos princípios morais, há
agradável até aos ouvidos de Deus. uma fenomenologia da consciência moral, que é uma
espécie de inventário de fatos empíricos e da
consciência moral.
HARPER, W .R. 3. Antecipando Freud e Jung, ele buscava
Suas datas foram 1856—1906. Ele foi um evidências científicas em favor da mente inconsciente,
educador batista de grande intelecto/ — que, aos em estado de evolução. Quanto a isso ele misturou as
catorze anos de idade já havia adquirido o seu grau de idéias de Schopenhauer quanto à vontade, de Hegel
Bacharel em Artes e aos dezenove anos, o seu título de quanto às noções racionais e de Schelling quanto à
Doutor em Filosofia. Foi professor de linguas identificação da idéia-vontade dentro da realidade
semíticas em Yale e também o primeiro presidente da divina. A base fin a l de tudo seria a inconsciência
Universidade de Chicago. Ali, ele estabeleceu o absoluta, de onde o mundo teria emergido mediante o
sistema de quatro trimestres de estudos, para incluir o puro acaso primevo, e para o que tudo haverá de
verão nos estudos regulares, uma regra que, retornar, quando a vida, finalmente, cessar.
posteriormente, foi seguida por muitas outras 4. O imperativo moral é uma espécie de salvação,
universidades norte-americanas. Ele permitia que os atingida quando nos libertamos tanto do absoluto
estudantes obtivessem créditos por correspondência, e quanto de nós mesmos, o que nos livra das misérias da
fundou várias escolas de jornalismo. Teologicamente, vida, dirigindo a nossa cultura a uma crescente união
ele tornou-se conhecido por defender e usar a com o inabalável inconsciente do absoluto. A religião
abordagem histórica da interpretação da Bíblia. consistiria em buscar a identidade total com o
absoluto, acima de quaisquer outras atividades.
HARPIAS
5. Quanto à teoria dos valores, ele foi o primeiro
filósofo a empregar o termo axiologia para indicar o
Essa palavra vem do grego harpuiai, com base no estudo de todas as formas de valor.
verbo harpadzo, «arrebatar». Esse era o nome dado a Hartmann opunha-se a todas as religiões formali
pássaros fabulosos que a filosofia grega apresentava zadas, acusando-as de manterem uma crença sem
como tempestades que chegam e arrebatam as profundas convicções e grande superficialidade, em
pessoas, ou como aves de rapina, dotadas de rostos vez de uma verdadeira espiritualidade. Seu pessimis
femininos. Eram imaginados como arrebatadores das mo, contudo, torna-se menos destacado em seu
almas. Ê possível que os fantasmas dos mortos pensamento religioso do que em seu pensamento
tivessem sugerido essa figura mitológica. filosófico. Ele ensinava uma espécie de evolução
otimista, liderada por uma agressiva participação no
HARSA processo cultural. O deus dele era cego, mas seria um
poder impulsionador que se revela em e através do
No hebraico, «encantador». Esse era o nome de um. processo inteiro da evolução do cosmos. Ele exortava
clã, um dos grupos de netinins, cujos descendentes se aos homens para serem soldados de Deus, cooperando
encontravam entre aqueles que retornaram, em com essa evolução.
companhia de Zorobabel, da Babilônia para Jerusa
lém, após o exílio babilónico (Esd. 2:52 e Nee. 7:54).
Isso ocorreu por volta de 536 A.C. No trecho de I HARTMANN, NICOLAI
Esdras 5:32, eles são chamados Careá. Nos tempos de Suas datas foram 1882—1950. Ele foi um filósofo
Neemias, esse clã contribuiu para aqueles que serviam nascido em Riga, na Lituânia, e que veio a preferir a
no templo de Jerusalém. cidadania alemã. Educou-se em São Petersburgo,
Dorpat e Marburgo. Ensinou em Marburgo, Colônia,
Berlim e Gottingen. Era treinado na escola neo-
HARTMANN, EDUARD VON kantiana, embora tivesse incorporado, em seu
Suas datas foram 1842—1906. Um filósofo alemão sistema, várias diretrizes tipicamente hegelianas.
que nasceu em Berlim. Seguiu a carreira militar Idéias:
durante alguns anos, mas teve de desistir por haver-se 1. Seu principal interesse girava em tomo da ética.
ferido gravemente em um joelho. A partir de então Ele acreditava que os valores são independentes,
dedicou-se à música, à pintura e à filosofia. Seu possuidores de uma hierarquia toda própria. A
trabalho filosófico resultou na publicação do livro consciência humana não seria a criadora dessa
Filosofia do Inconsciente. E, em outras obras, hierarquia, embora lhe seja mister entendê-la.
intituladas Fenomenologia da Consciência Moral; A 2. A análise fenomenológica era muito importante
Religião do Espírito; Teoria das Categorias e História em seu sistema. O dilema do sujeito-objeto foi por ele
da M etafísica , ele explorou muitas questões metafísi resolvido, segundo ele pensava, vendo cada uma
cas de ordem moral e religiosa. Em seguida, ele dessas coisas como uma manifestação parcial do Ser.
publicou uma obra, em oito volumes, intitulada O contraste entre a epistemologia e a ontologia levaria
Sistem a de Filosofia, onde sumariou quase todos os à inclusão da primeira nesta última. Isso dá margem a
seus pontos de vista. uma ontologia realista, onde as categorias básicas de
30
HARTSHORNE - HASABIAS
explicação revestem-se de posição ontológica. razão pela qual todos seríamos um conceito do divino.
3. Ele desenvolveu uma filosofia do espírito onde a 5. Ele aplicava esse conceito de bipolaridade à
liberdade e a individualidade humanas são elementos natureza de Deus. Isso posto, Deus era por ele
importantes. Todavia, isso seria uma força impessoal. concebido como absoluto e relativo; como necessário e
Ele distinguia duas esferas primárias do ser: o real, contingente; e o mundo, para ele, participaria,
que seria capaz de ser localizado dentro do espaço e necessariamente, dessa bipolaridade. O futuro do
do tempo: e o ideal, que denota os universais que mundo seria contingente, repousando sobre os fatos
seriam, essencialmente, objetos matemáticos, ou do passado e do presente.
objetos de valor. Vários níveis de realidade seriam
conhecidos de diversas maneiras. A matéria seria
percebida; a vida seria intuída; a consciência seria HARUFITA
apreendida; o espírito seria compreendido. Todos os Essa é uma designação dada a Sefatias, que viera
níveis de realidade obedeceriam a duas leis categóri ajudar a Davi, em Ziclague (I Crô. 12:5). Ele foi um
cas: a dependência e a autonomia. guerreiro benjamita. O texto hebraico varia quanto à
4. Ele concebia a espiritualidade como residente grafia dessa palavra, entre harufita e harifita. Alguns
nas pessoas, e não em algum Deus pessoal. Rejeitava estudiosos supõem que há a conexão desse nome com
o princípio da teleologia, como uma lei normativa da Harefe, que aparece em I Crô. 2:51, ou então com a
existência. Ver sobre a Teleologia. família de Harife, que ocorre em Nee. 7:24 e 10:19. Se
5. Os valores existiriam por si mesmos, não sendo excetuarmos essas possibilidades, o nome permanece
produtos da imaginação ou do trabalho humano. A obscuro, embora todos os estudiosos reconheçam que
vida virtuosa seria o resultado de uma devida atenção, deve se referir a algum clã em Israel.
dada a esses valores. Quando correspondemos aos
mesmos, de maneira livre, cumprindo os deveres que
esses valores nos impõem, então completamos a nossa HARUM
personalidade, o que seria o supremo bem que todos No hebraico, «exaltado». Nome de um indivíduo
os homens deveriam buscar. obscuro, dentro da genealogia de Judá (ver I Crô.
4:8), acerca de quem nada se conhece, além de seu
nome.
HARTSHORNE, CHARLES
Nasceu em 1897. Foi um filósofo norte-americano, HARUMAFE
que nasceu em Kittanning, no estado da Pennsylva No hebraico, «nariz rachado». Esse era o nome do
nia. Educou-se no Haverford College e na Universi pai de Jedaías. Harumafe ajudou a reparar as brechas
dade de Harvard. Ensinou nas Universidades de da muralha de Jerusalém, depois que os israelitas
Chicago, Emory e Texas. voltaram do cativeiro babilónico (vide). Seu nome
Idéias : ocorre somente em Nee. 3:10. Ele viveu por volta de
1. O universo seria pampsíquico por sua própria 446 A.C.
natureza, desde Deus até à menor fagulha da
experiência.
2. O conhecimento surgiria a partir de nossas HARUZ
sensações, que seriam sensações de sensações. A No hebraico, «industrioso». Foi o pai de Mesule-
natureza qualitativa de nossa experiência teria uma mete, a esposa do rei Manassés e mãe de Amom, rei
natureza psíquica. de Judá (II Reis 21:19). Ele viveu por volta de 698
3. Ele rejeitava aquilo que pensava ser um conceito A.C.
unipolar de Deus, segundo o qual Deus aparece como
o Absoluto, e todas as coisas aparecem relacionadas a HASABIAS
ele. ao mesmo tempo em que ele não se relaciona a No hebraico, «Yahweh deu atenção». Esse é o nome
outras coisas de qualquer maneira significativa. Por de vários homens, aludidos nas páginas do Antigo
isso, ele propunha um conceito bipolar de Deus. Esse Testamento, a saber:
conceito salienta tanto o princípio absoluto quanto o 1. Dois levitas meraritas (1 Crô. 6:45 e 9:14).
princípio relativo. Deus seria, ao mesmo tempo, 2. Um filho de Jedutum (I Crô. 25:3,19), chefe de
eterno e temporal, absoluto e relativo, um ser um grupo de músicos (o décimo segundo), nomeados
consciente que conhece o mundo e que é conhecido para os cultos no templo de Jerusalém.
pelo mundo, mas que não é separado dr> mesmo, por
fazer parte da tessitura do mundo. Esses princípios ele 3. Um levita coatita de Hebrom, a quem Davi
reduzia à sigla ETCSI, isto é: E = eterno; T = nomeou como seu representante, para cuidar das
temporal' C = (ser) consciente; S = sabedor; I = coisas na porção ocidental do rio Jordão (I Crô.
incluso no contexto do mundo. Quanto a nós, 26:30).
poderíamos ser considerados como as células do 4. Um filho de Quemuel, que serviu como chefe
divino organismo" vivo de Deus. Isso, naturalmente, levita, nos dias de Davi (I Crô. 27:17).
reflete noções do panteísm o (vide). Tudo está em 5. Um dos chefes levitas, da época do reinado de
Deus, mas Deus e o mundo não formam uma só Josias. Notabilizou-se por ter dado ofertas liberais
entidade. Porém, essa identidade só é evitada para os sacrifícios (II Crô. 35:9 e I Esdras 1:9). As
mediante a análise e a descrição, e não mediante variantes desse nome são Assabias e Sabias.
algum conceito ontológico básico. 6. Um levita que retornou do cativeiro babilónico
4. Hartshorne acreditava que todos os tradicionais juntamente com Esdras (Esd. 8:19; I Esdras 8:48). As
argumentos em prol da existência de Deus (ver sobre variantes do nome desse homem são Asebia e Asebias.
os Cinco A rgum entos de Tom ás de A q u in o e sobre o 7. Um sacerdote que ficou encarregado dos
A rgum ento Ontológico) têm valor, e deveriam ser tesouros do templo de Jerusalém, que foram trazidos
levados em conta como um todo. Para ele, o para esta cidade, terminado o cativeiro babilónico
argumento ontológico mostra ou que a idéia de Deus (Esd. 8:24; I Esdras 8:54). Uma variação desse nome
não tem sentido, ou então que, de fato, Deus existe, é Assanias.
31
H A SA BN Á - H ASM O NEA NO S
8. Um chefe que ajudou a reparar as muralhas de religião. Todavia, envolveu-se em vários conflitos
Jerusalém, depois do cativeiro babilónico, e que políticos e eclesiásticos, incluindo aquele contra o
governava metade do distrito de Queila (Nee. 3:17). ultramontanismo da Igreja Católica Romana. Ver
Ele também assinou o pacto com Neemias (Nee. sobre o U ltram ontanism o. Também fez muitas
10:11; 12:24). viagens a Roma, onde exercia influência. Por causa de
9. Um sacerdote da época do reinado de Jeoiaquim, seu envolvimento na política, foi aprisionado por um
que serviu como sumo sacerdote. Ele foi cabeça de um período de dois anos. Uma parte de seus escritos
clã de Hilquias (Nee. 12:21). O trecho de Esd. 10:25 envolvia a história eclesiástica. Ele tornou-se conheci
traz a variante Malquias, mas a Septuaginta diz do pela elevada qualidade de seus esboços biográficos.
Asabia, o que concorda com o trecho de I Esdras A totalidade de seus escritos foi publicada em uma
9:26, onde o grego diz Asibias. coleção de doze volumes; no entanto, houve ali uma
seleção de material, incorporando apenas metade de
suas produções totais escritas, embora bem represen
HASABNÀ tativas.
Provavelmente, essa é uma forma variante de
Hasabias (vide). Era o nome de um chefe do povo, que
selou o pacto com Neemias, terminado o cativeiro HASIDIM
babilónico (ver Nee. 10:25). Ver o artigo sobre o Assidismo.
HASABNÊIAS HASMONA
No hebraico, «pensamento de Yahweh» ou «Yahweh No hebraico, «gordura». Esse era o nome de um dos
considera». Esse é o nome de duas personagens do locais de descanso, onde os israelitas acamparam
Antigo Testamento: durante suas vagueações pelo deserto, após terem
1. O pai de Hatus, que ajudou a reparar as saído do Egito. A próxima parada deles foi Moserote
muralhas de Jerusalém, após o cativeiro babilónico (Núm. 33:30), que ficava nas proximidades do monte
(Nee. 3:10). Viveu por volta de 445 A.C. Hor (comparar Deu. 10:6 com Núm. 33:30). Em Deu.
2. Um levita que ajudou na questão do grande 10:6, esse lugar é chamado Moserá (vide).
jejum, efetuado sob a liderança de Esdras e Neemias,
quando o pacto foi selado e votos foram renovados, HASMONEANOS (MACABEUS)
para o novo começo da nação de Israel, após o Esboço:
cativeiro babilónico (Nee. 9:5). Ele viveu por volta de
410 A.C. Tem sido identificado com o mesmo I. Caracterização Geral
Hasabias de Esd. 8:19,24 e de Nee. 10:11; 11:22; II. Gráfico da Família dos Hasmoneanos
12:34. III. Descrições dos Diversos Reis-Sacerdotes
IV. Intervenção Romana
V. Significado do Período dos Hasmoneanos
HASADIAS (Macabeus)
No hebraico, «Yahweh ama». Esse foi o nome de I. Caracterização Geral
um descendente da linha real de Judá. Aparentemen A família judaica chamada Hasmom distinguiu-se
te, ele era um dos filhos de Zorobabel (I Crô. 3:20). na história do povo judeu. — Ela tornou-se
Parece haver nascido depois que o povo judeu voltou proeminente, particularmente, em 167 A.C., quando
do cativeiro babilónico, em cerca de 536 A.C. foi o instrumento da restauração da independên
cia de Israel, ao derrotar os governantes sírios, que
HASBADANA a dominavam. Ver sobre Seleuco e A ntíoco. O termo
H asm om parece ter-se derivado de Chasmom, que foi
No hebraico, «inteligência para julgar». Ele era um o bisavô de Matatias, um proeminente membro da
líder do povo, que ajudou na leitura da lei aos ouvidos família. Ver o gráfico, que demonstra a ascendência
do povo que retornara do cativeiro babilónico (Nee. dessa família, em sua segunda seção. Essa família
8:4). Ele viveu por volta de 410 A.C. Provavelmente, também era conhecida como os Macabeus. Porém, é
ele foi um levita, conforme se pode depreender do mais acertado dizer que os Macabeus eram uma parte
trabalho que lhe foi dado para fazer. O trecho da família Hasmom. Macabeus é um nome que se
paralelo de I Esdras 9:44 tem a forma Nabarias. derivava de Judas, que também atendia pelo
sobrenome de Macabeu. Há incerteza sobre os
significados de ambos esses nomes. Alguns eruditos
HASE, KARL AUGUST VON supõem que o hebraico por detrás de Macabeus vem
Suas datas foram 1800—1890. Foi um teólogo das letras iniciais da frase, em hebraico, que se
alemão, nascido em Steinbach, na Saxônia. Serviu encontra em Êxodo 15:11: «Ó Senhor, quem é como
como professor particular em Tubingen e em Leipzig. tu entre os deuses?» Diz-se que essa sentença estava
Foi professor de história eclesiástica em Jena. Foi um escrita sobre as bandeiras daqueles patriotas. Mas
notável pensador e teólogo, e também um escritor provavelmente, o termo Macabeus simplesmente
prolífico. Tornou-se conhecido por seu elevado deriva-se do vocábulo hebraico que significa «marte
idealismo, pela sua cultura muito abrangente, e pela lo», isto é, m a kka b a h , com pequena variação. Nomes
universalidade de seus interesses. Em suas obras próprios modernos também se têm derivado do
escritas, exibia um excelente talento artístico, e não martelo, por ser esse um instrumento muito útil de
meramente erudição. Quanto às suas idéias, foi trabalho em todos os tempos. Assim, em inglês,
influenciado pelos escritos de Shelling e de Schleier- Hammer («martelo», em português), é um nome
macher (ver os artigos sobre eles), mantendo uma próprio. E outro tanto se dá com o nome próprio
posição que ficava a meia distância entre o liberalismo M artel, derivado de uma raiz latina com esse mesmo
racionalista e a ortodoxia. Ele reinterpretou o sentido.
luteranismo, no século XVII, através do idealismo M atatias, um sacerdote judeu de profundo
alemão. Dava grande valor ao aspecto estético da patriotismo e de grande coragem, ficou furioso diante
32
HASM ONEANOS
da tentativa de Antíoco IV Epifânio (vide) de destruir envolvidos no governo desse período foram Matatias
os judeus e a fé religiosa e as instituições judaicas. (167 - 166 A.C.), Judas (166 - 161 A.C.), Jônatas
Reuniu então um exército de judeus leais, que ( 1 6 1 _ 144 A.C.), Simão (144 — 135 A.C.), João
compartilhavam de seus sentimentos, e instigou uma Hircano(135 — 106 A.C.; este filho de Jônatas). Em
revolta contra os governantes sírios. Matatias tinha seguida, vieram Aristóbulo e seus filhos (106 — 63
cinco heróicos e corajosos irmãos, cujos nomes eram A.C.), os quais já representavam uma degeneração da
Judas, Jônatas, Simão, João e Eleazar. Quando família e de seu governo.
Matatias faleceu, em 166 A.C., o herdeiro da causa De conformidade com alguns estudiosos, a dinastia
foi seu irmão, Judas, um guerreiro de considerável hasmoneana começou com Simão, irmão de Judas
gênio militar. Ele ganhou muitas batalhas, contra Macabeu, que se tornou rei em 142 A.C. Essa dinastia
adversários incrivelmente mais poderosos e, em 165 terminou com A n tíg ono , que foi executado por Marco
A.C., reconquistou Jerusalém e purificou e rededicou Antônio, em 37 A.C. Herodes, o Grande, um idumeu,
o templo, o que foi a origem da festa da Dedicação. tornou-se rei após Antígono, tendo fortalecido suas
Ver sobre Festas (F estividades) Judaicas. Judas reivindicações ao trono da Judéia ao casar-se com
enfeixou em si mesmo a autoridade civil e a Mariamne, a última das princesas hasmoneanas.
autoridade religiosa 3, dessa forma, estabeleceu a Os livros apócrifos (chamados «deuterocanônicos»,
linhagem hasmoneana dos governantes sacerdotes, os pela Igreja Católica Romana) dos M acabeus contam a
quais, durante os cem anos seguintes, haveriam de história com pormenores. Ver os artigos Livros
governar uma Judéia independente. Os Macabeus A pócrifos e M acabeus, Livros dos.
Herodes, o Grande
Governou por delegação romana. Quando Pompeu
conquistou a Palestina, isso pôs fim ao governo
dinástico dos Macabeus.
• •• • ••
33
H ASM ONEANOS
m. Descrições dos Diversos Reis-Sacerdotes queriam obter o seu apoio. Um desses governantes
1. M atadas. Ele foi um sacerdote do turno de nomeou Jônatas sumo sacerdote, em 153 A.C., e
Jeoiaribe, o primeiro dos vinte e quatro turnos governador civil e militar, em 150 A.C. Ver I
sacerdotais (I Crô. 24:7; I Macabeus 2:1). Viveu na Macabeus 10:21 ss. A Judéia ainda estava longe de
época dos esforços helenizadores dos governantes estar livre, e Jônatas sentiu ser necessário aliar-se a
selêucidas, da Síria, que dominavam a Judéia, mas Antíoco VI, a fim de conservar o seu poder. Mas,
recusou-se a oferecer os sacrifícios pagãos determina tendo vivido pela espada, acabou morrendo à espada,
dos pelo monarca selêucida. Ver o artigo separado tendo sido vitimado pelo traiçoeiro Trífom, que se
sobre Antíoco I V E pifânio. Em seu zelo para fingia seu aliado, em 144 A.C. Ver I Macabeus 11.8
interromper o processo helenizador, Matatias tirou a - 12:4.
vida de um judeu que estava prestes a oferecer um 4. Sim io. Ele era o último dos cinco filhos de
sacrifício pagão. Ato contínuo, convocou outros Matatias, que ainda continuava vivo. Já havia
judeus a acompanhá-lo na revolta. Fugiu com seus mostrado que era um guerreiro habilidoso (ver I
filhos e então veio reunir-se a ele um considerável Macabeus 5.17-23), tendo participado em campanhas
número de patriotas judeus. Já era homem idoso militares encabeçadas por Jônatas (I Macabeus
quando isso começou e, por isso mesmo, não demorou 11.59). Trífom, após ter exibido Jônatas como
muito a falecer (166 A.C.), e foi sepultado no túmulo prisioneiro, acabou por executá-lo. Também assassi
de seu pai, em Modin. nou a Antíoco IV e dessa maneira, passou a governar
2. Judas. Antes de morrer, Matatias nomeou-o líder a Síria. Porém, a própria Síria estava dividida em dois
da revolta (ver I Macabeus 2:66). Judas foi apelidado partidos: o partido de Demétrio II opunha-se ao
de Macabeu e, por causa dessa circunstância, os partido de Trífom. Ele foi o primeiro rei sírio
hasmoneanos também começaram a ser chamados de (selêucida) que não devia a sua autoridade a Seleuco,
os Macabeus. Os rebeldes passaram a residir na general de Alexandre, o Grande, que fundara a
região montanhosa em torno da Judéia, e foi dali que dinastia. Simão, jogando de forma política e
desfecharam a sua guerra de guerrilhas (II Macabeus ameaçando com forças militares, deu seu apoio a
8:6,7). Ele conseguiu algumas grandes batalhas Demétrio, como o rei sírio legítimo, e simplesmente
campais, tendo derrotado Apolônio (I Macabeus ignorou Trífom. Houve um reconhecimento recípro
3:10-12) e Serom (vs. 13:24), em Bete-Horom. co, por parte de Demétrio, porquanto este permitiu
Durante esse período, Antíoco esteve ocupado com que Simão permanecesse em paz e governasse a
grandes guerras, contra os partos, não podendo Judéia, isento de impostos estrangeiros, de tal
atender às questões que estavam ocorrendo na maneira que, em um sentido bem verdadeiro, «foi
Palestina. Portanto, deixou o governo da Palestina tirado o jugo dos pagãos» (I Macabeus 13:41). A
nas mãos de Lísias. Porém, Judas foi capaz de Judéia foi engrandecida, mas os demais territórios de
derrotar as forças desse homem, em Emaús, em 166 Israel sofreram. Entretanto, Simão conquistou várias
A.C. (I Macabeus 3:46-53). No ano seguinte, as forças outras cidades do território de Israel, como Jopa,
de Lísias, estando ele presente, foram derrotadas em Bete-Zur e Gaza.
Bete-Sura. Em vista disso, Judas foi capaz de ocupar Houve a questão da legitimidade do sacerdócio
Jerusalém, excetuando apenas a torre (I Macabeus hasmoneano. Os hasidim, ou «piedosos» (vide), eram
6:18,19). Exatamente três anos após a profanação do então reconhecidos como os legítimos herdeiros do
templo, no dia 25 de Quisleu (I Macabeus 6.18,19), sacerdócio aarônico. Porém, a família de Onias havia
Judas purificou e rededicou o templo. Desde então, desertado para o Egito, em meio à revolta dos
essa data marca a celebração da Festa da Dedicação. Macabeus; e isso foi interpretado como sinal de que
Ver João 10:22. Em 165 A.C., Lísias foi forçado a eles haviam perdido o direito ao sacerdócio. Por esse
estabelecer a paz, anulando o abominável decreto que motivo, o sacerdócio tornou-se hereditário na família
tentara paganizar e helenizar aos judeus, baixado em de Simão.
167 A.C. Grandes foram as realizações de Simão, e a paz veio
Uma grande vitória fora conseguida, mas nem por a estabelecer-se. No entanto, tendo vivido às custas da
isso veio a paz. Continuaram as guerras com nações espada, acabou morrendo à espada. Juntamente com
fronteiriças (I Macabeus 5). Em 163 A.C., Lísias dois de seus filhos, foi assassinado em Doque por
tentou fazer a sorte virar a seu favor, atacando Ptolomeu, em 135 A.C. (I Macabeus 16.11-16). Esse
Jerusalém. Antíoco Epifânio faleceu em 164 ou 163 ato tornou-se ainda mais atroz devido ao fato de que
A.C., e Demétrio I Soter tomou o seu lugar. Muitos Ptolomeu era marido de uma das filhas de Simão.
judeus chegaram a dar-lhe apoio, porquanto era 5. João Hircano. Ele assumiu o ofício de rei-
descendente de Aarão; porém, acabou cometendo sacerdote, após a morte de seu pai, Simão, em 135
vários atos ultrajantes. Judas castigou aos desertores. A.C. As batalhas prosseguiram. Antíoco Sidetes o
Seguiram-se muitas batalhas, quando os sírios, oprimia; e ele só foi capaz de manter a sua autoridade
novamente, invadiram a terra. Os sírios foram agradando aos sírios, o que fez desmantelando as
derrotados em Adasa, mas o exército judeu ficou fortificações de Jerusalém e pagando tributo, o que
grandemente debilitado, e dispersou-se. O próprio ocorreu em 133 A.C. Porém, os selêucidas declararam
Judas acabou sendo morto em batalha, em Elasa, no guerra coijtra outros, e João Hircano aproveitou-se
ano de 161 A.C. Seu corpo foi sepultado em Modim, disso para fortalecer a sua própria posição. Ele
no sepulcro de seus antepassados. conquistou a Iduméia (Josefo, A n ti. 13.9, seção 1), e
3. Jônatas. Esse foi o mais jovem dos filhos de estabeleceu uma aliança com os romanos. Também
Matatias. Ele precisou reorganizar os remanescentes derrotou Samaria, a odiada rival de Jerusalém, em
do exército judeu. Retirou-se então para as terras cerca de 109 A.C. Todavia, internamente, a
baixas do Jordão (ver I Macabeus 9:22), onde obteve corrupção estava aumentando, e as divisões partidá
algumas vitórias militares sobre Baquides (161 A.C.). rias entre os próprios judeus maculavam o seu
A sorte da guerra bafejava ora um ora outro dos lados governo, conforme nos é dito por Josefo (ver A nti.
contendores, e as matanças eram ferozes. Finalmente, 12.10,5,6). Acordos com a Síria, que envolviam
porém, Jônatas conseguiu prevalecer. Dessa maneira, transigências, consolidaram, entretanto, o seu poder.
chegou a ser o governante da Judéia; e aqueles que Ele precisou perder algumas cidades costeiras para os
também competiam, como rivais do trono selêucida, sírios. Mas conseguiu reter Jafa como seu porto de
H ASM O NEA NO S
mar. Os sírios, como sua parte na barganha, universalistas de Alexandre Janeu. Por esse motivo,
prometeram deixar Judá em paz, abandonando, ele precisou usar mercenários estrangeiros a fim de
definitivamente, os seus planos de helenização da manter os fariseus sob seu controle. E aliou-se aos
Judéia. Portanto, essa ameaça helenizadora cessou; saduceus, no esforço de consolidar o seu poder, visto
mas os romanos não estavam distantes, preparados que não era apreciado pelas massas populares.
para intervir a qualquer instante.
Alexandre Janeu não foi grande diplomata.
Durante o tempo de Hircano, os partidos políticos Durante a festa dos Tabernáculos, ao oficiar no
se realinharam. Os hasidim (vide) vieram a tornar-se templo de Jerusalém, como rei-sacerdote, somente
os fariseus, os «separatistas», conforme o nome deles o para zombar dos estritos e piedosos fariseus, em vez
indica. Parece que os essênios originaram-se nesse de derramar a libação sobre o altar, conforme a lei
período. Os fariseus e os essênios continuaram pondo requeria, derramou-a sobre os seus próprios pés. Isso
em vigor os ideais e as normas dos hasidim. Naquele provocou um levante, que começou no interior do
tempo, surgiram e desenvolveram-se, igualmente, os próprio templo, e Janeu só conseguiu escapar com
saduceus. Em um certo sentido, foram os saduceus vida por um golpe de sorte. Soldados tiveram de
que vieram a substituir os helenizadores, que tinham socorrê-lo, e seis mil pessoas perderam a vida,
sido expelidos. Os saduceus afirmavam-se descenden conforme Josefo nos informa. Ver A n ti. 13.13,5.
tes do sacerdote Sadoque (vide). Eles acabaram Esse ato provocador de Janeu, juntamente com seu
se tornando uma seita aristocrática; e, nos tempos de comportamento em geral, atiçou uma guerra civil qué
Jesus, formavam a seita judaica de maior poder. João se prolongou por seis anos. Os fariseus alistaram a
Hircano, que começou favorecendo os fariseus, ajuda de Demétrio III, rei da Síria. Eles forçaram
acabou favorecendo aos saduceus, impelidos por Alexandre a ocultar-se nas colinas da Judéia. Porém,
tendências mais seculares e pró-helenistas. os fariseus exageraram e foram além do que era
João Hircano garantiu a unidade do Estado devido, porquanto agora as odiadas tropas sírias
hasmoneano; mas Roma, dentro de bem pouco estavam acampadas no território judeu. Por causa
tempo, haveria de tomá-lo uma coisa inteiramente dessa circunstância, seis mil fariseus bandearam-se
inútil. Embora João Hircano também tivesse vivido para o partido de Alexandre Janeu. Isso produziu o
pela espada, foi o único dos hasmoneanos, menciona estranho resultado de que ele reconquistou a sua
dos até este ponto da exposição, a ter tido uma morte autoridade, e os sírios abandonaram o país. Janeu,
natural (104 A.C.). Governou de modo supremo por arrogante como era, perseguiu àqueles que haviam
cerca de trinta anos. instigado a revolta, e mandou executá-los. Oitocentos
6. Aristóbulo. Ele era um dos filhos de João fariseus foram crucificados, na presença dos convida
Hircano. Só conseguiu subir ao poder entrando em dos a um grande banquete, que Janeu havia
luta competitiva com os outros quatro filhos de João preparado para celebrar a sua vitória. Assim, Janeu
Hircano. Atingindo o mando, lançou na prisão sua tornou-se um tirano da pior espécie. Os saduceus,
própria mãe e três de seus irmãos. Os historiadores agora, é que mandavam. Há uma tradição que sugere
acreditam que dois desses irmãos, e sua mãe, que ele se arrependeu em seu leito de morte, tendo
morreram de inanição, no cárcere. Antígono, um chegado a ver as coisas sob uma melhor luz. Por causa
outro seu irmão, foi assassinado no palácio. Isso disso, presumivelmente, ele instruiu sua esposa,
posto, a linhagem hasmoneana caiu em total Alexandra, a livrar-se de seus conselheiros saduceus,
decadência moral. Aristóbulo expandiu o território reinando com a ajuda dos fariseus. Alexandre Janeu
que herdou de seu pai. Reinou apenas por um ano; faleceu em 78 A.C.
mas nesse breve período, ele conquistou a Galiléia 8. Alexandra. Salomé Alexandra fora, sucessiva
judaizada e anexou a área perto das montanhas do mente, viúva de Aristóbulo e de Alexandre Janeu. Ela
Líbano. Ele é considerado alguém que dava pouco estava perto dos setenta anos de idade, quando lhe
valor à Grécia e ao que vinha da cultura grega. Os coube ocupar o poder. Reinou durante sete anos. Ela
fariseus lutavam contra ele. Sua morte prematura foi nomeou seu filho mais velho, Hircano II, para ser o
provocada por alcoolismo, enfermidades, temor de sumo sacerdote. E o irmão dele, Aristóbulo II,
rebeliões e, segundo alguns têm afirmado, remorso tornou-se o comandante militar. O irmão de Salomé,
pelo que praticou contra a sua própria mãe. Contudo, Simão ben Setaque, era elemento ativo do partido dos
Aristóbulo foi o primeiro dos hasmoneanos a fariseus, tendo-se tornado um grande líder nessa
declarar-se rei e a usar esse titulo, ainda que, na ocupação. Por causa dele, além de outros fatores, os
realidade, outros membros da família tivessem sido fariseus tornaram-se elementos influentes nos campos
tais. E tal uso continuou, até que os romanos puseram da educação, da religião e da política. O Sinédrio,
fim à dinastia. pois, requereu que todos os jovens judeus do sexo
7. Alexandre Janeu. Salomé Alexandra, a viúva de masculino recebessem alguma educação formal. Essa
Aristóbulo, tirou da prisão a Alexandre (irmão mais educação girava, primariamente, em torno da Tora, a
jovem de Aristóbulo), casou-se com ele e elevou-o ao lei mosaica. Assim, foi-se desenvolvendo um sistema
trono. Logo rebentaram guerras contra o Egito, com abrangente de educação elementar em Israel.
batalhas ganhas e perdidas, como é usual. Foi capaz, Todavia, os conflitos entre os fariseus e os saduceus
esse rei, de ampliar os seus territórios, que chegaram não terminaram. Os fariseus vingaram-se do mas
a tornar-se mais ou menos equivalentes aos territórios sacre de seus líderes, por ordens de Alexandre Janeu.
governados por Davi e Salomão, pois incorporava a Os saduceus, por sua vez, solicitaram a ajuda de
Palestina inteira e mais áreas adjacentes desde as Aristóbulo II, o filho caçula de Janeu e Alexandra.
fronteiras com o Egito até o lago Hulé, isto é, de sul a
norte. A Peréia e a Transjordânia foram incluídas, 9. Hircano H . Já tendo sido sumo sacerdote, por
além de muitas cidades filistéias, excetuando Ascalom. ocasião da morte de Alexandra, Hircano II tomou-se
Ele também obteve um bom poder marítimo, e o rei. No entanto, logo em seguida precisou enfrentar o
comércio da Judéia intensificou-se. Territórios que desafio constituído por Aristóbulo II e seus aliados
desde há muito tinham estado sob o poder pagão, saduceus. Aristóbulo obteve uma grande vitória em
agora estavam sendo judaizados, incluindo Edom e a Jerico; e então marchou contra Jerusalém. Hircano II
Galiléia. Somente a Samaria resistia a esse movimen e os fariseus não tinham meios de resistir a essa força
to. Os fariseus, entretanto, opunham-se às atitudes armada, e Aristóbulo II ocupou o poder. E Hircano
H ASM ONEANOS - H A SU FA
U acabou declarando que, afinal de contas, nunca de antes do período neotestamentário. Também não
quisera reinar em Israel. se pode duvidar que as revoltas politico-militares dòs
10. Aristóbulo D. Aristóbulo II era agora o rei. Mas anos 70 e 132 D.C., foram inspiradas pelo exemplo
ele e Hircano II não mais viam qualquer razão pela dado pelos Macabeus. A Igreja cristã, por sua vez,
qual eles não pudessem ser bons amigos. O filho mais nasceu dentro desse tempo de confusão e conflitos. O
velho de Aristóbulo, também chamado Alexandre, partido dos zelotes preservava o ideal des Macabeus.
casou-se com a filha única de Hircano, a qual também Não obstante, a Igreja cristã introduziu um novo e
se chamava Alexandra. Porém, embora aqueles dois universal ideal, o qual, pelo menos durante algum
irmãos tivessem jurado uma eterna amizade, não tempo, soube separar um do outro, os ideais políticos
demorou muito para os conflitos explodirem. E assim, e religiosos, visto que a Igreja não representava
Hircano precisou fugir para o rei Aretas, rei dos alguma nação isolada, mas visava o benefício de todas
árabes nabateus. Antípater, idumeu de nascimento, as nações, extraindo seus membros de todas as
pai de Herodes, o Grande, tirou vantagem da nações. (AM FOE ND RU S TC Z)
confusão a fim de apossar-se do poder político na
Judéia. Prometeu a Hircano que o restauraria ao seu HASSELÀ, AÇUDE DE
trono. O ataque de Antípater apanhou Aristóbulo de
surpresa, do que resultou uma prolongada batalha em No hebraico, «poço do aqueduto». Há várias
torno de Jerusalém. opiniões a respeito de sua identificação. Era um
IV. Intervenção Romana reservatório próximo da Porta da Fonte (Nee. 3:15).
Alguns estudiosos opinam que é a mesma coisa que o
As lutas entre Aristóbulo II e Hircano II deram aos «açude do rei» (Nee. 2:14); outros pensam no «açude
romanos a justificativa de que eles precisavam para inferior» (Isa. 22:9). Apesar de que muitos o
invadir a Palestina. Após várias vicissitudes, Jerusa identificam com o Poço de Siloé.o mais provável é que
lém foi capturada por Pompeu, general romano, em se trata de um reservatório separado, que fazia parte
63 A.C. Ele fez Hircano II voltar a sentar-se no trono, do complexo sistema de fornecimento de água de
embora um monarca delegado e controlado pelos Jerusalém, alimentado pela fonte de Giom (ver II Crô.
romanos. A Judéia tornou-se sujeita à província 32:30).
romana da Síria. Aristóbulo, com seus dois filhos,
Alexandre e Antígono (além de duas filhas), foram
levados cativos para Roma. Antígono foi executado HASSENAÀ
em 37 A.C. Antes disso, porém, como súditos de
Pompeu, os hasmoneanos continuaram a governar. de No hebraico, «espinhoso». Esse era o nome do chefe
um clã cujos membros reconstruíram a Porta do
Porém, a invasão romana, encabeçada por Pompeu, Peixe, que havia nas muralhas de Jerusalém,
para todos os efeitos práticos, havia posto fim à terminado
dinastia dos hasmoneanos. A execução de Antígono pertencia à otribo exílio babilónico. Ver Nee. 3:3. Esse clã
de Benjamim. Ver I Crô. 9:7. Talvez
foi o ponto final formal dessa dinastia.
o nome Senaá seja o mesmo que Hassenaá. Ver Esd.
V. Significado do Periodo dos Hasmoneanos 2:35 e Nee. 7:38. Ver o artigo sobre Senaá.
(Macabeus)
Há várias coisas que se destacam, com base no
período do governo dos hasmoneanos, a saber: HASSIDEANOS
1. O amor dos judeus à liberdade, e seu ódio pela Ver sobre os Assideanos.
dominação ou mesmo intrusão estrangeira.
2. O desejo dos judeus de preservarem sua antiga
fé, mesmo contra forças imensamente superiores, de HASSUBE
países estrangeiros. No hebraico, «inteligente», «cheio de consideração».
3. O trecho de Daniel 11:34 indica que a revolta dos Com grafias variantes, pessoas com esse nome são
Macabeus foi apenas uma pequena ajuda ao povo de mencionadas em I Crô. 9:14 e Nee. 3:11,23. Alguns
Deus. Finalmente, a continuação da história fez com estudiosos pensam que devemos pensar em mulheres,
que os. cem anos de dominação dos Macabeus, fosse com nomes quase idênticos. Ajudaram a reconstruir
apenas uma nota de rodapé na história geral da as muralhas de Jerusalém, após o cativeiro babilóni
Palestina. co, sem importar se eram homens ou mulheres.
4. O desenvolvimento das principais seitas judaicas, Um desses dois assinou o pacto com Esdras,
como os fariseus, os saduceus e os essênios (ver os comprometendo-se a dar apoio às antigas tradições
artigos a respeito), ocorreu através das lutas e judaicas (Nee. 10:23).
vicissitudes desse período. Também houve o chefe de um clã de Merari, da
5. Uma mudança (para pior, pois instalou-se a tribo de Levi. Era pai de um homem chamado
corrupção) nos antigos costumes sacerdotais, visto Semaías, que se estabeleceu em Jerusalém, depois do
que os Macabeus, embora de uma linhagem cativeiro babilónico (I Crô. 9:14 e Nee. 11:15).
sacerdotal, não pertenciam à linhagem sumo sacerdo
tal de Aarão. HASUBÀ
6. Muito antes do fim daqueles cem anos de
governo, os hasmoneanos já haviam caído em várias No hebraico, «consideração». Nome de um dos
corrupções comuns, como a tirania, a contaminação filhos de Zorobabel (I Crô. 3:20).
religiosa, etc., que sempre se instalam quando a
política torna-se o interesse principal. Na verdade, HASUFA
quando os romanos se apossaram da Palestina, o país
nada perdeu com isso. No hebraico, «consideração». Nome de um dos
7. Os Macabeus estabeleceram o padrão e o ideal clã que fazia parte dos netinins ou servos do templo,
para o nacionalismo judaico, como também para a que retornaram do cativeiro babilónico em compa
luta pela independência política e religiosa. Nesse nhia de Zorobabel (Esd. 2:43). Isso aconteceu em
contexto, pois, desenvolveu-se o conceito messiânico, cerca de 536 A.C. Em Jerusalém, serviam no templo.
o que é refletido em várias das obras pseudepígrafas
36
HASUM HAUCK
HASUM liberação. Ver o artigo geral sobre a Yoga, quinto
No hebraico, «rico», «distinto». Esse é o nome de ponto.
dois homens, que figuram nas páginas do Antigo
Testamento: HATIFA
1. Nome de um dos príncipes dos levitas, que estava No hebraico, «ladrão». Ele era chefe de um clã que
presente quando Esdras leu a lei diante do povo, fazia parte dos netinins ou servos do templo, os quais
terminado o exílio na Babilônia. Ver Nee. 10:18. Ele retornaram do cativeiro babilónico em companhia de
viveu por volta de 536 A.C. Zorobabel (Esd. 2:54; Nee. 7:56), em cerca de 536
2. Os filhos de Hasum, totalizando duzentos e vinte A.C.
e três, retornaram a Jerusalém em companhia de
Zorobabel, após o cativeiro babilónico (Esd. 2:19 e
Nee. 7:22). Sete deles tinham-se casado com mulheres HATIL
estrangeiras, e foram obrigados a divorciarem-se No hebraico, «ondeado». Esse era o nome de um
delas (Esd. 10:33). O chefe desse clã assinou o pacto homem, chefe de um clã(e, portanto, do próprio clã),
com Neemias (Nee. 10:18). Isso aconteceu por volta alguns dos quais retornaram com Zorobabel do
de 536 A.C. cativeiro babilónico (Esd. 2:57; Nee. 7:59), em cerca
de 536 A.C. Eles descendiam dos servos de Salomão.
HATÀ O trecho de I Esdras 5:34 dá o nome desse clã como
Hagia.
No hebraico, «veracidade». Esse era o nome de um
eunuco que vivia no palácio de Xerxes (Assuero), e
que servia a Ester. Foi através dele que Ester ficou HATITA
sabendo do plano de Hamã para matar Mordecai e No hebraico, «exploração». Nome do chefe de um
destruir os judeus (ver Est. 4:5,6,9,10). Ele viveu por clã (e, portanto, nome do próprio clã), cujos
volta de 478 A.C.
descendentes retornaram do cativeiro babilónico no
tempo de Zorobabel (Esd. 2:42; Nee. 7:45). Eles
HATATE serviam como porteiros dos portões da cidade. Eles
viveram por volta de 536 A.C.
No hebraico, «terror». Ele era filho de Otniel, e neto
de Quenaz, da tribo de Judá. Seu nome aparece
somente em I Crô. 4:13. Isso faz dele neto-sobrinho de HATOR
Calebe (I Crô. 4:13 deve ser comparado com Juí. Essa é a transliteração de uma palavra egípcia que
1:13). Ele viveu por volta de 1170 A.C. indica a deusa-vaca do antigo Alto Egito. Havia entre
os egípcios a estranha doutrina de uma deusa-vaca do
HATCH, EDWIN céu, que deu nascimento ao sol. O céu era imaginado
como uma vaca gigantesca, cujas pernas firmavam-se
Suas datas foram 1835—1889. Teólogo e sobre os quatro cantos da terra, os quais, por sua vez,
historiador inglês, cuja obra sobre a história da Igreja eram sustentados por outros deuses. Era apenas
primitiva chamou muita atenção. Suas obras mais natural que os homens, devido às suas tendências
importantes foram (títulos em inglês): The Organi- idólatras, tivessem inventado várias formas de
zation o f the Early Christian Churches e The adoração ao touro e à vaca, visto que esses animais
Influence o f Greek Ideas an d Usages upon the eram e continuam sendo vitais à agricultura, além de
Christian Church. A última dessas duas obras foi servir para os sistemas de sacrifícios religiosos. Ver os
publicada postumamente. Sua tese é deveras interes artigos separados sobre Á pis e sobre B oi Selvagem.
sante. Ele supunha que o pensamento grego deixara
uma desastrosa herança para a Igreja cristã. Ele
concebia a Igreja primitiva como uma organização HATUS
simples, que salientava os valores e as práticas Alguns estudiosos pensam que esse nome significa
morais, sem se preocupar com questões metafísicas. «contencioso». Outros opinam que o sentido desse
Mas o elemento grego, segundo ele presumia, fez a nome é desconhecido. Esse foi o nome de três pessoas
Igreja enfatizar as questões metafísicas e o dogma, em que figuram nas páginas do Antigo Testamento.
lugar da prática, o que foi um erro sério, na opinião
desse escritor. Todavia, essa idéia é fraca, porquanto 1. Um descendente do rei Davi, que retornou em
se olvida do fato de que o judaísmo transmitiu um companhia de Esdras, do cativeiro babilónico (I Crô.
enorme peso de dogma, que os cristãos primitivos, 3:22; Esd. 8:2; I Esdras 8:29). Há variantes desse
naturalmente, tomaram por empréstimo. Quanto a nome, como Letus e Atus. Ele viveu por volta de 446
essa questão do dogma, os antigos cristãos não A.C.
precisavam da ajuda dos gregos, visto que já 2. Um filho de Hasabnéias, que ajudou a Neemias
contavam com esse elemento, proveniente do judaís na reconstrução das muralhas de Jerusalém (Nee.
mo. Apesar disso, o trabalho de Hatch trouxe à tona 3:10), em cerca de 446 A.C.
muito material útil. Na opinião deste autor, algumas 3. Um homem que assinou o pacto da renovação
definições gregas foram muito úteis ao cristianismo dos costumes e da religião judaicos, juntamente com
primitivo. O pensamento dos gregos sobre a alma Neemias (Nee. 10:4; 12:2). Esse Hatus era sacerdote.
ultrapassava a qualquer coisa que o judaísmo jamais Ele viveu por volta de 445 A.C. Alguns estudiosos
ensinou; e a metafísica de Platão serviu de um meio identificam-no com um dos dois outros homens desse
benéfico de se entender certos aspectos da metafísica, nome. Assim, essa lista pode aumentar até cinco
úteis para o pensamento cristão. pessoas, ou então pode ser limitada a somente três.
HAZAZOM-TAMAR
HAZAR-ADAR
No hebraico, «vila de Adar». Ora, Adar significa No hebraico, «poda das palmeiras». Esse era o
antigo nome de En-Gedi, aludida em Gên. 14:7. Em
«eira», ou então «lugar aberto». Hazar-Adar era o II Crô. 20:2, a cidade é chamada de Hazazom-Tamar.
nome de uma localidade no deserto ao sul da Essa era uma antiqüíssima cidade da Síria, tão antiga
Palestina, entre Cades-Barnéia e Amom (Núm. 34:4). como qualquer outra da área, contemporânea de
Alguns identificam-na com a Hezrom, mencionada Sodoma e de Gomorra. Já existia quando Hebrom foi
em Jos. 15:4. Também pode ser a Adar, mencionada fundada. Era ocupada pelos amorreus e pelos
nesse mesmo versículo de Josué, embora alguns amalequitas. Foi conquistada por Quedorlaomer e
estudiosos duvidem dessa identificação. Seja como pelos seus reis aliados. Sua identificação com En-Gedi
for, ficava na fronteira sul de Judá. Talvez a moderna revela-nos a sua antiga localização. Ficava no lado
Khirbet el-Qudeirat corresponda ao antigo local. ocidental do mar Morto, embora o local exato ainda
não tenha sido descoberto, embora seja certo que não
H A ZA RE N À ficava muito longe de Sodoma e de Gomorra. Talvez
fosse a mesma Tamar que foi fortificada por Salomão
No Hebraico «vila das fontes». Esse era o nome de (I Reis 9:18). Ezequiel nos diz que a cidade ficava na
uma aldeia que assinalava a fronteira de Israel (Núm. extremidade suleste de Israel (Eze. 47:19 e 48:28). O
34:9; Eze. 47:17; 48:1). Provavelmente, a sua posição wadi Hasasa, a noroeste de ’Ain-jidi, preserva ainda o
ficavá a nordeste de Damasco. Tem sido identificada antigo nome.
com a Kiryatein, na estrada para Palmira. Ficava na
fronteira entre a Palestina e Hamate. Alguns eruditos
identificam-na com a moderna Hadr, que fica ao pé HAZELELPONI
do monte Hermom. No hebraico, «sombra». Esse é o nome de uma
mulher judia, mencionada em I Crô. 4:3, irmã de
Jezreel, descendente de Judá. Mas, visto que a palavra
HAZAR-GADA hebraica é antecedida pelo artigo definido, alguns
No hebraico, «aldeia da fortuna», uma cidade supõem que deveríamos traduzi-la por «as irmãs» dos
mencionada somente em Jos. 15:27, que ficava no filhos de Etã.
40
HAZER-HATICOM - HAZOR
HAZER-HATICOM habitantes. Sua data recua até cerca de 2700 A.C.,
No hebraico, «aldeia do meio». Nome de um lugar embora seu tempo mais florescente tivesse sido no
que figura em uma profecia de Ezequiel (47:16), que Segundo- milênio A.C. Era um centro comercial,
ficava nas fronteiras da regiào de H aura (vide). Esse político e militar, por eucontrar-se em uma localiza
nome era profético e ideal, e não necessariamente que ção estratégica. Ficava ao norte do mar da Galiléia,
o local existisse na época daquele profeta. No entanto, cerca de vinte e quatro quilômetros de suas margens,
alguns eruditos pensam que a palavra é um erro e ao sul de Kadeish, cerca de dezesseis quilômetros. O
escribal para Hazar-Enã (vide). lago Merom (ou Hulé) (vide), ficava entre essas duas
localidades. Após ter sido destruída pelos assírios, a
cidade foi reconstruída por mais de uma vez; mas
HAZEROTE nunca mais recuperou a sua antiga importância.
No hebraico, «aldeias». Esse era o nome da terceira Escavações em Hazor e Referências Literárias à
parada ou acampamento dos israelitas, depois que Mesma. Hazor é mencionada nas cartas de Tell
eles partiram do Sinai, em suas andanças pelo el-Amarna (vide) (227.3a e 228.23 ss), do século XIV
deserto. Ficava a quatro ou cinco dias de marcha A.C. O local foi identificado, em 1926, com o Tell
daquele monte. Foi ali que Miriã e Aarão murmura el-Qedah, a oito quilômetros ao sul do lago Hulé
ram contra Moisés (Núm. 11:35; 12:16). A murmura (Merom), na Galiléia. Escavações maiores, porém, só
ção dizia respeito a seu casamento com uma mulher começaram ali em 1955. Essas foram continuadas em
cuxita, bem como à idéia de que Deus falava somente 1958, por uma expedição israelense. Tem sido
por meio de Moisés. É possível que ’ain Khadra demonstrado que o cômoro principal foi fundado no
assinale o local antigo. Ficava cerca de quarenta e oito terceiro milênio A.C. A porção mais baixa da
quilômetros a nordeste do Jebel Musa, a caminho da ocupação foi posteriormente adicionada, na primeira
Aqabah. Dali, Israel partiu para o deserto de Parà. porção do segundo milênio A.C., provavelmente pelos
hicsos. A porção mais baixa da cidade era mais do
que um recinto fechado para guardar cavalos e
HAZIEL carruagens (conforme alguns têm pensado). Os restos
No hebraico, «visão de Deus» ou «Deus vê». Nome descobertos demonstram que uma grande cidade,
de um filho de Simei, um levita gersonita (I Crô. talvez com quarenta mil habitantes, ocupava o local.
23:9). Ele era um chefe tribal da família de Ladã. A mais antiga inscrição em língua acádica foi achada
Viveu por volta de 960 A.C. em uma jarra de cerâmica, nesse lugar. Tinha o nome
de Is-m e-ilam , o qual, provavelmente, era o nome de
um negociante da Mesopotâmia. A parte mais baixa
HAZO da cidade perdurou por cerca de quinhentos anos; e
No hebraico, «vidente». Foi um dos filhos de Naor e então foi destruída, presumivelmente por Josué. Um
Milca (Gên. 22:22). O nome veio a designar um dos templo cananeu e um pequeno santuário foram
clãs naoritas. Uma inscrição de Esar-Hadom tem o encontrados ali. A porção mais baixa da cidade foi
nome H azu, o que faz os estudiosos pensarem que, deixada desabitada; mas as evidências colhidas
provavelmente, aponta para essa mesma gente. mostram que tanto cananeus quanto israelitas
Talvez Hazo tenha vivido em Ur da Caldéia, ou em habitaram no lugar. O portão de uma cidade e parte
algum lugar próximo, em cerca de 2100 A.C. de uma muralha foram desenterrados, provavelmente
da época de Salomão. Um edifício público sobre
pilastras foi escavado. Provavelmente pertencia à
HAZOR época de Acabe. 6 claro que havia uma fortaleza no
No hebraico, «aldeia» ou «ambiente cercado». local, naquele tempo; mas também há indícios de
Várias cidades e um distrito eram chamados por esse destruição e incêndio, na mesma época. Supõe-se que
nome, nos dias do Antigo Testamento, a saber: isso sucedeu quando da invasão dirigida por
1. Uma das principais cidades do norte da Palestina Tiglate-Pileser III, que destruiu a cidade em cerca de
era chamada assim (Jos. 11:10). Ficava perto do lago 732 A.C. (ver II Reis 15:29).
Merom (ou Hulé), e era a capital de Jabim, um Outras referências extrabíblicas a H azor aparecem
poderoso rei cananeu. Ele pediu aos reis vizinhos para nos textos de execração egípcios, do século XIX A.C.
ajudá-lo contra os israelitas invasores, comandados Hazor era uma cidade cananéia que chegou a
por Josué. Ele e seus aliados foram derrotados, e ele ameaçar a posição do império egípcio. Ela aparece
foi morto (Jos. 10:1,10-13; Josefo, A n ti. 5:5,1). Na como ha-su-ra, nos arquivos de Mari, da primeira
época de Débora e Baraque, os cananeus recuperaram porção do segundo milênio A.C. Os textos babilónicos
uma parte do território que haviam perdido, e mencionam-na como um importante centro político
reconstruíram Hazor. Jabim era o rei que governava o na rota entre a Mesopotâmia e o Egito. Fontes
lugar, nesse tempo. Tornou-se, pois, um instrumento egípcias alistam essa cidade sob o controle de vários
para castigar a Israel, por causa de suas transgres reis do Egito, isto é, Tutmés III, Amenhotepe II e Seti
sões, e o número dos israelitas foi grandemente I, nos séculos XV e XIV A.C. As cartas de Tell
reduzido. Mas, Débora e Baraque livraram o povo de el-Amarna, do século XIV A.C., mencionam-na. Seu
Israel das opressões de Jabim, e Hazor voltou à posse rei é ali chamado de sar hazura. Ela também é
de Israel, tornando-se parte da herança de Naftali mencionada em um papiro egípcio (Anatasi I), dentro
(Jos. 19:36; Juí. 4:2). de um contexto militar. A arqueologia tem demons
Hazor foi reconstruída e melhorada por Salomão, trado abundantemente que a importância dada ao
juntamente com outras cidades da área(I Reis 19:15). lugar, nas Escrituras Sagradas, é historicamente
Era uma das cidades fortificadas da Galiléia, que os correta.
assírios, nos dias de Tiglate-Pileser, tomaram, quando^ 2. Uma cidade da Judéia, no Neguebe, também
invadiram a Palestina pelo norte (II Reis 15:29), o que tinha esse nome (Jos. 15:23). Entretanto, até hoje essa
finalmente, resultou no cativeiro assírio. Nesse tempo, localidade não foi identificada pelos arqueólogos.
Hazor foi novamente destruída. 3. A Nova Hazor, ou Hazor-Hadata (Jos. 15:25),
Hazor tem a distinção de haver sido a maior cidade era um lugar no sul do território de Judá. Mas ainda
do período. Em seu pico, tinha cerca de quarenta mil não foi identificado. Ver o artigo a seu respeito.
41
HAZOR-HADATA - HEBRAICO
4. Queriote-Hezrom, também chamada Hazor (ver esse nome nesta lista, e significa «produção» ou
Jos. 15:25), era uma localidade na porção sul do «broto». Ver também o quinto homem com esse nome.
território de Judá, que os estudiosos ainda não
identificaram.
5. Uma cidade pertencente à tribo de Benjamim HEBRAICO
(Nee. 11:33), talvez seja a mesma que a moderna Esboço:
Khirbet Hazzur. 1. Algumas Características
6. Uma área localizada em algum ponto do deserto 2. Origem das Palavras Semíticas e Hebraicas
da Arábia, a leste da Palestina. Foi ali que o profeta 3. O Alfabeto Hebraico
Jeremias entregou um de seus oráculos contra um 4. Uso do Hebraico na Palestina
povo árabe seminômade ou transumante (ver Jer. 5. Maneira de Escrever
49:28,30,33). Eles tornaram-se vítimas de Nabuco- 6. Cuidados na Escrita
donosor, rei da Babilônia. 7. Sumário dos Fatos Históricos
1. Algumas Características
HAZOR-HADATA O hebraico é uma antiga língua semítica, que
Essa combinação de palavras hebraicas significa pertence ao ramo norte-ocidental dessa família de
«Nova Hazor». Hazor significa «lugar fechado» ou línguas. Era uma língua que se escrevia com um
«aldeia». O nome designa uma localidade mencionada alfabeto não-pictográfico desde o princípio, embora
em Jos. 15:25, como uma das cidades pertencentes à fosse um desenvolvimento de outras formas escritas
tribo de Judá. Algumas traduções separam os dois semíticas. Ver o artigo geral intitulado A lfabeto. O
nomes, como se Hazor e Hadata fossem duas cidades hebraico antigo, quanto à sua escrita, foi transforma
distintas. Seja como for, desconhece-se a localização do e usado na literatura rabínica; e foi revivido pelo
exata do lugar, embora seja sabido que ficava entre o movimento sionista, já nos tempos modernos.
mar Morto e o golfo da Ãqaba. A Septuaginta omite o Caracteriza-se pela estabilidade de seus fonemas
nome. Alguns estudiosos identificam o lugar com consonantais. Consiste em uma raiz de três fonemas
el-Hadeira, a suleste de Tuwani. consonantais, que forma a base da construção da
língua. O vocabulário, como um todo, alicerça-se
sobre raízes com três fonemas, com o auxílio de vogais
HE interpoladas, com a adição de prefixos e sufixos, e a
A quinta letra do alfabeto hebraico. Corresponde duplicação de raízes consonantais, de conformidade
ao nosso h e é classificada como um fonema fricativo com regras bem regulares.
laríngeo. Aparece na quinta seção de Salmos 119, O hebraico é bastante diferente, em sua estrutura,
onde cada verso começa com essa letra, no texto em relação às línguas indo-eufopéias. Tem menos
hebraico. Essa letra tem um formato bastante tempos verbais, não tem particípio, e não tem formas
parecido com as letras hebraicas alefe e t a u ,e isso tem separadas para indicar os modos condicional,
provocado alguns erros de grafia, e também subjuntivo e optativo. Contudo, mediante vários
identificações equivocadas. modos, o hebraico evoluiu um elaborado sistema de
vozes. Há três vozes ativas, três vozes passivas e uma
voz reflexiva, todas com as mesmas formações de
HÊBER tempos verbais básicos. A sintaxe do hebraico é
No hebraico, «sócio». Esse é o nome de várias extremamente simples. Caracteriza-se por uma
pessoas referidas nas páginas do Antigo Testamento: maneira de expressão não abstrata, concisa e incisiva,
1. Um filho de Berias, que era da tribo de Aser que servia de excelente instrumento para a poesia
(Gên. 46:17; Núm. 26:45; I Crô. 7:31 ss). O nome épica e lírica. O hebraico usado no Antigo
tribal, heberitas, deriva-se desse nome. Aparece em Testamento envolve um pequeno vocabulário, pobre
Núm. 26:45. Ele deve ter vivido por volta de 1640 em adjetivos descritivos e em substantivos abstratos.
A.C. Tanto na antiguidade quanto hodiernamente, o
2. Um descendente de Hobabe, filho de Jetro e hebraico era escrito da direita para a esquerda, o
irmão da esposa de Moisés. Foi a esposa dele quem oposto da nossa maneira de escrever, que é da
matou a Sísera, em cerca de 1410 A.C. Ele também é esquerda para a direita.
chamado de queneu (vide), em Juí. 4:11,17; 5:24, o 2. Origem das Palavras Semíticas e Hebraicas
que parece ter sido um nome que designava o povo A palavra semítico deriva-se de Sem, o filho mais
particular a que ele pertencia (Juí. 1:16). Parece que velho de Noé. O hebraico estava intimamente ligado
ele acabou se separando de sua própria gente e ao idioma antigo de Ugarite, capital de um pequeno
estabelecendo-se perto de Quedes, a oeste do mar da reino da costa norte da Síria, atualmente chamada
Galiléia (Jui. 4:11). Viveu por volta de 1360 A.C. Ras Shamra; e também estava vinculado ao idioma
3. Um chefe de um dos clãs de Judá também era dos fenícios e dos moabitas. Nas páginas do Antigo
chamado assim. Ele era filho de Merede e pai de Socó Testamento, o hebraico é chamado de «língua de
(I Crô. 4:18). Viveu por volta de 1400 A.C. Canaã» (ver Isa. 19:18 e Nee. 13:24). Portanto,
4. Um dos filhos de Elpaal, chefe de um dos clãs da embora os hebreus sejam um povo semita, seu idioma
tribo de Benjamin (I Crô. 8:17). Viveu por volta de é tipicamente cananeu. Ao que parece, vários povos
1400 A.C. semitas absorveram línguas cananéias (e, portanto,
5. Um dos sete chefes dos gaditas de Basà (I Crô. camitas), talvez por miscigenação. Isso se vê
5:13). Entretanto, ele e o homem que aparece como facilmente entre os hebreus. O termo hebraico foi
número «seis», abaixo, tinham um nome grafado de usado pela primeira vez para designar esse idioma,
maneira diferente em hebraico, que significa «produ nos escritos de Ben-Siraque, em cerca de 130 A.C.
ção» ou «broto». Ver também o artigo H ebreus, quanto às várias
6. Um dos filhos de Sasaque, da tribo de Benjamim teorias sobre a origem e os usos da palavra hebreu.
(I Crô. 8:22). Embora o nome dele apareça em 3. O Alfabeto Hebraico
português também como H éber, a forma hebraica é O hebraico tem vinte e duas letras consoantes,
levemente diferente dos quatro primeiros homens com embora, posteriormente, a letra s tivesse adquirido
42
HEBRAICO
duas formas; pelo que se poderia dizer que contava como se dava com as letras gregas, também
com vinte e três letras consoantes. Essas letras, tal representavam números.
O Alfabeto Hebraico
Equivalente Valor
Letra Hebraica N om e Português Num érico
N .... Alefe — 1
Bete B ou V 2
7 77 Gimel G 3
i .... Dalete D 4
n — He H 5
i .... Vave V 6
í .... Zain Z 7
n .... Quete Kh 8
D .... Tete T 9
Iode I ou Y 10
1 3 .... Cafe Kh 20
5 .... Lâmede L 30
DD .... Mem M 40
) ) .... Num N 50
D .... Sameque S 60
P .... Ain — 70
*1D .... Pê P ou F 80
Tsadê TS 90
r * ....
p __ Cufe K 100
n .... Rês R 200
w .... Sin Sh ou S 300
n ___ Tav T ou Th 400
4. Uso do Hebraico na Palestina Mar Morto, escritas em hebraico, o que significa que o
O hebraico foi adaptado pelos israelitas que idioma hebraico não morrera inteiramente. Três
falavam o aramaico (após o cativeiro babilónico), com fragmentos de orações de agradecimento foram
pesadas misturas com o aramaico, além de outras encontrados em Dura-Europus (com data de meados
línguas indígenas da Palestina. Palavras derivadas de do século III D.C.), o que demonstra que alguns
outros idiomas, como os dialetos aramaicos, o cristãos hebreus continuaram a usar, embora de
acádico, o árabe, o persa e o grego também foram forma limitada, o hebraico clássico, em sua adoração.
acrescentadas, tudo o que serviu para enriquecer o
anterior pequeno vocabulário hebraico. Tal como 5. Maneira de Escrever
sucede a todos os idiomas, o hebraico foi-se O idioma hebraico era escrito somente com
modificando de um período histórico para outro (ver o consoantes, sem vogais. Mas, por volta do século V
ponto «sete», abaixo). O hebraico bíblico (clássico) A.C., começaram a aparecer ajudas para a leitura,
difere do hebraico empregado na Mishnah, e é muito que vários eruditos atualmente chamam de matres
diferente do hebraico moderno. Já desde bem antes da lectionis. Três letras semivocálicas eram ocasional
época de Jesus (século III A.C.), o hebraico bíblico mente inseridas,, indicando os fonemas a, e ou i, ou
deixara de ser falado pelo povo judeu. E uma língua então o ou u. Porém, um completo sistema de
irmã, o aramaico, havia tomado o lugar do hebraico. vocalização, empregando sinais para indicar as
As referências neotestamentárias ao hebraico não vogais, só apareceu no século VI D.C. Três sistemas
aludem ao hebraico clássico, e, sim, ao aramaico. Ver diferentes desenvolveram-se. Na Babilônia e na
João 5:2; 19:13,17,20; Atos 21:40; 22:2, etc. Ocorrem Palestina, sinais vocálicos eram postos acima das
algumas palavras e mesmo frases em aramaico, no consoantes (as vogais supralineares). No sistema
Novo Testamento grego, como talitha cu m i (Mar. tiberiano, os sinais vocálicos eram postos por baixo
5:41), Eloi, Eloi, lama sabachthani (Mar. 15:34) e das consoantes (as vogais infralineares). Esses sinais
maranata (I Cor. 16:22), o que é explicado na vocálicos têm a aparência de grupos de pontos ou
exposição (in loc.), do NTI. traços. Esse modo infralinear foi adotado para o
O hebraico clássico continuou sendo usado na hebraico impresso. Pontuação e entonação extra-alfa
liturgia das sinagogas, da mesma forma que a Igreja béticas também vieram a ser adotadas. Modernamen
cristã ocidental reteve o latim, com propósitos te, a pronúncia que se ensina aos alunos de hebraico é
litúrgicos. Algumas poucas cartas foram encontradas a pronúncia sefardita (judeus espanhóis).
entre os materiais encontrados nos manuscritos do
43
HEBRAICO - HEBREUS (EPÍSTOLA)
6. Cuidados na Escrita elas encontraram uma língua celta. Elas não
Os piedosos escribas judeus tinham o maior adotaram o celta; mas não demorou muito para que o
cuidado quando copiavam manuscritos, preservando anglo-saxão que essas tribos trouxeram se tornasse no
as letras consoantes do hebraico. Faziam-no tão inglês; e isso em um período comparativamente curto.
meticulosamente, que até os erros de cópia foram Ora, o inglês é bastante diferente do alemão, embora
sendo preservados. Os manuscritos do Mar Morto seja ainda mais distante do celta das primitivas tribos
(vide) têm provado que importantes variantes têm que ali residiam. Por semelhante modo, a língua
ocorrido, e que, em alguns trechos, a Septuaginta tem semítica que o povo de Israel trouxe consigo do Egito,
preservado um texto mais antigo que aquele que misturou-se com o idioma que já era falado na
transparece no chamado texto massorético (vide). Palestina, do que resultou um idioma distinto. Nos
Porém, é óbvio que os manuscritos hebraicos eram casos em que as pessoas são essencialmente
copiados com muito maior cuidado do que o foram os analfabetas, e onde a literatura não é generalizada, as
manuscritos gregos do Novo Testamento. Os escribas mudanças que ocorrem em um idioma qualquer são
anotavam variantes e correções à margem dos muito rápidas.
manuscritos, e também explicavam ou substituíam Seja como for, o fato é que o idioma resultante, o
vocábulos obsoletos. Também faziam a tentativa para hebraico bíblico, estava bem relacionado aos idiomas
identificar erros no texto, com notas à margem; mas da antiga Ugarite, dos fenícios e dos moabitas. Sua
deixavam intacto ao próprio texto. O texto sagrado é versão escrita descendia do semítico do norte, ou
chamado ketib (o escrito), ao passo que as notas escrita fenícia.
marginais eram o gere (o que deve ser lido). Com as únicas exceções dos capítulos dois a sexto
7. Sumário doa Fatos Históricos de Daniel e dos capítulos quarto a sétimo de Esdras, o
As origens absolutas dos idiomas do mundo estão Antigo Testamento inteiro foi escrito em hebraico
inteiramente perdidas para nós. Alguns teólogos clássico. Naturalmente, podemos encontrar naqueles
supõem que os idiomas sejam um dom de Deus, e não trinta e nove livros vários níveis de expressão histórica
o desenvolvimento gradual de um longo período de do mesmo idioma. O primeiro capitulo de Gênesis,
tempo. Os evolucionistas opinam que os povos por exemplo, reflete uma versão antiqüíssima do
selvagens precisaram de milênios para desenvolver a hebraico, mas já no segundo capítulo do mesmo livro
linguagem. Porém, é muito difícil imaginar que meros temos uma versão bem mais recente da mesma língua.
selvagens pudessem ter desenvolvido as grandes Isso quer dizer que o primeiro capítulo de Gênesis
complexidades dos idiomas antigos, meramente preserva registros escritos bem antigos.
dando nomes aos objetos, para em seguida dar nomes As narrativas do Antigo Testamento que descrevem
às ações. Na verdade, o que sabemos a respeito do os contactos entre os hebreus e outros povos que
mistério das origens dos idiomas é zero. habitavam em Canaã, demonstram que eles se
Quando Abraão entrou na Palestina, ele trouxe comunicavam uns com os outros com facilidade. Isso
consigo um idioma semítico; mas esse não era o significa que os vários ramos dessa língua deviam
mesmo que o hebraico bíblico posterior. Se Abraão e estar bem espalhados, e que eram bem relacionados
Moisés pudessem ter-se encontrado, só poderiam ter entre si, mais ou menos como no caso do espanhol e
conseguido comunicar-se com imensa dificuldade. do português. (AM DU DV GES GOR ND UN Z)
Quando Moisés e os filhos de Israel entraram na
Palestina, depois de terem passado quatrocentos anos
no Egito, trouxeram consigo um idioma semítico; mas HEBREUS (EPISTOLA)
esse era muito diferente, em várias coisas, do idioiúa Esboço.
que, finalmente, foi usado para ser escrito o Antigo I. Autoria
Testamento. Todavia, eruditos conservadores têm II. Confirmação e Disputas Antigas
procurado desenterrar evidências arqueológicas, na III. Data, Proveniência e Destinatários
tentativa de mostrar que a língua falada por Moisés IV. Propósitos do Tratado e Natureza da Apostasia
era essencial mente aquela do Pentateuco bíblico. Combatida
Porém, estudiosos mais liberais creem que há provas V. Forma Literária e Integridade
de que o hebraico da Bíblia foi um idioma adotado VI. Idéias Religiosas e Filosóficas
pelos hebreus. Em outras palavras, Israel adotou o VII. Conteúdo
idioma de Canaã, que já se falava ali, antes deles VIII. Bibliografia
chegarem à região.
«Estudos comparativos modernos de lingüística têm Apesar de que poucos escritos do Novo Testamento
demonstrado que o hebraico faz parte do grupo sejam mais impressivos em sua eloqüência, beleza e
noroeste de uma família de línguas semíticas. Falado força de expressão, nenhum livro dessa coleção
na terra de Canaã, foi adotado pelos hebreus, quando apresenta maior número de problemas sem solução do
se estabeleceram na região» (AM). Provavelmente, se que a epistola aos Hebreus. Até o seu próprio título
aceitarmos um meio - termo nessa controvérsia, tem sido criticado, porquanto não se trata de uma
chegaremos mais perto ainda da verdade dos fatos. epístola e, sim, de um excelente tratado, dirigido aos
Nenhum povo simplesmente abandona a sua própria crentes de todas as regiões, e não apenas a algum
língua, para adotar outra, embora falada na região isolado grupo de hebreus convertidos ao cristianismo.
para onde aquele povo se mudou. Os hebreus «É chamada de epístola, e realmente o é, mas de tipo
todo peculiar. De fato, conforme alguém já disse,
trouxeram consigo um idioma semítico, e encontra começa como um tratado, procede como um sermão,
ram um idioma semito-cananeu; e, gradualmente, e termina como uma epístola». (Robertson, in loc.).
amalgamaram os dois. Assim sendo, em um certo
sentido, podemos falar sobre a adoção de uma língua, Seu valor se baseia, essencialmente, no quadro
nesse caso, visto que o idioma de Canaã foi uma fonte ousado que apresenta a respeito de Cristo.
e uma influência importante. A mistura de dois Cristo é o Filho de Deus, superior aos profetas,
idiomas parecidos produziu um terceiro, e esse verdadeira deidade, criador, objeto de exaltação por
terceiro é justamente o hebraico bíblico. todo o universo, superior aos anjos (ver o primeiro
Uma ilustração mais recente. Tribos germânicas capítulo desta epístola). Cristo é o grande Sumo
invadiram as ilhas britânicas, no século V D.C. Ali Sacerdote que transcende a todos os sacerdócios (ver
44
H EBREUS
Heb. 4:14—12:3). O tema central deste tratado é o lingüisticas não podem ser escondidas. Assim, apesar
«sacerdócio de Cristo», pelo que também W.P. Du dele poder obter uma apresentação mais «suave», ou
Bose intitulou esta composição de «Alto Sacerdócio e de outra forma vir a modificar algumas de suas
Sacrifício». peculiaridades estilísticas normais, certamente, usará
Cristo è o Sumo Sacerdote que trouxe à fruição suas partículas adverbiais e conexões, suas palavras e
tudo quanto era meramente prefigurado nas formas frases favoritas, enfatizando suas crenças afagadas de
anteriores de adoração. Essas formas anteriores eram maneira bem típica de seu desenvolvimento cerebral
sujeitas a modificações, e, de fato, sofreram específico. Ainda que um trabalho venha a ser
mudanças; mas, por detrás delas, há uma realidade traduzido para outro idioma, e mesmo que se cuide
imutável, encontrada na pessoa de Cristo—tal como em ocultar que uma tradução esteja envolvida (uma
diz a explicação platônica do mundo: por detrás de tarefa quase impossível), o estilo original do autor se
todas as formas visíveis e temporárias da existência, refletirá na tradução. Assim sendo, até mesmo de
há um mundo invisível, mas bem real, imutável e luvas, as impressões digitais do autor transparecem.
perfeito, que age como modelo da criação e que, ao O estilo de Paulo é caracterizado por freqüentes
mesmo tempo é o alvo de tudo—aquilo na direção do irregularidades, anacolutos, parênteses extensos,
que tudo se esforça, a fim de que suas perfeições e sua alguns dos quais nunca retornam ao tema original,
eternidade sejam compartilhadas. Na revelação metáforas misturadas, explosões súbitas de eloqüên-
cristã, esse mundo eterno é exposto perante os cia, com base em sentenças que expressam algo de
homens mais claramente do que jamais o foi no maneira bastante prosaica, quando alguma idéia é
passado. Nessa revelação se vê que, na pessoa de indiretamente sugerida. A epístola aos Hebreus, em
Cristo, são exibidas as grandes verdades e realidades contraste com isso, foi escrita em estilo fluente e
religiosas. Esta epístola, pois, consiste essencialmente simétrico, e até mesmo artístico, evidenciando
na revelação da elevada dignidade e do imenso valor considerável habilidade literária e bom senso estético.
de Cristo, e, como tal. assume lugar ao lado do Acrescente-se a isso o fato de que o grego usado é
evangelho de João, e das epístolas aos Colossenses e melhor e mais clássico que o bom grego de Paulo, mas
aos Efésios, como as mais claras revelações sobre o que mais geralmente é o comum grego «koiné».
Filho de Deus e sobre o que isso significa para os Apesar de que um escritor algumas vezes consegue
homens. modificar com sucesso o seu estilo, dificilmente
Essa elevada revelação do Filho eterno de Deus, tão poderá usar repentinamente de uma linguagem mais
eloqüentemente retratada, tem mais do que mera eloqüente e mais erudita. As tentativas para tanto
motivação dogmática: o autor sagrado interessa-se logo são envolvidas numa aura de artificialidade. Por
por certos cristãos que, sob a influência de conceitos isso é que todo aquele que lê o N.T. grego jamais pode
religiosos legalistas e pagãos, hesitavam em sua fé, ver em Paulo o autor desta epístola, pois há tanta
correndo o perigo de abandonar o grande avanço na diversidade entre Xenofonte e Platão, por exemplo.
inquirição espiritual que é apresentado na revelação Além disso, é óbvio que, quanto ao método de
cristã. Essa é a razão pela qual Cristo é retratado em apresentação e à maneira de pensar, Paulo e quem
termos tão vívidos e absolutos. Se alguém abandona a quer que escreveu esta epístola, são diferentes. Os
Cristo, não haverá mais lugar para onde se possa ir, tópicos e expressões paulinos ficam em segundo
porquanto a verdade de Deus está centralizada nele. plano, ou são inteiramente negligenciados. A
Ele é o alvo final e absoluto de toda a existência. justificação pela fé, em conflito com o legalismo, que
Outras religiões têm tido o seu valor, mas podem ser é típico de Paulo, na epístola aos Hebreus recebe
reputadas apenas cópias e imitações, algumas mais escassa atenção, se é que recebe alguma. A
desajeitadas e outras mais perfeitas, daquilo que apresentação inteira das relações entre o antigo
Deus, finalmente, trouxe aos homens na pessoa de judaísmo e o cristianismo também difere. Esta
Cristo. epístola assume certo ponto de vista platônico,
fazendo com que o antigo pacto pareça inferior por
Deus fa lo u : Nisso devemos crer, e disso devemos ser apenas uma pobre imitação da autêntica realidade
fazer o impulso de nossa inquirição espiritual. Mas, espiritual, ao passo que a própria realidade está para
falou Deus realmente? Deus falou em Cristo—esse é o sempre fixa no eterno Filho de D eus, o qual é mais
âmago da resposta muito elaborada. Olhemos para perfeitamente revelado na mensagem e na fé cristãs.
Cristo, pois, e vejamos o que Deus disse para nós; Assim também, o templo e todo o seu culto, figuram
tendo percebido isso, não hesitemos, mas antes, apenas como cópias do «templo celeste», e, por
mantenhamo-nos firmes até o fim, e haveremos de conseguinte, inferior a mais clara revelação das
compartilhar da própria natureza e das perfeições do verdades espirituais que recebemos em Jesus Cristo.
Filho, na qualidade de filhos que estão sendo (Ver Heb. 9:23).
conduzidos à glória. Para Paulo, a debilidade do antigo pacto residia
I. Autoria essencial mente no fato de que exigia dos homens algo
A despeito de intermináveis disputas e escritos, que eles não podiam cumprir, sobrecarregando-os
nada nos levou a um veredicto mais certo, acerca da com a impossibilidade de pô-lo em prática. Paulo
autoria desse tratado, do que o de Orígenes, que disse apresenta a lei como um justificador hipotético, mas
(segundo foi citado por Eusébio): «Quem escreveu que fracassa devido à fraqueza humana. Já a epístola
esta epístola, só Deus o sabe». Porém, que não se trata aos Hebreus apresenta o antigo pacto como mera
de uma das obras de Paulo, esse é o juízo quase sombra, como reflexo imperfeito de uma verdade
unânime dos eruditos modernos. Ê extremamente eterna, que agora nos é desvendada no Filho. Esses
difícil alguém imitar o estilo, a maneira de escrever, a conceitos, naturalmente, não se contradizem, mas são
escolha do vocabulário e o uso dos elementos diferentes. A orientação platônica desta epístola é
conectivos adverbiais (isto é, «entretanto», «não comumente comentada pelos estudiosos, e muitos
obstante», «pois», etc.), além de outros artifícios apontam para a cidade de Alexandria como o local de
lingüísticos, que se tornam como que as «impressões sua composição. Pelo menos o neoplatonismo é
digitais» do escritor. Ainda que um escritor se lance a influência que ali se faz sentir; e o autor sagrado, a
produzir uma forma diferente de composição, como, exemplo de Justino Mártir, chega a ter uma visão
por exemplo, um «tratado», em vez de uma mais clara de Cristo, através das tentativas de Platão
«epístola», as suas peculiaridades e predileções por descrever a realidade última. Portanto, se ele
H EB R EU S
muito se estriba em formas próprias do A.T., tal explicações tão fracas que nem merecem a nossa
como Filo, na realidade, encara essas formas como consideração. Pois, em primeiro lugar, os documentos
uma mente platônica. antigos, como até mesmo os tratados, eram
Outros tópicos e temas enfáticos de Paulo jamais comumente identificados quanto a sua autoria, tal
ocorrem nesta epístola, ou então são mencionados como sucedia às epístolas. Além disso seria de
apenas de passagem, como o fato da ressurreição, que estranhar que o mesmo Paulo, que escreveu a epístola
nos escritos de Paulo tanto brilha. Aqui esse fato é aos Gálatas a fim de combater os legalistas, tendo
mencionado apenas por duas vezes, uma delas como salientado singularmente a sua autoridade apostólica,
uma bênção final (Heb. 13:20) e uma vez antes disso, ao escrever para outros legalistas, ou, pelo menos,
em Heb. 6:2. Até mesmo a menção do tema é acerca deles, escondeu intencionalmente a sua,
artificial, no sentido de que o término deste tratado, identidade, ficando assim, propositadamente, oculta
segundo se observa, foi propositadamente moldado de a sua «autoridade apostólica». Notemos como, por
forma a parecer-se com uma epístola, e como uma várias vezes, em suas epístolas, Paulo as «autentica»,
epístola «paulina», ainda que o autor não tivesse escrevendo alguma pequena porção do próprio punho,
intenção alguma de dar a idéia de que Paulo foi quem a fim de que os seus endereçados soubessem que a
a escrevera. epístola era genuinamente de sua autoria, conforme
Também menciona muito os dois pactos, o se vê em File. 19; II Tes. 3:17; Col. 4:18; Gál. 6:11 e I
antigo e o novo; mas não há qualquer alusão aos Cor. 16:21. Portanto, de acordo com essas explica
gentios, em relação ao novo pacto, um tópico que ções, é-nos pedido que acreditemos que se por um
aparece com freqüência nos escritos de Paulo. A idéia lado Paulo com freqüência escreveu de próprio punho
da justificação pela fé se faz ausente. O pecado recebe alguma pequena porção final de suas epístolas a fim
uma abordagem diferente; não há qualquer alusão à de autenticá-las; ao escrever um tratado tão
sua origem, e o vocabulário empregado para importante como é o livro aos Hebreus; negligenciou
descrevê-lo é muito mais limitado do que nas epístolas até mesmo identificar-se como seu autor, além de não
paulinas. A aparente negação da possibilidade de ter seguido seu costume usual de oferecer alguma
arrependimento, após algum lapso (ver Heb. 5:4-6 e evidência clara de sua autoria.
10:26-29), não é tipicamente paulina. O nome divino Em favor da autoria paulina, tem sido freqüente
freqüentemente utilizado por Paulo, Senhor, é mente salientado que o décimo terceiro capítulo desta
comparativamente raro nessa epístola. E a expressão epístola tem um tom «paulino». Entretanto, esse
«Jesus Cristo» (que figura por trinta vezes, somente na argumento se alicerça somente sobre os fatos de que o
epístola aos Romanos), é rara em Hebreus. «Salva terceiro versículo menciona aqueles que estão
dor», que é vocábulo que aparece em Efésios, em «encarcerados»; que o décimo nono versículo se
Filipenses e nas epístolas pastorais, não aparece na assemelha a File. 22, um pedido de Paulo por oração,
epístola aos Hebreus. A mui enfatizada «parousia» a fim de que ele logo fosse solto, a fim de poder fazer
paulina, que é algo distintivo em seus escritos, figura uma visita; e que o vigésimo terceiro versículo
apenas por uma vez na presente epístola, embora a mostra-nos que Timóteo era pessoa conhecida pelo
volta de Cristo, em algum tempo distante, seja autor, e que ele fora aprisionado, mas agora estava
reconhecida (ver Heb. 1:6, embora até mesmo esse livre. Em alguns manuscritos, o trecho de Heb. 10:34
versículo seja disputado, havendo dúvidas se ele fala parece ser uma alusão a Paulo, a mencionar as
mesmo acerca do segundo advento de Cristo). A «minhas cadeias»; porém, os melhores manuscritos
passagem de Heb. 9:28 fala definidamente sobre esse dizem, nesse versículo, «vos compadescestes dos
acontecimento, mas dá a idéia de que se trata de algo encarcerados». Consideremos ainda os três pontos
ainda distante. abaixo discriminados; sobre como responder a esses
Existení alguns temas similares e importantes, argumentos:
como a preencamação, a doutrina do Cristo divino, 1. Uma das respostas possíveis para essa aparente
que é o criador e que se tornou verdadeiro homem (ver confirmação de autoria paulina consiste em salientar-
Heb. 1:1 ess; 2:14-17; conferir com I Cor. 8:6; II Cor. se que havia m uitíssim os prisioneiros, que muitos
4:4; Col. 1:15-17; Fil. 2:7), o fato de que sua morte foi companheiros e conhecidos de Paulo foram encarce
a porção central de sua missão, a qual também nos rados, e que muitos deles conheciam Timóteo. Nada
proporciona a redenção (ver Heb. 9:15 com Rom. há nisso que não possa aplicar-se igualmente a muitas
3:24 e I Cor. 1:30), a intercessão de Cristo (ver Heb. outras personagens conhecidas ou desconhecidas
7:25 com Rom. 8:34), a lei que é exibida como daquela época. O livro de Atos é dominado pela
neutralizada pela revelação de Cristo (ver Heb. 7:19 e figura de Paulo, e vários de seus aprisionamentos são
10:4 com Rom. 3 e Gál. 3), o fato de que a Jerusalém mencionados ou deixados subentendidos, pelo que
celestial é nossa possessão (ver Heb. 12:12 com Gál. também qualquer menção de «encarceramento»
4:26). Tudo isso, entretanto, prova apenas que ambos naturalmente leva nossas mentes a pensar em Paulo.
os autores escreveram baseados na mesma tradição, Mas isso se deve somente a nossa «associação» com
devendo-se notar, por igual modo,-que até mesmo no outras passagens familiares do N.T., não representan
manuseio de temas similares, alguns deles são do, necessariamente, algum fato.
abordados de maneira diferente.
2. Outra maneira de responder ao tom paulino do
Naturalmente, os principais argumentos contra a décimo terceiro capítulo desta epístola consiste em
autoria paulina são os fatos de que não há supormos que esse capítulo, em sua inteireza, foi uma
«saudação»; aos endereçados não é desejada «graça e epístola adicionada ao tratado, e de modo proposital,
paz»; não há nenhuma oração de ação de graças e para dar a idéia de autoria paulina, a fim de garantir
nem há bênção final no nome de Paulo, a despeito ao tratado sua inclusão no «cânon», ou, pelo menos,
deste tratado ser apresentado comO uma «epístola». para conferir-lhe maior autoridade, visando a sua
As explicações que procuram convencer-nos de que preservação. Se alguém indagar por que razão o autor
essas coisas se fazem ausentes são: a. porque a sagrado, quem quer que tenha sido ele, não forneceu
composição não era uma epístola, pelo que lhe faltam igualmente uma «saudação», a resposta é que isso
as «formas literárias epistolares», e b. porque Paulo arruinaria a seção introdutória altamente artística,
ocultou propositadamente a sua identidade, a fim de tendo sido esse fato percebido pelo interpolador.
não se antagonizar com os legalistas. Mas estas são Quem ousaria alterar o primeiro capítulo, por
46
H EB R EU S
qualquer razão? Porém, p o r que ele não adicionou o em condições com as quais estava familiarizado. As
nom e de Paulo ao fim? Isso nada teria arruinado. Se peculiaridades desse décimo terceiro capítulo, entre
alguém ansiasse por fazer com que esse tratado se tanto, não podem ser reputadas como um argumento
assemelhasse a uma obra «paulina», podemos definitivo ou mesmo significativo em favor da autoria
perceber a razão por que não lhe alterou o prefácio, paulina. Isso é «ver demais em tão pouco», e é ignorar
mas hada lhe teria custado se tivesse adicionado o o m uito que obviamente se volta contra a idéia da
nome de Paulo no fim, posto que já estaria autoria paulina; e esta última atitude é «ver pouco
acrescentando um capitulo inteiro, diferente do resto demais em tanta coisa».
da epístola, e com a finalidade de conferir ao tratado Finalmente, contrariamente à autoria paulina,
a impressão de que se tratava de uma obra paulina. manifesta-se a própria tradição, pois não foi senão já
Outrossim, contra essa idéia se ergue a fato de que no fim do século II D.C. que alguém sugeriu que este
nenhum manuscrito antigo termina no final do livro foi escrito por Paulo; e demorou até os tempos
décimo segundo capítulo desta epístola, sendo que a de Clemente de Alexandria para que qualquer
idéia de uma «adição», feita ao documento original, «escola» aceitasse essa idéia; mas, até mesmo nesse
não goza de qualquer apoio «objetivo» dentro dos caso, surgiram muitas perguntas, dúvidas e disputas.
próprios manuscritos. (Ver a segunda seção deste artigo, acerca de notas
3. Há uma conjetura mais provável. Não há como'expositivas completas sobre como os antigos encara
negar que o trecho de Heb. 13:18 é similar a File. 22, vam a questão). Isto não poderia ter acontecido com
e que a passagem de Heb. 13:23 se parece com Fil. qualquer livro genuíno de Paulo.
2:19,23,24. Se crermos que o autor sagrado criou Há outra« conjecturas sobre o autor deste livro:
propositadamente essas similaridades, então isso teria Bamabé, Silas, Timóteo, Ãquila, Priscila, Clemente
sido mera tentativa de encerrar seu tratado mais ou de Roma, Lucas, Apoio ou o diácono Filipe. Entre
menos da mesma maneira como Paulo encerrava suas esses nomes que não passam de conjeturas, pòis
epístolas, e não a fim de fazer-nos acreditar que Paulo nenhuma prova pode ser aduzida em favor deles, os
foi seu autor. Foi tudo um término conveniente e dois nomes mais prováveis são o de Apoio e o de
familiar dos documentos cristãos. Não se duvida que o Bamabé. Apoio contava com a formação educacional,
autor sagrado estava familiarizado com certas das com o poder da eloqüência, com os dons de ensino e
epistolas de Paulo. (Ver Heb. 13:16 em comparação exegese, que poderiam explicar a produção de um
com Fil. 4:18; ver Heb. 13:21 em comparação com tratado como é esta epístola aos Hebreus (ver Atos
Fil. 4:20; ver Heb. 13:24 em comparação com Fil. 18:24-28; I Cor. 1:12 e í í ; 3:6 e 16:12). Bamabé era
4:21; e ver Heb. 13:18 em comparação com II Cor. levita (ver Atos 4:36) e tinha o conhecimento
1:11,12). Suas palavras, «Os da Itália vos saúdam», necessário sobre as realidades da vida dos hebreus,
podem ser equivalentes às palavras de Fil. 4:22: para ter escrito tal tratado, além do fato de que fora
«Todos os santos vos saúdam, especialmente os da associado intimo de Paulo. Contudo, suas descrições
casa de César». Se o autor sagrado tinha qualquer sobre as maneiras de proceder do legalismo se
outro motivo para fazer o fim deste tratado parecer fundamentam sobre o A.T., e não sobre as práticas
familiar a seus leitores (a saber, parecido com uma contemporâneas em Jerusalém, o que seria de
das epístolas de Paulo), além do motivo da esperar da parte de alguém que era levita. Sem
fam iliaridade, não sabemos dizer. Entretanto, essa importar que idéia seguimos, terminamos sempre
maneira de encerrar o tratado foi um tanto artificial, com apenas dois frutos, de toda essa pesquisa, a
o que fica demonstrado pelo fato de que o autor se saber: 1. Paulo certamente não foi o autor desta
contradiz nos versículos dezenove e vinte e três. O epístola. 2. Embora não saibamos identificar o seu
décimo nono versículo dá a idéia de que ele estava autor, sabemos que «tipo» de homem ele foi. Era
aprisionado e que o tempo de sua «restituição», homem bem-educado, totalmente centralizado em
mediante a soltura, era totalmente duvidoso. Já o Cristo, embora influenciado pelo pensamento platô
vigésimo terceiro versículo, em contraste, parece nico de tal módo que esse se tomou um de seus
indicar que o autor estava em liberdade para viajar veículos de expressão. Sua elevada linguagem e suas
até onde estavam os seus leitores, contanto que o idéias filo-platônicas colocam-no na cidade de
quisesse fazer. Essa contradição foi criada pelo fato Alexandria. (Ver a sexta seção deste artigo, onde
de que ele tomou algo por empréstimo de outras essas possibilidades são desdobradas).
epístolas (Filemom e Filipenses), que contêm declara
ções diferentes, que expressam situações diferentes, D . Confirmação e disputas antigas
para em seguida, no vigésimo terceiro versículo, ter-se Essas questões envolvem tanto a autoria como o
ele afastado, por descuido, da idéia da «incerteza» da lugar deste tratado no «cânon» do N.T. O tratado era
situação que se reflete na epistola aos Filipenses. Não conhecido desde tempos tão remotos como os escritos
se mostrando «autêntico», mas antes, procurando dar de Paulo, o que se comprova pelas óbvias alusões
um sabor paulino a seu tratado, ele rebaixou a sua feitas ao mesmo por Clemente de Roma (95 D.C.).
forma literária, mais ou menos ao exemplo de Em uma carta pastoral, enviada por Clemente à igreja
pregadores, hoje em dia, que ordinariamente pregam de Cristo, em 35:2-5, há várias alusões ao majestático
algum mau sermão que tomaram por empréstimo de primeiro capítulo desta epístola. Em 36:1 da citada
outrem, pois então entram em linhas de raciocínio e epístola de Clemente vemos algo que parece basear-se
de expressão com os quais não estão familiarizados, em Heb. 2:18 e 3:1. Outros usos extraídos desta
ou que não lhes pertencem caracteristicamente. epístola aos Hebreus podem ser vistos em 17:1,5;
19:2; 27:2; 43:1 e 56:2-4 dessa epístola de Clemente.
Seja como for, a primeira ou a terceira resposta são Não há quaisquer referências indiscutíveis a esta
mais prováveis que a segunda. £ possível que o epístola nos escritos de Inácio ou de Policarpo, mas a
décimo terceiro capitulo desta epístola reflita uma epístola de Bamabé (Alexandria, cerca de 130 D.C.)
autêntica situação histórica, comum à igreja cristã contém alguns traços da mesma (ver Bamabé 4:9 e ss
primitiva, que envolvera Paulo e seus companheiros, e 5:5,6, em comparação com Heb. 6:17-19). Na
mas não exclusivamente a esses. Ou então o próprio epístola chamada II Clemente (provavelmente não um
autor sagrado, visando questões de familiaridade, ou escrito autêntico de Clemente de Roma, que deve ser
por outras razões para nós desconhecidas, deu a este datada em cerca de 150 D.C.), encontramos vários
tratado um término tipicamente paulino, com base elementos tomados por empréstimo. (Comparar 11:6
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com Heb. 10:23; 1:6 com Heb. 12:1; 16:4 com Heb. da igreja passaram a aceitar esta epístola, unanime
13:18). Em tempos posteriores, as citações e alusões à mente, como de autoria paulina e canônica. Mas
epístola aos Hebreus se tornaram comuns. Essas alguns poucos, como os arianos, punham em dúvida a
podem ser encontradas nos escritos de Justino Mártir questão; e, no Ocidente, a questão continuava na
(150 D.C.), de Pinito de Creta (170 D.C.), de Teófilo, dúvida. Pelo século IV D.C., a tradição alexandrina
bispo de Antioquia(180 D.C.). O fato de que tal livro começou a exercer influência sobre o Ocidente, onde,
aos Hebreus já era conhecido e citado desde os tempos até então, a epístola aos Hebreus, até onde se sabe,
mais remotos, não significa, porém, que fosse aceito não era considerada por ninguém como de autoria
como escrito paulino. E nem mesmo que já figurasse paulina. Eusébio informa-nos sobre a escassa
desde o princípio como parte do «cânon» do N.T., pois aceitação dessa epístola no Ocidente (História
nem uma coisa e nem a outra sucederam. Clemente, Eclesiástica III.3-5; 38:1-3). Não obstante, alguns
que lançou mão desse tratado, jamais o mencionou cristãos reputavam-na autoritária ainda que porven
como um dos «escritos de Paulo». O uso que ele fez tura não fosse nem apostólica e nem paulina. Sua
desse livro, o que se repete nas citações feitas por ausência no Cânon Muratoriano (Roma, 200 D.C.),
outros autores, mostra apenas que esta epístola desde entretanto, mostra-nos claramente qual era a atitude
o começo foi reputada como parte valiosa da ocidental a respeito dessa epístola.
literatura cristã. No entanto, finalmente a epístola aos Hebreus veio
A primeira vez que a epístola aos Hebreus foi a ser aceita no Ocidente, principalmente devido à
considerada como de autoria paulina parece ter influência oriental, conforme se vê na citação seguinte
surgido nos escritos de Pantaeno, predecessor de de Jerônimo (Epístola, pág. 472, citado por M.S.
Clemente de Alexandria (185 D.C.), o qual explica a Enslin, Christian B eginnings ): «Isso serve para
ausência da usual identificação paulina nesta epístola mostrar a nossos amigos, que essa epístola que
como algo devido à modéstia de Paulo, ao dirigir-se atribuímos ‘aos Hebreus’, foi recebida não somente
aos «hebreus», como se fosse apóstolo dos mesmos, e pelas igrejas do Oriente, mas também por todos os
não dos gentios. Mas essa explicação dificilmente escritores eclesiásticos do idioma grego antes de
merece a nossa consideração. Algumas vezes o nossos dias, como pertencente a Paulo, o apóstolo,
próprio Pantaeno demonstrou certa intranquilidade embora muitos pensem que é de autoria de Bamabé
acerca da autoria paulina desse livro. ou de Clemente. Não faz diferença quem foi o seu
Entrementes, — nas igrejas ocidentais, esse livro autor, porquanto foi escrita por um eclesiástico,
foi rejeitado tanto como paulino como também sendo celebrada nas leituras diárias nas igrejas. Se os
parte do «cânon», tendo demorado até que fosse aceito costumes latinos não a acolheram entre as Escrituras
como parte do cânon do N.T. Tertuliano (De canônicas, também podemos dizer que as igrejas
Pudicitia, xx) o atribuía a Bamabé. A primeira gregas não acolheram de pronto o Apocalipse de João.
«escola» a manifestar-se em favor desse tratado foi a No entanto, aceitamos ambos esses livros, porquanto,
escola de Alexandria; mas até mesmo ali houve muita de modo algum seguimos os hábitos modernos, mas
hesitação e estranhas explicações. Clemente de antes, a autoridade de escritores antigos, os quais, em
Alexandria (150-200 D.C.), evidentemente influencia sua maioria, citam cada um desses livros, não
do por Pantaeno, seu antecessor, pronunciou-se a conforme algumas vezes estavam acostumados a citar
favor dessa epístola, mas considerou que a princípio os livros apócrifos, e nem como mais raramente ainda
fora escrita em hebraico e que «Lucas» a traduziu para usavam de exemplos extraídos de livros profanos, mas
o grego. Orígenes menciona alguns elementos que como livros canônicos e pertencentes à Igreja».
supunham que talvez o próprio Clemente de Roma, Depois dessa época, não houve mais nenhuma
ou então Lucas, a tenha escrito ou traduzido, mas grande disputa em tomo desse livro, durante cerca de
também menciona que havia outros anteriores a si mil anos, até o tempo da Reforma protestante. O
mesmo, que consideravam-na uma produção paulina. concílio de Trento (1546) declarou-se favorável ao
Orígenes afirmou que «...o estilo verbal da epístola mesmo, alistando-o como uma das epístolas de Paulo.
intitulada ‘Aos Hebreus’ não é rude como a A maioria dos reformadores protestantes também o
linguagem do apóstolo, o qual se reputava ‘falto no aceitou como tal, embora alguns o tivessem feito com
falar’. (Conferir II Cor. 11:6). Mas, todo aquele que algumas reservas. Erasmo de Roterdã expressou as
pode discernir diferenças de fraseologia mostra-se suas dúvidas a respeito de sua autoria e canonicidade.
pronto por reconhecer que a sua dicção é vazada em Lutero não atribuiu essa epístola a um apóstolo e
grego mais puro que a do apóstolo dos gentios. distinguiu-a dos «livros certos, claramente autentica
Outrossim, os pensamentos existentes nessa epístola dos e principais obras do N.T.». Calvino não o
são admiráveis, em nada inferiores aos escritos considerava paulino, embora o recebesse como
apostólicos bem reconhecidos, conforme o admite canônico, sem a menor dúvida. Carlstadt colocou a
qualquer estudioso que examine cuidadosamente os epístola na «terceira» de três classes, dentro de uma
textos apostólicos». (Ch. H ist. VI. 14.2,3, Eusébio, classificação de suposta «importância» dos livros do
citando Orígenes). Novo e do Antigo Testamentos.
Orígenes cria que as idéias são paulinas, mas não a Existem sete livros do N.T. que foram disputados
própria epístola, deixando em aberto a questão da até o século IV D.C., e até mesmo periodicamente,
autoria. Após esse tempo, entretanto, tornou-se depois disso, por alguns segmentos da cristandade, a
comum, no Oriente, aceitar esse livro como de autoria saber: segundo e terceiro João, as epístolas aos
paulina e como epístola canônica. Assim é que Hebreus, de Tiago, segunda epistola de Pedro, Judas
Dionísio, bispo de Alexandria (247—264 D.C.) o cita e o livro de Apocalipse. (Ver o artigo sobre Cânon do
como paulino, sem qualquer qualificativo, tal como o Novo Testam ento),
faz Eusébio de Cesaréia (325 D.C.), o qual asseverava A s especulações que pensam que esta epístola foi
que uma epístola original aos Hebreus, de autoria
paulina, teria sido traduzida para o grego por inicialmente escrita em hebraico (ou melhor, aramai-
Clemente de Roma. Contudo, ao pronunciar-se sobre co), a fim de explicar o grego «diferente» (em relação
o «cânon», honestamente ele põe essa epístola entre os ao grego de Paulo), são inúteis, porquanto não há a
«livros disputados». menor evidência de que esta epístola seja uma
tradução. Alguns eruditos chegam mesmo a supor
Após o século III D.C., os segmentos grego e sírio que o autor sagrado não conhecia o hebraico, o que é
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parcialmente consubstanciado pelo fato de que, do existentes no livro (ver Heb. 12:4 e 10:32-34), talvez
princípio ao fim, as citações extraídas do Antigo nos forneçam alguma indicação sobre a data. Essa
Testamento são tiradas da versão da Septuaginta perseguição tem sido identificada com a de Nero
(tradução do original hebraico do Antigo Testamento (especialmente a de Heb. 10:32-34), ou com o período
para o grego, terminada cerca de duzentos anos antes posterior de perseguição, sob Domiciano («...até ao
da era Cristã). Assim interpretava Moulton. (Ver sangue...», diz Heb. 12:4). Se a perseguição sob Nero
Cambridge Biblical Essays, pág. 483). está em foco, então, presumivelmente, fica indicada
m . D ata, Proveniência e Destinatários uma data não distante de 68 D.C., pois esse foi o ano
Data. Parece quase certo que este tratado foi escrito em que Nero se suicidou. Entretanto, deveríamos fazer
antes da destruição de Jerusalém, que ocorreu no ano uma referência ao período pouco depois que aqueles
70 D.C., pois qualquer discussão como a que é acontecimentos tiveram lugar, ou em algum tempo
exposta neste livro, que trata profundamente das depois, sendo que nenhuma data pode ser fixada
questões judaicas, que faz advertências contra a através de tais questões.
reversão aojudaísmo, ou contra a reversão a qualquer Proveniência. O trecho de Heb. 13:24 parece
fé que leve alguém a apostatar do cristianismo, dizer-nos que o autor escreveu de algum lugar na
necessariamente mencionaria a destruição dessa Itália; e, se Paulo foi o seu autor, então teria escrito de
capital como prova do juízo de Deus contra a apóstata algum cárcere romano. Porém, a artificialidade do
nação de Israel, ou como um julgamento contra décimo terceiro capítulo poderia invalidar qualquer
qualquer forma de apostasia. O trecho de Heb. 10:1 e ‘informação acerca da proveniência ou destino (sempre
ss parece indicar que a adoração no templo de que baseada nesse capítulo). Se o autor sagrado
Jerusalém ainda prosseguia. E aqueles que pensam acrescentou à sua epístola tais informes como os que
que a epístola foi escrita depois de 70 D.C., aparecem no décimo terceiro versículo, somente para
respondem que a «apostasia ao judaísmo» não está que seu tratado se assemelhasse a uma epístola
aqui em foco, e, sim, o retorno ao paganismo e à paulina, então suas palavras, «Os da Itália vos
irreligiosidade, e que a adoração no templo aqui saúdam», só poderia ser um detalhe acrescido com
aludida é a adoração no imaginário tabernáculo base em Fil. 4:22, que menciona que elementos da
mosaico, e não aquela adoração no templo de casa de César enviavam saudações à igreja em Filipos.
Jerusalém. Porém, mesmo admitindo-se que isso seja Todavia, esse capitulo talvez exponha circunstâncias
assim, parece altamente improvável que tão momen históricas genuínas, relativas ao próprio autor.
toso acontecimento, como foi a destruição de O fato de que o interesse pela epístola, até onde
Jerusalém, que o cristianismo em geral interpretou sabemos dizê-lo, começou em redor de R om a (notar
como um julgamento divino contra a aposti.sia, não as citações da mesma por parte de Clemente, e que
fosse sequer mencionado, em qualquer conexão, em servem de primeiras confirmações sobre o livro), talvez
um livro da natureza desta epístola aos Hebreus, a indique uma origem romana. A ausência total,
qual foi escrita especificamente com o propósito de naqueles primeiros anos, do fato de que esse livro era
resguardar os cristãos da apostasia de qualquer atribuído a Paulo, talvez indique que o mesmo era
variedade. conhecido ali(onde se originara), e que se sabia quem
Todavia, a quase total desconsideração para com a fora o seu autor verdadeiro. Se esse nome não era
parousia ou segundo advento de Cristo, que era apostólico, não haveria razão alguma para dar o nome
questão tão importante na «era paulina», parece do autor; de fato, tal revelação poderia fazer mais
indicar uma data «pós-paulina». Esse tratado também dano ao uso e à propagação do livro do que se esse
reflete alguns dos usos de Paulo em suas epístolas, detalhe ficasse sem menção. Em face da ausência de
conforme fica demonstrado na discussão sobre outras •evidências, Roma ou alguma área próxima
«autoria» (e isso significaria que, em algum tempo, deveria ser aceita como local provável de sua
deve ter havido alguma coleção primitiva de escritos produção, de onde a epístola começou a ser
paulinos). Portanto, o fim da década de 60 D.C. é distribuída.
indicado. Westcott situava esta epístola entre 64 e 67 Porém, o grego elevado e as idéias neoplatônicas ali
D.C. A alusão a Timóteo, em Heb. 13:23, mostra que contidos têm levado muitos estudiosos a sugerir uma
ele continuava ativo, mas isso não serve para origem alexandrina para esse livro aos Hebreus. Tal
estabelecer qualquer data anterior, pois ele poderia origem pode estar por detrás de sua aceitação
ter continuado no ministério muito tempo depois do primeiramente no Oriente, em contraste com a
martírio de Paulo. demora de sua aceitação no Ocidente. Não há como
O trecho de Heb. 2:3 mostra-nos que essa epístola é solucionar tal problema, contudo.
um tanto tardia, pois não se assevera escrita por uma Destinatários. O titulo «Aos Hebreus» presumivel
das testem unhas oculares, que teria conhecido mente nos parece dar alguma indicação a esse
diretamente a Cristo. O evangelho foi declarado respeito. Entretanto, os títulos e subtítulos não faziam
primeiramente pelo Senhor, e isso foi confirmado parte do documento original, sendo possível que esse
para nós por aqueles que o tinham ouvido. Isso não título tenha sido vinculado ao livro simplesmente
precisa indicar alguma «segunda geração»; mas indica devido ao seu conteúdo, que tanto tem a ver com as
uma época em que o entusiasmo inicial do «coisas dos hebreus». Além disso, leitores e escribas,
cristianismo começava a enfraquecer, quando vários tal como alguns intérpretes modernos o interpretam,
de seus elementos começavam a retroceder para os poderiam ter pensado que os muitos escritos contra a
seus antigos caminhos, o que explica as muitas apostasia visavam convertidos vindos do judaísmo,
advertências aqui existentes contra a apostasia. (Ver que voltavam a suas antigas formas religiosas. Alguns
Heb. 2:1; 6:1-11; 10:36 e 12:1). eruditos argumentam, porém, que essa apostasia não
Em caso algum a epístola pode ser de data tão é judaica, e sim, pagã e irreligiosa. Nesse caso,
tardia como 90 D.C., ou Clemente de Roma não «gentios», e não judeus, teriam sido os endereçados do
poderia tê-la citado. (Ver sob «Autoria», quanto ao presente tratado.
uso que ele fez deste tratado). Por isso, os eruditos Não obstante, o título é antigo, confirmado de
datam esse livro de 65 a 90 D.C., não podendo haver modo separado e independente no Oriente, e no
certeza absoluta acerca disso, e nem a questão é de Ocidente, como por Pantaeno e Tertuliano e os seus
capital importância. As menções a «perseguições». discípulos e estudantes. Além disso, não dispomos de
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qualquer outro testemunho que dê um destino Este é um dos pontos claríssimos da epístola. O seu
contrário a esse tratado. O próprio termo «aos propósito central é reiteradamente afirmado. O autor
Hebreus» poderia indicar judeus e crentes judeus, adverte os crentes (sejam eles judeus ou gentios) que
distintos dos judeus (ver II Cor. 11:22 e Fil. 3:5), ou cuidassem para não voltar a seus antigos caminhos,
então judeus de fala hebraica, em distinção a judeus de impiedade ou de alguma religião inferior. A clara
que falavam o grego (ver Atos 6:1). Se essa é a revelação de Deus já nos foi dada e se encontra em
verdade, obviamente este livro foi dirigido a cristãos Cristo. Ele é superior aos anjos e aos profetas, sendo
que falavam o aramaico, e não aos judeus em geral, ele tanto o poder criador como o poder sustentador.
porque se trata de um documento cristão, que adverte Nele é que é oferecida a salvação de Deus. Portanto, é
contra a apostasia para longe do cristianismo, o que uma estupidez defender os anjos (como faziam os
significa que dificilmente serviria para judeus que gnósticos) ou os profetas (como faziam os judeus),
nunca tivessem sido cristãos. como se esses fossem superiores a Cristo. A epístola
Alguns têm pensado que a comunidade judaica de aos Hebreus, no dizer de Robertson (in loc.) é «a
Roma foi a endereçada; mas, se esta epístola foi primeira grande apologia do cristianismo, e nunca foi
enviada de Roma (ver Heb. 13:24), então isso não é ultrapassada».
muito provável. Por outro lado, se o décimo terceiro «Eles tinham professado o cristianismo por algum
capítulo desta epístola é artificial, então seu destino, e tempo (ver Heb. 5:12); e a sinceridade de sua
não a sua proveniência, poderia ter sido a cidade de profissão de fé era comprovada pelo modo como
Roma. Isso também explicaria seu uso antigo desta tinham suportado uma severa perseguição (ver Heb.
obra, como também explanaria a suposição de que 10:33,34). Tinham sofrido jubilosamente o despoja-
ela foi composta naquela cidade. mento de suas posses; tinham suportado grande
Moffott (International Criticai Commentary) argu conflito de sofrimentos. Mas tinham sentido como
menta com base no uso da Septuaginta, e com base mais desgastador do espírito o prolongado conflito
em outros fatores, que o título «aos Hebreus» não é contra o pecado (ver Heb. 12:3,4), bem como a
boa orientação, pois os verdadeiros endereçados derrisão que experimentavam como crentes dia a dia
teriam sido crentes gentios, o que faria com que o (ver Heb. 13:13), do que a perseguição mais feroz.
tratado tivesse uma natureza geral. Com isso Conseqüentemente, seus joelhos se tinham afrouxado,
concorda Morton S. Enslin, em sua obra Literature o f na vereda da resistência e da atividade justas; e as
the Christian M ovem ent. Diz ele: «...pode-se vê-lo suas mãos pendiam inermes, como se fossem homens
como um tratado ou uma homília anônima, por um derrotados (ver Heb. 12:12). Tinham estacado no
(crente) desconhecido, dirigido aos crentes de todos os progresso e corriam o perigo de desviar-se (ver Heb.
lugares. Seu propósito foi o de despertar os crentes 6:1-4 e 3:13), permitindo que um mau coração de
para a sua venerada fé, advertindo-os contra o desvio. incredulidade surgisse neles. Não se há de duvidar
Com essa finalidade ele explica o cristianismo como a que essa condição de desatenção, de semicrença,
verdadeira e final religião, gloriosamente eficaz para a deixara-os abertos para a incursão de ensinamentos
salvação, através da glória superlativa da pessoa e da diversos e estranhos (ver Heb. 13:9), algo prenhe de
obra de Jesus Cristo» (pág. 316). perigos» (Marcus Dodds, in loc.).
Se os endereçados da epístola eram crentes judeus, Prossegue o mesmo autor: «Para restaurar neles o
então não podemos ter uma idéia segura sobre onde frescor da fé, o escritor sagrado, em cada porção da
viveriam. As palavras «Os da Itália...» poderiam epístola, exorta-os à constância e à perseverança.
significar *Os que vieram da Itália...» Isso significaria ‘Guardemos firme a confissão da esperança, sem
que o autor falava sobre — com patriotas — dos vacilar...’ (ver Heb. 10:23). ‘Não abandoneis,
leitores ju d e u s, que estavam em sua companhia e lhes portanto, a vossa confiança...’ (ver Heb. 10:35). ‘Se>
enviavam saudações. Nesse caso, a cidade de Roma retroceder, nele não se compraz a minha alma' (ver
seria o destino da epístola. Todavia, há estudiosos que Heb. 10:38). Ou então, aquilo que poderia ser
pensam que Jerusalém ou algum outro centro do reputado como o lema exortativo da epístola: ‘Porque
cristianismo primitivo tenha sido o local do destino. Ê nos temos tomado participantes de Cristo, se de fato
possível, porém, que ainda que os destinatários guardarmos firme até o fim a confiança que desde o
fossem crentes judeus, nenhuma comunidade particu principio tivemos’ (ver Heb. 3:14). A fim de que se
lar estivesse em foco, mas antes, todos os crentes, de encorajassem a tal, o autor mostra as excelentes bases
todos os lugares, que tentassem apostatar de Cristo. em que poderiam alicerçar sua confiança. Os frutos
Como tudo quanto diz respeito à controvérsia sobre da fé, em seus antepassados, são recapitulados no
este livro, bons intérpretes tomam uma ou outra eloqüente décimo primeiro capítulo. ‘Considerai,
posição sobre essa questão, a qual não pode ser pois, atentamente, aquele que suportou tamanha
satisfatoriamente resolvida. Seja como for, esse livro é oposição dos pecadores contra si mesmo, para que
bem útil para nós hoje em dia, para ensinar à igreja não vos fatigueis, desmaiando em vossas almas’ (ver
cristã inteira. Hebreus 12:3). A supremacia de Cristo e o fato de que
ele é digno de nossa confiança são expostas
Porém, o fato de que todo o livro explora a questão detalhadamente, sobretudo a eterna suficiência de seu
das formas e costumes religiosos dos judeus, quase sacrifício e de sua intercessão».
certamente exige o conceito que estão em vista
endereçados que eram crentes judeus. Pois que Ao mostrar o seu propósito central, conforme é
propósito poderia ter tido o autor, dando aos gentioscomentado acima, o autor apresenta muitos propósi
tão vasta quantidade de material acerca do judaísmo? tos secundários. Assim é que a elevada posição de
Como tais informes poderiam ser-lhes inteligíveis? HáCristo pode ser vista e entendida; ele suplantou a
aqui a idéia de que os leitores sabiam perfeitamente anjos, profetas e todas as revelações anteriores
bem tudo quanto estava implícito nesse «material (primeiro capítulo). Somente nele podemos realmente
judaico». Os endereçados devem ter tido treinamento confiar; pois ele é superior a Moisés, do mesmo modo
e educação tipicamente judaicos—portanto, eram que um filho, em uma casa, é maior que um escravo
judeus de raça e de religião, e agora se tinham (ver o terceiro capítulo). Portanto, é impossível
convertido ao cristianismo. retornar-se a Moisés e fazer dele objeto .da fé,
IV. Propósito« do tratado e natureza da apostasiaporquanto em Cristo temos superior revelação; a fé é
combatida que se reveste de valor, no tocante à prédica do
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evangelho, que as antigas idéias não destruam a nova estar com a verdade, e alguns pensam que gentios
fé, para que ninguém fique aquém do «descanso» de crentes foram os endereçados desta epístola, o que
Deus (ver o quarto capítulo). E verdade que a indicaria um destino a algum lugar onde a heresia
salvação era mediada pelos sacerdotes judeus; mas gnóstica atacava, a maioria dos eruditos não aceita
agora temos um grande Sumo Sacerdote, e nenhum bem essa teoria.
crente verdadeiro pode retroceder a meras sombras, 2. O ponto de vista mais largamente aceito é o que
depois de ter visto a realidade (ver os capítulos quinto
diz que a epístola foi genuinamente escrita para
e sexto). Precisamos reputar o sacerdócio de Cristo alguma comunidade, ou comunidades de judeus
como superior ao arônico, pois Cristo pertence à crentes, ou mesmo aos judeus crentes em geral,
ordem de sacerdócio de Melquisedeque, que é avisando-os essencial mente sobre o perigo de retorna
superior ao arônico, — e ele mesmo é a concretização rem ao judaísmo, ou de reduzirem a pessoa de Cristo
desse sacerdócio (ver os capítulos sétimo e oitavo). a uma posição tão inferior que ele se tornaria apenas
Todas as ordenanças da dispensação judaica, com outro dentre os «profetas». A ênfase sobre as «coisas
suas muitas leis e cerimônias, sacrifícios e rituais, judaicas», do princípio ao fim exige quase esse ponto
eram apenas sombras da verdadeira fé que deposita de vista, pois por que razão qualquer outro tipo de
mos em Cristo (ver os capítulos nono e décimo). A f é éerro exigiria tal refutação?
a maneira superior de expressão espiritual, e Cristo é
seu objeto mais destacado, bem como o seu grande 3. Contudo, alguns eruditos pensam que gentios
exemplo (ver os capítulos décimo primeiro e décimo crentes são endereçados nesta epístola e que o aviso é
segundo). Este livro, pois, tem por finalidade aclarar acerca de sua volta ao paganismo ou à irreligiosidade.
essas verdades, a fim de que o propósito central, que é Porém, se assim realmente é o caso, é difícil perceber
o de impedir a apostasia contra Cristo, fosse porque foi necessário que o autor tivesse se
realizado. preocupado tanto com panos de fundo judaicos, o que,
A melhor defesa é um bom ataque, sendo que os na realidade, ocupa quase a epístola inteira. Que
crentes são convidados a deixarem de lado a sua sentido teria isso para crentes gentios? Que ligação
preguiça mental e a estagnação na sua experiência direta teria isso com o caso deles? O mais certo é que o
autor tê-los-ia advertido sobre a inferioridade das
espiritual (ver Heb. 6:1-3), para contrabalançar toda formas religiosas gregas e romanas, sobre as sutilezas
a tendência de apostasia da fé. Se um homem cresce da filosofia hedonista, cpmo o ceticismo e o sofisma,
diariamente em Cristo, não cairá na tentação de ou sobre os perigos da idolatria. Não é provável que o
tornar-se frio, ou de abandonar finalmente a sua fé. judaísmo de tendências gnósticas tivesse sido suficien
Essa é uma mensagem urgente para os tempos te para explicar as pormenorizadas discussões sobre o
modernos; pois o que destrói nossas igrejas, a não ser judaísmo e seus ritos.
a ausência total de ensinamento vital e pouco interesse
pelas evidências do Espírito entre nós? A estagnação é A inadequação da lei é declarada de modo breve
algo destrutivo para a fé. No entanto, em nossos dias, (ver Heb. 7:19 e 10:4); contudo, a ênfase não recai
ministros e professores de Escola Dominical vão de sobre o ensino contra formas de legalismo, e, sim,
ano para ano sem aumentar vitalmente os seus sobre a tendência de certos cristãos para a estagnação
conhecimentos, sem aprimorar a sua didática, e desde espiritual, em que estes se tornam desatentos para
há muito já disseram a seus ouvintes tudo quanto com a mensagem cristã, esfriam para com a causa
sabem. Como é que uma igreja pode manter-se sob cristã, tornando-se inermes e embotados—essas são
tais condições? — Neste mundo moderno, se um as falhas atacadas aqui. O autor sagrado via que tais
homem não avança, em breve vê desaparecerem suas crentes não demorariam a duvidar da eficácia e da
oportunidades de trabalho. No entanto, a igreja cristã natureza ímpar da mensagem cristã, e até mesmo
pode prosseguir na estagnação, o pregador pode chegariam a duvidar da superioridade de Cristo, pois,
continuar sempre o mesmo, sem nada saber de novo para esses, ele já teria cessado de ser superior e
ano após ano; e ainda quer que o mundo a considere sem-igual. Tais pessoas facilmente reverteriam para
com seriedade. O Novo Testamento é o maior suas antigas formas religiosas. Nisso consiste a
documento que jamais foi escrito em linguagem «apostasia» para a qual o autor sagrado não via
humana; mas a ignorância sobre seus ensinamentos é remédio. Portanto, se o legalismo não era o problema
uma falha generalizada na igreja; e o ensino, ali, não imediato, a reversão à fé judaica estaria em pauta,
está segundo a altura desse elevadíssimo documento pois essa é a única maneira de explicar tão abundante
sagrado. Ensinamos antes «alguns» conceitos sobre a material sobre o judaísmo. Por conseguinte, as
Bíblia, e não a própria Bíblia. pessoas advertidas devem ter sido judeus-cristãos.
Também é possível que dentro da cultura helenista da
Qual foi a natureza da apostasia enfrentada? época, também mostrassem tendências de reduzir a
Consideremos os pontos seguintes: sua fé a uma espécie de «gnosis», com algumas
1. Alguns estudiosos, que são uma minoria, vêemcaracterísticas próprias do gnosticismo.
nessa epístola a oposição a um tipo primitivo de V. Forma literária e integridade
gnosticismo, ou uma heresia pré-gnóstica, que mais Alguns consideram o livro aos Hebreus essencial
tarde tomou corpo. Se isso é verdade, então a epístola mente uma epístola; outros preferem pensar nele
se alinha ao lado de Colossenses e das epístolas como um tratado; e ainda outros julgam-no um
pastorais, bem como das epistolas de João. Essa sermão ou homilia. Começa como um tratado,
forma de gnosticismo, tal como aquela forma prossegue como um sermão, e termina como uma
combatida na epístola aos Colossenses, certamente epístola. A maneira exata de classificar esse livro é um
provinha da influência judaica, o que talvez explique dos problemas ainda não solucionados pela pesquisa
o material tipicamente «judaico» desta epístola. neotestamentária. O tipo exato de forma literária que
Aqueles que defendem essa posição vêem provas a o livro apresenta se relaciona ao seu propósito. Se
respeito na forte ênfase sobre a superioridade de porventura se trata de uma simples epístola, então é
Cristo sobre os anjos (ver Heb. 1:4-14) e contra a provável que tenhamos aqui as comunicações pessoais
ênfase dada a supostos intermediários (ver Heb. do autor para alguma comunidade cristã; se
1—4), além de práticas ritualistas (ver Heb. 5—10), porventura se trata de um tratado ou sermão, então
tudo o que caracterizava o gnosticismo. (Ver o artigo seus endereçados poderiam ser um grupo maior de
sobre o gnosticism o ). Apesar dessa posição poder cristãos, uma classe inteira, como, por exemplo, todos
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os judeus-cristãos; ou então o «tratado» pode ter sido nós'em sua forma original. A história não nos sugere
dirigido aos cristãos de todos os lugares que fossem que tenha havido jamais nos tratados uma introdução
tentados a reverter à irreligiosidade. similar à das epístolas. Além disso, este livro foi
Examinando o décimo terceiro capítulo, encontra aceito e exaltado no Ocidente na forma como o temos
mo-nos em «terreno de epístola», isto é, nosso agora. Outrossim, todos os manuscritos que possuí
documento tem a natureza de uma epístola. Mas nem mos sobre esse documento tem o primeiro capítulo
mesmo ali é dada alguma assinatura, o que seria de conforme o conhecemos hoje.
estranhar para um escritor de «epístola». Além disso, Contudo, há outros documentos, ordinariamente
o próprio livro não tem as formas introdutórias de chamados «epístolas», que não possuem introduções
uma epistola, mas antes, começa como um tratado. epistolares normais, como a de Barnabé, a de II
Se temos aqui uma epístola, por que as formas Clemente e a primeira epístola de João; sendo que sfe o
epistolares costumeiras não foram seguidas? A fim de documento tivesse a intenção de ser uma epístola,
explanar porque o documento começa como um ainda assim poderia faltar-lhe esse elemento introdu
tratado e termina como uma epístola, várias tório.
especulações têm surgido. É possível que o documento Deve-se admitir, porém, que o décimo terceiro
original tivesse uma introdução apropriada a uma capítulo nos toma de surpresa, pois nada há, nos
epístola, que foi eliminada por que alguém sugeriu capítulos um a doze, que nos prepare para a repentina
que continha um nome não-apostólico como seu mudança de estilo e conteúdo como encontramos ali.
autor; ou então, mais logicamente, o décimo terceiro Sua presença nesse documento tem provocado várias
capítulo não faria parte do tratado original, mas foi conjeturas:
acrescentado por algum autor posterior, procurando 1. A conclusão foi escrita pelo autor original, que
dar ao todo um tom paulino. Essas especulações tencionava que seu tratado fosse dirigido a um grupo
envolvem-nos em questões sobre a «integridade do específico e limitado, ao qual saúda no décimo
documento». Possuímos o mesmo em sua forma terceiro capítulo. Nesse caso, ele não se preocupou
original, ou houve modificações, adições ou elimina que o estilo e a substância de seu documento tivessem
ções? Não fora o conteúdo do décimo terceiro sido subitamente alterado para pior. Preocupou-se
capítulo, e ninguém jamais teria pensado em chamar apenas em fazer as saudações necessárias. Ao fazer
este documento de «epístola». tais saudações pessoais, talvez ele tenha querido dar
Porém, supondo-se que o décimo terceiro capítulo às mesmas um tom paulino proposital, embora
seja autêntico, então poderíamos hesitar em chamar também possa tê-lo feito sem tal intenção. Caso o
este livro de um «tratado»; e o autor sagrado em toda tenha feito propositadam ente, então provavelmente
parte se mostra tão prático em suas admoestações, fez assim para efeito de «familiaridade». Seus leitores
usando os dons de um pregador e de um exortador, estariam acostumados com as epístolas paulinas, e se
que nos sentimos tentados a chamar a obra inteira de sentiriam à vontade ao ler essa forma de conclusão.
«sermão», — em vez de uma tese cuidadosamente 2. O autor original poderia ter adicionado a seu
desenvolvida, conforme é a natureza de um tratado. tratado uma seção de saudações pessoais, ao enviá-lo
Portanto, no próprio documento o escritor dá a para um lugar específico, ao passo que o próprio
entender que seu livro foi dirigido «de um orador para tratado visava todos os judeus-cristãos, ou mesmo os
seus ouvintes», e não «de um escritor para seus cristãos de todos os lugares, faltando-lhe os toques
leitores». Isso dá ao livro um tom mais de sermão do pessoais ou a forma epistolar.
que de tratado. (Ver Heb. 2:5; 5:11; 6:9; 8:1; 9:5; 3. A conclusão pode ter sido adicionada por uma
11:32; 12:25 e 13:6). pessoa diferente, que a fez a fim de fazer com que o
A única conclusão possível a que podemos chegar é documento contivesse saudações aos seus endereça
que esse documento não segue qualquer forma dos.
literária, sendo uma obra ímpar. Contudo, devido a 4. Um escriba posterior pbde ter adicionado a
sua mistura peculiar de estilos, dificilmente podemos conclusão com o propósito específico de dar ao
dizer que temos uma nova forma literária, conforme tratado um «tom paulino», para que assim fosse aceito
foi o caso dos evangelhos, os quais, por serem obras como obra mais autoritária.
sem-igual, formaram uma nova forma literária. 5. Mais remota é a idéia de que o escritor de fato foi
Parece que temos aqui um pregador que se lançou à Paulo, e que ao seu tratado ele adicionou algumas
empresa de escrever um tratado; e, a fim de dar um saudações pessoais.
toque pessoal a seu «sermào-tratado», adicionou Todas essas idéias acima estão sujçitas a objeções.
algumas questões pessoais que dão ao fim de seu livro Os números abaixo dizem respeito às conjeturas
a aparência de uma epístola. acima:
Integridade. Essa palavra, aplicada a obras 1. Há certa qualidade «artificial» nesse décimo
literárias, levanta a questão se este documento chegou terceiro capítulo, pois tem paralelos notáveis com
até nós na mesma forma em que foi originalmente certas epístolas paulinas, mas se contradiz consigo
escrito, ou se houve adições ou eliminações de mesmo. (Comparar Heb. 13:23 com Fil. 2:19,23,24;
material, ou ambas as coisas. O primeiro e o último 13:16 com Fil. 4:18; 13:21 com Fil. 4:20; 13:24 com
capítulos são postos em dúvida. Alguns, supondo que Fil. 4:21,22; 13:18,19 com File. 22; 13:18 com II Cor.
este documento é uma epístola, crêem que sua forma 1:11,12). Esses notáveis paralelos com escritos
original tinha uma introdução própria de uma carta. paulinos ocorrem somente nesse capítulo, pelo que é
Se tal introdução foi escrita por um n^o-apóstolo, isso lègítima a indagação, «por quê?» Note-se também a
poderia ser prejudicial para a autoridade e a notável contradição entre os versículos dezenove e
circulação do livro, sendo que todo o conteúdo vinte e três. O versículo dezenove mostra o autor
«semelhante a uma carta», do primeiro capítulo, teve aprisionado, ao passo que o versículo vinte e três dá a
de ser eliminado. Essa idéia se torna muito dúbia impressão de que ele estava livre. Um segundo autor,
quando se nota quão hábil e artisticamente o primeiro que acrescentou toques paulinos, poderia ter, por
capítulo foi escrito, formando um todo compacto que descuido, criado tal contradição, bem como a
dificilmente poderia admitir qualquer adição ou situação de que somente aqui é que temos paralelos
subtração. Sua beleza estética, e sua força de às cartas paulinas. Mas, por que o autor original faria
expressão deixam-nos com a idéia de que chegou até isso? Só podemos conjeturar que ele o fez para dar a
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seu livro certo tom paulino. Não podemos aceitar a sobre a influência de Filo, neste tratado). Apesar
idéia de que ele o fez para que seu livro passasse como disso, em sua maior parte, o autor sagrado não chega
de autoria paulina, pois, nesse caso, por que ele aos extremos de Filo de reduzir tudo a alegorias, mas
simplesmente não adicionou o nome de Paulo à interpreta «historicamente», a maioria dos eventos,
conclusão, embora não tivesse querido iniciar seu vendo ali acontecimentos e lições reais, — e não
livro como uma epístola? A pergunta, pois, seria: «Por apenas alegorias.
que ele quis dar ao livro um tom paulino?» Não temos As alusões ao A.T. ou citações diretamente
resposta certa para isso. Contudo, a primeira extraídas do mesmo são numerosas, de tal modo que é
conjetura é que está eivada de menos dificuldades. supérfluo alistá-las. No N.T. grego de Nestle há quase
Todas as cópias que temos do livro aos Hebreus trezentas instâncias de tais citações.
contêm o décimo terceiro capítulo; e, se este tivesse A grande idéia central que é extraída de tudo isso é
sido adicionado posteriormente, é bem possível que que, em Cristo, todas as formas e idéias do A.T.
pelo menos algumas cópias tivessem chegado até nós encontram cumprimento. Assim, Cristo é a revelação
sem tal adição. divina todo-suficiente, todo-autoritária, absoluta e
2. A segunda conjetura não é muito provável final. É tolice, pois, e até uma fatalidade, depois de o
porque não explica o «tom paulino» da conclusão, termos conhecido, retornar a formas religiosas
embora explique «alguma forma» de conclusão. anteriores e inferiores, o que explica as muitas
3. A mesma objeção pode ser feita neste caso. Um advertências contra a apostasia. (Ver o item IV,
escriba posterior, ao adicionar saudações pessoais, no intitulado «Propósitos do Tratado e Natureza da
fim, antes de enviar o documento aos crentes que Apostasia Combatida» quanto a notas expositivas a
julgou deveriam ler essa mensagem, dificilmente esse respeito).
sentiria ser necessário dar ao livro um tom paulino. 2. A influência de Paulo. Não se há de duvidar que
4. Se um escriba posterior tentou fazer o livro o autor estava familiarizado com os escritos paulinos
parecer paulino, para que obtivesse posição canônica, O décimo terceiro capítulo é conclusivo a esse
por que não adicionou o nome do próprio Paulo, o respeito. (Ver o item V deste artigo, o parágrafo que
que teria sido mais convincente? Assim todos os se segue imediatamente à lista das cinco conjeturas
eruditos aceitariam o livro como paulino, a despeito sobre a natureza do décimo terceiro capítulo). Porém,
de quaisquer argumentos em contrário. se esse capítulo não foi escrito pelo autor original da
5. Este livro não pode pertencer a Paulo, por razões epístola, temos declarações similares, mas não
declaradas na primeira seção da introdução, intitula empréstimos indiscutíveis feitos dos escritos de Paulo.
da «Autoria». Se tivesse sido de autoria de Paulo, por Isso significaria que ambos se aproveitaram de uma
que ele não mencionou o próprio nome, como era seu fonte informativa comum, e não que o autor deste
costume? livro fez algum empréstimo direto de Paulo. Há temas
Dessas cinco conjeturas, pensamos que a primeira é similares, a saber: 1. O Cristo preencarnado, divino e
a mais viável, embora tenhamos de admitir que há criador (capítulo primeiro com I Cor. 8:6; II Cor. 4:4
muitas dificuldades. Este artigo defende a posição e Col. 1:15-17). 2. Mas Cristo se tomou verdadeiro
que o livro aos Hebreus, segundo o temos hoje, homem (Heb. 2:14-17 com Rom. 8:3; Gál. 4:4 e Fil.
representa sua forma original, incluindo seu décimo 2:7). 3. A morte de Cristo foi o aspecto central de sua
terceiro capítulo, a despeito das dificuldades que isso missão tendo-nos trazido a redenção (Heb. 9:15 com
cria. Rom. 3:24; I Cor. 1:30). 4. A ineficácia da lei (Heb.
7:19 e 10:4 com Rom. 3 e Gál. 3). 5. Cristo é o
V I. Idéias religiosas e filosóficas
mediador (Heb. 7:25 com Rom. 8:34). 6. A grande
O autor escreveu com base na influência de mais de importância da fé (Heb. 11 com Rom. 3—6). 7.
um pano de fundo, tanto literário como teológico, de Jerusalém celestial é nossa possessão (Heb. 12:22 com
onde extraiu suas idéias distintivas. Consideremos os Gál. 4:26). Não há razão para crermos que o autor
quatro pontos abaixo: não conhecesse os escritos de Paulo, e não se há de
1. É óbvio que o A .T . é a sua grande fonte de duvidar de que foi influenciado, em sua expressão e
informações, o fator formativo desse documento, desenvolvimento, no tocante a certas idéias; todavia,
embora sempre interpretado do ponto de vista cristão. permaneceu senhor de si, e sua apresentação, até
Ê significativo que ele retrocede ao judaísmo bíblico, mesmo de certas doutrinas básicas, é diferente da
mediado pela versão da Septuaginta, — em vez de apresentação paulina. Isso é ventilado na primeira
alicerçar-se em expressões e práticas do judaísmo seção do artigo, intitulada «Autoria», que aborda
corrente. Ele via o A.T. como fonte das «sombras mais detalhadamente a questão. Na passagem acima
simbólicas» de Cristo; e o âmago e o sentido daquele e em várias outras passagens, um fraseado similar é
documento se acha na pessoa do Filho eterno. Isso é usado por Paulo, em que a palavra prim ogênito se
exposto sob formas platônicas, pois as leis, os ritos e aplica a Cristo (ver Heb. 1:6 com Rom. 8:29); em que
as cerimônias do A.T. são apenas os «particulares» se diz que tudo foi sujeito a Cristo (ver Heb. 2:8 com
terrenos e temporários em que a «forma eterna» ou Fil. 2:9-11); em que há ênfase sobre a perseverança
«idéia» da autêntica fé religiosa (centralizada em (ver Heb. 3:14 com Rom. 11:22); a questão da
Cristo) se reflete. As formas religiosas do A.T. são necessidade de todos prestarmos contas a Deus (ver
«inferiores» porque são temporais, e por serem apenas Heb. 4:13 com II Cor. 5:10 e Rom. 14:12). Mas isso
débeis «apresentações» da verdade e não a própria não comprova qualquer empréstimo diretamente
verdade. O autor desenvolve suas idéias acerca do feito, mas apenas o uso de fontes informativas
sacerdócio (o grande tema isolado, que ocupa grande comuns, baseadas no cristianismo primitivo, do
parte de Heb. 4:14—12:29) —de um modo que os primeiro século.
leitores de Filo, o grande teólogo-filósofo neoplatônico
do judaísmo alexandrino—até 50 D.C.—poderão 3. Primitivas Idéias Cristis. É óbvio que o autor se
reconhecer. Pois toma por empréstimo tanto idéias baseou em fontes informativas comuns a todos os
como expressões verbais. Assim, se o A.T. é sua maior cristãos primitivos, inclusive Paulo. Ele não escreveu
fonte, e se as instituições mencionadas são aquelas em um vácuo e nem criou um cristianismo diferente
dos tempos bíblicos, e não as do judaísmo a ele do que era corrente em seus dias, apesar de que ele
contemporâneo, contudo, o uso do A.T. é mediado tinha suas próprias idéias, suplementando a tradição
pelo pensamento helenista. (Ver as notas abaixo, cristã. E razoável supormos que temos neste livro, sob
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forma elaborada, aquilo que se ouvia na igreja na segundo Platão, em que o espírito do homem não
forma de expressão mais simples—todos viam em pertencendo realmente a este mundo, estaria aqui
Cristo o cumprimento de tudo quanto era melhor e castigado, prisioneiro do corpo, a buscar o mundo
vital no judaísmo. A epístola aos Hebreus é uma superior. O espírito buscaria saída deste munda
extensa e eloqüente expressão dessa primitiva através de uma perfeição moral crescente, para que
apologia cristã. Epístolas como aos Romanos e aos pudesse habitar na esfera superior e espiritual. Tudo
Gálatas dão a entender a mesma coisa, e com quanto está neste mundo seria apenas uma imitação*
freqüência citam o A.T., mostrando que Cristo do mundo celeste; e todas as coisas terrenas
cumpriu o mesmo. O livro de Atos expõe com (chamadas de particulares) teriam seus paralelos no
freqüência essa apologia. Sem dúvida foi esse o fator mundo eterno das idéias, das realidades espirituais,
mais comum da primitiva pregação cristã. A primeira de natureza «não-material». Portanto, haveria o
coisa que Paulo fez após sua conversão foi começar a mundo das «idéias» ou «mundo ideal», uma esfera
asseverar e a pregar a Jesus como Messias e Filho de espiritual onde existem todas as perfeições. As
Deus (ver Atos 9:20-27). O sermão pentecostal de «idéias» seriam perfeitas, eternas, não-materais.
Pedro se baseou sobre textos do A.T., supostamente Neste mundo vil de pecado os «particulares» seriam
cumpridos na dispensação cristã e na vida do próprio apenas imitações das «idéias»; e assim, em certo
Cristo (ver Atos 2:15 e ss). A defesa de Estêvão sentido, são contrárias a estas últimas, isto é,
(sétimo capítulo do livro de Atos) teve o mesmo imperfeitas, temporais, e materiais. A esperança a
caráter e a mesma base. (Quanto a notas expositivas longo prazo é que a alma, tendo-se reencamado por
completas sobre o testemunho geral do A.T., em que muitas vezes, e buscando espiritualização através do
Jesus aparece como o Messias, segundo a igreja desenvolvimento moral, com a ajuda de experiências
primitiva via a questão, ver Atos 3:22 no NTI). místicas, tornando-se possuidora de espirituali
Abaixo damos as «idéias cristãs primitivas» de que dade bastante para escapar desta esfera terrena, pode
participa o presente documento: a. a exaltada pessoa ser elevada ao mundo eterno, e, através de maior
de Cristo (primeiro capítulo); b. a revelação final de progresso ainda, finalmente vir a ser absorvida por
Deus, em Cristo (primeiro capítulo); c. o caráter Deus, a idéia superior chamada Bondade. Desse
absoluto de Cristo, em contraste com o caráter modo o «ego» perde a sua identidade e se torna parte
temporal e parcial do judaísmo (Heb. 13:8); d. a do «superego».
humanidade de Cristo (Heb. 2:16 e ss 4:16 e ss); e. a Essa noção geral era unida à teoria das «emana
revelação da bondade de Deus para com os homens, o ções», comum ao estoicismo, em que o Sol central
seu interesse em satisfazer as necessidades humanas (Deus) se emanaria, como que imitando seus raios.
(Heb. 2:16 e ss e 5:7 e ss). Notemos o uso freqüente Quanto maior for a distância a que um objeto se
do simples nome «Jesus», o qual salienta isso: Deus, acha desse sol, menos luz possuiria, até que,
no homem Jesus, quis satisfazer às necessidades finalmente, surgiria a matéria, que habita em trevas
humanas (Heb. 2:9; 3:1; 5:7; 7:22; 10:19; 12:2,24 e totais. E a alma, por ser uma emanação de Deus,
13:12); /. a missão de Cristo é enfocada na buscaria retornar a ele, e seu objetivo seria a
importância de sua morte expiatória (Heb. 9:1— reabsorção final.
10:18); g. a morte de Cristo foi prefigurada pela lei, Nos eacritos de Filo, a primeira emanação de Deus
sendo necessária para o perdão dos pecados (Heb. 9:1 foi o Logo« Divino, algumas vezes referido como ser
e ss, 22 e 10:1 e ss); h. por causa de sua obediência e pessoal, e outras vezes aludido como uma força
missão bem-sucedida, Cristo está assentado nos céus, cósmica. Ele seria o poder criativo e sustentador de
acima de todos os outros seres (Heb. 1 e 8:1); i. dali tudo. Foi natural que o evangelho de João
ele virá pela segunda vez (Heb. 9:28); esse dia se identificasse esse logos (que vide) com o Cristo. Nos
aproxima (Heb. 10:25);/ a morte de Cristo assegurou escritos de Filo, pois, temos a combinação da
a derrota de Satanás e seus poderes (Heb. 2:14); /. a metafísica platônica com a teologia hebraica. Para o
revelação já foi feita, mas os homens precisam leitor meditativo, toma-se evidente que, na epístola
corresponder com fé (Heb. 4:2,3; 10:22,38,39; aos Hebreus, a doutrina cristã é parcialm ente
ll:l-4 0 el2 :2 );m . a obediência deve acompanhar a explanada em termos filônicos, e que essa influência é
vida cristã (Heb. 4:6,11; 12:25); essa obediência mais do que meramente verbal. Antes, em algumas
inspira-nos a esperança (Heb. 6:18,19 e 11:1); n . o instâncias, vemos o pensamento cristão através dos
amor e as boas obras são centrais para o sucesso na olhos de Platão, o que lhe confere uma natureza
inquirição espiritual (Heb. 10:24; 13:1 e ss); o. os diferente e distintiva do que teria não fora essa
falsos ensinamentos são rejeitados (Heb. 13:9); p . de perspectiva. Abaixo damos uma ilustração acerca
acordo com a prática de todos os cristãos primitivos, disso.
os argumentos apresentados são escudados em
Escrituras do A.T., reputadas como autoritárias. O problema dos intérpretes consiste no seguinte:
quanto da influência de Filo se reflete na epístola aos
4. A Influência platônica, por meio de Filo. Filo Hebreus? Essa questão tem sido vista de modo até
representa a corrente principal da helenização do mesmo radicalmente diferente por vários intérpretes
judaísmo, e várias idéias helenizadas passaram para o cristãos. Representando um ponto de vista extremo,
cristianismo, em resultado de suas atividades. Não alguns têm negado qualquer influência de Filo nesse
sabemos dizer se o autor desta epístola conhecia livro. Essa interpretação, porém, se baseia no
diretamente a Filo, mas é certo que estava preconççito emocional e não sobre fatos. Alguns
familiarizado com suas idéias, através de outras têm a idéia de que a doutrina cristã ocorreu em um
fontes, o que se dava com muitos outros intéipretes vácuo, nada devendo às idéias pagãs em seu conteúdo
rabínicos. Vários outros primitivos pais da igreja, e em sua expressão. O máximo que eles admitem é
como Justino Mártir, da escola alexandrina, como que idéias hebrèias, igualmente inspiradas, formam a
Pantaeno, Clemente e Orígenes, expressaram a base de algumas doutrinas. Essa tese, naturalmente,
teologia cristã sob termos platônicos, como o fez não resiste nem a um exame superficial. Há certas
Agostinho, em data posterior. doutrinas do platonismo e do estoicismo que têm
A idéia religiosa dominante, entre as nações pagãs, afinidade com alguns conceitos cristãos, e provavel
quando do advento do cristianismo, e até mesmo por mente, de diversos modos, expressam a mesma
longo tempo antes disso era o dram a sagrado da alma, verdade. Por exemplo, dentro da doutrina do «Logos»,
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algo que teve começo de desenvolvimento seiscentos grego, Logos.
anos antes de Cristo, temos alguns elementos sobre os
quais coincidem o cristianismo, conforme o conhece 3. Algumas vezes há desconsideração pelo «fundo
mos, e a metafísica platônica e estóica. Dentro da histórico», quando o autor visa alguma interpretação
idéia das gradações de anjos, tão peculiar ao alegórica. (Ver o sétimo capitulo, acerca de
pensamento hebreu helenista, temos um empréstimo Melquisedeque). Apesar de reconhecer ele a «história»
feito de fontes mais antigas. Em alguns lugares, essas envolvida, sua interpretação ultrapassa a tudo que se
gradações vieram a ser identificadas com a idéia podia pensar estar implícito na mera menção e
estóica das «emanações» do Logos. Não há motivo descrição do A.T., sobre os temas abordados.
para que se negue a realidade das gradações dentro do Contudo, nosso autor fica muito aquém da quase total
poder espiritual, — e Paulo não hesita tomar por desconsideração de Filo pelo que é «histórico», pois
empréstimo a idéia, na expressão de passagens tais, este, com freqüência, exagerava no manuseio da
como os capítulos primeiro e sexto da epístola aos alegoria. Naturalmente, essa forma de interpretação
Efésios e o primeiro capítulo da epístola aos se tornara comum entre os rabinos, e Paulo também
Colossenses. Cremos que isso expressa uma verdade, apela para o método em alguns de seus escritos (ver
enquanto não se tornar uma idéia «panteísta», o que Gál. 4:25), quando faz Agar ser equiparada ao Sinai,
sucedia com algumas interpretações pagãs. Mas o e então a Jerusalém. (Quanto ao tratamento alegórico
ponto aqui frisado é que essa doutrina não era, de Filo acerca da figura de Melquisedeque, ver de
Leg. A lleg. III.25).
originalmente, desenvolvimento cristão e nem hebreu,
apesar de que foi aceito e aprovado oficialmente nos 4. Suas idéias são notavelmente filônicas, conforme
documentos cristãos, a despeito de sua origem pagã. se vê nos exemplos ilustrativos abaixo, onde se vêem
Ê um erro supormos que a verdade se fazia totalmente conceitos comuns a Filo, alguns dos quais figuram
ausente fora do antigo pensamento hebreu-cristão, ou exclusivamente no livro aos Hebreus, quando
que algumas verdades encontradas ali não pudessem comparado a outros documentos do N.T.: a. O
ter sido transpostas para nossa tradição hebreu-cristã. juramento de Deus «por si mesmo» (Heb. 6:13); b.
Consideremos também, como outra ilustração, a aquilo que é «apropriado» para Deus (2:10); c. a alta
doutrina da imortalidade da alma, tão solidamente posição atribuída a Abel (11:4); d . a retidão de Noé
aceita na teologia cristã hoje em dia. Essa doutrina (11:7); e. a fidelidade de Moisés (3:2);/. a obediência
não se originou na teologia dos hebreus; de fato, os de Abraão (11:8); g. o caráter sobre-humano de
primeiros documentos hebreus não a contêm, como Melquisedeque (7:1-4); h. a peregrinação dos justos,
também não falam sobre a doutrina da ressurreição. quadro da vida humana neste mundo (11:13-16); i. a
Não encontramos nenhuma alusão clara a essa avaliação sobre o pecado deliberado (10:26); j . a
verdade senão já nos Salmos e nos escritos dos impossibilidade de arrependimento em tais casos
profetas. Mas muito antes disso, na cultura grega e (12:17); /. a ilustração através de vários personagens
em outras, essa doutrina já era claramente pronun do A.T. (capítulo onze).
ciada e defendida. Foi essa uma verdade que não se 5. Digno de um estudo em separado é o seu «ponto
originou da tradição hebreu-cristã, mas é uma de vista sobre o mundo», que é platônico, e, portanto,
verdade. Dificilmente poderíamos negar sua verdade filônico, conforme se menciona nas notas introdutó
e seu valor, simplesmente porque nossas tradições não rias a esta seção. Ele duplica em idéia, posto que não
pensaram primeiro sobre ela. em expressão, o ponto de vista sobre a criação em dois
níveis, «idéias-particulares». O nível inferior seria a
Cambando para outro extremo, alguns intérpretes, imitação do superior, em que cada «particular» teria
ansiosos por reconhecerem o desenvolvimento históri seu paralelo em alguma «idéia» ou «universal»; e o
co do cristianismo, com base em «outras fontes», nível superior seria o das «idéias», das realidades
exageram o caso em favor de Filo, com influência na espirituais elevadas, eternas, perfeitas e não-mate
epístola aos Hebreus. O cristianismo, afinal de riais. O fato de que o Cristo é o «Logos» (sem nunca
contas, é uma fé religiosa distintiva, não se tendo ser chamado tal em Hebreus), proveniente do mundo
desenvolvido no vácuo apesar disso. Participa de eterno, explica a exaltada cristologia do livro.
idéias mais antigas, embora também seja uma Possuindo a posição de «Logos», naturalmente Cristo
revelação especial. Portanto, há certa influência das é divino, possuidor de atributos e perfeições divinos.
idéias de Filo no livro aos Hebreus, apesar de sua Os anjos, naturalmente, são inadequados, pois
corrente principal continuar sendo o pensamento somente o Logos pode realmente trazer Deus até os
hebreu, segundo é interpretado pelo cristianismo, homens, e os homens de volta a Deus. Mas o Logos,
além da enorme adição, feita por revelação, da pessoa na qualidade de Mediador, deve primeiramente
e da obra de Cristo, que ultrapassou a tudo quanto foi entrar neste mundo de «particulares», onde teve de
revelado no judaísmo. assumir autêntica humanidade (ver Heb. 2:10,17).
Alguns intérpretes limitam a influência de Filo à Em seguida penetrou nos lugares celestiais como
questão «verbal»; mas negam-lhe qualquer influência «grande Sumo Sacerdote». Podemos aprender algo
quanto ao «conteúdo». Pode-se também provar desse ofício mediante o estudo dos sacerdócios de
facilmente que isso está errado, bastando-nos um Arão e de Melquisedeque; mas do princípio ao fim
pouco de investigação. Podem ser vistas as seguintes devemos perceber que essas instituições terrenas são
tentativas para focalizar nossa atenção sobre como as apenas «particulares», que «imitam» o «ideal» eterno e
idéias de Filo podem ser vistas na epístola aos perfeito que há em Cristo. O trecho de Heb. 9:23 fala
Hebreus: sobre o m odelo das coisas que há nos céus, as quais
1. A Septuaginta é sempre usada, tal como nos são im itadas na terra. Posto que a idéia do .«eterno
escritos de Filo. O autor emprega argumentos que sacerdócio» de Cristo é o tema principal do livro (ver
envolvem palavras singulares (ver Heb. 8:13), bem capítulos quinto a décimo, com alusões também em
como a etimologia de nomes próprios em sua outros trechos), o conceito da «idéia-particular», como
interpretação (ver Heb. 7:2), comum em Filo. descrição da natureza da realidade, fica demonstrado
2. Assim como Filo levanta sua discussão central como um fator dominante no livro, posto que é isso
em torno da figura do Logos, assim também se vê na que nos dá a base principal para a doutrina do
epistola aos Hebreus, que um tipo de Cristo-Logos é o sacerdócio.
seu centro. O conceito está no livro, sem o termo Além do «sacerdote celestial» temos a «cidade
55
H EB R EU S
celestial» (ver Heb. 11:10,16; 12:22 e 13:14), e o porta para posteriores revelações, conforme alguns
«santuário celestial» (ver Heb. 8:2,5; 9:11,12,23,24),estudiosos têm pensado. Antes, parece que o mesmo
ambas as coisas têm o seu paralelo na terra. Mas, ensina que todas as revelações devem ter como centro
tudo quanto conhecemos aqui são apenas «sombras» a pessoa de Cristo—ele é o «caminho final» pelo qual
das realidades celestiais, que finalmente chegaremos Deus se revela. Outros livros do N.T. seguiram-se a
a conhecer (ver Heb. 10:1). A própria fé é uma este livro, sendo que certamente não podemos pensar
afirmação da realidade e da importância dessas que o seu primeiro capítulo encerre as «escrituras
realidades invisíveis, bem como é uma expressão canônicas», e nem podemos projetá-lo para o futuro,
paciente de santidade, de tal modo que possamos dizendo que o mesmo defende a estagnação, «uma vez
terminado o cânon». Em certo sentido, o cristianismo
atingir o que é celestial (capítulo décimo primeiro). A
fé, pois, é a função da alma que «conhece» a realidadejamais será superado, pois toda a revelação vem por
autêntica, que se engrena à mesma. O próprio Cristo, meio de Cristo, ou através de sua autoridade. Mas isso
naturalmente, é a figura central dessa realidade. não quer dizer que Deus não possa falar de novo, do
Notas expositivas completas aparecem sobre esse mesmo modo que falou no N.T., honrando o mesmo
conceito, em Heb. 11:1 no NTI. Ora, esse ponto Cristo. Não sabemos se Deus o fará. Pois certamente
metafísico é filônico, e não hebreu, e isso de forma não vivemos nem à altura de nossas «antigas
marcante. revelações», sendo improvável que recebamos nossos
6. Em qualquer discussão sobre a influência escritos autoritários enquanto assim fizermos. Por
plato-filônica neste livro, devemos observar o trecho outro lado, nunca podemos pôr uma cerca ao redor de
de Heb. 1:3. Ali Cristo é chamado de resplendor da Deus, dizendo que ele não pode falar novamente. O
glória-, e isso é próprio da «linguagem das emana primeiro capítulo deste livro, porém, assegura-nos
ções». Deus é o grande Sol central, o «Logos» é a sua que, se ele o fizer, fá-lo-á em Cristo. Esse é o tipo de
primeira emanação. Sendo tal, ele naturalmente está revelação «final» que este livro nos apresenta.
pleno de sua natureza, de sua glória e de seus c. Apesar do Cristo do livro aos Hebreus ser o
atributos. Muitos intérpretes, antigos e modernos, mesmo «Messias» do A.T., ele vai muito além de
têm evitado a explicação da «emanação», em Heb. qualquer coisa pensada no judaísmo sobre o Messias.
1:3, pensando que temos ali a idéia do «reflexo» de No N.T. vemos melhor a glória de Cristo, porque esta
Deus, como a lua reflete a luz do sol, ou então como resulta da mescla do conceito do «Messias» com o
um corpo luminoso, separado do primeiro, mas conceito do «Logos», o qual é mais do que Salvador e
possuidor da mesma natureza e energia. Porém, Juiz; também é divino, o qual conduz os homens a
certamente essas são interpretações incorretas. Con uma participação na sua divindade, o qual nos trouxe
tudo, o autor não queria criar qualquer idéia não apenas um reino político, que faria de Israel
«panteísta», pois somente Cristo é tal emanação, e nãocabeça das nações. Esse Cristo assume uma natureza
a criação inteira. Portanto, o Criador tem natureza extremamente semelhante àquela dada à idéia do
distinta da de sua criação, embora sua natureza se «Logos», nos escritos de Filo. Filo equiparou
duplique no Filho. O termo grego, traduzido ali como Melquisedeque ao «Logos»; e o autor do livro aos
«resplendor» é apaugasm as, a mesma palavra que Filo Hebreus vê certa lição alegórica acerca da grandeza
usou para indicar a relação entre o «Logos» e Deus. de Cristo, em Melquisedeque, (ver no NTI as notas
Em sua encarnação, o Filho poderia ser concebido expositivas em Heb. 7:1, na sua introdução). O
como «reflexo» de Deus; mas esse versículo fala sobre caráter sem-par de Cristo, bem como o seu serviço
sua glória preencamada—portanto, somente a idéia como «sacerdote», são coisas que Filo também disse a
de «resplendor» é correta; Cristo é a refulgência de respeito do «Logos». Mas também há diferenças, pois
Deus, possuidor de todas as propriedades divinas. não é provável que Filo fizesse justificação para a
Embora se possa conceber que os anjos possuam concentração, em uma pessoa, da vastidão do
algumas propriedades divinas, bem como um poder «Logos».
sobre-humano, o Logos está acima de todos, sendo ele d. Além disso, notemos o puro ensinamento sobre a
o único que realmente pode ser reputado divino. humanidade de Cristo, o que, excetuando o segundo
capítulo da epístola aos Filipenses, é o mais claro de
5. Formulações distintivas do livro aos Hebreus. todos os documentos teológicos do N.T. (Ver Heb.
Nada é realmente impar neste livro, pois já temos 2:9-16; 4:14 e ss e 5:8 e ss).
visto que todas as suas idéias têm base em conceitos e. A fé é apresentada de maneira distintiva—trata-
anteriores e já formulados. Contudo, esse documento se de uma outorga da alma, com base no
nos dá algo de distintivo: «conhecimento no nível da alma», acerca das
a. O Sacerdócio é seu tema dominante. Apesar de «realidades» do mundo eterno, sobretudo de Cristo.
ser esse um tema do A.T., neste livro assume (Ver o artigo sobre a Fé).
importância especial, pois agora todas as «sombras» f. Em união com a primeira epístola de Pedro e com
são olvidadas, havendo uma grande «fruição» de todas o Apocalipse, e em distinção com o resto do N.T., este
as idéias sobre o sacerdócio de Cristo. O sacerdócio, livro aos Hebreus foi escrito para ajudar os crentes
como parte da cristologia, embora conhecido em perseguidos. A primeira epístola de Pedro responde
outros lugares do N.T., é melhor e mais amplamente ao problema com uma resposta «ética»; basta que se
explanado neste livro aos Hebreus. Essa é a maior persevere na piedade, e nenhum dano permanente
contribuição desse livro ao N.T., em seu pensamento pode sobrevir ao crente. O livro de Apocalipse
e teologia. enfrenta o problema com uma resposta «apocalípti
b. Naturalmente, pois, o cristianismo deve ser ca», grandes julgamentos sobrevirão aos perseguido
reputado não apenas como revelação mais ampla do res, e glória para os fiéis. Esta epistola aos Hebreus
que a revelação anterior, que houve no judaísmo, mas enfrenta o problema com um argumento essencial
também é a revelação «final». Pelo menos, em Cristo, mente «cristológico», — temos Cristo como nosso
pode-se entender que toda a revelação nos foi dada, eterno Sumo Sacerdote; e em sua peregrinação, em
pois agora temos deixado para trás modos inferiores sua encarnação, ele sofreu como estais sofrendo
de revelação. Tudo quanto tivermos de saber acerca agora; mas ele é grande, e entrou nos altos céus; na
de Deus e de sua salvação, de algum modo devemos qualidade de vosso Sumo Sacerdote, ele garante para
encontrar dentro do conceito de Cristo. É muito vós aquele lugar. Portanto, olha para ele e a ele
duvidoso que o primeiro capítulo deste livro feche a entregai as vossas almas.
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H EB R EU S - H E B R E U S (POVO)
g. Em seu aspecto ético, o livro aos Hebreus é o dote, à semelhança de Melquisedeque
mais severo escrito de todo o N.T. Nesse livro vemos (4:14-5:10)
que a apostasia é possível, devendo resguardar-nos b. Ensinamentos e advertências com base
cuidadosamente da mesma (ver o sexto capítulo). Os nessas considerações (5:11—6:20)
crentes precisam cuidar para não serem desatentos 1. Uma lição a ser aprendida por reprimen
(Heb. 2:1), desobedientes (Heb. 4:11), tardios em da (5:11-14)
ouvir (Heb. 5:11) e negligentes (Heb. 6:12). Também 2. Uma lição a ser aprendida por advertên
devem ser santos, inculpáveis, sem mácula (Heb. cia contra a apostasia (6:1-8)
7:26), dessa maneira copiando àquele que foi tentado 3. Uma lição a ser aprendida pelo encoraja
em tudo, mas que nunca caiu. Os crentes também mento (6:9-12)
precisam combater contra o pecado (Heb. 12:4) e 4. Uma lição a ser aprendida pela certeza
devem entrar em uma erudição mais profunda sobre a (6:13-20)
revelação cristã, a fim de que a estagnação não os 3. O Sacerdócio de Cristo é superior ao levítico
separe de Cristo para a apostasia (ver Heb. 6:1 e ss). (7:1-28)
Se pensarmos que o sexto capitulo desse livro fala em 4. Seu ministério como Sumo Sacerdote (8:1—
menos do que a apostasia, possível para crentes 10:18)
verdadeiros, ficará cerrubado por terra o propósito do a. Ele entra no santuário celeste ideal, e não
autor, introduzindo interpretações desonestas nesse em alguma cópia terrena (8:1-5)
livro, o que só se coaduna com preconceitos
teológicos. (Ver um desenvolvimento deste assunto na b. O novo lugar de sacrifício requer novo pacto
quarta seção deste artigo). (8:6-13)
h. Religião e adoração. Os capítulos sétimo a c. Contraste dos antigos sacrifícios com o novo
(9:1-14)
décimo tratam especificamente a esse respeito. A d. O sacrifício de Cristo cumpre a promessa do
religião é adoração, e isso subentende em sacrifício, o novo pacto (9:15—10:18)
qual, por sua vez, exige um sacerdote. Sem esses
elementos não há acesso a Deus. Porém, em Cristo 1. É um testamento, selado com seu sangue
temos o mesmo acesso a Deus Pai de que goza o Filho, (9:15-22)
nosso Sumo Sacerdote. O pecado deve ser expiado, 2. O santuário celeste foi purgado com um
conforme todo o sistema de sacrifícios cruentos o melhor sacrifício (9:23-24)
testifica; mas há certa adoração que vai além disso; o 3. O novo sacrifício é melhor que os muitos
que está envolvido na filiação, porquanto nosso ser antigos sacrifícios (9:25-28)
está sendo transformado naquilo que o Filho é, já que 4. A falha do antigo pacto e a perfeição
compartilhamos, em grau cada vez maior, de sua do novo pacto (10:1-18)
natureza e de sua herança. Nisso consiste o verdadeiro III. Aplicações. A revelação em Cristo é completa e
acesso a Deus; e desse modo, finalmente, receberemos deve ser seguida. — Senão —, o desvio pode ter
a totalidade da natureza e das perfeições de Cristo; severo juízo de Deus, a perda da esperança
entramos no Santo dos Santos juntamente com ele (10:19—12:29)
(ver Heb. 10:19). Portanto, Cristo, na qualidade de 1. Finalidade do acesso a Deus, mediante Cristo,
Sumo Sacerdote, entrou no Lugar Santo, através da que exige finalidade de juízo contra os rejeita-
ascensão (a ressurreição fica subentendida, embora dores (10:19-31)
nunca seja diretamente mencionada). Em Cristo, 2. Os leitores podiam ter confiança, se continuas
pois, os crentes também desfrutam dessa ascensão, e sem no caminho até àquele ponto (10:32-39)
finalmente o seguirão ao Santo Lugar, porque ele é o 3. A fé que devemos seguir e que se realiza em
Caminho, e, ao mesmo tempo, é o Pioneiro do nós mesmos, ilustrada nas vidas de grandes
Caminho. homens da fé (11:1-40)
4. Jesus é o verdadeiro alvo de toda a fé, de
VII. Conteúdo cujas perfeições os outros participam apenas
I. Tem a Predom inante. A revelação de Deus no parcialmente (12:1-2)
Filho é final (1:1,2a) 5. O seguir a Cristo exige a disciplina da filiação
(12:12-29)
II. D esenvolvimento do Tem a. Natureza e perfei
ções do Filho (l:2b-19:18) 6 . Severa advertência aos desobedientes
(12:12-29)
1. Sua dignidade (l:2b-4:13)
a. Sua posição como revelador (1:2) IV. Conclusão. Exortações, saudações pessoais e
bênção (13:1-25)
b. Sua posição de herdeiro (1:2)
c. Sua posição de criador (1:2) 1. A vida social e pessoal do crente (13:1-8)
d. Sua divindade (1:3) 2. Advertência final e referências pessoais
e. Seu poder sustentador (1:3) (13:9-24)
f. Seu poder de purgar (1:3) 3. Bênção (13:25)
g. Sua obra terminada (1:3) Vin. Bibliografia. AM E EN I IB LAN MOF
h. Sua superioridade aos anjos (1:4-14) MONTE NE NTI TI TIN VIN VO RO Z
i. Parênteses: advertência contra a negligência
sobre a revelação de Deus em Cristo (2:1-4)
j. Sua superioridade, como aquele que nos HEBREUS (POVO)
trouxe a salvação (2:5-18) Os eruditos têm proposto várias derivações para a
k. Sua superioridade a Moisés (3:l-6a) palavra «hebreu», embora não tenham conseguido
l. Advertências resultantes (3:6b-4:13) chegar a uma solução unânime a respeito:
1. Ilustrações do deserto (3:6-19) 1. Os eruditos mais antigos, seguidos por alguns
2. O melhor descanso em que entramos dos tempos modernos, supunham que a palavra vem
(4:1-13) de É ber, neto de Sem e antepassado de Abraão (Gên.
2. Sua obra foi possibilitada por sua elevada 10:24; 11:16). Essa palavra significa «oposto»,
estatura (4:14—10:8) «d’além», «do outro lado». Héber deriva-se desse
a. Divinamente nomeado como Sumo Sacer nome, igualmente.
57
H E B R E U S (POVO) - H EB R EU S, EVA N.
2. Outros estudiosos, observando o sentido básico território. Após a queda de Jerusalém, já no ano 70
de éber, supõem que hebreus refere-se a povos que D.C., o povo ju d e u veio à ser um termo genérico
vieram «do outro lado», isto é, de algum grande rio, para indicar os hebreus. Foi assim, finalmente, que
como o Tigre ou o Eufrates. Nesse caso, Abraão, seria «judeus» e «israelitas» tornaram-se sinônimos.
alguém que «atravessou» para o outro lado, que Artigos a serem consultados, acerca dos hebreus:
emigrou de sua terra, a fim de residir em uma nova 1. Hebraico
terra. 2. Hebreus
3. Ainda elaborando o sentido de «do outro lado» da 3. Hebreus, Literatura dos
palavra éber, alguns estudiosos vêem uma referência
aos antigos hebreus como um povo nômade, que 4. Antigo Testamento
«atravessou» terras em suas peregrinações. 5. A Ética do Antigo Testamento
4. Desde a descoberta dos tabletes de Tell 6. Israel, História de
el-Amama (vide), os hebreus da Bíblia têm sido 7. Israel, Religião de
ligados aos povos chamados habiru, presumivelmente 8. A Filosofia Judaica
de raça semita, um dos ramos dos quais, finalmente,
chegou à Palestina. Isso tem sido aceito por muitos
estudiosos, posto que alguns deles pensem que habiru HEBREUS DE HEBREUS
não seja um nome com conotações raciais. Q ue D evem os E ntender Com Essas Palavras?
5. Alguns pensam que a palavra habiru descreve 1. Não significam, especificamente, que Paulo
uma posição jurídica social, e não um povo. As falasse o hebraico (o aramaico, nos dias do apóstolo),
referências descobertas pela arqueologia, em acádico, em contraste com os judeus helenistas, que falavam o
têm trazido à luz o fato de que essa palavra pode ser grego ou algum outro idioma. É verdade que os
entendida como «mercenários». Os trechos de Êxo. judeus muito se orgulhavam de sua língua, e
21:2 ss; I Sam. 14:21 e Jer. 34:9-11,14 poderiam chegavam a imaginar tolamente que Deus falasse
conter a palavra a fim de descrever a posição legal de esse idioma. Talvez Paulo se jactasse do fato de que
servidão ou escravidão, em contraste com a situação falava essa língua; mas essa não é a referência aqui.
de pessoas livres. Nesse caso, o trecho de Jer. 34:14
envolveria o sentido de «o escravo, teu irmão». Alguns 2. Paulo não estava dizendo que era um «judeu
pensam que a palavra indica a idéia de «nomadismo», palestino», em contraste com os «judeus helenistas»,
nada tendo a ver com alguma identificação racial. de menor prestígio. Na verdade, Paulo era judeu
Os eruditos, pois, continuam debatendo, embora helenista, pois era natural da cidade de Tarso.
pareça haver uma significativa simpatia para a quarta Contudo, fora educado em Jerusalém; e, assim sendo,
dessas posições, visto que os israelitas realmente eram era palestino. Mas não é isso o que se deve entender
peregrinos, provenientes de vários territórios, de onde que ele quis dizer aqui.
«atravessaram» para a Terra Prometida. Em outras 3. Sua declaração também não significa, especifica
palavras, os hebreus eram peregrinos. Esse significa mente, que ele era «um judeu proeminente entre os
do tem um delicado sentido metafórico. Os hebreus judeus», embora sem dúvida, isso também fosse uma
tipificariam a própria raça humana, — que se verdade (ver Gál. 1:14). Ele destaca esse aspecto na
encontra em uma peregrinação nesta terra de questão do item seguinte: ele fora fariseu! Portanto,
lágrimas, visto que o lar da alma humana não é neste pertencera à elite judaica.
mundo. O trecho de Hebreus 11:13 refere-se à
natureza peregrina de Abraão e dos primeiros 4. O mais provável é que essas palavras
patriarcas, quando diz: simplesmente significam que ele era filho de pais
puramente judeus. Não era apenas um «meio judeu».
«Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as Pertencia à pura raça judaica.
promessas, vendo-as, porém, de longe, e saudando-
as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos 5. Talvez tenha querido dar a entender que podia
sobre a terra». traçar sua genealogia por muitas gerações para trás; e
E I Pedro 2:11 aplica essa mesma metáfora aos assim fazendo, por todo o caminho, podia mostrar
crentes, ao escrever: que seus ancestrais eram judeus puros. Nesse caso,
«Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros quão grande seria essa vantagem, pois o próprio Jesus
que sois, a vos absterdes das paixões carnais que tinha alguns elementos gentios em sua genealogia (ver
fazem guerra contra a alma». Mat. 1:5).
Seja como for, o* hebreui eram um ramo arameu
(de Arã, no sudoeste da Ãsia; vide) dos semitas, que
desceu para a Palestina, tornando-se o povo de Israel.
O termo ju d e u (yehudim , proveniente do estado de
Judá) não começou a ser usado senão já no tempo do HEBREUS, ÉTICA DOS
cativeiro babilónico. Contudo, as origens dos hebreus Ver sobre Ética Judaica.
permanecem na obscuridade. Alguns estudiosos
supõem que seus antepassados eram nômades do
deserto da Arábia, até à primeira porção do segundo HEBREUS, EVANGELHO SEGUNDO AOS
milênio A.C., e que, dali, conforme continua essa Esboço:
suposição, eles migraram em massa para o crescente I. Antigas Confirmações
fértil. Um dos clãs, que incluiria a família de Abraão, II. Problemas Específicos
veio a habitar em Ur dos caldeus. Finalmente, dali III. O Impulso para Escrever Evangelhos
eles desceram para a Palestina. Gerações posteriores
desceram ao Egito, conforme o Antigo Testamento I. Antiga« Confirmações
afirma, ao relatar-nos a história de José. Após O chamado Evangelho Segundo aos Hebreus foi
algumas centenas de anos, ainda como uma uma obra que mereceu o respeito e a atenção de
identidade racial, conduzidos por Moisés, eles alguns dos pais da Igreja (vide). As alusões à mesma,
voltaram à Palestina e reconquistaram aquele mediante diferentes títulos, podem significar que
58
H EB R EU S, EVA N G ELH O
houve mais de um livro envolvido, ou então que essa que não estamos tratando com o evangelho canônico
obra era conhecida por diversos títulos. Naturalmen de Mateus, embora o evangelho aos Hebreus pudesse
te, há também a possibilidade de que os pais da Igreja ter alguma forma de afinidade com o evangelho
simplesmente não foram cuidadosos quanto ao uso de canônico de Mateus. Em Pan 30:3,7, Epifânio
títulos exatos, o que quer dizer que essa variedade de assevera especificamente que havia um documento
nomes não se reveste de nenhuma significação que tinha dois nomes: evangelho de Mateus e
especial. evangelho aos Hebreus. Porém, as evidências de que
Clem ente de A lexandria citou algumas poucas dispomos mostram-se contrárias a isso, sendo
afirmações dessa obra, algumas das quais teriam provável que ele estivesse apenas conjecturando. Por
paralelos nos alegados ditos de Jesus, constantes do outro lado, é perfeitamente possível que um
O xyrhynchus Logia. Ver o artigo intitulado D eclara evangelho de Mateus em hebraico (aramaico) também
ções de O xyrhynchus de Jesus. Declarações similares, circulasse. Mas, embora isso seja possível, não há, em
atribuídas a Jesus, acham-se também no Evangelho absoluto, qualquer evidência de que isso tenha
de Tomé, escrito em cóptico. Com base nisso, alguns acontecido. A maneira dúbia de Epifânio abordar
especialistas têm pensado que ambas essas obras essas questões evidencia-se ainda mais pelo fato de
fizeram empréstimos do evangelho aos Hebreus. que ele também chamou o Diatessaron de Taciano
Porém, nada de certo pode ser dito a esse respeito, (vide) de evangelho segundo os Hebreus.
pois não dispomos de evidências comprobatórias. Jerônim o apenas aumentou ainda mais a confusão.
Orígenes citou uma declaração, desse evangelho, Ele refere-se a uma obra (ou obras?) por diferentes
que descreve como o Espírito Santo tomou a Jesus, nomes: evangelho segundo aos Hebreus (por sete
por um de seus cabelos, e o transportou para o monte vezes); evangelho dos Hebreus (sete vezes); evangelho
Tabor, no contexto da narrativa sobre a tentação (ver Hebreu (três vezes); evangelho Hebreu segundo
Mat. 4), o que representa uma versão variante desse Mateus (duas vezes). Também afirmou que os
relato. Essa citação particular serve para mostrar a nazarenos e os ebionitas usavam esse título, è
natureza apócrifa do chamado Evangelho aos que eles o traduziram para o grego e para o latim. No
Hebreus. entanto, as citações mostram que não estava em foco,
Eusébio informa-nos de que muitos elementos em nenhum desses casos, o evangelho canônico de
judaicos, na Igreja cristã, apreciavam muito esse Mateus. Os estudiosos modernos opinam que
evangelho (ver Hist. 3:25,5). Aparentemente havia Jerônimo confundiu o Evangelho Segundo aos
uma versão da pericope adulterae, de João 7:53 ss, H ebreus com o Evangelho aos Nazarenos, escrito em
que não faz parte autêntica do evangelho de João, aramaico. Mas, naturalmente, nenhuma dessas obras
embora possa ter sido um pedaço flutuante de era o mesmo evangelho de Mateus, que faz parte do
tradição, com alguma base histórica genuína. Quanto Novo Testamento, apesar de que possa ter havido
a plenas informações sobre a história da mulher algumas afinidades com o mesmo.
surpreendida em adultério, evidências textuais a
respeito, etc., ver as notas expositivas no NTI, in II. Problemas Específicos
loc. Através dessa mesma informação ficamos 1. Quantos evangelhos foram escritos?
sabendo que Hegesipo(vide), também lançou mão do 2. Qual a relação entre eles e o evangelho de
evangelho dos Hebreus {Hist. 4:22,8). Mateus?
Os ebionitas. Ver o artigo sobre E bionism o, 3. Qual era o conteúdo desses outros evangelhos?
Ebionitas. Esse vocábulo significa «homens pobres», Desdobremos agora esses três pontos:
indicando várias seitas de judeus-cristãos dos 1. Alguns especialistas modernos, como Vielhauer,
primeiros séculos do cristianismo, alguns dos quais têm argumentado em prol da existência de três
simpatizavam com o ramo gentílico da Igreja, e outros evangelhos: a. um evangelho grego dos Hebreus, a
que não simpatizavam com os cristãos gentios. obra que Clemente e Orígenes conheciam, b. um
Epifânio (falecido em 403 D.C.), mencionou um evangelho dos Nazarenos, escrito em aramaico,
evangelho aos Ebionitas, o qual tem sido identificado conhecido por Hegesipo, Eusébio, Epifânio e Jerôni
como o mesmo evangelho aos Hebreus. O pequeno mo. c. um evangelho dos Ebionitas, escrito em grego,
trecho que ele citou desse evangelho frisa o conhecido somente através de citações feitas por
vegetarianismo nas narrativas acerca de João Batista e Epifânio. Outro erudito, James, reduziu isso somente
de Jesus. Eusébio (ver Hist. 3:27,4), por sua vez, a dois documentos, a saber: a. o evangelho dos
indicou que o respeito que os ebionitas tinham por Hebreus; e b. o evangelho dos Ebionitas. Através de
esse evangelho era tão grande que eles o usavam quase uma diferente distribuição de citações, ele eliminou o
com exclusividade, dando pouco valor aos outros evangelho dos Nazarenos. Porém, se não forem feitas
evangelhos. Porém, não sabemos dizer até que ponto novas descobertas esclarecedoras a respeito da
isso se aplicava às várias seitas que atendiam pelo questão, não se pode ter certeza quanto a esses
nome de ebionitas. Eusébio {ver H ist. 5:10,3) também problemas.
diz que esse evangelho supostamente foi levado pelo 2. Os eruditos . supõem que todos os três
apóstolo Bartolomeu até a Índia. Mas isso soa como documentos (ou dois; ou mesmo um só deles) tinham
uma emenda apócrifa. Os autores desse tipo de alguma relação com o evangelho canônico de Mateus;
material ansiavam por obter autoridade apostólica porém, as citações demonstram que não pode estar
para os seus escritos, de qualquer maneira. Em sua em pauta o evangelho canônico de Mateus. O menos
Teofania, Eusébio cita um certo evangelho que era herético desses três evangelhos (isto é, o que
usado entre os judeus, escrito em hebraico; porém, apresentava menos elementos tendenciosos do gnosti-
não sabemos dizer se está em pauta a mesma obra. cismo) era o evangelho dos Hebreus, que chegou a ser
Epifânio refere-se ao evangelho de Mateus que teria respeitado por alguns notáveis pais da Igreja. Talvez
sido escrito completamente em hebraico, e que era fosse um evangelho usado pelos judeus cristãos do
usado pelos nazarenos (Pan. 29:9,4). Alguns têm Egito, devendo ser distinguido daquele outro evange
ligado esse evangelho de Mateus ao evangelho dos lho de inclinações gnósticas ainda mais acentuadas, o
Hebreus, supondo que os dois nomes, «de Mateus» e Evangelho dos Egípcios. Ver o artigo geral sobre os
«dos Hebreus» eram apenas dois títulos do mesmo Livros A pócrifos do Novo Testam ento.
documento. Todavia, as citações existentes mostram 3. Pouquíssimo se sabe acerca do conteúdo do
59
HEBREU S - H EB R EU S, L IT ER A TU R A
documento ou documentos discutidos acima. E isso I. O Antigo Testamento
quer dizer que qualquer valor que eles tenham tido O Antigo Testamento é uma coletânea de livros que
pafa melhor compreeidermos a vida e as declarações preserva cerca de mil anos de atividade literária em
de Jesus, isso Se perdeu. As citações indicam que tais Israel (de 1200 a 200 A.C.). As referências, dentro do
documentos podem ter-se revestido de um valor próprio Antigo Testamento, mostram-nos que houve
independente (à parte dos empréstimos feitos do muitos outros livros produzidos pelos hebreus, mas
evangelho canônico de Mateus), embora pequeno. que não foram incluídos, finalmente, no cânon do
Algumas citações indicam um caráter apócrifo bem Antigo Testamento. A Bíblia hebraica está dividida
definido, enquanto que outras mostram a influência em três seções principais, a saber: 1. los livros de
do gnosticismo (vide). Obtemos ali apenas alguns Moisés, o Pentateuco; 2. os Profetas; 3. as
pequenos detalhes adicionais, como aquele que diz Hagiógrafas, ou Escritos Santos.
que o homem da mão mirrada (ver Mat. 12:9 ss ) O Pentateuco começa com a narrativa da criação;
seguia a profissão de pedreiro. Porém, um homem de narra a história da queda do homem; o surgimento de
mão aleijada teria escolhido uma profissão em que Abraão, o nascimento de uma nova nação; Israel, a
seria muito difícil trabalhar apenas com uma mão servidão sofrida no Egito; a outorga da lei mosaica,
saudável? Jerônimo, baseado no evangelho dos após a saída do Egito; e a conquista da Terra de
Hebreus que ele conhecia, declarou que o véu do Canaà (Palestina).
templo, por ocasião da crucificação de Jesus, não se Os Profetas estão divididos em profetas anteriores :
rasgou de alto a baixo. O que teria acontecido é que o Josué, Juízes, I e II Samuel, I e II Reis; e em profetas
reposteiro em que estava pendurado, desprendeu-se posteriores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e os doze, ou
(talvez em resultado do terremoto que houve). Não seja, os profetas chamados «menores», porque seus
sabemos dizer qualquer coisa sobre a origem de tal livros eram menos volumosos que os daqueles
informação, e nem quão autêntica pode ela ter sido. três primeiros, e não porque estes livros fossem menos
Ambas as coisas podem ter ocorrido. Se não importantes ou seus autores fossem mais baixos,
aceitarmos o testemunho dos evangélicos canônicos, conforme alguns têm pensado.
não há como comprovar a questão, sem novas
descobertas arqueológicas, que envolvam referências As Hagiógrafas, ou Escritos Santos, incluem:
literárias. Salmos, Provérbios, Jó, Cantares, Lamentações,
Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras, Neemias e I e II
U I. O Impulso Para Escrever Evangelhos Crônicas.
Pelo menos uma mensagem toma-se clara, no Na Bíblia há uma grande variedade de estilos
tocante a esse tipo de literatura e à atividade geral de literários, incluindo obras de cunho devocional,
escrita de evangelhos, durante os primeiros séculos do histórico, profético, poético e filosófico. Oferecemos
cristianismo. Essa mensagem é que a vida e as um artigo separado sobre o A ntigo Testam ento, onde
declarações de Jesus mereciam muita atenção. Isso fornecemos uma detalhada descrição sobre esses
reflete a óbvia grandiosidade dos acontecimentos que estilos literários diversos.
cercaram ao Senhor Jesus, e da Nova Mensagem que H. Literatura Pós-Antigo Testamento
sua vida, morte e ressurreição produziram. Gênios As obras chamadas «apócrifas» são intituladas
criativos sempre provocam esse tipo de agitação entre «deuterocanônicas» pela Igreja Católica Romana,
os homens. Suas criações ou realizações precisam ser desde que o concílio de Trento (vide), declarou-se em
rejeitadas ou acolhidas. Mas não passam sem favor da canonicidade das mesmas. Os protestantes e
provocar significativas reações. Os evangelhos canôni evangélicos, porém, preferem reter o termo apócrifos
cos do Novo Testamento afirmam que a razão de tudo para indicar aqueles livros que nunca foram incluídos
isso foi que o Logos encamou-se e veio viver entre os no cânon do Antigo Testamento pelos judeus.
homens. Não há melhor explicação para justificar os Entretanto, a Igreja da Inglaterra assume uma
acontecimentos em volta do Senhor Jesus. espécie de posição intermediária entre esses dois
extremos, quanto a esses livros, dando-lhes mais
HEBREUS, FILOSOFIA DOS atenção e usando-os mais do que fazem outros grupos
Ver sobre FUoaofia Judaica. protestantes, embora não lhes dando idêntica posição
de livros inspirados, juntamente com os livros que,
verdadeiramente, fazem parte do cânon veterotesta-
HEBREUS, HISTÓRIA DOS mentário. Ver o artigo separado sobre os Livros
Ver sobre Israel, História de Apócrifos.
