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construir uma historia ¢ (eoria dos arquétipos, Sullivan, que cunhou a frase, ndo pretendeu dar-the um significado funcionalista a Ver, Jenchs €G, But (or.)s Meaning in Architecture, Londres: Design Yearbook Lina 81, Ver G, Broadbent, R, Bunt e€, Jencks (org) Sign, Symbols annd Architecture, cee 1969, ‘82. Isso também foi realizado por Louis Kahn, cuja concepgo da arquitetura se mane hia dlntemente do pensamento de Heidegger, Ver Novberg-Schulz, "Kahn, Heidegger and tet _guage of Architecture”, Oppositions 18, Nova York: 1979. . 48, Ver ©, Norberg-Schulz, “Chicago: Vision and Image”, in New Chicago Architecture. Chi Rizzoli, 1981, - ‘$4, Heidegger, Poetry, op. cit., p. 150. 88. Ibid, p. 227. KENNETH FRAMPTON « UMA LEITURA DE HEIDEGGER Este ensaio (que anterior aos demais reunidos neste capitulo) somente toca marginalmente na filosofia de Martin Heidegger, mas propoe a nogéo fenome nolégica de /ugar como solugdo para os muitos problemas urbanos e ambientais apontados por seu autor, 0 tedrico e educador Kenneth Frampton. Ao privlegiar 0 planejamento de curto prazo, 0 capitalismo gerou um espraiamento “mot6pico” dos subuirbios, que se caracteriza pela maximizagéo do lucro e do consumo me ximo do solo e de energia. Os arquitetos parecem ser atualmente incapazes de criar lugares, enquanto os planejadores se apressam a buscar justificativas logicss para 0 corredor comercial. A falta de diferenciagdo no mundo urbano leva Frampton 2 dizer que "se pardssemos com tudo isso, haveria poucos lugares nos quais quelaue) tum de nds escolheria para estar”. Essa frase nos lembra a surrealista “cidade contnut do Pentesiléia, uma das Cidades invisiveis de Italo Calvino, onde ndo sabemes °° certo se chegamos ou saimos.? “a Frampton chama a atencdo para quatro condigdes contemporaneas 0 interior da 4 , ciptina que diminuem a contribuigdo possivel da arquitetura para o hebitar. A primeira ¢8 impossibilidade de distinguir entre arquitetura © construgdo @ O pressuposto de obra 6 arquitetura. (Esse pressuposto contrasta com 0 concelto de Adolt Loos a ‘outro lado, com &" de quo tt que? arquitetura se restringe aos Monumentos @ aos tUmulos @, Por Hannes Meyer de que tudo 6 construgdo,) A segunda @ a aceltag industrializada em detrimento de todo apelo ao artesanato, A tercera eae prdtica auténoma, que se opde a “produgdo do lugar” @ 80 “estar no mundo eeneenasnasen 7ttt FCN 416 Uma leitura de Heidegger ‘Aesséncia do construir é deixar habitar, A construgdo realiza sua esséncia ao edificar lugares por meio da reuniao de seus espagos, Somente se formos capazes de habitar poderemos construir MARTIN HEIDEGGER, “Construir, habitar, pensar” Com o gradual desaparecimento das alucinagées ut6picas do Iluminismo, torna-se cada vez mais claro que hé muito desenvolvemos o habito de usar sindnimos demais, nao s6 em nossa fala cotidiana, mas também em nossas linguagens especializadas. Ainda nao conseguimos, por exemplo, distinguir satisfatoriamente entre arquite- tura e construgao, apesar de estarmos fartos de saber que essa distingao deve ser feita. Sabemos quanto custou a Mies van der Rohe reconhecer essa diferenga, ¢ também sabemos que em seus projetos ele reivindicou o dominio mediador da Baukunst (a “arte de construir”), uma palavra alema sem equivalente satisfatério em muitas outras Iinguas. Tudo isso nao passaria de mera especulagao etimolégica nao fossemos cons- tantemente lembrados do problema pelas discrepancias culturais e operacionais que invariavelmente se interpdem entre a produgao da forma construida e sua recepcao pela sociedade. Esse lapsus € suficiente para sugerir que tais disjunc6es cotidianas de- vem ter pelo menos algumas de suas origens no fato de constantemente omitirmos aquela distingao na pratica construtiva. E no dominio fisico do mundo construido que deparamos com a dramética evidéncia da tese paradoxal de Heidegger de que a linguagem, longe de ser uma serva do homem, é com demasiada freqiiéncia sua senhora. Por exemplo, invariavelmente, preferimos propor, como principio, o ideal da arquitetura - © monumento em cada circunstancia, publica ou privada, a obra maior ~ para situacdes que demandam apenas “construir”, e é comum que venhamos a nos dar conta da irredutibilidade desse fato sempre apés 0 evento. Com isso, tendemos a idealizar de bom grado ao conceber o projeto, ¢ é isso mesmo que nos leva a racionalizar apds o erro de concepgao ¢ a descobrir, neste Ponto, que as irénicas mistificagdes de Candido tém muito em comum com 0 Senses tine Dei bce la ideologia ou a ingénua exaltagao ‘urbano do nio-lugar”,| essa apoteose do capitalismo rdepositada” ~ no paraiso de Los Angeles, Nessegl- P 9 programa formulado por seus idedlogos, espera-se que : yg reconests mas que também dubai com entusiasmo 0 advento saa omnia sem propingilidade”, para citar outra frase ressonante atras, ee ve fez para neutalizaressas racionalizagbes, As frases podem Lg iis vidas a8 & mentalidade ainda persiste, e ¢ esta que inevitavelmente 1 Eas atitudes enquanto trabalhamos. Se escolhemos, por alguma predis- Way, y go interna ou