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1. A adolescéncia em Samoa Marcaret Mrap Introdugao Durante os iltimos cem anos (iis pEOReOHS MEE) _ encarar a infiincia e a adolescéncia como ponto pacificn. F» vver de buscar encaixar a crianga num molde educacional infle- >xivel, tentaram adaptar a educagio as necessidades dels. Duas cece dnc nme (GGUS BOGAESBEME «2z0avelmente do bebé de dois meses ou da crianca de dois anos. As fulminag&es do pilpito, os la- ‘mentos ruidosos do filésofo social conservador, os registros dos tribunais da juventude e das agéncias de assisténcia social, cdo so suger EOE GER ESET etfodo que a céncia hava rotulado de adoleseénia, © esp- taculo de uma gerac&o mais jovem que divergia cada vez mais amplamente dos padrées e ideais do passado, geracio deixada a deriva sem a ancoragem de padrdes domésticos respeitados on valores elgioss coe, SORTED 7 8 Cultura e personalidade (SERIO com suas mats inhagens de imigrantes, suas dezenas de padrées conflitantes de conduta, suas centenas de seitas religiosas, suas condi¢Ses econémicas cambionics, lgestabsintranqulo; petturbado, juvenile) Como hoje na Alemanha do pés-guerra, onde as geracoes mais jovens tém ajustamentos ainda mais dificeis a fazer que nossas criangas, um grande volume de teorizagSes sobre a adulescéntia inunda as livrarias, assim, EAC 0 psicélogo tentou explicar a inquictacao da juventude O resultado foram obras como a de Stanley Hall sobre “Adoles- céncia”, que atribuiu 20 periodo pelo qual as criancas estavam passando a causa de seu conflito ¢ — O psicélogo infantil cuidadoso, que baseava suas conclusées em experimentos, nfo endossou essas teorias. Ele disse: Nao temos dados. Sabemos pouco sobre os primeiros meses de vida de uma crianga. Estamos apenas aprendendo quando os thos de um bebe seguirio a luz pela primeira vez. =P Acadolescéncia em Samoa » Mas as adverténcias negativas da ciéncia nunca sio bem aceitas. Se 0 experimentalista nao se comprometia, 0 fil6sofo, © pregador e o pedagogo faziam um esforgo maior para dar ‘uma resposta mais facil. Eles observaram 0 comportamento dos adolescentes em nossa sociedade, registraram os 0H ‘onipresentes ¢ dbvios de desassossego e anunciaram esses as- (EROS ESOT TECIERISNCOSMOPENOD. Macs cram avisadas de que “filhas na adolescéncia” apresentam problemas especiais. Esse, diziam os teéricos, é um perfodo dificil. 4s mudangas fisicas que se processam no corpo de seus meninos e meninas tém suas implicagSes psicoldgicas especificas. E impossivel es- capar tanto de uns quanto de outros iene eOEpORe sua filha muda, deixando de ser infantil para se converter num corpo de mulher, seu espirito também mudaré de maneira ine- vitével - e tempestuosa. Os te6ricos olhavam & sua volta para 6 adolescentes em nossa civilizacao e repetiam com grande firmeza: “Sim, tempestuosa.” Semelhante concepcao, embora no sancionada pelo expe- rimentalista cauteloso, ganhou ampla aceitacio, influenciou nossa politica educacional, paralisou nossos esforcos parentais ‘Assim como deve se preparar para o choro do bebé quando nasce seu primeiro dente, a mae também tem de se fortalecer € suportar com toda a equanimidade que Ihe for possivel as ‘manifestacdes desagradéveis ¢ turbulentas da “idade dificil” Se no havia nenhuma censura a fazer A crianga, tampouco havia algum programa, exceto tolerdncia, a recomendar 20 profésso=. © teérico continuava a observar 0 comportament: dos adolescentes americanos, ¢ a cada ano proporcionava no- ‘vas justificagGes para sua hipétese, a medida que as dificulc- des da juventude eram ilustradas ¢ documentadas nos registro: das escolas e dos tribunais juvenis, 20 Cultura e personatidade GFOPETEROYAD estudioso do homem em todos os seus mais diversos contextos sociais. O antropélogo, 4 medida que refle- tia sobre seu crescente corpus de material referente aos costu- S| (GeeeresestosaTENZAGGYpesentes nos habitantes de bere prem pais, ausentes em outro, e isso sem mudanga de raca. Ele aprendeu que nem raca nem humanidade comum podem ser consideradas responsaveis por muitas das formas que mesmo ‘emogées humanas to basicas quanto amor, medo e raiva as- sumem sob diferentes condic6es sociais. Assim, 0 antropélogo, refletindo a partir de suas observa- ‘gGes acerca do comportamento de seres humanos adultos em outras civilizacdes, chega