As obras intituladas «pseudepígrafas» formam uma
HEBREUS, LITERATURA DOS outra atividade literária do antigo povo judeu, no
período que fica entre o Antigo e o Novo Testamentos.
Desde a antiguidade, Israel tem sido uma nação Esses livros são essencialmente desconhecidos pelos
que se distingue por sua literatura. Suas duas grandes evangélicos de hoje, excetuando o caso dos eruditos;
contribuições à humanidade têm sido a sua religião e porém, é preciso admitir que neles há muita coisa que
a sua literatura. Todavia, nos campos da ciência e da influenciou idéias constantes no Novo Testamento.
filosofia, não devemos pesquisar entre os hebreus. O Quanto a isso, ver especialmente os artigos sobre I e II
idioma hebraico e suas aplicações literárias têm tido Enoque. Ver também o artigo separado sobre as
uma longa e mui complexa história. Pseudepígrafas .
Esboço:
I. O Antigo Testamento H l. Escritos Interpretativos
II. Literatura Pós-Antigo Testamento O Antigo Testamento veio a ser encarado como
III. Escritos Interpretativos literatura sagrada, tendo havido um selecionamento
de livros, no decurso de vários séculos, para
IV. A Literatura Medieval dos Hebreus determinar o cânon dessa literatura sacra, isto é,
V. A Cabala: o Poder do Misticismo quais livros deveriam ser inclusos na coletânea. Ver o
VI. A Renascença e a Reforma Protestante artigo sobre o Cânon. Antes mesmo desse processo
VIL O Despertamento do Nacionalismo completar-se, surgiu a necessidade de interpretar os
VIII. Desde a Primeira Guerra Mundial Para Cá escritos sagrados. A interpretação, quando assume o
H E B R E U S , LIT ER A TU R A DOS
aspecto de autoridade, torna-se um meio de proteger quanto nos círculos católicos romanos. Tudo isso,
os Livros Sagrados. Quase todos os hebreus pois, mostra a necessidade de interpretação, e até
perceberam a necessidade disso, apesar dos inevitá mesmo da revisão da interpretação. Consideramos qs
veis abusos. Entretanto, no judaísmo, periodicamen pontos abaixo:
te, surgiram movimentos «de volta às Escrituras», que 1. A H alakah e a H aggadah. O Antigo Testamento
deploravam os comentários e as teologias forçados. O foi sujeitado a um exame meticuloso ’ até o
clamor que diz «as Escrituras somente» não foi uma fanatismo. Isso criou dois corpos de conhecimento. O
característica exclusiva do período da Reforma primeiro chama-se H alakah, ou «curso». Essa foi a
Protestante. atividade que desenvolveu credos e regras de ação — o
Esse lema parece conter uma verdade de que que se deve o que não se deve fazer. O segundo desses
precisamos; mas, sob investigação, topa com dois corpos de conhecimento, a H aggadah, que significa
problemas principais: 1. Se não houver uma «narrativa», incorpora muitos ensinamentos, da mais
interpretação eclesiástica que sirva de padrão, para diversa natureza, derivados das narrativas bíblicas,
testar as idéias e determinar os significados, das orações, dos provérbios e de todos os escritos que
inevitavelmente surgem interpretações particulares e não eram usados especificamente para formar a
denominacionais, que se tornam autoritárias para H alakah. Uma clara linha demarcatória foi traçada
indivíduos ou grupos. Pergunto: A interpretação de entre as Escrituras, propriamente ditas, e essa
indivíduos ou de denominações será, realmente, atividade interpretativa. Havia desacordos quanto a
melhor que a dos concílios? Visto que as Escrituras, muitas questões, a despeito do que, foi crescendo uçi
através da interpretação, podem ser distorcidas para corpo de interpretações autoritárias.
terem muitos sentidos, às vezes até no tocante a 2. A M ish n a h . Esse é o nome da redução, à forma
doutrinas capitais, naturalmente surgiu toda essa escrita, da atividade interpretativa que acabamos de
plêiade de denominações e seitas. 2. Isso significa, descrever. O rabino Akiba foi o responsável pela
como é óbvio, que a ausência de alguma autoridade redução original a esse respeito. Seus discípulos,
central, resulta em fragm entação, conforme se vê no especialmente o patriarca, o príncipe rabino Judá
número interminável de grupos protestantes e (também conhecido por Judá ha-Nasi), continuaram è
evangélicos. Assim, apesar de indivíduos e grupos consolidaram os esforços de Akiba. Essa atividade
clamarem em altas vozes: «As Escrituras somente!», ocorreu entre 135 e 220 D.C., mas muitas coisas ali
essa declaração contém (ocultamente!) a idéia de contidas tinham raízes antigas, tanto nas tradições
como eu ou a minha denominação interpreta as escritas quanto nas tradições orais. Ver o artigo
Escrituras. O abuso que se faz, do outro lado da separado sobre a M ishnah.
cerca, é que há o absurdo de concílios que, 3. O Talm ude, a M ishnah e a Gemara.
supostamente, não podem incorrer em erro, o que não Historicamente falando, a literatura talmúdica
passa de um dogma, nada tendo a ver com a verdade desenvolveu-se em duas camadas. A primeira delas, e
dos fatos. também a mais antiga, era a Mishnah. A segunda
Muitos teólogos também proclamam ousadamente era a Gemara. Esta segunda camada de interpreta
que a interpretação não é o único problema envolvido, ções e ensinamentos, desenvolveu-se depois da
visto que as próprias Escrituras não estão inteiramen Mishnah. A palavra Gemara significa «ensino»,
te isentas de erro. Sempre será a tendência da mente embora alguns pensem que significa «completar». Há
religiosa (em contraste com a mentalidade cientifica) um artigo separado sobre a G em ara, nesta enciclopé
inventar o mito da inerrância. Isso sucede para efeito dia. Trata-se, essencialmente, de um comentário
de conforto mental. Deveríamos salientar que essa sobre a Mishnah. Está alicerçada essa obra sobre as
doutrina é uma tradição ou um dogma, e não um discussões acadêmicas dos estudiosos judeus da
ensino das próprias Escrituras. Na realidade, todos os Palestina e da Babilônia. A matéria ali constante foi
cristãos já anularam esse ensino, quer tenham desenvolvida principalmente por duas escolas, a
consciência disso, quer não. Pois todos os cristãos saber: a. a escola palestina, essencialmente o trabalho
aceitam a natureza geralmente inferior da revelação feito pelos tiberianos, nos séculos III e IV D.C.; e b. a
veterotestamentária, em comparação com a revelação escola babilónica, um trabalho efetuado em Sur^,
neotestamentária. E, como é lógico, aquilo que é Neardea, Siporis e Pumbedita, desde o século III afé
inferior está em erro, mesmo que seja por insuficiên os fins do século V D.C. Ver o artigo separado sobre o
cia de informação. Talm ude.
Os hebreus estavam errados, quando supunham 4. A M idrash. A base desse vocábulo é a palavra
que sua revelação bíblica era perfeita e final. O hebraica dorash, que significa «sondagem». De modo
sistema sacrificial deles era uma forma religiosa geral, a palavra significa «explicação». Essa atividade
primitiva, que já foi ultrapassada há muito. Suas produziu tratados exegéticos sobre o Antigo Testa
idéias de justificação pelas obras foram deixadas para mento, desde o século IV até o século XII D.C., que
trás pelo apóstolo Paulo. A visão de Deus, no Novo ficou fazendo parte específica da Haggadah. Ver o
Testamento, é superior àquela retratada em grande artigo separado sobre a M idrash . Além de comentá
parte do Antigo Testamento. A doutrina da rios, anotações e iluminações gerais do Antigo
imortalidade da alma não emergiu claramente no Testamento, também há homilias (sermões), sobre
Antigo Testamento, apesar de ser uma das principais versículos ou passagens do Antigo Testamento. Essa
preocupações da humanidade inteira. E, por que literatura foi bastante extensa, e parte da mesma
haveríamos de pensar que o próprio Novo Testamento chegou até os nossos dias.
seja homogêneo? Paulo nos mostrou que não é assim. IV. A literatura Medieval do« Hebreus
Cada vez que ele falou sobre um — m istério —, Na Idade Média, a literatura dos hebreus foi mais
introduziu um avanço que deixou obsoletas as idéias diversificada do que nas épocas anteriores da história
anteriores, mesmo quando essas idéias já estavam deles. Continuaram a ser produzidos comentários
contidas em outros livros do Novo Testamento. A bíblicos, embora também houvesse obras sobre
verdade é progressiva; a revelação é progressiva; a gramática, lexicografia, exegese, poesia, filosofia e
iluminação espiritual é progressiva. As tradições, ciências. Parte dessa literatura foi escrita em árabe e
porém, deixam tudo isso estagnado; e há muito que é em grego. Durante a Idade Média, surgiram novos
apenas tradicional, tanto nos círculos protestantes comentários sobre a Bíblia, entre os judeus. De fato,
H E B R E U S , L IT ER A TU R A DOS
esse trabalho prossegue entre eles até os nossos dias. explorar a idéia de como viver bem entre os gentios.
Para citar exemplos dessa atividade, encontramos o Porém, a H askalah, um período de iluminação,
comentário da maior parte do Antigo Testamento e abrilhantou um tanto esse quadro. Entre aqueles que
sobre o Talmude, por Solomon ben Isaac (Rashi), um promoveram o movimento, destaca-se Moses Men-
judeu francês do século XI. Entre os séculos XII e delssohn (1729 — 1786). Apareceram livros e
XIV D.C., várias figuras de menor importância periódicos, promovendo a causa. Obras sobre ciência,
trabalharam sobre os escritos de Rashi, fazendo ética e muitos outros assuntos formavam a base de
adições e modificações. No norte da África e na uma nova literatura dos hebreus. Naphtali Wessely
Espanha, sob Migash, mas, principalmente, sob escreveu uma obra épica sobre Moisés e o êxodo.
Moses ben Maimon (1135 — 1204 D.C.), continua Menahem Lefin traduziu para o hebraico, tipo
ram sendo preparados comentários sobre o Antigo Mishnah, a obra de Maimonides, Guia para os
Testamento e sobre o Talmude. Maimonides ou Perplexos. Isaac Erter escreveu peças satíricas contra
Maimon, além dessa obra de comentário, produziu uma ortodoxia estagnada. Solomon Rapoort foi um
uma completa codificação das leis judaicas. Jacó ben importante estudioso da história. Nachman Krochmal
Asher foi um famoso estudioso do século XIII D.C. foi um filósofo da história judaica.
Ele compilou o Turim , um código legal em quatro Na Rússia, no século XIX, os judeus produziram
volumes, que abordava todos os aspectos da vida uma importante literatura, do ponto de vista do
judaica. No século XVI apareceu a obra de José Caro, movimento da Haskalah. O poeta Abraham Leben-
Shulhan A ru kh (A Mesa Posta). Essa obra tornou-se sohn foi um escritor prolífico. Seu filho, Micah
uma espécie de código padronizado das leis e Jòseph, também foi um poeta muito dotado.
tradições do povo judeu. Abraham Mapu produziu uma novela em hebraico.
A Influência Grega. Quando viviam debaixo da Peretz Smolenskin escreveu diversas novelas nesse
dominação islâmica, visto que os árabes eram idioma.
fortemente influenciados pelas idéias gregas, especial VII. O Despertamento do Nacionalismo
mente as de Aristóteles, os próprios judeus, a partir Os judeus, durante muitos séculos espalhados entre
do século X D.C., foram impelidos a tentar coisas as culturas gentílicas, começaram a voltar seus
novas. Disso resultaram tratados científicos, sobre pensamentos para Israel. Os fins da década de 1880
medicina, matemática e filosofia. Quase todas essas podem ser considerados como um tempo quando
obras foram escritas em árabe, com alguma mistura essas idéias andaram no auge. Para exemplificar,
com caracteres hebraicos. O hum anism o também Hayim Nachman Bialik expressou o seu amor pela
tornou-se um dos temas explorados pelos judeus. humanidade, mas também exibiu seu grande apego às
Gramáticas, dicionários e obras teológicas em antigas tradições judaicas. Seus poemas impeliram os
hebraico vieram à tona. O racionalismo tomou-se um judeus da Rússia à autodefesa, bem como a uma
dos instrumentos interpretativos favoritos, mediante o renovada atitude judaica. Saul Tschernikhoviski
que as visões dos profetas foram interpretadas como exortava os judeus a voltarem aos antigos valores de
visões em estado desperto. Aos milagres também foi sua herança cultural. Davi Shimoni identificava-se
dada uma interpretação racionalista. com aqueles que tinham começado a falar sobre uma
A Filosofia. Temos provido um artigo separado, Nova Palestina. Ensaios em prosa também refletiam
intitulado a Filosofia Judaica, que oferece um estudo um renovado interesse por Israel e pelas coisas
geral, incluindo a parte histórica, dessa atividade, judaicas.
entre os judeus. V m . Desde • Primeira G a m a Mundial Para Cá
V. A Cabala: o Poder do M btictuno O desastre econômico e civil imperou na Europa
Começando desde o século II A.C., houve um forte depois da Primeira Grande Guerra (1914 — 1918). A
elemento místico no seio do judaísmo. Isso atingiu sua reconstrução de uma pátria judaica na Palestina,
expressão mais madura na Cabala. Damos um artigo tornou-se uma das principais preocupações para
separado sobre esse assunto. O texto fundamental muitos judeus. Muitos judeus imigraram para a
dessa atividade foi o de Zohar, - que escreveu em um Palestina, entre eles, muitos autores que haviam
aramaico mais ou menos artificial, em cerca de 1280 produzido grande variedade de obras literárias. Entre
D.C. A Cabala tornou-se uma espécie de sistema os importantes poetas da época destaca-se Isaac
teosófico (ver sobre a Teosofia) para tentar explicar Lamdan, cujo poema épico, M assada, inspirou nos
Deus, o homem e o universo. O movimento produziu judeus um antigo nacionalismo e heroísmo. Desse
um enorme acúmulo de literatura, que foi sendo modo, o sionismo (vide) ia ganhando terreno.
produzido por vários séculos. Até hoje, muitos Novelistas promoviam o tema. Até recentemente, tal
milhões de pessoas perpetuam esse movimento, em tipo de literatura era produzido por homens nascidos
vários lugares do mundo. na Europa, que haviam migrado para Israel e que
VI. A Renascença e a Reforma Protestante escreviam para os judeus que viviam pelo mundo
A Renascença, nos finais do século XV, reavivou o inteiro. Em 1966, S.Y. Agnon obteve o prêmio Nobel
interesse pelos clássicos, o que influenciou os de literatura. Ele foi o primeiro judeu a conquistar
escritores judeus a retornarem à Bíblia, escrevendo essa honraria. Havia migrado para Israel em 1910.
novamente comentários bíblicos. Pico delia Mirando- Autores como Mosheh Smilansky e Hayyim Hazaz
la colecionou manuscritos em hebraico. Johannes von pintaram a vida em Israel.
Reuchlin compilou uma gramática moderna, para o Desde a Segunda Guerra Mundial, a literatura
estudo do hebraico. Esse hebraísta alemão promoveu assumiu as formas mais diversas possíveis. Conside
o estudo do Antigo Testamento, dos Targuns e da rando as minúsculas dimensões do moderno estado de
história e das tradições judaicas. Moses Hayyim Israel, e sua pequena população (cerca de quatro
Luzzatto (1707 — 1747) foi um místico, poeta e milhões em 1970, incluindo os árabes das regiõès
dramaturgo judeu, o qual participou da renascença ocupadas), naquele pais tem aparecido uma literatura
italiana. pujante. Em 1960, foram publicados mil trezentos e
setenta e um títulos naquele país. Três quartas partes
O período da Reforma Protestante amorteceu os eram escritos originais, e uma quarta parte consistia
estudos judaicos específicos. Muitos judeus tornaram- em traduções de outras línguas para o hebraico. A
se ricos, nesse tempo, e interessavam-se mais em taxa de produção literária, em comparação com o
HEBREUS, RELIGIÃO - HEBROM
número de habitantes de Israel, permanece uma das Inform es Bíblicos. A princípio, Hebrom era
mais elevadas do mundo. (AM E WAX) chamada Quiriate-Arba (Tetrápolis) (Gên. 23:2; Jos.
14:15; 15:13); e também M anre, nome derivado de um
nome amorreu semelhante (Gên. 13:18). Também
HEBREUS, RELIGIÃO DOS sabemos que ali habitavam cananeus e anaquins
Ver sobre b r a d , Religião de. (Gên. 23:2; Jos. 14:15; 15:13). Nos tempos de Abraão
(Gên. 13:18), de Isaque e de Jacó (Gên. 35:27), eles
passaram algum tempo em Hebrom. Nos dias de
HEBROM Abraão, os residentes eram os filhos de Hete (ou
Esboço'. hititas). Foi deles que Abraão comprou o campo de
I. O Nome Macpela, com sua caverna, que passou a ser usada
II. Localização e Geografia como sepulcro da família (Gên. 23). Foi ali que Sara,
Abraão, Isaque, Rebeca, Jacó e Lia foram sepultados
III. Esboço da História e das Descobertas Arqueo (Gên. 49:31; 50:13). Josefo afirma (A nti. 2:8,2) que os
lógicas filhos de Jacó, com a exceção de José, também foram
IV. A Moderna Hebrom sepultados ali. O local tradicional desse cemitério jaz
I. O Nome dentro da Haram el-Halil, «Cerca do Amigo», que é
Esse nome, no hebraico, significa «comunidade», uma referência a Abraão como «o amigo de Deus»
«confederação», «aliança». O nome mais antigo do (Isa. 41:8).
lugar era Quiriate-Arba, «tetrápolis». O nome árabe Quando o povo de Israel estava prestes a entrar na
da localidade é E l Khalil, «amigo de Deus». Não se Terra Prometida, doze espias foram enviados ali, para
sabe dizer que aliança fez o lugar reunir quatro obter informações. Eles exploraram a região de
cidades (e nem quais quatro cidades foram envolvi Hebrom, tendo descoberto que, na ocasião, ela era
das). Porém, deduz-se pela história que, usualmente, povoada pelos filhos de Anaque, ou anaquins (Núm.
essas alianças tinham natureza militar. 13:22,28,33). Os israelitas, encabeçados por Josué,
invadiram aquela área. Embora tivessem enfrentado
D . Localização e Geografia uma coligação de várias tribos, que se aliaram para
Essa cidade ficava situada no sul da Palestina, no enfrentá-los, os israelitas conquistaram a cidade. A
território de Judá, cerca de vinte e nove quilômetros região foi entregue a Calebe, que expulsou os
ao sul de Jerusalém, a 31°, 32’, 30” de latitude norte e anaquins de seus territórios (Jos. 10:36, 37; 14:6-15;
a 35°, 8’ e 20” de longitude leste. É a cidade da 15:13,14; Jui. 1:20). Tornou-se, então, uma das
Palestina que está em maior altitude, isto é, a 972 m cidades de refúgio, tendo sido alocada aos sacerdotes
acima do nível do mar Mediterrâneo. Está situada e levitas (Jos. 20:7; 21:11,13). Quando Davi tornou-se
entre duas serras montanhosas, com um vale entre as rei de Judá, fez de Hebrom sua primeira capital e
duas serras. Em 1966, sua população era de quarenta residência real. E ali ele reinou pelo espaço de sete
mil habitantes. Muitas fontes e poços podem ser anos e meio, onde nasceram quase todos os seus
encontrados na área em geral. filhos. Também foi ungido rei de Israel em Hebrom (I
Sam. 2:1-4,11; I Reis 2:11; II Sam. 5:1,3). Foi depois
H l. Esboço da História e das Descobertas Arqueo* disso que Davi transferiu sua capital para Jerusalém.
lógicas Talvez essa mudança e a conseqüente perda de
Hebrom é mencionada por cerca de cinqüenta prestígio tenha sido um fator que levou os habitantes
vezes no Antigo Testamento. Por cinco dessas vezes, de Hebrom a apoiarem Absalão, em sua revolta
ela é mencionada por seu antigo nome, Quiriate-Arba contra seu pai, Davi (II Reis 15:9,10).
(Tetrápolis). Sabemos que ela foi construída ou Hebrom, bem mais tarde, foi fortificada por
reconstruída sete anos antes de Zoã (no grego, Tânis), Reoboão(II Crô. 11:10). Após o cativeiro babilónico,
no Egito (Núm. 13:22), o que ocorreu em cerca de tornou a ser ocupada (Nee. 11:25, onde Quiriate-Arba
1728 A.C., durante o período dos hicsos. Porém, há aponta para Hebrom). Posteriormente, os idumeus
evidências arqueológicas de ocupação humana desde apossaram-se da área, mas Judas Macabeu tomou
tão cedo quanto 3300 A.C. Desde então, vem sendo deles a cidade (I Macabeus 5:65). Durante a revolta
ocupada continuamente. Escavações feitas ali, entre dos judeus contra os romanos (66 — 70 D.C.), a
1964 e 1966, têm revelado que a história de Hebrom é cidade foi ocupada por Simão bar-Giora; mas,
deveras antiga. Uma muralha com cerca de nove finalmente, foi atacada e incendiada pelos romanos
metros de espessura foi desenterrada, pertencente ao (Josefo, Guerras 4.9,7,9). Josefo também informa-nos
período do Bronze Médio II. Muitas outras porções de que, em seus dias, os túmulos dos patriarcas
edificações foram encontradas, na mesma ocasião. Há continuavam conhecidos. Eusébio e Jerônimo men
evidências de ocupação humana no período calcolítico cionaram Hebrom em seus escritos, referindo-se a essa
(cerca de 3000 A.C.), e também no período do Bronze cidade como o lugar dos sepulcros dos patriarcas
Primitivo I. Foi desenterrada uma casa do período da hebreus.
monarquia hebréia (séculos XI e X A.C.). Também D om inação Islâm ica. Saladino capturou Jerusalém
encontraram-se indícios das invasões de Senaqueribe em 1187 D.C., quando Hebrom também caiu em seu
e da destruição do lugar pelas tropas de Nabucodono- poder. Então a cidade de Hebrom teve seu nome
sor. A arqueologia também tem confirmado sinais do alterado, pelos islamitas, para El-Khalil, «o amigo de
período helenista, com a descoberta de fornos e de Deus». Além de ser considerado um local sagrado, por
peças de cerâmica daquela época. Um sistema de ser o local tradicional de sepultamento dos patriarcas,
armazenamento de água também data desse período. as tradições árabes dizem que Maomé passou por ali,
Também foi encontrado um extenso cemitério, onde em sua viagem noturna para o céu. Em 1168 D.C.,
havia muitos artefatos. Nessa mísma área, foi Hebrom tornou-se a sede de um bispado cristão; mas,
desenterrado um palácio residencial islâmico, e, por posteriormente, voltou ao controle dos árabes.
baixo de seu pátio havia restos de ocupação do tempo
dos romanos. Naturalmente, os arqueólogos têm IV. A M odem » Hebrom
encontrado ali todos os períodos da ocupação A principal porção residencial da cidade moderna
islâmica, até os nossos próprios dias. fica nos sopés das colinas que correm na direção leste
63
HEBROM - HEDONISMO
e norte, com uma expansão na direção da serra para vai à guerra, e ali mata alguém, porquanto a desgraça
sudoeste, e até às fraldas do nordeste, do Gebel de não servir à sua pátria seria ainda pior do que não
er-Rumeida, que é o local do cômoro da antiga cidade matar. Disso, alguns hedonistas tiram a conclusão de
de Hebrom. A cidade estende-se para as extremidades que ir à guerra e matar é uma espécie de prazer, visto
norte e ocidental do vale, para ambos os lados de uma que evita a dor de cair em opróbrio. O indivíduo que
ampla avenida, que faz parte da estrada que conduzia fica convencido da filosofia hedonista, através de tais
a Jerusalém. Esse vale continua até à extremidade manipulações, pode chamar de «prazer» a qualquer
inferior do wadi Tuffa, o vale das Maçãs. Na área há ato humano que vise à busca do prazer. Para
muitas fontes e mananciais. A agricultura da região exemplificar, poderíamos dizer que procurar cumprir
produz maçãs, ameixas, figos, romãs, abricós, o próprio dever é um prazer, mesmo que os atos
castanhas de várias espécies, melões e muitos envolvidos, por definição humana ordinária, sejam
legumes. Seu principal marco territorial é o Haram desagradáveis. Mas, ao assim asseverar, já estamos
el-Kahalil, o local identificado como o sepulcro do usando o vocábulo «prazer» em um sentido incomum.
patriarca Abraão, a antiga caverna de Macpela, e o A felicidade também tem sido definida em termos da
Deir el-Arba'in, o local tradicional do sepultamento obtenção do prazer.
de Rute e de Jessé. Os estudiosos parecem concordar H. Hedonismo Histórico dos Gregos
que essas identificações são autênticas. Somente com
grandes dificuldades quaisquer cristãos são admitidos Para evitar repetições desnecessárias, solicito que o
naquelas áreas, consideradas sagradas. leitor examine o artigo geral sobre a Ética, em seu
quarto ponto, Os M ovim entos É ticos ; e também em
seu segundo ponto, O H edonism o. Ali exponho uma
HEBROM (P e n o u ) discussão sobre A ristipo e sobre os cirenaicos. Há
vários tipos de hedonismo, conforme se vê abaixo:
Há dois homens com esse nome, nas páginas do
Antigo Testamento, a saber: O hedonism o positivo, que preconiza a busca
aberta e fr?nca pelo prazer, de acordo com a
1. O terceiro filho de Maressa, o qual, ao que tudo sabedoria, algumas vezes definido como auto-intetes-
indica, foi avô de Calebe, descendente de Judá (1 Crô. se. A inteligência nos serviria de guia na busca pelo
2:42,43). Ele viveu por volta de 1400 A.C. prazer, ao mesmo tempo que nos ajuda a evitar a dor.
2. O terceiro filho de Coate, neto de Levi, e irmão Os melhores prazeres são assim selecionados, e
mais novo de Anrào, que foi o pai de Moisés e de devemos pagar o preço necessário para consegui-los.
Aarão (Êxo. 6:18; Núm. 3:19; I Crô. 6:2,18; Também há o hedonism o astucioso: o homem bom
23:12,19). Seus descendentes são chamados hebroni- aprende a conseguir o que lhe dá prazer, escapando
tas, em Núm. 3:27, e em outras referências bíblicas. do castigo que seus atos mereçam. Assim, um crime
Ele viveu por volta de 1600 A.C. só seria crime se fosse descoberto. Também há o
hedonism o negativo: apesar do prazer ser o único
HECTICLDADE valor levado em conta, trata-se de um valor falso, visto
que o cumprimento do prazer somente leva a um ciclo
Vem do latim h aecceitu, que significa «qualidade vicioso, já que a busca pelos prazeres termina,
do isto». Duns Scoto (vide) usou esse termo a fim de finalmente, em frustração. Destarte, o pessimismo
aludir ao princípio da individualização, ao tratar mistura-se com o hedonismo. Ver também sobre a
sobre o problema dos universais (vide). Esse principio Ética, iv.3, onde se discute sobre o Epicurism o. O
é considerado como uma alternativa da matéria, como epicurismo é uma forma suavizada, intelectual de
um meio que nos ajuda a compreender o passo que se hedonismo, que busca eliminar, principalmente, os
deve dar da infim a species (a menor espécie) até às desejos, em vez de procurar satisfazê-los, além de
coisas individualizadas. enfatizar o aspecto mental, e não os prazeres físicos.
O artigo intitulado Escolas Éticas do Novo Testam en
to, fornece comentários bastante pormenorizados
HEDONISMO
sobre o Epicurism o.
Ver o artigo geral sobre a Ética, especialmente seu
quarto ponto, Os M ovim entos Éticos, entre os quais HL O Hedonismo na História da Filosofia
há o hedonismo. Ver também o artigo Escolas Éticas Além da variedade clássica do hedonismo, devemos
do Novo Testam ento. considerar os pontos abaixo, porquanto nos são
Esboço: interessantes:
I. Definição I. O hedonism o cristão. O cristianismo muito tem a
II. Hedonismo Histórico dos Gregos dizer sobre o prazer, apresentando-o como um dos
III. O Hedonismo na História da Filosofia principais alvos da existência humana. O próprio céu
IV. Crítica é descrito em termos de prazer e de ausência de
sofrimento e dor. Ver Apo. 21:2-4. Ver também sobre
I. Definição Vala. Erasmo (vide) cristianizou Epicuro, referindo-
Essa palavra vem do grego, hedone, «prazer», se ao princípio do prazer, que ele postulava, em
«deleite», «aprazimento». O hedonismo assevera que o termos cristãos. Ao princípio do prazer, o cristianis
principal ou mesmo único alvo da vida humana é a mo adiciona certas virtudes típicas, como a fé, a
obtenção do prazer, paralelamente à tentativa de esperança e o amor. A felicidade eterna é definida em
evitar a dor ou o sofrimento. Alguns hedonistas, como termos da obtenção do prazer espiritual. A imortali
os filósofos gregos Aristipo e os cirenaicos, afirmavam dade também foi descrita por Erasmo em termos de
que o prazer é o único bem que realmente existe. No coisas que valorizamos nesta vida. E a vida cristã,
campo da ética, o hedonismo, com freqüência, é desde agora mesmo, oferece-nos muitos prazeres,
associado a uma grosseira auto-indulgência e aos porquanto o maior de todos os prazeres é o bem-estar
interesses próprios, de modo extremamente egoísta. espiritual. Essa discussão, como é natural, reveste-se
Porém, há manipulações da definição do hedonismo de seus devidos valores; mas toma-se ridícula quando
que o fazem indicar coisas que a linguagem comum assume um ar totalmente hedonista, como se o único
não antecipa. Por exemplo, um homem que não quer bem fosse alguma forma de prazer, e como se evitar a
matar ninguém, é chamado para ser um soldado. Ele dor e o sofrimento sempre fosse alguma virtude.
HEDONISMO - HEGAI
2. Thom as M ore (vide) ensinava um epicurismo 3. As formas mais crassas de hedonismo, todas elas
utópico, onde todos os prazeres poderiam ser materialistas, devem ser totalmente rejeitadas como
abundantemente cumpridos, ao mesmo tempo em coisas típicas de uma baixa mentalidade espiritual. As
que toda a dor poderia ser evitada. Para ele, o descobertas do misticismo (vide), bem como da fé
sum m um bonum da vida humana, na verdade, seria o religiosa, conforme ela aparece na revelação bíblica,
prazer. Ele advogava um comunismo platônico militam contra a redução do homem a um nível
(embora com a preservação da unidade da família), animalesco.
como a melhor maneira de se chegar à sua utopia. Ele 4. A felicidade envolve mais fatores do que apenas o
apresentava diante dos homens os prazeres naturais prazer. O cumprimento da lei do amor, o cumprimen
da vida como alvos a serem atingidos, ao mesmo to dos deveres, o progresso espiritual, até mesmo em
tempo em que se deveriam evitar os prazeres meio à adversidade, bem como o desenvolvimento
desnaturais, como a busca desenfreada pelas riquezas espiritual, mesmo que através do julgamento,
e a elevada posição social. Além disso, ele pensava em também são fatores que contribuem para a felici
prazeres eternos, que fazem parte da existência da dade final do homem. A própria dor é boa, quando
alma imortal. Os homens que atingissem esses resulta no bem; e o bem não é, necessariamente, um
prazeres, segundo ele, seriam felizes. p razer. (E EP F H P)
3. H obbes (vide) promovia um hedonismo materia
lista, onde todos os prazeres e sofrimentos deveriam
ser interpretados em termos deste mundo físico e do HEFELE, KARL JOSEPH VON
homem mortal, que vive dentro desse mundo. Suas datas foram 1809—1893. Foi bispo de
4. Os utilitaristas, como Jeremy Bentham (vide) e Rustemburgo e também um historiador notável.
John Stuart Mill (vide), ensinavam que o alvo da Nasceu em Unterkocen, Wurtemberg e faleceu em
existência humana é o maior benefício e prazer, para Rustemburgo. Ensinou história eclesiástica em Tubin-
o maior número de pessoas, pelo tempo mais longo gen e foi instrumento na introdução de um curso de
possível. Para eles, o prazer conduz à felicidade. Mais Arqueologia Cristã, naquela escola. Fez parte do
tarde, na vida, Bentham teve de acrescentar a Concílio do Vaticano (1870), e tomou parte na decisão
simpatia ou amor ao seu sistema, como um poderoso acerca da infalibilidade papal. A princípio ele votou
fator motivador, visto ter percebido que seu non placet (vide), isto é, negativamente. Mas mudou
utilitarismo não é adequado para o homem, em todos seu voto para um apoio ao dogma, quando o mesmo
os seus complexos aspectos. foi definido. Escreveu uma obra sobre a história dos
5. A psicologia behaviorista é um tipo materialista concílios, em sete volumes, o que tem sido a sua mais
de hedonismo, segundo o qual o homem é ensinado a duradoura contribuição à história.
buscar aquelas coisas que visam o auto-interesse, de
conformidade com o princípio do prazer, ao mesmo HÉFER
tempo em que toda a dor deveria ser evitada.
6. O hedonism o psicológico assevera que o homem, No hebraico, «poço» ou «fonte». Esse era o nome de
na realidade, tem apenas um motivo e um alvo: ele três personagens, referidos no Antigo Testamento, e
sempre age e deve agir de acordo com o seu desejo de também de uma cidade, a saber:
obter prazeres. 1. O filho caçula de Gileade (Núm. 26:32), e cabeça
7. O hedonism o ético egoísta ensina que os homens de um clã que ficou conhecido pelo seu nome. Ele
sempre agirão impulsionados por seus interesses viveu por volta de 1618 A.C. Ver também Jos. 17:2,3.
pessoais, motivados pelo principio do prazer. Esse clã pertencia à tribo de Manassés.
8. O hedonism o altruísta requer que os atos 2. Um filho de Naará, que era uma das esposas de
individuais levem em consideração o prazer do grupo Assur (I Crô. 4:6). Ele viveu por volta de 1612 A.C.
inteiro, e não apenas o de algum indivíduo isolado. O 3. Um dos trinta poderosos guerreiros de Davi (I
hedonismo ético universal apega-se a esse princípio Crô. 11:36). Ali ele é cognominado de mequeratita.
altruísta, tal como o faz o sistema do utilitarismo 4. Uma cidade de Canaã, que foi conquistada por
(vide). Cada indivíduo deveria agir de tal maneira que Josué (Jos. 12:17). O local moderno da cidade é
trouxesse o máximo de prazer ao maior número desconhecido.
possível de pessoas, pelo tempo mais longo possível. A Além disso, em I Reis 4:10, há menção à «terra de
felicidade residiria no verdadeiro prazer. Héfer», que ali aparece como o terceiro distrito
administrativo, criado por Salomão. Ben-Hesede
IV. Critica (vide), é que estava encarregado desse distrito. O local
1. A própria definição ampla que alguns hedonistas ainda não foi identificado pelos estudiosos modernos.
dão ao hedonismo, fazendo-o abranger todas as
eventualidades, e assim definindo qualquer motivação HEFZIBÁ
legítima do homem como se fosse parte do princípio
do prazer, é um uso incomum e falso do vocábulo No hebraico, «meu deleite está nela». Nas páginas
«hedonismo». do Novo Testamento, esse nome é aplicado tanto
a uma rainha quanto à cidade de Jerusalém, como um
2. O princípio do prazer, na realidade, faz parte da futuro nome que lhe será dado, a saber:
inquirição espiritual e da promessa da imortalidade. 1. A esposa do rei Ezequias e mãe do rei Manassés
Mas isso não pode ser interpretado em termos (II Reis 21:1). Ela viveu por volta de 690 A.C.
materialistas crassos. Além disso, jamais pode 2. Um nome que, segundo a profecia de Isaías
permanecer como a única diretriz para os homens (62:4), finalmente será aplicado à cidade de
seguirem. Devemos levar em conta, igualmente, o Jerusalém.
amor, o qual, com freqüência, leva a algum sacrifício
desagradável, e não ao prazer. Nem sempre o dever
importa em prazer. Dizer-se que uma coisa pode ser H EGAl
prazeirosa, quando comparada com outra coisa, que No hebraico, «eunuco». Esse era o nome de um dos
ainda é mais desagradável, é distorcer o uso comum camareiros de Assuero (ou Xerxes). Ele cuidava das
da linguagem. mulheres do harém real (Est. 2:8,15). Viveu por volta
65
H EG EL
de 479 A.C. Recebeu a tarefa de ajudar na escolha de Enquanto residiu em Heidelberg, Hegel publicou a
uma nova rainha da Pérsia, em substituição a Vasti. sua Enciclopédia das Ciências Filosóficas (1817), um
Sabe-se que entre as virgens disponíveis, Ester foi a esboço sistematizado de seu2 conceitos. Posteriormen
escolhida. te, ensinou em Berlim, com grande sucesso e
popularidade, embora impressionasse mais do que
HEGEL, GEORG WILHELM FRIEDRICH cativasse. A última obra por ele publicada foi sua
Filosofia do Direito e da Lei (1820). Faleceu em
Esboço: Berlim, a 14 de novembro de 1831, de uma praga de
I. Caracterização Geral cólera, tendo sofrido apenas por um dia.
II. Idéias Específicas
III. O Sistema de Tríadas Tal como os filósofos realmente grandes, ele tinha
IV. Influência e Crítica interesses bem amplos, no campo da filosofia e fora
dele. E seu sistema procurava tratar de forma geral e
I. Caracterização Geral harmônica todo o conhecimento e toda a realização
Georg Wilhelm Friedrich Hegel nasceu em humanos. A sua influência foi enorme, o que
Stuttgart, na Alemanha, em 1770, e faleceu em 1831, ilustramos no artigo separado sobre o H egelianism o.
vítima da cólera. Antes de se tornar filósofo, Após sua morte, suas obras e preleções foram
interessou-se profundamente pela fé cristã, e estudou publicadas por um grupo de alunos seus, que alguns
formalmente a teologia, na Universidade de Tübin têm chamado de «amigos do imortalizado». Assim,
gen, em companhia de outros vultos que se tornariam algumas de suas obras mais influentes foram
ilustres, como Schelling e Hölderlin. Também esteve publicadas postumamente, com base nas anotações
associado a Schelling na Universidade de Jena, onde, feitas por alunos seus, em sala de aula. Essas obras
juntos, publicaram um jornal filosófico. Foi reitor do são (com títulos em alemão); Vorlesugen uber die
ginásio de Heidelberg e então da Universidade de G eschichte der Philosophie; Vorlesungen uber die
Berlim. Philosophie der Religion; Vorlesungen uber die
As principais influências filosóficas que moldaram Philosophie der W eltgeschichte e Vorlesungen uber
o seu pensamento foram o racionalismo de Spinoza e die A e sth etik. Todas essas obras existem em edição
de Emanuel Kant, bem como o idealismo de Fichte e em inglês. Os respectivos títulos, em inglês, são:
de Schelling. Não devemos nos olvidar de que seu Philosophy o f Religion: History o f Philosophy (dois
apaixonado interesse pela fé cristã foi um dos fatores volumes); Philosophy o f Fine A rts (dois volumes) e
mais fundamentais em suas formulações. Contudo, Philosophy o f History.
ele sentia que a teologia cristã de sua época (uma Obras publicadas antes de sua morte: System o f
espécie de escolasticismo protestante) era árida, e, por Science, parte I, The Phenom enology o f M ind;
isso, procurava uma experiência espiritual mais Science o f Logic; The Objective Logic (dois volumes);
profunda. Alguns intérpretes acreditam que a vida e a The Subjective Logic; Encyclopedia o fth e Philosophi-
filosofia de Hegel demonstram que o desenvolvimento cal Sciences in O utline; Philosophy o f R ight.
de sua filosofia estava firmemente alicerçado sobre
suas próprias experiências religiosas, e não meramen H . Idéias Especificas
te sobre noções que ele aprendera na escola. Essa I. O Propósito da Filosofia. A filosofia deveria
teoria também afiança que ele passou por uma procurar conhecer a natureza, o real, o mundo inteiro
poderosa experiência mística acerca da realidade das da experiência e do ser. Deveria tentar compreender a
coisas. Em vez de procurar expressar isso em termos essência eterna, a harmonia e as leis do conhecimento
teológicos, conforme faz a maioria dos místicos, ele e da realidade.
procurou exprimir a sua experiência em termos 2. A Fé Básica. A existência, para ele, é uma ordem
filosóficos, mediante suas descrições sobre o Espírito racional, imbuída com significado. Essa racionalida
Absoluto. Como é óbvio, isso só pode ser verdadeiro de sc pode ser reconhecida através do pensamento, a
em parte; porquanto não é difícil delinear suas idéias função racional inerente ao homem. A função da
básicas, de acordo com as influências filosóficas que filosofia consiste em entender as leis mediante as
ele sofreu,, conforme dissemos acima. Seja como for, quais a razão opera. A tríada dialética básica de tese,
os eruditos têm salientado, com toda a razão, a antítese e síntese seria a maneira do Espírito Absoluto
natureza mística de seu pensamento básico, onde a operar; a compreensão de tal fato, pois, é a chave
diversidade é, finalmente, reduzida à unidade no para a investigação em que a filosofia nos encaminha,
Espírito Absoluto. Na verdade, os místicos falam fazendo-nos sondar a natureza de todas as coisas.
nesses termos. 3. O Espírito A bsoluto (G eist ). O espírito era visto
Hegel recebeu seu doutorado em teologia em por Hegel como uma força real e concreta. Essa força
Tübingen, em 1791; e, em 1801, ele aliou-se a é personificada em certo número de suas manifesta
Schelling na Universidade de Jena, onde começou a ções, como o espírito do m undo (Weltgeist). Opera
lecionar sobre filosofia. Sua posição filosófica, a mediante o espírito coletivo, nas nações, embora
princípio, era uma espécie de refutação a certos também opere nos indivíduos. Hegel criou uma
aspectos das idéias de Kant. Se o seu método dialético anedota que ilustra esse ponto. Ele falava como se
pode ser traçado de volta à dialética transcendental de tivesse visto Napoleão (talvez o tenha visto, realmen
Kant (em sua obra Critica da Razão Pura), contudo, te), em seu cavalo branco, após a batalha de Jena
sua filosofia final opunha-se a todos os aspectos (1806). Então ele declarava: «Vi o W eltgeist sobre um
importantes do pensamento kantiano. Hegel negava cavalo branco». Ele também se referia a certas figuras
completamente a limitação da razão, conforme fazia mundiais como a alma do m undo ( W eltseele ). Seja
Kant, e pensava que a razão é a base das operações do como for, temos aí o conceito de uma alma do mundo
Absoluto, em todas as coisas. Ele não deixava a manifestar-se em espíritos individuais, operando
margem para mistérios insondáveis, em algum mundo para cumprir os mesmos desígnios, em consonância
mental, que só pudesse ser perscrutado por p o stu la com os ditames da Mente Absoluta. Tudo seria mente
dos racionais intuitivos, conforme Kant fazia. Para ou idéia. Ver o artigo sobre o Idealism o. A Idéia
ele, a Razão permeia a tudo e delineia todas as coisas, Absoluta (Espírito) seria a consciência toda inclusiva,
em todos os lugares, o que é um exagero, segundo os completamente coerente e eterna, de cada estágio da
gostos da maioria dos filósofos. dialética. A Idéia Absoluta é o Universal final e todo-
66
H EG EL
inclusivo que garante a unidade de todas as coisas, e devido à influência de Kant. A sua tendência era
onde residem todas as coisas. Também é divino, o que classificar as coisas em tríadas. Suas categorias
significa que temos aí uma espécie de panteísmo. servem de demonstração disso. Fichte também tinha
4. A Espiritualidade da E xistência. A filosofia de trabalhado sobre esse princípio (influenciado por
Hegel nega, de forma absoluta, que a matéria seja o Kant), quando se referiu a como o «ego» postula o
componente básico do ser. Antes, a própria mundo (oposto do «ego»). Antes desse postulado,
experiência seria aquele aspecto na vida do espírito temos o Ego Absoluto, a fonte de todo ser. Portanto,
mediante o qual o espírito torna-se cônscio de si foi Fichte, e não Hegel, quem primeiro apresentou o
mesmo. A essência de todo ser é Deus, o Espírito processo dialético, consistente em tese, antítese e
Absoluto, e a revelação de Deus é a ordem mundial. síntese. A atividade da razão humana requer a
Deus é o alvo de todo o conhecimento. E Deus postulação, a contrapostulação e a síntese. Ver o
revela-se a si mesmo em três estágios: razão, espirito e artigo sobre Fichte.
religião. Natnralmente, o estudo feito por Hegel a respeito
O Deu* de Hegel é panteista; e, aos olhos da foi muito mais elaborado, razão pela qual lembramo-
doutrina cristã, isso é uma forma de ateísmo. Porém, nos de seu nome em conexão com esse princípio. Nos
dizermos só isso seria nos mostrar superficiais. Em escritos de Hegel, o Espírito Absoluto, e não
muitas passagens, o Antigo Testamento reflete um meramente o «ego» (o homem), é que faz a
crasso antropomorfismo; e sabemos que o antropo ppstulação, o que significa que temos uma dialética
morfismo representa mui imperfeitamente a espiri cósmica que tem prosseguimento. iVer uma demons
tualidade de Deus. Não dispomos mesmo de meios tração das tríadas de Hegel, na terceira seção.
bons para descrever a pessoa de Deus, embora 7. Categorias. O trabalho de Hegel, quanto a esse
saibamos descrever melhor as suas obras. Assim particular, é altamente complexo, visto que as suas
sendo, quando estamos abordando o caso de um categorias são as próprias tríadas, em suas muitas
filósofo como Hegel, fazemos bem em notar quais são manipulações. Cada tese, antítese e síntese é uma
os discernimentos dele, não rejeitando a sua filosofia categoria por si mesma. Outrossim, cada uma é uma
com títulos negativos. A filosofia de Hegel é um idéia universal. As idéias de razão e de noções são, ao
idealismo absoluto. Ver sobre o Idealism o. A idéia, mesmo tempo, universais, particulares e singulares.
para ele, é a base de toda a realidade, isto é, uma Elas são concretas universais (usando os termos
realidade não-material. E a matéria é um epifenôme- mesmos de Hegel), e têm carreiras próprias. (Ver o
no do espírito. artigo geral sobre os Universais). O ser é a categoria
básica e universal. Atravessa mais de duzentas e
5. O Princípio da Unidade. A unidade, natural- setenta categorias, antes que Hegel sinta que ele já
mente, é uma das categorias místicas fundamentais. deu uma boa descrição de seu fluxo e desenvolvimen
Os místicos do Ocidente e do Oriente testificam a esse to. É dessas mais de duzentas e setenta categorias que
respeito. Esse também é um conceito básico do emerge a essência da filosofia de Hegel.
mistério da vontade de Deus, aludido em Efésios 8. Evolução. A realidade, para Hegel, é um
1:9,10. Todas as coisas, finalmente, terão de processo lógico de evolução, em que o Espírito
encontrar o seu centro no Logos. Todas as coisas Absoluto ter-se-ia evoluído em toda a entidade,
procedem Dele, e todas as coisas terão de voltar a ele conceito, realidade, realidade potencial imaginável,
(Col. 1:16). Escreveu Hegel: «O nexo interior de todas sendo ele mesmo, seu próprio contrário e a sua
as diferentes configurações do espirito: deve-se síntese, em inúmeras categorias e maneiras. Nisso
afirmar que somente um espírito, um princípio combinam-se os discernimentos do fluxo de Heráclito
expressa-se no estado político, tanto quanto na e a unidade de Parmênides. Não seriam realidades
religião, na arte, na ética, nas maneiras, no comércio contraditórias, mas apenas estágios de uma única
e na indústria. Essas coisas são meros ramos de um existência.
tronco principal... o espirito que é um só». Na seção 9. A Lógica e a M etafísica. Na filosofia, segundo
III deste artigo, intitulada O Sistem a de Tríadas, isso Hegel, há cinco tipos diferentes de lógica, a saber: a.
é ilustrado, e suas operações são demonstradas. dedutiva; b. indutiva; c. simbólica (matemática); d.
6. O Processo Dialético. O conceito básico por experimental (vide sobre Dewey); e. metafísica
detrás desse processo é: ser, não-ser, tornar-se. Aquilo (Hegel). Essa lógica metafísica é precisamente o
que existe opõe-se àquilo que ainda não existe, conceito por detrás das tríadas, uma descrição de
embora esteja em processo de vir à existência. A como elas operam. Um pensamento segue-se,
tensão entre as duas coisas, produz o seu oposto. necessariamente, de outro; e provoca um pensamento
Então a tensão entre os dois opostos, finalmente, contraditório. E, desse processo, surge a síntese,
produz uma síntese. Dai resulta o processo dialético ainda um novo pensamento. A dialética de Hegel é o
de Hegel, que consistia em TESE, ANTlTESE e desdobramento lógico do seu pensamento. A própria
SlNTESE. Cada síntese, por sua vez, torna-se uma realidade seria um processo evolutivo lógico, um
nova tese. Sem importar quão perfeita ou poderosa processo espiritual. Seria um processo inerente em
seja uma tese, é impossível evitar que ela se torne uma todas as coisas, sendo também auto-expressivo e não
negação de si mesma (chamada não-ser). Esse é um algo que os homens inventam em suas experiências.
constante p o d er de negação, que existe em todas as Essa lógica precisa ser obedecida, visto que segue a
entidades, instituições e conceitos. Esse princípio é o sua tese, antítese e síntese de maneira inexorável. Por
gerador de novos pensamentos e de novas entidades, conseguinte, a lógica seria a base de toda ciência. O
operando interminavelmente. Nenhuma síntese pode real e o eterno que existetn no universo resultariam do
manter a si mesma meramente como uma nova tese. pensamento de Deus, o Espirito Absoluto, como, de
O não-ser e o poder da negação, não demora a criar fato, se dá com todas as outras coisas (portanto,
uma nova antítese. Emerge daí uma nova síntese, em temos aí o Idealismo-, vide). A idéia, pois seria a base
um processo que prossegue indefinidamente. Uma de toda a existência, e não só da matéria.
síntese é ímpar somente por algum tempo. Pois é
engolida no contínuo processo de mutações, o fluxo de 10. Filosofia da N atureza. Estudar a natureza é
Heráclito, um princípio básico do próprio ser. estudar o Absoluto, em suas manifestações neste
A dialética de Hegel surgiu, pelo menos em parte, mundo. A naturezaé a auto-objetificaçàodo Absoluto.
H EG E L
A natureza está envolvida nas manifestações do conceito divino. Ele tinha uma doutrina da unidade
Espírito, por meio da qual ele cresce. de todo o conhecimento, e Deus é a explicação final de
11. Filosofia da M ente. A filosofia da mente mostra todas as coisas. Hegel foi o primeiro a escrever uma
como a razão vence a natureza objetiva, retorna a si filosofia sistemática da religião, intitulada, especifica
mesma, ou então evolui para tornar-se o auto- mente, por esse nome.
consciente. A mente (ou o espírito) passa pelos 12. A Ética, a Lei e a Sociedade. A verdadeira base
estájgios dialéticos da evolução, revelando-se pri da conduta não se acha nas experiências empíricas
meiramente, como mente subjetiva, então como dos homens. Antes, faz parte da revelação progressiva
mente objetiva e, finalmente, como mente absoluta. e da realização da vida do homem na natureza. É a
Nesse ponto, Hegel torna-se verdadeiramente com operação da Mente Absoluta no terreno da conduta
plexo, pelo que tentarei simplificar as coisas, humana.
descrevendo os três tipos de mentalidade: O homem é um ser dotado de liberdade. Ele tem
a. A m ente subjetiva: ela se expressa como alm a, direitos concretos na sociedade, por causa de sua
isto é, como mente que depende da natureza: e como dignidade como uma pessoa, como um agente do
espírito, isto é, como mente reconciliada com a Absoluto. A vontade, no homem, é a vontade
natureza, mediante o conhecimento. As disciplinas da objetivada do Absoluto, pelo que é capaz de tomar
antropologia, da fenomenologia e da psicologia decisões apropriadas. Porém, existem autocontradi-
correspondem a esses estágios das operações mentais. ções na vontade do homem, de onde se originam
A mente atinge a autoconsciência naquilo que ela injustiças, atos maléficos e crimes. Todas essas coisas
cria. Os elementos da mente são a realidade do residem na vontade humana, não sendo meras
pensamento puro, que opera inteiramente à parte da vicissitudes da vida empírica do homem, dentro de
matéria; a inteligência, que se imerge no seu objeto, e seu meio ambiente. O homem dispõe de uma
assim atinge a autoconsciência (em outras palavras, o m oralidade subjetiva, isto é, uma moralidade que faz
«ego» vê-se a si mesmo no «não-ego»); o pensamento parte inerente do seu ser. Isso é transferido para o
puro resulta no conhecimento; a razão unifica os mundo objetivo, exterior. As instituições humanas
elementos constitutivos de qualquer conceito; a têm por finalidade produzir iluminação, controle e
memória, a imaginação e a associação de idéias são definição para os atos humanos. Os terrenos de
estágios do raciocínio; o intelecto age como um juiz aplicação são o indivíduo, a família, a sociedade e o
dos diversos elementos distintos de um conceito. Estado; mas, uma mesma vontade permeia a todos
b. A m ente objetiva: essa se exprime através da esses terrenos. Os deveres corretamente cumpridos
natureza, de indivíduos, de instituições, da história, resultam na liberdade.
do direito ou das leis, da moralidade e da ética, dos A fa m ília é mais do que uma agência de
costumes, etc. Nessas instituições e entidade, e na propagação da espécie humana. Antes, é o primeiro
própria história, a razão realiza-se e torna-se real. estágio do mundo ético, onde os valores humanos são
A mente objetiva é o postulado da mente subjetiva. Ê criados.
tudo quanto conhecemos «fora» de nós mesmos. As A sociedade é o segundo estágio do mundo ético,
várias ciências dependem dessa atividade. funcionando como uma agência que restringe as
c. A m ente absoluta: a mente absoluta só encontra atividades egoístas, que pervertem a vontade. A
liberdade na vida mais profunda do espírito. Para liberdade individual precisa desaparecer dentro da
além do Estado, da política e das ciências, sociedade, e os interesses pessoais precisam mesclar-
descobrimos a arte, a filosofia e a religião, em níveis se aos interesses da comunidade, de maneira
cada vez mais profundos. Nessas atividades, pois, o harmônica com os mesmos.
homem vê a si mesmo em sua própria luz, isto é, como O E stado é o terceiro estágio do mundo ético. Essa
um espírito puro. seria a verdadeira finalidade do homem, e não apenas
Na A rte: o princípio da idéia, como a unidade um meio para se chegar a um fim. O Estado reconcilia
básica da realidade, em lugar da matéria, é entre si os interesses individuais e os interesses
parcialmente atingido na arte. Na arquitetura, idéia e públicos, servindo tanto à comunidade quanto aos
forma continuam distintas. Na escultura, há um objetivos da Mente Absoluta. Alicerça-se sobre a
menor dualismo, e um certo grau de espiritualização. submissão dos direitos individuais aos deveres da
A m úsica nos apresenta uma interpretação simbólica sociedade, como um grupo. As tradições do Estado
penetrante da realidade. A poesia subordina o que é são a revelação progressiva da Vontade Universal.
material à idéia. A religião identifica o pensamento e Hegel pensava que a mais elevada forma de governo,
o objeto; mas, à semelhança da arte, não é na direção da qual se move a tríada política, é a
inteiramente capaz de incorporar a Idéia Absoluta. monarquia constitucional, o tipo de governo que a
Algumas idéias religiosas: na religião grega, temos Alemanha tinha, nos dias dele.
uma fé altamente individualizada, segundo a qual o 13. Filosofia da História. Ao tentar descobrir o que o
homem tende por ser o objeto final da adoração. Nas Absoluto tem feito por meio da história, isto é, como
religiões orientais, encontramos a unidade abstrata de ele tem operado, Hegel procurou descobrir o gênio de
todas as coisas, de tal modo que a comunidade cada grande poder mundial. Ele descobriu os
torna-se ali o fator dominante. No cristianismo seguintes princípios:
encontramos a síntese dessas duas formas de religião, a. A história é o progresso da consciência da
e Deus já se encontra na consciência humana. Os liberdade racional. È a natureza posta em obediência
dogmas do cristianismo seriam apenas sinais postos a um princípio universal.
ao longo do caminho, não sendo absolutos por si b. As leis e a verdadeira moralidade são princípios
mesmos; antes, são sínteses que geram o processo eternos e fixos; mas o homem só descobre
dialético, chegando a novas conclusões, em novas empiricamente esses princípios.
sínteses. Para Hegel, o cristianismo é uma espécie de c. Os governos existem a fim de impor aos homens
religião absoluta, mas da qual resultarão estágios as idéias e as ações, pois eles, de outro modo,
ainda mais elevados, de maneira inevitável. Conforme reverteriam a perversões autocontraditórias da vonta
pode ser visto na discussão anterior, a filosofia inteira de.
de Hegel é uma espécie de filosofia da religião, visto
que o Espírito Absoluto, por ele postulado, é um d. A religião e o Estado não deveriam alienar-se um
68
H EG E L
do outro, e nem estar separados. A constituição de um intervenção divina, com a volta do Senhor Jesus para
Estado qualquer, portanto, deveria ser uma teocracia. pôr as coisas em ordem.
e. A própria história é uma espécie de paralelo
comunal do desenvolvimento de cada indivíduo. Teve A liberdade se concretiza na história humana. O
a sua infância na Ãsia; teve a sua adolescência na espirito encontra a sua realização nesse processo. A
Grécia, tendo crescido um pouco mais em Roma. história é a justificação de Deus, em suas operações
Porém, teria atingido a maturidade, segundo Hegel, através das tríadas.
no Estado alemão de seus próprios dias. Se
prosseguirmos desenvolvendo a idéia de Hegel, m . O Sistema de Tríadas
devemos estar agora cada vez mais senis, historica Tudo quanto foi dito antes, tão-somente descreve
mente falando. Talvez a caduquice atinja seu ponto como as tríadas de tese, antítese e síntese funcionam.
culminante quando surgir em cena o anticristo, com Daqui por diante, apresentamos algumas ilustrações
toda a destruição da civilização, que exigirá a sobre essa dialética.
Qualidade
Ser
- Ser
Determinado
tf Nada
Tornar-se
Qualidade
Limite
Verdadeiro
O Um Infinito
Ser por Os Muitos
Si Mesmo Repulsão & Atração
Quantidade Pura
Quantidade Magnitude Continua & Discreta
Pura Limitação da Quantidade
Quantum
SER Quantidade Quantum Súmula & Unidade
Número
2. A Triads do Espirito:
Antropologia — A Alma
Espírito Fenomenologia — A Consciência
Subjetivo Psicologia — A Mente
Direito Abstrato
A Idéia em Si Mesma Espirito Moralidade
& Por Si Mesma, ou Objetivo Ética Social
Espírito
Arte
Espirito Filosofia
Absoluto Religião
69
H EGEL
Ética
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70
H EGEL
IV. Influência e Critica tríada bem arrumada. Pois pode haver muitas teses ào
1. Influência mesmo tempo, em um complexo inter-relacionamento,
a. O C om unism o (vide) é uma aplicação negativa e o que, por sua vez, produz muitas antíteses e meias
materialista das tríadas espirituais de Hegel. De antíteses. Mui raramente resulta uma síntese bem
acordo com o comunismo, o poder básico que ordenada, com base em qualquer tensão. O mais
controla a vida humana não é o espírito, mas antes, provável é que daí resultem várias sínteses e meias
sínteses. As coisas simplesmente se recusam a
fatores econômicos, que dependem de uma luta de obedecer ao rígido raciocínio que Hegel impôs a elas.
classes na sociedade. Quando um sistema qualquer Além disso, muitas coisas surgem espontaneamente
reduz o homem a mero dinheiro e ao que é material, em cena, inteiramente à parte do principio de tese,
tal sistema torna-se, automaticamente, parcial e antítese e síntese. Assim é, porque esse não é o único
destrutivo. O comunismo inventou a sua própria princípio que atua na vida. Uma simples insatisfação
forma de tríadas, para escravizar a humanidade à sua pode produzir um novo culto religioso da noite para o
suposta utopia comunista. dia. Uma visão, falsa ou verdadeira, pode dar começo
O selvagem nobre (ser) a um novo movimento religioso, inteiramente
homem livre desvinculado do princípio de conflito e solução.
criado (antítese) na servidão (não-ser) Conflito de poderes e a cobiça podem produzir novos
A escravidão tornou-se uma nova tese. Os homens, sistemas econômicos, sem que quaisquer forças
achando isso inaceitável, criaram a antítese do importantes produzam antíteses e sínteses. A
feudalism o. O feudalismo, por sua vez, criou a intervenção divina — mediante o retorno de Cristo a
antítese do capitalism o, um avanço em sua própria este mundo — conforme esperamos que ocorra no fim
natureza. E o capitalismo, finalmente, criou sua da atual dispensação, haverá de alterar completamen
antítese no socialismo. É com base nisso que, segundo te o curso da história, sem qualquer envolvimento do
o comunismo, chegamos à tríada final: princípio de tríadas hegelianas. A manifestação do
Logos, na pessoa de Cristo, foi uma intervenção
Antítese: S o c ia lis m o __ divina; e, no entanto, não resultou de qualquer tríada
Tese: Capitalism o ^ Síntese: C om unism o que estivesse em operação. Afinal, por que teríamos
Hegel ensinava que cada nova síntese torna-se uma de pensar em uma tríada? As coisas podem ocorrer
nova tese. A nova tese, automaticamente, gerq uma isoladas, em duplas, em quatro aspectos, em cinco,
nova antítese. Se cremos de alguma maneira no em dez, etc.
esquema hegeliano, então também devemos ter o bom Quando, aparentemente, Hegel fez do Estado
senso de supor que o próprio comunismo, em algum alemão — na sua época uma monarquia constitucio
ponto de sua evolução, venha a tornar-se uma síntese nal — a síntese de uma tríada política, ele exibiu uma
de instituições políticas, e que isso, automaticamente, imensa miopia, quanto ao seu entendimento das
tornar-se-á o começo de uma nova tríada, e não o coisas. Mostram-nos os seus biógrafos que ele era
ponto final de todas as tríadas políticas. A própria homem de rosto encarquilhado, de tanto pensar e
história demonstra que nenhum sistema é permanen meditar. Mas isso não impediu que ele se deixasse
te. Os limites e as finalidades inventadas pelos prender tanto, pelo seu próprio sistema, impedindo
homens são sempre as limitações impostas por suas que tivesse uma visão ampla das coisas. O comunismo
próprias mentes, e não verdadeiras limitações. Não exibe a mesma espécie de visão limitada. Por que
existe tal coisa como ponto final. Cada finalidade motivo teríamos de falar em finalidades, e exatamente
torna-se um novo começo. aquelas que cumprem aquilo que esperamos que
A tradição profética informa-nos de que as coisas deveria acontecer?
não chegarão a um clímax segundo o comunismo John Dewey demonstrou maior sabedoria, com a
supõe. Antes, haverá um tremendo conflito entre o sua doutrina do hutramentallamo (vide). De acordo
comunismo e uma futura aliança de potências com essa teoria, não há coisa como um po n to fin a l,
ocidentais (o império do anticristo), o que talvez como uma finalidade. Antes, cada finalidade é apenas
resulte em não apenas uma, mas duas guerras o instrumento de um novo começo, de um novo
mundiais futuras. Isso deixará em cinzas o poder das nascimento, de uma nova realidade que surge. Isso
nações gentílicas, quando então Israel será erguida equivale a dizer que Deus jamais fica estagnado em
como chefe das nações. Então o milênio será inaugu suas obras; e que também não podem estagnar
rado por Cristo, uma autêntica e universal teocracia. aquelas coisas que dependem dele para existir, isto é,
Segundo a Bíblia, essa será a realidade futura, muito tudo. O espirito da filosofia hegeliana aponta nessa
distante da fruição postulada por uma dialética direção, e conjecturo que tòdas as suas sínteses finais
materialista. Ver o artigo sobre o C om unism o, quanto eram apenas tentativas, esperando por novas idéias,
a uma exposição completa a respeito. Ver também o acerca de onde o processo teria reinicio, a partir
artigo intitulado Profecia: A Tradição Profética e a dessas sínteses. Provavelmente, Hegel não queria
Nossa Época. chegar a uma declaração final com as suas sínteses;
b. Influência exercida pelas escolas hegelianas e tão-somçnte desejava mostrar até onde as coisas
anti-hegelianos. Obviamente, á influência de Hegel no haviam progredido, em seus próprios dias, e até onde
pensamento filosófico e no pensamento religioso lhe era possível interpretar as coisas, até aquele
(excluindo o pensamento político, conforme foi dado momento.
acima), tem sido enorme. Por esse motivo, dedicamos Talvez o erro mais absurdo de Hegel tenha sido a
um artigo separado a esse assunto. Ver sobre o sua suposição de que a filosofia encontra a sua síntese
Hegelianismo, em sua terceira seção. em seu próprio sistema (idealismo absoluto alemão).
Às vezes, levamo-nos por demais a sério. Contudo,
2. Crítica também é possível que ele pensasse que a filosofia
Os filósofos sempre suspeitam dos sistemas que nos somente havia feito uma pausa, para, depois dele,
dizem, de modo tão bem arrumado, o que é a chegar a uma nova antítese. Seja como for, ele disse
verdade e os criticam. Apesar de ser óbvio de que ope demais — entrando em contradição consigo mesmo.
ra algo parecido com o princípio da tese, antítese e Não obstante, podemos perdoá-lo, em vista das
síntese, neste mundo, também é verdade óbvia que muitas contribuições que fez ao pensamento filosófico.
não podemos reduzir qualquer ação e reação a uma (AM BE E EP F MM P)
71
H E G E L IA N IS M O
HEGELIANISMO resultará, em combinação com esta, uma nova.,
síntese, a d infin itum . A filosofia é capaz dé
Esse termo refere-se, primariamente, à filosofia de interpretar os estágios pelos quais essa evolução tem
Hegel (vide), bem como à sua escola de pensamento, passado, mas é incapaz de predizer o futuro.
isto é, o idealismo absoluto, com a sua ênfase especial
sobre a interpretação realista da realidade, sobre a 8. A filosofia da religião. Foi Hegel quem expôs o
filosofia da história, sobre a filosofia da religião, e primeiro estudo completo sobre a religião, por meio
sobre a dialética da tese, antítese e síntese. O artigo da filosofia; e também foi o primeiro a empregar a
sobre H egel apresenta uma completa descrição sobre expressão «filosofia da religião», para referir-se à sua
essas questões. Abaixo damos alguns poucos pontos obra. Deus, e Deus somente como verdade, servia de
principais. Em segundo lugar, o hegelianismo base ao seu pensamento. A religião seria o
refere-se às diversas escolas que se desenvolveram a relacionamento do homem com Deus, em sua
fim de promover as suas idéias, com algumas experiência humana. O que é finito está relacionado
modificações. ao Infinito. Dizia ele: «A religião é o autoconhecimen-
to do divino Espírito, mediante a meditação da parte
Esboço: de um espírito finito». Dessa forma, ficam soluciona
I. Princípios Importantes do dos «todos os quebra-cabeças do mundo», especial
Hegelianismo mente através da experiência da liberdade e da
II. A Influência de Hegel bem-aventurança. As religiões dizem-nos como o
I. Principio* Importante* do Hegelianismo Espirito divino tem evoluído nas sensibilidades e
1. A verdade de qualquer coisa requer uma entendimentos religiosos de indivíduos e de grupos
compreensão adequada da totalidade dessa coisa, e humanos. A religião absoluta, para Hegel, era o
não meramente de suas partes constitutivas. Daí a cristianismo, com sua tríada de Pai (tese), Filho
ênfase de Hegel sobre a história, sobre a lógica (antítese) e Espírito Santo (síntese).
metafísica e sobre a evolução metafísica. II. A Influência de Hegel
2. A experiência é a fonte de todo conhecimento; 1. As Escolas Hegelianas
mas essa experiência é mais psíquica do que empírica. a. A A la D ireitista. Aqueles que interpretavam
Há uma larga experiência com o Espírito Absoluto, Hegel de maneira ortodoxa e sobrenatural consti
que se torna evidente em todas as coisas. Hegel foi o tuíam essa ala direita, como Gabler, Heinrichs e
«empírico de consciente», no dizer de Haering. Goschel. Esse grupo também tem sido chamado de os
3. O «real é o racional», dizia ele. O pensam ento conservadores.
coerente deveria ser aplicado à experiência, visto que b. A A la E squerdista. Esses eram os filósofos
ninguém pode confiar nas meras aparências externas. radicais, heterodoxos, especialmente aqueles que
O pensamento racional e crítico sobre a realidade pendiam para um panteísmo totalmente impessoal.
produz o conhecimento da realidade. Hegel opunha- Nesse modo de interpretar Hegel envolveram-se D.F.
se à ênfase de Schleiermacher sobre os sentimentos. Strauss (Leben Jesus, 1835) e Bruno Bauer, da escola
4. O processo dialético de tese, antítese e síntese. de Tubingen (vide). Interpretações materialistas
Oferecemos uma completa descrição a respeito, no foram apresentadas por L. Feuerbach e Karl Marx
artigo sobre Hegel (II.6), ilustrando a questão com (ver os artigos sobre eles).
várias tríadas, na terceira seção. c. Os Centristas. Aqueles que seguiam as idéias
5. O princípio da negatividade. Uma tese jamais hegelianas, mas evitando interpretações extremadas,
pode ficar estagnada. Automaticamente, ela importa foram Rosenkranz (biógrafo de Hegel), Erdmann
em si mesma, em seu oposto (que é a antítese, ounão- (crítico do Antigo Testamento), Vatke e várias outras
ser). O princípio da negatividade cria o movimento pessoas que editaram e publicaram as obras de Hegel.
dialético, que traz à existência a antítese. Somente a d. Influências Estrangeiras. Os filósofos que têm
totalidade de alguma coisa pode ser a verdade empregado idéias hegelianas, fora da Alemanha, são:
adequada, pelo que também a verdade está Stirling T.H. Green, J. Caird e Bradley (na
continuamente em formação, exceto no caso do Inglaterra); e então Taylor, Royce, Calkins, Basan-
Espírito Absoluto, que abrange todas as coisas ao quet e Creighton (na América do Norte).
mesmo tempo. Uma tese jamais pode ser compreen 2. No Campo da Política
dida por um simples juízo correto, acompanhado de Já tivemos oportunidade de discutir sobre isso na
uma descrição (conforme pensava, erroneamente, quarta seção, intitulada Influência e Crítica. 1.
Aristóteles). Pois também precisa incluir a não-tese, Influência; a. Comunismo, no artigo sobre Hegel.
aquilo ao que ela vai sendo empurrada, e com o que
acaba se combinando, para formar uma síntese. 3. Sobre Várias Disciplinas
6. A idéia absoluta, ou Espirito, é a consciência A obra de Hegel influenciou o estudo da história e a
todo-inclusiva, eterna e completamente coerente, de filosofia da história, a jurisprudência, a política e
cada estágio da dialética. A idéia absoluta é o ponto todas as ciências naturais. Nenhum outro filósofo tem
terminal e todo-inclusivo universal, que garante a influenciado tanto o pensamento dos sécs. XIX e XX
unidade de todas as coisas, e onde todas as coisas quanto Hegel. Ele expôs um tratamento filosófico
subsistem. Visto que essa idéia, para Hegel, é divina, sistemático da filosofia da história e da filosofia da
temos aí uma espécie de panteísmo. religião. Foi o primeiro filósofo a apreender a história
mundial como uma evolução orgânica que envolve
7. A evolução. Um princípio de mutações todas as nações e indivíduos. Suas idéias têm-se
inteligentes e dotadas de propósito abarca a todas as mostrado largamente influentes na filosofia da
coisas. Essa evolução não é darwiniana, não é uma educação e na sociologia. Infelizmente, ele glorificava
^evolução materialista. Antes, é uma evolução cósmica a guerra como um nobre sacrifício do indivíduo em
e metafísica, por ser, especificamente, um ato da favor do Estado. Dentro do pensamento cristão, ele
Idéia Absoluta sobre toda a existência. Nenhum foi o principal fundador do m odernism o e do
estágio dessa evolução é final. Uma tese sempre liberalism o. Ele combatia absolutamente o humanis
haverá de gerar uma antítese, e daí passar para uma mo antimetafísico, mas fez soar as notas-chaves da
síntese; mas uma síntese sempre tornar-se-á nova evolução, na religião e em outros campos do saber.
mente em uma tese, que criará sua antítese e (AM BE E EP F MM P)
Hegel
• •• •••
O leitor cuidadoso pode observar aqui que o declarações) e a ordem cronológica da seqüência de
material manuseado por Lucas está espalhado em eventos são diferentes. Aprendemos claramente que
quatro capítulos diferentes em Mateus, pois as os próprios evangelistas não se preocupavam com
conexões históricas (os eventos que acompanham as harmonia exata, conforme exigem alguns intérpretes
138
H IST O R IC ID A D E DOS EV A N G ELH O S
modernos. Com freqüência há deslocações de eventos, lugares, algo que as harmonias lamentam profunda
especialmente em Mateus, de modo que os mesmos mente. Seu desígnio, porém, não foi fornecer um
acontecimentos aparecem em períodos diversos do evangelho dotado de harmonia perfeita com as fontes
ministério de Jesus, o que nào sucede em Marcos e informativas que ele usou. Assim sendo, deslocou
Lucas. Lucas usualmente segue de perto o esboço de material, dando seqüências diferentes de eventos e
Marcos. Mas Mateus não hesita em afastar-se do declarações, em comparação ao que fizeram Marcos e
mesmo. Pois o evangelho de Mateus é «tópico», e não Lucas. Poderíamos indagar: Qual narrativa represen
«cronológico». Ele constituiu 5 grandes blocos de ta as coisas exatamente como elas sucederam? É
ensinamentos de Jesus, cada qual sendo uma verdade que, em tais casos, não podem estar certos
«coletânea» de declarações similares, em torno das tanto Mateus quanto Lucas, ao mesmo tempo. Mas a
quais, ele construiu seu evangelho. Mas esses blocos questão não tem importância, pois a harmonia estrita
são interrompidos em Lucas, quando aparecem não é necessária para termos fé em sua historicidade.
paralelos, e as declarações são dispersas em muitos Aqueles que exigem tal coisa ficarão terrivelmente
eventos históricos diversos, em confronto com desapontados.
Mateus. Mateus ignorou a cronologia em muitos
4. Erro* gram aticais: que Marcos não registrou os eventos da vida de Jesus
Amigos, não há autor do N.T. que ocasionalmente necessariam ente na ordem em que tiveram lugar. Não
nào quebre alguma regra da gramática grega. Os admira, pois, por essa e outras razões, que os
piores ofensores são M arcos e o Apocalipse. O grego evangelistas originais não se preocuparam acerca
desses livros tem sido descrito como bárbaro pelos dessa área, conforme fazem alguns harmonistas
gramáticos do grego. Com freqüência não satisfaz modernos.
nem os modos helenistas, quanto menos os padrões
clássicos. Os leitores sérios do N.T. grego sabem 6. D iferentes interpretações aos m esm os eventos:
disso, e qualquer comentário comum, versículo por Mateus e Lucas interpretam a visita de um certo
versículo, frisa algum erro gramatical no texto escriba, que veio indagar de Jesus qual o maior
original. Diz-se acerca do grande evangelista Dwight m andam ento, como um ato desonesto e capcioso de
L. M oody, que ele não era «gramatical» em seus sua parte, a fim de «tentar» a Jesus, para que ficasse
sermões. O mesmo pode ser dito do evangelista desacreditado entre o povo. Trata-se de uma das
Marcos e do revelador João. Mas, apesar de sua narrativas de «controvérsia», que mostra como Jesus
gramática deficiente, eles produziram documentos foi derrubado pelas hipócritas autoridades religiosas.
poderosíssimos, dos quais muito se pode aprender. (Ver Mat. 22:35 ss e Luc. 10:25 ss, em um período
Historicidade não tem nada a ver com «gramática diferente do ministério de Jesus). Isso deve ser
perfeita» ou «nenhum erro de linguagem». Os hábitos confrontado com Mar. 12:28 ss, onde esse escriba é
lingüisticos dos autores sagrados se evidenciam apresentado como um inquiridor honesto, que chegou
patentemente em seus livros, e o Espírito Santo não até receber elogios da parte de Jesus.
corrigiu essas deficiências. Para satisfazer à curiosi
dade do leitor, damos aqui uma lista de erros Os exemplos aqui dados po d em ser multiplicados
gramaticais do Livro de Apocalipse, e quem souber ler por muitas vezes, conforme sabem os estudiosos do
o grego, poderá fazer suas próprias investigações: N.T., versículo por versículo. O fato de que os
Apo. 1:4,5,10,15; 2:20; 3:12; 4:1,7,8; 5:6,11,12,13; evangelhos não concordam perfeitamente entre si, e
7:4; 9:5,13,14; 11:4,15; 12:5; 13:14; 14:3; 15:12; que há erros humanos aqui e acolá, na realidade são
17:16; 19:14,20; 20:2; 21:9. Essa lista, sob hipótese fatores que favorecem a historicidade deles, e não
alguma, é exaustiva ou completa. fatores contrários. Se esses documentos tivessem sido
forjados ou corrigidos pelos cristãos primitivos,
5. D iferentes ordens cronológicas dos m esm os certamente teriam sido postos em harmonia uns com
eventos: os outros, ficando ainda eliminados os erros
Consideremos a questão da unção em B etâ n ia : gramaticais, sendo niveladas todas as dificuldades.
Em Mateus, figura após a entrada triunfal (26:6 Mas o fato de que isso não sucedeu leva-nos—apesar
ss). de pequenos problemas, que nunca podem prejudicar
Em Marcos, após a entrada triunfal (14:3 ss). a fé—a confiar em sua natureza essencialmente
Em João, antes da entrada triunfal (12:3). fidedigna.
Em Lucas, em período totalmente diverso do Os evangelhos e o Cristo por eles apresentado se
ministério de Jesus, motivo por que os harmonistas alçam três metros acima das contradições dos céticos.
negam tratar-se do mesmo evento (7:37 s í ) . São uma torre para a fé e uma vereda para a alma.
Papias, a autoridade que temos de que Marcos foi o Contam-nos com exatidão quem era Jesus e o que ele
autor do evangelho que agora traz seu nome, diz-nos realizou. E de que mais precisamos além disso?
139
H IST O R IC ID A D E
Sumário: uma confiança igualmente firme.
Quanto aos problemas apresentados, devemos Os tipos de erros que temos descrito são triviais.
considerar os seguintes fatos: Somente os céticos mais cegos vão considerar tais
1. Lucas e Mateus utilizando os materiais e esboço coisas como obstáculos à historicidade.
de Marcos (para incluir a cronologia de eventos), Ver o artigo sobre Satya Sai Baba, um homem que
poderiam ter copiado tudo com precisão, produzindo está duplicando os milagres de Jesus, e cuja vida é
cópias exatas. Neste caso, uma harmonia perfeita significante dentro do contexto do problema da
poderia ter sido realizada. Lucas e Mateus, todavia, historicidade.
obviamente, não se sentiam constrangidos em seguir
este método de utilização dos materiais de Marcos, e, Xm. B ibliografia:
portanto, não copiaram Marcos servilmente. As Ver as «apologias » recentes:
diferenças foram produzidas propositadam ente, em Kuyper, Abraham, Principles o f Sacred Theology
muitos casos, por causa do desígnio literário dos Carnell; E.J. Introduction to Christian Apologetics
autores, ou às vezes, foram produzidas indiferente Ramm, Bernard, Types o f Apologetic System s
mente, isto é, sem qualquer coerção íntima que exigiu Til, C. Van, The Defense o f the Faith
que os materiais de Marcos não pudessem ser Ver também:
alterados.
Encyclopedia of Religion, ed. Vergilius Ferm,
2. Lucas e Mateus, usando, em comum, materiais artigo sobre A u toridade : Littlefield Adams & Co.,
não-marcanos, como o suposto documento «Q», uma 1964.
fonte dos ensinos de Jesus, que Marcos não possuía,
não os reproduziram servilmente. Portanto, Mateus The Expositor’s Greek Testamento, artigo no Io
produziu uma versão da oração do Senhor, levemente vol., Concerning the Three Gospels, seção II,
H istoricity : Erdmans, Grand Rapids, 1956.
diferente daquela de Lucas. A mesma coisa aconteceu
no caso de um bom número dos discursos e ditados de The New Testament as Literature, Gospels and
Jesus. Provavelmente, o próprio Jesus, em ocasiões Acts, Historical Accuracy, págs. 9 ss, Buckner, B.
diferentes falou as mesmas coisas, numa variedade de Trawick; Barnes & Noble, Nova Iorque, 1964.
modos verbais. Uma variedade de expressões dificil The Ring o f T ruth, J.B. Phillips: Macmillan and
mente pode ser considerada um fenômeno que Co., Nova Iorque, 1967.
enfraquece a realidade da historicidade dos Evange
lhos.
3. A igreja primitiva, com os Evangelhos nas mãos, H ISTORICIDADE DOS SERM ÕES D E ATOS
antes de qualquer larga distribuição, podia ter Concorda-se de forma quase universal que o autor
alterado todos os trechos que apresentavam dificulda sagrado desta narrativa histórica começou a acompa
des triviais, para produzir uma perfeita jiarmonia nos nhar o apóstolo Paulo desde a altura dos eventos
discursos de Jesus, bem como na ordem cronológica narrados no décimo sexto capítulo da mesma; e é
dos acontecimentos. O fato de que a igreja, com plena muito provável que a maior parte daquilo que foi
oportunidade, não agia assim, é uma prova de que escrito depois desse capítulo, resultou de narrativas
uma harmonia exata nos Evangelhos não foi ditadas pelo testemunho ocular do próprio autor.
considerada importante quanto à historicidade dos Antes de chegar a essa altura do relato, o autor
mesmos. sagrado se viu forçado a depender do que diziam
4. Todos os documentos do N.T., pela própria outras testemunhas oculares, declarações essas
preservação e uso deles, através dos séculos, por contidas tanto na forma oral como na forma escrita.
muitas pessoas de todas as camadas da humanidade, Por conseguinte, várias idéias têm surgido sobre a
devem ser considerados escrituras de alto valor e exatidão e o conteúdo dos vários sermões do livro de
poder. Os autores, então, devem ser considerados Atos, feitos pelos líderes cristãos mais destacados dos
pessoas de capacidade literária considerável. É certo tempos primitivos, como Pedro, Estêvão, Paulo e
que cada um deles estava bem consciente de qualquer outros, como o caso de oficiais do governo romano, os
fraqueza que possuía, quanto ao uso da gramática quais são apresentados a dirigir-se em forma de
grega, e capacidade de manipular esta linguagem. discurso a algum ajuntamento público. Abaixo damos
Marcos, por exemplo, devia ter sabido que sua uma nota sobre o caráter desses discursos, bem como
gramática grega não era igual em qualidade àquela de sobre as idéias que os intérpretes têm vinculado aos
Apoio ou Paulo. Ele devia saber que usava, mesmos, no que tange à sua exatidão histórica. De
comumente, expressões que teriam doído nos ouvidos modo geral, essas interpretações são como segue:
dos eruditos de Alexandria. Se ele tivesse considerado 1. O autor sagrado teria fabricado tais sermões ou
o assunto de importância, ele podia ter tido seu discursos, imaginando o que deve ter sido dito,
Evangelho revisado, com a maior tranqüilidade, até segundo as exigências das circunstâncias envolvidas.
no próprio círculo apostólico. Ou, sendo que ele Esses intérpretes salientam uma famosa declaração de
escreveu seu Evangelho em Roma, facilmente, ele Tucídides, sobre a questão dos discursos que ele
poderia tê-lo colocado nas mãos de alguém que tivesse registrou em sua história. (Ver D e bello, par. 1:22).
um conhecimento gramático adequado para elimi «No tocante às falas de diferentes indivíduos, quer
nar qualquer uso cru, duvidoso, ou erro gramatical. O quando estava para começar a guerra, quer quando a
fato de que Marcos não se interessava em fazer isto, mesma já havia começado, tem sido dificílimo
mostra que ele não achava que um erro gramatical lembrar, com estrita exatidão, quais as palavras que
aqui e lá, prejudicaria a precisão histórica do trabalho realmente foram proferidas, tanto quanto a mim,
dele. De fato, sua expressão e poder como autor não acerca daquilo que eu mesmo ouvi, como acerca
foram prejudicados por esta falta de revisão. Lucas, daquelas várias fontes que me trouxeram os seus
embora um homem literário bastante superior a relatos. Portanto, os discursos aparecem na lingua
Marcos, não hesitou em usar os materiais de Marcos. gem que, segundo me pareceu, os diversos oradores
Ele não teria feito isto se ele não tivesse confiado na devem ter expresso, sobre o assunto em consideração,
exatidão dos dados da história marcana. Se Lucas, um os sentimentos mais apropriados à ocasião, embora,
companheiro dos apóstolos confiava em Marcos como ao mesmo tempo, eu tenha aderido o mais firmemente
historiador, é dificil ver porque nós não podemos ter possível ao sentido geral do que realmente foi dito».
140
H IST O R IC ID A D E
Deve-se observar, no entanto, que nem mesmo essa semelhante é oposto, tal como no caso das duas
citação de Tucidides dá apoio à idéia de uma total versões sobre a oração do Pai Nosso (ver Mat. 6:9-15 e
fabricação de discursos no livro de Atos, conforme Luc. 11:1-4), esse material difere entre os diversos
alguns eruditos liberais querem fazer-nos crer ter sido relatos. No caso da oração do Pai Nosso, a versão do
a ação de Lucas. evangelho de Mateus é mais longa que a versão do
2. Há, por semelhante modo, um ponto de vista evangelho de Lucas, ou, segundo poderiamos também
m odificado sobre a idéia da «fabricação», que é dizer, a versão de Lucas é mais abreviada. Mas isso
exatamente aquele expresso por Tucidides. Tucidides nos forçaria a acreditar que o Espírito Santo
fez o melhor que estava ao seu alcance, com o esqueceu-se de parte do que o Senhor Jesus orou, ao
material de que dispunha—e quando precisava de um inspirar Lucas, tendo-se lembrado de maior porção da
bom diálogo, para o qual não havia qualquer base oração do Filho de Deus, quando inspirou Mateus.
histórica, por não ter ele obtido qualquer informação, O que é dito no parágrafo acima, também se aplica,
então adicionava, com base em sua imaginação, em grande extensão, às declarações do Senhor Jesus,
aquilo que era mister, a fim de compor uma narrativa conforme são registradas nos evangelhos, quando é
informativa e atrativa. Desse modo, o material óbvio que o mesmo material histórico foi historiado
apresentado seria mais ou menos exato, dependendo por diferentes escritores sagrados. O Sermão do
da existência e do caráter fidedigno ou não das fontes Monte, conforme o evangelho de Mateus (caps. 5—7)
informativas, bem como de quanto o autor acrescen aparece sob forma fragmentar, disperso por todo o
tara de memória, ou de quanto meramente criara, e evangelho de Lucas, associado a muitas circunstân
quão exatas eram as suas opiniões sobre o que deve ter cias históricas as mais variadas, ao passo que, naquele
sido dito nesta ou naquela circunstância. Ao evangelho, o sermão inteiro é associado a apenas uma
aplicarmos essa idéia à obra de Lucas, podemos dizer ocasião, como se fora um único sermão. A verdade em
somente que Lucas pode ser favoravelmente confron torno da questão é que Mateus mui provavelmente
tado com outros historiadores sérios: ele fez o melhor reuniu em um bloco declarações diversas do Senhor
que pôde, com o material histórico que tinha à mão, e Jesus expondo-as todas num único lugar. Mas, afinal
acrescentou o que era necessário, para que a sua de contas, outro tanto se pode dizer com respeito à
narrativa fosse suave e informativa. Alguns eruditos totalidade do evangelho de Mateus, que na realidade
têm procurado consubstanciar essa idéia, supondo se constitui de cinco blocos separados de declarações
que a caracterização de Paulo, por Lucas, por do Senhor, em torno dos quais foi erigido o evangelho,
exemplo, não é a mesma que transparece nas epístolas porquanto as narrativas históricas aparecem arruma
desse apóstolo. Esses mesmos estudiosos adicionam das em torno dos ensinamentos centrais de Cristo, de
outros argumentos, tal como aquele que diz que Tiago forma harmônica e contínua. Mas isso não nos
fez uma citação da versão Septuaginta das Escrituras autoriza de forma alguma a pensar que Jesus proferiu
do A.T., o que dificilmente ele faria, como judeu apenas cinco sermões suficientemente dignos e
galileu que era. (Ver Atos 15:7). Alguns intérpretes valiosos para serem registrados permanentemente.
pensam que esse sentimento é mesmo cofttrário ao Por conseguinte, fica transparente, em todas as
que se poderia esperar da parte de Tiago, conforme citações de discursos e sermões, como também em
subentende o trecho de Gál. 2:11. (Quanto a uma todas as questões abordadas pelos evangelhos e pelo
defesa dessa interpretação sobre os discursos historia livro de Atos, o elemento humano, o desígnio e os
dos no livro de Atos, ver a obra de Morton Scott propósitos dos autores sagrados envolvidos
Enslin, The Literature o f the Christian M ovem ent,
parte III, em «Christian Beginnings», págs. 420-423). 4 . E n u observações conduzem-nos à declaração da
natureza desses sermões e discursos. A primeira e a
3. D uas outras podçSes gerais sobre o assunto segunda dessas interpretações podem ser eliminadas
podem ser mencionadas. Dentre as quatro posições resolutamente, até mesmo com base no fato histórico
assim apresentadas também pode haver diversas de que a associação íntima de Lucas com os discípulos
misturas e subcategorias. No extremo oposto da mais primitivos de Cristo e o seu conhecimento
primeira posição (a teoria da fabricação) teríamos a familiar com os apóstolos garantiram-lhe uma
teoria que proclama que os discursos e sermões do vantagem muito superior sobre os historiadores
livro de Atos são duplicações exatas, palavra por antigos, no que diz respeito à facilidade de narrar a
palavra, daquilo que foi dito, sem qualquer alteração, sua história. Ele não precisou depender apenas de
omissão, adição ou coisa parecida, por parte do autor relatórios escritos ou orais de testemunhas oculares,
sagrado. Naturalmente essa teoria depende do embora isso já fosse um elemento suficiente para
controle absoluto do Espírito Santo sobre o autor assegurar a exatidão geral de sua narrativa. Pois a
sagrado, quando este escreveu, a fim de que nenhum verdade é que, na maioria dos casos, ele pôde
elemento humano, deliberado ou não, pudesse entrar consultar os próprios indivíduos que discursaram.
no resultado escrito. Essa posição extrema, embora Ora, isso significa não que ele tenha registrado cada
popular entre alguns intérpretes, especialmente palavra daquilo que fora originalmente dito, mas,
aqueles que não conhecem os idiomas originais das conforme é evidentemente mais importante, que ele
Escrituras, e que defendem acirradamente uma registrou para nós não meramente os pontos
tradição sobre as Escrituras, em vez de defenderem essenciais de tais discursos, mas também grande parte
as próprias Escrituras, não pode ser defendida com do m odo como tais sermões foram proferidos.
êxito. Não há razão alguma para pensarmos que os
Em todos os discursos e citações diretas de Jesus e discursos e sermões que encontramos no livro de Atos
dos apóstolos, bem como de outros, como Estêvão, os não sejam condensações do que foi originalmente
quais são apresentados para apresentar sermões ou dito. Por exemplo, a seleção do indivíduo que
discursos, m uitos níveis de grego podem ser substituiria a Judas Iscariote provavelmente foi
demonstrados, alguns dos quais são excelentes (como longamente discutida. Pedro, entretanto, tendo sido
nos escritos de Lucas), ao passo que outros são o informante sobre a ocorrência, expôs o sum ário do
bastante inadequados (como no evangelho de que fora debatido; e isso significa que aquilo que ficou
Marcos). Ora, isso nos forçaria a crer que o Espírito registrado no livro de Atos é o âmago mesmo do
Santo não conhecia muito bem o idioma grego. Além incidente, o que também sucede no caso de outros
disso, nos evangelhos, quanto material histórico sermões ou discursos.
H IST O R IC ISM O - H IST O R IO G R A FIA
InipiraçSo verbal? A filosofia analítica nos tem Oriente e o novo mundo grego; e Tucídides investigou
ensinado que os pensamentos humanos se expressam as causas e o curso da guerra do Peloponeso.
através da linguagem. Aceitamos esta conclusão de 1. A História no A ntigo O riente. De 2.000 A.C. em
modo geral. Certamente, a mente humana é capaz de diante há inscrições reais, arquivos de tabletes e
funcionar sem formas verbais, mas normalmente o alguns outros documentos escritos; mas, antes disso,
pensamento é verbal. Todavia, a inspiração pode o material que pode ser aproveitado pela história é
transcender meras palavras, ou pode utilizá-las. Neste escasso. Esses documentos fornecem aos estudiosos
caso, a inspiração é «verbal». — Às vezes, as modernos muitos informes, permitindo-nos chegar a
expressões exatas e todas as palavras foram escolhidas uma espécie de esboço histórico do Egito, da Suméria,
diretamente pelo Espírito. Mas normalmente o de Acade, da Assíria, da Babilônia e dos hititas. Ver
elemento humano entra nos documentos do N.T., os artigos relativos a essas nações e povos, quanto a
como a gramática, escolha de palavras, estilo maiores detalhes. Nesse material, entretanto, não
literário, liberdade de arranjo, condensação, elabora encontramos unidade real, continuidade intrínseca ou
ção, comentários, etc. profundidade humana que nos capacite ter uma visão
da sociedade humana inteira, em sua marcha através
dos séculos. Esse material simplesmente alista feitos
HISTORICISM O memoráveis de reis, conflitos armados, expedições de
Essa palavra vem do termo alemão hittorism us, caça, conquistas políticas, realizações arquiteturais,
uma palavra usada para se aplicar a uma ênfase crimes, vícios, virtudes, mas não verdadeira história
exagerada sobre a história. O termo foi cunhado por como tal. Os reis figuram ali como se fossem os únicos
Mannheim e Troeltsch, da escola neokantiana. Ver os que merecessem ser mencionados, e outras persona
artigos separados sobre essas duas personagens. Vico gens aparecem apenas incidentalmente. Aprendemos
(vide) afirmava que «tudo é história»; e Dilthey (vide) ali acerca de idéias religiosas, tradições antigas e
argifimentava que todos os historiadores escrevem outros itens frustrantes para os historiadores. Em
como cativos de sua era e circunstâncias particulares. algum material proveniente dos hititas (inscrições de
Isso significaria que é muito difícil chegar-se a uma cerca de 1300 A.C.), aprendémos acerca de sucessões
história pura, se estivermos olhando para os sentidos de reis, manobras diplomáticas, etc.; mas sempre é
envolvidos no processo histórico. Certamente, Hegel e algum rei, ou algum príncipe, que ocupa o primeiro
Marx podem ser criticados desse modo. Hegel, plano, e nada se pode saber acerca das sociedades
porque via a sintese histórica cumprida na monarquia como um todo. A arqueologia tem procurado
constitucional do governo alemão, que vigorava em prencher alguns hiatos, sobretudo quando são
seus dias, em sua pátria; e Marx, por haver pensado, descobertas cidades inteiras, e não apenas palácios ou
tolamente, que o comunismo (vide), poria fim ao templos.
processo histórico, por ser uma síntese final. A
verdade da questão é que não pode haver síntese que 2. Israel e a H istória. Todos os eruditos concordam
não se torne, por sua vez, em antítese, do que, que a história do Antigo Testamento, a começar pelo
finalmente, resultaráuma outra síntese, ad in fin itu m . rei Davi, e daí por diante, é extremamente acurada.
Todos os pontos finais são apenas instrumentais. Isso Mas, os estudiosos mais liberais supõem que, antes
quer dizer que eles se tornam instrumentos de novos dessa época, prevaleciam mais as crônicas lendárias e
começos. místicas, de m istura com alguma informação
O termo historicismo também é usado em um verdadeiramente histórica. Parece que uma autêntica
sentido negativo, como sinônimo de falácia genética atitude histórica fazia parte das tendências raciais dos
(vide). Esta consiste em explicar de outro modo judeus. E isso porque ali não obtemos somente
(mediante falsificação) a natureza de algum fenôme crônicas sobre os feitos dos monarcas, que continuam
no, mediante uma alusão à sua origem. Para ocupando posição central, mas também informações
exemplificar: O termo português D eus vem do latim, atinentes às instituições essenciais do povo de Israel.
deus, relacionado a Zeus. Obviamente, o termo tem Isso se dá, sobretudo, no tocante às instituições
uma origem e um uso pagãos, pelo que qualquer fé religiosas, o que, afinal, ocupava o foco de todas as
religiosa, hoje em dia, que use o termo D eus deve ter atenções. Além dos reis, obtemos ali crônicas sobre
caráter pagão. outras bem conhecidas personagens, principalmente
profetas, sacerdotes e figuras religiosas. Em meio à
narrativa histórica, também topamos ali com uma
filosofia da história. Contudo, essa filosofia é linear,
HISTORIOGRAFIA BlBLICA porquanto passa de um evento para o próximo, de um
O historiador E. Meyer observou que «uma ponto de partida a um ponto final, sem qualquer
literatura histórica independente, no verdadeiro mistura com especulações filosóficas sobre ciclos, etc.
sentido das palavras, apareceu somente entre os E também se trata de um processo divinamente
israelitas e os gregos». A história, conforme é orientado. Os historiadores sagrados tinham cons
compreendida pela nossa cultura, origina-se de dois ciência do propósito e da orientação divinos, e
pontos: 1. do século V A.C., na Grécia, com também de que os homens não estão sozinhos, e nem
Heródoto e Tucídides. 2. Cinco séculos antes, com o são independentes. Na história de Israel há fatores
redator do livro de Gênesis ou Jeovista, conforme extra-humanos, bem como um destino divinamente
alguns estudiosos o têm chamado. Em seguida, temos determinado. A partir dos patriarcas, nota-se um
o autor que narrou a história da sucessão de Davi a propósito definido. A invasão da terra de Canaã é
Salomão (II Samuel 9-20 e I Reis 1 e 2). Nesses considerada como parte integrante desse propósito. A
exemplos, encontramos os primórdios de esforços esperança messiânica aparece ali como um ponto
propositais para registrar a história. Naturalmente, os culminante do propósito nacional. A nação de Israel é
registros arqueológicos mostram que tal tipo de encarada como um instrum ento divino para a
atividade era generalizada entre as culturas antigas, instrução de todos os povos quanto ao caminho de
sobretudo no que tange às vidas e aos atos dos reis. Deus, o que já é um discernimento expresso pelos
Mas, no que concerne à nossa cultura, devemos levar profetas posteriores.
erh conta as duas fontes acima mencionadas. 3. Israel e a História do M undo. Já desde o trecho
Heródoto fez o cotejo entre o mundo fabuloso do de Gênesis 12:3, dentro do pacto abraâmico, achamos
142
H IST O R IO G R A FIA - H IT IT A S
o conceito de que, de alguma m aneira, to d a s as sem importar seu idioma ou suas afiliações étnicas
fam ílias da terra estão envolvidas na transação divina. originais. Isso significa que o termo incluía certa
Esse conceito expande-se e é aperfeiçoado nos escritos variedade de grupos étnicos, os verdadeiros hititas e
dos profetas posteriores. O reino do Messias é visto aqueles que não eram tais.
como a culminação dos impérios mundiais (Daniel 7). D . C aracterização Geral
Todos os povos, nações e homens de todas as línguas
estarão envolvidos no vindouro reino de Deus (Dan. Os hititas foram um antigo povo que fundou um
7:14,27). O segundo capítulo de Daniel encerra a poderoso império na Asia Menor e no norte da Síria,
mesma mensagem geral, incorporando o conceito da em cerca de 2000 — 1200 A.C. Conhecemos o idioma
«pedra», cortada sem ajuda humana, que porá ponto falado por eles por meio de inscrições hieroglíficas e
final nos reinos terrenos, a fim de abrir espaço para o textos cuneiformes sobre tabletes de argila. Entre
reino celestial. Também foi prometido que chegará o 1906 e 1910 foram descobertos alguns de seus
tempo em que os homens não terão de convidar outros arquivos em escrita cuneiforme, em milhares de
a conhecerem ao Senhor, pois «...porque todos me tabletes de argila, em Boghar-Keui, na Turquia (o
conhecerão, desde o menor até o maior deles, diz o país moderno onde aquele antigo povo residia, na
Senhor» (Jer. 31:34). E Isaías 43:18 anuncia: «Eis que Asia Menor). Esses textos datam de cerca de 1400
faço cousa nova, que está saindo à luz...» A.C. O idioma deles tinha conexões bem definidas
4. O Ponto C ulm inante da História. Jesus inicia o com as línguas indo-européias, embora algumas
Novo Testamento com a Esperança Messiânica, assim diferenças ,sejam tão grandes que a natureza exata
vinculando o Antigo ao Novo Testamento. Porém, a desse idioma e de sua raça, permanece um mistério.
doutrina que gira em torno de Cristo fala sobre a Havia ali alguma mistura antiga de povos e de
vontade de Deus relativa ao tempo e à eternidade, línguas, que não podemos mais acompanhar.
embora essa seja apresentada como um mistério (Efé. Supõe-se que o império hitita da Síria foi fundado em
1:10). Esse mistério promete a restauração de todas as cerca de 1800 A.C., por alguma raça indo-européia
coisas (ver o artigo sobre o assunto). Nessa (com misturas), que se estabeleceu na Asia Menor
restauração, os remidos chegarão a participar da cerca de duzentos a quatrocentos anos antes disso. A
natureza divina (II Ped. 1:4), segundo a imagem do capital deles, na Àsia Menor, era Hatusas, que ficava
Filho (Rom. 8:29), quando então o homem passa da na Anatólia central, perto da atual aldeia turca de
história para a eternidade. Tudo isso faz parte da Bogazkoy. Supõe-se que antes deles terem ocupado
filosofia da história do Novo Testamento. Começa na aquela parte da Ãsia Menor, eles teriam vivido na
história humana que gira em torno do Messias, nos península balcânica, desde cerca de 2500 A.C. Dali,
evangelhos sinópticos, mas termina na crônica divina, talvez possamos ligá-los com a cultura Kurgan, que
já fora da história. fazia suas sepulturas em poços, nas estepes eurasia-
nas, no quarto milênio A.C. Quando chegaram
Ver os artigos separados que acrescentam detalhes negociantes assírios à Anatólia central, algum tempo
de interesse em relação à história, sua natureza e seus antes de 1900 A.C., já encontraram os hititas naquele
significados: 1. História; 2. Filosofia da História; 3. lugar. Essa gente se havia misturado com os hatianos
Cronologia do A ntigo e Novo Testam ento. indígenas, formando várias cidades-estado.
m . Esboço H istórico
H ITITA S, HETEUS A história mais antiga desses povos aparece na
Esboço: seção II, Caracterizaçao Geral (acima).
I. O Termo 1. O Reino A ntigo. Em cerca de 1650 A.C., a
II. Caracterização Geral posição dominante entre várias cidades-estado, que
III. Esboço Histórico pertenceram aos antigos hititas, foi conquistada por
Hatusilis I, que estabeleceu sua capital em Hatusas.
IV. Referências Bíblicas aos Heteus Isso marcou a fundação formal do que se conhece
V. Religião dos Heteus como império hitita. Os primeiros cento e cinqüenta
VI. Língua e Literatura dos Heteus anos desse reino são conhecidos pelos historiadores
I. O Termo como Reino A n tigo . Esse período foi assinalado por
O termo heteu ou hitita (esta última é a forma que guerras e conflitos por motivos econômicos e
lhe dão os estudiosos seculares) deriva-se de chittiy, comerciais. Um ativo comércio com os assírios foi
que designa os descendentes de Cheth, de onde se interrompido quando os humanos cercaram os
deriva o termo português «heteu». Essa palavra, territórios dos hititas. O poder dos hititas moveu-se na
cheth, significa «terror». Só podemos pensar que essa
direção do Eufrates e do norte da Síria, onde o
palavra referia-se ao terror que tribos selvagens comércio era mais próspero. Hatusilis tentou conquis
impunham sobre os seus vizinhos, embora a razão tar a extremidade norte da rota comercial com o
para tal nome nos seja desconhecida. Eufrates, que partia de Alepo, na Síria, mas
fracassou. Porém, seu sucessor, Mursilis I, obteve
Usos Eruditos Desse Termo: êxito, e não somente conquistou Alepo, mas também
1. O nome dos habitantes aborígenes do planalto avançou pelo Eufrates abaixo e capturou a cidade de
central da Ãsia Menor. O nome mais exato desses Babilônia, em 1595 A.C. Todavia, isso não perdurou
povos é hatianos. por muito tempo. Ele havia espalhado demais as suas
2. Imigrantes indo-europeus que se estabeleceram forças. Teve de recuar e foi assassinado no caminho
na Anatólia central, em cerca de 2000 A.C. Eles de volta. Seguiu-se então um período de anarquia.
chamavam seu idioma de nesita (nesumnili). 2. O Reino M édio. O império hitita estava em
3. Um povo que fundou várias cidades-estado no declínio, embora Telepino tenha conseguido um
norte da Síria, durante o primeiro milênio A.C. Esses reavivamento parcial. Os humanos aumentavam
povos eram estados vassalos dos hititas da Anatólia, e cada vez mais o seu poder, e conquistaram o norte da
os historiadores conhecem-nos como neoititas. Síria, até então em poder dos hititas, estabelecendo
4. Os assírios e os hebreus do primeiro milênio A.C. assim o reino de Mitani. Os egípcios exerciam
usavam esse termo para designar todos os habitantes fortíssima influência sobre as costas orientais do mar
do antigo império hitita e suas dependências sírias, Mediterrâneo. O reino médio dos hititas perdurou
143
H IT IT A S
entre 1500 e 1450 A.C. uma caverna, que passou a servir de cemitério da
3. O Novo R eino. Tudalias I foi um poderoso família. Esaú casou-se com esposas hetéias (Gên.
governante que fez o poder dos hititas atingir seu 26:34,35; 36:2). Os espias que Moisés enviou
ponto culminante em cerca de 1450 A.C. Territórios encontraram hititas localizados na região montanhosa
perdidos foram reconquistados, além de novos (Núm. 13:29). Um ramo do povo heteu movera-se
territórios; e as riquezas aumentaram. O norte da para a Palestina, conforme essas referências bíblicas
Síria foi retomado, e as porções oeste e noroeste da deixam claro; e, ao tempo da conquista da Terra
Anatólia passaram a ser controladas, como também Prometida, eles formaram uma força que se opunha
Isuwa, a leste, que é uma região em redor da ao avanço de Israel (Jos. 9:1,2; 11:3). Os habitantes
moderna Elezigue, onde havia e continua havendo de Luz formaram uma nova comunidade em território
ricas minas de cobre. heteu, segundo vemos em Juí. 1:26. Quando Israel
Seguiu-se a isso um novo período de declínio, apossou-se da terra, os heteus foram ou aniquilados
quando o rei de Arzawa (um reino que havia na ou expulsos, mas outros permaneceram, misturando-
porção ocidental da Anatólia) atacou. Buscou-se se por casamento com os conquistadores. Foi assim
então um aliança com o Egito, por meio de que havia heteus entre os seguidores e heróis
casamentos entre as famílias reais. O poder dos hititas guerreiros de Davi (I Sam. 26:6). Urias, marido de
ressurgiu com Supiluliumas, em cerca de 1380 A.C. Bate-Seba, a quem esse rei de Israel matou, para ficar
Ele recuperou territórios perdidos, incluindo Isuwa, com sua viúva, era um heteu (II Sam. 11:3). Salomão
destruiu Mitani e reorganizou o norte da* Síria. contava com mulheres hetéias em seu harém (I Reis
Chegou mesmo a estender a influência hitita até 11:1). A última menção dos hititas cananeus, na
dentro do Egito. A viúva de Faraó Tutancamom Bíblia, aparece já na época de Salomão (II Crô. 8:7).
desejava estabelecer a paz e formar uma aliança com Depois disso, os heteus desapareceram como uma
os hititas, casando-se com um filho de Supiluliumas; raça distinta, pois o que restara deles casara-se com a
mas o plano falhou quando o príncipe, que foi população hebréia em geral.
enviado para se casar com eSsa mulher, foi assassina V . R eligião do« H eteus
do.
Os hititas ou heteus eram um povo extremamente
Prosseguiram vicissitudes boas e más. Mursilis II politeísta, que misturava as suas próprias divinda
conquistou a porção oeste da Anatólia. Ele reinou de des com os deuses do Egito e da Babilônia. Eles
1345 a 1310 A.C. Arzawa tornou-se um reino vassalo tinham, em seu panteão, m il deuses. E, apesar de não
dos hititas. Várias cidades-estado formaram um dispormos de uma lista completa dos mesmos, o
tampão contra inimigos em potencial. número de divindades mencionadas é impressionante.
Os egípcios, novamente, vieram a exercer a sua Encontramos nomes que representam um grande
influência. Durante o reinado de Muwatalis (cerca de número de culturas, revelando a natureza sincretista
1310 — 1294 A.C.), chocaram-se os egípcios contra os da teologia deles. Esses nomes refletem as seguintes
hititas, em Cades, sobre o rio Orontes. Os egípcios culturas: a hática, a luwiana, a palaiana, a hurriana,
tiveram de se retirar, mas os hititas sofreram a mestita, a sumeriana, a acádica e a cananéia. Esses
pesadíssimas baixas. Entrementes, o poder dos povos não eram exclusivistas, mas procuravam
assírios ia aumentando. harmonizar entre si elementos estrangeiros. O chefe
Desde o tempo do rei Hatusilis III (cerca de 1287 — masculino do grande panteão heteu era o deus das
1265 A.C.), o poder hitita entrou em rápido declínio. tempestades; e a divindade feminina suprema era
Arzawa e outras cidades-estado vassalas, mais para o uma divindade solar. Cada rei contava com seu
oeste, romperam o juro, e reduziram tanto as próprio deus protetor. Os hititas ocupavam lugares
dimensões territoriais quanto a capacidade militar que, posteriormente, se tornaram centros cristãos,
dos hititas. Hatusilis III, a fim de preservar o que como Tarso, Icônio, Listra e cidades que nos são
ainda lhe restava, teve de entrar em aliança com os familiares no livro de Atos e nas epístolas paulinas. Ê
egípcios. Os assírios ocuparam as minas de cobre de possível que a Diana dos efésios estivesse vinculada à
Isuwa. O rei Supiluliumas III (1225 — 1200 A.C.) Àrtemis dos heteus. Estes retiveram a adoração da
produziu alguma mudança temporária para melhor, antiga deusa-mãe da Anatólia, uma divindade solar
mas não o bastante para salvar do desastre o império chamada Arina. A ansiedade dos heteus, por
hitita. adotarem deuses locais dos lugares por onde se
O golpe final não foi desfechado pelos assírios, mas espalhavam, provavelmente devia-se ao desejo que
veio do noroeste. Os historiadores não sabem dizer tinham de promover, por toda a parte, os seus
que elementos compunham essa força atacante; mas favores, em causa própria. O rei era responsável pela
o fato é que acabou com o império hitita. Alguns manutenção da adoração e dos ritos. Desastres eram
historiadores supõem que a força principal compu- preditos por adivinhações, e mágicas eram usadas
nha-se de acaeanos (gregos), da época da guerra de para afastar os infortúnios.
Tróia (cerca de 1230 — 1210 A.C.). Ondas de «povos
marítimos» deram fim aos hititas; e, juntamente com V I. Língua e litera tu ra doa H eteus
eles, acabou-se também a cidade-estado de Ugarite. Os milhares de tabletes de argila, encontrados em
Marca-se o fim do império hitita em cerca de 1190 Boghar-Keui, na Turquia, entre 1906 e 1910, refletem
A.C. Os historiadores reputam os hititas como o sete idiomas distintos: o hático (língua dos aboríge
terceiro mais influente poder do Oriente Médio, da nes); o nesita (língua dos indo-europeus que tinham
época em que foram proeminentes, rivalizando com o invadido o reino de Hatusas); o luwiano e o palaico,
Egito e com a Mesopotâmia. ambos dialetos indo-europeus, relacionados ao nesita;
o sum ério e o acádico. Porém, a vasta maioria defcses
IV . R eferências B íblicas aos H eteus tabletes está escrita em nesita. Palavras que indicam
Há quatro alusões diretas na Bíblia aos hititas (que uma derivação indo-européia incluem: m e k k i,
a Bíblia chama de heteus), além de catorze outras «muito»; p a d a , «pé»; watar, «água»; kard, «coração»;
referências a esse povo, como descendentes de Hete g en u , «joelho»; p a h h u r, «fogo». As inflexões gramati
(ver Gên. 10:15). Nos dias de Abraão, uma tribo de cais também são definidamente indo-européias. O
hititas localizava-se perto de Hebrom (Gên. 23:1-20). hitita é uma antiga forma de língua indo-européiá que
Foi dos heteus que Abraão comprou um terreno com muito tem servido para encontrarmos a significação
H IZQ U I - H O B B ES
de palavras antigas. A escrita hieroglífica hitita HOBBES, THOM AS
aproxima-se mais do luwiano do que do nesita. Há Suas datas foram 1588—1679. Foi um filósofo
algumas diferenças em relaçào às línguas indo-euro- inglês. Nasceu em Westport, filho de um clérigo.
péias, partindo-se do nesita, levando os eruditos a Educou-se em Oxford. Serviu como tutor na família
suporem que houve alguma antiga mistura com Cavendish, uma posição que ocupou durante toda a
alguma língua não-européia. sua vida adulta. Ben Johnson, Francisco Bacon e
Essa literatura está ligada a rituais religiosos, mas Herbert de Cherbury eram seus amigos pessoais.
também contém um considerável número de relatos Conheceu Galileu em Florença, na Itália, e entrou em
mitológicos. Material estrangeiro, vindo de composi contacto com muitos outros cientistas e filósofos, que
ções épicas em hurriano, cananeu e babilónico estavam interessados na promoção do método
encontraram seu caminho até o material escrito dos científico. Mantinha idéias políticas contrárias às da
hititas. Também podemos pensar nos anais dos reis coroa da Inglaterra, pelo que passou onze anos
hititas, que nos provêm vívidas narrativas históricas. exilado espontaneamente em Paris, como medida de
Nesse material encontramos a análise de causas e segurança. Nesse tempo, escreveu objeções às
efeitos, nos negócios do império hitita. A história Meditações, de Descartes, ao mesmo tempo em que ia
serve para guiar-nos nas pesquisas futuras. (AM BRU aperfeiçoando sua filosofia materialista. Tornou-se o
(1948) E EIS UN Z) tutor do exilado príncipe Charles de Gales (1646 a
1648). Foi então que escreveu a obra Leviatâ. Esse
h iz q u i
livro caracteriza-se por um secularismo bem pronun
ciado que o deixou em posição desfavorável diante da
No hebraico, «Yahweh é força». Ele era um dos realeza francesa e inglesa.
filhos de Elpaal, descendente de Benjamim (I Crô. Retornou à Inglaterra e foi aceito como cidadão,
8:17). Viveu em cerca de 1400 A.C. pelo governo revolucionário que ali obtivera o
controle. Consolidou sua amizade com o rei Charles,
HOÀO de quem fora tutor em Paris, quando esse monarca
ainda era príncipe, e dele recebeu uma pensão
No hebraico, «aquele a quem Yahweh incita». Ele vitalícia. Após o grande incêndio de Londres, de 1666,
foi um dos reis de Hebrom, um dos cinco reis dos a Casa dos Comuns passou uma lei contra o ateísmo,
amorreus que assediou Gibeom, juntamente com mencionando Hobbes por nome. Desde então, seus
Adonizedeque. Ambos foram enforcados por ordens escritos não mais foram publicados na Inglaterra. Em
de Josué (Jos. 10:3). Isso ocorreu em cerca de 1612 seus últimos anos de vida, ele se mostrou menos
A.C. tendente às controvérsias. Escreveu uma autobiogra
fia em latim e traduziu a Ilíada e a Odisséia em versos
HOBÂ rimados, em inglês. Deixou Londres e passou o resto
de sua vida em Chatsworth e em Hardwick. Faleceu
No hebraico, «oculta». Esse era o nome de uma em Hardwick, a 4 de dezembro de 1679, com a idade
localidade (talvez um lugar vazio entre os montes, de noventa e um anos e foi sepultado em uma igreja
conforme o nome parece indicar), que ficava ao norte paroquial daquela cidade.
de Damasco. Abraão chegou àquele lugar quando Hobbes era homem polêmico, promovendo idéias
perseguia os reis que haviam saqueado Sodoma. Ver que outros sentiam ser detestáveis. Ele geralmente
Gên. 14:15. Tem sido identificada com a moderna exagerava as questões que defendia, mas fez boas
Hoba, que fica cerca de oitenta quilômetros ao norte contribuições para a filosofia da ciência. Ele tem a
de Damasco', na estrada para Palmira. duvidosa distinção de ser o pai do moderno
materialismo metafísico. Seus amigos deixaram-nos
HOBABE notícias de que era um homem vigoroso, alto e
No hebraico, «amado». Esse nome acha-se apenas simpático, geralmente bem equilibrado, embora se
por duas vezes em toda a Bíblia, em Núm. 10:29 e Juí. deixasse alcoolizar uma vez por ano. Nunca se casou,
4:11. Ele foi o sogro de Moisés, de acordo com a mas deixou provisões materiais suficientes para uma
primeira dessas passagens; mas a segunda delas pode filha natural que tivera. Era homem enérgico,
ser interpretada como se ele fosse cunhado de Moisés. espirituoso, honesto, um bom amigo, absolutamente
Uma outra complicação é que a primeira dessas dedicado à causa da evolução da ciência, além de
passagens diz que ele era um midianita, mas, na mostrar-se muito metódico em seu trabalho. Atribuía
segunda delas, lemos que ele era queneu. A a sua boa saúde e a sua longa vida ao fato de que era
Septuaginta diz H obabe, o queneu. E, a fim de um esportista (continuava jogando tênis aos setenta e
complicar ainda mais as coisas, os trechos de £xo. cinco anos de idade), bem como ao seu costume de
3:1; 4:18 e 18:1 dizem que Jetro era o sogro de Moisés. cantar na cama.
Além disso, o trecho de Exo. 2:18 faz Reuel ser o Idéias:
sogro de Moisés, onde se lê que ele era um sacerdote 1. Ele defendia um estrito materiaUamo (vide),
midianita. As tradições islâmicas dizem que Hobabe afirmando que todos os corpos são corpóreos e
era outro nome de Jetro, embora não tenhamos como controlados por leis rígidas. A causalidade seria a
provar essa assertiva. Outros estudiosos identificam transmissão de movimento de um corpo para outro. O
Reuel com Jetro, e essa poderia ser uma interpretação mais tênue de todos os corpos seria o éter. Ele
possível, que emergiria da comparação entre Êxo. acreditava que qualquer idéia de espírito é absurda.
2:18,21 e Exo. 3:1. Ou então, poderíamos supor que Se nos limitarmos a esse conceito, então isso seria
uma ou mais corrupções entrou nos textos sagrados a uma declaração lógica, porquanto falar em espírito
respeito. Qualquer que seja a verdade da questão, nos leva a falar em matéria imaterial.
Hobabe entra no relato bíblico porque Moisés lhe
pediu para servir de guia de Israel, no deserto. O 2. Quanto ao m étodo científico, ele pensava que
relato bíblico não nos diz qual foi a resposta dele, mas devemos reduzir qualquer todo às suas partes
o silêncio parece indicar que ele anuiu diante do componentes; e, através do exame dessas partes,
desejo de Moisés. O trecho de Juízes 4:11 menciona os chegamos a entender o todo. Ele dava um relógio
seus descendentes. como ilustração. Ninguém pode saber muito acerca de
146
H OBBES
um relógio, se somente ficar olhando para o produto avareza, a ambição e o temor da morte. Portanto, os
terminado. Ê mister desmantelar um relógio, para ser homens levam vidas solitárias, pobres, maldosas,
compreendida cada parte e sua função. Somente brutais e breves. Essas descrições são transferidas
então poderiamos falar, de modo inteligente, sobre para as atividades políticas.
um relógio. 9. A Religião. Não existe a alma, mas talvez haja a
3. O determ inism o (vide). Ele tinha grande fé nas ressurreição. O soberano de um Estado tem o direito
causas e seus efeitos, e pensava que todas as coisas de estabelecer e pôr em vigor uma religião oficial. O
estão envolvidas nisso, desde a mais minúscula impulso religioso é baseado no temor humano pelo
partícula, até o próprio homem. As pessoas desconhecido. Hobbes concordava, com Epicuro e
deixar-se-iam governar por seus apetites, paixões, Lucrécio, de que o homem deriva as suas religiões do
imaginações e emoções, havendo causas físicas para terror e da superstição. Ele se opunha vigorosamente
todas essas coisas, mesmo quando elas são pouco às pretensões das autoridades religiosas, como as do
entendidas. O homem tem uma liberdade aparente. papado, quando pensava que uma fé cega e
Para ilustrar isso, ele usava a circunstância de como desarrazoada lançara raízes. Ele atacava as crenças
toda a água, de muitas maneiras, flui até os oceanos. religiosas, não com base se as Escrituras contêm ou
A água corre livremente (segundo as aparências), mas não essas crenças (como é costumeiro dizerem as
o seu destino é seguro e previamente determinado. O pessoas religiosas), mas mediante o exame direto de
homem aparentemente vive em liberdade, mas suas alguma idéia, para ver Se a mesma continha ou não
ações são previamente determinadas. Declarações alguma verdade. Para ele, a religião não era nem a
como essa, que deixam de lado a possibilidade da teologia e nem a filosofia, mas antes, a lei. Se um
criatividade humana, esquecem-se de que, através da soberano chegar a pôr uma religião em vigor, então
mesma, as coisas podem ser modificadas. essa deve ser obedecida, como no caso de qualquer
4. A percepção. Essa seria a base de todo o outra lei. Embora fosse um materialista, Hobbes
conhecimento que temos. A percepção nos é dada tinha uma espécie de conceito de Deus em que ele era
através da observação dos movimentos. A matéria em visto como uma força cósmica que controla o
movimento torna-se visível para o homem. Esse Universo, como fonte de todos os movimentos
movimento torna-se luz, figura, cor, som, odor, existentes na matéria.
sabor, calor, frio, dureza, suavidade — enfim, todas 10. A Política. Hobbes viveu no tempo dos conflitos
as coisas que conhecemos e descrevemos. Depois que entre os Tudors e os Stuarts, na Inglaterra, o que
um objeto observado é removido, o cérebro retém acabou provocando uma guerra civil. Ele tinha um
imagens sobre o mesmo. A memória e a imaginação ponto de vista pessimista sobre a sociedade,
trazem de volta o objeto que nos foi posto dentro do transferindo para ela tudo de mal que ele costumava
alcance de nossa percepção; mas essas coisas dizer sobre o homem individual, o modelo do
tornam-se apenas sensações decadentes, fantasmas egoísmo. Ele argumentava que somente um Estado
que dançam em torno do cérebro e, gradualmente, forte, como uma monarquia, pode controlar uma
vão desaparecendo. Nossos pensamentos são forma criatura maligna como o homem. Também argumen
dos por estofo dessa ordem. tava que o Estado existe para benefício do homem, e
5. A linguagem nos provê a possibilidade de que, tal como a natureza, faz aquilo que é direito,
associar e organizar as nossas percepções, para que se provendo uma base natural para a monarquia
tornem em conhecimento. A qualidade disso varia, absoluta. A vontade do Estado seria suprema: poder é
pois, algumas vezes, os fantasmas são controlados e, direito. O que o Estado ordena, precisa ser obedecido.
ontras vezes, não. Um Estado tem o direito de fazer guerra, a fim de
6. O ser no presente. O passado é apenas um preservar os seus interesses. O homem acha
fantasma contido na memória, e o futuro ainda nem intolerável a falta de lei, por essa razão entra em
existe. acordos dos quais resultam os governos. Isso elimina a
7. O nom inalism o. A verdade consiste na correta falta de lei. Um Estado forte é necessário para
ordenação das palavras ou dos nomes que usamos impedir a perturbada heterogeneidade que há na
para fazer afirmações sobre os objetos físicos. Os sociedade, que é a fonte do desregramento e dos
pensamentos só podem surgir dos objetos que são conflitos. Por essa razão, a m onarquia é a forma
percebidos. Não há universais além das nossas preferível de governo. O monarca baixa as leis e os
palavras, que existem por si mesmas, em algum tipo seus súditos obedecem, e isso institui certa medida de
de nebuloso mundo imaterial (conforme Platão paz. Todas as virtudes morais derivam-se do desejo
imaginava). Quando os pensamentos estão arraigados humano pela paz. Há uma lei natural que é absorvida
na ciência, então os chamamos de sapientia. Quando nos contratos sociais dos governos. Esses contratos
eles estão arraigados somente na experiência, sem a requerem a subordinação dos direitos individuais aos
disciplina emprestada pela ciência, então nós os direitos comunitários. É desejável estabelecer um
chamamos de pru d en tia . Daí é que se originam os contrato com um monarca absoluto. As leis devem ser
atos individuais. reputadas supremas, e não podem ser desobedecidas.
O único direito natural do homem é o direito de viver.
8. A Ética. Nada mais importa, para os homens, do Portanto, o homem tem o direito de defender sua
que o auto-interesse. De fato, a vida é uma espécie de própria vida, mesmo que para isso tenha de recorrer à
guerra de cada homem contra cada homem. Há força. O bem, na política, é determinado por aquilo
somente uma lei universal: o auto-interesse. A vida que o Estado requer. Isso é um voluntarism o político.
humana é apenas uma longa e demorada exibição de Ver o artigo sobre o V oluntarism o.
auto-amor. Quase todos os homens medem o seu
sucesso mediante o auto-interesse que estão conseguin 11. Escritos. Suas principais obras foram: E lem enta
do, através da quantidade de prazer que estão philosophica de eive; D e corpore; D e hom ine;
obtendo no processo, ao mesmo tempo em que evitam Leviathan (discussão sobre a matéria, a forma, o
a dor. A real motivação dos homens é o desejo, e esse é poder da comunidade), que é considerada a sua obra-
sempre egocêntrico. Todos os atos aparentemente prima. Essa obra contém suas principais idéias
altruístas podem ser explicados como uma demons religiosas, morais e políticas. Os capítulos finais dessa
tração de egoísmo, após a devida investigação. As obra são fortemente anticatólicos. Ele ataca ali certas
principais características dos homens são o orgulho, a doutrinas, não como sem fundamento bíblico, mas
146
H O D AV IA S - H O FFD IN G
como absurdas e incoerentes. Outras obras são: de conforto mental para os homens.
Elem entos da Lei, N atural e Política; Liberdade e Os m étodos de Hodge sempre foram bíblicos. Toda
Necessidade. (AM BE E EP F) verdade derivar-se-ia da Bíblia, da mesma maneira
que os cientistas fazem derivar da natureza todas as
verdades que descobrem. Embora ele aceitasse, de
HODAVIAS maneira geral, a Confissão de Westminster, ele se
No hebraico, «louvor de Yahweh». Esse é o nome de deixava influenciar fortemente pelo calvinismo do
quatro personagens que aparecem nas páginas do século XVII.
Antigo Testamento, a saber: Hodge exerceu grande influência sobre os círculos
1. O chefe de um clã da meia-tribo de Manassés que teológicos nos Estados Unidos da América do Norte,
viveu no lado oriental do rio Jordão (I Crô. 5:24). Ele em seus dias, e publicava os seus pontos de vista na
viveu por volta de 720 A.C. Biblical Repertory a n d Princeton Review, que ele
2. Um filho de Hassenua, que era um benjamita (I originara em Í825.
Crô. 9:7). Ele viveu por volta de 588 A.C. Tornou-se o mais bem conhecido e influente dos
3. Um levita que deu seu nome a uma numerosa teólogos calvinistas de nível internacional e nos
família (Esd. 2:40). Membros dessa família retorna Estados Unidos da América do Norte, desde os dias
ram a Jerusalém, com Zorobabel, terminado o de Jonathan Edwards.
cativeiro babilónico. O trecho de Neem. 7:43 chama-o
de Hodeva. Foi também o fundador da família dos HODGSON, SHADW ORTH
Bene-Hodavias. Viveu por volta de 638 A.C.
4. Um descendente do rei Davi (I Crô. 3:24), que Suas datas foram 1832—1912. Foi um filósofo
deve ter vivido por volta de 445 A.C. inglês. Nasceu em Boston, na Inglaterra. Foi
fundador da Sociedade Aristoteliana, tendo presidido
a mesma por catorze anos. Tentou reformular a
HODE filosofia kantiana, obtendo maior rigor ainda. Reteve
No hebraico, «majestade», «esplendor» ou «orna as categorias de Kant, mas moveu a sua ética mais na
mento». Esse era o nome de um dos filhos de Zofa, direção do idealismo metafísico. Ele ensinava uma
descendente de Aser (I Crô. 7:37). Ele viveu em algum forma de livre-arbítrio baseado em condições
tempo antes de 1017 A.C. neurocerebrais, acompanhadas pela consciência.
Ele pensava que, desse modo, poderia reconciliar a
liberdade com o determinismo. A consciência sempre
HODES acompanha, mas nunca determina. De fato, ele
No hebraico, «lua nova». Esse era o nome de uma pensava que, desse modo, há uma espécie de
dás esposas de Saaraim, — que aparece nas Epifenom enalism o (vide).
genealogias de Benjamim. Ver I Crô. 8:9. Viveu por Além das publicações da Sociedade Aristoteliana,
volta de 1400 A.C. para as quais ele contribuiu, também publicou obras
como Tim e a n d Space; The Theory o f Practice; The
Philosophy o f Reflection; The Aíetaphysics of
HODEVA Experience.
Ver sobre H odavias, número três.
HODIAS
HODGE, CHARLES
No hebraico, «esplendor de Yahweh». Esse é o
Suas datas foram 1797—1878. Foi um eminente nome de cinco pessoas, mencionadas no Antigo
teólogo norte-americano, a figura principal da Testamento, a saber:
chamada Escola de Princeton, e melhor conhecido 1. O cunhado de Naã, da tribo de Judá (I Crô.
por sua Teologia Sistem ática, em três volumes. 4:19). Ele viveu em torno de 1400 A.C.
Formou-se no colégio e seminário de Princeton.
Estudou na Alemanha com Tholuck, Hengstenberg e 2. Um levita que ajudou Esdras na leitura e
Neander. Passou toda a sua vida ensinando na interpretação da lei, quando o povo judeu foi
Universidade de Princeton. Suas especialidades eram instruído, após haver retornado do cativeiro babilóni
literatura oriental e bíblica, e teologia. Ele era um co (Nee. 8:7). Ver também Esd. 9:45. Algumas
calvinista estrito e interpretava a Bíblia mui traduções trazem a forma alternativa de A uteas. Ele
literalmente. Ele distinguia entre a revelação e a viveu por volta de 445 A.C. Ver também Nee. 9:5;
inspiração, pois a primeira seria a «vinda do lado de 10:10,13.
fora», de novos conhecimentos, fora do controle da 3. Dois levitas do mesmo nome, que assinaram o
vontade humana, embora conscientemente recebida; pacto com Neemias (ver Nee. 10:10,13). Há eruditos,
mas a última operaria de maneira contínua e porém, que pensam estar em foco somente um
plenária, sem que o recebedor humano estivesse indivíduo.
cônscio disso. No caso dos autores bíblicos, ele achava 4. Um dos líderes de Israel que assinou o pacto com
que ambas essas forças atuaram. Ele pensava que a Neemias (Nee. 10:18). Conforme se vê no fim do
inspiração guiou os autores bíblicos a toda a verdade, segundo ponto, há considerável confusão quanto a
incluindo a verdade moral, religiosa, científica, esses nomes, se seriam mesmo cinco pessoas, ou não,
geográfica e histórica. Essa posição radical, natural ao todo.
mente, levou-o a ser um arquiinimigo da alta crítica
da Bíblia. Ver o artigo sobre a Crítica da Bíblia.
Quando lhe eram mostrados erros na Bíblia, ele os H O FFD ING , HAROLD
atribuía aos copistas, ao mesmo tempo em que insistia Suas datas foram 1843—1931. Foi um filósofo
que o texto original devia ter sido correto, embora neokantiano dinamarquês. Educou-se em Copenha
nenhum manuscrito existente prove que assim gen, onde ensinou, anos depois. Defendia uma
sucedeu. Contudo, é um erro supormos que a fé espécie de positivismo científico, mas nem por isso
religiosa é ajudada pela obsessão acerca da inerrân- íegou os valores religiosos. — Cria que a ciência não
cia. A fé pode subsistir muito bem, sem a necessidade consegue (por falta de capacidade) prover uma
147
H O FFM A N N - HOLBACH
explicação final e abrangente para toda a realidade, Senhor, em seus corações. Combinavam a sensuali
não podendo também çxplicar os valores humanos. dade com a ganância, o que somente se intensificava
Os sistemas metafísicos.não podem ser invalidados com a passagem dos anos. A conduta errônea deles
pelas situações relativistas e inadequadas em que deixava os habitantes de Israel indignados, até que a
esses sistemas se desenvolvèram. A religião, mediante ruína despencou sobre a família de Eli (ver I Sam.
seus dogmas, cultos e mitos, seria capaz de descobrir 2:12-17). A primeira comunicação divina acerca disso
e conservar valores importantes para os homens, úteis foi feita através do menino Samuel (I Sam. 2).
para seu conhecimento, capazes de promover a sua Ironicamente, Hofni e Finéias foram ambos mortos
vida moral, pelo que contribuiriam para o desenvolvi no mesmo dia, durante a batalha em que a arca da
mento de sua personalidade. A religião, pois, seria aliança foi tomada pelos filisteus (I Sam. 4:11), em
importante, essencialmente por causa dos valores que cerca de 1141 A.C. Ver o artigo separado sobre Eli.
preserva. Nem sempre é verdade que se treinarmos uma
Os mais importantes escritos de Hoffding incluem criança no caminho em que ela deve andar, não se
títulos como: O utline o f a Psychology B ased in afastará do mesmo quando envelhecer (ver Pro. 22:6).
Experience; Ethics; History o f M o d em Philosophy; Estudos recentes, no campo da genética, mostram
Rousseau; Philosophy o f Religion; H um an Thought; que as pessoas herdam de seus genitores tanto a
Bergson; Totality o f Category; Relation o f Category; personalidade quanto as qualidades morais. Sem
The Idea o f Analogy. importar se a alma exerce controle ou não sobre isso,
podendo assim influenciar a vida do indivíduo para
melhor ou para pior (no veiculo físico que está prestes
HOFFM ANN, JOHANN CHRISTIAN VON a ocupar), essa é uma questão que os teólogos e outros
Suas datas foram 1810—1877. Foi um líder pesquisadores estão estudando. Seja como for, a
eclesiástico e um teólogo luterano. Nasceu em mensagem parece ser que os pais deveriam receber
Nuremberg, na Alemanha. Foi residente privado em menor crédito pelos filhos que se saem bem, mas
Erlangen e professor em Rostock e Erlangen. Foi o também deveriam não aceitar tanto senso de culpa
principal representante do biblicismo luterano, em por causa dos filhos que se desviam. Como é óbvio, os
oposição aos confessionalistas, como Stahl e Heng- pendores para o mal são herdados, mas podem ser
stenberg (vide). Ele concebia a religião como uma contrabalançados pela espiritualidade. Contudo^ nem
história divina, dando grande atenção às profecias e sempre é o que sucede. Por igual modo, as tendências
ao cumprimento das mesmas. Para ele, a base para o bem são herdadas, embora essas tendências
principal da Bíblia era a sua substância histórica, e possam ser anuladas pelas tentações e pelos lapsos. O
não tanto a inspiração de seus autores, porquanto treinamento, sem dúvida, é importante, como
Deus revelar-se-ia e operaria através da história. Os também o é o meio ambiente; mas existe um
propósitos de Deus desdobram-se em sucessivos desconcertante poder naquilo que foi geneticamente
estágios através da história, conduzindo ao Messias, herdado. Ao assim afir rmos, contudo, não
ou Cristo, na sua primeira e na sua futura segunda queremos desculpar os p~.s por não se terem
vindas. Ele foi um bom pensador exegético e esforçado mais; mas, ao mesmo tempo, os pais podem
teológico, e também um bom escritor. Rejeitava a derivar algum conforto do fato de que cada indivíduo,
abordagem subjetiva de Schleiermacher (vide) à fé afinal de contas, tem o seu próprio relacionamento
religiosa, dependendo sempre da mensagem histórica com Deus; e cada alma, em um sentido bem amplo, é
da Bíblia como o elemento central. Os pactos de o capitão de seu próprio destino. As influências que
Deus, a sua Igreja e as suas atividades em Cristo são exercemos fazem parte do quadro; mas aquilo que o
realidades históricas que nos dão respaldo para a fé. indivíduo faz de si mesmo é o fator mais importante.
S e n h o r, d is s e e u ,
Jam ais eu poderia m atar um m eu sem elhante;
Crime de ta l grandeza cabe a um
selvagem som ente,
È o crescim ento venenoso de
m ente m aligna,
A to alienado do m ais indigno.
S e n h o r, d is s e e u ,
Jam ais eu poderia m atar um m eu sem elhante;
U m ato horrível de raiva sem misericórdia,
A punhalada irreversível de
inclinações perversas,
A to não im aginável de plano ímpio.
D is s e o S e n h o r a m im ,
U m a p alavra sem afeto lançada contra
vítim a que odeias,
Ê um dardo abrindo feridas de cores cruéis.
Bisbilhotice corta o homem pelas costas,
Um ato covarde que não podes retirar,
ô d io no teu coração, ou inveja levantando
sua horrível cabeça,
É um desejo secreto de ver alguém m orto.
(Russell N orm an Champlin)
HOM ERO - H O M IC ÍD IO
Ilíada e Odisséia — é uma grandiosa composição de homicídio não justificado. Mas esse fato, por si
literária. Porém, nem todos concordam que seu autor, mesmo, mostra o baixo nível espiritual em que se
Homero, foi uma única pessoa. Talvez tivesse havidb, acham os homens. Em qualquer estado espiritual
realmente, um único autor, mas ampliado por algum elevado, não existe tal coisa como matar a outro ser.
editor ou editores. Seja como for, H om ero é o nome I. A Palavra e suaa Definições
dado ao autor dos dois grandes poemas gregos épicos,
mencionados, e que abordam, respectivamente a Esse vocábulo vem do latim hom o, «homem», e
querela entre os gregos e os troianos, durante a guerra caedere, «matar» ou «cortar». Em latim, um assassino
de Tróia, e então, depois da guerra de Tróia, o é um hom icida, tal como em português. Apesar de
retorno de Odisseu à sua rainha, Penélope, quando que, estritamente falando, a morte de um homem,
ele tornou a ocupar o trono de seu reino, na ilha de provocada por um animal, poderia ser chamada de
Itaca. Esses poemas épicos são a literatura mais um hom icídio, o termo refere-se sempre à morte de
notável da Grécia antiga, servindo de uma espécie de um ser humano provocada por outro ser humano.
Bíblia, para os gregos. Universalmente, os homicídios são divididos em
As tradições antigas afirmam que Homero foi autor justificáveis e criminosos (ou não justificáveis). O
de ambos aqueles poemas. Segundo elas, ele teria homicídio justificado, por sua vez, é classificado sob
vivido no século IX A.C., na Jônia, que atualmente diferentes títulos, conforme mostramos nos parágra
faz parte das costas ocidentais da Turquia. Porém, fos abaixo. Algumas autoridades categorizam o
nada de definitivo se sabe acerca desse homem e de suicídio (vide) com base nas definições acima,
suas datas. As antigas Vidas, escritas por vários embora, como é óbvio, o suicídio seja uma categoria
autores, não nos prestam ajuda alguma quanto a (do ponto de vista moral) do homicídio.
essas questões, com os seus mitos. A única fonte H. Homicídio Justificado
informativa real é aquela que se deriva dos próprios Poderiamos estar justificados por tirar a vida a
épicos, os quais, na opinião da maioria dos eruditos, outrem? A Bíblia e as leis civis, de modo geral,
pertencem à última metade do século VIII A.C. respondem com um «sim». Abaixo damos as formas
Outras obras também são atribuídas a Homero, justificáveis de homicídio:
que, de algum modo, estão ligadas à guerra de Tróia, I. Segundo se vê no Antigo Testamento, a execução
como os poemas intitulados M argitas, A Batalha das religiosa, por causa de crimes morais ou religiosos, e
Rãs e dos Cam undongos e vários hinos homéricos. Os não meramente por causa de crimes civis, ocorreu
estudiosos modernos rejeitam, entretanto, a autoria com freqüência. Nos países árabes, por seguirem o
homérica dessas obras. E até mesmo a divisão da Alcorão (vide), até hoje há execuções religiosas
Ilíada e da O disséia, em vinte e quatro livros, ocasionais; mas, nos países ocidentais, esse tipo de
seguindo as letras do alfabeto grego, mui provavel execução não é mais considerado justificável.
mente, foi obra de editores helenistas. 2. Por motivo de defesa própria.
As enciclopédias clássicas abordam os problemas 3. O ato de matar que resulta da tomada da defesa
homéricos com abundância de detalhes. Nesta de alguém que esteja correndo perigo ou esteja sendo
enciclopédia, a questão se reveste de interesse porque ameaçado ou assaítado de alguma maneira grave. A
essas obras antigas nos permitem dar uma boa olhada pessoa defendida não precisa pertencer à família do
para a religião grega primitiva. Os poemas em apreço defensor.
provêem uma visão abrangente do panteão dos deuses
gregos, cujos principais membros eram Zeus, Apoio, 4. Uma pessoa pode matar a outrem, de modo
Poseidon, Ares, Hera, Atena, Afrodite, Hélio e justificável, a fim de impedir um crime de qualquer
Hermes. Essas divindades manter-se-iam distantes e tipo, mesmo que tal crime não ameace a vida daquele
indiferentes, em sua majestade, no Olimpo; mas, contra quem isso é feito. Por exemplo, um guarda, em
ocasionalmente, resolviam descer e intervir nas um banco, pode tirar a vida a um assaltante do banco.
atividades humanas. Eram temidos e amados ao Ou um homem pode matar a um estuprador em
mesmo tempo, e orações e sacrifícios eram feitos a potencial, que ameace executar a sua ação.
esses deuses, por grande variedade de razões. O 5. Execuções determinadas pelo Estado. Os
conceito de moira ou destino é muito destacado nos criminosos que tiverem cometido crimes graves,
escritos de Homero, onde há uma versão primitiva do usualmente, quando tiraram a vida de alguém, em
determ inism o (vide). Algumas vezes, o destino ou muitos países do mundo são, por sua veç, executados
sorte opera segundo a vontade dos deuses, nos escritos com a pena capital.
homéricos; mas, ocasionalmente, seu poder é tão 6. Em tempos de guerra, os soldados não somente
grande que até os deuses estão sujeitos ao mesmo. Em são solicitados a matar, mas também são tidos por
Homero, de maneira informal, temos um sistema heróis quando matam a muitos. Audey Murphy, um
ético, algumas vezes muito corrupto, que Heráclito famoso soldado do exército norte-americano, de certa
(vide) e Xenófanes (vide) criticaram acerbamente. feita, estando sozinho, matou mais de duzentos
Como é óbvio, Homero foi muito citado por escritores soldados alemães, destruiu vários tanques e equipa
gregos posteriores, incluindo os filósofos. Suas obras mento pesado, e as pessoas nunca deixaram de
eram uma espécie de Bíblia popular dos gregos, admirar-se de seus feitos, não só nessa, mas também
embora nem sempre aceitas como tal pelos intelec em outras ocasiões. Ele era uma máquina de matar, e
tuais. tornou-se um herói nacional por causa de sua incrível
habilidade. Na Bíblia, os trinta heróis guerreiros de
HOMICÍDIO
Davi ficaram com seus nomes gloriosamente registra
dos, por haverem morto a muitos homens.
Esboço:
I. A Palavra e suas Definições 7. H om icídios A cidentais. Temos aí um caso de
II. Homicídio Justificado hom icídio desculpável, e não tanto de homicídio
III. Homicídio Não Justificado justificável, porquanto esses homicídios acidentais
resultam da falta de cuidado, de estados de
IV. Idéias Bíblicas sobre o Homicídio alcoolismo, etc. A lei é que decide quais punições
V. Punição Capital devem ser aplicadas, como breves períodos de
Podemos falar em termos de homicídio justificado e encarceramento ou de detenção doméstica, etc.
153
H O M ICÍD IO - H O M ILÊTIC A
Acidentes puros e inevitáveis, quando alguém mata, equivalente a uma sentença perpétua. Casos de
por exemplo, uma criança que passa correndo, homicídio justificável, como nas execuções de
atravessando o trajeto de um veículo, não são criminosos, são ilustrados em trechos bíblicos como
castigados segundo a lei. Os homicídios desculpáveis, Gên. 9:6 e Núm. 31:7,8. Jesus defendeu a mulher
com freqüência, são denominados «homicídios não apanhada em flagrante adultério, e impediu a sua
premeditados», uma classe de matança sem culpa, execução, ainda que, de acordo com as normas
diante dos quais a justiça não se manifesta senão a fim veterotestamentárias, ela devesse ser, sumariamente,
de inocentar. executada. Ver João 8:7. Porém, o Novo Testamento
U I. Homicídio N io Juatificado
concorda com o Antigo Testamento, em defesa da lei
(ver I Ped. 2:13,14); e se as leis requerem punição
A expressão «homicídios premeditados» é usada capital para os casos de homicídio não justificável,
para distinguir tais casos dos homicídios justificáveis. podemos encontrar textos de prova neotestamentários
Além disso, esses homicídios premeditados são que aprovam isso. Ver o décimo terceiro capítulo de
divididos em homicídios de primeiro grau e homicí- Romanos, quanto a uma declaração mais extensa do
dos de segundo grau. Os homicídios de primeiro grau princípio envolvido.
incluem casos não somente em que houve malícia,
mas também premeditação, com o propósito voluntá V. Punição Capital
rio e planejamento deliberado de destruir a vida Ver o artigo separado com esse título. Ver também
alheia. A condição mental que leva a essa classe de sobre Crimes e Castigos.
homicídios, geralmente, chama-se «premeditação
maliciosa». E, se alguém termina por matar a uma
pessoa a quem não queria matar, por causa de alguma HOMILÊTICA (HOMILIA)
vicissitude das circunstâncias, embora o tenha feito Essa palavra portuguesa vem do grego, om iletikós,
com aquela atitude mental, isso é considerado como «sociável». O verbo om ileein, significa «estar em
um homicídio premeditado com «transferência de companhia de»; e o substantivo omilos significa
intenção». Exemplifiquemos a situação com a «assembléia». Visto que a sociabilidade está, intima
ilustração de um homem que ataca a outro, o qual é mente, associada à linguagem, esse título, hom ilética,
defendido por uma terceira pessoa. Essa terceira veio a se referir àquele ramo da retórica que trata
pessoa é morta, mas não a vítima tencionada. Isso da composição e entrega de sermões. Em outras
ainda envolve um homicídio premeditado de primeiro palavras, a homilética é a arte de compor e entregar
grau. Esses homicídios de primeiro grau também sermões. Uma hom ilia, por sua vez, é um discurso ou
incluem casos como a morte provocada durante um sermão. As homilias originais, dos pais da Igreja,
assalto ou outro crime semelhante. Todos os eram comentários sobre as Escrituras, envolvendo
indivíduos envolvidos em casos de incêndio culposo, também os trechos bíblicos que eram lidos durante os
furto, estupro e roubo que resultem em mortes, cultos religiosos.
embora estas não tenham sido planejadas, são De acordo com uma definição do Concílio Vaticano
culpados de homicídio de primeiro grau. Além disso, II, uma verdadeira homilia deve ser considerada parte
em alguns países, matar um policial ou outro oficial da liturgia eclesiástica. Mas, em um sentido
do governo é considerado, automaticamente, um secundário, mesmo dentro da Igreja Católica Roma
homicídio de primeiro grau. na, uma homilia é um sermão. Seja como for, torna-se
H om icídio de segundo g ra u . Esse caso também não óbvio, nas páginas da história, que o sermão, tanto na
é justificável, embora considerado menos culpado que sinagoga como nas Igrejas cristãs, sempre ocupou um
os homicídios de primeiro grau. Por exemplo, os papel de destaque. Paulo salientou o poder e a
crimes que envolvem paixão, quando um homem utilidade da pregação (ver I Cor. 1:18 ss).
mata a um amante ou sedutor de sua esposa. Ou As homilias mais antigas que ficaram preservadas
então, os crimes cometidos durante discussões ou até nós são as de Orígenes. As homilias cristãs
brigas, embora não houvesse malícia e premeditação ocorriam após a leitura de algum texto bíblico,
anteriores. porquanto eram os comentários feitos com ba$e nesse
Os hom icídios não justificáveis podem assumir a texto, de modo formal ou informal. Podemos supor
forma de um acidente, provocado pelo descuido com que tais comentários eram preparados de antemão, e
que alguém agia, sendo um acidente que poderia ter que não eram apenas extemporâneos. O sermão (em
sido evitado. Um homem que se alcoolize e mate a grego, logos-, em latim, oratio) parece ter sido um
outrem em um acidente, em resultado de estar tanto mais formal, pois necessariamente estava
embriagado, não pode justificar o seu crime. Porém, vinculado à leitura de algum texto bíblico. Essa
casos assim não envolvem homicídio de primeiro ou palavra portuguesa, «sermão», vem do latim, serm o,
de segundo grau. Esses casos são rotulados como que significa «fala». Coletâneas muito antigas e da era
homicídio culposo. Mas, se uma morte foi causada medieval, de homilias, tornaram-se bastante numero
por puro acidente, então trata-se de hom icídio sas. A Igreja Anglicana imprimiu um Livro de
involuntário. Dentro dessa categoria cabem aqueles H om ilias, para garantir a substância no ensino e na
casos em que, por exemplo, os pais não cuidam pregação, em suas Igrejas, e para impedir as
apropriadamente de seus filhos, no tocante à saúde e deficiências e os erros de pregadores despreparados,
à alimentação, e eles chegam a morrer por causa de quem não se poderia esperar que pregassem
disso. sermões convincentes.
Como uma disciplina, a homilética é aquele ramo
IV. Idéias Bíblicas Sobre o Homicídio da teologia prática e das habilidades ministeriais que
O sexto mandamento da lei mosaica condena todo trata das regras relativas à preparação e entrega de
homicídio ilegal (ver Êxo. 20:13). A lei do amor, sermões. O assunto tem sido seriamente considerado
ensinada por Cristo, engloba a condenação do pelas igrejas e pelos seminários bíblicos. A obra de A.
homicídio (ver Mat. 22:29). O assassínio é tratado Vinet, H om iletics ou The Theory o f Preaching,
como um dos crimes humanos mais horrendos, nas publicada em 1853, tinha quase quinhentas páginas.
Escrituras Sagradas, devendo ser punido com a morte As regras homiléticas ajudam o pregador, mas todo
do culpado (Núm. 35:31). Caim foi o primeiro pregador bem dotado parece receber uma capacidade
homicida do mundo (Gên. 4:8). No entanto, recebeu o que lhe é dada pelo Espírito, e ele segue essas regras
154
H O M ILÉ T IC A - HOM OEOUSIANOS
quase naturalmente. Talvez a primeira regra da boa Também só conseguiu imitar um certo gesto
pregação consista em abordar questões importantes, intempestivo desse pregador; mas não soava como ele,
sentindo a importância das mesmas para as almas. de forma alguma. Algumas vezes, a despeito dos mais
Quando essa condição prevalece, a expressão verbal é concentrados esforços dos mestres e dos alunos, nada
muito mais eloqüente e convincente do que em caso de especial acontece. Um certo colega observou, após
contrário. Uma outra regra fundamental é a do um sermão que ele mesmo pregara: «Puxa, que
conhecim ento. Alguns pregadores são capazes de mensagem enradonha»
esconder sua superficialidade, mediante o uso de 7. Crítica dos Serm ões. Geralmente feitos ou pelo
observações espirituosas e de algumas poucas boas professor de homilética ou pelos colegas de classe.
ilustrações. Porém, os melhores pregadores são Um pregador habilidoso pode dizer coisas boas,
aqueles que realmente têm alguma coisa para dizer. mesmo que não seja um bom pregador. Durante
Bradar em altas vozes não substitui a substância do algum tempo, recebi os sermões impressos de um
sermão. Um eloqüente pregador do passado, Henri antigo amigo meu, que era pastor de uma Igreja
que Ward Beecher, dizia que ele gritava mais quando evangélica. Ele se tornara um notável pregador, que
menos tinha para dizer. passava horas intermináveis preparando os seus
A maior parte doe curto« teológico« inclui, pelo sermões, que, uma vez impressos, pareciam mais
menos, um curso de homilética. Segundo minhas documentos de pesquisas do que mesmo sermões.
próprias observações, visto que fiz dois cursos de Certa ocasião, ele perguntou qual a opinião daqueles
homilética, quandc me preparava para o pastorado e a quem enviava os seus sermões impressos. Enviei-lhe
o trabalho missionário no estrangeiro, é que tais aulas uma carta dizendo que via uma real dificuldade nos
são úteis, embora também possam servir de seus sermões. «Eles são tão bons que se algum
empecilho para certos alunos. Lembro-me de certo pregador preguiçoso se apossar deles, nem mais terá
estudante que, na primeira vez em que falou perante de estudar».
os colegas, entregou uma mensagem inspiradora.
Mas, quando foi forçado a pensar em regras, esboços, HOMILIA
gestos apropriados, etc., sentia-se muito tolhido e se Ver sobre Homilética (Homília).
tornou um pregador muito menos capaz. Por outro
lado, minha primeira familiaridade real com os HOMILIÀRIO
comentários (que têm sido meus inseparáveis compa Ver o artigo separado sobre Homilética (Homilia).
nheiros desde então) surgiu devido ao meu desejo de Os homiliários eram coletâneas de sermões, compila
dizer coisas eruditas, interessantes e bem pensadas, dos para benefício dos pregadores das paróquias e
perante meus colegas de seminário. Quando me congregações, ou para serem lidos pelo clero em
formei teologicamente, já havia ganho a reputação de certas ocasiões especiais ou para sua ilustração
ser um pregador «profundo». Mas quero agora pessoal. O primeiro dos chamados pais da Igreja a
confessar que essa profundeza era copiada dos compilar homilias foi Orígenes. Essa prática tornou-
mestres do passado, cujos escritos eu sempre se popular em Alexandria, de onde veio a propagar-
consultava, mas que os outros alunos não se se, tornando-se muito generalizada desde os primeiros
importavam em examinar. Um incidente cômico séculos do cristianismo. No período medieval, os
ocorreu certo dia em classe, quando uma nova aluna homiliários eram populares e muito usados.
fez alguma declaração que parecia autoritária, e o
professor da classe indagou de quem ela havia citado. Homo Mensura Ver depois de Homolofoumena.
E ela replicou: «Champlin disse isso». Alguns alunos
acharam muita graça e riram abertamente. Mas, em
outra ocasião, entreguei um bom sermão, com minhas HOMOIANOS
próprias observações (tomadas por empréstimo dos Esse era um termo usado pelos arianos, quando
mestres do passado). Certo aluno, ao fazer sua crítica tentaram criar sua própria doutrina cristológica (ver o
do meu sermão, comparou-me com o Dr. M.R. De artigo sobre Cristologia), com a qual todos eles
Hann, e isso contrabalançou pelos risos daquela pudessem concordar. Eles afirmavam que o Filho é
ocasião anterior. homoios {parecido com o Pai). Esse conceito foi
A homilética cada vez mais é considerada uma adotado em uma série de fórmulas, durante os anos
disciplina importante nos seminários e institutos de 359 e 360 D.C., adotadas como as normas
bíblicos. Uma boa e volumosa literatura se tem eclesiásticas oficiais do imperador Constâncio. Toda
formado a respeito. Alguns princípios homiléticos via, a fórmula não satisfez àqueles que acreditavam
ensinados são os seguintes: que o Filho é possuidor de idêntica natureza com o
1. C onhecim ento. O pregador deve ter algo a dizer, Pai. Ver os artigos intitulados Trindade e H om oiou-
bem alicerçado sobre o conhecimento bíblico. sianos.
2. Tipos de Serm ão. Há sermões textuais, tópicos e
expositivos, ou então, combinações desses tipos.
3. M étodos de Organização de M aterial. Paralela HOM OIOUSIANOS
mente, devemos pensar nas ilustrações apropriadas. Esse é o nome dado àqueles que tomavam posição
4. Uso de Gestos Apropriados. (Nunca fui bom intermediária entre as crenças dos arianos conciliado
quanto a esse particular). res (ver sobre os H om oianos) e aqueles que se
5. História da Prédica. Isso deve incluir o estudo apegavam estritamente ao credo niceno. Eles também
dos sermões de pregadores eloquentes bem conheci eram chamados de sem iarianos ou de sem inicenos.
dos. Seu principal líder foi Basílio de Ancira.
6. Devem ser convidados bons pregadores, que O termo que eles usavam, hom oiousios é a palavra
demonstrem a sua arte. Em certas ocasiões, isso não grega que significa «de substância similar». Eles
funciona. Certo estudante, após ter ouvido um grande afirmavam que o Filho é dotado de uma substância
pregador, tentou imitá-lo, quando surgiu a primeira essencial parecida com o do Pai. Naturalmente, isso
oportunidade. Mas, a única coisa que ele foi capaz de não satisfazia àqueles que exigiam que não se fizesse
imitar foi um certo gesto nervoso do pregador. Um qualquer distinção entre a substância do Pai e a
outro aluno resolveu que imitaria Billy Graham. substância do Filho, conforme é requerido pela
155
HOMO - H OM O SSEXU ALISM O
doutrina trinitariana. O lema deles aparece nessas Esse termo combina o grego hom o, «mesmo», com o
duas palavras gregas, hom oi e ousios. Essa gente se latim, sexus, «sexo». O latim já havia tomado por
opunha ao lema contrário, expresso pelas palavras empréstimo a palavra grega hom o, a qual aparecia em
gregas hom o ousios (vide), empregado pelos defenso algumas palavras latinas compostas. Assim sendo, o
res do credo ortodoxo, conforme o mesmo se termo hom ossexual pode ser considerado secundaria
desenvolvera no século IV D.C. Eles diziam que a mente derivado do latim.
ousia não é um termo bíblico, e que o Novo Um indivíduo hom ossexual (homem ou mulher) é
Testamento não ensina qualquer coisa que possa ser uma pessoa que se deixa atrair sexualmente por
expressa pelo lema homo onafot. Tudo isso por indivíduos do mesmo sexo, ou como mero desejo
sentirem que o trinitarianismo destrói o monoteísmo sexual, ou mediante contactos sexuais reais. O termo
(vide). lesbianism o indica essa atração homossexual entre
mulheres. Lesbos era o nome de uma ilha grega, onde
as mulheres relacionavam-se amorosamente a outras
HOMO M ENSURA mulheres. Especificamente, Safo e suas seguidoras,
Essa expressão latina significa «o homem é a que moravam na ilha de Lesbos, eram lésbicas. Essa
medida». Descreve a doutrina do filósofo sofista ilha fica ao largo das costas noroestes da Turquia.
grego, Protágoras (vide). Ele asseverava que «o Também se chamava Mitilene.
homem é a medida ou padrão de todas as coisas». Isso Os homossexuais do sexo masculino também são
reflete uma interpretação humanista da ética, da conhecidos como sodom itas, com base nas informa
política e da metafísica. Foi assim que se chegou a um ções bíblicas acerca dos costumes sexuais da cidade de
relativismo humanista. De acordo com este, todas as Sodoma. Ver o artigo separado sobre a Sodom ia, bem
questões seriam determinadas pelo auto-imeresse como os trechos bíblicos de Gên. 19:1-14; I Reis
humano, e não por algum padrão que nos é imposto 14:24; II Reis 23:7 e Rom. 1:26 ss. Esse vocábulo
de fora, por alguma força divina, por Deus, por também pode indicar relações sexuais com animais
Escrituras Sagradas ou por coisas semelhantes. O irracionais, embora, mais precisamente, deva ser
artigo sobre Protágoras entra em detalhes sobre a empregado o termo bestialidade, sobre o que também
questão. apresentamòs um artigo separado nesta enciclopédia.
Além desses, existem também os bissexuais, que
praticam o sexo com pessoas de ambos os sexos.
HOMOOUSIOS Finalmente, embora a palavra heterossexualidade
Essa palavra grega, que pode ser analisada por suas seja reservada para indicar pessoas que, normalmente
constituintes — hom o e ousia — significa «consubs têm relações sexuais com pessoas do sexo oposto, ela
tanciai», isto é, «da mesma natureza». Atanásio (293 não indica que os que assim fazem não tenham
— 372 D.C.) foi o campeão desse conceito, o qual quaisquer aberrações em seus costumes sexuais,
serviu de base do conceito adotado pelo concílio de como, por exemplo, o sadismo, o masoquismo ou o
Nicéia(vide), de 325 D.C. A expressão quer dizer que voyeurismo.
Deus Pai e Deus Filho compartilham exatamente da Quase todos os animais irracionais têm períodos
mesma substância ou natureza. O Pai e o Filho específicos de reprodução, ou «cio». Fora desses
possuem uma única substância, são numericamente períodos, não parecem se importar muito com as
idênticos um ao outro e são indivisíveis, tudo o que atividades sexuais. As leis civis, morais e religiosas
contrasta com várias idéias arianas, que distinguiam a tendem por forçar o homem moderno a aceitar a
natureza do Pai da natureza do Filho, como se o m onogam ia (vide). Alguém já comentou, em tom de
Filho fosse diferente e inferior ao Pai, em algum piada, que, a fim de compensar por isso, o homem
sentido. recebeu um período reprodutivo o ano inteiro. Seja
Os arianos extremados eram chamados an-omoi- como for, o ser humano do sexo masculino é o mais
anos. A posição deles frisava não somente as supostas sexual de todos os animais. E até mesmo a mulher se
diferenças essenciais entre o Pai e o Filho, mas mostra mais intensamente sexual do que a maioria
também enfatizava as dissem elhançàs entre eles, em dos animais irracionais. Se, além disso, injetarmos a
vez de tentar diminuir a idéia de que, de alguma psicologia e a genética pervertidas, obteremos uma
maneira, o Pai e o Filho são semelhantes, conforme cena realmente selvagem entre nós.
diziam os arianos moderados. A sílaba an, dentro da
palavra «anomoianos», funciona como partícula H. Causas Alegadas do Homossexualismo
negativa. Por meio de muitas contorsões, a Igreja Os homossexuais praticam o sexo da maneira que
antiga estava procurando explicar um mistério preferem, chegando a pensar que ela é superior à
inexplicável, e os termos que eram usados ilustram maneira normal, heterossexual. Porém, as confissões
essa circunstância. O artigo geral, Cristologia, conta a obtidas pela psicanálise revelam que muitos (mas
história inteira. não todos) homossexuais, realmente, gostariam de
Por ocasião do concílio de Nicéia, foram derrotadas se livrar de seu vício, que importa em sério estigma e
as diversas posições arianas e semi-aríanas, tendo sido empecilho social e econômico, para nada falarmos
adotado o conceito expresso pelo lema do hom o sobre as implicações morais e espirituais do
ousios. Ver também o artigo sobre o A rianism o. homossexualismo. Isso tem levado a psiquiatria e a
medicina a tentar achar as causas e as terapias
relativas a essa aberrante condição.
HOMOSSEXUALISMO Causas Possíveis:
Esboço: I. Muitas pessoas religiosas não demonstram a
I. Definição menor paciência com os homossexuais. Elas supõem
II. Causas Alegadas do Homossexualismo que o problema tem um único aspecto — a perversão
moral. É verdade que assim sucede, em muitos casos
III. Tratamento e Prevenção do Homossexualismo de homossexualismo. Mas a idéia de que todos os
IV. Pontos de Vista Bíblicos casos de homossexualismo só têm essa causa, parece
V. Estatísticas ser exagerada. Por igual modo, muitas pessoas
I. Definição religiosas opinam que o homossexualismo é de
156
H OM O SSEXU ALISM O
inspiração demoníaca, sendo uma atividade pecami Assim, ao que se presume, o homossexual médio
nosa, especialmente degradante, porquanto perverte, (com muitas exceções) é alguém cuja mãe mostrava-
simbolicamente, a fonte mesma da continuação da se, exageradamente, 'íntima, possessiva e dominadora
vida biológica. e cujo pai era indiferente e hostil, e geralmente
2. Outras pessoas, que creem na reencarnação desprezado pela mãe. Sob tais circunstâncias, o rapaz
(vide), insistem que muitos casos de homossexualida acaba, exageradamente, apegado à sua mãe, muito
de existem porque as pessoas envolvidas pertencem a dependente dela, ao mesmo tempo em que teme e
um determinado sexo; mas, por ocasião da reencar mesmo odeia o seu pai. Um outro fator importante é
nação, nasceram com o sexo oposto. Tais almas, pois, simplesmente o m edo diante do sexo oposto, o que
não teriam conseguido adaptar-se à nova situação, leva a pessoa a encontrar um relacionamento mais
lan Stevenson, chefe do Departamento de Parapsi livre e, finalmente, mais íntimo, com pessoas de seu
cologia da Universidade de Virgí.iia, nos Estados próprio sexo.
Unidos da América do Norte, investigou mais de dois No caso das lésbicas, parece que suas mães tendem
mil casos de alegada reencarnação. Entre esses, ele por mostrar-se hostis e competitivas com elas.
descobriu alguns notáveis exemplos de suposta Interferem com os relacionamentos normais que suas
transferência de sexo, que resultaram em homos filhas tentam estabelecer com homens, incluindo as
sexualismo. A teoria envolvida é que a alma, relações amistosas com seus genitores. Tanto os
normalmente, manifesta-se através de corpos físicos rapazes quanto as moças tendem por sentir-se
de um único sexo. Assim, para exemplificar, uma solitários, isolados e perturbados em sua capacidade
certa alma preferiu manifestar-se sempre como de estabelecer relacionamentos normais com outras
mulher, fazendo isto constantemente em todas as pessoas. Como adolescentes, raramente marcam um
suas reencarnações. Mas, se tal alma reencamar-se encontro com algum membro do sexo oposto. E,
como homem, em uma específica reencarnação, desde tenra idade, antes mesmo dos dezesseis anos, já
então, tal alma poderia perder o controle da questão, se sentem como homossexuais. Em alguns casos, já se
daí resultando o homossexualismo. Acredito que as sentem tais desde os dez anos de idade. Todavia, há
investigações a respeito deveriam prosseguir, como estudos que mostram que meninos bem pequenos
parte da investigação geral sobre a própria reencarna sentem prazer por estar com outros meninos, embora
ção. As evidências obtidas poderiam confirmar ou não se sintam muito avessos à presença de meninas. As
essas teorias; mas seria ridículo interromper as confissões de tais pessoas por muitas vezes apoiam o
investigações científicas. Ê possível que alguns casos que aqui digo sobre esse condicionamento psicológi
de homossexualismo sejam causados por alguma co, embora nem sempre. Algumas dessas pessoas,
circunstância assim. Ver o artigo sobre a Reencarna aparentemente, desde a mais tenra idade, simples
ção, no tocante ao que essa questão pode dizer contra mente sentiam-se atraídas por pessoas do mesmo
ou a favor dessa teoria. sexo, não tentando lançar a culpa sobre quem quer
3. H om ossexualism o Forçado. Os encarcerados, que seja.
confinados por longos períodos, incapazes de 7. H om ossexualism o G enético. O utras fontes
qualquer contacto heterossexual, algumas vezes informativas sobre o assunto, geralmente, negam
voltam-se para a sodomia ou para o lesbianismo, em qualquer conexão genética; mas há quem acredite que
busca de satisfação sexual. Mas também há aqueles existe tal coisa como o homossexualismo por
que apelam para essas práticas em troca de dinheiro, imposição genética. Estudos sobre as condições
tornando-se servos dos autênticos homossexuais. hormonais, genéticas e cromossômicas do corpo,
Existem razões sociais e econômicas que nada têm a durante muito tempo não revelaram qualquer
ver com as inclinações naturais dos indivíduos, diferença entre pessoas heterossexuais e pessoas
quanto às questões sexuais. homossexuais. Mas, atualmente, há algumas evidên
4. Bissexualism o Básico com Seleção Final. cias de que, realmente, existem certas diferenças
Sigmund Freud afirmava que todas as pessoas têm daquela natureza, entre tais pessoas, principalmente,
aspectos masculinos e femininos em sua formação envolvendo os cromossomos. Estudos genéticos
psíquica, e que todas as pessoas atravessam um demonstram que há uma maior incidência de
período de hom oerotism o, isto é, de atração por homossexualismo entre os gêmeos idênticos do que
indivíduos do mesmo sexo. Essa teoria também entre os gêmeos não-idênticos. Na verdade, porém,
afiança que as condições ambientais levam o estamos tratando de uma ciência ainda jovem e
indivíduo, finalmente, a escolher entre o heteros- imprecisa; mas o poder da genética, usualmente, tem
sexualismo e o homossexualismo. Os heterossexuais sido subestimado pelos ambientalistas. Haveria casos
(pelo menos muitos deles), presumivelmente, retêm de homossexualidade que seriam meros acidentes
tendências homossexuais latentes, podendo reverter genéticos.
ao homossexualismo, mais tarde na vida. Como é
óbvio, essa teoria de Freud tem exercido poderosa 8. A Genética e a Espiritualidade. Se a genética é
influência sobre a maneira como os psiquiatras têm capaz de criar casos de homossexualismo, poderíamos
enfrentado a questão. dizer que um homossexual dessa categoria é culpado?
Quando ainda era apenas um ente espiritual, teria
5. Neutralidade Básica. Muitos estudiosos supõem podido exercer qualquer controle sobre suas futuras
que é mais acurado falarmos sobre neutralidade inclinações sexuais? Aqueles que crêem na teoria
básica, em vez.de bissexualismo básico. Nesse caso, genética materialista, naturalmente, respondem com
ainda estaríamos falando sobre condicionamento um «não». Mas, se supormos que a alm a, a pessoa
ambiental como fator preponderante na homossexua essencial, pode exercer controle sobre o seu código
lidade. Os envolvidos, pois, começaram com uma genético, para melhor ou para pior, então poderíamos
psique sexualmente neutra, em vez de se inclinarem dizer, ao menos como especulação, que um homos
como machos ou fêmeas. sexual, utilizando-se do seu código genético, chegou a
6 . Condições que Favorecem o H om ossexualism o.
Coisa alguma se sabe com certeza, quanto a essas
ser tal por causa de sua própria natureza moralmente
degenerada. Entretanto, todas essas são meras
condições. Mas muitos pensam que a mãe é uma das teorias, e não fatos comprovados. Todavia, algum dia
principais causas do homossexualismo de um rapaz, o nosso conhecimento sobre a natureza humana talvez
embora também encontrem problemas com o pai. aumente até o ponto em que mistérios como esses
157
H OM O SSEXU ALISM O
venham a ser adequadamente explicados. Seja como pia, o desejo de m udar é algo fundamental. As
for, não nos devemos olvidar que a pessoa é um estatísticas têm demonstrado que entre 25 e 50
espírito, e não um corpo; e que esse espírito pode por cento dos homossexuais do sexo masculino,
exercer toda espécie de efeito sobre o corpo físico. E, motivados a mudar, têm sido capazes de fazê-lo,
embora nosso conhecimento, até o momento não através do aconselhamento e da psicoterapia.
possa demonstrar francamente isso, pelo menos Podemos supor que essa porcentagem pode ser
permite-nos postular essa idéia como uma teoria melhorada, se houver a inclusão de aconselhamento
viável. Se a alma é preexistente e está se encarnando espiritual, sobretudo nos casos de autêntica conver
pela primeira vez, ou então, talvez, por uma outra vez são, quando então a taxa de mudança aumenta para
(se a reencarnação é uma realidade), então a alma cem por cento.
seria capaz de causar toda forma de condição, boa e Estímulos externos, como a propaganda bem
má, para caracterizar seu veículo físico, expressando- dirigida, têm sido aplicados com sucesso, em alguns
se de determinadas maneiras. •- casos. Uma das experiências emprega gravuras de
9. Causas M últiplas. Usualmente, as questões mulheres nuas, com o acompanhamento de estímulos
complexas precisam de explicações múltiplas, e não agradáveis, ao mesmo tempo em que gravuras de
simples. Sabemos que alguns indivíduos homos homens nus são acompanhadas por choques elétricos.
sexuais tornam-se tais devido a condições externas, O tratamento por meio de drogas e hormônios não
conforme se destacou no terceiro ponto, acima. tem produzido os resultados positivos que eram
Também sabemos que algumas pessoas têm tendên esperados. Naturalmente, a maioria dos homosse
cias homossexuais latentes, que nunca chegam a xuais nem busca qualquer tipo de ajuda, pelo que,
tornar-se uma realidade. E sabemos que alguns quando muito, estamos falando em termos de um
homossexuais, aparentemente, foram tais desde a sucesso extremamente limitado.
mais tenra idade, sem quaisquer condições especiais IV. Ponto« de Visto Bíblico*
adversas, que os tenha obrigado a enveredar por tal
caminho. Casos variegados parecem indicar a daAhomossexualidade
Bíblia é um documento que aborda o problema
do ângulo moral e espiritual. As
existência de certa variedade de causas. Escrituras não levam em conta possíveis causas
m . Tratamento e Prevenção do Homossexualismo genéticas e outras de natureza não-espiritual. O
Visto que as causas do homossexualismo são, Antigo Testamento mostra-se extremamente severo
evidentemente, múltiplas, terapias adequadas preci quanto ao assunto, requerendo a pena de morte para
sam incluir uma abordagem complexa. Se o problema os homossexuais, indicando que o homossexualismo
envolve a perversão moral (conforme se dá em muitos está alicerçado sobre uma profunda perversão moral.
casos), então o problema básico jaz na baixa Ver Lev. 18:22,29; 20:13, quanto à pena de morte
espiritualidade. Quando um homossexual assim é imposta aos casos de homossexualismo.
espiritualmente reorientado, mormente através da Em Romanos 1:26 ss, Paulo mostra sua consterna
conversão a Cristo, e então por meio do poder ção diante do homossexualismo. Ele atribui essa
santificador do Espírito Santo, ele é capaz de vencer condição à apostasia geral em que os homens caíram,
seu homossexualismo, da mesma maneira que se dá afastando-se de Deus. Especificamente por terem
com qualquer outro pecado comum à humanidade. reduzido a verdade de Deus em mentira, isto é, em
Nesses casos, o aconselhamento cristão mostra-se crassa idolatria (ver Rom. 1:25), Deus os entregou «a
muito útil. paixões infames». Portanto, quando alguém se afasta
de Deus pode sofrer muitas conseqüências temíveis;
Mas, nos casos de homossexualismo com causa uma delas é a perturbação da natureza moral,
genética (o que parece ser o que acontece, pelo menos passando a pessoa a amar os atos mais errados e
em alguns casos), todas as terapias tenderão por desgraçados. Parte dessa desgraça, de acordo com
fracassar, por mais diligentes e bem intencionadas que Paulo, é o homossexualismo. Naturalmente, ele não
sejam. Um ponto importante, no tocante a essa leva em conta, naquela passagem, outras causas, que
questão, é a falta de interesse que os homossexuais certamente também atuam. Porém, até onde ele vai,
demonstram por tornarem-se heterossexuais. Eles não temos dúvidas de que nos disse a verdade.
gostam de sua condição, apesar das consternações Precisamos considerar com seriedade as condições e
que provocam entre seus familiares e na sociedade em os valores morais, reconhecendo que a alma humana
geral. Além disso, ocorre uma tremenda promiscui pode envolver-se em toda espécie de perversão
dade entre os homossexuais, ultrapassando em muito prejudicial e repelente.
aos impulsos sexuais dos heterossexuais. Isso parece Não obstante, nós, que não somos homossexuais,
refletir a mera perversão moral, que se manifesta não podemos olvidar-nos de uma coisa, e nem nos
mediante a intensificação frenética das tendências podemos orgulhar: existem muitos outros pecados
pecaminosas dessas pessoas. morais, além do homossexualismo. Os heterossexuais
A experiência tem mostrado que o desejo de mudar, também pervertem o código moral de Deus. Também
juntamente com sentimentos de culpa, têm ajudado tornamo-nos culpados dos pecados do paganismo e da
os homossexuais a abandonarem o seu desvio. Por idolatria. O fato de que não somos homossexuais não
outro lado, se algum indivíduo homossexual não se nos torna santos. Faz parte da responsabilidade de
sente motivado a mudar, e nem sente qualquer culpa, todas as almas buscarem a perfeição moral e
então seu caso é deveras difícil. metafísica. Todos nós, seres humanos, temos defeitos
O aconselhamento psiquiátrico é um método de crassos, que necessitam atenção e mudança. Adicio
terapia comum. O psiquiatra procura desvendar a nemos a isso o elemento do amor e da misericórdia
causa ou causas da condição e, por meio disso, tenta cristãos. Os homossexuais precisam ser tratados de
reverter o comportamento. Interessante é observar modo misericordioso. Precisamos ajudá-los desinte
que quase todos os psiquiatras pensam que o ressadamente, como faríamos no caso de qualquer
homossexualismo envolve uma condição psicopática, outro tipo de pecador, aos quais o evangelho de Cristo
desnaturai, mesmo quando relutam em falar em foi enviado.
termos de pecado e de arrependimento. E passam a
procurar a cura para a condição, como fariam no caso V . EatotisticM
de qualquer outro psicopata. Em qualquer psicotera- Experiências homossexuais, usualmente com
H O N EST ID A D E - HONRA
alguns poucos contactos, são extremamente comuns «A honestidade é a melhor norma» (Cervantes).
entre meninos e entre meninas; mas isso envolve mera «Torna-te um homem honesto, e terás a certeza de
curiosidade, e não verdadeira homossexualidade. Há que haverá um safado a menos no mundo» (Thomas
estudos que indicam que, após a adolescência, cerca Carlyle).
de quatro a cinco por cento dos rapazes tomam-se «...pois o que nos preocupa é procedermos
verdadeiros homossexuais, confinando seus contactos honestamente, não só perante o Senhor, como
sexuais somente a pessoas do sexo masculino. O que também diante dos homens» (II Cor. 8:21).
realmente espanta é a elevada proporção de bissexuais H onestidade. Esse é um termo geral que indica
(entre dez e vinte por cento), que tem contactos uma virtude salientada em todos os códigos éticos.
sexuais regulares com pessoas de ambos os sexos. São Denota a disposição e a prática da equidade, da
esses dez a vinte por cento que estão propagando, veracidade e da franqueza, no trato com nossos
diretamente ou mediante as prostitutas, a AIDS, semelhantes. Em particular, aponta para a atenção
entre a população heterossexual. A questão é de do indivíduo aos direitos e às propriedades alheias,
gravidade tal que, dentro de alguns poucos anos, ou respeitando os princípios de conduta de outras
seja, no começo da década de 1990, essa enfermidade pessoas, mantendo-se leal aos acordos assumidos, e
poderá ser a doença social mais grave e mais procurando manter-se isento de toda fraude e
devastadora, no mundo inteiro. Alguém já disse que a impostura» (E)
aids tem contribuído mais para modificar as práticas
sexuais dos seres humanos do que a religião e a H l. Tipos de Honestidade
filosofia têm conseguido fazer em todos os séculos da 1. H onestidade Intelectual. Os pesquisadores
história da humanidade. E outra pessoa qualquer devem chegar a conclusões que condigam com as
declarou: «Nunca mais o sexo será a mesma coisa». descobertas que se podem fazer com base nas
Essa declaração, como é óbvio, contém um exagero, evidências colhidas. O mesmo se aplica no caso da
embora exprima uma verdade, pelo menos durante pesquisa bíblica. Coisa alguma deve ser forçada para
mais alguns anos futuros. É óbvio que as coisas não ajustar-se àquilo que queremos ver. Não podemos
são mais como eram, porquanto chegou a hora de manipular os fatos.
pessoas informadas abandonarem definitivamente a 2. A Ética da H onestidade. A psiquiatria tem
promiscuidade, tanto por razões de saúde quanto por provado os efeitos prejudicais, emocionais e físicos, da
razões espirituais. (H KIN MAR) desonestidade morál. No tocante ao bem-estar físico e
mental do indivíduo, na verdade, «a honestidade é a
melhor norma».
HONESTIDADE Ver também Honra. 3. H onestidade E spiritual. Todas as modalidades
Esboço: de hipocrisia foram condenadas pelo Senhor Jesus
I. Definições e Palavras Bíblicas Empregadas (ver Mar. 6:14; 23:25-28). Assim sendo, o filósofo
II. A Honestidade como Qualidade Ética estava certo, quando declarou: «Precisamos de
III. Tipos de Honestidade pessoas que estejam resolvidas a falar diretamente,
sem qualquer engano, que permaneçam fiéis ao que
I. Definições e Palavras Bíblicas Empregadas dizem» (Camus). A honestidade, no sentido espiri
Honestidade vem do latim honos ou honor, que tual, envolve mais do que aquilo que dizemos. Antes
significa «honra», «honroso», «distinção». A forma de tudo, relaciona-se àquilo que somos. Uma pessoa
adjetiva, honestus, significa «honroso», «de. boa espiritualmente sã, livre de defeitos morais, haverá de
reputação», «glorioso», «excelente», «digno de ser querer falar e agir com honestidade.
honrado». A palavra hebraica mais comum, traduzida
por «honra», nas traduções, é kabed, que envolve o
sentido básico de «pesado», «rico», «honorável». O HONRA
Novo Testamento grego tem kalós, «bom», mas que é Ver o artigo geral sobre a H onestidade.
traduzido por «honesto» em trechos como Luc. 8:15;
Rom. 12:7; II Cor. 8:21; 13:7 e I Ped. 2:12. Esse Esboço:
vocábulo grego significa «livre de defeitos», «belo», I. A Palavra e Seus Sentidos Básicos
«nobre». Aquele que é honesto possui um bom e nobre II. Objetos que Devemos Honrar
caráter, isento dos defeitos que enfeiariam o seu III. Descrições de Honra
caráter. I. A Palavra e Seus Sentidos Básico«
Um homem honesto é aquele que é justo, cândido, Ver sobre Honestidade, seção I. Honra é a
veraz, eqüitativo, digno de confiança, não fraudulen
to. Caracteriza-se pela franqueza, pelo respeito ao consideração que o indivíduo merece receber, na
próximo, pela sua veracidade. As pessoas desonestas forma de dinheiro, de título, de recompensa de
são enganadoras, falsas, infiéis, desleais, fraudulen qualquer tipo, em forma verbal, material ou
tas, hipócritas, mentirosas e sem escrúpulos. espiritual. A honra envolve o respeito que é devido,
que pode ser expresso de muitos modos. No artigo
Um outro termo grego traduzido por «honesto», nas referido acima, damos as definições verbais básicas
páginas do Novo Testamento, é sem notes, «grave», das palavras latinas, hebraicas e gregas envolvidas.
«venerável». Ver I Tim. 2:2; 3:4 e Tito 2:7, onde Além dessas, há certas palavras que não foram
figuram suas únicas três ocorrências. levadas em conta ali, mas que precisam ser
II. À Honestidade como Qualidade Ética consideradas agora, a saber:
Uma sociedade na qual os valores e as verdades 1. D oksa, «glória», «honra». Palavra usada por
estejam sob constante ataque, subitamente descobrirá cento e cinqüenta e sete vezes, conforme se vê, por
que carece muito dos valores que tanto degrada. Sem exemplo, em João 5:41,44; 8:54; II Cor. 6:8; Apo.
a honestidade, não há base para mais nada. Se não 19:7.
houver a verdade, também não haverá a honestidade. 2. Tim e, «honra». Palavra que aparece por trinta e
Se não houver a honestidade, não haverá a duas vezes com esse significado, conforme se vê, por
integridade, e nem personalidades bem formadas. exemplo, em João 4:44; Atos 28:10; Rom. 2:7,10;
«Um homem honesto é a obra mais nobre de Deus» 9:21; 12:10; 13:7; Col. 2:23; I Tes. 4:4; Heb. 2:7,9;
(Alexandre Pope). 3:3; 5:4; I Ped. 1:7; II Ped. 1:17; Apo. 4:9,11;
159
HONRA - HORA
5:12,13; 19:1 e 21:24,26. Hooker era homem de profunda erudição, dotado
Honra envolve estim a e recom pensa. Pode ser de uma qualidade sobre a qual poucos conheciam
prestada por meio de palavras ou de ações. Somos alguma coisa, na época da Reforma protestante, ou
convidados a honrar a Deus com nossas possessões desde então, a saber: tolerância e equilíbrio. Devemos
materiais (Pro. 3:9). Honramos ao próximo, e assim ajuntar que essas qualidades têm sido uma das
cumprimos a lei do amor e honramos ao Pai de todas grandes características da comunidade anglicana, em
as almas, o qual se preocupa como o bem-estar de comparação com outras denominações cristãs.
todos. Nossa maior possessão é o dom da vida, que Hooker serve de notável exemplo histórico disso.
deve ser utilizado no serviço e na adoração ao Senhor. Sua obra, mencionada acima, promovia as
II. Objeto« que Devemos Honrar seguintes i '~;as básicas:
Deus deve ser honrado (Sal. 104:1; Apo. 4:9,11; 1. Ele distinguia entre a lei eterna e a lei natural e
5:12). Nossos pais devem ser honrados (Exo. 21:15; positiva (ver sobre Lei N atural), asseverando que a
Lev. 20:9). O Filho de Deus deve ser honrado (João razão pode descobrir as provisões das leis naturais a
5:23). O sábado deve ser honrado (Isa. 58:13ss) e, por que todos os homens estão obrigados a obedecer.
extensão, todo o nosso tempo disponível deve ser 2. Todo governo, civil ou eclesiástico, repousa sobre
honrado, incluindo dias santos e dias comuns (Rom. a aprovação pública, sem importar se diretamente, se
14:5 ss). O nome de Jesus deve ser honrado (Tia. 2:7). indiretamente, ou através dos antepassados. O
O casamento deve ser honrado, fazendo contraste consentimento, ou o não consentimento, devem
com a prostituição (Heb. 13:4). Israel também é ocorrer por consenso universal.
nação honrada (Deu. 26:19). Os apóstolos devem ser 3. A Igreja e o Estado, para ele, eram aspectos de
honrados (Atos 5:13), como também os sábios (Pro. um único governo. Na Inglaterra, ele favorecia o
3:35). Marido e mulher devem honrar-se mutuamente poder real sobre questões religiosas, e não apenas
(Gên. 30:20; Est. 1:20). Os líderes da Igreja devem ser civis. Como é óbvio, ele promovia a união entre a
honrados (I Tim. 5:17). Cristo, em seus ofícios Igreja e o Estado.
salvatício e medianeiro, deve ser honrado (Heb.