senso de responsabilidade tardio, evitar a arte autonoma ou a pro- "ay on jora do intelecto podtico, neste caso nos encontraremos freqiientemente i, sits tin nome do populismo, os objetos da cultura elitsta com as complexas Pty He inacoes do entorno tal qual encontrado. Dentro desse espirito, desejaremos vinaras frustragbes da utopia com a loucura dos subtirbios ou comas fragilidades Mma se da Strip; e, enquanto apelamos conscientemente, como forma de justificativa, para emai, imvemacularilus6rio, a verdadeira natureza de nossos problemas ocidentais conti- tad arb anos escapar. Entre a Caridbis do elitismo e a Cila do populismo, a dimensao Aarqut ingral de nosso dilema historico permanecerd oculta. ser iu, Em nenhum outro lugar, as curvas desse labirinto sao tao evidentes, como Heideg- sae - quanto em nossa lingua, no uso insistente que fazemos da palavra de " space {espaco] ou spatium, em vez de place [lugar] ou do vocébulo ger- isoutrs minico Raum ~ note-se que este tiltimo contém conotagées explicitas de uma clareira e . oe tomar forma, Basta comparar os verbetes das duas palavras cw lepiitte sons ry para Verlficas as significagées abstratas de space [espaco) es — natureza de experiéncia social do termo place (Iugar],? para con ee rates Be ‘ite {na integra] com 0 ato de significativa contengao. i) aU eae tots in ee Ae lespeculacso vazia se no pudéssemios oferecer oe Pic is a para criar lugares; uma incapacidade que pre- i a ee pealinieso q\ ura e nos irigni aria ithg da elite} assim como na f p Bil cenis, he lugar parece ser inimigo do paradigma mental que re- i (ts noses a itetos, mas também como uma coletividade. Em nossos de abst, » periodicamente nos congratulamos por uma capacidade doen- is epee comromisto com as normas de coordenagao estatistica; pela we sha esidade A nse de objetificagao que nao aceitario nem o fausto bh ina ai ‘a ee R soe - medo de admitir que talvez te- post le de estar em algum lugar. Nés nos bi amet mobilidade, de nossa rush city’ (“cidade da pressa”}, WM escobie elie de Richard Neutra, de nosso consumo de tragao delirante, ee Pardssemos, haveria poucos lugares nos quais qualquer um 4m 478 de nés escolheria para estar. Trocamos, com alegre inconseqiiéncia, nossa jé débil in- fluéncia na esfera ptiblica pelo aturdimento eletronico da esfera privada do futuro, [Apesar de tudo, fora do sonambulismo “em massa” engendrado pela televisio, ainda ‘nos regalamos com a proliferagao do kitsch de beira de estrada ~ na miragem forjada de “algum lugar”, fabricada em meio as fachadas de outdoors e & parafernélia fantas. magérica que encenam uma “clausula de escape” da paisagem da alienagao. Em tudo isso, a degeneragao da linguagem fala por si mesma. Palavras como “desfolhamento” e “pedestrianizagao” entram na linguagem cotidiana como categorias extrafdas dos ‘mesmos processos de racionalizagao tecnolégica. Com nuangas de newspeak;' esses termos revelam uma ruptura fundamental em nossa comunica¢do com a natureza (in- clusive nossa prépria natureza) ¢ falam de um processo de devastagio que s6 poderd desembocar em nés mesmos. Nessas circunstincias, parece que o triunfo universal do “dominio urbano do nao-lugar” sé poder ser modificado por uma profunda consciéncia da histéria e uma rigorosa andlise sociopolitica do presente como uma continua realizagao das expec- tativas do passado, Nao temos outra opgao senao reformular os componentes dialé- ticos do mundo, determinar de modo mais consciente os elos necessadrios entre lugar e produgdo, entre 0 “qué” e 0 “como”, Essa reciprocidade de fins e meios nos atrela uma realidade histérica na qual as fantasias iluministas da tabula rasa perdem boa parte de sua autoridade. Com o patente esgotamento dos recursos nao-renovaveis, 0 mito “tecnotépico” do progresso ilimitado fica um tanto desacreditado e, nessas cir cunstancias, a produgdo do lugar nos leva de volta, por causa da restrigao econdmi nao a arquitetura, mas a Baukunst, e ao que Aldo van Eyck jé denominou de “intem- poralidade do homem”. Aceitando-se os limites de nossas circunstancias histéricas e 0 eterno conflito entre meios e fins e da liberdade contra a necessidade, 0 que se torna decisive € 0 proceso pelo qual se determinam as prioridades decisérias, pois, em ultima andlise, como nos fazem lembrar Jiirgen Habermas e Giancarlo de Carlo, os ‘objetivos do pro- jeto, da mesma forma que as motivag6es de nossa instrumentalidade, somente podem ser legitimados pela ativacao da esfera publica - o campo da politica que, por st ver, depende da materializacao fisica e representacional do coletivo. Nesse ponte criti lugar, independente de sua escala, assume um aspecto arquetfpico: seu atributo ances tral, que é tanto politico como ontoldgico. Sua legitimidade origina-se, como édevido, ico, 0 dos grupos sociais que acomoda e representa. A pré-condigio fisica minima para a defini de um objeto em sie por si na natureza, mesmo que seja apenas Ut gem ou um rearranjo da prépria natureza. Ao mesmo tempo, a mers objeto nao garante coisa alguma. Os ciclos dos processos modernos de prove consumo parecem nao ser capazes de conter 0 esgotamento