a muitas das mesmas conclusdes que obehaviorista atinge em seu trabalho com bebés humanos que ainda nfo tém nenhuma civilizagio para moldar sua maledvel humanidade. Com essa atitude diante da natureza humana, QO 50- ‘com base em seu co- nhecimento do determinismo da cultura, da plasticidade dos Se) Aadolescéncia em Semon 2 rentes do fato de ser adolescente ou do fato de ser adolescente ‘nos Estados Unidos? Para o biélogo que duvica de uma hipétese antiga ou deseja p6r a prova uma nova proposicio, hi o laborat6rio biolégico. Alli, em condigGes sobre as quais pode exercer o mais rigido controle, ele consegue variar 2 luz, 0 ar, 0 alimento que suas plantas ou animais recebem, desde o momento do nascimento € durante toda a sua existéncia. Mantendo todas as condicies constantes, exceto uma, ele pode fazer medig&es precisas do ‘feito desta Ultima. Esse & 0 método ideal da ciéncia, o método do experimento controlado, por meio do qual todas as hip6- teses podem ser submetidas a um teste estritamente objetivo. Mesmo o estudioso da psicoiogia infantil s6 pode reproduzir parcialmente essas condicdes ideais de laboratério. Ele nao tem como controlar o ambiente pré-natal da crianca que submeter’ mais tarde a medigbes objetivas. No entanto, pode controlar 0 ambiente inicial da crianca, os primeiros dias de sua existéncia, € decidir que sons, vis6es, cheiros ¢ ia devem afeté-la. prova da maneira mais rigorosa, terfamos de construir virios tipos de civilizagéo diferentese submeter grande ntimero de criangas adolescentes a esses ambientes diversos. Farfamos uma lista das influéncias cujos efeitos desejassemos estudar. Se quiséssemos estudar a influéncia do tamanho da familia, construiriamos uma série de civilizacoes semelhantes em todos os aspectos, exceto na organizacio da familia. Se en- contrassemos depois distin¢ono comportamento de nossos Ey Cultura e personalidade adolescentes, poderiamos dizer com seguranca que o tama- nho da familia havia causado a diferenca; que, por exemplo, 0 filho tnico tinha uma adolescéncia mais conturbada que a crianga pertencente a uma familia numerosa. E assim pode- riamos proceder através de uma ditzia de situagdes possiveis: conhecimento sexual precoce ou tardio; experiéncia sexual precoce ou tardia; pressdo para o desenvolvimento precoce ou desestimulo ao desenvolvimento precoce; segregacio dos sexos ou coeducagao desde a tenra infancia; divisdo do tra- balho entre os sexos ou tarefas comuns para ambos; pressio para fazer escolhas religiosas cedo ou auséncia de tal pres- sto, Fariamos um fator variar, mantendo os demais razoa- velmente constantes, e analisarfamos que aspectos de nossa civilizagio seriam responsiveis pelas dificuldades de nossas criangas na adolescéncia, caso houvesse algum. ERIOUADIEGHORENRAIOERISOGA) & clbnineste de Herédoto, em que bebés deveriam ser isolados, os resulta- dos registrados, no é uma abordagem possivel. Tampouco viavel 0 método de selecionar a partir de nossa propria civi- lizagio grupos de criancas que correspondam a um requisito ou outro. Esse método consistiria em selecionar quinhentos 's pequenas € quinhentos de familias rnumerosas e tentar descobrir quais haviam experimentado as maiores dificuldades de ajustamento na adolescéncia. Mas ndo poderiamos saber quais eram as outras influéncias exercidas adolescentes de famil sobre essas criancas, que efeito seu conhecimento sobre sexo ou o ambiente de sua vizinhanca poderia ter tido sobre seu desenvolvimento adolescente. A adolescencia em Samoa 3 Que método, entdo, esta aberto para n6s. que desejamos realizar um experimento humano, mas no temos poder. scia para construir as condicdes experimentais, seja para encontrar exemplos controlados dessas condicdes espalhados aqui e ali por toda a nossa prépria civilizacd@} GRIRICONMEROAOIES| do antrop6logo: ir para uma civilizacdo diferente e fazer um es- tudo de seres humanos sob condig6es culturais diferentes em alguma outta parte do mundo. Para esses estudos 0 antropé- logo escolhe povos muito simples, primitivos,-cuja sociedade damais[aleancoulalcomplexidadUaHOSS) Nessa cscolha de Povos primitivos como esquimés, australianos, ilhéus dos Mares do Sul ou indios pueblos, GER SSISEORETE GEA Eo ‘conhecimento de que é mais ficil levar a cabo a anélise de uma

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