2:7,9). Todos os homens devem ser honrados, HOPKINS, SAMUEL
especialmente a irmandade dos crentes, — que Suas datas foram 1721—1803. Ele foi um teólogo
também devem ser amados (I Ped. 2:17). Os norte-americano, seguidor de Jonathan Edwards e
governantes terrenos precisam ser honrados (Rom. professor que promoveu o calvinismo radical de
13:7), destacando-se o rei (I Ped. 2:17). Devem os Edwards (vide). Seus ensinos podem ser encontrados
crentes honrar-se mutuamente (Rom. 12:10). O na obra System o f D octrines. A santidade autêntica é
Cristo exaltado deve ser honrado (Apo. 19:1,7), como definida nessa obra como benevolência desinteressa
também a Nova Jerusalém (Apo. 21:24,26). da. O amor próprio é condenado tão radicalmente
m . Descrições de Honra
que Hopkins asseverou que ninguém pode ser salvo se
não se libertar do amor próprio. Ele exagerou o ponto
1. Elevadas recompensas e estima prestadas, por ao dar a entender que os eleitos serão amorosos e
motivo de alguma grande realização ou por causa de cheios de benevolência desinteressada, um grande
um caráter moral e espiritual bem formado. ideal, verdadeiramente, mas raramente exemplificado
2. Títulos são conferidos, reconhecendo a erudição, nos seres humanos. E ele tornou a exagerar quando
as realizações ou os serviços prestados por alguém. disse que o auto-amor deve ser tão radicalmente
3. É importantíssimo que o indivíduo aprove-se a si repelido que o indivíduo se disponha, se necessário, a
mesmo, em vista de suas qualidades morais e «ser condenado com vistas à glória de Deus».
espirituais. Declarações dessa ordem lançam dúvidas sobre o
4. Dentro da ética cristã, honramos a Deus por ser âmago mesmo do evangelho, que anuncia o amor
o Juiz de todos os homens, envolvendo o conceito universal de Deus por todos os homens (ver João
inteiro das recom pensas e das coroas, sobre o que 3:16), oferecendo oportunidade de salvação a todos (I
apresentamos artigos separados. Deus lê os nossos Tim. 2:4), até mesmo no lugar de juízo temporário (I
corações, pesa as qualidades espirituais e galardoa de Ped. 3:18 — 4:6).
acordo com a honra que cada um merece. Essa honra Dificilmente honramos a Deus amando-nos menos
(no grego, doksa), que vem de Deus, é perfeita (João do que ele nos ama. Outrossim, o padrão de como
8:54). amamos aos outros é o modo como amamos a nós
5. A honra conferida por Deus a alguém é distinta mesmos (Mat. 19:19). O amor próprio é perfeitamen
do louvor humano, podendo ser obtida mesmo em te legítimo e, de fato, necessário. E um erro quando é
meio à adversidade (João 5:44). exagerado, e assim anula o amor ao próximo. Todos
«Minha honra é minha vida; ambas reduzem-se os tipos de problemas psicológicos e espirituais são,
a uma só coisa; criados quando as pessoas não têm amor e nem
Tirai-me minha honra, e minha vida será destruí respeito por si mesmas. Portanto, afirmo com
da». confiança que Hopkins, seguindo diretrizes calvinis-
(Shakespeare em R ichard II 1.1,182). tas radicais, que reduzem os homens a vermes e
autômatos, exagerou em sua doutrina sobre o amor
próprio. Embora Hopkins tivesse dito que não
devemos ter amor próprio, isso constitui um erro.
HOOKER, RICHARD
Suas datas foram 1554—1600. Teólogo e autor Hor, M onte Ver depois de Hormlsdju (Papa).
inglês. Ele é melhor conhecido por seu tratado
intitulado O f the Laws o f Eclesiastical Polity. Ele
apresentou uma defesa clássica da Igreja Anglicana, HORA
como uma espécie de via m édia entre o que ele No Antigo Testamento:
chamava de extremos de Roma e de Genebra. Em Ver o artigo geral sobre Tem po. A palavra hebraica
outras palavras, ele pensava haver encontrado uma assim traduzida é sa'a, e a palavra grega é ora. No
posição intermediária entre o catolicismo e o Antigo Testamento, essa palavra nunca é usada para
protestantismo. designar um vinte quatro avos do dia, visto que os
160
HORA - H O R EU S
hebreus não dividiam um dia em vinte e quatro partes HOREBE
iguais. A divisão mais primitiva do dia, na sociedade Ver o artigo geral sobre o monte Sbuü. Horebe
hebréia era: manhã, meio-dia e tarde (Gên. 1:5; significa «deserto», «sequidão». Ver Exo. 3:1; 17:6;
43:15). A noite era dividida em vigílias: a primeira, a 36:6; Deu. 1:2,6; I Reis 8:9; II Crô. 5:10; Sal. 106:19
média e o amanhecer (Êxo. 14:24; Juí. 7:9; Lam. e Mal. 4:4. Alguns supõem que Horebe era o nome do
2:19). Ao que parece, os babilônios foram os pico menor do monte Sinai, de onde alguém poderia
primeiros, ou estiveram entre os primeiros, a dividir o descer na direção sul; mas outros estudiosos supõem
dia em doze partes iguais; e Heródoto afirma que esse nome designa a cadeia inteira da qual o Sinai
(História, 2.109) que os gregos derivaram esse era apenas um cume específico. A dificuldade de
costume dos babilônios. O relógio de sol de Acaz (II identificação surge do fato de que, nos livros de
Reis 20:11; Isa. 38:8), provavelmente também era de Levítico e Números, lemos que o Sinai foi o lugar onde
origem babilónica. Ver o artigo geral sobre Vigília. a lei mosaica foi dada. Porém, no livro de
No Novo Testamento: Deuteronômio, Horebe é que aparece, nessa conexão.
1. Uma hora pode indicar um bieve periodo de Nos Salmos, entretanto, os dois nomes parecem ser
tempo (Mat. 26:40). usados intercambiavelmente.
2. Há referências gerais ao tempo, como terceira, O monte Sinai e o deserto que o circunda são
sexta e nona horas, o que corresponde às nossas 9:00 distinguidos como o palco onde tiveram lugar os
horas, 12:00 horas e 15:00 horas. A adoração era eventos historiados quanto ao distrito de Horebe. A
regularmente observada no templo de Jerusalém nas totalidade do Horebe é chamada de «o monte de
horas terceira e nona (Atos 2:15; 3:1), quando Deus», em Êxo. 3:1,13; 4:27 e 17:6. Todavia, o Sinai
ocorriam os holocaustos matinais e vespertinos. aparece isolado, em trechos como Êxo. 19:11,19,23.
3. Um doze avos de um dia é um período indicado Além disso, com freqüência. o Horebe é mencionado
somente em João 11:9, em todo o Novo Testamento. sozinho, e os mesmos eventos que teriam tido lugar
Contudo, há alusões, em outras passagens, que em Horebe também teriam tido lugar no Sinai (ver
mostram que, naquele tempo, já existia a noção de Deu. 1:2,6,19; 4:10; 5:2 e 9:8). Escritores posteriores
que o dia tem doze horas. Assim, encontramos não parecem ter feito distinção entre esses dois
menção à segunda hora (Atos 19:34), à sétima hora nomes, pelo que Horebe é usado em I Reis 8:9; II Crô.
(João 4:52) e à décima hora (João 1:39). 5:10; Sal. 106:19; mas Sinai ocorre em Juí. 4:5; Sal.
4. Uma hora pode indicar um ponto específico no 68:8,17. No Novo Testamento, sempre é mencionado
tempo, um momento, um instante. Ver Mat. 8:13; o monte Sinai (ver Atos 7:30,38; Gál. 4:24,25). Não
9:22 e 15:28. sabemos em que sentido esses nomes parecem
5. Um tempo determinado, como uma intervenção indicar diferentes localizações geográficas, e se ao
divina nas atividades humanas (Mat. 24:36,44,50; menos fazem essa distinção.
25:13; Mar. 13:32; Apo. 3:3,10; 9:15; 14:7,15;
18:10). HOREM
6. Os principais eventos, ou tempos, quando certas No hebraico, «devoto». Esse era o nome de uma
coisas deveriam acontecer como, por exemplo, na vida cidade fortificada do território de Naftali (Jos. 19:38).
de Jesus. Cada uma dessas horas fora estabelecida Ficava ao norte da Galiléia, embora não se saiba, hoje
pelo desígnio de Deus Pai. Ver João 2:4; 12:23,27; em dia, qual a sua localização exata.
13:1; 17:1; Mat. 26:45; Mar. 14:35; Luc. 22:53. Isso
refere-se à providência divina, que determina os
eventos e as ocasiões em que tais acontecimentos HORESA
devem ter lugar. O artigo sobre Tem po, Divisões do No hebraico, «floresta». Esse era o nome de um
fornece-nos mais detalhes, com a ajuda de um lugar onde Davi se refugiou quando fugia de Saul.
gráfico. Esse local ficava no deserto de Zife. Ali Davi e Jônatas
firmaram um pacto (I Sam. 23:15-19). Khirbet
Khoreisa tem sido sugerida como o local da antiga
HORÃO localidade. Fica cerca de dez quilômetros ao sul de
No hebraico, «elevado», «exaltado». Um rei de Hebrom.
Gezer tinha esse nome. Ele saiu em socorro de Laquis,
quando Josué cercava essa cidade; mas foi derrotado e
morto. Ver Jos. 10:33 HOREUS
Esboço:
I. O Nome e sua Identificação
HORAS CANÔNICAS II. Referências Bíblicas
Chama-se assim o sistema de orações que são III. Os Hurrianos
proferidas em horas especificas, durante o dia ou
durante a noite. Essas orações e seus horários I. O Nome e n u Identificação
designados têm várias origens. Pelo menos em parte,
originaram-se da vigília primitiva (as vesperais, as Nomes alternativos, que aparecem nas traduções,
matinas e as laudes; ver os artigos a respeito); e são hori e horins. Os horeus têm sido identificados
também em parte dos momentos devocionais (as com certos «habitantes das cavernas» (em nossa versão
terças, as sextas e as nonas, chamadas de pequenas portuguesa, «enlaçados em cavernas»; ver Isa. 42:22).
horas de oração; ver o artigo sobre P equenas Horas de Talvez haja nisso uma alusão a mineiros. Outros
Oração). Mas também em parte da vida monástica estudiosos, entretanto, pensam que esse nome está
(as primas e as completas; ver os artigos a respeito). ligado ao termo egípcio hurru, uma designação de
Todo o clero da Igreja Católica Romana observa essas povos da região da Síria-Palestina. Esses povos,
oito diferentes horas canônicas (com leves variações). juntamente com Israel, figuram na esteia de
Consideradas como um todo, intitulam-se o Divino Meremptá, com data por volta de 1220 A.C. Essa
Ofício. O âmago desse ofício chama-se saltério.
palavra egípcia aponta para os hurrianos, um povo
não-semita, que fazia parte da população indígena da
Síria, no século XVIII A.C., e que também havia
161
H OREUS - H OR M ISD A S
ocupado a área chamada Suburu, ou seja, a região do 1. Esse era o nome de um dos filhos de Lotã, filho
Eufrates: Habur-Tigre. de Seir e irmão de Hemã (Gên. 36:22; I Crô. 1:39),
Sob a liderança do reino de Mitani, eles chegaram a que viveu por volta de 1964 A.C.
ocupar uma posição dominante na Síria, no sul da 2. Também era o nome do pai de Safate, que foi
Turquia e no leste da Assíria, desde cerca de 1550 representante da tribo de Simeão, entre os espias
A.C., até que os assírios conseguiram subjugá-los, enviados para investigar a terra de Canaã, antes da
em cerca de 1150 A.C. Essa gente aparece ém tabletes invasão dos israelitas naquele território (Núm. 13:5).
em escrita cuneiforme, de Tell Taanach e de Siquém, Isso teve lugar algum tempo antes de 1657 A.C.
bem como nas cartas de Tell el-Amarna, especifica 3. Além disso, em Gên. 36:30, no original hebraico,
mente na carta de Arade-Hepa, de Jerusalém, e na Hori, com o artigo definido prefixado, tem o sentido
carta hurriana de Tushrata a Amenhotepe IV, do de «o horeu» (em nossa versão portuguesa, «os
Egito. Todavia, alguns eruditos afirmam que as várias horeus»), conforme vê, igualmente, em Gên. 36:21,
referências veterotestamentárias existentes não se 29.
ajustam a esse povo. Por exemplo, os nomes pessoais
dos horeus, conforme se vê em Gên. 36:20-30, não se
ajustam aos padrões hurrianos, mas antes, parecem HORMÂ
ser nomes tipicamente semitas. Ora, os hurrianos não No hebraico, «devoção». Esse nome poderia
eram um povo semita. E os predecessores dos significar «devotado à destruição», ou então, a alusão
idumeus, aparentemente, não foram hurrianos. poderia ser a um antiqüíssimo culto religioso. Esse era
O nome horeus aparece em Gên. 34:2 e Jos. 9:7; e a o nome de uma cidade que foi tomada dos cananeus
Septuaginta retém ali esse nome. Quanto ao trecho de pelas tribos de Judá e Simeão (Juí. 1:17; Núm. 21:3;
Isa. 17:9, tanto o texto massorético quanto a Jos. 19:4; I Crô. 4:30). Seu nome original era Zefate.
Septuaginta substituem o nome por outras formas. Era uma importante cidade do rei cananeu do sul da
Por essas razões, alguns eruditos supõem que ali há Palestina (Jos. 12:14), estando localizada perto do
fhenção aos horeus ocidentais e aos horeus orientais, lugar onde os israelitas foram molestados pelos
sabendo-se que estes últimos foram os antecessores amalequitas, quando, contra o conselho de Moisés,
dos idumeus, na região. Nesse caso, os horeus eles tentaram entrar na terra de Canaã por aquele
ocidentais não eram semitas; mas os horeus orientais caminho. Ver Núm. 14:45 e comparar com Núm.
o eram. Aqueles do ocidente eram aparentados dos 21:1-3 e Deu. 1:44.
hurrianos, que aparecem nos textos extrabíblicos do Quando Israel conquistou a Terra Prometida, esse
segundo milênio A.C. Adicionemos a isso que a lugar foi alocado à tribo de Judá (Jos. 15:30); mas,
palavra, quando se refere aos horeus orientais, posteriormente, ficou sob a posse da tribo de Simeão
significa «habitantes das cavernas», ao passo que a (Jos. 19:4 e I Crô. 4:30). Os trechos de Jos. 15:30 e I
etimologia do nome dos horeus ocidentais é obscura, Sam. 30:30 indicam que o lugar ficava perto de
aparentemente, não relacionada ao outro nome, Ziclague. Albright, nos tempos modernos, identifi
embora similar ao mesmo. cou-o com Tell es-Seri’ha, cerca de vinte quilômetros
D . Referências Bíblicas
a noroeste de Berseba. Nesse lugar houve uma extensa
civilização pertencente à era do Bronze posterior, mas
Os horeus foram derrotados por Quedorlaomer e que continuou ocupado até dentro da idade do Ferro.
pelo exército mesopotâmico invasor (Gên. 14:6). Eles Tell es-Seba’, cerca de cinco quilômetros a leste de
eram governados por chefes locais (Gên. 36:29,30; em Berseba, também tem sido sugerida como o local
nossa versão portuguesa, «príncipes»). Entretanto, os antigo. O passo de es-Sufa, a suleste dali, também
descendentes de Esaú praticamente exterminaram- tem sido mencionado pelos estudiosos, embora tudo
nos (Deu. 2:2,22). O nome deles está relacionado ao não passe de conjecturas. Qualquer identificação
termo hebraico «hor», que significa «monte» ou precisa corresponder à área em torno de Ziclague. O
«caverna». Se eles não eram mineiros, então, eram trecho de Jos. 12:14 localiza o local entre Geder e
uma população primitiva que realmente residia em Arade. E o trecho de Jos. 15:30 o situa entre Quesil e
cavernas. Essa gente parece não estar relacionada em Ziclague, ao passo que o trecho de Jos. 19:4 localiza-o
coisa alguma aos hurrianos; mas também não existem entre Betei e Ziclague. Por sua vez, a passagem de Jos.
evidências arqueológicas que iluminem a cultura 15:30 indica que ficava no extremo sul, já perto da
deles. fronteira com Edom.
OI. O« Hurrianoc
Temos procurado mostrar que, provavelmente, HORM ISDAS (PAPA)
houve dois povos diferentes, que foram confundidos As datas de seu pontificado foram 514—523 D.C.
um com o outro, devido à similaridade entre seus Ele nasceu em Láciode uma rica família. Fora casado
nomes. No entanto, um desses povos era de origem e tivera um filho, que, curiosamente, também veio a
semita, e o outro, não. Ver o artigo separado sobre os tornar-se papa, com o nome de Silvério, o qual
Hurrianos. pontificou entre 536 e 537 D.C. Hormisdas fora
diácono sob o papa Símaco (498—514 D.C.), ao qual
HOR-GIDGADE substituiu na sé de Roma. Sua primeira obra
importante como papa foi pôr fim ao cisma de
Ver também sobre Gudgodá. Esse nome significa Laurêncio, um antipapa. O patriarca Acácio (vide),
«buraco no monte». Foi o trigésimo terceiro lugar de Constantinopla, foi o responsável por outro
onde Israel acampou, — durante suas marchas pelo rompimento da unidade. E as negociações para sarar
deserto (ver Núm 33:32,33). O nome G udgodá (Deu. o rompimento resultaram na Form ula H orm isdae,
10:7), evidentemente, é um nome alternativo. Alguns que foi citada por autoridade e concílios posteriores.
têm identificado esse lugar com o wadi Ghagaghed. Em 519 D.C., o cisma, finalmente, terminou. Aquela
Fórm ula requeria que os bispos assinassem uma
profissão de fé, reconhecendo as doutrinas exaradas
HORI no concílio de Calcedônia e pelo papa Leão.
No hebraico, «habitante das cavernas». Há três Por sua orientação, Dionísio Exíguo traduziu o
pontos que precisamos destacar a respeito: cânon da Igreja grega para o latim. Ele também
162
HÖR, M ONTE - HORUS
expediu uma nova edição do cânon de Gelásio. adjetivo gentílico, foi usado para indicar Sambalate,
Hormisdas faleceu a 6 de agosto de 523 D.C. Sua festa em Née. 2:10,19 e 13:2. Se Bete-Horom é a suposição
é observada a 6 de agosto. correta, então Sambalate era samaritano- mas, se
devemos pensar em Horonaim, então eL seria um
moabita. Josefo o chamou de quteano, de onde vieram
HOR, MONTE os samaritanos (A n ti. 11:7,2). Ver o artigo separado
No hebraico, essa palavra hor, significa «monte». sobre Sam balate.
Há dois montes com esse nome, nas páginas da
Bíblia, a saber:
1. Um monte na Arábia Petrea, localizado nos HORÓSCOPO
confins da Iduméia, que faz parte da cadeia Ver o artigo separado sobre a Astrologia. O termo
montanhosa de Seir ou Edom. Esse monte ficava na português horóscopo deriva-se do grego hora, «tempo»
linha fronteiriça do território de Edom (Núm. 20:23). e skopos, «observador». Em pauta está a observação
Israel fez uma pausa ali, durante suas peregrinações, do firmamento ou dos corpos celestes, em qualquer
depois de ter deixado Cades (Núm. 20:22; 33:37). dado momento, especialmente por ocasião do instante
Dali, os israelitas foram para Zalmona (Núm. 33:41), do nascimento do indivíduo, na suposição de que a
a caminho do mar Vermelho (Núm. 21:4). E quando posição desses corpos celestes exerce influência sobre
estavam acampados em Cades, Aarão morreu, na os eventos que deverão ocorrer na vida do recém-
presença somente de Moisés e de Eleazar, filho de nascido, durante toda a sua permanência neste
Aarão. Ver Núm. 20:23 ss. mundo. Alguns pensam que isso envolve certa
Uma identificação tradicional do lugar é aquele modalidade de determ inism o (vide), de acordo com o
feito por Josefo (A n ti. 4:4,7), isto é, perto da cidade que os corpos celestes, ou mesmo forças naturais,
de Petra, o elevado pico montanhoso Jebel Nebi como a da gravidade, exerceriam efeitos sobre os
Harun, que atinge 1465 m de altura, a oeste de Edom. acontecimentos neste mundo. Outros, porém, supõem
Porém, isso fica longe de Cades, o que contradiz tal que não existe qualquer influência direta, mas apenas
informação com o que diz a Bíblia. Um outro monte, o que chamam de coincidências significativas, entre
Jebel Madurah, perto da extremidade ocidental do as posições dos corpos celestes e os acontecimentos
wadi Feqreh, um pouco mais para o sudoeste dos nas vidas dos homens. Temos provido um artigo sobre
passos de es-Sufah e de el-Yemen, parece ajustar-se essa noção, intitulado Coincidências Significativas.
melhor à narrativa bíblica. Fica na confluência das Com base nas posições dos planetas e outros corpos
fronteiras de Edom, de Canaã e do deserto de Zim. celestes, por ocasião do nascimento das pessoas, os
Esse monte fica cerca de 24 km a nordeste de Cades, astrólogos supõem que são capazes de prever os
na fronteira nordeste de Edom. Sua proximidade de eventos principais da vida de uma pessoa. Um
Cades ajusta-se às descrições bíblicas. Israel começou exemplo dessa atividade é a importância que se dá aos
a se desviar, para circundar o território de Edom, no signos do Zodíaco, que surgem no horizonte, no
monte Hor (Núm. 21:4), pelo que foi possível Aarão momento do nascimento do indivíduo. O zodíaco
ser sepultado naquela área (Cades), «...perante os (vide) é um arranjo esquemático do circuito do
olhos de toda a congregação». firmamento em doze segmentos, cada segmento com
2. Um monte existente ao norte da Palestina, entre o seu sinal ou estrela padrão. As interpretações desses
mar Mediterrâneo e a aproximação a Hamate (Núm. aspectos seguem as regras fixas e costumeiras,
34:7,8), também se chamava monte Hor. Esse monte estabelecidas pela suposta ciência da astrologia. O
assinalava a fronteira norte da Terra Prometida. Sem que temos a dizer sobre tudo isso está registrado no
dúvida era um pico proeminente da cadeia do Líbano. artigo intitulado Astrologia.
As sugestões modernas são o monte Hermom e o Jebel
Akkar, este um contraforte do Líbano, embora os
estudiosos não estejam certos quanto a essa questão. HORTELÃ Ver também M entha Longifolia.
No grego, anethon (ver Mat. 23:23). Talvez seja a
Pim pinella anisum , uma erva que floresce. Mas o
HORONAIM vocábulo grego, anethon, parece significar o aniz
No hebraico, «duas cavernas» ou «dois buracos». (A n e th u m g ra v e o lin s). Essa planta medrava sem
Esse era o nome de uma cidade dos moabitas (Isa. cultivo em Israel. Suas sementes e folhas eram
14:5 e Jer. 48:3,5,34). Josefo (A n ti. 8:23; 14:2) ressecadas para serem usadas. (Ver Mat. 23:23, onde
chamou essa cidade, igualmente, de Holón. vemos que a planta era artigo sujeito a dízimo. Os
O profeta Isaías proferiu oráculos contra Horonaim gregos e os romanos usavam as plantas com
(Isa. 15:5), tal como o fez Jeremias (Jer. 48:5). Ficava propósitos medicinais. Também era usada como
localizada no sopé de uma descida (Jer. 48:5), condimento na cozinha). (FA S)
provavelmente em uma das estradas que levavam do
platô dos moabitas até à Arabá, embora sua HORUS
localização exata nunca tenha sido determinada. Esse era o deus-sol ou deus do firmamento dos
Alguns estudiosos identificam-na com a moderna egípcios, durante o reino antigo. Era honrado,
el-’Arak. Alexandre Janeu tomou Horonaim dos especialmente, pelos governantes do Baixo Egito, a
árabes; mas João Hircano devolveu-a ao rei Aretas, região do delta do rio Nilo. Dentro do mito de Osíris
conforme aquelas referências de Josefo o demons (vide), Horus era o filho que derrubou Sete (vide),
tram. — Aparentemente, o povo de Israel não irmão de Osíris. Tendo realizado isso, Horus
conseguiu conquistar o lugar, quando invadiu a Terra tornou-se o governante do mundo inferior.
Prometida. Por ser filho de Osíris e de Isis, Horus vingou a
morte de seu pai e tornou-se rei depois dele. Desse
modo ele se tornou o deus pessoal e o protetor dos
HORONITA Faraós egípcios. Era adorado por todo o Egito,
Não se sabe com certeza de onde esse termo se bmbora. houvesse centros especiais de culto a ele, em
deriva. Alguns pensam que a sua raiz é Bete-Horom, Béhdet, Hierakonopolis e Idfu. Ver o artigo sobre o
ao passo que outros sugerem Horonaim. Sendo um E gito, em sua quinta seção, quanto a informações
163
H O S A - HOSKYNS
sobre as religiões daquele antiqüissimo pais. Seria um pedido da assistência divina. Encontra-se
em Salmos 118:25. Posteriormente, porém, veio a
tornar-se uma jubilosa exclamação, cujo intuito é
HOSA louvar a Deus. Em Marcos 11:9,10 e seus paralelos,
No hebraico, «esperançoso». Esse é o nome de uma em Lucas e Mateus, é uma exclamação usada dessa
personagem e de uma cidade, nas páginas do Antigo maneira. Talvez pudéssemos dizer que o povo de
Testamento: Israel desejava que o Filho de Davi fosse preservado e
1. Um levita merarita, porteiro do templo. Foi se firmasse em sua missão. Mais provavelmente
nomeado para tal cargo por Davi (I Crô. 16:38; ainda, seria apenas uma exclamação de júbilo,
26:10,11,16). Antes de ser-lhe conferida essa tarefa, acolhimento e honra, sem qualquer alusão ao seu
fora feito porteiro da tenda que abrigava a arca da sentido original. Ver Jer. 31:7, quanto a esse uso
aliança, que fora trazida para Jerusalém (I Crô. posterior.
16:38). Ele e seus familiares, depois que começaram a Essa exclamação fazia parte da festa dos Taberná
trabalhar no templo, tornaram-se os responsáveis culos. O sétimo dia dessa festividade veio a ser
para conseguir seis guardas para o portão ocidental. conhecido como o G rande Hosana, ou Dia de H osana.
2. Hosa também era o nome de uma cidade da tribo Essa festa era celebrada no mês correspondente ao
de Aser, a qual, em certa altura de sua história, ficava nosso setembro, imediatamente antes do começo do
na linha da fronteira, quando esta se voltava na ano civil. O povo levava palmas, murtas, etc. Ver
direção de Tiro, já perto de Aczibe (Jos. 19:29). Josefo (A n ti. 13:13,6; 3:10,4). Eles repetiam os
Aparentemente ficava ao sul da cidade de Tiro. versículos 25 e 26 do Salmo 118, que começam com a
Alguns estudiosos modernos têm-na identificado com palavra Hosana. Quando essa palavra era proferida,
a aldeia de EL G hazieh, embora o local não seja todos sacudiam os ramos que traziam nas mãos. Foi
conhecido com qualquer grau de certeza. em face desse detalhe que a festa veio a ser chamada,
alternativamente, de Hosana. As mesmas coisas eram
observadas na festa de Encaenia, ou festa da
HOSAlAS reconsagração do templo de Jerusalém, instituída por
No hebraico, «Yahweh salvou». Esse é o nome de Judas Macabeus (I Macabeus 10:6,7; II Macabeus
duas personagens bíblicas, ambas do Antigo Testa 13:51; Apo. 7:9). Clamores de Hosana e o sacudir de
mento: palmas e ramos também faziam parte dessa festa,
1. Um homem que conduziu em cortejo os príncipes como expressão de júbilo.
de Judá, quando da celebração por causa do término Para os cristãos, essas palavras são melhor
da reconstrução das muralhas de Jerusalém, nos dias conhecidas por causa de sua associação com a entrada
de Neemias (Nee. 12:32), o que sucedeu por volta dé triunfal de Cristo, em Jerusalém. Ver o artigo sobre a
446 A.C. E ntrada Triunfal. As pessoas, estando acostumadas a
2. O pai de Jezanias ou Azarias. Hosaías foi um,dos expressar sua alegria dessa maneira, fácil e natural
líderes do povo após a queda de Judá, que resultou no mente transferem os mesmos atos quando querem
cativeiro babilónico. Ele foi se aconselhar com saudar a Jesus, sem qualquer referência àquela festa
Jeremias, no tocante a ficar ou não em Jerusalém. Ver religiosa. Isso acontecia espontaneamente, nas festas
Jer. 42:1; 43:2 e comparar com II Reis 25:23,24. A religiosas.
questão envolvia um remanescente da tribo de Judá,
que não fora deportado. Isso ocorreu por volta de 586
HÔSIUS
A.C.
Ele foi bispo de Córdova, na Espanha, por volta de
295 D.C. Tornou-se um campeão da ortodoxia,
HOSAMA contra os avanços do arianismo (vide). Era um dos
No hebraico, «aquele a quem Yahweh ouve». O conselheiros do imperador Constantino quando teve
trecho de I Crô. 3:18 menciona esse homem como um lugar o conflito com os donatistas (vide). Presidiu o
filho de Jeconias (Jeoaquim), o penúltimo dos reis de concílio de Nicéia. Atanásio era seu amigo pessoal.
Judá. Contudo, os filhos de Jeconias não são Em 351 D.C., sob pressão, ele assinou uma
mencionados noutra passagem, juntamente com declaração de tendências arianas. Ver o artigo
outros membros da família (ver II Reis 24:12,15). intitulado Elvira, Sínodo de. Tentou resistir às
Além disso, o trecho de Jer. 22:30 fala de Jeconias pressões do Estado. Após a morte de Constantino, os
como um homem «como se não tivera filhos». Nossa sucessores deste mandaram chamar Hósius de volta, à
versão portuguesa não diz categoricamente que ele residência imperial, em Sirmium e Milão, na tentativa
não teve filhos, mas apenas que ficou como se não os de fazê-lo aceitar as posições religiosas deles.
tivera tido. Mas, pensando que a passagem diz, Atanásio sumariou a posição de Hósius em seu livro
realmente, que Jeconias não teve filhos, alguns História dos Arianos. Morreu na Espanha, ou então
estudiosos imaginam que houve alguma corrupção na em Sirmium, por volta de 353 D.C.
genealogia da família real, no terceiro capítulo de I
Crônicas. É possível que esse filho tenha nascido HOSKYNS, SIR EDWYN
depois que as Escrituras disseram que ele seria sem
filhos, o que pode ter acontecido durante o tempo do Seus livros, Essays Catholic and Criticai, The
cativeiro babilónico, do qual Jeconias participou. O Christ o f the Synoptic Gospels e Tfie R iddle o f the
tempo foi cerca de 597 A.C. New Testam ent (em co-autoria com F.N. Davey, um
de seus alunos), contrabalançaram os escritos de
liberais extremados, que haviam prejudicado profun
damente os conceitos da autoridade e da unidade da
HOSANA Bíblia. Hoskyns tentou mostrar que o estudo rigoroso
Essa palavra portuguesa passou pelo grego, e o exame crítico, longe de separarem os chamados
derivado do hebraico, h o sh a n a . H osha significa Jesus histórico e o Jesus teológico, na verdade tendem
«salvar»; e na significa «rogar», «orar». Portanto, por unir os dois conceitos. Ver meu artigo sobre Satya
temos aí uma exclamação ou invocação, dirigida a jSai B aba, como demonstração de que esse pode ser o
Deus: «Õ, salva-nos»; ou então: «õ, salva agora». caso. Acontecimentos e reivindicações misteriosas não
164
Guy Rose.
Não havia lugar p ara eles na hospedaria.
194
1. Formas Antigas
fenício (semítico), 1000 A.C. grego ocidental, 800 A.C. latino, 50 D.C.
IL
3. Formas Modernas
I / i* I I 1i \Iii li
IBRI IC H IN G
No hebraico, «hebreu». Um levita merarita, filho de Ver sobre o Livro das Mudanças.
Jaazias e contemporâneo de Davi. Viveu por volta de
1014 A.C. Ver I Crô. 24:27.
ICONE
IBSÃO Vem do grego eikon, «imagem», «representação». O
No hebraico, «fragmento». Nome de um descenden termo é usado essencialmente na Igreja Ortodoxa
te de Issacar, da família de Tola. Ver I Crô. 7:2. Oriental, aludindo a alguma imagem, pintura, baixo-
relevo ou mosaico, representando Cristo, a Virgem
Maria ou algum santo. Os judeus e os árabes
IBZÃ consideram que o uso de tais imagens e representa
ções é uma idolatria. Sensíveis diante de tais
No hebraico, «brilhante», embora alguns pensem acusações, alguns líderes ortodoxos orientais começa
no sentido «rápido» ou «maldoso». Foi o décimo ju iz ram a rejeitar tal uso. Daí originaram-se as
de Israel, cuja história é registrada em Juí. 12:8-10. controvérsias iconoclastas. Ver sobre o iconoclasmo.
Julgou o povo de Israel por sete anos. Era de Belém, As controvérsias em torno da veneração de imagens
talvez uma cidade com esse nome, no território de continuou rugindo durante os séculos VIII e IX.
Zebulom, e não em Judá, embora os eruditos Finalmente, o uso dessas coisas foi declarado legitimo
disputem sobre essa questão. Sua morte, provavel pelos ortodoxos orientais, embora a igreja nestoriana
mente, foi pouco depois de 1080 A.C. Tornou-se continuasse fazendo oposição a tal costume.
famoso pelo grande número de filhos. Tinha trinta
filhos e trinta filhas. E juntou considerável fortuna
por meio de seus casamentos. Cada um de seus filhos ICÕNIO
também se casou.
Essa cidade dos tempos do Novo Testamento é
Nos tempos dos juízes de Israel, eles brandiam uma mencionada na Bíblia em Atos 13:51; 14:1,19,21;
autoridade que se aproximava da autoridade de um 16:2; II Tim. 3:11. Icônio era uma cidade da Ásia
rei, embora a história subseqüente mostre que os Menor, no que atualmente é a Turquia. A moderna
próprios israelitas faziam distinção entre os dois cidade de Konya identifica o seu local antigo. Era a
ofícios. Citações extraídas dos textos ugaríticos, bem última cidade da Frigia pela qual o viajante passava,
como os trechos de Isa. 40:23 e Amós 2:3 mostram a ao dirigir-se para o Oriente. Nos tempos greco-roma-
natureza real e magisterial do governo dos juízes. nos, era considerada a principal cidade da Licaônia,
Também agiram, com freqüência, como libertadores de acordo com algumas fontes informativas, embora
de opressões estrangeiras e como árbitros (Juí. 2:16; outros a localizassem na Frigia. As fronteiras antigas
4:4,5; I Sam. 7:15-17). variavam muito, e assim uma cidade fronteiriça ora
Josefo (A n ti . 5:7,13) refere-se à terra dele como pertencia a uma região, ora a outra, dependendo da
Belém de Judá; mas isso é rejeitado pela maioria dos época envolvida. Alguns estudiosos afirmam exata
eruditos. Quase sempre, se não mesmo sempre, esse mente isso, dizendo que primeiro ela fazia parte da
lugar era especificamente mencionado como «de Frigia e, mais tarde, da Licaônia, e então que chegou
Judá» ou de «Efrata». O trecho de Jos. 19:15 menciona a fazer parte do reino da Galácia. Finalmente,
uma Belém no território de Zebulom, que é a tornou-se parte da província romana da Galácia.
moderna Beit Lahm, a oeste de Nazaré e ao norte de
Megido. Por meio de algum tipo de confusão, Ibzã O nome dessa cidade vem do termo grego e ik o n .
esteve identificada com o Boaz da história de Rute. «imagem». Não sabemos dizer por que motivo essa
Ver o Talmude, Baba Bathra 91a. cidade foi assim chamada, embora talvez isso se
Alguns eruditos procuram mostrar que os juízes devesse a alguma prática idólatra que ali era
Ibzã, Jefté, Elom e Abdom só exerciam autoridade efetuada. Um mito do dilúvio dá também uma razão a
sobre a área da Transjordânia, e essencialmente esse nome. O rei Nanacos, da Frigia, profetizou uma
durante a opressão dos amonitas. grande inundação, que ocorreria depois de sua época.
E exortou seus ouvintes ao arrependimento, para
evitarem o dilúvio. Mas, o dilúvio veio e destruiu os
1CABÔ homens. Então os deuses reproduziram o homem,
No hebraico, 'tkabod, «onde está a glória?», que produzindo imagens-, e daí teria vindo o nome da
pode significar «inglória». Originalmente, foi usada cidade. Naturalmente, isso não passa de uma
para indicar que «a glória do Senhor partiu». Esse é o curiosidade mitológica.
nome de um filho de Finéias. Sua esposa deu a seu Aquela região estava sujeita a inundações, o que se
filho esse nome, ao ouvir dizer que os filisteus haviam poderia esperar um relato mítico daquele tipo. No
tomado e levado embora a arca da aliança (I Sam. tempo do imperador romano Adriano, a cidade e a
197
ICONIO - ICONOCLASMO
região em redor tornaram-se uma colônia romana, «judaizantes» da área, contra quem sempre fez tão
embora retivesse sua cultura grega predominante. veemente oposição, nas epístolas que escreveu às
Fizera parte dos domínios dos reis selêucidas (ver igrejas cristãs do território, que, sem dúvida, foram
sobre Seleucó), no século III A.C., quando, então, foi escritas antes de seu encontro com Timóteo.
totalmente helenizada. Os reis do Ponto se apossaram Icônio é também a cena da bem conhecida
da cidade e fizeram dela uma cidade independente, narrativa histórica, mas de natureza apócrifa, de
nos dias das guerras de Mitridates com Roma. Em 39 «Paulo e Tecla», contida no livro apócrifo Atos de
A.C., Marco Antônio entregou a cidade a Polemom, Paulo. (Ver o artigo sobre Livros A pócrifos do Novo
rei da Cilicia Traquéia; e, três anos mais tarde, a Testam ento).
Amintas, que veio a ser rei da Galácia. Quando este
morreu, a cidade tornou-se novamente independente,
embora incorporando em sua estrutura a província da ICONOCLASMO (CONTROVÉRSIAS
Galácia. Não obstante, reteve seu idioma grego, bem ICONOCLÀSTICAS)
como seus padrões culturais e de organização política O adjetivo «iconoclástico» vem do termo grego que
gerais. Era uma região próspera com pouco mais de significa «quebra de imagens». As controvérsias em
quinhentos quilômetros quadrados de terras férteis, torno do uso de imagens, pinturas e outras represen
muita água e abundante vegetação. Ramsay chamou tações de Cristo, da Virgem Maria e dos santos
o lugar de Damasco da Ãsia Menor, por causa de seu sacudiram a Igreja Oriental Ortodoxa durante o
excelente clima e de uma natureza que facilitava a período de 726—843 D.C. Alguns líderes daquela
prosperidade. igreja haviam sido influenciados pelas críticas dos
A cidade que o apóstolo Paulo conheceu era um judeus e dos islamitas, que afirmavam que tais coisas
local ajardinado, localizado entre pomares e fazen são uma manifestação da idolatria. Contudo, o povo
das. Entretanto, tudo o mais ao derredor era se acostumara ao uso de tais objetos, em sua
desértico. Lucas concorda aqui com Xenofonte, ao veneração, e não se dispunham a abandonar
afirmar que Icônio estava localizada na Frigia, facilmente a prática. Os imperadores Leão III,
contrariamente a Derbe e Listra, cidades pertencentes Constantino V, Leão IV, Leão V, Miguel II e Teófilo
à Licaônia. Cícero e Estrabào declararam que Icônio haviam perseguido aos cristãos por causa da
era uma das cidades da Licaônia, mas erradamente. veneração a imagens santas. A posição ao uso dos
Há um monumento, descoberto em 1910, que ícones originou-se especialmente na Ásia Menor, com
esclarece que em Icônio se falava o idioma frígio até os o apoio de seus vizinhos judeus e islamitas, e também
meados do século III D.C. E, juntamente com outras devido ao combate às imagens, por parte de grupos
inscrições, isso tem servido para demonstrar que a cristãos que eram considerados heréticos.
cidade era ao menos parcialmente pertencente à O imperador Leão III, o Isáurio, ordenou que as
Frigia, ainda que, administrativamente, pertencesse à imagens fossem removidas dos templos cristãos e dos
Galácia. (Ver o artigo sobre este lugar e Atos 14:6). edifícios públicos, mas esse decreto foi desobedecido
Essas provas têm contribuído para confirmar, em em muitos lugares. Constantino I Coprônimo também
outra instância, a exatidão das referências históricas se opôs ao uso de toda espécie de imagem, e o sínodo
feitas por Lucas, as quais, em muitas oportunidades, de Hieria, em 754 D.C., apoiou-o quanto a isso. A
têm sido postas em dúvida. reverência prestada a qualquer tipo de ídolo foi
Icônio era cidade populosa, situada cerca de cento e
considerada uma idolatria.
sessenta quilômetros a suleste de Antioquia da Todavia, havia aqueles que defendiam seu uso,
Pisídia, em uma fértil planície, ao pé do monte Tauro, como João Damasceno (cerca de 675—749 D.C.), que
quase que circundada pelo mesmo. Lucas, na escreveu três notáveis discursos contra os iconoclas
passagem de Atos 14:6, distingue essa localidade de tas. Ele estabeleceu a diferença entre LATRIA
Listra e Derbe, ambas cidades da Licaônia. (Ver as («adoração», que pertence somente a Deus) e dulia
notas acima sobre esse particular). Em períodos («veneração», que poderia ser prestada a pessoas que
diversos da história foi considerada como cidade de tivessem servido bem a Deus). Ele sentia que uma
alguma forma vinculada à Pisídia ou à Frigia, bem imagem pode ajudar o indivíduo em sua lealdade a
como à Licaônia; contudo, a sua população era de Cristo, em Sua encarnação, porquanto a matéria
origem frigia. poderia ser útil ao lembrar-nos de certas realidades
Quando a província da Galácia foi dividida, Icônio espirituais. Naturalmente, a matéria, por si mesma,
se tornou capital da Licaônia, e assim ultrapassou em não pode ser considerada má. Porém, sempre foi uma
importância a Antioquia da Pisídia. Estritamente doutrina cristã comum — que qualquer objeto
falando, quando por ali andaram Paulo e Barnabé, material venerado torna-se um objeto de idolatria.
Listra e Derbe eram cidades da Licaônia-Galática, ao De acordo com uma teologia sofisticada, a imagem
passo que Icônio ficava na Frígia-Galática. E todas seria apenas um memorial de alguma verdade ou
essas três cidades estavam localizadas na província pessoa espiritual; e a veneração assim prestada seria
romana da Galácia. Era em Icônio que se dirigida àquela verdade ou pessoa, e não à imagem
entrecruzavam diversas estradas romanas, localizada, propriamente dita. Entretanto, no nível popular, as
como estava ela, no caminho do oriente para o ociden pessoas realmente veneram às próprias imagens, e a
te. A cidade moderna de Icônio, que ocupa o local da cuidadosa distinção entre adoração e veneração é
antiga cidade do mesmo nome, conta com uma forçada ao máximo, para dizermos o mínimo. Na
população de cerca de trinta mil habitantes. verdade, a veneração de imagens, nas igrejas
Os versículos de Atos 16:1 e ss, revelam-nos que Ocidental e Oriental, que foi tão vigorosa (e
Timóteo era homem bem conhecido, naquele corretamente) repelida pela Reforma Protestante, é
território, por seu zelo e graça cristãs. Paulo precisamente aquilo que os judeus e os islamitas
conheceu-o em .Listra e, evidentemente, levou-o em diziam — é idolatria. Esse é um dos maiores
sua companhia pelas áreas ao redor dessas cidades, escândalos da cristandade. O outro seu grande
no desempenho de suas atividades missionárias. O escândalo é o seu vergonhoso registro de perseguições,
que nos deixa admirados e perplexos é que o apóstolo banimentos, encarceramentos e execuções daqueles
Paulo tenha circuncidado a Timóteo a fim de, que diferem dos grupos oficiais quanto a opiniões e
segundo todas as aparências indicam, agradar aos crenças religiosas.
ICONOCLASMO - ID A D E
Alguns desses cristãos idólatras têm chegado ao ID
extremo de afirmar que os objetos materiais Ver o artigo geral sobre Freud, Sigmund,
assemelham-se a entidades dotadas de espírito, especialmente os pontos 3 a 6. Para Freud, o id
capazes de atuar como pontes de ligação entre o que é indicava a base original e mais primitiva da
material e o que é espiritual. Se João Damasceno personalidade, o reservatório de impulsos biológicos.
realmente quis dizer tal coisa, então só nos resta Para ele, essa parte do ser humano opera com base no
lamentar que um homem tão notável quanto ele principio do prazer. Ele pensava que a libido
tenha se deixado envolver por um erro tão crasso. (impulsos sexuais e outros impulsos primitivos)
O imperador Leão IV (reinou entre 775 e 780 constituía a fonte de energia mais importante que
D.C.) relaxou a perseguição contra os que veneravam atuava sobre o id. O id buscaria satisfação mediante
imagens. A imperatriz Irene (em 787 D.C.), tirou dois processos: o primeiro seriam as ações biológicas
proveito desse relaxamento e convocou o Segundo reflexas; e o segundo seriam as reações psicológicas,
Concílio Ecumênico de Nicéia, presidido pelo chamadas «processo primário». O processo primário
patriarca Tarásio. Nesse concílio foi mantida a tentaria aliviar o id de suas tensões, formando uma
distinção entre a adoração e a veneração, afirmando imagem que aliviaria os impulsos. Essas imagens de
que a honra prestada às imagens, na realidade, é uma cumprimento de desejos ocorreriam nos sonhos, nas
honra prestada às pessoas representadas, e não às visões, nas fantasias e nas alucinações. A palavra id é
imagens propriamente ditas. Isso, porém, é apenas um pronome latino, que indica a terceira pessoa do
uma sofisticada declaração de teólogos, que nunca foi singular, no neutro.
compreendida pela mente popular. A despeito dessa
definição (sendo uma vergonha que um concilio
ecumênico tenha aprovado tão grande absurdo), a IDADE
perseguição contra os veneradores de imagens Idade avançada. Há várias questões envolvidas, a
continuou sob os governos dos imperadores Leão V, o saber: a. Atingir idade avançada com freqüência é
Armênio (reinou entre 813 e 820 D.C.), Miguel II considerado na Bíblia como uma bênção divina, uma
(reinou entre 820 e 829 D.C.) e Teófilo (reinou entre recompensa pela piedade (ver Jó 5:36; Gên. 15:15;
829 e 842 D.C.). Efé. 6:3). Isso está ligado a vários atos que prometem
Depois disso, a imperatriz Teodora ordenou que o especificamente que quem os fizer atingirá avançada
patriarca Nicéforo convocasse um sínodo (em 843 idade, como ser obediente aos pais ou devolver ao
D.C.), que reafirmou as decisões do Segundo Concílio ninho o passarinho pequeno caído do mesmo. b. Mas
Ecumênico de Nicéia. Isso pôs fim às controvérsias a idade avançada traz suas dificuldades, por causa de
iconoclásticas, removendo o último estigma de heresia problemas de saúde e de incapacidade física (ver Sal.
e idolatria da veneração prestada a imagens de 71:9; I Sam. 3:2; Gên. 48:10; II Sam. 19:35; I Reis
escultura. O incrível é que esse evento é comemorado 1:1-4, e especialmente, Ecl. 12:1-5). c. Deus continua
pela Igreja Ortodoxa Oriental no primeiro domingo cuidando da pessoa idosa (ver Isa. 46:4), em
da quaresma como «a festa do triunfo da ortodoxia». antecipação à glória futura (ver Sal. 73:24). d. A
Normalmente, as heresias têm uma maneira de serem idade avançada é um tempo de reflexão sobre como
transformadas em ortodoxias; algumas vezes, para Deus guiou a pessoa a cada passo do caminho (ver
melhor, mas, geralmente, para pior. Entrementes, na Sal. 37:35), permanecendo fiel até o fim. O Senhor é
Igreja Ocidental a adoração (ou veneração) de retratado não somente como uma criança, mas
imagens continuou sem qualquer freio, embora também como um homem varonil, coroado de cabelos
também tivesse havido ali alguma oposição a tàl brancos (ver Apo. 1:14), a fim de relembrar-nos que
prática. Ver informações adicionais no artigo Ele é importante à vida inteira, do começo ao fim. e.
intitulado Im agens. A mentalidade oriental respeitava e honrava a idade
É inevitável que, à proporção que os homens avançada, e as cãs eram tidas como sinal de honra, e
crescem em sua espiritualidade, que sua abordagem à não como um sinal de debilidade (ver Pro. 20:29).
pessoa de Deus torne-se cada vez mais mística (ver Não honrar os idosos traz o mal a qualquer nação (ver
sobre o M isticism o) e cada vez menos materialista. Os Isa. 3:5; Lam. 5:12). f. Contudo, a idade avançada só
ritos vão perdendo mais e mais a sua importância, e as é honrosa quando coroa uma vida de retidão (Pro.
imagens terminam por ser abertamente rejeitadas. E, 16:31). g. A experiência é um valioso mestre, pelo que
quando uma pessoa obtém o contacto direto com o a idade avançada deveria produzir a sabedoria (ver Jó
Espírito de Deus, de tal modo que se estabelece uma 12:20; 15:10; 32:7). Reoboão caiu no erro fatal de
comunhão viva entre o Espírito de Deus e o espírito rejeitar o conselho dos mais velhos, h. A Igreja do
humano, então os homens não mais sentem qualquer Novo Testamento deve ser governada por anciãos.
necessidade de agência intermediária. Que isso ainda
não tenha acontecido no caso da maioria dos cristãos, Extensão e idade da responsabilidade.
após tantos séculos de existência da Igreja cristã, Até os 13 anos, o menino judeu era considerado
somente demonstra o fato de que os homens, a menor; e a menina, até os 12 anos, mais um dia,
despeito de tantas vantagens, não têm progredido embora fossem necessários mais seis meses para que
muito em sua espiritualidade. (AM C E) ela atingisse a idade da plena responsabilidade. A
Mishnah Abot 5:21 determina que a idade própria
para o casamento é aos dezoito anos; mas outros
ICONOGRAFIA autores falavam em até doze anos para as mulheres.
Essa palavra deriva-se do grego eikon, «imagem», Um homem poderia esperar viver até os setenta
semelhança, retrato. Esse é um termo eclesiástico anos, e se morresse aqs oitenta, podia ser considerado
clássico que se refere a imagens, mosaicos ou idoso (Baba Batra 75a e Sal. 90:10). Chegar à idade
pinturas, usados pelas igrejas cristãs, para efeito de avançada era considerado uma bênção espiritual era
decoração e veneração. Ver os artigos sobre as Israel (G ên. 15:15; Jó 5:26). C ria-se que os anos
Im agens e sobre Iconoclasm o (Controvérsias Icono- trazem consigo sabedoria e virtudes espirituais (Jó
clásticas).
12:20; 15:10). Fator de longevidade era o tratamento
respeitoso dado aos pais (Efé. 6:3, onde se pode ver
notas completas a respeito, no NTI). (E NTI)
199
ID A D E - ID EA LISM O
IDADE DA RESPONSABILIDADE porém, com freqüência, torna-se impraticável, visto
Ver o artigo intitulado, Infantes, Morte e SalvaçXo que aquilo que é melhor raramente é exeqüível.
dos. Na filosofia, o termo é bastante amplo, podendo ser
bem definido somente no tocante a certos tipos
IDALA específicos de idealismo, conforme se vê na discussão
No hebraico, «exaltado» (?). Esse era o nome de abaixo. As duas divisões principais do idealismo são:
a divisão metafísica e a divisão epistemológica. O
uma cidade do território de Zebulom,_ perto da sua idealismo metafísico (vide) é a suposição de que a
fronteira ocidental (ver Jos. 19:15). É mencionada idéia ou substância não-material é real, em contraste
juntamente com Sinrom e Belém. Os estudiosos têm com as entidades materiais. Essas entidades são
identificado o antigo local com a moderna Khirbet explicadas como epifenômenos da idéia, e não como
el-Hawarah, que fica cerca de um quilômetro e meio a coisas reais em si mesmas. A idéia é real; a matéria é
sudoeste de Belém. mera aparência; a natureza do que é real é mental ou
espiritual, e não-material.O que é material é ilusório,
IDBÀS sendo uma projeção da idéia, e não a essência mesma
da realidade. A crença no caráter espiritual da
No hebraico, «doce de mel». Esse era o nome de um realidade era proeminente nas obras de Platão, bem
homem de Judá, que aparece como o pai de Etã. como em algumas religiões orientais. George Berkeley
Provavelmente, ele descendia do fundador de Etã, asseverava que os objetos físicos são, de fato, apenas
uma cidade da tribo de Judá, ou, então, tudo quanto idéias que os homens, equivocadamente, pensam que
se deve entender é que ele era habitante daquele têm uma existência separada e uma essência diferente
lugar. Ver I Crô. 4:3. daquilo que é espiritual e mental. O idealismo
epistemológico (vide) é a idéia de que nada podemos
IDEAL conhecer, exceto as idéias. O mundo físico só poderia
ser concebido em relação à mente e dependente dela.
Vem do termo grego eidos, «visão», «contempla Assim, se Deus deixasse de pensar, todas as coisas
ção». Consideremos os pontos abaixo: deixariam de existir. A única coisa que me é dado
1. O uso popular dessa palavra refere-se a algum saber é a minha idéia de uma entidade qualquer. Se
padrão de perfeição ou a algo que aponta para a alguma coisa pode existir ou não à parte da minha
nobreza, para alguma elevada qualidade, ou seja, idéia, a idéia de Deus, ou da mente em geral, é uma,
para algo que deve ser emulado. O ideal é a forma questão debatível. O que é certo, segundo o idealismo
mais desejável de realização de qualquer coisa. epistemológico é que podemos saber sobre qualquer
2. Aquilo que existe somente na imaginação, sem coisa que resida na idéia dessa coisa, embora não
qualquer realidade física. conhecendo diretamente a coisa propriamente dita.
3. Quando um ideal é pertencente às idéias, então Assim, se eu tropeçar em uma cadeira, poderei dizer:
devemos falar em ideal conceptual. «Essa cadeira é real. Sei disso porque senti dor ao
4. Nos escritos de Platão, idéia é arquétipa. Ver chutá-la». Mas Berkeley respondia a isso dizendo que
sobre Idéia, terceiro ponto. O m un d o ideal é o mundo a única coisa que realmente experimentamos foi o
arquétipo e não material das idéias, das formas ou nosso conceito mental de solidariedade e choque,
universais (vide). quando nosso pé bateu na cadeira. Na verdade, para
5. No pensamento de K a n t, o ideal da razão pura é ele, tanto a perna da pessoa quanto aquela cadeira
a idéia de algo absolutamente necessário, determina seriam apenas categorias da mente. Isso já entra no
do, do princípio ao fim, pela mera idéia. Isso envolve campo do idealism o subjetivo (vide). A materialidade
um conceito abrangente da totalidade da realidade, seria uma ilusão, sendo apenas um nome que damos a
que não é hipostatizado como existente e nem é certos fenômenos mentais.
produto da percepção dos sentidos. A idéia de Deus »Idealismo. Na metafísica, a teoria de que a
contém, em si mesma, todas as existências finitas. realidade pertence à natureza da mente ou da idéia.
6. Na ética, o ideal é sempre a escolha melhor Pode ser um idealismo monista (absolutista), pluralis
possível de atos ou estados mentais. Dentro da ética ta, impessoal ou pessoal. Na epistemologia (ou
cristã, esse ideal é exemplificado na pessoa e nos atos gnosiologia), o idealismo é a teoria de que um objeto
de Cristo (o Logos), —que é o Arquétipo de toda a conhecido é um produto do fato de ter sido ele
existência humana. Ver II Cor. 3:18. Por sua vez, conhecido». (MM)
Deus é o ideal de Cristo (ver Mat. 5:48; Col. 1:15-19). O idealismo metafísico, algumas vezes, recebe o
nome de p am p siquism o (vide). Até onde sabemos
dizer, Leibniz, no século XVIII, foi o primeiro filósofo
IDEALISMO a usar o termo idealism o. Esse termo veio a designar
Esboço: certa variedade de filosofias que consideram o que é
I. Definição e Caracterização Geral mental ou espiritual como a chave tanto da natureza
II. Os Filósofos e Várias Formas de Idealismo quanto da compreensão da natureza.
III. Quatro Tipos Históricos de Idealismo D . Os Filósofos e V árias Form as de Idealism o
IV. O Idealismo e a Ética Tipos Básicos:
V. Críticas Principais do Idealismo 1. Schelling referiu-se ao idealismo de Fichte como
I. Definição e Caracterização um idealismo subjetivo. Em outras palavras, o que
O termo vem do grego ideein, «ver», e de eidos, conheço sobre a realidade é a m inha idéia. Postulo o
«visão», «contemplação». De acordo com um uso mundo através da minha idéia. Isso nos leva ao
solipsism o (vide). Fichte é considerado o originador
popular, o termo indica um conjunto de padrões do idealismo alemão.
daquilo que é mais desejável, com os esforços
necessários para atingir tal alvo. Nesse sentido, o 2. Schelling falava de sua própria filosofia como um
idealismo é similar ao perfeccionismo. Um idealista, idealismo objetivo. O mundo (a criação, a existência)
pois, busca um alto padrão, e, com freqüência, existiria à parte de minha idéia. Reflete uma
mostra-se avesso ao mero pragmatismo. O idealismo, inteligência que o criou. O mundo seria ideal em sua
200
ID E A L ISM O
essência e sem importar se eu tomo conhecimento dele m . Quatro Tipos Históricos de Idealismo
ou nào, ele continua existindo. Ignorando a complexidade que aparece na segunda
3. Hegel ensinava um idealismo absoluto. A Força seção, acima, poderíamos falar sobre as quatro
Cósmica todo-abrangente (Deus) é idéia, e não principais manifestações históricas do idealismo:
material. É espiritual em sua essência. O idealismo 1. O Platônico. As idéias são reais; são arquétipos
subjetivo, dentro desse sistema, é a tese. O idealismo copiados pelos objetos materiais. Ver o ponto II, parte
objetivo seria a antítese. Essas formas são apenas 6.
nomes que damos às operações do Espírito Absoluto, 2. O Berkeleiano. Toda a realidade pertence à
que atua através de seu próprio sistema de tese, natureza do consciente, consistindo em idéias passivas
antítese e síntese, através do qual dá forma a todas as e inertes, e também em espírito, que é ativo. O
coisas, bem como seu estado de ser, seus atos e suas Espírito divino daria aos homens as idéias que eles têm
realizações. O Espírito Absoluto nunca descansa, e sobre as coisas, e todas as coisas são conhecidas
nenhuma síntese Dele é final. Uma nova tese surgirá através das idéias que fazemos sobre elas. Ver sobre a
inevitavelmente de sua antítese, dando origem a uma seção I, quanto a maiores detalhes. Ver sobre o
nova síntese. Idealism o Subjetivo.
4. O idealismo de K a n t chama-se idealismo 3. O Hegeliano. Deve haver coerência em todas as
transcendental ou crítico. Um conhecimento real das coisas. Tudo é de essência espiritual, e tudo é
coisas deve transcender à mera experiência. Isso é manifestação da Idéia Absoluta, do Espírito divino.
conseguido pelas categorias inatas e intuitivas da Ver o ponto três da seção II. Isso é uma forma de
mente, as quais impõem ao mundo as qualidades que panteísm o (vide).
o mundo tem. Isso é o idealismo subjetivo (vide). 4. O Lotzeano. Lotze pensava que o próprio «eu»,
Porém, essas categorias nào nos dizem qual a ou personalidade, é o fato metafísico final. Tudo seria
natureza verdadeira das coisas, isto é, a realidade das ou um «eu» ou algum aspecto, processo, parte ou
coisas em si mesmas. Para falarmos sobre isso, relação de um «eu» ou de vários «eus». É interessante
teremos necessidade de postulados que transcendam à observarmos que essas quatro formas de idealismo
experiência humana, que são necessários (embora nào também se encontram na religião chinesa e na religião
comprovados) para que se forme um sistema de hindu, embora com formas e graus variados.
teologia. Isso posto, postulamos Deus, a alma, a O tipo de Platão é axiológico e elevadamente ético.
liberdade e outras entidades metafísicas e éticas, a fim O tipo de Berkeley é mentalista e subjetivo.
de podermos arquitetar um sistema de filosofia que
faça sentido. Desse modo, transcendemos à experiên O tipo de Hegel é absolutista.
cia humana. O idealismo transcendental é a teoria O tipo de Lotze é personalista.
kantiana que diz que todo conhecimento se refere aos IV. O Idealismo e a Ética
fenômenos organizados pelas categorias mentais. Como é óbvio, os idealistas abordam a ética de
5. Berkeley defendia o idealismo epistemológico. vários modos. Porém, podemos afirmar algumas
Ver sob I, acima, quanto à descrição dessa posição. bases comuns deles. Em primeiro lugar, eles negam a
Muitos racionalistas lhe dão apoio. Ele ensinava um ética naturalista e materialista, e muitos deles acham
idealismo subjetivo (vide). padrões éticos em alguns conceitos de Deus, e não em
6. Platão preparou o caminho para um tipo especial métodos empíricos. Em segundo lugar, muitos deles
de idealismo que tem desfrutado de uma longa e envolvem-se na auto-realização que segue algum ideal
influente história. Para ele, as idéias, formas ou divino, pessoal ou impessoal. Em terceiro lugar, a
universais, são a verdadeira realidade, possuídas de ética idealista tende por ser rigorosa, absolutista ou
natuceza espiritual. A matéria seria menos real e, se formal, e nào relativista. Isso significa que certos
admitirmos qualquer realidade, então teremos um padrões são buscados em fòntes extra-humanas no que
dualism o (vide), onde o ideal é mais real, e a matéria é € divino ou cósmico, e nào na experiência humana,
menos real, imitativa do real, em seu caráter. Esse é obtida através da percepção dos sentidos. Isso,
um tipo de idealismo metafísico, que admite certo usualmente, nos dá regras absolutistas que não se
tipo de dualismo. O cristianismo reteve essa forma de alteram com as vicissitudes da experiência humana.
dualismo. O mundo celestial é o mundo espiritual, A auto-realização, a liberdade e o dever sempre
onde imperam as realidades espirituais; e o mundo foram importantes princípios dos sistemas idealistas.
inferior é material, e é mera cópia do mundo Há uma tentativa para escapar ao mecanismo. Há o
superior, por intermédio do poder do Logos. Os reconhecimento da imortalidade da alma, com todas
trechos de Hebreus 8:5 e 9:23 refletem o dualismo as implicações éticas desse conceito. Precisamos de
platônico, com uma cópia do arquétipo que vai sendo postulados morais baseados sobre Deus, sobre a
produzida nos objetos materiais. Essa forma de alma, sobre a liberdade e sobre o dever, pois de outro
idealismo metafísico chama-se realismo m etafísico , modo, não poderemos construir qualquer sistema
dando a entender que a idéia é que é real. ético razoável (Kant).
7. Howison (vide) falava sobre o idealism o pessoal. As objeções a certos aspectos do idealismo incluem
O artigo sobre ele explica melhor esse conceito. a idéia de que há algo que remove a idéia de um Deus
8. Fouilée (vide) falava sobre a força do pessoal, como no caso do Espírito Absoluto, de Hegel.
pensam en to , que ele intitulava de idealism o volunta- Fichte, como é óbvio, — não falava sobre Deus como
rista. faz o cristianismo, e criticava os cristãos como
9. W ard (vide) desenvolveu o idealismo teísta. hedonistas que fazem o que fazem para obter os
10. Bowne (vide) promoveu o idealismo pessoal. prazeres celestiais. Além disso, o Deus cristão
também é criticado como um Ser hedonista,
11. Sorley (vide) ensinava um idealismo ético. porquanto tudo faria para seu próprio prazer.
12. Husserl (vide, sob o quarto ponto), falava de um
idealismo transcendental fen om enológico. V. Critica« Principais do Idealismo
13. Messer (vide) desenvolveu um idealism o ético Bertrand Russell.G.E. Moore e outros criticaram o
que influenciou a disciplina da epistemologia. Idealismo pelas seguintes razões:
14. Gentile (vide), influenciado por Hegel, criou o 1. Seu sistema de conhecimento, especialmente no
idealismo atual. caso do idealismo subjetivo, epistemológico, está
201
ID E A L ISM O - ID E A L ISM O S U B JE T IV O
sujeito a muitas críticas, faltando-lhe qualquer 3. A de Hegel: idealismo absolutista. Essa forma
comprovação que seja oferecida pelo raciocínio lógico. supõe que tudo quanto existe e pode ser conhecido,
2. O idealismo subjetivo, monístico e solipsístico finalmente, relaciona-se ao Espirito Absoluto e às
falha, por não satisfazer às descobertas feitas pela suas ações, através da tríada de tese, antítese e
experiência humana. síntese. As idéias, em todas as entidades, procedem
da Idéia Absoluta. Naturalmente, temos aqui uma
3. O empirismo oferece uma abordagem melhor ao modalidade de panteísmo (vide). Todos os objetos são
conhecimento do que os sistemas elaborados, mas não identificados com a idéia, e o ideal do conhecimento é
comprovados, como o das categorias de Kant. um sistema todo-abrangente de idéias.
4. O pensamento a priori e seus resultados parecem 4. A de Platão: os universais. Os universais é que
ser apenas um exercício de inferências lógicas, e não seriam objeto do nosso conhecimento. Os universais
um reflexo da realidade. Essa posição nega as idéias (idéias, formas) existem sob a forma de uma
inatas. hierarquia, e a da bondade (o Deus de Platão) é a
5. Sistemas elaborados, como aquele de Hegel, com maior hierarquia, e a organizadora de todas as outras.
seu sistema bem organizado de tríadas parece ser um O conhecimento não repousa sobre alguma percepção
exercício da mente filosófica, e não um reflexo da que examine somente os particulares (os objetos deste
realidade. mundo), que são apenas imitações dos universais. A
6. Os materialistas atacam a insistência do razão fornece-nos algum conhecimento, visto que ela
idealismo de que tudo é espiritual na natureza, que a é uma capacidade dada pelos universais, podendo
essência da existência é mente, idéia ou espírito. Eles determinar algumas coisas, como princípios éticos.
não encontram evidências adequadas em comprova Então vem a intuição que nos fornece mais
ção disso. proposições, como uma capacidade inerente ao
Quanto a um completo estudo sobre o idealismo e homem. Ver sobre as Idéias Inatas. Mediante a
como manuseia os ramos tradicionais da filosofia, ver contemplação, por meio das experiências místicas, a
os artigos sobre os filósofos mencionados nas seções I visão direta dos universais dá-nos o conhecimento
e II. Em adição a isso ver os artigos sobre Bradley, mais elevado. Os universais (vide) existem separada
Bosanquet, Creighton, Barrett, Sorley, Royce, Cal- mente das mentes humanas, pelo que devemos pensar
kins, Munsterbery, Hocking e J.S. Moore. (AM C E em um idealismo objetivo, — não subjetivo. Eles são
EP H MM P) reais, pelo que temos ai um realismo metafísico.
INOCENTE VH
Suas datas aproximadas foram 1336—1406. Nas- INOCENTE X
ceu com o nome de Cosimo de Migliorati, em Suas datas foram 1574— 1655. Pontificou de 1644 a
Sulmona, na Itália. Estudou direito em Bolonha. 1655. Formou-se em direito. Tornou-se mestre em lei
Ensinou jurisprudência em Perúgia e em Pádua. canônica e em leis civis. Foi ordenado padre em 1597.
Serviu ao papa Urbano VI. Tornou-se arcebispo de Trabalhou a serviço do papa; foi auditor em Rota. Foi
Ravena, em 1387. Foi nomeado cardeal em 1389. Foi núncio (embaixador do papa) em Nápoles e então na
eleito papa a 17 de outubro de 1404, em substituição a Espanha. Tornou-se cardeal em 1629. Foi eleito papa
Bonifácio IX. Pontificou de 1404 a 1406, tendo a 15 de setembro de 1644. Embora já avançado em
começado a governar no vigésimo sexto ano do cisma anos, era homem enérgico, que conseguiu realizar
ocidental. O antipapa correspondente foi Benedifo quase tudo quanto tentou fazer. Denunciou a Paz de
XIII, de Avignon, na França. Tentou curar esse Westphalia (1648) como injusta para os católicos
cisma, mas um sobrinho seu assassinou a certos romanos, pois várias propriedades católicas haviam
336
IN O C EN TE X I - IN O C EN TES
sido usurpadas. Ver o artigo sobre W estphalia , Pactos Frederico Augusto, eleitor da Saxônia, ao catolicis
de. Recusou-se a aceitar o conceito da independência mo. Respeitando o jogo de poder na Espanha, ele
de Portugal da Espanha, mas deu apoio à luta dos favoreceu a Filipe de Anjou, membro da família de
irlandeses pela tolerância, bem como à luta de Veneza Bourbond, a fim de ocupar o trono; mas isso deu
contra os turcos otomanos. Opôs-se ao jansenism o origem à Guerra da Sucessão Espanhola.
(vide), com a sua bula Cum occasione, expedida em Os historiadores religiosos informam-nos que
1653. Inocente XII foi homem piedoso e gentil, que gastava
Foi patrono das artes e conhecido por seu espírito polpudas somas socorrendo aos pobres. Morreu em
de caridade, tendo feito inúmeras e consideráveis Roma 27 de setembro de 1700.
contribuições. Infelizmente, deixou-se envolver pelo
nepotismo (vide), e dava ouvidos demais à sua
cunhada, Donna Olimpia Maidalchini, que lhe dava INOCENTE X m
maus conselhos, usando a influência que tinha Suas datas foram 1655—1724. Foi batizado com o
visando ao lucro pessoal. Ela era tão gananciosa e nome de Michelangelo dei Conti, a 13 de maio de
egoísta que se recusou a pagar pelo sepultamento de 1655, em Poli, na Itália. Governou como papa de
Inocente X, depois da morte dele, que ocorreu em 1721 a 1724. Era membro de uma família nobre, que
Roma, a 6 de janeiro de 1655. preferia servir à causa do catolicismo a envolver-se nas.
atividades próprias dos abastados. Serviu em vários
cargos eclesiásticos. Tornou-se arcebispo e então
INOCENTE XI núncio papal em Lucerna e depois em Lisboa. Tornou-
Suas datas foram 1611—1689. Foi batizado com o se cardeal em 1706. Foi eleito papa a 8 de maio
nome de Benedicto Odescalchi. Nasceu em Como, na de 1721. Sua experiência como embaixador ajudou-o
Itália, a 16 de maio de 1611. Foi papa de 1676 a 1689. a acalmar várias controvérsias que abalaram a Igreja
Foi educado pelos jesuítas, em Como. Fez estudos de Católica Romana durante aquele período. Aprovou o
direito em Roma e em Nápoles. Serviu a vários postos domínio de Carlos IV sobre Nápoles e a Sicília,
eclesiásticos. Foi nomeado cardeal em 1645. Tornou- domínio esse que Carlos IV já tinha, embora sem o
se bispo de Novara, em 1650. Quase foi eleito papa, reconhecimento da Igreja. Todavia, seus desejos não
em 1669, o que conseguiu em segunda candidatura, foram aceitos na Espanha, onde Dom Carlos, filho de
em 1676. Seu governo foi assinalado por lutas Filipe V, da Espanha, sucedera no governo de Parma.
intermináveis com os franceses, em torno do exercício Os bispos jansenistas franceses exortaram-no a repelir
do direito real de receber os rendimentos de sedes a bula de Clemente XI contra eles; mas o papa reagiu
eclesiásticas vagas, e de nomear bispos. O monarca exigindo sua aceitação universal. Teve muitas
francês, Luiz XIV, exercia ilegalmente esses direitos, dificuldades com os jesuítas, quanto a várias
opondo-se ao papa. Desse modo, violava as determi questões. Entre essas dificuldades, ele se opunha ao
nações do concílio de Lyon e da Concordata de 1516. uso da liturgia nativa chinesa, que os jesuítas estavam
Inocente XI, por causa disso, excomungor Luís XIV, empregando na China. Morreu a 7 de março de 1724.
mas isso não pôs fim aos problemas do papa. Luís
XIV retaliou convocando uma assembléia do clero
francês, que compôs os chamados Quatro Artigos, INOCENTES, DIA DOS
que davam aos concílios maior autoridade que ao Ver sobre Dia dos Inocentes.
papa. Inocente anulou os artigos e rejeitou a
nomeação de bispos que davam apoio a essas
disposições. O papa unificou as forças cristãs que INOCENTES, MASSACRE DOS
derrotaram um exército turco invasor de Viena, em Herodes, o Grande, temendo o surgimento de um
1683. Inocente XI morreu em Roma, a 12 de agosto governante judeu nacionalista e popular, que
de 1689. ameaçasse o seu domínio, instigou a matança das
crianças de dois anos de idade para baixo. Isso visava
INOCENTE XO a eliminar qualquer criança do sexo masculino que
cumprisse a profecia concernente ao Rei que pudesse
Suas datas foram 1615—1700. Nasceu com o nome nascer durante seus dias de governo. A narrativa é
de Antonio Pignatelli, perto de Spinazzola, na Itália, contada em Mateus 2:16-18. Os magos haviam dito a
a 13 de maio de 1615. Pontificou entre 1691 a 1700. Herodes como o «rei dos judeus» haveria de nascer em
Educou-se no colégio jesuíta de Roma; serviu ao papa Belém da Judéia. Herodes, pois, ordenou aos magos
Urbano VIII, foi inquisidor-mor em Malta, que voltassem a Jerusalém, depois de encontrarem o
governador de Viterbo e núncio (embaixador papal) menino, para lhe darem informações especiais acerca
em Florença, na Polônia e em Viena. Foi nomeado do paradeiro da criança. Ver Mateus 2:2 ss. O
cardeal em 1681. E arcebispo de Nápoles algum propósito de Herodes, naturalmente, era localizar o
tempo depois. Foi eleito papa a 12 de julho de 1691. menino Jesus, a fim de eliminá-lo. Mas os magos
Instituiu muitas reformas eclesiásticas. Pôs fim ao foram avisados, em um sonho, a não obedecerem à
nepotismo no Vaticano, que vinha de longa data, ordem de Herodes; e, assim sendo, partiram para sua
mediante sua bula R om anum decet P ontificem , de 25 terra nativa sem darem a Herodes qualquer
de junho de 1692. Procurou resolver os distúrbios do informação.
jansenismo, do galicanismo e do quietismo. O
galicanismo (vide) asseverava que as tradições Quando Herodes descobriu que fora enganado, e
episcopais francesas não podiam ser perturbadas pelo que suas ordens não haviam sido cumpridas,
poder papal. Os Quatro A rtigos, mencionados no encheu-se de furor, e tentou eliminar a Cristo
artigo sobre Inocente XI, servem de exemplo como os mediante grande matança de meninos de dois anos
franceses tentaram promover o seu nacionalismo, para baixo. A julgar pela possível população da
debilitando o poder papal. Inocente XII persuadiu a cidade de Belém, na ocasião, o número de crianças
Luís XIV a retirar esses artigos, o que impediu um deve ter sido entre vinte e trinta crianças, embora
cisma. Inocente XII proclamou um Ano de Jubileu, outros estudiosos pensem em um número bem maior.
em 1700, a fim de celebrar os tratados de paz de Na verdade, não há como fazer um cálculo mais
Rijswijk e Carlowitz, bem como a conversão de aproximado.
IN Q U IR IR - IN Q U ISIÇÃ O
Josefo, embora tivesse mencionado muitas das (Isa. 8:19; Deu. 18:1CÍ-12); mas sabemos que Israel
atrocidades cometidas por Herodes, não mencionou praticava suas próprias formas de adivinhação sem
essa maldade; mas seus atos de crueldade foram qualquer impedimento. Era uma situação como se um
tantos que, facilmente, um a mais ou um a menos não judeu dissesse: «Se um pagão praticar a adivinhação,
faz qualquer diferença. O incidente, todavia, foi estará errado; mas, se eu praticá-la, não haverá
visto por Mateus como cumprimento da predição de qualquer problema».
Jeremias (ver 31:15), embora Ramá, o lugar Os apóstolos também apelaram para o lançamento
tradicional de sepultamento de Raquel ficasse de sortes, até mesmo no caso da escolha de um
localizado cerca de dezesseis quilômetros ao norte de apóstolo, para tomar o lugar deixado vago por Judas
Jerusalém, e não em Belém. Quanto a isso, comentou Iscariotes conforme se vê em Atos 1:15-26. Porém, o
A.B. Bruce: «A tradição do massacre fez lembrar a método normal de inquirição, nas páginas do Novo
profecia, e levou a mesma a ser citada, embora de Testamento, é a oração (vide). Ver Mat. 26:39; Tia.
maneira um tanto imprópria». 1:5; II Cor. 12:7-9. A inquirição religiosa também se
O relato aparece somente no evangelho de Mateus, dá através das experiências místicas. Ver sobre o
fazendo parte do material que alguns eruditos M isticism o. A revelação é uma subcategoria do
chamam de «M», ou seja, aquela porção dos misticismo, e a inspiração é uma subcategoria da
evangelhos sinópticos à qual Mateus teria tido acesso. revelação. Além disso, há inquirições racionais e
Ver o artigo intitulado o Problem a Sinóptico. Seja intuitivas, que podem revestir-se de caráter espiritual,
como for, a história ilustra a desumanidade do pelo que podem ser empregadas para fins religiosos
homem contra o homem, mas como os propósitos de com toda a propriedade.
Deus se cumprem, a despeito de tudo. «Quem nos A própria vida espiritual é uma forma de inquirição
separará do amor de Cristo...?» (Rom. 8:31-39). Nem prática e religiosa, mediante a qual buscamos uma
mesmo Herodes, com toda a sua autoridade, pôde espiritualidade mais profunda, com a participação
impedir que os propósitos de Deus fossem frustrados. final na própria imagem de Cristo (ver Rom. 8:29).
Um simples sonho impediu seus desígnios. Ver o A mente espiritual não se volta contra a inquirição
artigo separado sobre o Problema do Mal. pragmática e empírica da ciência, aceitando muitas
conclusões que são valiosas para a fé religiosa, tiradas
pelos homens de ciência, e não somente para o avanço
INQUIRIR, INQUIRIÇÃO do próprio conhecimento científico. Todavia, há
1. Definição. Essa palavra vem do latim, in, «em», e modos de inquirir próprios para a determinação das
quaero, «buscar». O termo significa «pedir informa questões morais e espirituais. O Espírito Santo é
ção», «investigar», «buscar». Uma inquirição é uma aquele que nos guia em nossas inquirições, a fim de
investigação, pesquisa, questionamento. O termo é que atinjamos os alvos que buscamos. Ver João 16:13.
usado em sentido comum, mas também reveste-se de
sentidos filosóficos e religiosos.
INQUISIÇÃO
2. Na Filosofia. Charles Peirce (vide) pensava que
esse processo é necessário às operações do pragmatis Esboço
mo, mediante o qual a «verdade», como a forma de I. Definição da Inquisição
utilidade, é buscada. Ele cria que o processo é II. Caracterização Geral
autocorretivo, e que a melhor maneira de buscar o III. Portugal e Brasil
conhecimento prático é a maneira pragmática. John IV. Propósitos da Inquisição
Dewey (vide) inquiria o âmago mesmo da atividade V. Tentativas de Justificação dos Abusos
filosófica. A inquirição transforma uma situação I. Definição da Inquisição
indeterminada em uma situação definida, mediante £ incrível que a Igreja Cristã, que fora vítima de
uma série de estágios, começando pela localização do intensa perseguição, primeiramente pelos judeus, e
problema, e terminando com a solução apropriada. então pelos judeus e romanos juntamente, com a
Todas as soluções, porém, para ele eram apenas passagem dos séculos, viesse a tornar-se, ela mesma,
instrum entais, servindo de trampolim para novas perseguidora. E isso não somente contra pessoas de
inquirições. A inquirição é a filosofia do método fora, mas até mesmo contra pessoas de dentro de suas
científico, a essência mesma do em pirism o (vide). fileiras. Ê este último aspecto que é enfocado pela
3. Na Bíblia e na Teologia. A abordagem religiosa inquisição. A Igreja Católica Romana punia, bania e
da verdade é diferente, via de regra, que a abordagem matava até mesmo seus alegados membros que
filosófica e científica. As pessoas vinham a Moisés, o errassem.
profeta, procurando saber através dele a vontade de Dois grandes escândalos têm abalado a Igreja
Deus (Exo. 18:15; 33:7-11). Eles supunham que cristã, no decurso de sua história. O primeiro é que
mediante a revelação, a intuição e a inspiração, ele ela tem perseguido e morto a outras pessoas que se
teria algo de importante a dizer. Do sumo sacerdote intitulam cristãs. O segundo é a veneração ou
levítico esperava-se que fosse capaz de determinar a adoração de imagens, que ela promove, em vários de
vontade de Deus através das sortes sagradas, seus mais importantes segmentos. Ver sobre Icono-
chamadas Urim e Tumim. O trabalho dele talvez clasmo ( Controvérsias Iconoclásticas). Da mesma
envolvesse uma espécie de bola de cristal, talvez com o maneira que um indivíduo pode exibir um vício que
uso de diamantes. Ver Exo. 28:28-30. Davi apelou macula a sua espiritualidade, assim também a Igreja
para esse método de revelação do Urim e Tumim cristã, como um todo, tem sustentado esses dois
(usados pelo sumo sacerdote), quando se viu em grandes vícios debilitantes.
graves dificuldades com Saul. Ver I Sam. 23:9-12. O termo «inquisição» vem do latim, inquirere,
Saul fez a mesma coisa (I Sam. 14:41). Tendo isso «inquirir». Compõe-se de duas outras palavras latinas:
falhado, ele apelou para uma médium espírita (I Sam. in, «em», e quaero, «buscar». Portanto, a inquisição é
28:6,7). Quanto a teorias sobre a natureza do Urim e uma «busca», uma «investigação». Historicamente
T u m im , ver o artigo sobre o assunto. Ver também o falando, o termo refere-se a uma instituição
artigo geral sobre a Adivinhação. estabelecida no seio da Igreja Católica Romana com o
A consulta a médiuns, bruxos e o uso de vários propósito de eliminar a heresia, isto é, toda e
meios de adivinhação eram todos proibidos em Israel qualquer oposição religiosa. Essa atividade mostrou-
338
IN Q U ISIÇ Ã O - IN RA
se mais ativa e destruidora durante um período de quatro anos de idade. Nasceu no Brasil, mas criou-se
mais de quatrocentos anos, embora, como instituição, em Portugal. Antes de morrer, foi objeto de
tivesse perdurado por muito mais tempo ainda. constantes perseguições. Um outro brasileiro vitima
II. Caracterização Geral
do foi Bento Teixeira, que foi o primeiro poeta a
escrever no Brasil, após José de Anchieta. Foi feito
Em 1163, no concilio de Tours, na França, o papa prisioneiro em Pernambuco. Morreu na prisão, em
Alexandre III ordenou que o ciero procurasse os cerca de 1600. Anita Novinsky, uma especialista no
hereges com base em inquéritos, com a ajuda de assunto, lembra que os inquisidores se anteciparam às
testemunhas juramentadas. Durante um período de leis nazi-fascistas com a teoria da lim peza do sangue,
cerca de cinqüenta anos (de 1163 a 1215), houve fazendo com que «o Brasil já nascesse sob a égide do
processos inquisitoriais em andamento. No século preconceito». Por isso, Hitler não trouxe nenhuma
XIII, a inquisição atuava em toda a Europa, novidade, mas só aperfeiçoou o mal.
excetuando-se na Escandinávia e na Inglaterra.
Diferentemente dos casos tratados nos tribunais civis, IV. Propósitos da Inquisição
os acusados nunca eram informados quem eram os 1. Inquirir quanto à propagação de doutrinas que
seus acusadores. Se as ofensas fossem consideradas se opunham à fé católica romana.
leves, penalidades bastante insignificantes eram 2. Convocar aos tribunais todos os católicos
baixadas, geralmente envolvendo formas de penitên romanos suspeitos de heresias ou de conduta
cia. Mas, os alegados crimes, que usualmente nada imprópria.
mais envolviam senão diferenças de opinião doutri 3. Punir a incredulidade, a fim de convencer as
nária, eram pesadamente punidos, com encarcera pessoas do erro, exortando-as ao arrependimento.
mento, banimento e até a morte, para nada dizermos Apesar de que havia exceções à regra, a inquisição
sobre indescritíveis torturas sofridas pelas vítimas. O não tinha por finalidade forçar pessoas não-católicas a
mais incrível é que, em 1253, o papa Inocente IV aceitarem o catolicismo. Antes tinha por intuito
autorizou oficialmente o uso de torturas, no processo promover o bem-estar espiritual e garantir a salvação
dos interrogatórios. Portanto, o suposto vigário ou dos católicos que precisassem ser disciplinados, até
substituto do humilde Jesus Cristo, que proibia toda mesmo mediante as torturas e a morte, se isso se
sorte de violência, tornou-se pesadamente culpado tornasse necessário.
desse crime de torturar até mesmo m em bros de sua Os principais hereges perseguidos pelos inquisido
própria Igreja. Ver Luc. 9:34 ss. res foram os albigenses, os waldenses e os cátaros (ver
E os governos civis alegremente davam seu apoio à os artigos sobre esses três grupos).
Igreja, encetando buscas que levaram a excessos
notórios de arbitrariedade. Na Espanha, a inquisição V. Tentativas de Justificação dos Abusos
mostrava-se altamente organizada, tendo sido eficaz e Aqueles que tentam mitigar os horrores impostos
devastadora, porquanto atuava sob a autoridade pela inquisição, oferecem as seguintes desculpas para
direta do rei. E estendeu seus braços maliciosos ela:
contra a América Latina, uma vez descobertas e 1. A inquisição não teria sido diferente dos
colonizadas as Américas. A inquisição espanhola foi tribunais civis, que usavam o mesmo tipo de métodos,
estabelecida em 1480, e só foi abolida em 1834, o pelo que esse tipo de coisa era comum à época. A
Santo Ofício da Inquisição foi estabelecido em Roma, resposta é que a Igreja cristã deve ser vastamente
em 1542, tendo prosseguido até 1965, quando foi diferente do mundo, especialmente no que concerne à
substituído pela Congregação da Doutrina da Fé, que violência, à crueldade e à brutalidade.
é uma inquisição que não se utiliza de meios violentos. 2. Geralmente eram as autoridades civis, e não as
O Santo Ofício de Roma ordenou que Bruno fosse autoridades religiosas, que mais dano faziam entre os
executado na fogueira, o qual, por isso mesmo, hereges. A resposta é que o papa Inocente IV
tornou-se um dos mártires da filosofia. Também teve autorizou oficialmente as torturas físicas como parte
a duvidosa distinção de julgar e condenar Galileu dos processos, além do que é dificílimo distinguir
Galilei. entre as áreas de atuação da Igreja e do Estado, nesses
processos. As evidências mostram que a Igreja
Calcula-se que foram julgados cerca de quarenta Católica Romana não precisava de quaisquer lições
mil casos. «Em termos de tortura, Hitler não passava do Estado para efetuar seus atos desumanos.
de um aprendiz, comparado aos padres do Santo 3. Os protestantes estiveram envolvidos no mesmo
Ofício» (Ò Estado de São Paulo, 22 de janeiro de tipo de coisa. Sabe-se que Calvino mandou aprisio
1987). nar, matar e executar um grande número de pessoas,
HL Portugal e Brasil somente por discordarem dele quanto a questões
Os territórios que atualmente constituem Portugal, doutrinárias. Ver o artigo acerca de Calvino, em seus
por causa da proximidade e identidade histórica com últimos parágrafos, quanto a uma demonstração
a Espanha (onde a inquisição mostrou ser mais disso. Zwínglio também não teve um registro histórico
deletéria), tornaram-se um terror. Não foi senão em muito melhor, quanto a essa questão; e até mesmo
1821 que o Tribunal da Inquisição foi desativado em nas colônias norte-americanas os líderes religiosos
Lisboa. No Brasil, milhares de pessoas foram foram culpados de idênticos crimes. Isso é verdade;
denunciadas e centenas foram condenadas, a partir mas dois erros ou mais não corrigem o primeiro deles.
de 1591, com a chegada de visitadores como Heitor 4. Alguns deles dizem apenas: «A inquisição foi um
Furtado de Mendonça, que armou uma enorme mesa, sinal da época». Apesar disso ser verdade, espera-se
nas instalações da Companhia de Jesus da Bahia, que a Igreja de Cristo se conduza de uma maneira que
para receber as denúncias. Na maioria das vezes, as seja de muito melhor qualidade do que a de homens
acusações falavam sobre corrupções de cristãos, por ímpios e destituídos de humanidade. (AM E KUP)
causa da influência do judaísmo, como feitiçarias, Ver o artigo geral sobre a Tolerância.
sodomia e homossexualismo. Também houve denún
cias sobre desvios doutrinários que -raiavam à INRA
blasfêmia. Uma das vítimas brasileiras foi o autor e No hebraico, «teimoso». Filho de Zofá, descendente
poeta Antônio José da Silva, que foi executado na de Aser (I Crô. 7:36), e que foi um dos chefes daquela
fogueira em Lisboa, em 1739, com apenas trinta e tribo. Viveu por volta de 1612 A.C.
339
IN R I - IN SC RIÇÕ ES
INRI até hoje; mas, a maior parte desses casos deve ser
No hebraico, «eloqüente». Esse é o nome de duas atribuída a fatores fisiológicos ou psicológicos. No
personagens que aparecem no Antigo Testamento: tocante à questão da responsabilidade, as leis civis
tendem por assumir uma posição mais liberal do que
1. Um homem da tribo de Judá, filho de Bani, da a dos teólogos. Alguns teólogos afirmam que um
família de Perez(I Crô. 9:4), que viveu algum tempo homem pode chegar à insanidade por força de seus
antes de 536 A.C. Ele se achava entre os exilados que hábitos, que favorecem essa condição, sendo res
voltaram do cativeiro babilónico para residir em ponsabilidade dele ter chegado a tal estado. Uma
Jerusalém. passagem bíblica das mais claras quanto a essa
2. O pai de Zacur, que ajudou a reconstruir as verdade é a de Romanos 1:22, que reza: «Inculcando-
muralhas de Jerusalém, nos dias de Neemias (Nee. se por sábios, tomaram-se loucos...» Isso posto,
3:2). Isso ocorreu algum tempo antes de 446 A.C. apesar da lei alicerçar suas decisões sobre a
responsabilidade do indivíduo sobre condições fisio
I.N .R .l. lógicas e psicológicas, também há o problema da
degradação moral, diante da qual cada indivíduo deve
Essa abreviatura corresponderia à suposta inscrição ser responsabilizado.
em latim, afixada cruz de Jesus: Iesus N azarenus
R ex Iudaeorum , «Jesus de Nazaré, rei dos judeus». Aqueles que crêem na preexistência da alma, com
Todos os quatro evangelhos mencionam essa inscri ou sem o acompanhamento da reencarnação (vide),
ção, embora variem quanto à sua exata declaração. A supõem que as condições da alma, antes de sua
versão de João 19:19 é a que melhor se ajusta a essa junção ao corpo físico, podem ser a causa real da
abreviatura. Tradições pias, sem dúvida mitológicas, insanidade. Nesse caso, tal condição só pode ser
asseveram que Helena, mãe do imperador Constanti- evitada mediante a reversão de certas condições
no, descobriu uma tábua, juntamente com as três morais e espirituais, cultivadas pela alma, antes de vir
cruzes, em uma caverna, identificada como o santo habitar no organismo físico. Se esse raciocínio está
sepulcro. Naquela tábua foi encontrada essa inscri com a razão, então pelo menos alguns casos de
ção. Pinturas da crucificação, feitas por M. insanidade dependem da existência total da alma, e
Munkacsy, F. Pesellino e Ed. Burne-Jones, exibem a não meramente das condições do cérebro. Nesse caso,
inscrição em latim. toda a alma que tiver cultivado sua própria
insanidade certamente é responsável por seus atos, a
despeito do que digam a lei e a psiquiatria.
INSANIDADE
Vem do latim, in, «não», e sanas, «são», «saudável». INSCRIÇÕES
Essa é uma palavra geral que indica aqueles que são
desequilibrados mentais, ainda que, no uso popular, O latim por detrás dessa palavra é inscriptio(nis),
também possa significar tolo, extravagante ou «uma escrita sobre». O termo latino inscriptus é o
antipático. Na lei, a insanidade é uma condição particípio passado de inscribere, «inscrever». Em um
mental que torna o indivíduo incapaz de cuidar de sentido geral, uma inscrição é qualquer coisa que se
seus próprios negócios, ou de ser considerado escreva sobre um objeto; mas, segundo o uso
responsável pela sua conduta. A palavra «incompeten arqueológico do termo, estão em foco escritas
te» é usada para descrever tais pessoas. A lei ocupa-se gravadas sobre objetos encontrados pelos arqueólo
com a questão da responsabilidade, e não com a gos, vindos de antigas culturas, que nos auxiliam a
identificação de enfermidades específicas, pelo que compreender a natureza delas, bem como parte de
não está sujeita à queixa dos psiquiatras de que o uso sua história.
dessa palavra, por parte dos advogados, subentende As inscrições, nesse sentido arqueológico, incluem
alguma enfermidade especifica. cartas, palavras ou símbolos gravados ou pintados
As legislações dos países têm estabelecido normas sobre materiais de grande duração, como pedra,
mediante as quais a insanidade é determinada; mas, argila, metal, terracota, marfim, etc., com o intuito
nesse campo é mister grande dependência à ciência de transmitir alguma mensagem, registrar eventos, ou
médica. Nos casos legais, com freqüência, testemu talvez, em alguns casos, meramente decorar.
nhos conflitantes são oferecidos pelos psiquiatras. É O estudo das inscrições muito tem feito para
questão difícil e intrincada determinar tanto a aumentar o conhecimento dos homens modernos
insanidade quanto o grau de responsabilidade sobre as civilizações antigas. Entre as mais bem
envolvidos, não apenas nos casos criminais, mas conhecidas inscrições da civilização ocidental estão os
também no que diz respeito a testamentos. A questão vasos pintados e os mármores com gravuras em baixo
fica ainda mais complicada por alegadas insanidades relevo da antiga Grécia, bem como os selos e as
temporais, mediante as quais um criminoso, embora moedas das civilizações da Mesopotâmia e do rio Nilo,
considerado hígido no momento, pode ter passado por que remontam tanto quanto até 3000 A.C. Natural
um acesso de insanidade, pelo que cometeu seu ato mente, inscrições também têm servido de preciosas
criminoso. fontes informativas sobre as culturas chinesa, maia,
Além disso, há atos feitos por pessoas normais que, tolteca e asteca (estas três últimas nas Américas). As
segundo alguns alegam, poderiam ser feitos por inscrições, como é óbvio, têm sua contraparte
pessoas que caem em insanidade temporária, ou em moderna nas pedras angulares dos edifícios, nas
algo que se aproxima dessa condição. Para exemplifi placas comemorativas, etc. Essa arte chama-se
epigrafia.
car, uma pessoa culpada de algum tipo de fraude
pode ter sofrido pressões anormais, pelo que se tornou I. Contribuiçiò dai InacrlçSe*
temporariamente irresponsável por suas ações. Ou, As inscrições têm sido uma das mais valiosas fontes
em um momento de intensa tristeza ou compaixão, informativas dos arqueólogos. Até cerca de cem anos
uma pessoa poderia praticar um ato de eutanásia atrás, os estudiosos tinham de limitar-se a referências
(vide). históricas literárias, como, por exemplo, os livros de
A lgum as Idéias Religiosas. Houve tempo em que se Josefo, historiador judeu que viveu imediatamente
pensou que a insanidade era causada somente por após a época de Cristo. Atualmente, porém, a
possessões demoníacas. É verdade que assim sucede arqueologia tem encontrado grande massa de
340
IN SCRIÇÕ ES
informações nas próprias terras bíblicas. As inscri aparecem ali os nomes de somente oito monarcas
ções encontradas pelos arqueólogos nos revelam antediluvianos, os quais teriam coberto, ao todo, um
muita coisa sobre leis, tratados, condições sociais, período fantástico de duzentos e quarenta e um mil e
motivos das populações, crenças (inclusive aquelas de duzentos anos.
natureza religiosa), etc. Além de meras pequenas Muito se tem podido aprender sobre as opiniões
inscrições, a arqueologia tem encontrado vastas desses povos quanto à lei e à moral, conforme se vê no
bibliotecas, valiosíssimas para o estudo de culturas código de Hamurabi (cerca de 1792—1750), que
antigas. Na área dos rios Tigre e Eufrates, têm sido encontra alguns paralelos na Bíblia. Ver o artigo
encontradas muitas inscrições feitas sobre argila, o separado intitulado H am urabi, Código de. Outras
material mais comumente achado ali. No Egito, coleções de material antigo, que nos oferecem
muitas inscrições, eram feitas sobre a pedra, mas informes sobre leis e questões morais foram
também como pintura. Na Grécia têm sido encontra encontradas em Ur, da época do rei Ur-Namu (cerca
das muitas inscrições pertencentes aos séculos IV e V de 2060 A.C.), e das épocas dos reis Bilalão, de
A.C., especialmente em Atenas. As mais antigas Esnuna (cerca de 1930 A.C.), e Lipite-Istar, de Isin
inscrições em grego foram gravadas da direita para a (cerca de 1865 A.C.).
esquerda, ao estilo dos hebreus. Mas, com a E m M ari, no curso médio do rio Eufrates, foi
passagem do tempo, o grego passou a ser escrito da encontrada uma coleção de vinte mil tabletes,
esquerda para a direita, como o nosso português. E pertencentes aos séculos XIX e XVIII A.C. Esse
também existem inscrições escritas verticalmente, de material revela muita coisa sobre costumes sociais,
cima para baixo, conforme se vê, por exemplo, no leis, etc., e que ilustram muitas coisas da época
japonês. bíblica patriarcal. Material similar foi encontrado em
As inscrições públicas visavam transmitir instru Nuzi na porção noroeste da Mesopotâmia que ilustra
ções às massas populares, geralmente sendo colocadas muitos costumes dos hurrianos. Esse material
em lugares movimentados. As inscrições feitas sobre também lança luz sobre certas questões referidas na
túmulos tinham significado religioso. Inscrições Bíblia.
particulares, com freqüência, tinham uma finalidade 4. Inscrições Ugariticas. O ugarítico era um dos
decorativa, embora até mesmo essas, em muitos dialetos cananeus que contava com uma escrita
casos, nos forneçam informações valiosas. alfabética, mas cuja escrita era tipo cuneiforme. Em
D . Inscrições Antes de Israel Estabelecer-se na nenhum local tem sido encontrado grande acúmulo
Terra Prometida desse material; mas o material pertencente a essa
1. Os textos de execração do Egito, pertencentes categoria, encontrado espalhado por toda a Palestina,
aos séculos XIX e XX A.C. Nomes de inimigos, suas tem sido considerável. Os fragmentos mais antigos
cidades, além de outras informações, eram escritos pertencem ao século XIV A.C., contendo informações
sobre figurinhas ou vasos de argila, os quais eram de cunho religioso, além de outras.
então quebrados. Isso equivalia mais ou menos à 5. Textos em Escrita A lfabética. Tem sido
prática dos macumbeiros e outros, que atravessam encontrado algum material em escrita protosinaitica
bonecos com agulhas, na esperança de prejudicar às pertencente, principalmente aos séculos XVI e XV
suas vítimas vivas. Textos assim fornecem-nos A.C. Esse material foi achado em Serebite. Embora
informações sobre as condições sociais, militares e não sejam abundantes, tais inscrições ilustram
governamentais dos povos que os prepararam. estágios no desenvolvimento do alfabeto, além de nos
2. Os Textos dos Faraós do Egito. Além das darem algumas informações sobre as culturas da
inscrições em escrita hieroglífica que nos dizem algo época. E algumas dessas informações iluminam as
sobre os tempos e os reinados de vários reis egípcios, condições bíblicas da época.
há os escritos mais extensos como os de Tutmés III m . Inscrições da Época da Terra Santa Ocupada
(cerca de 1490—1436 A.C.), encontrados no templo por Israel
de Amom, em Carnaque, onde aparecem alistados os 1. Egípcias'.
nomes de cento e dezenove cidades e aldeias,
capturadas pelos egípcios em Canaà e na Síria. Esses a. M ernepta (cerca de 1224—1216 A.C.) deixou
escritos nos fornecem grande iluminação quanto aos hinos de vitória em uma esteia, achada em seu
centros populacionais dessas áreas, naquele tempo. túmulo, em Tebas. Essa mensagem duplica aquilo
Outros documentos escritos revelam o inter-relaciona que ficou inscrito no templo de Amom, em Carnaque.
mento entre o Egito e a Palestina, nos tempos de Israel é mencionado entre os povos inimigos
vários Faraós, como Ramsés II (cerca de 1290—1223 derrotados.
A.C.), Ramsés III (cerca de 1179—1147 A.C.), além b. Rarnsás///(cerca de 1179-1147 A.C.). Ele diz que
de outros. Esse material, também, nos fornece repeliu os chamados povos do mar, entre os quais
algumas informações sobre os hititas e os hurrianos. E estavam os filisteus, que se estabeleceram nas costas
na própria Palestina têm sido encontradas inscrições marítimas da Palestina, depois que foram expulsos do
relativas ao Egito. Três esteias (duas de Seti I, Egito. Relatos sobre as lutas que houve, aparecem no
antecessor de Ramás II, e uma do próprio Ramsés III) templo mortuário de Ramsés, em Medinet Habut.
foram deixadas em Bete-Seã por tropas egípcias que c. A Literatura de Sabedoria. Os escritos de
ocuparam aquele lugar em certo período histórico. Amenemope assemelham-se, quanto ao estilo, a
Ali, lê-se sobre a captura de Bete-Seã. Em uma dessas algumas declarações do livro de Provérbios, na Bíblia,
esteias há menção aos habiru (vide), que muitos especialmente o trecho de Pro. 22:17—23:14.
estudiosos pensam ser os hebreus.3 d. Sisaque, também conhecido como Sosenque,
guerreou contra Israel, nos dias de Reoboão (I Reis
3. Inscrições Sum ério-acadianas. Têm sido encon 14:25,26; II Crô. 12:2-9). Há uma inscrição, no
tradas bibliotecas inteiras, pertencentes a essa templo de Carnaque, que dá uma lista de cidades que
cultura, como milhares de textos, inscritos sobre ele teria conquistado, confirmando as informações
argila queimada. Entre esse material se encontra a que aparecem em II Crônicas 12. Jerusalém não foi
lista de reis sumérios, onde aparecem os nomes dos capturada, mas lhe foi imposto um pesado tributo. E
mais antigos governantes da Mesopotâmia. Todavia, os escudos de ouro, de Salomão, foram entregues aos
essa lista é parcialmente mitológica, visto que egípcios, entre outros tesouros.
341
IN SC RIÇÕ ES - IN SEM IN A Ç Ã O
As histórias dos reis da Assíria, — contadas clima bem mais seco: razãò pela qual não muito desse
em suas inscrições, suplementam aquilo que a Bíblia material chegou até nós. Os chamados manuscritos
nos diz. Na inscrição monolítica de Salmaneser III do Mar Morto são uma notável exceção desse fato.
(858—824 A.C.), Acabe é mencionado como um dos Ver o artigo intitulado M ar M orto, M anuscritos
adversários dos assírios. Os sírios e israelitas (Rolos) do. Centenas de inscrições relativamente sem
tornaram-se aliados, por breve tempo, para enfrentar importância, inscritas em hebraico, sobre todo tipo de
a ameaça assíria. Certa inscrição menciona a batalha objetos, como selos, pesos, jarras e cabos de armas,
de Qarqar, em 853 A.C., que houve durante esse moedas, ossuários, ostraca, etc., têm sido encontra
conflito. O obelisco negro de Salmaneser III refere-se das. Essas inscrições abordam a maior variedade
à submissão de Jeú aos sírios. Tiglate-Pileser III imaginável de assuntos, e outras são apenas
(744—727 A.C.) deixou registrado como Menaém, de ornamentais.
Israel, precisou pagar-lhe tributo, o que também é 5. Aram aicas. Uma esteia encontrada perto de
mencionado em II Reis 15:19,20, além de descrever a Alepo, na Síria, confirma o texto de I Reis 15:18, ao
guerra siro-efraimita, que envolveu Acaz, de Judá, o falar sobre Ben-Hadade. Uma inscrição feita sobre
que tem paralelo bíblico em II Reis 16:5-18. Há marfim, de Arslan Tash, contém o nome Hazael,
inscrições que dizem como Sargão I (721—705 A.C.) também mencionado em II Reis 8:15. Várias
destruiu Samaria e deportou os israelitas (ver também inscrições em aramaico nos dão detalhes sobre a
II Reis 18:9,12). Senaqueribe (704—681 A.C.) narra história dos reinos aramaicos, além de mencionarem
suas guerras na Palestina, jactando-se de suas vitórias lugares específicos de grande interesse, como Nerabe
sobre uma longa lista de cidades palestinas. Ele conta e Assur. A história de uma colônia judaica em
como pôs Ezequias em uma gaiola, embora sem Elefantina, no Alto Egito, tem sido aclarada por
mencionar os detalhes que aparecem em II Reis papiros encontrados. Isso já nos vem do período
18:17-35. Ele estabeleceu seu quartel general em persa. Dentre os manuscritos mais importantes
Laquis, o que é confirmado na Bíblia. Esar-H adom aramaicos, estão aqueles descobertos no mar Morto.
(680—669 A.C.), chama ao rei Manassés, de Judá, Ver o artigo M ar M orto, M anuscritos (Rolos) do.
seu vassalo. Assurbanipal (668—633 A.C.) descreve 6 . Gregas. Durante o período helenista, era comum
como invadiu a Palestina. as sinagogas judaicas conterem inscrições que
3. Babilónicas. As inscrições que nos chegaram do honravam a reis pagãos. De fato, havia até sinagogas
período babilónico narram o colapso do império com os nomes dessas figuras. Desde a época de
assírio, com a queda de Nínive. Cerca de trezentos Antíoco III (223—187 A.C.), uma inscrição em grego
tabletes foram recuperados na Babilônia, de cerca de conta como os seus soldados lançaram confusão no
595-570 A.C., o tempo em que Nabucodonosor norte da Palestina, perto de Hefizibá. Uma inscrição
governou (605-562 A.C.). Jeoaquim, rei de Judá, é feita sobre o mármore, em Acre, menciona Antíoco
mencionado entre os muitos cativos e vassalos. VII, sendo uma dedicação feita a Zeus Soter, o
Material escrito, procedente da Babilônia, também principal deus do panteão grego. Inscrições em grego
descreve Nabonido, Ciro e outros, que tiveram algum têm sido achadas em lugares de sepultamento, em
relacionamento com o povo de Israel.4 Maresa(159—119 A.C.), em Samaria, mais ou menos
4. Hebréias. Pertencentes ao século XII A.C., da época dos monarcas ptolomeus. Em Kefar Yasif, a
temos três cabeças de lanças inscritas, mui provavel nordeste de Acre, foi encontrada uma inscrição em
mente, com os nomes de seus donos. Lâminas de pedra calcária, que era uma dedicatória, posta sobre
metal, com nomes indecifráveis, têm sido encontra um altar devotado a deuses orientais, Hadade e
das, pertencentes desde o século XI A.C. Estações de Atargates. Muitos fragmentos de papiro foram
plantio são alistadas em inscrições achadas em Gezer encontrados na areia dos desertos egípcios, ilustrando
(século X A.C.). Inscrições fenícias, do século X A.C., a vida das épocas de onde procederam, ou seja,
ilustram o desenvolvimento do alfabeto. Uma dessas imediatamente antes da era cristã, que foi o período
inscrições, bastante longa, foi encontrada em helenista.
Caratepe, na parte leste da Cilicia, com material 7. Latinas. Inúmeras inscrições em latim têm sido
paralelo em escrita hieroglífica hitita. A chamada encontradas, lançando luz sobre o período de
pedra m oabita (vide), do século IX A.C., fala sobre o dominação romana. Para os estudiosos do Novo
rei Onri, de Israel, além de fornecer detalhes sobre a Testamento é de especial interesse a inscrição
história desse período do Antigo Testamento. Essa é a encontrada em um antigo teatro de Cesaréia.
única inscrição significativa, no dialeto dos moabitas, Representa uma dedicatória em honra ao imperador
que era um ramo da língua cananéia. Registros da Tibério, ali posta por Pôncio Pilatos. Ver o artigo
entrega de azeite e vinho, pertencentes ao século separado intitulado Escrita. (AM THO Z)
VIII A.C., foram encontrados em Samaria, sob a
forma de cerca de setenta ostraca (vide). Cerca de
vinte e uma ostraca, do século VI A.C., foram IN SE
achadas em Laquis, fornecendo-nos detalhes da época No latim significa «em si mesmo», o que contrasta
de Zedequias. A inscrição de Siloé (vide) foi com a expressão latina in alio, «em outro». Os mestres
encontrada em um antigo túnel, em Jerusalém, da do escolasticismo usavam a expressão in se para
época de Ezequias. Descreve como os engenheiros indicar alguma substância, ao passo que in alio
israelitas escavaram o túnel. Também há duas referia-se aos acidentes dessa substância.
ostraca achadas em Tell Kasileh (século VIII A.C.),
que mencionam o comércio de azeite e ouro, que
Israel fazia com o Egito. Inscrições fúnebres, INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL
encontradas em Siloé, um lugar perto de Jerusalém, A história da inseminação artificial é antiga,
nos chegaram desde os tempos de Ezequias. Na retrocedendo pelo m enos ao século X IV . A lguns
fortaleza de Matzad Hashabyahu, várias ostraca governos e grupos religiosos não têm aceito a prática
foram achadas. Uma delas contém uma carta escrita por um a razão ou o u tra. Nos E stados U nidos da
em hebraico, do século VII A.C. Materiais perecíveis, A m érica, en tre dez e vinte m il m ulheres por ano
como o papiro e o pergaminho, não perduravam por engravidam através desse método (1980), a grande
tanto tempo na Palestina como o faziam no Egito, de maioria com esperma de seus próprios maridos. Se
342
IN SEM IN A Ç Ã O - IN SEN SA TO
isso não é possível, usualmente faz-se o possível para Sal. 107:17; Pro. 1:7; 7:22; 24:7; 27:3,22; Isaías
encontrar um doador cujas características genéticas 10:11; Osé. 9:7.
sejam similares às do marido. O esperma pode ser 2. Kesil, «autoconfiante». Palavra hebraica que
recente ou congelado, preservado em bancos de aparece por sessenta e nove vezes, quando usada
esperma. O processo é hígido do ponto de vista da como adjetivo, conforme se vê, por exemplo, em Sal.
medicina, mas têm surgido problemas legais quando 49:10; 94:8; Pro. 1:22,32; 3:35; 8:5; 10:13,23; 28:26;
o doador não é o marido, e os tribunais têm baixado 29:11,20; Ecl. 2:14-16; 4:5; 5:3,4; 9:17; 10:2,12.
decisões contraditórias. Dois são os problemas mais 3. Nabal, «vazio», «tolo». Palavra hebraica que
evidentes: 1. A lei pode considerar tais casos como figura por dezoito vezes, conforme se vê em II Sam.
instâncias de adultério; ou 2 . se a criança apresentar 3:33; 13:13; Jó 30:8; Sal. 14:1; 53:1; Pro. 17:7,21;
enfermidade ou deformação, por questões genéticas, 30:22; Jer. 17:11.
o médico pode ser considerado responsável. Um 4. Sakal, «cabeça dura». Termo hebraico que
problema adicional é a reação emocional retardada do aparece por sete vezes como adjetivo: Ecl. 2:19;
marido, que, em alguns casos, é extremamente 10:3,14; 7:17; Jer. 5:21; 4:22.
negativa. Ele pode sentir-se inadequado, ou que sua 5. A nóetos, «destituído de mente». Termo grego
mulher o traiu de alguma maneira. que aparece por seis vezes: Luc. 24:25; Rom. 1:14;
O impulso principal por trás do processo é o desejo Gál. 3:1,3; I Tim. 6:9; Tito 3:3.
natural da mulher de ter filhos. Para muitas delas, é 6. Â sophos, «destituído de sabedoria». Palavra
mais satisfatório ter o próprio filho, mesmo que com grega que é utilizada por apenas uma vez, em Efé.
esperma de outro homem, do que adotar um filho. Os
problemas psicológicos das mulheres são raros. 5:15.
O problem a religioso. Se o doador é o marido, a
7. À p h ro n , «desatento». Palavra grega que é usada
maioria dos grupos religiosos não faz objeção, salvo por onze vezes: Luc. 11:40; 12:20; Rom. 2:20; I Cor.
que às vezes surge o argumento da «desnaturalidade» 15:36; II Cor. 11:16,19; 12:6,11; Efé. 6:17 e I Ped.
do processo. O problema real surge quando o doador 2:15.
não é o marido, e nesse caso, a história mostra que os 8. M orós, «rebelde», «insensato». Vocábulo grego
católicos, os judeus ortodoxos e alguns protestantes usado por catorze vezes: Mat. 5:22; 7:26; 23:17,19;
(sobretudo luteranos) são os que mais se opõem à 25:2,3,8; Mar. 7:13; I Cor. 1:25,27; 3:18; 4:10; II
prática. A maioria dos grupos protestantes não Tim. 2:23 e Tito 3:9. O substantivo, m oría, ocorre por
tomou tt posição sobre a questão, a qual é deixada ao cinco vezes: I Cor. 1:18,21,23; 2:14; 3:19.
encargo da consciência das pessoas diretamente I. Características da Insensatez
envolvidas. Ainda recentemente, os luteranos afrou 1. Não ter conhecimento de Deus (Tito 3:3).
xaram a sua posição sobre o problema, mas a Igreja
Católica Romana, por meio de seus oficiais (não 2. Negar a Deus na teoria e na prática (Sal. 14:1;
necessariamente seus membros), tem retido uma 53:1).
posição firme em contrário. 3. Blasfemar contra Deus e achar nele defeito
V. Elvin A nderson, diretor do Dwight Institute of (Sal. 74:22).
Human Genetics, na Universidade de Minnesota, tem 4. Zombar e desvalorizar o pecado (Pro. 14:9).
defendido a inseminação artificial com base nas 5. Odiar o conhecimento espiritual e desprezar a
seguintes razões: instrução (Pro. 1:22 e 15:5).
1 . É aconselhável para mulheres cujos maridos não 6. Não se interessar pela compreensão espiritual
são férteis ou têm genes prejudiciais, capazes de gerar (Pro. 18:2).
filhos com defeitos genéticos. 7. Praticar o mal e permanecer nas trevas
2. A acusação de adultério não tem base do ponto espirituais (Ecl. 2:14).
de vista bíblico. O sermão do monte, ao referir-se ao 8. Deleitar-se no pecado (Pro. 10:23).
adultério, salienta sua natureza sensual, que é o seu 9. Mostrar-se corrupto (Sal. 14:1), auto-suficiente
aspecto essencial, o que dificilmente ocorre na (Pro. 14:16), auto-iludido acerca dos verdadeiros
inseminação artificial, mesmo que a mulher seja valores (Pro. 14:8), falar muito, mas sem sabedoria
inseminada com material colhido de outro homem (Ecl. 10:18), professar-se religioso, mas não pôr em
que não seja seu marido. prática a religião (Mat. 25:2-12), intrometer-se nos
3. A lei do casamento levirato, segundo a qual, se negócios alheios (Pro. 20:3), caluniar ao próximo
um homem casado morresse, um parente próximo (Pro. 10:18), ser um mentiroso (Pro. 10:18), ser
tomaria sua esposa, gerando filhos para o marido preguiçoso (Ecl. 4:5), irar-se com facilidade (Ecl.
falecido, em sua essência era um caso de inseminação 7:9), mostrar-se contencioso (Pro. 18:6), buscar a
por doador. (Conforme publicado no Journal o f the companhia de tolos (Pro. 13:20), ser idólatra (Jer. 26),
A m erican Scientific A ffiliation, dezembro de 1966). confiar no dinheiro (Luc. 12:20).
Cautelas necessárias. 1. Precisa haver concórdia 10. O insensato pode ouvir o evangelho, mas não lhe
entre marido e mulher. 2. Se são um casal religioso, dá atenção (Mat. 7:26).
devem consultar os representantes de sua fé, a fim de 11. Os insensatos só podem esperar pelo castigo
que se chegue a uma decisão se a questão é divino (Sal. 107:17; Pro. 19:29).
apropriada ou não. 3. Devem consultar um advogado D . Seus Contrários
para verificar quais problemas legais podem surgir, 1. A busca pela sabedoria; a inquirição espiritual; o
na área onde vivem. 4. Devem consultar o médico, cultivo da espiritualidade; o cultivo da santidade.
para garantir a correção e a segurança médicas. (H
PO) 2. Levar uma vida enérgica, industriosa, cheia de
propósito. Ter alvos na vida e buscá-los com denodo.
Anular a própria ignorância, mediante o aprendiza
INSENSATO, INSENSATEZ do. Buscar a sabedoria espiritual e aplicá-la (Efé. 1:17
No hebraico há quatro palavras envolvidas, e no ss). Aceitar a mensagem do evangelho (Rom. 2:20;
grego, também quatro: Tito 3:3-5; I Cor. 1:21-25).
1. Evil, «insensato». Esse termo hebraico ocorre por H l. Quando é Legitimo ser Insensato?
vinte e seis vezes, conforme se vê, por exemplo, em O sério discipulado cristão pode envolver que o
343
IN SETO S - IN SPIR A Ç Ã O
crente torne-se um tolo, por amor a Cristo. Na H l. A Revelação e a Inspiração
verdade, os crentes dedicados não são tais, porém, as Ê verdade que essas duas palavras podem ser
pessoas comuns assim os consideram (I Cor. 4:10; usadas como sinônimos. Porém, a revelação pode
Atos 26:24). Entretanto, a verdadeira insensatez será indicar o ato de Deus por meio do qual ele revela
evitada pelos discípulos sérios de Cristo (Efé. 5:4). importantes verdades que podem ser ou não
incorporadas, mais tarde, em um livro ou em uma
coleção de livros sagrados. Em contraste, a inspiração
INSETOS pode aludir a uma revelação menos formal, mais de
Todos os insetos mencionados na Bíblia aparecem cunho pessoal, com vistas a guiar ou instruir o
em artigos separados, por seus respectivos nomes. indivíduo. Isso pode fazer parte do seu aprendizado,
por intermédio do que tal indivíduo torna-se
habilitado para cumprir a sua missão. Em um sentido
INSOLUBILIA
inferior, a inspiração consiste na infusão ou
Essa palavra é latina e significa «insolúveis». implantação de uma idéia, como uma espécie de
Aponta para vários dilemas, quebra-cabeças e influência espiritual, que opera sobre a pessoa e a
paradoxos semânticos e lógicos. Esses insolúveis transforma.
apareceram, inicialmente, na antiga filosofia grega, Alguns grupos cristãos, como a Sociedade de
principalmente entre os sofistas; e chegaram a ser um Amigos, ou quacres, têm dado muito valor à
tema comum de discussões, na Idade Média. Ver inspiração pessoal com o propósito de se compreender
sobre P aradoxo , sobretudo os pontos segundo a sexto. as Escrituras, quando o indivíduo recebe ensinamen
tos diretos que podem ser sugeridos ou não pelas
Sagradas Escrituras. Isso faz parte do ministério do
INSPIRAÇÃO Espírito Santo, sendo o toque místico na vida, e muito
Esboço: importante para o desenvolvimento espiritual. Quan
I.
A Inspiração e as Escrituras do isso é exagerado além das medidas, já teremos
II.
A Inspiração e o Misticismo chegado a novas escrituras, que tendem por suplantar
III.
A Revelação e a Inspiração a Bíblia Sagrada. E o caso, para exemplificar, dos
IV.Inspiração, um Fator Comum e Vital à Expe escritos da sra. White, muito prezados pelos
riência Humana Adventistas do Sétimo Dia. Alguns hinos cristãos,
mui definidamente, foram inspirados nesse sentido,
V. A Inspiração e a Autoridade como também outros escritos.
VI. Fontes de Inspiração
VII. Critérios para Julgamento de Inspiração Verda IV. Inspiração, um Fator Comum e Vital à Expe
deira e Falsa riência Humana
Dentro do cam po religioso, podemos falar em
I. A Inspiração e as Escritoras ilum inação (vide). Temos aí a obra iluminadora do
Quanto a quase tudo que tenho a dizer sobre o Espírito sobre a mente humana, para que esta
assunto, ver o artigo Escrituras, segunda seção, entenda melhor o que seja a espiritualidade e seus
Inspiração das Escrituras; e quinta seção, Níveis e requisitos. Faz parte do crescimento espiritual, da
Tipos de Inspiração. Damos o que consideramos ser compreensão de tudo quanto está envolvido na
uma importante declaração sobre a questão, no inquirição espiritual: o conhecimento de Deus, do
último parágrafo do artigo sobre o Alcorão. A leitura Filho, das obras do Espírito e do que essas coisas
desses artigos fornece, com detalhes, as coisas que significam para nós. Ver Efé. 1:18 e I Cor. 2:6-16. É
podem ser ditas sobre a inspiração de escritos possível termos abertos os olhos da alma.
sagrados, além de outros assuntos, afins. Ver, E m outros cam pos. A inspiração opera na ciência,
igualmente, sobre a Infalibilidade (que inclui a idéia bem como em todas as linhas da experiência e do
da inerrância das Escrituras). Muitos teólogos têm empreendimento humano. Trata-se de uma experiên
asseverado que essa palavra só pode ser aplicada ao cia universal, aliada à intuição (vide). Não se pode
próprio Deus. Pois nada mais é infalível, além de duvidar de que a mente humana pode sondar uma
Deus; e as declarações em contrário terminam em inteligência e um conhecimento além de sua própria
alguma variedade de idolatria, porquanto atribui um experiência e da capacidade cerebral do homem. Ver
atributo divino exclusivo a alguém ou a alguma coisa. o artigo sobre a M ente Cósmica Universal. Coisas que
dizem respeito à vida e à morte estão inscritas na
D . A Inspiração e o Misticismo consciência humana, de várias maneiras, e não
Misticismo é o termo usado quando indicamos que somente da maneira individual. Edison e outros
poderes externos e superiores a nós podem entrar em cientistas, e o próprio Albert Einstein, têm atribuído
contacto conosco, comunicando-se conosco. A isso se algumas de suas idéias e invenções a forças maiores
dá o nome de m isticism o objetivo, a forma mais que suas realizações cerebrais. A inspiração opera
comum de misticismo no Ocidente. Se Deus quer sobre as artes, a música, a poesia, etc., e até sobre a
revelar algo e um profeta recebe essa comunicação em filosofia. Quanto mais aprendo, mais acredito nisso.
um transe, por inspiração, em qualquer de suas
formas, mediante a apreensão intuitiva, então o V. A Inspiração * a Autoridade
profeta terá recebido uma experiência mística. Já o Em qualquer campo, religioso ou não, se algo foi
m isticism o subjetivo, comum no Oriente, é o ensino inspirado, então, mui naturalmente, terá mais
que diz que a alma é um grande depósito de autoridade do que aquilo que não é inspirado, pelo
conhecimentos e de sabedoria, e que esse depósito menos quanto a certas questões. Todavia, é inútil
pode ser sondado pela visão interior, que nos é falarmos em perfeição, quando estamos tratando
conferida através da meditação e dos estados de dessas coisas. Nada existe de perfeito e destituído de
consciência alterados que ela produz. Ver o artigo erro, excetuando o próprio Deus; e a inspiração, por
geral sobre o M isticism o, quanto a uma completa mais valiosa que seja, não é capaz de dar-nos um
explanação a respeito. Por enquanto, basta-nos conhecimento perfeito, porquanto sempre será algo
esclarecer que a revelação e a inspiração são incompleto. É o que disse o próprio Paulo, em certo
subcategorias do misticismo. trecho: «...porque em parte conhecemos, e em parte
344
IN SPIR A Ç Ã O - IN STIN TO
profetizamos...» (I Cor. 13:9). Ver o artigo geral sobre prático, para nossas próprias pessoas, para nossas
a A utoridade. próprias vidas.
A Igreja Católica Romana, a Igreja Ortodoxa Esses vários critérios não são absolutos. São meras
Oriental e alguns grupos anglicanos supõem que os sugestões sobre o que deveriamos pensar sobre a
concílios ecumênicos da Igreja cristã foram inspira inspiração. Dão-nos orientações. (E EP W Z)
dos, e que a seus pronunciamentos deveriamos
conferir a mesma autoridade que os católicos romanos
dão ao papa, no tocante às suas declarações ex INSTALAÇÃO
cathedra. Essa palavra pode ser entendida de duas maneiras:
VI. Fontes de Insplraçio 1. A cerimônia por meio da qual um cânon
recebe seu ofício, para tornar-se um dos membros
As mesmas fontes que nos dariam experiências liderantes do clero de uma catedral ou de um
místicas também são as fontes inspiradoras. Na colegiado eclesiástico (dentro da Igreja Católica
inspiração objetiva, temos Deus, o Espirito Santo, Romana e da Igreja Anglicana, respectivamente).
Cristo, os santos (estes últimos dentro do catolicismo Desse modo, ele entra na posse oficial de seu assento
romano), os espíritos angelicais, e até mesmo espíritos ou posição eclesiástica. Essa palavra vem do latim
humanos desencarnados (segundo o espiritismo). Na medieval, installare, «estabelecer».
inspiração subjetiva, como já dissemos, a própria 2. Nas igrejas tipo episcopal, essa palavra aponta
alma humana é o armazém de conhecimento e de para a cerimônia mediante a qual um ministro ou
sabedoria, o qual pode ser explorado mediante certos novo pastor dá início oficial ao seu trabalho,
métodos. Sócrates tinha grande fé nas capacidades da recebendo a recomendação da igreja onde deverá
alma humana. Ele acreditava em uma mente cósmica ministrar.
ou universal como fonte inspiradora; e isso seria outro
modo de inspiração que requer o nosso respeito. A
alma humana teria acesso à alma cósmica; e a mente INSTINTO
humana teria acesso à mente cósmica. Vem do latim, instinctas, particípio passado de
instingere, «impelir». A palavra alude aos impulsos
VII. Critério* para Julgamento de InapiraçXo Ver
naturais ou tendências inatas que são essenciais à
dadeira e Falsa
existência do homem e dos animais irracionais, para
Muitos desses critérios são os mesmos que aqueles sua preservação e bem-estar, para a realização de
usados para determinar a autoridade do cânon das certos atos e formas de comportamento, acompanha
Escrituras, quando estamos tratando com documen do por algum tipo de excitamento emocional.
tos sagrados. Damos abaixo algumas sugestões gerais: Naturalmente, o assunto é amplo e complexo na
1 A autoridade da Igreja, através de seus concílios, psicologia. Tem sido costumeiro os cientistas subesti
ministros, etc. marem as capacidades da razão e da inteligência nos
2. A coerência da m ensagem dada, em comparação animais, atribuindo tudo quanto eles fazem aos seus
com outras mensagens reputadas válidas. É impor instintos. Os behavioristas (ver sobre o behaviorismo)
tante que a comunidade interessada compreenda tal fazem a mesma coisa no tocante ao próprio homem,
mensagem. praticamente eliminando a inteligência e a capacida
3. A universalidade da m ensagem . Seitas e grupos de de escolher, com base na vontade criativa, para
locais dificilmente podem ser considerados autoritá nada dizermos sobre as qualidades espirituais, que
rios quanto a questões religiosas, se é que a massa também inspiram as pessoas a fazerem coisas.
total da Igreja permanece na ignorância de fatos Uma definição popular de instinto é «motivação
supostamente revelados e inspirados. interior», sem entrar em detalhes quanto à natureza
4. Coerência interna: moralidade e razão. Nenhu desse poder motivador. Além disso, muitas aptidões
ma inspiração verdadeira haverá de nos encorajar a naturais podem ser chamadas instintivas. Muitos
praticar atos imorais, ilegítimos ou dúbios. Esse é o pensam que, nos animais, os instintos nunca são
grande teste moral, uma questão importantíssima. aprendidos, por serem motivações inconscientes.
Outro aspecto disso é o teste da razão. Não Toda essa questão está envolvida na teoria da
deveríamos abdicar de nossa capacidade de racioci evolução: e aquilo que se acredita aplicar aos instintos
nar, só porque algum grupo ou indivíduo diz que básicos, nos animais inferiores, também existiria nos
recebeu uma inspiração reveladora. A razão é gue nos superiores, incluindo no homem; contudo, até que
pode resguardar de abusos e fanatismos. E justo ponto e de que maneira isso se dá, é algo que os
supormos que a razão nos foi outorgada como estudiosos que crêem na teoria da evolução muito
salvaguarda, e nós não deveriamos sacrificá-la, debatem.
embora também não lhe possamos conferir uma Freud afirmava que o libido (vide) é a fonte da
importância exagerada. O misticismo pode transcen energia instintiva, que aflora sob a forma de
der à razão, mas, usualmente não deveria contrariar a comportamento sexual ou agressivo. J.B. Watson
razão. procurou demonstrar que existem reações instintivas
5. A titu d e desinteressada. Algumas pessoas dizem que precisam ser distinguidas daquelas que são
ter recebido inspiração reveladora somente para aprendidas e dependem do condicionamento. No
promoverem seus próprios sistemas, em prejuízo de mundo dos animais irracionais, há provas abundantes
outros. Em uma verdadeira experiência mística, o de que os instintos não são aprendidos. Assim, o
«eu» e seus múltiplos interesses desaparecem, e o filhote de gaivota, faminto desde que nasce, belisca no
Espírito universal se manifesta. bico vermelho de seus pais, provocando o regurgita-
6 . Inteligibilidade. Visto que a inspiração visa a mento de alimentos. Isso é necessário, visto que
comunicar alguma mensagem, poderiamos aplicar aquela espécie, como várias outras também, só pode
esse critério. Precisamos aprender algo que serve de sobreviver se alimentar-se de alimentos parcialmente
ajuda à maneira pela qual pensamos e agimos. digeridos por seus pais. Só depois de algum tempo é
Devemos repelir os excessos, os abusos, os absurdos. que pode digerir sozinha. Supõe-se que os filhotes da
7. Praticalidade. Aquilo que nos for dado pela gaivota não sabem por que razão precisam bicar o
inspiração revelada precisa revestir-se de senso bico vermelho de seus pais. Todavia, sabe-se que a
345
IN ST IN T O - IN STRU M EN TO DO B EM
precisão das bicadas melhora com o tempo, o que O Homem é um ser criativo, cuja vontade pode
significa que o instinto é aprimorado. Os pesquisado dominar muitas situações e circunstâncias. Porém, é
res também têm observado que os filhotes de gaivota inútil negar a realidade dos instintos.
beliscam qualquer objeto vermelho, se for alongado e
do tamanho aproximado do bico de seus pais. Seja
como for, esse impulso é controlado geneticamente, e IN STRUMENT ALISMO
não racionalmente. 1. John Dewey (vide) criou uma teoria de
É óbvio que os animais nascem com instintos de pensamento, lógica e aquisição de conhecimentos que
comportamento agressivo, cujo propósito é o de chamou de instrum entalism o. Ele desdobrou o
proteger seu território. Não é mister ensinar um cão a pragm atism o (vide) de William James, supondo que
ficar na porta de sua casa e ladrar por causa de toda as idéias, conceitos e juízos são instrumentos que
pessoa que se aproximar. E alguns cães assumem a funcionam em situações experimentadas, e que assim
tarefa de proteger uma área maior, talvez algumas determinam futuras consequências. As proposições
poucas casas de ambos os lados. Porém, da metade do seriam instrumentos de inquirição. Elas não são
quarteirão em diante, os cães não sentem ser necessariamente verdadeiras ou falsas. Antes, deve
necessário ladrar por causa dos que se avizinharem. riam ser reputadas eficazes ou ineficazes, o que é a
Alguns pesquisadores estão convencidos de que um medida da veracidade ou falsidade das mesmas. Se
instinto similar é a causa principal das continuas nossos juízos chegarem a ser confirmados pela
guerras entre os homens. Talvez racionalize o que está experiência, então, sim, poderemos chamá-los de
fazendo, mas, o tempo todo, está apenas obedecendo verdadeiros ou falsos; mas não estamos tratando com
a um antigo instinto animal de proteger o seu valores absolutos. As idéias e a prática cooperam
território. A agressividade é algo necessário para a juntamente, como instrumentos de aplicação prática
sobrevivência neste mundo hostil. Falamos sobre na vida, onde o alvo é aquilo que fu n cio n a . A predição
«defender os próprios direitos». Aquele que não torna-se possível quando as experiências se ajustam
mostra qualquer agressividade não demora a tornar- umas às outras, formando padrões. Ê isso que torna a
se saco de pancadas de todos em redor. Todos ciência possível. As idéias são instrumentos de ação, e
sentimos a necessidade da agressividade, vez por as finalidades são consideradas mais importantes do
outra. que os meios.
Os instintos humanos básicos parecem ser a Todas as Finalidades são Instrum entais. Coisa
autopreservação, o temor da morte, a necessidade de alguma é terminantemente final. Não existe síntese
contacto sexual, a ira, a sociabilidade, a necessidade que não dê origem, finalmente, a uma antítese, de tal
de dar e receber amor, o senso estático de harmonia e modo que as situações estão em constante estado de
equilíbrio, e muitas preferências que poderíamos fluxo. Uma finalidade, na verdade, é apenas o
pensar ser aprendidas, mas que, provavelmente, são instrumento para um novo começo, de maneira que
controladas por fatores genéticos. não existe tal coisa como uma verdadeira finalidade.
A Moralidade, a Espiritualidade e os Instintos. Orígenes, meditando dessa forma, embora não tivesse
Uma pessoa pode ser instintivamente moral ou usado a mesma terminologia, supunha que já houve
espiritual? Até recentemente, tal idéia seria alvo de muitos ciclos que terminaram em redenção e
chacotas. Um certo autor, que tenho examinado, diz: restauração, somente para irromperem novamente em
«Há um acordo geral... de que o homem não tem rebelião e queda; e que deveríamos esperar que esse
instintos morais ou religiosos específicos». No processo continue. Todavia, nisso já entramos em
entanto, estudos recentes mostram que os filhos especulações e mistérios; mas, pelo menos, o conceito
parecem herdar as preferências e os instintos morais e de finalidades como meros instrumentos certamente é
religiosos de seus pais. Portanto, parece correto dizer algo fartamente demonstrado em nossa própria
que os pais deveriam receber menos crédito, se seus experiência.
filhos se saem bem, mas também serem considerados 2. A i Teorias s2o instrumentais. Filósofos como
menos culpados, se encontrarem dificuldades na vida. Berkeley e Mach não têm exibido fé no valor absoluto
Essa questão levanta tremendos questionamentos. das teorias em geral, como verdades. Antes, as teorias
Por que as coisas são assim? Poderia acontecer que a são consideradas apenas instrumentos ou artifícios
alma humana é capaz de controlar o seu corpo ao calculadores, de onde derivamos algumas observações
ponto de imprimir suas características ao seu código (predições), com base em outras observações (dados).
genético, e que as características espirituais são As teorias, por conseguinte, não abordam questões de
possessões de fam ílias, e não meramente de verdadeiro ou falso, mas servem apenas de condições
indivíduos? Essas características são transmitidas para uma contínua investigação. Levado à sua
geneticamente, como se fossem instintos básicos? As conclusão lógica, esse tipo de instrumentalismo
evidências favorecem um «sim» parcial e cauteloso, opõe-se ao realismo, onde as teorias básicas são
porquanto ainda há muitos mistérios a serem consideradas como afirmações acerca da realidade do
desvendados. Ver o artigo separado sobre Psicologia mundo. Talvez essa teoria instrumental seja outra
da Religião. Essa questão aumenta a dificuldade do maneira de dizer que todo o nosso «conhecimento»
problem a corpo-m ente {v ide), que-é a interação entre assume a forma de parábolas. Há grandes verdades a
a alma e o corpo do indivíduo. Quando uma entidade serem adquiridas, mas dispomos apenas de fragmen
amadurece, espiritual e moralmente, parece que as tos de verdades, retidos em nossas mentes sob a forma
essências física e espiritual são afetadas por esse de parábolas.
desenvolvimento, de tal modo que os corpos
se adaptam ao progresso espiritual e moral das almas
que neles habitam. Alguns pensadores misturam com INSTRUM ENTO
tudo isso a idéia da reencarnação, o que deveria ser Ver sobre M úsica e Instrum entos M usicais.
investigado, mesmo que discordemos de tal sugestão.
Ver o artigo sobre a Reencarnação.
INSTRUMENTO DO BEM
Os empreendimentos humanos não são necessaria Ver sobre Bem Instrum ental.
mente limitados pelos nossos instintos nem física,
nem profissional, nem moral e nem espiritualmente.
346
IN STRU M EN TO S - IN TELECTO
INSTRUMENTOS MUSICAIS DE CORDA que se fizesse oposição a tal movimento. Se tal
Ver sobre Música e Instrumentos Musicais. advertência era veraz, então as revoltas feitas em prol
do comunismo são malignas, ainda que igualmente
malignos possam ser movimentos que se digam
INSUFLAÇÃO democráticos ou que tenham outras motivações,
quaisquer que sejam. É o caso do governo do
Vem do latim, insufflatio(onis) , «sopro sobre». A aiatolá Komeine, do Irã, alicerçado sobre o mais puro
raiz verbal é in e sufflare, «soprar do alto» ou «soprar fanatismo religioso. De modo geral, entretanto, a
em». Essa palavra tem sido usada para indicar aquele Bíblia recomenda a obediência às autoridades civis,
ato religioso que consiste em soprar sobre uma conforme se vê, por exemplo, no décimo terceiro
pessoa, como símbolo da doação do Espírito, em capítulo de Romanos, que é a exposição mais
imitação ao que fez Jesus, conforme se lê em João detalhada que encontramos sobre essa questão, em
20:22. A mesma coisa é feita por alguns exorcistas, a toda a Bíblia. Ver o artigo geral intitulado Governo,
fim de expelirem espíritos imundos. Primitivos ritos Instituição de Deus.
cristãos incluíam a insuflação sobre os catecúmenos,
juntamente com o ato de batismo. Também é usada a Alguns eruditos, mui equivocadamente, têm pro
insuflação em conexão com a bênção da fronte e com movido o conceito de um «Jesus político», revoltado
a crisma com o óleo bento. As Igrejas Católica contra Roma. Segundo eles, talvez Jesus pertencesse
Romana e Ortodoxa Oriental ainda praticam tal rito. ao partido dos zelotes (vide). No Novo Testamento
encontramos a sua declaração de que ele viera trazer
ao mundo a espada, e não a paz (Mat. 10:34); e o fato
INSULTO de que ele expulsou os cambistas e purificou o templo,
através de medidas violentas (ver Mateus 21:12 ss).
Palavra que aparece em Mat. 5:22 como tradução Todavia, as evidências em favor dessa tese não podem
do termo aramaico racá, que significa «estúpido», ser comprovadas pela Bíblia, havendo, pelo contrário,
«vazio(de mentalidade)». Era termo insultuoso. É um evidências bíblicas definitivas de que Jesus era
hapax legom ena, ou seja, palavra usada apenas uma
vez na Bíblia, onde Jesus disse que aquele que usasse apolítico. Para exemplificar, suas palavras diante de
Pilatos: «O meu reino não é deste mundo. Se o
tal expressão contra um irmão estaria sujeito a meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se
julgamento do tribunal. empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue
A palavra que aparece no original grego pode ser aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui» (João
uma transliteração do termo aramaico que indica 18:36). A mente de Jesus estava interessada no mundo
uma pessoa de mentalidade inferior, ou estúpida. Há espiritual. Jesus jamais foi um político, nem mesmo
um termo aramaico similar que significa «vazio», ou por aspiração. Quanto à declaração que Jesus viera
seja, figuradamente, ignorante. Na literatura rabíni- trazer a espada ao mundo, ele estava se referindo aos
ca, o primeiro desses vocábulos aramaicos é usado por resultados inevitáveis do seu evangelho, que provoca
um comandante acerca de um homem que continuou riam divisões entre as pessoas, segundo elas lhe
a orar, ao ser saudado pelo oficial, mas não respondeu dessem ouvidos ou se rebelassem contra a mensagem
à saudação. O rabino Jochanan chamou de reqa a um divina.
aluno que riu em uma de suas conferências. E em um
dos Midrashim, Noé teria dito a seus contemporâ
neos: «Ai de vós, reqayya! Amanhã chegará o dilúvio. INTEGRIDADE
Arrependei-vos». Nesses casos, o sentido parece ser Ver o artigo geral sobre a Honestidade. A
«estúpido», «embotado». integridade refere-se à higidez m oral , a condição
Mas há um papiro grego do século III A.C. que usa daqueles que são possuidores de um autêntico caráter
rachan de modo a sugerir que se trata de um termo moral, em contraste com aqueles cuja natureza inclui
insultuoso, embora seu sentido seja incerto. Porém, o engodo, a astúcia e a malícia. O trecho de Gên.
visto que a forma rachá conta com maior apoio dos 25:27 faz a comparação entre Jacó e Esaú. Jacó
manuscritos que a forma raká, não podemos saber aparece ali como um homem íntegro; mas Esaú é
com certeza se o termo está vinculado ao termo descrito como um homem dotado de habilidades
aramaico. violentas. Em Tito 2:7, a palavra grega aphthoria
(palavra que só se acha por uma vez em todo o Novo
INSURREIÇÃO Testamento), que nossa versão portuguesa traduz por
«integridade», em algumas outras versões aparece
Ver o artigo intitulado Crime e Castigo*, como «incorruptibilidade» ou «sanidade». Ali, essa
quanto ao ponto de vista da Bíblia acerca das virtude aparece como uma das qualidades que os
insurreições. Esse termo vem do latim, insurgere , líderes das igrejas cristãs devem possuir. Com toda a
«levantar-se contra», «insurgir-se». Alude à revolta razão podemos pensar que temos ai um aspecto do
contra a autoridade civil ou religiosa, ou contra fruto do Espirito Santo, em nossas vidas, embora tal
qualquer governo legitimamente estabelecido. Um virtude não seja especificamente mencionada na lista
exemplo bíblico é o de Absalão, que se revoltou contra de Gálatas 5:22,23. Mas Jesus ensinou claramente
seu pai, Davi. Ver II Sam. 15 ss. Ver também Sal. 55 esse princípio, conforme se vê em Mat. 6:1-6.
quanto à descrição de Davi sobre essa insurreição.
Para nós, povo de Deus, a integridade envolve a
Os teólogos supõem que é possível alguém honestidade, a retidão, a higidez de caráter e uma
insurgir-se contra as autoridades civis, sem que isso espiritualidade da mais pura qualidade, que evita e
envolva desobediência às leis de Deus, quando os foge da corrupção.
governos se mostram corruptos e ameaçam aos
cidadãos de maneiras opressivas e imorais, através de
medidas econômicas ou outras. As revoluções provam
o fato de que muitos povos têm sentido que certos INTELECTO
governos são insuportáveis. Por outro lado, nem Esse termo vem do latim, intelligare, «compreen
todas as revoltas são justas, como é lógico. As visões der». Essa palavra é usada em diversos sentidos, na
de Fátima, em Portugal, envolviam uma forte teologia e na filosofia, a saber:
advertência contra o comunismo (vide), exortando 1. Alguns aludem ao intelecto como a faculdade ou
347
IN TELEC TO - INTENÇÃO
poder de pensamento ou de percepção qüe envolve intellectus agens. Aquino também se referia ao
processos mais elevados de pensar. É distinguido por intelecto como uma essência não-material,' a saber, o
eles dos sentidos e da memória, como se caracterizas espírito ou alma do homem, que seria uma substância
se o homem, em contraste com os animais inferiores. capaz de tomar conhecimento das coisas. Esse espírito
Os estudos feitos sobre as reações dos animais têm ou alma, conforme ele pensava, é capaz de existir sem
demonstrado que eles têm muito mais intelecto do que um corpo físico. Em outras palavras, a im ortalidade
anteriormente se supunha. (vide) é uma realidade.
2. Para outros, o intelecto seria aquele poder que 10. G uilherm e de O ckham (vide) não via razões
permite ao homem compreender através da sua razão, convincentes para crer em um intelecto ativo, embora
em contraste com o conhecimento que lhe chega recebesse esse conceito pela fé, visto que santos e
através da percepção dos sentidos. Ver sobre o filósofos respeitáveis tinham defendido tal idéia. Ele
Racionalism o. não encontrava evidências para se estabelecer a
3. No campo da psicologia, uma classificação distinção entre o intelecto e a vontade, conforme é
arcaica alista o intelecto como a faculdade cognitiva, comum fazer-se na filosofia. Meu artigo sobre ele
em contraste com a vontade e com a percepção dos explica essas questões.
sentidos.
4. Nosso intelecto pode se referir à somatória dos INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
poderes mentais possuídos pelo homem, mediante os
quais seu conhecimento é adquirido, ampliado e Ver o artigo Cibernética.
retido, em contraste com o conhecimento que nos
chega através da percepção dos sentidos.
INTEMPERANÇA
5. O Uso M etafísico. Deus é o G rande Intelecto, e
os homens são meros intelectos, que compartilham Essa palavra vem do latim, in, «não», e temperare,
algo da natureza e da inteligência divinas. De acordo «misturar nas devidas proporções», dando a entender
com esse uso, está em pauta a essência do ser qualquer coisa onde algum elemento se acha em
humano. Nesse caso, intelecto torna-se um virtual desproporção aos demais. A intemperança consiste na
sinônimo de espírito, em contraste com a matéria, falta de moderação na fala ou nas ações. Esse
embora ressaltando a inteligência do espírito como vocábulo também é comumente usado para aludir ao
sua principal qualidade. A natureza intelectual e uso excessivo de bebidas alcoólicas. Ver os artigos
espiritual de Deus também é demonstrada por essa intitulados Alcoolism o e Bebida Forte. Ver também
palavra, «intelecto». Segundo dizia Joseph Smith: «A M oderação.
glória de Deus consiste em sua inteligência». Essa
afirmativa é favorável à tese do racionalismo, INTENÇÃO SACRAMENTAL
porquanto assevera que o homem é um ser dotado de Lutero afirmava que a validade de um sacramento
conhecimento, tal como Deus. O homem pode tomar (vide) depende da fé da pessoa que o recebe, e não da
conhecimento de muitas coisas mediante a razão e a intenção do ministro que o serve. O concílio de
intuição, que ele não precisa investigar empiricamen Trento, contradizendo isso, afirmou: «Se alguém diz
te. Entre essas coisas, encontram-se as verdades que não se requer dos ministros ao menos a intenção
morais e espirituais. de fazer o que a Igreja faz, que seja anátema» (Cânon
6 . Nos escritos de Aristóteles encontramos os usos XI, seção sétima). De acordo com a doutrina católica
que aparecem no ponto anterior. E ele também se romana e anglicana, as exigências para que haja uma
referia ao intelecto passivo e ao intelecto ativo. O válida ministraçâo dos sacramentos, no caso de
primeiro refere-se à faculdade da inteligência que adultos, são duas: 1 . uma vontade positiva, por parte
recolhe informações através da percepção dos dos adultos que o recebe; 2 . uma vontade positiva por
sentidos; e o segundo refere-se à manipulação parte do ministro, de tal modo que ele tenha por
inteligente, mediante o desdobramento e a compara intenção fazer com o sacramento aquilo que a Igreja
ção dos informes recebidos. Desse modo as idéias ensina. Calvino, por sua vez, ensinou (Acta syn. trid.
seriam criadas e se inter-relacionariam. cum antid., Corpus Reforma, 35.946 ss) que as boas
7. Avem pace usava a terminologia aristotélica e intenções, por parte do ministrante, não são
assevera que a inteligência ativa é um dos alvos do necessárias, embora sejam desejáveis. Pois o ato de
empreendimento humano. Aristóteles costumava um ministrante, ainda que feito de modo fingido,
dizer que Deus é pensamento puro, por pensar em si ainda assim pode despertar fé por parte de quem
mesmo (visto que não há ninguém e nem outra coisa recebe o sacramento; e é nessa fé, exclusivamente,
que seja digna da atenção divina). O homem, pois, que reside a eficácia do sacramento.
parecer-se-ia mais com Deus quando se acha em Após o concilio de Trento, Catarino defendeu o
estado de contemplação. ponto de vista que diz que mesmo que um ministro
8 . Averróis, ao referir-se ao intelecto como a discorde da aplicação de um sacramento, isso não
essência do ser humano (conforme se vê no quinto desqualifica esse sacramento, contanto que seja
ponto, acima), declarou que o intelecto é a essência ministrado da maneira correta. Esse veio a tornar-se
imortal do homem; mas, conforme ele também um dos pontos de vista daqueles que têm tendências
dizia, o intelecto passivo contém elementos que fazem fortes para o sacramentalismo (vide). Não obstante,
a pessoa tornar-se um indivíduo. Destarte, ao que as teologias católica romana e anglicana continuam a
parece, ele não cria na imortalidade contínua, requerer boas intenções da parte do ministrante, se
individual, visto que, por ocasião da morte física, um sacramento tiver de ter validade. E os protestantes
cessaria a intelectualidade passiva. Essa parece ter sacramentalistas, como os luteranos, tomam atual
sido a posição de Aristóteles; mas Averróis foi mente uma posição intermediária, segundo a qual um
pesadamente criticado por esse motivo. rito é válido, apesar das falhas e dúvidas do
9. Tom ás de A q u in o também se utilizou das ministrante, contanto que ele não o faça como um ato
descrições aristotélicas. O intelecto passivo (intellec- de zombaria. Por outro lado, os grupos evangélicos
tus possibilis) receberia os fantasmas dos sentidos, não sacramentalistas não acreditam na transmissão
ao passo que o intelecto ativo perceberia a essência da graça divina mediante meras cerimônias ou ritos
mesma das realidades. A isso ele chamava de eclesiásticos. Por conseguinte, para eles nem existe tal
348
IN TER A CIO N ISM O - IN TER C ESSÃ O
coisa como sacramentos teológicos. Por essa precisa Dan. 9:16-19). O trecho de Mal. 2:7 subentende que
razão, esses grupos evitam a palavra sacramento, os sacerdotes mostravam-se negligentes em seu
preferindo dizer «ordenação». Para eles, pois, toda trabalho de intercessão. Joel 2:17 mostra-nos que os
essa discussão em torno dos sacramentos já pecou sacerdotes e ministros tinham por obrigação realizar
pela base, e nem deveria ter prosseguimento. esse serviço. A intercessão é muito enfatizada nos
livros históricos. Ver a história de Abraão e sua
intercessão em favor dos sodomitas (Gên. 18:22-33).
INTERACIONISMO No tocante a Jacó, ver Gên. 48:8-23. Moisés
Essa é uma das teorias relacionadas ao Problema intercedeu em favor do rebelde povo de Israel (Êxo.
Corpo-Mente (vide), que afirma que o ser humano 32:31,32), e Samuel seguiu esse exemplo (I Sam.
constitui um dualismo composto de elementos 15:11).
materiais e não-materiais, e também que interagem o No Novo Testam ento vemos que Jesus ensinou a
corpo (material) com a alma ou espírito (imaterial). necessidade de intercedermos até mesmo pelos nossos
De acordo com essa explicação, acredita-se que a inimigos (Mat. 5:44). Disso o próprio Senhor Jesus
substância material pode produzir efeitos sobre a deu o exemplo (Luc. 22:32; João 17), e a Igreja
parte não-material, e vice-versa. Em outras palavras, primitiva O imitou nisso (Atos 12:5-12; 13:3). O
os eventos físicos podem produzir eventos mentais, e Espírito Santo intercede por nós (Rom. 8:26), tal
vice-versa. Ê sabido que uma emoção forte pode fazer como agora o faz o Cristo exaltado à glória celestial
o coração bater mais rapidamente. As atitudes (Heb. 9:24).
erradas podem levar a enfermidades diversas. Os A intercessão é um ato resultante da prática da lei
poderes mentais podem curar enfermidades. Mas, do amor, visto que todos os seres humanos são
principalmente, o espirito humano pode manipular e carentes, e deveríamos preocupar-nos com a satisfa
realmente manipula o corpo material, sendo esse o ção dessas necessidades, sobretudo quando essas
poder por detrás de todos os atos humanos. Quanto a necessidades são espirituais. A intercessão é a
um completo estudo sobre essa questão, ver o artigo confissão de nossas necessidades e de que depende
geral intitulado Problema Corpo-M erite, em sua mos de Deus. Algumas vezes, precisamos da
sétima seção, chamada Interacionism o. intervenção divina direta em nosso favor. Sempre
precisamos do divino auxílio no tocante às nossas
necessidades, sejam elas físicas ou espirituais, a fim
INTERCESSÃO de que também possamos cumprir como é devido a
Esboço: missão de cada um de nós neste mundo.
I. A Palavra e Caracterização Geral H . A Intercessão dos Crentes
II. A Intercessão dos Crentes Ver o artigo sobre a Oração, especialmente
III. A Intercessão de Cristo o nono ponto, Intercessão M útua. Na família divina,
IV. A Intercessão do Espírito Santo o Filho de Deus intercede pelos filhos de Deus; o
I. A Palavra e Caracterização Geral Espírito Santo intercede pelos filhos de Deus, e
A palavra intercessão vem do latim, intercedere, espera-se que estes últimos intercedam uns pelos
«ficar entre». Sua raiz é inter, «entre», e cedere, outros. Cristo nos deixou exemplo disso: Luc. 22:32;
«passar», «ir». Interceder é apelar em favor de alguém. João 17:9-24. A oração intercessória nos é ordenada (I
Tim. 2:1; Tia. 5:14,16). Deveríamos interceder em
Quando é aplicada à oração, essa palavra dá a favor de todos os homens (I Tim. 2:1), por todos
entender as intercessões feitas diante de Deus ou de quantos ocupam posições de autoridade (I Tim. 2:2),
alguma elevada autoridade espiritual, em favor de pelos ministros (II Cor. 1:11; Fil. 1:29), pela Igreja
outrem. Em algumas porções da Igreja, a prática das como um todo (Sal. 122:6; Isa. 62:6,7), por todos os
preces em favor dos mortos está incluída na questão, santos (Efé. 6:18), pelos patrões (Gên. 24:12-14),
visto que na Igreja Ortodoxa Oriental o estado dos pelos servos (Luc. 7:2,3), pelas crianças (Mat. 15:22),
perdidos não é considerado fixo ou final antes do
julgamento do último dia, ao passo que na Igreja pelos nossos compatriotas (Rom. 10:1), pelos
Católica Romana o estado dos fié is não é considerado enfermos (Tia. 5:14), pelos que nos perseguem (Mat.
fixo antes do julgamento final. 5:44). pelos nossos inimigos (Jer. 29:7), pelos que
mostram ter inveja de nós (Núm. 12:13), por aqueles
A palavra hebraica paga, «interceder», original que nos abandonam (II Tim. 4:16). Os ministros do
mente significa «ferir sobre», e, por extensão, evangelho deveriam orar pelos membros de suas
«assediar com petições». Quando esse insistente tipo igrejas (Efé. 1:16; 3:14-19; Fil. 1:4), para que tomem
de oração era feito em favor de outra pessoa, então a coragem (Tia. 5:16). É um pecado negligenciarmos a
palavra tomava o sentido de intercessão. E a palavra oração intercessória (I Sam. 12:23). Além disso, a
grega correspondente é entugchano. Essa palavra oração intercessória beneficia ao próprio intercessor
ocorre por cinco vezes no Novo Testamento: Atos (Jó 42:10).
25:24; Rom. 8,26,34; 11:2 e Heb. 7:25. O significado
básico dessa palavra é «encontrar», «voltar-se para», Os exem plos bíblicos de oração intercessória
«aproximar-se de», «apelar», «fazer petição». O incluem Abraão (Gên. 18:23-32), Moisés (Êxo. 8:12;
indivíduo aproxima-se do poder divino a fim de fazer 32:11-13), Samuel (I Sam. 7:5), Salomão (I Reis
suas petições. A forma nominal, enteuksis, significa 8:30-36), Elias (II Reis 4:33), Ezequias (II CrÔ.
«pedido», «petição», «oração», «intercessão». Essa 30:18), Isaias (II CrÔ. 32:20), Davi (Sal. 25:22),
palavra encontra-se somente por duas vezes em todo o Daniel (9:3-19), Estêvão (Atos 7:60), Pedro e João
Novo Testamento: I Tim. 2:1 e 4:5. A passagem de I (Atos 8:15), a igreja de Jerusalém (Atos 12:5), Paulo
Tim. 2:1 recomenda um amplo ministério de (Col. 1:9,12), Epafras (Col. 4:12) e Filemom (File.
intercessão por todas as classes de pessoas. 22).
No Antigo Testam ento, nos livros poéticos, m . A Intercessão de Cristo
encontramos exemplos de intercessão (ver Jó 1:5; O décimo sétimo capítulo de João mostra a
42:8; Sal. 20; 25:22; 35:13). Muitos exemplos podem preocupação do Filho de Deus pelos filhos de Deus,
ser vistos nos livros proféticos (ver Isa. 6 ; 25; 26 e 37; mormente no tocante ao bem-estar espiritual deles. O
ver também Jer. 10:23 ss, 14:7 ss-, Eze. 9:8; 11:13 e trecho de Lucas 22:32 mostra que Jesus atarefava-se
349
IN TER C ESSÃ O - IN T ER D IT O
nesse ministério. E as passagens de Romanos 8:34 e Durante a Reforma protestante, os grupos oficiais e
Hebreus 7:25 referem-se ao Cristo exaltado aos céus a independentes vieram a rejeitar o tipo de intercessão
interceder em favor de seus irmãos. O Espírito de que não se restringe a Cristo e ao Espirito Santo.
Deus nos seria dado mediante a intercessão de Cristo Todavia, o primeiro Livro da Oração Comum (1549),
(João 14:16,17), e é por meio dele que somos da comunidade anglicana, retinha o conceito e a
conduzidos a toda a verdade. Os crentes enfrentam prática da intercessão universal entre todos os crehtes,
muitos adversários; mas o trabalho intercessório do deste mundo e do outro, embora não haja ali qualquer
Filho de Deus garante para os filhos uma peregrina referência a supostos méritos humanos. A edição de
ção bem-sucedida até à glória final (Rom. 8:34 e seu 1552 rejeitou a idéia de orações pelos mortos, embora
contexto). Somos salvos até às últimas conseqüências retendo a menção aos espíritos que partiram deste
em virtude da intercessão de Cristo (Heb. 7:25). A mundo, como um ato memorial. No entanto, alguns
eficácia desse ministério depende do ato expiatório de anglicanos oram em favor dos mortos, visto que
Cristo (Rom. 8:34), o que significa que sua missão acreditam que o estado deles só será fixado por
salvatícia é que dá eficácia à sua intercessão. E ocasião do julgamento do trono branco, e as recentes
Hebreus 7:25 mostra que essa intercessão de Cristo, liturgias anglicanas autorizam essa prática. Ver o
em nosso favor, ocorre dentro do contexto de seu artigo separado sobre a Oração Pelos M ortos.
sumo sacerdócio. Ver também I João 2:1,2 quanto a Sabemos que as orações pelos mortos eram uma
essa questão. A intercessão é um dos aspectos da antiqüíssima característica das religiões pagãs, e que
provisão do amor de Deus em prol de toda a pelo menos alguns judeus adotaram essa prática (ver
humanidade. II Macabeus 39:44). Por volta do século III D.C., essa
IV. A Intercessio do Espirito Santo prática já se havia generalizado na cristandade.
Inscrições existentes nas catacumbas (vide) mostram-
Nosso principal texto bíblico a esse respeito é o de nos que essa prática entre os cristãos é realmente
Romanos 8:26. Esse versículo indica um ministério antiga. Os textos de prova bíblicos, usados em prol
bastante geral, que deve incluir todo tipo de petição. dessa prática, como I Cor. 15:29; II Tim. 1:16,18 e
Supomos que o Espírito de Deus «traduz» as nossas 4:19, nunca foram aceitos de modo generalizado,
orações, tornando-as mais eficazes e espirituais. Ele como se essa fosse a única interpretação possível, a
se preocupa com todas as nossas necessidades, físicas qual, de fato, é muito forçada.
e espirituais; e, na qualidade de alter ego de Cristo,
compartilha do ministério de intercessão de Cristo. O
Espírito intercede por nós em consonância com a INTERDIÇÃO
vontade de Deus, e profere coisas que não podemos
entender, isto é, «...com gemidos inexprimíveis». Palavra que indica uma antiga prática religiosa,
Devemos entender que esses gemidos não poderiam demonstrando certo desprazer ou disciplina. Israel e
ser expressos pela mente humana, embora sejam seus vizinhos praticavam o interdito. No início da
plenamente compreensíveis para a mente divina. história de Israel, a prática era usada contra os
cananeus e outros povos pagãos circunvizinhos. Nesse
Algumas Questões e Controvérsias Teológicas. No caso, está em foco o «extermínio». Essa prática
segundo século de nossa era cristã, os mártires eram prossegue até hoje naquelas regiões do mundo, pois
tidos no maior respeito, e suas orações eram jamais elas gozaram de paz permanente. (Ver Exo.
grandemente valorizadas. Muitos cristãos chegaram a 23:31,32; 34:13; Deu. 7:2; Jos. 6:17,21). Algumas
crer que os mártires continuariam intercedendo em vezes o interdito era decretado contra os israelitas
favor dos crentes ainda no corpo, mesmo depois da ofensores, como no caso de Acã e sua casa (ver Jos.
morte desses mártires. E muitos dos primeiros pais da 7:25). A mesma sorte era ameaçada contra Israel, se
Igreja acreditavam no poder dos anjos e dos santos, chegasse a apostatar (ver Deu. 8:19,20 e Jos. 23:15).
como intercessores em favor da Igreja, devido à A prática variava desde a total extinção de pessoas e
posição de que desfrutavam no céu. Um possível texto animais, até à extinção somente de pessoas (ver Deu.
de prova do ministério intercessório dos anjos é o de 2 0 :1 0 ss.).
Apocalipse 8:3, onde o incenso oferecido simboliza as Ê possível que aos poucos a prática tivesse
orações dos santos, mediadas por um anjo. Filosofica desaparecido, visto que da última vez em que ela foi
mente falando, podemos apresentar o argumento de mencionada, lemos que Davi ordenou que dois terços
que a comunhão dos santos é mantida e exercida pela dos moabitas capturados fossem mortos (ver II Sam.
intercessão mútua; e muitos acreditam que esse liame 8:2). No trecho de Ezequiel 10:8, a idéia é a de
não é quebrado nem mesmo pela morte física, e nem exclusão e confisco de propriedades, feita contra os
pela entrada nas dimensões celestiais. exilados que se recusassem a reunir-se em Jerusalém
no prazo de três dias, após terem retornado da
Vigilâncio, que nasceu em cerca de 370 D.C., Babilônia. Ver o artigo sobre exclusão.
atacou a crença na intercessão dos santos e dos anjos. O interdito m oderno. Temos os seguintes casos
Desde então muitos estavam apelando para a ajuda possíveis: 1. Uma exclusão ou denúncia oficial
dos tais, esperando que aqueles poderes espirituais eclesiástica. 2. Temos uma multa imposta pelas
intercedessem diante de Cristo ou de Deus. Essa autoridades eclesiásticas devido a sacrilégio ou algum
prática, como é óbvio, envolve um modo de ver crime cometido. 3. Na história da Alemanha, vê-se o
gnóstico (ver sobre o G nosticism o), onde Deus interdito como uma forma de decreto (ver o artigo a
aparece como um Ser que só pode ser abordado respeito). Nesse caso, honras e privilégios das pessoas
através de uma série de intercessores, dele emanados. atingidas eram removidos, e havia proibições impos
Jerônimo fazia oposição vigorosa a essa prática. De tas. Pessoas, comunidades e até mesmo cidades
fato, para nós *...há um só Deus e um só Mediador inteiras podiam ser atingidas. (E PED)
entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem» (I Tim.
2:5). Não obstante, o catolicismo romano defende
essa prática com base na idéia da comunhão de todos
os santos. E outro tanto ocorre no seio da Igreja INTERDITO
Ortodoxa Oriental, onde a expressão a grande De acordo com a lei canônica do catolicismo
intercessão indica aquela mútua intercessão da qual romano (Codex Iuris Canonici), um interdito é uma
participariam todos os membros da família de Deus. punição eclesiástica. Permite que os membros errados
350
IN T E R E S S E - IN TER PR ETA ÇÃ O
da Igreja Católica Romana permaneçam dentro da natural os escribas tentarem adicionar algo ao texto
comunhão da assembléia, mas nega-lhes determina sagrado, em vez de tentarem abreviá-lo. Isso posto,
dos ritos ou funções sacras, como a missa, os uma das regras fundamentais da crítica textual (tanto
sacramentos e os serviços divinos. Um interdito pode da Bíblia quanto de qualquer outro documento,
ser pessoal, local ou geral, atingindo, respectivamen antigo ou moderno) é que os textos mais breves
te, um indivíduo, uma comunidade, ou mesmo uma usualmente correspondem ao original.
cidade ou um país inteiro, pelo menos teoricamente. Os quatro evangelhos exibem muita interpolação
nos manuscritos, portanto sempre houve a tendência
de se fazerem harmonizações, com troca de matéria
INTERESSE escrita. Assim, a oração do Pai Nosso, nos evangelhos
Na psicologia, esse termo alude à atitude mental sinópticos, envolve vários empréstimos, um do outro.
que leva um indivíduo a ser atraído por algum objeto, O fim mais longo do evangelho de Marcos (16:9-20) é
atividade, ambição, propósito, causa, etc. Um uma antiga interpolação, compilada essencialmente
interesse é qualquer coisa que desperta sentimentos, com base em material existente nos demais evange
preocupação ou excitação, impelindo a pessoa à ação. lhos, incluindo o quarto evangelho, onde o vs. 18 é
Um interesse requer resposta. sugerido pelo Salmo 91. O relato da mulher apanhada
Essa palavra, «interesse», pode aludir a algum em flagrante adultério, em João 7:53»—8:11, não fazia
desejo constante de uma pessoa, ou, conforme os parte original do evangelho de João; e, em alguns
psicólogos o chamam, a uma fixação m ental. Não há manuscritos, essa passagem figura no evangelho de
que duvidar que certos interesses estão alicerçados Lucas, e não no de João. Provavelmente, esse material
sobre os instintos (vide); mas há outros que se representa uma tradição antiga (e, quem sabe,
desenvolvem na prática diária. É possível que quase verdadeira), embora fosse um incidente da vida de
todos os interesses sejam socialmente criados e Jesus que nenhum dos escritores sagrados incorporara
derivados. Também existem aqueles interesses espiri em seu livro. O leitor pode ver as evidências textuais
tuais que precisam ser cultivados mediante o uso de referentes às passagens mencionadas no NTI, in
meios espirituais, como a oração, o estudo dos loc. Um dos alvos da crítica textual (ver o artigo
documentos sagrados, a meditação (irmã gêmea da intitulado M anuscritos do Novo Testam ento) é o de
oração), a santificação, a prática das boas obras, a eliminar as interpolações escribais, retornando assim
obediência à lei do amor e o toque místico das o texto de volta ao seu estado primitivo. As pessoas
experiências espirituais, o que inclui o uso dos dons que não estudaram as questões envolvidas na crítica
espirituais. Paulo nos diz quais são as coisas que textual ocupam-se na caça às bruxas, procurando dar
deveriam atrair o nosso interesse, como servos de um ar de autoridade a textos interpolados, e
Cristo que somos: «...tudo o que é verdadeiro, tudo o perseguindo ou criticando àqueles que têm o
que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é conhecimento que os leva a eliminar essas interpola
puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, ções. Esse é outro desafortunado exemplo de como a
se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso «teologia» inspira a perseguição e o ódio. Ver o artigo
o que ocupe o vosso pensamento» (Fil. 4:8). sobre a Tolerância.
Esse grande alvo pode ser atingido através da
renovação espiritual da mente (ver Rom. 12:1,2), bem
como mediante o cultivo, por parte do Espírito Santo, INTERPRETAÇÃO
dos vários aspectos do fruto espiritual no crente Ver o artigo sobre a Hermenêutica. Além desse
individual (ver Gál. 5:22,23). Podemos julgar a artigo geral sobre a natureza e os modos de
natureza espiritual de uma pessoa por meio interpretação, ver também estes: Interpretação
das coisas que a interessam. Alegórica; Interpretação Anagógica; Exegese; Inter
pretação Literal; Sentidos das Escrituras e Tipos.
INTERNACIONALISMO
Ver o artigo sobre o Nacionalismo. INTERPRETAÇÃO ALEGÓRICA
1. Quando um trecho de um dos chamados Livros
Sagrados, ao ser literalmente interpretado, mostra-se
INTERNÚNCIO ofensivo, obsoleto, ou (talvez) simplesmente errado
Essa palavra vem do latim, inter, «entre», e naquilo que diz, os intérpretes apelam para a
nuntitu «mensageiro» O termo refere-se a um interpretação alegórica, a fim de preservar aquele
diplomata enviado pelo papa, encarregado da legação trecho do livro, embora usando-o de forma mais útil.
em um país estrangeiro de importância secundária. Isso evita a ofensa inerente à interpretação literal.
Ele ou é um arcebispo titular ou um prelado Exemplos: Alguns interpretam alegoricamente a
doméstico, e tem os mesmos poderes e privilégios de história da criação, por julgarem -na falsa, visto
um núncio, embora sem idêntico grau de dignidade. refletir idéias antigas acerca do Universo, que a
ciência ultrapassou. Ou o sacrifício de Isaque, que
INTERPOLAÇÃO Deus presumivelmente ordenou.
2. Ou pode ser usada a alegoria para descobrir-se
O latim por detrás desse termo é inter, «entre», e sentidos ocultos, ou para ampliá-los, inteiramente à
pollre, «polir». Isso posto, o seu sentido é polir e parte do significado inerente à interpretação literal. A
embelezar um texto qualquer, mediante a inserção de maior parte das parábolas de Jesus precisa ser
alguma palavra, cláusula, ou mesmo um texto inteiro. interpretada desse modo, pois cada item significa
Essas alterações, como é evidente, modificam o texto algo. Ver Mat. 13:18 quanto a uma elaborada
envolvido, de tal modo que não retém sua forma interpretação, ponto por ponto, de uma parábola.
original em sua inteireza. O Textus R eceptus (vide),
compilado por Erasmo de Roterdã, e que serviu de Para se chegar a um ou outro dos propósitos acima,
base para as primeiras traduções neotestamentárias muitos métodos engenhosos de reinterpretação têm
do texto grego para línguas vernáculas, contém cerca sido criados, onde se encontram sentidos ocultos,
de quinze por cento de bagagem. Uma boa parte desse simbólicos, metafóricos e espirituais, nos mais
material resultou de interpolações. Sempre foi mais obscuros detalhes. Os gregos posteriores interpreta-
351
IN T ER PR ETA Ç Ã O
ram Homero desse modo. Similarmente, os judeus INTERPRETAÇÃO LITERAL
palestinos, acomodando as Sagradas Escrituras à Aqueles que quiserem interpretar literalmente as
compreensão mais recente, apelaram para esse Escrituras, haverão de rejeitar a interpretação
método de interpretação. Desse modo, muitos têm alegórica (vide), bem como o método hermenêutico de
caído nas pseudo-interpretações, embora, ocasional Orígenes, de acordo com o qual três variedades dè
mente, o método produza boas lições morais e significação se achariam nas Sagradas Escrituras. Ver
espirituais, sem importar se faziam parte ou não dos o artigo Sentidos das Escrituras. Os reformadores
escritos originais. Ver o uso alegórico de Paulo em protestantes, em seu afã de recuperar a antiga
Gál. 4:21-261 I Cor. 9:8-10. E também Heb. 7:2. autoridade das Escrituras, mostraram ser literalistas
E m tem pos posteriores. Os platonistas cristãos de radicais. Lutero afirmou: «Somente o sentido literal
Alexandria apreciavam a interpretação alegórica, das Escrituras corftém a essência inteira da fé e da
especialmente quanto ao Antigo Testamento. Ver o teologia cristã». Alguns evangélicos modernos chegam
artigo Alexandria, Teologia de. Eles extraiam vários ao extremo de reduzir a afirmações literais as
pontos teológicos e filosóficos das Escrituras, median ,revelaçÕes de um livro tão sim bólico quanto é o
te um bem frouxo método de aplicação, não dando Apocalipse. Isso ignora a história inteira da
muita atenção, em muitos casos, aos sentidos simbologia apocalíptica que começou e se desenvolveu
originais tencionados. Devemos lembrar, contudo, em porções amplas do Antigo Testamento, como, por
que há a convicção de que tal atividade é legítima, exemplo, nos livros de Daniel e Ezequiel, sem
porque se cria que muitos sentidos ocultos estão falarmos da literatura apocalíptica e pseudepígrafa do
fechados nas Escrituras, como tesouros ocultos, e que período entre o A. e N. Testamentos, que exerceu tão
a interpretação alegórica e mística se faz necessária poderosa influência sobre o livro de Apocalipse, do
para desenterrar essa riqueza. Orígenes acreditava Novo Testamento.
que havia três métodos de interpretação: 1 . o literal, João Calvino mostrou que era mais uma voz, em
histórico; 2 . o moral, com freqüência obtido através meio a esse literalismo todo, tendo rompido
da alegoria e da tipologia; 3. o místico e filosófico. completamente com o método alegórico de interpreta
Assim sucedeu que, após Orígenes, muitos adotaram ção, tomando-se um literalista extremado. Embora
essa forma de interpretação, que veio a ser parte limitado pela falta de conhecimento quanto às
im portante da exegese. Jerônimo introduziu esse questões históricas que jazem por detrás dos textos
método na Igreja de Roma. Na Idade Média floresceu bíblicos, ele enfatizou a importância da história na
essa atividade, embora os reformadores tendessem interpretação dos textos sagrados. No entanto, caiu
por desencorajá-la. Nos tempos modernos, o criticis- no erro colossal de negar a revelação progressiva, até
mo bíblico rejeita o método, embora ainda tenha mesmo entre o Antigo e o Novo Testamentos, que dirá
grande papel na homilética e nas ilustrações. dentro do próprio Novo Testamento. Tal como sucede
Tipologia. Essa é uma atividade similar, embora a muitos literalistas, por muitas vezes, ele mostrou
nesta um único detalhe do Antigo Testamento depender excessivamente da letra, na qual, em certos
representa alguma verdade do Novo Testamento. Os casos, entrava o entendimento. No entanto,, a ênfase
intérpretes vêem muitos tipos de Cristo no Antigo dele ajudou a reestabelecer a autoridade das
Testamento, em pessoas ou objetos, cada um Escrituras, que foi o grande grito de guerra da
aludindo a algum aspecto da pessoa ou da obra de reforma protestante. Talvez por ser um dos pioneiros
Cristo. Assim, Adão é um tipo(Rom . 5:12-21) de protestantes, ele chegou ao fanatismo, desdenhando
Cristo; a páscoa é um tipo da morte expiatória de quaisquer interpretações alternativas, e, em seu
Cristo (I Cor. 5:6-8); os anos no deserto do Sinai são extremismo, chegou a banir, encarcerar e até mesmo
tipos de certos aspectos da vida cristã (I Cor. executar àqueles que com ele discordavam. Ver o
1 0 : 1 - 1 1 ) e vários itens do próprio tabernáculo artigo sobre João Calvino, nos seus parágrafos finais;
predizem muitas coisas acerca de Jesus Cristo - a e também o artigo chamado Tolerância.
madeira, Sua humanidade; o ouro, a Sua divindade; o
sistema de sacrifícios, a Sua missão expiatória, etc. O A lição que todos precisamos aprender é que temos
cordeiro é um tipo de Salvador que se sacrificou (João necessidade de equilíbrio, não somente na interpreta
1:29). ção, mas também em todas as atitudes e atividades.
A tipologia sobrevive na moderna critica da Bíblia, Em sua postura literalista e bitolada, tanto Lutero
apesar de seus abusos. Como exemplo de abusos, quanto Melancthon falharam, não distinguindo entre
consideremos a interpretação que insiste que todos os as porções doutrinárias do Antigo Testamento e as
Salmos são messiânicos, profeticamente ou como porções doutrinárias do Novo Testamento. Por esse
tipo. Tais exageros faríamos bem em ignorar. (B C D motivo, passagens veterotestamentárias foram usadas
HAN JD LA) Ver o artigo sobre Tipos. abertamente para firmar pontos da doutrina cristã,
ou alegadas doutrinas cristãs. A despeito disso,
Melanchthon percebeu como o Novo Testamento
INTERPRETAÇÃO ANAGÔGICA transcende ao Antigo quanto a certos aspectos, e
Esse adjetivo, «anagógica», vem do grego, «nagogo, injetou alguma razão nos seus métodos hermenêuticos
«levar pára cima». A palavra anagógica refere-se a que modificavam, em algum sentido, o seu método
uma espécie de interpretação alegórica, que procura literalista. E a moderna ênfase sobre a inerrância ou
descobrir verdades espirituais ocultas, no texto literal alegada infalibilidade (vide) das Escrituras, que se
das Escrituras. Sua forma mais radical era aquela dos tornou comum em vários ramos do movimento
antigos hebreus, que pensavam ver significados evangélico de nossos dias, como se a Bíblia não
ocultos até nas letras formadoras das palavras, para contivesse erros nem mesmo de origem gramatical e
nada dizermos sobre palavras e frases. Como é óbvio, de harmonia entre suas diversas partes constituintes,
tal prática tem sido sujeita a muitos abusos, tem servido para fortalecer a interpretação literalista,
porquanto a mente humana é fértil, podendo ver toda enfocando a atenção sobre palavras, e não sobVe o
espécie de coisas que os autores originais nunca sentido geral da Bíblia. Se houvesse um conhecimento
pretenderam dizer. Ver o artigo geral chamado mais generalizado entre os crentes acerca da
H erm enêutica. hermenêutica e da exegese, essas posições extremadas
e indefensáveis não estariam prevalecendo em tantos
segmentos da cristandade. Ver o artigo sobre as
352
IN TO LERÂ N C IA - IN TRU SÃO
Escrituras , seções II e V, quanto a detalhes sobre a manter-se de pé sozinho, e que cada fator precisa ser
questão da Inspiração. contrabalançado por outras considerações, para que a
Os estudiosos liberais põem em dúvida a filosofia nossa ênfase não seja unilateral, pesando demais em
inteira que cerca as questões da fé e da prática cristãs, uma direção, às expensas de outra.
bem como da busca pela verdade como se esta Aqueles que acreditam no valor da introspecção
pudesse ser resolvida mediante o apelo somente às supõem que o homem é um guardião do conhecimen
Escrituras, sem qualquer auxílio externo. Eles to universal (ou, pelo menos, de um conhecimento
criticam mais acerbamente ainda a idéia de que as muito vasto), sendo ele uma espécie de microcosmo de
Escrituras devem ser interpretadas apenas literalisti- realidades éticas e espirituais universais, fundamen
eamente. Ver o artigo sobre A utoridade. tais. A introspecção pode incluir tanto a intuição
(vide) quanto os estados místicos. Mas também pode
envolver tão-somente desejos e imaginações subjeti
INTOLERÂNCIA vas. A introspecção é valiosa, mas precisa ser
Ver o artigo sobre a Tolerância. controlada, e jamais deveria ser praticada isolada
mente e, sim, em conjunção com outros métodos de
obtenção de conhecimento.
INTRODUÇÃO BtBLICA
Essa expressão é usada para indicar aquele ramo
dos estudos teológicos que trata da crítica literária e INTROVERTIDOS E EXTROVERTIDOS
da crítica histórica. É empregada por alguns como Foi Cari Jung (vide) quem cunhou esses dois
sinônimo de alta crítica. Era costume antigo prefixar termos, para falar sobre o que ele pensava serem os
cada escrito bíblico com uma breve nota referente ao dois tipos básicos de personalidade. Os introvertidos
autor, ao lugar de origem e aos destinatários da obra. (palavra alicerçada sobre o latim, com o sentido de
Atualmente, informes dessa natureza, embora mais «voltados para dentro») são aquelas pessoas com
elaborados, são o tema abordado pelos críticos e padrões de emoção, de fantasia e de pensamento
intérpretes, quando estudam os vários livros da fortemente autocentralizados. A pessoa dotada desse
Bíblia. Essa atividade é variegadamente intitulada de tipo de personalidade prefere ter um pequeno círculo
alta crítica, crítica literária ou introdução bíblica. (E) de amigos seletos, evita as multidões e é capaz de
fortes poderes de concentração acerca de qualquer
projeto pessoal. Tal pessoa geralmente descamba
INTRÓITO para o altruísmo, mas de um tipo que envolve apenas
Esse termo vem do lat. introitns, «entrada». Esse é o algumas poucas pessoas escolhidas. Em contraste, as
nome da antífona que se canta na Igreja Católica pessoas extrovertidas (palavra alicerçada sobre o
Romana quando o padre se aproxima do altar, no latim, com o sentido de «voltados para fora») são
começo da missa (vide). Faz parte da liturgia católica sociáveis, gostam de estar entre as multidões,
romana que começou a desenvolver-se nos séculos V e apreciam os contactos sociais e as reuniões públicas.
VI D.C. Na cantilena romana, outro nome para a Uma pessoa extrovertida pode tornar-se um bom
música gregoriana (vide), há porções fixas e variáveis. obreiro social ou político, ao passo que o indivíduo
O intróito é uma das porções variáveis. introvertido pode tornar-se um bom pesquisador,
aprimorando o seu mundo privado e valorizando o
mesmo. Poucas pessoas são inteiramente introvertidas
INTROSPECÇÀO ou inteiramente extrovertidas. A espiritualidade de
Essa palavra vem do latim, intro, «para dentro», e cada um, como é óbvio, é afetada quando alguém é
specere, «espiar», ou seja, «espiar para dentro». Na introvertido ou extrovertido, pelo menos naquilo em
filosofia e na psicologia essa palavra é usada para que cada um exprime a sua espiritualidade.
indicar a consciência que a pessoa tem de si mesma, Outrossim, uma ou outra dessas atitudes básicas são
de seus estados emocionais e espirituais, e, presumi favoráveis ou desfavoráveis a tipos específicos de
velmente, da natureza de seu próprio ser. O indivíduo missões que a pessoa tente preencher. Assim, uma
pode crescer através da introspecção, aperfeiçoando- pessoa fortemente introvertida pode tornar-se um
se e lançando mão de tal conhecimento. Sócrates bom erudito, e promover o lado intelectual da fé; mas
forneceu-nos um grande lema: «Conhece-te a ti não será nunca um bom pastor. E uma pessoa
mesmo», pois acreditava que se uma pessoa obtiver tal fortemente extrovertida poderá tornar-se um bom
conhecimento de si mesma, poderá conduzir-se como pastor, mas andará sempre muito atarefada com
é devido, atingindo uma conduta ideal. As religiões atividades sociais para dedicar-se por muito tempo a
orientais têm enfatizado muito a meditação como um estudos e à redação de livros. No corpo místico de
meio de introspecção, na firme fé nos resultados dessa Cristo há muitos membros, cada um com o seu ofício
prática, capaz de levar o indivíduo a vários estados especifico. Um tipo de personalidade básica pode
alterados de consciência, conducentes à obtenção de ajudar cada crente como membro específico do corpo
um conhecimento mais imediato. Alguns filósofos e de Cristo.
teólogos supõem que a introspecção é um guia
adequado para se chegar a um autoconhecimento
completo; mas, para outros, essa é uma questão INTRUSÃO
problemática. Pois o perigo reside no subjetivism o Vem do latim, In, «em», e trudere, «ímpeto». O ato
(vide), segundo o qual o indivíduo cria seu próprio de intrusão consiste em entrar em algo, física ou
mundo de idéias e as valoriza, — envolvendo-se, metaforicamente, mediante a força e sem a devida
assim, em uma alta dose de auto-ilusão. O misticismo autorização. O indivíduo que assim age é um intrujão.
também tem sido acusado de envolver idêntico perigo; Dentro da linguagem eclesiástica, o termo refere-se ao
mas, apesar de certos aspectos da experiência ato de introduzir alguém a algum ofício eclesiástico de
humana demonstrarem que tal perigo é real, outras maneira ilegal. O termo também pode referir-se a
experiências humanas comprovam o indiscutível valor alguma denominação que force a aceitação de algum
das experiências místicas e da introspecção. Entretan ministro a uma congregação que não quer tal
to, torna-se mister aprendermos que nenhum ministro. Esse ato usualmente é efetuado para ganhar
pensamento, nenhum método, nenhum sistema pode alguma vantagem ou retribuir a um favor feito pelo
353
IN TU IÇÃ O - IN V E JA
ministro, embora isso faça violência à vontade dos que os sentidos. A razão nos confere algumas
membros da Igreja. Alguma dúbia situação política verdades, como os princípios éticos. Nem por isso a
geralmente acompanha o ato, porquanto envolve razão deixa de ter severas limitações. Em terceiro
interesses pessoais às expensas da vontade da maioria lugar aparece a intuição, de acordo com a qual já há
e da aútonomia da igreja local. Há muitos pastores uma operação da própria alma, e não somente da
intrujões, infelizmente. razão. Porém, acima da intuição teríamos a
contemplação dos universais, uma forma de experiên
cia mística, segundo a qual a verdade é diretamente
INTUIÇÃO conhecida pela alma.