dos r. P 10 conscient® 10 do lugar é a colocaga m objeto na pais® existéncia deu™ Joe ecursos € 0 des gto, independente da proporgio em que é gerada, Justificar a assim geo PA agdo com alegagoes sobre o progresso e a adaptabilidade humana é gaa onic : jo do homem, wt aan a atiensag’ fir F nto sixar de confundir o primeiro com a segunda, isto é, os fins com os jo, de pros jalmente : ‘ ye eo ugar ée gencialmente qualitativo, ¢ em sie por si conereto ¢ estatico, a 5, ONE eo essalt prow A preciso recontiecer #.00 preciso reconhecer a oposigio dialética entre ara quantidade e a ser em sie por si dindmica e abstrata, endear snomeno aristotélico, 0 lugar surg lo social e, no plano concreto, com o estabelecimento de uma no plano simbélico com a significa ls? como um pte de um sentid pconscie " jgramente definida em que o homem ou os homens podem passar a existir. A re jo clarame ’ eg asensivel ressonineia de um lugar = a saber, a percepgao sensorial de sua cian vcomo lug slidade com : adequagio eriqueza da experiéncia sociocultural que ele proporciona. uma realidade da qual lependem, primeiro, de sua estabilidade cotidiana para os sentidos csxgundo aperie Fevidente que & produgio tem leis propria ven de n6s pode escapar. Mas @ margem de escolh para ser explor ada por completo, nao tanto que se chegue, por falta de opgao overno de ninguém, & chamada tirania utilitarista da técnica, Como vinculada a que sempre nos resta de- manda, oestado de fatalmente ligado ao “como”, tudo reside em como e para que fim es- concernentes & produgao, no sé as da strutura das forgas produtivas que inexo- “que” est colhemos modificar as subcategorias 6tima forma construida em si, mas também as da ‘ayelmente configuram o ambiente construido como elemento na economia geral de nossa relagdes com a natureza, z de alimentos, enormes Uma situa extensi Jo em que, no limiar de uma grande de terra cultivavel de primeira qualidade *urbanizagio e exploragio mineral, sem a imposig “inne pode ser qualificada de econdmica, em qualquer @ eo a forma que o espraiamento dos subtrbios s6 serve para estimular a Astnhas de me bee e maximizar a amortizag&o dos inve: timentos em Sessa to dy a insta de consumo. A criagdo do lugar, no sentido onal 0 e poll: eGo na tee ug ral mente € prejudicada pela persisténcia de eile dees Sis soe ee wenn oc. aun Siveriata BAIR esscia da es publica também ites de “provimento” do transporte puiblico, Todo discurso sobre o Mbien conta ‘ieaPwtie que nao faga pelo menos uma pequena referencia a esses tipos bh 5 na sociedade tende a Mistifcar as cj . continuamente perdidas para de limites apropriados, difi- cepgaio fundamental do ‘isicas entre os interesses de curto ¢ longo pra plang mney histéricas em que trabalhamos. s “ expecifico da forma construida, a produgdo, considerada tinica ¢ Como economia de método, tem a desastrosa tendéncia de inibirem Dara 4 tiagto de lugares receptivos. Um exemplo disso & tendéncia uni Nhe gh sttUsto de torres estereométricas ce lajes lsas, onde se atribul prio "8.4 economia da edificago dos pavimentos em detrimento de outras Yen “de faci it Not consideragdes morfoldgicas. No mesmo espirito, a industrializagao ou da construgao, conseqiténcia inevitivel da inviabilidade da produgao artesanal nut, sociedade de massas, nao deve ser vista como um beneficio em si, especialmente quando esses métodos levam a um evidente empobrecimento do ambiente, devido a uma otimizagao abstrata. E aqui, nesse confronto hipotético entre a desejabj lidade ambiental na escala macro da contengao urbana e a indesejabilidade ambiental na e. cala micro dos grandes arranha-céus, talvez tenhamos um exemplo oportuno, ainda que muito esquemético, do que se poderia chamar de uma dialética ambiental da pro. dugao, um estado de coisas em que os ganhos quantitativos € qualitativos de um nivel devem ser cotejados com as perdas quantitativas e qualitativas do outro. As relagdes necessrias entre lugar, produgdo e natureza sugerem 0 conceito bio- logico do “platd homeostitico”, no qual os loops de regeneragao energética de um me- tabolismo orginico servem para alimentar o estado estaciondrio do sistema inteiro - sindrome de “crescimento zero” na natureza. Modelos estruturais compardveis no campo do ambiente construido jé foram propostos em diversos niveis de detalha- mento, desde a cidade agroindustrial linear de N.A. Maliutin até o perfil metabélico do ambiente construido de Ralph Knowles, como se fosse uma extensio climitica e topogréfica da paisagem. A natureza ecolégica desses modelos abstratos se reflete na reciclagem direta de detritos orgdnicos para uso da horticultura, ou para a conserva- ao da energia total requerida para aquecimento e resftiamento. Nao surpreende que até agora, apesar da febre de estudos sobre energia solar, os interesses de curto prazo tenham conseguido inibir a aplicagdo, ainda que limitada, desses modelos. Essa situa- do nos parece ser um reflexo da influéncia desses interesses, com os quais boa parte das faculdades de arquitetura deixou de se preocupar. Esta critica desapaixonada das atuais praticas do projeto e de sua substincia