Ver o artigo separado intitulado o Conhecimento e 2. Aristóteles, Descartes, Locke e Leibniz supu
a Fé Religioea. Em 1.3 do mesmo, damos uma nham que a intuição deve ser posta em contraste com
descrição da intuição, e em II.7 discutimos a intuição a função do raciocínio discursivo. Intuímos tanto
como uma teoria da verdade. Ver também C onheci aquilo que percebemos como os princípios gerais que
m ento, Conhecer e Epistem ologia. A intuição pode determinam nosso raciocínio.
estar ligada ao misticismo se o conhecimento 3. Spinoza falava sobre a scientia intuitiva
imediato, obtido através desse processo estiver (conhecimento intuitivo). Isso pertence ao indivíduo
relacionado à comunicação com agências da própria que já atingiu o terceiro estágio da existência, e vive
alma de quem o recebe (misticismo subjetivo), ou se sob o aspecto da eternidade, de acordo com o que ele
for obtido mediante a inspiração dada por alguma dizia.
força externa (como Deus, o Espírito Santo, etc.). Ver
sobre o M isticism o. Seja como for, a intuição é o 4. Bergson também contrastava a intuição com o
conhecimento que se considera obtido im ediatam en raciocínio discursivo. Ele pensava que a intuição é
te, por via da percepção dos sentidos (como nas capaz de aprender o mundo em suas qualidades
experimentações) ou por meio do processo do essenciais e em sua fluidez, ao passo que o raciocínio
raciocínio. Todos os tipos de conhecimento seriam discursivo falsifica o mundo ao nosso redor, visto que
obtidos pela intuição, como o conhecimento da faz parar seu fluxo e examina questões particulares, e
própria alma, o conhecimento do Ser divino, o não universais. E espacializa o tempo, o que é uma
conhecimento ético e.estético, a compreensão sobre os distorção.
universais, ou a definição de quaisquer objetos 5. E m anuel K ant distinguia entre a intuição
palpáveis. Por meio da intuição, sentim os algo da empírica e a intuição pura. A primeira apreende a
verdade das coisas inefáveis, pelo que não poderiam significação dos objetos, ao passo que a intuição pura
ser expressas verbalmente. compreende que o espaço e o tempo são formas da
Essa palavra vem do latim, in tu itu s, particípio sensibilidade.
passado do verbo intueri, «olhar para». Mas, na 6 . A intuição sensível é a idéia de que intuímos, e
filosofia e na religião, esse ato de «olhar para» envolve assim, compreendemos algo sobre um objeto, através
uma maneira especial de tomarmos conhecimento das das sensações que dele recebemos. Assim, não
coisas, sem a mediação de sentidos. Ver o artigo sobre intuiríamos uma cadeira, mas somente que ela tem
o Intuicionism o. certa configuração geométrica, certa cor, certo grau
de dureza, e outros fatores, mediante os quais então
podemos dizer: «Vi uma cadeira».
INTUIÇÃO ÉTICA 7. A intuição ética. Ver o primeiro parágrafo.
Ver sobre o Intuicionismo, sétimo ponto. a. Um homem é capaz de ter conhecimento
imediato, sem o uso de quaisquer meios.
b. Essa capacidade de conhecimento imediato nos
INTUICIONISMO fornece pelo menos algumas proposições éticas dignas
Ver sobre Intuição, e os vários outros artigos de confiança.
mencionados sob esse titulo. O intuicionismo é a c. A origem desse conhecimento deve ser a alma, ou
doutrina que diz que certas verdades são conhecidas então algum poder exterior, como Deus, o Espírito
de modo imediato, sem qualquer argumento discursi Santo, etc. Isso talvez inclua algum tipo de
vo, e também que essas verdades são fundamentais e participação mística na mente universal.
incontestes, servindo de verdadeiro alicerce do d. Certas verdades normativas específicas, desse
conhecimento humano. No campo da ética, isso modo, podem ser descobertas, como o utilitarismo, de
significa que pelo menos alguns juízos morais estão ao onde pode ser derivado o restante do sistema ético.
alcance do homem, através da intuição, sem qualquer e. Alguns pensadores, como Platão, supõem que
investigação empírica ou racional. Isso pressupõe que podemos chegar aos universais por meio da intuição,
o homem tem, dentro de si mesmo, as grandes ao passo que a racionalização pode distorcê-los, para
respostas morais, por ser alguém que participa da nada dizermos sobre os poderes ilusórios da
mente universal, através da provisão divina, mediante percepção dos sentidos.
os arquétipos de Jung, etc. Algumas vezes, os filósofos f. Os intuicionistas escoceses (Thomas Reid,
têm descoberto certas verdades normativas, como o Dugald Steward, Thomas Brown, etc.), opondo-se ao
utilitarismo, o hedonismo, ou algum outro conceito utilitarismo e ao kantianismo, asseveravam que a
intuído; e é sobre esse fundamento que repousa a consciência humana, uma vez devidamente educada,
ética, construída com o auxílio da dedução e da capacita-nos a conhecer, sem muita reflexão, o que
coerência, que partem de algum grande princípio deveríamos saber acerca da conduta apropriada, e
básico. também como pô-la em prática.
Algumas Idéias dos Filósofos: INVAM ABILID A D E, PRINCIPIO DE
1. Platão situava a intuição em terceiro lugar como Ver Uniformidade da Natureza.
maneira de conhecermos as coisas. Antes de tudo,
viria a percepção dos sentidos, embora aí prevaleçam
muitas ilusões, de tal modo que o verdadeiro INVEJA
conhecimento nunca emerge dessa atividade. Em No hebraico, qinah, «zelo», «ciúmes», «inveja». Essa
segundo lugar teríamos'a razão, que é mais poderosa palavra é empregada por quarenta e duas vezes,
354
IN V E JA - IN V ESTID U R A
como, por exemplo, em Jó 5:2; Pro. 14:30; 27:4; Ecl. 6:4). Tito também foi devidamente instruído quanto à
4:4; 9:6; Isa. 11:13; 26:11; Eze. 35:11. Também é inveja (Tito 3:3). O caso mais trágico de inveja, nas
usado o adjetivo «invejoso», no hebraico, qana, páginas da Bíblia é o dos líderes judeus, que fizeram
conforme se vê em Sal. 37:1; 73:3; Pro. 24:1,19. de Jesus Cristo a vítima de sua inveja (Mat. 27:18). O
No grego, p h th ó n o s, «inveja», «ciúmes». Esse distorcido motivo deles era tão óbvio que o próprio
vocábulo ocorre por nove vezes: Mat. 27:18; Mar. Pilatos, governador romano, percebeu o mesmo,
15:10; Rom. 1:29; Gál. 5:21; FU. 1:15; I Tim. 6:4; embora fosse homem fraco demais para pôr-se ao lado
Tito 3:3; Tia. 4:5; I Ped. 2:1. Algumas versões do direito (Mar. 15:10 ss). O trecho de Tiago 4:5 tem
também traduzem como tal o vocábulo grego zélos, um possível uso positivo do termo grego phthónos, ao
mas este último tem mais o sentido de «zelo», «ardor». referir-se ao intenso amor de Deus pelo homem, que
O leva a ter ciúmes da amizade humana. É por isso
A inveja é um sentimento sempre negativo, ao passo que a nossa versão portuguesa traduz esse termo por
que o zelo pode ser negativo ou positivo. A inveja é «ciúme», evitando a confusão com o sentido negativo
uma das maiores demonstrações de mesquinharia daquela palavra grega. A versão inglesa Revised
humana, causada pela queda no pecado. Os invejosos Sta n d a rd Version diz «yearns jealously», que aqui
chegam a fazer campanhas de perseguição contra traduzimos para «anela com ciúmes». O ciúm e de
suas vítimas, as quais, na maioria das vezes, não têm Deus em relação ao seu povo é uma noção que vem do
qualquer culpa por haverem despertado tal sentimen Antigo Testamento, pelo que aparece com grande
to nos invejosos. Geralmente os mai-sucedidos têm naturalidade na epístola de Tiago, que escrevia uma
inveja dos bem-sucedidos.. Essa é uma tentativa obra do ponto de vista cristão-judaico. Contudo,
distorcida para compensar pelo fracasso, glorificando comparar com Gál. 4:17,18. Seja como for, a inveja é
ao próprio «eu» e procurando enxovalhar a pessoa uma atitude diabólica, conforme asseveram I João
invejada. Está baseada, portanto, na mais pura 3:12, Sabedoria 2:24 e I Clemente 3. A inveja, como já
carnalidade. Muitas vítimas da inveja já descobriram dissemos, é uma das obras da carne, pelo que é
que a melhor maneira de evitar o invejoso é fugir dele. natural para o ser humano decaído (Gál. 5:21). Na
Uma pessoa bem-sucedida não pode abandonar o seu teologia moral posterior, a inveja é alistada entre os
sucesso, somente para satisfazer o invejoso, tornando- pecados m ortais (que vide).
se um fracassado como ele.
A palavra portuguesa «inveja» vem do latim,
invidere, que significa «em» (contra) e «olhar para», INVERNO
ou seja, olhar para alguém com maus olhos, de modo Ver sobre Calendário.
contrário, com base no ódio sentido contra esse
alguém. A inveja sempre envolve um certo ressenti
mento. Mas alguns conseguem disfarçar muito bem a INVESTIDURA; CONFLITO DE INVESTIDURA
sua inveja, transmutando-a em zelo por alguma O latim por detrás desse termo é in, «sobre», e
causa, mas sempre com alguém a ser combatido sem vestire , «vestir», ou seja, «revestir». A investidura é
verdadeiras causas. O homem é um ser extremamente aquele ato ou cerimônia por meio do qual uma pessoa
egoísta, ressentindo-se diante do sucesso ou da boa recebe as «vestes» próprias de seu ofício, passando a
sorte de seus semelhantes. ficar autorizado para exercê-lo. Assim, os ofícios
No Antigo Testamento. Os Dez Mandamentos (que eclesiásticos são conferidos juntamente com os
vide) proibem o sentimento invejoso, embora ali a símbolos do ofício, a saber, o anel, o cajado e as
própria palavra hebraica, qinah, não seja usada. chaves.
Mandamentos específicos contra a inveja podem ser Conflito de Investidura:
encontrados nos livros de Salmos, de Provérbios e em Como é lógico, a investidura aponta para as funções
vários outros contextos. Ver, por exemplo, Sal. 37:1; dos oficiais eclesiásticos. Porém, tem havido disputas
73:2,3; Pro. 3:31; 23:17; 24:1,19. O trecho de e conflitos entre os papas e os governantes civis,
Eclesiastes 4:4 encerra uma interessante observação acerca de quem tem o direito de conferir posições nos
sobre o assunto. Ali os homens são exortados a bispados, nas abadias, etc. Essas questões envolvem a
trabalhar e a desenvolver suas habilidades pessoais, luta pelo poder político e questões monetárias. A
quando sentirem inveja de outrem. Assim, uma.coisa simonia (venda de cargos eclesiásticos, para quem
boa pode resultar de uma atitude errada. O homem é oferecesse mais) era um problema comum, de que
capaz de qualquer coisa ruim. Exemplos veterotesta- lançavam mão aqueles que buscavam fama, privilé
mentários de inveja podem ser encontrados nas vidas gios e poder. Na época do Santo Império Romano (de
de Jacó e Esaú, Raquel e Lia, os irmãos de José e ele Carlos Magno a Napoleão Bonaparte, 800—1806) os
mesmo. Os irmãos de José venderam-no como governantes civis assumiram o direito de conceder
escravo, movidos por pura inveja. Um dos relatos ofícios eclesiásticos, a despeito da oposição da Igreja
mais tocantes da Bíblia é o de Hamã e Mordecai, no oficial. O papa Nicolau II (1059—1061) tentou
livro de Ester. A inveja tem sido motivo para muitas corrigir tal abuso; e os papas que o seguiram, fizeram
histórias pervertidas, para muitos dramas humanos. o mesmo. — A controvérsia atingiu o seu ponto
No Noyo Testamento. Dentro da lista de vícios culminante quando o papa Gregório VII (1095) fez
humanos, preparada por Paulo, em Romanos 1:29, a um ultimato ao imperador, Henrique IV. O
inveja ocupa posição proeminente, associada ao imperador recusou-se a obedecer, pelo que foi
homicídio e ao ódio contra Deus. Isso é muito excomungado. O conflito continuou enpre os papas
sugestivo, pois parece que o invejoso, não podendo posteriores e os governantes civis. Por ocasião da
atacar a Deus diretamente (a quem considera a causa Concordata de Worms (1122), que incluiu a disputa
de seu insucesso), volta-se contra um outro ser entre Henrique V e o papa Calixto II, chegou-se a
humano, que parece ameaçá-lo com o seu sucesso uma posição de transigência. Por um lado, as
(real ou imaginário). O trecho de Gálatas 5:19 alista a autoridades civis viram-se privadas de seu poder sem
inveja como uma das obras da carne, que formam limites, no tocante à nomeação de bispos; e, por outro
contraste direto com o cultivo dos frutos do'Espírito lado, a Igreja Católica teve de satisfazer-se com algo
(vs. 22 ss). — Paulo advertiu Timóteo para não se menor do que a plena autoridade e poder sobre 3
envolver em controvérsias e disputas mórbidas, as questão. Pois os governantes civis continuaram tendo
quais conduzem, entre outras coisas, à inveja (I Tim. de ser consultados, e sua aprovação tinha de ser dada
355
INVISÍVEL - IODE
aos candidatos escolhidos àquelas posições eclesiásti INVITATÔRIO
cas. Por ocasião do concílio laterano de 1179, foram Diz Salmo 95: «Vinde, cantemos ao Senhor, com
instituídas ainda outras reformas, no tocante a essa júbilo...» (vs. 1). Essa introdução do referido salmo
questão, especialmente no tocante aos ofícios tem sido usada como o começo das m atinas (vide),
eclesiásticos inferiores. Com a passagem do tempo, à como um convite geral à adoração a Deus. Via de
medida que a Igreja e o Estado se foram distanciando regra, os invitatórios são frases usadas como
um do outro, o conflito acabou desaparecendo. introduções a ritos relacionados ao dia ou período que
está sendo observado. Trata-se de uma prática
INVISÍVEL, DEUS COMO comum na Igreja Católica Romana e na Igreja
Do Deus Invisível, Col. 1:15. Esse é o Deus que não Anglicana.
se manifesta diretamente, mas que preferiu manifes
tar-se através do Logos eterno, que é a sua imagem, o
seu representante exato. Nisso se destaca a razão INVOCAÇÃO
verdadeira do uso desse vocáoulo. Deus talvez não Um ministro profere uma oração especial, no
possa manifestar-se diretamente a seres inferiores, começo de um culto religioso, a fim de solicitar a
por ser ele por demais elevado, e nenhum ser criado manifestação da presença de Deus. A isso dá-se o
pode aproximar-se dele, anjo ou homem.......o único nome de invocação. A mesma palavra é usada para
que possui imortalidade, que habita em luz designar as palavras, «Em nome do Pai, e do Filho e
inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é do Espírito Santo», que acompanham os sermões e
capaz de ver. A ele honra e poder eterno. Amém». (I vários atos de devoção e liturgia. Esse termo também
Tim. 6:16). Isso pode ser comparado à mensagem do alude a epíclesis (vide) dos ritos anglicanos, que
primeiro capitulo do evangelho de João. invoca a presença do Espírito por ocasião da
O Logos eterno é a manifestação de Deus para toda celebração da Ceia do Senhor. A Igreja Oriental, por
a criação, é a sua mensagem. Nele se revela tudo ocasião da epíclesis («invocação»), afirma que é nesse
quanto se pode saber de Deus. Assim sendo, Cristo, momento — que se dá a transformação miraculosa
na qualidade de sua «imagem» ou representação, que altera os elementos da eucaristia. Mas a Igreja
encerra aquilo que se pode saber sobre Deus, Católica Romana afirma que isso tem lugar durante a
tomando-se como subentendida a «comunidade» de recitação das palavras da instituição (vide).
natureza, embora isso não seja diretamente expresso
pelo termo grego. Como é que Cristo «representa» a
Deus é o que é diretamente ensinado, pelo uso deste INVOCAÇÃO AOS SANTOS
vocábulo. A doutrina gnóstica de uma interminável Convém lembrarmos que o movimento cristão
cadeia de elos, formados por mediadores angelicais cresceu na atmosfera do pluralismo religioso greco-ro
não pode ser aceita. Pois aquilo que se pode saber de mano, dentro do qual meros homens eram elevados a
Deus só pode ser visto em sua «imagem», que é Cristo, semideuses, assumindo a estatura de heróis, aos quais
o qual é mais elevado que todos os supostos se conferia grande veneração, na sociedade pagã. Não
mediadores e salvadores secundários, suplantando-os é de admirar, pois, que cristãos notáveis, especial
em qualquer serviço que porventura se pense terem, e mente no caso de mártires e dos que fossem dotados
que supostamente auxiliassem os homens na sua volta de poderes e de santidade extraordinários, se tivessem
para Deus. tornado heróis cristãos. Essas pessoas, em alguns
Hodiernamente há aqueles que degradam a glória casos, também eram chamadas de «santos».
de Cristo. Para a maioria de nós, o problema refletido O que se deve destacar nesse desenvolvimento é que
na epístola aos Colossenses, sobre os que degradavam a devoção aos santos não incluía, no começo, a idéia
a Cristo, equiparando-o a meras emanações angeli de que deveriam ser mediadores entre Deus e os
cais, não tem mais significação. Porém, até mesmo no homens. Essa idéia de mediação só começou a ser
mundo de hoje há muitas coisas que têm tomado o aventada a partir do século IV D.C. O papa Leão I, o
lugar desse problema de doutrina. O materialismo, o Grande, que faleceu em 461 D.C., favorecia a
secularismo, o ateísmo, etc., podem ser enumerados, doutrina da invocação aos santos. Todavia, antes
juntamente com o egoísmo e o desinteresse espiritual. mesmo do quarto século cristão, a idéia já se vinha
Paulo exortou aos crentes de Colossos para que se desenvolvendo, e muita gente dirigia preces aos
afastassem dessas especulações, que só degradam a «santos».
pessoa, a posição e a obra de Cristo. Ele também os Sabemos que nas religiões grega, romana e nas
ensinou para que vissem em Cristo a «imagem» de religiões misteriosas, eram oferecidas orações aos
Deus, para que, tomados por essa visão, não mortos em geral; e assim, sob tais influências, não é
andassem mais atrás daqueles que degradavam ao para admirar que a cristandade acabasse adotando
Senhor Jesus. também essa prática, no tocante a vultos cristãos
O Sentido Físico extraordinários. Então, como agora, o pressuposto
Deus é invisível à percepção física do homem, e sua básico é que esses «santos» têm grande poder diante
invisibilidade deve incluir este aspecto, como se pode de Deus, podendo ajudar aos vivos e às almas
ver em Jo. 1:18. Mas o sentido espiritual, como daqueles que já morreram. Entretanto, os reforma
descrito acima, é a consideração principal. dores protestantes descontinuaram tal prática, por
A Visão Beatífica duas razões fundamentais: 1. Ela não aparece nos
A visão beatífica de Deus (os redimidos verão Deus) ensinos bíblicos, tendo-se cercado de muitas supersti
fala sobre a visão transformadora que faz o homem ções, fazendo o paganismo invadir as fileiras cristãs.
participar da imagem e natureza de Deus (II Ped. 2. Ela obscurece o ensino bíblico de que só existe um
1:4) e não meramente que, afinal, os homens poderão Mediador entre Deus e os homens, isto é, o homem
ver Deus, de alguma maneira, ainda não definida. Jesus Cristo (ver I Tim. 2:5).
Esta visão é iluminadora e transformadora, não
meramente, a contemplação da pessoa de Deus com
os olhos do corpo espiritual que será o veículo da IODE
alma nos lugares celestiais. Ver o artigo sobre Visão Nome da décima letra do alfabeto hebraico. Era a
Beatífica. menor das letras hebraicas. A letra grega iota (vide)
356
IOTA - IRA
está baseada sobre a mesma. Essas letras correspon visto como um tipo de anticristo (vide), e alguns,
dem ao i ou aoy das línguas indo-européias. Em Mat. chegam a supor que há uma ligação de sangue entre
5:18, o iota é aludido. Ali é dito: «Até que o céu e a ele e o anticristo futuro, pois seria seu antepassado.
terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Essa figura (que pode aparecer em cena em nossa
lei, até que tudo se cumpra». A letra hebraica iode própria época, em cerca de 1993), imitando
aparece no começo de cada verso da décima seção do Iquenatom, estabelecerá uma nova forma de adora
Salmos 119 (vs. 73-80). Cada uma das seções desse ção que procurará eliminar a adoração a Cristo; mas,
salmo começa com uma letra hebraica diferente, em à semelhança de Iquenatom, não será capaz de
sucessão alfabética. Ver o A lfabeto Hebraico. manter essa adoração por muito tempo. Ainda à
semelhança de Iquenatom, ele estabelecerá um culto
IOGA Ver Yoga. universal, às expensas de outras fés religiosas. Mas a
adoração ao anticristo será finalmente abolida, tal
IOTA como sucedeu ao culto inventado por Iquenatom.
Nome da menor letra do alfabeto grego, equivalente
ao nosso i e escrito virtualmente da mesma maneira.
Deriva-se do jo d dos hebreus. Ambas essas palavras, IQUES
incluindo o siríacoju d h , eram usadas metaforicamen No hebraico, «perverso». Foi pai de Ira, o tecoíta,
te para indicar qualquer coisa minúscula e de mínima um dos trinta poderosos guerreiros de Davi, e capitão
importância. Várias metáforas têm sido derivadas das do sexto regimento de seu exército (II Sam. 23:26; I
letras do alfabeto antigo, como alfa (o começo, Crô. 11:28; 27:9). Viveu por volta de 1046 A.C. Sua
alguma coisa importante que dê inicio a outras coisas) divisão armada consistia em vinte e quatro mil
e ômega (o fim de algo, a finalidade de algum homens.
propósito). O Cristo exaltado era chamado de o Alfa e
o ômega, por ser ele, ao mesmo tempo, a origem e o
alvo da existência humana. Ver o artigo separado IR
sobre o A lfa e o ô m eg a . No hebraico, «cidade». Um benjamita mencionado
No tocante ao jo d , o Talmude (Sanhed. 20:2) em I Crô. 7:12 que talvez seja o mesmo Iri, que
conta-nos uma interessante história. Ali o livro de aparece no vs. 7 desse mesmo capítulo. Ver também
Deuteronômio é personalizado. Como uma pessoa, sobre Iri. Era pai de Supim e Hupim. Alguns
comparece à presença de Deus e queixa-se de como os estudiosos identificam-no com um filho de Benjamim
seus preceitos são abusados pelos homens, mencio mencionado em Gên. 46:21, Rôs; mas é bastante
nando, especificamente, Salomão, que, contra um improvável tal coisa.
certo mandamento, ignorou a proibição de multipli
car esposas (ver Deu. 17:17). Deus, então, teria
respondido que Salomão e milhares de outros homens IR-HA-HERES
abusam dos preceitos da Palavra de Deus, mas que Temos ai a transliteração, para o português, das
todos eles perecerão, ao passo que nunca perecerá a palavras hebraicas que significam «cidade do sol». Ver
menor palavra do Livro Sagrado. Em face disso, o artigo sobre Heliópolis, que significa a mesma coisa,
Salomão teria tentado apagar a letra jo d do Livro passando pelo grego. Ver também Cidade do Sol.
Sagrado (conforme o livro personalizado alegou),
embora não tivesse sido capaz de perpetrar nem
mesmo essa minúscula corrupção do texto sagrado. A IR-SEMES
passagem de Mat. 5:18 é um paralelo óbvio desse No hebraico, «cidade do sol». Um lugar pertencente
conceito. «Porque em verdade vos digo: Até que o céu à tribo de Dã (Jos. 19:41). Talvez fosse idêntica a
e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará Bete-Semes (vide), onde foi construído um templo
da lei, até que tudo se cumpra». O til corresponde ao para a adoração ao sol, em tempos posteriores (I Reis
termo grego keraia, que indica qualquer projeção, ou 4:9).
gancho, ou sinal que faça parte de alguma letra. Ojo d
era uma letra minúscula do alfabeto hebraico, e podia
ser representada por essa palavra grega. Os acentos e IRÀ
as aspirações também tinham esse nome, no grego. No hebraico, «citadino». Foi um líder idumeu em
Quanto a outros comentários, ver as notas expositivas monte Seir(Gên. 36:43 e I Crô. 1:54). Muitos pensam
do NTI em Mat. 5:18. Isso nos ensina a importância e que ele foi contemporâneo dos reis horeus. Teria,
a permanência da Palavra de Deus, em suas formas portanto, vivido por volta de 1600 A.C.
escritas ou não.
IVA IZLIAS
Enquanto alguns estudiosos pensam que o sentido No hebraico, «retirado», «preservado». Nome de um
dessa palavra ê desconhecido, outros preterem pensar filho de Elpaal, da tribo de Benjamim (I Crô. 8:18).
em «esconderijo» ou em «céu, o deus Iva». Essa cidade Algumas traduções dão seu nome como Jezlias. Ao
assíria é nomeada por três vezes no Antigo que parece, ele era chefe de um clã, e residia em
Testamento: II Reis 18:34; 19:13; e Isa. 37:13. Em II Jerusalém, em cerca de 590 A.C. Nada mais se sabe a
Reis 17:24, também temos a designação A va, que seu respeito além disso.
certamente se refere à mesma cidade assíria. Alguns
eruditos têm-na identificado com a H ite da Babilônia IZRAlAS
e com a Is aludida por Heródoto (Hist. 1.179). No hebraico, «Yahweh produzirá» ou «Deus
A localidade tornou-se famosa por suas fontes resplandece». Era descendente de Issacar, neto de
betuminosas, que até hoje produzem com abundân Tola. e o filho único de Uzi (I Crô. 7:3). Seu nome
cia. Talvez se trate da mesma Aava, referida em Esd. aparece com a forma de Jezraías, em Nee. 12:42. O
8:15. H ite ficava no lado leste do rio Eufrates, entre filho de Uzi e o homem que aparece no trecho referido
Sefarvaim e Hena. Os eruditos não estão muito certos do livro de Neemias não são uma mesma pessoa. O
quanto à localização da antiga cidade. primeiro data de cerca de 1000 A.C., mais ou menos
na época de Davi, e o outro de cerca de 446 A.C.. na
época de Neemias.
IYYAR
Um nome posterior para o mês de Zive, do IZRI
calendário judaico. Era o segundo mês dos hebreus, No hebraico, «jererita». Nome de um levita, líder da
correspondendo ao nosso mês de maio. Todavia, esse quarta divisão de cantores, organizados por Davi (I
nome, Iyyar, não aparece nas páginas da Bíblia. Ver o Crô. 25:11). Provavelmente, trata-se do mesmo Zeri,
artigo sobre o Calendário Judaico. Ver também sobre filho de Gedutum, conforme se vê em I Crô. 25:3.
Zive , mencionado em I Reis 5:1,37; Dan. 2:31 e4:33. Viveu por volta de 1000 A.C.
405
Reprodução A rtística de
Darrell Steven C h a m p l i n _ _ ^ ^ ^ _ ^ _ _ ^ ^ _ _ ^ _ ^ MM
A rte céltica — o leão, símbolo evangelho
de M arcos, Livro de Kells
2. Nos Manuscritos Gregos do N oto Testamento
IL
3. Formas Modernas
J J j j JJjj JJJj Jj
JADOM JAFÊ
No hebraico, «juiz». Esse era o nome de um E sboço:
meronotita que ajudou a reparar as muralhas de I. Informações Gerais
Jerusalém, após o retorno de Judá do cativeiro II. Raças Descendentes de Jafé
babilónico (Nee. 3:7). Ele viveu por volta de 445 A.C. III. Gráfico Comparativo dos Descendentes de Jafé,
Josefo (A nti. 8.9) dá esse nome ao homem de Deus Cão e Sem
(cujo nome não aparece no Antigo Testamento) que
foi de Judá até à presença de Jeroboão, a fim de I. Informações Gerais
adverti-lo das consequências de seu pecado (I Reis No hebraico, «espalhado», com o sentido que «Deus
13). Esse homem, por sua vez, é identificado pela engrandecerá» (Gên. 9:24). Era um dos três filhos de
tradição judaica com o mesmo Id o de II Crô. 9:29. Noé. Ê difícil dizer qual a sua posição entre os outros
Mais do que isso é impossível determinar. dois, porquanto ele é mencionado em último lugar em
417
JA F Ê
trechos como Gên. 5:32; 6:10; 7:13; 9:18,23,27; I poderiam ter descendido de um único genitor, dentro
Crô. 1:4. Todavia, seus descendentes aparecem em do tempo alocado pela genealogia bíblica. Pela fé, os
primeiro lugar em Gênesis 10 e I Crônicas 1:5-7. Além eruditos conservadores levam a sério as genealogias
disso, o trecho de Gên. 9:22, 24 parece afirmar que constantes na Bíblia, embora também não contem
Cão, pai de Canaã era o mais jovem dos três. Porém, com qualquer explicação, científica ou não, para
em Gên. 10:21, temos uma afirmação que pode ser justificar a grande diversidade de raças que acabou
interpretada como se dissesse que Jafé era o segundo, surgindo na terra. Novamente, entramos em mistérios
e não o terceiro dos filhos de Noé. insondáveis.
Im portantes incidentes em sua vida incluem estes
pontos: ele foi uma das oito pessoas que participaram II. Raças Descendentes de lafé
das experiências salvadoras da arca de Noé, durante o As informações que os intérpretes nos fornecem a
período do dilúvio universal. Ver sobre o Dilúvio. esse respeito diferem grandemente entre si. A Bíblia
Terminado o dilúvio, Noé plantou uma vinha; e, informa-nos que ele foi o pai de Gômer, Magogue,
colhendo a uva e tomando o vinho, ficou alcoolizado. Javã, Tubal, Mesequee Tiras (Gên. 10:2 e i Crô. 1:4).
Cão, o filho mais jovem de Noé, quebrou uma rígida Isso faria de Jafé o genitor das raças caucasianas e
lei moral da época, que proibia um filho de ver a indo-européias, além de outras. O trecho de Gên. 10:2
nudez de seu pai. Em seu estupor de alcoolizado, Noé ss também nos dá a impressão de que seus
jazia nu em seu leito, e Cão observou a cena, descendentes migraram para as terras em redor do
divertido. Ao que parece, ele contou o acontecido a Mediterrâneo («as ilhas das nações», em Gên. 10:5).
seus dois irmãos; e eles, horrorizados diante da Certas tradições árabes faziam de Jafé um dos antigos
infração, entraram de costas onde jazia Noé, e profetas; e, na enumeração dos seus filhos, faziam
cobriram-no com alguma coisa (Gên. 9:20-27). dele o pai dos gin ou dshin (os chineses); os seklab (os
Quando Noé despertou e ficou sabendo do ato de Cão, eslavos); e os manchurges, os gomaris (os turcos) os
lançou sobre ele uma maldição (—que, na verdade, calages, os gozar, os rôs (os russos); os sussans, gaz ou
recaiu sobre seu neto, Canaã, filho de Cuxe); mas torages (?)
abençoou a Sem e a Jafé, que haviam respeitado a sua As tremendas diferenças físicas das raças sinotibe-
nudez. Os descendentes de Sem e Jafé haveriam de tanas são tão difíceis de explicar como aquelas que
prosperar; mas os descendentes de Cão, através de caracterizam as raças negras, e pelas mesmas razões.
Canaã, haveriam de ser escravos dos descendentes Naturalmente, os cientistas modernos atribuem as
daqueles. diferentes raças humanas a mutações genéticas, e não
meramente a influências climáticas, supondo que o
Alguns intérpretes têm pensado que essa maldição ser humano já exista há mais de um milhão de anos, e
fez de Cão um negro, o que explicaria por que, até os não a algo parecido com seis mil anos. Alguns desses
fins do século passado, muitos negros foram cientistas pensam que várias raças devem sua
escravizados. Porém, isso é ler no texto sagrado o que existência a diferentes antepassados animais, pelo que
não está ali escrito, além de ser uma tentativa de nem todos os ramos da humanidade descenderiam de
encontrar na Bíblia um texto que sirva de prova para um mesmo e único genitor, Adão. Naturalmente, o
a instituição cruel da escravatura. Na verdade, ensino bíblico não concorda com isso. Paulo deixou
porém, as mais diferentes raças e indivíduos já foram bem claro: «O Deus que fez o mundo e tudo o que nele
escravizados no passado; e a escravidão negra é um existe... de um só fez toda raça humana...» (Atos
fenômeno relativamente recente. A Bíblia, por sua 17:24-26).
vez, não nos fornece qualquer explicação de como
surgiu a raça negra. O mais provável de tudo é que se Para os evolucionistas, as grandes diferenças raciais
trate de uma das potencialidades da raça humana, entre os seres humanos só podem ser explicadas em
uma das variações possíveis dentro de uma espécie — termos evolutivos. A teoria da evolução das espécies
a espécie humana. Sabemos que as condições de clima parece oferecer uma explicação lógica, excetuando a
podem causar tanto o enegrecirriento quanto o questão das origens absolutas; mas, sob um exame
embranquecimento da pele; mas é totalmente mais detido, apresenta muitas dificuldades, porquan
impossível que essas condições justifiquem tudo, em to nenhum argumento convincente pode transpor um
face da cronologia bíblica depois do dilúvio ser tão prodigioso salto evolutivo que poderia levar um ser
curta. Lembremos que o dilúvio é situado em cerca de humano a deixar o mundo dos animais irracionais
2400 A.C.! Acresça-se a isso que a raça negra possui para ingressar no mundo dos homens racionais e
características físicas, excluída a questão da cor da dotados de uma alma eterna. Além disso, se há
tez, que não podem ser explicadas por qualquer variantes dentro de uma mesma espécie (por exemplo
processo físico normal de que tenhamos conhecimen os cães), nunca se conseguiu comprovar que uma
to. Certas coisas terão de permanecer um mistério. espécie qualquer seja capaz de evoluir de outra, e daí
Por outro lado, a teoria da evolução, que alguns evoluir ainda para uma outra. E, quando há
consideram uma possível explicação alternativa, variações, a tendência é sempre voltar ao tipo
também se vê a braços com dificuldades intranspo original, seguindo as leis genéticas de Mendel, e
níveis, quando se lança à explicação de coisas como jamais progredir para outra espécie, deixando para
essa. trás a espécie supostamente original. Novamente,
pois, chegamos a mistérios insolúveis. E a Bíblia em
O que se sabe é que os cananeus da época de Josué nada pode ajudar-nos quanto a essas questões, pois
foram subjugados e que as suas terras lhes foram não foi escrita para revelar questões dessa natureza, e,
tomadas pelos israelitas invasores; e podemos supor, sim, como o homem pode corrigir seu relacionamento
com muita razão, que isso cumpriu, pelo menos em com Deus e seus semelhantes. Ver ainda o artigo
parte, a maldição lançada por Noé. intitulado A ntediluvianos, que aborda os problemas
A predição da propagação dos descendentes de Jafé da antiguidade da raça humana, em maiorés
por muitos territórios cumpriu-se à risca, embora detalhes.
muitos eruditos disputem quanto a como isso
aconteceu exata e detalhadamente. Os estudiosos Identificações Tentativas das Raças Associadas a
liberais supõem que questões dessa ordem revestem-se lafé:
de pouco valor genealógico real, e que é impossível Povos A ntigos
que raças tão diversas, com suas distintas qualidades, Gômer: os antigos cimérios; M agogue : os diversos
JAFÊ - JAIM INI
povos mongóis; M adai : os medos e persas; Javã: os tes de Jafé, mas também os de Cão e os de Sem,
gregos; Tubal e M eseque: povos da porçào oriental da embora a tendência dispersiva fosse maior entre os
Turquia e do centro norte da Âsia; Tiras: os «tirsenoí» descendentes de Jafé, segundo também o seu nome
das ilhas do mar Egeu, talvez incluindo os etruscos. indica. Os descendentes de Gômer, para exemplifi
À medida que esses povos se foram multiplicando, car, com a passagem do tempo, podiam ser
foram ocupando áreas geográficas cada vez mais encontrados em uma faixa que ia desde o que é hoje o
distantes do ponto de onde todos se irradiaram, após norte da índia até à porção mais ocidental da Europa,
a torre de Babel, «...ali confundiu o Senhor a incluindo, entre outros, os celtas (vide) e os
linguagem de toda a terra, e dali os dispersou por toda germ ânicos (vide), estes últimos, descendentes de
a superfície dela» (Gên. 11:9). Naturalmente, nessa Asquenaz, um dos filhos de Gômer.
dispersào nào devemos incluir somente os descenden
NOÉ
I Pelegue Joctã
i i Reú Almodá
Sebá Ludim Sidom
Hete Serugue Salefe
Havilá Anamim Naor Hazarmtfvé
Sabtá Leabim Jebuseus Terá Jerá
Sabtecá Naftuim Amorreus Hadorão
Ninrode Patrusim Girgaseus / I \ Uzal
Raamã Casluim Heveus jAbrão Naor Harã Dicla
■ Filisteus Arqueus Obal
Sabá Cafitorim Sineus Abimael
Dedã Arvadeus Sabá
Zemareus Ofir
Hamateus Havilá
Jobabe
JAFLETE JAFLETIT a S
No hebraico, «aquele a quem Deus livra». Ele era Parece que um ramo dos descendentes de Jaflete
filho de Héber, filho de Aser. Foi pai de três filhos e estabeleceu-se ao longo da linha fronteiriça entre as
de uma filha (I Crô. 7:32,33). Viveu em tomo de 1856 tribos de Efraim e Dã (Jos. 16:3). Porém, alguns
A.C., mas, conforme outros, tão tarde quanto 1658 estudiosos pensam que esse nome se refere a um dos
A.C. povoados cananeus originais. Após a divisão da Terra
Prometida, o território foi alocado aos descendentes
de José. Ficava perto da fronteira de Efraim, perto de
JAFLETI Bete-Horon.
Essa localidade, cujo nome tem um sentido
desconhecido, é mencionada somente por uma vez em
todo o Antigo Testamento, em Jos. 16:3, dentro do JAGUR
contexto da determinação das fronteiras de Manassés No hebraico, «estalagem». Nome de uma cidade no
e Efraim, tribos descendentes de José. A forma da sul de Judá (Jos. 15:21). Ficava perto da fronteira com
palavra, no original hebraico, indica um adjetivo Edom, embora não se saiba qual o local exato.
pátrio, «jafletitas»; mas a nossa versão portuguesa
preferiu traduzir como se essa fosse a designação de
uma cidade ou aldeia, Jafleti. JAIMINI
Autor da obra M im anua Sutra (vide). Essa obra foi
composta em cerca de 400 A.C. Um dos seis sistemas
ortodoxos do hinduísm o (vide), chamado Purva
419
JAINISM O
M im am sa (vide), usava a M im am sa Sutra como seu individual!
documento sagrado básico. 3. C onhecim ento. Essa fé religiosa é dominada pelo
princípio do Syadvada. Esse termo significa «talvez»,
JAINISMO dando a entender que todo conhecimento humano é
Esse nome vem do sânscrito, Jaina, que significa meramente provável, e sempre parcial.
«vitorioso». O jainismo e o materialismo charvakan A spectos do Conhecim ento, a. O conhecimento
são considerados os dois principais sistemas hetero ordinário, por meio da memória, do reconhecimento,
doxos religiosos e filosóficos do hinduísmo (vide). O da indução, b. O conhecimento por meio dos sinais e
jainismo é uma fé religiosa e uma filosofia nativa da símbolos que envolvem a associação de idéias, a
índia. No século VI A.C., o jainismo e o budismo compreensão e certos aspectos do sentido das coisas,
emergiram do hinduísmo como religiões separadas. c. A clarividência, o conhecimento à distância, por
Ambas surgiram, em parte, como uma reação contra meios psíquicos, d. A telepatia, o conhecimento dos
os conceitos então correntes sobre a divindade, pensamentos alheios, e. O conhecimento perfeito, que
inclinando-se mais na direção do não-teísmo. Ambas só chega por meio da salvação, e que anula o
ensinam que a salvação (m o ksh a ) pode ser obtida conhecimento humano, alicerçado sobre o «talvez».
através dos próprios esforços do indivíduo, sem a 4. Visões da Realidade, ou Naya. Poderíamos ver a
necessidade de se buscar continuamente o auxílio dos realidade de sete ângulos diferentes: a. figurado, não-
deuses. literal; b. geral, como no conceito de classes; c.
Informes históricos dão conta de que essa fé existia distributivo, com discriminação de subclasses, ordens
em Magadá, no norte da índia, desde os séculos VI e ou tipos; d. condição ativa; e. descrições por meio da
V da era cristã. Suas doutrinas fundamentais foram linguagem; f. descrições especificas, mediante as
ensinadas por Vardhamana Mahavira. Esse homem quais qualquer coisa é descrita em termos exatos e
buscava a iluminação espiritual de modo muito delimitadores; g. descrição ativa, segundo a qual um
intenso e depois de treze anos de vida ascética, nome ou termo é compreendido através do exame das
quando estava com cerca de quarenta e três anos de suas atividades.
idade, atingiu a iluminação buscada. Durante outros 5. N ão-Teísm o. Esse sistema filosófico religioso não
trinta anos foi um poderoso mestre de suas idéias. tem qualquer Deus formal, embora as almas
Duzentos e cinqüenta anos antes, o mestre Parshva liberadas adquiram uma estatura que poderia ser
tinha ensinado conceitos que influenciaram no reputada como divina.
desenvolvimento do jainismo. Ele fundou uma ordem 6. Cosmologia. O universo é eterno e se move
que requeria que os monges fizessem quatro votos passando por ciclos contínuos de ascensão e declínio.
básicos: 1. Não prejudicar a qualquer criatura viva. 2.' Chega-se assim a uma estado ideal; mas, então, o
Ser sempre veraz. 3. Nada furtar. 4. Não possuir declínio conduz a alma ao seu oposto, um ponto
qualquer propriedade. Mahavira adicionou a esses extremamente inferior. Isso posto, haveria ciclos que
votos o voto de celibato, além de exigir uma vida vão de zénite ao nadir, e daí de volta ao zénite e ao
ainda mais ascética. O termo ja in a , «vitorioso» (sobre nadir, interminavelmente. O universo não contaria
as desgraças e as vicissitudes da vida) foi outorgado com qualquer Deus supremo, criador e sustentador;
aos mestres desse movimento histórico, de onde temos mas contaria com divindades secundárias. E o
a derivação do nome jainism o. Os jainas eram o universo operaria sob o impulso de meras forças
equivalente aos «santos» do catolicismo, sendo mecânicas.
venerados pelos membros da fé que fundaram. 7. Classificação das Essências ou Seres. Todas as
Parshva e Mahavira são considerados por essa religião eritidades são chamadas alm as, e todas elas estariam
como os últimos dos vinte e quatro grandes líderes em estado de transmigração, a. Os nigoda seriam
religiosos do mundo. Eles também são chamados de seres ou essência sem qualquer percepção de sentidos,
tirtham kara (ou tirthakara), isto é4 «atravessador de pelo que seriam inferiores até mesmo a coisas como
vau», alguém que ajuda as pessoas a atravessarem o pedras, minerais, etc. Talvez eles estivessem aludindo
perturbado oceano da vida. aos elementos atômicos, que, em si mesmos, não
O cânon das sagradas escrituras do jainismo, são entidades, b. Seres dotados de um único sentido,
compostas na língua ardhamagadhi, foi transmitido o do tato, seriam coisas como a água, a pedra, o fogo,
oralmente, e os documentos escritos aparentemente os minérios, as raízes comestíveis das verduras, c.
perderam-se no século III D.C. A tradição oral, Seres dotados de dois sentidos, o do tato e o do
segundo dizem, teria sido reescrita em 454 D.C. Uma paladar, também seriam capazes de alguma capaci
característica distintiva dessa fé é que ela rejeita a dade de comunicação, como os vermes, d. Os seres
autoridade dos Vedas (vide), com seu panteão e suas dotados de três sentidos, do tato, do paladar e do
cerimônias, além de rejeitar o sacerdócio brâhmane. olfato, seriam os insetos, como as vespas, os
Esses elementos fazem parte de sua postura escorpiões e os mosquitos, e. Os seres dotados de
heterodoxa. cinco sentidos, incluindo aqueles que vivem nos
idéias: mundos infernais, os animais superiores, o homem e
1. A salvação deve ser obtida mediante um rígido os habitantes dos mundos celestiais. Alguns seres
auto-esforço, com a observância de práticas ascéticas. dessa última classe também possuiriam a qualidade
Três jóias ajudariam nesse processo: o conhecimento, adicional da mente.
a fé e a conduta correta. Isso conduziria à liberação
final do espírito. 8. O Destino da A lm a. A alma, uma vez liberada
2. O renascim ento e o karm a (vide) são as dos ciclos da reencarnação (vide), atinge a verdadeira
principais doutrinas desse sistema. A salvação libera a imortalidade, uma espécie de condição divina, com
alma dos ciclos de novos nascimentos, até ser atingido fantásticos atributos, como a onisciência. As poucas
o perfeito conhecimento. Esse ideal, para nós, os almas que teriam atingido esse estado são veneradas,
cristãos bíblicos, é atingido quando a pessoa aceita a templos são erigidos em sua honra, e tomam-se
Cristo como seu Salvador. Isso posto, se a modelos que devem ser seguidos pelos homens
reencarnação é uma realidade, o ciclo termina para o mortais. A veneração a essas almas inclui o uso de
crente, que, em Cristo, achou a sua perfeição! Mas imagens. Cerca de dois milhões de pessoas são
não cremos em reabsorção e perda da identidade adeptas dessa fé do jainismo.
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Foto por Alistair Duncan
Vista do Mont© Hermom
JAIR - JAIRO
JAIR A História de Jalro no Novo Testamento
No hebraico, «iluminador», ou então «Yahweh Mar. 5:22: Chegou um *dos chefes da sinagoga,
ilumina». Esse é o nome de quatro personagens cham ado Jairo e, logo que viu a Jesus, lançou-se-lhe
referidos no Antigo Testamento, a saber: aos p és.
1. Um filho de Segube, da tribo de Manassés (pelo 1. Arriscou sua reputação. Esse homem arriscou
lado de sua mãe) e da tribo de Judá (pelo lado de seu sua reputação ao aproxim ar-se de Jesus, já que desde
pai). Tornou-se conhecido por sua expedição bem- há muito os conflitos e controvérsias com os lideres
sucedida contra o reino de Basã, o que parece ter religiosos tinham começado, dando a Jesus o aspecto
estado vinculado à conquista do território a leste do de um poderoso agitador herege. Mas sua necessidade
rio Jordão. Finalmente, ele se estabeleceu naquela era grande, e ele ignorou a política. Devido à sua
parte da Argobe que fazia fronteira com Gileade. coragem, seu nome tornou-se imortal, por haver
Nessa região havia vinte e três aldeias, coletivamente entrado em contacto com Jesus. Ele se serviu de uma
chamadas de Havote-Jair, ou seja, «aldeias de Jair». das muitas janelas do N.T. através das quais vemos
VerNúm. 32:41; Deu. 3:14; Jos. 13:30; I CrÔ. 2:22; I algo da glória do Senhor Jesus. Jairo, juntamente com
Reis 4:13. Ver o artigo separado sobre Havote-Jair. outros, ilustra aqueles dotados de mente aberta o
Suas datas são disputadas, mas alguns têm sugerido suficiente para aprenderem algo. Ele ignorou os
cerca de 1450 A.C. dogmas que se opunham a Jesus e experimentou o
2. Um outro Jair foi o oitavo dos juízes de Israel. poder de Cristo, querendo saber se ganharia ou não
Ele era natural de Gileade, no território de Manassés, algo com ele. Jairo veio ver Jesus. Outros o ignoravam
na Transjordânia. Pode-se supor que ele descendia do ou criticavam.
Jair descrito acima. Governou durante vinte e dois 2. Vinho novo. Jesus trouxera o Vinho Novo que
anos, com grande conforto e riquezas materiais. não podia ser contido em «odres velhos». Jairo estava
Tinha trinta filhos que montavam em trinta jumentos, pronto a tomar-se um odre novo, a fim de conter o
e também tinha trinta cidades, a Havote-Jair, vinho novo. Jairo nos anuncia esta mensagem:
mencionada no parágrafo acima. Essas circunstâncias «Conserva aberta a tua mente», para que teu
têm levado alguns estudiosos a confundi-lo com o Jair crescimento espiritual aumente. E isso porque a
mencionado no primeiro ponto, acima. Ver Juí. mente fechada pelos dogmas e pelas restrições
10:3,5. Alguns eruditos defendem a identidade, mas denominacionais somente dificultam o avanço espiri
parecem ter vivido em tempos distintos. Viveu em tual. Jairo também representa a «necessidade
cerca de 1180 A.C. humana». Ele tinha uma «filha» em necessidade, que
3. Um benjamita, pai de Mordecai, tio de Ester precisava da atenção de Jesus, pois o caso dela era
(Est. 2:5). Viveu em cerca de 518 A.C., e extremamente grave. Todos nós temos, em nossas
desempenhava o papel de protetor de Ester. vidas, as nossas «filhas» que precisam da ajuda de
4. O pai de Elanã, um dos heróis do exército de Jesus.
Davi. Elanã matou Lami, irmão de Golias (I Crô. 3. A utoridade de Jairo: *um dos principais da
20:5). Seu nome aparece com a forma de Jaaré-Ore- sinagoga». O grego traz o plural, «sinagogas». Porém,
gim, em II Sam. 21:19, o que, segundo muitos o mais provável é que aquele homem era um dos
estudiosos, envolve um erro escribal. Aquele versículo principais líderes de uma única sinagoga, embora seu
também contém a falsa informação de que foi ele «ofício» fosse válido para todas as sinagogas. O grego,
quem matou o gigante Golias, o que tem dado muita «archon», significa «chefe-líder», alguém encarregado
dor de cabeça aos harmonistas, uma atividade dos negócios gerais daquela instituição. O «archisuna-
desnecessária, posto que a nossa fé não repousa sobre gogon» talvez fosse indivíduo que não conduzisse a
a letra, mas sobre o Espírito, que ensina à alma. Jair adoração pública, mas que arranjasse as coisas para
viveu em algum tempo antes de 1018 A.C. os outros fazerem, que cuidava das questões materiais
e financeiras da sinagoga. Mas deve-se notar que
Mateus chama Jairo de «archon»; e Lucas usa os dois
IAIRITA títulos intercambiavelmente; pelo que é difícil fazer
qualquer distinção válida entre eles, com base
No hebraico, «de Jair», ou seja, um de seus neotestamentárias.
descendentes. Esse adjetivo é aplicado a Ira, um 4. E m M ateus, o homem adora a Jesus. Em
sacerdote da época de Davi. O Jair em questão, mui Marcos, ele se lança a seus pés, detalhes com os quais
provavelmente, é o primeiro na lista dos quatro desse os autores sagrados queriam indicar a natureza
nome, mencionados no artigo intitulado Jair. Ver messiânica autêntica de Jesus, pois, de outro modo,
Núm. 32:41 e Deu. 3:14. tais atos estariam fora de Lucas.
Mat. 9:18: E nquanto ainda lhes dizia essas coisas,
JAIRO eis que chegou um chefe da sinagoga e o adorou,
No grego, Iáeiro«, provavelmente uma translitera- dizendo: M inha filh a acaba de falecer; m as vem,
ção do termo hebraico correspondente, que foi nome im põe-lhe a tua mão, e ela viverá.
de várias personagens do Antigo Testamento. Ele foi (Mar. 5:21-24; Luc. 8:42-48). «Chegou». Aparece
chefe de uma sinagoga, cuja filha foi ressuscitada pelo nas traduções AC e IB, baseadas nos mss SV Gamma
Senhor Jesus. O relato da ocorrência foi registrado em Delta Fam Pi; «entrou», aparece nos mss Aleph(4)
Mar. 5:22-43; Luc. 8:41-56 e Mat. 9:19-26. O nome CDE MX; «aproximando-se», aparece na tradução
do homem é dado somente por Marcos. No hebraico, AA, baseada nos mss Aleph(l) BC(3) FGLU, e sem
esse nome significa Yahweh ilum ina. Cada sinagoga dúvida é a palavra original do evangelho.
usualmente contava somente com um «chefe» (no
grego, archisunágogos), cujos deveres consistiam em 5. Cham ado em M ateus, »chefe». Oficial da
dirigir a adoração que ali se efetuava, selecionando sinagoga. (Marcos diz: «um dos principais da
aqueles que haveriam de iniciar as orações e as sinagoga, chamado Jairo»—Mar. 5:22). Provavelmen
leituras das Escrituras. Contrariamente ao que te foi um dos homens que solicitaram a ajuda de Jesus
geralmente ocorre, o relato de Marcos é o mais para que este curasse o criado do centurião (ver Mat.
detalhado, enquanto que os outros dois evangelistas 8:5-13). Sem dúvida Jairo ficou bem impressionado
sinópticos condensaram a sua narrativa. com o milagre que vira naquele caso. Agora, estando
421
JAIRO - JAMES
em situação desesperadora (a filha já morrera ou JAMES, WILLIAM
estava moribunda; segundo Marcos, «está à morte»;
segundo Lucas «estava à morte»). Provavelmente o Suas datas foram 1842-1910. Ele foi um médico
autor assim escreveu por conhecer bem o caso, e norte-americano, além de psicólogo e filósofo. Nasceu
soubesse que quando Jesus chegou à casa de Jairo, a em Nova Iorque. Educou-se na Universidade de
filha deste já tinha falecido. Por isso escreveu: Harvard, onde, mais tarde, tornou-se professor.
«faleceu agora mesmo». Descendia de uma família ilustre. Tinha um irmão
novelista, Henry James. Seu pai, Henry James Sr. foi
«Viverá ». Não pode significar «continuará viva», e, um bem conhecido teólogo swedenborgiano. William
sim, que o chefe antecipava a ressurreição de sua James, por sua vez, ensinou medicina, e, posterior
filha, a volta de sua vida perdida. mente, psicologia, em Harvard. Na verdade, não
«Impõe a tua mão*. Ver nota sobre o toque que tinha credenciais acadêmicas no campo da filosofia,
cura, em Mat. 8:3 no NTI. mas era homem que muito lia e era dotado de grande
Nota-se que o autor deste evangelho omite a experiência, e foi assim que também veio a tomar-se
mensagem enviada pelo chefe, de sua casa, anuncian professor de filosofia, em Harvard. Deixou marcas
do a morte da jovem (Mar. 5:35 e Luc. 9:49), e isso, permanentes nos campos da psicologia, da parapsi
naturalmente, porque já declarara a filha morta. cologia (antes mesmo dessa ciência ser assim
Parece que o autor apresenta um resumo do chamada), do misticismo e da filosofia. Embora não
incidente, omitindo alguns detalhes. tivesse cunhado a palavra pragm atism o (o que foi
6. E m Lucas. Lucas fornece detalhes como a idade feito por Peirce), foi ele quem popularizou o termo,
da jovem (doze anos), bem como o fato de ser filha tendo-se tomado um dos principais filósofos pragmá
única (Luc. 9:42). Sem dúvida ficou sabendo os ticos. Foi até mesmo capaz de injetar essa posição em
detalhes ao fazer investigações próprias sobre as sua visão religiosa da vida, com alguns resultados
ocorrências da vida de Jesus, a fim de escrever um interessantes e frutíferos. Para ele, a lógica era um
evangelho convincente. Ê possível que tenha recebido instrumento foijado pela vida e pela experiência
essa informação dos próprios pais da jovem (ver Luc. diária. E todas as operações intelectuais eram por ele
1:1-4). Ver o artigo sobre a H istoricidade Dos vistas como se derivassem sua importância do sucesso
Evangelhos. que as mesmas tivessem na concretização de
7. O term o grego «archon » aqui traduzido como propósitos práticos. Todavia, suas investigações
«chefe», podia ser aplicado a diversos tipos de oficiais. práticas acabaram convencendo-o sobre a realidade e
Provavelmente, neste caso, refere-se ao dirigente da sobrevivência da alma humana, diante da morte
sinagoga, o que explica a seleção da tradução «chefe». biológica. Seu empirismo radical começou como uma
Essa palavra podia indicar simplesmente o dirigente teoria psicológica, e terminou como uma metafísica
de uma comunidade local, que também podia ser um um tanto incompleta. Mas, embora essa sua
dos anciãos, se essa comunidade fosse judaica. metafísica tivesse ficado incompleta, quando morreu,
8. A sinagoga de Cafarnaum foi recentemente deixou sugestões frutíferas quanto a modos de
descoberta. E a única sinagoga do I o século que a investigação, nesse campo, que até hoje continuam
arqueologia tem conseguido desenterrar. Ver sobre sendo utilizados.
Sinagoga, seção V, onde esta descoberta está descrita. Em certo sentido, a filosofia de William James
emergiu das tensões entre a sua dedicação às ciências
e o poder de atração que ele sentia pela fé religiosa.
JALÃO Ele procurava um modo de pensamento filosófico que
No hebraico, «aquele a quem Deus oculta». Era pudesse unificar esses dois pólos.
filho de Esaú e Aolibama, e veio a tornar-se um dos Idéias:
chefes dos idumeus. Gên. 36:5,14,18; I Crô. 1:35. I. No Tocante aos Princípios da Psicologia
Viveu por volta de 1740 A.C. 1. Ele combinava um completo empirismo com
uma abordagem funcional e biológica, juntamente
JALOM com uma intensa introspecção. As questões metafísi
cas só começaram a ser ventiladas por ele um tanto
No hebraico, «residente», «habitante». Ele era filho mais tarde.
de Esdras, mencionado na genealogia de Judá (I Crô. 2. A consciência era tida por ele como um fluxo de
4:17). Viveu em torno de 1618 A.C. idéias e impressões, em parceria com a memória. O
presente ilusório era uma expressão que ele costuma
JAMBRES va usar para referir-se à real duração da consciência,
que contém o passado e parte do futuro. Ele supunha
Ver sobre Jane* e Jambres. que deve haver no homem e em sua consciência uma
certa unidade orgânica, a fim de satisfazer aquilo que
JAMBRI sabemos a seu respeito.
Esse nome não figura nas páginas do Antigo 3. A teoria Jam es-Lange sobre as emoções. Ele
Testamento canônico, mas somente em I Macabeus ensinava que os sentimentos são uma condição do
9:36-41, onde figura como uma das cidades dos corpo, originando-se no mesmo. Segue-se daí, em vez
moabitas, embora, originalmente, fosse a designação de proceder dessas condições. A consciência seria
de uma tribo que proveio de Medeba. Nessa passagem uma função, e não uma entidade. Todavia, suas
de I Macabeus somos informados de que essa gente experiências místicas posteriores levaram-no a rever
tomou João, irmão de Jônatas, o líder macabeu dos ter esse ponto de vista.
judeus rebelados, e levou a ele e às suas possessões.
Jônatas e Simão vingaram-se desse ultraje emboscan K. No Tocante ao« Interesse« Religiosos
do um grupo dos filhos de Jambri que estavam 1. A vontade de crer. As grandes questões da vida
ocupados em uma festa de casamento, tendo morto a não nos podem permitir assumir posições de
muitos e tendo levado todas as suas possessões. neutralidade. Para evitar essa insensatez, somos
inspirados a crer para além das evidências, embora de
uma maneira sugerida por essas evidências. A nossa
422
JA M E S , W IL L IA M
preferência em crer faz parte dessas evidências. Em é boa quando obtém conseqüências práticas. E mister
um sentido universal, essa vontade de crer tem feito que uma boa idéia tenha algum valor comercial, algo
parte da história humana e explica muitas das crenças com que contribua para o bem da humanidade.
que os homens aceitam como se fossem a própria 3. A verdade em graus variados. William James
verdade. Os céticos, naturalmente, exercem a atitude reconhecia graus na verdade. A verdade modifica-se e
contrária: a vontade de não-crer, o que é o mesmo desenvolve-se com a passagem do tempo. Se existem
que decidir negativamente. Portanto, com freqüência, verdades fixas, essas são as verdades de Deus. Para o
os céticos não permitem que as evidências falem por si homem, a verdade está em um estado de fluxo
mesmas, rejeitando as idéias que lhes são sugeridas, constante; e os valores de qualquer verdade, em
decepando assim possíveis ganhos de conhecimento, qualquer momento, dependem de suas conseqüências
meramente porque a certeza absoluta não está ao práticas. Apesar disso, Tiago não se reduziu à aposta
alcance deles. Encontramos um bom exemplo dessa de Pascal, de acordo com a qual apostamos que Deus
atitude no tocante às pesquisas no campo da e a alma existem, porquanto, se assim fizermos,
parapsicologia. Embora grande acúmulo de evidên teremos ganho algo; e, se não existirem, não teremos
cias já se tenha conseguido, mostrando o lado perdido coisa alguma. E então passaríamos a viver de
espiritual do homem, através de capacidades psíqui acordo com a opinião vencedora. Bem pelo contrário,
cas e espirituais de que o homem é dotado, e, por James parecia perfeitamente seguro de que viver em
intermédio disso, a realidade da existência e da consonância com as crenças teístas, e confiar na
sobrevivência da alma diante da morte biológica, os existência da alma, tem grandes taxas de probabili
céticos requerem condições de teste cada vez mais dade de estarem perfeitamente apoiadas sobre a
exigentes, negando sempre a validade das descobertas verdade, de modo a formar isso uma certeza, e não
que, como é óbvio, falam em favor da natureza meramente uma chance.
espiritual do homem. Os céticos, pois, sentem a 4. James tinha fé no conceito que diz que não pode
necessidade de subestimar as evidências colhidas e ser verdade que o homem está vivendo em um mundo
suas implicações, ao mesmo tempo em que os crentes, caótico, e que este mundo não seria um lugar razoável
dando um salto em sua fé, mostram a tendência de para o homem aqui viver. Ele fazia seu caso depender
superestimar as evidências. Isso posto, confiando no da crença teísta, porquanto essa fé lhe parecia mais
homem como um poder criativo, William James razoável, dando ao homem uma atitude prática e
supunha que a sua crença era capaz de produzir a produtiva para inspirá-lo na vida, dotado de um
realidade, e não meramente de refletir a realidade código moral que possa seguir. Logo, ele rejeitava o
como uma entidade estagnada. ateísmo como uma idéia improdutiva e antiprática.
2. Seu livro, intitulado «Variedades de Experiências 5. Testes da Verdade, a. Uma idéia deve ter
Religiosas», aborda as experiências místicas e suas coerência teórica em seu favor; b. deve contar com
reivindicações. James chegou à conclusão de que há algum apoio nos fatos; quanto à fé religiosa ele
um aspecto nas experiências humanas que merece ser satisfazia-se, no tocante a essa exigência, com as
investigado, embora ultrapasse à razão, conferindo- experiências místicas e ordinárias dos crentes, boas
nos uma base para crer na existência da alma e em para suas vidas e dotadas de conseqüências benéficas;
sua sobrevivência diante da morte física, além de nos c. uma idéia também deve contar com poderes
dar um ângulo diferente de considerarmos a atual psicológicos práticos, ou seja, com «algo em que se
natureza humana e suas potencialidades. A unidade possa apoiar», que nos ajude a viver a vida diária.
das experiências religiosas (sem importar as culturas e 6. O Pluralismo. O mundo constituir-se-ia de
as denominações porventura envolvidas) justifica a muitas entidades e realidades. Não é algo absoluta
crença de que várias declarações importantes da fé mente unificado, embora mantendo uma espécie de
religiosa são, realmente, verazes. associação de realidades. Isso deixa espaço para a
m . A Basca P d a Unidade de Conceitos liberdade humana. Ver sobre o Livre-A rbítrio. Ver
1. Os interesses de William James eram muito também a doutrina contrária, o D eterm inism o.
amplos, e até mesmo potencialmente contraditórios. 7. E star com a razão não é um absoluto para os
Contudo, ele buscava um modo de unificar seus homens, o que também sucede no caso da verdade. A
interesses científicos com seus instintos religiosos. Ele ética consistiria em descobrir, mediante a experiên
encontrava valor nas experiências místicas e mesmo cia, o que é melhor, em termos de conseqüências.
extraordinárias das pessoas religiosas. Sua busca pela 8. William James parecia acreditar em uma espécie
unidade era uma das forças por detrás de sua escolha de teoria de duplo aspecto que envolvia as relações
do pragm atism o (vide) como uma maneira de entre a mente e o corpo. Ver sobre o Problema
pensamento que expressasse as suas idéias. As Corpo-M ente. A realidade que é uma unidade,
experiências religiosas, longe de contradizerem a organiza-se em matéria e espírito (mente). Nessa
verdade (conforme alguns cientistas têm pensado), na manifestação encontramos um dualism o (vide); mas,
realidade são uma questão vital e prática para muitas por detrás dessa dualidade haveria uma unidade. Sua
pessoas. Todavia, a leitura dos escritos de William obra convencera-o psicologicamente da realidade da
James certamente revelam que ele percebia maior alma humana e de sua sobrevivência diante da morte
realidade nas experiências religiosas do que se fossem biológica. Ele acreditava na comunhão das mentes em
meras ajudas que levam as pessoas a viver melhor, de um mundo em que todas as coisas são compartilhadas
maneiras eminentemente práticas e frutíferas. A sua em comum.
doutrina do salto de fé, ou seja, da vontade de crer, 9. A realidade m aior. As mentes (ou almas)
acerca do que já falamos, indicava que temos razão humanas podem compartilhar entre si de um mundo
em ir além das evidências, porquanto as evidências mental ou espiritual, com objetos em comum. Porém,
subentendem, e não meramente provam. Algumas acima da nossa consciência pode haver uma
vezes, segundo ele, é sábio e prático confiarmos em consciência ainda maior, da qual fazemos parte, uma
implicações, e não meramente em provas. consciência cósmica, da qual a consciência humana
2. Não obstante, William James era um verdadeiro faz parte. James sentia a força do pam psiquism o
pragmático, embora estranho, com sua esquisita (vide), e suas elucubrações conduziam-no nessa
mescla de psicologia, ciências biológicas e fé religiosa. direção. Deus é o mais profu n d o p o der do universo,
Juntamente com Peirce, ele concordava que uma idéia um poder «fora de nós», mas que nos reconhece e que,
JA M IM - JA N E L A
de alguma maneira, nos inclui, embora o faça de 2. Challon, «perfuração», «abertura». Esse termo
maneira tal que não nos furta da nossa liberdade. hebraico ocorre por trinta e uma vezes: Gên. 8:6;
Deus deve ser menos do que todo inclusivo, pois, do 26:8; Jos. 2:15,18,21; Juí. 5:28; I Sam. 19:12; II Sam.
contrário, ele seria a causa do mal. Ver sobre o 6:16; I Reis 6:4; II Reis 9:30,32; 13:17; I Crô. 15:29;
Problema do M al. Todos devemos participar da Pro. 7:6; Can. 2:9; Jer. 9:21; 22:14; Eze. 40:16,22,25,
história humana, pois, de outra sorte, nossa 29,33,36, 41:16,26; Joel 2:9; Sof. 2:14.
experiência ficaria destituída de sua significação. Ver Além disso, em Dan. 6:10, temos a única utilização
sobre o Teísm o. (AM E EP MM) da palavra aramaica kavvin, «janelas», onde se lê:
«Daniel, pois, quando soube que a escritura estava
assinada, entrou em sua casa, e, em cima, no seu
JAMIM quarto, onde havia janelas abertas da banda de
No hebraico, «lado direito» ou «mão direita». Esse Jerusalém, três vezes no dia se punha de joelhos, e
foi o nome de várias personagens mencionadas no orava...»
Antigo Testamento: 3. Thuris, «janelas». Vocábulo grego empregado
1. Um dos filhos de Simeão, filho de Jacó (Gên. por apenas duas vezes em todo o Novo Testamento:
46:10; Êxo. 6:15). O trecho de Núm. 26:12 alude a Atos 20:9 e II Cor. 11:33. A primeira dessas
seus descendentes como ja m in ita s. Viveu em cerca de passagens faz parte de um texto famoso, a
1856 A.C. ressurreição de Eutico, pelo apóstolo Paulo: «Um
2. Um filho de Rão, que foi um homem importante jovem, chamado Êutico, que estava sentado numa
da casa de Hezrom (I Crô. 2:27). Ele viveu em cerca janela, adormecendo profundamente durante o
de 1650 A.C. prolongado discurso de Paulo, vencido pelo sono, caiu
3. Um sacerdote (ou levita) que ajudou Esdras em do terceiro andar abaixo, e foi levantado morto».
suas instruções ao povo de Israel, quanto à lei As descobertas arqueológicas apontam para uma
mosaica, terminado o cativeiro babilónico (Nee. 8:7; I grande variação nas janelas da antiguidade, quanto a
Esdras 9:48). Viveu por volta de 410 A.C. detalhes como dimensões, freqüência, ornamentação,
formato e maneiras de fechar a abertura na parede.
Assim, nos dias de Jeremias, as mansões dos ricos
JAMNIA, JAMINITAS contavam com inúmeras janelas, para mero efeito de
Ver sobre Jabned. ornamentação, o que mereceu a zombaria do profeta:
«Ai daquele que edifica a sua casa com injustiça, e os
seus aposentos sem direito; que se vale do serviço do
JANAI seu próximo sem paga, e não lhe dá o salário; que diz:
No hebraico, «responsivo». Esse era o nome de um Edificarei para mim casa espaçosa, e largos
chefe gadita (I Crô. 5:12). Um dos antepassados de aposentos, e lhe abre janelas...» (Jer. 22:13,14).
Jesus também teve esse nome, segundo se lê em Luc. Os baixos relevos que chegaram até nós dos tempos
3:24. antigos, com freqüência, apresentam as janelas
fechadas com grelhas de pedra ou com treliça de
madeira; e também ornamentadas com projeções ou
JANE FRANCÊS DE CHANTAL reentrâncias. E algumas janelas abriam para sacadas.
A Igreja Católica Romana considera-a uma de suas A mãe de Sísera, de acordo com o cântico de Débora,
santas. Seu nome, em francês, era Jeanne Françoise esperava por ele, olhando por uma janela, protegida
Fremyot de Chantal. Depois que ela enviuvou e que os por uma grade (ver Juí 5:28). A Casa do Bosque do
seus filhos já eram crescidos, ela começou a dedicar-se Líbano, que fez parte dos grandiosos projetos de
a obras de caridade e à oração, tendo-se tornado a construção de Salomão, contava com três fileiras de
fundadora de uma ordem religiosa feminina. Ver janelas, umas defronte das outras, provavelmente ao
sobre Visitação, O rdem da. Seu diretor espiritual e estilo sírio (ver I Reis 7:4).
ajudante foi Francisco de Sales (vide). Ela tornou-se No templo de Jerusalém também havia janelas,
conhecida como uma mulher dotada de raras provavelmente localizadas no Lugar Santo, bem no
qualidades e poderes. Suas datas foram 1572—1641.
alto da parede, para efeito de iluminação, e não para
que as pessoas, do seu interior, olhassem para fora,
ou para que, de fora, se pudesse ver o que ocorria ali
JANELA dentro. Nos dias do império romano já encontramos
Nada menos de sete palavras hebraicas têm sido vidraças, colocadas às janelas de muitas casas; mas,
traduzidas, nas diversas versões, por «janela», embora como esse uso só apareceu bem mais tarde, não
nem sempre isso corresponda à realidade dos fatos, parece que na Palestina houvesse vidraças nas janelas.
porquanto algumas poderiam ser melhor traduzidas Antes, as janelas eram protegidas por cortinas
por outros termos em português, como «vista», interiores, por painéis de madeira, etc., quando o frio
«respiradouro», «objeto luminoso». Destacamos a aumentava ou quando fazia muito vento. As treliças
palavra tsohar, que ocorre em Gên. 6:16, que nossa ou grades, mais ou menos com a mesma função das
versão portuguesa traduz por «Farás ao seu redor uma modernas venezianas, serviam para evitar que os
abertura de um côvado de alto...», o que mostra que observadores externos vissem as pessoas que estavam
não se tratava, realmente, de uma janela na arca de pelo lado de dentro das janelas.
Noé. Todavia, se essa palavra significava «objeto Não há palavra, no Antigo Testamento, para
luminoso», então, abertura também nos dá apenas «chaminé». Na verdade, há uma antiga tradução
uma pálida idéia do que seria o tsohar. Feitos esses inglesa que usa a palavra «chaminé» em Osé. 13:3.
reparos necessários, diremos que há duas palavras Porém, no hebraico encontramos apenas arubba (vide
hebraicas e uma palavra grega, realmente envolvidas acima). Nossa versão portuguesa corrige esse erro de
neste verbete, a saber: interpretação, dizendo: «Por isso serão como... fumo
1. A ru b b a h , «janela», «treliça». Essa palavra que sai por uma janela». Ê que as janelas, na
hebraica foi utilizada por nove vezes: Gên. 7:11; 8:2; antiguidade, também eram aberturas por onde saía a
II Reis 7:2,19; Ecl. 12:3; Isa. 24:18; 60:8; Osé. 13:3 e fumaça que se fazia no interior das edificações, no ato
Mal. 3:10. de cozinhar ou de acender uma fogueira para aquecer
424
JA N E L A - JA N E S E J AM BRES
o ambiente. 78,3 e o Chronicon Josis. foi. 6:2, fazem de Janes e
Simbolismo da la n d a . Logo na primeira menção à Jambres filhos de Balaão, principais entre os mágicos
«janela», na Palavra do Senhor, encontramos esse egípcios. Porém, o Targum de Jônatas, sobre Exo.
termo usado metaforicamente: «...romperam-se todas 1:15, acrescenta a informação bastante dúbia de que
as fontes do grande abismo, e as comportas (no eles se tinham convertido ao judaísmo, tendo sido çs
hebraico, arubbah) dos céus se abriram...» Nossa inspiradores da feitura do bezerro de ouro. (Assim
versão portuguesa prefere dizer aí «comportas», também diz Zohar sobre o Êxodo, foi. 1.75, e sobre
embora a palavra hebraica, na realidade, signifique Números, foi. 78:3). Tal como no caso de todas as
«janelas». Uma outra passagem que nos chama a tradições, muitos adornos têm sido adicionados
atenção é a de Isa. 24:18, que diz: «E será que aquele através dos séculos, à história desses personagens.
que fugir da voz do terror cairá na cova, e se sair da (Ver a simples narrativa bíblica sobre a questão, no
cova, o laço o prenderá; porque as represas (no sétimo capítulo do livro de Êxodo). E nos escritos
hebraico, arubbah) do alto se abrem, e tremem os cristãos primitivos também aparecem esses nomes.
fundamentos da terra». O contexto mostra que o (Ver Orígenes, ad M atth. 27:9 e 23:37, onde Orígenes
profeta falava do tempo do fim, quando haverá se refere a um livro que tinha por título os nomes
tremendos cataclismos por todo o Universo. deles). Plínio também fez alusão a eles. (Ver História
Em um belo sentido positivo, prometendo bênçãos, N atural xxx.1,11; A pul. A p o l., cap. xc). Outro tanto
há uma outra menção simbólica à janela, no trecho de se dá no caso do evangelho apócrifo de Nicodemos,
Malaquias 3:10: «Trazei todos os dízimos à casa do em seu quinto capítulo.
tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e 2. Variantes Textuais. Em vez do nome grego
provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não Jannes, conforme se vê em C( 1), — Euthalius
vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós (manuscritos conhecidos por ele), temos a forma
bênção sem medida»! Linda promessa de progresso Ioannes, (João). E em vez da forma normal
material, aos dizimistas! «Iambres», vários manuscritos ocidentais como FG
It(dg), a Vulgata, o gótico e os escritos de alguns dos
pais da igreja, como Cipriano, Hipólito, Lúcifer,
JANES E JAMBRES Ambrosiastro e Agostinho, dizem «Membres», o que,
Esses nomes, mui provavelmente, eram de origem segundo as tradições judaicas, é forma paralela do
egípcia, e talvez estivessem relacionados a nomes mesmo nome. Essas formas, entretanto, são secun
aramaicos que significam, respectivamente, «aquele dárias.
que seduz» e «aquele que se rebela». O trecho de II 3. Resistiram a M oisés. De que maneira?
Tim. 3:8 chama assim aos mágicos egípcios que se Procurando duplicar os seus prodígios, o que fizeram
opuseram a Moisés diante do Faraó. O próprio Antigo com êxito parcial, embora lhes faltasse real poder.
Testamento, entretanto, não dá seus nomes (ver Êxo. Imitavam o poder de Deus através das artes mágicas,
7:11,12,22). A história é contada em Êxodo 7 e 8, no nas quais reside um grande poder, conforme estudos
Antigo Testamento. sérios o demonstram. Tal poder pode ser puramente
II Tim. 3:18: E assim com o Janes e Jam bres humano, manipulado pela força da alma humana,
resistiram a Moisés, assim ta m bém estes resistem à pois o homem também tem espírito.
verdade, sendo hom ens corruptos de entendim ento e Multo« creem que o paralelo entre aqueles homens
réprobos quanto à fé . que se opuseram a Moisés e os «hereges gnósticos»,
1. Os N om es: Janes e Jam bres. Esses nomes não indica que parte da atração deles residia em seu
figuram nas páginas do A.T., e nem mesmo nos ocultismo, devido às suas artes mágicas. Sabemos,
escritos de Filo ou de Josefo, no tocante ao conflito de efetivamente, que muitos gnósticos eram praticantes
Moisés com os mágicos do Egito. No entanto, são das artes mágicas, pelo que este paralelo mui
freqüentemente citados nessa conexão, no Talmude, provavelmente é legítimo. As mulheres sempre
de onde passaram para a literatura cristã primitiva, demonstraram ter uma tendência natural por se
conforme se vê neste ponto. Supostamente, esses dois deixarem atrair pelo ocultismo, pelo que também a
homens se encontravam entre os mágicos egípcios, na maioria dos «médiuns» espíritos são mulheres. E esse
corte do Faraó, que tentaram impedir a falso poder dos mestres hereges, que imitava os dons
libertação dos israelitas, ao repetirem vários dos autênticos do Espírito Santo, agia como poder de
milagres realizados por Moisés. atração sobre muitos novos convertidos. Parece-nos
«Pelo menos, desde o primeiro século de nossa era, que eles curavam, falavam em línguas, profetizavam,
havia em circulação uma espécie de livro judaico que faziam declarações inspiradas, etc., fazendo tudo
provavelmente ridicularizava e os desmascarava quanto se pode fazer mediante o uso legítimo dos dons
(Janes e Jambres), transformando-os em um típico espirituais, tal como os mágicos egípcios duplicavam
exemplo do mundo como a sabedoria dos ‘sábios’ que tudo quanto Moisés ia fazendo.
se opõem à verdade é desmascarada naquilo que 4. Resistiram a verdade, isto é, a verdade que há na
realmente é, ‘insensatez’. A sorte dos oponentes de pessoa de Jesus, conforme interpretada e mediada por
Paulo teria exatamente o mesmo fim dos opositores de Paulo, a «doutrina paulina ortodoxa», tal como no
Moisés. A despeito de alguns sucessos da parte deles sétimo versículo deste capítulo.
(ver o sexto versículo deste capítulo e também II Tim. 5. Corrompidos na m ente. No grego é kataphthei-
2:16,18), ‘não iriam muito longe’. A loucura deles ro», que significa «destruir», «arruinar», e, portanto,
seria amplamente desvendada, tal como sucedeu no no passivo, «arruinado na mente», «depravado nos
caso de Janes e Jambres». (Gealy, in loc.). processos intelectuais»; e isso porque a alma
Os nomes de Janes e Jambres figuram em um entenebrecida não pode raciocinar corretamente. A
Targum de Jônatas, em mais de um lugar, em um dos maldade embota as faculdades intelectuais, de tal
quais temos o seu comentário sobre a passagem de modo que apesar de toda a erudição e de todas as
Êxo. 1:15. Numênio, o filósofo, refere-se a Janes e habilidades adquiridas, a verdade permanece oculta.
Jambres como escribas egípcios, famosos por seus Dentro dessa categoria precisam ser situados muitos
escritos acerca das artes do ocqltismo. (Apud Euseb. intelectuais, cujo conhecimento mais serve para afastá-
Praeparat. Evangel. 1.9, pág. 411). Targum de los do que para aproximá-los da verdade. Agostinho
Jônatas sobre Núm. 22:22; Zohar sobre Números, foi. declarou: «Creio para que possa compreender». Sim,
425
JA N E S E JA M B R E S - JA N SE N ISM O
porque a «esfera da verdadeira fé» é acompanhada de cidades que figuram nas páginas do Antigo Testa
«luz», pelo que também a verdade pode ser assim mento, a saber:
encontrada. Já a esfera do ceticismo é circundada de 1. Uma cidade existente nas fronteiras de Efraim
trevas, sendo impossível a verdade divina ser (Jos. 16:6,7). Tem sido identificada com a moderna
descoberta em tal meio ambiente. Khirbet Hanum, cerca de onze quilômetros a suleste
6. Réprobos. No grego é adokim os, isto é, de Siquém.
«desaprovado», palavra usada para indicar o teste dos 2. Uma cidade no norte da Galiléia, no território de
metais das moedas, quando o teste é negativo. Por Naftali, que foi capturada por ocasião da primeira
essa razào é que a tradução inglesa de Williams, aqui invasão das tropas de Tiglate-Pileser rei da Assíria,
vertida para o português, diz «...simuladores na fé...» nos preliminares do cativeiro assírio (ver II Reis
Ver I Cor. 9:27, onde se vê Paulo preocupado em 15:29). Parece que ficava localizada entre Abel-Bete-
não ser achado desaprovado enquanto pregava para Maaca e Cades e tem sido tentativamente identificada
outros. A mesma palavra grega é aqui empregada. com a moderna aldeia de Yanuh.
«São eles como metal vil, não cunhado; e não
deveriam passar como dinheiro legítimo, porquanto
não alcançam o padrão certo». (Adam Clarke, in IANSEN, CORNELIUS
h c .) . «São rejeitados ao serem testados». (Faucett, in Suas datas foram 1585-1638. Nasceu em Acquoi,
loc.). perto de Leerdam, na Holanda. Estudou na Bélgica,
«Q uanto à fé». A tradução inglesa RSV diz na Universidade de Louvain, e então no departamento
«...sim ulam a fé ...» , combinando a idéia que aparece teológico daquela mesma instituição. Juntamente com
no fim do parágrafo anterior, com a fé, como Jean Duvergier de Hauranne, abade de São Cirano,
modificadora. Mas, quanto ao próprio texto sagrado, ele buscava respostas para certas questões doutriná
a fé deve ser aqui entendida como «objetiva», isto é, rias levantadas pelo luteranismo e pelo calvinismo.
«aquilo em que se crê», o «credo», e que nestas Começou a estudar história eclesiástica e história dos
«epístolas pastorais», com freqüência, indica a «fé pais da Igreja, a fim de obter uma compreensão
cristã», o «cristianismo ortodoxo». No tocante a isso, melhor sobre questões doutrinárias e as interpretações
tais indivíduos são simuladores, embora se professem históricas das mesmas. Assim, ele chegou à conclusão
mestres dá fé—substituíram-na por uma fé fingida. geral de que qualquer reforma dos dogmas católicos
São «simuladores» no meio da verdade. Foram romanos e da ética católica deveria usar moldes
testados pelo Senhor e foram declarados falsos. Eram agostinianos como guia, sobretudo no tocante às
mestres de novidades e doutrinas prejudiciais e não da doutrinas da graça e da salvação.
«verdadeira doutrina cristã». Obteve seu doutorado em teologia e se tornou o
chefe de uma nova faculdade em Louvain. Escreveu
Uma obra sadoquita da literatura de Qumran comentários sobre as Escrituras, além de várias obras
refere-se a Belial, que teria criado a Yohaneh e seu de natureza doutrinária e especulativa. Os jesuítas
irmão, a fim de fazerem oposição a Moisés e a Aarão tornaram-se seus competidores e opositores. Os
(ver 7:19 das pseudepígrafas). O Talmude Babilónico jesuítas tinham uma escola toda sua, produzindo uma
traz os nomes Yohane e M a m re (Menahoth 85a). As confrontação direta com as opiniões de Jansen.
lendas judaicas associam-nos a Balaão, como se Assim, Jansen fez duas viagens à Espanha, relaciona
fossem de uma mesma família; mas há bem pouco das a essa controvérsia. Nesse tempo, a Espanha
valor nas tradições que têm surgido em torno desses estava sob o domínio belga. Por causa de sua
nomes. As tradições não gostam de deixar hiatos em influência, o governo removeu da escola jesuíta os
nosso conhecimento, sendo provável que tudo quanto cursos de humanidades e de filosofia, em Louvain.
seja dito sobre essas duas personagens, talvez Jansen permaneceu na Igreja Católica Romana,
incluindo até mesmos os seus nomes, sejam puras embora desejando que fossem feitas certas reformas
invenções, ou quase. internas. Foi assim que, apesar disso, foi obtendo
autoridade cada vez maior no catolicismo romano, até
JANEU, ALEXANDRE tornar-se bispo de Ipres, na França, em 1636. Foi
nessa época que ele escreveu um tratado, chamado
Ver o artigo geral sobre os Hasmoneanos. A u gustinus, que veio a ser o alicerce daquele
movimento que se chamou jansenism o (vide), sobre p
JANGADA qual oferecemos um artigo separado.
Ver Navios e Embarcações Jansen faleceu a 6 de maio de 1638, de uma praga.
Por ocasião de sua morte, continuava em boas
relações com a Igreja Católica Romana. Porém, seu
JANIM tratado, A ugustinus, publicado dois anos após o seu
falecimento, provocou grande comoção, principal
No hebraico, «sono». Nome de uma cidade do mente em face de sua forte ênfase sobre a doutrina da
território de Judá, no distrito montanhoso perto de predestinação e sobre o ensino que a graça divina se
Hebrom. Ficava perto de Bete-Tapua (Jos. 15:53). limita aos eleitos.
Alguns arqueólogos identificam o local com a
moderna B eni N a ’im , a leste de Hebrom.
JANSENISMO
Ver o artigo sobre Jansen, CorneUo».
JANLEQUE O jansenism o foi um movimento de tentativa de
No hebraico, «que Deus dê domínio». Esse era o reforma, dentro da Igreja Católica Romana, seguindo
nome de um chefe da tribo de Simeão (I Crô. 4:34). idéias de Cornelius Jaríten, bispo de Ipres (1585—
Ele parece ter vivido na época do rei Ezequias (ver o 1638), depois da morte dele. O seu tratado teológico,
vs. 41). Sua família invadiu o vale do Gedor, em cerca publicado dois anos após a sua morte, chamado
de 711 A.C. A u g u stin u s, revivia uma forma extrema e radical das
idéias de Agostinho. Jansen chegou a essa posição em
JANOA face de seu desejo de reformar certos aspectos da
No hebraico, «tranqüila». Esse é o nome de duas doutrina católica romana, que lhe pareciam necessá-
426
JA N S E N IS M O - JA P Ã O
rios, visto que os ensinos do luteranismo e do Romana da França. Todavia, quando o arcebispo
calvinismo haviam «restaurado» a Igreja. Um outro Noailles submeteu-se à autoridade papal, em 1728, o
fator histórico foi a oposição de Jansen a alegadas jansenismo começou a abrandar-se na França e
idéias lassas dos jesuítas, sobre questões morais e acabou se identificando com o galicanismo (vide), um
éticas. Os jesuítas ensinavam que em questões onde movimento antijesuíta.
haja dúvidas éticas, quando o curso de ação não pode O movimento prosseguiu na Holanda, resultando
ser claramente determinado, o indivíduo tem a na organização dos Católicos A ntigos (vide), que
liberdade de agir de acordo com taxas de probabili acabou se separando de Roma. A Igreja Jansenista
dade de que seus atos estejam corretos. Jansen continua existindo, mas apenas com alguns poiicos
opunha-se peremptoriamente ao probabilism o, por milhares de membros, localizados na França e na
que era muito rigoroso quanto às questões éticas. Os Holanda. O termo «jansenista» adquiriu significados'
jesuítas, por outro lado, asseveravam que uma lei secundários, como de escrúpulos éticos extremos e
dúbia, ou uma lei de aplicação duvidosa, nem pode grande rigidez quanto a questões dogmáticas,
requerer e nem pode anular um ato. Em tais casos, a disciplinares e de costumes. Como estamos vendo, o
liberdade deve prevalecer. jansenismo contribuiu tão-somente para que a Igreja
Condenação papal. O papa Inocente X, em 1653, Católica Romana acabasse reafirmando as doutrinas
declarou hereges cinco das proposições do A ugiutim u firmadas por ocasião do concílio de Trento, como
de Jansen. As idéias condenadas eram as seguintes: representantes da abordagem católica romana padrão
1. Certos mandamentos de Deus não podem ser às questões em debate. Todavia, um resultado
observados por homens justos, a despeito de seus positivo do movimento foi que o mesmo inspirou um
esforços, se lhes faltar a graça divina. maior desenvolvimento da filosofia e da teologia
2. Um pecador não pode resistir à graça divina, morais.
quando Deus lha confere.
3. Um homem só é livre se não for constrangido a JANUS
cometer algum pecado. Essa palavra é latina, ianna, «pórtico». Janus era o
4. A vontade humana, por si mesma, não pode nem deus do pórtico, uma divindade puramente romana,
obedecer e nem resistir à graça divina. derivada do animismo antigo. Ele tinha dois rostos,
5. Cristo morreu exclusivamente em favor dos como se fosse capaz de ver o começo e o fim de
eleitos. qualquer coisa, ao mesmo tempo. Daí é que nos vem o
Conforme podemos ver, excetuando a oposição de nome do mês de janeiro, porquanto é então que o ano
Jansen às idéias éticas dos-jesuítas, a questão foi começa. Seu famoso templo de bronze, no Fórum
apenas outro daqueles conflitos calvinista-arminiano romano, tinha fachadas para o Oriente e para o
que invadem, qual praga, periodicamente, a cristan Ocidente, assim exemplificando a natureza da
dade. divindade que ali era honrada. Esse templo, fundado
O Jansenism o Prosseguiu. Port-Royal, um convento pelo antigo rei Numa Pompílio, ficava fechado em
discerciano próximo de Paris, tornou-se o centro do tempos de guerra e aberto em tempos de paz. De
movimento jansenista. Após a morte de Jansen, o acordo com uma lenda, essa divindade assentou-se
principal líder do movimento foi Antoin Arnauld. Ele sobre a colina do outro lado do rio Tibre, que, por
pôs em dúvida o direito de Roma decidir sobre causa disso, veio a ser chamada de Janiculum. Como é
questões como aquelas que tinham sido levantadas que o nome dessa divindade desenvolveu-se é algo
por Jansen. Arnauld tinha algumas poucas distinções obscuro. É possível que seu nome estivesse associado à
e reparos de sua própria lavra, além de negar que idéia de que ele era o deus que abria os portões do
Jansen havia ensinado certas coisas pelas quais suas céu, ao amanhecer, que fazia o dia raiar e que fechava
idéias haviam sido condenadas. Por isso, as idéias de os portões do céu ao cair da noite. Talvez ele fosse um
Arnauld também foram tidas como heréticas, e ele foi deus da luz. Seja como for, ele era adorado como uma
excluído da Sorbonne, onde até então estivera divindade associada aos começos, e que, supostamen
ensinando teologia. te, era o protetor dos portões e dos arcos
O papa Alexandre VII, em 1656, confirmou a arquitetônicos. O primeiro dia de cada mês era
condenação do jansenismo, imposta por seu anteces dedicado à sua adoração, e o primeiro mês do ano, em
sor. Naquele mesmo ano, as Cartas Provinciais, de latim, Ianuarius, recebeu o nome em honra a ele.
Blaise Pascal, lançaram no ridículo a ética jesuítica,
defendendo, de modo geral, os pontos distintivos do IAPÃO, RELIGIÕES DO
jansenismo. Por um breve período, isso ajudou o
movimento. Porém, o clero francês traçou um As principais religiões do Japão são: 1. o xintoísmo;
formulário contra essas cartas, requerendo que todos 2. o budismo; 3. o confucionismo; e 4. o cristianismo.
assinassem. Mas isso apenas provocou maiores Visto que todas essas religiões recebem um tratamen
controvérsias, e o movimento jansenista continuou to em separado, nesta enciclopédia, este artigo é
sendo promovido pelas freiras de Port-Royal e por apenas histórico e suplementar. A variedade de
quatro bispos franceses. Em 1664, o papa Alexandre expressões do cristianismo aparece em artigos
VII, com o apoio do rei Luís XIV, exigiu o repúdio, separados sobre as diversas denominações cristãs,
por escrito. das proposições de Jansen, por parte de bem como no artigo sobre o Novo Testam ento, que
todos os eclesiásticos, sob pena de julgamento apresenta sua forma original e básica.
canônico. 1. X into, o Cam inho dos Deuses. A palavra assim
traduzida («xinto») reflete dois ideogramas da escrita
Entre 1687 e 1694 foi gerada uma nova tempestade japonesa. Refere-se essa palavra aos conjuntos de
pelo livro de Pasquier Quesnel, Réflexions morales práticas e crenças religiosas que relacionam os
surleN ouveau T estam ent, que reiterava os ensinos do santuários japoneses locais e as divindades indígenas
jansenismo. Embora Louis de Noailles, arcebispo de do Japão que são honradas naqueles santuários. A
Paris, tivesse aprovado a obra, em 1713, o papa história do xintoísmo retrocede até o século VI D.C.,
Clemente XI condenou a mesma, em sua bula embora as suas raízes sejam muito mais antigas do
Unigenitus Dei Filius. O resultado disso foram que isso. O xintoísmo pode ser dividido na religião
dificuldades e um quase cisma na Igreja Católica oficial e na variedade sectarista que envolve milhares
427
JA PÃ O JA Q U E
de santuários onde uma grande maioria da população Educação, decretado em 1890, inspirou o nacionalis
japonesa adora. O xintoísmo é mais antigo que o mo e o patriotismo japoneses contra os avanços das
budismo, que foi introduzido no Japão no século VI instituições e costumes ocidentais, com base essencial
D.C. Incorpora certa variedade de elementos religio sobre a ética confuciana. Quanto às crenças dessa fé,
sos primitivos, como o anim ism o (vide). O principal ver o artigo separado intitulado Confúcio, C onfu
desses elementos, contudo, é o shamanismo mongol, cionism o.
que reflete uma antiga cosmogonia, típica do suleste 4. Cristianism o. Missões católicas romanas come
asiático e da Indonésia. çaram a atuar no Japão no século XVI, e as missões
Todos os ritos demonstram que há um panteão protestantes começaram ali em 1859. Essas duas
extremamente complicado, e que as divindades fontes da fé cristã desenvolveram variedades confli
envolvidas eram consideradas protetoras das famílias, tantes de cristianismo no Japão. Francisco Xavier
dos clãs e dos poderes dinásticos. A deusa do sol, começou seus trabalhos em Kagoshima, em 1549. A
Aegis, finalmente, proveu uma espécie de fé unificada princípio, ele e os seus seguidores sofreram
em torno da qual se centralizaram tanto os deuses repressão; mas, finalmente, começou um movimento
oficiais como as demais divindades. A deusa, que floresceu até bem dentro do século XVII. Por
A m aterasu-O m ikam i, deu margem à formação inicial volta de 1605, havia cerca de setecentos e cinqüenta
da religião oficial xintoísta. O panteão xintoísta é um mil japoneses católicos romanos, de acordo com
complexo sistema de divindades da natureza, com estimativas de historiadores católicos. Talvez isso seja
outras variedades de divindades e antepassados que um exagero, mas, seja como for, o movimento
se teriam guindado ao estado divino, juntamente romanista era poderoso. O bispo Cerqueira (1552—
com os espíritos de heróis e governantes que 1614), que estava à testa das missões jesuítas, afirmou
mereceriam ser venerados. O xintoísmo, religião que havia cerca de duzentos mil católicos romanos
oficial, funciona como um meio de aprofundamento e japoneses, e isso pode estar mais perto da verdade dos
de fator unificador de diversos sentimentos religiosos fatos. Foi então que sobrevieram dificuldades.
do povo japonês, institucionalizando seitas populares Temores nacionalistas e a ganância de senhores
em uma espécie de frouxa religião popular. Quanto a feudais quase puseram fim ao cristianismo católico
mais detalhes, ver o artigo sobre o X intoísm o. O romano no Japão, em cerca de 1638. O catolicismo só
xintoísmo secular compõe-se de um determinado conseguiu sobreviver ali como um movimento
número de seitas que não pertencem ao xintoísmo subterrâneo. Florescia em locais determinados, mas
oficial. não nacionalmente. O interdito legal só foi removido
2. B udism o. A data tradicional da introdução dessa em 1872.
fé tipicamente indiana no Japão, é 552 D.C. A escola No período mais moderno grupos católicos roma
M ahayana do budismo sempre exerceu um exclusivo nos, ortodoxos gregos e protestantes têm feito
controle prático sobre essa religião. A princípio, os incursões no Japão. As primeiras igrejas evangélicas
xintoístas opuseram-se à introdução do budismo no foram estabelecidas no Japão por volta de 1872.
Japão; mas não demorou muito para que o budismo Imediatamente antes da Segunda Guerra Mundial,
adquirisse ali um grande poder. O príncipe Shotoku segundo cálculos, havia cerca de duzentos e trinta e
Taishi (572-622 D.C.) tornou-se budista, e logo o três mil protestantes japoneses, cerca de cento e vinte
budismo tornou-se a mais influente religião do Japão. mil católicos romanos e cerca de quarenta e um mil
De 710 a 784 D.C., vieram à existência nada menos de ortodoxos gregos. O trabalho missionário, inter
seis distintas seitas budistas. Três dessas seitas, hosso, rompido pela guerra, floresceu novamente, terminada
kegon e ritsu continuam existindo no Japão; mas a conflagração.
várias outras seitas também se desenvolveram ali.
Assim, apareceram seitas posteriores como a tendai
(806 D.C.), a xingon (806 D.C.), a yuzu nembutsu IAQUE
(1123 D.C.), ojodo(1174 D.C.), a zen(1191 D.C.) e a No hebraico, obediente, piedoeo. Os eruditos
nichiren (1253 D.C.). O budismo conta com cerca de encontram dificuldades com esse nome, que parece
oito mil agremiações, setenta e dois mil templos, ter sido um homem de Massá (Pro. 30, no título; ver
duzentos mil sacerdotes e cerca de quarenta e cinco também Pro. 31). No título do trigésimo capitulo de
milhões de aderentes, só no Japão. No tocante às Provérbios, Jaque aparece como pai de Agur, que
crenças do budismo, ver o artigo separado sobre o teria sido o autor de apotegm as, isto é, os capítulos
B udism o. 3 trinta e trinta e um do livro de Provérbios.
3. Confucionism o. Essa fé religiosa chegou ao Um apotegma é uma máxima instrutiva e sucinta.
Japão antes do budismo. Apesar de não se saber Essa palavra vem do grego, apó, «da parte de» e
exatamente quando, tem sido oferecida a data phthengesthai, «falar».
tentativa de cerca de 400 D.C. O confucionismo Todavia, outros estudiosos compreendem esse
atingiu seu ponto culminante, no Japão, na era nome como se fora um título místico de Davi. Ainda
Tokugawa (1603—1868 D.C.). Desenvolveram-se outros identificam-no com Salomão. Uma outra
vários ramos dessa agremiação religiosa, dentre os conjectura é que Agur seria Ezequias, ou algum outro
quais o mais proeminente era o shushi. Contava com príncipe desconhecido de Judá. A idéia mais comum é
um sistema determinístico em que a imutável vontade que Jaque aponta para Davi, e que Agur, seu filho,
celestial determinaria todas as gradações e manifesta seria Salomão, o qual, pelo menos, foi autor de alguns
ções sociais humanas. A escola Oyomei, por sua vez, dos provérbios. Entretanto, a verdade da questão
enfatizava a igualdade entre os homens, porém, pode ser que alguns dos provérbios foram escritos por
exercia menos influência sobre a estrutura social Agur, e que tanto ele quanto Jaque fossem pessoas
japonesa que o outro ramo. Houve também uma para nós desconhecidas. Essa idéia é confirmada em
espécie de sincretismo entre o budismo zen e a parte pela observação de que Massá (o lugar de origem
filosofia shushi, o que proveu as crenças e práticas de Jaque) era uma tribo da Arábia (ver Gên. 25:14).
fundamentais da bushido, o Caminho do Guerreiro. Isso significaria, por sua vez, que pelo menos alguns
O confucionismo exerceu tremenda influência dos provérbios refletiriam a literatura de sabedoria
sobre as instituições políticas, educacionais e culturais dos povos árabes. Ver o artigo separado sobre M assá.
do Japão. Por exemplo, o Rescrito Imperial sobre a
JA Q U IM - JA R D IM
JAQUIM Nos jardins não se plantavam apenas flores belas e
No hebraico, «ele (Deus) estabelecerá». Esse é o fragrantes, mas também arbustos, árvores e árvores
nome de várias personagens que aparecem nas frutíferas, que hoje chamaríamos de pomares. Ver
páginas do Antigo Testamento; e também de uma Gên. 2:8; Jer. 19:5; Amós 9:14. Alguns se
coluna: especializavam em produtos particulares, como
castanhas (Can. 6:11), romãs (Can. 4:28), azeitonas
1. O quarto filho de Simeão, pai da tribo desse (Deu. 8:8; I Crô. 27:28), videiras (Can. 7:12). Isso não
nome, os jaquinitas (Gên. 46:10; Êxo. 6:15; Núm. aponta para nenhuma cultura exclusiva e, sim, que
26:12). Ele viveu por volta de 1700 A.C. Em I Crô. essas eram as espécies principais cultivadas neste ou
4:24, ele é chamado de Jaribe (vide). naquele lugar.
2. O cabeça de uma família descendente de Aarão, A maioria dos jardins era localizada perto de algum
cabeça do vigésimo primeiro turno Sacerdotal (I Crô. bom suprimento de água, como um riacho, segundo
24:17). Viveu em torno de 1015 A.C. as passagens de Gen. 2:9 ss e Isa. 1:30. Na
3. Um sacerdote que voltou a residir em Jerusalém, antiguidade, a Palestina era densamente arborizada.
após o cativeiro babilónico (I Crô. 9:10; Nèe. 11:10). Porém, séculos de abuso e destruição da natureza,
Ele viveu por volta de 445 A.C. É possível que esse sem qualquer tentativa de preservação e restauração,
nome se refira a um lugar, e não a um indivíduo. deixaram a região, essencialmente, desnuda de
Nesse caso estaria em pauta o vigésimo primeiro turno vegetação. Por essa razão, os jardins e pomares é que
sacerdotal, do qual Jaquim era o antepassado. aliviavam a situação de esterilidade. Apesar de que
4. Nome de uma das colunas do templo de muitas residências tinham seus jardins particulares,
Salomão. A outra coluna chamava-se Boaz. Ver I Reis geralmente era nos subúrbios que jardins e pomares
7:21 e II Crô. 3:17. eram cultivados, longe das massas populacionais. E,
mesmo no caso de jardims particulares, muitos eram
localizados a boa distância das residências. Esses
IARÃ jardins, pois, ofereciam lugares de descanso e de
Um nome egípcio de significação incerta. Esse era o beleza natural, como propriedades miniaturas da
nome de um escravo egípcio de Sesã, um jerameelita, família, não muito distantes do lar. As famílias mais
que se casou com a filha de seu senhor (I Crô. abastadas contavam com uma casa separada, em seu
2:34,35). Isso resultou em sua alforria, naturalmente. jardim, para onde podiam recolher-se por algum
Sesã não tinha filhos do sexo masculino, e assim sua tempo, desfrutando das belezas da natureza. Além
posteridade continuou através desse casamento. Sem disso, esses jardins eram usados para ocasiões e
dúvida, Jará era um prosélito do judaísmo. O relato celebrações especiais, onde eram efetuados banque
parece pertencer ao período em que Israel esteve no tes, danças e música. Acrescente-se a isso que em
Egito. E é exatamente por essa razão que é difícil muitos jardins havia sepulcros, onde os familiares
entender como um egípcio acabou sendo escravo de falecidos eram sepultados, segundo se vê, por exem
um israelita. Quanto a esse problema, nem mesmo o plo, em Gên. 23:19,20; I Sam. 25:1 e Mar. 15:46. Os
notável John Gill, grande comentador batista do gregos também tinham esse costume. Ver Heliodoro,
passado, conseguiu dar-me qualquer ajuda. A eth io p . 1:2, parte 35. E, igualmente, os romanos
(Suetônio, Galba, 20).
Os hebreus, que não contavam com uma classe de
JARDIM médicos profissionais, cultivavam ervas medicinais
No hebraico temos três vocábulos envolvidos e no em seus jardins, o que também era comum nos países
grego, um, quanto a este verbete, a saber: do Oriente. Ver Jer. 8:22.
1. Gan, «jardim». Palavra hebraica usada por Os jardins também eram lugares prediletos para
quarenta e duas vezes, conforme se vê, por exemplo, oração e meditação (Gên. 24:63; Mat. 26:36; João
em Gên. 2:8-10; 13:10; Deu. 11:10; I Reis 21:2; II 18:1,2). Naturalmente, havia toda a espécie de abuso
Reis 9:27; Can. 4:12; Isa. 51:3; Jer. 31:12; Lam. 2:6; quanto a essa prática, incluindo a idolatria (I Reis
Eze. 28:13; 31:8,9; Joel 2:3. 14:23; II Reis 16:4; 17:10; Isa. 1:29; 45:3; Jer. 2:20;
2. G annah, «jardim». Termo hebraico que aparece 3:6; Eze. 20:28).
por doze vezes: Núm. 24:6; Jó 8:16; Ecl. 2:5; Isa.
1:29,30; 61:11; 65:3; 66:17; Jer. 29:5,28; Amós 4:9 e Usoa Figurado«:
9:14. 1. Um jardim bem regado (ver Isa. 58:11; Jer.
3. G innah, «jardim», palavra hebraica que ocorre 31:12) simbolizava a fertilidade. Essa fertilidade '
por apenas quatro vezes: Est. 1:5; 7:7,8; Can. 6:11. podia ser da mente, do espírito, literal, ou até sob a
4. K épos, «jardim», «pomar», «plantação». Palavra forma de prosperidade material.
grega que é utilizada por cinco vezes: Luc. 13:19; João 2. Uma árvore plantada perto de águas (como em
18:1,26; 19:41. um pomar) era um emblema dos justos, que
As palavras hebraicas (especialmente gan) traduzi prosperam. Ver Jer. 17:8; Sal. 1:3.
das por ja rd im , referem-se a lugares de cultivar flores 3. Um jardim destituído de água (ver Isa. 1:30)
(Can. 6:11), especiarias (Can. 4:16), pomares (Can. indicava uma situação de esterilidade, como se fosse
6:11), condimentos (Deu. 11:10) e até mesmo parques um deserto de areia.
(II Reis 9:27; 21:18,26). Diversos jardins são 4. Nos sonhos e nas visões, um jardim pode
mencionados nas Escrituras, como o do Éden (vide), simbolizar a vida interior do indivíduo, ou seja, o
(Gên. 2:9,10,15,18), o jardim de Acabe (I Reis 21:2), cultivo de sua natureza e de suas qualidades
os jardins reais perto da fortaleza de Sião (II Reis espirituais e morais. Também está em foco o cultivo
21:18; 25:4), os jardins reais dos reis da Pérsia, em geral da personalidade.
Susã(Est. 1:5; 7:7,8), o jardim de José de Arimatéia 5. Nos sonhos e nas visões, um jardim tambépi pode
(João 19:41) e o jardim de Getsêmani (João 18:1). Os indicar aquilo que uma pessoa estiver produzindo, os
jardins eram usualmente protegidos por cercas ou frutos de seus labores, os resultados de suas atividades
muros. Josefo expressa, especificamente isso, em profissionais.
Guerras 5:7. E os trechos de Nee. 2:8 e João 20:15 6. Ainda nos sonhos ou nas visões, se um jardim
mostram que havia jardineiros profissionais. aparece tomado por sementes daninhas e arbustos
429
JA R D IM D E UZÀ - JA S É IA S
retorcidos, isso significa que a pessoa tem defeitos em idade de novecentos e sessenta e dois anos. Nossa
seu caráter, que estão estrangulando as suas melhores versão portuguesa grafa Jarete.
qualidades. 2. Um homem da tribo de Judá, aparentemente
7. O jardim do Éden simboliza o paraíso perdido, filho de Esdras e Jeudia. Foi o fundador da cidade de
como também as oportunidades perdidas. Gedor (I Crô. 4:18). Algumas versões grafam seu
8. Um jardim, quando é associado ao amor nome com a forma de Jerede. É muito difícil
romântico, simboliza a reclusão privilegiada, algum determinar a época em que ele viveu.
lugar ou relação harmoniosa, que duas pessoas
conservam somente para elas mesmas.
JARIBE
No hebraico, «adversário» ou «ele contende». Nome
I á RDIM DE UZÃ de várias personagens mencionadas na Bíblia e em
Esse era o jardim real, que havia perto da fortaleza livros apócrifos, a saber:
de Sião (II Reis 21:18 e 25:4). Ficava perto de 1. Um filho de Simeão, também chamado Jaquim
En-Rogel, que, provavelmente, é a moderna Bir (ver I Crô. 4:24; Gên. 46:10; Êxo. 6:15 e Núm. 26:12).
Ayyub. Ver o artigo geral sobre Jardim . Viveu por volta de 1720 A.C.
2. Um dos chefes de clã enviados por Esdras da
Babilônia a Jerusalém, a fim de buscarem levitas,
JARDINEIRO antes do retorno à Palestina, para que pudessem se
Ver o artigo geral sobre Jardim. Desde os dias ocupar nas funções que lhes cabiam. Ver Esd. 8:16; I
antigos, os jardineiros eram uma classe profissional Esdras 8:44. Isso aconteceu por volta de 459 A.C.
que cuidava dos jardins e pomares. Ver Jó 27:18 e 3. Um sacerdote que, na época do cativeiro
João 20:15. Porém, muitas famílias também cuida babilónico (vide), casara-se com uma mulher estran
vam de seus próprios jardins, sem qualquer ajuda geira e foi compelido a divorciar-se dela, depois que o
externa. Muitos jardins da antiguidade incluíam o povo de Israel retornou à sua terra (Esd. 10:18; I
cultivo de frutas, o que lhes emprestava um certo Esdras 9:19). Isso aconteceu por volta de 459 A.C.
valor comercial. Nesses casos, fazia-se mister a 4. Nome de uma pessoa que também é chamada
assistência de jardineiros profissionais. Joiaribe, em I Macabeus 14:29.
Também havia jardins dedicados a ritos religiosos,
como aqueles do deus pagão Baal (II Reis 10:19-23).
Nesses casos, jardineiros profissionais e/ou religiosos
(pertencentes à classe sacerdotal) cuidavam dos JARMUTE
jardins. Paulo era fabricante de tendas, mas No hebraico, «altura», «colina». Esse era o nome de
demonstrou algum interesse e conhecimento de duas antigas cidades da Palestina, a saber:
jardinagem, o que é refletido em Romanos 11:17,19, 1. Uma cidade nas terras baixas de Judá (Jos.
23,24, o que talvez indique que ele era um jardineiro 15:35), que foi reocupada pelos israelitas que
amador. Isaías também emoregou uma metáfora voltaram à Terra Santa, terminado o cativeiro
própria de jardinagem (17:10). O livro Cantares de babilónico (Nee. 11:29). Um de seus antigos
Salomão demonstra profundo interesse pela jardina monarcas, Pirão, foi um daqueles que foram
gem, e seu autor deve ter sido grande apreciador dessa executados em Maquedá, por terem planejado
arte da jardinagem. assassinar o povo de Gibeom, que se aliara em aliança
com o povo de Israel (Jos. 10:3,5,23 e 12:11). Josué
derrotou a coligação dos cinco reis de Jerusalém,
JAREBE Hebrom, Jarmute, Laquis e Eglom, cujas forças
No hebraico, «adversário» ou então «que ele combinadas não puderam resistir ao poder de Josué.
contenda». Nome de um rei mencionado em Osé. 5:13 2. Uma cidade de Issacar que se tornou possessão
e 10:6. Alguns eruditos supõem que se trata de um dos levitas gersonitas, após a divisão da terra, após a
título simbólico do rei da Assíria."A julgar por seu invasão feita pelos israelitas. Tornou-se então uma
paralelo com o nome Assur, é possível que esteja em das cidades de refúgio (Jos. 21:29). Em Josué 19:21,
foco um país, e não um indivíduo. A história nada nos ela é chamada de Remete; e em I Crônicas 6:73 de
diz a respeito de algum monarca assírio com esse R am ote. A localização moderna da mesma é
nome. Todavia, alguns estudiosos opinam que Jarebe desconhecida.
era um outro nome de Sargão, o destruidor da cidade
de Samaria, em 722 A.C. Também é possível que
tenhamos nesse nome um jogo de palavras, a saber: JAROA
«O rei da Assíria, o homem ansioso por começar uma No hebraico, «lua nova». Ele era chefe da tribo de
luta». Todavia, outros estudiosos pensam que o Gade e residia em Basã (I Crô. 5:14). Sua época foi
significado dessa palavra é «grande», em cujo caso por volta de 750 A.C.
esse termo funcionaria como um adjetivo qualificati
vo, e não como um nome próprio. Os estudiosos não
têm conseguido apresentar qualquer argumento JARRO
conclusivo acerca de qualquer das alternativas que No hebraico, baqbuq, palavra que aparece por três
têm sido propostas. vezes: I Reis 14:3; Jer. 19:1,10. Esse vocábulo
hebraico indica um pequeno recipiente para água,
azeite, ou perfume. Os antigos hebreus, juntamente
JAREDE com povos contemporâneos, contavam com receptá
No hebraico, «descida» ou «terra baixa». Esse é o culos de muitos formatos e serventias. Ver verbetes
nome de dois indivíduos mencionados nas páginas do como Vasos, Cerâmica, Cozinha, etc.
Antigo Testamento, a saber:
1. Um patriarca antediluviano, pai de Enoque JASElAS
(Gên. 5:15-20; I Crô. 1:2; Luc. 3:37). Ê possível que No hebraico, «Yahweh vê». Esse era o nome de um
tenha vivido por volta de 3712 A.C. Faleceu com a dos quatro homens que ou apoiaram ou se opuseram a
430
JÀ S E M - JA SO M
Esdras, quando este exigiu que os israelitas que se mente distorcida a fim de evitar um feito tão
tivessem casado com mulheres estrangeiras, durante o fantástico. Jasobeão deve ter vivido por volta de 1050
cativeiro babilónico, se divorciassem delas. Ver Esd. A.C.
10:15. 2. Um coreíta que descendia de Coate, e, por
O sentido de «apoio», dado a Esdras, é confirmado conseguinte, um levita (I Crô. 12:6). Viveu mais ou
em I Esdras 9:14 e na tradução da Septuaginta. menos na mesma época do primeiro desse nome.
Porém, no Antigo Testamento hebraico as palavras
em questão exprimem a idéia de oposição, que
aqueles quatro homens teriam feito a Esdras. Ver I IASOM
Crô. 21:1; II Crô. 20:23; Dan. 11:14. Diferentes Na Bíblia e nas obras apócrifas do Antigo
traduções adotam ou a idéia de apoio, ou a idéia de Testamento há menção a um total de cinco homens
oposição. Nossa versão portuguesa encontra uma com esse nome, a saber:
solução interessante. Diz que dois desses homens se 1. O Jasom de Atos 17:1,4,7 (e talvez de Rom.
opuseram a Esdras, e que os outros dois o apoiaram, 16:21):
seguindo a Revised Standard Version. Outro tanto O nome desse personagem ou era um equivalente
ocorre na Berkeley Version, in Modem English. É grego, ou, mais provavelmente ainda, era uma forma
possível que tenhamos ai a verdadeira tradução da helenizada ou latinizada, qual corruptela, do
passagem em foco, Esdras 10:15. apelativo hebraico Josué, que, através do grego,
chegou ao idioma português na forma de Jesus. Os
IÂSEM (HASÊM); BENÊ-JASEM greco-romanos, com freqüência, distorciam a pro
núncia dos nomes próprios, semitas, ou então
No hebraico, «filho do rico». Ele foi um dos trinta substituiam-nos, selecionando nomes próprios mais
guerreiros poderosos de Davi (I Crô. 11:34). Ele era ou menos equivalentes quanto ao som, em lugar dos
gizonita (vide). A passagem paralela, em II Sam. nomes judaicos. Assim, pois, o nome Jasom seria
23:32, diz «filho de Jásem» (em nossa versão substituto de Jesus, do mesmo modo que Paulo
portuguesa, Bené-Jásen). Os estudiosos pensam que tomara o lugar de Saulo. Em II Macabeus 4:7 há um
essa é apenas uma forma variante do nome sumo sacerdote com o nome de Jasom. O Jasom do
Bené-Hasém. Ele deve ter vivido por volta de 1014 livro de Atos, portanto, mui provavelmente era um
A.C. Uma tradução variante fá-lo ser pai de um dos judeu que se tornara cristão.
heróis de Davi, e não um dos heróis propriamente Aqueles que foram aprisionados durante a pertur
dito. bação que visava ao apóstolo Paulo e a Silas, foram
soltos sob a promessa de que não ocorreria mais
IASOBEÃO qualquer dificuldade; e essa promessa provavelmente
No hebraico, «povo que volta». Nome de vários incluía a garantia de que Jasom não mais hospedaria
indivíduos que figuram nas páginas do Antigo os missionários cristãos, juntamente com alguma soma
Testamento: em dinheiro ou compromisso de pagamento, se tal
1. Um dos trinta poderosos guerreiros de Davi. Ele garantia não se cumprisse. Esse astuto plano impediu
era filho de Zabdiel, um hacmonita. Desertou de Saul o apóstolo Paulo de continuar mantendo contacto
e bandeou-se para Davi, que se achava exilado em com os discípulos de Tessalônica. Mas, apesar disso,
Ziclague. A Bíblia narra que, de certa feita, matou a igreja cristã local continuou a florescer. Isso
trezentos homens, em uma única batalha (I Crô. aconteceu por volta de 53 D.C. Parece que Jasom
11:11). O trecho paralelo de II Sam. 23:8 refere-se ao acompanhou Paulo até Corinto (Atos 17:5-9; Rom.
taquemonita Josebe-Bassebete, que seria o principal 16:21).
entre os três maiores heróis de Davi, que brandiu sua 2. O Jasom de Romanos 16:21:
lança e matou nada menos de oitocentos homens em' Ê possível que o Jasom mencionado nesse texto seja
uma única batalha. Os estudiosos pensam que as o mesmo Jasom dos dois parágrafos acima. Todavia, o
palavras que ali se acham, «filho de Taquemoni» nome era tão comum que é possível que outro homem
sejam uma corruptela de H aquem onita e que está em tivesse estado em pauta. Seja como for, ele era um
foco o mesmo Jasobeão, embora chamado por outro parente de Paulo, embora isso, provavelmente,
nome. Os «três», ao que parece eram uma elite seleta signifique apenas que ele era um compatriota judeu
dentre os heróis de Davi, um círculo mais íntimo dos de Paulo, e não um seu verdadeiro parente de sangue.
trinta guerreiros de Davi. Visto que os números 300 e Se ele fosse um autêntico parente, então também
800, escritos por extenso, começam no hebraico com a teríamos de incluir nessa parentela a Lúcio e a
mesma letra, é possível que tenha havido uma Sosípatro, que figuram no mesmo versículo como
confusão não proposital no trecho de II Samuel 23:8, «parentes» de Paulo. Mas, se um Jasom diferente
e que a verdadeira cifra seja trezentos. Contudo, John daquele primeiro está aqui envolvido, então não
GUI salienta que apesar de oitocentos homens ser um dispomos de qualquer outra informação a seu
número significativo não o é mais do que o feito de respeito. Jasom estava entre aqueles que enviaram
Sangar, que matou seiscentos com um aguilhão de saudações aos cristãos de Roma. Ou então, se o
bois; ou do que o feito de Sansão, que matou a mil décimo sexto capítulo de Romanos é uma epístola que
homens com a queixada de um jumento. Alguns mais tarde foi vinculada à de Romanos, mas que
rabinos também explicaram que estiveram envolvidas originalmente fora enviada à Ãsia Menor (talvez a
duas batalhas. Em uma delas, Jasobeão teria morto a Efeso), então Jasom teria enviado saudações aos
trezentos homens; e na outra, a oitocentos. E há cristãos daquela província. Quanto a esse problema
várias outras tentativas de harmonização; porém, sobre a integridade da epístola aos Romanos, ver o
visto que são todas conjecturas, em nada nos ajudam artigo sobre esse livro, em sua oitava seção.
a resolver essa questão de diferença numérica. Diz a 3. Um filh o de Eleazar, a quem Judas Macabeu
Septuaginta, em II Samuel 23:8: «Ele brandiu a sua enviara para solicitar a ajuda dos romanos contra os
lança contra oitocentos soldados de uma só vez», sírios, em cerca de 161 A.C. (I Macabeus 8:17). Ele,
dando a idéia de que ele precisou enfrentar uma força ou quiçá seu filho, procurou renovar a aliança em 144
formidável, e não que tivesse realmente morto a todos A.C. (I Macabeus 12:16; 14:22; Josefo, A n ti.
eles. Porém, essa tradução pocje ter sido proposital 12:10,6).
JA SO M - JA S P E R S
4. Um filh o de Sim ão II, e irmão do sumo sacerdote filosofia em Heidelberg, de 1916 a 1938. Durante o
Onias III. Ele obteve o ofício de sumo sacerdote para regime de Hitler, não recebeu licença para apresentar
si mesmo, mediante suborno. Tornou-se conhecido conferências, e, finalmente, foi destituído de suas
por seus esforços tendentes à helenização do judaísmo funções de professor. Em 1945, entretanto, foi
(II Macabeus 4:7-26). Entre as suas atividades que reintegrado e começou a ensinar filosofia em Basiléia,
refletiam a sua maneira de pensar, temos o fato de na Suíça. Veio a ser conhecido como um existencialis
que ele deu ricos presentes para os jogos sagrados de ta, embora não apreciasse esse rótulo. Sua obra prima
Tiro, efetuados em honra a Hércules (II Macabeus foi uma obra em três volumes, sobre filosofia,
4:16-20). Mas ele ficou ocupando o ofício apenas por publicada em 1932.
três anos de 174 a 171 A.C. Foi substituído por Escritos. Além da obra que acabamos de mencio
Menelau, ao oferecer ao monarca um suborno ainda nar, ele escreveu os seguintes livros (títulos em inglês):
mais gordo. Então, Jasom fugiu para os amonitas. General Psychopathology; Psychology o f Views; M an
Mas, então, ele ouviu o falso rumor de que Antíoco in the M o d em Age; Reason and Existence; Nietzsche;
havia falecido no Egito, e retornou à Palestina. E Descartes a n d Philosophy; The Idea o f the University;
muitos de seus seguidores derrubaram Menelau. The Q uestion o f G uilt; N ietzsche an d Christianity,
Entretanto, Antíoco, após retomar do Egito, vingou- além de outras, incluindo, Introduction to Philosophy
se, e Jasom teve de fugir novamente para Amom, e e Ciphers o f Transcendence.
dali para o Egito e, mais tarde ainda, para a cidade de Idéias:
Esparta, onde, finalmente, veio a falecer (II
Macabeus 5:1-10). 1. Seu principal interesse era descrever e tentar
compreender a distintiva função do homem que
5. Um cireneu que escreveu um livro sobre as lutas filosofa. Sua própria filosofia era a de um pensador
dos judeus pela liberdade, em conflito contra Antíoco subjetivo que extraía idéias de seu próprio discerni
Epifânio e seu sucessor, Eupator. O livro de II mento intuitivo, sujeitando-as, por muitas e muitas
Macabeus conta a história sob forma condensada. vezes a uma rigorosa crítica e análise. Para ele, a
Provavelmente, Jasom era grego e sua narrativa filosofia precisa passar pela descoberta científica,
termina no ano de 160 A.C. Provavelmente, não então pela iluminação pessoal (ou descoberta da
escreveu muito depois dessa data. liberdade individual, dentro do tempo), e, finalmente,
pela M etaphysik, palavra germânica que, para ele,
IASPE indica a consciência da dependência a um ser
transcendental.
Há uma palavra hebraica e uma palavra grega O elemento existencial do pensamento de Jaspers
envolvidas, a saber: assemelhava-se ao de Heidegger (vide). Porém, este
1. Yashepheh , que aparece por três vezes no Antigo último era um realista, influenciado pelo escolasti-
Testamento: Êxo. 28:20; 39:13 e Eze. 28:13. cismo, ao passo que Jaspers tendia para o idealismo,
2. íaspis, termo grego que figura por quatro vezes, exibindo influências da parte de Kant e do
todas no Apocalipse (4:3; 21:11,18,19). protestantismo.
O trecho de Êxo. 28:20 menciona essa pedra que Qual o propósito da filosofia? Para ele, era
era usada no peitoral do sumo sacerdote de Israel. No despertar os homens para a autenticidade, a. O
livro de Apocalipse (21:19) aparece como um dos homem seria um D asein, um «estar ali», um objeto
materiais usados nos alicerces da Nova Jerusalém. O empírico dentro do espaço e do tempo. b. O homem
jaspe é uma espécie opaca de quartzo, uma sílica de também seria consciência (Bew usstsein). c. Finalmen
grão muito fino (dióxido de sílica), aliada à calcedônia te, o homem seria um espírito ( G eist). O homem
e à pederneira. Aparece com certa variedade de cores: utilizaria os materiais desta vida a fim de chegar a
vermelho, marrom, amarelo, verde, azul e negro. As totalidades ideais.
pedras com cores mais claras são usadas como gemas. 2. A mais importante distinção que uma pessoa
O jaspe do Egito dispõe de faixas de diferentes tons de poderia exprimir acerca do homem é que ele é uma
marrom. Ocorre em nódulos, tál como sucede à existência. A sua ênfase sobre esse item era tão grande
ágata. Da mesma forma que outras sílicas de grão que sua filosofia chegou a ser apodada de «filosofia da
fino, o jaspe é depositado pela água circulante, ou a existência». Haveria três considerações relacionadas ao
água do subsolo ou em soluções hidrotermais de homem: a. O homem pode evitar a existência evitando
origem ígnea. a autenticidade, ou seja, não conhecendo e não
A palavra hebraica e a palavra grega envolvidas atingindo o que ele é e deveria ser como um ser
incluíam mais pedras do que aquelas cjue hoje em dia humano, b. Há um aspecto transcendental no homem
chamaríamos de ja sp e. As referencias antigas que depende de um ser transcendental, embora faça
incluíam diversos tipos de variedades translúcidas e parte do mesmo. c. Em meio a isso há a existência, ou
delicadamente coloridas de quartzo (as calcedônias), seja, o homem autêntico, conforme ele pode agora
e também o que hoje chamamos de crisópraso. existir. Quando o homem torna-se nele mesmo, então
Atualmente, porém, esse nome limita-se às variedades ele é existência. E um homem torna-se em si mesmo
ricamente coloridas e estritamente opacas. Os antigos quando alcança uma autêntica autoconsciência,
usavam o jaspe (em termos modernos) no fabrico de postando-se dentro da história com uma atitude de
selos, cilindros, etc. Além disso, as antigas palavras liberdade e franqueza perante a transcendência toda
hebraica e grega também incluíam o que hoje abrangente. E é dessa maneira que o homem alcança
chamamos de jade. um momento de transcendência, embora ele ainda
não seja transcendental. Porém, quando o ser
humano perde essa franqueza e liberdade, sua
JASPERS, KARL consciência fica corrompida e ele perde a sua
Suas datas foram 1883-1973. Ele nasceu em existência. E então afunda de volta no D asein: ele,
Oldemburgo, na Alemanha e formou-se médico em meramente, encontra-se ali, um objeto que está no
1909. Engajou-se no trabalho psiquiátrico em espaço e no tempo.
Heidelberg. Tornou-se então um docente particular A existência e seus lim ites. A existência está
em psicologia, em Heidelberg, em 1913. Começou a limitada por fronteiras impenetráveis ( G renzsituatio -
interessar-se vivamente pela metafísica. Ensinou nem ). Experimentar essas limitações e existir são uma
JA S P E R S
e a iniesma coisa; e, em meio a isso, sentimos tentativas humanas por atingir a transcendência na
desespero. No entanto, o desespero pode ser uma filosofia, na religião, nos mitos, nos conceitos, etc. A
emoção cognitiva e elevadora, pois força-nos na verdade é um ser histórico condicionado pela
direção da autenticidade. Em suas experiências existência dentro deste mundo empírico. A liberdade
finitas, o homem enfrenta o problema do mal. E a é possível ao homem, mas opera dentro dos limites
morte fisica é a principal dessas experiências finitas, das situações últimas, sendo impedida por essas
além de ser a mais dramática de todas as barreiras situações, como a morte, o sofrimento, os conflitos e o
que cercam a existência. A culpa é uma outra senso de culpa.
importante limitação. A culpa demonstra o poder que 8. Ética. Essa é a exploração da experiência e a
a nossa liberdade exerce sobre o nosso destino. O potencialidade do livre-arbítrio. Liberdade é sinônimo
limite da situacionalidade é a limitação que temos em de escolha, de consciência própria, de identificação
nossa própria situação de vida, em nossa condição pessoal. Escolher, é o mesmo que ser livre. O ser do
humana particular. Uma parte da nossa autenticida homem é livre, pois sem a liberdade ele é reduzido a
de consiste em usarmos o poder do livre-arbítrio a fim nada. Só existo à medida que sou livre. A liberdade
de transcendermos aos nossos próprios limites. consiste em experiência, sob a forma tanto de
Fazemos as coisas acontecerem; fazemos de nós espontaneidade como de ação. Ajo com base em
mesmos aquilo que somos, e assim experimentamos a idéias intuitivas de valor. Devo dedicar-me a alguns
transcendência. Ainda outras limitações são as valores, mas muitos valores continuam sendo
oportunidades, os sofrimentos e os conflitos. investigados e permanecem incertos para nós.
3. Até mesmo no caso do indivíduo que já atingiu o Experimento a angústia nas minhas incertezas acerca
nível da existência, permanece uma certa polaridade dos valores e das escolhas. O senso de culpa segue-se à
entre a razão e a existência. A razão, sem a existência, incerteza e ao erro nas escolhas. Não existe tal coisa
fica vazia; e a existência sem a razão não passa de um como um absolutismo que resulte da racionalização e
sonho particular. A razão unifica os diversos da harmonização humanas, e não da própria verdade.
elementos da existência, mediante vários modos de Em meu coração sei que para o homem, em seu
comunicação. É nessas comunicações que descobri estado presente, não há valores fixos, não há
mos âs verdades individualizadas; porém, para além conclusões, não há padrões absolutos. No fim, não
desse ponto temos de forçar na direção da fora a transcendência, a vida humana redundaria em
transcendência e do Ser eterno. total fracasso. O homem está condenado a lutar
4. O objetivo da luta do homem é a transcendência, interminavelmente. Há um temível paradoxo entre a
e essa transcendência consiste em um Ser. O ser é a existência finita e o esforço para atingirmos a
mais profunda de todas as verdades. Em seu mais infinitude. O símbolo final da salvação é a
completo sentido, não há qualquer possibilidade de transcendência.
que um homem venha a atingir o Ser absoluto; 9. Religião. Jaspers, à semelhança de Kant,
todavia, estará sempre se movendo nessa direção. criticava as provas tradicionais em prol da existência
Para além de nosso atual horizonte de existência, há a de Deus. Ele rejeitava o teísmo, o ateísmo, o
abrangência. Quando crescemos, fazemos os nossos panteísmo, a religião revelada e todas essas explica
horizontes ampliarem-se, e assim nos movemos na ções padronizadas, afirmando que tudo isso não passa
direção da abrangência. A idéia da abrangência está de símbolos (cifras). Por isso, correríamos o risco de
ligada à nossa percepção da parcialidade e natureza considerar esses símbolos em sentido liberal e
incompleta de todo esquema e idéia. Todas as absoluto. A verdadeira compreensão religiosa residi
filosofias são parciais; todas as idéias são imcomple- ria nas intuições que operam através da teologia e da
tas, todas as realizações são limitadas. Os sistemas de filosofia. Mas esses sistemas tentam, sem êxito,
pensamento são todos circulares e necessariamente articular as cifras. O homem, em sua liberdade,
levam a noções incompletas. E esses fragmentos conhece apenas obscuramente que ele não está
incompletos são incorporados no conceito da abran sozinho, que há algo de muito grande, vasto e
gência. Além disso há a transcendência e o estado misterioso «lá fora», além das suas limitações,
completo. finitudes e conflitos. De alguma forma, intuímos cjue
5. M etafísica. £ através da metafísica que podemos o homem resulta do poder e dos atos da transcendên
ler as cifras da transcendência. Uma cifra é um cia, embora não estejamos em posição para definir
símbolo e, através das cifra§ o mundo empírico fala à tais coisas, e embora as nossas cifras nos enganem,
nossa consciência e nos confere compreensão. Dessa levando-nos a pensar que sabemos mais sobre a
maneira, podemos ler a verdade do Ser, embora não verdade do que realmente sabemos.
em termos de conceitos. A transcendência fala à Na abrangência encontramos as pegadas de Dens,
existência por meio dos símbolos (cifras). Essa
comunicação dá-se por meio da intuição, e nunca embora de forma tão distante e indistinta que só
mediante os fatos empíricos da percepção dos podemos seguir as nossas intuições, na esperança de
sentidos. Há uma certa ambigüidade na intuição, e a obter o melhor. A metafísica definiria as cifras, mas a
ambigüidade é uma das características de todas as compreensão é uma questão eminentemente pessoal,
cifras. Nos mitos e nas filosofias, a cifra primária, que efetuada em meio à liberdade. O homem está aberto à
nos daria total compreensão, permanece oculta, mas transcendência, e assim aspira pela eternidade. Nesse
espera ser descoberta. próprio desejo temos uma indicação da realidade na
direção da qual ele procura avançar. Não podemos
6. Ciência. Essa emerge do princípio do Dasein. Os rejeitar a fé, pois isso equivaleria a dizer que o mundo
objetos empíricos existem juntamente com outros, em imediato é tudo quanto existe. Ê a fé que pressente a
um mundo que é detectado pela percepção dos transcendência que há para além deste mundo
sentidos. A razão experimenta a totalidade no Dasein, imediato.
embora em nossas experiências divida-se em esferas Para Jaspers, a Bíblia era um sugestivo instrumento
separadas. Jaspers falava sobre quatro dessas esferas: para atingirmos a compreensão, ou seja, de encontrar
a inorgânica, a orgânica, a alma como experiência e o e definir as cifras. As cifras salientadas na Bíblia são
espírito ( Geist), que é a alma racional da filosofia. Deus, o amor, o livre-arbítrio, a necessidade de
7. História. A história compor-se-ia de todos escolher entre o bem e o mal, a eternidade que há no
aqueles toques empíricos do homem, e também das homem, um universo contingente, a imagem de Deus
433
JA S P E R S - JA V À
como um refúgio do homem — todas essas coisas são JATÀO
símbolos importantes, que deveríamos seguir. Não De acordo com Tobias 5:13, um dos livros
obstante, na Bíblia continuamos no terreno dos apócrifos, Jatão era filho de Semaías e irmão de
símbolos, e não no campo da realidade última, para a Ananias, parentes de Tobias. Em algumas traduções
qual a Bíblia aponta. Em nossas dúvidas, entretanto,
chegamos a transcender aos símbolos. Se confiamos aparece, nesse trecho, a forma variante do nome,
no tocante a tudo, então acabamos matando a busca Jônatas.
que é a essência do Ser. No momento, não pode haver
qualquer salto final da fé para a certeza. Essa é uma JATIR
falsidade que os sistemas promovem, procurando No hebraico, «redundante». Esse era o nome de
obter conforto mental, mas que pouco tem a ver com a uma das nove cidades que foram entregues à tribo de
verdade. Judá, para os levitas da família de Coate (Jos. 15:48;
10. Gnosiologia. A maneira de pensar de Jaspers 21:14; I Crô. 6:57). Davi enviou despojos para esse
sobre o conhecimento era, essencialmente, uma forma lugar, após sua vitória sobre os amalequitas, em
não hostil de ceticismo (vide). Ele anelava por Ziclague (I Sam. 30:27). Ela tem sido identificada
explorar, descrever e analisar; e, no entanto, pensava com a moderna Khirbet ’Attir, cerca de vinte e um
que, em nossa atual condição humana, não podemos quilômetros a sudoeste de Hebrom.
obter um conhecimento indiscutível. Ele também
tomava um ponto de vista cético quanto àqueles
sistemas de conhecimento que modificam os símbolos JATNIEL
do conhecimento, elevando-os a dogmas e certezas. O No hebraico, «aquele a quem Deus confere». Ele foi
seu método era subjetivo, dependendo dos informes o quarto filho de Meselemias, porteiro do tabernáculo
que a intuição nos pode outorgar. Juntamente com (I Crô. 26:2), que viveu por volta de 1014 A.C. Era um
Kierkegaard, ele descrevia as experiências imediatas à corei ta.
luz de seu significado emocional e ontológico, nas
quais ele via os elementos de amor, de ansiedade, de
esperança e de desespero, alternando-se com confli JAVÀ
tos. Ele acreditava que a pesquisa científica deveria No hebraico, «efervescente», embora alguns pensem
ser um antídoto para os dogmas religiosos, políticos e que o sentido do nome é desconhecido. Era o nome de
filosóficos; mas também asseverava que a ciência uma pessoa, o quarto filho de Jafé, e, portanto, neto
pode proporcionar-nos um conhecimento meramente de Noé. Por extensão, tornou-se o nome designativo
superficial, pouco dizendo a respeito da verdadeira de seus descendentes e dos lugares que eles vieram a
natureza da realidade. Quando muito, a ciência é ocupar.
apenas uma mitologia funcional, capaz de pôr em 1. Javã foi o quarto filho de Jafé (Gên. 10:2,4; I
nossas mãos ferramentas práticas para enfrentarmos Crô. 1:5,7), e viveu em algum tempo depois de 2500
nossas vidas físicas, diárias. Mas pouco ou nada tem A.C. Alguns eruditos supõem que ele foi o progenitor
para dizer a respeito da transcendência, onde, de dos povos originais da Grécia e de certas ilhas do mar
alguma maneira, em algum ponto, em algum tempo, Egeu, e também da porção sul da península italiana,
a verdade pode ser descoberta. (AM E EP MM P) embora não se possa dizer essas coisas com certeza
absoluta. Ver o artigo sobre Jafé, quanto a
especulações sobre as origens e os descendentes desse
JASUBE filho de Noé, onde também há um gráfico que ilustra
No hebraico, «aquele que volta». Nome de dois a questão. Etimologicamente, o nome Javã corres
homens que figuram nas páginas do Antigo ponde à Jônia (no grego antigo, Ialon), e foi usado
Testamento: pelos profetas do Antigo Testamento para denotar os
1. O terceiro dos quatro filhos de Issacar, que descendentes de Javã na Jônia, nas costas ocidentais
fundou a família chamada ja su b ita s (Núm. 26:24; da Âsia Menor, e, por extensão, também na Grécia,
I Crô. 7:1). Entretanto, em Gên. 46713, ele é chamado na Macedônia, etc., porquanto havia descendentes
Jó. Viveu em cerca de 1856 A.C. seus até mesmo em certas regiões costeiras do mar
2. Um daqueles israelitas que se tinham casado Negro.
com alguma mulher estrangeira, na Babilônia, O trecho de Isa. 66:19 refere-se a Javã, juntamente
durante o cativeiro dos judeus ali, mas que, quando com Társis, Lud, Pute e Tubal como nações distantes
do retorno à Palestina, foi obrigado a divorciar-se dela às quais seriam enviados missionários que falariam a
para que a sociedade de Israel pudesse ser restaurada respeito da glória de Yahweh e da restauração de
à sua pureza. Ver Esd. 10:29. Isso ocorreu por volta Jerusalém. Para os judeus, essas nações representa
de 459 A.C. vam os limites ocidentais do mundo que eles
conheciam. Os trechos de Daniel 8:21; 10:20 e 11:2
identificam Javã com o império greco-macedônió de
JASUBI-LEÊM Alexandre, pelo que o bode que marrava vindo do
No hebraico, «devolvedor do pão». Ao que parece, Ocidente era o rei de Javã. As passagens de Dan.
descendia de Selá (I Crô. 4:22) e viveu por volta de 995 10:20 e 11:2 falam sobre vários conflitos entre
A.C. Contudo, alguns intérpretes crêem que o texto nações que envolveriam o povo de Javã. Ezequiel
em foco significa que Noemi e Rute retom aram do 27:13 é trecho que vincula Javã a Tubal e Meseque,
lugar onde tinham estado para Belém da Judéia, como comerciantes em bronze e em escravos. Joel 3:6
terminado o período de escassez de alimentos. Ainda condena Tiro porquanto vendia como escravos
outros opinam que está em pauta um lugar perto de cidadãos de Judá e Jerusalém a Javã. Zacarias 9:13
Maresa, situado no lado ocidental do rio Jordão. A prediz o triunfo final de Israel sobre Javã, o que,
Revised Standard Version, em inglês, diz «e retornou naquele texto, evidentemente representa nações
a Leém», referindo-se a Sarafe, que governava em aguerridas dentre as quais a Grécia era o exemplo
Moabe. É preciso reconhecer que há um erro mais destacado.
primitivo no texto, que nos impossibilita de entender 2. O trecho de Ezequiel 27:19 menciona Javã de taJ
a passagem com maior satisfação. modo que parece requerer uma localização na Arábia.
434
JA V À - JA Z A N IA S
Seu comércio com Tubal e Meseque é enfatizado, um e Deu. 14:8. Sabe-se que o porco é o hospedeiro de um
comércio que envolvia o tráfico de escravos. Os tipo de parasita que pode ser transferido para o
estudiosos têm-se sentido confusos diante dessa organismo humano, mediante a ingestão de carne de
referência de Ezequiel, que remove Javã do Ocidente; porco mal cozida, e que pode ser perigoso para a
e efcs não têm conseguido dar uma explicação saúde do homem, podendo até mesmo matá-lo.
definitiva. Sucede, porém, que os descendentes de Naturalmente, os judeus antigos não sabiam disso,
Javã sempre foram grandes colonizadores, não sendo pelo que aquela proibição mui provavelmente
difícil conjecturar que até mesmo na região da Arábia alicerçava-se, psicologicamente, sobre os hábitos
houvesse uma forte colônia deles, em alguma época imundos desse animal, capaz de comer quase
passada, embora isso não passe de uma conjectura. qualquer coisa.
Todavia, a Septuaginta diz «vinho», em vez de Javã Usos M etafóricos. 1. A mulher indiscreta e de baixa
(palavras similares aparecem no texto hebraico moral é comparada a esse animal (Pro. 11:22). 2. A
original), dando a entender que pode ter havido queda moral de uma pessoa é simbolizada através do
alguma forma de erro primitivo no original hebraico. ato de cuidar dos porcos (Luc. 15:15). 3. O trecho de
Nesse caso, a dificuldade de localização geográfica Mateus 8:31 sugere a associação dos demônios com os
estaria removida, visto que Javã nem estaria em foco porcos. Os judeus chegavam mesmo a pensar que uns
nessa referência. e outros pertencram à mesma ordem de seres. 4. Os
Os descendentes de Javã estavam destinados a mestres falsos, que entram em contacto com as idéias
exercer poderosíssima influência sobre a civilização cristãs, mas posteriormente retornam às idéias e
antiga. Além deles terem sido os herdeiros da costumes dos pagãos, são assemelhados aos porcos,
civilização babilónica e medo-persa, a própria em sua natureza (II Ped. 2:22). (G HA ND UN)
civilização romana só é corretamente caracterizada
quando a denominamos de greco-latina. Países tão
distantes entre si como a Rússia e Portugal JAVÊ
exibem sinais de influência grega, desde o idioma até Ver sobre Yahweh.
à cultura e a própria etnia. Todo o sul da Itália (berço
da civilização latina em sua porção norte) era grego.
Durante muitos séculos essa região da porção austral JAZA
da bota italiana foi conhecida como Magna Grécia. No hebraico, «repisada», pois diz respeito a alguma
Isso tem reflexos até hoje, incluindo a forma de eira. Esse era o nome de uma cidade da Transjordâ-
gesticulação das pessoas, quando falam. Todo nia, onde houve uma batalha decisiva entre os
italiano é muito gesticulador, mas os italianos do sul israelitas e Seom, rei dos amonitas(Núm. 21:23; Deu.
gesticulam à moda dos gregos, e não segundo o resto 2:32; Juí. 11:20). Essa cidade fora entregue aos levitas
da Europa, conforme fazem os italianos do centro e meraritas da tribo de Rúben (Jos. 13:18; 21:36; I Crô.
do norte da Itália! 6:78). Posteriormente, os conquistadores babilônios
destruíram a cidade. Jaza foi denunciada profetica
JAVALI mente por Jeremias (ver Jer. 48:21,34 e Isa. 15:4). Na
época, a cidade era ocupada pelos moabitas. A pedra
A palavra hebraica, chazir, aparece por sete vezes Moabita (vide) apresenta o rei Mesa a dizer que o rei
no Antigo Testamento. (Ver Lev. 11:7; Deu. 14:8; de Israel residiu em Jaza enquanto fez guerra contra
Sal. 80:13; Pro. 11:22; Isa. 65:4; 66:3,17). Esse termo ele, mas que dali foi expulso e que Mesa passou a
hebraico indicava tanto o porco doméstico como as controlar a cidade, assim aumentando os territórios
variedades silvestres. Os hebreus, os egípcios, os moabitas. Por isso é que, naquelas duas referências
árabes, os fenícios e outros povos das proximidades acima, dos livros proféticos, a cidade aparece como
não eram consumidores de carne de porco ou javali. pertencente a Moabe. Não há qualquer certeza
No entanto, em período posterior, do outro lado do quanto à identificação moderna da cidade.
mar da Galiléia, e em algumas regiões do Egito, o
porco, domesticado, passou a ser usado como um dos
itens da alimentação. No Egito, os criadores de porcos JAZANIAS
eram tidos como uma classe muito baixa; e,
naturalmente, os hebreus desprezavam tais homens, No hebraico, «Yahweh ouve». Nome de quatro
por causa de seus conceitos religiosos; O javali não personagens que aparecem nas páginas do Antigo
ataca o homem, se não for molestado;mas enfurece-se Testamento:
quando atacado. Sabe-se que grupos de javalis podem 1. O filho de um maacatita (II Reis 25:23; Jer.
atacar até mesmo os grandes felinos. No Brasil há dois 40:8), que viveu por volta de 588 A.C. Ele se aliou a
tipos de javali, o caititu e o queixada. O primeiro é Gedalias, governador nomeado pelos babilônios para
menor, mas às vezes anda em bandos numerosos, e governar o remanescente de Judá, quando do exílio
homens e animais os respeitam, incluindo a própria babilónico. Talvez seja o mesmo Jazanias mencionado
onça, o maior felino de nossas florestas. em Jer. 40:8 e 42:1. Parece que ele recuperou parte
Nos tempos do Antigo Testamento, os javalis eram dos despojos tomados por Ismael, filho de Netenas
abundantes na Palestina, e até hoje podem ser (Jer. 41:11 ss), e então foi para o Egito com o resto dos
encontrados naquela região do mundo. — Os judeus revoltados (Jer. 43:4,5).
javalis foram domesticados desde os tempos mais 2. Um filho de Jeremias (não o profeta), um chefe
remotos como por exemplo, no Egito, antes de 3000 dos recabitas (Jer. 35:3). Ele se mostrou leal às idéias
A.C. O habitat desse ungulado ia desde o norte da e às práticas de seus genitores, e o profeta Jeremias
Âsia, atravessando toda a Europa até às ilhas usou-o como ilustração de lealdade cujo exemplo
britânicas. Os islamitas, tanto quanto os judeus, não deveria ter sido seguido pelos judeus (Jer. 35:3).
consomem carne de porco, embora alguns judeus, nos 3. Um filho de Safã. Ezequiel viu-o em uma visão,
dias de Jesus, preferissem ignorar as proibições oferecendo sacrifícios a ídolos, em Jerusalém (Eze.
mosaicas (Mat. 8:30). Ou o trecho falaria de alguma 8:11). Isso ocorreu por volta de 593 A.C.
comunidade gentílica? Também parece que alguns 4. Um filho de Azur, um iníquo príncipe de Judá,
judeus antigos consumiam carne de porco (Isa. contra quem Ezequiel recebeu ordens para profetizar
66:17). A proibição mosaica encontra-se em Lev. 11:7 (Eze. 11:1). Ele foi uma das vinte e cinco pessoas
435
JA Z E E L - JE B U S
contra quem a atenção do profeta Ezequiel foi astrônomo, nascido na Inglaterra. Educou-se em
dirigida. Isso aconteceu por volta de 594 A.C. Cambridge e ensinou em Cambridge e em Princeton.
Foi um habilidoso cientista e conferencista popular.
Sua metafísica idealista é importante do ponto de
JAZEEL vista religioso. Essa metafísica reduz a realidade ao
No hebraico, «Deus confere». Nome do primogênito não-material, pois ele explicava que tudo quanto
de Naftali(Gên. 46:24). Foi ele o fundador do clã dos existe é o conteúdo da m en te divina. Naturalmente,
jazeelitas (Núm. 26:48). Ele viveu por volta de 1856 isso é uma negação do materialismo e a espiritualiza-
A.C. ção do conhecimento. Ver sobre o Idealism o. Ele
descrevia Deus como o «Matemático Puroi. Contudo,
preferia chamar Deus de «a Mente divina». Muitos
JAZER religiosos animam-se diante do fato de que alguns
No hebraico, talvez «ele ajuda». Esse era o nome de físicos teóricos não são materialistas. De fato, os
uma cidade dos amonitas, em Gileade, no lado físicos teóricos estão usando uma linguagem parecida
oriental do rio Jordão. Foi conquistada dos amorreus com a dos místicos, e parece que uma visão
quando Israel invadiu a Terra Prometida (Núm. inteiramente diferente da realidade está surgindo na
23:32). Foi uma das quatro cidades pertencentes à ciência, que, sem dúvida alguma, produzirá profun
tribo de Gade que foram entregues aos levitas (Jos. dos efeitos sobre a teologia cristã.
21:39). Alguns dos mais habilidosos e destemidos
guerreiros de Davi vieram daquela localidade (I Crô.
26:31). Finalmente, os moabitas conquistaram a área JEARIM
e fizeram de Jazer uma de suas cidades fronteiriças No hebraico, «florestas». Esse era o nome de uma
(Isa. 16:9; Jer. 48:32). Isso teve lugar pouco depois da montanha, localizada na fronteira norte do território
queda de Samaria. Nos tempos helenistas, os de Judá (Jos. 15:10). Essa montanha era forrada por
amonitas estiveram de posse de Jazer; mas Judas florestas, o que lhe explica o nome. A cidade de Balá
Macabeu tomou-a deles. Isso teve lugar em cerca de ou Quiriate-Jearim ficava localizada ali. Há no local
164 A.C. (I Macabeus 5,7,8). O local tem sido uma serra montanhosa cerca de treze quilômetros de
tentativamente identificado com o wadi Sa’ib, perto distância de Jerusalém, que lhe fica mais para o
de es-Salt. Outras identificações também têm sida Oriente, e onde fica localizada a moderna aldeia de
propostas, como Khirbet Sar (Qasr es-Sar), cerca de Saris.
oito quilômetros a oeste de Amam, perto do wadi
esh-Shita; e também Khirbet es-Sireh, cerca de um
quilômetro e meio ao norte de Khirbet Sar. Mas a JEATERAI
verdade é que a questão da localização exata da No hebraico, «aquele que é guiado por Yahweh».
antiga cidade continua em aberto. Esse era o nome de um levita gersonita, antepassado
de Asafe (I Crô. 6:21). No vs. 41 daquele trecho,
porém, ele é chamado de Etni, o que, segundo alguns
JAZERA eruditos, representa um erro escribal.
No hebraico, «guiado de volta por Deus». Um
sacerdote, neto de Imer (I Crô. 9:12), filho de
Mesulâo. Em Nee. 11:13, ele é chamado de Azi, filho JEBEREQUIAS
de Mesilemote. Encontrava-se entre aqueles que No hebraico, «aquele a quem Yahweb abençoa». Ele
retornaram do cativeiro babilónico a fim de ajudar a era o pai de certo Zacarias (não o profeta desse
reestabelecer o povo de Israel em Jerusalém, em cerca nome), que Isaías contratara como testemunha de seu
de 536 A.C. casamento com a profetisa (Isa. 8:2). Isso ocorreu em
cerca de 739 A.C. Ele também era testemunha das
profecias de Isaías contra a Síria e Efraim.
JAZIZ
No hebraico, «proeminente». Todavia, alguns JEBUS
duvidam desse ou de qualquer outro significado No hebraico, «pisada». Um antigo nome de
sugerido. Esse era o nome de um hagarita que estava Jerusalém, quando ainda era uma cidade cananéia,
encarregado do gado de Davi, provavelmente a leste nas colinas do sudoeste da Palestina, naquilo que,
do rio Jordão (I Crô. 27:31). Ele viveu por volta de posteriormente, veio a chamar-se de Sião (Jos. 15:8;
1014 A.C. 18:16,28; Juí. 10:10; I CrÔ. 11:4,5). Davi foi quem
capturou a Jerusalém jebusita (II Sam. 5:8). A
JEALELEL arqueologia tem demonstrado que Jebus era fortifica
No hebraico, «louvador de Deus», ou então «que da por duas fortes muralhas. A cidade antiga ficava
Deus resplandeça». Esse era o nome de dois ao sul da área do templo, que veio a tomar-se o centro
personagens que ocupam as páginas do Antigo de adoração em Israel. jVté onde a história nos pode
fazer recuar, Jebus já existia, muitos séculos antes da
Testamento: época de Davi. Ojyebuseus (vide) deram o seu nome à
1. Um descendente de Judá, mas cujos pais não são cidade, e não o contrário, conforme freqüentemente
mencionados, embora o sejam quatro filhos seus (I acontecia.
Crô. 4:16). Ele viveu em cerca de 1618 A.C. Os eruditos também dizem que «Jerusalém» é um
2. Um levita merarita. Seu filho, Azarias, nome antiqüíssimo dessa cidade, ao ponto de, talvez,
participou da restauração do templo de Jerusalém, ser ainda mais antigo que Jebus. Se isso é verdade,
nos tempos de Ezequias (II Crô. 29:12). Viveu por então quando Davi chamou a cidade de «Jerusalém»,
volta de 719 A.C. isso foi a restauração de um nome antigo, e não uma
mudança de nome. Referências bíblicas, como a de
Josué 10:1,3,5, mostram que esse nome existia
JEANS, JAMES H. desde antes da invasão israelita, e o trecho de Josué
Suas datas foram 1877-1946. Ele foi físico e 15:8 mostra-nos que os dois nomes já eram usados
JE B U S E U S - JE C O N IA S
para indicar o mesmo lugar, no tempo dessa invasão. forma triangular, embora pesadamente fortificado.
Melquisedeque (Gên. 14:18), da época de Abraão, Seus limites eram os vales do Cedrom, Tiropoeano e
era rei de Salém , o que significa pacífica. Por sua vez, Sedeque. Contava com um bom suprimento de água
Jerusalém significa «alicerce da pacífica». E isso quer potável na fonte de Giom.
dizer que, nos dias de Abraão, já havia a raiz do nome 4. Davi utilizou-se de um túnel a fim de invadir a
Jerusalém. É possível que o nome original significas cidade. Esse túnel fazia parte do sistema de
se «fundada em paz», e que Salém fosse uma forma transporte de água que os cananeus haviam
abreviada do nome original, «Jerusalém». Um informe construído para trazer água desde um ponto fora da
egípcio, do século XIX A.C., menciona U rusalim um , cidade para um reservatório localizado no interior da
com quase absoluta certeza uma menção à antiga cidade murada. Esse sistema, juntamente com um
cidade de Jerusalém. A correspondência de Tell outro, similar, construído por Ezequias, rei de Judá
el-Amarna, do século XIV A.C., diz Urusallm, uma (II Reis 20:20), têm sido explorado pelos arqueólogos.
outra antiga evidência da antiguidade desse nome. O A questão é descrita no artigo separado Giom, Fonte
trecho de Jos. 15:8 traz a forma variante «jebuseu», de. Ver também os artigos A quedutos A ntigos e
que é explicada como uma menção a Jerusalém. Ver E zequias, quinto ponto, quanto às construções desse
os artigos separados sobre JebuseuU ) e Jerusalém. rei, incluindo o seu famoso aqueduto.
5. Várias escavações arqueológicas têm revelado os
limites originais da antiga cidade de Jebus, juntamen
JEBUSEU(S) te com suas várias expansões, feitas posteriormente.
Ver o artigo sobre Jebni (Jerusalém), a principal Têm sido encontradas porções das muralhas da
cidade dos antigos jebuseus. O jebuseus estavam entre cidade e outras fortificações de Jebus, incluindo o
as sete populações cananéias condenadas à destruição grande portão do lado ocidental. Algumas dessas
pelos escritores bíblicos. Os jebuseus, usualmente, construções remontam a um tempo tão recuado
aparecem em último lugar nas listas. Ver Gên. 10:16; quanto 2000 A.C.
15:21; Êxo. 3:8,17; 13:5; Deu. 7:1; 20:17; Jos. 3:10; 6. A cidade capturada por Davi, vista de cima,
9:1; 11:3; 12:8; 24:11; Juí. 3:5; I Reis 9:20; I CrÔ. tinha o formato de uma gigantesca pegada humana,
1:14. Os jebuseus eram uma das mais poderosas com cerca de 380 m de comprimento por cerca de 137
nações de Canaã que se estabeleceram próximas do m de largura. Isso fazia de Jebus uma cidade
monte Moriá, onde construíram a cidade de levemente maior do que a antiga Jerico, quando os
Jerusalém. Chamaram-na de Jebus, segundo o nome cananeus exerciam controle sobre a mesma. Contava
de seu próprio primeiro antepassado, que pertencia à com altas muralhas e outras fortificações militares,
linhagem de Canaã, filho de Cão. Ver Gên. 10:6,15. mostrando assim o problema de estratégia que Davi
Josué e seu exército conseguiram derrotá-los, tendo precisou enfrentar. A menos que ele tivesse encontra
efetuado grande morticínio e destruição e matando do uma maneira astuciosa de penetrar na cidade,
Adonizedeque, o rei deles (Jos. 10). Todavia, os através de seu sistema de fornecimento de água,
jebuseus não foram totalmente subjugados, consegui ter-lhe-ia sido praticamente impossível conquistá-la,
ram reter Jebus como sua capital (Juí. 1:8). Só foram por mais maciças que fossem as forças que pudesse
inteiramente desapossados nos tempos de Davi (II lançar contra ela.
Sam. 5). — Mas a propriedade particular foi
respeitada e alguns jebuseus puderam ficar com
suas terras, mesmo nos tempos de Davi. Isso levou à JECAMEÃO
circunstância que o local onde o templo foi, No hebraico, «o povo levantar-se-á». Ele era levita, o
finalmente, edificado, até então era propriedade quarto filho de Hebrom, no arranjo dos levitas,
particular de Araúna, um jebuseu. Davi, entretanto, estabelecido por Davi (I Crô. 23:19; 24:23). Ele viveu
comprou aquele terreno, embora Araúna tivesse em torno de 960 A.C.
oferecido o mesmo como uma dádiva (II Sam.
24:18-25). Os trechos de Esd. 9:1 e Nee. 9:8 são
outras referências bíblicas a esse povo. E no livro JECAMIAS
apócrifo de Atos dos Apóstolos há uma alusão a uma No hebraico, «Yahweh levantar-se-á» ou «Yahweh
certa caverna, em Chipre, onde a raça dos jebuseus, estabelecerá». Esse foi o nome de duas personagens da
ao que se diz, antes tinham vivido. Além disso, nessa Bíblia:
mesma obra apócrifa, há menção a um jebuseu 1. Um homem da tribo de Judá, filho de Salum (I
piedoso, que seria parente do imperador Nero. Crô. 3:18). Descendia de Judá. Viveu nos dias do rei
Visto que os jebuseus ocupavam a faixa fronteiriça Acaz, em cerca de 730 A.C.
entre Judá e Benjamim (Jos. 15:63; Juí. 1:21), eles 2. O quinto filho do rei Jeconias (I Crô. 3:18).
serviam de uma inconveniência para ambas essas Nasceu durante o cativeiro babilónico, em cerca de
tribos de Israel. Mas nenhuma dessas duas tribos foi 598 A.C.
capaz de deslocar inteiramente aos jebuseus. As
referências nos livros de Esdras e Neemias subenten
dem que os jebuseus continuaram a existir como uma JECOLIAS
tribo pagã distinta até mesmo após o cativeiro No hebraico, «capaz por meio de Yahweh». Esse era
babilónico. o nome da mãe do rei Azarias (Uzias), de Judá (II
A Arqueologia e oa Jebuaetu: Reis 15:2; II Crô. 26:3). Ele viveu por volta de 810
1. Os arqueólogos têm localizado a Jerusalém dos A.C.
jebuseus na colina oriental, ao sul do terreno mais
elevado sobre o qual Salomão, no século X A.C.,
erigiu o suntuoso templo. JECONIAS
2. Os jebuseus não ocupavam esse terreno mais No hebraico, «Yahweh estabelece». Há três
elevado porque ali havia um templo cananeu que era personagens do Antigo Testamento canônico e em
tido como um local sagrado, que devia permanecer seus livros apócrifos com esse nome:
desocupado. 1. O penúltimo rei de Judá, cujo nome é
3. A área tornou-se um minúsculo terreno em mencionado em I Crô. 3:16,17; Est. 2:6; Jer. 24:1;
437
JE C U T IE L J .E .D .P .(S .)
27:20; 28:4; 29:2. E, no Novo Testamento, na 12:20). Entretanto, alguns o identificam com o
linhagem do Senhor Jesus, em Mat. 1:11,12. Ele viveu m etoo Jediael que ocupa o terceiro lugar nesta lista.
por volta do ano de 599 A.C. Viveu por volta de 1000 A.C.
2. Um levita que viveu nos dias do rei Josias. Em II
Crô. 35:9, seu nome aparece com leve forma variante,
Conanias. Com a forma de Jeconias, somente em I JEDIAS
Esdras 1:9. No hebraico, «unidade de Yahweh», embora outros
3. O filho de Josias, que foi rei de Judá (I Esdras prefiram interpretar como «que Yahweh se alegre».
1:34). Nome de dois homens que figuram nas páginas da
O nome Jeconias é uma forma alternativa de Bíblia:
Jeoiaquim. 1. Um representante dos filhos de Subael, que
parece ter estado encarregado de uma das divisões dos
serviços prestados no templo de Jerusalém (I Crô.
JECUTIEL 24:20). Ele viveu em cerca de 1014 A.C.
No hebraico, «Deus sustentará». Esse nome está 2. Um meronotita que estava encarregado das
relacionado ao termo árabe gata, «sustentar», jumentas de Davi e mais tarde, de Salomão (I Crô.
«nutrir». Ele era filho de Esdras e uma «mulher 27:30). Viveu por volta de 1014 A.C.
judia», que algumas pessoas pensam que se deve
traduzir como nome próprio Jeudia (vide), e que
outros pensam ser a mulher de Hodias (vide). Ele JEDIDA
fundou a cidade de Zanoa (vide) (I Crô. 4:18). Isso No hebraico, «amada». Esse era o nome da mãe do
ocorreu em cerca de 1618 A.C. Ele era descendente de rei Josias. Ela era filha de Adaías. Era esposa do rei
Judá, através de Merede (vide). Amom (II Reis 22:1). Ela viveu por volta de 650 A.C.
JEDAlAS JEDIDIAS
No hebraico, «louvado por Yahweh». Nome de No hebraico, «amado por Yahweh». O profeta Natã
várias personagens que figuram na Bíblia, a saber: deu essa alcunha a Salomão, filho de Davi,
1. Um chefe do segundo turno de sacerdotes, depois declarando ser esse o nome de Deus para ele, como
que Davi os dividiu em vinte e quatro grupos (I Crô. garantia de que Deus estava investindo nele e usaria a
24:7). Ele viveu por volta de 1014 A.C. Talvez tenha sua vida. Ver II Sam. 12:25.
sido o antepassado dos novecentos e setenta e três
sacerdotes que retornaram a Jerusalém, após o
término do cativeiro babilónico, ■'mencionados em I. E. D . P.(S.)
Esd. 2:36 e Nee. 7:39. Essas letras são abreviações das alegadas quatro
2. Um sacerdote que serviu na época do sumo fontes do Pentateuco(ou Hexateuco). Segundo alguns
sacerdote Josué (I Crô. 9:10; Nee. 11:10), e que, ao estudiosos, essas quatro fontes teriam sido entreteci
que parece, era seu aparentado (Esd. 2:36; Nee. das para formar aquçles documentos sagrados. Isso
7:30). Provavelmente, ele é o mesmo 'indivíduo equivale a dizer que Moisés não foi o autor desses
mencionado em Nee. 12:6, que foi honrado com uma livros, embora algumas de suas idéias e instituições
coroa pelo profeta, segundo o registro de Zac. 6:14. tivessem sido incorporadas aos mesmos. A teoria dá a
Viveu em cerca de 530 A.C. esses livros datas muito distantes e posteriores dos
3. O pai de Sinri e antepassado de Ziza (I Crô. dias'de Moisés, querendo levar-nos a crer que
4:37) mencionado na história de Semaías, com quem tradiçõeis, tanto orais quanto escritas (mas principal
estabeleceu residência no vale do Gedor. Viveu por mente orais) teriam sido coligidas bem mais tarde,
volta de 700 A.C. através de um ou mais editores, — formando
assim livros como Gênesis, Êxodo, Levítico, etc.
4. O filho de Harumafe, um dos edificadores das
muralhas de Jerusalém, quando as mesmas foram J. Esse símbolo é usado para indicar um dos
restauradas após o cativeiro babilónico. Ver Nee. componentes dos livros em questão, além de porções
3:10. Ele viveu em cerca de 446 A.C. de I e II Samuel. Significa Jeová (isto é, Yahweh), que
é um nome divino comum e enfático, no material
proveniente dessa suposta fonte. Os eruditos dividi
JEDIAEL ram essa fonte em duas partes, de tal modo que até
No hebraico, «conhecido por Deus». Há três ou mesmo J deveria ser visto como mais de um autor ou
quatro homens que podem ser identificados com esse compilador. Ver o artigo separado sobre J, quanto a
nome, nas páginas do Antigo Testamento: maiores detalhes. Pertenceria aos séculos X e IX A.C.
1. Um patriarca da tribo de Benjamim. Seus E . Essa letra é usada para simbolizar outra das
descendentes foram enumerados entre os guerreiros, fontes formadoras do Pentateuco (ou Hexateuco).
quando do recenseamento feito por Davi (I Crô. Significa E lohim , o nome divino enfático e caracterís
7:6,10,11). Ê possível que ele tenha sido o mesmo tico dessa suposta fonte. Os estudiosos acreditam que
homem que é chamado de Asbel, em I Crônicas 8:1. porções de I e II Samuel também se valeram dessa
Alguns eruditos pensam que ele pertencia a uma fonte. Teria sido escrito no reino do norte, talvez no
família de Zebulom. Ele viveu por volta de 1700 A.C. território de Efraim, em cerca do século VIII A.C. Os
2. Um levita coreíta, filho de Meselemias, que eruditos disputam sobre a sua independência, alguns
serviu como porteiro do templo de Jerusalém, nos dias supondo que meramente seria uma parte de/, D e S , e
de Davi(I Crô. 26:1,2). Viveu por volta de 1014 A.C. não uma entidade literária separada, argumentando
3. O filho de Sinri, um dos poderosos guerreiros de que parte desse material teria sido trabalho de um
Davi, que foi para o exílio em companhia dele, em editor ou editores, e não uma genuína fonte
Ziclague, quando Davi fugia de Saul (I Crô. 11:45; informativa. Ver também sobre E .
12:20). Isso ocorreu por volta do ano 1000 A.C. D . Essa letra é usada para simbolizar outra suposta
4. Um manassita que se aliou a Davi em Ziclague e fonte do Pentateuco (ou Hexateuco), além de material
que se tornou um de seus poderosos guerreiros (I Crô. incorporado em I e II Reis e Jeremias, além de outros
J.E .D .P .(S .) - J E F T Ê
livros do Antigo Testamento, talvez. Esse símbolo sacerdotes, na época de Davi (I Crô. 24:16). Ele viveu
indica o autor ou autores do livro de Deuteronômio, por volta de 1000 A.C.
além de uma escola de historiadores que teria agido
como editores, após a publicação do livro de
Deuteronômio (o que teria sido feito somente em 621 JEFONÊ
A.C.). Esses editores teriam empregado o mesmo No hebraico, «vivaz», «ágil», ou, então, como alguns
vocabulário e outras idéias típicas do livro de interpretam, «ele está pronto». Esse é o nome de duas
Deuteronômio e outros. Dali é que teriam saído pessoas, nas páginas da Bíblia:
materiais incluídos em Josué, Juízes, I e II Reis e 1. O pai de Calete, companheiro de Josué na
Jeremias. Ver o artigo sobre D . espionagem na terra de Canaã, antes da conquista
P{S). P «priestly» em inglês corresponde a S , daqueles territórios. Ver Núm. 13:6; 14:5,30,38;
«sacerdotal» em português. — Estaria sob con 26:65; 32:12; 34:19; Deu. 1:36; Jos. 14:6,13,14. Ele
sideração o cógico sacerdotal, uma das alegadas fontes viveu em torno de 1700 A.C.
informativas do Pentateuco (ou Hexateuco). Ao que 2. O filho mais velho de Jeter (Itrã), um
alguns presumem, incluindo Êxodo 25—31; 35—40; descendente de Aser (I Crô. 7:38). Ele viveu em cerca
Levítico 1—16; Números 1:1—10:28, além de outras de 1017 A.C.
seções, como porções do livro de Gênesis, porções de
Êxodo 1—24; Lev. 17—26; Números 11—36 e trechos
de Deuteronômio 31—34, além de uma boa parcela JEFTÉ
de Josué. Alegam esses teóricos que seria uma fonte No hebraico, «abridor», «ele abrirá» ou «El (Deus)
«sacerdotal» por causa de sua ênfase sobre as abrirá». O sentido final do nome pode ser «liberdade».
cerimônias, os ritos e as funções sacerdotais da fé 1. Caracterização Geral. Jefté foi o nono juiz de
judaica. Teria sido uma fonte produzida no século V Israel. Pertencia à tribo de Manassés. Ele foi um
A.C. Quanto a uma descrição completa a respeito, ver grande guerreiro de Israel, filho de Gileade e de uma
o Código Sacerdotal. concubina sua, ou de uma prostituta. Foi expulso de
S. Uma outra fonte informativa, também chamada casa pelos seus irmãos, e refugiou-se na terra de Tobe
S por alguns eruditos, é utilizada para indicar (vide). Quando os amonitas atacaram militarmente a
certa fonte informativa de Gênesis — (capítulos nação de Israel, Jefté retornou de seu exílio e apelou
1—11 e 14—18). Essa fonte é atribuída ao século X para os anciãos dos israelitas, encorajando-os a
A.C. Ver sobre isso no artigo S . Esse S representa S u l defender Israel. Jefté tomou a sério a sua responsabili
ou Seir, seu alegado lugar de origem. dade. Em primeiro lugar, fez um voto, prometendo
Desnecessário é dizer que essa teoria J.E .D .P .(S .) que se obtivesse a vitória, ofereceria em sacrifício (em
tem servido de campo de batalha que envolve eruditos holocausto) a primeira pessoa que viesse a encontrar-
liberais e conservadores, porquanto destrói a unidade se com ele, proveniente de sua casa, quando voltasse
literária do Pentateuco, negando a autoria mosaica e da esperada vitória. As coisas complicaram-se quando
conferindo datas bem posteriores aos livros envolvi essa primeira pessoa foi a sua própria filha única. No
dos. Temos provido discussões sobre essas questões entanto, ele cumpriu seu voto dois meses mais
nos artigos sobre os livros em questão. Questões como tarde. Dali por diante, as mulheres de Israel
diferenças de vocabulário, de estilo, de referências passaram a observar quatro dias de lamentação pela
históricas e do tipo e antiguidade do idioma hebraico virgindade da filha de Jefté, a cada ano. A última
empregado são destacadas como razões para a campanha de Jefté, contra os efraimitas revoltosos,
opinião de que vários autores e editores estiveram também obteve pleno sucesso. Ver Juí. 11:1—12:7.
envolvidos na escrita e compilação daqueles primeiros 2. Inform es Históricos, a. Por causa de seu
livros da Bíblia Sagrada. nascimento ilegítimo é que ele fora expulso da sua
casa paterna, tendo ido fixar residência em Tobe, um
JEDUTIUM distrito da Síria, não muito longe de Gileade (Juí.
11:1-3). Em Tobe, Jefté tornou-se o chefe de um
No hebraico, «aquele que louva». O homem com bando de homens violentos, que «ganhavam» a vida
esse nome era um levita da família de Merari. Foi um mediante violências. No Oriente, nos dias da
dos quatro grandes mestres da música do templo (I antiguidade, tal atividade era considerada honrosa, se
Crô. 16:41,42; 25:1). Esse nome também designa os os objetos dos ataques fossem inimigos, quer públicos
seus descendentes, que também foram músicos quer particulares, mormente se se sentisse que tais
notáveis em seu tempo (II Crô. 25:15; Nee. 11:17). Os inimigos mereciam tal tratamento. Seja como for, foi
subtítulos dos Salmos 39, 62 e 77 mostram que esses durante esse tempo que Jefté adquiriu suas habilida
salmos, talvez, fossem recitados com acompanha des violentas que, mais tarde, foram postas a bom
mento musical; ou, então, há alusão a algum tipo uso, em defesa de Israel.
especial de instrumento musical, usado no acompa b. Após a morte de Jair, pai de Jefté, os israelitas,
nhamento dos salmos em questão, quando eram
recitados. O Jetudum original também era conhecido por causa de suas idolatrias e com pões, tomaram-se
pelo nome de Etnã (I Crô. ff:44), que talvez tivesse sujeitos à opressão dos filisteus, a oeste do rio Jordão,
sido seu nome original. Ao que parece ele era dotado bem como dos amonitas, para o Oriente. Dezoito anos
tanto de dons musicais quanto de dons proféticos (I de agonia levaram os israelitas de volta a uma melhor
Crô. 25:1,3). Era um vidente real (II Crô. 35:15), e, espiritualidade, e eles procuraram de Deus a
mui provavelmente, ocupava-se em adivinhações e libertação 1143 A.C.
de seus inimigos. O tempo era cerca de
predições, e não meramente em prestar conselhos ao
rei. A família que descendia dele continuou a oficiar, c. As tribos israelitas da Transjordânia decidiram
terminado o exílio babilónico (Nee. 11:17). fazer oposição violenta contra os amonitas; e Jefté foi
escolhido como o melhor líder da revolta. Jefté aceitou
o convite, e tomou-se um prestigioso guerreiro.
Surpreendentemente, no começo ele tentou barga
JEEZQUEL nhar com os amonitas, solucionando a disputa por
No hebraico, «Deus fortalecerá». Nome de um meios pacíficos. Mas seus esforços diplomáticos
sacerdote que era o cabeça do vigésimo turno de redundaram em nada. Isso fez com que a violência se
439
JE F T É - JE G A R -SA A D U T A
tornasse a única alternativa para livrar Israel de seus obedecida. Sabemos, por meio da história, que
adversários ocupantes. continuaram em Israel os sacrifícios humanos, apesar
d. O Voto Precipitado. Jefté anelava pelo triunfo, das leis em contrário. Finalmente, os registros
razào pela qual fez um voto precipitado, o de que bíblicos mostram que o próprio Jefté foi um homem
sacrificaria em holocausto a primeira pessoa que violento, que, durante anos, ganhou a vida atacando
viesse recebê-lo, vindo de sua casa, se ele retornasse a outras pessoas. Sua primitiva fé religiosa não o
ela vitorioso. Ver sobre esta loucura em Juí. 11:30,31. impediu, pois, de oferecer um sacrifício humano; e o
— Versículos 3-33 explicam como os amonitas seu passado violento levou-o a aceitar e praticar atos
foram totalmente derrotados, com tremendas perdas. absurdos, como esse do sacrifício de sua própria filha
Jefté voltou vitorioso para casa. Mas, tragicamente, a única. Provavelmente, ele estava bem convencido de
primeira pessoa a vir ao seu encontro foi a sua filha que Deus aprovava o seu voto, o que estaria
única. Houve música e danças em celebração à evidenciado pelo fato de que derrotara completamen
vitória. Mas Jefté sentia-se tão derrotado quanto os te o inimigo. E, assim sendo, não temeu executar o
amonitas. E Jefté declarou: «Ah! filha minha, tu me seu voto, sacrificando a filha única. Sem dúvida, ele
prostras por completo...» (Juí. 11:35). Jefté explicou à classificava isso como um ato especial, embora não
sua filha única o voto que fizera, e a donzela só pediu aprovasse uma prática generalizada de sacrifícios
mais dois meses de vida, a fim de chorar sua humanos, de adultos ou de infantes.
virgindade com suas amigas. Os dois terríveis meses b. A rg um entos Contra a R ealidade do Sacrifício. O
passaram-se, e o horrendo sacrifício foi consumado. principal desses argumentos estriba-se sobre a
e. Em seguida, Jefté precisou lutar contra os proibição mosaica, supondo que Jefté não teria
perturbadores efraimitas, no lado ocidental do rio ousado contradizê-la. Porém, o argumento da
Jordão. Os efraimitas não estavam satisfeitos, porque coerência na observação da lei mosaica não é muito
não haviam compartilhado do combate e da vitória forte. Além disso, alguns distorcem o próprio texto
sobre os amonitas. Foi na batalha que se seguiu entre sobre o voto. O trecho de Juí. 11:31, então, é
os seguidores de Jefté e os efraimitas que houve a interpretado como se dissesse: «...quem primeiro da
famosa história da pronúncia da palavra Chibolete, porta da minha casa me sair ao encontro, voltando eu
que os efraimitas pronunciavam como Sibolete. Essa vitorioso dos filhos de Amom, esse será do Senhor, ou
palavra significa «espiga de trigo». Dessa forma, os (em vez de e) eu o oferecerei em holocausto».
efraimitas podiam ser facilmente identificados, e Mediante essa sutil alteração imaginária, Jefté teria
muitos deles foram mortos quando não conseguiam tido uma opção, indicando que a pessoa em foco
pronunciar direito a palavra sugerida. Ver o relato em poderia ser consagrada ao serviço do Senhor, e não
Juí 12:1-6. como um holocausto que pusesse fim à sua vida
3. Governo e M orte de Jefté. Jefté julgou Israel terrena. É verdade que a palavra hebraica envolvida
durante seis anos (Juí. 10:6; 12:7). Ao que parece, ele pode ser assim traduzida, mas o texto inteiro clama
conseguiu governar em paz. Corria, aproximadamen contra tal alteração na tradução. Além disso, o vs. 38,
te, 1105—1099 A.C. Sua autoridade parece ter-se onde as mulheres de Israel aparecem a lamentar pela
limitado à região a leste do rio Jordão, a virgindade da filha de Jefté, é interpretado como se
Transjordânia. Finalmente, Jefté faleceu e foi indicasse que elas lamentavam não por sua morte,
sepultado em sua terra nativa, em uma das cidades de mas pelo fato de que ela teria de permanecer como
Gileade (Juí. 12:7). virgem, separada para o serviço do Senhor como tal.
4. Caráter de Jefté. Jefté era um homem intenso. A condição normal das jovens, em Israel, era
Ele vivera temerariamente, matou a muitos e fez um casarem-se e terem filhos; e, se não fosse esse o caso,
famoso voto precipitado, que, mui estupidamente, foi então fazia-se lamentação pela donzela. Porém, a
cumprido. Como é óbvio, ele era homem de vontade virgindade da filha de Jefté foi lamentada, não porque
férrea, embora ele se tivesse mostrado primitivo em ela tivesse permanecido no celibato pelo resto da vida,
sua fé religiosa. A sua tentativa de negociar com os e, sim, porque seria morta quando ainda virgem, pelo
amonitas mostra-nos que a violência não era o único que não tivera tido oportunidade de ter filhos, o que
aspecto de seu caráter. Soluções rápidas, por meios era considerado uma desgraça em Israel. Outrossim,
violentos, eram o costume da época, e Jefté foi apenas sendo ela morta, isso significaria que Jefté não teria
um produto de sua época. quem lhe continuasse o nome, visto que ela era filha
única. E isso também era considerado uma calamida
5. O Problema do Voto. Os intérpretes têm de em Israel.
transformado em campo de batalha essa questão do c. Comentário sobre o Voto de Jefté. Que o voto de
voto de Jefté. Jefté realmente cumpriu o seu horrendo Jefté foi cumprido, tenhamos a certeza. Isso é apenas
voto? Alguns respondem na afirmativa; e outros, na uma evidência da natureza primitiva da fé de um
negativa. Aqueles que respondem com um «não» homem violento. Não há razão para supormos que
inspiram-se na crença dogmática de que isso não pode Deus tenha dado a Jefté a sua notável vitória porque
ter acontecido em Israel, ou, então, temem que ele fizera aquele voto, ou que, depois da vitória,
possam compreender que Deus, realmente, aprovou e houvesse qualquer necessidade de cumprir o voto.
aceitou o ato. Jefté é que criara a questão toda. Deus não esteve
a. A rgum entos em A poio que o Sacrifício fo i envolvido em tão estúpido ato. As pessoas acusam
E fetuado. Os textos bíblicos envolvidos deixam claro Deus de toda espécie de coisas ridículas, e até mesmo
que Jefté fez o voto e o cumpriu. Além disso, por que injuriosas e prejudiciais, e inventam coisas estúpidas
as mulheres de Israel lamentariam pela filha de Jefté, em suas mentes. O trecho de Juízes 11:29 mostra-nos
se o voto não tivesse sido cumprido! Apesar dos que Deus usa as pessoas até mesmo quando elas
sacrifícios humanos terem sido proibidos pela pensam e agem de forma estúpida.
legislação mosaica (ver Deu. 18:10; 12:30,31; Lev.
18:21; 20:2; Sal. 106:37,38; 7:31; Eze. 16:20,21), não
há razão alguma para supormos que essas leis foram JEGAR-SAADUTA
observadas cem por cento. Além disso, temos o No hebraico, «montão do testemunho». Esse foi o
exemplo de Abraão, no caso de Isaqueu que poderia nome arameu que Labão deu ao monte de pedras que
ter servido de precedente para casos especiais, erigira para servir de memorial do pacto firmado
embora, via de regra, a legislação mosaica fosse entre ele e Jacó, — quando, finalmente, se
440
JE ÍA S - JE JU M
separaram. Jacó comemorou o ato levantando uma em cerca de 459 A.C.
coluna (Gên. 31:47), — que chamou de Galeede 11. Um dos filhos de Hotão, o aroerita. Ele era
(vide), que significa «montão do testemunho». Ê membro da guarda militar de Davi, cujo nome foi
provável que essa palavra, usada por Jacó, esteja incluído na lista suplementar de I Crô. 11:44. Seu
vinculada à região chamada Gileade (vide), porquan tempo foi em tomo de 1046 A.C.
to naquela região é que foi firmada a aliança
entre Jacó e Labão.
JEIRA
Ver sobre Pesos e Medidas. Essa medida, j d n é
JElAS mencionada no Antigo Testamento em Exo. 30:13;
No hebraico, «Yahweh vive». Nome de um dos Lev. 27:25; Núm. 3:47; 18:16 e Eze. 45:12.
porteiros da arca, quando Davi a transportou para
Jerusalém. Ele foi nomeado porteiro em favor da arca
(I Crô. 15:24). Viveu por volta de 1000 A.C. JEIZQUIAS
No hebraico «aquele a quem Yahweh fortalece»
JEIEL (pois tem o mesmo sentido do nome Ezequias). Ele
era filho de Salum, um dos cabeças da tribo de
No hebraico, «que El viva». Esse foi o nome de dez Efraim. Diante da sugestão feita pelo profeta Obede,
ou onze homens que aparecem nas páginas do Antigo insistiu em mostrar clemência para com os prisionei
Testamento, a saber: ros tomados da tribo de Judá (II Crô. 28:12), em cerca
1. Um levita que serviu nos dias de Davi no de 738 A.C. Ele se opôs a que cativos judeus fossem
ministério musical, que era muito importante para trazidos para Samaria, nos dias do rei Acaz.
Davi (que também era músico consumado). Foi Davi
quem mais desenvolveu a música sacra em Israel.
Jeiel ministrava diante da arca do Senhor (I Crô. JEJUM
15:18,20 e 16:5). Muitos pensam que ele é o mesmo Esboço:
Jeías do vs. 24 desse mesmo capítulo quinze de I I. Caracterização Geral
Crônicas. E tem sido identificado com o Jeiel de I Crô. II. O Valor do Jejum
23:8, um dos filhos de Ladã, e que estava encarregado
dos tesouros da casa do Senhor (I Crô. 29:8). Viveu III. História do Jejum nas Escrituras
por volta do ano 1000 A.C. IV. O Jejum no Novo Testamento
2. Um levita gersonita que alguns estudiosos V. A Importância do Jejum
identificam com o homem que acabamos de VI. Do Século II D.C. em Diante
descrever. Seu pai era Ladã. Os levitas que serviam no VII. O Jejum no Islamismo, no Hinduísmo e no
tabernáculo também se tornaram servos do templo (I Budismo
Crô. 23:8 e 29:8). I. Caracterização Geral
3. Um filho de Hacmoni, que, ao que parece, A importância do jejum, em muitas e nas mais
trabalhava como tutor real, na porção final do diversas religiões, sempre foi perfeitamente óbvia.
reinado de Davi (I Crô. 27:32). Viveu por volta de Uma fome prolongada pode provocar visões e diversos
1000 A.C. Serviu tanto aos filhos de Davi como a outros tipos de experiências místicas, tanto genuínas
Jônatas, tio de Davi. quanto espúrias. Essa qualidade do jejum tem feito
4. Um filho de Josafá, rei de Judá (I Crô. 21:2). que o mesmo seja largamente empregado, na cultura
5. Um levita que serviu durante os dias de judaica cristã e fora dela. Assim, tem sido usado pelos
Ezequias. Era filho de Hemã, um cantor que atuava shamans a fim de facilitar a comunicação com
no culto sagrado (II Crô. 29:14). Uma variante de seu espíritos desencarnados, como também era usado por
nome é Jeuel. Entre seus deveres estava o de cuidar aqueles que davam e consultavam os oráculos gregos.
do tesouro guardado no templo de Jerusalém (II Crô. Portanto, tem uma longa e diversificada história.
31:13). Viveu por volta de 726 A.C. Além de seu emprego, como provocador de experiên
6. Um dos governantes da casa de Deus, que cias místicas (a alma rebrilha mais quando o
contribuiu para a renovação do culto no templo, nos estômago está vazio), o jejum tem sido usado como
dias de Josias (II Crô. 35:8). Viveu por volta de 623 meio de expressão de arrependimento, ou como um
A.C. meio de buscar o favor e o perdão da parte de Deus ou
7. O pai de Obadias. Juntamente com outros dos deuses. Meu irmão, que tem sido homem dotado
duzentos e dezoito homens, retornou do cativeiro de poder espiritual, usa o jejum para ajudá-lo a
babilónico a Jerusalém, em companhia de Esdras solucionar problemas difíceis. Ele dá início a um
(Esd. 8:9). Isso aconteceu em cerca de 459 A.C. período de jejum, buscando respostas através desse
8. O pai de Secanias, dos descendentes de Elão tipo de sacrifício e disciplina. O jejum também tem
(Esd. 10:2), que se casara com uma mulher esse sido um sinal comum de lamentação e luto. Quanto a
estrangeira ao tempo do cativeiro babilónico, mas que aspecto do jejum, ver I Sam. 31:13; II Sam. 1:12.
foi forçado a divorciar-se dela quando o povo de Israel No tocante ao arrependim ento, ver Joel 2:12-18; Nee.
renovou seu pacto de cultuar ao Senhor, em 9:1,2. Aquele que busca intensam ente a Deus,
geralmente jejua (Sal. 35:13; 69:10). Os judeus
Jerusalém. Viveu por volta de 457 A.C.
tinham somente um dia de jejum absoluto, a saber, no
9. Um sacerdote que se casara com uma mulher dia da expiação (Lev. 16:23; Núm. 29:7). Mas o
estrangeira, nos dias do cativeiro babilónico, e que judaísmo posterior também contava com muitos
precisou divorciar-se dela quando Israel renovou seu outros dias de jejum. Naturalmente, no caso de
pacto com o Senhor, ao retomar a Jerusalém (Esd. muitos, o jejum havia degenerado em mera ostenta
10:21). Ele viveu por volta de 459 A.C. ção, tornando-se parte do legalismo (ver Isa. 58 e Jer.
10. Um dos filhos de Israel que precisou divorciar-se 14:12). Foi contra esse tipo de jejum que o Senhor
de sua esposa estrangeira, com quem se casara Jesus se rebelou, condenando-o.
durante o cativeiro babilónico, para que pudesse
participar da renovação do pacto de Israel com o II. O Valor do Jejum
Senhor, em Jerusalém (Esd. 10:26), o que aconteceu Eis um exercício espiritual que tem perdido sua
JE JU M
popularidade na adoração religiosa, talvez como sinal espiritual e na busca pela orientação divina. O jejum e
de nossos tempos, que se caracterizam por grande a meditação, ambos poderosos agentes na liberação
ausência de disciplina; pois, acima de tudo, o jejum dos poderes da alma, têm-se perdido na moderna
requer disciplina. Não obstante, é fato bem conhecido igreja evangélica. Pensa-se atualmente que a simples
entre os estudiosos do misticismo, que o jejum tem seu leitura das Escrituras e a fala com Deus (isto é, a
valor como preparação da alma, para que possa oração), mas desacompanhada da meditação (que é
exercer suas funções mais elevadas, porque, nesse ouvi-lo), sejam suficientes. O estado anêmico das
estado, os apetites do corpo são negados, e esses igrejas comprova quão errada é essa suposição.
apetites sempre impedirão as faculdades mais Porém, não é provável que o jejum ou a meditação
exaltadas da alma. A máxima que diz que a alma venham a ser em breve restaurados nas igrejas
brilha mais quanto menor for a atenção dada ao evangélicas que não simpatizam nem com uma e nem
corpo, parece expressar uma verdade, especialmente com outra prática, e nem têm a disciplina necessária
no que concerne ao jejum e a tudo que diz respeito aos para tomá-la útil.
apetites físicos. O jejum, pois, fazia parte importante A palavra traduzida por servindo, em Atos 13:2,
da adoração judaica, e aparentemente, continuou envolve a oração, o jejum, a meditação, a exortação,
assim na igreja cristã primitiva. provavelmente uma combinação de todos esses
m . História do Jejum nas Escrituras elementos. Tudo isso pode ter sido feito proposital
As palavras, hebraicas usadas para indicar o «jejum» mente para buscar a orientação divina sobre o que
podem significar simples abstinência de alimentos, deveria ser feito em seguida, para obtenção do
mas há uma expressão hebraica, «inna napso», que progresso das atividades missionárias da igreja; ou
significa «afligir a alma». A princípio o jejum foi então essa orientação divina pode ter surgido como
instituído como uma das exigências anuais vinculadas um resultado natural. Seja como for, a importância
às festividades religiosas de todos os anos. Os hebreus desse exercício fica aqui amplamente ilustrada.
jejuavam no dia da Expiação (ver Lev. 17:29,31; V. Á Importância do Xqfum
23:27-32 e Núm. 29:7). Após o exílio babilónico, o O jejum é um exercício piedoso que tem perdido
jejum passou a fazer parte das quatro outras festas muitíssimo a sua popularidade na adoração religiosa,
anuais religiosas (ver Zac. 8:19), que assinalavam talvez como sinal dos tempos em que vivemos,
grandes tragédias na história nacional judaica. O altamente indisciplinados, porquanto o jejum requer,
trecho de Est. 9:31 talvez deixe entendido o acima de tudo, grande disciplina e força de vontade.
estabelecimento ainda de um outro jejum regular. Não obstante, é fato bem conhecido, entre os
O jejum era expressão de tristeza (ver I Sam. 31:13; estudiosos do misticismo, que o jejum é de inigualável
Nee. 1:4; Est. 4:3 e Sal. 35:13,14); de penitência (ver I valor como preparação da alma para exercer suas
Sam. 7:6; Dan. 9:3,4; Jon. 3:5-8); de humilhação (ver elevadas funções; porque, nesse estado, os apetites do
Esd. 8:21; Sal. 69:10); dep unição auto-infligida, como corpo são negados. Esses apetites físicos, de qualquer
meio de mostrar a Deus a própria sinceridade, na modalidade, sempre servem de empecilhos para as
busca pela sua orientação, o que parece ter sido o funções mais nobres da alma. Parece não restar
fator que mais perdurou, no que tange a essa dúvida de que o máximo de realização que pode ser
atividade religiosa (ver Êxo. 34:28; Deut. 9:9; II Sam. obtido pela alma brilha mais segundo à proporção da
12:16-23). A prática desse princípio levou os homens a menor atenção que se dê ao corpo.
pensarem que o jejum tem alguma forma de mérito O je ju m fazia parte muito importante da adoração
automático diante de Deus (ver Isa. 58:3,4), e essa era judaica; e é evidente que assim continuou sendo, no
a atitude de muitos líderes eclesiásticos dos tempos do seio da primitiva igreja cristã. No judaísmo, esse
Senhor Jesus. costume foi inicialmente instituído como parte
IV. No Novo Testamento integrante de determinadas festividades religiosas;
Nos tempos neotestamentários, em adição àquelas mas, gradualmente, foi-se tornando uma prática mais
ocasiões, mencionadas nos parágrafos imediatamente constante, visto que os judeus piedosos, dos tempos
acima, os judeus piedosos costumavam jejuar todas as do cristianismo, e mesmo antes, costumavam jejuar
segundas e quintas-feira1- (ver Luc. 18:12). Outros todas as segundas e quintas-feiras (ver Luc. 18:12).
talvez costumassem jejuar com maior freqüência Outros jejuavam ainda com maior freqüência do que
ainda, como parece ter sido o caso da profetisa Ana isso, conforme parece ter sido o caso de Ana (ver Luc.
(ver Luc. 2:37). O Senhor Jesus jejuou em certos 2:37).
lances de seu ministério, como se vê em Mat. 4:1-4. O Senhor Jesus praticava o jejum (ver Mat. 4:1-4),
Sempre o Senhor teve como implícito que seus tendo deixado subentendido que os seus seguidores
ouvintes jejuariam, não tendo condenado a esse haveriam de jejuar quando ele se ausentasse deles.
costume, mas ensinava aos seus seguidores que Isso mostra que ele deve ter encontrado algum valor
deveriam jejuar visando a glória de Deus, e não a fim nessa prática (ver Mat. 9:14-17; Mar. 2:18-22 e Luc.
de se ostentarem diante dos homens (ver Mat. 5:3—39). No livro de Atos observamos que os líderes
6:16,18). O Senhor Jesus nunca ensinou aos seus cristãos costumavam jejuar quando da escolha de
discípulos a que não jejuassem, mas instruiu-os sobre missionários e lideres das igrejas locais; e isso,
um tempo mais apropriado para fazê-lo (quando ele evidentemente, servia para eles de poderoso meio de
se ausentasse deles, ver Mat. 9:14-17; Mar. 2:18-22 e buscar a orientação divina, a fim de que tais escolhas
Luc. 5:33-39 fossem acertadas. Também servia essa prática para
No livro de Atos vemos os líderes cristãos a jejuarem mostrar a seriedade da questão (ver Atos 13:2,3).
quando da escolha de missionários, o que evidente Paulo também jejuava; mas não sabemos dizer se esse
mente era prática que aplicava o jejum como meio de jejum era de natureza ritualista, ou era feito
buscar a orientação divina (ver Atos 13:2,3 e 14:23). espontaneamente (ver trechos de II Cor. 6t5 e 11:27).
Paulo menciona por duas vezes os seus jejuns (ver II Quando é corretamente usado, o jejum é de
Cor. 6:5 e 11:27), mas não sabemos se esse jejum era indiscutível valor para o desenvolvimento espiritual do
voluntário ou ritualista. crente, embora, por si mesmo, utilizado como rito
vazio, não tenha valor algum, conforme os fariseus
O jejum, quando corretamente usado, sem dúvida erroneamente supunham. O jejum é auxílio poderoso
alguma, é de inestimável valor no desenvolvimento na busca pela orientação de Deus. Ã semelhança da
442
JE JU M - JE M IN A
meditação, o jejum é poderoso agente para liberar os católico romano deve abster-se de ingerir alimentos,
poderes da alma. Infelizmente, porém, ambas essas pelo menos durante uma hora. Em séculos passados,
práticas vêm sendo extremamente negligenciadas pela os jejuns oficiais também tinham lugar durante todo o
moderna igreja evangélica, onde a indolência decurso da quaresma, em certos dias santificados e
espiritual é uma constante. Outrossim, atividades solenes. Na Sexta-Feira da Paixão, o bom católico
externas de muitas modalidades têm substituído os precisa abster-se de certos alimentos, embora não
antigos e bíblicos meios de expressão religiosa, para tenha de fazer jejum total. Outros dias, como todos os
grande prejuízo do cristianismo, do ponto de vista domingos durante a quaresma, como o dia de São
espiritual. Marcos, etc., continuam sendo, até hoje, dias de
Comumente se imagina que a simples leitura das jejum, pelo menos para alguns católicos romanos.
Escrituras e o falar com Deus (ao que chamam de A Igreja Ortodoxa Grega reconhece duzentos e
oração) sejam suficientes para o desenvolvimento sessenta e seis dias de jejum no decorrer do ano,
espiritual do crente. Todavia, a prática e a incluindo cada quarta e sexta-feira, os quarenta dias
experiência têm comprovado que esse ponto de vista anteriores ao Natal e os quarenta dias antes da
labora em grave equívoco. Pois, apesar dessas Páscoa, etc. Na primeira semana da quaresma, a
práticas mais simples serem necessárias, as igrejas carne é totalmente proibida e, depois disso, também
cristãs locais precisam de algo mais profundo. O ficam eliminados o peixe, o queijo, a manteiga, o
estado de anemia espiritual das congregações azeite, o leite e ós ovos. Os coptas e os nestorianos têm
evangélicas demonstra sobejamente essa verdade. Não um jejum antes da quaresma, de três dias, que eles
obstante, não é provável que o jejum e a meditação chamam de «jejum dos ninivitas». Algumas igrejas
(que consiste em dar ouvidos e atenção a Deus) sejam reformadas chegaram a recomendar o jejum durante
novamente instaurados, na igreja cristã, como a quaresma.
práticas constantes, visto que os crentes atuais nem V D . O Jçjum no Iilam iuno, no H indaiim o e no
simpatizam com elas e nem têm a disciplina Budismo
necessária para que elas se tornem operantes e Maomé ordenou um jejum geral, para os seus
eficazes discípulos, durante os trinta dias do mês de Ramadã
VI. Do Século II D .C . em Diante (o nono mês do calendário islâmico). Durante esses
O jejum tornou-se um costume importante e dias, os islamitas só podem comer após o pôr-do-sol.
regulamentado, na Igreja cristã, antes do fim do Esse jejum comemora a outorga do Alcorão, por parte
século II D.C. Após o século III D.C., tornou-se uma de Deus. Islamitas devotos também têm outros dias
prática crescentemente ligada ao ascetism o (que vede). de jejum, além de mais seis dias, no mês seguinte, o
Os cristãos, no século II D.C., adotaram a prática jejum de Sura (no décimo dia do mês de Muharram).
farisaica de jejuarem duas vezes por semana, embora Também podem jejuar a cada segunda e quinta-feira,
não o fizessem nem na segunda e nem na quinta-feira, se o quiserem.
porque esses eram. os dias escolhidos pelos judeus com Os brâm anes hindus jejuam no décimo primeiro dia
esse propósito. Ver D idache 8:1 e Didascalia 5:14. após a lua nova, e depois da lua cheia. Os devotos de
Requeria-se o jejum antes da cerimônia do batismo Siva jejuam, além desses dias, a cada segunda-feira,
(D id. 7:4). A E pístola de B a m a b é alegoriza a questão durante o mês de novembro. Buda proibiu práticas
do jejum, como também o fazia com outros pontos <la ascéticas para o público religioso em geral; mas
lei, em vez de requerer a prática literal do jejum (3:1 alguma abstinência é requerida da parte dos monges
ss). A segunda epístola de Clem ente vai ao extremo de budistas. No zoroastrismo e no jainísmo dá-se pouco
conferir ao jejum uma posição superior à oração (ver valor ao jejum. (AM ABR ARB H NTI Z)
16:4). O Pastor de H erm as recomenda o jejum, mas
também o alegoriza, dizendo que o jejum que IEJUM NEGRO
realmente agrada o Senhor é a vida piedosa. Ver
Hermas S im . 5:1. A prática do jejum também estava Nome dado a uma prática de austeridade do século
vinculada à caridade; o dinheiro poupado em razão de X D.C., por ocasião da Quaresma, e imediatamente
não ter sido gasto com uma refeição, era doado aos antes da ordenação sacerdotal, pela Igreja Católica
pobres. Romana. Nesses dias de jejum, a quantidade e a
Em vista do fato de que o jejum tornara-se parte qualidade de alimentos ingeridos eram limitadas,
das práticas do legalismo e do ascetismo, os como nos outros jejuns; mas, em adição a isso, o
reformadores protestantes rejeitaram os jejuns tradi indivíduo só podia alimentar-se à noite. Somente um a
cionais e forçados, embora não o desaprovassem como refeição era perm itida a cada dia, sendo vedados
uma questão individual de devoção e exercício alimentos frescos como carne, ovos, manteiga, leite e
vinho. O horário da única e frugal refeição variava, de
espiritual. acordo com costumes locais. Com o tempo, a prática
Uma das abordagens modernas ao assunto consiste foi abandonada e, em seu lugar, tornaram-se
em ligá-lo à preocupação de quem jejua com os pobres permissíveis um leve quebra-jejum e um jantar, em
e necessitados. O papa Paulo VI (Constituição tais ocasiões. (AM E)
Apostólica, Paenitem ini, 17 de fevereiro de 1966),
declarou: «As nações que desfrutam de abundância IALEEL
econômica têm o dever de abnegar-se, em combinação
com uma prova ativa de amor, para com os nossos No hebraico, «esperando em Deus». Nome do
irmãos que são atormentados pela pobreza e pela terceiro dos três filhos de Zebulom (Gên. 46:14; Núm.
fome». Essa preocupação deveria resultar em obras e 26:26). Ele foi fundador da família que tinha o seu
feitos de caridade, que visassem ajudar a aliviar o nome, os jaleelitas. Viveu por volta de 1700 A.C.
sofrimento humano.
Em alguns lugares, o movimento carismático (que JEMINA
vede) tem renovado o interesse pelo jejum. No hebraico, «pomba». Esse era o nome da filha
Na Igreja Católica Romana, os únicos jejuns mais velha de Jó, que lhe nasceu depois que lhe foi
obrigatórios são aqueles da Quarta-Feira de Cinzas e restaurada a sua saúde e a sua prosperidade material
da Sexta-Feira da Paixão. Antes de tomar a hóstia, o (Jó 42:14). Ela e suas duas irmãs viveram em torno de
443
JE M U E L - JE O A Q U IM
2200 A.C. De acordo com essa avaliação quanto ao JEOADA
tempo, Jó aparece como quem viveu na época dos
patriarcas mais antigos de Israel. Porém, a questão No hebraico, «Yahweh adorna». Nome de um dos
tem suscitado aguda controvérsia. Ver sobre o livro de filhos de Acaz, bisneto de Meribaal, descendente de
Saul (I Crô. 8:36). Seu nome aparece com a forma de
Jó, quanto à questão da sua D ata.
Jaecá, na passagem paralela de I Crô. 9:42. Viveu por
volta de 1037 A.C.
JEMUEL
No hebraico, «dia de Deus». Esse era o nome de um JEOADÃ
dos filhos de Simeão, filho de Jacó (Gên. 46:10; Êxo. No hebraico «Yahweh agradou». Ela era a esposa
6:15). Em Núm. 26:12 e I Crô. 4:24, ele é chamado do rei Joás (II Reis 14:2; II Crô. 25:1), e mãe de
N em uel (vide). Ele viveu em cerca de 1700 A.C.
Alguns estudiosos interpretam o significado de seu Amazias, rei de Judá. Viveu, aproximadamente, entre
nome como «Deus é luz». 862 e 837 A.C.
JEOAQUIM
JEOACAZ
No hebraico, «Yahweh estabeleceu», ou então «que
No hebraico, «Yahweh vê», ou, na opinião de o Senhor levante». Ele foi o décimo oitavo monarca de
outros, «Yahweh tomou conta». Esse nome equivale a Judá. Ver o artigo sobre Judá, R eino de quanto a uma
Joacaz, uma abreviação daquele. Várias pessoas eram visão panorâmica desse reino, que se separou da
chamadàs assim, na Bíblia: porção norte. A porção norte passou a ser conhecida
1. Um filho de Jeú, rei de Israel, e que sucedeu a como Israel; e a porção sul como Judá.
seu pai, em 856 A.C., tornando-se o décimo segundo 1. Relações Familiares. Jeoaquim era o segundo
monarca de Israel. Reinou durante dezessete anos (II filho de Josias. Originalmente, seu nome era
Reis 10:35). Deu prosseguimento aos maus caminhos Eliaquim. Seu equivalente, Jeoaquim , foi-lhe dado
da casa de Jeroboão. Os sírios, sob a liderança de por Faraó Neco, do Egito. Sua mãe chamava-se
Hazael e Ben-Hadade, atacaram-no, tendo prevaleci Zebuda, filha de Pedaías, de Rumá (II Reis 23:36).
do sobre ele até que o reduziram a praticamente nada. Ele nasceu em 633 A.C. Reinou, aproximadamente,
Humilhado, clamou ao Senhor; e, então, veio-lhe o entre 609 e 598 A.C. A forma Yoqim , do mesmo
livramento, provavelmente na forma de seu filho, nome, foi encontrada em um selo de procedência
Jeoás (vide), que foi capaz de expulsar aos sírios e desconhecida, do século V A.C.
restabelecer o reino de Israel (II Reis 13:1-9,25). No 2. Caracterização Geral e Circunstâncias de sua
tempo de Jeoacaz, a Síria chegou a controlar A scensão ao Trono. Quando Josias, seu pai, faleceu,
praticamente todo o território de Israel, o reino do seu irmão mais jovem, Jeoacaz, também chamado
norte. Porém, apesar de todas as suas tribulações, o
rei de Israel não se desvencilhou do culto idólatra de Salum (Jer. 22:11) foi feito rei. Três meses mais tarde,
Betei ou da adoração a Aserá, que era, então, porém, Faraó, tendo retornado de uma campanha
extremamente comum (II Reis 13:6; 21:3). Pelo militar na área do rio Eufrates, removeu Jeoacaz do
menos, entretanto, houve um reavivamento religioso trono, tornando rei a Eliaquim (Jeoaquim). Sendo
parcial, que o levou a buscar ao Deus de Israel. A este o filho mais velho de Josias, o trono lhe cabia por
obscura referência a um «salvador de Israel» talvez direito; mas o ato também serviu para demonstrar a
aponte para o filho de Jeocaz, conforme dissemos autoridade de Faraó, visto que o Egito era o poder
acima; ou então a alusão é a Adade-Nirari III, o dominante na área, na época. Naturalmente,
monarca assírio que começou a debilitar o poder dos Jeoaquim era apenas um príncipe subordinado à
sírios em cerca de 805 A.C. Todavia, outros sugerem autoridade egípcia. Começou a reinar em 608 A.C.,
que quem está em foco é Eliseu. Ver o artigo sobre tendo permanecido no trono por onze anos.
Israel, Reino de. Embora o jugo egípcio fosse pesado, o destino
2. O décimo sétimo rei de Judá, o Teino do sul. Ele haveria
pior.
de reduzir Jeoaquim a uma servidão ainda
A fim de satisfazer a seus senhores egípcios,
também era conhecido como Salum (Jer. 22:11,12). Jeoaquim foi forçado a cobrar pesados impostos do
Era filho de Josias. Seu governo começou e terminou
no mesmo ano, 608 A.C. Fora escolhido para suceder povo judeu (II Reis 23:35). Ele edificou grandes obras
públicas, incluindo suntuosos edifícios, mediante o
a seu pai, mas foi deposto por Faraó Neco apenas três uso de labor forçado (Jer. 22:13-17). Jeremias e
meses mais tarde (II Reis 23:30-34; II Crô. 36:1-4). Habacuque repreenderam sua desintegração religio
Salum é uma forma abreviada de Selemias. Albright
sa. Ê que as reformas religiosas de Josias haviam sido
pensava que tivéssemos aí um nome pessoal, e não um revertidas,
nome oficial de coroa. Faraó Neco exercia grande e formas religiosas egípcias haviam sido
introduzidas em Judá (Eze. 8:5-17). Ademais,
poder sobre a região em derredor do Egito, nomeando Jeoaquim
ou aprovando reis de povos estrangeiros. Visto que foi um governante cruel. Muito sangue
Jeoacaz havia sido nomeado sem a sua aprovação, ele inocente foi derramado (II Reis 24:4). O profeta Urias
foi assassinado, por ter ousado fazer-lhe oposição
pôs Jeoaquim (o irmão de Jeoacaz) em seu lugar. O (Jer. 26:20); e Jeoaquim combateu ao próprio profeta
monarca judeu deposto a princípio foi levado Jeremias (Jer. 36:26). Josefo descreveu Jeoaquim
aprisionado para Ribla, na Síria; mas acabou como um indivíduo «injusto e maligno, não inclinado
encarcerado no Egito, onde veio a falecer (II Reis
23:30-35; II CrÔ. 36:1-4; I CrÔ. 3:15; Jer. 22:10-12). para Deus» (Aní/. 10:5,2). De fato, ele chegou mesmo
Ver o artigo sobre Judá, Reino de. a desenvolver o mau exemplo deixado por Manassés
(II Reis 24:3). E a predição de Jeremias, de que ele
3. Esse nome é uma forma variante de Acazias, o teria uma morte violenta e desonrosa (Jer. 36:30),
filho de Jeorão, rei de Judá em 842 A.C. (II Crô. finalmente teve cumprimento; mas, quando a
21:17; 25:23). predição foi feita, Jeoaquim não lhe deu qualquer
4. A caz é apenas uma forma abreviada de Jeoacaz. atenção. Sua desatenção diante da Palavra de Deus
Acaz também foi rei de Judá. O nome completo foi tornou-se famosa. Quando Jeudi leu diante dele um
encontrado em uma inscrição de Tiglate-Pileser III, rolo, contendo palavras de reprimenda enviadas por
da Assíria. Deus, através do profeta Jeremias, o próprio monarca
444
JE O A Q U IM - JE O R À O
encarregou-se de cortar o rolo com um canivete e tentativa de harmonizar os dois informes. Ê possível
lançá-lo despedaçado às chamas de um braseiro à que ele tenha sido preso com cadeias, com o intuito de
sua frente (Jer. 36:22). transportá-lo assim à Babilônia, mas que esse
3. Relações com Nabucodonosor. Em seu quarto propósito não se cumpriu, afinal. Antes, ele foi
ano de governo (602 A.C.), Jeoaquim foi atacado executado. Ou então, realmente, ele foi levado cativo,
militarmente por Nabucodonosor, que cercou Jerusa foi solto novamente, e então, finalmente, cumpriu-se
lém. A cidade foi capturada, e Jeoaquim foi levado em o horrendo fim que lhe dera a profecia de Jeremias.
cadeias para a Babilônia (II Crô. 26:6). Muitas outras Embora essas suposições viessem a corrigir muita
pessoas também foram deportadas na ocasião. Com a coisa, ainda assim permaneceria de pé a contradição
passagem do tempo, Jeoaquim foi restaurado à sua verbal. As Escrituras simplesmente não nos fornecem
autoridade em Jerusalém, mas as perdas de Judá todos os detalhes. Questões’ assim são totalmente
foram consideráveis. Uma grande quantidade dos destituídas de importância, exceto para os céticos,
vasos sagrados e do tesouro do templo foi levada para que gostam de encontrar justificativas para sua falta
a Babilônia. No ano seguinte após o assédio de fé, ou então para os ultraconservadores, que
babilónico, os egípcios foram derrotados pelos pensam que é impossível que a Bíblia contenha esse
babilônios; e foi assim que a Babilônia acabou tipo de problemas. Ambas essas atitudes são
exercendo total controle sobre a Palestina, demons irracionais e desnecessárias, nada tendo a ver com a fé
trando a loucura de Jeoaquim, que tanto confiara religiosa e com a espiritualidade.
nos egípcios. Ver Jer. 42:2; 44:24-30. No entanto, 6. O Caráter de Jeoaquim . A Bíblia sempre frisa se
Jeremias já havia advertido ao rei acerca dessa falsa algum monarca de Judá ou Israel foi um rei bom òu
confiança. Foi depois desse aviso que o monarca mau, pois há uma evidente preocupação com o
judeu despedaçou e queimou o rolo das predições de caráter moral e espiritual dos governantes de Israel.
Jeremias, conforme já dissemos. Jeoaquim acabou se Desafortunadamente, informes favoráveis são dados
rebelando novamente contra o poder babilónico, em relação aos heróis, hábeis em liquidar os inimigos,
porquanto queria libertar-se dos pesados encargos se essa habilidade porventura ajudou a libertar Israel
econômicos que lhe haviam sido impostos por de seus adversários. Seja como for, antes de qualquer
Nabucodonosor. Por três anos sofreu essa imposição, outra coisa, Israel era uma nação voltada para o culto
antes de recusar-se a dar mais tributo (II Reis 24:1). religioso e para a fé, e os reis que violaram esses
princípios foram severamente criticados pelos profe
4. Estertores Finais. Nabucodonosor não tinha tas do Senhor, e seus atos foram responsabilizados
pressa, mas, no devido tempo, enviou seus exércitos pelas misérias e problemas que Israel teve de
novamente contra Jerusalém. Foi ajudado por tropas enfrentar com as potências estrangeiras. Um rei não
enviadas pelos sírios, moabitas e amonitas. Foram podia pecar como um indivíduo isolado. Seus atos
necessários apenas três meses e dez dias para sempre lançavam a nação inteira no infortúnio.
completara matança. Josefo (A n ti. 10:6,7) revela-nos Temos aí uma importante lição. E difícil a pessoa
que Jeoaquim foi morto após a captura, via execução. pecar apenas para si mesma. Sempre ferimos a outros
Seu cadáver ficou exposto, fora das muralhas da com nossos atos e nossas atitudes errados. Ora,
cidade, sem ninguém lamentar por ele. Isso ocorreu a Jeoaquim foi um idólatra, que encorajou abominações
6 de dezembro de 598 A.C. Tinha apenas trinta e seis em Israel, e também se tornou culpado de muitos
anos de idade. Jeremias havia predito, em termos crimes pessoais e de sangue. Ver Jer. 19 e II Reis 24:4.
exatos, o seu horrendo fim (Jer. 22:18 ss). O trecho de As indignidades sofridas por seu cadáver demonstra
II Reis 24:6 nada nos informa no tocante a seu ram o desprazer do povo com aquilo que ele fora e
sepultamento. Foi sucedido no trono por seu filho, fizera (Jer. 26:20-23). Acompanhando a atitude geral
Joaquim. dos políticos, ele construiu para si mesmo magnificen-
N io seria vanU^MO para Nabucodonosor destruir tes palácios, ao mesmo tempo em que o povo
Judá completamente. Era preferível que permaneces empobrecia diante de pesados impostos, que ele
se como vassalo para pagar-lhe tributo. Além disso, precisava pagar ao Egito e à Babilônia (Jer. 22:14,15).
Judá poderia atuar como um posto avançado contra
os egípcios. Assim sendo, Nabucodonosor permitiu a
continuação da nação de Judá, mas segundo as JEOIARIBE
condições por ele impostas. Assim, deportou muita No hebraico, «Yahweh defende», ou então «Yahweh
gente nessa oportunidade, nobres e pessoas de pleiteia». Ver I Crônicas 9:10 e 24:7. Ele era o cabeça
nomeada, em número de cerca de três mil. Entre elas do primeiro dos vinte e quatro turnos de sacerdotes
estava Ezequiel, que mais tarde, foi chamado por que foram organizados por Davi, para cuidarem
Deus para profetizar na Babilônia, por bastante melhor do culto sagrado. Jeoiaribe viveu por volta de
tempo, enquanto Israel continuava no cativeiro. 1014 A.C. Alguns dos seus descendentes encontra
5. Discrepâncias. O trecho de Jer. 36:20 afirma que vam-se entre aqueles que retomaram do cativeiro
Jeoaquim não tinha sucessor ao trono, para dar babilónico, a fim de virem residir em Jerusalém;
continuidade à linhagem de Davi. Porém, a passagem assim sendo, o seu turno sacerdotal foi preservado.
de II Reis 24:6 afirma que Joaquim, seu filho, chegou Ver Nee. 11:10 e 12:6.
a reinar em seu lugar. Os estudiosos conservadores,
que sentem necessidade de harmonizar tudo e que
fazem disso uma parte integral de sua fé, asseveram
que sentar-se no trono dá a entender algum grau de
permanência, mas que Joaquim só ficou no poder por JEORÂO
três meses. O trecho de II Crô. 36:6 afirma que No hebraico, «exaltado por Yahweh». A forma
Nabucodonosor prendeu a Jeoaquim com cadeias e o abreviada desse nome, Jorõo, encontra-se em algumas
levou para a Babilônia. Mas, em II Reis 24:6, lemos versões (como a nossa versão portuguesa) em II Sam.
que seu corpo foi lançado fora dos portões de 8:10; II Reis 8:10,16,21,23, etc.; 9:14, etc.; I Crô.
Jerusalém (ver também Jer. 22:19). Se dermos crédito 3:11; 26:25 e II Crô. 22:5,7. A forma abreviada
a Jeremias; como quem fez uma predição correta, mas também aparece na genealogia de Jesus, em Mat. 1:8.
quisermos preservar as declarações dos escritores Houve um rei de Judá com esse nome, e também um
históricos, então teremos de usar vários esquemas, na rei de Israel:
446
JEO RÀ O
I. Jeorão, Rei de Israel: o trecho de II Reis 6:1-23 quanto à narrativa que
1. Jeorão, de Israel, era filho de Acabe e Jezabel, e envolve a Ben-Hadade. Samaria foi livrada da fome,
foi o sucessor de seu irmão Acazias, no trono de quando a cidade estava sendo assediada pelos sírios,
Israel, que morreu sem filhos. Ele foi o nono rei do sendo esse outro episódio no qual houve decisiva
reino do norte, e governou durante doze anos. Ver II participação de Eliseu (II Reis 6:24-33 e cap. 7). Um
Reis 1:18; 3:1. Reinou entre 853 e 842 A.C., intervalo nas hostilidades deu motivo para o caso da
aproximadamente. Ver o artigo sobre Israel, Reino cura de Naamã, o general sírio que era leproso, outro
de. dos feitos de Eliseu (II Reis 5).
2. Uma ím p ia Tradição no Governo. Jeorão aderiu 6. H azael assassinou a Ben-Hadade a fim de se
às normas pecaminosas e deletérias de Jeroboão, que apossar do trono sírio. Jeorão fortaleceu Ramote-Gi-
tanto corromperam o reino do norte, Israel, incluindo leade para fazer frente áos sírios; e nem bem Hazael
a adoração aos bezerros de ouro. A despeito disso, se sentara no trono da Síria, Jeorão resolveu submeter
quando Jezabel, sua mãe, ainda vivia, ele desconti a situação à prova. Hazael acabou levando a melhor
nuou as práticas idólatras em torno de Baal, que ela na batalha contra Jeorão, que saiu ferido. Jeú era o
havia introduzido no reino e queria manter a qualquer general do exército de Israel. Ele era um hábil general
preço. É possível que esse ato correto tenha resultado que, por volta dessa época, foi ungido por Eliseu para
de sua reflexão sobre a sorte de seu irmão (ver II Reis ser o próximo rei. Imediatamente ele partiu para
3:2). Todavia, a observação feita por Eliseu, em II Jezreel, a fim de exterminar a casa de Acabe. Jeorão
Reis 3:13, parece indicar que o rompimento com o foi a primeira das vítimas de Jeú, tendo morrido por
culto a Baal não fora completo. A crônica sobre esse causa de uma flecha atirada ao acaso, em Jezreel (II
monarca está interligada à história de Eliseu (II Reis Reis 9:24-26). Isso cumpriu uma profecia de Eliseu,
1:17-9:29). segundo o registro de I Reis 21:21-29.
3. Problem as Cronológicos. O autor dos livros de Jeorão foi o último rei da dinastia de Onri, que foi o
Reis suprimiu, deliberadamente, os nomes dos reis de pai de Acabe. Jeú garantiu que assim fosse, mediante
Israel, em seus relatos concernentes a Elias e a Eliseu. o extermínio de toda a família real e de todos os
Portanto, não sabemos dizer por quantas vezes a oficiais do culto a Baal (II Reis 9 e 10). A dinastia de
palavra rei refere-se a Jeorão ou a algum outro Acabe, pois, governara em Israel pelo espaço de
monarca, cujo nome não é fornecido. Seja como for, quarenta e quatro anos (II Reis 8:25-29; 9:1-20).
parece que Elias sobreviveu pelo menos até o sexto D . Jeorão, Rei de Judá:
ano do reinado de Jeorão (II Crô. 21:12), ao mesmo
tempo em que Eliseu deu início a seu ministério nos 1. Jeorão, de Judá, foi o filho mais velho de Josafá,
dias desse mesmo monarca. Ao que parece, Jeorão e também seu sucessor no trono. Ele começou a reinar
viveu durante os sete anos de fome que haviam sido (separado de seu pai) quando tinha trinta e cinco anos
preditos por Eliseu diante da mulher sunamita (II de idade (cerca de 853 A.C.), tendo permanecido
Reis 8:1). Nesse caso, quase todos os grandes feitos de como rei de Judá pelo espaço de doze anos (II Reis
Eliseu também foram realizados durante o governo 1:17; 3:1). Esteve associado a seu piedoso pai nos
desse rei. Logo, Elias foi testemunha poderosa em últimos anos de seu governo; mas isso parece
favor de Deus, embora isso tivesse produzido apenas não lhe ter beneficiado em coisa alguma. — As
resultados mistos sobre a nação. Escrituras relacionadas à sua vida são II Crônicas 21 e
4. A Revolta dos M oabitas. Israel havia sujeitado II Reis 8:16-19. Excetuando o espaço de alguns
esse povo a pagar tributo. Mas, quando Acabe foi poucos meses, quando então seu filho, Acazias,
morto, o rei Mesa procurou tirar vantagem do período reinou depois dele, o seu governo correspondeu aos
conturbado que se seguiu, a fim de se livrar de Israel. últimos oito anos do reinado de Jeorão, do reino do
E negou pagar tributo, que consistia em cem mil norte, Israel. Ele foi o quinto rei de Judá. Ver o artigo
ovelhas e cem mil carneiros, com a sua lã. Acazias intitulado Judá, Reino de.
ainda governou durante um breve período, mas não 2. Primeiras Influências Negativas. Jeorão casou-se
foi capaz de enfrentar a revolta. Todavia, Jeorão teve com Atalia, filha de Acabe e Jezabel.
tempo mais do que suficiente, bem como forças, para O exemplo de Jezabel parece ter sido mais poderoso
pôr fim à questão. Na ocasião, Josafá, rei de Judá, sobre ele do que sobre Josafá, que foi um governante
ajudou Israel na empreitada, um auxílio que os justo.
comentadores consideram uma desgraça. A campa 2. No começo de seu reinado, a fim de estabelecer a
nha quase fracassou, quando os soldados se viram sua autoridade e eliminar qualquer competição,
ameaçados de extinção, por falta de água. Mas Eliseu Jeorão mandou matar seus irmãos, juntamente com
realizou um de seus grandes feitos, tendo sido assim muitos nobres. Em seguida, ele firmou a adoração a
obtida a vitória sobre os moabitas (II Reis 3:4-27). Baal (II Reis 8:18,19). Elias advertiu-o dos desastres
Essa aliança pôs fim à casa de Acabe, por meio de futuros (II Crô. 21), mas ele ignorou todos os avisos
Jeú, sucessor de Jeorão. Mas, depois disso, o acordo do profeta. Podemos presumir que sua esposa era o
que fora estabelecido entre Israel e Judá acabou poder real por detrás de tudo; mas, considerando seus
dando lugar a renovadas hostilidades entre os reinos grandes malefícios, devemos concluir que ele mesmo
do norte e do sul. era indivíduo suficientemente mau para não precisar
5. Ben-H adade, R ei da Síria. Por muito tempo, de muito encorajamento na prática da iniqüidade.
Jeorão foi perturbado por esse homem e suas 3. Ocorreu, então, uma série de calamidades. Os
aguerridas tropas. Não fora Eliseu, para intervir, e as idumeus revoltaram-se, e não mais enviaram o tributo
coisas teriam, realmente, chegado a uma premência que até então tinham sido forçados a pagar. Foi assim
incalculável. Na realidade, o registro sobre essas que os idumeus estabeleceram sua independência
tribulações parece que foi preservado especificamente permanente, conforme havia sido profetizado há
para ilustrar o tremendo poder de Eliseu. Eliseu tinha muito (ver Gên. 27:40). Em seguida, revoltou-se uma
a desconcertante capacidade de saber o que cidade fortificada, Libna (II Crô. 21:10). Também
Ben-Hadade estava planejando fazer, sem necessida houve perturbações externas, sob a forma de uma
de alguma de espiões. A espionagem psíquica está invasão da parte de filisteus e árabes, que chegaram a
sendo atualmente estudada — tanto na Rússia entrar no palácio real, matando as esposas e os filhos
quanto nos Estados Unidos da América do Norte! Ver de Jeorão, excetuando Jeoacaz, o caçula (II Crô.
446
JE O S A B E A T E - JE O V Á
22:1). E aqueles que residiam no palácio, que não JEOVÁ
foram mortos, foram tomados como reféns, junta Ver sobre Yahweh.
mente com muitos bens.
4. Jeorão não escapou pessoalmente do juízo contra Uma variação non-sense do nome Yahweh. Outra
suas maldades. Acabou contraindo uma incurável e variação èJavé. Ver o artigo geral sobre Deus, Nom es
dolorosa enfermidade nos intestinos que, finalmente, Bíblicos de, onde estão incluídas muitas informações
o matou. E a Bíblia informa-nos que ele morreu em sobre esse nome particular. Ver sobre Yahweh e os
grande agonia, e que «se foi sem deixar de si diversos nomes combinados com esta designação.
saudades». Além disso, apesar de haver sido Yahweh era o nome pessoal do Deus de Israel. Que
sepultado na cidade de Davi, não lhe deram a honra a forma Yahweh é a forma correta pode-se provar
de ser posto nos túmulos dos reis (ver II Crô. mediante transcrições para o grego. Quando, pela
21:19,20). primeira vez, foram inseridos sinais representando
5. Um caráter negro. Jeorão foi o primeiro rei de fonemas vogais, na Bíblia hebraica, já no século VII
Judá a evitar uma disputada sucessão ao irono D.C., as letras vogais da palavra hebraica aDoNaY,
mediante o ato abominável de assassinar seus «Senhor» foram escritas intercaladas com as consoan
próprios irmãos, além dos nobres que poderiam tes YHWH, produzindo assim o nome artificial Jeová.
perturbá-lo. Prostituiu as filhas de Judá através dos Esse não era, realmente, um nome divino; mas
infames ritos de Astarte, e estabeleceu em Judá a muitos, temendo pronunciar Yahweh, como apelativo
idolatria de Baal. O que mais admira, em tudo isso, é por demais sagrado, passaram a usar como um
que ele conseguiu reverter totalmente tudo que era de substituto aceitável. Portanto, Jeová é um híbrido sem
bom que seu piedoso pai, Josafá, tinha conseguido base bíblica nenhuma, que começou a ser usado de
realizar. modo geral, como um dos nomes de Deus, no século
6. Uma discrepância. Em II Reis 1:17, é-nos dito XIV D.C. Isso ocorreu porque os eruditos cristãos da
que Jorão, filho de Acabe, começou a reinar no época não reconheceram a natureza híbrida da forma
segundo ano de Jeorão, filho de Josafá. Porém, II Reis Jeová.
8:16 afirma que Jeorão, de Judá, começou a reinar no Esse nome hebraico de Deus também aparece com
quinto ano de Jorão, de Israel, o que reverte a as formas abreviadas de Yah (Êxo. 15:2, etc. em
situação e fala em datas diferentes. Aqueles que português, «Já») e Yahu ou Yeho. Estas duas últimas
insistem em harmonia a qualquer custo, lembram-nos formas aparecem em inscrições hebraicas e assírias, e
que Jeorão, de Judá, teria reinado em parceria com também nos papiros escritos em aramaico. Mas o
seu pai, pelo que Jorão, de Israel, pode ter começado nome abreviado original parece ter sido Yaw, que tem
a reinar quando Jeorão, de Judá, ainda era sido tentativamente identificado com um dos nomes
co-regente. E então, no quinto ano do reinado de divinos pagãos encontrados nos documentos de Eras
Jorão, de Israel, Jeorão teria começado a reinar Shamra (vide), provenientes do norte da Fenícia, do
sozinho. Nesse caso, Jeorão, de Judá, teria reinado século XV A.C. Alguns especialistas supõem que o
juntamente com seu pai por cinco anos. Uma outra nome Yahweh não foi cunhado por Moisés, e nem por
discrepância. O trecho de II Crô. 21:16,17 afirma que qualquer dos demais autores bíblicos; antes, seria um
os filhos de Jeorão foram levados em cativeiro, ao nome pré-m osaico, como um antigo nome de Deus
passo que II Crô. 22:21 diz que eles foram mortos. Os que Moisés usou, tal como a moderna palavra
harmonistas sugerem que, a princípio, eles foram portuguesa «Deus» é apenas o aportuguesamento do
tomados cativos; mas que então foram mortos, já no termo latino D eus, que como é óbvio, antecede ao uso
cativeiro. Detalhes como esses não são importantes, português por muitos e muitos séculos. Os trechos de
exceto para os céticos, que estão sempre à cata de algo Êxo. 3:13-15 e 6:4 parecem indicar que esse nome
para ferir a fé; ou, então, para os harmonistas, que começou a ser usado no Antigo Testamento como se
pensam que qualquer discrepância é uma grande tivesse havido uma revelação especial do nome. Gên.
ameaça à fé. Ambas as posições são infantis, e nada 4:26, por sua vez, parece dar a entender uma origem
têm a ver com a fé religiosa e com a espiritualidade. não hebréia, ou seja, quando esse nome começou a ser
usado pelos hebreus, teria sido tomado por emprésti
mo de alguma fonte extrabíblica. Seja como for, a raiz
JEOSABEATE do nome, sem dúvida, é antiqüissima, sendo provável
Forma variante do nome Jeoseba (vide), conforme que aparecesse entre os nomes de divindades
se vê em II Crô. 22:11 mesopotâmicas. Alguns supõem que Moisés chegou a
adorar a Yahweh, mediante seu casamento com a
filha de um queneu, em Midiã(Êxo. 3:1 ss\ 18:12-24).
JEOSEBA A isso se chama de teoria quenita, o que, como é
No hebraico, literalmente, «Yahweh, juramento óbvio, é uma teoria rejeitada por muitos intérpretes
dela», que se deve interpretar como «adoradora de conservadores, pois não querem aceitar a idéia de que
Yahweh». Ela era filha de Jorão, irmã de Acazias e tia os nomes de Deus, na Biblia, possam ter tido origem
de Joás, todos eles foram reis de Judá. Joiada, o pagã. Seja como for, a forma mais longa, YHWH, é
sumo sacerdote, era marido de Jeoseba, conforme o confirmada desde o século IX A.C., como na pedra
registro de II Reis 11:2. O trecho de II Crô. 22 Moabita (vide). De acordo com uma etimologia
apresenta o nome dela com a forma de Jeosabeate popular, essa palavra estaria ligada ao verbo hebraico
(vide), onde ela figura como filha do rei Jeorão e irmã ser (ver Êxo. 3:14), pelo que se referiria ao ser eterno
de Acazias; e, com base nisso, alguns estudiosos têm de Deus, que é a fonte originária de todos os seres,
pensado que ela era filha de Jeorão por meio de outra não dependendo de qualquer outro ser para a sua vida
esposa, e não de Atalia. e continuação em existência. Em termos teológicos,
Foi Jeoseba quem resgatou o infante Joás do isso aponta para a vida independente e necessária.
massacre da linhagem real, por crime de Atalia. Joás Deus não deriva de outrem a sua forma de vida, e a
foi ocultado no palácio real, e, posteriormente, no sua forma de vida não pode deixar de existir. Todas as
templo (II Reis 11:2,3; II Crô. 22:11,12). Então, Joás demais formas de vida dependem de sua vida, e todas
passou a ser criado como um dos outros filhos de as outras formas de vida, se excluirmos o fator da
Jeoseba (II Crô. 23:11). Finalmente, Joás (vide) graça divina, são vidas não necessárias. Em outras
tornou-se o rei de Judá. palavras, as demais vidas po d em deixar de existir. A
447
JEO V Á - JE O V IS T A
verdadeira imortalidade, para a alma humana, ocorre que a questão deverá permanecer na semi-obscurida-
mediante a transformação segundo a imagem do de.
Filho, que compartilha da forma de vida do Pai, que é O E terno. Alguns estudiosos supõem que o melhor
independente e necessária, conforme já dissemos. Um sentido para Yahweh seja o E terno. Ver a citação
grande mistério! Ver Rom. 8:29; Col. 2:10; II Cor. acima, do general Abraham Bentes, que confirma a
3:18 e o artigo intitulado Transformação Segundo a idéia. No tocante aos homens, na obtenção da
Im agem de Cristo. verdadeira imortalidade, para que eles venham a
O General Abraham Ramiro Bentes, historiador tornar-se verdadeiramente eternos, e não meramente
brasileiro, de origem judaica, de cultura judaica bem perenes, a questão é discutida acima, quando se fala
reconhecida, autor de vários livros, diz o seguinte, na vida independente e necessária de Cristo, que ele
acerca do nome Yahweh: «...tendo o tempo tem doado aos regenerados. Ser eterno é compartilhar
inacabado, no semítico, o valor do futuro e do da forma de vida de Deus. Ser perene é existir para
presente, assim traduzimos (o mesmo): «Eu Serei sempre, dotado apenas de uma imortalidade depen
Sempre Quem Era». Os velhos comentários tinham dente. E interessante observar que Platão já fazia esse
uma compreensão neste sentido». (Das Ruínas de tipo de distinção, pelo que ela não tem origem
Jerusalém à Verdejante A m a zô n ia , Edições Bloch, meramente cristã.
pág. 3). De conformidade com esse abalizado parecer,
o nome Yahweh, pois apontaria para a eternidade e a JEOVÀ-JIRÉ Ver Yahweh-Jlré
imutabilidade da pessoa de Deus.
Objeções dos E ruditos Conservadores. Alguns JEOVÀ-NISSI Ver Yahweh-Niasl
eruditos, relutando em admitir qualquer origem pagã
para os nomes divinos na Bíblia, supõem que o trecho JEOVÀ-SAMA Ver Yahweh-Sama.
de Êxo..6:3, que diz: «...mas pelo meu nome, O
Senhor (no hebraico, Yahweh), não lhes fui IEOVÀ-SALOM Ver Yahweh-Salom.
conhecido», não subentende que os hebreus não
conhecessem e nem usassem esse nome, até que foi JEOVÀ-TISIDKENU Ver Yahwefa-TUidkenu
adotado para ser usado, nos dias de Moisés e, sim,
que os judeus, então, começaram a ter um
conhecim ento experim ental desse nome, em suas JEOVISTA (ELOlSTA)
vidas espirituais. Esse conhecimento experimental Também são usados os termos javista e yahvista.
lhes foi dado mediante o livramento da servidão ao Está em foco um hipotético autor do Pentateuco (ou
Egito. Antes disso, como pastores na Palestina, Hexateuco), que teria usado, de forma predominante,
Abraão, Isaque e Jacó conheciam a Deus com o nome o nome hebraico para Deus, Yahweh. Isso é
de E l Shaddai, «o Todo Poderoso». Naturalmente, contrastado com o uso predominante de E lohim , que
sabemos que E l (com várias combinações) era um teria sido usado por um outro hipotético escritor,
antigo nome mesopotâmico para Deus, que certamen autor dos mesmos livros. O autor que preferia o nome
te já era usado antes do tempo de Abraão. Assim, no Elohim é chamado, dentro dessa teoria, de eloísta.
caso desse nome, também temos um uso pré-hebreu. Quase todos os eruditos modernos da Bíblia rejeitam
Seja como for, o argumento, na realidade, não faz a autoria mosaica dos livros em questão, supondo que
sentido. O que importa é a nossa experiência com o dois ou mesmo vários autores estiveram envolvidos na
Ser Divino, e não as palavras e suas origens, que produção dos cinco ou seis primeiros livros da Bíblia;
usamos como nomes de Deus. e que as produções literárias deles teriam sido
Usos Comparados dos Nomes Yahweh, Elohlm e reunidas por um ou mais editores. Os artigos providos
Shaddai. Yahweh é o mais freqQentemente usado dos sobre o Pentateuco e sobre o livro de Josué fornecem
nomes de Deus no Antigo Testamento. O uso que se maiores detalhes sobre essas questões. Ver também o
faz dos nomes Yahweh e Elohim, deu margem à teoria artigo sobre J.E.D.P.(S.), cujo propósito é d de
das fontes designadas por esses nomes. Ver o artigo sumariar o problema da autoria desses livros da
sobre J.E.D.P.(S.), que oferece detalhes sobre essa Bíblia.
questão. Em uma visão em Horebe (Êxo. 3), Moisés A história escrita pelo Jeovista é aceita como mais
ficou sabendo do nome «Yahweh»; mas, é evidente antiga que a narrativa do Eloísta. Alguns datam
que esse nome é anterior a Moisés, juntamente com aquele primeiro autor em cerca de 950 A.C. Seu alvo
suas variações. Pois ocorria em combinações, como principal foi o de contar os relacionamentos de
no nõme da mãe de Moisés, Joquebede (Êxo. 6:20). O Yahweh com Israel, ao tempo da conquista da terra
trecho de Êxo. 6:2,3 indica que Yahweh não era um de Canaã. Os textos énvolvidos enfatizariam a
nome conhecido pelos patriarcas da nação de Israel, supremacia de Yahweh, talvez refletindo um heno-
que conheciam como A d o n a i ou E l Shaddai (vide). O teísmo (vide), e não um monoteísmo (vide). No livro
escritor do livro de Jó, que situa seu livro como se de Gênesis, Yahweh é retratado como o criador do
tivesse historiado um episódio dos tempos patriarcais, mundo, o Pai de um povo seleto. Esse Deus teria
usa o nome Yahweh apenas por uma vez (Jó 12:9), o aparecido aos patriarcas ora como um ser humano,
que talvez seja um anacronismo, porquanto Jó talvez ora como um ser angelical.
reflita um acontecimento ainda anterior a Moisés. O No registro produzido pelo eloísta, que cobriria o
nome mais comumente usado por Jó é Shaddai. No mesmo período histórico, mas que teria vivido em
livro de Salmos, E lohim é usado com mais freqüência cerca de 700 A.C., teríamos um tipo mais moderno de
do que Yahweh. interpretação histórica. A pesada linguagem antro
Origem do N om e Yahweh. Já tecemos comentários pomórfica é um tanto suavizada através de expressões
sobre esse ponto. Há muitas especulações no tocante à teológicas mais elevadas. Elohim seria ouvido, mas
questão. Alguns têm procurado vincular esse nome a nunca visto. Ele usava os seus profetas, mas ele
divindades indo-européias, ou mesmo do Egito e até da mesmo ocultava-se da visão humana, em uma
China. Outros vêem esse nome como o apelativo de exaltada majestade da qual os homens não podem
uma das muitas deidades semíticas, supondo que o aproximar-se.
mesmo foi, finalmente, adotado pelos hebreus. O Editor ou Editores. A obra editorial teria
Faltam-nos informações detalhadas e precisas, pelo ocorrido no século VII A.C. Aquelas duas fontes
448
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Jerusalém Na Sua Glória
JERUSALÉM - Cortesia, Matson Photo
JE R U S A L É M - JE S IM O M
JERUSALÉM CELESTIAL 4. Um elamita que retornou do cativeiro babilónico
Ver sobre a Nov* Jenualém . em companhia de Esdras (Esd. 8:7; I Esdras 8:33).
Viveu em cerca de 459 A.C.
5. Um levita merarita que retornou do cativeiro
JERUSALÉM, NOVA babilónico com Esdras (Esd. 8:19; I Esdras 8:48).
Ver sobre Nova Jerusalém. Viveu em cerca de 459 A.C.
6. O pai de Itiel, um benjamita. Alguns de seus
descendentes estavam entre aqueles que foram
JERUSALÉM, PATRIARCADO DE escolhidos por sorte para residir em Jerusalém,
Jerusalém é a mãe de todas as igrejas cristãs. Ali terminado a cativeiro babilónico (Nee. 11:7). Isso
reuniu-se a primeira comunidade cristã do mundo. ocorreu por volta de 445 A.C.
Apesar de sua história e de seu prestígio apostólico,
não foi concedido à cidade ser sede de um JESANA
patriarcado, senão já quando do concílio de No hebraico, «antiga». Esse era o nome de uma
Calcedônia(vide), em 451 D.C. Juvenal foi o primeiro
patriarca de Jerusalém; mas, mesmo assim, ocupava cidade, com os seus arrabaldes, que Abias tomou de
somente o quinto lugar em grau de importância. Jeroboão. Ficava perto de Betei e Efraim (II Crô.
Todavia, Juvenal não foi bem aceito pelos habitantes 13:19; I Sam. 7:12). Sem dúvida, ficava perto da
da cidade. A maioria dos cristãos que estava sob a sua fronteira entre Judá e Israel. Tem sido identificada
autoridade tinha adotado o m onofisistism o (vide). A com Isanas, que servia de quartel-general do general
conquista árabe da Palestina fez com que o cisma da sírio que operava sob as ordens de Antígoho. Foi ali
igreja calcedônica se tornasse permanente. No que Herodes, o Grande, obteve grande vitória militar
presente, o patriarcado de Jerusalém é governado por sobre o rei da Síria, segundo nos informa Josefo (A n ti.
uma hierarquia de prelados gregos, escolhidos, 14:15,12). O local moderno talvez seja Buij el-Isaneh,
exclusivamente, dentre a confraria do Santo Sepulcro. ao norte de Jerusalém. Ou pode ser Ain Sinia, a
Mas tal arranjo não é bem acolhido, pois sente-se que poucos quilômetros ao norte de Betei.
um demasiado poder é brandido por apenas alguns^
Ver os artigos gerais sobre Patriarca e sobre JESARELA
Patriarcado.
No hebraico «reto diante de Deus». Ele foi o chefe
do sétimo dos vinte e quatro turnos em que foram
JERUSALÉM, SÍNODO DE divididos os músicos levitas (I Crô. 25:14). No
Um sínodo é uma assembléia eclesiástica autoritá segundo versículo do mesmo capítulo ele é chamado
ria. Na Igreja antiga, esse termo foi usado, a Asarela. Ele viveu em torno de 1015 A.C.
princípio, como equivalente a concílio. Mais tarde, o
vocábulo concílio foi restringido às assembléias JESEBEABE
ecumênicas oficiais, enquanto que o termo sínodo
passou a indicar convenções eclesiásticas de áreas No hebraico, «assento do pai». Ele era o chefe do
geográficas específicas e limitadas. Quanto a maiores décimo quarto turno de sacerdotes, que serviam no
informações sobre o termo sínodo, ver o artigo sobre tempo de Davi (I Crô. 24:13). Viveu em torno de 1015
esse assunto. Também oferecemos um detalhado A.C.
artigo sobre os Concílios E cum ênicos.
O Sínodo de Jerusalém foi efetuado em 1672, JESER
convocado pelo patriarca Dositeu (1669—1707). Seu No hebraico, «retidão». Esse era o nome do
ato principal foi uma afirmação da fé ortodoxa. primeiro filho de Calebe e sua esposa, Azuba (I Crô.
Asseverava que Cirilo Lucaris, patriarca de Constan 2:18). Viveu em cerca de 1440 A.C.
tinopla (falecido em 1638) escrevera uma confissão
calvinista, e refutou os pontos de vista do mesmo. Em
outras palavras, esse sínodo tomou uma postura JESIMIEL
anticalvinista. Ver sobre o Calvinismo. Mesmo que
um patriarca assuma uma posição calvinista, contra a No hebraico, «que Yahweh estabeleça». Esse era o
posição ortodoxa comum, sobre questões controverti nome de um chefe da tribo de Simeão (I Crô. 4:36).
das, isso não obriga a comunidade ortodoxa a aceitar Nos dias de Hezequias, Jesimiel migrou para o vale de
tal posição. Isso expressaria apenas a opinião de um Gedor, com o propósito de descobrir melhores regiões
indivíduo. Esse sínodo produziu o que se convencio de pasto para seu gado; e ali ficou residindo. Ele viveu
nou chamar de Confissão de D ositeu, reafirmando a em tomo de 711 A.C.
típica teologia ortodoxa, e refutando o calvinismo.
JESIMOM
No hebraico, «ermo», «deserto». Essa palavra, no
JESAlAS hebraico, era usada como um substantivo comum,
No hebraico, «Yahweh salvou». Várias pessoas sem aludir a qualquer lugar específico; mas, quando
figuram, com esse nome, nas páginas do Antigo usada com o artigo definido, então referia-se a algum
Testamento: lugar específico, como:
1. Um filho de Hananias, filho de Zorobabel (I Crô. 1. O deserto da Judéia está em foco, em I Sam.
3:21). Ele viveu por volta de 536 A.C. 23:19,24 e 26:1,3. Ficava localizado a suleste de
2. Um filho de Jedutum, chefe da oitava divisão dos Hebrom, nas vizinhanças de Zife (vide).
cantores, sob a tutela do pai dele (I Crô. 25:3,15). Ele 2. A região de Pisga, em Moabe, a nordeste do mar
viveu em torno de 1015 A.C. Morto (Núm. 21:20,23,28). Ê interessante que o
3. Um levita que ajudava a supervisionar o tesouro deserto, na mente e no vocabulário dos hebreus, era
de Davi(I Crô. 26:25). Ele era descendente de Anrão, referido por meio de um termo que aponta não
por meio de Moisés. Ele viveu em torno de 1015 A.C. somente para desolação, mas também para devasta-
469
JE S IS A I - JE S U A
Çào. Os israelitas evitavam o deserto o máximo Davi era conhecido como bom músico. A próxima
possível. Mas, sendo mister atravessar alguma área cena da história conduz-nos ao momento em que Saul
desértica, isso era feito da maneira mais expedita enviou um mensageiro para buscar a Davi, para que
possível. Os habitantes do deserto eram alvo das este fosse tocar a sua harpa no palácio real, a fim de
suspeitas dos israelitas e de outros povos. Assim, os aliviar a natureza melancólica do monarca benjamita
egípcios chamavam-nos de «residentes da areia», e (I Sam. 16:14 ss). Jessé anuiu ante a.ordem do rei e
isso em tom de desdém. lhe enviou Davi, juntamente com generosos presentes,
Uso Figurado. Uma nação que fosse derrotada e o que talvez mostre algo de sua abastança. E Davi
cujos habitantes fossem deportados tornava-se um ficou na corte real, atuando como músico (e, segundo
«deserto» (Jer. 22:6; Osé. 2:3-5). Os antigos meios de podemos bem supor, ocupado também em outros
transporte tornavam os desertos lugares perigosos. misteres e treinamentos), segundo se aprende em I
Por essa razão, os desertos eram considerados Sam. 16:22,23.
ameaçadores, símbolos do infortúnio. Quando o gigantesco Golias (vide) andou amea
çando as tropas de Israel, Jessé enviou Davi ao
acampamento, a fim de levar víveres a seus Irmãos
JESISAI que faziam parte das tropas de Saul. Ninguém sabia
No hebraico, «idoso». Esse era o nome de um filho que Davi terminaria sendo o grande campeão de
de Jacó, e pai de Micael. Ele foi o ancestral de uma Israel, abatendo ao gigante. Davi aceitou o desafio
tribo que tinha esse nome, que vivia em Gileade, e lançado por Golias, e o abateu com o auxilio da
cujàs genealogias foram registradas no tempo de Jotão funda, e foi imortalizado (I Sam. 17:17 ss).
(I Crô. 5:14). Viveu em torno de 782 A.C. Jessé e seus familiares foram enviados por Davi
para o território de Moabe, quando Davi se tornou
vítima da inveja doentia de Saul, e teve de fugir para
JESOAlAS não perder a vida, ele mesmo. É evidente que os
No hebraico, «Yahweh perturba». Ele era um chefe familiares de Davi passaram anos em Moabe, sem
simeonita, descendente de Simei (I Crô. 4:36). Ele quaisquer incidentes negativos (I Sam. 22:2-4).
atacou os camitas, no dias de Ezequias, em cerca de 3. Derrisão Q uanto ao N om e de Jessé. Jessé não era
711 A.C. grande figura, ainda que fosse homem abastado. E
assim, quando Saul quis zombar de Davi, chamou-o
de «o filho de Jessé» (I Sam. 20:17, 30,31; 22:7,8;
JESSÉ 22:9; II Sam. 20:1; I Reis 12:16). No entanto, esse
Embora o significado dessa palavra, no hebraico, título de zombaria foi revertido pelo povo de Israel,
seja incerto, alguns arriscam a interpretação «firme». que passou a usá-lo respeitosamente, conforme se vê
E sboço : em II Sam. 23:1; I Crô. 10:14; Sal. 72:20; Atos 13:12.
1. Família 4. Uma Designação M essiânica. Jessé é menciona
2. História do dentro de um contexto messiânico, em Isa. 11:1,
3. Derrisão Quanto ao Nome de Jessé onde o futuro Messias e Rei de Israel é chamado de
descendente de Jessé: «Do tronco de Jessé sairá um
4. Uma Designação Messiânica rebento, e das suas raízes um renovo». A expressão
1. Família. Jessé foi pai do rei Davi. Era filho de «raiz de Jessé» é uma referência ao Messias, em Isa.
Obede e neto do próspero belemita Boaz e de sua 11:10. Paulo também usou essa expressão, em Rom.
esposa moabita, Rute. Ver Rute 4:17,22; I Crô. 2:12; 15:12, a fim de identificar Jesus com as passagens
Mat. 1:5,6; Luc. 3:32. Naturalmente, isso fez de Jessé messiânicas do Antigo Testamento. O nome de Jessé,
um dos antepassados de Jesus Cristo. Ao que parece, mui obviamente, foi incluído na lista dos antepassa
ele era um abastado proprietário de terras. Tinha oito dos de Jesus, em Mat. 1:5,6 e Luc. 3:32.
filhos, conforme aprendemos em I Sam. 16:1-13 e
17:12. Desses, o caçula, Davi, foi quem deixou uma
marca permanente na história de Israel. JESUA
Jessé também tinha duas filhas, Zeruia e Abigail (I No hebraico, «Yahweh ajuda», ou «Yahweh é
Crô. 2:13-17). Essas duas mulheres tornaram-se salvação». Esse foi o nome de muitos homens ou
genitoras de guerreiros bem conhecidos, que serviam lugares, nas páginas do Antigo Testamento, a saber:
no exército de Davi, a saber, Joabe, Abisai e Asael (de 1. Uma cidade onde alguns descendentes de Judá
Zeruia), e Amasa (de Abigail). Não há como explicar vieram habitar, após retornarem do cativeiro babiló
por que razão Abigail é chamada de filha de Naás, em nico (Nee. 11:26). Talvez fosse a mesma Sema de Jos.
II Sam. 17:25. Talvez esse fosse outro nome de Jessé. 15:26, ou Seba, em Jos. 19:2. Tem sido tentativamen
E, no caso de Naás ser um nome feminino, então está te identificada com o Tell E s-S a w eh .
ali em foco a mãe de Abigail. Ou, então, as filhas 2. Um sacerdote da época de Davi, que foi o chefe
provinham de um primeiro casamento da mãe delas, do nono curso de sacerdotes (I Crô. 24:11). Ele viveu
fazendo delas enteadas de Jessé.2 por volta de 1015 A.C.
2. História. O próprio Jessé não figura como 3. Um filho de Jozadaque, sumo sacerdote que
homem importante. A Bíblia narra como Samuel retornou com Zorobabel, terminado o cativeiro
ungiu a Davi, ainda um mancebo, como o futuro rei babilónico, em cerca de 536 A.C. Parece ter nascido
de Israel, em I Sam. 16:1-13. Os sete filhos mais no exílio, ou, então, já era homem muito idoso
velhos de Jessé foram sendo rejeitados um a um pelo quando se tornou sumo sacerdote. Encorajou os
Espírito do Senhor, embora tivessem impressionado judeus em seu trabalho de reconstrução e em sua
fisicamente ao profeta. Quando Samuel soube que rededicação à antiga adoração. Aliou-se a Zorobabel,
havia um oitavo filho de Jessé, ainda adolescente, que na oposição aos esquemas ardilosos dos samaritanos
estava no campo, cuidando das ovelhas, só se deu por (Esd. 4:3). Encorajou o reinicio das obras, que
satisfeito depois de havê-lo ungido. No entanto, haviam sido interrompidas, e que foram retomadas no
parece que, na ocasião, Jessé e Davi não compreen segundo ano do reinado de Dario Histapes (Esd. 5:2;
deram bem tudo quanto estava implícito naquela Ageu 1:12). Vários pronunciamentos do profeta Ageu
unção. foram endereçados a Jesua (que nossa versão dá como
470
JE S U A - JE S U ÍT A S
«Josué») (Ageu 1:1; 2:2). Seu nome (com a forma de papado e para a promoção da religiosidade. Esse livro
«Josué») ocorre em duas das profecias simbólicas de procura expor aos seus leitores uma espécie de intensa
Zacarias (Zac. 3:1-10 e 6:11-15). Essas passagens filosofia cristã de vida. Ê obra altamente devocional,
apresentam o povo judaico primeiramente vestido em instruindo os homens a ocuparem suas horas em
trajes próprios de um escravo, mas, em seguida, em orações, serviços e sacrifícios pessoais. Também é
novas e gloriosas vestimentas de liberdade. Na uma espécie de manual do soldado cristão, conforme
segunda representação simbólica, Josué usa coroas de seu autor entendia a questão. Inácio começou a
prata e de ouro, símbolos das coroas sacerdotal e real oferecer suas idéias a outros, e obteve uma resposta
de Israel, que haveríam de ser unidas no adorno de entusiasmada da parte de alguns. Seus colegas da
cabeça do esperado Messias. Interessante é observar Universidade de Paris ficaram encantados diante de
que o nome de Josué, filho de Num, aparece com a sua devoção e poder espiritual, e começaram a fazer
forma de «Jesua», em Nee. 8:17, o que significa que uso dos seus exercícios. Um dos resultados disso foi a
Josué e Jesua eram formas intercambiáveis, prove dedicação de muitos para se lançarem a uma cruzada,
nientes da mesma raiz. Naturalmente, dessa palavra na Terra Santa, com o intuito de converter aos
hebraica é que se deriva o nome grego Iesous (por sarracenos. Paralelamente a isso, aqueles jovens
meio de transliteração), e também é daí que se deriva concluíram que a melhor maneira de servirem a Cristo
a palavra portuguesa Jesus. era jurarem uma total dedicação ao papa. Essas
4. Josué, filho de Num, é chamado Jesua, em Nee. decisões foram ratificadas mediante solenes promes
8:17. sas a Deus, durante uma missa celebrada na capela
5. Um levita cujo trabalho consistia em distribuir as Montmarte, fora de Paris, a 15 de agosto de 1534.
oferendas sagradas nas cidades sacerdotais, nos dias 2. Uma Ordem Oficial. Foi assim que a Sociedade
do rei Ezequias. Ver II Crô. 31:15. Ele viveu em tomo de Jesus teve começo, embora, até ali, não fosse uma
de 726 A.C. ordem reconhecida. Inácio e seus seis seguidores mais
6. Um descendente da pessoa ou lugarejo chamado íntimos não tinham qualquer intenção de formar uma
Paate-Moabe. Sua gente, em número de dois mil nova ordem religiosa. Ao terminarem os seus estudos
oitocentos e doze, retomou do cativeiro babilónico em Paris, buscaram a ajuda do papa Paulo III, que os
(Esd. 2:6; Nee. 7:11). Nossa versão portuguesa dá seu persuadiu de que poderiam servir melhor tendo sua
nome como Jesua-Joabe. O tempo desse retorno foi sede em Roma, e não em Jerusalém. A ordem foi
cerca de 536 A.C. oficialmente reconhecida pelo papa a 27 de setembro
7. Um levita cujo nome é mencionado juntamente de 1540. No ano seguinte, Inácio foi eleito primeiro
com o de Cadmiel, cujos descendentes, em número de superior da nova Sociedade. Sua tarefa seguinte foi a
setenta e quatro (chamados «filhos de Hodovias»), de traçar uma detalhada constituição para ser seguida
regressaram à Judéia, após o exílio babilónico (Esd. como norma pela sociedade.
2:40; Nee. 7:43), em cerca de 436 A.C. 3. A Constituição da Sociedade de Jesus e
8. O pai do levita Jozabade. Esdras nomeou-o para Características Especiais. A constituição traçada por
cuidar das ofertas para o culto sagrado (Esd. 8:33). Inácio tinha algumas características especiais. A
Isso ocorreu em cerca de 459 A.C. prim eira e mais importante é que o grupo existia a fim
9. O pai de Ezer. Este ajudou a reparar as de servir devotadamente ao papado. A segunda, por
muralhas de Jerusalém, sob a direção de Neemias sua vez, envolvia um voto exigido dos membros, que
(Nee. 3:19). Ele viveu em torno de 446 A.C. os proibia de aceitar qualquer título e honra
10. Um levita, chefe de uma casa, que desde o eclesiásticos, a menos que o papa, mediante sua
começo ajudou Neemias nas reformas instituídas em decisão pessoal, chegasse a conferi-los a algum
Judá, após o retomo dos judeus do cativeiro membro específico. Essa organização também proveu
babilónico. Pode-se interpretar o texto em que seu para que os escolásticos recebessem as santas ordens,
nome figura (Nee. 9:5; ver também Nee. 8:7; 9:4; e que os irmãos não se ocupassem em estudos
12:8,24) como se dissesse que era «filho de Cadmiel». acadêmicos, mas passassem a vida cuidando de
Mas é possível que isso envolva um erro de interesses domésticos, como sacristães, refectorianos,
transcrição. Os eruditos preferem pensar em «...Je etc. Ambas essas classes primeiramente são submeti
sua Cadmiel...», ou seja, como dois homens sem das a um período de preparação e de prova, que dura
qualquer parentesco entre si. E isso faria desse Jesua o dois anos. Se forem aprovados, então fazem os três
mesmo que aparece no número 7 desta lista, acima. votos simples de pobreza, castidade e obediência. Os
escolásticos, usualmente, passam entre doze e quinze
anos estudando humanidades, filosofia e teologia.
JESUÍTAS Atuam como professores e diretores de escolas. A
Essa é uma das ordens religiosas organizadas pela ordenação dos escolásticos, usualmente, ocorre
Igreja Católica Romana. Essa ordem foi fundada no quando eles ainda são estudantes de teologia. O
século XVI e tomou o nome de Sociedade de Jesus, treinamento dos escolásticos encerra-se mediante um
embora seus membros sejam melhor conhecidos como período de estudos especiais, sobre teologia mística
jesuítas. adiantada, com um completo curso sobre a história e
1. Fundador. O fundador da Sociedade de Jesus foia natureza da própria sociedade. Aqueles que,
Inácio de Loyola, cujas datas principais são finalmente, chegam ao final de todos esses estudos,
1491—1556. Ele era espanhol. Temos provido um fazem votos adicionais de cega obediência ao papa, o
artigo separado sobre Inácio de Loyola. Embora que não faz parte dos votos de qualquer das outras
debilitado por dificuldades orgânicas, Inácio foi ordens religiosas do catolicismo romano. Todavia,
homem de grande energia e de notável religiosidade. esse voto de lealdade ao papa só é feito pelos
Buscava intensamente a Cristo, posto que a seu modo. estudantes que mais se notabilizam. Os demais
Passava muito tempo em preces, atos de disciplina e limitam-se aos três votos simples de pobreza,
atos de caridade. De suas experiências espirituais castidade e obediência.
surgiu o seu livro, Livro dos Exercícios Espirituais. O 4. Primeiros D esenvolvim entos. Após o ano de
propósito desse livro era servir de guia para algum 1556, a ordem dos jesuítas multiplicou-se rapidamen
diretor religioso que desejasse alistar recrutas para a te. Em 1616 havia 13.112 membros; em 1710, 19.978;
causa de Cristo e para o serviço cegamente leal ao em 1949, 22.589. Muitos protestantes foram trazidos
471
JESUÍTAS - JESUS
de volta à Igreja Católica “Romana graças aos esforços Se quisermos apontar para uma realização notável
de membros dessa agremiação religiosa. Os jesuítas dos jesuítas, então teremos de apontar para a
têm aberto muitas escolas e têm exercido uma vasta educação. Nos Estados Unidos da América, essa
influência sobre a educação. Famosos educadores organização conta com quarenta e um ginásios,
jesuítas incluem nomes como os de Vasquez, vinte e oito colégios e universidades, com 25.155
Valência, Lessius, Busenbaum e Suarez. No Brasil, alunos em seus ginásios e quase cem mil alunos em
quem já não ouviu falar no padre Anchieta? Em suas universidades. Porém, as missões estrangeiras
consonância com a época, os jesuítas salientaram o também são uma gigantesca operação desse grupo.
aristotelismo cristão, mediante o escolasticismo e o Mais de cinqüenta grupos missionários existem ao
tom ism o (ver sobre esses dois assuntos). No campo da redor do mundo. Como é óbvio, a Sociedade de Jesus
filosofia moral, essa ordem caracteriza-se por um tem produzido muitos eruditos bem conhecidos, em
otimismo moderado, no tocante à capacidade moral certo número de campos, ao redor do mundo inteiro.
do homem. (AM CE E)
5. M issões ao Estrangeiro. Muitos países têm sido
afetados pelos esforços missionários dessa sociedade
religiosa, principalmente no Extremo Oriente e na JESURUM
América do Sul. Naturalmente, a Europa tem sido No hebraico, «reto», «justo». Esse é um nome
sempre a base de operações domésticas, e onde o poético e honorífico outorgado a Israel, em Deu.
poder educacional do grupo é maior. Por meio de 32:14; 33:5,26; Isa. 44:22. Esse nome aponta para
mais de seiscentos colégios a sociedade tem ministrado uma nação ideal, santa em sua natureza e cônscia de
cursos e tem espalhado a sua filosofia, principalmente seu alto chamamento. O trecho de Deu. 32:15 usa
do século XVI ao século XVIII. essa palavra como repreensão, porque o elevado ideal
não fora atingido; mas, nas demais passagens, o uso é
6. Supressão e Oposição à O rdem . No século XVII, positivo. Gesênio pensava que essa palavra se referia a
a Sociedade de Jesus passou por um período adverso, «um pequeno povo justo», um título dado afetuosa
de oposição e supressão. Os jansenistas (ver sobre o mente, talvez aliado a uma idéia similar, no «livro dos
Jansenism o) procuravam destruir a influência dos Justos» (Jos. 10:13 e II Sam. 1:18; no hebraico, sepher
jesuítas na Igreja Católica Romana; os holandeses e os jasher, que se parece com Jesurum ), e onde,
ingleses impediram a expansão jesuítica em seus novamente, o povo de Israel está em foco.
respectivos territórios; no Japão, uma feroz persegui
ção quase pôs ponto final à obra da sociedade,
naquele país. Até mesmo outros missionários JESUS
católicos romanos passaram a fazer oposição aos Ver uma explicação deste nome no artigo sobre
métodos missionários dos jesuítas. E até mesmo em Jesus (não o Cristo).
países de fortíssimo catolicismo romano, como
Portugal, Espanha e França, grupos pertencentes aos O Jesus Histórico
jesuítas debandaram. A família real dos Bourbon, Ver o artigo separado sobre Jesus Histórico. Alguns
pressionando o papa Clemente XIV, conseguiu dele liberais acham que o relatório de pessoas entusiasma
um breve que, essencialmente, anulava a Sociedade das produziu um Jesus teológico que obscureceu o
de Jesus. Todavia, Catarina, a Grande, da Rússia, verdadeiro Jesus histórico. Em outras palavras, a
não permitiu que esse breve circulasse onde ela igreja inventou o Jesus teológico (metafísico), e agora
exercia autoridade, razão pela qual os jesuítas é difícil entender o Jesus verdadeiro, histórico pelo uso
sobreviveram ali, bem organizados, até que a ordem dos documentos que possuímos. O artigo mencionado
foi universalmente descontinuada. A supressão acima examina o problema detalhadamente. Ver
alicerçava-se sobre questões sociais, questões também sobre Cristologia.
doutrinárias, questões práticas e questões políticas.
Por outra parte, a supressão da ordem tinha, como Esboço
um dos intuitos indiretos, diminuir a autoridade I. Identificação
papal. 1. Magnitude de Sua Influência
7. Restauração. O papa Pio VII, em 1814, 2. Muitas Idéias Sobre Sua Pessoa
restaurou a Sociedade de Jesus à sua anterior posição a. Não-existência
na Igreja Católica Romana; e ela começou a b. Gnóstico
espalhar-se pelo mundo, a despeito de contínuos c. Docetismo
ataques de fora. O holandês John Philip Roothaan d. Àrio
(vide) muito fez para restaurar a Sociedade de Jesus e. Emanação
nos lugares onde ele era influente. A restauração f. Liberal
requeria a expulsão dos membros que tivessem g. Triteísta
perdido os ideais originais da sociedade, quanto a h. N.T. (ortodoxo, trinitário)
questões doutrinárias ou quanto a questões políticas.
8. Situação M oderna. Em 1939, a Sociedade de II. M inistério
Jesus atingiu um número de membros de cerca de 1. Antes do Ministério na Galiléia
vinte e cinco mil. Seu trabalho em escolas, em missões a. Preexistência
estrangeiras e em retiros especiais têm-na distinguido. b. Nascimento
Ela tinha então cinqüenta províncias de atividade, c. Infância
sete das quais nos Estados Unidos da América do d. Relações para com João Batista
Norte. O seu crescimento nesse país tem sido e os Essênios
fenomenal. Atualmente, essa sociedade conta com e. Batismo
cerca de trinta e cinco mil membros; um quinto desse f. Tentação
número acha-se nos Estados Unidos da América. A g. Primeiros contactos com seus
Europa continental não é mais o centro de maior discípulos especiais
desenvolvimento. Essa distinção, atualmente, perten h. Ministério na Judéia
ce aos países de língua inglesa e aos países do 2. Ministério na Galiléia
continente sul-americano. a. Acontecimentos preliminares
472
JE S U S
b. Sua mensagem básica e auto-identificação compreensiva acerca de Jesus, de sua identificação, de
c. Nas sinagogas seu ministério e de seus ensinos. Não pode haver
d. Escolha dos doze ocupação mais importante do que essa, pois em
e. Grandes sermões verdade o destino de Cristo determina nossos próprios
f. Obras prodigiosas destinos pessoais. Sua vida mostrou o caminho pelo
g. Sinagogas próximas de Jesus qual teremos, finalmente, de seguir na qualidade de
h. Missão dos doze (e dos setenta) homens, se temos a esperança de retornar a Deus. A
i. João Batista e Herodes Àntipas vida de Cristo, tal como ela é atualmente, é o nosso
j. Três circuitos pela Galiléia alvo. Quando a sua glória final tomar-se realizada,
3. Jesus afasta-se da Galiléia seremos co-herdeiros juntamente com ele. Assim, pois,
a. Para Tiro de forma bem real, o estudo da vida de Jesus e sua
b. Revelação da pessoa de Jesus e importância é, ao mesmo tempo, uma sondagem na
reconhecimento por Pedro significação mesma de nossa existência e uma
c. Viagem a Jerusalém previsão em nosso destino. Por certo todos nós
4. Ministério na Judéia deveríamos nos interessar nessa inquirição.
a. Ensinos em Jerusalém I. ID E N T IF IC A Ç Ã O
b. Ministério na Peréia 1. Magnitude de sua Influência
5. Dias Finais de Jesus Ao que sabemos, Jesus nada escreveu, apesar de
a. Entrada triunfal em Jerusalém que muitos sentiram a necessidade de escrever a
b. Traição respeito dele, necessidade essa que prossegue até hoje,
c. Última Ceia pois cada geração precisa ter os seus próprios
d. Getsêmani intérpretes sobre o sentido da vida de Cristo. Jesus
e. Aprisionamento jamais deixou a Palestina durante o seu ministério
f. Vários julgamentos de Jesus terreno (exceto que de certa feita esteve na região de
g. Crucificação Tiro e Sidom), mas o seu nome é conhecido em toda
h. Descida ao hades parte do mundo. Os historiadores afiançam-nos que
i. Ressurreição antes do fim do século II D.C., vinte distintos grupos
III. Ensinos religiosos tinham saltado à existência, todos afirman
1. Fontes do alguma espécie de origem em Cristo, embora
2. Sem paralelo apresentando definições diferentes e contraditórias
3. Temas básicos acerca dele e de seu ministério. Antes do fim do século
IV D.C., havia mais de oitenta desses grupos; mas
a. Reino hoje exauriria a boa matemática se quiséssemos
b. Filho do Homem contar o número de grupos existentes, todos
c. Missão messiânica supostamente alicerçados em sua autoridade.
d. Princípios éticos
e. Acontecimentos futuros É verdade que quando qualquer gênio criador
f. Sua morte e seu sentido aparece entre os homens, o resultado natural é uma
g. Relações para com o judaísmo modalidade de conflito e de revolução. As pessoas que
h. Diversos temas das suas parábolas entram em contacto com o mesmo são modi
ficadas por ele, ou por outro lado, têm de
IV. Bibliografia fazer-lhe tenaz resistência, a fim de se livrarem de sua
possível influência. Quanto mais elevada for a
IN T R O D U Ç Ã O estatura desse gênio criador, tanto mais intenso será o
Q ualquer tentativa de expor de modo breve e conflito, a modificação e a mudança nas vidas
completo a identificação, o ministério e os ensinos de daqtieles que entram em contacto com ele. No caso de
Jesus, deve ser vista como algo semelhante à tentativa Jesus, essa verdade é óbvia. Até mesmo os elementos
de pôr o oceano dentro de uma xícara. A grandeza de liberais, que negam completamente a divindade de
Jesus, sua subsequente vastíssima influência, e nosso Cristo, reconhecem, não obstante, o valor de sua
conhecimento relativamente exíguo de sua vida, pessoa; e, na maioria dos casos, nem procuram
ministério e ensinos, de pronto nos colocam em um livrar-se totalmente de sua influência. Que isso
dilema, porquanto qualquer esforço terá de ficar continue ocorrendo quase dois mil anos depois de sua
muito aquém do alvo de uma caracterização vida terrena, por si mesmo é grande indicação da
adequada de sua pessoa. Todo este comentário é magnitude de sua pessoa. Os ateus e agnósticos são
apenas uma tentativa um pouco mais extensa de igualmente afetados por ele, mas, nesses casos, o
caracterizar a Jesus e sua importância; e a existência conflito e a reação adversa são ativados. Alguns têm
de muitos comentários, alguns deles versículo por passado a vida inteira na tentativa de anular e
versículo, lado a lado com muitos outros volumes de desacreditar a sua influência e de diminuir-lhe a
diversas categorias, demonstra que essa tarefa jamais importância. Essa oposição é apenas um testemunho
poderá ser realizada de modo completo ou perfeito. involuntário acerca da grandeza de Cristo. Os crentes
Este artigo foi escrito na esperança de que pelo apresentam a maior evidência de sua grandeza,
mençs seja útil, e que o ponto de vista aqui porquanto procuram incorporar em si mesmos «algo»
apresentado sobre Jesus seja impressionante, a fim de de sua vida. Aqueles que conseguem isso em maior
que se descubra aquela «glória em seu seio que profundidade, são os mais excelentes exemplos de sua
transfigura a ti e a mim». Este breve artigo de magnitude. Quase vinte séculos não têm podido
introdução só pode esperar salientar o esboço geral diminuir as modificações, alterações, transformações
dos assuntos abordados, e seu propósito especifico e conflitos que a presença de Jesus criou nesta terra.
consiste em explicar os temas básicos de Jesus e de seu Fora das próprias Escrituras não contamos com
ministério, confiando que o leitor se interesse muito testemunho ou material que nos forneça
suficientemente por seguir avante com um estudo informações sobre Jesus. Ele é mencionado pelos
mais detalhado destas questões. historiadores romanos Tácito (Anais XV.44), Suetô.
O leitor que lançar mão desses diversos mananciais (Cláudio, 25; Nero, 16), Plínio (Epístolas Í.96), e
de informação certamente obterá uma visão mais pelo famoso historiador judeu Flávio Josefo, em uma
JE S U S
passagem altamente interpolada (Ant. XVIII.3.3). uma espécie de «cumprimento de desejo», que é uma
Também existem numerosas referências indiretas a das funções psíquicas dos seres humanos. Israel
Jesus na literatura judaica posterior, em sua maioria, anelava por um Messias, por um Salvador, por um
adversa. Os livros apócrifos do N.T. se baseiam nele, Libertador. Dai alguns deles passaram a criar tal
mas nenhum estudo chegou até às nossas mãos capaz personagem. Talvez alguma figura pouco conhecida,
de distinguir quanto dessa informação é digna de chamada «Jesus», tivesse estado de alguma maneira
confiança e quanto não o é. A maioria das histórias associada a tal movimento; mas o «Jesus» do
dos livros apócrifos no N.T. se baseia nos quatro cristianismo histórico seria principalmente uma
evangelhos, pelo que também não tem valor indepen personalidade lendária. David Strauss, teólogo
dente. Não obstante, há certa quantidade de alemão (1873) em seu livro, «Life of Jesus», levantou a
informações adicionais, nesses livros, que provavel questão da realidade histórica de Jesus, e apresentou
mente é autêntica; porém, os eruditos sobre os livros a sua tonclusão que a história de Jesus» é quase
apócrifos são poucos, pelo que fica extremamente inteiramente mitológica. Authur Drews, em sua obra
limitado para nós o valor desses livros como fontes *The Christ M yth», procura demonstrar que já havia
informativas dignas de fé. De modo geral, só nos resta um culto ao Salvador antes dos tempos cristãos, que
pesquisar as páginas do N.T., para que encontremos havia criado um «Messias», e que os cristãos
informações fidedignas acerca de Jesus. subseqüentemente tomaram de empréstimo desse
Ê fa to sobejamente conhecido e muito comentado culto o seu Salvador, disso se desenvolvendo a
que, fora dos evangelhos, pouquíssima informação doutrina, em torno da pessoa do homem chamado
existe sobre a vida de Jesus e, realmente, pouquíssi Jesus. Diversas formas dessa idéia geral têm
mas citações diretas. Pode-se aprender muito através aparecido em círculos liberais. Alguns acreditam no
dos apóstolos e seus ensinos, e existem muitas Jesus» histórico, mas também crêem que foi criado
revelações de doutrinas que se tornaram parte do um «Jesus teológico», personagem esse meramente
sistema cristão, mas pouquíssimo que se tenha mitológico. Isso significaria que os evangelhos são
originado do ministério terreno de Jesus propriamente narrativas feitas por zelotes maníacos, não sendo
dito. Por esse motivo, ficamos à mercê dos quatro fidedignos como documentos históricos. Por conse
evangelhos (ou quase inteiramente) quanto a fontes guinte, pouco ou nada se conheceria acerca do Jesus
informativas sobre Jesus. E nem mesmo esses livros histórico, realmente.
são biografias no sentido moderno do termo, mas, de D e m odo geral, essa teoria não tem sido bem aceita
fato, são uma modalidade distinta de literatura. Os em círculos históricos, ortodoxos ou liberais. De fato,
«evangelhos», em si mesmos, são um tipo diferente de se é impossível demonstrar a existência de Jesus, seria
literatura, embora incorporem breve esboço biográfi difícil, se não mesmo impossível, demonstrar a
co sobre a vida de Jesus. Não podemos estar existência da maioria dos personagens antigos. Jesus
totalmente certos quanto à ordem cronológica dos foi m encionado pelos historiadores romanos Tácito
acontecimentos nos evangelhos, porquanto, de forma (Anais jcv.44), Suetônio (Cláudio, 25; Nero, 16) e
geral, Marcos traça o esboço básico (isto é, os outros, Plínio o Jovem (Epístolas X.96). A data desses escritos
com a exceção de João, usaram o evangelho de é 115 D.C., 125 D.C. e 110 D.C., respectivamente.
Marcos como seu esboço), ao passo que Papias, Em obras de Flávio Josefo temos a declaração que
discípulo do apóstolo João, diz-nos que Marcos nem Jesus era «úm homem bom (se é legal chamá-lo um
sempre registrou os acontecimentos em sua exata homem), com quem se associavam homens bons»
ordem cronológica. Todavia, a base das narrativas de {Ant. XVIII.3.3). Essa declaração é reputada como
Marcos é, essencialmente, as memórias de Pedro; altamente interpolada, mas pelo menos temos aqui
pelo que nem sempre podemos depender da ordem uma referência ao Jesus histórico, bem como alguma
cronológica dos acontecimentos, embora possamos indicação acerca de seu caráter. Nos tempos que se
confiar na historicidade dos mesmos. seguiram imediatamente à vida de Jesus, até mesmo
Quanto a uma análise geral do conteúdo e das os seus mais figadais adversários jamais tentaram
fontes informativas dos evangelhos, o leitor pode negar a sua existência; pelo contrário, as declarações
examinar o artigo intitulado, o Problem a Sinóptico, zombeteiras a seu respeito, tais como as alusões
bem como os artigos sobre os Evangelhos. A respeito indiretas que lemos a ele no Talmude, também
da questão da «historicidade», ou seja, do fato que as servem de provas, pelo menos, de sua existência. O
narrativas são fidedignas do ponto de vista histórico, o Talmude chama-o de mágico que aprendeu suas artes
leitor deveria examinar o artigo chamado Historie ida mágicas no Egito, e de enganador do povo; e a
de. Quanto à questão se os textos dos evangelhos são despeito disso ser um testemunho adverso, contudo,
dignos de confiança (bem como os textos de todo o comprova a sua existência.
N.T.), conforme os conhecemos, posto que não existe
mais nenhum documento original de qualquer dos b. Gnóaticot
livros do N.T., o leitor deveria consultar o artigo sobre Na Igreja cristi, quase desde o principio, surgiu
M anuscritos do Novo Testam ento. Um ponto de vista acerca de Jesus que tentava
2. Moitas Idéias Sobre soa Pessoa
incorporar dentro de sua identificação várias idéias da
filosofia e da mitologia gregas, além de pensamentos
O progresso da história não tem alterado grande- orientais e judaicos. Os trechos de I João 2:2 e 4:2,3 e
mente as várias opiniões do mundo sobre Jesus, pois as epístolas aos Colossenses e aos Efésios, parecem ser
nos tempos modernos encontramos todos os pontos de tentativas para combater diversos aspectos dessas
vista representados desde o mundo antigo, embora, idéias externas acerca de Jesus. De conformidade com
talvez, em formas modificadas. Apresentamos aqui, o pensamento gnôstico, Jesus tornou-se parte da
de forma abreviada, esses principais pareceres: ordem dos anjos, talvez o mais exaltado deles, talvez
a. Nio-Exiitência não. Talvez seja o deus deste mundo, porém, também
Alguns antigos, tanto quanto alguns modernos, há muitos outros deuses. Ele é uma criatura superior,
têm preferido crer que Jesus realmente nunca existiu, mas não o Deus que está acima de todos, nem é filho
mas que surgiu uma espécie de «culto ao Salvador» em qualquer sentido especial, conforme ensina a
(provavelmente entre os essênios), que criou o doutrina trinitária bíblicfi. Pelas passagens mencio
personagem do «Messias», posteriormente identifica nadas acima (I João) aprende-se que os gnósticos
do com Jesus. Quiçá os psicólogos chamam isso de negavam a verdadeira humanidade de Jesus, por-
JESUS E MATEUS
O SENHOR DO SÁBADO
JESUS E NICODEMOS
JE S U S
quanto não diziam que «...Jesus Cristo veio em esquecemos por muitas vezes que essa humanidade foi
carne...» E nas epístoias aos Colossenses e aos Efêsios real, e que as suas limitações eram reais, e que Jesus
ficamos sabendo que negavam a deidade essencial de precisou de «aprender a obediência pelas cousas que
Jesus Cristo, provavelmente rebaixando-o a alguma sofreu». Mui freqüentemente fazemos de Jesus um
das ordens de anjos. O problema do gnosticismo é o homem irreal, e terminamos por ensinar uma forma
mesmo problema que enfrentamos hoje em dia. Jesus qualquer de docetismo. O evangelho de Pedro (livro
teve uma vida grande e incomum. Como poderia ele apócrifo do N.T., 130 D.C.) é tão docético quanto os
ter vivido como viveu? Os gnósticos respondem: Jesus Atos de João (170 D.C.). Outros dos evangelhos
pertencia a alguma ordem angelical, e não à refletem o docetismo e o gnosticismo. Os docetistas
humanidade. Deve ter havido muitas variedades de tinham muito em comum com os gnósticos, mas
explicações, entre os gnósticos, acerca da vida de finalmente formaram uma seita separada. Mas
Jesus, e essa heresia era um dos principais flagelos da basta-nos um pouco de reflexão para que percebamos
igreja primitiva. Alguns aceitavam que Jesus era um que tanto o gnosticismo como o docetismo estão vivos
ser humano controlado por um ser celestial; mas no mundo, até o dia de hoje.
outros criam que um «ser angelical» descera- à terra a d. Ãrio
fim de cumprir uma missão, e que a sua — O Arianismo, que derivou seu nome de Ãrio,
hum anidade — não passava de uma ilusão. Esse era o presbítero de Alexandria em 256-336 D.C., e que era
elemento docético dentro do gnosticismo. discípulo de Luciano de Antioquia, combinava o
Muitos gnósticos, conforme se dava com os ponto de vista monárquico e adocionista com a
docéticos, ensinavam que o espírito de Cristo descera «cristologia do Logos», de Orígenes. O monarquianis-
sobre Jesus, quando de seu batismo, mas deixara-o mo — do termo grego «monarchia», que sugere
quando de sua morte. Assim sendo, o homem Jesus «unidade», salientava a unidade da deidade em
não podia ser inseparavelmente identificado com o oposição às distinções dentro da deidade (como ensina
«espírito descendente de Cristo». o trinitarismo). A doutrina do Logos, por sua vez,
c. DocetUmo procurava estabelecer a transcendência de Deus, e o
Essa palavra se deriva do termo grego dokeo, que Logos seria uma emanação ou expressão de Deus,
significa «parecer». Cerinto (85 D.C.), foi um dos mas não podia ser identificado com o Deus altíssimo,
principais advogados dessa opinião acerca de Jesus. que deveria ser visto como totalmente transcendental.
Ele era alexandrino e discípulo de Filo, o famoso Entretanto, para Ãrio, o Logos era perfeita criatura,
filósofo judeu neoplatônico (até 50 D.C.). lO seu parte da criação de Deus, embora pudesse ser um
ensino geral é que a «humanidade» de Cristo era agente ativo em outros atos da criação. Ãrio cria que o
«ilusória», apenas «parecia» ser real. Entre outras, Logos se tornara carne em Jesus, mas negava que
temos a idéia de que Jesus já existia como homem Jesus (ou Cristo) possuísse alma humana. A pessoa de
quando o «espírito de Cristo» veio controlá-lo, mas Cristo não possuiria deidade essencial. Cristo teria
que não houve verdadeira encarnação de Cristo, nem sido a primeira das criaturas e a maior de todas, e
o Cristo sofreu ou morreu, tão somente o Cristo divino talvez se tivesse tornado em uma espécie de Deus, por
apossou-se de Jesus, quando de seu batismo, e o adoção, mas jamais como o Pai transcendental.
abandonou quando de sua morte na cruz. O homem Todavia, poderia ser objeto da adoração dos homens.
Jesus em sentido algum seria Deus, mas tão-somente A idéia essencial de Ãrio era que a deidade essencial
um homem um pouco melhor e mais sábio do que os jamais poderia identificar-se com esta esfera terrena
demais. inferior, porquanto isso seria uma espécie de
Márcion ensinava certa forma de docetismo quando contaminação. A «deidade» de Cristo, portanto, tinha
afirmava que apesar de Cristo ter sofrido, não de ser de sorte diferente. Aqueles que têm estudado a
nascera como outros homens, nem tivera começo na filosofia platônica reconhecem aqui a influência dos
história, mas aparecera subitamente, vindo dos céus, ensinos dos «universais» e dos «demiurgos», nos quais
durante o reinado de Tibério. Parte da doutrina estes últimos criam o mundo visível (nosso mundo) de
islamita também tem elementos docéticos. conformidade com o desígnio dos primeiros. Muitas
Os prim eiros pais da igreja, Inácio, Irineu e variedades de arianismo se têm desenvolvido, em
Tertuliano, opuseram-se vigorosamente ao docetismo. variegados graus, dependentes do reconhecimento
Tertuliano escreveu diversos artigos contra essa conferido à pessoa de Cristo, mas nenhuma dessas
heresia, como também o fizeram outros dos pais; e a variedades lhe atribui a deidade essencial do Pai.
maior parte de nossas informações a respeito das Após a excomunhão de Ãrio, suas doutrinas se
propagaram largamente, e em pouco tempo toda a
primeiras heresias nos chega através dessas fontes.
Parte da doutrina gnóstica tinha tendências ou Igreja Oriental se transformou em uma batalha
implicações docéticas, e era possível a alguém ser «metafísica». O concílio de Nicéia condenou os pontos
gnóstico e docético ao mesmo tempo, õtima de vista de Ãrio e estabeleceu o «trinitarismo» (325
ilustração disso é Márcion. Se o espírito de Cristo D.C.).
viera controlar o homem Jesus, não havia «Cristo Certas facções do cristianismo atual são bem
humano» real, porquanto seu espirito viera e se fora, definidamente arianas em seu caráter.
mas não fazia parte da personalidade de Jesus. Outros e. Enuuuçio
também eliminavam completamente a «humanidade», A emanação é a doutrina que diz que tudo quanto
imaginando que Jesus teria surgido repentinamente existe derivou-se da Realidade ou Ser supremo,
dos céus, pelo que também não havia qualquer absoluto, mais alto. Aqueles que têm estudado a
natureza humana. E a forma humana que parecia filosofia platônica e, especialmente a adaptação
existir, era tão-somente uma ilusão. Essa posição religiosa dessa filosofia, que tem sido intitulada
geralmente elimina qualquer idéia sobre o «Salvador neoplatonismo, facilmente poderão ver que tais idéias
sofredor». Cristo apenas pareceria ter sofrido. Ele era foram aplicadas a Cristo, por parte de alguns, na
por demais divino para sofrer. igreja primitiva. Pode-se ilustrar a idéia geral
Salientar demasiadamente a deidade de Cristo, às pensando no sol e em seus raios. Os raios emanam do
expensas de sua humanidade, como tão freqüente- sol e, em realidade, são uma expressão da essência do
mente se verifica nas modernas igrejas evangélicas, sol. Quanto mais afastado alguém estiver do sol,
em realidade é uma forma de docetism o. Também nos maior será a escuridão que verá. Deus Pai é como o
475
JE S U S
sol. Sua emanação mais forte é—b Filho.' Um pouco como autoridade absoluta, isto é, que seja perfeita
mais distantes encontramos os seres angelicais. Em mente veraz, completa e sem erro. Procuram separar
seguida, os homens podem ser contemplados muito ali o falso do verdadeiro. O liberalismo, naturalmen
distantes de Deus, embora continuem sendo uma te, é tão antigo quanto o cristianismo, mas tornou-se
emanação divina. Finalmente, encontra-se a matéria especificamente proeminente na igreja a partir do
pura, que está tão distante de Deus que habita em século XIX e já em nosso século XX, pelo que se trata
trevas absolutas. O trecho de Heb. 1:3, fala-nos de de um movimento um tanto moderno, com um tipo
Cristo nestes termos: «...é o resplendor da glória...», de pensamento teológico mais universal. Assim é que
parece expressar uma idéia de emanação, embora os surgiu o «modernismo», termo largamente utilizado
intérpretes e comentaristas (que conhecem as como sinônimo de liberalismo.
questões envolvidas), façam muitos desvios e contor
ções para evitarem essa interpretação. Caso uma idéia Por causa da base muito vasta do pensamento
de emanação fosse aceita por nós, nesse versículo, «liberal», há muitas variedades de liberais, a começar
haveria muitas implicações que os gnósticos e outros por aqueles que poderiam ser considerados essencial
extraíam, quando falavam de Cristo como uma mente conservadores (isto é, aqueles que mantêm
emanação de Deus. Mas, podemos ver nesse versículo algumas poucas opiniões liberais, paralelamente a
meramente uma forma de expressão poética, o que pontos de vista conservadores) e terminando por
parece indicar que Cristo é expressão especial de aqueles que negam terminantemente qualquer dou
Deus, tal como os raios do sol são expressões do sol. trina sobrenatural, que podem até mesmo ser
Alguns dos primeiros pais da igreja foram neoplatô- indivíduos ateus que encontram algum valor nos
nicos em graus variados (por exemplo, Justino princípios religiosos, mas separadamente de seus
Mártir, Orígenes e Clemente de Alexandria), pelo que valores «metafísicos». Muitos indivíduos liberais
algumas das primeiras teologias que surgiram na enfatizam os elementos sociais e éticos da religião, e
igreja continham idéias de emanação. Essa idéia não os elementos doutrinários. A leitura de exposições
parece criar uma espécie de panteísmo, e é justamente bíblicas feitas por liberais revela que alguns milagres
esse o elemento da idéia que tem provocado a reação a são aceitos por eles, enquanto que outros são
ela. Muitos daqueles que ensinavam as idéias rejeitados; algumas das declarações de Jesus são
neoplatônicas na igreja primitiva, também fazem aceitas como autênticas, mas outras são rejeitadas
Deus totalmente transcendental, e assim pareciam como palavras da igreja que foram postas nos lábios
ensinar contra as idéias básicas do teísmo, que ensina de Jesus algum tempo depois dele ter vivido na terra.
que Deus criou e continua diretamente interessado na Alguns liberais aceitam uma espécie de divindade em
criação. Jesus, ao passo que outros só vêem uma pessoa
humana de considerável valor. Alguns rejeitam as
f. Liberalism o tendências principais do ensinamento evangélico. Por
Quando Jesus estava no templo, ocupado nos exemplo, alguns vêem um Jesus patriota e político, e
negócios de seu Pai, Maria e José não puderam não meramente um Jesus religioso, crendo que Cristo
compreendê-lo, e ficaram — perplexos. Muitas morreu principalmente como vitima do estado
pessoas que não fariam objeção em ser catalogadas romano, por ser um ativista político. Essa é a tese dos
como liberais, continuam perplexas ante a personali recentes livros escritos pelo padre anglicano S.G.F.
dade de Jesus. Caracterizar o liberalismo, mediante Brandon, «Jesus and the Zealots» (Scribners) e «The
algumas poucas palavras, é tarefa impossível; pelo Trial of Jesus» (Stein & Day). Esse autor acredita que
que, o melhor que se pode esperar fazer é apresentar o evangelho original (o de Marcos), por causa das
uma brevíssima descrição, adicionando algumas perseguições movidas pelas autoridades romanas
poucas idéias liberais específicas acerca da identifica (perseguições essas que então começavam), evitou
ção de Jesus Cristo. A palavra liberal é definida, pelo implicar Roma na morte de Jesus e assim exagerou
Oxford Dictionary, como «epíteto original e distintivo grandemente a parte desempenhada pelos judeus.
daquelas artes e ciências que eram consideradas Isso teria sido seguido pelos demais evangelhos, e
dignas de um homem livre, em oposição às atividades assim Roma ficou quase isenta de culpa, ao mesmo
servis ou mecânicas». Quando isso é aplicado à tempo que se criou uma espécie de «anti-semitismo».
teologia, fica subentendido que o liberalismo é uma Tais idéias, como é lógico, forçosamente negam de
realização educacional e espiritual, prenhe às todo o valor total ou a natureza fidedigna das
dignidades, responsabilidades e direitos da liberda narrativas que se encontram nos evangelhos, e
de. Segundo essa definição, um liberal é um homem especulam com pequenos «indícios» a fim de criar
livre, em contraste com o conservador que pode estar argumentos. Por exemplo, a purificação do templo,
escravizado à tradição e às interpretações mecânicas por Jesus, é vista não principalmente como um ato
e absolutistas. Os liberais pretendem interpretar sem religioso, que se teria originada na indignação de
o empecilho dos preconceitos e convenções. Suspei Cristo, em face dos abusos religiosos das autoridades
tam das autoridades, e algumas vezes se revoltam judaicas, mas antes, como um «ataque» ao tesouro do
contra elas. Talvez creiam na revelação, mas não templo, a fim de desapossar seus diretores sedentos de
identificam essa revelação com qualquer único livro ou dinheiro, e tudo isso em favor dos pobres. Esse ato,
qualquer indivíduo. Talvez cheguem a aceitar o pois, é visto pelos liberais como uma ação social e
sobrenatural, mas sua compreensão acerca do política, e não como ação religiosa. Por conseguinte,
sobrenatural não pode ser limitada a qualquer coleção Jesus teria morrido como patriota, nas mãos de
de livros, regra, etc., ou a qualquer autoridade tal estrangeiros romanos, um «rebelde-mártir» em prol de
como uma igreja, papa, padre, ministro, etc. Para os seu povo. Esse tipo de interpretação é típico do
liberais, as declarações literais das Escrituras não liberalismo, o qual não se sente obrigado a aceitar,
bastam. A despeito de poderem acreditar que a Bíblia totalmente e sem questão, as declarações do N.T.
é uma revelação válida, não identificam esse livro com acerca da identidade e do ministério de Jesus Cristo.
uma revelação infalível. Os liberais não empregam g. Tritdsmo
«textos comprovantes» para neles basearem qualquer Existem alguns que vêem Jesus como Deus, isto é,
conhecimento. Estudam a Bíblia como estudariam que adotam a divindade de Jesus, mas que não
qualquer outro livro, motivados por considerações aceitam o conceito trinitário da deidade. O triteísmo é
lingüísticas, históricas e sociais. Não aceitam a Bíblia a opinião de que existem três deuses, a saber, Pai,
476
JE S U S
Filho e Espírito Santo. Esses três são distinguidos por fundadas no idioma hebraico. Essa forma plural era
uma essência de ser que os alça acima de todos os usada para magnificar o conceito e elevar o sentido,
outros seres, o que lhes confere o direito de serem isto é, o plural agia como uma forma de aumentativo,
chamados deuses. O triteísmo, em realidade é uma e não indicava, necessariamente, o plural em número.
forma de politeísmo. Alguns que professam crer no Não obstante, pode-se ver traços dessa doutrina em
«trinitarismo», por equivoco, realmente creem no Deus e seu Espírito, no Anjo do Senhor (que era
«triteísmo». O triteísmo ensina uma substância chamado pelo nome divino) e no Servo do Senhor
separada, bem como personagens separados. João (indícios messiânicos). Nas passagens de Pro. 8:22 e
Filipon, do século VI D.C., mediante uma interpreta Jó 28:23-27, a Palavra ou Verbo é personificada como
ção extrema do trinitarismo, na realidade ensinava o a Sabedoria. O trecho de Isa. 9:6 atribui divindade ao
triteísmo. Ensinava ele que três hipóstases devem «filho que nasceu», e toda a terminologia desse trecho
significar três substâncias. Roscelin, do século XI sugere igualdade com o Pai. O Espírito de Deus tem
D.C., ensinava que as pessoas da trindade são apenas proeminência sobre tudo quanto lhe pertence, e
nom inalm ente uma, a saber, apenas quanto ao ninguém pode defender, pelas Escrituras, que o
nome, ou por designação apenas, e não como Espirito Santo é meramente uma espécie de
realidade. Isso não passa de triteísmo. Entre os influência, e não uma pessoa, (ver Isa. 9:2; 42:1; Joel
grupos que atualmente se dão o título de cristãos, 2:28 e Eze. 36:26,27). Todos os elementos se acham
existem aqueles que defendem o triteísmo. Um presentes, mas disso não se seguiria obviamente o
exemplo notável disso é o mormonismo. Muitos trinitarismo, a menos que o N.T. não tivesse sido
crentes individuais não compreendem o conceito escrito. É por esse motivo que os judeus não são
trinitário de Deus, e de fato são triteístas, sem trinitários.
distinguirem a diferença. O Trinitarism o é mais claro no N.T. Ali, Pai, Filho
h . Posição do N .T . (ortodoxa, trinitária) e Espírito Santo são reconhecidos como pessoas
O conceito de Jesus, que finalmente veio a ser distintas, com atividades diversas; não obstante, ao
reputado ortodoxo, de conformidade com as páginas mesmo tempo o N.T. procura preservar o m onoteís
do N.T., é a explicação trinitária. Ao identificarmos a m o. Essa dualidade de expressão leva-nos ao
Jesus, adicionamos a isso o ensino da sua verdadeira trinitarismo. Três pessoas, mas ao mesmo tempo um
humanidade, e mediante esses dois conceitos (trinitá Deus (não três deuses) — isso é o que o trinitarismo
rio e humano), chegamos à verdadeira identificação. tenta definir. São numerosas as referências à
A palavra «trindade» não se encontra na Bíblia, nem distinção que existe entre o Pai, o Filho e o Espírito
no Antigo nem no Novo Testamentos. Foi empregada Santo. Um desses principais exemplos é a narrativa
pelo pai Tertuliano, já desde o fim do século II. D.C. do batismo, onde as três pessoas se fizeram presentes.
Tornou-se uma parte formal da teologia cristã pelo O Filho foi imerso, o Pai falou do céu, e o Espírito
século IV de nossa era. Essa é uma doutrina distintiva desceu em forma de pomba, (ver Mat. 3:16,17). A
do cristianismo, e «reúne, em uma única grande fórmula batismal, dada na Grande Comissão —
generalização, com referência ao ser e às atividades de «...em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo...»
Deus, todos os principais aspectos da verdade cristã» demonstra a mesma verdade (Mat. 28:19,20).
(Lowry). O vocábulo trindade é meramente uma Entretanto, tais declarações poderiam provar, igual
tentativa teológica de definir, em termos mais ou mente, o triteísmo, e alguns têm frisado que as três
menos compreensíveis, a substância de Deus, personagens, na cena do batismo, foram vistas a
declarando que Deus é um em seu ser essencial, mas ocupar diferentes lugares no espaço. A benção
que a essência divina existe em três formas ou modos, apostólica — «A graça do Senhor Jesus Cristo, e o
cada lima constituindo uma pessoa; mas ainda assim, amor de Deus, e a comunhão do Espírto Santo sejam
de tal modo, que a essência divina existe em cada uma com todos vós» (II Cor. 13:13) — demonstra o uso que
dessas pessoas. Mas a grande realidade é que havia na igreja primitiva e que as três pessoas eram
ninguém, realmente, pode compreender o que isso vistas como dotadas de essência e exaltação especiais e
significa, mas tudo não passa de uma tentativa de idênticas, segundo se pode subentender seu esforço.
esclarecer algo acerca de Deus. O conhecimento
humano é tremendamente limitado até mesmo quanto Passagens com o F il.2 ensinam a igualdade entre
à questão material mais simples; pelo que também Pai e Filho. Passagens como João 1, Col. 1 e 2, Efé. 1
certamente é impossível para nós compreender e Fil. 2, ensinam a divindade do Filho. Passagens
realmente a essência e as manifestações de Deus. O como Luc. 1:35; João 15:26: Atos 2:32,33, ensinam o
que sabemos nos é transmitido em termos humanos, ministério do Espírito Santo, e também sua
que compreendemos por meio de padrões humanos. personalidade e suas relações para com o Pai e o
Ninguém pode reivindicar para si mesmo grande Filho. Todavia, tudo isso poderia indicar triteísm o, e
conhecimento acerca da essência de Deus. Podemos não trinitarismo. Para essa indicação precisamos
conhecer um pouco mais acerca de suas obras, mas depender de declarações neotestamentárias que
até mesmo nesse particular nossa compreensão defendem o monoteísmo, das quais I Cor. 8:6 serve de
humana é limitada pelo fato de que tudo nos chega exemplo, e que tem o propósito de negar especifica
em formas humanas, e não divinas. O concilio de mente as noções politeístas (como no vs. 5 do mesmo
Nicéia (325 D.C.) se pronunciou contra o arianismo e capítulo) — «...todavia, para nós há um só Deus, o
em favor do trinitarismo «Deus de Deus, luz da luz, Pai... e um só Senhor, Jesus Cristo...» Se continuar
vero Deus de vero Deus, sendo de uma só substância mos vinculando o N.T. ao V.T., então teremos de
com o Pai» (falando acerca do Filho). Isso é interpretar o pensamento do N.T. de acordo com o
«trinitarismo»; mas fica bem aquém da verdadeira V.T., onde há declarações como «...eu sou Deus, e
compreensão das questões abordadas, pois qualquer não há outro» (Isa. 45:22); «Há outro Deus além de
exemplo apresentado para ilustrar o trinitarismo, mim? Não, não há outra Rocha que eu conheça» (Isa.
necessariamente terá de ser insuficiente e inadequa 44:8); «...eu sou Deus, e não há outro semelhante a
do. mim»(Isa. 46:9). O N.T., interpretado à luz do A.T.,
elimina a possibilidade de qualquer tipo de interpre
Essa doutrina não é bem desenvolvida no A.T. e as tação politeísta, e o triteísmo é politeísmo. Não é
tentativas de vê-la na palavra •elohim*, uma palavra provável que a igreja primitiva, sendo composta
hebraica no plural que indica Deus, não são bem essencialmente de judeus, e tendo seguido essencial
477
JE S U S
mente os princípios da teologia judaica, tivesse sido porquanto no Deus-Homem vemos revelados os
politeísta. O trinitarismo oferece o único meio de propósitos de nossos destinos. Ele tomou sobre si
escape para que se possa aceitar a divindade do Filho mesmo a natureza humana, a fim de elevar-nos de
e do Espírito Santo, sem que se deixe de ser nossa triste condição humana. Sua vida tomou-se o
monoteísta. Continua havendo um só Deus, mas padrão da nossa, não só moralmente, mas também no
existente em três essências, em três expressões dessa aspecto metafísico, porquanto não só procuramos
essência. Naturalmente que não compreendemos imitar a sua vida, mas também seremos um dia
muito sobre o sentido dessas palavras, e certamente transformados segundo a sua própria imagem,
nada das realidades por detrás delas, porquanto assumindo a sua essência. Essa é a mais alta promessa
compreendemos pouquíssimo acerca da essência de do evangelho e, de fato, o ponto principal do
Deus. De fato, nem sabemos do que se compõe a evangelho. Ver as notas detalhadas no NTI sobre as
matéria... quanto menos a Divina Substância. implicações dessas afirmações, em Rom. 8:29 e no
Não obstante, pode-se tentar descrever Deus em contexto geral daquele capitulo. O plano da
termos que tenham sentido para nós, e essa tentativa encarnação, que criou o D eus-H om em , é o mesmo
leva-nos ao conceito trinitário, e não ao triteísmo. A plano que nos eleva à alta posição na criação
palavra «pessoa» pode ser ilusória, pois esse termo vindoura, como novas criaturas, como novos tipos de
sempre designa para nós um indivíduo separado, racio seres, modelados segundo a personalidade do
nal e moral. Mas, no que diz respeito ao ser de Deus Deus-Homem, porquanto seremos, coletivamente, a
(de acordo com o pensamento trinitário), não existem sua plenitude (Efé. 1:23). Ver notas sobre os três
três indivíduos, mas três autodistinções pessoais últimos versículos do primeiro capítulo da epistola aos
dentro de uma única essência divina. No homem a Efé. no NTI, quanto aos detalhes dessas implicações.
personalidade indica independência; mas, ao aplicar- Dessa maneira se vê a importância da identificação
se a Deus, isso não é verdade. Cada pessoa é de Jesus, pois a descoberta de sua identificação é, ao
autoconsciente e auto-orientada, mas jamais indepen mesmo tempo, n descoberta de nossa identificação.
dente das demais. Deus é uma unidade, e não (Ver a declaração introdutória a esta seção sobre
dividido em três partes. Dentro dessa unidade, «identificação»).
todavia, há diversidade. O Pai é a fonte da vida e da
criação. Ele é o primeiro. Diz-se ser ele o originador. II. M IN IS T É R IO
O filho é a fonte da vida e da criação. Ele é Alfa; ele é D iz o evangelho de João: «Há, porém, ainda muitas
ômega. O Filho é eternamente gerado com o Pai; ele outras coisas que Jesus fez. Se todas elas fossem
é o segundo. O Espírito, que procede eternamente do relatadas uma por uma, creio eu que nem no mundo
Pai e do Filho, é o terceiro. Diz-se que ele é o executor inteiro caberiam os livros que seriam escritos» (João
da vontade divina. Esses termos, prim eiro, segundo e 21:25). Naturalmente que isso é uma amostra de
terceiro, não indicam nem prioridade de tempo, nem hipérbole oriental, mas, não obstante, indica algo do
de existência e nem de dignidade, poder ou posição. problema de tentar esboçar o ministério de Jesus.
Todas as três pessoas são igualm ente eternas, iguais Deve ter havido muitas coisas que ele fez, muitos
em dignidade e poder. Portanto, usamos esses termos milagres que realizou, muitas palavras que proferiu, e
para ajudar-nos a compreender algo de suas que jamais foram registrados por qualquer autor,
manifestações. enquanto que muitas outras ocorrências que encon
M as Jesus, o filho de Deus, também se tornou traram lugar em documentos escritos primitivos,
hòmem. — Certamente que o N.T. ensina isso. O subseqüentemente devem ter-se perdido para nunca
segundo capítulo de Filipenses ensina, bem definida mais serem restauradas. Gostaríamos de ter conheci
mente, a humanidade de Jesus, em sua encarnação. O mento de tudo isso, mas nossos únicos documentos
Filho esvaziou-se, não de sua divindade,' mas de seus fidedignos, como material informativo sobre a vida de
direitos e poderes, bem como de seu conhecimento — Jesus são os quatro evangelhos. Existem — alusões
como homem. Palmilhou pela vereda que os homens esparsas — sobre ele nos escritos de Flávio Josefo, de
devem seguir, e sob condições próprias aos homens. Tácito, de Suetônio e nas tradições talmúdicas
Jesus «...aprendeu a obediência pelas cousas que posteriores (embora nem todas essas referências sejam
sofreu...» (Heb. S:8). Também não sabia todas as favoráveis), mas todas se revestem de pouquíssimo
coisas (ver Mar. 13:32), mas dependia de Deus-Espí valor histórico. Também há diversas tradições a seu
rito Santo a fim de desenvolver-se como homem e respeito, algumas nos evangelhos apócrifos e outras
tornar-se suficientemente poderoso para realizar os independentes dessas fontes, tradições essas que
prodígios que fez. Sofreu as dores e tristezas próprias buscam descrever sua infância e os anos anteriores ao
a todos os homens e, no jardim do Getsêmani, hesitou seu ministério público. Algumas dessas tradições di
e enfraqueceu sob a tremenda carga. Contudo, foi zem que ele passou algum tempo de estudo na índia
vitorioso, não por ser Deus (embora o fosse), mas por e no Egito, e que estudou com os essênios, no monte
causa daquilo que chegara a ser como homem. Jesus Carmelo, que não ficava muito distante de Nazaré.
era verdadeiro homem, porquanto a encarnação foi Quanta verdade existe nessas tradições, não temos
real. Um número demasiado de elementos da igreja meios de saber, pelo que ninguém pode apresentar
acredita em um Jesus docético (ver «b» na discussão declarações definidas acerca de seus anos formativos.
anterior). Ver o artigo separado sobre a H um anidade Sabem oc, todavia, que o homem Jesus deve ter
de Cristo, e o texto bíblico, Fil. 2:6,7. recebido uma educação essencialmente Judaica,
porquanto os seus ensinamentos deixam transparecer
Jesus, portanto, era o D eus-H om em — mas isso. Sua recomendação acerca do celibato (ver Mat.
verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Como juntar 19:10-12), todavia, era um conceito contrário às idéias
esses pensamentos num só é algo impossível, pois o judaicas, e realmente reflete um importante ensino
hiato entre o que conhecemos de Deus e o que dos essênios, pelo que é possível que Jesus tenha
conhecemos do homem é demasiadamente lato. mantido conexões com esse grupo, como também
Podemos descrever muita coisa do lado humano, e João Batista. Os primeiros discípulos de Jesus, mui
pouquíssimo do lado divino, mas essa doutrina nos provavelmente também haviam estado sob a influên
apresenta um paradoxo, isto é, um ensino que parece cia dos ensinos dos essênios, através de João Batista,
contradizer a si mesmo. Mas, apesar da aparente (ver a nota sobre os «essênios», em Luc. 1:80 e Mat.
contradição, suas implicações são importantíssimas, 3:1 no NTI). As narrativas dos evangelhos apócrifos
478
JE S U S
fornecem muita evidência de que foram histórias primeiro na área de Jerusalém, durante uma das
ordinariamente produzidas pela imaginação desen festividades religiosas dos judeus (de acordo com o
freada (sempre que diferem dos quatro evangelhos), e registro no evangelho de João), mas que posterior-
que as frequentes narrativas autênticas que ali mente tornou a entrar em contacto com eles, na
aparecem não passam de cópias ou adaptações das Galiléia, e seu discipulado tornou-se oficial, (ver Mat.
narrativas dos evangelhos do N.T. Há uma pequena 4:18,19, em comparação com João 1:28,35-51).
quantidade de material que, sendo autêntica e não h. M inistério na Judéia
produto da imaginação, pode ser posta lado a lado aos Isso ocorreu antes do ministério na Galiléia.
evangelhos como informação. Ninguém jamais pre Evidentemente Jesus teve um ministério preliminar na
parou um estudo preciso que determinasse exatamente Judéia. Somente João descreve esse ministério, mas é
quanta informação adicional poderia ser obtida possível que Luc. 4:44, onde os melhores e mais
desses evangelhos apócrifos; mas certamente não antigos mss gregos dizem Judéia, em vez de Galiléia,
poderia ser uma informação abundante. Portanto, mencione, em termos gerais, aquilo que João
considerando as atuais fontes de informação de que apresentou em forma detalhada. De João 1:29 ao fim
dispomos, posto que a arqueologia não nos tem do capitulo (primeiros contactos com os primeiros
proporcionado nada de novo, somos forçados a discípulos); João 2 (primeiro milagre — mudança da
depender quase totalmente dos quatro evangelhos água em vinho); João 3 (entrevista com Nicodemos);
quando queremos obter conhecimentos acerca do João 4 (ministério em Samaria e provável primeira
ministério de Jesus. Apresentamos abaixo, em forma purificação do templo, João 2:13-22, embora muitos
de esboço, as principais épocas desse ministério: eruditos pensem que isso é uma referência fora da
1. Ante* do M inistério G alilen ordem cronológica, ou então que essa é a purificação
a. Preexistência, João 1 mencionada nos evangelhos sinópticos, como parte da
b. N ascim ento, M at. 1; Luc. 1 e 2 última semana do ministério de Jesus, mas que está
deslocada da ordem real dos acontecimentos).
c. Infância
2. M inistério na G aliléia
Jesus nasceu talvez em 6 A.C., em Belém da Judéia.
Foi criado em Nazaré. Tinha certo número de irmãos Jesus nasceu em Belém e no princípio de sua vida
e irmãs (Tiago, José, Judas e Simão — ver Mar. 6:3). habitou em Nazaré; mas, por ter sido rejeitado em
Trabalhou como aprendiz de carpinteiro, em Nazaré. Nazaré, mudou-se para Cafarnaum (ver Mat. 4:13).,
Quando seu pai adotivo, José, faleceu, provàvelmente a. A contecim entos Preliminares
tornou-se o único carpinteiro de Nazaré, por ser essa João Batista foi aprisionado e muitos de seus
uma localidade tão pequena que nem ao menos foi seguidores tornaram-se discípulos de Jesus. João
mencionada por Josefo, embora tivesse feito a lista de Batista pregava a arrependimento e o reino de Deus,
muitas cidades da Galiléia. O Talmude também que ele afirmava que breve seria estabelecido na terra.
jamais menciona a localidade. Lucas apresentá-nos Jesus Cristo viajou pela Galiléia e pregou em muitas
uma única instância de Jesus (Luc. 2:52), onde sinagogas, mas principalmente, nos primeiros dias,
descreve como Jesus confundiu os mestres do templo, na famosa sinagoga de Cafarnaum, (ver Mat. 4). Sua
devido ao seu conhecimento. Durante esse tempo fama se propagou até a Síria, Decápolis, Jerusalém e
Jesus pode ter conhecido João Batista (pois era outros lugares (ver Mat. 4:24,25).
parente seu, e provavelmente primo) e evidentemente b. Identificação com o Filho do H om em
teve algum contacto com os essênios. Jesus passou Jesus se identificou como Filho do homem, dando
cerca de trinta anos nessa pequena aldeia da Galiléia, indicações de sua missão messiânica, embora isso
que foram anos de preparação; mas os detalhes sobre não tivesse sido abertamente declarado a essa altura
esse período estão totalmente perdidos para a dos acontecimentos.
história.
d. Relações de Jesus com João Batista e os Essênios c. Sinagogas
Poderiamos dizer, como tentativa, que Jesus teve Jesus fez das sinagogas, congregações judaicas, o
algum contacto com João Batista e com os essênios. O seu principal ponto de contacto, embora também
ministério de João Batista foi poderoso, e alguns pregasse ao ar livre. Jesus declarava ensinos éticos,
chegaram a pensar ser ele o Messias. O ministério de reexaminava os princípios da lei, demonstrava a sua
Jesus, entretanto, ainda foi mais poderoso que o de autoridade, elevou imensamente o tom e a qualidade
João, e foi uma espécie de continuação do de João. do ministério nas sinagogas. Não tinha treinamento
(Ver Luc. 3:7). formal e nem credenciais ordinariamente requeridas
e. B atism o de Jesus de um mestre na sinagoga; a despeito disso, era
Quanto ao sentido desse acontecimento, ver notas largamente aceito como mestre (ver Mat. 4—8).
em Mat. 3:6,13-17 no NTI. Jesus identificou-se com o d. Escolha de Discípulos
movimento do arrependimento e com o anúncio do Jesus selecionou doze discípulos especiais, que o
reino dos céus que breve viria. Jesus continuou o acompanharam em seu segundo circuito pela
ministério de João Batista, e, após o falecimento Galiléia, (ver Mat. cap. 10).
deste, provavelmente ficou com a maioria dos seus
discípulos. e. Cinco G randes Blocos de Ensinos
f. R ecebim ento do Espírito Santo Jesus pregou grandes sermões, cujos esboços e
O início do ministério de Jesus foi causa natural das conteúdos gerais, no evangelho de Mateus, se
tentações lançadas por Satanás, porquanto nenhum encontram em cinco grandes blocos de ensinos, pois
pioneiro pode continuar no caminho sem ser testado, esse é o evangelho que com maior cuidado preserva os
porque de outro modo não seria considerado um guia ensinamentos de Jesus (ver Mat. capítulos 5,7,10,13,
digno de confiança. (Ver Luc. 4 e Mat. 4). 18; 24:1 — 26:2). Os principais temas desses sermões
são os princípios éticos do reino de Deus, a nova lei, a
g. Primeiros Discípulos lei do amor, instruções aos discípulos especiais,
Pouco depois Jesus entrou em contacto com seus discursos sobre a natureza do reino, os problemas
primeiros discípulos, Pedro, André, Tiago e João. comunitários da igreja, e o fim desta dispensação
Alguns têm sugerido que esse contacto se efetuou (profecias de Jesus).
479
JE S U S
f. Fecham-se as Sinagogas para Jesus Betsaida, dali foi para a região de Tiro. Mas, à base
As sinagogas, finalmente, cerraram as portas para da narrativa, isso não pode ser afirmado com certeza.
Jesus e seu ministério. Ele provocara muita oposição e Após a visita a Tiro, Jesus evidentemente retomou a
inveja. Sua mensagem era por demais poderosa, Betsaida (tendo realizado ali alguns poucos milagres),
crítica e revolucionária para os judeus, (ver Mar. 6:3; e então foi para as aldeias de Cesaréia de Filipe, onde
e Luc. 4:22). Jerusalém enviou espiões que procura Pedro apresentou sua grande confissão, (Mar. 8:27-33
vam desacreditar a Jesus. Mas Jesus os confundiu, o com Mat. 16:13-20). Marcos também menciona um
que apenas intensificou a ira e a oposição de seus ministério «na região de Decápolis», (Mar. 7:31). Este
adversários. Após a declaração de Mar. 6:5,6, não teve lugar mais ou menos nesse tempo, o que teria
lemos mais que Jesus falou em alguma sinagoga. A sido de interesse particular para os leitores romanos
sinagoga deixara de servir-lhe de instrumento para a de Marcos. É óbvio que Marcos pretendia indicar
propagação de sua mensagem, excetuando-se alguns algo sobre a tencionada universalidade da mensagem
poucos indivíduos convertidos. Evidentemente, daí e do ministério de Jesus, embora tais questões ainda
por diante, Jesus começou a ensinar ao ar não tivessem sido claramente definidas. A significa
livre. ção desse ministério, incluindo o de Tiro, é que Jesus,
g. Envio dos Doze nessa época, começou a declarar abertamente a
Jesu? enviou doze discípulos como ministros necessidade de sua morte, indicando o sentido que os
especiais, (ver Mat. 10). Jesus ensinou-os como apóstolos deveriam ver nesse acontecimento. Nesse
deveriam ser discípulos, como deveriam depender tempo, Jesus preferia não ser seguido pelas multidões
dele, como deveriam pregar, curar e andar em suas (ver Mar. 7:24), posto que precisava de tempo para
pisadas. Jesus enviou-os a colher uma ceifa porque refletir, para planejar e para ganhar coragem para os
proclamava o fim breve da ordem de coisas, e o acontecimentos que breve ocorreriam, e que nessa
.estabelecimento imediato do reino de Deus à face altura dos acontecimentos via com tanta clareza.
da terra. Os discípulos de Jesus enfrentaram a mesma Parece que ele andava sozinho durante a maior parte
oposição que ele mesmo encontrara. Não conseguiram do tempo, dispensando até mesmo a companhia dos
converter a Galiléia, como um todo, para Deus. discípulos. Jesus refletia sobre sua missão entre os
Foram obtidos alguns poucos convertidos individuais, judeus, (ver Mat. 15:24). Sabia que sua missão, a
mas nenhum território para o estabelecimento do considerar pelos padrões terrenos e numéricos, havia
reino foi conseguido, (ver Luc. 7:31-35). Um falhado inteiramente. Jesus contemplava os seus
ministério similar foi efetuado por setenta discípulos sofrimentos, e nisso se via claramente o «Servo
selecionados, (ver Luc. 10). Talvez esse tenha sido o Sofredor», o «Filho do homem», o H om em de dores,
terceiro circuito pela Galiléia. (Mar. 9:12).
h. M orte de João Batista b. Jesus se Revela
João foi assassinado a mando de Herodes, e o Jesus revelou a sua pessoa como Servo Sofredor e
estabelecimento de um reino literal foi inteiramente como Filho do Homem, e Pedro reconheceu a filiação
rejeitado, (ver Mat. 14). especial de Jesus, (ver Mat. 16:13-20). As pedras
fundamentais estavam lançadas para a doutrina
i. Os Três Circuitos pela Galiléia cristã, e o cristianismo seria distintivamente firmado
Foram os seguintes: a. Mat. 3—8; Mar. 1; Luc. 3 e como revelação separada do judaísmo. Pela primeira
4 — Jesus foi com quatro pescadores; b. Mat. 10:13; vez Jesus fez alusão à edificação de sua igreja, (ver
Mar. 1; Luc. 3:5 — Jesus foi com os doze. c. Luc. notas no NTI em Mat. 16:13-20, que discutem os
10:1-17; Mat. 9:14-18; Mar. 6—9; Luc. 9—11 — variegados problemas que cercam esse texto, a
Jesus enviou os doze (e depois os setenta). posição de Pedro, o sentido da palavra «pedra», o
3. lesas Parte da Galiléia significado de «igreja», etc.). A fim de confirmar a
A multiplicação dos pães para — os quatro mil — posição de Jesus e a fim de que se reconhecesse a
(Mar. 8:1-9) assinala o fim do ministério galileu. A aprovação divina, o Pai fê-lo passar pela experiência
sinagoga se fechara para Jesus, ele ganhara apenas da transfiguração. Esse acontecimento teve muita
alguns verdadeiros discípulos, embora muitos, dentre significação, e devem ser consultadas as notas em
o povo comum, continuassem simpatizando com sua Mat. 17 no NTI. O reconhecimento é um desses senti
causa; mas as autoridades religiosas tinham feito dos. Outro desses sentidos é que isso forneceu aos
progressos notáveis, fazendo a opinião popular discípulos uma experiência que os fortaleceria por
voltar-se contra Jesus, e muitos temiam segui-lo muitas vezes, em tempos posteriores, quando tivessem
abertamente. Entre o ministério galileu e o da semana de enfrentar a perseguição. Lembravam-se de Jesus
final em Jerusalém, encontramos uma série indefinida glorificado e se firmavam. Durante esse período, Jesus
de eventos. Os escritores dos evangelhos obviamente tirou proveito da tranqüilidade e do vagar comparati
não estavam interessados em prover uma narrativa vo a fim de instruir aos discípulos. Haveria de
detalhada ou sistemática dessas ocorrências. Assim deixá-los dentro em breve. Deveriam preparar-se para
sendo, temos de juntá-las à base das escassas esse grande acontecimento, — que agora estava
evidências com que contamos. muito próximo. — E assim os apóstolos apren
a. Retirada para Tiro deram a conhecê-lo como nunca antes, — a
despeito de sua contínua associação íntima com ele.
Evidentemente Jesus a princípio retirou-se para a Alguns situam o ministério na Peréia, nessa altura dos
região de Tiro, (ver as passagens de Mar. 8:24 e 7:31). acontecimentos, fazendo-o preceder imediatamente o
Entre essas referências temos a história da mulher ministério final de Jesus, em Jerusalém. Outros,
sirp-fenícia (Mar. 7:24-30). Imediatamente depois porém, fazem desse ministério na Peréia uma espécie
disso temos a cura do surdo-mudo. Muitos crêem que a de retirada de Jerusalém, depois de Jesus já ter
multiplicação dos pães para os quatro mil teve lugar' chegado nessa cidade, mas antes da semana final.
em território gentílico, fazendo parte do ministério
não-judaico, um acontecimento que sucedeu antes da c. Viagem a Jerusalém
semana final na área de Jerusalém. O trecho de Mat. Da Galiléia, Jesus partiu para Samaria (Luc.
8:14-19 pode indicar que Jesus primeiro partiu de 9:51-56). Ali Jesus foi rejeitado. Marcos nada nos diz
Genezaré, após ter-se recusado a apresentar um acerca disso, mas meramente afirma que ele entrou
«sinal» aos fariseus; então, tendo atravessado para nas regiões da Judéia, do outro lado do Jordão, (ver
480
JE S U S
Mar. 10:1). Isso é interpretado de diversas maneiras: Maurice Goguel ( The L ife o f Jesus, traduzida por
alguns pensam que esse foi um ministério na Peréia; Olive Wyan, New York, The Macmillan Co., 1933),
outros imaginam que o próprio Jesus atravessou a acredita que Jesus partiu da Galiléia com os seus
Samaria, enquanto seus discípulos, nesse ínterim, discípulos pouco antes da festa dos Tabernáculos, (ver
cruzavam a Peréia. Até que ponto Jesus penetrou João 7:2), em setembro ou outubro, e que continuou a
nessa região, não sabemos dizê-lo. Provavelmente ensinar em Jerusalém até à festa da Dedicação (ver
Jesus atravessou o Jordão para tornar a atravessá-lo João 10:22), em dezembro, e que pouco depois disso
de volta, em um dos vaus que conduzia à estrada de se retirou para a Peréia, do outro lado do Jordão, (ver
Jericó. Progredindo o grupo em direção a Jerusalém, João 10:40 e 11:54). Dali voltou à capital, «seis dias»
Marcos dá-nos uma indicação sobre a atitude antes da Páscoa. Esse pano de fundo nos ajuda a
emocional dos discípulos: «Estes se admiravam e o compreender melhor as diversas controvérsias com os
seguiam tomados de apreensões», (Mar. 10:32). fariseus, que parecem ter ocorrido todas no espaço de
Alguns acreditam que a primeira frase se aplica a alguns poucos dias, nos evangelhos sinópticos. O
Jesus — «Ele estava admirado» — mas essa conjectura argumento em favor de um período mais longo, em
não tem alicerce algum no texto grego. Provavelmente Jerusalém, assevera que essas muitas controvérsias
temos aqui dois grupos distintos de discípulos, os doze não ocorreram no espaço de alguns poucos dias e,
e os outros que os seguiam, conforme deve ter sim, dentro de um período de tempo bem maior.
ocorrido com freqüência nas viagens de Jesus, Nesse caso, os evangelhos sinópticos teriam feito uma
especialmente quando a jornada tinha por seu condensação dos acontecimentos em foco. Marcos
objetivo a visita a Jerusalém, para freqüentar alguma registrou cinco controvérsias principais, provavelmen
festividade religiosa. Sabemos que pelo menos os te representativas de muitas outras controvérsias
discípulos de Jesus devem ter apreendido algo de suas similares, que não são especificamente mencionadas.
advertências melancólicas acerca de sua morte a. E nsinos em Jerusalém
próxima, e que estavam admirados e temerosos. Durante as controvérsias, Jesus ensina sua «missão
Em Marco* 10:42-45, temos o pronunciamento de messiânica», porquanto é o Filho de Davi, mas, ao
Jesus sobre o resgate que a sua vida daria em favor de mesmo teinpo, seu Senhor. Também ensina que, na
«muitos». Não podemos atribuir essas palavras a qualidade de Messias, tinha o direito de ensinar e de
reflexos paulinos sobre a igreja primitiva, como se realizar milagres e exigir discipulado, a despeito do
fossem interpolações posteriores à narrativa do fato de não possuir as credenciais ordinárias das
evangelho. Pois essa idéia de «resgate» também é escolas rabínicas. Jesus ensinava uma ressurreição
judaica, pois na literatura judaica lê-se que outros literal e a realidade do mundo espiritual. O reino de
deram suas vidas como resgate e, além disso, a Deus esteve em sua mente até o fim, embora soubesse
doutrina de Paulo estava profundamente arraigada no que um reino literal não seria então estabelecido. Mas
cristianismo primitivo. Teorias distorcidas sobre a ensinava os aspectos mais latos desse reino, a saber,
expiação não devem furtar-nos da clara percepção de seus sentidos espirituais, indicando, em suas predi
Jesus de que ele sofreria em favor dos homens. Em ções, que o reino literal ainda seria firmado. Jesus
Jericó, cerca de vinte e quatro quilômetros de expôs uma série de parábolas que indicam que os
Jerusalém, ele encontrou o filho de Timeu, o cego, homens devem aguardar ansiosamente a chegada do
que o chamou de «Filho de Davi». E nisso vemos que reino e o seu segundo advento, isto é, a parousia.
sua missão messiânica era conhecida na área de Também mostrou as conseqüências sérias para
Jerusalém, e que a sua fama se espalhara por todas as aqueles que não se mantêm nessa expectativa e não se
regiões de Israel, (ver Mar. 10:46-52).4 preparam. Mostrou o triunfo final do Cristo, o qual
finalmente governará. Advertências dessa sorte têm
4 . Jesui na JudéU
sido corretamente vinculadas à passagem que se
Neste ponto não podemos seguir apenas um dos encontra em Mar. 13 e que tem paralelo em Mat. 24
evangelhos para traçar os acontecimentos, mas (o Pequeno Apocalipse). Jesus se identificou, em
precisamos lançar mão de todos. O evangelho de conexão com esses acontecimentos, com o vindouro
Marcos sugere que as ocorrências fin a is se seguiram «Filho do homem», e ligou isso à profecia de Dan.
rapidamente umas às outras, isto é, concentraram-se 7:13.
em uma única semana da vida terrena de Jesus — a
última. Essa história final foi dividida em dias, e se b. M inistério na Peréia
encaminhou, rapidamente, para o clímax. Entretanto, Assim como Jesus foi «impelido para o deserto, após
apesar de geralmente ser aceito e ensinado que houve o seu batismo, para um período de preparação para o
apenas uma semana final, certo número de estudiosos seu ministério, assim também, neste ponto de seu
tem procurado demonstrar que o período foi mais ministério final na Judéia, retirou-se para a Peréia.
longo, estendendo-se talvez por um mês ou mais. A Lembramo-nos de que quando do encerramento de
principal evidência por detrás dessa conjectura é a seu ministério na Galiléia, ele também se retirou, por
informação derivada de várias referências no evange algum tempo, para Tiro. «Novamente se retirou para
lho de João; e ultimamente esse evangelho de João se além do Jordão, para o lugar onde João batizava no
tem recomendado como historicamente fidedigno (até princípio; e ali permaneceu», João 10:40. Quantas
mesmo quando aparentemente contradiz os evange memórias deve ter isso provocado! Agora, porém,
lhos sinópticos), o que é aceito até mesmo por eruditos João estava morto e Jesus sabia que em breve se
liberais. Pelas referências em Mar. 11:2-6 e 14:13,14, reuniria ao seu espírito. Jesus terminou indo para uma
onde Jesus é visto a ensinar «dia após dia», talvez pequena aldeia chamada Efraim, (ver João 11:54). É
tenhamos uma indicação sobre um período mais provável que tenha ficado ali por um mês ou mais;
prolongado. Em Luc. 19:47 e 21:37,38, transparece a porém, não podemos afirmá-lo com certeza. Alguns
mesma idéia. João 7-12, com os acontecimentos ali sugerem que esse período foi de três meses. Jesus
registrados, parece confirmar de modo definitivo essa tivera muitas controvérsias com as autoridades
impressão de um período de tempo mais lato. As religiosas e a mais acirrada de todas certamente foi em
referências de João 7:10,14,32; 8:20; 10:22,40-42; torno de sua reivindicação de que era capaz de
11:54 e 12:1 mostram que João tinha fontes distintas e destruir o templo e construí-lo novamente em três
valiosas de informação acerca desse período de dias. Muitos devem ter-se escandalizado ante essa
tempo, o que não aparece nos evangelhos sinópticos. declaração, e é evidente que. Jesus agora já rompera
481
JE S U S
com o judaísmo, conforme o encontrara. Talvez eram poderosos. Sabia que facilmente poderia
esperasse que muitos se separassem do judaísmo, tal e participar da triste sorte de Jesus, e não podia
qual estava corrompido. Talvez tivesse esperado que, esquecer-se do trágico fim de João Batista e, em um
ao voltar, encontrasse apoio popular, e que o momento de cobiça, o que não lhe era inçomum,
estabelecimento literal do reino, à face da terra, viesse porquanto o amor ao dinheiro parece ter sido a sua
a ser uma realidade. Porém, foi desapontado fraqueza proeminente, resolveu tirar proveito material
novamente, porquanto na Galiléia o povo só queria da situação. Supriu a informação necessária para o
um M essias político, pois não estava espiritualmente aprisionamento de Jesus, em troca de pequena
preparado para acolher Jesus e a sua mensagem. quantia em dinheiro. A traição, por parte de um dos
Alguns acreditam que a sua retirada para a Peréia foi doze elementos de confiança, deve ter assustado a
uma medida essencialmente política, e que ao partir pequena comunidade cristã, «...um dos doze...* é
gozava do apoio das massas, mas, ao voltar, o ardor reiterado por Marcos (Mar. 14:10,20,43). Judas,
popular diminuíra. Alguns creem que, desse modo, o cego pela luz da presença de Jesus, não conseguiu
próprio Jesus afastara dele o povo. Mas essa ver a sua glória, e traiu o maior personagem da
interpretação exagera as possíveis intenções políticas história humana. Ao assim fazer, gravou para sempre
de Jesus, ao passo que, no relato dos evangelhos, o seu nome nas páginas da história, e até hoje
transparece que em realidade Jesus evitava apresen chamamos os traidores de «Judas». Alguns escritores,
tar-se como personagem político. Provavelmente a sua como Schweitzer («Quest of the Historical Jesus», pág.
retirada para a Peréia teve o mesmo propósito de suas 394), acreditam que o que Judas Iscariotes traiu foi o
outras retiradas, a saber, preparar-se espiritualmente «segredo messiânico», isto é, que Jesus cria ser o
para a luta que breve viria. Planejou o que finalmente Messias, e estava preparado a declarar-se como tal, 0
faria em Jerusalém, pois não podia desistir da que teria sido uma ameaça às autoridades, tanto
batalha. A desconhecida aldeia de Efraim foi o religiosas quanto civis. Porém, parece-nos claro que
cadinho onde se misturaram os seus pensamentos. esse «segredo» há muito fora revelado, não por Judas
Jesus talvez tenha passado ali dias sem ser e, sim, pelo próprio Jesus. O que Judas desvendou foi
reconhecido completamente. E dessa maneira moldou o local onde Jesus costumava recolher-se, pois Jesus se
os seus pensamentos, longe de amigos e adversários, retirara novamente da atenção pública. As autorida
entre as rochas do deserto. des não podiam ter certeza se ele reaparecería. Judas,
5. Dias Finais entretanto, removeu esse receio das mentes das
Quanto a esta parte da vida de Jesus, dependemos autoridades, revelando onde poderiam aprisionar a
principalmente do esboço fornecido por Marcos, com Jesus.
algum escasso material adicional em Lucas. Mateus c. A Ú ltima Ceia
segue Marcos bem de perto. Os primitivos cristãos Essa ceia tem todos os sinais de ter sido uma
compreendiam a história da paixão à luz da profecia observância com fins deliberados, e não apenas para
do A.T., pelo que, aqui e ali se vê alguma referência cumprir a páscoa, embora este propósito também
às profecias cumpridas em incidentes particulares. estivesse em mira. Jesus, sabendo que o fim se
Isso é especialmente verdadeiro no evangelho de acercava, referiu-se a si mesmo como o Cordeiro de
Mateus. Uma nota de admiração e urgência permeia Deus — ele é a expiação pelo pecado, o salvador, o
a seção inteira que aborda a última semana da vida de resgate, (ver Mar. 14:24 e 11:25). Esse ato se tornou a
Jesus. Vê-se as controvérsias, a indignação das base do rito supremo da adoração cristã, mas também
autoridades religiosas, a frivolidade das multidões, a tem sofrido muitas perversões e exageros. Aqui se
ignorância e o desânimo dos apóstolos, a coragem de comemora a revelação de uma das verdades supremas
Jesus, o golpe esmagador da cruz, e a magnificente e do cristianismo, ou seja, que Jesus é o pão espiritual,
emocionalmente dominante vitória da ressurreição. £ o sustento da vida espiritual.
digno de nota que cerca de um terço do conteúdo dos
evangelhos se concentra em torno dos acontecimentos d. Jardim do G etsêm ani
dessa última semana. Essas narrativas foram escritas Jesus «começou a sentir-se tomado de pavor e de
sem qualquer comentário acerca do que essas cenas angústia», (Mar. 14:33). Foi um ser humano que
significaram para o mundo, e com toda a razão. Mas entrou no jardim, a fim de orar. Foi um ser humano
os posteriores evangelhos apócrifos fazem Jesus que sofreu muitas agonias e que, momentaneamente,
proferir muitas palavras interpretativas. retrocedeu, mas que logo em seguida avançou para a
vitória. Foi um ser humano que naquele momento
a. A E ntrada Triunfal precisou de consolo e do fortalecimento da oração.
Poucos dias antes da páscoa, Jesus entrou de modo Anjos vieram ministrar-lhe, o auxílio estava a
significativo em Jerusalém. A cidade inteira se agitou, caminho, mas foi um ser humano que pediu tal
parecendo mesmo que Jesus estava prestes a ser aceito socorro. É isso que torna Jesus compreensível para
como o Messias, porquanto foi chamado de Filho de nós, porque, a menos que tivesse sido realmente
Davi. No templo, realizou diversos prodígios de vulto. humano, dificilmente poderíamos encontrar qualquer
Ê evidente que Jesus entrou na cidade da maneira que consolo na história do Getsêmani. Com demasiada
fez (montado em um jumentinho) a fim de dramatizar freqüência, na igreja", ouve-se falar de um Jesus
o seu conceito de Messias. Embora sabendo que fora docético, que é divino, mas que não é verdadeiramen
rejeitado como Messias, contudo quis ensinar ao povo te humano, mas só tinha aparência humana. Ver o
o verdadeiro conceito espiritual desse personagem. artigo sobre a H um anidade de Cristo. A agonia do
Seja como for, a sua atração cpmo Messias foi-se jardim foi tanto mais real porque Jesus sofreu tudo
gradualmente dissipando. Seus amigos estavam sozinho. Ele provou, em sua vida, que em sentido bem
perplexos, sem saber o que aconteceria em seguida; real, «cada homem é uma ilha». Sentimos saudades
mas sabiam que Jesus era odiado pelas autoridades, e em nossa própria casa e somos estrangeiros debaixo
que a situação era perigosa. do sol. Jesus sofreu plenamente muitas limitações
b. A Traição humanas, mas venceu a tudo. Isso dá sentido à sua
Judas, sendo mais arguto que os outros discípulos, vida e à nossa também, porquanto ele não é apenas o
compreendeu que toda a aparente intenção do caminho, mas é também o pioneiro do caminho. Ele
ministério de Jesus fracassara. Não havería reino, e mostrou o caminho e ele é o caminho. Jesus triunfou
nem Jesus seria rei. Sabia que os inimigos de Jesus na provação mais tenebrosa, e perto dele também
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haveremos de triunfar. vêem a sorte de Jesus, perdem toda esperança dele ser
e. A prisionam ento o Messias, resignam-se a continuar oprimidas pelos
O aprisionamento de Jesus foi efetuado por um romanos e, em espírito de ódio, descarregam sobre
grupo armado com espadas e cacetes, enviado pelos Jesus suas indignações e frustrações. Agora todos
principais sacerdotes e liderado por Judas Iscariotes, querem ver Jesus crucificado, a fim de vê-lo padecer
(ver Mar. 14:37,38). João supre a informação sob a ira dos romanos, da qual eles mesmos tinham
adicional que também houve o acompanhamento de esperado escapar.
um grupo de soldados romanos, o que subentende que g. A Crucificação
Pilatos estava mancomunado com as autoridades Cícero descrevia a crucificação como «o mais cruel e
religiosas, (ver João 18:12). O temível fim levou todos odioso dos castigos» ( The Verrine Orations, V.64).
os discípulos a temerem pela própria vida, pelo que O flagelamento, que antecedia à crucificação, era só
todos eles fugiram, pois tinham bem vivos na memória por si uma introdução terrível à cruz, mas Marcos
outros casos de indivíduos que haviam tentado menciona o fato apenas de passagem (Mar. 15:15), o
alguma revolução, e sabiam a sorte terrível que os que é típico da grande moderação que assinala toda
romanos reservavam para os tais, (ver Mar. 14:50). essa narrativa. Jesus sofreu todas as agonias, e elas
f. Julgam entos de Jesus foram tão horríveis que ninguém ousa descrevê-las,
Pelas Narrativas Bíblicas, parece claro que Jesus pois o fato é suficientemente doloroso, e ninguém
não foi julgado no sentido verdadeiro do termo, poderia suportar a descrição das minúcias. «Então o
porquanto sua sorte já fora determinada de antemão crucificaram...» é tudo quanto é dito, sem qualquer
pelos principais sacerdotes. Esses julgamentos servi adição. Isso ocorreu no Gólgota, lugar que se
ram apenas de «publicidade». No evangelho de assemelhava a uma «caveira», local esse que até hoje
Marcos lê-se sobre um julgamento noturno, seguido pode ser visto. Jesus foi crucificado às 9:00 horas da
por outro, cedo pela manhã. Lucas, porém, parece manhã, e às 15:00 horas já estava morto. Jesus estava
situar todos os acontecimentos pela manhã. À noite, morto; os discípulos estavam dispersos; as multidões,
provavelmente Jesus foi manuseado violentamente que antes se mostravam sedentas de sangue, agora
pela polícia do templo, (Luc. 22:54-65). Pedro, que estavam chocadas, e provavelmente sentiam o
horas antes fugira, quando do aprisionamento de amargor do remorso. Um corpo foi arriado da cruz,
Jesus, agora seguia tudo à distância, até que chegou o arroxeado e sangrento, e foi depositado em um
momento em que negou finalmente a Jesus, segundo o túmulo novo, pertencente a um homem rico. Esse
Senhor mesmo predissera que sucederia. Jesus foi túmulo pode ser visitado até hoje. A execução teve
conduzido e guardado na casa de Anás, o qual, após lugar em uma sexta-feira. Ver os artigos sobre
Crucificação, Cruz, e Sexta-feira, Dia da Crucifica
um interrogatório preliminar, enviou-o amarrado à ção.
presença de Caifás, o sumo sacerdote, genro de Anás,
(ver João 18:13,19,24). Caifás mostrou-se astuto, pois
conseguiu levar Jesus a admitir «blasfêmia», ao h. A Descida ao Hades
proclamar abertamente a sua missão messiânica e a Jesus teve um ministério pós-morte, pré-ressurrei-
sua filiação especial a Deus. Jesus deve ter feito o ção em Hades como é afirmado em diversas passagens
coração de Caifás saltar de satisfação ao dizer que o do N.T., principalmente em I Ped. 3:18-20, 4:6. Esta
Filho do homem viria entre nuvens a fim de governar, doutrina, não popular em algumas denominações
porque nessa declaração Jesus deixou transparecer evangélicas modernas, ou ignorada completamente,
seus interesses políticos. A palavra «todo-poderoso», era reconhecida universalmente pelos pais antigos da
que se encontra nesse texto (Mar. 14:62), se deriva de igreja. O ministério de Jesus em Hades era de
Sal. 110:1 e Dan. 7:13, e evidentemente alude ao redenção. A igreja não tem concordado sobre a
próprio Deus, que é o grande poder. Jesus se referia à extensão e o significado desta redenção (ou restaura
sua «parousia», mas provavelmente as autoridades ção), mas a maioria dos pais antigos da igreja
religiosas pensaram que ele se estivesse referindo a pensava que isto estendia o «dia da possibilidade da
alguma insurreição futura, feita em nome de Deus. salvação» para a Segunda Vinda. A morte pessoal
Porém, tendo declarado essas coisas, Jesus removeu a nossa então, não seria o fim do dia de graça. O
necessidade de qualquer testemunho adicional. Aos ministério da Descida aumenta enormemente o poder
olhos de todos ele era, claramente, um blasfemo. da missão messiânica, e exalta o Cristo, que é o
Continua questão disputada se o sinédrio tinha Salvador de todos os mundos, em todos os mundos.
poder ou não de decretar a punição capital. Os Ver o artigo sobre a Descida de Cristo ao Hades.
evangelhos deixam entendido que somente o procura i. A Ressurreição
dor romano estava investido de tal autoridade, e o O corpo de Jesus dormiu até o primeiro dia da
historiador Mammsen afirma que isso é correto. As semana, pela manhã. Alguns afirmam que Jesus
acusações foram expostas de tal maneira a Pilatos a ressuscitou no sábado à noite, mas os relatos bíblicos
não deixar margem de ignorância sobre elas. Disseram não fornecem base para essa opinião. Ver o artigo
que Jesus proibiu os judeus a pagarem tributo a sobre D om ingo. Pedro diz-nos que Jesus teve um
César, tendo-se proclamado rei, (ver Luc. 23:2). A ministério anterior à sua ressurreição, no mundo dos
primeira acusação era obviamente falsa, mas a espíritos, ver I Ped. 3:18-4:6. — Assim veio à
segunda tinha base na verdade, e que o próprio Jesus luz um novo e espantoso fato — a ressurreição. O
não queria negar. Alguns têm exagerado o elemento impacto foi tão grande que podemos ver os seus
político, fazendo de Jesus pouco mais do que um efeitos nas narrativas do fato. Essas narrativas são
revolucionário religioso e político. Pilatos não queria fragmentárias, e certamente diferem umas das outras
adicionar às suas tribulações permitindo que Jesus quanto aos detalhes e às sequências. É muito difícil
continuasse agitando o povo, quer essas acusações preparar uma harmonia entre as quatro narrativas
especificas fossem verdadeiras, quer não; pelo que que possuímos nos evangelhos, porque é óbvio que os
também Pilatos repeliu o testemunho de sua própria autores dessas narrativas tinham pouco interesse em
consciência, e assim o seu nome ficou para sempre descrever, minuciosamente, tudo quanto aconteceu e
registrado na história, como aquele que negou o na ordem das ocorrências. Escreveram apressada-
direito e a consciência, moralmente fraco, quando era mente, aproveitando os relatos de que dispunham,
vantajoso para seus interesses pessoais. As multidões transmitindo-nos o fato espantoso da ressurreição,
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sem se importarem muito com os pormenores. Jesus de Paulo foram publicadas antes dos evangelhos, pelo
estivera morto. Os discípulos tinham sido assaltados que não se poderia esperar que contivessem citações
pelo medo e se tinham ocultado, por não quererem dos mesmos; mas é surpreendente que não contenham
compartilhar da mesma horrível sorte. Mas agora as mais citações da tradição oral, e de pesquisas
notícias se espalhavam rapidamente que Jesus estava pessoais nos muitos documentos escritos que devem
vivo novamente e que já aparecera a algumas ter vindo à luz antes dos quatro evangelhos que
mulheres. A notícia foi crescendo intensamente, ao conhecemos. Também é verdade que as epístolas
passar de boca em boca. Um rumor ajuntava que paulinas posteriores (escritas após os evangelhos) não
Pedro também já vira a Jesus. Esta última notícia foi citam os evangelhos nem quaisquer outras tradições
melhor recebida, porque de uma mulher se poderia que porventura contivessem ensinos de Jesus. Assim,
esperar que propagasse notícias exageradas, mas tal como se dá com o conhecimento que se tem acerca
Pedro era mais digno de confiança. Então a história da vida histórica de Jesus, outro tanto se verifica quan
adquiriu furos de maior evidência ainda, porque to aos seus ensinos —somos obrigados a depender
alguns dos onze já o tinham visto, e também outros pessoalmente dos quatro evangelhos. Os evangelhos
que não pertenciam a esse grupo mais seleto de apócrifos apresentam material adicional, embora a
discípulos. Finalmente, todos os onze, com exceção de maioria dos ensinos que parecem fidedignos se baseia
Tomé, chegaram a vê-lo. Tomé disse que não creria nos quatro evangelhos, que antecederam àqueles.
enquanto não visse a Jesus e o apalpasse, mas Entretanto, é muito provável que exista nesses
certamente seu coração bateu descompassado, por evangelhos apócrifos algum material adicional autên
quanto esperava, contra a esperança, que essas tico. Quem fizesse um estudo especial nesses
narrativas estivessem baseadas em fatos. Então, documentos, a fim de separar o que parece válido e
finalmente, o próprio Senhor Jesus apareceu no meio que não é baseado nos quatro evangelhos canônicos,
deles, um tanto diferente, mas perfeitamente reco prestaria um grande serviço à causa do cristianismo.
nhecível. Ao ver as cicatrizes dos cravos em suas mãos Também existe certo número de declarações, fora dos
e pés, e ao ver a cicatriz deixada pela lança, Tomé evangelhos, que chegou até nós, sendo possível que
exclamou: «Senhor meu e Deus meu!», (João 20:28). muitas dessas declarações sejam autênticas. Essas
A s narrativas dos evangelhos são eternas e declarações são intituladas pelos eruditos como
imperecíveis, mas não representam os relatos mais declarações «não-canônicas» de Jesus. Importantes
antigos sobre o novo e espantoso acontecimento — a escavações arqueológicas foram levadas a efeito por
ressurreição de Jesus. Os relatos de Atos (2:24,32; B.P. Grenfell e A.S. Hunt, em Behnesa, a antiga
3:15; 4:10; 10:40, etc.) e os de Paulo (I Cor. 15:8; O xyrynchus, cerca de dezesseis quilômetros do rio
Rom. 1:4. etc.) são mais antigos. Paulo diz-nos que Nilo, situada no canal principal (Bahr Ysef), que
mais de quinhentos irmãos viram a Jesus de uma só trazia água para a região de Fayum. Essa cidade, na
vez e, quando esse apóstolo escreveu, a maioria antiguidade, foi a capital do distrito de Oxyrynchus.
deles ainda vivia, — pelo que seria fácil falar em Nos séculos IV e V de nossa era tornara-se famosa
testemunhas oculares. O cristianismo fez depender o como comunidade cristã.
seu destino e a sua natureza sem-par da exatidão
histórica desse acontecimento. Ela demonstra o poder Foi nessa localidade, pois, que se desenterraram
eterno do Cristo, bem como nossa fulgurante alguns papiros contendo diversas declarações atribuí
esperança futura, porque se a morte não pode reter das a Jesus, algumas delas similares às que se lêem
uma alma ou um corpo, então nos está assegurada a nos evangelhos, embora outras sejam diferentes.
vitória final. Paulo reverberou a grande afirmativa Foram publicadas sob o título de Logia, em 1897.
cristã quando declarou: «Por que se julga incrível Algumas delas dizem como segue: «Jesus diz: Exceto
entre vós que Deus ressuscite os mortos?», (Atos jejueis para o mundo, de maneira alguma encontra
26:8). Certamente que esse evento não é incrível como reis o reino de Deus; e exceto se fizerdes do sábado um
clímax da vida de Jesus Cristo, que desafia toda verdadeiro sábado, de modo algum vereis ao Pai».
descrição no que diz respeito ao seu poder, à sua «Jesus diz: Estive no meio do mundo e na carne fui
beleza, à sua graça, ao seu significado e à sua visto por eles e encontrei todos os homens bêbados, e a
esperança. A morte não pode reter um homem como ninguém encontrei sedento entre eles e a minha alma
ele. se entristeceu por causa dos filhos dos homens,
III. E N S IN O S porque estão cegos em seus corações, e não vêem».
«Onde houver dois, não estão sem Deus, e onde
Embora a quantidade de material de que dispomos houver ao menos um, digo que estou com ele. Levanta
acerca dos ensinamentos de Jesus não seja grande, as a pedra, e ali me encontrarás, racha a lenha, e ali
implicações são tão vastas que nem mesmo todos os estou eu». «Jesus diz: Ouves com um dos ouvidos, mas
volumes que já foram escritos acerca de Jesus e seus o outro ouvido fechaste». Outras declarações desse
ensinos têm satisfeito as mentes daqueles que buscam grupo são similares ou iguais às declarações
a verdade e a autêntica expressão religiosa revelada. canônicas, tais como a cidade edificada sobre uma
As interpretações sobre os ensinamentos de Jesus são colina, mas há uma declaração na qual Jesus
tão numerosas quanto as opiniões sobre a sua supostamente diz que ninguém pode cair nem
pessoa e o sentido de seu ministério. — Por ocultar-se. Em 1903, G renfell e H unt descobriram um
conseguinte, — neste pequeno artigo —, esperamos outro fragmento de papiro, em Oxyrynchus, e que
apresentar somente um esboço abreviado do que continha mais declarações atribuídas a Jesus, que
Jesus ensinou, esperando compreender apenas os foi publicado sob o título New Sayings o f Jesus and
temas principais. a F ragm ent o f a Lost Gospel fro m O xyrynchus
1. Fontes (London, 1904). Esses documentos indicam quão
O corpo principal dos ensinos de Jesus acha-se populares eram as declarações de Jesus entre os
preservado nos quatro evangelhos, embora os livros de cristãos do Egito, e também ilustram o tipo de
Atos e Apocalipse, e as epístolas, sirvam para coleções feitas por eles. Quanto é autêntico nessas
corroborar a mensagem essencial de Jesus. Essas coleções é incerto, e provavelmente assim será
obras posteriores, entretanto, não citam freqüente- sempre. Não obstante, não há que duvidar que pelo
mente a Jesus, e nem mesmo apresentam paráfrases menos uma parte dessas declarações é autêntica.
do que ele disse. Sabemos que as prim eiras epístolas Outras declarações não-canônicas de Jesus podem ser
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JE S U S
encontradas em mss gregos e latinos do N.T., os quais dessa nova ordem, e seguem-se muitas instruções que
se afastam em muito da tradição textual ordinária. se aplicam aos diversos problemas que porventura
Isso é particularmente verdadeiro acerca do texto surgissem no seio da nova comunidade. O desenvolvi
«ocidental» do N.T. (isto é, manuscritos que mento do tema messiânico, aplicado à personalidade
chegaram a nós vindos do O cidente, partes da Ãfrica do próprio Jesus, certamente era uma novidade em
da Itália e da Europa). Os códices D e W são os Israel. O — Servo Sofredor — era novo para o
principais exemplares. O códex D e algumas pensamento judaico, pois embora certos trechos do
traduções latinas também contêm um texto mais V.T. claramente indiquem sua existência, o pensa
longo do livro de Atos dos Apóstolos do que o texto mento judaico deixara passar completamente em
geralmente aceito, acrescentando detalhes sobre a branco as suas implicações. As «duas vindas» do
vida e as palavras dos apóstolos, e fornecendo Messias, igualmente, eram uma novidade, porque,
algumas informações de natureza geográfica. O leitor embora contidos no V.T., não foram compreendidas
interessado poderá encontrar essas declarações pelos teólogos judeus. O tema do resgate ou
adicionais e mais informações no NTI, nas seguintes «expiação» era bem conhecido entre os judeus, mas
referências: Mat. 20:28; 23:27; Mar. 13:2; 16:3; Luc. aplicar tal tema a um homem,ou seja, ao Messias, era
5:10,11; 6:4; 11:35,36; 11:53,54; 23:42,43; 25:53 e reconhecido como possível apenas por alguns poucos.
João 6:56. Ver sobre Logia que dá mais detalhes. O ensino sobre a ressurreição era bem conhecido e
O leitor pode verificar facilmente que, embora largamente aceito nos dias de Jesus, na congregação
exista algum material adicional que preserva algumas judaica; Jesus, porém, transformou-o em uma
doutrina poderosa, ao ressuscitar pessoalmente e ao
declarações de Jesus, e que parte das mesmas insuflar esperança a todos sobre a conquista da
certamente é autêntica, contudo, ficamos limitados morte. Nas mãos de Jesus, a ressurreição se tomou
aos quatro evangelhos como fontes informativas, um ensino novo e revolucionário, e a igreja primitiva
fidedignas para que compreendamos os ensinamentos se desenvolveu à base do mesmo, tendo-o propagado
de Jesus, porquanto o material adicional extrabíblico por toda a parte. O corpo inteiro das profecias de Je
é reduzido. sus, a começar por Mat. 20, mas especialmente Mat.
2. N atureza sem -par 24, forma um grupo <je ensinos sobre acontecimentos
Todos concordam que os ensinamentos básicos de futuros e de sua significação que é definidamente
Jesus podem ser encontrados no judaísmo revelado. sem-par, e não unicamente novo. Em suma, podemos
De fato, a teologia cristã tem suas raízes ali. Muitas afirmar que a natureza sem-par dos ensinos de Jesus
das declarações de Jesus podem ser encontradas na nos fornece as pedras fundamentais sobre as quais
literatura rabínica, algumas vezes em sua forma está alicerçado o cristianismo. E naquilo em que o
exata, e outras vezes em forma modificada. Certo cristianismo difere do judaísmo, nisso mesmo os
número dessas declarações, todavia, deve ter sido ensinamentos de Jesus diferem da correnteza princi
autêntico, porque não encontramos traço algum das pal do judaísmo de seus dias.
mesmas em qualquer peça literária. A habilidade
especial de Jesus, — ao manusear o pensamento 3. T enuu Básico«
judaico, era de eliminar aquilo que era supérfluo e Tal como outros lideres religiosos, Jesus proclamou
prejudicial ou mesmo errôneo, preservando o melhor verdades acerca de Deus e da busca espiritual. Mas,
da tradição, tanto no V.T.. quanto nos escritos diferentemente de outros líderes, também ensinou a
rabínicos. Alguns dos bem conhecidos temas judaicos identificação e a importância de sua própria pessoa
receberam nova vida ou nova interpretação nas mãos como Filho único de Deus, o Messias, o Salvador, o
de Jesus. Por exemplo, o ensino sobre o reino de Deus Rei e o Juiz. Assim sendo, a sua mensagem não
(ou do céu). Esse tema era antigo e familiar entre os consistia meramente de um sistema de teologia, mas
judeus, mas Jesus fê-lo soar com uma nova urgência, era uma auto-revelação. Essa mensagem começou
pois proclamou que o reino estava às portas, e que ele desde o princípio, e se estendeu até às suas últimas
mesmo era o rei, por ser o Messias. Jesus também palavras, (ver Luc. 2:48-50 e João 20:17).
ensinou a ressurreição dos mortos e indicou que esse a. O Reino de D eu i
evento faria parte integral do estabelecimento do Mateus empregou quase exclusivamente o titulo de
reino. Mais do que qualquer outro contemporâneo ou «reino dos céus», e é certo que ele não entende com
do que qualquer profeta do A.T., ele revelou a isso coisa alguma que os outros também não
espiritualidade do reino e demonstrou que não pode tencionavam dizer. O trecho de Mat. 19:23,24 usa os
ser encarado como mero sistema político de governo. termos um em lugar do outro, o que prova
Por causa da espiritualidade do reino, o arrependi positivamente o que acabamos de dizer. São termos
mento é urgente e necessáro. Essa renovação e nova sinônimos. Jesus jamais ofereceu qualquer definição
ênfase, bem como a proclamação de que o rei já do que esse termo significava para ele, pelo que temos
estava presente, fez com que o ensino de Jesus sobre o de examinar muitas passagens, para que obtenhamos
«Reino de Deus» fosse não apenas novo, mas uma visão geral e compreensiva. A expressão «reino
absolutamente sem-par. Jesus também revolucionou dos céus» se encontra cerca de trinta vezes no
outros ensinamentos, incluindo muitos ensinos bási evangelho de Mateus. A idéia básica desse conceito é
cos da lei, tal como o sentido do divórcio, do a região ou reino onde tudo está sujeito a Deus, onde
adultério, do amor, etc. De fato, Jesus reinterpretou a sua autoridade prevalece. Esse reino, portanto, pode
lei «de modo radical». Isso não significa que ele não ser presente ou futuro, externo ou interno. Jesus
tinha companhia entre os escritores rabínicos, pois a proclamou um reino literal, sobre a face da terra,
verdade é que os tinha, em muitos particulares. No onde Deus haveria de governar e, segundo ele, logo
entanto, o que ele disse e fez foi revolucionário e até haveria de ser estabelecido. Tal reino, por conseguin
mesmo sem igual. te, deve ser ao mesmo tempo político e religioso, com
Jesus veio para ensinar sobre o p eq u en o rebanho, ordem social e governo.
em contraste com a correnteza principal do judaísmo Não obstante, João fala da impossibilidade de
e, finalmente, usou a palavra «igreja», com ela alguém entrar no «reino de Deus» sem o novo
indicando um tipo inteiramente novo de comunidade nascimento; e apesar de Jesus certamente ter visto a
religiosa. Esses ensinos não tinham igual. Desde o necessidade da conversão, para os que entrassem no
décimo sexto capitulo de Mateus temos os primórdios reino terrestre, parece óbvio que Jesus também deve
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JE S U S
ter usado o termo para referir-se a algo como o «céu», Jesus é usualmente indicado, bem como a sua estatura
segundo é empregado esse termo na igreja atual. No metafísica especial. A missão ou ministério indicado
céu, ou lugares celestiais, Deus governa; ali está o seu inclui a sua futura segunda vinda, quando Jesus
reino. Os homens podem entrar nesse reino mediante aparecerá como juiz universal, (ver João 5:22-27). 3.
o novo nascimento. Esse uso, pois, é muito diferente A idéia do Filho do homem «sofredor» foi um
do reino literal, à face da terra, como governo resultado natural da necessidade da missão terrena de
terrestre sobre o qual Deus exerceria controle. Mas Jesus. Ele, na qualidade de Filho do homem, tinha
esse termo também pode ser entendido como a que sofrer como homem representativo. Jesus veio a
influência de Deus sobre um mundo ímpio, e alguns, encarar essa parte de sua missão como inevitável e, de
hoje em dia, se referem à igreja como o reino sobre a fato, esse foi seu serviço supremo em favor dos
terra, porquanto exerce sua influência no mundo. homens, (ver Mar. 10:45 e 14:22-24). 4. É titulo
Quando Jesus declarou que o reino está «dentro» do messiânico.
indivíduo, ou, traduzindo mais exatamente, «entre
vós», (ver Luc. 17:21), provavelmente ele tinha em c. M laaio M essiânica
vista algo como isso. Ele e seus discípulos formavam A palavra «Messias» significa ungido e o vocábulo
uma espécie de reino de Deus, um começo, um núcleo «Cristo» vem do termo grego equivalente. A palavra
do reino que era esperado entre os homens. Cristo, na realidade, é um adjetivo que se
Desde os dias de Orígenes que os intérpretes têm transformou em substantivo próprio, passando a
tentado fazer dessas palavras, «entre vós», significa designar um indivíduo — Jesus Cristo — embora os
rem a condição espiritual do indivíduo — o reino de reis, os .sacerdotes e os profetas também fossem
Deus estaria na vida desta ou daquela pessoa, como se «ungidos». O próprio Jesus usou esse termo para
o sentido fosse «dentro de vós». Apesar desta ser uma identificar-se, utilizando-se dele como título, (ver
tradução possível, o contexto parece ser contrário à Mat. 23:8,10). A unção tinha o propósito de
essa interpretação, pelo que a tradução mais exata é confirmar a autoridade daquele que recebia deter
mesmo «entre vós», o que nos transmite a idéia que já minados ofícios ou funções. Jesus, o maior de todos os
foi mencionada. Não obstante, em certo sentido, o reis, sacerdotes e profetas, foi chamado de o Cristo
reino de Deus pode estar «dentro» de nós, ainda que por causa de sua unção, efetuada pelo Espírito Santo,
esse texto não indique isso. Assim, pois, vê-se que o para seu ofício e missão especiais. A unção com óleo
termo pode ser complexo, formado por muitos era aplicada aos enfermos, aos cegos e até mesmo aos
elementos do N.T. O tema do reino era um dos mortos, (ver Tia. 5:14; João 9:5,11 e Mar. 14:8).
principais, — se não mesmo o principal dos temas Jesus, na qualidade de ungido, exercia sua autoridade
do ministério de Jesus, juntamente com o qual espiritual sobre esses males.
ensinava sua própria missão messiânica e real. Os A palavra «Messias» era usada no judaísmo como
crentes (ainda que não todos) continuam esperando o título oficial que indicava a expectação central dos
reino terreno em resultado da segunda vinda de judeus quanto aos benefícios possíveis e profetizados
Cristo. A melhor e mais completa descrição sobre o da parte de Deus, e que visavam à nação de Israel. O
reino, especialmente em seus aspectos espirituais, e pleno desenvolvimento das idéias messiânicas perten
como esses aspectos podem ser aplicados aos homens, ce ao judaísmo posterior, e talvez seja surpreendente
se encontra no décimo terceiro capitulo do evangelho para alguns o conhecimento de que esse termo só se
de Mateus. A leitura da exposição ali feita dará ao encontra pordoas vezes em todo.o A.T., a saber, em
leitor ampla compreensão sobre o que estava Dan. 9:25 e 26. Não obstante, as alusões ao Cristo são
envolvido no ensino de Jesus sobre o reino. O reino de abundantes nos vários escritos não-bíblicos, os quais,
Deus é encarado coma a súmula de todas as bênçãos e em sua essência, eram comentários de suas Escrituras
benefícios espirituais, e conquistá-lo pode custar um Sagradas. Alguns acreditam, entretanto, que as
alto preço, ainda que nenhum preço seja alto demais, chamadas passagens messiânicas do V.T. (quer usem
(ver Mat. 13:44-46). Dessa forma, Jesus convocou os quer não usem realmente a palavra «Messias») eram
seus discípulos ao «sacrifício» e à dedicação, bem simples títulos aplicados a profetas ou reis vivos, sem
como ao sofrimento, quando necessário, para que qualquer significação escatológica. Contrariamente a
pudessem ser membros autênticos desse reino. essa idéia, pode-se observar que muitíssimas dessas
passagens (tais como os chamados salmos messiâni
b . O Filho do Homem cos) vão muito além do que se poderia esperar ser dito
Alguns têm ensinado que posto Jesus ter dito que o a reis e profetas de Israel. Parece certo, a julgar pelos
Filho do hom em viria entre «nuvens do céu», que é comentários feitos pelos judeus, que eles esperavam o
impossível que ele se tivesse identificado com esse aparecimento de um grande personagem futuro, que
personagem. Porém, a simples leitura dos diversos agiria como libertador e rei. O Messias, pois, pode ser
textos que mencionam esse termo é suficiente para definido como um personagem «teológico», isto
convencer a qualquer leitor de que essa idéia é falsa. uma pessoa que incorporaria, em si mesmo, de
A sua vinda das nuvens faz alusão a um fu tu ro maneira toda especial, a «salvação» e o livramento do
aparecimento glorioso do reino, isto é, a «parousia», o povo de Israel, o povo de Deus. O Messias seria o
que não forma uma idéia contraditória ao ensino geral instrumento dos propósitos de Deus.
de Jesus sobre ele mesmo como Filho do H om em . O O elem ento tem poral desse livramento e dessa
próprio termo vem de uma expressão hebraica e salvação pode ser um verdadeiro problema, pois a
indica, principalmente, uma posição de humildade, grande verdade é que sempre houve e sempre haverá
isto é, a posição de um homem comum, sem desacordo entre as autoridades judaicas, acerca do
privilégios especiais. Essa expressão é usada por cerca tempo do aparecimento do Messias. Os trechos de
de oitenta vezes com respeito a Jesus, a maioria das Heb. 1:2 e I João 2:18 falam sobre os últim os dias, o
quais por ele mesmo. É empregada da seguinte que obviamente é um termo de origem judaica para
maneira: 1. Jesus era um ser humano, um homem indicar o tempo do reinado do Messias, enffcontraste
comum, um homem típico, um homem identificado com todos os tempos anteriores ao Messias. Na
com outros homens, compartilhando de sua posição, passagem de Heb. 1:2 poderiamos traduzir, com
natureza e sofrimento. 2, Mas com esse termo Jesus se muito maior razão, «os últimos destes dias» onde a
vincula ao personagem profetizado em Dan. 7:13,14. palavra «destes» se referiria aos dias imediatamente
Por esse titulo o ministério sem igual e poderoso de anteriores ao Messias, os dias finais da antiga
486
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dispensação. Nos últimos daqueles dias, pois, é que o embora alguns eruditos mais liberais do N.T.
Messias apareceu. É verdade que pelo menos a duvidem que o próprio Jesus tenha feito essa
expressão «últimos dias», segundo o uso atual da identificação, passagens tais como Mat. 20:18,19,28 e
igreja, se refere aos dias que precederão imediatamen 21:38-42 (além de diversas outras predições de Jesus
te a segunda vinda de Cristo ou o estabelecimento do acerca de seus próprios sofrimentos) parecem mostrar
reino celestial sobre a face da terra; mas a escatologia claramente que Jesus, ao identificar-se como o
judaica não aludia necessariamente a isSo ao M essias, ao mesmo tempo ilustrou essa sua missão
empregar a expressão «últimos dias». com a figura do Servo Sofredor.
A doutrina do Messias, tanto no V.T., como no Jesus parece ter-se referido à sua — missão
pensamento judaico em geral, não é claramente messiânica — tanto em termos presentes como em
declarada, conforme esperaríamos que o fosse. termos futuros. O Messias seria o arauto do reino
Muitos judeus não esperavam o cumprimento de futuro, seria aquele que haveria de sofrer e de dar a
todas as escrituras messiânicas em uma só pessoa. Os sua vida em resgate de muitos, seria aquele cuja vinda
essênios aguardavam três personagens separados que haveria de demonstrar a validade das reivindicações
haveriam de cumprir essas expectações. messiânicas; mas também seria p rei futuro que ainda
viria e estabeleceria o seu domínio neste mundo, (ver
Alguns judeus distinguiam entre o «profeta Mat. 26:64,65). Alguns intérpretes liberais têm
vindouro» e o Messias, (ver Mat. 11:3), ao passo que procurado demonstrar que Jesus jamais falou sobre
outros faziam os dois termos aplicarem-se à mesma sua missão messiânica ou a defendeu, ou mesmo
personagem. Nem todos os intérpretes judeus criam chegou a reivindicar tal autoridade; mas essa opinião
que o Messias teria de ser, necessariamente, o Filho é extremamente estranha, quando nos lembramos que
de Davi, embora o trecho de Mat. 22:42 ilustre o fato nossas únicas fontes de informação, sobre qualquer
de que Cristo seria o Filho de Davi, segundo era autoridade acerca dos ensinamentos ministrados por
também a opinião prevalente dos judeus ao tempo de Jesus, são os quatro evangelhos, cuja intenção,
Jesus. Alguns judeus deixavam passar completamente conforme os evangelhos deixam transparecer aberta
em branco um personagem terreno, nunca pensando mente, era justamente a de provar que Jesus era o
em um bebê que cresceria como homem normal e que Messias prometido. A acusação que provocou a sua
se manifestaria como o Messias; mas antes, pensavam execução era de que havia blasfemado por ter feito
que a história do mundo seria terminada de modo elevadas reivindicações, como servo especial de Deus.
súbito, em meio a cataclismos, quando uma figura Os soldados zombavam dele e diziam: «Profetiza-nos,
sobrenatural desceria do céu a fim de assumir o ó Cristo, quem é que te bateu!», (Mat. 26:68). E a
controle do mundo. Enquanto isso, outros, que se acusação estam pada na cruz foi: «Jesus, o Rei dos
satisfaziam com as coisas conforme elas eram, que Judeus».
gozavam de riquezas e do luxo, negavam ou Tudo isso indica que as reivindicações da missão
ignoravam qualquer espécie de intervenção messiâni messiânica de Jesus não foram apresentadas apenas
ca. Essa era justamente a atitude dos saduceus, que
acima de tudo temiam perder sua posição privilegiada pelos crentes primitivos, mas, em primeiro lugar, pelo
mediante qualquer alteração na ordem ou mediante próprio Jesus. Ê verdade que com freqüência ele teve
qualquer revolta. No caso de outros, ainda, era de ocultar a sua verdadeira identidade, o que
costumeiro identificar governantes terrenos com o certamente se devia às idéias errôneas de que o povo
Messias, como se esses governantes, em sua nutria sobre o Messias profetizado, que julgava que
autoridade terrena, estivessem cumprindo as exigên seria uma figura essencialmente política e guerreira.
cias das profecias messiânicas. Alguns viam o Messias Ora, Jesus sempre evitou imiscuir-se nas questões
no livramento político e religioso da nação de Israel políticas terrenas. Ele contemplava um reino espiri
através da revolta dos hasmoneanos. Os herodianos tual, um líder espiritual, uma reforma e uma
chegaram mesmo a proclamar que Herodes era o renovação religiosa; mas as multidões não estavam
Messias; mas deve-se ajuntar que tais idéias não preparadas para acolher esse tipo de Messias que
Jesus idealizava.
obtinham o favor geral entre o povo.