pe- dagégica nos traz novamente ao problema da natureza da arte de construir. A ten- déncia em curso de polarizar a esséncia da forma construida, como se fosse necessa- riamente uma coisa 86, parece-me nao ser outra coisa sendo uma recusa ideol6gica a enfrentar a realidade hist6rica. O trabalho de construir resiste intrinsecamente ¢ tal polarizagao. O ato de construir situa-se bem na interface fenomenoldgica en tre os dominios infra-estruturais e superestruturais da produgao humana. Nesse ponto, ele atende as necessidades do homem de realizar suas potencia idades na natureza e faz a mediagéo, como elemento catalisador fundamental, entre 08 tr estados da existéncia humana: primeiro, sua condi¢ao de organismo que tem nece terceitos sidades fundamentais; segundo, sua condigao de ente sensivel e hedonista; sua condigao de consciéncia cognitiva auto-afirmativa. A produgao artistic i F e re tido noma certamente tem muitas provincias, masa tarefa de criagdo de lugar, n° on fi ensatdrio da mais amplo, nao é necessariamente nenhuma delas. O impulso comp: oe undo & arte autonoma tende a afasté-la da realizagdo concreta do homem no ™ que a arquitetura busca apropriar-se antecipadamente de toda a cul- ma conscientemente tanto do construir como da realidade hist6rica. ture 44 tinha afirmado indiretamente em 1910, quando escreveu, com sua parte da (ron Reading Heidegger” fot extraido de Oppositions 4, out. 1974, s.p. Cortesia do autor e doeditor.] orignal nowplace urban reaim. Em termo cunhado pelos gedgrafos urbanos norte-america- wt jdecada de 1970 para indica a cidade do futuro em que o uso do automével per dade to grande que o local de residéncia se tomnara intangivel e sem signifcago, [8.r-] + Amesma relagdo existe entre as palavras em portugués “espago” e “ugar”. Ver qualquer bom iria uma diciondrio da lingua portuguesa. (N.r.] + sh city designa a cidade futurista construida em torno do automével, com sua malha interminavel as cuidadosamente planejados para o transito em alta velocidade. [¥:7-] ria para enganar e deciificios eave 4. Newspeak significa usar uma linguagem deliberadamente ambigua e contra manipular 0 pablico. (8.1. JUHANI PALLASMAA « A GEOMETRIA DO SENTIMENTO: UM OLHAR SOBRE A FENOMENOLOGIA DA ARQUITETURA Assim como Christian Norberg-Schulz, © arquiteto e teérico finlandés Juhani Pallas- maa trata do problema da perda de capacidade de comunicagao da arquitetura, Este ensaio, publicado em periddicos finlandeses e dinamarqueses, traduzido para ©inglés, demonstra um ponto de vista fenomenolégico. Para 0 arquiteto, o signifi cado depende da capacidade dos projetos de simbolizar a existéncia ou presenga humana e, como os arquitetos modernos parecem ter ignorado, da experiéncia Boe do trabalho. As formas em si ndo tém significado, mas podem comunicar um a “tig meio de imagens enriquecidas por associagées. A ciéncia @ @ razéo, diz Pallas- acces: para a formagdo de uma atitude intelectual limitante, como a andlise, oe € 0 elementarismo, de conseqiiéncias desastrosas para a arquitetura. A oe, espacial da arquitetura, ao contrario, @ sintética, opera em varios niveis simul thee a ‘™entalfisico, cultural/biolégico, coletivo/individual etc. Baseando-se em lel- ina Smun Hussor, Matin Heidegger © Gaston Bachelara,Palasaa formula uma eh ae do apoio da experiéncia na memdria, na imaginagdo © NO inconsciente. Indo” fendmeno do lugar”, Norberg-Schulz afirma que “morar numa case é habitar ° Nae '88a concepgdo da casa como uma condensagao de uma experiéncia "mals geral 0 influiu na importancia que Pellasmaa atribui a0 lugar da morada: "Na verdade, apresentacao "hur KENNETH FRAMPTON . PERSPECTIVAS PARA UM REGIONALISMO CRITICO Este ensaio foi publicado em Perspecta: The Architectural Journal, em 1983, desenvolve um dos temas da agenda apresentada por Frampton no ensaio "The Isms of Contemporary Architecture” ' Desde a sua publicacao, 0 “regionalismo critico” tem tido enorme influéncia entre os arquitetos. A expressao, que Frampton tomou emprestada dos tedricos ‘Alexander Tzonis e Liane Lefaivre (ver neste capitulo), de certo modo jé indica a abordagem por ele proposta, pois 0 ensaio de Frampton sintetiza alguns aspectos da steotieertica” frenkfurtiana com um interesse fenomenolégico na especificidade do lugar. O texto realga ainda importantes quest6es fenomenolégicas, politicas e culturais relacionadas com o problema das fronteiras Neste, como em outros trabalhos de Frampton, hé uma constante referéncia & pro- blemética marxista da manipulagéo do consumidor (“admass seduction") e ao problema da arquitetura concebida e percebida como uma moda efémera ("formas individualistas de narcisismo") ou como cenografia. Essa mercantilizagao do abrigo nega a expresséo e a identidade locals. A critica de Frampton propoe como alternativa uma arquiteture auténtica baseada em dois aspectos essenciais da disciplina: a consciéncia do lugar e a tectonica. A intencéo ¢ reconstituir as bases de arquitetura sem prescrever uma estratégia exclusiva. Assim, uma obra exemplar de arquitetura "evoca a esséncia onirica do lugar com a inesca- pével materialidade da construgao’ A nogéo