O N. T. define mais claramente o ofício do Messias, d. Princípios Éticos
acrescentando novas dimensões ao mesmo, e identifi Todos reconhecem que o judaísmo é essencialmente
cando a Jesus como o Messias tão longamente uma religião ética, e desde os tempos mais antigos a
esperado. A conexão essencial do judaísmo com o ênfase do mesmo tem recaído sobre os elementos
cristianismo depende exatamente dessa identificação. éticos. Os dez mandamentos, embora apresentados
Os cristãos primitivos criam que Jesus cumpriu todas em uma fórmula básica distintiva do judaísmo
as exigências das profecias messiânicas, e que havia revelado, refletem, contudo, em grande parte, o que é
apenas um «messias», e não três. Também criam que reconhecido como uma moralidade essencial na
não haveria um «profeta vindouro» separado, além do maioria das religiões do mundo. Jesus, como filho de
profeta representado na figura do Messias. Vários Israel, foi um mestre essencialmente ético, embora
aspectos da missão do Messias foram definidos, tal não o fosse exclusivamente (conforme fica demonstra
como o aspecto do Servo Sofredor. Esse servo, no do pelos outros temas básicos de seus ensinos,
conceito bíblico, é o agente de Deus na restauração referidos nesta seção). Não obstante, parece verdade
nacional, mas também ministraria entre os gentios, que os elementos éticos são os que ocuparam, de
(ver Is. 42:1-4). Esperava-se que ele tivesse um tipo maneira predominante, os sermões e as instruções
definido de ministério entre os pobres, os enfermos e particulares expostos por Jesus. Com esse termo,
os necessitados, (ver Is. 42:5-25), e os primitivos princípios éticos, queremos indicar o seguinte: 1.
cristãos viam um cumprimento completo de todas conduta; 2. princípios ou regras que são recomenda
essas idéias na pessoa de Jesus. dos como normas dessa conduta; 3. —esforço crítico
Esse servo seria um «Servo Sofredor», embora essa do estudo e da reflexão que têm por desígnios
idéia jamais tivesse sido geralmente reconhecida pelos sistematizar, organizar e aplicar tais princípios. O
judeus, que jamais a aplicaram ao Messias. Embora N.T. (incluindo os evangelhos) apresenta vasto
Is. 53 indique claramente esse aspecto da missão do acúmulo de material que serve de uma espécie de
Messias, os intérpretes judeus nunca o entenderam sistema «ético organizado».
com clareza. O N.T. confirma essa interpretação, e Deve ser óbvio, em toda a ética cristã básica (que se
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alicerça nas declarações de Jesus), que esse é um paixão» pelas multidões como um sentimento de
reflexo da ética judaica básica. A ética cristã «apatia». Por outro lado, os epicuristas e hedonistas
modificou a ênfase de parte do ensino judaico, e foi criam que somente o prazer é um alvo digno da
além da tradição judaica em outras particularidades. existência humana, e que se deve usar da inteligência
Por exemplo, o casamento misto não era reputado na busca do prazer. Jesus permitia o prazer,
válido no judaísmo. (Por m isto o cristianismo entende certamente mais do que João Batista, mas via alvos
o casamento entre um crente e um não-crente, ou mais elevados na vida do que o prazer.
entre um judeu e um não-judeu). Mas o cristianismo
reconhece os casamentos mistos como válidos, ainda Sócrates cria que o perfeito conhecimento do bem
que não sábios. Essa é a mensagem de I Cor. 7:13,14. assegura, automaticamente, a conduta perfeita.
Quanto a uma instância de ênfase, Jesus recomendava Assim sendo, igualava a bondade com o conhecimen
o celibato aos que do Senhor recebem esse dom, tal to. Acreditava que o indivíduo que realmente
como já tinham feito os essênios e como Paulo soubesse o que é bom para ele, automaticamente faria
confirmou posteriormente; mas, de modo geral, o que é bom. Portanto, Sócrates ensinava a
certamente a ênfase judaica não recaía sobre o auto-realização e a compreensão como a busca básica
celibato. No que tange ao divórcio, Jesus falou em do homem, porquanto, segundo pensava, isso o
termos mais severos do que qualquer judeu comum. conduziria à conduta perfeita. Sua vida, pois, foi
Essas são apenas algumas sugestões acerca das dedicada à busca do entendimento da bondade. Essa
diferenças de ênfase ou acerca das modificações que idéia é boa até onde vai, mas ignora a natureza
podem ser vistas nos ensinamentos de Jesus, quando pervertida do homem, que algumas vezes prefere
confrontados com os princípios éticos do judaísmo; conscientemente o mal, — em vez do bem, e sempre
passemos, agora, a observar certos pontos particula para seu dano próprio. Jesus, portanto, foi muito
res. mais fundo do que Sócrates, porque a sua missão
visou essencialmente a transformar a natureza básica
Em primeiro lugar, consideremos o grande método do homem, e não simplesmente insuflá-lo à
básico ou a grande consideração dos ensinos éticos de auto-realização. Em geral, poderiamos classificar o
Jesus, que em sua maioria podem ser identificados sistema ético de Jesus como teísta. Com isso queremos
com as normas do judaísmo. Os que estão dizer que tem por base a grande consideração que é
familiarizados com a ética do ponto de vista da Deus. Deus é o legislador, e o homem é responsável,
filosofia, devem lembrar-se de que os sistemas éticos antes de tudo, a Deus, e apenas secundariamente a si
têm bases extremamente variadas. Por exemplo, parte mesmo e aos seus semelhantes. A ética teísta
da conduta reputada ética pode basear-se em geralmente ensina princípios éticos «eternos» e
considerações inteiramente humanas. Protágoras de «imutáveis». Mas a ética pragmática admite mudança
Abdera (450 A.C.) fez soar a nota-chave de grande e alteração. A ética teísta conta com um Deus eterno e
parte da ética moderna, ao dizer: «O homem é a imutável que impede a mudança de qualquer
medida de -todas as coisas». Com isso ele quis dizer modalidade. Se houver mudança, será tão-somente
que as considerações éticas, como quaisquer outras em resultado de uma melhor compreensão sobre Deus
considerações que afetam a vida humana, devem ter e seus caminhos, e não pela mudança no próprio Deus
seu fundamento apenas naquilo que é bom para o ou em seus ensinos. Jesus, por conseguinte, falou de
homem, naquilo que é útil para o ser humano, que princípios eternos, e todo o seu sistema repousa nos
obtém os alvos desejados pelos homens, e não naquilo mesmos. Esperamos, por conseguinte, que a despeito
que agrada a algum deus ou deuses, ou ao que pode da passagem de dois mil anos, a contar da vida
ser reputado como um nebuloso após-vida. A ética terrena de Jesus, os princípios e exigências básicas
pragmática está alicerçada nessa atitude. O que permaneçam inalteráveis.
mostra ser bom, após tentativa e erro, é bom para Falando de maneira muito «generalizada», pode
nós, e o que é bom para nós hoje, talvez não seja o que mos classificar os sistemas éticos em sistemas
será bom amanhã. Por conseguinte, essa ética relativistas absolutistas. Pelo termo «absolutista» se
pragmática não pode estar baseada em princípios compreende também a idéia de categoria. Os
«eternos» ou «teístas». De modo geral, na ética princípios éticos absolutistas ou categóricos ensinam
pragmática, as considerações «divinas» ou eternas se que os princípios éticos são absolutos, não estando
fazem completamente ausentes. sujeitos a modificações, formando uma categoria
Ora, nem o judaísmo e nem Jesus basearam seus permanente e imutável. Princípios eternos e imutáveis
princípios éticos nessas crenças. Existem outros que são inatos ao homem e foram dados por Deus.
refletem uma ética cínica ou pessimista, os quais Entretanto, é possível alguém ter idéias de princípios
negam que exista qualquer valor humano autêntico, e absolutistas ou categóricos sem pôr Deus no quadro
que, por isso mesmo, assumem uma posição adversa de suas considerações, porque pode crer que a
ou pelo menos cética acerca de qualquer pronuncia «natureza» ou algum outro princípio «universal» que
mento que procure regulamentar a conduta humana. não seja «Deus» pode servir de fundamento da
O pessim ism o ensina que a própria existência é o conduta ética. Em contraste com isso, temos a ética
maior de todos os males, e que o maior pecado do «relativista», que ensina que não existem princípios
homem é o de «ter nascido» (Schopenhauer). eternos e, sim, pessoas, condições, estruturas sociais e
Evidentemente, Jesus não compartilhava dessas muitas outras condições, que determinam o que é
idéias. Mas ensinou que há bens positivos que devem bom para nós, o que não o é, e que as mudanças nas
ser obtidos e maus positivos qup devem ser evitados. pessoas, nas estruturas sociais e em outras condições
Os estóicos, por sua vez, ensinavam que qualquer também modificam os princípios éticos. Vê-se,
espécie de emoção é má, quer positiva, quer negativa. portanto, que, se considerarmos uma classificação
Segundo essa filosofia, o desejo é mau, a busca e a geral, Jesus ensinou princípios éticos absolutistas ou
pesquisa também são processos maus. Somente o categóricos, pois a ética «teísta» é um dos ramos desse
despreendimento total da vida é aceito como princípio tipo de sistema ético.
ético para os estóicos. Segundo eles, é mister exercer a Considerem os agora algum aa particularidades
«apatia» ante tudo. Embora Jesus tenha aprendido a sobre esses ensinamentos éticos. Com esse propósito,
controlar o seu próprio ser de maneira extraordinária, não podemos fazer nada melhor do que examinar,
dificilmente alguém poderia classificar a sua «com ainda que de passagem os conceitos do Sermão da
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Montanha, em Mat. 5—7. desobedecem aos mandamentos, só causam dano a si
1. A paternidade de D eoa. Jesus via a Deus como a mesmos. E aqueles que quebram os mandamentos e
fonte de toda vida humana e como benfeitor de todos, assim ensinam a outros, prejudicam duplamente a si
tal como um pai humano deseja o bem de todos os mesmos e aos outros — serão os chamados mínimos
seus filhos. Jesus expandiu grandemente o conceito do reino dos céus.
judaico de Deus, porquanto apresentou um Deus 4 . Jesus aprofundou parte do ensino do Judaísm o
universal, e não local. Esse conceito é básico para os contem porâneo. Todos reconheciam que o assassínio
princípios éticos de Jesus e forma um contraste é um mal. Mas Jesus procurou mostrar que o ódio é
definido e violento com o judaísmo comum. Por uma forma de homicídio; críticas severas, uma língua
muitas vezes Jesus empregou o termo «vosso Pai que virulenta e odiosa, ira, etc., são formas de assassínio,
está no céu», no Sermão da Montanha e em outros porquanto ferem e destroem as suas vítimas, ainda
lugares, (ver Mat. 5:45; 6:1,6,14,18). Isso não visava que não causem a morte do corpo físico. Quanto
a contradizer a outra idéia de que alguns são «filhos ainda temos de aprender acerca disso na igreja, que
do diabo», nem afirmar a conversão como experiência por muitas vezes se torna cena de ódio armago e de
a todos os homens. Porém, serve para despertar-nos debates acirrados. Quantos crentes têm destruído um
para o fato da grande compaixão de Jesus, e também irmão na fé! Quantas igrejas evangélicas têm
que, por força da criação, em sentido bem real, todos destruído pastores! Quantos «anciãos» ou «autorida
têm a fonte de sua existência em Deus, e que esse deve des» da igreja têm destruído a juventude da igreja por
ser o alvo de todos. Por esse motivo é que nos é fazerem coisas movidos pela ira, criticando amarga
oferecida a possibilidade e grande realidade de muitos mente, devido ao ódio que se instala em seus corações.
benefícios que são dados aos homens de modo geral. Se Jesus estivesse conosco hoje em dia, pessoalmente,
A missão do Messias tinha por finalidade declarar a nas nossas igrejas, procuraria aprofundar nossos
salvação universal oferecida por Deus. Até que grau conceitos acerca do que é o homicídio. E se ele
de perfeição Deus haverá de finalmente desenvolver estivesse em nossos corações, faria a mesma coisa sem.
essa missão, antes do término da história da ser notado (ver Mat. 5:21,22).
humanidade, aqui ou no além, pode-se tão-somente 5 . Jesus «profundou • m oral: no tocante ao
conjecturar; mas as implicações são vastíssimas. adultério. Um homem talvez congratule a si mesmo se
2. O principio do am or. Jesus ensinou insistente não toca em mulher, mas Jesus indicou que a cobiça
mente essa virtude. Ele mesmo foi enviado ao mundo já é adultério, e qual homem pode congratular-se por
por motivo do amor do Pai. Jesus exercia grande ■não cobiçar? Jesus não ensinava aqui contra as
compaixão para com as multidões. O décimo quinto instituições sociais da poligamia e do concubinato
capítulo do evangelho de João é uma demonstração (Mat. 5:27) e não é provável que ele classificasse esses
dessa atitude, e muitos dos princípios do Sermão da costumes sociais dos judeus como adultério; mas em
Montanha repousam nesse alicerce. O novo m a n d a Mat. 5:31,32, e especialmente mais tarde, em Mat.
m ento consiste no amor, pois essa é a virtude que 19:3-9, pelo menos desencorajou tais práticas como
realmente cumpre todos os requisitos da lei. indignas daquele que verdadeiramente procura
Precisamos sentir pelos outros o que sentimos por nós. progredir espiritualmente. A lei de Jesus referente ao
mesmos. Sabemos o que é o amor próprio e o adultério requer uma transformação completa no
praticamos, porquanto quase todos os nossos atos se íntimo, em contraste com a regulamentação das ações
baseiam no egoísmo. Cuidamos de nós mesmos, de externas que era tão comum na ética judaica. Um
nossos planos para o futuro, vestimo-nos e temos bom exame nessa lei ensina-nos o quanto ainda temos
cuidado com nossa saúde. No seio da família de caminhar para sermos moralmente transformados
tornamos mais evidente esse princípio do amor, pois segundo a imagem de Cristo — e esse é um dos
amamos os membros íntimos de nosso circulo propósitos ou alvos desta nossa existência terrena.
familiar, e nossa grande preocupação é o bem-estar 6. Jesus pregava um a linha dura sobre o divórcio
dos mesmos. Ora, o que Jesus quer é justamente que que é totalmente adversa às filosofias e à sociologia
nosso amor se expanda para abranger o mundo modernas. Muitos eruditos acreditam que o registro
inteiro, incluindo até mesmo os nossos inimigos. A das palavras de Jesus por Marcos, que não permitem
vereda do amor é a vereda mais curta para o qualquer desvio nesse particular, são as verdadeiras
desenvolvimento e o progresso espirituais. O próprio palavras de Jesus (ver Mar. 10:1-9). Em geral
Jesus foi o exemplo supremo de como deve funcionar contudo, a igreja tem preferido a versão de Mat. 19:9,
esse princípio. O amor não somente diz que não se que permite o divórcio (e provavelmente novo
deve matar, mas proíbe até mesmo o odiar, (ver Mat. casamento do cônjuge inocente), por razão de
5:21). O amor diz não somente que não se deve fornicação. Os sociólogos e psiquiatras do mundo
adulterar, mas nem mesmo cobiçar, (ver Mat. 5:28). inteiro não se sentem à vontade ante as declarações de
O amor não somente diz que não se deve provocar a Jesus, pois crêem que há muitos motivos válidos para
violência, mas instrui até mesmo a sermos ativos o divórcio e que existem muitos outros crimes que
pacificadores, (ver Mat. 5:9). Aquele que cultiva em uma pessoa casada pode cometer contra seu
sua vida o amor de Jesus, nutrindo-o em seu homem companheiro ou companheira de matrimônio, que são
interior, será mais rapidamente transformado à piores do que o adultério. £ possível que se o assunto
imagem de Cristo, que é o grande propósito da tivesse sido mais extensamente examinado, e sob
existência humana.3 outros prismas, — Jesus tivesse acrescentado aos
seus ensinos outros detalhes sobre a questão; mas os
3. Respeito à autoridade constituída. Assim evangelhos servem para fornecer-nos a ênfase
ensinou Jesus, ao falar especificamente da lei e dos principal de Jesus sobre a questão do casamento e do
profetas como autoridades religiosas (ver Mat. 5:19). divórcio. Como sempre foi típico de Jesus, ele
Jesus aprovava a lei e os profetas, embora algumas alicerçou a questão inteira sobre princípios eternos.
vezes tivesse discordado de seus contemporâneos no
tocante à interpretação que davam à lei e aos profetas. «No princípio...Deus...» fez assim ou assado.
Jesus ensinou uma inquirição espiritual sincera e Desde o princípio, a norma tem sido «um homem—
fervorosa durante esta vida, e baseou essa inquirição uma mulher». Nenhum estudo moderno tem melhora
em antigas pedras fundamentais — as pedras básicas do esse principio, e reconhecemos instintivamente a
do judaísmo revelado. Por conseguinte, aqueles que sua validade. Mediante tal preceito, Jesus indica a
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inferioridade ou mesmo o mal da poligamia e do esse acontecimento que a criação inteira geme e sofre
concubinato. «Um homem—uma mulher» é o melhor, dores de parto. Essa é a obra especial de Deus — a
e está de conformidade com o designio original das duplicação de seu filho. Aqueles que forem assim
coisas. Isso envolve mais do que meras diferenças de transformados serão muito mais elevados que os anjos
ênfases entre Jesus e o judaísmo — o que se praticava em sua estatura metafísica, e serão tão perfeitos
entre os judeus de seus dias era uma completa moralmente quanto o próprio Deus. Esse é um alvo
distorção do princípio eterno. extremamente elevado, e è nessa direção que se deve
7. Recomendação do celibato. Conforme já disse, orientar a inquirição espiritual. Esse conceito
Jesus baseava os seus ensinamentos éticos sobre o (refletido em Mat. 5:48), portanto, é a base de todos
alicerce de uma intensa pesquisa espiritual — aquela os princípios éticos de Jesus. É por essa razão que
pesquisa que leva os homens de volta à presença de Jesus requeria um discipulado minucioso em todos os
Deus. Portanto, sobre determinadas questões que não pontos. Esse é o motivo por que ele elevou os
envolviam necessariamente os princípios do bem e do princípios do «amor à humanidade», a ponto de
mal, Jesus enfatizava o bem que seria melhor que incluir os próprios inimigos. E por essa razão que ele
outros bens. Jesus honrava o matrimônio e procurou regulamentou a conduta entre os sexos e quanto ao
elevar o pensamento judaico sobre o assunto, ao matrimônio. Esses princípios éticos são necessários
mostrar que o casamento não pode ser rompido por para o sucesso e para o rápido progresso na inquirição
razão alguma. Jesus também elevou a posição da cristã que visa a atingir a grande imagem moral de
mulher na sociedade judaica e proferiu coisas que Deus e a imagem metafísica de Cristo. Muitas outras
tinham em vista solapar o alicerce do duplo padrão particularidades poderiam ser mencionadas além das
que era tão geralmente praticado em Israel, em seus que foram referidas nesta breve seção, mas as que
dias. Não obstante, parece perfeitamente claro, por foram aqui ventiladas nos dão à idéia dos princípios
meio de Mat. 19:10-12, que Jesus reconhecia o valor éticos de Jesus e o alvo ou propósito de toda existência
do celibato, pelo menos no caso de algumas pessoas. e conduta dos homens.
Somente alguns podem receber essa doutrina. Mas e. A contecim ento fntoroe. O conhecim ento espe
esses podem buscar melhor o reino dos céus se cial de Jesus.
praticarem o celibato. Esse princípio concorda com o Os evangelhos mostram que Jesus tinha poderes
que Paulo procurou expressar posteriormente, em I especiais de conhecimento, inclusive da telepatia e do
Cor. 7:7 (e nesse capítulo em geral). Muitas religiões conhecimento prévio. Este fato é apresentado pelos
reconhecem o mesmo princípio, e aqueles que tentam evangelistas como uma prova (entre muitas) do
viajar pela estrada mística, em sua inquirição messiado autêntico de Jesus. Os rabinos previam um
religiosa, ou aqueles que buscam iluminação sobre Messias dotado de tais poderes e os evangelhos
questões especiais dizem-nos que o celibato é a melhor mostram que, neste ponto, (como em muitos outros),
condição para quem quer dedicar-se a essa busca Jesus cumpriu as esperanças do povo de Israel.
intensiva. Isso não significa, porém, que Jesus tenha Poderes elevados do conhecimento podem ser a
criado — ordens religiosas — ou decretado essa propriedade de meros homens, pois o homem é um
prática para as mesmas. Essas ordens religiosas são espírito, e deve ter altos poderes espirituais. Estes são
desenvolvimentos posteriores da cristandade, e não ainda mais notáveis em pessoas de um desenvolvimen
têm qualquer autoridade nos ensinamentos de Jesus. to alto de espiritualidade. Não é preciso supor que o
Todavia, o princípio do celibato, como questão conhecimento especial de Jesus foi uma propriedade
particular, como ajuda no processo espiritual, da divindade dele, embora, possa ser que os evange
permanece aprovado e recomendado tanto por Jesus listas tenham apresentado esta capacidade aos seus
como por Paulo. Esse ensino não era desconhecido leitores como se fosse uma prova disto. De qualquer
para a corrente principal do judaísmo; mas certamen maneira, não devemos esquecer da extrema impor
te não era praticado de forma generalizada. No tância da humanidade de Cristo. Ver o artigo sobre a
entanto, era uma das principais doutrinas dos H um anidade de Cristo. De modo geral, podemos
essênios. Jesus teve algum contacto com os essênios; e declarar que Jesus, normalmente, nas suas façanhas,
alguns dizem que esse contacto foi vital e contínuo, se limitou aos seus poderes humanos espirituais
no que era seguido por João Batista. O certo é que (desenvolvidos e usados pelo Espírito Santo) quando
Jesus adicionou a sua autoridade a esse preceito. fez seus milagres, com a provável exceção dos
milagres «da natureza» (como o ato de acalmar as
8. Jesus mostra o alvo da inquirição espiritual. águas do mar, multiplicar o pão etc.), quando,
«Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso evidentemente, usava seus poderes divinos. Foi
Pai celeste» (Mat. 5:48). Aqui Jesus falava da desígnio da encarnação que Jesus fosse limitado
perfeição moral no sentido absoluto. A palavra (normalmente) às mesmas fontes de poderes as quais
«perfeito» pode significar «maduro», e certamente nós temos acesso. Nisto, ele nos mostrou o caminho
Jesus recomendava a maturidade espiritual; porém, do desenvolvimento espiritual. Jesus era homem
este ensino é mais profundo do que isso. A igreja verdadeiro, que labutava como homem, que sofreu e
geralmente tem perdido de vista o fato de que o alvo se desenvolveu tal como todos os seus irmãos. Seus
da inquirição espiritual é a perfeição absoluta, que poderes especiais, por conseguinte, normalmente
envolve uma transformação total nos aspectos moral e dependiam de seu desenvolvimento como homem. Se
metafísico. Paulo ensina a mesma coisa no primeiro assim não fosse, as suas palavras que indicam que os
capítulo de Efésios, ao falar sobre o fato de que somos discípulos podem fazer as mesmas coisas que ele fez,
o «corpo» de Cristo. Isso envolve transformação total, contanto que tenham fé, quase não teriam sentido.
tanto moral como metafisicamente. A perfeição
absoluta é o nosso alvo. O trecho de Heb. 2:10 ensina Sua íntim a com unhão com o Pai, mediante o
a mesma coisa que fala acerca da verdade que Jesus Espírito Santo, transformava toda a sua pessoa. Ele ia
vai conduzindo «...muitos filhos à glória...». Jesus se tornando um ser diferente. Tendo sido feito, por
participou da nossa natureza a fim de que pouco tempo, menor do que os anjos, agora, mediante
pudéssemos participar da sua natureza, em sentido a inquirição, e o desenvolvimento espirituais, na
absoluto. O oitavo capítulo da epístola aos Romanos qualidade de homem, se ia elevando. E isso ele fez
ensina a mesma verdade ao dizer que estamos sendo justamente para mostrar-nos o caminho. Jesus foi ao
transformados à imagem de Cristo. É em direção a mesmo tempo o caminho e o pioneiro desse caminho;
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e tudo quanto ele fez é possível para nós, a começar o cristianismo haveria de tomar-se poderoso e ser um
pelos milagres e a terminar pela perfeição moral. Ele é fator mundial de maior envergadura que o judaísmo.
o alvo em todos os aspectos da vida cristã. Seremos 3. «A desordem geral» e a violência que haveriam de
semelhantes a ele em nossa natureza, e essa caracterizar a história humana durante esse período,
transformação está aberta para nós. Precisamos, tão- e que se tornariam muito mais graves pouco antes do
somente, andar como ele anilou, nos desenvolvermos estabelecimento literal do reino.
como ele se desenvolveu, e de sermos indivíduos que 4. «A perseguição contra os verdadeiros discípulos»
seguem seriamente essa inquirição, porquanto — não por parte de homens ímpios e desarrazoados, os quais
há limite. ficarão cada vez pior, ao aproximar-se o fim desse
Portanto, parece lógico afirmar que os especiais período. Em resultado dessa m aldade crescente,
poderes telepáticos de Jesus e seu conhecimento muitos discípulos esfriarão, isto é, perderão a
prévio eram manifestações dessa sua humanidade coragem de continuar na inquirição espiritual.
altamente desenvolvida, de sua humanidade espiri 5. «Uma nova mensagem» o evangelho do reino,
tualizada. Nada disso nega a sua divindade, mas tem não diferente da mensagem que Jesus pregou a Israel,
o propósito de declarar, sem o menor equívoco, a sua mas uma mensagem que deverá ser anunciada pelos
verdadeira humanidade. Jesus, portanto, foi um seus discípulos em escala internacional, que abran
grande previsor do futuro, um profeta de aconteci gerá todas as nações. Isso tem sido parcialmente
mentos futuros. Jesus deve ter previsto muitos cumprido no ministério da igreja, mas alude
acontecimentos pormenorizados de sua vida diária. especificamente à proclamação do reino pouco antes
As Escrituras dizem-nos que ele previu a negação de do fim, quase inteiramente levada a efeito durante o
Pedro e a traição de Judas. Ele previu a extensão da período da Grande Tribulação, um período de sete
oposição que lhe seria movida, tanto pelas autorida anos, que precederá de imediato o estabelecimento do
des religiosas como pelo povo em geral. É-nos reino.
impossível saber com certeza, mas, segundo os 6. «O aparecimento do anticristo» e da abominação
detalhes de que dispomos, parece certo que sua vida desoladora, também mencionada em Dan. 9. A
se assinalava pelo conhecimento prévio de muitas questão também é abordada em II Tes. 2.
minúcias de sua vida. Entretanto, preocupam-nos 7. «Grande e amarga perseguição contra Israel»,
mais aquelas profecias que dizem respeito a nós e ao nos dias da tribulação, intitulada angústia de Jacó.
mundo em geral. Jesus previu a sua morte como Essa perseguição será um grande agente na
resgate em favor de muitos (ver Mat. 20:28 e Mar. restauração de Israel, porquanto os israelitas entra
10:45). Há três grandes avisos sobre a aproximação de rão nessa perseguição ainda como nação que rejeita a
sua morte, no evangelho de Mateus, e esse trecho de Cristo.
Mat. 20:28 nos dá a avaliação de Jesus sobre sua
própria morte. Jesus também previu a sua ressurrei 8. Nesse capítulo, Jesus descreve de modo
ção (ver Mar. 9:9). Previu que teria breve ministério abreviado a «Grande Tribulação», mostrando que
após a sua ressurreição, pois advertiu aos discípulos será um período de angústias sem paralelo e de
que fossem encontrá-lo na Galiléia (ver Mat. 28:7). sofrimento universal. A maior parte do livro de
Em conexão com esses eventos, ele previu o seu Apocalipse segue paralela a essas profecias, posto que
triunfo final sobre os seus inimigos e o sucesso de seu quase todo esse volume se dedica à descrição
ministério universal (ver Mat. 24; Mar. 13; Luc. minuciosa desses acontecimentos.
21:5-36). Nesses ensinamentos, naturalmente, Jesus 9. «Alguns serão preservados» durante esse período
indicou a vitória de Deus nos homens e entre eles (ver (os «eleitos»), tempo esse que será assinalado pela
Mat. 10:23; 16:28; Mar. 9:1; Luc. 22:69). Por causa violência quase ilimitada dos homens, bem como
de sua rejeição, Israel passaria pelo juízo e como pelas tremendas comoções da natureza, incluindo a
símbolo desse juízo, Jesus previu a destruição de fúria das ondas, a destruição incontrolável das águas
Jerusalém, bem como a intensificação, e não o do mar, grandes terremotos, pragas generalizadas,
desaparecimento do poder romano em Israel (ver enfermidades e morte de milhões de criaturas
Mar. 13:1,2), sendo essa uma de suas mais famosas humanas.
profecias a breve prazo. Embora esse acontecimento 10. Imediatamente antes do aparecimento de Cristo
estivesse próximo, suas implicações iam longe, por ser na glória quando ele vier para reinar, os próprios
esse um símbolo do fato de Israel ter sido posto céus sofrerão distúrbios notáveis. Provavelmente a
temporariamente de lado, que é o tema abordado atmosfera da terra será perfurada, permitindo a
extensivamente por Paulo em Rom. 9—11, especial entrada de calor intenso, que destruirá a muitos (ver
mente no décimo primeiro capitulo. Quase desde o Apo. 16:8,9). Os físicos também estão predizendo
principio de seu ministério Jesus predisse o apareci essa modalidade de acontecimentos, o que indica que
mento da igreja (ver Mat. 16). Por semelhante modo, os tempos realmente estão próximos. Alguém
descreveu o método geral da ação de Deus, antes da escreveu como segue: «Oxalá não fosse verídico o
restauração de Israel, bem como os acontecimentos Apocalipse; mas é». Alguns físicos explicam que a
que teriam lugar quando do estabelecimento do reino. causa de muitos desastres naturais (terremotos,
Ele predisse o derramamento especial do Espírito maremotos, etc.) é o fato de que os pólos da terra
Santo, que seria o agente no seio da igreja, a fim de estão mudando (o que já aconteceu antes), o que
cumprir nela os propósitos de Deus (ver João 16:7-22 e provoca muitos distúrbios na natureza, quando as
Luc. 24:49). costas marítimas são destruídas, quando os oceanos
invadem muitas áreas continentais, quando há
A pusagem nuüa famoM das profecias de Jesus é o terremotos de proporções gigantescas. Um bem
vigésimo quarto capitulo do evangelho de Mateus, conhecido místico de nossos dias (falecido em 1945)
cujo paralelo é o décimo terceiro capítulo de Marcos. indicou que essas destruições serão tão universais e
Aqui é exposto um sumário dos acontecimentos ali intensas que apenas uma pequena porcentagem da
previstos: atual população do mundo conseguirá sobreviver. Ele
1. «Predição da destruição de Jerusalém», como deixou indicado que esses acontecimentos terão lugar
símbolo da queda e da rejeição de Israel. antes do ano 2000 D.C., e muitas autoridades bíblicas
2. «Surgimento de religiões falsas» e de pseudocris- têm dito exatamente isso por muitos anos. É bem
tos — como característica da «fera da igreja», quando possível que essa profecia sobre a Grande Tribulação
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seja um dos tópicos mais pregados atualmente nas individual será providenciada, embora os alvos finais
igrejas. Estará a igreja dormindo? sejam um tanto diferentes do que no caso da igreja.
11. Jesus ensinou a sua segunda vinda; terá aspectos 3. Sentido da m orte de Cristo para com as nações.
literais e simbólicos; estabelecerá o reino de Deus Algumas nações terão permissão de entrarem no
longamente esperado à face da terra, inaugurando o período milenar, e essa gente experimentará certa
reino milenar. Será acompanhado pelo julgamento espiritualização de seus seres, pois apesar de
dos ímpios. Será estabelecida uma nova ordem, e o continuarem humanos e mortais, sua existência
livro de Apocalipse indica uma espécie de espirituali- terrena será grandemente prolongada, e eles realmen
zação da humanidade; isso significa que os que te serão mais espirituais, em sua natyreza moral e
tiverem permissão de entrarem com vida na era metafísica, do que os homens de hoje em dia. Nações
milenar (que incluirá nações inteiras) receberão uma dotadas de imortalidade serão finalmente estabeleci
transformação parcial em seus seres, embora conti das à face da terra, o que também será resultado
nuem sendo humanos. Essas pessoas terão vidas direto da obra da expiação de Cristo e de outras
extremamente longas, e muitas delas provavelmente realizações do Senhor Jesus, em sua missão benéfica
viverão durante todos os mil anos. em favor dos homens.
Jesus ensinou a necessidade de — fidelidade — no 4. Sentido da m orte de Cristo para com a criação
discipulado como a principal característica à luz física: A criação física inteira, segundo a conhecemos
desses acontecimentos, a fim de que a humanidade atualmente, será renovada. A maldição contra o
possa atravessar esse período de julgamento, tanto da pecado será suspensa. Finalmente haverá uma nova
tribulação como depois, com sucesso. Segundo a criação, que instaurará novos céus e nova terra.
opinião de alguns', a «igreja» ficará isenta da 5. Sentido da m orte de Cristo para com os céus. A
tribulação, embora muitos crentes sinceros digam o passagem de Heb. 9:23 indica a purificação dos
contrário. Se a igreja tiver de atravessar a tribulação, lugares celestiais, em resultado da morte de Cristo.
terá de ser preparada por advertências similares às Sabemos que o pecado começou nos lugares celestiais,
contidas aqui. Em caso contrário, mesmo assim seus e não à face da terra. Finalmente, porém, o princípio
membros devem ser discípulos fiéis, porquanto a do pecado será removido dos lugares celestiais. Os
igreja também passará pelo juízo do trono de Cristo. seres celestiais deixarão de lutar contra esse princípio
Ver o artigo sobre o A rrebatam ento. pecaminoso. Obterão a vitória completa e final,
f. M orte de Cristo e sua Significação demonstrando que seres dotados de livre-arbítrio
A teologia do N. T. acerca do sentido da morte de podem preferir o bem em vez do mal.
Cristo, é bastante extensa. A maioria dos ensinos 6. Relação da m orte de Cristo para com os anjos
concernentes à expiação e a outros efeitos da morte de caídos, os demônios e Satanás. Segundo ensina o
Cristo, emerge das epístolas, e não dos evangelhos, e segundo capítulo de Colossenses, o reino da maldade
quase sempre da pena do apóstolo Paulo. Podemos finalmente cairá. Essa destruição será gradual. A
alistar como segue as principais implicações da morte morte de Cristo assegurou a destruição final desse
de Jesus. reino, embora até agora não tenha produzido esse
1. E m relação à Igreja e aos santos: expiação por resultado final.
substituição — Cristo tomou-se pecado por nós, 7. Influência da m orte de Cristo sobre Hades: sobre
levando a nossa penalidade, e nós temos ficado com o inferno; I Ped. 3:18-20, 4:6 (e outras passagens do
sua justiça. Cristo se tornou o fim da lei para aqueles N.T.) falam de um ministério de Cristo em Hades.
que creem. A igreja não está debaixo da lei no que diz Alguns vêem este ministério como uma oferta
respeito à justificação. Reina agora uma nova lei no completa de salvação aos perdidos, além do túmulo,
que implanta o poder de praticarmos a justiça — essa até que a Segunda Vinda de Cristo termine este
é a lei do Espírito (ver Rom. 8). Foi efetuada a tempo, este dia de oportunidade. Isto significa que a
redenção que nos livra do pecado e de seu poder e nossa morte pessoal não marca este limite. A maioria
que, finalmente, nos livrará de sua presença. Foi dos pais antigos da igreja tinha este ponto de vista,
apresentada expiação a Deus, removendo a ira contra como João de Damasco (seção VIII) nos informa em
os homens e seus pecados. O próprio pecado já foi seu livro, A Fonte de Sabedoria. Apenas nos tempos
julgado, pelo que finalmente desaparecerá como um modernos é que qualquer seção de tamanho razoável
dos fatores da existência. Foi instaurada a purificação da igreja tem ignorado ou rejeitado a estória da
de pecados, tanto a dos pecados do passado como Descida de Cristo ao Hades. Alguns vêem este
progressivamente e também na vida vindoura. A ministério do submundo como um meio de «restaura
justificação vem através da fé na expiação. Gozamos ção», mas não como uma salvação evangélica, para os
de identificação especial com Cristo (o batismo perdidos. Em outras palavras, o seu ministério no
espiritual; ver Rom. 6). Participamos de sua morte e Hades «melhorou» o seu estado de perdição. Ef.
ressurreição por meio de um processo místico, e 4:8,10 demonstra que os efeitos deste ministério são
recebemos o benefício decorrente de ambas. A permanentes ao estado de todos os homens em todo
expiação assegura-nos a glorificação final e a nossa lugar. O assunto, logicamente, tem sido sujeito a
transformação segundo a imagem de Cristo, tanto muita controvérsia, e a alguns abusos. Ver o artigo
moral quanto metafisicamente. sobre a Descida de Cristo ao Hades.
2. Sentido da m orte de Cristo para com Israel. A 8. Por causa de sua obra rem idora (que inclui sua
morte de Jesus cumpriu a promessa que foi feita a essa morte expiatória), Cristo será estabelecido como
nação concernente ao Messias-Servo Sofredor. Essa cabeça do universo, e não somente da terra (ver Efé.
morte conseguiu o necessário para a redenção 1, Col. 1 e 2). Jesus é o grande alvo de toda a criação.
nacional. Removeu os símbolos da salvação na forma Os crentes serão transformados à imagem de Cristo,
de sacrifícios de animais e de outros ritos, dando-nos moral e metafisicamente. Toda a criação, todas as
a substância tão longamente esperada. Finalmente criaturas, celestiais e terrenas, terão em Cristo o seu
assegurará o estabelecimento da nação de Israel à centro. O ponto mais alto de toda a criação será a
testa de todas as nações, quando a obra de Deus duplicação da pessoa de Jesus Cristo nos homens
completar-se por meio de Cristo. Isso assegurará alta remidos.
posição para a nação de Israel, durante o milênio. No O leitor poderá obeervar que quase todas essas
que diz respeito a todos os demais povos, a salvação doutrinas emergem das epistolas, especialmente das
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de autoria de Paulo. Muitos se interessam pelo tinham desenvolvido em torno de seu nome. Pelos fins
quadro exposto nos evangelhos, especialmente em do século IV de nossa era mais de oitenta desses
face de que as idéias ali apresentadas resultam grupos já haviam surgido, enquanto a corrente
diretamente das palavras autênticas e verdadeiras do principal do cristianismo se transformava em uma
próprio Jesus, e não das palavras dos discípulos, como religião universal, mais que o judaísmo fora ou mesmo
desenvolvimento posterior da igreja. Alguns eruditos tentara ser. Jesus tinha muitas características
mais liberais insistem que a igreja criou um Jesus próprias dos mestres e profetas judeus, e o seu
«teológico», sem nenhuma ligação com o Jesus ministério visava especialmente à nação de Israel.
histórico. Por isso, rejeitam quase totalmente as Mas quase desde o início de seu ministério Jesus foi
epístolas como verdadeiras representações de Jesus. rejeitado. Já no oitavo capítulo do evangelho de
Esses mesmos mestres negam, igualmente, qualquer Marcos, vemos uma rejeição definida à pessoa de
ensino que se aproxime do das epistolas que Jesus e ao seu ministério. A sinagoga fora fechada
porventura se ache nos evangelhos. A grande verdade, para Jesus. Enganamo-nos quando vemos, no
porém, é que os evangelhos expõem um quadro da ministério de Jesus, apenas um m ovim ento reformista
expiação que a torna universal. Se não quisermos no seio do judaísmo. Não é de forma alguma
aceitar esse testemunho, seremos obrigados a improvável que Jesus tivesse tido muito contacto com
depender de conjecturas para encontrar a verdade, e os essênios, tal como acontecera com João Batista.
embora todo homem seja um agente moral livre, que Jesus se identificou desde o começo com o movimento
pode fazer toda forma de conjectura, o crente sério, de João Batista e pela história sabemos que os essênios
especialmente se a sua experiência religiosa é válida e já se tinham alienado, como um grupo, do judaísmo.
vívida, terá de rejeitar o método da conjectura na A alienação de Jesus não demorou muito mais, e as
busca da verdade. A vida de Jesus foi tão grande, as sinagogas cerraram-lhe as portas, o que forçou o
suas obras foram tão profundas, que parece razoável Senhor a pregar ao ar livre. Seu ministério, por
aceitar o testemunho dos evangelhos como explicação conseguinte, dificilmente poderia ser reputado um
de sua grandeza. Durante a p a rte fin a l do seu movimento reformador. Consistia mais da formação
ministério, Jesus devotou grande parte de sua atenção de um grupo distinto dentro do judaísmo. Posterior
à sua morte próxima e ao sentido de sua morte para mente (Mat. 16) Jesus intitulou o seu grupo de
com os seus discípulos (ver Mat. 16:21; Mar. 8:31; seguidores de sua igreja. Embora alienado e separado
9:31; 10:33,34; Luc. 9:22,44; 22:37; João 6:51; da corrente principal do judaísmo, Jesus continuava a
10:11-18). Jesus declarou que a sua morte seria um ministrar para toda a nação de Israel, pois disso
resgate em favor de muitos (ver Mat. 20:28). As consistia sua missão como Messias.
tentativas da parte de alguns, que procuram negar A separação entre Jesus e o judaísmo tradicional
isso como parte dos próprios ensinos de Jesus, por pode ser vista ainda com maior clareza nos ensinos
alegarem que ele não poderia compreender a sua dos evangelhos. Já no décimo sexto capítulo do
própria morte dessa maneira, têm falhado inteira evangelho de Mateus, encontramos menção da igreja.
mente. Que alguém desse a sua vida como resgate Os capítulos que vêm logo em seguida, baseados nos
pelo povo não era um conceito inteiramente estranho ensinos de Jesus, contêm diversas instruções acerca de
ao judaísmo. Naturalmente que o resgate oferecido problemas que poderiam surgir na sua «igreja». Jesus
por Jesus deve ser compreendido em sentido diferente estabeleceu leis disciplinares, leis de amor mútuo
do oferecido da própria vida, por parte de algum entre os crentes, leis de autoridade no seio da igreja,
profeta, segundo esse oferecimento deve ter sido leis relativas ao perdão entre os membros da igreja,
compreendido pelos judeus. Jesus ilustrou isso na leis acerca das atitudes que devem ser mantidas para
cena da «última ceia». Nessa oportunidade ele ensinou com os novos convertidos, leis sobre as relações
claramente as implicações espirituais desse ensino familiares, leis acerca das atitudes para com as
(ver Luc. 22:19,20; Mat. 26:27,28; Mar. 14:22-24). A crianças. Esses ensinos indicam o aparecimento,
passagem de Mat. 26:27,28 indica que a morte de desde o começo, de um grupo totalmente — separado
Cristo nos traz a remissão de pecados, estabelecendo — dentro do judaísmo, e também que a igreja de
uma nova aliança entre Deus e os homens (ver Luc. Jesus se separaria, finalmente, de modo total do
22:20). A linguagem usada é similar à de Is. judaísmo, em grau maior que os essênios (ver Mat.
52:13—53:12, que descreve, em forma profética, a 16-19). Parte do ensino sobre o reino dos céus reflete
vinda do Messias-Servo Sofredor. Também nos certo colorido de uma «era da igreja», isto é,
devemos lembrar de que os discípulos imediatos de representa o reino visto na igreja que surgia e se
Jesus, especialmente Pedro, se tornaram seus desenvolvia, e não como desenvolvimento dentro do
intérpretes especiais na igreja primitiva, ao passo que judaismo(ver Mat. 13). Jesus, em seus ensinos sobre a
Paulo assevera que o seu «evangelho» não diferia em sua própria pessoa como Filho do homem, foi muito
nada do deles. A igreja primitiva, de modo geral, além do que se poderia esperar no judaísmo
aceitava a interpretação de Paulo, não achando que convencional, especialmente porque universalizou o
fosse incoerente com a que haviam recebido da parte conceito de Filho do homem. Por semelhante modo, a
dos discípulos imediatos de Jesus. Passagens tais idéia inteira da sua missão messiânica é universaliza
como Mat. 28:19,20 emprestam universalidade ao da nos evangelhos.
ensino que a morte de Cristo e os benefícios dela M arco« procura moatrar que o cristianismo não
decorrentes não podem ser aceitos como limitados a deve ser entendido apenas como um ramo do
qualquer nação ou povo. judaísmo. As seções finais desse-evangelho e dos
g. R elaçio de Cristo para com o Judaísm o
demais enfatizam, particularmente, essa particulari
dade, ao mostrarem que o evangelho deverá ser
A relação entre Jesus, seus ensinos e o judaísmo, já anunciado a todas as nações e que Jesus, voltará como
transpareceu nos comentários acima acerca de Jesus, rei e juiz universal.
de sua identificação, de seu ministério e de seus
ensinamentos distintivos; pelo que também basta Nem mesmo os ensinamentos éticos de Jesus podem
apresentar aqui um «breve sumário». A magnitude de ser inteiramente contidos dentro da tradição judaica.
sua pessoa eleva-o de imediato acima de qualquer Jesus elevou a Deus como pai universal dos homens,
profeta, sacerdote ou rei de Israel. Pelos fins do século assim alterando um princípio judaico exclusivista.
II de nossa era, mais de vinte religiões distintas se Jesus ensinou um princípio de amor universal, em
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favor de todos os homens, ao passo que a maioria dos preço, em Mat. 13:45,46. O evangelho de João não
mestres judaicos permitia ou mesmo encorajava o usa «parábolas», «alegorias», ou «símiles» e, sim,
ódio contra os inimigos estrangeiros. Jesus muito «metáforas». Por exemplo, o fato de Jesus ter dito «Eu
elevou os princípios éticos, mostrando que o ódio é sou a porta», «Eu sou o caminho», «Eu sou o pão que.
reputado por Deus como assassínio, e que a cobiça já desceu do céu», etc., são metáforas, as quais ilustram
é adultério aos olhos do Senhor. A posição da mulher um objeto ou ensino identificando-o com outro objeto.
também foi guindada a novos niveis, bem como todo o Uma. sím ile pode ser parecida com uma metáfora, ex
conceito do matrimônio, devido ao princípio eterno de ceto que explana a comparação, ou, segundo poderia
«um homem-uma mulher». Mais do que qualquer mos dizer, — explica os seus sím bolos . Uma parábola,
outro mestre antigo ou moderno, Jesus apontou para segundo a definição dos dicionários, é uma história
o alvo da perfeição absoluta, e ensinou que os simples contada com o fito de ilustrar ou ensinar ou
homens, finalmente, serão semelhantes a Deus no moralizar ou doutrinar. Usualmente não procura
aspecto moral, quando atingirem totalmente o alvo ensinar algo com cada minúcia, como é o caso das
determinado para eles pela vontade de Deus (ver Mat. alegorias. Com o uso da palavra «parábola», aplicada
5:48). às histórias narradas por Jesus, queremos incluir o
Na qualidade de profeta sobre acontecimentos que poderia ser chamado com mais acerto, em alguns
futuros, Jesus ultrapassou a tudo quanto se conhecia casos pelo menos, de «símile», em outros casos, de
no judaísmo, especialmente em face de ter revelado «alegoria», e ainda em outros, de «metáfora». Por
não apenas o futuro de Israel, mas também o futuro conseguinte, a palavra «parábola», necessariamenté
de todas as nações e de todos os homens e, mais assume um sentido muito lato, incluindo todas essas
especialmente ainda, por ter revelado que sua própria idéias. — Abaixo, tentamos ilustrar os temas
pessoa, finalmente, seria rei e juiz universal. O principais das quarenta e uma parábolas de
judaísmo jamais reconheceu qualquer ensino seme Jesus, preservadas para nós nos evangelhos.
lhante a esse, e nesses particulares é que vemos a 1. Parábolas que Explicam Diversos A spectos do
distinção entre o judaísmo e o cristianismo, que Reino dos Céus
equivale à distinção entre o judaísmo e Jesus Cristo. a. Jesus mantém uma relação especial para com o
Talvez o mais distintivo de todos os ensinamentos reino dos céus ou reino de Deus. Ele prepara o
de Jesus seja o da expiação e o do sentido geral de sua caminho, e prega a mensagem; e assim a mensagem
morte, não visando apenas aos indivíduos, mas se torna conhecida entre os homens. A maioria dos
também às nações e ao universo em geral, incluindo homens a rejeita, mas outros a recebem e produzem
tanto a criação física como a espiritual, tanto os fruto em vários graus. (Parábola do semeador: Mat.
homens como os anjos, tanto a terra como os lugares 13:3; Mar. 4:3; Luc. 8:4). Nesse reino, surgem
celestiais. Jesus, por conseguinte, emprestava um discípulos falsos que causam condições destrutivas.
sentido universal ao seu ministério e aos seus ensinos. Mas o julgamento final separará os falsos dos
Essa universalidade é a marca distintiva do cristianis verdadeiros. (Parábola do joio: Mat. 13:36). O reino
mo e, em seus muitos e variados aspectos, reflete a desfrutará de um fenomenal crescimento exterior.
natureza das relações entre Jesus e o judaísmo. Jesus é (Parábola do grão de mostarda: Mat. 13:31; Mar.
o Salvador dos crentes, —é Senhor e Rei deles; mas 4:30; Luc. 13:18). O reino será dotado de notável
também é o Salvador do mundo inteiro, e o seu nome poder inerente de crescimento. (Parábola do fermen
está acima de todo e qualquer outro nome. to: Mat. 13:33; Luc. 13:20). O reino cresce de uma
h. Vários Tem as das Parábolas de leso s
maneira inconsciente para os observadores. (Parábola
da semente, Mar. 4:3). O reino tem grande valor, e
Finalm ente, a fim de completarmos esta seção pode ser descoberto acidentalmente, isto é, sem que
sobre Jesus e seus ensinamentos, observemos, em haja busca consciente; mas mesmo nesse caso o seu
forma esboçada, os diversos temas das suas grande valor será percebido por quem o encontrar.
parábolas. Jesus deve ter proferido muitas outras (Parábola do tesouro escondido: Mat. 13:34). O reino
parábolas que não se acham registradas, mas aquelas tem grande valor e pode ser objeto de intensas
de que dispomos mui provavelmente servem de boa pesquisas, e quando encontrado por aquele que o
indicação sobre os assuntos que ele ensinou por esse busca, o seu valor é imediatamente reconhecido.
método. Encontramos quarenta e uma parábolas de (Parábola da pérola de grande preço, Mat. 13:45). O
Jesus. O evangelho de Mateus contém vinte e três reino se estenderá a muitos povos, nações e
delas, dez das quais não se encontram em nenhum indivíduos, e reunirá tanto bons quanto maus; mas
dos outros evangelhos. O evangelho de Marcos uma separação seletiva final haverá de purificar o
contém apenas oito das quarenta e uma parábolas, e reino. (Parábola da rede de pesca: Mat. 13:47). O
apenas uma que os outros não registraram — a reino se assemelha a uma grande festa de casamento,
parábola da semente em crescimento, Mar. 4:26-29. com muitos convidados presentes, alguns aceitáveis e
O evangelho de Lucas foi o que melhor preservou as outros não. (Parábola das bodas: Luc. 14:7. A
parábolas de Jesus, porquanto contém trinta das parábola da grande festa ilustra a mesma verdade:
quarenta e uma dessas parábolas, dezesseis das quais Luc. 14:16).
foram registradas exclusivamente por ele. Quanto a
uma lista completa das parábolas de Jesus, bem como b. Perto do fim de seu m inistério, Jesus apresentou
suas localizações, etc., ver o artigo intitulado o outra série de parábolas do reino, que visam ilustrar
Problema Sinóptico. Este artigo também contém uma especialmente que o mesmo foi tirado das mãos de
lista completa dos milagres de Jesus (registrados nos Israel, que o juízo aguarda aos que rejeitarem o reino,
evangelhos). e que todos os homens devem preparar-se para
Quando se fala sobre as parábolas de Jesus, deve-se esperar o reino. Assim é que temos a parábola dos
usar uma lata definição desse termo, porquanto dois filhos (Mat. 21:28), a parábola dos trabalhadores
algumas de suas parábolas mais extensas, que na vinha (Mat. 20:1), a parábola do casamento do
fornecem explicações pormenorizadas (como a pará filho do rei (Mat. 22:1), a parábola da figueira (Mar.
bola do «semeador», Mat. 13:3-23), poderiam ser 13:28; Mat. 24:32; Luc. 21:29), a parábola dos servos
chamadas, com mais razão, de alegorias. Também se (Mar. 13:34; Luc. 12:35), a parábola do pai de família
poderia empregar a designação de «símiles» para as e do ladrão (Mat. 24:42; Luc. 12:36), a parábola do
parábolas mais breves, como a da pérola de grande servo bom e do servo mau (Mat. 24:45; Luc. 12:42), a
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parábola das dez virgens (Mat. 25:1), a parábola dos mas nunca realizar o serviço. É o caso da parábola dos
talentos (Mat. 25:14; Luc. 19:11), a parábola das dois filhos (Mat. 21:28), da parábola da vinha (Mat.
ovelhas e dos bodes (Mat. 25:31). Com essas 20:1-16). A parábola dos talentos (Mat. 25:41)
parábolas, Jesus ilustrou quão insensato é rejeitar a também ilustra certos aspectos do discipulado eristão,
sua mensagem, e também ilustrou a rejeição de Israel, embora a grande verdade seja ique ilustra principal
o sucesso final do reino, a volta do rei a fim de reinar, mente a rejeição do reino por parte de Israel. Nessa
a necessidade de vigilância diligente e de serviço no classificação também cabem as parábolas do tesouro
reino, para quem deseja ser verdadeiro discípulo do perdido, e da pérola de grande preço, as quais falam
rei. do grande prêmio a ser conquistado pelo verdadeiro
c. O termo reino dos céus (ou reino de Deus) tem discípulo, incentivando-nos ao verdadeiro discipulado
assumido muitos sentidos diversos, e o próprio Jesus o cristão.
empregou de diversas maneiras. O conceito básico é a 8. Parábolas sobre a Oração
idéia da dimensão onde todos estão sujeitos a Deus, Jesus contou a parábola do amigo importuno (Luc.
ou pelo menos onde há a tentativa de pôr tudo sob o 11:5) e da viúva persistente (Luc. 18:1) a fim de
seu controle. O reino pode ser o reino terreno; o reino ensinar a importância da oração e seus notáveis
celestial; o mundo do além, onde ninguém pode resultados.
entrar sem passar pelo novo nascimento; ou a 9. Parábolas sobre a Insuficiência das Riquezas
influência da verdade e da espiritualidade entre os
homens. A igreja pode ser um agente do reino, bem Jesus também contou parábolas que mostram que
como seu ponto ou consideração central. O reino pode as riquezas materiais não são suficientes, pois a vida é
ser encarado como a súmula de todos os benefícios muito mais importante do que a teoria dos bens
espirituais, pelo que também nenhum preço é alto materiais nos leva a supor. A alma é mais importante
demais para pagar por sua aquisição. Por conseguin do que as riquezas, segundo a parábola do rico
te, as parábolas do reino têm uma aplicação insensato. (Luc. 12:16).
vastíssima, que afeta nossa vida inteira. Deveríamos 10. Parábolas sobre o Correto Uso das Riquezas
ser os servos fiéis, os recebedores da semente, Jesus ensinou-nos a usar corretamente o dinheiro,
interessados pelo crescimento do reino, vigiando pelo bem como o modo de tratarmos aos outros, para
retorno do rei. Deveriamos buscar o seu reino como nosso próprio benefício espiritual. É o caso da
buscaríamos um tesouro ou uma pérola excelente, e parábola do mordomo desonesto (Luc. 16:1).
deveríamos estar dispostos a nos desfazermos de 11. Parábola sobre a Religião Falsa
qualquer e de todas as nossas posses, a fim de Existe uma religião falsa, que se ufana de suas
adquirirmos o reino, que se reveste de valor infinito. realizações mas que é repelida por Deus, embora os
Portanto, as parábolas do reino incluem muitas lições homens tanto a favoreçam. Jesus relatou uma
acerca do discipulado cristão e acerca da inquirição parábola nesse sentido, que também mostra como os
espiritual. homens podem encontrar-se com Deus, mediante o
2. Parábolas que E nsinam a N atureza Revolucio arrependimento e a confiança simples. Foi o que ele
nária da D outrina Cristã ensinou na parábola do fariseu e do publicano (Luc.
As duas primeiras parábolas de Jesus que foram 12:16).
registradas ensinam exatamente isso. Trata-se das 12. Parábolas sobre a Volta do R ei
parábolas dos panos e remendos novos e velhos e dos Nessas parábolas Jesus se referia à sua parousia ou
odres novos e velhos: Mar. 2:21,22; Mat. 9:16,17. aparecimento em glória, mostrando que devemos
3. Parábola que A taca o Preconceito e a Hipocrisia estar preparados para esse acontecimento. Cinco são
Religiosos as parábolas que nos ensinam a necessidade de
É o caso da parábola dos lavradores maus: Mar. preparação: Parábola do dono da casa (Mat. 42:42),
12:1; Mat. 21:33 e Luc. 20:29. parábola do mordomo sábio (Mat. 24:45), parábola
das dez virgens (Mat. 25:1), parábola dos talentos
4. Parábolas que E nsinam Vários Princípios Éticos (Mat. 25:14) e parábola das ovelhas e dos bodes (Mat.
Por meio de suas Parábolas, Jesus ensinou a 25:31).
necessidade de misericórdia: Parábola do servo Conforme mencionamos antes, em conexão com
incompassivo (Mat. 18:21). Também ensinou a essas parábolas, também foram ensinadas lições
necessidade de misericórdia e de sermos perdoadores, específicas a Israel, como nação, como também foram
porquanto o pecador pode ser restaurado: Parábola ilustrados certos elementos da doutrina do reino.
do filho pródigo (Luc. 15:11) e da moeda perdida
(Luc. 15:8). 13. Parábolas sobre a Sabedoria de Ouvir a Cristo
Jesus mostrou, numa parábola, quão grande
5. Parábolas que Ensinam o A m o r de D eus pelos sabedoria mostra aquele que lhe dá ouvidos e, em
H om ens contraste, quão louco é o que não lhe dá atenção. É o
Jesus ilustrou esse amor de Deus por toda caso da parábola dos dois fundamentos (Mat. 7:24 e
humanidade com o princípio que Deus não quer que Luc. 6:47).
ninguém pereça: Parábola da ovelha perdida (Mat.
18:11; Luc. 15:3). 14. Parábolas Contra os Preconceitos Religiosos e
Raciais: Luc. 10:33 ss.
6. Parábolas que Frisam a Graça
15. Parábolas sobre o A lto Custo do Discipulado
Jesus ensinou parábolas nesse sentido, como as da
ovelha perdida, do filho pródigo e do servo Querendo ilustrar quanto custa a verdadeira
incompassivo, nas quais ilustrou o princípio da graça, religião e o discipulado cristão autêntico, Jesus contou
que chega ao ponto de perdoar inúmeras vezes. a parábola da torre que não foi terminada (Luc.
14:28) e do rei que se preparava para a guerra (Luc.
7. Parábolas que Ilustram A spectos do Discipulado 14:31).
Cristão Vemos, pois, que as parábolas de Jesus incluem
Jesus também usou parábolas com esse propósito. muitas implicações éticas, doutrinárias e dispensacio-
As primeiras intenções não são suficientes, e é melhor nais que não estão incluídas nestes comentários. Um
obedecer finalmente, ainda que haja rebeldia a estudo minucioso acerca de cada parábola, com o
princípio, do que mostrar boa intenção no princípio auxilio deste artigo, poderá ilustrar esse fato,
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JE S U S
preenchendo os hiatos quanto aos pormenores que texto grego, dizem José. Nossa versão portuguesa diz
foram deixados em branco. «Josué», novamente de modo acertado.
IV . B IB L IO G R A F IA 3. Na Septuaginta, o nome ocorre naqueles livros
que são considerados apócrifos. O autor do livro de
Sobre a Identificação de Jesus Eclesiástico é chamado pelo nome de Jesus. De acordo
Anderson, H., Jesus and Christian Origins, 1964 com Josefo, grande historiador judeu da época
Borchert, O., The Original Jesus, 1964 apostólica, doze notáveis vultos judeus tiveram esse
Bowman, J.W., The Intention o f Jesus, 1943 nome, em vários períodos históricos. De fato, o nome
Case, S.J., Jesus, 1928 tornara-se comum entre os judeus do período
helenista.
Knox, John, The M an Christ Jesus, 1941
Mackinnon, James, The Historic Jesus, 1932 4. Um certo judeu cristão, chamado Justo (vide),
também se chamava «Jesus», conforme se vê em Col.
Zahmt, H. The Historical Jesus, 1963 4:11, onde ele aparece como um dos obreiros que
Sobre o M inistério de Jesus trabalhavam com Paulo. Ele viveu em cerca de 64
Daniel-Ropes, H., Jesus in his T im e, 1955 D.C.
Enslin, M.S., The Prophet fro m N azareth, 1961
Farrar, F.W., The Life o f Christ, 1874 JESUS (N A S TRADIÇÕES ISLÂM ICAS)
Goguel, Maurice, The Life o f Jesus, 1933 Nos escritos islâmicos, Jesus é chamado de ’lia ibn
Grant, F.C., The Gospel o f the K ingdom , 1940 M aryam (Jesus, filho de Maria), ao que, com
Goodspeed, E.J., The L ife o f Jesus, 1950 freqüência, eles adicionam A l M asih (o Cristo). Três
Johnson, S.E., Jesus in His Own T im e, 1959 questões são destacadas nesses escritos: o nascimento
Loos von der, H., The M iracles o f Jesus, 1965 e os poderes miraculosos de Jesus; a vida ascética
Ogg, G., Chronology o f the Public M inistry o f Jesus, exemplar de Jesus; seu papel escatológico no esquema
1940 religioso das coisas. Essas tradições islâmicas
Robinson, J.M., A New Q uest o f the Historical Jesus, pertencem, antes de tudo, à narrativa do Alcorão
1959 sobre Jesus. Ali, Jesus aparece somente como um ser
humano (chamar qualquer homem de Deus é a pior
Schweitzer, A., The Quest o f the Historical Jesus, heresia e blasfêmia possível no islamismo), embora ele
1950 apareça como homem sobre quem repousava grande
Taylor, V., The Life and M inistry o f Jesus, 1955 porção do Espírito de Deus. Jesus aparece como o
Warfield, B.B., The Person an d W ork o f Christ, 1950 porta-voz do/«///(evangelho). De acordo com isso,
Sobre os Ensinos de Jesus uma boa parcela do Novo Testamento foi incluída no
Dodd, C.H., The Parables o f the K in g d o m , 1936 Alcorão como material digno de fé e de ser posto em
Fuller, R.H., The Foundations o f N T Christology, prática. Jesus é considerado a maior figura, depois do
1965 último e maior de todos os profetas históricos, o
penúltimo de uma série de grandes reveladores. Jesus
Freedman, D.N. e Grant, R.M., the Secret Teachings é retratado como quem foi elevado aos céus, em um
o f Jesus, 1960 momento de crise, sem haver sofrido a crucificação.
Henry, C. (redat.), Jesus o f N azareth, Savior and Seu nascimento virginal e suas obras de compaixão
Lord, 1966 são elementos importantes na tradição islâmica.
Porter, F.C., The M in d o f Christ in Paul, 1930 Adornos, tomados por empréstimo de livros apócrifos
Stewart, J.S., The L ife and Teaching o f Jesus Christ, do Novo Testamento fazem parte dessa documenta
1958 ção. Supõe-se que os livros apócrifos do Novo
Testamento tiveram alguma circulação nas regiões
Obras de referenda e outras: AM B BART BARTS
que, posteriormente, tornaram-se territórios islâmi
BULT BULTX1960) C E EN EP KAH KR I IB ID cos, o que talvez explique a adição desse material ao
ND MOF NTI R ROBINS SCHW TIN UN W FH Z
Alcorão. Algumas das declarações do Alcorão são
reflexos de idéias do Novo Testamento. Por exemplo,
Jesus é visto a sair da casa de uma prostituta. Alguém
então lhe pergunta: «õ Espírito de Deus, que estás
JESUS (NÀO O CRISTO) fazendo com essa mulher?» E Jesus responde: «O
O N om e. Nas modernas línguas européias, como médico só visita aos enfermos». No Alcorão Jesus
em português, a palavra Jesus deriva-se da translite- também mostra ser contra a ostentação no jejum.
ração desse nome de origem hebraica para o grego, Essa idéia faz parte dos escritos islâmicos. A
Iesous. O nome hebraico é Jehoshua, cuja forma declaração de Jesus sobre o belo templo de Jerusalém,
contraída é Josué ou Jesua (vide). Esse nome significa que seria destruído, sem que ficasse pedra sobre
«ajuda de Yahweh», ou «Salvador» (Núm. 13:17; Mat. pedra (ver Mat. 24), é adaptada de modo a aplicar-se
1:21). A sua transliteração para o grego reflète a a uma mesquita islâmica. Mas também há alguns
contração do nome, no aramaico, Yesu. Ver Nee. elementos diferentes. Ocorrem milagres mágicos de
3:19. Jesus. Um desses relatos conta como Jesus foi capaz
Há quatro personagens na Biblia que são chamadas de tingir vestes com dez cores diferentes, mergulhadas
por esse nome, além do próprio Senhor Jesus, que, em um único tanque. As tradições islâmicas dizem
naturalmente, o imortalizou. como Jesus foi treinado como tintureiro. Em um outro
1. Josué (vide), filho de Num, o líder militar do relato, Jesus é apresentado a transformar um grupo
povo de Israel durante a conquista da terra de Canaã. de crianças inconvenientes em suínos, para então
Em Atos 7:45 e Heb. 4:8, de acordo com algumas ordenar que os porcos se fossem de sua presença!
versões, seguindo a versão grega do nome, encontra A scetism o. Segundo o islamismo, Jesus referiu-se à
mos o nome Jesus; mas nossa versão portuguesa, em pobreza e à aflição como dois am igos, aos quais
ambos os casos, diz «Josué», acertadamente. deveríamos amar; pois, amar a essas coisas é idêntico
2. Um ancestral de Jesus Cristo, que viveu em cerca a amá-Lo. Uma tradição islâmica faz de Jesus o Im am
de 500 A.C., conforme se vê em Luc. 3:29. Algumas a l-S a ’ihin, «o Príncipe dos Vagabundos», o que,
traduções, seguindo certa variante, que aparece no evidentemente, reflete a declaração dos evangelhos de
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JE S U S - JE S U S E A L E I
que ele não tinha onde reclinar a cabeça. As tradições outros manuscritos), encontramos a seguinte adição,
islâmicas expõem a seguinte descrição sobre a que representa uma declaração extracanônica de
aparência de Jesus: «Ele era ruivo, de tez bem clara; Jesus: «No mesmo dia, vendo um homem trabalhar no
tinha os cabelos aparados e nunca ungia a cabeça. sábado, ele (Jesus) lhe disse: Homem, se sabes o que
Costumava andar descalço e não tinha residência, estás fazendo, és bem-aventurado; mas, se não o
nem enfeites, nem bens materiais, nem trocas de sabes, então és maldito e transgressor da lei». Se isso.
roupa, mas tão somente seu alimento diário». reflete uma declaração genuína, que não foi
Al-Ghazali disse que Jesus declarou, de certa feita: registrada, então poderiamos dizer que o ponto de
«Tenho-me desgastado com meus labores, e não há vista de Jesus sobre a lei era muito mais próximo do
pessoa tão pobre quanto eu». ponto de vista paulino do que poderíamos suspeitar.
Parte dessa descrição, aparentemente, visava a Por outra parte, esse versículo pode ser uma glosa,
frisar a verdadeira humanidade de Jesus, procurando adicionada por algum escriba, com base nos
desviar a idéia para longe de um Deus humano, sentimentos expressos por Paulo. Não há como testar
conforme é a concepção biblica e cristã de Jesus a sua autenticidade, pelo que não podemos apelar
Cristo. Naturalmente, Jesus também é apresentado, para essa passagem, em qualquer discussão sobre
dentro do islamismo como uma poderosa figura como Jesus se relaciona à lei. Por outro lado,
escatológica que haverá de vindicar a fé dos encontramos considerável material, nos evangelhos,
muçulmanos, tornando-a a fé suprema entre todas as referente a esse assunto. Damos abaixo um sumário.
religiões do mundo. Ê de presumir-se que ele haverá 2. Trecho* Bíblico* Problem ático*
de quebrar todas as cruzes (símbolos da idolatria) e de a. Este trecho bíblico nos dá razão para pensar:
matar ao anticristo, que os islâmicos dão o nome de «...Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Então
Al-Dajjal. Entretanto, os movimentos A hm adiyyah, Jesus lhe perguntou: Que está escrito na lei! Como
no século XX, têm eliminado todo o vestígio de um interpretas? A isto ele respondeu: Amarás o Senhor
Jesus escatológico, afirmando que Jesus foi sepultado teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de
em Casemira como homem de avançada idade. Ver os todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e
artigos separados sobre o Alcorão; M aom é; M aom e- amarás o teu próximo como a ti mesmo. Então Jesus
tanismo; Ética Islâmica; Filosofia Islâm ica. (JR MAR lhe disse: Respondeste corretamente; faze isto, e
ND). viverás» (Luc. 10:25-28).
V iver, realm ente, a lei do am or, que é inspirado
JESUS COMO A VIDA pelo amor que a pessoa tem a Deus, leva-a a ter a vida
Ver V ida, Jesus com o e V ida, Cristo com o N ossa. eterna. O caso do bom samaritano, pois, ilustra quem
é o nosso «próximo». Vemos ali a prestação de serviço
humanitário. Ora, essa foi uma resposta tipicamente
JESUS COMO O PÃO DA VIDA dentro do contexto do judaísmo, conforme entendido
Ver Pão da V ida, Jesus com o. por seus mestres mais espirituais. A resposta dada por
Jesus leva-nos a entender que a observância da lei,
desse modo, resultaria na vida eterna. Por outra
JESUS E A LEI parte, Paulo negou que a lei seja qualquer outra coisa
Ver Lei no Novo T estam ento, seção O . além de instrumento da morte espiritual. E isso
porque ninguém é capaz de guardar a lei em sua
No artigo geral sobre Jesus , abordamos os inteireza. E, ainda que alguém conseguisse fazê-lo, a
problemas principais que circundam a vida e os lei não poderia transmitir vida eterna. Não há que
ensinamentos de Jesus Cristo. Ver III. Ensinos, g. duvidar que podemos depreender isso de trechos
Relações Com o Judaísm o, que versa sobre a questão paulinos como Rom. 4:1-6 e Gál. 3:21. Se existisse
de Jesus e a lei mosaica. E certo que Jesus e seus uma lei que pudesse transmitir vida, então a vida seria
primeiros discípulos encabeçaram um movimento transmitida desse modo. Para Paulo, porém, não
religioso que não foi mero movimento reformista existia tal lei; nem mesmo a lei de Deus poderia fazer
dentro do judaísmo. As novas idéias e circunstâncias tal coisa. A lei foi dada, segundo Paulo, para
que afloravam no cristianismo primitivo não podiam confirmar a nossa necessidade. A fé e a graça vieram
mesmo ser contidas pelo antigo judaísmo tradiciona para erguer essa carga e conceder vida. Poderiamos
lista. Isso não significa, porém, que Jesus tenha argumentar que Jesus esperava que entendêssemos os
ensinado sobre a lei segundo os termos paulinos. No argumentos paulinos entre as linhas do que ele dizia,
período apostólico, o Espírito de Cristo continuou ou seja, que qualquer verdadeira observância da lei
instruindo e orientando a teologia; mas as idéias precisa estar alicerçada sobre a verdadeira fé e a
paulinas só apareceram quando Paulo surgiu em regeneração, pois, de outro modo, a guarda da lei é
cena. Mesmo assim, sua teologia estava apoiada sobre algo impossível. Todavia, Jesus não falou como se a
o caráter ímpar de Cristo, declarado Filho de Deus, vida eterna não possa proceder da observância da lei,
mediante a virtude da ressurreição. Foi dado a Paulo, apesar de ser óbvio que ele requeria arrependimento,
pois, revelar novos aspectos da fé e da graça de Deus. fé e regeneração genuínos, não menos enfaticamente
Em vista disso, a relação exata entre Jesus e a.lei do que Paulo. Além disso, Tiago fornece-nos a
mosaica é um dos mais espinhosos problemas que resposta judaica a esse problema, e não a resposta
dizem respeito ao cristianismo primitivo. Pois, paulina, a menos que distorçamos o que Tiago
durante a vida terrena do Senhor Jesus, a doutrina afirmou, a fim de harmonizar suas palavras com
cristã apenas havia lançado as suas raízes, «...o aquilo que Paulo escreveu. A resposta dada por Jesus,
Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará à pergunta daquele homem também foi uma resposta
em meu nome, esse vos ensinará todas as cousas e vos tipicamente judaica. Naturalmente, compreendemos
fará lembrar de tudo o que vos tenho dito» (João que, em última análise, não há verdadeira contradi
14:26). ção entre Jesus e Tiago, por uma parte, e Paulo, por
1. Uma Significativa D eclaração Não-C anônica outra parte, visto que a graça divina e as obras (vistas
No codex D (Cantabrigiensis), no sexto capítulo do como partes integrantes da graça divina) são coisas
evangelho de Lucas, entre os versículos quarto e sexto sinônimas, quando corretamente definidas. A verda
(o quinto versículo vem após o versículo décimo, de deira atuação espiritual procede do Espírito, mas
497
JE S U S H ISTÓRICO
manifesta-se na conduta humana. Não se trata de um b. A lei jamais passará (vs. 18).
meio de obter mérito através das realizações c. O cumprimento do menor dos mandamentos da
humanas. Não obstante, deve haver tal realidade na lei importa em uma recompensa (vs. 19).
vida de todo convertido, que transforme genuinamen d. Jesus radicalizou a lei, longe de anulá-la. Ele fez
te o seu ser, e não sendo apenas alguma coisa que ele com que os preceitos da lei se aplicassem a nossos
espere chegar a ter, a fim de obter uma grande bênção motivos e pensamentos, e não apenas aos nossos atos.
espiritual. Moisés falou, mas o que Jesus disse é a fórmula
b. Consideremos este outro trecho bíblico. «E eis mediante a qual a lei também envolve os nossos
que alguém, aproximando-se, lhe perguntou: «Mes motivos, e não somente os nossos atos externos. Ver
tre, que farei eu de bom, para alcançar a vida eterna? Mat. 5:38 ss.
Respondeu-lhe Jesus:... Se queres... entrar na vida, e. A declaração final da radicalização da lei, por
guarda os mandamentos» (Mat. 19:16,17). parte de Jesus, é a chamada para compartilharmos
Seria ridículo paulinizarmos essa resposta, afirman da perfeição de Deus Pai. Se guardarmos a lei, da
do que Jesus estava postulando apenas um dilema maneira como Jesus (e não Moisés) ordenou, então
filosófico, visto que, tendo ele dito isso, em seguida teremos um meio de atingir a perfeição do Pai. Como
teria de dizer que, por esse método, ninguém pode é óbvio, Jesus esperava que os seus ouvintes
adquirir a vida eterna, e que, logicamente, teria de entendessem que somente os homens regenerados,
voltar-se para a graça divina e para o gratuito dom de dirigidos pelo Espírito, são capazes de guardar a lei
Deus (conforme Paulo, sem dúvida, teria respondido dessa forma. Não obstante, seu ensino, nesse ponto,
àquela pergunta). Antes, o Senhor Jesus enumerou os não soa muito como o ensino de Paulo. A lei de Deus
mandamentos, e o homem disse que os estava precisa ser inscrita nas tábuas do coração, conforme
guardando. Então, Jesus disse-lhe para vender tudo Jeremias afirmou (Jer. 31:33).
quanto tinha, e dar o dinheiro aos pobres. Isso 5 . Ênfase Sobre a Lei do Amor
haveria de mostrar o quanto o jovem vinha Jesus fazia a validade da guarda da lei girar em
observando a lei do amor, a essência real da lei torno da observância da lei do am or (Mat. 22:40).
mosaica inteira. Mas o homem foi-se embora, triste, Paulo também fazia a lei do am or ser, a própria
porquanto não se sentia capaz de separar-se de seu essência do espírito da íei (Rom. 13:10). Todas as fés
rico dinheirinho, porquanto era no dinheiro que o seu religiosas concordam com esse princípio, como
coração, na verdade, estava preso. É fácil imaginar também praticamente todas as filosofias. A lei do
mos uma passagem como essa, nos escritos de Paulo, amor é a lei suprema, e coisa alguma que possamos
ser seriamente modificada. Novamente, vemos que aprender de fato é capaz de contradizer isso. De fato,
Jesus deu uma resposta tipicamente judaica, dando a quanto maior for a nossa experiência espiritual, tanto
entender vigorosamente, que a vida eterna só pode vir mais teremos de concordar com esse ensinamento
através da apropriada observância da lei, o que está bíblico.
dentro das possibilidades humanas, cujos princípios
eram negados por Paulo.
Nossa teologia gosta de harm onizar tudo, e sente IESU S E PECADO
intolerável que Paulo não concorde em tudo com Ver o artigo sobre a Im pecabilidade de Jesus.
Jesus, em todos os pontos, de acordo com a maioria
dos sistemas teológicos cristãos. Porém, o livro de
Tiago lembra-nos de que é inútil a tentativa de JESU S, ENSINOS DE
reconciliar tudo, dentro do Novo Testamento. Há Ver o artigo sobre Jesus, seção III.
porções que olham a verdade de um ângulo, e outras
porções que olham essa mesma verdade de outro
ângulo. O Novo Testamento não é uma obra tão JESU S, ÉTICA DE
homogênea como os nossos teólogos sistemáticos Ver sobre Jesus, seção III. d. Ver também o artigo
gostariam que acreditássemos. Em nossos esforços de geral sobre a Ética, seção IX. Etica Teísta, que inclui
harmonização, conseguimos sistemas mais coerentes as idéias principais sobre a ética do Novo Testam ento.
internamente; mas, na realidade o que fazemos é
cortar o nó górdio, em vez de desatá-lo. Ver o artigo
sobre Nó, segundo parágrafo. É evidente que, por JESUS HISTÓRICO
muitas vezes, a teologia nada é senão um trabalho de
cortar nós, em vez de resolver problemas de modo Esboço:
genuíno. Alguns problemas simplesmente não têm 1. A Criação de Problemas
solução adequada; e um desses problemas parece ser 2. Obras Clássicas
as diferentes atitudes que Jesus e o apóstolo Paulo 3. Obras dos Racionalistas
tinham no tocante à lei mosaica. 4. O Cristo Histórico e o Jesus Histórico
3. Um C om portam ento Ilegítim o 5. Crítica da Forma
Tanto Jesus quanto os seus mais chegados 6. A Autenticidade dos Relatos Sobre Milagres
discípulos foram acusados de uma conduta ilegal (ver 7. Karl Barth: Teologia Dialética
Mar. 3:16; 2:23-28). Entretanto, não deveríamos 8. Rudolf Bultmann: A Demitização
interpetar isso como uma tentativa de ab-rogar a lei.
Sabemos que os galileus não eram tão estritos, quanto 9. A Nova Inquirição pelo Jesus Histórico
a essa questão, quanto as autoridades ierosalomita- 10. Contradição Inglesa ao Ceticismo Alemão
nas. Jesus não contradisse a essência ou verdadeiro 11. A Importância do Relato dos Evangelhos
espírito da lei. Ele tão somente objetava aos exageros 12. A Realidade do Elemento Miraculoso
dos escribas e dos fariseus. Ver Mar. 7:8 ss. Ver, Bibliografia
especialmente, os vs. 14 em diante. 1. A Criação de Problem as
4. A D eclaração C lássica de leso s A critica moderna tem criado o problema do Jesus
A passagem de Mat. 5:17-20 é o trecho-chave das histórico, em contraste com o Jesus teológico (celestial
atitudes de Jesus Cristo a respeito da lei: ou metafísico). Essa atividade, quando atinge
a. Ele veio cumprir a lei, e não anulá-la (vs. 17) proporções radicais, faz o Jesus teológico reduzir-se a
498
JE S U S H ISTÓ R IC O
uma invenção do cristianismo, além de assegurar-nos Wilhelm Herrman, e o historiador liberal, Adolf von
que essa atividade foi tão radical que nos é Harnack, lançaram-se à tarefa de demonstrar a
praticamente impossível descobrir como Jesus era, existência de certa distinção entre a história e a fé.
realmente, com base nos documentos bíblicos que Essa é uma tarefa dificílima, porque requer,
atualmente possuímos. Em nosso artigo sobre Jesus, basicamente, que o Jesus dos evangelhos seja
seção I, Identificação, damos os principais pontos de substituído por uma figura humana na qual ainda
vista históricos, considerando o que deveriamos podemos exercer fé, e cujo exemplo podemos seguir,
pensar sobre Jesus. O ponto f., Liberal, fornece-nos mas que pouco ou nada tem a ver com a visão que os
algumas coisas que se relacionam ao presente artigo, apóstolos tinham de Cristo. Todavia, indagamos por
visto que os chamados eruditos liberais é que tem que motivo os apóstolos ter-se-iam dado ao trabalho
levantado e discutido a questão do Jesus histórico, em de inventar e propagar uma figura que eles sabiam
contraste com o Jesus teológico. não corresponder à personagem de Jesus de Nazaré. A
2. Obras C lássicas obra de Renan, Vida de Jesus, foi escrita praticamen
O problema do «Jesus histórico» foi levantado, de te com essa mesma atitude, como também o livro de
forma gráfica, por Albert Schweitzer, em sua obra J.R. Seeley, Ecce H om o, «Eis o Homem». Schweitzer,
clássica, The Q uest o f the Historical Jesus, «A entretanto, foi sábio o bastante para perceber que o
inquirição pelo Jesus Histórico». Parte dessa obra Jesus inventado por aqueles homens era apenas uma
alicerçou-se sobre o trabalho de Herman Samuel visão idealista do que eles pensavam que o homem
Reimarus (1694—1768), mestre de idiomas orientais natural é capaz de realizar, e não um registro
em Hamburgo, na Alemanha. Esse estudioso histórico válido do que Jesus, realmente, foi. Em
procurou distinguir o que Jesus realmente teria dito, outras palavras, aqueles homens fizeram exatamente
daquilo que os apóstolos escreveram subseqüente- aquilo que tinham acusado os apóstolos de terem
mente. De acordo com essa obra, Jesus julgava ser o feito: eles inventaram vários Jesus, de acordo com
Messias dos judeus; mas, após a sua morte, seus suas próprias imaginações. Tanto Schweitzer quanto
apóstolos transformaram-no em uma figura celestial, outros críticos chegaram a crer que o Jesus ideaJizado
e o seu tencionado reino terreno foi por eles guindado no século XIX era um modelo religioso mais aceitável
à posição do reino celeste de Deus. Reimarus, do que a figura do Jesus verdadeiro, ao qual não
segundo sabemos, era influenciado pelo deísm o inglês podiam aceitar porque, segundo eles, era por demais
(vide), e sob hipótese alguma não era um intérprete estranho a este mundo. Schweitzer enfatizava os
preconcebido. O deísmo supõe que as leis naturais elementos escatológicos da mensagem de Jesus, com
cuidam das coisas, e que Deus é por demais prejuízo e obscurecimento de todos os demais
transcendental para imiscuir-se na história humana elementos de seu ensino.
em qualquer sentido direto. Por conseguinte, o 4 . O Cristo H istórico e o Jesus H istórico
elemento miraculoso, por exemplo, não é interpretado Martin Kahler criticou violentamente o pressuposto
pelo deísmo como dotado de bases históricas. fundamental de alguns eruditos, de que o Jesus
3. Obra« do« R adonalistas histórico foi o Jesus real. Seu livro, publicado em
As obras desses homens foram seguidas por vários 1892, intitulado,'T h e So-Called Historical Jesus and
livros acerca da vida de Jesus, e cujo intuito era the Historical Biblical C hrist, «O Chamado Jesus
eliminar o elemento miraculoso, atribuindo qualquer Histórico e o Cristo Bíblico Histónco», contém o seu
declaração mais admirável sobre Jesus aos seus argumento essencial. Para ele, o que é histórico
apóstolos, como criações deles. Ó racionalismo, pois, refere-se àquilo que podemos aprender através dos
estava trabalhando a pleno vapor, e os homens métodos seguidos pelos historiadores, os quais sempre
expressavam ali uma fé meramente racional. Eles podem ser defeituosos, ou, pelo menos, parcialmente
perderam o contato com a experiência humana errôneos. Por outro lado, uma pessoa ou aconteci
mística, de acordo com a qual ocorrem coisas mento seria histórico por causa do poder e dos efeitos
realmente admiráveis, supondo que somente porque produzidos sobre os homens e sobre o futuro deles.
não tinham qualquer experiência incomum, essas Dadas as alternativas entre o chamado Jesus histórico,
experiências, na verdade, não existiam. Essa atitude e o Cristo histórico, Kahler preferia este último. O
nem é histórica e nem é científica. Cristo histórico, segundo ele proclamava, é o Cristo
real. Para ele, a busca pelo Jesus histórico não
David Friedrich Strauss (1808—1874) muito falava passaria de uma ruela sem saída, como tantas outras
sobre os m itos existentes nos evangelhos, em seu livro questões históricas. Ele chegava ao extremo de
Vida de Jesus, e isso se tornou uma posição popular, declarar que essa inquirição pode até mesmo
em alguns círculos liberais. Deveríamos reconhecer as obscurecer a nossa compreensão sóbre o Cristo vivo.
contribuições de tais homens, porquanto foram eles Ele cria que Jesus era diferente de nós quanto à
que elaboraram estudos no campo da historicidade, espécie, e que todos os métodos que podem ser usados
não se ocupando com a mera teologia dogmática. Eles para revelá-lo têm sido e continuarão sendo fracos.
deixaram sua contribuição, apesar de suas respostas Ademais, ele acreditava que numerosos erros
negativas, que dificilmente reconhecem Jesus como a penetraram nos relatos dos evangelhos, subservientes
grande figura que ele, indubitavelmente, foi. Nosso aos propósitos dos escritores sagrados. Em outras
padrão nunca deveria ser «aquilo que esperamos» que palavras, Kahler não respeitava esses autores como
possa acontecer. A vida de Jesus demonstrou que, historiadores; e nem se sentia satisfeito diante daquilo
constantemente, ele fazia o que os homens não que eles escreveram. Ele se preocupava muito mais
esperavam que ele fosse capaz de fazer. Foi com o evento e com a pessoa históricos, que
precisamente por esse motivo que ele deixou marcas estabelecem reais diferenças nas vidas dos homens. O
imortais sobre a existência humana. Dificilmente Cristo histórico transpareceria muito bem no N.T.
poderiamos atribuir esse fato somente aos ensinamen sem precisar das armadilhas da historicidade.
tos de Jesus. Antes, ele foi uma poderosa figura, que
realmente realizou aquilo que os escritores dos 5 . C ritica da Forma
evangelhos disseram que ele fez. Por que motivo De acordo.com essa teoria, os evangelhos oferecem
duvidaríamos disso? Os homens, em nossos próprios esboços de vários tipos, acerca de como Jesus falava e
dias, estão repetindo os milagres de Jesusl agia. Foi feita a tentativa para retraçar os tipos de
Os teólogos sistemáticos liberais, Albrecht Ritschl e atitudes mentais ou tipos de relatos que teriam
499
JE S U S H ISTÓ R IC O
explicado o registro dos evangelhos em forma escrita. racionalizações. Ele ensinava que a fé religiosa
Ver o artigo Crítica da Bíblia, quarto ponto, quanto a necessariamente envolve paradoxos (vide), visto que
um estudo completo sobre essa questão. A nossa todos os meios de tentar revelar o Totalmente Outro
principal crítica a essa posição é que essa maneira de fracassam, até certo ponto. Para ele, a polaridade é
interpretar a vida de Jesus, apesar de algum valor um princípio muito importante. Ver o artigo
óbvio, é que, de acordo com ela, o intérprete se vê por intitulado Polaridade. As teologias sistemáticas
demais envolvido em seu próprio subjetivismo, ao geralmente negligenciam um pólo e enfatizam somente
passo que os escritores dos evangelhos aparecem como o outro pólo. Isso pode ser visto no fato de que o
exageradamente envolvidos na mecânica da transmis calvinismo esquece-se ou distorce os versículos que
são, e não no relato daquilo que, para eles era uma aludem ao livre-arbítrio humano, ao passo que o
narrativa vívida e admirável. Além disso, essa posição arminianismo negligencia ou distorce os versículos
também exagera as possibilidades de mitos, memórias que aludem à soberania de Deus. Outrossim, há a
imperfeitas e seleções preconcebidas de material, com Infinita Palavra de Deus, a verdadeira Palavra de
vistas à promoção a interesses pessoais e da Igreja em Deus, acerca da qual qualquer documento sagrado
geral, como se os escritores sagrados não tivessem escrito é um mero reflexo. Ver os artigos separados
nenhuma vontade de anunciar, admirados, aquilo sobre Barth, Karl; Dialética, Teologia da; Polarida
que Jesus realmente disse e fez. Essa posição também de; Paradoxo; N eo-ortodoxia. Karl Barth enfatizava a
negligencia a essência dos registros de testemunhas Palavra que nos chega por meio da Bíblia, e
oculares de admiráveis ocorrências, que assinalam, de acreditava que ela requer uma fé inquestionável de
maneira forte e gráfica, a memória daqueles que nossa parte, bem como perfeita obediência, sem as
falaram a esse respeito. Todos nós temos passado por contradições das atividades racionalistas dos homens.
experiências que «parecem que aconteceram ontem»,
visto que os eventos importantes e dramáticos 8. R udolf Bultm ann: • D em itízação
conferem-nos uma memória vívida deles, para A sua publicação, intitulada O Novo T estam ento e
sempre. É a vida rotineira, de todos os dias, que se a M itologia (1941) provocou grande agitação no
perde nos arquivos das memórias meramente triviais. mundo bíblico e teológico. De acordo com ele, os
6 . A A utenticidade dos R elatos Sobre M ilagres escritores do Novo Testamento tentaram retratar
Esses milagres são bem modernos, e não antigos. como eles entendiam as suas próprias existências, em
Fazem parte da experiência humana, embora não vez de retratarem objetivamente a realidade. Isso
ocorram a todos os instantes. Alguns eruditos têm posto, no Novo Testamento, temos um grande âmago
intelectualizado e provincializado a fé cristã. O que de mitos que fala sobre realidades religiosas, mas que,
não se ajusta ao racionalismo deles é automaticamen com freqüência, é não-histórico ou mesmo contra-his
te rejeitado. E as racionalizações deles alicerçam-se tórico. A história ficaria em segundo plano, -e os
sobre as suas experiências religiosas limitadas e ensinamentos religiosos seriam apresentados por
provinciais. Muitos homens têm experimentado o que meios simbólicos. As tentativas humanas de falar
é incomum e miraculoso. Isso faz parte das acerca de Deus seriam expressas por meio de mitos e
experiências humanas místicas, tanto quanto as representações. Esses mitos tratariam da relevância
questões intelectuais e a manipulação das mesmas. A do evangelho, mas de uma maneira tal que fica
vida humana não é apenas intelecto e racionalidade; sacrificada a sua historicidade essencial. Assim
envolve, igualmente, o que é místico. A experiência sendo, precisamos examinar os mitos, reconhecê-los
humana é muito variegada e admirável. Não é naquilo que eles são e, desse modo, obter algum
histórico negar o elemento miraculoso na vida discernimento quanto à historicidade, embora os
humana, negá-lo é anti-histórico e anticientífico. resultados, ainda assim, sejam pobres. Quanto a
detalhes sobre essas questões, ver os artigos separados
«É impossível eliminar a maioria dos relatos de sobre B ultm ann, R u d o lf e D em itízação. Bultmann
milagres, nos evangelhos, como se fossem meros descobriu que qualquer inquirição verdadeira para
acréscimos posteriores às narrativas. É verdade que descrever o Jesus histórico é impossível, e até mesmo
alguns desses relatos exibem um estágio de desenvol ilegítima. Contudo, ele acreditava que importantes
vimento avançado, nas tradições, mais do que outros coisas acerca da obra e da pessoa de Jesus podem ser
relatos—alguns deles são muito mais circunstanciais e conhecidas por nós. Isso viria através da kerygm a,
pormenorizados, e contêm referências laterais a «pregação» ou «mensagem», similar a Palavra de
questões posteriores. Entretanto, refletem um mesmo Barth, mas nunca através da pesquisa histórica. Ele
e único caráter, por parte Daquele que os realizou, e renunciou à pesquisa do século XIX, que procurava
isso serve de principal sinal de autoridade e poder definir a personalidade de Jesus, conferindo-lhe
desses relatos» (AM). Ver o artigo separado intitulado descrições psicológicas. Pois, apesar de podermos
M ilagres. determinar certos fatos básicos sobre a sua história
7. Karl Barth: T eologia D ialética (sem entrarmos em detalhes, o que só nos envolveria
Karl Barth salientava ainda mais que Kahler, a no erro), essa atividade não é muito importante. O
idéia do Cristo da f é (o Cristo histórico). O seu que realmente importa é a sua kerygm a, a mensagem,
comentário sobre a epístola aos Romanos, em certo a Palavra de Cristo.
sentido, foi uma revolta contra o liberalismo 9 . A Nova Inquirição pelo Jesus H istórico
teológico. Ele ensinou uma teologia de crise ou Os eruditos do séuclo XX têm frisado a continuida
teologia dialética, que exalta a Palavra de Deus como de entre o Jesus da história e o Cristo da tradição. O
uma manifestação daquilo que é radicalmente que havia em Jesus que levou a Igreja cristã a
diferente do homem, que se tornou humanamente considerá-lo o Cristo? Ernst Kasemann, em sua
conhecido na pessoa de Jesus Cristo. Ele ensinava que preleção intitulada O Problem a do Jesus Histórico
os evangelhos são meras tentativas hesitantes de (1953), e Gunther Bornkamm, em seu livro, Jesus de
revelar o que é o Totalmente Outro. Barth acreditava Nazaré, embora apresentando estudos tão diferentes
que os estudiosos liberais têm ido longe demais em entre si, concordaram pelo menos quanto a dois
sua humanização da fé cristã e do Cristo anunciado pontos: a. É quase impossível escrever uma verdadei
pela fé cristã e, assim sendo, passou a convocar os ra vida histórica de Jesus. b. Por outro lado, é fatal à
homens de volta à autoridade da revelação bíblica fé religiosa permitir que o ceticismo nos leve a
como base da fé que aceita a verdade sem desencorajar-nos totalmente do interesse pelo Jesus
JE S U S H ISTÓ R IC O - JE S U S , V ID A S D E
terreno, uma posição da qual Bultmann chegou bem têm sido empregados para explicar o que Jesus era e
perto. Deveríamos continuar interessados no Jesus fez. Porém, o problema real não consiste em saber se
que viveu na terra, investigando os aspectos históricos ele fez o que fez e era o que disse que era. O evangelho
dt»s evangelhos e a base da íé cristã. As duas obras informa-nos fidedignamente sobre essas coisas. O
mencionadas não expõem novas idéias, sobre o que problema real consiste em explicar o com o. Isso nos
mais sabemos sobre o Jesus histórico, mas tão envolve em uma pesada teologia, e a cristologia (vide)
somente tentam manter abertas as portas para o é o resultado dessa atividade.
interesse e a pesquisa, o que é um novo ponto de vista, 12. A R ealidade do Elem ento M iraculoso
em comparação com o que pensava Bultmann. Parte Em primeiro lugar, deveríamos entender que o
dessa nova inquirição consiste na ênfase posta não verdadeiro milagre é a própria pessoa de Jesus, e não
sobre nomes, lugares, harmonia de eventos particula tanto o que ele fazia. Pois o que ele fazia resultava
res, etc., e, sim, sobre o significado das ocorrências, daquilo que ele era. Assim, nossa primeira investiga
ainda que talvez tenham sido apresentadas por escrito ção deveria girar em torno da pessoa de Cristo, e não
de modo incorreto. A atenção é enfocada sobre a em torno de suas realizações. Em segundo lugar,
tarefa a que Jesus se entregou, a sua personalidade, e importa reconhecermos a realidade de suas admirá
o que essas coisas deveriam significar para nós. Essa veis obras. Pessoas bem informadas sabem que, em
nova inquirição, na verdade, é uma espécie de retorno algum lugar, agora mesmo, muitas coisas miraculosas
à inquirição original, que trocou o Jesus idealista dos estão acontecendo. Os céticos, porém, nunca acredi
liberais (inventado por eruditos do século XIX) pelo tam, sem importar o que suceda. Para eles, nenhuma
Jesus existencial, inventado por Bultmann, e que os evidência é suficiente. Existe o que se poderia chamar
seus estudantes e discípulos continuaram tentando de mente fechada, que não crê sob hipótese alguma.
descrever. Agostinho salientou que o ceticismo leva os homens às
10. Contradição Inglesa ao C eticism o Alem ão reais trevas espirituais, impossibilitando assim a fé.
Quase tudo quanto ocorreu antes, nesse campo, Os eruditos, envolvidos em seu intelectualismo, têm
reflete aspectos do ceticismo alemão, que se feito muitas contribuições que nos beneficiam em
manifesta de diferentes modos. Todos estão prontos a nosso conhecimento e em nossa maneira de viver.
admitir a erudição detalhada e notável dos eruditos Porém, as pesquisas eruditas podem ser efetuadas em
alemães. Porém, eles são caracterizados por um uma atmosfera distante da vida religiosa de todos os
pronunciado ceticismo. Os eruditos ingleses, como dias. Há muita coisa, na tradição mística, que fala em
um todo, embora não totalmente divorciados dessa favor da verdadeira espiritualidade, e que se
atitude, não aceitaram em grande extensão, várias manifesta naquilo que é miraculoso. Ver sobre
formas da abordagem germânica, como, por exem M isticism o. Milagres estão ocorrendo a cada dia.
plo, a crítica de fo rm a . Além disso, os ingleses têm-se Nesta enciclopédia há um artigo sobre Satya Sai
mostrado mais otimistas acerca da possibilidade de se Baba, um homem que está duplicando milagres feitos
obter (ou de já se ter obtido) um conhecimento por Cristo. Disse Satya Sai Baba: «Não há como a
genuíno a respeito do Jesus histórico. Por certo, isso ciência poder investigar-me». Julgo que há nisso uma
nos faz pensar em uma disposição racial, o que se verdade que se aplica, supremamente, a Jesus Cristo.
reflete nas igrejas evangélicas estabelecidas na Os homens caem no ceticismo quando se defrontam
Alemanha e na Inglaterra. A Igreja Anglicana nunca com mistérios para os quais não há lugar em seus
acompanhou até muito longe o liberalismo alemão sistemas mentais. Todavia, deveríamos lembrar que o
(com algumas notáveis exceções), e nem jamais elemento miraculoso não serve de prova da veracidade
favoreceu o fundamentalismo radical. Ela prefere de posições teológicas, pois esse elemento aparece nos
seguir um curso intermediário entre esses extremos, mais variegados círculos, religiões e lugares. Todavia,
tendo demonstrado uma notável tolerância para com o elemento miraculoso demonstra que precisamos de
outros grupos cristãos e seus pontos de vista, sem maiores definições sobre a vida do que aquelas que
sentir a responsabilidade de concordar com este ou nos são oferecidas pelos céticos e incrédulos.
aquele grupo. Bibliografia. AM B BART BARTS BULT
BUTLU960) KAH ROBINS SCHW.
11. A Im portânica do R elato dos Evangelhos
Embora aquilo que os harmonistas têm feito
algumas vezes tenha chegado às raias do ridículo, é JESU S, IDENTIFICAÇÃO
inútil tentar divorciar o Cristo histórico do Jesus Ver sobre Jesus, seção I.
histórico, como alguns têm feito. Isso alicerça-se
sobre a ausência de fé, supondo que simplesmente
porque alguém não experimentou pessoalm ente o que JESUS JUSTO
é miraculoso, então é que o miraculoso não existe. A Ver sobre Justo.
história da religião, antiga e moderna, bem como a
experiência humana no campo do misticismo*
demonstram que o miraculoso é uma realidade, a JESUS, M INISTÉRIO DE
despeito das distorções, fraudes e errôneas interpreta Ver Jesus, seção II.
ções a que os homens o têm sujeitado. Também não
deveríamos permitir que a falta de entendimento dos
homens, sobre a natureza de Cristo, obscureça o fato JESUS, TRADIÇÕES M UÇULM ANAS
de que o Logos estava em Jesus, e saiu a realizar Ver Jesus (nas T radições Islâm icas).
maravilhas extraordinárias. Isso transparece com
clareza nos registros dos evangelhos, e foi confirmado
por inúmeras testemunhas. Eis a razão pela qual os JESU S, V IDAS DE
antigos (e também os modernos) encontram tanta Ver os artigos separados sobre Jesus (artigo geral);
dificuldade para explicar a pessoa de Jesus Cristo. Ele Jesus e a Lei; Jesus H istórico. A vida de Jesus e a
era, realmente, diferente de nós, pois, do contrário, busca pela compreensão ao Jesus histórico e ao Cristo
não haveria qualquer dificuldade na tentativa de apresentado nas páginas da Bíblia têm produzido
explicá-lo. Ver o artigo sobre Jesus, seção I, uma prodigiosa literatura em termos de volume. O
Identificação, que mostra os variegados meios que propósito deste artigo é o de apresentar um breve
501
JE S U S , V ID A S D E - JE T E R
esboço da literatura envolvida. Alguns poucos livros relato sobre Jesus do ponto de vista mitológico (1835).
representantes são alistados: Ele pensava que o conceito de mito provia uma síntese
1. Os Evangelhos. Estão em foco os três evangelhos entre o sobrenatural e o racional. Entrementes,
sinópticos e o evangelho de João. Os evangelhos homens como Ewald e Neander (ver os artigos sobre
mesclam a história pessoal de Jesus com a sua eles) continuaram a defender o elemento miraculoso
mensagem. Ver o artigo acerca do Problema dos relatos bíblicos.
Sinóptico, bem como a introdução a cada evangelho. A obra de Renan, Vida de Jesus (1863), dependeu
Não há razão alguma para supormos que os da obra e das idéias de Strauss e de F.C. Baur (1847).
evangelhos não narraram essencialmente aquilo que Estranhamente, ele eliminava o quarto evangelho,
Jesus foi e fez. A grande questão não é a da como se não tivesse qualquer valor histórico. Weisse
historicidade. Antes, consiste em com o ele fez o que (1838) e Wilke (1838) demonstraram a prioridade
fez, ou seja, qual era a sua verdadeira natureza. histórica do evangelho de Marcos. T. Kein produziu
2. O Diatessaron, a H arm onia dos Evangelhos de uma maciça obra sobre a vida de Jesus (1867—1872),
Taciano. A palavra grega diatessaron significa onde o evangelho de Marcos e Q (vide) foram
«através de quatro». Trata-se do exame dos quatro salientados como fontes históricas. — Esse foi
evangelhos, procurando pô-los em harmonia, uns com o começo do desenvolvimento da discussão sobre o
os outros, no tocante às suas apresentações da história Problema Sinóptico (vide). O ceticismo e o racionalis-
da vida de Jesus. É impossível a produção de uma mo produziram um Jesus ideal, um homem agradável
harmonia totalmente satisfatória, porquanto os aos estudiosos do século XIX, de tendências
escritores sagrados fizeram seleções dentre um racionalistas, que não tinha muita conexão real com o
número muito maior de ocorrências na vida de Jesus. Jesus histórico. Albert Schweitzer percebeu quão fútil
«Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos era essa atividade, embora tivesse exagerado os
outros sinais que não estão escritos neste livro...» aspectos escatológicos da mensagem de Jesus (1901).
(João 20:30). Contudo, essa atividade não é inútil, Temos apresentado um esboço mais completo sobre
porquanto tem produzido excelentes resultados. essa questão, com idéias e esforços específicos
Papias informa-nos que Marcos não alistou os eventos envolvidos, no artigo sobre o Jesus Histórico.
da vida de Jesus necessariamente em ordem 7. Obras Correntes sobre a Vida de Jesus. Essas
cronológica. Ê mesmo provável que grande parte da obras modernas podem ser divididas em quatro
seqüência histórica se tenha perdido para sempre. categorias: a. Vidas harmonizadas, como a de David
Isso não significa que o relato dos incidentes (ainda Smith, The Days o f the Flesh (Os Dias.da Carne)
que nem sempre em sua ordem cronológica exata) não (1905). b. Vidas críticas, como as de S.J. Case (1927),
seja fidedigno, ou que tenha sido fraudulentamente M. Gogel (1933) e Charles Guignebert (1935). c.
narrado. Os grandes acontecimentos produzem um Estudos que rejeitam a possibilidade de uma
forte impacto sobre a mente humana. Assim, embora recuperação histórica acurada da vida de Jesus,
um grande número de anos se tenha passado entre os preferindo enfatizar a carreira e os ensinamentos de
eventos da vida de Jesus e o registro, por escrito, Cristo, procurando encontrar nisso alguma significa
desses eventos, a memória das testemunhas oculares ção: Wernle (1918), Debelius (1939) e C.C. McCown.
não se embotou apreciavelmente. Por outra parte, o Este último escreveu The Search fo r the R eal Jesus (A
Senhor Jesus garantiu de antemão a assistência de seu Busca pelo Jesus Real) (1940). d. Os eruditos
Santo Espírito: «...mas o Consolador, o Espírito conservadores, naturalmente, formam uma quarta
Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos categoria, tendo eles produzido narrativas sobre a
ensinará todas as cousas e vos fará lembrar de tudo o vida de Jesus, nas quais o elemento histórico dos
que vos tenho dito» (João 14:26). evangelhos é aceito como fidedigno, e aquilo que ele
3. Durante os primeiros séculos do cristianismo, o disse e fez é aceito como vital para a fé e a prática
cristianismo ortodoxo, ao que tudo indica, não sentiu cristãs.
qualquer necessidade de produzir um exame histórico
da vida de Jesus. Por outra parte, houve muita
teologia sistemática e muita teologia dogmática. JESUS BEN SIRAQUE
4. A obra de Ludolf (falecido em 1377), Vita Esse é o nome do autor do livro apócrifo judeu,
Christi. apresentava uma vida de Jesus que enfatizava conhecido também pelo nome de Eclesiástico (vide).
o pietismo medieval. Algumas vezes, esse livro é chamado pelo nome do seu
5. Incrível é que a reforma protestante não tenha autor. Quanto ao conteúdo e às atitudes, trata-se de
produzido livros individuais sobre a vida de Jesus. um livro parecido com os livros canônicos de
Mas, houve muitos comentários bíblicos que, Provérbios e Eclesiastes, e pertence à chamada
naturalmente, incluíam esse tipo de material históri literatura de sabedoria dos judeus (vide). Foi escrito
co. em hebraico, em cerca de 180 A.C., e, então, foi
traduzido para o grego pelo neto do autor da obra.
6. Várias vidas de Cristo, produzidas por diferentes Atualmente, existe em sua inteireza somente no
autores, foram publicadas por eruditos alemães, a grego, ainda que, no começo do presente século, boas
partir do século XVIII, mas, apareceram em maior porções da obra, em hebraico, tenham sido descober
número no século XIX. Essa atividade foi feita em tas em um antigo armário de uma sinagoga judaica,
preparação e como parte da inquirição (ou negação) no Egito. Ver o artigo geral sobre os Livros A pócrifos.
sobre o Jesus histórico. Gotthold Phraim Lessing
(1729—1781) aplicou métodos críticos à fé cristã e aos
documentos históricos do cristianismo. Lessing JETER
publicou uma obra póstuma de Reimarus, intitulada No hebraico, «abundância» ou «excesso». Esse é o
Sobre o Propósito de Jesus e de Seus D iscípulos. Em nome de várias personagens que figuram nas páginas
contraste com a forte ênfase sobre o aspecto do Antigo Testamento, a saber:
sobrenatural, esse livro procurava dar uma explicação
puramente racionalista sobre as coisas registradas nos 1. Um ismaelita (ICrô. 2:17). Algumas versões
evangelhos. O elemento miraculoso foi posto em grafam seu nome. como Itra. Ele era o pai de Amsa,
dúvida. H.E. Paulus (1828) deu continuação a esse que liderou a revolução de Absalão contra Davi. Sua
tipo de exame. David F. Strauss tentou interpretar o esposa era Abigail, irmã de Davi (I Crô. 2:17). Em II
502
JE T E T E — JE T R O
Sam. 17:25, ele é chamado de «israelita», embora seja Yahweh sobre todos os deuses das nações, tendo-lhe
considerado «ismaelita», em I Crô. 2:17. Muitos oferecido sacrifícios e ofertas queimadas. Jetro
estudiosos pensam que «israelita» seja uma corrupção observou como Moisés estava trabalhando arduamen
do texto original, ou mesmo um erro primitivo do te, a fim de tentar solucionar os inúmeros problemas
autor original. Seu nome significa, no hebraico, que o povo de Israel lhe trazia para julgar; e o
«excelência». Viveu por volta de 1050 A.C. aconselhou a nomear assessores, em vez de tentar
2. Um descendente de Aser, que teria tido três atuar como juiz exclusivo. E Moisés aceitou o
filhos: Jefoné, Pispa e Ara. Teria vivido por volta de conselho de seu sogro, tendo nomeado juizes e líderes
1540 A.C. Ver I Crô. 7:38. de mil, de çem, de cinqüenta e de dez (ver Êxo.
3. O primogênito de Gideão (Juí. 8:20). Viveu por 18:24,25). Após esse incidente, Jetro partiu para a sua
volta de 1250 A.C. própria terra.
4. Um filho de Jerameel, filho de Hezrom (I Crô. Por causa do crítico envolvimento de Jetro nessas
2:32). Viveu por volta de 1400 A.C. questões práticas atinentes ao começo da história do
5. Um filho de Esdras, descendente de Calebe, o povo de Israel, alguns es.tudiosos têm pensado que a
espia (I Crô. 4:17). Viveu por volta de 1400 A.C. sua influência também se fez sentir até na religião
6. O sogro de Moisés tinha esse nome, ainda que, ensinada por Moisés. E alguns deles vão ao extremo
mediante um erro escribal, seu nome apareça com a de ensinar que Yahweh não era um nome de Deus
forma de Jetro (vide). conhecido e usado por Moisés, e, sim, que Jetro foi
quem teria introduzido esse nome divino na religião
JETETE hebréia. Ver o artigo sobre Jeová quanto a uma
discussão sobre essa questão. Se essa sugestão é
Enquanto alguns estudiosos opinam que o sentido verdadeira, então Jetro seria um sacerdote de Yahweh
desse nome é incerto, outros arriscam falar em entre os midianitas, — podemos presumir que
«sujeição». Ele foi um chefe idumeu, que viveu no Yahweh era uma espécie de deus de algum sistema
monte Seir. Esse nome também pode ter sido o nome quase henoteísta. Ver o artigo sobre o H enoteism o.
de 'um clã, provavelmente formado pelos seus Contra essa idéia, porém, encontramos a menção a
descendentes. Ver Gên. 36:40 e I Crô. 1:51. Viveu por Yahweh em Gên. 4:26; 6:3,5; 12:1,4 e em outros
volta de 1470 A.C. trechos desse mesmo livro. Alguns afirmam, todavia,
que, nessas passagens temos material posterior que
JETRO veio a ser combinado com o material mais antigo,
No hebraico, «abundância», «excesso», «superiori mediante o trabalho de um editor ou editores. Damos
dade», «excelência». Esse era o nome do sogro de informações sobre a questão no artigo sobre Jeová,
Moisés. Ele foi sacerdote e príncipe de Midiã. Parece além de mais detalhes no artigo intitulado Jeovista
que, entre os midianitas, os seus príncipes automati (Eloísta ). Ver também o artigo sobre J. E. D. P.(S),
camente também oficiavam como sacerdotes. Há uma acerca da teoria de muitos documentos complicados,
certa confusão no tocante ao nome desse homem, que que teriam servido de fontes do Pentateuco ou
a Bíblia não se dá ao trabalho de explicar. Ele é Hexateuco. Uma coisa que parece indiscutível,
chamado Reuel, em Êxo. 2:18 e Núm. 10:29. Em Juí. entretanto, é que Yahweh não era um nome de Deus
4:11, ele é chamado de Hobabe; mas, em Núm. 10:29, exclusivamente usado pelos hebreus (e talvez nem
Hobabe parece ser o filho de R euel (Jetro). Todas as mesmo originalmente). Antes, era um nome de Deus
demais passagens, onde aparece esse homem, dão o bem conhecido entre as tribos do Oriente Médio e
seu nome como Jetro. É possível que os nomes Reuel e Próximo. Sabemos que os midianitas descendiam de
Jetro fossem ambos nomes desse homem, o que não Abraão por meio de Quetura (Gên. 25:2,4; I Crô.
era um caso único. Moisés passou quarenta anos em 1:32,33), sendo possível que Yahweh fosse um dos
seu exílio em Midiã, enquanto se preparava para o seu nomes do Ser divino entre eles. Em português,
ofício de Libertador de Israel, em companhia de Jetro, usamos a palavra latina para Deus, isto é, Deus; mas
e uma de suas filhas com a qual se casou, Zípora isso não significa que adoramos a alguma divindade
(vide) (Êxo. 3:1; 4:18). pagã romana. Há evidências arqueológicas, entretan
Não somos informados quanto à religião que Jetro to, em favor de amálgamas e empréstimos, nas
promovia; mas é vão tentar ligá-lo a Yahweh, o Deus religiões antigas; e a fé de Israel exibe evidências desse
dos judeus, conforme este se revelou a Moisés, na fato. Parece melhor confessarmos que nenhuma fé
sarça ardente (ver Êxo. 6:3). Todavia, segundo alguns religiosa, à face da terra, incluindo o cristianismo, é
estudiosos, Yahweh pode ter sido uma das divindades destituída de qualquer mistura, com elementos
dos midianitas, embora muito duvidemos disso. Seja provenientes do passado. É indubitável que todos
como for, residindo Moisés com seu sogro, aquele errámos em algumas de nossas crenças e práticas, pori
recebeu uma teofania da parte do Deus de Abraão. mais sinceros que possamos ser, e por mais que
Na oportunidade, Moisés estava cuidando das gostemos de afirmar que a nossa fé é pura.
ovelhas de seu sogro. Então, ele reconheceu sua Um a ilustração de m istura com a religião dos
comissão divina como libertador de Israel da servidão queneus (midianitas).
egípcia. Moisés tomou sua esposa e seus filhos e viajou No vale de Tinra, não muito longe do extremo norte
para o Egito. Posteriormente, entretanto, os enviou de do mar Vermelho, vários objetos de interesse têm sido
volta a Midiã, talvez como uma medida de segurança. achados pelos arqueólogos. Um desses objetos é uma
O décimo oitavo capítulo do livro de Êxodo registra a serpente de cobre dourado. Os estudiosos bíblicos
narrativa comovente de como, depois que Moisés lembram-se de que enquanto os israelitas vagueavam
conseguiu retirar, com sucesso, do Egito, o seu povo pelo deserto, Moisés fez uma serpente de metal (Núm.
de Israel, e estava acampado no deserto, Jetro, 21:9). Mui provavelmente, a serpente de cobre era um
juntamente com seus familiares (incluindo a esposa e item religioso vinculado à adoração à serpente dos
os filhos de Moisés, que tinham sido deixados em midianitas. Moisés, como é sabido, casou-se com
Midiã), vieram visitar Moisés, no deserto. Jetro estava Zípora, filha de um sacerdote midianita, tendo
muito satisfeito com o que Moisés fizera, e deu ao passado nada menos de quarenta anos convivendo
Deus de Israel o crédito pela operação inteira. Foi com aquele povo. Embora, como é provável, ele não
então que Jetro reconheceu a superioridade de desse à serpente o mesmo valor que eles davam, é
503
JE T U R - JE Ü
facilmente possível que seu uso, naquele incidente da que também foi impulsionado para fazer a mesma
serpente de metal, tenha sido inspirado por predição, viu-a cumprida durante os dias do filho dç
experiências que ele tivera entre os midianitas e com a Acabe, Jeorão. Jeú era o comandante do exército de
religião deles. Jeorão. Na época, estavam ocorrendo choques com os
sírios. Jeorão foi forçado a fugir para Jezreel, a fim de
recuperar-se dos ferimentos recebidos. Jeú foi deixado
JETUR no controle das tropas. Então, Eliseu enviou um dos
No hebraico, «cercado». Jetur foi um dos doze filhos filhos dos profetas para que ungisse a Jeú rei de Israel.
de Ismael (Gên. 25:15; I Crô. 1:31). Uma tribo E a primeira tarefa do novo rei foi a de exterminar a
descendia dele, retendo o seu nome. Esse povo vivia a casa de Acabe. Outros oficiais do exército imediata
leste da área norte do rio Jordão. Alguns estudiosos mente puseram-se ao lado de Jeú, consolidando assim
têm identificado Jetur com os itureanos do Novo a sua autoridade. Ver II Reis 9:1-16.
Testamento. Ver sobre a Ituréia. O lugar é 3. A M atança de A cabe e sua Casa. Jeú foi a
mencionado somente por uma vez na Bíblia, em Luc. Jezreel, a fim de matar. Ele e os seus partidários
3:1. foram vistos a aproximarem-se; Jeú foi reconhecido
por causa da maneira furiosa como guiava seu carro
de combate. Isso posto, ele veio a tornar-se símbolo
JEÜ (COM PANHEIRO D E DAVI) dos cocheiros ligeiros e temerários. O rei Jeorão foi,
Esse Jeú foi um guerreiro benjamita que se aliou a pessoalmente, ao encontro do grupo (depois que os
Davi. em Ziclague, quando Davi fugia de Saul. Ver I dois mensageiros antes enviados não lhe foram
Crô. 12:3. Viveu em cerca de 1055 A.C. mandados de volta). O rei Acazias, de Judá, também
estava de visita, com um grupo, e também saiu para
encontrar-se com Jeú. Jorão saudou a Jeú e indagou se
JEÜ (FILHO DE HANANI) ele vinha em paz. Jeú respondeu, atrevidamente,
Quanto ao sentido do nome Jeú, ver o artigo sobre embora com toda a razão, que enquanto a mãe de
Jeú (o R ei), acima. Esse Jeú, filho de Hanani, foi um Acabe estivesse promovendo a imoralidade e a
profeta que foi enviado por Deus para proferir juízo idolatria em Israel, juntamente com outros atos de
contra Baasa, rei de Israel. A condenação assemelhar- traição, não poderia haver paz. E imediatamente
se-ia ao que sobreviera à casa de Jeroboão (I Reis tornou-se claro, para Jorão, que havia pio nos de
16:1-7). Anos mais tarde, Jeú recebeu a tarefa de violência, e ele gritou para Acazias: «Há traição,
reprovar a Josafá, por causa de sua tola aliança com Acazias». Jorão tentou fugir, mas Jeú era excelente
Acabe, de Israel (II Crô. 19:2). Parece que Jeú arqueiro e com uma flecha, atravessou o coração do
trabalhara como cronista durante o reinado de Josafá monarca. O rei Acazias, de Judá, também foi morto.
(II Crô. 20:34). Ele viveu em cerca de 928—886 A.C. E o cadáver de Jorão foi lançado no campo de Nabote,
Foi um autor que deixou para a posteridade um por onde acabara de passar, em sua tentativa de
comentário sobre o reinado de Josafá, que foi incluído escapar. Ver II Reis 8:16-25. A morte de Acazias não
no livro de Reis (que nossa Bíblia moderna desdobra se deu no local. Ferido, ele fugiu para Megido, mas ali
em I e II Reis. livros canônicos), conforme somos morreu.
informados em II Crô. 20:34. 4. A M orte de Jezabel. Jeú avançou na direção da
cidade de Jezreel. Jezabel, a rainha; apareceu em uma
janela do palácio, a fim de saudá-lo. Provavelmente,
JEÜ (FILHO DE JOSIBIAS) ela tentou intimidá-lo, pois estava em casa, protegida
Ele foi um simeonita que migrou para o vale de por seus guardas e soldados. Mas Jeú não temeu, e
Gedor. Foi um dos chefes da tribo de Simeão (I Crô. entrou em um jogo de autoridade, exigindo que'os
4:35). Viveu por volta de 711 A.C. guardas dela se bandeassem para ele. Vários eunucos
apareceram na janela com Jezabel, e prontamente
puseram-se ao lado de Jeú. E os eunucos lançaram
JEÜ (FILHO DE OBEDE) Jezabel janela abaixo. No instante seguinte, a
Esse Jeú era da tribo de Judá, filho de Obede e pai orgulhosa e má mulher era apenas um cadáver
de Azarias, I Crô. 2:38. Viveu por volta de 1612 A.C. sangrento, na pátio do palácio. Foi pisada por
cavalos, e seu sangue espalhou-se em derredor.
JEÜ (O REI) Quando vieram recolhê-la, para sepultá-la, não
restava muita coisa de seu cadáver. Encontraram seu
1. Nom e e Fam ília. O sentido desse nome é incerto, crânio, seus pés e as palmas de suas mãos. Os cães
embora uma boa suposição pareça ser que se trata de haviam devorado o que os cavalos pisoteadores
uma abreviação de Yehohu, «Yahweh é Ele». Porém, tinham deixado. E assim, de forma tão literal e
outros estudiosos ligam esse nome ao assírio Jaua, «é excitante, a profecia de Elias e de Eliseu teve
Já», onde Já aparece como um nome divino. Gesênio cumprimento. Ver a narrativa toda em II Reis
opinava que esse nome significa Yahweh é E le, o que 9:30-37. A lei da colheita segundo a semeadura tinha
poderia ser uma afirmação da singularidade de operado novamente.
Yahweh. ou seja, do monoteísmo. Seu avô foi Ninsi, e
seu pai, Josafá. Em sua juventude, cavalgava atrás de 5. A Casa de A cabe é Julgada. Jeú desafiou os
Acabe, como elemento de sua guarda pessoal, como príncipes da casa de Acabe a estabelecerem um
quando o maligno rei desceu a Jezreel, a fim de tomar governante e lutarem contra ele, Jeú. Porém, já
posse da vinha obtida mediante falsa acusação e tinham visto o bastante, e submeteram-se a ele. No
homicídio. dia seguinte haveria um encontro, quando os
2. A Figura Predita. O ato de Acabe teve por base a príncipes e oficiais teriam de defrontar-se com Jeú.
profecia condenatóriar por parte de Elias, dirigida Jeú proclamou que era o instrumento de Deus para
contra esse monarca. E Jeú, desde o começo, foi purificar a sujeira que Acabe e Jezabel haviam feito. E
apontado como o instrumento pelo qual o rei seria então determinou a imediata execução de todos os
destruído. Ver I Reis 19:15-17. Temos aí um dos membros da família de Acabe, e de todos os
muitos exemplos bíblicos da operação da lei da ex-oficiais do governo anterior. Ver II Reis 10:1-11.
colheita segundo a semeadura (ver Gál. 6:7,8). Eliseu, Todavia, a matança ainda não havia terminado. Jeú
504
JE Ü - JE U E L
foi até Samaria, capital do reino do norte, Israel. A defeitos de caráter, ele salvou Israel de um declínio
caminho, ele encontrou quarenta e dois parentes de quase fatal, que teria levado a nação do norte ao
Acazias, rei de Judá, e matou a eles todos (ver II Reis paganismo. Ver o artigo abaixo, Jeú (Sim bólico ).
10:12-14; II Crô. 22:8). Eles tiveram a infelicidade de
estar em visita àquele lugar, e foram envolvidos na
violência. JEÜ (SIM BÓLICO)
6. A Adoração a B aal Term ina. Jeú era uma O trecho de II Reis 9:20 diz-nos que Jeú, o décimo
máquina de extermínio. Declarou que iria a um monarca do reino do norte, Israel (governou de 843 a
sacrifício em honra a Baal, e assim reuniu todos os 816 A.C.), costumava dirigir furiosam ente o seu
profetas falsos de Baal, para a ocasião. Profetas e carro, dando a entender que ele pudera ser
sacerdotes reuniram-se, vindos de toda a nação de identificado, à distância, por meio de sua maneira
Israel, e todos quantos não quisessem comparecer radical de dirigir. Jeú, pois, tomou-se símbolo dos
foram ameaçados de morte. Foram feitas ofertas em motoristas velozes e temerários. Um tanto mais
uma festividade, embora tudo não passasse de mero seriamente, Jeú também é símbolo das pessoas que
espetáculo. No momento certo, Jeú ordenou que todos têm muitos defeitos pessoais e cometem muitos erros,
os seguidores de Baal fossem mortos, e que todos os mas, que, apesar disso, são usadas por Deus como
ídolos fossem destruídos. Isso foi feito com precisão instrum entos, visando a alguma boa causa.
absoluta, de tal modo que a adoração a Baal foi
extinta em Israel. Ver II Reis 10:15-28.
7. Pecados e Lim itações de Jeú. Jeú não conseguiu JEUBÀ
eliminar a adoração ao bezerro de ouro, em Betei e em No hebraico, «Ele ocultará» ou «Yahweh ocultará».
Dã, e isso continuou o pecado de Jeroboão, que havia fcle era filho de Semer, da tribo de Aser, e viveu no
promovido essa forma de idolatria. Em recompensa tempo de Berias (I Crô. 7:34), ou seja, em cerca de
pelo que fez, foi prometido a Jeú que a sua dinastia 1618 A.C.
prolongar-se-ia por quatro gerações. Mas, em castigo
pelo que fizera de errado, sua dinastia não passaria de
quatro gerações. Ademais, muitas dificuldades JEÚDE
ocorreram, sob a forma de guerras com Hazael, o rei No hebraico, «Judá», ou «louvor». Esse era o nome
da Síria. Israel não prosperou durante o reinado de. de uma cidade localizada no território de Dã, entre
Jeú. Baalate e Bene-Beraque (Jos. 19:45). Tem sido
8. Inform ações E xtrabíblicas. Hazael assolou todo identificada com a moderna el-Yadudiyeh, cerca de
o território da nação do norte, Israel, a leste do rio treze quilômetros a suleste de Jafa. A Septuaginta,
Jordão (II Reis 10:32,33). Informações dadas no naquele texto de Josué, diz A zor. Provavelmente, isso
chamado Obelisco Negro informàm-nos de que Jeú originou-se de uma forma variante do texto hebraico,
acabou por submeter-se ao poder de Salmaneser III ou de uma interpretação quanto à sua identificação.
da Assíria. Talvez Jeú se tenha sujeitado a isso para
escapar dos ataques de Hazael, da Síria.
9. A M orte de Jeú. O homem violento acabou tendo JEUDI
uma morte violenta. Jeú dormiu com seus pais, e foi No hebraico, «judeu» ou «homem de Judá». Ele era
sepultado em Samaria. Jeoacaz, seu filho, passou a filho de Netanias. Foi enviado para convidar Jeremias
reinar em seu lugar. Jeú governara sobre Israel, em a trazer o rolo de suas predições e lê-lo diante dos
Samaria, pelo espaço de vinte e oito anos. príncipes reunidos de Judá. Posteriormente, Jeudi leu
10. Caráter e Avaliação de Jeú. Jeú realizou o plano pessoalmente esse rolo diante do rei, Jeoaquim. Ver
de livrar a nação de Israel da família de Acabe e da Jer. 36:14,21,23. Isso ocorreu em cerca de 605 A.C. O
influência religiosa de Baal. As Escrituras elogiam-no nome de' seu avô era Cusi. Isso dá a entender que Jeudi
por causa disso, apesar da extrema violência com que não era um judeu nativo e, sim, estrangeiro
ele agia. Quanto dessa violência partia dele mesmo, naturalizado.
no esforço de consolidar a sua autoridade—uma
atitude tão comum para os governantes—ninguém JEU DIA , M ULHER JUDIA
sabe dizê-lo. Ficamos consternados diante das lutas e
matanças, tão comuns às sociedades primitivas. No hebraico, «judia» ou «mulher de Judá». Em
Contudo, a chamada civilização moderna não é algumas traduções (como a nossa versão portuguesa)
menos violenta que a antiga. Se há alguma diferença, lemos que as palavras hebraicas correspodentes são
é que as armas modernas ainda são mais letais. interpretadas como um adjetivo pátrio, «mulher
E deflcil determ inar a razão da incoerência de Jeú, judia», e não como um nome próprio, «Jeudia». E
provável que essa palavra ju d ia , tenha sido usada
quando ele deixou intacta a adoração ao bezerro de para distinguir essa mulher de uma outra mulher,
ouro. Qual falha, no zelo, produziu isso? Porventura, egípcia, mencionada no mesmo versículo (I Crô.
ele não precisou eliminar essa adoração, a fim de 4:18), embora nossa versão portuguesa nem mencione
consolidar seu poder? E o seu zelo religioso pôde ser nesse texto a tal mulher egípcia. Seja como for, está
assim tão facilmente limitado? Alguns estudiosos têm em pauta a segunda esposa de Merede (vide). Isso
sugerido que Jeú apenas serviu de instrumento em ocorseu em cerca de 1612 A.C.
favor de uma causa, mas que ele mesmo não foi um
homem reto e justo. Naturalmente, isso sucede; pois o
próprio anticristo (vide) será um instrumento que
produzirá o governo do Messias, como uma de suas JEUEL
conseqüências. Só Deus pode julgar retamente o No hebraico, «protegido por Deus». Há três
caráter de uma pessoa. E, em todos os casos, ele personagens na Bíblia com esse nome, a saber:
precisa balancear entre o bem e o mal, porquanto 1. Um homem da tribo de Judá, cuja família
ninguém é totalmente bom e totalmente mau. estabeleceu-se entre os exilados que voltaram do
Jeú não tinha a piedade de seu pai; mas não lhe cativeiro babilónico (I Crô. 9:6). Seiscentos e noventa
faltavam determinação, coragem e audácia. Sendo dos seus descendentes retomaram, em cerca de 536
um instrumento da providência divina, apesar de seus A.C.
505
JE Ü S - JE Z A B E L
2. Um levita que ajudou o rei Ezequias em suas certo exagero, pelo menos serve de tributo a um
reformas religiosas (II Crô. 29:13), em cerca de 700 homem bom que lutava pelos princípios espirituais
A.C. nos quais acreditava, apefcar das ameaças externas e
3. Assim chamava-se um israelita que voltou, de sua saúde pessoal periclitante.
juntamente com Esdras, do cativeiro babilónico (Esd.
8:13; I Esdras 8:39). Isso ocorreu por volta de 445 JEZABEL
A.C. Ver também sobre Jezabel (N oto T estam ento).
1. N om e. No hebraico, «casta», um nome
JEÚS totalmente inapropriado para ela e para sua
No hebraico, «forte», «apressado», ou mesmo homônima do Novo Testamento. Quanto à Jezabel do
«coletor». Esse foi o nome de quatro personagens que Antigo Testamento, ver I Reis 16 e II Reis 11.
aparecem nas páginas do Antigo Testamento: 2. Família. Jezabel era filha de Etbaal, rei de Tiro.
1. O filho mais velho de Esaú e sua esposa, Tornou-se a esposa de Acabe, rei de Israel, a nação do
Aolibama (Gên. 36:5,14,18; I Crô. 1:35). Ele nasceu norte, em cerca de 918 A.C. Ela pertencia a um clã
em Canaã; mas, posteriormente, tornou-se um dos fenício, tendo sido apenas natural que ela tivesse
chefes dos idumeus. Viveu em tomo de 1960 A.C. trazido consigo as idéias e as práticas de seu povo. Ela
2. O primeiro filho de Bilã, chefe de um clã foi uma tremenda força corruptora em Israel, além do
benjamiia. Ele viveu na época de Davi, por volta de fato de que Acabe já tinha sua própria pesada dose de
1000 A.C. (I CrÔ. 7:10,11). problemas. Embora chamado de «rei dos sidônios» (I
Reis 16:31), Etbaal, o pai de Jezabel, na verdade era o
3. Um levita, um dos quatro filhos de Simei, dentre monarca da Fenícia inteira. Etbaal consolidou a sua
os gersonitas. Era irmão de Bérias. Visto que eles autoridade através de vários homicídios. Começou a
tiveram muitos filhos, foram considerados um terceiro reinar com trinta e seis anos e manteve-se no trono por
ramo da família (I Crô. 23:10,11). Jeuel viveu em trinta e dois anos, e então, morreu. Desse modo, o
cerca de 1014 A.C. começo de sua dinastia, embora banhada no sangue,
4. O primeiro dos três filhos de Reoboão, cuja mãe, conseguiu firmar-se no poder. Seu bisneto foi o último
ao que tudo indica, era Abiail, a sua segunda esposa membro dessa dinastia. Ele morreu noventa e quatro
(II Crô. 11:19). Ele viveu em cerca de 973 A.C. anos após Etbaal ter subido ao trono, o que significa
5. No hebraico, «coleta», ou «reunir». Esse era o que essa dinastia de quatro gerações durou por quase
nome de um filho de Eseque, um descendente de Saul um século.
(I Crô. 8:39). Jeús viveu em cerca de 588 A.C. 3. Casam ento com A cabe. A lei mosaica havia
proibido o casamento entre israelitas e pagãos; mas
essa regra foi freqüentemente ignorada, mormente
JEUZ quando havia interesses políticos envolvidos. O
No hebraico, «conselheiro». Ele era o chefe de uma casamento de Jezabel com Acabe a imortalizou de
casa benjamita, aparentemente um filho de Saarãim e modo negativo, dentro do registro bíblico, fazendo
de Hodes, sua segunda esposa (I Crô. 8:10). Ele viveu dela um permanente exemplo que deve ser evitado. A
por volta de 1618 A.C. união de Acabe e Jezabel tinha por finalidade ratificar
uma aliança feita entre Israel e Tiro, pelo que Onri,
pai de Acabe, procurou eliminar a hostilidade de
JEW ELL, JOHN Damasco contra Israel (cerca de 880 A.C.). O que é
Suas datas foram 1522-1571. Sua carreira, na incrível, nessa aliança, foi a licença dada a Jezabel
Universidade de Oxford, foi brilhante. Sofreu a para dar prosseguimento ao culto ao seu deus nativo,
influência de Peter Marty Vermigli, que se tornou seu Baal, em Samaria, cidade que veio a tornar-se a sua
bom amigo. Quando a rainha Maria, da Inglaterra, nova residência. Esse compromisso não pôs fim, de
subiu ao trono, Jewel foi expulso e só conseguiu modo algum, às lutas entre Damasco e Samaria. Ver I
escapar à morte ao subscrever às doutrinas da Sé de Reis 16:31-33.
Roma. Então ele fugiu para Frankfurt, na Alemanha, 4. A Introdução da Idolatria em Israel. Conforme
onde se refez publicamente de seu lapso. Peter já vimos, Jezabel não foi tolhida, mas antes, foi
Vermigli veio ao seu encontro, em Estrasburgo e, encorajada a continuar em seu culto idólatra. Ela não
posteriormente, os dois residiram juntos, em Zurique. estava disposta a fazer disso uma questão pessoal.
Em 1559, Jewel retornou à Inglaterra; e foi Com fervor fanático, ela estabeleceu o culto a Baal
consagrado bispo no ano seguinte. Em um famoso por toda a nação de Israel, além de tentar ab-rogar a
sermão, entregue no domingo de Ramos, na capela adoração a Yahweh. O trecho de I Reis 6:30-34
da Cruz de Paulo, ele acusou a Igreja Católica conta-nos sobre a apostasia de Acabe, atribuindo-a
Romana de vinte e sete erros doutrinários. Também diretamente a Jezabel. Talvez Acabe nem precisasse
escreveu a obra Apologia Ecclesiae Anglicanae (que de ajuda para desviar-se, mas Jezabel apressou o
foi traduzida para o inglês por Lady Bacon). Essa naufrágio espiritual dele. Destarte, Acabe tornou-se o
obra defendia o anglicanismo contra as idéias de mais iníquo de todos os monarcas de Israel que
Roma. Uma saúde periclitante não impediu Jewel de possam ser mencionados, embora seja duvidoso que a
continuar em seus labores, como também não o mera influência de uma mulher tivesse conseguido
conseguiram as controvérsias que sacudiram a sua isso. Seja como fbr, a maçã já estava apodrecida.
carreira. Seu escrito, Defesa da Apologia, apelou para Samaria, a capital da nação do norte, Israel, foi
citações patrísticas, com o propósito de defender as envolvida nessa apostasia, inicialmente; e, então, a
doutrinas da Reforma protestante. Ele também podridão espalhou-se por toda a nação. Foi instituído
escreveu certo número de outras obras, quase todas de um programa sistemático para fazer desaparecer, em
natureza polêmica. Richard Hooker, a maior teólogo Israel, qualquer oposição à adoração a Baal. Os
inglês da Igreja Anglicana, no período elizabetano, profetas do Senhor foram assassinados; e aqueles que
que contribuiu para o estabelecimento de uma escaparam tiyeram de refugiar-se. Centenas de fiéis
distintiva posição anglicana, chamava Jewel de «o israelitas foram mortos. Entrementes, Baal ia
mais digno teólogo que a cristandade tem produzido ganhando todas as batalhas. Muitos dos profetas de
nos últimos cem anos». Apesar disso representar um Baal foram abrigados e sustentados pela rainha
506
JE Z E B E L
Jezabel, até mesmo no recinto do palácio real. Ver I do norte, Israel, não entrou em reforma moral e
Reis 18:17-19. religiosa somente em face da morte de Jezabel. A
queda de Israel no pecado deveu-se, pelo menos em
5. Choque com Elias. Uma das mais famosas parte, à culpa dela. Ela quase pôs fim à casa de Davi.
histórias relatadas na Escola Dominical e em Jeú exterminou a casa de Onri (841 A.C.), e a
inúmeros sermões, é a do confronto entre Jezabel e o adoração a Baal foi suprimida. Não obstante, muitos
profeta Elias. Ver I.Reis 18 e 19. Os profetas do males continuaram, conforme se vê no artigo acerca
Senhor tinham-se escondido, ou seja, aqueles dentre de Jeú (vide). Os quarenta anos da dinastia de Jeú
eles que haviam conseguido sobreviver. Elias teve a foram tempos continuamente perturbados, tanto com
coragem de vir a público sozinho, lançar o seu inimigos externos quanto com conflitos internos. O
protesto. Assim, ele se tomou o único defensor cativeiro assírio não estava muito distante.
público da fé ancestral de Israel. E Elias terminou
tendo de defrontar-se, sozinho, com oitocentos e 9. O Caráter de Jezabel. Essa rainha sidônia de
cinqüenta profetas de Baal (I Reis 18:1-40). Nisso, Israel combinava os piores elementos da prepotência,
Elias triunfou espetacularmente, resultando no da violência e da licenciosidade das rainhas orientais
massacre dos profetas de Baal. Todavia, isso em nada da antiguidade. A iniqüidade dela era tão grande que
diminuiu a determinação e a arrogância de Jezabel. E se tornou proverbial, conforme vemos em II Reis 9:22.
Elias sentiu-se ameaçado e refugiou-se na região do De fato, ela obteve um lugar permanente, nas
Sinai, visto que Jezabel jurara vingança; e, por ser Escrituras Sagradas, como símbolo de iniqüidade e
ráinha, tinha a autoridade para tanto. Muitas piadas barbaridade femininas. Em Apo. 2:20, seu nome é
sem graça têm sido inventadas sobre como Elias foi usado simbolicamente como tipo de líder feminino
capaz de enfrentar mais de oitocentos profetas de que corrompeu a Igreja cristã primitiva, provavelmen
Baal, e sair-se vencedor, mas teve de fugir de uma te algum tipo de profetisa gnóstica. Ver o artigo
m ulher, Jezabel. Esquecem-se que ela era a rainha. intitulado Jezabel (Novo Testam ento).
Quem não teria fugido diante de tal mulher? Elias
derrotara os profetas de Baal de um golpe; mas o JEZABEL
problema constituído por Jezabel precisava de tempo No Novo Testam ento: A po. 2:26
para ser resolvido. Tolerares que essa m ulher, Jezabel. (Quanto à
6. O Assassinato de N abote. Acabe mostrou a sua história de Jezabel, esposa do rei Acabe, de Israel, ver
debilidade quando cedeu diante dos planos traiçoei I Reis 16 e ss ). Ela foi uma rainha idólatra e imoral,
ros, enganadores e violentos de sua mulher, Jezabel. ■que lutou contra o profeta escolhido por Deus, assim
Acabe cobiçava a vinha de Nabote, e queria desafiando e negando à autoridade espiritual legiti
apossar-se dela. Mas Nabote recusava-se a desfazer-se ma, na comunidade religiosa. Jezabel era filha de
de sua herança paterna (o que era muito importante Etbaal, rei de Sidom (ver I Reis 16:31), que fora
para todos os israelitas em Israel e em Judá); e Acabe sacerdote de Astarte, tendo obtido o trono ao
hesitava em lançar mão da violência para conseguir o assassinar seu antecessor, Feles. Acabe não hesitou
seu intento. No entanto, Jezabel não via qualquer em casar-se com aquela princesa pagã, tendo sido
problema no impasse. E conseguiu subornar falsas aquela a primeira vez em que um rei da porção norte
testemunhas, que acusaram Nabote de blasfêmia, e de Israel entrou em tal aliança. Esse matrimônio
este acabou sendo morto apedrejado. Acabe tomou assinalou o começo do declínio moral da nação
posse da vinha de Nabote. Mas isso assinalou o nortista de Israel. O certo é que Jezabel nunca
começo do fim, para Acabe e Jezabel. O profeta Elias entendeu e nem respeitou a «religião» do povo sobre o
proferiu a condenação do casal real. Predisse que os qual obteve ascendência, mediante esse trágico
cães lamberiam o sangue de Acabe, no mesmo local casamento. Uma apostasia mortal e completa teve
onde o sangue de Nabote fora derramado; e que os início em seu reinado, e ela se fez a força principal por
cães comeriam as carnes de Jezabel, perto das detrás da mesma.
muralhas de Jezreel (I Reis 21:19,23). «Ela foi mulher em quem, junto com os hábitos
7. C um prim ento das Predições Condenatórias . A licenciosos e desabridos de uma rainha oriental,
passagem de I Reis 22:29-40 conta o fim de Acabe, em uniam-se as mais ferozes e duras qualidades,
harmonia com a profecia de Elias. E o trecho de II inerentes à antiga raça semita. Seu marido, a quem
Reis 9:1-37 narra o fim de Jezabel. Jezabel continuou não faltavam sentimentos generosos e gentis, era um
reinando por dez anos após a morte de Acabe. A caráter fraco e maleável, que logo se transformou em
morte de seu marido não ensinou qualquer lição a instrumento nas mãos dela... A louca licenciosidade
Jezabel. Ela foi a rainha-mãe durante todo o reinado da vida dela e o fascínio mágico de suas artes e do seu
de Acazias, e então durante a vida de Jeorão. Quando caráter, tomaram-se proverbiais na nação. Ao redor
Jeorão foi morto por Jeú, Jezabel vestiu-se esplendida- dela e da parte dela, em diferentes graus de
mente (II Reis 9:30) e ficou esperando por Jeú, sem proximidade, evoluiu o tremendo drama da pior crise
saber que ele estava prestes a cumprir a predição feita daquela porção da história israelita». (Stanley, Jewish
por Elias. Ela zombou de Jeú, mas não conseguiu Church).
fazer estacar aquele homem terrível, poderoso e sem Jezabel chegou ao extremo de procurar eliminar
misericórdia. Ela havia encontrado um adversário à completamente os profetas de Yahweh, e teria obtido
altura. De fato, posteriormente, Jeú mostrou ser um sucesso, se muitos deles não se tivessem ocultado (ver
homem corrupto e violento. Mas, devemos admitir I Reis 18:13). Estabeleceu a adoração a Baal, o
que ela enfrentou a morte com determinação e deus-sol. Além de Baal, as divindades fenícias
coragem! Jezabel nunca foi capaz de exibir qualquer também receberam seus altares. Astarte (Astarote),
sabedoria, no tocante às escolhas que fazia. Ela equivalente a Vénus, na Fenícia, tomou-se divindade
faleceu em cerca de 842 A.C. E curioso observar que proeminente, sendo provável que a própria Jezabel
os três filhos dela, Acazias, Jeorão e Atalias (se é que fosse sacerdotisa desse culto imoral. Quatrocentos
Jezabel era mesma a mãe desta última), em seus sacerdotes ou profetas se vincularam a essa seita,
nomes, continham referências ao nome de Yahweh, e recebendo apoio da parte da rainha. Um gigantesco
não de Baal, embora, sem dúvida, isso pouco santuário foi edificado em Samaria, para adoração a
significasse para Jezabel. Baal, suficientemente amplo para conter todos os
8. A M á Influência de Jezabel Perdurou. A nação adoradores desse culto, no reino do norte. Contava
607
JE Z E B E L
com quatrocentos e cinqüenta sacerdotes. Acabe porquanto essa Jezabel se achava no seio da igreja, e
rebaixou-se ao ponto de oferecer sacrifícios a uma não fora dela. Alguns supõem que ela tenha sido a
divindade falsa, nos santuários que assim foram esposa do principal pastor da igreja, ou do bispo
erigidos. daquela região. Nada pode ser dito, com qualquer
Jezabel, a prostituta religiosa e ardorosa promotora confiança, a respeito disso.
da idolatria, tornou-se um símbolo apto para o 10. Alguns intérpretes pensam que ela simboliza a
surgimento do gnosticismo na igreja cristã, porque «Roma apóstata», a igreja de Roma. Mas, na verdade,
era um culto estrangeiro, essencialmente uma religião ela era um elemento corruptor que operava dentro da
misteriosa oriental, mas que procurava apresentar-se igreja, mas não era a própria igreja. Lembremo-nos
como se fora a verdadeira fé cristã, mediante a que a igreja de Tiatira foi elogiada quanto a certos
mistura com o cristianismo, o que sucedeu em particulares; não era totalmente má e nem totalmen
diversas localidades. Normalmente, o gnosticismo te apóstata.
promovia a imoralidade, supondo que assim ajudava Pode-se observar que o culto imoral representado
na final destruição da matéria, átravés do abuso por Jezabel (o gnosticismo religioso) era «odiado» em
contra o corpo. Para os mestres gnósticos, o corpo não Efeso (ver Apo. 2:6); tolerado em Pérgamo (ver Apo.
era algo «indiferente» apenas, para ser usado como o 2:15,16); mas era ativamente promovido como
indivíduo bem entendesse, mas também era algo que posição oficial, em Tiatira (ver Apo. 2:20-24). A lição
tinha de ser ativamente corrompido, especialmente espiritual que há nisso é óbvia. Todo o mal que não
mediante vícios sexuais. (Ver o artigo sobre nos aborrece, a principio pode ser «tolerado», depois,
G nosticism o). Supõe-se que os nicolaítas e os «aceito» e, finalmente, «promovido oficialmente».
seguidores de Balaão eram grupos que faziam parte Profetisa, Apo. 2:20. Os dons espirituais não se
do movimento gnóstico geral. Essa heresia, corrupta limitavam a homens, na igreja primitiva. Jezabel
em suas crenças e em suas práticas, assediou a igreja representava a imitação satânica dos dons proféticos.
cristã por nada menos de cento e cinqüenta anos. Provavelmente ela era psiquicamente dotada, e talvez
Sentido« sim bólico« de «Jezabel». fosse inspirada pelos demônios. Isso ter-lhe-ia dado a
1. Não há que duvidar que alguma seita gnóstica e autoridade de que ela precisava para promover o seu
licenciosa é representada por esse título. culto licencioso.
2. £ possível que «Jezabel» tenha sido uma mulher A si m esm a. Ela era profetisa «autonomeada», mas
real, líder de um partido amoral, dentro da igreja de as forças malignas que a usavam lhe davam uma
Tiatira, e líder da própria igreja. Não é provável que aparência de autoridade. As suas «credenciais», seja
esse tenha sido o seu nome real. Não obstante, ela era como for, eram estranhas à igreja. Era usurpadora
uma «Jezabel». que usava o seu poder para destruir à igreja.
3. Também é provável que o «culto ao imperador» Ensine, m as ainda, seduza os m eus servos a
seja visto aqui como algo que desempenhava papel em praticarem a prostituição. A doutrina de Jezabel era
tudo isso. £ razoável a suposição de que a Jezabel de extremamente liberal. Particularmente, ela não via
Tiatira não hesitava em opinar favoravelmente acerca defeito no adultério. Seduziu a vários homens da
da adoração ao imperador, chegando mesmo a igreja e, com mão de ferro, prendia a homens com a
encorajar os crentes a participarem desse tipo especial sua imoralidade. Mas o versículo também indica que
de idolatria, juntamente com outras formas que eram essa «fornicação» (palavra que indica a prática de
uma praga no mundo antigo. todas as formas de perversão e excessos sexuais)
4. Notemos que Jezabel era uma profetisa. Ela também fazia parte da adoração pagã das divindades
imitava os dons espirituais, provavelmente mediante que ela promovia, tal como no caso da Jezabel
as artes mágicas e o demonismo. Desse modo, ela original. Na qualidade de representante do gnosticis
representa a imitação satânica dos dons espirituais. mo, ela ensinava que é bom que um homem abuse de
seu corpo mediante os excessos físicos, já que isso
5. O nome dela é símbolo da corrupção moral e ajuda no sistema do mundo, em sua tentativa de
espiritual da igreja, sobretudo quando o pecado destruir a matéria. Os gnósticos chegavam ao extremo
obtém império tal que é «tolerado» ou até é de dizer que os anjos se punham perto deles (embora
«oficialmente aprovado» pela igreja local. em forma invisível), encorajando-os a participar de
6. Profeticamente falando, Jezabel simboliza o todas as formas de imoralidade, a fim de que
paganismo radical que invadiu a cristandade da Idade obtivessem experiência. Era mediante tal experiên
das Trevas, quando (conforme o sabe todo aquele que cia que obtinham o «conhecimento», o qual, para
lê a história do mundo), a igreja foi vencida pelas eles, era o meio mesmo da salvação. Tolamente
práticas licenciosas, incorporando muitas formas de imaginavam que pode-se abusar do corpo, sem
paganismo. prejudicar ao espírito. Não consideravam a verdade
7. O nome de Jezabel, pois, representa o adultério que um homem é corrupto tanto no corpo como no
físico e espiritual, e um adultério tolerado e até espírito. O pecado é algo que cativa e corrompe a
mesmo encorajado nos limites interiores do que se personalidade inteira, e não meramente a porção
chama de igreja cristã. Os perigos e as corrupções por física do ser.
ela simbolizados são «internos», afetando o coração
mesmo da igreja, e não ameaças externas. Jezabel se A nem elhav* ao «Bode Judaa»
8. Na situação local de Tiatira, quando foi escrito o Na Butchers’ Dressed Meat Company, de Nova
livro de Apocalipse, é provável que as «guildas Iorque, durante muitos anos, houve um bode que
comerciais», que requeriam a «refeição comum», adquiriu o nome de Judas, por causa de suas ações.
naturalmente de caráter pagão, estivessem pressio Esse bode costumava servir de «guia» das ovelhas que
nando a igreja a «aceitar» a falsa moralidade pagã. A eram desembarcadas na beira do rio, levando-as ao
Jezabel de Tiatira, provavelmente, era a principal matadouro. Fazia de oito a dez viagens por dia.
figura da igreja que promovia a «transigência Calcula-se que durante a sua carreira, conduziu à
mediante o comércio». morte cerca de quatro e meio milhões de ovelhas.
9. Várias tentativas têm sido feitas para identificar Sabe-se que as ovelhas, em contraste com os porcos ou
o caráter histórico real, referido no presente texto. Ela com o gado vacum, não precisam ser tangidas.
não pode ter sido uma sibila caldaica em Tiatira, Portanto, não era problema para aquele bode de cor
1
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EVANGELHO DE JOÃO
90— 100D.C.
523
JO ÀO , EV A N G ELH O D E
V. R E L A Ç Ã O C O M O P E N S A M E N T O R E L I Durante o século passado se deu grande importân
G IO SO C O N T E M P O R Â N E O cia aos chamados escritos herm éticos, uma coletânea
1. Floresceu na cidade de Álexandria a chamada de tratados que consiste em especulações religiosas e
filosofia neoplatônlca, e, por intermédio de Filo filosóficas e em instruções que supostamente foram
ique era um filósofo neoplatônico e, certamente, não transmitidas por um sábio endeusado chamado
Moisés falando grego, conforme alguns têm dito, Hermes Trismegistus (que significa «três vezes o
mas antes, mais semelhante a Platão falando maior»). Parte desse material demonstra estranhas
hebraico), essa influência penetrou na comunidade similaridades com alguns elementos do evangelho de
judaica. Ora, foi também em Alexandria que João. Os dois mais importantes desses tratados são o
floresceu a cultura helenística geral. Naturalmente, a primeiro e o décimo terceiro. O primeiro deles tem o
doutrina do Logos estava associada ao estoicismo (e titulo d eP oim andres, istoé, «Pastor de Homens», mas
pode ser feita retroceder até Heráclito. com alguma que o próprio autor define como «A Razão do
justificação, ou seja, até o ano 600 A.C.); ■todavia, Senhorio». Contém certo mito sobre a criação, sem
essa doutrina do «Logos», na filosofia posterior à dúvida alguma alicerçado na cosmogonia do livro de
aristotélica, ficou ligada ao neoplatonismo, por Gênesis. A segunda parte contém material sobre
motivo de fusão. Filo se referiu ocasionalmente ao como Deus ilumina aos homens, e também fala sobre
Logos, algumas vezes de maneira impessoal, como se a aproximação mística a Deus. O arrependimento é
fora a força inteligente do mundo, a força criativa, a um elemento central, e inclui o evitar os caminhos da
inteligência divina; mas, em outras ocasiões, também morte, da ignorância, do erro, do alcoolismo, da
se referiu ao mesmo pessoalmente, como se fora o corrupção, além dos aspectos positivos de entrar no
«anjo do Senhor», mais ou menos como o «demiurgo» caminho da luz, do conhecimento, da verdade, da
de Platão, somente que personalizado. Não foi sobriedade e da salvação. Já o décimo terceiro tratado
necessário um passo muito grande, para o autor do é um estudo sobre a regeneração. Nesse estudo, as
evangelho de João, personalizar ainda mais o características de uma pessoa nova e renascida são a
conceito, assim fazendo do Logos (o Verbo ou verdadè, o bem, a luz e a vida; e o corpo da razão é,
Palavra), o Messias do V.T., o Cristo transcendental, literalmente, o corpo do Logos. A composição desses
o Filho de Deus, encarnado na forma de Jesus de escritos teve lugar muito depois de haver sido
Nazaré. registrado o evangelho de João; mas alguns têm
pensado que tanto esses tratados como o evangelho de
Nos escritos de Filo, o Logos é também aquele que João tiraram subsídios de fontes informativas
revela a Deus; e outro tanto é dito acerca de Jesus similares, ou, pelo menos, que se pode perceber que
Cristo, no N.T. Cristo aparece, no N.T., como a um vocabulário religioso distintivo foi posto à
personificação da sabedoria divina. O monoteísmo disposição do autor do evangelho de João, através da
hebraico havia destacado a transcendência de Deus; e cultura que também produziu os escritos herméticos.
isso se transformou, ou quase, numa expressão Outras religiões misteriosas, por semelhante modo,
daquilo que hoje em dia é chamado, na filosofia enfatizaram elementos comuns ao evangelho de João,
religiosa, de «deísmo sobrenatural», — que assevera tais como o milagre do grão de trigo que cai no solo,
que apesar de Deus ser usualmente transcendente, para em seguida morrer e viver de novo, assim
ocasional mente ele intervém na história humana, produzindo fruto, e também os ritos da purificação,
para alterar o seu curso, para realizar algum milagre, do batismo, a doutrina do renascimento, e a
etc. aproximação a Deus através da vereda mística da luz
e da verdade. Os capítulos terceiro e sexto do
Ora, a doutrina do «Logos» oferecia, à comunidade evangelho de João são especialmente similares,
cristã, o instrum ento necessário para conservar a quanto às idéias básicas, aos ensinamentos dessas
transcendência como um ensino acerca de Deus, ao religiões.
mesmo tempo em que lhe emprestava uma fqrma de A sem elhança que existe entre o evangelho de João
imanência. Deus veio ao mundo na pessoa do e os escritos dos gnóstícos tem sido observada com
«Logos», do «Verbo». De fato parece adaptar-se grande freqüência. Mais ou menos na época em que o
maravilhosamente à mensagem inteira sobre Cristo, cristianismo veio à existência, já havia no mundo
que é a manifestação especial de Deus neste mundo, a helenista uma estranha m istura de conceitos religiosos
força criadora, o elo vinculador, a sabedoria divina, do judaísmo com a filosofia grega, especialmente com
que tomou carne com o propósito de iluminar aos o neoplatonismo. Havia diversas especulações cosmo-
homens. Ao mesmo tempo, João, bem como a lógicas, tradições astrológicas e uma demonologia
comunidade cristã em geral, evitaram o ensino mágica, tudo proveniente da Babilônia. Mais ou
panteísta do neoplatonismo. Seria um grande erro menos pelos meados do século II D.C., a igreja cristã
crermos que o autor deste evangelho de João foi um já fora totalmente invadida por esses elementos.
estudioso de Filo ou de sua filosofia em geral; Todavia, antes mesmo dessa ocasião, tais elementos já
contudo, o conceito tinha larga circulação no mundo se faziam presentes, e encontramos uma parte da
greco-romano, e o autor desse evangelho meramente literatura neotestamentária que foi escrita com o
aproveitou a oportunidade de utilizá-lo como instru propósito de combater tais tendências, assim como as
mento para expressar melhor a mensagem cristã. epístolas paulinas aos Efésios e aos Colossenses, como
«.Em bora ele tivesse em prestado o conceito, não fe z também o evangelho de João e as três epístolas de
em préstim os do mesmo». (James Denny). João. Todo o esforço, nessa literatura bíblica, foi
2. As rellglõe# m isteriosas e o gnosticism o. Até enviado para exaltar a pessoa de Jesus Cristo, a fim de
mesmo um exame superficial do evangelho de João é provar que ele não pertencia meramente à ordem dos
suficiente para convencer-nos sobre as inclinações ànjos, segundo os gnósticos asseveravam, mas que ele
m ísticas de seu autor. Essa circunstância tem é perfeitamente divino. Por outro lado, também houve
encorajado alguns estudiosos a examinarem várias evidente esforço em refutar os conceitos antinominia-
modalidades do misticismo oriental, a fim dç nos e os conceitos ascéticos, próprios de determinadas
averiguarem quais paralelos podem ser encontrados variações do gnosticismo.
entre o evangelho de João e essas religiões misteriosas,
e para verificar quais dessas idéias teriam exercido Por esse motivo é que o livro de Apo. também faz
influência sobre o citado evangelho. alusão àqueles que «...não têm essa doutrina e que
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JO ÃO , E V A N G ELH O D E
não conheceram, como eles dizem, as cousas exame mais detido desses escritos mostra-nos que não
profundas de Satanás...» (Apo. 2:24), o que, está em vista um único pai, e nem um único filho e,
evidentemente, é um ataque contra as idéias do sim, que muitos são os mensageiros assim envolvidos.
gnosticismo, espalhadas pela Ásia Menor. (Ver, F.C. Burkitt (T he M andaeans, Journal of Theo-
igualmente, as passagens de I João 2:22 e 4:2,3). O logical Studies, XXIX, 1928, págs. 225-235), demons
gnosticismo negava a encarnação verdadeira de Jesus trou que os mandaeanos obtiveram as suas idéias
Cristo e, em seu docetismo, afirmava que a sua acerca dos cristãos, bem como o seu emprego do
natureza humana era tão somente uma ilusão. E V.T., fundamentados na tradição Peshitta, i.e., a
alguns gnósticos também negavam essa verdadeira tradução para o siríaco, feita por Rabula, bispo de
encarnação de Jesus Cristo de outra forma, isto é, Edessa, em 411 D.C. E o mesmo autor chega mesmo a
afirmando que o espirito de Cristo viera apossar-se do mostrar que E shu M shiha (Jesus Messias) é um falso
corpo de Jesus de Nazaré, por ocasião de seu batismo, profeta, e que a hostilidade deles contra ele equivale
tendo-o subseqüentemente abandonado, quando de ao antagonismo que sentiam ante a igreja bizantina,
sua morte na cruz; e dessa idéia concluíam que, em plenamente desenvolvida. Em diversos lugares, Cristo
Cristo, na realidade, havia duas personalidades se fazia acompanhar por R um aia (Bizantino). Um
distintas. outro personagem teria descido a este mundo, sendo
E assim, se por um lado, alguns dos termos operador de milagres e homem dotado de grande
favoritos do gnosticismo tenham sido «conhecimento», poder e então, antes da sua ascensão (após ter
«fé», «saber», «crer», «sabedoria» e «verdade», por ressuscitado dentre os mortos), ele desmascarou o
outro lado, esses vocábulos também foram constan «enganador», isto é, o Cristo bizantino (simbolo da
temente usados pelo autor do evangelho de João. E, igreja bizantina), Cristo esse que foi agarrado pelos
apesar de ser historicamente demonstrável que certos judeus e em seguida foi crucificado.
grupos gnósticos de Alexandria e de Efeso aprecia Um comentário de Theodore bar Konai (792 D.C.)
ram especialmente o evangelho de João, contudo, não indica que grande parte da doutrina dos mandaeanos
existe qualquer conexão vital entre os dois; parece foi tomada por empréstimo de Márcion (pai herético
bastante certo que, na realidade, o evangelho de João da igreja, em 150 D.C.) bem como dos maniqueus. A
foi escrito como refutação das idéias gnósticas história verdadeira dos mandaeanos (como seita
básicas, em vez de ter sido um reflexo das mesmas. distinta) provavelmente teve começo na baixa
3. M andeUmo. Alguns eruditos alemães, durante aBabilônia, cerca de setenta anos após o surgimento do
década de 1920, provocaram alguma agitação quando islamismo, e se derivou de um asceta vagabundo de
chamaram a atenção do público para certa literatura Adiabene, que derivou parcialmente os seus ensina
pouco conhecida, preservada por uma seita obscura mentos de Márcion e, parcialmente, dos maniqueus
que ainda sobrevive em comunidades nos baixos rios (nome esse derivado do perso Manes ou Maniqueu,
Eufrates e Tigre. Os mandaeanos (nome proveniente que ensinava certa filosofia religiosa em cerca de
do vocábulo aramaico m anda, que significa conheci 400 D.C., e cuja seita persistiu até o século VII D.C.),
m ento secreto da vida ) podem, realmente, ser combinando elementos do zoroastrismo, do gnos
considerados uma parte integrante do grande ticismo e do cristianismo, tudo alicerçado no
hiovimento gnóstico; e em seu «cânon» de literatura dualismo radical do bem e do mal — um deus bom e
existem os seguintes livros: a Cinza ou Tesouro, —que um deus mal — luz e trevas, etc. — e nas primeiras
também é chamado de O Grande L ivro ; o Livro de noções dos gnósticos.
João (Batista); a Qolasta (Quintessência); um livro de A condusio da matéria parece ser a de que havia
liturgias para a festividade batismal de todos os anos e paralelos definidos (isto é, autênticos) em relação ao
um livro para o culto aos mortos. Em cerca de 1875, evangelho de João, e que esses paralelos foram
Theodor Noldeke publicou uma gramática mandaea- tomados de empréstimo do próprio evangelho de
na, e isso pavimentou o caminho para um exame mais João, ou diretamente ou através de alguma fonte
completo dessa literatura, que se pensou ter alguma informativa intermediária, e não de fontes anteriores
conexão bem definida com o evangelho de João. Parte a esse evangelho; em face do que é um anacronismo
dessa literatura é de caráter antijudaico, mas também procurar luz, nos escritos dos mandaeanos, para
anticristão, e com freqüência alude a Cristo como «o esclarecer o pano de fundo do quarto evangelho.
mentiroso». Posto que a data da publicação desse
material se verificou após o ano de 651 D.C., isto é, VI. IN F LU Ê N C IA D O A N T IG O T E S T A M E N T O
após as conquistas muçulmanas, tem-se exercido E D E O U T R A L IT E R A T U R A C R IS T Ã P R IM I
T IV A
muita cautela na aceitação da obra, posto terem-se
descoberto muitos sinais de preconceitos islamitas; 1 . O A ntigo T estam ento
contudo, também se pensa que as tradições de onde A tendência que se vê nos estudos mais recentes
procedeu o cânon mandaeano bem poderiam ter sido sobre o evangelho de João consiste em afirmar que as
anteriores em muito às conquistas muçulmanas, raízes mais profundas desse evangelho estão bem
talvez possuindo alicerces em tradições que anteda arraigadas no judaísmo bíblico do V.T., talvez um
tam parte da literatura do N.T., incluindo talvez até tanto mediadas pelo judaísmo posterior, como ele é
mesmo o evangelho de João. refletido em alguns livros apócrifos do V.T. A
influência histórica que se vê no evangelho de João,
Os diversos estudos feitos em torno dessa literatura como os costumes, os ritos religiosos, as festividades,
têm demonstrado haver notável similaridade com o tudo retrocede até o Pentateuco ou ao reestabeleci-
evangelho de João. Por exemplo, o Pai fala ao Filho mento da vida nacional judaica, ao tempo de Esdras e
(no Livro de João Batista), dizendo: «Meu filho, vem e Neemias. A prioridade de Israel é reconhecida ali:
sê meu mensageiro; vem e sê meu demonstrador, e «...a salvação vem dos judeus...» (João 4:22). Jesus é
desce à atribulada terra. Desce ao mundo das trevas, apresentado como o Messias judaico, embora na
até às trevas onde não chega raio de luz, ao lugar dos cristologia de João, fatos como o Filho divino, o
leões, à habitação dos malditos leopardos...» E Homem descido do céu, o Rei e Juiz que virá, etc., são
existem ainda outras passagens que nos fazem aspectos que jamais foram incluídos nas explicações
lembrar trechos do evangelho de João. Por semelhante judaicas sobre o caráter do Messias.
modo, podem-se encontrar paralelos de todas as
principais idéias do quarto evangelho. Porém, um Até mesmo a grande passagem sobre o Logos, no
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JO ÃO , EV A N G ELH O D E
trecho do primeiro capítiilo do evangelho de João, antecipava, de forma bem definida e até mesmo
mediante as suas palavras iniciais, «No princípio...», ensinava tal doutrina. Sem considerar se o autor deste
faz referência óbvia à história da criação, no livro de evangelho já tivesse lido ou não as epístolas de Paulo e
G ênesis ; mas essa idéia está admiravelmente bem a epístola aos Hebreus, isso de maneira alguma
vinculada com o «Logos», a sabedoria divina, a força significa que ele não tivesse sido influenciado por tal
criadora, o revelador, que são conceitos que sem ensino, porquanto esse já se tinha tornado parte
dúvida não eram comuns e nem estavam ainda bem integrante da explicação dada pela igreja quanto ao
desenvolvidos no V.T., e que certamente não faziam significado da vida de Jesus. Jesus, o Cristo, era um
parte dos ensinos messiânicos dos judeus. Algumas personagem cósmico, preexistente, divino, mediador
das referências alegóricas feitas por João são de cunho da salvação, elo de ligação entre os homens e Deus
nitidamente judaico, como o Pastor (capítulo décimo, (verFil. 2:1-11; II Cor. 8:7-9; Col. 1; Efé. 1 eCol. 2).
alusão a Sal. 23; Is. 40; Jer. 23 e Eze. 15 e 19). É Paulo, por semelhante modo, atacou os gnósticos,
verdade que dificilmente há um capítulo deste tendo defendido a significação cósmica de Cristo
evangelho em que não se possa encontrar alguma contra as idéias inferiores que os gnósticos embala
referência ou citação, direta ou indireta, ao A.T. vam sobre ele, tal como o conceito de que ele
Abaixo damos exemplos disso: João 1:23 (Is. 40:3); pertencia a alguma ordem angelical. Assim é que
João l:29(Êx. 12:3; Is. 53:7); João 1:51 (Gên. 28:12); podemos ler trechos como Col. 1:15-20 e cap. 2; Efé.
João 2:17 (Sal. 69:9); João 6:31 (Êx. 16:15; Nee. 9:15; 1:10 e II Cor. 4:4 onde Cristo aparece não somente
Sal. 78:24,25; 55:1); João 7:38 (Is. 12:3); João 7:42 como a glória de Deus (explicação essa que os
(Sal. 89:3,4; Miq. 5:2); João 8:17 (Deut. 17:6; 19:15); gnósticos jamais aceitariam), mas também como a
João 10:34 (Sal. 82:6); João 12:34 (Sal. 89:4; 110:4; própria im agem de Deus. Cristo, nos escritos
Is. 9:7; Eze. 37:25; Dan. 7:14); João 12:38 (Is. 53:1); neotestamentários, aparece como a corporificação da
João 12:39,40 (Is. 6:10); João 13:18 (Sal. 41:9); João deidade, como se vê em Col. 2:9. O trecho do primeiro
15:6 (Sal. 80:15,16); João 15:25 (Sal. 35:19 e 69:4); capítulo da epístola aos Hebreus desenvolve uma
João 19:24 (Sal. 22:18); João 19:28,29 (Sal. 69:21); cristologia notavelmente similar à do primeiro
João 19:36 (Êx. 12:46; Núm. 9:12); João 19:37 (Zac. capitulo do evangelho de João. Assim sendo,
12: 10). verificamos que João não assumiu a posição de um
2. literatu ra de sabedoria inventor ou inovador, porquanto a sua doutrina do
O trecho de Pro. 8:22-30 faz-nos relembrar a «Logos» já estava plenamente estabelecida na igreja
história da criação, no livro de Gênesis, mas também cristã; mas meramente João aumentou o número de
nos faz lembrar dos textos que podem ser encontrados termos mediante os quais esses conceitos poderiam ser
em certas obras apócrifas do V.T., como a Sabedoria expressos, tendo chamado a esse Cristo transcenden
de Jesus, Filho de Siraque (Eclesiástico) e a Sabedoria tal e preexistente, que se encarnou entre os homens,
de Salomão. A passagem de Eclesiástico 42:15 diz: pelo título de «Logos», o Verbo de Deus.
«Pela palavra de Deus as suas obras foram formadas, Em prova do que acabamos de dizer, citamos aqui
e o que foi operado o foi pela sua boa vontade, de o trecho de Sabedoria de Salomão (7:26), que diz:
conformidade com o seu decreto». E o trecho de «Pois ela (a Sabedoria) é um resplendor da luz eterna,
Eclesiástico 43:26 assevera: «Por razão dele, o seu fim bem como um espelho sem mácula das operações de
tem sucesso; e por sua palavra todas as coisas Deus, e uma imagem de sua bondade». Ora, essas
consistem». Aqui temos notáveis paralelos do palavras são virtualmente as mesmas de Heb. 1:3. A
primeiro capitulo do evangelho de João e, mediante o expressão «a Sabedoria» de Deus é identificada em I
uso de tais idéias, em combinação com o corrente Cor. 1:30, pelo que parece ser uma idéia similar, se
ensinamento acerca do «Logos», encontramos uma não mesmo diretamente tomada de empréstimo, de
expressão especial, que não é encontrada em parte alguns autores mais antigos. João, por conseguinte,
alguma em sua inteireza, acerca do Filho divino, a meramente seguiu a mesma tradição, e o seu prólogo
força criadora e reveladora. Na famosa descrição da imortal reúne tanto o sentido como as expressões
sabedoria, que se encontra no livro apócrifo verbais de autores mais antigos, os quais haviam
Sabedoria de Salomão (7:22-8:1), a palavra unigénito procurado explicar certos conceitos altamente metafí
também aparece, embora com sentido levemente sicos, como aqueles que dizem respeito a Deus, à sua
diferente. J.A. Gregg, em sua obra The W isdom o f sabedoria, à sua criação e às suas manifestações entre
Salom on (Cambridge University Press, 1909) apresen os homens.
ta uma longa lista de paralelos entre o evangelho de VII. P R O P Ó S IT O S D O E V A N G E L H O D E JO Ã O
João e o livro Sabedoria de Salomão. O Cristo do
evangelho de João é a Sabedoria de Deus, a expressão Até mesmo sem as claras afirmações dos trechos de
de Deus, o conhecimento de Deus entre os homens e, João 20:30,31 e de João 21:24, com facilidade
de fato, na criação inteira. O autor deste evangelho poderíamos compreender por que razão este evange
indubitavelmente estava familiarizado com os diver lho foi escrito. Jesus operou inúmeros milagres e teve
sos modos de expressão dessa literatura de sabedoria, uma vida terrena incomparável e essas coisas foram
e teceu tal linguagem em seu próprio evangelho, de realizadas e ficaram registradas «...para que creiais
maneira muito habilidosa. Dessa maneira foi que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que,
apresentada uma verdade distintiva, embora tivesse crendo, tenhais vida em seu nome». Jesus é, tanto
chegado até nós mediante expressões não conhecidas historicamente como em sentido humano, um
entre os homens, mas, pelo contrário, apresentada verdadeiro homem, como também, em sentido
através de veículos bem conhecidos para aqueles que cósmico, é preexistente, divino. Ele é o Filho de Deus
conheciam e tinham interesse pelas obras da sem igual (conforme também o primeiro capitulo do
literatura religiosa contemporânea ao escritor sagra evangelho de João tanto se esforça por demonstrar).
do. Ora, nessa qualidade de Filho único, ele foi a força
criadora. Esse Cristo, ao mesmo tempo histórico e
3 . Paulo e a epistola aos H ebreus cósmico, deve ser identificado com o Messias do V.T.,
Antes de haver sido escrito o evangelho de João, pelo que também elè é a culminação da esperança
Paulo e o autor da epístola aos Hebreus já haviam messiânica, bem como o grande elo de ligação entre a
desenvolvido uma cristologia bem distinta e que, antiga e a nova dispensações. Isso serve de ataque
apesar de não ter empregado o vocábulo Logos, tanto contra a rejeição com que os judeus —
526
JO ÀO , EVA N G ELH O DE
desprezaram — a Jesus, o Cristo, como contra as se fazia presente antes mesmo de chegarmos ao final
idéias aviltantes que os gnósticos formavam a respeito do primeiro capítulo. No evangelho de João, a frase
dele. Jesus não foi um mero fantasma, segundo eles «...aquele que me enviou...» ocorre por vinte e seis
ensinavam e nem foi meramente Jesus de Nazaré por vezes; e outras expressões sinônimas também são
algum tempo possuído pelo espírito de Cristo, que freqüentes. Dessa maneira, aquela glória divina que
teria entrado nele por ocasião de seu batismo, e que não resplandece claramente, na pessoa de Jesus,
ter-se-ia afastado dele quando de sua morte na cruz, senão quando de sua transfiguração, conforme a
ocasião esta em que a sua missão ter-se-ia narrativa dos evangelhos sinópticos, já pode ser vista
completado. Pelo contrário, a entidade chamada pelo claramente desde a primeira linha do evangelho de
nome de Jesus, era a mesma entidade e tão João, onde Deus emana a sua revelação e presença
preexistente e divina como o Cristo profetizado. Por através do «Verbo» ou «Logos» encarnado. «E o Verbo
ocasião de sua encarnação. Cristo se fez verdadeiro se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de
homem, tendo vivido e sofrido como outros homens, verdade, e vimos a sua glória, glória cçmo do
cumpriu a sua missão. Ele morreu, mas ressuscitou, e unigénito do Pai» (João 1:14).
assim pôde trazer-nos a dádiva da salvação. Por VIII. U N ID A D E D O E V A N G E L H O D E JO Ã O
conseguinte, faz-se necessária a fé para que
recebamos essa salvação. Por essa unidade se entende: o evangelho de João,
Dessa maneira vemos que o grande propósito deste em sua inteireza, teria sido escrito por UM ÜNICO
evangelho de João era parcialmente polêmico, tendo autor? Teria ele reunido diversas fontes informativas,
servido como uma espécie de defesa de certa em diferentes ocasiões, tendo assim agido, pelo menos
cristologia, — em combate contra os judeus e os parcialmente, como um editor? Teria havido mais de
pagãos; mas também foi parcialmente evangelístico, um autor?
porquanto esse Cristo oferece a salvação aos homens.
1. T eoria de um único autor
O epílogo do evangelho de João, que mui
provavelmente foi uma adição feita por algum autor Nesse caso, haveria uma perfeita unidade literária.
ou autores posteriores — posto que o capítulo Alguns têm asseverado que o evangelho de João reflete
vigésimo realmente forma uma conclusão deste uma unidade perfeita, uma «túnica inconsútil». Mas
evangelho, e que o capítulo vigésimo primeiro forma outros estão convictos de que se trata de uma obra
outra conclusão, também polêmica — serve de feita de retalhos, construída por seções, tendo sido
afirmação da grande verdade do evangelho e dá escrita por diversos autores diferentes. Quatro teorias
prosseguimento ao sentimento polêmico, ao dizer: principais podem ser aqui mencionadas e sumariadas:
«Este é o discípulo que dá testemunho a respeito I. Unidade (ou unidade quase perfeita); II. Paredes
destas cousas, e que as escreveu; e sabemos que o seu divisórias; III. Redação; e IV. Deslocamento. Essas
testemunho é verdadeiro». É feita a tentativa para teorias são discutidas minuciosamente nos apêndices
fazer este evangelho repousar em alicerces apostóli C e D do *TheFourth G ospelin R ecent Criticism and
cos, e também para afirmar a veracidade do Interpretation», Londres, Epworth Press, 1945.
testemunho daquele apóstolo, a saber, o apóstolo Considerações lingüísticas parecem pesar em favor
João. Dessa forma vemos que este evangelho é ao da unidade essencial do evangelho de João. Não
mesmo tempo polêmico e evangelístico. encontramos quaisquer transições chocantes de estilo,
Além desses alvos prim ários, podem os observar de vocabulário ou de expressão, como se verifica, por
alguns outros propósitos: exemplo, entre Mar. 16:8 e Mar. 16:9 em diante. (Ver
as discussões ali existentes no NTI). Pelo contrário, o
1. Com bater o judaísmo ortodoxo da época, que estilo é simples, quase infantil, embora majestoso e
havia rejeitado ao Messias, demonstrando que as profundo. Não obstante, a maioria dos eruditos de
autoridades religiosas dos judeus foram as responsá hoje em dia, até mesmo aqueles que concordam com a
veis diretas pelo assassínio do Messias. unidade essencial do livro de João, —considera o
2. R efutar a heresia que dizia que João Batista fora capítulo vigésimo primeiro como um epílogo editorial.
realmente o Messias, e procurar definir as relações O trecho de João 20:30,31 quase certamente é a
entre João Batista e Jesus. Lembremo-nos de que os conclusão do evangelho original de João. Alguns
seguidores de João Batista deram início a uma seita acreditam que o capítulo vigésimo primeiro seja um a
que prosseguiu até bem dentro da era cristã (ver Atos adição, feita pelo próprio autor; e essa teoria não é
19), e que nem todos os seguidores de João se impossível se considerarmos apenas as evidências
tomaram discípulos de Jesus. (Ver João 3:28-30). lingüísticas. Pelo menos os versículos vigésimo quarto
3. Estabelecer o fato de que o cristianismo é mais e vigésimo quinto são uma inserção feita por alguma
do que alguma filosofia religiosa e especulativa m ão posterior, ou pelo menos feita por editores mais
(segundo os gnósticos, em geral, explicavam), e que recentes, como comprovação da veracidade do
Cristo é mais do que um «princípio divino» abstrato. evangelho de João, comprovação essa que poderia
Jesus foi um ser humano verdadeiro, que passou por ter sido feita após o falecimento do autor,
tristezas e sofrimentos e, nessa qualidade, ele se especificamente para estabelecer o evangelho mais
tornou o Salvador dos homens. claramente em alicerces apostólicos, posto que o
4. O evangelho de João não foi escrito como mera apóstolo João é ali identificado como o autor, embora
biografia, como também não o foram os evangelhos o seu nome jamais apareça diretamente mencionado
sinópticos. Como biografia, a julgar pelos padrões no evangelho de João. (Ver a discussão sobre o
modernos, seria uma biografia extremamente abre problema de autoria em um item anterior deste
viada. Trata-se, antes, de tratado teológico, que artigo). Alguns têm conjecturado que o capítulo
incorpora em seu bojo alguns acontecimentos vigésimo primeiro, bem como algum outro material,
históricos da vida de Jesus, mas que, ao mesmo poderiam ter sido acrescentados por membros do
tempo, narra esses eventos como acontecimentos círculo joanino, ou por membros do círculo de
verdadeiramente históricos. O seu propósito, por discípulos ou mesmo por algum discípulo proeminente
conseguinte, é teológico, e não biográfico. do apóstolo João. Esse epílogo evidentemente também
Nos evangelhos sinópticos, a percepção de sua tem por propósito assegurar, à comunidade cristã,
missão divina parece ter raiado gradualmente para que Pedro apóstolo, atualmente uma coluna autori
Jesus; mas, no evangelho de João, essa consciência já zada da igreja cristã, fora perdoado depois de ter
527
JO ÃO , EVA N G ELH O DE
negado a Jesus. Ora, esse fato não foi claramente sinais (por exemplo, João 20:30,31) provavelmente
exposto pelos evangelhos sinópticos, sendo um seria um tradição separada. Além disso, o autor, por
detalhe que requeria maiores esclarecimentos. motivos de interesse teológico, adicionou deter
2 . T eoria das paredes divisórias minado material para emprego eclesiástico, como,
Essa teoria assevera essencialmente que este por exemplo, o sexto capítulo, que provê um caráter
evangelho de João na realidade é obra de m ais de um eucarístico ao discurso feito na sinagoga de Cafar-
autor, podendo ser «dividido» entre diversos autores; e naum. Parte desse material, outrossim, poderia ter
também afirma que vários níveis de material literário sido inteiramente editorial ou mesmo produto da
podem ser descobertos. Essa teoria tem estado imaginação, como criação literária, como', para
associada a nomes tais como Wellhausen, Schwartz e exemplificar, a reabilitação de Pedro, segundo lemos
B.W. Bacon; porém, o seu expositor mais habilidoso no capítulo vigésimo primeiro. Esse mesmo redator ou
tem sido, provavelmente, J.C.B. Mohr, de Tubingen, editor, ao ajuntar os diversos tipos de material, teria
na Alemanha, que publicou dois livros de Emanuel criado certo caos na ordem dos acontecimentos.
Hirsch, Das vierte Evangelium in seiner ursprungli- Segundo essa mesma teoria, também é possível que
chen Gelstalt, e Studien zu m vierten Evangelium . tivesse havido mais de um redator. Algumas das
Para Hirsch, o evangelho original de João consistiria adições teológicas seriam as seguintes: João 1:22-24,
em sete seções, cada uma com cinco subdivisões; e 26,33; 3:5; 3:24; 4:2,22; 5:28,29; 6:27; 7:20,21,38,39;
Hirsch então conjecturou que a parte escrita por João 10:34-36; 11:2; 12:17,18; 18:32; 19:34,35; 20:9.
teria sido preparada por um comerciante, que viajava Rudolph Bultmann foi o grande campeão dessa teoria
em visita a Jerusalém, e que, ali estando, ajuntou (Das Evangelium des Johannes, Gottingen: Vanden-
algum colorido local, que as gerações sucessivas hoeck and Ruprecht, 1941; M eyer’s C om m entary).
equivocadamente teriam imaginado ser provas de que Bultmann também procurou reconstituir esse evan
o evangelho era proveniente de Jerusalém. Posterior gelho segundo sua ordem original, isto é, cronológica
mente, esse simples esboço de um evangelho teria e literária, antes dos redatores supostos terem
caído nas mãos de um eclesiástico qualquer, o qual efetuado o seu manuseio.
teria acrescentado o capítulo vigésimo primeiro, tendo Uma vez mais, entretanto, as evidências lingüísti-
também adicionado, em outros trechos, algumas cas são contrárias a tais «empréstimos», tirados de
alusões ao apóstolo João, a fim de emprestar ao livro fontes informativas tão diversas, a menos, natural
aparências de alicerce apostólico. Por semelhante mente que um único redator tivesse trabalhado,
modo, o livro teria sido enriquecido por citações reagrupando e reescrevendo todas as fontes informati
tiradas do V.T., além de passagens contra o vas que empregou. Porém, não é muito grande a
gnosticismo. Alegorias de natureza teológica também possibilidade dessa obra editorial, especialmente nos
teriam sido acrescentadas, tais como a do Bom tempos antigos, quando os autores tomavam de
Pastor, para fazer o contraste entre o superintendente empréstimo em larga escala, sem pejo, de outros
cristão e o herege gnóstico. Um exemplo de supostas escritores, sem lhes darem qualquer crédito. Outros
adições, feitas pelo segundo suposto autor, seria o sim, poucos eruditos têm favorecido essa teoria. Além
seguinte: João 1:15,24; 2:13,17,25; 3:5,7,11,14,15,24, disso, tal como no caso da teoria das paredes
31, 32; 4:2,22,23,36-38,44,45; 5:22-24,29,30,34,39, divisórias, existem talvez alguns elementos verdadei
43; 6:8,22,28-30,35,36,39,40,44,45,51,53-56,64, 67- ros nesta; mas, a unidade essencial ainda assim fica
71; 7:38,39; 8:23,24,36,46; 10:9,11-13,16,25,26,28, preservada, demonstrando ter havido essencialmente
29,34,35; 11:13,22,42,52; 12:14,15,26,42,43,50; um autor.