de “construir o lugar”, atribuida a Vittorio Gregotti (cap. 7) e evidenciada na obra de Louis Kahn e Alvar Aalto, 6 essencial ao regionalismo critico. A énfase e o comprometi- mento com a topogratia (0 modelo do lugar construfdo) contrastam drasticamente com o ideal 16pr0 ao Estilo Internacional de um terreno plano e desobstruido. Raimund Abraham, Tadao Ando (cap. 10) e Mario Botta ilustram uma primeira estratégia pos-moderna da paisagem ‘gualmente importantes na abordagem do regionalismo critico s8o 0 aproveitamento 2s habilidades artesanais e materiais locais, além de uma receptividade a luz e a0 clima a regiao. Essas caracteristicas ajudam a criar uma arquitetura mais espacial e experimen- '2I do que orientada para a imagem. Manifestacdes mais recentes do regionalismo critico {estacam as questées climéticas e insistem em afirmar que uma arquitetura baseada nas Bréticas construtivas regionais 6 mais correta do ponto de vista ecol6gico, além de diferen- Giada do ponto de vista estético, Frampton critica, por exemplo, a ubiquidade do ar-cond- “lonado, responsavel pela exportagao de uma arquitetura universal para todo 0 Pei De modo geral, 0 regionalismo critico incentive a resisténcia & homogeneizagéo do anv Bente constrido, que & um dos resultados da modemizagéo das técricas construtvas © de Frampton nao defende a adogao de elementos es- elecer: “uma indy ? me ‘tiazagao dos materiais. No entanto, a ticos vernaculares nem se opde a arquitetura moderna. Seu objetivo ¢ es ee '®6ricaalternativa que sirva para dar continuidade ao exercicio crtico da ae td f 2 de agregar o legado libertador @ poético do movimento maderno do préave busca uma arquitetura que seja “capaz de condensar 0 potencial attisticg de reinterpretar as influéncias culturais vindas de fora” e deve brotar dos “enclaves” locais Frampton da regido e, ao mesmo tempo, critica da modernizagao universal que ele propo dos bolsbes de resistencia, Os arquitetos podem respaldar essa expressio de identidade politica facilitando a compreensao do lugar. ‘A verséo da teoria de Frampton publicada em Perspecta cita um numero maior de ay. quitetos projetos e @ mais centrada nas questoes da cidade & da democracia que outros artigos posteriormente publicados sobre 0 mesmo assunto. Um outro aspecto que distin. gue 0 seu ensaio é 0 exame das "formas analdgicas”, uma idéia que provavelmente deriva de Aldo Rossi (cap. 7). Além disso, nesta verséo, 0 ensaio trabalha a distingao estabelecida por Paul Ricoeur entre cultura (um fendmeno local e particular) e civilizagéo universal domi. nante, como uma oposicdo entre natureza e tecnologia. O regionalismo critico busca fazer uma sintese arquitet6nica de ambos os conceitos 1. Kenneth Frampton, “The Isms of Contemporary Architecture’ in Modern Architecture and the Critical Present, Architectural Design Profiles, 1982, pp. 61-82. 2. Kenneth Frampton, “Place-Form and Cultural Identity’ in John Thackara (org.), Design After Moder nism: Beyond the Object. Nova York: Thames and Hudson, 1988. KENNETH FRAMPTON Perspectivas para : um regionalismo critico - [...] O fenémeno da universalizagao, apesar de ser um avango para a jumanidade, ins- as tradicionais ~ 0 que ndo che- mnominarei provisoriamente ¢® sulturas, esse micleo @ partir de nticleo ético e mitico © tue essa vinica cvilizas®? 10 ou de erosio 3s titui uma espécie de sutil destruigao nao s6 das cultur: gaa ser um mal irrepardvel -, mas também do que de niicleos criadores das grandes civilizagoes e das grandes © do qual interpretamos a vida, e que chamarei de antemao humanidade. O conflito nasce dai. Temos a impressao de q} mundial exerce simultaneamente uma espécie de ago de atrit sas dos recursos culturais que constituiram as grandes civilizagoes ameaga se expressa, entre outros efeitos perturbadores, pela notéria dif liao mediort 6 éa derris6ria contrapartida do que acima chamei de cultura semestar.No mundo into, em todos os lugares, encontramos os mesmos filmes de péssima qualidade, as mesmas méquinas caca-niqueis, as mesmas atrocidades de plis- fico ov aluminio, a mesma distor¢ao do idioma pela propaganda ete. Tudo se passa como set humanidade, ao ascender en masse a uma cultura de consumo bisica, tam- pam estagnasse, em massa, no nivel de uma subcultura. E este o problema crucial com vjedefrontam os paises que emergem do subdesenvolvimento. Para enveredar pelo aminho da modernizacao, sera necessério jogar fora a cultura do passado que foi a raison d’étre de uma nagao? [...] Daf se origina o paradoxo: de um lado, a nagao tem defincar raizes no seu passado, forjar para si mesma um espirito nacional e desfraldar essa reivindicagao cultural e espiritual perante a entidade colonialista. Mas, para po- der tomar parte da civilizacao moderna, é necessério participar simultaneamente da racionalidade cientifica, técnica e politica, 0 que muitas vezes exige o abandono puro simples de todo um passado cultural. O fato é que nem toda cultura pode suportar ce absorver 0 choque da civilizacao moderna. E 0 paradoxo é: como modernizar-se € retornar as fontes? Como despertar uma velha civilizagao adormecida e se integrar na civilizagao universal [...] Ninguém pode prever o que aconteceré com nossa civilizagao quando ela de fato se encontrar com civilizagées diferentes por outros meios que nao 0 choque da conquista eda dominagao. Mas temos de admitir que esse encontro ainda nao se deu no plano de um diélogo auténtico. E por isso que estamos hoje em uma espécie de calmaria ou interregno, em que ja nao praticamos o dogmatismo de uma verdade Ginica e ainda nao somos capazes de vencer 0 ceticismo em que nos envolvemos. Estamos dentro de um tiinel, no creptisculo do dogmatismo e no alvorecer de didlogos verdadeiros.! Otermo regionalismo critico nao pretende denotar o vernacular como algo produzido “pontaneamente pela agao conjunta do clima, da cultura, do mito e do artesanato, s “escolas” regionais recentes cujo objetivo é represen- que se inserem. Um ea consciéncia poli mas, a0 contrério, identificar a: lareatender, em um sentido critico, as populagdes espectficas em tal regionalismo depende, por definigao, de uma associagao entr i tica de uma sociedade e a profissio de arquiteto. As precondigdes para surgimento deuma expressao critica regional incluem nao apenas certa prosperidade Jovelvanae também um forte desejo de realizar eetivamente uma identidade. Uma das principe forcas motivad loras de uma cultura regionalista é um sentimento acticent isto é Uma aspiracao por algum tipo de independéncia cultural, econdmica e eT poe Ofilésofo Paul Ricoeur desenvolveu a tese de que uma “cultura mundial” hibri Somente sia fertilizacio reciproca entre uma cul- Se tor i meio da fertilizags ard uma realidade por ae ersal, por outro, Essa PrO- tura de eh ~ S€ raizes locais, por um lado, e uma civilizagao W enti hata cm unt ext regional dEveret PPE Te . mundial parte da nogdo de que o desenvolvimento em si transformard ne. ‘a base da cultura local, Em seu ensaio de 1961, “Civilizagio universal ‘e culturas nacionais”, Ricoeur afirmou que, em iltin andlise, tudo depende da ca. pacidade da cultura regional de recriar uma tradigio de rafzes locais e de, ao mesmo tempo, apropriar-se das influéncias estrangeiras seja no plano da cultura seja no da civilizagio, Esse processo de fertilizagdo reefproca e reinterpretagao ¢, por definigio, impuro, Isso fica bem evidente, por exemplo, na obra do arquiteto portugues Alvaro Siza Vieira, Na arquitetura de Siza, o método da colagem usado por Alvar Aalto para a forma construtiva é mediada por tipologias normativas inspiradas nos trabalhos dos neo-racionalistas italianos, B necessirio distinguir, para comegar, 0 regionalismo critico da evocagio sim- plista de um vernacular sentimental ou irdnico, Refiro-me, naturalmente, aquela nos- talgia do vernacular que vem sendo atualmente entendida como um retorno tardio ao ethos da cultura popular; se nao fizermos essa distingdo, acabaremos por confundir a capacidade de resistencia prépria ao regionalism com as tendéncias demagogicas do populismo. De fato, ao contrario do regionalismo, 0 objetivo central do populismo é fancionar como um signo comunicativo ow instrumental. Esse signo nao busca evocar uma percepgito critica da realidade, mas a sublimagio do desejo de uma experiér imediata pela prestagio de informagdes, Seu objetivo tatico é aleangar da forma mais econdmica possivel um nivel idealizado de gratificagao em termos comportamentais. Por isso, as grandes afinidades do populismo com as técnicas retéricas e as imagens publicitarias nao sio meras coincidén regionalismo critico, por outro lado, é uma expres cionalmente desconstruir 0 modernismo universal a partir de imagens ¢ valores lo calmente cultivados e, ao mesmo tempo, deturpar esses elementos autéctones com © uso de paradigmas origindrios de fontes alienigenas. Seguindo a abordagem cult ral disjuntiva praticada por Adolf Loos, o regionalismo eritico reconhece que nao hi ‘outra tradigao viva dispontvel ao homem moderno senao os procedimentos sutis da contradigao sintética, Qualquer tentativa de burlar a dialética desse proceso criatvo por meio dos métodos ecléticos do historicismo resultard inevitavelmente numa ico ia ‘do dialética. Busca inten. nografia consumista disfargada de cultura. Meu argumento é que o regionalismo camente nas frestas culturais que articulam das maneiras mais inesperad as Améri Essas manifestagdes fronteirigas podem ser descritas como . A existencia de express0es ménico cercado por satel cult. ico continua a desenvolver-se esporat as a Europa e ticios “intel de liberdade”,’ para usar uma expresso de Abraham Mole culturais desse tipo comprova que o modelo do centro hege! tes dependentes ¢ uma descrigao inadequada e demagogica de ‘Tipico de um regionalismo explicitamente anticentrista foion cionalismo cataldo, que surgiu com a fundagao do Grupo R no comes nosso potencial jo na enascimento m 0 da década de emgeral. Esse projeto de mao-dupla foi anunciado publicamente pela primeira vez por Bohigas em seu ensaio Possibilidades para uma arquitetura barcelonesa”,* pu- blicado em 1951. As varias forcas que contribuiram para a forma heterogénea do re- gonalismo catalao exemplificam, em retrospecto, a natureza essencialmente