13:2,3,10.11,17-20,23,27-29,34-38; 14:3,8,11,13,14, 4. T eoria dos deslocam entos
18-25; 15:1-3,6,10-12,14,16,20-27; 16:1,23,25,26,29- Essa teoria assegura essencialmente que a ordem
32,33; 17:3,11,12,16,20,21,23; 18:1,5,6,9,14,20,24, original do evangelho foi perturbada, talvez por mero
32,39,40; 19:4-6,14,26-28, 35-37; 20:2,11; 21:1-25. acidente, e que a subseqüente junção das seções
Contra essa teoria, podemos observar que parte diversas de papiros criou um evangelho extremamente
desse complexo exame e minuciosa divisão do diferente, quanto à ordem dos acontecimentos, do
evangelho de João não passa de ficção da imaginação, que aparecia no original. Essa teoria repousa em
e a taxa de probabilidade de que isso realmente especulações acerca das dimensões dos pedaços de
represente a verdade, quanto à composição desse papiro e, mediante um novo arranjo, uma suposta
evangelho, é extremamente baixa. Outrossim, a melhor simetria teria sido conseguida e restaurada. O
unidade lingüística do evangelho de João simplesmen arranjo feito por F.H. Hoare {The Original Order and
te não permite a existência de tantos níveis diferentes Chapters o f J o h n ’s Gospel), embora seja um dos
de composição. Também podemos observar que representantes mais destacados dessa teoria, entra em
aqueles que apresentam essa e outras teorias similares grande discórdia com outras restaurações semelhan
estão em grande conflito, entre si, sobre como esse tes, feitas por autores como Friedrich Spitta, F.W.
evangelho deve ser dividido. Não é mesmo impossível Lewis, James Moffatt, J.H. Bernard e G.H.C.
que algum trabalho editorial tenha sido efetuado, e Macgregor, as quais têm alguma coisa de comum
que o capítulo vigésimo primeiro seja um desses entre si. Escritores recentes, tais como E.C. Hoskyns,
acréscimos editoriais; todavia, a unidade essencial do C.H. Dodd, C.K. Barrett, além de outros, não têm
livro tem mais sentido do que essa teoria, e pode ser descoberto qualquer necessidade para tais teorias.
demonstrada com muito maior facilidade. Apesar de talvez surgirem alguns elementos de
3 . T eoria da redação verdade, aqui e ali nessas várias teorias, nenhuma
Essa teoria diz essencialmente que um editor teoria parece ser tão facilmente demonstrável como
reuniu, em um todo completo, diversas fontes
aquela que dá apoio à unidade essencial do livro, que
informativas extremamente divergentes entre si, diz que somente um autor escreveu este evangelho,
muitas das quais nem ao menos eram evangelhos com a possível exceção do capítulo vigésimo primeiro
primitivos, orais ou escritos. Assim é que haveria, do mesmo.
como uma dessas fontes, os discursos reveladores e, IX. R E L A Ç Ã O E N T R E O E V A N G E L H O D E
como outra fonte, a «fonte informativa de sinais». A JO Ã O E A S E P ÍS T O L A S J O A N IN A S E O
fonte reveladora proveria o prólogo e as declarações A P O C A L IP SE
de Cristo sobre o «eu sou». E a fonte informativa de Essa questão é muita antiga, sendo um problema
JO Ã O , EV A N G ELH O D E
que tem atraido bastante atenção de escritores tanto Entretanto, é perfeitamente evidente para qualquer
antigos como modernos. Pelos meados do século III pessoa que está afeita a ler o N.T. grego, que o autor
D.C., Dionísio de Alexandria preparou alguma boa do evangelho de João não p ode ter sido, igualmente, o
evidência para mostrar que este evangelho de João e a autor do livro de Apocalipse. O grego do evangelho de
epístola de I João foram escritos pelo mesmo autor, João é um grego koiné simples, embora literário. Já o
embora tivesse negado que o livro de Apocalipse grego do livro de Apocalipse, em contraste, fica muito
pudesse ter sido escrito pelo mesmo autor. O a desejar gramaticalmente, diferenciando-se de
historiador eclesiástico Eusébio confirmou esse qualquer outro grego usado no N.T. Por essas razões
parecer e, diferentemente de muitos pareceres alguns estudiosos asseveram que certo discípulo,
antigos, esse pensamento vem sendo preservado, até conhecido pelo nome de João, o ancião, tenha sido o
os nossos próprios dias, sem sofrer grandes assédios. autor do livro de Apocalipse. E outros intérpretes
Essas dúvidas têm sido levantadas essencialmente à asseveram que o autor era inteiramente desconhecido,
base de questões como o conteúdo, o estilo e o também chamado «João», embora não possa ser
vocabulário (isto é, considerações de ordem lingüísti- exatamente identificado. Essa foi essencialmente a
ca). Assim é que A.E. Brooke comparou muitas conclusão a que chegou Dionísio de Alexandria,
passagens do evangelho de João com as epístolas sendo geralmente apoiada pelos eruditos modernos.
joaninas. (Ver a sua obra Criticai and Exegetical (Quanto a uma discussão mais ampla sobre esse
C om m entary on the Johannine E pistles, Nova Iorque, assunto, ver o artigo sobre o livro de Apocalipse, no
Charles Scribner’s sons, 1912, Inter. Critic. Commen item intitulado A utor).
tary, págs. 129-135). E as suas conclusões são X. C O N TE Ú D O
favoráveis a essa posição. Por sua vez, C.H . D odd
(*The First E pistle o f John a n d the Fourth Gospel*, no Existem muitas diferenças genuínas de conteúdo,
Bulletin of the John Rylands Library, vol. XXI, 1937, no quarto evangelho, quando confrontado com os
págs. 129-156), encontrou evidências suficientes para evangelhos sinópticos. Verifica-se notável diferença
dar apoio à idéia de uma comum autoria para esses quanto à ordem e à localização dos acontecimentos.
dois livros. Os evangelhos sinópticos apresentam o ministério de
T odavia, existem m uitos estudiosos que acham ser Jesus quase inteiramente confinado à Galiléia, com
preferível crermos que está mais próximo da verdade apenas alguns dias finais em Jerusalém, já perto de
aceitarmos que as epístolas joaninas foram escritas sua morte e ressurreição. Por outro lado, o evangelho
por algum outro autor, que não o autor do evangelho de João apresenta o ministério de Jesus como se tivesse
de João, como, por exemplo, algum discípulo íntim o ocorrido quase inteiramente em Jerusalém ou nas
do autor do quarto evangelho. Essas conclusões se cercanias dessa cidade. O evangelho de João (ao
fundamentam em diferenças lingüísticas e de mencionar festividades judaicas específicas) dá-nos a
conteúdo. Algumas diferenças doutrinárias têm sido idéia de que o ministério de Jesus se prolongou por
alistadas, conforme se vê abaixo: três anos. Mas os evangelhos sinópticos, mediante
menções similares das festividades religiosas dos
1. A epístola de I João está mais próxima da judeus, parecem falar apenas de um ano de ministério
doutrina cristã em geral do que o evangelho de João. para Jesus. João não nos presenteia com qualquer
2. A influência do gnosticismo se mostra mais narrativa sobre o nascimento, o batismo, o sofrimento
aguda nas epístolas do que no evangelho. no jardim do Getsêmani, ou mesmo sobre qualquer
3. No evangelho, o julgamento é exposto como um tentação sofrida por Jesus da parte de Satanás,
processo presente. Já, nas epístolas, trata-se mais de segundo salientam os outros evangelhos, sobretudo os
uma manifestação escatológica, futura. de Mateus e de Lucas, que enfatizam esses
4. Nas epístolas, a morte de Cristo é apresentada acontecimentos. No evangelho de João não há
como expiação e remoção da barreira que impede a qualquer p eq u eno Apocalipse ou bloco de assevera
nossa comunhão com Deus. Mas, no evangelho de ções proféticas, e nem mesmo muitas dessas
João, essa morte se limita à questão da remoção do asseverações, segundo se vê nos evangelhos sinópticos.
pecado do mundo. (Não obstante, uma comparação Nestes evangelhos, a Última Ceia é comida no dia da
entre João 1:29 e 3:16, por um lado, e I João 2:2; 3:5 e páscoa; já no evangelho de João isso sucede na noite
4:9,10, por outro lado, demonstra que o conceito anterior. João não registra qualquer narrativa sobre a
subjacente é o mesmo). ascensão. E assim sucede que menos de dez por cento
5. No evangelho de João, o Espírito Santo é uma do material dos evangelhos sinópticos encontra
pessoa; nas epístolas joaninas é mais uma inspiração paralelo no evangelho de João; mas este depende
profética. igualmente de fontes informativas válidas, embora
Quanto a esses argumentos, além de outros diferentes. Os eruditos modernos se têm sentido
semelhantes, pode-se observar que, na realidade, são especialmente impressionados com a narrativa dada
bastante superficiais, e que qualquer leitor que por João acerca dos últimos dias de Jesus na face da
conheça bem tanto o evangelho de João como as terra (que atualmente, segundo se pensa, cobriram
epístolas de João, não encontra grande dificuldade em alguns meses), em seu ministério final em Jerusalém,
derrubar por terra essas teorias, uma vez que seja incluindo os seus julgamentos, os seus sofrimentos e a
ajudado pela observação de que diferentes oportuni sua morte, e acreditam que João possuía fontes
dades e circunstâncias, bem como audiências antiqüíssimas e fidedignas a respeito desses dias
diversas, facilmente podem explicar tais diferenças. finais, muito mais completas e satisfatórias do que as
Apesar da segunda e da terceira epístolas de João fontes informativas de que dispunham os evangelhos
serem muito breves, o que não nos permite qualquer sinópticos.
análise literária mais extensa, por outro lado, estão João registra apenas oito dos muitos milagres
vinculadas à primeira epístola de João por diversas operados por Jesus, e quatro desses não podem ser
similaridades, tanto em pensamento como na encontrados nos evangelhos sinópticos. Esses quatro
linguagem. Por exemplo, a passagem de II João 7 são: a água transformada em vinho (João 2:1-11);
parece fazer alusão aos falsos mestres da primeira a cura do paralítico de Betesda(João 5:1-16); ocego de
epístola de João, os quais negavam a verdade cardeal nascença (João 9:1-38); e, o mais importante de todos,
da encarnação, o que, naturalmente, é também um a ressurreição de Lázaro (João 11:1-44). João também
dos temas mais salientes do evangelho de João. omite as muitas narrativas sobre exorcismos de
529
JOÃO, EVANGELHO DE - JOÀO. I
demônios, que os sinópticos registraram. A seleção de 4. Continuação do discurso de despedida: a
milagres, feita pelo autor do evangelho de João, foi vinha; a comunhão e o amor; o ódio do
altamente seletiva, calculando apresentar o poder mundo; ensinamentos sobre o Consolador;
sem-par do Senhor Jesus. João também náo apresenta a vitória sobre o mundo (15:16-33)
parábolas, conforme fazem os evangelhos sinópticos; VIII. Oração Sum o Sacerdotal (17:1-26)
por outro lado, expõe discursos altamente desenvolvi IX. Do G etsêm ani ao Calvário (18:1-19:42)
dos, como aqueles sobre o «pão», o «vinho», o «Bom 1. O aprisionamento (18:1-11)
Pastor», a «luz», a «oração sumo sacerdotal», o 2. Julgamento ante o sumo sacerdote e a
«Consolador», etc. negação de Pedro (18:12-27)
A baixo apresentam os um esboço do conteúdo do 3. Jesus na presença de Pilatos (18:28-19:16)
evangelho de João. E embora muitos outros esboços 4. Crucificação e sepultamento de Jesus
igualmente válidos possam ser apresentados, este (19:17-42)
evangelho, mui naturalmente, se divide em dez X. A Ressurreição e os A parecim entos de Jesus
porções: (20:1-25)
I. Prólogo: A Palavra, o Logos, o Cristo 1. Jesus ressuscita (20:1-29)
Preexistente. A Encarnação (1:1-18) 2. Por que o evangelho de João foi escrito
II. João Batista e suas relações para com Jesus (20:30,31)
(1:19-51) 3. E pílogo : Aparição de Jesus à beira do
III. Revelação de Jesus na Judéia, na Galiléia e na lago; restauração de Pedro; conclusão
Samaria (2:1-4:54) (21:1-25)
1. O casamento em Caná (2:1-11) XI. B IB L IO G R A F IA : AM CKB EN I IB LAN
2. A purificação do Templo (2:12-22) MOF NTI R TRA TIN VIN WFH Z
3. A primeira páscoa (2:23-25)
4. Nicodemos e o novo nascimento (3:1-21)
5. O testemunho de João Batista (3:22-30) JOÀO, I (PR IM EIR A EPISTOLA)
6. O testemunho do alto (3:31-36) Esboço:
7. Jesus e a mulher samaritana (4:1-26) Introdução:
8. Jesus e os samaritanos (4:27-42) I.Confirmação Antiga
9. Jesus e os galileus — o filho do oficial II. Autoria
(4:43-54)
IV. Diversos Sinais e Controvérsias (5:1-9:41) III.Data, Proveniência e Destino
1. Cura de um aleijado e a controvérsia sobre IV. Motivos e Propósitos
o sábado (5:1-18) V. Relação entre as Epístolas e o Evangelho de
2. Unidade do Pai e do Filho: O Filho dá João
vida (5:19-47) VI. Temas Principais
3. O pão da vida: a multidão é alimentada VII. Conteúdo
(6:1-15) VIII. Bibliografia
4. Jesus anda sobre o mar (6:16-21) Embora haja dúvidas quanto ao autor (ou autores)
5. Em Cafarnaum: discurso na sinagoga do material joanino — o evangelho, as epístolas e o
(6:22-59) Apocalipse — nas introduções as três epístolas são
6. A prova da fé (6:60-71) normalmente tratadas como uma unidade. Esta
7. A festa dos Tabernáculos (7:1-14) introdução as agrupa, pois não há qualquer razão
8. Mais controvérsias (7:15-24) convincente de que não provieram todas as três da
9. Tentativa para aprisionar a Jesus mesma escola de tradição, ainda que mais de um
(7:32-36) autor tivesse estado envolvido em sua escrita. As
10. Jesus e a mulher adúltera (7:53-8:11) diversas idéias sobre a questão da autoria estão
11. Jesus é a Luz do mundo (8:12-20) contidas na seção II da presente introdução.
12. Controvérsia sobre a autoridade de Jesus Tal como no caso dos livros aos Hebreus e de Tiago,
(8:21-59) ainda que a primeira epistola de João seja chamada de
13. Cura do cego (9:1-41) «epístola», nada há de epistolar na mesma. Mais
provavelmente trata-se de um tratado, de uma
V. Prelúdio ao Fim do Ministério Público de dissertação, que visava uma situação particular na
Jesus (10:1-11:57) igreja, e não uma congregação ou um grupo de
1. O bom Pastor (10:1-18) congregações cristãs, como se dá no caso de uma
2. A festa da Dedicação (10:19-40) carta. Em contraste com isso, II e III João são
3. A ressurreição de Lázaro (11:1-57) definidamente dotadas de natureza epistolar. A
VI. Fim do M inistério de Jesus (12:1-50) atração de todas as três, contudo, reside na
1. Unção em Betânia (12:1-8) simplicidade e no poder de seu testemunho, no
2. Os perigos (12:9-11) sentido que Deus é amor, e que a verdadeira
3. A entrada triunfal em Jerusalém (12:12-19) espiritualidade consite no amor. Apesar de nos
4. Gregos procuram a Jesus (12:20-26) fornecerem essa forma de ensinamento «positivo»,
5. Agonia de Jesus e a voz do céu (12:27-36) também atacam a heresia gnóstica incipiente; e
6. Jesus é rejeitado (12:36-43) assim, juntamente com as chamadas epístolas
7. Julgamento mediante a Palavra (12:44-50) pastorais, I e II Timóteo e Tito, II Pedro, Judas e
VII. No Cenáculo (13:1-16:33) Colossenses (e talvez até mesmo Efésios), elas se
1. O lava-pés (13:1-20) tornaram parte do que se tomou conhecido por
2. A traição é predita (12:21-30) «literatura de heresia», isto é, a porção do N.T. que foi
3. Discurso de despedida: novo mandamento; escrita para combater as primeiras heresias que
predição da negação de Pedro; o Caminho, surgiram no seio do cristianismo.
a Verdade e a Vida; o Consolador; a paz e Essas epístolas de João também vieram a ser
a alegria (13:31-14:31) classificadas junto às «epístolas católicas», alinhando-
530
JO Ã O I (P R IM E IR A EPÍSTO LA )
se ao laclo das epístolas de Tiago, de I e II Pedro e de seus escritos) como de autoria do apóstolo João; e isso
Judas. Todas elas recebem essa designação. A palavra é estranho, se soubesse que assim era, pois ele mesmo
«católica», aplicada a cada uma dessas epístolas (ou era discípulo pessoal de João. Poderia ele citar a seu
tratados) tem recebido muitos significados no mestre, sem identificá-lo?
decorrer da história eclesiástica. Há notas expositivas A D idache, ou seja, obra que reúne os ensinamen
sobre isso na exposição sobre a epístola de Tiago, tos dos apóstolos, com data de cerca de 150 D.C. (em
imediatamente antes das notas expositivas começa c.x), parece ter tirado proveito de I João 4:18.
rem, em Tia. 1:1 no NTI. O significado ordinaria Irineu. Sua obra III.xvi.5 fala do evangelho e das
mente dado ao termo católica, quando aplicado a epístolas do apóstolo João. Embora ele fale no
essas epístolas, é que tencionavam ser «universais», ou singular «a epístola de João», seus escritos, na
seja, foram dirigidas à igreja em geral, ou ao realidade, contém citações extraídas da segunda
cristianismo de uma área geral, e não a alguma epístola. Assim sendo, ao falar em «a epístola»,
comunidade cristã em particular e muito menos provavelmente ele se referia à «coletânea joanina». Ele
ainda, a algum indivíduo isolado. se refere aos «profetas falsos» aludidos em I João 4:1-3
I. C O N F IR M A Ç Ã O A N T IG A e II João 7,8 e fá-lo de tal modo que dá claramente a
Devemos saber distinguir os «ecos» — e as entender que tinha essas epístolas de João à sua
«influências» literárias do «material em comum» e das frente. Nos escritos de Irineu, entretanto, não temos
«citações diretas». Nunca será fácil perceber se algum qualquer citação clara extraída da terceira epístola de
dos pais da igreja cita uma obra diretamente, a menos João, sendo possível que sua aceitação e uso tenha
que se faça uma tradução de palavra por palavra, ou ocorrido algum tempo depois da aceitação e do uso
se houver a identificação de suas palavras como uma atribuídos à primeira e à segunda epístolas, de João.
citação. No caso das «epístolas católicas» somente I C lem ente de Alexandria. Ver S tr. ii. 15.66 que cita
Pedro e as epístolas joaninas gozam de confirmação I João 5:16 e ss. Str. iii cita I João 1:6 e ss;
verdadeiramente antiga (antes do século III D.C.). No iii.5.42,44 e iii.6.45 que reverberam material joanino;
caso de I João há citações extraídas da mesma nos Quis Div. Salv. 37:6, que foi extraído de I João 3:15;
escritos dos primeiros pais da igreja, embora não Ib. Str. iv. 16.100 que muito se assemelha a I João
exista qualquer afirmativa de que o apóstolo João a 3:18 ess; 4:16,18 e 5:3; v.1.13 que é trecho parecido
escreveu, senão já no fim do segundo século de nossa com I João 4:16; iv.18,113 que se parece com I João
era. 4:16; Quis Div. Salv. 38 que se parece com I João
4:18. Clemente faz pleno uso das duas primeiras
De modo bem geral, pode-se afirmar que a epístolas de João, mas nunca da terceira. Isso poderia
primeira epístola de João foi utilizada por Papias (140 ter motivo em alguma circunstância, porém, em que a
D.C.), foi citada por Policarpo (110 — 120 D.C.), e terceira epístola não se prestava diretamente para os
mui provavelmente também foi citada por Justino seus fins.
Mártir (150 — 160 D.C.). Irineu (180 D.C.) aceitava £ questão debatida se o Fragm ento M uratoriano
essa epistola como obra do apóstolo João. O Cânon confirma todas as três epístolas de João. Pelo menos
'Muratoriano (180 — 200 D.C.) alista-a (juntamente são confirmadas (as duas primeiras, além do que elas
com a segunda e a terceira epístolas de João) como são identificadas com João, o apóstolo.
obra canônica e joanina. E isso foi aceito por Origenes. (em Joann. v.3, ex Euseb., História
Clemente, Origenes e seus sucessores de Alexandria. Eclesiástica vi.25) confirma o material joanino,
A segunda e a terceira epístolas de João algumas vezes incluindo o livro de Apocalipse, mencionando João
têm sido postas em dúvida, desde os primeiros por nome. Suas citações, entretanto, se limitam à
tempos, talvez devido à sua natureza breve. Mas primeira epistola de João. Informa-nos esse pai da
Eusébio (século IV D.C.) mostra-nos que nunca igreja que a autoria das «duas epístolas menores» era
houve quaisquer dúvidas, entre os cristãos, acerca da questão disputada em seus dias.
autenticidade da primeira epístola de João. Aqueles Tertuliano. Usou por muitas vezes a primeira
que têm estudado sobre questões de «confirmação» epístola de João, mas não as outras. A história da
percebem que a confirmação proporcionada à segunda e da terceira epistolas de João é muito difícil
primeira epístola de João é quase tão boa como aquela de ser traçada; alusões específicas à terceira nem
dada a qualquer outro dos livros do N.T. Entretanto, existem; e o uso que os pais da igreja fazem da
os primeiros cânones alistavam dez epístolas paulinas segunda é bem escasso. O Cânon de Edessa (século IV
e os quatro evangelhos, o que vale dizer que nem D.C.) não continha qualquer dos escritos joaninos
mesmo a primeira epístola de João fez parte dos epistolares, aceitando apenas os evangelhos, o livro de
primeiros pronunciamentos canônicos. Contudo, não Atos e as epístolas paulinas. E isso concorda com o
demorou muito, depois desses primeiros pronuncia Cânon Sírio original (400 D.C.). Porém, em outras
mentos, para que I João, pelo menos, assumisse porções da igreja antiga, parece que todas as três
um lugar entre aqueles livros tão prestigiados. epístolas de João já tinham sido aceitas como
(Ver o artigo sobre Cânon do Novo Testamento). canônicas, pelos fins do segundo século. Quanto à
O i pais da Igreja, em particular, dão seu primeira não havia dúvidas; quanto à segunda, havia
testem unho: alguma confirmação; e quanto à terceira era
Clem ente de R om a. R om anos xlix.5 talvez reflita o ignorada, ou então referida como pertencente à
trecho de I João 4:18. R om anos 1:3, por igual modo, mesma coletânea, sem qualquer designação específi
parece ser uma reverberação daquela passagem ca, como «a terceira».
joanina. Eusébio informa-nos que Clemente de Alexandria
Policarpo. Ad Phil. c.vii se assemelha a I João 4:2 (e comentou sobre todas as «sete» epístolas católicas.
2:18,22 e 3:8 se parecem com II João 7). Essas Assim, pelo menos no Oriente, todas as três epístolas
passagens mostram, ao menos, que Policarpo estava de João, no meio do século III D.C., provavel
familiarizado com as epístolas joaninas. Alguns mente já tinham recebido posição canônica.
estudiosos têm argumentado, porém, que a influência A tanásio (367 D.C.), em sua trigésima nona
é justamente o contrário — as epístolas joaninas é que epístola festal, incluiu todas as três epístolas de João;
ecoariam os escritos de Policarpo. Ele não cita as e isso reflete uso oficial das mesmas no Egito, naquela
epístolas (caso elas tenham surgido primeiro, e não os ocasião. Essa é a primeira declaração que possuímos
631
JO ÃO , I (P R IM E IR A E PISTO LA )
de que a igreja cristã aceitava todos os livros do N.T. apóstolo João. Diversos intérpretes modernos têm
que hoje em dia são considerados canônicos. Até concordado com isso, pelo aue esse «João», na opinião
aquela época, a questão inteira do «cânon», deles, era algum cristão desconhecido, do começo do
excetuando os evangelhos e dez epístolas paulinas, era segundo século de nossa era e não o mesmo João do
fluída. Mas continuou havendo dúvidas acerca de quarto evangelho.
algumas das epístolas católicas, em certas porções do No entanto, pelo menos a primeira epístola de João
cristianismo, até o1 concílio de Trento (13 de está intimamente vinculada ao evangelho de João (ver
dezembro de 1545 a 4 de dezembro de 1563). Os â seção V quanto a total estudo sobre isso). O
protestantes, de modo geral, adotaram seus pronun evangelho de João (em 21:20 e ss) encerra uma
ciamentos, mas sem os livros apócrifos do A.T. declaração de autoria joanina. Naturalmente, isso é
Contudo, muitos indivíduos, incluindo alguns dos no epílogo do livro, e talvez tenha sido feito por
líderes da Reforma, até mesmo estudiosos modernos, anotação dos discípulos de João, em Efeso, signifi
têm posto em dúvida um ou mais livros do N.T., que, cando que o evangelho de Efeso se baseava sobre a
na realidade, são canônicos e inspirados; e as tradição jo anina do evangelho, embora não signifique
epístolas católicas provêem a origem da maioria isso que o mesmo foi escrito pessoalm ente pelo
dessas dúvidas. apóstolo. Não nos olvidemos que o evangelho de
II. A U T O R IA Marcos, no tocante a seu fundo histórico, repousa
sobre as memórias de Pedro, embora certamente não
Alguns estudiosos debatem se o mesmo autor tenha sido Simão a única fonte informativa. Se no
compôs todas as três epístolas que agora chamamos evangelho de Marcos, houvesse declaração similar à
«de João». Porém, quase todas as introduções ao de João 21:20 e ss, baseando aquele evangelho sobre a
material joanino as manuseiam como uma unidade. E tradição petrina, não tenhamos dúvidas de que tal
quase certo, pelo menos, que a segunda e a terceira evangelho teria chegado até nós como o evangelho
epístolas de João saíram da mesma pena. O autor da de Pedro, ainda que tivesse sido escrito pelo punho
primeira epístola de João permanece estritamente de Marcos. Assim também, o evangelho de João,
anônim o, e sua identificação como o apóstolo João se embora escrito pelo punho de algum membro da
originou devido às grandes e muitas similaridades comunidade cristã de Efeso, porquanto reflete a
com o evangelho de João. Na segunda e na terceira tradição joanina, chegou até nós com o nome de
epístolas, o autor se identifica como «o ancião», mas evangelho de João. O material joanino, além do
sem deixar entendido quem poderia ser ele. Perto dos evangelho de João, desde tempos antigos vem sendo
fins do século II D.C., todas essas três epístolas atribuído a João, filho de Zebedeu; mas há estudiosos
vieram a ser conhecidas como de autoria de João, o que o têm atribuído ao João aludido por Papias, o
apóstolo; mas Orígenes informa-nos de que a questão ancião de Efeso (que não era o apóstolo do mesmo
de autoria continuava disputada em sua época. Em nome). E ainda outros estudiosos, nos tempos
algumas porções da igreja, até mesmo no século IV antigos, não faziam qualquer idéia quanto à sua
D.C., essas epístolas continuavam não sendo aceitas autoria, conforme nos mostra Orígenes, nos meados
como canônicas e nem como joaninas. Há eruditos que do século terceiro de nossa era.
têm identificado a primeira epístola de João com o
evangelho de João, como obras de um mesmo autor e Teorias sobre a autoria dos livro« Joaninos
classificam a segunda e a terceira epístolas de João 1. Ponto de vista tradicional, depois do século IV
juntamente com o livro de Apocalipse. A qualidade e D.C. João, o apóstolo, teria escrito o evangelho, as
o estilo do grego, no livro de Apocalipse, mostram ter três epístolas de seu nome e o livro de Apocalipse.
sido impossível que o autor do evangelho (ou da Praticamente nenhum erudito moderno toma essa
primeira epístola de João) tivesse sido também o autor posição, porquanto se reconhece que pelo menos o
do livro de Apocalipse. O evangelho de João exibe um livro de Apocalipse teve por autor alguém cujo
grego muito simples, mas puro. Já o grego do livro de domínio do grego era fluente, mas não muito correto,
Apocalipse é notoriamente deficiente, apesar de que a gramaticalmente, inserindo muitos modos de expres
mensagem que nos é transmitida é esplêndida. Não são próprios do aramaico. O evangelho de João tem
obstante, há estudiosos que pensam ter sido um o um grego muito simples, mas puro, e as influências
autor do evangelho de João e outro o autor da aramaicas são muito menores. Na primeira epístola
priípeira epístola de João, pensando que as similari de João não há aramaísmos. Se o apóstolo João é
dades entre um e outro desses livros foram quem escreveu esses livros, deve-se pensar que ele deu
propositadamente feitas, isto é, que o autor de um sua obra para que um revisor a refizesse completa
desses livros imitou o do outro. Há aqueles estudiosos mente, porquanto o grego de nenhum desses livros
que argumentam que o mesmo autor escreveu a pertence ao tipo que um estrangeiro — um aldeão
primeira e a segunda epístolas de João (havendo um galileu — teria escrito.
autor diferente para o evangelho de João), e que a 2. Alguns estudiosos afirmam que o evangelho e as
terceira epístola de João foi escrita pelo autor do livro .três epístolas são joaninas (de autoria do apóstolo
de Apocalipse. João), mas que o Apocalipse foi escrito pelo «ancião»
N io há m aneira certa de alguém resolver o da Ásia Menor, um outro homem de nome João. Esse
problema de autoria dessas epístolas. Devemos ponto de vista pelo menos é defensível, mas deixa sem
observar que, no tocante às epístolas de João e ao livro resposta a questão do «tipo de grego» empregado.
de Apocalipse, não há qualquer declaração, nessas Além disso, há diferenças genuínas entre o evangelho
obras, de que foi o apóstolo João quem as escreveu; e e as epístolas (discutidas na seção V da presente
isso nem ao menos foi sugerido até o fim do século II introdução), que não recebem estudo convincente da
D.C. Portanto, sem importar o que cremos sobre a parte dos advogados de tal teoria.
autoria desses livros, tal crença deve repousar, pelo 3. Outros estudiosos afirmam que o evangelho e as
menos em parte, sobre a tradição ou conjectura, epístolas foram escritos por um discípulo de João, ao
porque nenhuma evidência interna serve para passo que o Apocalipse foi escrito pelo próprio
comprovar qualquer coisa. O livro de Apocalipse apóstolo. Ou que o Apocalipse poderia ter sido escrito
afirma ter sido escrito por «João»; mas Papias parece ainda por um outro discípulo do círculo de Efeso, que
ter conjecturado que esse era João, um «ancião» da teria preservado a tradição e os ensinamentos
Âsia Menor, a quem ele não identificou como o joaninos. Certas citações extraídas dos escritos de
532
JO Ã O , I (P R IM E IR A EPISTO LA )
Papias são usadas em apoio a essa idéia. Essa é a idéia sido dada ao público mais tarde, porquanto não é
de defesa mais fácil, considerando-se todas as citada pelos primeiros pais da igreja. Todavia, não é
dificuldades. Sem importar se o «discípulo» ou impossível que meramente tenha sido negligenciada
«discípulos» estiveram envolvidos ou não, como por eles, devido à sua extrema brevidade e tema tão
discípulos em «primeira mão do apóstolo João, é algo limitado.
que pode ser debatido; mas, pelo menos, é certo que Proveniência. Trádicionalmente, todas as três
não estavam muito distanciados dele, pois o epistolas «joaninas» bem como o evangelho de João,
evangelho e a primeira epístola de João são têm estado associados à Ãsia Menor, particularmente
confirmados desde tempos bem rem otos, desde a à cidade de Éfeso. O apóstolo João aparentemente
primeira porção do século II D.C. Podemos dizer que labutou ali, e ali se desenvolveu sua tradição
o evangelho e as epístolas são joaninos, embora talvez evangélica. O fato de que se opõem à certa forma de
não escritos pelo próprio punho de João. Mas, para gnosticismo que se sabe ter havido naquela área
todos os propósitos práticos, chegamos ao mesmo (contra a qual Colossehses, II Pedro e Judas também
ponto, a saber, à autoridade e à tradição apostólicas, foram escritos) também favorece essa teoria. Polícra-
que confirmam esses livros. João, como poderoso líder tes, bispo de Éfeso (190 D.C.), declarou que João,
apostólico da comunidade cristã da Ãsia Menor, «que se reclinava ao peito do Senhor», após ter sido
como mestre que atuou por longo tempo naquela «testemunha e mestre, dormiu em Éfeso». E Irineu
porção do mundo, naturalmente desenvolveu seus afirma que João «entregou» o evangelHò e combateu
modos de expressão pessoais, suas próprias ênfases, aos hereges, recusando-se a permanecer sob o mesmo
suas próprias idéias. E os seus discípulos imediatos se teto com Cerinto, o «adversário da verdade». E em
alicerçaram fortemente sobre essa sua tradição e, Éfeso ele permaneceu morando até os dias de
naturalmente, seguiram sua maneira de exprimir as Trajano, o qual reinou em 98 — 117 D.C. Jerônimo
idéias, enfatizando aquilo que era considerado repete a tradição que associa João a Éfeso, e fala da
importante. Portanto, mais de um autor poderia ter avançada idade a que ele chegou. Também alude ao
produzido uma obra genuinam ente jo a n in a ; e talvez fato de que sua ênfase sempre foi «amor entre os
isso é o que tenha sucedido no caso da «coletânea irmãos».
joanina». Apesar de que alguns disputem que João residiu em
Contra a idéia de que o próprio apóstolo João Éfeso, Westcott concluiu que «nada é melhor
escreveu esses livros que ora consideramos, levamos confirmado, na história da igreja primitiva, do que a
em conta os pontos seguintes: 1. Nenhuma identifica residência e a obra do apóstolo João em Éfeso».
ção pessoal aparece ali: os livros são anônimos. 2. O Porém, há alguma evidência em prol de um martírio
grego envolvido está longe da possibilidade de ser um mais no começo de sua vida, deixando óbvia a
«idioma adquirido». 3. A tradição antiga não dá apoio residência de João em Éfeso. Um cronista do século
à escrita desses livros diretam ente pelo apóstolo João, IX D.C., Jorge Hamartolos, reproduziu uma declara
segundo se dá no caso de várias das epístolas ção contida na história de Filipe de Side (cerca de 450
paulinas, no tocante ao apóstolo dos gentios. D.C.), que alude a um antigo fragmento de um
Estas objeções (contra a idéia que o Apóstolo João documento que fala sobre o martírio, desde cedo, de
escreveu a coletânea pessoalmente) podem ser «ambos» os filhos de Zebedeu. Mas Eusébio deixa de
respondidas como segue: 1. O Evangelho não é lado todas as tradições dessa ordem; e a maioria dos
anônimo, considerando a declaração de 21:24. As eruditos tem duvidado de sua validade, é possível que
similaridades de idéias e expressões nas Epístolas e no a declaração de Side se tenha baseado no martirológio
Apocalipse, indicam que esta declaração pode ser sírio, escrito em cerca de 400 D.C. no qual a data de
estendida para incluir estes livros. 2. O grego 27 de dezembro é dedicada a «João e Tiago, os
diferente de cada um é devido aos escribas diversos apóstolos em Jerusalém», os quais, supostamente,
empregados na redução. 3. A tradição antiga é forte teriam sido ali martirizados. Contudo, não há
em favor do Evangelho e I João. É mais fraca no caso qualquer razão em supormos que esse martirológio
das outras duas cartas, provavelmente por causa de preserva qualquer tradição antiga autêntica; e nem se
seus tamanhos tão pequenos e insignificantes. A segue que o martírio de ambos necessariamente tenha
relutância da igreja primitiva em aceitar o Apocalipse tido lugar ao mesmo tempo, somente porque a data
provavelmente foi devido ao fato de que diversos que relembra a ambos é uma só. Fatal a essa teoria é a
outros livros semelhantes (os apocalipses judaicos) narrativa do livro de Atos, o qual, apesar de registrar
estavam circulando ao mesmo tempo, e estes livros a morte de Tiago, nada fala scbre João. É impossível
não ganharam um lugar no cânon dos livros sagrados. que se o apóstolo João tivesse sido martirizado
O Apocalipse de João, o maior dos apocalipses, podia juntamente com Tiago, que isso tivesse sido olvidado
ter sofrido por causa da cautela dos antigos em aceitar pot Lucas. (Ver Atos 12:2 quanto à narrativa sobre a
tais livros como autoritários. Finalmente, devido ao morte de Tiago, e que ali é identificado como irmão
seu valor intrínseco o Apocalipse de João ganhou um de João). Nenhuma teoria, pois, se pode rivalizar com
lugar merecido no cânon. O grego do livro é do tipo aquela que coloca João em Éfeso, e isso até
que esperaríamos de alguém nascido na Galiléia, avançadissima idade.
quem adquiriu grego num centro como Éfeso, um Além disso, é dito que João, o «ancião», referido por
autor que pensava em aramaico mas escrevia em Papias, morreu em Éfeso. E que, nos dias de Papias,
grego. seu sepulcro era conhecido. Portanto, ainda que o
III. D A T A , P R O V E N IÊ N C IA E D E S T IN O apóstolo João não tenha escrito pessoalmente os livros
D ate. Dado que Policarpo (110-120 D.C.) cita a em questão, a tradição os vincula a Éfeso.
coletânea inteira dos escritos joaninos, com exceção D eatino. Todas as três epistolas de João parecem ter
da terceira epístola, dificilmente tais livros foram sido endereçadas às comunidades cristãs da Ãsia
escritos muito depois da primeira porção do segundo Menor, vários membros das quais eram conhecidos
século. O próprio João, evidentemente, viveu até o pelo autor sagrado. A tradição universal é que foram
fim do I o século ou até o começo do 2o século. Assim, enviadas à província romana da Ãsia, território
de qualquer modo, esses livros foram escritos modemamente conhecido por Turquia. As principais
imediatamente ou quase imediatamente após a sua cidades dessa área eram aquelas sete que figuram no
morte. É possível que a terceira epistola de João tenha Apocalipse: Éfeso, Esmima, Pérgamo, Tiatira
JOÃO, I (PRIMEIRA EPÍSTOLA)
Sardes, Filadélfia e Laodicéia, além de Colossos e negando que ele era o Cabeça de tudo. A epístola aos
Hierápolis. Para essa área em geral também foram Colossenses foi especialmente escrita para combater
enviadas a primeira e a segunda epístolas de Pedro e a essa modalidade de gnosticismo, juntamente com seu
epístola de Judas. Portanto, a «literatura de heresia» «ascetismo», que foi antes uma das manifestações
surgiu a fim de combater os assédios dos gnósticos éticas daquela variedade herética. (Ver Col. 2:15 ess).
naquela região, além de dar instruções éticas Alguns elementos gnósticos eram licenciosos; e contra
necessárias aos crentes dali. A primeira epístola de isso é que foram escritas as «epístolas pastorais» e a
João foi escrita para combater o gnosticismo docético, segunda epístola de Pedro. Podemos supor, com base
que se sabe ter florescido na região da Ásia Menor que em I João 2:15-17, que os gnósticos das igrejas para as
se supõe haver recebido essa epístola. A epístola aos quais João escreveu também tinham um caráter
Colossenses foi escrita para combater o gnosticismo licencioso. (Ver essa conexão, em todo o segundo
ascético; e a segunda epístola de Pedro, para capítulo da segunda epístola de Pedro e o trecho de II
combater uma variedade licenciosa do gnosticismo. Tim. 3:6 e ss).
Sem dúvida alguma, todas essas formas pululavam na
Ásia Menor. Apesar de não haver evidências Mas, se Cristo Jesus tivesse sido apenas um dentre
esmagadoras em favor da «Ásia Menor», como muitíssimos mediadores, então ele nada tinha de
destino, esse destino simplesmente não tem rival. especial, no tocante à salvação dos homens. (Tal
Alguns poucos manuscritos trazem títulos que conceito é denunciado no segundo capitulo da
destinam as epístolas de João a parthos. Mas não há primeira epístola a Timóteo). Os gnósticos, pois,
qualquer tradição que vincule João aos «partas» atacavam tanto a verdadeira divindade como a
(antigo reino a sudoeste do mar Cáspio). verdadeira humanidade de Cristo Jesus. O evangelho
de João foi escrito para defender sua divindade; e a
Clemente de Alexandria aludiu a essas epístolas primeira epistola de João foi escrita para defender sua
como escritas às «virgens», e alguns estudiosos têm humanidade. O evangelho de João dá a entender a
conjecturado que «parthos» seja abreviação ou humanidade de Cristo e defende a sua divindade; e a
corruptela de «parthenos» (virgem). Mas outros dizem primeira epístola de João dá a entender a sua
que «parthenos» teria sido uma explicação para um divindade e defende a sua humanidade.
original parthos. Agostinho repetiu a identificação Ê impossível classificar-se exatamente os tipos de
de «parthos» como o destino dessas epístolas. Mas gnosticismo que assediavam cada área. O mais certo é
todas essas tradições são mal definidas e envolvem
obscuridades. que todas as formas de gnosticismo se faziam
presentes em cada área, embora algumas dessas
IV. M O T IV O S E P R O P Ó SIT O S formas predominassem aqui ou acolá. Os falsos
Cerinto, contemporâneo de João, e a quem este se mestres algumas vezes se mostravam totalmente
opôs, era um gnóstico. Nada sobreviveu até nós de desorganizados em seu pensamento e prática. Por isso
seus escritos, e os primeiros pais da igreja apresentam é que E.C. Hoskyns e Noel Davey sugeriram: «O autor
um quadro confuso sobre sua heresia. Mas vinculam- dos escritos joaninos, tal como o apóstolo Paulo,
no a Éfeso, fazendo dele um oponente do apóstolo enfrentava um romantismo religioso desordenado...
João. Evidentemente, Cerinto cria que o homem Jesus quando escreveu o romantismo espiritual tinha
fora filho natural de José, e que seu poder se devera a penetrado na igreja, sendo confiantemente declarado
uma descida temporária de um «aeon» ou emanação como a essência da religião cristã. Portanto, ele se
angelical. Tal «aeon» teria vindo sobre Jesus quando preocupa menos com o romantismo espiritual no
de seu batismo, tendo-o abandonado por ocasião da mundo do que com seu aparecimento no seio da
crucificação. Alguns manuscritos posteriores chegam igreja; e sentiu-se compelido a lançar toda a sua
mesmo a dizer: «Meu poder, meu poder, por que me energia pastoral e literária a fim de recuperar o
abandonaste?» uma corrupção gnóstica da conhecida controle da igreja pela vida e morte de Jesus». (The
declaração de Jesus. O texto do A.T. poderia ser R id d le o fth e N .T ., Nova Iorque, Harcourt, Braceand
assim traduzido, embora o original grego, evidente Co., 1931, págs. 231-232).
mente, não o possa. (Ver Sal. 22:1). Parece que Irineu mostra a confusão que existia entre os
Cerinto também negava o valor da expiação de Cristo gnósticos, mediante sua declaração: «A doutrina deles
(ponto de vista bastante comum entre os gnósticos, é homicida, conjurando, por assim dizer, certo
conforme se vê em II Ped. 2:1, onde se lê: «...ao ponto número de deuses e simulando muitos pais, ao mesmo
de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou...»). tempo que rebaixa e divide o Filho de Deus de muitos
Os gnósticos criam que o ato do batismo é muito modos». (Contra Heresias, III. 16.5; comparar com
importante, pois o «aeon» teria descido sobre Jesus de III.16.8).
Nazaré naquele momento. Contudo, negavam o valpr O gnocticiamo, tal como o cristianismo, essencial
de seu sangue vertido. Assim, segundo afirmavam, mente ensinava um plano de salvação, embora de
Cristo veio pela água, mas não pelo sangue. maneiras bem diversas entre si. O gnosticismo
Alguns estudiosos têm negado a influência de postulava um deus «deísta», isto é, que emanara os
Cerinto: mas, mesmo sem ele, está em foco alguma universos (mediante mediadores ou emanações) mas
forma docética de gnosticismo, como heresia comba que não teria qualquer contacto pessoal com os
tida. O docetismo ensinava que o Cristo real não era homens, por ser por demais grande para tanto. A
«humano» e que o seu corpo era apenas um fantasma. matéria é vil demais, e o ser supremo não poderia
Assim, pois, sua vida como homem e seus contaminar-se com ela, porque a matéria seria o
sofrimentos, teriam sido irreais — eram apenas parte próprio princípio do pecado. Assim, a fim de entrar
do papel desempenhado pelo «aeon». Notemos como o em contacto com seres tão inferiores, era obrigado a
trecho de I João 4:2,3 identifica os hereges como tratar com eles mediante uma quase interminável
aqueles que negavam a verdadeira humanidade de sucessão de emanações angelicais fantasmagóricas.
Cristo. Os heréticos exibiam o espírito do «anticristo». Cristo seria uma dessas emanações, mas não
Temos ali uma denúncia contra o gnosticismo necessariamente a maior delas. De fato, a maioria dos
docético. Os gnósticos, que faziam do Cristo apenas gnósticos declarava que Cristo não era o «aeon»
um dentre muitos «aeons» ou manifestações ou maior, o «demiurgo», que teria criado este mundo,
emanações angelicais, tinham abandonado, por isso teria problemas pessoais, sendo uma emanação
mesmo, a verdade do «senhorio» absoluto de Cristo, imperfeita de Deus, porquanto habitaria em trevas
JO ÃO , I (P R IM E IR A EPISTOLA )
quase totais, por encontrar-se na linha fronteiriça conforme talvez fique subentendido), mediante a
entre a matéria e o espírito, uma longa distância de confissão. E é mediante o sangue de Cristo que nos
Deus. Álguns gnósticos identificavam esse demiurgo chega o perdão divino (ver I João 1:9). A fé é um
Com o Deus do A.T. e outros.com Cristo. Seja como grande princípio que os gnósticos gostavam de
for, para eles Cristo era apenas um dentre muitos subestimar. Porém, através da fé é que obtemos
mediadores angelicais; e a salvação consistiria, antes vitória sobre o mundo (ver I João 5:4,5), e essa fé é em
de tudo, do indivíduo livrar-se da matéria (e, Cristo.
portanto, do corpo físico), para então participar da O propósito do autor sagrado, portanto, foi fazer
essência dos mediadores angelicais, com a reabsorção oposição a certa heresia (o que provocara a escrita
final na essência de Deus, quando então a alma dessa primeira epístola de João), ensinando certos
perderia a sua individualidade e o ego se tornaria princípios positivos da fé cristã. Desse modo esperava
parte do «superego». Além disso, a maioria dos pregar aos crentes para que resistissem aos assédios
homens são de inclinações tão materiais que nunca da heresia, aclarando a visão deles quanto ao
serão capazes de desvencilhar-se da matéria, sendo significado de Cristo e seu amor, para que tivessem
forçados a perecer juntamente com a mesma. nele uma fé completa. Assim viriam a participar da
Portanto, não poderiam ser remidos. Os gnósticos «vida eterna» (ver I João 5:13), o que mostra o
chamavam tais pessoas de hílicos, termo esse «propósito» mais central do autor sagrado, ao escrever
derivado do vocábulo grego que significa «matéria». essa epístola.
Outrossim, mediante a fé , algumas pessoas de «Alguns mestres falsos ensinavam, na província da
natureza «psíquica», como os profetas do A.T., Ãsia, que Jesus não era homem verdadeiro, e que,
haveriam de obter certa forma inferior de redenção. quando de seu batismo, descera sobre ele um
Mas, mediante o «conhecimento» (no grego, «gnosis», elemento divino, tornando-o o Messias, embora tal
do que se derivou o nome gnosticism o), os indivíduos elemento o tenha abandonado por ocasião de sua
«pneumáticos», que seriam as almas humanas morte. Esses mestres, chamados docéticos, diziam
verdadeiramente espirituais, haveriam de obter a total que Jesus nem é o Filho eterno e nem é homem real. O
redenção. Esse «conhecimento» (que os gnósticos propósito desta epístola foi o de contra-atacar a
reputavam ser superior à «fé»), significaria o influência exercida por esses mestres. Diz-se que João
conhecimento e o poder obtidos através das mágicas, não quis permanecer no banho público juntamente
das cerimônias e do misticismo gnósticos. Portanto, o com Cerinto, o líder herético. Quanto ao lado
«conhecimento» seria o grande «meio» de salvação. positivo, ele escreveu a fim de mostrar que o eterno
Por isso é que se vê, na primeira epístola de João, o Filho de Deus realmente se tornara homem, na pessoa
uso freqüente do termo «conhecimento». (Ver I João de Jesus, a fim de mostrar que os crentes deveriam
2:3,5, 3:16,19,24; 4:2,6,13 e 5:2). Mas nessa epístola desfrutar de certeza pessoal de ser filho de Deus, e
temos a menção do «conhecimento» cristão, em que a fé e o amor, que se expressam nas ações
contradistinção ao tipo gnóstico de falso conhecimen corretas, na obediência aos mandamentos de Deus,
to. Para os escritores sagrados, esse conhecimento na prática do bem para com nossos irmãos sofredores,
significava a «verdade», em que o indivíduo tem a são as provas experimentais de tal certeza».
Cristo Jesus como seu Salvador e Senhor. Além disso, (Tradução inglesa de Williams, nota introdutória à
tal conhecimento é permeado pelo «amor», resultando primeira epístola de João).
em uma espécie de «amor-conhecimento», que requer
a atitude altruísta em favor do próximo. Isso explica a V. R E L A Ç Ã O E N T R E A S E P ÍS T O L A S E O
ênfase dada ao «amor», na primeira epístola de João. E V A N G E L H O D E JO Ã O
Alguns dos gnósticos, evidentemente, apresentavam- Apesar de n io haver qualquer relaçio particular
se como homens impecáveis. E isso, sem dúvida, entre e evangelho de João, a segunda e a terceira
queria dizer que seu espírito não era contaminado epístolas de João, a sua similaridade com a primeira
pelos pecados praticados com o corpo, pois o espirito epístola de João é avassaladora. Além das similarida-
seria o homem essencial. Mas o autor sagrado nega a dades quanto ao conteúdo e às expressões favoritas,
impecabilidade sob quaisquer condições. (Ver o há muitos paralelos atinentes ao estilo, ao idioma e
trecho de I João 1:10 a esse respeito). aos modos de expressão. Em tempos recentes,
entretanto, alguns eruditos têm pensado que essas
Naturalmente, essas epístolas de João não são grandes e muitas similaridades se devem ao fato de
apenas polêmicas, pois foram motivadas não apenas que o autor da primeira epístola de João imitava
por causa de ataques heréticos. Há ensinamentos propositadamente o autor do quarto evangelho. A
cristãos positivos, especialmente a «ética do amor», teoria da «mímica» adquire força no fato de que há
que o escritor sagrado preferia salientar, sem diferenças e similaridades genuínas, talvez incluindo
importar que havia uma heresia a enfrentar. Há um alguns aspectos difíceis de explicar, se mantivermos a
mundo a que devemos fazer oposição, e há um mundo autoria comum no caso de ambos esses livros. Na
eterno que devemos conquistar. presente discussão, essas diferenças são discutidas
Propósitos secundários também podem ser vistos imediatamente após a apresentação das similarida
nestas epístolas. Havia um adversário da verdade des. Um dos argumentos em favor da autoria comum
cristã, um certo Diótrefes, que vinha causando grande é que o autor sagrado queria que sua epístola fosse
perturbação, que se opunha à autoridade joanina na conhecida como «de João», através da imitação do
igreja, tal como certos indivíduos se tinham levantado «evangelho de João»; mas isso ele poderia ter feito
contra Paulo, nas igrejas da Galácia e em Corinto. mais facilmente dizendo simplesmente, na introdução
Há, por igual modo, o problema do perdão dos ou no final, que «o apóstolo João» escrevera a epístola.
pecados; e a primeira porção da primeira epístola de Tentar fazer a epístola parecer joanina, mas
João explica a relação dos crentes para com tal deixando-a totalmente anônima, é um estranho
problema. Ninguém está isento do pecado, mas o paradoxo, a menos que o autor, pertencendo
crfente não pode ser viciado no mesmo, porque, do genuinamente à tradição joanina, nada estivesse
contrário, nem ao menos será um crente, pois todo querendo provar com isso. Naturalmente, poderia
aquele que conhece a Deus não pode viver na prática argumentar que o autor sagrado não estava
contínua do pecado (ver I João 1:8 e 2:9,10). Há interessado em fazer a sua epístola «parecer» joanina,
perdão de pecados (após o batismo em água, mas meramente gostou do estilo e do conteúdo do
535
JO ÃO , I (P R IM E IR A EPISTO LA )
evangelho de João, copiando-o, por conseguinte. Mas, similares aparecessem na «coletânea» joanina. E
nesse caso, poder-se-ia indagar por que motivo o grande parte disso podería fazer parte do esforço
autor sagrado, se não estava interessado em adquirir a proposital de preservar expressões e idéias que eram
«autoridade» de João para sua epístola, ao escrever típicas do próprio João, preservadas na comunidade
contra os hereges da Ãsia Menor, sentiu a necessidade cristã onde labutavam. Portanto, a tradição da
de copiar o estilo e o conteúdo joaninos. Certamente o coletânea joanina se deriva genuinamente de João; e
evangelho de João está longe desse propósito, no se um ou mais autores estiveram envolvidos na
tocante ao seu conteúdo geral; e procurar incorporar preservação dessa tradição, isso é questão de somenos
na epístola seus modos de expressão e seu conteúdo importância. Não obstante, a evidência em favor da
foi algo bem supérfluo. autoria comum do evangelho de João, e pelo menos da
Talvez a solução da questão é que tanto as epístolas primeira epistola de João, é irresistível. Westcott
como o evangelho de João representam genuinamente comenta como segue sobre isso, dizendo: «Nenhuma
a tradição joanina, e que, embora talvez não tenham teoria de imitação consciente pode explicar razoavel
sido escritos pelo próprio apóstolo, foram escritos por mente as sutis coincidências e diferenças entre essas
algum discípulo ou discípulos im ediatos de João. duas passagens breves mas cruciais». (Referia-se ele
Estavam bem alicerçados sobre sua tradição, sobre aos «prólogos» do evangelho de João e da primeira
suas idéias, sobre seus modos de expressão. Estavam epístola de João).
fundamentados sobre a tradição do evangelho de
João, o evangelho efésio, o evangelho da localidade Similaridades entre o evangelho de João e a
deles, sem importar se um ou mais autores estavam primeira epístola de João. Nesses paralelos, um grego
envolvidos na escrita do quarto evangelho e das similar está envolvido, e não apenas a similaridade de
epístolas de João, seria natural que muitas coisas conceitos.
Abaixo exibimos similaridades de estilo que podem 2. Sentenças desconexas (ver João 3:18 e I João
ser observadas nos exemplos dados: 1:8,9, como em «o pisteuon... o me pisteuon»).
1. O uso infreqüente de pronomes relativos. O 3. Combinação de uma expressão positiva e de
pensamento continua através de outros meios, outra negativa, em um único pensamento, formando
como «ou...alia» (Ver João 1:18,23 e I João 2:2,16,21). uma unidade (ver João 1:3 e I João 1:5).
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JO ÃO , I (P R IM E IR A EPISTO LA )
4. A ênfase de pensamentos mediante a introdução falta-lhe aquele misticismo mais profundo do
dos mesmos com um demonstrativo, como «em evangelho. Na epístola, Jesus é o «paracleto» (ver I
touto», «aute», e isso seguido por uma cláusula João 2:1); no evangelho, o «paracleto» é o Espírito
explanatória introduzida com «ina», «ean», «oti», ou Santo, o representante de Cristo (ver João 14:6). Na
outra cláusula, adicionada em oposição. (Ver João epístola, Deus é «luz»; no evangelho, Cristo é que é a
15:12 e I João 5:4 e 3:11; João 3:19 com I João 5:9; «luz» (comparar com João 1:4, 7-9 e I João 1:5). Na
João 9:30 com I João 4:9; João 9:30 com I João 4:9; epístola, a parousia aparece como um acontecim ento
João 13:34 com I João 2:3; João 4:37 com I João 2:6; que logo teria cumprimento; no evangelho, é uma
João 15:8 com I João 4:17; João 5:16 com I João 3:1 e espécie de presença mística permanente, que já se
João 18:37 com I João 3:8). Vários outros maneiris acha com os homens. Naturalmente, é possível que o
mos de estilo são alistados no «International Criticai mesmo autor, sob circunstâncias diferentes, a
Commentary», introdução à primeira epístola de enfrentar problemas diferentes e com um intervalo de
João, págs. vi., vii e viii. Notemos, por igual modo, vários anos, pudesse variar desse modo, no ensina
que ali se mostra como ambos esses livros envolvem mento de doutrinas. Por exemplo, é verdade que a
um vocabulário bem limitado. «parousia», na primeira epístola, é um acontecimento
Além dessas formas de similaridades «lingüísticas», mais incisivamente antecipado, pois o «anticristo»
que são como que as «impressões digitais» de um deverá vir primeiro; mas desde agora já há
autor qualquer, existem similaridades de idéias, o que «anticristos» no mundo. (Ver I João 2:28 e 4:3).
se vê nesses dois livros nos pontos seguintes: Contudo, no evangelho, é mencionado o «último día»
1. Quanto à encarnação, apresentada praticamente(ver João 5:26-29 e 6:38,40), mesmo que não fique
do mesmo modo (ver João 1:14 e I João 4:2). subentendido que isso poderia ocorrer a qualquer
2. A vida, cuja fonte originária é Cristo (ver João momento. Contra isso poder-se-ia argumentar que a
1:4 e I João 5:11). vívida expectação da vinda de Cristo, «a qualquer
3. Nossa identificação mística com Cristo (ver João momento», e durante m inha vida terrena, é algo que
5:26; 11:25 e I João 1:1,2). se faz totalmente ausente do evangelho, e que, pelo
tempo em que o evangelho foi escrito, essa expectação
4. A permanência em Deus, para quem permanece já diminuíra ou se perdera. Portanto, sem importar o
em Cristo (ver João 6:56; 15:4-7 e I João 2:24 e 3:6). argumento que apresentemos, em favor deste ou
5. A palavra de Deus, a habitar permanentemente daquele lado, sempre haverá um argumento contrá
nos homens (ver João 5:38 e I João 2:14,24). rio. Talvez não possamos fazer melhor que Morton
6. A prova do amor de Deus, ao enviar seu Filho Scott Enslin, em sua obra Literature o f the Christian
(ver João 3:16 e I João 4:9). M ovem ent, pág. 348 (introdução à primeira epístola
7. O amor, como guia da família divina (ver João de João), onde ele assevera: «Que esse escritor sem
13:34; 15:10 e I João 3:23). nome seria o homem que traçou o quarto evangelho é,
8. Os crentes, como filhos de Deus (ver João 1:12,13 atualmente, considerado como altamente provável
e I João 5:1). por muitos eruditos, embora diversos críticos compe
9. O «testemunho» de Cristo (ver João 5:36 e I João tentes prefiram identificá-lo com um revisor posterior.
5:6). No evangelho, por igual modo, o autor oculta o seu
10. O uso de pontos opostos metafóricos e nome. Outrossim, há muitos paralelos e similaridades
espirituais, como a luz e as trevas; a vida e a morte; o notáveis quanto ao vocabulário, ao estilo e ao tipo de
amor e o ódio; a verdade e a falsidade; o Pai e o pensamento. Uma conveniente pesquisa do material é
mundo; do mundo e não do mundo; Deus e o diabo; provido por Moffatt (Introduction to the Literature o f
os filhos de Deus e os filhos do diabo; o conhecer a the N .T ., pág. 589-593), o qual tende por ver o
Deus e o não conhecer a Deus; o ver a Deus e o não ver escritor vivendo e movendo-se ‘dentro do círculo em
a Deus; o ter a vida e o não ter a vida. que se originou o quarto evangelho, embora com uma
D iulm ilaridade« entre o evangelho de João e a individualidade e um propósito todo seu’. A esses
primeira epístola de João. Os dois eruditos que, mais paralelos poderíamos bem adicionar o fato de que
do que quaisquer outros, se têm esforçado para ambos os escritores apreciavam o tempo perfeito.
demonstrar isso, sãoC.H. Dodde A.E. Brooke. Dodd Contudo, apesar das similaridades serem inescapá-
chama-nos a atenção para as peculiaridades gramati veis, também existem, claramente, algumas diferen
cais e sintáticas, para as expressões idiomáticas e para ças, a natureza polêmica da epístola se contrasta com
as características retóricas distintivas, que são a calma e fluência do evangelho, o que talvez possa ser
diferentes na primeira epístola de João. Esta última melhor explicado como os paralelos livres do mesmo
não contém aramaísmos, a exemplo do evangelho de autor, que trabalhava para falar sobre um assunto
João. Ao sumariar seus argumentos, ele diz o impossíveldiferente.
bastante Um ponto de vista que não é
é que a epístola foi escrita algum tempo
seguinte: «O estilo da epístola tem forte similaridade
geral com o evangelho; mas, no seu total, é mais depois do evangelho, dirigida contra os falsos mestres
monótono e mais estreito quanto ao alcance, ao passo que estavam abusando do evangelho, os quais assim
que usa certas expressões idiomáticas e figuras que como punham em perigo o cristianismo e se apresentavam
não se fazem presentes no evangelho, o que, mestres àqueles menos avisados».
plausivelmente, indicaria um caráter semítico, do Como é fácil ver, os eruditos não chegam a
qual a epístola é livre. Seu vocabulário se justapõe ao qualquer conclusão certa, mas expressam opiniões
do evangelho, mas falta-lhe um número maior de que são abertas a objeções. Parece, todavia, que os
termos altamente significativos, que aparecem na argumentos em favor da autoria comum do Evangelho
quele. Apesar de não se poder dizer que esses fatos e Primeiro João, têm mais peso do que os
refutam a identidade da autoria, deixam-nos em contra-argumentos.
grande dúvida» ( The First E pistle o f John a n d the
Fourth Gospel, pág. 141). Um completo estudo sobre esse problema pode ser
lido no *The International Criticai C om m entary »,
Há outros pontos de disparidade, quanto às idéias introdução à primeira epístola de João, pontos i a
religiosas, nessas duas obras. A epístola de João não xxvii. Mas, em última análise, o problema não é tão
tece qualquer alusão ao A.T., mas encerra uma importante assim. Podemos dizer com confiança que
doutrina do «anticristo» que é sui generis. Mas a tradição «joanina» é a base de ambas essas obras; e
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JO ÃO , I (P R IM E IR A EPISTO LA )
que talvez algum discípulo ou discípulos imediatos de 6. A vida e a comunhão nos vêm pela expiação de
João estiveram envolvidos. Mas se os escritores Cristo (ver I João 2:1,2) e de sua atuação como nosso
envolvidos foram um ou mais, não é questão de advogado. Os gnósticos, por sua vez, negavam a
grande monta. Ambos representam bem as idéias, as validade da expiação de Cristo. Não havia expiação
crenças, os ensinamentos e as esperanças de João, e de por sangue, dentro de seu sistema.
um modo como o próprio apóstolo João gostava de 7. As provas de comunhão e do conhecimento de
expressar-se. Portanto, ambos envolvem a «autorida Deus são a obediência aos seus preceitos e o amor ao
de apostólica joanina», tal como o evangelho de próximo (ver I João 2:3-17). Os gnósticos, em sua
Marcos se alicerça sobre a autoridade apostólica licenciosidade, desobedeciam às leis de Deus; em sua
petrina, já que Pedro foi uma das principais fontes de altivez, desprezavam aos irmãos.
informação do evangelho de Marcos.
8. O evangelho de Cristo impõe certa exigência
VI. T E M A S P R IN C IP A IS m orai, deve ser acompanhado pela rejeição ao mal
A seção IV, que trata dos «Motivos e Propósitos», já que há no mundo, nas concupiscências da carne (ver I
apresentou os temas principais. Mas abaixo, em João 2:15,16). Os gnósticos ignoravam a necessidade
forma de esboço, há um quadro mais completo dos do crente separar-se do mundo, pelo menos os
temas principais. gnósticos que assediavam aquelas comunidades
cristãs para onde foram escritas estas epístolas. O
De modo geral, pode-se dizer que a primeira gnosticismo combatido na epístola aos Colossenses
epístola de João representa a fé •comum da era era ascético; o que está em foco aqui é libertino.
apostólica, mas com adaptações às circunstâncias do
fim do primeiro século e do começo do século II, na 9. Os apóstatas negava’m o verdadeiro Cristo,
Àsia Menor. Assim, se os temas principais da fazendo de seu corpo um mero fantasma, e de sua
mensagem apostólica são repetidos, são ditos de tal pessoa real um «aeon» angelical. Tinham eles uma
modo que fazem combate à heresia gnóstica daquela atitude «docetista» (ver I João 2:18-29 e 4:2-4 quanto a
região do mundo. Isso é verdade tanto quanto ao lado esses temas).
«ético» da vida cristã como no que tange às doutrinas 10. Os apóstatas negavam a realidade da «parousia».
básicas. Mas a doutrina cristã a apresenta claramente, pois
assinalará «notável salto à frente», quando os remidos
1. A doutrina do Verbo forma o prólogo, tal como haverão de participar da própria natureza de Cristo; e
no evangelho, embora apresentada de maneira mais assim darão início ao progresso rápido nas perfeições
impessoal. Esse prólogo afirma ser obra de uma divinas, sendo cheios de «toda a plenitude de Deus»
«testemunha ocular», pois a tradição do apóstolo João (ver Efé. 3:19, ver também I João 3:1,2).
confirma a verdade que estava prestes a ser
apresentada (ver I João 1:1,2). 11. A «parousia» impõe uma exigência m oral, a
2. O Verbo é, especificamente, o despenseiro da saber, a nossa pureza pessoal. Mas isso era ignorado
pelos gnósticos (ver I João 3:3-10). Um homem não
vida-, e essa vida eterna vem da parte de Deus Pai
pode agora ser «praticante» do pecado; de outro
(ver I João 1:2 e 5:13). modo, nem mesmo conhecerá a Deus.
3. A doutrina do Verbo é polêmica. Exalta Cristo à 12. O amor é a virtude suprema exigida da parte dos
sua posição ímpar, em contraste com os gnósticos, irmãos. Um homem ama a Deus somente quando
que pretendiam fazer dele apenas um dentre muitos ama a seus semelhantes (ver I João 3:11 e ss). O amor
«aeons» ou emanações angelicais, ou seja, mediado cristão se manifesta através de atos de altruísmo,
res. Há apenas um Mediador entre Deus e os homens, feitos de gentileza. Amar ao próximo é, ao mesmo
Cristo, —que é o meio de vida eterna para os homens; tempo, amar a Deus, que é o Pai de todos. A
essa vida não pode vir através de supostas emanações observância dos mandamentos de Deus é prova de que
angelicais. o amamos. O maior dos mandamentos divinos é que
4. No Verbo temos a com unhão com a família nos amemos uns aos outros.
divina, com o Pai e com o Filho. E nisso reside nossa 13. Os falsos mestres mostravam-se corruptos em
alegria (ver I João 1:3,4). Isso também é polêmico. Os suas doutrinas e práticas, e eram amigos do mundo.
gnósticos consideravam a maioria dos homens como Portanto, não admira que desprezassem aos verda
incapazes de serem remidos. Mas a oferta do deiros crentes, que não pertencem ao mundo (ver I
evangelho, para haver comunhão com o Pai e com o João 4:1-6).
Filho, visa a todos os homens (ver I João 2:2, onde se
aprende que a «propiciação» foi efetuada em favor de 14. Deus é amor, e todos quantos são seus filhos
todos os homens, e não em favor somente de algum genuínos devem amar. A prova desse amor é a
grupo seleto). expiação feita por seu Filho. Devemos imitar a Deus
em seu amor, sacrificando-nos em favor de outros.
5. A «comunhão», embora possível para todos, é Esse tipo de ação prepara-nos para o dia do juízo. Não
condicionada à «conduta moral», vinculada ao perdão tememos aquele dia porque amamos, e o perfeito
dos pecados mediante a expiação no sangue de Cristo. amor lança fora o medo (ver I João 4:11-21).
(Ver I João 1:5-10). Os gnósticos negavam ambas as 15. O amor coopera com a fé; e essa é a «gnosis»
coisas. Viviam na licenciosidade e pensavam que cristã, em contraste com o suposto «conhecimento»
abusar do corpo não prejudica em nada à alma. De dos gnósticos. Nessas virtudes é que obtemos vitória
fato, pensavam que abusar do corpo seria um dos sobre o mundo. Aquele que «nasceu de Deus» vence
meios de cooperar com o sistema do mundo, cujo ao mundo. Ora, tudo isso é mediado por Cristo, o
intuito, finalmente, seria a destruição de todas as Filho de Deus. Ele veio por água (a autoridade de seu
coisas materiais, pois a matéria seria o princípio batismo), mas também veio por sangue (a autoridade
mesmo do pecado, bem como a sua sede. Os de sua expiação). Os gnósticos aceitavam somente a
gnósticos, pois, asseveravam não ter pecado, por primeira idéia, e mesmo assim não em sua forma
quanto o espírito não poderia ser prejudicado pelos completa (ver I João 5:1-10).
pecados praticados com o corpo, já que o espírito é o
verdadeiro homem. João salienta o fato de que não há 16. O Filho de Deus veio para dar-nos a vida eterna;
homem que não peque, mostrando assim que o e a vida está nele. O principal propósito do autor
pecado envolve a pessoa real, a alma, e não sagrado era demonstrar isso, em oposição àquilo ao
meramente o corpo físico. que Cristo fora reduzido pelos gnósticos, fazendo dele
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JO ÃO , I JO Ã O , II
apenas um dentre muitos senhores e mediadores. epistolares formais, o que as assinala como epístolas
Nosso conhecim ento consiste em conhecer a Cristo; e legítimas, ao passo que a primeira epístola de João
a nossa vida está em Cristo, presentemente mediada não conta nem com uma coisa e nem com a outra, o
pela moralidade cristã. Em contraste com isso, os que significa que ela é mais um tratado do que
gnósticos buscavam a vida eterna independentemente realmente uma epístola. Assemelha-se muito mais ao
do verdadeiro Cristo e da santidade (ver I João evangelho de João, havendo muitos grandes paralelos
5:13-21). entre esses dois livros. A primeira epístola de João,
VII. C O N TEÜ D O pois, tem mais o estilo de um tratado do que de uma
epístola. Na segunda e na terceira epístolas de João, o
I. Prólogo — O verbo possibilita a comunhão autor sagrado chama a si mesmo de ancião, mas sem
com Deus (1:1-4) dar qualquer indicação que esclareça tal posição, pelo
II. Condições e Base da Comunhão — Exigências que tais epístolas são sinônimas. A primeira epístola
morais do evangelho (1:5-2:17) de João, porém, nem ao menos alude ao «ancião».
1. A comunhão se dá no perdão e na Contudo, seus muitos paralelos com o evangelho de
santidade (1:5-10) João fez com que tanto a primeira, como, por
2. A comunhão é possibilitada pela expiação extensão, a segunda e a terceira epístolas de João,
e advocacia de Cristo (2:1-6) fossem consideradas de autoria do apóstolo João. Pelo
3. Prova e condição de comunhão: a lei do menos elas se acham dentro da tradição joanina. Ver
am or (2:7-11)
discussão completa acerca da «autoria», na introdu
ção à primeira epístola de João. Mas nem todos os
4. Comunhão com Deus mediante separação eruditos acreditam que todas essas três epístolas
do mundo (2:12-17) foram escritas por um só autor.
III. Os Falsos Mestres (2:18-27) Uma coisa, porém, é indubitável — a razão central
1. Têm o espírito do anticristo (2:18-23) por que essas três epístolas foram escritas é
2. Os verdadeiros crentes são convidados à essencialmente a mesma. Os falsos mestres gnósticos
fidelidade, negando às doutrinas anti- estavam conseguindo grandes conquistas na igreja, e
cristãs (2:24-27) tinham de sofrer oposição. Estavam reduzindo o
IV. Os Filhos de Deus — Advertências e pro Cristo anunciado pelos apóstolos, o Verbo encarnado,
messas (2:28-3:24) o Deus-homem, a mera emanação angelical de Deus,
1. Suas relações para com a parousia um aeon. Negavam a realidade da encarnação, e viam
(2:28-3:3) o «Espírito-Cristo» meramente como um dos sombrios
2. Suas relações para com o diabo (3:4-10) «aeons», o qual, por ocasião do batismo de Jesus de
3. Como devem viver uns com os outros. A Nazaré, teria vindo possuir-lhe o corpo, usando-o
lei do amor fraternal (3:11-24) como seu instrumento, até à sua crucificação. Por
V. Os Espíritos Falsos e o Espirito de Deus (4:1-6) ocasião da morte, o «aeon» teria abandonado a Jesus,
1. O docetismo (4:1-3) pelo que sua morte, quando muito, teria sido a de um
2. A vitória dos verdadeiros filhos de Deus mártir por uma boa causa, mas sem valor como
(4:4-6) expiação. Os gnósticos, por conseguinte, degradavam
VI. O Amor de Deus Inspira Nossa Confiança tanto a pessoa como a obra de Cristo. Em lugar de
(4:7-5:12) Cristo, apresentavam um «cristo» falso, dotado de
uma missão diferente.
1. É a base do amor m ú tu o , o vínculo da
família divina (4:7-12) Alguns líderes cristãos tinham sido conquistados
2. Inspira a nossa confiança (4:13-18) para os pensamentos dos gnósticos, e assim um
3. É a base dos mandamentos (4:19-5:5) evangelho não-cristão estava sendo impingido à igreja.
VII. Cristo Veio Por Ãgua e Sangue e o Testemunho Diótrefes (ver III João 9), que assumira poderes
do Espírito (5:6-12) ditatoriais sobre a igreja da região da Ásia Menor,
VIII. Epílogo — Afirmações e Exortações Finais provavelmente era um dos principais proponentes do
(5:13-21) gnosticismo da igreja. O que esse homem foi capaz de
fazer, o que é descrito em II João 9-11, demonstra a
natureza critica do problema que era enfrentado. O
VIII. B IB L IO G R A F IA : AM CKB E EN I IB LAN trecho de I João 2:19 mostra, entretanto, que os
MOF NTI R TRA TIN VIN WFH Z verdadeiros crentes tinham obtido certa vitória sobre
os mestres falsos, porquanto muitos deles tinham
rompido comunhão com a igreja cristã (ver o artigo
IOÀO H (SEGUNDA EPISTOLA) sobre o «gnosticismo»).
A introdução às epistolas joaninas aparece no Os versículos sétimo a décimo primeiro mostram
artigo sobre a primeira epístola de João. Trata-se ali que a doutrina dos gnósticos se espalhara por muitos
de problemas como autoria, data, proveniência, lugares da Ásia Menor, através de pregadores
confirmação antiga, motivos e propósitos, etc. Tais itinerantes, que se aproveitavam da boa vontade e da
comentários devem ser consultados para que melhor hospitalidade natural dos cristãos primitivos. Foi
se possa compreender a epístola que temos agora à mister que o «ancião» advertisse à igreja que os
frente. A única coisa que precisa ser adicionada aqui é supostos «evangelistas» itinerantes de modo algum
o esboço do conteúdo desta segunda epístola de João. eram representantes da tradição apostólica. A igreja
Esboço do Conteúdo cristã foi avisada, pois, a não dar hospitalidade a tais
I. Saudação (vss. 1-3) homens, e a segunda epístola de João foi escrita
essencialmente como advertência contra esses itine
II. O Mandamento do Amor (vss 4-6) rantes pregadores gnósticos, embora o seu conteúdo
III. Advertência Contra o Erro Gnóstico não verse exclusivamente sobre esse tema.
(vss.7-11) Oito dos livros do N.T. foram escritos para
IV. Conclusão (vss. 12-13) combater o gnosticismo: as três epístolas pastorais, as
É interessante observar que a segunda e a terceira três epístolas joaninas, a epístola aos Colossenses e a
epístolas de João possuem saudação e conclusão epístola de Judas. A epístola aos Efésios, o evangelho
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JO ÃO , II - JO Ã O II I
de Joào e certas porções do livro de Apocalipse, uma forma do docetismo. O perturbador Diótrefes
também foram dirigidos contra essa heresia, que' (vide) foi mais do que um ditador; foi um
assediou a igreja por cento e cinquenta anos. representante do gnosticismo, um mestre falso, o qual
A presente epístola, naturalmente, é a mais obtivera poder suficiente na igreja para controlar a
polêmica de todas, mas polêmicas também são as igreja local. Diótrefes não aceitava a autoridade
demais epístolas joaninas. O grande tema do amor é apostólica de João, e rejeitava qualquer orientação
novamente salientado (ver os versículos quarto a vinda da parte do apóstolo, recusando-se a acolher os
sexto); mas, devido à sua extrema brevidade, somente evangelistas itinerantes por ele enviados, demonstran
esse tema, além daquele que trata da defesa da do ainda, de outras maneiras, sua hostilidade franca
verdade cristã contra os assédios da heresia, é aos representantes normais da igreja cristã.
abordado nesta epístola. Supomos que, na qualidade de representante da
doutrina gnóstica, ele rejeitasse a Cristo como o Verbo
eterno encarnado, e também a divindade e a
JOÀO m (TERCEIRA EPISTOLA) humanidade verdadeiras de Cristo, em uma só
Introdução: pessoa. Antes, deveria pensar que algum «aeon» (não
No tocante à introdução geral às epístolas joaninas, uma emanação tão elevada como o «Logos») tivesse
ver o artigo sobre a primeira epístola de Joào. Este vindo possuir temporariamente o homem Jesus de
artigo aborda temas como autoria, data, proveniên Nazaré, por ocasião de seu batismo, tendo-o
cia, destino, confirmação antiga, motivos, propósitos abandonado quando de sua crucificação. Isso
e temas destas epístolas. também significaria que ele negava a «expiação pelo
Esboço do Conteúdo sangue de Cristo», supondo que Cristo (o «aeon») não
I. Saudação a Gaio (vss. 1,2) poderia sofrer e nem morrer. Se ele era um mestre
II. Problema dos Evangelistas Itinerantes (vss. 3-8) gnóstico comum, então negava até mesmo a
possibilidade de «encarnação» como algo metafisica-
III. Diólrefes, o Ditador (vss. 9-11) mente impossível, pelo que veria a morte de Jesus
IV. Demétrio, o Bom (vs. 12) como se fosse a morte de um mero homem, e não a
V. Conclusão (vss. 13-15) morte do Cristo, e como se não tivesse qualquer valor
Se compreendermos que a eleita Kiria era uma expiatório. Pelo contrário, o «conhecimento» (do tipo
matriarca da igreja, e não um título simbólico da místico, mágico e cerimonial) seria o meio da
própria igreja (ver no NTI as notas expositivas sobre salvação. Também é provável que ele concordasse
II João 1), então, nas páginas do N.T. teremos três com o pensamento gnóstico normal que é matéria
epístolas pessoais, isto é, cartas enviadas a indivíduos indiferente aquilo que fazemos por intermédio do
e não a igrejas locais ou à igreja em geral. Essas corpo. Conforme pensavam os gnósticos, os homens
epístolas são a segunda e a terceira epístolas de João e podem abusar de seus corpos mediante o ascetismo (o
a epistola a Filemom. Dentre as três, a terceira tipo de gnosticismo combatido em Col. 2:15 e ss), ou
epístola de Joào é a que oferece melhor exemplo de mediante a «imoralidade» (o tipo de gnosticismo
antiga carta pessoal, em forma e conteúdo (Com combatido nas outras sete epistolas mencionadas
parar com Atos 23:26 quanto à forma das cartas acima). Tal abuso, conforme pensavam eles, ajudava
antigas). o sistema mundial em seu desígnio de destruir o corpo
As cartas antigas começavam com o costumeiro humano, que fazia parte da matéria, a qual deve ser
cheirein («regozijai-vos»), e que equivale à nossa destruída, porquanto é o princípio mesmo do mal
expressão «Saudações». Em seguida há uma declara (conforme pensavam os mestres gnósticos). Suposta
ção solícita sobre a saúde do endereçado. Nas páginas mente, os abusos contra o corpo não prejudicariam à
do N.T., normalmente isso é substituído por uma alma, da mesma maneira que o ouro, ainda que
bênção, como «graça e paz da parte de Deus, nosso mergulhado na lama, nã& pode ter alterada a sua
Pai, e do Senhor Jesus Cristo» (nas epístolas de natureza áurea.
Paulo), ou «graça, misericórdia e paz» (nas epístolas, A imoralidade, pois, veio a ser não apenas
pastorais e na segunda epístola de João). Judas diz sancionada, como também passou a fazer parte do
«misericórdia... paze amor». Eram adaptações cristãs sistema doutrinário do gnosticismo, como porção
de antigas formas epistolares. Há um papiro cristão oficial do mesmo. Não admira, pois, que se Diótrefes
(Papyri Greci e Latini, Publicazioni delia Societá foi um gnóstico, que ele se opusesse amargamente à
Italiana — Florence, 1912), o qual é citado por Allen autoridade da igreja cristã, recusando-se a dar
Wikgren, em «Hellenistic Greek Texts» (University of hospitalidade a seus evangelistas itinerantes.
Chicago Press, pág. 130), que é carta de um jovem A epístola perante nós reflete o surgimento da
para sua mãe, e que exibe uma forma que ilustra a autoridade investida em um único homem. As igrejas
forma comum nos tempos antigos: «Amom para neotestamentárias, originalmente, eram governadas
Kalinika, minha senhora e mãe: saudações. Em por diversos «pastores» (também chamados «anciãos»
primeiro lugar, rogo que estejas com saúde («ugiai- ou «supervisores»), e não por um único oficial. Porém,
nein», a mesma palavra usada aqui, em III João) no é evidente que Diótrefes queria controlar tudo
Senhor Deus». (Quanto a outras notas expositivas sozinho. Posteriormente, Isso se • tornou o estilo
sobre as formas epistolares da antiguidade, ver as comum de governo eclesiástico, conforme os dons
notas que aparecem imediatamente antes de Rom. 1:1 ministeriais e espirituais foram desaparecendo,
no NTI). quando um certo «profissionalismo» tomou seu lugar.
Nas páginas do N.T., há oito epistolas que foram Não havendo muitos que pudessem exercer dons
escritas em oposição à heresia gnóstica. São as três espirituais no ministério, foi apenas natural que
epístolas pastorais, as três epístolas joaninas e as indivíduos dotados de personalidade forte, treinados
epístolas aos Colossenses e de Judas. O evangelho de na oratória ou em outras habilidades, as quais os
João, a epístola aos Efésios e algumas porções do livro qualificavam acima dos demais, tivessem usurpado a
de Apocalipse também têm um gnosticismo em vista, autoridade que antes estava investida em um grupo de
embora não tão enfaticamente. Ver o artigo sobre o anciãos em cada congregação local. Seja como for, é
G nosticism o e também sobre D ocetism o, ver a certo que perto dos fins do primeiro e no começo do
exposição sobre I João 4:2 e 3 no NTI. Este texto ataca segundo séculos, teve início o ofício dos «bispos»,
JO ÃO II I - JO ÃO APÓSTOLO
como título dado a uma classe especial, e não samaritanos, para que fossem batizados no Espírito
equivalente aos «pastores». Em outras palavras, certos Santo. O único outro lugar onde João é mencionado
«anciãos» vieram a exercer autoridade sobre uma por nome, fora dos evangelhos, é na epístola paulina
«região», — em vez de fazê-lo sobre uma única aos Gálatas (2:9), onde ele é chamado de uma das
congregação local. E note-se que isso já tivera começo colunas da Igreja. As evidências patrísticas a seu
quando foram escritas as «epístolas pastorais». respeito não são abundantes e nem muito confiáveis, o
Primeiramente surgiram os «bispos», — e apareceu que também se dá com o material neotestamentário
o «ministério de um homem só», porquanto os dons apócrifo. Logo, continua de pé o fato de que pouco ou
espirituais e ministeriais tinham praticamente cessa nada sabemos sobre o apóstolo João, fora dos escritos
do, tornando-se mister que um profissionalismo do Novo Testamento; mas, mesmo ali o material que
eclesiástico tomasse o lugar do ministério espiritual. nos é oferecido sobre esse apóstolo é escasso, em
Certamente nada há de errado com o conceito de relação àquilo que poderíamos esperar acerca de uma
«bispo» ou «supervisor». Os apóstolos sem pre exerce das principais personagens do cristianismo primitivo.
ram essa forma de autoridade, sendo com freqüência 2. Família e Chamamento. João era filho de
vantajosa, para qualquer grupo de igrejas, que se Zebedeu e Salomé. Zebedeu, ao que parece, tinha
reúnam-sob alguma autoridade comum, contanto que uma pequena flotilha de barcos de pesca, e vários
tal autoridade não se mostre ditatorial. Contudo, o empregados. Salomé, sua esposa, tornou-se uma das
advento do ministério de um homem só, em cada principais cooperadoras que contribuíam para susten
igreja local, foi, é, e sempre será prejudicial para o tar a Jesus e aos seus primeiros discípulos, o que lhes
cristianismo, simplesmente porque ninguém pode permitiu continuarem o ministério de ensino, embora
possuir todos os dons espirituais e ministeriais que nunca tivessem muita coisa. Ver Mar. 1:20; 15:40,41;
precisam ser exercidos na igreja local, para seu ótimo 16:1. Ê possível que João, a principio, fosse um dos
desenvolvimento espiritual. O trecho de Efé. 4:10 e ss seguidores de João Batista, o que talvez fique
mostra-nos que os dons ministeriais é que possibili subentendido em João 1:35,40; embora não se tenha
tam o crescimento espiritual da igreja. Idealmente, certeza quanto a isso.
todos os membros deveriam contribuir com a prática Sua chamada para ser um dos discípulos especiais
de algum dom espiritual, embora nem todos eles, de Jesus é registrada em Mar. 1:19,20. Parece que
como é óbvio, recebam os vários dons ministeriais: João e Tiago não tinham visto a Jesus antes daquele
apóstolos, evangelistas, profetas, pastores e mestres. dia. sendo surpreendente, por isso mesmo, que
Diótrefes, pois, além de ser exemplo de como um tivessem aceitado tornar-se seus discípulos naquele
homem pode tornar-se um herege, também mostra mesmo dia. Outros estudiosos supõem, entretanto,
como pode tal indivíduo obter o controle da igreja que houve algum contato anterior deles com Jesus, o
local, para detrimento desta. Isso sucede quando os que os evangelhos nunca historiam. Todavia, sabemos
dons ministeriais e espirituais não estão em operação, que poderosas figuras espirituais, como era a de Jesus
ainda que tal coisa não possa ser firmada como Cristo, podem fazer discípulos instantaneamente.
questão fixa. Por outro lado, isso ilustra o quanto Existem homens extraordinários que têm grande
precisamos dos dons espirituais hoje em dia como ascendência espiritual sobre outras pessoas, e não
sempre. Os ditadores na igreja florescem somente precisam exercer qualquer persuasão gradual. Seja
quando os dons são reprimidos. Os dons devem ser como for, parece que Zebedeu também deu apoio ao
exercidos, embora não necessariamente segundo o discipulado cristão de seus dois filhos. Não é provável
m odus operandi do primeiro século. Sem tal que Salomé tivesse podido contribuir financeiramente
espiritualidade, pequenos césares surgem na igreja. como fez, e menos que o seu marido concordasse com
esse apoio.
3. Natureza Explosiva de João
JOÃO APÓSTOLO João e seu irmão, Tiago, receberam o apodo de
Boanerges, «filhos do trovão». Esse apelido, talvez,
Ver os artigos separados sobre João Apóstolo, aluda à natureza explosiva, enérgica e imprevisível
Teologia (Ensinos) de e Apóstolos, A postolado, onde deles. Ou pode referir-se à ocupação deles, pois os
há a descrição de cada um dos apóstolos e onde a pescadores tinham de enfrentar súbitos temporais. A
missão do ofício apostólico é descrita. O nome João interpretação tradicional é «prontos a se irarem», o
deriva-se do hebraico Iohanan ou Iehohanan, que que é apoiado pela falta de paciência que João
significa «Yahweh tem sido gracioso». demonstrou com alguns, que, embora não fossem
Esboço:
discípulos de Jesus, estavam exorcizando demônios
em seu nome (Mar. 9:38; Luc. 9:49). E significativo
I. Caracterização Geral que essa impaciência de João se manifestasse sob a
II. Fontes Informativas forma de exclusivismo, o que geralmente é o caso.
III. A Teologia e os Ensinos Joaninos Também é significativo o fato de que Jesus
IV. Escritos Joaninos repreendeu essa atitude, o começo de intermináveis
Bibliografia conflitos entre as denominações cristãs, todas
I. Caracterização Geral afirmando-se seguidoras de Cristo. João também
1. Ampla Informação. Sabe-se mais sobre João atra quisera fazer descer fogo do céu, contra uma aldeia
vés dos três evangelhos do que atráves do próprio samaritana nada hospitaleira, conforme se lê em Luc.
evangelho que tem o seu nome. Ele é identificado 9:54, o que Jesus igualmente repreendeu, a despeito
como «o discípulo amado», mencionado em João do fato de que João foi capaz de salientar o precedente
19:26; 20:2. Há breve menção a ele, em Atos 4:13 e veterotestamentário de Elias, o profeta, que eliminou
5:33.40, que são trechos que aludem ao seu conflito os opositores mediante fogo do céu.
com as autoridades judaicas. Foi considerado pelos 4. O Círculo de Discípulos íntim os de Jesus
eruditos fariseus como homem sem cultura e sem Apesar de suas evidentes falhas, João, Tiago e
letras, porquanto não recebera o treinamento Pedro faziam parte do círculo mais chegado de
acadêmico dos rabinos. Uma outra breve menção discípulos de Jesus. Ver Mar. 5:37. Isso é novamente
aparece em Atos 8:14, onde lemos que, juntamente evidenciado no relato sobre a transfiguração de Cristo
com Pedro, ele impôs as mãos sobre novos convertidos (Mat. 17:1; Mar. 9:2; Luc. 9:28) e, igualmente, na
JO ÃO APÓSTOLO
agonia de Jesus no Getsêmani, que ele sofreu em tradições antigas afirmam que João teve uma longa
companhia daqueles três discípulos (Mar. 14:33). vida em Êfeso, talvez tendo sido o único apóstolo que
não morreu como mártir cristão. Sobre essas
5. Líder da Igreja Primitiva
questões, remotas como elas são, nada pode ser dito
Se João foi um dos mais íntimos dos três discípulos com absoluta certeza.
de Jesus, era apenas natural que ele tivesse assumido
um papel de especial liderança na Igreja primitiva. 8. A Luz que Brilhava
Ele era objeto especial do amor do Senhor Jesus (ver Embora tenhamos tão poucas informações sobre o
João 19:26). Em Atos 3:1,4, Pedro e João foram apóstolo João, é claro que ele foi uma luz que
aqueles que operaram o notável milagre que os levou a resplandeceu no primeiro século da era cristã, uma
entrar em dificuldades com os membros do Sinédrio grande luz reflexa do Senhor, mas que, nesse reflexo,
judeu. Atos 1:13 afirma especificamente o lugar de assumia um resplendor todo próprio. É significativo
liderança que João ocupava. Parece que João que vinte e três papas tenham escolhido chamar-se
compartilhou do encarceramento .de Pedro (Atos João. Sabemos que o apóstolo João era homem de
4:13). Além disso, encontramos João e Pedro a ardente lealdade e de firme discipulado. Se ele é o
regularem a missão da Igreja primitiva entre os discípulo cujo nome não é dado, em João 18:15, então
samaritanos (Atos 8:14,25). Paulo, além disso, é claro que ele não participou da negação de Pedro
assevera que João era uma das colunas da Igreja de acerca de Jesus. De fato, João caminhou ousadamente
Jerusalém (Gál. 2:9), o que é a única referência direta entre a multidão agitada, a despeito do perigo que
ao apóstolo João, fora dos evangelhos e do livro de isso representava. Sabemos que João era amigo do
Atos, se não considerarmos os títulos antigos que sumo sacerdote, e chegou a entrar mesmo no pátio
faziam dele o autor das epístolas que trazem o seu onde Jesus estava sendo submetido a interrogatório.
nome. A similaridade daquelas três epístolas com o O retrato de Browning sobre a morte de João é
evangelho de João, no tocante à linguagem usada e atrativo e autêntico em espírito, apesar de não
aos temas selecionados, serve de uma espécie de corresponder à realidade histórica. Ele pintou João
confirmação indireta da autoria joanina desses livros como quem morria, já em estado de coma. Mas, por
neotestamentários, bem como da importância que ele um breve período, recuperando-se, João começou a
desempenhava nas atividades da Igreja cristã «contar novamente a velha, velha história» de Jesus e
primitiva. seu amor. O quadro de Correggio pinta João como
6. Evidências Patrísticas uma alma em forma de águia, plena de poder e graça,
Polícrates, bispo de Êfeso, em cerca de 200 D.C., o que não é estranho à narrativa dos evangelhos.
alegava que o apóstolo João foi sepultado em Êfeso; Penso co ntinuam ente naqueles que foram realm en
mas, não podemos ter a certeza disso. A escola te grandes,
joanina, ao que se presume, estava vinculada àquela Que desde o ventre relem braram a história da
cidade. Porém, Policrates também nos diz que Filipe alma,
foi sepultado em Hierápolis. Mas. nessa informação Através dos corredores da luz, onde as horas são
ele confundiu o apóstolo Filipe com o evangelista sóis
Filipe, que é mencionado em Atos 21:8. Portanto, não Interm ináveis e cantantes. Cuja am ável am bição
sabemos quão exata é essa sua informação. Irineu, Era que seus lábios, ainda tocados pelo fogo.
contemporâneo de Polícrates, afirmou que João Falassem do espírito, revestido em cântico, da
escreveu o quarto evangelho em Êfeso, e que ele cabeça aos pés,
também escreveu o livro de Apocalipse. Essa E que ajuntaram ram os da fonte.
informação não pode ser exata, pelo menos no que Os desejos que ornaram seus corpos como
concerne ao Apocalipse, livro que contém uma florescências.
linguagem inteiramente diversa das demais obras Penso continuam ente naqueles que foram realm en
joaninas, cheia de erros no original grego, bastante te grandes.
diferente do evangelho de João, que, embora simples,
foi escrito em grego relativamente puro. Tertuliano,
no começo do século III D.C., adicionou a essa Os nom es daqueles que na vida lutaram pela vida,
tradição de João, ao afirmar que este fora exilado, por Que usaram nos corações o centro do fogo.
causa de sua fé, na ilha de Patmos, vinculando-o Nascido do sol, que viajaram p o r um pouco em
assim ao João aludido em Apo. 1:1,4,9 e 21:2. Porém, direção ao sol,
ao que parece, Tertuliano não estava escudado em E deixaram o ar vívido, assinado com a sua honra.
qualquer evidência independente, mas somente (Stephan Spencer)
elaborou as declarações de Polícrates. Parece que II. Fontes Informativas
houve um homem proeminente, de nome João, perto Sob a primeira seção, Caracterização Geral, damos
do fim da época apostólica; mas os eruditos as informações essenciais sobre essas fontes. O que
chamam-no de ancião ou vidente, dizendo que alguns damos abaixo sumaria a questão:
antigos confundiram o apóstolo João com esse
homem. 1. Nos Evangelhos Sinópticos. Que Salomé era mãe
7. A Morte de Joio do apóstolo João pode-se inferir com base em Mar.
Não dispomos de informações seguras sobre como 16:1 e Mat. 27:56. Nas listas dos discípulos de Jesus,
João terminou a sua vida terrena. Uma antiga em Mateus e Marcos, a ordem sempre é primeiro
tradição, levada a sério por alguns eruditos modernos, Tiago, e então João, talvez dando a entender que João
assevera que ele não haveria de morrer, mas era o mais jovem dos dois. Porém, em Lucas-Atos, seu
permaneceria até o segundo advento de Cristo. Isso nome aparece antes do de seu irmão, talvez dando a
alicerça-se sobre a misteriosa passagem de João entender sua posição mais proeminente. Pedro
21:21-23. Porém, o vs. 23 parece distinguir essa encabeça a lista dos três discipulos mais íntimos (Luc.
tradição do verdadeiro sentido das palavras de Jesus, 8:51; 9:28; Atos 1:13). Usualmente, Salomé é
que dá a entender que ele morreria. Talvez João tenha considerada irmã de Maria, mãe de Jesus, porque, em
perecido como seu irmão Tiago, que teve uma morte João 19:25, quatro mulheres aparecem perto da cruz,
prematura de mártir (Atos 12:2). O trecho de Mar. incluindo as du?.s Marias, mencionadas em Mateus e
10:38 parece indicar a mesma coisa. Porém, as Marcos, além da mãe de Jesus e da irmã dela. Se essa
542
JO ÃO APÓSTOLO
identificação é correta, então Jesus era primo em literatura cristã da época, que emanaVa da Ãsia
primeiro grau de João. A profissão do pai de João, Menor, nada diz a respeito desses informes. Coisa
Zebedeu, era a de pescador (Mar. 1:20). Salomé alguma parecida com isso é dito nas cartas de Inácio e
sustentava financeiramente o pequeno grupo dos na epístola de Policarpo, uma estranha omissão, de
primeiros discípulos de Cristo (Mar. 15:40). João tem fato, se é que João estava residindo ali. É muito difícil
sido tradicionalmente identificado com o discípulo de crer que as menções posteriores a João dependessem
João Batista, cujo nome não é dado, o qual, do fato de que sua posição e importância na Igreja
juntamente com André, foi enviado a Jesus, por João tinham crescido. Qualquer homem que tivesse sido
Batista, que o chamou de «o Cordeiro de Deus» (João um dos discípulos originais de Jesus, já revestir-se-ia
1:35-37). de estatura gigantesca, somente por esse fato, não
O temperamento sangüíneo de Tiago e de João é precisando tornar-se ainda mais importante para
mencionado em Mar. 3:17. Todavia o grande zelo entrar na literatura posterior. Eusébio (III.21,3) citou
deles não era bem orientado (Luc. 9:49). Eles queriam Polícrates acerca do sepultamento de João, em Êfeso.
receber posições especiais de importância no reino, Ele fala sobre como João viveu até avançadíssima
um pedido mediado através da mãe deles (Mat. 20:20; idade, tendo acompanhado os reinados de Domicia-
Mar. 10:37). Eles faziam parte do círculo mais íntimo no, Nerva e Trajano, e tendo vivido nos tempos dos
dos doze: Mat. 5:37; 9:2; Mar. 14:33. Pedro e João bispos Clemente, Inácio e Simão. Afirmou, igualmen
foram os dois discípulos enviados por Jesus para te, que o quarto evangelho e I João sem dúvida
prepararem a refeição final da páscoa (Luc. 12:8). O alguma foram obras escritas por esse apóstolo, e que
quarto evangelho aparentemente alude a João, também havia fortes possibilidades das outras duas
embora sem chamá-lo pelo nome. Ver João 13:23; epistolas de João e do Apocalipse também terem saído
19:26,27; 21:23. O trecho de João 21:24, pelo menos, de sua pena (Hist. 3:34,13). O quanto Eusébio
mostra-nos que as tradições sobre João estão por meramente repetia tradições de terceiros, e o quanto
detrás do quarto evangelho, mesmo que ele não o ele disse, por si mesmo, é algo que não sabemos
tenha escrito pessoalmente. precisar.
4. Nos Livros Apócrifos
2. No livro de Atos, nas epistolas de João e no Ocorre algo de surpreendente na história e na
Apocalipse, Pedro e João foram dois dos primeiros literatura que circundam o apóstolo João. Temos
líderes da Igreja, e tiveram de padecer ante as pouquíssima informação sobre ele, no período
perseguições iniciais contra os cristãos (Atos 4:13; patrístico inicial; mas, em contraste, dos fins do
5:33,40). Mas eles exibiram ousadia e determinação, século II até os fins do século IV D.C., ele aparece
características essas obtidas como discípulos de Jesus. com grande proeminência no material apócrifo de
Pedro e João também foram líderes dos primeiros A tos de João, que data de meados do século II D.C.,
movimentos missionários da Igreja (Atos 8:14). Sem e que conta os alegados prodígios e discursos de João,
dúvida, isso incluía o ofício apostólico de supervisão acontecidos perto de Êfeso. Ele fala sobre o retorno de
sobre as atividades de outros cristãos. Talvez João seja João da ilha de Patmos, um naufrágio, a cura de
o «ancião» que aparece em II João 1 e em III João 1, Cleópatra e a ressurreição do marido dela, a
embora muitos achem que não é provável que seja o destruição do templo de Ârtemis e muitas coisas
mesmo João, o vidente, do Apocalipse 1:1,4,9 e 21:2. semelhantes, algumas delas abertamente fantásticas.
3. Nos Pais da Igreja. Nesses escritos temos João também narra ali a história de suas ligações com
algumas evidências que passamos em revista, Jesus. O livro termina com uma narrativa sobre a
essencialmente, no primeiro ponto, Caracterização morte de João, e com a declaração do próprio João,
Geral. Em adição ao que foi dito ali, temos o que foi que se mostrava agradecido por haver vivido como
mencionado na história de Filipe de Side (cerca de 450 celibatário. De fato, o livro não passa de uma peça de
D.C.), conforme foi narrado pelo cronista do século propaganda e de novela romântica dos gnósticos,
IX D.C., George Hamarttolos, que afirmava que nada acrescentando ao conhecimento que possuímos
Papias, bispo de Hierápolis (meados do século II sobre João. A tradição efésia é muito forte nesse livro,
D.C.) disse que am bos os filhos de Zebedeu tiveram sendo mesmo possível que o livro tivesse sido
morte violenta, em cumprimento a profecia de Jesus, inventado em Êfeso. Por outro lado, esse item pode
em Mar. 10:39. Não há como julgar se Papias estar baseado sobre um fato histórico.
realmente fez essa afirmativa e, se a fez, se ela era Ptolomeu, da escola gnóstica de Valentino,
exata ou não. Um martirológio sírio, escrito em cerca produziu uma exegese sobre o evangelho canônico de
de 400 D.C., preserva a data de 27 de dezembro como João. Essa obra data de cerca de 150 D.C. Reclama
o dia para relembrar os martírios de João e de Tiago, para o quarto evangelho a autoria joanina, conforme
em Jerusalém. Um calendário da igreja de Cartago nos diz Irineu (Her. 1:8,5). Um outro mestre gnóstico,
(datado de 505 D.C.), entretanto, diz que se deveria Heráclio, dos fins do século II D.C., também escreveu
pensar em João Batista e em Tiago. Seja como for, um comentário sobre o evangelho de João. Nesse
porém, não precisamos imaginar que tais calendários comentário também se menciona a autoria joanina do
preservassem qualquer item histórico de valor, que, quarto evangelho. O Diatessarom de Taciano, uma
porventura, tivesse sido perdido por outras fontes das primeiras harmonias dos evangelhos (cerca de 160
informativas. A tradição sobre a longa permanência D.C.), também dá apoio à autoria joanina do quarto
de João em Èfeso é muito mais convincente, segundo evangelho. O chamado Segundo Livro de João, que se
já pudemos notar; mas muitos estudiosos duvidam do encontra entre os papiros gnósticos de Berlim, e que
valor histórico até mesmo dessa tradição. Irineu, fazia parte da biblioteca gnóstica de Nag-Hammadi,
contudo, confirmou essa tradição, falando sobre as no Egito, também diz algo sobre João. Outras obras
dificuldades de João com os gnósticos e com Corinto, gnósticas existem que citam o evangelho de João,
em particular, principal representante daquele grupo. embora nada digam sobre a autoria do mesmo, e nem
Ele também disse que João continuou vivo até os dias nos fornecem qualquer material sobre ele que já não
do imperador Trajano, que reinou de 98 a 117 D.C. conheçamos.
Ver III. 1,1; 3,4. Jerônimo repete essa tradição,
embora seja duvidoso que ele estivesse estribado em III. A Teologia e os Ensinos Joaninos
qualquer informação independente. Contra essas A mais extensa declaração sobre essa questão
afirmações, porém, encontramos o fato de que a aparece, nesta enciclopédia, na introdução ao
JO ÃO APÓSTOLO, TEO LOG IA
evangelho e às epístolas de Joào. Em face da do evangelho. Quanto ao problema de autoria, ver
importância do assunto, temos provido um artigo cada livro do grupo. Ver também o artigo sobre João,
separado chamado João A póstolo, Teologia (E nsinos) que nos oferece suas idéias distintivas. Cada um
de. desses cinco livros joaninos entrou com sua contribui
IV. Escritos Joaninos
ção especial. Mas, apesar de haver muitos pontos
homogêneos entre eles, também há algumas distin
Embora várias obras, fora do Novo Testamento, ções entre os mesmos.
tenham sido escritas em nome do apóstolo João,
conforme se vê sob o ponto II.4, os escritos joaninos Esboço:
tradicionais limitam-se ao evangelho e às epístolas. I. Ensinos Acerca de Deus
Alguns insistem que o Apocalipse também é de II. Ensinos Acerca de Jesus Cristo
autoria joanina, conforme se vê em muitas listas do III. Ensinos Acerca do Espírito de Deus
material joanino. Contudo, poucos eruditos de hoje IV. Ensinos Acerca da Salvação
em dia acreditam que o apóstolo João foi, realmente, V. Escatologia
autor do Apocalipse. O grego ali usado é próprio de VI. A Lei do Amor
um autor que falava o aramaico, e que adquiriu o
grego como segundo idioma. Há muitos erros VII. Ensinos Acerca da Ética Cristã
gramaticais no original, ao passo que o evangelho de VIII. Ensinos Acerca da Igreja
João, embora escrito em grego simples, mostra úm I. Ensinos Acerca de Deus
grego relativamente puro, quase certamente da Sabemos que a base doutrinária do cristianismo se
autoria de alguém cuja língua nativa era o grego. E, se encontra na teologia judaica, do Antigo Testamento.
João, o pescador galileu, foi quem escreveu mesmo o Naturalmente, no judaísmo encontramos um desen
Evangelho, então alguém submeteu o livro a uma volvimento doutrinário sobre Deus, desde um Deus
revisão bem completa da linguagem, visto que antropomórfico, que andava com Adão e falava com
nenhum aldeão galileu teria podido escrever a cópia ele, no jardim do Éden, até o Deus mais
final desse livro. Muitos estudiosos supõem que transcendental e misterioso dos profetas do Antigo
apesar do evangelho de João preservar as tradições de Testamento. João, sem dúvida, reflete mais o Deus
João, além de adicionar material histórico valioso que dos profetas.
ultrapassa àquilo que dizem os evangelhos sinópticos, 1. O D eus transcendental do judaísmo posterior é
é muito difícil acreditar que João possa tê-lo escrito. enfatizado na declaração joanina de que ninguém
O que admira no evangelho de João é que o mesmo jamais viu a Deus (ver João 1:18). O Antigo
nada diz acerca do ministério de Jesus na Galiléia, ao Testamento fala de homens que viram Deus, o <jue
passo que os evangelhos sinópticos enfocam toda a também sucede até no Novo Testamento. Ver Gen.
sua atenção sobre o seu ministério galileu. No evan. 32:30; Êxo. 24:10; 33:18; Juí. 6:22; 13:22 e Apo. 22:4.
de João, quase todas as narrativas giram em torno da Todavia, nesses casos, ninguém viu a essência de
área de Jerusalém. Alguns indagam: Seria isso Deus, ou seja, aquilo em que Deus consiste, mas
possível para um autor que era natural da Galiléia, e viram tão somente alguma manifestação que O
que passou todo ou quase todo o seu tempo ali? Por representava. Como é óbvio, porém, é inútil negar a
essa e por outras razões, alguns intérpretes modernos diferença entre as primeiras apresentações de Deus e
supõem que foi a escola joanina (os seguidores as últimas. Nestas últimas representações, Deus é
imediatos de João) quem produziu o evangelho de mais transcendental e mais sofisticado, teologicamen
João, as três epístolas de João e o Apocalipse, e que o te falando.
próprio João não escreveu coisa alguma, pessoalmen 2. A revelação do D eus transcendental. Por causa
te. Essa posição, porém, é considerada radical, na da natureza essencialmente transcendental de Deus,
opinião de outros eruditos, que preferem permanecer era mister que ele se revelasse através do Logos, o que
crendo na autoria joanina desses cinco livros, mesmo é uma doutrina distintivamente joanina, repetida
porque as discussões sobre a autoria são supostamen (embora sem o emprego desse termo exato), na
te subjetivas. Essa questão é muito debatida: e, nos epístola aos Hebreus. Ver João 1:18.
livros em apreço, sob o título A utoria, abordamos os 3. Deus é o criador. Esse é o conceito comum dos
argumentos pró e contra a autoria joanina, com judeus e, de fato, universal, acerca do Ser Supremo.
detalhes. As introduções a esses cinco livros fornecem Nos escritos de Joào isso assume um traço distintivo,
completas descrições sobre as datas, proveniências, tomado por empréstimo da filosofia grega (do
destinos, propósitos, problemas especiais, esboços do estoicismo e do platonismo), embora não seja uma
conteúdo, etc., referentes a esses cinco livros. verdade por esse motivo. Deus criou todas as coisas
Bibliografia. Ver a bibliografia que há no fim do através do Logos (Joào 1:1,2).
artigo Evangelho de João.
4. Um Deus ativo. As obras de Deus prosseguem. O
Pai continua operando (João 5:17), um conceito que
JOÀO APÓSTOLO, TEOLOGIA (ENSINOS) DE alguns teólogos judeus negavam, visto que supunham
O material joanino, que consiste no evangelho de que o fato de que Deus descansou, no sétimo dia da
João, nas três epístolas de João e no Apocalipse, criação, dava a entender que ele cessara em todas as
certamente representam uma unidade distintiva no suas atividades, sem entenderem que ele descansou
Novo Testamento, caracterizando-se por vários apenas como «criador», e não como «sustentador» e
pontos de vista e elementos teológicos distintivos. «dirigente» de toda a criação. Ver Gên. 2:2:
Naturalmente, o apóstolo não escreveu o Apocalipse «...descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha
(com o que discordam os estudiosos conservadores), feito». Entretanto, a ciência está ensinando que a
mas esse livro pertence à escola joanina. De acordo própria criação é um processo contínuo. Universos
com alguns, o próprio evangelho de João pertence à aparecem e desaparecem continuamente. Pelo menos
escola joanina, embora talvez não tenha sido podemos afirmar com vigor que a obra espiritual de
pessoalmente escrito pelo apóstolo João. Mas, mesmo Deus jamais fica estagnada; e, talvez, até possamos
que esse ponto seja admitido, o fato é que o quarto afirmar que os destinos dos seres inteligentes também
evangelho é autêntico, contendo traços e contribui nunca são coisas estagnadas e fixas, embora talvez
ções distintivas da escola joanina, para a mensagem tenham de atravessar longos ciclos, que obscureçam
JO ÀO APÓSTOLO. TEO LOG IA
esse fato. Naturalmente, quando assim dizemos, hermética e nos escritos de Filo. Era apenas natural
entramos no campo da teologia especulativa. Toda que a mente religiosa inventasse essa metáfora. Em
via, se não se desviar dos ensinos bíblicos, as contraste, as trevas são más. A luz é uma
especulações não prejudicam, mas até enriquecem a conseqüência natural da santidade de Deus, de sua
teologia. Pelo menos sabemos que a obra divina da capacidade de manifestar a verdade.
salvação vai além do sepulcro (I Ped. 4:6), penetrando 10. D eus com o am or. Ver I João 4:16. O único
nos ciclos da eternidade (Efé. 1:9,10). atributo de Deus que pode representar devidamente o
5. O agente das atividades divinas é o Logos. Deus ser de Deus é o amor. O amor é a base de toda a
estava atuando em Cristo, o Logos encarnado (João espiritualidade e, sem amor, não há tal coisa como a
3:2), realizando as obras que Deus queria realizar. salvação dos homens. O amor é a prova própria da
Por sua vez, os demais filhos de Deus precisam se espiritualidade, e até do próprio novo nascimento.
atarefar naquilo que pertence legitimamente às Ver I João 4:7-12. Ninguém jamais viu a Deus; mas,
atividades da família divina, no que consiste o se nos amamos mutuamente, então é que Deus veio
discipulado cristão. Ver João 14:12. residir em nós, e está operando em nós a sua
6. D eus como Pai. Esse é um dos mais notáveis espiritualidade. O amor é a motivação que levou Deus
temas da fé religiosa, que pode ser encontrado no a enviar o Filho em sua missão, da qual resultou a
judaísmo, embora ali aplicado exclusivamente ao salvação dos homens. Ver João 3:16 e também o
povo de Israel. No evangelho cristão, a paternidade de artigo separado sobre o A m or.
Deus desconhece barreiras nacionais e raciais. Na 1 1 .0 D eus verdadeiro e eterno. Pode estar em pauta
salvação, a vida de Deus, vida necessária e o Filho de Deus (I João 5:20), ou, então, a ênfase
independente, é dada do Pai ao Filho encarnado, e sobre a autêntica divindade do Pai, em contraste com
deste para os filhos de Deus, conforme se aprende em todos os supostos e imaginários deuses. Só Deus
João 5:25,26, A paternidade de Deus é frisada em possui a verdadeira eternidade; mas ele compartilha
João 8:18-59. Ver também João 10:31 ss. Na da eternidade com os seus remidos. Embora, por
qualidade de Filho, o Verbo é um com o Pai (João vontade divina, as almas humanas nunca morram, os
10:30). A oração sumo sacerdotal de Jesus foi homens só se tornam verdadeiramente imortais, ou
endereçada ao Pai (João 17). O décimo quarto eternos, quando chegam a compartilhar da natureza
capítulo do evangelho de João, que faz parte dos divina, o que lhes é conferido pelo Filho de Deus (João
sermões de despedida de Jesus, enfatiza Deus como 5:25,26).
Pai. Pediu Filipe: «Senhor, mostra-nos o Pai, e isso 12. Deus com o Juiz. Ver João 3:17 ss. O julgamento
nos basta» (João 14:8). Mas, em sua resposta, Jesus será imposto de acordo com o que os homens fizeram
mostrou que o Pai só pode ser conhecido na pessoa do acerca da mensagem e dos requisitos do Filho. A ira
Filho; e também que os filhos de Deus, mediante o de Deus sobrevém àqueles que desobedecem ao Filho
poder dado pelo Pai, podem fazer obras maiores que (João 3:36). Ver o artigo intitulado Julgam ento.
aquelas que o Filho realizou neste mundo (João Apesar de muitos dos ensinos acima serem
14:12). Naturalmente, isso quer dizer que assim compartilhados por outros autores do Novo Testa
fariam através do ministério do Espírito. Deus é mento, podemos ver neles elementos distintivamente
mencionado como Pai por nada menos de cento e joaninos.
dezenove vezes no evangelho de João, e por doze vezes II. Ensinos Acerca de Jesus Cristo
nas suas três epístolas. Há alguma repetição dos ensinos referentes ao Pai e
7. A união entre o Pai e o Filho. Em João 10:30, referentes ao Filho, pelo que os primeiros itens aqui
disse Jesus: «Eu e o Pai somos um». E, em 10:30, apresentados já haviam sido salientados na seção I,
aprendemos que o Pai e o Filho desfrutam de uma acima.
intima e inquebrantável comunhão. O Logos tanto 1. O D eus transcendental revela-se no Logos. Veros
estava com Deus como ele mesmo é Deus (João 1:1). pontos primeiro e segundo da seção I.
O décimo sétimo capítulo de João, que encerra a
grande oração sumo sacerdotal de Jesus, enfatiza a 2. A s obras de Deus têm continuação p o r meio de
união de natureza, de propósito e de ações entre o Pai Cristo. Ver os pontos terceiro e quarto da seção I.
e o Filho. 3. Deus é o Pai do Filho, que é o Cristo. Por sua
vez, outros filhos são gerados pela divina família, e
8. Deus como Espírito. Isso enfatiza o fato de que passam a pertencer a essa família. Ver o quinto ponto
Deus pertence a outra categoria da criação. Não da seção I.
sabemos o que é um espirito, embora saibamos que é 4. Há inquebrantável união entre o Pai e o Filho.
algo imaterial. Deus não faz parte de sua criação; e Isso envolve tanto a natureza quanto os propósitos de
nem, metafisicamente, a sua criação faz parte de ambos. Ver o sexto ponto da seção I.
Deus. O panteísm o (vide) é assim negado, sendo 5. O Pai e o Filho são am bos lu z do m undo. Ver o
afirmada a natureza diferente de Deus. Ver João 4:24. ponto oitavo da seção I.
Visto que Deus é espirito, é necessário que o homem
O adore em espírito e em verdade, e não segundo as 6. O Filho cum priu os ditam es do am or do Pai. Isso
formas antigas e terrenas que se encontravam no inclui a missão salvatícia de Cristo, e a sua expressão,
templo judaico, com seus ritos e cerimônias. A no seio da família divina, no que diz respeito aos
espiritualidade, pois, torna-se uma questão de filhos de Deus. Ver o nono ponto da seção I.
comunhão pessoal com o Senhor. A espiritualidade de 7. O ju ízo é determ inado p o r aquilo que os hom ens
Deus é exposta como uma fé mais espiritualizada, fizerem com Cristo. Ver o ponto décimo primeiro da
segundo se vê no cristianismo bíblico, onde os homens seção I.
é que são templos de Deus, e nos quais o Espírito de 8. O Filho é o verdadeiro Deus, e ê eterno. Essa é
Deus opera. uma possível interpretação de I João 5:20.
9. Deus como lu z. O trecho de João 1:4 ss, no 9. O Filho transm ite a vida independente e
começo do evangelho, frisa esse fato. O tema se repete necessária de Deus aos homens. Isso é evidenciado em
em João 8:12 ss, e reaparece em I João 1:5. O Logos João 5:25,26. Os homens, em Cristo, tomam-se
também é a Luz de Deus; por ser Deus, o Logos é a verdadeiramente imortais, porquanto recebem a
luz de Deus. Ver também Apo. 21:23 e 22:5. O ensino própria origem da vida necessária e independente, a
que Deus é luz se encontra no judaísmo helenista, na vida de Deus.
548
JO ÃO APOSTOLO, TEO LOG IA
10. O Filho é o Logos. O L ogos (vide) éúma doutrina 14. Jesus com o o M essias. Seu Reino. Os trechos de
antiga, que data, pelo menos, do século VI A.C. A João 1:14,19 ss, especialmente os versículos 29 e 41,
personalização do Logos teve lugar na apresentação afirmam especialmente o ofício messiânico de Jesus.
de Filo sobre o Poder de Deus, como o Anjo do Nesse quarto evangelho, não há qualquer segredo
Senhor. Porém, o Logos como o Filho de Deus, é uma m essiânico. Nos evangelhos sinópticos, vemos que
das contribuições joaninas para o desenvolvimento Jesus chegou a proibir outras pessoas de revelarem a
dessa doutrina. O Logos tanto é criativo quanto sua identidade, pois, sem dúvida, seus contemporâ
transmite poder. Nele residem todas as revelações e neos estavam percebendo cada vez mais. Assim,
manifestações de Deus. Os pais alexandrinos ensina temos em Mat. 16 a grande revelação de Jesus como o
vam que o Logos implanta suas sementes (logoi Messias. João dá início à revelação em consonância
sperm atikoi, no grego) em muitos lugares, e não com a sua exaltada apresentação do poder e da
meramente no judaísmo e no cristianismo. Eles autoridade de Jesus. A mulher samaritana confessou
acreditavam que o Logos também operara na melhor o caráter messiânico de Jesus (João 4:25). O trecho de
parte da filosofia grega (mormente no platonismo), e João 20:31 contém a específica assertiva do fato de
que essa filosofia serviu de aio para levar os gentios a que Jesus é o Messias, mostrando que o seu evangelho
Cristo, tal como a lei foi o aio que levou os judeus a foi escrito justamente para provar o ponto. Pelo
Cristo. Pensamos que essa apreciação é correta; e tempo em que foi escrito o evangelho de João, já havia
deveríamos tirar vantagem de certas idéias, fora de esfriado a expectação do estabelecimento do reino de
nossos sistemas tradicionais, reconhecendo o valor de Deus à face da terra para qualquer tempo previsível.
outros sistemas. Adiciono a isso o comentário de que João mostra que Jesus falara sobre o seu reino, e não
não há diferença entre o Filho de Deus e o Logos, sobre o mundo (João 18:36). Sem dúvida, essa foi uma
embora «Logos» seja um termo mais abrangente. declaração genuína de Jesus, que serviu admiravel
«Filho» é o nome do Logos em sua relação mente bem aos propósitos de João. O terceiro capítulo
trinitariana. O Messias foi a manifestação do Logos de João apresenta o reino espiritual de Cristo, em cujo
encarnado, a fim de realizar uma missão especial, reino se entra por meio do novo nascimento, pouco
primeiramente entre os judeus; e então, mundialmen tendo a ver com o reino político e terreno que João
te, através da Igreja. Porém, o Logos é mais universal Batista anunciara e que os evangelhos sinópticos
do que os nossos sistemas confessam, podendo ser enfatizam.
conhecido por outros nomes, nos lugares onde menos O reino terreno de Cristo tornou-se assunto a ser
suspeitaríamos. O Logos é o próprio Deus, conforme tratado nas profecias, um reino que será materializa
João 1:1 e I João 5:20. O artigo intitulado Logos do durante o milênio (vide). Entrementes, o reino de
adiciona abundantes detalhes. Jesus é de natureza espiritual, místico, não pertencen
te a este mundo.
1 1 .0 Filho é o Eu Sou. Antes de tudo, Cristo é o
divino Eu Sou (João 8:58; ver também £xo. 3:14). III. Ensinos Acerca do Espirito de Deus
Além disso, na qualidade dessa elevada autoridade 1. Ênfase especial do quarto evangelho. O Espírito
espiritual, Ele proferiu várias declarações em que ele Santo tem maior ênfase no evangelho de João do que
aparece como o «Eu Sou», conforme se vê abaixo: nos três evangelhos sinópticos. O ofício do Espírito
«Eu sou o pão da vida» (João 6); «Eu sou a porta» Santo, no batismo de Jesus, aparece logo no primeiro
(João 10:7); «Eu sou o bom pastor» (João 10:11); «Eu capítulo de João (1:32). Somente João registrou a
sou a ressurreição e a vida» (João 11:25); «Eu sou o mensagem anterior dada a João Batista, acerca do
caminho e a verdade e a vida» (João 14:6); «Eu sou a significado dessa atuação do Espirito.
videira verdadeira» (João 15:1). Essas declarações de 2. João 1:33 parece predizer o Pentecoste cristão,
Jesus apresentam uma característica ímpar do ensino quando o dom do Espírito Santo foi derramado sobre
e da expressão cristãs, uma característica enfatizada os discípulos de Cristo, reunidos em Jerusalém, dez
por João por intermédio de várias figuras, expondo a dias .«>ós a sua ascensão ao céu.
autoridade exclusiva de Cristo, o Logos de Deus. 3. A história de N icodem os enfatiza o lugar do
Espírito Santo na experiência do novo nascimento
12. A hum anidade de Cristo. A primeira vez em (João 3:3-5). Sem essa ação do Espírito, não poderia
que falou sobre o Logos divino , João deixou claro que haver regeneração. A espiritualidade se alicerça sobre
iria enfatizar a natureza divina de Cristo. Contudo, o poder do Espírito, e não sobre ritos e instituições
João não deixou de lado a humanidade de Cristo, religiosas.
embora a tenha enfatizado menos. O décimo primeiro 4. O Espirito é largam ente concedido pelo Pai,
capítulo de João mostra-nos que ele compartilhava de primeiramente ao Filho (por meio de quem o Espírito
emoções humanas; João 19:18 diz que ele teve sede. E opera) e, então, aos filhos de Deus (João 3:34; 14:16
o fato de que ele morreu mostra-nos que Cristo não ss).
era algum fantasma, a representar um papel teatral, 5. A água viva e o Espírito. Do coração do homem
conforme os gnósticos asseveravam. regenerado fluem rios de água viva, símbolo do
13. A to s de misericórdia. Apesar de haver grandes Espírito e de suas abundantes manifestações. Isso é
mistérios enfatizados por João, na natureza divina, há uma promessa acerca do dia de Pentecoste. Ver João
pontos que demonstram os atos de misericórdia do 7:38,39.
Logos em favor dos homens. Jesus transformou água 6. A s declarações sobre o Paracleto. O Espírito é o
em vinho, a fim de garantir uma impecável festa de ajudante, o advogado, aquele que se põe ao nosso
casamento (João 2); ele curou, até mesmo em dia de lado para nos ajudar, conforme a palavra grega
sábado(João5); ele curou as enfermidades de muitos paraklete, indica. Ver o artigo separado sobre esse
(João 6): ele curou um cego de nascença, um notável assunto. Há cinco declarações de Jesus em que o
milagre que deu origem a todo um capítulo do quarto Espírito Santo é chamado de paraklete. Ver João
evangelho- ele ressuscitou dos mortos a seu amigo, 14:15-17; 14:25,26; 15:26,27; 16:5-11 e 16:12-15. O
Lázaro (João 11); ele mostrou profundo interesse Espírito apresenta-nos a verdade de maneira toda
pelos discípulos que estava prestes a deixar (João 14); especial; reside no crente; possibilita a comunhão com
e mesmo já estando na cruz, em meio a seus próprios Deus; é nosso conselheiro e guia; ensina-nos acerca de
sofrimentos espirituais e físicos, ele se preocupou com Cristo; glorifica a pessoa de Cristo; dá prosseguimen
o bemestar de outras pessoas (João 19:26,27). to ao ministério de Cristo no mundo; revela a verdade
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JO ÃO APOSTOLO, TEO LOG IA
de uma maneira mais extensa e completa do que era vida não contingente, que não depende de outra vida
possível a Jesus fazê-lo em seu ministério terreno, o qualquer, a fim de continuar. Essa doutrina fica
que significa que ele se tornou o alter ego de Cristo, implícita em João 5:25,26. Ver o artigo geral sobre a
neste mundo, Salvação , bem como aquele intitulado Transformação
7. O Espírito Santo fo i conferido aos prim eiros Segundo a Im agem de Cristo.
discípulos de Jesus, e issò deu a especial autoridade 2. A Expiação
apostólica (João 20:22). Isso serviu de prelibação do O evangelho de João, em harmonia com os
dia de Pentecoste; mas foi um ato especial em si evangelhos sinópticos, naturalmente, trata sobre o
mesmo, relacionado à autoridade apostólica, como problema do pecado. O terceiro capítulo nos diz que a
garantia do cumprimento da missão dos apóstolos. condenação resulta dos pecadores não virem ao Filho,
Referências na Primeira Epistola de João. Essas que trouxe a vida eterna ao mundo. A realização de
referências sobre o Espírito de Deus cobrem o mesmo Cristo foi inspirada pelo amor de Deus, sendo um
terreno que se vê no evangelho de João. Ver os trechos amor muito amplo, universal mesmo. I João 2:2
seguintes: I João 3:24 (o conhecimento vem por meio encerra a mais enfática declaração neotestamentária
do Espírito); 4:2 ss (a confissão de Cristo como contra qualquer noção de expiação limitada. Cristo é
Salvador é inspirada por Ele); 4:13 (o Espírito é dom a propiciação pelos nossos pecados, e não somente
de Deus); 5:7,8 (o Espírito é testemunha dos pontos pelos nossos, mas ainda pelos pecados do mundo
essenciais da mensagem cristã). inteiro. Isso combatia o exclusivismo dos gnósticos. O
Referências no Livro de Apocalipse. Apocalipse gnosticismo ensina que somente alguns poucos
1:10; 4:2; 17:3; 21:10 (o autor sagrado foi inspirado homens seletos, que eles chamavam de pneum áticos,
pelo Espírito); 1:4; 4:5; 5:6 (há sete Espíritos de têm qualquer chance de ser salvos. Um outro grupo
Deus—isso significa ou sete seres divinos especiais, menor, que seriam os psíquicos (como os profetas do
ou, mais certamente, os ofícios do Espírito Santo, Antigo Testamento e outros homens santos da época),
apresentados em sete aspectos diferentes); 14:13 (o poderiam atingir uma glória secundária. Mas a
Espírito é uma voz celestial); 22:17 (o Espírito, grande maioria dos homens, que seriam os hílicos
juntamente com a Noiva, que é a Igreja, faz o último (dominados pela materialidade), não teriam a menor
convite que a Bíblia oferece aos homens). chance de serem remidos e, fatalmente, haveriam de
perecer, na conflagração geral que haveria no fim dos
IV. Ensinos Acerca da Salvação ciclos mundiais. Esse esquema é enfaticamente
1. A Filiação negado pelo apóstolo João. É lamentável que o
Na moderna Igreja evangélica, os ensinos sobre a calvinismo (vide) insista sobre esse mesmo tipo de
salvação se alicerçam essencialmente, sobre textos de limitação, anulando assim o mistério do evangelho.
prova extraídos dos evangelhos sinópticos (Mateus, Há versículos bíblicos que ensinam a eleição (vide),
Marcos e Lucas) e do livro de Atos. A necessidade de mas também há versículos que ensinam o livre-
arrependimento e de perdão de pecados destacam-se arbítrio (vide). E é aí que encontramos um misterioso
nesse ensino, juntamente com a promessa do céu paradoxo que nenhum sistema teológico tem conse
(usualmente apresentado como um lugar estagnado) e guido resolver, e que os sistemas ignoram, anulando
com a ameaça do inferno. Segundo essa apresentação, ou um ou outro dos lados da questão. Podemos,
o céu é um bom lugar, onde as pessoas viveriam sem a contudo, aceitar ambos os elementos se postularmos
presença das enfermidades e da morte, e onde as que a iniciativa é divina (Deus escolheu antes da
bênçãos celestes seriam abundantes. O inferno, por fundação do mundo, os seus escolhidos), e que, nesta
sua vez, é um lugar de tormentos eternos, sendo vida, a vontade humana, com a ajuda do Espírito de
também apresentado como um lugar estagnado. No Deus, se põe ao lado dessa decisão divina tomada na
evangelho de João e nos escritos de Paulo, porém, eternidade passada. Cristo é o Cordeiro de Deus, que
encontramos coisas que vão muito além desse ensino tira o pecado do mundo (João 1:29). A crucificação
parcial. João 1:12, é trecho que vincula a salvação à expiatória de Cristo atrai todos os hom ens a si mesmo
filiação , tal como o fez Paulo. De acordo com Paulo, (João 12:32). A obra expiatória de Cristo foi
isso envolve a transformação do crente segundo a completada (João 19:30), quando da crucificação.
imagem do Filho, de tal modo que ele vem a 3. A Obra do Espírito
participar da natureza metafísica e da glória Faz parte da obra do Espírito convencer aos
transcendental de Cristo. Ver Rom. 8:29; II Cor. homens, porquanto, sem esse poder divino, a
3:18. Pedro ensina que a salvação consiste na mensagem cristã simplesmente não exerce qualquer
participação na natureza divina, o que interpretamos poder. Ver João 16:9. Além disso, ninguém pode vir a
como uma participação real, posto que em proporções Cristo, a menos que o Espírito de Deus o atraia (João
finitas. Ver II Ped. 1:4. No entanto, essa finitude 6:44). De fato, faz parte do propósito da missão de
ir-se-á ampliando eternamente, de tal maneira que, Cristo atrair todos os hom ens a si mesmo (João 12:32).
em certo sentido, a salvação é um processo eterno, e E isso ele faz mediante as operações do Espírito.
não uma realização de uma vez por todas. A natureza Outrossim, o amor de Deus é tão abrangente que
do Pai e os seus atributos serão continuamente Deus fez provisões universais, de tal modo que todos
compartilhados pelo crente, em proporções cada vez aqueles que queiram vir a Cristo, poderão fazê-lo
maiores, de tal modo que os remidos vão passando de (João 3:16). l emos aqui o paradoxo entre a interação
um grau de glória para o próximo, interminavelmen do poder eletivo de Deus e o livre-arbítrio humano.
te. No evangelho de João é-nos ensinado que os filhos Deus usa o livre-arbítrio do homem sem destruir esse
de Deus, por meio do Filho, por um dom do Pai, livre-arbítrio, embora não saibamos dizer com o. Não
chegam a compartilhar da vida divina que é se resolve esse problema difícil cortando o nó górdio
necessária e independente. Isso posto, a salvação (ver o artigo com esse título).
consiste no dom da imortalidade, onde o ser humano
deixa de ser uma alma que não morre (vida sem-fim, 4. O Problema do Pecado
mediada pela vontade de Deus), a fim de tornar-^e um O pecado reside no fato de que os homens rejeitam
ser eterno, dotado do mesmo tipo de vida que Deus a luz divina (João 1:9; 3:19), visto que a iniquidade,
manifesta em Cristo. Em outras palavras, os remidos inspirada pelo.maligno, cativou os homens, tornando-
recebem aquele tipo de vida que tem, em si mesma, a os prisioneiros do reino das trevas (I João 3:4,8). O
origem de sua existência, uma vida necessária, uma indivíduo precisa nascer do alto, a fim de poder
547
JO ÃO APÓSTOLO, TEO LOG IA
escapar dessa armadilha (Joào 3 e I João 3:9). A ira de provável que uma boa parte do conteúdo do
Deus dirige-se contra aqueles que preferem permane Apocalipse tenha saído da pena do apóstolo João.
cer nas trevas (João 3:36). Esse livro pertence a uma longa tradição de
5. A Fé apocalipses, dentro da literatura judaica tradicional.
O evangelho de João foi especificamente escrito E, naquilo em que não sofre a influência do Antigo
p.ara provocar a fé da parte dos homens, levando-os a Testamento (no caso, especialmente do livro de
confiar na missão salvatícia de Cristo (João 20:30,31). Daniel), reflete os livros pseudepígrafos do Antigo
A fé leva à vida eterna, e a incredulidade leva à Testamento. Os livros pseudepígrafos são certo
condenação eterna (João 3:16-18). Naturalmente, a fé número de livros escritos durante o período
inclui a outorga da alma aos cuidados de Cristo, com intertestamental. Poucos de seus símbolos são
a conseqüente santificação e transformação espiritual, originais. Estão firmemente baseados na literatura
não envolvendo, isso posto, apenas a anuência diante apocalíptica judaica, que se foi acumulando no
de algum credo. Como é óbvio, isso reflete o ensino decurso de várias centenas de anos. Seja como for,
bíblico sobre o novo nascim ento. A fé precisa ser muitos eruditos levam a sério o quadro profético
transformadora, e não meramente um assentimento oferecido por esse livro, embora o esboço das
intelectual. predições proféticas seja, essencialmente, o esboço de
6. O Novo N ascim ento I Enoque. O Apocalipse é interpretado, essencialmen
te, de três maneiras; e um quarto (ou mais) método de
Ver os artigos separados sobre Novo Nascim ento e interpretação é conseguido mediante a mistura
sobre Regeneração. O Espírito de Deus é que realiza daquelas três maneiras. Essas maneiras são: 1. a
essa obra espiritual, ou a mesma nunca é realizada. O interpretação preterista, isto é, o livro inteiro é
novo nascimento é uma profunda modificação na considerado como uma história, pelo que as profecias
essência do indivíduo, é uma intervenção espiritual, ali contidas ou seriam pseudoprofecias, ou então não
seguida pela evolução espiritual. João 3:3 ss, chegariam a envolver os últim os dias, conforme
fornece-nos detalhes a respeito. A regeneração ou entendemos essa expressão. 2. Outra interpretação
novo nascimento é uma operação do Espírito, diz que o livro é sim bólico (ou místico), o que significa
segundo se aprende em João 3:5. Não é algo que se trata de um livro de instruções espirituais
organizacional (dependente da participação do simbólicas, e não uma profecia acerca do futuro. 3. A
indivíduo em algum grupo específico); não é algo terceira interpretação é a fu tu rista , essencialmente
sacramental (a participação em um, vários ou todos os uma profecia sobre acontecimentos que ainda jazem
sacramentos); não é algo credal (a crença em algum no futuro, embora, como é óbvio, o livro contenha
conjunto específico de doutrinas); e nem algo atingido alguns pontos históricos. No artigo sobre o A pocalip
pelo mérito humano, mediante o acúmulo de boas se, damos as informações básicas sobre essas
obras. Antes, é uma transformação espiritual, que questões.
modifica totalmente a natureza da alma humana,
espiritualizando-a, de modo a participar da natureza 2. O Evangelho de João e a Escatologia
do Filho, levando-a a ingressar na divina família, a. O Reino. Certamente a primeira coisa a ser
mediante um novo nascimento espiritual. notada é que o reino de Deus, na terra, como uma
7. A Vida Eterna realização imediata, o que é um tema comum nos
Ver o artigo sobre esse assunto. A vida eterna não evangelhos sinópticos, foi um tema abandonado pelo
consiste meramente em existência sem-fim. Antes, é autor do quarto evangelho. Ora, o reino de Deus é um
um tipo de existência, com base na participação na conceito espiritual essencialmente equivalente ao novo
natureza divina, conforme manifestada em Cristo. nascimento. O indivíduo entra no reino de Deus por
Platão falava sobre como os homens cessam de ser meio do novo nascimento (João 3:5). Jesus declarou a
meramente eternos e passam a ser imortais, quando Pilatos que o seu reino não é deste mundo (João
são absorvidos pelo universal (vide). O conceito 18:36). O evangelho de João ultrapassou, definitiva
joanino é parecido com isso. Ver sob o primeiro mente, o fervor apocalíptico dos evangelhos sinópti
ponto. Filiação, onde oferecemos detalhes sobre essa cos. Alguns eruditos modernos, como Bultmann e
noção bíblica. Somente Deus é verdadeiramente Dodd, eliminam de modo radical os elementos
im ortal (ver I Tim. 6:16). Porém, a promessa do futuristas, no tocante a predições do Apocalipse sobre
evangelho é que Deus compartilha dessa imortalidade o nosso tempo, sem falarmos no futuro do povo de
com os seus escolhidos. A imortalidade consiste na Deus no céu, a vida eterna, etc.
vida necessária e independente de Deus, e que é b. O Antigo Testam ento C um prido em Jesus. Isso
oferecida, em Cristo, ao pecador. Grande mistério! fala sobre a parousia futura e sobre o reino de Deus. A
V . Escatologia graça e a verdade encontram-se em Cristo, o novo
1. O Apocalipse. Esse é o nosso único livro Moisés (João 1:17). À semelhança de Abraão, Jesus é
inteiramente profético do Novo Testamento. Tradi o cabeça de uma raça. Mas Jesus é superior a Abraão
cionalmente é atribuído ao apóstolo João. Entretanto, por ser o cabeça de uma raça celestial, e não
a linguagem do livro é inteiramente diferente, como meramente terrena (João 8:53 ss). Comparação
uma língua adquirida por um homem cujo idioma similar é feita com Jacó (João 4:5,12; comparar com
nativo era o aramaico. Contém um bom número de João 1:50,51). Haverá uma futura parousia, ou
erros gramaticais, e algumas de suas passagens só são segunda vinda de Jesus Cristo (Joào 14:3,18; 21:22).
claramente compreendidas quando reconstituídas no Isso introduz o reino celestial de Deus (João
aramaico original, por detrás do grego. O evangelho 18:36,37). Os filhos de Deus assumirão o seu lugar
de João, por outro lado, apesar de simples, foi escrito junto com o Filho de Deus, devido ao favor divino
em grego essencialmente puro, apesar de algumas (João 17). No reino de Deus entra-se por meio do novo
influências aramaicas. É impossível que um mesmo nascimento (Joào 3).
autor tenha escrito ambos esses livros. Por isso, a c. A Ressurreição dos Ú ltimos D ias. Os mortos
maioria dos eruditos acredita que certo João, o ouvirão a voz do Filho de Deus, e sairão de seus
vidente, foi quem escreveu o Apocalipse, embora ele sepulcros. Isso garante a imortalidade. Todavia, o
também pertencesse à escola joanina. Isso posto, é evangelho de João não alude a uma primeira e a uma
legítimo incluirmos o livro de Apocalipse neste artigo segunda ressurreições, conforme se vê em Apo.
referente aos ensinos joaninos. Seja como for, não é 20:4-6. Não obstante, distingue as coisas que daí
JO Ã O APÓSTOLO, TEO LOG IA
resultarão. Pois alguns ressuscitarão para a vida 4. Uma revolução m oral. Nicodemos pertencia à
eterna, e outros para a condenação eterna (João 5:29). elite dos líderes dos judeus, sendo dotado de uma
d. O Julgam ento Futuro. Ver João 3:19; 5:25-28 e religião extremamente ética. No entanto, Jesus
12:31. O julgamento faz parte indispensável do plano salientou diante dele que, se quisesse agradar a Deus
de Deus. A ira de Deus permanecerá sobre alguns e participar do seu reino, teria que experimentar uma
(João 3:36). A questão do julgamento eterno é grande revolução moral, a revolução do novo
pressuposto no fato de que o juízo divino é nascimento. Ver João 3:3 ss.
contrastado com a vida eterna. Naturalmente, o livro 5. Q uando a iniquidade é fo rte. O nono capítulo de
de Apocalipse ensina a eternidade do julgamento João mostra-nos que certos homens religiosos
(Apo. 14:11; 20:11 ss). A possibilidade da salvação no opunham-se às obras de Jesus, por sentir-se ele liberto
além-túmulo (o que certamente é ensinado em I Ped. para fazer certas coisas em dia de sábado. É possível
4:6), e a futura restauração de todas as coisas (Atos ficarmos cegos por dogmas que servem somente para
3:20,21; Efé 1:9,10; ver também o artigo intitulado impedir nossos pensamentos e atos, levando-nos a
Restauração), não são assuntos abordados nos combater a verdadeira retidão. É possível alguém ter
escritos joaninos, pelo menos chamando-os por esses a Satanás como seu pai, sendo apanhado em sua
nomes. armadilha, cooperando com ele, ao mesmo tempo em
e. O Anticristo e os A nticristos. Um futuro que esse alguém se ocupa em atividades religiosas
anticristo é esperado, mas não descrito. Os anticristos (João 8:44). A ética nunca pode estar baseada
jiresentes são denunciados em I João 2:18 e II João 6. meramente nas atitudes e ações de ujn homem.
Supõe-se que os anticristos presentes eram os mestres Sempre nos envolve naquele quadro maior e cósmico
gnósticos. Foi deixado a Paulo descrever o anticristo da lealdade ao reino da luz ou da lealdade ao reino
(vide). Naturalmente, encontramos descrições deta das trevas. Ver João 3:19,20; I João 2:9 ss; 5:18,19. O
lhadas sobre o anticristo e seu falso profeta, nos mundo inteiro jaz sob o poder do maligno. É mister
capítulos treze e dezessete do Apocalipse. uma revolução espiritual radical para que esse poder
Ao evangelho de João fa lta um pequeno A p o ca seja anulado na vida de uma pessoa. Isso ocorre
lipse, como aquele que se vê no capítulo vinte e quatro quando o indivíduo nasce do alto, mediante a
de Mateus e no capitulo treze de Marcos. regeneração do Espírito.
VI. A Lei do Amor 6. A verdadeira ação ética alicerça-se sobre a
comunhão. Jesus é a vinha, e nós somos os ramos.
Todas as religiões e quase todas as filosofias dão ao Dele recebemos a vida e a nutrição. Se estivermos
amor o lugar supremo na fé religiosa, e todos fazem perm anecendo em Cristo, então seremos o que
do amor a mãe de toda ética autêntica. João foi devemos ser, e agiremos como é de nosso dever (João
apodado de apóstolo do amor; pois sua ênfase sobre o 15). A nossa permanência em Cristo leva-nos a
amor excede a de todos os demais escritores do Novo produzir muito fruto espiritual. Nós somos ramos,
Testamento, se, naturalmente, excetuarmos o hino ao filhos, amigos (João 15:5; I João 5:1; João 15:14).
amor, em I Cor. 13. O amor de Deus era a grande Somos amados (I João 2:7; 3:2) e estamos sendo
inspiração da missão terrena de Cristo (João 3:16). A santificados (João 17:17). Esses são os elementos
necessidade de amor, na comunidade cristã, é espirituais que nos levam a agir corretamente.
enfatizada no décimo terceiro capítulo de João. Ver o
vs. 34. Se amarmos a Cristo, então guardaremos os 7. A vitória está garantida a todos quantos se
seus mandamentos (João 15:12). O amor inspirou a acham em Cristo (I João 3:8; 5:4,5).
expiação pelos nossos pecados (João 15:13). O 8. A vida é o resultado. Não podemos separar a fé
mandamento específico de Cristo é que nos amemos das obras, e nem as obras da fé. O homem bom tem fé
mutuamente (João 15:17). Esse é o seu mandamento e age corretamente, e herda a vida eterna (João
novo especial (João 13:34; I João 1:8 ss; II João 5). 3:16,36; 5:28,29).
Trata-se do mesmo antigo mandamento do amor, VTO. Ensinos Acerca da Igreja
embora com uma nova ênfase e significação. Há um Apesar da palavra igreja nunca aparecer no
amor divino mútuo unindo o Pai, o Filho e os filhos de quarto evangelho, a comunidade cristã transparece ali
Deus (João 17:26). O amor nos é conferido mediante o claramente, com suas ordenanças e suas característi
novo nascimento, por derramamento do Espírito, cas distintivas.
sendo o amor a própria prova da espiritualidade (I 1. No capítulo dezessete certamente temos um
João 4:7 ss). Se nos amarmos uns aos outros, então reflexo da consciência da existência da com unidade
Deus estará habitando em nós, e o seu amor é em nós cristã, separada do judaísmo tradicional.
aperfeiçoado (I João 4:12). Ver o artigo detalhado 2. O fato de que Cristo atrai todos os homens a si
sobre o A m or. V
I. mesmo (João 12:32) alude à sua própria e contínua
missão por meio da Igreja. O décimo sétimo capitulo
VII. Ensino« Acerca da Ética Cristã de João fala da missão de Cristo por meio da
1. A m ie de toda ação ética é o amor. Demos a isso autoridade de Deus Pai.
uma seção toda própria para efeito de ênfase. Ver a
seção VI. 3. No primeiro capítulo de João, a doutrina do
2. A nova base. Jesus anunciou uma nova Logos é reflexo de um tempo quando a teologia cristã
existência, de acordo com a qual o indivíduo é estava se tornando mais sofisticada.
espiritualizado mediante o novo nascimento (João 3). 4. A alegoria do Pastor, do décimo capítulo de
A encarnação é a base da nova ordem espiritual (João João. Isso tem reflexos em Sal. 23; Isa. 40:11; Eze.
1:1-14), o que tornou possível a nossa filiação (João 34:11, informando-nos sobre o novo rebanho que se
1:12) e que resulta em um homem de nova categoria, reunia em torno de Cristo, uma alusão direta à Igreja
com ações diferentes. cristã. As forças adversas, que pretendiam prejudicar
3. Misericórdia para com o pecador. Jesus não as ovelhas, incluíam os primeiros adversários do
evitou a mulher que viera falar com Ele, à beira do cristianismo, especialmente os judeus incrédulos que
poço de Jacó, somente porque ela tinha má reputação, se opunham ao crescimento da nova religião. As
e problemas morais sérios. Antes, anunciou para ela o «outras ovelhas» de João 10:6 referem-se à missão da
poder de sua missão messiânica. A missão de Jesus Igreja em territórios gentílicos.
aprimora os homens. Ver João 4. 5. O Espírito, M estre e Guia da Igreja. As
549
JO Ã O (O B A TISTA )
declarações de Jesus sobre o divino Paracleto IV. Ministério e Mensagem de João Batista
apresentam-nos o ministério do Espírito, conforme o V. Elias Redivivo
mesmo operaria após o dia de Pentecoste. Ver João VI. João Batista e Jesus
14:16,17; 15:26,27. O trecho de João 16:7 ss prevê VII. Seguidores de João Batista
definidamente o Pentecoste. VIII. Morte de João Batista
6. A alegoria da vinha , no décimo quinto capítulo
de João, alude à unidade essencial da comunidade da Bibliografia
Igreja, por depender totalmente do Filho de Deus, a
própria origem da vida. A Igreja, desse modo, é vista I. Caracterização Geral
como um organismo espiritual, e não como uma mera 1. O Precursor. João, filho de Zacarias (que era
organização terrena. sacerdote) e de Isabel (igualmente de ascendência
7. O exclusivismo do cristianism o é aludido em João sacerdotal), foi o precursor de Jesus, o Cristo. As
14:16, bem como na alegoria da porta, em João 10:7. datas de seu nascimento e da inauguração de seu
ministério público não podem ser determinadas com
8. A comissão de Pedro, de ser um bom pastor, precisão. As sugestões variam de 8 a 4 A.C., quanto
reflete uma época em que a Igreja estava sendo ao seu nascimento, e de 26 a 28 D.C., quanto ao inicio
formada e precisava de orientação (João 21:15-19). de seu ministério público. Lucas informa-nos que
9. O Lava-pés. O quarto evangelho é o único dos João Batista nasceu quando seus pais eram ambos de
evangelhos que frisa, com detalhes, a ordenança do avançada idade. No evangelho de Lucas temos a bela
lava-pés. Quase todo o seu décimo terceiro capítulo visão de Zacarias, que mostrou que João seria um vaso
gira em torno dr cerimônia. Vários segmentos da especial para servir ao Senhor. Ele nasceu na região
Igreja, hoje em dia. por causa do ensino contido nesse montanhosa da Judéia, — onde também passou os
capítulo, requerem o lava-pés como uma ordenança, primeiros anos de sua vida. Isabel, sua mãe, era
embora o mesmo seja observado de vários modos, parenta (talvez prima) de Maria, mãe de Jesus. João
alguns radicalmente diferentes de outros. vivia como um asceta, segundo se vê em Mat. 3:4.
10. A Autoridade Apostólica. O trecho de João Vestia-se de maneira similar à de Elias (II Reis 1:18).
20:21-23 tem ocasionado considerável dificuldade de Alguns estudiosos pensam que João Batista era a
interpretação. A questão da autoridade para perdoar reencarnação de Elias, mas outros, mais acertada-
pecados é interpretada literalmente pela Igreja mente, dizem que ele meramente cumpriu um
Católica Romana. Eles creem que os padres têm essa ministério como o de Elias. Ou alguém que ministrava
autoridade, por meio da sucessão apostólica (vide). no poder e espírito de Elias. João Batista era uma voz
Os grupos protestantes supõem que esse ofício no deserto, que conclamava os homens ao arrependi
pertence a Cristo, sendo mediatoriamente cumprido, mento, para que eles se voltassem para o Cristo, o
isto é. através do m inistério da Igreja, através da Cordeiro de Deus (João 1:23,29). Foi o Batista quem
pregação. Seja como for, é claro que aos apóstolos foi preparou o núcleo inicial dos discípulos de Jesus, os
dada alguma espécie de autoridade especial na quais, finalmente, se tornaram seus seguidores,
passagem em questão. Após a destruição de quando chegou o tempo aprazado para isso.
Jerusalém, no ano 70 D.C., o que pôs fim à 2. A M ensagem de João Batista. Essa mensagem
autoridade do Sinédrio dos judeus, foi deixado um tinha como ênfase principal a necessidade de
grande vácuo no campo da autoridade eclesiástica. O arrependimento, a breve inauguração do Reino de
décimo sexto capítulo de Mateus parece pôr Pedro Deus à face da terra, e o iminente aparecimento do
como a rocha fundamental da Igreja, preenchendo Messias, que haveria de julgar, purificar e unificar o
esse vácuo, embora o décimo oitavo capítulo do povo de Deus. João Batista identificou Jesus como o
mesmo evangelho ponha nesse vácuo a autoridade Messias prometido, embora pareça ter hesitado
coletiva dos apóstolos, o que também acontece no quanto a essa identificação, pelo menos durante
evangelho de João. Ver os artigos intitulados algum tempo, quando, sofrendo no cárcere, e sob
Apóstolos e Apostolado. forte desapontamento, chegou a duvidar (Mar. 11:3).
11. A s Ordenanças. Já fizemos considerações 3. O Batism o de Jesus p o r João. Entre os que
passageiras sobre o lava-pes, no ponto nono, acima. A vieram receber o batismo de João, achava-se o próprio
instituição da Ceia do Senhor não aparece, surpreen Jesus, que quis assim identificar-se com o grupo
dentemente, no evangelho de João; mas o estudo separado daqueles que buscavam fervorosamente o
sobre Jesus como o Pão da Vida, ao que tudo indica é reino de Deus (vide). Foi nessa oportunidade que João
uma abordagem teológica do sentido essencial da declarou enfaticamente que Jesus era o Messias. Ver
Ceia. Ver os artigos intitulados Eucaristia e Jesus Mat. 3:13-15.
Como o Pão da Vida. A expiação de Cristo é o maná 4. Um E xtenso M inistério. Sabemos que o
espiritual da Igreja (João 6:51). Ver também os ministério de João Batista não se confinou ao vale do
artigos Transuhstanciação e Consuhstanciação. Jordão. O trecho de João 3:23 mostra-nos que ele
Não há que duvidar que o batismo em água é deixou aquele local e, por algum tempo, pregou
aludido em João 3:3-5, como um símbolo, mas não batismo de arrependimento em Enom, perto de
como a origem do novo nascimento. O batismo em Salim, onde havia muita água para imergir os
água pode representar os poderes regeneradores do penitentes. W.F. Albright (T h e Archeology o f
Espírito de Deus, que é a Agua da Vida. Ver sobre Palestina) diz que esse lugar ficava a suleste de
Batism o. Nablus, perto das cabeceiras do wadi Far’ah, em
Bibliografia. Ver a bibliografia que damos no fim território samaritano. Depois disso, João retornou ao
do artigo sobre o Evangelho de João. território governado por Herodes Àntipas, provavel
mente a Peréia. Acabou despertando a hostilidade de
Herodes Ãntipas, e mais ainda de sua segunda
IOÃO (O BATISTA) esposa, Herodias, ao denunciar que o casamento deles
era ilícito, porquanto ela era esposa de um irmão dele.
Esboço Por esse motivo, João foi encarcerado na fortaleza de
I. Caracterização Geral Maquero (vide), na Peréia; e, poucos meses mais
II. Família e Começo de Vida tarde, foi executado. Ver Mat. 14:1-12 quanto a essa
III. Fontes Informativas narrativa.
550
JO ÃO (O B ATISTA )
5. João Batista e os Essênios. Os eruditos até o fim do século II D.C.
comumente têm feito a ligação entre João Batista e os
essênios (vide). Os seus hábitos ascéticos e os locais II. Família e Começo de Vida
onde ele costumava pregar, perto de onde os membros João Batista era filho do sacerdote Zacarias, que
daquela seita se localizavam, bem como as afinidades pertencia ao turno de Abias(I Crô. 24:10). Sua mãe,
entre João Batista e os manuscritos do mar Morto Isabel, também era de família sacerdotal, pois é até
(vide), encontrados em Qumran, chegam quase a chamada de «das filhas de Arào» (Luc. 1:5). Seu
confirmar essa pura especulação. Um grupo de nascimento foi miraculoso, visto que ambos os seus
ascetas essênios residia na margem noroeste do mar pais eram de idade avançada. Ele nasceu na região
Morto; e tanto João Batista como os membros dessa montanhosa da Judéia. Maria, mãe de Jesus, foi
seita residiam no deserto da Judeia; ambos tinham visitar Isabel, e permaneceu com ela por cerca de três
um caráter nitidamente sacerdotal; ambos davam meses. Ver Luc. 1:56. Elas eram parentas(Luc. 1:36).
ênfase ao batismo em água como sinal de purificação Alguns estudiosos pensam que elas eram «primas»,
interna; ambos ensinavam um iminente juízo divino; conforme a palavra grega correspondente é traduzida;
ambos apelavam para Isaías 40:3 como a autoridade mas outros preferem pensar que o termo grego
para suas missões. Os eruditos, pois, até hoje sungenes não demarca nenhum grau específico de
continuam a debater essa possível conexão entre o parentesco, e que pode ser melhor traduzido por
Batista e os essênios. Mas, se porventura João em «parenta». Esse termo grego é tão indefinido que pode
algum tempo fez parte do grupo, então é certo que ele até significar «compatriota». Ver Josefo ( Guerras
ultrapassou em muito as limitações do grupo e 7.262; A n ti. 12.338). Talvez Jesus e João Batista
tornou-se líder de um movimento distinto. E mesmo fossem primos em algum grau desconhecido. Pratica
possível que, bem antes de iniciar seu ministério, o mente nada sabemos acerca da vida de João Batista,
Batista tivesse tido ligações com eles; o fato, porém, é antes dele dar início a seu ministério público.
que o m ovim ento de João Batista nada tinha a ver com Sabemos somente que ele residia na região montanho
os essênios. Em Q um ran , o batismo era um rito de sa da Judéia, embora a cidade onde ele residia não
iniciação; mas João universalizou a imersão, tornan seja mencionada nas páginas do Novo Testamento. É
do-a sinal daquele movimento que em breve acolheria evidente que ele vivia sob o voto dos nazireus (vide),
ao Messias. A mensagem do Batista dirigia-se à nação permitindo que seus cabelos crescessem e não
inteira de Israel. Ele não falava em nenhuma seita aparando os cantos da barba. Evitava todo vinho e
separatista e exclusivista. O batismo de João toda bebida alcoólica, e vivia como asceta. Por isso
tornou-se uma espécie de ato escatológico, a mesmo, alguns eruditos têm pensado que, pelo menos
declaração em favor da crença em um apocalipse que em algum tempo, antes de iniciar seu ministério, ele
em breve se manifestaria. se tenha associado com os essênios, que habitavam em
6. João, o Im ersor. Tanto o Novo Testamento (no comunidades separadas, no deserto. Porém, não há
grego), quanto Josefo, chamam João Batista por esse provas conclusivas quanto a essa especulação. O
nome. A imersão em água era um elemento essencial e trecho de Lucas 1:80 meramente diz-nos que João
básico em seu ministério. Essa imersão ou batismo era cresceu e se tornou forte, habitando no deserto, até o
o sinal de arrependimento e de aceitação da tempo de sua manifestação a Israel.
mensagem de João como precursor do Messias. ITT. Fontes Informativas
Preparava as pessoas para um discipulado sério e Nossas fontes informativas sobre a vida de João
especial. Ver Josefo (A n ti . 18.5,2). Batista são os quatro evangelhos e algumas poucas
citações das obras de Josefo:
7. O M ovim ento de João Batista. João era homem M arcos 1:2-11,14; 2:18; 6:14-29; 8:27 ss; 9:11-13;
dotado de grande poder e influência. Os evangelhos 11:29-33.
acharam por bem mostrar que ele mesmo não era o
Messias, e que ele não tinha quaisquer ambições M ateus e Lucas, que compartilham de material de
messiânicas. Ver João 1:19-28. E o trecho de Atos «Q» (ver sobre o Problema Sinóptico): Mat. 3:7-10 =
18:25 mostra-nos que o movimento de João Batista Luc. 7:24-28; Mat. 11:16-19 = Luc. 7:31-35; Mat.
teve prosseguimento mesmo após a formação da 11:12 =Luc. 16:16.
Igreja cristã. Ver também Atos 19:1-7. A obra M ateus, em informes independentes: 3:14 ss, 11:14
intitulada Reconhecim entos Clem entinos sugere que o ss; 21:32.
movimento continuou e que chegou a entrar em Lucas, em informes independentes: 1:5-25,57-66,
conflito com grupos cristãos. Alguns estudiosos têm 67-80; 3:1 í s ; 3:10-14; 3:19 ss; 7:29 ss; 11:1.
afirmado que a comunidade dos m andeanos (vide), A to s 1:6,22; 10:37; 11:16; 13:24 ss; 19:1-7.
que até hoje sobrevive, teve suas origens no João 1:6-8,15; 3:22-30; 5:33-36; 10:40 ss; 19:40.
movimento de João Batista; porém, nada de certo se Josefo {A nti. 18.5.2).
pode afirmar quanto a esse respeito. Há outras alusões, nos ensinos mandeanos e no
8. Reconhecim entos C lem entinos. Entre a literatu Josefo Eslavônico. Porém, os informes ali contidos, de
ra que alegadamente procedeu da pena de Clemente acordo com os estudiosos, revestem-se de pouco valor
de Roma (embora isso não seja verdade), temos as histórico.
Homilias que, presumivelmente, preservam os ensinos
e os sermões de Clemente de Roma. Também existem TV. Ministério e Mensagem de Joio Batista
dez livros chamados R econhecim entos Clem entinos. Quanto à narrativa geral sobre João Batista, ver a
Esses volumes, alegadamente, oferecem-nos informes seção I, Caracterização Geral.
históricos associados a Clemente, com grande 1. O Precursor de Cristo. A vida de João Batista
abundância de ensinamentos. Entretanto, ambas visava a preencher um propósito todo especial, ou
essas obras parecem mais ter-se originado entre os seja, o de ser o precursor do Messias. Tal como se dá
gnósticos judeus, datando de algum período da no caso do próprio Senhor Jesus, pouco se sabe acerca,
porção final do século II D.C. Mas, embora esse do período de preparação de João Batista. João
material não seja genuinamente clementino, não há Batista deu início ao seu ministério público poucos
razão alguma para duvidarmos que contém alguns meses antes do Senhor Jesus iniciar seu próprio
informes históricos genuínos, como aquele que diz ministério. Tal como se deu com o Filho de Deus,
que o movimento gerado por João Batista continuou João Batista dispunha de curtíssimo prazo para
551
JO ÃO (O B ATISTA )
cumprir o seu ministério. Joseío afiança que João poderia ser isso?
Batista era pessoa dotada de grande magnetismo
A resposta de Jesus dificilmente poderia tê-lo
pessoal e força de atração. A vida dele foi como um satisfeito. Jesus não foi capaz de anunciar qualquer
brilhante meteoro que apareceu subitamente, coris progresso na revolução! Não tinha reunido nenhum
cou durante um breve período, e desapareceu. Alguns exército; não obtivera qualquer poder político; não
chegaram a pensar que ele seria o Messias prometido, havia um numeroso grupo de seguidores dispostos a
e o primeiro capítulo do evangelho de João cuida em combater por ele. Tudo quanto Jesus pôde dizer é que
mostrar que essa opinião estava equivocada, porquan os cegos estavam recebendo de volta a visão, que os
to João Batista mesmo nunca fizera tal reivindicação. aleijados estavam andando novamente, que os
Todavia, a vida de João Batista foi de tal modo leprosos estavam sendo purificados, que os surdos
poderosa que outros identificaram-no com Elias. E, estavam ouvindo, que os mortos estavam sendo
em certo sentido, estavam com a razão. Foi o próprio ressuscitados dos mortos, e que aos pobres estava
Senhor Jesus quem declarou: «E, se o quereis sendo anunciado o evangelho. Dificilmente esse era o
reconhecer, ele mesmo é Elias, que estava para vir» Messias pelo qual João estava esperando! Ou, pelo
(Mat. 11:14). Ver a seção V quanto a esse particular. menos, muitos pensam assim a respeito de João. Não
2. João Batista Foi um a Figura Profética. Ele se obstante, naquela mesma ocasião, Jesus afirmou que
assemelhava aos profetas do Antigo Testamento, João estava cumprindo a predição de Mal. 3:1: «Eis
sobretudo com Elias (ver Mat. 5:4 com II Reis 1:8 e que eu envio o meu mensageiro que preparará o
Zac. 13:4). Os autores do Novo Testamento caminho diante de mim...» Sim, o caminho fora
ensinaram que ele cumpriu a profecia de Isa. 40:3 (ver preparado por João; mas o cam inho não parecia ser
Mat. 3:3; 17:10-12; ver também Mal. 3:1 e 4:5). aquele pelo qual João esperava. Não é que o Batista
Como um homem do destino, João Batista coube tivesse perdido a fé em sua missão, mas ficou muito
dentro dos tempos do cumprimento de promessas desanimado, indagando se Jesus realmente cumpria
messiânicas e, durante um tempo breve mas cfucial os requisitos da missão messiânica. Os profetas do
realizou o seu ministério terreno. Embora fosse Antigo Testamento não sabiam separar a primeira da
grande, do ponto de vista espiritual, é deveras segunda vindas de Cristo. Pedro alude a isso em I
significativo que Jesus tenha afirmado que o menor no Pedro 1:11: «...investigando atentamente qual a
Reino de Deus será maior do que ele (Mat. 11:11). ocasião ou quais as circunstâncias oportunas,
Isso nos revela algo sobre a grandiosidade espiritual indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao
que o Reino de Deus haverá de trazer. dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos
3. Um Profeta Asceta. João pode ter vivido ou não referentes a Cristo, e sobre as glórias que os
sob os votos do nazireado (vide). Seja como for, ele seguiriam». Eles não entendiam que, na primeira
vivia de modo extremamente ascético, vestido, como vinda haveria os «sofrimentos» de Cristo, e que só em
Elias, com pêlos de camelo e comendo gafanhotos e sua segunda vinda haverá as «glórias». Esse era o
mel silvestre, e falando acerca de acontecimentos motivo da perplexidade de João Batista.
apocalípticos e sobre a necessidade dos homens se 6. O M istério da Cegueira de Israel. Paulo falou,
arrependerem. Tudo, em João Batista, fazia lembrar profundamente admirado, sobre essa cegueira, em
Elias, e as multidões vinham ouvi-lo. Rom. 11:25 ss. Ele explicou que a cegueira de Israel
4. Retirada e R eform a. Embora, a exemplo dos era uma necessidade, a fim de que o evangelho
essênios, João Batista se tivesse retirado do convívio pudesse ser anunciado às nações gentílicas também,
social, de forma alguma ele se distanciou da sociedade para que houvesse uma Igreja formada por judeus e
de seus dias. Sua missão consistia em anunciar as gentios, igualmente. Mas, chegado o tempo certo, e
condições, àquela sociedade, mediante as quais os removido o véu que agora tapa os olhos do povo
homens de então deveriam acolher o Messias e o seu judeu, eles haverão de reconhecer que o Senhor Jesus
reino. O Batista engolfou Samaria em seu ministério é o Messias prometido. Não obstante, Israel é
(João 3:23). Se é que João Batista começou entre os responsável pelos seus atos. O poder predestinador do
essênios (um ponto muito disputado), então, por Senhor usa a vontade humana sem destruí-la, embora
certo, ele não se limitou a essa «denominação», visto não saibamos precisar como. O décimo primeiro
que a sua mensagem profética era universal, e ele não capítulo de Mateus mostra como a mensagem de João
pregava a uma claque fechada, conforme faziam os Batista e de Jesus caíram em ouvidos surdos, como
essênios. eles tocaram para o povo, mas eles não dançaram;
5. O M essias A nunciado p o r João Batista. O Novo como eles lamentaram, mas o povo não chorou. João
Testamento deixa claro que João Batista esperava que veio como um asceta; mas Jesus, ao contrário, não era
o Messias estabelecesse o seu reino, pela força, se asceta. Todavia, nem João Batista e nem Jesus tinham
necessário, e que isso constituiria um acontecimento sido devidamente ouvidos. O povo judeu permaneceu
apocalíptico. De fato, João referia-se a esse advento na indiferença (Mat. 11:16-19). Nem mesmo os
com termos idênticos àqueles em que os pregadores poderosos prodígios de Jesus levaram o povo judeu a
modernos aludem ao Segundo Advento de Cristo. O arrepender-se (vs. 20 ss). No entanto, um pequeno
Novo Testamento não tenta esconder que o Batista, remanescente acreditou, mediante o poder de Deus; e
em certa medida, ficou desapontado diante do modo a esses foram revelados os mistérios do reino de Deus
como Jesus se apresentou publicamente. Jesus não (vs. 25 ss). É significativo que dentre esse contexto de
reuniu algum exército, nem se mostrou militante. Ao rejeição, emergiu aquele belo convite de Jesus, por
que parecia, não foi ao menos capaz de proteger o seu tantas vezes citado:
homem-chave, ou seja, ao próprio João Batista. Os Vinde a m im , todos os que estais cansados e opri
adversários de Jesus pareciam estar ganhando todas m idos, e eu vos aliviarei.
as vitórias. Verdadeiramente, do ângulo de João, as
coisas não estavam avançando nada bem. Foi por essa Tom ai sobre vós o m eu jugo, e aprendei de m im ,
razão que ele enviou mensageiros a Jesus, para que que sou m anso e hum ilde de coração;
indagassem se ele era, veramente, o Messias, Aquele e achareis descanso para as vossas almas.
pelo qual ele, João Batista estava esperando. Ver Mat. (Mateus 11:28,29).
í 1:2 ss. João ouvia falar sobre os grandes prodígios de 7. O B atism o de João. Sem dúvida a imersão
Jesus; mas ali estava ele mesmo, no cárcere. Como aplicada por João Batista era muito mais que algum
552
JO ÃO (O B ATISTA )
rito de iniciação, a fim de que membros fossem notáveis exceções) usualmente não tem consciência de
aceitos em alguma seita (como era o caso entre os sua anterior identidade (ou identidades). Eu mesmo
essênios). Antes, era um sinal de conversão a Deus, não penso que podemos eliminar essa possibilidade
um sinal requerido de que uma pessoa havia sobre bases dogmáticas. Pois o próprio Novo
abandonado seus antigos caminhos pecaminosos, em Testamento ensina casos especiais de reencarnação,
preparação para acolher ao Messias e ao seu reino. com vistas a missões terrenas especiais. As duas
Todavia, o batismo de João não era um batismo testemunhas do Apocalipse (cap. 11) aparecem como
cristão, com todo o seu simbolismo e significado. Para quem já tinha outras histórias terrenas. — O
tanto, era mister que Jesus morresse e ressuscitasse. anticristo, segundo se lê em Apo. 17:8,11, haverá de
Mas, à semelhança do batismo cristão, apontava para subir do hades a fim de cumprir ainda uma outra
o arrependimento, a renovação espiritual e a missão diabólica. Os cristãos antigos pensavam que o
resolução de viver a vida de um piedoso discípulo da anticristo seria Nero redivivo. E muitos crentes
retidão. Também havia um intuito messiânico, pelo ensinam, até hoje, que Elias terá uma outra missão na
que estava aliado bem de perto com a fé cristã, que terra, antes do segundo advento de Cristo.
em breve Jesus haveria de trazer. Supomos que João foi cheio do Espírito Santo desde antes do seu
aqueles que foram batizados por João, ao se unirem nascimento(Luc. 1:15). Deve haver razões imperiosas
ao movimento cristão, não eram rebatizados. No para uma coisa assim, não meramente dentro da
entanto, houve casos de pessoas, inteiramente vontade de Deus, mas no próprio indivíduo. Os pais
ignorantes sobre Cristo e suas reivindicações, que, da Igreja oriental não encontravam dificuldades com
embora tivessem sido discípulos de João Batista, mais essas idéias. Eles acreditavam na preexistência da
tarde foram novamente batizadas (ver Atos 19:1 ss). alma e, assim sendo, uma alma altamente desenvolvi
Os judeus costumavam batizar os gentios que se da e poderosa como era João, já teria chegado desse
convertessem ao judaísmo, imergindo-lhes totalmente modo na terra, não se tendo tornado uma figura
o corpo, o que representava uma completa purifica espiritual importante somente depois de haver
ção. Não há que duvidar que esse precedente foi o que nascido de Isabel. João Batista teria vindo como um
determinou o espírito e o modo da imersão aplicada missionário. Tivera uma longa e espiritualmente
pelo Batista. O evangelho de João destaca o ponto que próspera história, muito antes do século I A.C. Outro
João batizava em Enom, perto de Salim, porque ali tanto poderia ser dito a respeito de Paulo, que era um
havia m uita água. Teria sido inteiramente fora de vaso escolhido antes de seu nascimento, que se deu no
ordem, do ponto de vista dos judeus, se João se século I D.C. Ver Gál. 1:15.
pusesse à beira de um rio, com algum candidato ao Não há como dizermos, com toda a confiança, que
batismo, para então apanhar uma pequena quantida João Batista era a mesma entidade que Elias; mas
de de água e a derramar sobre a cabeça do candidato. também não há bases doutrinárias e dogmáticas que
Isso não seria imersão, mas aspersão. Ver o artigo nos levem a negar essa possibilidade. O ponto é
geral sobre o Batism o, o que inclui a maneira como se deveras interessante, embora não seja crítico. Ver o
deve batizar corretamente. artigo geral sobre a Reencarnação, onde mostramos
A seita de Qumran (ver Sobre Khirbet Qumran) os pontos prós e contras, envolvidos na questão. Há
praticava um batismo de arrependimento que algo de romântico em torno da idéia de que não
assinalava os novos convertidos ao seu grupo, estamos limitados a uma única vida, obrigatoriamen
permitindo-lhes o ingresso na seita. Porém, isso era te, para cumprir nossas missões espirituais neste
meramente uma adaptação da imersão de prosélitos mundo, antes de, finalmente, tomarmos nosso lugar
ao judaísmo. O M anual de Disciplina (vide), em seu no mundo da luz, a fim de nos ocuparmos de novos
quinto capítulo, descreve o batismo praticado entre os aspectos de labor e de desenvolvimento espiritual.
essênios. Se João Batista estivera, em algum tempo, Contudo, o romantismo não prova coisa alguma,
associado aos essênios, então, naturalmente, teria embora não devamos limitar o poder de Deus,
continuado a prática de batismo, mas o batismo dos mediante uma visão que pode ser míope. Deus não
essênios não era o verdadeiro precedente de seu parece ter pressa, conforme alguns teólogos dão a
batismo, que ia buscar raizes ainda mais longe na impressão. A vida é imensa, e não pode ser explicada,
história do povo judeu.V. no tocante a indivíduos, supondo-se que eles
V. Elias Redivivo
começaram, como entidades, faz apenas alguns anos.
A preexistência de todas as almas, por outro lado, faz
Era doutrina comum entre os judeus do começo do muito sentido, e é uma idéia que, apesar de
cristianismo que grandes personagens proféticas do especulativa, merece nosso respeito e uma continua
Antigo Testamento, teriam mais de uma missão investigação. Ver o artigo geral sobre a A lm a , em sua
espiritual terrena. Muitos rabinos pensavam que primeira seção, A Origem da A lm a . Naturalmente, a
Jeremias fosse a reencarnação de Moisés. E eles preexistência da alma pode ser uma realidade, mesmo
esperavam que Elias voltasse a viver como o precursor sem o seu corolário, a reencarnação. Só o tempo dirá
do Messias. E do próprio Senhor Jesus chegaram a o quanto há de verdade ou de falsidade nessa idéia.
pensar que ele fosse Jeremias ou algum dos antigos
profetas. Ver Mat. 16:14. E os discípulos de Jesus VI. Joio Batista e Jesus
tinham consciência da tradição, promovida pelos Sabe-se que alguns dos primeiros discípulos de
fariseus, de que Elias deveria retornar à vida, antes da Jesus vieram do círculo dos discípulos do Batista (João
carreira do Messias, envolvendo-se no drama de sua 1:35 ss), embora o movimento resultante da missão de
aparição (Mat. 17:10 ss). Jesus, chegado o momento João Batista tivesse continuado por muito tempo
certo, ensinou que Elias já viera a este mundo, na depois dos primórdios do cristianismo. Alguns
pessoa de João Batista. Alguns intérpretes crêem que estudiosos crêem que tanto João Batista quanto Jesus
João Batista foi uma autêntica reencarnação de Elias; estiveram ligados aos essênios, pelo que teriam
mas outros crêem que o Batista cumpriu o espírito conexão e amizade antes do ministério público de um
daquela profecia, mas que ele não era o próprio Elias. e de outro. Como primos em algum grau, também
João Batista declarou que ele mesmo não era Elias pode ter havido alguma forma de contato doméstico
(João 1:21). Porém, aqueles que acreditam que João social entre eles, antes de iniciarem seus respectivos
Batista era, realmente, a reencarnação de Elias, ministérios públicos. A história tem ocultado essas
salientam que a pessoa reencamada (com algumas coisas de nós; e, a menos que alguma descoberta
553
JO ÃO (O BA TISTA )
inesperada de documentos antigos lance luz sobre esse mento de João Batista até os nossos próprios dias. Os
ponto, nunca saberemos, por meios naturais, toda a historiadores, contudo, continuam debatendo o valor
verdade sobre essas coisas. Naturalmente, o Novo de tal reivindicação. Essa seita surgiu séculos depois
Testamento mostra que o ministério dos dois estava da época de João, tendo tomado os seus ritos por
relacionado. O ministério de João começou primeiro, empréstimo dos cristãos nestorianos (vide). Uma das
reforçando as reivindicações messiânicas de Jesus. O figuras centrais desse movimento é a pessoa de João
primeiro capítulo do evangelho de João é enfático Batista, pelo que parece que ele se tornou uma espécie
quanto a isso. de santo patrono do grupo. Então foram formulados
Os autores neotestamentários também fazem de argumentos em favor da antiguidade histórica do
João uma figura profética, especificamente como o grupo. Deve-se admitir, porém, que alguns historia
precursor do Messias, conforme já vimos sob IV.2. Ê dores vêem certa conexão histórica com movimentos
muito significativo, e sem dúvida autêntico, que João, que tiveram sua origem no movimento de João
de certa feita, em um momento de desencorajamento, Batista, pelo que deve ter havido alguma forma de
em seu cárcere, duvidou que Jesus teria cumprido os conexão antiga, embora indireta. O gnosticismo pare
requisitos da missão messiânica, pela qual ele vinha ce ter maculado as raízes mais primitivas desse grupo.
V m . Morte de João Batista
procurando (Mat. 11:2 ss). Porém, não há razão O relato da morte do Batista é contado em Mar.
alguma para supormos daí que nunca houve qualquer
reversão nessa dúvida de João. Todos nós experimen 6:17-29. Essa é a única crônica importante dos
tamos instantes de dúvida e desencorajamento; e João evangelhos que não gira especificamente em torno de
Batista, afinal de contas, era apenas um homem. Seja Jesus. E isso mostra a importância que João Batista
como for, é significativo que João Batista e Jesus tinha para o cristianismo primitivo. E perfeitamente
efetuaram ministérios paralelos, embora distintamen possível que o episódio tenha sido preservado tanto
te separados. Nunca houve uma completa unificação pelos discípulos de Jesus quanto pelos discípulos de
dos dois esforços, mesmo depois que o cristianismo já João. Josefo fornece-nos outros detalhes sobre a
estava bem firmado. Porém, sabemos, com base nos questão, conforme observou-se acima. João, sem
dúvida, foi tido como uma ameaça política para a
registros históricos, que muitos seguidores de João autoridade de Herodes. A execução de João Batista,
Batista bandearam-se para Jesus, e que o próprio João por ordem de Herodes, não se deveu meramente ao
encorajou isso. Tanto Jesus quanto João reivindica fato de que João objetava ao casamento de Herodes
vam autoridade divina para suas respectivas missões, com sua própria cunhada, Herodias. Herodes havia
e afirmavam outro tanto um acerca do outro (Mat. encarcerado João no castelo de Marquero, na margem
21:23-27). oriental do mar Morto. Foi então que João mandou
VII. Seguidores de João Batista indagar a Jesus acerca de suas reivindicações
Visto que esse particular já foi bem ventilado nas messiânicas (Mat. 11). Herodias, amargurada contra
seções anteriores, fornecemos aqui apenas um João, por achar que este interferia em sua vida
sumário: particular, foi a mola que levou Herodes a mandar
1. João tinha seguidores que formavam um executar o Batista e, sem dúvida, ela ficou muito
movimento espiritual crescente, antes mesmo do satisfeita em ver-se livre daquele empecilho. Herodes,
começo do ministério público de Jesus. O primeiro por sua vez, sabia que João era homem reto (Mar.
capítulo do evangelho de João mostra-nos isso. 6:20). Não fizera ainda qualquer violência contra ele,
2. Quando Jesus iniciou o seu ministério público, por saber que ele era tão estimado pelo povo comum,
pelo menos alguns dos principais discípulos de João e não queria se arriscar a provocar qualquer revolta
vieram engrossar o movimento encabeçado por Jesus popular (Mar. 6:20). Porém, Herodias acabou
(João 1:35 ss). ganhando a parada; e podemos ter a certeza de que
3. O movimento liderado por João continuou, Herodes não tentou entravar a vontade dela. Herodias
paralelo ao de Jesus, havendo pontos de contato exigiu a cabeça de João Batista como prêmio pela
entre os dois movimentos (Mat. 11:2 ss). dança tão aplaudida de sua filha. A jovem muito
4. O movimento de João Batista continuou atuante, agradara a Herodes e aos convivas meio alcoolizados,
mesmo depois da morte dele, e entrou até bem dentro que participavam de sua festa de aniversário
da era apostólica. Apoio fora discípulo de João Batista natalício. Herodes mandou um executor cortar a
(Atos 18:24 ss). Outros discípulos de João converte cabeça de João Batista. E a cabeça de João foi exposta
ram-se ao cristianismo, e assim uniram-se à Igreja ao público.
primitiva (Atos 19:1-7). Quando os discípulos de João souberam o que havia
acontecido, obtiveram o seu cadáver e o sepultaram.
5. Os Reconhecim entos C lem entinos (fim do século Em seguida, foram informar Jesus e seus discipulos
II D.C.) dão provas de algum conflito entre os sobre o que acontecera (Mat. 14:3-12; Mar. 6:17-29).
posteriores seguidores de João Batista e o cristia E a notícia teve um profundo efeito sobre o Senhor
nismo. Todavia, que certeza se ’poderia ter se as Jesus. Ao ouvir sobre o acontecido, ele se retirou para
pessoas que continuaram o movimento Batista eram a Galiléia, talvez sentindo o perigo contra si mesmo e
fiéis às suas idéias? João pode ter sido para elas uma contra os seus discípulos (Mat. 4:12). E, sabedor da
espécie de santo patrono, e não uma figura histórica execução de João, retirou-se para um lugar solitário
do movimento deles. (Mat. 14:3), sem dúvida a fim de orar e meditar, para
6. O poder de João Batista foi confirmado por decidir o que faria em seguida, sob aquelas novas
Josefo, que disse que muita gente acreditava, em sua circunstâncias.
época, que os infortúnios de Herodes ocorreram por Nem mesmo aos mais espirituais dentre os homens
causa da maldade dele contra João Batista. João lhes são poupadas as dores sofridas na batalha
conseguira seguidores leais, e o povo comum espiritual. Eles passam por seus reveses e tragédias;
considerava-o um profeta de grande estátura (A nti. eles têm os seus momentos de temor; eles precisam de
18:5,2). Não é para admirar, pois, que o movimento reorientação, de reavaliação e de novas resoluções.
não tenha morrido, apesar do aparecimento do Mas esse é o poder que vence o mundo, a nossa fé (ver
cristianismo. I João 5:4).
7. Os m andeanos (vide) são considerados por Bibliografia-. AM GEY KR KU ND RO(1912) UN
alguns estudiosos como os continuadores do movi
554
JO ÃO (DIVERSOS) - JO ÃO (PAPAS)
JOÃO (DIVERSOS) (168—142 A.C.). Matatias deu início à revolta
Esse nome português vem do hebraico, Iehohanan, matando a um judeu apóstata, quando este estava
prestes a oferecer uma oferenda pagã sobre o altar dos
«Yahweh tem sido gracioso». Para chegar à nossa holocaustos. O resultado foi um período de indepen
Bíblia portuguesa, passou pela forma grega do nome, dência para Israel, período esse que terminou por
Ioannen. Há dez homens com esse nome na Bíblia ou
em livros apócrifos da Bíblia, a saber: haverem os judeus apeíado para os romanos.
1. João Batista, filho de Zacarias e Isabel (Luc. 7. João ou Joanã, filho de Matatias (ver o ponto
1:5-25), e primo de Jesus Cristo (Luc. 1:36). Ver o sexto, acima), que tinha por sobrenome Cadis. Ele
artigo separado sobre João Batista. era capitão do povo. Foi capturado pelo povo de
Medeba e, provavelmente, foi executado pelos filhos
2. João o apóstolo. Ele era filho de Zebedeu e irmão de Jambri (I Macabeus 9:35,36).
de Tiago. Ver o artigo separado sobre João, o 8. Um outro João aparece com proeminência em I
Apóstolo. Macabeus 8:7. Era filho de Acos e pai de Eupolemo.
3. João Marcos, mencionado por dez vezes no Novo Obteve sucesso nas negociações com os romanos, com
Testamento. Ele era primo de Barnabé(Col. 4:10) e é vistas a uma compreensão e amizade melhores.
reputado como o autor do evangelho que tem o seu 9. Um outro hasmoneu era chamado João. Seu
nome. Ver o artigo separado intitulado Marcos, João. sobrenome era Hircano. Era filho de Simão e
4. João, ou Jonas, pai de André e Simão Pedro sobrinho de Judas Macabeu. Tornou-se, a princípio,
(Mat. 16:17; João 1:40-42: 21:15-17). Talvez, à capitão do exército judeu e, então, governador de
semelhança de Zebedeu, pai de Tiago e João, ele Israel (I Macabeus 13:53). Casou-se com a filha do
também fosse um exportador de peixes. Vivia em sumo sacerdote e, finalmente, ele mesmo tornou-se
Cafarnaum (Mar. 1:19,20). sumo sacerdote. — Assim sendo, combinava o
5. Um parente do sumo sacerdote Anás. Ele poder político com o poder religioso. A nação judaica
participou do julgamento de Pedro e João, juntamente prosperou em seus dias, e suas fronteiras se
com Anás, Caifás e Alexandre, depois que aqueles ampliaram até atingirem as mesmas dimensões que
dois apóstolos os assustaram com o notável milagre da tinham tido nos dias de Salomão.
cura de um esmoler, no templo de Jerusalém. Ver 10. Ainda um outro João aparece na narrativa sobre
Atos 4:6. os hasmoneus. Juntamente com Absalão, foi enviado
— Nada de certo se pode dizer com respeito à por Judas Macabeu em uma missão a Lísias, a fim de
identificação desse homem, embora alguns eruditos firmar com ele um tratado de paz (II Macabeus
pensem que se tratava de Jochanan ben Zaccai, 11:17).
famoso rabino, que atingiu seu ponto culminante
cerca de quarenta anos antes da destruição de IOÀO MARCOS Ver Marcos, JoSo.
Jerusalém, o que ocorreu no ano 70 D.C. e que foi
presidente da Grande Sinagoga, após a sua transfe JOÃO (PAPAS)
rência para Jamnia. Esse personagem era membro do João é o nome de nada menos de vinte e dois papas,
sinédrio e parente do sumo sacerdote. Era conhecido até o presente, como título que assumiram no
como grande mestre, e diversas narrativas lendárias se pontificado. Damos abaixo um sumário sobre cada
desenvolveram em torno de sua pessoa, o que um deles:
geralmente sucede no caso de indivíduos famosos. Foi 1. João I (santo). Nasceu na Toscana, Itália, em
escrito sobre ele, no Talmude, Jucas, foi. 60: «O cerca de 470 D.C. Faleceu a 18 de maio de 526 D.C.
rabino Jochanan ben Zaccai, o sacerdote, viveu cento Foi o sucessor de Hormisdas, em 523 D.C. Foi
e vinte anos. — Achou favor aos olhos de César. Mas enviado a Constantinopla, em 525 D.C., a fim de
quando ele faleceu, cessou a glória da sabedoria». tentar obter tolerância da parte do imperador Justino,
Uma crônica, concernente à sua pessoa, é relatada em para os árabes. Obteve sucesso apenas parcial; e, no
Yom a, foi. 39; que pinta um acontecimento bem decurso dessa missão foi aprisionado por Teodorico
próximo ao tempo sobre o que esse trecho do livro de (vide), que o havia enviado, em Ravena, na Itália.
Atos foi escrito: «Quarenta anos antes da destruição 2. João II (Mercúrio). Não se sabe a data de seu
do templo, as portas do templo se abriram por si nascimento, embora seja sabido que morreu a 27 de
mesmas; o rabino Jochanan ben Zaccai as repreen maio de 535 D.C. Seu nome romano era M ercurius,
deu, dizendo; ‘ó templo, templo, por que te que ele obteve como apodo, devido à sua grande
perturbas? Sei o teu fim, que serás destruído; pois eloqüência. Conseguiu obter da parte de Atalarico, rei
assim profetizou de ti Zacarias, filho de Ido, Zac. dos ostrogodos, um decreto contra a simonia (vide).
11:1: ‘Abre, ó Libano, as tuas portas, para que o fogo Além disso, através de seus esforços, foi regulamenta
consuma os teus cedros’». da a eleição dos papas. Em 534 D.C., sob a sua
A esperança m undana dos corações dos hom ens direção, foi aprovada uma confissão de fé escrita, nos
Vira c in z a s _ou prospera; e im ediatam ente, dias do imperador Justiniano, do Império Romano do
Como a neve, sobre a fa ce poeirenta do deserto, Oriente.
A pós perdurar um a hora ou d u a s _desaparece. 3. João III. Não se sabe qual a data de seu
(R ubaiyat, de Ornar Khayyam, estrofe viii). nascimento, mas ele morreu em 13 de julho de 574
O códex D registra o nome desse homem sob a D.C., em Roma, Itália. Era romano de nascimento, e
forma de «Johathon». Se isso representa a verdade, tornara-se papa em julho de 561 D.C. Foi durante o
provavelmente ele foi filho de Anás, que sucedeu seu pontificado que os lombardos invadiram a Itália,
Caifás como sumo sacerdote no ano de 36 D.C. por repetidas vezes.