hibrid de uma genuina cultura moderna. Primeiro, havia a tradicao catala das construgées emalvenaria, que data, obviamente, do periodo heréico do modernismo; segundo, havia a influéncia do neoplasticismo, diretamente inspirado no livro de Bruno Zevi, La Poetica della Architettura Neoplastica, de 1953, e, por Gltimo, o estilo revisionista do neo-realismo italiano, exemplificado sobretudo nas obras de Ignazio Gardella? A carreira do arquiteto barcelonés J. A. Coderch seguiu um curso tipicamente regonalista, haja vista a sua hesitacdo, até recentemente, entre uma alvenaria verna- cular moderna mediterraneizada - evocando Veneza -, visivel, por exemplo, em seu edficéo de apartamentos de oito andares, de tijolos, construido no Paseo Nacional, em Barcelona, em 1952-54 (um volume definido pelos panos continuos de venezianas aollongo de toda a superficie exterior do edificio e pela comifja tabular em balango) € 2.composicgo vanguardista neoplistica de sua Casa Catasis, condluida em 1957, em Sages. O projeto de Martorell, Bohigas e Mackay oscila entre os mesmos pélos: de um ldo, 2 adoggo de uma construgéo vernacular em alvenaria, parecida com os trabalbos de Coderch e Gardella,e, de outro, o estilo publico neobrutalista, cujo melhor exem- lo, aliés, € 0 racionalismo técnico da Escola Thau, de sua autoriz, constraida nos subizxbios de Barcelona em 1975. A manifestacZo mais radical da decadéncia recente do regionalismo catalio pode sr vista no trabalho de Ricardo Bofill e do Taller de Arquitectura. Se os primeiros Projetos de Bofill (como o edificio de apartamentos da Calle Nicaragua de 1964) mos- tavam evidente afinidade com a reinterpretacao de Coderch da constroczo wernacs lar de tiolos, o Taller adotaria uma retdrica mais exagerada nos anos 1970. A partir 4 conjunto de Xanadu, construido em Calpe (1967), 0s arquitetos ingressariaas ex 1 uma forma cenografica fotogenica, Em ultima andlise, apesar de ita vaga homenagem a Gaudi, Walden 7 consagra uma forma de apelo Ss massas, fg arquitetura do narcisismo par excellence, pois a retérica formal visa, sobretudo, alta noda e ao marketing da personalidade extravagante de Bofil. A utopia hedonista me. diterrinea que o arquiteto pretende realizar desmoronaa um escrutinio mais igoroso sobretudo no nivel dos tetos-terragos, um ambiente potencialmente sensual que nag se realiza em uma forma real de ocupagio. Nada poderia estar mais distante das intengdes de Bofill do que a arquitetura do mestre portugués Alvaro Siza Vieira, cuja carreira, comegando por sua piscina da Quinta de Conceigdo, conclufda em 1965, pode ser tudo menos fotogénica, Percebe-se isso claramente nao s6 na natureza evasiva e fragmentéria das imagens publicadas de seus trabalhos, quanto num texto escrito em 1979: tavel, mas crial ‘A maior parte dos meus trabalhos nunca foi publicada; algumas coisas que eu fiz somen- te foram desenvolvidas em parte, outras sofreram profundas modificagées ou foram destruidas. Era de se esperar. Uma proposta arquitetonica cujo objetivo ¢ ir fundo {...) uma proposta que tem a intengao de ser mais do que uma materializacao passiva, que se recusa a reduzir essa mesma realidade, que analisa cada um de seus aspectos meticulo- samente, uma proposta dessa ordem nao pode encontrar respaldo em uma imagem fixa, nao pode seguir uma evolucao linear [...] Cada projeto deve captar com o maximo rigor um momento preciso da imagem passageira, em todas as suas nuangas, e, quanto mais exatamente se reconhece essa qualidade passageira da realidade, mais claro sera 0 seu desenho [...] Esta talvez seja a razao pela qual somente obras marginais (uma habitagao tranqiiila, uma casa de fim de semana em um lugar distante) conservaram-se da ma- neira como foram originalmente projetadas. Mas algo se mantém. Guarda-se uma peg? aqui, outra ali, dentro de nés, talvez perfilhada por alguém, deixando marcas no espa¢o e nas pessoas, fundindo-se em um proceso de transformagao total.® Talvez pudéssemos dizer que essa hipersensibilidade para a natureza fluida e ainds assim especifica da realidade ¢ 0 que faz. com que a obra de Siza seja bem mais est" turada e enraizada que as tendéncias ecléticas da Escola de Barcelona; isso pora'® eo riare er cuitetara de Aalio como pontoide partida, Siza/pareceiter cones? alicergar seus edificios na conformagao de uma determinada topografia ena refine especificidade do contexto local. Nesse sentido, seus projetos sao respostas goo ao tecido urbano e a paisagem litoranea da regido do Porto. Igualmente importa é a extraordindria sensibilidade de Siza aos materiais locais, ao trabalho ae sobretudo, a sutil luminosidade da regiao - a sensibilidade a um tipo de pe “a penetracao da luz, Tal como a Universidade Jyvaskyla (1957) ou 0 Saynaitsalo i (1949), de Aalto, todos os edificios projetados por Siza sao delicadamente a5" BE pppasnseoure Oterrend: Dasua Casa Bires, construfda em Pévoa de Varzim, em oo endas Sociais SAAT, €m Bouvza, de 1977, sua abordagem évisivelmente mais ee material do que visual e grafica. Até nos pequenos prédios bancérios, dos quais a thor talvez seja a — do banco Pinto & Sotto Mayor, em