Porém, a outra variante, muito mais provavelmente, é 4. João IV. Nasceu em Salona, na Dalmácia,
a que representa o original do livro de Atos. embora em data desconhecida. Faleceu a 11 de
outubro de 642 D.C., em Roma. Foi escolhido papa
6. João, avô dos Macabeus. Ver sobre os em dezembro de 640 D.C. Era um homem zeloso em
Hasmoneus. Era filho de Simeão e pai de Matatias (I geral, fanático pela ortodoxia. Contra os desejos
Macabeus 2:1). Esse Matatias foi o pai de cinco filhos expressos do imperador Heráclio, ele condenou a
que se tornaram figuras nacionais e patrióticas dos declaração de fé dos monotelitas. Ver sobre o
judeus, na luta contra os dominadores sírios M onotelism o.
555
JO ÃO (PA PAS)
5. João V. Nasceu em Antioquia da Síria, em data por incumbência coroar ao novo imperador. Durante
desconhecida. Morreu em Roma, a 2 de agosto de 686 seu pontificado, os poloneses e os húngaros foram
D.C. Tornara-se papa em julho de 685 D.C., mas cristianizados.
serviu nessa função por pouco mais de um ano. Foi o 14. João XIV (apelidado Pedro). Nasceu em Pávia,
primeiro dos papas romanos a ter nascido no Oriente. na Itália, em data desconhecida. Morreu a 20 de
6. João VI. Não se sabe a data de seu nascimento, agosto de 984 D.C. Foi antes bispo de Pávia.
mas morreu em Roma, a 11 de janeiro de 705 D.C. Tornou-se papa em novembro de 983 D.C., através do
Tornou-se papa em 701 D.C. Era de origem grega. A poder de Oto II. Foi o substituto do antipapa
disputa entre Wilfredo de Iorque e a Sé de Canterbury Bonifácio VII. Quando Oto II faleceu, Bonifácio
foi decidida em favor desta, por João VI. retornou de Constantinopla, em 984 D.C., e lançou
7. João VII. A data de seu nascimento é João XIV na prisão, nas masmorras do castelo de
desconhecida, mas ele faleceu a 18 de outubro de 707 SanFÃngelo, onde veio a falecer.
D.C., em Roma. Era de origem grega. Tornou-se 15. João XV. Nasceu em data desconhecida, mas,
papa em março de 705 D.C. Virtualmente nada se provavelmente, morreu em abril de 996 D.C. Era filho
conhece acerca de sua vida e de seus atos. de um presbítero romano, e foi escolhido papa em 985
8. João VIII. Não se sabe quando nasceu, mas D.C. Crescêncio e seu partido conseguiram a façanha,
morreu a 16 de dezembro de 882 D.C., em Roma. Era e exerceram domínio sobre o papa durante todo o
de origem romana. Os sarracenos forçaram-no a tempo do pontificado deste.
pagar tributo, visto que conseguiram invadir a Itália
até os portões da própria cidade de Roma. Coroou ao 16. João XVI (apodado Filagato). Nasceu em data
imperador Carlos II (apelidado de O Calvo), em 875 desconhecida. Provavelmente, faleceu em abril de
D.C.; e a Carlos III (apelidado de O Gordo), em 881 1013 D.C. Era nativo de Rossano, na Calábria. Foi
D.C. Tentou obter a união eficaz dos ramos grego e arcebispo de Piacenza. Tornou-se papa em 997 D.C.,
latino da Igreja Católica, mas não obteve êxito. pela influência poderosa de Crescêncio. Foi antipapa
9. João IX. Não se conhece a data de seu por menos de um ano. Oto III invadiu a Itália, em 998
nascimento. Crê-se que morreu em maio de 900 D.C. D.C. O papa João XVI foi capturado, cego
Sua cidade nativa era Tivoli, na Itália. Pertencia à e multilado. Então, foi lançado na prisão, embora,
ordem dos beneditinos, e foi posto na sé papal através finalmente, tivesse sido removido para um mosteiro.
do poder do partido franquista, no começo de 898 17. João XVII (apelidado Sico). Nasceu em data
D.C. Viveu em um período de muita violência, tendo desconhecida, mas faleceu em Roma, a 6 de
usado a sua influência para tentar obter alguma paz. novembro de 1003 D.C. Era romano. Fora eleito papa
10. JoãoX. Nasceu em Romagna, na Itália, em data em 13 de junho de 1003 D.C., mas morreu naquele
desconhecida. Faleceu em Roma, em 929 D.C. Foi mesmo ano, após um pontificado que em nada se
homem de grandes virtudes e de profunda religiosida notabilizou.
de. Tornou-se arcebispo de Ravena em 905 D.C., e foi 18. João XVIII (apodado Fasiano). Nasceu em data
eleito papa em 914 D.C. Assumiu o posto de general desconhecida, mas morreu em junho de 1009 D.C.
do exército, e expulsou os sarracenos da Itália, em 916 Foi sucessor de João XVII, tendo chegado à sé
D.C. Desafortunadamente, imiscuiu-se nas facções romana através da influência de João Crescêncio,
políticas em litigio e se tornou malquerido por filho de Crescêncio, o Velho. Resignou ao papado em
Marozia, a filha de Teodora, que era a esposa do maio de 1009, tendo morrido apenas um mês mais
governante da Toscana. Ela fez o papa ser lançado na tarde. Seu pontificado foi assinalado por uma estrita
prisão, onde, ao que parece, foi assassinado, em 929 atenção às questões eclesiásticas.
D.C. 19. João XIX (apelidado R om ano). Nasceu em data
11. João XI. Nasceu em data desconhecida, mas desconhecida e morreu em janeiro de 1032 D.C.
morreu em 936 D.C. Era filho de Marozia (ver sob Sucedeu no papado a seu irmão, Benedito VIII, em
João X, acima). Foi eleito papa em 931 D.C. Como abril ou maio de 1024 D.C. Foi persuadido a conceder
ainda não era adulto, governava sob a tutela de sua reconhecimento oficial ao patriarcado de Constanti
mãe. Um outro filho dela, Alberico II, aprisionou a nopla, o que foi obrigado a retirar, posteriormente,
própria mãe, tornando-se então o verdadeiro poder devido à oposição havida na Igreja ocidental. Coroou
por detrás dos bastidores do papado. a Conrado II, em 1027, na presença de Rodolfo da
12. João XII (apelidado Otávio). Nasceu em data Burgúndia e de Canuto, rei da Dinamarca e da
desconhecida, mas morreu em 14 de maio de 946 Inglaterra.
D.C. Era filho de Alberico II (ver sobre João XI).
Tornou-se papa em 955 D.C., com apenas dezoito JOÃO XX
anos de idade. Foi o primeiro dos papas a mudar de Não há registros da existência de João XX. Pode
nome, por ocasião de sua ascensão ao trono papal. tratar-se de um simples erro cronológico., a menos que
Envolveu-se em problemas politicos, no começo ao se referia a algum esquecido papa ou antipapa.
solicitar e receber a ajuda de Oto I, contra Berengário
II, que era seu inimigo. João XII coroou Oto como 20. João XXI, também chamado João XX (apelidado
imperador (do Santo Império Romano), mas poste de Pedro). Nasceu em Lisboa, Portugal, em cerca de
riormente voltou-se contra ele. Em retaliação, Oto 1215. Morreu em Viterbo, na Itália, a 20 de maio de
depôs o papa. Leão VIII tomou o seu lugar, em 963 1277. Fora cardeal de Francati, em 1273. Foi eleito
D.C. Entretanto, mais tarde, João XII recuperou sua papa em setembro de 1276. Era um filósofo erudito, e
autoridade; e, quando Oto deixou Roma e voltou à escreveu vários tratados sobre medicina.
sua própria terra, João XII excomungou seu rival, 21. João XXII, também chamado João XXL Seu
Leão VIII. nome original era Jacques d’Euse. Nasceu em Cahors,
13. João XIII. Nasceu em data desconhecida, mas na França, em 1249. Morreu em Avignon, na França,
morreu a 6 de setembro de 972 D.C. Fora bispo de a 4 de dezembro de 1334. Foi arcebispo de Avignon,
Narni; mas, tornou-se papa em 965 D.C., por desde 1310. Foi bispo-cardeal da cidade do Porto, em
influência de Oto I. Não demorou muito, porém, para Portugal, desde 1312. Foi eleito papa em Lyon, na
ser deposto pelos nobres romanos. Posteriormente, França, em agosto de 1316, dois anos após a morte de
Oto II o restaurou ao trono papal. E João XIII teve Clemente V. Embora residisse em Avignon, contava
556
JO ÃO (PA PAS) - JO ÃO DA CRUZ
com muitos aderentes na Itália. Luís de Bavária ecumênico que se reuniu com o título de Segundo
(chamado Luiz IV) tentou depô-lo, mas fracassou. Concílio Vaticano, em outubro de 1962. Esse concílio
Luiz IV queria pôr no trono um antipapa, Nicolau V. teria vastas conseqüências sobre a Igreja Católica
O pontificado de João XXII também foi perturbado Romana. Ele morreu de modo corajoso e exemplar a 3
por controvérsias teológicas. A principal delas foi o de junho de 1963.
caso que envolveu Guilherme de Occam (vide). Além
disso, os chamados franciscanos espirituais foram
perseguidos por defenderem a idéia de pobreza JOÃO X X m (ANTIPAPA)
absoluta.
c. 1370-1419. Este nome foi adotado por Baldasaare
22. João XXIII. Seu nome real era Ângelo Giuseppe Cossa, antipapa cismático de 1410 a 1415. Promoveu
Roncalli. Nasceu em Sotto il Monte, perto de o Concilio de Pisa (1408), para acabar com o grande
Bérgamo, na Itália, a 25 de novembro de 1881. cisma. Eleito papa pelos cardeais do concílio,
Morreu em Roma, a 3 de junho de 1963. Nasceu como defendeu Roma contra seu rival Gregório XII.
um dos treze filhos de um agricultor cuja família se Instado pelo Imperador Sigismundo, convocou o
ocupara nesse mister durante séculos. Estudou para o Concílio de Constança em que concordou abdicar,
sacerdócio católico romano em Bérgamo, tendo desde que seus dois rivais fizessem o mesmo. Como
começado aos treze anos de idade. Continuou seus não cumpriu a promessa, o concílio depôs todos os
estudos em Roma. Foi ordenado padre em 1904. três (1415). Cossa foi feito cardeal em 1419; morreu
Trabalhou como secretário do bispo de Bérgamo. no mesmo ano.
Dedicou-se aos estudos históricos. Serviu no exército
italiano durante a Primeira Grande Guerra, como
sargento do corpo médico, e, posteriormente, como JOÃO D A CRUZ (SANTO)
capelão. 1. Informes Pessoais e Idéias
Tornou-se arcebispo titular. Foi nomeado pelo Suas datas foram 1543—1591. Ele foi um místico
papa Pio XI como visitador apostólico na Bulgária. carmelita espanhol, do período da contra-reforma
Em 1935, na qualidade de arcebispo Roncali foi católica romana. Ê considerado um dos maiores
promovido ao oficio de núncio, e então, tornou-se escritores sobre o misticismo^ de todos os tempos.
delegado apostólico na Turquia e na Grécia. Durante Compartilha com Teresa de Ávila (vide) o papel de
alguns anos, na Segunda Guerra Mundial, obteve fundador das carmelitas descalças (vide), tendo
respeito como mediador neutro, quando residia em sofrido ainda mais perseguições do que ela, por causa
Istambul, na Turquia. Nos fins de 1944 foi nomeado das idéias e reformas que idealizou. Seus livros, «A
núncio na França. Ali cuidou de muitos problemas Noite Negra da Alma» e «Ascensão ao Monte
sociais e religiosos e, terminada a guerra, obteve Carmelo» encontram-se entre os maiores clássicos da
reputação como homem capaz e virtuoso. Em 1953, literatura mística que o mundo já viu. Em contraste
tornou-se cardeal, e foi chamado de patriarca de com outros escritores desse tipo de literatura, suas
Veneza. Opunha-se com firmeza ao comunismo, e obras são sistemáticas. Exibem uma excelente poesia,
tornou-se conhecido pela maneira graciosa e informal posta ao serviço da expressão espiritual. Seu livro
como se misturava com o povo comum, ajudando-os sobre A Noite Negra da A lm a aborda a purgação que
com seus problemas. se faz necessária para que haja iluminação espiritual.
Após a morte do papa Pio XII, o cardeal Roncalli O homem tem o dever de desembaraçar-se de todos os
foi eleito papa no décimo primeiro escrutínio. desejos, a fim de que o seu coração se abra para a
Escolheu o título de João, que não fora título de iluminação divina, que por ele espera. O clímax desse
nenhum papa por quinhentos anos. João, o amado processo é quando desce a noite sobre os sentidos e os
discípulo de Jesus, o discípulo do amor, servia de desejos humanos, trazendo, finalmente, o alvorecer
inspiração ao papa João XXIII, e ele viveu ocupado da luz divina. Depois disso, a alma nada mais cobiça;
em muitos atos de caridade. Teve um pontificado nada é capaz de cansá-la, quando ela é elevada, e
muito ativo, embora não muito longo, de 1958 a 1963, nada é capaz de oprimi-la, mesmo que se sinta
quando então, por motivo de falecimento, foi abatida, porque então a alma estará no centro de sua
sucedido pelo papa Paulo VI. humilhação. Seu livro, Ascensão ao M onte Carmelo,
O papa João XXIII precisava cuidar dos interesses contém uma explicação sobre a fé que João da Cruz
de cinqüenta e três milhões de católicos romanos, da equiparou a uma segunda noite. Em seguida, ele
melhor maneira possível, por detrás da chamada passa a discutir o progresso da meditação, até chegar
Cortina de Ferro, ou seja, nos países comunistas. à contemplação. Ato contínuo, ele expõe um extenso
Católicos romanos estavam sendo perseguidos e estudo sobre a natureza e o uso das visões e das
mortos na China, e havia condições de radicalismo experiências místicas.
por toda a parte. Ele consternava-se diante da Questões mais incidentais são o uso devocional de
violência e dos sofrimentos provocados pelo homem. imagens de escultura, a ereção de oratórios, a
Por ocasião de seu primeiro programa radiofônico celebração de festas religiosas, o abuso de formali
internacional, declarou: «Por que os recursos do dades religiosas e as qualidades de um sermão. Seus
engenho humano e da ira das nações deveriam cada livros, O Cântico E spiritual e A Chama Viva do
vez mais ser canalizados para a preparação de A m o r, descrevem os mais altos vôos das experiências
armamentos—perniciosos instrumentos de morte e espirituais e da união com Deus de que a alma
destruição—em vez de serem usados para melhora humana é capaz. Ele fala sobre um noivado espiritual
mento do bem-estar de todas as classes, particular entre essa alma e o Logos, o Filho de Deus. O segundo
mente das classes mais pobres?» Seus atos eclesiásti desses livros aborda especificamente o estado místico
cos incluíram o aumento do número de membros do da união com o Ser divino.
colégio cardinalício de setenta para setenta e cinco, e 2. Problemas na Interpretação das Idéias de Joio
a nomeação de vinte e três novos cardeais. No Natal da Cruz
de 1958 ele reviveu o costume (que não vinha sendo a. Seu austero ensino sobre o desinteresse diante
observado desde 1870) de visitar a prisão de Regina das coisas deste mundo irrita algumas pessoas como
Coeli, e um dos hospitais da cidade de Roma. A 24 de se isso fosse uma perversão das experiências humanas
dezembro de 1961, ele convocou um concílio normais. No entanto, o interesse (apego) que as
JO ÃO DA CRUZ
pessoas têm nas coisas terrestres, ou nas pessoas altamente místicas, como João da Cruz, não podemos
mortais, deve ser interpretado como uma ansiedade aproveitar de outras pessoas, cuja experiência seja
em relação a elas. Se confiarmos o suficiente na superficial. Não desprezamos a inteligência humana;
vontade e bondade de Deus, então podemos nos e nem a ignoramos. Antes, passamos pela inteligência
desligar de tudo. Tendo nos desligado, podemos humana e a ultrapassamos, em nossa ascensão
receber de volta todas as coisas, mas agora através da espiritual e união com Deus.
pessoa de Deus, e não de nós mesmos. Desse modo, 3. O Uso do Misticismo. Platão garantia que o
chegamos a conhecer as pessoas e as coisas p o r meio conhecimento aumenta quando passamos de um nível
de D eus, em vez de fazê-lo através de nós mesmos, o de conhecimento para outro. O mais baixo nível de
que apenas distorce a realidade e cria ansiedades. conhecimento é o da percepção dos sentidos. Assim é
Temos aí uma profunda percepção, realmente. Se eu que os animais tomam conhecimento das coisas, um
puder me desligar de um filho amado, então minha método naturalmente também utilizado pelos seres
ansiedade sobre ele cessará. Se eu chegar a conhecer humanos. Temos aí uma maneira prática mas
esse filho po r meio de Deus, então ele me será distorcida de saber, que a ciência considera inexata,
restaurado de uma maneira mais alta e diferente. embora útil. O nível mais acima é o racional ou
b. A absorção nas experiências místicas. Ê típico da intelectual. Nessa esfera há aprimoramento do
linguagem mística do Oriente ou do Ocidente, falar conhecimento, pelo menos no que se refere a certos
sobre a absorção da alma no Ser divino, tal como um itens do conhecimento humano. Podemos chegar a
rio deságua no mar, com a suposta perda de sua certas verdades éticas meramente através da razão,
identidade pessoal. Algumas tradições místicas sem fazer qualquer experiência prática. O intelecto
realmente ensinam essa doutrina. A grande pergunta nos foi dado por Deus, e tem poderes de raciocínio
é: O misticismo cristão ensina tal coisa, e João da que nos podem brindar certas verdades, sem qualquer
Cruz, em particular, ensinava tal coisa? Aqueles que necessidade de experimentação. Do nível intelectual
têm analisado os escritos de João supõem que ele podemos subir para o nível intuitivo. Temos aí um
evitou o panteísmo. Assim, há o amor conjugal, que conhecimento imediato, sem a necessidade da
envolve os dois cônjuges; mas, no entanto, eles mediação dos sentidos ou da razão. Assim como Deus
continuam sendo duas entidades distintas. Também sabe de tudo, sem qualquer necessidade de investiga
podemos considerar os raios do sol. Os raios são do ção, assim também o homem pode saber de certas
sol; e, no entanto, formam uma entidade separada coisas por esse método, porquanto a sua natureza é tal
dele. O fogo queima no pedaço de lenha; mas o fogo e que o homem é uma criatura conhecedora. E,
a lenha são duas entidades separadas. A lenha e as finalmente, chegamos ao conhecimento místico, na
chamas estão intimamente ligadas entre si, mas contem plação. Chegamos aí a perceber diretamente a
continuam sendo entidades separadas. Alguns místi verdade, sem a intervenção de qualquer faculdade
cos sugerem que a alma assume um tipo de existência humana. Essa é a mais elevada forma de conhecimen
com unal, unida à família divina. Assim, a alma to, porquanto resulta da união da alma com o Ser
compartilharia da consciência coletiva; e assim divino, mediante as operações do Espírito de Deus.
também a vida mental e a vida espiritual estão unidas,
embora aquela coletividade consista de indivíduos que 4. Meios do Desenvolvimento Espiritual
a formam. Esses meios consistem no estudo (uso do intelecto),
o aprendizado de conceitos e como aplicar os mesmos.
c. A Realidade T otalm ente O utra de João da Cruz. Está envolvido o estudo de livros sagrados e outras
Haveria duas maneiras de tomar conhecimento das obras literárias que aumentam o nosso conhecimento.
coisas, que João da Cruz chamava de «conhecimento Outro meio é a oração, com sua irmã gêmea, a
matutino» e «conhecimento vespertino». No conheci meditação. Na oração, pedimos, e, na meditação,
mento matutino, tomamos conhecimento do mundo ouvimos a voz divina. A meditação pode ser uma
por meio de Deus e sua luz. No conhecimento ajuda às experiências místicas. A santificação é um
vespertino, chegamos a conhecer as coisas mediante estribo necessário, para livrar-nos das influências
nossos poderes de intelecçào e intuição, sem a ajuda prejudiciais da maldade e do pecado, que impedem
da luz divina. Quando salientamos o conhecimento muito eficazmente a nossa busca por Deus. Esse é um
matutino, podemos até falar em termos pejorativos modo de desenvolvimento espiritual. Importantíssi
sobre os poderes intelectuais humanos normais; mas mo, também, é viver a lei do am or, por meio do qual
isso é uma maneira de falar comparativa, e não agimos como Deus age, em sua benevolência
absoluta. O verdadeiro misticismo, como é óbvio, não universal. Cada vez que realizamos um ato benévolo,
exibe qualquer tendência antiintelectual. No entanto, sem motivações ulteriores, a nossa espiritualidade se
há indivíduos que são inimigos figadais do intelectua aprimora. Também há o concurso do toque m ístico,
lismo. Ver o artigo separado A ntiintelectualism o. É que é apenas um outro nome para a comunhão com o
ridícula a atitude de certas pessoas, amadoras no Ser divino. A meditação nos ajuda nesse particular,
misticismo, cujas experiências místicas são dúbias ou embora haja muitos tipos de experiências místicas,
preliminares, que fazem grandiloqüentes declarações incluindo a possessão e o uso dos dons espirituais. Ver
antiintelectuais. como se tivessem se tornado as *1 Cor. 12—14:25, por exemplo. Esses dons podem e
únicas depositárias da sabedoria divina. Deus devem manifestar-se e ser usados de acordo com o
conferiu-nos o intelecto com um propósito, para servir padrão neotestamentário, embora também se possam
de vigia que nos impeça de cair em muitos erros e manifestar de outros modos. Aqueles que têm
exageros. Quando um místico autêntico passou da recebido dons espirituais sabem, por experiência
intelecçào para a intuição, e daí para as experiências própria, o quanto o crente precisa mantê-los
místicas, tendo encontrado em Deus uma expressão desimpedidos de mistificações humanas! As experiên
superior, no fim desse processo, então ele pode falar cias não somente fortalecem a nossa espiritualidade,
sobre a debilidade do intelecto humano. E então mas também aproximam-nos do Poder divino, onde
podemos dar-lhe ouvidos e podemos, finalmente, se oculta toda a espiritualidade. O m isticism o (ver o
imitá-lo, em sua ascensão espiritual. O que representa artigo separado a respeito) aborda a questão do toque
um perigo é desistir de nossa intelectualidade antes de divino em nossas vidas. Precisamos desesperadamente
termos tido qualquer experiência mística autêntica. desse toque divino, neste nosso mundo de materialis
Portanto, aquilo que podemos aproveitar de pessoas mo, de dogmatismo e de falsa espiritualidade. Mas,
558
JO ÃO - JO Ã O D E SA LISBU RY
aquilo pelo que mais devemos anelar é pela 4. D efinições Filosóficas. As definições de João
ilum inação, conferida pelo Espírito de Deus. Damasceno sobre «ser», «substância», «acidente»,
5. Perseguições, Exílio e Canonização de João da «essência», «existência», «pessoa», «indivíduo», «natu
Cruz. João era homem dotado de muitas experiências reza», e muitas outras questões, foram empregadas e
espirituais e de grande piedade espiritual. A sua refeitas pelos filósofos escolásticos, da Idade Média,
insistência quanto a reformas que outros não especialmente nos séculos XII e XIII D.C. Sua
desejavam provocou a ira dos carmelitas não- sistematização da filosofia e da teologia foi emprega
reformados. João acabou detido por eles, embora da por Pedro Lombardo, em suas Sentenças. Uma
tivesse conseguido escapar posteriormente. Foi priva obra de João Damasceno, Sobre a Fé Ortodoxa, foi
do de seus ofícios dentro da ordem carmelita, e usada por Tomás de Aquino.
faleceu em algum lugar remoto da Andaluzia, sem 5. Canonização. João Damasceno foi homem de
jamais ter sido reintegrado. No entanto, foi canoniza grandes dotes intelectuais. Ele era um erudito com
do em 1726 e declarado doutor da Igreja, em 1926. um conhecimento enciclopédico; também era homem
6. Obras Publicadas. Uma edição revisada de suas de profunda religiosidade e influência religiosa. Em
obras (em inglês) foi publicada em três volumes, em conseqüência, foi canonizado tanto pela Igreja
1953, editada por E. Ellison Peers. Oriental quanto pela Igreja Ocidental.
JOCMEÀO
JODÀ
No hebraico, «o povo erguer-se-á». Nome de uma Variante do nome «Judá», que significa «louvor», e
cidade do território de Efraim, e que, finalmente, que, em nossa versão portuguesa, aparece somente
ficou como possessão dos levitas da família de Coate(I em Lucas 3:26,27 como um homem que foi um dos
Crô. 6:68). No trecho paralelo de Jos. 21:22, essa ancestrais de Jesus.
mesma cidade aparece com o nome de Q uibzaim
(vide). Ao que parece, devido à sua menção em I Reis No livro apócrifo de I Esdras 5:58, há menção a um
4:12, ela ficava situada no vale do rio Jordão, na Jodá, filho de Iladum, chefe de uma família levita,
fronteira leste do território de Efraim. após o retorno dos judeus do cativeiro babilónico. Em
Esdr. 3:9 ele é chamado «Judá». Em Esd. 2:40 ele é
chamado Hodavias, e, em Nee. 7:43, de Hodeva.
JOCNEÀO Ver Jocmeâo. Um filho de Josué, filho de Josadaque, segundo I
Esdras 9:19. Em Esd. 10:18 ele é chamado Gedalias
JOCNEÃO
(vide).
No hebraico, «o povo será lamentado». Era uma
cidade da tribo de Zebulom, que foi dada aos levitas JOEDE
da família de Merari (Jos. 19:11; 21:34). Em Jos. No hebraico, «Yahweh é testemunha». Nome de um
12:22 aparece com o nome de Jocneão do Carmelo, homem da tribo de Benjamim, que vivia em
por causa de sua proximidade daquela região. Na lista Jerusalém, nos dias de Neemias, após o retorno dos
das cidades, nas passagens acima mencionadas, judeus do exílio babilónico. Ver Nee. 11:7. Seu nome
provavelmente estão incluídas as principais cidades não aparece na lista paralela de I Crô. 9:7. Ele viveu
que participaram na guerra como aliadas de Hazor em torno de 520 A.C.
contra Israel. Jocneão tem sido identificada com o
moderno Tell Q uinum . No hebraico, esse cômoro
chama-se Tel Yoqneam . Jocneão era uma das praças JOEL (LIVRO DE)
fortes que guardavam as rotas que atravessavam o Quanto ao significado do nome Joel, ver o artigo
Carmelo. Ficava em um dos desvios da principal Joel (N io o Profeta), na Introdução.
estrada comercial que corria na direção norte-sul (via Esboço:
Maris). Esse desvio ia desde Megido até à planície de
Aco. Jocneão aparece no centésimo décimo terceiro I. Caracterização Geral
lugar na lista de cento e dezenove cidades que Tutmés II. Joel e a Autoria do Livro de Joel
III, do Egito, capturou. Napoleão usou a rota que as III. Data
forças de Tutmés III haviam seguido, em sua marcha IV. Pano de Fundo Histórico e Propósitos
contra Acre. V. Alguns Pontos Teológicos Distintos do Livro
564
JO E L
VI. Esboço do Conteúdo e literárias da obra em discussão.
Bibliografia Na lista dos doze profetas menores, segundo o
I. Caracterização Geral cânon hebreu, Joel aparece em segundo lugar; mas,
Joel foi um profeta do reino de Judá, que alguns na Septuaginta (vide), aparece em quarto lugar. O
têm pensado ter agido em cerca de 800 A.C., texto massorético exibe os quatro capitulos tradicio
enquanto que outros pensam que ele é dos tempos nais; mas as versões da Septuaginta trazem três,
pós-exílicos. Mas, apesar de suas profecias terem sido combinando os capítulos 2 e 3 em 2:1-27,28-32. A
escritas especificamente ao reino do sul, Judá, a sua Vulgata Latina também segue esse arranjo.
mensagem é universal. Se aceitarmos a data mais A profecia de Joel parte da praga de gafanhotos,
antiga, então o seu ministério teve lugar durante o agravada por seca e fome subseqüentes. Essa praga
reinado de Joás (II Crô. 22—24). Assim sendo, é se assemelhava a um exército devastador, que
possível que tenha conhecido Elias, quando ainda era atravessou, marchando a região inteira da Palestina.
menino e por certo era contemporâneo de Eliseu. Joel Isso levou o profeta a meditar em termos mais
escreveu uma obra-prima poética, falando sobre a amplos, sobre o juízo divino vindouro. Alguns
devastadora praga de gafanhotos, que havia assolado estudiosos vêem nisso uma predição sobre os
a Palestina. Todavia, seu poema profético envolve cativeiros assírio e babilónico; e, além disso, um
quatro mensagens centrais. Além da espantosa quadro escatológico sobre o futuro Dia do Senhor. Tal
devastação produzida pelos gafanhotos (símbolo da juizo requer arrependimento da parte dos homens,
ira divina, além de poder predizer outros juízos pelo que lemos: «Rasgai o vosso coração, e não as
divinos), Joel também falou sobre a frutificação vossas vestes, e convertei-vos...» (2:13), o que aponta
renovada da terra, sob a condição de arrependimento; para um autêntico arrependimento, e não para mero
o dom do Espírito, nos últimos dias; e o julgamento cerimonial religioso. A lamentação também é
final das nações que tenham perseguido ou feito dano requerida (1:14; 2:15). Os sacerdotes deveriam tomar
à nação de Israel. Os estudiosos conservadores vêem a liderança, conclamando o povo ao arrependimento e
sentidos escatológicos ainda mais profundos em seus à retidão de vida; porém, somente uma conversão
escritos, afirmando que eles se aplicam ao final da genuína será capaz de salvar, no dia da tribulação
nossa dispensação. De fato, o esquema profético de (2:12-17). Deus é misericordioso com os penitentes
Joel é o mais completo do Antigo Testamento, embora (2:14).
apresente-nos esse esquema em largas pinceladas. Só O estilo de Joel é dramático, e prende a atenção do
o Novo Testamento vai mais longe, na abrangência de leitor. Os processos da natureza, bem como aqueles
sua visão. Naturalmente, em um livro pequeno como provocados pelos homens, estão sob o controle de
o de Joel, não há detalhes. Os demais livros proféticos Deus. de tal modo que, em todas as vicissitudes da
se encarregam de preencher esses detalhes. Não foi à vida, a nossa responsabilidade primária é diante de
toa que Pedro, no primeiro sermão da Igreja cristã, Deus. O juízo divino não consiste em mera vingança.
tenha citado diretamente somente a Joel e a Davi! Ver Antes, é um meio de produzir o bem, visando
Atos 2:14-36. especificamente esse bem, embora precise preencher o
seu ofício retributivo. A salvação é prometida aos
Alguns eruditos supõem que o livro de Joel não foi humildes e aos arrependidos. Ê interessante observar
escrito somente por um autor, e dizem que houve uma mos que Pedro, ao empregar as predições de Joel,
série de suplementos, da parte de outros autores, que convocou o povo judeu a arrepender-se.
seriam nacionalistas e escatologistas militantes. Esses Se procurarmos por duas contribuições distintivas
pensam que tudo o que se lê de Joel 3:1 em diante é desse livro, então poderemos apontar para sua ênfase
suplementar. Além disso, teria havido um editor sobre o Dia do Senhor e sobre o derramamento do
jeovista (alguém que favorecia o uso do nome divino Espírito Santo sobre todo o povo de Deus. O Novo
Yahweh), que fez alguns acréscimos nos caps. 1 e 2, Testamento ensina-nos que o cumprimento primário
procurando converter a descrição da praga de dessas predições teve lugar no dia de Pentecoste
gafanhotos em uma profecia sobre o dia do juízo (vide), dez dias após a ascensão do Senhor Jesus,
divino. Nesse caso, originalmente Joel teria narrado,
com grande brilhantismo, a praga de gafanhotos, que conforme se vê no segundo capítulo do livro de Atos.
havia devastado campos, pomares e vinhedos, além de Mas, o cumprimento maior espera pelo próprio Dia
haver convocado o povo de Judá ao jejum e à oração, do Senhor (vide), aquela série de acontecimentos que
para que a devastação dos insetos terminasse. culminará com o segundo advento de Cristo e a
Finalmente, Joel teria registrado o livramento que se instalação do reino milenar de nosso Senhor, Jesus
teria seguido, mediante ações de graças. Usualmente, Cristo.
quando os eruditos vêem a mão de vários autores em D . Jod e a Autoria do Livro de Jod
um livro, mormente se o mesmo é pequeno, como o de 1. Joel. Praticamente nada conhecemos a respeito
Joel, eles se estribam sobre meras razões subjetivas, de Joel, e as próprias tradições não nos ajudam muito.
escudando-se naquilo que este ou aquele supõe que o Sabemos que ele atuou como profeta no reino do sul,
autor sagrado deve ter escrito. E os argumentos Judá, e que seu livro era alistado como o segundo dos
contrários são igualmente subjetivos, de tal modo que profetas menores. O nome de seu pai era Petuel (Joel
quase sempre esses debates são inócuos, e não levam a 1:1; Atos 2:16). Ele vivia em Judá, talvez em
nada. Os eruditos conservadores, como é natural, não Jerusalém. A data de seu ministério é disputada.
gostam de ver os livros da Bíblia perturbados e Alguns situam-no tão cedo quanto 800 A.C., pelo que
manipulados, quase como se isso fosse contrário a ele seria contemporâneo do rei Uzias e de profetas
divina inspiração. Os estudiosos liberais, por sua vez, como Amós e Isaías. Talvez até tenha conhecido Elias
em seu afã por sondar, examinar e entender pequenos e Eliseu. A obscuridade de Joel tem mesmo feito
detalhes, quase sempre se acham capazes de alguns eruditos opinarem que sua realidade histórica
encontrar mais de um autor em uma obra escrita é duvidosa.
qualquer. Mas, se houve mesmo um só ou mais de um 2. A utoria. Temos aqui um problema de integrida
autor, em qualquer livro da Bíblia, isso nada tem a de. Em outras palavras, uma pessoa só escreveu o
ver com a sua espiritualidade, e só deveria tornar-se livro inteiro, ou, em sua forma presente, o livro é uma
uma questão de debate se isso puder aprimorar o compilação? Isso é melhor tratado na primeira seção,
nosso conhecimento acerca das qualidades históricas Caracterização Geral.
565
JO E L
m . Data 6. Os gregos são mencionados, mas não como o
As datas atribuídas ao livro de Joel variam muito. poder mundial dominante (3:6). Esse predomínio
Alguns situam-no pouco depois da divisão de Israel grego só ocorreu após Alexandre, o Grande (336—323
em dois reinos: Israel e Judá, ou seja, algum tempo A.C.).
depois de 932 A.C. Outros pensam que Joel escreveu 7. Sidom ainda haveria de ser julgada (3:4); mas
nos tempos de Malaquias, em cerca de 400 A.C., ou isso não aconteceu senão quando Artaxerxes III
mesmo mais tarde que isso. Se a praga de gafanhotos realizou o julgamento, vendendo os sidônios à
teve por intuito advertir, metaforicamente, sobre as escravidão, em cerca de 345 A.C.
invasões assíria e babilónica, com os subseqüentes 8. Várias palavras hebraicas são de uso tardio,
dois cativeiros, então o livro é de origem pré-exílica, como «ministros» (1:9,13; 2:17); «lanças» (2:8);
talvez nos dias de Joás, rei de Judá, que reinou em «vanguarda» e «retaguarda» (2:20); e o pronome
cerca de 835—832 A.C. pessoal «eu», que Joel dá como ani, mas que o
Argumentos em Favor da Data mais Antiga: hebraico mais antigo dizia anoki. Ver 2:27; 3:10,17.
1. O estilo e a atitude geral do livro são diferentes 9. A ênfase escatológica é similar àquela dos
dos livros de Ageu Zacarias e Malaquias, profetas profetas posteriores, isto é, Ezequiel, Sofonias,
pós-exílicos. Sua linguagem e estilo pertencem mais Zacarias e Malaquias.
ao período da literatura clássica dos hebreus. Datas Anteriores e Posteriores:
2. Joel parece paralelo ao livro de Amós, e este Alguns estudiosos supõem que a porção original do
último parece ter feito uso de certas idéias de Joel, livro de Joel reflete o período pré-exílico (1:1—2:27),
como Joel 3:16 (em Amós 1:2) e Joel 3:18 (em Amós mas que o resto do livro é de origem pós-exílica. Essa
9:13). teoria poderia explicar os vários argumentos que
3. Os adversários de Israel, no livro de Joel, são os defendem as datas anteriores e posteriores para o
fenicios, os filisteus, os egípcios e os idumeus (3:4), e livro.
não os assírios e babilônios, que assediaram Israel e Na verdade, não há como solucionar o problema da
Judá bem mais tarde. data do livro de Joel; e nem a ausência dessa
4. A posição de Joel, como o segundo livro da lista informação prejudica, em qualquer sentido, a tremen
dos profetas menores (embora quarto na Septuagin- da mensagem divina que esse livro nos oferece.
ta), indica uma data mais antiga do livro. IV. Pano de Fundo Histórico e Propósitos
5. Joel 1:1—2:7 é similar às profecias de Jeremias, A grande praga de gafanhotos e o julgamento
sobretudo as de Isaías (4:2,3). divino, ou dia do juízo, simbolizado por aquela praga,
6. Joel não faz qualquer alusão aos assírios e foram o que deu origem a esse livro. Grandes pragas
babilônios, o que parece inconcebível, se ele tivesse de gafanhotos tinham lugar periodicamente, no
vivido quando essas potências se estavam levantando, Oriente Próximo, até onde a história é capaz de
ameaçadoras. Se o cativeiro assírio e o cativeiro registrar, pelo que é impossível identificarmos
babilónico já tivessem ocorrido, é difícil imaginar por qualquer praga particular como aquela mencionada
que ele não teceu qualquer comentário sobre os por Joel. Se esse livro foi escrito em tempos
mesmos. E, se certos trechos de Joel, de acordo com pré-exílicos, em antecipação ao castigo das nações de
alguns, seriam referências a esses cativeiros, então Israel e de Judá, pelos assírios e babilônios,
deve-se responder que são trechos proféticos prediti- respectivamente, então esse foi um dos motivos da
vos e não históricos, tal como Osé. 6:11 e Miq. 1:16. escrita do livro. O motivo imediato dos oráculos de
Argumentos em Favor da Data mais Recente: Joel foi o incidente da severa praga de gafanhotos.
1. Joel 3:1 é uma clara referência ao cativeiro Todavia, uma coisa não podemos esquecer é que Joel
babilónico, se partirmos da idéia de que temos aí um antevia um julgamento divino final, no dia do Senhor.
informe histórico, e não uma profecia preditiva. E alguns eruditos têm vinculado as profecias de Joel
ao Armagedom (vide), através da invasão da Palestina
2. Os eruditos acham mais de vinte paralelos por parte de potências gentílicas do norte (Joel
literários com os profetas posteriores, como Mala 2:1-10). A destruição desses exércitos invasores
quias e Obadias, contradizendo os pontos dois e aparece em Joel 2:11. O arrependimento da nação de
cinco, acima. As fontes informativas que temos Israel, no fim, é visto em Joel 2:12-17. Também há
investigado não alistam esses alegados paralelos; menção à infusão ou derramamento do Espírito, em
porém, devemos supor que são satisfatórios, para bases mundiais, em Joel 2:12-17, nos últim os dias (o
alguns estudiosos, como evidências. Todavia, isso que para nós ainda parece futuro). Todavia, devemos
enfraquece bastante o argumento, podendo até entender que, para Pedro, o inicio do cristianismo já
mesmo invalidá-lo. marcava os «últimos dias» (ver Atos 2:16,17). O
3. A descrição de Joel sobre a adoração religiosa retorno do Senhor Jesus ao mundo (a parousia; vide) é
parece refletir um país unido, e não dividido, e isso visto em Joel 2:30-32, e o recolhimento do disperso
situaria o livro, quanto ao tempo, após o retorno de povo de Israel, em sua própria terra, em Joel 3:1-16.
Judá do cativeiro babilónico. Não há alusões à Em seguida, aparecem as bênçãos do reino milenar
adoração idólatra nos lugares altos, etc., o que fez (Joel 3:17-21). Quanto desses informes são realmente
parte importante da história de Judá, antes do proféticos, e quanto os cristãos têm lido nessas
cativeiro. Nenhuma menção é feita ao reino do norte, predições, terá de continuar sendo motivo de debates,
provavelmente porque o mesmo não mais existia. até que os acontecimentos preditos realmente
Judá, agora, era Israel, as circunstâncias que aconteçam. Naturalmente, o livro faz do arrependi
prevaleciam após o exílio babilónico, e o retorno de mento a condição sine qua non para alguém estar
Judá transparecem no fato de que «Judá» e «Israel» espiritualmente preparado para aqueles momentosos
são nomes usados como sinônimos (2:27; 3:2,16,20). acontecimentos finais.
4. A expressão de Joel, «opróbrio, para que as
nações façam escárnio dele» (2:17,19), é uma V . Alguns Pontos Teológicos Distintos do Livro
expressão típica dos tempos pós-exílicos. 1. Se admitirmos que o livro de Joel contém
5. Os «muros» referidos em 2:9 talvez sejam as predições sobre os últimos dias desta dispensação,
muralhas restauradas por Neemias, em Jerusalém, em então a mensagem do mesmo é crucial para que
444 A.C. possamos formar um completo esquema escatológico.
JO E L - JO E L (NÀO O PROFETA)
«É notável que Joel, tendo surgido no começo mesmo 2. O Senhor sobre seu trono, em Siâo (4:21)
da profecia escrita (836 A.C.), seja o livro que nos Bibliografia. AM G HARR I IB PF PU SCO
confere a visão mais completa da consumação de toda
a profecia escrita» (SCO, in loc.). As observações
feitas por Joel, naturalmente, dependem, em grande IOEL (NSto o Profeta)
parte, da data em que o livro foi composto e, em No hebraico, Yahweh é Deus; em sua forma
segundo lugar, da aplicação correta das predições em abreviada, Yaliu. Esse é o nome de várias
questão. Se Joel só falava sobre uma praga de personagens que figuram nas páginas do Antigo
gafanhotos e sobre a necessidade de Israel se Testamento, excetuando o famoso profeta desse
arrepender, em face dessa praga, então o livro é nome:
ridiculamente destituído de importância! 1. O mais velho dos dois filhos de Samuel, que
2. A posição exclusiva dada à nação de Israel, na foram nomeados por ele como juízes, em Berseba.
economia divina, é muito enfatizada. Joel afunila Eles perverteram o ofício, aceitavam peitas e, de
ainda mais o esboço de sua atenção: somente um modo geral, tornaram-se culpados de conduta imoral
remanescente, dentro do povo de Israel, é que será e injusta (I Sam. 8:3). Esse Joel foi pai de Hemã, que
salvo, e não a casa inteira de Israel (2:32). foi cantor, dirigente da música, no santuário de Davi
Naturalmente, essa visão é menos abrangente que a (I CrÔ. 6:33; 15:17).
de uma restauração universal de todas as coisas, como 2. Um levita coatita, filho de Azarias e pai de
a que se vê em Atos 3:20,21 e Efé. 1:9,10. Joel vai até Elcana (I Crô. 6:36). Foi um dos antepassados do
onde Paulo também foi (ver Rom. 11:26), pois ambos profeta Samuel. Essa linhagem incluía três homens
acreditavam na conversão final de todos os escolhidos com o nome de Elcana e dois com o nome de Joel,
dentre o povo de Israel. conforme se vê em I Crô. 6:33-38. Mui provavelmen
3. O derramamento universal do Espírito Santo te, ele é o Joel que ajudou Ezequias em suas reformas
aparece em Joel 2:28,29. Os cristãos primitivos religiosas (II Crô. 29:12). Viveu por volta de 719 A.C.
aplicavam isso ao Pentecoste e seus resultados, 3. Um descendente de Simeão, um membro das
conforme se vê em Atos 2:16 ss. Mas, não famílias que emigraram para o vale de Gedor (I Crô.
exclusivamente a isso, porque o resto do Novo 4:35). Viveu em cerca de 715 A.C.
Testamento prevê um derramamento muito maior e 4. Um descendente de Rúben, que vivia no lado
cabal do Espírito Santo, durante o período da grande oriental do rio Jordão. Não se sabe que grau de
Tribulação, com uma colheita de almas inigualável parentesco ele tinha com Rúben. Ver I Crô. 5:4,8.
em toda a história do mundo: «Depois destas cousas 5. Um dos chefes da tribo de Gade, que residia em
vi, e eis grande multidão, que ninguém podia Basã (I Crô. 5:12). Viveu em torno de 782 A.C.
enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, 6. O terceiro filho de Israías, e que era chefe da
em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos tribo de Issacar nos dias de Davi. Viveu por volta de
de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; e 1000 A.C.
clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus 7. Um dos grandes guerreiros de Davi, irmão de
que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a NatãdCrô. 11:38). Ele é chamado de «Jigeal, filho de
salvação» (Apo. 7:9,10). Natã», em II Sam. 23:36, o que nos deixa em dúvida
4. Uma figura messiânica toda importante não quanto ao grau de parentesco que eles mantinham
figura no livro de Joel. entre si.
5. Joel via claramente como o propósito e as obras 8. Um levita, um dos chefes da família de Gérson.
de Deus acompanham e influenciam os processos Seu clã consistia em cento e trinta homens. Foi
históricos no mundo, uma visão teísta, em contraste nomeado para ajudar a trazer a arca da aliança até
com a posição do deísmo. Ver sobre o Teísmo e sobre Jerusalém, nos dias de Davi (I Crô. 15:7,11). Viveu
o Deísmo. em c. de 1000 A.C. Tem sido identificado com o mes
6. O Dia do Senhor mo homem que aparece como o terceiro filho de Ladã
«As duas grandes contribuições de Joel à religião (I Crô. 23:8), e também como o filho de Jeiel, que era
bíblica encontram-se em suas ênfases sobre o dia do um dos que guardavam os «tesouros da casa do
Senhor e o derramamento do Espírito de Deus sobre Senhor» (I Crô. 26:22).
todos os povos» (AM). Quanto a referências sobre o 9. Um filho de Pedaías, que era oficial da meia-
Dia do Senhor, ver Joel 1:15; 2:1,11,31; 3:14. Ver o tribo de Manassés, durante o tempo do reinado de
artigo separado sobre o Dia do Senhor. VI. Davi (I Crô. 27:20). Sua época foi cerca de 1000 A.C.
10. Um levita coatita, filho de Azarias, e que ajudou
VI. Esboço do Conteúdo a santificar o templo de Jerusalém, durante as
I. O Dia do Senhor Exemplificado (1:1-20) reformas religiosas instituídas por Ezequias (I Crô.
1. O profeta (1:1) 29:12). Viveu em cerca de 726 A.C.
2. A praga de gafanhotos (1:2-7) 11. Um filho de Nebo, contemporâneo de Esdras.
3. O arrependimento de um povo aflito (1:8-20) Ele se casara com uma mulher estrangeira durante o
II. O Dia do Senhor nas Profecias Bíblicas (2:1-32) cativeiro babilónico, e foi forçado a divorciar-se dela
1. Os exércitos invasores (2:1-10) após o retorno do remanescente para Jerusalém. Ver
2. O exército do Senhor no Armagedom (2:11) Esd. 10:43. O tempo foi cerca de 456 A.C.
3. O remanescente penitente (2:18-29) 12. Um filho de Zicri, que era um dos superinten
dentes dos benjamitas que vieram residir em
4. Sinais da vinda do Senhor (2:30-32) Jerusalém, terminado o cativeiro babilónico (Nee.
III. O Julgamento das Nações (3:1-19) 11:9). Ele viveu por volta de 536 A.C.
1. A restauração de Israel (3:1) 13. O profeta que escreveu o livro de Joel. Quanto
2. O julgamento das nações (3:2,3) àquilo que se sabe sobre ele, pessoalmente, ver o
3. Condenação da Fenícia e da Filístia (3:4-8) artigo sobre o livro de Joel, seção II.
4. Edom e Egito desolados (3:17-19)
IV. As Bênçãos do Milênio (4:20,21)
1. Judá é restaurada e perpetuada (4:20)
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JO E L A - JO GO
IOELA demonstra o costume na Babilônia, no Egito e entre
No hebraico, «Deus está arrebatando». Um filho de os cananeus, em suas obras de arte e em seus
Joroão, de Gedor. Outros estudiosos interpretam seu desenhos. Algumas vezes, o ato consistia, primeiro,
nome como «outrossim». Quando Davi fugia de Saul e em total prostração, e então a pessoa se ajoelhava.
foi para Ziclague (I Crô. 12:7), Joela foi um dos Ver Sal. 95:6; Mar. 1:40; 15:19; Mat. 17:14.
guerreiros que se aliou a Davi, tendo ido com ele para 3. Uma postura de oração. Jesus, em sua agonia no
aquela localidade. Ele ou era benjamita ou era horto, caiu de rosto em terra, orando a Deus. Muitas
judaita. Viveu na época de Davi. pinturas exibem-no ajoelhado. Talvez isso também
tenha sucedido. Ver Mat. 26:39. Seja como for, no
trecho de Atos 20:36, vemos que Paulo ajoelhou-se a
JOELHO, AJOELHAR-SE fim de orar. Paulo alude ao seu costume de
Há uma palavra aramaica, uma palavra hebraica e ajoelhar-se, quando orava, em Efésios 3:14.
uma palavra grega envolvidas nesse verbete que fala 4. O senhorio universal de Cristo é retratado pelo
sobre uma parte do corpo humano, a saber: ato de ajoelhar-se, por parte de todos os seres
1. A rk u b a h , palavra aramaica usada apenas por inteligentes, diante dele (Fil. 2:10). Esse ato de
uma vez, em Dan. 5:6. ajpelhar-se terá um aspecto restaurador, não sendo
apenas uma obediência forçada. Em outras palavras,
2. B erek, palavra hebraica empregada por vinte e o senhorio universal de Cristo está alicerçado sobre a
cinco vezes, como em Gên. 30:3; Deu. 28:35; Juí. idéia da restauração (Efé. 1:10).
7:5,6; I Reis 8:54; II Reis 1:13; II CrÔ. 6:13; Esd. 9:5;
Jó 3:12; Isa. 35:5; Eze. 7:17; Dan. 6:10; Naum 2:10.
3. G ónu, palavra grega que ocorre por doze vezes: JOEZER
Mar. 15:19; Luc. 5:8; 22:41; Atos 7:60; 9:40; 20:36; No hebraico, «Yahweh é ajuda». Um guerreiro que
21:5; Rom. 11:4 (citando I Reis 19:18); 14:11 (citando se aliou a Davi, em Ziclague, quando Davi fugia de
Isa. 45:23); Efé. 3:14; Fil. 2:10; Heb. 12:12. Saul (I Crô. 12:6). Não há certeza se ele era benjamita
A oraçào e a homenagem ao Senhor podem assumir ou judaita. Viveu na época de Davi.
muitas formas, incluindo determinadas posições do
corpo como símbolos de humildade, súplica e intenso
interesse. No Oriente Próximo, era costume pôr-se de JOGBEÀ
pé nas orações públicas, enquanto que o ato de No hebraico, «outeiro». Esse era o nome de uma
ajoelhar-se confinava-se a atos de obediência e cidade de Gileade. Foi fortificada pelos descendentes
submissão. de Gade(Núm. 32:35). Quando Gideão perseguia aos
Usos Específicos midianitas, fez um circuito em torno dessa cidade, a
1. Gênesis 30:3; 50:23 e Jó 3:12 referem-se aos fim de atacá-los pela retaguarda (Juí. 8:11). O lugar
joelhos de uma maneira que dificilmente pode ser tem sido identificado com a moderna Khirbet
compreendida sem informações em um bom comen el-Ajbeihat, cerca de onze quilômetros a noroeste de
Aman.
tário. Sendo aparentemente estéril, Raquel deu Bila a
Jacó, a fim de que essa serva desse filhos em lugar
dela. E o primeiro desses versículos diz: «...e eu JOGLI
traga filhos ao meu colo por meio dela». Assim diz
nossa versão portuguesa, mas isso representa uma No hebraico, «exilado». Foi pai de Buqui. Foi chefe
interpretação, pois o original diz algo como «para que tribal de Dã, e foi escolhido para ajudar na
ela (Bila) dê à luz sobre os meus joelhos». Isso poderia distribuição dos territórios na porção oeste da terra de
significar que Bila se sentaria sobre os joelhos de Canaã, entre as tribos de Israel (Núm. 34:22). Viveu
Raquel, na hora do parto; porém, mais provavelmen em cerca de 1380 A.C.
te ainda, isso significa que ela daria à luz um filho
que, mais tarde, seria posto sobre os joelhos de JOGO
Raquel, para ela segurá-lo como se fosse seu próprio Ver o artigo sobre o Acaso. O jogo envolve a
bebê. Isso significaria que Bila estaria dando à luz um transferência de investimento de algo valioso, na
filho que seria considerado pertencente a Raquel. Em esperança de ganhar mais do que se gastou, com base
Gênesis 50:23, lemos que foi sobre os joelhos de Jacó nas vicissitudes da sorte ou acaso. De acordo com essa
que os filhos de seus descendentes vieram a descansar, definição, muitos atos humanos são puros jogos,
o que deve significar que nasceram para que ele os envolvendo questões de dinheiro ou de coisas valiosas.
segurasse e reconhecesse como seus, como patriarca O maior de todos os jogos é a bolsa de valores, embora
que era. Em Jó 3:12, pergunta aquele patriarca: «Por muitos procurem convencer aos interessados de que
que houve regaço que me acolhesse?» Essa pergunta não se trata de umjogo. Porém, seus argumentos não
equivale a «Por que nasci, vindo a descansar nos são convincentes. E verdade que, em relação a isso, o
joelhos de minha mãe?» Outros pensam que seriam os dinheiro arriscado tem por finalidade desenvolver a
joelhos da parteira, a qual, imediatamente após o indústria e o comércio, como também é verdade que,
nascimento, seguraria a criança no colo. Ou a nas loterias federais e estaduais, muitas obras dignas
referência poderia ser ao pai da criança, o qual, são promovidas através do dinheiro que as pessoas
segurando o recém-nascido, demonstraria com isso arriscam. Naturalmente, as chances são sempre
ser ele o pai, o qual estava reconhecendo e recebendo favoráveis aos banqueiros, e não aos jogadores. De
o seu filho. outra sorte, ninguém haveria de querer bancar o jogo.
Alguns supõem que, em Israel, quando um homem Portanto, parece melhor afirmar que um jogo é
acolhia uma criança pequenina em seu colo, estava qualquer atividade onde o elemento do acaso ou sorte
reconhecendo assim ser o pai daquela criança, como é o elemento prim ordial. Especialmente se estiver
uma futura cidadã de Israel. envolvido algum dinheiro, então estará havendo jogo,
2. Ajoelhar-se diante de alguém é um símbolo sem importar se aquela atividade seja ou não
universal de subm issão. Quase todas as inúmeras chamada, oficialmente, de jogo. As especulações com
cartas cuneiformes mencionam o ato de ajoelhar-se ou terras também, por cefto, são uma forma de jogo. Um
prostrar-se diante de um superior. A arqueologia jogo é qualquer tipo de ato em que o resultado
568
JO G O - JO G O D E DADOS
depehde do mero acaso, quando alguma importância que razão o Corinthians, time de futebol de São
ou valor pode ser ganho ou perdido, na dependência Paulo, é o maior clube de futebol do Brasil!
exclusiva desse fator. De acordo com essas definições, Para alguns, o jogo tornou-se tanto uma ciência
o amor entre os sexos também é um jogo, conforme quanto uma arte, e muitos livros, mais ou menos
muitas pessoas têm descoberto, para sua tristeza. volumosos, têm sido escritos para ajudar os jogadores
De acordo com uma definição mais comum, a fazerem seus cálculos. Temos de admitir que, para a
entretanto, um jogo é um risco que envolve dinheiro, maioria das pessoas que jogam, só há uma maneira de
que se pode ganhar ou perder mediante uma aposta. enfrentar o jogo: ele será bom, se a pessoa sair-se
A longa história do jogo tem sido praticamente ganhadora; e será mau, se a pessoa sair-se perdedora.
universal. Dados com números em quatro faces têm A dificuldade é que, usualmente, as pessoas perdem
sido encontrados no Egito, datando de milhares de no jogo.
anos antes da época de Jesus Cristo. Foram O jogo e a Moralidade. Governos, escolas e até
descobertas mesas de jogo entre as ruínas de mesmo igrejas têm apelado para o jogo a fim de
Pompéia. Tácito, historiador romano (cerca de 100 pagarem suas despesas, construírem instalações,
D.C.) afirmou que os jogos eram um divertimento promoverem caridades, dirigirem sistemas escolares,
comum entre as tribos germânicas. Na própria Bíblia etc. O sucesso desses empreendimentos depende do
lemos acerca do lançamento de sortes (Núm. fator humano em que as pessoas-dispõem-se a gastar
26:52-56; I Sam. 10:20,21; I Crô. 24:5). Surpreenden dinheiro em seu auto-interesse, embora não fossem
temente, e para consternação de alguns estudiosos da convencidas, de qualquer outro modo, a contribuírem
Bíblia, os apóstolos resolveram encontrar o substituto financeiramente para alguma boa causa.
de Judas Iscariotes mediante o lançamento de sortes, A única coisa que pode ser dita em prol de certos
um jogo. Alguns, todavia, têm refutado essa jogos é que muitas obras são assim efetuadas. Quando
interpretação, dizendo que nenhum acaso esteve não há elementos criminosos, envolvendo corrupção
envolvido, pelo que também não teria havido presentes nessa forma de atividade, não precisamos
qualquer jogo. Entretanto, outros confessam que não considerá-la má em si mesma. Além disso, muitos
esteve envolvido um ato dos mais nobres, e que, além pensam que é bom que as pessoas dêem dinheiro para
disso, uma má escolha foi feita, o que teria sido causas boas, ainda que, para isso, tenham de ser
ocasião para mais tarde, Deus ter escolhido Saulo de agitadas por seu auto-interesse e pelo sèu prazer de
Tarso como apóstolo. Como é óbvio, isso tem arriscarem-se. Contra o jogo, contudo, pode-se
suscitado muitos debates. afirmar que a porcentagem de indivíduos que ganha
Certos jogos, no sentido moderno do termo, não são alguma coisa com o jogo é extremamente reduzida, e
mencionados na Bíblia, como, por exemplo, os jogos que, por períodos muitos longos, um dinheiro que
em que são levantados fundos, como as loterias. Por poderia ser empregado em coisas úteis, perde-se para
outro lado, podemos ter a certeza de que o sempre. Certo jogador norte-americano calculou que,
lançamento de sortes envolvia apostas pessoais. no decurso de alguns anos, ele já havia gasto cerca de
Formas comuns de jogos de azar, como esses são vinte mil dólares no jogo, sem ganhar coisa alguma.
chamados, são os vários tipos de loteria, aqueles que
envolvem números, a roleta, o baralho, as máquinas Em alguns casos, o jogo transmuta-se em um vício
para arrecadar moedas, os jogos com dados, os poderosíssimo, capaz de ser a causa de muitos males,
cartões de perfurar, os pebolins, as rifas, as corridas como perda de emprego, separação doméstica, perda
de cavalos ou de cães, as lutas entre homens e entre de propriedades, etc. Mas, o pior de tudo, é que um
animais, e muitas competições esportivas, onde jogador inveterado joga até a própria mulher, no seu
vultosas somas são apostadas. prazer de arriscar-se sem necessidade. Um forte
argumento cristão contra o jogo é que exibe falta de fé
As estatísticas mostram que, nos Estados Unidos no suprimento dado pelo Senhor. No entanto, os
da América do Norte, cerca de cinqüenta milhões de aficcionados do jogo retrucam que Deus é capaz de
cidadãos envolvem-se em alguma forma de jogo, de suprir algum dinheiro através do jogo. Mas, não nos
maneira mais do que esporádica. Isso significa cerca devemos esquecer que o Novo Testamento exalta o
de uma quinta parte da população total do país. trabalho árduo e a boa mordomia, o que elimina
Dentre esses, calcula-se que cerca de seis milhões são totalmente a prática do jogo, em qualquer de suas
jogadores compulsivos, para quem o jogo é um vício formas. Ver II Tes. 3:10-12; Efé. 4:28; I Cor. 10:23;
tão difícil de interromper quanto qualquer outro Gál. 5:13,14; Mat. 22:37; I Tes. 5:22 e Rom. 12:9.
vício. Para benefício dos jogadores compulsivos, que não
O jogador é alguém que possui as seguintes têm controle nem sobre os seus atos e nem sobre a
características: trata-se de uma pessoa que gosta de quantia que estão dispostos a arriscar, foi formada
se arriscar, divertindo-se com situações arriscadas. uma instituição na América do Norte, intitulada
Da mesma forma que há pessoas que participam ou Jogadores Anônimos, paralela aos Alcoólatras Anô
assistem feitos esportivos de modo prazenteiro, assim nimos quanto a seus propósitos e seu modo de agir. A
também os jogadores derivam prazer do jogo, primeira exigência para .quem quiser tornar-se
torcendo com entusiasmo, mesmo que se saiam membro dessa organização é o desejo de parar de
perdedores. Para eles, o prazer está no risco de jogar. As pessoas reúnem-se ali a fim de comparti
perder, e não tanto na remota possibilidade de lharem de suas experiências e, mediante o apoio
ganhar. Tanto é assim que aqueles que ganham algo mútuo, procuram alterar sua maneira de pensar e
em um jogo de azar não se satisfazem enquanto não sentir acerca do jogo. Nos países de maioria islâmica o
perdem tudo nas apostas seguintes. Contudo, jogo é estritamente proibido. Nos países chamados
mostram-se sempre otimistas; e suas tristezas, em cristãos, o esforço concentra-se na idéia de exortar os
vista das perdas (sempre muito mais numerosas do jogadores mediante um bom exemplo, para que
que os ganhos), derivam-se do fato de que isso os leva cessem a prática.
a dívidas, algumas vultosas. Também são supersticio
sos, empregando toda a espécie de esquema para JOGO DE DADOS
tentar ganhar. Alguns jogadores, pois, sentem um Ver o artigo geral sobre Jogos.
estranho prazer no senso de humilhação e derrota,
quando se saem perdedores. Isso talvez explique por
569
JO GO S A TLÉTICO S
JOGOS ATLÉTICOS em que a habilidade era desenvolvida com propósitos
A mente humana não pode ser continuamente mais práticos (I Sam. 20:20; Jó 16:13; Lam. 3:12). É
séria. É legítimo, e até mesmo necessário, que as Verdade que em relevos assírios um dos esportes
pessoas participem de atividades que sejam mental ilustrado é o do arco e flecha, que os assírios não
mente relaxantes, mesmo que tais atividades não usavam somente com finalidades guerreiras.
realizem coisa alguma por si mesmas. Alguns jogos Uma forma de xadrez era jogado no Elão e na
atléticos, pois, ajudam as pessoas a aprenderem Babilônia, desde o terceiro milênio antes da era cristã.
alguma coisa, que pode ser até mesmo, de natureza Têm sido descobertos tabuleiros de jogos em Nínive,
positiva. Porém, quase todas essas atividades atléticas em Tell Half e na Síria, embora não se saiba dizer
visam, tão-somente a entreter. Os esportes melhoram como esses jogos operavam. Um tabuleiro extrema-
as condições físicas e mentais dos participantes. Os mente elaborado e bem decorado foi descoberto na
jogos de palavras podem melhorar o vocabulário e o ilha de Creta. Era trabalhado em ouro, prata, marfim
uso da linguagem das pessoas. Porém, um jogo e cristal, o que demonstra que, para algumas pessoas,
atlético não precisa ser útil e nem preencher um jogar era uma atividade importantíssima. Brinque
propósito digno, e o simples relaxamento conseguido dos, bonecas, animais em miniatura e outros objetos
justifica a prática dos jogos atléticos. eram usados pelas crianças da antiguidade. Bonecas
com juntas móveis e com cabelos, tipo vida real, têm
Esboço: sido encontradas. Brinquedos encontrados em Tell
I. Antigos Jogos Atléticos e as Terras Bíblicas Beit Mirsim incluem apitos, reco-recos e bonecas. No
II. A Cultura dos Hebreus e os Jogos Atléticos Egito, os cidadãos mais abastados ocupavam-se na
III. Os Esportes Entre os Gregos caça, e a pesca era um esporte. O equipamento que
IV. Esportes e Jogos Atléticos no Novo Testamento usavam era bastante elaborado, incluindo cajados
V. Usos Simbólicos entalhados, bumerangues de madeira, arpões,
lanças para pescar e anzóis de bronze.
1. Antigos Jogos Atléticos e as Terras Bíblicas
As evidências arqueológicas mostram que os jogos D . A Cultura dos Hebreus e os Jogos Atléticos
atléticos são tão antigos quanto a própria civilização. É possível que a luta livre fosse um esporte na
Um bom tabuleiro de jogos, de Ur (baixa Mesopotâ- antiguidade (ver Gên. 32:24-26; II Sam. 2:14 e Juí.
mia), com data de cerca de 3000 A.C., fornece-nos 15:8). O arco e a flecha eram usados na guerra, mas
prova de que desde a mais remota antiguidade havia também servia de esporte (I Sam. 20:20; Jó 16:13;
interesse por coisas assim. Têm sido encontrados Lam. 3:12). As crianças tinham jogos infantis nas
dados em todos os locais habitados pelo homem, no ruas(Zac. 8:5), alguns dos quais imitavam coisas que
mundo antigo. Esses dados eram feitos de vários elas viam nos adultos, incluindo casamentos e
materiais, como o marfim, cerâmica, madeira, funerais. Isso é refletido em Mat. 11:16. Há algumas
metais, etc. Tabuleiros de jogar têm sido descobertos evidências de que as crianças hebréias imitavam os
pertencentes à XVIII Dinastia do Egito (cerca de 1560 jogos egípcios como jogos de mão, cabo de guerra,
— 1350 A.C.). Porém, no Egito, o jogo mais antigo lançamento e apanhamento de bolas, o uso de
que se conhece é um tabuleiro com homenzinhos raquetes, folguedos com modelos de animais, carros
feitos de cerâmica. Não sabemos como esse jogo miniatura e outros brinquedos. As bonecas com
funcionava, todavia. Esse tabuleiro data de cerca de juntas moveis podem ter sido objetos de culto e não
5000 A.C. Uma outra forma de tabuleiro de jogar foi brinquedos infantis. E talvez a guarda de pássaros
encontrado em Abidos, de cerca de 2900 A.C. Era mansos (ver Jó 41:5) também fosse considerada um
feito de alabastro róseo. Estiletes de marfim, com um esporte.
dos lados pintado de negro, evidentemente, eram A cultura dos hebreus caracterizava-se pelo uso do
usados como se fossem dados. Bolinhas de gude têm vinho, pelos banquetes, pelo regozijo, pela dança,
sido encontradas pertencentes desde a XVIII Dinastia pelo regozijo em comunidade, e essas atividades eram
egípcia. Um completo jogo, com várias peças, foi muito comuns entre os israelitas. Ver Jer. 21:4;
encontrado em Tell Beit Mirsim (Quiriate-Sefer). Juí. 9:27; 11:34; 21:21; I Reis 1:40; Êxo. 15:20. Essas
Estava em um palácio real, o que mostra que a atividades celebravam todas as formas de ocasião
realeza, algumas vezes, preenchia seus momentos de embora também servissem apenas como diversão,
lazer com jogos. Os hicsos (que invadiram o Egito e, conforme essas referências bíblicas mostram bem.
durante algum tempo, dominaram-no) tinham um Uma forma de entretenimento entre os adultos
tabuleiro quadrado de marfim, que usava dados em consistia em reunir-se e contar piadas (Jer. 15:17;
formato de pirâmide. Pro. 26:19). As pessoas fazem coisas assim quando
não costumam usar sua imaginação de maneira mais
As descobertas arqueológicas e os textos literários proveitosa; mas tal atividade, até os nossos próprios
demonstram o amor que os egípcios e os babilônios dias, continua sendo muito comum nas pequenas
tinham por vários testes de força, como levantamento cidades, onde não há qualquer forma de entreteni
de pesos e combates corpo a corpo. Porém, é inútil mento constante.
supormos que Jacó, somente porque lutou com um Parece que os hebreus contavam com certos eventos
anjo, tivesse treinado qualquer tipo de luta (ver Gên. esportivos públicos, vinculados às atividades milita
32:24-26), embora certos intérpretes bíblicos não res. Nesses jogós, aòs jovens eram ensinadas
concordem com essa avaliação. Outros supõem que a habilidades militares como o uso do arco e da flecha,
expressão «perna juntamente com coxa», que aparece ou então da funda (ver I Sam. 20:20; 35:40; Juí.
em algumas versões, como, por exemplo, a Edição 20:16; I Crô. 12:2). Até hoje os homens se ocupam em
Revista e Corrigida da tradução de J.F. de Almeida, jogos de guerra, a fim de que, chegado o momento da
da Sociedade Bíblica do Brasil, em Juízes 15:8 necessidade, saibam como ferir e matar com maior
(embora não na versão portuguesa que serve de base eficácia. OTalmude menciona jogos com dados, uma
para esta enciclopédia), reflete alguma espécie de luta prática provavelmente derivada do Egito. Os jogos
técnica. Outros também supõem que o combate em públicos, excetuando aqueles com propósitos milita
grupo, mencionado em II Samuel 2:14, começou res, não faziam parte da cultura dos hebreus,
como uma espécie de competição em forma de luta conforme sucedia entre os gregos e os romanos. Os
livre. O arco e a flecha, aparentemente, era um jogo hebreus consideravam os jogos gregos como ativida-
570
S O O II^X V SOOOf
JOGOS ROMANOS, O PAVIMENTO ONDE PILATOS SENTOU-SE PARA
O JULGAMENTO — Cortesia, Matson Photo Service
JO G O S A T L É T IC O S
Boxe
JO GO S A T L É T IC O S— Usos Metafóricos
Pois que estam os rodeados de um a tão grande
nuvem de testem unhas, deixemos todo o
embaraço, e o pecado que tão de perto
nos rodeia, e corramos com paciência
a carreira que nos está proposta, olhando
p ara Jesu s. (Heb. 12:1,2)
Prossigo p ara o alvo, pelo prêmio da soberana
vocação de Deus em C risto Jesu s. (Fü. 3:14)
Não sabeis vós que os que correm no estádio,
todos, na verdade, correm, m as um só leva o
prêmio? Correi de tal m aneira que o alcanceis.
E todo aquele que lu ta de tudo se abstém ;
eles o fazem p ara alcançar um a coroa
corruptível, nós, porém , um a incorruptível.
Pois eu assim corro, não como a coisa
incerta; assim com bato, não como batendo no
ar. A ntes subjugo o meu corpo, e o reduzo
à servidão, para que, pregando aos outros,
eu mesmo não venha de algum a m aneira a
ficar reprovado. (I Cor. 9:24-27)
Retendo a palavra da vida, p ara que no
dia de Cristo, possa gloriar-m e de não ter
corrido nem trabalhado em vão. (Fil. 2:16)
JO GO S A TLÉTICO S
des próprias dos pagãos. Assim, quando Jason erigiu IV. Esporte* e logo* Atlético* no Novo Testamento
um ginásio, isso foi considerado um ato tipicamente 1. Jogos infantis de rua (Mat. 11:16,17).
helenista (I Macabeus 1:14; II Macabeus 4:12-14). 2. Corridas de bigas (provavelmente) (Fil. 3:13 ss).
Paulo, em seus escritos, aludiu por várias vezes a 3. Corridas a pé (mais provavelmente) (Fil.
eventos esportivos, embora, nos ensinos de Jesus, haja 3:13,14). Temos nesse trecho uma excelente aplicação
uma notável ausência a menções a essa atividade espiritual relacionada à chamada à salvação, a
humana, excetuando a sua alusão aos jogos infantis percorrer o próprio percurso da corrida cristã e à
de rua (ver Mat. 11:16,17). Sem dúvida, isso reflete obtenção do prêmio final, isto é, o destino humano,
uma diferença cultural entre os dois. Paulo era um dentro da salvação providenciada por Deus. Essa
típico greco-romano ao passo que Jesus era um tipico passagem bíblica tem inspirado muitos sermões,
palestino. muitas lições.
m . Os Esportes entre os Gregos 4. O trecho de I Coríntios 9:24-27 fala sobre a
O ideal grego era corpo são e mente sã. Os esportes necessidade que todo atleta tem de treinar e de seguir
competitivos eram altamente desenvolvidos nas as regras à risca. Essa ilustração também foi usada
cidades-estados dos gregos. Os jogos gregos mais por Epicteto, um filósofo estóico romano; e, sem
elaborados e célebres eram quatro: osjogos istm ianos, dúvida foi tomada por empréstimo do fundo estóico
efetuados no istmo de Corinto, em um bosque pelo apóstolo Paulo, cujos ensinamentos éticos com
consagrado a Poseidon. Isso começou em 589 A.C., freqüência contêm metáforas e lições estóicas. Nessa
sendo efetuados no primeiro mês da primavera, bem passagem, Paulo alude a vários esportes, o que tenho
como no segundo e no quarto anos de cada anotado no NTI, in loc. Ele ilustrou como a vida
Olimpíada. As Olimpíadas eram efetuadas de quatro espiritual precisa ser conduzida com disciplina e
em quatro anos, entre duas celebrações sucessivas dos treinamento, porquanto, somente dessa maneira,
jogos olímpicos. Os gregos antigos calculavam o podem ser produzidos vencedores. Nem todos os
tempo por meio desses períodos. 2. Os jogos homens que competem saem-se vencedores. Um atleta
nem eanos, celebrados no vale de Neméia, em honra a precisa tornar-se um m estre em seu esporte, para
Zeus. 3. Os jogos olím picos, celebrados em honra a poder triunfar. O crente bem-sucedido também deve
Zeus, em Olímpia. 4. Os jogos pitianos, realizados na ser um mestre de sua fé e da prática da mesma.
planície Crisseana, perto de Delfos, a partir de 586
A.C. Estes ocorriam a cada quatro anos, no terceiro 5. O trecho de II Timóteo 2:4 frisa que nenhum
ano após cada Olimpíada. Os jogos olímpicos eram atleta é coroado, por haver obtido a vitória, a menos
celebrados a cada quatro anos. que tenha obedecido às regras do jogo. Nesse passo
bíblico, o apóstolo exortava a Timóteo para que fosse
É claro que os esportes gregos eram efetuados de disciplinado, diligente, capaz de dominar sua fé
mistura com a religiosidade pagã. E talvez seja em cristã, a fim de que pudesse viver a vida cristã com
parte por esse motivo que os hebreus criticavam poder e sucesso, cumprindo a sua missão.
qualquer coisa assim e não participavam de tal 6. A passagem de II Timóteo 4:8 menciona a «coroa
atividade. Esses jogos incluíam oferendas, principal da justiça» que esperava por Paulo, por haver
mente a Zeus, mas também a outras divindades. Além terminado com sucesso a sua carreira. Ele havia
disso, havia muitas formas de competição, de guardado a fé e também havia terminado a sua
corridas, de saltos, de lançamento de lança, de lutas, carreira. Na qualidade de atleta espiritual, inevitavel
de boxe, de corridas de bigas e também o pancrácio mente, ele haveria de receber a coroa da vitória. O
(um misto de boxe e luta livre), a corrida com trecho de I Pedro 5:4 repete esse pensamento geral.
armaduras, competições entre arautos e trombeteiros, 7. As passagens de Gálatas 2:2; 5:7; Filipenses 2:16
etc. A princípio, essas competições eram franqueadas e Hebreus 12:1,2 referem-se à corrida, para o que um
aos homens livres de pura ascendência helénica; mas, mínimo de vestuário era usado e durante a qual o
posteriormente, os romanos começaram a participar. atleta não transportava nenhum peso. A nuvem de
Os jogos eram observados até mesmo por escravos e testemunhas refere-se aos espectadores de qualquer
bárbaros, mas as mulheres não podiam participar dos corrida. Os pesos a serem evitados são os pecados e os
mesmos. Todos os competidores deveriam apresentar- obstáculos à prática apropriada da vida cristã.
se bem preparados, após terem treinado, pelo menos,
durante dez meses. Juízes oficiais eram nomeados 8. I Coríntios 15:32 é trecho que alude ao brutal
para declarar os vencedores. Os competidores que esporte romano que consistia em forçar homens
usassem de ludíbrio, ou que desobedecessem às regras (usualmente criminosos ou prisioneiros de guerra, que
dos jogos, eram desqualificados. Os prêmios incluíam, eram indesejáveis) a lutar com feras, nas arenas. Ê
originalmente, artigos de valor; mas, com a passagem possível que as «feras» aludidas no texto fossem os
do tempo, os vencedores recebiam apenas uma coroa adversários hum anos de Paulo, animalescos em sua
de louros, feita com folhas da sagrada oliveira brava, maneira de tratar seus semelhantes; porém, alguns
que teria sido cultivada, pela primeira vez, por intérpretes pensam que a alusão devè ser entendida
Neracles. Os atletas visitantes também recebiam literalmente. Todavia, a interpretação metafórica
muitas honras, incluindo prêmios em dinheiro, depois parece ser preferível. Os adversários de Paulo eram
de terem voltado para suas respectivas nações de quais feras, fortes e brutais, cujo intuito era matar e
origem. Herodes, o Grande, introduziu jogos assim na destruir.
Palestina, tendo-se então tomado comuns teatros e 9. Paulo afirma, em I Coríntios 4:9, que os
grandes anfiteatros de pedras. A arqueologia tem apóstolos eram como um theatron, um teatro, um
demonstrado amplamente essa situação na Palestina. espetáculo para os homens e para os anjos, em face
À medida que se foi processando a helenização do dos abusos que sofriam, o que, provavelmente, incluia
Oriente Próximo, os jogos e esportes dos gregos a sujeição a diversões brutais dos romanos. Talvez o
foram-se tornando mais e mais comuns nas terras circo romano esteja em foco. Os lutadores e
biblicas. As muitas alusões de Paulo aos esportes gladiadores eram forçados a ficar combatendo até à
demonstram isso. Ver a quarta seção, abaixo. O morte. Esses podiam ser cativos de guerra ou
mundo pagão do período neotestamentário dava criminosos. Algumas vezes, seres humanos eram
grande valor às diversões, tal como sucede em nossos forçados a lutar com feras. Os espectadores
próprios dias. contemplavam tudo entre gritos, e ficavam satisfeitos
571
JO GO S A TLÉTICO S - JÕ IA S
somente quando viam o sangue jorrar e seus 4. Um príncipe aaronita que veio aliar-se a Davi,
semelhantes perderem a vida. Paulo ilustra o em Hebrom (I Crô. 12:27). Viveu por volta de 1048
sacrifício e os perigos envolvidos em ser um seguidor A.C.
de Cristo, mediante cenas comuns em seus dias. 5. O sumo sacerdote dos tempos de Seraías, mas
Muitos viam os sofrimentos dos cristãos com uma que foi deposto por Zedequias. Sofonias foi nomeado
alegria perversa. em lugar dele (Jer. 29:25-29).
10. O trecho de I Timóteo 4:8 afirma que o exercício 6. Um sumo sacerdote de Israel, sucessor de
físico tem algum valor, embora bem menor do que o Eliasibe ou Joasibe, que viveu na época de Neemias,
exercício espiritual e moral, que visa ao desenvolvi isto é, em cerca de 434 A.C. Ver Nee. 12:10,11,22;
mento da alma, mediante a piedade, ou temor a 13:28.
Deus. Os esportes e os jogos, portanto, estão incluídos
nesses valores secundários. Paulo, pois, reconheceu 7. Um filho de Paseia, um sacerdote que ajudou a
sua relativa utilidade. Porém, ele não se esquece de reparar
quando
a Porta Velha, após o cativeiro babilónico,
Neemias restaurou as muralhas de Jerusalém.
acautelar-nos para reconhecermos os grandes e
duradouros valores da vida, as realidades do Espírito Ver Nee. 3:6. Viveu em torno de 435 A.C.
de Deus.
V. Usos Simbólicos JOIAQUIM
1. O jogo da vida: as vicissitudes, os ganhos, os No hebraico, «Yahweh estabelece». Foi sumo
riscos, as reversões desta vida terrena. sacerdote em Israel. Era filho daquele Jesus (vide),
2. Metáforas esportivas abundam nos sonhos e nas que, em companhia de Zorobabel, liderou o primeiro
visões daqueles que se ocupam em tais atividades, grupo de exilados que voltou da Babilônia para
usualmente retratando conflitos, atividades profissio Jerusalém. Seu filho se chamava Eliasibe (Nee.
nais, esperanças a serem atingidas, alvos a serem 12:10,12,16). Viveu em torno de 445 A.C.
obtidos, etc.
3. Os jogos de baralho simbolizam a estratégia que
alguém pode empregar em qualquer empreendimento JOIARIBE
humano. No hebraico, «Yahweh contentará». Esse foi o nome
4. Jogos e esportes simbolizam a vitalidade, o de três personagens que figuram nas páginas do
esforço dirigido em busca de alguma vitória ou Antigo Testamento, a saber:
realização. (FAL MU PM UN Z) 1. Um silonita (descendente de Selá, filho de Judá).
Ele é alistado na genealogia de Masséias (Nee. 11:5).
JOIADA Viveu em torno de 445 A.C.
2. Um homem que retornou com Esdras do,
No hebraico, «conhecido por Deus» ou «o Senhor cativeiro babilónico (Esd. 8:16). Ele atuou como um
reconheceu». Esse é o nome de várias personagens da dos dois mestres que Esdras usou para obter servos do
Bíblia, a saber: templo, que se ocupariam em trabalhos sagrados.
1. O pai de um dos notáveis guerreiros de Davi, de 3. Um fundador de um dos turnos sacerdotais (Nee.
nome Benaia (II Sam. 8:18; 20:23; 23:20,22; I Reis 12:6). Terminado o cativeiro babilónico, seus
1:8,26, etc). Ele viveu em algum tempo antes de 1046 descendentes se mostraram ativos, sob a direção de
A.C. Neemias. Ver Nee. 11:10 e 12:19. Viveu em torno de
2. Um dos filhos de Benaia, um dos principais 536 A.C.
conselheiros de Davi, conforme somos informados em
I Crô. 27:34. É provável que ele tivesse sido a mesma
pessoa que aquela acima (número um). JÔAIS E PEDRAS PRECIOSAS
3. Um sumo sacerdote dos tempos de Acazias e Esboço:
Atalia. Seu nome é melhor relembrado por sua I. Antiga História das Jóias
participação na reintegração do jovem Joás ao trono. II. Uso de Jóias na Bíblia
Joás havia sido salvo do massacre com que Atalia, sua III. Jóias Egípcias, Assírias, Babilônias, Fenícias,
avó, quisera exterminar a linhagem real de Davi. Dali Gregas e Romanas
por diante, Joiada foi um fiel conselheiro de Joás. Ver
II Reis 11 e 12 e II Crô. 23 e 24. A determinação de IV. Pedras Preciosas Especificamente Usadas
Joiada foi demonstrada pelo fato de que durante seis V. Uso Metafórico
anos, ele e sua esposa, Jeosabeate, irmã do rei I. Antiga História das Jóias
Acazias, ocultaram o sobrinho dela, Joás, nos recintos Quase até onde a arqueologia nos leva de volta ao
do templo. Durante todo esse tempo, Atalia, filha de passado, há evidências do uso de jóias e pedras
Acabe e mãe do rei Acazias, reinou como usurpadora. preciosas como adorno, e com propósitos de culto
Finalmente, porém, Atalia foi executada, fora do público ou privado. Alguns metais são considerados
recinto do templo. preciosos, como o ouro e a prata. E também temos as
Enquanto Joás era menor de idade, Joiada era pedras preciosas e semipreciosas. Porém, antes do uso
quem, realmente, governava o país. Ele destruiu os desses materiais, eram usados vários itens de origem
santuários dedicados a Baal e organizou os levitas, a orgânica, como conchas, âmbar, corais, e até mesmo
a fim de que pudessem dedicar-se devidamente à dentes, garras e ossos de animais. Materiais mais
adoração ao Senhor. Arranjou duas esposas, a fim de primitivos, incluindo pedras, polidas ou não, eram
garantir que haveria sucessão real (II Crô. 24:3), e usados na Idade da Pedra. Agulhas e fivelas serviam a
reparou o templo de Jerusalém, por insistência de propósitos úteis como se fossem colchetes para
Joás. Joiada faleceu com cento e trinta anos de idade, roupas, mas outros itens, como contas, anéis,
e foi sepultado no túmulo real, em reconhecimento pendentes e outros objetos decorativos, eram usados
por seus relevantes serviços prestados à nação, por sua como enfeites pessoais, ou, então, como encantamen
coragem e determinação. O trecho de II Crônicas tos que supostamente protegiam os usuários de
24:17 ss mostra que assim que Joiada faleceu, a poderes misteriosos que, porventura, estivessem
nobreza do reino não demorou a rebelar-se contra vagando ao redor. Os motivos que levaram os homens
suas estritas tradições religiosas. a fabricar jóias indicam o desejo de obter adorno
572
mm
Diagrama
+1000 m
FENDA DO VALE DO
Estágios da Inquirição
1. Materialismo
A alma é imersa no bem-estar flsico;
dominada pelo egoismo; afligida pelo
agnosticismo e ateísmo.
2. Superstição
As evidências de poderes super-humanos
s&o suficientes para convencer a alguns
de que a abordagem materialista nâo
e explicar todos os fenômenos. Mas
d >pouco á reconhecido acerca de tais
forças.
3. Fundamentalismo Rígido, Farisaico
Livros Sagrados tomam-se objetos de
adoraç&o. Credos rígidos dominam o
pensamento. Porções dos Livros Sagra
dos s&o distorcidas ou omitidas na tenta
tiva de criar um credo sem conflitos ou
problemas.
4. A M ente Inquiridora, Iluminada
Os homens começam a pensar por si; as
convicções espirituais sao mantidas, mas
há menos dependência ao mero dogma. O
intelecto é posto por detrás da inquirição
espiritual.
6. Perseguição e Perseverança
A alma do indivíduo é afligida por pro
fundos anelos espirituais. Há tensão
interior, ou mesmo angústia espiritual.
O amor de Deus passa a ser enfatizado
acima de tudo.
6. A Vereda Mística
A alma esforça-se por desvencilhar-se
dos muitos dogmas e sistemas parciais.
A alma procura a Presença de Deus. A
iluminaç&o é procurada com todo o
coraçio.
7. Estágio Final
Transformação à imagem do Logos na
Visio Beatífica.
•••
JO SU É
foi escrito ou algum tempo antes do cativeiro 13:2-4). Depois de 1200 A.C., os filisteus entraram
babilónico (586 A.C.), ou pouco depois do mesmo. armados na planície costeira da Palestina, conforme
Estão envolvidos nisso problemas como autoria e de os registros egípcios de Ramsés III nos informam.
fontes, conforme se vê na teoria /. E. D. P .(S .) (vide), Esses dados históricos mostram que há material
sobre o que discutimos na seção VI. Problemas antiqüissimo no livro de Josué, embora não possam
Especiais, ponto primeiro, onde se procura examinar mostrar-nos quando eles foram incorporados no livro,
a fonte informativa D , que é considerada por alguns e nem quando o livro foi publicado pelo próprio Josué
como a principal fonte informativa do livro de Josué. ou outro autor.
Alguns pensam que os capítulos 1 e 2 de Josué 4. Um Autor Sacerdotal?
estribaram-se sobre a fonte E; que a maior parte dos O sacerdote Finéias pode ter sido o autor de certas
capítulos 1—12 está alicerçada sobre D \ e, então, partes do livro de Josué. Ele era filho e sucessor de
nesses doze capítulos, em alguns trechos, transpare Eleazar, o sumo sacerdote, e foi uma das colunas de
cem informes derivados da fonte S . A fonte Israel, naquele tempo (Núm. 25:7-13). Ele, e não
informativa/, por sua vez, seria vista em Jos. 5:13,14; Josué, foi a figura mais proeminente no soluciona-
9:6 e 17:14-18. Adições baseadas em D , que não mento das disputas em torno do altar que foi erigido
representam grande volume, são vistas nos caps. 1; pelas duas tribos e meia que preferiram residir na
10:17-43; 11:10-12:24; 21:43-22:6 e cap. 23. Esse parte oriental do vale do Jordão (Jos. 22:10-34). Ou,
tipo de análise, porém, é rejeitado por outros críticos, então, algum sacerdote, associado a Finéias, poderia
para nada dizermos sobre os eruditos conservadores. ter feito contribuições para o livro. Isso tem sidc
Também têm sido sugeridas as mais arbitrárias suposto por alguns, devido ao interesse todo especial
divisões para o livro. A teoria mais simples a que se que se dá, no livro de Josué, às cidades de refúgio
chegou é que é inútil tentar deslindar tão grande (vide; ver Jos. 20:7; 21:13), bem como às questões
complexidade de fontes informativas, embora a fonte atinentes às quarenta e oito cidades dos levitas (Jos.
informativa D seja a mais pesadamente envolvida no 21:11-13). Há uma longa lista das fronteiras e cidades
livro. Por essa razão é que o livro de Josué tem sido de Judá (Jos. 15:1-63), o que pode indicar que era ali o
chamado de «inteiramente deuteronômico» em sua território dos sacerdotes envolvidos. Outras fronteiras
natureza. e territórios são abordados apenas de passagem. Ver
2. Um Autor Antigo Desconhecido? os caps. 16 e 17. Tais especulações, entretanto, são
Mesmo que suponhamos que um autor desconheci curiosas e podem refletir a verdade da questão; mas é
do foi o autor do livro de Josué, é perfeitamente difícil julgar tais coisas.
provável que ele tenha incorporado material antiqüís- 5. Dependência Literária
simo, que remontava à época do próprio Josué, ou de Seja como for, o autor sagrado parece ter
alguém intimamente ligado a ele. Josué ordenou que dependido dos livros de Números e Deuteronômio
se fizesse uma descrição do território, por escrito (Jos. quanto a algum de seu material, que Josué pode ter
18:9). Ele poderia ter escrito pessoalmente as palavras utilizado, se é que, realmente, M oisés escreveu o
do pacto renovado, com vários estatutos e ordenanças Pentateuco. Porém, se temos nisso, igualmente, um
para o povo de Israel, no livro da lei de Deus, em produto das fontes informativas/. E. D. P .(S.) (vide),
Siquém (Jos. 24:25,26). Talvez, ele também tenha então, teremos voltado a uma data posterior para o
escrito pessoalmente o juramento acerca de Jerico e a hexateuco (vide) inteiro. Seja como for, visto que o
maldição que sobreviria a qualquer reconstrutor livro de Josué, embora trazendo o seu nome, não
futuro daquela cidade. Comparar Jos. 6:26 com I Reis afirma quem teria sido o seu autor (pelo que é uma
16:34. Além disso, devemos observar que o trecho de I obra anônima), isso significa que não podemos dizer
Reis 16:34 diz que a maldição foi proferida pelo que é teste de ortodoxia alguém afirmar ou negar a
Senhor, «por intermédio de Josué, filho de Num». E autoria do livro a Josué, filho de Num. Outrossim,
isso pode indicar que uma forma escrita da maldição nem sempre a palavra ortodoxia é sinônimo de
foi redigida pelo próprio Josué. Naturalmente, Josué veracidade. Tradições, e não fatos, compõem uma
não pode ter sido o autor final do livro. Pois Jos. boa porção daquilo que, em teologia, se tem chamado
24:29,30 registra a sua morte, o que evidencia a de ortodoxia. A isso sinto-me na obrigação de
atividade de algum editor ou autor posterior. O adicionar que as disputas sobre questões como essas
Talmude afirma que foi Eleazar, o sumo sacerdote, pouco ou nada têm a ver com a espiritualidade. Pois
quem adicionou esse apêndice, e que o seu filho, essas questões não são cruciais e em nada afetam a fé
Finéias, acrescentou o último versículo (Jos. 24:33), a de quem quer que seja. Ao mesmo tempo, se
fim de dar o toque final ao livro (Baba Bathra quisermos entender as situações históricas dos livros
14b-15).3 que formam a Bíblia, é bom que as examinemos, se
3. As Narrativas de Testemunhas Oculares. pudermos evitar atitudes hostis para com aqueles que
O material mais antigo deve ter incorporado algum de nós discordem.
relato de testem unhas oculares diretas. O trecho de IV. Destino e Propósito
Jos. 5:1 diz que o Senhor bloqueou o rio Jordão «até Duas características distinguiam o antigo povo de
que passamos». O pronome «nós» é empregado em Israel: a preocupação com a história; e a preocupação
Jos. 5:6, embora isso não apareça em nossa versão com material religioso escrito, que agisse como guia
portuguesa, que prefere usar a terceira pessoa do nas crenças e na conduta. As palavras de Moisés (o
plural. Há itens que indicam condições anteriores a Pentateuco) foram postas sob forma escrita desde o
Davi, como o fato de que os cananeus ainda estavam começo, como testemunho escrito sobre o relaciona
na posse de Gezer (Jos. 16:10; cf. I Reis 9:16). Saul mento entre Yahweh e o povo de Israel. A esses
massacrou a muitos gibeonitas, e queria destruir a escritos mosaicos foram adicionados os registros das
todos eles (II Sam. 21:1-9). Nos dias de Josué, Sidom, vitórias de Israel, na conquista da terra de Canaã, o
e não Tiro, era a principal cidade fenícia, uma que envolve significados tanto históricos quanto
situação que só foi revertida bem mais tarde. Ver Jos. teológicos. O livro de Josué foi escrito tendo em vista a
11:8; 13:6 e 19:28. Os cananeus dominavam a edificação moral e espiritual do povo de Israel, como
Palestina nos dias de Josué. Mais tarde, os filisteus é parte de sua herança histórica e religiosa. As
que tiveram essa distinção. O território que Josué Escrituras eram lidas diante do povo, e a substância
queria tomar era essencialmente cananeu (Jos. delas era explicada por sacerdotes eruditos. Mui
601
JO SU É
provavelmente, bem poucas pessoas sabiam ler; e os vinham em seguida. O tempo atribuído por Josefo a
poucos que podiam fazê-lo, não tinham obras esses treze livros era desde a morte de Moisés até o
manuscritas. Os manuscritos existentes tomaram-se reinado de Artaxerxes. Ver Contra  pion 1:7,8.
um dos principais tesouros da nação, sendo Apesar de muitos estudiosos considerarem a suposta
guardados ciosamente pelos sacerdotes. O trecho de unidade de seis livros (o hexateuco) como uma teoria
Nee. 8:9 reflete esse costume de fazer leituras bíblicas inventada (porquanto nem os judeus e nem os
em público, o que, segundo supomos, é um costume samaritanos reuniram assim esses seis livros), torna-se
antiqüíssimo em Israel. Historicamente falando, claro que Josué demonstra certa dependência ao livro
Josué é livro cujo intuito é dar continuação à história de Deuteronômio. Ver a seção VI. Problem as
sagrada da nação de Israel. Essa história é sagrada Especiais, primeiro ponto. O livro de Josué fornece
porque, segundo a crença de Israel, o processo uma apropriada conclusão para o Pentateuco. As
histórico entre eles era controlado por forças divinas. condições adversas ali relatadas, quando Israel estava
E, naturalmente, concordamos com isso. Portanto, a cativo no Egito, são inteiramente revertidas na Terra
história, para Israel, era um aspecto importante da Prometida, restaurando assim as esperanças dos
teologia. A mensagem do livro de Deuteronômio, de tempos patriarcais. Por isso mesmo, a canonicidade
que Israel seria abençoada enquanto estivesse do livro de Josué era comumente aceita em Israel,
obedecendo a Deus, mas amaldiçoada quando fosse embora os samaritanos, e, posteriormente, os
desobediente ao Senhor, é o conceito mais central da saduceus, reconhecessem como autoritários somente
teologia histórica do livro de Josué. os cinco livros de Moisés, o Pentateuco. Josué, porém,
O registro sagrado tinha por finalidade instruir e obteve posição sólida no cânon reconhecido pelos
inspirar o povo de Israel em sua inquirição espiritual e fariseus. E essa era a posição mais popular e aceita
em sua expressão como nação escolhida pelo Senhor entre o povo de Israel. E a primitiva Igreja cristã,
Deus, a fim de que pudesse cumprir seus propósitos concordando com a maneira farisaica de pensar,
especiais e seu destino ímpar no mundo. Nos livros acerca dessas questões canônicas, aceitava o cânon do
proféticos posteriores do Antigo Testamento, encon Antigo Testamento inteiro (o cânon Palestino,
tramos a exortação, dirigida a Israel, para que como era chamado). Na Igreja antiga também foram
voltasse a aderir ao pacto mosaico (ver Nee. 9:30; Zac. aceitos livros que faziam parte do cânon chamado
7:8-12). Portanto, o respeito pelas raízes era tido Alexandrino (vide), que incluía vários dos livros
como a chave para a correta conduta. Deus é capaz de apócrifos. Ver o artigo sobre os Livros Apócrifos,
cumprir todas as suas promessas (ver Jos. 21:45), mas quanto a uma discussão sobre problemas canônicos
ele precisa encontrar uma reação favorável por parte relativos a esses livros. Ver também o artigo separado
de seu povo, que assim preencha as condições intitulado H exateuco, quanto a pormenores atinentes
divinamente impostas. Deus envolve-se diretamente a essa teoria, onde também alistamos as objeções
na história da humanidade, e isso até os menores levantadas contra a mesma.
detalhes (ver sobre o Teísm o, em contraste com o 2. Texto. O texto hebraico do livro de Josué é
Deísm o). Isso é abundantemente ilustrado no Antigo essencialmente puro. Alguns poucos e óbvios erros
Testamento. Consideremos, só para exemplificar, o escribais penetraram no texto, — que foram
incidente em que Acà esteve envolvido. Ele cometeu perpetuados pelo texto massorético. Ver o artigo
um erro, e a comunidade inteira sofreu por causa sobre a M asorah. Entre os manuscritos achados em
desse erro. Ver Jos. 7:1,18-20,24 e 11:1-15. A história Qumran (ver sobre K hirbet Q um ran), chamados
era muito importante, nos escritos sagrados dos popularmente M anuscritos do M ar M orto, havia
hebreus. Mas essa história nunca foi escrita somente fragmentos do livro de Josué. A Septuaginta mostra
como finalidades históricas. As lições morais e ser uma boa tradução do texto hebraico do livro de
religiosas estão sempre à base de todos os escritos Josué, o que também tem sido demonstrado no que
históricos dos hebreus. concerne ao resto do Antigo Testamento. A lgum as
«O livro de Josué demonstra a fidelidade de Deus às vezes, porém, a Septuaginta exibe um texto superior
suas promessas, que guiou Israel até à terra de Canaã, ao do texto massorético, que antecede aos manuscri
conforme também os tirara do Egito (Gên. 15:18 e tos massoréticos típicos. Tal fenômeno, porém,
Jos. 1:2-6). A narrativa da conquista é altamente precisa ser averiguado individualmente, visto que
seletiva e abreviada. Aqueles acontecimentos que são nenhuma declaração geral envolve todos os casos
enumerados foram considerados suficientes para possíveis. Ver o artigo separado sobre M ar M orto,
servir aos propósitos que os autores sagrados tinham M anuscritos.
em mente» (UN). 3. Traduções. No parágrafo anterior, vimos a
V. Canonicldade; Texto; Traduções importância da tradução da Septuaginta, no caso do
1. Canonicldade. O livro de Josué era classificadolivro de Josué. A tradução da Septuaginta não difere
na coletânea de livros sagrados dos hebreus como do texto hebraico em nenhum sentido apreciável. No
parte dos Profetas Anteriores. Esses informes cobrem entanto, é fraca quanto à tradução dos nomes
o período da história que vai da conquista da Terra geográficos, pelo que os nomes hebraicos (translitera-
Prometida ao exílio babilónico. Isso é o que dos, e não traduzidos) quase sempre são preferidos.
encontramos nos livros de Josué, Juízes, I e II Samuel Há versões mais longas e mais breves da Septuaginta,
e I e II Reis. Naturalmente, a porção mais do livro de Josué. Os escribas tendem muito mais por
fundamental desse cânon são os cinco livros de alongar os livros do que por abreviá-los, visto que os
Moisés, o Pentateuco (vide). Todavia, a história comentários escribais aumentam o texto. As primei
teológica de Israel começa no livro de Deuteronômio, ras versões latinas baseavam-se quase inteiramente na
mas como parte integrante do Pentateuco. Josué dá Septuaginta, e não no texto hebraico. A versão de
continuidade a esse relato, e, pelo menos em parte, Jerônimo, porém, foi feita diretamente do hebraico.
depende do mesmo. As traduções modernas dependem essencialmente do
texto massorético, embora os textos críticos tenham a
Alguns eruditos supõem que a fonte informativa D vantagem de contar com a evidência representada
seja a mais saliente no livro de Josué e no livro de pelas versões, mormente a Septuaginta.
Deuteronômio, razão pela qual haveria tão íntima
vinculação entre eles. Josefo falava sobre os Cinco VI. Problemas Especiais
Livros, distinguindo-os dos treze livros proféticos que 1. Fontes Informativas. Deve-se pensar na teoria J.
JO SU É
E. D. P .(S.) (vide), e, especialmente, na relação entre 2. O Tratamento Dado aos Cananens
D (vide) e Josué. Sob as seções I e III. 4. e 5, damos as Tal como todas as narrativas sobre guerras, o relato
informações essenciais sobre essas questões das fontes de Josué é bastante brutal e selvagem. Os antigos
propostas para o livro de Josué. Temos visto que, intérpretes cristãos tiveram dificuldades em explicar a
excetuando a fonte informativa D , as teorias que questão, e não somente os estudiosos modernos.
cercam essa questão são bastante incertas e mesmo Podemos atribuir a Deus toda aquela matança, tantas
contraditórias. Que o livro de Josué é deuteronôm ico coisas feitas das maneiras mais violentas? Deus é,
é fato que se pode demonstrar até com certa realmente, o Deus dos exércitos? Não há uma
facilidade. diferença muito grande entre o Deus retratado no
Josué em Relação a Números e a Deuteronômio: livro de Josué e o Deus retratado no Novo Testamento,
1. Comissão de Josué. Comparar Jos. 1:1-9 com que se manifestou em Jesus Cristo?
Deu. 31. Em defesa da visão de Deus no livro de Josué, temos
2. Extensão das promessas. Comparar Jos. 1:3,4 argumentos que dizem que a ira divina contra o
com Deu. 11:24. pecado faz parte necessária da teologia. Às vezes, os
3. Informações sobre as tribos orientais. Comparar homens chegam a extremos de maldade que merecem
Jos. 1:12-15 com Núm. 32 e Deu. 3:18 ss. um tratamento muito severo. Além disso, há
4. Ebal. Comparar Jos. 8:30-35 com Deu. 27. intérpretes que assumem a posição extremada do
5. Conquistas na Transjordânia. Comparar Jos. voluntarism o (vide), ensinando que aquilo que Deus
12:1-6 com Núm. 21:21-35 e Deu. 2 e 3; 4:45-49. quer é correto, sem importar a nossa atitude para com
6. Divisão da Terra Prometida. Comparar Jos. a questão. Mas essa posição se parece muito com a
13:6,7 com Núm. 24:7 e Deu. 1:38. antiga teoria grega, que dizia: «O poder é direto».
Mas essa teoria deveria ser rejeitada com base em
7. Fixação na Transjordânia. Comparar Jos. uma revelação mais iluminada sobre a natureza de
13:8-14 com Núm. 32:33-42 e Deu. 2:32 ss. Deus. Sabemos que os cananeus eram excessivamente
8. Josué e Eleazar. Comparar Jos. 14:1 com Núm. malignos (ver Lev. 18:21-24), e também sabemos que
34:7 e Deu. 1:28-36. existe tal coisa como contaminação pelo mau exemplo
9. A herança de Calebe. Comparar Jos. 14:6 ss com (ver Deu. 7:1-5). Sabemos que a religião dos cananeus
Núm. 14:24 e Deu. 1:28-36. era tremendamente imoral (o que tem sido demons
10. A fronteira sul. Comparar Jos. 15:1-4 com Núm. trado pelas escavações arqueológicas em Ras Sham-
34:3-5. ra). O principal deus dos cananeus, El, era uma
11. As filhas de Zelofeade. Comparar Jos. 17:3—6 espécie de Zeus brutal e imoral. Seu filho, Baal (vide),
com Núm. 27:1-11. também não servia de bom exemplo para homens
12. Comissão sobre o alocamento de terras. piedosos. Ao admitir tudo isso, indagamos até que
Comparar Jos. 18:4-10 com Núm. 34:17 ss. ponto podemos fazer uma comparação entre Yahweh,
13. Cidades de refúgio. Comparar Jos. 22 com Núm. por um lado, e El e Baal, por outro lado. Outrossim,
35:9 s s e Deu. 19:1-13. não podemos evitar de ver que as representações de
14. As cidades dos levitas. Comparar Jos. 21 com Yahweh, no Antigo Testamento, em certos trechos
Núm. 35:2-8. não se diferenciam grandemente das representações
de El na literatura antiga não bíblica. Além disso,
Alguns intérpretes têm chegado ao extremo de tanto E l quanto Yahweh são nomes compartilhados
propor uma história deuteronôm ica, onde Josué pelas culturas dos assírios, dos babilônios e dos
aparece como o segundo livro dessa história. Mas hebreus. Não admira, pois, que também houvesse
outros estudiosos repelem terminantemente essa compartilhamento de idéias religiosas, e não mera
teoria que diz que houve uma fonte informativa mente de nomes divinos. De fato, sabemos que havia
comum para os livros de Deuteronômio e Josué, essa herança comum de idéias. Até hoje em dia, os
supondo somente que, em certo número de casos, homens se deleitam em culpar Deus em tudo quanto
houve material paralelo de diferentes autores. Os eles pensam e fazem; e até mesmo homens bons são
desacordos entre os críticos têm fortalecido a causa culpados dessa atribuição. Pessoalmente, tenho
dos conservadores, que relutam em considerar cuidado com o uso de nomes divinos, relutando em
que aquela teoria é necessária, visto que, seu intuito juntar a palavra «Senhor» a tudo quanto penso ou
consiste em tentar demonstrar uma data posterior faço. Em contraste com isso, há pessoas que vivem
para o Pentateuco e para o livro de Josué, a fim de que dizendo: «O Senhor me disse isto». «O Senhor
nem Moisés e nem Josué possam ser autores dos livros levou-me a fazer isto ou aquilo». O «Senhor», pois,
que lhes são atribuídos. Além disso, alguns eruditos quase se tornou um bichinho de estimação da família,
preferem manter o Pentateuco como uma unidade sendo envolvido pelas pessoas em todas as coisas tolas
separada para estudos, sem se deixarem envolver nas que os homens pensam ou fazem, como a cor do
controvertidas teorias que circundam a idéia do automóvel que alguém comprou, ou o lugar a ser
Hexateuco (vide).
visitado na próxima viagem de verão. E assim, os
Parece-me que seria mister um erudito do Antigo homens envolvem o nome de Deus em coisas que o
Testamento e do idioma hebraico muito profundo Senhor não está interessado nem um pouco, por
para que fizesse um juízo inteligente sobre essas serem extremamente triviais.
questões. Com base no que tenho lido, eu diria o Alguns problemas no A .T ., — não são nada
seguinte: A teoria do J. E. D. P .(S .) (vide), triviais. Em primeiro lugar, gostaria de frisar que a
considerada como um todo, não parece explicar as própria revelação bíblica é algo progressivo, não
fontes informativas do livro de Josué. Mas a fonte sendo de admirar que as idéias dos homens acerca
informativa D parece figurar fortemente nesse livro. de deus se tenham aprimorado, à medida que eles se
Alguns críticos dizem que o livro de Josué tem um vão espiritualizando e se vão tornando capazes de ter
estilo deuteronômico, mas outros negam tal estilo. uma concepção mais nítida da deidade. £ inútil
Pelo menos a teologia deuteronômica se evidencia no imaginar que Josué se encontrava no mesmo nível de
livro de Josué: se alguém obedecer à lei de Deus, compreensão que Jesus, ou que os vários autores do
prosperará, o que envolve tanto indivíduos quanto Novo Testamento, quando falavam a respeito de
nações. Deus. Sabemos que, por muitas vezes, não menos que
603
JO SU É
os gregos e muitos outros povos, Israel agiu como do tipo de material humano com o qual Deus teve de
qualquer tribo selvagem e saqueadora. Como tratar, diante do primitivismo e da violência dos
poderíamos negar esse fato? A história fala por si tempos em que aqueles acontecimentos ocorreram.
mesma! Em outras palavras, faz-se uso do material que se
dispõe; mas isso não significa que aquilo que é feito
Consideremos o Caso de Davi. A época de Davi reflete a natureza e os ideais divinos.
deve ter sido mais iluminada que os dias de Josué. No
entanto, quando Davi fugia de Saul e se refugiou em O T estem unho do Livro deJonas. O livro de Jonas é
Ziclague, que lhe fora dada como residência por o João 3:16 do Antigo Testamento. Jonas foi enviado
Aquis, rei de Gate, ele iniciou uma série de ataques de para salvação de um povo pagão, e o verso final do seu
terror e de matanças, nas áreas circunvizinhas. Por livro mostra-nos que Deus estava interessado até pela
que ele agiu assim? O trecho de I Sam. 27:10 ss nos vida dos animais, para nada dizermos sobre os seres
revela o motivo. Ele fazia isso a fim de impressionar a humanos. Acresça-se a isso o próprio trecho de João
Aquis, dando a impressão de que estava atacando à 3:16, no Novo Testamento. Deus enviou o seu Filho
sua própria gente, quando, na verdade, atacava amado para salvar os pecadores, e não para des
inimigos de Israel. I Sam. 27:9 nos diz que ele a truí-los. A destruição física faz parte do programa de
ninguém deixava vivo, nem homem, nem mulher e purificação de Deus, mas as matanças violentas e
nem animal. Aquis aceitava a mentira, supondo assim excessivas, que acontecem por ocasião das guerras,
que Davi se alienara totalmente de Israel, pelo que dificilmente se coadunam com a natureza de Deus.
seria seu servo (de Aquis) para sempre. 3. O Longo Dia de Josué (Jos. 10:13)
A s palavras de Jesus por certo devem ter um peso A palavra de ordem de Josué realmente fez o sol
decisivo em qualquer discussão desse tipo. Quando os parar? Ver o artigo separado sobre esse assunto,
seus discípulos quiseram invocar fogo do céu para intitulado B ete-H orom , Batalha de (O Dia Longo de
consumir os samaritanos, que tinham negado hospita Josué).
lidade a Jesus e seu grupo, imitando assim uma figura 4. O Represamento das Aguas do Jordão (Jos. 4:15
nada menor que Elias, Jesus os repreendeu e ss).
declarou: «Vós não sabeis de que espírito sois. Pois o Temos aí uma divisão, em miniatura, das águas do
Filho do homem não veio para destruir as almas dos mar Vermelho, uma reiteração daquele prodígio.
homens, mas para salvá-las» (Luc. 9:51-56). A Houve, realmente, uma intervenção divina, que fez as
ignorância e a falta de maturidade espiritual águas do rio se avolumarem, ou um deslizamento de
continuam afirmando que não há qualquer diferença terras, convenientemente, ocorreu no momento
entre as atitudes refletidas no Antigo Testamento e crucial?
aquelas refletidas no Novo Testamento, no tocante à VII. Problemas Arqueológicos
pessoa de Deus. Mas, o que poderíamos ganhar com a
hipótese de que as idéias dos homens não melhoram, As evidências arqueológicas que nos podem ajudar
conforme os homens são iluminados e sua espirituali sobre o livro de Josué permanecem incertas. Quanto a
dade se desenvolve? Poderíamos asseverar que não há Jericó, sabemos que no local foram erigidos diversas
qualquer diferença entre o Antigo e o Novo cidades com esse nome. Alguns arqueólogos, como
Testamento sobre uma questão tão iipportante Kathleen M. Kenyon, acreditam possuírem provas da
quanto é a natureza de Deus? Deus não mudou, mas assertiva de que ali não havia qualquer habitação na
nossa compreensão sobre a natureza de Deus idade do Bronze Média (1550 a 1400 A.C.). As
melhorou. evidências acerca da idade do Bronze Posterior foram
apagadas. Túmulos e outros itens testificam acerca da
A ira de Deus é uma realidade, mas é um dedo de ocupação do lugar na idade do Bronze Posterior II,
sua amorosa mão. Ele julga os homens a fim de pertencente ao século XIV A.C. Essa evidência pode
melhorá-los. O juízo divino é remediai, e não apenas favorecer uma data mais remota para a composição
retributivo. Ver o artigo sobre a Ira de D eus, e do livro de Josué, embora as questões atinentes a isso
também aquele chamado ira. Ver I Ped. 4:6 quanto à sejam muito incertas.
natureza remediai do julgamento divino. Notemos
que, nessa passagem petrina, os perdidos estão em A i até hoje não foi localidade identificada com
foco. A cruz do Calvário foi um julgamento, mas certeza. As ruínas de et-Tell a três quilômetros e
também serve de medida do amor que Deus tem pelos pouco a leste-suleste de Betei, têm sido consideradas
homens perdidos. como um local possível; mas as escavações ali feitas
Conclusão. Temos que admitir o propósito de não têm mostrado que o local tenha sido ocupado
Deus, atuante através da entrada dos patriarcas durante as idades do Bronze Médio e Posterior,
hebreus na Palestina, segundo o registro de Gênesis. quando devemos datar o livro de Josué. Restos de
Também devemos admitir que o propósito de Deus se fortificações têm sido encontrados, pertencentes a um
manifestou no cativeiro egípcio. Outrossim, seria período ainda mais antigo (cerca de 2900—2500
ridículo dizer que Deus não estava com Moisés, e nem A.C.), da idade do Bronze Anterior, ou de um período
realizou uma obra grandiosa, tirando Israel do Egito. mais recente (cerca de 1200 a 1000 A.C.), de tal modo
Além disso, dentro do plano de Deus era necessário que a Ai dos dias de Josué ainda não foi encontrada
que Israel, uma vez mais, ocupasse a Palestina, a fim pelos arqueólogos. Ver Jos. 8:1-29. Outras escava
de preparar o caminho para o Messias e para os ções, feitas nas vizinhanças de Khirbet Haiyan e em
futuros desenvolvimentos espirituais, em escala Khirbet Khudriya não têm produzido quaisquer
mundial. Porém, quase não podemos desculpar a provas de ocupação humana que corresponda à época
maneira como a conquista da Terra Prometida foi de Josué. Talvez A i fosse apenas um posto militar
efetuada, com excessos de brutalidade. Em tempos avançado, e não uma cidade, o que poderia explicar a
menos selvagens, Deus poderia ter feito a mesma ausência de evidências arqueológicas correspondentes
coisa de maneira diferente, sem tanto morticínio. aos dias de Josué. Outros supõem que a destruição de
Mas, se tribos e nações selvagens começarem a lutar, Betei é que está em pauta, nos capítulos sétimo e
então teremos um registro como aquele do livro de oitavo de Josué, e não de Ai. E as dúvidas que cercam
Josué. Isso não significa, todavia, que tais atos a verdadeira data do livro de Josué, apenas adicionam
concordavam com a natureza de Deus, mas somente às incertezas que circundam toda a questão. Ver os
que essas coisas, naturalmente, tiveram lugar em face artigos separados sobre Jericó e A i.
604
JO SU É - JO S U É (PESSOAS)
V m . Teologia Distintiva do liv ro o céu, os mundos da luz, visto que esses mundos
1. O problema da matança dos cananeus, pelos celestes são equivalentes à Terra Prometida.
israelitas, foi abordado na seção VI. 2. Isso nos 6. Os vários povos inimigos, em volta da Terra
envolve na visão de Deus que o livro de Josué nos dá. Prometida, como os cananeus, os fariseus, os heveus,
2. O livro de Josué certamente apresenta-nos uma etc., aludem aos nossos adversários espirituais, aos
grande fé no destino determinado por Deus. Mesmo quais precisamos vencer (Efé. 6:12).
enfrentando grandes forças contrárias, Israel entrou 7. A s cidades de refúgio (Jos. 20). Há segurança
em uma terra que, para aquela geração, era-lhes espiritual em Cristo, abrigando-nos do pecado e seus
desconhecida, e venceu. Eles creram que era Deus efeitos.
quem estava ordenando suas vidas e suas obras. E 8. A divisão do território (Jos. 13:1—21:45). Em
assim cumpriram, com sucesso, os propósitos que lhes nossa herança espiritual há variedade e abundância.
foram dados. Vale a pena seguir a santidade. Há grande
3. O tema do teísmo (vide) é bem destacado. Deus é abundância espiritual para todos, em nossa herança
quem controla a história humana, e nela intervém. eterna.
Ele não é uma figura distante, divorciada de sua X. Esboço do Conteúdo
criação, conforme diz o deísmo (vide). A. A Conquista de (Canaã (caps. 1—12)
4. A fidelidade de Deus ao seu pacto é um dos 1. Preparação (1:1—5:12)
temas dominantes. Ver o artigo sobre Pactos.
Comparar com Deu. 7:7 e 9:5,6. a. Josué é comissionado (1:1-9)
5. O monoteísmo (vide) é ilustrado no livro, b. Josué dá orientações (1:10-18)
especialmente através da determinação de extirpar os c. Os espias são enviados (2:1-24)
cananeus e a religião deles. Comparar com Gên. d. A travessia do Jordão (3:1—5:1)
15:16; Êxo. 20:2-6; Deu. 7. e. O povo é circuncidado em Gilgal (5:2-12)
6. A necessidade de um discipulado autêntico e 2. Várias Cam panhas M ilitares (5:13—11:15)
resoluto é o tema geral do livro de Josué; pois sem a. Jericó e Ai são capturadas (5:13—8:29)
isso, a conquista da Terra Prometida teria sido b. Um altar é erigido no monte Ebal (8:30-35)
impossível. c. O logro dos gibeonitas (9:1-27)
7. Vários tipos simbólicos podem ser encontrados d. Conquista do sul de Canaã (10:1-43)
no livro de Josué. Ver a seção IX, quanto a isso.
e. A campanha no norte de Canaã (11:1-15)
IX. Tipologia
f. Sumário das conquistas (11:16—12:24)
1. Tipos Cristológicos
B. Fixação de Israel na Terra de Canaã (caps. 13—24)
«Estas cousas lhes sobrevieram como exemplos, e
foram escritas para advertência nossa...» (I Cor. 1. Josué é instruído (13:1-7)
10:11). O trecho de Heb. 4:1-11 usa o relato da 2. As tribos orientais recebem sua herança
conquista da terra de Canaã para ilustrar como (13:8-33)
entramos no descanso de Deus, ou seja, na vida 3. As tribos ocidentais recebem sua herança
eterna, que é a grande Terra Prometida. Josué não (14:1-19:51)
deu ao povo o final e verdadeiro descanso (Heb. 4:8), 4. As cidades de refúgio (20:1-45)
pelo que resta um descanso espiritual (vs. 9). 5. Designação das cidades levíticas (21:1-45)
Compete-nos esforçarmo-nos por entrar nesse estado C. Consagração do Povo Escolhido (caps. 22:1—
bem-aventurado (vs. 11). A desobediência e a dureza 24:28)
de coração são nossos inimigos. Moisés (representante 1. Concórdia com as tribos orientais (22:1-34)
da lei), não foi capaz de conduzir o povo de Israel até o
interior da Terra Prometida. Josué (representante de 2. Admoestações finais de Josué aos líderes (23:1-
Cristo e da graça divina) foi quem conseguiu fazer 16)
isso. Como é sabido, Josué foi um tipo de Jesus, o 3. Um pacto nacional estabelecido em Siquém
Cristo. E Cristo é o comandante que vence a batalha, (24:1-28)
batalhando juntamente com seu povo, com o seu D. Epílogo: Morte de Josué e Conduta Subsequente
exército. No sentido cristão, Jesus, o Cristo (cujo de Israel (cap. 24:29-33).
nome é o equivalente neotestamentário de Josué,
Bibliografia. AH ALB AM BRI IB ROW
Salvador) é aquele que provê um lar na Terra ROW(1950) YAD YO
Prometida celestial, provendo descanso para nós,
após as vitórias espirituais que obtivermos neste
mundo. JOSUÉ (PESSOAS)
2. Lutas e Vitórias Espirituais Ver o artigo separado sobre o livro de Josué,
A vida de todo homem espiritual e sério é uma luta relacionado ao primeiro homem que, na Bíblia,
em busca da vitória, e cada vitória é uma espécie de recebeu esse nome. Houve um total de quatro homens
conquista da Terra Prometida. com esse nome, nas páginas do Antigo Testamento:
3. A experiência da redenção é prefigurada pelo 1. Josué, filh o de N u m , assistente e sucessor de
fato de que o povo de Israel foi batizado em Moisés, Moisés.
na nuvem e no mar (I Cor. 10:2). Os homens obtêm a. N om e. Esse nome deriva-se do hebraico,
posição espiritual quando o Espírito os imerge no Yehoshua, «Yahweh é salvação». Moisés mudou o
corpo de Cristo (I Cor. 12:13; Efé. 1:3; Rom. 6:2,3). nome dele de Oséias («salvação») para Yehoshua. Ver
Essa posição espiritual consiste na união com Cristo e Núm. 13:16 e 13:8. Esse é o equivalente veterotesta-
na participação na redenção que há em seu sangue. mentário de Jesus. A Septuaginta traduziu aquele
4. A travessia do Jordão é uma figura simbólica da nome hebraico para o grego, Iesous, a forma grega do
morte física, através da qual chegamos à vida nome hebraico.
plenamente espiritual. b. Fam ilia. Ele era filho de Num, que era filho de
5. A terra de Canaã pode tipificar o nosso encontro Elisama, príncipe da tribo de Efraim (Êxo. 33:11;
com os adversários espirituais e a nossa subseqüente Núm. 1:10).
vitória sobre os mesmos; ou, então, pode apontar para c. Inform es Históricos 1. Considerando-se a
605
JO SU É - JO TÀ O
habilidade de Josué como estrategista militar, é «...escolhei hoje a quem sirvais... Eu e a minha casa
possível que ele tivesse sido um soldado profissional, serviremos ao Senhor» (Jos. 24:15). Isso exprimiu a
treinado no Egito. A arqueologia dá-nos conta de que atitude que Josué teve durante toda a sua vida. Ele foi
estrangeiros eram contratados pelo exército egípcio. uma personagem das mais fulgurantes do Antigo
Moisés usou Josué como seu comandante militar, Testamento, a quem o próprio Moisés não fez muita
contra o ataque dos amalequitas, em Refidim (Exo. sombra. Sentimo-nos infelizes diante de tanta
17:8-16). A tarefa de Josué era organizar aquele matança que houve na conquista da terra de Canaã.
bando de ex-escravos, que tão recentemente haviam Ver sobre Josué (Livro), seção VI. Problemas
obtido a liberdade, organizando com eles um exército Especiais, segundo ponto, O Tratamento Dado aos
respeitável. A tarefa, pois, não era nada pequena. 2. Cananeus, quanto a uma discussão sobre essa
Josué era o ministro pessoal e assistente de Moisés, questão. Ê óbvio que Josué sempre cumpriu o seu
quando este recebeu a lei (ver Exo. 24:13; 32:17). 3. dever, sem nenhum grande desvio, sem nunca haver
Josué foi um dos espias enviados para obter uma visão cometido qualquer grave infração, o que também se
geral da terra a ser conquistada. Ele foi um dos dois vê no caso de todos os outros grandes vultos do Antigo
únicos que deram um relatório bom, e encorajaram o Testamento. Josué serve de ilustração do homem que
ataque (Núm. 14:6-9). 4. O povo de Israel, como um confronta alguma imensa dificuldade, mas a vence,
todo, foi proibido de entrar na Terra Prometida em porquanto nele não havia nem dúvida e nem
face de desobediência e incredulidade. Somente Josué hesitação, de tal modo que, com coragem e resolução,
e Calebe tiveram permissão, dentre aquela geração ele foi capaz de realizar a tarefa que o Senhor lhe deu.
inteira, de entrar na Terra Prometida (Núm. 26:65; 2. Josué, um nativo de Bete-Semes. Esse foi um
32:12; Deu. 1:34-40). 5. Josué foi comissionado para israelita, - proprietário do campo onde chegou a
ocupar a liderança, após o falecimento de Moisés. carruagem que trazia a arca da aliança, ao retomar
Josué, pois, tornou-se o novo pastor de Israel (Núm. da terra dos filisteus. Ver I Sam. 6:14,18. Ele viveu
27:12—17). Ele recebeu a autoridade divina de em cerca de 1076 A.C.
Moisés (Núm. 27:20). Foi ordenado por Moisés para 3. Josué, governador de Jerusalém, no começo do
assumir seu novo posto (Núm. 27:21-23; Deu. reinado de Josias. Um dos portões da cidade recebeu
3:21-28). 6. A tarefa de Josué consistia em liderar nome com base em seu nome. Ver JI Reis 23:8. Ele
Israel na conquista da terra de Canaã (Jos. 1—12). Se viveu em cerca de 621 A.C.
excetuarmos uma comunidade que, através de 4. Josué, também chamado Jesus, filho de
engodo, conseguiu assinar um acordo de não agressão Jeozadaque. Ver sobre Jesua, terceiro item.
com Josué, ele conseguiu exterminar os habitantes de
Canaã até o último homem, excetuando aqueles
lugares onde obteve vitórias apenas parciais. 7. JOSUÉ, DIA LONGO DE
Quando a totalidade da Palestina havia sido Ver sobre Bete-Horom, Batalha de (O Dia Longo de
conquistada, Josué recebeu a tarefa de averiguar que Josué)
a mesma fosse dividida entre as doze tribos (Jos.
13—21). 8. Josué foi homem de notável habilidade
como líder, conforme se vê em seu trabalho, capaz JOTÀO
como o general dos exércitos de Israel (Jos. 1—12), No hebraico, «Yahweh é perfeito» ou «Yahweh é
em sua capacidade de conduzir espiritualmente os reto». Esse é o nome de três personagens que
israelitas, estabelecendo os acordos apropriados (Jos. aparecem no Antigo Testamento:
8:30-35), ao orar pedindo poder e orientação 1. O mais jovem dos setenta filhos legítimos de
espirituais, e recebendo as mesmas (Jos. 10:10-14), Gideão. Ele foi o único filho de Gideão que escapou
em seu respeito pela mensagem espiritual e pelo uso ao massacre da família, determinado por Abimeleque
que fazia da mesma, o que tanto o ajudou a conduzir (Juí. 9:5). Jotão avisou os habitantes de Siquém
corretamente o povo de Deus (Jos. 1:13-18; 8:30-35, acerca da maldade de Abimeleque, mediante a
11:12,15; 14:1-5; 23:6). Quando da divisão da terra, parábola das árvores que escolheram o espinheiro
ele mostrou ser um hábil administrador (Jos. 13—21). como rei. Essa honra havia sido declinada pelas
9. Foi Josué quem deu ao sistema tribal dos israelitas nobres espécies, como o cedro, a oliveira e a videira.
sua forma fixa, impondo o elemento do acordo para Ver Juí. 9:5 ss. Mas a advertência foi ignorada pelos
fixação de terras específicas entre as diversas tribos siquemitas, e a calamidade sobreveio três anos mais
(Jos. 24:1-28). 10. Idade avançada e morte. Quando o tarde (vs. 57). Após ter bradado essa corajosa
fim de sua vida terrena aproximava-se, Josué quis parábola ou apólogo, diante do perigo que corria,
consolidar os ganhos que obtivera. Convocou uma Jotão fugiu; e não mais se ouve falar dele nas
assembléia, com representantes de todo o povo de Escrituras. Supomos que ele viu o julgamento* divino
Israel, e apresentou um solene discurso e incumbên cair contra Abimeleque, embora não possamos ter
cia, relembrando-os sobre o que fora realizado, e certeza disso. Seja como for, em uma batalha, em
exortando-os a guardarem a aliança e continuarem na Tebez, Abimeleque morreu quando uma mulher
fé de seus pais. Em Siquém, foi renovada a aliança jogou muralha abaixo uma pedra superior de moinho,
com o Senhor. Josué faleceu com a idade de cento e que caiu sobre sua cabeça. A pancada não o matou
dez anos, e foi sepultado em sua cidade, Timnate- instantaneamente. Então, ele ordenou que o seu
Sera, pertencente à tribo de Efraim, (Jos. 24:29). Isso escudeiro acabasse de matá-lo com a sua espada, a
ocorreu em cerca de 1365 A.C. fim de que não se dissesse que uma mulher o havia
matado. A lei da colheita segunda a semeadura estava,
d. Tipos. Na seção IX, no artigo sobre Josué novamente em funcionamento.
(Livro), em seu primeiro ponto, mostramos como 2. O décimo rei de Judá, filho de Uzias, e que
Josué é símbolo de Cristo. Ele foi o Jesus do Antigo sucedeu a seu pai no trono em 758 A.C Na época, ele
Testamento. Ambos conduzem à Terra Prometida, e tinha vinte e cinco anos de idade. Reinou por
ambos receberam uma autoridade acima da de dezesseis anos. Seu pai ficara leproso e fora excluído
Moisés. Aquela seção sublinha certo número de da vida pública, pelo que seu filho, Jotão, tornara-se o
outros tipos que se encontram no livro de Josué, e que monarca virtual. Ver II Reis 15:5. Tornou-se rei único
nos são instrutivos. cerca de dez anos mais tarde. Ver o artigo geral
e. Caráter de Josué. Foi Josué quem disse a Israel: chamado Reino de Judá.
606
JO TB Á - JO ZA B A D E
a. A prendendo pela força do exem plo. Jotão não ele não acreditava que o ascetismo fosse capaz de
conseguiu corrigir todas as práticas corruptas que adicionar qualquer coisa à vida controlada pelo
haviam sido implantadas no meio do povo, em Judá; Espírito. Outrossim, ele afirmava que o estado
mas, pelo menos, fez o esforço. celibatário não é superior à vida marital. Outrossim, o
b. Um governo próspero, lotão, como quase todos jejum não seria melhor do que uma boa refeição,
os reis, também teve de guerrear. Suas campanhas contanto que não se caísse na gula.
militares foram bem-sucedidas. Uzias fizera os
amonitas pagarem tributo a Israel. Quando adoeceu,
porém, esse tributo foi descontinuado; mas Jotão JOWETT, BENJAMIM
conseguiu subjugar novamente os amonitas. Ver II Suas datas foram 1817-1893. Foi um importante
Crô. 26:8; 27:5,6. Esse predomínio tinha valor teólogo e classicista. Foi grande educador, tendo
comercial. Jotão recebia, como tributo, prata, trigo e ensinado como diretor do Balliol College, em Oxford,
cevada. Inglaterra, durante muitos anos. Ensinava grego ali, e
c. Obras públicas. Jotão reconstruiu o portão produziu uma tradução dos Diálogos de Platão, que
principal do templo de Jerusalém, tornando-o mais se tornou um padrão para os leitores em língua
magnificente do que antes. Novas fortificações foram inglesa. Teologicamente, ele era muito generoso e
construídas na cidade. Várias outras cidades foram liberal em seus pontos de vista. Seus ensaios sobre a
edificadas e fortificadas em Judá, e também foram Bíblia criaram intensa controvérsia. Tal como
erigidas torres e outras obras de defesa, no deserto. acontece com tantas figuras importantes, muitas
Ver II Crô. 26. A reconstrução de Jerusalém pode ter lendas desenvolveram-se em redor de sua pessoa.
feito parte de um plano mais ambicioso, para ampliar
as muralhas da cidade de forma a engolfarem os
bairros mais distantes, aumentando assim a capacida JOZABADE
de de resistência da cidade. Posteriormente, Ezequias No hebraico, «Yahweh dotou». Essa é a forma
construiu uma nova muralha norte; e, Manassés contraída do nome Jeozabade (vide). — Houve
completou o circuito, o que pode ter sido feito em nada menos de dez homens com esse nome, nas
continuação do plano original de Jotão. páginas do Antigo Testamento:
d. Profetas contem porâneos. Estiveram ativos, nos 1. Um filho de Somer e de Sinrite, a moabita. Ele
dias de Jotão, os profetas Isaías, Oséias e Miquéias. conspirou com Jozacar a fim de assassinar a Joás, rei
e. M orte de Jotão. Jotão foi muito lamentado pelo de Judá (837—800 A.C.). Queria fazer isso por causa
povo, e foi sepultado no sepulcro dos reis (II Reis das vantagens políticas. Assassinou o filho do
15:28; II Crô. 27:3-9). Morreu em cerca de 735 A.C. sacerdote Joiada, cuja esposa havia protegido o
3. Jotão, fú h o de Jadai, um descendente de Calebe, infante Joás dos planos homicidas de Atalia (II Reis
segundo todas as aparências. 12:21; II Crô. 24:26). Esteve de algum modo
envolvido no assassinato de Joás, por seus próprios
oficiais. Ê provável que algum parente deles tenha
JOTBÀ sido executado, e eles quisessem vingar-se da morte
No hebraico, «bondade» ou «coisa agradável». Esse dele. Isso ocorreu em cerca de 839 A.C.
era o nome da cidade onde residia Haruz, cuja filha, 2. Três homens que se aliaram a Davi, em seu
Mesulemete (vide), tomou-se a mãe do rei Amom, exílio, em Ziclague, quando ele fugia de Saul, tinham
conforme o registro de II Reis 21:19. Essa cidade tem o nome deJozabade. Eram hábeis no manejo do arco
sido identificada com Jotapata, chamada moderna e flecha e da funda. Um deles era benjamita, de
mente Khirbet Jefat, a onze quilômetros ao norte de Gederá(I Crô. 12:4). Os outros dois eram da tribo de
Seforis. O Talmude refere-se a uma cidade de nome Manassés (I Crô. 12:20). É possível, entretanto, que
Jotbate, a catorze quilômetros e meio de Nazaré; e tantos indivíduos houve com esse nome, que um deles
alguns estudiosos têm-na identificado com Jotbá, surgiu nas cópias por ditografia, no vigésimo
embora isso seja improvável. O mais provável é que versículo.
sejam lugares diferentes um do outro.. 3. Um benjamita que se mostrou ativo durante o
reinado de Josafá. Ele comandava dezoito mil homens
JOTBATA armados (II Crô. 17:18).
4. O segundo filho de Obede-Edom, um coraíta.
No hebraico, «deleite», «coisa agradável». Esse era o Davi nomeou-o porteiro (I Crô. 26:40). Viveu em
nome do vigésimo nono acampamento de Israel no torno de 1000 A.C.
deserto, entre Hor-Gidgade e Abrona (Núm. 33:33,
34; Deu. 10:7). Era um lugar onde havia água potáveL 5. Um chefe levita dos dias do rei Ezequias. Serviu
abundante, «terra de ribeiros de águas», diz-nos a sob Conanias e Simei, na questão dos dízimos e das
passagem de Deuteronômio. Interessante é que, em contribuições (II Crô. 31:13). Viveu em cerca de 719
nossa versão portuguesa, Jotbata aparece como A.C.
6. Um chefe dos levitas, que serviu durante o
«Jotbatá», e Hor-Gidgade como «Gudgodá», na reinado de Josias (II Crô. 35:9). Foi superintendente
passagem de Deuteronômio. Alguns estudiosos têm das ofertas e das coisas dedicadas ao templo. Viveu
identificado Jotbata com a moderna ‘A in Tabah, ao em cerca de 623 A.C.
norte do golfo de Acaba.
7. Um filho de Jesua, um levita, que serviu em
Jerusalém terminado o cativeiro babilónico, sob a
direção de Esdras (Esd. 8:33). Alguns identificam-no
JOVINIANO como o homem do mesmo nome, mencionado em
Faleceu em 390 D.C. Ele foi um importante monge Esd. 10:23, que se casou com uma mulher estrangeira
pré-Agostinho, que supunha que a transmissão do durante o cativeiro, e da qual precisou divorciar-se
Espírito Santo estaria ligada aos atos eclesiásticos do depois que o remanescente de Israel voltou a
batismo e da penitência. Isso emprestava àqueles atos Jerusalém. Além disso, ele pode ter sido o homem, do
um caráter sacramental, vinculado à realização dos mesmo nome, que instruiu o povo na lei de Moisés,
ritos da Igreja. Isso, naturalmente, fortaleceu a conforme o registro de Nee. 8:7. Uma outra referência
autoridade das ordenanças eclesiásticas. Entretanto, a esse mesmo homem encontra-se em Nee. 11:16.
607
JOZACAR - JU B IL E U
8. Um filho de Pasur, um sacerdote, que se casarasantificados. A palavra acabou indicando o próprio
com uma mulher estrangeira, durante o cativeiro chifre de carneiro. O termo ju b ile u , em português,
babilónico, mas teve que se divorciar dela após o indica o regozijo do dia; vem do latim, ju b ilu m , um
retomo do remanescente de Judá a Jerusalém (Esd. g rito de alegria. Sua presença nas traduções
10:22). Ele viveu em torno de 456 A.C. modernas, referindo-se ao a n o d e ju b ile u vem do
nome que lhe dá a Vulgata Latina, a n n u s ju b ile i ou
ju b ile u s .
JOZACAR III. Referências Bíblicas
No hebraico, «lembrado por Yahweh». Era filho da A lei do ano do jubileu acha-se registrada em Lev.
amonita Simeate e de um dos assassinos do rei Joás, 25:8-55, cujo trecho se deve comparar com Lev.
de Judá (II Reis 12:21). Em II CrÔ. 24:26, ele é 27:16-25. Uma judia herdeira deveria casar-se
chamado pelo nome de Zabade. Muitos eruditos somente com algum homem de sua própria tribo,
pensam que esse nome, Zabade, representa um erro pois, do contrário, sua propriedade não reverteria à
escribal. Seu companheiro no assassinato foi Jo za b a - sua tribo, nem mesmo no a n o d e ju b ile u (Núm. 36:4).
d e (vide, número um). Isso ocorreu em cerca de 839 Ê curioso que o a n o d e ju b ile u não é mencionado em
A.C. nenhuma outra porção das Escrituras canônicas ou
dos livros apócrifos, o que confirma a suposição de
que as leis atinentes ao a n o d o ju b ile u não eram
JOZADAQUE praticadas, mas somente permaneceram como um
Uma forma contraída de Jeozadaque (que aparece ideal que nunca foi plenamente atingido.
em I Crô. 6:14, etc.). A forma contraída aparece em IV. Provisões da U i
Esd. 3:8; 5:2; 10:18 e Nee. 12:26. Esse nome significa 1. As Provisões de Levitico 25:8-17. a. O ano de
«Yahweh é grande». Ver o artigo sobre J eo z a d a q u e .
jubileu deveria ser anunciado no dia da expiação, no
qüinquagésimo ano; b. as terras deveriam reverter aos
JUBAL seus proprietários originais; c. os escravos hebreus
deviam ser libertados; d. a semeadura, a vindima e a
No hebraico, «riacho». Era descendente de Caim, colheita eram proibidas no a n o d e jubileu-, e.
filho de Lameque e Ada. Ele aparece na Bíblia como o provisões adequadas tinham de ser feitas com
inventor da k in n o r e do u g a b , que alguns traduzem, antecedência para o a n o d e j u b i l e u .
respectivamente, por h a rp a e órgão, enquanto <jue
outros preferem traduzir por lira e g a ita . Ver Gen. 2. A s P rovisões d e L e v itic o 25:25-38. a. As terras
4:21. O nome dele, talvez, tenha alguma vinculação podiam ser remidas no período do a n o d e jubileu-, b. a
com o Y o b el, o chifre de carneiro. Nesse caso, como remissão de terras, nas cidades, era limitada a um
músico que era, tinha um nome associado àquele ano. Se a oportunidade não fosse aproveitada, não
instrumento de sopro. mais poderia haver remissão de terras nas cidades, c.
As terras pertencentes aos levitas não estavam sujeitas
a essa legislação, d. Os pobres podiam tornar-se casos
JUBILEU, ANO DE de caridade de uma comunidade, se necessário, a fim
E sb o ço : de que houvesse uma distribuição melhor das riquezas
I. Caracterização Geral materiais, beneficiando toda a sociedade.
II. O Nome 3. A s P rovisões d e L evitico 25:39-55: a. Os escravos
hebreus deviam ser postos em liberdade; mas,
III. Referências Bíblicas mesmo antes do a n o d e ju b ile u , os escravos hebreus
IV. Provisões da Lei não podiam ser sujeitos aos rigores da servidão, por
V. Propósitos da Lei a Respeito parte de seus compatriotas, b. Os hebreus que
VI. Relação com o Ano Sabático tivessem ficado obrigados a servir a estrangeiros,
VII. O Problema do Ano Bissexto poderiam remir a si mesmos, ou um parente podia
VIII. Tipologia remi-los. Nesse caso, parte do preço tinha de ser pago,
I. Caracterização Geral dependendo dos anos que ainda restassem até o a n o de
ju b ile u . Doutra sorte, só poderiam ser libertados no
Segundo a analogia do descanso semanal do último an o de ju b ile u . A o que parece, os estrangeiros
dia da semana, cada s é tim o an o foi designado como precisavam respeitar às leis de Israel, tendo de
um período de descanso para as terras agricultáveis, libertar seus escravos hebreus, mesmo sem compensa
que deveriam ser deixadas por cultivar (Êxo. ção adequada, se isso fosse necessário.
23:10,11). Um s á b a d o d e sá b a d o s (49 anos) deveria
anteceder o an o de ju b ile u . Portanto, passavam-se V. Propósitos da Lei
cinqüenta anos para que houvesse um novo ano de 1. Esses Preceitos U nham um Lado Econômico. O
ju b ile u . .Naquele qüinquagésimo ano, pois: 1. a terra equilíbrio de riquezas materiais era restaurado com a
teria de ser deixada sem cultivo; 2. a terra deveria reversão das terras aos seus proprietários e com a
voltar ao seu anterior proprietário; 3. os escravos libertação dos escravizados. O monopólio de alguns,
hebreus deveriam ser postos em liberdade. Há muitos embora não fosse totalmente evitado, pelo menos
eruditos modernos que pensam que essa legislação foi ficava bastante restrito.
observada raramente e que ela existia mais como um 2. E sses P receito s era m H u m a n itá r io s. A opressão
ideal do que como uma realidade. Ver os preceitos em econômica reduz a varonilidade e o auto-respeito dos
Lev. 25:10 ss. Seja como for, é verdade que a lei indivíduos, para nada dizermos sobre o potencial que
judaica posterior rescindiu alguns elementos das cada homem tem de trabalhar e produzir. Era bom
provisões bíblicas, ao mesmo tempo em que libertar os escravos e reverter as propriedades aos seus
confirmou outros desses elementos. antigos donos. Leis como essa do a n o d e ju b ile u
D. O Nome tendem por reduzir a agressão dos ricos contra os
A palavra portuguesa «jubileu» corresponde ao pobres e por refrear a ganância.
termo hebraico y o b e l, que também indica a VI. Relação com o Ano Sabático
«clarinetada» tirada de um como de carneiro. Essas O trecho de Lev. 25:1-7 vincula a lei do ano de
clarinetadas anunciavam as festas religiosas e os dias jubileu ao sétimo ano. Ver também Êxo. 23:10,11.
608
JU B IL E U - JU B IL E U S
Damos um artigo pormenorizado sobre o A n o IV. Conteúdo e Manuscritos
S a b á tic o . Os escravos, de acordo com o ano sabático, V. Teologia do Livro
eram libertados após seis anos contínuos de serviço l. Caracterização Geral
(Deu. 15:1-19). Mas, nesse mesmo período de sete
anos, as terras não eram devolvidas aos seus Ver os artigos gerais sobre L ivro s A p ó c r ifo s e
proprietários originais. Como é patente, havia outras A p o c a líp tic o s , L iv ro s. O L iv ro d e J u b ile u s é um livro
leis de libertação, às quais Jeremias se referiu. Ver apocalíptico que se encontra entre os p seu d e p íg r a fo s
Jer. 34:14. O trecho de Nee. 10:31 também parece do Antigo Testamento (vide). Também é conhecido
aludir a alguma lei que não estava sendo observada. como O P e q u e n o G ên esis, ou, então, como A p o c a
Se essa lei era, especificamente, a lei do ano sabático e lip se d e M o isé s. Foi originalmente escrito em
a lei de jubileu, ou não, é algo muito difícil de hebraico e subseqüentemente foi traduzido para o
determinar. Parece que outras estipulações legais grego, para o etíope, para o latim e para o siríaco.
tinham sido feitas, além dessas. É significativo que Afirma ser uma revelação dada a Moisés, alegada-
tanto Alexandre, o Grande, quanto Júlio César mente recebida no monte Sinai. Um anjo do Senhor
cancelaram o tributo relativo aos anos sabáticos. ter-lhe-ia aparecido, dando-lhe as leis e as práticas
Josefo ( A n ti. 16:2; 15:1,2) alude à observância das leis religiosas que são mencionadas na Bíblia desde o
pertinentes. Ele também menciona o an o d e ju b ile u primeiro capítulo de Gênesis até o décimo capítulo do
(A n ti. 3:12,3), e, aparentemente, considerava que
livro de Êxodo.
cada qüinquagésimo ano era o ano seguinte ao sétimo Na verdade, esse livro foi produzido por uma seita
ano sabático. O ponto de vista oficial da Mishna desconhecida, algum tempo nos fins do século III
(vide) é que o ano de jubileu foi abolido após o exílio A.C., ou, quando mais tarde, em cerca de 100 A.C. O
babilónico ( S e b i’it. 10:3). Várias razões são oferecidas livro inteiro é ajustado a uma cronologia considerada
para essa abolição. É que haviam entrado abusos. As de acordo com os anos de jubileu, o que explica um de
pessoas incorriam em dívidas, sabedores de antemão seus títulos. Contém várias curiosidades e característi
que poderiam evitar pagá-las; ou, então, vendiam cas místicas. Ensina a preexistência da Tora, que,
terras, sabendo que poderiam recuperá-las de novo. presumivelmente, foi escrita em tabletes celestiais,
antes mesmo da criação do homem. Além disso, diz
VII. O Problema do Ano Sem Cultivo que a festa de Pentecoste é regularmente observada no
O trecho de I Macabeus 6:49 subentende a céu. Então, a Tora (lei) teria sido entregue aos
natureza antiprática de um ano nacional sem cultivo homens, no devido tempo. Essa obra é aparentada de
das terras. Muitos eruditos supõem que, com I Enoque e outras porções, mais antigas, do
freqüência, isso não era praticado, apesar de menção Testamento dos Doze Patriarcas, havendo similarida
ao costume por parte de autores como Josefo. Mas, é des com matéria escrita pertencente à comunidade de
possível que essa suspensão do cultivo fosse alternado Qumran. De fato, alguns estudiosos pensam que esse
de distrito em distrito, de tal modo que em nenhuma livro foi publicado por aquela comunidade, ou então,
época havia uma suspensão nacional do plantio, por alguma seita similar.
exceto nos primeiros anos da história do povo de
Israel. As passagens bíblicas que se referem à II. Autoria
suspensão do plantio têm deixado os intérpretes em Não há como determinar a autoria de um livro
dificuldades, e não sabemos dizer quão rigorosa e como esse. Como é óbvio, Moisés nada teve a ver com
regularmente essas leis eram observadas. o mesmo, embora escrito em seu nome, o que significa
V m . Tipologia
que se trata de uma obra pseudepígrafa. O verdadeiro
autor pode ter pertencido à comunidade de Qumran,
O ano de jubileu refere-se à redenção que há em ou a alguma comunidade parecida. Alguns pensam
Cristo, e aos benefícios advindos de sua missão que ele seria um fariseu, mas isso é debatível.
terrena, de modo geral. Todos os homens, ricos e Comparar o cap. 30 desse livro com Gên. 49:5-12.
pobres, beneficiam-se com base nessa missão, e Parece que ele apoiava os governantes macabeus. Ele
nenhum homem é esquecido, porquanto Deus amou chamava os sucessores de Levi de «sacerdotes do Deus
ao mundo de tal maneira que fez provisão adequada Altíssimo», um título que apareceu inicialmente no
para o bem-estar espiritual e material dos homens. período dos hasmoneanos (ver 32:1).
Em Cristo encontramos provisão e herança (ver Rom.
8:17). E deveras significativo que há passagens m . Origem e Propósito
bíblicas que aludem, em primeiro lugar, à escravidão O livro divide a história do mundo, desde a criação
espiritual da qual somos libertados, a fim de que até à outorga da lei, no monte Sinai, em períodos
cheguemos a desfrutar dos privilégios próprios de iguais de quarenta e nove anos. O autor afirma que
filhos de Deus. Israel entrou na terra de Canaã ao término do
qüinquagésimo jubileu, ou seja, no ano 2450 da
criação. Visto que o livro reproduz as Escrituras desde
JUBILEU (CATOLICO ROMANO) o começo de Gênesis até o décimo segundo capítulo de
De acordo com a Igreja Católica, um ano de jubileu Êxodo, foi chamado de P e q u e n o G ên esis. E visto que
é um ano de in d u lg ê n c ia (vide) especial. Um ano o livro é situado dentro do contexto do Antigo
desses só pode ser decretado pessoalmente pelo papa. Testamento, então, o autor pede-nos para supormos
Para eles, nesse ano, certas condições de confissão, que foi M o isé s quem forneceu detalhes extras, tendo
comunhão, boas obras, etc., obtêm a remissão das escrito essa obra antiqüíssima. Porém, o uso que o
conseqüências penais terrenas dos pecados. Um ano autor faz de obras pseudepígrafas mostra q u a n d o ,
desses também é conhecido como A n n u s S a n c tu s , ano realmente, ele escreveu. Assim, encontramos o
santo. anacronismo crasso dos patriarcas que seriam
observantes estritos da lei mosaica. E essa discrepân
JUBILEUS, LIVRO DE cia é explicada pelo expediente de dizer que a Torá já
E sb o ço:
estava escrita no céu, antes mesmo da criação, pelo
que estava disponível aos homens desde o começo da
I. Caracterização Geral humanidade. Essa obra assemelha-se muito ao livro
II. Autoria de I Enoque, parecendo refletir o período dos
III. Origem e Propósito Macabeus, conforme mostramos sob a seção II.
609
JU B IL E U S
Portanto, a origem real do livro é bastante
A u to r ia . 3. O m ilê n io . O reino messiânico, segundo se
tardia, talvez pertencente cerca de 100 A.C. Na esperava, inauguraria uma era áurea de mil anos. Isso
realidade, o livro era uma peça de propaganda, que seria um tempo de paz e prosperidade. Mas, o juízo
promovia certos ideais e conceitos teológicos da final ocorreria no final desse período de mil anos. Os
época. leitores do Novo Testamento surpreendem-se de fatos
P ro p ó sito . «O livro de Jubileus é uma produção dessa natureza, se é que não têm familiaridade com a
pseudepígrafa, escrita em hebraico, talvez por um literatura judaica do período intertestamentário. A
ex-fariseu, algum tempo entre a inauguração do verdade é que o esboço em grandes pinceladas, das
sacerdócio de Hircano, em 135 A.C., e o seu predições do Novo Testamento, acerca do fim, está
rompimento com o farisaísmo, em 105 A.C. Trata-se alicerçado sobre o esquema traçado nos livros
de uma tentativa de reescrever a história de Israel, pseudepígrafos. — Por causa disso, muitos estu
incluindo grande acúmulo de informes tradicionais... diosos liberais duvidam que haja qualquer men
Conforme afirmou Robert Henry Charles, o objetivo sagem verdadeiramente p r o fé tic a , tanto nos livros
do autor era defender o judaísmo dos ataques das pseudepígrafos quanto no Novo Testamento. Alguns
atitudes helenistas, que tinham estado em ascendên estudiosos conservadores radicais evitam o problema,
cia uma geração antes, e continuavam poderosas, e permanecendo na ignorância acerca das obras
também provar que a lei tem uma perene validade» pseudepígrafas, preferindo que ninguém saiba coisa
(AM). alguma a respeito delas. Um pensamento mais
IV. Conteúdo e Manuscritos equilibrado é o daqueles que supõem que a tradição
O livro tem cinqüenta capítulos, reproduzindo profética é um desenvolvimento, como se dá com
desde o primeiro capítulo de Gênesis até o décimo todos os pontos teológicos, e que essa tradição pode
segundo capitulo de Êxodo, e adicionando muito ser autêntica quanto à sua substância, embora talvez
material tradicional dos judeus. Introduz a esperança não quanto aos detalhes, apesar do fato de que uma
messiânica de Israel, em um tempo (o período dos importante porção dessa tradição se tenha desenvolvi
Macabeus) quando essa doutrina já andava bem do nas obras pseudepígrafas. Essa posição é
desenvolvida em certos livros pseudepígrafos, espe fortalecida diante da observação de que os estudos
cialmente em I Enoque. A narrativa foi inicialmente mostram que a mente humana, mesmo à parte da
escrita em hebraico e, então, foi traduzida para o iluminação divina, é capaz de prever o futuro.
grego e quiçá, para o aramaico. Quatro manuscritos Aqueles que se têm envolvido na escrita de
do livro preservam-no no etíope. Assim sendo, a composições espirituais, a despeito das tolices que
despeito de seu claro caráter pseudepígrafo, desfrutou têm inventado, podem ser sensíveis o bastante para
de larga divulgação. Uma tradução para o etíope, de traçar um esboço geral das coisas vindouras. Tendo
cerca do século VI D.C., foi encontrada e publicada dito isso, — mostraríamos grande ignorância se
em meados do século XIX. Fragmentos de manuscri disséssemos que eles nunca erram.
tos em latim datam de cerca do século V D.C. As Um polemista poderia dizer que as profecias
versões latina e etíope foram traduzidas da versão bíblicas também não são perfeitas. Por exemplo, a
grega. Fragmentos da versão grega foram encontrados expectação do autor do livro de Apocalipse, de que o
entre os chamados M a n u s c rito s do M a r M o r to (vide). império romano em breve chegaria ao fim, e que a
Os estudiosos pensam que o texto grego mostra-se fiel p a r o u sia (vide) poria fim, em breve, ao império
ao texto hebraico original. romano (ver a afirmação cuidadosamente verbaliza
da, em Apo. 17:7 ss), não tiveram cumprimento.
O transmissor da mensagem do livro, alegadamen- Houve muito mais do que oito imperadores em Roma,
te, seria um anjo do Senhor. Esse anjo levou Moisés a do que aquele livro fala. De fato, o império romano
escrever uma reiteração do trecho de Gên. 1—Êxo. continuou ainda por vários séculos, sem ser afetado
12, mas, dessa vez, adicionando tradições judaicas pelas predições feitas pelo vidente João. Isso não
posteriores! O propósito principal do autor do livro foi significa que ele não tenha percebido o esboço geral
o de estabelecer a autoridade eterna da lei mosaica, das coisas vindouras, a despeito de suas dificuldades
protegendo o povo de Israel das intrusões do com os detalhes. Todavia, esse argumento pode ser
helenismo. O anjo contaria com fontes infalíveis para respondido quando nos lembramos que o relógio
seu d ita d o , a saber, «as tabelas das divisões em anos, profético da Bíblia parou por ocasião da morte de
desde o tempo da criação, até a outorga da lei, e Cristo, no Calvário, e só começará a tiquetaquear
incluindo o testemunho das semanas de jubileus, de novamente quando tiver início a septuagésima
acordo com anos individuais, seguindo o número dos semana de Daniel, o que, segundo alguns estudiosos,
jubileus...» (1:29). A autoridade da lei mosaica (que começará quando o anticristo surgir em cena como
repousa sobre a sua aplicação eterna) é ali aquele que fará um acordo com «muitos» (ver Dan.
enfaticamente asseverada; e contra aqueles que 9:27). E isso significa que, do ponto de vista do
ousassem ignorar essa autoridade, foi ameaçado o Apocalipse, quando suas predições sobre o fim
juízo divino. A seção V., chamada T eologia, adiciona começarem a ocorrer, então o império romano
detalhes sobre o conteúdo do livro.V . renovado (o império do anticristo) estará apenas a
poucos anos de seu ponto final!
V. Teologia
1. A ênfase sobre a iei mosaica, incluindo sua No livro de I Enoque, a era áurea perdura por
alegada origem anterior à humanidade, nos céus, e apenas trezentos anos. Talvez os mil anos de que fala
sua eterna aplicação, é um ponto principal do livro. o livro de Jubileus alicerce-se sobre a suposição de que
2. A esp era n ça m essiâ n ic a , um tema que também é a criação seguiria um ciclo de sete mil anos, assim
desenvolvido em outras obras produzidas no período distribuídos: seis mil anos desde a criação até o fim da
helenista, especialmente I Enoque, é outro ponto presente dispensação do ciclo humano e, então, os mil
destacado. Entretanto, esse tema, no livro de anos, um sábado espiritual de descanso, controlado
Jubileus, não é bem desenvolvido. Seja como for, é pelo poder divino, que porá fim a esta dispensação e
significativo que o Messias seja ali apresentado como completará o ciclo da história da humanidade.
quem procederia da tribo de Judá. Provavelmente isso 4. A im o r ta lid a d e d a a lm a . No livro de Jubileus não
foi dito com base nas profecias atinentes à eternidade há qualquer, menção à ressurreição dos mortos,
do trono de Davi. embora haja uma firme expectação quanto à
610
JUBILEUS - JU DÀ
imortalidade da alma. JUCAL
5. E sp írito s angelicais e d e m o n ía co s. O livro de No hebraico, «Yahweh é capaz». Ver Jer. 37:3 e
Jubileus apresenta um certo esquema sobre esses 38:1. Ele é descrito como um dos príncipes que o rei
assuntos, bastante parecido com o ensino do Novo Zedequias enviou a Jeremias, a fim de pedir conselhos
Testamento, dando apoio à teologia dos fariseus e e rogar suas orações pelo reino (Jer. 37:3). Entretanto,
opondo-se vigorosamente à doutrina dos saduceus. quando de sua volta, Jucal uniu-se àqueles que
Por isso mesmo, alguns estudiosos pensam que o exigiam a morte daquele profeta. No original
autor era do partido dos fariseus. Ver Atos 23:7. hebraico, nessas duas passagens de Jeremias, há uma
6. R ito s e c erim ô n ia s e s tr ita m e n te ju d a ic o s . O livro diferença na grafia de seu nome, razão pela qual
de Jubileus mostra-se ainda mais estrito do que o algumas traduções dão seu nome como Jeu ca l, em Jer.
Talmude, em sua insistência sobre o cerimonial. Os 37:3, mas como J u ca l em Jer. 38:1. Nossa forma
estatutos sobre a observância do dia de sábado, sobre portuguesa dá uma só forma, J u ca l, em ambas essas
os dízimos, sobre o casamento, sobre a circuncisão, referências. Jucal viveu em torno de 589 A.C.
sobre a páscoa, sobre as primícias e sobre outras
coisas de uso tipicamente judaico são enfaticamente
salientados. JUDÀ
7. O f i m do o fício p r o fé tic o . Tão fanático mostrou No hebraico, Yehudah, «seja Ele (Deus) louvado»
ser o autor do livro de Jubileus, em favor da lei ou «seja Ele celebrado». Esse foi o nome de várias
mosaica, que ele não via qualquer necessidade para o personagens bíblicas, como também de uma das doze
ofício dos profetas. De fato, ele asseverou ousadamen tribos de Israel, do território pertencente àquela tribo,
te que em vista de termos a lei de Moisés, qualquer e, finalmente, do reino que tinha esse nome, depois de
livre exercício de um ofício extra seria uma ofensa Salomão, desde os dias de seu filho, R o b o ã o (vide).
contra Deus. Presume-se que ele esperava que alguma E sb o ço :
forma de inovação seria produzida pelo ofício I. Indivíduos de Nome Judá
profético, e ele temia muito essa possibilidade. De II. A Tribo de Judá
fato, ele se opunha às inovações impulsionadas pela III. O Território Ocupado por Judá
influência do helenismo, motivo pelo qual ele assumia IV. O Reino de Judá
posição tão conservadora. É isso que sempre acontece
entre os ultraconservadores. Eles temem qualquer I. Indivíduos de Nome Judá
coisa que cheire a novidade. Primeiro, eles declaram 1. J u d á , o P atriarca
que a revelação terminou nas Escrituras, e que não a. N o m e . Ver acima, sob J u d á .
pode mais haver Escrituras. Isso é uma dogma, e não b. F a m ília . Ele foi o quarto filho de Jacó e Lia. Seus
um ensino das próprias Escrituras. Em seguida, o irmãos de pai e mãe foram Rúben, Simeão e Levi
impacto da Palavra escrita torna-se tão poderoso e (mais velhos que ele), e Issacar e Zebulom (mais novos
fanático que as pessoas chegam a temer que o ofício que ele) (Gên. 29:35). Viveu em tomo de 1950 A.C.
profético, ou o uso dos dons espirituais, de alguma De acordo com a Bíblia, Judá casou-se com uma
maneira se tome competidor da Palavra escrita. mulher cananéia, com a qual teve três filhos: Er, Onã
8. N e n h u m a esperança p a r a os g e n tio s . O livro de e Selá. Com a passagem dos anos, conforme nos
Jubileus reflete um judaísmo exclusivista. Não oferece mostra o relato bíblico, ele gerou dois filhos, gêmeos,
qualquer esperança de redenção para os povos com sua nora, Tamar, a saber, Peres e Zera.
gentílicos. De fato, determina que os judeus se c. In fo r m e s H istó rico s. Foi Judá quem sugeriu aos
separem totalmente deles. Por meio de outras fontes, outros nove irmãos que José fosse vendido aos
ficamos sabendo que essa era a atitude típica da ismaelita«. em vez de ser morto. Não temos razão para
comunidade de Qumran; e, assim, isso pode ser uma acreditar que ele não tenha agido movido por um
pequena prova em favor da suposição de que o autor espírito humanitário. Ver Gên. 37:26,27. Entretanto,
do livro esteve vinculado àquela comunidade, em alguns pensam que ele agiu assim por puro egoísmo.
algum tempo de sua vida. Naturalmente, isso É como se ele tivesse pensado: «Se o matarmos, que
representa uma compreensão distorcida do Antigo vantagem isso nos dará? Vamos vendê-lo. E, então,
Testamento, que não era compartilhada por todos os obteremos algum dinheiro». O relato sobre seu
israelitas, porquanto o povo de Israel deveria ser casamento e sobre os seus filhos aparece no capítulo
testemunha, diante de todos os povos, acerca do trinta e oito de Gênesis. Após vários acontecimentos
verdadeiro Deus. E o cristianismo, embora seus importantes com seus filhos e uma nora, ele acabou
primeiros líderes (excetuando Cristo, naturalmente), gerando dois filhos (gêmeos) com sua própria nora,
se tivessem mostrado antigentílicos (ver Atos 10:9-16), por astúcia desta, que se disfarçara de prostituta.
terminou revertendo totalmente essa atitude, ensinan Assim, sem consciência do que estava fazendo, Judá
do que «Deus amou o mundo de tal maneira que...» acabou praticando incesto. Tamar queria filhos a
(João 3:16). Cristo deu à sua Igreja a comissão de qualquer custo; e, ao escolher seu próprio sogro
pregar o evangelho a todos os homens, de todos os (então ela vivia como viúva, quando deveria estar
lugares (Mat. 28:18 ss). Quanto a Paulo, que gostava casada com o filho mais novo de Judá, Selá, mediante
de pregar primeiramente ao judeu, e então, ao grego, a lei do casamento levirato, vide), provavelmente
houve tempo em que, ao que tudo indica, acabou estava pensando que, dessa maneira, ele tomaria
invertendo essa norma. Isso aconteceu na Macedônia. conta dela e dos filhos. Er, o filho mais velho de Judá,
«Opondo-se eles (os judeus) e blasfemando, sacudiu o que se casara com Tamar, havia falecido, não
as vestes e disse-lhes: Sobre a vossa cabeça o vosso deixando filhos. Presume-se que o costume do
sangue! eu dele estou limpo, e desde agora vou para os casamento levirato já operava, antes mesmo de sua
gentios» (Atos 18:6). formalização, em Deu. 25:6. Assim, ela, uma vez
Bibliografia. Ver as bibliografias gerais que há no viúva, casou-se com o segundo filho de Judá, Onã.
final dos artigos sobre L iv ro s A p ó c r ifo s e sobre Mas este também morreu. E Selá, que ainda era
P seu d ep íg ra fo s. muito jovem, teria que crescer um pouco para
casar-se com ela. Todavia, Selá cresceu, mas Judá,
temendo a morte de seu terceiro filho, foi adiando
indefinidamente o terceiro casamento. E foi isso que
611
JU D À
armou o palco para o incesto de Judá e Tamar. às vagueações pelo deserto, antes da conquista da
O caso d e O n ã . Tendo-se casado com sua cunhada, Terra Prometida. O trecho de Núm. 2:9 informa-nos
por força do casamento levirato, Onã praticava o de que Judá era a tribo líder vanguardeira. Os
co itu s in te r r u p tu s , derramando o sêmen no chão. Daí números dos dois recenseamentos (Núm. 1:27 e 26:22)
se originou a expressão «pecado de Onã», que é a não apresentam aumentos significativos na população
m a stu rb a ç ã o (vide). Ver Gên. 38:8 ss. E Deus lhe judaíta.
tirou a vida, igualmente. Por promessa de Judá, ACÃ, que pertencia à tribo de Jndá, causou um
Tamar ficou esperando que Selá se tornasse adulto, incidente desagradável, provocando com isso (como
para casar-se com ela. Mas, como Judá não cumprisse causa espiritual) a derrota militar de Israel diante da
nunca a sua palavra, ela traçou um plano astuto. O cidade de Ai (Jos. 7). C aleb e foi o representante da
que nos chama aqui a atenção foi a facilidade com tribo de Judá, como um dos espias enviados a explorar
que ela conseguiu seduzir seu sogro, a patriarca Judá, a Terra Prometida (Núm. 13:6). Quanto à porção da
ao fingir-se de prostituta! Judá lhe havia dito, anos terra que coube à tribo de Judá, ver o terceiro ponto,
antes: «Permanece viúva em casa de teu pai, até que abaixo. Durante o tempo dos ju íz e s (vide), a tribo de
Selá, meu filho, venha a ser homem» (Gên. 38:11). O Judá manteve uma certa independência das outras
pai dela residia em Adulão. As mulheres rejeitadas tribos. Os homens da tribo aceitaram Saul, o
por muitas vezes se desesperam, e dispõem-se a fazer benjamita, como primeiro rei da nação de Israel,
qualquer coisa! embora, ao que pareça, com uma certa atitude de
d. L id e ra n ça . Embora Judá não tivesse sido o resistência passiva. Isso pode ficar subentendido pelo
primogênito de Jacó, foi «poderoso entre seus irmãos, fato de que eles supriram um miserável contingente
e dele veio o príncipe» (I Crô. 5:2). Por essa razão, para o exército de Saul, quando este combatia contra
assumiu a posição de liderança. Vemos aspectos dessa os amalequitas (I Sam. 15:4). D a v i, que pertencia à
liderança nas jornadas ao Egito, por ocasião da tribo de Judá, desagradou aos efraimitas, quando
prolongada fome de sete anos (Gên. 43:3-10). Ele removeu a capital e o centro da adoração religiosa
desempenhou o papel de mediador, quando a taça de para Jerusalém. Esse foi um dos fatores da
José foi encontrada entre as coisas pertencentes a subseqüente divisão da nação em Israel (dez tribos) e
Benjamim. Foi o apelo eloqüente e intenso de Judá, Judá (duas tribos). As duas nações assim formadas,
diante de José, em favor da família, que levou José a por várias vezes, se hostilizaram. Destarte, a tribo de
não mais poder conter-se, o que o levou a revelar a Judá tomou-se no rein o d e J u d á , unida somente a
seus irmãos a sua verdadeira identidade, pondo fim à uma outra tribo, Benjamim, além de alguns
charada que ele vinha planejando e executando com elementos de S im e ã o e L e v i (ver os artigos sobre essas
tanta maestria. Ver Gên. 44:16-34. Judá também duas tribos). Essa divisão em duas nações ocorreu
enviou Jacó para preparar o caminho diante dele, durante o começo do reinado de R e o b o ã o (vide), filho
para que se instalasse na terra de Gósen (Gên. 46:28). de Salomão, que nascera em cerca de 975 A.C., e que
Porém, nada mais nos é dito no livro de Gênesis, o sucedera no trono. Seguiram-se muitos conflitos e
acerca de Judá, senão na descrição final das bênçãos guerras, tanto com a nação do norte, Israel, como
de Jacó a seus doze filhos, no trecho de Gên. 49:1-12. com certas nações estrangeiras, como o Egito, a Síria,
Naturalmente, foi de Judá que se originou a tribo e, finalmente, a Babilônia, que assolou o território de
de Judá e, finalmente, o reino de Judá. E foi da Judá, e levou para o cativeiro a maior parte de sua
linhagem de Judá, por meio de Peres, filho de Judá, e população. Isso aconteceu em cerca de 586 A.C. Ver o
de Tamar, que veio o Senhor Jesus. E o termo j u d e u ? artigo separado sobre o C a tiveiro B a b iló n ico .
Essa designação também se deriva do nome daquele 3. T erritó rio . Ver a seção III quanto a maiores
patriarca. Ver o artigo sobre ju d e u , quanto à origem e detalhes. Judá foi a primeira das tribos de Israel a
aos usos desse vocábulo. receber os territórios que lhe foram alocados, a oeste
do rio Jordão. Seu território incluía cerca de uma
2. U m levita q u e v oltou a J e r u s a lé m , terminado o terça parte da Terra Prometida a oeste do rio Jordão.
cativeiro babilónico, em companhia de Zorobabel, Suas fronteiras aparecem em Jos. 15:20-63. O trecho
também se chamava/utfd. Ver Nee. 12:8. Isso ocorreu de Jos. 19:1,9 registra que uma parte desse território,
em cerca de 536 A.C. Talvez ele seja o mesmo homem mais ao sul, foi dado à tribo de Simeão. A tribo de
cujos filhos são mencionados em Esd. 3:9, como Judá ocupava as terras altas da Palestina, estando elas
pessoas que também ajudaram na reconstrução do limitadas ao norte, por porções de Dã e de Benjamim;
templo de Jerusalém. a oeste e a leste pelo mar Mediterrâneo e pelo mar
3. U m filh o d e S e n u a , um benjamita, que foi oficial Morto, respectivamente; e a fronteira sul estendia-se
do governo em Jerusalém, «o segundo sobre a cidade» até onde era possível o plantio. Os conflitos com os
(Nee. 11:9). Talvez esse Judá fosse o prefeito de Acra, filisteus fizeram os judaítas retrocederem de parte de
a Cidade Baixa. Ele viveu em cerca de 445 A.C. seu território, permitindo assim que os homens da
4. U m sa ce rd o te ou levita que é descrito como quem tribo de Simeão ocupassem uma faixa do território,
seguia os líderes judeus em tomo da porção sul das que, ao que parece, atuava como tampão contra
muralhas reconstruídas de Jerusalém, depois que ataques estrangeiros.
Judá voltou do cativeiro babilónico, e que seu
remanescente fixou residência em Jerusalém. Ver cia4.daU m a In va sã o A n te r io r p o r J u d á ? A I n d e p e n d ê n
T rib o d e J u d á . Alguns estudiosos têm pensado
Nee. 12:34. Talvez ele seja o mesmo músico que a tribo de Judá teria capturado seus territórios
mencionado em Nee. 12:36. Deve ter vivido em tomo antes da invasão geral da Terra Prometida, sob a
de 445 A.C. liderança de Josué. O trecho de Juí. 1:1-20 conta a
D. A Tribo de Jndá conquista de territórios por parte de Judá e Simeão.
1. D e sc e n d ên c ia . O genitor dessa tribo foi Judá. A Todavia, a arqueologia moderna tende por mostrar
tribo de Judá era uma das seis tribos (metade das que a opinião daqueles estudiosos está equivocada.
tribos) que descendiam diretamente de Lia, esposa de Seja como for, o fato de que os judaítas não
Jacó. As demais seis tribos descendiam de Raquel, conseguiram conservar Jerusalém, no princípio (ver
Bila e Zilpa (duas de cada uma dessas três mulheres). Juí. 1:8,21), bem como o outro fato da existência da
2. In fo r m e s H istó rico s. Nada de especial é dito tetrápolis dos gibeonitas, que se manteve em estado
acerca da tribo de Judá, no relato atinente ao êxodo e de semi-independência (ver Jos. 9; II Sam. 21:1,2),
612
JU D À - JU D A ÍSM O
criaram uma espécie de barreira psicológica entre aproximadas foram 1085—1140 D.C. Nasceu em
Judá e as tribos centrais, mais ao norte. E possível que Toledo, na Espanha, e faleceu na Palestina. Foi um
isso tenha sido um dos fatores que, posteriormente, renomado poeta, filósofo e médico, praticante judeu.
levaram à divisão de Israel em duas nações, ainda Abandonando a prática da medicina, dedicou-se à
que, durante várias gerações, todas as tribos poesia e à filosofia, vindo a tornar-se um dos maiores
continuassem unidas, e até aceitassem Jerusalém, em poetas hebreus da Idade Média. Seus poemas
Judá, como a capital do reino unido. Também refletem o anelo pela terra dos judeus, a Terra Santa.
pode-se dizer, com muita razão, que a topografia Finalmente, ele a visitou (em 1140); e, conforme as
montanhosa de grande parte do território de Judá coisas sucederam, ele acabou falecendo ali, naquele
proveu uma espécie de barreira geográfica entre Judá mesmo dia. Sua principal obra filosófica intitulava-
e as demais tribos. Nos dias de Davi, Judá tornou-se a se K u z a r i. Nessa obra, ele expôs os princípios das três
tribo dominante em Israel, embora a tribo de Efraim grandes religiões, o judaísmo, o cristianismo e o
disputasse essa hegemonia. Estavam sendo semeadas islamismo. Também procurou afirmar e reavaliar a
sementes que, finalmente, provocaram a divisão filosofia de Aristóteles. Edições de sua filosofia e de
jdo povo de Israel em duas nações. seus poemas têm aparecido em. inglês e em alemão.
UI. O Território Ocupado por Judá
O trecho de Jos. 15:1-63 fornece-nos detalhes sobre JUDÀ IBN GABIROL
o território conferido à tribo de Judá. Na verdade, a
tribo nunca ocupou efetivamente todas as terras que Ver sobre Avicebron.
lhe foram outorgadas. Sob a seção II. 3., T erritó rio ,
mostramos quais as fronteiras de Judá, em largas
pinceladas. O território de Judá era caracterizado por JUDAÍSMO
montanhas e colinas. Trata-se de um planalto Sob o título Israel, temos apresentado mais de vinte
semidissecado, que se projeta, mais ou menos, na artigos atinentes aos hebreus, sua cultura, história,
direção norte-sul. Primariamente, era um território governo e fé religiosa. Assim, o que poderíamos dizer
próprio para atividades pastoris, embora com sobre o ju d a ís m o , já foi coberto em outros artigos.
trechos bons para a agricultura. Suas fronteiras Portanto, este artigo aborda as filo s o fia s que se
naturais proviam defesas em todas as direções, desenvolveram dentro do arcabouço do judaísmo.
excetuando o norte. Nas colinas ocidentais havia vales Também temos provido um artigo separado que se
profundos; ao sul havia o deserto do Neguebe; e a intitula F ilosofia J u d a ic a . As definições e usos do
leste havia o deserto da Judéia. termo Isra el aparecem na primeira seção do artigo
As informações bíblicas sobre as cidades do intitulado Isra el, H istó ria d e. Ver também sobre
território de Judá referem-se também às suas fron J u d a ísm o C onservador; J u d a ísm o R e fo r m a d o e
teiras (Jos. 15:1-12). Os lugares ocupados no Neguebe J u d a ísm o O rto d o xo .
são aludidos em Jos. 15:21-32; os lugares ocupados Definições do Judaísmo:
nas terras baixas são mencionados nos vss. 33-47 O termo judaísmo deriva-se de Judá. O cativeiro
daquele mesmo capítulo; os lugares na região assírio marcou o fim do reino do norte, Israel (cerca
montanhosa aparecem nos vss. 48-60 do mesmo de 722 A.C.); e isso deixou Judá em ascendência,
capítulo; e os lugares ocupados no deserto são porquanto o reino do sul (Judá) permaneceu intacto
mencionados nos vss. 61 e 62 do mesmo capítulo. como nação por cerca de mais de cento e cinqüenta
Uma parte da fronteira norte era com o território de anos. Mas, então, veio o ca tiveiro b a b iló n ico (cerca de
Benjamim (Jos. 18:11-28), e outra parte era com o 586 A.C.), que pôs fim temporariamente ao reino d e
território de Dã (Jos. 19:40-48). J u d á (vide). Passados setenta anos, voltou à Palestina
TV. O Reino de Judá um remanescente, composto quase inteiramente de
Ver o artigo separado sob esse titulo. pessoas pertencentes à tribo de Judá. Para todos os
propósitos práticos, pois, Judá tomou-se a nação de
Israel. E, então, os termos ju d e u (vide) e isra elita
JUDÀ (HISTORIA) (vide) tomaram-se intercambiáveis. Isso posto, o
termo ju d a ís m o veio a designar tudo quanto diz
Ver sobre Reino de Jndá. respeito a Israel. A história judaica, a sociedade
judaica, a sua forma específica de governo (a
JUDÀ (PESSOAS) teocracia), e as crenças e costumes religiosos, fazem
parte do que se chama ju d a ís m o . No que concerne à fé
Ver sobre Judá, I. Pessoas Chamadas Judá. religiosa, o ju d a ís m o é uma palavra que se refere
àquele sistema que se tomou a religião que deu
JUDÀ, REINO DE origem ao cristianismo e que também forneceu muitos
elementos ao islamismo. — Dentro do próprio
Ver sobre Reino de Judá. judaísmo desenvolveu-se todo um conjunto de idéias
filosóficas, embora o judaísmo não fosse, especifica
mente, uma filosofia. Este artigo, pois, desenvolve
JUDÀ (Território e Lugares Ocupados) esse tema.
Ver sobre J u d á , II. 3. T e rritó rio , e também seção I. Origens e Idéias Religiosas do Judaísmo
III. O Território O cu p a d o p o r J u d á .
Historicamente, o judaísmo veio à existência
quando foi firmado o p a c to a b ra â m ico (vide). Ver o
JUDÀ (TRIBO DE) artigo geral sobre P a c to s. Desde o começo, o judaísmo
Ver sobre Judá, II. Tribo de Judá. foi uma religião revelada e não uma religião natural
ou filosófica. Em outras palavras, tal como o cristianis
mo, o judaísmo repousa sobre o m is tic ism o e sobre a
sua subcategoria, a revela çã o . Ver os artigos
JUDÀ HALEVI separados sobre M is tic is m o e R evela çã o . Os triunfos e
Ele também se chamava Judah Ben Samuel Halevi. as derrotas do povo de Israel sempre foram medidos
A forma árabe de seu nome é A b u l H a sa n . Suas datas em termos de sua espiritualidade e lealdade a
613
JU D A ÍSM O
Yahw eh. A história de Israel sempre esteve intima Midrash é constituída pela H a la k h a , que contém as
mente ligada à vontade de Deus, tudo dependendo leis judaicas tradicionais, juntamente com preceitos
das reações do povo de Israel, em anuência ou minuciosos, que não se encontram na lei escrita, e
desobediência. Os monarcas de Israel foram sempre pela H a g g a d a h , composta pelas interpretações livres
aquilatados, essencialmente, não por seu desempenho que incluem certo número de parábolas ilustrativas,
militar ou econômico, e, sim, pela retidão deles diante com base em ensinos e sugestões das Escrituras. Ver
de Yahweh, ou pela ausência dessa retidão. Os os artigos separados intitulados, nesta enciclopédia,
judeus, portanto, sempre foram o P ovo do L ivro , H alacá e H a g a d á .
porquanto, para eles, a Bíblia sempre foi o grande 3. A Importância Crucial da Lei
padrão (embora não exclusivo) de leis e de conduta A lei mosaica predominava em Israel. Mas ela
coletiva e pessoal. Dentro desse arcabouço, do ponto exigia interpretação, conforme vimos no segundo
de vista filosófico, poderíamos alistar vários impor ponto, acima. Para tanto, havia necessidade de uma
tantes conceitos que se foram desenvolvendo. estrutura eclesiástica que fornecesse in té r p re te s
1. O Monoteísmo. Ê bem provável que o clã que se autorizados. No começo, Moisés foi o supremo
tomou no povo israelita foi subindo do politeísmo legislador. Aarão, seu irmão, foi nomeado sumo
para o h e n o te ism o , e daí para o m o n o te ísm o . Ver os sacerdote. Mais tarde houve a descentralização, sob a
artigos sobre essas questões. Seja como for, o forma de autoridades civis e autoridades religiosas.
m o n o te ísm o veio a ser o conceito central do judaísmo. Ver o artigo separado so b re Isra e l, C o n stitu içã o d e. O
Não há Deus fora de Yahweh. Esse único Deus é judaísmo posterior produziu o ofício formal dos
Alguém que se revela a si mesmo. Ele é a base própria ra b in o s (vide). Os rabinos eram juízes civis e mestres
do conhecimento espiritual e das normas éticas. A religiosos, ao mesmo tempo. Acima deles havia o
justiça pessoal é requerida pelo judaísmo, como o S in é d rio (vide), o corpo governante máximo do
caminho da salvação. O judaísmo original não tinha judaísmo, bem atuante na época do surgimento do
uma visão clara sobre a imortalidade da alma e sobre cristianismo. Esse tribunal superior tinha autoridade
a vida após-túmulo. Esses conceitos faziam parte de tanto civil quanto religiosa. O s u m o sa ce rd o te (vide)
desenvolvimentos que só surgiram bem mais tarde. era tanto o chefe de Estado quanto o chefe religioso,
Quanto a esse aspecto, o judaísmo chegou a ficar porquanto essas duas funções eram inseparáveis em
atrasado em relação a certas religiões orientais e às Israel. Os escrib a s, por sua vez, trabalhavam com os
filosofias ocidentais, porquanto a revelação que Israel textos bíblicos, copiando-os e fixando a forma da lei e
recebeu foi gradual, à medida que os profetas das Sagradas Escrituras, além de também serem os
recebiam suas revelações e escreviam os seus livros e mestres populares. Finalmente, no judaísmo surgiram
ministravam seus ensinamentos. partidos, como o dos fariseus e o dos saduceus, que
2 . O Cânon Bíblico e os Documentos Judaicos de lutavam pela hegemonia no tocante à liderança civil e
Apoio. religiosa, e cujas idéias religiosas e filosóficas por
O câ n o n da B íb lia provia um padrão sólido para a muitas vezes entraram em choque. Nesse conflito, os
cultura, para a religião e para as filosofias que fariseus, finalmente, levaram a melhor, pois o
judaísmo moderno é apenas uma versão do farisaís-
apareceram no seio do judaísmo. Várias outras obras, mo. Não restaram documentos produzidos pelos
porém, foram surgindo, a fim de interpretar as mestres saduceus. Pode-se comparar os saduceus com
Escrituras, conforme se vê abaixo. A eclosão do as modernas T e s te m u n h a s d e Jeová (vide), porquan
cristianismo forçou a fixação do cânon do Antigo to, tais como estas, negavam as realidades espirituais,
Testamento. Porém, mesmo, então, surgiram vários como a existência de espíritos, de anjos, etc., pois a
padrões canônicos. Os saduceus e os samaritanos posição deles era a do negativismo.
aceitavam como canônicos somente o Pentateuco, os
cinco livros de Moisés. O chamado «cânon protestan 4. A Lei Escrita; A Dominação Romana; a
te», que consiste nos trinta e nove livros do Antigo Diáspora; a Universalização do Judidsmo.
Testamento, coincide com o consenso de opinião na Esses foram importantes estágios do desenvolvi
Palestina, sobretudo entre os fariseus. E também há o mento do judaísmo. A diáspora, ou dispersão dos
«cânon alexandrino», refletido na versão da Septua- judeus, por mais desagradável que tenha sido para
ginta do Antigo Testamento, que inclui os livros eles, foi uma força que universalizou o judaísmo. A
apócrifos. Esse se tomou a Bíblia dos judeus da destruição do templo de Jerusalém provocou a
dispersão. Ver o artigo geral sobre C ânon d o A n tig o descentralização. A escola do rabino Johanan ben
T e s ta m e n to , quanto a maiores detalhes. Zakkai foi importante no desenvolvimento de um
Mas, em qualquer desses casos, a autoridade sistema legal. O T a lm u d e , entre outras coisas,
central, no judaísmo, sempre foi o livro da Lei, a finalizou a universalização do judaísmo. Apareceu
Tora (vide). O texto da lei parece ter-se fixado em então o conceito do Messias, inicialmente ventilado no
tomo do século V A.C. (Os eruditos conservadores livro de D a n ie l, e, então, nas obras p s e u d e p ig r a fa s
modernos, todavia, insistem sobre uma data bem (vide). Esse conceito concebia o aparecimento da era
anterior a essa). O texto da lei requeria interpretação, áurea, um período de paz universal, dentro do qual
razão pela qual vieram à existência o T a lm u d e (vide) e Israel tomar-se-ia a cabeça das nações.
a M id r a s h (vide). O Talmude inclui as estipulações II. Instituições e Tradições Judaicas e a Tradição
civis e religiosas que não se acham na Tora, além de Filosófica Judaica
explicações e ampliações das leis da Torá e do 5. Filo de Alexandria. Ver o artigo separado sobre
próprio Talmude. A M is h n a h (vide) é parte integrante ele. Notemos que continuamos com o q u in to p o n to , a
do Talmude, como uma espécie de sumário da lei oral fim de preservar pontos distintivos, embora, daqui
que havia entre os séculos V A.C. e II D.C. A por diante, esses pontos estejam mais especificamente
Mishnah está ligada à G e m a ra (vide), que amplia e ligados à tradição filosófica de Israel, e não às suas
explica a Mishnah. Também deveríamos observar que tradições religiosas. Alguns estudiosos têm dito que
o próprio Talmude pode ser dividido no T a lm u d e Filo era um Moisés que falava grego; mas outros
P a lestin o , completado aí pelo século V D.C., e o opinam que ele se parecia mais como Platão falando
T a lm u d e B a b iló n ico , que só foi terminado no século em hebraico. Seja como for, temos aí uma verdade.
VII D.C. O material exegético, chamado Midrash, foi Ele representava a tentativa de harmonizar o
desenvolvido entre os séculos IV e XII D.C. A judaísmo com a filosofia grega. A fim de atingir o seu
614
LIVRO DA LEI (ABERTO)
K - ‘. .
CHRISTUS REMUNERATOR
O julgam ento é um dedo da mão am orosa
de Deus. O julgam ento efetua aspectos
im portantes do trabalho do am or de Deus. O
amor de Deus escreverá o últim o capitulo
da história hum ana.
•••
O A m or de Deus é Real
Todo-Poderoso
e se rá
A bsolutam ente Efetivo
U niversalm ente
Afinal