Oliveira de Azeméis, a seus projetos S40 concebidos ¢ estruturados topograficamente. No trabalho tedrico do arquiteto austriaco residente em Nova York, Raimund pram, também podem descobrir conotagdes regionalistas atentes, jé que ele empre © destacou por cone a tea do lugar e os aspectos topograficos do am- piente construido. nt Casa de ares Paredes (1972) e a Casa com Paredes de Flores (1973) $40 obras ontolégicas tipicas do comego da década de 1970 ao evocarem a es- séncia onirica do local ea inescapavel materialidade da construgao. Abraham con- snow sua sensibilidade para a natureza tectOnica da forma construfda ea capaci- jjdedesta de transformar a superficie do terreno nos projetos que ele preparou para “international Bauausstellung em Berlim, a 1B4, principalmente nos tltimos projetos paraSouth Friedrichstadt, concebidos em 1981. ‘Uma atitude igualmente tatil, embora mais especificamente regionalista, pode ser observada nos trabalhos do veterano arquiteto mexicano Luis Barragdn, cujos me- ihores projetos de residéncias (muitas delas construidas no subuirbio de Pedregal) io extremamente topograficos. Paisagista, tanto quanto arquiteto, Barragén sempre procurou fazer uma arquitetura sensual e mundana, uma arquitetura feita de espa¢os fechados, marcos, fontes, cursos d’4gua, cores saturadas; uma arquitetura assentada na rocha vulcanica e na vegetagao exuberante; uma arquitetura que remete apenas indiretamente a estancia colonial mexicana. Para se ter uma idéia da sensibilidade de Barragén com relagao as suas raizes miticas, é suficiente citar um trecho de suas me- mérias sobre 0 pueblo apécrifo de sua juventude: e197 infancia sao da fazenda de minha familia perto do vilarejo de Mazamitla Era um pueblo cercado de colinas, constituido de casts o- Hikaru iets edyerndk queer de mace ean ag chuvas que cae naquela regido. Até a cor da terra era interessante, porque era verme- tha. Nesse vilarejo, o sistema de distribuigao de égua consistia em grandes i atvore cortados e cavados na forma de calhas, apoiados numa estrutura de forquilhas, se aqueduto atravessava de cinco metros de altura, e preso em cima dos telhados. toda a cidade e chegava aos i das casas, onde havia grandes fontes * paper Teceber a Agua, Nos patios ficavam os estabulos, com vacas e galinhas, tt : na : - lado de fora rua, ficavann ox exgolas de ferro pata presides 09 oe ae : Bice dastacaipead arte troncujeaperan ON ue emprestava ao vilaejo uma atmosfera de conto de fades Nao, nio Baas do lugar, Esté tudo na minha mem6ria! Aslembrangas mais remotas de minha Essas recordagdes foram certamente filtradas pelo envolvimento de Barragén com a arquitetura islamica ao longo de toda a sua vida. Sentimentos e preocupacdes seme. Ihantes aparecem em sua oposigio a invasio de privacidade no mundo moderno e na critica 3 lenta erosio da natureza que acompanha a civilizagao do pés-guerra, ‘A vida cotidiana esté se tornando demasiadamente publica, Radio, televisao, telefone, tudo invade a privacidade, Por isso, os jardins devem ser murados ¢ nao ficar expostos ao olhar das pessoas [...] Os arquitetos estado se esquecendo da necessidade da meia-luz para os seres humanos, a espécie de luz que infunde tranqiiilidade nas salas de estar € nos quartos de dormir. Metade do vidro que é usado em tantas construgdes ~ nas residéncias e nos escritérios - deveria ser eliminado para proporcionar a qualidade de luz que nos permite viver e trabalhar de modo mais concentrado. [...] Antes da era da maquina, inclusive nas éreas urbanas, a natureza era a fiel companheira das pessoas |.) Hoje, a situagao se inverteu. O homem nao se encontra com a natureza, mesmo quando sai da cidade para entrar em comunhao com ela. Fechado dentro de seu carro reluzente, trazendo na alma a marca do mundo do qual saiu o automével, o homem um corpo estranho no meio da natureza. Um outdoor basta para sufocar a voz da natureza. A na- tureza se torna um fragmento da natureza, e o homem, um fragmento do homem.* Na época da construgao de sua primeira casa e de seu primeiro escritério em Tacubaya, na Cidade do México, em 1947, Barragan ja tinha tomado certa distancia da sintaxe universal do chamado Estilo Internacional. E, no entanto, sua obra sempre esteve com- prometida com a forma abstrata tao caracteristica da arte de nosso tempo. Sua incli- nacio para os grandes planos quase abstratos e inescrutaveis da paisagem talvez tenha atingido 0 auge no projeto do jardim de Las Arboladas, de 1961, e no monumento r0- dovidrio, Satellite City Towers, concebido em parceria com Mathias Goertiz, em 1967. O regionalismo também se manifestou em outras regides do continente americano. No Brasil, na década de 1940, nos primeiros trabalhos de Oscar Niemeyer e Affonso Reidy; na Argentina, na obra de Amancio Williams - principalmente na sua Case da Ponte em Mar del Plata, de 1945, e, mais recentemente, talvez, no Bank of London and South America, de Clorindo Testa, construido em Buenos Aires, em 19595 12 Venezuela, na Cidade Universitaria, construida segundo o projeto de Carlos Raoul Villanueva,

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